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LEPETIT, Bernard. É possível uma hermenêutica urbana?

“(...) o tempo da teoria da auto-organização caracteriza-se tanto pelo rumo inesperado


de algumas de suas evoluções quanto pela sua complexidade.” (137).
 Teoria da auto-organização  caracteriza-se pelo rumo inesperado de suas
evoluções e pela sua complexidade.
 Historicidade dos sistemas que dele resultam:
 Bifurcações: significa uma trajetória temporal em que cada
sequencia depende dos precedentes, mas não as reproduz de formas
idênticas.
 Descompassos: processo temporal complexo, no sentido de que o
sistema vê seus elementos surgirem de uma pluralidade de tempos
descompassados cujas modalidades de combinação geram mudanças
a cada instante. (138).
 O autor pretende trocar por um momento as bifurcações pelos descompassos, os
rumos das trajetórias pela pluralidade das temporalidades. (138).
 Vai fazer uma análise a partir dos modelos de descompassos.

Mudanças de Formas, Mudanças de Usos

“As casas e os espaços de trabalho, os edifícios públicos e a rede viária, as maneiras de


viver e de morar, a organização técnica da produção e da troca, as formas de
divertimento e a geografia dos espaços de lazer sempre provêm, em sua maior parte, do
passado e resultam, em sua evolução, de ritmos diferentes.” (138).
 A materialidade urbana e seus usos provêm do passado e resultam em ritmos
diferentes de evolução.

“O fato de que os elementos de uma cidade, em sua contemporaneidade, têm idades


diferentes acarretou consequências metodológicas.” (139).
 Estudos de morfologia genética abriram caminho propondo regras de
transformação das formas urbanas;
“Na escala das grandes intervenções do urbanismo, mas também na das mil pequenas
mutações renovadas que modificam o tecido urbano, os tempos da cidade são
fortemente demarcados. Nada indica que eles se ajustam continuamente à conjuntura
econômica, às variações de população, às mudanças de hábitos dos citadinos.” (139).

 A constatação dos descompassos leva a soluções fáceis:


 Usamos analogias para explicar o processo: noções de transmissão e de
herança são tomadas do direito, imagem da memória de computador com a
possibilidade de se apagarem os elementos do programa das atividades
passadas são tomados da informática. (139).

“No âmbito do conhecimento, as imagens fazem que a sociedade e seu território sejam
colocados em posição de exterioridade: como um bernardo-eremita, a sociedade
citadina move-se num construído que não é o seu.” (140)
 As imagens usadas como analogias para “facilitar” na solução dos descompassos
leva-nos a desconsiderar a ligação da sociedade com seu território, ou seja,
separamos os sujeitos da sua cidade.
“Legado em quase todos os aspectos pelas gerações passadas, o espaço urbano parece
então a restringir seus novos ocupantes e modelar seus modos de fazer.” (140).
 Parece que a cidade – que tem aspectos deixados pelas gerações passadas –
restringe seus novos ocupantes e modelam seus modos de fazer e de ser, nessa
visão encadeada por imagens do direito e da informática.

“Mais a cidade não é um palimpsesto. A observação empírica desmente as relações


excessivamente simples que, num primeiro momento, acredita-se possível estabelecer
entre a sociedade urbana e seu território.” (140).
 A observação empírica desmente as relações simples que se acreditava ser
possível estabelecer entre os sujeitos e a cidade.
 Exemplos:
 Bairros de NY: mudanças sociais de uso determinaram as
modalidades de resistência e a duração de vida do construído.
 Paris, Marais: a arquitetura antiga acomoda-se a usos sucessivos e
contraditórios, e as velhas moradas podem tornar-se
consecutivamente, por meio de simples bricolagens internas,
residências aristocráticas, ateliês, habitações burguesas.

“Não se deu aos usos sociais da cidade a mesma atenção classificatória que se dedicou
às formas urbanas. Mas sabe-se que são sujeitos a mudanças.” (140).
 Não se deu atenção aos usos sociais da cidade como foi dada às suas formas;
 Sabe-se que os usos sociais da cidade também estão sujeitos a mudanças.

“Como erigir tipologias nesse campo e estabelecer regras de composição comparáveis


às que foram criadas no universo das formas?” (141).
“(...) o estudo interno dos usos da cidade comporta um risco semelhante ao que ocorre a
análise interna das formas. Dissociar os estudos sobre a urbanidade e as pesquisas sobre
a morfologia urbana acarreta a perda da questão urbana em sua especificidade.” (141).
 Separar o estudo dos usos da cidade das pesquisas sobre as formas da cidade
causa a perda da questão urbana em sua especificidade.
 Devemos estudar os usos da cidade em conjunto com sua morfologia.

