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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CURSO GEOGRAFIA
DISCIPLINA: ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO
PROFESSORA: LUCIANA MACIEL BARBOSA CARACAS

TEXTO 06

BARBOSA, Jorge Luiz. O ordenamento territorial


urbano na era da acumulação globalizada. In:
___. Milton Santos [el al.]. Território, territórios:
ensaio sobre o ordenamento territorial. Rio de
Janeiro: Lamparina, 2007. p.125-144
INTRODUÇÃO


Visões reducionistas de análise do urbano
– Unicamente a partir do viés estético
– Os que se colocam como projeções pouco
consistentes de cenários otimistas
– Os que se limitam a reportar uma cultura niilista

Objetivo do texto: “[…] por em causa as
premissas econômicas, políticas e culturais que
encarnam os novos projetos de cidade e
aludem às novas estratégias de ordenamento
territorial urbano
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


“A crise urbana é um retrato dos conflitos e
contradições vividos pelas sociedades
contemporâneas nas mais diferentes latitudes”
(p.125)
– Crescimento “desordenado” das cidades
– Processos de “desindustrialização” →
reordenando a estrutura profissional urbana
– Elevadas densidades demográficas
– Insuficiência dos serviços básicos
– Crescimento das migrações multiétnicas
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL

Essa visão, desenha cidades enquanto espaços
– Em decadência
– Em profundo processo de desordem
– Com apelo à tríade: lei-ordem-segurança

“A imagem cidade desordenada vem assumindo um papel
significativo na condução de práticas sociais de
intervenção e gestão das cidades, cujas consequências
mais imediatas começam a se evidenciar, como a
produção de novas formas de hegemonia social por meio
da requalificação do espaço urbano” (p.126)
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


Desenvolver críticas às representações banalizadas da
visão niilista não significa negar os conflitos e as
contradições existentes na relação tempo-espaço.

É preciso estar atento às leituras correntes sobre a
cidade, pois essas parecem empenhadas em apresentar a
cidade como espaço da desintegração de laços sociais e
da degradação mais profunda da civilidade.

CORRÊA (1995, p.9):
“Fragmentada, articulada, reflexo e condicionante
social, a cidade é também o lugar onde as diversas
classes sociais vivem e se reproduzem”.
(CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano Editora Ática, Série Princípios, 3a. edição, 1995)
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


A visão niilista do espaço urbano exalta um clichê
legitimador da estratégia urbano-arquitetônica.

Reclama-se uma nova ordem urbana capaz de restaurar o
convívio civilizado:
– Restauração e revitalização das cidades

Instaura-se um programa de regulação social que pauta-
se em:
– Simbolizam o abandono das “remodelações urbanísticas
globais”
– Intervenções pontuais e específicas (valorização da
comunidade local)
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


Nova postura urbanística:
– “impossível cuidar das cidades um todo” / são “vítimas
de seu próprio gigantismo”

“Portanto, há poucas surpresas na atual ressonância das
concepções que definem a cidade como um mosaico de
fragmentos e seu cortejo de intervenções urbanas
seletivas, orientadas para o resgate – pela requalificação
dos lugares – da “memória cultural”, dos “laços de
identidade”, da “singularidade histórica”, enfim, da “vida
comunitária”, elos considerados indispensáveis para
reconstituir a civilidade, a paz social, o progresso e,
evidentemente, atrais bons negócios, tecnologia e
empregos” (p.126/127)
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


“Configuram-se táticas difusas e descontínuas que
radicalizam desigualdades socioeconômicas e revelam,
em seu percurso de afirmação, o seu propósito nada
oculto de promover o mercado global de estilos de vida,
serviços e imagens” (p.127)

Imperativos de rentabilidade e eficiência ganham corpo
nos dispositivos urbanísticos

A racionalidade econômica valoriza o monumentalismo
arquitetônico → o agradável e a segurança
desempenham papéis decisivos

Acirram-se competições entre as cidades → mobilização
do espetáculo da cidade beautiful
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


Cenografia contra a desordem
– Construções de prédios imensos, shoppings luxuosos,
estilização decorativa de bairros, ruas e avenidas
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL

Realização de megaprojetos estratégicos (festivais
culturais e esportivos)
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


Surge um novo sentido às cidades
– Não são mais lugares para se habitar, mas para exibir

“Prefeituras de diversas cidades passam, então, a recortar os
lugares de otimização da cidade e ceder aos interesses das
firmas de “design urbano”. Como contrapartida da criação, da
instalação e da manutenção dos objetos criados, as empresas
podem utilizar o “espaço” para fins publicitários. Painéis
eletrônicos, backligths luminosos digitais, e banners recortam
horizontes para anunciar seus produtos. Serviços bancários e
comerciais, perfumes, refrigerantes, jeans e as modelos das
revistas pornográficas desfilam pelas ruas e avenidas
transformadas em grande cenários de exibição. A paisagem é
convertida, sob o primado da circulação de imagens, em um
capital móvel do consumo seletivo e de massa” (p.128)
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


