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República Federativa do Brasil

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE


DIÁRIO
ANO I-SUPLEMENTOAON9 100 TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 1987 BRASÍUA-DF

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

Atas das Comissões


COMISSÕES E SUBCOMISSÕES Reunião Data

I- COMISSÃO DA SOBERANIA E DOS DIREITOS E GARANTIAS DO HOMEM


E DA MULHER .
I - a) Subcomissão da Nacionalidade, da Soberania e das Relações
Internacionais .
1- b) Subcomissão dos Direitos Políticos, dos Direitos Coletivos
e Garantias .
I - c) Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais ..
II - COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ...
ll - a) Subcomissão da União, Distrito Federal e Territórios .
11- b) Subcomissão dos Estados .
11- c) Subcomissão dos Municípios e Regiões .. 12" 6-5-87
13" 11-5-87
14" 11-5-87
Termo de
Reunião 13-5-87
15" 14-5-87
lll- COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES E SISTEMA DE
GOVERNO .
lll- a) Subcomissão do Poder Legislativo ..
III - b) Subcomissão do Poder Executivo ..
1lI - c) Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público .
N - COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO ELEITORAL, PARTIDÁRIA E GARAN-
TIA DAS INSTITUIÇÕES .
2 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

COMISSÕES E SUBCOMISSÕES Reunião Data

N - a) Subcomissão do Sistema Eleitoral e Partidos Políticos 9~ 6-5-87


N - b) Subcomissão de Defesa do Estado, da Sociedade e de
sua Segurança 10" 29-4-87
N - c) Subcomissão de Garantia da Constituição, Reformas e Emendas. lI" 30-4-87
V- COMISSÃO DO SISTEMA TRIBUTÁRIO, ORÇAMENTO E FINANÇAS .
V - a) Subcomissão de Tributos, Participação e Distribuição
das Receitas .
V - b) Subcomissão de Orçamento e Fiscalização Financeira .
V - c) Subcomissão do Sistema Financeiro .
VI _ COMISSÃO DA ORDEM ECONÔMICA ...
VI - a) Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado, Regime
da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica 9" 4-5-87
ro- 6-5-87
VI - b) Subcomissão da Questão Urbana e Transporte 9~ 28-4-87
io- 29-4-87
lI" 30-4-87
VI- c) Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Re-
forma Agrária .
VII- COMISSÃO DA ORDEM SOCIAL .
VII-a) Subcomissão dos Direitos dos Trabalhadores e Servidores
Públicos .
VII- b) Subcomissão de Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente . 17" 13-5-87
18" J4-5-87
19" 19-5-87
VII-c) Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas,
PessoasDeficientes e Minorias .
VIII- COMISSÃO DA FAMÍLIA, DA EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPORTES,
DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA E DA COMUNICAÇÃO .. io- 9-6-87
VIII- a) Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes . 30" 18-5-87
31" J.9-5-87
VIII- b) Subcomissão da Ciência e Tecnologia e da Comunicação .
VIII- c) Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso ..
IX - COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO .

COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO DO ESTA- qualquer emenda. ORDEM DO DIA: Painel sobre ro expositor, Dr. Dalmar Chaves Ivo, falou sobre
DO "Associativismo Microrregional de Municípios". o processo de criação do organismo das micror-
12- Reunião Ordinária Dando início ao Painel, o Senhor Presidente apre- regiões destacando os seguintes pontos: premis-
sentou os expositores convidados, a saber, Dr, sas para a criação das microrregiões: constatação
Aos seis dias do mês de maio de mil novecentos Dalmar Chaves Ivo - Secretário-Adjunto da Se- da extensão territorial do Estado de Minas Gerais;
e oitenta e sete, às dezessete horas e trinta minu- cretaria de Assuntos Municipais de Minas Gerais extensão dos próprios municípios; incapacidade
tos, reuniu-se a Subcomissão dos Municípios e e Superintendente da SUPAM - Superintendên- de administrá-los, em decorrência da baixa densi-
Regiões, na sala 6-3 do Anexo 11 da Câmara dos cia de Articulação e os municípios do Estado de dade demográfica, haja vista que 52% dos muni-
Deputados, em Brasilia, DF, sob a presidência Minas Gerais; Dr. José Maria de Souza Ramos cípios detiveram um crescimento populacional de
do Senhor Constituinte, Deputado Luiz Alberto - Secretário-Executivo da Associação dos Muni· 92% ao passo que os restantes apresentaram um
Rodrigues. Compareceram os seguintes mem- cípios da Microrregião do Vale do Paraibuna; Dr. crescimento de 7%. Com o advento do associa-
bros: Constituintes Edésio Frias, Mauro Miranda, Ajalmar José da Silva - Prefeito Municipal de tivismo municipal, pequenos municípios adqui-
Aloysio Chaves, Lavoisier Maia, Maurício Fruet, Monte Carmelo, Minas Gerais e Presidente da As· rem força política e conseguem impor determi-
Eraldo Trindade, Mello Reis, Geraldo Melo, Luiz socíação dos Municípios do Vale do Paranaíba nadas posições que protegem o crescimento das
Freire, Denisar Ameiro, Nestor Duarte e Waldeck -AMVAP; Dr.A LuizAugusto de Carvalho, Presi- microrregiões. O segundo expositor, Dr.José Ma-
Omelas. Havendo número regimental, o Senhor dente da Associação Municipalista Brasileira. A ria de Souza Ramos destacou sua experiência vito-
Presidente declarou aberta a reunião. ATA- A seguir, convidou-os a tomarem assento à mesa, riosa no Estado de Minas Gerais, consubstancíadeã
Ata da reunião anterior foi lida e aprovada sem dando assim inícioà fase de exposições. O primei- em dados concretos, já que, no Estado existem
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 3

trinta e cinco associações idênticas à que repre- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) do Rio Grande. Nessa área dos vales, por exemplo,
tsenta, abrangendo os 722 municípios mineiros. - Havendo número regimental, declaro abertos as regiões do baixo, do médio e do alto Jequiti-
Chamou a atenção para o fato de que o Brasil os trabalhos da reunião da Subcomissão dos Mu- nhonha são absolutamente diferentes do ponto
é um país com crescimento populacional elevado rucípios e regiões. . de vista cultural, de relevo, de qualidade de terra.
o que cria um descompasso entre a demanda A SI'"Secretária procederá à leitura da ata da Assim, a adoção de medidas em favor desses
de obras e serviços e a geração de recursos, sendo reunião anterior. municípios tem de levar em conta o fato de que
estes centralizados por parte da União o que imo (É lidae aprovada aatadareunião anterior) tais medidas não podem, de forma alguma, ser
possibilita a real autonomia administrativa dos iguais. O que é válido. para a região de Juiz de
municípios. Apresentou ainda uma proposta à As- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) Fora não o é para a região de Montes Claros;
sembléia Nacional Constituinte, no sentido da íns- - A Presidência informa aos ilustres expositores o que é válido para a região do Triângulo nada
titucionalização das microrregiões. O terceiro ex- que hoje há vários eventos na Casa, os quais, tem a ver com a região da Zona da Mata. Portanto,
positor Dr. Ajalmar José da Silva apresentou sua infelizmente, coincidem com esta sessão de au- ter-se-ia de estudar uma forma de distribuir mais
tese sobre Associativismo Municipal - Experiên- diência pública. É o caso, por exemplo, da reunião adequadamente o apoio do Governo Estadual.
cia do Vale do Paranaíba, destacando a atuação convocada pela Liderança do PMDB, para ouvir Do ponto de vista da distribuição especial da
da entidade, que hoje já conta com 20 associados, o ex-Ministro Dílson Funaro. Daí o pequeno nú- produção, um exemplo bem contundente do que
numa microrregião formada por 22 municípios. mero de Constituintes aqui presentes - sete. Da- acabamos de afirmar é o de que a macrorregião
Por último, falou o 4° expositor, Dr. A.LuizAugusto da, porém, a importância do tema a Presidência metalúrgica, somada à de Campos das Vertentes,
de Carvalho, que trouxe a proposta elaborada por dará prosseguimento normal aos trabalhadores detinha, em 1980, de acordo com o último censo,
'prefeitos municipais e vereadores reunidos du- desta última reunião de audiência pública. 52% do PIBestadual - praticamente 2% superior
rante o 11 Congresso Municipalista do Brasil, no Convido, então, a fazerem parte da Mesa os à metade - enquanto toda a região do Jequiti-
corrente mês de maio, em Brasília, proposta estas expositores de hoje: Dr. Dalmar Chaves Ivo,Presi- nhonha representava 1,7% desse PIB. Isto recen-
dente da SUPAM- Superintendência de Articu- temente demonstra algumas disparidades regio-
que visam assegurar a soberania da Nação, com
lação com os Mumcípios de Minas Gerais; Dr. nais que tomam dificil a administração a partir
condições de vida digna, enfatizando a partici-
José Maria de Souza, Secretário Executivo da AM- de normas iguais para todos.
pação do município nesse processo, através de
PAR - Associação dos Municípios da Microrre- Um outro problema sério que também se iden-
sua autonomia política, administrativa e econô-
gião do Vale do Paraibuna; e o Dr. Ajalmar José tificou a partir do censo é que, do ponto de vista
mica. Passou-se em seguida, à fase dos debates,
da Silva, Presidente da AMVAP - Associação dos populacional, apenas 52% dos municípios apre-
havendo interpelado os expositores conforme íns-
Municípios da Miérorregião do Vale do Paranaíba sentavam um crescimento de 92%, no período
críção prévia, os seguintes Senhores Constituin-
e Prefeito de Monte Carmelo, Minas Gerais. de 1970 a 1979, enquanto nos restantes 670 mu-
s critérios adotados para a implantação das mi-
A Presidência informa aos Srs, Constituintes nicípios o crescimento havia sido de 7,5%.
crorregiões; Mauro Miranda, congratulando-se
que os expositores dispõem de vinte minutos para São dados alarmantes, que nos levam a crer
com a Presidência desta Subcomissão, pela esco-
suas exposições, as quais integrarão os Anais da na continuidade de um processo de causação
lha dos expositores que trouxeram para debate Assembéia Nacional Constituinte. circular, no qual há que se provocar uma ruptura.
problemas típicos do Estado que representa; Wal- Antes de concedermos a palavra ao primeiro Ou seja, há uma síndrome de urbanização em
deck Omelas, que solicitou esclarecimentos sobre
conferencista, desejamos registrar a presença do todo o País, que em Minas Gerais é marcante,
a natureza jurídica das associações e pediu a
Dr. Luís Augusto de Carvalho, Presidente da Asso- e que precisa ser interrompida. Do contrário, con-
transcrição de artigo publicado no Jomal A Tarde ciação Municipalista Brasileira.
de Salvador, Bahia, sobre o tema "Por que os tinuará a haver um processo de esvaziamento do
Com a palavra, pois, o Dr. Dalmar Chaves Ivo. campo. No caso de Minas Gerais, Estado essen-
municípios baianos estão falidos"? O Senhor Pre-
O SR. DAI.Jv\AR CHAVES IVO- Sr. Presidente, cialmente agrícola, eu diria que se vislumbra o
sidente solicitou ao Dr. José Maria de Souza Ra-
demais Srs. Constituintes, o processo de criação caos a partir daí.
mos que respondesse à questão formulada pelo
Constituinte Deputado Waldeck Omelas, o que de associações microrregionais em Minas Gerais, O crescimento das regiões metropolitanas e
foi feito. Encerrados os debates, o Senhor Presi- inciado há, aproximadamente, doze anos, teve um dos próprios pólos naturais das regiões é fantás-
dente determinou que seja aceita pela Subco- período, digamos, de congelamento, tendo sido tico, mas absolutamente prejudicial. Se, de um
missão uma proposta à Assembléia Nacional retomado com mais vigor a partir de 1983-1984. lado, raciocinamos no sentido de que esses muni-
Constituinte apresentada pelos Senhores Marcelo Sua fundamentação teórica partiu de algumas cípios se encontram totalmente empobrecidos e
Cecé, Prefeito Municipal de Sete Lagoas, e Presi- premissas básicas. incapazes de administrar seus próprios proble-
dente da Associação Mineira de Municípios e Aris- Em primeiro lugar, a constatação da extensão mas, de outro, é preciso considerar também o
tides Salgado dos Santos, Prefeito Municipal de territorial de Minas Gerais - aproximadamente fato de que uma possível reforma tributária que
Divinópolis e representante da Associação das 20 seiscentos mil quilômetros quadrados - e de viesse a suprir esse municípios de recursos finan-
maiores cidades de Minas Gerais. A seguir, agra- um número muito grande de municípios, ou seja, ceiros traria igualmente um grave problema, já
deceu a participação tanto dos expositores como 722 murucíplos, representando aproximadamen- que eles não têm como administrá-los, dada a
~os Senhores Constituintes nesta última audíên- te 20% dos municípios brasileiros. Outro aspecto falta de recursos humanos suficientemente capa-
:ia pública da Subcomissão dos MunicípIOS e Re- a considerar é a extensão desses municípios, em zes, competentes, para gerir as verbas que even-
}iões, assinalando ainda a presença do Dr. Flávio termos de área geográfica, e a dificuldade de ad- tualmente lhes fossem concedidas. Esses muni-
Joulart, Secretário de Saúde da Prefeitura de ministrá-los, uma vez que aproximadamente qui- cípios estariam, pois, absolutamente desprepa-
Jberlândia, do Dr, Enodes de Oliveira, Prefeito nhentos municípios de Minas Gerais não somam rados também para um crescimento de receita.
l1unicipal de Tupaciguara e Secretário Executivo quarenta mil habitantes. A tudo isto deve-se acres- Seguindo essa linha de raciocínio, imaginou-se
la Associação dos Municípios da Microrregião centar a diversidade dos problemas de natureza que realmente teríamos de atacar o problema.
lo Vale do Paranaíba - ANVAP; Dr. Sergio Luiz social, econômica e cultural, bem como a influên- Daí ter surgido a idéia da criação de associa-
la Silva - Secretário Executivo da Associação cia de outros Estados nas regiões limítrofes e tivismo regional em Minas Gerais. Foram, então,
los Municípios da Microrregião do Vale ao Parao- a existência de fortes desequilíbrios regionais no criadas, até hoje, trinta e cinco associações -
leba -NMLPA; Dr.Agostinho Corsino de Olivei- Estado. Todas essas constatações levaram-nos trinta e quatro já estão efetivamente criadas, res-
a, Presidente da AMALPA e Prefeito Muncipal de a buscar uma maneira um pouco mais prática tando uma ainda em processo de formação,
:arandaí - MG e do Vereador Ubiratan Figue- de tentar apoiar os municípios mineiros. Dado que essas microrregiões congregam uma
edo, de Rio Claro, São Paulo. Nada mais havendo Por se tratar de um Estado de características média de vinte e cinco municípios cada - núme-
tratar, foi encerrada a presente reunião, a qual absolutamente variadas, podemos afirmar que, ro que varia de acordo com seu tamanho a criação
oi gravada e será publicada no Diário da Assem- de fato, Minas Gerais hoje deve ter cerca de seis dessas entidades baseou-se em alguns fatores.
Iléia Nacional Constituinte. E, para constar, eu, distintas regiões, criadas ao longo dos vales - Primeiro, o próprio pólo natural que passou a
rá Fernandes Costa, Secretária, lavrei a presente não se pode jamais pensar em identificar, por ser a sede da microrregião. Esse pólo natural É
.ta que, lida e aprovada, será assinada pelo Sr. exemplo, o Vale do Jequitinhonha com o Vale formado, naturalmente, por microrregiões que
'residente, Constituinte Luiz Alberto Rodrigues. do Rio Verde, no sul de Minas, ou com o Vale apresentam os mesmos problemas culturais, so-
4 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSillOINTE (Suplemento) Julho de 1987

ciais e econômicos e a produção setorial dirigida cípios pequenos já garante força política suficiente dos notáveis, há também uma preocupação nesse
para um determinado campo de ação. Assim, para filtrar determinadas ações, que eu conside- sentido. As Leis Complementares de noS 14 a 20,
congregadas a partir desses e outros parâmetros raria mesmo predatórias, eis que podem até vir criaram as regiões metropolitanas. Quer dizer. há
mais ou menos idênticos, eles foram aglutinados a prejudicar toda uma região. Por exemplo. em uma evolução. e, do ponto de vista do Governo
em tomo de um pólo natural. Criou-se, então, áreas mineradoras. rios outrora navegáveis hoje do Estado de Minas Gerais, hoje a idéia está abso-
a Assosiação, que se constituiu de uma Assem- não passam de uma lâmina de água de cinqüenta lutamente absorvida pelo atual governador. Por-
bléia Geral, integrada pelos Prefeitos da área e centímetros. O próprio rio Grande, que supre de tanto, no que se refere a Minas Gerais, a idéia
que é apoiada pelo governo do Estado, a partir energia elétrica e de água várias áreas. transmi- é dar apoio total e incondicional às associações,
da sua implantação formal - no caso de Minas tindo essa energia para todo o País. está simples- já que elas é que realmente vão criar as condições
Gerais, através da Secretária de Estado do Plane- mente morrendo, porque não existia, até recente- mínimas para se montar um planejamento efetivo
jamento. Esse apoio se consubstancia inicialmen- mente. uma ação conjunta das prefeituras. Cada e objetivo no Estado. a partir dessas micro regiões.
te, na instalação de um escritório central dirigido uma, isoladamente, sentia o problema na carne, Portanto. não se pode engoIír goela abaixo mais
por um secretário executivo que, digamos assim, mas não tinha poder de barganha e força política um programa do tipo do MG2, que, com as mes-
representa o elo de ligação entre problemas da suficiente para impedir isso. Lavras é um exemplo mas características. atende a ] 03 municípios em
microrregião e a Assembléia Geral, ou seja, a as- marcante. Na cidade vizinha. Ribeirão Vermelho, todo o Estado. desde Santa Rita de Jacutinga,
sembléia dos Prefeitos. Há um Presidente, dois qualquer pingo'água que caia na cabeceira do lá no sul, até Capelinha, no norte. Nada tem a
ou mais vice-presidentes - isto depende do Esta- rio Grande e alaga, e ela simplesmente some do ver uma coisa com a outra. Pode-se planejar todo
tuto de cada uma delas - e esse escritório técnico mapa, para ressurgir, depois, daquele monte de o estado de uma maneira efetiva; pode-se obter
comanda algumas ações em favor dos municí- lama. um retomo social fantástico. Agora, se se trabalhar
pios. Conseguimos. portanto, através do associati- isoladamente não se poderá realmente pensar em
Esse apoio inicial pode ser qualificado como vismo municipal, envolver empresas mineradoras fazer um trabalho sério.
uma caixa de primeiros socorros. Não é muito e, inclusive, Fumas. Com o poder de barganha Esta, a nossa proposta de trabalho em Minas
substancial, mesmo porque a Associação não te- da Associação, conseguimos, ainda, incluir o pre- Gerais. a qual desejei mostrar aos Srs. Consti-
ria condições de absorvê-lo totalmente a princípio. sidente da Associação de Lavras no Ceigran. São tuintes. Posso garantir que temos sido uma escola
Mas, a partir de certo momento, o Governo do ações que um município isolado não consegue para o resto do País. Já recebemos visitas repre-
Estado supre esse escritório de uma assessoria empreender. mas que, a partir dessa força política sentantes de vários Estados. Hoje, vinte e duas
técnica, na área de engenharia, e de uma patrulha adquirida, eles concretizam. impondo determina- unidades da Federação já se preocupam com
motomecanizada. Esta é a maneira inicial de atrair das posições que protegem todo o processo de o associativismo, e cinco ou seis Estados já dese-
as comunidades menores, a partir dai ampliando crescimento e desenvolvimento dessas micror- jam mandar pessoal para estagiar em nossas as-
seu atendimento às prefeituras, para solução de regiões. sociações. para que possam implantar o mesmo
seus problemas, desde os mais simples até os Do ponto de vista do meio ambiente, vem sur- processo.
mais sérios. Todos os assuntos são discutidos gindo um movimento no sul de Minas Gerais para Basicamente, a idéia é essa. Coloco-me à dis-
em assembléia, que é absolutamente autônoma salvar o rio Verde. Começou como uma ação posição para responder às indagações que por-
para tomar decisões. A Secretária de Estado de isolada, quase que. digamos, de autocombustão. ventura desejarem fazer.
Planejamento faz, um acompanhamento dessas As pessoas começaram, de fato, a sentir a impor- Muito obrigado. (Palmas.)
reuniões para que o escritório técnico possa re- tância do rio Verde, tradicional, piscoso. de alta
passar o apoio estadual ao município. Trata-se, relevância, inclusive, do ponto de vista do sanea- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
portanto, de importante fórum, onde os prefeitos mento básico, eis que fornece água à região. Ago- - A Presidência passa a palavra ao Dr. José Maria
se encontram para debater seus problemas co- ra está-se conseguindo um belo trabalho de sa- de Souza Ramos, Secretário Executivo da Asso-
muns. neamento, havendo, até, uma proposta de criação ciação dos Municípios da Microrregião do vale
Há outras vantagens decorrentes da criação de usinas de compostagem do lixode municípios. do Paraibuna, que disporá de vinte minutos para
desse tipo de associação. Ao longo de vinte e Não de um único município, já se que cada um sua exposição.
cinco anos as soluções têm sido ditadas pelo Po- deles não tem massa crítica suficiente para criar
der Central e praticamente empurradas aos muni- uma usina de compostagem, mas de vários, que O SR. JOSÉ MARIA DE SOUZA RAMOS -
cípios. Um sem-número de órgãos, cada um com já estão reunindo, através do associativismo, para Sr. Presidente da Subcomissão de municípios e
sua própria filosofia de ação, com seus próprios criar uma usina de compostagem e evitar a polui- regiões, Constituinte Luiz Alberto Rodrigues, de-
vicias ou manias entram nos municípios sem ne- ção do rio Verde. mais Srs. Constituintes, senhoras e senhores. Pe-
nhuma cerimônia, implantam projetos que muitas A partir desse esquema de associativismo. a ço permissão, nesta oportunidade, para endereçar
vezes não são do agrado das comunidades, ape- Superintendência de Articulação com o Município um cumprimento especial ao Constituinte Mello
nas para apresentar, no final de período, um rela- consegue coordenar os trabalhos. São 35 asso- Reis, meu amigo particular, ex-Presidente da As-
tório sobre suas atividades. Isso é muito comum, ciações - há 709 municípios, não 722, pois a sociação de Juiz de Fora.
por exemplo, nos municípios menores, que fre- região metropolitana está fora do processo. Ao discorrer sobre o tema "Associativismo Mi-
qüentemente aceitam verbas para implantar de- Eu podería citar, aqui. centenas de exemplos croregional de Municípios" desejo deixar claro
terminados projetos simplesmente por não dispo- para mostrar como o associativismo tem dado que não farei uma abordagem apenas teórica,
rem de recursos para coisas alguma - aí aceitam um certo alento a essas prefeituras menores. uma vez que trago comigo a experiência vitoriosa
qualquer coisa. São ações, contudo, absoluta- Uma outra vantagem é que passa a haver um do Estado de Minas Gerais. consubstanciada em
-mente desordenadas no processo administrativo processo natural de distribuição de renda. Cida- dados concretos. Portanto, a par do embasamen-
municipal e que têm causado sérios problemas des como Uberlândia, que são sedes de associa- to científico, não estou de mãos vazias, eis que
para várias aréas do Estado de Minas Gerais. ções microrregionais, têm uma participação fi- darei uma amostragem da experiência de uma
Com o advento e a criação do associativismo nanceira muito maior nessas associações do que associação existente há onze anos, a Ampar-As-
municipal, começa a aglutinar-se uma força polí- um município pequeno. Há. portanto. uma redis- sociação dos Municípios da Microrregião do vale
tica na microrregião. Uma pequena comunidade tribuição de rendas, de recursos humanos, de po- do Paraíbuna, sediada em Juiz de Fora, na Zona
de dois ou três mil habitantes. cuja renda se resu- der de barganha. Raciocinando-se, então. de uma da Mata mineira. e que não é uma entidade isola-
me nos minguados recursos do FPM, tem estes forma prática, sente-se 'realmente a necessidade da, já que naquele Estado existem outras trinta
utilizados quase que totalmente na folha de paga- de aglutinar essas prefeituras. e cinco associações idênticas à nossa, com maior
mentos da Prefeitura. Os recursos para investi- Do ponto de vista formal, já sabemos que há ou menor grau de desenvolvimento em suas ativi-
mentos são, portanto, praticamente nulos. Além uma preocupação de pessoas ilustres com rela- dades, e que abrangem todos os setecentos e
do mais. essas prefeituras não têm nunhum poder ção a um outro nível de administração. A própria vinte e dois municípios mineiros.
de barganha. não têm força política e, assim. não Constituição do Estado de Minas Gerais dá uma Para melhor entendimento do assocíetívísrno g
têm em que se apoiar. Por conseguinte, uma re- abertura para as regiões administrativas e no ante- microrregional como uma política alternativa de I
gião constituida de mais ou menos trinta muni- projeto da Constituinte, elaborado pela Comissão ação de governo. é necessário. primeiramente.
Julho de 1987 D~JO_Q~ ASSEMBLÉlkNACIONAL CONSrrrUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 5

situar o município brasileiro no seu momento his- que a Associação se está capitalizando e forrnan- falta de visão das pessoas que executam os pro-
tórico. - do seu patnmônio, que pertence aos municípios. jetos.
O Bràsíl é 'um País com crescimento popula- É algo fabuloso, que eu gostaria de ressaltar. Por- Há um outro projeto, também, Importantíssimo,
cional elevado, de tal sorte que a demanda de que, quando se fala, por exemplo, em reforma e que existe em todas as associações .rnicrorre-
obras e serviços pelas geradas pressões sociais tributária, que realmente é necessária, estamos gionais. Trata-se do Promoto-Projeto Patrulha Mo-
é também bem superior à geração de recursos. desenvolvendo também um mecanismo capaz de tomecanizada, experiência vitoriosa, e que tam-
Esta revelação, por si só preocupante, reveste-se, fazer com que os recursos públicos gerem mais bém foi um presente do nosso Presidente, quando
ainda, de maior Importância, se considerarmos recursos, tomem-se mais eficazes e haja uma ma- Secretário do Planejamento de Minas Gerais. O
o agravamento da situação, em virtude da coexis- xirmzação de recursos públicos, através do asso- Promoto consiste de urna patrulha motomeca-
tência da escassez de recursos físicos com o regi- ciatfvismo municipaL nizada, através do qual a Associação conta com
me inflacionário. Neste particular, releva notar que Como o Dr. Dalmar já falou, temos 35 associa- rnáqumas, colocadas à disposição dos municípios
o poder público, com recursos regidos e dlscipll- ções rmcrorregíonaís em Minas Gerais, Estado flhados a um preço extremamente subsidiado. Em
nados por um orçamento anual, não tem como que está todo coberto por esse tipo de entidade. Juiz de Fora,já que sua economia se baseia, espe-
repassar suas elevações de custo no mesmo exer- Inclusive, devemos isso ao nosso ex-Presidente, cificamente, na pecuária leiteira, esse projeto foi
cício. Assim, com uma inflação mensal girando o Constituinte Mello Reis, que, quando Secretário um sucesso total" já que temos uma malha de
em tomo de 15%, as receitas orçadas são total- do Planejamento, desenvolveu um trabalho que estradas vicinais muito extensa, a exigir constante
mente insuficientes e diluídas, Já nos primeiros propiciou a criação, em todo o Estado, de associa- conservação e aprimoramento. E temos conse-
meses do ano em exercício. Além disso, deve-se ções microrregionais. - guido não só oferecer máquinas, mas também
destacar a grande .centralização de recursos, por Aquele quadro, ah, é o mais importante, pois custos bastante subsidiados.
parte da União, impossibilitando a real autonomia dá uma idéia real das atividades de uma associa- Há também um trabalho que é um grande desa-
administrativa dos municípios, com seus prefeitos ção de municípios. fio para o pequeno município: oPTAM - Projeto
sempre de pires na mão de Treinamento em Administração Mumcipal.
Diante desse quadro, ressalta-se a importância Expus as atividades da Ampar e, evidentemen-
te, nossas co-irmãs têm atividades correlatas, Através dele, com a utilização de fitas de video-
do associativismo microrregional, uma vez que cassete elaboradas pela Fundação João Pinheiro,
cada município, com o mesmo estoque de capital ajustadas, é claro, às particularidades de suas res-
pela Suplan, órgão do Estado, conseguimos de-
físico e humano existente, consegue desenvolver pectivas regiões. O intercâmbio administrativo
municipal, indicado aqui (mostra quadro), é a senvolver trabalhos de qualificação de mão-de-
um trabalho que propicia maior mobilização dos obra para os servidores públicos. Isto porque, se
recursos públicos disponíveis. Isto porque, parti- principal atividade da associação. Esse intercâm-
bio funciona como um forum de debates. Tenho analisarmos o perfil populacional de Minas, vamos
cularmente nas associações microrregionais de ver que, em sua maioria, são pequenas as cidades,
Minas Gerais, cada município filiado, dependendo dito, em rnmha região - e volto a repetir aqui
para V.EX" - que o prefeito precisa trocar idéias. com prefeituras carentes de recursos urbanos.
menos de 1 % de suas receitas anuais, propor- Através desse projeto, oPTAM, estamos, no entan-
ciona a formação de um aglomerado financeiro As vezes, elegemos um prefeito que é um comer-
ciante, um empresário, um homem de sensibi- to, conseguindo qualificar os funcionários, públi-
capaz de, além de manter a associação, desen- cos municipais. É preciso que se diga, Srs. Consti-
volver nas comunidades filiadas um serviço de lidade, inteligente. Através desse intercâmbio ad-
ministrativo municipal, no entanto - para isto tuintes, que todo prefeito sabe administrar, todo
custos muito superiores aos repassados. prefeito tem sensibilidade. Ele é político, tem ca-
dou meu testemunho de onze anos de vivência
Outro aspecto importante do associativismo pacidade de sentir. O que ele precisa é ter a seu
e de observação durante três legislaturas - o
municipal é o seu lado político, como instrumento lado elementos qualificados. Assim, com oPTAM,
prefeito de uma região pode dialogar com os de
de aprimoramento das instituições democráticas, outras, de tal sorte que há uma troca de experiên- estamos tomando os funcionários públicos muni-
na medida em que é possível - e a experiência cias, de idéias, com visitas aos municípios para cipais mais capacitados a oferecer melhor asses-
tem-nos mostrado isto - reunir pessoas de fac- soramento a seus prefeitos.
verem, por exemplo, como se desenvolveu deter-
ções políticos-partidárias e compromissos extre- Outro projeto bastante expressivo e que repre-
minado sistema de abastecimento d'água, além
mamente heterogêneos em torno de um ideal de outras experiências ocorridas no mumcípro. senta o dia-a-dia da associação é o Departamento
comum, qual seja, o desenvolvimento regional,
Esse intercâmbio é feito através de nossa Assem-
de Assistência Técnica. Em que consiste este De-
através da compatibilização de esforços intergo-
bléia Geral, que normalmente se reúne duas vezes partamento de Assistência Técnica? É o que pres-
vemamentais Acrescente-se a essa linha de racio- ta assistência normal, o feijão-com-arroz, através
ao mês, de dois em dois meses. Essa assembléia
cínio a articulação como importante mecanismo da elaboração de anteprojetos, de qualquer docu-
propicia, efetivamente, uma troca de experiências,
para a obtenção da eficácia da ação de Governo, de know-how entre as prefeituras. . mento que o prefeito não tem condições de fazer,
ools cada comunidade administrativa, sem perder em termos de assistência contábil, jurídica e admi-
sua identidade, colabora para um processo de Temos, aqui, a segunda atividade, o Proenge nistrativa.
desenvolvimento coletivo. . - Projeto de Escritório de Engenharia. Trata-se, Existe também uma atividade ligada à articu-
Feitas essas considerações preliminares, pas- igualmente, de uma atividade vitoriosa das asso- lação extema. Já tenho dito que a eficácia de
raremos a tratar das atividades propriamente ditas ciações microrregionais. É sabido que toda prefei- ação de governo só existe por causa da articula-
:!e uma associação microrregional. E, para que tura, em última análise, é um órgão executor de ção. Vamos admitir um exemplo singelo: o corpo
;odos possam ter um entendimento melhor, vou- obras. E, nesse regime de escassez de um País humano. Sabemos que ele só se mantém em
ne permitir levantar e mostrar alguns dados no pobre e miserável como o nosso, elas precisam pé por causa do esqueleto, porque os ossos se
quadro, ser bem executadas. Na Ampar, por exemplo, te- articulam entre si. Quer dizer, cada um, com sua
Senhores, temos aqui dados concretos para mos um escritório de engenharia com três enge- função específica, sem perder sua autonomia,
:!emonstrar a eficiênfcia do associativismo muni- nheiros, dois estagiários, um topógrafo, uma de- consegue articular-se com os outros. Na Ampar,
zípal como política capaz de fazer com que os senhista e todo o material necessário à disposição exercemos uma atividade de articulação externa
ecursos públicos gerem mais recursos. dos municípios integrantes de nossa Associação. através da qual procuramos compatibilizar o es-
No ano de 1976, tivemos, na Ampar, os seguin- V. Ex'" estão convidados a fazer uma visita à Asso- forço da Associação dos Municípios, o esforço
es resultados. Essa coluna do meio representa ciação, quando comprovarão a existência de ca- de nossas prefeituras com os outros órgãos de
I contribuição dos municípios, correspondente torze projetos de infra-estrutura básica para nossa fomento ou de assístêncía técnica.
I 1%' 'des suas receitas; essa coluna maior de- microrregião. Uma atividade própria de nossa Associação é
nonstra o 'custo dos serviços prestados a preço Eu gostaria, ainda, de ressaltar um fator muito a de balcão de serviços'eventuais, o que decorre
le mercado. E aqui temos a coluna de investi- importante. Todos os nossos projetos de enge- do fato de a entidade situar-se em Juiz de Fora,
nentó. Vale dizer que, para um cruzado que o nharia observam dois parâmetros: primeiro, a dis- pólo de prestação de serviços médicos e de co-
nunicípio depende a título de contribuição para ponibilidade dos recursos locais e, segundo, as mércio. Utilizando esse balcão de serviços even-
IlAssociação, recebe uma quantia muito maior necessidades do município. Isto porque não po- tuais, o prefeito não precisa deslocar-se de seu
m sérvíços; Além disso, há também a coluna demos admitir a execução de obras faraônicas município para resolver problemas administrati-
orresporidente aos investimentos, de tal sorte - não por falta de visão do prefeito,' mas pela vos de menor importância, quais sejam, comprar
6 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBlÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

uma peça, encomendar uma passagem, fazer hicípíos congredaclos. Somos, hoje, vinte muni- Igualmente muito importante é o nosso serviço
uma reserva. Ele telefona para a Associação, e cípios filiados e, em tese, os trabalhos que execu- de assistência social, que conta com uma assis-
imediatamente, tomamos essas providências pa- tamos seriam praticamenteos mesmos prestados tente social que trabalha juntamente com as espo-
raele. pela Ampar, talvez acrescidos de alguma coisa, sas dos prefeitos ou outras dirigentes de setores
Há, também, o setor de informações. Através sendo que em alguns itens possivelmente eles sociais de cada município. Isto tem sido sobre-
dele procuramos promover aquilo que fazemos. estejam mais adiantados. modo importante para nossas ações sociais. Os
Temos um jornal, conquanto modesto, que man- Eu desejo dizer que, por si SÓ, o associativismo municípios tê-se integrado, de maneira geral, a
damos para todos os municípios filiados, bem microrregional já se faria necessário pelo simples partir desse tipo de apoio, sendo todos os traba-
como aos vereadores, para que todos tomem co- fato de que o intercâmbio entre os prefeitos, entre lhos acompanhados, junto a ministérios, associa-
nhecimento das atividades que estamos desen- as prefeituras, entre os vereadores dos nossos ções de bairros e outras entidades, pela assistente
volvendo e, concomitantemente, possam apre- municípios, seria já um marco importante para social da Associação. Isso, inclusive,tem feitocom
sentar sugestões e críticas, como forma de apri- o crescimento do menor ao maior município. E que alguns prefeitos de munidpios que tenham
morar os nossos serviços. isso temos sentido em nossas assembléias, a par- condições de contar com esse tipo de recurso
Finalmente, temos uma central de informática tir do que o Prefeito de Gberlândia, maior cidade contratem suas prôprías assistentes sociais. Quer
e uma central de compras que, lá, em nossa Asso- de nossa microrregião, consegue captar de im- dizer, tem havido certo desenvolvimento nessas
ciação, por enquanto, estão em fase de estudos. portante do menor município da Associação. Só áreas de atividade em cada municfpio associado.
Feitas essas considerações preliminares, quero este fato justificariaa criação das associações mi- Quanto a serviços de engenharia e topografia,
dizera V. Ex'" que estas são as atividades vitoriosas crorregionais. Outro fator, porém, é primordial pa- não é preciso entrar em detalhes, mas diríamos
da nossa Associação. E temos onze anos. Gostaria ra que continuem executando esse tipo de traba- que em municípios, principalmente os menores,
de fazerum convite pessoal aos Srs. Constituintes, lho, ou seja, exatamente o fato de estarem repre- onde os prefeitos não têm condições para con-
bem assim aos prefeitos e demais autoridades sentados na Associação vários partidos políticos tratar engenheiros -até mesmo porque, às vezes,
aqui presentes, para visitarem Juiz de Fora. Peço e várias cidades. Acreditamos também que a não existem esses profissionais na cidade - os
também à Secretaria da Subcomissão que me aproximação com o govemo do Estado, qualquer serviços prestados pelos engenheiros e pelos t0-
forneça a relação dos integrantes deste órgão, que seja o partido que domine a situação, toma-se pógrafos da Associação têm sido relevantes, e
para que possamos mandar-lhes constantemente mais fácil através da associação microrregional, várias propostas de trabalho já têm sido encami-
nossos relatórios e nosso informativo, a fim de eis que o partido dominante tem realmente de nhadas a prefeitos e acompanhadas por este nos-
que todos os Constituintes tenham conhecimento prestar um serviço maior, especial, àqueles muni- so setor.
do nosso trabalho e avaliem melhor o que esta- cípios que apoiaram o Sr. Governador. Mas enten- Temos uma pequena gráfica, com a qual os
mos fazendo em prol do desenvolvimento micror- demos, igualmente, que temos de crescer como municípios associados podem economizar enor-
regional. um todo, já que o Estado se justifica como um memente, chegando essa economia, às vezes, a
Para fmalízar, Srs. Constituintes, gostaria ape- todo, e através da microrregião teríamos condi- 50% do valor cobrado pelas gráficas particulares.
nas de apresentar uma proposta. Não sei ainda ções de atender a todos os municípios, ou o Esta- Aliás, estamos estudando a ampliação desse se-
qual a fórmula jurídica a ser utilizada, mas V. Ex"', do teria condições de fazê-lo sem maiores com- tor, com vistas a prestar um serviço ainda melhor.
na condição de Constituintes, naturalmente pode- prometimentos. Temos também uma unidade de solda em fun-
rão auxiliar-nos. Estamos passando a V. Ex'" um relatório das cionamento, bem como uma fábrica de mata-
A Ampar, associação que represento, através atividades da nossa Associação no ano passado, burros, de pontilhões metálicos. Adquirimos o
de seus prefeitos e de suas lideranças, nos solicita no qual se demonstra o tipo de trabalho que ali produto, confeccionamos os mata-burros e os
que aqui apresentemos uma sugestão no sentido vem sendo executado. Por ele se vê que temos repassamos praticamente a preços de custo ao
de que a Constituinte procure institucionalizaras uma estrutura de serviços nas áreas administra- município, o que também tem representado gran-
associações microrregionais. Entendemos isso tivas, jurídica, social, de engenharia e de topo- de economia para as comunas - são despesas
como algo de muita importância, para que possa- grafia, bem como uma unidade gráfica, uma uni- das quais não há como fugir.
mos dar continuidade a nosso trabalho de fortale- dade de solda, uma oficina mecânica, a patrulha Dispomos de uma oficinamecânica para nossa
cimento dos municípios. motomecanizada e um setor de treinamento de própria patrulha mecanizada e também presta-
Era só o que eu tinha a dizer. (Palmas.) recursos humanos. mos serviços aos municípios que não têm mecâ-
Agora, rapidamente, gostaríamos de relatar al- nicos prôpríos.Jnclusíve, estamos ampliando essa
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) oficina mecânica agora, para treinamento de me-
- A Presidência passa a palavra ao Dr. Ajalmar guns dos trabalhos prestados, para que se tenha
uma idéia da importância do associativismo. cânicos de todos os rnunícípíos,com vistas à pres-
José da Silva,Presidente da Associação dos Muni- tação de melhor serviço a cada munidpio em
cípios da Microrregião do Vale do Paranaíba - Na área administrativa, foram implantados no-
vos cadastros imobiliários, que muitas cidades particular.
Amvap.
não tinham. Da mesma forma, atuamos na elabo- A patrulha motomecanizada, sem dúvida algu-
O SR. AJALMAR JOSÉ DASILVA - Sr. Presi- ração de vários estatutos, para fundações, coope- ma, é um dos fatores que inicialmente levou os
dente, Sr. Relator,Srs, Constituintes, antes de mais rativas etc., bem assim no repasse para o setor Municípios a aceitarem a idéia de se filiarem e
nada gostaríamos de expressar nosso contenta- educacional - no caso, o salário-educação - de se congregarem em associativismo. Hoje, t0-
mento em estar aqui, com V. Ex"', em momento que acompanhamos de perto, inclusive em ter- dos os munidpios congregados defendem com
tão importante da vida de nosso País, quando mos de aplicação. Acompanhamos a tramitação unhas e dentes o associativismo, não só por existir
nôs, prefeitos, especialmente, vivemos uma ex- de projetos das prefeituras, assessoramos a orga- a patrulha, mas por todos esses serviços que lhes
pectativa de que os nossos dias melhores, tão nização e o levantamento de informações para são prestados, especialmente por essa válvulaque
sonhados, agora estejam próximos. fins de valor adicional fiscal,o que tem sido muito o associativismo representa e que nos permite
Aproveitamos o ensejo para desejar aos Srs. importante em nossa região, eis que após este conviver com qualquer tipo de governo, seja ele
Constituintes sucesso no trabalho de elaboração acompanhamento tomou-se posslvel aos muni- de que partido for. A atuação dessa patrulha me-
da Constituição, que esperamos seja a Carta que cípios elevarem' seus valores adicionais fiscais. canizada é de alta relevância, portanto, em todas
todos nós, brasileiros, desejamos. Fornecemos, ainda, informações relacionadas as áreas. Ademais, estamos já com quatro muni-
Nossa missão, aqui, hoje, a exemplo do que com códigos tributários, códigos de postura, códi- cípios iniciando agora a implantação de micro-
fizerem os outros companheiros, é mostrar aos gos de obras etc., através da assessoria jurídica, bacias hidrográficas, que contará com nosso auxi-
Srs. Constituintes o que é uma associação mícror- que tem, inclusive emitido pareceres, acompa- lio, em termos de apoio técnico e de atuação
regional em MinasGerais,especialmente a Amvap nhando, ainda, ações de interesse dos municípios da patrulha motomecanlzada, para que os muni-
- Associação dos Municípios do Vale do Para- junto ao FNT, ao !ncra e à Cemig, por exemplo. cípios possam desenvolver um trabalho que real-
naíba, com sede na cidade de Uberlândia. Elaboramos projetos de lei e pareceres jurídicos mente viabilíze a proteção do meio ambiente. Es-
Trata-se de entidade relativamente nova, criada sobre criação de entidades, consórcios, coope- se sistema de microbacias já foi implantado em
e instalada oficialmente a partir de 1982, mas rativas etc. Auxiliamos as Câmaras, também, outras áreas do País com grande sucesso. Dal
quejá vem prestando relevantes serviços aos mu- quando se toma necessário. a participação de nossa entidade neste trabalho,
Julho i1e 1987 DIÁRIO DA A.SS~BLÉIA"Í'/ACIONAL CONSTITUINTE(Suplemento) Terça-feira 21 7

colaborando para que os municípios preservem oportunidade de convidar parlamentares para de- rentes, em municípios queenírentam graves pro-
seu rrieioambíente, providência de fundamental bater conosco, na associação, o que fazermos blemas de sobrevivência. Além do mais, através
importância nos dias de hoje. constantemente, ocasião em que deles cobramos desse convênio estamos tentando conseguir re-
Ternos também a parte de treinamento de re- trabalho ou promessas que porventura tenham cursos para a rede de informática. Quase todos
cursos humanos - já mencionada - através de feito antes das eleições para a Constituinte. E va- os municípios já têm seu trabalho próprio àtravés
videocassete e de várias formas de treinamento mos continuar cobrando, sem qualquer preocu- de contratos. Gostaríamos de prestar também es-
direto de 'todo o funcionalismo. Na área social, pação com sigla partidária, tanto dos que nos se serviço, barateando ainda mais os custos dos
no'setor financeiro, no de compras, enfim, em representam quanto dos que representam outros trabalhos prestados pela Associação.
tudo' aquilo que diz respeito aos municípios, a municípios. E devo dizer aos senhores que temos Queremos por fim, salientar que já temos sede
Associação procura dar cobertura no que se refere tido um apoio muito grande de todos eles. própria, estando em fase de acabamento o nosso
a treinamento de pessoal. Recentemente estivemos aqui, em Brasília, para auditório, onde teremos possibílidade de reunir-
E temos também a central de compras, onde apresentarmos proposta de reforma tributária da mos e também reaíizarcursos de treinamento.
todos nós, Prefeitos, nos congregamos. Por exem- Associação Microrreglonal do vale do Paranaíba Isto, não obstante o fato de nossas reuniões terem
plo: ternos de comprar lâminas de patrol, Se mi- à Assembléia Nacional Constituinte, mas, antes lugar em cidades diferentes, a cada mês, com
nha Prefeitura compra essas lâminas sozinha, é dISSO, reunimo-nos com os Constituintes de nos- vista a um maior congraçamento.
uma coisa, mas se nós todos, os municípios, as sa região - e todos eles fizeram-se presentes Aos Senhores, os nossos agradecimentos, e
adquirimos juntos, conseguimos uma economia -, no Hotel Fenícia, onde discutimos antecipa- esperamos que nossa participação represente
muito 'grande. Então, essa central de compras damente várias questões e exigimos deles apoio mais uma contribuição aos Srs. Constituintes, pa-
está sendo de fundamental importância. Embora às nossas reivindicações. Portanto, trata-se de um ra que possam escrever uma Constituição sadia,
esteja começando agora, já conta com resultados fórum de debates, onde não há predomínio deste como é do desejo de todo o povo brasileiro.
positivos. E estamos procurando incrementá-lo, ou daquele partido. E é necessário que continue O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
para recebermos, por exemplo, as cotações atra- assim. - A Presidência convida o Dr, Luiz Augusto de
vés de telex, ou pelo telefone, e assim agilizarmos Então, voltando à descrição de nossas ativida- Carvalho, Presidente da Associação Municipallsta
o processo. Portanto, estamos tentando ampliar des, queremos ampliar as instalações e transfor- Brasileira, para tomar assento à Mesa.
esse setor para realmente economizar ainda mars, mar a oficina em oficina-escola. Estamos tentan- Reqrstramos, na oportunidade, a presença do
Para V. Ex" terem uma idéia, no ano de 1986, do viabIlizarisso, e só não o fizemos ainda porque representante do colegiado dos secretários muni-
em serviços prestados a esses municípios durante até agora não dispomos dos meios legais Da cipais de saúde de Minas gerais, o Secretário de
a execução de vários projetos, atingimos a casa mesma forma, devido às mudanças ocorridas Saúde do município de Uberlândia, Dr, Flávio
de dezenove milhões de cruzados de economia com o BNH, com a Caixa Econômica Federal, Goulart, bem como do Prefeito de Tupaciguara,
nos gastos municipais. Trata-se, realmente, de não se sabe ainda a quem recorrer para criarmos Sr. Enodes de Oliveira, e do Secretário Executivo
um número muito elevado para um município nossa Cohab regional, providência de fundamen- da Arnvap, Dr. Carlos Valínho,
que tem, por exemplo, uma arrecadação anual tal importância para nossos municípios, já que Com a palavra o Dr, LuizAugusto de Carvalho,
de dois ou três mIlhões de cruzados Quer dizer, todos nós, prefeitos, estamos atravessando grave último expositor da noite. S. S' dispõe de 20 minu-
realmente é compensatóna a filiação dos muni- crise na área de habitação popular. Hoje, estamos tos para sua exposição.
cípios. Nós pagamos apenas e tão-somente o quase fugindo dos nossos municípios porque não
equivalente a '1% do orçamento anual, 1% da temos onde abrigar as pessoas que diariamente O SR. LUIZ AUGUSTO DE CARVALHO - Sr.
receita, e isso pouco ou nada representa para nos procuram para solicitar casas populares. E presidente, Constituinte Luiz Alberto Rodrigues,
os pequenos municípios. O município de Uberlân- este quadro é mais grave ainda nos municípios Sr. Relator, Constituinte Aloysio Chaves, demais
dia, por exemplo, entra com uma fatia superior, do Triângulo MIneiro e do Alto Paranaíba, que Srs. Constitumtes e companheiros de painel. A
talvez;" a de todos os outros somados, o que signi- sofrem os efeitos de uma migração muito intensa, AMa sente-se honrada em aqui estar presente
fica que, de fato, há descentralização, há distri- de paranaenses, gaúchos, paulistas. Desse modo, e trazer seu depoimento sobre a questão do muni-
buição da renda na microrregião. E os municípios não estamos tendo condições de acompanhar cipalismo, em particular no que diz respeito ao
grandes não se têm furtado ao associativismo. o desenvolvimento das nossas cidades, principal- resultado do Congresso Municipalista do Brasil,
E bom salientar que são, talvez, os mais entusias- mente com relação à habitação popular. realizado recentemente em Brasília, de 30 de abril
mados com esse tipo de trabalho, porque sentem Também estamos adquirindo equipamentos a 5 de maio, ocasião em que cerca de dois mil
que estão colaborando com os municípios peque- de sinalização de trânsito. Pretendemos, então, participantes - prefeitos, VIce-prefeitos e verea-
nos.'--- ' trabalhar diretamente com as prefeituras, facili- dores - definiram a "Carta de Brasília", cuja leitu-
Quanto à Instítucronalízação das ações desse tando mais uma vez seu trabalho e barateando ra farei a seguir. Acreditamos que neste docu-
associativismo, ou seja, das associações microrre- os custos dessa sinalização de trânsito, tanto a mento estão rnurtes questões aqui abordadas, em
horizontal, a vertical, a de semáforos, enfim, todo particular com relação ao associativismo e ao
gionais ~ e a isso já se referiu aqui o Secretário
tipo de sinalização. consórcio municipal, experiência de três ennda-
Executivo - não sabemos como seria a proposta.
freocupamo-nos principalmente com a indepen- des de MInas Gerais, bem como de outras, repre-
Falamos agora do principal, daquilo que todos
dência da associação. Ela deve ser totalmente sentativas de segmentos de todos os quadrantes
nós, prefeitos, queremos implantar e que talvez
ndependente para que não seja apenas mais um brasileiros. Não há dúvida de que essa articulação
agora possa tornar-se VIável graças a um convênio
'irgão de governo. Ou seja, que ela tenha os subsí- dos municípios vem realmente contribuindo para
firmado entre a Associação, a Universidade de
:Iios do governo, mas que não seja dirigida pelo o fortalecimento da ação municipalista
Uberlândia e o Ministério do Interior. trata-se de
loverno. Esta é a nossa preocupação. É funda- Passarei agora à leitura da "Carta de Brasília",
um programa de pesquisa sócio-econômica, que
nental que tenhamos independência, como as documento redigido no último dia 5 e aprovado
abrange todo o Triângulo MineIro e Alto Paranaíba
associações mrcrorreqíonaís vêm tendo até hoje, pelos partidpantes dos Comub, tendo já sido en-
e que tem por objetivo detectar todos os proble-
á que através de eleições limpas e democráticas caminhado ao Sr. Presidente da Constituinte, De-
mas daqueles municípios, a fim de que, mais tar-
-ntre nós, associados, é que realmente temos putado Ulysses Guimarães,
de, possamos viabilizarrecursos e também imple-
:onseguido fazer com que todos os municípios, mentar, nas ações de governo, a mecânica de "Os prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e
ndependentemente de siglas partidárias, possam atendimento a essas comunas. Isso possibilitará dirigentes municipalistas, reunidos durante
entar-se à mesma mesa e discutir seus assuntos. que, daqui dos Ministérios, vamos dizer aSSIm, o 11 Congresso Municipalista do Brasil, pro-
~uitas vezes, Srs. Constituintes, como ocorreu ou do centro do governo do Estado, se tenha põem para a apreciação da Assembléia Na-
irinclpalmente às vésperas das eleições passa- uma visão clara do que se passa na microrregião cional Constituinte as seguintes conclusões:
las, discutimos assuntos que dizem respeito a e, especialmente, dos problemas de cada muni- A nova Constituição Federal deverá ser
ossos deputados estaduais e até a governadores cípio, evitando-se, assim, aquelas determinações atual, democrática, garantindo a soberania
~ Estado. Discutimos limpamente, acima de si- de cima para baixo, que, às vezes, liberam recur- da Nação, as prerrogativas e direitos de seu
ias partidárias ou de defesa que cada um de sos para certas áreas, quando, na verdade, eles povo, adotando disposições que visem asse-
ÓS faça deste ou daquele deputado. Já tivemos devem ser aplicados em outras regiões mais ca- gurar-lhe condições de vida digna, impres- _
8 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAÍ.. CONSmUlNTE (Suplemento) Julho de 1987

