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correspondentes A questão do moderno1

Luciano Patetta2

Tradução e revisão:

Maria Helena da Fonseca Hermes


Arquiteta, doutora em História e Crítica de Arte na Escola de Belas
Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola de Belas Artes, Brigadeiro
Trompowsky sem número, Cidade Universitária, Rio de Janeiro,
RJ, CEP 21941-901, maryufrj@yahoo.com.br

Aline Coelho Sanches


Arquiteta, doutora em Composição Arquitetônica pelo Politécnico
de Milão, Politecnico di Milano, Piazza L. da Vinci, 32 - 20133,
Milano, aline.coelho@mail.polimi.it

P roponho um breve excursus histórico sobre a noção


e sobre o próprio termo de moderno, que são,
O primeiro a utilizar o termo moderno em senso
histórico foi Cennino Cennini escrevendo o seu
como veremos, muito mutáveis no tempo, com Libro dell’Arte (c. 1390) uma obra fundamental
1 PATETTA, Luciano. La que- interpretações frequentemente muito contradi- para a história da pintura. Cennini percebeu que
stione del moderno. Bologna:
Ogni uomo è tutti gli uomini
tórias. aquela pintura dos ícones com olhos arregalados
edizioni, 2008. e prevalentemente privada de profundidade era de
2 Luciano Patetta nasceu em O termo moderno é retomado da língua latina na todo diversa da pintura do seu tempo, isto é, aquela
Milão em 1935. É arquiteto Idade Média (talvez adotado por Cassiodoro no VI de Giotto, Cimabue e Duccio da Boninsegna, e se
e professor emérito de His-
tória da Arquitetura junto século). Encontramo-lo improvisamente pela primeira deu conta que era preciso dar uma clara definição
ao Politécnico de Milão, no vez na fachada de uma igreja do século XIII em da primeira. Nós hoje usamos chamá-la pintura
Departamento de Projeto da
Arquitetura. Dirige a revista Viterbo: abaixo de um mosaico está escrito “fecit bizantina, mas esse termo, bizantino, não existia
«Il disegno dell’architettura». doctor Solternus modernus”. Que eles fossem dois ainda no tempo de Cennini, que escrevia: “existiram
Ocupa-se de diversas áreas da
arquitetura, mas em especial eruditos, tanto o artista Solterno quanto o autor da os Grecos antigos – isto é, os construtores dos
do ecletismo, do Quatrocento epígrafe, o prova talvez o uso do latim e a adoção da grandes templos da Grécia e os decoradores dos
em Milão e da arquitetura
moderna. Publicou cerca de técnica do mosaico, isto é, o conhecimento da língua famosos vasos – e eu chamo de gregos modernos
quarenta títulos e, no Bra- exclusiva da cultura daquele tempo e um material aqueles a nós mais próximos” 3. Para ele, os “gregos
sil, tornou-se referência no
estudo do ecletismo com a decorativo muito usado em Roma e, em tempos modernos” eram artistas grosseiros e se deveria
publicação em português mais recentes em Ravena e em Bizâncio. No entanto, prestar atenção a um pintor como Giotto que
do capítulo Considerações
sobre o ecletismo na Europa não o sabemos com certeza. Os eruditos da Idade “transformou a arte da pintura de grego em latino
no livro organizado por An- Média, e mais tarde os humanistas renascentistas, e a reportou ao moderno”.4
nateresa Fabris publicado em
1987, sob o título Ecletismo conheciam sem dúvidas o significado de dois termos
na Arquitetura Brasileira. A latinos: um era modo, advérbio que queria dizer Mas a questão do termo moderno, como quase
partir dos anos 90 Luciano
Patetta se destacou também atual, de hoje, deste momento; o outro era modus todas as questões da crítica literária e artística,
como escritor de obras narra- que, ao contrário, mais ambiguamente queria dizer começou a se tornar problemática e interessante
tivas de grande valor entre as
quais Gli angeli e l’architetto maneira, isto é, qualquer coisa que muda. É deste quando foi contraposta a outro termo. De fato,
(1995) e Purgatorio (2000). substantivo modus que derivam, não saberia dizer se não há contraposição as polêmicas não são
Também de grande interesse
para a América Latina foi a quando, o termo e a noção de moda que duram interessantes. Portanto, o termo moderno se tornou
publicação de 2002, orga- até hoje. De fato, nada é tão mutável, de breve importante e problemático quando apareceu o
nizada pelo próprio Patetta,
Architetti e ingegneri italiani duração e destinado a transformar-se sempre, termo antigo, ou ainda quando vieram a se precisar
... continua próxima página como a moda. a categoria e a concepção do antigo. O moderno

