Sie sind auf Seite 1von 11

COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL

PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

São Paulo, 03 de Outubro de 2017.

Parecer sobre a manutenção de animais em condomínios aspectos legais e práticos

Tem o presente trabalho o intuito de fundamentar e trazer subsídios legais,


com base na jurisprudência predominante em nossos Tribunais sobre as questões
inerentes a manutenção de animais em condomínios e a suas possíveis restrições.

1. Legalidade da manutenção de animais dentro de unidades

O direito de manutenção de animais de estimação dentro de unidades é


garantido pela Constituição Federal Art. 5º, XXII e pelo Artigo 1.228 do Código Civil,
ambos inerentes ao exercício regular do direito de propriedade.

Além dos artigos acima, encontramos no artigo 1.335 do Código Civil, que
dentre os direitos dos condôminos elencados de forma não exaustiva no artigo, está o
direito de usufruir e dispor livremente de sua unidade, o que inclui o direito de manter
um animal de estimação no interior dela.

Porém, a manutenção dos animais não é absoluta, encontra limitantes no


Art. 1.336, IV do Código Civil, que impõe aos Condôminos o direito de usar da sua
unidade de forma a não prejudicar o sossego, saúde e segurança dos demais
condôminos. Temos ainda limitadores no mesmo sentido agasalhados pelo direito de
vizinhança Art. 1.277 do Código Civil.

Exemplo de animal que prejudique o sossego, seria o caso de um cão que fique latindo
de forma intermitente a ponto de prejudicar o descanso dos moradores ou vizinhos.

Exemplo de risco a saúde, seria o caso de um animal doente que pudesse oferecer risco
aos demais animais do prédio ou contaminação a humanos.

Exemplo de risco a segurança, seria o caso de um animal com temperamento bravio que
viesse a ameaçar a integridade física dos moradores.

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

Assim, a manutenção do animal no condomínio só poderá ser questionada


quando existir perigo à saúde, à segurança, ou a perturbação do sossego dos demais
residentes do condomínio, nos termos do Art. 1.336,IV do CC, de outra forma mantê-los
dentro de limites razoáveis.

Neste sentido, o Desembargador Paulo Eduardo Razuk asseverou de forma


peculiar e muito interessante que “Quando se trata de animais domésticos não
prejudiciais, não se justifica a proibição constante do Regulamento ou da Convenção
de condomínio, que não podem, nem devem, contrariar a tendência inata no homem
de domesticar alguns animais e de com eles conviver.” Apelação 2385004800 (de
02/06/2009), julgada pela TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) na 1ª Câmera de
Direito Privado, Des. Relator Paulo Eduardo Razuk.

Em resumo, permite-se a manutenção de um animal no interior de uma


unidade, seja ele qual for, independente do seu tamanho, desde que não represente
qualquer risco a saúde, segurança e sossego aos demais como será esmiuçado abaixo.

2. Impedir animal na unidade com base em cláusulas da convenção, Regimento


Interno ou deliberações em assembleias.

Impedir animais em unidades é o mesmo comparativamente que


impedir um proprietário ter uma Tv, pois para o direito pátrio tanto o animal quanto a
TV são bens, só que o animal é um bem móvel semovente, dotado de locomoção ( Art. 82
do Código Civil) . E proibir a manutenção de um animal em uma unidade por seu um
animal, é restringir o direito constitucional de direito de uso da propriedade.

Da mesma forma que não podemos impedir um morador de ter uma


TV, limitar a quantidade de tvs em uma unidade ou impor as polegadas permitidas, não
podemos restringir que alguém tenha um animal, dois, três, ou impor o tamanho deles.

As restrições devem ser consideradas de encontro com a perturbação


e não com o objeto ou com o animal. Se um condômino escutar a TV no último volume
isso seria perturbar o sossego alheio e em situações extremas, após multas e tentativas de
conciliação, poderíamos ter esse morador impedido de exercer o direito de propriedade
plena com base no Art. 1.337 do CC. (Condomínio antissocial). As restrições seriam
impostas pelo uso nocivo da propriedade e não pelo fato de ter uma TV. Da mesma
forma funciona com o animal.

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

As cláusulas na convenção, no regimento interno ou deliberações que


impeçam a manutenção desses animais são nulas de pleno direito, uma vez que os
instrumentos particulares tais como Regimento e Convenção não podem contrariar
norma de direito público.