Cidade → grandioso acúmulo de espetáculos publicitários

Impulsiona o consumo voraz e veloz de produtos (e
lugares)

Cidade → convertidas em
hipermercados de
símbolos do fetichismo
das mercadorias
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


“Esse processo de reestruturação urbana vem impondo às
cidades um catálogo de formas repetitivas e diluidoras das
diferenças socioculturais qualitativas”(p.129)
O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


São dessa mesma matriz urbanística:
– Reconstituição das singularidades histórico-culturais
dos lugares
– Especulação imobiliária

O URBANISMO DÉCOR CONTRA A CIDADE
DESORDENADA: CLICHÊS E RETÓRICAS DA
ESTETIZAÇÃO MERCANTIL


A estetização da paisagem combina-se ao controle e à
normatização dos corpos estranhos e rebeldes, com o
objetivo de figurar uma cidade da ordem e em oposição à
desordem. O urbanismo décor revela sua face oculta: um
poderoso instrumento de regulação coercitiva da vida social
nas cidades”. (p.130)

“Formas homogêneas começam a definir a organização
material e estética do espaço, reprimindo e condenando as
diferenças para estabelecer um processo estandartizado de
consumo como modo de vida. Trata-se de um movimento
que imprime uma perda progressiva de nossas pequenas
histórias e, com elas, perdemos também nossas
vinculações com a vida na/da cidade”. (p.131)
OS ESPAÇOS LIMINARES DA (RE) PRODUÇÃO DA
HEGEMONIA SOCIAL URBANA


Estetização urbana → estratégia para a reprodução das
hegemonias sociais
– Demarcação social de territórios exclusivistas de bem-
estar e segurança
– Gentrificação da cidade
OS ESPAÇOS LIMINARES DA (RE) PRODUÇÃO DA
HEGEMONIA SOCIAL URBANA

– Apartheid urbano → Boaventura Santos (1999, p.106)


“Trata-se da segregação social dos excluídos através de
uma cartografia urbana dividida em zonas selvagens e zonas
civilizadas. As zonas selvagens são as zonas de natureza do
estado hobbesiano. As zonas civilizadas são as zonas do
contrato social e vivem sob constante ameaça das zonas
selvagens. Para se defenderem, transformam-se em
castelos neofeudais, os enclaves fortificados que
caracterizam as novas formas de segregação urbana […]. A
divisão entre zonas selvagens e zonas civilizadas está a
transformar-se num critério geral de sociabilidade, um novo
espaço-tempo hegemônico que atravessa todas as relações
sociais, econômicas, políticas e culturais e que por isso é
comum à ação estatal e não estata.l”
OS ESPAÇOS LIMINARES DA (RE) PRODUÇÃO DA
HEGEMONIA SOCIAL URBANA


Essa cartografia urbana é alimentada a partir do apelo à
normatização da cidade diante da desordem
– Resultado: organização de estratégias locais de
afastamento dos indesejáveis

Apartheid urbano → defender o cidadão-consumidor da
“barbárie” instaurada pela desintegração do tecido social e
das ameaças de não-governabilidade da cidade
desordenada
– Busca a invenção da vida comunitária a partir do
redesenho dos lugares
OS ESPAÇOS LIMINARES DA (RE) PRODUÇÃO DA
HEGEMONIA SOCIAL URBANA


Com base em Sennett (1988): “A escala do privado se
impõe e reduz as relações sociais nos marcos de
concepção degradada de comunidade. Os considerados
forasteiros, desconhecidos e dessemelhantes tornam-se
criaturas a serem evitadas ou rejeitadas pelo “exclusivism
comunitário”. O ato de compartilhar as experiências
societárias é recortado pelas decisões sobre quem pode e
deve pertencer ao território “comunal””. (p.133)

A cidade, portanto, perde o papel de espaço de encontros
encontro → esvaziamento da cidade como espaço de
mediação entre o público e o privado → crise da
sociedade urbana contemporânea
OS ESPAÇOS LIMINARES DA (RE) PRODUÇÃO DA
HEGEMONIA SOCIAL URBANA


As atuais intervenções urbanas produzem espaços atraentes
e competitivos → valor de troca

“Colunas góticas e pórticos barrocos podem se misturar com
arcos otomanos em edifícios com fachadas de vidro fumê que,
por sua vez, se assemelham às pirâmides egípcias. Tudo se
parece com nada. Porém, sob a aparência enganosa da “falta
de estilo”conjuga-se uma tomada ordenadora de territórios
urbanos, como atributo exclusivo da mercadoria.” (p.135)