cíndível para o desenvolvimento de um País, N 4. Para dar suporte a assistência médica


devendo para isso enfatizar a participação Dos Servidores Públicos a nível municipal deve-se adotar uma medi-
do município nesse processo através de sua cina preventiva com maior responsabilidade
autonomia política, administrativa e econô- dos profissionais da área de saúde, com a
1. Aposentadoria especial para os servi-
mica. dores públicos em atividades insalubres. legalização da profissão de para-médico,
No processo de fortalecimento do muni- 2. Aposentadoria facultativa para os ser- complementando assim a falta de profissio-
cípío, imperiosa será a adoção das seguintes vidores públicos aos 30 e 2S anos de ativi- nais nas comunidades menores, assim como
medidas: dade para o homem e a mulher. da implantação de rede de assistência médio
3. Pagamento integral das pensões devi- co-odontológica básica.
das aos dependentes dos servidores públi- S. Sob o aspecto logístico propõe-se agi·
Do Poder Legislativo
cos. lizara complementação de obras inacabadas
1 Independência do Poder Legislativo e o necessário fornecimento de equipamen-
municipal a ser alcançada através da edição V tos, materiais cirúrgico e hospitalar, ambu-
de cartas próprias; Aspectos Sociais lâncias, paralelamente a construção de mini-
2. Independência das Câmaras Munici- hospitais e postos de saúde.
pais garantida pela destinação de um percen- Quanto aos aspectos sociais, tecem-se co- 6. A rede de saúde pública deve contar
tual mínimo da Receita do município que mentários e firmam-se posições quanto às áreas com a criação de creches e asilos em condi-
possibilitem a elaboração de Orçamento pró- de saúde, educação, habitação e transportes. ções dignas e utilização dos postos de saúde
prio; Após uma pesquisa realizada nos 4.135 muni- e hospitais para distribuição dos medícarnen-
3. Concessão de prerrogativas que ga- cípios, observou-se um interesse muito grande tos fornecidos pela CEME.
rantam a imunidade e inviolabilidade do e uma atenção preferencial quanto a essas quatro ÁREADA PREVIDÊNCIA SOCIAL
mandato parlamentar dos vereadores; áreas, como se depreende do que contém o docu-
4. fixação de subsídios dignos, obser- mento: 1. Redução do período aquisitivo de apo-
vadas as características regionais, a realidade sentadoria.
local, garantidas as conquistas já concreti- 2. Unificação dos sistemas de aposen-
zadas nessa fixação pela atual Constituição; "ÁREA DE EDUCAÇÃO tadoria.
S. Disposições que garantam aos verea- 1. Deverá haver um inter-relacionamento 3. Incorporação dqs beneficios da previ-
dores a faculdade de apresentarem projetos nos sistemas de ensino federal, estadual e dência social aos filhos de trabalhadores por-
que envolvam matéria financeira; municipal, possibilitando autonomia à polí- tadores de incapacidade fisica ou mental.
6. Não adoção de dispositivos que per- tica educacional do município, através de re- ÁREADE HABITAÇÃO
mitam a aprovação de projetos por decurso cursos humanos, materiais e financeiros.
de prazo e quorum qualificado para rejeição 2. O ensino deverá ser gratuito em todos 1. Assegurar aos municípios, condições
de veto. os níveis, embora não necessariamente es- para construção e reforma de núcleos habita-
tatal. cionals, dotados de infra-estrutura e sanea-
li mento básico com áreas construídas míni-
3. A nova Constituição deverá tornar
Do Sistema Político e Eleitoral obrigatória também a pré-escola e determi- mas de 60m2 •
nar uma co-responsabilidade da União com 2. Os recursos para execução desses pla-
1. spera-se que a nova Constituição esta- nos habitacionais serão repassados através
beleça condições para que todos os filiados os Estados e Municípios, em relação ao finan-
ciamento do ensino pré-escolar, de primeiro da União utilizando-se o percentual mínimo
de partidos políticos possam concorrer como de 10% da arrecadação do imposto de renda.
candidatos a cargos eletivos; e segundo graus.
4. O princípio da aplicação de 25% da 3. Todo cidadão brasileiro que não pos-
2. Que a nova Constituição disponha de sua imóvel residencial, terá direito a financia-
forma a impedir alguns inconvementes da receita do município no ensino de 10 grau
deverá ser mantido observada a necessidade mento para aquisição ou construção, com
legislação eleitoral, como a prorrogação sis- prazo máximo de lS anos e prestações men-
temática dos direitórios em razão da falta de de sua suplementação pelo Estado e União
quando o recurso for insuficiente e ampliada sais nunca superiores a 1/4 de sua renda
prazo dos mandatos, adotando-se o principio líquida.
da auto-organização dos partidos politicos, sua aplicação hoje limitada.
5. Utilização da própria rede escolar de '4. Deverá se adotar a concessão do direi-
3. Devem-se adotar normas mais flexí- to real de uso, a título gratuito, as pessoas
veis para a criação de partidos políticos e lo grau pelo pré-escolar.
de baixa renda, não proprietárias.
a garantia do voto das minorias ainda excluí- S. Urge a reforma do sistema nacional
das do processo eleitoral, bem como a condi- ÁREADA SAÚDE
de habitação, adequando-o à realidade na-
ção de candidato ao analfabeto. 1. O plano nacional de saúde deve enfa-
cional.
tizar a municipalização dos programas, com
III
a constituição de conselhos municipais de Para finalizar, o documento aborda a questão
Dos Direitos e Garantias Individuais ampla representatividade, prevendo prelimi- da reforma tributária, balizando esses problemas
1 Deverá ser ampliada a esfera de atua- narmente um amplo programa de sanea- básicos de todos os municípios brasileiros. Atra-
ção da ação popular, no sentido de que esse mento básico, campanhas gerais de vacina- vés de uma reforma tributária é que chegaremos
instituto possa vir a ser exercitado também ção e combate e erradicação dos focos trans- a uma ideal condição de sobrevivência do muni-
por entidades coletivas; missores de doenças tropicais e o aperfeiçoa- cípio brasileiro. Diz,a propósito, a Carta:
2. Adoção de princípios contidos na "De- mento da fiscalização aos órgãos responsá-
claração de Vancouver", da qual o Brasil é veis pela aplicação de verbas e de atuação "1 -Impõe-se uma imediata reforma tri-
um dos signatários, visando ao aperfeiçoa- na área de saúde. butária, sob pena de colapso econômico da
mento da qualidade de vida do ser humano 2 Unificação do sistema de saúde e da quase totalidade dos municípios.
na comunidade. previdência social, atribuindo-se a compe- 2 -A futura Constituição federal deverá
tência privativa do Estado para assumir o dispor sobre tributos, de forma a possibilitar
3. A preservação e conservação do meio tratamento das doenças contagiosas e a mu- uma real e efetiva autonomia dos municípios
ambiente e do ecossistema, é imperativo nas nicipalização de outros serviços de saúde, brasileiros.
disposições constitucionais, visando a uma com a necessária transferência de recursos 3 - Para o fortalecimento das receitas
melhor qualidade de VIda. para suportá-los. municipais, o Imposto de Renda incidente
4 A independência dos Poderes judiciá- 3 O sistema de saúde deve prever a con- sobre os lucros imobiliários e a renda aute
rio e Legislativo é imprescindível para garan- veniente, suficiente e adequada alimentação rida pela aplicação das multas de trânsito
tia dos direitos do cidadão. da mãe gestante e do menor. deverão ser revertidos aos municípios.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSmUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 9

VII quando da aplicação de recursos repassados. zação das associações, e em pouco tempo pode-
Reforma Agrária Preocupo-me muito com isso, porque há, díga- riamos ter 722 associações, cada uma com um
mos, argumentações no sentido de que a autori- município, teoricamente.
A implantação do plano de reforma agrária dade superior, seja do Estado ou da União, é O critério continua válido, mas há algumas rea-
deve ser preservada, ampliada e agilizada, que deve estar com a verdade. Assim, a União, ções que não conseguimos superar. No caso des-
estabelecendo áreas institucionais de lazer por exemplo, impõe ao município a aplicação de sa associação, ela abrange uma região realmente
e preservação ecológica das áreas desapro- tantos por cento do Fundo Rodoviário em estra- extensa, mas incorpora apenas treze municípios,
priadas." das vícínaís, ou exige que 25% do que arrecada por serem eles muito grandes, do ponto de vista
sejam investidos em educação. Há municípios geográfico. Se partirmos a associação em duas,
Basicamente, Sr. Presidente, Srs. Constituintes, que não têm mais como aplicar em educação, por exemplo, elas passarão a ser inviáveisaté do
são estas as nossas posições. Uma série de 280 por já haver excesso de investimentos em educa- ponto de vista financeiro,já que existe um número
documentos passaram a integrar a "Carta de Bra- ção, e há municípios e cito o caso de Osasco, mínimo de municípios que começa a viabilizar
sília", que consubstancia, portanto, a aspiração em São Paulo, que não têm como aplicar as ver- a associação sob este aspecto. Se a dividimos,
dos quase dois mil municipalistas que, de 30 de bas do Fundo Rodoviário em estradas vícínaís, inviabiUza-se a associação, como foi o caso da
abril a 5 de maio, estiveram na Capital federal. porque simplesmente não contam com estradas Aminor. A propósito, estamos cuidando desta
Naquela oportunidade, ponderamos sobre a ne- vicinais. questão na Ardoce. Abrange uma região extensa
cessidade de um processo de revitalizaçãodo mu- Penso que deveríamos deixar aos municípios -são quarenta e dois municípios - e o problema
nicípio, de fortalecimento de suas áreas básicas, a fixação de critérios para essas aplicações. Ora, de comunicação começou a tomar-se grave com
da sua infra-estrutura, bem como da adoção de se os municípios têm representação popular, Câ- o crescimento do pólo Goíans, que começa a
um posicionamento mais efetivo em termos de mara de Vereadoress, prefeito e secretarias, natu- despontar e, assim, começa a atrair os municípios
participação política dos municípios no contexto ralmente estão estruturados para julgar o que lhes da região do Espinhaço, do lado de cá da serra,
nacional, no sentido de que a União deve ter seu é prioritário.O máximo que pode haver é a reco- e os municípios do rio Doce, que se relacionam
papel, assim como o Estado e também o muni- mendação no sentido de que se invistaem educa- em Goíans, Os próprios prefeitos começaram a
cípio. ção, em estradas vícínaís etc. Acredito que o con- sentir a dificuldade de comunicação com Gover-
Já foi dito aqui pelos outros expositores que dicionamento de aplicação de recursos tolhe mui- nador Valadares,e eles próprios tomaram a inicia-
tudo que é desenvolvido e articulado através de to o administrador municipal nas suas prioridades tiva de mobilizar-se para criar essa associação.
um processo associativo, bem como de um pro- administrativas. A Suplan deu total apoio, e ela está sendo criada
cesso de consórcio municipal, tem um alto grau São estas as observações. Na oportunidade, - é a trigésima quinta, que citei anteriormente.
de eficiência Acredito,portanto, que, sem se des- parabenizo a Supam pelo trabalho que vem de- Esta é a nossa posição com relação ao assunto.
cambar para a estatízação plena, mas sempre senvolvendo em Minas Gerais e que é um exem- Os demais critérios geográficos, culturais, sociais,
com incremento da iniciativa privada, é no muni- plo para todos nós, para todo o Brasil. Antigo de comunicação etc. continuam os mesmos.
cípio que muito mais facilmente se resolvem os Presidente da Ampar, sinto que o desenvolvimen-
problemas. 1'10 caso de Juiz de Fora, que V. Ex" conhece
to das associações microrregionais tem sido ex- bem, embora tenha um número muito grande
Portanto, Sr. Presidente, ao encaminharmos pressivo em Minas Gerais, especialmente a partir de municípios, são municípios menores e que
aos Srs. Constituintes a "Carta de Brasília", que da administração do Secretário LuizAlberto.Antes se relacionam diretamente com o pólo de Juiz
contém as aspirações de dois mil rrumiclpalistas, não tínhamos nem associações em Uberlândia. de Fora.
fazemos votos de que o município brasileiro rece- Hoje, como vemos, já há muitas conquistas. Não sei se atendi à sua pergunta.
ba da nova Constituição um papel de destaque,
na busca de soluções para seus problemas, sem O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) O SR. CONSTITUINTE MELLOREIS- Muito
interferência do Estado ou da União. - A Presidência passa a palavra ao Dr, Dalmar obrigado.
Chaves para responder ao Constituinte MelloReis.
o SR. PRESIDENTE (LuizAlberto Rodrigues) O SR. PRESIDENTE (LuizAlberto Rodrigues)
-A Presidência registra a presença do Sr. Sérgio O SR. DALMAR CHAVES IVO - Sr. Consti- - A Presidência passa a palavra ao Prefeito Ajal-
Luiz da Silva e a do Prefeito de Carandaí, Agos- tuinte, dissemos anteriormente que há alguns cri- mar José da Silva para fazer considerações a res-
tinho Corcino de Oliveira, respectivamente Secre- térios, quase naturais, de criação de associações. peito da vinculação de verbas.
tário Executivo e Presidente da Amalpa. Um deles é a aglutinação de municípios em tomo
Passamos à fase dos debates. de um pólo natural, que lhes proporciona facili- O SR. AJALMAR JOSÉ DASILVA - Meu caro
Concedo a palavra ao Constituinte Mello Reis, dade de comunicação, estradas, telefonia etc. Os Constituinte Mello Reis, a vinculação de verbas
para fazer as indagações ou considerações que municípios, então, se vêem interligados em razão é uma aberração. 1'10 ano passado, meu muni-
julgue oportunas. de sua dependência desse pólo. Isto é muito co- cípio aplicou, se não me engano, :30 ou 31 %
mum em Minas Gerais. As pessoas gostam de em educação. Este ano está muito difícil aplicar-
O SR. CONSTITUII'ITE MELLOREIS- Sr. Pre- sair e fazer compras na cidade-pólo, de comércio mos esses 25%, exatamente porque fizemos qua-
sidente, Srs. Constituintes, indago do Dr. Dalmar mais evoluído. Portanto, trata-se de um processo se tudo que precisava ser feito. Então, isto é uma
Chaves Ivo, Secretário-Adjunto da Secretaria de de expansão circular, crescente. aberração total. Não se pode vincular. O muni-
Assuntos Municipais de Minas Gerais, quais os Há casos, porém, em que ocorrem alguns pro- cípio deve ter sua autonomia. E o que estamos
critérios que têm sido adotados para a criação blemas. Os Senhores vêem, atrás de nós, o mapa buscando é exatamente a autonomia municipal.
das associações microrregionais. Acredito que na de distribuição das associações. Temos uma as- O município quer e sabe gerenciar os próprios
região da Mata, sul de Minas Gerais, e também sociação como sede em Montes Claros, como recursos, e a fixação de recursos inviabiliza total-
no Triângulo, há uma divisão bem racional de comentamos anteriormente. Uma proposta de re- mente o orçamento municipal. Se não, vejamos:
aglomerados e municípios. No entanto, perce- distribuição geográfica dessa associação foi re- se são fixados 10% para um setor, 20% para
be-se que nas regiões mais pobres do Estado, chaçada imediatamente, porque o pessoal da área outro e 30% para outro, às vezes surge um progra-
as do norte de MinasGerais, existe um vaziomuito da Sudene, com 42 municípios, criou tal espírito ma de governo que não pode ser cumprido por
grande. Ali as microrregiões são, praticamente, de corpo em tomo do Polígono das Secas que causa dessas alocações esdrúxulas. E a fixação
macrorregiões. Como é um processo de implan- não admite qualquer subdivisão da região. Havia- de recursos para a educação é um exemplo típico.
tação que se vem desenvolvendo ao longo dos mos identificado três subpólos, como eles que- Há municípios que a cada ano trocam os ônibus
anos, acredito já exista também um critério para riam chamar: Pirapora apesar de grande distância que levam os estudantes para estudarem na cida-
que não se pulvenzem demais as microrregiões, Janaúba e Januária. Mas eles nos forçaram, de de vizinha, por ser esta a única forma de gastar
eis que isso tornaria inviável um trabalho mais alguma forma, a recuar na nossa proposta, pois a verba.
expressivo. queriam criar subassociações. Não concordamos
Também quero manifestar rnmha preocupação com a criação de subassocíação, porque, se se O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
'quanto a algumas posições aqui manifestadas re- cria um precendente desta natureza, cai-se então - A Presidência passa a palavra ao Constituinte
lativamente ao condicionamento dos municípios naquilo a que V. Ex' se referiu, ou seja, a pulverí- Mauro Miranda.
10 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. CONSTITUINTE MAURO MIRANDA - Gostaria de obter um esclarecimento por parte para o êxito da Associação, é preciso que o gover-
Sr. Presidente, quero congratular-me com esta de algum dos expositores, seja do diretor da Su- no do Estado, através de seu órgão de articulação
Subcorrussào pela escolha dos conferencistas de pam, seja do prefeito, ou do presidente da Asso- - e lá, no Estado de MInas, tivemos a sorte de
hoje. Estou feliz, como representante de quarenta ciação, sobre a natureza jurídica dessas entidades. ter uma Supam atuante, como também uma dinâ-
e três municípios do Estado de Goiás, em perce- Já que elas firmam convênios etc., Imagino que mica Secretaria de Planejamento - nos dê aquele
ber a identidade das reivindicações dos muni- possuam uma natureza jurídica, e, uma vez esta- "ernpurrãozínho" necessário, para tanto colocan-
cípios de GOIás, com as que estão postas aqui rem cobrindo todo o Estado, acredito ter havido do funcionários e equipamentos à nossa dispo-
hoje por todas essas associações, principalmente uma ação dirigida do governo do Estado no sen- sição. Ressalto que a Associação, hoje, possui
no que toca a independência na aplicação de tido de fomentar este associatIvismo. Vemos que vinte e seis técnicos - engenheiros, advogados,
recursos, a a1aboração de uma lei orgânica pró- realmente é preciso que se estabeleçam meca- economistas Muitos deles nos são cedidos pelo
pria para cada município e a possibilidade de um nismos de incentivos que estimulem esse tipo governo do Estado. Embora os recursos que arre-
município gerir ele próprio seus recursos. Gostaria de articulação entre os diversos municípios, atra- cadamos sejam bastante minguados, consegui-
de dizer que Goiás está organizado praticamente vés de sua cidade-pólo. De modo geral, tudo isso mos fazer algum trabalho POSitIVO, e neste sentido
da mesma forma que o Estado de Minas Gerais, reflete uma forma de atuação e de esforço con- o Estado nos tem ajudado muito com a cessão
no que se refere às rnicrorregiôes. Lá, o relaciona- junto dos municípios para superarem suas dificul- de funcionários. .
mento homem-região é espontâneo, e cada pre- dades É importante ainda destacar que a Ampar dá
feito escolhe a região em que quer ficar. Às vezes, A propósito, desejo valer-me desta oportuni- assistência a trinta e sete municípios. Se o governo
o trabalho é no sentido do encaminhamento da dade para dar conhecimento à Subcomissão - do Estado, que nos repassa indiretamente cerca
rodovia que conduz mais ao centro maior. Não e pedir, inclusive, que seja transcrito em nossos de um milhão de cruzados, pulverizasse esses
é tanto o caso de existir um pólo central, mas anais - de artigo publicado em "ATarde", ediçáo recursos entre todos os municípios, evidentemen-
há uma identidade muito grande entre os muni- de 28 de abril, subscrito pelo prefeito da cidade te nenhum proveito haveria para cada um deles.
cípios. de Campo Formoso, Bahia, José Joaquim de Mas, via Associação, esses recursos são concen-
Então, ao parabenizar todos os expositores, Santana, sob o título "Por que os municípios baia- trados, de tal sorte que podemos levar a cabo
lembro que o problema de Goiás é mais ou menos nos estão falidos?" Nele o prefeito aborda uma o trabalho que temos desenvolvido
semelhante aos seus. Estejam certos de que o série de problemas que têm sido a temática desta Sugiro ao ilustre constituinte e aos demais inte-
pensamento desta Subcomissão está pratica- Subcomissão, como, por exemplo, as competên- ressados aqui presentes que, preliminarmente,
mente coeso em tomo do que foi aqui exposto. cias que de fato os municípios exercem em con- procurem o governo do Estado para desenvolver
Muito obrigado. traposição à sua participaçáo no bolo tributário. um programa associativista. Sem esta compati-
Isto vem ao encontro do que temos discutido bilização de esforços entre a área municipal e
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
muito, ou seja, o risco de aqui definirmos compe- a área estadual, toma-se um pouco dífícrl, real-
- O Presidente agora concederia a palavra a si
tências para os municípios e estes não receberem mente, implantar o assocíanvísmo - e falo isto
mesmo, por ser o último inscrito, mas apenas
a contrapartida necessária, por insuficiente, quan- sem falsa modéstia - nos moldes do que temos
para acrescentar um dado, que acho fundamen-
do da divisão do bolo tributário. E o artIgo também em Minas Gerais, que a cada dia que passa se
tai, à resposta do Dr. Dalmar quanto à questão
levanta uma das reívmdícaçôes que entendo não consolida ainda mais.
da divisão dos territórios e das associações mi-
seja assunto constitucional, mas que é preciso O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
crorregionais.
considerar, qual seja, a participação dos prefeitos - A Presidência registra a presença do Vereador
Quando Secretário de Planejamento, o Dr. Luiz
Alberto Rodnques, após estudar o mapa, solicitou ou de representantes dos municípios no acompa- Ubiratan Figueiredo, da Câmara Municipal de São
à Supam que analisasse a possibilidade da subdi- nhamento do cálculo dessas participações consti- Caetano do Sul, e a do Vereador Samuel de Cas-
tucionais, que hoje de manhã constatamos serem tro, de Rio Claro, São Paulo.
visão, inclusive mostrando as vantagens que ela
extremamente importantes, bem como na agiliza- Cumprida a finalidade desta reunião, que com-
traria a uma das mais pobres regiões de Minas
Gerais, aquela constituída de quarenta e dois mu- ção de suas transferências. pleta a série de oito audiências públicas, número
nicípios integrantes da área mineira da Sudene. O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) máximo permitido pelo Regimento Interno da As-
Se ela se dubdividisse - dizia ele - a região sembléia Nacional Constituinte, a Presidência
- A Presidência solicita ao Sr. Secretário Execu-
gozaria da multiplicação dos equipamentos que tivo da Associação dos Municípios da Microrre- agradece aos expositores que aqui comparece-
o Estado coloca à disposição dos municípios as- gião do Vale do Paraibuna, José Maria de Souza ram os importantes subsídios que trouxeram para
sociados a custo zero. Ocorre que os municípios, Ramos, que responda à pergunta do Constituinte o trabalho de elaboração da futura Constituição
politicamente, entenderam que era melhor fica- Waldeck Ornélas sobre a natureza jurídica da As- do Brasil- os Srs. Dalmar Chaves Ivo,José Maria
rem unidos do que fazerem parte da associação sociação. Solicita, ainda, que informe quantos de Souza Ramos, Ajalmar José da Silva e Luiz
da região mineira da Sudene, da Amans. Portanto, funcionários tem a Associação e, se possível, a Augusto de Carvalho.
embora a idéia fosse interessante, eles não quise- qualificação do seu corpo técnico. A Presidência agradece, ainda, a presença dos
ram subdivldlr. E uma das normas do associa- Srs. Constituintes, que, mesmo numa tarde atribu-
tivismo em Minas Gerais é não colidir com a reali- O SR. JOSÉ MARIA DE SOUZA RAMOS - lada e de múltiplas alternativas de participação, 1
dade, mas respeitar, inclusive, os traços culturais Nossa Associação é uma entidade civil formada aqui estiveram para que pudéssemos chegar a
das regiões. Na verdade, perderam muito esses por municípios. Basicamente, é uma associação bom termo nesta nossa última audiência pública
municipios, qUI:: são os maiscarentes do Estado. civil, definida no Código Civil. A estrutura jurídica Está encerrada a sessão.
De outro lado, porém, respeitou-se a vontade co- da associação é esta. Sou advogado e gostaria
13" Reunião Ordinária
letiva dos prefeitos daquela regiáo. de dizer que se trata de uma associação como
A Presidência passa a palavra ao Constituinte outra qualquer, apenas singular neste aspecto, Às quinze horas e trinta minutos do dia onze
Waldeck Ornélas. qual seja, o de que seus integrantes são prefei- de maio de mil novecentos e oitenta e sete, reu-
turas. niu-se a Subcormssão dos Mumcípios e Regiões,
O SR. CONSTITUINTE WALDECK ORNÉLAS Realmente, como observou o ilustre Constituin- na sala B-3 do Anexo 11 da Câmara dos Deputados,
- Sr Presidente, acredito que encerramos a nos- te, houve um trabalho do governo do Estado para em Brasília, DF, sob a presidência do Sr. Consti-
sa série de painéis ouvindo o elo-mais fraco da fomentar a criação dessas associações microrre- tuinte LuizAlberto Rodrigues. Compareceram os
corrente, justamente os pequenos municípios do gionais. Na verdade, o programa associativista é seguintes Srs. Constituintes: Aloysio Chaves, Luiz
interior, que encontram no associativismo, sem um programa do governo do Estado, e temos Freire, Geraldo Melo,Waldeck Ornélas, MelloReis,
dúvida, um instrumento adequado não apenas tido todo o apoio e colaboração no sentido de Eliezer Moreira, José Dutra, José Viana, Firmo
para a racionalização de custos, de condições ad- implementá-lo. Aliás, o Constituinte do Amapá de Castro e Mauro Miranda. Havendo número re-
ministrativas, geralmente precárias, como para entregou-me, ao sair, um bilhete, no qual solicita gimental, o Sr. Presidente declarou aberta a reu-
criar condições de, juntos, defenderem melhor que eu lhe repasse os elementos constitutivos nião Ata:lida e aprovada a Ata da reunião enteríoz,
os interesses econômicos, de infra-estrutura etc., da Associação Microrregional de Juiz de Fora. Ordem do Dia: apresentação do anteprojeto cons-
de suas regiões. E manda a honestidade que eu confesse que, titucional da Subcomissão, elaborado pelo Rela-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 11

tor, Constituinte Aloysio Chaves. Com a palavra, tins sohcrtou ínformação quanto ao processamen- O SR RELATOR (A1oysío Chaves) - Sr. Presi-
S Ex' passou a expor os cntérios adotados para to a ser adotado para apresentação, discussão dente, caros colegas, dispensar-rne-eí de descer
o exame das propostas, levando em conta as e votação das emendas, ao que o Sr. Presidente a certas minúcias neste breve registro que farei,
idéias, tendências e a redação tais como foram informou que está sendo distribuído a todos os porque no relatório, depois da parte preambular
apresentadas. Além das sugestões de normas, o membros o regulamento interno das Subcomis- e do texto do anteprojeto, a justificação desce
Sr. Relator considerou as colaborações oferecidas sões, que esclarece o assunto. Nada mais haven- a algumas explicações que me pareciam neces-
pelos participantes dos oito painéis realizados na do a tratar, o Sr. Presidente encerrou os trabalhos, sárias e indispensáveis para a orientação da nossa
forma do artigo 14 do Regimento Interno da As- às dezoito horas e cinquenta e cinco minutos, discussão e, sobretudo, para esclarecimentos a
sembléia Nacional Constítumte, sopesando cada convocando os Srs. Membros para uma reunião respeito do critério adotado na feitura desse tra-
sugestão, procurando reunir o maior número pos- amanhã, às nove horas e trinta minutos. A reunião balho
sível de contribuições que pudessem consubs- foi gravada e será publicada no Diário da Assem- Em primeiro lugar, determlner ao Prodasen a
tanciar o anteprojeto relativo à competência desta bléia Nacional Constituinte E, para constar, elaboração dessa listagem geral, estabelecendo
Subcomissão. Finalizando os trabalhos, o Sr. Pre- eu, Iná Fernandes Costa, Secretária, lavrei a pre- até a maneira como ela deveria ser feita, isto é,
sidente convocou reunião para amanhã, doze de senta Ata que, depois de lida e aprovada será utilizando o material que recebi da Comissão,
maio, às dezessete horas, para apreciação írucíal assinada pelo Sr. Presidente, Constituinte Luiz Al- que, por sua vez, o recebeu da Secretaria Geral
do anteprojeto. Nada mais havendo a tratar, foi berto Rodrigues. da Mesa da Assembléia Nacional Constituinte. As
encerrada a reunião. E, para constar eu, Iná Fer- emendas ou sugestões - como sabem os cole-
nandes Costa, Secretária, lavrei a presente Ata Termo de Reunião gas - foram registradas, numeradas e, depois,
que, lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presi- A Subcorrussáo dos Mumcípios e Regiões dei- distnbuidas às 24 Subcomissões. Com base nes-
dente, Constituinte Luiz Alberto Rodrigues. xou de reunir-se nesta data, por falta de quorum. se material é que fiz esse mapa. Recebi, inclusive,
Compareceram os seguintes Srs. Constituintes: um oficio do nosso eminente colega Max Rosen-
14' Reunião Ordinária Nestor Duarte, Eraldo Trindade, Eliezer Moreira, mann, Deputado Federal, pelo Paraná, no qual
Aloysio Chaves e Luiz Alberto Rodrigues. registra que:
Aos doze dias do mês de maio de mil nove-
centos e oitenta e sete, às dezessete horas e trinta Sala da Subcomissão, 13 de maio de 1987.
- Iná Fernandes Costa, Secretária. "Compulsando o excelente relatório que
minutos, reuniu-se a Subcomissão dos Municí- V. Ex' preparou para o exame da Subcomis-
pios e R!!giões, na sala B-3 do Anexo 11 da Câmara O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodngues) são de MunicípIOS e Regiões, verifiquei que
dos Deputados, em Brasilia, DF, sob a presidência - A Presidêncía declara aberta a reunião. Solicito a sugestão de minha autoria, disciplinando
do Sr. Constituinte LuizAlberto Rodrigues, presen- a Sr' Secretária que proceda à leitura da ata da a questão das regiões metropolitanas, não
tes os Srs. Membros: Aloysio Chaves, Eraldo Trin- reunião anterior. é sequer mencionado como tendo sido rece-
dade, Mauro Miranda, Mello Reis, Sérgio Brito, bido por essa Subcomissão, embora a suges-
José Dutra, Geraldo Melo, Nestor Duarte, Lavoí- (É lida e aprovada a ata da reunião ante-
rior.) tão cogitada tenha sido totalmente aprovei-
sier Maia, Vitor Buaiz, José Femandes e Arnaldo tada no substitutivo apresentado por V. Ex'",
Martins. Compareceu, ainda, o Sr. Constituinte O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
Max Rosenmann. ATA: lida e aprovada a ata da - Esta reunião destina-se à apreciaçâo preliminar De fato, além de algumas idéias, o art. 2" dessa
reunião anterior. Iniciando os trabalhos, o Sr. Pre- do relatório apresentado pelo Constituinte Aloysio sugestão estã incorporado textualmente ao art.
sidente comunicou que a reunião se destinava Chaves à Subcomissão dos Municípios e Regiões. 20 do anteprojeto. Trabalhei com base na cópia
à apreciação preliminar do Anteprojeto apresen- Inicialmente, a Presidência informa ao Plenário que ele me fomeceu em reunião da Subcomissão,
tado pelo Sr. Relator, Constituinte Aloysio Chaves, que, a partir do dia 14, estão abertos os prazos documento pessoal que utilizava para redação do
esclarecendo que foram constatadas falhas no aos Srs. Constituintes que quiserem apresentar substitutivo. Isso nada tinha a ver com a listagem
Anexo I, na relação das propostas, e incorreções emendas ao relatório. A Presidência encarece aos que estava sendo feita, ao mesmo tempo, pelo
no Anexo 11, quanto aos nomes e cargos dos pai- Srs. Constituintes o cuidado de formalizarem suas serviço de computação. De sorte que, no segundo
nelistas que aqui compareceram, determinando propostas no modelo próprio apresentado, o que relatório, após essa fase preliminar que será apre-
à Secretaria que providenciasse as devidas corre- facilitará, bastante, o processamento destas sentada, corrigiremos, junto ao Prodasen, todas
ções. Informou, ainda, já ter gestionado, junto à emendas pelo CPD do Prodasen. A Secretaria en- as falhas e omissões resultantes justamente da
Mesa, para a inclusão das propostas no Relatório caminhará a todos os Constituintes o formulário. dificuldade que a Mesa da Assembléia Nacional
definitivo. Em segUIda, passou a palavra ao Rela- De outro lado, a Presidência, ao examinar o relató- Constituinte teve para providenciar, a tempo, a
tor, que inicialmente agradeceu a colaboração re- rio, particularmente o Anexo 2, constatou alguns remessa dessas sugestões aos Relatores das Sub-
cebida da equipe do PRODASEN, bem como da equívocos originários de informações transmítí- comissões. Ocorre que o prazo de 30 dias é apa-
secretaria desta Subcomissão, para que pudesse das pela Secretaria da Subcomissão. A Presidên- rentemente amplo, mas, por qualquer circuns-
alcançar com êxito seu objetivo na elaboração cia determina à Secretaria a revisão do Anexo tância, as sugestões foram, em sua maioria, apre-
do seu Relatório e do Anteprojeto. Esclareceu ha- 2, a fim de que sejam devidamente caracterizados sentadas quase que nos últimos dias, senão no
ver-se baseado nas propostas encaminhadas pela os nomes, cargos e funções dos expositores que último. O serviço foi afunilado na Mesa da Assem-
Mesa, para a elaboração do mapa de propostas, compareceram aos painéis da Subcomissão. bléia Nacional Constituinte, que teve grande dífl-
que constitui o Anexo I, do seu Relatório, infor- A Presidência informa ainda aos Srs. Consti- t:u1dade - apesar de seu esforço e de seu exaus-
mando que a omissão de algumas, como a do tuintes que o relatório geral das emendas, cons- tivo trabalho - para selecionar, classificar, e enca-
Constituinte Max Rosenmann, se deu pelo fato tante do Anexo 1, não inclui emendas e propostas minhar à publicação no "Diário da Assembléia
de não ter a mesma sido por ele recebida; mas de autoria de alguns Constituintes. A Presidência Nacional Constituinte" e distribuir, classificadas
que dispondo de uma cópia, tinha-se valido do já gestionou junto ao Prodasen para que, no rela- por assunto, as emendas às Subcomissões. Com-
subsídio nela apresentado. Discorrendo, ainda, tório fma!, essas propostas, pertinentes ao traba- preendo perfeitamente essas dificuldades. A nos-
sobre o Anteprojeto, falou sobre a autonomia mu- lho desta Subcomissão, estejam devidamente in- sa Subcomissão recebeu igualmente um número
nicipal, que, obedecendo ao consenso geral, foi cluídas - o que acontecerá. Em decorrência de apreciável de sugestões. Segundo notícia que li
consagrada inteiramente e sobre o tratamento es- alguns equívocos - naturais, aliás - do Sr. Presi- na imprensa - não tenho esses dados oficial-
pecial dispensado às Regiões. Na seqüência dos dente da Assembléia Nacional Constituinte, mente - cerca de dez mil sugestões teriam sido
trabalhos, o Sr. Presidente informou que o prazo emendas ou propostas afetas a esta Subcomissão apresentadas à Mesa da Assembléia Nacional
regimental para a apresentação de emendas vai foram a outras encaminhadas. Esse fato será devi- Constituinte. A nossa Subcomissão, em números
do dia 13 ao dia 17 do corrente mês. O Sr. Presi- damente equacionado no próximo relatório. arredondados, recebeu cerca de 400 sugestões;
dente lembrou aos Srs. Membros que as emendas A Presidência passará a palavra agora ao Sr. se multiplicarmos esse número por 24, teremos
devem ser apresentadas em formulário próprio. Relator, para os comentários que julgar pertinen- 9.600 sugestões. Esse dado demonstra que essa
Falaram, a seguir, os Srs. Constituintes José Du- tes, a fim de que possamos nessa análise prelimi- Subcomissão recebeu um volume apreciável de
tra, Lavoisier Maia, Mello Reis, Arnaldo Martins nar, iniciar a apreciação do relatório de S. Ex' sugestões e teve um grande material para traba-
e MaxRosenmann. o Sr. Constituinte Arnaldo Mar- Com a palavra o Constituinte Aloysio Chaves. lhar, manusear e preparar este relatório.
12 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSmUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Algumas sugestões aproveitei integralmente: mos partindo desta colaboração geral, ampla; a Subcomissão. Procurei ouvir atentamente, pon-
outras, em parte; outras ainda as idéias que as seguir, teremos vários estágios, degraus e níveis derar, receber as sugestões dos membros da Sub-
permeavam. Algumas eram impossíveis de consr- para a decantação até chegarmos ao texto final comissão, dos colegas da Assembléia Nacional
derar, como, por exemplo, as que propunham da Constituição. Vamos partir da base para o ápice Constituinte, de vários segmentos da sociedade
a criação de regiões metropolitanas em Brasilia, de uma pirâmide e não poderia sair desta Subco- que aqui vieram e participaram dos painéis que
em GOiânia,ou a criação de determinados muni- missão, dada a importância dos problemas muni- reproduzimos em anexo, de acordo com a ficha
cípios, e outros mais que praticamente repetiam cipais, um texto reduzido, parcírnoníoso, quase que nos veio da Secretaria. A ficha está incorreta
a matéria. mesquinho, em relação às aspirações de todos com relação a certos nomes, a cargos ocupados,
A autonomia dos Municípios foi consagrada in- os Municípios e, sobretudo, das instituições envol- mas vamos corrigir, num segundo relatório, os
teiramente. Segundo consenso que me pareceu vidas diretamente com este problema. Teríamos eventuais equívocos.
geral na Subcomissão, e diante das exposições que apresentar um texto e contemplar, tanto Repito o que expliquei ao nosso eminente cole-
aqui feitas, das sugestões recebidas, de trabalhos quanto possível, estas aspirações e, mais adiante
doutrinários não só dos constitucionalistas, mas ga, Constituinte Max Rosenmann, com quem já
proceder às compatibilizações que forem possí- me encontrei antes e de quem recebi uma carta,
também de especialistas em matéria municipal, veis a nível da Comissão Temática, da Comissão a que me reportei no inicio desta exposição. Sua
ao longo dos últimos anos, tornamos explicito de Sistematização e do Plenário da Assembléia preciosa sugestão foi acolhida por mim, incorpo-
aquilo que ficou implicito nas Constituições de Nacional Constituinte. Estamos partindo, de certa rada ao art. 20 do anteprojeto. O texto está em
1934 e 1946 no que conceme à autonomia do forma, de uma situação geral para uma particular, arquivo que conservo, com todas as sugestões
Município. De fato, tínhamos os três níveis de dessa massa de sugestões, desse volume extraor- anotadas por mim. Seu nome não figurou nessa
competência: da União, dos Estados e dos Municí- dinário, mais de 10 mil, para a redação desse relação, feita ao mesmo tempo pelo Prodasen,
pios, mas, na prática, entre o Município e a União texto Constitucional. por um lapso da Secretaria da Mesa da Assem-
se colocava de permeio justamente um texto Avanço aqui uma opinião minha, pessoal, não bléia Nacional Constituinte, que não encaminhou
constitucional que não assegurava esta completa estritamente vinculada com esta matéria. Não te- a emenda a esta Subcomissão. Como S. Ex' já
autonomia. Ao consagrar a autonomia e a incluir nho, sinceramente, - com a longa experiência havia aqui comparecido e entregue cópia dá pro-
o Município como um dos entes da Federação, de minha vida pública, que chega hoje quase a posta, eu trabalhei com base nesse material. Tu-
é evidente que tínhamos de discriminar, tanto meio século de serviço público - esta preocu-
quanto possível, as competências municipais. do, porém, será retificado, para que seu nome
pação maior de se fazer uma Constituição enxuta figure, como é de inteira justiça, nesta segunda
Nós o fizemos, não uma maneira exaustiva, mas e sintética para o Brasil. Há algum tempo até etapa do nosso relatório.
com certo detalhe para realçar a importância atri- pensei dessa maneira, mas depois modifiquei mi-
buída a este assunto. nha opinião. Isso será impossível; não chegare- Sr. Presidente, faço meu os encargos de todos
Com relação às atuais regiões metropolitanas, mos nem deveremos chegar a esta Constituição os Constituintes no plenário e mais tarde na Co-
preferimos a denominação de áreas metropoli- sintética. Não conheço países em processo de missão de Sistematização. Não quero alongar-me
tanas, de acordo com a orientação predominante desenvolvimento que tenham obtido uma Consti- demais; teremos outras reuniões em que poderei
na doutrina, e reservamos esta designação de re- tuição sintética. Neste Pais certas reivindicações, expor minhas idéias à Subcomissão. Vou, como
gião para aquelas de desenvolvimento econõmí- certas idéias, certas proposições e certas teses, disse, neste período, receber sugestões dos com-
co, as grandes regiões do País, às quais também debatidas e discutidas ao longo do tempo, quando panheiros que possam enriquecer e aperfeiçoar
foi dado tratamento especial no projeto. ocorre, por determinadas circunstâncias históri- esse trabalho. Ele certamente contém imperfei-
cas, a oportunidade de dar-lhes um tratamento ções e falhas. É impossível partir de um texto
Avançamos também parte tributária. Como frio
definitivo, a tendência foi sempre colocá-los ao desses com uma idéia completa, mesmo porque
so no relatório, não se trata de matéria da compe-
abrigo da Constituição, como uma garantia maior ele procura estabelecer uma média, procura de-
tência específica de nossa Subcomissão, mas era
para essa conquista. tectar certas tendências desta Subcomissão. En-
a outra face da medalha. Era impossível, nesta
tão, nesse segundo parecer, voltarei a debruçar-
Subcomissão, cuidarmos dos problemas muni- Se manusearmos a Constituição deste Pais, va-
me sobre a matéria e sobre as sugestões que
cipais, do fortalecimento dos Municípios, da sua mos verificar que isso tem ocorrido de maneira
porventura venha a receber dos meus ilustres co-
autonomia, sem avançarmos no tocante à parte inelutável. Não vamos pretender fazer uma Consti-
legas membros da Subcomissão.
tributária, no que concerne aos tributos que de- tuição igual a outras - não me refiro à Consti-
vem caber aos Municípios. É evidente que, quan- tuição norte-americana, à Constituição da Repú- Eram estas as explicações que eu desejava adi-
do este anteprojeto chegar à Comissão Temática, blica Federal da Alemanha ou a própria Consti- cionar, Sr. Presidente e ilustres colegas, a respeito
o Relator-Geral poderá também, já tendo uma tuição francesa - porque nossos problemas, nos- do relatório que ontem entreguei a esta Subco-
decisão definitiva da Subcomissão de Tributos, so estágio de desenvolvimento social, econômico missão. Quero, Sr. Presidente, antes de encerrar,
elaborar um texto que evite,tanto quanto possível, e cultural é outro em relação a esses países. A apenas aduzir o seguinte: verifiquem os Srs. Cons-
normas colidentes ou conflitantes, para minimizar própria Constituição americana, da qual todo tituintes que, na parte tributária, avançamos, para
o trabalho da Comissão de Sistematização, mais mundo fala, se refere e se reporta, além das 26 sermos coerentes com a idéia da autonomia, do
tarde. Não podemos fazer ainda esta compati- emendas, tem mais de mil interpretações da Corte fortalecimento do Município. O problema não é
bilização, porque temos, por enquanto, um pare- Suprema feitas por construção constitucional especificamente nosso. Ele será compatibilizado
cer prévio que será submetido à discussão, à orientada, sobretudo, pela grande figura de Mar- mais adiante, mas essa posição devia ser marca-
emenda e à votação por esta Subcomissão. Mas shall, que hoje se constituem em normas constitu- da, sem que isso importe em qualquer restrição
haverá uma oportunidade para uniformizarmos cionais, quase obrigatórias. Cada interpretação ou qualquer espécie de censura, direta ou indireta.
essa orientação antes de a matéria chegar à Co- dessa, cada precedente desse, estabelecido por Os Srs. Constituintes verifiquem que - eu, pelo
missão de Sistematização. meio dessa construção constitucional pela Corte menos, verifiquei hoje, examinando o parecer da
De outro lado, o nosso anteprojeto não é exten- Suprema, vale como uma norma constitucional, Subcomissão de Tributos, documento que já me
so. Se tirarmos as partes das Disposições Gerais o que representaria cerca de mil emendas à Cons- chegou às mãos - com relação aos Municípios,
e das Transitórias, o anteprojeto, em si, tem um tituição americana. E seria impossível imaginar na minha opinião, o tratamento concedido deve
número de artigos menor do que o chamado que um pais da dimensão dos Estados Unidos, ser melhorado, porque, além dos outros tributos
Projeto Afonso Arinos. com os problemas que têm, com sua posição de natureza federal e estadual, como no nosso
Alguém me informou que a média ficou em no mundo, pudesse, hoje, fazer uma Constituição caso foi previsto, apenas dois tributos, sobre pro-
tornou de 20 artigos, multiplicados por 24 Subco- nos termos da que existe. Vamos ter de caminhar priedade predial e territorial urbana e vendas a
missões, vamos ter uma Constituição com cerca para um meio termo entre uma Constituição su- varejo de mercadoria, foram destinados aos Muni-
de 480 artigos. Ponderei ao colega, com quem cinta e urna extensa demais. Portanto, certos deta- cípios, especificamente. Era preciso, portanto,
conversava sobre o assunto, que a metodologia lhamentos serão inevitáveis, necessários e indis- que avançássemos nesse sentido, inclusive para
adotada para elaborar esta Constituição é comple- pensáveis ao texto constitucional. provocar esse encontro de idéias e uma compo-
:amente diferente da que tivemos antes no País, Como Relator, até o momento de emitir meu sição que atenda, mais adiante, aos interesses'lll
do que se fez no exterior, segundo conheço. Esta- parecer, procurei ouvir mais do que falar nesta dos Municípios brasileiros.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 13

o SR. PRESIDENTE (LuIZ Alberto Rodrigues) temos, também fixado pelo Regimento, o prazo de que, mesmo estando adiantados, se obede-
- A Presidência vai permitir-se um comentário de dois dias para a publicação dos avulsos e, cesse ao cronograma inicial.
a respeito dessa parte, para lembrar ao Relator, a partir daí, cinco dias para a apresentação de
O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Temos
Constituinte Aloysio Chaves, que, se retirarmos emendas e para os debates internos a respeito
de obedecer ao Regimento e não a um crono-
ainda do relatório global os artigos referentes ao do assunto. Valedizer:do dia 14 ao dia 19, temos
grama, a uma indicação de datas feita na secre-
sistema tributário, teremos já um número de arti- o período próprio para o recebimento oficial das
taria. O Regimento é expresso e diz que o prazo
gos bem menor, o que garante aquela neces- emendas na Subcomissão.
de cinco dias será contado a partir da publicação
sidade de se fazer uma Constituição, na medida O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Sr. Presi-
do possível, enxuta. dos avulsos. O nobre colega ficará com mais tem-
dente, para facilitarum entendimento a esse res- po, cumprida nossa etapa aqui, para reservar sua
A Presidência convocou esta reunião para a peito, o fundamental é que a Subcomissão tem atenção às outras Subcomissões e nós todos tam-
apresentação preliminar do relatório do Relator, um prazo de cinco dias para discutir e apresentar bém.
o que já foi feito, estando, portanto, cumprida emendas. Dizo § 1° do art. 17:
a finalidade da reunião. A Presidência indaga dos O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr.
Srs. Constituintes se desejam fazeralgum comen- "O anteprojeto será distribuído, em avul- Presidente, parece que o Relator Aloysio Chaves
tário de natureza preliminar. sos, aos demais membros da subcomissão tem razão.
Tem a palavra o Constituinte José Dutra. para, no prazo dos 5 (cinco) dias seguintes,
destinados à discussão, receber emendas." O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
O SR CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr. - Exatamente. A Presidência está fazendo uma
Presidente, Srs. Constituintes, gostaria, em prímer- Como apresentei esse anteprojeto rigorosa- leitura do Regimento Interno e percebe que o
ro lugar, de enfatizar o cuidado e o sentido de mente dentro do prazo, e tendo sido o primeiro § 1° do art. 17 diz:
organização que o eminente Constituinte Aloysio a apresentá-lo, foi o primeiro avulso a ser publi-
cado. Por conseguinte, o avulso existe, está distri- "O anteprojeto será distribuído, em avul-
Chaves fezevidenciar na elaboração do seu relató-
buído aos colegas e já foi publicado pela impren- sos, aos demais membros da Subcomissão
rio e do anteprojeto. Faço esta colocação porque
sa. para, no prazo dos 5 (cinco) dias seguintes,
estou interessado não apenas nos trabalhos vin-
destinados à sua discussão, receber emen-
culados à nossa Subcomissão, mas também em O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) das."
todos os problemas que estão sendo discutidos - A publicação foi feita hoje, já existe o avulso.
nas 23 outras Subcomissões. Já tive a oportu- Então, a partir de hoje começa a correr o prazo
nidade de receber o relatório de quatro Subco- O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - O prazo para apresentação de emendas, e reitero aos
missões, juntamente com os respectIvos antepro- de cinco dias já está correndo, porque o avulso Constituintes que essas emendas devem ser apre-
jetos, e verifiquei que há enorme diferença entre já foi distribuído.A Secretaria vai distribuí-loalém sentadas no formulárío próprio elaborado pelo
aqueles e o trabalho elaborado pelo eminente de uma cópia que tive o cuidado de fornecer Prodasen, para que no segundo relatório a ser
Constitumte AloysioChaves. As colocações feitas a cada membro da Comissão, que valeria como apresentado, o relatório final, elas constem do
pelo Relator não só permitem e facilita o debate um avulso. Então, desejo ponderar, para facilitar anexo própno.
no âmbito desta Subcomissão, mas, acima de nossos trabalhos, que esse prazo para apresen-
tação de emendas de cinco dias seria: 12, 13, O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr.
tudo, pelos anexos aduzidos ao trabalho, que nós
14, 15,16. Em seguida, o Relator irá debruçar-se Presidente, ainda sobre este assunto, gostaria ape-
Constituintes, tenhamos uma visão panorâmica,
sobre essa matéria. Com isso, a Subcomissão nas de discordar um pouquinho do Constituinte
global, de todas as idéias canalizadas para esta Aloysio Chaves a respeito do início da contagem.
Comissão, e daí possamos extrair lições capazes avança um pouco na execução do seu trabalho.
Parece-me que S. Ex' referiu-se aos dias 12, 13,
até de viabilizar a apresentação de emendas, no 14, 15, 16. Deveríamos seguir a sistemática pro-
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
momento próprio. cessual, excluindo o dia do início e incluindo o
- A Presidência recebe as ponderações do Rela-
Mas faria, meu caro Relator, uma obervação tor e informa ao Plenário que está passando as dia do fim.
de natureza absolutamente preliminar, porque informações do cronograma oficial, transmitido
não encontrei, no anteprojeto, qualquer norma O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - V. Ex'
à Subcomissão pela Presidência da Assembléia pode aplicar esse processo. Exclui o dia a quo
relativa à fixação dos subsídios dos vereadores. Nacional Constituinte. Na verdade, estamos
e inclui o dia ad quem; é um cntério que tem
O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Está no adiantados dois dias em nossos trabalhos, em abrigo no Código de Processo Civil, embora os
art. 2°, parágrafo 1°, nobre Constitumte, função de termos recebido o relatório no prazo
prazos em matéria de subcomissão contem do
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Per- próprio e de ter sido ele o primeiro avulso publi-
início. Mas pode ser, não há objeção.
dão, está tão próximo que não enxerguei. Real- cado No entanto, a informação que a Presidência
transmite ao Plenário se refere ao cronograma O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Então,
mente, o relatório e o parecer demonstram cuida-
de prazos encaminhado pelo Presidente da As- sena 13, 14, 15, 16, 17.
do, paciência e um latente sentimento de organi-
zação, que permitem um estudo mais acurado sembléia Nacional Constituinte. Sr. Presidente, são essas colocações prelimi-
a respeito da matéria. Em vários pontos, permi- nares que gostaria de fazer. Ainda voltando ao
O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Esse cro- art. 8°, a fixação do subsídio dos Prefeitos e Vice-
to-me discordar do eminente Relator, e a eles, nograma, Sr. Presidente, enviado há uns dias, era
obviamente, vou apresentar emendas, para o de- Prefeitos será proposta ao fim de cada legislatura.
uma previsão que está sendo reajustada à realida- Na prática, de quatro em quatro anos. Seria este
bate dos demais colegas integrantes desta Subco- de. O prazo começa a fluirda publicação do avul-
missão, na tentativa de fazer valer aquilo que me o entendimento?
so. Como já foifeita a publicação do avulso, supo-
parece o mais acertado, o mais correto. Mas ficam nho que o prazo de cinco dias correria a partir O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - É de qua-
aqui, para serem registradas, minhas parabeni- de hoje. tro em quatro anos, como está na Constituição
zações ao ConstituinteAloysioChaves, pelo traba- em relação a Deputado, Senador e para o Estado,
lho realizado. Gostaria também de fazer uma per- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) mas há o problema da inflação. Teriamos que
gunta ao Presidente, diante da mformação há pou- - Temos, portanto, cinco dias a partir de hoje. seguir a tradição, a norma, o critério.Os subsídios
co colocada, a respeito das emendas. Elas podem são fixados de uma legislatura para a seguinte,
ser oferecidas imediatamente, ou só a partir da O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr. na suposição de que o legislador não deve legislar
próxima segunda-feira? Presidente, tenho uma observação a fazer. De
em causa própria, mas é uma suposição há muito
acordo com o Regimento Interno, o Constituinte
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) desmentida pelos fatos e pela realidade parlamen-
só pode fazer parte como membro efetivode uma
- A Presidência recebe as emendas a partir de tar. Mas tenho que seguir a boa norma, a boa
Comissão e de outra como suplente. Em função tradição.
agora, mas o prazo estabelecido pelo Regimento disso, estamos numa verdadeira correria dentro
da Assembléia Nacional Constituinte, para o rece- desta Casa, tentando, na medida do possível, O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr.
j- bimento oficial dessas emendas, é a partir do dia acompanhar o que está sendo elaborado pelas Presidente, era o que tinha a colocar, aduzmdo
14. Apresentado o relatório - como, aliás, foi outras Subcomissões. Refiro-me a este assunto ainda obviamente, o relevante trabalho que o Pre-
feito - no prazo estabelecido pelo Regimento, para tentar ajustar um ponto de vista no sentido sidente realizou. Esse relatório foi possível em ra-
14 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

