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Introdução à Transferência de Calor

Computacional
VERSÃO PRELIMINAR INCOMPLETA

Antônio J. Silva Neto Diego C. Knupp


ajsneto@iprj.uerj.br diegoknupp@iprj.uerj.br
Sumário

1 Conceitos Básicos 5

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

1.2 Modelagem Fı́sica/Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.3 Classificação Fı́sica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1.3.1 Problemas de Equilı́brio . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1.3.2 Problemas Marchantes . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

1.4 Classificação Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

1.4.1 Problemas Elı́pticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1.4.2 Problemas Parabólicos . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

1.4.3 Problemas Hiperbólicos . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2 Conceitos Básicos em Diferenças Finitas 25

2.1 Aproximação das Derivadas por Diferenças . . . . . . . . . . 25

2.1.1 Um Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.1.2 Abordagem Sistemática . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

2.1.3 Obtenção de uma Aproximação Atendendo Requisitos


Estabelecidos Previamente . . . . . . . . . . . . . . . 40

2.2 Representação de Equações Diferenciais por Diferenças Finitas 42

2.2.1 Consistência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

2.2.2 Estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

2.2.3 Convergência para Problemas Marchantes . . . . . . . 50

3 Conceitos Básicos em Métodos de Base Analı́tica 51

1
2

3.1 Método de Solução por Separação de Variáveis . . . . . . . . 51

3.1.1 Um Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

3.1.2 Modelagem Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

3.1.3 Problemas Multidimensionais . . . . . . . . . . . . . 61

3.1.3.1 Ordenamento dos Termos do Somatório . . . 66

3.1.4 Filtros Analı́ticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

3.1.4.1 Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4 Técnica da Transformada Integral Clássica 73

4.0.1 Solução Formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

5 Problemas Elı́pticos 83

5.1 Transferência de Calor por Condução em Regime Permanente


em um Meio Unidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

5.1.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

5.2 Transferência de Calor por Condução em Regime Permanente


em um Meio Composto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

5.2.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

5.3 Transferência de Calor por Condução em Regime Permanente


em um Meio Unidimesional em Coordenadas Cilı́ndricas . . . 92

5.3.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

5.4 Transferência de Calor por Condução em Regime Permanente


em um Meio Bidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

5.4.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

5.4.2 Transformada Integral Clássica . . . . . . . . . . . . . 104

6 Problemas Parabólicos 105

6.1 Transferência de Calor por Condução em Regime Transiente


em um Meio Unidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

6.1.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106


3

6.1.1.1 Formulação Explı́cita . . . . . . . . . . . . . 106


6.1.1.2 Formulação Implı́cita . . . . . . . . . . . . . 112
6.2 Tranferência de Calor por Condução em Regime Transiente em
um Meio Unidimensional com Propriedades Térmicas Depen-
dentes da Temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
6.2.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
6.3 Transferência de Calor por Condução em Regime Transiente
em um Meio Composto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
6.3.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
6.4 Tranferência de Calor por Condução em Regime Transiente em
um Meio Composto em Coordenadas Cilı́ndricas . . . . . . . 130
6.4.1 Diferenças Finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
6.4.1.1 Formulação Explı́cita . . . . . . . . . . . . . 130
6.4.1.2 Formulação Implı́cita . . . . . . . . . . . . . 137
6.4.2 Modelagem de uma Resistência de Contato . . . . . . 142
6.4.3 Solução Analı́tica Exata: Transformada Integral Clássica 145
Capı́tulo 1

Conceitos Básicos

1.1 Introdução

Com o aparecimento e desenvolvimento dos computadores digitais nos últimos


sessenta anos, e a grande disponibilidade e elevada velocidade de processa-
mento hoje disponı́veis, diversos métodos numéricos têm sido desenvolvidos
para a solução de equações diferenciais. Destes, os mais conhecidos são: o
Método das Diferenças Finitas (MDF), o Método dos Elementos Finitos (MEF),
o Método dos Volumes Finitos (MVF) e o Método dos Elementos de Contorno
(MEC).

Equações diferenciais, ordinárias e parciais, e equações ı́ntegro-diferenciais


têm servido como modelos matemáticos para diferentes fenômenos de inte-
resse em engenharia e outras áreas cientı́ficas e tecnológicas, como por exemplo
transferência de calor e massa, astrofı́sica, oceanografia, ensaios não-destrutivos,
diagnósticos e terapia em medicina. Nestas notas de aula daremos foco à
apresentação gradual do método numérico de diferenças finitas, assim como
a introdução de técnicas analı́ticas e hı́bridas numérico-analı́ticas mais elabo-
radas, como a Técnica da Transformada Integral Clássica (CITT) e a Técnica
da Transformada Integral Generalizada (GITT), visando aplicações em trans-

5
6

ferência de calor.

Este não é, portanto, um texto voltado para o ensino da transferência de ca-
lor, mas espera-se que ao longo da apresentação dos métodos o aluno possa
aprender os conceitos fundamentais desta disciplina, caso ele não os tenha
aprendido em cursos anteriores. Apesar de desejável, este material não pres-
supõe, portanto, um curso prévio em transferência de calor. O mesmo ocorre
com um curso de métodos numéricos (interpolação, integração, solução de sis-
temas de equações algébricas lineares, etc.). Apesar de desejável ele não é
necessariamente um pré-requisito.

Os mecanismos básicos de transferência de calor são condução, convecção


e radiação. No primeiro ocorre troca térmica por meio de agitação molecular,
podendo esta se dar tanto em um sólido quanto em um fluido. A convecção
está associada ao transporte de energia devido ao deslocamento de massa, es-
tando associada, portanto, ao escoamento de fluidos não-isotérmicos. Quanto
à radiação térmica, ela é emitida por qualquer corpo com temperatura acima
do zero absoluto. A radiação térmica é, de fato, radiação eletromagnética, não
necessitando, portanto, de um meio para se propagar.

1.2 Modelagem Fı́sica/Matemática

Considere o problema de transferência de calor por condução em regime per-


manente, em um meio unidimensional de espessura L, na presença de uma fonte
térmica de intensidade q000 (x), com condições de contorno de temperatura pres-
crita, conforme esquematicamente representado na Fig. 1.1. Este problema é
modelado matematicamente pela equação de Poisson:

d 2 T (x) 1 000
+ q (x) = 0 (1.1a)
dx2 k

juntamente com as condições de contorno


7

T (0) = T (L) = 0 (1.1b)

onde T e k representam, respectivamente, a temperatura e a condutividade


térmica, sendo que esta última foi considerada constante.

Se a condutividade térmica apresenta, por exemplo, uma dependência com


a temperatura, ou com a posição, a Eq. (1.1a) deve então ser escrita como:

 
d dT (x)
k(x, T (x)) + q000 (x) = 0 (1.2)
dx dx

Fonte q’’’(x)

T(0) = 0 T(L) = 0

x=0 x=L

Figura 1.1: Representação esquemática de um meio unidimensional com uma


fonte térmica interna e condições de contorno de primeiro tipo (Dirichlet).

De onde surgem as Eqs. (1.1a) e (1.2)? Elas representam adequadamente os


fenômenos fı́sicos que desejamos analisar? Mesmo uma abordagem numérica
corretamente empregada fica sem valor e utilidade prática, se o modelo ma-
temático, a partir do qual ela é realizada, não representa adequadamente os
fenômenos fı́sicos, quı́micos, biológicos, etc., que se desejam analisar ou apli-
car.

Não é o objetivo do presente texto realizar esta que é com certeza a mais
importante, e frequentemente mais difı́cil, etapa na modelagem fı́sica / ma-
temática / numérica de um fenômeno ou processo real: a obtenção do modelo
8

matemático que o representa adequadamente. Felizmente, em transferência


de calor os mecanismos básicos envolvidos são bem conhecidos já há algum
tempo, e o analista precisa apenas ter a experiência necessária para identificar
se um ou mais mecanismos ocorrem simultaneamente, nos ditos problemas con-
jugados. Nosso foco estará centrado, portanto, na obtenção de uma adequada
representação (e solução) para um modelo matemático estabelecido a priori.

Voltemos à Eq. (1.1a). Como ela é obtida? Lavoisier ao realizar traba-


lhos com compostos quı́micos concluiu que na natureza nada se cria e nada se
perde, tudo se transforma. No final do século XIX foi estabelecido o princı́pio
da conservação da energia, que posteriormente com o trabalho de Einstein, re-
lacionando massa e energia, constitui um dos pilares essenciais para todo o
desenvolvimento cientı́fico e tecnológico no século XX e no inı́cio do século
XXI.

Com base no princı́pio da conservação da energia é realizado então um


balanço de energia no elemento diferencial representado na Fig. 1.2, que em
palavras pode ser escrito como: a mudança de energia interna do material no
elemento diferencial dx no intervalo de tempo dt deve ser igual ao calor condu-
zido para dentro do elemento diferencial dx no intervalo de tempo dt, subtraı́do
o calor que é conduzido para fora do elemento diferencial, e somado ao calor
que é gerado no elemento diferencial dx no intervalo de tempo dt.

dx
qx qx+dx

x
x x+dx
Figura 1.2: Elemento diferencial do meio unidimensional representado na Fig.
1.1.

Matematicamente tem-se:
9

000
U t+dt −U t = qx dt − qx+dx dt + dx A q dt (1.3)

onde A é uma área transversal à direção de troca térmica, eixo x, de forma


que o elemento diferencial dx representa de fato um volume diferencial Adx
no interior do qual é gerado calor a uma taxa volumétrica q000 . O sı́mbolo U
representa a energia interna que pode ser escrita como:

U t = A dx ρ ut (1.4)

U t+dt = A dx ρ ut+dt (1.5)

onde u é a energia interna especı́fica, ou seja, por unidade de massa, e ρ é a


massa especı́fica do material.

Fazendo uma expansão em série de Taylor e retendo até os termos de pri-


meira ordem, tem-se:

∂ut
ut+dt = ut + dt (1.6)
∂t

Por definição, o calor especı́fico c é dado por:

∂u
c= (1.7)
∂T

onde T é a temperatura. O termo do lado esquerdo da Eq. (1.4) pode ser


reescrito, então usando as Eqs. (1.5) a (1.8), resultando:

∂T
U t+dt −U t = A dx ρ c dt (1.8)
∂t

Os sı́mbolos qx e qx+dx representam as taxas de condução de calor respec-


tivamente para dentro e para fora do elemento diferencial dx na direção x, per-
10

pendicular à área transversal A, de forma que:

00
qx = qx A (1.9a)

00
qx+dx = qx+dx A (1.9b)

00
onde q representa o fluxo de calor, ou seja, energia por unidade de tempo e por
unidade de área. Fourier, no inı́cio do século XIX ao estudar o fenômeno de
transferência de calor por condução concluiu que

00 q ∂T
q = = −k (1.10)
A ∂x

Fazendo uma expansão de Taylor e retendo apenas os termos até a primeira


ordem, tem-se:

∂qx
qx+dx = qx + dx (1.11)
∂x

Das Eqs. (1.10) a (1.12) obtém-se então:

 
∂ ∂T
qx+dx − qx = −A dx k (1.12)
∂x ∂x

Caso se considere que a condutividade térmica é constante, a Eq. (1.12) pode


ser reescrita como:

∂2 T
qx+dx − qx = −k A dx (1.13)
∂x2

Substituindo as Eqs. (1.9) e (1.13) na Eq. (1.4) obtém-se:

∂T ∂2 T 000
A dx ρ c dt = k A dx 2 dt + A dx q dt (1.14)
∂t ∂x

resultando em:
11

∂T (x,t) ∂2 T (x,t) 000


ρc =k + q (x,t) (1.15)
∂t ∂x2

ou então:

1 ∂T (x,t) ∂2 T (x,t) 1 000


= + q (x,t) (1.16)
α ∂t ∂x2 k

onde a difusividade térmica, α, é dada por:

k
α= (1.17)
ρc

Para que o problema de condução de calor seja bem-posto, ou seja sua


solução:

• Exista;

• Seja única;

• Seja estável com relação aos dados de entrada (perturbações nos dados
de entrada não são amplificadas;

é necessário especificar:

• Condição inicial, i.e., distribuição de temperatura no meio em t = 0, ou


seja T (x, 0) = f (x); e

• Condições de contorno, i.e., temperatura prescrita ou balanço de energia


na superfı́cie do meio.

Para o balanço de energia na superfı́cie e determinação das condições de


contorno, considere a representação esquemática da Fig. 1.3.

O balanço de energia na superfı́cie para um caso geral, tridimensional, pode


ser escrito como:
12

qfornecido

n qconv

qcond · n qrad
qcond

Figura 1.3: Representação esquemática da condição de contorno no meio.

00 00 00 00
qcond · n + qfornecido = qconv + qrad (1.18)

00 00
onde qfornecido é o fluxo imposto, qconv é o fluxo por convecção, q00 rad é o fluxo
00
por radiação, que ocorrem na superfı́cie, qcond é o vetor fluxo de calor por
condução no interior do meio, e n é o vetor normal unitário à superfı́cie do
corpo.

Lembrando que a lei de Fourier pode ser escrita como:

00
qcond = −k ∇T (1.19)

e que das leis de resfriamento de Newton e de Stefan-Boltzmann são dadas


respectivamente por:

00
qconv = h(T − T∞ ) (1.20)

00
qrad = ε σ(T 4 − Tenv
4
) (1.21)

onde h é o coeficiente de troca térmica por convecção, ε é a emissividade da


superfı́cie, σ é a constante de Stefan-Boltzmann (σ = 5, 67 × 10−8 W/m2 K) e
13

Tenv é a temperatura da superfı́cie envoltória, a Eq. (1.18) pode ser reescrita


como:

00
−k ∇T · n + qfornecido = h(T − T∞ ) + ε σ(T 4 − Tenv
4
) (1.22)

que pode ser mais convenientemente escrita como:

∂T 00
−k + h T + ε σ T 4 = qfornecido + h T∞ + ε σTenv
4
(1.23)
∂n

onde ∂T /∂n = ∇T · n é a derivada direcional.

