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18/08/2019 Pesquisa de Jurisprudência :: STF - Supremo Tribunal Federal

Pesquisa de Jurisprudência

Decisões Monocráticas

ACO 689 / TO - TOCANTINS


AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA
Relator(a): Min. GILMAR MENDES
Julgamento: 08/08/2019

Publicação

DJe-175 DIVULG 12/08/2019 PUBLIC 13/08/2019

Partes

AUTOR(A/S)(ES) : INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA


PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL FEDERAL
LIT.ATIV.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
RÉU(É)(S) : INSTITUTO DE TERRAS DO ESTADO DO TOCANTINS - ITERTINS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO TOCANTINS
RÉU(É)(S) : VERA LÚCIA MIRA GONÇALVES
ADV.(A/S) : CECÍLIA LEMOS NOZIMA
ADV.(A/S) : MARCELO FABBRI FAZIO GUIMARÃES BARBOSA
RÉU(É)(S) : JOÃO RODRIGUES GONÇALVES
ADV.(A/S) : WILLIAM CARLOS GIGLIO MIRA
ASSIST.(S) : WILLIAM CARLOS GIGLIO MIRA E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : SABRINA ALVES FERRARI
ASSIST.(S) : DIVA DA SILVEIRA MIRA

Decisão
Decisão: Trata-se de ação de reivindicação, cumulada com anulação e
cancelamento de registro e cautelar de antecipação de prova, ajuizada pelo
Incra em face do Instituto de Terras do Estado de Tocantins (Itertins), Vera
Lúcia Mira Gonçalves e seu cônjuge, João Rodrigues Gonçalves, sustentando,
em síntese, a alienação a non domino de bem imóvel público de propriedade da
União pelo primeiro demandado à segunda e seu consorte. Na inicial,
relata que: “I - O imóvel objeto da presente ação foi arrecadado pelo
Grupo Executivo de Terra Araguaia - Tocantins, através da Portaria/GETAT/P/W
171/85, de 27 de dezembro de 1.985(doc. 02), matriculado no Cartório de
Registro de Imóveis de Tocantinópolis, sob r o n° M-869, no livro 2-8, fls.
273, efetuada em 28-01-86, e sendo transferida para o Cartório de Registro
de Imóveis de Darcinópolis, sob o n° M-052, no livro n° 02, fls. 052, em 16
de janeiro de 1997, arrecadação esta que incidiu na Gleba Maior/Loteamento
Sobradinho, localizada no município de Tocantinópolis, hoje Darcinópolis,
com uma área de 80.000,0000(oitenta mil) hectares (…) perímetro esse que se
diz conter a área de 80.000,0000 ha (oitenta mil hectares), sendo, após a
arrecadação, devidamente matriculada em nome da União Federal do Brasil, no
Cartório de Registro de Imóveis de Tocantinópolis, sob n° M-869, fls. 273,
do livro 2-B, em 28.01.83 (doc. 03) e no Cartório de Registro de Imóveis e
Tabelião 1° de Notas de Darcinópolis, sob o n° M-054, fls. 54, do livro 02,
em 16.01.97 (doc. 04), portanto como verifica-se, o processo de arrecadação
transcorreu conforme a legislação vigente à época. II - Não obstante
estar o imóvel devidamente incorporado ao patrimônio público federal, veio o
Instituto de Terras do Tocantins - ITERTINS e expediu em 21.11.1990, o
Título Definitivo em favor de VERA LUCIA MIRA GONÇALVES, com área de
1.681,3418 (um mil seiscentos e oitenta e um hectares, trinta e quatro ares
e dezoito centiares), situado no Lote n° 01, Fazenda Canto Bom, Loteamento
Sobradinho, Gleba Maior, localizado no município de Darcinópolis, tendo o
imóvel os seguintes limites e confrontações: (…) III - Estando o imóvel
matriculado e incorporado ao patrimônio público federal, veio,
posteriormente, a Autarquia Estadual e através de uma escritura pública de
renúncia, lavrada no 1° Ofício de Babaçulândia,TO, em 29-10-1990, adquiriu-o
do Sr. Antônio José da Silva, pelo registro n° M-571 , no livro 2-A, fls.
271 e procedeu a matrícula no C.R.I. de Tocantinópolis, sob o n° M-1.313, no
livro 2-D, fls. 138. (…) (…) V - Como denota-se à vista da planta

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elaborada pelo Grupamento de Cartografia do INCRA, comprova-se claramente a
sobreposição da área arrecada com a titulada pelo ITERTINS, caracterizando-
se assim, uma venda ‘a non domini’ e em total inobservância à legislação
pertinente por parte do Órgão de Terras, gerando assim, um ato nulo de pleno
direito, conforme artigo 145, incisos 111 e IV, do Código Civil Brasileiro,
que estatui: (…) VI - Por seu turno, Emérito Julgador, o ITERTINS e os
Oficiais dos Cartórios de Registros de Imóveis de Tocantinópolis e
Darcinópolis, ao promoverem a matrícula e registro da área já arrecadada e
matriculada em nome da União, feriram o princípio da continuidade registral,
vez que o INCRA já detinha o direito de propriedade da referida gleba, como
coordenador, promotor e executor da Reforma Agrária em terras da União,
competência prevista nos artigos 5°, 60 e 80 da Lei n° 4.947/66, e por
consequência, só ao Órgão Federal caberia o direito de viabilizar os termos
preconizados no art. 524 da lei substantiva civil (…) IX - Ao proceder à
Averbação - Av.01-M-052, realizada pelo C.R.I de Darcinópolis, esta não
produziu qualquer efeito no mundo jurídico, pois, jamais o oficial poderia
ter excluído da arrecadação sumária a área de 5.047,8687 ha (cinco mil,
quarenta e sete hectares e oitenta e seis ares e oitenta e sete centiares),
sendo a área do imóvel, objeto da reivindicatória, ter sido destacada da
área maior, em razão de que, a exclusão somente poderia ter sido requerida
após a Retificação da Portaria de Arrecadação, aí, posteriormente, seria
oficiado ao Cartório, para que procedesse a exclusão desde que acompanhada
da portaria retificada. (…) X - Causa estranheza o fato do Oficial do
Cartório proceder a exclusão da área, baseando-se somente em um Ofício
enviado pelo Chefe Substituto da Unidade Avançada de Araguaína,
transgredindo, assim, frontalmente à Lei dos Registros Públicos e também aos
Ofícios - Circulares nº 043/91, de 11/09/91 e 021/93, de 18/06/93, da
Corregedoria Geral de Justiça do Estado do Tocantins (…) Ocorre, Excelência,
que tanto o ITERTINS continua titulando em área da União, como os Cartórios
de Registros de Imóveis continuam levando a registro os mesmos, sem
observância do determinado nos Ofícios retro mencionados e, na lide em
exame, ao Regimento Interno do INCRA, que fixa a competência da Unidades
Avançadas, no seu artigo 23, alíneas ‘a e b’ e à Lei n° 6.383, de 7 de
dezembro de 1976, no seu artigo 28, pois se o imóvel foi arrecadado através
de Portaria somente poderia ser excluído pelo mesmo instrumento e autoridade
que a expediu. (...) XI - Convém ressaltar que o ITERTINS, agindo assim,
só contribui para que ocorram questões jurídicas e de conotações sociais e
financeiras às partes, vez que as áreas por ele tituladas e matriculadas já
se encontravam incorporadas ao patrimônio público da União”. Ao final,
postula que: “A - seja julgada procedente a presente ação, condenando os
réus à restituir integralmente o imóvel injustamente ocupado, objeto da
matrícula M-053, fls. 053, livro 02, matriculado no Cartório de Registro de
Imóveis de Darcinópolis, em 16 de janeiro de 1997, com área de 1.681,3418
(um mil seiscentos e oitenta e um hectares, trinta e quatro ares e dezoito
centiares), e perdendo o que nele plantou, criou ou construiu, em benefício
do autor, sem que este lhe deva qualquer indenização; B - seja decretada
a nulidade do Título Definitivo n. 1.180, expedido pelo ITERTINS, bem como o
cancelamento das matrículas n 053, fls. 053, Livro 02, do Cartório de
Registro de Imóveis de Darcinópolis, M-1313 e R-01-M1313, fls. 138, livro 2-
D, e dos registros e transcrições nº R-01-M- 571, livro 2-A, fls. 271; 901,
livro 3-C, fls. 166; 278, livro 03, fls. 28, assim, sucessivamente, até o
originário, todos do Cartório de Registro de Imóveis de Tocantinópolis, e
como consequência, o restabelecimento das matrículas M-869, fls. 273, do
livro 2-B, do Cartório de Tocantinópolis e M-052, fls. 052, livro 2-D, do
Cartório de Registro de Imóveis de Darcinópolis em nome da União Federal do
Brasil”. (sic) A ação foi intentada inicialmente perante a Seção
Judiciária de Tocantins, a qual cautelarmente deferiu a produção antecipada
de prova pericial (fls. 46/48). Após a devida tramitação naquele Juízo,
com apresentação de contestações, produção antecipada da prova, ingresso de
assistentes litisconsorciais dos demandados particulares, Vera Lúcia Mira
Gonçalves e João Rodrigues Gonçalves (fl. 218), além das alegações finais
das partes, sobreveio decisão de declinação do processamento e julgamento
deste feito para esta Corte, tendo em vista o disposto no art. 102, I, “f”,
da CF (fls. 276/285). Após as partes serem instadas, por diversas vezes
(fls. 337, 353 e 366), adveio aos autos notícia da tramitação de tentativa
de acordo perante a CCAF (Câmara de Conciliação e Arbitragem da
Administração Federal – fl. 379), com posterior determinação de
sobrestamento do andamento deste feito. (fl. 377) Na petição de fls.
383-384, o Incra informa que teria ocorrido acordo entre os Entes
Federativos, da seguinte forma: “Naquela oportunidade, após a realização
conjunta das vistorias, em parceria entre o ITERTINS e o INCRA, em atenção à
sugestão do ex-Procurador-Geral, em consenso, foi deliberado pelos presentes
o seguinte: a) O reconhecimento por parte do ITERTINS de que houve
expedição de título em terras arrecadadas e matriculadas em nome da
União/INCRA e que os representantes do Estado avaliarão junto ao Procurador
Geral do Estado, no prazo de 10 dias, a viabilidade de peticionar nas ACOs
(Ação Cível Originária nº 945 e Ação Cível Originária nº 689) acerca de tal
reconhecimento, concordando com o pedido de anulação dos títulos e com o
consequente cancelamento das matrículas; b) Com tal providência,
entendem os interessados que estará resolvido o conflito federativo,

