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Este livro t e m c o m o objetiv

projetos d e pesquisa, ensino e i


d a g e m da História e Cultura Af
v a ç ã o d a s leis 1 0 . 6 3 9 / 0 3 e 1 1 .
destes conteúdos programáticos
1 0 . 6 3 9 / 2 0 0 3 ' foi e l a b o r a d a p a r a
dezembro de 1996, que estabelec
ria e C u l t u r a A f r o - B r a s i l e t r a " n o

QUADRO I - Artigo de Lei que i


Instituições de Ensino (2003

PAIVA, Adriano Toledo. História Indígena na sala de aula. Belo


O LEI N° 1 0 . 6 3 9
Horizonte: Fino Traço, 2012. Cap. A educação básica e as questões
étnico-culturais. p. 1 5 - 3 6 . DE 9 DE JANEIRO DE 200

Altera a Lei no 9.394, de 20


retfizes e bases da educação
-(^ Rede de Ensino a obrigatori
" -Brasileira", e dá outras pro

. . O PRESIDENTE DA REPÚ
creta e eu sanciono a seguin

Art. l o A Lei no 9.394, de 20


cida dos seguintes arts. 26-A

'Art. 26-A. Nos estabelecime


e particulares, torna-se obrig
-Brasileira.

1 Artigo d e Lei q u e institui a o b r i g a


Instituições de E n s i n o : Lei N° 10.63
QUADRO II - Artigo de Lei que
§ lo o conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo inclui- nas Instituições de Ensino (
rá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Bra-
sil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
L E I N ° 1 1 . 5 4 5 , D E 10
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, económica e
política pertinentes à História do Brasil. Altera a Lei no 9.394, de 20
10,039, de 9 de janeiro de 2
§ 2o Os conteúdos referentes ã História e Cultura Afro-Brasileira serão mi-
educação nacional, para in
nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
obrigatoriedade da temática
educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
O PRESIDENTE DA REPÚ
§3o(VETADO)' ••'
creta e eu sanciono a seguin

-Art. 79-A. (VETADO)' -- - •


Art. 1° O art. 26-A da Lei n
vigorar com a seguinte reda
"Art, 79-8. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como 'Ota
Nacional da Consciência Negra"
"Art. 26-A. Nos estabelecime

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. dio, públicos e privados, Cor
ra afro-brasileira e indígena

Brasília, 9 de janeiro de 2003; 1820 da independência e 1150 da República. § 1° O conteúdo programáti


aspectos da história e da cul
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
ção brasileira, a partir dess
7", ™ —
história da África e dos afric
no Brasil, a cultura negra e
mação da sociedade nacion
Desta f o r m a , i n s e r i u - s e n o c o n t e ú d o d o t e x t o l e g a l a h i s t ó r i a d a Á f r i c a e social, económica e política,
dos africanos, a s e s t r a t é g i a s d e r e s i s t ê n c i a s n e g r a s e a p a r t i c i p a ç ã o d o s n e g r o s
na cultura e n a s o c i e d a d e n a c i o n a i s . N o c a l e n d á r i o e s c o l a r i n s t i t u i u - s e o d i a 2 0 § 2" Os conteúdos referent

de novembro para c e l e b r a ç ã o do dia da c o n s c i ê n c i a n e g r a . Para a b o r d a g e m vos indígenas brasileiros ser

destas q u e s t ó e s n a e d u c a ç ã o , o t e x t o d a lei s a l i e n t a q u e o s c o n t e ú d o s i n c l u í - escolar, em especial nas áre

dos no c o t i d i a n o e s c o l a r s e r ã o m i n i s t r a d o s e m t o d a a g r a d e c u r r i c u l a r , s e n d o tória brasileiras.'(NR)

especialmente a d m i n i s t r a d o s nas disciplinas d e e d u c a ç ã o artística, literatura


e história b r a s i l e i r a s . E m 2 0 0 8 , p u b l i c o u - s e u m a r t i g o q u e a l t e r a as l e i s c i t a d a s
para inclusão d e H i s t ó r i a e C u l t u r a i n d í g e n a n o c u r r í c u l o e s c o l a r . O t e x t o d a
Lei N° 11.645/2008^ e s t a b e l e c e :

2 Artigo de Lei que inclui a obrigatoriedade d o Ensino da Cultura e História i n d í g e n a 3 Artigo de Lei q u e inclui a o b r i g a t
nas Instituições de E n s i n o : Lei N° 11.645.10 d e m a r ç o d e 2008.
nas Instituições d e E n s i n o : Lei N"
nistério d a E d u c a ç ã o , Secretar
M é d i o , 1996:69)
Art. 2" Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Todavia, na verificação das

Brasflia, lOde março de 2008; 187 o da Independência e 120 o da República. ciais e históricos nas diversas te
d o outro, d e u m ou mais grupos,
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA . . .. tre culturas. Neste processo de d
Fernando Haddad . .. sidade, constrói-se u m sujeito qu
O aluno ancorado nos f u n d a m e
posicionará criticamente perant
os seus c o m p a n h e i r o s e atitudes
Nas p r o p o s t a s c u r r i c u l a r e s e g o v e r n a m e n t a i s , o b s e r v a m o s q u e o e n s i n o
injustiça e preconceito (Brasil, M
de h i s t ó r i a é c o n s i d e r a d o u m i m p o r t a n t e e l e m e n t o n a c o n s t r u ç ã o i d e n t i t á r i a
Média e Tecnológica. Parâmetro
dos a l u n o s . D e s t a r t e , e s t e e s t u d o é u m a r e f l e x ã o a c e r c a d a s p r á t i c a s d e e n s i n o
to de cidadania nos Parâmetros
no c o t i d i a n o e s c o l a r , s o b o v i é s d a o b s e r v a ç ã o d o t r a t a m e n t o d e a b o r d a g e n s
peito a u m cidadão abstrato, por
étnico-sociais n e s t e s e s p a ç o s . As i n s t i t u i ç õ e s d e e n s i n o n ã o d e v e m se a p a r t a r
o o b j e t i v o d e q u e os a l u n o s a v a l
das d i s c u s s õ e s a c e r c a d a d i v e r s i d a d e é t n i c a , c u l t u r a l e d e g é n e r o , p o i s s u a
sua identidade. A construção ide
realidade e c o t i d i a n o t é m a p r e s e n ç a d e d i s c e n t e s e d o c e n t e s d e d i f e r e n t e s
ção, a c o m p r e e n s ã o dos resulta
pertencimentos e origens étnico-raciais, idades e p o s i c i o n a m e n t o s afetivo-
no contexto escolar e seu confro
-sexuais. O s p r o c e s s o s e d u c a t i v o s , a s s i m c o m o a h i s t ó r i a , n ã o s ã o c a r a c t e r i -
zados p e l a u n i d a d e , s o b a " f o r m a m o n o l í t i c a " , m a s , s o b r e t u d o p e l a r i q u e z a A História atua c o m o prin

de s e u s d i f e r e n t e s r e g i s t r o s , g o s t o s , c o s t u m e s , e x p r e s s õ e s e i n t e r e s s e s i n d i - dade cultural e étnica, p r o m o v

viduais ( G o m e s , 2 0 0 2 : 2 7 5 - 2 7 6 ) . D e a c o r d o c o m a L e i d e D i r e t r i z e s e B a s e s d a e d u c a n d o s . Neste sentido, no lim