“A cidade não dissocia: ao contrário, faz convergirem, num mesmo tempo, os


fragmentos de espaço e os hábitos vindos de diversos momentos do passado. Ela cruza a
mudança mais difusa e mais contínua dos comportamentos citadinos com os ritmos
mais sincopados da evolução de certas formas produzidas.” (141).
 A cidade faz convergir os fragmentos materiais do passado (formas) e os hábitos
vindos de diversos momentos do passado (usos).
 Cruza as mudanças mais diferentes e contínuas dos comportamentos dos
sujeitos com os ritmos mais lentos e pausados das formas da cidade.

“A cidade é feita de cruzamentos. O difícil para compreender a mudança urbana, é


percorrer juntas as duas vias que conduzem a ela, em vez de privilegiar uma ou outra.”
(141-142).
 Devemos percorrer as vias dos usos e das formas que conduzem a mudança
urbana para compreendê-la.
“Estabelecendo uma relação de mão única entre as mutações das práticas e a dos
espaços, porém, a proposição é duplamente incompleta. Por um lado, deixa de
considerar os usos sociais como uma variável explicativa da evolução dos tecidos
urbanos (...). Por outro, deixa de considerar as características dos territórios como uma
das fontes eficazes das mutações econômicas.” (142).
 Estabelecer relações de mão única entre os usos e as formas da cidade também é
incompleto.
 Pois deixa de considerar os usos sociais como uma variável explicativa da
evolução da cidade;
 E deixa de considerar as características dos territórios como fontes da
mudança econômica.

“Tipologias dinâmicas dos modos de articulação entre as formas e os usos da cidade


constituem uma solução para essa dificuldade.” (142).
 Tipos de articulações dinâmicas entre as formas e os usos da cidade é uma
solução.

“As estruturas temporais constituem um fator que deve ser explicitamente levado em
conta pelo planejamento urbano, e as modalidades complexas de articulação do tempo e
do espaço urbanos constituem, por si sós, um programa de trabalho.” (143)
 Pensamento sansimonsita (Saint-Simons) imaginando sociedades que praticam o
nomadismo urbano (evitando o inchamento da urbe) fornecia as primeiras
sugestões para um enfoque sistemático.

Modalidade de apropriação do espaço urbano

“O comparatismo sugere outro caminho. Para anular a evidência de nossas categorias, o


exemplo japonês é um ponto de referência útil. No Japão, a centralidade parece
característica menos de um lugar do que de um uso.” (143).
 No Japão a centralidade está no uso e não no lugar (sakaribas).
 Sakaribas são concentrações efêmeras da urbanidade, “corações de cidades
nômades” (...): em Paris ou Londres, a City ou La Défense não deixam de ser
o centro do negócios, quando ficam desertas, à noite. (143)
 Os Sakaribas garantem a migração, no espaço, de uma forma estável no
tempo. (143).

 Exemplifica com a semiologia urbana de Françoise Choay (1967).


 Considera a cidade um sistema não-verbal de elementos significantes.
 Nas sociedades de evolução rápida, por causa da relativa rigidez do
construído, o sistema urbano está parcialmente condenado ao
anacronismo, até mesmo ameaçado em sua possibilidade de
significar. (...) a cidade padece de redução semântica. (144).
 As significações dadas às formas da cidade em um dado tempo,
quando modificam-se os costumes e os contextos, perdem essa
significação para os sujeitos, tornando-as anacrônicas.

“Reservando lugar aos fenômenos compensatórios de ressemantização, entretanto, o


texto conduz reflexão a um caminho mais produtivo, para nós” (144).
 Fenômenos de ressemantização é um caminho mais produtivo.
“Os sintagmas ultrapassados encontram-se englobados em novos sintagmas. (...).
Desenvolvem-se sistemas suplementares. (...). Enfim, o comentário sobre o espaço
urbano prolifera, e o discurso urbanístico, linguagem sobre a cidade, substitui
progressivamente a linguagem da cidade.” (144-145).
 Estrutura que tinham uma função e significado assumem outros sentidos e usos.
 Numeração das casas, nomes de ruas, sinalização aparecem.
 Comentários sobre o espaço urbano proliferam e o discurso urbanístico substitui
a linguagem da cidade.

“Mas se imaginarmos que as estruturas, mesmo as semânticas, não escapam à história e


que a imagem de um paraíso urbano perdido é, sobretudo, um efeito da documentação
remanescente, poderemos ler esses fenômenos como modalidades historicamente
datadas de apropriação da cidade.” (145).
 As estruturas, mesmo as semânticas, não escapam à história;
 A imagem de um paraíso urbano perdido é um efeito da documentação
remanescente, e podemos ler esses fenômenos como modalidades
historicamente datadas de apropriação da cidade.

