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Sistemas de Iginição em Armas de Fogo

por Carlos F. Paula Neto

Desde os primórdios da invenção da pólvora que achar uma maneira de fazê-la entrar em combustão sempre foi
o maior desafio dos inventores de armas de fogo. Haviam vários pontos a serem levados em conta no projeto de
uma arma de fogo, tais como a proteção contra água e sujeira e não menos importante, a proteção de quem a
manuseava. Nos antigos canhões de mão, que na verdade não passavam de simples canos fundidos em ferro,
latão ou bronze, com uma extremidade fechada e outra aberta, introduzia-se a pólvora pela boca do cano,
socava-a para compactá-la, logo em seguida uma bucha (papel, estopa, etc.) e por último o projétil,
normalmente um balote esférico de chumbo.

(Foto: um rudimentar "canhão de mão")

A parte posterior do cano, a extremidade fechada, possuía um orifício, saída de um canal que ligava a câmara de
combustão com o exterior.

Normalmente usava-se um tipo de pavio, algo semelhante a um barbante de combustão lenta, aceso em uma
extremidade, cuja brasa o atirador introduzia no orifício, já cheio de pólvora, que causava a ignição da pólvora
contida no canal e posteriormente à toda a carga contida no interior da câmara. Qualquer coisa semelhante
funcionaria além do pavio, tal como um graveto ou um palito de madeira incandescente. Esse sistema começou
a ser utilizado por volta de 1350-1380, sendo que data de 1339 a primeira referência da existência de um
canhão de mão portátil.

Obviamente a engenhosidade das pessoas não iria parar tão cedo, se contentando com algo tão incômodo. Para
melhorar um pouco as coisas, alguém teve a idéia de fixar o cordão de mexa em um suporte móvel, de forma
que ao ser manuseado, atingisse diretamente o orifício. Com isso, o atirador ficaria com um pouco mais de
liberdade para se dedicar ao alvo. Surgiu então, por volta do ano de 1400, o sistema de mecha, universalmente
denominado de "match-lock".

Abriremos aqui um parêntese sobre essa nomenclatura e significado. Indubitavelmente a língua inglesa, no
âmbito da literatura mundial sobre o assunto, é a mais utilizada em publicações, sejam livros ou revistas. Essa
popularização leva os autores que não são de origem anglo-saxônica a empregar também os termos na língua
inglesa, evitando traduzir para a sua língua nativa, mesmo porque, em alguns casos, essas traduções não
conseguem expressar exatamente a idéia do significado correto. Neste artigo, dentro do possível, tentarei
também utilizar os termos que são mais utilizados nas publicações do gênero, em nossa língua. De qualquer
forma, o termo "lock", utilizado para discriminar esses sistemas, significa a grosso modo, fecho, ou mecanismo.
Voltando então ao "match-lock", podemos chamá-lo de sistema de mecha. Surgiram dezenas de idéias e
variações sobre o mesmo tema. O mais comum, entretanto, possuía um suporte em forma de gancho, uma peça
análoga ao atual "cão" de uma arma, em cuja extremidade fixava-se a ponta do cordão (pavio) para depois
acendê-lo.

Na medida que a mecha ia se consumido, o atirador fazia o avanço manual do pavio para que sua ponta sempre
ficasse com o mesmo comprimento. No caso do desenho ao lado, vemos que o suporte da mecha é uma peça de
metal que se articula em um eixo. Com o auxílio de uma mola de aço em forma de V, o cão podia ser mantido
fixo tanto na posição armado como desarmado. A assim chamada caçoleta é uma pequena cavidade lateral, de
cujo interior sai um duto que atravessa a parede do cano e atinge a parte interna.

