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A tradução da Bíblia em grupos minoritários - Por Ka’egso Hery

Se Deus olhasse apenas para números ou estratégias baseadas em cálculos de custo e benefício, o povo Kaingang não faria parte do Reino
de Deus, assim como outros povos minoritários do Brasil e do mundo, que vivem isolados, em uma barreira cultural e linguística mais difícil de ser
superada do que barreiras geográficas.
Ainda há outros povos que tem população menor do que qualquer um dos municípios brasileiros. Povos pequenos assim correm o risco de
perder o que tem de mais precioso: a sua identidade. Isso porque o discurso das políticas públicas visa a preservação, mas na prática, acabam
promovendo a segregação, uma consequência da falta de pessoas preparadas para lidar com o diferente.
É muito mais fácil, por exemplo, desenvolver um programa de alfabetização único em português, do que investir em cartilhas diferenciadas para
as 180 línguas indígenas faladas no Brasil. Isto enfraquece um dos elementos mais íntimos da cultura de um povo, que é a sua forma de
comunicação.
Infelizmente, este raciocínio também tem rondado a igreja brasileira, onde, por vezes, se olha apenas para números. Mas Deus não se
impressiona por isso, nem se deixa limitar por barreiras. Pelo contrário, ele nos convida a olhar para o pequeno, para o desprestigiado. E é este o
grande desafio: estar disposto a comunicar o amor de Deus a um povo, por menor que seja, por mais distante que esteja ou por mais diferente que
ele viva.
Alcançar o coração com o Evangelho requer uma comunicação pessoal, específica e integral, porque Deus não nivela ou dissolve as diferenças,
nem opera só na esfera espiritual, mas vê e valoriza a vida de cada um e suas necessidades no seu contexto cultural. Ele quer trazer cura para os
males do pecado em todas as áreas e no dia a dia de cada povo, não de forma genérica, mas com prescrições individuais, escritas na língua do
coração.
Isto não acontece sem o trabalho da tradução, que é o esforço de fazer com que a mensagem seja compreendida pelas formas de comunicação
do povo receptor. Graças a Deus existem pessoas dedicadas a isso, às vezes isoladas, sem reconhecimento público, mas fiéis no seu chamado de
traduzir a Palavra de Deus com as suas vidas.
Um dos frutos deste empenho tem sido a Palavra de Deus na forma escrita. Ter o “Falar de Deus Conosco” (termo kaingang para Bíblia)
impresso em mãos oferece o acesso direto, irrestrito e traz independência, pois tira o poder dos intermediários, que tantas vezes abusam da
dependência dos seus fiéis. Tem me encorajado muito ter a Sociedade Bíblica do Brasil como parceira neste esforço de fazer com que Deus fale
diretamente ao povo Kaingang também na forma escrita, mesmo sabendo que isto envolve esforços e gastos que, humanamente falando, não
fazem muito sentido. Mas nós somos servos de um Deus que não se prende a números absolutos, mas faz milagres com eles. Com poucos pães
e peixes, Ele alimenta uma multidão. Um vale mais que 99. É dividindo que se multiplica.
• Ka’egso Hery é missionário e tradutor. Filho de missionários alemães, Ka’egso assumiu a missão de traduzir o Antigo Testamento em
Kaingang, juntamente com 35 tradutores, que se revezaram ao longo de 17 anos. Atualmente, ele vive na Terra indígena de Queimadas, no
município de Ortigueira/PR.

