Sie sind auf Seite 1von 36

0

UNIVERSIDADE INTERNACIONAL DA PAZ (UNIPAZ)


SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMÁTICA (SPEI)
ESPECIALIZAÇÃO EM ESTUDOS AVANÇADOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Possíveis diálogos entre a Psicologia Transpessoal e a milenar


Alquimia Interna Chinesa: primeiros passos de uma Psicologia Taoísta

Tiago Oviedo Frosi

Porto Alegre,
2014.
1

UNIVERSIDADE INTERNACIONAL DA PAZ (UNIPAZ)


SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMÁTICA (SPEI)
ESPECIALIZAÇÃO EM ESTUDOS AVANÇADOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Possíveis diálogos entre a Psicologia Transpessoal e a milenar


Alquimia Interna Chinesa: primeiros passos de uma Psicologia Taoísta

Artigo desenvolvido por Tiago Oviedo Frosi, como pré-


requisito para a conclusão do curso de Especialização em
Estudos Avançados em Psicologia Transpessoal da Unipaz-
Sul e orientado pelo Dr. Mauro Luiz Pozatti.

Porto Alegre,
2014.
2

Tiago Oviedo Frosi

Possíveis diálogos entre a Psicologia Transpessoal e a milenar


Alquimia Interna Chinesa: primeiros passos de uma Psicologia Taoísta

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Mauro Luiz Pozatti


Diretor Acadêmico da Unipaz-Sul

AVALIAÇÃO FINAL: _____

Aprovado em 31 de maio de 2014.


3

A circunstância da destruição não é ruim em si mesma, ela simplesmente faz parte do


destino. Da mesma forma como existe o nascimento ou criação, é natural também
existir a morte ou destruição porque, no Universo, as duas forças atuam de maneira
simultânea. Mas como o ser humano tem dificuldade para acostumar-se com a ideia da
morte, a circunstância da destruição passa a ser vista como desventura. Isso piora
quando as pessoas pressentem que a mudança pode ser coletiva e começam então a se
questionar, procurando adivinhar se elas e sua família serão atingidas e estarão dentro
daquela circunstância. Com isso, a destruição, ao longo de milhares de anos de cultura
do mundo, passou a ser considerada um infortúnio.
Mas esse conceito repousa numa leitura plana, apressada e superficial do que está escrito
na estrofe, que suscita um entendimento mais construtivo. Para uma pessoa virtuosa, o
caminho da criação pode ser representado pelo verbo fluir, que significa ir para frente
na vida, harmonizando-se com seu destino. E o caminho da destruição pode ser
representado pelo verbo inverter, que significa andar para trás em direção à sua origem,
ou Dào. O caminho da criação está ligado ao ciclo criativo, no qual madeira gera fogo,
fogo gera terra e assim sucessivamente, até o fim dos dias da vida de uma pessoa. E o
caminho da destruição está ligado ao ciclo do controle [ ... ], cujo auge de realização,
no aspecto da destruição dos subtrativos que prendem o espírito de uma pessoa à roda
da transmigração, é a imagem das cinco cobras que se engolem umas às outras,
simultaneamente. Esse é o símbolo da destruição da estrutura do Universo, para a
pessoa que alcançou aquele nível. Portanto, O sentido místico da circunstância da
destruição está no alcance do desígnio da plenitude, ou realização espiritual de quem
busca a imortalidade do espírito.

Wu Jyh Cherng

2008

Yin Fu Ching – Tratado sobre a União Oculta de Huang Di, o Imperador Amarelo.
4

RESUMO

O Taoísmo é uma tradição filosófico-espiritual que nasceu na China há prováveis 4.700 anos,
através da obra do Imperador Amarelo, Qi Shing Huang Di. As obras mais conhecidas do
Cânon Taoísta são o Tao Te Ching de Lao Tsé, o I-Ching de Fu Hsi, o Yin Fu Ching e o Nei
Jing Su Wen de Huang Di, além do Nan Hua Ching de Chuang Tsé. As principais práticas
taoístas são a meditação, o Chi Kung, as artes marciais internas (como Tai Chi Chuan, Pa Kua
Chang e o Hsing-I Chuan) que são parte da Alquimia Interna, ou Nei Jing. Assim como a
abordagem da Psicologia Transpessoal pode favorecer, e de fato favorece, a compreensão do
Taoísmo por nós ocidentais, diversos insights oriundos da Alquimia Interna podem ampliar a
gama conceitual e a prática da psicoterapia de orientação transpessoal. O objetivo deste
estudo é, portanto, apresentar e desenvolver conceitualmente os primeiros insights oriundos
da Alquimia Interna Taoísta que podem ampliar a gama conceitual e a prática da Psicoterapia
de orientação Transpessoal. Para tal, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com
levantamento conceitual e posterior análise que permitiu unir, em um único modelo, a noção
de estados holotrópicos e hilotrópicos, evolução e involução da Consciência, teoria dos Cinco
Movimentos, fases arquetípicas, matrizes perinatais, do desenvolvimento e quadrantes da
realidade. O diálogo entre Psicologia Transpessoal e Taoísmo revela que as várias dimensões
do paciente podem ser correlacionadas em um padrão completo a partir da percepção de
como os Elementos estão afetando sua saúde, relações, metas, sonhos e outros.

PALAVRAS-CHAVE: Psicologia Transpessoal; Taoísmo; Alquimia Interior; Meditação; Chi


Kung.
5

ABSTRACT

Taoism is a philosophic-spiritual tradition that born in China around 4.700 years ago, through
the works of the Yellow Emperor Qi Shing Huang Di. The central books of the Taoist canon
are Lao Tsé’s Tao Te Ching, o Fu His’s I-Ching, Huang Di’s Yin Fu Ching and Nei Jing Su Wen,
and Chuang Tsé’s Nan Hua Ching. The main Taoist practices are meditation, Chi Kung,
internal martial arts (as Tai Chi Chuan, Pa Kua Chang and Hsing-I Chuan) that are part of the
Inner Alchemy or Nei Jing. The approach of Transpersonal Psychology made ease to
comprehend the Taoism by the occidentals and the insights came from the Inner Alchemy
could amplify the concepts and psychotherapeutic practices of the therapist with transpersonal
orientation. The objective of this study is to show and develop concepts that could amplify
the background of Transpersonal Psychology with insights from the Taoist Inner Alchemy. A
bibliographic research was done to operationalize the Transpersonal Psychology concepts with
an analyses that result in a model that unify in a single model holotropic and hilotropic states,
evolution and involution of consciousness, theory of Five Movements, archetypal stages,
perinatal matrices, human development and the wilberian four quadrants. The dialogue
between Transpersonal Psychology and Taoism reveals that the various dimension of the
patient can be correlated to a complete pattern that emerges from the way the Elements are
affecting health, relations, achievement, dreams and others.

KEY WORDS: Transpersonal Psychology; Taoism; Inner Alchemy; Meditation; Chi Kung.
6

SUMÁRIO

1 Introdução 7

2 O Desenvolvimento da Consciência Humana 9

2.1 Estágio do Wu Chi 15

2.2 Estágio Yang 21

2.3 Estágio Yin 22

2.4 Estágio Tai Chi 23

2.5 Segundo Estágio Wu Chi 23

3 Práticas Taoístas na Psicoterapia Transpessoal 24

3.1 Ampliando as intervenções do facilitador de Respiração Holotrópica 24

3.2 Ampliando horizontes do psicoterapeuta de orientação transpessoal 26

3.3 Interpretação taoísta dos sonhos 27

4 O diálogo entre Psicologia Transpessoal e a milenar Alquimia Interna Chinesa 29

Referências 33
7

Possíveis diálogos entre a Psicologia Transpessoal e a milenar


Alquimia Interna Chinesa: primeiros passos de uma Psicologia Taoísta

Tiago Oviedo Frosi1

1 Introdução

O Taoísmo é uma tradição filosófico-espiritual que nasceu na China há prováveis


4.700 anos (ou mais, se considerarmos o período matriarcal onde se desenvolveu o
xamanismo chinês, comandado pelas sacerdotisas Wu) 2 , através da obra do Imperador
Amarelo, Qi Shing Huang Di (Huang Di escreveu sobre medicina, política, militarismo,
arquitetura e espiritualidade, sendo uma espécie de patriarca mítico da cultura chinesa antiga).
As obras mais conhecidas do Cânon Taoísta (que é formado por mais de 1.500 livros) são o
Tao Te Ching de Lao Tsé (Clássico do Caminho e da Virtude), o I-Ching de Fu Hsi (Clássico
das Mutações), o Yin Fu Ching e o Nei Jing Su Wen de Huang Di (Clássico da União Oculta e
Manual de Medicina Interna do Imperador Amarelo), além do Nan Hua Ching de Chuang Tsé
(Clássico da Flor do Sul). As principais práticas taoístas são a meditação, o Chi Kung (cultivo
bioenergético)3, as artes marciais internas ou Nei-jia (como o Tai Chi Chuan, Pa Kua Chang e
o Hsing-I Chuan) que são parte da Alquimia Interna, ou Nei Kung / Nei Jing / Nei Dang. O
Taoísmo foi visto, por muito tempo, unicamente como uma filosofia pelos ocidentais, que
desconheciam a amplitude e profundidade de seu desenvolvimento religioso após a expansão
dos ensinamentos de Lao Tsé (WONG, 1999). A tradição taoísta está ramificada, na verdade,
em muitas escolas de conhecimento, sendo que as principais são: as chinesas Cheng Yi (ordem
ortodoxa unitária), Chuanshen (ordem da realidade absoluta) e Mao Shan (ordem do junco
da montanha) além das japonesas Onmyoudo (caminho das polaridades), Shugendo (caminho
do poder pela ascese) e Suika Shinto (caminho dos deuses encarnados) e da coreana Koksundo
(caminho do eremita). Em cada uma delas, certos conceitos alquímicos tem leves diferenças,