Colocava-se pólvora nesta caçoleta após a carga habitual da arma. Alguns exemplares mais sofisticados usavam
uma pequena tampa que cobria ou não a caçoleta ajudando a manter a pólvora no lugar e protegendo-a. Os
últimos exemplares de pistolas de mecha já usavam um gatilho, nos moldes atuais, que permitiam que o "cão"
abaixasse sobre a caçoleta liberado por esse gatilho, não sendo mais necessário que se usasse uma outra mão.
Lembramos aqui que esses sistemas que vamos demonstrar eram utilizados tanto em armas longas, como os
bacamartes, mosquetes e fuzis, como também em armas curtas, como as pistolas, praticamente com o mesmo
tipo de mecanismo. Quase que sem exceção, todos esses sistemas que obtiveram maior aceitação foram
desenvolvidos em países da Europa Central, principalmente na Espanha, França, Itália, Inglaterra, Alemanha e
Áustria.

Entretanto, logo se percebeu as grandes desvantagens do sistema de mecha. O cordão tinha que estar
constantemente ajustado na sua posição; a mecha se apagava por vários motivos, principalmente na chuva ou
com umidade excessiva. Por causa disso, geralmente o pavio era aceso nas duas extremidades, por garantia. O
tempo de disparo, desde o ato de puxar o gatilho até o tiro propriamente dito, era longo demais. As falhas
também eram constantes por excesso de sujeira e entupimentos. Lembramos que nesta época a pólvora
existente ainda era muito rudimentar, com produção de muita de fumaça e de resíduos. Alguma coisa deveria
ser feita para que esses problemas diminuíssem ou deixassem de existir.

Por volta de 1500, credita-se ao grande artista e inventor Leonardo da Vinci os esboços dos primeiros projetos
de uma arma "wheel-lock", ou seja, o sistema de rodete. A engenhosidade e praticidade deste mecanismo é
surpreendente.
Ao invés de mecha, fixada ao cão, usava-se um tipo de pedra, a pirita, envolta em um pedaço de tecido ou
couro, para melhor fixação, e presa numa pinça provida de duas garras, fixadas através de um parafuso de
aperto.

O sistema de disparo, onde já se usava um gatilho, baseava-se em uma roda de ferro, serrilhada em toda a sua
borda, semelhante à uma moeda de hoje, mas em tamanho maior. O eixo desta roda possuía uma mola de
tensão, espiral ou de lâmina.

Usando-se uma chave similar a utilizada para dar corda em um relógio antigo, girava-se a roda numa volta
completa até ser travada pelo gatilho. Carregava-se a arma como de costume, colocando-se depois um pouco de
pólvora na caçoleta. A pirita era então posicionada sobre a roda. Em alguns modelos, o cão com a pirita era
baixado ao apertar do gatilho. Ao se puxar o gatilho a roda era liberada e girava velozmente pela ação da mola.
A pirita, pressionada sobre a lateral serrilhada da roda, causava uma grande chuva de faíscas que detonavam a
pólvora da caçoleta. Algo que nos remete ao simples e popular sistema usado nos atuais e pequenos isqueiros à
gás. Com isto, eliminava-se as inconveniências do sistema de mecha, porém, alguns problemas permaneciam e
continuariam a atormentar os atiradores por longas décadas a fio: o retardo na ignição e a vulnerabilidade à
umidade e sujeira. Além disso, a pirita também necessitava de ajustes constantes, devido ao seu desgaste. A
pistola de rodete mais antiga de que se tem notícia data de 1526, mas devem ter existido exemplares de
fabricação experimental um pouco antes disso.

Magnífico exemplo de pistola de rodete de fabricação alemã, data desconhecida.

A pistola de rodete nunca foi muito popular, principalmente em uso militar. Era de fabricação muito cara e
necessitava algumas operações que requeriam precisão. Não é à toa que muitas delas foram feitas por
relojoeiros. Acabou se tornando uma arma de elite, de pessoas abastadas e de oficiais. A mecha continuou seus
dias sendo usada, mesmo depois do aparecimento das primeiras armas de rodete.
Por volta de 1560, tem-se notícia do aparecimento de um novo sistema de ignição que trazia alguns benefícios
sobre o sistema de rodete. Na verdade, esse sistema chamado de " flintlock" deve ser
explicado separadamente em suas tres versões principais: o sistema snaphaunce, o sistema miquelet e o
sistema flintlock, propriamente dito. As armas que utilizam quelquer um desses sistemas são denominadas
armas de pederneira. Chega a ser difícil de entender como esse sistema, tão elementar e simples, pudesse ter
surgido após o complicado mecanismo das pistolas de rodete. Alguns autores acreditam que isso tem a ver
com o fato que, nesta época, a evolução dos relógios de corda estava a pleno vapor. Talvez isso tenha
influenciado os armeiros de uma forma ou de outra.

