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Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
Margarida Nunes
2017/2018
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Sumário
Nº de Página
INTRODUÇÃO 3
DESENVOLVIMENTO 5
Sociedades Utilizadoras do 5
Ferro
Nigéria Meridional 6
A Idade do Ferro no 7
extremo ocidente
A região do Médio Níger 8
A região da Senegâmbia 9
Origem dos Bantu 11
Natureza das sociedades 12
na Idade do Ferro Antiga
CONCLUSÃO 14
BIBLIOGRAFIA 15
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Introdução
Há exceção do Egito, do Vale do Nilo sudanês e de algumas áreas da Mauritânia e
Níger, onde se conhece a metalurgia do cobre, em todo o restante continente, a
metalurgia mais antiga foi a do ferro. Não é claro se o conhecimento da metalurgia se
difundiu do sudoeste da Ásia e do mundo mediterrânico ou resultou de um processo
endógeno. No Oeste e centro-oeste africano as evidências mais antigas datam da 1º
metade do 1º milénio aC, sendo Do Dimi (Níger) e Taruga (Nigéria) os sitios mais
importantes do ponto de vista arqueológico.
Em Kemondo Bay (noroeste da Tanzânia), na primeira metade do 1º milénio aC. e
em Meroe (Sudão) em meados desse milénio já se praticava a metalurgia. O Ferro parece
ter sido bem conhecido a Norte do Equador no final do 1º milénio, enquanto a Sul não terá
sido praticada a sua metalurgia até ao 1º milénio dC. Uma das sociedades utilizadoras do
ferro mais interessantes, terá sido a de Nok (Nigéria).
Na maior parte do continente africano não existe, ou não se conhece a metalurgia
do cobre.
Muitos investigadores colocam em causa a passagem de uma tecnologia baseada
na pedra para uma baseada no ferro, sem qualquer tipo de tecnologias intermédias
(cobre).
Os difusionistas defendem que a técnica associada à metalurgia do cobre teria
vindo do sudoeste asiático, espalhando ‐se para África via Vale do Nilo, ou pela costa
norte africana, assentando a sua ideia na elevada complexidade da metalurgia do ferro,
processo só atingível para quem conhecesse a metalurgia do cobre.
Outros investigadores defendem que esta foi uma invenção local pois existe um
conjunto de fatores que enfraquece a ideia da difusão: a metalurgia do cobre era
conhecida em algumas áreas do continente, como no baixo Vale do Nilo desde o 4º
milénio aC., mas também em Akjoujt na Mauritânia e Agadez no Níger, desde o início do
1º milénio aC.; as datas mais antigas para a metalurgia do ferro parecem sugerir o seu
aparecimento independente em várias partes do continente; vestigios de fornalhas
escavadas em Do Dimir (Níger), Taruga (Nigéria) e Otumbi (Gabão) datam todas do 1º
milénio aC. E parecem ser tão antigas quanto a metalurgia do ferro em Meroe. Este local
é considerado pelos difusionistas como um dos pontos hipotéticos de difusão deste
conhecimento; um conjunto de sítios no Ruanda e Burundi, têm datações que vão desde
o 2º milénio aC. (embora questionáveis); outra área importante que os difusionistas
apresentam para a difusão da metalurgia do ferro, seria a a partir de Cartago. O problema
reside nas datas que coincidem e na difusão através de todo o Sahara até ao Níger,
Chade e Nigéria.
Apesar dos vários argumentos, parece provável que no futuro se irá encontrar
evidências arqueológicas que nos digam que a metalurgia do ferro é indígena e surgiu em
vários locais ao mesmo tempo. Tem sido referido que, devido à quantidade de ferro
existente no cobre da Mauritânia, esta metalurgia (ferro) se tenha encontrado
acidentalmente. Temos a mesma situação na cozedura da cerâmica, que em muitas áreas
de África tem hematite e a altas temperaturas se transforma em ferro. Por outro lado a
cerâmica produzida no Vale do Nilo apresenta um controle de cozedura a nível da
redução e oxidação, muito grande, demonstrando conhecimento suficiente para se passar
à metalurgia do ferro.
