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2 – Criacionismo e Evolucionismo

2.1 – Questão preliminar: Fé e Razão

2.1.1 Introdução_________________________________________________
Fé e razão são fontes de autoridade sobre as quais as crenças se baseiam. A razão é
geralmente entendida como sendo baseada em uma análise metodológica, em algo que pode
ser demonstrado. Desde que algo possa ser demonstrado, sujeito a análise de um terceiro e
provado como verdadeiro, este passa então a ser tido como sendo autorizado pela razão.
Lógica e razão são diretamente ligadas, na medida em que é através de estruturas lógicas,
tidas como verdadeiras, que se estabelece a base sobre a qual a razão é provada e
demonstrada. Fé, por outro lado, envolve algo que, em princípio, não é prontamente
demonstrável através de algo reproduzivel em quaisquer condições e aceito como
verdadeiro por todos. Logo, a fé envolve uma atitude de concordância e crença por parte do
individuo, sendo, portanto, pessoal. A fé envolve, no final, um ato de desejo ou
concordância do agente. A fé religiosa envolve sempre uma referência, explícita ou
implícita, a uma fonte transcendental. A base da fé é sempre a autoridade da revelação. Esta
revelação, por sua vez, pode ser direta, através da experiência pessoal, ou indireta, através
do testemunho de um terceiro. A fé pode ser baseada em evidências de terceiros ou ser
apenas um sentimento pessoal. A definição bíblica de fé, coloca-a como sendo realmente
não-demonstrável por meios metodológicos. Em Hb 11.1 lemos: “Ora, a fé é a certeza das
coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”. A convicção dos fatos que
se vêem seria, portanto, a razão.
Nosso primeiro assunto polêmico discutido está alicerçado na questão fé contra
razão, da qual surge o embate ciência contra religião, que já é o cerne da questão
criacionismo contra evolucionismo. Portanto, antes de estudarmos a questão criacionismo
contra evolucionismo, estudaremos a questão fé contra razão. Comecemos vendo a questão
como fé e razão podem ser vistas, prosseguiremos vendo como esta questão foi tratada
historicamente. Feita esta explanação, nos proporemos a responder a questões sobre fé e
razão, concluindo este tema e entrando no assunto em específico.

