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2018
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Sumário
TEMA 1
TEMA 2
Hermenêutica constitucional 27
TEMA 3
TEMA 4
entre regras e princípios a partir das teorias de Ronald Dworkin e Robert Alexy.
• Refletir acerca das críticas propostas por Lenio Streck a partir da análise do constitucionalismo
2. Introdução
A presente aula tratará das normas constitucionais no contexto contemporâneo. Neste sentido,
parte-se de uma das ocorrências mais importantes do século XX no âmbito do Direito Constitucional:
Nasce, assim, a ideia de força normativa da Constituição, como um documento supremo e pro-
tegido por instrumentos efetivos de controle de constitucionalidade, o que gera, com efeito, uma
A partir da força impositiva das normas constitucionais, postulados ético-morais ganham força
vinculativa e passam a ser objeto de definição pelos juízes incumbidos desta jurisdição.
Consolidou-se na Teoria do Direito, em especial no que se refere ao Direito Constitucional, que o gênero
“normas jurídicas” comporta, em meio a outras definições, duas grandes espécies: regras e princípios.
Dworkin e Alexy buscaram esclarecer que a distinção entre regras e princípios não se refere sim-
Será analisada, assim, nesta aula, a posição de Ronald Dworkin, segundo a qual princípios e
regras possuem uma distinção de natureza lógica, os dois correspondem a conjuntos de padrões que
apontam para decisões particulares acerca da obrigação em circunstâncias específicas, mas diferen-
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De igual forma, a teoria de Robert Alexy que diferencia princípios e regras tem como ponto mais
importante o fato de que os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior
medida possível dentro das possibilidades, sendo, para o autor, “mandamentos de otimização”.
Tal diferenciação entre princípios e regras se torna importante para compreender os casos de coli-
sões entre princípios e conflitos de regras, que serão analisados no decorrer desta aula.
Por fim, visando ampliar a análise do tema, será observada a posição de Lenio Streck e sua crítica
3. Normas constitucionais
Uma das ocorrências mais importantes do século XX, no âmbito do Direito Constitucional, é o
reconhecimento do status de norma jurídica à Constituição. Não se fala mais em norma constitu-
cional apenas com caráter essencialmente político ou apenas como um convite à atuação, como
norma apenas dirigente. Até então, nas palavras de Barroso (2015), vigorava a centralidade da lei e
a supremacia do Parlamento, mas após a Segunda Grande Guerra Mundial, veio a se difundir e, hoje,
por instrumentos efetivos de controle de constitucionalidade. O autor pontua, neste sentido, que a
partir desta força normativa da constituição resultam três consequências relevantes: a) a aplicação
direta e imediata das normas constitucionais às situações que comtempla, em especial as normas
nam como parâmetro de validade das demais normas jurídicas do ordenamento, controle que pode
ser submetido ao crivo das cortes constitucionais, comum na maior parte das democracias ociden-
a ser desenvolvida.
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Nas palavras de Mendes (2017), é marca do instante atual a superioridade da Constituição, à qual
Além disso, a constituição absorve valores morais e políticos, em especial num sistema de direitos
fundamentais autoaplicáveis. Há, assim, uma ampliação do poder relativo à jurisdição constitucional
lização da constituição e da força impositiva das normas constitucionais. Neste sentido, postulados
ético-morais ganham força vinculativa e passam a ser objeto de definição pelos juízes incumbidos
desta jurisdição, que nem sempre dispõem de critérios objetivos de fundamentação, preestabeleci-
dos pelo próprio ordenamento jurídico. Aos fatores apontados, diversos autores dão o nome de “neo-
constitucionalismo”.
gênero “normas jurídicas” comporta, em meio a outras definições, duas grandes espécies: regras e
princípios.
Alexy (2008, p. 87) define a norma como “razões para juízos concretos de dever-ser”, assim,
tanto as regras como os princípios são normas jurídicas, pois ambos dizem o que deve ser, ainda que
de espécies muito diferentes, a distinção entre regras e princípios, com efeito, é uma distinção entre
Nas palavras de Barroso (2015, p. 238-239), trata-se de uma distinção qualitativa essencial no
aos princípios constitucionais. Nas palavras do autor, os princípios constitucionais são a porta pela
qual os valores “passam do plano ético para o mundo jurídico” e são alçados ao centro do sistema
Neste mesmo sentido, para Mendes (2017), tanto regras quanto princípios, em geral, são vistos
como espécies de normas, pois ambos descrevem algo que deve ser, valem-se de categorias deon-
tológicas comuns às normas: são mandados, permissões ou proibições. Porém, é muito comum bus-
car-se a distinção entre regras e princípios a partir de vários critérios, dentre eles o da generalidade
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ou da abstração, segundo o qual os princípios seriam normas com teor mais aberto que as regras,
próximo a esse critério, poderia se falar também em distinção pelo grau de determinabilidade dos
casos de aplicação da norma, em que os princípios seriam normas que necessitam de mediações
aplicação imediata. Por outro lado, a separação entre regras e princípios pode ser tida por um critério
de importância da norma para o sistema jurídico, sendo o princípio o fundamento de outras normas.
Tornou-se, a partir deste novo prisma, de relevante importância a análise da distinção entre
regras e princípios, o que veio à tona a partir das teorias formuladas pelo filósofo do direito norte-a-
mericano Ronald Dworkin, em sua obra “Levando os direitos a sério” e, na sequência, nas teorias do
alemão Robert Alexy, especialmente em sua obra “Teoria dos direitos fundamentais”.
Nas palavras de Mendes (2017) Dworkin e Alexy buscaram esclarecer que a distinção entre
regras e princípios não se refere simplesmente ao grau da norma, sendo, primeiramente, de ordem
qualitativa.
-positivismo se divide em duas perspectivas teóricas: a linha procedimentalista, que parte da con-
vicção de que não há mais valores éticos ou princípios morais capazes de uma universalização numa
perspectiva substancial, e uma linha substancialista, que sustenta a necessidade de fundamentar ade-
quadamente a existência de princípios morais e valores éticos substanciais. Um dos estímulos mais
importantes nesta linha substancialista foi dada por Ronald Dworkin, um dos principais representantes
do pós-positivismo jurídico, como perspectiva teórica que busca resgatar os princípios morais e valores
éticos para dentro da racionalidade do Direito. O autor promoveu uma distinção essencial para o Direito
De acordo com Dworkin (2002, p. 42), princípios e regras possuem uma distinção de natureza
lógica, os dois correspondem a conjuntos de padrões que apontam para decisões particulares acerca
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da obrigação em circunstâncias específicas, mas diferenciam-se quanto à natureza da orientação
que oferecem. Neste sentido, afirma o autor que “as regras são aplicadas à maneira do tudo ou
nada”. A partir dos fatos que a regra estipula, ou a regra é válida, sendo aplicada ao caso, ou não,
e em nada contribui para a decisão. Pode haver exceções, porém, estas também seriam levadas em
Neste caso não há espaço para interpretação do julgador, apenas aplica-se a regra, obtendo a
resposta definida.
seguem automaticamente quando as condições são dadas. Nas palavras de Dworkin (2002, p. 42),
os princípios têm uma dimensão que as regras não possuem: a dimensão do peso ou importância.
Quando os princípios se cruzam, o julgador tem que levar em consideração a força relativa de cada
um, não se trata de uma mensuração exata e o julgamento acerca da força de um princípio sobre
o outro provavelmente será objeto de controvérsia. Porém, essa importância ou peso faz parte da
essência do princípio, diferente das regras, que não possuem essa dimensão, as regras, em sua fun-
ção, são importantes ou não. Assim, é possível afirmar que, segundo Dworkin, não há regras mais
importantes que outras enquanto parte do sistema de regras. Se duas regras estão em conflito, uma
suplanta a outra em razão de sua importância maior, se entram em conflito uma delas não pode ser
válida. Nestes casos, resolve-se o conflito com os métodos de resolução de antinomias, pelos crité-
Segundo Mendes (2017, p. 73), “os princípios, como delineados por Dworkin, captam os valores
Como esclarece Simioni (2011), Dworkin estabelece uma importante distinção entre regras e prin-
cípios, que influenciou bastante a teoria procedimentalista, especialmente em Alexy, ainda que com
diferenças. Os princípios em Dworkin são questões de fundamento e não precisam estar positi-
vadas em leis ou precedentes. As regras são normas jurídicas positivadas, que impõem direitos e
obrigações, aplicadas em uma questão de tudo ou nada, ou se aplica ou não, não há meio termo,
e os princípios são todos os padrões morais e políticos transcendentes ao direito positivo a que as
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decisões judiciais recorrem para decidir casos não solucionados pelas regras, princípios não esta-
belecem questões prévias, não são válidos ou inválidos, mas questão de peso, de fundamento, de
Segundo Silva (2003), analisando a teoria de Robert Alexy, é possível afirmar que o jurista alemão
parte do pressuposto de que há uma distinção qualitativa e não de grau entre princípios e regras,
semelhante ao de Dworkin, porém, sua contribuição foi a de precisar algumas premissas básicas
Em sua obra “Teoria dos Direitos Fundamentais”, Alexy (2008, p. 85) trata da estrutura das nor-
mas de direitos fundamentais e, quando adentra na análise das regras e dos princípios, considera-
dos pelo autor como diferentes espécies de normas jurídicas, a parte estrutural das normas afirma
que a distinção entre princípios e regras é uma “chave para a solução de problemas centrais da dog-
mática dos direitos fundamentais”. Nas palavras do autor tal distinção é elemento fundamental da
dogmática dos direitos de liberdade e igualdade e dos direitos da proteção, da organização, dos pro-
cedimentos e das prestações em sentido estrito. Com esta distinção, problemas com os efeitos dos
cionais e o Parlamento podem ser melhor esclarecidos. Tal distinção constitui a estrutura da teoria
normativo-material dos direitos fundamentais e é ponto de partida para a resposta à pergunta sobre
Para Alexy (2008, p. 90), o ponto mais importante para diferenciar regras e princípios consiste no
fato de que “os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possí-
vel dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”. São, portanto, “mandamentos de otimi-
zação”, que possuem duas características: a) podem ser satisfeitos em graus variados e b) a medida
de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas das possibilidades jurídicas,
Conforme esclarece Mendes (2017), o grau de cumprimento previsto pelo princípio é determinado
pela confrontação com outros princípios e regras opostas (possibilidade jurídica) e pela consideração
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Já as regras, para Alexy (2008, p. 91), são satisfeitas ou não satisfeitas.
Ou seja, se vale a regra, deve-se fazer o que ela exige. Com efeito, segundo
a concretização dos valores e fins públicos. Diferente dos princípios, não transferem ao intér-
prete a avaliação das condutas aptas a realizá-las. Com relação à estrutura normativa,
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princípios apontam para ideais a serem alcançados, sem descrição objetiva da conduta a ser seguida,
há uma indeterminação do sentido e diferentes meios de realização. Já as regras são normas des-
se identifica a maior distinção entre princípios e regras: os princípios indicam um valor, um fim, uma
direção, e, numa ordem pluralista, por vezes a Constituição pode apontar para direções diversas
gerando tensões e eventuais colisões, que somente podem ser dissolvidas na análise do caso con-
creto. As regras se aplicam na modalidade “tudo ou nada”, ocorrendo o fato descrito, deverá incidir a
regra, diferente do princípio, não há margem de valoração por parte do intérprete, trata-se de sim-
ples subsunção. Os princípios não são aplicados na modalidade “tudo ou nada”, ao contrário, há uma
dimensão de peso que assumem em determinada situação específica. Nas palavras do autor “caberá
ao intérprete proceder à ponderação dos princípios e fatos relevantes, e não a uma subsunção do
sões entre princípios e conflitos entre regras. Como observa Mendes (2017), a colisão entre princí-
pios, assim como o conflito entre as regras, refere-se a situações em que a aplicação de mais de
uma norma ao caso concreto resulta em consequências contraditórias entre si. Ocorre que a solução
para o conflito entre regras não é o mesmo para o conflito entre princípios: um conflito entre regras
é solucionado selecionando uma das regras para que valha como cláusula de exceção da outra ou
cronologia. É o que Alexy (2008, p. 92-93) denomina “cláusula de exceção”. Segundo o autor, um
conflito entre regras é solucionado introduzindo-se em uma das regras uma exceção que elimine o
conflito ou se uma das regras for considerada inválida. Trata-se de uma decisão sobre validade.