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declinando-se a competência do STF para julgar a causa e remetendo-se os
processos à 1ª instância que julgará a lide subjacente entre União, INCRA e
Estado de um lado e de particulares de outro”. Ao final requer a
intimação do Procurador-Geral do Estado de Tocantins para que se manifeste
sobre a proposta supra. Em resposta, o Itertins informa que os trâmites
administrativos para a solução consensual estavam sendo ultimados. (fls.
392/393) O Incra renovou os pedidos de fls. 383/384. (fls. 402/405)
Em despacho de fls. 409/410, determinei a juntada do documento
comprobatório da proposta de acordo, providência cumprida às fls. 416/417.
Após intimado sobre a ratificação ou não do acordo (fl. 425), o Estado
de Tocantins realizou pedido de suspensão do feito pelo prazo de seis meses
para “consecução de convênio por meio do qual serão estabelecidas e
desenvolvidas metas para atuação conjunta das áreas técnicas e jurídicas dos
órgãos envolvidos, conforme registrado no memorando da aludida reunião” (fl.
433). Na mesma oportunidade, juntou atas de audiências da ACO 945, de minha
relatoria. Às fls. 440/441, consta manifestação do Incra opondo-se ao
pedido de suspensão do feito, por considerar que os “representantes da
Unidade Regional do INCRA em Tocantins em documento que deu origem ao pedido
de sobrestamento” não possuem “competência para tal tipo de interferência
nos processos judiciais, e sequer foram assessorados juridicamente no ato”.
Diante das informações prestadas pelo Incra, despachei novamente,
requerendo ao Itertins que se manifestasse, justificadamente, se ratificava
ou não o acordo. (fl. 444) Em resposta, o Itertins aduz que “por estarem
negociações acerca de uma solução amigável ao caso (…), entende incabível a
ratificação do acordo”, reiterando o pedido de sobrestamento do feito pelo
prazo semestral (fls. 448/451). Intimado a se manifestar, o Incra
reiterou a peça de fls. 440/441. Considerando o decurso informal do
prazo de 6 meses, determinou-se a intimação do Ente Público requerido para
se manifestar (fl. 485), oportunidade em que o prazo transcorreu in albis
(fl. 464). Renovado o despacho (fl. 465), adveio petição do Itertins
informando o andamento das negociações administrativo-legislativas perante a
União, através de projeto de lei do Senado 436 de 2017, concluindo que
entendia “incabível, por ora, a ratificação do acordo de fls. 416/418”,
renovando o pedido de sobrestamento pelo prazo de seis meses (fls. 472/473).
Juntou documentos (fls. 474/618) Por sua vez, o Incra manifestou-se pela
inviabilidade do sobrestamento do feito e requereu a intimação da União para
que informasse quanto ao interesse de atuar no feito, diante do art. 33 da
Lei 11.952/2009, com redação dada pela Lei 11.465/2017. Instada, a União
disse de seu interesse de ingressar no feito na condição de litisconsorte
ativo, com o prosseguimento do feito sem a suspensão requerida pelo Itertins
(fls. 635/637). Anexou documentos (fls. 638/647). No despacho de fl.
650, determinei a inclusão da União no polo ativo, na condição de
litisconsorte, e renovei a intimação do Itertins (considerando o decurso
informal do prazo semestral solicitado), o qual, pela segunda vez, não
respondeu ao chamado judicial (fl. 655). Pela última vez, foi
oportunizado ao Itertins dizer se “ratifica, ou não, os termos do acordo
firmado às fls. 418/418, esclarecendo que, caso não haja justificativa
relevante, será reconhecida a plena validade jurídica do acordo celebrado,
com a consequente remessa do feito ao Juízo de 1º grau, sem prejuízo das
medidas legislativas em curso”. (fl. 657) Em resposta, o Itertins assim
se manifestou (fl. 662): “(...) anui apenas com a remessa dos presentes
autos à 1ª instância da Justiça Federal do Estado do Tocantins, e, somente
sobre este ponto, qual seja o item 2 do Termo de Conciliação n.
005/2014/CCAF/CGU/AGUHMB/MGO, requer a homologação do respectivo acordo
nesta parte. Noutro passo, quanto ao item 1 do referido termo, na
avaliação condicionante do acordo, conforme já peticionado e esclarecido nos
presentes autos, o Requerido entende que é inconstitucional o pedido de
anulação dos títulos expedidos sob a sua competência, assim como o
cancelamento das respectivas matrículas. Logo, não houve reconhecimento
destes pedidos formulados pelo Requerente”. A decisão de fls. 664/668
rejeitou os pedidos da petição de fl. 662 e de suspensão de tramitação deste
feito, além de conceder quinze dias para que: i) o Incra trouxesse o inteiro
teor do processo administrativo que amparou a edição do OFICIO/INCRA/SR-
26/UAA/Nº 11, de 14.1.1997 (fl. 205); e ii) os assistentes dos demandados,
William Carlos Giglio Mira e Diva da Silveira Mira, anexassem “aos autos o
contrato de compromisso de compra e venda original ou cópia autenticada
contemporânea ao contrato descrito às fls. 206-207 (tendo em vista que se
trata de cópia da fotocópia do documento original)”, bem ainda eventuais
documentos que comprovassem “a tentativa de regularização da propriedade
antes de 12.1985, junto ao GETAT, MIRAD, Incra ou qualquer órgão público
federal”. Em cumprimento à determinação judicial, o Incra alegou que
“não se identificou outro processo administrativo instruído com o
Ofício/INCRA/SR-26/UAA/N. 011, DE 14/01/1997” (fl. 673), além de anexar
documentos. (fls. 674/739). O Itertins apresentou petição na qual
declara compreender “a manutenção da competência da Egrégia Corte Suprema
frente à incongruência formal da homologação do acordo (…), razão pela qual
deixa de apresentar objeção ou recurso ao referido ato”. (fl. 741) Após
observar que as inscrições dos advogados William Carlos Giglio Mira e
Ferrúcio Ferrari Netto estavam canceladas perante a OAB, aliado a pedido de
substabelecimento com apreciação pendente, deferi este último e determinei