O sistema snaphaunce foi o primeiro a utilizar um cão, bem similar ao que conhecemos hoje, contando também
com uma pinça ajustável em sua extermidade. Nesta pinça, e envolta em um pedaço de couro, montava-se a
pedra, agora usando-se o sílex ao invés da pirita. Embora há uma controversa com mais de 300 anos de
idade, acredita-se que o termo snaphaunce se deriva do holandês schnapp-hahn, que literalmente significa galo
que bica. Usava-se também diversas formas para a mesma palavra, tais como chenapan (Itália e Espanha) ou
schnauphance, dependendo da sua região.

A caçoleta continuava a existir, com um orifício que se ligava, através de um duto, ao interior do cano. Só que ao
invés de uma roda giratória, usava-se uma peça de aço com um anteparo ranhurado, articulada e fixada sob
ação de uma mola, que servia como o elemento gerador das faíscas. Com a queda do cão, o sílex, golpeando
essa superfície rugosa com violência, gerava grande quantidade de faíscas ao mesmo tempo que arremessava
essa peça para trás. Uma pequena tampa também se deslocava, expondo a caçoleta cheia de pólvora. Era um
sistema de desenho limpo e elegante, com grande parte das peças ocultas para a face interior da arma.

(Foto: Um belíssimo exemplar de fecho


snaphaunce, arma fabricada na Alemanha em 1685)
A variação miquelet teve sua origem na Espanha, na região mediterrânea. Seu nome parece originar de
migueletes, que era uma espécie de tropa militar que utilizava essas armas nos Pirineus. A semelhança com o
sistema snaphaunce era grande mas a maior diferença era na posição das molas, geralmente posicionadas pelo
lado de fora do fecho. A maior novidade foi alterar o sistema para que a própria peça ranhurada também
servisse de tampa para a caçoleta, o que eliminou e simplificou o desenho. As pistolas com o sistema
denominado de miquelet começaram a surgir, em 1580, no sul da Europa.

A partir desta época, a grande maioria das forças militares de diversos países já adotavam e usavam pistolas
como essas, regularmente. A engenhosidade e criatividade de diversos armeiros europeus foi responsável por
surgir centenas de variações sutis do mecanismo básico. Cada um deles tinha suas particularidades, inclusive
uma pistola e um mosquete de pederneira com um sistema de retrocarga, ou seja, utilizavam uma espécie de
alavanca dotada de uma rosca, na parte traseira do cano, que podia ser aberta para que, por ali, se colocasse a
carga de pólvora e o projétil. Essa arma foi desenvolvida por volta de 1650 por Marin le Bourgeois e por alguns
outros armeiros da época.

Até cerca de 1700 o sistema pederneira era quase que 100% adotado por qualquer potência militar e seu uso se
disseminou pelo mundo. Em 1723 já era muito comum mosquetes de retrocarga, mais rápidos de carregar e que
foram adotados pelos exércitos da Áustria e França. Em 1776 o inglês Patrick Ferguson idealizou um fuzil de
retrocarga largamente utilizado por unidades do Exército Britânico.

O sistema "flint-lock" puro, por assim dizer, era uma mistura de projetos e desenhos oriundos dos outros dois
sistemas. O aperfeiçoamento era mais notado no formato da chapa ranhurada, de menor proporção, e com um
perfil que fechava com muito mais eficiência o acesso à caçoleta. Isso evitava que um soldado, em corrida a
cavalo ou a pé, perdesse uma certa quantidade de pólvora que caísse para fora da arma.
Um dos maiores problemas das pistolas de pederneira, de qualquer um dos sistemas, era o clarão e o excesso de
fumaça criado no momento do disparo, tanto oriundo da boca do cano como do fecho.