Assim, é contrário ao entendimento dos Tribunais quando o síndico


ou à assembleia deliberam em detrimento do direito de propriedade.

Comparativamente, seria o mesmo caso que a assembleia limitar o


tamanho do automóvel que pode ser estacionado na garagem ou o número de moradores
residentes em uma mesma unidade. Em todos os casos, seja automóvel, seja número de
moradores, ou ainda animais, o que deve ser considerado é se o uso da propriedade é
nocivo, o carro extrapola a demarcação, se as pessoas na unidade causam transtorno aos
demais, caso contrário à manutenção de animais, do automóvel e das pessoas na unidade
seria apenas o exercício regular do direito de propriedade.

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE


MULTA COMINATÓRIA. CONDOMÍNIO QUE PRETENDE O
CUMPRIMENTO DE REGRA PREVISTA NA CONVENÇÃO
CONDOMINIAL. PROIBIÇÃO GENÉRICA DA PRESENÇA DE
ANIMAIS NO CONDOMÍNIO. NÃO DEMONSTRADO
QUALQUER INCÔMODO. CONFIGURADO CERCEAMENTO
INJUSTIFICADO AO LIVRE USO DA PROPRIEDADE.
RECURSO PROVIDO.

(TJ-SP - APL: 9046104972000826 SP 9046104-97.2000.8.26.0000,


Relator: Coelho Mendes, Data de Julgamento: 23/08/2011, 10ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/08/2011)

Na Apelação: 994093357183 SP, o Desembargador Relator Percival


Nogueira asseverou em seu voto:

“Não bastasse tudo isso, a convenção condominial afronta os dispositivos


constitucionais que asseguram o direito de propriedade e de resguardo da vida privada,
pois a discutida proibição é abusiva, por caracterizar indevida interferência na vida
privada de cada família lá residente, conforme precedente jurisprudencial desta Corte
“:(TJ-SP - APL: 994093357183 SP, Relator: Percival Nogueira, Data de Julgamento:
29/04/2010, 6ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/05/2010).

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

No mesmo sentido:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE


MULTA COMINATÓRIA. CONDOMÍNIO QUE PRETENDE O
CUMPRIMENTO DE REGRA PREVISTA NA CONVENÇÃO
CONDOMINIAL. PROIBIÇÃO GENÉRICA DA PRESENÇA DE
ANIMAIS NO CONDOMÍNIO. NÃO DEMONSTRADO
QUALQUER INCÔMODO. CONFIGURADO CERCEAMENTO
INJUSTIFICADO AO LIVRE USO DA PROPRIEDADE.
RECURSO PROVIDO.

(TJ-SP - APL: 9046104972000826 SP 9046104-97.2000.8.26.0000,


Relator: Coelho Mendes, Data de Julgamento: 23/08/2011, 10ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/08/2011)

3. Acesso ao chão
São constrangedoras e em alguns casos até mesmo vexatórias as
imposições de regras que impeçam o transito de animais no chão, mesmo que de forma
mínima da porta da casa até a rua e vice versa.

É anulável a decisão de assembleia que vise a proibir a manutenção


de animais, ou restrinja a circulação destes animais no colo ou com focinheira (salvo
raças descritas em lei) nas dependências do condomínio.

Assim, algumas limitações, como por exemplo obrigar os moradores


que possuem um animal de estimação a circular exclusivamente com o mesmo somente
no colo, podem ser entendidas em casos extremos como constrangimento ilegal , com
punições previstas no Artigo 146 do Código Penal:

“Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de


lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência,
a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena –
detenção, de três meses a um ano, ou multa”.

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

Nesse sentido TJ-RS:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONDOMÍNIO. AÇÃO DE


CONCESSÃO DE TRÂNSITO. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO.
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. Pedido de concessão de
tutela antecipada. Acolhimento. Possibilidade de o autor se deslocar com
seu cão pelas áreas e dependências de uso comum, de modo a poder
entrar e sair do prédio, sob o controle da guia, ainda que a convenção
disponha que somente é autorizado a condução no colo. Princípio da
razoabilidade, considerando que não há nenhum indicativo de que o cão
seja violento ou cause ameaça à coletividade. Precedentes
jurisprudenciais. Em decisão monocrática, dou provimento ao agravo de
instrumento.

