Sie sind auf Seite 1von 16

18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL DO CONSUMIDOR


IDOSO NO ÂMBITO DOS CONTRATOS DE PLANOS E
DE SEGUROS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL DO CONSUMIDOR IDOSO NO ÂMBITO


DOS CONTRATOS DE PLANOS E DE SEGUROS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA
À SAÚDE
Revista de Direito do Consumidor | vol. 51 | p. 130 | Jul / 2004
Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 5 | p. 303 | Out / 2011DTR\2004\895
Cristiano Heineck Schmitt

Área do Direito: Consumidor

Sumário:

1.Introdução - 2.Prerrogativas de proteção contratual do consumidor idoso de planos e de seguros


privados de assistência à saúde - 3.Indenização por dano moral do consumidor idoso em face da
rescisão abusiva de contrato de plano de saúde - 4.Indenização por dano moral do consumidor
idoso em face das negativas abusivas de cobertura de tratamentos médico-hospitalares -
5.Conclusão - Bibliografia

1. Introdução
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 230, traz regra expressa acerca da proteção do idoso
no âmbito da sociedade: "A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas
idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direito à vida". 1
O aludido dispositivo constitucional é uma reiteração das prerrogativas fundamentais de proteção
à dignidade, 2 à vida, 3 à igualdade, 4 focalizando-se, no entanto, à pessoa idosa.
Contudo, a proteção da pessoa idosa recebeu importante implementação, através da Lei 10.741/
2003, denominada "Estatuto do Idoso", e que passa a ser um marco oficial na regulamentação de
direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos de idade,
conferindo-se assim melhor aplicabilidade ao supramencionado art. 230 da CF/1988 (LGL\1988\3).
5

Referido diploma legal, vigente desde início de janeiro de 2004, visa permitir a inclusão social dos
idosos no Brasil, garantindo-lhes tratamento igualitário. Através do Estatuto do Idoso, pretende-
se impedir que os idosos continuem sendo mantidos, em sua maioria, à margem da sociedade,
como se fossem cidadãos de segunda classe.
Como aduz Braga: "O tipo de desenvolvimento econômico vigente no país tem gerado
estruturalmente e sistematicamente situações práticas contrárias aos princípios éticos: gera
desigualdades crescentes, gera injustiças, rompe laços de solidariedade, reduz ou extingue
direitos, lança populações inteiras a condições de vida cada vez mais indignas. Ou seja, a classe
dos excluídos está cada vez maior, dentre esses, temos os idosos. A sociedade brasileira está
despreparada para receber a população crescente de idosos, afinal, o aumento da média de vida
do brasileiro ainda não foi assimilado pela própria população". 6
No entanto, tentando corrigir injustiças há muito verificadas, o Estatuto do Idoso enuncia, por
exemplo, garantias de prioridade ao idoso, que compreendem atendimentos preferenciais em
órgãos públicos e privados de prestação de serviços à população, bem como destinação
7
privilegiada de recursos destinados às áreas relacionadas à proteção do idoso. 8
É notória a situação caótica da saúde pública no Brasil, não representando, de forma alguma,
concorrência para as empresas administradoras de planos e seguros de assistência privada à
saúde, que passam a desfrutar de amplo mercado consumidor, podendo ditar as regras conforme
seus anseios. A notar a expansão de determinadas empresas do ramo, não pesam dúvidas acerca
da existência de determinados monopólios.
Evidente que, quando uma determinada categoria exerce predomínio sobre a outra, e aí podemos
visualizar a relação havida entre a empresa administradora de planos e de seguros de assistência
à saúde e o consumidor, em que aquela acaba ditando, por exemplo, as regras de um contrato, de
forma livre e sem controle algum. Neste caso, não se poderá cogitar em relações equilibradas.

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 1/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

Se um dos contratantes observa a vontade do outro reduzida à mera aceitação do trato, sem que
lhe fosse possibilitado barganhar, aquele que usufrui de posição dominante estabelecerá regras
que protejam somente os seus interesses, e, neste caso, não se poderá falar em contrato de
prestações equilibradas. Todos os contratantes almejam uma vantagem na relação; o problema,
observamos assim, surge com o desvirtuamento da vantagem que, de justa, pode transformar-se
em puro desequilíbrio contratual.
Analisando-se este cenário, o consumidor idoso, ante a fragilidade que lhe é natural em razão da
idade avançada, que o torna ainda mais vulnerável, se comparado às demais pessoas, 9 não raro
acaba sendo atingido por práticas comerciais abusivas, que, em muitos casos, causam lesões que
superam a esfera patrimonial, provocando danos de ordem moral.
O intuito de nosso trabalho, considerando este "consumidor especial", que é a pessoa idosa, é
trazer à colação alguns julgados que conferiram indenização por danos morais perpetrados contra
consumidores idosos. São situações nas quase os consumidores idosos tiveram seus contratos de
planos de saúde rescindidos ilegalmente, ou que foram vítimas de negativas de coberturas de
atendimentos cuja responsabilidade pelo custeio era da empresa administradora do plano ou do
seguro-saúde.
São poucos ainda os casos em que tais perspectivas indenizatórias são desenvolvidas, sendo
objetivo desta pesquisa fomentar o debate em torno do tema.
2. Prerrogativas de proteção contratual do consumidor idoso de planos e de seguros
privados de assistência à saúde
Entendemos ser essencial para a compreensão de nossa pesquisa indicar alguns motivos e
elementos normativos específicos que conferem proteção à posição contratual do consumidor
idoso no âmbito de contratos de planos e de seguros privados de assistência à saúde.
Nessa linha de proteção, Braga comenta que: "A ética que foi negada aos idosos dos séculos
passados, deve nortear o relacionamento entre a sociedade e os idosos deste início de século.
Garantir os direitos dos que estão envelhecendo agora é um dever que não podemos passar para
as gerações futuras, já adiamos o reconhecimento da cidadania do idoso por muito tempo, e se
não podemos redimir os erros cometidos no passado, pelo menos podemos impedir que eles
continuem a acontecer". 1 0
O Código de Defesa do Consumidor, não bastasse o reconhecimento expresso cerca da
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, destacado no inciso I do seu art. 4.º,
11
cogita também uma fraqueza ainda maior, quando se trata de consumidor idoso, pois dispõe no
inciso IV do caput do seu art. 39 tratar-se de prática abusiva, vedada pelo fornecedor de
produtos ou serviços, "prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua
idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhes seus produtos ou serviços"
(grifo nosso).
A respeito, Marques sustenta que, "tratando-se de consumidor 'idoso' (assim considerado
indistintamente aquele cuja idade está acima de 60 anos) é, porém, um consumidor de
vulnerabilidade potencializada. Potencializada pela vulnerabilidade fática e técnica, pois é um leigo
frente a um especialista organizado em cadeia de fornecimento de serviços, um leigo que
necessita de forma premente dos serviços, frente à doença ou à morte iminente, um leigo que não
entende a complexa técnica atual dos contratos cativos de longa duração denominados 'planos'
de serviços de assistência à saúde ou assistência funerária". 1 2
Nessa linha de proteção do consumidor idoso, a Lei 9.656/98, editada para regular os contratos de
planos e de seguros privados de assistência à saúde, considerando a alteração imposta pela
MedProv 2.177-44/2001, previa, ao menos, três dispositivos expressos, e que se tratavam dos
arts. 14, 1 3 15 ( caput e par. ún.) 1 4 e 35-E (inciso I do caput e §§ 1.º, 2.º e 3.º, e respectivos
incisos), 1 5 os quais voltam-se para a proibição de discriminação de consumidores idosos, traçando
regras de reajustes de prestações em razão de mudanças de faixas etárias.
No que tange ao art. 35-E, conforme a redação que lhe foi dada pelas Medidas Provisórias 2.177-
44/2001 e 1.908-18/99, o mesmo teve a sua eficácia suspensa em razão de medida liminar
concedida parcialmente pelo STF no âmbito da ADIn 1.931-8. Esta ação fora proposta pela
Confederação Nacional de Saúde, órgão nacional representativo das empresas administradoras de
planos e de seguros de assistência privada à saúde, contra dispositivos da Lei 9.656 de 1998 que,
em outros aspectos, entende ofenderem o direito adquirido e o ato jurídico perfeito, em razão de
regras que atingem contratos celebrados antes de sua vigência. Os dispositivos atacados, no
caso, beneficiavam os consumidores, especialmente os idosos.