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Segundo Simioni (2011), analisando as teorias propostas por Dworkin, problemas de colisão entre
regras se resolvem com a criação de exceções ou critérios que permitam decidir qual regra é válida
para o caso, como as regras de aplicação da lei no tempo e no espaço. O próprio direito também
pode criar regras que criam exceções de aplicação de outras regras mais gerais, como o caso de apli-
Porém, preceitua Mendes (2017), quanto aos princípios, os critérios não são tão simples, pois no
caso há que se apurar o “peso” dos princípios em confronto, consistindo neste fato a “ponderação”
acerca dos princípios que se apresentam para o mesmo caso. Importante salientar que se apresen-
tados em abstrato, nenhum dos princípios em colisão apresentariam primazia sobre o outro, porém,
sob a análise do caso concreto anda impede que um princípio venha a prevalecer.
Os princípios, ao contrário das regras, não determinam vinculativamente as decisões, mas con-
têm fundamentos, que devem ser conjugados com fundamentos provenientes de outros princípios,
por isso a afirmação, de que em Dworkin, os princípios possuem uma dimensão de peso, assim,
ocorrendo uma colisão entre princípios, o que tem um peso maior sobrepõe-se ao outro, sem que
se dois princípios colidem, um deles tem que ceder. Não significa que um deles será considerado
inválido, nem que será introduzida uma cláusula de exceção, o que ocorrerá é que um princípio
terá precedência sobre a aplicação do outro de acordo com o caso concreto, sob outras condições
poderia o caso ser solucionado de forma diversa. Conflitos entre princípios, portanto, ocorrem não
no plano da validade, mas na dimensão do peso, um sopesamento que ocorrerá diante dos inte-
resses conflitantes.
Como esclarece Ávila (2001), em Alexy, uma colisão entre princípios não se resolve de imediato,
partir de uma ponderação entre os princípios colidentes, em que um deles irá por fim prevalecer.
Neste sentido, é possível afirmar que da colisão entre os princípios nasce o dever de proporcionali-
dade, pois da colisão é preciso verificar qual deles possui peso maior no caso concreto, com efeito,
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a solução apenas advém de uma ponderação no plano concreto em que se estabelecerá, naquelas
condições, qual princípio deve prevalecer.
A solução dá-se sempre diante de um caso concreto: se há conflito de regras, resolve-se pelas
clássicas solucionadoras da antinomia, no plano da validade da norma. Se há regra a ser aplicada,
aplica-se e não há que se falar em conflito. Porém, se não há regras e a solução se dará por meio
de princípios, havendo colisão, terá que ser apurado no caso o “peso” dos princípios, aplicando-se a
ponderação proposta por Alexy.
acabar sendo sinônimo de arbitrariedade, uma vez que a falta de um método pode ser um salvo con-
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Tal espaço aberto faz crescer o ativismo judicial, gestado no interior do próprio sistema jurídico,
consistindo num ato de vontade daquele que julga, causando um desequilíbrio entre os Poderes, pois
há uma extrapolação dos limites da atuação do Judiciário pela via de uma decisão que é tomada a
partir de critérios não jurídicos. São manifestações baseadas em pragmatismos que tomam empres-
mada em enunciado performativo, construindo sentido próprio em determinada decisão, que pode
Streck (2011, p. 10) critica abertamente como foram recebidas no Brasil teorias jurídicas estran-
geiras, que tomaram o Direito Constitucional brasileiro, em especial a teoria de Robert Alexy, que,
segundo o autor, recebeu uma leitura superficial da doutrina e dos tribunais. Na maior parte das
vezes os adeptos da ponderação utilizam erroneamente a teoria de Alexy e não levam em conside-
ração que é impossível fazer uma ponderação que resolva diretamente o caso, segundo Streck, a
ponderação não é uma operação em se colocam dois princípios na balança e se escolhe o que pesa
O autor aponta ainda que no Brasil, a partir das teorias argumentativas, foi construído um
“panprincipiologismo” que faz com que haja uma proliferação incontrolada de enunciados, a pre-
texto de se aplicar princípios constitucionais, para resolver casos concretos, por vezes ao alvedrio da
a partir da utilização às avessas da ponderação alexyana, acaba-se por escancarar uma porta para
nismo judicial, um ativismo que se manifesta do uso indiscriminado de princípios e valores escon-
didos, permitindo uma atividade solipsista, o que se torna problemático, pois a democracia passa a
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7. Questão para reflexão
Propõe-se ao aluno a leitura do artigo de Lenio Streck intitulado “As recepções teóricas inadequa-
quais os princípios elencados pelo autor que podem assegurar limites ao ativismo judicial e assegu-
Pontuando
• Uma das ocorrências mais importantes do século XX, no âmbito do Direito Constitucional,
o gênero “normas jurídicas” comporta, em meio a outras definições, duas grandes espécies:
regras e princípios.
• De acordo com Dworkin (2002, p. 42) “as regras são aplicadas à maneira do tudo ou nada”. A
partir dos fatos que a regra estipula, ou a regra é válida, sendo aplicada ao caso, ou não, e em
nada contribui para a decisão. Os princípios têm uma dimensão que as regras não possuem:
• Para Alexy (2008, p. 91) “os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na
maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”. São, portanto,
a regra, deve-se fazer o que ela exige. Com efeito, segundo o autor, as regras contêm deter-
• Problemas de conflito entre regras são resolvidos através da solução de antinomias, critérios
denomina “cláusula de exceção”. Conflitos entre princípios, portanto, ocorrem não no plano
da validade, mas na dimensão do peso, um sopesamento que ocorrerá diante dos interesses
conflitantes.
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Glossário
NEOCONSTITUCIONALISMO: segundo Barroso (2006), o neoconstitucionalismo ou novo direito
cional, em meio às quais podem ser assinalados: a) como marco histórico, a formação do Estado
constitucional de direito, cuja consolidação se deu ao longo das décadas finais do século XX; b)
como marco filosófico, o pós-positivismo, com a centralidade dos direitos fundamentais e a rea-
proximação entre Direito e ética; c) como marco teórico, o conjunto de mudanças que incluem a
ANTINOMIA: segundo Cunha (2011) antinomia é um paradoxo, uma contradição, um conflito que
PANPRINCIPIOLOGISMO: trata-se de um termo cunhado por Lenio Streck (2014) que significa lite-
ralmente uma “proliferação de princípios” fruto da aplicação ao direito brasileiro da teoria argu-
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Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - (PGE-PA – Procurador do Estado – 2011 – PGE-PA) “O marco filosófico do novo direito
cia das duas grandes correntes do pensamento que oferecem paradigmas opostos para o Direito:
dra atual é assinalada pela superação (...) dos modelos puros por um conjunto difuso e abrangente
II - Caracteriza-se, entre outros aspectos, pela tese da rígida separação entre direito, moral e polí-
III - Caracteriza-se, entre outros aspectos, pela reabilitação da razão prática e da argumentação jurí-
como um fenômeno volitivo e não cognoscitivo, pela retomada dos valores na interpretação e pela
ilimitada discricionariedade judicial nos casos difíceis, como sustenta o realismo jurídico alemão.
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QUESTÃO 2 - (AFPR – Advogado – 2013 – COPS-UEL) A partir do final da década de 1980, sob a
difusão de obras de autores como Ronald Dworkin e Robert Alexy, o tema relativo aos princípios –
uma concepção de superação do positivismo jurídico. De acordo com essa concepção, assinale a
alternativa correta:
Princípios estão no plano idealístico e regras são normas jurídicas que emitem um comando de
otimização.
a) A função principal dos princípios é manter a integração das regras, dando-lhes unidade.
c) Diferenciam-se princípios e regras pelo grau de exigência normativa, sendo as regras exigíveis
QUESTÃO 3 - (TRT 14ª Região (RO e AC) – 2012 – Juiz do Trabalho – TRT 14R) De acordo com a her-
b) Podemos afirmar que não há hierarquia normativa entre princípios. Na verdade o que existe é
distinção axiomática/valorativa.
c) De acordo com o princípio da unidade da Constituição o conflito entre princípios resolve-se pelo
método da ponderação.
d) De acordo com o princípio da justeza ou conformidade funcional não pode haver subversão do
norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da Constituição.
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QUESTÃO 4 - (PC-MS – Delegado de Polícia – 2017 – FAPEMS) Sobre a interpretação das normas
constitucionais, um dos temas que há vários anos permanece em discussão é o da diferença entre
regras e princípios, indo desde a proposta de Ronald Dworkin em 1967, passando pela ponderação
de valores proposta por Robert Alexy na década de 1980, e alcançando as práticas judiciais atuais
no Brasil. Consoante aos autores NERY JR. e ABBOUD1 (2017), “[...] de forma concomitante com o
a) O Supremo Tribunal Federal tem adotado a máxima da proporcionalidade, ainda que não rigo-
rosamente, para a solução de colisão de princípios (por exemplo, voto do Ministro Luís Roberto
b) A ponderação de valores não tem sido adotada pelo Poder Judiciário brasileiro.
1
NERY JR, Nelson; ABBOUD, Georges. Direito Constitucional Brasileiro. Curso Completo. São Paulo: RT, 2017, p. 124.
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QUESTÃO 5 - (TCE-MG – Auditor Conselheiro Substituto – 2018 – FUNDEP) Nas últimas décadas, as
teorias de Robert Alexy, relativas à distinção entre as espécies de normas jurídicas, têm sido apli-
b) A observância dos princípios somente ocorre se for garantida a sua eficácia máxima (ótima) em
c) A referida caracterização dos princípios insere-se em uma distinção quantitativa (de grau) entre
princípios e regras.
d) A referida característica dos princípios visa denotar o seu papel na construção do direito como
“integridade”, por meio da qual se pode alcançar a resposta correta em cada caso concreto.
e) A referida característica dos princípios visa distingui-los das meras diretrizes políticas e denotar
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Referências bibliográficas
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008.
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.
12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Dicionário Compacto do Direito. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
SILVA, Virgílio Afonso da. Princípios e Regras: Mitos e Equívocos Acerca de uma Distinção.
In Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais, ano 1, n. 1, 2003, p. 607-630.
Disponível em: <https://constituicao.direito.usp.br/wp-content/uploads/2003-RLAEC-
01-Principios_e_regras.pdf>. Acesso em: 25 fev.2018.
24
Gabarito
QUESTÃO 1 – Alternativa E
O pós-positivismo, corrente à qual se filiam Robert Alexy e Ronald Dworkin, caracteriza-se pelo
dentre outras características, não há uma separação entre o direito, a moral e o direito, e opera-se
pela reabilitação da razão prática e da argumentação jurídica, manifesta, por exemplo, na obra de
Robert Alexy.
QUESTÃO 2 – Alternativa C
Como exposto na aula, para Alexy (2008, p. 90) “os princípios são normas que ordenam que algo
seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”. São
“mandamentos de otimização”. Já as regras, para Alexy (2008, p. 91), são satisfeitas ou não satisfei-
tas. Ou seja, se vale a regra, deve-se fazer o que ela exige. Com efeito, segundo o autor, as regras
contêm determinações no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível. Conclui o autor: “a
distinção entre regras e princípios é uma distinção qualitativa, e não uma distinção de grau. Toda
norma é ou uma regra ou um princípio”. Assim, é possível afirmar que os princípios são normas fina-
QUESTÃO 3 – Alternativa A
Dworkin rompe com o positivismo jurídico possibilitando uma correlação entre o direito e os valo-
res sociais, aderindo a corrente do pós-positivismo, em que o direito envolve uma questão de valo-
res morais.