A metalurgia do ferro, no início da sua utilização, parece ter sido usado apenas
para fins cerimoniais, decorativos e como artefacto(s) de grande valor.A velocidade e as
áreas geográficas a que vai chegando, variaram bastante. No entanto a longo termo, a
sua posse teve consequências económicas e sócio-políticas importantes: providenciava
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ferramentas e armas com maior eficiência e a sua adopção em áreas geográficas como o
Centro e Sul africanos parecem acompanhar a movimentação das populações falantes do
Bantu.
Estas movimentações começaram antes do advento da metalurgia do ferro e
sugere‐se que foram estas comunidades a introduzir a agricultura em grande parte do
continente africano, a Sul do Equador.
Com base na evidência linguística, sugere ‐se que esta “expansão” Bantu começou
nas pastagens dos Camarões e estendeu ‐se para Este, através da savana, até chegar à
região inter‐lacustre do Centro‐Este africano. Daí continuou para Sul e Oeste para a
savana a Sul da floresta equatorial.
Esta migração poderá ter acontecido, também:
• Ao longo da costa africana;
• Ao longo do savana, por corredores abertos na floresta, em períodos de seca;
• Ao longo dos rios da África equatorial.
Provavelmente um conjunto bastante complexo de pequenos movimentos pode ter
acontecido, iniciando‐se, talvez no 2º milénio aC. e continuando até ao 1º milénio aC.
No entanto, são questões muito debatidas pois têm sido difícil conjugar a evidência
arqueológica com a linguística.
“Da Núbia ao Senegal, e por toda esta latitude, que parece pertencer à mesma era de
civilização, o sopro das fornalhas acesas produzia o ferro necessário para as atividades
tecnológicas e económicas. É quase certo que o combustível utilizado tenha sido a
madeira. O uso da metalurgia na África Negra data de temos imemoriais. A mineração
desse metal, a sua fundição, e a maneira de trabalha-lo não foi ensinada por ninguém aos
africanos.” de Cheik Anta Diop (Precolonial Black Africa)
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ou VI da Era Cristã. Graham Connah, um arqueólogo britânico acredita que por volta do
século VIII os primeiros habitantes de Daima foram substituídos por outros povos que
utilizavam amplamente o ferro, cultivavam sobretudo os cereais e mantinham com os
seus vizinhos contactos mais estreitos do que os seus predecessores; permaneceu, no
entanto, o hábito de sepultar os mortos em posição fletida, a exemplo da fabricação de
estatuetas de argila. Em nenhum momento essas populações enterraram os seus mortos
nos enormes jarros geralmente denominados “vasos sao”, conquanto esse tipo de
cerâmica esteja presente na parte superior dos montículos funerários.
Num raio de 100 km ao redor de Fort Lamy, na República do Chade, numerosos e
importantes montículos – vestígios de antigos povoados, alguns atingindo até 500m de
comprimento – foram descobertos nas colinas naturais ou artificiais às margens dos rios
do vale do Baixo Chari; continham quase os mesmos objetos de Nok e Daima. Entre
esses objetos encontravam-se belas estatuetas em terracota representando
personagens humanas ou animais, ornamentos de pedra, armas de cobre e bronze e
milhares de cacos de cerâmica.
Para esses sítios, A. Lebeuf obteve datações de radiocarbono que variam entre
-425 e +1700, o que parece cobrir todo o período de Sao I, II e III. Há no entanto, quem
argumente que essas delimitações não estão satisfatoriamente definidas já que, se a
datação -425 correspondesse a um nível portador de ferro, a sua importância seria óbvia.