A Eq. (1.23) é uma condição de contorno não-linear por causa do termo


T 4 . Uma aproximação linear pode ser obtida se considerarmos a Eq. (1.21)
reescrita da seguinte forma:

00
qrad = ε σ(T 2 + Tenv
2
)(T 2 − Tenv
2
) = ε σ(T 2 + Tenv
2
)(T + Tenv )(T − Tenv ) (1.24)

que com a consideração T ∼ Tenv , resulta em

00 3
qrad = 4 ε σ Tenv (T − Tenv ) = hrad (T − Tenv ) (1.25)

3 .
onde hrad = 4 ε σ Tenv

Desta forma, a condição de contorno dada pela Eq. (1.23) pode ser escrita
como:

∂T 00
−k + heff T = qfornecido + h T∞ + hrad Tenv (1.26)
∂n

onde heff = h + hrad . A Eq. (1.26) fornece uma condição de contorno linear. A
seguir são resumidos quatro casos especiais de condições de contorno lineares,
obtidas a partir da condição geral dada pela Eq. (1.26).
14

1. Radiação desprezı́vel:

∂T 00
−k + hT = qfornecido + hT∞ (1.27)
∂n

2. Radiação desprezı́vel e sem imposição de fluxo:

∂T
−k + hT = hT∞ (1.28)
∂n

3. Não há troca de calor por convecção nem por radiação:

∂T 00
−k = qfornecido (1.29)
∂n

4. Radiação desprezı́vel, sem imposição de fluxo, e convecção muito grande:

T = T∞ (1.30)

É comum se referir às condições de contorno em problemas de transferência


de calor classificando-as em três tipos:

• Condição de contorno do primeiro tipo (Dirichlet) ou temperatura pres-


crita:
T = f (x,t), x ∈ S (1.31)

onde S representa o contorno do domı́nio e x um ponto no contorno.

• Condição de contorno do segundo tipo (Neumann) ou fluxo prescrito:

∂T
−k = f (x,t), x ∈ S (1.32)
∂n
15

• Condição de contorno do terceiro tipo (Robbin):

∂T
−k + hT = f (x,t), x ∈ S (1.33)
∂n

O problema de transferência de calor por condução é dito homogêneo quando


000
tanto a equação governante é homogênea, ou seja, q (x,t) = 0 na Eq. (1.16),
quanto as condições de contorno são também homogêneas, ou seja f (x,t) = 0
nas Eqs. (1.31), (1.32) ou (1.33), conforme for a condição de contorno do pro-
blema tratado.

Retornando à equação governante, Eq. (1.16), para o caso em que o equilı́brio


já tenha sido atingido e não ocorre variações com o tempo, ou seja, regime per-
manente, a Eq. (1.16) é reescrita como:

d 2 T (x) 1 000
+ q (x) = 0 (1.34)
dx2 k

Observe que na Eq. (1.34) não há dependência na variável temporal e a


derivada parcial em x presente na Eq. (1.16) passa a ser então uma derivada total
na Eq. (1.34). Neste caso não é mais necessária a condição inicial, bastando as
condições de contorno para que o problema seja bem posto, e o problema é dito
um problema de valor de contorno. Observe que a Eq. (1.34) é idêntica à Eq.
(1.1a), sendo aqui demonstrado, portanto, como esta equação é obtida a partir
de um balanço de energia.

1.3 Classificação Fı́sica

1.3.1 Problemas de Equilı́brio

Considere o problema de condução de calor em regime permanente em um meio


bidimensional, sem termo fonte, e com as condições de contorno de primeiro
16

tipo (Dirichlet), como esquematicamente apresentado na Fig. 1.4.

y
T(x,b) = 0
b

T(0,y) = T0 T(a,y) = 0

0
0 T(x,0)=0 a x

Figura 1.4: Meio bidimensional com condições de contorno de primeiro tipo


(Dirichlet).

A formulação matemática deste problema é dada por:

∂2 T (x, y) ∂2 T (x, y)
+ = 0 , em 0 < x < a , 0 < y < b (1.35a)
∂x2 ∂y2

T (0, y) = T0 , em x = 0 (1.35b)

T (a, y) = 0 , em x = a (1.35c)

T (x, 0) = 0 , em y = 0 (1.35d)

T (x, b) = 0 , em y = b (1.35e)

Este é um problema de equilı́brio porque desejamos encontrar a solução


da equação diferencial parcial (1.35a) em um domı́nio fechado, 0 ≤ x ≤ a e
0 ≤ y ≤ b, sujeito a condições prescritas em todo o contorno. Um problema de
17

equilı́brio é, portanto, um problema de valor de contorno. Vide Fig. 1.5.

Ω
S

Figura 1.5: Domı́nio fechado Ω e contorno S - Problemas de equilı́brio.

O problema de transferência de calor em regime permanente para o meio


unidimensional dado pelas Eqs. (1.1a) e (1.1b) também é um problema de
equilı́brio. Deve-se notar que o domı́nio fechado, no caso unidimensional, re-
presentado na Fig. 1.1, é dado por 0 ≤ x ≤ L.

É interessante observar que a solução da EDP em um ponto qualquer no in-


terior do domı́nio será dependente das condições prescritas em todos os pontos
do contorno. Conforme será visto na Seção 1.4, matematicamente os problemas
de equilı́brio são modelados por EDPs elı́pticas.

1.3.2 Problemas Marchantes

Considere o problema de condução de calor com dependência no tempo, ou


seja, transiente, em um meio unidimensional de espessura L, sem termo fonte.
A equação que descreve este fenômeno pode ser obtida diretamente da Eq.(1.16):

1 ∂T (x,t) ∂2 T (x,t)
= , em 0 < x < L , t > 0 (1.36a)
α ∂t ∂x2

Como condições de contorno vamos considerar uma condição de segundo


tipo (Neumann) em x = 0 e de terceiro tipo (Robin) em x = L, para t > 0:


∂T (x,t) ∂T (x,t)
=0, k + hT (L,t) = hT∞ (1.36b)
∂x x=0 ∂x x=L
18

Como vimos anteriormente, para que este problema seja bem posto ainda é
necessário o conhecimento de uma condição inicial:

T (x, 0) = f (x) (1.36c)

onde f (x) é a distribuição de temperaturas no meio, no instante de tempo t = 0.

Na Figura 1.6 é representado o domı́nio espacial-temporal no qual busca-


mos a solução do problema (1.36).

Figura 1.6: Domı́nio aberto Ω e contorno S - Problemas marchantes.

Este é um problema marchante porque a solução é calculada marchando a


partir da condição inicial, enquanto são satisfeitas simultaneamente as condições
de contorno. Em vez da dependência com a derivada primeira no tempo na
Eq.(1.36a), poderı́amos ter uma derivada primeira com uma outra coordenada
espacial, caracterizando, por exemplo, um problema de convecção interna sem a
presença de condução na direção longitudinal, que também é classificado como
um problema marchante, e neste caso a condição inicial, na realidade, diria
19

respeito a uma condição de entrada.

Conforme será visto na Seção 1.4, matematicamente estes problemas são


modelados por EDPs parabólicas.

Caso estejam presentes a derivada primeira e a derivada segunda com relação


ao tempo em um problema de condução de calor, tem-se então o problema de
condução de calor hiperbólico, que modela matematicamente processos transi-
entes associados, por exemplo, a aquecimento com pulsos de laser com duração
extremamente curta, ou variações de temperatura extremamente rápidas. Neste
caso, a equação de Fourier, Eq.(1.10), não modela adequadamente os fenômenos
envolvidos, sendo estes melhor representados então por um modelo de fluxo de
calor não-Fourier, como ilustrado a seguir para um caso unidimensional:

∂q00 ∂T
τ + q00 = −k (1.37)
∂t ∂x

onde τ é o tempo de relaxação, sendo τ > 0.

Empregando o balanço de energia com o modelo de fluxo de calor não-


Fourier dado pela Eq. (1.37), obtém-se então a formulação matemática para o
problema de transferência de calor por condução hiperbólica:

1 ∂2 T (x,t) ∂T (x,t) ∂2 T (x,t)


 
τ + = (1.38)
α ∂t 2 ∂t ∂x2

Apesar de ambos, problemas parabólicos e hiperbólicos, serem problemas


marchantes, os métodos desenvolvidos para a solução dos dois são diferentes.

1.4 Classificação Matemática

As equações diferenciais parciais de segunda ordem estão na base da mode-


lagem matemática da maioria dos problemas de escoamento de fluidos e de
transferência de calor e massa. Escreve-se então de forma genérica para os pro-
20

blemas lineares, onde os coeficientes são constantes ou dependem apenas das


coordenadas espaciais:

∂2 φ ∂2 φ ∂2 φ ∂φ ∂φ
A 2
+ B +C 2
+ D + E + Fφ + G(p, r) = 0 (1.39)
∂p ∂p∂r ∂r ∂p ∂r

onde p e r são as variáveis independentes (espaço-tempo), φ(p, r) é o campo que


se deseja determinar, A − F são coeficientes da equação e G(p, r) é um termo
fonte que não depende de φ. Em transferência de calor e escoamento de fluidos
φ representa temperatura, velocidade, densidade ou pressão. De forma análoga
àquela empregada para a classificação de cônicas em geometria analı́tica, as
EDPs de segunda ordem são classificadas matematicamente de acordo com o
discriminante ∆ = B2 − 4AC:

1. Elı́ptica: ∆ < 0

2. Parabólica: ∆ = 0

3. Hiperbólica: ∆ > 0

1.4.1 Problemas Elı́pticos

Considere o problema de condução de calor em regime permanente em um meio


bidimensional dado pela Eq. (1.35). Observa-se que p = x, r = y, A = 1, B = 0,
C = 1, D = E = F = G = 0. Logo, ∆ < 0, sendo portanto um problema elı́ptico.
Os principais representantes desta classe de problemas são de fato as equações
de Poisson:

∂2 φ ∂2 φ
+ + G(p, r) = 0 (1.40)
∂p2 ∂r2

que corresponde a um problema de condução de calor em regime permanente


com geração volumétrica interna; e a equação de Laplace:
21

∂2 φ ∂2 φ
+ =0 (1.41)
∂p2 ∂r2

que, como já vimos, corresponde a um problema de condução de calor em


regime permanente sem geração.

Para estes problemas serão necessárias condições de contorno definidas,


portanto, na superfı́cie do domı́nio fı́sico em análise.

1.4.2 Problemas Parabólicos

Considere o problema de condução de calor em regime transiente dado pela Eq.


(1.36a). Observa-se que p = x, r = t, A = 1, B = 0, C = D = 0, E = −1/α,
F = G = 0. Logo, ∆ = 0, sendo, portanto, um problema parabólico.

Conforme representado na Fig.(1.6), para a solução deste problema deve-se


partir da condição inicial, Eq.(??), respeitando-se a cada instante de tempo as
condições de contorno, dadas por exemplo pelas Eqs.(1.36b).

1.4.3 Problemas Hiperbólicos

Considere agora o problema de condução de calor hiperbólico dado pela Eq.


(1.38). Observa-se que p = x, r = t, A = 1, B = 0, C = −τ/α, D = 0, E = −1/α,
e F = G = 0. Como o tempo de relaxação τ e a difusividade térmica α são
quantidades positivas, tem-se que ∆ > 0, sendo então este problema de fato
hiperbólico.

Um representante importante desta classe de problemas é a equação da onda


em meios elásticos unidimensionais:

∂2 u(x,t) 2
2 ∂ u(x,t)
= a (1.42)
∂t 2 ∂x2

onde u(x,t) é o deslocamento transversal de uma corda vibrante e a é a veloci-


dade de propagação da onda, com a > 0. Para este problema, observa-se que
22

p = t, r = x, A = 1, B = 0, C = −a2 , D = E = F = G = 0. Conforme esperado,


tem-se ∆ > 0, demonstrando que este é um problema hiperbólico.

Definindo as seguintes coordenadas caracterı́sticas:

ξ = x + at (1.43)

η = x − at (1.44)

a Eq.(3.31) é reescrita como:

∂2 u
=0 (1.45)
∂ξ∂η

ou ainda:

 
∂ ∂u
=0 (1.46)
∂η ∂ξ

levando a:

∂u
= θ(ξ) (1.47)
∂ξ

ou seja:


u(ξ, η) = θ(s)ds + g(η) (1.48)
0

que pode ser reescrita como:

u(ξ, η) = f (ξ) + g(η) (1.49)

e usando as Eqs. (3.32) e (3.33) tem-se:

u(x,t) = f (x + at) + g(x − at) (1.50)


23

Esta é a solução de d’Alembert para a equação da onda. Usando as condições


iniciais:

u(x, 0) = u0 (x) (1.51)


∂u(x,t)
= u1 (x) (1.52)
∂t t=0

obtém-se então:

x+at
1 1
Z
u(x,t) = [u0 (x + at) + u0 (x − at)] + u1 (s)ds (1.53)
2 2a
x−at

Esta equação mostra que a solução u(x,t) em um ponto (xo ,to ) qualquer
depende apenas das condições iniciais contidas no intervalo xo − ato ≤ x ≤
xo + ato , sendo este denominado domı́nio de dependência do ponto (xo ,to ). Este
domı́nio de dependência para a solução de problemas hiperbólicos está repre-
sentado na Fig. 1.7.

t0 (x0 ,t0 )
x - x0 x0 - x
t= + t0 t= + t0
a a

x0-at0 x0 x0+at0 x

Figura 1.7: Domı́nio de dependência para a solução da equação da onda.


24
Capı́tulo 2

Conceitos Básicos em Diferenças


Finitas

2.1 Aproximação das Derivadas por Diferenças

2.1.1 Um Exemplo

O problema de transferência de calor por condução, em regime permanente, em


um meio unidimensional de espessura L, com condições de contorno de pri-
meiro tipo (Dirichlet), e uma fonte térmica de intensidade q000 , possui a seguinte
formulação matemática:

d 2 T (x) 1 000
+ q (x) = 0 , 0 < x < L (2.1a)
dx2 k

T (0) = T (L) = 0 (2.1b)

Definem-se as seguintes variáveis adimensionais:

T
u= (2.2a)
TR

25
26

x
X= (2.2b)
L

L2 000
f (X) = q (XL) (2.2c)
kTR

onde TR é uma temperatura de referência. Observando que:

dx = LdX (2.3)

o problema (2.1) é reescrito como:

d 2 u(X)
− = f (X) , 0 < X < 1 (2.4a)
dX 2

u(0) = u(1) = 0 (2.4b)

Vamos agora discretizar o domı́nio X = [0, 1] representado na Fig. 1.1,


usando uma malha com seis intervalos e sete nós, conforme representado na
Fig. 2.1.