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QUESTÃO 4 – Alternativa A
Como trabalhado na aula, há uma diferença entre princípios e regras adotada hoje pelo direito
Supremo Tribunal Federal, tem aplicado as teorias de Ronald Dworkin e Robert Alexy, que diferen-
ciam regras de princípios. A máxima da proporcionalidade tem sido adotada, juntamente com a pon-
QUESTÃO 5 – Alternativa A
Como abordado na aula, para Alexy (2008, p. 90), o ponto mais importante para diferenciar
regras e princípios consiste no fato de que “os princípios são normas que ordenam que algo seja rea-
lizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”.
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2
Hermenêutica
constitucional
1. Objetivos
• Compreender o significado da hermenêutica constitucional e a importância da interpretação
zação da hermenêutica.
2. Introdução
A hermenêutica constitucional se concretiza em técnicas de interpretação das normas consti-
tucionais que buscam dar sentido aos preceitos constitucionais, atividade de enorme importância,
principalmente no contexto atual de efetividade das normas constitucionais e abertura para a apli-
pios que tem como objetivo lhe dar legitimidade, racionalidade e controlabilidade, e que tem como
momento final a aplicação das normas jurídicas, que se tornam normas de decisão ao caso concreto
Importante salientar que a interpretação constitucional possui características distintas dos outros
ramos do Direito, pois está cercada de especificidades que lhe desenham um campo único, uma vez
que a atribuição de sentido aos preceitos constitucionais é atividade marcada por um potencial de efei-
tos sobre a ordem jurídica, sobre o cotidiano dos indivíduos, pois proclama valores a serem protegidos,
seguidos e estimulados pelos poderes constituídos e pela própria sociedade (MENDES, 2017, p. 79).
Afinal, ao interpretar a Constituição é importante ter em mente que se trata da norma máxima do
ordenamento jurídico, fato que dá um contorno especial para esta atividade hermenêutica.
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quanto mais num Estado democrático de direito em que a Constituição não é meramente semântica,
hermenêutica constitucional tem ganhado impulso e crescente interesse, sobretudo quando a comu-
nidade jurídica se deu conta da magnitude do papel do Supremo Tribunal Federal nesse processo
jurídico contemporâneo.
dade interpretativa dos órgãos jurisdicionais, buscando estabelecer regras para alcançar uma racio-
No decorrer desta aula serão analisados os métodos de interpretação das normas constitucio-
nais, quais sejam: o método clássico, que preconiza que a Constituição deve ser interpretada como
as regras hermenêuticas comuns a todas as leis; o método da tópica, que toma a Constituição como
um conjunto aberto de regras e princípios, dentre os quais o aplicador deve escolher o que mais se
adequa para o caso concreto; o método científico-espiritual, de acordo com o qual se deve enxer-
gar a Constituição como um sistema cultural e de valores de um povo, cabendo ao intérprete apro-
também é importante, como na tópica, porém, a primazia não é do problema, mas da Constituição.
Serão analisados nesta aula, também, os princípios de interpretação constitucional, que servem
de baliza que antecedem a solução do caso concreto, visando auxiliar a função do aplicador do
direito, com fórmulas de busca que contribuam na solução dos problemas de interpretação.
o qual as normas constitucionais possuem posição hierárquica superior às demais normas do orde-
namento jurídico; o princípio da unidade da Constituição, que determina que devem ser tomadas
soluções que tragam harmonia em caso de tensões existentes entre as normas constitucionais; o
princípio da presunção de constitucionalidade das leis e atos normativos, segundo o qual as leis e
29
atos normativos editados pelos poderes possuem presunção de validade e legitimidade; o princípio
da eficácia integradora, que determina que deve-se dar preferência aos critérios que favoreçam a
que consiste em recomendar aos intérpretes da Constituição que, diante de normas infraconstitucio-
nais de múltiplos significados, optem pelo sentido que as tornem constitucionais; o princípio da razo-
da efetividade, segundo o qual as normas constitucionais são normas jurídicas, a Constituição possui
força normativa e o intérprete deve prezar pelo máximo de efetividade na proteção e na aplicação
3. Interpretação da constituição
A hermenêutica constitucional é a técnica de interpretação das normas constitucionais. Trata-se da
contexto atual de efetividade das normas constitucionais e abertura para a aplicação dos princípios.
Conforme pontua Baracho (1977, p. 175), a hermenêutica objetiva, através de métodos de inter-
pretação, a determinação do sentido e do alcance das normas, visando extrair todo o seu conteúdo.
Nas palavras de Barroso (2015, p. 304), a “hermenêutica jurídica é um domínio teórico, especula-
solucionar problemas jurídicos. Trata-se de uma atividade intelectual executada através de méto-
dos, técnicas e parâmetros que lhe dão legitimidade, racionalidade e controlabilidade, que tem como
momento final a aplicação das normas jurídicas, que se tornam normas de decisão ao caso concreto.
Segundo Mendes (2017, p. 79), interpretar a Constituição é analisar o ato normativo, porém, com
características distintas dos outros ramos do Direito, pois a interpretação constitucional está cercada
de especificidades que lhe desenham um campo único. A atribuição de sentido aos preceitos consti-
tucionais é atividade marcada por um potencial de efeitos sobre a ordem jurídica, sobre o cotidiano
30
dos indivíduos, pois proclama valores a serem protegidos, seguidos e estimulados pelos poderes
constituídos e pela própria sociedade. Ao interpretar a Constituição é necessário ter em mente que
jurídico, além de compreender que as normas constitucionais, por disporem sobre relações entre os
poderes e os cidadãos, possuem uma ineliminável pressão ideológica e política. Ou seja, os interes-
ses na interpretação das normas constitucionais tendem a ser mais amplos e de projeção estrutural
mais avultada se comparados com os interesses na análise das normas infraconstitucionais. Acresce
importância ao tema o fato da Constituição estar repleta de termos vagos e com muitos sentidos,
está ligada a uma fase histórica, com metas impostas ao Estado, que impõem um fazer, mas não
De fato, a interpretação da Constituição possui especificidades que lhe dão um contorno diferen-
ciado. Como salienta Barroso (2015, p. 306) “a interpretação constitucional compreende um conjunto
observa-se que o direito constitucional tem uma relação direta com as relações políticas, discipli-
Mendes (2017, p. 79) traz à tona um aspecto importante, que deve ser levado em consideração
incorporado valores morais ao domínio jurídico, não se limitando a apenas discriminar competências
e limitar a ação do Estado, injetando índole jurídica a aspirações filosóficas e princípios ético-doutri-
nários. Afirma o autor: “as constituições contemporâneas absorvem noções de conteúdo axiológico
e, com isso, trazem para a realidade do aplicador do direito debates políticos e morais”. Importante
observar ainda que o intérprete possui pré-compreensões sobre esses temas políticos e morais, que
31
não podem ser simplesmente descartadas, mas que devem ser reconhecidas pelo próprio aplicador,
a fim de serem medidas com o juízo mais amplo surgido da apreciação dos vários ângulos do pro-
blema a ser solucionado. Com razão, pontua o autor que esse exercício não pode levar à dissolução
quanto mais num Estado democrático de direito em que a Constituição não é meramente semântica,
mas possui força normativa. Desde o advento da Constituição de 1988, a partir da redemocratiza-
ção, a hermenêutica constitucional tem ganhado impulso e crescente interesse, sobretudo quando
a comunidade jurídica se deu conta da magnitude do papel do Supremo Tribunal Federal nesse pro-
4. Métodos de interpretação
constitucional
Os métodos e princípios de interpretação constitucional se tornam importantes instrumentos
jurídica atual. Nas palavras de Coelho (2004, p. 1), as cortes constitucionais assumiram a incum-
bência “de dar a última palavra sobre a constituição”. Para o autor criou-se um contexto de con-
trovérsias, ou até de incômodo político em que a única certeza é de que essas cortes estão acima
da tradicional tripartição de poderes, não conhecem limites no exercício de suas atribuições e que a
preocupação chave dos juristas é a formulação de cânones hermenêuticos a fim de buscar reduzir
presentes nas decisões judiciais, em especial nos vereditos dos órgãos da jurisdição constitucional.
da liberdade interpretativa dos órgãos jurisdicionais, buscando estabelecer regras para alcançar uma
32
4.1. Método clássico
Este método preconiza que a Constituição deve ser interpretada com as regras hermenêuticas
comuns a todas as leis. Seguem as fórmulas clássicas sugeridas por Savigny: a interpretação sis-
temática, histórica, lógica e gramatical. Não obstante a importância das normas constitucionais,
segundo este método, seriam elas tratadas como normas jurídicas comuns, daí a sua fragilidade.
tre os quais o aplicador deve escolher o que mais se adequa para o caso concreto. Segundo Mendes
(2017, p. 90), neste método, o foco é o problema e as normas constitucionais servem de catálogo de
múltiplos e variados princípios que servirão de solução para o problema prático. O autor pontua que
o método supõe um consenso acerca do conteúdo da Constituição e sobre os valores nela inseridos,
res de um povo, cabendo ao intérprete aproximar-se desses valores. Porém, afirma Mendes (2017,
problema, mas da Constituição. A atividade interpretativa é levantada pelo problema, mas para solu-
cioná-lo o aplicador está vinculado ao texto constitucional. Nas palavras de Mendes (2017, p. 90),
para obter o sentido da norma o intérprete utiliza sua pré-compreensão, atuando sob a influência
das suas circunstâncias históricas, mas sem perder de vista o caso concreto que se apresenta, ocorre
uma mediação entre o texto e a situação concreta que exige a solução. Este método desenvolveu-se
33
em Friedrich Müller, que o denominou “método jurídico-estruturante”, em que a norma não se con-
funde com o texto, mas tem relação estrutural com o trecho da realidade social em que incide, ele-
5. Princípios da interpretação
constitucional
Segundo Barroso (2015, p. 333), os princípios de interpretação constitucional são premissas con-
ceituais, metodológicas ou finalísticas dirigidas ao intérprete, que devem anteceder a solução con-
creta do caso.