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 2/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

Ocorre que, tentando-se restaurar direitos que tiveram a eficácia suspensa ante a liminar
concedida no bojo da referida ADIn 1.931-8, foi inserido, no corpo legal do Estatuto do Idoso, que
passou a viger em janeiro de 2004, o § 3.º do art. 15, o qual veda quaisquer formas de
discriminação do consumidor idoso de planos e seguros de saúde e que se manifestem através de
cobranças de valores diferenciados em razão da idade.
Considerando que o Estatuto do Idoso é norma de proteção específica de pessoas de idade igual
ou superior a sessenta anos de idade, como preceituado em seu art. 1.º, a leitura do § 3.º do art.
15 deste diploma legal deve ser realizada no sentido de concluir pela proibição de aumentos de
mensalidade de contratos de planos e de seguros de assistência à saúde para consumidores que
atinjam sessenta anos. Ou seja, o último aumento permitido por mudança de faixa etária deve
ocorrer aos cinqüenta e nove anos do consumidor, restando vedado qualquer outro acima desta
idade.
Destaca-se que, tal como redigido, o § 3.º do art. 15, § 3.º, do Estatuto do Idoso incide sobre
contratos anteriores e posteriores a sua vigência.
No entanto, a questão da aplicação ou não dos dispositivos legais supra mencionados, ou seja, o
§ 3.º do art. 15 do Estatuto do Idoso, bem como o art. 35-E da Lei 9.656/98, sobre os contratos
ajustados antes de suas respectivas vigências, dependerá evidentemente do julgamento final da
referida ADIn 1.931-8.
Assinala-se, outrossim, que são plenamente aplicáveis às relações contratuais mantidas entre
consumidores idosos e administradoras de planos e de seguros de assistência à saúde as normas
constantes do Código de Defesa do Consumidor, com destaque para os incisos III e IV do art. 6.º,
para os arts. 30, 31, 36, 37, 46, 47 e 51, e para os §§ 3.º e 4.º do art. 54, os quais garantem o
direito do consumidor à informação plena e compreensível acerca do serviço contratado, proibindo
a propaganda enganosa, tornando vinculativa toda e qualquer promessa prestada pela
fornecedora, prevendo a interpretação pró-consumidor em casos de dúvidas decorrentes da
interpretação de cláusulas contratuais, 1 6 e vedando a utilização de cláusulas reputadas abusivas,
que acarretem desequilíbrio contratual em detrimento do consumidor. 1 7
Mister recordar que, nos contratos em análise, como ocorre nos negócios em geral, a "tônica das
condutas", como aduz Marques, é a boa-fé, 1 8 a qual, enunciada no inciso III do art. 4.º e no
inciso IV do caput do art. 51 do CDC (LGL\1990\40), por exemplo, sintetiza muito bem o espírito
do código na regulação da relação contratual consumidor-fornecedor, coibindo o emprego de
cláusulas abusivas nos contratos de consumo. 1 9
Além das normas constantes do Código de Defesa do Consumidor, o consumidor de planos e de
seguros de saúde, não necessariamente o idoso, encontra amparo também junto a Portarias da
Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, que prevêem rol de cláusulas contratuais
consideradas abusivas, e são editadas em aditamento ao elenco constante do art. 51 do estatuto
consumerista. Nesse caso, são consideradas abusivas as cláusulas descritas no item 14 da
Portaria 04/98 ("imponham limite ao tempo de internação hospitalar, que não o prescrito pelo
médico"), no item 2 da Portaria 03/99 ("imponham, em contratos de planos de saúde firmados
anteriormente à Lei 9.656 de 1998, limites ou restrições a procedimentos médicos (consultas,
exames médicos, laboratórios e internações hospitalares, UTI e similares), contrariando prescrição
médica"), no item 13 da Portaria 03/2001 ("impeça o consumidor de acionar, em caso de erro
médico, diretamente a operadora ou cooperativa que organiza ou administra o plano privado de
assistência à saúde"), nos incisos IV ("imponha em contratos de seguro-saúde, firmados
anteriormente à Lei 9.656 de 1998, limite temporal para internação hospitalar") e V ("prescreva,
em contrato de plano de saúde ou seguro-saúde, a não cobertura de doenças de notificação
compulsória") do item 1 da Portaria 05/2002, e no art. 1.º ("considerar abusiva, nos termos do art.
39, V, da Lei 8.078/1990, a interrupção da internação hospitalar em leito clínico, cirúrgico ou em
centro de terapia intensiva ou similar, por motivos alheios às prescrições médicas") da Portaria 07/
2003.
Observam-se, portanto, inúmeros dispositivos legais de proteção específica e genérica ao
consumidor idoso de contratos de planos e de seguros de saúde. No entanto, algumas condutas
adotadas por determinadas empresas do ramo superam o mero conflito acerca da interpretação
contratual de dispositivos negociais, 2 0 expressando verdadeiras práticas abusivas e que, além de
comprometer, de forma ilegal, o patrimônio material do consumidor, não somente o idoso, atingindo
também a sua integridade psíquica. Em razão disso, por motivos de justiça, devem estas empresas
ser condenadas a ressarcir também o dano moral praticado contra o consumidor, como vem sendo
definido pela jurisprudência.
3. Indenização por dano moral do consumidor idoso em face da rescisão abusiva de

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 3/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

contrato de plano de saúde


No âmbito de proteção dos direitos de personalidade, os quais estão relacionados à proteção à
vida e à dignidade, destaca-se o novo Código Civil (LGL\2002\400) brasileiro, 2 1 em vigor desde
11.01.2003, que, entre suas inovações, traz capítulo específico sobre a matéria, 2 2 amparando
situação até não prevista expressamente no revogado Código Civil de 1916 (LGL\1916\1), é que
se trata da indenização por dano moral. 2 3
Indicar propriamente quais as situações que envolvem danos morais é tarefa da jurisprudência e
da doutrina, 2 4 tendo em visa que a mera referência a "dano moral", tal como anunciada em artigos
como o 186 do CC/2002 (LGL\2002\400), ou no inciso VI do art. 6.º do CDC (LGL\1990\40) requer,
no mínimo, seja mencionado qual atributo da moral está sendo atingido no caso concreto.
Por exemplo, analisando-se o art. 20 do CC/2002 (LGL\2002\400), nota-se referências à "honra,
boa fama e respeitabilidade", como atributos personalíssimos que podem ser atingidos pelo uso
indevido de escritos, da palavra e da imagem da pessoa. Havendo ofensa em razão disto, no
mesmo dispositivo legal há menção ao direito à indenização em razão da agressão cometido aos
mencionados atributos, e que se trata de um dano moral. No entanto, é muito mais comum a
utilização pelo legislador de expressão genérica acerca do dano moral, deixando para a
jurisprudência e para a doutrina a tarefa de criação de catálogo de situações que revelam
agressão a algum atributo da pessoa ligado a sua moral.
Sobre o tema abordado, salienta-se que casos envolvendo tentativas de exclusão de pessoas
idosas de planos de saúde não são poucos. Em verdade, raras são as situações que tias fatos são
levados à justiça, o que justifica ainda mais a abordagem do tema.
O indivíduo que, durante boa parte de sua vida, contribui com mensalidades, permitindo o
crescimento da empresa administradora de planos e de seguros de saúde, pode passar a ser visto
como um fardo para esta fornecedora, quando começa a utilizar com freqüência os serviços
garantidos pelo seu contrato.
Em princípio, uma pessoa jovem, que paga normalmente seu plano, assim o faz por precaução.
Naturalmente, a idade avançada acaba se tornando o período a partir do qual o indivíduo poderá
demandar uma atenção maior para com a sua saúde, sendo comum a manifestação de
determinadas patologias até então inexistentes. Em geral, nos contratos de assistência de saúde
privada de pessoas idosas verifica-se, por exemplo, um número maior de consultas médicas.
Portanto, a partir deste momento, utilizando com maior freqüência os serviços garantidos pelo
plano ou pelo seguro de saúde, o indivíduo acaba transformando-se em motivo de despesa, o que
obviamente não é conveniente às empresas fornecedoras.
Por isso, analisando-se as razões que conduzem ao aumento do valor das mensalidades de planos
ou seguro de saúde, o fator idade desponta como primordial. Assim, à medida que o indivíduo
envelhece, sua mensalidade segue aumentando, de acordo com a sua faixa etária, pois especula-
se que, quanto mais velho, mais doente é o consumidor, e daí a razão de ter que pagar mais pela
assistência à saúde.
No entanto, tem-se observado que, não obstante a cobrança de valores bastante superiores
àqueles inicialmente ajustados com a empresa administradora do plano de saúde, justamente em
função do avanço da idade, ainda assim algumas fornecedoras deste ramo têm feito uso de
expedientes abusivos e amplamente contrários à boa-fé, e que acabam culminando na rescisão do
contrato do consumidor idoso.
Partindo-se da assertiva que a administradora de planos de saúde não pode aumentar as
mensalidades dos consumidores de forma arbitrária, sob pena de violação de dispositivos
normativos como o art. 51, X, do CDC (LGL\1990\40), 2 5 a situação que envolve a exclusão do
consumidor idoso, apresenta-se como excelente alternativa econômica a esta fornecedora,
essencialmente no que tange à redução de custos com cobertura de atendimentos.
Verifica-se, por exemplo, situações como a omissão de envio de bloquetos de pagamento do
contrato de plano de saúde ao consumidor, ou o envio destes documentos de cobrança
informando valores equivocados, impedindo o pagamento normal da mensalidade, ocasionando, de
forma propositada, a inadimplência do consumidor idoso. E, uma vez configurada a inadimplência, o
consumidor terá seu contrato rescindido, com amparo no inciso II do par. ún. do art. 13 da Lei
9.656/98, não podendo mais ser invocada a cobertura da administradora para com o tratamento
de enfermidades que este consumidor possa apresentar. 2 6
Casos como estes demandam atitudes incisivas do Poder Judiciário, que sirvam para punir aquelas
empresas administradoras de planos de saúde, cuja conduta, algumas vezes, denotam
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 4/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

desumanidade, estando pautadas por manifesta má-fé. Trata-se de situações que revelam
manifesto constrangimento, sofrimento e humilhação suportados pelo consumidor idoso que é
descartado ilegalmente do âmbito de proteção do plano ou do seguro de saúde. Em razão disto,
invoca-se a indenização por dano moral destes indivíduos.