1 Mestre em Ciências do Movimento Humano, Bacharel em Educação Física, Professor de Karate-Do Shotokan (2º
Dan) e Instrutor de Tai Chi Chuan e Chi Kung, Facilitador do Movimento Guerreiros do Coração, Facilitador de
Terapias com Estados Ampliados de Consciência, Aprendiz e Focalizador da Turma XII de Estudos Avançados em
Psicologia Transpessoal da Unipaz-Sul.
2 Como nos alerta Blofeld (1986).
3 A palavra Chi Kung é formada por Chi (energia vital) e Kung (treinamento prolongado, ou cultivo). Refere-se á

ideia de práticas com as quais, por um longo tempo, restabelecemos as funções corporais, emocionais, mentais e
espirituais, armazenando em nós as energias da Terra (espaço, lugares), do Cosmo (o plano humano, a vida) e do
Céu (tempo, toda a multiplicidade arquetípica que rege os ritmos vitais). O objetivo do Chi Kung é cultivar a
energia interna e aprender a não perder Chi para o meio externo, conquistando assim a saúde e a longevidade,
fluindo com o Tao através dos ciclos naturais.
8

especialmente nas concepções astrológicas. Mesmo assim nos dão o panorama geral de como
essa tradição se desenvolveu nas culturas do Extremo Oriente.
Assim como a abordagem da Psicologia Transpessoal pode favorecer, e de fato
favorece, a compreensão do Taoísmo por nós ocidentais, diversos insights oriundos da
Alquimia Interna podem ampliar a gama conceitual e a prática da psicoterapia de orientação
transpessoal. É curioso também o fato de que não há material desenvolvido acerca da relação
entre Taoísmo, Tai Chi Chuan ou Chi Kung e Psicologia Transpessoal entre as temáticas de
Trabalhos de Conclusão de Curso do curso de Estudos Avançados em Psicologia Transpessoal
da Unipaz-Sul, apesar de haver um bom número de publicações aproximando a Psicoterapia e
a Psicologia do Tao, o que também justifica a realização deste estudo.
Desde a publicação de “O Tao da Física” de Fritjof Capra, que acabou se tornando um
best-seller mundial, vários autores resolveram explorar a relação entre o Taoísmo e outras
áreas do conhecimento. Apesar de algumas incursões não terem sido tão bem sucedidas,
também tivemos uma ótima literatura produzida abordando o diálogo entre o Tao e a
Psicologia. Entre os principais títulos deste segmento estão os livros que relacionam Taoísmo e
a Psicologia Analítica de Carl Jung como: “O Tao e a Psicologia” (BLÓISE, 2000), “Unindo o
Céu e a Terra” (COLEGRAVE, 1992) e “Porta para Todas as Maravilhas” (CHIA; HUANG,
2004). Lembramos aqui também o artigo de Coward (1996) que defende que o background
da psicologia junguiana é o Taoísmo (o autor defende que conceitos chave como
sincronicidade, sombra, circum-ambulação e self foram extraídos por Jung diretamente do
Taoísmo, entendendo que ideias semelhantes não foram produzidas por outras tradições). E
há também o livro de Nei Souza intitulado “Psicoterapia e Taoísmo” (2007), que faz um
diálogo entre o Tao e a psicologia de Jacques Lacan. Apesar de ser citado várias vezes pelos
principais autores da Psicologia Transpessoal, como Grof (2000) e Wilber (2010; 1995) não
parece haver um estudo dedicado ao diálogo específico entre essas duas linhas de
pensamento. Uma abordagem direta do Taoísmo chinês ocorreu na publicação de Jung e
Wilhelm intitulada “O Segredo da Flor de Ouro”, onde aproximaram conhecimentos de duas
linhagens taoístas diferentes (primeiro apresentam o Tai I Chin-hua Tsung-chi, ou tratado da
flor de ouro, e em seguida um fragmento do Hui Ming Ching, o tratado da sabedoria e da
vida). Como nos alerta Wong (1999, p. 12):

A tradução de Wilhelm [ ... ] baseou-se num texto incompleto do Hui-ming ching:


faltavam os comentários e a parte mais importante – as ilustrações. Além do mais, a
tradução do livro feita por Wilhelm-Baynes foi profundamente influenciada pela
psicologia junguiana, não estando pois de acordo com a perspectiva espiritual taoísta.
Não somente foram completamente ignoradas as conexões históricas e filosóficas do
Hui-ming ching com suas principais influências – a escola da Realidade Absoluta do
Taoísmo, o Ch’an (Zen) e o Budismo Hua-yen – como também foram esquecidos os
ensinamentos da seita Wu-liu, que constituem a base espiritual do Hui-ming ching.
9

Há, portanto, saberes produzidos no Ocidente que podem ser atualizados, tendo em
vista que no período atual há uma vasta literatura produzida por estudiosos ocidentais que
viveram na China, e de estudiosos chineses que vieram ao Ocidente e se familiarizaram com
nossa cultura. Esse contexto atual e o estado da arte da literatura nos permitem uma
compreensão que não foi possível no passado próximo e gerou críticas como a de Wong,
citada acima. Para, além disso, soma-se o fato de que a Alquimia Chinesa enquanto prática
está disponível para os ocidentais há cerca de trinta anos, pelas mãos e trabalho de mestres
como Mantak Chia, Liu Pai Lin, Eva Wong e outros. Esse recente desenvolvimento, permite
que nos conectemos de forma mais íntegra a um conhecimento da humanidade que embora
envolva teoria, é essencialmente prático.
O objetivo deste estudo é, portanto, apresentar e desenvolver conceitualmente os
primeiros insights oriundos da Alquimia Interna Taoísta que podem ampliar a gama conceitual
e a prática da Psicoterapia de orientação Transpessoal. Para tal, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, com levantamento conceitual e posterior análise que permitiu unir, em um único
modelo, a noção de estados holotrópicos 4 e hilotrópicos 5 , evolução e involução da
Consciência, teoria dos cinco movimentos, fases arquetípicas, matrizes perinatais, do
desenvolvimento e quadrantes da realidade.
Entendendo conceitualmente a dança entre Alquimia Chinesa e Psicologia Transpessoal
poderemos dar um melhor entendimento sobre a atuação do terapeuta ou psicoterapeuta que
se oriente pela vertente taoísta: como alguém que aceita o paciente que chega a si como parte
de seu próprio Caminho, que trabalha com o paciente enquanto sua abordagem for eficaz
para fazê-lo desenvolver-se e que procura levar os outros e ser levado ao estado cada vez
mais próximo do fluxo natural, unindo-se assim, ao Tao (SOUZA, 2007).

2 O Desenvolvimento da Consciência Humana

A Filosofia Taoísta possui uma abordagem muito particular sobre a origem de toda
existência, do Universo e de todas as coisas. Essa concepção muito antiga é passada a frente há
milênios dentro do Tao Chiao (Família do Tao, a religião taoísta) através de uma série de

4 Do grego Holos (Totalidade) e trépein (em direção à). É o movimento da Consciência do mais denso para o mais
sutil, o que Amit Goswami chamou de causalidade descendente e na medicina chinesa e na alquimia interna está
relacionado à mutação da energia de Chi (energia vital) para Shen (espírito).
5 O inverso de holotrópico (Hilos é o termo que designa o denso), sendo o movimento da Consciência do mais

sutil para o denso. Amit Goswami o relaciona à causalidade ascendente. A alquimia interna chinesa ao
“esquecimento” e estagnação na consciência de Po (baseada no Jing, a energia da essência, que rege os fluidos
sexuais e o sangue).
10

ensinamentos. A ideia geral de “queda”, como explicada por Wilber em Éden, queda ou
ascensão? (2010) pode ser resumida no Tai Chi Tu (Mapa do Altíssimo - figura 1).

O Mapa do Altíssimo de Zhou Danyu

Wu Chi – o primeiro círculo representa o Vazio


Primordial Metacósmico.

Tai Chi - o segundo círculo representa o Tao


Manifestado, formado pelas polaridades da claridade,
em branco (Yang ), e da obscuridade, em preto (Yin ).
Atividade Tranquilidade
Yang Yin

Fogo Água Wu Hsing – a figura com cinco círculos menores e linhas


que procuram demonstrar suas relações representa os
Cinco Movimentos, regras arquetípicas observadas em
todo o Tao e compreendidas pelos antigos sábios
comparando-as aos elementos naturais (madeira, fogo,
Madeira Metal terra, metal e água).

O Caminho do Céu e da Terra – o terceiro círculo


representa a infinidade da Plataforma do Destino, que
leva a um dos Seis Caminhos (as seis mais gerais
possibilidades – ou mundos – onde é possível
O caminho de O caminho de reencarnar), tornando-se mais próximo do divino (céu)
Tian (Céu) se Kun (Terra) se ou do físico (terra).
transforma no transforma no
Masculino Feminino
O Mundo das Dez Mil Coisas – o quarto círculo
representa a infinidade de manifestações da realidade
material compartilhada.

Geração e Transformação dos Dez Mil Seres

Figura 1 - Tai Chi Tu, o mapa da criação do mundo das dez mil coisas a partir do Wu Chi, ou Tao não manifestado
(uma antiga forma chinesa de representação do movimento hilotrópico).

Nesse modelo, o Vazio Primordial, Wu Chi, o caos primevo que não possui formas,
mas possui todas as formas em potencial, agita-se e manifesta-se no círculo primordial, o
altíssimo, ou Tai Chi 6. Este círculo passa então a mover-se gerando os eternos opostos que
nos fazem conhecer a realidade: a claridade (Yang ) e a Sombra (Yin)7, que estão em constante

6 Essa versão do surgimento do Universo inspirou a solução do problema do colapso de onda quântica primordial
que cria o Cosmos, formulada por Amit Goswami para corrigir o paradoxo deste tema dentro da teoria da
Mecânica Quântica, apresentado no livro “Evolução Criativa das Espécies” (2009).
7 A Claridade e a Obscuridade são os opostos complementares que nos permitem conhecer o mundo, ou o Tao

Manifestado. Como disse o poeta: “não existiria som se não houvesse o silêncio e não haveria luz se não fosse a
escuridão; a vida é mesmo assim: dia e noite, não e sim...”. Um dia é claro e outro escuro, um é alegre e outro é
triste, mas o Caminho Espiritual é viver plenamente todo dia mesmo com o eterno movimento entre alegrias e
tristezas.
11

mutação, um tornando-se o outro, em fluxo eterno. Yin e Yang estão presentes nos três puros:
Céu (ou tempo, que divide-se em 12 ramos terrestres), Terra (ou espaço, que divide-se em 10
troncos celestiais) e Homem (ou vida, que divide-se em 8 energias qualitativas). A partir da
Claridade e da Obscuridade, e dos Três Puros surgem então os Cinco Movimentos, ou Cinco
Princípios8 (Wu Hsing) que são as regras arquetípicas para tudo que existe no Tao Manifestado
(Tai Chi ) e que ao relacionarem-se formam o Mundo das Dez Mil Coisas (a realidade
compartilhada do nível material).
Ou seja, em uma classificação do mais sutil para o mais denso temos: Do caos
primordial, o Vazio Metacósmico surge a possibilidade de haver algo manifesto e capaz de
autorreferência, que gera a primeira manifestação, que por sua vez colapsa as ondas de
possibilidade (movimento) e vai fazendo surgir tudo o que é manifesto (denso). Na
terminologia taoísta, é como se pudéssemos visualizar aspectos do sutil no Vazio Metacósmico
e no Altíssimo (dimensão do Yin e Yang puros). A partir da existência das polaridades
estabelecem-se cinco regras que regem como as polaridades se apresentarão e a essas cinco
regras chamamos de Cinco Movimentos (Wu Hsing). O movimento das polaridades sendo
levadas pelas regras dos cinco movimentos vai criando infinitos mundos (Céus) e esses mundos
tem seis possibilidades básicas de existências (os Seis Caminhos). E, para os taoístas, estamos
vivendo agora em um desses incontáveis mundos (um dos mais de dois mil Céus), em uma
realidade que podemos compartilhar com outros indivíduos que são ao mesmo tempo
separados e parte do Tao. Esse mundo de infinitas espécies, elementos químicos, estados da
matéria, qualidades da consciência, corpos celestes, etc. é chamado na cultura chinesa de
“mundo das dez mil coisas”9.
Esse modelo pode ser relacionado diretamente com o Grande Ninho do Ser de Ken
Wilber, como mostramos a seguir (figura 2), o que ajuda a posicionar o psicoterapeuta de
orientação taoísta ao lado da teoria transpessoal. Também lembramos da importância de se
entender que todo o trabalho de desenvolvimento pessoal, com a ajuda da terapia ou não,
será influenciado pelo tempo histórico em que se está vivendo (Céu), pelo local em que se
vive (Terra) e pelas relações pessoais, sociais, culturais, etc. (Homem) a que cada um está
envolvido.

