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SERVIÇO PUBLICO FEDERAL

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TOCANTINOPOLIS
CURSO DE CIENCIAS SOCIAIS.

A QUESTÃO DA INTERCULTURALIDADE.

CELSO KOSINSKI

Disciplina

SOCIEDADES E CULTURAS INDIGENAS

Professora Drª. Rita de Cássia Domingues Lopes

TOCANTINOPOLIS

2019
Ao ser solicitado a escrever um trabalho final para a disciplina de sociedades
e culturas indígenas, do curso de Ciências Sociais da UFT, revendo as aulas e recor-
dando as vivencias, chego à conclusão de quão pouco sabemos, e até mesmo quanto
desprezamos os habitantes originais deste país. Um semestre onde tivemos a opor-
tunidade de conhecer temas nunca abordados e cuja variedade é exuberante, não
nos qualifica para sequer comentar que entendemos o que ou quem são os indígenas.
Este período de estudos teve seus méritos, porém, ao chegar ao final do semestre
fica a sensação de que arranhamos a casca do fruto sentimos o odor, sabendo que
dentro há algo saboroso, mas não pudemos provar dele. Efetivamente durante o se-
mestre pudemos adentrar vários temas nos seminários, porém de certa forma super-
ficial, os debates foram suficientes para nos mostrar superficialmente a questão mas
não nos proporcionaram apreciar com profundidade tal como o exemplo do fruto, resta
ainda como último recurso escrever um trabalho que proporcione a apreensão de mais
alguns aspectos da disciplina. Pretendo, portanto, nas próximas páginas resumir um
pouco do que apreendi nesta, principalmente com foco na interculturalidade, especifi-
camente expressando o que é o meu entendimento sobre o tema a partir da disciplina
e dos fatos que observo no cotidiano.
Comecemos pelo quão pouco sabemos, a quem esta expressão se dirige? A
resposta segundo a minha interpretação envolve a totalidade do povo brasileiro e a
totalidade do povo indígena. Em primeiro lugar é importante esclarecer quanto ao
termo índio, sobre o qual recorro a BANIWA:

Com o surgimento do movimento indígena organizado a partir da década de


1970, os povos indígenas do BRASIL, chegaram à conclusão de que era im-
portante manter, aceitar e promover a denominação genérica de índio ou in-
dígena, como uma identidade de une, articula, visibiliza e fortalece todos os
povos originários do atual território brasileiro e, principalmente, para demar-
car a étnica e identitária entre eles enquanto habitantes nativos e originários
dessas terras, e aqueles com procedência de outros continentes, como os
europeus, os africanos e os asiáticos. (BANIWA, 2006 – p. 30).

Portanto anteriormente nos os colonizadores os chamávamos de índios, mas


conforme a nossa interpretação cultural, após a década de 1970, é legitimo trata-los
como índios porque é um termo que os mesmos definiram com um novo significado.
Se falamos em totalidades e os índios são um grupo a parte ou seja o total
destes e o total de nós, então podemos agora mencionar que a população brasileira
de acordo com o último censo é de cerca de 208 milhões, segundo dados do IBGE
2019, e a população indígena situa-se em torno de 0,9 milhão de habitantes, o para-
doxo que vemos é que os 208 milhões de forma genérica, não tem nenhum conheci-
mento sobre a população indígena e sequer os tratam com o respeito e a dignidade
que um povo soberano merece ou seja os indígenas são desprezados pela maioria
dos brasileiros. Dentre os brasileiros que ao contrário da maioria tem algum conheci-
mento e não os desprezam podemos contar os pesquisadores envolvidos direta-
mente, os estudantes de áreas afins, funcionários públicos, e outros simpatizantes,
não há números, mas certamente sabemos pelo senso comum que são poucos, e
estes poucos podem ser classificados em termos de profundidade de conhecimento
sendo ai o universo reduzido talvez a poucas centenas de pesquisadores da área.
Respondendo, portanto, a pergunta o quão pouco sabemos, podemos concluir que
apesar da proximidade que temos com os índios, em se tratando de nação não co-
nhecemos nada daqueles, e nem mesmo temos o respeito de procurar conhece-los,
simplesmente toleramos porque não temos outra alternativa.
Quanto ao desprezo, a própria constatação relativa ao aprofundamento dos
conhecimentos de nossa população sobre eles, define a dimensão do desprezo, uma
vez que é próprio do ser humano se aproximar e conhecer aquilo que lhe interessa
relegando ao desprezo o que não lhe interessa.
Inspirado por esta primeira apreensão que nos situa quanto ao conhecimento
relativo aos indígenas, sou levado a escrever sobre interculturalidade, conforme citado
por BANIWA, motivado principalmente porque é interculturalidade como a vê um re-
presentante de outra cultura diferente da nossa, assim escreve:

A interculturalidade é uma pratica de vida que pressupões a possibilidade de


convivência e coexistência entre culturas e identidades. Sua base é o diálogo
entre diferentes, que se faz presente por meio de diversas linguagens e ex-
pressões culturais, visando à superação da intolerância entre indivíduos e
grupos sociais culturalmente distintos. (BANIWA, 2006 – p. 50-51).

