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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in memariam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-L1NE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança a todo aquele que no-Ia
pedir (1 Podro 3.15).
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
") "., visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim Incttados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprolundamento do nosso esMo.
Eis o que neste &ite Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista aistão a fim de que as dúvidas se
. ,"" dissipem e a vivência católica se fortaleça
_ ... no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splondor que se
encarrega do respectivo slte.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Estevão Bettencourt, aSB

NOTA DO APOSTOLADO VERrTATlS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Benencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre alual
conleúdo da revista teol6oico - filosófica ·Pergunte e
Responderemos·, que conta com mais de 40 anos de publicação.
A d. EstêvAo Bettencourt agradecemos a conflaça
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Sumário
~..
VIDA. E MORTE EM DUel.O • .. . .. • . . . , . .• • . • , • •.•.. 133

"Co"verwa, com um gorll." ;


OS ANIMAIS FALAM? .•.......• . .•...... .. . ..... • ... •......... 13.
M~Icot, psldlogol • teólogos dIscutem :
TRANSEXUAlISMO ; COMO CURAR? ..... .......•.•. . .. . .. . ... 151

Alllude ,pa.loral?
eeNçAO PAFlA UNIOES ILEGITlMAS 7 \68

L IVROS EM ES~NTE .................• , .••.. " . . •.. . .. .. •. .• \76

COM APROVAÇAO ECUSIASTlCA

• • •

NO PRóXIMO N!:IMERO:

Um Estado islÔlmico ? - As finonco~ do Vaticano (I) , quadro serol.


_ AI finon(O$ do Vaticano (11) , objeções e respostos. - _(6Ii(.»
de Chico 8uorque " Gilberto Gil.

-- x
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS .

Número avulso de qualquer mês . . .... Cr$ 18.00


Assinatura anual ,., . : .. ... ........ .. . ... _. . crS 180,00

Dlreçã'o e Redação de Estêvão Bettencourt O .S . B.

ADl\IINISTRAÇAO
Llvro.rb. l\1I"lo~rla Editara REDAÇAO DE PR
Rua México, 168-B (Castelo)
Cnlxa Posta! Z. eS8
2O .OSI Rio de ,Jane iro ( RJ)
Tel.: 2201·0039 20 .000 Ri o d e Ja.nell'O (RJ l
VIDA E MORTE EM Duim:~
«A morte e a vida. 18 enoontrusm em duelo estupendo.
O Rei d& vida, tendo morrldo, roID& vivo!>
São estas as palavras com que no domingo de Páscoa a
S. Igreja saúda o Cristo Jesus.
A morte e a vida em duelo ... COmo isto é real! Diz-se
mesmo que 8. tinic& certeza que a criança possa ter, ao nas·
cer, é a de que morreR.
Aos olhos da razão humana, a morte talvez pareça um
enigma: brutal, ela corta a existência terrestre da pessoa.. não
raro quando esta menos O espera. Alguns fUÓ90fos quiseram
enaltecer a morte como sendo o momento do supremo he·
roismo . . . Parece, porém, um pouco artificial exaltar a morte
se ela é tida como mero flm ou se não ê seguida de outra
vida, _.. da vida definitiva.
Aos olhos da fé. a morte tisica toma sentido próprio e
altamente signlficativo. Com efeito. a S. Escritura associa a
morte ao pecado, alJ.rmando que, embora a morte seja um fenô·
meno natural, ela ocorre na história concreta dos homens em
conseqüência do pecado: «Por meio de um só homem, o pecado
entrou no mundo e, pelo pecado, a morte» (Rm 5,12). Toda-
via Cristo quis assumir a morte do homem com todos os seus
precursores e dela.· fez o ato de suprema entrega ao Pai. SIm.
já ao entrar no mundo, dizia Jesus ao Pai: cNão quiseste
sacrlficlo e oferenda. Tu, porém, me formaste um corpo . ..
Por isto eu digo : 'Eis-me aqui... Eu vim, ó Deus. para
fazer a tua vontade' » (Hb 10,5·7). Toda a existência terres-
tre de Cristo não foi senão a reafirmatão constante dessa
entrega. de tal modo que a morte veio a ser a consumação
da mesma. Assim Cristo regatou a morte do homem; de
justa pena devida ao pecado. tomou-se a expressão do amor
a Deus. Pode-se mesmG dizer: o segundo Adão se fez obe·
dlente até a morte para redimir o caminho do primeiro Adão,
Que se fez desobediente até a morte (cf. Rm 5,14) . A ressur-
rel~ão corporal de Cristo é precisamente o sinal dessa con·
sumatão.
Ora Cristo não morreu e ressuscitou apenas como modelo
dos homens. Ele o tez também como sacramento. Isto Quer
dizer; a vitória de Cristo sobre B morte se comunica aos
homens mediante os filetes dos sacramentos (especialmente
mediante O Batismo e a Eucaristia). Enxertado na morte e
na ressurreição de Cristo, o cristão deve procurar traduzir

----
em atos essa comunhão com o Senhor: procC\u~re::'.t,ír~.n~~=::}
todO! os dias ao velho homem, dando assim f - a que
-133 -
o novo homem nele tome wltoj faça. do seu definhar tísico
cu biológico um paulatino morrer para o pecado! Dores,
doenças e tribulacões pennltidos pela Providência Divina po-
dem perder o seu sinal negativo e tornar-se algo de positivo.
se aceitos em união com os de Cristo, pois ccncorrem para
libertar o cristão do elolsmo e das paixões desregradas. Se·
ria para desejar que, ao ténnino da caminhada presente. o
disclpulo de Disto não tivesse mais nenhum resqulcio de
cobiça desordenada, mas estivesse penetrado até os seus mais
inUmos afetos pela vida nova recebIda no Batismo e na Euca-
ristia.
Vê-se, pois, que, para o cr1stão. não hã morte sem mais;
ao contrário, a morte é sempre acompanhada de ressurreIção,
como nota enfaticamente o Apóstolo: «Incessantemente e por
toda a parte, trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a
fim de que a vida de Jesus seja também manifesta em nosso
corpo:. (2Cor 4,10).
Das premissas se segue outrossim que a morte não é um
ponto isolado na exlstência do homem, mas está presente a
este todos os dias: c:Morro diariamente:., diz São Paulo (lCor
15,31). Da mesma forma, a eternidade não é algo de mera-
mente vindouro, mas é reaUdade que se entrelaça com o tempo
no decorrer mesmo da existência terrestre do cristão.
Entendemos então que os antigos fiéis chamassem o dia
da m()rte de um confrade edles natalisit, dia natal1clo. Sim;
no momento da morte se tcnnlna a longa gestação que tem
Inicio no seio matemo sob a responsabiUdade da genitora, e
que se continua na caminhada desta vida, sob a responsabll1.
dade do próprio sujeIto. Todo homem na terra ainda estA
em fonna~o: a sua verdadeira e definitiva estatura, que é
interior, ainda não foi atingida, mas só estará consumada ao
nm desta jornada terrestre!
Tais concePcÕes são aptas a revirar a noeão de morte
que a natureza nos sugere. Importa ao cristão tomar viva
consciência das mesmas c habituar-se 8 viver a entrega de
si com Cristo ao Pai a todo momento. Diz o adâgio popular;
cCada um morre como viveu. - o que significa: a última
etapa do n08$O procesSo de fonnação interior será da indole
das etapas anteriores; . .. será uma resposta pronta, solícita
e feliz ao chamado do Pai, se nos acostumarmos a ser pron-
tos e solicitas to~8S as vezes que sentinnos um apelo do Se·
nhor no decorrer desta caminhada.
Queira, pois, o Senhor ressuscitado dar a todos os cris-
tãos a autêntica vivência da sua morte e ressurreição~
E .B
-134-
-PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XX - Nf 232 - Abril de 1~9

I'Conversas com um gorll.":

os animais falam?
Em .inl ••• : O p,eaente arllgo comanta o relatório da psicóloga
Franclne (Penny) Pelt,,,on. publicado em "NaUonal Geographlc" de OUIU·
bro 1978, • respalto da aplendlzagem de Ilnal, de comunlcaçlo por parte
da gorila fêmea Koko. Os surpreendentes resullados a que chegou 8 pesqui-
sadora, parecem Insinuar que o anlm.1 Inlr.. humll'lO lamb~m poda 'a'ar, ao
manos por 5111811, como os lurdo-mudO$ humanos.

Nota-se, po~m :

") Seria preciso que outros plISqullodoraa levassem a eleito ••me-


lhanl. olludo a fim d. 18 larem dados mais copiosos fi mlls ,elal6rlos a
ra,palto do 'anOmeno. A b... per. ,aliado I.rla mais ampla. "guI'.
2) Mullos pslcólogol li cl.nUstas c:ontempor4neo. odotem I filosofia
omplrllta fi neoposlUvlsla. Esla vellllca DI ran6menos e nlo procura ••
causas dos mesmOSi por consogulnte, SII o gOllla diz por s inais que sente
dor 01.1 'am seda e I) s urdo-mudO humano lal o mesmo, conClul m qua o
gorila e o homem fallm a tlm Inteligência, ..m In....stlg.r OI porquAa di
lal comportamento. Na verdade, o gorila pode exprimir ,entlmentos de delr,
.ode, ralvl, mas nlo , Clpaz de dissertar lobra o que' • dor, e ..da, a
raiva ... Poeta agIr por ral1a.os condlclonldos, mal nam por lato raciocina •..
Ora Ftanclna Paltarlon ta""al astaJa faltnclo linguagem amplll.ta a
neoposlUvlsla. Dal a Impon.i!.nçla de qua oulrol psicólogos pro ..I".m li
pesquisa, pcls Isto oleree.,' mais elem.nto. plra aa Julglr o CllO • acarre-
t01l1l diversas apreclaçO.. do lenbmllno a plrUr d, dlvaraOl ponto. da vlata,
Somante anllo I.rã poulval I.nlar fOlmular um Juizo lobra o ampolgan'.
caso da "laia do gOllla".

• • •
Comentário: A revista National Geograph1c, em seu nú'
mero de outubro 1978, pp. 438·465, publicou um artigo da
autoria da psicóloga Francine (Penny) Patterson. que, sob o
titulo «Conversations with a gorllla:t, narra experiências rea·
lIza.das COm a gorila fêmea Koko, que naquela data tinha
sete anos de idade. Visto Que o animaJ é incapaz de êmitir

-135 -
" (PERGUNTE E RESPONDEREMOS) 232/1919

sons caracterrstlcos de linguagem oral, a psicóloga ensinou a


KOko os sinais d.a llnguagem dos surdo· mudos. Após seis
anos de treinamento, l"rancine Patterson, candidata a douto·
rado na Stanford Unlverslty (U.S . A.), estima ter o vocabu-
lârlo <Je Koko 375 sinais. Incluindo os de aviii.o. umbigo, piru·
I.do, amigo .. _ Segundo a pesquiSadora, }{o.ko n .>spond~ a per-
guntas e PÕe questões; Tevela estar triste ou alegre; é capaz
de mostrar bom humor, de Injuriar e de mentir ...

~ precisamente o teor ~e tais experiências que vamos


abaixo resumir; à descrição seguir-se-ão breves observacÕes
suscitadas pelo próprio teor dos elementos descritos. Trans-
mitiremos de maneira objetiva o relato da psicóloga; só depois
passaremos aos comentários respectivos.

1. A narração d. Froncine Patterson


1 .1 . Origem da pe,qulsa

Franclne Patterson em 1970 candidatou-se ao doutorado


em Psicologia na Universidade de Stanford, escolhendo, para
objeto de suas pesQuisas, primatas infra· humanos. Em 1971,
duas colegas - R. Allen e Bentrice Gardner - narraram·
·lhe O êxito obtido na DPrcndl2B.gem proposta a Washoe. uma
(êmea de chimpanzé. As duas pslcólogas haviam ensinado a
Washoe a linguagem dos surdo-mudos (American Slgn Lan-
gua.ge. Ameslan) , utilizada por 200 .000 pacientes hwnanos j
ora a chimpanzé fêmea aprendeu 34 sinais durante os pri.
meiros 22 meses de treinamento; em cinco anos Washoe. em
1970, tinha aprendido 132 s inais, que ela usava em combina-
ções semelhantes às Que fazem as crianças quando começam
a se exprimir.
Ao ouvir a explanaçáo de tais experiências, Fr. Patterson
resolveu dedlcar . se 80S chimpanzés, Eis, porém, Que, ao visl·
tar o Jardim Zoológico de San Francisco, preferju exerçitar
uma gorlla f~mea, que tinha apenas um ano de idade e tra.
zla o nome de Hanabl·Ko (o que em japonês significa dllha
dos fogos de artlftclo») e o apelido de Kako. O treinamento
teve inicio em 'ulho de 1972 e prosseguiu anos a fio. enquanto
o animal la atingindo o seu peso definitivo de 250 libras '.
I A libra brltAnlea equivale e 4:.3,6 g.

- 136-
OS ANIMAIS FALAM? 5

A principio, Ko.ko reagia agressivamente às tentativas de


aprendizado, chegando a morder mais de uma vez a sua mes·
tra. Aos poucos, porem. a resistência foi sendo vencida: o
animal aprendeu os slna1s para exprimir «beben e «malsa.
Nos primeiros dezoito meses, foi assimilando um sinal por
mês, em média. Após trlnta e seis meses de treinamento, já
utilizava 184 sinais. Na Idade de quatro anos e melo, ou seja,
após três anos e melo de exercicio, possula o domínio de 222
sinais. Com seis anos e melo de idade, Ko1<o havia emitido,
de modo correto, 645 sinlls diferentes; habitualmente, porém,
usa cerca de 375 apenas.

1 .2 . bgi",e d. vida

Para racilitar a aprendizagem de Koko, a psicóloga pro·


videnclou em 1974 instalações domiciliares e um regime de
vida oportunos no «campusll da Stanford University.

Tratava·se de uma casa pré.fabrlcada dotada de sala de


estar, pequeno Quarto de donnir com seu corredor de acesso,
banheiro, cozinha. .. As janelas da sala de estar eram mu·
nidas de cortlnn. n fim de Impedir comunicações do Interior
da casa com o exterior e vlce.yersa. A sala de estar apre·
sentava uma baITa para exercidos e um traDézlo. A casa
era mobiliada com cadeiras, leitos. geladeira. livros. brinaue·
dos, espelhos, plantas, etc. - Em setembro de 1976. o gorila
ma-cho Michael foi recebido sob o mesma teto, a fim de ser
submetido a semelhante aprendizagem, ficando ele em com·
partlmentos próprios, separados dos de Koko.

