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BAKHTIN, M. O romance de educação na história do realismo. In: ______.

Estética da criação
verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 222-

 O problema do gênero do romance do ponto de vista histórico (e não de um ponto de


vista formal-estatístico ou normativo). Multiplicidade dos aspectos do gênero. Tentativa
de uma classificação histórica destes aspectos, baseada nos princípios estruturais da
imagem do herói principal — no romance de viagem, romance de provas, romance
biográfico (auto-biográfico) e no romance de educação ou formação (p. 223).

 O tema fundamental de nosso trabalho é a espácio-temporalidade e a imagem do


homem no romance. Adotamos como critério o grau de assimilação entre o tempo
histórico real e o homem nessa temporalidade. Nossa tarefa, no essencial, refere-se aos
problemas teóricos que se colocam nas áreas da literatura. [...] Daí nossa escolha de
uma problemática mais especializada e mais concreta que concerne ao homem em
formação (em devir) no romance. O tema assim delimitado acarreta novas restrições e
precisões. Existe uma variante específica do gênero romanesco que se chama “romance
de educação ou de formação” (Erziehungsroman ou Bildungsroman) (p. 236).

 Certos teóricos, guiados por princípios puramente compositivos (pelo conjunto do tema
romanesco concentrado no processo de formação do herói), restringem
consideravelmente [o conceito]. Outros, pelo contrário, contentam-se com que o
princípio de formação do herói esteja presente no romance (p. 237).

 À primeira vista, está claro que a série [romances usados como exem plos] que
acabamos de mencionar contém fenômenos por demais heterogêneos, tanto de um
ponto de vista teórico como de um ponto de vista histórico. Essas constatações obrigam-
nos a introduzir um corte diferente, não só na série citada, mas também em toda a
problemática do romance chamado de educação. Trata-se, acima de tudo, de isolar o
princípio determinante da formação do homem. Na maioria dos casos, o romance (e as
variantes romanescas) conhece apenas a imagem preestabelecida do herói. O herói ora
se aproxima, ora se afasta de seu objetivo - da noiva, da vitória, da riqueza, etc. Os
acontecimentos modificam-lhe o destino, a situação na vida e na sociedade, ao passo
que ele permanece inalterado, sempre igual a si mesmo. Na maioria das variantes do
gênero romanesco, o enredo, a composição e toda a estrutura interna do romance
postulam a imutabilidade, a firmeza da imagem do herói, a unidade estática que ele
representa. O herói é uma grandeza constante na fórmula do romance; as outras
grandezas - o ambiente espacial, a situação social, a fortuna, em suma, todos os
aspectos da vida e do destino do herói - são grandezas variáveis (p. 236-237).

 O herói é o ponto imóvel e imutável em torno do qual se efetua toda a dinâmica do


romance. A constância e a imobilidade interna do herói são as premissas do movimento
romanesco. A análise dos enredos romanescos típicos mostra que estes pressupõem um
herói preestabelecido, imutável, pressupõem a unidade estática do herói. É o
desenrolar do destino e da vida do herói preestabelecido que confere conteúdo ao
enredo. O próprio caráter do homem, suas modificações e sua evolução não se
transformam em enredo romanesco. Este é o tipo predominante de romance (p. 238).
 Ao lado desse tipo predominante e muito difundido, há outro tipo de romance, muito
mais raro, que apresenta a imagem do homem em devir. A imagem do herói já não é
uma unidade estática mas, pelo contrário, uma unidade dinâmica. Nesta fórmula de
romance, o herói e seu caráter se tornam uma grandeza variável. As mudanças por que
passa o herói adquirem importância para o enredo romanesco que será, por
conseguinte, repensado e reestruturado. O tempo se introduz no interior do homem,
impregna-lhe toda a imagem, modificando a importância substancial de seu destino e
de sua vida. Pode-se chamar este tipo de romance, numa acepção muito ampla, de
romance de formação do homem (p. 238).

 A formação (a transformação) do homem varia, porém, muito conforme o grau de


assimilação do tempo histórico real. Na organização temporal do romance de aventuras,
a transformação do homem é, claro, impossível, ao passo que é totalmente possível na
temporalidade cíclica. No idílio, por exemplo, o tempo se presta a uma representação
do desenrolar da vida humana (desde a infância até a velhice, passando pelos anos de
juventude e de maturidade) e a uma representação das modificações internas do
caráter e da mentalidade, que se realizam no homem à medida que vão passando os
anos. E um tipo de evolução cíclica que cada vida reproduz. O romance cíclico de tipo
puro (puramente articulado sobre a idade) não é comprovado, mas os elementos
constitutivos desse tipo abundam no idílio do século XVIII e entre os representantes do
regionalismo e do Heimatkunst do século XIX (p. 239).