zão das medidas tomadas pela Presidência e tam- Essa é a pnrneíra obervação. Fica essa sugestão para o Relator apreciar.
bém graças ao apoio recebido do corpo de funcio- A outra refere-se o art 3°, que diz: O art. 3° diz:
nários da Casa, todos muito dedicados, e que "Cada região terá um Conselho Regional, "O Município com população superior a
contribuíram de forma decisiva para que pudés- composto por representantes dos Estados abran- três milhões de habitantes poderá instituir
semos estar à frente das outras Subcomissões. gidos e, em igual número, da União, todos esco- Tribunal de Contas municipal."
O SR. RELATOR (AloysioChaves) - Sr. Presi- lhidos na forma prevista em lei complementar Fica, então, essa idéia com relação às associa-
dente, recebi toda a colaboração desta Subco- nacional ..." ções municipais. É necessário valorizar o Muni-
missão e este trabalho só pôde ser apresentado Tudo mais ou menos dentro daquele espírito cípio, levar o povo a confiar mais nos eclis e nos
no prazo, mesmo com a experiência e tirocínio de regionalIsmo sugerido. Também apresentei Prefeitos, a fim de estimulá-los, porque eles, la-
que pudéssemos ter, em virtude dos processos proposta que difere um pouco, mas vamos deba- mentavelmente, são tratados com pouco respeito.
adotados pelo Prodasen, o que nos permite uma ter e verificar qual será a melhor maneira de redigir Sr. Relator apresentarei a emenda, para ser ana-
velocidade muito grande. Se fôssemos escrevê-lo, esse artigo. lisada e apreciada pelo Plenário.
datilografá-lo, elaborar quadros, gastaríamos um Era o que tinha a apresentar sobre o relatório,
tempo imenso. Como registro no meu relatório, O art. 7° diz: que considero muito bom.
renovo agradecimento a todos, particularmente O trabalho desta Subcomissão, que, como dis-
"O número de Vereadores da Câmara Mu-
ao Prodasen, que tem um corpo técnico exce- se V. Ex', foi o primeiro a ser publicado, nos Anais
nicipal será variável, conforme se dispuser
lente, altamente qualificado e capaz, e aos funcio- da Assembléia Nacional Constituinte, é resultado
na Constituição do Estado, respeitadas as
nários desta Subcomissão que foram incansáveis do esforço do Presidente, de V. Ex' e de todos
condições locais, proporcionalmente ao elei-
na seleção, catalogação e classificação das emen- os seus participantes.
torado do Município, não podendo exceder
das. Trabalhando ininterruptamente, inclusive do-
a vinte e um Vereadores nos Municípios de O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
mingo até o fim da tarde, a segunda-feira pela
manhã, foi possível completar o trabalho, mas até um milhão de habitantes e de trinta e - Concedo a palavra ao Constituinte AloysioCha-
graças realmente a esse extraordinário corpo de três nos demais casos. ves, que fará algumas considerações a respeito
§ 1c Compete ao Estado, mediante lei das palavras do Constituinte Lavoisier Maia.
servidores da Câmara e do Senado, representado
complementar, estabelecer normas gerais
pelo Prodasen. O SR. CONSTITUINTEALOYSIO CHAVES -
para fixação da remuneração dos Vereado-
Sr. Presidente, em primeiro lugar, desejo agra-
res."
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) decer as referências elogiosas que fez a esse tra-
- Concedo a palavra ao Constituinte Lavoisier Entendo que - permita-me o nobre Relator balho o Constituinte Lavoisier Maia, ex-governa-
Maia. - para valorização do vereador e fortalecimento dor do Rio Grande do Norte e um dos mais bri-
do Município, a fixação dos subsídios dos verea- lhantes e eficientes homens que ocupou esse car-
O SR. CONSTITUINTE LAVOISIER MAIA - Sr. dores seja feita como se faz no Congresso Nacio- go - posso dar esse depoimento, porque acom-
Presidente, Sr. Relator, escolhi bem quando mani- nal, mas que infelizmente na legislatura passada panhei a sua administração - que honra esta
festei minha preferência por esta Subcomissão não ocorreu - o que foi um erro - isto é, deve Subcomissão pelo prestigio não só político, mas
dos Municípios e Regiões, porque declarei na sua ser feita pelos próprios vereadores para a legisla- também intelectual que empresta a todas suas
primeira sessão que me considerava municipa- tura seguinte. iniciativas.
lista e defensor da região nordestina. Agora estou Essa é uma observação que faço, visando à Realmente, essa disposição geral abriga o prin-
vendo o resultado do trabalho, sério e responsável, valorização dos vereadores. Entendo - repito - cípio nuclear de todo o trabalho, a autonomia
que estamos realizando nesta Subcomissão e me que eles devem ter competência para fixar seus municipal. Por isso, tivemos de repetir isso com
orgulho de vê-los conduzidos com muita respon- vencimentos para a legislatura seguinte. Dessa maior destaque, de forma preambular, pois essa
sabilidade e seriedade pelo seu Presidente. forma, eles não estarão legislando em causa pró- é a pedra de toque. Dai derivam todas as outras
Desejo reportar-me um pouco ao relatório do pria. Considero pertinente fazer essa observação colocações feitas ao longo deste trabalho, quer
Constituinte AloysioChaves. Na verdade, só posso neste instante. no que conceme à autonomia, quer com relação
fazer elogios: desde a sua apresentação o Relator Em relação à imunidade e à mvíolabilidade do a tributos etc.
está recebendo parabéns de minha parte, e, creio, vereador, também, coincidentemente, foi aprovei- Quanto ao problema dos subsídios dos verea-
de todos os colegas. Li o relatório, que será objeto tada por V. Ex' a proposta que apresentei à Secre- dores, que tem sido muito debatido, não preciso
de muita discussão. Na verdade, aqui e acolá, taria da Subcomissão. Lamentavelmente, houve estender-me. Havia muitas propostas, desde a su-
em algum artigo, democraticamente, temde haver um engano, que será corrigido, no Anexo 1 desse gestão de uma lei complementar federal, que VÍ-
divergência; no final, haveremos de fazer os ajus- relatório, porque não foi publicado. nhamos adotando, até a fixação desses subsídios
tamentos para melhorá-lo cada vez mais, apesar O art. 18, § 1°, diz: pela Câmara de Vereadores. Nessa parte, iniciei-
de já estar muito bom. Isso é fruto da experiência me por uma solução intermediária: deixar para
"O controle externo da Câmara Municipal
e da inteligência do professor e Constituinte Aloy- a lei estadual a fixação, que levará em conta essas
será exercido com auxílio do Tribunal de peculiaridades e graduará essa fixação de acordo
sio Chaves.
Contas do Estado ou de outro órgão estadual
Sr. Presidente, Sr. Relator, nas Disposições Ge- com a região geoeconômica, o nivel de desenvol-
a que for atribuída essa competência"
rais, vi que o art. 1c diz: vimento de cada Município, a sua capacidade fi-
Apresentei a esta Subcomissão proposta crian- nanceira e outros requisitos que devem ser consí-
"ARepública Federativa do Brasil é consti-
do Tribunais de Contas municipais, a qual, eviden- derados.
tuída pela associação indissolúvel da União
temente, é passível de ajustamentos. Na verdade, Neste trabalho, os nobres Colegas devem ter
Federal, dos Estados, do Distrito Federal e
um pequeno Município do interior do Brasil não percebido que usei uma terminologia que espero
dos Municípios..."
tem condições de criar o seu Tribunal de Contas, seja consagrada no texto constitucional. Falo em
Quer dizer, valoriza-se o município. Ao ler esse mas poderíamos fazê-lo a exemplo das associa- lei complementar nacional, porque entendo que
artigo senti realmente que a autonomia e valori- ções municipais, que estão dando certo em todos essa matéria deve ser tratada, a nível estadual,
zação dos municípios deveriam ser defendidas os Estados. Conforme vimos em painel aqui reali- em lei complementar estadual. Então, para distin-
por todos nós. Senti-me feliztambém por, coinci- zado com a representação de Minas Gerais, aque- guir a lei complementar estadual da federal, usei
dentemente, ser proposta que apresentei no pri- le Estado, como o Rio Grande do Norte, é dividido a expressão: lei complementar nacional. É uma
meiro dia, no primeiro painel aqui realizado. Ago- em associações, que vêm dando amplos resul- maneira de resguardarmos certos institutos e cer-
ra, quero fazer algumas observações - o Relator tados. tas garantias que ficarão, agora, sob a tutela da
e o Presidente já fizeram algumas - para corrigir Gostaria também de sugerir - isso poderá Constituição do Estado. Estamos ampliando a
falhas ocorridas na publicação do anexo em que constituir uma emenda - que os Municípios pe- autonomia do Município e fortalecendo o Estado,
constam as propostas, pois a que apresentei à quenos se associem para criar o seu Tribunal transferindo para ele uma série de atribuições. <
Secretaria desta Subcomissão não está incluída de Contas, obedecido esse critério, o que também Para não deixá-Ias na lei ordinária, que estã sujeita
no relatório. viria a valorizar o Município. à decisão de uma maioria eventual, nós nos incli-
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 15

namos por essa recomendação que está no rela- no Projeto Afonso Arinos- se não estou equivo- mentos da Câmara dos Deputados e do Senado
tório, ou seja, uma lei complementar estadual, cado - uma disposição que permite o ajuiza- Federal. O substitutivo tem preferência. Votamos
que será votada pela maioria absoluta da Assem- mento de ação judicial contra a Câmara de Verea- o substitutivo, ressalvadas as emendas para as
bléia Legislativa. dores para coibir abusos que porventura possa quais tenha sido solicitado destaque. Em seguida,
No que concerne aos Conselhos de Contas, praticar ao fixar ou alterar esses subsídios. Então, votaremos os destaques de cada uma das emen-
em primeiro lugar temos uma experiência,no Bra- procurei sempre uma solução ponderada, de das. Encerrada esta fase, o substitutivo, na forma
sil, de Conselhos de Contas dos Municípios, que equIlíbrioe factivel, sobretudo. do anteprojeto, está em condições de ser reme-
são em número de seis, sendo um no Acre e Eram essas as explicações que queria prestar tido à comissão temática.
outro no meu Estado - Pará - instalado há em homenagem ao eminente Constituinte Lavei-
alguns anos. O Acre, supreendentemente, ainda sier Maia,cujos trabalhos aproveitamos, em gran- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
não tem o Tribunal de Contas do Estado, e o de parte, como os de muitos outros colegas. O - Concedo a palavra ao nobre Constituinte Mello
Conselho de Contas dos Municípioscontrola essa Constituinte José Dutra apresentou um longo tra- Reis.
parte. Há Estados onde já foi aprovada legislação balho. Suas idéias permearam também o substi-
O SR. CONSTITUINTE MELLO REIS-Sr. Pre-
autorizando a instituição do Conselho de Contas tutivo e estão aqui consubstanciadas de forma
sidente, Srs. Constituintes, quero cumprimentar
Municipal, mas ainda não foi concretizada essa sistemática. Esse trabalho foi deduzido partindo
o nobre Relator, Constituinte Aloysio Chaves, pelo
providência. Minas Gerais, se não me engano, das disposições gerais para as áreas de desenvol-
magnífico trabalho que realizou juntamente com
está nessa condição. Há uma autorização legis- vimento econômico, depois para o município e
sua equipe. Pude constatar, perante outras subco-
lativa para a criação dos Conselhos de Contas, descendo nessa esfera até as áreas metropoli-
missões, que esse talvezseja o trabalho mais bem
que ainda não foram instituídas nesse Estado. tanas. Era preciso sistematizar essa matéria e or-
feito entre todos aqueles de que tomei conhe-
Não estou me debruçando sobre o fato concreto. dená-Ia de forma consciente, para que o antepro-
cimento.
Em certos Estados não sei se deviamos fortalecer jeto que sai desta subcomissão para a comissão
Tenho algumas Idéias e pretendo apresentá-las
os Tribunais de Contas, que já têm um corpo temática tenham também essa organicidade, ine-
nesse período que nos é destinado, como tam-
técnico de funcionários, de auditores, de instala- rente a todo texto constitucional.
bém algumas observações que pude fazer, como,
ções próprias e dividi-los, pela ampliação do nú- Eram as explicações que desejava dar a V.Ex"
por exemplo, no tocante ao subsídio do prefeito,
mero de Conselheiros, em duas câmaras: uma, disciplinado no art. 8° do anteprojeto. Com a infla-
para tratar das contas municipais; e, outra, pro- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
-Concedo a palavra ao nobre Constituinte Arnal- ção vigente em nosso País, o prefeito, depois de
priamente das contas do Estado. Agora, multi- um, dois, três anos, passa a ter uma remuneração
do Martins.
plicar esses Conselhos Municipais seria uma ex- inexpressiva.Então, acho que deveríamos ter um
periência que me pareceria arrojada, sobretudo O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS mecanismo de atualização, inicialmente pensei
levando em conta que até o presente momento - Gostaria de saber do Sr. Presidente e do Sr. em dar ao art. 8' a seguinte redação.
a idéia não se generalizou no País. E há Estados Relator como será a metodologia de trabalho des-
onde já existe autonzação legislativa, mas não sa segunda fase? Na primeira fase, por exemplo, "Os subsídios do prefeito e do vice-prefeíto
foi implantado o Conselho de Contas, natural- os constituintes ofereceram sugestões, e o Rela- serão fixados anualmente pela Câmara Muni-
mente por causa dessas dificuldades óbvias, des- tor, depois de examiná-las, apresentou um ante- cipal para vigorarem no ano subseqüente."
ses inconvenientes que estou ressaltando. projeto à subcomissão. Gostaria de saber se nessa Mastambém considero essa proposta extrema-
Entre as sugestões recebidas, encontrei algu- segunda fase discutiremos as emendas apresen- mente arriscada, porque ela poderia gerar nego-
mas propondo que só se permitIsse a instituição tadas antes de o Relator concluir por um novo ciações pouco recomendáveis anualmente. Tal-
de conselho ou tribunais de contas em municípios anteprojeto? Era a pergunta que pretendia fazer. vez fosse mais interessante acrescentarmos um
com mais de 5 milhões de habitantes. Encontrei O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) mecanismo que permitisse o reajuste dos subsí-
propostas exigindo 12 milhões de habitantes e - A Presidência fará distribuir a cada um dos dios do prefeito nos anos subseqüentes, A Câma-
outras 150 mil habitantes, se não estou equivo- Senhores constituintes documento que dispõe ra da legislatura anterior fixaria os subsídios do
cado. Inclinei-me por uma fórmula intermediária sobre a metodologia ou organização dos traba- prefeito,e já haveria previsão de um tipo de reajus-
para 3 milhões - para o Conselho Municipalde lhos que se processarão a partir de amanhã, quan- tamento que pudesse acontecer, um referencial
Contas, uma vez que há, no Estado, um Tribunal do, na verdade, teremos a abertura do prazo para qualquer que servisse para atualizar anualmente
de Contas do Estado, que, tradicionalmente, se as discussões e votações oficiais nesta fase de os subsídios do prefeito. É a primeira observação.
incumbe da fiscalizaçãovia controle externo. Esta apresentação de emendas ao relatório inicial. Este Exatamente pela preocupação em dar ao Muni-
seria a razão: avançar, à semelhança do que acon- documento trata especificamente desse assunto cípio algumas atribuições que julgamos impres-
tece nesse associativismo municipal, para a cna- APresidência já pediu que fosse reproduzido, para cindíveise pela experiência que tivecomo Prefeito,
ção de conselhos regionais de contas. Parece-me que cada um dos Srs. Constituintes possa ter co- acho que a área de trânsito, tráfego e sinalização
uma etapa que poderá ser alcançada no futuro, nhecimento da metodologia dos trabalhos. é específica do Mumcípio, e existe um permanente
não sei se remoto ou mais próximo, mas que, atrito entre o Município, que tem o poder de regu-
como relator, temos de fazer uma Constituição o SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Sr. Presi- lar tráfego, sinalização,trânsito etc., e aqueles que
para o Brasil real. Tenho a experiência de ter pas- dente, desejava aduzir ao eminente Constituinte
Arnaldo Martins que, de certa maneira, a metodo- exercem o poder de polícia atualmente. Então
sado pelos três Poderes da República. Fui magis- eu sugeriria para o art 9', § 6', o seguinte texto,
trado, presidente de tribunal; reitor, governador logia está definida no Regimento, isto é, a partir
que vou apresentar depois de mais trabalhado:
de Estado - desculpem-me esta enumeração de amanhã, durante cinco dias, discutiremos, co-
mo estamos fazendo neste momento, a matéria "Exercer o poder de polícia de trânsito nas
-, depois passei 8 anos no Senado Federal e, vias públicas municipais, podendo, se do in-
agora, com muita honra, estou na Câmara dos no sentido de trocar opiniões e fazer colocações,
para que o Relator afira a média ou a tendência teresse do Município,conveniar com o Esta-
Deputados Tenho uma visão global, quase calei- do para a execusão dessa atividade."
doscópia desses problemas e da realidade brasi- da subcomissão e, também, simultaneamente, os
leira. Temos de fazer uma Constituição real para constituintes poderão apresentar emendas. Con- O Municípioteria responsabilidade não só pela
o Brasil uma Constituição, que seja, o quanto cluído este prazo de cinco dias, como Relator, regulamentação do trãnsito a nívellocal,mas tam-
possível, duradoura e que responda aos proble- tenho o prazo de 72 horas para emitir parecer bém pelo poder de polícia, que poderia transferir
mas brasileiros e aos anseios da nossa população. sobre as emendas e apresentar um novo substi- ao Estado, caso não estivesse aparelhado para
Os nossos prefeitos são dedicados, competentes; tutivo, se for o caso, nos termos desse, inclusive isso. No caso, um pequeno município de 5 ou
os nossos vereadores também o são. Mas isso justificando, uma por uma, a aprovação ou rejei- 10 mil habitantes conveniaria com o Estado, e
não significa que se deva, por inconseqúência, ção das emendas apresentadas. Quando este este manteria a Polícia Militar ou a Polícia Civil
transferir todos os encargos e atribuições de qual- substitutivo, depois de impresso, chegar à subco- da melhor forma que achasse para policiar o trân-
quer natureza sem um limite ou um controle. En- missão for distribuído, será votado. O processo sito. No § 7' constaria:"Legislar supletivamente
> contrei muitas sugestões, por exemplo, no sentido de votação é o mesmo adotado pelo Regimento sobre tráfego sinalização e trãnstto nas vias públi-
do controle da remuneração dos vereadores. Há da Assembléia Nacional Constituinte e pelos Regi- cas municipais..."isto é, esse poder não se esten-
16 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAaONAL CONSmOlNTE (Suplemento) Julho de 1987

deria às rodovias estaduais e federais - .....Obe- suas reservas, a sua economia, e afetando profun- tões que eu recebi estava corporificada nessa re-
decendo à legislação federal pertinete". damente a sua ordem social. Tenho um caso dação, mas poderemos, evidentemente, aperfei-
No Capítulo lll, dos Municípios, na Seção li, até pessoal que vai ilustrar essa sua colocação. çoá-la.
art. lI, eu suprimiria o item 11I: "não tiver sido Governador eleito do Pará, fui procurado pela una- O nobre colega também propõe que isso seja
aplicado o mínimo exigido da rceita municipal nimidade da Assembléia Legislativa, que, por gen- feito no que conceme ao trânsito, ao tráfego e
na manutenção e desenvolvimento do ensino."É tileza,me submetia o texto do projeto de resolução à sinalização, mediante convênio com o Estado.
o caso de intervenção no Município. Acho que que fixavaos subsídios dos deputados, do gover- Ora, além da norma geral que já havia antes,
o Município deve ter liberdade total para a aplica- nador e do vice-governador. Diziamais ou menos na parte triangular, com relação à União, aos Esta-
ção dos recursos que receber em repasse. Sou assim: art. 1°- Os Subsídios, parte fixa e variável, dos e municípios para poder celebrar acordos
contra a discriminação de percentuais para aplica- dos Deputados ficam estabelecidos em tal... Art. e convênios, especificamente, o § 3° desse artigo
ção de recursos pelo Município. Foi citado aqui 2° - Os do Governador e do Vice-Governador já estabelece, como complemento dessa norma.
recentemente o caso de um Município que rece- etc. E o art. 3°determinava que eles fossem reajus- "Os municípios poderão prestar outros
bia verba do Fundo Rodoviário e não tinha rodo- tados anualmente na mesma base do aumento serviços e desempenhar outras atividades,
vias. O Município que é obrigado a aplicar verbas que viesse a ser concedido ao funcionalismo pú- mediante delegação de Estado ou da União,
em construção de escolas e no desenvolvimento blico. Era uma delegação unânime, representan- sempre que forem a eles atribuídos os recur-
da educação já está com um atendimento super- do todos os partidos. Eu, por iniciativa minha, sos necessários,"
completo. Eu suprimiria também no Capítulo lll, apanhei a caneta e cortei governador e vice-go-
Seção 11I, O § 7° do art.14: "Lei complementar vemador. Indagaram-me sobre a razão daquela Então, é o caso inclusive desses convênios a
estadual fixará as alíquotas máximas, dos impos- atitude, uma vez que, já àquela época, Câmara que se referiu o nobre constituinte na sua su-
tos municipais. "Eu também me pergunto se seria e Senado faziam reajustamentos ao longo da Le- gestão.
justo caber ao Estado a prerrogativa de fixar as gislatura e, no meio do mandato do Presidente Quanto à parte de vinculação, eu respeitei, em
alíquotas máximas dos impostos municipais. É Geisel, haveria um aumento de 20%. Eu insisti primeiro lugar, a norma constitucional que resul-
um problema muito local. no cumprimento da norma constitucional, dizen- tou da histórica - não direi discutida - Emenda
Depois, também no capítulo lll, o § 1° do art. do que eles poderiam propor aquela medida, por- João Calmon, para a qual eu muito concorri, in-
18, estabelece: "O controle externo da Câmara que não estavam legislando em causa própria clusive como líder da Maioria e do Governo na-
Municipalserá exercido com o auxiliodo Tribunal - o reajustamento automático do funcionalismo quela época, pois assegurava o quOl1lm e a apro-
de Contas dos Municípios com jurisdição na público, atingindo os parlamentares -, uma vez vação dessa providência. Eu tenho também restri-
área," Entendi as ponderações do ilustre Relator que não tinham a iniciativa da Lei em matéria ções às vinculações. Sei que elas acabam surgin-
relativamente aos Tribunais de Contas. Acho que financeira, mas, como governador do Estado, to- do, aparecendo. Constato que, por exemplo, no
talvez pudéssemos aproveitar a estrutura dos Tri- da vez que eu propusesse uma medida daquela Projeto Afonso Arinos, faz-se vinculação, inclusive
bunais de Contas e ampliá-los. Não sou defensor natureza, eu estaria legislando em causa própria de 6% se não estou equivocado - para a Saúde,
intransigente da criação dos Tribunais de Contas e aumentando os meus próprios subsídios. Dese- quando se refere ao Município e não só para a
municipais, mas acho que a atual estrutura é ex- java, então, cumprira norma constitucional e, por Educação. O risco, porém, é de que, de vincu-
tremamente lenta. No caso do Estado de Minas isso, eu riscava. E, realmente, comecei Gover- lação em vinculação, o Município, o Prefeito, a
Gerais, por exemplo, temos contas de 10, 15 anos nador do Pará ganhando vinte mil cruzeiros e Câmara Municipal,efím, acabem totalmente tolhi-
atrás que estão sendo examinadas. Existem casos terminei Governador do Pará, quatro anos depois, dos na impossibilidade de fazer um planejamento
de o Prefeito, cujas contas estão sendo exami- ganhando vinte mil cruzeiros, entre parte fixa e adequado e uma aplicação correta dos recursos
nadas, já ser, ele próprio, conselheiro do Tribunal variável. Quando eu comecei o Governo, um de- quando o planejamento não deve ser apenas alo-
de Contas. Eu tinha uma idéia no sentido de cen- sembargador gnahava sete mil e quinhentos cru- cativo, mas sobretudo inovador, criativo, que te-
tralizar os Tribunais. Dispõe o art. 8°, § 3°: zeiros; quando terminei, o desembargador ganha- nha a sua origem, lance as suas raizes, a sua
va quarenta e oito mil cruzeiros e eu ganhava inspiração no Município,onde surgem os proble-
"O Estado manterá Tribunais de Contas vinte. O Secretário do Estado ganhava mais do
municipais ou simplesmente Tribunais de mas, na sua primeira base, em seu primeiro pata-
que o Govemador, os Deputados mais do que mar, na sua primeira instância. Eu tenho real-
Contas: a) um Tribunal nas áreas metropo-
o Governador, assim como também um Coronel mente reservas a esse respeito, mas reconheço
litanas com população superior a 3 milhões da Polícia Militar ou o juiz da Capital, porque eu
de habitantes; b) um Tribunal para aglome- que o que está nas raízes de todos os problemas
pude reformar e reestruturar tudo isso. Aparente- do povo brasileiro é a questão educacional, refle-
rado de Municípios, definido por lei estadual, mente, era injusto, mas eu dizia a todos que os
que tenha uma população superior a 3 mi- tindo-se na Saúde, no desenvolvimento do Pais,
meus subsídíos não tinham nada ver com a remu- enfim, em todas as áreas. Enquanto não investir-
lhões de habitantes; c) os Estados com po- neração do funcionalismo público. Hoje, esse
pulação inferior a 3 milhões de habitantes mos maciçamente no setor educacional, como
exemplo está aí mais do que comprovado e de- fizeram outros países que hoje alcançaram um
manterão um único Tribunal, só podendo
monstrado pela inflação incontrolável e galopante alto nível de desenvolvimento - e o modelo mais
criar outro para cada 3 milhões de habitantes
que aí está. É difícil também avançarmos para ostensino é o Japão - nunca conseguiremos
que acrescer futuramente," um reajustamento automático sem um controle romper grilhões do subdesenvolvimento ou de
São apenas algumas idéias. Quero agradecer como o que o nosso eminente colega chegou um desenvolvimento limitado que ainda nos pren-
ao Sr. Presidente e aproveitar o tempo que nos a sugerir e, sem dúvida, vai concretizar na sua dem num estágio que muito depõe contra o nosso
foi destinado para apresentar essas emendas, es- proposta de emenda. País. Eu acho que esse problema está na raiz,
sas sugestões, a título de colaboração. Muitoobri- Com relação às atribuições do município, os está na base; então, não tomei a iniciativade anu-
gado. membros da subcomissão devem ter verificado lar isso, de dispor de maneira contrária.
que nós escalonamos desde a competência ex- Eu teria um outro exemplo para citar ao ilustres
O SR. PRESIDENTE (LuizAlberto Rodrigues) clusiva até a competência, digamos, complemen- colegas, cheguei a redigir e a incluir no texto do
- Com a palavra o Sr. Relator para fazer as consi- anteprojeto com relação à microempresa só uma
tar e competência supletiva, onde está justamente
derações que julgar necessárias. tributação a nível de Município, excluindo qual-
legislar sobre tráfego e trânsito nas vias públicas.
O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Meu caro E, agora, inclusive, sugere-se que seja acrescen- quer tributação quanto à produção e à comercia-
e ilustre colega, Constituinte MelloReis, sua expe- tada a palavra ou o vocábulo municipais, para lização a nível estadual e federal, mas, depois,
riência como prefeito, como legislador, como ho- que não haja interferência sobre as rodovias esta- recuei dessa iniciativa.Verifico, hoje, na imprensa
mem público, naturalmente dá uma autoridade duais e federais. Trata-se de matéria, como o pró- - e eu tenho o texto redigido com a justificação
e um prestigio muito grande às suas sugestões prio colega deixou claro, que comporta uma legis- correspondente, que extraí já da primeira prova
e recomendações. Com relação aos subsídios, lação federal e estadual; portanto, a competência desse trabalho - que essa é uma tendência. Mas
esta é realmente matéria que cada um de nós legislativa do município só poderia ser supletiva. a mim ocorreu que a melhor opção seria - estou
deve avaliar. Reconheço que a inflação realmente Nessa expressão "tráfego e trânsito nas vias públi- dando um exemplo a Jatteri das suas conside- J
é um cancro que está corroendo este Pais, as cas", eu creio que a idéia subjacente nas suges- rações - no momento da aprovação do Estatuto
Julho de) 987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 17

da Microempresa; microempresa que, em VIrtude te das ruas que dividem os Municípios, um só O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Sr. Presi-
da crise, da inflação, tem enfrentado as maiores tratamento. Então, esse princípio, por si só ga- dente, vou fazer uma breve consideração apenas.
dificuldades, ameaçada de concordata, senão de rante que haja uma Integração em todos os senti- Já anotei sugestão com relação ao art. 21, mas
falência, tomarmos a inciativa de deixar ao livre dos - como citamos aqui - no sentido espacial, quero dizer ao Deputado Max Rosenmann que
arbítrio das Prefeituras a fixação desse tnbuto, pa- setorial, de localização e operação. E isso terá venho ao longo de todo esse tempo pensando
ra atingir essa categoria de produtores no campo implicações muito importantes e abrangentes. e amadurecendo alguns conceitos, algumas solu-
da economia nacional, Quer dizer, há opções que Poderá inclusive influir, no futuro, na questão dos ções sobre esta maténa. E quando li a cópia da
poderíamos fazer. Eu ponderei, meditei, refleti so- valores do IPTU. Às vezes, numa região metropo- sugestão que me apresentou, ela assaltou o meu
bre elas durante esse período, e esta é a razão litana, entre um lado e outro da mesma rua há espírito como a idéia nuclear, a idéia matriz a
fundamental pela qual não quis anular esse crité- diferença muito grande no IPTU. Se Conselho ser insenda na Constituição. A Cónstituição deve
riojá estabelecido como regra, como mandamen- Metropolitano se integrar, poderemos unificar estabelecer a norma geral à qual todas as outras
to constitucional no que diz respeito à vinculação muitas coisas em beneficio dos moradores dessas guardem obediência podendo ocorrer essa série
para a área de educação. regiões. Se dois Municípios vizinhos, por uma de conseqüências administrativas que V.EX'sinte-
Em relação aos tribunais, eu creio, já aduzi aqui questão de autonomia, aplicarem o princípio de tizou com perfeição. Nada tenho a acrescentar.
considerações sobre pontos de vista respeitáveis, integração, poderá realmente haver ampliação de De sorte que incorporei ipsis verbis a proposta
e há razões de sobra para abonar a sua tese, beneficios. Sobre a questão do transporte, gosta- ao art. 20 exatamente para que ficasse expresso
mas vai ser uma opção e uma decisão da Subco- ria de dizer que em Curitiba, onde moro, temos na Constituição que as atividades da União, dos
missão. um dos melhores serviços de transportes coleti- Estados e dos Minicípios ficam - é imperativo
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) vos. Esse transporte coletivo é integrado por ôni- - subordinadas aos princípios de integração es-
- Com a palavra, o Sr. Constituinte Max Rosen- bus expressos e ônibus a1imentadores. É um siste- pacial e setorial no que diz respeito à sua locali-
mann. ma muito bom, mas não pode ser estendido a zação e operação. Está tudo aí. A lei comple-
outros Municípios, por que a atual legislação não mentar, depois, quer federal, quer estadual, tem
o SR. CONSTITUINTE MAX ROSENMANN-
permite Então, desde que esse princípio de inte- que guardar obediência a essas normas e deduzir
Inicialmente, quero agradecer a acolhida demo-
gração nas regiões metropolitanas venha a preva- todas essas consequências que mencionou.
crática que tivemos nesta Subcomissão, uma vez
lecer, sem dúvida alguma vai propiciar ao traba-
que dela não fazemos parte, seja como membro O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
lhador a vantagem de tomar somente num único
titular, seja tampouco como membro suplente, - Cumprida a finalidade da reunião e nenhum
dando-nos oportunidade de trabalhar em con- transporte coletivo, sem a necessidade de baldea-
Sr. Constituinte querendo mais fazer uso da pala-
ção e com diminuição de custos.
junto com V.Ex" Gostaria de destacar esse ponto. vra, a Presidência convoca os Srs, Constituintes
A questão da Justiça. É comum hoje numa
Da mesma forma, quero agradecer ao Sr. Relator para a uma reunião ordmáría amanhã, às 9 horas
cidade não haver Juizado de Menores, por exem-
que, todos os momentos, se dispôs a ouvir todas e 30 minutos e declara encerrada a presente ses-
plo. Então, fica lírrutada a ação da justiça Por
as pessoas que a S. Ex' se dirigiram - eu posso são
um processo de integração, poderemos ampliar
testemunhar isso, porque todas as vezes que para
a ação da Justiça. O uso do solo também deverá
aqui me dirigir sempre constatei a existência de Termo de Reunião
ser disciplinado, não se permitindo que um Muni-
um espírito público muito elevado.
Eu agradeço as colocações inicialmente feitas cípio implante um pôlo industrial ao lado de um A Subcomissão dos Municípios e Regiões dei-
nesta subcomissão no que se refere à proposta outro em cujo terntório haja uma reserva ecoló- xou de reunir-se nesta data, por falta de quorum.
a respeito de regiões metropolitanas por nós en- gica, prejudicando a qualidade da vida mentro- Compareceram os seguintes Srs. Constituintes:
politana. Nestor Duarte, Eraldo Trindade, Eliezer Moreira,
caminhada. Realmente não haveria constado do
Mas isso, Sr. Relator, acima de tudo, deve ser Aloysio Chaves e LuizAlberto Rodrigues.
relatório a citação da nossa proposta, mas já fo-
decidido pelo entendimento desseConselho, res- Sala da Subcomissão, 13 de maio de 1987.
mos informados de que o Relator bem como o
Presidente encaminharam a solicitação para que peitando as autonomias municipais, respeitando - Iná Fernandes Costa, Secretária.
o equívoco fosse reparado. Agradeço muito V. o convívio politico. Achei muito importante essas
colocações e a verdadeira melhoria que o Relator O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
Exas. porque, se não, ficaria muito difícil, no futu- - Não havendo número regimental, deixa de ser
introduziu no artigo referente às regiões metropo-
ro, caso ela viesse a ser aprovada por esta subco- realizada a reunião de hoje da Subcomissão dos
litanas. Como foi dito nesta subcomissão, nos
missão ter o testemunho da nossa contribuição Municípios e Regiões.
à Nação. Acredito que a proposta por nós apre- próximos anos a concentração da população será
tão grande nas regiões urbanas que temos, desde Solicito à Secretária que convoque os Srs.
sentada e muito bem melhorada pelo Relator terá Constituintes para a reunião ordinária de amanhã,
já de prever uma melhoria de vida para as pessoas
um sentido muito importante, porque S. Exa. às 9 horas e 30 minutos.
que nela vão habitar. Permitam-me ainda, aprovei-
manteve o espírito que acredito tenha sido predo-
tando esta oportunidade, fazer uma pequena res-
minante em todos os debates nesta Subcomissão
a respeito da autonomia municipal e da própria salva, porque talvez não possa retornar aqui assi- 15' Reunião Ordinária
duamente. No Art. 21, está definido que "as aréas
autonomia estadual. No ponto mais crucial - Aos catorze dias do mês de maio de rml nove-
que seria o da definição da criação das regiões metropolitanas serão geridas por um Conselho
Metropolitano", e eu entendo que assim deve ser. centos e oitenta e sete, às dez horas e trinta minu-
metropolitanas - o anteprojeto dispõe que lei tos, reuniu-se a Subcomissão dos Municípios e
complementar nacional, disciplinará de forma Mas eu complementaria que esse Conselho Me-
tropolitano teria um caráter dehberatívo, assesso- Regiões, na Sala 8-3 do Anexo 11 da Câmara
definitiva,a nível nacional, - quais as cidades que dos Deputados, em Brasília, DF, sob a presidência
se enquadram na categoria de metrópoles e me- rado diretamente por um órgão técnico a ele su-
bordinado. Com isso, impedir-se-á que aspectos do Sr. Constituinte Luiz Alberto Rodrigues. Com-
recem ter um tratamento especial. pareceram os seguintes Srs. Constituintes: Mauro
téCnICOS possam sobrepujar a opção política. De
Gostaria de aproveitar este momento para fazer Miranda, Aloysio Chaves, Vitor Buaiz, Mello Reis,
outra forma esses órgão técnicos que já existem
uma colocação, porque não teremos outra opor- José Dutra, Eliézer Moreira, Eraldo Trindade, Mau-
e que vão continuar existindo podem - se não
tunidade, já que estamos trabalhando mais inten- rício Fruet, Waldec Ornélas, Arnaldo Martins e
samente na Subcomissão dos Direitos dos Traba- estiverem colocados numa condição de assesso-
ramento e de subordinação - fatalmente avançar Firmo de Castro. Dando início à reunião, o Sr.
Ihadores. A questão da integração espacial, seto- Presidente declarou estar abrindo o prazo para
rial, de localização e operação levantado pelo Re- no processo político de decisão dos Prefeitos e
das lideranças dessas regiões. No mais, agradeço a a,Jresentação e discussão das emendas ao ante-
lator, permitirá a verificação de um trabalho que projeto do Relator, nos termos regimentais. ATA:
atingirá amplos setores da vida metropolitana. a V. Exas. A possibilidade de participação nos
trabalhos desta Subcomissão e de a autoria da A Ata da reunião anterior foi lida e aprovada. O
Ouvi atentamente o companheiro quando falava Sr. Presidente concedeu a palavra ao Constituinte
nossa proposta ser realmente reconhecida. Muito
a respeito da sinalização de trânsito etc. Natural- Mello Reis, que apresentou cinco emendas. Con-
obrigado pela oportunidade.
mente implantado esse princípio de integração, cedeu, a seguir, a palavra a quem quisesse discutir
ele obrigaria a integração da sinalização, para que O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) o assunto. Falaram os Srs. Constituintes Eraldo
essa cidade metrópole tivesse, independentemen- - Com a palavra o Sr. Relator Aloysio Chaves. Trindade, Arnaldo Martins e José Dutra. Nesta
18 Terça-feira 21 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTIT(JJNTE (SupiemerÍto). Julho de 1987

altura dos trabalhos, o Sr. Presidente passou a Os Srs. Constituintes que a aprovam perma- Justificação
direção dos mesmo ao Vice-Presidente José Du- neçam como se encontram. (Pausa). . O trânsito, nas vias públicas municipais, os
tra, a fim de discutir as emendas em pauta. Em Aprovada. transportes coletivos urbanos e intramunicipais
seguida, o Sr. Constituinte Arnaldo Martins apre- A Presidência vai passar, a palavra, agora, aos e a arrecadação de multas de trânsito constituem
sentou oralmente emendas que, informou, serão Srs. Constituintes, para a discussão do Relatório serviços públicos eminentemente locais, discipli-
entregues posteriormente na Secretaria. Discu- e a conseqüente apresentação de emendas. nados pela administração municipal.
tiram as emendas do Constituinte Arnaldo Martins Com a palavra o Constituinte Mello Reis, para Assim, esses serviços públicos devem ser exer-
os Srs. Constituintes Waldec Ornélas. Eliézer Mo- iniciar esta fase dos nossos trabalhos. cidos pelos Municípios. Trata-se de consagrado
reira, José Dutra, Mello Reis e Eraldo Trindade. O SR. CONSTITUINTE MELLOREIS-Sr. Pre- princípio constitucional de autonomia dos Muni-
Voltou a assumir a presidência o Constituinte Luiz sidente, Srs, Constituintes, temos algumas suges- cípios.
Alberto Rodrigues. Nada mais havendo a tratar, tões a apresentar. Umas foram comentadas na Outra emenda ao § 1°, do art. 19, capítulo IV,
foi encerrada a reunião, às onze horas e cinqüenta última reunião; outras deixei de fazer, porque se das áreas metropolitanas, passa a viger, reestrito,
e cinco minutos. A reunião foi gravada e será referiam aos Tribunais de Contas Concluí que nos termos infra:
publicada no Diário da Assembléia Nacional são da competência, realmente do Estado. E ao "Art. 19 .
Constituinte. Para constar, eu, lná Fernandes chegarmos à fase de adaptação da Constituição § 19 Lei Complementar Estadual defini-
Costa, Secretária, lavrei a presente Ata que, lida estadual à federal, iremos sugerir à Assembléia rá os critérios básicos para o estabelecimento
e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente,
Legislativa do nosso Estado como proceder. Os de áreas metropolitanas."
Constituinte Luiz Alberto Rodrigues.
demais companheiros poderão fazer o mesmo Justificação
16"Reunião Ordinária nos seus respectivos Estados. Os critérios básicos para o estabelecimento de
Aos quinze dias do mês de maio de mil nove- Vou relatar as emendas que estou apresentan- áreas metropolitanas devem ser definidos em lei
centos e oitenta e sete, às dez horas e quarenta do, a título de colaboração.
complementar estadual e não federal, conforme
e cinco minutos, reuruu-se a Subcomissão dos A alínea "d", do inciso VI, do art. 9°, da Seção
consta do anteprojeto do Relator desta Subco-
Municipios e Regiões, na Sala B-3 do Anexo 11 I, do Capítulo 111, passa a ter a seguinte redação:
missão.
da Câmara dos Deputados, em Brasília, DF, sob (Está na página 10) É natural que os Estados tenham essa respon-
a presidência do Sr. Constituinte LuizAlberto Ro- "Art 9° . sabilidade, porquanto têm mais conhecimento
VI- Legislar, supletivamente, sobre tráfego, si-
drigues. Compareceram os seguintes Srs. Consti- das peculiaridades regionais do que a União. Ade-
nalização e trânsito, nas vias públicas."
tuintes: Aloysio Chaves, Waldec Ornélas, Denísar mais, é indispensável a descentralização das deci-
Arneiro, José Dutra, Eraldo Trindade, Alexandre Pensei em incluir no respectivo os termos "vias
sões dentro da Federação.
Puzyna, Geraldo Melo, Ivo Cersósirno, Mauro Mi- públicas municipais"Jsso ficaria a critério do Rela- É o caso, por exemplo, de cidades de porte
randa e Maurício Fruet. Havendo número regi- tor, exatamente porque temos na área do Muni- médio. Em Minas Gerais, temos cidades conside-
mental, o Sr. Presidente declarou aberta a reunião. cipio vias públicas federais, rodovias federais, vias
radas de porte médio que, em outros Estados,
Ordem do dia: a prestação e discussão de emen- públicas estaduais, rodovias estaduais, e vias pú-
talvezfossem de grande porte. Então, é um critério
das ao anteprojeto do Relator. ATA: lida e apro- blicas municipais. Entendemos que essa prerro-
gativa caberia ao Municipio nas áreas públicas muito característico de cada Estado. Uma cidade
vada a Ata da reunião anterior. EXPEDIENTE: que tenha uma característica de grande cidade,
Foram recebidas as emendas ao Anteprojeto do municipais.
em um determinadoEstado,em um outro Estado
Relator, de número 06 (seis) a 78 (setenta e oito), ela poderá ter característica de cidade pequena.
num total de setenta e três. A seguir, o Sr. Presi- Justificação Então, esse critério de área metropolitana ficaria
dente franqueia a palavra para discussão das melhor definido sendo da responsabilidade de Es-
emendas apresentadas. Usaram da palavra os Srs. Aos Municipios compete legislar, supletivamen-
tado, ao invés do Governo Federal.
Constituintes José Dutra, Denisar Arneíro, Alexan- te, sobre tráfego, trânsito e, também, sinalização
Outra emenda:
dre Puzyna, Waldec Ornélas. Nesta altura dos tra- nas vias públicas municipais, vale dizer, dentro
"Suprima-se do § 1°, do art. 14, da seção 111,
balhos, o Sr. Presidente passa a direção dos mes- dos respectivos territórios. A competência legis- do capítulo lll, passando o § 2° a ser parágrafo
mo ao Sr. Vice-Presidente José Dutra, a fim de, lativa sobre tráfego e trânsito, nas vias terrestres,
único."
do plenário, discutir a matéria em pauta. Em se- é concorrente, tripartindo-se entre a União, os Es-
tados-Membros e os Municipios. Justificação
guida, o Sr. Relator, Constituinte Aloysio Chaves O § 1°, em questão, deverá ser suprimido, pas-
prestou os esclarecimentos solicitados referente Outra emenda inclui o item VI, remunerando-o
para VII - § 2°, do art. 9°, Seção I, do Capítulo sando a constar "lei complementar estadual fixará
à elaboração do anteprojeto, destacando sua as alíquotas máximas dos impostos municipais".
preocupação no sentido de que o mesmo tenha lll,com a seguinte redação:
Esse § 1°, portanto, constitui intervenção estadual
apresentação correta, frisando a necessidade de "Art. 9° .. indébita nos Municípios, enfraquecendo-os, além
que seja factível, real, e que o trabalho a ser levado de ferir a autonomia municipaL Ressalte-se, como
à Comissão Temática atenda às aspirações que \'1- Exercer o poder de policia de trânsito importante, que o sistema constitucional brasi-
foram trazidas a esta Subcomissão. Nada mais nas vias públicas municipais, legislar sobre leiro assegura aos Municípios a condição de uni-
havendo a tratar, foi encerrada a reunião, às doze transportes coletivos urbanos e intramunici- dade política autônoma. A fixação da alíquota de
horas e dez minutos. A reunião foi gravada e será pais." impostos e uma responsabilidade eminentemen-
publicada no Diário da Assembléia Nacional te municipal. Se o Estado fixar a alíquota é, no
Constituinte. E, para constar, eu, lná Fernandes Isso, atualmente, não consta da proposta, por-
que é competência do Municipio legislar sobre nosso modo de entender, uma intervenção no
Costa, Secretária, lavrei a presente Ata que lida
e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente, transportes coletivos urbanos .e intramunicipais Município.
Constituinte Luiz Alberto Rodrigues. e arrecadar multas de trânsito. E um aspecto que, E, por derradeiro, a última emenda que esta-
também, achamos deva ser bem definido, porque mos apresentando:
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) na maioria das vezes, os Estados arrecadam mul- "Acrescente-se o seguinte parágrafo único ao
- Havendo número regimental, declaro aberta tas de trânsito e não as repassam aos Municípios. art. 8° do anteprojeto:
a sessão. Como estamos propondo "dar aos Municípios Art. ao parágrafo único. Fica assegurada
Solicito à Sr" Secretária que proceda à leitura poder de polícia de trânsito, eles também terão a manutenção do valor real dos subsídios
da ata da reunião anterior. prerrogativa de arrecadar as multas. Ficaria a pos- a que se refere este artigo."
sibilidade, também, de aqueles pequenos Municí-
(Leitura da Ata) pios que não se julgarem estruturados para exer- Justificação
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) cer o poder de polícia de trânsito, se conveniarem A presente emenda objetiva garantir a atuali-
- Em discusão à Ata. com os respectivos Estados a fim de utilizar a zação monetária dos subsídios do Prefeito e Vice-
Não havendo quem a queira discutir, vou colo- Polícia Militar ou a própria Polícia Civil para essa Prefeito quer a Câmara Municipal fixar, no fmal
cá-Ia em votação. atividade. de cada legislatura, para vigorar na legislatura se-
Julho de 1987 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NAOONAf.. CONSTIfUlNlE(Suplemento) Terça-feira 21 19·

