Sie sind auf Seite 1von 15

Trabalho de Síntese: Sociedades Utliiadoras do Ferro

Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra

Unidade curricular: Arqueologia Africana


Docente: João Carlos Muralha Cardoso

Margarida Nunes
2017/2018
2

Sumário

Nº de Página
INTRODUÇÃO 3
DESENVOLVIMENTO 5
Sociedades Utilizadoras do 5
Ferro
Nigéria Meridional 6
A Idade do Ferro no 7
extremo ocidente
A região do Médio Níger 8
A região da Senegâmbia 9
Origem dos Bantu 11
Natureza das sociedades 12
na Idade do Ferro Antiga
CONCLUSÃO 14
BIBLIOGRAFIA 15
3

Introdução
Há exceção do Egito, do Vale do Nilo sudanês e de algumas áreas da Mauritânia e
Níger, onde se conhece a metalurgia do cobre, em todo o restante continente, a
metalurgia mais antiga foi a do ferro. Não é claro se o conhecimento da metalurgia se
difundiu do sudoeste da Ásia e do mundo mediterrânico ou resultou de um processo
endógeno. No Oeste e centro-oeste africano as evidências mais antigas datam da 1º
metade do 1º milénio aC, sendo Do Dimi (Níger) e Taruga (Nigéria) os sitios mais
importantes do ponto de vista arqueológico.
Em Kemondo Bay (noroeste da Tanzânia), na primeira metade do 1º milénio aC. e
em Meroe (Sudão) em meados desse milénio já se praticava a metalurgia. O Ferro parece
ter sido bem conhecido a Norte do Equador no final do 1º milénio, enquanto a Sul não terá
sido praticada a sua metalurgia até ao 1º milénio dC. Uma das sociedades utilizadoras do
ferro mais interessantes, terá sido a de Nok (Nigéria).
Na maior parte do continente africano não existe, ou não se conhece a metalurgia
do cobre.
Muitos investigadores colocam em causa a passagem de uma tecnologia baseada
na pedra para uma baseada no ferro, sem qualquer tipo de tecnologias intermédias
(cobre).
Os difusionistas defendem que a técnica associada à metalurgia do cobre teria
vindo do sudoeste asiático, espalhando ‐se para África via Vale do Nilo, ou pela costa
norte africana, assentando a sua ideia na elevada complexidade da metalurgia do ferro,
processo só atingível para quem conhecesse a metalurgia do cobre.
Outros investigadores defendem que esta foi uma invenção local pois existe um
conjunto de fatores que enfraquece a ideia da difusão: a metalurgia do cobre era
conhecida em algumas áreas do continente, como no baixo Vale do Nilo desde o 4º
milénio aC., mas também em Akjoujt na Mauritânia e Agadez no Níger, desde o início do
1º milénio aC.; as datas mais antigas para a metalurgia do ferro parecem sugerir o seu
aparecimento independente em várias partes do continente; vestigios de fornalhas
escavadas em Do Dimir (Níger), Taruga (Nigéria) e Otumbi (Gabão) datam todas do 1º
milénio aC. E parecem ser tão antigas quanto a metalurgia do ferro em Meroe. Este local
é considerado pelos difusionistas como um dos pontos hipotéticos de difusão deste
conhecimento; um conjunto de sítios no Ruanda e Burundi, têm datações que vão desde
o 2º milénio aC. (embora questionáveis); outra área importante que os difusionistas
apresentam para a difusão da metalurgia do ferro, seria a a partir de Cartago. O problema
reside nas datas que coincidem e na difusão através de todo o Sahara até ao Níger,
Chade e Nigéria.
Apesar dos vários argumentos, parece provável que no futuro se irá encontrar
evidências arqueológicas que nos digam que a metalurgia do ferro é indígena e surgiu em
vários locais ao mesmo tempo. Tem sido referido que, devido à quantidade de ferro
existente no cobre da Mauritânia, esta metalurgia (ferro) se tenha encontrado
acidentalmente. Temos a mesma situação na cozedura da cerâmica, que em muitas áreas
de África tem hematite e a altas temperaturas se transforma em ferro. Por outro lado a
cerâmica produzida no Vale do Nilo apresenta um controle de cozedura a nível da
redução e oxidação, muito grande, demonstrando conhecimento suficiente para se passar
à metalurgia do ferro.
A metalurgia do ferro, no início da sua utilização, parece ter sido usado apenas
para fins cerimoniais, decorativos e como artefacto(s) de grande valor.A velocidade e as
áreas geográficas a que vai chegando, variaram bastante. No entanto a longo termo, a
sua posse teve consequências económicas e sócio-políticas importantes: providenciava
4