Nó 0 1 2 3 4 5 6

x=0 ∆x x=1

Figura 2.1: Discretização do domı́nio espacial.

Usando expansões de Taylor podemos obter uma aproximação para a deri-


vada segunda usando apenas os nós da malha discretizada. Façamos expansões
em Xo + ∆X e Xo − ∆X, onde Xo é qualquer ponto na malha computacional, à
27

exceção dos nós no contorno:

d 2 u (∆X)2

du
u(Xo + ∆X) = u(Xo ) + ∆X +
dX Xo dX 2 Xo 2!
d 3 u (∆X)3 d 4 u (∆X)4

+ + + . . . (2.5a)
dX 3 Xo 3! dX 4 Xo 4!

d 2 u (∆X)2

du
u(Xo − ∆X) = u(Xo ) − ∆X +
dX Xo dX 2 Xo 2!
d 3 u (∆X)3 d 4 u (∆X)4

− + − . . . (2.5b)
dX 3 Xo 3! dX 4 Xo 4!

Somando estas equações resulta:

d 2 u 2 d 4 u

2
u(Xo + ∆X) + u(Xo − ∆X) = 2u(Xo ) + (∆X) + (∆X)4 + . . .
dX 2 Xo 4! dX 4 Xo
(2.6)

Logo,

d2u u(Xo + ∆X) − 2u(Xo ) + u(Xo − ∆X)


2
= + O((∆X)2 ) (2.7)
dX (∆X)2

Os termos desprezados de ordem (∆X)2 , ou seja O((∆X)2 ), constituem o


erro de truncamento devido à impossibilidade de se considerar um número in-
finito de termos.

Façamos uma mudança de notação visando escrever as equações da forma


mais simples possı́vel. Observando a Fig. 2.2 escreve-se:

u(Xo + ∆X) = u(Xi+1 ) = ui+1 (2.8a)

u(Xo ) = u(Xi ) = ui (2.8b)


28

u(Xo − ∆X) = u(Xi−1 ) = ui−1 (2.8c)

Resultando da Eq.(??):

d 2 u

ui+1 − 2ui + ui−1
2
= (2.9)
dX i (∆X)2

X0-∆x X0 X0+∆X

∆X ∆X
Xi-1 Xi Xi+1
Figura 2.2: Mudança de notação utilizada na identificação dos nós da malha
computacional.

Usando a aproximação dada pela Eq. (2.9), a Eq. (2.4a) pode ser escrita
como:

−ui+1 + 2ui − ui−1 = fi (∆X)2 (2.10)

onde:

fi = f (Xi ) (2.11)

Escrevendo a Eq. (2.10) para os cinco nós interiores da malha representada


na Fig. 2.1, e usando o conhecimento das condições de contorno, Eq. (2.4b),
reescritas como:

u0 = u6 = 0 (2.12)

tem-se:

i = 1: − u2 + 2u1 = f1 (∆X)2 (2.13a)


29

i = 2: − u3 + 2u2 − u1 = f2 (∆X)2 (2.13b)

i = 3: − u4 + 2u3 − u2 = f3 (∆X)2 (2.13c)

i = 4: − u5 + 2u4 − u3 = f4 (∆X)2 (2.13d)

i = 5: 2u5 − u4 = f5 (∆X)2 (2.13e)

que pode ser reescrito mais convenientemente na forma matricial:

    
2 −1 0 0 0 u1 f1 (∆X)2
    

 −1 2 −1 0
   2 
0    f2 (∆X) 
u2 
  
 
    
 0 −1 2 −1 0   u3  =  f (∆X)2  (2.14)
    3 
    
2 
 0 0 −1 2 −1   u4   f4 (∆X) 
   
    
2
0 0 0 −1 2 u5 f5 (∆X)

que na forma compacta fica:

Au = b (2.15)

Ao se resolver o sistema (2.14) obtém-se uma aproximação para a solução


do problema dado pelas Eqs. (2.4a) e (2.4b). A obtenção de uma solução
analı́tica para este problema, com fonte térmica heterogênea genérica q000 (x)
pode tornar-se uma tarefa difı́cil. Com o uso da discretização do domı́nio e
das expansões de Taylor, que constituem a base do método de diferenças fini-
tas, reduz-se o problema original à solução do sistema de equações algébricas
lineares (2.14). Deve-se ressaltar que computadores digitais são equipamentos
particularmente bons para uso na solução destes sistemas.
30

Para a solução de sistemas de equações algébricas lineares podem ser usa-


dos métodos diretos, que não requerem cálculos iterativos, ou os métodos indi-
retos ou iterativos.

A partir das expansões de Taylor dadas pelas Eqs. (2.5a) e (2.5b) podem
ser obtidas as seguintes aproximações para a derivada primeira, com erro de
truncamento de O(∆X),


du ui+1 − ui
= + O(∆X) (2.16a)
dX i ∆X


du ui − ui−1
= + O(∆X) (2.16b)
dX i ∆X

Com expansões de Taylor para u(X + ∆X), u(X + 2∆X), u(X − ∆X) e u(X −
2∆X) podem ser obtidas as seguintes aproximações para a derivada primeira,
com erro de truncamento de O(∆X)2 :


du −3ui + 4ui+1 − ui+2
= + O((∆X)2 ) (2.17a)
dX i 2∆X


du 3ui − 4ui−1 + ui−2
= + O((∆X)2 ) (2.17b)
dX i 2∆X

Usando expansões de Taylor para u(X + ∆X), u(X + 2∆X), u(X − ∆X) e
u(X − 2∆X) podem ser obtidas as seguintes aproximações por diferenças finitas
para a derivada segunda, com erro de truncamento O(∆X):

d 2 u

ui − 2ui+1 + ui+2
2
= + O(∆X) (2.18a)
dX i (∆X)2

d 2 u

ui − 2ui−1 + ui−2
2
= + O(∆X) (2.18b)
dX i (∆X)2
31

2.1.2 Abordagem Sistemática

O uso da expansão de Taylor para a obtenção de aproximações por diferenças


finitas para as derivadas presentes na Eq. (1.39) será aqui revista e comple-
mentada. Antes de prosseguir é necessário explicar o motivo pelo qual estamos
buscando estas aproximações por diferenças finitas. O nosso objetivo é obter
soluções aproximadas para EDPs com a forma geral dada pela Eq. (1.39), tendo
vários casos-exemplo de aplicações práticas sido apresentados nas Seções 1.3.1
e 1.3.2.

Fazemos então uma discretização do domı́nio, conforme apresentado na


Seção 2.1.1, de forma que ao invés de se calcular o campo φ(x,t) em qual-
quer ponto do domı́nio espacial (aqui x representa o problema tridimensio-
nal) e temporal, busca-se o conhecimento do seu valor em pontos discretos
φ(xi jk ,tl ), onde i jk representam os ı́ndices para as coordenadas espaciais em
três dimensões, e l para a variável temporal. Na Fig. 2.3 é representada a
discretização espacial de um meio bidimensional.

j
∆x
Ny
...

i-1, j+1 i, j+1 i+1,j+1


j+1
i-1, j i, j i+1,j
j
i-1, j-1 i, j-1 i+1,j-1
j-1
...

∆y
1

0
0 1 ... i-1 i i+1 ... Nx i
Figura 2.3: Domı́nio bidimensional (x, y) discretizado usando uma malha regu-
lar em x, com ∆xi = ∆x, e em y, com ∆y j = ∆y.
32

Ao se aproximar as derivadas por diferenças finitas, usando os valores φ(xi jk ,tl ),


a EDP original é substituı́da por um sistema de equações algébricas lineares.
Conforme já mencionado na seção anterior, uma das principais vantagens do
computador digital é a sua adequabilidade para a solução de sistemas algébricos
lineares. O sistema de equações algébricas lineares resultante da discretização
depende da natureza do problema tratado, bem como das aproximações que
forem usadas para as derivadas.

Façamos a seguinte expansão:

d 2 φ (∆x)2 d 3 φ (∆x)3 d 4 φ (∆x)4




φ(xo +∆x) = φ(xo )+ ∆x+ 2 + 3 + 4 +. . .
dx xo dx xo 2! dx xo 3! dx xo 4!
(2.19)

donde obtém-se:

" #
d 2 φ ∆x

dφ φ(xo + ∆x) − φ(xo )
= − +... (2.20)
dx xo ∆x dx2 xo 2

Se truncarmos a Eq. (2.20) no primeiro termo do lado direito, o maior termo


desprezado será de O(∆x). A aproximação por diferenças finitas, assim obtida
para a derivada primeira, terá um erro de truncamento de O(∆x) e é conhe-
cida por diferença avançada (forward difference). Usando a notação compacta
podemos escrever:


dφ φi+1 − φi
= + O(∆x) (2.21)
dx i ∆x

Façamos agora a seguinte expansão:

d 2 φ (∆x)2 d 3 φ (∆x)3 d 4 φ (∆x)4




φ(xo −∆x) = φ(xo )− ∆x+ 2 − 3 + 4 +. . .
dx xo dx xo 2! dx xo 3! dx xo 4!
(2.22)

donde obtém-se:
33


dφ φi − φi−1
= + O(∆x) (2.23)
dx i ∆x

que é conhecida por diferença atrasada (backward difference).

Subtraindo a Eq. (2.22) da Eq. (2.19) resulta:

d 3 φ (∆x)3


φ(xo + ∆x) − φ(xo − ∆x) = 2 ∆x + 2 3 +... (2.24)
dx xo dx xo 3!

Logo:


dφ φi+1 − φi−1
= + O((∆x)2 ) (2.25)
dx i 2∆x

que é conhecida por diferença centrada (central difference). Observe que esta
aproximação possui um erro de truncamento O((∆x)2 ). Note que esta mesma
ordem de erro de truncamento pode ser obtida usando diferença avançada ou
diferença atrasada, como foi feito na obtenção das Eqs. (2.17a) e (2.17b), res-
pectivamente.

Vejamos agora aproximações por diferenças finitas para a derivada segunda.


Para a obtenção da Eq. (2.25) foi realizada a subtração da Eq. (2.22) da Eq.
(2.19). Fazendo agora a soma destas duas equações, obtém-se uma aproximação
para a derivada segunda:

d 2 φ d 4 φ (∆x)4

2
φ(xo + ∆x) + φ(xo − ∆x) = 2φ(xo ) + 2 (∆x) + 2 4 + . . . (2.26)
dx xo dx xo 4!

ou seja:

d 2 φ

φ(xo + ∆x) − 2φ(xo ) + φ(xo − ∆x)
2
= 2
+ O((∆x)2 ) (2.27)
dx xo (∆x)
34

ou ainda na forma compacta:

d 2 φ

φi+1 − 2φi + φi−1
2
= 2
+ O((∆x)2 ) (2.28)
dx i (∆x)

Esta dedução já foi realizada na Seção 2.1.1, sendo a Eq. (2.28) idêntica à
Eq. (2.9). A Eq. (2.18a) representa uma aproximação por diferença avançada
para a derivada segunda com erro de truncamento de O(∆x) e a Eq. (2.18b)
representa uma aproximação por diferença atrasada também com erro de trun-
camento de O(∆x).

Podemos construir as aproximações para as derivadas de segunda ordem,


incluindo as derivadas mistas, empregando as aproximações para as derivadas
primeiras (centrada, avançada e atrasada) obtidas a partir das expansões de Tay-
lor. Para a obtenção de derivada segunda com o erro de truncamento O((∆x)2 )
podemos fazer:


dφ dφ
d 2 φ dx i+1/2 − dx i−1/2
 
d dφ
= = + O((∆x)2 ) (2.29)
dx2 i dx dx i ∆x

Conforme pode ser visto na Fig. 2.4, a aproximação por diferenças usada
na Eq. (2.29) é centrada, de forma similar àquela dada pela Eq. (2.25), tendo,
portanto, um erro de truncamento de O((∆x)2 ).

df df
dx i-1 2 ∆x dx i+1 2

i-1/2 i+1/2
i-1 i i+1
∆x ∆x


d2φ
Figura 2.4: Diferença centrada para o cálculo de dx2 i
com erro de truncamento
O((∆x)2 ).
35

Para o cálculo das derivadas primeiras presentes na Eq. (2.29) também serão
usadas diferenças centradas, resultando:


dφ φi+1 − φi
= + O((∆x)2 ) (2.30)
dx i+1/2
∆x


dφ φi − φi−1
= + O((∆x)2 ) (2.31)
dx i−1/2
∆x

de forma que a Eq. (2.29) pode ser reescrita como:

d 2 φ
 
1 φi+1 − φi φi − φi−1 φi+1 − 2φi + φi−1
2
= − +O((∆x)2 ) = +O((∆x)2 )
dx i ∆x ∆x ∆x (∆x)2
(2.32)

que corresponde exatamente à aproximação dada pela Eq. (2.28).

Observe que as aproximações para para dφ/dx utilizadas na dedução, dadas


pelas Eqs. (2.29) a (2.31), são de O((∆x)2 ). Obtém-se então uma aproximação
para d 2 φ/dx2 de O((∆x)2 ). É importante ressaltar que, caso na Eq. (2.29) a
aproximação fosse de O(∆x), mesmo se as aproximações usadas para dφ/dx nas
Eqs. (2.30) e (2.31) fossem de O((∆x)2 ), a aproximação para d 2 φ/dx2 seria de
O(∆x). Em resumo, se em qualquer das derivadas for usada uma aproximação
de O(∆x), a aproximação de d 2 φ/dx2 será de O(∆x), mesmo que em todas as
outras derivadas sejam usadas aproximações de O((∆x)2 ).