A fêmea. sendo extremamente curiosa a respeito da ma·


neira como os objetos sio eonstltuldos, nunca pôde ter um
colchão em sua eama: com seus dentes poderosos, ela des·
mantelou todos os que lhe roram oferecidos. Ela prefere pre·
parar para 51 um berço com toalhas e muitas almofadas.
Koko levanta·se às 8h ou 8h 30min da manhã. ouando
Penny, a mestra. e sua assIstente Ann Southcombe r.he2·'lm
RO domicilio. As vezes, Mfchael a faz levantar mJ!:ls cp.do.
Toma seu desjejum, que consta de pio de cereais, leite e fru·
tas. A seguir, ajuda na lImoeza dos quartos. Feito isto.
J!'eralmente ela recebe 8 primeIra aula do dia, com a durR.cáo
de trinta minutos. segue·se cerca de uma hora em que Koko

-137 -
6 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 232/1979

e Mlchael brincam de esconder. de caçar, de combate corpo


a corpo. . . Por fim. ocorre mais uma lição de linguagem por
sinais.

ÀS 13h Koko toma breve reCclçã'O: um ovo ou cnrna.


suco e um tableta de vitaminas. As 101h ou 14h 30 min, come
um sandulche com manteiga e presunto. Ás 15h hâ outra
sessão de brincadelrns com Mikc ou passeio com Francine a
pé ou de carro.

As 17h serve·se a Koko o jantar, que consta quase exclu·


sivamente de vegetais; ela prefere espigas de milho e toma·
tes, cogumelos e rabanetes; menos gosta de espinafre e cenou·
ras; tem horror a azeitonas! Aprecia especialmente os ali.
mentos mais caros, como alcachoCras. aspargos, etc. Se Koko
come tudo o que está em seu prato, ainda recebe uma sobre·
mesa, como frutas· secas, queijo, pão doce, bolinhos, geléias ...

Após o jantar, Koko ou se entrega à inspeção de um


livroOU pintura, ou faz um ninho suave com os seus cober.
tores, ou brinca com as suns bonecas (aplicando a orelha da
boneca a sua própria orelha, diz ela: cEsta orelha:.).
Apõs terem escavado os dentes, os dois gorilas se deitilm
entre 7h e 7h 3Omln; Xoko t-oma então uma Iguaria (fruta,
não raro), que lha torna agradávtol n hora de se deitnr.
Em fJns de semana ou em outras ocasiões nas quais o
C"campus:. unlverslttirlo está. t ranqüilo, Koko. Mlchael, Ann e
Francinc saem de carro o passeIo. Os dois animais se deixam
absorver de tal modo pelas cenas avistadas que penno.necem
tranqüilos em seus assentos. Ocasionalmente Kol(o f8.2 sinais
indicando aonde quer Ir. No vemo a comitiva se dirl~c paro
as rolinas Djerassl, onde os ~otilas têm a ooortunidadc de
trepar nas tirvores como se estivessem em seu ha.bltat natural.
Como se vê, nlio ooderio. Koko receber melhor trata·
mp.nto: vem a ser con~derada como prln~ Que P.Oza de
todo o carinho• .8. fim de que a suo. nnrendlz'l~rn nooSI\ pro·
duzlr os melhores efeitos: "!m fevereiro <1e 1971). d 17. ~ risl·
roloaa que o seu OI era de 84 na t'seala da Stanford.Bint'
Tntt'lIlprmce: cinco meses: depOi!1=. com a id~de de Quatro anos.
tinha. cheg-ado a 9!i. pouco abaixo da média dI'! uma criancR:
em janelm de 1971l; porem. regredlu para 85, segundo um
ritmo oscilatório não estranho.
-138 -
os ANIMAIS FALAM? ,
Importa agora considerar algumas das expressões de
«inteligência,. e linguagem que Francine Patterson atribui a
Koko.

1 .3 . T'cnlcos d. oprtnd'ilagem
A fim de fac1lltar a aprendi2agem de Koko, Franclne
Patterson costumava pronunciar ou mesmo soletrar as pala-
vras correspondentes aos sinais transmitidos ao animal. Koko
assim compreende centenas de palavras orais da Ungua in·
glesa, embora não as possa reprodtnir vocalmente.
Além dilto, thn sido utillzados recursos tecnológicos. O
Prot. Patrick Suppes e seus colegas do Stantord's Institute
for Mathema tical Studles in the Social Sciences conceberam
um computador dotado de teclado próprio: cada tecla corres·
pende a uma letra. a um número ou mesmo oS uma palavra
signlficatlva de algum Objeto; em conseqüência, ao premer as
diversas teclas. Koko ouve o som correspondente em inglês;
assim vai habituando o ouvIdo ao vocabulário inglês - o que
facilita acompanhar posteriormente as palavras e frases que
a psicóloga lhe dirige.
No decurso do treinamento, Koko conseguiu responder
adequadamente a frases ou lnterpelacães que lhe foram diri-
gidas em Inglês; não raro chegou n traduzir em sinais as
palavras orais Que ouViu. Assim Interrogada em inglês: c:Do
you ",ani a tuto ot buiter? (Você quer um pouco de man- •
leiga?):., respondeu por sinais ; «A taste 01 buUer (um pouco
de manteiga):..
Quando a psicóloga colocava diante de Kako uma macã,
ela às vezes premia as teclas significativas de c:querer:.,
«maçã:., «comen, e o computador emitia uma voz femln1na
que proferla tais palavras. Assim Koko Indiretamente conse·
gue produzir os vocábulos InGleses significativos de objetos,
idéias (! ações já incluidos em seu repertório de sinais.
Mais: a psicóloga obteve novo requinte da parte do anl.
mal, 8 saber: usando o Indicador da mão llireita para bater
no teclado e reservando a esquerda para fazer sinais, Koko
chegou a emitir sinais e (indiretamente) palavras ao mesmo
tempo. Ao produzir sinais, o animal pode também bater II
máqUina uma palavra ou uma frase idêntica ou complemen.
tar ao sinal; assim o computador traduz em palavras a men-

-139 -
8 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» :lJ2Il979

sagem de Koko. Esta. conforme Franclne. vem a ser cu.


ambJde.xtmas and biIiDguaI gorilla» (uma gorila ambidestra
e bllingüe)!

t:: de se notar também. conforme a psicóloga, que o ani·


mal responde a centenas de palavras sem recorrer ao compu·
tador e sem teclado, mas emitindo sons vocáJioos. Acontece,
porêm, que o vocabulário oral de Koko é restrito a 46 pala.
vras, visto que o animal carece da confIguração bucal neces-
sárIa para I!mltir linguagem oral.
Em setembro de 1976, foi dado um companheiro a KOko,
a saber; o gorila macho Michael, que na época tinha três
anos e meio de idade. Mlchael (ou Mike) foi submetJdo ao
aprendizado da linguagem dos sinais por obra da psicóloga
Ann Southcombej também Koko participou dessa tarefa, ten-
tando ensinar a Mike os sinais representativos de Koko e de
«"cócega» . O macho, porém, ate outubro de 1978 s6 havia
havia adquirido o uso de 35 sinais!

No começo de 1978, Mike procurou os sinais exatos para


convencer Ann de que devia deixar brincasse com Koko.
Ciente disto, a fêmea pós-se a esperâ-Jo com impaciência em
seu cublculo; fez sinais para Mike através de um fio que ligava
o seu quarto no do macho, dizendo-Ihe entre outras coisas:
. Koko bom abraço:.. Finalmente Mlke emitiu o gesto repre-
sentativo de . Koko:.. Esta, allvlada, t'Mpondeu: cBom conhe.
• cer Mlke:. e, a seguir: "Para dentro Mlke».

1 .4. Exp"",sôes da «intelig'ndoll 8 linguagem


Passamos agora a relatar algumas das experiências con.
cretas que Penny descreve em seu artigo, respeitando sem-
pre a maneira como a psicóloga as propõe. Tentaremos agru·
par tais episódios sob subtitulos genéricos.

1. Koko dá provas de empatia em relação a animais


que ela avista. Tendo encontrado um cavalo com um freio
na boca. fez sinal para dizer: .Cavalo triste:.. Interrogada
sobre o motivo da tristeza do cavalo, respondeu : .Dentes».
- 140-
os ANIMAIS FALAM?

2, Ao ver 8 fotografia de famoso gorila albino Snow·
f1ake (fioco de neve) que relutava contra um banho, ,Kokó
(a qual tambêm repudia banhos) assinalou: cEu gritar alI:-,
enquanto apontava para a fotografia.
3. Quanto à recordação de emoções, narra Francine
Patterson:
"Kollo o eu Ilvemoll fllgnlflcatlva corworea • respalto de mordu Inct
dente. Minha manalre de record6·lo. Ir" di .. depois de ocorrido. fof Ipr~
'Ilmadamenll I slgulnle:
Eu ; 'Que fez vocG a penny 7'
Koko; 'Morde,' (Koko, na (lca,lto do InclCle"te. chamava isso an.nharl,
Eu : 'Vocl admite Isso l '
Koko : 'Pesarosa, morder, arranhlr',
(NIssI momento, mostrei . Koko • marel! em minha mio: parlcl.
ser realmenle um arranhA0) ,
Koko : 'Olenu morde" ,
Eu : 'Por que morder l'
Kaka: 'Porque furiosa',
Eu : 'Por que furiosa l'
Koko : 'NAo sal I' " .

:Este diálogo surpreendeu Fr. Patterson porque o animal


manifestava ter memória ou a recordação de haver mordido
sua mestra; todavia não sabia. Indicar a causa por que come·
tera tal agressão.

b) DlsclnSão

1, Segundo Franclne Pa tterson, Koko gosta de discutir


e não foge mesmo a Injuriar o interlocutor.
Como .exemplo wsto, cita a psiCÓloga o seguinte caso:
Em 1917, às 6h de uma tarde d@ primavera, Frane1ne
entrou no quarto de Koko para pO·la na cama, Foi saudada
por Cathy Ransom. uma das suas assistentes (aliá.s, surda).
que lhe referiu uma discussão ocorrida entre ela e Koko.
Francine poderia ter·se assustado ao saber que frágil mulher
se defrontara com uma fêmea de gorila robusta na Idade dos
- 141 -
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 232/1979

sel:; anos. Todavia Cathy ria·se do ocorrido; registrara em


wn caderno de apontamentos as respostas que, durante a dis·
cussão, Koko la dando à sua preceptora.
A discussão come;ou quando Cathy mostrou ao arumaJ
a fotografia deste em fonna de cartaz destinado a arrecadar
fundos numa campanha em prol da pesquisa da e Intellgencia»
gorUa.

Gestitulando, Calhy perguntou a Koko:


eQue é Ist011l
eGorlla», respondeu Koko.
eQuem gorila?», interrogou Cathy.
ePãssaro», respondeu Koko pirracenta, dando ln!elo a
certa agresslvidade.
«Você pássaro?:., indagou cathy.
«Voro», contestou Koko.
eNão eu, você é pássaro_, retrucou Cathy, na certeza de
que e pãssaro ~ era uma injúria no vocabulário de Koko.

eEu gorila., afirmou Koko.


eQuem é pàssaroh pell:\lntou Cathy.
«Você é noz», replicou Koko, recorrendo a outra de suas
palavras ofensivas (para Koko, pássaro e noz são vocábulos
que podem ter sentido pejorativo. de acordo com as circuns·
tânclas em que são utmzadas) .
«Por que cu noz? ~ indagou CBthy.
«Noz, noz», assi~a lou Koko.
eVoct noz. eu não », retrucou Cnthy.
Finalmente. Koko desisUu do colÓQuio. Queixosa. ela ainda
disse,
«Condenar-me boa:o.
E fol.se emoora, exclamando:
eMã'!»

- 142-
.______________~OS~A~NnUUS~~~F~~~LAM~~?____________~ll
2 . Em certa ocasião, depois de ter arrancado Urlos de
wn campo de flores pela segunda vez. Koko foi severamente.
repreendida por Penny. Então pôs as mãos na cabeça. slgni-.
ficando estar perturbada. penny continuou o diálogo, pergurt-
tando-Ihe: «Que fez você?::. Koko desviou o olhar e respon.
deu resignadamente: .Segunda vez:..

3. Em conseqüência de mau comportamento, Penny


aplica a Koko uma punl(:ão: manda que vá para um canto
do quarto e que fique de semblante vIrado para as paredes.
Quando a falta comeUda é de pouca monta. o animal pede
perdão, breve intervalo após ter sido punido. Quando, porém,
a repreensão ê mais severa, Koko logo se vira para Penny,
manifesta estar triste, e pede um abraço.
4 . Koko apresenta outras reações às censuras que
recebe.

Durante wna sessão de filme de televisão, certa vez Fran·


clne se afastou do salãoj Koko então tentou roubar um cacho
de uvas que se achava numa tigela. A psicóloga censurou-a,
ao verllicá·lo: _Deixe de roubar. Não seja tão gulosa. Seja
educada. peça.me o qUe deseja. Roubar é feio. feio, como
mOMer c ferir os outros são coisas feias, . E prosseguiu
Itrancine: cQuc faz Penny que seja rulm?a Respondeu K.oko:
«Quebrar coisas. mentir, dizer·me 'educada' (quando ~tou)
com fome_o

cI Mentiras d. KolI:o
Penny. através de suas experiências, convenceU· se de que
Koko tinha a capacidade de menUr para tentar livrar-se de
sltuaçõcs embarnços.íls, ia semelhança do que acontece entre
os homens. Para a pslcôloga, trata·se de mentiras propria-
mente dUas ou deturpações da verdade, e não simplesmente
de enganos ou falhn s cometidas pela aprendiz.
1 . Tinha cinco anos quando a gorila descobriu a carte_
de mentir. Uma das primeiras mentiras versava sobre a
reconstituição de um acontecimento passado. Com efeito, a
assistente de P enny. a Sta. Kate Mann, estava na cozinha
da casa de Koko, ocupada com a balança, Quando a gorila
se arremessou sobre a pia da cozinha. fazendo Que esta se
-- 143 -
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 2J2/1919

deslocasse e ca1sse. Mais tarde, Franclne perguntOu. a Koko


se ela havia quebrado a pia; respondeu·lhe então a gorila:
eXate ali mb, e apontou para a pia. "Naturalmente, observa
Penrtv, Koko jamais podia imaginar que eu não aceItaria a
idéia de que Kate se comprazia em quebrar pias!.
2. Eis outra mentira. que a psicóloga julga surpreen·
dentemente lngenlosa (Atartlin~ J.ngenJous):
Certa vez, quando Penny estava ocupada a eserever,
Koko pegou um lâpls vermelho e comec<>u a roMo. Logo que
o percebeu, disse·lhe Francine: eVocê está comendo um lápis?
Então a gorila fez o sinal de «lábio., e pôs.se a passar o lâpls
sobre o lábio inferior e, depois, sobre o lábio superior como
se lhes estivesse a plicando 1:batom,.!

3 . Enquanto Penny lhe dava as costas, certa vez. Koko


apoderou-se de uma vara que estava numa gaveta; CUrlgiu.se
de mansinho para uma janela e tentou abrir um buraco atra-
vés da tela desta.

Colhida em flagrante, Koko fez como se estivesse fumando


a vara.
Penny então tomou esse bastão nas mãos e, com um
olhar acusador. perguntou a Kokl) o que acontecera.
Muito calmo e firme, o animai respondeu com o sinal
dumar., acompanhado do gesto significativo de boca. Isto
insinuava que Koko estava fumando. - Tal era a mentira
que a gorila queria incutir à sua mestra.
4 . De outra feita, Koko sujou violentamente as pare·
des da sala durante a ausência de P~nny. Esta, ao voltar, per-
guntou.lhe por que assim procedera. Koko asseverou então
que tinha estado eBoa, quieta, eu quieta:..

dI Caprichos. d.-bedJlncla ...