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nova intimação dos assistentes dos demandados, William Carlos Giglio Mira e
Diva da Silveira Mira, por meio da advogada substabelecida. (fls. 744/745)
A Secretaria certificou a ausência de manifestação em relação ao último
despacho. (fl. 748) Considerando o longo transcurso temporal entre a
última manifestação dos requeridos-particulares e seus assistentes
litisconsorciais e este momento processual (ultrapassados mais de dezoito
anos), determinei a sua intimação pessoal, no endereço pesquisado no sistema
Infoseg (fls. 750/751). Após ter requerido a prorrogação do prazo para
se manifestar (fls. 760/763), Vera Lúcia Mira Gonçalves apresentou sua
manifestação derradeira e cumpriu a determinação judicial de juntada de
documentos, conforme requerido por este Juízo (fls. 773/781). O Incra
peticionou nos autos, às fls. 787/791, requerendo, em síntese, a procedência
dos pedidos inaugurais, ao defender que “Dos documentos juntados, fls.
773/781, os que estão em nome da demandada como é o caso da certidão de fl.
776, atestam fatos ocorridos posteriormente à arrecadação, qual seja, a
venda da referida propriedade que fizeram a terceiros em 15/10/1998”. Em
suma, argumentou que os documentos colacionados “não possuem a capacidade de
comprovar a existência de domínio juridicamente válido à época, de modo a
poder se cogitar de vício na arrecadação”. É o relatório. Decido. 1)
Competência do STF Em relação à competência desta Corte, ressai presente
a hipótese subjacente à alínea “f” do inciso I do art. 102 da CF. A
questão envolvendo a titularidade de supostas terras devolutas, ao argumento
de que teria ocorrido mudança daquela entre os Entes Federativos, através de
sucessivas alterações legislativas, não é nova em processos desta Corte, tal
como se percebe da ementa da ACO 477, QO, Rel. Min. Moreira Alves, DJ
24.11.1995: “LITIGIO ENTRE AUTARQUIA FEDERAL E ESTADO-MEMBRO SOBRE
PROPRIEDADE DE TERRAS DEVOLUTAS. QUESTÃO DE ORDEM. - LITIGIO DESSA NATUREZA
ENVOLVE QUESTÃO QUE DIZ RESPEITO DIRETAMENTE AO EQUILIBRIO FEDERATIVO,
SENDO, PORTANTO, CAUSA QUE INEQUIVOCAMENTE E DA COMPETÊNCIA ORIGINARIA DESTA
CORTE NA POSIÇÃO DE TRIBUNAL DA FEDERAÇÃO QUE LHE OUTORGA O ARTIGO 102, I,
‘F’, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. QUESTÃO DE ORDEM QUE SE RESOLVE PELO
RECONHECIMENTO DA COMPETÊNCIA DESTA CORTE PARA O PROCESSO E JULGAMENTO
ORIGINARIOS DA PRESENTE AÇÃO”. (ACO 477 QO, Rel. Min. MOREIRA ALVES,
Tribunal Pleno, DJ 24.11.1995, grifo nosso) Em todas as situações que
estão em tramitação nesta Corte, tem-se reconhecido potencial de abalo ao
pacto federativo, diante da alegação de alienação a non domino pelos Estados
de terras de propriedade da União. Reconheço, por conseguinte, a
competência do STF, com ratificação de todos os atos proferidos pela Justiça
Federal de 1º grau, incluída a medida cautelar de produção antecipada de
prova pericial (art. 64, § 4º, do CPC) e a decisão de fl. 218, que rejeitou
a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam de Vera Lúcia Mira Gonçalves
e João Rodrigues Gonçalves, bem como admitiu como assistentes
litisconsorciais passivos, William Carlos Giglio Mira e Diva da Silveira
Mira. 2) Mérito A Constituição de 1967 (EC 1 de 1969) previa: “Art.
4º. Incluem-se entre os bens da União: I - a porção de terras devolutas
indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento nacionais”. Por sua vez,
disciplinando a norma constitucional, dispunha o Decreto-Lei 1.164/1971:
“Art. 1º. São declaradas indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento
nacionais, na região da Amazônia Legal, definida no artigo 2º, da Lei nº
5.173, de 27 de outubro de 1966, as terras devolutas situadas na faixa de
cem quilômetros de largura, em cada lado do eixo das seguintes rodovias já
construídas, em construção ou projetadas: (...) Art. 2º. Ficam
incluídas ente os bens da União, nos termos do artigo 4º, item I da
Constituição, as terras devolutas a que se refere o artigo anterior.
Art. 3º. As posses legítimas, manifestadas por morada habitual e cultura
efetiva, sobre porções de terras devolutas situadas nas faixas de que trata
o artigo 1º, serão reconhecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária nos termos dos artigos 11 e 97 do Estatuto da Terra (Lei nº
4.504, de 30 de novembro de 1964). Parágrafo único. Continuam a reger-se
pela Lei nº 2.597, 12 de setembro de 1955, as terras devolutas na zona de
fronteira a que se refere o artigo 2º da mesma Lei. (...) Art. 5º.
São ressalvados, nas áreas abrangidas pelo artigo 1º: a) os direitos dos
silvícolas, nos termos do artigo 198 da Constituição; b) as situações
jurídicas constituídas, até a vigência deste Decreto-lei, de conformidade
com a legislação estadual respectiva”. Assim, foram considerados bens da
União “as terras devolutas situadas na faixa de cem quilômetros de largura,
em cada lado do eixo” de algumas rodovias já construídas (citadas no art.
1º), mantendo as posses legítimas de particulares, mediante reconhecimento
pelo Incra. De outro lado, ressalvavam-se do art. 1º as áreas de posse
indígena, bem ainda as situações jurídicas constituídas até a entrada em
vigor do citado decreto-lei (DOU 2.4.1971). Posteriormente, sobreveio
o Decreto-Lei 2.375/1987, revogando expressamente o Decreto-Lei 1.164/1971
(art. 11), assim estipulando: “Art. 1º. Deixam de ser consideradas
indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento nacionais as atuais terras
públicas devolutas situadas nas faixas, de cem quilômetros de largura, em
cada lado do eixo das rodovias, já construídas, em construção ou projetadas,
a que se refere o Decreto-lei n. 1.164, de 1º de abril de 1971, observado o
disposto neste artigo. Parágrafo único. Persistem indispensáveis à
segurança nacional e sob o domínio da União, dentre as terras públicas
devolutas em referência, as que estejam: I - incluídas, cumulativamente,