De forma análoga, vamos agora obter a aproximação para d 2 φ/dx2 com erro
de truncamento O(∆x), usando diferença avançada. Como representado na Fig.
2.5, usaremos os pontos i, i + 1 e i + 2. Tem-se:


dφ dφ
d2φ dx i+1 − dx i
 
= d dφ
= + O(∆x) (2.33)
dx2 i dx dx i ∆x

ou seja, trata-se de uma aproximação com diferença avançada com erro de trun-
camento de O(∆x). Para o cálculo das derivadas primeiras que aparecem na Eq.
36

(2.33), vamos também empregar aproximações por diferenças avançadas com


erro de truncamento O(∆x), resultando:


dφ φi+2 − φi+1
= + O(∆x) (2.34)
dx i+1
∆x


dφ φi+1 − φi
= + O(∆x) (2.35)
dx i ∆x

de modo que a Eq. (2.33) pode ser reescrita como:

d 2 φ
 
1 φi+2 − φi+1 φi+1 − φi φi+2 − 2φi+1 + φi
= − + O(∆x) = + O(∆x)
dx2 i ∆x ∆x ∆x (∆x)2
(2.36)
que corresponde exatamente à aproximação dada pela Eq. (2.18a).

df df
dx i dx i+1
∆x

i i+1 i+2
∆x


d2φ
Figura 2.5: Diferença avançada para o cálculo de dx2 i
com erro de truncamento
O(∆x).

De forma similar, podemos obter uma aproximação para a derivada segunda


com erro de truncamento de O(∆x) usando diferenças atrasadas. Façamos:


dφ dφ
d 2 φ dx i − dx i−1
 
d dφ
= = + O(∆x) (2.37)
dx2 i dx dx i ∆x

como esquematicamente representado na Fig. 2.6, que corresponde a uma


aproximação por diferença atrasada, com erro de truncamento O(∆x).
Para o cálculo das derivadas primeiras que aparecem na Eq. (2.37) usaremos
37

df df
∆x
dx i-1 dx i

i-2 i-1 i
∆x


d2φ
Figura 2.6: Diferença atrasada para o cálculo de dx2 i
com erro de truncamento
O(∆x).

também diferenças atrasadas com erro de truncamento de O(∆x), como segue:


dφ φi − φi−1
= + O(∆x) (2.38)
dx i ∆x


dφ φi−1 − φi−2
= + O(∆x) (2.39)
dx i−1
∆x

de modo que a Eq. (2.37) pode ser reescrita como:

d 2 φ
 
1 φi − φi−1 φi−1 − φi−2 φi − 2φi−1 + φi−2
2
= − + O(∆x) = + O(∆x)
dx i ∆x ∆x ∆x (∆x)2
(2.40)

que corresponde exatamente à aproximação dada pela Eq. (2.18b).

Observe que para a obtenção das aproximações dadas pelas Eqs. (2.32),
(2.36) e (2.40) não foi necessário escrever as expansões de Taylor para φ(xo +
∆x), φ(xo + 2∆x), φ(xo − ∆x) e φ(xo − 2∆x), que foi o procedimento adotado
inicialmente na dedução das aproximações dadas pelas Eqs. (2.28), (2.18a) e
(2.18b).

Com a utilização desta técnica podemos obter com facilidade aproximações


para derivadas mistas. Na Tabela 2.1 são listadas algumas destas aproximações,
enquanto na Fig. 2.7 são representados os nós da malha computacional empre-
gados na obtenção destas aproximações.
38

Tabela 2.1: Aproximações por diferenças para derivadas mistas.

Caso Aproximação
  Erro de truncamento
∂2 φ 1 φi+1, j −φi+1, j−1 φi, j −φi, j−1
1 ∂x∂y i, j
= ∆x ∆y − ∆y O(∆x, ∆y)
2
 
∂ φ 1 φi, j+1 −φi, j φi−1, j+1 −φi−1, j
2 ∂x∂y i, j
= ∆x ∆y − ∆y O(∆x, ∆y)
2
 
∂ φ 1 φ i, j −φ i, j−1 φ i−1, j −φ i−1, j−1
3 ∂x∂y i, j
= ∆x ∆y − ∆y O(∆x, ∆y)
2
 
∂ φ 1 φ i+1, j+1 −φ i+1, j φ i, j+1 −φi, j
4 = − O(∆x, ∆y)

∂x∂y i, j
∆x ∆y ∆y
2
 
1 φ −φ φ i, j+1 −φi, j−1
5 ∂ φ
= i+1, j+1 i+1, j−1
− O(∆x, (∆y)2 )

∂x∂y i, j
∆x 2∆y 2∆y
2
 
1 φ −φ φ −φ
6 ∂ φ
= i, j+1 i, j−1
− i−1, j+1 i−1, j−1
O(∆x, (∆y)2 )

∂x∂y i, j
∆x 2∆y 2∆y
2
 
1 φ −φ φ i−1, j+1 −φi−1, j−1
7 ∂ φ
= i+1, j+1 i+1, j−1
− O((∆x)2 , (∆y)2 )

∂x∂y i, j
2∆x 2∆y 2∆y
2
 
1 φ −φ φ −φ
8 ∂ φ
= i+1, j+1 i+1, j
− i−1, j+1 i−1, j
O((∆x)2 , ∆y)

∂x∂y i, j
2∆x ∆y ∆y
 
∂2 φ 1 φ −φ φ −φ
9 ∂x∂y = 2∆x
i+1, j
∆y
i+1, j−1
− i−1, j
∆y
i−1, j−1
O((∆x)2 , ∆y)
i, j

Façamos agora a dedução da aproximação para a derivada mista considerada


no caso 1 da Tabela 2.1, com os nós da malha computacional representados na
Fig. 2.7a.

Fazendo primeiro a aproximação em x,



∂φ ∂φ
∂2 φ ∂y i+1, j − ∂y i, j
 
∂ ∂φ
= = + O(∆x) (2.41)
∂x∂y i, j ∂x ∂y i, j ∆x

que trata-se de uma aproximação por diferença avançada em x com erro de


truncamento de O(∆x). Para o cálculo das derivadas primeiras com relação a y
presentes na Eq. (2.41) serão usadas diferenças atrasadas com erro de trunca-
mento O(∆y):


∂φ φi+1, j − φi+1, j−1
= + O(∆y) (2.42)
∂y i+1, j
∆y


∂φ φi, j − φi, j−1
= + O(∆y) (2.43)
∂y i, j
∆y
39

i-1, j+1 i, j+1


∆y ∆y ∆y
i, j i+1, j i-1, j i, j i-1, j i, j

i, j-1 i+1, j-1 i-1, j-1 i, j-1

∆x ∆x ∆x
(a) Caso 1 (b) Caso 2 (c) Caso 3

i, j+1 i+1, j+1 i, j+1 i+1, j+1 i-1, j+1 i, j+1


∆y ∆y ∆y
i, j i+1, j

i, j-1 i+1, j-1 i-1, j-1 i, j-1

∆x ∆x ∆x
(d) Caso 4 (e) Caso 5 (f) Caso 6

i-1, j+1 i+1, j+1 i-1, j+1 i+1, j+1


∆y ∆y ∆y
i-1, j i+1, j i-1, j i+1, j

i-1, j-1 i+1, j-1 i-1, j-1 i+1, j-1

∆x ∆x ∆x
(g) Caso 7 (h) Caso 8 (i) Caso 9

Figura 2.7: Nós da malha computacional empregados na obtenção das


∂2 φ
aproximações para ∂x∂y apresentadas na Tabela 2.1.

de forma que a Eq. (2.41) pode ser reescrita como:

∂2 φ
 
1 φi+1, j − φi+1, j−1 φi, j − φi, j−1
= − + O(∆x, ∆y) (2.44)
∂x∂y i, j ∆x ∆y ∆y

que corresponde ao primeiro caso apresentado na Tabela 2.1. A dedução dos


demais casos apresentados nesta tabela pode ser realizada de forma similar,
e fica como exercı́cio para o leitor. A Tabela 2.2 apresenta um resumo das
aproximações empregadas para as derivadas em x e y, com os respectivos erros
de truncamento, para cada um dos casos.
40

Tabela 2.2: Resumo das aproximações empregadas para as derivadas em x e y


para os casos apresentados na Tabela 2.1.

Caso Diferença em x Erro de truncamento Diferença em y Erro de truncamento


1 avançada O(∆x) atrasada O(∆y)
2 atrasada O(∆x) avançada O(∆y)
3 atrasada O(∆x) atrasada O(∆y)
4 avançada O(∆x) avançada O(∆y)
5 avançada O(∆x) centrada O((∆y)2 )
6 atrasada O(∆x) centrada O((∆y)2 )
7 centrada O((∆x)2 ) centrada O((∆y)2 )
8 centrada O((∆x)2 ) avançada O(∆y)
9 centrada O((∆x)2 ) atrasada O(∆y)

2.1.3 Obtenção de uma Aproximação Atendendo Requisitos

Estabelecidos Previamente

Será agora descrita uma abordagem que permitirá outras aproximações que
atendam a requisitos estabelecidos a priori. Por exemplo, considere que se de-
seja obter uma aproximação para dφ/dx usando os pontos i − 2, i − 1, i e i + 1, e
que o erro de truncamento seja de O((∆x)2 ). Primeiro escrevemos as expansões
de Taylor, que em notação compacta fica:

d 2 φ (∆x)2 d 3 φ (∆x)3 d 4 φ (∆x)4




φi+1 = φi + ∆x + 2 + 3 + 4 + . . . (2.45)
dx i dx i 2! dx i 3! dx i 4!

d 2 φ (∆x)2 d 3 φ (∆x)3 d 4 φ (∆x)4




φi−1 = φi − ∆x + 2 − 3 + 4 − . . . (2.46)
dx i dx i 2! dx i 3! dx i 4!

d 2 φ (2∆x)2 d 3 φ (2∆x)3 d 4 φ (2∆x)4




φi−2 = φi − 2∆x + 2 − 3 + 4 −...
dx i dx i 2! dx i 3! dx i 4!
(2.47)

Multiplicamos então as Eqs. (2.45), (2.46) e (2.47) por coeficientes a serem


41

determinados, a, b e c respectivamente, e impomos então três restrições:




1. a soma dos coeficientes que multiplicam dx é igual a 1;
i

d2φ
2. a soma dos coeficientes que multiplicam dx2 é igual a 0; e

i
3

3. a soma dos coeficientes que multiplicam ddxφ3 é igual a 1.
i

Obtém-se então,

a − b − 2c = 1 (2.48a)

a b 4
+ + c = 0 ⇒ a + b + 4c = 0 (2.48b)
2 2 2

a b 8
− − c = 1 ⇒ a − b − 8c = 6 (2.48c)
3! 3! 3!

A solução do sistema (2.48) é facilmente obtida, resultando:

4 5
a= , b=2 e c=− (2.49)
3 6

Substituindo agora estes coeficientes na soma das Eqs. (2.45) a (2.47) resulta:

   
4 5 4 5 4 10 dφ
φi+1 + 2φi−1 − φi−2 = + 2 − φi + −2+ ∆x
3 6 3 6 3 6 dx i
10 d 2 φ
    3
2 2 2 1 10 d φ
+ +1− (∆x) + − + (∆x)3 + . . . (2.50)
3 6 dx2 i 9 3 9 dx3 i

Logo,

 
dφ 1 4 5 5
= φi+1 − φi + 2φi−1 − φi−2 + O(∆x2 ) (2.51)
dx i ∆x 3
2 6

É obtida, portanto, a aproximação por diferenças finitas inicialmente pre-


tendida.
42

2.2 Representação de Equações Diferenciais por

Diferenças Finitas

Na Seção 2.1.1 fizemos a representação da equação elı́ptica

d2φ
+ f (x) = 0 (2.52)
dx2

em diferenças finitas:

d2φ 2 d 4 φ

φi+1 − 2φi + φi−1
+ f (x) = + f (xi ) + (∆x)4 + . . . (2.53)
dx2 (∆x)2 4! dx4 i

onde o lado esquerdo da igualdade corresponde à equação diferencial (ED), e o


lado direito corresponde à equação de diferenças finitas (EDF) somada ao erro
de truncamento (ET ), de modo que a Eq. (2.53) pode ser escrita como:

ED = EDF + ET (2.54)

ou seja:

ET = ED − EDF (2.55)

onde no exemplo aqui apresentado ET é de O((∆x)2 ).

2.2.1 Consistência

Uma representação por diferenças finitas é dita consistente se o erro de trunca-


mento for a zero quando a malha computacional é refinada,

lim (ED − EDF) = lim ET = 0 (2.56)


∆x→0 ∆x→0
43

A representação dada pela Eq. (2.53) é consistente já que ET é de O((∆x)2 ),


portanto indo a zero quando ∆x → 0.

2.2.2 Estabilidade

O conceito de estabilidade aplica-se a problemas marchantes e consiste em não


haver um crescimento de erros (truncamento, arredondamentos) de um passo
da marcha para o seguinte. Vamos considerar novamente o problema de trans-
ferência de calor por condução, transiente e unidimensional, visto na Seção
1.3.2.

∂φ(x,t) ∂2 φ(x,t)
=α (2.57)
∂t ∂x2

onde φ representa a temperatura e α é a difusividade térmica. Conforme a


representação feita na Fig. 2.8, o domı́nio contı́nuo (x,t), com 0 < x < L e
0 < t < t f , é substituı́do por uma malha computacional onde cada nó (xi ,tn ) é
identificado pelo par de ı́ndices (i, n).

t ∆x

Nt
...

n+1
∆t
n

n-1
...

1 Condição Inicial
Conhecida
0
0 1 ... i-1 i i+1 ... Nx x

Figura 2.8: Malha computacional e molécula de cálculo com diferença


avançada no tempo e centrada no espaço, para a formulação explı́cita.
44

Façamos então a representação por diferenças finitas para ∂φ/∂t usando a


diferença avançada com erro de truncamento de O(∆t), como segue:

∂φ(x,t) φn+1 − φni


= i + O(∆t) (2.58)
∂t ∆t

enquanto para a derivada segunda será usada uma diferença centrada dada por:

∂2 φ φni+1 − 2φni + φni−1



2
= 2
+ O((∆x)2 ) (2.59)
∂x i,n (∆x)

de modo que a Eq. (2.57) é escrita como:

φn+1 − φni α
i
φni+1 − 2φni + φni−1 + O((∆x)2 , ∆t)

= 2
(2.60)
∆t (∆x)

que pode ser mais convenientemente reescrita como:

α∆t 2
φn+1 = φni + n n n

φ − 2φi + φ i−1 + O((∆x) , ∆t) (2.61)
i
(∆x)2 i+1

Na Fig. 2.8 é representada a molécula de cálculo utilizada para a obtenção


da Eq. (2.61). Esta molécula consiste dos nós (i, n + 1), (i − 1, n), (i, n) e
(i + 1, n). Para n = 0, todos os valores φn=0
i são conhecidos da condição inicial.
Usando a Eq. (2.61) podem ser calculados explicitamente todos os valores no
passo temporal seguinte, φn+1
i , para i = 1, 2, ..., Nx − 1. E o processo é continu-
ado, ou seja, conhecidos os valores φn=1
i , podem ser calculados explicitamente
os valores φn=2
i , e assim sucessivamente até o tempo final de interesse, n = Nt .
Cabe ressaltar que para cada passo temporal, o cálculo de φ nos nós i = 0 e
i = Nx precisam levar em conta as condições de contorno do problema, o que
será apresentado com detalhes mais adiante.