Diz Penny que Xoko é c:aprichosa como o são as crian-


ças. Eis alguns fatels que parecem fundamentar tal asserção.
De uma feIta, uma colega de Penny - Barbara HiIler -
viu Koko fazer o sinal: eIsto vermelho,., enquanto preparava
-144 -
os ANIMAIS FALAM! 13

para si wn aconchego com uma toalha branca Barbara lhe


disse; cVocê sabe melhor, Koko. Que cor_ é essah Koko
lnslstiu afinnando: eVermelho, vermelho, vermelho!. Por fim,
mostrou um fiozinho vennelho que estava sobre a toalha
branca. E pôs-se a sorrir maliciosamente.
Outra vez, depois de longos esforços de Barbara para
que Koko fizesse o sinal cBeben, a gorila executou tal sinal
com grande perfeicão. junto ao ouvido de Barbara. E tam-
bém pOs.se a sorrir malfctosamente ... !
ÀB vezes, Koko se compraz em responder a Penny exata-
mente no sentido contrãrio àquele que a m-estra lhe propõe.
Um dia a psicóloga pediu a Koko que colocasse um ani-
mal de pano (brinquedo) debaixo de uma sacola na sala em
que estavam. A gorila então tomou o brinquedo, e f~ todo
o seu possível para atlri.-lo contra o. teto.
ÀB vezes, KoJco se revela tão manhosa que, para obter
dela alguma coIsa, é conveniente dar·se-lhe a ordem contrária.
Assim, por exemplo, o animal estava deteriorando colheres
de plAstico com prejuizo para os seus mestres. .Di.sse-lhe então
a assistente Ron Cohn : cBom quebrá.las_. Em conseqüência.
Koko Interrompeu o que fazia e passou a oscular as colheres.
,..... ••.,:., 101f!tot .... ..... fIIIIIg
Em tais ocasiões, Koko :parece saber que se está com-
portando mal; dlante das repreens6es que Penny então lhe
dirige, a gorila declara ser cum demônio cabeçudo...

• J IdflfttiAcando • . .
Koko reconhece e idenUfica. objetos com certa sutJleza . . . ,
diz a psicóloga.

Perguntou-1he Franclne: «Que é um fogão? A gorila


apontou para um !ogão. - cQue faz vare com isso? - eCo-
zlnbar!_, responde Koko.
cQue é uma laranja!~ , Indagou Franclne. - cAllmento.
bebida_o

Continuou Franclne: cDiga-me algo que você julga ser


engraçado::J. Koko respondeu: cNarlz a1l_, apontando para o

-145 -
14 oePERCUNTE E RESPONDEREMOS, 232/1919

bico de um pAssam de pano. Ou ainda Koko: <Aquele verme·


lho!" mostrando uma rã de plástico verde.
Quando Franclne aplica um estetoscópio aos seus ouyl-
dos, Koko sorri maliciosamente e coloca os dedos sobre os
seus olhos.

Koko foi afetada por brando dJstúrbio respiratório. in-


dagou Franclne: cOnde é que você sente dor?, Koko assi-
nalou: cDebaixo dos braços •.

Conclui a psicóloga suas observações dizendo que a gorDa


concebe a estima de si mesma. Interrogou-a Certa vez: cVocê
é um animal ou uma pessoa?, Imediatamente respondeu Koko:
cBonlto animal gorila (F1De aalntal gorIDa):t.

" Fotografan do ...

Franclne Patterson obteve que Koko também se interes-


sasse, e com prazer, pelo uso de um aparelho fotogrãfico.
pôs.lhe nas mãos uma câmera de 35 mm, assaz complexa.
Verificou então que o animal se deleitava em contemplar o
clarão de luz emitido pelo aparelho quando devidamente acio-
nado. Koko chegou a tirar uma fotografia de si mesma pro·
jetada no espelho do seu quarto. Ao ver tal fotografia, o
animal Identificou a si e tez o sinal: .t.c:.vc comera (Amar
câmera) ,.

91 D....,hando ...

Em dada ocasião. depois que Penny conversara com Koko


a propósito de aranhas, a gorila tomou um lápis e traçou
rabiscos negros sobre um pedaço de papel. Explicou então:
«Aranhas,. Traçou também rablsoos cor de laranja, que, con-
forme Koko, vinham a ser a Imagem do copo em que bebia.
Multos outros episódios poderiam ainda ser referidos a
partir do artigo de Francine Patterson. Todavia os que se
acham aqui mencionados, iA constituem base suficiente pnra
a reflexão fllos6flca que se Impõe a respeito.
-146-
os ANIMAIS FALAM? 15

2. Algumas ponderações sobre os fenômenos


As experiências de Francine Patterson são aptas a des-
pertar enonne Interesse. Vêm a ser algo de Inédito na his·
tória das pesquisas psicológicas; abrem assim vasto campo
para se entender c psiquismo dos animais infra·humanos.

À primeira vista, os resultados obtidos pela mestra pare.


cem corroborar · a tese. já enunciada por alguns antropólogos
contemporãneos, segundo a qual o homem não seria mais do
que um macaco apetfelcoado. A própria autora não deixa
de salientar o apagamento da distância que, segundo os clãs·
sicos conceitos, sempre separou o homem e o macaco entre
si. São palavras de Franclne Patterson:

"Quando Koko ula a IIngulgem p.r. fazer um c:hlste. para exprimir seu
desagrado ou para menUr .,Indó da uma altuaçlo dlflelt, ala e.l' flxplb-
rando o IIngualar como nós, seres lIumanos, o lazemos. Por certo, h' ai
um progresso IIngLir.Uco, embora talvez nio um progresso moral.

o que torna esta. col ..a .. l ua lado,... - até para mim, que há ule
anos venho toslomunhando lals Incidente. - ti que Koko, segundo u con·
cepções, geralmenle eceUI., di anima' e de nalulua IIumana, nlo devena
ser capaz de teallzar qualquar destes feitos. Tal comportamento tem lido
tradicionalmente considerado como exclu.lvo do ser IIumano; nlo obstante,
l'1ã iflqui um gorUa 'lua UlI IIngulgem" (Irt. clt., p. 4-40.1.

"SeNlndo--.e da linguagem do. sinal. - lamlller 80S mudoa -, Koko


"lo só tomou a nÓS, teu. eompa"halrM IIumanos. elantes das prendo da
sua espécie, mq também deu-nos a conhecer que eta partlçlp. doa ,enU·
mentos que geralmonta alo tldOl como prarrogatlvas doa seres humano."
(are. clt, p . <&38) .

Visto que as conseqüências de tais observações são de


grande monta, proporemos, a seguir, dois pontos à reflexão
do leltot".

2.1. O. fato l bóslcos

Quando fatos concretos são apresentados à diséussão dos


filósofos, psicólogos. antropólogos , .. , importa, antes do mais,
ter relatos objeUvos e fidedignos de tais ocorrinclas. Ora
quem rerere as suas experiências, não raro tende a Interpre.
tá·las simultaneamente ou, com outras palavras, refere-as a
partir das premissas filosóficas que lhe são próprias; assim
o leitot" recebe não somente a noticia fria e objetiva. das

-147
16 cPERGUNTE E RESPONDEREMOSt 232/1979

ocorrêncIas. mas é, ao ,m esmo tempo, sugestionado a aceitar


determinada interpretação de tais fatos ou dados empirlcos.

Com isto não queremos necessariamente dizer que a psi_


cóloga Francine Patterson tenha retocado a reaUdade dos
tatos ou haja apresentado um relato pouco fidedigno. Ape.
nas chamamos a atenção para uma nonna fundamental de
metodologia científica: antes de qualquer discussão filosófica,
é necesst\r1o estabelecer com exatidão o teor, as dimensões
ou a realidade dos fatos empirlcos 11 ser discutidos.

::emuito signl!lcativo o que tem ocorrido em outros cam·


pos de pesquisa: assim, por exemplo, no tocante à reencar-
nação, as revistas noticiaram em 1955 e 1956 ter sido com·
provada pelas experiências de Morey Bernstein referentes à
Sra. Virginla Tighe (= Br:ldey Murphy, em suposta encaro
nação anterior). Quem lesse os noticiArias doa periódicos
naquela época, daria a tese como fInnada e confinnada pelos
estudos de Bemstein. Ora pouco depois entraram em foco
elementos novos apresentados pelo pastor protestante Wally
White. Este estudioso conhecia Virglnia Tighe desde a juven.
tude; quando leu o relato das experiências a que fora subme.
tida, resolveu entrar em cena e comunicar dados novos, des-
conhecidos,. que dispensavam a interpretação reencarnado·
nista e elucidavam os (atos de maneira simples e satisfatória.
Semelhantes casos têm ocorrido na história das pesquisas:
jâ houve relatos de experiências que pareciam, em sua época,
comprovar uma tese filos6fIca nova. e revolucionária, mas que,
com o tempo, (oram reconsiderados de maneira objetiva. evi·
denclando.se então que não tinham o alcance fIlosófico que
se lhes atribuia. Verificou-se que os primeiros relatos de tals
experiências não foram relatos puramente cientificos, mas
foram também Interpretações pessoais e subjetivas de fatos
objetivos (tais interpretações não depõem contra a honesU-
dade dos dentistas que as propuseram, pois estes geralmente
procederam de boa fé e mais ou m~nos Inconscientemente) i
é, sim, espontâneo ao ser humano interpretar os fatos ao
mesmo tempo que os descrevI!, ou apresentar os dados hlstó·
ricos a partir de suas premissas fUosóflcas.

No O8.SO, pois, das cconversas com um gorila. relatadas


por Fr. Patterson, a metodologia clentlflca sugere que SI!
continuem as experiências e que outros pesquisadores divul·
guem seus relatórios, de modo a se ter um aceIVo de dados
-148 -
os ANlMAIS FALAM? 17

numerosos e variados provenientes de tontes diversas; sobre


tal base será mais fácll debater OS aspectos filosóficos e ten-
tar chegar a interpretações: verldicu. 1: pejo confronto de
relatórios e de lnterpretaç6es que se pode chegar ao conheci-
mento objetivo da verdade latente.

1.2. Empllkmo • .aendofumo

A psicologia moderna apresenta, entre outras correntes,


a do empirismo, que se difundiu principalmente nos paises de
Iingua inglesa. Está outrossim muito influenciada pelo posi-
tivismo e o neopositivJsmo. Estas escolas apenas registram
dados empirlcos ou fenômenos e renunciam a procurar cau·
sas nio empiricas (causas metafislcas) para os mesmos; veri-
ficam que o fenômeno A se segue ao fenômeno B e renun-
ciam a procurar saber se existe relação de causalidade entre
A e B e. eventualmente, qual seria essa causalidade. De modo
especial, note-se: a psicologia que o empirismo Inspira, e uma
psicologia sem «anima~ ou sem sulelto defInido dos latos psi-
cológicos; ela se limita à descrl!;ão fenomenológica dos fatos
psíquicos. Por Isto, quando Francine Patterson diz que o com-
portamento do gorila é semelhante (DU mesmo idêntico) ao
do ser humano, guardando apenas diferença gradativa em
relacão a este, põe-se legitimamente a pergunta: que entende
a psicóloga por csemeJhante» ou cidêntico» no caso? - Re-
conhecemos, sim, a semelhanca das atitudes que ela atribui à
gorila com aquilo que o ser humano geralmente pratica. Tra-
ta-se de semelhança de fenômenos ou de dados experimen-
tais, que não Implica necessariamente identidade de essência
ou de consciência psicológica. Dizemos que o animal pré·
-humano e o homem são cap82es de exprimir sentimentos e
afetos. mas só o homl!m emite conceitos ou tem pensamento
e linguagem conceituais. Com outras palavras: o homem e o
gorila são aptos a dizer Que concebem afetos de simpatia ou
que sentem dor, mas somente o homem é capaz de dissertar
sobre a simpatia, o amor e a dor. O animal é C8pa2 de pedir
água para beber, para refrescar-se ou para lavar·se. porque
ele pode experimentar os efeitos da água e, por conseguinte,
pode desejar experimentA. los; todavia s6 o homem é apto a
discorrer sobre a água, enunciando, de maneira teórica e
especulativa (não pragmática), o que a ãgua é e aquilo de
que ela se compõe.

-149 -
18 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS.' 23211979

Ora um psicólogo empirLsta contenta-se com a descrlCão


dos fenOmenos experimentados ou averiguados e, na base de
bis averiguações, estabelece confrontos e afirma semelhanças
ou identidades. Todavia o filósofo que não seja meramente
empirista, mas que, através dos fenômenos, analisa as estru-
turas do ser c sonda as essências de cada qual, poderá ver
diferencas essenciais por delrás de Idéntlcos comportamentos
fenomenais ou empiricos. Ora, se Francine Patterson adota a
filosofia emplrlsta. entender.se.á que ela tenha conceito de
linguagem diferente daQuilo Que se entende por linguagem
humano em fllosona clássica. Em conseqüência, o seu rela-
tório não será suflclente para se dizer que o gorila e o homem
diferem entre 51 apenas por graus de perfeição no tocante à
linguagem,
1:: com estas reflexões que apresentamos no presente
artigo a slntese do relatório de Fr. Patterson em «National
Geographlc", Trata-se de Interessante exposição, a qual, po-
rem, não basta para se poderem tirar conch!sõcs seguras
sobre diferença ou Identidade entre o homem e os animais
inferiores. Asseveramos, como em PR 226/1978. pp, 423·434
e 227/1978, pp. 475.481, que o homem ó dotado de alma inte-
lectiva, a qual é espil'itual, ao flasso que qualquer anímal
infra-humano é vivificado por nlma sensitiva, meramente ma-
terial. Entre o grau de vida sensitivo e o intelectivo não há
melo-termo, como não O hâ entre matêria e espirito. Esta
fica sendo caracteristlca do ser humano. Só o homem é capaz
de conceber noções universais ou definições, abstralncb dos
objetos sensiveis e materiais que o cercam, os conceitos ima-
tcriais ou essenciais que se realizam nesses diversos objetos.
O homem apreende as essências ou as notas constitutivas,
estruturais dos seres (JUe o ~eram. ao passo que o animal
inferior apenas constata ~ fenômenos concretos e os conca·
tena entre si com o nu~1II0 dn sua memória sensitiva. Ora
tal opt'ra-;ão supõe uma faculdade imaterial ou espiritual que
se chamn co intelectoa e Que é a expressão da alma intelec·
tiva ou ~spiritual própria do ser humano.
A propósito citamos, dentr(' ampla bibliograIii!,
"OLER, MORTlMER J .. Tht dllft t tDCO 01 Mn .nd lhe Dllle ruc. II
MakOt. Hcll, Rlneh ar1 and Wln,lon, New York 1967.
l.AN~ER. SUSANNE K., Phlloilophy In • n.w Koy. A aludy In lhe aym·
toolbm 01 R...on. RII • • "d A'L A M.nh~, Book, 71h ed.. publlshed by Ih.
New An:(J IICt" Llblary, New Vork 1955.
FA:"lGIN, G. Ernpl:lc:1Io, In Enclclop.dla FllolofJca I. Ven82;la-Aoma 1957,
cols. 1878-1894.
- 150-
Médicos, pslc61ogos e teólogo. dllCUlem:

transexualismo: como curar?