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na Faixa de Fronteiras; II - contidas nos Municípios de Humaitá (AM),
São Gabriel da Cachoeira (AM), Caracaraí (RR), Porto Velho (RO), Ji-Paraná
(RO), Vilhena (RO), Altamira (PA), Itaituba (PA), Marabá (PA) e Imperatriz
(MA). Art. 2º. Incluir-se-ão, vigente este decreto-lei, entre os bens do
Estado, ou Território, no qual se situem, nos termos do artigo 5º da
Constituição, as terras públicas devolutas às quais retirada, pelo artigo
anterior, a qualificação de indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento
nacionais. §1º. Permanecerá inalterada a situação jurídica das terras
públicas, não devolutas, da União, existentes nas faixas a que alude o
artigo 1º, caput . §2º. Constituirão terras públicas não devolutas,
abrangidas pelo § 1º, aquelas que, na data de publicação deste decreto-lei,
estejam: I - afetadas, de modo expresso ou tácito, a uso público, comum
ou especial, ou a fim de utilidade pública; II - sob destinação de
interesse social; III - a configurar objeto de situações jurídicas, já
constituídas ou em processo de formação, a favor de alguém; IV -
registradas, na forma da lei, em nome de pessoa jurídica pública. §3º.
Para os efeitos deste decreto-lei: I - consideram-se afetadas a uso
público, ou a fim de utilidade pública, as terras públicas sob uso ou
aplicação pela União, pelos Estados, Municípios, Territórios e respectivos
entes descentralizados, inclusive os que atuem por outorga ou mediante
delegação do Poder Público; II - reputam-se sob destinação de interesse
social as terras públicas vinculadas à preservação, à conservação, ou à
restauração, dos recursos naturais renováveis e dos recursos ambientais;
III - caracterizam situações jurídicas, já constituídas ou em processo
de formação, aquelas em que as terras públicas tenham sido objeto de: a)
concessão, alienação, ou simples ocupação ou uso permitidos, por parte da
União, seus entes e órgãos, mediante título definitivo ou provisório,
expedido diretamente por uns e outros ou através de convênios por eles
celebrados; b) posse lícita, por motivo outro, previsto em legislação
federal, pendente de titulação; c) projetos de colonização, loteamento,
assentamento e assemelhados, a cargo do Poder Público Federal, inclusive os
de que trata o Decreto nº 68.524, de 16 de abril de 1971; d)
regularização fundiária em curso, sobretudo nas hipóteses em que revertidas
ao domínio da União por força de cancelamento do registro imobiliário,
promovido pelo particular interessado. (...) Art. 5º. A União
transferirá, a título gratuito, ao respectivo Estado ou Território, terras
públicas não devolutas que, nas faixas mencionadas no caput do artigo 1º,
lhe pertençam, condicionada, a doação, a que seu beneficiário vincule o uso
daquelas áreas aos objetivos do Estatuto da Terra e legislação conexa.
§1º. Será também possível, à União, transferir, ao Estado, ou
Território, onde se situem, terras públicas a ela pertencentes, localizadas
na Faixa de Fronteira, inclusive para os objetivos aos quais se refere o
caput deste artigo. §2º. A transferência de que trata este artigo
somente poderá ocorrer após a afetação prevista no artigo 3º. §3º. São
insuscetíveis dessa transferência as terras públicas que constituam objeto
das hipóteses referidas nos incisos I, II e III, do § 2º do artigo 2º deste
decreto-lei. Art. 6º. Os Estados e Territórios poderão arrecadar terras
públicas devolutas de seu domínio, observado, no que couber, o artigo 28 da
Lei nº 6.383, de 7 de dezembro de 1976. Parágrafo único. Em se tratando
de terras públicas devolutas incorporadas ao patrimônio de Estado, ou
Território, por força deste decreto-lei, a arrecadação instruir-se-á,
necessariamente, com certidão expedida pelo Ministério da Reforma e do
Desenvolvimento Agrário - Mirad, na qual se ateste não estar, a área
arrecadanda, em qualquer das situações previstas no § 2º do artigo 2º.
Art. 7º. Os termos, contratos e títulos, expedidos pela União, pelos
Estados, Municípios, Territórios, ou entes de sua administração
descentralizada, que se destinem a instrumentalizar a alienação, concessão,
arrecadação ou o reconhecimento de domínio sobre terras públicas rurais,
terão, para todos os efeitos, valor e eficácia de escritura pública.
Art. 8º. Todos os imóveis rurais pertencentes à União, desde que se
destinem aos fins do Estatuto da Terra e legislação conexa, somente podem
ser concedidos, alienados por venda ou qualquer outra forma, dados em uso,
ou ocupação, aos ocupantes ou pretendentes, por intermédio do Ministério da
Reforma e do Desenvolvimento Agrário - Mirad”. Percebe-se que houve
guinada de titularidade pela via legislativa, com a desafetação à
indispensabilidade da segurança e do desenvolvimento nacionais, passando à
propriedade do Estado ou do Território as terras públicas devolutas situadas
nas faixas, de cem quilômetros de largura, em cada lado do eixo das
rodovias, já construídas, em construção ou projetadas, a que se refere o
Decreto-Lei 1.164, de 1º de abril de 1971, desde que não presentes as
situações descritas no parágrafo único do art. 1º e nos §§ 1º a 2º do art.
2º. Ou seja, as terras não devolutas e as descritas no parágrafo único
do art. 1º permaneceram sob domínio da União, não sendo repassadas aos
Estados, quais sejam, aquelas que, na data de publicação do decreto-lei (DOU
25.11.1987), estivessem: “afetadas, de modo expresso ou tácito, a uso
público, comum ou especial, ou a fim de utilidade pública”; “sob destinação
de interesse social”; “a configurar objeto de situações jurídicas, já
constituídas ou em processo de formação, a favor de alguém”; ou
“registradas, na forma da lei, em nome de pessoa jurídica pública” (§ 2º do
art. 2º). Para o deslinde do feito, considero importante conceituar o