ferramentas e armas com maior eficiência e a sua adopção em áreas geográficas como o
Centro e Sul africanos parecem acompanhar a movimentação das populações falantes do
Bantu.
Estas movimentações começaram antes do advento da metalurgia do ferro e
sugere‐se que foram estas comunidades a introduzir a agricultura em grande parte do
continente africano, a Sul do Equador.
Com base na evidência linguística, sugere ‐se que esta “expansão” Bantu começou
nas pastagens dos Camarões e estendeu ‐se para Este, através da savana, até chegar à
região inter‐lacustre do Centro‐Este africano. Daí continuou para Sul e Oeste para a
savana a Sul da floresta equatorial.
Esta migração poderá ter acontecido, também:
• Ao longo da costa africana;
• Ao longo do savana, por corredores abertos na floresta, em períodos de seca;
• Ao longo dos rios da África equatorial.
Provavelmente um conjunto bastante complexo de pequenos movimentos pode ter
acontecido, iniciando‐se, talvez no 2º milénio aC. e continuando até ao 1º milénio aC.
No entanto, são questões muito debatidas pois têm sido difícil conjugar a evidência
arqueológica com a linguística.

“Da Núbia ao Senegal, e por toda esta latitude, que parece pertencer à mesma era de
civilização, o sopro das fornalhas acesas produzia o ferro necessário para as atividades
tecnológicas e económicas. É quase certo que o combustível utilizado tenha sido a
madeira. O uso da metalurgia na África Negra data de temos imemoriais. A mineração
desse metal, a sua fundição, e a maneira de trabalha-lo não foi ensinada por ninguém aos
africanos.” de Cheik Anta Diop (Precolonial Black Africa)
5

Sociedades Utilizadoras Do Ferro


(As datas aqui mencionadas foram calculadas em anos radiocarbono.)

As etapas do desenvolvimento da Idade do Ferro não parecem diferir muito das do


Neolítico, salvo pelo facto de os primeiros exemplos de transição para a Idade dos Metais
e do Ferro na África ocidental terem ocorrido nas duas extremidades da zona
Sahel/savana, e não nas regiões florestais do sul. A propósito, os indícios culturais e
cronológicos autorizam-nos a pensar que o processo que conduziu ao trabalho dos metais
– assim como as origens da produção alimentar – contou com uma participação indígena
considerável.
Os traços da Idade do Ferro Antiga na África ocidental podem ser divididos, no
plano tipológico e, em certa medida, cronológico e estratigráfico, em conjuntos
caracterizados pela presença de: 1. cerâmica e utensílios de ferro e de pedra
polida; 2. cerâmica, ferro e/ou outros metais, por vezes relacionados a práticas funerárias
especiais (jarros); 3. cerâmica unicamente.
Os sítios nos quais os traços da metalurgia do ferro se misturam aos de uma
indústria lítica razoavelmente desenvolvida constituem, em geral, os conjuntos mais
antigos da Idade do Ferro, refletindo provavelmente a passagem da Idade da Pedra para
a Idade do Ferro. Os sítios caracterizados por essas indústrias de transição foram
identificados em várias partes da África ocidental e também em outros lugares (por
exemplo, na região dos Grandes Lagos, na África oriental). Na maior parte dos casos,
essas indústrias continham escórias de ferro, lâminas de faca, fragmentos de
flechas e de pontas de lança, anzóis e braceletes, pedras-martelo, uma variedade de
utensílios em forma de machado ou de enxó, discos ou anéis de pedra, mós e pedras
de polir.
Observam-se também diferentes tendências regionais. Por exemplo, as estatuetas
de terracota parecem ser características da Nigéria setentrional, mas ocorrem igualmente
em alguns sítios do Gana. Tubos de forja e fragmentos de uma suposta parede de
forno foram descobertos na Nigéria setentrional. Por outro lado, os bifaces
grosseiramente talhados são mais característicos dos sítios de Kamabai e Yagala, na
Serra Leoa. No Rim (Alto Volta) pesados bifaces, juntamente com machados e enxós,
ocorrem associados a jarros funerários e indicam um parentesco com o Neolítico
guineense, de épocas anteriores.
Até agora, a mais conhecida das sociedades da Idade do Ferro
Antiga é talvez a de Nok, que parece ter sido uma das mais antigas e
influentes. Tudo indica que as populações de Nok trabalhavam o ferro
desde -500 e provavelmente até mesmo antes. O que mais se
conhece dessa cultura é sua notável tradição artística, com destaque
para as estatuetas de terracota. Apesar de conhecerem a metalurgia
do ferro, as populações de Nok ainda continuavam a usar utensílios
de pedra nas atividades em que os consideravam mais eficientes.
Entre esses artefactos incluem-se mós, seixos trabalhados e
machados talhados ou polidos. Mesmo quando coexistiam na mesma
época e no quadro da mesma tradição artística, alguns sítios de Nok apresentavam
características originais, que sugerem variações regionais. Assim, por exemplo, os
machados polidos estão totalmente ausentes em Taruga, e existem diferenças na
cerâmica doméstica de Samun Dukiya, Taruga e Katsina Ala. Não só a cultura Nok estava
firmemente estabelecida há bem mais de 2500 anos como a sua influência parece ter sido
profunda. Assim é que se encontram alguns dos traços estilísticos da cultura Nok em
estatuetas de argila de Daima, onde a metalurgia do ferro teve início em torno do século V
6