Por que levar a Bíblia para a igreja? Dos papiros ao smartphone - Por Cláudio Marra
Lucius era jovem e dinâmico, mas, paradoxalmente, empacava com certas novidades na igreja. Sua veia conservadora, combinada com sua
impulsividade, o fazia questionar prontamente algumas inovações de seu pastor, bem mais velho do que ele, mas, curiosamente, muito mais aberto
para mudanças.
Um dos questionamentos ocorreu depois de Lucius perceber que o pastor não ia mais para o púlpito com a sua velha Bíblia. Agora,
encantado com os avanços da tecnologia, o reverendo usava um vistoso e pesado Codex.
O Codex surgira por ali havia pouco tempo. Tratava-se de um volume em que páginas retangulares recortadas de madeira ou de pergaminho
eram colecionadas em sequência e mantidas juntas, protegidas com uma capa. Não se usava mais o antigo rolo. A madeira e o pergaminho
ofereciam enorme vantagem em relação ao velho papiro, menos resistente e duradouro. O formato de páginas, por sua vez, a maior das
novidades, permitia que o usuário do volume acessasse mais rapidamente diferentes passagens, em relação às possibilidades de manuseio do
pergaminho enrolado.
— Ô, meu pastor, eu queria ver o senhor usando a Bíblia no púlpito, atrevia-se Lucius.
— Mas, meu filho, o que você está chamando de Bíblia não existiu desde sempre. Você se refere ao rolo de pergaminho que eu vinha usando
até aqui. E o pergaminho apareceu apenas há alguns séculos.
— Que história é essa, pastor? Não me enrola, não!
— A história do pergaminho tem a ver com enrolação, mas não minha. É que Eumenes II, rei de Pérgamo que viveu de 197 a 159 antes de
Cristo, decidiu certa vez construir em seu reino a maior biblioteca do mundo. Um desafio e tanto, porque já existia uma enorme biblioteca na
cidade de Alexandria, no Egito. Eumenes sabia disso e, empreendedor, resolveu transformar esse problema em solução. Se ele queria suplantar
Alexandria precisava contar com o homem-chave de lá, ou seja, o seu bibliotecário. Fez-lhe então uma oferta irrecusável, com alto salário e
benefícios, tudo garantido para o homem assumir imediatamente.
— E aí, o bibliotecário foi para Pérgamo?
— Ele até que gostaria, mas não foi mesmo. Quando o Ptolomeu de plantão no Egito soube da proposta – talvez Ptolomeu VI Filometor –
ficou ultrajadíssimo. E tomou duas providências radicais. Primeiro, proibiu terminantemente o bibliotecário de pôr os pés fora de Alexandria. E,
segundo, impôs um embargo sobre as exportações de papiro para Pérgamo. “Eu quero ver agora esse reizinho de terceiro mundo montar uma
biblioteca sem papiro!”
— Ô-ô! O que Eumenes fez então?
— Não é à toa que pergaminho tem esse nome, certo? O rei de Pérgamo não era de desistir facilmente de seus projetos e então pensou: “Se
não tem papiro, vai sem papiro mesmo!”. Chamou seu Ministro para Desenvolvimento Tecnológico e encomendou-lhe uma solução perfeita e
rápida.
A solução nem foi tão impressionante assim. É que curtição de couro era arte conhecida havia séculos. Foi só uma questão de ligar o nome à
pessoa, porque fazer desenhos e decorações em couro também não era novidade. O Ministro mostrou a Eumenes uma peça de couro curtido
presa a uma vareta de madeira, na qual podia ser enrolada, como faziam com o papiro. No couro havia sido gravado um texto e o rei pode ver o
resultado de sua encomenda.
— E a moda pegou, então?
— O efeito foi explosivo. O pergaminho passou rapidamente a conquistar o mercado e o papiro caiu em desuso. Aliás, a própria biblioteca de
Alexandria acabou invadida pelo pergaminho do modo mais curioso. É que, já nos tempos do Império Romano, querendo impressionar Cleópatra,
Marco Antônio lhe deu de presente toda a biblioteca de Pérgamo e uns 200 mil volumes mudaram de endereço. Coisas de namorados.
— Até ali todo mundo só usava o papiro?
— O uso dos cilindros de papiro vinha de longe – uns 2.500 anos antes de Cristo –, mas não era universal. Em certas partes do Antigo
Oriente Próximo foram encontrados tabletes de argila escritos em sumério por volta do terceiro milênio antes de Cristo. Tabuletas de pedra
também foram encontradas. Dizem que Assurbanipal tinha em Nínive uma grande biblioteca com livros feitos de tabuinhas de argila cozida
escritas com caracteres em forma de cunha, a famosa escrita cuneiforme. Isso no 7º século antes de Cristo.
Essas tabuinhas de argila – ou tabletes, se você preferir – foram usadas também pelos hebreus. Na verdade, Moisés recebeu no monte Sinai
duas tábuas de pedra com a lei de Deus.
— E o que tem isso, pastor?
— Ora, Lucius, se Moisés não levou um rolo de pergaminho para o púlpito, porque eu preciso levar?
Essa historinha parcialmente apócrifa pode ter um final muito interessante se lembrarmos que, atualmente, alguns crentes desaprovam o uso
de tablets no púlpito por acharem que o pastor deve usar a Bíblia, isto é, um codex.
Esquecem que Moisés usou um tablete. E olha que, com o incidente do bezerro de ouro, caiu a conexão, o tablet deu pau, mas Moisés não
perdeu o arquivo porque estava tudo na nuvem...

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