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que são terras devolutas. A doutrina administrativa assim leciona:
“A quarta fase da evolução do regime de terras se inicia com a
Constituição de 1891, que reservou para a União a porção de terras
indispensável à defesa das fronteiras, fortificações, construções militares
e estradas de ferro federais; transferiu às demais aos Estados. (...)
Mas o conceito de terras devolutas continuou sendo residual: são assim
consideradas aquelas que não estão destinadas a qualquer uso público nem
incorporadas ao domínio privado. (...) Continua válido o conceito
residual de terras devolutas como sendo todas as terras existentes no
território brasileiro, que não se incorporaram legitimamente ao domínio
particular, bem como as já incorporadas ao patrimônio público, porém não
afetadas a qualquer uso público. A primeira parte abrange as terras que
ainda não foram objeto de processo discriminatório; corresponde ao sentido
originário da expressão, ligado ao sentido etimológico de devoluto: vago,
sem dono. A segunda parte compreende as terras que já foram incorporadas ao
patrimônio público”. (PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito
Administrativo. 15 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 586-588, grifo no
original) “O termo devolutas origina-se do latim devolutu, particípio do
verbo devolvere, cujo sentido é o despenhar, precipitar, rolar de cima,
afastar-se. Daí, o termo devoluto passou ao sentido de devolvido, adquirido
por devolução, vago, desocupado. Ao ser absorvida na linguagem técnico-
jurídica, a expressão passou a indicar as terras que ‘se afastam do
patrimônio das pessoas jurídicas públicas sem se incorporarem, por qualquer
título, ao patrimônio dos particulares’. (…) Essas terras, como já
acentuamos, pertenciam originariamente à Coroa e, depois, ao Império, até
que sobreveio a República. Tendo esta adotado o regime de federação, as
terras devolutas passaram aos Estados-membros, reservando-se à União somente
as áreas em que estivessem presente o interesse nacional, como as áreas de
fronteiras com outros países e as necessárias à segurança nacional. Os
Estados, por sua vez, transferiram a muitos Municípios parte de suas terras
devolutas, formando-se o atual regime dominial. Sendo assim, tanto a União
como os Estados e Municípios possuem terras devolutas”. (FILHO, José dos
Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo, 30 ed, São Paulo: Atlas,
2016, p. 1274, grifo nosso) Portanto, de acordo com a legislação
supramencionada, passaram a ser consideradas propriedade da União as terras
devolutas que se enquadrassem na situação prevista no art. 1º do Decreto-Lei
1.164/1971 (“as terras devolutas situadas na faixa de cem quilômetros de
largura, em cada lado do eixo das seguintes rodovias já construídas, em
construção ou projetadas”). Ressalte-se que, antes do citado decreto-lei
(que regulamentou o art. 4º, I, da Constituição de 1967/1969), só eram
consideradas como propriedade da União as áreas indispensáveis à defesa das
fronteiras, das fortificações, das construções militares ou das estradas de
ferro (art. 64 da Constituição de 1891 e art. 34, II, da Constituição de
1946). Apenas com o advento da CF de 1967/1969 passou a ser incluída
como bens da União a “porção de terras devolutas indispensável à segurança e
ao desenvolvimento nacionais” (art. 4º, I, das Constituições de 1967/1969).
Entretanto, ao regulamentar a norma constitucional de 1967/1969, o
próprio decreto-lei excepcionou duas situações das áreas abrangidas pelo
art. 1º: direitos sobre as glebas tradicionalmente ocupadas pelos
silvícolas; e “as situações jurídicas constituídas, até a vigência deste
Decreto-lei, de conformidade com a legislação estadual respectiva”.
Desse modo, mesmo estando dentro da faixa de cem quilômetros em cada
lado do eixo de algumas rodovias, caso existisse imóvel com situação
jurídica (posse ou domínio) constituída até a entrada em vigor do Decreto-
lei, estaria excluído da arrecadação como área devoluta, pela simples
observação de que não estaria abandonado. Concluindo o raciocínio,
importa saber, se for possível, a situação dominial ou possessória dos
referidos imóveis até 1º.4.1971 (Decreto-Lei 1.164/71 publicado no DOU em
2.4.1971). Inexistindo situação jurídica (posse ou domínio) consolidada até
essa data, a partir de então, a titularidade de terra devoluta – descrita em
seu art. 1º – passou a ser da União, caso tenha ocorrido – e somente após –
a devida arrecadação. Na sequência, após o advento do Decreto-Lei
2.375/1987, mesmo as áreas devolutas consideradas anteriormente como
indispensáveis à segurança nacional (art. 1º do Decreto-Lei 1.164/1971)
passaram a ser passíveis de transferência aos Estados, desde que não
presentes as situações descritas no parágrafo único do art. 1º e nos §§ 1º a
2º do art. 2º, conforme visto acima. Pois bem. In casu, trata-se de
gleba rural Maior/Loteamento Sobradinho, localizada no município de
Tocantinópolis (atualmente Darcinópolis), com área de 80.000ha (oitenta mil
hectares), arrecadada pela União em 27.12.1985, com matrícula no Cartório de
Registro de Imóveis registrada em 28.1.1986, durante a vigência do Decreto-
Lei 1.164/1971, antes, portanto, da entrada em vigor do Decreto-Lei
2.375/1987 e registrado em nome de pessoa jurídica de direito público.
Segundo alega o Incra, somente em 21.11.1990, o Itertins expediu título
definitivo, em favor de Vera Lúcia Mira Gonçalves, de área de terras com
1.681,34ha (mil, seiscentos e oitenta e um hectares e trinta e quatro ares),
denominada Fazenda Canto Bom. Realizada a perícia judicial nestes autos,
o expert atestou: “(...) conforme verificação ‘in loco’, utilizando-se
de GPS para verificação das coordenadas geográficas dos limites do imóvel
periciado, podemos afirmar que a Fazenda Canto Bom, cujos títulos definitivo

