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Os efeitos da participação dos movimentos feministas na elaboração de Políticas de Saúde

em relação ao aborto voluntário no Brasil

Por Priscila Kiselar Mortelaro

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

4º Congreso Ibero-Latinoamericano de Psicología Política - Valparaíso, 2018

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- Objetivos

Espero contribuir para a compreensão da temática do exercício do poder no âmbito institucional,


buscando compreender quais são os efeitos da participação de movimentos feministas na
elaboração de Políticas de Saúde em relação ao manejo do aborto voluntário no Brasil. Para
atingir esse objetivo, analisamos a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
(PNAISM) e a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento.

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- Práticas discursivas e produção de sentidos (SPINK, M. J., 1999;2013)


- Análise de documentos de domínio público (SPINK, P., 1999;2013)

A pesquisa está fundamentada na abordagem teórico-metodológica da análise de práticas


discursivas e produção de sentidos. Recorremos à análise de documentos, porque entendemos
que eles são produtos sociais que refletem as transformações em posicionamentos institucionais
ou coletivos que dão forma ao informal, oferecendo visibilidade para a dinâmica de produção de
sentidos, ao mesmo tempo em que participam dela.

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Introdução

- O aborto voluntário no Brasil

No Brasil, o aborto voluntário é caracterizado como crime contra a vida, com exceção em
casos de estupro e risco de vida para a mulher decorrente da gestação. No contexto brasileiro, a
legislação proibitiva tem efeitos diretos na vida das mulheres brasileiras, uma vez que as
mulheres continuam realizando o procedimento, mas de modo inseguro: estima-se que 1.054.242
abortos foram provocados no ano de 2005 (BRASIL, 2009) e o aborto provocado em condições
de clandestinamente é uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil: a prática é
responsável por cerca de 12,5% dos óbitos totais, ocupando, em geral, o terceiro lugar entre as
principais causas (BRASIL, 2001).

No período da ditadura militar até o início da abertura democrática (1964-1979), as


discussões sobre a interrupção da gestação eram escassas. Desde então, houve intensificação da
atuação da sociedade civil, o que levou a incorporação da questão dos direitos das mulheres à
agenda dos Três Poderes (ROCHA, 2006). Desde a redemocratização, os movimentos feministas
têm marcado presença nos espaços de debates.

- Políticas feministas do aborto (SCAVONE, 2008).

Antes de procurar qualquer ressonância dos posicionamentos feministas nos documentos que
analisamos, é importante retomá-los em um primeiro momento.

Segundo uma das estudiosas da questão do aborto no Brasil, a Carta das Mulheres é um marco
das políticas feministas em relação ao aborto voluntário. Enviado ao Congresso Nacional durante
as mobilizações feministas para a redação da Constituição de 1988, o documento exige o direito
das mulheres de conhecer e decidir sobre o próprio corpo.

Ainda na década de 1980, a publicação da Frente Feminista, apresenta o aborto no âmbito do


direito de decisão sobre o próprio corpo e ressalta o perigo da ilegalidade da prática para a saúde
das mulheres, principalmente das camadas populares.
Na década de 1990, os movimentos feministas incorporaram as estatísticas sobre mortalidade
materna e sua relação com o aborto inseguro, e passaram a afirmar o aborto feito em condições
de clandestinidade como um problema de saúde pública.

Em consonância com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, a noção de Direitos Sexuais
e Reprodutivos passa a se consolidar no discurso dos movimentos feministas, a partir daí, o
aborto voluntário passa a ser tratado como um Direito Sexual e Reprodutivo, sobretudo Humano,
que não pode ser criminalizado.

Além disso, desde a Carta das Mulheres, na década de 1980, uma das estratégias feministas foi e
continua sendo buscar a garantia do acesso a assistência ao abortos nos casos de violência sexual
e de risco de vida para a gestante, já garantidos por lei.

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- PNAISM
- Norma técnica de atenção ao abortamento

No mesmo no da I Conferência Nacional de Políticas para Mulheres foi lançada a Política


Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM)​. Consta na nova versão do
documento, publicada em 2011, que a política busca consolidar os avanços no campo dos
direitos sexuais e reprodutivos, “com ênfase na melhoria da atenção obstétrica, no planejamento
familiar, na atenção ao abortamento inseguro e no combate à violência doméstica e sexual”,
levando em conta um enfoque de gênero ao considerar a relação desigual entre mulheres e
homens e os efeitos dessa relação (BRASIL, 2011, p. 7). A questão do abortamento seguro entra
em pauta pois se configura como um dos caminhos para a redução da morbimortalidade materna
por causas preveníveis e evitáveis, bem como para a consolidação da garantia dos direitos
humanos no país.