8 São os cinco comportamentos da energia Chi que foram descritos pelos sábios chineses há pelo menos cinco mil
anos, que os compararam com os elementos naturais: a energia que se eleva, nos deixa “pra cima” e traz alegria é
como as chamas da fogueira (Fogo); a energia que está em equilíbrio e nos dá a firmeza de posicionamento que é
como uma montanha é semelhante à Terra; a energia que nos incita ao recolhimento e introspecção é focal como
o processo geológico de formação dos minérios (Metal); a energia do medo e do frio nos rebaixa e nos faz sentir
como a Água que escorre; e a energia que se expande para todas as direções como a copa das árvores nos remete à
Madeira.
9 Um número muito grande que remete à nossa incapacidade de contá-lo com precisão.
12

Figura 2 - O Grande Ninho do Ser da teoria wilberiana e os níveis correspondentes na Tradição Taoísta.

Após nossa primeira aproximação, passemos a discorrer sobre o desenvolvimento


pessoal. Assim como na Alquimia Interna, o objetivo da psicoterapia de orientação Taoísta
seria fazer o Caminho inverso daquele apresentado acima pelo Tai Chi Tu 10 e assim fazer com
que a pessoa que vive no “Mundo das Dez Mil Coisas”, que é chamado no Taoísmo e na
Medicina Tradicional Chinesa de “consciência de Po”, possa “retornar ao Tao”. A consciência
de Po é aquela baseada no Jing, na energia da essência (MACIOCIA, 2007). A essência refere-
se ao sangue e aos fluídos sexuais, o que significa que uma pessoa de Po tem sua mentalidade
presa em suprir necessidades de sobrevivência básica e obter mais dinheiro (sangue), além de
suprir necessidades sexuais (fluídos). A pessoa que recupera sua Energia da Essência, ou Jing,
através da boa alimentação, boa atividade física e do cultivo de bons relacionamentos de
parceria, consegue identificar o ego não mais com suas necessidades mais básicas e pode
ingressar numa vida mais complexa, deixando de ser uma pessoa de consciência de Po para ser
uma pessoa de consciência Huen. Diz-se que a consciência encontra Huen, ou a Alma, pois se
está agora mais próximo do coração, e mais conectado com as necessidades do centro médio
(Zhong Tantien), portanto é um momento de vida que leva o ego da pessoa a se identificar
com relações de amizade, afetividade em geral e maiores conexões com o mundo (social,
cultural e natural). A pessoa que se tornou inteira na consciência de Huen pode se permitir a
explorar outros níveis mais complexos, ou transpessoais de consciência, e tornar-se uma
pessoa de consciência Shen. Shen é a natureza espiritualizada/filosófica da consciência. É
equivalente ao estágio centáurico do espectro da consciência de Ken Wilber (1995) e do

10De fato, o leitor atento e conhecedor do Taoísmo perceberá ao ler “Os Sete Sermões aos Mortos” de Carl Jung
(ditado pelo espírito Basílides de Alexandria, que era canalizado por Jung) que trata-se de uma explicação
detalhada do Tai Chi Tu com terminologia gnóstica. Não bastasse isso, os primeiros parágrafos são quase uma
cópia do Tao Te Ching [N. do A.].
13

degrau mais alto da pirâmide de necessidades de Maslow (1970). Um avançado e difícil


estágio de desenvolvimento, onde acredita-se chegar com as técnicas alquímicas, superando o
processo que leva inclusive à morte, é o estágio onde a consciência não se identifica mais com
a vida comum sujeita ao envelhecimento e às mutações (chamada no Taoísmo de “céu
posterior”). Quando isso ocorre, e o alquimista desenvolve dentro de si a “pílula”, o “elixir
dourado”, “reverte o fluxo colocando o fogo embaixo da água”, “gera o vapor” e várias
outras denominações, atinge-se a consciência causal, ou supramental, chamada de Xu
(mística). Aquele que tornou-se um sábio imortal alcançando a consciência Xu torna-se
efetivamente uno com o Tao, para a tradição alquímica chinesa. Ele entra naquilo que é
chamado pelos chineses de “céu anterior”, o projeto morfogenético11 do mundo. De posse
desse entendimento, podemos traçar uma segunda comparação, falando da pirâmide de
necessidades de Maslow, dos centros energéticos e dos tipos de consciência em um quadro
comparativo:

Quadro 1 – tipos de consciência e sua representação em vários autores.

Estágio de Pirâmide das


vMeme Tipo de consciência
Consciência Necessidades Centros energéticos
(Beck e Cowan) no Taoísmo
(Wilber) (Maslow)
Psíquico, Sutil e
- - 7º chakra (pai-hui) Xu
Causal
Visão Lógica /
Amarelo (integral) e 6º chakra (C-1 e
Existencial -
Turquesa (harmonia) terceiro olho)
(centauro)
Shen
Moralidade,
Mente pluralística / Verde (igualdade e 5º chakra (C-7 e
Criatividade,
Visão Planetária comunidade) base da garganta)
Aceitação

Autoestima,
Egóico alto Laranja (autonomia e 4º chakra (T-5 e
autoconfiança,
(operatório formal) realização) timo)
respeito Huen
Egóico baixo Azul (ordem e força Amizade, família, 3º chakra (T-11 e
(operat. concreto) de verdade) sexualidade Ming-men)

Púrpura (mágico) e Segurança 2º chakra (bomba


Emocional (tifônico
Vermelho (recursos, emprego, sacra e palácio dos
/ pré-operacional)
(de dominação) propriedade) ovários/esperma) Po
Sensorio-físico Necessidades
Bege (instintivo) 1º chakra (períneo)
(urobórico) fisiológicas

Todo esse processo, que na Alquimia Interna é realizado através do cultivo de


fórmulas alquímicas baseadas no Mapa da Alquimia Interna, ou Nei Jing Tu (figura 3), pode
ser pensado também no contexto do diálogo transdisciplinar (D’AMBRÓSIO, 1997) entre

Refiro-me aqui à ideia de Rupert Sheldrake de que campos não materiais e não físicos dão origem às formas do
11

mundo material.
14

Psicologia Transpessoal e Taoísmo, onde ciência, religião e filosofia podem dialogar através da
fenomenologia das experiências humanas. O diálogo entre essas distintas, mas
complementares, formas de conhecimento será o nosso objeto de estudo e análise a partir do
próximo capítulo.

Figura 3 - Nei Jing Tu, o mapa da Alquimia Interna (antiga representação chinesa do movimento holotrópico)
mostra o desenvolvimento psico-espiritual como uma subida ao topo de uma montanha com nove etapas.

Outro detalhe a ser considerado é que a “matemática sagrada” do Taoísmo,


expressa nos símbolos da sequência do Mapa do Altíssimo, do Tratado das Mutações
(I-Ching) e do Mapa do Lago (He-Tu) em conjunto apresentam a geração do mundo
seguindo a sequência matemática divulgada no Ocidente como a “sequência
Fibonacci” (HEATH, 2007). A partir disso, poderemos completar nosso estudo
relacionando a Alquimia Interna Taoísta ao modelo de desenvolvimento sustentável
15

da Consciência proposto por Pozatti (2007; 2003) que o construiu a partir dos
movimentos relacionados a essa sequência logarítmica.

Madeira Fogo Terra Metal Água

(0) Nascimento

(1) Infância (2) Puberdade (3) Adolescência (4) Juventude (5) Adultez

(6) Maturidade
(8) Ancianidade
(7) Ancianidade Jovem (9) Ancianidade Velha (10) Velhice (11) Senilidade
Madura
(12) Morte

Figura 4 - Mapa do desenvolvimento da Consciência adaptado de Pozatti (2003). A Consciência do


alquimista vem do Wu Chi (ponto 0) no nascimento, vai condensando até desenvolver-se no Ego
individual e fundir as energias Yin e Yang dentro do indivíduo (na Maturidade, ponto 6), voltando a
expandir na segunda metade da vida retornando ao Wu Chi (ponto 12) de forma consciente na morte.

2.1 Estágio do Wu Chi

Os símbolos chineses do Mapa do Altíssimo podem ser usados para resumir tambpem
algumas fases da existência. A partir de agora as relacionaremos com o estudo de Pozatti
(2007; 2003) sobre as fases da vida. O primeiro estágio, o do Wu Chi é relacionado a todo o
período inicial da vida humana e também ao período não tradicionalmente calculado como
tempo de vida (o período anterior ao estágio perinatal, que é o período gestacional). O início
deste estágio está fora do período biográfico (GROF, 2000). No período anterior ao estágio
perinatal a alma (Huen) da criança pode contatar os pais em experiências de estado não
comum de consciência como em ampliações, sonhos, contato mediúnico ou contato
16

xamanístico direto (TEIXEIRA, 2009). Nesses contatos pode revelar traços de personalidade,
dados pessoais como o próprio nome ou a origem anterior, além de aspectos da missão
pessoal e que muitas vezes também aparecem no início da infância (STEVENSON, 2010) onde
a consciência está vivenciando esse estágio do Wu Chi.
No estágio perinatal estão presentes três energias: a Energia Ancestral doada pelos pais
(e aos nossos pais por seus pais e etc. como uma herança vital) e que conecta-nos ao carma
familiar. Essa energia é chamada de Jing, e depois será a regente dos fluidos sexuais e do
sangue; a segunda energia é a Energia Materna, ou Chi 12 da Mãe, que através do alimento, da
respiração e da energia vital em si nutre o feto; a terceira é a Energia Cósmica Pessoal, uma
centelha de vitalidade que nunca perdemos e é certa quantidade de energia Chi acoplada à
alma, ou Huen. Sendo assim, a Energia Cósmica Pessoal é a energia individual, que se manteve
com a alma para que esta funcionasse enquanto ocorria o processo da transmigração. É o que
ocorre com aqueles que não forjaram o corpo espiritual e continuam presos na Roda do
Destino, ou seja, no ciclo das reencarnações. Essa última energia, o Chi Cósmico Pessoal, traz
as informações das vidas anteriores e do mundo13 em que essa alma estava antes de voltar ao
plano humano. Mais tarde, quando se integrar o aspecto Yang da consciência (que inicia por
volta dos sete ou oito anos) a energia organizadora Yang ativará esse Chi Cósmico Pessoal que
passará a ser o principal “centro de gravidade” do ego daquele indivíduo. A Energia Ancestral,
vinda dos pais, e a Energia Materna (que são as duas preciosas Energias Pré-Natais) são
energias perinatais, recebidas pelo indivíduo no processo de concepção e geração. Já a Energia
Cósmica Pessoal é cármica e, por ser ativada posteriormente, é usada junto da energia
absorvida no período biográfico através da respiração, da alimentação, Chi Kung e de outros
meios. Essas energias (Energia Cósmica Pessoal e Energia Vital absorvida no período biográfica
do vida), portanto, juntas, dão origem à Energia Pós-Natal.
No nascimento, onde ocorre o trauma que nos marca energeticamente para essa
existência, e aonde culturalmente começamos a contar a idade daquela nova pessoa,
ganhamos um padrão que será impresso também na alma. Esse padrão descrito nas várias