15 1[2012 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de pós-graduação do instituto de arquitetura e urbanismo iau-usp
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A questão do moderno

continuação da nota 2... então se transformou em uma contraposição formal moderno”. Antes dele, no Trecento florentino, havia
in Argentina, Uruguay e Pa- e ideológica da renascença do antigo, e isto apareceu os Alemães – isto é, mais uma vez os bárbaros góticos
raguay. Em 2004, Patetta fez
a apresentação da publicação na cultura literária e filosófica com o Humanismo, – “que agora denominamos modernos”10. Manetti,
Italianos en la Arquitectura na arte e na arquitetura com o Renascimento. portanto, queria distinguir entre a modernidade
Argentina, livro organizado
por Ramón Gutiérrez, no positiva, ou ainda “revolucionária” de Brunelleschi
Cedodal. Leon Battista Alberti, que embora tendesse a manter- e aquela plena de defeitos da tradição tardo
3 “C’erano i Greci antichi e io se longe de polêmicas, nas páginas de seu tratado De medieval.
chiamo greci moderni quelli a
noi più vicini”.
reaedificatoria (1452 e anos seguintes) recordando
4 “Rimutò l’arte del dipingere
ter estudado atentamente, medido, desenhado Foi no início do Cinquecento que se procurou retirar
di greco in latino e la ridusse e levantado os antigos monumentos de Roma, do moderno a conotação negativa de instabilidade,
al moderno”.
os contrapunha às invenções a capriccio5 que via de contínua mutação no tempo também como “a
5 [n. t.] Capriccio: s.m vonta-
surgir nas cidades, segundo a prática dos últimos capriccio” para colocá-lo em uma relação criativa
de repentina e extravagante,
desejo. Il Nuovo Dizionario arquitetos tardo góticos, mas “que se inspiravam com a herança dos antigos e, em particular da
Italiano Garzanti, 1984. em novidades sem sentido e extravagantes em arquitetura romana, que correspondia então à
6 “Che si ispiravano a novità lugar dos critérios largamente experimentados nas concepção de uma “estabilidade” clássica. Na
senza senso e stravaganti
anziché ai criteri largamen-
obras melhores” 6. De forma mais agressiva, Filarete Lettera a Leone X (c. 1515) Rafael levantava o
te sperimentati nelle opere precisava no seu Trattato di Architettura (1462-64): problema do aprofundamento do conhecimento
migliori”.
“Eu costumava gostar desses modernos, mas depois da antiguidade, “conhecer os edifícios antigos a
7 “A me solevano piacere
que eu comecei a apreciar os antigos eu vim a odiar partir dos modernos ou os mais antigos daqueles
questi moderni, ma poi ch’
io ho cominciato a gustare os modernos” 7. Era um ataque ao empirismo dos menos antigos” 11. Havia, de fato “três maneiras
questi antichi, mi son venuti
mestres milaneses (com os quais ele estava sempre de edifícios em Roma... os bons antigos, aqueles
in odio quelli moderni”.
em desacordo, fosse no canteiro do Duomo ou dos góticos e aqueles dos modernos. Os edifícios do
8 Em português: godos.
naqueles do Castello e do Ospedale Maggiore) cuja tempo dos góticos eram privados de toda graça, sem
9 [n.t.]Bottega: s.f. pequena
oficina onde trabalham os
praxe sem regras gramaticais e sintáxicas das Ordens maneira alguma, diferentes daqueles antigos e dos