(Agravo de Instrumento Nº 70063788707, Vigésima Câmara Cível,


Tribunal de Justiça do RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman,
Julgado em 06/03/2015).

No mesmo sentido:

TUTELA ANTECIPADA Ação ajuizada pelos condôminos em face do


condomínio Proibição da circulação de animais no chão das áreas comuns
Prédios residenciais em condomínio, sem elevadores, alguns distantes da
rua Condôminos com idade avançada (80 anos) ou com problemas de
saúde, e com dificuldade para transportar os animais no colo, como
ordenado em circular do síndico Razoabilidade do pedido de que façam o
percurso desde as unidades até a rua, com os animais no chão e sob guia
Existência de prova inequívoca a autorizar juízo de verossimilhança das
alegações Perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, decorrente
da eventual e consequente necessidade de desfazimento dos cães por
condôminos que os tem como animais de estimação, porque não têm
condições de transportá-los no colo por longa distância Questão de fundo
a ser dirimida na sentença final da causa principal Decisão que indefere a
antecipação de tutela, reformada. Agravo provido.

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

(TJ-SP - AI: 20814409620148260000 SP 2081440-96.2014.8.26.0000, Relator:


João Carlos Saletti, Data de Julgamento: 22/07/2014, 10ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 25/07/2014)

Agravo de instrumento. Ação de condenação em obrigação de não fazer.


Insurgência contra decisão que indeferiu a antecipação dos efeitos da
tutela. Regulamento interno do condomínio agravado que somente
permite a circulação de animais de estimação pelas áreas comuns no colo
de seus donos. Autora idosa e com problemas na coluna, estando
impossibilitada de observar tal determinação. Demandante que reside no
primeiro andar do edifício. Animal adestrado pertencente à raça
sabidamente dócil. Inexistência, ao menos consoante apurado até este
momento processual, de qualquer perigo aos condôminos pelo trânsito do
animal, pelas áreas comuns permitidas, fazendo uso de guia e coleira.
"Restrições ao direito de propriedade dos condôminos que devem
observar a razoabilidade" (AI 2006844-78.2013.8.26.0000, Desembargador
VIVIANI NICOLAU). Precedentes desta Eg. Corte. Decisão reformada,
recurso provido.

(TJ-SP - AI: 20687800720138260000 SP 2068780-07.2013.8.26.0000, Relator:


Cesar Ciampolini, Data de Julgamento: 04/02/2014, 10ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 05/02/2014)

4. Porte do animal
As restrições devem ser consideradas de encontro com a perturbação
e não com o objeto, ou tamanho do animal. Conforme já mencionamos
comparativamente, caso um morador que escute a TV no último volume, isso seria
motivo para sanções, não pelo fato de ser uma TV e sim pelo fato de perturbar.

Nesse caso o tamanho da TV não traz qualquer interferência, uma


vez que a perturbação pode ocorrer com uma TV pequena ligada a um aparelho de som
ou com uma TV grande. Da mesma forma ocorre com os animais um cão grande pode
não perturbar enquanto um pequeno cão da raça chihuahua pode latir de forma
intermitente causando um incomodo extremo.

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

As restrições seriam impostas pelo uso nocivo da propriedade e não


pelo fato de ser uma TV, ou por ser animal, por isso que o tamanho não importa.

Nesse sentido TJ-SP:

CONDOMÍNIO - Obrigação de fazer - Retirada de animal doméstico de


grande porte - Cão da raça "Akita"- Modificações na convenção
condominial posterior à aquisição da unidade e mudança do réu -
Disposição convencional, ademais, inconstitucional - Precedentes
jurisprudenciais, inclusive da Corte e do STJ - Sentença reformada -
Apelo a que se dá provimento, invertida a sucumbência.