ou VI da Era Cristã. Graham Connah, um arqueólogo britânico acredita que por volta do
século VIII os primeiros habitantes de Daima foram substituídos por outros povos que
utilizavam amplamente o ferro, cultivavam sobretudo os cereais e mantinham com os
seus vizinhos contactos mais estreitos do que os seus predecessores; permaneceu, no
entanto, o hábito de sepultar os mortos em posição fletida, a exemplo da fabricação de
estatuetas de argila. Em nenhum momento essas populações enterraram os seus mortos
nos enormes jarros geralmente denominados “vasos sao”, conquanto esse tipo de
cerâmica esteja presente na parte superior dos montículos funerários.
Num raio de 100 km ao redor de Fort Lamy, na República do Chade, numerosos e
importantes montículos – vestígios de antigos povoados, alguns atingindo até 500m de
comprimento – foram descobertos nas colinas naturais ou artificiais às margens dos rios
do vale do Baixo Chari; continham quase os mesmos objetos de Nok e Daima. Entre
esses objetos encontravam-se belas estatuetas em terracota representando
personagens humanas ou animais, ornamentos de pedra, armas de cobre e bronze e
milhares de cacos de cerâmica.
Para esses sítios, A. Lebeuf obteve datações de radiocarbono que variam entre
-425 e +1700, o que parece cobrir todo o período de Sao I, II e III. Há no entanto, quem
argumente que essas delimitações não estão satisfatoriamente definidas já que, se a
datação -425 correspondesse a um nível portador de ferro, a sua importância seria óbvia.

Nigéria meridional
Como em Nok, encontram-se em Ife, em Benin e, num grau menor,
em outras antigas cidades do país Iorubá, uma tradição escultural
naturalista que remonta pelo menos a +960 (±130), assim como
pingentes e colares elaborados. A cerâmica doméstica encontrada em Ife
representa, no entanto, um progresso em relação aos espécimes de Nok,
sobretudo na decoração.

As escavações de Igbo Ukwu mostraram claramente que o ferro


era trabalhado na Nigéria do sudeste desde o século IX da Era Cristã,
mas nada sugere que não possa ser anterior. Como a arte do ferreiro era
uma ocupação altamente especializada, a sua prática permaneceu como
propriedade de certas comunidades e linhagens. Os mais renomados
ferreiros Igbo são os de Awka (a leste de Onitsha); ao que tudo indica,
obtinham inicialmente o ferro (ou o minério) dos fundidores Igbo de Udi, a
leste de Awka, e só muito mais tarde passaram a receber da Europa.
Outros centros de metalurgia entre os Igbo eram as aldeias dos Abiriba –
fundidores Igbo do Cross River (a leste) –, dos forjadores de ferro e
bronze estabelecidos próximos das colinas Okigwe-Arochuku e dos
forjadores Nkwerre, da parte meridional dessa região.
Devido ao número muito restrito de trabalhos arqueológicos
empreendidos nessa área, é difícil comentar em detalhe as modalidades
da evolução do trabalho do ferro. A proximidade dos sítios de Awka e de
Igbo Ukwu e, de um modo geral, a semelhança de muitos espécimes
sugerem a possibilidade de contatos, mas os dois complexos estão
cronologicamente muito distanciados, e os forjadores de Awka não
demonstraram, pelo menos em épocas mais recentes, certas
características artísticas e técnicas – incluindo a fundição do bronze –
típicas do trabalho de Igbo Ukwu.
Também não está esclarecida a época em que se teriam estabelecido relações
7

culturais entre Ife e Igbo Ukwu, embora talvez Ife remonte a uma época mais recuada do
que se imagina hoje e que possa inclusive estar muito mais próxima do Nok do que
sugerem as informações de que dispomos atualmente. Se os colares de Ife são realmente
os mesmos que os akori da costa da Guiné – como sugerem os indícios etnográficos
descobertos na Nigéria meridional–, é concebível que os colares de vidrilhos de Igbo
Ukwu tenham sido confeccionados em Ife. Nesse caso, a cultura de Ife remontaria pelo
menos à mesma época que as descobertas de Igbo Ukwu (século IX da Era Cristã). Além
disso, a descontinuidade da tradição na escultura em pedra, na indústria de vidro e nas
estatuetas de barro observada em Ife pode ser em grande parte paralela à de Daima, e
que a descontinuidade cultural verificada em Daima se situe entre os séculos VI e IX da
Era Cristã. E, na medida em que certos objetos funerários descobertos em Daima tendem
a indicar a presença de relações comerciais entre Ife e Daima, é bem possível que haja
paralelo cultural e coincidência cronológica. Portanto, existe uma real possibilidade de que
Ife remonte pelo menos ao século VI da Era Cristã.