artesãos. Il Nuovo Dizionario clássicas lhe parecia como “uso moderno... atitude modernos” 12. Mas estes últimos, segundo Rafael,
Italiano Garzanti, 1984.
prática.... Maldito seja aquele que a encontrou! estavam se tornando próximos “da maneira dos
10 “Brunelleschi è il primo
Creio que não fosse senão gente bárbara”. O passo antigos, como se vê em muitas obras de Bramante”13.
architetto moderno. Prima di
lui c’erano i Tedeschi che ora dado por Filarete era importante porque introduziu A geração de Rafael, de Baldassare Peruzzi e de
noi diciamo moderni”.
para a arte e a arquitetura um juízo negativo sobre Sebastiano Serlio estava convencida que as obras
11 “Conoscere gli edifici an-
os bárbaros que haviam destruído Roma e a sua de Bramante em Roma tinham quase alcançado a
tichi dalli moderni o li piú
antichi dalli meno antichi”. cultura, juízo que a historiografia sucessiva faria alta qualidade daquelas dos antigos e que então
12 “Tre maniere di edifici próprio, cunhando o termo de goti 8 e gótico, existia uma modernidade em grau de fazer renascer
in Roma... i buoni antichi, identificando dessa forma aqueles que fizeram a a grande arquitetura. Não por acaso Serlio no seu
quelli dei gotti e quelli dei
moderni. Li edifici del tempo
Itália e a Europa caírem na “escuridão” da longa tratado I Sette Libri Dell’Architettura (1537 e anos
dei gotti erano privi d’ogni Idade Média. Para Filarete havia uma clara ruptura seguintes) colocava o tempietto bramantesco de
grazia, senza maniera alcuna,
dissimili dalli antichi e dalli
entre os que trabalhavam seguindo o empirismo S. Pedro em Montorio, a planta de S. Pedro e
moderni”. das botteghe9 tradicionais e artesanais e quem o projeto do Cortile del Belvedere ao lado dos
13 “Proximi alla maniera delli estava operando uma transformação decisiva na grandes monumentos romanos, como prova de
antichi, come si vede per mol-
concepção e no projeto arquitetônico, fundada que “no nosso século a boa arquitetura começou a
te belle opere di Bramante”.
no desenho e nos levantamentos dos edifícios, no florescer”14. Serlio introduzia no tratado uma tabela
14 “Nel secolo nostro la buo-
na architettura ha cominciato conhecimento da antiguidade e dos ensinamentos com as cinco Ordens da arquitetura: toscana, dórica,
a fiorire”. contidos no Tratado de Vitrúvio. Tudo isso estava jônica, coríntia e compósita, precisando os desenhos
15 “Di questi moderni tem- ausente no último estágio do Gótico (aquele que e as proporções dos pedestais, das bases, dos fustes,
pi”.
precedia o Renascimento) que possuía naturalmente dos capitéis e dos entablamentos. Pretendia com
grandes qualidades de invenção na decoração e no isso sugerir aos seus contemporâneos as regras da
virtuosismo tecnológico, que Filarete não conseguia linguagem antiga segundo um “tratadista” moderno,
ou não queria apreciar. mas sobretudo insistir que a nova arquitetura
“destes tempos modernos”15 deveria se fundar
Por volta de 1470, Antonio di Tuccio Manetti, na numa normativa e não ser como aquele gótico
biografia de Filippo Brunelleschi, não tinha dúvidas tardio anômalo, isto é, apresentar altos pilares
quando afirmava: “Brunelleschi é o primeiro arquiteto sem proporção, ausência de relações proporcionais