OS ESPAÇOS LIMINARES DA (RE) PRODUÇÃO DA
HEGEMONIA SOCIAL URBANA


As formas, as imagens não são eternas. Os cenários são
descartáveis → “o principio dominante da forma é não ter
forma alguma” (p.135)


“A fluidez necessária ao processo de produção/consumo
requer paisagens em constante mutação,
desvinculadas de identidades historicamente construídas
e disponíveis para a representação estética da
mercadoria” (p.136)
A LÓGICA GLOBAL-LOCAL DO ORDENAMENTO
TERRITORIAL URBANO


Na contemporaneidade, a intervenção na escala local é
prioritária para a realização de ações globalizantes

Os lugares enquadram-se como lugares flexíveis de
alocação de recursos

Novas hierarquias urbanas se constituem a partir das
escolhas locacionais

Receituário do planejamento estratégico urbano a partir da
fórmula “Estado mínimo / empresariamento máximo”:
– Participação de empresas privadas na construção e na
alocação de infraestruturas e equipamentos como
solução para acrise de financiamento estatal;
A LÓGICA GLOBAL-LOCAL DO ORDENAMENTO
TERRITORIAL URBANO

– Reforma fiscal e redução do défict público das


municipalidades para a atração de recursos
financeiros;
– Proteção ambiental por meio de instrumentos de
requalificação urbana e de redução da pobreza.


“Na verdade, as cidades precisam acompanhar a
segmentação da produção originada pela divisão técnica
do trabalho flexível e se manter subordinadas à gestão em
fluxo contínuo das corporações empresariais” (p.138)
O ORDENAMENTO TERRITORIAL DO MERCADO
DE TRABALHO URBANO


Grande desafio do mundo pós-moderno:
→ “viver em plena estetização do mercado de força de
trabalho, cujos critérios de inclusão/exclusão são
balizados pelo “espírito competitivo”, pela “rentabilidade
pessoal” e pela “performance individual””. (p.140)

Nomadismos, migrações multiescalares e pluralização
técnica dos trabalhadores
– São a nova face da acumulação capitalista → apoiada
na generalização do trabalho intensivo e temporário
– Vínculos flexíveis com a empresa, com os colegas de
trabalho e com os lugares
O ORDENAMENTO TERRITORIAL DO MERCADO
DE TRABALHO URBANO


“Essa nova “sociabilidade” acomoda-se perfeitamente aos
requisitos de competitividade e produtividade comuns à
flexibilização do mercado de trabalho e de bens e de
capitais, como também responde, no plano ideológico,
pela (re)totalização do espaço homogêneo que radicaliza
a dispersão dos corpos (segregação territorial) e a
desintegração da vida social (trabalho, cultura, ludicidade,
sexo, prazer e gozo). É em função desse novo/velho
projeto de hegemonia social que a cidade “democrática”
deve abrir-se às novidades e acatar a “volatividade e
efemeridade de modas, produtos, técnicas de produção,
processos de trabalho, ideias e ideologias, valores e
práticas estabelecidas” (Harvey, 1993, p.258)” (p.141)
EM BUSCA DE OUTRO SENTIDO PARA A CIDADE


A cidade demonstra, simultaneamente, as condições de
reprodução do capitalismo, assim como as resistências às
mudanças impostas a espaço pelo regime de acumulação
de riqueza e poder.

Segundo Corrêa (1995, p.09)
“[…] o quotidiano e o futuro próximo acham-se
enquadrados num contexto de fragmentação desigual
do espaço, levando aos conflitos sociais, como as
greves operárias, as barricadas e os movimentos
sociais urbanos. O espaço da cidade é assim, e
também, o cenário e o objeto das lutas sociais, pois
estas visam, afinal de contas, o direto à cidade, à
cidadania plena e igual para todos”.
EM BUSCA DE OUTRO SENTIDO PARA A CIDADE


“Os lugares são espaços do agir e da participação nos
destinos da cidade” (p. 143)

Os lugares “resultam do encontro entre próximos e distantes,
entre conhecidos e desconhecidos e entre semelhantes e
dessemelhantes: um
espaço de visibilidade
para a fala e para a ação
de homens e mulheres
concretos que revela o
que somos e principalmente,
quem somos” (p.143)
EM BUSCA DE OUTRO SENTIDO PARA A CIDADE


“É nesse sentido que precisamos acreditar em nossa
capacidade de criação de ações políticas, sobretudo as que
permeiam os atos solidários quem fazem da cidade o
espaço da vida social em conjunto e, a partir disso, construir
um processo radical de reapropriação ética e estética da
urbis” (p.144)
DESAFIO:
“enfrentamento político da
rudeza da realidade social
e da alienação cultural que
o ordenamento territorial
globalizado impõe” (p.
144)

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