Educação Nacional ( L D B ) , d o a n o d e 1996, a instituição escolar d e v e f o m e n t a r elementos para o desenvolvime

"o p l e n o d e s e n v o l v i m e n t o d o e d u c a n d o , s e u p r e p a r o p a r a o e x e r c í c i o d a c i - orientação pedagógica para ab

dadania e s u a q u a l i f i c a ç ã o p a r a o t r a b a l h o " (Lei d e D i r e t r i z e s e B a s e s . A r t i g o c o m o ponto de partida alguns a

e 35. B R A S I L , 1 9 9 9 : 3 9 , 4 6 - 4 7 ) . N e s t e s e n t i d o , as p r á t i c a s e d u c a t i v a s s e r i a m Inicialmente, refletiremos

mediadoras da c o n s t r u ç ã o d e i d e n t i d a d e s " r e s p o n s á v e i s e solidárias", p r o m o - diagnóstico por parte dos docent

vendo a c o m p r e e n s ã o e c o n f i g u r a ç ã o d o e u e d o o u t r o ( L e i d e D i r e t r i z e s e cação destes conteúdos progra

Bases. A r t i g o 2 ' ' e 3 5 . B R A S I L , 1 9 9 9 : 2 8 6 ) . A d i s c i p l i n a h i s t ó r i a n o s t e x t o s l e g a i s


é considerada u m i n s t r u m e n t o essencial na c o m p r e e n s ã o do significado das
4 Marcelo d e S o u z a M a g a l h ã e s (200
linguagens d a s c i ê n c i a s e d a s r e a l i d a d e s sociais, v i s a n d o à e s t r u t u r a ç ã o d e u m
dos na maioria das propostas curric
cidadão c o n s c i e n t e d e s e u p a p e l e m u m a r e a l i d a d e s o c i a l .
de História, a l m e j a m a f o r m a ç ã o d e
i d e n t i d a d e . O c o n c e i t o de cidadania
A construção d o " e u " e d o "outro", a s s i m c o m o a c o n s t r u ç ã o d o "eu" e d o "nós" não tória, m a s o seu significado n e m s e
ocorre no vazio. Essas c o n s t r u ç õ e s têm lugar nos diferentes c o n t e x t o s da vida i n a u g u r a m u m c o n c e i t o d e cidada
h u m a n a e nos diferentes espaços d e convívio social e m q u e os i n d i v í d u o s e os perante a realidade. E n q u a n t o e m
grupos a t u a m , b a s e a n d o - s e no r e c o n h e c i m e n t o d e s e m e l h a n ç a s e, s i m u l t a n e - m i n o u c o m o 'Regime Militar", o c o
a questões de participação política
amente, d e d i f e r e n ç a s , b e m c o m o no de m u d a n ç a s e p e r m a n ê n c i a s . (Brasil, Mi-
ceito c i d a d ã o a s s u m e status d e a m
a m p l a de d e m o c r a c i a (Magalhães,

20
atuação e propostas didático-pedagógicas. Relataremos aspectos de u m es- cutar u m projeto d e ensino, o p
tudo realizado na cidade de Viçosa (2006-2007), no estado de Minas Gerais, por intermédio de aproximaçõe
c o m o intuito de problematizar a estruturação das propostas de atuação pe- e pesquisas) e o saber escolar, n
d a g ó g i c a na t e m á t i c a da História indígena. S u g e r i m o s possíveis a b o r d a g e n s diferentes cabedais e experiênci
pedagógicas e temáticas embasados no estudo de questionários aplicados tárias e trajetórias familiares.
por a m o s t r a g e m e m a l g u m a s instituições de ensino, tanto públicas q u a n t o O "cientista" estabelece e a
privadas, de Viçosa.' Por meio da análise dos d a d o s dos questionários aplica- lução de situações concretas. C
dos nas escolas, e v i d e n c i a m o s a l g u n s p r o c e d i m e n t o s e m p r e g a d o s no trata- (1991) e Selva Fonseca (2003),
m e n t o das questões étnicas no meio educacional. Partindo da realidade do bilidade pessoal. O ofício d o e d u
e n s i n o n a q u e l a c i d a d e , t r a ç a r e m o s n o r t e a m e n t o s para as práticas d e e n s i n o e o u d e u m a prçcisa e rigorosa me
a p r e n d i z a d o e m u m c o n t e x t o mais amplo.^ diversas pessoas no ambiente e
seca, 2003). O elemento h u m a n o

ENSINO E PESQUISA: CONSTRUINDO MÉTODOS PARA ABORDAGEM ÉTNICO-RACIAL discursos, comportamentos e m


e x i g e o antigo, o u seja, e x p e r i ê n
Nas etapas de d e s e n v o l v i m e n t o de projetos de pesquisa e intervenção incorporados e reavaliados e m s
no cotidiano escolar, os docentes t ê m c o m o principal desafio a construção de d i z a g e m , tal q u a l o c o n h e c i m e n t
u m roteiro de t r a t a m e n t o p e d a g ó g i c o para a a b o r d a g e m de questões étnico- t e m e n t e reatualizado e revisitad
-raciais. Na e s t r u t u r a ç ã o d e u m e s b o ç o d e i n t e r v e n ç ã o , p r e c i s a m o s avaliar a concepções e praticas educacion
realidade escolar, s e u espaço físico, recursos e materiais didáticos disponíveis, (1991:218-219), a formação dos
seu c o r p o d o c e n t e e d i s c e n t e . O professor precisa se d e b r u ç a r sobre a sua rea- avaliar a experiência d e ensino
lidade escolar e avaliar seus p r o c e d i m e n t o s pedagógicos e didáticos. Ao exe- mentares.
Na construção dos trabalhos
e indissociável d o oticio d o pesqu
5 Nossas pesquisas t i v e r a m c o m o principal p r o b l e m á t i c a avaliar a m a n e i r a c o m o as
escolas tratavam as q u e s t õ e s étnicas e raciais e m seu cotidiano, d u r a n t e o primeiro se- o historiador está inserido e m u