Nesse sentido, há o caso ocorrido no ano de 2002 com os consumidores W.M.E. e N.W.E., 2 7 à
época com 71 e 68 anos, respectivamente, os quais propuseram uma ação indenizatória por danos
morais e materiais contra a empresa Golden Cross. 2 8
Transcorrido o processamento regular da referida ação, o julgador, Juiz Oyama Assis Brasil de
Moraes, em sentença prolatada em 11.11.2002, considerou a Golden Cross culpada pela situação
verificada com os consumidores W.M.E. e N.W.E.
Assim, assinalando que "as afirmativas postas pela ré carecem de suporte no conjunto probatório,
ao passo que as afirmativas postas na inicial afinam-se com a prova produzida", o magistrado de
primeiro grau julgou parcialmente procedente a pretensão de indenização pelo dano material,
condenando a Golden Cross a indenizar os autores no que tange aos pagamentos de mensalidades
efetuados a partir do mês de maio de 2001, totalizando R$ 2.689,57, devendo tais parcelas ser
corrigidas monetariamente pelo IGPM desde a data de cada um dos pagamentos e acrescidas de
juros legais a contar da citação.
No que tange ao dano moral postulado pelos consumidores, o ilustre julgador concluiu que, "(...)
inquestionavelmente foram os autores submetidos à situação aflitiva, pois pessoas de idade
avançada, viram-se privados da cobertura do plano de saúde, estando sujeitos apenas à saúde
oficial sabidamente deficiente. Tal situação, por óbvio, traduz desconforto, transtorno e angústia,
mormente porque incidente em pessoas de idade avançada e por isso mesmo mais necessitadas de
cuidados médicos e a falta de cobertura para despesas médico-hospitalares traz, sem sombra de
dúvidas, sérias perturbações ainda mais porque praticamente inviável a contratação de nova
cobertura securitária" (grifo nosso).
Outrossim, salientou o magistrado que, "(...) indiscutivelmente, a mácula sofrida pelos autores foi
extremamente gravosa, pois despojados de cobertura securitária no acaso da vida e com mínimas
possibilidades de contratar outro seguro. Destaco que a indenização por dano moral, em seu
duplo aspecto, objetiva compensar a mácula sofrida e tem o caráter de sanção ao causador do
dano devendo ser levada em consideração, principalmente, a situação financeira do ofensor de
modo que indenização sirva para desestimular a prática do ato danoso" (grifo nosso).
Quanto à fixação do valor da indenização pelos danos morais dos consumidores, o emérito julgador
aduziu que "de nada adianta, portanto, fixar a indenização a ser paga por grandes corporações em
10 salários mínimos, como comumente acontece, pois tal valor nada representa para uma
instituição do porte da ré. Fixar indenizações em patamares baixos, longe de punir, representa
verdadeiro prêmio ao causador do dano. Nesse norte, tenho que na fixação de indenização por
dano moral deve-se estar atento à situação financeira do ofensor, pouco ou nada importando que
o ofendido receba quantia considerável e que os honorários do advogado do vencedor também
sejam polpudos. Não há que se ter mente, portanto, o enriquecimento do ofendido, mas sim a
adequada punição ao ofensor" (grifo nosso).
Diante desses argumentos, restou a Golden Cross igualmente condenada a indenizar os
consumidores em valor correspondente a cinqüenta vezes o montante da última parcela paga, o
que perfazia R$ 31.306,50 para cada autor, os quais deveriam ser corrigidos monetariamente
desde 13.02.2002, correspondente à data do último pagamento efetuado, devendo ser acrescidos
juros legais a contar da citação. Em razão do decaimento mínimo, restou a Golden Cross
condenada ao pagamento das custas do processo, mais honorários advocatícios aos patronos dos
autores, fixados em dez por cento do valor total da condenação.
Inconformada com a condenação que lhe foi imposta, a Golden Cross recorreu, interpondo a ApCiv
70005890710, a qual foi julgada em 03.09.2003, pela 6.ª Câm. Cív. do TJRS. 2 9
No acórdão, que acolheu em parte o recurso da Golden Cross, foram mantidas as condenações
pelos danos materiais e morais, reduzindo-se, no entanto, ainda que sensivelmente, os valores
fixados no primeiro grau de jurisdição.
Assim, ao final, restou a fornecedora condenada a pagar aos consumidores uma indenização de R$
20.000,00 a cada um deles, corrigíveis pelo IGPM a partir da prolação do acórdão, a título de dano
moral, mais R$ 1.437,31, referentes ao dano material, isto é, parcelas despendidas com o plano,
corrigíveis pelo IGPM a partir do desembolso, a título de danos materiais, mantidas as demais
cominações fixadas na sentença, inclusive quanto à incidência de juros legais sobre os valores
acima indicados.

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 5/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

Ainda que se tenha dado parcial provimento ao recurso da Golden Cross, ainda assim, em seu
voto, consignou o ilustre relator do acórdão, o Des. Carlos Alberto Álvaro de Oliveira: "Verifica-se,
portanto, que os autores ficaram privados de seus direitos, já em idade avançada, depois de anos
de contribuição, por culpa exclusiva da ré, que abusivamente aumentou a prestação e por
negligência e imperícia excluiu a mulher do autor dos benefícios do plano. Não colhe o argumento
da apelante de que se verifica fundada dúvida jurídica a respeito da diluição do aumento. O art.
35-H, I, da Lei 9.656/98, acrescentado pela MedProv 1.801-10, de 25.02.1999, é cristalino a
respeito e, além disso, constitui mero reforço, visto que o aumento de preços de qualquer faixa
etária, de forma unilateral, está proibido de forma taxativa pelo art. 51, X, do CDC (LGL\1990\40)".
O caso exposto demonstra que alguns consumidores de idade avançada, especialmente no âmbito
dos contratos de planos e seguro de saúde, podem ser profundamente vitimados por
procedimentos escusos, e cujo fim é justamente aliviar a administradora de planos de saúde de
gastos promovidos por estas pessoas, cujo interesse econômico perdura enquanto pouco, ou
nada, é utilizado do plano.
Ao definir o contrato de plano de saúde, Marques destaca que "efetivamente, o contrato de
planos de saúde é um contrato para o futuro, mas contrato assegurador do presente, em que o
consumidor deposita sua confiança na adequação e qualidade dos serviços médicos intermediados
ou conveniados, deposita sua confiança na previsibilidade da cobertura leal destes eventos
futuros relacionados com saúde. É um contrato de consumo típico da pós-modernidade: um fazer
de segurança e confiança, um fazer em cadeia, um fazer reiterado, um fazer de longa duração, um
fazer de crescente essencialidade. É um contrato oneroso e sinalagmático, de um mercado em
franca expansão, onde a boa-fé deve ser a tônica das condutas". 3 0
Esta jurista assinala que, após o pagamento repetido de contribuições ao sistema da
administradora do plano de saúde, o que pode ter transcorrido durante anos, gerando
expectativas de coberturas futuras de riscos ligados à saúde, é amplamente prejudicial ao
consumidor a rescisão de seu contrato. 3 1
A respeito do tratamento dispensado pelas administradoras de planos de seguros de saúde aos
consumidores idosos, essencialmente em sede de reajustes por mudança de faixa etária, Carvalho
Sobrinho comenta que "a lei, para os contratos anteriores à data de sua vigência, tentou evitar
aumentos abusivos aos idosos, com mais de 60 (sessenta) anos, ao determinar que os reajustes
necessitariam aprovação prévia da ANS (art. 35-E, I). Ignorando a disposição legal, a prática
demonstra que as operadoras insistem em aplicar reajustes superiores a cinqüenta por cento, não
acata as reclamações, e os contribuintes inseguros, com medo de perder a proteção à saúde, na
idade em que tanto precisam, com aposentadorias que recebem reajustem ínfimos, ficam acuados
e indefesos. Só conseguirão resolver o problema na justiça. Solução inviável para a maioria, pois
além de parcos recursos, padecem de ter uma emergência e não poderem utilizar o que levaram
anos pagando: o seu plano de saúde. Se não podemos evitar que tenham essa situação, podemos
ao menos garantir, morrerão sem assistência do plano de saúde". 3 2
No mesmo sentido, Nunes refere que, "para se ter uma idéia da maneira como as operadoras
tratam seus usuários, leia-se a notícia trazida pelo Jornal da Tarde, de São Paulo (27.11.1998, p.
15-A), que diz que o Ministério da Saúde estava para fazer uma auditoria numa grande operadora
de planos de saúde por ela ter aumentado o preço da mensalidade de consumidores que tinham
mais de sessenta anos e contribuíam com o plano há mais de dez. Se for verdade o que disse o
jornal, a resposta oficial da empresa, foi, no mínimo, cínica: ela alegou que achava que a lei só
valeria daqui a dez anos!!!". 3 3
Resta claro, portanto, que tentativas de exclusão de consumidores idosos de planos de saúde
podem assumir contrastes lastimáveis, devendo ser rechaçadas. A imposição de valores
significativos a título de indenização por danos morais que devem ser pagos ao consumidor deve
servir também para evitar a reincidência. Ou seja, a cada novo dano provocado aos consumidores,
a administradora do plano de saúde é condenada a despender valores em percentuais tão
significativos que acaba sendo "incentivada" a abrir mão da adoção de certas práticas lesivas. Em
verdade, trata-se de fórmula eficiente para provocar a mudança de determinados comportamentos
abusivos por parte destas empresas, uma vez que se torna mais dispendiosa a manutenção destas
condutas, sendo mais coerentes atitudes balizadas nos moldes legais, que não causem prejuízos
aos consumidores. 3 4
Salienta-se que, uma vez tendo seu contrato rescindido, o consumidor idoso dificilmente logrará
êxito em filiar-se a outro plano de saúde, tendo em vista os elevados valores cobrados a pessoas
de sua idade. Via de regra, os consumidores de idade avançada contam apenas com o pagamento
de suas aposentadorias, não tendo mais forças para produzir, tampouco de reingressar no
mercado de trabalho, sendo impossível a eles auferir ganhos que lhes permitam contratar planos
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 6/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