Os atiradores eram constantemente atingidos por labaredas e fagulhas no rosto e nos braços, principalmente os
que utilizavam armas longas, devido à proximidade do rosto com o fecho da arma. Além disso, além da fumaça
deixar a visada do atirador completamente obstruída por vários segundos, a ponto de que eles não sabiam
imediatamente se haviam acertado o alvo ou não, se tornavam alvo fácil ao inimigo pois sua presença era
facilmente detectada pela fumaça. A maioria dos atiradores fechava os olhos no momento do disparo, com receio
de que fagulhas atingissem os olhos. Em dias de pouco vento ou temperatura baixa, a dissipação da fumaça era
muito lenta, o que deixava quase toda uma guarnição de soldados sem visibilidade adequada. No período que
antecedeu o século XIX, inúmeros fabricantes de armas, a maioria fornecedores dos exércitos de vários países,
se apegaram a um novo e rentável nicho de mercado: as armas artesanais. É impressionante ainda hoje, ao se
examinar uma peça ricamente adornada, a que ponto chegava a arte da gravação e da incrustação de pedras
preciosas, ouro e prata. Membros de altos escalões dos governos, reis e príncipes, mercadores e abastados
senhores feudais, todos eles tinham prazer em possuir uma arma adornada sob encomenda, um exemplar único,
ímpar.

Um dos mais famosos exemplos de flintlock do mundo - o mosquete "Brown Bess", utilizado pelo Exército
Britânico por quase 200 anos - modelo de fabricação Grice de 1762
Um exemplo de "estado da arte" num belíssimo fecho flintlock fabricado pelo britânico Patrick Ferguson, modelo
de retro-carga - o guarda-mato podia ser rotacionado no sentido anti-horário para que a culatra ficasse exposta
para a inserção do projétil e carga de pólvora.

O sistema de pederneira ficou em serviço por cerca de 200 anos, tanto em uso militar como em armas de defesa
e de caça. Mas eis que chega o século XIX. Nas terras altas da Escócia, nos idos de 1805, o Reverendo
Alexander John Forsyth, natural de Belhelvie, região de Aberdeenshire (1768-1843), mal sabia que as suas
caçadas iriam revolucionar o mundo das armas de fogo. Químico de formação a apaixonado por caça, tinha
muito a reclamar das caças perdidas devido à ignição retardada de suas armas e o excesso de clarão e fumaça,
que as afugentava antes até de que fossem atingidas. Dedicou-se então a desenvolver um sistema de ignição
que fosse, de certa forma, enclausurado e mais protegido.

Entretanto, ele tomou conhecimento que, em 1800, o inglês Edward Charles Howard (1774-1816) havia
descoberto as propriedades dos fulminatos, sais obtidos por meio da dissolução de metais em ácidos, como o
mercúrio. O fulminato de mercúrio, por exemplo, tinha a interessante propriedade de entrar em combustão
quando sofresse um impacto, ou um esmagamento. A princípio, achava-se que essas fórmulas poderiam
substituir a pólvora como propelentes, mas eram excessivamente explosivos e muito corrosivos. Porém, em
1807, o Rev. Forsyth deslumbrou aí o gigantesco passo que ele daria em prol do desenvolvimento de armas de
fogo.