Nigéria meridional
Como em Nok, encontram-se em Ife, em Benin e, num grau menor,
em outras antigas cidades do país Iorubá, uma tradição escultural
naturalista que remonta pelo menos a +960 (±130), assim como
pingentes e colares elaborados. A cerâmica doméstica encontrada em Ife
representa, no entanto, um progresso em relação aos espécimes de Nok,
sobretudo na decoração.
culturais entre Ife e Igbo Ukwu, embora talvez Ife remonte a uma época mais recuada do
que se imagina hoje e que possa inclusive estar muito mais próxima do Nok do que
sugerem as informações de que dispomos atualmente. Se os colares de Ife são realmente
os mesmos que os akori da costa da Guiné – como sugerem os indícios etnográficos
descobertos na Nigéria meridional–, é concebível que os colares de vidrilhos de Igbo
Ukwu tenham sido confeccionados em Ife. Nesse caso, a cultura de Ife remontaria pelo
menos à mesma época que as descobertas de Igbo Ukwu (século IX da Era Cristã). Além
disso, a descontinuidade da tradição na escultura em pedra, na indústria de vidro e nas
estatuetas de barro observada em Ife pode ser em grande parte paralela à de Daima, e
que a descontinuidade cultural verificada em Daima se situe entre os séculos VI e IX da
Era Cristã. E, na medida em que certos objetos funerários descobertos em Daima tendem
a indicar a presença de relações comerciais entre Ife e Daima, é bem possível que haja
paralelo cultural e coincidência cronológica. Portanto, existe uma real possibilidade de que
Ife remonte pelo menos ao século VI da Era Cristã.
natureza dessas instalações, bem como o tipo de economia das populações que viveram
na região. A sequência cronológica desses sítios ainda não foi estabelecida.
Em Kouga, por exemplo, as escavações realizadas num túmulo permitiram atribuir
uma datação de +950 (±120) a um nível relativamente recente, contendo cerâmica
pintada em branco sobre fundo vermelho. Cacos de cerâmica encontrados na superfície
traziam impressões de painço, trigo e talvez de milho. As indicações coletadas nesse e
noutros sítios desta parte da África ocidental evocam um nível mais antigo da Idade do
Ferro, caracterizado principalmente por cacos de cerâmica com impressões ou
desprovidos de qualquer decoração, assim como por utensílios de osso e pedra e
braceletes. No Alto Volta, uma tradição cultural aparentada remonta a um período ainda
mais antigo: séculos V e VI da Era Cristã.
A região da Senegâmbia
Os principais sítios do litoral dessa região
incluem grandes quantidades de moluscos. Perto de
Saint-Louis e em Casamance, enormes baobás
cresciam, por vezes, sobre esses montes de
conchas. Os concheiros de Saint-Louis estudados
por Joire revelaram, a exemplo de vários outros, uma
indústria da qual subsistem ocasionais fragmentos
de cerâmica impressos a pente, um anel trançado de
cobre e ferro, um machado de osso e alguns outros
artefatos do mesmo material. Entre outras coisas, as
populações que nos legaram esses concheiros
pescavam ostras e comercializavam-nas com as
populações do interior. Entre Saint-Louis e Joal, o
litoral de dunas e rochas, considerado impróprio para
a ostreicultura, foi habitado por densa população
desde o Neolítico até a Idade do Ferro. Em Dacar
(em Bel-Air, por exemplo) encontram-se vestígios da
Idade do Ferro nitidamente estratificados acima do
Neolítico. As formas e a ornamentação das figura
cerâmicas parecem ter variado pouco no curso dos
Ilustração 1: Montículos de detritos do Firki
séculos, de modo que os sítios não-estratificados
(segundo G. Connah. 1969 -b)
não podem ser classificados de maneira satisfatória.