Como assevera Mendes (2017, p. 91), tais princípios propõem balizas a serem observadas na ati-
vidade do intérprete das normas constitucionais, buscando conferir maior teor de racionalidade à
tarefa, reduzindo o espaço para pragmatismos exacerbados. Segundo o autor tais premissas foram
expostas por Konrad Hesse, recebidos na língua portuguesa por Gomes Canotilho, sendo úteis na
tarefa do aplicador do direito, mas não devendo ser superestimados, pois no caso concreto podem
Coelho (2004, p. 12) afirma que, como os métodos de interpretação, os princípios devem ser apli-
o autor que os princípios de interpretação constitucional não têm caráter normativo, assim, não
encerram interpretações obrigatórias, valendo como pontos de partida ou fórmulas de busca que
traço primordial para a análise das normas constitucionais: possuem posição hierárquica superior às
34
5.2. Princípio da unidade da Constituição
Nas palavras de Mendes (2015, p. 92), este princípio postula que se evitem contradições entre as
normas constitucionais se não se considerar uma norma da Constituição fora do sistema em que se
integra. Complementa o autor: “as soluções dos problemas constitucionais devem estar em conso-
nância com as deliberações elementares do constituinte”. Tal princípio orienta o intérprete a encon-
trar soluções que tragam harmonia em caso de tensões existentes entre as normas constitucionais,
Barroso (2015, p. 338) afirma que a Constituição é o documento que dá unidade ao ordenamento
jurídico, através da irradiação de seus princípios aos diferentes domínios infraconstitucionais. Assim,
Nas palavras de Tavares (2017, p. 190), deve-se considerar a Constituição como um sistema, e,
nesse sentido, um conjunto coeso de normas. Não se pode, portanto, tomar uma norma constitu-
cional como suficiente em si mesma. Deve existir sempre uma harmonização dos significados atri-
buíveis às normas de uma mesma Constituição afastando a ideia de contradições. Nas palavras do
autor: “sendo a constituição um sistema, deve-se admitir a coesão entre as normas, de maneira a
Seguindo esta lógica de unidade, segundo Bercovici (2000, p. 96), os princípios constitucionais
configuram um núcleo irredutível da Constituição e suas normas não podem ser interpretadas isola-
damente. Afinal, o texto constitucional é fundado em princípios que lhe garantem harmonia e coe-
rência. Assim, não há interpretação de um texto isolado, mas de todo o ordenamento constitucional.
cional. Naturalmente, que se trata de presunção iuris tantum, uma vez que podem passar pelo crivo
35
do controle de constitucionalidade admitindo prova em contrário que poderá desconstituir sua pre-
para que o aplicador do direito constitucional, ao se deparar com uma situação de concorrência entre
bens dotados de igual proteção constitucional, adote a solução que possibilite a realização de qual-
quer um deles, sem o sacrifício dos demais. A aplicação deste princípio somente pode se dar diante
Tal aplicação se dá em caso de conflitos entre normas constitucionais, no caso, devem ser conci-
liadas as pretensões de efetividade das normas para que se estabeleçam limites ajustados ao caso
concreto em que devem incidir. Como pontua Mendes (2017, p. 95), os problemas de concordância
encontrar uma harmonização máxima entre os direitos em atrito, buscando que o sacrifício de um
cípio aplicado de forma mais contundente no controle de constitucionalidade (COELHO, 2004, p. 20).
procurar, ao construir soluções para os casos concretos, dar preferência aos critérios que favoreçam
a integração social e a unidade política, pois toda Constituição, além de criar uma ordem jurídica,
36
5.7. Princípio da interpretação conforme a
Constituição
Este princípio consiste em recomendar aos intérpretes da Constituição que, diante de normas
não pelos quais resulte uma declaração de inconstitucionalidade, visando valorizar o trabalho legis-
lativo, preservando as leis e prevenindo o surgimento de conflitos. Conforme aponta Coelho (2004,
p. 23-24), não se trata de salvar uma lei à custa da Constituição, mas da otimização do “querer cons-
pela que se “orienta para a Constituição ou a que melhor corresponde às decisões do constituinte”.
pode supor que o legislador tenha a intenção de dispor em sentido contrário à Constituição. Assim,
significado e um deles for compatível com a Constituição, deve-se entender que aquele é o sentido
Barroso (2015, p. 337), ao dispor sobre o princípio analisado, afirma que a interpretação conforme
a Constituição pode envolver a atividade interpretativa adequada dos valores e princípios constitucio-
declaração de não incidência de uma norma a determinada situação, por violação à Constituição.
como instrumento para aferir a legitimidade das restrições de direitos e equilíbrio na concessão
de poderes, privilégios ou benefícios. Como expõe Coelho (2004, p. 24), este princípio possui uma
essência axiológica que emana diretamente dos ideais de justiça, equidade, bom senso, prudência,
37
Barroso (2015, p. 340) o considera um valioso instrumento de proteção dos direitos fundamen-
tais e do interesse público, pois permite um controle sobre a discricionariedade dos atos do Poder
Público e funciona como medida de aplicação da norma ao caso concreto para uma melhor realiza-
38
Questão para reflexão
Propõe-se ao aluno a leitura do artigo de Virgílio Afonso da Silva, intitulado “O Proporcional e o
análise do texto identificar a diferença apontada pelo autor entre a proporcionalidade e a razoabili-
dade e, posteriormente, como tais princípios são aplicados no Brasil pelo Supremo Tribunal Federal.
Pontuando
• A hermenêutica constitucional se concretiza em técnicas de interpretação das normas consti-
tucionais que buscam dar sentido aos preceitos constitucionais, atividade de enorme impor-
tância, principalmente no contexto atual de efetividade das normas constitucionais e abertura
para a aplicação dos princípios.
• Importante salientar que a interpretação constitucional possui características distintas dos
outros ramos do Direito, pois está cercada de peculiaridades que lhe desenham um campo
único, uma vez que a atribuição de sentido aos preceitos constitucionais é atividade marcada
por um potencial de efeitos sobre a ordem jurídica, sobre o cotidiano dos indivíduos, pois pro-
clama valores a serem protegidos, seguidos e estimulados pelos poderes constituídos e pela
própria sociedade (MENDES, 2017, p. 79).
• Os métodos e princípios da hermenêutica constitucional visam reduzir o impacto da liberdade
interpretativa dos órgãos jurisdicionais, buscando estabelecer regras para alcançar uma racio-
nalização e maior transparência nas decisões jurídicas.
• Foram analisados os seguintes métodos de interpretação das normas constitucionais: o
método clássico, que preconiza que a Constituição deve ser interpretada como as regras her-
menêuticas comuns a todas as leis; o método da tópica, que toma a Constituição como um
conjunto aberto de regras e princípios, dentre os quais o aplicador deve escolher o que mais
se adequa para o caso concreto; o método científico-espiritual, de acordo com o qual se deve
enxergar a Constituição como um sistema cultural e de valores de um povo, cabendo ao intér-
prete aproximar-se desses valores, e o método hermenêutico-concretizador, segundo o qual o
caso concreto também é importante, como na tópica, porém, a primazia não é do problema,
mas da Constituição.
39
• Os princípios de interpretação constitucional, que servem de baliza que antecedem a solução
do caso concreto, visam auxiliar a função do aplicador do direito e são fórmulas que auxiliam
na solução dos problemas de interpretação.
• Foram analisados os seguintes princípios: o princípio da supremacia da Constituição, segundo
o qual as normas constitucionais possuem posição hierárquica superior às demais normas
do ordenamento jurídico; o princípio da unidade da Constituição, que determina que devem
ser tomadas soluções que tragam harmonia em caso de tensões existentes entre as normas
constitucionais; o princípio da presunção de constitucionalidade das leis e atos normativos,
segundo o qual as leis e atos normativos editados pelos poderes possuem presunção de vali-
dade e legitimidade; o princípio da eficácia integradora, que determina que deve-se dar prefe-
rência aos critérios que favoreçam a integração social e a unidade política; o princípio da inter-
pretação conforme a Constituição, princípio que consiste em recomendar aos intérpretes da
Constituição que, diante de normas infraconstitucionais de múltiplos significados, optem pelo
sentido que as tornem constitucionais; o princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade,
muito importante na hermenêutica contemporânea, e o princípio da efetividade, segundo o
qual as normas constitucionais são normas jurídicas, a Constituição possui força normativa e
o intérprete deve prezar pelo máximo de efetividade na proteção e na aplicação dos disposi-
tivos constitucionais.
Glossário
HERMENÊUTICA: é a atividade de interpretação ou explicação do sentido das palavras, nas ciên-
cias, e das expressões, nas artes (SIDOU, 2016, p. 304). Aplicada no campo do Direito a herme-
nêutica pode ser traduzida como a ciência da interpretação das normas, tendo como objetivo a
análise e a sistematização dos processos ou métodos a serem aplicados para fixar o real sentido
PRESUNÇÃO IURIS TANTUM: “Diz-se do conceito antecipado, válido até prova em contrário”
40
buscando o equilíbrio, a moderação e a harmonia das decisões judiciais. O princípio é considerado
um mecanismo de controle da discricionariedade administrativa e legislativa, permitindo ao jul-
gador, pelo senso da proporção, coibi-la. (LUZ, 2014, p. 291).
Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - (TCE-MG – Auditor Conselheiro Substituto – 2018 – FUNDEP) No tocante à interpreta-
ção constitucional, Luís Roberto Barroso afirma haver um princípio que se destina “à preservação da
nais”. Tal princípio “abriga, simultaneamente, uma técnica de interpretação e um mecanismo de con-
trole de constitucionalidade.” Assinale a alternativa que apresenta o princípio referido por Barroso:
a) Princípio da efetividade.
da Constituição que, por considerá-la um sistema aberto de regras e princípios, propõe que se deva
encontrar a solução mais razoável para determinado caso jurídico partindo-se da situação concreta
a) Hermenêutico clássico.
b) Científico-espiritual.
c) Tópico-problemático.
d) Normativo-estruturante.
e) Hermenêutico concretizador.
41
QUESTÃO 3 - (TJ-SP – Juiz Substituto – 2017 – VUNESP) Leia o texto a seguir: “[…] arranca da ideia
de que a leitura de um texto normativo se inicia pela pré-compreensão do seu sentido através do
intérprete. A interpretação da constituição também não foge a esse processo: é uma compreensão
atividade prático normativa, concretizando a norma a partir de uma situação histórica concreta. No
fundo esse método vem realçar e iluminar vários pressupostos da atividade interpretativa: (1) os
contexto, actuando o intérprete como operador de mediações entre o texto e a situação a que se
aplica; (3) relação entre o texto e o contexto com a mediação criadora do intérprete, transformando
a interpretação em ‘movimento de ir e vir’ (círculo hermenêutico). […] se orienta não por um pensa-
constitucionalista J.J. Gomes Canotilho, conclui-se que o autor se refere a que método de interpre-
tação constitucional?
a) Método tópico-problemático-concretizador.
b) Método científico-espiritual.
c) Método tópico-problemático.
d) Método hermenêutico-concretizador.
e) Método clássico.
42
QUESTÃO 4 - (CRM-MG – Advogado – 2017 – FUNDEP) “Repare-se que a invocação desses princípios
pode levar a resultados não unívocos. O postulado da máxima eficácia da norma de direito funda-
mental pode resultar em uma solução desaconselhada pelo princípio da conformidade funcional, por
exemplo. Esses princípios não devem ser vistos como elementos de uma fórmula capaz de produzir
soluções necessárias e absolutamente persuasivas. Tampouco se há de falar em hierarquia entre eles.
Esses princípios da interpretação constitucional apenas auxiliam a que argumentos jurídicos se desen-
volvam em um contexto de maior racionalidade, favorecendo algum controle sobre o processo de con-
cretização das normas constitucionais, com proveito, igualmente, para o valor da segurança jurídica”
(MENDES; BRANCO, 2015, p. 97). Considerando o estudo dos princípios da interpretação constitucio-
nal, assinale a alternativa em que a relação do princípio com o seu conteúdo está INCORRETA:
a) O princípio da correção funcional é erigido pela doutrina como o único capaz de convocar o intér-
prete a encontrar soluções que harmonizem tensões existentes entre as várias normas consti-
tucionais, considerando a Constituição como um todo unitário, de grande utilidade nos casos de
conflito entre normas constitucionais, quando os seus programas normativos se entrechocam.
b) Com o princípio da força normativa da Constituição, propõe-se que seja conferida prevalência
aos pontos de vista que tornem a norma constitucional mais afeita aos condicionamentos histó-
ricos do momento, garantindo-lhe interesse atual e, com isso, obtendo-se máxima eficácia, sob
as circunstâncias de cada caso.
c) O princípio da unidade da Constituição postula que não se considere uma norma da Constituição
fora do sistema em que se integra, evitando-se contradições entre as normas constitucionais. As
soluções dos problemas constitucionais devem estar em consonância com as deliberações ele-
mentares do constituinte.
d) O princípio da correção funcional também é um critério orientador da atividade interpretativa,
capaz de conduzir a que não se deturpe, por meio da interpretação de algum preceito, o sistema
de repartição de funções entre os órgãos e pessoas designados pela Constituição.
e) O princípio da presunção de constitucionalidade indica que no sistema jurídico nacional as leis e
atos normativos editados pelos poderes possuem presunção de validade e legitimidade, ou seja,
são considerados, a princípio, adequados ao sistema constitucional. Naturalmente que se trata de
presunção iuris tantum, uma vez que podem passar pelo crivo do controle de constitucionalidade
admitindo prova em contrário que poderá desconstituir sua presunção inicial de conformidade
com o ordenamento constitucional.