A Idade do Ferro no extremo ocidente


A Idade do Ferro no extremo ocidente africano é ainda menos conhecida que a de
Nok e das áreas vizinhas. Assim, as poucas informações de que dispomos sobre a
Mauritânia não se referem a uma Idade do Ferro, mas a uma “Idade do Cobre”. Para a
região do Médio Níger, e particularmente para a Senegâmbia, dispomos apenas de uma
sequência cronológica parcial.
As escavações efetuadas por N. Lambert em Akjujit
(Mauritânia) indicam que a fundição do cobre no Saara ocidental
data pelo menos de -570 a -400. Esse período também pode ter
sido o do comércio transaariano do cobre. Estima-se em 40
toneladas a quantidade de cobre extraída de um dos sítios, e é
possível que uma parte dessa produção fosse exportada do
Saara ocidental para o Sudão. Embora a importância de Akjujit
tenha declinado no início dos tempos históricos, talvez devido ao
esgotamento da madeira utilizada para a fundição, o comércio
transaariano aparentemente continuou a assegurar o
fornecimento de cobre e de objetos de cobre através do Sudão
central. Os inumeráveis objetos de cobre que provêm dos sítios
arqueológicos ou integram coleções de museus, além daqueles
mencionados nas fontes escritas, sugerem que a utilização desse metal, por mais raro
que fosse, desfrutou, durante muito tempo, de razoável difusão na África ocidental –
embora esse material não fosse tão importante quanto a madeira, o ferro ou a argila. As
importações do cobre e das suas ligas davam-se sob várias formas, que pouco se
alteraram no decorrer dos séculos: lingotes, manilhas, anéis, fios, sinos e recipientes,
provavelmente utilizados, sem alterações, seja como matéria-prima para a indústria local,
seja para a fundição mediante o processo da cera perdida e para martelagem, trefilação,
torção, etc.
As populações africanas faziam distinção entre o cobre vermelho – isto é, o cobre
na sua forma pura –, o bronze e o cobre amarelo ou latão. Infelizmente, essa precisão
não aparece na maioria dos registos escritos. É necessário proceder à análise
espectrográfica para determinar o teor real do metal de um objeto e as preferências dos
primeiros utilizadores do cobre e da sua liga (bronze).
8

A região do Médio Níger


Encontraram-se montículos de terra artificiais
– sítios de povoamentos ou sepulturas (tumuli) –
nas três áreas principais dessa região:
• na confluência Níger-Bani no vale de
Bani;
• no norte e no nordeste de Macina e de
Segu;
• no extremo leste da curva do Níger, no
Alto Volta.

Nestas três áreas foram descobertas cerâmicas volumosas e


espessas, decoradas principalmente com roletes de corda trançada, e
frequentemente usadas como jarros funerários. Em alguns lugares, esses
jarros encontram-se em conjuntos de dois e três, com os respectivos
apetrechos domésticos. No Alto Volta (Rim), os principais utensílios
descobertos eram de ferro e pedra polida, misturados a cerâmica
doméstica. Objetos de bronze e de cobre também estavam presentes na
zona da curva do Níger. Em Macina e na região de Segu (mas não em
Bani ou no Rim, no extremo leste, no Alto Volta) descobriu-se uma cerâmica moldada
característica, polimorfa, belos pratos e tigelas de fina espessura – alguns com nervuras,
suportes ou com base chata –, copos com pés, cântaros e jarros troncônicos.
Em Segu e Tombuctu, algumas dessas populações da Idade do Ferro compunham-
se principalmente de agricultores que cultivavam o milhete e o arroz; outras dedicavam-se
sobretudo à pesca, utilizando redes com pesos de terracota ao invés de arpões de osso.
Nessa região existiam notáveis monumentos pré-islâmicos, de pedras artisticamente
trabalhadas a martelo, e algumas das descobertas estendem-se por dezenas de hectares,
testemunhando importantes concentrações de população. Pouquíssimos sítios foram
inventariados, ou então foram apenas superficialmente, e muitos deles sofreram grandes
saques dos franceses.
Somente escavações extensas permitirão determinar as dimensões exatas e a
9

