Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Versão retrabalhòda dum a palestra p roferida p elo autor no "S e m in á rio Internacional sobre
Poim ênica e Teologia Pastoral", realizado em Düsseldorf/Kaiserswerth, RFA, entre 20 e 24 de
junho de 1988, sob o títu lo "Seelsorge und Befreiung. Problem anzeige aus la te in a m e rika n is
cher Sicht".
18
1— Problemas como o genocício dos povos indígenas, a escravidão negra, a exploração contínua
dos recursos naturais, a in stabilidade p o lítica e o pa p el dos m ilitares, a d ív id a e xterna e a d e
pendência em relação aos países industrializados, a explosão d e m ográfica e outros n ã o 'p o d e
rão ser considerados aqui, mesmo que sejam im portantes para a com preensão geral da re a li
dade latino-am ericana.
2— Dados como esses são conhecidos in ternacionalm ente. Baseio-me a qui em Ansgar SKRIVER.
Schlafender Riese, Brasilien steckt in der Krise. ("O gigante adorm ecido. O Brasil está em cri
se ") Lutherische M onatshefte. A no 27, fev. 1988, p. 53.
19
2. A re a lid a d e e d e s ia l
3 — Cf. Leonardo e Clodovis BOFF. Como fa z e r T eologia d a Libertação. Petrópolis, Vozes, 1986, p.
16.
4 — Op. cit. p. 15.
5— J.B. UBANIO. O que • p a stora l. São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 47, cf. também H.J. PRIEN.
Verbete "Lateinam erika''. In: Ö k u m e n e L e x ik o n , Frankfurt, Editora O tto Lembeck, 1983, col.
744.
20
mesmo nível com aqueles que procuravam nela uma parceira que se dis
pusesse a acompanhá-los em suas crises e incertezas através de um diá
logo pastoral aberto.
No centro daquilo que se poderia entender como "Aconselha
mento Pastoral" sempre esteve o Sacramento, principalmente a Confis
são e a Unção dos Enfermos. Este fato se constituiu possivelmente no mo
tivo pelo qual, através dos séculos, não se desenvolvesse no interior do
catolicismo latino-americano uma disciplina como o Aconselhamento
Pastoral, que tenha a seu encargo a tarefa de capacitar lideranças para
um diálogo pastoral solidário com pessoas em situações de crise.
Nesse contexto precisa ser mencionado o 2o Concílio Vaticano, do
qual saíram impulsos importantes para a Teologia Pastoral. Desde então,
principalmente através da valorização dos leigos, surgiram inúmeras
"pastorais" no seio da Igreja Católica. Essas pastorais são tentativas
orientadas pela prática que visam estender a ação da Igreja a diferentes
grupos humanos ou a realidades conflitivas específicas. Dentre essas
pastorais, as que se situam mais próximas ao Aconselhamento Pastoral
são a "Pastoral do Idoso", a "Pastoral da Fam ília" e, particularmente, a
"Pastoral da Saúde". Esta última tem sob sua responsabilidade a visita
ção a doentes em hospitais e domicílios. Mais recentemente ela tem am
pliado sua atuação duma ação meramente individual para uma luta por
um sistema de saúde mais justo no Brasil6.
Observando-se mais a fundo essas diversas pastorais, percebe-se
que elas não têm um conceito teórico e prático de Aconselhamento Pas
toral, baseado no diálogo, que lhes sirva de fundam ento comum. O
Aconselhamento Pastoral no âmbito católico está dissolvido nas diferen
tes pastorais voltadas a grupos específicos. A partir daí torna-se com
preensível que não se encontre dentre as publicações católicas latino-
americanas um compêndio sobre conversação pastoral ou uma revista
sobre "Aconselhamento Pastoral".
Não é fácil1falar do Aconselhamento Pastoral no contexto do pro
testantismo. Isso porque o protestantismo latino-americano não constitui
uma unidade, mas está dividido em diferentes denominações e grupos.
Distinguirei, a seguir, três ramos: o protestantismo de imigração euro
péia, principalmente alem ã; o protestantismo resultante de atividades
6 — Cf. Pastoral da Saúde. Revista Bimensal de L itu rg ia . A no 3, ja n ./fe v . 1976. A nova tendência
de am pliar a questão da saúde para dentro das questões estruturais se fez sentir dentro da
CNBB através da Cam panha da Fraternidade, ano 1981, que tinha por tem a "Saúde para to
dos", cf. Lúcia Ribeiro. Tempo e Presença. N ° 213. out. 1986, p. 22s.
21
3. A T e o lo g ia da L ib e rta ç ã o
16 — Teólogos protestantes como Richard Shaull e Rubem Alves, que reconhecidam ente form am
entre oS precursores da TdL, nâo chegam a re la tiva r essa constatação.