A formulação dada pela Eq. (2.61) é chamada, portanto, de formulação


explı́cita. Observe que para obtê-la, escrevemos a aproximação para a deri-
vada segunda com os valores de φ para o instante n. Caso tivéssemos usado a
45

aproximação para a derivada segunda no instante n + 1, ou seja:

∂2 φ φn+1 n+1
i+1 − 2φi + φn+1

i−1
= + O((∆x)2 ) (2.62)
∂x2 i,n+1 (∆x)2

a forma discretizada da Eq. (2.57) ficaria escrita como:

φn+1 − φni α 2
i
φn+1 n+1
+ φn+1

= 2 i+1 − 2φi i−1 + O((∆x) , ∆t) (2.63)
∆t (∆x)

ou mais convenientemente:

 
α∆t n+1 α∆t α∆t
− φi+1 + 1 + 2 φn+1
i − 2 φn+1 = φni (2.64)
(∆x)2 (∆x)2 ∆x i−1

A molécula de cálculo utilizada para a obtenção da Eq. (2.64) é representada


na Fig. 2.9.

t ∆x

Nt
...

n+1
∆t
n

n-1
...

1 Condição Inicial
Conhecida
0
0 1 ... i-1 i i+1 ... Nx x

Figura 2.9: Malha computacional e molécula de cálculo com diferença


avançada no tempo e centrada no espaço, para formulação implı́cita.

Observa-se que a cada instante de tempo será necessário resolver um sis-


tema de equações algébricas lineares porque para o cálculo de φn+1
i será ne-
46

cessário determinar simultaneamente os valores de φn+1 n+1


i−1 e φi+1 . Este é o método

implı́cito simples.

Antes de começar a discutir o conceito de estabilidade, que é o objetivo


central desta seção, vamos escrever uma representação em diferenças finitas
usando diferença centrada para ∂φ/∂t:

φn+1 − φn−1

∂φ
= i i
+ O((∆t)2 ) (2.65)
∂t i,n
2∆t

de modo que a forma discretizada da Eq. (2.57), com formulação explı́cita, fica:

φn+1 − φn−1 α
i i
= 2 φni+1 − 2φni + φni−1 + O((∆x)2 , (∆t)2 )

(2.66)
2∆t ∆x

Na Fig. 2.10 é representada a molécula de cálculo utilizada para a obtenção da


Eq. (2.66).

t ∆x

Nt
...

n+1
∆t
n

n-1
...

1 Condição Inicial
Conhecida
0
0 1 ... i-1 i i+1 ... Nx x

Figura 2.10: Malha computacional e molécula de cálculo com diferença cen-


trada no tempo e centrada no espaço, para formulação explı́cita.

Se você tivesse que resolver a Eq. (2.57) sendo conhecidas as condições


47

de contorno e a condição inicial, qual representação por diferenças finitas você


escolheria? A representação dada pela Eq. (2.60), também denominada de
esquema explı́cito simples, é extremamente conveniente por não exigir cálculos
iterativos. A partir do conhecimento da condição inicial e das condições de
contorno a solução é calculada com uma marcha no tempo. O problema é que
este esquema é estável apenas quando

∆t 1
r=α ≤ (2.67)
(∆x)2 2

A principal vantagem deste esquema é a facilidade de implementação com-


putacional, mas caso não seja atendido o critério de estabilidade, podem ser
obtidos resultados errôneos, que em alguns casos, mas nem sempre, poderão
ser detectados por violar a fı́sica do problema sob análise.

A representação dada pela Eq. (2.66) parece ser superior àquelas dadas pe-
las Eqs. (2.60) e (2.63) por apresentar um erro de truncamento de O((∆x)2 , (∆t)2 ).
No entanto, ela é incondicionalmente instável. A Eq. (2.66) não deve ser usada,
portanto, para a solução do problema de transferência de calor transiente unidi-
mensional.

Apesar da representação dada pela Eq. (2.63) exigir a solução de um sis-


tema de equações algébricas lineares a cada instante de tempo, este esquema
é incondicionalmente estável. Ressalta-se que a condição de estabilidade dada
pela Eq. (2.67), para o esquema explı́cito simples da Eq. (2.60), pode se mostrar
extremamente restritivo do ponto de vista computacional, principalmente para
transientes longos e para malhas extremamente refinadas espacialmente. Como
∆t deve ser extremamente pequeno nestes casos, exigindo um número proibitivo
de passos no tempo, é indicado neste caso o uso da formulação implı́cita, Eq.
(2.63), que por ser incondicionalmente estável permite o uso de valores maiores
para ∆t. Apesar desta vantagem, obviamente deve-se ter cautela, porque o ET é
de ordem ∆t.
48

Avaliar a consistência de uma representação por diferenças finitas é simples,


bastando observar o comportamento do erro de truncamento quando a malha é
refinada. Para os três esquemas aqui apresentados é observado que

lim ET = 0 (2.68)
∆x→0
∆t→0

No entanto, avaliar a estabilidade do esquema empregado para a representação


da equação diferencial parcial por diferenças finitas pode ser uma tarefa extre-
mamente difı́cil. Neste texto apenas mencionaremos os resultados já conheci-
dos para os principais problemas de nosso interesse. Consulte as referências ()
para conhecer algumas das técnicas empregadas para a avaliação da estabilidade
de uma aproximação por diferenças finitas.

Uma outra alternativa para a representação do problema (2.57) por diferenças


finitas é usar a aproximação por diferença centrada com uma média no tempo
para n e n + 1, na seguinte forma
!
∂2 φ ∂2 φ ∂2 φ

1
2
= +
∂x i,n+1/2
2 ∂x2 i,n ∂x2 i,n+1
1  n+1 n n+1 n n+1 n

= φ i+1 + φ i+1 − 2(φ i + φ i ) + φ i−1 + φ i−1 (2.69)
2(∆x)2

de forma que a EDP dada pela Eq. (2.57) é então aproximada por:

φn+1
i − φni α  n+1 n n+1 n n+1 n

= φi+1 + φ i+1 − 2(φ i + φ i ) + φ i−1 + φ i−1 (2.70)
∆t 2(∆x)2

com erro de truncamento de O((∆x)2 , (∆t)2 ). Este é o conhecido método de


Crank-Nicolson, cuja molécula de cálculo é representada na Fig. 2.11. Este
método é implı́cito e incondicionalmente estável.

Se ao invés da média empregada na Eq. (2.69) for usado um peso θ, ou seja:


49

t ∆x

Nt
...
n+1
∆t
n

n-1
...

1 Condição Inicial
Conhecida
0
0 1 ... i-1 i i+1 ... Nx x

Figura 2.11: Molécula de cálculo para o método de Crank-Nicolson.

∂2 φ ∂2 φ ∂2 φ

=θ 2 + (1 − θ) 2 (2.71)
∂x2 i,n ∂x i,n+1 ∂x i,n

resulta num método combinado, onde com θ = 0 obtém-se o método explı́cito


simples, com θ = 1/2 obtém-se o método de Crank-Nicolson e com θ = 1
obtém-se o método implı́cito simples. Este método combinado possui erro de
truncamento de ((∆x)2 , ∆t) exceto para os casos especiais

1. θ = 1/2 → ET = O((∆x)2 , (∆t)2 )

2. θ = 12 − 12r
1
→ ET = O((∆x)4 , (∆t)2 )


3. θ = 12 − 12r
1
e 1
r = 20 → ET = O((∆x)6 , (∆t)2 )

onde r é dado pela Eq. (2.67).


1
Este método é incondicionalmente estável se 2 ≤ θ ≤ 1. Para 0 ≤ θ < 21 , o
método é estável se

1
0≤r≤ (2.72)
2 − 4θ
50

2.2.3 Convergência para Problemas Marchantes

O teorema da equivalência de Lax é o principal resultado relativo à convergência


para representações por diferenças finitas para problemas marchantes: dado um
problema de valor inicial bem posto e uma aproximação por diferenças finitas
que satisfaça a condição de consistência, estabilidade é a condição necessária e
suficiente para convergência.
Capı́tulo 3

Conceitos Básicos em Métodos de


Base Analı́tica

3.1 Método de Solução por Separação de Variáveis

Os métodos de base analı́tica desenvolvidos a partir de transformações integrais


tem sua origem no Método de Separação de Variáveis, desenvolvido por Fou-
rier para a solução do modelo desenvolvido por ele na época de proposição
da equação de condução de calor. Com esta técnica, é possı́vel a solução
analı́tica de problemas de condução de calor, mas apenas para problemas ditos
homogêneos, ou seja, tanto a equação governante quanto as condições de con-
torno devem ser homogêneas. Esta limitação restringe a aplicabilidade deste
método apenas a problemas relativamente simples. Porém, para compreender
técnicas mais avançadas como a Técnica da Transformada Integral Clássica
(CITT) e Técnica da Transformada Integral Generalizada (GITT) é impres-
cindı́vel o conhecimento do Método de Separação de Variáveis. A seguir será
detalhado o desenvolvimento desta metodologia a partir de um exemplo.

51
52

3.1.1 Um Exemplo

O problema de transferência de calor por condução em uma placa plana de


espessura L, em regime transiente, com condições de contorno de primeiro tipo
(Dirichilet) homogêneas, e sem a presença de qualquer fonte térmica, de modo
que o problema seja homogêneo, possui a seguinte formulação matemática:

1 ∂T (x,t) ∂2 T (x,t)
= , 0<x<L , t >0 (3.1a)
α ∂t ∂x2

T (0,t) = 0 , t > 0 (3.1b)

T (L,t) = 0 , t > 0 (3.1c)

T (x, 0) = f (x) , 0 < x < L (3.1d)

O procedimento de separação de variáveis terá por objetivo escrever o po-


tencial T (x,t) como o produto entre uma função de x e outra de t, na seguinte
forma:

T (x,t) = ψ(x)Γ(t) (3.2)

Substituindo a Eq. (3.2) na Eq. (3.1a) resulta:

1 dΓ(t) d 2 ψ(x)
ψ(x) = Γ(t) (3.3)
α dt dx2

que pode ser mais convenientemente escrito dividindo-se a Eq. 3.3 pelo produto
ψ(x)Γ(t), resultando:

1 1 dΓ(t) 1 d 2 ψ(x)
= = λ = constante (3.4)
α Γ(t) dt ψ(x) dx2

De modo que da Eq. (3.4) temos o seguinte problema para Γ(t):


53

1 1 dΓ(t)
=λ (3.5)
α Γ(t) dt

cuja solução é:

Γ(t) = exp(αλt) (3.6)

Faremos agora a análise do problema para ψ(x), partindo da premissa que


λ deve ser escolhido de modo que ψ(x) seja diferente da solução trivial, i.e.
ψ(x) = 0. Consideremos os três cenários possı́veis:

• λ = µ2 > 0

Da Eq. (3.4) tem-se:

d 2 ψ(x)
2
− µ2 ψ(x) = 0 , 0 < x < L (3.7a)
dx

As condições de contorno para a Eq. (3.7a) são obtidas da separação de


variáveis das Eqs. (3.1b) e (3.1c), resultando:

ψ(0)Γ(t) = 0 ⇒ ψ(0) = 0 (3.7b)

ψ(L)Γ(t) = 0 ⇒ ψ(L) = 0 (3.7c)

A solução da Eq. (3.7a) é dada por:

ψ(x) = C1 eµx +C2 e−µx (3.8)

Para obter C1 e C2 basta examinarmos as condições de contorno, dadas pelas


Eqs. (3.7b) e (3.7b). Da primeira condição, obtém-se:

C1 +C2 = 0 ⇒ C1 = −C2 (3.9)


54

e da segunda condição de contorno obtém-se:

C1 (eµL − e−µL ) = 0 ⇒ C1 = 0 (3.10)

ou seja, obtém-se como solução ψ(x) = 0, que é a solução trivial.

• λ=0

Para este caso, o problema para ψ(x) fica escrito como:

d 2 ψ(x)
=0 , 0<x<L (3.11a)
dx2

ψ(0) = 0 (3.11b)

ψ(L) = 0 (3.11c)

cuja solução é dada por:

ψ(x) = C1 x +C2 (3.12)

que após substituição das condições de contorno também resulta ψ(x) = 0, que
é a solução trivial.

• λ = −µ2 < 0

Para este terceiro caso, tem-se:

d 2 ψ(x)
2
+ µ2 ψ(x) = 0 , 0 < x < L (3.13a)
dx

ψ(0) = 0 (3.13b)
55

ψ(L) = 0 (3.13c)

cuja solução é dada por:

ψ(x) = C1 cos(µx) +C2 sin(µx) (3.14)

Vamos agora examinar as condições de contorno. A primeira leva a C1 = 0,


enquanto a segunda leva a:

C2 sin(µL) = 0 (3.15)

Para que a Eq. (3.15) seja satisfeita temos duas opções: C2 = 0, o que leva
a solução trivial, ou:


µi = , i = 1, 2, 3, . . . (3.16)
L

Esses infinitos valores discretos para µi são chamados autovalores. Para cada
um destes valores, tem-se as seguintes soluções:

 

ψi (x) = sin(µi x) = sin x (3.17)
L

e cada solução ψi (x), deste infinito conjunto de soluções, é chamada de autofunção


associada ao autovalor correspondente, µi . O problema dado pelas Eqs. (3.13a)
a (3.13c) é chamado de problema de autovalor diferencial.

A Eq. (3.6), referente a solução do problema para Γ(t), pode agora ser
escrita como:

 2 !