Desenvolveu um tipo de fecho, que possuía algo semelhante a uma pequena garrafa, feita de metal, que
articulando través de um parafuso, podia ser girada para cima e para baixo; era montada do lado de fora do
fecho. Dentro dela, carregava-se uma quantidade de fulminato de mercúrio em pó, o suficiente para uns cinco
disparos. Quando se girava a garrafinha, uma porção exata de fulminato, suficiente para um disparo, ficava
disponível sob uma espécie de percussor. O cão, golpeando a cabeça protuberante deste percussor, causava a
ignição do fulminato. Um duto levava a chama para o interior da câmara, causando a explosão da carga de
pólvora.
Desta maneira, Forsyth conseguiu solucionar de uma só vez alguns dos problemas mais inconvenientes de
então: a exposição da pólvora na caçoleta (que não mais existia) à umidade, entupimento do duto por excesso
de resíduos, a ignição espalhafatosa com excesso de fagulhas, labaredas e fumaça, problemas com a perfeita
fixação de pedras e seus constantes ajustes por desgaste.

De quebra, devido à rapidez da combustão do fulminato e a mais curta distância do duto condutor do fogo, o tiro
saía mais rápido, que é o evento chamado tecnicamente de " lag-time". Ele indica, na prática, o tempo que
transcorre desde o ato de se puxar o gatilho ao disparo da arma propriamente dito, o que nos dias de hoje,
digamos, é algo instantâneo.

Convém deixar claro de que não foi Forsyth o inventor da espoleta em forma de cápsula, tal como veio a ser
inventada posteriormente. Existem vários candidatos ao posto de inventor da cápsula de fulminato, a conhecida
espoleta, usada até mesmo nos dias de hoje.

O imigrante inglês Joshua Shaw,o mais plausível deles, Peter Hawker, James Purdey e Joseph Manton, dentre
outros. Por volta de 1820, algum deles havia colocado uma pequena porção de fulminato de mercúrio, clorato
de potássio e enxofre, devidamente acondicionada em uma camada no fundo de uma pequena cápsula, e que
podia ser detonada por esmagamento contra uma bigorna perfurada, o popularmente chamado "ouvido".

O sistema passou por inúmeros aperfeiçoamentos, inclusive algo bem simples que foi o desenho de um cão com
um grande recesso em sua parte frontal, de forma a envolver totalmente a cápsula de fulminato, evitando mais
ainda a presença de faíscas e o lançamento de pequenas rebarbas de metal oriundas desta pequena explosão.

A partir de 1830, esta invenção havia revolucionado a fabricação de armas, tanto longas como curtas. Era um
sistema barato de fabricar, eficiente, e permitia o desenvolvimento de armas até então quase impossíveis ou
impraticáveis, como um rifle ou um revólver de repetição. O sistema também proporcionou a facilidade de se
converter armas de pederneira para este novo sistema, com pequenas e não dispendiosas mudanças no
mecanismo. Uma nova e próspera era para os fabricantes de armas, começava.
Par de pistolas de percussão inglesas, feitas pelo armeiro John Harman, de Londres, em 1729 - este par foi
encomendado pessoalmente por Frederico, o Grande. Os entalhes são em prata e ouro.

Caixa com par de pistolas de pederneira, fabricação inglesa de 1780, com todos os acessórios

Foi a invenção da percussão, sem dúvida, que realmente abriu a imaginação dos inventores para diversas
soluções antes inimagináveis. O sistema, pela sua simplicidade e poucas peças, permitia projetos ousados,
embora alguns tenham sido mirabolantes (veja nosso artigo "Curiosidades dos Tempos da Percussão", neste
mesmo site). Isso propiciou a criação de uma das mais importantes armas da história: o revólver de percussão
modelo Paterson, de Samuel Colt.

(Foto: revólver de percussão Colt modelo


Navy, de 1851)
Apesar de já terem existido antes algumas pistolas utilizando um tambor rotativo usando sistema de percussão,
como as chamadas "pepperboxes", foi o Colt modelo Paterson que revolucionou tudo o que veio depois dele, o
que se chama hoje de revólver. Ele foi o pai de todos os demais modelos e cópias que vieram ao mundo
posteriormente aquele ano de 1836. Esta famosíssima arma usava um tambor composto de seis orifícios,
fechados na sua parte posterior e cada um dotado de um ouvido rosqueado.

Cada orifício era carregado utilizando-se uma ferramenta que se encaixava na arma e servia como alavanca.