17 — No casó da psicoterapia ainda se acrescentem os elevados honorários cobrados, o que a trans
form a num p riv ilé g io para os econom icam ente bem situados.
18 — A teologia da pequena libertação. Tem po e Presença. Publicação do CEDI n° 229, A b ril 1988,
p. 20 e 21.
25
a étnica, a sexual e tantas outras. "As opressões têm muitos rostos", a fir
ma ele, e por isso é necessário que o teólogo ou o agente de pastoral se
torne companheiro "e m todos os momentos cruciais" da vida do povo so-
• fredor, inclusive naquelas áreas onde a pobreza "desestrutura as pes
soas por dentro".
Observações desse tipo representam, a meu ver, um indício de
que na América Latina, com o surgimento da TdL, está sendo gerada uma
nova concepção de Aconselhamento Pastoral. A nível acadêmico ainda
não se fala na questão. Por ora ainda falta qualquer referência explícita
ò nomenclatura do Aconselhamento Pastoral. Todavia, estou convencido
que a nível da prática pastoral libertadora, especialmente no interior das
Comunidades Eclesiais de Base, está acontecendo muito daquilo que o
Aconselhamento Pastoral se propõe a realizar. Só que numa form a e
num espírito diferentes.
Cabe des-cobrir essa nova modalidade de vivência da solidarie
dade e, perscrutando-a, possibilitar que ela enriqueça a prática do Acon
selhamento Pastoral. Cabe-nos ver, por outro lado, se o Aconselhamento
e a Psicologia Pastoral, em sua versão genuinamente evangélica, têm
uma contribuição a dar à pastoral libertadora latino-americana.
— Na A le m a n ha fala-se em "S e e ls o rg e "; a tradução do term o para o português é d ifíc il. No pas
sado ele era traduzido por "C u ra da A lm a ", hoje prefere-se o term o "P o im ê n ica ". In fe lizm e n
te esse term o não consta no d icio ná rio A urélio.
20 — Nos EUA o Aconselham ento pastoral é conhecido sob os termos "Pastoral C a re" e "Pastoral
C ounseling", sendo que o p rim e iro dos dois é mais a m plo e se refere ao cuidado pastoral dos
fiéis ao longo de toda a vida. (Cf. H. CLINEBELL. Aconselham ento Pastoral. Paulinas/Sinodal,
1987, p. 25).
21 — Veja, por exem plo F. WINTZER. Seelsorg«. Texte zum gew andelten Verständnis und zur Praxis
der Seelsorge in der N euzeit. M un iq u e , 1978, p. XVIIs,
26
22 — Die soziale und politische Dim ension der Seelsorge. In: F. WINTZER. op. cit. p. 46.
23 — Das Elend der sozialistischen O p p ositio n in d e r Kirche. Theologische Existenz heute, n ° 162,
M unique, 1969, p. 44s.
24 — Op. cit. p. 45.
27
tem tido na preocupação com o indivíduo o seu verdadeiro perfil de dis
ciplina teológica. A questão é, pois, conceber um Aconselhamento Pasto
ral que seja capaz de superar o individualismo e contribuir para a form a
ção duma consciência crítica e de alinhá-lo com a luta por estruturas
mais justas da sociedade.
E vital que o Aconselhamento Pastoral aja movido por um espírito
comunitário e que inclua a dimensão estrutural em sua perspectiva de
ação. Se ele operar com um conceito individualista de pessoa, fatalm en
te será presa da ingenuidade e ficará a mercê de ideologias estranhas.
Sua função será a de estabilização do sistema. Este no momento é o de
safio maior.
Estabelecida essa abrangência do Aconselhamento Pastoral, o de
safio seguinte consistirá em não perder de vista a pessoa humana na sua
unicidade como criatura de Deus. Ainda que seja parte de um sistema
maior de relações de toda espécie, inclusive econômicas, a pessoa hu
mana, na perspectiva teológica, permanece sendo responsável pelos
seus atos e, em certo sentido, livre de tudo o que a prende, sejam siste
mas ou mesmo tutelas eclesiásticas. Essa é uma ênfase legítima da teolo
gia reformatória. Como tal, a pessoa humana vive situações únicas e sin
gulares de conflito e de sofrimento que requerem a parceria do Aconse
lhamento Pastoral.
Pretendo abordar esta dialética a partir da práxis libertadora que
está se esboçando no interior das igrejas latino-americanas. Para isso se
rá necessário falar de alguns pressupostos hermenêuticos da Tdl. Preten
do fazê-lo tendo sempre em vista a perspectiva do Aconselhamento Pas
toral, pois é ele que nos interessa aqui.