12 Chi é a bioenergia que dá vida a tudo o que existe, diretamente relacionada, nos seres humanos a aspectos
fisiológicos, às emoções, aos impulsos psíquicos e à conexão da alma com a vida. Movimenta-se principalmente
pelos “trilhos” das fáscias chamados meridianos e seus cinco tipos (cinco elementos ou cinco princípios) tem maior
afinidade com grupos de órgãos específicos. A energia Chi que é armazenada pelas práticas taoístas básicas é
armazenada no centro corporal, na região do ventre, o Hsia Tantien.
13 A Alquimia Taoísta trabalha com a ideia de que existem em cada um dos Seis Caminhos muitos Universos e

Dimensões paralelas, uma multiplicidade incomensurável. Toda alma pode reencarnar em qualquer um desses
milhares de Céus e experimentar seis tipos básicos de existência (que por sua vez tem muitas variantes devido a
esses múltiplos “céus”): o caminho do homem (reencarnar como um ser humano ou equivalente), o caminho do
céu Yang (reencarnar como uma divindade luminosa), o caminho do céu Yin (reencarnar como uma divindade
obscura, uma espécie de mundo dos demônios porém muito mais evoluído do que o humano), e há também as
condições abaixo da humana (caminhos da obscuridade) que são o caminho dos animais (reencarnar como seres
menos complexos), o caminho das almas esfomeadas (algo muito próximo à explicação do umbral no espiritismo)
e as prisões terrestres (mundos semelhantes ao purgatório cristão, onde pessoas cheias de apegos se acotovelam).
17

tradições astrológicas é o mesmo padrão energético que o Universo apresentava no exato


instante em que nascemos. Tanto o nosso nascimento, quanto o movimento das energias que
regem o clima, o movimento dos planetas e do grande computador celeste, são regidos pelos
mesmos arquétipos, pelas mesmas regras: os Ciclos de Criação14 e de Controle15, que são as
principais formas como se relacionam os Cinco Movimentos ( Wu-Hsing). Dessa relação
indireta (lemos o padrão dos corpos celestes para saber a nossa configuração energética do
nascimento) podemos descobrir importantes aspectos e padrões que nos influenciarão por
toda a vida: a quantidade do Chi dos Cinco Movimentos na nossa configuração original, o
arquétipo animal regente do nosso ano natal, mês natal, hora natal, além da quantidade de
Chi nos órgãos internos16 e outros aspectos que podem ser usados como ponto de partida
tanto para o processo de desenvolvimento na Alquimia Interior quanto na Psicoterapia.

Terra: baço, pâncreas,


estômago, sistema
nervoso, cavidade
bucal e lábios

Fogo: coração,
pericárdio, intestino
Ciclo Criativo delgado, língua

Madeira: fígado,
vesícula biliar,
Ciclo de Controle
músculos, olhos

Água: rins, bexiga,


ossos, órgãos sexuais,
Ciclo da Rebelião
ouvidos

Metal: pulmões,
intestino grosso,
Ciclo de Subtração
fáscias, nariz

Figura 5 - Wu Hsing, os Cinco Movimentos ou Cinco Princípios, seus órgãos correspondentes e ciclos.

14 O Ciclo Criativo, ou Sheng, é o caminho que a energia faz nutrindo um tipo de elemento natural com outro.
Assim, a Água (rins e bexiga) nutre as plantas, ou seja, a Madeira (fígado e vesícula biliar); a Madeira é usada como
combustível para o Fogo (Coração e Intestino Delgado); as cinzas do Fogo se depositam gerando mais Terra (Baço-
pâncreas e Estômago); a Terra gera a pressão para que os minérios, ou seja, os Metais (Pulmões e Intestino Grosso)
se formem; e os Metais cedem os sais minerais para a Água.
15 O Ciclo de Controle, ou Ko, é o caminho que a energia faz destruindo ou estagnando um tipo de elemento

natural com outro. Assim, é com amorosidade e alegria (Fogo) que nos livramos da depressão (Metal); é com
respiração profunda (Metal) que aliviamos a raiva impulsiva (Madeira); com agressividade e movimento (Madeira)
que saímos da estagnação e da indecisão (Terra), é com clareza e um forte posicionamento (Terra) que encaramos
nossos medos (Água); e é com gentileza (Água) que conquistamos o coração daqueles que se tornaram frios para
amar (Fogo).
16 Tendo em vista que a medicina tradicional chinesa defende que precisamos ter a quantidade dos cinco elementos

equilibrada para ter saúde, saber quais energias precisam ser diminuídas ou nutridas e também conhecer quais
talentos potencialmente a energia do nosso signo natal nos oferece pode ser muito útil ao desenvolvimento
pessoal. Conhecer esses padrões e usá-los a nosso favor ao invés de se opor a eles também é fluir com o Tao.
18

Sendo assim, nesse rito de passagem que é o nascimento, onde o feto morre
para nascer o bebê, há uma impressão na Alma desse Ser que define uma quantidade
de Yin e Yang, dos Cinco Elementos e das energias arquetípicas que ali se encontravam
presentes. Para ter saúde e nos desenvolvermos precisamos aprender, por exemplo, a
controlar um Yang que originalmente estava em 65% e nutrir um Yin que estava em
35%, desenvolvendo Chun, a Energia do Meio.
O bebê e depois a criança vão viver a dança de seus padrões de nascimento
(qualidade das Energias Pré-Natais recebidas, sua Energia Cármica Pessoal e as marcas
energéticas do trauma de nascimento) com os padrões do tempo histórico em que
estará vivendo (energia do Céu, ou tempo) e os padrões climáticos, geológicos e
estruturais do lugar em que nasceu (energia da Terra, ou espaço). Suas matrizes
energéticas ainda terão influência dos padrões e arquétipos do espectro de
desenvolvimento humano: os arquétipos supramentais que regem cada fase de vida
(POZATTI, 2007; 2003), as capacidades advindas da integração de cada novo estágio
de consciência ou vMeme (BECK;COWAN, 2000) e da maturação da estrutura
biológica correspondente, que suporta esse desenvolvimento interno.

Quadro 2 - As fases da vida, os arquétipos e idades ideais de acordo com a sequência Fibonacci estudados por
Mauro Pozatti (2003), relacionados aos elementos chineses:

Madeira Fogo Água Metal


Fase da Vida
(Fígado/Olhos) (Coração/Língua) (Rins/Ouvidos) (Pulmões/Nariz)

Nascimento (0-1) - - - -
Infância (1-8) Criança Divina Criança Edipiana Criança Herói Criança Precoce
Puberdade (8-13) - - - -
Adolescência (13-21) Pioneiro Amante Mensageiro Aprendiz
Juventude (21-34) Rei Curador Guerreiro Mago
Adultez (34-55) Visionário Artesão Líder Sábio
Maturidade (55-76) - - - -
Ancianidade Jovem
Visionário Artesão Líder Sábio
(76-89)
Ancianidade Madura
Rei Curador Guerreiro Mago
(89-110)
Ancianidade Velha
Pioneiro Amante Mensageiro Aprendiz
(110-123)
Velhice (123-131) - - - -
Criança Divina Criança Edipiana Criança Herói Criança Precoce
Senectude (131-144) *desligamento da *desligamento das *desligamento dos *desligamento das
intuição sensações pensamentos emoções
19

No estágio de indiferenciação hermafrodita (COLEGRAVE, 1992) e heterônomo


(PIAGET, 1972) do Wu Chi (até por volta de 7 ou 8 anos), a criança é influenciada
por quatro arquétipos principais: a criança divina, a criança edipiana, a criança
precoce e a criança herói17. Esse período merece nossa profunda atenção por ocorrer
aqui a origem de uma doença transpessoal recorrente em muitos praticantes da
Alquimia Interna: o mal-iogue (WILBER, 2009). Após o processo de nascimento e
passagem do bebê pelas matrizes perinatais básicas (GROF, 2000), que ocorrem num
fluxo criativo (sheng ) como descreve energeticamente a tradição chinesa, a vida da
criança vai passar a fluir, como a de todos os outros seres vivos, em um ciclo de
subtração arquetipicamente, vivenciando um padrão de perda de suas energias para o
cosmo, o que é considerado no Taoísmo a razão da morte. Ou seja, após o
nascimento começamos a morrer e precisamos nesse período de dependência física,
energética, mental e cultural de apoio e aporte dos nossos progenitores. Quando isso
não ocorre, e a mãe não consegue passar o amor (Chi do Fogo) para o bebê (de 0 a 1
ano e depois no primeiro ano da infância), este filho ficará com dificuldades de
integrar as qualidades de sua criança divina, com esse padrão em dívida; desnutrida
energeticamente de amorosidade. Na adolescência, juventude ou adultez, caso esse
indivíduo concluir a primeira das nove fórmulas alquímicas taoístas, ou dedicar-se a
outras práticas de abertura para os níveis transpessoais de Consciência, desenvolverá o
mal-iogue (cujos sintomas são um fluxo desordenado e “quente” (Yang ) da Eneergia
Vital, o Chi, pelos meridianos (trilhos sutis por onde a energia vital flui), causando mal
funcionamento de alguns órgãos, cansaço, e alergias características nos principais
pontos de acupuntura (principalmente aqueles relacionados aos grandes gânglios
linfáticos). Isso ocorre quando nossa consciência dá um salto do nível centáurico ou
existencial para o psíquico (o primeiro nível transpessoal na classificação wilberiana).
Esse fenômeno de desenvolvimento já observado muitas vezes por mim nos grupos de
Chi Kung e Alquimia nem sempre é apenas prazeroso, alegre e numinoso. Como
explicado por Wilber, e citado acima, quando estamos com uma dívida com essa
“criança divina” ou seja, quando temos uma patologia do fulcro-2 18 , acabamos

17 Para uma explicação detalhada desses padrões, consultar: Rei, Guerreiro, Mago, Amante: a redescoberta dos
arquétipos do masculino de Robert Moore e Douglas Gilette (1993).
18 Os distúrbios do fulcro 2 são as patologias de personalidade narcisista. Entre elas estão a grandiosidade, o

sentimento de que seus problemas são únicos e a falta de interesse e empatia pelos outros, apesar de nesse caso a
20

despertando a doença que deve ser tratada com o aprendizado do receber amor e a
resolução de dívidas cármicas e afetivas com os pais ou pessoas que deveriam ter
transmitido o Chi do Fogo ao bebê/criança.