natureza dessas instalações, bem como o tipo de economia das populações que viveram
na região. A sequência cronológica desses sítios ainda não foi estabelecida.
Em Kouga, por exemplo, as escavações realizadas num túmulo permitiram atribuir
uma datação de +950 (±120) a um nível relativamente recente, contendo cerâmica
pintada em branco sobre fundo vermelho. Cacos de cerâmica encontrados na superfície
traziam impressões de painço, trigo e talvez de milho. As indicações coletadas nesse e
noutros sítios desta parte da África ocidental evocam um nível mais antigo da Idade do
Ferro, caracterizado principalmente por cacos de cerâmica com impressões ou
desprovidos de qualquer decoração, assim como por utensílios de osso e pedra e
braceletes. No Alto Volta, uma tradição cultural aparentada remonta a um período ainda
mais antigo: séculos V e VI da Era Cristã.

A região da Senegâmbia
Os principais sítios do litoral dessa região
incluem grandes quantidades de moluscos. Perto de
Saint-Louis e em Casamance, enormes baobás
cresciam, por vezes, sobre esses montes de
conchas. Os concheiros de Saint-Louis estudados
por Joire revelaram, a exemplo de vários outros, uma
indústria da qual subsistem ocasionais fragmentos
de cerâmica impressos a pente, um anel trançado de
cobre e ferro, um machado de osso e alguns outros
artefatos do mesmo material. Entre outras coisas, as
populações que nos legaram esses concheiros
pescavam ostras e comercializavam-nas com as
populações do interior. Entre Saint-Louis e Joal, o
litoral de dunas e rochas, considerado impróprio para
a ostreicultura, foi habitado por densa população
desde o Neolítico até a Idade do Ferro. Em Dacar
(em Bel-Air, por exemplo) encontram-se vestígios da
Idade do Ferro nitidamente estratificados acima do
Neolítico. As formas e a ornamentação das figura
cerâmicas parecem ter variado pouco no curso dos
Ilustração 1: Montículos de detritos do Firki
séculos, de modo que os sítios não-estratificados
(segundo G. Connah. 1969 -b)
não podem ser classificados de maneira satisfatória.
Um estudo de vários concheiros do Baixo Casamance, revelou uma sequência
cultural que se estende de –200 a +1600. Os contatos e as influências culturais são
indicados pela cerâmica dessa época, que partilha técnicas decorativas, como a gravura
em linhas onduladas, com a cerâmica neolítica amplamente difundida do cabo Verde até a
Argélia meridional e mesmo até a África central. Não se descobriram utensílios de pedra
nesses sítios, mas encontram-se frequentemente nódulos de ferro dos pântanos, o que
leva a supor a utilização do ferro. No entanto observa-se nas cercanias de Bignona a
presença de machados de pedra pré-históricos, supostamente encontrados nos
concheiros.
Os dados arqueológicos desse período evocam instalações esparsas, constituídas
por pequenos acampamentos situados em orlas arenosas pouco elevadas, provavelmente
recobertas por ervas e arbustos e cercadas por florestas. Não se praticava a pesca de
crustáceos, e é difícil imaginar como essas populações asseguravam a sua subsistência.
As raras ossadas de animais descobertas pertencem a alguns mamíferos não-
identificáveis.
10