m e s t r e d e 2007. A l é m d a s visitas de o b s e r v a ç ã o feitas às instituições d e ensino básico e a u m determinado repertório


de Viçosa, utilizamos os questionários a p l i c a d o s pela professora Maria Alice M. Araújo lho é influenciado por estes cor
nos e s t a b e l e c i m e n t o s d e gerência estadual o u privada, para d i a g n o s t i c a r m o s o tra- 1976:20-21). A d a m Schaff (197
t a m e n t o da "Cultura Afro-brasileira" nas classes e no c o t i d i a n o discente. Utilizaremos
t a m b é m temporais e com duraç
neste livro, c o m o objetivo d e c o m p r e e n d e r o t r a t a m e n t o das questões étnico-raciais
sitam de revisão e reescritura.'
no c o t i d i a n o escolar, o s t e x t o s e d a d o s estatísticos c o n c e r n e n t e s aos q u e s t i o n á r i o s
a p l i c a d o s aos d i s c e n t e s e d o c e n t e s dos e s t a b e l e c i m e n t o s de ensino d e Viçosa - M G é u m a atribuição de sentido a u

peia professora M a n a Alice M o t a Araújo (Escola Estadual Effie Rolfs) e remetidos para questionamentos do presente p
a Secretaria Regional d e Ensino d e Ponte N o v a . -se a p a r t i r d e s u a s p o s i ç õ e s d o p
6 A g r a d e ç o a Professora Keila D e s l a n d e s pela interlocução nos cursos d e aperfeiço- pesquisa e do sujeito q u e a realiz
a m e n t o G é n e r o e D i v e r s i d a d e na Escola ( G D E - U F O P ) , E d u c a ç ã o para Diversidade e
C i d a d a n i a (EDC-UFOP) e no C u r s o d e Especialização G e s t ã o de Políticas Públicas e m
G é n e r o Raça e Etnia (GPP-GRE/UFOP), o f e r t a d o peia Cátedra da UNESCO, Aguas M u - 7 A História náo possui u m progre
lheres e D e s e n v o l v i m e n t o ( U F O P ) ; a Professora Maria Alice M. Araújo, da Escola Esta- râneas s u p e r e m as anteriores. A his
dual Effie Rolfs, peio a p o i o c o n c e d i d o no d e s e n v o l v i m e n t o d a s pesquisas d e c a m p o e u m "progresso dialético", pois as obr
pela s u p e r v i s ã o d o projeto d e i n t e r v e n ç ã o a p l i c a d o nas escolas d e Viçosa n a c o n c l u - d i á l o g o c o m obras posteriores. O p a
são d e m i n h a licenciatura e m História, na U n i v e r s i d a d e Federai d e Viçosa ( U F V ) . caleidoscópica (Schaf, 2003:13-14).

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radas, o u d e sua releitura, de novos conteúdos, conceitos, técnicas e teorias, o bons no esporte"; "Que existe pr
historiador suscita u m a reavaliação do passado e de suas interpretações an- r a c i s m o n e s t a s é f e i t o p o r negros
teriormente estabelecidas. À maneira do historiador, o professor ao construir Foram aplicados questioná
suas práticas de ensino e seus materiais e m p r e g a trabalhos historiográficos e duais do Município de Viçosa: D
d i s c u r s o s d e s u j e i t o s h i s t ó r i c o s p a r a c o n s t r u i r s u a a ç ã o e, p o r q u e n ã o , a f i r m a r Freitas, Raul de Leoni, M a d r e
sua (re)interpretaçào da história. B o r g e s e Effie Rolfs.'" D e n t r e o s
C o n f o r m e Maurice Tardif e colaboradores (1991:218-219), o saber d o c e n - c o m p r e e n d i a m acerca das quest
te é u m saber plural f o r m a d o pela " a m á l g a m a a p a r e n t e m e n t e coerente" dos tura d e s t a c a m o s : "Os negros so
saberes a d v i n d o s da formação profissional, dos saberes das disciplinas, das negro é racismo"; "Todos tém o
estruturas curriculares e da experiência. A atividade de d o c ê n c i a náo constitui criminadas pela coloração da pel
u m a m e r a r e p r o d u ç ã o e d i s s e m i n a ç ã o de c o n h e c i m e n t o s por parte d o profes- f o r a m d i s c r i m i n a d o s " ; "A h i s t ó r
sor, p o i s e s t e . e m s u a s v i v ê n c i a s e e x p e r i ê n c i a s , c o n f r o n t a s a b e r e s , r e a l i d a d e s , d i s c r i m i n a ç ã o r a c i a l n o Brasil",
c o n h e c i m e n t o s , representações, reavaliando c o n s t a n t e m e n t e seu corolário evidenciamos que gostariam est
t e ó r i c o e c o n c e i t u a i ( T a r d i f et a l . 1 9 9 1 : 2 1 8 - 2 1 9 ) . A o e n s i n a r , o p r o f e s s o r p r o c e - as q u e s t õ e s étnico-culturais na s
d e r á c o m u m e n r e d o e u m a leitura q u e se e s t r u t u r a r a d e a c o r d o c o m as suas g e m do racismo"; "Por q u e as p
necessidades e percepções das realidades/anseios circundantes. v i v i a m na África antes d e s e r e m
Neste sentido, os d o c e n t e s d e v e m conhecer e pesquisar o seu c a m p o de os racistas"; "motivos d e t e r e m s
atuação e aspectos das trajetórias individuais e vivências de seus alunos para renciações de racismo, preconce
m e l h o r p r o c e d e r c o m suas a t i v i d a d e s d e e n s i n o / a p r e n d i z a d o . Para realizar o se d i s c r i m i n a r u m b r a n c o " ; "por
diagnóstico d e seu cotidiano escolar e a f u n d a m e n t a ç ã o de sua prática peda- Ao relatar seus c o n h e c i m e
gógica, os d o c e n t e s p r e c i s a m coletar d a d o s por intermédio d e formulários a diferentes grupos étnicos no Br
serem distribuídos e m m e i o aos docentes e discentes de sua instituição esco- país p o s s u í m o s forte preconceit
lar. N a a n a l i s e d a s a b o r d a g e n s e t n i c o - r a c i a i s n o s e s t a b e l e c i m e n t o s d e e n s i n o índio na composição d e nossa s
da cidade de Viçosa, procedemos c o m a aplicação de questões e formulários cultura, evidenciando t a m b é m
para professores e alunos.* No questionamento acerca do que sabem sobre trabalho e nas Universidades. O
as "questões é t n i c a s e raciais" no Brasil, os d i s c e n t e s m a n i f e s t a r a m q u e c o m - tem o sangue negro e indígena
p r e e n d i a m : "A H i s t ó r i a d o N e g r o e d a e s c r a v i d ã o n o B r a s i l " : " Q u e e x i s t e q u o t a s resses, os discentes a l m e j a m c o
para negros nas Universidades"; "Que negros e índios sofrem preconceitos e justificativas político-jurídicas;
d i s c r i m i n a ç ã o racial, s e n d o ainda escravizados e h u m i l h a d o s " ; "Que o racismo zados; c o m o estes viviam antes
ê uma forma de preconceito"e"é u m crime, p o d e n d o resultarem prisão";"Que e x i s t e n t e e n t r e os í n d i o s e n e g r o
nosso país é rico e m diversidade cultural, t e n d o o negro e o índio contribuído
para a nossa cultura"; "Que vários povos contribuíram para o desenvolvimen- 9 As expressões entre aspas c o r r e s
t o d o Brasil"; " Q u e os negros são m a l r e m u n e r a d o s e m relação aos brancos"; formulários e q u e s t ó e s aplicadas e
"Que os índios são preguiçosos e a d o r a m b e b e r cachaça"; "Que os negros são 10 Foram e n t r e g u e s c e n t o e trinta
Ensino F u n d a m e n t a l - Fase IV, q u
Alice Araújo. (Escolas p e s q u i s a d a s
Freitas, R j u i de Leoni, Madre Sant
Effie Rolfs.)
8 Dos q u e s t i o n á r i o s a p l i c a d o s n o colégio E q u i p e , trinta e cinco o f o r a m no Ensino 11 F o r a m e n t r e g u e s cento e q u a r e
F u n d a m e n t a l , s e n d o d e v o l v i d o s t o d o s os d e m a i s formulários. ca aos e d u c a n d o s d o e n s i n o f u n d a