Quadro 3 - Desenvolvimento arquetípico do estágio do Wu Chi e suas principais patologias. Como a criança vive
depois do nascimento no ciclo subtrativo (os Cinco Movimentos passam a aparecer na ordem inversa), ações dos
pais usando o ciclo de rebelião ou o próprio ciclo subtrativo amenizam ou sedam o efeito do processo subtrativo
e, assim, viver torna-se mais suportável.
Bebê /
Criança Criança
MPB 1 MPB 2 MPB 3 MPB 4 Criança
Edipiana Precoce
Divina
Arquétipos
Matrizes e

Pai injeta Pais


Mãe dá
Yang clarificam as
Descem os Abre-se o amor (o Chi
Estável Comprime organizador, dúvidas e
líquidos canal vaginal do Fogo)
definindo os inibem as
para o bebê
papéis manipulações
Mãe
Filho

A criança
A criança
precoce
A luz edipiana
Não há começa a
sagrada da começa a
Encolhido saída: feto Raiva e Nascimento mergulhar no
criança movimentar
em fusão sente o vontade para (Luz e mundo das
divina fogo e água
oceânica medo da nascer acolhimento) informações
encanta a despertando
morte e
Emoções e Patologias

todos a energia
conheciment
sexual
os
Mal Se não
Se não
Mal integrada, a Se não receber o
receber o Chi
Mal integradas, as duas integrada, a Matriz 4 é a receber o Chi do
da Terra, a
primeiras Matrizes Matriz 3 origem das Chi do Metal e o
pessoa terá
podem gerar apatia pode ser a manias por Fogo, mais yang do pai,
dificuldade
aguda, síndrome da origem da insucesso tarde a a pessoa
de integrar o
reencarnação (sensação apatia que (não pessoa terá
Herói e
de não querer ter impede o reconhecer poderá dificuldade
ingressar na
nascido) e esquizofrenia uso da ou aceitar o desenvolver em ingressar
fase yang
vontade próprio o mal-iogue no estágio
(borderline)
sucesso) yin

A integração do arquétipo do herói marca quando uma quantidade significativa de


energia Yang tomou conta da psique da criança e começará o processo de encerramento do
estágio do Wu Chi. Nessa fase do Wu Chi, de mergulho oceânico e apego à aprovação dos
pais (ou referenciais adultos que substituem os pais e onde se projeta a influência do Chi
Primordial) se formaram a maioria dos traumas e raízes das patologias psico-espirituais mais

pessoa buscar granjear a admiração e aprovação dos outros (WILBER, 2009, p. 64). Esses distúrbios têm origem no
período de vida descrito.
21

difíceis de resolver, pois é a idade dos primeiros fulcros (WILBER, 2009) que necessitam dos
tratamentos mais difíceis. O mal-iogue tem origem nessa época e advém da incapacidade da
mãe de transmitir o Chi do Fogo (amor e alegria) ao filho, e às vezes é amplificada pelo
impedimento do pai usar o Chi do Metal (ação correta, energia focal masculina) a partir dos 2
anos de idade da criança, em situações onde a mulher nega-se a abandonar o sistema de fusão
mãe-bebê.

2.2 Estágio Yang

É a energia masculina estruturante, que organiza a psique, tirando-a do caos


primordial, hermafrodita indiferenciado e heterônomo do Wu Chi. Dá à criança uma
identidade e papéis próprios (é um processo que já inicia no arquétipo do herói). É a
responsável, entre outras coisas, pela cisão com os pais na adolescência, pela estruturação do
Ego (ou “guardião” na terminologia de Carlos Castañeda, o antropólogo discípulo de Don
Juan 19 ). No nível espiritual, o estágio Yang ativa a energia pessoal (uma das três energias
presentes no feto), que passa a ser o centro da psique e traz à tona os talentos pessoais, a
missão individual, além dos traços cármicos individuais e memórias de vidas passadas. Essa é a
razão, segundo a tradição taoísta, do porque a partir da adolescência algumas pessoas
destoam tanto dos padrões da própria criação familiar e muitas vezes se tornam indivíduos
que vão romper com toda sua cultura local, manifestando os padrões que vieram arraigados
em sua alma (Huen). É recomendável iniciar aqui os trabalhos de ampliação de consciência
que ajudam a estruturar melhor o Ego (ritos de iniciação) ou a despertar o Chi Cármico
Individual, usando para isso Terapias de Vidas Passadas (TVP), Renascimento, Respiração
Holotrópica ou até as técnicas de Regressão.
Em algum momento desse período, haverá a virada biológica para a adolescência e
depois para a juventude, com as transformações da puberdade (regida pelo elemento Terra).
Nesse momento, a psique se relaciona com quatro arquétipos que rompem com o Wu Chi
(Dragão, Serpente, Cavalo e Cabra) e outros quatro que estabilizam a energia Yang (Macaco,
Galo, Cão e Javali). É um período de formação técnico-científica (especialização, não
necessariamente vivenciado dentro do meio acadêmico formal), precedido pela estruturação
hierárquica e às vezes algorítmica da rotina e da própria vida.

19Para compreender melhor o caminho do guerreiro ensinado por Don Juan e outros mestres indígenas a Carlos
Castañeda, e perceber a semelhança com o Taoísmo ler principalmente: “Uma estranha realidade” (1971), “Viagem
a Ixtlan” (1972), “Porta para o Infinito” (1975), “O presente da águia” (1981) e “Passes Mágicos” (1998).
22

Quadro 4 - Arquétipos psicológicos vivenciados pelo jovem e pelo adulto e sua correspondência com os arquétipos
da astrologia ocidental, arquétipos animais chineses e divindades do Onmyoudou (japonesas).

Arquétipos Astrologia Arquétipos Divindades do Taoísmo


Psicológicos Ocidental Animais Japonês
Criança Divina - - -
Criança Edipiana - - -
Criança Precoce - - -
Criança Herói - - -
Pioneiro(a) Áries Dragão Shiyozushi no Kami
Amante Touro Serpente Kami Musubi no Kami
Mensageiro(a) Gêmeos Cavalo Hachiman Kami
Aprendiz Câncer Cabra Tsukuyomi no Mikoto
Rei Leão Macaco Amaterasu Ōmikami
Curador(a) Virgem Galo Ayakashikome no Kami
Guerreiro(a) Libra Cão Kunino Tokotachi no Kami
Mago(a) Escorpião Javali Uhijimi no Kami
Visionário(a) Sagitário Rato Ninigi no Mikoto
Artesã(o) Capricórnio Búfalo Tachikarawo no Kami
Líder Aquário Tigre Suzanowo no Mikoto
Sábio(a) Peixes Coelho Ōkuni Nushi no Mikoto
Ser Harmônico - - Rikudou Seenin

2.3 Estágio Yin

Yin é a energia feminina receptiva e fluída. Quando integrada me torno sensível ao


ritmo natural, aceito a mim mesmo, aos outros e principalmente aceito os altos e baixos do
destino. Tendo adquirido a capacidade da aceitação também me livro das expectativas
(negação do natural fluir entre sucessos e insucessos, saúde e doença, bem e mal) e dos
controles em geral. É o rompimento final com o Wu Chi e a entrada na energia feminina
amadurecida, que me incita novas visões de mundo mais holísticas e abrangentes. Aparece já
mesclada ao Yang nos arquétipos do Macaco, Galo, Cão e Javali, mas surge em seu máximo
brilho feminino holístico com a visão pluralista e integrativa (vMeme Verde em diante, para os
habituados com a nomenclatura de Beck e Cowan 20) dos arquétipos do Rato, Búfalo, Tigre e
Coelho. Com a integração dos 12 (e assim completando os 12 tempos yang, ou a primeira
etapa dos 12 ramos terrestres) surge a possibilidade de vivenciar o Ser Harmônico, na figura
do Sábio que sobe a Montanha (o Eremita Imortal) para unir-se à Natureza (Hsing ), ao Tao,
na fase de vida chamada de “Maturidade” por Pozatti (2007; 2003).

20 Beck, D.; Cowan C C. A Dinâmica da Espiral. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.


23

2.4 Estágio Tai Chi

É a fusão andrógina espiritual de Yin e Yang. Após os primeiros estágios da Madeira e


do Fogo (0 aos 55 anos) o corpo faz uma virada biológica (menopausa e andropausa) que
suaviza os aspectos de extremo Yin ou extremo Yang morfológico e prepara terreno para a
mesma fusão que acontece na psique. Culturalmente temos ficado presos nos estágios egóicos,
inclusive tendo dificuldade em integrar o estágio existencial/centáurico que faz a fusão mente-
corpo (essa fusão só ocorre com a integração do estágio Yin). Essa dificuldade tem acontecido
pela nossa fixação em nos mantermos com a aparência física e as funções da primeira metade
da vida e acaba dificultando a entrada e a estabilização dos estágios transpessoais (aqui
condensados na fase Tai Chi ). Com a estrutura corporal tendendo à androginia temos mais
facilidade em integrar Yin e Yang e manifestá-lo em nosso corpo, promovendo a fusão das
capacidades transpessoais na dimensão compartilhada. Todo esse processo nos prepara para o
retorno consciente á fonte original, ao Vazio Primordial por trás de todas as formas, o Wu
Chi. No taoísmo, a principal prova do alcance deste estágio, também conhecido como
imortalidade espiritual (o penúltimo estágio de evolução) é a capacidade de estar consciente
nos sonhos, vivendo-os lucidamente assim como se vive a dimensão material compartilhada
(CHIA;HUANG, 2004; WILSON, 2004).

2.5 Segundo Estágio Wu Chi

A entrada consciente no estágio do Wu Chi, após o desenvolvimento completo da


psique passando pelas outras fases ou estágios representa a rara e máxima realização psico-
espiritual. Seria a transição daquele estágio descrito por Ken Wilber como a passagem dos
estágios Sutil e Causal para o Não-Dual, atingido por apenas alguns poucos personagens das
mitologias do mundo. Para os taoístas é o alcance da imortalidade físico-espiritual
caracterizada por episódios onde certos sábios se desmaterializavam e voltavam a se
materializar e que encontramos na literatura como quando Don Juan surpreendia Carlos
Castañeda, quando Morihei Ueshiba safou-se dos disparos do pelotão policial no famoso
desafio da linha de tiro (GOZO, 2010), quando os sábios chineses apareceram para uma
estudante de alquimia interna após a caça do governo chinês da revolução cultural maoísta 21
(BLOFELD, 1986), entre outros.