2.1.2 A questão Fé e Razão ________________________________________


Como veremos no próximo tópico, fé e razão nem sempre foram vistas como sendo
excludentes ou adversárias, como muitos hoje acreditam. De fato, há mais de uma forma de
enxergar a relação entre a fé e a razão e sobre isto nos debruçaremos neste tópico.
O impeto básico para a discussão da fé contra a razão é o fato de que a revelação ou
o conjunto de revelações sobre as quais as religiões se colocam vem de experiências
pessoais e de pronunciamentos e revelações sagradas, sejam estas orais ou escritas. Estes
textos ou tradições são colocadas na forma de narrativas, parábolas ou discursos. As
palavras contidas nestes textos e tradições não são, porém, prontamente verificáveis,
acabando por ficarem muitas vezes imunes a análise e avaliações críticas. Alguns
consideram um erro categórico tentar verificar a fé pela razão, e alguns sistemas religiosos
desencorajam que se tente pensar racionalmente as bases da fé. Entretanto, muitos sistemas
religiosos consideram que a fé não é de forma alguma desmentida pela razão, e que pode
ser até confirmada pela razão.
O interrelacionamento entre fé e razão é um importante tópico na filosofia da
religião. Esta questão é diretamente relacionada, porém distinta, de outras questão
essenciais na religião, como, por exemplo, a existência de Deus, os atributos de Deus, a
questão da existência do mal, a ação divina no mundo, religião e ética, entre outras.
Podemos colocar 4 modelos de interrelacionamento entre fé e razão:
 O modelo de conflito: por este modelo, fé e razão tratam dos mesmos assuntos (ou
tratam de todos assuntos). Portanto, quando a fé e a razão se chocam em algum
ponto, há realmente uma rivalidade e as evidências de um dos lados deve ser
abandonadas. Este é o ponto de vista dos religiosos fundamentalistas, que resolvem
os conflitos no lado da fé, e dos naturalistas científicos, que resolvem no lado da
razão.
 O modelo de incompatibilidade: aqui os objetivos, metódos e objetos da ciência e
religião, fé e razão, são vistos como sendo distintos. A Razão mira nas verdades
empiricas e a Fé mira nas verdades divinas. Logo, não existe oposição. Dentre deste
modelo podemos ver algumas divisões. Alguns acreditam que a fé é transracional,
ou seja, é acima da razão. Este é o ponto de vista de alguns cristãos existencialistas.
Por este ponto de vista a razão só pode reconstruir o que está implícito na fé. Outro
ponto de vista sustenta que a fé é irracional, logo não é sujeita a verificação de
nenhuma maneira. Este é o ponto de vista da teoligia negativa, que sustenta que só
se pode chegar a conclusões sobre o que Deus não é. Por este ponto de vista a fé
nunca poderá ser verificada pela razão, por serem as duas incompatíveis. É deste
modelo que vem a famosa afirmação de que a ciência e a religião respondem a
diferentes perguntas.
 O modelo de fraca incompatibilidade: por este terceiro modelo admite-se que a fé
e a razão possam dialogar, embora se mantenha em distintos reinos de avaliação e
interesse. Assim, a fé envolve o que é envolvido em milagres, enquanto a razão
envolve o metódo cientifico de teste de hipóteses. O modelo de teologia Reformada
no geral segue este modelo.
 O modelo da forte compatibilidade: aqui se entende que fé e razão tem uma
ligação orgânica, até mesmo paridade. A forma típica deste modelo é a teologia
natural. Neste modelo acredita-se que os pontos da fé podem ser demonstrados pela
razão, seja através da dedução (baseada nas premissas teológicas) seja através da
indução (através das experiências comuns). Geralmente se adotam neste modelo
dois tipos de estratégia: ou se parte das verdades científicas aceitas e faz-se o
complemento com as verdades religiosas, inacessíveis a ciência, ou se parte dos
pressupostos da religão, refinando-os com o conhecimento científico. Um exemplo
da primeira estratégia encontra-se na prova cosmológica da existência de Deus e um
exemplo da segunda estratégia está no argumento de que a ciência não seria
possível se Deus não tivesse criado o mundo em uma forma racionalmente
inteligível. A maioria dos teólogos católicos sustenta os pontos da teologia natural e
deste modelo. Alguns tentaram unir todas evidências da fé e razão em um único
sistema matafísico abrangente.
Antes de entrarmos na discussão dos modelos acima e entrarmos no cerne da questão,
façamos uma breve análise do desenvolvimento da questão fé e razão na história, focando
no pensamento ocidental, desde o período grego clássico até o período atual, com enfoque
no cristianismo.

2.1.2 Desenvolvimento histórico da questão fé e razão ___________________


2.1.2.a – O período clássico

Na religião grega, em contraste com o judaismo, a especulação era em torno do


universo como um todo, e não no universo humano primariamente. Os primeiros filósofos
gregos tentavam distinguir entre verdades naturais e verdades mitológicas.
Platão e Aristóteles acreditavam que a fé pudesse ser demonstrada por meios
naturais, e é esta a ideia atrás da “formas” de Platão, particularmente a forma do Bem; e do
primeiro motor não-movido de Aristóteles. Os filósofos estóicos acreditavam que em um
Deus imanente e providente agindo na natureza. Já os epicureos eram materialistas e anti-
dogmáticos, até mesmo ateistas.

2.1.2.b – Os primeiros escritos cristãos

Com a vinda de Cristo, o cristianismo surgiu de dentro do judaísmo e estabeleceu


seu próprio sistema de crenças, que foram se descolando das antigas ideias do judaismo.
Paulo escreveu sobre a questão da fé e a razão em alguns pontos de suas cartas e é
citado entrando em discussão sobre este ponto no livro de Atos. Deixaremos para estudar
estas passagens mais a frente. Após o fim do cânone cristão, seguiram os escritos dos pais
da igreja. Estes apresentaram ideias tanto pela incompatibilidade quanto pela
compatibilidade da fé e razão. Assim, Tertuliano disse credo quia absurdum est (creio pois
é absurdo), enquanto Justino Mártir e Clemente de Alexandria acreditavam que o
Evangelho era a verdadeira filosofia e tentaram expandir as ideias do Cristianismo para
englobar as ideias da filosofia grega.
Mais tardiamente, no fim do Século IV, Agostinho levantou-se como um rigoroso
defensor da fé cristã. Ele argumentou contra as alegações pagãs de que o Cristianismo era
apenas superstição barbára. Agostinho acreditava que outras fontes de conhecimento
poderiam ser usadas para esclarecer a compreensão dos símbolos bíblicos. Ele tinha a
filosofia platonista em alta consideração, mas acreditava que a concepção de Deus só
poderia vir através do Evangelho e ser entendida pela autoridade da Igreja.