 Abordar com enfoque um pouco diferente a questão das centralidades


comparando Paris e Tóquio.
 O exemplo permite reduzir a dicotomia entre a morfologia urbana e os usos
sociais.
 Em vez de colocar as formas de um lado e os comportamentos de
outro, considera os atores e as modalidades de apropriação. (145)
 A cidade aparece como uma “categoria da prática social”. (145)
 A questão das temporalidades urbanas é colocada de outro modo: a
cidade nunca é absolutamente sincrônica 1, mas ao mesmo tempo a
cidade está inteira no presente. (145).
“Ou melhor, ela é inteiramente presentificada por atores sociais nos quais se apoia
toda a carga temporal.” (145).

 Modelo braudeliano de organização do espaço num triplo sistema de formas –


analogia com as camadas geológicas “presentes”.
 O espaço braudeliano se apresenta como o resultado do rearranjo permanente
das falhas múltiplas. As formas antigas nele são constantemente retomadas
pelas sociedades em novas construções. (146)
 O modelo é interessante porque, por um lado, em seu centro está o problema da
construção do espaço.
 Antigas formas espaciais assumem novas configurações.
 Por outro lado na teoria braudeliana da mudança espacial encontramos as
instituições fundamentais que presidem os modelos de auto-organização.
 A todo momento, uma organização do território origina-se do conjunto das
configurações anteriores. (146)
“No jogo das atualizações sucessivas das formas passadas em combinações territoriais
novas, as sociedades usam menos as possibilidades fornecidas por seu meio do que
aquelas que sua história lhes fornece.” (146-147)
 Atualização sucessiva das formas passadas em combinações territoriais novas 
as sociedades usam mais as possibilidades que a sua história lhe fornece do que
as do seu meio presente.
 Ideias de adaptação ativa realizada pelos atores sociais, ao sabor de seus
equilíbrios e de suas capacidades, dos enquadramentos espaciais que
herdaram.

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O tecido urbano, o comportamento dos citadinos, as políticas de planificação urbanísticas, economia
ou social desenvolvem-se segundo cronologias diferentes.
“Dadas a multiplicidade das formas antigas de organização do espaço e a diversidade
das temporalidades nas quais elas se inscrevem, o problema está menos em associar
uma trajetória histórica e uma evolução futura do que estudar as modalidades de
presentificação dos passados.” (147).
 Dada a multiplicidade das formas antigas de organização do espaço e a
diversidade das temporalidades nas quais elas se inscrevem o problema é
estudar as modalidades de presentificação dos passados.

“As sociedades urbanas (...) procedem continuamente a uma reatualização e a uma


mudança de sentido das formas antigas. Elas as reinterpretam.” (147).

Lugares urbanos e memória coletiva

“Maurice Halbwachs estabelece, como sabemos, relações dialéticas complexas entre os


grupos sociais e o espaço que eles ocupam.” (147).
 Maurice Halbwachs: estabelece relações dialéticas entre os grupos sociais e o
espaço ocupado por eles.
 Um grupo toma posse de um território e transforma-o à sua imagem, ao
mesmo tempo o espaço construído pelo grupo o pressiona.

“(...) um comentário que considerasse apenas a materialidade do espaço como vetor de


sua inscrição no tempo simplificaria exageradamente a afirmação. A forma da cidade
pode mudar mais depressa que o coração dos homens.” (148).

“Reduzida a uma única sequência cronológica, a evolução permanece simples: os


hábitos sociais e os usos são posicionados de modo que parecem durar mais do que
as formas; a resistência mudou de lugar. Ampliando-se a duração da observação,
porém, a complexidade torna-se extrema. Já que todas as condutas de um grupo social
podem traduzir-se em termos espaciais, cada lugar tem um sentido que só é inteligível
para os membros do grupo. Já que todas as condutas do grupo são cristalizadas por
hábitos, elas registram configurações espaciais passadas. As formas, por sua vez,
registram antigas relações sociais, velhas condutas, hábitos enraizados em territórios
ainda mais antigos. Assim, o presente só tem sentido nas práticas que reatualizam,
concomitantemente, estruturas sociais e espaciais ultrapassadas – e é não tanto na
esfera dos pesos temporais quanto na da memória que convém inscrever o espaço.”
(148).
 Espaço inscrito na esfera da memória;
 No livro de Halbwachs o espaço possui, em relação à memória, um duplo
estatuto.
 Primeiramente: inscreve-se na mesma relação dialética do social em
geral  a memória coletiva apoia-se em imagens espaciais, e os
grupos sociais definem seu quadro espacial desenhando sua forma no
solo e nele inserindo suas lembranças.
 A relação dialética está na base de um pensamento analógico:
“Apenas a imagem do espaço, graças a sua estabilidade, é que nos dá
a ilusão de não mudar através do tempo e de reencontrar o passado
no presente; e é exatamente assim que se pode definir a memória.”
(149).
 Se o espaço e a memória são definidos da mesma maneira, ambos estão
sujeitos aos mesmos julgamentos (eles nos dão somente a ilusão de
reencontrar o ontem no momento presente) e comportam a mesma análise.
(149)
 O que é válido para a produção da memória é válido para a produção
do espaço e vice-versa.
 O passado não se conserva e não ressurge idêntico.
 A cada etapa de seu desenvolvimento, a sociedade remaneja suas
lembranças de forma a adequá-las às condições do momento de
seu funcionamento.
 Num processo de reelaboração permanente, de reconstrução
perpétua, a memória exprime as verdades do passado com base
nas do presente. (149)
 O mesmo acontece com o espaço: a sociedade admite todas as
formas (mesmo as mais antigas) desde que sejam formas, isto é,
desde que possam ocupar um lugar em seu espaço, desde que
interessem ainda aos homens de hoje, desde que eles as utilizem.
(149).
 O território é essencialmente uma memória, e seu conteúdo é todo
constituído de formas passadas (subsiste o que pode ser
compreendido pela sociedade). (149).