de saúde com valores mensais que superam a soma de dois salários mínimos. Sem outra
alternativa, o indivíduo que, durante anos, pagou por um plano de saúde, ao alcançar determinada
idade, poderá estar relegado a depender unicamente do sistema público de saúde, cujo caos é
notório.
4. Indenização por dano moral do consumidor idoso em face das negativas abusivas de
cobertura de tratamentos médico-hospitalares
Destaca-se também o excesso de negativas abusivas quanto à cobertura de determinadas
enfermidades, que acabam gerando um excessivo desgaste pessoal do consumidor, em especial, o
idoso, levando-o a desistir do plano, ou vivenciar um calvário, até a obtenção de respaldo judicial
que garanta o tratamento que necessita.
Concluindo pela presença de abusos, a jurisprudência pátria tem se manifestado favoravelmente à
indenização pelo abalo moral causado aos consumidores de planos de saúde que ilegalmente têm
visto frustradas suas expectativas quanto ao atendimento médico-hospitalar que não é coberto.
São situações que inegavelmente acarretam angústia e constrangimento ao consumidor em razão
da falta de atendimento médico-hospitalar assegurado.
Nesse sentido, há o julgamento da ApCiv 41.119-4, pela 5.ª Câm. de Direito Privado do TJSP,
ocorrido em 15.10.1998, sendo relator o Des. Ivan Sartori, que tornou certo o dever de indenizar
pela prestadora de serviço de assistência médica-hospitalar em razão de toda angústia decorrente
de não fornecimento abusivo dos serviços oferecidos ao segurado ou ao beneficiário do plano de
saúde. 3 5 No seu voto, o ilustre relator do citado acórdão referiu que "(...) a composição de danos
morais se afigura adequada, haja vista o profundo desgosto que vem experimentando o autor, a
refletir em seu íntimo, tudo em função da ameaça constante que o atinge, de não receber
tratamento contratado, embora seriamente doente e já bastante idoso" (grifei). 3 6
Caso similar, no qual o consumidor idoso também fora exposto a abalo moral em razão de abusos
cometidos pela fornecedora foi julgado em 11.02.1999 pela 6.ª Câm. de Direito Privado do também
TJSP, nos autos da ApCiv 62.883, sendo relator o Des. Testa Marchi. 3 7
No seu voto, o relator do julgado acima referido identificou o descaso da fornecedora do plano de
saúde para com o segurado e beneficiários, causando extremo constrangimento, humilhação,
desconforto, angústia e sofrimento, além de forçar os autores-consumidores a procurarem a
justiça na tentativa de garantirem aquilo por que pagaram durante boa parte da vida. Nesse
sentido, aduziu que "o não-atendimento da paciente pelo convênio porque a empresa prestadora
de serviços médicos não avisou, com antecedência, o associado sobre o descredenciamento do
hospital, o que provocou demora e desconforto à usuária e seus familiares, expondo-os a vexame
público, está a exigir a reparação do dano moral sofrido, sabido que este tem também função
punitiva par o ofensor. De fato, só não foram prestados melhores serviços pelo hospital pelo fato
de não mais existir o convênio. Se a cliente tivesse sido avisada com antecedência pelo réu,
certamente seus familiares procurariam outro estabelecimento em busca de tratamento, sem
necessidade de incorrerem nos riscos da demora no atendimento e de se exporem às dificuldades,
obstáculos, dissabores e aflição que a situação lhes causou". 3 8
Merece referência também o acórdão proferido nos autos da ApCiv 2002.001.25364, julgada em
16.04.2003 pela 13.ª Câm. Cív. do TJRJ, sendo relatora a Desa. Helena Belc Klausner, e que restou
por condenar a empresa administradora do plano de saúde a custear a colocação de próteses
coronárias de que necessitava o cliente, impondo-lhe igualmente indenização de R$ 20.000,00 em
razão de dano moral praticado contra o consumidor idoso, tendo em vista a abusividade detectada
na negativa de cobertura do tratamento esboçada pela fornecedora. 3 9
Destaca-se também a decisão proferida pela 1.ª Câm. Cív. do TJSC, nos autos da ApCiv
2002.014481-4, datada de 15.10.2002, da qual foi relator o Des. Carlos Prudêncio. No caso,
tratava-se de ação ajuizada para garantir cobertura de consumidor de plano de saúde que teve
negado custeio de prótese cardiovascular denominada stent, cumulada com indenização por dano
moral em decorrência das conseqüências da negativa da fornecedora para com a pessoa do
usuário do plano. Nesse sentido, o TJSC garantiu ao consumidor a cobertura do tratamento
pretendido, como também condenou a fornecedora a indenizá-lo em quinhentos salários mínimos
pelos danos morais provocados, além do pagamento de multa por litigância de má-fé. 4 0
Observa-se, portanto, acolhimento a pretensões indenizatórias em decorrência de danos morais
sofridos por consumidores idosos de seguros e planos de saúde, que são constrangidos e
humilhados ante a falta de assistência médica-hospitalar, que, durante anos, é custeada por eles.
Ainda são poucos os casos em que se constata a condenação de empresas administradoras de
planos de saúde por danos morais praticados aos consumidores em razão de situações como as
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 7/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

abordadas. No entanto, observa-se que a tendência jurisprudencial é justamente estabelecer


indenizações aos consumidores, nas situações reportadas, restringindo cada vez mais os abusos
cometidos.
5. Conclusão - Bibliografia
Além de assegurar a aplicação de dispositivos legais concernentes ao direito à indenização pelo
dano moral, os casos descritos acabam por conferir dignidade e garantir a cidadania das pessoas
idosas, impedindo que estas, em razão de sua condição natural, tornem-se sujeitos sem direito.
Conforme aduz Braga, "A cidadania pressupõe o desenvolvimento de valores éticos que se
objetivam nas seguintes virtudes cívicas: solidariedade, tolerância, justiça e valentia cívica,
engendradas na relação da vida pública e vida privada. A legitimidade social destas virtudes
significa a constituição de cidadãos que apóiam a construção de um mundo sócio político mais
justo, onde a dominação e a submissão sejam superadas. Cidadão é aquele que luta para que
todos sejam cidadãos, é aquele que participa, que conquista a autonomia, que não é tutelado. A
cidadania não é uma interação primária e por isso é adquirida no convívio e precisa ser cultivada;
supõe valores éticos e implica em redução de espaços individuais para oportunizar ao outro ocupar
um espaço que é de todos. A expressão cidadania está hoje em toda a parte, num certo sentido,
isso é positivo porque demonstra que a expressão ganhou espaço na sociedade, mas por outro
lado, existe a necessidade emergente de delimitar seu significado. Neste ponto, encontramos a
ética! Podemos então criar uma relação interessante: a ética, enquanto conjunto de princípios
que norteiam o comportamento da sociedade, tem que absorver um novo paradigma em relação ao
idoso. Ou seja, entre os princípios que regem a sociedade, deve existir o respeito ao idoso no
sentido mais amplo que for possível. Esta 'nova ética' será capaz de garantir o espaço social que o
idoso merece, e que não lhe pode mais ser negado. Neste momento, seremos capazes de
reconhecer a cidadania do Idoso, e a partir desta inserção social, abriremos nossos horizontes no
sentido de nos prepararmos para o ciclo natural da vida e então, talvez, será mais fácil
reconhecer que começamos a envelhecer no momento em que nascemos...". 4 1
Evidente que não é prejudicial, tampouco terapêutica, a mera condenação da empresa
administradora de planos e de seguros de assistência médica à cobertura do tratamento de que
necessita o consumidor. No caso, está-se apenas obrigando a fornecedora a cumprir com um
dever que era inerente ao contrato e que ela havia assumido quando da contratação. Em verdade,
a demora no atendimento representa lucro para a fornecedora, em razão do tempo por ela
auferido até o desembolso efetivo do custo do tratamento utilizado pelo consumidor. No entanto,
forçar a fornecedora a entregar algo que ela estava obrigada por força do contrato não se mostra
suficiente para provocar a alteração de determinadas condutas abusivas, principalmente quando
se trata de consumidor idoso, o qual naturalmente acaba sofrendo mais.
Por esta razão, torna-se necessário um número maior de condenações por danos morais em prol
daqueles consumidores de panos de saúde que acabam sendo expostos a um calvário na tentativa
de assegurar tratamento médico-hospitalar, ou que têm seu contrato de plano de saúde
rescindido injustamente.
Considerando-se a capacidade econômica das empresas administradoras de planos e de seguros
de assistência médica, em alguns casos, ligadas a grupos financeiros internacionais, que não raro
possuem faturamento anual vultoso, os valores aplicados nas indenizações deve ser também
suficiente para que, além de amenizar a dor da vítima, possam se constituir em um desestímulo à
reincidência, evitando-se que outros membros da coletividade tenham sua esfera psíquica e
patrimonial também atingidas por situações análogas:
Conforme a lição de Cahali, "na solução dos interesses em conflito, o direito como processo social
da adaptação, estabelece aquele que deve prevalecer, garantindo-o através de coerção até
mesmo física, preventiva ou sucessiva, que não é desconhecida também do direito privado. Assim,
pode acontecer que, para induzir alguém a que se abstenha da violação de um preceito, o direito
o ameace com a cominação de um mal maior do que aquele que lhe provocaria a sua observância.
Nesse caso - assinala Carnelutti - tem-se a sanção econômica do preceito; e os meios de
diferentes espécies, que visam assegurar a observância do preceito, recebem justamente o nome
de sanção, pois sancionar significa precisamente tornar qualquer coisa, que é o preceito, inviolável
e sagrada". 4 2
Valores indenizatórios ínfimos, ou a falta de condenação por danos morais, nas situações
cotejadas, não justificam a mudança de comportamento do fornecedor, pois representam uma via
mais econômica do que aquela referente ao oferecimento de serviços com qualidade, nos moldes
exigidos pelo Código de Defesa do Consumidor.
Como sabido, a indenização por dano moral, além de pessoal, como não poderia deixar de ser, é