2.1.2.c – O período medieval

No período medieval os teólogos cristãos voltaram-se para as ideias dos filosofos


gregos, particularmente Aristóteles.
Anselmo, como Agostinho, era um teológo natural, que acreditava, entretanto, que
somente através do amor por Deus é possível conhecê-lo. Pedro Lombardo, acreditava que
os pagãos podiam conhecer muito sobre Deus apenas pela razão.
Tomás Aquino, grande nome da escolástica medieval, foi um dos grandes
defensores da ideia de que a fé se prova pela razão; como pode-se ver pelas suas provas da
existência de Deus, e foi de fato um dos teólogos que mais se deteve nesta questão, como se
depreende de seus escritos.
Os filósofos franciscanos, Scotus e Guilherme de Ockam, contrariamente,
acreditavam que a fé naõ pode ser provada pela razão e que Deus só pode ser conhecido
pela fé.

2.1.2.d – A Renascença e o Iluminismo

O período da Renascença e do Iluminismo marcou o começo do embate entre fé e


razão. A negação de Guilherme de Ockam de que houvesse provas científicas da fé levou a
um aumento na autonomia da ciência empírica em relação a religião. Porém, com esta
autonomia aumentou também a incompatibilidade entre o que era dito pela igreja e pelos
meios científicos. Por volta do Século XVII aumentaram as críticas a autoridade da Igreja, e
isto evoluiu para um ceticismo na possibilidade de defesa racional dos fundamentos da fé
cristã.
Os reformadores mudaram a ênfase da forma como a fé era encarada, para uma
concepção mais pessoal e focada no estudo das Escrituras e na vida devocional. Lutero
restringiu o poder da razão para iluminar a fé. Ele defendia que o homem era incapaz de
compreender e se livrar dos pecados por si mesmo, e que razão meramente humana muitas
vezes é enganadora. Lutero refutou a doutrina de Tomás Aquino da analogia e considerou-a
como um falsa crença no poder da razão.
Calvino, por sua vez, acreditava radicalmente na necessidade da graça para
salvação. Ele, porém, como mostram as Institutas considerava que o homem tinha maior
capacidade de compreender a existência de Deus, através de uma capacidade natural de
sentir a divindade. Calvino era tipicamente um tranracionalista, para quem a fé era além da
razão e não contra ela.
Fora da igreja, neste período começaram a surgir as ideias do racionalismo.
Descartes e Leibniz viam na razão e nas provas cosmológicas e naturais a prova para
existência de Deus como um designer. Pascal sugeriu que a fé era racionalmente
interessante, pois a perda de se acreditar era muito menor do que a perda de não se
acreditar. Locke acreditava que a fé está acima da razão, mas não pode ir contra as
evidências da natureza. Kant enxergava que a fé e religião deveriam ser separadas de outros
campos de estudo e focarem na ética, contradizendo as ideias de que a fé pudesse ser
provada. Assim, a fé seria transcendental e não teórica, moral e não empírica. Hegel foi
mais radical do que Kant e enxergou que a fé e a razão eram apenas formas da essência do
Absoluto, numa espécie de pandeismo, no qual todos seres estava imbuidos de uma parcela
finita de conhecimento.