~ ,llIlese: o tranaexuall$mo - cuo de quem tem pSiquismo femi-


nino e or;anlsmo macullno - vem sendD objeto de especlab .studos por
par1e de médicos, pslc610gos e motallstal.

Visto consUlulr terreno ainda pouco explorado, podem-ai admitir dlJ8S


tentatlvu da aollJç.lo pare o problema:

- • cirurgia plbtlca. que visa a adaptar, na medida do poulvel. o


organlamo lO ptlqulsmo do paclante. Tal Inla,.,.nçlo , acena em pel...
euro~us e em Estados norte-americanos, que permitam mesmo lO plclenlli
mudar o reglatro civil de 11101 sexo i

- o ttltamanto pslcotar'plco. por via de hlpnole. Elta tenletlva de


.01101,10 é Mais rece"te do que a primeira e "li sendo estudada madlanle
pesquises que tandem a sa aprlmotlr. Bm vIsta d. 10mBcsr ao probloma
uma nova e autêntica salda.

Do ponto da vista crlstlo. a opereçlo plástica s6 é IIcitl se se pode


dl:r:o' que o individuo ttansexual e mulher qua tem orgenltmo da homem,
potl ao clrurgllo toei IpenilS ",tlllcar e TestaurlIr a nalufe:r:a humana.
rvspeltando-a com as suu lals próprIas. Ora as pesquIsas pslcotefiplcls
mOltram qua nem todos OI Indlvlduos I,an.lxulla 110 mulhe,,!a I 16m que
vlvar como mulheles. Em certos casos, e operaçJ.o plllstlca. por maia dese-
Jada Qua saJa pelo paclenle, poda laur dnta uma falaa multoar ou 'Um
monslro. Oal a importancil que vêm IlIumlndo a. pesQuisa. palealareplcas.

Enqu.nto o tanano dO IransaxusUsmo " obscuro, poda-s, dl18r que


llca sendo licita a operaçlo pl6sllca, desd, que prudentemante .e paUl
concluir que o paciente tem o direito nllural da v~r como m'Ul~r. Os
eatudos pslcotefiplcos. porIAm, poderio contllbult par. melhor !lO diagnoa·
tlca' • compreendiar O fontlmeno do t,.nHxuallsmo e dtr-Iha, cm .Igunt
casos ao manos. o tralamento mais clenUlIco, mais autêntico a mais c/Istlo.

o proae",. 8111go ae documente e enriquece com as tecen'.. pea-


qulsas hlpnoleriplcaa I.....das • ef,lto no Clmpo da tranaexualldade p.lo
Cr. Lul. Machado Lomba.
• • •
Comentá.ri'o: Chamou vivamente a atenção do público o
caso de famoso cirurgião plãstico, que realizou em 1971 uma
operacão no jovem N. N., a fim de mudar-lhe o sexo, visto
Que o rapaz tinha psiquismo feminino e fazja absoluta QUe!-

- 151-
20 cPERGUNTE ~ RESPONDEREMOS:. 232J1971J

tão de Rr tido como mulher, Condenado em outubro de 1978


a dois anos de prisão pelo juiz Adalberto Spagnolo, o médico
Dr. Farina obteve a suspensão condicional da pena por dols
anos e continua a exercer a profissão sem ter recebido qual.
quer censura do Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

Eis a notícia publicada pelo eJornal do Brasil. cm outu·


bro de 1978,
.....0 Paulo - o Juiz da 1. Insl6ncle, Adalberto Spagnolo, condenou
onlem a dois anos de prisilo, com beMlllclo do aura'" o clrurgllo plAsllco
Roberto Farlna, Que reaUzou uma oper.çlo de reverslo sexual em Valdir
Nogueira (lIoJ. Valdlrene), em danmbro de 1971 .

i'la .. ntança, o J uiz expm.a Que .ssa operaçllo, na reslldade, CO"no


gura crime cte lestie. corporais doJosat, da r"lllurez:. gravlsslma, I' Que ,
uma mulllaçAo de carãlar Irreverslval, Impoata ao paciente ClU• • of,. a
ablaçlo dos 6rglos se)(uals.

PROC~SSO

o processo foi Iniciativa da Procuradoria Geral da Jusllça, qua tomou


conheeimanlo do lalo através da Imprensa, O Juiz Adalberto Spagnolo en·
lendeu Que 'no caso ocorrido com Veldlr Nogueira nlo 1I0uve uma Inlar-
vençAo clnlrglca. 8 sim uma mulllaçlo'.
Para o Julz, 'o consentimento da ... ruma "10 lomou licita a Inlervençlo
clrorglca, vlllo que a acellaçlo nAo pode lar considerada como causa da
ItXctullo d• •nllJurldJeldade ou de oulro elemenlo do delito'.

Oapola da sentença, o advogado da defeu, Sr. Leonardo Frankenlal,


entrou com apelaçlo, pois, segundo ele, 'o caso ler' resolvido dannlllv...
menla paio Tribunal de Alçada de SIo Paulo I'.

A defe.a declarou que lá houve uma manllellaçllo dos mlloret nome.


da medicina brullelre sobre aa bases do tratamento clenllllco feIto. ullll-
ndo pelOS malhares clrurglOfls dos p.I'"
desanvolvldos.
O Sr, Laonardo Frankenlal adlanlou que 'nos pr6)(lmo. dias reall18rj
uma ",unllo com a presença dOI maioral nomal da medicina "acionai.
pare alucldar, de uma vez p·or toda., o llpo da tratamenlo desenvolvido pelo
m6cllco Roberto Farlna' ".
Embora O Dr, Farina não tenha sido punido pelo COnse·
lho Regional de Medicina, é certo que nem todos os médJcos
compartilham a mesma posição diante dos casos de transc:xua·
lidade. De um lado. há, sim, aqueles que optam pelo. cirurgia
plãstlca como solução para o problema. Neste caso. o médico
retoca ô físico do paciente para tentar adequá-lo ao psiquismo
do mesmo. De outro' lado, há os que preferem um tratamento
-152 -
TRANSEXU.ALISMO: COMO CURAR? 21

psicoterápico conjugado com hipnose e outras técnicas a fim


de confinnar o paciente no seu sexo rISico; desta forma os
fortes sintomas palqulcos de temlniUdacle do paciente se apa·
gam, dando lugar a psiquismo masculino. Em vista da gra.
vidade do problema não s6 para a medicina e a psicologia,
mas também para a Teologia Moral, abordaremos, a seguir,
e assunto, apresentando mais exatamente a questão e descre·
vendo o modo como um abalizado médico do Rio de Janeiro
consegulu recentementé eurar um paciente transexual por via
psicoterapêutica
Dada a natureza dentlfJca deste artigo, não nos furtare-
mos ao emprego de vocábulos e expressões técnIcas, que não
terão outro sentido senão o de descrever uma realidade que
interessa tanto à ciência como à Teologia Moral.

1. Transexuallsmo: que 6? Por quê?

1. O transexualismo, também dito a:transmutação se·


xuab, ocorre nos casos em que um individuo nasce com todas
as caracteristicas físicas do sexo masculino, mas apresenta o
psiquismo de uma mulher. Quem sofre de tal anomalia, é geral.
mente vItima de estado depressivo e de atitudes paranóIcas,
que o fazem viver profunda tragédia, pois se julga constante·
mente agredidO pela pl'Ópria natureza; o seu eu acha...se como
que imel'$O em anarquia total.
o paciente transexual dllere do homossexual pelo tato
de que este reconhece que é homem, . .. homem que tem afi·
nidade peJo mesmo sexo e que pretende· ser oficlalmente rec0-
nhecido como espéc1men de um "terceEro sexo:.. Ao contri·
rio, o transexual não se reconhece como homem; tem horror
a ser homem, porque quer absolutamente ser mulher.
Dentre todas as anomalias sexuais. o transexualismo é
certamente a que mais revolve a estrutura emocionai do
sujeito.
2 . Pergunta-se: como explicar a origem de um individuo
transexual? , ,)
' --,
Eis Q resposta sugerida pejo Dr. Roberto Far1J1a (a:Olá.
rio de São Paulo:., 19/ 10/ 78, p. 20):

-153 -
22 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 232/1979

A fonnação do sexo depende de três fatores atuantes na


ontogênese ou no perlodo de gestação da pessoa ; fatores gené-
ticos, endócrinos e cerebrais. Tendem (XIr si a constituir um
individuo heterossexual

a) Em primeiro lugar, têm Importância alguns pares de


genes contidos em certos cromossomos sexuais ou gonossomos
no rnomentc da fecundaCão. ~ a partir- destes que se consti·
tuem as gOnadas ou glândulas genitais do sexo masculino
(testiculos) e do sexo feminino (ovarios).

o embrião, aos trinta dias de idade, possui gõnadas indi·


Cerenc:iadas ou blpotenclais. Se a constitul;ão genética (cro.
mossômica) do embrião for XY, o cromossomo Y faz <;,ue as
gõnadas se convertam em testículos; tem·se então o sexo mas-
euUno ou heterogamét.lco ou heterozlgótico. Se o embrião for
XX, as gônadas Se tornarão oVlÍ..rios; tem·se então o sexo feml.
nino ou homogamétlco ou homozigótico.
b) As glàndulns endócrinas masculinas e femininas, se·
cretando seus hormônios, contribllcrn para o aparecimento, no
organismo, dos órgãos sexuais próprios do respectivo seÀo.
Estes vão-se desenvolvendo paulatinamente durante os subse·
qüentes meses de gestação.
e) Ainda na fase pré-na.tal, pcAléO a.ntes do nascimento
do Individuo, os rererldos hormônios devem impregnar o cére·
bro ou, mais predsamcntc, o hipotálamo. No caso da consti-
tuição genética XY conjugada com hormônios mascullnQs
(testosterona), o cérebro assume as características de cérebro
masculinoj donde re5\11tará o psiquismo masculino do respec-
tivo individuo. No caso da constituição genética XX dos hor.
mônios fem ininos (cstrógenos) caracterizam o hipotâlamo
segundo o tipo fem inino I .

Se os fatores genéticos, hormonals e cerebrais funcionam


devidamente na fase de gestacão, nasce um Indivíduo nOIma!.

'0 psl(lulsmo depende, 101m, de lalor" 1151c05 e 50m611cos, m.. nlo


apenar. desles. Cada ser humano Iam uma alma espiritual. Esta anima ou
vivifica o ambrllo desde o momento de fecundaçlo. ti é por Deul criada
diretamente em visla de lal ambrllo. /11.. alma espiritual traz a. polenclalldadM
que lhe 110 necelsArla. para vlvlllcar .um organismo masculino ou lemlnlno
ou para dnlnvolver uma "I!'$OnaUdade do 5e)(0 masculino ou do "xo
feminino.

-154 -
TRANSEXUALISMO: COMO CURAR? 23

Caso, porém, nessa fase critica a testosterona corres.


pondente ao tator Y (se a constituição do individuo é XY) não
possa completar a sua ação sobre O cérebro por causa de um
bloquelo qualquer, o cérebro continuarA como era at6 então,
isto é, neutro ou feminino. Em conseqüência, a criança nasce
com todas as características sexuais masculinas, mas com
cérebro feminino e disposlcôes para se comportar como mu-
lher. Tal individuo toma-se um transexual . Visto ser a mente
que dirige o corpo, o psiquismo feminino d~ sujeito pode
provocar atrofla sexual, ficando as características masculinas
do paciente destltuldas, total ou parcialmente, de função.
Compreende-se então que tal pessoa, dotada de mentalidade
feminina, passe a ter horror aos seus órgãos genitais masculi-
nos, julgando ser vitima da madrasta natureza!
Diante de tal fenômeno de dissecação da personalidade,
os cientistas vêem duas possíveis pistas de tratamento: a cirur-
gia plástica e a psicoterapêutjca.. A primeira tenta aproximar
o fislco do psiquico, retirando do sujeito as suas característi-
cas fisicas masculinas. ao passo que a segunda tenta adequar
o psiquico 110 fisico. InduZindo o paciente a aceitar a sua mas·
culinidade fisica e a viver em função da mesma. Ponderemds
de mais perto uma c outra via terapêutica.

2. Os tratamentos

A primeira e mais comum tentatjva de tratamento é a


2.1 . Via clnírgl<o-pl6stico
Há cientistas que supõem nada poder fazer para adaptar
a mente do individuo transexual à sua constituição fisica. Em
conseqüência, só vêem a possibilidade de tentar ajustar a
constituição fislca ao psiquismo do paciente. Propõem, então,
para tais casos 8 operacão de reajustamento ou de conversão
sexual. Foi o que fez o Or. Roberto Ferina, jâ mencionado,
provocando hesitação nos ambientes de juristas, médicos, psl.
cólogos e moralistas.
A propósito da. tentativa de solu'!:áo plástico-cirúrgica,
observemos:
1) O jurista Dr. Adalberto Spagnolo condenou o mé·
dlco Dr. Farina por haver realizado não propriamente uma

-155 -
24 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS:t 232/l979

lntelVenção plástica, mas, sim, wna mutilação, e mutilação


de caráter irreverslvel (ablação dos Orgãos sexuais) - o que
redunda em crime gravíssimo.

Toma-se oportuno, porém, notar o seguinte: Não é mo-


ralmente ilicito intervir em organismo alheio, extraindo mesmo
partes de tal organismo, desde que essa operação vise a secun-
dar a natureza ou restaurar a natureza na sua normalidade_
Assim, se um médico julga que o individuo transexua1 é pre.
valentemente uma mulher que, por deficlêncla do processo
genético, não tem os Orgãos sexuais femininos, assiste·lhe,
em consciência, o direito de tentar ajustar o tísico desse pa-
ciente ao seu psíquico. Ele então extrai os órgãos sexuais
masculinos que lhe parecem ser uma autêntica aberração no
caso e permite lã natureza feminina do paciente um funciona-
mento mais cnaturab. Vale a pena frisar: tal direito existe,
caso se suponha qu~ realmente ° transexual é uma mulher
e deve ser tratado como mulher, de acordo com os dese,os
do próprio paciente_

lt por Isto que as inteIVcnCôes plásticas para alterar


sexo de detenninados pacientes do penniUdas pelas leis civis
°
de paJses como a Inglaterra, a Sulça, a Alemanha, a Holanda,
a Dinamarca. a Noruega. os Estados Unidos (em alguns dos
seus Estados apenas) _ Na Alemanha e nos Estados norte·
-americanos mencionados. o individuo que tenha trocado de
sexo mediante intervenção cirúrgica, pode também alterar a
Indicacão do sexo no seu registro civil.