Γi (t) = exp(−αµ2i t) = exp −α t (3.18)
L

e a solução fundamental do problema, substituindo na Eq. (3.2) é dada por:


56

2
Ti (x,t) = e−αµi t sin(µi x) (3.19)

e a solução geral, dada pela combinação linear das soluções, pode então ser
escrita como:


2
T (x,t) = ∑ Ci e−αµi t sin(µi x) (3.20)
i=1

Para a determinação dos coeficientes Ci , i = 1, 2, 3, . . . vamos primeiro in-


troduzir uma importante propriedade das autofunções, a chamada propriedade
da ortogonalidade, que para o exemplo considerado é dada por:


ZL  0 , se i 6= j

ψi (x)ψ j (x)dx = (3.21a)
0
 N , se i = j

i

onde

ZL
Ni = ψ2i (x)dx (3.21b)
0

onde, para o exemplo considerado, pode ser demonstrado que:

ZL
L
Ni = sin2 (µi x) dx = (3.22)
2
0

Vamos agora escrever a condição inicial a partir das Eqs. (3.1d) e (3.20):


T (x, 0) = f (x) = ∑ Ci sin(µi x) (3.23)
i=1

É interessante notar que os coeficientes Ci são os coeficientes da série de Fourier


de senos de f (x).
RL
Vamos agora operar a Eq. (3.23) com (·) ψ j (x)dx, resultando:
0
57

ZL ZL ∞
f (x) sin(µ j x)dx = ∑ Ci sin(µix) sin(µ j x)dx (3.24)
i=1
0 0

que pode ser reescrito como:

ZL ∞ ZL
f (x) sin(µ j x)dx = ∑ Ci sin(µi x) sin(µ j x)dx (3.25)
i=1
0 0

Utilizando a propriedade da ortogonalidade, cabe observar que o somatório


do lado direito da Eq. (3.25) assumirá valor não-nulo apenas para i = j, levando
a:

ZL ZL
f (x) sin(µ j x)dx = C j sin2 (µ j x)dx (3.26)
0 0

Substituindo a Eq. (3.22) e alterando o ı́ndice i para j, os coeficientes Ci são


escritos como:

ZL
1
Ci = f (x) sin(µi x)dx (3.27)
Ni
0

Deste modo, a solução geral, dada pela Eq. (3.20) pode ser reescrita como:

∞ ZL
1 2
T (x,t) = ∑ e−αµi t sin(µi x) f (x0 ) sin(µi x0 )dx0 (3.28)
i=1 Ni
0

onde

ZL
iπ L
µi = , Ni = sin2 (µi x) dx = (3.29)
L 2
0

As Eqs. (3.28) e (3.28) fornecem a solução analı́tica para T (x,t) no pro-


blema (3.1), onde o somatório deve ser truncado em uma ordem N suficiente-
mente alta para garantir a precisão desejada na solução.
58

3.1.2 Modelagem Geral

Considere a seguinte formulação para o problema de transferência de calor por


condução com condições de contornos dadas pelo caso mais geral, do terceiro
tipo:

1 ∂T (x,t) ∂2 T (x,t)
= , 0 < x < L, t >0 (3.30a)
α ∂t ∂x2

∂T
−k1 + h1 T = 0, x = 0, t >0 (3.30b)
∂x

∂T
k2 + h2 T = 0, x = L, t >0 (3.30c)
∂x

T = f (x), t = 0, 0<x<L (3.30d)

Como três tipos de condições de contorno são possı́veis em cada fronteira,


x = 0 e x = L, ao resolver esta modelagem geral estamos analisando nove clas-
ses de problemas. Considerando o procedimento sistemático de separação de
variáveis descrito no exemplo anterior, vamos considerar que T (x,t) = ψ(x)Γ(t),
que ao ser substituı́do na Eq. (3.30a) resulta nos seguintes problemas:

• Problema para t:

1 1 dΓ(t)
= −µ2 , t >0 (3.31)
α Γ(t) dt

cuja solução é dada por:

2t
Γ(t) = e−αµ (3.32)

• Problema para x:
59

d 2 ψ(x)
+ µ2 ψ(x) = 0, 0<x<L (3.33a)
dx2

sujeito às seguintes condições de contorno:

dψ(x)
−k1 + h1 ψ(x) = 0, x=0 (3.33b)
dx

dψ(x)
k2 + h2 ψ(x) = 0, x=L (3.33c)
dx

O problema dado pelas Eqs. (3.33a) a (3.33c) é um caso particular de uma


classe de problemas chamada de problema de autovalor de Sturm-Liouville,
cuja formulação mais geral é dada por:

 
d dψ(x)
+ µ2 w(x) − d(x) ψ(x) = 0,
 
k(x) x0 < x < x1 (3.34a)
dx dx

dψ(x)
α1 ψ(x) − β1 = 0, x = x0 (3.34b)
dx

dψ(x)
α2 ψ(x) + β2 = 0, x = x1 (3.34c)
dx

O problema de autovalor de Sturm-Liouville possui propriedades importan-


tes, entre as quais cabe destacar:

• Propriedade 1. Os autovalores do problema de Sturm-Liouville são Reais


e em ordem crescente:

µi ∈ R, com µ1 < µ2 < µ3 . . . (3.35)

• Propriedade 2. Os autovalores do problema de Sturm-Liouville são sim-


ples, i.e. geram autofunções linearmente independentes.
60

• Propriedade 3. Resultando da Propriedade 2 tem-se a Propriedade da


Ortogonalidade:

Zx1  0 , se i 6= j

w(x)ψi (x)ψ j (x)dx = (3.36a)
x0
 N , se i = j

i

Zx1
Ni = w(x)ψi (x)2 dx (3.36b)
x0

Para o problema de autovalor dado pelas Eqs. (3.33a) a (3.33c), os autova-


lores µi , as autofunções correspondentes ψi (x) e as normas Ni podem ser dire-
tamente obtidas da Fig. 3.1, para cada uma das nove combinações de condição
de contorno possı́veis [Tabela 2.2 (Ozisik, 1994)]. Alternativamente, a solução
do problema de autovalor pode ser facilmente calculada utilizando recursos de
computação simbólica, como na plataforma Wolfram Mathematica (Wolfram,
2005).

Deste modo, a solução fundamental do problema (3.30) pode ser escrita


como:

2
Ti (x,t) = e−αβi t ψi (x) (3.37)

e a solução geral, dada pela combinação linear das soluções fundamentais, pode
ser escrita como:


2
T (x,t) = ∑ Ci e−αβi t ψi (x) (3.38)
i=1

A determinação dos coefientes Ci é realizada com a aplicação da condição ini-


cial, ou seja:


T (x, 0) = ∑ Ci ψi (x) = f (x) (3.39)
i=1
61

Figura 3.1: Soluções ψi (x), autovalores µi e normas Ni para o problema de


autovalor (1.33)(Ozisik, 1994).

RL
Operando a Eq. (3.39) com ψi (x)(·)dx e aplicando-se a Propriedade da
0
Ortogonalidade obtém-se:

ZL
1
Ci = ψi (x) f (x)dx (3.40)
Ni
0

De modo que a solução final pode ser escrita substituindo-se a Eq. (3.40)
na Eq. (3.38), resultando:

∞ ZL
1 2
T (x,t) = ∑ e−αβi t ψi (x) ψi (x0 ) f (x0 )dx0 (3.41)
i=1 Ni
0

3.1.3 Problemas Multidimensionais

O procedimento sistemático desenvolvido nas Seções anteriores para um pro-


blema unidimensional pode ser diretamente extendido para problemas bi- e tri-
62

dimensionais. Como exemplo, considere o seguinte problema bidimensional:

1 ∂T (x, y,t) ∂2 T (x, y,t) ∂2 T (x, y,t)


= + , 0 < x < Lx , 0 < y < Ly , t >0
α ∂t ∂x2 ∂y2
(3.42a)

∂T
−k1 + h1 T = 0, x = 0, 0 < y < Ly , t >0 (3.42b)
∂x

∂T
k2 + h2 T = 0, x = L, 0 < y < Ly , t >0 (3.42c)
∂x

∂T
−k3 + h3 T = 0, y = L, 0 < x < Lx , t >0 (3.42d)
∂x

∂T
k4 + h4 T = 0, y = 0, 0 < x < Lx , t >0 (3.42e)
∂x

T = f (x, y), t = 0, 0 < x < Lx , 0 < y < Ly (3.42f)

Para este problema, a seguinte separação de variáveis é proposta:

T (x, y,t) = ψ(x, y)Γ(t) (3.43)

Substituindo-se (3.43) em (3.42a) resulta:

∂2 ψ(x, y) ∂2 ψ(x, y)
 
1 1 dΓ(t) 1
= + = −µ2 (3.44)
α Γ(t) dt ψ(x, y) ∂x2 ∂y2

De forma que temos os seguintes problemas:

• Problema para para t:


63

1 1 dΓ(t)
= −µ2 , t >0 (3.45)
α Γ(t) dt

que possui a mesma forma do problema para t no caso unidimensional. A


solução é dada por:

2t
Γ(t) = e−αµ (3.46)

• Problema para para x:

∂2 ψ(x, y) ∂2 ψ(x, y)
+ + µ2 ψ(x, y) = 0 (3.47)
∂x2 ∂y2

que é a Equação de Helmholtz em coordenadas cartesianas.


Para a solução da Eq. (3.47) consideremos o procedimento de separação de
variáveis para ψ(x, y), na seguinte forma:

ψ(x, y) = X(x)Y (y) (3.48)

De modo que a Eq. (3.44) fica reescrita na seguinte forma:

1 d 2 X(x) 1 d 2Y (y)
+ = −µ2 (3.49)
X(x) dx2 Y (y) dy2

de onde verifica-se que para a igualdade ser satisfeita, o primeira termo do lado
esquerdo da Eq. (3.49) precisa ser uma constante, assim como o segundo termo
do lado esquerdo da mesma equação.
Desta forma temos definidos os seguintes problemas, após fazer uso do pro-
cedimento de separação de variáveis nos contornos:

• Problema para x:

d 2 X(x)
+ β2 X(x) = 0, 0 < x < Lx (3.50a)
dx2
64

dX(x)
−k1 + h1 X(x) = 0, x=0 (3.50b)
dx

dX(x)
k2 + h2 X(x) = 0, x = Lx (3.50c)
dx

• Problema para y:

d 2Y (y)
+ γ2Y (y) = 0, 0 < y < Ly (3.51a)
dy2

dY (y)
−k3 + h3Y (y) = 0, y=0 (3.51b)
dy

dY (y)
k4 + h4Y (y) = 0, y = Ly (3.51c)
dy

ficando definido que:

µ2 = β2 + γ2 (3.52)

Observa-se que os problemas (3.50) e (3.51) são problemas de autovalor


de Sturm-Liouville, cujas soluções para os autovalores βi e γ j e respectivas
autofunções Xi (x) e Y j (y), com i = 1, 2, 3, . . . e j = 1, 2, 3, . . ., podem ser di-
retamente obtidas a partir da Figura 3.1 ou, alternativamente, por meio de
computação simbólica.
Desta forma, a solução fundamental para o problema multidimensional (3.42)
pode ser escrita como:

2 2
Ti j (x, y,t) = e−α(βi +γ j )t Xi (x)Y j (y) (3.53)

e a solução geral, dada pela combinação linear das soluções fundamentais, pode
ser escrita como:
65

∞ ∞ 2 2
T (x, y,t) = ∑ ∑ Ci j e−α(βi +γ j )t Xi(x)Y j (y) (3.54)
i=1 j=1

A determinação dos coeficientes Ci j é realizada aplicando-se a condição


RLy RLx
inicial, Eq. (3.42f), e operando-se com Xm (x)Yn (y)(·)dxdy, que após fazer
0 0
uso da Propriedade da Ortogonalidade resulta:

ZLy ZLx
1
Ci j = Xi (x)Y j (y) f (x, y)dxdy (3.55)
NXi NY j
0 0

onde:

ZLx
NXi = Xi (x)2 dx (3.56)
0

ZLy
NY j = Y j (y)2 dy (3.57)
0

Substituindo (3.55) em (3.54), temos a seguinte expressão final como solução


para T (x, y,t):

∞ ∞ ZLy ZLx
1 2 2
T (x, y,t) = ∑ ∑ e−α(βi +γ j )t Xi (x)Y j (y) Xi (x0 )Y j (y0 ) f (x0 , y0 )dx0 dy0
i=1 j=1 NXi NY j
0 0
(3.58)

Para o caso tridimensional o procedimento de solução é análogo e resulta


em um somatório triplo associado a três problemas de autovalor individuais,
um para cada direção espacial do problema. Neste caso a solução formal é dada
por:
66

∞ ∞ ∞
1 2 2 2
T (x, y, z,t) = ∑ ∑ ∑ NX NY NZ e−α(βi +γ j +ν` )t
i=1 j=1 `=1 i j `

ZLz ZLy ZLx


Xi (x)Y j (y)Z` (z) Xi (x0 )Y j (y0 )Z` (z0 ) f (x0 , y0 , z0 )dx0 dy0 dz0 (3.59)
0 0 0

onde Z` (z), ν` e NZ` são as autofunções, autovalores e normas, respectivamente,


associados ao problema de autovalor na direção z.

3.1.3.1 Ordenamento dos Termos do Somatório

Existe uma tendência natural de truncar cada uma das expansões em ordens
individuais, em cada direção, ou seja Nx , Ny e Nz , para os somatórios nos
ı́ndices i, j e ` respectivamente, no momento da implementação computacio-
nal da solução formal para problemas multidimensionais.

Entretanto, a forma mais adequada para a implementação computacional


destas soluções envolve o ordenamento dos termos da expansão total e substituição
do somatório múltiplo por um somatório simples, que leve em conta progressi-
vamente os termos mais importantes para a convergência do resultado numérico.

Observando a solução formal para o caso geral tridimensional, dada pela


Eq. (3.59), fica claro pelo termo exp[−(β2i + γ2j + ν2` )t] que para o menor tempo
de interesse t, quanto menor o argumento (β2i + γ2j + ν2` ) maior é a importância
na expansão do termo com a ordem (i, j, `) correspondente. Desta forma, con-
sidere a representação da solução multidimensional como:

∞ ZLz ZLy ZLx


1 −αµ2mt
T (x, y, z,t) = ∑ e ψm (x, y, z) ψm (x0 , y0 , z0 ) f (x0 , y0 , z0 )dx0 dy0 dz0
m=1 Nm
0 0 0
(3.60a)

onde cada ordem m deste somatório simples corresponde a uma combinação de


67

ordens individuais na expansão múltipla, ou seja uma combinação de (i, j, `) na


Eq. (3.59), na seguinte forma:

µ2m = β2i + γ2j + ν2` (3.60b)

Nm = NXi NY j NZ` (3.60c)

ψm (x, y, z) = Xi (x)Y j (y)Z` (z) (3.60d)

Portanto, para a implementação computacional da solução dada pela Eq.