guinte. Vale dizer: os subsídios serão reajustados. da uma cidade. Inclusive, tínhamos um aviltamen- Não dou uma opinião, mas deixo a idéia para
com base na variação do poder aquisitivo da moe- to dos salârios do Executivo. No Estado de Minas que seja pensada pelos meus ilustres colegas:
da". Gerais, tínhamos Prefeitos com responsabilidades As Assembléias Estaduais fazem o reajustamento
É uma preocupação muito grande, de todos enormes, dedicando 24 horas do seu tempo às do funcionalismo público no mesmo percentual
nós, principalmente dos Prefeitos que, passado suas atividade chegamos a ter em Minas Prefeitos que aplicam sobre a remuneração do vereador,
um ano ou dois de seus mandatos, seus subsídios ganhando menos do que o Vereador, que se reu- ou seja, se reajustaria o subsídio do vereador na
passam a ser inexpressivos. Discutimos isso na nia, uma vez por mês, ou , no máximo, duas mesma base do aumento"Concedido ao funciona-
Assessoria, ontem, e concordam os Srs. asses- vezes por mês. Com a elevação da participação ãsmo público estadual, porque o subsídio é fixado
sores, que, para não se colocar um referencial, da Câmara Municipal, do Legislativo Municipal, por lei estadual.
como OTN, ou coisa parecida numa Constituição, no Orçamento do Município, até 4% - votado no O SR. PRESIDENTE (José Dutra) - Com a
que ficasse assegurada a garantia do valor real. ano passado - o subsídio do Vereador norma- palavra o nobre Constituinte Waldec Ornélas.
Esse é um assunto polêmico e merece preocu- tizado, através da Constituição Federal, ficou sen-
pação de nossa parte. Estamos apresentando, en- do maior do que o salário de muitos Executivos O SR. CONSTITUINTE WALDEK ORNÉLAS
tão, esta emenda. Muito obrigado, Sr. Presidente. Municipais, gerando realmente um problema gra- - O Relator vai ter oportunidade de acompanhar
SR. PRESIDENTE (José Dutra) -Antes de ve. Acresça-se a isso a questão do problema políti- este assunto até à Comissão de Sistematização.
conceder a palavra ao Sr. Relator para fazer suas co, do salário do Prefeito ser fixado de uma legisla- Tenho a impressão de que deveria haver na
considerações a respeito do assunto, a Presidên- tura par outra e ter que vigorar durante quatro nova Carta uma certa isonomia de critérios, quer
cia solicita à Assessoria que, depois, processe as anos. E, quando o Prefeito entra, após a eleição, dizer, da mesma forma que for fixado o subsídio
emendas na forma indicada pelo Prodasen. tem seu salário flxado por uma Câmara anterior para presidente da República, governadores, se-
Com a palavra o Sr. Relator. que, muitas vezes, é hostil ou contrária, politica- riam fixados os dos prefeitos. Há, realmente, dois
mente, a ele, que venceu as eleições. O resultado critérios no anteprojeto, quer dizer, a dos verea-
O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Sr. Presi- dores estaria definida, segundo normas gerais es-
dente, Sr's, Constituintes da Subcomissão, já ha- disso foi catastrófico no meu Estado. Tivemos
que normatizar o problema, através de lei comple- tabelecidas pelo Estado, através de lei comple-
via conversado na reunião de ontem e hoje, antes mentar; e a do Prefeito, através da Câmara. Ocor-
mentar, na Assembléia Legislativa do Estado de
desta reunião, com o nobre Constituinte Mello re, efetivamente, que a nível local, a vuinerabí-
Minas Gerais e, particularmente, vinculamos esses
Reis, a respeito das sugestões que está apresen- lidade política é maior.
subsídios aos salários dos Deputados, o que vem
tando. Elas serão por mim devidamente analisa- Sem formalizar uma proposta específica, enten-
realmente restabelecer a dignidade dos subsídios
das quando receber as demais contribuiçõesdesta do que, talvez, fosse melhor que a Assembléia
dos Prefeitos de Minas Gerais. Isso foi feito em
Subcomissão. Com relação a esta parte dos subsí- Legislativa definisse esses critérios. Quer dizer,
1986, com resultados, diríamos, satisfatórios. En-
dios, gostaria de ouvir a opíníção dos membros as mesmas normas que fossem estabelecídas pa-
tão, primeiro, temos a questão de se fixaro salário
da Subcomissão para poder, depois, como Rela- ra a remuneração de vereadores tivesse também
para quatro anos de uma legislatura para outra,
tor, aferir esse pensamento, não só do autor da uma norma relativa à remuneração do prefeito:
muitas vezes, numa situação política adversa, repi-
proposição, especificamente sobre esta, mas so- se não a fíxação específica do subsídio, mas os
to, em que o Prefeito que entra tem o seu salário
bre outra qualquer matéria de adaptação, de reda- parâmetros dentro dos quais a Câmara se bali-
fixado por uma Câmara Municipal que sai e, mui-
ção ou de complementação de norma legislativa. zasse para estabelecer essa remuneração, sem
tas vezes, uma Cãmara Municipal renovada, em
Mas, sobre esta que assegura a manutenção do levar em conta esse aspecto da isonomia, ou da
que muitos Vereadores foram derrotados eleito-
valor real do subsidio a que se refere esse artigo, forma de tratamento. Temos vistos, aqui mesmo
ralmente e até pelas novas forças que assumem
gostaria de ouvir uma troca de idéias, de opiniões, nesta Câmara dos Deputados, nesta legislatura,
entre os Sr's, Constituintes, para me orientar. A a Prefeitura.
que, embora a Constituição Federal estabeleça
redação dada, como acentuei, Há pouco ao nobra Realmente, não teria, objetivamente, nenhum que os subsídios devam ser fixados pela legisla-
Constitumte Mello Reis, estabelece uma norma, comentário a fazer a não ser citar o exemplo de tura anterior, isso não ocorreu com os nossos
mas não estabelece a maneira de executá-Ia, de Minas Gerais. Talvez não fosse o mais adequado subsídios, Se isso ocorre a nível federal, imaginem
cumpri-Ia. Fica assegurada a manutenção do va- fixar os subsídios do prefeito por lei complementar V.Ex" a nível municipal. (Risos).
lor real dos subsídios q que se refer este artigo. estadual, conforme fizemos. A minha preocupa-
Com a inflação, o valor real do subsídio na próxi- ção é que o prefeito seja bem remunerado. Em O SR. CONSTITUINTE LUlZALBERTORODRI·
ma semana não seria o mesmo , na próxima várias cidades, executivos de dezenas de empre- GUES - Sr. Presidente, gostaria de fazer mais
quinzena não seria o mesmo, no próximo mês sas, com responsabilidades parciais e setoriais, uma ponderação.
não seria o mesmo, e assim por diante. Como ganham mais do que o prefeito. Queremos evitar Em Minas Gerais, através de lei complementar,
se fazer esse reajustamento? Não tenho nenhuma que o prefeito se utilize de artifícios e de meca- fIXOU-se da seguinte maneira: municípios com po-
objeção. Sei que a inflação é terrível e ela está nismos para engordar sua renda mensal. É pre- pulação de até dez mil habitantes - 10% do
corroendo a remuneração de todos os salários ciso dar-lhe um salário digno. subsídio do deputado estadual seria o subsídio
e vencimentos, a economia do povo. Agora com Era esta a contribuição que queria trazer ao do prefeito; prefeituras com dez a trinta mil habí-
Relator, gostaria de saber: O que a Subcomissão plenário desta subcomissão. tantes - 20% do subsídio do deputado estadual.
pensa que poderá ser feito? Por exemplo, prefeituras acima de trezentos mil
O SR. PRESIDENTE (José Dutra) - Com a habitantes - 2/3 do que ganha o deputado esta-
O SR. PRESIDENTE (José Dutra) - Concedo palavra o eminente Relator para suas conside- dual. Essa vinculação restabeleceu a dignidade
a palavra ao Sr. Constituinte Luiz Alberto Rodri- rações a respeito das colocações do Constituinte e trouxe para fora da própria Assembléia Legis-
gues. Luiz Alberto Rodrigues. lativa os nossos subsídios. Virou assunto público.
O SR. CONSTITUINTE LUIZ ALBERTO RODRI- O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Gostaria Todo dia tem prefeito cobrando. Há um processo
GUES - Sr. Presidente, Sr. Relator Aloysio Cha- de ouvir primeiro a opinião dos colegas a respeito de fiscalização e foi uma solução boa para essa
ves, Constituinte Mello Reis, Srs. Constituintes, desta emenda, para, então, poder aferir as tendên- questão. Mas isso já é lei objetiva, resolvida pela
gostaria de dar uma opinião a respeito desse as- cias. Por exemplo, o nosso ilustre colega, o Consti- esfera de competência própria, que foi a Assem-
sunto que é , na verdade, complexo. Gostaria de tuinte LuizAlberto Rodrigues, acabou de se repor- bléia Legislativa de Minas Gerais. É evidente que,
citar um exemplo e não tenho como não me tar a isso. O projeto manda que o subsídio do em outros estados, estabelecida a competência,
referir à realidade que conheço, que é a do Estado vereador seja fixado. O projeto determina, por lei teremos a fixação dos critérios que forem julgados
de Minas Gerais. Tivemos problemas sérios na- complementar estadual, isso, que é exatamente mais apropnados, de acordo com a situação, com
quele Estado com relação à questão dos subsí- para que a Assembléia leve em conta as desigual- os traços culturais, etc
dios de Prefeitos. Em primeiro lugar, uma questão dades, o problema de renda, a capacidade finan- O SR. PRESIDENTE (José Dutra) - Consti-
de ordem pessoal: o constituinte Luiz Alberto Ro- ceira desses Municípios, etc. A emenda quer rea- tuinte Luiz Alberto Rodrigues, tendo presente que
drigues entende que o Prefeito tem que ganhar justar ou estabelecer uma fórmula para a remune- o assunto é por demais complexo e há que encon-
bem, porque ele pertence ao Executivo, que é ração do vereador, de maneira que ele não seja trar a melhor saída talvez fosse interessante -
o responsável por toda uma comunidade, por to- corroído, aviltado, pela inflação. e faço isso a nível de sugestão - que V. Ex'
20 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE·(Suplemento) Julho de 1987

trouxesse o texto da Constituição mineira para da data. Os itens certos seriam os itens I, V e que a lei complementar, que estabeleceu os requi-
que pudéssemos analisá-Ia mais profundamente, VI. sitos mínimos para a criação de municípios, tenha
e, nos abeberarmos do seu conteúdo para forma- Entrando, então, na discussão de propostas, preservado os municípios preexistentes. A matéria
lizarmos algumas emendas. quanto ao art. 50, que regula a criação dos muni- jomalisticamente está interessante, mas não está
Com a palavra o Constituinte Eraldo Trindade. cípios, queremos lembrar à subcomissão que já correspondendo à realidade dos fatos, pois a lei
existe, atualmente, na Constituição em vigor, um preservou os municípios preexistentes. Daí essas
o SR. CONSTITUINTE ERALDO TRINDADE item que trata deste assunto, bem como uma situações. O que não quer dizer que eu concorde
- Sr. Presidente, Sr. Relator, nobres colegas, evi- lei complementar que regula a criação de muni- com isso.
dentemente, o primeiro encontro não está sendo cípios. O Jornal de Brasília,de 12 de abnl - Por isso fizsugestão no sentido de que se con-
muito valioso, pelo fato de que as propostas apre- depois darei uma cópia - diz o seguinte: "Lei templem outras variáveis, como área e território.
sentadas estão sendo avaliadas, analisadas, mas de município não é colocada em prática". E com Entendo que a disposição, tal como o relator a
creio que se trouxéssemos, na próxima reunião, dados do IBGE,comprovando que dos 4.176 mu- colocou, deixando o assunto para a lei comple-
as nossas sugestões por escrito, haverá mais tem- nicípios existentes, 1.628 foram cnados irregu- mentar, preserva e dá plena condição de poste-
po para se pensar a respeito do assunto. larmente. riormente se regular o assunto com a observância
A colocação do Constituinte LuizAlberto Rodri- O que ocorre, Sr. Presidente? Municípios que desses critérios, estabelecendo um comporta-
gues é muito válida. Através de uma lei Comple- não têm condições de ser criados estão partici- mento a ser adotado com os municípios que não
mentar, pode-se fazer uma avaliação mais prática pando do bolo do fundo de participação dos mu- atingirem essas condições, em um determinado
do assunto, porque corremos o risco de que, em nicípios, prejudicando aqueles que foram regular- lapso de tempo.
municípios mais distantes, onde há uma supre- mente criados. Em Minas Gerais, por exemplo, De maneira que, a este respeito, não faria ne-
macia, um poder de mando, muito grande do dos 722 municípios existentes, 433 foram criados nhum reparo ao anteprojeto elaborado pelo rela-
prefeito, possa haver uma espécie de pacto, que irregularmente; no Estado de São Paulo, de 572, tor, com quem, aliás, valendo-me do ensejo, pois
irá prejudicar, tanto o município quanto o legisla- 271 estão em situação irregular. Temos aqui os não pude estar presente à reunião em que isso
tivo. Então, através de uma lei complementar, po- seguines dados: em Minas Gerais, os municípios foi exposto, quero congratular-me, não apenas
de-se executar uma fiscalização e também definir de Pedra Dourada e Serra da Saudade possuem pelo aspecto formal do seu relatório, que, pelo
os subsídios do prefeito e dos vereadores. 984 e 821 habitantes respectivamente, quando que tenho visto em relação aos de outras subco-
Volto a repetir que este primeiro encontro está a lei diz serem necessários dez mil habitantes; missões, está compatível com o padrão, o nível
sendo válido, porque as idéias estão sendo expos- em São Paulo, o de Boracéia tem 656 e o de e à forma que deve ter um texto constitucional,
tas, mas a partir do momento em que nos sentar- União Paulista, 939 habitantes. E os critérios ado- mas também, por ter retratado satisfatoriamente
mos, com mais tempo, para analisar a situação, tados são políticos - candidatos que prometem as discussões que tivemos. Podemos ter discor-
, creio que idéias muito mais positivas irão fluir à região que vão transformá-Ia em municípIO,etc. dâncias doutrinárias, até por idiossincrasias, mas
em torno deste assunto Isso traz sério prejuízo para os municípios regular- não podemos deixar de ressaltar o excelente tra-
mente constituídos. balho realizado pelo relator.
O SR. PRESIDENTE (José Dutra) - Com a Em função disso, estamos apresentando
palavra o Constituinte Amaldo Martins. O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
emenda no sentido de incluir no art. 50 parágrafo - Com a palavra o Constituinte Eliézer Moreira.
O SR. CQNSTITUINTE ARNALDO MARTINS com o seguinte teor: "Os municípios que forem
- Sr. Presidente, quero alertar que existe uma criados sem estarem de acordo com as prescri- O SR. CONSTITUINTEEUÉZER MOREIRA-
incorreção neste formulário de apresentação de ções contidas nesta Constituição e na legislação Talvez não tenha entendido bem as. ponderações
emendas, principalmente na observação do verso, federal pertinente não receberão verbas da União, do Constituinte sobre a não obediência no que
que diz: "Os itens I,Ve VII devem ser preenchidos a qualquer título". Proponho também que nas conceme à população do Município e a possibi-
pelas secretarias das comissões, subcomissões disposições gerais e transitórias seja estabelecido lidade de nele se intervir, VIa Fundo de Partici-
e secretaria geral da mesa". O item I está correto, que os que já percebem na data da promulgação pação, ICM ou qualquer coisa desse tipo.
porque é a etiqueta; o item V é para se escrever desta Constituição permanecerão recebendo. Observamos hoje no País, Sr. Presidente, uma
o nome completo da comissão onde foi apresen- Mas esse fato não pode continuar ocorrendo. grande movimentação de populações O meu Es-
tada a emenda; o item VII estã mteiramente incor- Tenho outras sugestões, mas gostaria de díscu- tado e o Amazonas devem sofrer isso também,
reto, porque é o texto de justificação. O correto tir esta. em grande parte. Serra Pelada esvaziou muitos
seriam os itens I,Ve VI, ou seja, item I, da etiqueta; O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodngues) Municípios em meu Estado. Qualquer censo a
o item V, o nome da subcomissão, e o item VI, - A presidência pergunta se algum constituinte ser realizado hoje encontrará determinados Muni-
quer fazer considerações. cípios maranhenses com um índice populacional
a data que foi apresentada. O modelo onginal,
que está na xerox está desta maneira. Então, aqui, Primeiramente falará o Constituinte Waldeck aquém daquele previsto para a criação de muni-
está errado. O item VII não poderia ser preenchido Omélas; na sequência, o Constitumte Eliézer Mo- cípios. Essa movimentação, como é muito gran-
pela subcomissão. reira, e, logo após, o ConstituinteJosé Dutra. de, pode ensejar isso. Mas, na medida em que
Com a palavra o Constituinte Waldeck Ornélas. o Município é criado fora dos critérios constitu-
O SR. PRESIDENTE (José Dutra) - É uma cionais, na medida legal, no sentido de tomar
questão de ordem? O SR CONSmUINTE WALDECK ORNÉLAS inconstitucional a legislação que o criou. Não me
- O Constitumte fez referência ao formulário de sinto bem com essa intervenção via tributos, via
O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS apresentação de emendas. Quero fazer duas re-
- É tão-somente um alerta. sustação do Fundo de Participação ou de quota
clamações contra os atentados praticados contra dolCM.
O SR. PRESIDENTE (José Dutra) - Gostaria a ortografia e o vernáculo. Em primeiro lugar, Era o que tinha a dizer a este respeito.
que V. Ex', Constitumte Amaldo Martins, repetisse "acessória" foi escrito apenas com dois "s'' no
formulário publicado pela Mesa Está mais próxi- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
isso para que eu pudesse me inteirar do inteiro
mo de assessoria do que se quis dizer. Depois, - Com a palavra o Constituinte José Dutra.
teor.
na própria instrução, em relação ao número dOIS, O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr.
O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS informa o número "sequencial" da página. Pare- Presidente, as colocações feitas pelo eminente
- É que este formulário para apresentação de ce-rne que a Mesa, que foi tão negligente na distri- colega Arnaldo Martins merecem de nossa parte
emendas tem no seu verso uma incorreção, que buição das sugestões dos constituintes, para as o máximo respeito. Contudo, devo sublinhar que
diz: "Os itens I, V e VII devem ser preenchidos diversas subcomissões, continua pecando por a legislação, da forma como está colocada hoje,
pelas secretarias das comissões, subcomissões "inapetência" administrativa. impede a criação de Municípios sem o respeito
ou secretana geral da Mesa". O item I,está correto, Com relação aos comentários que o consti- daqueles limites estabelecidos pela Lei Comple-
porque é a parte da etiqueta; o item Vestá correto tuinte acaba de fazer sobre a questão dos muni- mentar na 1. Sucede que esta lei, a meu sentir,
- escrever o nome da subcomissão; mas o item cípios, eu chamaria a atenção para o fato de que é inteiramente divorciada da nossa realidade. Não
VII é o texto da justificação, logicamente tem que essa matéria jomalística, que também li e com podemos, através de um critério genérico, disci-
ser preenchido pelo constituinte. Então, seria o a qual a princípio, levei um susto, não considera plinar a criação de Municípios em um país com
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTIT(J)NTE (Suplemento) Terça-feira 21 21

o tamanho do nosso. Vejo, por exemplo, que a condições e, na maior parte das vezes, critérios autonomias dos Estados. O que acontece é o
Lei Complementar n° 1 estabeleceu requisitos de políticos é que estão norteando a sua criação. seguinte: o Estado pode legislar, mas só que isso
habitações, de pessoas que habitam no Município E creio que não estamos aqui para isso. Quanto terá reflexos na União, porque o Fundo de Partici-
e se esqueceu de uma coisa que me parece funda- mais se fizer para que a Constituição seja devida- pação dos Municípios é dividido por todos os mu-
mentai: o território do Município onde vive a pes- mente cumprida, melhor. nicípios do País. Se houvese uma quota determi-
soa. Fico a examinar, por exemplo, no que toca É este o meu ponto de vista. nada para cada Estado, ele poderia criar dois,
às Câmaras de Vereadores, o caso do meu Esta- três mil municípios, pois seria problema para ele
O SR. CONSTITUINTEJOSÉ DUTRA- Gos-
do, onde o Município de Barcelos, que abrange resolver. Mas acontece que todos os municípios
taria de prosseguir, Sr. Presidente. O debate é
uma área que representa dois portugais, tem cin- são agrupados nacionalmente. Então, se um Es-
importante, porque dele nasce a luz.
co vereadores; um outro Município perto de Ma- tado não cumpre a lei, isso se reflete em Municí-
Mas, eminente Constituinte Arnaldo Martins, ao
naus, com a dimensão de 1/10 desse Município, pios de outros Estados. O problema é que o refle-
dotarmos posição favorável à emenda de V. Ex',
também tem cinco vereadores. Há então, uma xo é nacional. Se o Fundo de Participação dos
quais seriam as conseqüências? E as conseqüên-
irrealidade muito grande na elaboração dessa lei. Municípios fosse dividido por Estados e cada Es-
cias das decisões que tomo preocupam-me mui-
Comungo, pois, com o meu Colega Eliézer Mo- tado dividisse esses recursos entre seus muni-
to. Por isso procuro, na medida das minhas forças,
reira na questão de se adotar, via constitucional, cípios, ele poderia criar quantos municípios qui-
inteirar-me profundamente dos assuntos em dis-
uma posição não só violenta e dura quanto antipá- sesse.
cussão para analisar essas conseqüências...
tica. O caminho na legislação processual já existe. O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
Pode-se argüir quem tiver interesse em fazê-lo O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS - A Presidência solicita ao Constituinte Arnaldo
perante o Supremo Tribunal Federal ou a Procu- - Permite-me V. Ex" mais um aparte? Martins que apresente todas as suas sugestões,
radoria-GeraI da República, a inconstitucionalida- para que depois possamos discuti-Ias de uma
O SR. CONSTITUINTEJOSÉ DUTRA - Pois
de da criação desses Municípios. Tem razão o não, nobre Constiutinte. só vez. Cada Constituinte apresentaria suas suges-
meu Colega Waldeck Omélas quando, ao analisar tões e depois faríamos o debate completo, para
o art. 5° do anteprojeto, sublinha que o Relator O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS agilizar um pouco mais os trabalhos.
deixou o caminho para que se possa até dimen- - Nas disposições gerais e transitórias seria colo- Com a palavra o Constituinte José Dutra.
sionar a solução desse problema através de legis- cado que os municipios que já recebem subven-
ções da União permaneceriam percebendo. A al- O SR. CONSTITUINTEJOSÉ DUTRA- Gos-
lação complementar estadual, de vez que dela taria apenas de arrimar-me ao que entendi. A meu
depende a criação de Municípios. Essa legislação teração seria feita a partir de agora, a fim de cor-
sentir, houve duas propostas. A primeira básica,
irá estabelecer os parâmetros minimos necessá- rigir essas anomalias.
seria no sentido de inserir mais um parágrafo
rios para a criação de um Município. E ai, então, O SR. CONSTITUINTEJOSÉ DUTRA - Vou no art. 5° em que V. Ex" enfatizou que ficavam
poderia fazer o ajustamento da idéia trazida pelo Chegar à sua segunda proposta. Mas gostaria de proibidos de participar do Fundo de Participação
eminente Constituinte Arnaldo Martins. Isto não dar seqüência ao meu raciocínio. A prevalecer dos Minicípios aqueles que não tivesse condições
ocorre apenas em Minas Gerais e em São Paulo. a idéia inicial o que aconteceria com esses muni- de o ser. Isso peocupou-me sobre modo.
Em praticamente todos os Estados brasileiros cípios, que envolvem grande número de brasi- Quanto à questão da participação dos Municí-
existem Municípios criados à revelia da lei esta- leiros, já que não poderiam receber recursqs do pios no Fundo geral, isso é obvio e natural. O
dual. Em meu Estado, por exemplo, tivemos uma Fundo de paticipação dos municípios, que é a Fundo de Participação dos Municípios existe exa-
briga no Supremo Tribunal Federal para garantir principal, a fundamental fonte de renda de que tamente para que todos dele participem em maior
a criação de quinze Municípios, que eram vilas dispõem, ao lado das transferências de lCM etc? ou menor escala.Mas compete obviamente às As-
inexpressivas, praticamente sem nenhum futuro, Estaríamos inserindo na Constituição um golpe sembléia Legislativas, de acordo com a proposta
sem nenhum sistema produtivo. Depois de sua de morte brutal contra essas unidades municipais, do eminente Relator, estabelecer critérios que via-
eleição à categoria de Municípios, aqueles vilare- e sou contra a morte. Jamais daria um voto no bilizem a inexistência futura de abusos como os
jos - vamos dizer assim - passaram a ser verda- sentido de decretar a morte de quase três mil que foram agora praticados. Esta parece ser a
deiras cidades. Um exemplo disso que por sinal municípios brasileiros. nossa grande preocupação.
tem sido objeto de discussão no plenário por cau- Quanto à segunda proposta , agora reformu-
sa de violação do nosso Território, ocorreu no O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
lada por V. Ex", recebo-a com muita simpatia,
Municipio de Tabatinga, na fronteira com a Co- - Com a palavra o Sr.Constituinte Mello Reis.
porque acho que daqui para frente, de acordo
lômbia, que era uma vila com mil e poucos habi- com o que foi proposto pelo eminente Consti- O SR. CONSTITUINTEMELLOREIS-Sr. Pre-
tantes e hoje é uma cidade com dezesseis rrul tuinte Aloysio Chaves, vamos disciplinar melhor sidente, ouvi as observações sobre a criação dos
habitantes, com apenas quatro anos de existência esse processo. Porquê? Porque saímos de uma municípios e acho que devemos repensar os crité-
O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS disciplinação federal para uma disciplinação esta- rios, não levando em conta apenas a população,
- Permite-me V. Ex' um aparte? dual. No Estado do Maranhão, por exemplo, a mas também outros fatores, como nosso compa-
Assembléia Legislativa vai fixar critérios que este- nheiro do Arnazonas Constituinte José Dutra aca-
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Pois jam identificados com a realidade daquele Estado. bou de expor.
não, nobre Constituinte. No meu Estado, em razão da grandeza que tem, Há municípios que embora com pouca popula-
O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS serão critérios parecidos ou poucos diversifica- ção, são representativos, expressivamente de uma
- Não resta dúvida de que a reforma tributária dos. Aí sim, teremos condições de evitar que co- vasta região do País.
é uma necessidade, pois hoje a parte do leão munidades que não tenham condições de ser Quanto à experência de Minas Gerais, de que
fica com a União, deixando os Estados e Municí- município possam sê-lo. Portanto, com relação V.Ex"tem profundo conhecimento, a bem verda-
pios com pequena parte. Mas não resta dúvida à sua segunda proposta, solidarizo-me com V.Ex" de a excessiva criação de municípios levou à ínte-
também de que grande parte dos prefeitos vive e junto-me à sua idéia. Quanto à primeira, lamen- ríorízação do desenvolvimento. Conhecemos de-
de "pires na mão", fruto da criação de Municípios tavelmente, embora tenha enfatizado o meu res- zenas de pequenos municípios na nossa região,
que não tinham condições para isso. Vêm, então, peito, não poderia de forma alguma concordar a Zona da Mata de Minas, que não tinham pavi-
esses prefeitos pedir recursos à União para mon- com V. Ex' mentação, escola digna, serviço de saúde, às es-
tar Câmara de Vereadores, a Prefeitura, para pagar O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS tradas vicinais e hoje estão profundamente trans-
o funcionalismo, o secretário etc. E isto de forma -Mas, nobre Constituinte quando apresentamos formados quer dizer, houve uma interiorização,
crescente. Hoje são 1.616 os Municípios que não a nossa proposta fizemos a resalva de que nas principalmente da eletrificação rural, que está sen-
têm condições, não apenas em termos de popula- disposições gerais e transitórias ficaria estabele- do feita com a participação direta dos pequenos
ção, mas também de renda, enfim de tudo, por- cido que os que stão percebendo atualmente as- municípios. Então, temos de questionar realmen-
que são vários requisitos. Parece-me que é neces- sim permaneceriam. Não seria a morte desses te, para não haver pulverização de recursos. Que
~rio haver duzentas casas no perímetro urbano, municípios. Concordo com V. Ex" O dispositivo foi uma conquista para a população do interior
dez mil habitantes e determinado percentual de tem como objetivo impedir que isto venha a ocor- a criação desses municípios, não há dúvida algu-
renda, etc. Então, são Municípios que não têm rer no futuro. E não estamos querendo tirar as ma.
22 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) Este ponto parece-me importante, porque as declaro, na fundamentação, acolhemos muitas
- Com a palavra o Sr. Constituinte Arnaldo Mar- proibições para os deputados estaduais e federais sugestões dessas instituições e de outros traba-
tins. são bem amplas e este dispositivo afeta de perto lhos de mdêntíca natureza. Em todo caso, vou
os vereadores. refletir sobre se é possivel fazer uma redação um
O SR. CONSTITUINTE ARNALDO MARTINS
A terceira interrogação, Constituinte Aloysio pouco mais explicita a esse respeito. Relativamen-
- Acrescentamos também ao art. 6° um pará-
Chaves, refere-se à execução de obras públicas, te ao art. 13, Inciso ll, ou seja, "contribuição de
grafo que diz o seguinte: "Os prefeitos e os verea-
o que está inserido no Inciso II do § 1o do Art custeio de obras ou serviços", já foi proposto em
dores serão submetidos a julgamento perante os
9°, que trata da competência dos Municípios. V. vários trabalhos, e no próprio Projeto Afonso Ari-
Tribunais de Justiça Estaduais" Apresentamos
Ex' sublinha o seguinte: "Execução de obras pú- nos. Certas obras ou servtços municipais, pela
esta proposta, tendo em vista que nos pequenos
blicas, de urbanização, denominação e numera- sua natureza, podem exigir uma contríburção es-
Municípios só existe um juiz, o juiz da comarca,
ção de logradouros públicos". Não entendi essa pecial, tal contribuição poderá ser instituída pelo
que passa a ser praticamente - temos visto isso Município, ou seja tanto a contribuição de melho-
questão de numeração.
- o dono da cidade. Até os problemas de Prefei-
ria quanto aquela contribuição. Apenas o projeto,
tura são levados ao juiz. Atualmente, pelo Decre- O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
logo em seguida, impede a cobrança cumulativa
to-lei n° 201, têm sido cassados prefeitos ao arbí- - Podena V.Ex' citar o artIgo e o parágrafo ante-
dessas contnbuiçôes; ou se paga uma ou outra,
trio de apenas uma pessoa, o juiz do Interior, que rior, para que o Relator possa localizar o que diz
mas não as duas em conjuntos.
basicamente é muito novo, recém-formado. Faz respeito aos logradouros, numeração de logra-
concurso para ser o juiz da localidade, toman- douros públicos? Então, essa ampliação que sugerimos visou a
do-se a primeira autoridade naquele Município. fortalecer financeiramente o Município. Se os Srs.
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - É o
Apresentamos ainda emenda ao art. 16 que Constituintes verificaram - repito e sem nenhum
art 9", § 1°, inciso 11.
diz o seguinte: "É vedado à União e aos Estados sentido de crítica - a contribuição da Subco-
O eminente Relator, no seu anteprojeto, traz missão de Tributos, irão constatar que ela tratou
conceder Isenções ou quaisquer outros benefícios inovação que me pareceu interessante: a institui-
fiscais relativamente a tributos de competência com muita avareza o Município. Ela é avara com
ção de uma contnbuição de custeio de obras, relação ao Município, pois repete o Imposto Pre-
dos Municípios." Acrescemos um parágrafo único ou serviços, que está inserida no Inciso II do art
com o seguinte teor: "Afim de aumentar as expor- dial, o Imposto Rural e o Imposto Urbano. A rigor,
13. Gostaria também de melhores esclarecimen- não segue o Projeto Afonso Arinos e não volta,
tações, desenvolver determinadas regiões ou pos- tos a esse respeito Prezado Constituinte Relator,
sibilitar crescimento a setores importantes da so- por exemplo, às Constituições de 1934 e de 1946,
nas Disposições Transitórías, V. Ex', no art. 23,
ciedade brasileira, poderá a União conceder as que foram mais amplas a esse respeito. É bem
estabelece que "os Municípios deverão, no prazo verdade que esta Subcomissão assegura também
isenções e benefícios vedados neste artigo, deven- de cinco anos a contar da promulgação desta
do, entretanto, ressarcir os Estados e os Municí- a participação em tributos federais ou aumentos
Constíturção, promover, mediante acordo direto percentuais estaduars, Nós também admitimos
pios dos valores que deixaram de receber". Acha- ou arbitramento, a demarcação de suas linhas
mos que a União pode ter o Interesse, mas pelo isso e procuramos dar um tratamento especial
de fronteira, podendo, para isso, fazer alterações Então, como disse aos colegas, incluí na expo-
menos iria ressarcir o Estado e o Município. e compensações de área que atendam aos aCI- sição anterior uma norma específica sobre taxas
São estas as nossas emendas, Sr. Presidente dentes naturais do terreno, às conveniências ad- para conservação de vicinais. Podemos estabe-
e Sr. Relator ministrativas e à comodidade das populações lecer isso, agora. Com base na redação final do
fronteiriças". Isto chamou-me a atenção, Consti- Código Tributário Nacional e na lei vigente, o Su-
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
tuinte Aloysio Chaves, porque, desse acordo que
- Com a palavra o Constituinte José Dutra. premo votou pela inconstitucionalidade. Mas o
os Municípios poderão fazer, naturalmente surgi- grande drama dos Municípios está nesse parti-
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Sr. rão conflitos, pois nenhum Município vai querer
cular, sobretudo aqueles que estão sendo povoa-
Presidente, não pretendo discutIr essas duas pro- perder uma parte do seu território. Gostaria de dos, ocupados, que recebem esses contingentes
postas, que parecem absolutamente identificadas saber como se aplicaria, na prática, o dispositIvo que se estabelecem, abrem picadas, transfor-
com a nossa realidade. Reservo-me para em outra do art. 23.
mam-na numa estrada carroçável - e são deze-
oportunidade, dissecá-Ias melhor.
O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Vou dar nas, milhares de quilômetros. Isso ocorre no Esta-
Na verdade, Sr. Presidente, não trouxe ainda algumas explicações com relação - a matéria do de V. Ex', no meu Estado e no Centro-Oeste.
minhas emendas ao anteprojeto, pois apenas on- está perfeitamente explicitada na justificação - O Fundo de Participação do Município e o Fundo
tem o analisei mais detidamente juntamente com por exemplo, às restrições. Não se pode atribuir Rodoviário são insuficientes. O Município não tem
sua justificação, que obedece a uma metodologia aosVereadores só vantagens, só franquias e prer- recursos, e o Estado não pode tranferir auxílios
muito fácil de entendimento adotada pejo Consti- rogativas, nivelando os, nesse particular, aos De- maciços para isso, e muitas vezes há interesses
tuinte Aloysio Chaves. No curso do exame desse putados Estaduais e Federais e aos Senadores, em locais peculiares que podem ser atendidos
anteprojeto, anotei algumas interrogações sobre sem que tenham, como os demais, as restrições dessa forma.
,as quais gostaria de obter esclarecimentos do pre- inerentes ao exercício do mandato. É um princípio Foi essa razão por que nós incluímos isso.
zado Constituinte Aloysio Chaves. Eminente Rela- que declarei explicitamente na fundamentação. Com relação ao art. 23, redigi um dispositivo
tor, gostaria que V. Ex" desse melhor esclareci- Então, no âmbito do Município, ele também não que funde as normas da Constituição de 1934
mento a respeito do § 2° do art. 3 9, que se refere pode negociar, não pode fazer certos contratos. com a Constituição de 1946. Parece-me que ele
às regiôes de desenvolvimento econômico. Nesse São essas as restrições e os impedimentos que tem uma redação claríssima: "Os Municípios de-
dispositivo, V.Ex'aventa a possibilidade ou sugere devem vigorar a partir da diplomação e da posse verão, no prazo de cinco anos, a contar da promul-
a criação de fundos regionais de desenvolvimen- como Vereador, caso contrário, vamos dar-lhes gação desta Constituição, promover, mediante
to? Esta é a primeíra indagação. Listarei todas todas as outras vantagens, como inviolabilidade, acordo direto ou arbitramento..." Primeira hipó-
e depois V. Ex" poderia respondê-Ias uma a uma. imunidade processual, remuneração, etc., sem tese: ele faz um acordo. Então, essa é a questão.
Minha segunda indagação - para a qual gosta- que haja qualquer impedimento, ou restrição que Feito o acordo, muito bem, não há problemas.
ria de obter melhor explicação apesar de na justifi- alcançam, no âmbito nacional, todos os outros Os problemas foram resolvidos pelo acordo, por
cativa já estar delineada sua idéia, mas agradar- representantes do povo. via consensual, pelo entendimento direto entre
me-ia discutir com os companheiros esse proble- Com relação ao art. 9°, § 1°, inciso JI] sobre os dois Municípios, podem querer eleger um árbi-
ma, que me parece absolutamente importante execução de obras públicas, de urbanização, de- tro. A figura do juiz arbitral e a sentença arbitral
- diz respeito à questão dos vereadores. No item nominação e numeração em logradouros públi- estão reguladas no Código de Processo Civil. En-
III do art. 6°, o eminente Constituinte Relator esta- cos, são consideradas também as ruas. Não são tão, se há decisão com esse tipo de sentença,
belece proibições para o exercício da vereança, só as praças, mas lugares públicos, porque essa ela obriga as partes e é definitiva e irrecorrível,
aplicado no que couber o disposto nesta Consti- é uma atividade eminentemente municipal e não como é da natureza do juiz arbitral. Mas a maneira
tuição para os membros do Congresso Nacional estadual. Aliás essa designação é repetida numa de executar isso foi atribuída ao IBGE e niio ao
e na Constituição do respectivo Estado para os sugestão do Instituto Brasileiro da Administração Serviço Geográfico do Exército, como se referia
membros da Assembléia Legislativa. dos Municípios. Com relação à autonomia, como a Constituição de 1934 ou a de 1936. Por que?
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 23

Porque as atribuições conferidas àquela fundação produzir esse bem se beneficia do instituto do dava ressarcimento. Depois de muita luta, come-
são exatamente para isso. E eu posso dizer que draw back e, portanto, é igualmente isentada çou a dar um ressarcimento limitado, parcial, e
a Constituição de 1934 ou a de 1937 - isso Sou feliz por ter nascido em uma cidade expor- aos poucos é que se foi avançando nisso. A má-
não transcrevi nessa parte de justificativa, para tadora e estou contente com a proposta do Cons- quina federal, demorada, lenta - intencionalmen-
que o trabalho não ficasse muito longo - e a tituinte Amaldo Martins, que procura COibir o uso te demorada - se arratava a passo de cágado
Constituição de 1946 incumbem da demarcação abusivo dessas isenções concedidos pelo Gover- para restituir o imposto do Estado que ela havia
o Serviço Geográfico do Exército, áquela época no Federal. E há um efeito subsidiário: na medida dispensado numa barretada, como se diz, com
o único capacitado legal e tecnicamente a cumprir em que essas grandes empresas, que empregam o chapéu alheio.
tal tarefa. Com a criação do IBGE, em 1937, e um número muito grande de pessoas, se instalam Acho que isso, pura e simplesmente, tem que
com o advento do Conselho Nacional de Geogra- numa região, elas ocupam os equipamentos ur- acabar. A União pode dar isenção de seus tributos,
fia, integrante do IBGE, foram sendo absorvidas banos e SOCiais dessa cidade. Portanto, elas exi- pode dar outros beneficios por via indiretas, mas
por essa fundação as tarefas cartográficas terres- gem uma concentração de esforços da prefeitura ela faz isso e, quando os produtos se destinam
tres, antes desempenhadas somente pelo Serviço e do Estado na ampliação desses equipamentos a exportação, o imposto da exportação é exclusi-
Geográfico do Exército. Assim, de acordo com urbanos; inflacionam a habitação, inflacionam tu- vamente dela; não é do Estado e não alcança
as Diretrizes e Bases da Cartografia Brasileira, fixa- do, e os govemos municipal e estadual não têm o Município.
das pelo Decreto-lei rr 234 de 1967, o Plano Car- qualquer reciprocidade da Umão para amplíarem Vivemos esse drama, no Norte - e deve vivê-lo
tográfico Terrestre básico ficou dividido entre o e prepararem a cidade para aquela grande massa Minas Gerais - .corn relação ao minério de ferro
Plano Cartográfico Básico do Exército e o Plano que para lá se desloca. e outras riquezas minerais. Fica o buraco, a crate-
Cartográfico Básico do IBGE, cabendo à funda- Manifesto, portanto, meu agrado e meu regozijo ra. O Imposto Único sobre Minerais é vil, e não
ção o estabelecimento, manutenção e coorde- até, pela emenda apresentada pelo Constituinte pode ser aumentado porque não se exporta im-
nação do sistema geodésico brasileiro. Arnaldo Martins, embora declare preferir a proibi- posto. A União dá isenção de tributos do Estado,
Paralelamente, o IBGE, responsável pela orga- ção ou a vedação pura e simples da isenção des- e os problemas, como uma verdadeira avalanche,
nização das bases cartográficas e estatísticas cen- ses impostos. descem montanha abaixo sobre a administração
sitárias, vem alimentando e mantendo atualizada estadual ou municipal, esmagando-as e criando
O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - Permi-
uma base de dados, contendo toda a legislação toda sorte de obstáculos e de dificuldades.
te-me o nobre colega uma observação? Vou dar
municipal, estadual e federal sobre limites territo- Creio haver uma opinião comum, aqui na Cons-
um exemplo gritante, quase escandaloso. Há uma
riais de toda ordem. Essa base de dados é a única tituinte, refletida em pronunciamentos de que te-
legislação federal que isenta as empresas que
no País, sendo utilizada sempre que se necessita nho conhecimento, no Plenário e em outras Co-
constroem hidrelétricas - e inclusive na constru-
lançar limites em cartas oficiais, inclusive nas car- missões, no sentido de evitar, de impedir, de vedar
ção de barragens - do pagamento de ISS. Quan-
tas do Serviço Geográfico do Exército. que a União faça isso.
do se foi construir a hidrelétrica de Tucuruí, lá
Para fazer esta demarcação entre municípios, se instalou a Camargo Corrêa, que montou um O SR. CONSTITUINTEEUÉZER MORElRA-
creio não haver qualquer instituição mais adequa- grande canteiro de obras: escolas de primeiro e V. Ex" me permite um aparte?
da do que o IBGE - Instituto Brasileiro de Geo- segundo graus; hospitais com médicos com pós- O SR. RELATOR (AloysioChaves) - Pois não.
grafia e Estatística. Então, se há o acordo, não graduação; áreas de lazer; habitação em vários
há questões Se não há o acordo, há a eleição O SR. CONSTITUINTEEUÉZER MOREIRA-
níveis; urbanização; ruas totalmente asfaltadas;
e a escolha de um juiz arbitral - e uma decisão Inclusive existe a figura dos convênios entre o
serviços de água. Seus equipamentos passavam
arbitral é definitiva, porque as partes pactuantes Governo Federal e os Govemos Estaduais, que
pela cidade antiga de Tucuruí, que explodiu de
aceitaram submeter-se à mesma e dela não há podem acertar essas coisas. Na medida em que
população - a cidade inchou, e o Governador
recursos. Só restará, portanto, a demarcação, que, haja interesse da União e também do Município,
teve que construir três escolas simultaneamente,
nesta hipótese, será feita, tecnicamente, pelo ór- hospital, delegacia de polícia, instalar banco do para atrair investimentos, o Estado e o Município,
gão técnico, com todos os recursos, instrumentos Estado, quartel de policia, e tudo o mais. Os equi- cada qual por si, através de uma política de inte-
e meios adequados: a Fundação Brasileira de resse global, pode exercer suas faculdades de
pamentos passavam pelas ruas e rebentavam a
Geografia e Estatística. isentar o que lhe for conveniente.
pavimentação fraca e precária das mesmas.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) Aquela população enorme adensava em tomo da- O SR. RELATOR (Aloysio Chaves) - V. Ex'
- Tem a palavra o Constituinte Eliézer Moreira. quele acampamento, e a empresa não pagava tem toda razão. Isto não impede que esta isenção
o Imposto Sobre Serviços. seja alcançada. Mas se amanhã a União achar
O SR. CONSTITUINTEEUÉZER MORElRA- conveniente concedê-Ia, não pode impô-Ia ao Es-
Sr. Presidente, uso da palavra apenas para decla- Essa energia, com tarifas privilegiadas, vai ali-
mentar a A1umara A1bráse a A1unorte;e a popu- tado, não pode mutilar a receita, a arrecadação
rar meu apreço à última contribuição do Consti- estadual, porque atingirá o orçamento. Ela poderá
tuinte Arnaldo Martins em relação ao ressarci- lação vizinha, a população local, está sujeita à
incidência da tarifa comercial. Fizeram uma linha propor, negociar com o Estado, fazer acordo, con-
mento, pela União, da isenção de impostos esta- vênio envolvendo Município, se for o caso e atra-
duais concedida por ela. Particularmente, prefe- de suprimento de energia, para energizar alguns
municípios do sul do Pará, que inauguraram, para vés da Assembléia Legislativa do Estado, ser con-
'riria o instituto da vedação, porque o ressarci- cedida a isenção. Mas devemos impedir que a
mento depende de negociações profunda, am- efeito eleitoral, no dia 10 de novembro, com fes-
tas, fanfarras e anúncios. Essa linha independe União, por sua iniciativa, se apodere deste tributo,
plas, em que as partes têm que estar muito bem que pertence ao Estado, principalmente neste
preparadas, e, geralmente, os municípios não o daquela que vai para o Nordeste, e agora o Pará,
que gera energia elétrica em Tucuruí, que perdeu momento em que procuramos fortalecer a Fede-
estão. Portanto, subordinam-se e colocam-se ração, os Estados e Municípios. O que não exclui,
sempre sob a pata do leão. uma grande parte de seu território para a forma-
ção desse lago, sem outra qualquer espécie de evidentemente, a possibilidade - como o colega
Apenas para dar um exemplo do efeito perverso acabou de acentuar tão bem - de isto vir a ser
da política tributãria da União, a Capital de meu compensação ou indenização, foi incluído no ra-
cionamento, quando o suprimento de energia pa- feito mediante entendimento entre o Estado e
I Estado é, hoje, um porto exportador. O maior a União.
investimento privado da América do Sul, aAlumar, ra esses municípios da região sul é uma coisa
msignificante, imponderável. Ademais, Tucuruí O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues)
produtora de alumínio, alocou-se naquele porto.
está no momento com mais de 300.000kw dispo- - Com a palavra o Constituinte Eraldo Trindade.
Quando a terceira etapa da A1umar estiver con-
cluída, em plena produção de alumínio, possivel- níveis, que poderiam ser transferidos para o Nor- O SR. CONSTITUINTE ERALDO TRINDADE
mente ela será credora de ICMdo Estado do Mara- deste, e não o são porque falta duplicar a linha, - Ouvindo atentamente o que foi exposto e dis-
nhão. Portanto, é uma situação sul generis: o pois a linha atual não tem mais capacidade de cutido pelos nossos colegas Constituintes, come-
Estado se transformar em devedor de ICM para transmitir além do limite que ela já alcançou. ço a pensar que o fortalecimento depende muito
uma empresa privada. Acho, portanto, que essas são isenções brutais. da organização. Isto em relação aos Municípios.
. Esse é um efeito perverso da política tributária. Tivemos esse regime anterior, no qual a União Acho, por exemplo, muito válido se repensar a
Até a matéria-prima que circula no Estado para usou e abusou de tais isenções. A princípio, não respeito do ressarcimento. Mas enfatizei em uma
24 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSmUINTE (Suplemento) Julho de 1987

das nossas reuniões a possibilidade de o Muni- son Marinho, Ronaldo Cezar Coelho, Waldyr Pu· os expositores que poderão ter prazo suficiente
cípio ter mecanismos e autonomia para fiscalizar gliesi, José Agripino, Jayme Santana, Mauricio para respondê-los.
o que exporta. Temos o caso do Território Federal Campos, Luiz Marques, Francisco Rossi, Lídíce Concedo a palavra ao Sr. João Gilberto, para
do Amapá, mais precisamente com respeito ao da Mata, Ervin Bonkoski, Moema São Thiago, iniciar a sua exposição.
Município de Oiapoque, que hoje exporta uma Paulo Delgado e Roberto Freire. Havendo número O SR. JOÃO GILBERTO- Sr. Presidente, Srs.
considerável quantidade de ouro por ano. Só que Regimental, o senhor Presidente declarou inicia- Constituintes, prezados Companheiros de Mesa
o Governo do Território não tem estrutura para dos os trabalhos. O Senhor Constituinte, Luiz da exposição nesta manhã, Sr'" e Srs:
fiscalizaressa exportação e o Amapá vem perden- Soyer, solicita que seja dispensada a leitura da Eu gostaria de iniciar, relembrando um pouco
do muito com isto. Se o Municípiotivesse autono- Ata da reunião anterior, que, colocada em vota- a reforma eleitoral e partidária que o País teve,
mia e uma estrutura criada por ele mesmo para ção, foi aprovada O Senhor Presidente comunica através da Emenda n 9 25, da qual, junto com
fiscalizaras exportações, poderíamos ter um con- ao Plenário que estão presentes os Senhores João o ilustre Presidente, integrei a Comissão pluripar-
trole sobre o que é exportado e o Município pode- Gilberto, Amaldo Malheiros, Bolivar Lamounier e tidária, de mediação partidária, que elaborou o
ria cobrar da União o que lhe é de direito com Pedro Celso Cavalcanti, expositores da audiência anteprojeto.
relação às exportações. Acho muito válida esta pública da reunião de hoje, e os convidam para Devo lembrar a circunstância de que hoje se
posição, pelo menos a estou defendendo desde comporem a Mesa. Continuando os trabalhos, o faz necessário recordar que aquela Comissão tra-
o início dos nossos encontros, das nossas reu- Senhor Presidente comunica que os expositores balhou durante um dos mais penosos momentos
niões, porque o Município, tendo controle para terão vinte minutos para que possam expor os da vida nacional, que era a agonia do Presidente
fiscalizar o que exporta, é evidente que vamos seus pontos de vista sobre o Sistema Eleitoral Tancredo Neves. Às vezes, nós nos reunimos em
ter, a partir da base, uma organização. Com res- e Partidos Políticos no contexto brasileiro. O Se- clima psicológico profundamente adverso, até de
peito aos Territórios que agora serão transfor- nhor Presidente concede a palavra aos Senhores nossa parte mesmo, pelo agravamento da situa-
mados em Estados, Amapá e Roraima, não há expositores. Ao término da explanação dos senho- ção da saúde do Presidente Tancredo Neves. En-
uma estrutura definida. O Governo do Território res convidados, o Senhor Presidente concede a tretanto, mantivemos o trabalho. O Presidente
não tem como fiscalizar o ouro que sai do Muni- palavra aos senhores Constituintes Francisco Tancredo Neves faleceu, o Pais chorou sua perda,
cípio de Oiapoque. Então, o Território vem per- Rossi, Waldir Pugliesi, Luiz Soyer, Moema São mas, pouco menos de 20 dias depois de sua
dendo muito com isto, porque o ouro inclusive Thiago e Ronaldo Cezar Coelho, que formulam morte, estávamos dando ao País uma reforma
é contrabandeado para Caiena, Guiana Francesa. perguntas aos senhores expositores. Esgotada a eleitoral e partidária que resolvia alguns dos pro-
Há uma vontade muito grande do poder muni- pauta dos trabalhos, o Senhor Presidente agra· blemas velhos como a República, no caso do
cipal de fiscalizar, só que ele não tem autonomia dece a presença dos ilustres convidados e enaJ- voto do analfabeto, e dava ao Pais algum embasa-
nem poderes para tal. Acho que esta descentra- tece os relevantes ensinamentos doutrinários tra- mento democrático para a transição.
lização é também muito válida para a fiscalização. zidos a esta Subcomissão, como subsídio para A Constituinte se encontra numa situação pare-
a elaboação do anteprojeto. Nada mais havendo cida, porque a crise conjuntural é muito grande
o SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) a tratar, o Senhor Presidente deu por encerrado' e, muitas vezes, ela se sobrepõe ao trabalho da
- A Presidência indaga ao Srs. Constituintes se os trabalhos, às treze horas e cinqüenta e dois Constituinte, da Imprensa, da opinião pública e,
querem fazer mais colocações. (Pausa.) minutos, cujo teor será publicado, na íntegra, no quem sabe, da cabeça de alguns Constituintes.
Cumprida a finalidade da reunião, a Presidência Diário da Assembléia Nacional Constituinte, con- É preciso que tenhamos a consciência de que
a levanta convocando antes os Srs. Constituintes vocando os Senhores Constituintes para a próxi- a História haverá de dizer que as crises conjun-
para uma outra reunião, amanhã, às 9h 30 mio, ma reunião a ser realizada dia sete de maio, às turais, os problemas graves que precisam ser re-
lembrando que .0 prazo para apresentação de nove horas e trinta minutos, com a seguinte pauta: solvidos, estes vão para um lado, vão para outro.
emendas expira no domingo. A Presidência toma audiência pública com os senhores convidados: mas um dia a Nação terá uma Constituição nas-
ainda a liberdade de solicitar aos Srs. Con.õ:::!:uln- Francisco Weffort, Alberto Goldmann, Orlando cida daqui e que, portanto, este trabalho linear,
tes, que tenham emendas a serem encaminhadas, Carvalho e David Fleísher, E, para constar, eu apesar das tempestades, tem de ser levado adían-
que O façam o mais rapidamente possível, para Sérgio da Fonseca Braga, Secretário, lavreia pre- te, como ontem levou-se adiante uma reforma
que o Sr. Relator possa dispor de tempo para sente Ata que, depois de lida e aprovada, será
a competente análise e elaboração do relatório partidária, enquanto todos nós chorávamos aque-
assinada pelo Senhor Presidente. le momento de dor da situação trágica de saúde
final.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Haven- do Presidente Tancredo Neves.
Com a palavra o Constituinte José Dutra.
do número regimental, declaro abertos os traba- Esta Emenda nv 25 derrubou o princípio da
O SR. CONSTITUINTE JOSÉ DUTRA - Ape- lhos da reunião da Subcomissão do Sistema Elei- fidelidade partidária, como uma necessidade à
nas para esclarecimento: a que horas se encerra toral e Partidos Políticos. transição; acho que agora chegou a hora de exa-
o prazo para a apresentação de emendas? À meia- O SR. CONSTlTCIINTE L(JJZ SOYER - Peço minarmos fidelidade partidária e democracia, ou
noite? a palavra pela ordem. seja, que limites têm a representação popular num
O SR. PRESIDENTE (Luiz Alberto Rodrigues) regime democrático. A fidelidade partidária de on-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Con- tem é totalmente inaceitável, porque ela constran-
- Teoricamente, à meia-noite de domingo. Va- cedo a palavra ao nobre Constituinte Luiz Soyer,
mos inclusive estudar uma estrutura para o rece- gia, em termos absolutos, a liberdade de voto
pela ordem. e submetia, absolutamente desgarantido, o paria-
bimento dessas emendas.
Está encerrada a reunião. O SR. CONSTITUINTE LUIZ SOYER- Pediria mentar à opinião de órgãos partidários. Esta
dispensa da leitura da Ata, tendo em vista a pre- Emenda n° 25 estabeleceu, no Pais, a livreorgani-
COMISSÃO DA ORGANIZAÇÃO sença dos nossos expositores, para ganharmos zação de Partidos políticos, o voto do analfabeto
ELEITORAL, PARTIDÁRIÃ tempo. e outros grandes avanços, inclusive o restabele-
E GARANI1AS DAS O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) -Atendo cimento do princípio das eleições diretas, desde
INSrnUlçÓES os Municípios, dos Territórios que nunca tinham
a sugestão do nobre Constituinte.
eleito prefeito, passando pelos Municípios, das Ca-
9" Reunião Ordinária O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- pitais, área de segurança, até chegando à eleição
Aos seis dias do mês de maio do ano de mil O objetivo da nossa reunião é uma nova audiência presidencial.
novecentos e oitenta e sete, às nove horas e cin- pública em que temos o prazer da presença dos Vejam, Srs. Constituintes, o que aconteceu nes-
qüenta e um minutos, na sala da Comissão de Srs. João Gilberto, Arnaldo Malheiros, Bolivar La- se processo da reforma partidária eleitoral anterior
Relações Exteriores do Anexo 11 do Senado Fede- mounier e Pedro Celso Cavalcanti. Convido-os, e tão recente, de 85 para cá, um problema gravís-
ral, reuniu-se a Subcomissão do Sistema Eleitoral para que tomem assento aqui à Mesa. simo. O Congresso, que foi capaz de mexer em
e Partidos Políticos, sob a Presidência do Consti- Diretora dos nossos trabalhos. instituições, em estruturas tão antigas, como, por
tuinte Israel Pinheiro Filho, com a presença dos Cada expositor tem o prazo de vinte minutos. exemplo, a proibição de o analfabeto votar, que
Senhores Constituintes: Francisco Sales, Herácli- Terminadas as exposições dos 4 Srs. Expositores, vinha desde a Proclamação da República, que
to Fartes, José Melo,LélioSouza, LuizSoyer, Rob- os Srs. Constituintes terão direito de questionar tinha permanecido por todas as Constituições,
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 25