24
' N a s e s c o l a s a n a l i s a d a s , as p r i n c i p a i s d ú v i d a s e c u r i o s i d a d e s discentes n o s d i s c u r s o s d o s c o r p o s d e leis e
a c e r c a das relações e n t r e os g r u p o s é t n i c o s n o Brasil p o d e m ser s o l u c i o n a d a s resultados de 116 questionários d
e respondidas c o m u m e s t u d o mais a p u r a d o acerca da história africana e d e de ensino de Viçosa, p o d e m o s evi
suas ligações c o m os d o m í n i o s ultramarinos, especificamente c o m a A m é r i c a tância do negro e do índio na for
P o r t u g u e s a . Para o c a s o i n d í g e n a , o professor d e v e p o n t u a r as diferentes et- como elemento "condicionador
nias i n d í g e n a s , d e s t i t u i n d o - a s d e u m a c o n c e p ç ã o a r r a i g a d a d e u n i d a d e c u l t u - e s t u d a n t e s se p o s i c i o n a r a m c o m
ral e d e d e s e n r a i z a m e n t o p e l a a ç ã o d o c o n q u i s t a d o r e d o E s t a d o . S a l i e n t a m o s socioeconómica de alguns indíg
a necessidade de análise da trajetória dos índios nos processos de conquista cursos discentes enfatizam a riqu
colonial, não incorrendo na interpretação da oscilação de u m a i m a g e m de músicas, danç as, religião, mitos
assimilados ou de bárbaros, mas nos dilemas e percepções q u e possuíam no experiência da "escravidão é e x t r
transcorrer dos diferentes contatos culturais. Todavia, d e v e m o s destituir d o D e m a n e i r a g e r a l , os e s t u d a
imaginário dos a l u n o s a arraigada r e p r e s e n t a ç ã o d e u m a "cultura i n d í g e n a mais sobre a História da África e
o r i g i n a l o u pura", p o r q u e a s c o m u n i d a d e s s e m p r e v i v e n c i a v a m constantes difusões e argumentos de ações
contatos culturais c o m o m u n d o colonial e c o m outras c o m u n i d a d e s nativas, com questionamentos recorrente
portanto, modificando suas concepções de espaço e Identidades. m e n t a l e na m í d i a ; tais c o m o o "
Desta forma, a prática d o c e n t e d e v e incidir e m u m a história q u e a b o r d e tema de Cotas nas Universidade
o cotidiano, e n f o c a n d o as estratégias d e resistência e inserção dos negros e e indígenas. Os alunos e s t a b e l e c
índios nas sociedades coloniais e na sociedade nacional. Q u a n d o da solução e inclusão social e as realidades d
r e s p o s t a p a r a as p r i n c i p a i s i n q u i e t a ç õ e s e c u r i o s i d a d e s d o s e d u c a n d o s , o p r o - pações acerca de posicionamento
fessor d e v e proporcionar na a b o r d a g e m d e seus c o n t e ú d o s o e s t a b e l e c i m e n - contendas étnico-culturais fora
to d e c o n e x õ e s e n t r e a s i t u a ç ã o h i s t ó r i c a d o i n d í g e n a n a s o c i e d a d e brasileira da e d u c a ç ã o básica. Os alunos t a
c o n t e m p o r â n e a e a sua realidade no passado histórico. P o d e m o s evidenciar negros nos meios d e c o m u n i c a ç ã
q u e no discurso dos discentes o negro e o índio são interpretados c o m o ex- te d e s e m p e n h a m papéis m e n o r e s
cluídos da sociedade e passíveis de i n ú m e r a s violências q u e perdurariam e m a total ausência d o indígena nest
nossa tessitura social d e s d e o s t e m p o s coloniais. U m a l u n o redigiu nos for- D e n t r e os itens assinalados
mulários u m q u e s t i o n a m e n t o e m b e b i d o por forte t o m preconceituoso e d e légio Equipe, acerca do gostaria
d e b o c h e a o n o s i n d a g a r : " Q u e m foi o p r i m e i r o n e g r o a a p a n h a r e o p r i m e i r o na realidade Brasileira, p o d e m o s
veado?". discriminados e m Minas Gerais"
Esse q u e s t i o n a m e n t o sinaliza a imperiosa necessidade de integração das m e l h o r m e i o para equiparar a es
questóes étnico-raciais no cotidiano escolar, para problematizar e conscienti- a origem do Candomblé e para q
zar o s e s t u d a n t e s d e p o s i c i o n a m e n t o s e s s e n c i a l m e n t e r e d u c i o n i s t a s , p r e c o n - personalidade e profissionais neg
ceituosos. Os a r g u m e n t o s discentes c o n c e r n e m ao n e g r o e a o indígena no d i v u l g a ç ã o da cultura negra e ind
papel d e meras vítimas da escravidão e das desigualdades socioeconómicas tos"; "Onde cada u m guarda o se
e politicas da nossa realidade societária; o u estão e i v a d o s de u m discurso d e d o p r e c o n c e i t o " e "até q u e p o n t o
equidade e d e cidadania e n d o s s a d o geralmente pelas instituições de ensino, ta"; "Exemplos e causas da discr
o r a c i s m o " ; "Os d a d o s c o l e t a d o s

Maria Alice M o t a . (Escolas p e s q u i s a d a s : Dr. Altamiro Saraiva - C E S E C , J o s é L o u r e n ç o Observamos o coroamento desta


de Freitas, Raul de L e o n i , M a d r e Santa Face, Alice Loureiro, Padre Álvaro Corra Borges
e Effie Rolfs).