No BrasU. o Código CivIl prolbe tal tipo de clll.lrgla e,


conseqUentemente. não concede o registro de mudança de sexo.
Talvez: seja espeCialmente sábia. esta atitude da legislação bra-
sileira em vista do que passamos a observar_

Com efeito. A suposição de Que o transexual é mulher e,


por isto. deve ser tratado qual mulher, tem sofrido ultima·
mente certas reservas ou restrições por causa de experf~nclas
que mostram a pOSSibilidade de fazer um tnu~=::ua1 sentir-se
homem . e funclonÍlr como individuo masculino. Ê o que ver2·
mos pouco adiante, quando citarmos o caso descrito pelo
Dr. Luls Machado Lomba. Este vejo revolucionar, de certo
modo, as concepções relativas aos transexuais e abrir novas
pistas para abordar o problema. De resto, em diversas par·
tes do mundo os médicos têm procurado formas terapêuticas
-156 -
TRANSEXUALISMO: COMO CURAR 1

que evitem a operação plástica feita para mudar o sexo de


um paciente.
2 . oPerguntamo.nos ainda: Será que realmente o tran.
sexual é wna mulher. de modo que, uma vez submetido à
cirurgia plãstlca, se sinta bem ou se sinta menos mal do que
antes?
Pondera o Dr. Luis Machado Lomba:
"IA. cirurgia pl6,Uca, no e.aso do. tren.elUlala, pode trazer como rnu).
tado um mal melOf', pai, o Individuo. vivendo como Ar do sexo masculfno
dur.nle anO!!, embora com o . au psrquIJmo todo famlnlno, nIo IIba nunca
como 1r6 rugir d.pala da op.raçlO, .ndo que enfrentar novos e deaeonn.
cldos problemas, nlo só rel.elon.doa • ele me.mo, mas como tambtrn en-
trenl.r o leu melo ambiente. Pod.... adaplar multo bem u .ua nova
condlçOes saxu.ls, mas pode também a ela 1"110 se adaplar. gerando um
conflito de natureza multo mais grave do que o qU$ a lltuaçlo !interior
determinava" (tr.n.crlto da p... do texto da confertncla citada na bfbllo-
grafia dnta artIIlO) .

Dizem as noticias da Imprensa que Waldir (Waldlrene)


Nogueira conseguIu bem-estar e estabilidade emQc1onf'.1 após
a intervencão cirúrgica... Contudo, para afinnar Isto com
rigor clentlCico. seria necessArlo acompanhar te1 paciente de
maneira mais precisa. meticulosa. e prolongada do que O pode
fazer uma reportagem jornallstlca. Eis por que merecem reti_
cências as noticias do jornal cDIArio de São Paulo». edição
de 19 de outubro de 1978, p. 20:
'"Waldlr Noguelnl, que .gora luta em 510 Paulo par. cham.,..... Waldl-
nine, tentando lavar uma vida normal, fala que depob da operaçlo 800011"-
trou a felicidade".
Na mesma página de jornal. declara a Dra. Mima Pi·
cossc, advogada de Waldlrene:
'·No caso da Waldlrtne a elNrole ata absolutamante neeassirlt. Ela
nunça foi homem.
o 6rglo masculino da Waldlrene nlo tInha nenhuma funçlo. Waldl·
rene , pesaoa menl.lmaflle .1 e aqulllbradll.. A. operaçAo IIrou W.ldlrene
do nada a conseguiu coloc.·I. como uma pessoa Intelramon'. normal •..
A alegaçlo de que Waldlrene nlo 6 mulher porque nlo pode procriar,
é Inmlramanla puarll. 50 maa ela nllo pode aer, pai ela nunca serIa".
Tais propOSições tomam caráter relativo; bem poderiam
ser revistas, à luz da experiência empreendida peto Dr. Lomba;

-157 -
26 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 23211979

este conseguiu o que ~Ia imposslvel num paciente cUjo


caso talvez não se diferencLasse muito do de Waldir Nogueira.
:.:: o que passamos a expor.

2 .2. Via psicoter6p!ta

o relatório que se segue. resume a expoSlçao feita pelo


Dr. Luis Machado Lombo. .. psiquiatra e hipn61ogo, no VI Con·
gresso Panamericano de Hipnologia e Medicina Psicossomâtica
e V Congresso Bt'asilciro de Hipnologta, em março de 1978,
Rio de Janeiro.

7.7.1. Opadenr.

Conta o Dr. Lomba ter certa vez recebido um paciente,


que lhe fez a seguinte declaração:
"Eu nasci homem na minha conformaçlo analomo·llsI010gica. mu
acont.e. qua delellO O meu sexo: IlIInllo verdadeiro pavor do meu "tado
e nia me çonlonno. de Jeito nenhum, de ser homem. Ouerla a quaro-m.
trenaformar em mulh.r, pois lodos os meus Impulsos alo verdadelramenl.
.m
femininos e nlo vejo •• ntldo vlvor com o sexo masculino. Caso .u
nlo
possa Iransfonnar-me em mulller, .u me mala".

o rapaz N . N. que assim falava , contava 28 anos de idade.


Era S<llteil'O. Tinha um fisico normal, comprovado por exame
clInico. Mostrava-se. porém, profundamente deprimido, o que
náG G impedia de se situar bem no espaço e no tempo.
Nascera de parto nomlaJ, como segundo filho dos seus
gcnilorcs. Sua progenitora relat-a que até mais ou menos os
oito anos de idade o menino se comportou nOl'malmente; foi
então que apareceu o primeiro sintoma estranhG: estando
numa festa Infantil, a 'crlan;a lsolou·se e declarou: «Eu nio
quero ser menino, eu quero fõer menina e brincar como elas
brincam:t. Dai por diante, n mesma senhora notou que o
fllhG só procurava a companhia de meninas, chegando mui·
tas vezes a vestir· se como elas.

10 .utor Ilnh. como co-.ulor. aua própria Illha, e Sla. Rosana Barrelo
Lomba, aeadtmlea d. P.teotogla.

- lóB-
_ _ •. _ _-,TRA~"N"S",EX"",U",A",LIS""M",O",:-,CO"",M",O"-,C"U",RO!AR,,,,?_ _•_ _.!!:n

Aos doze 6nas, O menino concebera finnemente o propó-


sito de ser mulher e se fechava em prolongado sllênclo, sem-
pre que os pais procuravam conversar com ele sobre o QSSWltO.
Aos quatorze anos, foI levado a uma psicóloga, que o
tratou durante cinco anos. ou seja, até os dezenove anos.
Isto meJhorou o relacionamento do jovem com a famllia, mas
nüo impediu Que se acentuasse a sua aversão por ser homem.
Nos estudos, que cursou até o científico Inclusive. foi
sempre ótimo aluno.
N . N. se chegava multo ao genltor. que, julgando-o ho-
mossexual, se revoltava contra o filho e procurava desvlá·lo
das suas tendências.
Aos 22 anos de Idade, N , N. assistiu à. separação dos pais
- fato que muito o abalou e mais lhe acentuou os anseios
de se tomar mulher. Tentou mesmo o suicidio, mas foi socar·
rido no Hospital Miguel Couto. Para acalmar os neI"VlOs, o
paciente começou a tomar tranqüilizante para donnir; com
o aumento das doses respectivas, foi-se sentindo mais e mais
dopado durante o dia,
O jovem passou por vArios tratamentos médicos. Du-
I'ante quatro anos freqüentou o consultório de uma doutora.
com n qual se identificou tanto que a própria médica lhe acon-
selhou u Intcn'up~ão do tratamento, Passou então dois me-
ses em profunda depressão, julgando·se abandonado no mundo;.
em conseqüência, tentou novamente o suicídio. Outro médico,
dizia o rapaz, lhe aconselhara uma o{X'ração plãstlca, perspec-
tiva esta que o paciente adotara com grandes anseios,
N. N. dedarou outrossim ao Dr. Lomba nunca ter tido
rcla<;ces homossexuais. visto que estas jamais o atralram;
também nunca tivera relação sexual com alguma mulher . ..
De modo geral . disse sentir verdadeiro horror de seus órgAos
sexuais, . n tal ponto que o próprio fato de urinar era para
ele motivo de sofrimento.
Foram estes os dados que N ,N, ofereceu ao Dr. Lomba
por ocasião da sua primeira entrevista.

2 . 2 ..1 . D9Z:~ 'O$fões de hlpnoterapio Inespedflta de 0\01010


O dlngn6stico de transexualismo depreendla·se facilmente
do quadro APresentado. Todavia o paciente não procurava o

-159 -
28 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/1979

médico para se tratar, mas, sim, para lhe pedir que apll.
casse ao pai do próprio paciente um tratamento pslcotenlplco;
este teria em mira levar o genitor a aceitar que o seu filho
se submetesse a uma clrurgia plAstlca; visto que N .N. depen-
dia do seu pai tanto no plano financeiro quanto no psicológico,
a resistência do genJtor era decisivo obstáculo a este empreen·
dimento.
Vê·se, pois, Que a prim.eira tarefa do médico haveria de
ser a de inverter a proposta e f82er que o jovem aceitasse
um tratamento para si; todavia o Dr. Lomba não poderia
falar de problema sexual, pois correria o risco de criar uma
barreira entre o paciente e o médico.
Por conseguinte, o doutor chamou a atenção do rapaz
para o sofrimento espiritual que sobre ele pesava; mostrou·lhe
que, mesmo no caso de se submeter a operação plástica, só
o poderia fazer em estado emocional equilibrado. O paciente
acabou cedendo à proposta, pois se lembrou das palavras do
Dr. N. (cirurgião plástico), o qual o advertira de que em
tal estado emocIonal não poderia ser operado.

Assim abertas as portas, o Dr. Lomba iniciou em N .N.


um tratamento de hipnoterapia, visando apenas ao reequili-
brio psíquico do paciente, sem lhe falar de transexuallsmo.
Até a décima segunda sessão o médico não se preocupou com
a técnica de procura de conflitos reprimidos, mas apenas apli.
cou mêtodos que de Imediato aliviassem a tensão emocional
do paciente. Jã após a sexta sessão as melhoras eram notá·
vels: o uso de 1I'anqUillzantes se restringiu aos dias em que
o paciente não la ao consultório médico. Após a décima
segunda sessão, N .N. estava quase liberto da depressão i já
perdera a obsessão pelo pai (no Inicio do tratamento, a men.
ção do pai oconia em cada frase); dispensara também o uso
do calmante, embora ainda preclsasse de conservar o remédio
fWbre a sua mesa de cabeceira.

2 . 2 . 3. 0110 11tQÓ.., do opolo • d. busco de falol palladol

Diante dos bons resultados, o médico passou Q realizar,


com o paciente, sessões hipnóticas de apoio, entre as quais
intercalara sessões de busca de vivências traumáticas pas-
sadas, evitando ainda, tanto quanto possivel, focalizar a pro.
blemátlca sexual.
-160 -
TRANSEXUAUSMO: COMO CURAR'! 29
------~~~~~~~~---
Ao cabo da . oitava sessão desta série ou da vigésima
sessão do tratamento, o paciente apresentava uma estrutura
psiqwca totalmente diversa da que levara para a primeira
consulta.. O m~co então julgou que jâ poderia tentar um
tratamento espedfico para o problema sexual de N . N.

2 . 2 . 4. Tm M'HÕes preparatórias pCIm a hlpnotetapio HpKlfica

Era preciso persuadir o paciente da necessidade de wna


abordagem direta. do problema... Em vista disto, o Dr.
Lamba interrompeu a hlpnoterapla e passou três sessões a
expor a N .N. os mecanismos psleo·neuro·fIslológicos do tran·
sexualismo. Expôs.lhe a. sua opinião de que N. N. era um
ser do sexo mascullno no qual se instalara um mecanIsmo
psicológico teminlno,." mecanJsmo este devido tão somente
a distúrbios e traumas pslco16g1co~ sem a interferência de
anormaUdades genéticas ou hormonals , .. 1
Finalmente na terceira destas sessões N . N . resolveu acei·
tar o tratamento pslcoterapéutico específico, renunciando, ao
menos por ora, à cirurgia plástl~a. Já isto era uma grande
vitOria, pois slgniflcava que o rapaz se tornara capa~ de um
raciocínio lúcldfl, desernbaraca.do de emoções. Todavia não
pusera completam(!nte de lado a sua ânsia de operação ph\s-
tiC8, pois declarou ao médico:

"Ooutor. eu me submeto e naa Iralamenlo que o Sr. falou, embor.


eu nlo ecredlte que vir cons.gulr coisa alguma. Mo, se nadl for melhorado,
o Sr. me promete que Interier. Junto ao meu pel par. eu aer opel1ldo'"

Um tanto surpreso, o médico respondeu-lhe com llnneza


que o fato de N .N. acreditar ou não no tratamento não
tinha a mlnima importAnciB, pois não interferiria no sucesso
da terapia. Quanto à intercessão junto ao pai, aceitflu levá-la
a efeito, sem, porém, poder prometer uma resposta positiva
da parte do genltor.

Depois d e ponderar um pouco, N . N. aquiesceu c asse-


gurou que não faltaria a alguma das sessões subseqUentes,
as quais se realizariam três vezes por semana .

• O Dr, Lomba podia epontar eo peclente lalo. que e~pllclvlllm o MU


estado Il1IuméUco•. . . Illos narrados pelo próprio doente.

-161-
30 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 232/ 1979

2 . 2 .5 . T!'f••HSÕeI d. hJpnotefapla específica frustrada

Na abordagem do problema especifico de N. N., o Or.


Lomba julgou que 1:1 primeiro passo a dar deveria ser a ten-
tatlva de fazer que o paciente perdesse a aversão ao seu
aparelho sexual. Sem isto, nada se pooeria conseguir. Para
tanto. a técnica mais aconselhada seria a da dessensibillzação.
Na primeira sessão deste tipo, o paciente foi levado ao
transe hipnótico profundo, atingindo condições psicológicas
excelentes para receber sugestões relacionadas à dessenslblll·
zação.
Disse então o médico: (Todo o conDito estabelecido no
seu psiquismo em relação ao seu !IO.'"(O •• Quando 1:Iuvlu a
_)I>

paJavl'8 sexo, o paciente saiu imediatamente do transe pro-


fundo , modificou o ritm1:l respiratório e começou a se me-
xer. .. O doutor o levou a estado de sono mais profundo e
ten tou a mesma frase, a qual provocou a mesma reacão. Não
havIa como insistir. .. Ao despertar nonnalmente do transe,
disse logo o enfermo: cEu não gosto de ouvir falar do meu
sexo, 16 lhe disse que tenho hOITor ... )1>

Na segunda sessão, estando o paciente em disponibilidade


hlpn6tlcn. dlSSQ o médico: eVocê pouco a pouco IrA enten.
dendo que todo o antagonismo que se estabeleceu em relação
ao seu sexo . .. » Ao ouvir esta palavra. o enfermo reagiu
mal! uma vez e mostrou-se angustiado. . . ApÓs uma tenta-
tiva de insistência, evldenelou-se que nada havia a fa2er ...