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A questão do moderno

entre as partes, desordem distributiva e caprichos que os antigos nunca teriam feito”22. Naqueles
decorativos e tipológicos. mesmos anos Andrea Palladio, nos Quatro Libri
Dell’Architettura (1570) como conclusão de uma
É interessante comparar a produção arquitetônica esplêndida carreira de arquiteto moderno com
dos protagonistas do Renascimento entre o Quatro funções civis concretas, ilustrava suas obras em
e o Cinquecento com aquela gótica tardia que continuidade ideal com o passado clássico como
persistia desde longo tempo na Lombardia, em “construções belas e cômodas” 23. Assim, juntando
Veneza, em Siena e, naturalmente nas cidadezinhas às qualidades estéticas um parâmetro novo, a
para além dos Alpes: de um lado o ideal de uma comodidade, tão ao gosto dos seus comitentes de
arquitetura construída sobre um preciso repertorio patrícios vênetos, práticos e cautelosos nos gastos,
tipológico e sob o controle dos sistemas de proporção ele deu início a concepções muito complexas, que
e da técnica da perspectiva, de outro lado uma se desenvolveriam como veremos no curso de três
sucedânea de invenções estruturais, abóbadas em séculos de modernidade.
forma de “estrela”, abóbadas com membros em forma
naturalística (ramos e folhagens), bizarrias formais, Apenas cinquenta anos mais tarde, em 1620,
anárquica colaboração criativa entre as artes, pintura Alessandro Tassoni, que era um literato, se unia a
e escultura, com a colocação nas frentes dos edifícios favor dos contemporâneos escrevendo: “os modernos
de invenções sempre novas de emblemas heráldicos, inventaram coisas que os antigos teriam tido como
guirlandas, elementos zoomórficos e antropomórficos impossíveis” 24e em 1631 o holandês Salomon di Bray
por vezes na forma de um verdadeiro agregado publicava o primeiro livro sob o título Arquitetura
16 “Buona maniera moder- confuso, mas sobretudo com a finalidade de tornar Moderna. Era a antecipação daquela querelle des
na”.
dificilmente reconhecível as estruturas portantes na anciens et des modernes 25 que via contrapostas, na
17 “L’inventore, che ritrovò le
complexidade formal dos organismos. França, as teses antiquistas daquelas modernistas. No
misure e le proporzioni degli
antichi”. século XVII, orgulhoso do seu progresso no campo
18 “Fu dunque regola dell’ar- O balanço histórico sobre a evolução das artes e da científico (se pensarmos na medicina, na física e na
chitettura il modo di misurare arquitetura com uma primeira capacidade crítica e astronomia desenvolvida por Galileu), sob um olhar
le antichità, osservando le
piante degli edifici antichi per
reflexão específica se deu em 1550 e em 1568 com sem preconceitos publicavam-se obras sob o título
le opere moderne”. as duas edições da Le Vite dei più eccellenti pittori, de Parallèle entre as obras dos antigos e aquelas dos
19 “Una terza maniera che noi scultori e architetti de Giorgio Vasari. Ele confirmava contemporâneos, confirmando que a imitação era
vogliamo chiamare moderna
e tornava, podemos dizer, “oficial” o fato que existia ainda necessária, mas que muitas novidades deveriam
cui diedero principio le opere
di Leonardo... il moderno sì uma “boa maneira moderna” 16 e que Brunelleschi fazer parte da projetação moderna. A querelle via
glorioso”.
tinha sido o seu “inventor que redescobriu as medidas confrontarem-se as figuras de maior projeção em
20 “Vintidalla maniera di lui e as proporções dos antigos” 17. Vasari acreditava Paris por volta de 1660, François Blondel, arquiteto e
che fu sempre anticamente
moderna e modernamente mesmo que “foi logo regra da arquitetura o modo docente na Academia e os irmãos Charles e Claude
antica”. de medir as antiguidades, observando as plantas Perrault, o primeiro literato, e o segundo médico
21 “Raffaello ha raggiunto la dos edifícios antigos para as obras modernas”18. e arquiteto, autor, dentre outras coisas, da nova
perfezione… ma Michelan-
gelo supera e vince gli stessi
Existia, para Vasari, “uma terceira maneira que fachada do Louvre (1664). Nas radicalizações típicas
famosissimi antichi e unico nós gostaríamos de denominar moderna (depois de toda polêmica, Blondel acabou por se tornar o
trionfa di questi”.
daquela pioneira da geração de Giotto e daquela apoiador de uma abstrata, supra histórica, absoluta
22“Fare senza dubbio cose
do Quatrocento) à qual o início foi dado pelas e imutável perfeição da antiguidade clássica, e os
più grandi e molto migliori
che non fecero mai gli an- obras de Leonardo... o moderno sim glorioso” 19. Perrault, ao invés disso, tornaram-se o sustentáculo
tichi”.
Mas ele ia além, sustentando que Giulio Romano de um aperfeiçoamento evolutivo das formas
23 “Fabbriche belle e como- havia superado Apelle e Vitruvio “vencidos pela sua arquitetônicas, reivindicando a liberdade dos juízos
de”.
maneira que foi sempre antigamente moderna e sobre o passado e a necessidade de adaptar os
24 “I moderni hanno inventa-
to cose che gli antichi avreb-
modernamente antiga” 20; e após isso sustentava ensinamentos dos antigos às exigências modernas.
bero tenute impossibili”. que “Rafael chegou à perfeição mas Miguelangelo Por outro lado, também a beleza e as proporções
25 A querela dos antigos e supera e vence estes mesmos famosíssimos antigos das Ordens não eram absolutas para os Perrault,
dos modernos.
sendo o único que triunfa sobre aqueles” 21. mas sim determinadas pelos usos e pela tradição.
Por outro lado, para as gerações de arquitetos
Vasari pensava então que a modernidade poderia franceses do Seicento as Ordens cessavam de ser
“fazer sem dúvida coisas maiores e muito melhores o fundamento essencial da arquitetura, ao lado de