A total ausência de vestígios de moluscos e espinhas de peixe (nos quatro sítios


que representam cerca de 400 anos de ocupação de terreno) e a presença de fragmentos
de cerâmica, cujo material não inclui conchas moídas, foram consideradas pelos primeiros
pesquisadores como reveladoras da inadaptação dos “primeiros habitantes” da costa à
vida no meio litoral.
Durante as ocupações que se seguiram (posteriores a +300), a fauna abundante
dos mangues e marigots foi explorada, e é possível que também se tenha praticado a
agricultura, embora não se tenha realizado uma pesquisa sistemática de vestígios de
arroz ou outras plantas.
Os sítios do Baixo Casamance representam, ao que parece, uma etapa avançada
da cultura do arroz irrigado. Nessa época, a utilização de instrumentos de ferro permitiu
explorar os mangues e sulcar os terrenos argilosos de aluvião para preparar campos de
arroz. Na realidade, seria conveniente procurar os primeiros centros da cultura do Oryza
glaberrima nos solos movediços dos vales interiores ressecados, onde teria sido possível
cultivar o arroz de sequeiro, semeado à mão ou plantado em pequenas covas, após a
limpeza do terreno com instrumentos de pedra.
A atividade agrícola da região só poderá ser conhecida com maior precisão após o
empreendimento de pesquisas arqueológicas nas áreas-chave. De qualquer modo, sabe-
se atualmente que grupos humanos viviam nas orlas arenosas dos vales de aluvião ou
não muito distante delas, depositando os seus dejetos em lugares determinados. Durante
todo o período, a cerâmica tradicional do Baixo Casamance deu maior ênfase às
decorações gravadas, pontilhadas e impressas do que às pintadas, bem como às formas
utilitárias – em detrimento das ornamentais – ou próprias para as cerimônias. Ainda não
se sabe se essas populações do Casamance enterravam a cerâmica com os mortos, uma
vez que não se encontrou nenhuma sepultura nos sítios em questão ou nas suas
cercanias.
Arkell, entre outros, sugeriu que as tradições do trabalho do ferro, descritas acima,
foram introduzidas na África ocidental a partir da esfera egípcio-núbia, enquanto outros,
como Mauny, as fazem derivar de Cartago. No entanto, os autores que sustentam essas
teses não dão o justo valor, entre outras coisas, às diferenças fundamentais que
aparecem na forma como a metalurgia do ferro se desenvolveu nas duas regiões. Na
esfera egípcio-núbia, a transição para a Idade do Ferro deu-se através das etapas do
trabalho do cobre, do ouro e da prata, do ferro meteórico (no período dinástico) e, em
seguida, do ferro terrestre. Por outro lado, os centros do trabalho primitivo do ferro na
África subsaariana passaram diretamente da pedra ao ferro, sem (ou quase) o
intermediário do cobre ou do bronze, à exceção, talvez, da Mauritânia. De fato, o cobre e
o bronze receberam, posteriormente, um tratamento muito semelhante ao do ferro, ao
passo que na esfera egípcio-núbia o cobre e, mais tarde, o ferro foram trabalhados
segundo métodos bastante diferentes. As datações que puderam ser efetuadas não
fornecem maiores confirmações às duas variantes da teoria da difusão do que os índices
culturais recolhidos diretamente. Assim, os Garamantes da Líbia e as populações
meroítas começaram, ao que parece, a se servir de carros e provavelmente de artefatos
de ferro por volta de -500, época que marca o início da metalurgia do ferro na região de
Nok, no norte da Nigéria. De resto, a datação de alguns sítios sugere que o trabalho do
ferro pode mesmo ter ocorrido na região de Nok desde -1000.
Na verdade, a tese segundo a qual a metalurgia do ferro se teria propagado do
exterior para a África ocidental não dá a devida importância aos numerosos problemas
ligados ao processo – maneira, época e lugares (não houve necessariamente um único
lugar) onde se deram os primeiros passos da transição do material rochoso ou da terra
para os metais, que, resistentes e duráveis, se mostravam mais eficazes que a pedra
11

como armas e se prestavam a inúmeros outros usos. A este respeito, Diop e Trigger
observaram com razão que “as primeiras datações relativas aos sítios da Idade do Ferro
na África ocidental e meridional deveriam lembrar-nos que não se trata de rejeitar a
possibilidade de o trabalho do ferro ter-se desenvolvido independentemente em uma ou
várias localidades ao sul do Saara”.
Com demasiada frequência se tem confundido a questão do início com a do grau
de refinamento das técnicas. Além disso, vários defensores da tese segundo a qual o
trabalho do ferro se teria propagado do Oriente Próximo para a África partem da
suposição de que as etapas da metalurgia reveladas no Oriente Próximo e na Europa
deviam estar obrigatoriamente presentes em toda a África.

Origem dos Bantu


A palavra “bantu” originalmente designava
um grupo de línguas. Aos poucos, porém, veio a
adquirir uma conotação etnográfica e mesmo
antropológica. Não dispomos de testemunhos
escritos, e a arqueologia, por si só, não nos
permite estabelecer correlações diretas entre os
vestígios existentes da Idade do Ferro e a noção
linguística da palavra “bantu”.
As escavações revelam cerâmicas,
objetos de ferro e cobre, restos de cozinha e
alguns esqueletos. Mas, assim como não
podemos afirmar que um pote é mais
especificamente indo-europeu do que outro, é
igualmente impossível identificar um vaso como
sendo “bantu”.
Até agora, coube à linguística fornecer a
maior parte dos pormenores acerca da origem e
expansão dos “Bantu”. Segundo alguns
linguistas, as línguas bantu, difundidas por quase
metade da África, originaram-se na região do
Médio Benue, na fronteira entre a Nigéria e a República dos Camarões.
Várias vezes se tentou relacionar o sucesso dos grupos “bantu” ao seu
conhecimento do trabalho do ferro. No entanto, comparando-se os termos relativos a
metalurgia nas línguas bantu, observa-se uma grande diferença no vocabulário básico
referente aos trabalhos de forja.
Quando se pensa quão importante era a habilidade de trabalhar os metais nas
sociedades tradicionais da África, torna-se difícil explicar o porquê de se os “Bantu”
trabalharam o ferro antes da sua expansão, não encontramos nenhum vestígio
linguístico que evidencie isso.
O estudo de trabalhos de diferentes etnólogos demonstra que, embora se possam
distinguir algumas áreas culturais no mundo “bantu”, não é possível estabelecer um
conjunto de características comuns aos “Bantu” que ao mesmo tempo os diferenciem de
outros povos africanos.
Enfim, poucas pesquisas foram realizadas em antropologia física referentes aos
“Bantu”. Tão ínfimo é o número de trabalhos realizados nessa área da paleontologia
humana que fica difícil distinguir um esqueleto “bantu” atual, que esteja completo, de um
12