Na terceira sessão. de novo quando o doutor pronuncIou


a palavra sexo, o mesmo bloqueio se produziu - o que levou
o médico a desistir d~ tal tipo de abordagem do problema.

o caso parcela chegar a um impasse total, apesar dos


progressos já realiUldos pelo paciente. Era preciso trntar do
problema sexual sem proferir a palavra sexo!
A ~ altura, o Dr. Lomba. lembrou-se de que, logo no
Inldo das consultas, O paciente demonstrara grande Interesse
por um .atlas do cérebro, com as respectivas regiões; o paciente
chegara mesmo a pedir ao médico que voltasse freqüente-
mente a faJar_lhe de tal assunto. Pensou então o Dr. Lomba
que bem poderia aproveitar o rosclnlo de N . N. pela anãtomo-
- 162-
TRANSEXUAUSMO: COMO CURAR? 31

-flslologia e tentar nova têc:nJca de dessensibillzação: medJante·


sugestão hipn6tica, o médico lndlWria o paciente a viajar
mentalmente através do seu corpo, reconhecendo então a sua
pr6pria anatomia; viajando de órgão « órgão, de aparelho a
aparelho, o paciente seria levado a considerar finalmente o
seu aparelho sexual. Essa técnica seria chamada «heteros-
copia por Ideoplastio,.

Uma vez concebido o novo plano de trabalho, o Dr. Lomba.


o expOs ao enfenna. Este Interessou·se multo pela proposta:;
ficou então assentado que em cada aeasio lhe seria mostrado
um atlas anatômico do aparelho ou do órgão a ser vIsltadoj
a seguir, farja uma dncursâo turística» através do seu orga-
nismo!

2.2..6. Vinte ...sõ. d. tfcnlCII heteroKóplca por Idooplasda

Na primeira lMSão deste gêDel'O, foi abordado o coração.


O Dr. Lomba mostrou primeiramente a N .N. um atlas repre·
sentatlvo de todas as partes do coracão, cujo funcionamento
foi devidamente explicado.

A seguir, tendo Induzido o en(enno a profundo transe


hipnótico, disse· lhe: «Você llgora val·se ver viajando dentro
do seu coração . .. Você agora vai começar a via'ar por den·
tro do seu coração . . . » - Pois bem; sem demora o paciente
come~ou a descrever na sua linguagem o que estava vendo.
Iniclalmênte disse: .Está tudo vennelho, como se eu estivesse
wm mar revolto. . . Estou escutando um grande barulho
que certamente vem da cachoeira Que estou vendo». Foi·lhe
sugerido que se transportasse para a auricula esquerda e des-
crevesse a entrada do sangue que vinha dos pulm6es: N. N.
d~reveu cntão a ponte e a abertura das comportas do dique
Que estava vendo; o que produzia multo barulho, era certa-
mente a passagem do lIquido vennelho através dessas com·
portas. .. Acrescentou depois, cedendo \Ô. fantasia: «Eu agora
vou navegar neste mar vermelho, mas estou com medo por-
que 81 cndas são multo grandes . .. »

Assim foram plenamente atingidos os objetivos <10 mé·


dlco! Quando o paciente saiu do transe. estava entusiasmado
e declarou: «Que coisa maravilhosa! Nunca pude Imaginar
Que viveria uma experiência tão sensacional e tão excitante!
Eu me vi com nitidez dentro do meu coração e me lembro
- t6.~-
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 232/1979

de tudo o que aconteceu. Foi uma pena o Sr. terminar a


experiência quando eu estava gostendo tanto!,.
Na segtlDcIa e ns fereeira SMSÕes,. o paciente, apÓS haver
contemplado minucioso atla! do cérebro, viajou prazenteira.
mente pelas diversas regiões do cerebro! Ao terminar a ter·
celra sessão, estava maravilhado com a e.'(periência vivida.
Na quarta sessão. a mesma técnica foi aplicada com rela·
ção no aparelho respiratório.
Na quinta, na 5eIta e na. tétllJla. se5SÕe'S, a cvlagema se
deu através do aparelho digestivo.
Na oitava sessão. a atenção do paciente foI dirigida para
o aparelho renal. Fol·lhe mostrado um mapa do conjunto
anatômico da região com explicações a respeito do seu fun·
cionamento. A Imagem utilizada. foi a de wn vasto reserva·
tório onde a água era filtrada e as bnpurezas levadas por um
canal a outro reservatório donde eram lançadas no espaco exte-
rior através da uretra. N .N. não apresentou reação emocio·
nal ao se lhe falar da função da uretra. - Levado 80 transe
hipnótico, foi-lhe sugerida a viagem através do aparelho renal,
onde asslstiria a todas as fases da nItr8gem das impurezas. à
condução destas ao reservatório e, posteriormente, à sua ell·
mlnação. O programo foi executado sem qualquer Incidente.
Ao sair do transe, o jovem conversou muito sobre a expe.
riência que fizera. não poupando elogias à beleza de tudo a
que assistira.
Nesta altura dos acontecimentos, o Dr. Lomba ju1gou que
jã podia falar abertamente com N . N. sobTe o aparelho geni.
tal, pois percebia que o paciente ia perdendo a repugnância
ao assunto. Anunclou.lhe então que na próxima sessão ele
viajaria através do seu aparelho sexual - perspectiva que o
enfenno aceitou com muita tranqüilidade.
A nona sessão, portanto, (oi dedicada aos órgãos geni.
tais. O paciente foi recebendo Informações (superficiais) sobre
a anatomia e a fisiologia dos mesmos. Entrementes não apre·
sentou o IJÚnimo tipo de bloqueio; ao contrário, estava Inte·
ressado em conhecer pormenores, fll2endo perguntas. Aceitou
mesmo com natural1dade .8 sugestão de fazer uma viagem
através de5$e aparelho.
Foi. pois, colocado em transe hipnótico e iniciou a «via·
gema sem Incidentes até chegar à uretra; então disse: cAgora

-164 -
TRANSEXUALISMO: COMO CURAR? 33

vou entrar numa zona jé conhecida, e não gosto por ser multo
escura».
Ao sair do transe, mostrava-se muito tranqUllo e satis·
feito por ter conhecido o seu organismo cpor dentro>. como
dizia. E. sem que se lhe fizesse alguma pergunta. declarou:
cAgora eu não tenho mais nenhuma aversão aos meus órgãos
sexuais, e sinto que vou poder viver com eles sem grandes
problemas>. Interessou.se vivamente pela zona anatOmica
onde eram cfabricados> os espermatO'lOldes e qW5 saber tudo
a respeito dos mesmos, prindpalmente o mecanismo fislolOgico
de sua atuação durante o ato sexual.
Ao averiguar tal interesse. o doutor resolveu propor ao
paciente uma experiência Jdeoplástlca do ato sexual, ou seja,
a vIvência mental de uma relação heterossexual. A principio,
o rapaz ficou espantado e cético, julgando que lhe serIa total.
mente imposslvel chegar a tanto. Não obstante, o m'éd.ico
insistiu e combinou com o Interessado que a próxima sessão
seria dedicada a Isso.
Na déclma. JeSSio, O Dr. Lomba recordou a N. N. o me·
canlsmo anatômlco.fislológico das funções sexuais. Incluindo
a menção das zonas do cérebro responsáveis pelas sensações
scxual~. Mostrou.lhe tambóm a anatomia do aparelho sexual
feminino e explicou. lhe o percurso do espermatozoide deposi-
tado no aparelho sexual da mulher até R fecundação do 6w10.
Ll'vado ao lranse hipnótico profundc, foi.lhe sugerJdo
que vivenciaria o relacionamento sexual com detenninada mu-
lher pela qual sentia profunda admiração. Após breve resis-
tência caracterizada por aumento da freqüência respiratória,
o rtpaz pôs.se a executar o programa e, através de gestos,
assumiu o comportamento de Quem está realmente praticando
um ato sexual. O médico aproveitou aInda o transe para suge·
rir a N ,N, o desempenho de suas funções sexuais em condi-
ções totalmente nonnals.
Ao despertar. o paciente estava multo alegre ou mesmo
eufórico, dizendO' ter feito experiência maravl1hosa, pois seno
tira todas as impressões relacionadas com o ato sexua1, que
ele jamais imaginara fossem tão gratIficantes.
As sUbseqüentes sessões, da décima primeira à décima
quinta, foram dedicadas a confirmar a experiência anterior.
-16S -
34 cPERGUNn: E RESPONDEREMOS, 232/1979

o interessado se mOSU"8.va cada vez mais Isento de bloqueios


neste particular.
Nas sessões finais, da d~ sexta à. \igésim~ convicto
de que o problema do transe:xualismo (ora superado, o mé.
dico passou à última parte do tratamento, procurando sedi·
mentar no psiquismo do paciente a sua realidade heterossexual
recém·desooberta e aceita. Para. isto, recorreu \à. técnica hip.
noteráplca dos renexCtS condleJonados relacionados com as
atividades diárias de wn homem; assim procurou adapté..lo
concretamente à sua condição de individuo do sexo mas-
culino. - Ora, ao epresentar·se- para a décIma nona sessão,
o paciente, multo eufórico, declarou sem mais que fizera uma
experiência sexual concreta e que tudo correra dentro dos
padrões da mais a.bsoluta nonnalldade! Mostrava assim ter·se
reencontrado ps[qulca. e fisicamente como homem.

Ao verificar tais resultados, o médico estabeleceu que


N .N. só voltaria l consulta de trinta em trinta dias para
controle da nova situacão.
Pois bem; decorridos sessenta dias após a alta, N. N.
reapareceu no consultório do médico acompanhado de uma
jovem que ele apresentou como sendo sua namorada; mos·
trava·se orgulhoso c feliz pelas novas condiÇÕC5 que adqui.
rira~ Tal resultado era o fruto de qUaNnta e seis sessões
de diálogo e de hlpnoterapja!

3. Conclusõo
A experiência efetuada pelo Dl'. Luis Lomba é alta·
mente ponderável. pOis abre novas perspectivas para o trata·
mento dos pacientes transcxuais. Nâo se pode dizer que indl·
que a solução única e ,detinltiva para tal problema. Ainda
serâ necessário repeti.IA e Rprimorã·la. Alem do que, pode.se
supor que nem todo s os pacientes recebam tão bem o trata·
mento hipnótico aplicado pelo referido médico. Este afinna
que está usando a ' mesma técnica em t'llaiS tres casos seme·
Ihantes, com resultados muito animadores.
Do ponto de vista da consciência cristã, a cirurgia pJãs·
tlca empreendida paro mudar o sexo s6 se justifica se é
feita para retificar ou para restaurar em seus termos nor-
-166 -
TRANSEXUALlSMO~ COMO CURAR'! 35

mais a natureza defic1ente, Na verdade, ao homem não com·


peU! contradizer à natureza humana, mas, sim, respeitá-la e
secundá-la, na qualidade de bom administrador de uma rea-
lidade que Deus fez à sua Imagem e semelhança.
Ora pergunta·se: pode·se d12er que todc individuo tran·
sexual é uma mulher que, por deficiência do processo genital.
tem órgãos sexuais masculinos? - Responder afirmativa·
mente seria temerãrio. pois não há fundamento seguro para
tanto. Todavia, fã que o terreno e.lndll ê pouco explorado,
admita·se o seguinte; desde Que se possa crer prudentemente
que o paciente X é realmente uma mulher e deve poder viver
como tal, serã licito a.pliear-lhe a tentativa da cirurgia plAs.
tica. Acrescente-se, porém: as pesquisas do Dr. Lomba levam
a ver que, mesmo em casos nos quais um paciente queira ser
mulher com toda a veemência do seu ser, ele é homem e,
em vez de ser transformado em falsa mulher, deve ser Indu·
zido a viver a sua realidade- masculina; a cirurgia plástica
faria dr. tal paciente um monstro, ao passo que a psicoterapia
o leva a encontrar a sua p;enuina realidade natural e, conse·
qüentemente, a sua feUcldadc. EiS por que julgamos de
enorme Importância o trabalho do Dr. Lomba; aponta novas
pistas para se compreender o transexualismo e apllcar·lhe
- em nlguns cosos. se não em todos os casos - um trata·
mento cientifioo c cristão.

Congratulamo. nos, pois, com o Dr. Luis Machado Lomba


c auguramos.lhc tooo o êxito em suas futuras pesquisas.

FE1'lICHEL. O.• Te o.l. Plle.n.llllc. d. I.. n.urGlls. Buenos Airel 1957.

LOMBA.. L. M. e LOMBA R. B., Tr''''.lu.lIsmo. Tknle:. h.lpllOl.rtple11


h.l.rocc6plu.ldeopltsllc. de d ....nllbml~ (ad Ins!er mansue:rlpU) . Rio
d e J.nelro. março de 1978.

LOPEZ IBOA. J . J ., U Dngnll. wll.l. M adrid 1950.

MARANHÃO G.• Homo.ulI.lld.d J .e,o e:romellco. 1959.

NACHT. S., UI Pl)'ct.Qft.Jy•• auloud'hul. PUF,

VIOAL. 104.• MorDI do .mor • d ••e,,",II.~~

- 161-
Atlllldo patora' ?

bên<ão para uniões ilegítimas 1

!m .1"*_: o .rUgo apresenta o texto de uma Declaraçlo doa Bispos


do Chile I respeito de earlm6nl.. lIIurglcas ou parallltlrglças, bênçtos a
prKeS ri_Iludi• • gul•• de IUCedlntO do sacramento do matrlmOnlo em
"favo," da pessoas que ,..10 " podam c ...r tagltlmamente na Igreja cal6-
IICL O episcopado chileno, como port• ...,oz do pel1lamanlo oficiai da Igreja.
condana la" calabr.çti.. ~, .. ,.m IIrcltas: '0 mMmo tampo pedI
ucerdotas que exerçam ulo pastora' a Intaresse religIoso em prol daaan
lOS

c.,,'s, l em. porém, o. convIdar' ma•• da comunhlo aucarrellca.

Após. transcrlçlo do texto, o artigo dasca • comanlérlol do mesmo.


mos.tr_ndo qUI. monogamia I • Indlssolubllldada do casamento dacclfam
da natureza mesma do matrlmOnlo, eOlToborada pela mensagem do E... an-
0611\0. Por lalo .. lOteIa católica nloO com peta contradizer-Iha, mal, 11m,
apregoll-Iu aos homens, O ••cerdole Que procecle à btnçlo da uniões ne-
glllmes, nlo tranlmlte a tl6nçlo de Dout!, mil realiza um ato lIulórlo; elte,
em alguns calotl, pode . er uma peneclla, que talvez alguns çrlstlos con·
fundam com um rito mágico, apto .. vaUdar o que é lido como InvAlido,
Na verdade, ,,10 /I" par. os U61a católicos, meUlmónlo legl11mo qua
nlo "la panlclpeçlo da un llo d. Cristo com a Igr&Je; por çonsegulnte.
todo cuamanto valido ê Slcramente e nacessila do reconhecimento da
l.g rela vlalval • ollclal.

"pesar desta atitude auatera, a Igrela peda aOI pastores e fiéis que
procurem acompanhar com zelo pestor.. 1 os cesals Irregule rmente unidos.
aJudanclo..oa a guardar. 16, • Hperança, a contlança em Deus, a 'lIda de
oraçlo e. freqOêncla ... MIs.a (embora .em Comunhio Eucar18Uca) .

