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LUZINEIDE ANDRADE
MANAUS-AM
2019
ARENDT. Hannah. A Condição Humana; tradução de Roberto Raposo, posfácio de Celso
Lafer.-10.ed.-Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
Hannah Arendt, uma das maiores filosofas e teóricas políticas do século passado em seu livro
‘’A Condição Humana “ postula e discorre sobre múltiplas alternativas a respeito da
observação do mundo, bem como dos seres sociais ou não. Compreende mais que as
condições que a vida foi dada ao ser. Traz em si a compreensão da modernidade.
A diversidade humana, característica que influencia no falar e agir do homem, o permite ser
igual e diferente ao mesmo tempo. Por serem iguais, os homens compreendem-se entre si e
pensam no tempo futuro, e por serem diferentes, os homens necessitam da fala e do agir para
que possam se fazer compreender para outros homens.
Ação e fala andam juntas, visto que a ação é iniciada pela fala, e uma vez que se o homem
agisse sem a fala, seria um ser mecânico. A fala também pode ser uma atividade secundária
em outras situações, mas tem um papel muito importante na ação, uma vez que esta é
precedida por aquela.
Se o homem não se revelar a outro durante sua ação, significa que ela é somente um meio
para atingir determinado fim. Sendo assim a ação perde o seu objetivo, que é o de o homem
se fazer entender para outros.
Embora nos seja visível quem uma pessoa é, ao tentarmos exprimir essa ideia, acabamos
nos distanciando do objetivo inicial e exprimindo o que ela é, e assim perdemos o que ela tem
de único, pois verdadeiramente não a descrevemos, e sim um personagem. Isto se assemelha
ao fato de tentar definir o homem e chegar somente a respostas que exprimem o que ele é,
sendo que sua essência está em quem ele é. Esta incerteza, faz com haja barreiras entre os
negócios humanos.
Mesmo que o ato e o discurso ocorram por algum interesse, ainda assim, o homem é revelado,
uma vez que o interesse interliga as pessoas. E além de revelar as pessoas, esta ação e fala
revela alguma realidade mundana.
Dar-se o nome de teia de relações as relações não objetivas, que apesar de não
materializadas, são reais.
A teia de relações humanas tem dois aspectos, um negativo e outro positivo, o primeiro é pelo
fato da variabilidade de seu fim e vontades, que acabam entrando em conflito, fazendo com
que o agir acabe não atingindo seu alvo inicial. Mas graça a essa teia, o homem a partir do
seu agir, pode construir a sua história. Essas histórias também revelam o homem, mas este
homem não é autor nem produtor de sua própria história. Mesmo que apontemos o sujeito
responsável pelas fala e ação que dão início a uma história e por isso é personagem principal
dela, mesmo este não pode ser considerado autor do que acontece e irá acontecer. Só
conhecemos o ser humano quando ficamos cientes da história na qual ele é personagem
principal. Mas é necessário para isso conhecer sua história e a história que é dele, mas que
é contada por outro. Caso isso aconteça, estaremos diante de o que ele é e não quem ele é.
Para ser o personagem principal de uma história, o homem não precisa ter características de
um herói, basta que este participe da história. Essas qualidades estarão presentes na própria
ação e discurso dele e no fato dele interagir com o mundo e iniciar sua história. Toda história
manifesta algum acontecimento de um fato importante, que só será revelado a partir da
repetição desse fato por meio da fala e da ação. Só por meio da repetição da imitação é que
é revelada a teia de relações.
O agir e o falar existem somente fora do isolamento, pois são tangenciados pela teia de
relações. A ilusão de que exista o homem forte que não se relaciona com outros é falsa e
criada a partir do momento em que o homem se ilude imaginando que pode lidar com os
outros homens da mesma maneira que se faz com as coisas. Nos é conhecido histórias de
vários homens que eram considerados superiores a outros, mas fracassaram. Fracasso esse
atribuído a população, considerada inferior a ele.
Este superior passou a liderar e governar os demais. O que possibilitou a seguinte divisão:
Esse superior, com a função de dirigir e os demais, com a função de executar. Divisão essa
que começou pela iniciativa desse governador em se isolar por vontade própria, pois pensava
que por ser 'superior', era mais forte que os demais, não sabendo ele que sua força estava
em sua iniciativa e riscos e não na realização propriamente dita. Essa força que ele pensava
ter por estar só, na verdade advinha da força em conjunto dos demais, que ele monopolizava
e pegava para si. Dando a falsa ideia de que a força vinha dele.
A relação entre os homens é movimento, ou seja, ele não é só agente da ação como também
ser passivo. Sendo assim o agir pode possibilitar tanto a felicidade quanto a tristeza. E ação
não é um fato acabado, e sim dá sequência a outra ação, que dá sequência a outra, a outra
e assim por diante. O agir é algo que é feito pelo homem e atinge outros homens, fazendo
parte da relação entre os homens, por isso pode atingir um nível além do desejado,
transportando todas as barreiras. O homem necessita de barreiras, seja econômica, política,
de leis, entre outras, que venha a lhe assegurar estabilidade, mas as mesmas não são
totalmente seguras, o que possibilita que outrem venha a agir sobre elas e quebrá-las, daí a
importância da moderação para se respeitar o limite do outro e não o ultrapassar. Apesar
dessas barreiras, que protegem o homem, em corpo político, é necessário ter cuidado devido
sua imprevisibilidade, não apenas com relação a não se pode prever as consequências de
determinada atitude, mas também pelo fato de só se conhecer as consequências de
determinada ação somente a partir do momento em que se dá seu fim.