 Riscos que decorrem da análise nesses termos:


 Regressão ao infinito: reapropriação presente do espaço foi preparada por
outras reapropriações, que foram feitas em épocas precedentes. (149-150).
 Explicação finalista: que leva a considerar necessária a evolução do território
em vista de seu último estágio.

 Os riscos remetem a maneiras inadequadas de romper a circularidade


tautológica da explicação, a qual insiste em afirmar que só subsiste do
passado, provisoriamente, aquilo de que o presente se reapropria. (150)
 A análise hermenêutica oferece métodos para romper essa circularidade.

A hermenêutica das cidades

“Aplicada aos textos enquanto discursos registrados pela escrita, a análise hermenêutica
organiza-se com base em dois pontos de tensão” (150)
 Análise hermenêutica organiza-se com base em dois pontos de tensão.
 Explicação e interpretação.
 A explicação é interna e pode desenvolver-se segundo as regas da
análise estrutural que a linguística aplica à língua.
 Não busca a intenção do autor, mas a do texto.
 Atentar para as relações entra e forma da cidade e a do discurso.
 O texto não é fechado.
 “Não só „abre um caminho de pensamento‟ – para retomar uma expressão de
Paul Ricoeur – como também convoca e espera a leitura, que fornece a sua
interpretação.”
 Institui a atualização de uma das possibilidades semânticas de um
texto, conferindo-lhe significação no mundo do leitor.

 A explicação é a interpretação do texto não tem um fim em si mesmo. (150-151)


“Uma vez que a compreensão do eu passa pela compreensão dos mundos nos quais o eu
se informa e se forma, ela se completa na interpretação do eu feita por um sujeito que se
compreende melhor e de outra maneira. A compreensão do texto tem o caráter de
uma apropriação. (...). Atualizando a significação de um texto, ela [a tensão
temporal] luta contra a distância que separa o leitor do sistema de valores em que
o texto se constrói. Ela torna contemporâneo e semelhantes o que era diferente e
afastado no passado (...).” (151)

“Ao mesmo tempo, a conduta hermenêutica explora a própria distância temporal.” (151)

 Exemplo: grupo de escritores que escrevem um romance único, coletivamente.


 Cada um escreve um capítulo, inteirando-se do que foi escrito anteriormente;
 O primeiro romancista propõe uma situação, define as personagens, escolhe
os procedimentos literários que julga mais adequados. (151).
 No processo de escrita plural, cada escritor está, ao mesmo tempo, limitado
pelo que precede, mas também livre para dar-lhe sentido orientando a seu
modo o curso da narrativa. (152).
 Interpretação e intervenção criadora constituem as duas dimensões,
inseparáveis, da sua atividade. (152).
“Se a cidade é um texto, parece-me mais pertinente e proveitoso analisa-la à luz de uma
hermenêutica do que de uma semiologia.” 2 (152).

Ricoeur  situa o presente histórico na interseção de um “espaço de experiência” com


um “horizonte de expectativas”, na interseção de um passado com um futuro que o
momento presente atualiza. (152)

 A ideologia do progresso hoje se tornou duvidosa e o resultado disso é a perda


do sentido do presente, dividido entre um passado que não se deseja reproduzir e
um futuro indiscernível.
 Ricoeur propõe um programa de ação nesse contexto de crise: impedir que o
horizonte de expectativas desapareça (munir-se de projetos) e resistir à
redução do espaço de experiência (deixar de considerar que o passado está
concluído para dar vida a suas potencialidades não realizadas). (153)
 Meio mais seguro para a criação do sentido social.

2
Relacionar com Pesavento (Cidades sensíveis, visíveis e imaginárias) e com d’Assunção Barros (Imagens
da cidade).

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