• • •
Comentário: :J:: notório () lato de QUe certos sacerdotes,
vítimas de corúusáo doutrinária existente nesse setor, têm
celebrado cer1m!)n1as de bêncão nupcial em cfavou de pes-
soas batlzadas na Igreja CatOUca que desejam viver conju-
galmente, mas nlo se querem casar propriamente ou não
podem receber 1egitlmamente o sacramento do matrimônio.
Tais cerimônias têm causado' perplexidade no povo de Deus,
pois vêm a ser um simulacro do matrimônio sacramental e
dão a entender que. apesar da. recusa da. Igreja, Deus pode
abençoar tais uniões. Mais: esses ritos Insinuam a existência
de uma cnova Igreja. ao lado da Igreja oficial ou simples·
-168 -
BeNÇAO PARA UNIOES I~~G!!lT!cU.~1AS~'_ ._ _ _.!.37

mente anulam conceito de Igreja; o sacerdote, em tais cir·


(l
CW1StanciaS, tu-se dono:. das bênçãos de Deus e as admi-
nistra a quem ele, subJetivamente. julga que as pode admi-
nistrar. Dude assim as consciências dos fiéis que, de boa fé
ou movidos por ignorAncJa simplória, as procuram, colocando
capa de verniz sobre uma realidade que não a comporta.

Em vista de tão grave situação, os bispos do Chile hou-


veram por bem publicar importante Declara~o, que exprime
o genwno pensamento da Igreja sobre o casQ. Abaixo repro.-
duziremos esse texto vélldo para o Brasil como para o mWldo
inteiro, e ihe acrescentaremos breve comentário.

1. DECLARAÇÃO DOS BISPOS CHILENOS

Eis o teor do momentoso documento:


"1. Quando se trata de pessoos batlzadas que não ":lese-
Iam contrair o sacramento do matrlmOnlo ou estão Impedidas
de o contrair (porque continua a existir o v(nculo sacramental
de um dos cOnJuges ou de ambos, casedos no foro religioso e
divorciados no foro civil) , é proibido a todo sacerdote e di.
cono participar, de alguma forma ou a qualquer titulo que seja,
de cerimOnla pretensamente litúrgica ou paralttúrglca ou de
preces ou bênçãos (públicas ou particulares) celebradas com
a finalidade de conferir valor religioso a uma vi<la comum que
nada lem 8 ver com o sacramento do matrlmOnio. A Iransgres-
silo desta norma será considerada como falta muito grave
contra a di$Clpllna da Igreja.
2. Sem derrogar ao que acaba de ser dito, os sacerdotes
exercerlo uma atividade pastoral junto a tais pesso83, 8th'!·
dade que não poder', em caso algum, ser apresentada como.
aceltaçAo da situaçio lIagftlma. mas, sim, como auxilio para
que tornem a encontrar 8 Deus.
Essa atividade pastoral seré tal que evite todo equfvoco a
respeito do fato de que as pessoas que vivem na situação
Irregular acima descrita, nio se podem aproximar dos sacra-
mentos".l
t o texto 101 IrldUlldo • panlr do Jornal "l'OIservatore ~om.no"~
ed, Irance•• , p. 3, de 9/01/78, cnde a• • cha sem Indlclçlo de dita do
crlglnal chileno.

-169-
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 232/1979

2. Refletindo .ob.. os fatos . ..


2. 1. Unidade e IndJuoliUbllldade

o matrimônio é, por sua natureza, monoglmico e indls-


solüvel. Com efeito, doação tão intima quanto a conjugal, se
é verdadeira, só pode ser realizada em relação a uma pessoa e
uma vez por todas, ou seja, por tanto tempo quanto dure essa
pessoa. Se há. restricães nessa doação, ela já não é o que
professa: união de amor total; antes, vem a ser expl:!rlêncJa,
aVl!-ntura, utilização doCa) pnreelro(a) ... Não é propriamente
«querer bem ao outro li ou «querer construir o outro:., mas
é talvez cquerer o outro jâ construido ou na medida em que
esteja construido••
Entregar·se totalmente a alguém (incluindo a doaçio do
próprio corpo) e, ao mesmo tempo, guardar a possibilidade de
~ retratar, significa querer compatibill2:ar o total e o parcial,
o absoluto e o relativo; e prometer um amor revogável ou
uma fidelidade em termos - o que redunda em ambigüidade
e hipocrisia. Qualquer dos dois cõnjugcs, ao ouvir 8 promessa
de amor do seu consorte, pode saber que esta promessa incluI
a eventualidade dI! 'uma recusa ou de um Nã:o. desde que o
consorte julgue que tem suns razões para dizê·lo.
Estas verdades, Incutidas peja natureza mesma do amor
conjugal, são corroboradas pelo Evangelho ou pela Lei de
CrIsto; cr. Me 10,5-12; Lc 16,18i leor 7,105. O Senhor d.eu
dignidade nova ou sacramental ao enlace matrimonial. O
matrimônio cristão vem a ser participação do amor que une
entre si Cristo e a Igreja; no lar cristão, diz São Paulo, o
esposo f8.7. as vezes de Cristo. e a esposa representa a 12l'Cja:
(cf. Ef 5,32); cada família cristã constitui assim uma Igre!n
doméstica. é uma caluta pt'C}ucna da Igreja grande.
A Igreja, que é a conUnuação do Cristo vivo e a dlspen-
sadora das graças da Redenc;Ao, não tem poder sobre tais
disposições do Senhor. Ela é .mlnlstra. , mas não é «senhora ••
cdona. das detennlnaçées do próprio Deus. Diz S.lio Paulo:
··Conslderem·nos os homens tomo •• rvldoral de Cristo e adminIstra·
dores do. mIstérios de Deu• . O,a o que le 'eQ~r do • .administrador•• , •
que cede um .e]a lIel" (1Cot ""b) .

Por conseguinte, importa frisar que a monogamia e a.


Indissolubllidade do rnBtrlm&nio não são postulado.s depeno

-170 -
_ _ _-'n"'llli=ç:!!A.~O'_'P"A_"RA=_'UNI=O"'ES=!!IL"'E"G!!IT
...lM=A"'S'_'?_ _ _____"39 .

dentes de determinada cultura ou época da hlstórla, nem se


devem a pontos de vista de alguma escola teológica sujeita
a ser ultrapassada, mas se derivam do âmago da concepção
filosófica (natuml, racional) e da noção teológica (Iluminada
pela fé) do matrimOnlo.

2,2. «No foro Interno, ao menosl.

Talvez haja quem se disponha a reconhecer a bênção de


uniões lIegitimas porque julgam que o amor legitima tudo!
Em conseqücncia, tais enlaces poderiam ter no foro Interno
ou da consciência ou diante de Deus o valor que eles não
têm diante da Igreja.

A respeito seguem·se duas' conslderacões:

2 .2. 1 . «O amlJr logitima tudo I.

Já S. Agostinho (t 430) dizia: cAma e faze o que qui.


sereSiD . Este principio tem sido rreqüentemente aduzido para
se afinnar que co que é fclto por amor, náo é peoado, .
O principio é veridico ... Mas nem tudo o que se apre·
senta. como amor. é rcrumcnte amor. Hã, sim. contrafacçães
do amor. Para S. Agcstlnho Ce parn o cristão em geral), o
amor coloca Deus em prlmC!lro plano e , através de Deus, se
estende a todas as criaturas. Donde se segue que- .o autêntico
amor é aque-le que respeIta a vontade de Deus expressa pela
ordem natural dos coisas; na genuIna conCêPcão do amor;
Deus é o critério segundo o qual o coracão do homem se!
inclina para as criaturas; é critério objetivo, em contraste
com todo critério meramente subjetivo Co meu próprio en
egocêntrico) ou meramente humano (antropocentrismo). In-
tellmente a linguagem moderna confunde não raro amor e
prazer, amor e .sexo. amor e aventura descomprometlt1s.: além
do que, dã enfase especial ao meramente subjetivo, exlsten·
clal e conUngenle, sem levar na devida conta os valores obje.
tlvos, essenciais e perenes.
Por Isto não basta dizer que detenninada união esteja
baseada ne amor para se poder afirmar que seja abençoada
por Deus; se tal união é incompat!vel com o amor a Deus,
já nio se funda sobre o autêntico amor.

-171-
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOSlo 232/1979

2.2 .2. Matdm&nlo sem forma can6nlca

Nio paucas pessoas são propensas a crer que, se há amor


e felicidade entre dois cristãos, podem considerar·se casados
diante de Deus ou em consciência, embora as leis canônicas
não os reconheçam como tals. Dal deduzem a legitimidade
de uma bênção a tal enlace, no caso de a Igreja lhe recusar
o sacramento do matrimõnio.
Tal concepção não tem vaUdade aos olhos da fé. Com
efeito, a experIência ensinou os povos, mesmo antes de Cristo,
a exIgir dos consortes a contratação pública e oficial de seu
enlace conjugal; sem esse testemunho público e reconhecido
pela sociedade, a hipoc.rlsla, a falsidade, a poligamia. e o con·
cublnato freqUentemente corromperiam a coletividade.
No povo cristão até o ConclUo de Trento (1545-1563) a
Igreja exigia a eontratação pública e oflelal do enlace matri·
monlal; contudo não chegava a declarar inválidas as uniões
contraidas clandestinamente por pessoas solteiras e aptas a
se casar.
o Concilio de Trento, porém, levando em conta os gra-
ves abusos a que dava margem essa atitude. houve por bem
impor a tedos os tléls cat6licos uma forma precisa de con·
trato matrimonial.... forma sem a qual nã-o há matrimônio
válido. Por conseguinte, quem não aceita tal fonna, simples-
mente não está casado. Podem os respectivos consortes viver
conjugalmente e gozar de aparente felicidade; não obstante.
vivem em concubinato e o Senhor Deus não lhes dá a sua
~nção.

O sacerdote ou o ministro que tente abençoar tal eaM·


menta, realiza. uma panacéia ou um ato dê irresponsabllldadc:
ilude os fiéis e. talvez. a si mesmo. Faz do rito litúrgico ou
paralltúndco uma espécie de ato mágico Que serve talvez
para cauterizar as consciências e dar a imnressão de que
pode validar o que ~ tido como lnvâlldo. Não hâ quem Ignore
nue, em 61tima anAlise, ~ Deus Quem dA a bênÇÃO por- melo
fios homens (não há. rito de efeito mãgico na Ierejal: ONl.
Deus não abençoa o Que seja ilegitlmo ou o Que nÃo selA
consentlneo com a estruturà do sacramento do matrimônio.
Dirá alllU~m~ Deus pode santificar o~ homens 11'1llepen.
dentemente da medlaçAo da Illreja. - Sim; Deus o faz em
-172 -
._ _ _-'MN"""CAO PARA UNIOES !LEGITIMAS? 41
favor daqueles que ignoram a Igreja ou não podem ser atin·
ghios pelo sacramento da IgreJa. Não o faz, pOrém, se o
~rlstao se furta voluntária e acintosamente aos trâmites esta-
belecidos pela Igreja. Na verdade, o Senhor Deus quis que
a santit"icação dos homens seja algo de comurútârio õ ela se
efetua nonnalmente através do <.:orpo de Cristo que é a
Jgreja. De modo especial, não hã matrimônio legitimo, para
os fIéis católicos, que não seja participação da uniâo de Cristo
com Q 19reja; por conseguinte, todo casamento válido ê sacra·
mental e nCCêsslta do reconhecimento da Igreja vis1\'el e oficial.

2 .2 . 3 . O zelo postol'Ol

.As normas anteriores, preponderantemente negativas como


são, não esgotam o pensamento da Igreja a respeito das peso
SO:lS unidas entre si. mas nAo casadas sacramentalmente.

Nos últimos tempos, mais e mais os teólogos e pastora-


listas vêm-se preocupando com a sorte de tais cristãos. t-.lão
estão excomungados, isto é, não são atingidos por tal tipo de
censura que é chamada cexcomunhão:t (pena de (oro ex-
terno) . Todavia estão exc1uídos da comunhão sacramental ou
(!uOlrlsUca, porqu~ o seu ~sta.do de vida é ilegal. .J!: preciso
que tais cristã'OS não percam a esperança de salvncão nem
õlMndonem, por completo, a prAtica religiosa. Isto é tanto
mais importante quanto mais se sabe que multos reconhecem
a ilegitimidade da sua sll"oJação perante Deus e, em conse·
qüência, se afligem; mas não podem renunciar à vida comum,
porque têm filhos JX.'Quenos, que necessitam da presença
atuante dos genltores.
Eis algumas sugestões aptas a fomentar o zelo pastoral
para com os cristãos irregularmente unidos:
1) Faça.se o possivel por legitimar a sua união, caso
Isto seja viãvel. Talvez o primeiro enlace tenha sido nulG e
poss:l ser declarado tal pela Igreja: talvez se trate de um
matrlmõnlo misto celebrado invalidamente aos olhos da Igreja,
mas suscetível de ser validado.
2) Em alg-.ms C(\SOS, é possível que os «cõnjugcs:t con·
cordem em viver sob o mesmo teto como Irmão e Irmã. Desde
que Isto aco:1teça. podem procurar os sacramentos da Peni.

-173 -
42 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS) 2321197;)

tência e da Eucaristia, de modo tal que isto não dê escândalo


a quem os veja comungar sem estarem casados (recomen-
da-se que, para freqüentar a Eucaristia, procurem lugares
onde não sejam conhecidos). - Não há duvida, esta perspec·
tiva talvez pareça extremamente ditlciJ ou mesmo inexeqüi.
vel. Como quer que seja, pode ser nprcsentnda aos interes·
sados em certas circunslÜ..nclas (principalmente depois de CCl·ta
idade).

3) Mesmo que nenhuma cia.s duas hipóteses anleriores


seja praticâvel, é preciso incentivar os dois ccônluges, a se
voltarem freqüentemente para Deus na orar;ão e na partlci.
pação da S. Missa (sem a Comunhão Eucarística) aos domino
gos ao menos. Deus é o Pai que não abandona seus filhos,
por mais culpados Que s(!jam j tem vias Invisivels para salvar
aqueles que U procuram c e coração sincero. :t:; necessário que
os dois «consortes. tenham esperanGa viva, confiança em Deus
e guardem a fé na sua Integridade.

4) CUidem tais cl'isl1os ele educar s.1US filhos na fó cató-


lica, CQmo o fazem os pais católicos legitimamente casadas,
embora não lhes possam dar o exemplo da prática religiosa
completa. O papel dos pais na formação religiosa dos tllhos
é fundame ntal e lndlspensilvcl, começando desde os primeiros
anos da criança; não julguem que não podem cumprir tal
missão pelo fato de mio estllrem legitimamente casados; os
tuhos não húo de ser prejudicadOS na sua fonnaçáo cristã
por causa de um problema ocorrido com tiS genitorcs; o m;:,.1
dos pais não deve gerar outro mal para a prole.