ao Congresso não conseguiu dar os passos se- Ela será sólida, internacionalmente respeitada, in- O partido político adquire personalidade jurí-
guintes e ficamos sem uma nova lei dos Partidos ternamente respeitada, se ela abrigar partidos dica do direito público, mediante o registro do
políticos, e ficamos sem um novo Código Eleito- ideológicos minoritários, mas que precisam se seu estatuto em Tribunal Superior Eleitoral.Aqui,
ral. E aí tivemos um clima de caos, caos jurídico, expressar. Ela não será sólida,não será respeitada, a novidade está na personalidade jurídica de Direi-
no País, porque tivemos uma Constituição avan- se ela não tiverlugar para que os partidos ideoló- to Público, que a Comissão Afonso Arinos intro-
çada, os princípios da Constituição estão avança- gicos, que representem restritas correntes, como duziu no debate e que me parece uma contri-
dos, e uma legislação retrógrada, e, ao meu ver, um partido tradicionalista que viesse a surgir, a buição interessante. Caracterização clara de que
inclusive, inconstitucional. Tanto que o Tribunal ultra direita conservadora, ou um partido comu- o pPartido político é uma instituição do Direito
Superior Eleitoral, no início, interpretou de que nista, como temos mais de um, se esses partidos Público.
não tomaria nenhuma providência,enquanto não não tiverem condições de expressão legal, o nos- Apartir daí,temos que tocar a situação de com-
viesse uma nova lei dos Partidos políticos. Como so processo democrático não será sólido e nem patibilizar a livre organização partidária com os
o Congresso se omitiu, o TSE terminou tendo respeitado. Então, defendo a livrecriação de parti- critérios de representação. Nunca chegamos, no
que resolver alguns casos concretos. Assim, por dos e defendo a definiçãoque foidada na Emenda Brasil,a um equilibriosobre isso. Sugiro aqui duas
exemplo, levou até o final o processo de registro n° 25, quanto a este assunto, sua organização alternativas: uma é a alternativa que estabelece
da Frente Liberal, para não atrapalhar a vida do e funcionalmente, resguardando: soberania na- o mínimo para ele obter representação nacional
Partido, mas, tendo em vista a lei antiga, que, cional, regime democrático, pluralismo partidário e, se ele não atingir esse mínimo em três eleições
neste assunto, é inconstitucional, porque ela é e direitos fundamentais da pessoa humana. gerais, será cancelado. Portanto, num ciclo de
uma leirestritiva, é uma leique impõe percentuais, Colocamos, na Emenda rr 25, um princípio oito anos, a partir da primeira eleição geral, consi-
impõe limites muito duros à organização parti- que os Estados Unidos e alguns países têm, e derando que temos uma eleição geral para a Câ-
dária, enquanto que o princípio constitucional é que aqui, nó Brasil,foimuito contestado. O direito mara dos Deputados, daí a quatro anos temos
outro de o cidadão escolher o partido e o partido não outra, e daí a mais quatro anos, outra, Em três
Agora,estamos nesta situação. Por que os Parti- poder escolher o cidadão, ou seja, a filiação parti- eleições gerais, será cancelado o seu registro e
dos novos não têm registro? Porque, para obter dária passa a ser direito do cidadão. Eu, João passaremos, por lei ordinária, a prever hipótese
o registro, eles têm que atender à Lei Orgânica Gilberto, escolho o partido, o partido não pode de reabilitação. Mantenho aqueles percentuais
dos Partidos Políticos,que foi escrita pelo regime me fechar as portas. É assim nos Estados Unidos. que a Emenda n° 25 propõe neste caso: 3% do
constitucional que já foi modificado. Essa Lei Or- Quando a pessoa vai à prefeitura e se inscreve eleitorado nacional, sendo que distribuídos em
gânica é extremamente restritiva, por exemplo, no partido que quer. Esse princípiofoi muito con- 5 Unidades da Federação, com o mínimo de 2%,
e especialmente no número de filiados, em cada testado e, hoje, acho que a opinião majoritária em cada uma das cinco Unidades. Faço uma
grau, cada circunscrição, para o Partido se orga- dos brasileiros não é em favor deste princípio. sugestão que é mais do meu gosto, que à segunda
nizar: Ela impossibilita a organização de vários Pode o General Newton Cruz chegar ao Partido alternativa e que depende de uma opção de V.
Partidos no País, sem dúvida. Ela foi feita para dos Trabalhadores e dizer que quer se inscrever Ex'5 vamos aceitar partidos regionais e munici-
que o País tivesse poucos Partidos. Então, é por no Partido dos Trabalhadores e o Partido dos Tra- pais, ou partidos que permaneçam longo tempo,
isso que temos este quadro de Partidos provisó- balhadores não ter mecanismo para dizer não? nesta hipótese, regionais e municipais? Se a nossa
rios, porque a própria emenda garantiu o surgi- Parece que os brasileiros não aceitam bem isso. vontade for esta, podemos estabelecer uma vida
mento deles, a Constituição garantiu o surgimen- Então, estou sugerindo uma segunda redação: permanente para esses partidos, e aí, para ter
to deles. A lei não permite que eles se legalizem, é assegurado ao cidadão o direito de pleitear o alguma regra que impeça a pura e simples pulveri-
que eles se registrem. ingresso ao partido político, nos termos do res- zação do quadro de 200, 300 partidos a maior
Então, esta situação, Srs. Constituintes, é que pectivo estatuto e programa. Portanto, volta ao parte deles escritórios que agenciam aluguéis de
não pode haver depois da Constituição.Escrevam partido político o poder de decisão de querer ou sigla que muito se critica estabeleça um critério
a Constituição, mas em curto prazo, escrevam não o novo filiado. É uma discussão de direito, para o partido concorrer na eleição, ou seja, ele
uma nova lei dos Partidos políticos e um novo direitos fundamentais, se a inscrição em partido é livre para criar. Os partidos políticos poderão
código eleitoral,senão continuaremos a andar no político é um direito do indivíduo, ou se é um ser criados às centenas, mas para concorrer a
caos dessa forma, daqui a pouco, até a própria direito do partido. É uma discussão fundamental uma eleição, o partido teria que provar uma coisa:
liberdade será considerada como fator do caos, essa. Mas vi a experimentação desse princípio ter 0,5% dos eleitores daquela circunscrição filia-
com a criação do caos, enquanto que o caos e não teve boa receptividade. dos. Então, 0,5%, no município "X", ele pode
é o resultado de o Congresso Nacional, a legisla- concorrer naquele município Meio por cento do
É vedada a utilização, pelos partidos políticos,
tura anterior, do qual eu fazia parte, não ter com- de organização paramilitar. Isto é o óbvio, mas Estado, num determinado Estado, num determi-
pletado a sua obra, ou seja,ter abdicado de regular várias Constituições modernas têm isto, até por- nado Território, ele pode concorrer naquela cir-
os princípiosconstitucionais que ele mesmo tinha que elas foram feitas depois da 11 Grande Guerra, cunscrição. Meiopor cento do País, ele pode con-
criado. Istoé muito importante. É importante deci- em que tínhamos agregada a experiência dos par- correr às eleições federais. Meio por cento não
dirmos os princípios constitucionais, o sistema tidos fascistas, que sempre tiveram organizações é muito, se tomarmos um deputado de São paulo,
partidário,o sistema eleitoralque queremos, mas paramilitares. É proibida a subordinação dos par- quantos milhões de eleitores tem a cidade de
é importante que tenhamos a consciência de que São Paulo? Quatro milhões, o Município de São
tidos políticos a entidade ou governo estrangeiro,
eles não se viabilizarão, se não fizermos, a curto Paulo, ou cinco milhões. Então, teríamos 25 mil
Discutimos muito isto, naquela ocasião. A pro-
prazo, depois de promulgada a Constituição, as posta da Comissão Afonso Arinos excluiu esta filiados, para concorrer às eleições municipais de
leis necessárias. vedação, mas parece-me que, como ela está redi- ,que seria o caso mais grave do País.Em compen-
Srs. Constituintes, tenho por hábito tentar ex- gida e que à época, se o Presidente recorda, foi sação, num município, com mil eleitores, com
pressar, em redação de artigos, as idéias que eu uma redação do Senador Fernando' Henrique cinco filiados, o partido concorreria. Então, para
possa apresentar ou até as alternativas que eu Cardoso, parece-me que é uma reação perfeita. achar um percentual que se ajuste a São Paulo
possa apresentar. Parece-me, que, quando vamos Não se pode permitir subordinação. O Brasilnão e se ajuste ao menor municipio do Brasil, é uma
escrever o artigo, é que surgem as dúvidas e os está fechado ao Mundo Que o Partido Social De- coisa muito complicada. Mas é bem menos este
problemas. Por ISSO, acho que a secretaria distrí- mocrata do Brasil se una ao Internacional Socia- percentual do que as exigências de hoje para o
buiu aí, e se não o fez, temos aqui alguns exem- lista; que o Partido Democrata Cristão do Brasil partido funcionar e os que estão na legislação
plares, inclusive para os meus companheiros de se una ao Internacional Democrata Cristão Hoje, ordinária e que Impedem que estes partidos que
il'\esa eu gostaria de passar algumas sugestões essas correntes ideológicas se organizam mun- forma criados, em face da Emenda n- 25, tenham
rápidas, até como alternativas, sobre três questões dialmente. Não se pode permitir é subordinação, vida permanente.
fundamentais: partido, voto e eleitor que as decisões sejam tomadas lá fora, seja por Neste caso, que é um caso mais aberto, a minha
Sobre Partido, acho que o princípio da livre governo estrangeiro, seja por organizações es- sugestão reduz, inclusive, o coeficiente nacional
criaçãopartidária é um princípio intocável;é uma trangeiras. Então parece-me que esta redação re- para ele ter representação federal, que seria ape-
thave da democracia. Direi mais: a democracia solve esta questão e eu a mantenho, ou sugiro nas 2% dos votos do País. Resolvido esse ponto,
orasíleira tem uma espécie de aval nesse campo. a sua manutenção. sugiro a redação da Emenda 25 para o artigo
26 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

que prevê a lei dos Partidos Políticos. Hoje, temos nome. Não é bom citar, mas o Partido de Raul quero pagar impostos. Se eu disser que não quero
uma Lei Orgância dos Partidos Políticos, aliás, PiJla, de Paulo Brossard etc, o Partido Libertador prestar o serviço militar, eu terei uma punição;
inconstitucional. Pela Constituição anterior, tinha- no Rio Grande do Sul. É um Partido com um perco a cidadania. Cidadania significa direitos e
mos uma Lei Orgânica. O que quer dizer? Quer contingente respeitável de votos. Teria hoje, no deveres. O voto é um dos deveres. Eu posso até
dizer que a lei organiza os Partidos. Então, a lei Rio Grande do Sul, 300 mil ou 400 mil eleitores. votar em branco; em sou livre. O silêncio e o
vai lá, diz como é a convenção, cada passo é Não sei se ele venceria a eleição num distrito. segredo quardam a minha manifestação de von-
uma burocracia enorme. A futura lei, definida por Então, nessa hipótese, se o Partido Libertador hoje tade, agora está entre as coisas intrínsecas da
este artigo, por este dispositivo, que já está na existisse, existe o Partido Liberal com a mesma cidadania que eu tenho que me manifestar, eu
Constituição, dizo seguinte: que a lei,e aqui acres- sigla mas não é o mesmo Partido. Se o Partido tenho que tomar o gesto de manifestação no mo-
cento apenas que deva ser complementar, aceito Libertador hoje existisse e se houvesse uma eíeí- mento de se resolver a respeito da vontade nacio-
a sugestão da Comissão Afonso Arinos neste sen- ção, no Rio Grande do Sul, para Câmara dos nal, a respeito dos governos. Eu não estou numa
tido, acho que esta matéria é tão importante que Deputados, é provável que ele não conseguisse sociedade, não existe sociedade organizada em
precisa ser feita por lei complementar à Consti- eleger um Deputado pelo sistema distrital. Ele, nenhum país do mundo que permita que eu, cida-
tuição, estabelecerá normas sobre criação, fusão no entanto, teria, como corrente de opinião, 200 dão, declaro que sou cidadão deste País, mas
incorporação, extinção e fiscalização financeira a 300 mil eleitores. O mesmo pode se aplicar que me nego a pagar impostos e que ninguém,
dos Partidos Políticos e poderá dispor sobre regras ao Partido dos Trabalhadores. Dificilmente, ele constitucionalmente, pode me obrigar a pagar im-
gerais para sua organização e funcionamento. terá; no meu Estado, por exemplo, vitória num postos. Tem países que usam o voto facultativo,
Não mais uma lei orgânica, mas uma lei dos Parti- distrito eleitoral, pelo menos, nas condições de alguns países até de democracias sólidas. Mas
dos Políticos. Uma lei que estabeleça as coisas hoje. Entretanto, ele elegeu uma representação não compreendo como é que alguém possa se
gerais; não uma lei que vá dizer como o Partido parlamentar neste Congresso, quer dizer, teve vo- demitir da obrigação de cidadão de votar. Acho
tem que se reunir, a hora da reunião, a maneira tos, no conjunto do Estado, suficientes para eleger que a obrigatoriedade do voto, como a obrigato-
como é feita a ata, como hoje, infelizmente, a mais de um representante, até, aqui. Seria e sem- riedade de pagar impostos são intrínsecas dos
usam. Mas há de ficar um princípio na Consti- pre foi a minha defesa do voto proporcional, por- direitos da cidadania. Para exercer os direitos, eu
tuição e as Constituições européias, em geral, o que o voto proporcional permite uma represen- tenho determinados deveres.
têm, que é definir que a estrutura interna dos tação do espectro de idéias, sejam elas de centro, "Os militares são alistáveis, exceto os conscritos
Partidos Políticos será organizada de forma demo- de direita, de esquerda, deste ou daquele colorido. durante o período do serviço militar obrigatório".
crática e participativa Isto é novo, nem na Emen- Enquanto que o voto distrital,no seu caráter majo- Aqui está um problema que não conseguimos
da 25 nós colocamos. ritário, ele sempre exclui a minoria. Há uma elei- resolver na Emenda 25. Bem que tentamos. As
Um outro artigo, inspirado na Constituição ale- ção majoritária, numa determinada área, em que lideranças partidárias dos grandes Partidos da
mã, em face de acontecimentos naquele Pais, alguém ganha, alguém perde e os votos dos que época, da maioria, na época, disseram que não
é fruto até de uma reforma recente, de uma emen- perderam não estão representados. No voto pro- tinham condições de votar o direito de voto ao
da recente à Constituição alemã que me parece porcionai, não. O conjunto das correntes que con- cabo, ao soldado da Marinha, do Exército, da Ae-
que, no Brasil, é muito necessária. Os Partidos correm à eleição está representado. Porque ela ronáutica, mas também das Polícias Militares. É
Políticos devem prestar contas pública e periodi- pode ter perdido as eleições, em todos os muni- o único tipo de cidadão ainda cassado neste País.
camente da origem dos seus recursos e do seu cípios, mas aquele conjunto de votos que tinha Ouvi um depoimento de um Cabo PM do Rio
patrimônio, Independente dos meios de fiscali- em cada município foi somado para ver o peso de Janeiro que me tocou e tenho repetido por
zação que a lei venha a prever sobre os Partidos. que ele tem numa proporcionalidade. todo o Brasil. Ele disse: "Dr., eu hoje sou Cabo
Há necessidade de prestação de contas públicas, O outro artigo fala do eleitor: da PM, tenho 20 anos de PM e tenho 6 filhos;
ou seja, se achamos que Partido Político é uma tenho uma vida, uma folha limpa, sou cônscio
"São eleitores os brasileiros que à data da
instituição de direito público, seu patrimônio e das minhas responsabilidades e por isto estou
eleição contem 18 anos ou mais alistado na
a sua receita devem ser de conhecimento público. impedido de ser cidadão, não voto. Amanhã, se
forma da lei."
Estas eram as minhas sugestões sobre Partido eu cometer um crime grave, vão botar a minha
Político. Rapidamente, acho que já esgoto o meu Esta já é a redação da Emenda 25 e aqui está corporação formada, vão me despir o uniforme,
tempo, gostaria de fazer sugestões sobre voto e uma das precariedades da falta de regulamen- vão me processar e eu vou virar duas coisas: mar-
eleitor, questões que também estão, a meu ver, tação: o Tribunal Superior Eleitoral, até hoje, não ginal e cidadão e vou ter o direito de voto, expulso
sob exame nesta Comissão. cumpriu este dispositivo constitucional. Isso signi- da minha corporação". Realmente, esta questão
Sugiro o artigo geral, dizendo o voto é universal, fica o seguinte: eu faço aniversário dia 14 de no- é uma questão muito séria.
é o sufrágio universal, o voto é direto e secreto vembro; eu tenho o direito de votar, porque, no Vi, com muita felIcidade, no dia 25 de agosto,
e as eleições são periódicas. Nossa Constituição dia 15 de novembro eu já sou eleitor. Acontece se não me engano do ano passado, num boletim,
tem deixado de dizer isto. Regra geral, as Consti- uma eleição no meu País, eu já tenho 18 anos, num jornal oficial aí do Exército, o Sr. Ministro
tuições de países democráticos rezam que as elei- completei na véspera e não votei. O Tribunal não do Exército retirando a resistência que os Minis-
ções são períodícas. Os Partidos Políticos terão aplicou, porque disse que faltou a lei regulamen- tros militares dos sucessivos govemos, que os
representação proporcional na forma que a lei tando, ou seja, seria o alistamento prévio daqueles comandantes militares, que a doutrina militar do
estabelecer. Neste artigo, entraria a polêmica que, até o dia 15 de novembro, farão os 18 anos Brasil tinha a esse direito do voto. Ele escreveu
questão do voto proporcional, do voto distrital, Porque, hoje, temos uma segregação; a eleição um artigo em que ele reposicionava-se a respeito
majoritário, do voto distrital misto etc. Pessoal- é em 15 de novembro e só vota quem faz 18 do assunto e defendia e defende o direito do voto,
mente, sou proporcionalísta, não sou distritalista. anos até o dia 5 de agosto, que é o prazo que fazendo uma reserva, que apóio, que é aquele
Reconheço que a opinião pública brasileira cresce se encerra o alistamento. Isto está errado. O direito período do serviço militar obrigatório. Parece-me
muito em favor do voto distrital. Creio que não não é em relação à data de alistamento; o direito que teria justificações para isto, mas não o solda-
seja assunto da Constituição escolhermos este é do cidadão que tem 18 anos. Entretanto, o TSE do profissional, ou seja, o cidadão que assumiu
ou aquele modelo mais detalhado do voto distrital, negou-se a aplicar o dispositivo constitucional, a vida militar como a sua profissão, seja na Mari-
mas é interessante e, se enveredarem por este porque o Congresso não fez as alterações no Có- nha, seja no Exército, seja na Aeronáutica ou seja
caminho, V. Ex" já discutem um pouco a visão digo Eleitoral, conforme havia dito no início da nas Polícias Militares.
do futuro, de que tipo de voto, de que forma minha exposição. Então, acho que esta é uma dívida que nós,
seria implantado o voto distrital. Eu defendo o "O alistamento e o voto são obrigatórios, salvo de ontem, temos com a Nação, e que esta Consti-
voto proporcional, porque é o voto que assegura as exceções previstas em lei". Também é dispo- tuinte pode saldar: terminar com a discriminação
a representação das correntes de opinião. sição atual. Sou a favor da obrigatoriedade do de brasileiros, aos últimos brasileiros discrimina-
Tenho certeza de que, implantado o voto distn- voto, quer pelas condições típicas do Brasil, quer dos quanto ao direito de voto que podem definiti-
tal no País, as correntes de opimão deixarão de em tese. Veja: eu, para ter o direito de cidadania vamente ser incluídos como cidadãos e termos,
ter representação. Citava, antigamente, uma Par- brasileira, eu não me posso dispensar de pagar finalmente, um sistema em que possamos dízerrt
tido e, agora, tem um novo Partido com esse impostos. Eu não posso chegar e dizer: "eu não o voto é realmente universal. Até o analfabeto
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 27

já vota, mas o soldado, o cabo, inclusive o soldado sas no dizer que, obrigatoriamente, teremos um 4. Deixar às Constituições estaduars tudo
e o cabo das PMs não votam. Então, podemos tipo de voto que seja acessível ao analfabeto. quanto disser respeito à organização política dos
terminar com a discriminação e, só isto, vale todo Por último, o tempo já se esgota, peço descul- Estados-membros e Muncípios.
o esforço que V. Ex" tenham feito, os Srs. e as pas por não ter ingressado em outras questões, 5. Criar um sistema eleitoral e partidário tão
sroS Constituintes tenham feito, durante este perío- como, por exemplo, a da inelegibihdade, da ques- simples e compreensível, por parte do eleitorado,
do de trabalho nesta Subcomissão. tão da reeleição etc., que são questões que tam- quanto seja possível, pois, na medida em que
bém interessam a esta Comissão, mas, durante o povo entender melhor a maneira pela qual parti-
Os Bombeiros estão incluídos na Polícia Militar.
os debates, estas questões certamente aflorarão. cipa da vida política do País, maior será a sua
Lembro que o bombeiro, inclusive, é uma figura integração e mais expressiva a sua co-responsa-
Então, agradeço esta oportunidade de estar aqui
diferenciada, em alguns Estados, até nem partici-
e trazer a minha contribuição modesta, mas tam- bilidade pelos destinos do País.
pam da Polícia Militar, também está discriminado.
bém e sobretudo, especialmente, de lembrar aos Quanto ao sistema eleitoral, eu subdividi a legis-
Pela regra atual, que é uma coisa discutível, ilustres Constituintes que precisamos de princí- lação.
não podem alistar-se eleitores que não saibam pios constitucionais democráticos precisamos,
exprimir-se na língua nacional e os que estejam SISTEMAELEITORAL
sobretudo de um Congresso pós-Constituinte que
privados dos direitos políticos, nos casos previstos não se omita, como, infelizmente, a minha legisla- LEGISLAÇÃO
nesta Constítuição. De agora em diante, discrimi- tura se omitiu, de fazer uma nova lei dos Partidos 1- Deve ser mantida a competência privativa
nação dos direitos políticos são do Direito político, Políticos e de fazer um novo Código Eleitoral que da Umão para legislar sobre Direito Eleitoral, neste
e a Constituição sempre preverá alguns casos, realmente expresse, realmente regule os princí- compreendida, evidentemente, a legislação parti-
são só os previstos na Constituição. Cidadão con- pios constitucionais que colocaremos na Carta dária. A elaboração legislativa deve ser exclusiva
denado a mais de tantos anos de pena, cidadão Magna do Pais. do Congresso Nacional, vedada qualquer possibi-
em que a suspensão dos direitos políticos tenha O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - lidade de participação do Executivo através de
sido da própria sentença judiciária, porque foi cri- Concedo a palavra ao Dr. Arnaldo Malheiros. decretos-leis, leis delegadas, ou, menos ainda, de
me de abuso de autoridade, foi cnme na condu- O SR. ARNALDO MALHEIROS - Sr Presiden- decretos.
ção da coisa pública, enfim, estes casos e até te, Exm" Srs,Constituintes, meus ilustres Compa- Aliás, acrescentando uma observação que fez
aquele caso, não sei se vai permanecer, de o servi- nheiros de Mesa: o Dr. João Gilberto, acho que o Congresso, na
ço militar permanecer obrigatório, tem a regra É uma honra muito grande que me emociona legislação eleitoral que tem ditado até hoje, tem
constitucional de que aquele que se nega a prestar profundamente esta oportunidade que me é con- dado um excessivo poder regulamentar à Justiça
o serviço militar também perde os direitos políti- cedida de trazer uma contribuição, ainda que mo- Eleitoral. É exatamente por isso que aconteceu
cos. Mas a questão dos que não saibam expri- desta, aos trabalhos de elaboração da Carta Cons- o problema, por exemplo, do voto do analfabeto.
mir-se na língua nacional merecerá uma reflexão titucional, que todos nós esperamos seja o resul- A intenção evidente do Constituinte foi a de per-
maior nossa, por cal!sa dos problemas das comu- tado deste esforço, deste trabalho conjunto que mitir o voto do analfabeto e a Justiça Eleitoral
nidades indígenas. E uma questão a ser enfren- V. EX'" e os colaboradores que aqui têm compa- cerceou essa liberdade, fazendo com que o anal-
tada. Até aqui, o Direito Constitucional brasileiro recido vão procurar realizar em benefício do País. fabeto votasse através de números, o que implica
agiu desta maneira que eu ainda mantenho. O nobre Deputado Relator, Constituinte Fran- em que ele saiba ler e escrever, portanto, anulado
Por último, é claro que, na Constituição atual, cisco Rossi, me pediu que fosse objetivo e prático, o efeito da disposição constitucional.
houve uma emenda que estabeleceu o voto do evitando digressões doutrinárias ou abordagens iI - Para que a legislação eleitoral e partidária
analfabeto, pois tem uma referência expressa a mais teóricas a respeito dos problemas que deve- não seja casuística, como tem sido, deve ser obs-
isto. Na próxima Constituição, não precisa mais ríamos tratar hoje e, por isso, me permitir trazer ,tada qualquer alteração nas regras VIgentesdesde
disso, mas eu gostaria de colocar um princípio umas anotações, trazer escritas as observações um ano antes de qualquer pleito.
constitucional que obrigue a Justiça Eleitoral, que que desejaria transmitir a esta nobre Subcomis- DI - Deve competir aos Estados estabelecerem
anda muito fechada em relação a isto, a realmente são e que fiz, sem a preocupação, aliás, louvável nas suas Constituições normas sobre condições
criar um tipo de voto acessível ao analfabeto. A que teve o ilustre ex-Deputado João Gilberto, de de elegibilidade, número de deputados estaduais
lei permite. Tivemos uma lei que dizia textual- trazê-las em formulação já de normas constitu- e de vereadores, sem qualquer interferência da
mente que a Justiça Eleitoral podia usar a cor, cionais, mas apenas de, vamos dizer, lembretes União em sua capacidade de auto-organização.
ou símbolo, o que ela quisesse no modelo de de textos que seriam recomendáveis, na minha
cédula É claro que não vamos cometer o erro MANDATOS
opinião, para o exame da Subcomissão.
que já se cometeu no passado de até desenhar A minha idéia sobre a Constituição de que 1- Todos os mandatos devem ser de quatro
cédula na lei. Mas deixamos à Justiça Eleitoral ela tem que ser um instrumento destinado a asse- anos, permitida a reeleição dos Chefes dos, Poder
este arbitrio e a Justiça Eleitoral insistiu num mo- gurar os direitos e as garantias dos indivíduos, Executivo por uma vez, desde que se desincom-
delo de cédula que resultou nesta quantidade de dos cidadãos, e ao mesmo tempo, limitar os pode- patibilizem seis meses antes da eleição.
voto em branco no País, ou seja, a Justiça Eleito- res do Estado respeitando os princípios republi- 11- Não devem coincidir as eleições municio
ral, o Direito Eleitoral, no Brasil, não quer se abrir canos e federativos. pais com as gerais (federais e estaduais). A solu-
à realidade do voto do analfabeto. Quase todos Esse conceito, transportado para o tema de ção ideal, a meu ver, seria a de se realizarem
os países do mundo têm o voto do analfabeto; trabalho da Subcomissão, impõe algumas aflrma- separadamente as eleições de cada nível de go-
quase todos os países do mundo já resolveram ções preliminares, básicas, que vão depois ser verno, não só para que se evitem influências recí-
como é o voto do analfabeto. O Brasil insiste desenvolvidas nestas anotações que fIZ. A meu procas que desfiguram a manifestação do eleito-
em ter um tipo de voto que, infelizmente, dificulta ver, a Constituição deve: rado como para facilitar o exercício do voto e
o voto do analfabeto e do semi-alfabetizado. Aliás, 1. Assegurar concretamente o princípio de sua apuração.
diria sempre que, no momento que damos o voto que o poder emana do povo, garantindo-lhe o Nunca será possível, a meu ver, que se faça
ao analfabeto e que, portanto, surgisse uma cédu- direito de escolher seus representantes, a partir apuração imediata de eleição pelas Mesas recep-
la que fosse o analfabeto capaz de votar, estaría- das indicações partidárias. Ser governado por toras, enquanto tivermos eleições como, por
mos, também, ajudando a milhões que já eram quem for eleito por sua maioria e representação exemplo, as últimas eleições, de 1986, em que
eleitores, porque sabiam desenhar o nome, lá na tão fielmente quanto possível, de acordo com as o eleitor votava para dois candidatos a Senador,
Justiça Eleitoral, mas que não sabiam na hora tendências em que se divide. um candidato a Deputado Federal, um candidato
votar, porque a cédula que existia e continua exis- 2. Evitar ao máximo a interferência, o abuso a Governador, um Deputado Estadual; uma cédu-
tindo, infelizmente, dificultava isto. Então, sugiro do Poder Público na vida partidária e na manifes- la muito complexa, muitos votos para serem apu-
que a Constituição, sem entrar em detalhes, abra tação e apuração da vontade popular. rados, suscitando uma série de dificuldades. Em
o caminho para a lei futura, etc., a lei que facíhtará 3. Restringir-se às normas estritamente ne- experiências anteriores, como já ocorreu em São
o exercício do voto pelos analfabetos, isto é, um cessárias para permitir a permanente atualização Paulo anos atrás, as Mesas receptoras ficaram
dispositivo que seja um dispositivo pelo menos da lei à realidade de cada momento politico da completamente perplexas e não conseguiram
programático aqui. Depois, a lei resolverá as coí- vida nacional. realizar a contendo o seu trabalho e vararam cerca
28 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAl..CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

de 12 a 14 horas para apurar uma única uma. podendo ser modificados depois de cada censo partidários, que devem caber aos estatutos parti-
/'dé para esse efeito, a eleição tem que ser simpli- demográfico nacional. dários.
ficada. UI-A definição dos distritos deve levar em UI - Deve ser privativo dos filiados a Partidos
m- O Presidente da República deve ser eleito conta sua contigüidade, o número de habitantes, concorrerem como seus candidatos a qualquer
concomitamente com os membros do Congresso o número de eleitores e a afinidade sócio-eco- cargo eletivo, não se justificando a exceção aberta
Nacional; os govemadores com os deputados es- nômica da região abrangida, tanto quanto isso pelo anteprojeto já referido, que exclui dessa obri-
taduais e os prefeitos com os vereadores, o que seja possível. gatoriedade os candidatos à Presidência da Repú-
concorrerá para que os eleitos, em regra, venham IV -A elaboração das listas partidárias far-se-á blica. Justamente por se tratar do cargo executivo
a ter maiorias nas respectivas Casas legislativas. na forma que a lei estabelecer, assegurada a parti- de maior relevância, se mantido o regime presi-
cipação de todos os filiados nas eleições internas dencialista, não se compreende que possa ser
ELEITORADO E REPRESENTATMDADE
dos Partidos. disputado por eleitor não filiados a qualquer Par-
1- Deve ser mantida a Constituição vigente, Nessa matéria, principalmente, eu realço o que tido.
que assegura o voto aos maiores de 18 anos, já disse, lendo o texto, que entendo que a Consti- N -A Constituição deve assegurar a todos os
inclusive analfabetos e excluídas as praças de pré. tuição deve estabelecer os princípios basícos e Partidos que tenham candidatos registrados a
É um posição pessoal minha. O alistamento e deixar o máximo de detalhamento para a legisla- qualquer eleição, o acesso gratuito aos meios de
o voto devem continuar obrigatórios. ção ordinária, evitando que se cristalizem normas comunicação social na campanha eleitoral e a
11 - A Constituição atual não assegura a fide- que a realidade e a vivência do sistema vão de- todos os Partidos registrados o mesmo direito
lidade ao princípio da representatividade, estabe- monstrar que mereçam alteração, mereçam mo- para a divulgação sistemática de seus programas,
lecendo um critério distorcido no atual art. 39, dificação, com o passar dos anos. É evidente- não deixando que essa matéria fique exclusiva- j

para a flxação do número de deputados federais mente que um sistema que foi bom, na Consti- mente ao critério do legislador.
em relação ao eleitorado. Não se pode argumen- tuição de 46 anos, não se mostra que é bom finalmente, eu não incluí, por um lapso, no
tar com a desigualdade entre bancadas de Esta- em 86. É preferível que o legislador ordinário te- texto que eu havia preparado, mas a sugestão
dos de eleitorados diferentes, uma vezque a repre- nha uma margem de atuação maior, embora os da publicidade das receitas e patrimônio dos Parti-
sentação na Câmara dos Deputados deve ser do princípios básicos devam ser fixados na Cons- dos parece-me uma norma excelente, mas que,
povo e não dos Estados. Estes têm sua represen- tituição. como observou o Dr. João Gilberto, vinda do Di-
tação paritária no Senado federal, para contraba- reito alemão, tem uma contrapartida e penso que
lançar a desiguldade da representação popular deve merecer a consideração de V.Ex'" t de que,
na Câmara. PARTIDOS roirncos na legislação alemã, os Partidos recebem recur-
ELEIÇÕES PARA CARGOSEXECUTNOS 1-O conjunto de normas constantes do atual sos financeiros do Estado, após cada eleição, na
art. 152 da Constituição - introduzido pela proporção dos votos que obtêm. Essa seria, segu-
I- As eleições para Presidente da República, ramente, uma maneira, embora eventualmente
Governador de Estado e Prefeito Municipaldevem Emenda Constitucional n° 25/85 - atende satis-
fatoriamente ao intuito de liberalizar a formação de execução talvez difícil, pelas condições econõ-
fazer-se por maioria absoluta de votos dos eleito- rmcas do País, mas uma maneira eficiente, propi-
res que comparecerem ao pleito, ou seja, incluí- dos Partidos, deixando a estes maior margem de
autonomia na sua organização. O Anteprojeto da ciando que os Partidos tenham recursos próprios
dos os votos nulos e os em branco. Não alcançada e independentes, sem necessidade de recorrerem
a maioria absoluta, os dois candidatos mais vota- Comissão Afonso Arinos contém disposições se-
melhantes, com algumas modificações para me- a patrocinadores e flnancíadores de suas campa-
dos concorrerão em segundo turno, elegendo-se nhas e, assim, terem uma liberdade, sem a qual
o que obtiver maioria simples. Neste caso, a lei lhor e outras menos felizes. Do confronto entre
ambos os textos, parece-me merecer realce as eles não podem exercer realmente a sua atuação
deve assegurar reabertura plena da propaganda independente e livre na vida política do País.
eleitoral seguintes observações:
1"- Não deve constituir direito de qualquer Como eu disse, procurei ser sintético. Essas
11-Todos os eleitos para cargos executivos são as posições que eu queria transmitir à Subco-
devem iniciar seus mandatos no dia 19 de janeiro eleitor o de associar-se livremente a Partido, como
dispõe o inciso Ido art. 152 da Constituição vigen- missão sobre os temas a que ela se dedica. Algu-
do ano seguinte ao da eleição, possibilitando-Ihes mas delas eu venho sustentando há mais de trinta
a gestão do orçamento sem qualquer interferên- te, mas, sim, o de pleitear o ingresso em Partido,
nos termos do respectivo Estatuto, conforme está anos, em trabalhos publicados, em artigos, em
cia do governo anterior.
previsto no art. 65, I, do Anteprojeto da Comissão palestras que tive a oportunidade de proferir. Con-
ELEIÇÕES PARA DEPUTADOS Afonso Arinos. fesso que é com muita satisfação que tenho a
1- Deve ser estabelecido, como regra impera- 2"- É um retrocesso inaceitável a proposta honra de trazer a V.Ex'" essa contribuição que,
tiva, o sistema eleitoral misto, na forma que vier desta Comissão de restabelecer partidos de âm- como eu disse, é modesta, mas é o fruto da vivên-
a ser estabelecida pela lei. Parte da representação bito estadual, que resulta do que dispõem o art. cia de quase quarenta anos de atividades, desde
deve ser eleita pelo critério majoritário, mediante 66 e § 4° do seu anteprojeto. Este parágrafo, aliás, servidor da Justiça Eleitoral, jornalista que fui, es-
votação em distritos que correspondam no míni- contém manifesta incoerência, pois prevê o can- pecializado na matéria, e hoje advogado também
mo à metade do número de deputados federais. celamento do registro de Partido que não alcance nessa especialidade, e, por isso, tendo uma expe-,
O restante dos lugares resultará da aplicação do determinada votação, permitindo-lhe, porém, que ríêncía do dia-a-dia da vida política, de Partidos,
princípio da representação proporcional, com a continue concorrendo às eleições estaduais e mu- de candidatos, e que procurei resumir nessas ob-
contagem, para l:1S legendas partídánas, dos votos nicipais, o que não é concebível se o Partido teve servações que apresentei, colocando-me à dispo-
dados aos candidatos nos distritos e a eleição seu registro cancelado. A experiência brasileira sição de V. Ex"', depois, para os debates. Obri-
dos candidatos constantes das respectivas listas, é suficiente para demonstrar a inconveniência de gado.
na ordem de sua colocação no registro. se voltar aos partidos locais, especialmente pela O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro filho)-
Aqui, uma observação que nos ocorreu en- facilidade que proporcionam para a criação de
Com a palavra o Dr. Bolivar Lamounier.
quanto o Dr. João Gilberto fazia a sua exposição. oligarquias estaduais.
O sistema misto é também um sistema de repre- 3"- É melhor o anteprojeto citado quando pre- O SR. BOLlVAR1.AM0UNIER - Sr. Presidente,
sentação proporcional e é, principalmente, um vê a edição de normas legais que garantam a Srs. Constituintes, companheiros deste depoi-
sistema de representação proporcional. Apenas democracia interna e a representação das diver- mento de hoje:
ele permite que a votação se faça com restrição sas correntes, e, principalmente, ao assegurar a Quero fazer minhas as palavras dos que me
de área, da circunscrição em que o candidato participação de todos os filiados na escolha dos antecederam, no sentido de agradecer esta opor-
disputa os seus votos. seus candidatos e na elaboração das listas partidá- tunidade e de dizer que é uma grande honra para
n- Os distritos devem ser os mesmos, para rias (§§ 1° e 2° do art. 66). mim, que não sou nem político e nem mesmo
as eleições federais e estaduais, para evitar dificul- 11 - Excetuadas essas disposições, deve a lei jurista, receber um convite para discutir aqui algu-
dades de compreensão do sistema por parte dos abster-se de regular questões de conveniência es- mas idéias sobre a questão partidária e a questã'1
eleitores, sendo organizados pela Justiça Eleitoral tritamente interna, tais como a duração dos man- eleitoral. Portanto, é com muito prazer e muita
com obrigatória participação dos Partidos e só datos, a composição e competência dos órgãos satisfação que venho a esta Subcomissão. Não
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 29

trouxe um texto escrito, mas eu gostaria de assi- tituições modernas, que tratam do assunto, abri- meios para coibir isso. Não cabe à Constituição
I nalar que as idéias básicas que pretendo desen- rem exceções e estabelecerem sistemas diferen- disciplinar essa matéria Os Partidos são interna-
volver encontram-se em textos meus, que já pubh- ciados, quando falam do Município, de regiões cionais, mantêm convênios, mantêm intercâm-
quei, particularmente, num pequeno livro,editado especiais etc. A Constituição da Venezuela, recen- bio, e é bom que assim seja.
pela Editora Brasiliense, que se chama "Partidos temente, estabeleceu, numa emenda, a possibí- Sr. Presidente, não me vou prolongar muito
Políticos e Consolidação Democrática". Gostaria lidade de sistemas eleitorais distintos em determi- na questão doutrinária, geral, sobre os partidos
também de assinalar que fui membro da Comis- nadas regiões, para que não se tente enquadrar, políticos. porque penso que os colegas que me
são Afonso Annos, de modo que uma boa parte no mesmo figurino, problemas tão difíceis quanto precederam o fizeram com muito mais compe-
dos dispositivos incluidos naquele anteprojeto a estruturação da Câmara Federal e a VIda de tência, com muito mais clareza. Eu gostaria de
contam com a minha simpatia e com a minha um Município perdido no Interior de um dos nos- dedicar o restante da minha exposição à questão
aprovação Terei oportunidade de fazer uma ou sos Estados Esse é um traço também da pro- do sistema eleitoral. A expressão sistema eleitoral
outra exceção, quando chegar o momento apro- posta da Comissão Afonso Annos, pode ser usada no sentido extremamente amplo,
pnado. Diria, inclusive, que aquela Comissão, A idéia dos Partidos nacionais acredito que era que compreende todas as regulamentações, tudo
quando tratou da matéria referente aos Partidos absolutamente necessária, quando estávamos aquilo que aparece nos códigos eleitorais, ou no
Políticos, se louvou muito na Emenda Constitu- construindo o poder nacional, quando a força das sentido mais estrito do mecanismo aritmético pe-
cional n° 25, modificando alguns pontos, mas oligarquias regionais era uma ameaça à sobrevi- lo qual se dá a conversão dos votos em cadeiras
conservando fundamentalmente a estrutura. De vêncie do poder público central no Brasil. Tenho parlamentares. Não vou falar muito no sentido
modo que a ausência de um texto escrito não a impressão de que esse não é mais o País em amplo, visto que já foi abordado. Eu diria apenas
, deverá ser muito prejudicial. que vivemos. A tentativa de fazer isso por via de que também aqui concordo com o Dr. João Gil-
Eu gostaria de começar dizendo a V. Ex"s que Legislativo criou distorções muito graves. A pró- berto.
a minha reflexão sobre essa matéria e a minha pria expressão "legenda de aluguel" vem da tenta- Poderíamos considerar, a respeito do nosso sis-
participação na Comissão Afonso Arinos natural- tiva de criar, por via de Legislativo, Partidos nacio- tema eleitoral, três critérios; prímeiro, o da ampli-
mente se prendem a determinados pressupostos nais, porque o Partido, de fato, só existia em um tude. Um sistema eleitoral não deve ser exclu-
daquele anteprojeto. São muitos os pontos onde ou dois Estados e era literalmente alugado em dente; ele não deve excluir da cidadania nenhuma
a discussão isolada de uma matéria não refletirá outros Estados. Creio que temos que enfrentar categoria, nenhum segmento importante. Creio
bem o espírito do que foi imaginado, visto que a realidade tal qual ela é. Este é um País da popu- que o nosso sistema, desse ponto de vista, é muito
estavam essas matérias presas a uma concepção lação gigantesca, extremamente diversificado. O superior à média mternacional e é bom que assim
mais abrangente. E se V. Ex'" me permitirem, eu que nos cumpre é organizar bem o Poder federal seja. Acho que falta integrar ao direito de voto
gostaria de assinalar três ou quatro desses pontos e deixar que a legislação se enriqueça e admita, os militares. Recentemente, integramos os analfa-
abrangentes, com os quais me coloco inteiramen- no nível estadual e municipal, uma variedade mui- betos. Faltam as regulamentações pertinentes,
te de acordo e eles orientam a minha preferência, to grande de expedientes. Um determinado Esta- mas o direito está reconhecido. Reconhecemos
o meu julgamento a respeito dessas matérias. do precisará de um Partido ecológico; noutro Es- o direito de voto das mulheres em 1934. Nós,
O primeiro desses pontos é a adoção de um tado, não haverá condições para esse Partido. Se que temos uma certa mania de cJt,ramingar, de-
regime de governo misto para o País, inspirado, submetermos esse Partido a requisitos organiza- víamos nos lembrar que a Suíça só fez isso em
até certo ponto, na Constituição francesa, mas tórios muito fortes, como muito bem mostrou 1971. A nossa legislação, desse ponto de vista,
um pouco mais parlamentarista que a Consti- o Dr, João Gilberto, esse Partido não existirá, por- é progressista e eu me satisfaço muito com ela.
tuição francesa, sendo este o espírito do projeto que ele não poderá existir a nível nacional. Se Um outro critério seria o da administrabilidade.
da Comissão Afonso Arinos. Na estrutura dessa afrouxarmos muito os requisitos, correremos o O sistema eleitoral tem que ser administrado. Ele
proposta, a Câmara dos Deputados adquire um risco de uma grave fragmentação e de uma grave não pode dar margem a suspeitas, a impugna-
papel absolutamente crucial no sistema político instabilidade partidária na Câmara Federal. Então, ções de ilegitimidade. O nosso sistema era bom.
Então, muitas das regulamentações referentes não tentemos, em primeiro lugar, resolver os dois Talvez, até seja bom, com um número mais limita-
aos Partidos políticos e ao sistema eleitoral decor- problemas com um só golpe. Creio que este é do de partidos Mas, nas últimas eleições vimos
rem dessa opção inicial.Assim, é necessárío tam- um dos pontos a que se prendeu a Comissão graves confusões, a cédula difícil, a contagem
bém que se veja isso. A própria idéia de que o Afonso Arinos, e eu preferiria correr algum risco difícil, a divulgação difícil. Tenho a impressão de
Presidente da República não deve ser filiado a de descentralização, harmonizando a questão par- que estamos passando por um gravíssimo retro-
Partido está vinculada à diferente natureza do car- tidéria-eleítoral com a Federação, o que não quer cesso, do ponto de vista da admmistrabilidade
go presidencial, num regime misto de governo. dizer admitir legislação eleitoral no nível estadual. do sistema, e acredito que ISSO se deva ao excesso
Se o regime for presidencialista, eu estaria de Essa é uma proposta que evidentemente não de incumbências que atribuímos à Justiça Eleito-
acordo com o Dr. Malheiros deveria ser aceita. A lei federal deveria estabelecer ral, quando talvez não o devêssemos fazer. Mas
Nessa linha, também se inscreve a minha acei- diferenciações que achasse conveniente. isso se deve também - e vou tratar disso mais
tação da idéia de Partidos estaduais. Considero Quanto ao capítulo dos Partidos políticos, estou adiante - ao próprio sistema que adotamos e
que o Projeto Afonso Arinos, de fato, contempla muito convencido de que a Emenda Constitu- aqui tenho algumas restrições a ele.
uma federalização mais efetiva do País. No capí- cional n° 25 estabelece bases conceituais muito Finalmente, a questão crucial, meus Senhores.
tulo sobre a federação, ele amplia enormemente fecundas para que esse trabalho seja redigido. A questão crucial a respeito do sistema eleitoral
o âmbito da legislação comum entre a União e Estou muito de acordo com o que disse, nesse é evidentemente qual é o efeito político que dese-
os Estados. Realmente, acho que, sem desco- particular, o Dr. João Gilberto. Uma diferença im- jamos produzir, quando adotamos o sistema elei-
nhecer o temor do meu prezado amigo Arnaldo portante seria justamente essa admissão do Pro- toral. Os proporcionalistas ortodoxos querem que
Malheiros pelas oligarquias estaduais, penso que, jeto Afonso Arinos de uma certa estadualização o efeito político seja a justiça entre os partidos,
de 1930 até hoje, esse problema já evoluiu muito dos Partidos. A Comissão optou também por su- a representação perfeita das opiniões, que cada
e podemos imagmar uma Federação com uma primir, pura e simplesmente, aquele inciso que partido tenha o número de cadeiras que corres-
vida política muito mais dinâmica, muito mais dizque é vedada a subordinação de Partidos políti- panda a sua votação. Para isso, desenvolveu-se
fecunda, no âmbito estadual, sem a pretensão cos a entidades estrangeiras. Antes se dizia "víncu- o sistema da representação proporcional. Os ma-
de tentar regulamentar o que ocorre em todos los de qualquer natureza", o que é muito mais joritários puros - e eu gostaria de assinalar, desde
ClS níveis, com o mesmo golpe legislativo, visto restritivo. Admito, sem dúvida nenhuma, que su- já, que vou usar sempre a expressão "distrito",
que o que seria necessário fazer seria uma regula- bordinação é liberalizante. Mas continuo achando, porque acho que é uma expressão leiga que mais
mentação apropriada, ponderada, cuidadosa, das Dr. João Gilberto, se me permite essa referência, confunde do que ajuda - os sistemas eleitorais
eleições para a Câmara Federal, deixando para que ainda tem um certo ranço de Estado Novo, são proporcionais ou são majoritários. Não existe
a lei complementar uma área muito grande de e esse inciso não deveria simplesmente existir. um sistema proporcional e outro distrital. O que
iegulamentação, sobre como deveriam ser as Os Partidos de hoje em dia são internacionais, existe são sistemas proporcionais e sistemas ma-
eleições e os Partidos nos demais níveis. Eu até mantêm relações e, se algum deles comete exces- joritários. Os majoritaristas puros querem produzir
assinalaria que é uma tendência de todas as Cons- sos de qualquer natureza, a legislação tem os maiorias, ou seja, produzir maiorias com uma for-
30 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

te dose de artificialismo, porque querem atribuir do ponto de vista que eu estou falando; ele não impor a sua vontade à outra. O que significa é
a partidos, que às vezes têm 30%, a 35% dos é um misto entre majoritário e proporcional, por- que as correntes do Partido têm que negociar
votos, a maioria absoluta, um distrito,uma câma- que isso é impossível. Do ponto de vista do prin- antes. Elas têm que chegar antes a um acordo,
ra, assim por diante. É o caso do sistema anglo- cípio aritmético, ele é um sistema proporcional. quer dizer, o regime força a coesão do Partido
saxão, o sistema vigente nos Estados Unidos, na Ele é misto na sua operacionalidade, na forma antecipadamente. A eleição do distrito,na moda-
Inglaterra, na Nova Zelândia, na Austrália, no Ca- de dizer quem são os eleitos, para a legenda de lidade da Alemanha Ocidental, não quer dizerque
nadá etc. um Partido. Ai, sim, ele admite um critério misto, o eleitor seja confrontado com um fato consu-
em que a cota é preenchida em parte em distrito, mado. Pode-se fazer até uma eleição primária,
Tenho a impressão de que, entre esses dois
pólos extremados, no nosso caso brasileiro,certa- em parte em legenda, mas o sistema é propor- aumentando a liberdade do eleitor, para escolher
mente, deveríamos ficar com o nosso sistema cionaI.Eu não conheço nenhum autor importante quem é o candidato do distrito. Agora, uma vez
proporcional.A adoção de um regime majoritário, que discreveo sistema como jajoritário.Conheço escolhido, os candidatos e a sua hierarquização,
que é, por definição, um regime de excludência, um, o Dr. Douglas Veigas, que usa a expressão então, o Partido apresente claramente à opinião
porque, quando se forma uma maioria, se exclui misto, mas imediatamente diz: "sou forçado a pública quais são as suas prioridades. Ao hierar-
uma minoria, e essa minoria é grande; um Partido usar a expressão misto porque o sistema da Ale- quizar uma lista, o Partido diz: "A minha cara de
com 30%, 35% dos votos pode ter 55%, 60% manha tem cláusulas de barreiras, de entradas Partido é esta e não outra. Ao votar em mim,
das cadeiras, o que significa que se exclui da em pequenos Partidos tão severas que ele produz vocês estão votando em a e não em "b", "t o
representação, no âmbito de um distrito ou de um efeito,até certo ponto, semelhante ao do regi- que nosso sistema eleitoral não faz, quer dizer,
uma assembléia, uma grande minoria. Ora, num me majoritário. Lógico, exige 5% de entrada e o nosso sistema eleitoral é, de tal forma permis-
Pais gravemente dividido, em termos sociais, co- 3 representante em distritos para que o partido sivo e de tal forma individualista, que ele foi um
mo é o nosso, num Pais, onde as instituições se habilite à divisão das cadeiras. Agora, é muito sistema criado nos anos 3D, para evitar as brigas
políticas padecem de uma insegurança grave importante nós termos aqui a clareza conceitural, entre caciques pelo Brasil afora, para dar a cada
quanto à sua legitimidade, quanto à sua reverên- porque eu admitiria a idéia de nós não termos, um uma autonomia absurdamente exagerada,
cia, por parte da população, penso que seria um na Constituição, um texto detalhado, e de ficar- para evitarconflitos graves, nas conyenções parti-
risco extraordinariamente alto adotar-se um regi- mos apenas com um texto, como este lapidar dárias; para isto é que se fezesta lista inteiramente
me dessa natureza. Não é por acaso que, todas do Dr.João Gilberto: "a apresentação será propor- permissiva do nosso sistema. Isto,evidentemente,
as vezes que se mudou o sistema eleitoral, ao cionai na forma em que a lei estabelecer." Desde trabalha sobre um pais que não tem tradição parti-
longo das duas últimas décadas, mudou-se do que se entenda que a representação proporcional, dária e impede o surgimento da condição parti-
majoritário para o proporcional, não ao contrário, na forma em que a leiestabelecer, permita o deba- dária, porque transforma cada indivíduonum dita-
no mundo inteiro, por causa dos riscos inerentes te posterior, no âmbito da leicomplementar, entre dor sobre a entidade do Partido. Tenho a impres-
ao regime majoritário puro. Então, eu se tivesse a representação proporcional do tipo que pratica- são de que, mantida esta estrutura, este sistema
que escolher entre estes dois pólos, eu diria que mos hoje, no Brasil, ou do tipo que se pratica eleitoral, nós jamais teremos Partidos estabiliza·
deveríamos optar pelo sistema proporcional. V. na Alemanha Ocidental, na forma que a leiestabe- dos no Brasil.Porque, mesmo depois que a legis-
Ex's podem estranhar eu defender o sistema pro- lecer. Porque, no Brasil, nas últimas décadas, se lação induz esta sedimentação partidária, leva tel-
porcionai, sendo partidário do regime aparlamen- entendeu que aquela alusão lacônica à represen- vez a uma geração para os Partidos adquirirem
tarizado, como o da Comissão Afonso Arinos. tação proporcional, na Constituição, significativa história, para terem a reverência, o respeito, o
Aqui, eu diria duas coisas: em primeiro lugar, o o status quo do sistema vigente. E é cheio de acatamento da população. Então, nós estaremos
regime parlamentar precisa de maiorias coesas, defeitos. Então, este é que é o problema, a meu com este sistema vigente no Brasil,nós estaremos
não de maiorias pura e simplesmente; precisa ver.Podemos dizer,na forma que a leiestabelecer, simplesmente condenados a esta instabilidade,
de Partidos bem-estruturadas. Partidos que se entendendo-se que a representação proporcional político individualmente terá, inevitavelmente,até
dos bem sedimentados. A produção de uma comporta inúmeras variantes, e que a Alemanha o interesse na não sedimentação, porque ele pode
maioria, pelo sistema majoritário do tipo norte-a- Ocidental é uma delas. Dentro das diversas ex- precisar de uma flexibilidade, de mudar de Partido,
mericano, produz um grande aglomerado, mas pressões da representação proporcional, a minha de mudar de direção. Aqui,eu pediria francamen-
não uma maioria coesa, capaz de sustentar um preferência, pessoal, acadêmica, se quiserem, de te a paciência de V.Ex's, pela repetição, pela ênfa-
programa governamental de longo prazo. Então, um simples professor não militante, não prati- se, mas eu acho que a nossa situação partidária
não vaiao cerne do problema. Aoutra razão muito cante, é pelo sistema da Alemanha Ocidental, e seria compreensível num país de dimensão da
simples é que há simplesmente um equivoco arit- digo mais, na forma inicialda legislação de 1949 Etiópia, mas não num pais de 140 milhões de
mético, é simplesmente um equívoco de conta- a 1953, não na formulação posterior à de 1953. habitantes, 1Ü"potência industrialdo mundo, num
gem, a afirmação muito comum, no Brasil, de Por quê? Porque eu entendo que o problema gra- momento em que nós estamos assistindo a matriz
que todos os regimes parlamentares praticam o ve do Brasil é a debilidade partidária. O Brasil de govemabilidade. Os problemas de natureza
voto majoritário. Isto é simplesmente incorreto. é a única grande Nação que tem Partidos frágeis, política, de reforma social, de reestruturação so-
Isto é uma afirmação verdadeira no mundo anglo- desorganizados, indisciplinados. Acho que isso cial e econômica que este País tem diante de
saxão, absolutamente equivocado no que se refe- não é um tema absolutamente consensual. O Bra- si, para as próximas décadas, exigem, impõem,
re à Europa Continental, que toda ela pratica o sil não teve, na sua historia, nenhum dos grandes uma estabilização do processo político partidário,
voto proporcional, no âmbito de regimes parla- processos que formaram e que sedimentaram pelo menos, no nível federal, deixando-se ampla
mentares. Então, essa associação é simplesmente partidos pelo mundo a fora. Nós já estamos no liberdade para o desenvolvimento, para a avalia-
inexistente, e não seria portanto argumento sufi- 7° ou no 8° sistema partidário na nossa história. ção, e para experimentação, no nível estadual e
ciente para nós mudarmos o sistema. Além disto, Qualquer intervenção militarextingüe os partidos municipal.
mudar o sistema eleitoral é uma operação com- por que não extingüe na Argentina? Por que não
plexa. Sistemas eleitorais não mudam muito, isto extingüe no Chile? Porque eles são fortes e os Então, essa e a minha filosofia e eu peço descul-
é muito raro, mudanças de sistemas inteiros num nossos são débeis. Então, eu entendo que o forta- pas a V. Ex' por estar falando num plano doutri-
país. Então, para nós pretendermos uma mudan- lecimento dos partidos políticos, no Brasil,é uma nário, mas o faço, porque a formulação articulada
ça temos que perguntar, com muita clareza, mu- tarefa gigantesca, e que terá que contar com uma de tudo isto está, em grande parte, contida no
dar o quê? Em que direção e com que finalidade? mudança realmente de enfoque, por parte dos Projeto Afonso Arinos.O meu entendimento dou-
Temos de verificarse a mudança compensa, 05 políticos, no sentido de aceitarem um grau maior trinário é que nós devemos ter a representação
riscos, a instabilidade, a mudança de prática e de disciplina partidária. O que não significa ne- proporcional; não devemos de maneira nenhuma
de hábitos a que se propõe. Esta é uma questão nhuma ditadura do Partido sobre o indivíduo, co- esmagar os pequenos Partidos, ou dificultara re-
fundamental. Aqui, então, é que eu queria dizer mo às vezesse diz.O que significa é simplesmente presentação de Partidos ideológicos. A barreira
aos senhores que eu tenho uma forte preferência antecipar o momento da decisão. Se se adota, inicial mais alta que eu aceitaria seria esta da
pelo sistema da Alemanha Ocidental, que é cha- por exemplo, uma lista partidária hierarquizada emenda n° 25, 3% dos votos do País, 2% em ~
mado, na linguagem leiga, na linguagem joma- em que o eleitor vai votar em bloco, isto não cinco Estados. Acho que mais do que isto seria
lístíca, de sistema misto, mas ele não é misto, quer dizer que as correntes do Partido, uma vá dificultara representação de Partidos.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 31