Colocava-se então a pólvora, uma pequena bucha e o projétil de chumbo, tudo isso pressionado pela alavanca.
Finalmente, encaixava-se uma espoleta em cada ouvido.

O revólver era de ação simples, um sistema que a Colt usou por décadas, até século XX e foi, sem dúvida
alguma a primeira arma curta realmente eficaz e segura. O gatilho era escamoteável, uma pequena lingueta que
só surgia da parte inferior da arma quando o cão era engatilhado.

Além disso, diversas armas foram desenvolvidas para diversos fins, tanto curtas como longas. Entretanto, a era
do cartucho metálico estava se aproximando. Nesta oportunidade, diversas armas de percussão já usavam
cartuchos de papelão ou pequenos papelotes de pólvora que facilitavam a recarga. Surgiram também diversos
projetos de armas longas com carregamento pela culatra.
Em 1829, Johann Nicholas Dreyse lançou um revolucionário sistema de percussão utilizando um longo percussor
que disparava uma espoleta localizada na parte dianteira de um cartucho de papel. Foi o famoso fuzil apelidado
de "needle-gun", ou fuzil de agulha. O fuzil de Dreyse iria, por sua vez, revolucionar as armas longas militares
que surgiriam daí para a frente.

Já em 1828, antes até do Colt Paterson, Casimir Lefaucheaux inventou um cartucho metálico composto de um
projétil, carga de pólvora e uma espoleta totalmente embutida.

A pequena cápsula se situava na parte traseira do cartucho e era detonada por um pino cuja extremidade saía
para fora. O cão da arma, que bem se assemelhava a um martelo, batia de encontro ao pino, o qual detonava a
espoleta no interior do cartucho. A desvantagem deste sistema consistia no fato de que os cartuchos, quando
inseridos na arma, tinham uma posição fixa determinada pelo pino. Além disso, o pino era protuberante de
forma que um impacto acidental no mesmo poderia detonar o cartucho ao ar livre.

Mesmo assim, armas do sistema "pin-fire" foram largamente utilizadas em conflitos na Europa e inclusive foram
disseminadas nos Estados Unidos durante a Guerra Civil.

Uma quantidade enorme de revólveres e pistoletes usando a munição de Lefaucheux foi fabricada, apesar de
suas desvantagens quanto à segurança. Entretanto, era inegável ser um sistema de carregamento muito mais
rápido e fácil do que uma arma de percussão, principalmente se fosse com capacidade de vários disparos.

Outra solução interessante, mas pouco utilizada pelos frequentes problemas de falha foi o cartucho utilizado nas
pistolas Volcanic, fabricadas nos USA a partir de 1855, cartucho este denominado de " rocket ball", ou algo como
"bala foguete". O cartucho, desenvolvido na época pela Smith & Wesson baseado na invenção de Walter Hunt,
era na verdade um projétil auto-propulsado, com uma espoleta na parte posterior. Ao ser detonada por um
percussor, a espoleta incendiava a pólvora contida dentro do projétil, e a peça toda saía pelo cano. Na verdade,
não havia um cartucho mas sim, só um projétil.

Esse sistema possuía vários problemas de falha no disparo e a sua potência, devido à pouca quantidade de
pólvora no projétil, era muito fraca comparada à outras armas da época. Entretanto, independente do fato do
cartucho ter falhas, foi por causa desta arma e de seu engenhoso sistema de repetição por ação de alavanca e
carregador tubular que, mais tarde, viríamos a conhecer uma das mais importantes armas da história dos
Estados Unidos da América: os famosos rifles Winchester.