Burocraticamente como política de estado, a questão da interculturalidade,


também é abordada pela LDB, conforme descrito:

O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de


fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas inte-
grados de ensino e pesquisas, para oferta de Educação escolar bilíngüe e
intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos: I - proporci-
onar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memó-
rias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de
suas línguas e ciências; II - garantir aos índios, suas comunidades e povos,
o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade
nacional e demais sociedades indígenas e não índias. (LDB art. 78)
Vemos, portanto que o estado formulou sua política contemplando a questão
da interculturalidade, embora de forma burocrática e normativa:
A interculturalidade é um tema abordado e estudado por vários autores que
se encontram dentro de uma corrente denominada decoloniais, os principais são Ca-
therine Walsh, Enrique Dussel, Walter Mignolo, estes se dedicam aos temas da plu-
ralidade, multiculturalismo e interculturalidade, para (Walsh 2001) interculturalidade
tem o seguinte sentido:

Um processo dinâmico e permanente de relação, comunicação e aprendiza-


gem entre culturas em condições de respeito, legitimidade mútua, simetria e
igualdade; Um intercâmbio que se constrói entre pessoas, conhecimentos,
saberes e práticas culturalmente diferentes, buscando desenvolver um novo
sentido entre elas na sua diferença; Um espaço de negociação e de tradução
onde as desigualdades sociais, econômicas e políticas, e as relações e os
conflitos de poder da sociedade não são mantidos ocultos e sim reconhecidos
e confrontados; Uma tarefa social e política que interpela ao conjunto da so-
ciedade, que parte de práticas e ações sociais concretas e conscientes e
tenta criar modos de responsabilidade e solidariedade; ( apud CANDAU e OLI-
VEIRA, 2010)

Portanto, quando falamos de interculturalidade, e imaginando a situação de-


mográfica no BRASIL, fica obvio que a pratica direta desta conforme os vários concei-
tos expressos, é limitada as situações limítrofes, a maioria das concentrações indíge-
nas é limítrofe de pequenas cidades, então a grande maioria dos brasileiros hipoteti-
camente nunca irá conviver com um indígena, é claro que há populações indígenas
vivendo em centros urbanos, mas para nos limitarmos, abordo somente a questão
relativa as regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. Tomando como
exemplo o município onde se localiza esta universidade, Tocantinópolis que é rodeada
de aldeias indígenas.
Quanto a este município, o que observamos é a passagem de indígenas pelas
ruas da cidade, estes se utilizam da cidade pelas suas facilidades, vem até a cidade
para adquirir produtos necessários as suas aldeias, trafegam pela cidade, mas em
geral a população não os vê com bons olhos, são tolerados. Há na cidade um grande
mercado no qual a maioria deles faz suas compras, sendo que nota-se que os índios
preferem este mercado dirigindo-se aos outros em menor escala, o mesmo mercado
também é pouco frequentado por brancos, os quais se dirigem aos outros, então se
por um lado os índios frequentam em sua maioria este mercado e os brancos não, há
portanto um acordo silencioso, construído de forma discriminatória por ambas as par-
tes. Não observamos índios se utilizando de espaços públicos na cidade, e há poucos
brancos que se comunicam com os índios, em sua maioria os índios que veem a ci-
dade sabem falar o português mesmo que de forma rudimentar, no entanto poucos
dos brancos sabem falar o idioma dos índios, estas afirmações partem de constata-
ções próprias sem serem objeto de pesquisa, partem apenas das observações do dia
a dia. Há também alguns estudantes indígenas cursando graduação na UFT, porém
não são muitos, neste trabalho não é possível tecer comentários sobre a participação
de brancos nas aldeias, visto que não era nosso objetivo elaborar trabalho de campo.
O objetivo destas afirmações é demonstrar que segundo o conceito de inter-
culturalidade, não se encontra em Tocantinópolis a aplicação do mesmo apesar de se
tratar de um município rodeado de terras indígenas, como então podemos praticar a
interculturalidade se em locais longe dos grandes centros urbanos onde a periferia é
indígena isto não acontece, este conceito de interculturalidade esta relegado a aca-
demia, aos tramites oficiais e burocráticos, na pratica das relações entre os povos
neste município não se apresenta. Quando BANIWA fala sobre interculturalidade, ci-
tando “(...) a possibilidade de convivência e coexistência entre culturas e identidades”
ou quando WALSH fala em “Um intercâmbio que se constrói entre pessoas”, eles es-
tão falando de povo não de dirigentes e representantes do povo, estão indo além da
fria norma expressa na LDB.
Portanto salvo esforços de poucos relacionados neste texto, mais uma vez
fica patente que não conhecemos e não queremos conhecer a outra cultura, ou talvez
em nossos esforços de conhecimento ainda estejamos muito atrelados a academia,
fazendo o trabalho cientifico antropológico, etnográfico, e possivelmente etnocentrista.
Claro que são atividades necessárias que nos possibilitam obter dados para aprofun-
dar as relações, mas a ação de pesquisa é etnocêntrica pelo próprio fato de se dizer
pesquisa, que é um conceito civilizado de conhecimento. Provavelmente não encon-
traríamos um nativo contemporâneo de Cabral se dirigindo a mata e claramente ex-
pressando que se tratava de uma excursão de pesquisa, segundo o que aprendemos
nesta disciplina, o conhecimento indígena se constrói de outra forma, para eles o co-
nhecimento vem pela convivência, e interculturalidade envolve em seu conceito con-
vivência, ou seja é um conceito menos refratário aos índios do que aos brancos.
Já o pensamento civilizado, por outro lado é diferente, e apenas como uma
referência citamos Durkheim, que por uma perspectiva sociológica, nos mostra que
temos a obrigação de nos instruir.
Há, desde já, certo número de conhecimentos que devemos possuir. Nin-
guém é obrigado a se lançar no grande turbilhão industrial; ninguém é obri-
gado a ser artista; mas todo o mundo, agora é obrigado a não ser ignorante.
Essa obrigação e, inclusive, sentida com tamanha força que, em certas soci-
edades, não é apenas sancionada pela opinião pública, mas pela lei.
(DURKHEIM, 1999 – p. 17).