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 8/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

também um benefício voltado à coletividade, pois trará maior segurança ao tráfico jurídico, seja
com a retirada de maus comerciantes do mercado, seja com a educação dos faltosos, para que
forneçam serviços e produtos adequados, não nocivos à integridade psíquica, física e patrimonial
dos consumidores.
A perspectiva acerca da indenização por dano moral em situações como as que foram descritas é
recente. Esperamos poder ter incrementado a discussão a respeito da matéria, restando por
incentivar a proteção do consumidor idoso de planos e seguros de assistência médica privada,
especialmente quanto a determinados abusos de que são vítimas, e que são observados com
certa freqüência, justamente em razão da fragilidade que é peculiar a esta categoria de
consumidores.
Bibliografia
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. "A boa-fé e o controle das cláusulas contratuais abusivas nas
relações de consumo". Revista de Direito do Consumidor 6/27 (DTR\1993\173)-33, São Paulo,
abr.-jun. 1993.
BARBOSA, Antonieta. Câncer: direito e cidadania. São Paulo: ARX, 2003. 322p.
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos et alii. Código de Defesa do Consumidor comentado
pelos autores do anteprojeto. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999. 1.016p.
BODIN DE MORAES, Maria Celina. "O conceito de dignidade humana: substrato axiológico e
conteúdo normativo". Constituição, direitos fundamentais e direito privado. Org. Ingo Sarlet.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 105-148.
BONATO, Cláudio; MORAES, Valério Dal Pai. Questões controvertidas no Código de Defesa do
Consumidor. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. 242p.
BOURGOIGNIE, Thierry. "O conceito de abusividade em relação aos consumidores e a necessidade
de seu controle através de uma cláusula geral". Revista de Direito do Consumidor 6/06-16, São
Paulo, abr.-jun. 1993.
BRAGA, Pérola Melissa Vianna. "Envelhecimento, ética e cidadania". Disponível em [http://
www.jus.com.br]. Acesso em 04.02.2004.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. "O direito do consumidor no limiar do século XXI". Revista de Direito do
Consumidor 35/96-108, São Paulo, jul.-set. 2000.
_______. Programa de responsabilidade civil. 2. ed. 3. tir. São Paulo: Malheiros, 2000. 242p.
FACHIN, Luiz Edson e RUZYK, Carlos Eduardo Pianovski. "Direitos fundamentais, dignidade da
pessoa humana e o novo Código Civil (LGL\2002\400): uma análise crítica". Constituição, direitos
fundamentais e direito privado. Org. Ingo Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 87-
104.
FACCHINI NETO, Eugênio. "Reflexões histórico-evolutivas sobre a constitucionalização do direito
privado". Constituição, direitos fundamentais e direito privado. Org. Ingo Sarlet. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2003. p. 11-60.
FERNANDES, Flávio da Silva. "Envelhecimento e cidadania". Disponível em [http://
www.intelecto.net]. Acesso em 05.02.2004.
GRAU, Eros Roberto. "Interpretando o Código de Defesa do Consumidor: algumas notas". Revista
de Direito do Consumidor 5/181-189, São Paulo, jan.-mar. 1993.
HECK, Luís Afonso. "Direitos fundamentais e sua influência no direito civil". Revista de Direito do
Consumidor 29/40 (DTR\1999\676)-54, São Paulo, jan.-mar. 1999.
ITURRASPE, Jorge Mosset. Como contratar en una economia de mercado. Buenos Aires: Rubinzal-
Culzoni. 232p.
JAYME, Erik. "Visões para uma teoria pós-moderna do direito comparado". Trad. Claudia Lima
Marques. RT 759/24 (DTR\1999\103)-40, São Paulo, jan. 1999.
LOBO NETO, Paulo Luiz. "Constitucionalização do direito civil". Disponível em [http://
www.mundojuridico.adv.br]. Acesso em 03.08.2003.
LORENZETTI, Ricardo Luis. "Analisis crítico de la autonomia privada contractual". Revista de Direito
do Consumidor 14/5 (DTR\1995\141)-19, São Paulo, abr.-jun. 1995.
LOUREIRO, Luiz Guilherme de Andrade V. Seguro saúde. São Paulo: Lejus, 2000. 394p.
MACEDO JÚNIOR, Ronaldo Porto. Contratos relacionais e defesa do consumidor. Rio de Janeiro:

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 9/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

Max Limonad, 1998. 402p.


MARQUES, Claudia Lima. "Novas regras sobre proteção do consumidor nas relações contratuais".
Revista de Direito do Consumidor 1/27 (DTR\1992\15)-54, São Paulo, jul. 1991, e Revista da Ajuris
52/34-61, Porto Alegre.
_______. "A abusividade nos contratos de seguro-saúde e assistência médica no Brasil". Revista
da Ajuris 64/34-77, Porto Alegre, jul. 1995.
_______. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 3. ed. 2. tir. São Paulo: RT, 1999. 674p.
_______. "Planos privados de assistência à saúde. Desnecessidade de opção do consumidor pelo
novo sistema. Opção a depender da conveniência do consumidor. Abusividade de cláusula
contratual que permite a resolução do contrato coletivo por escolha do fornecedor" (Parecer).
Revista de Direito do Consumidor 31/129-169, São Paulo, jul.-set. 1999.
_______. "A questão das cláusulas abusivas nos contratos e planos de saúde". Revista de Direito
do Consumidor 34/98 (DTR\2000\791)-101, São Paulo, abr.-jun. 2000.
_______. "Direitos básicos do consumidor na sociedade pós-moderna de serviços: o aparecimento
de um sujeito novo e a realização de seus direitos". Revista de Direito do Consumidor 35/61
(DTR\2000\727)-96, São Paulo, jul.-set. 2000.
_______. "Diálogo entre o Código de Defesa do Consumidor e o novo Código Civil (LGL\2002\400):
do 'diálogo das fontes' no combate às cláusulas abusivas". Revista de Direito do Consumidor 45/71
(DTR\2003\811)-99, jan.-mar. 2003.
_______. "Solidariedade na doença e na morte: sobre a necessidade de 'ações afirmativas' em
contratos de planos de saúde e de planos funerários frente ao consumidor idoso". Constituição,
direitos fundamentais e direito privado. Org. Ingo Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2003. p. 185-222.
MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: sistema e tópica no processo obrigacional.
São Paulo: RT, 1999. 546p.
NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 3.
ed. Rio de Janeiro: Aide, 1991. 189p.
NEGREIROS, Teresa. Fundamentos para uma interpretação constitucional do princípio da boa-fé.
Rio de Janeiro: Renovar, 1998. 305p.
NERY JUNIOR, Nelson e ANDRADE NERY, Rosa Maria de. Código Civil (LGL\2002\400) anotado e
legislação extravagante. 2. ed. São Paulo: RT, 2003. p.157.
NORONHA, Fernando. O direito dos contratos e seus princípios fundamentais: autonomia privada,
boa-fé, justiça contratual. São Paulo: Saraiva, 1994. 268p.
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. O Código de Defesa do Consumidor e sua interpretação
jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 1997.
_______. Comentários à Lei de Plano Privado de Assistência à Saúde. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2000. 338p.
PASQUALOTTO, Adalberto. "Defesa do consumidor". Revista de Direito do Consumidor 6/34
(DTR\1993\174)-60, São Paulo.
_______. "O Código de Defesa do Consumidor em face do novo Código Civil (LGL\2002\400)".
Revista de Direito do Consumidor 43/96 (DTR\2002\818)-110, jul.-set. 2002.
PEREIRA, Daisy Maria de Andrade Costa. "Os direitos humanos e a inclusão do idoso". Disponível
em [http://www.conamp.org.br]. Acesso em 05.02.2004.
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: introdução ao direito civil constitucional. Trad. Maria
Cristina de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. 369p.
SARLET, Ingo Wolfgang. "Direitos fundamentais e o direito privado: algumas considerações em
torno da vinculação dos particulares aos direitos fundamentais". A Constituição concretizada:
construindo pontes com o público e o privado. Org. Ingo Wolfgang Sarlet. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2000. p. 107 a 163.
SCHMITT, Cristiano Heineck. "As cláusulas abusivas no Código de Defesa do Consumidor". Revista
de Direito do Consumidor 33/161 (DTR\2000\719)-181, São Paulo, jan.-mar. 2000.
SCHMITT, Cristiano Heineck; MARQUES, Claudia Lima. "Visões sobre os planos de saúde privada e
o Código de Defesa do Consumidor". Curso de especialização à distância em direito sanitário para

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 10/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

membros do Ministério Público e da Magistratura Federal. Org. Márcio Iorio Aranha e Sebastião
Botto de Barros Tojal. Brasília, 2002, p. 285-373.
SEVERO, Sérgio. Os danos extrapatrimonais. São Paulo: Saraiva, 1996. 252p.
SOBRINHO, Linneu Rodrigues de Carvalho. Seguros e planos de saúde. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2001. 294p.
TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Coord.). Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Belo
Horizonte: Del Rey, 2000. 418p.
TEPEDINO, Gustavo (Coord.). "O Código Civil (LGL\2002\400), os chamados microssistemas e a
Constituição: premissas para uma reforma legislativa". Problemas de direito civil constitucional.
Coord. Gustavo Tepedino. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 1-16.
TEPEDINO, Maria Celina B. M. "A caminho de um direito civil constitucional". Revista de Direito
Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial 65/21-32, São Paulo, jul.-set. 1993.