2.1.2.e – O Século XIX

Enquanto a Física e a Astronomia eram as ciências que particularmente eram


importantes para a teologia do Século XVII e XVIII, o Século XIX viu a psicologia, a
geologia, a sociologia e a biologia passarem a se tornar alvo de controvérsias.
O entendimento de Kant de Deus como parte da razão prática, e a nagação das
provas metafísicas e empíricas de Sua existência, logo levou a ideias de que Deus poderia
ser mera projeção de sentimentos práticos ou impulsos psicológicos. Neste sentido se
situam a afirmação de Hobbes de que a religião surge do medo e superstição e a afirmação
de Freud de que a crença religiosa nada mais era do que a projeção da figura de um pai
protetor nas situações de vida diária (a religião como uma projeção de impulsos
psicológicos).
Um dos pontos mais importantes no Século XIX foi aquele que será alvo de nosso
estudo logo: a teoria da seleção natural de Darwin. Com esta teoria parecia que não havia
mais necessidade de Deus para explicar a existência e características do homem. A teoria
da seleção natural fez com que houvesse dificuldade em defender teorias de um design
inteligente em alguns meios.
Nem todos pensadores do Século XIX eram céticos quanto a religão porém.
Durkheim entendia que a religão era capaz de produzir bons resultados para aqueles que
aderiam a ela. Para ele, “a ideia de sociedade é a alma da religião”. Schleiermacher
defendia a ideia de que a religião era constituida de sua própria esfera de experiência, não
relacionadas ao conhecimento científico.
Ainda no Século XIX, Marx (seguindo as ideias de Feuerbach) afirmava que a
religão era apenas uma forma de compensar o sofrimento das pessoas pobres. Assim, a
religião seria o ópio que fazia que o povo ficasse submisso e não participasse da
“revolução”.
O pai do existencialismo, Kierkgaard, argumentava que a fé é acima de tudo uma
experiência pessoal, e que a fé nunca poderá ser objeto de certeza absoluta, pois não
envolve aceitação intelectual de doutrinas, mas sim a submissão do intelecto e da razão.
Nietzche criticou duramente a religão, apontando que esta produzia individuos
fracos e servis ou, por outro lado, individuos que criavam seus próprios valores. Afirmando
que Deus era o protetor dos fracos, ele afirmou que Deus estava morto. No fim do Século
XIX, um teólogo católico, Newman, afirmou que a fé era sim resultado de exercício
racional, através de experiência pessoais e não-reprodutíveis, porém. Os filosófos do
pragmatismo, como William James, por exemplo, acreditavam que todas afirmações da fé
deveriam ser testadas e mantidas apenas na medida que produzissem algum resultado.

2.1.2.f – O Século XX

As ideias de Darwin e Freud continuaram a influenciar o pensamento no século XX.


No século anterior vimos a relação entre fé e razão ser lançada como conflito mais do que
em qualquer época, particularmente na discussão ciência contra religião. Nem todas
descobertas científicas foram contra as crenças religiosas porém. Por exemplo, o chamado
princípio antrópico, pelo qual seria necessária uma incrivelmente improvável combinação
de fatores para que o Universo pudesse ter se desenvolvido e produzido vida. O ajuste fino
do universo fez com que muitos pensadores propusessem a existência de um designer por
trás do início de tudo. Dentro da teologia o Século XX viu os teólogos católicos e
protestantes responderam as críticas a fé por parte de ateistas existencialistas, naturalistas e
positivistas linguísticos através de um novo entendimento da reveção cristã. Barth era um
incompatibilista que acreditava que a fé é totalmente além da razão, sendo apenas sentida
de forma pessoal.
Nos dias atuais vemos um grande debate entre aqueles que defendem a fé e os
defensores do naturalismo ateu, como Richard Dawkins, grande nome entre os chamados
neo-darwinistas. Por outro caminho a teologia da libertação, preconizada por nomes como
Leonardo Boff, prega a religião como uma forma de liberação dos pobres e de mudança
social. A questão de qualquer forma tem sido cada vez mais discutida e importante.
2.1.3 Fé e razão são opostas? ____________________________________