Por outro lado aprendemos nesta disciplina em alguns textos, não somente
na interpretação direta destes, mas também pela observação das narrativas antropo-
lógicas que em muitas das tribos contatadas e pesquisadas o etnógrafo após a ambi-
entação é levado pelos indígenas a fazer parte da vida cotidiana com o objetivo de
conhecer os fatos, não somente em participação observante, mas também em obser-
vação participante, diferente do homem civilizado, o indígena vivencia seus conheci-
mentos e quando nos dirigimos ao seu território somos levados a aprender de forma
intercultural.
Relacionar a interculturalidade quanto a organização entre os povos indíge-
nas, é uma proposição que exige grande esforço, visto que diferentemente dos oci-
dentais, suas formas de organização são variadas, tanto no aspecto da vida diária
familiar, quanto no aspecto da coletividade, há inúmeras formas de organização vari-
ando estas em função do povo em questão, o que podemos destacar é que por não
possuírem uma tradição escrita, suas leis, seus costumes, suas medidas sanitárias,
seus relacionamentos sociais e políticos, são regulados pela transmissão oral exer-
cida por diferentes pessoas, em diferentes situações, desta forma estudar ou conhe-
cer um povo não significa conhecer todos os povos, mas apenas características dis-
tintivas entre eles. Sabemos que todos os povos tem danças, pinturas, trançados, ce-
râmicas, mas em cada um desses povos estes elementos tem diferentes significados.
Se a interculturalidade significa um processo dinâmico, um intercâmbio que
se constrói entre pessoas, conhecimentos, saberes e práticas culturalmente diferen-
tes, um espaço de negociação e de tradução onde as desigualdades sociais, econô-
micas e políticas, e as relações e os conflitos de poder da sociedade não são mantidos
ocultos e sim reconhecidos e confrontados; então estamos diante de uma empreitada
gigante, que tem a mesma dimensão do nosso pais, em aspectos demográficos e
culturais, e que nos força a tomarmos uma posição ativa diante da tarefa, qual seria a
de realmente conhecermos os nossos interlocutores.
Referências bibliográficas

BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber
sobre os povos indígenas no Brasil de hoje, Brasilia -DF Ministério da Educação, Se-
cretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Naci-
onal, 2006

LDB, Lei de diretrizes e bases da educação nacional 2a edição Brasília – 2018

CANDAU e FERRÃO, Educação em Revista | Belo Horizonte | v.26 | n.01 | p.15-40 |


abr. 2010

DURKHEIM, Émile, Da divisão do Trabalho Social, São Paulo SP: Martins Fontes,
1999

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