(1) Caput do art. 230 da CF/1988 (LGL\1988\3).

(2) Inciso III do art. 1.º da CF/1988 (LGL\1988\3).

(3) Caput do art. 5.º da CF/1988 (LGL\1988\3).

(4) Arts. 3.º, IV e. 5.º, caput, da CF/1988 (LGL\1988\3).

(5) Cita-se, nesse sentido, o enunciado dos arts. 2.º e 3.º do aludido estatuto - Art. 2.º: "O idoso
goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoas humana, sem prejuízo da proteção
integral de que se trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade". Art. 3.º: "É
obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com
absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, á alimentação, à educação, à cultura,
ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, á dignidade, ao respeito e á
convivência familiar e comunitária".

(6) BRAGA, Pérola Melissa Vianna. "Envelhecimento, ética e cidadania". Disponível em [http://
www.jus.com.br]. Acesso em 04.02.2004. Segundo a autora: "Cabe ao Direito brasileiro
reconhecer que o idoso não é um cidadão de segunda classe, mas uma pessoa mais bem dotada
cronologicamente. A sociedade e a família, conseqüentemente, precisam entender o
envelhecimento de seus integrantes como uma evolução e não como um peso! Quando
reconhecermos o potencial de nossos membros idosos, passaremos a lutar para que o Direito os
reconheça como cidadãos. E finalmente, uma vez que os idosos tenham sua cidadania reconhecida
e garantida, será possível dividir entre a Família, o Estado e a Sociedade, a responsabilidade e o
prazer de cuidar daqueles que estão envelhecendo".

(7) Vide art. 3.º, parágrafo único, I, da Lei 10.741/2003.

(8) Vide art. 3.º, parágrafo único, III, da Lei 10.741/2003.

(9) Acerca do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, vide o


inciso I do art. 4.º do CDC (LGL\1990\40).

(10) Op. cit.

(11) Merece transcrição, nesse sentido, o comentário de MARQUES: "Ninguém discute hoje mais
porque o consumidor foi o único agente econômico a merecer inclusão no rol dos direitos
fundamentais do art. 5.º da CF/1988 (LGL\1988\3), foi escolhido porque seu papel na sociedade é
intrinsecamente vulnerável frente ao seu parceiro contratual, o fornecedor. Trata-se de uma
necessária concretização do Princípio da Igualdade, de tratamento desigual aos desiguais, da
procura de uma igualdade uma igualdade material e momentânea para um sujeito com direitos
diferentes, sujeito vulnerável, mais fraco" (MARQUES, Claudia Lima, "Solidariedade na doença e na
morte: sobre a necessidade de 'ações afirmativas' em contratos de planos de saúde e de planos
funerários frente ao consumidor idoso", Constituição, direitos fundamentais e direito privado. Org.
Ingo Wolfgang Sarlet. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 189).
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 11/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

(12) MARQUES, "Solidariedade...", cit., p. 194.

(13) Art. 14: "Em razão da idade do consumidor, ou da condição de pessoa portadora de
deficiência, ninguém pode ser impedido de participar de planos privados de assistência à saúde".

(14) Art. 15: "A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos contratos de
produtos de que tratam o inciso I e o § 1.º do art. 1.º desta Lei, em razão da idade do
consumidor, somente poderá ocorrer caso estejam previstas no contrato inicial as faixas etárias e
os percentuais de reajustes incidentes em cada uma delas, conforme normas expedidas pela ANS,
ressalvado o disposto no art. 35-E". Parágrafo único: "É vedada a variação a que alude o caput
para consumidores com mais de sessenta anos de idade, que participarem dos produtos de que
tratam o inciso I e o § 1.º do art. 1.º, ou sucessores, há mais de dez anos".

(15) Art. 35-E: "A partir de 5 de junho de 1998, fica estabelecido para os contratos celebrados
anteriormente à data de vigência desta Lei que: I - qualquer variação na contraprestação
pecuniária para consumidores com mais de sessenta anos de idade estará sujeita à autorização
prévia da ANS". § 1.º: "Os contratos anteriores à vigência desta Lei, que estabeleçam reajuste
por mudança de faixa etária com idade inicial em sessenta anos ou mais, deverão ser adaptados,
até 31 de outubro de 1999, para repactuação da cláusula de reajuste, observadas as seguintes
disposições: I - a repactuação será garantida aos consumidores de que trata o parágrafo único do
art. 15, para as mudanças de faixa etária ocorridas após a vigência desta Lei, e limitar-se-á à
diluição da aplicação do reajuste anteriormente previsto, em reajustes parciais anuais, com
adoção de percentual fixo que, aplicado a cada ano, permita atingir o reajuste integral no início do
último ano da faixa etária considerada; II - para aplicação da fórmula de diluição, consideram-se
de dez anos as faixas etárias que tenham sido estipuladas sem limite superior; III - a nova
cláusula, contendo a fórmula de aplicação do reajuste, deverá ser encaminhada aos consumidores,
juntamente com o boleto ou título de cobrança, com a demonstração do valor originalmente
contratado, do valor repactuado e do percentual de reajuste anual fixo, esclarecendo, ainda, que
o seu pagamento formalizará esta repactuação; IV - a cláusula original de reajuste deverá ter sido
previamente submetida à ANS; V - na falta de aprovação prévia, a operadora, para que possa
aplicar reajuste por faixa etária a consumidores com sessenta anos ou mais de idade e dez anos
ou mais de contrato, deverá submeter à ANS as condições contratuais acompanhadas de nota
técnica, para, uma vez aprovada a cláusula e o percentual de reajuste, adotar a diluição prevista
neste parágrafo". § 2.º: "Nos contratos individuais de produtos de que tratam o inciso I e o § 1.º
do art. 1.º desta Lei, independentemente da data de sua celebração, a aplicação de cláusula de
reajuste das contraprestações pecuniárias dependerá de prévia aprovação da ANS". § 3.º: "O
disposto no art. 35 desta Lei aplica-se sem prejuízo do estabelecido neste artigo".

(16) Nesse sentido, pode ser utilizado também o art. 423 do CC/2002 (LGL\2002\400), que prevê
a interpretação mais favorável ao aderente do contrato de adesão, em casos de ambigüidade ou
contradição entre cláusulas do instrumento negocial.

(17) Não menos importante é a incidência do inciso IV do caput do art. 39, assim como o inciso I
do art. 4.º, ambos do Código de Defesa do Consumidor, e anteriormente referidos.

(18) "Solidariedade...", cit., p. 209.

(19) Sobre o inciso IV do caput do art. 51 do CDC (LGL\1990\40), MARTINS-COSTA comenta: "No
caso concreto, o juiz deverá precisar o que a sociedade onde vive tem para si com
"incompatibilidade com a boa-fé", tarefa eminentemente hermenêutica. Essa valoração
determinará sua premissa. Um vez configurada, o caso é simplesmente de aplicar a norma,
havendo como conseqüência jurídica a nulidade de disposição contratual". Há uma valoração por
parte do magistrado, competindo-lhe "(...) um poder extraordinariamente mais amplo, pois não
estará tão-somente estabelecendo o significado do enunciado normativo, mas, por igual, criando
direito, ao completar a fattispeciee ao determinar ou graduar as conseqüências" (MARTINS-
COSTA, A boa-fé no direito privado: sistema e tópica no processo obrigacional. São Paulo: RT,
1999. p. 330). A ilustre jurista preconiza que a cláusula geral conduz a um poder criativo do juiz
inexistente nas normas postas casuisticamente. Entre nós, como destaca NEGREIROS, a boa-fé
atua "(...) como instrumento por excelência do enquadramento constitucional do direito
obrigacional, na medida em que a consideração pelos interesses que a parte contrária espera
obter de uma dada relação contratual não é do que o respeito à dignidade da pessoa humana em
atuação no âmbito obrigacional" (NEGREIROS, Teresa. "Fundamentos para uma interpretação
constitucional do princípio da boa-fé". Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 270).