Um estudo de vários concheiros do Baixo Casamance, revelou uma sequência
cultural que se estende de –200 a +1600. Os contatos e as influências culturais são
indicados pela cerâmica dessa época, que partilha técnicas decorativas, como a gravura
em linhas onduladas, com a cerâmica neolítica amplamente difundida do cabo Verde até a
Argélia meridional e mesmo até a África central. Não se descobriram utensílios de pedra
nesses sítios, mas encontram-se frequentemente nódulos de ferro dos pântanos, o que
leva a supor a utilização do ferro. No entanto observa-se nas cercanias de Bignona a
presença de machados de pedra pré-históricos, supostamente encontrados nos
concheiros.
Os dados arqueológicos desse período evocam instalações esparsas, constituídas
por pequenos acampamentos situados em orlas arenosas pouco elevadas, provavelmente
recobertas por ervas e arbustos e cercadas por florestas. Não se praticava a pesca de
crustáceos, e é difícil imaginar como essas populações asseguravam a sua subsistência.
As raras ossadas de animais descobertas pertencem a alguns mamíferos não-
identificáveis.
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como armas e se prestavam a inúmeros outros usos. A este respeito, Diop e Trigger
observaram com razão que “as primeiras datações relativas aos sítios da Idade do Ferro
na África ocidental e meridional deveriam lembrar-nos que não se trata de rejeitar a
possibilidade de o trabalho do ferro ter-se desenvolvido independentemente em uma ou
várias localidades ao sul do Saara”.
Com demasiada frequência se tem confundido a questão do início com a do grau
de refinamento das técnicas. Além disso, vários defensores da tese segundo a qual o
trabalho do ferro se teria propagado do Oriente Próximo para a África partem da
suposição de que as etapas da metalurgia reveladas no Oriente Próximo e na Europa
deviam estar obrigatoriamente presentes em toda a África.
Conclusão
A interpretação antropológico-arqueológico-linguística, que associava a
expansão das línguas bantu à difusão da metalurgia do ferro, condizia perfeitamente
com a ideia da evolução a partir do Crescente Fértil, negando à África a
possibilidade de invenções autônomas.
Os progressos científicos mais recentes permitem reconsiderar essas teorias. Os
linguistas questionam os métodos e os resultados da glotocronologia. Novas datações
trazem novos esclarecimentos sobre a origem da metalurgia na África central. De fato,
vestígios da metalurgia do ferro no sítio de Katuruka foram datados de aproximadamente
-500/-4004.
Levando em conta esses novos dados, torna-se claro que os problemas
relacionados com a difusão do ferro e a origem das línguas bantu são mais complexos
do que se pensava e não podem ser reduzidos a um esquema simplista, cheio de
contradições.
Por conseguinte, parece inútil continuar a construir novas hipóteses sobre as
migrações e sobre as origens da metalurgia sempre que uma escavação resulte em
novas datações. Podemos, no entanto, tentar relacionar alguns fatos relevantes. No
tocante à origem do trabalho do ferro, as novas datas propostas para Katuruka parecem
implicar uma conexão com as datas, quase contemporâneas, estabelecidas para Méroe.
É possível, pois, conceber uma expansão da metalurgia em direção ao sul a partir
de Méroe, mas nesse caso tal expansão teria ocorrido com demasiada rapidez. No
momento, não se pode, portanto, excluir a possibilidade de uma outra origem, que
poderia ser até mesmo local.
No que diz respeito à ideia de uma ligação indissolúvel entre a difusão da
metalurgia e a expansão dos “Bantu”, nada está provado, podendo os dois
fenómenos ser totalmente independentes. Além disso, existe a hipótese de os
“Bantu” ignorarem o uso do ferro no começo das suas peregrinações, só vindo a
descobri-lo no curso da sua expansão.
Bibliografia
http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Bantu
http://alunosonline.uol.com.br/historia/idade-ferro-na-africa.html
http://benguelakovasso.blogspot.pt/2009/03/contribuicao-para-compreensao-da.html
http://macareu.blogspot.pt/2007/04/frica-e-o-ferro-uma-histria-antiga.html
(1981). General History of Africa, II: Ancient Civilizations of Africa. Paris: UNESCO