43
QUESTÃO 5 - (ANAC – Analista Administrativo – 2016 – ESAF) A Supremacia das Normas Constitu-
cionais no ordenamento jurídico e a presunção de constitucionalidade das leis e dos atos normativos
editados pelo poder público competente exigem que, na função hermenêutica de interpretação do
ordenamento jurídico, seja sempre concedida preferência ao sentido da norma que seja adequado à
combinação dos bens jurídicos em conflito para que se evite o sacrifício total de uns em relação
aos outros.
constitucional não poderão chegar a uma posição que subverta, altere ou perturbe o esquema
d) Para que se obtenha uma interpretação conforme a Constituição, o intérprete poderá declarar a
cional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe conceda. Parte inferior do formulário.
44
Referências bibliográficas
BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Hermenêutica Constitucional. In Revista de Informação
Legislativa, ano 14, n. 53, p. 113-144. Brasília. Disponível em: <https://bit.ly/2jvxA0U>.
Acesso em: 25 fev.2018.
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.
12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Dicionário Compacto do Direito. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 33. ed. São Paulo: Atlas. 2017.
SILVA, Virgílio Afonso da. O Proporcional e o Razoável. In Revista dos Tribunais 798,
2002, p. 23-50. Disponível em: <https://bit.ly/2JXy6jz>. Acesso em: 25 fev.2018.
SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 11. ed.
Rio de Janeiro, 2016.
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2017.
45
Gabarito
QUESTÃO 1 – Alternativa B
Como exposto na aula, trata-se do princípio da interpretação conforme a Constituição que con-
múltiplos significados, optem pelo sentido que as tornem constitucionais e não pelos quais resulte
e prevenindo o surgimento de conflitos (COELHO, 2004, p. 23-24). Como assevera Mendes (2017,
p. 95), em função da presunção de constitucionalidade, não se pode supor que o legislador tenha
devido às suas peculiaridades semânticas, admite mais de um significado e um deles for compatível
com a Constituição deve-se entender que aquele é o sentido próprio da norma em exame. Segundo
Barroso (2015, p. 337), ao dispor sobre o princípio analisado, afirma que a interpretação conforme a
Constituição pode envolver a atividade interpretativa adequada dos valores e princípios constitucio-
a declaração de não incidência de uma norma a determinada situação, por violação à Constituição.
QUESTÃO 2 – Alternativa C
junto aberto de regras e princípios, dentre os quais o aplicador deve escolher o que mais se adequa
para o caso concreto. Segundo Mendes (2017, p. 90), neste método, o foco é o problema e as nor-
mas constitucionais servem de catálogo de múltiplos e variados princípios que servirão de solução
para o problema prático. O autor pontua que o método supõe um consenso acerca do conteúdo da
Constituição e sobre os valores nela inseridos, dificultando sua aplicação em sociedades distinguidas
46
QUESTÃO 3 – Alternativa D
concreto também é importante, como na tópica, porém, a primazia não é do problema, mas da
Constituição. A atividade interpretativa é levantada pelo problema, mas para solucioná-lo o aplica-
dor está vinculado ao texto constitucional. Nas palavras de Mendes (2017, p. 90), para obter o sen-
tido da norma o intérprete utiliza sua pré-compreensão da norma, atuando sob a influência das suas
circunstancias históricas, mas sem perder de vista o caso concreto que se apresenta, ocorre uma
mediação entre o texto e a situação concreta que exige a solução. Este método desenvolveu-se em
Müller, que o denominou “método jurídico-estruturante”, em que a norma não se confunde com o
texto, mas tem relação estrutural com o trecho da realidade social em que incide, elemento essencial
QUESTÃO 4 – Alternativa A
Como visto na aula o princípio da correção funcional tem por finalidade orientar a atividade her-
47
QUESTÃO 5 – Alternativa A
mendar aos intérpretes da Constituição que, diante de normas infraconstitucionais de múltiplos sig-
nificados, optem pelo sentido que as tornem constitucionais e não pelos quais resulte uma declara-
o surgimento de conflitos. Conforme aponta Coelho (2004, p. 23-24), não se trata de salvar uma lei
diversas possibilidades de interpretação, opte o intérprete pela que se “orienta para a Constituição
ou a que melhor corresponde às decisões do constituinte”. Barroso (2015, p. 337), ao dispor sobre o
princípio analisado, afirma que a interpretação conforme a Constituição pode envolver a atividade
lidade de interpretações possíveis de uma norma, ou ainda, a declaração de não incidência de uma
48
3
Teoria geral dos
direitos humanos
Objetivos
• Conhecer os principais elementos constitutivos da teoria geral dos direitos humanos.
direitos humanos.
1. Introdução
O estudo da teoria geral dos direitos humanos tem como objetivo fornecer os subsídios para a com-
preensão do seu conceito, fundamento, elementos e características que constituem o alicerce da con-
Com efeito, a leitura contemporânea dos direitos humanos tem como marco histórico o término da
Segunda Guerra Mundial; no plano institucional a criação das Nações Unidas em 1945; e na esfera jurí-
dica a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Com essa conjugação inicia-se
tos humanos, com suas convenções internacionais que inspiraram a criação dos sistemas regionais de
No âmbito global, o destaque é para a Carta Internacional dos Direitos Humanos ou Internacional
Bill of Rights, que é composta por três documentos: (i) A Declaração Universal dos Direitos Humanos;
(ii) O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos; e (iii) O Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Constituem a estrutura fundamental de proteção dos direitos huma-
Além dos documentos integrantes da Carta Internacional dos Direitos Humanos, é possível enu-
alcance que a temática teve na fase de internacionalização: (i) Convenção para a Prevenção e a
50
Repressão do Crime de Genocídio (1948); (ii) Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951);
(iii) Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1966);
(iv) Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade
(1968); (v) Convenção Internacional sobre a Repressão e o Castigo ao Crime de Apartheid (1973);
(vi) Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1979);
(vii) Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes
(1984); (viii) Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989); (ix) Convenção Internacional sobre a
Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias (1990);
(x) Convenção sobre a Diversidade Biológica (1992); (xi) Convenção sobre os Direitos das Pessoas
Não obstante, subjacente a todo esse arcabouço protetivo, é necessário conhecer os elementos e
expressão múltipla, por vezes genérica, ambígua, fluída e cuja delimitação conceitual aceita variações
de natureza filosófica, histórica, social, cultural, política ou mesmo linguística”. Por essa razão, definir os
direitos humanos pode significar um resultado insatisfatório, pela imprecisão e amplitude da expressão.
Conforme Melo (2017), dois aspectos estão presentes na maioria das conceituações de direitos
humanos: (i) são direitos que se assentam na dignidade da pessoa humana, (ii) com a sua afirmação
histórica em face do poder estatal, não obstante se reconhecer atualmente a sua proteção em todas
As Nações Unidas definem direitos humanos como “garantias jurídicas universais que protegem
indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos governos que atentem contra a dignidade humana”.
Luño (2005, p. 50), que conceitua os direitos humanos como “o conjunto de faculdades e instituições
51
humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível
nacional e internacional”.
humana, aprumados nos valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade, em uma noção inte-
possibilidade emancipatória para a plena realização do projeto de vida da pessoa e, em última aná-
lise, da coletividade.
3. Terminologias associadas
Expressões como “direitos humanos”, “direitos fundamentais”, “direitos do homem”, “liberdades
públicas” e outras, são utilizadas para referenciar ao conjunto de direitos que denominamos “direitos
Conforme Ingo Wolfgang Sarlet, (2010, p. 27) “a doutrina tem alertado a heterogeneidade, ambi-
guidade e ausência de consenso na esfera conceitual e terminológica, inclusive no que diz respeito
• Direitos do homem;
• Liberdades públicas;
• Direitos humanos;
• Direitos fundamentais.
das revoluções liberais do século XVIII, de inspiração jusnaturalista. O jurista português J. J. Gomes
Canotilho (2003) afirma que os direitos do homem são válidos para todos os povos, em todos os
Já as liberdades públicas são os direitos individuais que designam um status negativo, isto é, uma
atividade negativa do Estado. São direitos que protegem das intervenções arbitrárias do Estado na
52
esfera do indivíduo. São exemplos das liberdades públicas o direito à vida, à propriedade, à segu-
Direitos humanos e direitos fundamentais são terminologias que assumem maiores convergências
Pela expressão direitos humanos entende-se os direitos consignados nos documentos internacio-
nais adotados no arcabouço do sistema global de direitos humanos das Nações Unidas e nos siste-
mas regionais de direitos humanos (interamericano, europeu, africano). Trata-se de expressão afeta
Nas palavras de Ingo Wolfgang Sarlet (2010), “aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positi-
vados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado”. Para J. J. Gomes Canotilho
No mesmo sentido Antonio-Enrique Pérez Luño (2005), que consigna que grande parte da dou-
trina entende que os direitos fundamentais são aqueles direitos positivados nas constituições estatais.
Internacional dos Direitos Humanos, com seus documentos (declarações, convenções, protocolos) e
ais e outros procedimentos) e, de outro, no nível estatal, os direitos fundamentais, como positivação
pessoa humana. A dignidade da pessoa humana é uma construção histórica, que se transformou na
contemporaneidade em fundamento do pensamento ético-jurídico universal, norteadora dos mode-
los de Estado e sociedade, e que, inclusive, é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil
53
5. Fundamentação dos direitos
humanos
A fundamentação dos direitos humanos, isto é, a sua existência e legitimação, contempla inúme-
• jusnaturalista;
• positivista;
• moralista.
Conforme Melo (2017), “O jusnaturalismo compreende os direitos humanos como direitos naturais
(básicos, inalienáveis, de todos os homens), seja por inspiração divina, como proposto nas primei-
ras manifestações de seus teóricos, seja fruto da razão humana, como proposto pelos defensores da
turalismo, os direitos naturais são inerentes ao homem, anteriores ao Estado e, portanto, não con-
cedidos pelo direito positivo. Pouco importa se reconhecidos ou não pela ordem positiva, são direitos
Para os positivistas, direitos humanos são somente aqueles positivados na ordem jurídica estatal,
na lei positiva de cada Estado. Por consequência, não são considerados direitos inerentes ao homem,
Para a teoria moralista ou ética os direitos humanos são direitos morais e, portanto, “não afe-
rem a sua validade por normas positivadas, mas diretamente dos valores morais da coletividade
humana” (RAMOS, 2013, p. 49). Conforme Silva (2002, p. 130), “os direitos humanos como direi-
tos morais seriam aquelas exigências éticas, bens, valores, razões ou princípios morais de especial
importância gozados por todos os seres humanos, pelo simples fato de serem seres humanos, de
tal forma que permitem supor uma exigência ou demanda frente o resto da sociedade; e têm a
não o estiverem”.
54
6. Características dos direitos
humanos
Entende-se por características os elementos vinculados à concepção contemporânea de direitos
humanos.