A propósito observe·se que aos genitores não legitima.


mente casados não se deve facilmente, ou por principio, recusar
o batismo dos filhos. Corno dito, a prole não deve ser pwlida
(pela exclusão do batismo) em virtude de umn desgraça dos
genitares. O que Interessa à Igrej;:,. no tocante ao batismo
das crianças, é que o sacramento a estas ministrado tenha
continuidade na educação religiosa das mesmas; é tão somente
este o ponto de . vista que leva os Sn;. Bispos e párocos a
promover cursos de eonsclentlzat'ão para pais e padrinhos.
Ainda que os genltores não estejam canonicamente casados,
os seus tilhos podem ser batizados, desde Que os pais con·
cordem em proporcionar (por si ou por outrem) a educação
religiosa aos seus pequeninos. Se os pais não têm condições
para f82ê-lo, mas não se opõem ·à instruçãO religiOsa cató-

-174 -
BeNCAO PARA UN10ES ILEG1TlMAS?

Uca, cuide O pâroco de que haja padrinhos dispostos a fazê·lo


(em vez de despedir os genitores com uma negativa, que é
sempre dura e antipitica. podendo ter conseqüências lmprevi-
slvels) . Se nem padrinhos se encontrem para assegurar a
doutrina católica aos afilhados, veja ainda o sacerdote se não
há melas de minlstrá.la a essas crianças mediante as institui-
eões catequcticas da paroqula ou algum colégio cat6lieo da
região, desàe que os 6ênltores não se oponham a isto.
Em suma, procure o sacerdote fazer todo o possível para
evitar, enquanto depender dele, que fllhos de pais não casados
fiquem sem o sacramento do batismo.
5) Os cristãos ilegitimamente unidos podem também
praticar obros de caridade e colaborar com institui.ções cató-
licas desde que o façam com a pura intençdo de ajudar o
próximo e esta tntencio seja bem compreendida por todos.
A prática do amor fràterno concorre para levar a Deus. faci-
lita a vIda de oração, tomando-se penhor de maior miseri-
córdia da parte de Deus (cf. 1Pd 4,7) .
Eis. em breves tópicos, algu:nas reflexões que a Declara-
ção dos Bispos do ChDe atrãs transcrita pode sugerir a quem
a queira ler dentro dos seus genulnos parâmetros.

A guls. de bibliografia :

HARING, B., P..lora" pour Ie. dlvorc61 .1 IH 6poux 111"11,,"-. In


"Concillum" 55., maIo 1970, pp. 113-12O.

fUNG, N., ctancIHllnI". In ''Olcllonnalrt de Orol! Canonlque" 111. Parta


1942, cola. 79H19.
PR 214/1971, pp, 4ZH049 (çonseqOlnctu da Implltltaçlo do div6n:lo
no Brasil) .

PR 215/1971 • .,p. 493-ot98 (regullmenta;lo do dlv6rclo).


PR 158/1972, pp. 558-570 (comunhlo para "cuela" nlo casados 1).

Estêvão Bettenoonrt O .S .B.

-175 -
livros em estante
ReencarMçlo, por Geraldo E. OaU1or..... , ColeçAo de ParaPllcologla
VJU. _ Ed, Loyola. Slo Paulo 1979, 140 x 210 mm, 1.:J pp.
Era nacessArla qUI le publlca,se um livro sobre I Raancamaçlo em
português. em data rlca"l. (OI da Frei Boaventura Kloppenburg 1.110,
desdI multo••'gotados) •• fim de IMII.. r o tema" luz da Parapsicologia
• manUesler I Inconsl.tlnel. da ,... ,eenearn.elonlara. Ou. o Prof. Geraldo
Dali agrave, do In,lIIulo P.ranaensa de Parapsicologia, se deu a e,18 temIa,
usando de ••,110 I lmpla I ac...Ive4 a grande nOmero de leitores. Percorra
os argumentOI geralmente aduzido. em prol da lese reencarnaclonllla • mos-
tra que nada provIm : I desigualdade de 10rles, por exemplo, nlo slgnlllca
que o. sadios. ricos lanham l ido virtuosos em ancamaçAo 'n'erlor, • OI
po.
doenlea e pobr.. hajam aldo pec:adOrl,.. Tal Ixpllcaçlo 6 gratuita e artlOclal,
o recUI'IO " cl'nela • turlcl • .,I. para explicar a deslgualdada de aor1al:
uma criança nasco sem braçoa ou ç.ga por del.lto na ccmblnaçlo dos
genes ou em virtude de drogo Ingeri da. pera mie ou pelol genltore. ; ade-
mal. a. concllçe.. oaogr'lIc.. e .oclal. em quo alg~m n..ce, dia conta
da riqueza de uni e da pobreza de oulros. De resto, .,10 h& duo 1I0r83
ou duas frulu ou doll púlaro. IguII. enlre ar, e, nlo obatlnte, nlo ..
diz que f1011l1, frut •• ou púl&rO•••tejem .~plando pecado. de uma exl..
16ncla .nlerlor • pre.."". &ta analogIa explica perfeltam.ente nlo haja
doi••ere. humanOl IdtnllcOl enlre .ti • grendeu de cada um conllate Im
anumlr leU cabedal dI prenda. e IImltaçOos " a partir deslal dado., con..
trulr com herollmo e magnanlmld.ad. ,. lua pefl!lonalldede.
O eutor aborda lambem multai CIIO' concrelo. tldol como teste·
munhoa da reencarna,io obtIdoS por regresalo at6 I .•. "enctlrnaçlo In19-
rlor". O mala lam080 101 o d. Vlrglnl8 TIghe ... Dallegrave tamb'm evi-
dencia que a. narraçe.. dI enredo de vida pregreua II explicam etr.\/6.
dos dadoa e dai .~perl6ncll. colhIdas pelo. plclentes ne vida presenle.
Em suma. o livro urA multo üm ao noslo p"bllco.
Todavia nlo 001 podemos furtar a certas observaçae.: 1 p. 40, o
autor dIz repetldamante que a idma , e_ma: na verdada. ela " Imortal,
poIs aterno , aquele que nlo lave eomeço e nlo la~ fIm. , Deua só.
A p. 41, o eulor, citando o Pe. Oueve<l'o, propOa a tese da ressurre1çlo logo
apOs a morte; ora esta proposlçlo 6 dlacullvel e gralulta; pode-se edmltlr
que enlra • morta e o juIzo unlvefUll a alma humana permaneça separeda
do corpo.
De modo oaral, o 11Yn) precisaria de s6r1a revldo gnUlea : 1 p. 12,
por exemplO, 16.' .....r, quando s, d..... 'I. encontrar e ver. A p. 13&, o
ano da morte da 8rtdey Murpl'ly nlo • 1914, mas 1884. Haverl. outral
observaç6e$ da ardam IIngOI.tlca a redaclonal.
Congralulando-no. com o aulor, eugertmo'-lh8 nove 8dlçlo revl.te e
aperfalçoada.
O JulgalMnto de PlIalos. Para voei e"'andor a Pal.lo d. ,,'""., por
Kurt A. Sptldal, COlaçlO "Entandar a Blblla" ~ 4. Traduç.lo de Dom Maleus
Rocha O.S.B . - Ed. Paul/na., Slo Peulo 1979, 18!i~ 225 mm, 1N pp.
Elita livro .çonllnu. ti lérle dos a.crllOI de dlvulgaçlo da 1110 nlv"l 16
publlcada. pela. Ed. Paullnas; cf. PR 222/1978, pp. 271.; 224/1978. pp.
319--334.

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o autor procura reler es n.rraçoes ...,ang'llcI. relatlvae l Pllxlo de
J ISUS, sob I luz da Irqueolo"la, da hlst6rla anllg . e do método da Natorla
da. fOrtl'l H. Esta f AlIe. projeta vallou claridade sobre o t.ldo u g rado,
permitindo entender melhor as atituOes de PllalOl, dOI ludeus, doa Ap6aloloa
e do próprio Cristo, TodavIa Speldel julga que as narrativa dos últImos
dI •• da vida de J esus misturam I'I lstórla e Interpretaçlo: 08 Ivangellstas,
10 escraver, terlo procurado pOr em ralavo o sIgnIficado leológlco d os fatos
descrl108. ~ Isto qUI Ilva Kurt Speldel e tentlr lazer a trlegem entre o
d lSenrolar mesmo dos aconleclmantos relativo•• Palxlo e 11 Interprotaçlo
d'da paiM esullor.. blbllcos. Enlre 81 les.. próprias do livro, pod..-.
enumerar a segulnle ; a IKInur. de Barr.blb .. ter6 dado em ano an lerlor
ao d a condenaç60 de J esus,. nlo na mesma ocaslAo (cr. p. 10t). - Ora
Islo Ifca sendo hlpólese, para a qual 010 h' fundamenlaçlo mullo persua-
siva, como se depreende da leltur. mesma do lello de Speldel.
O uso do lI vro de Speldel serA, sem duvida, il ustrativo e I nrlquecedor,
n'da lendo que desloe da mensagem da rela fé.
Como fal . r com O.u •• por Fr. 9.llIatlnl. - Ed. pr6 prla, Mapé 1979,
1201130 mm, 134 pp.
E, le livro vem • aer um catecismo pop",lar de or8çlo. O a ulot, i' conhe-
Cido por duas edlçOes sucessivas da preciosa obra "A Igr.ja d o Oau. vivo",
verifica Que mull~ dos problemas de 16 e vlvencl. crlslls t6m lua origem
no abandono da práUc. d a oraç6o. E u i. ocorra porque aa pesa0.. Julgam
rllo ler lompo para orar ... Ora Fr. eaHI,lInl. carmema, procura moelrar
que nenhum preleltlo Ju.mlca e auaOncla de o'açlo na vld. da um c rlatlo.
Aponl. outrossim I ' mMelras e"Onau (mecanicistas, m'glclS, dl, "afdae,
meremente Interesseltas ... ) de oraçlo, e propOe pistas sImples que levem
o crlsllo a criar o h6blto da ot8çlo, ... e da oraçAo Inlerl or, racolhlda e
saborosa : Cil'lCO minutos dl6rlos I' 510 o começo de vallosl pslcolerapl.
(p. 119) .
o livro , Im pollanle, porque, de mallllra suave e con.crela, leva o
lellor • CQmpra.nder o v.lor d e ofaçlG e , ;.raII06-la com simplic idade e
p r~ello . Para or8r, baala IIIev8r o eaplrlto a Deus, mesmo na tossa do
pecado ou lIobrll o leito de dor.
Tanhard da Chardln ; mundo, homem a D.ut, Teltloe selecionado, e
comantados por Jo.' Lul:!: ArchanJo. - Ed. Cultrbc:, 510 Paulo 1978,
':12 li 192 mm. 251 pp.
TeWhard de Cha rdln lornou-se ngura controvertida logo após a aua
morte (7104 / 1955) . Na verdade, , um J.surta mlatlco, que empntendeu
8\'angellzar o "'UI1d o da cl'nel. o u OS c lenllslui qllla, alm, . presentar eM
pesqu lsedores d a ... alllre%l a .. criall, de tal mOdo que pare.tJ....m nlo
h' V4H hIato enlre um. 1 oult., mas, ao contr'rlo, plena oOl'llonlncla. Movido
por esle Inlullo, Tellllard usou linguagem nova (enltertada d a neOlogl,mos) e
Silenciou alguns ponto. Importanlas da leologla (como li dl.tlnçlo entre
mal6rlll e IIsprrlto, I noçlo de crlaçlo, a de pecad o originaI ... ) ; perr 1510
101 m'l vleto po r n60 poucos estlldlosos católicos. - Quem est! consclenta
dl.to, poda ler Tellh.rd aem del/imanlo ; e nconlrar' em seua e scrllo. PIS-
sagan. de vlslo IJrandlo.. e panorlmlea, moslre ndo o mundo Im pregnado
pela Imagem e a presença de CrIsto.
EJipaclalmenle Intere".nte • o penúlllmo t,acho da anlologla : "Sob re
• mI nha .mude per. com a Igreja orl clal. carta e um a migo 111m f'''.
Convidado para abandonar 1 IgreJ•. que fazia reatrlçOes 80S seus a.crltoa,
Tallhard prolesta fidelidade. mesma e explica o porquê da sua at1lude. Os
ladlos Clllérlos da " preval.ceram l obre o. do senllt humano.
O livro deleitarA a quem se tenha acostumado às pecullaridad" do
estilo e do pen5llmenlo d a Tellhard de Chardln.
E. B.
JESUS CRISTO, REDENTOR DO HOMEM
"NÁO NOS CONVENCEM , PORVENTURA, A NOS, HOMENS
DO SECULO XX, AS PALAVRAS DO APóSTOLO . . . , PRONUN-
CIADAS COM ARREBATADORA ELOQO~NCIA , ACERCA DA
'CRIAÇÁO INTEIRA QUE GEME E SOFRE DORES DE PARTO
ATE O PRESENTE MOMENTO E ESPERA ANSIOSAMENTE A
REVELAÇÃO DOS FILHOS DE DEUS .. . ' 1 O IMENSO PRe-
GRESSO, NUNCA DANTES CON HECIDO, QUE SE VERIFICOU
PARTICULARMENTE NO DECORRER DO NOSSO S~CULO" ..
NÃO REVELA ACASO ELE PR ÓPRIO ... AQUELA MUL TlFOR-
ME SUBMISSÃO AO DESVARIO 1 BASTA RECORDAR AQUI
CERTOS FENOMENOS, COMO. POR EXEMPLO. A AMEAÇA
DE POLUiÇÃO DO AMBIENTE NATURAL NOS LUGARES DE
RÁPIDA INDUSTRIALIZAÇÃO. OU ENTÁO OS CONFLITOS
ARMADOS QUE REBENTAM E SE REPETEM CONTINUA·
MENTE, OU AINDA AS PERSPECTIVAS DE AUTODESTRUI-
çÃO MEDIANTE O USO DAS ARMAS ATÓMICAS, DAS ARMAS
COM HIDROG~NIO E COM NEUTRONIOS E OUTRAS SEME·
LHANTES. ASSIM COMO A FALTA DE RESPEITO PELA VIDA
DOS NÃO NASCIDOS. O MUNDO DA EPOCA NOVA, O MUNDO
DOS VOOS CÓSMICOS. O MUNDO DAS CONQUISTAS CIEN-
TIFICAS E nCNICAS. NUNCA ANTES ALCANÇADAS, NÃO
SERA, AO MESMO TEMPO, O MUNDO QUE GEME E SOFRE
E ESPERA ANSIOSAMENTE A REVELAÇÃO DOS FILHOS DE
DEUS 1"
(JOÃO PAULO li , ENC. "REOEMPTOR HQMINIS" N9 8)

AOS NOSSOS AMIGOS COMUNICAMOS QUE TEMOS A DISPO.


SIÇAO O INoleE GEl.AL DE . PERGUNTE E RESPONDEREMOSIt DESDE
1957 AT' 1977 EM 91 P:OLHAS XEROCADAS PELO PREÇO DE
CR$ 170,00. TORNA-SE ASSIM FÁCIL ENCONTRAR OS TEMAS ABOR-
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