A PNAISM estabelece como estratégia a promoção da “atenção obstétrica e neonatal, qualificada


e humanizada, incluindo a assistência ao abortamento em condições inseguras, para mulheres e
adolescentes” (2011, p. 69). Entre os objetivos específicos dessa estratégia constam “qualificar e
humanizar a atenção à mulher em situação de abortamento” e “melhorar a informação sobre a
magnitude e tendência da mortalidade materna” (2011, p. 70). Entretanto, apesar dos esforços
para garantir atenção humanizada a mulheres em situação de abortamento – legal ou não –, a
descriminalização do abortamento não é citada como solução aos efeitos do abortamento
inseguro à saúde das mulheres.

Já a ​norma técnica se apresenta como um esforço de consolidar as diretrizes da política


nacional. O documento situa o aborto como como “um grave problema de saúde pública” (2011,
p. 5), recomendando abordagem ética da questão e reflexão sobre os aspectos jurídicos. Uma das
características importantes deste documento é a presença de orientações éticas aos/às
profissionais de modo a reforçar a necessidade de sigilo profissional de acordo com o Código
Penal, a Constituição Federal e o Código de Ética Médica, a fim de desencorajar a denúncia em
casos de complicações decorrentes do abortamento clandestino. além de prescrever atendimento
humanizado e não moralizante da mulher em situação de abortamento provocado ou que opte
pela interrupção legal da gestação. O documento também fornece diretrizes e recomendações
para a ação nos casos de abortamento, tanto para os casos de aborto legal como para aqueles
provocados ilegalmente, deixando claro que as mulheres que provocam o aborto
clandestinamente podem procurar o serviço de saúde em contextos de complicação e precisam
receber.

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Em geral, o que se observa na militância feminista, é um deslocamento do debate sobre o


início da vida para a questão dos direitos de decisão sobre o próprio corpo ou mesmo para a
questão da desvalorização da vida das mulheres que sofrem os efeitos da criminalização do
aborto. Agrada-me muito mais a ideia de que, para além de uma simples demanda liberal, a
militância feminista se configura muito mais uma luta contra práticas de assujeitamento,
inscrevendo-as no âmbito do exercício do poder.
Podemos perceber certa incorporação das pautas do movimento feminista na elaboração
das políticas nacionais em relação ao aborto, de modo que tais documentos busquem garantir o
direito feminino ao acesso universal à assistência humanizada nos casos de aborto legal ou de
complicações decorrentes do aborto inseguro. Mesmo em um contexto de tensões, vemos o
debate sobre o aborto voluntário produzir efeitos concretos. No entanto, os documentos ainda
não apresentam a descriminalização como solução para os efeitos do aborto inseguro à saúde das
mulheres brasileiras, expressando as tensões e o jogo de forças entre os diferentes
posicionamentos com relação à questão.

Apesar de parecer contraditório, devemos assumir que mesmo as práticas de resistência não estão
alheias ao campo das relações de poder, mas se inscrevem no campo do jogo de forças no qual as
estratégias de assujeitamento são múltiplas e difusas, estando presentes no exercício do poder
institucional e na forma da lei, mas também em práticas cotidianas de controle e normalização.
Parece que o exercício do poder na esfera institucional se coloca, então, como uma estratégia tão
legítima como qualquer outra e se apresenta como um meio de introduzir na esfera institucional
do exercício do poder práticas de desassujeitamento feminino, trazendo as resistências cotidianas
para esse âmbito de ação política.

Referências

BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. ​Código Penal​. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em 24 abr.
2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. ​Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher:
princípios e diretrizes​. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.


Departamento de Ciência e Tecnologia. ​Aborto e saúde pública no Brasil: 20 anos​. Brasília:
Ministério da Saúde, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. ​Atenção humanizada ao abortamento: norma técnica​. 3 ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

RIBEIRO, F. R. G. ​Sentidos da vida na controvérsia moral sobre o abortamento induzido: o


caso da anencefalia​. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social). Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo: São Paulo, 2008.

ROCHA, M. I. B. A discussão política sobre aborto no Brasil: uma síntese. ​Revista Brasileira
de Estudos de População​, São Paulo, v. 23, n. 2, jul./dez. 2006.

SCAVONE, L. Políticas feministas do aborto. ​Estudos Feministas​, v. 16, n. 2, Florianópolis,


mai/ago. 2008.

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