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A questão do moderno

novas exigências: “a distribuição, a bela ordenação, a François Blondel junior propunha uma coleção
26 “La distribuition, la belle solidez, a salubridade e a comodidade”26. A estas se de exemplos sob o título De la distribution des
ordonnance, la solidité, la
salubrité et la commodité”.
juntará muito rapidamente outra exigência colocando Maisons (1738). Ainda mais categórico foi o arquiteto
27 Bom
em crise a incondicionalidade do classicismo, o inglês Colen Campbell quando escrevia no Vitruvius
gosto.
bon gout 27, tão caro aos novos comitentes. Na Britannicus (1717): “Os Antigos estão fora de causa...
28 “Chi segue gli altri non
gli va innanzi... Non mi sarei querelle eram naturalmente enrijecidas as posições: aos mestres italianos do XV e XVI século, e acima de
mai posto a questa profes- a Academia parecia querer sustentar que os antigos todos ao grande Palladio, devemos ser devedores...
sione col fine d’esser solo
copista”. eram inigualáveis e que ocorria fundar a didática Esta coleção consentirá uma comparação com os
29 “L’architettura molte rego- sobre seus modelos, e os seguidores dos Perrault melhores dos Modernos.” 31
le le cambia, le lascia ,ed infi- sustentavam que os antigos eram apenas para se
ne contraddice le medesime.
(...) Gli ingegnosi e celebri
admirar, não para se venerar, e que estudando a O Settecento reformista e iluminista tentou refundar
architetti moderni... variano fundo todas as obras poder-se-ia descobrir não ex novo a questão do moderno e da modernidade,
le simmetrie e esperimentano
diverse proporzioni”.
poucos defeitos. Todos os modernistas acreditavam partindo de uma tabula rasa que envolvia formas
30 “Tra i modi di costruire
que o seu século, o XVII, era melhor que aqueles e significados, tradições milenares e as próprias
le volte degli antichi e dei do passado pela sua civilização e produção concepções das artes e, especificamente, da arte de
moderni, è preferibile imitare construir. Marc-Antoine Laugier, sugerindo o retorno
cultural: a idade de Luís XIV era superior àquela
questi ultimi”.
de Augusto! do arquétipo da cabana primitiva, cancelava de fato a
31 “Gli Antichi sono fuori
causa... ai maestri italiani imitação e o uso habitual das Ordens como êxitos do
del XV e XVI secolo, e so- Importante mencionar neste momento as idéias processo que vai de Vitrúvio ao Renascimento, Carlo
pra di tutti il grande Palladio,
dobbiamo essere debitori... de dois nossos grandes protagonistas do Seicento, Lodoli pregava um funcionalismo radical, dizendo:
Questa collezione consentirà Francesco Borromini, arquiteto decididamente “nenhuma coisa meter se deve em representação que
un paragone con i migliori dei
Moderni...”. irreverente no confronto dos antigos que no seu não esteja também verdadeiramente em função”32,
32 “Niuna cosa metter si deve Tratado escrevia: “Quem segue os outros não vai Andrea Memmo pensava que nada pudesse ser
in rappresentazione che non para a frente...não me teria jamais colocado nessa subtraído ao exame da razão, Francesco Algarotti
sia anche veramente in fun-