26
"Como é o racismo na Escola pública? É diferente da Escola particular? C o m o AVALIAÇÃO DAS TEMÁTICAS ÊTNÍC
t ê m sido r e a l i z a d a s as c a m p a n h a s n a s Escolas?".
S e m s o m b r a de d ú v i d a , d e v e m o s problematizar a importância dos esta- C o m base nos questionários a

belecimentos de ensino no processo d e conscientização da realidade social, d e m o s observar que a temática étn

na difusão e e s t a b e l e c i m e n t o d e p o s i c i o n a m e n t o s sociopolíticos por inter- dos do ano letivo. No questionário

médio da relação ensino/aprendizado. P o d e m o s evidenciar estes aspectos, de Viçosa i n d a g a m o s sobre c o m o "

q u a n d o os a l u n o s d i s s e r t a r a m l i v r e m e n t e s o b r e o q u e c o n h e c e m e g o s t a r i a m 6 , 0 1 % dos respondentes relataram

d e a p r e n d e r acerca d a s q u e s t õ e s étnicas e raciais na s o c i e d a d e brasileira. A v a - l a s , 7 2 , 9 3 % c o n s i d e r a r a m q u e "o

liaremos alguns a r g u m e n t o s esboçados por alunos do ensino médio, da Esco- possibilitem tratar o assunto". A p

la E s t a d u a l E f f i e R o l f s , n o t o c a n t e a o s s e u s c o n h e c i m e n t o s s o b r e a s q u e s t õ e s m a r a m que esta temática é trabal

étnicas e cultura afro-brasileira: re e n o 2 0 d e n o v e m b r o " . O s p r o f e


argumentaram que o racismo dev
escola; enquanto 10,52% afirmara
Os escravos foram utilizados no período coionial, s e r v i a m os d e g r a n d e poder,
m o v i m e n t o s sociais e cerca d e 1
e r a m os n e g r o s q u e faziam o trabalho pesado e q u e r e c e b i a m castigos. Eu sei
g r a d e curricular se o c o r r e s s e m c a s
t a m b é m q u e eles f a z e m p a r t e da nossa cultura (língua, c u l i n á r i a , medicina...) e
rede privada de ensino de Viçosa, A
q u e na maioria das vezes são excluídos nas sociedades, m a s hoje e m dia já exis-
r a c i s m o d e v e ser a b o r d a d o p e l o s
tea lei contra o p r e c o n c e i t o racial o n d e os não p o d e m desrespeitar o u ofendé-los."
p o d e m o s o b s e r v a r q u e as instituiç

Outro discente observou o seguinte aspecto: ram a importância de conceder à t


gógico (10,41%), assim como 11,4
tratamento da questão na ocorrên
Sei q u e os vários p o v o s d e diferentes etnias (negros, índios, brancos...), foram d e
m o e v i d e n t e na escola". Neste s e n
g r a n d e i m p o r t â n c i a para nossa c u l t u r a , i m p o n d o seus diferentes c o s t u m e s , c r e n -
atenção especial ã rormação identi
ças etc. sei t a m b é m q u e há vários séculos p r i n c i p a l m e n t e os n e g r o s e os índios
etnias circunscritas a sua realidad
s o f r e m p r e c o n c e i t o , os n e g r o s p r i n c i p a l m e n t e pela sua cor, os índios pelos seus
cação pública "possuem maior aut
c o s t u m e s q u e m u i t o s os t r a t a m c o m o verdadeiros selvagens.
mas de trabalho e seus métodos de
Ressaltar a marcante presença do negro e do indígena na formação da e raciais são m a i s recorrentes e m s
cultura e d a n a ç ã o brasileira é u m artifício m u i t o recorrente na e l a b o r a ç ã o dis- belecimentos de ensino particular
cursiva dos alunos. De m o d o geral, os estudantes conferiram a esta influência trizes a p o n t a d a s por rigorosos p r o
caráter de simples acessório q u e concede, à nossa identidade nacional, irreve- expressos no material didático q u e
rência, sensualidade e cores. As culturas africanas, afro-brasileiras e aborigines Um questionamento principa
são, neste contexto, interpretadas c o m o u m simples e l e m e n t o inserido e m ciais nas escolas é a c o n s t r u ç ã o d
u m " p r o t ó t i p o ideal", e m u m a " c o n c e p ç ã o d e cultura", q u e p o s s u i s u a m a t r i z lhos, o u seja, verificar c o m o estes
nas s o c i e d a d e s c o n s i d e r a d a s "civilizadas". seus significados e impactos para s
este t e m a nas escolas pesquisadas
estudo, críticas e discussões, pois
aporte teórico, metodológico e p e

12 O p t a m o s p e l a m a n u t e n ç ã o ortográfica e estruturai d o texto escrito nos questio- de gestão pública, a cultura dos af
nários. tes e r a m abordadas c o m o e l e m e n t

28
o u l e m b r a d a q u a n d o se t o r n a t ó p i c o na m í d i a ( 1 2 , 0 3 % ) . A p r o x i m a d a m e n t e Hoje e m dia apesar de possuir

5 6 , 3 9 % dos educadores consideram a cultura africana e de seus descenden- tos c o m o cotas para negros nas

tes u m i m p o r t a n t e i n s t r u m e n t o na prática p e d a g ó g i c a . Nas escolas d a rede os negros e m u m p a t a m a r infe

privada de ensino, as práticas culturais dos negros e índios e r a m estudadas c a p a c i d a d e d o negro.

c o m o s e n d o u m e l e m e n t o d o "rico folclore" ( 7 9 , 1 6 % ) , o u s i m p l e s m e n t e resga-