 Um segundo tipo de temporalidade cíclica, observado no romance de formação, e que


se relaciona (se bem que menos estreitamente) com as idades do homem, consiste em
representar um certo modo de desenvolvimento típico, repetitivo, que transforma o
adolescente idealista e sonhador num adulto sóbrio e prático - uma trajetória que, no
final, é acompanhada de graus variáveis de cepticismo e resignação. Este tipo de
romance de formação se caracteriza por uma representação que assimila o mundo e a
vida a uma experiência, a uma escola pelas quais todos os homens devem passar para
retirar delas um único e mesmo resultado: a sobriedade acompanhada de um grau
variável de resignação (p. 239).

 O terceiro tipo do romance de formação é representado pelo tipo biográfico (e


autobiográfico). Nele está ausente o elemento cíclico. A transformação se insere no
tempo biográfico, atravessa fases individuais não generalizáveis. Tal romance pode ser
típico, mas a tipificação desse tempo já não é cíclica. A transformação é o resultado de
um conjunto de circunstâncias, de acontecimentos, de atividades, de
empreendimentos, que modificam a vida. É o destino do homem que se constrói, e, ao
mesmo tempo, este se constrói, constrói seu caráter. A elaboração da vida-destino se
confunde com a formação do próprio homem (p. 239).

 O quarto tipo do romance de formação é representado pelo romance didático-


pedagógico. Fundamenta-se numa idéia pedagógica determinada, concebida com maior
ou menor amplitude. Ele apresenta o processo pedagógico da educação no sentido
estrito da palavra (p. 239-240).

 O quinto e último tipo do romance de formação é o mais importante. Nele a evolução


do homem é indissolúvel da evolução histórica. A formação do homem efetua-se no
tempo histórico real, necessário, com seu futuro, com seu caráter profundamente
cronotópico. Nos quatro tipos anteriormente mencionados, a formação do homem se
operava contra o pano de fundo imóvel de um mundo já concluído e, no essencial,
totalmente estável. Mesmo quando ocorriam mudanças, estas eram secundárias e não
atingiam os fundamentos do mundo. O homem se formava, se desenvolvia, mudava, no
interior de uma época. O que esse mundo concreto e estável esperava do homem em
sua atualidade era que este se adaptasse, conhecesse as leis da vida e se submetesse a
elas. Era o homem que se formava e não o mundo: o mundo, pelo contrário, servia de
ponto de referência para o homem em desenvolvimento. A evolução do homem era por
assim dizer assunto pessoal seu, e os frutos dessa evolução pertenciam à sua biografia
privada; no mundo, nada mudava. A própria noção de um mundo servindo de
experiência, de escola era muito produtiva no romance de educação: imprimia certa
aparência ao mundo e apresentava sua outra face ao homem — a face que, justamente,
era desconhecida antes desse romance; isso levava a repensar os elementos do enredo
romanesco e abria ao romance novos pontos de vista, realistas e produtivos sobre o
mundo. Ainda assim o mundo, mesmo quando concebido como experiência e escola,
continuava a ser um dado preestabelecido, imutável, que só mudava graças ao processo
de investigação de quem o estudava (na maioria dos casos, esse mundo se revelava mais
pobre e mais seco do que parecia no princípio). Em romances como Gargantua e
Pantagruel, Simplicissimus, Wilhelm Meister, a formação do homem apresenta-se de
modo diferente. Já não é um assunto particular. O homem se forma ao mesmo tempo
que o mundo, reflete em si mesmo a formação histórica do mundo. O homem já não se
situa no interior de uma época, mas na fronteira de duas épocas, no ponto de passagem
de uma época para outra. Essa passagem efetua-se nele e através dele. Ele é obrigado
a tornar-se um novo tipo de homem, ainda inédito. É precisamente a formação do novo
homem que está em questão. A força organizadora do futuro desempenha, portanto,
um importante papel, na mesma medida em que o futuro não é relativo à biografia
privada, mas concernente ao futuro histórico. São justamente os fundamentos da vida
que estão mudando e compete ao homem mudar junto com eles. Não é de surpreender
que, nesse tipo de romance de formação, os problemas sejam expostos em toda a sua
envergadura, pois que se trata da realidade e das possibilidades do homem, da
liberdade e da necessidade, da iniciativa criadora. A imagem do homem em devir perde
seu caráter privado (até certo ponto, claro) e desemboca numa esfera totalmente
diferente, na esfera espaçosa da existência histórica. Este é o último tipo do romance
de formação, o tipo realista (p. 240-241).

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