zione”.
profissão para ser apenas um copista”28; e Guarino escrevera: “não poucas são as práticas a se criticar
33 “Non
Guarini que em L’Architettura Civile (1685) precisava: tanto dos modernos quanto dos antigos”33. Ao
poche sono le prati-
che da criticare cosi da’mo- “A arquitetura modifica muitas regras, as esquece e fim do século Francesco Milizia sentenciava: “a
derni come dagli antichi”. por fim contradiz as mesmas. (...) Os engenhosos e arquitetura está fundada sobre o necessário... e sobre
34 “L’architettura è fondata
célebres arquitetos modernos... variam as simetrias princípios constantes, gerais, inflexíveis, provenientes
sul necessario... e su principi
costanti, generali, inflessibili, e experimentam diversas proporções”29. Enfim, todos da razão. Cada peça de arquitetura deve
provenienti tutti dalla ragio- o arquiteto inglês Christopher Wren, o autor da contribuir à comodidade e à solidez”34. Obviamente
ne. Ogni pezzo dell’archi-
tettura deve contribuire alla catedral de São Paulo em Londres (1672 e anos a nova cultura, sustentada antes pelos filósofos
comodità e alla solidità”. seguintes) considerando também as experiências e intelectuais que pelos artistas e os arquitetos,
35 “Il mettere ordine nello construtivas góticas e as obras mais recentes, era tornou mais complexa a relação entre moderno e
spazio è l’unico compito che
spetti all’architetto”.
curto e grosso: “entre os modos de construir as antigo: basta considerar o purismo e a exaltação
36 “Per concezione, ordinan-
abóbadas dos antigos e dos modernos, é preferível dos sólidos geométricos nas obras da geração de
za e varietà è opera in questo imitar estes últimos”30. Ledoux, Boulée e Durand. Aqui estão duas passagens
genere unica e superiore a emblemáticas do pensamento dos arquitetos daquela
quanto mai fu ideato e fatto
da Greci e Romani”. O Settecento, também na primeira metade do século época. Escrevia Jean N. Durand: “o colocar ordem no
ainda dominado pela produção tardo barroca e espaço é a única tarefa que compete ao arquiteto”35;
rococó, sustentava (por exemplo com Jean Louis de Giovanni Antolini apresentava assim o seu projeto
Cordemoy, Germain Boffrand e Charles E. Briseux) para o Foro Bonaparte em Milão (1801): “por
a afirmação não apenas do bon gout mas do gout concepção, ordenança e variedade é uma obra deste
moderne, esse fundado sobre as últimas conquistas gênero única e superior a quanto nunca foi ideado
de comodidade e de simplicidade, abandonando ou feito por Gregos e Romanos”36. Escreveria mais
por vezes até a adoção das Ordens clássicas, isto é, tarde no Dizionario Storico di Architettura (1832)
colocando em crise a longa tradição do Vitruvianismo. Quatremère de Quincy: “O erro no qual caíram
Briseux publicava um texto substancialmente fundado os modernos foi sempre aquele de confundir,
sobre critérios práticos do bem construir para diversas especialmente em arquitetura e em relação ao
necessidades, L’architetture moderne ou l’Art de antigo, a idéia de imitar com a outra de copiar....
bien bâtir pour toutes sortes de personnes e Jacques A verdadeira maneira de imitar os antigos consiste