Tendo colocado o quadro histórico da questão fé e razão, vemos que esta é desde
sempre controvertida. Vemos também que de maneira alguma é consenso histórico que a fé
e a razão sejam opostas, como muitos querem fazer com que acreditemos hoje. De fato, fé e
razão caminharam de mãos dadas durante grande parte da história. Vemos que muitas das
descobertas científicas levaram a que a razão começasse a ser colocada contra a fé, numa
disputa que seria melhor conceituada como religião contra ciência. Vemos muitos dentro
das igrejas, mesmo importantes teólogos se sujeitarem a ideia incompatibilista, afirmando
que fé e ciência respondem a diferentes questões. É hora de nos determos e discutirmos a
questão.
Falamos anteriormente que Paulo escreveu sobre fé e razão. É chegada a hora de
analisarmos o que este tem a nos dizer.
O primeiro texto importante é Rm 1.20. Aqui Paulo afirma que os atributos de Deus
claramente se revelam desde o princípio do mundo através das coisas que foram criadas e
que os homens que não o reconhecem são indesculpáveis. Portanto, podemos deduzir que
neste texto Paulo defende uma forma de forte compatibilidade entre fé e razão, pois
defende que através da observação racional o homem pode chegar até a fé em Deus.
Uim segundo texto, que até parece contraditório com o primeiro, é 1 Co 1.23, onde
Paulo afirma que a pregação de Cristo é loucura para os gentios. Uma leitura mais atenta
verá porém que Paulo não está falando que o evangelho de Cristo seja irracional, mas
apenas que o é para os que não creram. Quando em seguida ele afirma que a loucura de
Deus é mais sábia que a dos homens, a ideia é de que a fé não é irracional, mas apenas que
os homens não tiveram sabedoria suficiente para entender que em Deus mora a razão.
Usaremos estes dois textos de Paulo como ponto de partida para nossa análise. Em
Romanos, Paulo está anunciando a revelação geral de Deus. A revelação geral,
manifestação de Deus através da natureza é uma das formas pela qual Deus se manifesta.
Em outra oportunidade fizemos um estudo sobre as manifestações de Deus. Agora não
detalharemos novamente todos os pontos, mas é interessante colocar uma explicação geral.
Deus se manifesta através da natureza, através das Escrituras (revelação especial), através
das pessoas e através do relacionamento pessoal com o homem. Todas estas formas de
manifestação são formas importantes e convergem na pessoa de Jesus; pois ele se fez
carne/matéria (revelação através da natureza), ele é o ponto central das Escrituras
(revelação através da Bíblia), ele se fez homem e viveu entre nós (revelação através dos
homens) e se relaciona conosco de forma pessoal (revelação pessoal). Se todas estas
manifestações são formas genuinas de Deus se manifestar, não podemos pensar que as
manifestações se contradigam. Este é o primeiro ponto.
O segundo texto mostra Paulo falando que o evangelho de Cristo é loucura para os
gentios. O argumento deste trecho é de que para os que não foram chamados a fé parece
algo totalmente irracional. Chamemos outros textos em nosso auxílio. Primeiramente Is
59.2, que diz que os pecados fazem separação entre Deus e o homem. Jesus diz que ele é a
Verdade (Jo 14.6) e que se conheceremos a Verdade ela nos libertará (Jo 8.32). Além disso
Ele afirmou em Mt 11.27 que ninguém conhece o Filho e o Pai a não ser aquele a quem ele
deseja revelar. A ligação entre os textos é clara. Os pecados do homem impedem que ele
conheça totalmente a verdade e impedem que receba a total manifestação de Deus em suas
vidas. Assim, longe de Deus a natureza aguarda a reconciliação dos filhos de Deus (Rm
8.19) e o homem não pode dominá-la e compreende-la (Gn 3.17-18); os relacionamentos
com os outros homens são influenciados e maus muitas vezes. E acima disto, os pecados
nos afastam do conhecimento correto da Palavra de Deus e do relacionamento pessoal com
Ele. Portanto, embora todos homens possam ter conhecimento e relacionamento com
natureza, semelhantes, Palavra e Deus este será sempre imperfeito, e somente pela vontade
de Deus este conhecimento se revelará totalmente. Este é o segundo ponto.
Com estes dois pontos em mente defendemos o ponto de vista da forte
compatibilidade entre fé e razão, mas com um acréscimo importante neste modelo.
Fé e razão são no fim duas faces de uma mesma coisa. Através da fé e da razão
tomamos conhecimento do mundo que nos cerca. Através de nossos sentidos nos
comunicamos com o mundo que nos cerca e nos relacionamos com natureza, outras pessoas
e com Deus, e aprendemos da sua Palavra. Este relacionamento nos traz conhecimento da
verdade (e também da mentira, pois o pecado permeia nossos relacionamentos quando