6.1. Universalidade
A universalidade é o elemento constitutivo da gênese da ideia dos direitos
Em síntese, conforme Antonio-Henrique Perez Luño (2002), ou os direitos humanos são univer-
A indivisibilidade pressupõe a compreensão integral dos direitos humanos, não podendo dissociar
os direitos civis e políticos, de um lado, dos direitos econômicos, sociais e culturais, de outro. Não
se admite o fracionamento dos direitos humanos, uma vez que, conforme Flávia Piovesan (2003),
55
a Declaração Universal de 1948 introduziu inovação extraordinária ao conjugar o discurso liberal de
cidadania – expresso nas Declarações do final do século XVIII – com o discurso social – consignado,
Para Lysian Valdes e Danielle Annoni (2013, p. 40), “a característica da indivisibilidade fundamen-
ta-se no princípio da não discriminação, conferindo aos direitos humanos igual importância e, por-
É nesse contexto, destarte, que deve ser interpretada a noção de direitos humanos, em que os
direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais constituem direitos integrais,
6.3. Historicidade
Direitos Humanos são direitos históricos. Conforme Melo (2017), “a historicidade, enquanto carac-
terística, reconhece que os direitos humanos não nascem todos em um determinado momento, mas
são fruto de um longo processo histórico de avanços e retrocessos em seu reconhecimento e prote-
ção. Nas palavras de BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Elsevier, p. 9, “os direitos do homem, por
mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias,
caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo
gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas”.
contra retrocessos e flexibilizações na proteção aos direitos consagrados. Não há que flexibilizar ou
retroceder na proteção aos direitos assegurados para se conformar aos interesses políticos e econô-
56
Trata-se de característica particularmente importante no que tange à proteção aos direitos eco-
nômicos, sociais e culturais, para não retrocedê-los a níveis de proteção inferiores. Até mesmo por-
que há uma cláusula de progressiva realização dos direitos econômicos, sociais e culturais, como se
vê no Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (sistema global de direitos
que, até o máximo dos recursos disponíveis, cabe ao Estado implementar e assegurar esses direitos,
Em última análise, o que se pretende é a proteção contra os retrocessos, uma verdadeira “blinda-
gem protetiva”, além de impedir que a proteção deficiente comprometa a efetividade dos direitos,
6.5. Inalienabilidade
Trata-se da impossibilidade de transacionar ou comercializar direitos (humanos, fundamentais)
a outrem, uma vez que não possuem conteúdo econômico. São indisponíveis. Como observa Uadi
Lamego Bulos (2007, p. 406), “os seus titulares não podem vendê-los, aliená-los, comercializá-los,
6.6. Irrenunciabilidade
Direitos humanos são irrenunciáveis, não podendo ser abdicados, recusados ou rejeitados e qual-
6.7. Imprescritibilidade
No plano internacional, não há que se falar na incidência do instituto da prescrição para os direitos
humanos. Mesmo com o decurso do tempo, são exigíveis a qualquer momento. O fato de a pessoa
humana não exercê-lo por um longo período não implica o advento da prescrição.
57
7. Classificação de direitos humanos
A teoria das gerações de direitos é, sem dúvida, a mais conhecida – e alvo de intensas críticas –
Essa abordagem teve sua primeira formulação pelo jurista tcheco-francês Karel Vasak em uma
palestra realizada em 1979, que, por sua vez, foi albergada e difundida na obra A Era dos Direitos,
A teoria das gerações (ou geracional), inspirada nos ideais da Revolução Francesa (liberdade,
igualdade e fraternidade), divide a gênese histórica e o conteúdo dos direitos humanos em três gera-
Uma parcela significativa da doutrina optou por substituir o termo “geração de direitos” por
“dimensão de direitos”. Assim, onde se lê “geração de direitos” é possível substituir por “dimensão de
de Independência dos Estados Unidos, ambas de 1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do
O valor que caracteriza a primeira dimensão de direitos é a liberdade, que pode ser a liberdade de
58
Quanto ao conteúdo, os direitos de primeira dimensão são os direitos civis e políticos.
Entende-se por direitos civis o direito à vida, à liberdade, à propriedade privada, à igualdade for-
Os direitos civis e políticos são direitos de cunho negativo, de status negativo ou de prestações
negativas, ou seja, impõem a não intervenção do Estado na esfera do indivíduo, uma abstenção em
do século XIX (tendo como referencial teórico o Manifesto Comunista de 1848) e das transformações
sociopolíticas nos primeiros anos do século XX, como a Revolução Bolchevique na Rússia (1918) e as
O valor dos direitos de segunda geração (dimensão) é a igualdade, não a igualdade formal liberal,
mas a igualdade material, de condições de vida e trabalho das classes obreiras. Trata-se da igual-
O conteúdo da segunda dimensão são os direitos econômicos, sociais e culturais. São exemplos
ção sindical, de condições justas de trabalho; ou ainda de direitos culturais o respeito à identidade e
ação estatal para a sua efetivação. Em outras palavras, para políticas de educação, saúde, mora-
dia, etc., é necessário a alocação de recursos financeiros, uma atuação positiva do Estado para
efetivá-los.
59
7.3. Direitos humanos de terceira dimensão
Os direitos de terceira dimensão são os direitos de solidariedade, de fraternidade ou até mesmo
“direito dos povos”. São direitos de reconhecimento recente, após a Segunda Guerra Mundial.
São exemplos de direitos de terceira dimensão o direito ao meio ambiente, o direito à paz, à auto-
geração são destinados à proteção de grupos humanos (povo, nação e até mesmo a humanidade),
Revoluções Liberais
do século XVIII: Constituição do
• Revolução Industrial México (1917);
Recorte
• Independência das Revolução Russa (1918); Pós Segunda Guerra Mundial
Histórico
13 Colônias da América Constituição de
do Norte Weimar (1919)
• Revolução Francesa
60
7.5. A classificação de T. S. Marshall
A classificação geracional, concedida
por Karel Vasak e que se popularizou pelos
Para saber mais
escritos de Norberto Bobbio, foi precedida Uma concepção crítica da atual interpretação
dos direitos humanos é a hermenêutica diatópica
por uma teoria de análise evolutiva das
do sociólogo português Boaventura de Sousa
fases históricas dos direitos de cidadania, Santos. Trata-se de uma proposta teórica de
construção da cultura do outro a partir da leitura
exposta na obra Cidadania, Classe Social e do outro. Segundo ele, “a hermenêutica diatópica
oferece um amplo campo de possibilidades para
Status, lançada em 1950, de autoria de T. os debates que estão actualmente a ocorrer
nas diferentes regiões culturais do sistema
H. Marshall, sociólogo inglês que foi Chefe
mundial sobre os temas gerais do universalismo,
do Departamento de Ciências Sociais da relativismo, multiculturalismo, pós-colonialismo,
quadros culturais da transformação social,
UNESCO entre 1950 e 1960. tradicionalismo e renovação cultural”. A
hermenêutica diatópica permite o diálogo entre
Em sua obra, o autor inglês dividiu culturas para a formulação conjunta dos direitos
humanos. Para conhecer mais, acesse o link:
o desenvolvimento da cidadania em
<https://bit.ly/2jwI5kL>.
três partes: (i) direitos civis; (ii) direitos
Vamos pensar
Muitos doutrinadores defendem a existência de uma quarta dimensão de
61
Para subsidiar essa reflexão, recomenda-se o acesso ao artigo do Prof. Antônio Carlos Wolkmer,
Pontuando
• A concepção contemporânea dos direitos humanos tem como marco histórico o término da
Segunda Guerra Mundial e no plano institucional a criação das Nações Unidas em 1945, com
destaque para a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Com essa
• Para explicar a sua gênese histórica, a teoria das gerações (ou geracional) dos direitos huma-
nos, inspirada nos ideais da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), divide a
gênese histórica e o conteúdo dos direitos humanos em três gerações de direitos, congregando
Glossário
DIREITOS HUMANOS: entende-se os direitos consignados nos documentos internacionais adota-
dos no arcabouço do sistema global de direitos humanos das Nações Unidas e nos sistemas regio-
Teoria das Gerações/Dimensões de Direitos Humanos: teoria popularizada por Norberto Bobbio para
explicar a gênese histórica da afirmação dos direitos humanos desde o advento da modernidade.
62
Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - (VUNESP – 2014 – PC/SP – Investigador de Polícia). Na evolução histórica dos direitos
humanos, surgem o que se convencionou denominar de “gerações dos direitos”, que representam
alternativa que contempla direitos pertencentes à primeira geração dos direitos humanos:
b) Vida e liberdade.
QUESTÃO 2 - (VUNESP – 2013 – PC/SP – Escrivão de Polícia) Considerando o que a doutrina majo-
ritária dispõe sobre o desenvolvimento e conquista dos direitos humanos, pode-se afirmar que esse
desenvolvimento histórico, classificado por gerações de direitos, pode ser, cronologicamente, assim
representado:
63
QUESTÃO 3 - (Promotor de Justiça – MPE-2008) Sobre os direitos humanos, assinale a alternativa
correta:
b) Conceituam-se como posições jurídicas reconhecidas pela ordem jurídico- constitucional de cada
Estado soberano.
c) Sob uma perspectiva histórica abrangem apenas os direitos à liberdade, segurança e propriedade.
d) Compreendem, além dos direitos civis e políticos, os direitos sociais, econômicos e culturais,
QUESTÃO 4 - (CESPE – 2011 – DPE/MA – Defensor Público) Considerando a teoria geral dos direitos
a) Consoante a teoria da margem de apreciação, nenhuma norma de direitos humanos pode ser
ção de pessoa é o único requisito para a sua titularidade de direitos e das necessidades humanas
universais.
fundamentais.
e) Com a inclusão dos direitos sociais no rol dos direitos do homem, antes composto apenas de direi-
64
QUESTÃO 5 - (MP/SP - Analista de Promotoria - 2015 - VUNESP) Assinale a alternativa que correta-
mente disserta sobre aspectos conceituais dos Direitos Humanos em sua evolução histórica:
b) Os direitos de quarta dimensão, ou direitos de liberdade, têm como titular o indivíduo, são opo-
níveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subje-
tividade que é seu traço mais característico, sendo, assim, direitos de resistência ou oposição ao
Estado.
c) Os direitos fundamentais da primeira dimensão são marcados pela alteração da sociedade por
lógico e científico.
indivíduo e passam a se preocupar com o gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e
universalidade, inserindo o ser humano em uma coletividade que passa a ter direitos de solida-
riedade ou de fraternidade.
dade, sob o prisma substancial, real e material, e não meramente formal, mostra-se marcante
nos documentos pertencentes ao que se convencionou classificar como segunda dimensão dos
Direitos Humanos.
65
Referências bibliográficas
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BULOS, Uadi Lamego. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007.
PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Max Limonad, 2003.
RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 10. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2010.
______ ; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito Constitucional Ambiental. São Paulo: RT, 2011.
66
Gabarito
QUESTÃO 1 - Alternativa D
Os direitos de primeira geração são os chamados direitos de liberdade, que podem ser a liber-
QUESTÃO 2 - Alternativa A
A teoria das gerações (ou geracional), inspirada nos ideais da Revolução Francesa (liberdade,
igualdade e fraternidade), divide a gênese histórica e o conteúdo dos direitos humanos em três gera-
ções de direitos: (a) Direitos humanos de primeira geração, os chamados direitos de liberdade (direi-
tos de defesa), consistentes nos direitos civis e políticos, de índole individual; (b) Direitos humanos
micos, sociais e culturais, de natureza coletiva. (c) Direitos humanos de terceira geração, os direitos
da solidariedade, como o direito ao meio ambiente, direito à paz, à autodeterminação dos povos, ao
QUESTÃO 3 - Alternativa A
De fato, como assinalado pela assertiva e visto durante as aulas, são características dos direi-
tos humanos a universalidade (de todas as pessoas, sem discriminações), a indivisibilidade (dos
direitos civis e políticos e dos direitos econômicos, sociais e culturais) e a historicidade (são direitos
históricos).