21 Situação onde muitos mestres taoístas foram assassinados.


24

3 Práticas Taoístas na Psicoterapia Transpessoal

Enquanto complementação e teoria-base, tanto a visão taoísta quanto os princípios da


Medicina Tradicional Chinesa, ou MTC (que são princípios oriundos do Taoísmo), podem
contribuir para uma melhor estruturação da Psicologia Transpessoal, assim como propôs Grof
em relação à toda medicina e psicoterapia ocidentais (GROF 2011; 2000). Essa afirmação se
justifica pelo poder de percebera correlação entre os diversos sistemas que compõe o Ser,
tanto no aspecto físico quanto emocional, mental e espiritual. Os ciclos de controle e criação,
bem como as mutações dos padrões energéticos de tempo e de níveis de manifestação da vida
se intercruzam e os antigos chineses deixaram toda essa tecnologia de como ler essas
correlações à nossa disposição. Além desses aspectos que resumidamente já abordamos e que
não poderemos explorar completamente em um artigo breve, há várias considerações que
podemos tecer sobre técnicas e abordagens. Algumas dessas considerações seguem nos textos
abaixo.

3.1 Ampliando as intervenções do facilitador de Respiração Holotrópica

Há algumas questões de relativa facilidade em relação a uma possível integração dos


princípios da MTC na Respiração Holotrópica. A primeira é o aprendizado da leitura corporal
através da teoria dos 5 elementos. Invariavelmente o respirante expressa em seu corpo
enquanto metáfora algo que remete à energia de um dos 5 elementos (ou mais deles ao longo
da sessão), pode-se criar situações de amplificação usando uma intervenção que aumente a
energia desejada (através do ciclo criativo) ou utilizar dos pontos de acupuntura nas
intervenções. Venho experimentando essa abordagem da acupressura há cerca de dois anos
com muito sucesso. A intervenção superior é feita pelo “alquimista interior”, que com os oito
vasos maravilhosos ativados (processo que ocorre com aqueles que estão em estágios
avançados da Alquimia). Em outras tradições a abertura dos 8 meridianos principais que nos
conectam com as energias supra cósmicas são conhecidos por metáforas como “abrir as asas
de anjo” entre outras, mas não deveriam ser tão mistificizadas já que há métodos de
desenvolvimento e estruturação dessas capacidades humanas. Na intervenção avançada o
facilitador é capaz de atuar diretamente no campo do respirante em processos semelhantes às
curas xamânicas ou àquelas feitas pelos grandes curadores e sábios das mitologias do mundo.
Uma prática extremamente positiva dentro dessa abordagem tem sido o uso dos
pontos dos dois vasos maravilhosos principais para amplificação de energias emocionais
25

durante as sessões de Respiração. Tratam-se de pontos onde a pessoa recebe alguns tipos de
energia/informação (os pontos do meridiano do governo, yang, localizado
predominantemente no dorso) e onde manifesta esses mesmos tipos de energia/informação
(pontos do meridiano da concepção, yin, localizado na loja anterior). Abaixo segue
esquemático desses pontos e seu significado:

Yung-chuan - K-1 (fonte borbulhante): ligação com a energia da Terra;


Hui-yin - Períneo (Porta da vida e da morte): ligeiramente contraído a energia circula – totalmente relaxado perda da
energia o que leva a morte;
Chang-chang - Sacro (oito furos dos imortais): Onde a energia se esfria para ser utilizada com segurança - fechado pode
nos fazer ter muita resistência a confiar nas outras pessoas.
Ming-men - porta da vida: Abre a conexão com outras dimensões energéticas e recupera a energia Jing
(ancestral/primordial); Assim como o sacro, quando fechado pode nos fazer ter muita resistência a confiar nas outras
pessoas.
Chi-Chung - T-11: Ponto contrário ao plexo solar – insegurança, ponto do poder pessoal (assertividade) fechado a pessoa se
torna invisível e sem conseguir se fazer acreditar, além de ter dificuldade com autoridade vinda dos outros;
Gia-pe - T-5: oposto ao timo - aceitar amor vindo dos outros;
Ta-chui - C-7: Ponto de controle da mente racional – quando fechado a mente manda em tudo e aberto traz leveza e
condição de deixar fluir a energia para a mente pura (atrás do pescoço no osso mais protuberante das costas , perto do
cérebro - centro de controle da mente sobre o corpo); Fechado leva a pessoa a comportamentos de muita teimosia, às
vezes aparecendo fisicamente na forma de um pequeno acúmulo de gorduras nesse ponto.
Yui-gen - C-1 (almofada de jade): quando aberto a energia flui dentro do cérebro – e fechado leva à “cabeça dura”, pessoas
agarradas a opiniões;
Pai-Hui - Coroa: conexão espiritual - energia do Céu (Shen);
Yin-tang - Terceiro olho: visão sutil/intuição - por onde absorvo o Chi dourado;
Palato + língua: conexão entre o canal yin frente do corpo e yang as costas com a coluna (dois canais de dois vasos
maravilhosos);
Hsuan-chi - Garganta: expressão/fala;
Shan-chung - Timo: amorosidade/sistema imune;
Chun-wan - Plexo Solar: poder pessoal;
Chi-chung - Umbigo: Centro do corpo - energia estabilizadora;
Chi-hai - Ventre, mar de Chi: palácio dos ovários/ do esperma - sexualidade.
Figura 6 – Pontos da Órbita Microcósmica formada pelos dois vasos maravilhosos principais.
26

3.2 Ampliando horizontes do psicoterapeuta de orientação transpessoal

Na terapia, o uso do mapa dos oito trigramas e da noção do sistema dos 5 elementos
na resolução dos dramas e traumas do paciente é muito útil. Podemos recorrer a essa
simbologia para ler em qual estágio e estado está o paciente. A partir dessa leitura (que
normalmente seria um misto de leitura corporal, leitura do Chi, leitura dos padrões de
comportamento e dos fatos da vida diária, além do próprio mapa astral e outras ferramentas
semelhantes). As várias dimensões do paciente podem ser correlacionadas em um padrão
completo a partir da percepção de como os elementos estão afetando sua saúde, relações,
metas, sonhos e outros.
Algumas doenças físicas ou comportamentos marcantes podem ser usados como pistas
durante a “investigação” para construção do perfil do paciente: quando algum órgão dos
sentidos ou um dos órgãos principais está doente sabemos que a pessoa está com excesso ou
falta de alguma das formas do Chi, o que a levou a gerar essa mesma doença. Nesse caso
podemos observar quando alguém está com tensões excessivas no masseter, ou com alguma
doença nos olhos e saber que algum desequilíbrio acomete seu fígado (na Alquimia Interna o
pai desses dois outros órgãos). A MTC também nos mostrará que o meridiano da vesícula
biliar (a víscera, fu, associada ao fígado) passa pelo masseter, corre por trás da cabeça e
termina nos olhos. Isso revela que qualquer energia do elemento madeira não saudável será
compartilhada pelos órgãos do elemento madeira (fígado e vesícula biliar) e a doença não
necessariamente se manifestará nesses órgãos, mas sim em seus correlatos. Dentro disso, as
alergias, bruxismo e doenças oculares são causadas por raiva reprimida e jogada na Sombra,
que se manifesta no corpo através do processo psicossomático. Sendo assim, toda emoção
natural contida ou negada, bem como todas as faltas de estágios não integrados na vida
(como as qualidades dos arquétipos que eventualmente não são desenvolvidas pelo
indivíduo) acabarão se manifestando de uma forma ou outra como doença física para dar
vazão e contrapor a repressão psico-energética. Por mais doloroso que sejam, esses
fenômenos são apenas tentativas de reequilibração do Ser, que procura voltar “para o centro”
expurgando as energias que lhe são maléficas de alguma forma. O processo terapêutico pode
ajudar o paciente a integrar esses temas e energias para evitar as doenças e aceleração do
envelhecimento.
De forma mais ampla, podemos dizer que é trabalho do psicoterapeuta de orientação
transpessoal e taoísta facilitar o processo de seus pacientes em compreender que certas dores
são parte do processo de crescimento. Que negamos em nossa cultura alguns dos cinco
movimentos (é “feio” sentir raiva e tristeza na maioria das famílias, por exemplo), mas tudo
27

isso é parte da nossa natureza humana e deve ser integrado para que alcancemos o estado de
completar a mais bela escultura de nós mesmos (SOUZA, 2007).

3.3 Interpretação taoísta dos sonhos

Nada é mais importante na Alquimia Interior taoísta do que os órgãos internos. Cada
um deles é reconhecido como uma entidade viva, um hólon que possui inteligência e vida
própria. Nos sonhos, nossa alma nos comunica sobre o estado sutil dessas inteligências
internas, às vezes nos comunicando de que estão fortes e poderosas, outras vezes alertando de
que estão enfermas ou se direcionando para a doença. Apesar de raros, e de necessitarmos
muito cuidado para classificar dentro destas exceções certos sonhos, o Taoísmo reconhece a
existência dos “sonhos anomalíticos”, como os sonhos precognitivos e os sonhos iniciático
onde inclusive alguma etapa do processo alquímico pode ser revelada (WILSON, 2004).
A simbologia taoísta básica para os sonhos defende que o conteúdo do sonho somos
nós mesmos e cada um dos personagens ou locais é uma manifestação dos 5 elementos e dos
órgãos. O clima e o relevo do local são relacionados aos elementos. Pessoas vestidas com
roupas coloridas ou animais pouco comuns são arquétipos que remetem aos nossos órgãos.
Dentro dessa lógica, relatou certa vez um estudante de Tai Chi Chuan: “Sonhei que um bando
de assaltantes vestidos de preto e fortemente armados tentava invadir minha casa. Quando
quase conseguiam meu avô vestido com uma jaqueta de lona azul escura surgiu e os espantou
com tiros de espingarda”. A interpretação taoísta tenderia para a explicação de que conteúdos
da Sombra estão procurando emergir com intensidade (assaltantes vestidos de preto e
fortemente armados tentava invadir a casa), mas há algum padrão ou convicção que
provavelmente se origina na ancestralidade (Jing ) que reprime esses conteúdos (avô vestido
com uma jaqueta de lona azul escura, como a energia os rins, disparando com uma
espingarda).
Em geral, essas interpretações que revelam órgãos, emoções e energias envolvidas são
extremamente úteis para amplificar os efeitos dos estudantes de Alquimia Interna, Chi Kung e
Tai Chi Chuan, que precisam “limpar” as emoções desequilibradas e integrar as diversas
capacidades da sua alma para alcançar níveis mais elevados de suas práticas. Abaixo uma
tabela com as principais relações simbólicas dos 5 elementos:
28

Quadro 5 - Principais relações dos Cinco Movimentos.