Na Grécia Antiga, os gregos não consideravam o ato de legislar como parte da política, já,
que era considerada como uma 'fabricação', podendo o legislador ser um estrangeiro,
enquanto para a política era permitido somente cidadãos. Já para os socráticos, a legislação
era uma atividade política.
A polis surgiu a partir do momento em que o homem percebeu que era útil viver junto e deveria
possibilitar ao homem conseguir reconhecimento e sucesso e tirar tudo o que tinha de
supérfluo na ação e na fala para que um ato pudesse trazer esse reconhecimento que ele
tanto almejava. A configuração da polis, cercada de muros, permitia que a história do homem
se concentrasse e pudesse ser vista e ouvida sempre e assim sua história permaneceria viva
para sempre.
A esfera política resulta da ação conjunta entre a fala e a ação. A polis não é o espaço físico
em si, mas o nascer do agir e falar entre as pessoas, portanto a polis está entre as pessoas,
ou seja, a ação e fala não necessitam necessariamente de um espaço físico, podendo existir
em qualquer tempo e lugar, pois a realidade do mundo só necessita que exista outros homens
para que ela possa existir também.
Já o poder, só está presente onde há uma sintonia entre discurso e ação; quando isso não
ocorre, se perde o poder e é essa perda que vem a pôr fim às comunidades políticas.
Mas a “matematificação” da física, mediante a qual o homem renunciou aos sentidos para fins
de adquirir conhecimento, teve, em seus últimos estágios, a inesperada, mas plausível
consequência de que toda pergunta que o homem faz à natureza é respondida em termos de
configurações matemáticas às quais nenhum modelo pode jamais corresponder, visto que
todo modelo teria que ser criado à imagem de nossas experiências sensoriais. (p. 300).
OBS.: É dentro desse espírito que Heisenberg diz só pode explicar a estrutura atômica em
linguagem matemática. Realmente, nada merecia menos fé para quem quisesse adquirir
conhecimento e aproximar-se da verdade que a observação passiva ou a mera contemplação.
Para que tivesse certeza, o homem tinha que verificar e, para conhecer, tinha que agir. (...)
O motivo pelo qual a vida se afirmou como ponto último de referência na era moderna e
permaneceu como bem supremo para a sociedade foi que a moderna inversão de posições
ocorreu dentro da textura de uma sociedade cristã, cuja crença fundamental nas sacros
santidade da vida sobrevivera à secularização e ao declínio geral da fé cristã, que nem mesmo
chegaram a abalá-la. (p. 327). Os resultados dessa inversão só podiam ser desastrosos para
a estima e a dignidade da política. A atividade política, que até então se inspirara basicamente
no desejo de imortalidade mundana, baixou agora ao nível de atividade sujeita a vicissitudes,
destinada remediar, de um lado, as consequências da natureza pecaminosa do homem, e de
outro, a atender às necessidades e interesses legítimos da vida terrena. Daí por diante,
qualquer aspiração à imortalidade só poderia ser equacionada com a vanglória; toda fama
que o mundo pudesse outorgar ao homem era ilusória, uma vez que o mundo era ainda mais
perecível que o homem, e a luta pela imortalidade humana era inútil, visto como a própria vida
era imortal. (p. 327).(...) somente quando a imortalidade da vida individual passou a ser o
credo básico da humanidade ocidental, isto é, somente com o surgimento do cristianismo, a
vida na Terra passou também a ser o bem supremo do homem.
A ação não possui fim ou finalidade. A canalização da capacidade humana de agir resulta do
processo da tentativa de suprimir a ação. A solução contra a imprevisibilidade de perdoar.
Sem a capacidade de perdão, a capacidade humana de atuar estaria enclausurada em um só
“se não fossemos perdoados, nossa capacidade de agir ficaria limitada, não estando obrigado
a cumprir com as promessas, não mentiríamos nossa identidade. “Ao contrário do perdão a
forca estabilizadora inerente a faculdade de prometer sempre foi conhecida em nossa
tradição”. A promessa vem para suprir a incapacidade de antecipar. A ação e o perdão são
considerados como uma espécie de milagres.
Arendt acaba por propor uma ampliada consideração da condição humana no que diz respeito
a modernidade, levando em consideração os fracassos e medos da humanidade. Isso e
determinado por três eventos modernos quais seja: a descoberta da América; a Reforma
Protestante e o avanço da tecnologia através da invenção do telescópio. Faz uma reflexão
sobre a proximidade do ser social com a natureza.
CRITICA PESSOAL
A obra de Hannah Arendt é imprescindível para enriquecer o saber filosófico de muitas
pessoas todos deveriam ler. Em “A Condição Humana”, ela faz um belo paralelo entre a
Grécia antiga com a modernidade como um mapa que nos faz situar em sua percepção
fazendo-nos transitar para o moderno a leitura e repleta de referência históricas para que
possamos refletir sobre um fato para que possa ser aplicado nos conhecimentos atuais.
REFERÊNCIA
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense
Universitária, 2000.