Um sistema muito pouco difundido mas que tinha seu mérito era o chamado "tape-primer". Um revólver a
tambor inventado por um dentista de Washington, Edward Maynard, em 1845, utilizava um sistema muito similar
ao de percussão tradicional mas, ao invés de utilizar uma espoleta de metal que teria que ser colocada uma a
uma em cada ouvido usava uma fita de papel com fulminato depositado em forma de grandes gotas.
(Foto: uma pistola militar de percussão norte-americana Springfield, de 1855, utilizando o interessante sistema
de tape-primer)

A tira de papel era enrolada e colocada numa cavidade dentro da armação do revólver. Na medida que se
disparava a arma, a fita era empurrada para fora e posicionava uma nova "espoleta" sobre cada ouvido,
disparando a carga. Acho que todos se lembram daqueles revólveres de espoleta de fita, com os quais
brincávamos de "cowboys" na infância; pelo menos os leitores com mais de 50 anos certamente se recordam
deles.
O sistema denominado de "rim-fire" surgiu nos idos de 1831. Ao invés de se utilizar uma espoleta como um
componente em separado, o anel ou borda posterior do cartucho, que também serve como retém para que o
cartucho não trespasse o orifício da câmara, era recheado de fulminato. Quando o cão da arma atingia essa
borda ela era esmagada contra si mesma, detonando a espoleta. Não havia, pois, a necessidade de se usar um
anteparo qualquer, como a bigorna que se utiliza até hoje nos cartuchos de fogo-central modernos. Com o
tempo, apesar de terem sido usados em calibres altos como o .44 Winchester, usado no rifle modelo 1866, hoje
em dia o sistema ficou relegado ao calibre .22, popularíssimo e de muito baixo custo, mas não possibilitando a
recarga como é possível nos cartuchos de fogo-central.

O sistema de cartucho de fogo-central, em uso até os dias de hoje, surgiu nos Estados Unidos. Em 1866, o
norte-americano Hiram Berdan patenteou um cartucho de metal com uma espoleta embutida em sua parte
posterior, originando assim os cartuchos de fogo-central da atualidade. Um ano depois, seu conterrâneo Edward
Boxer desenvolveu um cartucho de metal com espoleta embutida, similar ao de Berdan mas com a diferença de
que Boxer utilizava uma bigorna separada, enquanto que no sistema de Berdan a bigorna fazia parte integrante
do cartucho.

A chamada bigorna é a peça necessária, contra a qual ocorre o esmagamento do fulminato quando a espoleta é
atingida pela agulha do percussor. As idéias de Berdan e de Boxer ditaram até os dias atuais toda a base em que
se apoiam os cartuchos metálicos, exceto para os de calibre .22, como já dito acima.
Em 1873, surgiu nos Estados Unidos uma de suas armas curtas mais importantes: o revólver Colt Single Action
em calibre .45, um cartucho de metal de fogo-central. É desnecessário falar da importância histórica desta arma,
apesar de que os revólveres Colt já faziam história naquele país desde o modelo Paterson de 1836.

Praticamente podemos afirmar que, desta época até os nossos dias, o cartucho em si não se alterou, pelo menos
em sua concepção básica. Evidentemente, houve a importante evolução da pólvora negra para a pólvora sem
fumaça, algo que ocorreu nos anos finais do século XIX. No início do século XX, o uso de pólvora negra, pelo
menos militarmente, foi quase que totalmente eliminado. Os cartuchos de caça ainda mantiveram o uso desta
pólvora por algum tempo até que por volta da década de 30, pelo menos nos países desenvolvidos, seu uso
acabou de vez. Ficou relegada a segundo plano, para uso em armas obsoletas, espingardas antigas de ante-
carga e pistoletes de dois canos (como as famosas garruchas existentes por aqui). Com a pólvora sem fumaça
surgiram centenas de formulações o que alavancou a indústria de cartuchos e a criação de novos calibres, cada
vez mais potentes sem comprometer a portabilidade da arma.

Os projéteis também sofreram várias transformações, sendo produzidos tanto para uso militar como para uso
civil em diversas modalidades, específicas para a utilidade a que eram destinados. Este site pretende, em breve,
disponibilizar um artigo onde trataremos o assunto cartuchos e projéteis com muito mais profundidade.

Sistemas de Iginição em Armas de Fogo

por Carlos F. Paula Neto

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