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 12/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

(20) Até pouco tempo, é majoritária a orientação dos tribunais acerca da ausência de dever de
indenização por danos morais de consumidores de planos de saúde, caso a negativa quanto à
cobertura de determinado tratamento decorresse de interpretação razoável de cláusulas do
contrato. Neste sentido, o seguinte acórdão, cuja ementa transcreve-se: "Seguro. Plano de
saúde. Angioplastia coronariana. Colocação de stent. Negativa de cobertura. O stent não
constitui prótese como pretende fazer crer a requerida, sendo, portanto, descabida a negativa de
cobertura. Precedentes jurisprudenciais. Indenização por dano moral. Indeferimento. A negativa de
cobertura do stent, sob a alegação de que esta seria uma prótese, deu-se em razão de haver
cláusula contratual expressa de exclusão de cobertura de prótese. Tratando-se de interpretação
razoável de cláusula contratual, não há que se falar em dano moral ou dever de indenizar.
Apelações desprovidas" (ApCiv 70005623376, 6.ª Câm. Cív., TJRS, rel. Cacildo de Andrade Xavier,
j. 03.09.2003). No entanto, como veremos, o grande número de abusos cometidos em detrimento
de consumidores em situações análogas tem motivado o Poder Judiciário a rever certas posições,
como a apresentada acima, passando a fixar indenizações por danos morais a certas empresas
que têm negado o custeio de tratamentos garantidos pelo contrato de plano ou de seguro de
saúde.

(21) Lei 10.406 de 2002.

(22) Vide arts. 11 a 21 do referido diploma legal.

(23) Consta, por exemplo, no art. 12 do CC/2002 (LGL\2002\400) que "pode-se exigir que cesse a
ameaça, ou lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei". No mesmo sentido, o art. 186 deste código que: "Aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito". Por sua vez, a obrigação de indenizar, no caso de
dano moral, assim como no de dano material, é enunciada a partir do art. 927 do referido Código.
Até então, a garantia de indenização pelo dano moral, era obtida a partir de interpretação
extensiva normalmente conferida ao art. 159 do CC/1916 (LGL\1916\1). Em verdade, o
acolhimento a este tipo de pretensão somente recebeu respaldo a partir de dispositivos da
Constituição Federal de 1988, em especial os incisos V e X do caput do art. 5.º. Tratando-se de
relação de consumo, após a edição e vigência do Código de Defesa do Consumidor, foram
outorgadas ferramentas legais que asseguram este tipo de indenização ao consumidor, como bem
demonstra o enunciando do inciso VI do art. 6.º do referido diploma normativo.

(24) NERY JUNIOR e ANDRADE NERY apontam como objeto de direito de personalidade, aspectos
relacionados por estes juristas como "componentes da vida humana": a vida, a potência
vegetativa (forças naturais, crescimento, nutrição e procriação), potência sensitiva (sensação,
cognição sensitiva, senso comum, fantasia, auto-estima e memória), potência apetitiva (apetite
sensitivo, concupiscível, irascível), potência intelectiva (inteligência, vontade, liberdade,
dignidade), potência realizada (atos) (NERY JUNIOR, Nelson e ANDRADE NERY, Rosa Maria de.
Código Civil (LGL\2002\400) anotado e legislação extravagante. 2. ed. São Paulo: RT, 2003. p.
157). Entendemos que a agressão a qualquer um desses componentes acima referidos resulta em
inevitável dano moral ao titular deles, gerando-se o dever de indenizá-lo.

(25) De acordo com o aludido dispositivo legal, é reputada abusiva e nula de pleno direito a
cláusula contratual que permita "ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de
maneira unilateral".

(26) A inadimplência e a fraude são as duas únicas hipóteses admitidas pela lei para justificar a
suspensão, ou rescisão do contrato de plano ou de seguros de assistência à saúde.

(27) A fim de se preservar a identidade dos consumidores envolvidos, refere-se a eles por meio
das iniciais dos respectivos nomes.

(28) O referido processo, no qual tivemos a honra e o privilégio de atuar como patrono dos
consumidores, trata-se de verdadeiro leading case sobre a matéria, especialmente ante a
ausência de abordagem judicial acerca de situação específica. Trata-se do Processo 109736281,
que, em primeiro grau, tramitou perante a 7.ª Vara Cív. do Foro Central da Comarca de Porto
Alegre-RS. Resumindo-se o caso, em 1985, o autor W.M.E. havia celebrado um contrato de
assistência médica, ingressando como associado da Golden Cross, principalmente por ter sido, há
vários anos, representante comercial da mesma. A co-autora N.W.E. era esposa W.M.E. e, como
tal, foi incluída como sua dependente. Conforme pactuado, cabia à fornecedora enviar aos
consumidores os bloquetos de cobrança das mensalidades do plano adquirido. Ocorre que o
consumidor W.M.E. não recebeu da fornecedora os bloquetos referentes aos meses de março e
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 13/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

abril de 2001, fato comunicado inúmeras vezes à Golden Cross. Contudo, foi enviado aos autores o
bloqueto do mês de maio de 2001, o qual foi adimplido, mesmo que informando valor
substancialmente superior ao normalmente pago (R$ 612,00). A mensalidade de maio fora elevada,
sem aviso algum por parte da fornecedora, para R$ 811,00, perfazendo uma diferença de quase R$
200,00 em relação ao último pagamento, realizado em fevereiro do mesmo ano. O referido aumento
motivou novo pedido de explicações à fornecedora, a qual não se manifestou . Entretanto, após o
mês de maio de 2001, os autores tentaram insistentemente pagar as parcelas referentes aos
meses de março e abril de 2001, pedindo à fornecedora o envio dos bloquetos respectivos, que se
acredita não tenham sido enviados propositadamente. Assim se sucedeu com os meses posteriores
a maio de 2001, ou seja, a fornecedora suspendeu o envio de bloquetos de cobrança da
mensalidade dos planos. Surpreendentemente, a fornecedora informou ao autor W.M.E. que seu
plano havia sido rescindido por inadimplência, referente aos meses de março, abril e maio de 2001.
Considerando como rescindido o plano, para reativá-lo, a fornecedora exigiu o montante de R$
7.000,00 (sete mil reais), que representa soma maior do que o décuplo daquilo que vinha sendo
pago pelos autores, que, em razão disto, recusaram a oferta. Somente a partir de e dezembro de
2001, a fornecedora resolveu restaurar o envio de bloquetos de cobrança do plano. Seguindo
orientação da fornecedora, os autores efetuaram o pagamento dos meses de dezembro de 2001,
janeiro e fevereiro de 2002, na expectativa que lhe fossem enviados os bloquetos dos meses
anteriores. Em março de 2002, os autores receberam para pagamento os bloquetos referentes aos
meses de março, abril, maio (que já estava pago), junho, julho, agosto, setembro, outubro e
novembro de 2001. Contudo, não foi possível quitar as parcelas de 2001 remanescentes, pois foi
informado pela fornecedora, em março de 2002, que a co-autora N.W.E. havia sido excluída do
plano contratado desde maio de 2001. O autor W.M.E. não poderia anuir com a situação criada
pela fornecedora, pois não manteria um plano de saúde para si, deixando sua esposa a depender
da própria sorte. Cumpre salientar que o autor W.M.E., à época do início da vigência da lei
reguladora de planos de saúde no Brasil, mantinha o contrato com a Golden Cross há mais de
quatorze anos, possuindo 71 anos de idade. Mesmo assim anuiu assinar um adendo contendo
cláusula adicional às condições gerias do seu plano, pela qual seu contrato iria ser ajustado aos
parâmetros da Lei 9.656/98, arcando, inclusive, com aumento de mensalidades decorrente das
novas coberturas trazidas pelo referido diploma legal. Por várias vezes, a fornecedora tentou
aumentar a mensalidade paga pelos autores, justificando com base no argumento da mudança de
faixa etária. Não bastando isso, a Golden Cross efetivamente excluiu do plano a co-autora N.W.E.,
tendo conhecimento que esta situação provocara a retirada do co-autor W.M.E. Com o
desligamento do plano, como conseqüência do eventual inadimplemento forjado pela fornecedora,
o autor W. e sua esposa estão dependendo da própria sorte, sendo que, para poderem retornar
para o plano, deveriam suportar uma mensalidade muito superior àquela que pagavam
normalmente. Caso tivessem que optar por outro plano, os autores teriam que suportar o período
de carência normalmente imposto pelas seguradoras, os quais somente são superáveis com o
pagamento de enormes quantias, impraticáveis para os demandantes, que perderam todos os
descontos e benefícios já adquiridos com o plano antigo administrado pela Golden Cross. Em face
da quebra da confiança, da transparência e da boa-fé, por parte da fornecedora, tornou-se
impossível aos autores a manutenção do contrato, pois, mesmo que exista condenação em razão
dos abusos praticados, não há certeza de que a fornecedora não voltasse a incidir no mesmo
delito, ou que formulasse outras situações no intuito de excluir os autores do plano, ou impor
aumento ilegal de mensalidades, sem falar em possíveis argumentos de negativa de cobertura para
determinados atendimentos. A situação gerou danos morais aos consumidores, sendo decorrentes
da frustração das expectativas com a rescisão injusta de um contrato pago pontualmente há mais
de quinze anos, além da angústia pela falta de cobertura, que se estenderá até a difícil
celebração de ajuste similar com outra seguradora, com a superação do período de carência, mais
a caracterização da inadimplência. Outrossim, observa-se também danos materiais consistentes,
até então, no valor das parcelas pagas durante o ano de 2001, quando os autores foram alijados
da cobertura do plano, uma vez que considerado rescindido o contrato a partir de março daquele
ano, além da exclusão da co-autora N.W.E. a contar de maio de 2001.