Acho muito interessante a formulação do Cons- passar ao regime de estabilidade partidária, de estou aqui falando isso porque V.Ex" me convida-
tituinte João Gilberto, de meio por cento de afilia- govemabilidade, de seriedade no plano federal, ram; estou dizendo isso, porque acho que, na
dos, na circunscrição para o Partido concorrer. permitindo às regiões uma ampla liberdade de nossa vida cotidiana, somos regidos por leis, em-
Acho que é uma coisa que deve ser considerada. experimentação. bora imperceptivelmente: vamos ao trabalho, vol-
O primeiro ponto seria esse; segundo, não tentar- Quero agradecer a V.Ex" a atenção, desculpan- tamos do trabalho, mas tudo, em nossa VIda, co-
mos estabelecer uma regulamentação uniforme, do-me mais uma vez,pelo caracter, talvez excessí- mo em qualquer sociedade é regido por leis.
uma camisa-de-força, como se os problemas da vamente doutrinário desta exposição, reiterando, Sendo assim, posso concluir que a importância
Câmara Federal fossem os mesmos de um muni- entretanto, que basicamente estou apresentando de quem faz as leis para o Governo, a escolha
cípio perdido pelo Brasil. Terceiro: se algumas os fundamentos do raciocínio que se encontram desses representantes é fundamental. Em conse-
mudanças formos introduzir no sistema eleitoral, no projeto da Comissão, no Projeto Afonso Arinos, quêncía, fica mais importante, ainda, a discussão
que o façamos no sentido de um sistema que sem, entretanto, desconhecer que o projeto con- das leis que determinam quem vai fazer as leis.
leve a uma maior coesão partidária, na direção tém algumas incongruências graves, e o Dr. Mari; De modo que esta é a razão que me permite
de um sistema que produza maior coesão dos nho já apontou uma delas, e outras lacunas. Foi afirmar parecer que esta é a Comissão mais im-
Partidos. Isto não significa autoritarismo, significa oferecido apenas como uma base para discussão portante, em termos da consolidação da estrutura
uma legislação que induza à negociação, porque democrática do País.
eu estou convencido de que o nosso sistema, O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
Ora, naquela época - e o Professor Bolívar
não somente dispensa, como até impede a nego- Tem a palavra o Dr. Pedro Celso Cavalcanti.
Lamounier já acentuou isso - o ponto funda-
ciação, porque, na verdade, uma vez conseguido mental que eu queria modificar, o enfoque da
o lugar na legenda, o candidato não tem mais O SR. PEDRO CAVALCANTl- Sr. Presidente,
é realmente uma grande honra, para todo demo- discussão era que a questão não era de voto dis-
nada que ver com os demais, mantém as hostili- trital.
dades, as rivalidades, as disputas com todos os crata, ser convidado para o debate na Assembléia
da Constituinte. Eu somente vou repetir o que Eu dizia, então: "não existe voto que não seja
demais, e todos os senhores sabem, melhor do distrital. Mostre-me um pais onde não haja voto
que eu, que a campanha eleitoral é um momento os três colegas anteriores dísesram, de todo o
coração. Acho que é um grande equilíbrio aqui distrital que quero conhecer.
traumático na vida de um Partido, pela quantidade A questão é saber qual é o tamanho do distrito,
de problemas não-negociados, que surgem de na Mesa, na medida em que dois expositores apre-
sentaram propostas concretas, e o professor Bolí- e eu dava exemplos distintos; o professor deu
rivalidades, de invasão de território. Isto é inerente, o exemplo dos Estados Unidos e eu acrescentava
é decorrente do sistema que nós praticamos, seno var Lamounier e eu seremos, no meu caso sem
desculpas, doutrinários. Na medida em que sou as várias gamas, chegando até ao distrital maior,
do que o mais grave desse sistema é que ele que é o holandês ou o de Israel, porque todo
não permite ao eleitor brasileiro de baixo nível um professor, não deveria trazer aqui nenhuma
proposta; seria como o sapateiro e "lei das chine- país é um distrito e os votos são contados propor-
cultural então, e tampouco o da Alemanha Oci- cionalmente àquele grande distrito. Mas é uma
dental, e tampouco o da Suécia, visualizar, com las,' como nossas avós nos contavam.
Quero crer que o convite que me foi feito tenha forma de distrito; não existe voto sem distrito.
clareza, a relação entre a sua intenção, no mo- O que tem que se debater é o problema da
mento em que ele vota, e as conseqüências políti- a ver com o debate de que participei, de forma
bastante intensa, em 1983, quando o governo contagem desses votos, se é o voto proporcional
cas desse ato, posteriormente. Por que ele não ou se é o voto majoritário.
permite? Porque o eleitor acha que votou num na época tentou, por um projeto de lei, trazer
a questão do voto distrital.Lembro-me de ter parti- Ora, acho, também, que esta Cormssáo é de
sujeito de extrema direita e elegeu um de extrema vital importância, porque, em geral, as pessoas
esquerda ou vice-versa. Quer dizer, não há nenhu- cipado, no Rio Grande do Sul, há uma semana,
promovida pela Ordem dos Advogados, em que acreditam que são os sistemas partidários que
ma coerência, nenhuma hierarquização na ma- condicionam os sistemas eleitorais.
neira como são compostas as listas, vota-se numa estava lá o então Ministro Abi-Ackel, o Deputado
Líder do PDS, na época, Nelson Marchezam, o Aqueles que trabalham no assunto sabem mui-
lista que é um juntamente, um conglomerado; to bem que é o contrário, embora a grande massa
é o sistema de listas abertas, clássico, que é prati- atual MinistroPaulo Brossard. Vimaqui à Câmara
dos Deputados e fiz uma palestra com vários de- da opinião pública não veja dessa maneira, o que
cado no Brasil desde os anos 30. é natural Ou seja, o que V. Ex" vão determinar
putados, de vários partidos, e isso me deu uma
A respeito desse sistema, eu repetiria o que certa cobertura jornalística na época, e me levou na Constituição é que vai condicionar, em grande
já disse: ele era perfeitamente racional e adequado a um debate onde eu mostrava o perigo do cha- parte, - estou dizendo condicionar e não deter-
ao Brasil dos anos 30, quando se tratava de impe- mado voto distritalpara a democracia que quería- minar - dependendo do sistemà eleitoral apro-
dir o conflito excessivo entre membros dos Parti- mos e queremos implementar hoje. vado aqui, a forma do sistema partidário que va-
dos. os problemas de hoje são muito mais com- Como o tempo é muito escasso, vou concentrar mos ter neste País.
plexos do que este. Hoje, acho que nós já pode- toda a minha exposição na questão que me pare- Não é a-toa que os estuos mostram que os
mos aceitar uma certa civilidade,no processo elei- ce fundamental para a consolidação da demo- sistemas de contagem, distrital ou majoritário e
toral, e podemos procurar um valor mais exigente, cracia no País, que é a questão do voto do sistema os exemplos foram dados - não se parecem
que é o de uma estruturação partidária maior, eleitoral. um com o outro, fora a tradição anglo-saxônica:
para que o Governo brasileiro, democraticamente, Lembro-me muito bem, até que, naquela épo- Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, e mesmo no
tenha autoridade, tenha a linha doutrinária, a ideo- ca, os grandes equívocos em que o então Ministro Canadá é diferente, porque a questão do Quebec
logia dos Partidos que o apoiaram, para executar AblAckel pedia para que todos lessem um projeto cria um terceiro partido, de língua francesa, o
um programa de governo ao qual estávamos sendo contra, nós, da oposi- que já modifica um pouco. Mas, mesmo assim,
O hiperpresidenciahsmo era a maneira de go- ção, a algo que tínhamos lido. Eu fiz ver S. Ex', os estudiosos sabem que não há um sistema de-
vernar o país, na ausência de Partidos. Nós leva- na Assembléia Legislativa do RIO Grande do Sul, mocrático igual a outro Esses sistemas eleitorais
mos o hiperpresidencialismo às últimas conse- que parecia que era S. Ex', que não havia lido condicionam profundamente o tipo partidário que
qúêncías. Nós temos o hiperpresídencíalísmo, o que mandara para a Câmara, na época, porque, se tem.
com o decreto-lei, com o decurso de prazo, que logo na primeira págma do anteprojeto, S. Ex' Vou entrar, de forma sintética, porque o Presi-
evidentemente é uma aberração e, nem assim, dizia, ou um dos seus assessores escreveu e S. dente, Sr. Israel Pinheiro, avisou-me que só dispo-
o hiperpresidencialismo pode governar um país, Ex" não leu: "Conclui-se, portanto, que as normas nho de 20 minutos, a respeito de alguns assuntos.
sem um mínimo de estruturação partidária. En- legais sobre o sistema proporcional puro já não Quero dizer, em primeiro lugar, que não estou
tão, entendo que, se alguma mudança vamos in- pertencem ao nosso ordenamento jurfdrco', tratando das leis eleítorars como um todo, mas
troduzir, que ela seja no sentido de melhor estrutu- Ora, o nosso ordenamento jurídico nunca foi daquelas que govemam as eleições, que determi-
ração partidária, não no sentido da produção artifi- proporcional puro e assustou-em que o Governo nam quem vota, quem determinar candidato, o
cial de rnaíonas, pelo sistema majoritário puro enviasse um projeto de lei, defendendo uma posi- tipo de cédula, quem e como se conta o voto,
Este caminho só pode ser o adotado pela Alema- ção que não tinha a mínima defesa possível. etc
nha Ocidental. Exatamente, o que aquele país Quero dizer aos Srs. Constituintes, também, Temos casos já trazidos aqui para discussão,
fez foi sair da experiência altamente fragmenta- que acredito, piamente, que esta seja a Subco- como, por exemplo, o voto do analfabeto, decio
dora da República de Weimer e do nazismo, e missão mais importante da Constituinte, e não dido pelo Congresso, de forma inequívoca, e que
32 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987,

a Justiça Eleitoraltransformou em uma coisa bas- Em São Paulo, aconteceu a mesma coisa, que O que queremos nós? Queremos a estabilidade
tante grotesta e pitoresca, que é a seguinte: o foi o caso do Sr. Ferreira. do governo ou queremos a estabilidade da demo-
analfabeto, para votar, tem que saber ler e escre- Essas deformações nós podemos corrigir e eu cracia?
ver, porque isso é o que lhe foi dito quando se chegarei lá, ambas ausências lamentáveis, pela A estabilidade da democracia não é a mesma
apresentou a ele aquele tipo de cédula. contribuição que sempre deram à democracia, coisa que a estabilidade do governo. Pode-se ter
Acho que faz parte, vou fazer uma pequena que é o ponto de vista ao qual estou filiado aqui. um governo estável, do ponto de vista de uma
digressão aos Srs. Constituintes, que é fundamen- Uma quarta, e vou chamar de lei entre aspas, sólida maioria parlamentar, com uma situação
taI que o Congresso ou a Constituinte tolha a porque não existe lei em política e V. Ex" sabem social extremamente instável, e pode-se ter, em
alta liberdade que a Justiça Eleitoral, hoje, está disso, é de que quanto mais forte o Partido mais momentos muito difíceis da história de um país,
tendo com relação a interpretar a forma com que representantes elege, em proporção a seus votos. e que o Brasil sempre tem atravessado, uma esta-
vai implementar as leis votadas por V. Ex" Isso Inversamente, mais fraco o Partido, menos Depu- bilidade social que só o amor, a paixão - permi-
aconteceu, no caso específico do Rio de Janeiro, tados faz em relação a seus votos. tam-me essas palavras - do povo pela demo-
onde vivo, nas últimas eleições. É um pouco a regra de que quanto mais dínhei- cracia pode defender.
No campo nacional, houve várias coisas; no ro se tem mais dinheiro se tem chance de fazer, Vou dar só um exemplo - porque meu tempo
campo do Rio de Janeiro, houve bairros em que o que não queremos defender aqui na Consti- é curto - que os meus longos anos de exílio
havia locais determinados, onde votavam os po- tuinte. me permitiram viver: o caso italiano, que é tão
bres e, outros, onde votavam as pessoas menos Uma síntese de efeitos a longo prazo, depeno debochado, ridicularizado, a instabilidade da polí-
pobres ou os membros da classe média. Isso não dendo de que tipo V. Ex's venham a adotar na tica na Itália.
me parece ser, evidentemente, muito democrá- nossa futura Constituição: primeiro, o sistema Se a instabilidade governamental na Itáliapode
tico e nem a intenção da Constituinte. eleitoral, com o tamanho dos distritos e a forma ser grande - eles vão ter eleição, aliás, agora,
Então, vou tratar somente das leis eleitorais, de apuração - majoritária ou proporcional - daqui a um mês - a estabilidade da democracia
que levam à questão do sistema usualmente cha- são os fatores fundamentais para a questão da na Itália é muito grande. E por quê? Porque as
mado de eleitoral. representatividade, da distorção eleitoral e da for- correntes de opinião se sentem proporcionalmen-
Vamos ficar de acordo com o que dizem as ma do sistema partidário que se vai ter. te representadas, de forma bastante fidedigna, no
pesquisas, investigações, os trabalhos, que são Ou seja, não votemos isso ingenuamente; essa Congresso Nacional, no parlamento italiano. E
as proposições com que todos concordam, mes- votação vai condicionar outros tópicos das ques- vejam que foi a única sociedade da Europa Oci-
mo os favoráveis aos votos majoritãrios. tões da organização partidária, de forma muito dental atacada pelo terrorismo, que o combateu
Há uma unanimidade - é uma palavra muito difícil de se modificar futuramente, depois que e o derrotou, sem precisar de medidas de exceção
forte - mas uma quase unanimidade sobre os for estabelecida a forma de eleição. e modificação da Carta constitucional. Por quê?
seguintes pontos: que o voto proporcional repre- A representação proporcional e grandes distri- Pela alta consciência democrática do povo e dos
senta mais fielmente a vontade plural dos eleitores tos, especialmente acima de 20 ou 25 cadeiras, trabalhadores italianos, porque havia algo mais
dos parlamentos - com isso todo mundo está inspiram melhor a vontade popular e isso é muito a defender, que não tem a ver com a queda ou
de acordo. Por isso, é que o voto proporcional importante. O voto majoritário e pequenos distri- não do governo; tem a ver com a queda ou não,
permite o multipartidarismo e leva a sistemas par- tos formam um parlamento, que é um espírito isto, sim, da democracia, da ordem institucional
tidários e multipartidários. deformado da vontade popular. democrática.
A segunda conclusão dos estudos da história Eu defendo a tese de que o parlamento do Se nós queremos a ordem institucional demo-
das democracias que têm votos democráticos, Congresso Nacional deva ser o espelho da Nação. crática, sua consolidação, o engajamento popular
pluralistas, é que o voto majoritário, em conse- E é muito difícil para uma estabilidade demo- na defesa dessas instituições que V. Ex"' vão gerar
qüência, nega representação aos partidos meno- crática quando o parlamento não expressa esse aqui, é importante que todas as correntes de pen-
res, levando, portanto, não é uma coincidência espelho da vontade popular, na sua gama tão samento se sintam representadas no Congresso
histórica, alguns diriam até que determinam ou variada de opiniões. Nacional, sem discriminações, que já exsítern, de
diriam que, no fundo, condicionam, tremenda- Vamos ver, agora, o que dizem daqueles que forma latente, na História do Brasil. Porque o
mente, a adoção de bipartídarismo. argumentam sobre o "voto distrital", entre aspas, sistema brasileiro - permitam-me V. Ex"' - é
Mas não bastam somente essas duas teses, que é, na verdade, a contagem majoritária. O ar- muito pouco proporcional.
quase unânimes, dos especialistas da área temos gumento fundamental é a estabilidade institucio- Nós, porque somos uma Federação, temos tido
que desdobrá-las, também. nal; o voto majoritário, o voto distrital, dizem eles, necessidade de possuir um Senado, que é alta-
Aproporcionalidade é expressa melhor de acor- dá estabilidade. mente distorcivo, de voto proporcional. E não es-
do com a magnitude do distrito, maior o distrito, Já naquela época, em 1983, em que assumi tou aqui combatendo a distorção do Senado, não
comportando mais representantes, maior a chan- uma bandeira a que, depois, tantos se congre- sou um revolucionário neste momento da vida
ce de se espelhar a pluridade partidária expressa garam, porque viram o perigo na época, tenho nacional. Estou só dizendo que precisamos enca-
pelo eleitorado. uma declaração do então Senador José Sarney, rar a realidade como ela existe hoje.
Por exemplo: num distrito que tenha 20 Depu- no Jornal do Brasil de domingo, 6 de fevereiro As Constituições mais modernas, como no ca-
tados para serem eleitos, um partido que alcance de 1983, faz 4 anos: "Sem o voto distrital" - so português, que é mais recente, acabaram com
5%, terá o direito de um Deputado. dizia o então Senador José Sarney - "não tere- o bicameralismo. Em Portugal existe somente
Se pegarmos, na última eleição, Alagoas, por mos estabilidade institucional, ficaremos sempre uma Câmara. A força, por exemplo, do Senado
exemplo, que aumentou de 8 para 9 Deputados, vulneráveis a períodos de crise. Não conheço ne- francês, está extremamente diminuída, assim co-
um Partido que tivesse 10% dos votos, o que nhuma democracia do mundo moderno que te- mo a Câmara dos Lordes, na Inglaterra.
não é uma cifra insignificante, não tinha direito nha sobrevivido com direitos civis e liberdades A discussão que se trava em tomo da reforma
a nenhum Deputado Federal. públicas sem o voto distrital" do sistema italiano, para maior eficiência do Con-
Quero perguntar, inclusive,aqui, até que ponto, Com todo o respeito a quem, então, era Sena- gresso e, portanto, maior identificação do povo
se não fosse a suspensão de dispositivos constitu- dor e hoje é Presidente, argumento este, aliás, com esse Congresso, passa por quê? Por pro-
cionais, teríamos, hoje, nesta Constituinte, repre- já rebatido pelo Professor Bolívar Lamunier, que posta de dissolução e fim do Senado italiano,
sentantes do Partido Comunista Brasileiro,do Par- apresentou uma lista enorme de Partidos em ex- da não-necessidade do Senado.
tido Comunista do Brasil e do Próprio Partido trema estabilidade democrática e que não têm Não estou propondo isso, estou só dizendo que,
Socialista Brasileiro, cuja representante fOI eleita voto distrital, pelo contrário, têm voto proporcio- evidentemente, o peso eleitoral de três Senadores
pelo Amazonas Porque, realmente, a dificuldade nai. Os países da Europa Ocidental, quase todos, de São Paulo, com todo respeito, é muito maior
do Partido pequeno é tão grande, que V. Ex'5 vêem têm voto proporcional. do que o peso eleitoral de um pequeno Estado.
que, no Rio de Janeiro, o Partido Socialista, para É falacioso esse argumento, altamente difun- Isso já é um desvio, uma deturpação da proporcio-
dar um exemplo, quase elegeu um Deputado Fe- dido, para convencer de que esse voto distrital nalidade.
deral, sendo que um teve 56 mil votos, o que seria a fórmula mágica para a estabilidade do Chegamos, então, aos distritos brasileiros, que'
é expressivo mas não atingiu aquele coeficiente. regime, e dai a discussão. são os Estados - é a nossa tradição. Eu não
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 33

estou querendo inovar muito, acabar com os Es- votos, naquele meu distrito específico, localizado Partidos como o Partido Socialista, ou o Partido
tados, não estou querendo fazer o Colégio Elei- geograficamente, eu tenho que passar a minha Comunista ou o Partido Comunista do Brasil e
toral Nacional, como no exemplo holandês ou campanha eleitoral, se eu fosse Deputado, se eu outros que eu posso ter esquecido aqui. Para isso,
no israelense. Peguem qual foio coeficiente eleito- quiser ser candidato ali, a discutir, com grande é vital a manutenção, no mínimo, do estatus
ral para um deputado se eleger, em um pequeno prioridade, aquelas coisas específicas, porque é quo proporcional atual e eu diria uma grande
Estado, e para se eleger em um grande Estado ali que eu vou pegar o meu voto. E onde vou inovação seria do ponto da esperança, da justiça
- isso já é uma distorção do voto proporcional. pegar o meu voto? Vou pegar o meu voto no do voto; não só que a Justiça Eleitoral ficasse
Então, no mínimo, teríamos que manter essa centro, porque tem dois lados em geral. É o cha- condicionada ao Congresso Nacional e não tives-
"proporcionalidade", entre aspas, porque ela é mado voto útilque - é por isso que se condiciona se a latitude de interpretação que vem tendo por
extremamente capenga no contexto brasileiro. o sistema bipartidário - desemboca naturalmen- leis votadas por V. Ex", como também com a
Há outros argumentos que não quero passar te naquele tipo de argumentação que não permite criação desse Colégio Eleitoral. Muito obrigado,
adiante. Diz-se,também, que o voto distrital,usan- uma fertilidade, o desabrochar, a pluralidade, só foi realmente uma grande honra para mim, muito
do a terminologia daqueles que o defendem, per- o futuro. O futuro sempre começa com minorias agradecido.
mite um contaeto mais direto entre o eleitor e e nos não podemos atrasar o futuro, em nome
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Encer-
o representante. Acho que essa é uma argumen- de uma estabilidade de regime, que não é verda-
rada a primeira parte dos nossos trabalhos, vamos
tação um pouco antiga, precedente à existência deira, porque o que adianta, num País de graves
passar a convocar os Srs. Constituintes para ques-
da televisão. O mundo moderno já tem, hoje, problemas sócio-econômicos como o nosso,
tionarem, interpelarem.
meios de comunicação que, realmente, ultrapas- criar uma falsa maioria aqui neste Congresso, au-
sam a defesa da importância desse contaeto pes- mentando, ao invés de diminuir, a instabilidade O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO-
soal. social, porque as forças sócio-econômicas que Peço a palavra pela ordem, Sr. Presidente.
E, aí, vem essa necessidade para o maior co- lá na sociedade estão debatendo, estão lutando, O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
nhecimento do representante para os problemas ao não se sentirem representadas no Congresso, Concedo a palavra, pela ordem, o nobre Consti-
locais. Ora, há problemas locais no Brasil, hoje, no órgão máximo da Nação, vão procurar cami- tuinte Robson Marinho.
desvinculados de problemas nacionais e interna- nhos e vias que nós não queremos que se procure
cionais? Há - depois de mencionar, aqui, a 10' mais neste País. A estabilidade da democracia O SR. CONSTITUINTE ROBSON MARINHO-
economia do mundo, inserida em uma internacio- passa exatamente a incorporar as minorias, na Sr. Presidente, em primeiro lugar, entendo que
nalização da economia - problema de tipo regio- sua representação no Congresso, dando a todas nós estamos bastante gratificados por ter tomado
nal que não esteje ligado à questão de importação, elas a esperança de que possa vir a ser maioria, a decisão de convidar os ilustres juristas e cientis-
exportação, problemas muito mais sérios do pon- e não criar sistemas eleitorais, que a priori, V. tas políticos para comparecerem aos trabalhos,
to de vista de uma percepção de como se resolve Ex' veja que sua chance é realmente nula ou muito na manhã de hoje, da nossa Subcomissão. Esta-
aquele específico problema local? diminuta. A preocupação da estabilidade demo- mos satisfeitos pelas exposições que foram feitas.
E, por acaso, algum deputado, eleito sempre crática passa pela ampliação do voto proporcional Eu queria fazer uma proposta, com a aquiescên-
por um Estado, não conhece seja o problema e não pela diminuição e a criação de voto distrital cia da Mesa e dos meus colegas Constituintes
do seu Estado, além dos nacionais e internacio- majoritário. da Subcomissão, porque a praxe agora seria os
nais, ou problema em geral das regiões, que é, Eu vou terminar, querendo fazer uma sugestão Constituintes dirigirem perguntas aos expositores.
de certa maneira, informalmente, o seu "distrito", que facilite,já que eu não estou fazendo nenhuma Entendo que, neste momento, nós estamo!
entre aspas? Não existe isso. proposta do ponto de vista como fez o nobre com uma equipe de juristas em legislação eleito-
Não me parece um argumento suficientemente Deputado João Gilberto. Esta é uma Constituinte ral, de pensadores políticos, que nos permite, se
forte mudar dessa proporcionalidade altamente que não nasce de um processo revolucionário; eles assim aceitarem, estarmos com uma asses-
deficiente que temos hoje para uma falta de pro- as Constituintes, nascem em geral de mudanças soria de altíssimo nível para os trabalhos desta
porcionalidade muito maior, com a adoção da abruptas da sociedade. Na Europa recente, agora, Subcomissão e até pelas opiniões, em determi-
contagem majoritária ou, se quiserem, do voto a queda do franquismo, a queda de 48 anos de nados pontos, divergentes; entendo que poderia-
proporcional. ditaduta em Portugal, a questão grega; assim, nas- mos dar uma contribuição muito importante para
E fala-se de um menor custo da campanha. cem as Constituintes, ou no pós-guerra, que é o Relator, para sua proposta inicial de relatório,
Não temos ilusão. Quer dizer, achar que o poder uma situação também de grande instabilidade. cuja data se aproxima, promovendo, definindo;
econômico vai ser diminuído porque o voto passa Nós estamos neste lento processo de transição a partir do texto escrito, todos deram a sua contri-
a ser distrital parece-me uma ingenuidade. Pare- que alguns dão como nossa sabedoria. Dentro buição, é importante, mas, a partir da proposta
ce-me umé\tremenda ingenuidade! Porque a con- desse quadro, eu temo que processos ou projetos, do Deputado João Gilberto, que está escrita já
centração de recursos, nos distritos, dá uma po- ou propostas muito revolucionárias sejam real- em termos de redação constitucional, a partir dela,
tencialidade a esses recursos muito maior. mente fadadas ao fracasso. Mas que, no mínimo, promovermos uma discussão entre os exposito-
Então, quais são os perigos que vejo para a se entenda, por distrito, os Estados. No mínimo, res sobre o que deva ser suprimido, e o que deva
.dernocracía, no Brasil, com a implantação de vo- aprove-se o voto proporcional em cada Estado. ser acrescentado a esta proposta básica, vinda
I tos majoritários? Primeiro: a criação de uma repre- E, aí sim, nós podemos inovar, criando um Colê- do expositor João Gilberto. Entendo que, assim
sentação parlamentar ainda mais deformada que gio Eleitoral Unico para efeito das sobras. Isso ocorrendo, nós teremos um ponto de partida bas-
a atual e ao longo de nossa História - os dados nós podemos fazer, como é no caso italiano, que tante válido para, em seguida, fazermos uma reu-
existem. Segundo: a castração parlamentar do eles chamam de Colégio Imperiale, é outra coisa nião entre nós Constituintes e discutirmos sim,
pluralismo ideológico do mundo atual e da socie- em que eles multiplicam por dois, mas é uma entre nós Constituintes, que temos poder de deci-
dade brasileira. Nós somos uma sociedade geo- forma que eu não quero entrar. Nós podemos dir sobre o relatório, como contribuição para o
grafica~ente enorme, pluralisticamente muito pegar as sobras de tO?OS os Estados e jogar isso relator. É uma proposta que eu coloco à aprecia-
,vasta. E importante - e já se falou aqui até em no Colégio Eleitoral Unico, para que possam os ção da Mesa e dos companheiros da Subcomis-
Partidos reglonais - há uma necessidade que eleitores frustrados, em pequenos Estados, sabe- são, porque, se entrarmos na segunda parte de
as diversas populações regionais se sintam repre- rem que a soma deles, no Nordeste, por exemplo, perguntas e respostas, eu vou dirigir perguntas
sentadas aqui e, para isso, é fundamental que vai permitir eleger um ou dois Deputados, nesse especificas a um ou outro e isso não vai enrique-
não haja delimitação da participação do pequeno Colégio Eleitoral Único, para efeito das sobras. cer a discussão entre eles. Agora, sugeriria colocar
Partido. Isso minimizaria um pouco, não muito, a distorção uma discussão entre eles, para maior informação
em que vivemos. e reforço de argumento, para uma discussão pos-
Outra coisa seria o que eu vou chamar de pro- terior entre nós.
vinciomzação ideológica e o estreitamento dos Vou concluir, pois já cheguei aos 20 minutos,
debates sobre os problemas nacionais com que em cima da hora; é VÍcio de professor; bateu a O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
nos defrontamos, porque é natural - isto tam- campanhia tem que terminar a aula. A proposta de V. Ex' é realmente muito oportuna
bém é uma "lei" do sistema majoritário distrital, Eu gostaria que esta Constituinte e os congres- e inteligente e até coincide como ponto de vista
como definido por eles - que, para eu ganhar sos futuros continuassem a ter representantes de por nós demonstrado, sugerido, antes das deci-
34 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTIT<JNTE (Suplemento) Julho de 1987

sões. Acho realmente muito mais interessante um O SR.CONSTlTUINTE LUIZ SOYER- Eu acre- que representa o partido Democrata Cristão e que
debate entre os expositores e, posteriormente, nós dito que a maioria absoluta das perguntas serão está na platéia. Ele faz uma observação; é neces-
da Subcomissão, termos outra data para discu- coincidentes com o que está exposto nessa pro- sário que nós criemos, de fato, a Justiça Eleitoral,
tirmos a nossa posição quanto aos problemas posta do João GIlberto. Por isso, já que eu con- porque a Justiça Eleitoral não existe no País. É
aqui levantados, que já são realmente conhecidos. cordo com a proposta do nobre colega e, eviden- o juiz estadual cedido, em tempo hrmtado, e é
Mas eu não vou tomar essa decisão; eu vou ouvir temente, reservando, após isto, que muitas per- o funcionário, em geral, cedido pela prefeitura.
porque já tem uma lista de inscrições. Concordo guntas, que seriam feitas, serão respondidas neste Um sistema eleitoral saudável precisa, para sua
com a sugestão de V. Ex" Eu vou levantar aos debate, após isso, então, se ainda sobrar alguma prática, de uma Justiça eleitoral que realmente
Srs. Constitumtes presentes se concordam com dúvida, que procurássemos esclarecê-la, junto exista por meios, por juizes próprios, funcionários
a sugestão do nosso Constituinte Robson Mari- aos nossos debatedores, com o objetivo também própnos, e assim por diante. Feitas essas observa-
nho, porque, se houver a concordância, o debate de desfrutar, o máximo possível, da participação ções, o Sr. Presidente me pede uma tarefa Impos-
estará restrito aos expositores. E, posteriormente, deles. sível, mas eu acho que poderíamos discutir o que
nós teremos oportunidade. Agora, eu faço, por O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Eu gos- eu chamaria de todo o caput do artigo sobre
um lado, só uma exceção: acho que o Relator tana de ouvir a opinião do Relator Deputado Fran- partidos políticos. É livre a criação de partidos
deve ter o direito de algum questionamento, só cisco Rossi. politicos; sua organização e funcionamento res-
o Relator. Mas, antes desta decisão, eu vou colocar guardarão a soberania nacional, o regime demo-
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Acho
em votação. crático, o pluralismo partidáno, os direitos funda-
que o debate, entre 05 expositores, seria muito
Em discussão. (pausa.) oportuno. mentais da pessoa humana, observados 05 se-
O SR CONSTITUINTE RONALDO CÉZAR guintes príncípios: é assegurado ao Cidadão o di-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Vamos reito de pleitear o ingresso em partido político,
COELHO - Sr. Presidente, peço a palavra
iniciar. 05 Srs. expositores terão trinta minutos. nos termos dos seus respectivos estatutos e pro-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Con- Eu sugeriria ao nosso colega João Gilberto, já gramas; é vedada a unbzação, pelos partidos políti-
cedo a palavra ao nobre Constituinte Ronaldo Cé- que a proposta foi baseada no seu texto, que cos, de organização para míhtar e é proibida a
zar Coelho. S. Ex" fosse o coordenador dos debates, porque subordinação dos partidos políticos a entidades
O SR. CONSTITUINTE RONALDO CÉZAR seria artigo por artigo, são poucos e dana, real- ou governos estrangeiros Parece-me que uma
COELHO - Sr. Presidente, entendo perfeitamen- mente, uma oportunidade para que ouvíssemos primeira divergência exposta é a questão de cons-
te a proposta do nobre Constituinte Robson Mari- os argumentos pró e contra aos artigos e incisos tar ou não esse tema da vedação, da subordinação
nho Mas quero dizer que a nossa participação, que estão expostos na sugestão apresentada pelo do partido político a governo ou entidades estran-
as nossas perguntas, orientariam, na prática, ao João Gilberto. A sugestão é de que o expositor geiras.
expor as posições dos palestrantes desta manhã, João Gilberto coordene o debate.
também em um debate entre eles. Portanto, acho O SR. JOÃO GILBERTO- Sr. Presidente, Srs. O SR. RELATOR(Francisco ROSSI) - E ingres-
que, com todo respeito à proposta, eu gostaria, e Sras, Constituintes, em primeiro lugar, eu gosta- so no partido também.
além do nosso Relator, eu gostaria de parncípar, na de fazer uma observação. Foram aduzidas vá-
questionando, colocando posições específicas, O SR. JOÃO GILBERTO - A questão do in-
rias sugestões, durante 05 debates, aqui, e uma gresso, me parece que não, porque há divergência
pois acho que, na prática, constituí o mesmo re- delas me merece especial atenção A questão da
sultado almejado pelá proposta. Acho que o deba- com o texto atual, do qual, eu fui até Relator,
eleição ser nacional, por níveis parece-me muito que consagra outro princípio, consagra o direito
te do relatório, posteriormente, poderia ensejar mteressante, quer dizer, a coincidência das elei-
essa oporturudade. Eu creio que nós poderíamos do cidadão escolher o partido Este é o texto que
ções municipais, a coincidência das eleições esta- está na Constituição, pela Emenda n- 25. Quando
participar com perguntas objetivas, e, na prática, duais e a coincídência das eleições federais em
resultaria o mesmo objetivo da proposta. eu expus, eu já disse que esse texto recebeu rea-
todo o Brasil tem que ser um princípio afirmado ções gerais e, pelo que eu colhi, das opiniões,
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Peço a na Constituição, aliás, no exercício anterior, do aqui, acho que iam no mesmo sentido de que
palavra, pela ordem, Sr. Presidente. texto que eu havia feito. Eu até tinha colocado esse é um direito limitado, é o direito de pleitear,
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Con- isso: tem que haver um princípio, na Constituição, mas não o direito de ingressar. Ou seja, o cidadão
cedo a palavra ao nobre Relator, pela ordem. estabelecendo isso. Agora, quanto às eleições não escolhe o partido automaticamente Não sei
municipais não coincidirem com as estaduais, se existe divergências.
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) -Concordo que seria melhor, o problema de ajustamento
com a interferência do companheiro Constituinte transitório como é que fica? Pessoalmente, digo
Ronaldo Cézar Coelho e aduziria à proposta inicial O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - O Dr.
aos Srs. Constituintes, registro minha posição de Arnaldo Malheiros tem alguma divergência quan-
o seguinte: o meu objetivo é procurar explorar, que, se eles optarem pela prorrogação de man- to ao caput do artigo?
o máximo possível, a presença dos quatro exposi- datos em favor de um bom princípio, eles não
tores, porque eles vêm hoje e acabou a sua contrí- serão compreendidos pela Nação; haverá reação O SR. ARNALDO MALHEIROS - Não tenho
buíção E nós vamos ter outras oportunidades muito grande da Nação. Então, se houver neces- divergência nenhuma. Na minha opinião, houve
para discutirmos entre nós. O que eu sugeriria, sidade, deve haver sacrifício de mandato e nunca uma objeção de parte do Professor Bolivar La-
traduzindo para tentar conciliar, para fazer uma prorrogação numa Constituição nova Isto sei que mounier quanto a esse inciso III; sobre a proibição
proposta intermediária, é que o Presidente, com é muito difícilde ser resolvido. Eu coloco doutrina- de subordinação dos partidos a entidades ou go-
a decisão do Plenário, fixasse: 05 expositores te- riamente. Em tese eu eu sou plenamente favorável vernos estrangeiros. Pelo que me lembro, durante
riam 30 mmutos para debaterem entre si, a partir a que, num ano, se realizassem eleições dos muni- a fase da elaboração da Emenda rr 25, de que
do texto do Deputado João Gilberto, o que deve cípios, de prefeito e vereadores; noutro ano, elei- foi Relator João Gilberto, esse texto resultou assim
ser acrescentado e o que deve ser suprimido. de uma longa negociação e de um consenso entre
ção dos Estados, governadores e Assembléia Le-
Eles teriam um prazo de 30 minutos. E nós tería- gistativa; e, no outro ano, as eleições federais, as várias lideranças partidárias, como um modo
mos outros 30 minutos, para formularmos per- Presidente da República, senadores e deputados de, por um lado, suprimir a expressão que vígia
guntas aos expositores. Acredito que mais uma federais. Ajustar a transição é que é uma enge- na Constituição, na redação anterior, sem uma
hora é um tempo bastante razoável para a conti- nharia legislativa muito complicada, e advirto que total abertura para a possibihdade dessa ínterfe-
nuidade dos trabalhos da manhã de hoje desta rêncía, que se presumia indesejável, pelo menos,
qualquer prorrogação de mandato, neste mo-
Subcomissão, que está bastante interessante. mento, o País desejando renovação, uma série de entidades estrangeiras no funcionamento dos
O SR. CONSTITUINTELUIZ SOYER - Sr. Pre- de coisas, seria de gravíssimas conseqüências po- partidos
sidente, peço a palavra, por uma questão de or- líticas. Eu acredito que a redação, na forma como
dem. Por outro lado, eu não desejo fugir a registrar está proposta, que, ahés, é da Emenda n° 25,
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Con- nos Anais, de vez que participei, no passado, de atende a esses objetivos. Eu acredito que ela deva
cedo a palavra ao nobre Constituinte Luiz Soyer, toda negociação com os partidos políticos, uma ser mantida nos termos em que está colocadat
por uma questão de ordem. contribuícão oportuna do Dr. Oswaldo Gomes. na proposta do Dr. João Gilberto.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 35

o SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Dr. Ma- ou partido Democrata dos Institutos, ou Socia- de fora etc., se isso for necessário, para garantir,
Iheiros, só pela oportunidade, eu perguntaria a listas, isso faz parte do mundo internacionalizado eu sou a favor que permaneça a frase. Se V. Ex'"
V. S' se, desde que está no caput, sua organização em que nós vivemos E a influência,com a palavra acham que, no conjunto da Assembléia Nacional
e funcionamento resguardarão a soberania nacio- usada agora, a influência existe. Quando se é libe- Constituinte, essa questão já está tranqüila, que
nal, se não seria dispensável esse item 111, porque rai, não é ser liberal no Brasil, é ser liberal no não há risco de retorno daquele bloqueio, que
já estaria implícita a soberania. No momento em universo de idéias; se é socialista é num universo parecia que queria fazer um mundo à parte, as
que o partido se subordinasse, estaria ferindo a de propostas da história do socialismo, ou seja idéias do Brasilnão eram as idéias compartilhadas
questão da soberania, se não seria dispensável? qual for. Quer dizer, acho que é passar recibo, na humanidade, o Brasil era à parte, o Partido
como dizo Professor BolivarLamounier, ao Esta- brasileiro,como existe até com sindicato, não po-
O SR. ARNALDO MALHEIROS - Eu acredito
que há uma distinção, embora possa parecer sutil. do novo. O Estado Novo, um dos mais novos de ter contato extemo. Quer dizer, o sindicato
até do que o Novo, acha que devemos docu- X, no Brasil, não pode participar de uma organi-
O resguardo da soberania nacional pode ser en-
tendido até como dependente da vontade de um mentar numa fase moderna e não vamos ficar zação sindical internacional, como se os metalúr-
aqui explicando coisas que não têm explicações. gicos, os garis, os professores ou qualquer cate-
partido que seja eventualmente majoritáno, o que
não impede que, como partido majoritário, ele Esta é a minha opinião. goria não tenham as suas organizações interna-
receba Influências ou subordinação de uma enti- Com relação também à questão, "nos termos is. Há um professor brasileiro que está disputando
de seus respectivos estatutos e programas", aí a presidência dos professores em todo mundo,
dade ou de um país, de um partido estrangeiro,
está o cerne da questão, nós estaríamos dando no entanto a lei brasileira proíbe o vínculo, o que
e que esteja, à sua maneira, resguardando a sobe-
rania nacional, mas com inspiração provinda de a cada partido o direito da forma como receber é uma barbaridade. Então, eu tenho plena concor-
ou não. Acho que é, depois da vírgula, que a dância; se isso puder, nesta Constituição, ser redi-
uma entidade externa, o que seria indesejável.
questão realmente existe. Porque pleitear é óbvio gido sem a presença desse inciso. Agora, esse
Acho que a clareza do dispositivo não prejudica,
que, numa democracia, todo mundo pleiteia. E inciso poderá ser a porta de mediação se perma-
embora se possa, de certa forma, concordar com necer dentro da Constituinte uma corrente forte,
a observação de V. Ex-, mas, por mim, eu preferiria preciso saber, eu não tenho idéia clara sobre esse
assunto, se é salutar que, na vida nacional, os que deseja a volta daquele dispositivoque proibia
a redação proposta no caput desse artigo.
partidos tenham critérios diferentes, do ponto de o vínculo, sob a alegação de que vinham recursos
O SR. PRESIDENTE (IsraelPinheiro)- Dr.Bo- vista da entrada. Porque você pode fazer um parti- externos, de que vinha ingerência extema em as-
Iivar, qual é a sua opinião? do, com tal estatuto e programa, que dê à direção suntos internos.
O SR. BOLNAR LAMOUNIER - Eu como dis- desse partido uma força tal, que a participação Aminha posição aqui é uma posição de media-
se, acho infinitamente mais democrático o que e entrada nesse partido, para alguém que tenha ção. Agora,me permito discordar da interpretação
está aqui do que o que estava na Constituição uma idéia diferente, passa a ser muito difícil. que foi dada ao inciso primeiro. Vejam, existem
anterior. Mas eu preferiria que esse artigo fosse Não tenho certeza, mas quero só dizer que a duas correntes no mundo: uma, que acha que
reduzido de maneira mais econômica. Em primei- questão não é simples. Aqui está escrito regime o direito é do cidadão de determinar qual é o
ro lugar, há no inciso primeiro, o direitode pleitear. democrático, pluralismo partidário. Talvez,o plu- Partido que ele quer entrar, e como Partido a
Eu não concordaria com o direito de ingresso. ralismo partidário deva existir dentro do próprio pessoa jurídica de Direito público, ele ingressa
Acho que o partido político tem o direito de recu- partido. nesse Partido à revelia da vontade partidária. E
sar a quem quiser recusar. E, conseqüentemente, Eu estou mais confuso aqui, porque acho que outra corrente, que me parece predomina no Bra-
o direito de pleitear, acho que fica um pouco a redação não está clara, para eu elucidar, mas sil, hoje, e que foi contra o meu ponto de vísta
inócuo, porque o cidadão tem o direito de pleitear condeno a admissão do parágrafo terceiro. na Emenda n- 25, tanto que na Emenda n° 25
o que ele quiser. Acho que o artigo inteiro ficaria O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Profes- está a minha marca, está o meu ponto de vista
redigido, de maneira mais parcimoniosa, se nós sor, pela oportunidade também, mas me parece dando esse direito, e foi repudiado, eu senti o
mantivéssemos o caput, e eliminássemos o pri- que essa possibilidade do Partido vetar a entrada repúdio, sou um homem de discussão, do diálo-
meiro inciso e o terceiro, então, o inciso segundo de quem queira nele se filiar se coaduna com go. Então, se existe esse direito, tem que ficar
ficaria parágrafo primeiro e o parágrafo primeiro o princípioque está no caput, que é livrea criação a cláusula constitucional - desculpe-me Profes-
passaria a parágrafo segundo Ficaria o caput. de partidos políticos totalmente. sor BolivarLamounier - de que igual em ingres-
Parágrafo primeiro: é vedada a utilização pelos sar em Partido é um dos direitos individuais da
partidos políticos de organização paramilitar; pa- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Bom, garantia da Constituição. Se não daqui a pouco
rágrafo segundo, o partido político adquire perso- encerrada essa parte, vamos passar novamente se está discriminando, se está proibindo pessoas
nalidade jurídica, registrando seus estatutos. ao ex-Deputado João Gilberto,para discutir alter- de ingressar em qualquer partido. Portanto, plei-
A questão da subordinação, como eu disse, nativa "a", ou alternativa "b". tear tem importância sim, é a proteção dos direitos
lembra-me um pouco o Estado Novo e a legisla- O SR. JOÃO GILBERTO - Eu gostaria de re- fundamentais da pessoa humana, pleitear, ingres-
ção de Segurança Nacional. Acho que não é ne- gistrar aqui uma opinião em relação ao caput. sar nos Partidos. A aceitação ou não do ingresso
cessário ter esse inciso, quando o caput é elo- Vejam bem, eu tenho uma concordância e uma ficou para o Partido, mas não pode é a autoridade
. quente, é persuasivo, desde que os partidos se divergência. Em primeiro lugar, se houver condi- pública impedir, este ou aquele cidadão, de plei-
organizem no âmbito do regime democrático. O ções de a Assembléia Nacional Constituinte, no tear ingresso em Partido político.
inciso primeiro, eu tenho impressão de que é, seu conjunto de forças políticas,e a Subcomissão Vejam,aqui nós estamos protegendo um direi-
juridicamente, um pouco inócuo. Qualquer cida- tenha presente isso, porque eu já fui relator de to. Aliás, os Partidos estão em geral no capítulo
dão pode pleitear o que quiser. Agora, a questão uma mediação dos partidos políticos, certa vez, dos direitos políticos. Aqui é o direito político da
central não é essa, a questão central é se o partido aqui, de abolir a questão da subordinação, con- cidadania de pleitear ingresso no Partido político.
é obrigado a recebê-lo. Acho que não é. Então, cordo que, protegida a soberania nacional lá em Agora, como é desejo, parece-me, quase consen-
na minha opinião, eu prefiro uma redação mais cima, não temos problema. O problema é dife- sual da maioria das pessoas que têm discutido
econômica do que o conjunto. rente, não quero é retorno àquela redação que o assunto no País, então o ingresso a esse Partido
existia e que pode surgir de emendas ou de força determinado fica condicionado às regras do seu
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Con- estatuto, do seu programa. Então, o cidadão terá
dos blocos partidários. então, a coisa tem que
cedo a palavra ao Dr. Pedro Celso Cavalcanti. que aceitar o programa do Partido para ingressar.
ficar bem clara; acho que a expressão "é proibida
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Serei a subordinação dos partidos políticos a entidades O Partido poderá alegar que o senhor fulano de
bastante breve. Quero aqui concordar com o Rela- ou govemos estrangeiros", ela, se for necessária tal, que está pleiteando ingresso no Partido Comu-
tor, com relação à questão da proibição. Acho para aclarar uma questão, que permita a filiação nista Brasileiro, ele, na verdade, pelas suas atitu-
que realmente vamos entrar numa fase moderna dos Partidos brasileiros aos organismos interna- des, ele não corresponde ao programa do Partido.
da vida nacional. Não conheço Constituições de cionais que existem, às entidades internacionais E isso então, o pós-vírgula, é uma questão para
I países democráticos que tenham isso escrito, elas que existem, nas suas respectivas correntes de o partido decidir.Agora, o que está antes da vírgu-
têm o necessário. Os partidos fazem parte das opinião, separando isso de subordinação, isto é, la, desculpem-me, é um princípio fundamental
intemacionais. O Democrata-Cristão ou Liberal, de ter direção fora do País, de obedecer à ordem da pessoa humana que precisa ser efírrnado; o
36 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