(3.60) de forma eficiente deve ser criada uma lista ordenada em forma crescente
para µm a partir dos autovalores individuais βi , γ j e ν` calculados previamente.
Além disso, deve ser armazenada a correspondência da ordem m do somatório
simples com as ordens individuais (i, j, `) para futura utilização, no cálculo dos
valores Nm e ψm (x, y, z), a partir das Eqs. (3.60c) e (3.60d), respectivamente,
onde o conhecimento das ordens individuais (i, j, `) é necessário.

Uma vez que este ordenamento é realizado a implementação da solução fica


imediata, como para o caso unidimensional, com a definição de uma ordem de
truncamento finita para o somatório simples, que deve ser grande o suficiente
para atingir a precisão desejada nos valores numéricos.

3.1.4 Filtros Analı́ticos

Como mencionado na introdução deste capı́tulo, o Método de Separação de


Variáveis só é aplicável a problemas homogêneos (equação governante e condições
de contorno homogêneas), o que é uma grande limitação para esta técnica de
solução. Entretanto, filtros analı́ticos podem ser aplicados a um dado problema
não-homogêneo, e portanto não-separável a priori, para torná-lo homogêneo.
68

Por exemplo, considere a seguinte formulação matemática tridimensional,


um pouco mais geral, contendo termo fonte tanto na equação, q000 (x)/k, quanto
no contorno, q00wi (x):

1 ∂T (x,t) q000 (x)


= ∇2 T (x,t) + , x ∈ V, t >0 (3.61a)
α ∂t k

∂T
k + hi T = q00wi (x), x ∈ Si , i = 1, 2, ..., N, t >0 (3.61b)
∂ni

T (x, 0) = f (x), x∈V (3.61c)

Consideremos agora o potencial T (x,t) escrito como:

T (x,t) = T ∗ (x,t) + T f (x) (3.62)

onde T f (x) é chamado de filtro, e é dado pela solução do seguinte problema,


consistindo da versão em regime permanente do problema (3.61):

2 q000 (x)
∇ T f (x,t) + = 0, x ∈ V, t >0 (3.63a)
k

∂T f
k + hi T f = q00wi (x), x ∈ Si , i = 1, 2, ..., N, t >0 (3.63b)
∂ni

Substituindo a Eq. (3.62) nas Eqs. (3.61a) a (3.61c) resulta:

1 ∂T ∗ (x,t) q000 (x)


= ∇2 T ∗ (x,t) + ∇2 T f (x) + , x ∈ V, t >0 (3.64a)
α ∂t k
69

∂T ∗ ∂T f
k + hi T ∗ + k + hi T f = q00wi (x), x ∈ Si , i = 1, 2, ..., N, t >0
∂ni ∂ni
(3.64b)

T ∗ (x, 0) = f ∗ (x) = f (x) − T f (x), x∈V (3.64c)

Fazendo uso do problema filtro, Eq. (3.63), o problema para o potencial


T ∗ (x,t), denominado problema filtrado, é convenientemente escrito como:

1 ∂T ∗ (x,t)
= ∇2 T ∗ (x,t), x ∈ V, t >0 (3.65a)
α ∂t

∂T ∗
k + hi T ∗ = 0, x ∈ Si , i = 1, 2, ..., N, t >0 (3.65b)
∂ni

T ∗ (x, 0) = f ∗ (x), x∈V (3.65c)

que é um problema homogêneo e pode ser resolvido por meio do Método de


Separação de Variáveis.

A solução final do problema, para o potencial original T (x,t), é então obtida


simplesmente somando-se o filtro T f (x), solução do problema filtro, ao poten-
cial T ∗ (x,t), cuja solução pode ser obtida por meio do Método de Separação de
Variáveis. Em resumo, se o problema filtro dado pelas Eqs. (3.63a) e (3.63b)
puder ser resolvido analiticamente para T f (x), o problema original pode ser
transformado em um problema homogêneo e ser obtida uma solução final total-
mente analı́tica.

A seguir é apresentado um exemplo para ilustrar este procedimento.


70

3.1.4.1 Exemplo

Considere o seguinte problema unidimensional em regime transiente com uma


fonte térmica homogênea.

1 ∂T (x,t) ∂2 T (x,t) q000


= + , 0 < x < L, t >0 (3.66a)
α ∂t ∂x2 k

T (0,t) = T0 , t >0 (3.66b)

T (L,t) = TL , t >0 (3.66c)

T (x, 0) = f (x), 0≤x≤L (3.66d)

Como este problema é não-homogêneo, consideremos a proposição da fil-


tragem analı́tica com:

T (x,t) = T ∗ (x,t) + T f (x) (3.67)

com o problema filtro para T f (x) dado pela versão em regime permanente do
problema (3.66), ou seja:

∂2 T f (x) q000
+ = 0, 0<x<L (3.68a)
∂x2 k

T f (0) = T0 (3.68b)

T f (L) = TL (3.68c)

cuja solução pode ser facilmente obtida integrando-se duas vezes a Eq. (3.68a)
71

e fazendo uso das condições de contorno, Eqs. (3.68b) e (3.68c), resultando:

αq000 2 αLq000
    
TL − T0
T f (x) = − x + x+ x + T0 (3.69)
2k 2k L

O problema filtrado é então dado por:

1 ∂T ∗ (x,t) ∂2 T ∗ (x,t)
= , 0 < x < L, t >0 (3.70a)
α ∂t ∂x2

T ∗ (0,t) = 0, t >0 (3.70b)

T ∗ (L,t) = 0, t >0 (3.70c)

T (x, 0) = f ∗ (x) = f (x) − T f (x), 0≤x≤L (3.70d)

cuja solução, obtida por meio do Método de Separação de Variáveis, é dada por:


2
T ∗ (x,t) = ∑ Ci e−αµi t sin(µi x) (3.71)
i=1

onde

ZL ZL
1 ∗ iπ L
Ci = f (x) sin(µi x)dx, µi = , Ni = sin2 (µi x) dx = (3.72)
Ni L 2
0 0

Deste modo, a solução para o problema original pode ser escrita como:

αq000 2 αLq000
      ∞
TL − T0 2
T (x,t) = − x + x+ x + T0 + ∑ Ci e−αµi t sin(µi x)
2k 2k L i=1
(3.73)
72

com Ci e µi dados pela Eq. (3.72)


Capı́tulo 4

Técnica da Transformada Integral


Clássica

4.0.1 Solução Formal

Embora muito útil, a aplicação de filtros analı́ticos que tornem homogêneas a


equação governante e as condições de contorno não é sempre possı́vel. Nesta
seção será apresentada a Técnica da Transformada Integral Clássica (CITT -
Classical Integral Transform Technique), que é uma generalização do Método
de Separação de Variáveis e permite a solução de uma maior gama de proble-
mas.

Considere a seguinte formulação geral para um problema parabólico, um


problema de Classe I segundo a classificação de Ozisik e Mikhailov (1984).

∂T (x,t)
w(x) + L {T (x,t)} = P(x,t), x ∈ V, t >0 (4.1a)
∂t

B {T (x,t)} = φ(x,t), x ∈ S, t >0 (4.1b)

T (x, 0) = f (x), x∈V (4.1c)

73
74

onde os operadores L e B são dados por:

L ≡ −∇ · [k(x)∇ (·)] + d(x) (·) (4.1d)

∂ (·)
B ≡ α(x) (·) + β(x)k(x) (4.1e)
∂n

As seguintes etapas compõem o procedimento sistemático para solução do


problema (4.1) através da CITT:

1. Determinar o problema de autovalor pela aplicação do Método de Separação


de Variáveis à versão homogênea da EDP original;

2. Desenvolver o par de transformação integral (transformada integral e fórmula


de inversão);

3. Realizar a transformação integral da EDP original;

4. Solução analı́tica do sistema de EDOs resultante da transformação inte-


gral;

5. Utilizar a fórmula de inversão para construir o potencial original, T (x,t).

• Etapa 1:

Consideremos a versão homogênea do problema original, Eqs. (4.1a) a


(4.1e):

∂Th (x,t)
w(x) + L {Th (x,t)} = 0, x ∈ V, t >0 (4.2a)
∂t

B {Th (x,t)} = 0, x ∈ S, t >0 (4.2b)

Th (x, 0) = f (x), x∈V (4.2c)


75

Aplicando o procedimento de separação de variáveis:

Th (x,t) = ψ(x)Γ(t) (4.3)

resulta no seguinte problema de autovalor:

L {ψ(x)} = µ2 w(x)ψ(x), x∈V (4.4a)

B {ψ(x)} = 0, x∈S (4.4b)

que é um problema de autovalor de Sturm-Liouville, de modo que as autofunções


ψi (x) satisfazem a propriedade da ortogonalidade:


Z  0 , se i 6= j

w(x)ψi (x)ψ j (x)dV = (4.5a)
V
 N , se i = j

i

com

Z
Ni = w(x)ψ2i (x)dV (4.5b)
V

• Etapa 2:

Consideremos que o potencial desejado, T (x,t), possa ser escrito como uma
expansão em termos da base de autofunções ψi (x), ou seja:


T (x,t) = ∑ Ai (t)ψi (x) (4.6)
i=1
R
Aplicando-se o operador w(x)ψ j (x) (·) dV na Eq. (4.6) e utilizando a pro-
V
priedade da ortogonalidade obtém-se a seguinte expressão para Ai (t):

1 1
Z
Ai (t) = w(x)ψi (x)T (x,t)dV = T̄i (t) (4.7)
Ni Ni
V
76

ficando assim definido o par de transformação integral, transformada e fórmula


da inversa, dados respectivamente por:

Z
Transformada: T̄i (t) = w(x)ψi (x)T (x,t)dV (4.8a)
V


1
Inversa: T (x,t) = ∑ T̄i (t)ψi (x) (4.8b)
i=1 Ni

O par de transformação integral pode ainda ser escrito, mais conveniente-


mente, em termos das autofunções normalizadas, ψ̃i (x):

Z
Transformada: T̄i (t) = w(x)ψ̃i (x)T (x,t)dV (4.9a)
V


Inversa: T (x,t) = ∑ T̄i (t)ψ̃i (x) (4.9b)
i=1

com as autofunções normalizadas dadas por:

ψi (x)
Z
ψ̃i (x) = 1/2
, Ni = w(x)ψi (x)2 dV (4.10)
Ni V

Os coeficientes da expansão, T̄i (t), denominados potenciais transformados,


ainda não são conhecidos, e a fórmula da inversa, Eq. (4.9b), ainda não pode
ser usada. A determinação dos potenciais transformados será realizada a partir
da transformação integral do problema original utilizando a definição da trans-
formada, Eq. (4.9a).

• Etapa 3:

R
Vamos operar a Eq. (4.1a) com ψ̃i (x) (·) dV , resultando:
V

∂T (x,t)
Z Z Z
w(x)ψ̃i (x) dV + ψ̃i (x)L {T (x,t)} dV = ψ̃i (x)P(x,t)dV (4.11)
∂t
V V V
77

Vamos analisar cada uma das três integrais que compõem a Eq. (4.11) se-
paradamente, de modo a expressá-las em termos dos potenciais transformados.
Observando a primeira integral, podemos escrever:

∂T (x,t) d d T̄i (t)


Z Z
w(x)ψ̃i (x) dV = w(x)ψ̃i (x)T (x,t)dV = (4.12)
∂t dt dt
V V

Para a segunda integral será necessário um pouco mais de manipulação


analı́tica. Primeiramente, vamos abrir o operador L:

Z Z Z
ψ̃i (x)L {T (x,t)} dV = − ψ̃i (x)∇ · [k(x)∇T (x,t)] dV + ψ̃i (x)d(x)T (x,t)dV
V V V
(4.13)

Reservando este resultado, e escrevendo o problema de autovalor (4.4) em


termos das autofunções normalizados, e abrindo o operador L, resulta:

µ2i w(x)ψ̃i (x) = −∇ · [k(x)∇ψ̃i (x)] + d(x)ψ̃i (x) (4.14)

de onde podemos escrever a seguinte expressão para d(x)ψ̃i (x):

d(x)ψ̃i (x) = µ2i w(x)ψ̃i (x) + ∇ · [k(x)∇ψ̃i (x)] (4.15)

Substituindo a Eq. (4.15) no integrando do último termo da Eq. (4.13)


resulta:

Z Z
ψ̃i (x)L {T (x,t)} dV = µ2i w(x)ψ̃i (x)T (x,t)dV +
V V
Z
+ {T (x,t)∇ · [k(x)∇ψ̃i (x)] − ψ̃i (x)∇ · [k(x)∇T (x,t)]} dV (4.16)
V
78

O primeiro termo do lado direito da Eq. (4.16) é a própria definição do


potencial transformado, Eq. (4.9a), resultando:

Z
ψ̃i (x)L {T (x,t)} dV = µ2i T̄i (t)+
V
Z
+ {T (x,t)∇ · [k(x)∇ψ̃i (x)] − ψ̃i (x)∇ · [k(x)∇T (x,t)]} dV (4.17)
V

enquanto o segundo termo do lado direito precisa ainda de mais um pouco de


manipulação analı́tica, observando que ele pode ser transformado de uma inte-
gral de volume em uma integral de superfı́cie a partir da aplicação da segunda
fórmula de Green.

A segunda fórmula de Green estabele que se os potenciais f e g são ambos


contı́nuos e diferenciáveis em V , então:

 
∂f
Z Z
∂g
[ f ∇ · (κ∇g) − g∇ · (κ∇ f )] dV = κ f −g dS (4.18)
∂n ∂n
V S

Desta forma, a Eq. (4.17) pode ser reescrita como:

 
∂ψ̃i (x) ∂T (x,t)
Z Z
ψ̃i (x)L {T (x,t)} dV = µ2i T̄i (t) + k(x) T (x,t) − ψ̃i (x) dS
∂n ∂n
V S
(4.19)

de modo que as condições de contorno do problema original, Eq. (4.1b), e


do problema de autovalor, Eq. (4.4b), podem ser utilizadas para reescrever o
segundo termo do lado direito da Eq. (4.19).