estamos longe de Deus) e este conhecimento entra em nossas mentes através da razão e da
fé. Talvez seja estranho para alguns pensar que fé e razão sirvam para um mesmo
propósito, mas a prática nos mostra que isto ocorre. Quando estamos na escola, por
exemplo, aprendemos muitas coisas sem ter nenhuma prova empírica ou sem compreender
a prova empírica fornecida. Nestes casos diz-se que estamos aprendendo “pela fé”.
Assimilamos algo, embora talvez não o compreendamos totalmente. Da mesma maneira,
aqueles que possuem fé estão convecidos racionalmente que ali reside a verdade. Fé e
razão, portanto, são formas como o homem aceita um fato. E muitas vezes para que
aceitamos algo é necessário fé e razão. Neste sentido, fé e razão são complementares.
Se fé e razão são as duas formas pelas quais nos convencemos da verdade que nos
rodeia, religião e ciência são o conjunto de verdades que foram compreendidas. Portanto, fé
e razão, ciência e religião respondem todas a mesma pergunta: o que é a Verdade? O
enfoque é diferente, a forma é diferente? Sim. Mas a Verdade é uma só. Portanto, fé e razão
não podem se contradizer, ciência e religão também não.
Alguns prontamente diriam que existem diversas religiões e diversas teorias
cientificas. Sim. Mas isso só ocorre por um motivo. O pecado que afasta o homem da
verdade. Portanto, enquanto o homem está em pecado ele é incapaz de conhecer a verdade
totalmente. Assim, distorções na ciência e religião ocorrem. Por isso surge a falsa religião e
a falsa ciência.
Dentro deste ponto de vista, ciência e religião nunca são contraditórias. Se no nosso
relacionamento com Deus e com a natureza encontramos algo que seja contraditório, em
algum ponto estamos errados. Ou na nossa interpretação da Palavra de Deus ou na
interpretação da natureza. Como saber quando estamos errados em cada ponto? Somente
através da análise comprometida de todas as verdades que conhecemos. E isto envolve a fé
e a razão.
Portanto, através da razão e do estudo da natureza é possível conhecer a Deus, pois
é exatamente isto que Rm 1.20 afirma. Como é que ninguém consegue chegar a Jesus
apenas pela razão e estudo da natureza? Pois é necessário que primeiro sejam tirados os
pecados, nos quais nascemos todos, e isto só ocorre pela graça e através de Jesus. Portanto,
Jesus só revela a Verdade aqueles a quem o Pai deseja que sejam reveladas, aqueles que
para isto foram predestinados. E onde fica o conhecimento da natureza, empírico e
científico? Ele é resultado da capacidade de fé e razão, do intelecto do homem, que vem
também de Deus. O homem pode descobrir na natureza algo que mude a verdade na Bíblia?
Não, de maneira nenhuma. Pode descobrir algo que mude a forma como interpretamos
detalhes do texto bíblico? Sim. Mas isto só ocorre pois o primeiro homem que leu a Palavra
era ele também pecador, e isto o impediu de compreender totalmente o texto, levando-o ao
erro. Então a ciência é uma forma de vencer os pecados, pois traz mais conhecimentos?
Sim e não. Sim, pois o conhecimento da natureza é no fim conhecimento de Deus, que a
criou. Não, pois o verdadeiro conhecimento de Deus está no relacionamento pessoal com
Ele, que só se dá através da salvação em Cristo Jesus. O verdadeiro conhecimento é o auge
do relacionamento, e saber se os animais evoluíram ou foram criados em sua forma atual,
nada é diante do Evangelho de Cristo, morto e ressuscitado. Portanto, embora a ciência
jogue luz sobre muitas coisas e apenas através do relacionamento com Deus que
compreendemos a Verdade mais importante. E esta Verdade está nos pontos centrais do
Evangelismo: o Cristo, a salvação, a fé que um dia com Ele estaremos. Fé e razão se juntam
no coração daquele que recebeu aquele que é a Verdade.
O cristão deve buscar crescer no seu relacionamento com Deus. Isto envolve todas
as formas de relacionamento e toda busca pela verdade. Portanto, ser cristão é zelar pelo
conhecimento e não pelo obscurantismo. Quem ainda tem dúvida disto, leia Cl 2.2-3, onde
nos é dito que em Cristo residem todos, vejam bem todos, tesouros da sabedoria e do
conhecimento (ou da ciência).
Por fim, fé e razão são formas próximas e até certo ponto desconhecidas pela qual o
homem processa informação que recebe do meio em que vive. A vida de fé é uma busca de
relacionamento e crescimento diário. A vida racional é a busca diária pelo conhecimento
que nos rodeia.
Buscar a verdade em todos os lugares e crescer no conhecimento e sabedoria de
Cristo. Eis um objetivo a ser buscado pelo cristão.
Tendo afirmado nosso ponto de vista sobre como fé e razão, religião e ciência
devem se relacionar, é hora de entrarmos em nosso primeiro assunto polêmico:
criacionismo e evolucionismo.

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