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expedido pelo ITERTINS a Vera Lúcia Mira Gonçalves se encontra anexado aos
autos, se sobrepõe a área maior arrecadada pela União, conforme matrícula n.
M-052, Livro 02, fls. 052, no Cartório de Registro de Imóveis de
Darcinópolis-TO”. (fl. 142, grifo nosso) Vê-se, pois, que está claro que
a área discutida nestes autos, Fazenda Canto Bom (1.681,34ha), está contida
naquela maior área arrecadada pela União (80.000ha). Após ser instado
por este Juízo sobre a existência de documentos anteriores a 1985 que
comprovassem o domínio ou a posse da área em questão, a promovida Vera Lúcia
logrou êxito em comprovar a existência de situação jurídica (posse ou
domínio) constituída até a entrada em vigor do Decreto-Lei 1.164/1971
(1º.4.1971). Para tanto, reputo imprescindível compreender a sucessão de
transferências de propriedade ao longo dos anos, de forma a conferir as
escriturações certificadas pelos Cartórios de Registro de Imóveis, os quais,
até prova em contrário, detêm presunção de veracidade. Na certidão de
domínio presente à fl. 776, do Cartório de Registro de Imóveis de
Darcinópolis, consta que o imóvel rural denominado Fazenda Canto Bom, Lote
1, do Loteamento Sobradinho, Gleba Maior, localizado no município de
Darcinópolis, com área total de 1.681,3418 ha (mil, seiscentos e oitenta e
um hectares, trinta e quatro ares e dezoito centiares) atualmente é de
propriedade da empresa Viena Siderúrgica S.A. No mesmo documento, consta
a seguinte anotação de cadeia dominial, da ordem mais antiga para a mais
recente: 1) 23.7.1940: Ernesto Pereira dos Reis adquiriu o imóvel do Sr.
Pedro Lopes de Figueiredo e sua esposa D. Joaquina Martins Chaves, conforme
escritura pública de 23.5.1929; 2) 2.8.1974: Ernesto Pereira dos Reis
tornou-se proprietário do imóvel através de demarcação e divisão judicial,
julgada por sentença em 21.3.1968; 3) 13.5.1981: Antônio José da Silva
adquiriu o imóvel por herança de Ernesto Pereira dos Reis; 4) 29.5.1990:
Itertins adquiriu o domínio e posse do imóvel acima do seu proprietário, Sr.
Antônio José da Silva, conforme escritura pública de renúncia, lavrada no
Livro 48, fls. 207/208/vº, em Babaçulandia-TO; 5) 29.12.1992: Vera Lúcia
Mira Gonçalves e seu esposo João Rodrigues Gonçalves compraram o referido
bem imóvel do Itertins, conforme Título Definitivo 1180, expedido em
21.11.1990, lavrado no Livro 8, fls. 147/148, processo 001676/90; 6)
15.10.1998: Willian Giglio Mira e sua esposa Diva da Silveira Mira
adquiriram o imóvel de Vera Lúcia Mira Gonçalves e seu esposo João Rodrigues
Gonçalves; 7) 4.8.2004: Mariana Mira Dias e Felipe Mira Dias adquiriram
o imóvel por usufruto vitalício do Sr. Willian Giglio Mira e sua esposa Diva
da Silveira Mira; 8) 9.9.2004: Willian Giglio Mira e sua esposa Diva da
Silveira Mira retornaram à propriedade plena do imóvel por compra à Mariana
Mira Dias e Felipe Mira Dias; e 9) 28.3.2005: Viena Siderúrgica S.A.
adquiriu o imóvel em questão de Willian Giglio Mira e sua esposa Diva da
Silveira Mira. Na certidão anexada aos autos à fl. 778, datada de 17 de
agosto de 1982, consta a seguinte descrição: “Certifico e dou fé, que
atendendo a pedido verbal da pessoa interessada, e pela faculdade que me é
conferida por lei e que revendo os livros existentes neste Cartório, neles
constam a Filiação do Domínio das Terras pertencentes a Fazenda Canto Bom,
neste município. No dia 13.05.1981, pela transcrição de n. R-1-M- 571, do
livro 1-A, fls. 271, o Sr. Ernesto Pereira dos Reis, adquiriu o imóvel acima
por (compra) digo Adjudicação, do espólio de Ernesto Pereira dos Reis. No
dia 02.08.1974, pela transcrição n. 901, no livro 3-C, fls. 166, o Sr.
Ernesto Pereira dos Reis adquiriu o imóvel acima, por Demarcação e Divisão
Judicial julgada por sentença me 21.0.3.1968. No dia 23.07.1940, pela
transcrição de n. 278. no livro 3, fls. 28, o Sr. Ernesto Pereira dos Reis,
adquiriu o dito imóvel por compra do Sr. Pedro Lopes de Figueiredo e sua
mulher por escritura de compra e venda lavrada em 23.05.1929, pelo Ex-
Tabelião Antônio Gonçalves Neves. NADA MAIS consta do aludido domínio. O
referido é verdade e dou fé. Tocantinópolis, 17 de agosto de 1.982”. (sic)
Da análise desses documentos, algumas constatações se extraem: i) houve
várias alienações da coisa litigiosa após a cientificação desta demanda
(citação dos requeridos particulares procedida em 16.1.1999 e 9.2.1999, com
juntada aos autos em 20.4.1999 – fl. 91), o que não altera a legitimidade
passiva (art. 42 do CPC/73), tampouco demanda qualquer providência
processual; é importante mencionar que o resultado deste feito atinge o
atual proprietário, independentemente de sua participação no feito (§ 3º do
art. 42 do CPC/73, vigente à época das transações); ii) a comprovação da
posse mansa e pacífica remonta desde 23.5.1929, conforme escritura pública
lavrada pelo tabelião da época Antônio Gonçalves Neves; quando houve a
arrecadação pelo Incra em 1985 da gleba maior (continente), o imóvel em
questão (Fazenda Canto Bom) estava em situação jurídica (posse ou domínio)
consolidada há muito tempo. Assim, tal área não poderia ter sido objeto
de arrecadação pelo Incra (União) em 27.12.1985, como terra devoluta,
porque, a rigor, era objeto de posse mansa e pacífica, comprovada
documentalmente, desde 23.5.1929. Nesse ponto, é de bom alvitre
estabelecer, na atual escrituração legal, a diferenciação entre os Livros 2
e 3 previstos nos arts. 172, 173, 176 e 177 da Lei 6.015/1973,
respectivamente: “Art. 172. No Registro de Imóveis serão feitos, nos
termos desta Lei, o registro e a averbação dos títulos ou atos
constitutivos, declaratórios, translativos e extintos de direitos reais
sobre imóveis reconhecidos em lei, ‘inter vivos’ ou ‘mortis causa’ quer para
sua constituição, transferência e extinção, quer para sua validade em

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relação a terceiros, quer para a sua disponibilidade. Art. 173. Haverá,
no Registro de Imóveis, os seguintes livros: I - Livro nº 1 - Protocolo;
II - Livro nº 2 - Registro Geral; III - Livro nº 3 - Registro
Auxiliar; IV - Livro nº 4 - Indicador Real; V - Livro nº 5 -
Indicador Pessoal. Parágrafo único. Observado o disposto no § 2º do art.
3º, desta Lei, os livros nºs 2, 3, 4 e 5 poderão ser substituídos por
fichas. (…) Art. 176. O Livro nº 2 - Registro Geral - será
destinado, à matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação dos atos
relacionados no art. 167 e não atribuídos ao Livro nº 3. § 1º. A
escrituração do Livro nº 2 obedecerá às seguintes normas: I - cada
imóvel terá matrícula própria, que será aberta por ocasião do primeiro
registro a ser feito na vigência desta Lei; (...) Art. 177. O Livro
nº 3 - Registro Auxiliar - será destinado ao registro dos atos que, sendo
atribuídos ao Registro de Imóveis por disposição legal, não digam respeito
diretamente a imóvel matriculado. Art. 178. Registrar-se-ão no Livro nº
3 - Registro Auxiliar: I - a emissão de debêntures, sem prejuízo do
registro eventual e definitivo, na matrícula do imóvel, da hipoteca,
anticrese ou penhor que abonarem especialmente tais emissões, firmando-se
pela ordem do registro a prioridade entre as séries de obrigações emitidas
pela sociedade; II - as cédulas de crédito rural e de crédito
industrial, sem prejuízo do registro da hipoteca cedular; III - as
convenções de condomínio; IV - o penhor de máquinas e de aparelhos
utilizados na indústria, instalados e em funcionamento, com os respectivos
pertences ou sem eles; V - as convenções antenupciais; VI - os
contratos de penhor rural; VII - os títulos que, a requerimento do
interessado, forem registrados no seu inteiro teor, sem prejuízo do ato,
praticado no Livro nº 2”. (grifo nosso) Ou seja, o registro no Livro 3 -
Registro auxiliar, apesar de não comprovar a propriedade registral a partir
de 10.1969 (que deve constar obrigatoriamente no Livro 2 - Registro Geral
desde a vigência do Decreto-Lei 1.000, de 21 de outubro de 1969), aponta
para o domínio privado sobre as glebas em questão, pelo menos desde 23 de
julho de 1940 (regido pelo Decreto 4.857/1939). Explico. Os arts. 530 a
534 do Código Civil de 1916 (atual art. 1.227 c/c art. 1.245 do CC de 2002)
assim regiam o tema (disposição normativa que vigorou até 10.1.2003, dia
anterior à entrada em vigor do CC de 2002): “Art. 530. Adquire-se a
propriedade imóvel: I - Pela transcrição do título de transferência no
registro do imóvel. II - Pela acessão. III - Pelo usucapião. IV
- Pelo direito hereditário. Art. 531. Estão sujeitos a transcrição, no
respectivo registro, os títulos translativos da propriedade imóvel, por ato
entre vivos. Art. 532. Serão também transcritos: I - Os julgados,
pelos quais, nas ações divisórias, se puser termo a indivisão. II - As
sentenças, que nos inventários e partilhas, adjudicarem bens de raiz em
pagamento das dívidas da herança. III - A arrematação e as adjudicações
em hasta pública. Art. 533. Os atos sujeitos a transcrição (arts. 531 e
532) não transferem o domínio, senão da data em que se transcreverem (arts.
856, 860, parágrafo único). Art. 534. A transcrição datar-se-á do dia,
em que se apresentar o título ao oficial do registro, a este o prenotar no
protocolo”. Do ponto de vista legal, apenas a anotação no Livro 2 do
Registro de Imóveis (a partir de 10.1969, com a entrada em vigor do Decreto-
Lei 1.000, de 21 de outubro de 1969, cuja exigência restou mantida pela
atual Lei de Registros Públicos) é apta para comprovar a propriedade, diante
da existência de “matrícula própria, que será aberta por ocasião do primeiro
registro a ser feito na vigência desta Lei” (inciso I do § 1º do art. 176 da
Lei 6.015/1973). Todavia, em 23.7.1940 (transcrição de n. 278. no livro
3, fls. 28, o Sr. Ernesto Pereira dos Reis, adquiriu o dito imóvel por
compra do Sr. Pedro Lopes de Figueiredo e sua mulher por escritura de compra
e venda lavrada em 23.5.1929), o registro no Livro 3 era o meio apto a
demonstrar a transmissão da propriedade sobre a área na vigência do revogado
do Decreto 4.857, de 9 de novembro de 1939 (DOU 23.11.1939), o qual
preceituava em seus arts. 182 e 185: “Art. 182. Haverá no registro de
imóveis os seguintes livros: Livro nº 1 – protocolo, com 300 fôlhas;
Livro nº 2 – inscrição hipotecária, com 300 fôlhas; Livro nº 3 –
inscrição das transmissões, com 300 fôlhas; (...) Art. 185. O livro
n. 3 - Transcrição das transmissões - servirá para transcrever a transmissão
dos imóveis. Este livro será escriturado nos mesmos moldes do livro n. 2”.
(grifo nosso) Assim, a anotação no Livro 3, em 1940, equivalia à
inscrição das transmissões no registro de imóveis. E mais: o atual
estatuto civil brasileiro adotou, em sede de validade do registro frente à
realidade, o sistema causal, sendo possível afastar o registro imobiliário
quando não condiz com a realidade, tal como leciona a doutrina civilista:
“Constata-se que, após longo debate no Direito Brasileiro, que
confrontou Pontes de Miranda e Clóvis do Couto e Silva, o Código Civil
Brasileiro de 2002 adotou nesse comando o sistema causal, defendido pelo
último. Assim, é possível afastar o registro imobiliário quando sua causa
não condiz com a realidade. Não se filiou, assim, ao sistema abstrato, pelo
qual o registro se bastava por si só, conforme defendida Pontes de Miranda”.
(TARTUCE, Flávio. Direito Civil, vol. 4, Direito das Coisas, 9 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 221, grifo nosso) Consequentemente, com base
no sistema causal, reputo válido o registro imobiliário de titularidade dos
requeridos-particulares do imóvel matrícula 1313 (anteriormente anotada na