de outro grupo africano ou mesmo europeu.


Natureza das sociedades na Idade do Ferro Antiga
Pouco se sabe sobre o modo de vida das populações do início da Idade do Ferro.
Os indícios existentes variam segundo a extensão das pesquisas realizadas: os sítios da
Zâmbia e os cemitérios de Sanga e Katoto, no Shaba, forneceram os dados mais
concretos. São raros os sítios de habitação na África central. Os únicos conhecidos são
os de Gombe, Kalambo Falls e, talvez, Katongo.
O único indício de atividade agrícola no início da Idade do Ferro são as enxadas
de ferro, praticamente idênticas às modernas. Os buracos cavados no solo foram
considerados como silos subterrâneos, e as pequenas construções de barro amassado e
palha, como celeiros. O fato de haver numerosos restos de mós é menos convincente,
visto que as sociedades que viviam da caça e da coleta de alimentos também possuíam
implementos de moagem.
Como no caso dos vegetais, os restos de animais domésticos da Idade do Ferro
Antiga são muito raros e difíceis de identificar. Não temos nenhuma prova concreta para
a África central, salvo os restos de ossos-canhão de cabras em alguns túmulos de
Sanga.
A presença da mosca tsé-tsé em certas regiões constitui sério obstáculo à criação
de animais. Considerando que as áreas infestadas pelo inseto devem ter variado no
decorrer do tempo, torna-se difícil delimitar, para épocas tão remotas, as regiões onde a
criação de animais era praticável.
A caça e a pesca ainda eram as principais fontes de alimento.
As escavações revelaram pontas de flecha e de lança e restos do que devem ter
sido cães de caça. Usavam-se também, provavelmente, armadilhas e redes.
A importância da pesca é atestada pelos anzóis encontrados nos túmulos de
Sanga e Katoto. Os braseiros trifólios de Sanga são muito semelhantes aos usados
pelos barqueiros da região equatorial do Zaire nas suas canoas.
Um certo número de objetos encontrados durante as escavações denota a
existência de amplas redes de comércio na Idade do Ferro Antiga. O comércio parece
ter-se limitado sobretudo às áreas próximas aos grandes rios, ou seja, o Zaire e o
Zambeze. Os sítios localizados longe dos rios ou da região dos lagos forneceram muito
poucos objetos importados.
Cabe distinguir aqui dois tipos de circuitos comerciais: o comércio regional, que
lidava sobretudo com metais, cerâmicas, cestos, peixes secos e sal, e o comércio a
longa distância, que operava com conchas (cauri e conuses), contas de vidro e metais –
como o cobre. No Zaire, em Sanga e em Katoto, todas as conchas e contas procediam
da costa leste, com exceção de um tipo de concha de Katoto vinda do Atlântico, distante
cerca de 1400 km em linha reta. Cruzetas de cobre, usadas como espécie de moeda,
foram encontradas em regiões bastante afastadas das áreas cupríferas. Apesar das
lacunas nos nossos conhecimentos, parece provável que a economia dos povos da
Idade do Ferro Antiga pouco se diferenciasse da economia das sociedades tradicionais
de hoje. Baseava-se na agricultura e na criação de animais,mas provavelmente ainda
dependia, em grande parte, da caça, da pesca e dos alimentos silvestres.
Do ponto de vista económico, eram sociedades quase auto-suficientes.
Mesmo os mais antigos restos de metalurgia descobertos em escavações não
diferem fundamentalmente dos das sociedades descritas pelos etnógrafos. Mas existem,
13

