Tema: As práticas e estratégias de peacebuilding dando um novo sentido
à Justiça de Transição
Aluna: Julia Brandão RA00147502
Orientadora: Profa. Dra. Claudia Marconi
Resumo do Tema: A presente monografia tem como objetivo ilustrar os desafios
e lacunas deixados pelos mecanismos tradicionais da justiça de transição, intrinsecamente relacionados à uma chamada “paz negativa”, que visa apenas o fim de conflitos diretos, que nem sempre é capaz de manter a paz em locais recém-saídos de conflitos. O estudo se dará a partir da crítica proposta por Rama Mani à estrutura tradicional do campo, que deveria ter como fonte o peacebuilding como forma de estabelecer a paz positiva nas situações de conflitos e graves violações de direitos humanos.
Palavras-chave: direitos humanos, peacebuilding, justiça de transição
Escopo de Sumário a Ser Desenvolvido:
a. Introdução ao campo Justiça de Transição
i. Histórico ii. Mecanismos transicionais iii. Desafios da Justiça de Transição b. Introdução aos processos de peacebuilding i. Histórico ii. Conceito iii. A ONU e o peacebuilding c. As práticas e estratégias de peacebuilding combinadas aos mecanismos transicionais tradicionais – Os Casos Africanos i. Serra Leoa ii. Centro-África d. Conclusão e. Referências Bibliográficas Considerações Iniciais
Os desafios da Justiça de Transição e seus mecanismos tradicionais
De acordo com o relatório do Conselho de Segurança da ONU, a justiça
de transição é definida como sendo o conjunto de abordagens, mecanismos (judiciais e não judiciais) e estratégias que visam enfrentar o legado de violência em massa do passado, a fim de atribuir as devidas responsabilidades, exigir a efetividade do direito à memória e à verdade, fortalecer as instituições com valores democráticos e garantir a não repetição das atrocidades.
É inegável que as ditaduras e os conflitos armados ocorreram de diversas
maneiras e em diferentes tempos em cada país, tendo assim cada país um tempo para o processo transicional. Apesar da justiça de transição ter os mesmos pilares em qualquer país, o tempo de desenvolvimento dela vai variar de acordo com a situação do país e com as marcas que os regimes ditatoriais e conflitos armados deixaram.
Porém, cabe ressaltar que,
Yet, restoring justice after conflict is as much a political
imperative as a social necessity. Political leaders will not make concessions, negotiate peace or respect agreements unless their major political grievances have been addressed. The public will not trust the governing authorities and invest in peace unless the injustices they suffered during and prior to conflict are redressed.Yet, remarrying peace with justice after conflict has torn them apart is a complex and contentious task that is rarely undertaken compre-hensively, producing inadequate results and often setting back the peace process itself. (MANI, 2005, p. 25)
Com isso, é válido afirmar que os maiores desafios dos mecanismos de
transição estão relacionados à efetividade do método de reparação definido em cada caso, uma vez que alguns dão mais enfoque à reparação financeira, enquanto outros tem como objetivo o resgate da memória e da verdade. Parte importante desse desafio recai sobre quem faz a escolha do mecanismo utilizado, uma vez que, por exemplo, por interesses, pessoais e políticos, um determinado foco pode ser atribuído às Leis de Anistia, comumente promulgadas nesses casos. Nesse sentido, encontramos a crítica de Rama Mani à essa estrutura da justiça de transição, uma vez que todos esses mecanismos citados são tidos como retificadores apenas. Não há, dentro dos mecanismos tradicionais, uma preocupação com as causas “indiretas” da existência de conflitos, como as causas estruturais, enraizadas, sendo que
The necessary starting point in seeking to restore justice after
conflict is to first understand the kinds of injustice suffered by ordinary people during conflict. It then becomes clear that injustice is not just a consequence of conflict, but is also a symptom and cause of conflict. Consequently, the three dimensions of justice corresponding to the three realms of injustice embedded in the causes, symptoms and consequences of conflict must be addressed in order to build a just peace. (MANI, 2005, p. 25)
O peacebuilding em relação à justiça de transição
Indo em direção às proposições de Mani, uma saída seria a vinculação da
justiça de transição com os processos de peacebuilding, uma vez que este possibilita o contato com a resolução de problemas de violência estrutural e cultural, para que a uma paz positiva possa, enfim, ser alcançada.
Both aspects of peacebuilding are essential and fundamentally
inter-linked, and one without the other is unsustainable. This is exactly what Sri Lanka is discovering in the course of its own peace process today. Clearly, efforts to secure, maintain and extend ceasefires must be paralleled by mea-sures that rebuild mutual trust and consolidate nascent peacebuilding, such as economic recon-struction, disarmament, demobilization, reinte- gration and reconciliation. (MANI, 2005, p. 28)
O conceito de peacebuilding está ligado ao processo de peacemaking, ou
seja, ele seria a segunda parte do estabelecimento de um processo de paz, no qual não há apenas a busca pelo fim do conflito armado e, sim, a busca por uma paz durável. Como exposto anteriormente, uma paz durável somente é possível com o fim das três formas de violência existentes em uma sociedade. O processo de peacebuilding envolve uma série de atores, nacionais e internacionais, governamentais ou não, tendo a ONU como uma das principais proponentes de ações e missões de paz. a. Introdução ao Campo da Justiça de Transição
Histórico da Justiça de Transição
Segundo BRITO, inicialmente, na Europa, houveram três etapas de busca da
verdade e justiça transicional. A primeira ocorreu em um período pós-Segunda Guerra, tendo como marco o Tribunal Internacional de Nuremberg. Um segundo momento ocorreu no sul da Europa ainda também no pós-Segunda Guerra. Contudo, cada País elegeu meios diversos dos demais, na Grécia houve um julgamento daqueles que lideraram o golpe de 1967, já na Espanha optou-se pelo método do esquecimento das violações ocorridas na Guerra Civil. E o último momento, que ocorreu na década de 1990 na Europa Central e Lestes, ficou marcado pela abertura de arquivos da polícia e por julgamentos oficiais. Ainda, com relação a América Latina, as políticas transicionais de memória e verdade ocorreram após o fim de vários regimes militares autoritários na região, começando pelos países do Cone Sul no meio da década de 1980, e continuando durante os anos 90 com processos de paz na América Central. Países como Argentina, Chile e Uruguai aderiram às chamadas “anistias”, enquanto que na América Central houve uma busca pela verdade e não pela justiça.
Fases do Processo de Transição
Segundo BIDNIUK, podemos estabelecer que a justiça de transição tem
três grandes fases. Na primeira são mapeados os dois “elementos principais” da política transicional, quais sejam, a reforma das instituições perpetradores dos crimes e a responsabilização individual. Assim, a primeira fase é caracterizada pela restauração/implementação de um Estado de Direito através de mecanismos punitivos. Já a segunda fase é marcada por injunções políticas, deixando de lado as intervenções penais, fazendo surgir a partir de então novas formas de promoção de justiça, tais quais, a reparação e o estabelecimento de comissões de verdade. Dessa forma, a segunda fase deveria ficar marcada pela pluralização de meios de acesso à verdade e construção da memória. Por fim, a terceira fase será a responsável pela consolidação da justiça de transição, pois há uma estabilização das fontes normativas que servem de base para a orientação das políticas e medidas de transição. A partir de então, começa-se a recorrer aos tribunais internacionais e aos instrumentos internacionais existentes em torno destas questões.
Etapa atual
- Levantamento de dados sobre os casos de Serra Leoa e da República
Centro-Africana (MINUSCA).
- Análise sobre a atuação das missões de peacebuilding da ONU e