Órgão e Emoção Emoção Função da


Elemento Cor Abertura
Víscera Positiva Negativa Consciência
Madeira
Bondade,
*cresce para Fígado, Olhos
Verde Atitude Raiva, Ira Intuição
todas as Vesícula Biliar (visão)
(vontade)
direções
Coração,
Fogo Língua Ódio,
Vermelho Intestino Alegria, Amor Sensação
*se eleva (paladar) Impaciência
Delgado
Baço-
Terra Amarelo/ Equilíbrio, Confusão,
pâncreas, Boca (tato) Transcendência
*estabiliza Dourado Clareza Indecisão
Estômago
Pulmões,
Metal Branco/ Coragem, Tristeza,
Intestino Nariz (olfato) Sentimento
*foca Prateado Justiça Depressão
Grosso
Água
Azul Escuro/ Ouvidos Suavidade,
*escorre/ Rins, Bexiga Medo Pensamento
Preto (audição) Gentileza
desce

Arquétipo Arquétipo Arquétipo Valor Ação Tipo de


Elemento
Animal Astrológico Platônico Humano Educativa Meditação
Madeira
*cresce para Dragão Verde Sagitário Aprender a
Visão Verdade Caminhando
todas as (Qing Long) (Visionário) Conhecer
direções
Faisão
Fogo Virgem Aprender a
Vermelho Amor Amor Deitado
*se eleva (Curador) Amar
(Zhu Que)
Dragão
Terra Aprender a
Amarelo - - Paz -
*estabiliza Ser
(Huang Long)
Metal Tigre Branca Aprender a
Peixes (Sábio) Sabedoria Não violência Sentado
*foca (Bai Hu) conviver
Água Tartaruga
Libra Aprender a
*escorre/ Negra Poder Ação Correta Em pé
(Guerreiro) Fazer
desce (Xuan Wu)

Virtude Taoísta Virtude Taoísta Estação Bálsamo de Instrumento


Elemento Planeta
(afirmação) (negação) (Clima) Cura Musical
Madeira
Primavera
*cresce para Forma / Sinos ou
Bondade (germinação, Júpiter Canto
todas as aparência címbalos
ventoso)
direções
Verão
Fogo Contar
Polidez Emoção (amplificação, Marte Tambores
*se eleva histórias
calor)
Veranico
Terra Pensamento /
Sinceridade (estabilização, Saturno Dormir -
*estabiliza intenção
úmido)
Ossos ou
Metal Outono
Justiça Ação Vênus Silêncio paus que
*foca (secura)
clicam
Água
Inteligência / Chocalhos ou
*escorre/ Sabedoria Inverno (frio) Mercúrio Dança
conhecimento maracas
desce
29

4 O diálogo entre Psicologia Transpessoal e a milenar Alquimia Interna Chinesa

Primeiramente gostaria de reforçar as informações já trazidas de forma menos


condensada anteriormente e dialogar a simbologia taoísta com a simbologia usada por Pozatti
em seus estudos. Com “máscaras” diferentes (CAMPBELL, 2008), ambas as visões acabam nos
falando dos mesmos padrões de informação/energia. A tabela abaixo expressa essa correlação,
fundamental para que dancemos entre o Tao e a Psicologia Transpessoal:

Quadro 6 - Relações entre Psicologia Transpessoal e Taoísmo.

Psicologia Transpessoal Taoísmo


(Grof, Wilber, Jung, Pozatti) (Chern, Chia, Maciocia, Colegrave)

(1)Fogo, (2) Metal, (3) Água, (4) Madeira, (5)


Elementos (1)Terra, (2) Água, (3) Ar, (4) Fogo, (5) Éter.
Terra.
(1) Pioneiro, (2) Amante, (3) Mensageiro, (4) (1) Dragão, (2) Serpente, (3) Cavalo, (4) Cabra,
Aprendiz, (5) Rei, (6) Curador, (7) Guerreiro, (5) Macaco, (6) Galo, (7) Cão, (8) Javali, (9)
Arquétipos
(8) Mago, (9) Visionário, (10) Artesão, (11) Rato, (10) Búfalo, (11) Tigre, (12) Coelho, (13)
Líder, (12) Sábio, (13) Ser Harmônico. Eremita Imortal.
Digrama Síntese do I-Ching, Digrama Mudança
Matriz 1 (Beta), Matriz 2 (Gama), Matriz
MPBs do I-Ching, Digrama Transformação do I-Ching,
3(Delta), Matriz 4(Alfa).
Digrama Permanência do I-Ching.
(1) Nascimento à Adolescência, (2) Juventude à
Fases da (1) Madeira, (2) Fogo, (3) Terra, (4) Metal, (5)
Adultez, (3) Maturidade, (4) Ancianidade, (5)
Vida Água
Velhice à Senectude.
Níveis de (1) Matéria, (2) Corpo, (3) Mente, (4) Alma, (5) (1) Wún, (2) Jing, (3) Chi, (4) Shen, (5) Xu, (6)
Consciência Espírito, (6) Não-Dualidade. Tao/Wu Chi.

Eu (Verdade Subjetiva), Nós (Verdade


Três Grandes Tian (Céu), Ren (Homem), Kun (Terra).
Intersubjetiva), Isto (Verdade Objetiva).

Da mesma maneira esta pesquisa possibilitou compreender como os números da


sequencia Fibonacci, que fundamentam a teoria das fases da vida de Pozatti, também
aparecem no Taoísmo e em outras tradições, inclusive a psicologia. Esses números têm, entre
outras propriedades, a possibilidade de obtermos uma constante sempre que um deles é
dividido por seu antecessor (o número de ouro). Essa constante de ouro é capaz de gerar,
quando seus números são plotados como um dos lados de um quadrado, figuras que geram o
formato de uma espiral idêntica àquela usada pelos chineses de 5 mil anos atrás para
representar o símbolo da Claridade e da Obscuridade (o Tai Chi, mais conhecido como o
símbolo do Yin e Yang). Estes números são conhecidos por estarem intimamente ligados a
como se dão as formas na Natureza, e podemos citar como exemplos de sua aparição na
disposição dos galhos das árvores, ou arranjo de folhas em uma haste, dos cones da alcachofra
e do abacaxi, do desenrolar da samambaia, da distribuição das sementes do girassol, dos
bastonetes nos olhos dos insetos, nas pinhas, na concha do nautilus, na dentição e na forma
30

da orelha humana, o tempo de reprodução das abelhas e muitos outros casos. Apresento
abaixo os resultados do confronto entre esses números e os conceitos centrais do Taoísmo:

Quadro 7 - significados dos primeiros números da espiral dourada no Taoísmo.

Sequência
Taoísmo Comentário
Fibonacci
0 Wu Chi (o Vazio Wu Chi, literalmente traduzido como “ausência do cume”, é a parte
Primordial Metacósmico não manifestada do Tao, algo inatingível pela apreensão humana. Nos
que não possui formas, Sete Sermões aos Mortos, Jung usou a denominação gnóstica
mas possui todas as “Pleroma” para falar do Wu Chi e Carlos Castañeda ouviu de seus
formas e forças em mestres toltecas histórias sobre ele como o Nagual. Jamie Sams explica
potencial) que os indígenas norte-americanos o chamam de “Grande Mistério”.
1 Tai Chi (o Altíssimo a Tai Chi, literalmente traduzido como “grande cume” é a mais ampla
partir do qual se abrangência da parte manifestada do Tao, incluindo-se aí todo o tipo
manifestam todas as de formas materiais e imateriais. Nos Sete Sermões aos Mortos, Jung
formas que são usou a denominação gnóstica “Demiurgo” para falar do Tai Chi e
percebidas através de Carlos Castañeda ouviu de seus mestres toltecas histórias sobre ele
opostos complementares) como o Tonal. Jamie Sams explica que os indígenas norte-americanos o
chamam de “Grande Espírito”.
0+1 = 1 Mente Yi ou Tai Yi Yi é a intenção, a Consciência através da qual se unem os três tesouros
pessoais (hsia tantien, zhong tantien e shang tantien ), criando uma
intenção de “três mentes em uma mente”, unindo razão, emoção e
tesão. A Mente Yi que leva ao avanço na Alquimia Interna é
equivalente à ação do Demiurgo de Jung e ao Intento de Castañeda.
1+1 = 2 Yin e Yang (Luz e Yin e Yang, literalmente traduzidos como “claridade e obscuridade”,
Sombra) são os polos complementares através dos quais todas as manifestações
se tornam conscientes: conhecemos o claro por opô-lo ao escuro,
conhecemos o bem por opô-lo ao mal, o positivo ao negativo, o
masculino ao feminino. Nos Sete Sermões aos Mortos, Jung usou a
denominação “Diabo e Deus” para falar do Yin e do Yang.
2+1 = 3 San Bao (Três Puros, Três Os Três Puros são as três grandes partes do Tai Chi, as três energias ou
Tesouros ou Três padrões de informação denominadas Energia da Terra ou “ Kun”,
Poderes) Energia Cósmica (Energia do Plano Humano) ou “Ren” e a Energia
Celeste (Espiritual) ou “Tian”. No ser humano essas energias (também
chamadas de Jing, Chi e Shen) são armazenadas respectivamente no
hsia tantien, zhong tantien e shang tantien. Estão relacionados com as
trindades: Denso (Kun), Movimento (Ren) e Sutil ( Tian) e com o que o
xamanismo chama de “Mundo Inferior”, “Terra” e “Mundo Superior”.
A relação com os “Três Grandes” da filosofia também ocorre quando
nos defrontams
3+2 = 5 Wu Hsing (Cinco Wu Hsing, literalmente traduzido como “cinco movimentos”, são os
Princípios ou Cinco cinco padrões de comportamento das formas de energia. Praticamente
Forças) todas as tradições sapienciais apresentam um mapa de cinco ou quatro
elementos que está diretamente relacionado ao Wu Hsing, sejam esses
*Quando presentes em mapas correspondentes diretamente aos 5 movimentos chineses ou aos
seus aspectos Yin e Yang quatro que tem um centro.
são os 10 troncos celestes.
5+3 = 8 Pa Kua (Oito Figuras ou Pa Kua, literalmente traduzido como “oito figuras”, são os padrões da
Oito Trigramas) manifestação dos elementos naturais. A partir dessas oito figuras
desenvolveram-se inúmeros conhecimentos da cultura chinesa, entre
eles os Hexagramas do I-Ching, os princípios do Tai Chi Chuan e de
algumas fórmulas do Chi Kung , além das regras do Feng Shui.
8+5 = 13 Doze Ramos Terrestres e Os doze Ramos Terrestres são as doze frações de divisão do Tempo,
o Rei do Céu grandeza pela qual recebemos a influência de doze arquétipos que
influenciam a psique humana. As mais conhecidas formas de se
*Os 12 Ramos Terrestres conhecer a influência desse tempo arquetípico são a astrologia (tanto
são os aspectos Yin e pelo mapa natal quanto pelos trânsitos) e o estudo das fases da vida.
Yang dos Seis Sopros.
31

Outra abordagem extremamente útil na psicoterapia e no desenvolvimento em grupos


de Chi Kung ou Tai Chi Chuan é o uso da Medicina Interior (BURGOS, 2006) com uma
pequena adaptação: o autor trata como chakras os três Tantien. Com essa aproximação da
visão budista da visão taoísta complementamos a primeira com um aspecto útil: sendo os três
chakras na verdade os três Tantien, e com cada um deles relacionado ao um dos três tesouros,
eles também se correlacionam da mesma maneira que os cinco elementos. É por isso que as
patologias descritas por Burgos afetam o indivíduo, ou seja, a pessoa que sofre de
esvaziamento22 do Chi no Tantien Médio acaba desenvolvendo a aversão (que é a falta de
empatia om a energia humana) e morre precocemente, sozinha e vive entrando em conflito
com tudo e todos. A pessoa com esvaziamento do Jing no Tantien Inferior acaba insatisfeita,
gerando vontades autodestrutivas e suicidas, exatamente por não conectar-se ao prazer e à
energia sexual. E por fim, o esvaziamento do Shen no Tantien Superior transforma as pessoas
em buscadoras confusas, em sujeitos indiferentes que não se conectam com as emoções e os
sonhos e vivem na prisão do ego racional, desenvolvendo ao final algum mal do sistema
linfático-endócrino.
Muitas outras questões que não cabem aqui confirmam as conclusões e a eficácia da
Medicina Interior, que ainda pode ser ampliada com os princípios da Medicina Tradicional
Chinesa e da Alquimia Interna Taoísta em estudos futuros. Abaixo um mapa dos três Tantien e
seu ciclo relacional:

Figura 7 – Ciclos dos Tantien na Medicina Interior.