(TJ-SP - APL: 994093357183 SP, Relator: Percival Nogueira, Data de


Julgamento: 29/04/2010, 6ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 10/05/2010)

No mesmo sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CAUTELAR INOMINADA. PLEITO


LIMINAR PARA DETERMINAR QUE O CONDOMÍNIO-RÉU SE
ABSTENHA DE IMPOR PENALIDADE AO AUTOR, POR MANTER
ANIMAL DE ESTIMAÇÃO DE GRANDE PORTE (CACHORRA DA
RAÇA LABRADOR) NA SACADA DA UNIDADE AUTÔNOMA.
INDEFERIMENTO PELA DECISÃO RECORRIDA. INCONFORMISMO
DO AUTOR. ACOLHIMENTO PARCIAL. 1. Presentes os requisitos de
fumus boni iuris e periculum in mora, defere-se ordem liminar para que
seja autorizada a permanência da cachorra, da raça labrador, na sacada de
unidade autônoma, sem a incidência de multa condominial, até que se
discuta e resolva na ação ordinária a ser proposta, com ampla instrução
probatória, se (i) a restrição constante de recente atualização de convenção
de condomínio, proibindo manutenção ou criação de animais em sacada
de unidade, vale para casos já existentes no plano dos fatos, (ii) se é
válida a declaração de vontade dos condôminos que proíba a existência
ou permanência de animais domésticos em lugar específico da unidade
autônoma, reservada, em essência, ao exercício do direito de propriedade
do titular do domínio e que está, ao menos na fase de cognição sumária,
indicada como sendo respeitadora à função social do bem. 2. Recurso
provido em parte.

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

(TJ-SP - AI: 20231367020158260000 SP 2023136-70.2015.8.26.0000, Relator:


Piva Rodrigues, Data de Julgamento: 03/06/2015, 9ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 03/06/2015)

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONDOMÍNIO. CRIAÇÃO DE


ANIMAL DE GRANDE PORTE. PROIBIÇÃO. NORMA INTERNA E
SUA RELATIVIZAÇÃO. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA.
CONGRAÇAMENTO ENTRE OS DIREITOS INDIVIDUAIS E
COLETIVOS. CÃO DE CONDUTA DÓCIL. SOSSEGO, SALUBRIDADE
E SEGURANÇA PRESERVADOS. APELO PROVIDO. 1. A permanência
de um animal em um prédio só pode ser proibida se houver violação do
sossego, da salubridade e da segurança dos condôminos (art. 1.336, IV,
Código Civil). No ponto, invoca-se o clássico paradigma dos três S, para
"uma devida eficiência de análise do caso concreto ao desate meritório". 2.
Doutrina de Flávio Tartuce e José Fernando Simão, sustenta: "...sendo
expressa a proibição de qualquer animal, não há que prevalecer a
literalidade do texto que representa verdadeiro exagero na restrição do
direito de uso da unidade autônoma, que é garantido por lei (art. 1.335, I,
do CC e art. 19 da Lei nº 4.591/1964) (...), valendo o entendimento pelo
qual se deve afastar a literalidade da convenção para a análise do caso
concreto". 3. Assim, "se o cão não traz qualquer insegurança aos
moradores, seja de ordem física ou de ordem psicológica, não viola o
sossego e não se mostra nocivo, inexiste razão alguma para que a norma
seja interpretada restritivamente tão só pelo fato de o mesmo ser de
grande porte". Se assim não fosse, o portador de deficiência visual ficaria
proibido de ter em sua companhia no edifício seu cão-guia. 4. Tem-se
presente, outrossim, conhecida alegoria do domador de ursos, sempre
citada pela jurista Giselda Hironaka e também referida por Luis Recasens
Siches na sua obra "Filosofía Del Derecho", em uma estação ferroviária da
Polônia. Ali era expressamente proibido o acesso de cães e nada referido
ao acesso de ursos. 5. Em ser assim, deve haver, na estimação da norma,
uma devida congruência entre meios e fins, para que a eficácia da norma
exalte a sua própria razão de ser, interpretando-se que a proibição
condominial não se refere a animal de grande e médio porte, mas os de
grande e médio porte que violem o sossego, a salubridade e a segurança
dos condôminos. Demais disso, caberia a indagação: Se o animal fosse
pequeno e feroz e causasse risco à segurança, saúde e sossego, seria

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

permitida a sua manutenção? 6. Demais disso, uma nova compreensão


acerca da proteção jurídica e dos direitos dos animais, avoca estudo
recente do jurista português José Luis Bonifácio Ramos, intitulado "O
animal como tertium genus?", onde ele defende que o animal não pode
continuar sendo identificado simplesmente como coisa. 7. Com efeito, o
condomínio pode estabelecer regras limitativas do direito de vizinhança,
conforme autoriza a Lei 4591/64. Entretanto, a regra interna do
Condomínio que proíbe a criação de animais deve ser interpretada
teleologicamente, apenas se aplicando quando restar demonstrado que
está ocorrendo perturbação ao sossego, salubridade e segurança dos
demais moradores. 8. Recurso de apelação provido, por maioria,
julgando-se procedente o pedido inicial no alcance de ser permitida a
permanência do animal na unidade autônoma do Condomínio, invertidos
os ônus sucumbenciais.

