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Descrição
O Almoço sobre a Relva não tem, ao contrário das pinturas realistas de Honoré Daumier, um teor crítico social, ou seja, o artista
não pretendia criticar a sociedade, nomeadamente o estatuto da mulher, a condição das prostitutas parisienses, ou a procura pelo
sexo pelos aristocratas. O que esta tela declarava era a profunda e escandalosa liberdade do pintor, que várias vezes, ao longo da
sua trajectória pela arte, escandalizou os espectadores do Salon.
Por trás de um título aparentemente inocente, esconde-se um pintura com um força incrível, capaz de chocar o mais distraído
espectador. A modelo e o homem sentado ao seu lado olham directamente o espectador, e a modelo, com o rosto seguro pela mão
direita, não se inibe de sorrir ligeiramente, exibindo uma aparência segura e plena de sensualidade.
A cena no bosque ou num parque dos muitos que existiam e ainda existem em Paris marca também pelo seu exotismo e pela
interessante paleta de cores que se desenrola lentamente em cada pedaço da tela, exibindo ostensivamente o castanho e o oliva.
Efectivamente, o castanho é a cor mais explorada nesta composição, sendo que se espalha pelos primeiro e segundo planos da
pintura em vários tons.
Contrastante com a elegância dos dois homens, exibe-se a nudez da modelo Victorine Meurent, a modelo favorita de Manet, que,
inclusive, preencheu várias das suas telas, entre as quais Olympia. Sentada na grama, nua, com um homem ao seu lado esquerdo e
uma natureza-morta, com um cesto de frutas, juntamente com os seus vestido e chapéu azuis jogados no chão, do seu lado direito,
a sua tez extremamente branca, típica de uma cortesã, confere luminosidade a toda a tela e surge como um grito no escuro na
conservadora sociedade parisiense que, apesar, da boemia reinante, se mantinha avessa à mudança.
A pintura provocou risos desconcertantes no Salon, escandalizou a imperatriz e foi considerada pelo imperador como atentado ao
pudor. Não tanto pelo nu na mulher, mas sim pelo fato de esta estar nua no bosque, em uma conversa plausível, com dois homens
bem e inteiramente vestidos, como estavam os espectadores da tela. Críticos defendem que o riso fora provocado pela sensação
que os espectadores tiveram de serem eles mesmos os observados, sem saber.[1]
Esboços
O cubista Picasso fez cerca de 200 esboços sobre esta tela.[2]
Édouard Manet deixou nas suas Memórias a confissão de que a sua obra-prima Le déjeuner sur l'herbe deve tudo, ou quase tudo,
a uma sua curta estadia no Palácio das Necessidades, em 1859, por motivos que o pintor deixa por esclarecer, em cujos jardins da
Tapada das Necessidades se davam famosos piqueniques.
Ver também
Pinturas de Édouard Manet
Referências
1. BLUNDEN, Maria e Godfrey. Editions d'Art Albert Skira, ed. La peinture de l'Impressionnisme. 1981. [S.l.: s.n.]
55 páginas. ISBN 2-605-00006-0
2. «Revista Época - O detetive da tela» (http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT346237-1661,00.html). 22
de julho de 2002. Consultado em 29 de dezembro de 2008
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