1. A re la çã o com o te s te m u n h o b íb lic o
25 — Reprodução livre baseada em DOM L. FERNANDES. Como se fa z uma Com unidade Eclesial de
Base. 4. ed. Petrópolis, Vozes, 1985, p. 11 s.
26 — Uso o term o no sentido am plo, como a pastoral voltada a zelar pelo bem -estar do povo de
Deus em todos os sentidos.
29
27 - W. ALTMANN. C onfrontacion y Liberaeion. Una perpeetivo lo tino a m e rie a n a sobre M a rtin Lu-
to ro . Buenos Aires, ISEDET, 1987, p. 64s.
28 — Expressão usada por L. e C.BOFF, op. cit. p. 53.
29 — H.LUTHER. Altagssorge und Seelsorge: Zur Kritik am D e fizitm odelt des Helfens. W ege iu m
M enschen. A no 3á, 1986, p. 4. Com relação à discussão a respeito do Aconselham ento Pasto
ral como " A u x ílio para a v id a " ou como "A u x ílio para a f é " cf. H.TACKE. G la u b e n sh ilfe als
Lebenshilfe. N eukirchen-Vluyn, 1975, 288 p.
30
2. A d im e n sã o da e n ca rn a çã o
3. C o nceito d e pecado
34 — Cf. T.HANKS, apud G.BRAKEME1ER. Pobres e pecadores na ótica de Jesus. Estudos Taológicos,
Ano 25, 1985, p. 20.
33
35 -- Isso não exclui que em determ inadas circunstâncias o detentor do m inistério especial, por fo r
ça de sua ordenação e de sua missão profética, questione ou até mesmo repreenda a com uni
dade.
35
D) Considerações m etodológicas
36 — Por exem plo: Não se entenderá jam ais um a pessoa negra se não se atentar para toda a tra je
tória histórica dos povos negros, paro a sua escravidão e para o sentim ento que esse processo
secular de discrim inação provocou.
36
E) Considerações Finais
37 — Sobre a eclesiologia da TdL, cf. L.BOFF. E a Ig re ja se fez povo. 2a ed. Petrópolis, Vozes, 1986.
38
Vimos que um Aconselhamento Pastoral latino-americano precisa
estar afinado com um processo am plo de libertação que está em m ovi
mento neste continente. Isso significa que, uma vez desencadeado um
processo de libertação como o que se observa, por exemplo, no inferior
das CEBs, a poimênica não pode pretender desenvolver uma ação para
lela como se ela corresse por outros trilhos e nem tampouco uma ação
meramente tópica, sem levar em conta o conjunto dos mecanismos so
ciais que estão se desenvolvendo ao seu redor.
Concretamente isso significa que se um pastor ou agente de pas
toral que atua na base visitar uma senhora doente, ele não poderá assu
m ir uma postura paternalista ou outra atitude qualquer, que esteja em
contradição com o que essa senhora vem experim entando e descobrindo
no convívio com os demais integrantes do seu grupo de base. Ele pouco
poderá insinuar que a doença e a miséria desta senhora seja apenas fru
to de culpa ou fracasso pessoal. Cabe-lhe indicar a relação que existe
entre sua situação pessoal e a realidade estrutural dentro da qual ela es
tá inserida.
Aconselhamento Pastoral é uma função comunitária. Como tal é
uma form a especial de vivencic na situação singular de uma pessoa, a
libertação ampla que toda a comunidade está buscando à luz do Evange
lho. E uma form a particular de concretização da libertação kocial que,
mediante a força da fé, está em marcha entre o povo de Deus. Nesse
sentido, a poimênica estã totalm ente a serviço da busca do povo de
Deus por libertação global da sociedade.
Por outro lado, o Aconselhamento Pastoral precisa ter suas compe
tências claramente estabelecidas e seu campo de atuação bem delim ita
do. O fato de sua atuação estar afinada com a libertação global não sig
nifica que ela esteja autorizada a pretender encampar todo o processo
de libertação da Igreja. O processo de libertação latino-am ericano é um
fenôm eno muito am plo e complexo. O Aconselhamento Pastoral precisa
achar o seu lugar próprio nesse processo.
O lugar próprio do Aconselhamento Pastoral no processo de liber
tação latino-americano consiste justamente em dar atenção às m anifes
tações pessoais e particulares de sofrimento ao longo de um processo co
letivo de luta, especialmente onde estas preocupações ficarem relega
das a planos secundários. Assim como é um erro particularizar problemas
coletivos é igualmente um erro pretender coletivizar problemas particu
lares ainda que esses tenham relação com questões estruturais. Cada
pessoa merece, dentro dum processo abrangente, ter o seu lugar como
membro único, especial e insubstituível dentro da comunidade. E impor-
39