67
QUESTÃO 4 - Alternativa D
A vedação ao retrocesso, também chamado de efeito cliquet, constitui uma verdadeira blindagem
contra retrocessos e flexibilizações na proteção aos direitos consagrados. Não há que flexibilizar ou
retroceder na proteção aos direitos assegurados para se conformar aos interesses políticos e econô-
QUESTÃO 5 - Alternativa E
68
4
O Brasil e o sistema
internacional de
direitos humanos
Objetivos
• Conhecer a dinâmica dos tratados internacionais na proteção da pessoa humana.
1. Introdução
A previsão institucional dos direitos humanos, na concepção contemporânea, ocorreu tardia-
República Federativa do Brasil. Conforme Melo (2017), “em nosso ordenamento jurídico, a dignidade
das normas”.
histórica os atos de supressão de direitos individuais após o regime militar e os desafios com a rede-
mocratização, a Constituição de 1988 consagrou no art. 5º uma plêiade de direitos sem preceden-
tes na história constitucional. Conforme Ingo Wolfgang Sarlet (2010, p. 65-66), “a relevância atri-
buída aos direitos fundamentais e até mesmo a configuração do seu conteúdo são frutos da rea-
ção do Constituinte, e das forças sociais e políticas nele representadas, ao regime de restrição e até
mesmo aniquilação das liberdades fundamentais”. Contemplou os direitos sociais (art. 6º) e os direi-
tos políticos (art. 14) e os direitos de solidariedade, como a proteção ao meio ambiente (art. 225).
Ademais, conferiu a abertura para o reconhecimento de novos direitos a partir da incorporação dos
70
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, a Convenção Americana de Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), dentre outros. Com isso, o Brasil se inseriu efetivamente
no sistema internacional de direitos humanos, tanto no global, das Nações Unidas, quando no sis-
Com efeito, um tratado significa um acordo internacional concluído entre dois os mais Estados,
regido pelas disposições do Direito Internacional, em especial da Convenção de Viena sobre Direito
recíprocas entre as partes (TRINDADE, 1999, p. 29). Essa é a dinâmica dos tratados clássicos, base-
ados na reciprocidade.
Já nos tratados de direitos humanos há uma especificidade ou caráter especial: o regime obje-
tivo. Isto é, não regulamentam direitos subjetivos (vantagens e obrigações recíprocas) entre Estados
(como nos tratados clássicos), mas as obrigações de interesse geral que os Estados se comprome-
tem na proteção dos direitos da pessoa humana. O regime objetivo dos tratados de direitos humanos
impõe deveres na proteção da pessoa humana e, de igual forma, o seu processo de interpretação é
em favor do indivíduo.
Conforme Antônio Augusto Cançado Trindade (1999, p. 29-30), “os tratados de direitos huma-
nos são claramente distintos dos tratados do tipo clássico, que estabelecem ou regulamentam direi-
de interesse geral ordre public que transcendem os interesses individuais das partes contratantes”.
71
O cerne e o conteúdo dos tratados de direitos humanos incorporam obrigações de caráter obje-
tivo que possuem um destinatário: a pessoa humana. É dizer, os tratados de direitos humanos são
elaborados e formulados para a proteção dos direitos essenciais da pessoa humana, que garantem
Com efeito, a Constituição Federal de 1988 confere um roteiro das fases de formação de um tra-
Presidente da República (art. 84, VIII, da CF/1988). Ao assinar um tratado, o Estado dá a sua aquies-
cência à sua forma e conteúdo, sem gerar efeitos jurídicos vinculantes (PIOVESAN, 2009, p. 47).
tuará o encaminhamento de Mensagem, com a exposição de motivos elaborada pelo Ministro das
Relações Exteriores e a cópia do ato internacional, ao Congresso Nacional, que possui competência
exclusiva para “resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarre-
72
No âmbito do Congresso Nacional, a apreciação será feita inicialmente na Câmara dos Deputados
legislativo. Em eventual não aprovação do tratado, não há estipulação de determinada espécie nor-
mativa, hipótese que se efetua somente à comunicação mediante mensagem (MAZZUOLI, 2011).
Com a promulgação do decreto legislativo, a etapa seguinte é a ratificação, ato jurídico com
efeitos no plano internacional (PIOVESAN, 2009). Frisa-se, contudo, que a ratificação é ato dis-
cricionário. Com a ratificação, o governo brasileiro efetua a troca (no caso dos tratados bilaterais)
ou depósito (no caso dos multilaterais, como os de direitos humanos) dos atos junto à autoridade
internacional responsável pela custódia, como exemplo o Secretário-Geral da ONU (nas convenções
interamericano de direitos humanos). Com o depósito ocorre a produção de seus efeitos jurídicos no
Não obstante a celebração definitiva com a ratificação, no direito brasileiro é necessário ainda,
como requisito para a entrada em vigor no plano interno, a promulgação e publicação de decreto
(2013, p. 258), “não há prazo para sua edição e até lá o Brasil está vinculado internacionalmente,
mas não internamente: esse descompasso enseja a óbvia responsabilização internacional do Brasil”.
Apesar das críticas doutrinárias, o fato é que o decreto presidencial promulgando o tratado é um
Poder Executivo e Legislativo, chamado de teoria dos atos complexos (RAMOS, 2013).
No que se refere à hierarquia dos tratados de direitos humanos, são quatro as principais correntes
• Supralegal: os tratados de direitos humanos estão acima da lei mas abaixo da Constituição.
73
Com efeito, antes do advento da Emenda Constitucional nº 45, de 2004, o entendimento do STF,
expresso no RE 80.004, do ano de 1977, era que os tratados internacionais, incluindo os de direitos
A adesão do Brasil ao Pacto de São José da Costa Rica, em 1992, teve o condão de trazer à
baila novas discussões sobre o status dos tratados de direitos humanos. Isso porque a Constituição
Brasileira estabelece a possibilidade da prisão do depositário infiel (art. 5º, LXVII, da CF/1988), ao
passo que o Pacto de São José da Costa Rica restringe a prisão civil somente para o descumprimento
das obrigações alimentares (art. 7º, inciso 7, do Pacto de São José da Costa Rica). Esse panorama
de São José da Costa Rica quanto pela sua subordinação à Constituição de 1988. Essa divisão se veri-
ficou no HC 72.131, de 1995, em que o STF, por maioria, decidiu pelo status de lei ordinária ao Pacto
Constituição de 1988, a saber: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
Esse novo dispositivo constitucional estabeleceu claramente a distinção entre os tratados comuns
o status dos tratados de direitos humanos aprovados antes e daqueles que forem aprovados após a
Essa discussão foi delineada no julgamento do RE 466.343/SP, de 2008, em mais uma decisão
que teve como objeto a possibilidade de prisão do depositário infiel, em que o STF conferiu uma nova
interpretação e adotou a teoria do duplo status dos tratados e convenções internacionais de direitos
humanos, a saber:
• Status constitucional;
• Status supralegal.
74
O status constitucional é para os tratados que se submetem ao rito do § 3º do art. 5º, da CF/1988.
Esse iter foi utilizado somente para a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas Portadoras
de Deficiência e o seu Protocolo Adicional, ambos do ano de 2007 e incorporados no ordenamento
jurídico brasileiro mediante o Decreto 6.949/2009.
Já o status supralegal significa que os tratados aprovados antes da EC 45 e mesmo os posterio-
res que não observarem o § 3º do art. 5º da CF/1988, estão abaixo da Constituição, porém acima da
legislação interna.
Conforme o RE 349.703-RS, do ano de 2008, em análise decisiva sobre a prisão civil do depo-
sitário infiel na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) e
na legislação interna, consignou que, “Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos
– Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para
prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais sobre direi-
tos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição,
porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de
direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele con-
flitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão” (grifo nosso).
No mesmo sentido, o REsp 914.253-SP, do STJ, do ano de 2009: “O Pretório Excelso, realizando
interpretação sistemática dos direitos humanos fundamentais, promoveu considerável mudança
acerca do tema em foco, assegurando os valores supremos do texto magno. O Órgão Pleno da Excelsa
Corte, por ocasião do histórico julgamento do Recurso Extraordinário nº 466.343 - SP, Relator Min.
Cezar Peluso, reconheceu que os tratados de direitos humanos têm hierarquia superior à lei ordi-
nária, ostentando status normativo supralegal, o que significa dizer que toda lei antagônica às nor-
mas emanadas de tratados internacionais sobre direitos humanos é destituída de validade, máxime
em face do efeito paralisante dos referidos tratados em relação às normas infra-legais autorizado-
ras da custódia do depositário infiel. Isso significa dizer que, no plano material, as regras provindas
da Convenção Americana de Direitos Humanos, em relação às normas internas, são ampliativas do
exercício do direito fundamental à liberdade, razão pela qual paralisam a eficácia normativa da regra
interna em sentido contrário, haja vista que não se trata aqui de revogação, mas de invalidade”.
75
4. Tratados material e formalmente
constitucionais e tratados
materialmente constitucionais
O STF adotou o duplo status dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos.
Contudo, doutrinadores como Flávia Piovesan (2009, p. 77-83) defendem que todos os tratados de
em duas categorias: (i) Tratados material e formalmente constitucionais; (ii) Tratados materialmente
constitucionais.
Os tratados material e formalmente constitucionais são aqueles aprovados pelo rito especial do §
meteu à aprovação em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros e, portanto, são equivalentes às emendas constitucionais e integram for-
malmente a Constituição de 1988. Já os tratados materialmente constitucionais são aqueles que não
passaram pela sistemática especial do § 3º do art. 5º da CF/1988, mas isso não significa que não
sejam normas constitucionais; só não integram sob o aspecto formal a Carta Magna.
5. Controle de convencionalidade
Conforme Melo (2017), “o controle de convencionalidade é a verificação de compatibilidade das
leis internas com os tratados e convenções internacionais de direitos humanos. Isto é, além da com-
sária a análise das leis internas em face das convenções internacionais de direitos humanos como,
por exemplo, a compatibilidade com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, com o exer-
76
A doutrina relaciona duas formas de exercício do controle de convencionalidade (RAMOS, 2013.
GUERRA, 2014):
• Controle de convencionalidade internacional: atribuído a órgãos internacionais, de acordo
com seu âmbito de atuação, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos (sistema inte-
ramericano), a Corte Europeia de Direitos Humanos (sistema europeu) e outros.
• Controle de convencionalidade nacional: que será exercido pelo Poder Judiciário no con-
trole nacional de supralegalidade ou constitucionalidade, já que no ordenamento brasileiro
se admite o duplo status dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos, de
acordo com a sistemática de incorporação correspondente.
No sistema interamericano de direitos humanos o controle de convencionalidade internacional é
exercido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, como órgão autêntico de interpretação da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Com efeito, “na jurisprudência da Corte Interamericana (Corte IDH), surgiu o conceito de controle
de convencionalidade para denominar a ferramenta que permite aos Estados realizar a obrigação de
garantia dos direitos humanos no âmbito interno, através da verificação da conformidade das nor-
mas e práticas nacionais, com a Convenção Americana de Direitos Humanos e sua jurisprudência”.
O controle de convencionalidade nacional, por sua vez, constitui a verificação pelo Poder Judiciário,
dentro de suas respectivas competências e regulamentações, da compatibilidade das leis internas
com as convenções internacionais de direitos humanos. No caso do sistema interamericano, a aná-
lise das leis brasileiras em face da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e da interpretação
conferida pela Corte Interamericana aos seus dispositivos. Isto é, o Poder Judiciário a exercer, de ofí-
cio, o controle de convencionalidade.