Sei q u e os sofreram m t c o m a esc
tada para esclarecimentos de assuntos midiáticos (15,62%); somente 5,20%
p o r é m c a m u f l a d o s por slnismo,..
dos professores consideram a a b o r d a g e m desta temática u m instrumento
africanos (brancos) s e n t e m pelo
n o r t e a d o r das atividades de ensino. P o d e m o s evidenciar a falta d e u m coro-
lário analítico e conceituai para análise e construção d e projetos q u e tratem Apesar d e tudo o preconceito é
a pluralidade étnica, pois os estabelecimentos de ensino e n f o c a m a cultura no qual eram tratados c o m o an
afro-brasileira c o m o u m e l e m e n t o d e "nosso rico e d i v e r s o folclore"; c o m o versidades públicas é u m a f o r m
apêndice a u m a abstrata noção de cultura veiculada pelos órgãos de gestão a capacidade de cada u m indep
governamentais e pelos meios de comunicação de massa.
Destarte, nos escritos disce
Todavia, os professores d e v e m tratar estas questões e m projetos multi-
discursos de submissão e vitimiz
disciplinares e transdisciplinares q u e i n t e r v e n h a m nas práticas e projetos po-
sociedade brasileira atua!. No qu
lltico-pedagõgicos de seus estabelecimentos de ensino, não p a u t a n d o seus
do currículo escolar, nas escolas
trabalhos s o m e n t e na celebração de datas comemorativas, nas danças e nos
c o m o ponto nevrálgico u m a met
r i t m o s d a c h a m a d a "cultura n e g r a e nativa". O s professores n ã o p o d e m avaliar
sidade" "visualizando e estudand
u n i c a m e n t e as influências dos negros e índios na c o n s t r u ç ã o d e nossa lingua-
povos" para o nosso arcabouço c
g e m , culinária e artes, u m a v e z q u e tais a s p e c t o s realçam e p r o m o v e m o es-
rede pública de ensino) apresenta
t u d o destas m a n i f e s t a ç õ e s culturais pelo viés d o "exotismo". Nos projetos q u e
indígenas e negros, enquanto 12,
v a l o r i z a m a cultura n e g r a c o m o integrante de nosso a r c a b o u ç o cultural, ora
tada pelos discurso do colonizado
acioriã-se u m a tradição para reafirmação d e u m modelo cultural, considerado
zados", i m a g e m por v e z e s p e r p e t u
civilizado e ideal, ora c u n h a - s e u m m o d e l o de "cultura mestiça". Os projetos
Nívea d e Lima e Fonseca (2004),
d e s e n v o l v i d o s e as práticas d o c e n t e s r e c a e m n a r e m e m o r a ç ã o e c o n s t a t a ç ã o
galgados pela análise e p r o d u ç ã o
da violência e exclusão sofrida pelos negros e indígenas, não c o n c e d e n d o
história e d u c a d o r e s ainda r e p r o d
c o n t o r n o s p r e c i s o s à m e m ó r i a d e s t e s a g e n t e s históricos. O b s e r v a m o s e s t e ar-
dominação e submissão absoluta
g u m e n t o d i f u n d i d o n a s d i s s e r t a ç õ e s e l a b o r a d a s pelos a l u n o s e m fase final d e
luta e a resistência cativa a p a r e c e
formação básica:
violência. Todavia, o material didá
Por m u i t o t e m p o o negro foi escravizado, s e n d o s u b j u g a d o peias pessoas q u e escolares cotidianas, q u e serão re
e r a m tidas c o m o s u p e r i o r e s . Possuía u m a diversificada cultura q u e foi c o n s i d e r a - ção d e u m a m e m ó r i a escolar, l e m
d a inferior por m u i t o s . No Brasil a e s c r a v i d ã o t e r m i n o u e m 1888 e m e s m o assim (Fonseca, 2004:91-94).
eles a i n d a s o f r e m m u i t o e q u e muitas vezes é m e n o r q u e o dos b r a n c o s , t a m b é m No cotidiano escolar, os profe
a esta para n e g r o s nas U n i v e r s i d a d e s p ú b l i c a s , q u e i n d i r e t a m e n t e os classifica taram que reavaliam suas prática
c o m o inferiores. lores e conceitos q u e t r a z e m intr
portanto, repensam suas ações c

E m b o r a a e s c r a v i d ã o t e n h a a c a b a d o no s é c u l o XIX o n e g r o sofre a i n d a c o m a professores investem e m sua form

exploração, a discriminação e o preconceito, mesmo que e m menor quantidade. e n v o l v e discussões étnicas e racia