(29) Cita-se ementa do aludido julgado: "Seguro-saúde. Golden Cross. Aumento abusivo da
mensalidade, sob pretexto de alteração da faixa etária. Conduta expressamente vedada pelo
Código de Defesa do Consumidor. Exclusão culposa, ainda, da mulher do segurado dos benefícios
do plano. Casal em idade avançada. Dano moral que se impõe reparar. Danos materiais
decorrentes do pagamento indevido das mensalidades em período em que o plano estava
cancelado. Ajustamento dos quantitativos fixados na sentença às circunstâncias da causa.
Apelação em parte provida". Participaram do julgamento, ocorrido em 03.09.2003, os ilustres
Desembargadores Cacildo de Andrade Xavier, João Batista Marques Tovo e Carlos Alberto Álvaro
de Oliveira, sendo este último o relator.

(30) "Solidariedade...", cit., p.209.


www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 14/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

(31) Idem, p. 208.

(32) E continua o autor: "Considerando que as aposentadorias jamais acompanham os reajustes


dos planos de saúde, acreditamos que se a Constituição (arts. 196 e 197, CF/1988 (LGL\1988\3))
garante ser dever do Estado a proteção à saúde de todos os brasileiros, através de ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação, implantando políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença; e, em sendo de grande relevância o interesse social em
oferecer maior segurança aos aposentados, tendo-se em vista que houve um esforço do mesmo,
durante anos, em manter um plano de saúde e, justamente quando ultrapassa a abarreira dos 60
(sessenta) anos, inquestionavelmente, precisará como nunca da garantia objetivada e pretendida,
não terá como pagá-la, pois o valor recebido na aposentadoria não lhe proporcionará condições.
Haveria, provavelmente, motivos para se iniciar uma política social e econômica, como determina a
Constituição, fixando um percentual sobre o valor recebido referente à aposentadoria, para
manutenção do plano de saúde pago, até então pelo aposentado. Alguma coisa precisa e deve ser
feita para evitar a expulsão dos idosos dos planos de saúde. Podemos notar que o, legislador já se
apercebeu da situação dos idosos, ao proibir o reajuste para quem tenha mais de 60 (sessenta)
anos de idade, e participe do seguro ou plano de saúde há mais de 10 (dez) anos (art. 15,
parágrafo único da Lei 9.656). impõe-se uma questão; o reajuste fica proibido para quem paga as
prestações há mais de 10 (dez) anos, como ficará o consumidor que paga há sete, oito, ou nove
anos e não recebe a aposentadoria suficiente para quitar o plano de saúde; perderá o
investimento integralmente. Assinala-se, neste ponto, que as operadoras e seguradoras de planos
de saúde integram o sistema nacional de saúde, partilhando suplementarmente e subsidiariamente,
do dever imposto pela Constituição/98 de garantir a saúde, serviço de relevância pública, para
elas repassado, em complemento. (Secção II - Da saúde, Constituição Federal (LGL\1988\3))"
(CARVALHO SOBRINHO, Linneu Rodrigues de. Seguros e planos de saúde. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2001. p. 30-31).

(33) NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários à lei de plano privado de assistência à saúde. 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 59.

(34) Nesse sentido, SEVERO argumenta que "a indenização de caráter exemplar ou punitivo, ponto
que interessa no presente momento, é estabelecida como uma reposta jurídica ao comportamento
do ofensor e como mecanismo de defesa de interesses socialmente relevantes". Destaca o autor
que esta indenização, "trata-se de um elemento importante na prevenção de comportamentos
anti-sociais" (SEVERO, Sérgio. Os danos extrapatrimoniais. São Paulo: Saraiva, 1996. 252p).

(35) Cita-se a íntegra da ementa: "Plano de saúde - Contrato - Inadimplência - Inocorrência -


Consignatória julgada procedente - Conhecimento pelo réu - Recurso não provido. Plano de saúde
- Cobertura médico-hospitalar - Cirurgia neurológica - Doença crônica incluída no contrato -
Exclusão pretendida - Inadmissibilidade - Afronta ao art. 115 do CC/1916 (LGL\1916\1) -
Ilegalidade, ademais, de imposição clausular que confere à ré o direito de eleger a doença crônica
a ser excluída - Contrato de adesão, sem possibilidade de alteração pelo contratante - Recurso
não provido. Indenização - responsabilidade civil - dano moral - plano de saúde - pessoa idosa
seriamente doente - profundo desgosto diante da ameaça constante de não receber tratamento
médico-hospitalar contratado - verba devida - valor fixado que não se afigura elevado, sopesadas
a extensão dos danos e a posição sócio-econômica da contratada. Plano de saúde - Cobertura
médico-hospitalar - Cirurgia neurológica - Doença crônica incluída no contrato - Pagamento das
despesas diretamente aos hospitais e médicos - Previsão contratual - Obrigatoriedade - Pena
pecuniária - Cominação em um salário mínimo por dia de atraso - Fluência a partir da citação na
execução - Juros e correção monetária devidas - Recurso provido para esse fim" (grifos nossos).
Acórdão referido por NUNES, op. cit., p. 268.

(36) Referido por NUNES, op. cit., p. 270.

(37) Acórdão referido por NUNES, op. cit., p. 271. Cita-se a ementa: "Dano moral - Empresa
prestadora de serviços médico-hospitalares - descredenciamento de hospital sem prévio aviso -
associado e familiares submetidos à demora vexatória e humilhante em face desse desligamento -
Indenização devida".

(38) Conforme destacou o relator do acórdão, em seu voto: "A dor, o vexame e humilhação, no
caso, fugiram à normalidade de uma demora num nosocômio qualquer, não estando fora de órbita
a necessidade de reparação porque o réu descurou do exercício de suas atividades, pois
competia-lhe avisar, com a antecedência necessária sobre o desligamento daquele hospital,
cabendo-lhe indenizar a segurada e seus familiares que se viram impedidos do atendimento com
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 15/16
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

presteza, provocando um desconforto e uma situação que gerou sofrimento, angústia, humilhação
e abatimento moral, além de obrigar os autores a procurarem a Justiça para o ressarcimento dos
gatos tidos com o tratamento. Outrossim, não é exercício regular do direito o encerramento do
convênio entre a empresa prestadora de assistência médico-hospitalar e o nosocômio, sem prévio
aviso ao associado, fazendo com que este se dirija ao hospital descredenciado quando o caso
requeria tratamento de seus familiares acompanhantes, atingindo-os internamente no seu
sentimento de dignidade, causando-lhes não só constrangimento ou melindre e, indiscutivelmente,
dano moral pelos sentimentos repulsivos que a dispensa unilateral do nosocômio, sem prévio aviso,
gerou". Julgado referido por NUNES, op. cit., p. 272-273.

(39) Cita-se a ementa: "Indenizatória - plano de saúde - negativa de autorização para colocação
de próteses coronarianas - paciente idoso acometido de angina aguda, o qual não estava de
posse do contrato de adesão prática nociva ao direito do contratante do pacto - avença de mais
de 20 (vinte) anos de existência plano de assistência integral abusiva a cláusula posterior que
retira direito preexistente - dano moral cabível em sede de inadimplemento contratual pela
situação excepcional autorizadora de sua aplicação - provimento parcial do segundo apelo e
desprovimento do primeiro".

(40) Cita-se a ementa do acórdão supra referido: "Apelação cível. Plano de saúde. Recusa de
cobertura para prótese cardiovascular, stent, prevista no contrato, para casos de necessidade
absoluta. Urgência. Desembolso pelo beneficiário e familiares. Dano moral. Ocorrência. dever de
indenizar. A recusa de cobertura de plano de saúde para a prótese cardiovascular stent, sob o
argumento de tratar-se de prótese endovascular é frágil e não merece guarida no Judiciário,
porquanto não há divergência interpretativa no contrato capaz de entender-se não devida a
cobertura no caso em questão, restando cristalina a obrigação contratual da apelada, Unimed de
Florianópolis Cooperativa de Trabalho Médico, mormente por haver nos autos laudo de médico
especialista atestando a urgência e absoluta necessidade em sua colocação. Dano moral.
Quantum a indenizar. Aferição por arbitramento e valoração do juiz. Majoração. Valor que condiz
com a gravidade da lesão, suas conseqüências e as partes envolvidas. É lamentável que uma
pessoa que paga em dia as prestações de seu plano de saúde, com cobertura não apenas para
simples e eventuais consultas ou rotineiros exames, tenha seu direito contratualmente assegurado
negado quando da necessidade de cobertura especializada prevista, ficando ao arbítrio de laudos
de negativação de requerimentos inconsistentes e flagrantemente ilegais, causando ainda maiores
transtornos e incomodações em momento delicado de comprometimento de saúde. O dano moral
puro, em razão da impossibilidade de quantificação da dor sofrida, deve ser arbitrado e valorado a
critério do magistrado. No caso em apreço deve ser majorado para a importância equivalente a
500 (quinhentos) salários mínimos, levando-se em consideração as partes envolvidas, a gravidade
da lesão e as conseqüências advindas de tal ato. Litigância de má-fé. Ofensa ao art. 17, inciso II,
do cânone processual civil. Aplicação da multa em 1% e indenização em 20% sobre o valor global
da indenização. Age de má-fé a parte que altera a verdade dos fatos, alegando fato contrário à
prova documental produzida, incidindo, com tal proceder, no inciso II do art. 17 do CPC
(LGL\1973\5). Diante de tal conduta temerária, nada mais justo do que se lhe aplicar a multa por
litigância de má-fé, no percentual de 1% e perdas e danos de 20% sobre o valor global da
indenização".

(41) BRAGA, op. cit.

(42) CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 2. ed. São Paulo: RT, p. 37.
Página 1

www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 16/16

Das könnte Ihnen auch gefallen