Consoante Valério de Oliveira Mazzuoli (2013, p. 382), “deve a lei ser compatível com a Constituição
e com os tratados internacionais (de direitos humanos e comuns) ratificados pelo governo. Caso a
norma esteja de acordo com a Constituição, mas não com eventual tratado já ratificado e em vigor
no plano interno, poderá ela ser considerada vigente (pois, repita-se, está de acordo com o texto
constitucional e não poderia ser de outra forma) – e ainda continuará perambulando nos compêndios
legislativos publicados –, mas não poderá ser tida como válida, por não ter passado imune a um dos
limites verticais materiais agora existentes: os tratados internacionais em vigor no plano interno”.
77
Exemplo de controle de convencionalidade internacional é o paradigmático Caso Gomes Lund Vs.
Brasil, em que a controvérsia versou sobre a responsabilidade do Estado brasileiro pela detenção
arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas, resultado de operações do Exército
brasileiro empreendidas entre 1972 e 1975 com o objetivo de eliminar a Guerrilha do Araguaia, no
contexto da ditadura militar brasileira (1964–1985).
Não obstante a Lei 6.683, de 1979, que concedeu anistia a todos que cometeram crimes políti-
cos e conexos durante a ditadura militar, a Corte Interamericana decidiu pela sua incompatibilidade
com a Convenção Americana, por impedir a investigação e sanção de graves violações de direitos
humanos cometidas pelo Estado brasileiro à época. Exerceu-se nesse julgamento um controle de
convencionalidade, isto é, análise que declarou a incompatibilidade da Lei de Anistia com as obri-
gações internacionais assumidas pelo Brasil com a internalização da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos.
Aliás, a Corte Interamericana relacionou igualmente nesse julgado a obrigação do controle de
convencionalidade ser feito pelos tribunais nacionais, como se vê: “quando um Estado é Parte de
um tratado internacional, como a Convenção Americana, todos os seus órgãos, inclusive seus juí-
zes, também estão submetidos àquele, o que os obriga a zelar para que os efeitos das disposições
da Convenção não se vejam enfraquecidos pela aplicação de normas contrárias a seu objeto e finali-
dade, e que desde o início carecem de efeitos jurídicos. O Poder Judiciário, nesse sentido, está inter-
nacionalmente obrigado a exercer um ‘controle de convencionalidade’ ex officio entre as normas
internas e a Convenção Americana, evidentemente no marco de suas respectivas competências e
das regulamentações processuais correspondentes” (parágrafo 176 da sentença).
Contudo, no presente caso “não foi exercido o controle de convencionalidade pelas autorida-
des jurisdicionais do Estado e que, pelo contrário, a decisão do Supremo Tribunal Federal confir-
mou a validade da interpretação da Lei de Anistia, sem considerar as obrigações internacionais do
Brasil derivadas do Direito Internacional, particularmente aquelas estabelecidas nos artigos 8 e 25 da
Convenção Americana, em relação com os artigos 1.1 e 2 do mesmo instrumento. O Tribunal estima
oportuno recordar que a obrigação de cumprir as obrigações internacionais voluntariamente contra-
ídas corresponde a um princípio básico do direito sobre a responsabilidade internacional dos Estados,
respaldado pela jurisprudência internacional e nacional, segundo o qual aqueles devem acatar suas
78
obrigações convencionais internacionais de boa-fé (pacta sunt servanda). Como já salientou esta
Corte e conforme dispõe o artigo 27 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969,
os Estados não podem, por razões de ordem interna, descumprir obrigações internacionais. As obri-
gações convencionais dos Estados Parte vinculam todos os seus poderes e órgãos, os quais devem
garantir o cumprimento das disposições convencionais e seus efeitos próprios (effet utile) no plano
Em síntese, a decisão no Caso Gomes Lund Vs. Brasil dispôs sobre o imperativo do exercício do
controle de constitucionalidade ser exercido no âmbito interno, pelo Poder Judiciário, quanto pelo
Por fim, quanto ao controle nacional, o Caso Cabrera García e Montiel Flores Vs. México, sen-
tença em 26 de novembro de 2010, parágrafo 225, consignou que a obrigação de todos os órgãos
de adotar as disposições da Convenção Americana incluiu o Poder Judiciário, que deve exercer o
controle de convencionalidade entre as leis estatais e as normas da Convenção Americana, nesses
termos: “Esta Corte estabeleceu na sua jurisprudência que reconhece que as autoridades nacionais
estão sujeitas à regra da lei e, portanto, são obrigadas a aplicar as disposições em vigor no ordena-
mento jurídico. Mas quando um Estado tenha ratificado um tratado internacional, como a Convenção
Americana, todos os seus órgãos, inclusive seus juízes, também estão sujeitos a isso, forçando-os a
garantir que os efeitos das disposições da Convenção não são afetados por regras contrárias ao seu
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6. Responsabilidade internacional
do Estado
Ao incorporar os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, os Estados se
comprometem a adotar as medidas de proteção e promoção aos direitos, isto é, possuem o dever
diária e suplementar, em caso de não cumprimento dos direitos consignados em uma determinada
convenção internacional (do sistema global ou regional de direitos humanos).
Para referenciar, o Brasil efetuou a sua adesão ao Pacto de São José da Costa Rica em 1992
aos direitos civis e políticos. Em caso de violação desses direitos, é possível, após o esgotamento da
jurisdição interna e outros requisitos, acionar o sistema interamericano de direitos humanos, nota-
violação de um direito que o Estado brasileiro estava obrigado a proteger (MELO, 2017).
Como exemplo, um brasileiro vítima de uma violação de direito previsto no Pacto de São José
da Costa Rica não poderá, em regra, peticionar diretamente à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos sem antes submeter e esgotar os procedimentos previstos na justiça brasileira. Essa regra
somente poderá ser flexibilizada se o Estado não garantir o devido processo legal, obstar o acesso
à Justiça e aos recursos judiciais, ou ainda se houver demora injustificada na decisão. Com o cum-
previsto no art. 50 do Pacto de São José da Costa Rica) que deverá ser observado pelo Estado bra-
sileiro. Contudo, em caso de não observância das recomendações do relatório, a Comissão encami-
nhará o caso para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, já que o Brasil reconhece a jurisdição
desse tribunal internacional para fatos posteriores a 10 de dezembro de 1998. A Corte Interamericana
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analisará o caso e se procedente, editará uma sentença de responsabilização internacional, que é
O Brasil foi condenado por violações de direitos humanos pela Corte Interamericana de Direitos
Vamos pensar
Na compreensão e discussão sobre o sistema internacional de direitos humanos e a Constituição
Constituição de 1988, em especial a Carta Internacional dos Direitos Humanos. Ademais, é impres-
cindível conhecer o Pacto de São José da Costa Rica, que é o documento internacional com maior
impacto no ordenamento jurídico brasileiro. Até mesmo porque a sua inobservância em algumas
o Estado brasileiro por violações de direitos humanos. Sugestão: estudar os órgãos protetivos do
Pacto de São José da Costa Rica: (a) Comissão Interamericana de Direitos Humanos e (b) Corte
Pontuando
• O cerne e o conteúdo dos tratados de direitos humanos incorporam obrigações de caráter
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são elaborados e formulados para a proteção dos direitos essenciais da pessoa humana, que
• O STF adota a teoria do duplo status dos tratados e convenções internacionais de direitos
humanos: (a) status de emenda constitucional, para os tratados que se submetem ao rito do
§ 3º do art. 5º, da CF/1988; (b) status supralegal, para os tratados aprovados antes da EC 45
rio de proteção aos direitos humanos é do Estado Parte. Caberá às instâncias internacionais a
uma determinada convenção internacional (do sistema global ou regional de direitos humanos).
Verificação de leitura
QUESTÃO 1 - (CESPE – 2014 – MPE/AC) No que concerne à relação entre os tratados internacionais
b) Os tratados internacionais de direitos humanos podem ser invocados, desde que tenham sido
c) A aplicação dos tratados internacionais de direitos humanos no plano interno inicia-se a partir do
d) Cabe ao Congresso Nacional ratificar os tratados internacionais de direitos humanos, que pas-
termos da EC nº 45/2004.
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QUESTÃO 2 - (FCC – 2010 – DPE/SP – Defensor Público) Tendo em conta a Emenda Constitucional
nº 45, de 2004, em relação à incorporação ao direito interno e à respectiva posição hierárquica dos
a) Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que haviam sido aprovados pelo
emendas constitucionais.
c) Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que vierem a ser aprovados por
três quintos dos votos dos membros de cada Casa do Congresso Nacional terão força de emen-
das constitucionais.
d) Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos ratificados pelo Brasil previa-
direitos humanos ratificados pelo Brasil nos termos da Emenda Constitucional nº 45 possuem
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QUESTÃO 3 - (CESPE – 2010 – MPE/RO – Promotor de Justiça) Assinale a opção correta acerca do
a) Apesar de ser membro pleno da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Brasil não ocupa a
mesma posição no Tribunal Penal Internacional, devido à impossibilidade, determinada por cláu-
b) Os direitos transindividuais ou difusos não podem ser exercidos senão por coletividades, e são
dência social.
d) Os direitos humanos de segunda geração ainda não foram incorporados à legislação nacional,
e) Devido a comando expresso da CF, o Brasil rege-se, em suas relações internacionais, entre outros,
QUESTÃO 4 - (FCC – 2013 – DPE/SP – Defensor Público) Os dois primeiros tratados sobre direitos
humanos aprovados de acordo com o rito especial do artigo 5º, § 3º da Constituição, introduzido pela
Emenda Constitucional nº 45/2004, foram:
a) O Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes, e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará).
b) A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Protocolo Facultativo à Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
c) O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e o
Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados.
d) A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, e o Protocolo Facultativo à Convenção
Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher.
e) O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, e o Segundo Protocolo
Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
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QUESTÃO 5 - (CESPE – 2011 – DPE/MA – Defensor Público) A proteção internacional dos direitos
humanos é um conjunto de normas jurídicas que garante o respeito à dignidade de todas as pessoas.
Com relação ao sistema e à natureza de proteção internacional contra as violações de direitos huma-
lista, que supera o princípio da reciprocidade e é comum aos direitos dos tratados.
b) A natureza diplomática da proteção internacional dos direitos humanos atribui aos Estados o
pátrio, do que se depreende que a nacionalidade tem especial importância nesse contexto.
d) A natureza sinalagmática dos tratados internacionais impõe obrigações estatais efetivas para a
e) O regime objetivo das normas internacionais de direitos humanos refere-se às várias obrigações
dos Estados com os indivíduos que estão sob sua jurisdição, independentemente da nacionali-
dade da pessoa.
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Referências bibliográficas
GUERRA, Sidney. Curso de Direitos Humanos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5. ed. São Paulo:
RT, 2011.
RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional.
3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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Gabarito
QUESTÃO 1 – Alternativa E
Conforme o art. 5º, § 3º, CF: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Possuem, como se
QUESTÃO 2 – Alternativa C
Conforme o art. 5º, § 3º, CF: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Trata-se do sta-
tus constitucional. Esse iter foi utilizado somente para a Convenção Internacional dos Direitos das
Pessoas Portadoras de Deficiência e o seu Protocolo Adicional, ambos do ano de 2007 e incorpora-
QUESTÃO 3 – Alternativa E
Conforme o art. 4º, II, da CF/88, o Brasil rege-se, em suas relações internacionais, entre outros,
QUESTÃO 4 – Alternativa B
De fato, esse iter foi utilizado somente para a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas
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QUESTÃO 5 – Alternativa E
Conforme Antônio Augusto Cançado Trindade, “os tratados de direitos humanos são clara-
mente distintos dos tratados do tipo clássico, que estabelecem ou regulamentam direitos subjeti-
interesse geral ordre public que transcendem os interesses individuais das partes contratantes”. O
cerne e o conteúdo dos tratados de direitos humanos incorporam obrigações de caráter objetivo
que possuem um destinatário: a pessoa humana. É dizer, os tratados de direitos humanos são ela-
borados e formulados para a proteção dos direitos essenciais da pessoa humana, que garantem a
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