numa mesma região, variações contemporâneas nas técnicas e no tipo de objetos


produzidos. Portanto, as diferenças quanto aos objetos metálicos e utensílios de forja
não são necessariamente cronológicas, mas podem perfeitamente ser culturais.
Fornos de tijolos para a fundição de ferro foram encontrados em associação com
a cerâmica com concavidade em Kivu, Ruanda, Burundi e Buhaya, no nordeste da
Tanzânia.
Até aqui o uso do cobre sempre apareceu em associação com o do ferro. O cobre
era extraído no Shaba, no norte da Zâmbia, e provavelmente no Baixo Zaire. Como
mostram os objetos encontrados em Sanga e Katoto, o trabalho do cobre já atingira um
alto grau de requinte. Também o chumbo parece ter sido usado nesse período. Os
Kongo continuavam a dedicar-se à extração do chumbo no começo deste século.
Os restos de cerâmica não constituem um fóssil-guia da Idade do Ferro porque, a
cerâmica também é encontrada no contexto da Idade da Pedra Recente e do Neolítico.
De modo geral, é impossível distinguir a cerâmica da Idade do Ferro da cerâmica
dos períodos anteriores. Na região interlacustre e na Zâmbia, porém, existem certos
tipos de cerâmica típicos da Idade do Ferro, como os de Urewé, Kalambo, Chondwe,
Kapwirimbwe, Kalundu e Dambwa.
Os vasos eram modelados amassando-se e estirando-se a argila em faixas ou
roletes frequentemente arranjados em espiral.
As técnicas agrícolas então praticadas não favoreciam os grandes aldeamentos e
acarretavam certa mobilidade das populações.
Os cemitérios de Sanga e Katoto constituem exceção, pois devem ter resultado ou
de uma ocupação muito longa ou de uma grande concentração humana às margens do
Lualaba. A riqueza do mobiliário funerário de algumas sepulturas, especialmente em
Katoto, pode ser indício de desigualdades sociais. A abundância e o acabamento dos
objetos de ferro, cobre, pedra, madeira, osso e cerâmica refletem não apenas a
habilidade dos artesãos, mas também, provavelmente, um certo grau de especialização.
Todos os túmulos descobertos evidenciam elaboradas práticas funerárias. Os
mortos usavam numerosos ornamentos corporais, como braceletes, anéis, colares,
brincos, adornos de contas e conchas. Os cauris, os conus e as contas de vidro ou de
pedra podem ter servido, entre outras coisas, como moeda, a exemplo das cruzetas. Por
fim, a mais antiga escultura em madeira da África central vem de Angola e foi datada de
+750.
14

Conclusão
A interpretação antropológico-arqueológico-linguística, que associava a
expansão das línguas bantu à difusão da metalurgia do ferro, condizia perfeitamente
com a ideia da evolução a partir do Crescente Fértil, negando à África a
possibilidade de invenções autônomas.
Os progressos científicos mais recentes permitem reconsiderar essas teorias. Os
linguistas questionam os métodos e os resultados da glotocronologia. Novas datações
trazem novos esclarecimentos sobre a origem da metalurgia na África central. De fato,
vestígios da metalurgia do ferro no sítio de Katuruka foram datados de aproximadamente
-500/-4004.
Levando em conta esses novos dados, torna-se claro que os problemas
relacionados com a difusão do ferro e a origem das línguas bantu são mais complexos
do que se pensava e não podem ser reduzidos a um esquema simplista, cheio de
contradições.
Por conseguinte, parece inútil continuar a construir novas hipóteses sobre as
migrações e sobre as origens da metalurgia sempre que uma escavação resulte em
novas datações. Podemos, no entanto, tentar relacionar alguns fatos relevantes. No
tocante à origem do trabalho do ferro, as novas datas propostas para Katuruka parecem
implicar uma conexão com as datas, quase contemporâneas, estabelecidas para Méroe.
É possível, pois, conceber uma expansão da metalurgia em direção ao sul a partir
de Méroe, mas nesse caso tal expansão teria ocorrido com demasiada rapidez. No
momento, não se pode, portanto, excluir a possibilidade de uma outra origem, que
poderia ser até mesmo local.
No que diz respeito à ideia de uma ligação indissolúvel entre a difusão da
metalurgia e a expansão dos “Bantu”, nada está provado, podendo os dois
fenómenos ser totalmente independentes. Além disso, existe a hipótese de os
“Bantu” ignorarem o uso do ferro no começo das suas peregrinações, só vindo a
descobri-lo no curso da sua expansão.

Ilustração 2: Hipótese de expansão


bantu
15

Bibliografia
http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Bantu

http://alunosonline.uol.com.br/historia/idade-ferro-na-africa.html

http://benguelakovasso.blogspot.pt/2009/03/contribuicao-para-compreensao-da.html

http://macareu.blogspot.pt/2007/04/frica-e-o-ferro-uma-histria-antiga.html

(1981). General History of Africa, II: Ancient Civilizations of Africa. Paris: UNESCO

ANTA DIOP, Cheikh e SALEMSON, Harold. (1988). Precolonial Black Africa: A


Comparative Study of the Political and Social Systems of Europe and Black Africa, from
Antiquity to the Formation of Modern States . Chicago: Chicago Review Press

Das könnte Ihnen auch gefallen