22
No trabalho original da Medicina Interior o autor teorizou que as pessoas tem um perfil ligado à aversão, apego ou
indiferença e por isso sofrem e desenvolvem as patologias. O que propomos aqui é que a pessoa não está carregada das
energias dos Tantien e por isso não estando inteira desenvolve os traços não-virtuosos na personalidade.
32

Por fim, além da fusão que propomos das duas correntes de pensamento e prática aqui
estudadas (Taoísmo e Psicologia Transpessoal), se faz necessário algumas considerações
pessoais. As páginas que precedem este parágrafo final são o produto de um árduo trabalho
de leitura e muita reflexão iniciado a pelo menos um ano, desde o contato com a Medicina
Interior de background budista (estudo importantíssimo e que foi deixado propositalmente
para o final). Não tenho dúvidas que o porte dos conhecimentos da tradição budista para
uma teoria e prática que pudesse ser vista como terapia transpessoal foi a inspiração final para
a geração do trabalho que aqui concluímos (mesmo que temporariamente já que o tema é
rico e certamente terá desdobramentos).
O fato é que cada leitura e cada prática, cada observação da Natureza Externa e da
Natureza Interna me levaram a percepção de que todo o Universo, ou melhor, de que a
Totalidade é regida pela lei dos cinco movimentos e compreendê-la nos permitirá avançar de
forma indescritível na precisão de nossa ação terapêutica, de nossa abordagem educacional e
do cultivo de nossa saúde em todos os níveis. Percebi que, assim como para curar o mal-
iogue, precisamos a todo momento do Amor. Não do amor enquanto uma dependência dos
outros, mas um amor que é traduzido como a aceitação de mim mesmo como sou, dos outros
como são e como estão, da vida como se apresenta com seus altos e baixos e do Fluxo Eterno
que não é bom nem mal, claro nem escuro, mas todas as coisas em uma infinita transmutação
necessária para que o Todo exista. Amar não só é cura, mas é o próprio Tao.
33

Referências

BECK, Don Edward; COWAN, Cristopher C. A Dinâmica da Espiral: dominar valores liderança e mudança. Lisboa:
Instituto Piaget, 2000.

BLOFELD, John. Taoísmo, o Caminho para a Imortalidade. Pensamento. 1986.

BLÓISE, Paulo V. O Tao e a Psicologia. São Paulo: Angra, 2000.

BRITTO, Ely Amorim de. Fusão dos 5 Elementos (manual do curso de instrutores). Itamonte: IntertTao, 2014.

BURGOS, Ênio. Medicina Interior: a medicina do coração e da mente. Porto Alegre: Bodigaya, 2006.

CAMPBELL, J. As máscaras de Deus: mitologia oriental. São Paulo: Palas Athena, 2008.

CHERNG, Wu Jyh. Meditação Taoísta. Rio de Janeiro: Mauad X. 2008.

__________. Dáo em sua essência. Rio de Janeiro: Mauad X. 2006.

__________. I-Ching: a alquimia dos números. Rio de Janeiro: Mauad X. 2001.

__________. Iniciação ao Taoísmo (V. 1 e 2). Rio de Janeiro: Mauad X. 2000.

__________. Tai Chi Chuan: a alquimia do movimento. Rio de Janeiro: Mauad X. 1998.

CHIA, Mantak. Métodos Taoístas para Transformar Stress em Vitalidade: o sorriso interior, os seis sons de cura. São
Paulo: Cultrix. 2008.

__________. Chi Nei Tsang: massagem dos órgãos internos com a energia chi. São Paulo: Cultrix. 2004.

__________. Cura Cósmica I: chi kung cósmico. São Paulo: Cultrix, 2003.

__________. A Energia Curativa Através do Tao: o segredo da circulação de nossa força interior. São Paulo:
Pensamento. 1989.

CHIA, Mantak; HUANG, Tao. Porta para Todas as Maravilhas: uma aplicação do Tao Te King. São Paulo: Cultrix,
2004.

CHIA, Mantak; WEI, William U. Cosmic Astrology: an East-West guide to your internal energy persona. Toronto:
Destiny Books, 2012. 572 p.

CLEARY, Thomas. Meditação Taoísta: métodos para cultivar a saúde da mente e do corpo. São Paulo: Editora
Teosófica. 2000.

COLEGRAVE, Sukie. Unindo o Céu e a Terra: um estudo junguiano e taoísta dos princípios masculino e feminino
na consciência humana. São Paulo: Cultrix, 1992.

COOPER. Jean C. An Illustrated Introduction to Taoism: the wisdom of the Sages. Bloomington: World Wisdom,
2010.

COWARD, Harold. Taoism and Jung: Synchronicity and the Self. Philosophy East and West, University of Hawaii
Press, out. 1996, V. 46, N. 4, p. 477-495.

CRAWFORD, E. A.; KENNEDY, Teresa. Astrologia Chinesa e os Cinco Elementos. Porto Alegre: Kuarup, 1995.

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 1997.

ECKERT, Achim. O Tao da Cura: a teoria dos cinco elementos aplicada ao Qi Gong, Tai Chi, Acupuntura e Feng
Shui. São Paulo: Ground, 2011.

FROSI, Tiago Oviedo; POZATTI, Mauro Luiz. Práticas Corporais Integrativas e Saúde Emocional. Revista Didática
Sistêmica. Rio Grande: FURG, 2011. v. 13, n. 1. p.76-92.
34

GOSWAMI, Amit. Evolução Criativa das Espécies: uma resposta da nova ciência para as limitações da teoria de
Darwin. São Paulo: Aleph, 2009.

GOZO, Shioda. Aikido Shugyo: harmonia no confronto. São Paulo: Pensamento, 2010. 189 p.

GROF, Stanislav. Respiração Holotrópica: uma nova abordagem de autoexploração e terapia. Rio de Janeiro:
Numina, 2011.

GROF, Stanislav. Psicologia do Futuro: lições das pesquisas modernas de consciência. Níterói: Heresis, 2000.

HEATH, Richard. Sacred Number and the Origins of Civilization: the unfolding of history through the mystery of
number. Vermont: Inner Traditions, 2007.

HUANG DI, Qi Xing. Yin Fu Jing: Tratado sobre a União Oculta. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.

JUNG, Carl Gustav; Wilhelm, Richard. O Segredo da Flor de Ouro. Petrópolis: Vozes, 2012.

JUNG, Carl Gustav. Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

KEIZI, Minami; SHAMON, Seto Onmyoji. Horóscopo Japonês. São Paulo: IBRASA, 2007.

LIU, Da. Tai Chi Ch’uan e Meditação. São Paulo: Pensamento. 1990.

LAO TSE. Tao Te Ching: o livro do Caminho e da Virtude. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011.

MACIOCIA, Giovani. Os Fundamentos da Medicina Chinesa: um texto abrangente para acupunturistas e


fitoterapeutas. São Paulo: Roca, 2007. 1000p.

MASLOW, Abraham. Motivation and Personality. Nova Iorque: Harper and Row, 1970.

MOORE, Robert; GILLETTE, Douglas. Rei, Guerreiro, Mago e Amante: a redescoberta dos arquétipos do
masculino. Rio de Janeiro: Campus, 1993.

PALMER, Martin. Elementos do Taoísmo. São Paulo: Ediouro. 1993.

PIAGET, Jean. Evolução intelectual da adolescência à vida adulta. Tradução do original: Intellectual Evolution from
Adolescence to Adulthood. Human Development, 15: 1-12, 1972.

POZATTI, Mauro Luiz. Buscando a Inteireza do Ser: proposições para o desenvolvimento sustentável da
consciência humana. Porto Alegre: Gênese, 2007.

POZATTI, Mauro Luiz. Busca da inteireza do Ser: formulações imagéticas para uma abordagem transdisciplinar e
holística em saúde e educação. 2003. 1 v. Tese (Doutorado) - Curso de Doutorado em Educação, Programa de Pós-
graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

SAMS, Jamie. As cartas do Caminho Sagrado: a descoberta do ser através dos ensinamentos dos índios norte-
americanos. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. 355 p.

SCHUMACHER, M. Japanese Buddhist Statuary: Gods, Goddesses, Shinto Kami, Creatures and Demons. 1995.
Disponível em: <http://www.onmarkproductions.com/html/ssu-ling.shtml>. Acesso: 29 mar. 2010.

SHARP, Damian. O que é Astrologia Chinesa. São Paulo: Nova Era. 2003.

SOUZA, Nei R. de. Psicoterapia e Taoísmo. São Paulo: Summus Editorial. 2007.

STEVENSON, Ian. Reencarnação: vinte casos. São Paulo: Centro de Estudos Vida & Consciência Editora, 2010. 509
p.

TEIXEIRA, Cícero. Educação de pais gestantes: uma pedagogia possível segundo o espiritismo como saber
emergente e educação integral do ser humano. 2009. 1 v. Tese (Doutorado) - Curso de Doutorado em Educação,
Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

WILBER, Ken. Éden, queda ou ascensão? Uma visão transpessoal da evolução humana. Campinas: Verus, 2010.
35

__________. Transformações da Consciência: o espectro do desenvolvimento humano. São Paulo: Cultrix, 2009.

__________. Uma breve história do Universo: de Buda a Freud - religião e psicologia unidas pela primeira vez. Rio
de Janeiro: Editora Nova Era, 2006. 390p.

__________. O Espectro da Consciência. São Paulo: Cultrix, 1995.

WILSON, Peter. Chuva de Estrelas: o sonho iniciático no sufismo e no taoísmo. São Paulo: Conrad. 2004.

WONG, Eva. O Método Correto de Cultivar e Manter a Energia da Vida: tradução do clássico chinês Hui-Ming
Ching de Liu Hua-Yang. São Paulo: Cultrix, 1999.

Das könnte Ihnen auch gefallen