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matrícula 571) do Cartório de Registro de Imóveis de Tocantinópolis,
envolvendo “Fazenda Canto Bom” (gleba rural de 1.681,3418 ha) frente ao
registro imobiliário da União da gleba maior “loteamento Sobradinho”, com
área total de 80.000 ha (oitenta mil hectares) no Cartório de Registro de
Imóveis Darcinópolis (n° 52, Livro 2-B de Registro Geral, fls. 52). Ad
argumentantum tantum, do ponto de vista jurídico-possessório, antes da
arrecadação realizada pela União em 1985, houve o transcurso de mais de
quinze anos, de posse mansa, pacífica e com justo título dos adquirentes
anteriores, que se estendeu ao requerido-particular (art. 552 do CC de
1916), ocorrendo a aquisição originária da propriedade, na modalidade de
usucapião (esclarecendo que apenas após a ocorrência das arrecadações pela
União é que sobre o bem passou a incidir a impossibilidade jurídica de
usucapir imóvel público – súmula 340 do STF). Eis a previsão normativa em
vigor naquela época (Código Civil de 1916): “Art. 551. Adquire também o
domínio do imóvel aquele que, por dez anos entre presentes, ou quinze entre
ausentes, o possuir como seu, contínua e incontestadamente, com justo título
e boa fé. Parágrafo único. Reputam-se presentes os moradores do mesmo
município e ausentes os que habitem município diverso”. Quanto ao
exercício da posse, resta comprovado documentalmente por meio de documentos
públicos (certidões do cartório de registro de imóveis) o uso da área – ao
menos – desde 23 de maio de 1929, tal como atestam as certidões de fls. 776v
e 778. E mais: inexistiu, nestes autos, qualquer alegação de falsidade
documental, atraindo, consequentemente, a força probante suficiente para
amparar a conclusão do exercício da posse ininterrupta pelo menos desde 1940
(por meio de documento público), amparada em justo título e de boa-fé, sem
qualquer insurgência de terceiros. Portanto, há comprovação nos autos
que os demandados-particulares se desincumbiram do ônus de demonstrar a
posse privada sobre a área rural de 1.681,3418 ha, de forma segura – através
de títulos de transmissão registrados no Livro 3 do Registro do Cartório de
Imóveis de Tocantinópolis – desde 23.7.1940, adquirindo seus antecessores a
propriedade por usucapião ao menos por volta de 23.7.1955 (decurso de quinze
anos) Em outras palavras, na época em que a União realizou a arrecadação
(1985), tais áreas não podiam ser enquadradas como devolutas, diante da
posse privada contínua e pacífica (com aquisição da propriedade mediante
usucapião – art. 551 do CC de 1916), razão pela qual sequer deveriam ter
sido objeto do processo discriminatório, na forma da excludente prevista na
alínea “b” do art. 5º do Decreto-Lei 1.164/1971. A discussão sobre a
titularidade de áreas envolvendo os Decretos-Leis 1.164/1971 e 2.375/1987
não é nova nesta Corte. Citem-se as ementas de julgados discutindo a
mesma temática: “TERRAS DEVOLUTAS - UNIÃO VERSUS ESTADO-MEMBRO. Não são
passíveis de enquadramento como terras devolutas, para o efeito previsto no
caput do artigo 2º do Decreto-Lei nº 2.375/87, as glebas que tiveram
situação jurídica devidamente constituída ou em processo de formação. Tal é
o caso de imóvel matriculado no registro de imóveis em nome da União, ao
tempo em que ocorre a tramitação de processos objetivando a titulação por
posseiros via o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA)”. (ACO 481, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJ 23.2.2001,
grifo nosso) “Ação Cível Originária. - São da União as glebas que,
anteriormente à edição do Decreto-Lei nº 2375/87, tinham sido incorporadas
ao patrimônio dela pelo Decreto-Lei nº 1164/71 (cuja constitucionalidade se
reconhece), e que foram excepcionadas por ele de seu âmbito de aplicação por
estarem registradas, na forma da lei, em nome de pessoa jurídica pública e
por configurarem objeto de situação jurídica, já constituída ou em processo
de formação, a favor de alguém. Ação julgada procedente, sendo a reconvenção
julgada improcedente”. (ACO 477, Rel. Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ
1º.8.2003, grifo nosso) “Ação cível originária. Terras devolutas
arrecadas pela União, com fundamento no Decreto-lei nº 1.164/71, revogado
posteriormente pelo Decreto-lei nº 2.375/87. Ressalva às situações jurídicas
já consolidadas sob a normatização anterior. Arrecadação, incorporação e
registro imobiliário definitivo das terras devolutas ao patrimônio da União
antes da revogação do Decreto-lei nº 1.164/71. Certificação pelo oficial do
registro de imóveis competente da inexistência de registro imobiliário
versado sobre as respectivas glebas. Ausência de reclamações administrativas
manejadas por terceiros proprietários ou possuidores certificada pela
Delegacia do Serviço de Patrimônio da União no Estado de Goiás e pelo
Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás (IDAGO). Não comprovação pelos
réus de propriedade ou posse das terras em momento anterior ao levantamento.
Precedentes. Nulidade de título translativo de domínio emitido pelo Estado
do Tocantins, que, em nenhum momento, gozava da condição de proprietário do
imóvel rústico. Ação julgada procedente”. (ACO 478, Rel. Min. Dias Toffoli,
Tribunal Pleno, DJe 1º.2.2016, grifo nosso) Faço minhas as palavras do
relator do primeiro aresto citado para assentar que “Não são passíveis de
enquadramento como terras devolutas, para o efeito previsto no caput do
artigo 2º do Decreto-Lei nº 2.375/87 [e tampouco do Decreto-Lei n. 1.164/71,
art. 5º, “b”], as glebas que tiveram situação jurídica devidamente
constituída ou em processo de formação”, tal como é o caso dos autos, no
qual restou demonstrado à saciedade o domínio particular, por usucapião,
desde 1955 (e a posse desde 1940), pelo menos, perfazendo “situações
jurídicas constituídas”. Essa foi a mesma conclusão a que chegou o
Plenário do STF, ao acompanhar o Min. Eros Grau em processo de sua