30
e m relação a estas q u e s t õ e s , s e n d o t r a n s m i s s o r e s d e c o n t e ú d o s d o s livros analisarmos os formulários aplica
didáticos e m a n u a i s p e d a g ó g i c o s . Os e d u c a d o r e s da rede privada r e p e n s a m u m quadro bastante similar ao a p r
^ suas ações cotidianas por meio da exposição de valores e conceitos acerca Observamos, através dos ques
das q u e s t ó e s raciais n o Brasil ( 4 7 , 9 1 % ) , m a s 4 3 , 7 5 % p r e f e r e m posicionar-se sino de Viçosa, q u e os professores
de "forma neutra" diante de questóes sociais, p a u t a n d o - s e nas apostilas e m á - dificuldade para trabalhar c o m o
todos de e n s i n o da instituição e m que i e c i o n a m . Deste total de professores, empecilhos para o tratamento des
s o m e n t e 8 , 3 3 % i n v e s t e m no e s t u d o d e q u e s t õ e s é t n i c a s e raciais para f u n d a - ção académica deficiente, da nec
mentar seu corolário profissional. especialização na área, assim c o m
A p r o x i m a d a m e n t e 6 5 % dos professores das escolas privadas e de tutela estudos contemporâneos sobre "ed
g o v e r n a m e n t a l a s s i n a l a r a m q u e n o c o t i d i a n o "as q u e s t õ e s r a c i a i s n a e s c o l a " "pretensa" e professada igualdade
são t r a b a l h a d a s e m d e t e r m i n a d a s e t a p a s do a n o letivo. C e r c a de 3 0 % d o s escolares, ponto que norteia proje
professores de escolas públicas a f i r m a m existir na instituição projetos cole- colas, p o d e ser v e r i f i c a d a n o s a r t i
tlvos q u e p o s s u e m a p a r t i c i p a ç ã o d e t o d o s os f u n c i o n á r i o s e d a d i r e ç ã o . Nos diretrizes da e d u c a ç ã o nacional. P
e s t a b e l e c i m e n t o s particulares, s o m e n t e 1 7 , 7 0 % a f i r m a r a m existir essa c o n - nada pelos professores através de
duta. O questionamento realizado aos docentes visando compreender c o m o a pesquisadora Nilma Uno G o m e
t r a b a l h a m as q u e s t õ e s raciais na escola incidiu n o s e g u i n t e r e s u l t a d o : as ins- pontos norteadores das práticas e
tituições e s t a d u a i s a r g u m e n t a m q u e os c o n t e ú d o s t r a b a l h a d o s s ã o "contex- tos para t o d o s os m e m b r o s d a i n s t i
tualizados n a realidade do aluno, levando-o a fazer u m a análise crítica de sua e m sinónimo de homogeneidade,
t r a j e t ó r i a , a fim d e c o n h e c ê - l a m e l h o r , e c o m p r o m e t e n d o - s e c o m s u a t r a n s - tos morais e religiosos. Os discurs
formação" (77,44%); 3 % dos educadores consideram a abordagem da Cultura pela sociedade civil m a s c a r a m a co
e História Afro-Brasileira u m assunto que n ã o diz respeito ao interior da esco- seus corpos constitutivos. Destarte
la. C o n s o a n t e a e s t e r e s u l t a d o , o b s e r v a m o s q u e 1 9 , 5 4 % d e s t e s p r o f i s s i o n a i s qual prevalece u m "padrão único e
p r e f e r e m trabalhar o t e m a d e f o r m a m a i s g e n e r a l i z a d a , pois c o n s i d e r a m q u e com uma identidade homogénea (
a escola não t e m c o n d i ç õ e s de operacionalizar esta a b o r d a g e m . As escolas Os questionamentos suscitado
privad as n o t r a t a m e n t o das q u e s t õ e s étnicas e raciais t a m b é m i n c i d i r a m na tantes para p e n s a r m o s a realidade
a d a p t a ç ã o da t e m á t i c a ao cotidiano discente (66,66%). Cerca de 17,7% dos to u m p a d r ã o h o m o g é n e o d e t r a t a
profissionais d a e d u c a ç ã o a f i r m a r a m q u e este a s s u n t o n ã o deveria ser abor- cola refletem a realidade de u m d
d a d o pela escola e 1 5 , 6 2 % especificam u m a a b o r d a g e m tangencial, pois não construção dos argumentos empre
p o s s u e m subsídios necessários para a discussão. 2002:276-277). Os docentes da edu

No t o c a n t e às d i s c u s s õ e s acerca das s e m e l h a n ç a s e diferenças d o s a g r u - formulários reconhecem a importâ

pamentos étnicos, os estabelecimentos de ensino privados demonstraram cotidiano escolar e de ponderar sua

u m quadro interessante: 4 6 , 8 7 % dos docentes que responderam o questioná- mestres d e todas as instituições d e

rio r e s s a l t a r a m q u e o c o n t r a s t e e as a n a l o g i a s e n t r e as d i f e r e n t e s c u l t u r a s pro- conhecimento, a aceitação e o resp

porcionam u m a "reflexão para rever posturas etnocèntricas e c o m p a r a ç õ e s por u m trabalho p e d a g ó g i c o q u e p

hierarquizadoras", m a s a m e s m a p o r c e n t a g e m considera estas especificidades h e r a n ç a s culturais brasileiras".

culturais c o m o e l e m e n t o s da diversidade brasileira. O restante dos docentes, As escolas d a r e d e p ú b l i c a e a


c o r r e s p o n d e n d o a 6 , 2 5 % , a f i r m a m q u e e s t a s e s p e c i f i c i d a d e s e n t r e os g r u p o s posicionamento ao considerar a p
socioculturais n ã o d e v e m ser tratadas, pois p o d e m d e s e n c a d e a r conflitos. A o discriminação e do preconceito co

32
de a m b a s observarem a importância d e discutir a cultura afro-brasileira e a s
identidades pessoais e coletivas n o c o t i d i a n o escolar. C o n t u d o , o b s e r v a m o s construção da Identidade pes
os alunos argumentaram, ao responder os formulários propostos, q u e a e seu espaço d e atuação (Fon

"cultura negra" é lembrada na sala d e a u l a s o m e n t e q u a n d o vira a s s u n t o n a Na estruturação dos proj