direito de pleitear ingresso no Partido político. Não Eu, na condição de Relator da Subcomissão, O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI-Assim
sei se isso está bem claro. ouvindo, a exposição da Mesa, fico aflito aqui. como, em relação à contribuição do Estado, a
Porque talvez eu perca até oportunidade de fazer independência dos partidos de fundos externos
o SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- alguma indagação, algum questionamento, pois à vida pública seja proporcional ao número'de
Dr, João Gilberto, agora vamos discutir a alterna- entendo assim da maior importância. Então con- votos, conforme foi dito aqui, o mesmo podemos
tivaA ou a alternativa B. partido nacional ou parti- sultaria o Presidente e os nossos colegas de se dizer com relação ao tempo na televisão durante
dos regionais. me abrir uma possibilidade de indagar da Mesa a campanha eleitoral.Aliás,esse foi o critério ado-
algumas questões... tado. Não vejo nenhum problema nisso. Talvez
O SR. JOÃO GILBERTO - Eu tive aqui uma esteja vendo a questão de forma simplista. E as
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
preocupação mais técnica, que é o seguinte: fixa- primeiras eleições que virão depois da Consti-
É justo que o Relator tenha exceção.
da a alternativa, preliminarmente, nós devemos tuição?
constituir um mecanismo que não lmba a demo- Tem a palavra o Relator, se assim o desejar.
cracia, isso que é a minha preocupação. A Emen- O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - No de- O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Profes-
da n° 25 ainda resguarda a questão da demo- correr da exposição .. sor, além disso, já havia um vicio na origem. Con-
cracia, parece-me que a solução que ela deu foi dicionava-se o tempo na televisão à existência
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - de parlamentares filiadosaos partidos. Talvezesta
uma solução tecnicamente errada, fruto de um Então, o Dr. João Gilberto defende a alternativa
acordo de última hora, porque nós criávamos, fosse a oportunidade de se estabelecerem alguns
B. limites para que se reconheça o caráter nacional
na Emenda rr 25, algo que era artificial, porque Vamos ouvira palavra então do Dr.Pedro Celso
não ia entrar em vigência. Estávamos nas antevés- do partido e, a partir desse reconhecimento, o
Cavalcanti. direito de acesso aos meios de comunicação. Eu
peras de uma eleição Constituinte, aí criamos um
percentual e exigimos esse percentual, mas por O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Dado me pergunto novamente: Como vamos compa-
uma disposição transitória ou suspendendo para o adiantado da hora e tantos tópicos importantes, tibilizar o espaço disponível na televisão com a
a próxima eleição. Ora, era uma eleição Consti- vou procurar ser breve, vou me ater somente a existência de 30 a 40 partidos?
tuinte, então não entraria em vigor nunca, mas uma questão, inclusive porque quero ouvir as per- O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Suge-
era um acordo entre correntes diferentes. Era o guntas possíveis do Relator. riria que fosse dado acesso à televisão aos parti-
preço de colocar. Então, há poucos dias surgiram Eu sou contra aqui, na alternativa A, ao pará- dos que têm representação no Congresso Nacio-
interpretações erradas sobre isso. Esse percentual grafo segundo. Esse limite expresso em cota de nal. Seria uma cota mínima, talvez 3 minutos.
foi suspenso, portanto, não pode hoje se exigir 3%. Eu acho que já é um limite altíssimo de um O número não é importante. O que não pode
de quem quer que seja, mesmo que o seu partido pequeno partido pagar para entrar aqui, que é haver é aquele tempo ridiculo de 45 segundos
deixe de existir, que mude de partido num prazo um coeficiente eleitoral de cada Estado, sem falar que foi dado a alguns partidos.
X. Agora, aquele dispositivo da mudança de parti- que nos pequenos Estado, ou Estados de peque- Isso não é bom para a democracia. Num limite
do, pela discussão que houve no País, parece-me nas representações, já é impossível a entrada da mínimo de coeficiente eleitoral,poderia haver um
que seja inconveniente. Ou o cidadão tem um pequena corrente. Sabemos que vêm para aqui limite mínimo de tempo na televisão. Qualquer
mandato assegurado individualmente, ou o man- vários Estados que com 10% de votos você não partido com representação no Congresso Nacio-
dato pertence ao partido se o partido não fez o entra. Então acho que isso é um limite tão alto, nal tem 2 ou 3 minutos, e o resto se divide propor-
percentual necessário, ele não chega ao Congres- tão alto, que acrescentar outros é realmente fazer cionalmente ao número de eleitos que eles têm.
istir é aquilo que a Emenda n° 25 fez. Quer com que o próximo Congresso não tenha repre- Isso será corrigido na medida em que houver
dizer,ele chega ao Congresso, mas tem um prazo sentantes, por acaso, de cinco partidos aqui indi- reeleições e que forem alterando as Bancadas.
de 60 dias para mudar de partido. Eu acho que cados pelo Dr. João Gilberto. O mesmo proponho com relação à contribuição
isso é, desculpem-me, ja na época eu disse até Esta é a minha posição, não vou falar mais. do Estado do ponto de vista financeiro.
para os meus companheiros de Comissão, um O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
absurdo, eu só consenti com ele porque ele ficava Então V. S' defende a alternativa "B". O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
em suspenso, para uma eleição Constituinte, en- Professor Bolívar, V. Ex" vai responder sobre a
tão ele não ia ter valor prático nunca, mas me O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Eu eli- opção A ou B e à pergunta do nobre Relator.
parrece que aquela não é uma boa solução. minaria qualquer percentual.
O SR. BOUVAR LAMOUNIER - Na verdade,
Então, no caso de se optar por uma forma O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Pilho)- tenho dificuldade em escolher entre A e B , por-
de partidos nacionais, acho que se tem de fazer Tem a palavra o nobre Relator. que há elementos que cruzam aí. Sou a favor
os percentuais etc., e tratar da não eleição daque- O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Sr. Presi- de uma cota mínima moderada, digamos 3%
les que não atingem os percentuais; tem que se dente, serei bem objetivo. De fato, vários parla- com 2% em cinco Estados. Na Câmara dos Depu-
enfrentar isso. Agora, é necessário, já foi citado mentares acham um absurdo se estabelecer per- tados, podemos exigir uma votação maior dos
aqui na Mesa, porque a grande maioria dos parti- centuais para que um partido possa continuar partidos.
dos brasileiros não atingiu esses percentuais Nós existindo. Eu indagaria à Mesa da idéia, porque Quanto à questão da atuação nacional e esta-'
hoje não teríamos nenhum representante do par- eu entendo que essa idéia de partido nacional dual, é importante entender o seguinte: quando
tido Comunista Brasileiro, nenhum representante deve estar associada à possibilidade de o partido se diz que é de âmbito nacional se alcançar a
do partido Comunista do Brasil, nenhum repre- ter acesso, pensamento pessoal, aos meios de representação no Congresso, está-se dando uma
sentante do partido Socialista Brasileiro, nenhum comunicação. Ainda ontem nós ouvimos aqui al- definição, ou seja, ser nacional significa ter repre-
representante do partido Democrata Cristão, ne- gumas exposições, e algumas críticas que foram sentação no Congresso Nacional, nos termos do
nhum representante do partido Liberal, se esses feitas à impossibilidade de partidos pequenos po- art. anterior - 3% da votação. A importância des-
percentuais tivessem sido aplicados nessa elei- derem externar os seus programas, os seus pen- se parágrafo é a de proteger a existência do par-
ção. Então me parece que eles não correspondem samentos através dos meios de comunicação. tido no nível estadual. Se ele não alcançou os
a uma realidade plural que tem no Brasil. E eu Mas eu fico me perguntando, se é livre a criação 3%, se não alcançou a representação em nível
fico com a segunda opção, que é uma opção de partidos, nós vamos ter aí um número grande, nacional, isso não quer dizer que tenha sido elimi-
que tem um percentual menor a nível nacional eu acho altamente salutar o pensamento do pes- nado no nível estadual. Ele pode, perfeitamente,
e que garante a sobrevida de partidos que sejam soal, mas eu fico me perguntando como compa- continuar existindo no nivel estadual. Daí, como
regionais. O próprio sistema alemão, que é tão tibilizar o número de partidos com o tempo dispo- muito bem apontou o Professor Malheiros, a exis-
duro, que é tão rígido, conviveu durante 10 anos nível nos meios de comunicação. Então, a per- tência de uma incongruência na redação desse
com o partido dos Verdes só a nível regional, gunta específica: se essa idéia de ser considerado artigo, que não foi a proposta original, mas surgiu
quando depois ele conseguiu o percentual e teve partido nacional não seria o pressuposto para que na votação, falando até em cancelamento do re-
representantes a nível federal. esse partido pudesse ter acesso aos meios de gistro. l
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Pela or- comunicação. O que pensa a Mesa a esse res- A idéia é justamente proteger a existência do
dem, Sr. Presidente. peito? partido. Ele está sem atuação nacional, porque
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mo teve 3% dos votos para se habilitar a isso. de terem surgido muitos partidos. A administra- Ermírio de Moraes, em São Paulo, de representar
Não quer dizer que não exista. ção do sistema eleitoral se tomou agora muito ao Procurador-Geral da República sobre a incons-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- mais complicada, porque estamos vivendo num titucionalidade da lei que, na parte em que disci-
E quanto à pergunta do nobre Relator? regime de plena liberdade. plinou a distribuição de tempo pelos partidos, ex-
Com relação a questões como a da televisão, cluindo partidos que tinham candidatos registra-
O SR. BOLIVAR LAMOUNIER - Essa questão é interessante observar que, com um regime bas- dos e que não podiam participar dos programas
deveria ser referida à lei complementar. Defini- tante plural, como o que o País está vivendo, todas de rádio e televisão, até obtivemos parecer favorá-
mos, aqui, o que é um partido nacional. A legisla- as questões práticas ficam difíceis. Muitas vezes, vel da Procuradoria nesse sentido. Mas esse pro-
ção dirá que os partidos nacionais terão tais e diz-se que há autoritarismo, mas não é verdade. cesso, essa representação não chegou a ser julga-
tais direitos, inclusive o de acesso à televisão. É Administrar espaço na televisão para 50 partidos da em tempo hábil pelo Supremo Tribunal Fede-
muito difícil resolver isso no texto constitucional. é muito mais complicado do que fazê-lo no bipar- ral. E para evitar que essa dúvida persista, acho
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - tidarismo ou num quadro partidário restrito. Sem- que esse dispositivo deve constar do texto consti-
C0'?l a palavra o Dr. Arnaldo Malheiros. pre teremos dificuldades nas questões concretas, tucional; os partidos que tenham candidatos de-
se quisermos conviver com a liberdade. Temos vem ter tempo assegurado na televisão, sem a
O SR. ARNALDO MALHEIROS - Quanto à que tomar muito mais eficazes nossos expedien- preocupação, acho que isso é problema evidente
opção pelas duas alternativas, parece-me prática tes, os nossos instrumentos, mas também temos para a lei ordinária, de administração do tempo.
a alternativa B de exigir um mínimo de filiação que ter alguma forma de resistência. Se o número de partidos for de tal ordem que
partidária para que o partido possa concorrer a exija maior tempo em algum Estado a lei deverá
Veja-se que parece haver uma tendência aqui
eleições. O número talvez seja um problema para propiciar um tempo diferente, não precisa se res-
da proporcionalidade de fundo partidário pelo nú-
ser meditado mais calmamente. O próprio Dr. tringir a uma hora ou dois períodos de 60 minutos.
mero de votos, que é a proporcionalidade alemã.
João Gilberto referiu-se a um município de mil São detalhes que a lei ordinária deverá regula-
Há também uma tendência a reconhecer o que,
eleitores. Mesmo no Estado de São Paulo, temos na campanha passada, acusou-se de autoritaris- mentar, mas o princípio deve ficar, a meu ver,
municípios com menor número ainda de eleito- estabelecido firmemente na Constituição.
mo, ou seja, que o espaço na televisão seja pro-
res, alguns com 500 ou 600 eleitores, em que porcionai aos votos da eleição anterior. Não tínha-
dois ou três cidadãos se tomariam o partido habili- O SR. JOÃO GILBERTO- Se o Professor Ma-
mos eleição pluripartidária anterior; tivemos que Iheiros permitir e o Presidente, anti-regimental-
tado a concorrer a eleição municipal.
nos valer do quadro de representantes. Mas, quan- mente, também temos um equívoco que é essa
É preciso encontrar-se uma fórmula que dei-
do houver eleições anteriores, poderá ser uma questão de 60 dias de acesso diário etc. Temos
xasse à lei a fixação desse mínimo. Seria interes-
regra geral. que pegar um tempo geral, como é nos outros
sante a idéia de que houvesse o mínimo de eleito-
Ainda defendo a minha posição naquela época países, e dividir entre os partidos, não precisa ser
res para poder concorrer a eleição.
- se bem que isso é da legislação ordinária - esse acesso diário, são grandes programas, temos
Concordo com essa fórmula do apoio expresso
no sentido de que metade do tempo seja dividida que ter o conjunto do tempo dividido e não o
em votos por pelo menos 2% do eleitorado. Não em partes iguais em todos os partidos que tenham
obstante a objeção que foi feita, para que o partido direito do acesso diário a todos os partidos, por
acesso àquele pleito, e a outra metade seja regida- exemplo, que prejudica...
tenha caráter nacional é preciso que realmente
mente proporcional. Há, então, os dois critérios:
ele tenha representação na Câmara dos Depu- O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Que
a igualdade de acesso e a proporcionalidade. Am-
tados pelo menos. Um partido que não tem repre- acaba fragmentando o tempo, inultilmente.
bos são democráticos. O que não pode é alguém
sentação no Congresso, ao menos depois de uma O SR.JOÃO GILBERTO- Exato. É importante
concorrer ao governo do Estado sem acesso a
primeira eleição a que ele concorra, não pode que, proporcionalmente, o partido tenha um, dois,
um segundo de televisão. Acho que isso não pode
ser considerado um partido nacional. Ele é um três, com acesso ao rádio e televisão e até, moder-
haver. Lembro que isso é um assunto de lei
aglomerado de grupos regionais. namente, essa questão do programa diário, ele
complementar, mas que foi levantado pelo Profes-
O SR. CONSTITUINTEROBSON MARINHO- sor Malheiros, oportunamente, e também a Co- é cansativo, acho que temos que pensar um pro-
Or. João Gilberto, não se vai estabelecer limite missão Afonso Arinos sugere que o direito de grama diferenciado e um conjunto de horas que
por Estado - apenas 2% da votação nacional? acesso à televisão esteja escrito na Constituição. seriam distnbuldas em todos os partidos.
Se ele vier a ser escrito na Constituição, ou ele O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
O SR. JOÃO GILBERTO - A ahemativa B foi
feita para contemplar a existência de partidos que terá que ter o apêndice que diz na forma que Concedo a palavra ao Dr. Pedro Celso Cavalcanti
a lei regular, ou ele vai ter que ter uma menção, para tratar sobre os três parágrafos finais que são
possam ser regionais, ou seja, existir só em deter-
minado número de municípios ou de Estados. aí sim, só os partidos nacionais, ou outra menção. fusão, incorporação e extinção.
O número mínimo de Estados é que caracteriza Se não fizermos essa observação na Constituição
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI-Sr. Pre-
o âmbito nacional. No atual princípio constitu- estaremos criando um sistema inaplicável de
sidente, vou só pedir à Mesa, já que não trouxe
cional, cinco Estados caracterizam o âmbito na- acesso à televisão, ou seja, sua pulverização por
escrito, que haja o debate sobre a proposta que
cional do partido. Se vamos permitir a existência 50, 60 partidos e a sua completa inadministração. fIZ do colégio nacional para, só após isso, conti-
de partidos que não têm âmbito nacional, então O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Con- nuarmos
toma-se desnecessária essa questão do número cedo a palavra ao Dr. Pedro Celso Cavalcanti, O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
de Estados. para comentar os três últimos parágrafos. Professor Bolivar,V.S' tem alguma objeção sobre
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - os três pontos?
O SR. ARNALDO MALHEIROS - Sr. Presiden-
Faltam os três últimos parágrafos da sugestão. te, queria falar só um instantinho. O SR. SOLlVAR LAMOUNIER - Não tenho
O SR. JOÃO GILBERTO- Sr. Presidente, gos- objeção. Confesso certa preferência pela redação
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Solicito
taria de fazer uma pequena observação, se me que está na Comissão Afonso Arinos, art. 66, §
aos nossos expositores que sejam breves, porque
fosse permitido. o tempo é escasso.
10, que diz, que o conteúdo é igual ao que está
aqui, tenho a impressão de que está mais enfático
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- O SR.ARNALDO MALHEIROS -Só para refor- e não usa a palavra "participativa", porque esta
Tem a palavra o Dr. João Gilberto. çar aquilo que foi dito pelo Dr. João Gilberto, palavra, digamos, se há um partido oligárquico,
O SR. JOÃO GILBERTO- O professor Bolivar que tanto no anteprojeto da Comissão Afonso regional, do tipo antigo brasileiro, ele não será
Lamounier, na sua exposição, deu um contribui- Arinos como nas sugestões que tive a honra de participativo. Democraticamente devo aceitar que
ção excelente a este debate, que eu não gostaria apresentar aqui, insisti nessa questão de que os ele existe, embora não seja a minha visão do pro-
de perder. O Professor disse - e ele pode me partidos que têm candidatos às eleições devem blema.
corrigir se cometer algum equívoco ao repetir ter o direito de acesso ao rádio, televisão, meios Então, tenho a impressão de que a redação,
. suas palavras - que nosso sistema eleitoral foi de comunicação social, enfim, para evitar o que um pouco mais formal, da Comissão Afonso Ari-
bastante razoável e, hoje, vive uma crise provo- aconteceu na eleição passada em que até tivemos nos sobre esse artigo, seria mais conveniente. Mas
cada pela própria liberdade, ou seja, pelo fato oportunidades, como advogados do Dr. Antônio não tenho objeção.
38 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro FIIho)- ponto de vista, ou tem alguma divergência? Está der a aplicação do sistema distrital misto, eu dese-
Concedo a palavra ao Dr. Arnaldo Malheiros de acordo com o ponto de vista manisfestado. jo registrar que acho que a jurisprudência, até
O SR. ARNALDO MALHEIROS - Concordo Vamos passar a palavra ao Dr. Bolívar? porque esse texto já houve no sistema constitu-
O SR. BOUVAR LAMOUNIER - Vou repetir cional brasileiro, se inclinaria a, realmente, se per-
com a observação do § 2 9 Aliás acredito que seja
apenas o que disse na exposição. Acho que este manecer como está escrito, ser uma expressa
do Projeto Afonso Arinos, que diz que a lei assegu-
artigo é aceitável como está, providas duas condi- vontade pelo sistema proporcional- eu não diria
rará a participação de todos os fílíados nos órgãos
ções: primeiro, que representação proporcional puro, porque ele nunca foi puro neste País -
de direção dos partidos, na escolha de seus candi-
na forma que a lei estabelecer é uma coisa bas- mas nos parâmetros que é usado aí. Se houver
datos e na elaboração das alianças partidárias.
da Constituinte ou desta Subcomissão, a intenção
Acho que essa participação é indispensável para tante ampla, aberta, não significa a simples regula-
mentação do sistema existente, com pequenas de abrir caminho para o voto distrital misto, é
evitar que apenas um grupo restrito de filiados
preciso mexer.
delibere e, às vezes, escolha um número de candi- alterações. Pode ser uma opção por uma organi-
datos até maior do que esse próprio grupo. zação diferente de sistema, desde que observado O SR. BOLIVAR LAMOUNIER - Permite V. Ex'
o princípio proporcional de distribuição das cadei- um aparte?
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro FIIho)- O SR. JOÃO GILBERTO - Pois não. Ouço
ras entre as legendas.
O nobre Relator está de acordo? V. Ex'
Segundo, se a Constituinte optar, confesso que
Concedo a palavra ao Dr. João Gilberto.
gostaria que optasse, por um sistema de governo O SR. BOUVAR LAMOUNIER - Acho muito
O SR. JOÃO GILBERTO- Sr. Presidente, ape- mais inclinado na direção parlamentarista, eu per- importante essa intervenção do ex-Deputado
nas faço uma reflexão porque tenho ouvido muito guntaria aos Srs se não seria mais conveniente João Gilbertoe que, talvez,pudesse ser dito assim:
essa questão. Essa questão das prévias que, num colocar aqui um balizamento adicional, no sentido a representação será proporcional, admitida a
quadro partidário que não consegue ter tradição, de um regime eleitoral que estimulasse mais, que aplicação mista por distrito e por legenda.
como o nosso, ela é uma questão difícil. Vou tornasse mais imperativa a coesão dos partidos.
citar dois exemplos concretos, com o risco de Esta foi a grande discusão que tivemos na Comis- O SR. JOÃO GILBERTO - Ou até um pará-
enfrentar o fato concreto: Porto Alegre e Recife, grafo, dizendo que a lei poderá estabelecer o siste-
são Afonso Arinos que optou, de maneira arrisca-
eleições de 1985 - os partidos respectivos resol- ma misto. Há formas técnicas para se resolver
da, por uma tentativa de explicitação inspirada
veram fazer prévia, em Recife, dentro do PMDB, isto. Se a vontade for por aí,tem que ficar resolvido
no sistema alemão ocidental, e o raciocínio era
ganhou o Sr. Sérgio Murilo contra a vontade da assim, porque se não esse texto vai barrar. Não
justamente este: sendo o projeto aparJamenta-
população e do que era o espírito do partido. rizado, talvezessa redação genérica fosse melhor. tenho dúvida quanto a isto e a intenção dele era
O Sr. Jarbas Vasconcelos saiu do partido, concor- esta.
Eu quero frisar que aquela redação detalhada se
reu e ganhou a prefeitura. baseava muito no temor de que não se entedesse O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
o conceito de regime proporcional na sua ampli- Vamos passar para o art. 2° com a palavra o Pro-
Em Porto Alegre tivemos uma definição difícil fessor Pedro Celso Cavalcanti.
entre dois candidatos, Carnlon e Fogaça, era ób- tude e que se entendesse, apenas, como sinônimo
vio que o canditado Fogaça tinha maior apoio do sistema vigente no Brasil hoje. Se o entendi- O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Eu não
da população e o candidato Carrilon ganhou nas mento for amplo, como deve ser, como tecnica- tenho observações a fazer sobre os próximos arti-
prévias do partido. Vejam bem. Não sei se isso mente é correto que seja, acho que esta redação gos. Estou de acordo.
é de ser um princípio constitucional, no seguinte é aceitável.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
aspecto; essas prévias estão levando o Pais a ter Professor Bolivar.
o seguinte quadro, inclusive, de não participação Com a palavra o Dr. Arnaldo Malheiros.
depois nos partidos. As pessoas se filiam só para O SR. BOLIVAR LAMOUNIER - Estou de acor-
O SR.ARNALDO MALHEIROS - Como enten- do com os demais.
proteger determinado canditado numa determi- do que deva ser, no meu modo de ver, imperativa
nada situação. Então, é um assunto que merece, a Constituição no adotar o sistema de votação O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
pelo menos, um aprofundamento maior; vem quer seja alemão ou algum assemelhado, mas Dezoito anos, e V.Ex', Professor, concorda?
uma pessoa, com dois mil fílíados àquele partido, com a votação por distritos que não correspon- O SR. BOLIVAR LAMOUNIER - Concordo.
que nunca mais aparece. Aliás, isso não é da dam ao Estado, como entende O Professor Caval-
Constituição é do estatuto dos partidos. Mas os canti, eu acho que esta redação - do ponto de O SR.JOÃO GILBERTO -Sr. Presidente, acho
partidos deveriam punir esses filiados, deviam vista de doutrina política, de teoria política - está que nós não devemos fugir das discussóes. Existe
desliga-los, que vêm a um evento e depois nunca correta mas eu encaro, como advogado, tenho uma discussão no País para a idade do eleitor.
mais participam. Então, esse assunto das prévias, medo de que, futuramente, se interprete esta dis- O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Acho
ou da decisão pelo número de filiados,que alguns posição como se interpretou a de 1946, como importante que houvesse manifestação acerca
partidos adotaram no regime da Constituição de vedando a alteração do sistema atual de represen- dessa discussão que se trava, hoje, sobre a possi-
46, na minha cidade mesmo aconteceu uma coi- tação proporcional pura e impondo o sistema pro- bilidade do voto aos 16 anos e como compati-
sa interessante, houve um militar reformado, que porcionai puro. Então, acredito que, talvez, uma bilizar, porque o eleitor, votando aos 16 anos, na
certa vez, doi candidato a prefeito, a eleição era colocação de que terão representação propor- prática do voto, no ato de votar, ele poderá come-
dos filiados do partido, houve uma injeção de cionai, com a divisão de Estado em distritos na ter o ilícitopenal e como compatibilizar este voto
militares se filiandoao partido político para aquela forma que a lei estabelecer será, eventualmente, aos 16 anos com o ilícito que, eventualmente,
eleição. uma forma mais compreensiva e tomará obriga- possa ser cometido.
Isso envolve uma certa complexidade prática tória a divisão em distritos e não forçará uma O SR. JOÃO GILBERTO - Eu não tenho dúvi-
de administração, para usar o termo que estamos interpretação que poderá vir até de fora do Con- das quanto a isto e desejo colocar a minha posi-
aqui na Mesa, que precisa ser melhor verificado; gresso, num julgamento eventualmente de repre- ção pessoal até porque essa discussão está muito
se é de se fazer um princípio constitucional que sentação de inconstitucionalidade de uma lei que presente. Eu sempre votei, como membro da Co-
tome intocável; todo partido terá obrigação de crie votação por distritos. missão de Constituição e Justiça da Câmara, con-
submeter seus candidatos à votação geral dos tra reduzir a idade de responsabilidade penal nos
O SR.JOÃO GILBERTO -Sr. Presidente, peço
seus filiados, ou não. vários projetos de 16 anos. Agora que se levanta,
A decisão daqui vai ser histórica. Temos, na a palavra.
até nos próprios estudantes, um movimento pelo
prática, alguns problemas para a execução disso. O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - voto aos 16 anos, eu, também, tenho uma posição
Acho até que é um avanço democrático, regra Tem a palavra o Dr. João Gilberto °
clara e desejo deixá-Ia explícita - baixar piso
geral, temos tido experiências negativas no País, O SR. JOÃO GILBERTO - Sr. Presidente, eu da cidadania para os 16 anos significa cidadania
por enquanto, sobre isso. integral, mais uma vez. Eu defendo, cidadania
gostaria de fazer uma observação. O autor do
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Fdho)- texto defende o voto proporcional e embora con- sempre com responsabilidade. Então, terá que
Vamos passar então ao voto do eleitor. No primei- corde, doutrinariamente, com a exposição do Dr. ter responsabilidade civil e responsabilidade pe-
ro artigo, o Sr. João Gilberto já manifestou seu BoIivarLamounier de que isto poderia compreen- nai. Esta é uma discussão mais geral. Acontece
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 39

qUI! existem propostas, aí, que reduzem o piso religiosas. Então, parece-me que o voto é um Vejam bem, um país em grande mutação, com
para votar e não reduzem o piso para outras res- dever intrínseco da cidadania. A cidadania não grandes diferenças sociais, que busca a estabi-
ponsabílídades. Parece-me que isto é criar um é um gesto de egoísmo, é um gesto de interação lidade sócio-econômica porque os outros países
tip? de cidadão privilegiado, numa fase em forma- numa comunidade. Ele tem até o direito de votar que mencionei já têm, se você tem um governo
ção. O cidadão que decide quem é o Presidente nulo, tem o direito de votar em branco, hoje, no eleito com uma baixa participação eleitoral, o
da República, mas que não é responsável por País, ele tem até penas para o fato de não votar questionamento da legitimidade desse governo
ter pegado a bicicleta do vizinho e usado sem como ele tem penas para o fato de não prestar vai ser muito alto para aqueles que querem derru-
licença. Não pode haver isso, ou, também, por serviço militar, como ele tem penas para não arre- bá-lo. Eu estou abrindo uma porta na melhor
ter saído com o carro do pai, saído e batido, atro- cadar em dia os seus impostos. Parece-me que das intenções. Eu não duvido o mínimo da vonta-
pelado um~ pessoa. Então, não pode haver essa dever e direito se integram na construção de cada de democrática dos que discordam de mim, mas
diferença. E uma posição que eu gostaria de dei- direito. Todo o direito tem um dever que está eu abro uma porta para questionamento de legiti-
xar claro nos Anais da Constitumte. Se formos ligado à sua própria realização, se não nós tería- midade de governo muito grande, num momento
descér a idade de 18 para 16 anos para votar, mos rmlhôes de direitos individuais que não fun- de crise social. Esta é uma razão a mais porque
dar o direito máximo da cidadania que é o dtreito cionariam, porque, no coletivo, eles não se ajusta- eu, realmente, gostaria que o voto fosse obriga-
de vbto, direito que abre as portas para a cidada- riam. A todo direito significa um dever que está tório, neste momento, por décadas da vida bra-
nia, nós temos que descer os outros limites de ligado à própria essência desse direito, porque, sileira.
idade. se não, a pessoa que está ao meu lado ou próxima O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com
de mim ou distante de mim, não terá o mesmo a palavra o Professor Bolívar.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro FIlho)-
direito que eu tenho. Então, por isto, eu sou pelo
A1g~ém deseja fazer algum outro comentário? O SR. BOLlVAR LAMOUNIER - Eu estou de
voto obrigatório.
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Nobre acordo com tudo que foi dito e gostaria de acres-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- centar uma razão. É que, além do mais, acho
Relator, eu não me pronunciei somente por isto
- porque, realmente, tem que se mexer em tudo. Com a palavra o Professor Pedro Celso Cavalcanti. que o voto livre,assim como existem mecanismos
de concentração de renda, ele concentra o poder,
O SR. BOLIVAR LAMOUNIER - Sr. Presidente, O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI - Eu porque, quando se reduz a participação, a redução
peço a palavra. acho que o voto deve ser obngatório na medida é muito mais forte nas camadas de nível sócio-e-
em que é o mínimo que a democracia - e ela conômico mais baixas que, então, deixam de utili-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
é muito frágil em nosso País - deve exigir dos zar uma parcela muito significativa de posiciona-
Com a palavra o Professor Bolívar. cidadãos e cidadãs. mento. Pega-se uma cidade como São Paulo, on-
O SR. BOLIVAR LAMOUNIER - Apenas um Defende-se muito que em várias democracias de 60% do eleitorado está na grande periferia,
breve comentário na linha do Deputado João Gil- estáveis o voto não é obrigatório. Isto é verdade. ali a redução não seria 40%, seria, talvez, 20 a
berto. Acho que eu tenho uma razão perfeita- Nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório 25% . Então, a parcela de poder político que esta-
mente objetiva para me opor à redução que é e os índices percentuais de participação eleitoral ria sendo subtraída das classes baixas brasileiras
essa da imputabilidade penal. Eu não gostaria nos Estados Unidos são baixos. O maior que eu é um verdadeiro absurdo. Eu confesso que me
que esse artigo levasse àquela conseqüência. Em me lembro foi a eleição de Kennedy e Nixon, espanto em ver pessoas de índole profundamente
segundo lugar, penso que a idade que nós acha- que chegou a 60%. Eleições, quando não têm modesta que defendeu o voto livre num país tão
mos apropriada para votar é um critério um pouco presidente, aquelas três últimas, se não me falha desigual como este, porque num país como a
subjetivo, é aquilo que nós imaginamos que seja a memória, há uns dois anos, chegou a menos Suíça ou a Dinamarca, pode-se compreender,
um momento de maturidade da pessoa. Isto é de 40% , 38%. Um índice baixo de participação. mas aqui, além de ser um dever a participação
totalmente arbitrário. É a impressão subjetiva. Mas do cidadão, o efeito social do voto livre seria extre-
eu confesso que a minha impressão é esta: que A estabilidade democrática tem a ver com vá-
rias outras razões históricas e culturais. Mas há mamente ruim. Então, acho que deve ser mantida
18 anos é uma idade razoável para a situação a obrigatoriedade.
brasileira. Eu me mantenho por esta norma. países, também de estabilidade democrática, que
têm formas eleitorais que não julgo muito demo- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - cráticas. Foi dado o exemplo da Suíça - nada a palavra o Dr. Malheiros.
Com a palavra o Professor Malheiros. mais estável, nada, talvez, mais chato de estabi-
O SR. ARNALDO MALHEIROS - Concordo
O SR. ARNALDO MALHEIROS - Concordo lidade do que na Suíça - os Srs. podem até
com o que foi dito. Acho até que a obrigatoriedade
com esta observação. Aliás, até sou contrário a brincar - em que as mulheres passaram a votar
do voto, que corresponde ao princípio de que
uma drsposíção da Lei Orgânica dos Partidos que a partir de 1971. Há o caso inglês que é, também,
o voto é, ao mesmo tempo, um poder e um dever
permite filiação de eleitores a partir dos 16 anos. uma grande tradição, desde a revolução gloriosa,
do eleitor, tem até uma função pedagógica de
Eu entendo que 18 anos é a idade do exercício as eleições freqüentes - isto faz três séculos. habituá-lo a participar das decisões políticas e
pleno dos direitos políticos e estou de pleno acor- Mas, vejam bem: até 1951, também, se não me
a participação maior que ele possa ter é na eleição.
.do com esse dlsposíuvo. falha a memória, havia uma divisão de votos entre
Como disse o Professor Cavalcanti, o questiona-
cidadãos e cidadãs e que era pouco democrática, mento da autoridade e da legitimidade do Gover-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - no meu ponto de vista; ou seja, o individuo poderia
Vamos passar, então, para o § lodo artigo. É no, razão até que leva à sugestão da eleição dos
votar no local em que morava, no local onde ele
quando se trata do alistamento e os votos são cargos executivos por maioria absoluta, que tem
tinha sua propriedade de negócios e onde ele o mesmo fundamento e a mesma razão de ser,
obngatórios. Há um grande debate a respeito da tinha feito os seus estudos. Então, um trabalhador
matéria e vamos ouvir, então, o Deputado João eu acho que a disposição deve ser mantida, sem
normal votava uma vez. Eu, proprietário de elite alteração.
Gilberto. de um negócio - e isto é depois da Segunda
O SR. JOÃO GILBERTO- Eu renovo, apenas, Guerra Mundial - votava três vezes se eu tivesse O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Vamos
os argumentos que coloquei na exposição. E de onde morar, onde tinha o meu negócio e, natural- passar, então, ao parágrafo que fala sobre o alista-
que cidadania não é direito individual contra uma mente, em Oxford ou Cambridge porque fizmeus mento dos militares.
comunidade, mas é um engajamento com direi- estudos lá. É evidente que o Dr. João Gilberto tem um
tos e responsabilidades dentro de uma comuni- Aquestão da estabilidade tem a ver uma plurali- ponto de vista manifesto aqui, assim como o Dr.
dade. Não conheço país do mundo em que o dade de fatores muito grande. Eu acho que no Cavalcanti, o Dr. Bolívar e o Dr. Malheiros.
cidadão possa alegar os seus direitos individuais caso do Brasil, o mínimo que a democracia pode O SR. ARNALDO MALHEIROS - Eu faço a
para se negar a pagar impostos. Então, o fato exigir a cada cidadão e cidadã é que a cada 4 restrição que fiz, imcialmente, que achava que
de ele ser cidadão, naquele país, já o obriga a anos ele tenha ess!,! preocupação com política. deveria ser mantida a disposição da Constituição
pagar impostos. A Constituição brasileira diz que Isto é coercitivo? E. Mas o poder é coercitivo. atual mas, também, não tenho objeção maior a
'O cidadão que se negar a prestar o serviço militar A questão é se eu quero ser coercitivo; para garan- que seja reduzida a proibição do alistamento dos
perde a cidadania. Só pode alegar convicções tir, implementar, sedimentar a democracia. praças de pré, apenas aos conscritos.
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o SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Por mento, que é um voto secreto, individual, e vou às vezes, é o Prefeito, é o Governador tentando
quê? dizer o seguinte: na campanha eleitoral e pela eleger os seus candidatos, no caso aí do distritão,
O SR.ARNALDO MALHEIROS - Eu acho que, prática que temos de candidatos, às vezes o rapaz o Governador, e essa soma de recursos se dilui
no tipo de organização que nós temos, a influência que é cabo, é soldado, participa a nível familiar; em função do tamanho do distrito. A não ser
militar, enquanto se mantiver apenas como in- a sua esposa vota, o seu pai e a sua mãe votam aqueles que militam no processo político, e eu
fluência de cúpulas, militares na vida política do discutem política em casa. Agora o voto secreto já estou há 15 anos, e tenho uma vivência de
País, já é um mal terrível, é um problema com é um voto individual, ele vai lá, um dia, e vota 15 anos dentro desse processo, ou os profissio-
o qual todos nós temos nos preocupado, especial- secretamente. Não se trata de politizara vida mili- nais que atuam nesse meio, jornalistas acompa-
mente nos últimos 25 ou 30 anos, mas levar a tar, que é outra discussão; mas trata-se de conce- nhando de perto o que acontece, a não ser esses
participação dos subordinados às campanhas po- der ao cidadão o direito de voto. que percebem o que está sendo gasto por deter-
Uticas com a interferência de política dentro das O SR. ARNALDO MALHEIROS - Como eu minados candidatos, ninguém mais sente esse
organizações militarese, com isto, gerando, even- disse de início, não é uma restrição a que eu peso, mas esse peso se faz muito presente no
tualmente, insatisfações entre os próprios chefes me apegue. resultado final porque, indiscutivelmente, aquele
militares que, sem esse problema, já interferem candidato, por menor soma de recursos e nós
geralmente na atividade do País, acho que seria O SR. PRESIDENTE (IsraelPinheiro)- Vamos vimos nas últimas eleições candidatos milionários
um risco que não compensaria correr, apenas passar ao último parágrafo que se trata dos eleito- que perderam eleição, simplesmente porque não
com a intenção de acrescentar ao eleitorado mais res que não saibam exprimir-se na língua nacio- tiveram mais para gastar do que outros tiveram.
100 ou 200 mileleitores que estão sendo discrimi- nal. Opinião do Professor Cavalcanti. Então, foi uma corrida desenfreada onde se
nados, segundo a nossa opinião. usou de todos os meios, de todos os recursos,
O SR. PEDRO CELSO CAVALANTI- Estou
O SR.PEDROCELSOCAVALCANTI-Permite os mais imorais, os mais ilícitos possíveis. Então,
de acordo.
V. EX um aparte? eu entendo, que talvez aqueles que esposam a
O SR.PRESIDENTE (IsraelPinheiro)- Profes- idéia do distrito, distrito pequeno, distrito menor,
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com sor Bolivar. evidentemente, observando a proporcionalidade
a palavra o Professor Cavalcanti a nívelde número de eleitores, haja essa possibi-
O SR.BOLlVAR lAMOUNIER - Estou de acor-
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Eu do, mas tenho a impressão de que nesta Consti- lidade de o eleitor fiscalizar melhor aquilo que
creio que sobre isto, se o Sr. desejar fazer um tuinte haverá uma reflexão muito original, muito está sendo gasto dentro do distrito.Nós não pode-
outro tipo de argumentação, tudo bem. Longe profunda, sobre a questão indígena brasileira.Eu mos fazer uma análise, no meu entendimento,
de mim querer quebrar a hierarquia militar, criar acho que seria interessante verificar, eu não quero do problema em função de casos que ocorrem
desordens - não passa isto pela minha cabeça fazer uma proposta, mas verificar se há possibi- em um determinado momento histórico. Nós te-
- mas, até que ponto uma medida dessa pode lidade de abrir uma pequena brecha para questão mos que olhar mais para frente, legislar,em cará-
íncorporer mais os militares na vida democrática? indigena, porque não é justo, não é lícito exigir ter permanente, ou seja, procurar estabelecer uma
Acho que a questão da incorporação dos militares dos indigenas que aprendam a língua portuguesa legislação que valha para agora, para daqui há
na vida democrática é fundamental para o estabe- no mesmo grau em que se pede a um italiano, 40 e 50 anos, e não nos fixarmos em casos isola-
lecimento da democracia e não colocá-los à mar- a um alemão, que aprenda a línguas. Então, eu dos que alguém vai dizer, e eu tenho certeza que
gem da vida democrática. Ter essa esperança tenho a impressão que se for possível aqui abrir V. S· poderá se referir a isso, à concentração de
de que eu não tratando de política com os milita- uma exceção seria de grande justiça. recursos no distrito, mas que pode ter um efeito
res, eles não vão se meter em política - V. S· reverso, talvez na segunda ou na terceira eleição.
O SR.PRESIDENTE (IsraelPinheiro)- Dr.Ma- Nós vimos isso e temos aqui o Deputado Robson
não disse isso, eu é que estou exagerando no lheiros.
argumento - é um argumento muito perigoso. Marinho,Deputados que vinham se elegendo ano
Os militares são cidadãos, eles não moram na O SR.ARNALDO MALHEIROS - Eu não tenho após ano, usando somas enormes de recursos,
lua, moram aqui. Então, eu prefiro chamá-los à nada a opor a essa observação do Professor La- em São Paulo, foram eliminados agora pelo pro-
participação democrática, dar-lhes esse direito, mounier, embora eu ache que a questão seja pe- cesso eleitoral, mas depois de esgotar todas as
fazê-los debater do que empurrá-los a fazer isto quena na significaçãogeral da disposição. Eu pre- possibilidades de compra de voto em todo o Esta-
fora do sistema. Esta é a razão por que eu defendo firo a redação que está com o projeto. do de São Paulo.
evidentemente, eu poderia debater isto muito Então, eu acho que no distrito,Professor, talvez
O SR. PRESIDENTE (IsraelPinheiro)- Passa- esse repúdio da opinião pública, do eleitor, a
tempo aqui entre nós. remos à segunda parte com interpelações dos quem se serve desse expediente, possa ocorrer
O SR.ARNALDO MALHEIROS - Claro,é uma Srs. Constituintes. mais rapidamente possível, e nós possamos ter
discussão que seria interminável. Apenas acho Concedo a palavra ao Deputado Constituinte uma purificação do sistema que hoje nós temos,
que essa participação para a qual se chamam Francisco Rossi. que no meu entendimento, não vá ocorrer tão
militares e, aí, nós temos que fazer uma distinção O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Eu 'estou cedo se continuar nesse chamado distritão, que
entre os militares que já participam, que são os até agora meditando sobre a afirmação que fez são os Estados onde tudo acontece e ninguém
graduados a partir de sargentos ou sub-oficiais o professor Cavalcanti a respeito do tamanho do faz nada, e a coisa se repete e vai gerando uma
etc, o militar sem graduação que seria o praça distrito e a afirmação também que ele fez a res- desconfiança, um aborrecimento cada vez maior
de pré, que é um militar extremamente subordi- peito dos meios de comunicação que estão à por parte do eleitorado.
nado, extremamente dependente da disciplina e disposição de todos e que, em tese, qualquer um Outra coisa, professor, que foi dita aí na Mesa,
da hierarquia e que, eventualmente, viriareforçar, teria condições de chegar até o eleitor através que nós temos sim, no meu entendimento, que
vira trazer apoio politico à atuação, nem sempre desses meios de comunicação. Masnós podemos procurar dar estabilidade aos governos, e eu per-
polítíca, dos seus chefes. Esse é o receio que ignorar a influência que existe, e eu tenho que gunto como dar estabilidade aos governos, se
eu tenho. ser repetitivojunto aos colegas de Subcomissão, aqueles eleitos nos distritões se compõem após
O SR.PEDROCELSO CAVALCANTI-Mesmo porque eu já falei isso aqui, mas eu vou ter que as eleições, e não há nenhum compromisso an-
sendo o voto secreto? falar pelo que foi dito aí na mesa; nós não pode- tes, mas estes compromissos começam a acon-
mos ignorar a influência que exerce, hoje, no pro- tecer depois, os acordos são feitos depois, em
O SR.ARNALDO MALHEIROS - Eu estou me função também de acertos de compras e o Poder
cesso eleitoral do poder econômico. Ele St. faz
referindo à participação na campanha eleitoral, Executivotentando fazeras composições gastan-
presente das formas mais espúrias possíveis. En-
na preparação para eleição. do dinheiro públicos, pagando um preço alto e
tão no distritão, Professor, o candidato que tem
O SR. JOÃO GILBERTO - Professor Malhei- a sua disposição uma massa de recursos enorme não sabemos até quando o resultado disso dá
ros, se V. S· me permitir, aqui se trata do direito que, às vezes, vem até das chamadas caixinhas, aquela sustentação pretendida por determinado
de voto. O direito de filiação partidária etc. seria e aí entra também um componente de ordem governo.
diferente: parece-me que é o acesso ao voto, o política, porque também não é só o poder econô- São as duas colocações que eu faço e eu gosta-
voto secreto. É isso que está em jogo neste mo- mico, mas o poder político influenciado porque, ria de ouvir a opíníão, talvez, a partir do distrito
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 41

que se possa buscar sim, uma composição e uma IStO sim, que nós refletíssemos, não é agora, se mentar que faltar a dois terços das sessões perde
base mais estável para os governos. esse tipo de voto que V. S· pensa, defende, au- o mandato, só que ninguém nunca perdeu man-
11 menta ou diminui a possibilidade da consolidação dato por faltar dois terços das sessões. Há falta
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
Professor Cavalcanti. de partidos políticos no País? Na minha opinião, de aplicação dos princípios. Mas, no caso do po-
diminui, porque "desideologiza" mais as campa- der econômico, isto é mais grave, porque a lei
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI - Tenho nhas eleitorais. Elas passam, cada vez mais, a consegue punir o crime mas não consegue impe-
a impressão de que ambos estamos procurando diminuir o seu espaço eleitoral, geograficamente dir o crime. Não é pelo fato do homicidio ser
aperfeiçoar a democracia. Não há dúvida sobre e, portanto, a problemática política tem de se afe- considerado crime pela lei que vão deixar de ma-
isso. Eu não posso fazer nenhuma observação
>
rir. Uma eleição cada vez em um distrito maior tar pessoas. A lei permite punir. Então, por mais
negativa ao que V. S' disse porque é verdade. - eu adoraria o distrito único no País inteiro - eficaz que seja a lei contra o poder econômico,
Eu não posso negar os seus argumentos que leva a um debate nacional e internacional muito nós teremos sempre duas barreiras; uma são os
são verdadeiros Quero, crer, no entanto, que os mais pujante e, portanto, à consolidação de ideo- atos sociais e outra são os mecanismos de execu-
meus também são verdadeiros. A questão de nós logias e à consolidação de partidos políticos.Pois ção dessa lei. Faltam, no Brasil, mecanismos de
pesarmos, sendo ambos verdades, que a verdade não, desculpe-me. execução. Como é que se prestam contas de uma
é múltJpla. Nós não estamos aqui em uma seita campanha no Brasil? É por uma comissão inter-
religiosa,a verdade é complexa e múltipla, e qual O SR.ARNALDO MALHEIROS - Eu concordo partidária? Alei é tão dura, tão difícil que nenhum
é aquela que mais contribui para a estabilidade plenamente quando V.S· dizque o sistema eleito- partido, mesmo que tenha feito a campanha mais
da democracia no Pais? No enfoque fundamental ral é que vai condicionar o sistema partidário e, franciscana, consegue prestar contas de forma
foi a questão da representatividade das minorias, realmente, há uma tendência, quase que a um legal. Então na hora de acertar contas, aquela
ou seja, a possibilidade de as minorias partici- bipartidarismo onde existe o distrito. Mas eu fico comissão pluripartidáriaé uma comissão de coni-
parem no Congresso Nacional, para que todas também imaginando, a idéia do pluripartidarismo vência; ninguém apresenta notas direito e aprova
fossem incorporadas a essa chama, que deve es- não tem gerado outra coisa, na prática, aqui no a prestação de contas de todo mundo. Então,
tar acesa sempre no nosso povo, da vontade de- País.Aqui mesmo no Brasil.Existe o quadro pluri- nós temos que criar, durante os longos debates
mocrática. Se o V. S· crer nisso que acabou de partidário nesse sistema proporcional e, na práti- que estão se travando sobre isso, 'e uma das coisas
expor e isso respeitar a proporcionalidade da re- ca, nós temos visto, não só aqui no Brasil, mas é o novo papel do Ministério Público, mas não
presentatividade, eu não sairia em campanha con- onde existe esse sistema, também a existência é suficiente. Nós temos que criar novos instru-
tra a sua opinião. O que eu temo é que na defesa de dois partidos ou no máximo um terceiro, um mentos de real fiscalização da aplicação da lei
sob esse enfoque que V. S· fez, se insira uma pouco mais forte, e o restante composto de legen- na área do poder econômico.
contagem de votos majoritária, não proporcional, das chamadas pequenas. E eu entendo que no Quanto à questão de deslocar do sistema pro-
que vá alijar as pequenas representações que já sistema do distrito pequeno, do distrito menor, porcionaI para o sistema majoritário, achar que
estão alijadas. vai haver essa tendência sim, mas eu entendo isso diminui o poder econômico, eu faço a per-
que também as minorias vão ser totalmente res- gunta contrária. Onde é que mais se gasta dinhei-
Usou-se algumas vezes a palavra "distritão". guardadas, dependendo, isso deve ser até um
Há "distritão" em São Paulo, em Minas Gerais, ro? É na eleição do prefeito ou na eleição do
princípio constitucional, da contagem desses vo- vereador? É na eleição do governador ou na elei-
no Rio de Janeiro, mas a maioria dos Estados tos num distrito a nível de percentual, para se
são "distritinhos", do ponto de vista das minorias, ção do deputado? É claro que a eleição majoritária
garantir o direito dessas minorias. demanda maiores recursos e tem uma aposta
do ponto de vista de quem precisa de 10%, ou
mais, para ser representado. Nós podemos con- O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI-Eu vou mais forte do poder econômico. A questão da
versar longamente. Eu concordo quando V. S· falar sobre duas coisas para não ser antidemo- sua limitação geográfica, reconheco, talvez per-
diz estar aberto. Eu tenho alguma experiência de crático. Eu tenho certeza de que os meus colegas mita uma fiscalização mais próxima do eleitor,
Estados Unidos, porque até ensino lá há 18 anos. devem estar em cócegas para se pronunciar sobre mas no resto, não tem nenhuma outra vantagem,
Veja bem, o afluxo de dinheiro econõrmco no esta questão. Voucomeçar pela segunda. Eu gos- porque a eleição majoritária é sempre mais clara
pequeno distrito,lá, não é menor porque é peque- taria realmente que os senhores discutissem aqui, e sempre envolve mais interesses econômicos.
no. As companhas são ganhas na base de dinhei- levassem em consideração, a questão do Colégio
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com
ro. Tudo é muito diferente, tudo é mutatis mu- Eleitoral Nacional para as sobras. Acho esta uma a palavra o Professor Dr. Arnaldo Malheiros.
tandis e não há o ceteris paribus, a não ser contribuição importante, até ajudaria as pequenas
para argumentar sobre isso. Eu insisto nisso. Evi- correntes entenderem ou aprovarem essa modifi- O SR. ARNALDO MALHEIROS - Eu divirjo
dentemente quando V. S' quer alijar uma influên- cação dos distritosnacionais tradicionais. Se tives- da última afirmação feita pelo Dr. João Gilberto.
cia maior do governador e V. S' o fará criando sem a garantia que em cada distrito que eles Realmente, é evidente qual a eleição mais cara
isso, V. S' está aumentando a influência do pre- votassem, se não atingisse aquele coeficiente em entre a de um governador e a de um deputado.
feito. Precisamos estar conscientes do que esta- termos da sobra nacional, creditaria num grande Não há comparação. O governador está dispu-
mos fazendo. O prefeito passa a ter um peso pool e, portanto, sempre haveria algum represen- tando um único cargo e os deputados estão dis-
muito maior ou os prefeitos, na medida em que tante. Essa seria a segunda coisa. Passo a palavra putando 60, no caso de São Paulo. Mas,veja bem,
alguns municípios vão se agrupar. a um colega... a questão que se coloca sob certos aspectos ela
foi um pouquinho modificada, é da influência do
O SR.ARNALDO MALHElROS -Se nós consi- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Dr.
poder econômico no Distrito Federal poder ser
derarmos, por exemplo, o Estado de São Paulo, João Gilberto. maior que no Estado. Por outro lado, a fiscaliza-
com 572 municípios, nós não vamos ter um dis- O SR. JOÃO GILBERTO - Eu não gostaria ção, e quando digo fiscalização não é fiscalização
trito em cada município; será uma composição que passasse sem ser enfrentada a questão do da justiça eleitoral que é ineficiente nesse sentido,
onde pode-se inserir vários munícípíos. V.S· invo- poder econômico. Embora nâo seja uma questão até porque fica aguardando que haja provocação
cou um exemplo dos Estados Unidos e nós sabe- de regras constitucionais, é uma questão muito dos outros Partidos, dos adversários, dos eleitores.
mos que, inclusive, os distritos nos Estados Uni- palpável e que está há décadas na discussão da E se a lei der meios do Ministério Público ou
dos foram compostos da maneira mais estranha lei brasileira.A lei brasileira é uma das mais avan- de qualquer eleitor sobre esses abusos, vai ser
possível. muito mais eficaz o distrito, onde o cidadão que
çadas do mundo no combate ao poder econô-
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI - Até mico, tanto que aqui, candidato não gasta, só estiver concorrendo à eleição, for mais restrito.
consolidou certos jargões na ciência política.Mas, quem gasta é partido político, diz a lei. Nesse Evidente, como observou o Constituinte Francis-
sem dúvida, o prefeito passa a ser mais impor- assunto, como nos outros, o problema brasileiro co Rossi, agora há pouco, e isto nós, com a vivên-
tante, mas não há problema porque alguém vai é a prática. A população discute a responsabi- cia, embora não sejamos políticos, que temos
ser mais importante. As composições que V. S· lidade dos futuros parlamentares, se quer novos como advogado, eu vejo acontecer os candidatos
,alegou posteriores a eleições têm a ver com a mecanismos para o controle do mandato. Eu te- que gastam e que, eventualmente, abusam do
debilidade dos partidos políticos, mais do que nho dito sempre que a Constituição tem eficazes poder econômico, não despejam recursos fantás-
qualquer coisa. O que eu gostaria de perguntar, mecanismos de controle do mandato. O parla- ticos num lugar pequeno. Eles gastam no Estado
42 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONsmUlNTE (Suplemento) Julho de 1987