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no penetrar bem o espírito e as razões de suas nova tecnologia podia mostrar as suas grandes
37 “L’errore in cui caddero i obras”.37 potencialidades. No século da ferrovia, da indústria
moderni fu spesso quello di
confondere, specialmente
e das grandes pontes e pavilhões em ferro e vidro,
in architettura e in rapporto Concluo relembrando as diferentes hipóteses se renovava também a tipologia da habitação, se
all’antico l’idea di imitare con
subjacentes à identificação dos limites da chamada afinavam os instrumentos normativos de controle
l’altra di copiare... La vera
maniera di imitare gli antichi “arquitetura moderna”, título, como se sabe, de do desenvolvimento das cidades e se redigiam
consiste nel penetrare bene
um grande número de publicações, mas também planos reguladores. A historiografia e a teoria
lo spirito e le ragioni delle
loro opere”. título oficial de cursos universitários. Uma primeira da arquitetura eram atravessadas de polêmicas
hipótese vê a arquitetura moderna se iniciar inflamadas por claras contraposições: os neogóticos
com o Renascimento, com Brunelleschi, figura “modernistas” eram favoráveis à adoção visível
nova de arquiteto com plenas responsabilidades, das estruturas metálicas (“aquele ogival é o único
38 “Quello ogivale è l’unico dotada de uma personalidade bem precisa (como estilo adequado aos trabalhos modernos”38 escrevia
stile adatto per i lavori mo-
derni”. resulta de La Vita, escrita por Vasari) e com uma A.W.M. Pugin em 1841) enquanto os acadêmicos e
linguagem individual bem reconhecível, tanto que classicistas tendiam a defender a tradicional ligação
foi imitado por mais de uma geração de arquitetos com os estilos históricos. Mas havia também uma
do Quattrocento. Confirmam esta hipótese seja contraposição entre aqueles que eram críticos em
uma nova clientela (Cósimo e Lorenzo de Médici, relação a uma modernidade ligada a um discutível
Federico da Montefeltro, Ludovico il Moro, papa “progresso”, (como, por exemplo, A.W.N. Pugin,
Nicolau V, etc.) em direta relação cultural com seus John Ruskin, William Morris e Gilbert Scott) e quem
artistas e arquitetos, seja o renovar-se da sociedade era otimista e julgava positivamente as novidades de
mercantil e da gestão política das cidades, seja, seu próprio tempo (como por exemplo Viollet-le-Duc,
enfim, a incidência sobre tudo isto dos humanistas Camillo Boito e César Daly). Gostaria de recordar uma
literatos, filósofos e matemáticos. observação crítica de Morris: “As cidades nas quais
as casas são em sua maior parte antigas são belas
Uma segunda hipótese vê a arquitetura moderna e românticas enquanto aquelas modernas são feias
39 “Le città in cui le case sono se iniciar com a crise do tardo barroco e do rococó, e vulgares”39. Os historiadores que sustentam esta
per la maggior parte anti-
che sono belle e romantiche,
os estilos da aristocracia, das Cortes e da Igreja, hipótese desenvolvem a análise da arquitetura junto
mentre quelle moderne sono substituídos pelos novos pressupostos nascidos ao estudo da política, o socialismo e o liberalismo, e
brutte e volgari”.
do Iluminismo e nos âmbitos da Enciclopédia, dos movimentos da classe operária que habitava e
alimentados pelo reformismo da classe burguesa trabalhava nas periferias das cidades industriais.
até a revolução francesa e às idéias republicanas
da primeira idade napoleônica. Dos projetos do A última hipótese vê a arquitetura moderna nas-
racionalismo e funcionalismo tardo settecentesco cer, a começar pelo Art Nouveau, com as assim
às propostas “revolucionárias” de Ledoux e Boullée, chamadas vanguardas históricas, o Futurismo, o
até o neo-grego e neo-romano como mitos do Cubismo, o Abstracionismo, o Neoplasticismo e o
antigo e exemplum virtutis, a modernidade surge Expressionismo, sem inibições em confronto com
indubitavelmente como uma ruptura clara com o passado. Obviamente tem os seus pioneiros
o passado, mesmo quando alguns arquétipos (Louis Sullivan, a Escola de Chicago, Victor Horta, o
continuam a comparecer, o Pantheon, o templo Modernismo catalão, Otto Wagner, que publicou o
grego, a pirâmide, a coluna isolada, o arco triunfal. texto Moderne Architektur, 1896) e os seus mestres
Esta segunda hipótese permite acolher também Adolf Loos, Walter Gropius, Le Corbusier, Mies van
uma forte renovação urbana e o incremento na der Rohe, etc. Definindo este momento entre Otto
produção dos serviços públicos. e Novecento a arquitetura moderna (e também o
Movimento Moderno) confirma a sua estabilidade,
Uma terceira hipótese vê a arquitetura moderna transformando em história um fenômeno de limites
se iniciar com a decisiva renovação tecnológica da mais que claros. O que vem depois, e que produz tanto
engenharia do Ottocento, consistente no uso da de outra literatura histórico-crítica, é a arquitetura
gusa, do ferro e do cimento armado nas construções. contemporânea, cuja característica é de representar
Também a edilícia caiu no mito do progresso, assim até agora um processo em andamento, em constante
como cultivado pela burguesia empreendedora e mutação e ainda à espera da fatal seleção de sua
celebrado nas Exposições Universais, nas quais a importância e qualidade.

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Referências bibliográficas

COLLINS, Peter. I mutevoli ideali dell’architettura moderna,


Milano, 1973.

FORSSMAN, Erik. L’eclissi del Vitruvianesimo, in Dorico,


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Bari, 1973.

GARIN, Eugenio. La cultura del Rinascimento , Bari,


1973.

PATETTA, Luciano. Breve excursus storico sul termine di


“moderno”, in Aspetti del moderno. Scritti in onore
di Eugenio Gentili Tedeschi, Firenze, 1992.

________. Storia dell’architettura. Antologia Critica, Mi-


lano 1975, nuova edizione Milano 2007.

RYKWERT, Joseph. I primi moderni, dal classico al neo-


classico, Milano, 1986.

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