(TJ-PE - APL: 710708020108170001 PE 0071070-80.2010.8.17.0001, Relator:


Jones Figueirêdo, Data de Julgamento: 25/10/2012, 4ª Câmara Cível, Data
de Publicação: 208)

Assim, um cão pequeno que lata de forma intermitente pode


perturbar o sossego dos vizinhos, uma única pessoa em uma residência tocando bateria
também pode trazer transtornos. Nestes casos, as limitações são legítimas e passíveis de
advertência ou multa e, em situações extremas, o Judiciário tem entendido pela limitação
do uso da propriedade.

No entanto, definir o número de habitantes por unidades ou o


tamanho dos animais, infringe o direito de propriedade. O que deve ser limitada é a
perturbação do sossego, prejuízo à saúde e à segurança dos moradores, o que pode
ocorrer independentemente do tamanho do animal ou do número de moradores.

5. O que pode ser disciplinado pelo condomínio

Assim, o condomínio, por meio de sua convenção, regimento interno


ou assembleias, pode e deve regular o trânsito de animais, desde que não contrarie o que
é estabelecido por lei. São consideradas normas aplicáveis e que não confrontam o direito
de propriedade:

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

Exigir que os animais transitem pelos elevadores de serviços,

exigir que o animal transite no interior do prédio somente do elevador de


serviço à rua, sem que possa andar livremente no prédio,

proibir que circule em áreas comuns,

exigir que no caso de um morador esteja com um animal no elevador aguarde


o próximo,

quando necessário exigir a carteira de vacinação para comprovar que o


animal goza de boa saúde,

circular somente de guia,

exigir focinheira para as raças previstas em lei.

Não é razoável

Proibir animais pelo tamanho, a proibição deve ser em função da perturbação


ao sossego, segurança e saúde dos que coabitem o prédio.

Exigir a circulação somente no colo. ( Animais pequenos como o bull dog,


podem chegar a pesar mais de 20 Kg. )

Restringir de forma indiscriminada o número de animais na unidade

Não obstante o entendimento em referência com todo embasamento


jurídico apresentado, ainda encontramos julgados no sentido contrário que entendem
pelo impedimento da manutenção de animais em condomíniosi, pela restrição de
tamanhosii ou pelo impedimento de transito dos mesmo no chãoiii.

Sendo o que nos cabia considerar. É nosso entendimento

Rodrigo Karpat

Membro Efetivo da Capital da Comissão de Direito Condominial

OAB/SP 211.136

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br
COMISSÃO ESPECIAL DE DIREITO CONDOMINIAL
PRESIDENTE – OTÁVIO CELSO FURTADO NUCCI

i
TJ-PR - RI: 001186232201381601820 PR 0011862-32.2013.8.16.0182/0 (Acórdão), Relator: Aldemar
Sternadt, Data de Julgamento: 02/06/2016, 1ª Turma Recursal, Data de Publicação: 13/06/2016);
ii
(TJ-DF - APL: 822937720088070001 DF 0082293-77.2008.807.0001, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA, Data
de Julgamento: 21/03/2012, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: 30/03/2012, DJ-e Pág. 156);
iii
(TJ-PR - RI: 000552279201381600180 PR 0005522-79.2013.8.16.0018/0 (Acórdão),
Relator: Leo Henrique Furtado Araújo, Data de Julgamento: 07/04/2016, 1ª Turma Recursal,
Data de Publicação: 13/06/2016).

Secretaria das Comissões – Praça da Sé, 385, 4.º andar – CEP: 01.001-902 – São Paulo/SP – Tel: 11 3291-8212
www.oabsp.org.br – e-mail: secretaria.comissoes@oabsp.org.br

Das könnte Ihnen auch gefallen