inteiro eles gastam subsidiando campanhas de Segunda observação. Poder econômico. É difí- complicada, difícil, é uma plantinha que tem sem-
vereadores, de diretórios, de clube e, sei o que cil nós sabermos qual vai ser fácil. O que estou pre que ser molhada com muito cuidado. Não
mais, dobradinhas. convencido é de que com a atual legislação parti- vamos terminar pessimisticamente, achar que
O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Com- dária eleitoral brasileira, a mim me parece impos- nós somos a coisa pior do mundo Não é isso.
pram os cabos eleitorais, não os eleitores. sível chegar a uma legislação eficaz de controle A batalha da democracia é universal, com mais
de gastos, de verificação de gastos. Eu acho prati- dificuldades aqui, mas em todas as partes.
O SR. ARNLDO MALHEIROS - E passa relati- camente que, eleição tão complexa, tão desdor-
vamente despercebido, a não ser para quem está denada como esta, alguém queira realmente fis- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
no métier, quem é do ramo, e que sabe que calizar gastos. Nós podemos colocar no papel Concedo a palavra ao segundo Inscrito, o Constí-
o cidadão fulano não pode ter aquela votação a melhor lei do mundo, o Dr. João Gilberto diz tuinte Valdyr Pugliesi.
porque normalmente não tem prestígio político, que é, mas a aplicação dela é inexistente. Então, O SR. CONSTITUINTE VALDYR PUGUESI-
não tem força eleitoral para isso. Agora, na hora eu tenho a impressão de que mudando o sistema Parece-me que foi enorme a contribuição que
em que isso for restrito a um distrito, vai ficar eleitoral, no sentido de simplificar o processo de os expositores trouxeram a todos nós. Eu só la-
tão gritante, tão evidente, é a minha impressão, ter menos personagens no drama, porque o nos- mento que aquilo que se debateu aqui não fosse
e tão escandaloso que não vai ser possível evitar so tem um excesso de personagens no drama, possível ser do conhecimento do conjunto dos
que seja coibida essa atuação e que a lei precisa nós poderiamos racionalizar a fiscalizarção eco- constituintes. Eu me robusteci, nas minhas con-
também dar recursos para que - e o Dr, João nômica e poderiamos chegar a uma legislação vicções, contra o distrital, a favor do voto obriga-
Gilberto observou bem - que ela pune mas não a respeito da televisão e do rádio que, esta sim, tório e desses pontos todos que foram debatidos
dá meios para coibir.Eu acho que precisaria mes- teria um efeito democrático de impedir o poder aqui. Pelo adiantado da hora, eu gostaria só de
mo que a lei permitisse mais meios para coibir econômico avassalador. Sem simplificação eleito- dizero seguinte: os expositores poderiam também
esses excessos durante a sua prática e não só ral, nem uma coisa nem outra será realmente dar uma grande contribuição, oferecendo idéias
depois de realizados e às vezes, com os sistemas possível. Não vamos ter a aplicação da lei e nem para que tivéssemos mecanismos de defesa do
de preclusão e de recursos etc., impossibilitando vamos ter uma boa legislação de televisão,porque eleitor contra a Justiça Eleitoral. Nas últimas elei-
até a apuração desses fatos pela Justiça Eleitoral. a televisão não vai dar oito horas por dia para ções - e eu já falei isto nesta Subcomissão -
Agora, ISSO é evidente, não é matéria para a Cons- 1.200 candidatos no Estado de São Paulo. Isto o medo foi semeado no meio dos eleitores. Era
tituição. O que nos está preocupando é uma in- é matematicamente impossível chegar-se a uma proibido usar camisetas, era proibido fazer boca
fluência do poder econômico na votação por dis- legislação que satisfaça a todos os partidos e a de uma, era proibido se manifestar. Eu vi o medo
tritos, e eu acho que este seria um argumento, todos os candidatos. Então a mim me parece estampado principalmente na face dos eleitores,
ao contrário do que pensa o Professor Cavalcanti, imperativo, se nós queremos compatibilizar as os pobres sim. Eu acho que nós precisamos ter
a favor da votação por distrito. vantagens de um sistema e de outro, nós temos esse mecanismo de defesa. É uma contribuição
que caminhar para um sistema misto, aquele que que os expositores poderiam oferecer. Vi juízes
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com resguarde a proporcionalidade partidária.
a palavra o Professor Cavalcanti Bolivar. e até ministros do Tnbunal Superior Eleitoral, di-
zendo que já tinham alugado estádios de futebol
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- para fazer o confinamento de eleitores que fos-
o SR. BOLNAR lAMOUNlER - Vou abordar Dou a palavra para terminar ao Professor Caval- sem descumprir a legislação eleitoral, como se
rapidamente dois aspectos. Em primeiro lugar, canti
na questão do distrito e da proteção das minorias, eleição fosse um dia de tristeza. Eu vejo eleição.
dos Partidos menores, eu acho que nós temos O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Eu me como um dia de festa, todo mundo com bandei-
que distinguir três situações muito diferentes Há lembrei do outro ponto. Resguardada a questão ras, livremente exercendo seu direito. Este é um
uma coisa que o Dr, Cavalcanti falou que se você da proporcionalidade, e com essa coisa em mente pedido que faço para que oferecessem essa con-
tem um Estado que elege apenas oito deputados, foi que eu propus até qualquer limite à represen- tribuição.
quer dizer, um distrito de oito deputados, um Par- tação partidária, foi o que eu propus, a questão Eu gostaria também de dizero seguinte: a clas-
tido pode ter 10% dos votos e não eleger. Então do colégio nacional para as sobras. se dominante está torcendo para que esta Consti-
no distrito plurinominal, muito pequeno, o efeito Eu quero dizer que partindo da sua preocu- tuinte caminhe para o distrital; pareceu que elimi-
não é perfeitamente proporcional. Isto é antimé- pação, que argumento a favor do voto distrital narão seus mais ferrenhos adversários. Mas, eu
tica simples. Num distrito uninominal, que elege majoritário, do distrito menor, com relação aos gostaria de, além desses comentários, pedir que
um deputado, você pode ter 49% dos votos e Partidos. Eu gostaria de terminar de forma otimis- dissessem alguma coisa a respeito das inelegibi-
não eleger ninguém se for aplicada a regra majori- ta. Não vamos ser tão pessimistas em relação lidades. Se nós estamos buscando garantir o direi-
tária pura dos Estados Unidos. à questão da vida partidária brasileira. É uma ver- to de todos, gostaria que me colocassem aquilo
Há uma terceira situação, que é o sistema ale- dade, mas nós exageramos um pouco isso. Nos que existe de maléfico, se nós permitirmos que
mão, onde há distrito uninominal, mas não há anos recentes, na medida em que o Brasil se os parentes dos ocupantes dos cargos de Presi-
aplicação da regra majoritária pura, os votos do modernizou, depois da 11 Guerra Mundial para cá, dente da República, de Govemador, de Prefeito,
Partido não serão esterilizados, eles contam no foi dada muita oportunidade para que se consli- possam ser eleitos. Eu até cito um caso interes- ;
conjunto do Estado para formar a votação de dasse a vida partidária no País Se V. S' pegar sante. Eu tenho um parente que é meu inimigo
legenda na legislação original, ou então inverten- as eleições desde 1945 até 1962, que foram as pessoal e político. Eu me frustro porque ele está
do, primeiro a legenda. Mas, então, você não está últimas, vai notar uma tendência à consolidação querendo ser candidato e não está podendo. Eu
esterilizando os votos do perdedor. Isto torna per- dos Partidos políticos. Isto leva tempo, isto não gostaria de ter esta oportunidade para fazer com
feitamente compativel a adoação de distritos sem é rápido, como leva tempo a questão da demo- que o povo o eliminasse definitivamente da vida
prejudicar as minorias. O problema dos brasileiros cracia. política. Ele não pode ser candidato porque é
é este. Exageramos algumas caracteristicas do Brasil, meu parente, a lei, hoje, é muito clara a esse
Eu estava lendo ontem, antes de vir para aqui, até da América Latina e esquecemos que outros respeito; nem a mulher, nem os parentes afins
o livro de Assis Brasil, "Voto no Modo de Votar", países do mundo, que chamamos adiantados e e consaqüíneos até o terceiro grau podem ser
democráticos, têm as mesmas características. candidatos. Gostaria que se fizesse uma reflexão
1893 Assis Brasil era um partidário fanático do
distrito nacional. E ele disse" considerando a ex- Aquestão da liderança em Partidos, dos líderes a respeito do caso.
tensão territorial do Brasil,eu me rendo à evidên- carismáticos é uma questão mundial. Lembro-me
do General De Gaule, a França da Revolução O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
cia de que um Estado, como Minas Gerais, que
já tem 4 milhões de habitantes, deveria ser divi- Francesa e Ronald Reagan. Há fenômenos univer- Com a palavra o Constituinte João Gilberto
dido em distritos". O que nós não podemos é sais que existem de forma acentuada no Brasil O SR. JOÃO GILBERTO - Começo respon-
adotar o distrito uninominal majoritário, porque e nos países subdesenvolvidos que nós esque- dendo o primeiro aspecto. Veja, mea culpa. Não
este esmaga o adversário agora, unínominal, num cemos que existem também - até golpes milita- foi a Justiça Eleitoral que inventou uma regra
mecanismo proporcional, é perfeitamente ade- res - na Europa - Espanha, Portugal, Grécia, nova nessa eleição. Foi o Congresso Nacional
quado à situação brasileira. tentativas na Itália. A democracia é uma coisa que resolveu adotar o sistema espanhol..
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 43

o SR. CONSTITUINTE VALDYR PUGUESI - ponto a Constituição deveria ser detalhista, dizer futebol. Eu mesmo tive um problema no Estado
I Permita-me um aparte só para colocar o seguinte. todos os casos de inelegibilidade. É ruim a inelegi- de São Paulo, no Município de ltapíra, em que
Eu sou um homem do PMDB, mas não me con- bilidade está variando por lei, porque ela afeta o Juiz publicou um edital ameaçando de prisão
formo com a violência que a Justiça Eleitoral prati- um direito humano, um direito fundamental, que os eleitores que comparecessem com camisetas
cou no Estado do Rio de Janeiro, principalmente, é o direito de o cidadaão ser candidato, de ser no dia da eleição e requisitou, no mesmo edital,
tirando o Sr. Leonel Brizzola da televisão. Legis- eleitor, de ser votado. o estádio de determinado clube para prender elei-
lou-se casuisticamente nesse caso. A Justiça Elei- Então, acho que isso será uma tarefa muito tores no dia da eleição. Evidente, abusos existem
toral não pode praticar esse tipo de arbitrariedade. dificil para esta Subcomissão, inclusive, elaborar tanto da parte de administradores como da parte
um texto que esgote todos os casos de inelegibi- de magistrados. Agora, que o Congresso tem que
O SR.JOÃO GILBERTO- Nesse caso o preza-
lidade. Em relação a isso, tem que se levar em assumir a sua parte de responsabilidade porque
do companheiro tem toda a razão. A lei dizia que
conta a evolução do País, uma série de coisas. votou essa lei, e aliás votou pouquíssimo tempo
era candidato ou representante de Partido. O Sr
Acho que pode ser até que as inelegibilidades antes da eleição, até sem tempo suficiente para
Leonel Brizola, o Dr. Ulysses Guimarães podem tenham muito o sabor de interpretações de mu- que ela fosse maduramente refletida e aplicada,
ir a outros Estados ser representates do Partido
danças eventuais de administração, o que é ruim. e isso é uma verdade também. Por isso até que
na televisão. Alifoi um erro. Mas no caso anterior
Mas, na realidade, o que existem em relação à eu propus, nas minhas sugestões, que a legislação
não, porque o Congresso Nacional resolveu usar
proteção da manifestação do eleitor... eleitoral não seja alterada com prazo inferior a
o sistema espanhol que diz que as 48 horas antes
um ano antes de cada eleição, para evitar exta-
do pleito são horas de reflexão. Toda a campanha O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI-Consti-
mente esse tipo de casuísmo que depois se reflete
pára, o cidadão não sai mais com camiseta ou tuinte, acho que não só a questão da Justiça Elei-
num descontrole até da própria Justiça Eleitoral,
cartaz na rua. É o momento de silêncio que prece- toral como a do tempo na televisão, entre outras com decisões conflitantes e que vão causar per-
de a campanha. E o Congresso optou por esse coisas, deveriam ter maior controle do Congresso
turbação na realização das eleições.
caminho e escreveu uma norma proibitiva em Nacional. Isso existe em outras democracias. De-
cima do que estava acontecendo de concreto. veria haver uma comissão eleita, representativa O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
A boca de uma em São Paulo, Rio de Janeiro dos partidos aqui neste Congresso, que tivesse Com a palavra a nobre Constituinte Moema São
e em outras grancidades transformou-se em algu- o poder, durante o transcorrer das eleições, que Thiago.
ma coisa de firma especializada, contratada, de impedisse as arbitrariedades do atual sistema da
poder econômico muito forte e que corre o risco Justiça Eleitoral e que os juízes praticaram. A im- A SRA CONSmUINTE MOEMA SÃO THIAGO
de fazer o dia de eleição virar uma tragédia, uma pressão que eu tive durante essas eleições é que - Eu gostaria de registrar que, realmente, foi
guerra civil. chegou um momento em que todo o poder estava uma Mesa bastante rica e, diante do avanço da
EntãolOi uma vontade do Congresso, sancio- nas mãos dos juízes eleitorais. As outras justiças hora, eu vou ser rapidinha mas não gostaria de
nada pelo Presidente da República e cumprida eram todas menores e subjugadas a isso. Eu acho deixar de manifestar a minha satisfação em rela-
pela Justiça Eleitoral, de proibir o boca de uma, que, durante as eleições, é importante que o Con- ção ao depoimento do Professor Lamenier, até
porque no boca de uma há aquele pessoal farda- gresso Nacional tenha uma comissão instalada, mesmo porque ele veio de encontro a uma preo-
do, uniformizado e o eleitor não pode nem passar com poder pleno de controle da execução das cupação que eu tenho hoje, como militante e,
para votar devido ao choque entre as correntes leis que ele próprio votou, não só com relação sobretudo, como nordestina - a questão dos
diferentes. Foi uma experiência que provavelmen- à aplicação no sistema eleitoral propriamente dito, partidos Regionais: hoje, eu tenho realmente dúvi-
te não tenha dado certo. Nesse caso, a responsa- como no tempo na televisão. E importante essa da se, para o Nordeste, a saída talvez não passasse
bílídade'cabe plenamente ao Congresso Nacional. presença maior. para um partido regional, haja vista inclusive, a
Ele mudou a lei para essa eleição, intentou um crise dentro do próprio partido da Situação.
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Com A questão que eu queria debater, polemizar um
novo sistema, um sistema de silêncio para haver a palavra o Dr, Arnaldo Malheiros.
eleição. Em segundo lugar a questão da inelegibi- pouquinho rápido, diante da hora, é uma questão
lidade. Eu acho que, se vão permitir a reeleição, O SR. ARNALDO MALHEIROS - A propósito que eu não posso deixar de manifestar a minha
é! questão das inelegibilidades tem que ser revista. dessa questão das inelegibilidades, eu devo dizer estranheza diante de uma Mesa tão democrática,
E impossível, embora saibamos que todo depu- que eu não me preocupei em fazer qualquer tipo inclusive até, o meu companheiro partidário Pedro
tado vai querer, permitir que o Governador seja de proposta, porque entendo que é uma matéria Celso Cavalcanti, se manifestar contra o voto fa-
candidato a sua sucessão mesmo, seja candidato que só pode ser elaborada, devidamente, depois cultativo.
a sua sucessão mesmo, seja candidato à reelei- que estabelecerem outros pressupostos, que são Eu luto por uma sociedade democrática e acho
ção, e vedar o secretário de Estado, que é sempre a questão do regime de Governo que se vai adotar, fundamental a existência de partidos democrá-
um concorrente forte dos deputados, bloquear se vai ou não ser dotado um sistema de votação ticos, e não posso aceitar partidos democráticos
o secretário de Estado. Se for estabelecida a ree- distrital, porque isso tudo vai influir na determr- que não defendam o voto facultativo, porque, para
leição, toda a questão das inelegibilidades tem nação dos casos de inegibilidade que devem ser mim, o voto facultativo é expressão da liberdade,
que ser revista. Eu acho, particularmente, que o propostos. é o voto de consciência e eu acho que as argu-
-forte esquema de inelegibilidade no País é um Basicamente, eu estou de pleno acordo com mentações que foram colocadas não foram con-
esquema protetor. Veja o seu caso. Nenhum pa- o Dr. João Gilberto, quando diz que a matéria vincentes; nenhuma delas me convenceu, pelo
rente está impedido de ser candidato, porque, deve ser toda ela constitucional. Nada deve ficar contrário, eu acho que elas reforçam, e faltou
hoje, V. Ex' é deputado. Agora, se V. Ex', fosse relegado a lei complementar, como ficou a partir nesta Mesa a questão, inclusive, nós sabemos que
governador ou quando for prefeito, ou quando da Constituição de 67, como era em 46 quando não há uma estrutura partidária forte, uma ques-
for Presidente da República, aí sim, os parentes toda a matéria de inelegibilidade estava prevista tão que é fundamental, do fundo partidário, do
vão ser impedidos. Por quê? Porque aí se está na Constituição. financiamento dos partidos políticos como obri-
exercendo o poder. A inelegibilidade não existe Quanto à observação que V. Ex' feza respeito gação do Estado. Vai ser definida uma porcen-
em relação ao parente do deputado, do vereador, da campanha eleitoral, eu queria acrescentar que, tagem mínima no orçamento nacíonal, tirado o
do senador, que não são titulares da adminis- muitas vezes, o Congresso tem votado leis que Imposto de Renda. O que é necessário para a
tração das verbas públicas, da admissão de fun- depois vão ser interpretadas ou aplicada pela Jus- consolidação democrática neste País é, sobretu-
cionários e assim por diante. tiça Eleitoral e que depois vai levar as críticas do, a fortificação dos partidos políticos. E a fortifi-
Então, acho que desse critério de inelegibili- e as culpas pela aplicação de leis, que é o caso cação dos partidos políticos vai passar, necessa-
dade é uma coisa a ser estudada. Preferiria, inclu- exatamente desta. Esta lei foi tão casuística que riamente, que esses partidos deixem de ser parti-
sive, o sistema da primeira Constituição republi- se referiu até a vestimentas Daí a proibição das dos eleitoreiros ou partidos eleitorais, como têm
cana, que incluía na própria Constituição todos camisetas. O dispositivo mencionou expressa- se comportado até então. E partido político vai
os casos de inelegibilidade. Inelegibilidade não mente vestuário. Então, a Justiça Eleitoral tinha vir atrás do voto, vai conscientizar o eleitor, vai
~ assunto para lei ordinána ou para lei comple- que aplicar essa disposição probitiva. Claro que fazer realmente o seu trabalho de conscientização
mentar. Inelegibilidade é uma questão que afeta houve abusos como nessa questão a que V. Ex' popular, de organização política da mobilização
um direito fundamental da pessoa humana. Neste se referiu de juízes que requisitaram estádios de popular
44 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

Parece-me que essa é uma questão de desafio dos políticos apenas para ter acesso ao fundo do Rio de Janeiro, no mesmo diapasão seu, nas
democrático, a eleição e a votação, com voto fa- partidário, assim como surgiram Partidos políticos áreas de baixo índice sócio-econômico, o número
cultativo, será um desafio para os democratas. só para ter acesso à televisão e até usar como de eleitores que votou só para governador foipro-
Claro que este é um País, eu não desconheço, barganha em coligações etc. porcionalmente muito maior; o eleitor teve até
das misérias sociais, de uma luta de classe violen- Em segundo lugar, a questão do voto obriga- medo de anular o seu voto, porque a coisa era,
ta, da espoliação do nosso povo. Mas, eu acho tório, eujá coloquei as minhas razões aqui e enfa- realmente, muito complicada para entender, tanto
que há espaço. E sou uma candidata. Fui eleita tizo apenas que, para mim, todo direito tem um é que no Rio de Janeiro, o coeficiente eleitoral
pelo voto consciente e ganhei num território do- dever que é necessário à sua realização para os para deputado, se pegarmos em proporção para
minado pejas oligarquias e sei perfeitamente que outros, senão nós não teremos direitos humanos. os votos para governador, foi quase de metade.
é possível você ir lá buscar o voto. Não ganhei Se eu tenho direito humano a ter a minha integri- A complexidade da cédula foi muito importante
com abuso do poder econômico. Ganhei, acima dade físicarespeitada e não tenho direito humano para esse voto em branco, não em governador,
de tudo, em cima de uma companhia, em cima a respeitar a outra integridade física, eu não tenho mas nas outras candidaturas.
da Constituinte, de voto consciente, de anos de direito humano de ter integridade física respei- Mas terminando aqui, estou de acordo nessa
caça ao voto, do trabalho do dia-a-dra. Eu acho tada. Todo direitotraz um dever sociaLTodo direi- vontade do engajamento na politização. V. Ex'
que é essa a questão que está faltando aos parti- to individual traz um dever social senão ele se fala do alto dos seus 83 mil votos no Ceará e
dos políticos e há outros políticos neste País que toma profundamente egoísta e anti-social; então, respeitável por um tipo de campanha de militância
realmente colacam essa questão. Um dos argu- o meu direito à cidadania tem deveres de cidada- que V. Ex' tem.
mentos que foram colocados me lembrou bem, nia e um dos deveres da cidadania, a meu ver,
No ponto de vista global, temo, realmente, a
"o povo não sabe votar, então não vamos ter é o voto obrigatório.
exposição das instituições democráticas a um bai-
eleição". Não é isso. Acho que temos que partir xo nível de participação. A um determinado mo-
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - Con-
do contrário, do ponto inverso para, realmente, cedo a palavra ao Professor Pedro Celso Caval- mento histórico já foi feito apeJo até à não partici-
poder mudar todo esse quadro. canti. pação, ao voto em branco, à questão dos políticos
Era só o que tinha a dizer. e à desmoralização dos políticos e da política que,
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI - É tão
o SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro FIlho)- bom demonstrar-se um pluralismo dentro do durante anos e anos, décadas, no caso, foi bom-
Concedo a palavra ao Constituinte João Gilberto. mesmo Partido, mas, deixando a brincadeira de beado em cima da consciência do povo brasileiro
lado, para não me expor aos opositores, aqui, - e a lista dos argumentos é grande - não
O SR. JOÃO GILBERTO - Em primeiro lugar, menos nem mais democráticas que os seus.
eu vou pegar uma outra linha de argumentação.
a Constituinte Moema São Thiago disse que nós Quero terminar com uma historinha, porque
esquecemos do fundo partidário, mas, para a feli- Eu concordo com essa que o Dr. João Gilberto
falou e proponho uma outra. A minha preocu- aprendi, e contei até uma vez na relevisão esta
cidade da Mesa, o Dr. Malheiros não esqueceu, história e me emocionou muito, é um outro país.
porque, na sua colocação, ele fez a defesa do pação a defender a obrigatoriedade do voto, além
dessa mencionada e outras, e vou ser breve, é Estava andando nas ruas de Florença e ia ter
sistema alemão, de fundo partidário proporcional uma eleição num bairro de Florença e peguei
à votação. Agora, eu gostaria de fazer esta adver- a questão da estabilidade da democracia no País.
Eu acho que um governo, ou mesmo um parla- na rua, na calçada, um papelzinho de campanha
tência. Nós, ao criarmos instituições, vejam, nós eleitoral, um panfleto do Partido Comunista italia-
mento, um Congresso Nacional, com uma baixa
já criamos uma lei,em relação ao abuso do poder no, que dína o seguinte: "Alguns companheiros
econômico, perfeita, tão perfeita qUeA\ão mexe- porcentagem de participação eleitoral fica rmnto
exposto às correntes golpistas que ainda existem estão querendo que poucas pessoas votem, por-
qüível.O Brasiltem uma realidad~aiscomplexa que como nosso voto é consciente, temos mais
que nós temos que levar em conta. Quando o no País e vão existir durante muito tempo.
chance de ganhar. Não, companheiros, isso é
JUIz eleitoral toma determinadas providências co- A SRA CONSTITUINTE MOEMA SÃO THIAGO uma posição errada; do ponto de vista da demo-
mo, por exemplo, proibir outdoor, ele está cum- - Como é que, então, V. S' vê o alto nível de cracia, o nosso interesse não é ganhar eleição,
prindo a lei. Pela lei, outdoor é proibido. A maior abstenção nessas eleições, o voto em branco, o o nosso interesse é com o maior número de pes-
parte da Justiça Eleitoral já se deu conta que voto nulo? E a mesma coisa. soas participando da eleição, para consolidar o
é melhor negociar um determinado número de O SR. ARNALDO MALHEIROS - Eu acho que processo democrático". Acho que está um pouco
outdoor, proporcional, distribuído entre os Parti- o alto nível de votos brancos, de votos nulos não longe disso aqui no Brasil, porque é natural, por-
dos, do que aplicar a lei Porque ela é tão dura têm referência nenhuma com isto que está sendo que eles estão nessa marcha desde 1946, desde
que é inaplicável. dito; é, exclusivamente, por força de uma comple- a luta antifascista, estamos começando agora. Até
Então, a questão do fundo partidário, se ele xidade da cédula e do sistema eleitoral que está então, eu gostaria de consolidar e proteger a tal
não tiver um vínculo, por exemplo um número sendo adotado de eleição conjunta, que leva o plantinha da democracia e para isso, respeitando
de votos, e se ele tiver o vinculo pelo número eleitor a se confundir e até aquele temor de perder esse argumento e achando que são verdadeiros.
de votos, alguém vai dizer que é autoritário, que muito tempo dentro da cabine, só tem um minuto, Acho que os outros têm uma verdade maior
está prejudicando os pequenos Partidos. Mas, se não tem muito tempo e fica aflito e nervoso. Até
ele não tiver esse vinculo, em vez dos 40 Partidos para o momento histórico que se vai abrir a nós
vi uma empregada doméstica lá de casa dizer na próxima década, com todo o respeito à sua
que nós temos hoje, nós teremos 500 rapida- que ficou nervosa e acabou não votando em nin- opinião.
mente para ter acesso ao fundo partidário e ape- guém, porque na hora não entendeu o meca-
nas para isso, porque, lamentavelmente, nós te- OSR.BOUVARLAMOUNIER- Tambérn.corn
nismo, aquela cédula cheia de retângulos, de nú-
mos um lado de mazelas que nós não podemos meros e de Siglas, não estava entendendo o que muito respeito peja sua opinião, vou reiterar, mui-
nos esquecer e que os nossos institutos têm que to brevemente, o meu ponto de vista Antes, sob
ela deveria fazer.Amaneira como está sendo colo-
levar em conta uma realidade. Então, sem dúvida cado para o eleitor está dificultando e, por isso, o fundo partidário. Eu, certamente, sou a favor
que isso é necessário. Agora, um fundo partidário sustentei, na minha exposição, que o sistema tem da proposta do Dr. Malheiros. Apesar de ser a
proporcional ao número de votos prejudicará o que ser tão simples e compreensível para o eleitor favor,gostaria de mencionar um fato simples. Es-
partido novo. É um dado concreto. Surge agora tanto quanto possível, para facilitar o exercício tive na Argentina há 15 dias. Discutia-se isto no
o Partido Verde Ele ainda não passou por expe- do voto, Conselho da Consolidação Democrática, órgão
ríêncra eleitoral. Ele não vai ter acesso ao fundo O número dos votos nulos e brancos está ligado criado pelo Presidente A1fonsin. Representantes
partidário. Então, para os filiadosdo Partido Verde, diretamente a isso. Agora, a abstenção não fOI do Partido Peronista e do Partido da UniãoSindical
esse fundo partidário vaiser profundamente auto- tão grande como está sendo visto, a abstenção que acabavam de prestar um serviço extraordi-
ritário,porque vai dar instrumentos para os outros foi absolutamente razoável e depois do recadas- nário à democracia argentina com uma grande
Partidos combatê-lo É preciso olhar os dois lados tramento até muito menor do que era registrado mobilização de massas. Pois bem. As pessoas
dessa difícil realidade. Mas, se ele não tiveralgum nas eleições anteriores. presentes no Conselho tinham medo de propor
critério de proporcionalidade, se ele não tiveralgu- o fundo partidário, porque tinham certeza de que
ma base, ele vai criar um quadro partidáno mais O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- V. S' a opinião pública não aceitaria e não aprovaria
artificial, porque vão surgir os escritórios dos Parti- deu o exemplo de São Paulo, dou o exemplo ísto - o financiamento aos Partidos.
Julho de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONALCONSTITUINTE (Suplemento) Terça-feira 21 45

Acho que no Brasil, talvez tenhamos que pro- o meu dinheiro, que eu ganhei, tendo nascido Estava até comentando aqui que eu acho que,
por, mas não nos iludamos que haverá dificul· naquele conjunto habitacional, vinte anos depois, paralelamente, o futuro talvez seja a Lei Eleitoral
dades, haverá resistência da opinião pública. para divulgar as minhas idéias, aqui no meu distri- ' estabelecer uma espécie de permissão de que
Em segundo lugar, quanto ao voto obrigatório, to, na minha cidade onde me conhecem, e real- o acordo de todos os Partids, em uma determí-
eu filosoficamente, raciocino como o Dr. João mente, assim, conquistar um cargo ou conquistar nada circunscrição eleitoral, seja ela qual for,
Gilberto, achando que a participação é um dever um mandato de representação"? substitua a lei, porque há uma norma. Por exern-
e que deve ser considerado obrigatório no nível Portanto, é esta a questão, antes de registrar pio, há uma eleição para a associação de mora-
do voto. Ninguém é obrigado a participar de ativi- para V.S' qual é a minha posição quanto ao voto dores. Geralmente, há regras que são determi-
dades diversificadas, mas votar é um ato espe- facultativo, quanto ao distrito menor na eleição nadas em comum.
cífico e acho que deve ser obrigatório. Além disso, proporcional, contestando o argumento, inclusi- No Rio Grande do Sul, um pouco, a Justiça
eu conheço o suficiente sobre países que têm ve, de que o voto deve ser obrigatório, e por que Eleitoral está aplicando isso; ela chama todos os
o voto livre,para lhe assegurar que a classe menos não para os conscritos, por que não para os solda- Partidos - o Partido tem direito a veto - e diz:
privilegiada, deste País, estaria muito melhor de- dos, para o cidadão de 18 anos que, eventual- "Muito bem. outdoor é proibido pela lei; cinco
fendida se o voto fosse obrigatório; disso eu não mente, está servindo o Exército, não aceitando outdoors em Porto Alegre para cada Partido. To-
tenho a menor dúvida. esse argumento de que é igual ao imposto? Pagar do mundo concorda? Concordam; então, está
Nos Estados Unidos, seguramente, os negros o imposto corresponde a uma contrapartida, é permitido.' Isso evita que o PMDB, que é o Partido
e os pobres estariam melhor defendidos se o voto a sua obrigação por uma contrapartida dos servi- que está no Governo - tem mais recursos -
fosse obrtqatórío, porque, proporcionalmente, ços públicos, mas não o voto. O voto é um direito por exemplo, coloque trezentos outdoors e o
eles são os que mais reduzem a sua participação. de cidadania e não deveria ser uma ogrigação. PC do B não consiga colocar um. Essas coisas,
Os políticos já sabem disso e não transferem a Não há como deixar de combinar um distrito por mediação, acho que a lei até tem que estimu-
eles a parcela de poder que eles teriam em virtude menor, uma relação maior de confiança, como lar no futuro.
do seu potencial eleitoral. nos ensinou a vitoriosa campanha da Constituinte O erro da nossa lei é que ela é tão perfeita,
Na sociedade brasileira, as conseqüências, a Moema São Thiago, que conquistou votos cons- é tão exigente que ela se toma inaplicável. Agora,
meu ver, seriam desastrosas. Eu corro o risco cientes num ambiente reconhecidamente hostil, quanto à questão de diferenciar o voto do impos-
de ver minha posição caracterizada como o povo em um distrito menor, com o voto facultativo e to, não dá. Eu, na minha visão de um pouco
não sabe votar. Eu corro esse risco para não pro- a clareza com que se mostram as origens dos tributarista, o pagamento do serviço público, para
duzir o efeito social a que daria lugar o voto livre. recursos gastos numa campanha eleitoral. mim, era taxa, não era imposto. Mas eu considero
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - que o voto não é um direito, o voto é um dever,
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) - é a inserção do cidadão que tem uma série de
Concedo a palavra ao nobre Constituine Ronaldo
Concedo a palavra ao Dr. João Gilberto. direitos sobre o Estado no processo do poder
Cesar Coelho.
O SR.JOÃO GILBERTO -Às vezes desconhe- do Estado. Ele tem o dever de ter inserção no
O SR. CONSTITUINTE RONALDO CEZAR cemos a lei, o que é uma pena. O comerciante, processo de formação da vontade estatal, porque
COELHO - Eu assisti, inclusive, com algum como o cidadão, não só pode gastar como ele ele usufrui de uma série de direitos que esse Esta-
constrangimento da Mesa, se numerar alguns ar- ainda vai deduzir isto do Imposto de Renda. Pode do lhe dá.
. gumentos autoritários no sentido de defender o gastar todos os anos, ele pode fazer uma doação É claro que nem a minha posição vai ser modifi-
voto obrigatório. pública para o Partido, escriturada, dedutível do cada nesse argumento, nem a posição dos ilustres
A minha questão é se o voto facultativo, combi- Imposto de Renda; a única coisa que existe na Constituintes que defendem o voto facultativo,
nado com o distrito menor, já que estamos enten- legislação brasileira e que é uma coisa felizé que mas eu continuo achando que doutrinar a minha
didos sobre o sistema proporcional e suas vanta- ele tem um máximo para doar ao Partido e o pessoa pelo voto obrigatório e mais, que o efeito,
gens, mas de incorporar as minorias, a represen- máximo pode ser discutido. quanto a isso não tenho nem dúvida, mas o Pro-
tação das minorias, e aprendi e me convenci, de fessor Bolivar Lamounier colocou muito bem:
fato, esta manhã, nesta rica reunião, se o distrito O SR. CONSTITUINTE RONALDO CEZAR que o efeito do voto facultativo numa socíedade
menor, limitado a um máximo de dez represen- COELHO - Eu fiz referência como candidato desigual, como a nossa, é um efeito terrível, e
tantes, limitado a um coeficiente, por exemplo, e não à doação ao Partido, de 70 mil cruzados, ele acrescentou muito bem, na sua última inter-
de um milhão de eleitores, no caso do meu Esta- para sustentar a campanha do Partido. venção que, muito provavelmente, se o voto fosse
do, o Rio de Janeiro, não propiciaria um conheci- O SR.JOÃO GILBERTO-Mas é uma questão obrigatório nos Estados Unidos, nós, hoje, já tería-
mento maior, por parte do eleitor, uma relação de pregação de idéias; então, ele tem outro inte- mos 1/3 ou mais da representação norte-ame-
de fidelidade maior no sentido de que o candidato resse, ele tem interesse de chegar a um cargo ricana com pessoas, por exemplo, de origem da
é o homem que milita politicamente, necessaria- público, aí é diferente. V. Ex' colocou pregação comunidade negra, porque essas pessoas seriam
mente, naquela região, naquele distrito; seja, va- de idéias. Se ele quer pregar idéias, hoje, amanhã, agregadas mais ao processo político e não margi-
mos dizer, o norte fluminense, para usar o exem- depois de amanhã, ele pode gastar na sua prega- nalizadas como o voto facultativo estimula, no
plo do meu Estado, a Baixada Fluminense, e evitar ção de idéias; então, o interesse dele é outro, momento em que ele não faz com que a condição
com que os candidatos, a cada quatro anos, cru- é ser candidato e como candidato ele também de marginalização seja modificada, seja tocada
zem as diversas áreas do Estado, como o nosso tem percentuais que ele pode gastar. no processo eleitoral.
Relator citou, a comprar votos onde eles não são O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI-Aqui,
conhecidos, onde não se conhece a tradição de O SR. CONSTITUINTE RONALDO CEZAR
o nobre Constituinte terminou com a questão dos
serviços ou de infidelidade daquele representante, COELHO - V. Ex' não ouviu. Eu me referi a
Estados Unidos e eu quero acrescentar que lá
daquele atual deputado, se for o caso. outra coisa e o defeito, certamente, é meu. Eu
a deformação tem a ver pelas razões dadas pelo
Eu queria combinar esta questão à questão disse "as suas idéias como candidato para atingir
Professor Bolivar, mas tem a ver com a forma
do distrito menor, à questão do voto facultativo um cargo'.
com que os distritos são desenhados. Isso é um
que eu defendo, com uma questão que me reme- perigo muito grande que eu tenho certeza de que
teu um comerciante de origem humilde, pobre, O SR. JOÃO GILBERTO - Até isso, ele tem
um limite para gastar, está previsto em lei tam- o Bolivar sabe também e esse perigo nós vamos
e um grande comerciante, hoje, na cidade de
bém. Em cada eleição, o lunite é determinado. correr. Quem vai delimitar esses distritos? Eu cha-
Campos, e que dizia,quanto ao poder econômico: mo a atenção dos nobres Constituintes. Nós já
"Pode o contraventor gastar na eleição, pode o É aquilo que eu repito, talvez a lei brasileira pague
pelo excesso, no sentido, por exemplo, de que falamos aqui, a manhã inteira sobre a Justiça Elei-
criminoso, o traficante de influência gastar na elei- toral. Nós vamos entregar a essa Justiça Eleitoral
ção e pode o fornecedor de serviços, as grandes esse limite seja muito baixo, se bem que ele é
fixado para cada eleição pela Justiça Eleitoral. para fazer os distritos?
empresas que fornecem para a prefeitura, para
,, o Estado, gastar na eleição, para manter ou para Essas coisas são permitidas, não existe um blo- O SR. RELATOR (Francisco Rossi) - Os distri-
, eleger as suas representações ou as suas banca- queio legal para isso. O que existe é que alguns tos devem ser determinados aqui pelo Congresso
das, e ele me perguntou: "Eu não posso gastar excedem os tetos, os limites previstos. Nacíonal.
46 Terça-feira 21 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE (Suplemento) Julho de 1987

o SR. PEDRO CELSO CAVALCANTI- Estou a questão dos limites dos gastos a que V. Ex' sidente comunicou recebimento de ofício da Se-
só chamando a atenção se referiu, é fixado pelos Partidos, não é pela Jus- cretaria Geral do Conselho de Segurança Nacio-
tiça Eleitoral e nem pela lei. Agora, com o devido nal, designando o Coronel Luiz Antônio Mendes
O SR. RELATOR(Francisco Rossi) - Eu tenho
respeito, acho que há uma hipocrisia dos Partidos Ribeiro e seus assessores: Conselheiro Luis Au-
certeza de que haverá casuísmo, naturalmente
quanto à fixação e, inclusive, percebe-se muito gusto de Castro Neves, Capitão-de-Mar-e-Guerra
O SR. BOUVAR U\MOUNIER - Eu só queria isso, na proximidade das eleições; nenhum quer Odilon Luiz Wollsteins e a Doutora Maria Jovita
chamar a atenção para o seguinte: uma coisa ser o primeiro a fixar, aguardando o que os outros Wolney Valente, para proferirem palestra sobre
é o sistema majoritário americano, onde os votos estabeleçam, para não parecer o Partido rico ou o tema: "O papel do Conselho de Segurança Na-
do perdedor são esterilizados, eles não contam. o Partido com mais poder econômico, e fixam cional", a realizar-se, no próximo dia trinta às nove
No sistema alemão, contam. Então, o problema limites absolutamente irreais,e nós sabemos isso. horas e, Requerimento do Senhor Constituinte
das fronteiras distritais é gravíssimo no sistema Daí, aquela comissão de conveniência que já foi Iram Saraiva, solicitando à Subcomissão expedir
norte-americano e pouco grave no alemão, por- referida aqui, que é a Comissão Interpartrdária convite ao Doutor Miguel Batista de Siqueira, Dire-
que os votos do perdedor não são esterilizados. de Inspeção que cada um fecha os olhos para tor da Academia de Polícia do Estado de Goiás,
o que os outros fizeram, porque todos cometeram para uma palestra, seguida de debates, sobre o
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)-
Volto a palavra ao Professor Cavalcanti. infrações. tema "Inquérito Policial". Logo após, o Senhor
Acho que nossa lei, apesar de ser considerada Presidente, convidou, pela ordem, os Senhores
O SR. PEDRO CELSO CAVALCANTl- Nobre perfeita, é um pouco perfeita demais, porque ela Conferencistas Coronel PM Mário Nazareno Lopes
Constituinte, não vou me alongar na questão do exrge uma irrealidade, essa obrigatoriedade dos Rocha, Assessor Especial do Comandante-Geral
voto facultativo porque sena, realmente, pensar gastos serem feitos pelos Partidos, acho que se da Polícia Militardo Estado do Pará, Coronel Sílvio
que V. Ex' não ouviu o que eu disse. Já repeti devena permitir que os gastos fossem feitos pelos Ferreira, Comandante da Bngada do Estado do
e há o adiantado da hora. Então, só vou abordar candidatos, mas com possibilIdade, com exigên- Rio Grande do Sul, Coronel PM Waltervan Luiz
a questão do direito do comerciante, por exemplo, cia de publicação de gastos, com possibilídade Vieira,Comandante-Geral da Polícia Militardo Es-
que V. Ex' deu. Eu acho que aí é ridículo o que eficaz de fiscalização por qualquer órgão público tado de Goiás, Tenente-Coronel Nelson Freire
V. Ex' disse aí, pelo quantitativo estabelecido, 70 Quanto ao outro aspecto que foi abordado aqui, Terra, Comandante da Polícia Militar do Estado
mil cruzados. Acho que tem que ser ajustado, além dos argumentos que foram dados sobre de São Paulo, Coronel PM José Braga Júnior,
no caso atual, até corrigido por OTN, talvez men- o voto obrigatório, acrescentaria um. Acho que Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado
salmente, eu não sei, mas eu acho que mesmo no momento em que nós tivermos o voto faculta- de Mmas Gerais e Coronel Paulo José Martins
nas democracias, que gostamos de citar como tivo, principalmente nos Estamos de predommãn- dos Santos, Comandante-Geral do Corpo de
exemplo existem lei antitruste; tem que existir uma cia de população rural, nós vamos verificar que Bombeiros do Distrito Federal que, em suas ex-
lei antitruste, mutatis mutandis, no caso das os eleitores vão ser impedidos de votar por pa- planações, enfatizaram sobre o tema "O Papel
eleições Tem que haver um quantitativo. V. Ex' trões, por fazendeiros, por donos de propriedade, das Polícias MiIbtares". Da fase interpelatória, usa-
citou um comerciante, mas não são os comer- com o argumento de que o voto não é obrigatório ram da palavra pela ordem a Senhora Constituinte
ciantes que estão interessados, há outros poderes e vão ser impedidos de comparecer na eleição. Sadie Hauache e o Constitumte Arnaldo Martins.
econômicos também interessados. Houve um Es- Acho que a obrigatoriedade do voto não é, no Neste momento, o Senhor Presidente passou a
tado nos Estados Unidos, que foi Ohío, há duas caso, só um dever imposto ao eleitor, é até a Presidência ao Senhor Constituinte Hélio Rosas.
eleições atrás para o Senado, que corria o proprie- proteção de um direito do eleitor que vai ser me- Prosseguindo, usaram da palavra os Senhores
tário de uma marca de catchup contra outra mar- Ihor exercitada com essa obrigatoriedade. Constituintes Ottomar Pinto e Iram Saraiva. Após
ca de catchup; quer dizer, realmente, era brutal, o término dos debates, o Senhor Presidente agra-
porque ali não havia o limite econômico condicío- O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro) - A Presi-
dência agradece a presença dos Srs. João GIlber- deceu aos Senhores Comandantes pelo pronto
nado por lei. atendimento à solicitação da subcomissão e lem-
Então, concordo com V. Ex' de que a cidadania to, Arnaldo Malheiros, Bolivar Lamounier e Pedro
Celso Cavalcanti, pelo brilhantismo das exposi- brou aos Senhores Constituintes da próxima reu-
deve poder despender, ter esse direito, na sua nião a realizar-se dia trinta de abril, às nove horas,
campanha, com o produto do seu trabalho, diga- ções, pela clareza, pelo talento e pela inteligência,
o que enriqueceu os nossos trabalhos e convoca com a seguinte pauta: Palestra com represen-
mos assim. Só que o fruto do trabalho de um tantes da Secretaria Geral do Conselho de Segu-
é diferente do fruto do trabalho do outro. E se uma nova sessão para amanhã, às 9 horas e 30
minutos, com a presença de cientistas políticos rança Nacional. O inteiro teor dos debates será
não podemos ter um limite nisso, cada vez se publicado, após a tradução das notas taquigrá-
abre mais esse leque das desigualdades sociais, e juristas, Francisco welfort Roberto Goldmam,
Orlando Carvalho e Davi FIesh. ficas e o competente registro datilográfico, no
até mesmo, porque aqui está me lembrando o Diário da Assembléia Nacional Constituinte.
Dr. João Gilberto muito bem, temos que garantir, Nada mais havendo a tratar, vou encerrar os
trabalhos desta Subcomissão. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente
também, os direitos do espoliado participar da deu por encerrados os trabalhos às dezenove ho-
Está encerrada reunião.
eleição e esse não tem dinheiro para investir. Com ras e vinte e dois minutos. E, para constar, eu,
todo o respeito. Muito obrigado. (Levanta-se a reunião às 13 horas e 55 José Augusto Panisset Santana, Secretário, lavrei
minutos.) a presente Ata, que depois de lida e aprovada,
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho) -
Concedo a palavra ao Professor Bolivar Lamou- 10' Reunião Ordinária, realizada será assinada pelo Senhor Presidente.
nier . em 29 de abril de 1987
Aos vinte e nove dias do mês de abril do ano AfYEXO À PRESENTE ATA DA to- REU-
O SR. BOLrv'AR LAMOUNIER - Realmente, NIÃO ORDINÁRIA DA SUBCOMlSSÁO DE
não tenho muita coisa a acrescentar. Acho que de mil novecentos e oitenta e sete, às quinze horas
e trinta minutos, na Sala da Comissão de Agri- DEFESA DO ESTADO, DA SOCIEDADE E
o argumento fundamental acabou de ser exposto DE SaA SEaURANÇA, REALIZADA EM 29
pelo Dr. Pedro Cavalcanti, há que haver uma limi- cultura - Anexo 11 do Senado Federal, reuniu-se
a Subcomissão de Defesa do Estado, da Socie- DEABRlLDE 1987, ÀS 15:30 HORAS, Q{fE
tação. O comerciante pode, seguramente, pagar
dade e de sua Segurança, sob a Presidência do SE PUBliCA COM A DEVIDA AaTORIZA-
um anúncio das idéias dele no jornal até o dia pio DO SENHOR PRESIDENTE DA SUB-
em que começa a campanha e começar a campa- Senhor Constituinte José Tavares, com a presen-
COMISSÃO:
nha com a opinião pública inteiramente mobí- ça dos Senhores Constituintes Arnaldo Martins,
hzada a favor das idéias dele. Realmente, nada Asdrúbal Bentes, Hélio Rosas, Iram Saraiva, Rai- O SR. PRESIDENTE (José Tavares) - Haven-
impede que ele faça essa divulgação. mundo Lira, Roberto Brant, Sadie Hauache, Ezio do número regimental declaro abertos os traba-
Ferreira, Ricardo Izar, Ottomar Pinto, José Genoí- lhos da reunião da Subcomissão da Defesa do
O SR. PRESIDENTE (Israel Pinheiro Filho)- no, Ronan Tito, Paulo Ramos e Jarbas Passarinho. Estado, da Sociedade e sua Segurança.
E, finalmente, concedo a palavra ao Dr. Arnaldo Havendo número regimental, o Senhor Presidente Ontem, tivemos oportunidade de ouvir aqui as
Malheiros declarou iniciados os trabalhos e passou à leitura idéias da Polícia Civil, representada na presença
O SR. Arnaldo Malheiros - Eu só gostaria de da Ata da Reunião anterior, que foi aprovada por do delegado Ciro Vidal, presidente da Associação
acrescentar ao que o Dr. João Gilberto disse que unanimidade. Dando continuidade, o Senhor Pre- dos Delegados de Polícia Civildo BrasiL

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