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relatoria, cuja ementa descreve: “AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. AÇÃO
REIVINDICATÓRIA. ANULAÇÃO E CANCELAMENTO DE TÍTULOS DE DOMÍNIO OUTORGADOS
PELO INSTITUTO DE TERRAS DO ESTADO DE TOCANTINS - ITERTINS. ARRECADAÇÃO DAS
TERRAS PELA UNIÃO, COM FUNDAMENTO NO DECRETO-LEI N. 1.154/71, REVOGADO PELO
DECRETO-LEI N. 2.375/87. NECESSIDADE DE CERTIDÃO DO REGISTRO IMOBILIÁRIO
ATESTANDO A INEXISTÊNCIA DE DOMÍNIO PARTICULAR NAS ÁREAS RURAIS A SEREM
ARRECADADAS [ARTIGO 28 DA LEI N. 6.383/76]. CERTIDÃO OMISSA QUANTO À
EXISTÊNCIA DE PROPRIEDADE PARTICULAR REGULARMENTE TITULADA HÁ MAIS DE CENTO
E QUARENTA E CINCO ANOS. DEMONSTRAÇÃO DA CADEIDA DOMINIAL PELOS
PROPRIETÁRIOS DAS GLEBAS. VÍCIO NO PROCESSO DE ARRECADAÇÃO. INAPLICABILIDADE
DOS PRECEDENTES DAS ACOS NS. 477 E 481. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. A
arrecadação de glebas pela União, com fundamento no decreto-lei n. 1.154/71,
pressupõe a ausência de posse ou de situação jurídica constituída sobre a
área a ser arrecadada, comprovada por certidão do registro imobiliário, nos
termos do disposto no artigo 28 da Lei n. 6.383/76. 2. A certidão expedida
pelo cartório de registro de imóveis omitiu a existência de domínio
particular titulado e registrado regularmente desde 1880, como comprovaram
seus atuais proprietários a partir da reconstrução de toda a cadeia dominial
do prédio rústico. 3. Os processos discriminatórios que se fundamentam em
certidão imobiliária omissa quanto à existência de propriedade particular
são nulos em relação à arrecadação das glebas privadas não mencionadas.
Vício insanável que não se sobrepõe à matrícula do imóvel em cartório, que
goza de presunção absoluta. 4. Ação cível originária julgada improcedente,
prejudicadas as denunciações da lide”. (ACO 678, Rel. Min. Eros Grau,
Tribunal Pleno, DJe 12.2.2010, grifo nosso) Do voto do relator, extrai-
se o seguinte trecho, que guarda similitude com o caso dos autos: “5.
Não é possível, no entanto, a aplicação dos precedentes desta Corte a este
caso. E isso em razão de a certidão da inexistência de domínio particular
nas terras objeto de arrecadação, expedida pelo Cartório de Registro de
Imóveis de Filadélfia [fl. 28],omitir a existência dos Registros ns. 2.508 e
seguintes, que contemplam a cadeia dominial da Fazenda Santiago desde a
primeira transmissão do imóvel, em 1880, a partir do registro paroquial
feito em favor de Pantaleão Pereira da Cruz com fundamento na Lei de Terras
de 1850 [fl. 267]. 6. Pressuposto para a arrecadação das glebas de terra
era a ausência de posse ou de situação jurídica constituída sobre a área a
ser arrecadada, o que não ocorreu no presente caso, qual verificado pelo
perito [fl. 898]. 9. Os processos discriminatórios das áreas em litígio
apresentam vício insanável, eis que a certidão que lhes deu fundamento não
corresponde à realidade fática no momento da arrecadação. 10. A alegação
do INCRA, no sentido de que os particulares renunciaram expressamente aos
seus títulos centenários em favor do INTERTINS, não procede. A arrecadação
efetivada pelo GETAT ocorreu antes da alegada renúncia, de modo que o ato
dos proprietários do imóvel não teria a virtude de convalidar vício pré-
existente. Julgo improcedente o pedido do autor e, considerado o
disposto no art. 20, § 4º do CPC, condeno-o ao pagamento de honorários
advocatícios fixados em R$ 20.000,00 [vinte mil Reais]. Julgo prejudicadas
as denunciações da lide porquanto inexistente a coisa evicta, sem condenação
nas verbas de sucumbência”. (grifo nosso) Reforço as palavras do relator
para assentar que o “Pressuposto para a arrecadação das glebas de terra era
a ausência de posse ou de situação jurídica constituída sobre a área a ser
arrecadada, o que não ocorreu no presente caso”. O julgamento pela
improcedência é medida que se impõe. 3) Honorários advocatícios Em
relação aos honorários advocatícios, inexistem dúvidas acerca da aplicação
do atual Código de Processo Civil, seja pela literalidade de seus arts. 14 e
1.046, seja pelo fato de ser a decisão final (sentença/decisão monocrática
no caso dos Tribunais Superiores) o ato jurídico que faz surgir a
obrigatoriedade do pagamento de tal verba sucumbencial, a teor do caput do
art. 85 da Lei 13.105/2015 (CPC), in verbis: “Art. 85. A sentença
condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor”. Vê-se,
pois, que é a decisão terminativa ou definitiva o marco jurígeno da
condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, mormente pela
impossibilidade de se saber, até então, quem seria o vencedor ou o vencido.
Os critérios de arbitramento do valor dos honorários estão previstos no
§ 2º do art. 85 do CPC, a saber: “§ 2º. Os honorários serão fixados
entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,
sobre o valor atualizado da causa, atendidos: I - o grau de zelo do
profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza
e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o
tempo exigido para o seu serviço”. (grifo nosso) À presente causa foi
atribuído o valor, não impugnado, de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), que,
corrigido monetariamente pelo IPCA-E de, 7.1998 até 6.2019, alcança o
montante de R$ 17.758,77 (extraído da calculadora do cidadão do Banco
Central do Brasil). A incidência do percentual máximo de 20% mostra-se
demasiadamente irrisória (R$ 3.551,75), frente ao tempo de mais de vinte
anos de tramitação e à complexidade do tema, motivo pelo qual é caso de
aplicação do § 8º do art. 85 do CPC: “§ 8º. Nas causas em que for
inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da
causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação
equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2º”. (grifo nosso)

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Nesse cenário, considerando o tempo de tramitação desta ação (21 anos),
o trabalho realizado pelos procuradores e a complexidade da causa, considero
a quantia de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) como suficiente e adequada aos
comandos do § 2º do art. 85 do CPC. A União veio a participar do feito
na condição de litisconsorte apenas nesse momento processual, não devendo
arcar com os ônus sucumbenciais. Portanto, o Incra deverá arcar com os
honorários advocatícios sucumbenciais devidos aos advogados dos demandados,
divididos de forma igual. 4) Decisão Pelo exposto, julgo improcedentes
os pedidos, na forma da fundamentação acima. Condeno o Incra ao
pagamento dos honorários periciais e advocatícios, estes no importe de R$
30.000,00 (trinta mil reais), aos causídicos do Itertins e dos demandados-
particulares, pro rata. Custas pela lei. Publique-se. Intimem-se.
Brasília, 8 de agosto de 2019. Ministro Gilmar Mendes Relator Documento
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