mídia f40%). quando estudada c o m o "rico folclore d o Brasil" (33,3%) e q u e é sica o professor precisa p r o b l
a n a l i s a d a s o m e n t e por m e i o d o l i v r o d i d á t i c o ( 2 6 , 7 % ) . Q u a n d o p e r g u n t a m o s as suas práticas d e d o c ê n c i a .
acerca das diferenças existentes e n t r e o s g r u p o s c u l t u r a i s , os a l u n o s sinaliza- elaboração pedagógica, o do
r a m q u e o estudo desses casos s ã o o b j e t o d e r e f l e x ã o p a r a r e v i s ã o d e p o s t u r a s reflete sobre as suas práticas e
preconceituosas (60%) e c o n s i d e r a d a s c o m o a s p e c t o s d a d i v e r s i d a d e c u l t u r a l tidiano escolar são importante
brasileira (26,7%l- ^^^o nos instiga é o percentual de alunos (13,3%) tidiano escolar e para u m a co
q u e se m a n i f e s t a r a m pela n e g a ç ã o d e s t a s d i f e r e n ç a s n a e s c o l a , p o i s e l a s p o - Todavia, os percursos para rea
d e r i a m d e s e n c a d e a r conflitos. O s a l u n o s d a E. E. E f f i e R o l f s r e l a t a r a m q u e a s d a cultura e história afro-bras
situações de desigualdade social e d i s c r i m i n a ç ã o racial p r e s e n t e s n a s o c i e d a - tifícios para o professor r e p e n
d e brasileira s u s c i t a m r e f l e x õ e s e m s u a s f a m í l i a s ( 4 0 % ) e s ã o f r e q u e n t e m e n t e cidadã. Este processo de reest
discutidas pela c o m u n i d a d e c o m o e m a s s o c i a ç õ e s d e bairros, i n s t i t u i ç õ e s reli- do docente, constituindo-se n
g i o s a s e m o v i m e n t o s sociais ( 3 3 , 4 ) . P a r a 2 6 , 6 % d o s e s t u d a n t e s e s t a s q u e s t õ e s avaliação dos valores e saberes
n á o s ã o r e c o r m n t e s em s e u c o t i d i a n o e, p o r t a n t o , n u n c a d e b a t i d a s . aperfeiçoamento, assim c o m o
Na r»de pública de e n s i n o 4 9 , 6 2 % d o s p r o f e s s o r e s r e l a t a r a m q u e " a i n d a permitirão a construção d e nov
não tiveram oportunidade de e s t u d a r sobre as q u e s t õ e s é t n i c a s e raciais n a experiência. O ensino náo pod
Escol V 40,60% procuram ' i n c o r p o r a r o a s s u n t o n a s d i s c u s s õ e s , r e u n i õ e s p e - pois a profissão de t o d o o pesqu
dagógicas grupos de estudo e m o m e n t o s d e f o r m a ç ã o " . A p r o x i m a d a m e n t e dissociar estas praticas, será m e r o
53 1 2 % dos educadores das e s c o l a s p r i v a d a s n ã o e s t u d a r a m q u e s t õ e s étni-
c a s e cerca de 40.62% p r o b l e m a t i z a r a m estas q u e s t õ e s n o c o t i d i a n o escolar, ALGUNS APONTAMENTOS
c o m o por e x e m p l o , e m d i s c u s s õ e s p e d a g ó g i c a s . ' ^ D e a c o r d o c o m o s a r g u -
m e n t o s d e Selva G u i m a r ã e s F o n s e c a ( 2 0 0 3 : 6 0 ) , o b s e r v a m o s q u e s e t o r n o u Através d a aplicação e anál
'lugar c o m u m ' a f i r m a r q u e a f o r m a ç ã o d o p r o f e s s o r se p r o c e s s a a o l o n g o d e no d a cidade d e Viçosa (2006-2
s u a v i d a profissional e p e s s o a l n a s d i v e r s a s t e m p o r a l i d a d e s e e s p a ç o s s o c i o e - os discursos de u m a igualdade d
ducativos Contudo, a autora a r g u m e n t a q u e e s t e s s a b e r e s h i s t ó r i c o s e p e d a - identitárias no cotidiano escolar
g ó g i c o s são mobilizados e p r o b l e m a t i z a d o s n a g r a d u a ç ã o e m c u r s o s d e a p e r - de que somos u m a cultura mesti
f e i ç o a m e n t o e, portanto, c o n s i d e r a e s t e m o m e n t o c o m o f u n d a m e n t a l p a r a a nossa i d e n t i d a d e c o m o u m rico
nos d e v e m salientar a diversidad
social, n ã o para consolidar u m e
13 Luís Carlos Villalta (1993:226-227) o b s e r v o u q u e m u i t o s professores p e r m a n e c e m u m a instituição q u e se constitua
m uma perspectiva positivista e m a r x i s t a . Deste m o d o , estes d o c e n t e s p o s s u e m e n o estudo das diferenças. Os es
abordagens pedagógicas essencialmente lineares, etapistas, e u r o c é n t r i c a s - e n q u a n -
discentes, docentes e funcionário
curso superior temos uma infinidade d e d e b a t e s teóricos e m e t o d o l ó g i c o s - n ã o
socioeconómicos, que portam vi
estimulando a participação dos alunos, pois a s 'aulas são m a g i s t r a i s " e as avaliações/
exercícios náo demonstram o aprendizado. O historiador o b s e r v a q u e esta fragilidade aspectos culturais diferenciados
d o onto de vista teórico e de metodologias, b e m c o m o a p r e c a r i e d a d e p e d a g ó g i c a , m o d o , d instituição escolar deve
está relacionada com a formação a c a d é m i c a dos e d u c a d o r e s . curso da igualdade, tampouco pe
diferença. Neste processo, c o m o salienta Nilma G o m e s (2002:277-279), a es-
cola d e v e ser i n t e g r a d a à c o m u n i d a d e local a v a l i a n d o a realidade v i v e n c i a d a
pelos alunos e m seu cotidiano, e e m outras instituições de formação, c o m o a
família, religiosidades, grupos comunitários, nas quais os alunos c o n s t r o e m e
a p r e e n d e m suas representações sobre o m u n d o . Os estudantes confrontam
s e m p r e a realidade das salas de aulas e os seus saberes c o m a configuração de
seu cotidiano no meio familiar e social; portanto, a escola não d e v e professar
o d i s c u r s o d e q u e seria a ú n i c a f o r m a d o r a d e c o n s c i ê n c i a s , pois se integra a
u m quadro a m p l o de estruturação de cidadãos, d e v e n d o suscitar todo tipo de
c o n f r o n t o e q u e s t i o n a m e n t o e n t r e as "esferas p ú b l i c a s " e " p r i v a d a s " d a socie-
dade (Gomes, 2002:278-281.).
As escolas d e v e m suscitar o c o n f r o n t o entre as etnias e culturas, p r o m o -
v e n d o nos alunos a constatação das diferenças. Neste sentido, estuda-se o
outro para m e l h o r c o m p r e e n s ã o e construção d o e u . Não p o d e m o s descon-
s i d e r a r as d i v e r s i d a d e s é t n i c a s , s o c i a i s , e c o n ó m i c a s e c u l t u r a i s d o c o t i d i a n o
educacional. O Ministério da Educação atualmente desenvolve a percepção
d e q u e e s t u d a r e discutir as q u e s t õ e s étnico-raciais n ã o é u m a c o m p e t ê n c i a
exclusiva de negros, índios e m o v i m e n t o s sociais, m a s u m a problemática para
d e b a t e s d e toda a s o c i e d a d e . Destarte, torna-se necessário d e s v e n d a r as m ú l -
tiplas relações entre as etnias e m diversas t e m p o r a l i d a d e s e relacioná-las c o m
o t e m p o presente, para promoção de u m sentimento identitário dos educan-
d o s e de seu p e r t e n c i m e n t o racial,

VAMOS PENSAR E DISCUTIR?


EXPLORANDO A MINHA PRATICA DOCENTE

• No a m b i e n t e escolar, c o m o tratamos as q u e s t õ e s étnicas e de história in-


d í g e n a e m d e t e r m i n a d a s etapas d o a n o letivo e na preparação de nossos
conteúdos didáticos?

• Q u e tal p r o p o r , e m n o s s o e s p a ç o d e a t u a ç ã o , u m t r a b a l h o c o l e t i v o c o m
a participação de todos, inclusive dos m e m b r o s da direção e dos funcio-
nários?

• Realize u m l e v a n t a m e n t o na biblioteca d e s u a e s c o l a . E l a b o r e u m a rela-


ç ã o d o s livros q u e t r a t a m d e q u e s t õ e s étnico-raciais. Classifique-os entre
a q u e l e s a d e q u a d o s a o t r a b a l h o e m s a l a d e a u l a e o s i n d i s p e n s á v e i s à for-
m a ç ã o d o s p r o f e s s o r e s . S e q u i s e r ir m a i s a d i a n t e , o b s e r v e q u a l o t i p o d e
abordagem de cada u m a dessas publicações.

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