As condições de contorno do problema original e do problema de autovalor,


abrindo operador B, são dadas por:
79

∂T (x,t)
α(x)T (x,t) + k(x)β(x) = φ(x,t) (4.20a)
∂n
∂ψ̃i (x)
α(x)ψ̃i (x) + k(x)β(x) =0 (4.20b)
∂n

Multiplicando a Eq. (4.20a) por ψ̃i (x), a Eq. (4.20b) por T (x,t), e sub-
traindo a primeira da segunda, resulta:

 
∂ψ̃i (x) ∂T (x,t) ψ̃i (x)φ(x,t)
k(x) T (x,t) − ψ̃i (x) =− (4.21)
∂n ∂n β(x)

A Eq. (4.21) pode ser substituı́da no integrando do segundo termo do lado


direito da Eq. (4.19). Entretanto, analisar o problema somente desta forma não
garante uma solução formal robusta, uma vez que β(x) pode ser igual a zero
para o problema dado, e a Eq. (4.21) não teria utilidade prática.

Alternativamente, vamos considerar a multiplicação da Eq. (4.20a) por


k(x)∂ψ̃i (x)/∂n e a multiplicação da Eq. (4.20b) por k(x)∂T (x,t)/∂n. Sub-
traindo a segunda equação da primeira resulta:

i (x)
k(x) ∂ψ̃∂n
 
∂ψ̃i (x) ∂T (x,t) φ(x,t)
k(x) T (x,t) − ψ̃i (x) = (4.22)
∂n ∂n α(x)

Da mesma forma, a Eq. (4.22) pode ser substituı́da no integrando do se-


gundo termo do lado direito da Eq. (4.19). Entretanto, α(x) pode ser igual a
zero para o problema dado, e a Eq. (4.22) não teria utilidade prática.

Observando que em um dado problema α(x) pode ser igual a zero ou β(x)
pode ser igual a zero, mas ambos não podem ser igual a zero simultaneamente,
a melhor forma de obtermos uma expressão geral para substituir no integrando
do segundo termo do lado direito da Eq. (4.19) é considerar tanto a Eq. (4.21)
quanto a (4.22). Para tanto, lembremos da seguinte propriedade matemática:
80

C E C+E
A= = = (4.23)
D F D+F

A partir das Eqs. (4.21) e (4.22) temos:

  ∂ψ̃i (x)
∂ψ̃i (x) ∂T (x,t) ψ̃i (x)φ(x,t) k(x) ∂n φ(x,t)
k(x) T (x,t) − ψ̃i (x) =− =
∂n ∂n β(x) α(x)
(4.24)

de forma que:

h i
  φ(x,t) k(x) ∂ψ̃i (x) − ψ̃ (x)
∂ψ̃i (x) ∂T (x,t) ∂n i
k(x) T (x,t) − ψ̃i (x) = (4.25)
∂n ∂n α(x) + β(x)

Substituindo a Eq. (4.25) na Eq. (4.19) resulta:

h i
Z Z φ(x,t) k(x) ∂ψ̃i (x) − ψ̃i (x)
∂n
ψ̃i (x)L {T (x,t)} dV = µ2i T̄i (t)+ ḡ∗i (t), ḡ∗i (t) = dS
α(x) + β(x)
V S
(4.26)

Vamos agora analisar a terceira integral da Eq. (4.11), que simplesmente


trata da integração de funções conhecidas. Para a terceira integral escrevemos
então:

Z
ḡ∗∗
i (t) = ψ̃i (x)P(x,t)dV (4.27)
V

Finalmente, substituindo as Eqs. (4.12), (4.26) e (4.27) na Eq. (4.11) resulta


no seguinte problema transformado para os potenciais T̄i (t):

d T̄i (t)
+ µ2i T̄i (t) + ḡ∗i (t) = ḡ∗∗
i (t) (4.28)
dt

que pode ser escrito de forma mais compacta como:


81

d T̄i (t)
+ µ2i T̄i (t) = ḡi (t), gi (t) = ḡ∗∗ ∗
i (t) − ḡi (t) (4.29)
dt

A solução da Eq. (4.29) ainda requer uma condição inicial, T̄i (0), que pode
ser obtida operando-se a condição inicial do problema original, Eq. (4.1c), com
R
o operador w(x)ψ̃i (x) (·) dV , resultando:
V

Z
T̄i (0) = w(x)ψ̃i (x) f (x)dV = f¯i (4.30)
V

Resumindo, temos o seguinte sistema de EDOs desacopladas para os poten-


ciais T̄i (t):

d T̄i (t)
+ µ2i T̄i (t) = ḡi (t), i = 1, 2, . . . (4.31a)
dt

T̄i (0) = f¯i , i = 1, 2, . . . (4.31b)

com

h i
Z Z φ(x,t) k(x) ∂ψ̃i (x) − ψ̃i (x)
∂n
ḡi (t) = ψ̃i (x)P(x,t)dV − dS (4.31c)
α(x) + β(x)
V S

Z
f¯i = w(x)ψ̃i (x) f (x)dV (4.31d)
V

• Etapa 4:

O sistema de EDOs desacopladas dado pelas Eqs. (4.31a) a (4.31d) pode ser
resolvido analiticamente para os potenciais transformados, T̄i (t), resultando:

 
Zt
2 2 0
T̄i (t) = e−µi t  f¯i + eµi t ḡi (t 0 )dt 0  (4.32)
0
82

• Etapa 5:

Uma vez que os potenciais transformados T̄i (t) são conhecidos, dados pela
Eq. (4.32), e as autofunções ψ̃i (x) são também conhecidas, dadas pela solução
do problema de autovalor de Sturm-Liouville, Eqs. (4.4a) e (4.4b), a fórmula
de inversão, Eq. (4.9b), pode ser utilizada, resultando na seguinte solução para
o potencial T (x,t):

 
∞ Zt
2 2 0
T (x,t) = ∑ ψ̃i (x)e−µi t  f¯i + eµi t ḡi (t 0 )dt 0  (4.33)
i=1
0

Para fins práticos, o somatório da Eq. (4.33) é truncado em uma ordem fi-
nita N grande o suficiente para garantir a precisão desejada na solução. Assim,
completa-se a solução utilizando o procedimento sistemático da CITT, resul-
tando em uma expressão para o cálculo de T em qualquer posição x e instante
t.
Capı́tulo 5

Problemas Elı́pticos

Neste capı́tulo são apresentados os detalhes relativos à obtenção de aproximações


por diferenças finitas para problemas elı́pticos.

5.1 Transferência de Calor por Condução em Re-

gime Permanente em um Meio Unidimensio-

nal

5.1.1 Diferenças Finitas

Na Seção 2.1 foi considerado o problema de transferência de calor por condução


em regime permanente em um meio unidimensional em coordenadas cartesia-
nas, e com condições do primeiro tipo. A formulação matemática deste pro-
blema é dada por:

d 2 T (x) 1 000
+ q (x) = 0 , 0 < x < L (5.1a)
dx2 k

T (0) = T (L) = 0 (5.1b)

83
84

000
onde T representa a temperatura, k a condutividade térmica e q a intensidade
da fonte. Adimensionalmente, esse problema pode ser representado por:

d2u
− = f (X) , 0 < X < 1 (5.2a)
dX 2

u(0) = u(1) = 0 (5.2b)

onde

T
u= (5.3a)
TR

x
X= (5.3b)
L

L2 000
f (X) = q (LX) (5.3c)
kTR

e TR é uma temperatura de referência.

Usando diferenças centradas para a aproximação da derivada segunda, obtém-


se a seguinte aproximação para a Eq. (5.2a):

−ui+1 + 2ui − ui−1 = fi (∆X)2 (5.4)

onde

fi = f (Xi ) (5.5a)

ui+1 = u(Xi+1 ) (5.5b)

ui = u(Xi ) (5.5c)
85

ui−1 = u(Xi−1 ) (5.5d)

onde o indı́ce i representa os nós da malha computacional empregada para a


discretização do domı́nio fı́sico. As condições de contorno de primeiro tipo,
dadas pela Eq. (5.2b), correspondem então a:

u0 = 0 (5.6a)

uNx = 0 (5.6b)

onde Nx é o ı́ndice que representa o último nó da malha computacional.

Outros tipos de condição de contorno serão tratados em outras seções destas


notas de aula.

Conforme pôde ser visto na Seção 2.1, o problema descrito pelas Eqs. (5.1a)
e (5.1b) é transformado em um problema de solução do sistema de equações
algébricas lineares

Au = b (5.7)

onde

 
 2 −1 0 0
0  ...
 

 −1 2 −1 0 . . . 0 
 
0 −1 2 −1 . . . 0 
 

A=  (5.8)
 .. 

 . 

 .. .. .. 

 . . . −1 2 −1 

 
0 0 . . . 0 −1 2
86

 
 u1 
 
 u2 
u= (5.9)
 
.. 

 . 

 
uNx −1
 
 f1 (∆X)2 
 
 f2 (∆X)2 
b= (5.10)
 
.. 

 . 

 
fNx −1 (∆X)2

Deve ser alertado, no entanto, que a aproximação aqui apresentada não re-
presenta adequadamente a existência de geração térmica nas células próximas
às superfı́cies de contorno.

5.2 Transferência de Calor por Condução em Re-

gime Permanente em um Meio Composto

5.2.1 Diferenças Finitas

Considere o problema de condução de calor em regime permanente, em um


meio composto por duas placas paralelas, com contato térmico perfeito entre as
placas, com fontes internas, e sujeitas a condições de contorno de primeiro tipo
(Dirichlet). A situação fı́sica aqui descrita está representada esquematicamente
na Fig. 5.1 e a sua respectiva formulação matemática é dada por:

• Placa c
d 2 Tc (x) 1 000
+ qc (x, y) = 0 , 0 < x < xc (5.11a)
dx2 kc

Tc (x) = T0 , em x = 0 (5.11b)
87

Placa Placa
c r

T(0)=T0 T(xr )=T1

x
x=xc x=xr
x=0

Figura 5.1: Representação esquemática de um meio composto com condições


de contorno de primeiro tipo (Dirichlet) e contato térmico perfeito entre as pla-
cas.

• Placa r

d 2 Tr (x) 1 000
+ qr (x, y) = 0 , xc < x < xr (5.12a)
dx2 kr

Tr (x) = T1 , em x = xr (5.12b)

Para completar a formulação deste problema são necessárias as condições


na interface x = xc ,

Tc |x=xc = Tr |x=xc (5.12c)


dTc (x) dTr (x)
kc = kr (5.12d)
dx x=xc dx x=xc

onde a primeira representa o contato térmico perfeito, e a segunda a continui-


dade do fluxo de calor.
88

Na Fig. 5.2 é representada a discretização do domı́nio fı́sico correspondente


à placa c, 0 ≤ x ≤ xc .

Placa
c

T(0)=T0

0 1 2 ... i ... Nc-1 Nc

∆x Nc+1

x
x=0 x=xc

Figura 5.2: Discretização do domı́nio espacial relativo à placa c.

Observe que o nó Nc + 1 é um nó fictı́cio. Mais tarde será demonstrada a


importância do uso de nós fictı́cios.

Empregando diferenças centradas para a aproximação da derivada segunda


obtém-se para os nós interiores, i = 1, 2, ..., Nc − 1, a seguinte aproximação por
diferenças finitas para a Eq. (5.11a),

Tci+1 − 2Tci + Tci−1 1 000


+ qci = 0, i = 1, 2, .., Nc − 1 (5.13)
∆x2 kc

ou então,
∆x2 000
Tci+1 − 2Tci + Tci−1 =− q , i = 1, 2, .., Nc − 1 (5.14)
kc ci

A condição de contorno em x = 0, dada pela Eq. (5.11a), é escrita como:

Tc0 = T0 (5.15)
89

Na Fig. 5.3 é representada a discretização do domı́nio fı́sico correspondente


à placa r, xc ≤ x ≤ xr .

Empregando diferenças centradas para a aproximação da derivada segunda


obtêm-se para os nós interiores, i = 1, 2, ..., Nr − 1, a seguinte aproximação por
diferenças finitas para a Eq. (5.12a),

Tri+1 − 2Tri + Tri−1 1 000


+ qri = 0, i = 1, 2, .., Nr − 1 (5.16)
∆x2 kr

ou então,
∆x2 000
Tri+1 − 2Tri + Tri−1 = − q , i = 1, 2, .., Nr − 1 (5.17)
kr ri

A condição de contorno em x = xr , dada pela Eq. (5.12b), é escrita como

TrNr = T1 (5.18)

Placa
r

T(xr )=T1

0 1 2 ... i ... Nr-1 Nr

∆x

x
x=xc x=xr

Figura 5.3: Discretização do domı́nio espacial relativo à placa r.

Das Figs. 5.2 e 5.3 podemos observar que temos um número total de Nc +
90

1 + Nr + 1 = Nc + Nr + 2 incógnitas, quais sejam Tci , i = 0, 1, 2, ..., Nc e Tri ,


i = 0, 1, 2, ..., Nr .

Temos à nossa disposição Nc − 1 equações dadas por (5.14), Nr − 1 da-


das por (5.17), e mais duas equações dadas pelas condições de contorno, Eqs.
(5.15) e (5.18), totalizando Nc − 1 + Nr − 1 + 2 = Nc + Nr equações. Para poder
resolver o problema de transferência de calor por condução em um meio com-
posto aqui descrito faltam portanto duas equações. Estas equações são dadas
pelas condições de interface, Eqs. (5.12c) e (5.12d). A primeira condição leva
à expressão

TcNc = Tr0 (5.19)

Usando aproximações para a derivada primeira atrasada na placa c e avançada


na placa r, com erro de truncameto O(∆x), tem-se:

• Placa c

3TcNc − 4TcNc −1 + TcNc −2



dTc (x) dTc (x)
= = + O(∆x2 ) (5.20)
dx x=xc dx i=Nc 2∆x

• Placa r


dTr (x) dTr (x) −3Tr0 + 4Tr1 − Tr2
= = + O(∆x2 ) (5.21)
dx x=xc dx i=0 2∆x

A condição de interface, Eq. (5.12a), é então aproximada da seguinte forma


kc 3TcNc − 4TcNc −1 + TcNc −2 = kr (−3Tr0 + 4Tr1 − Tr2 ) (5.22)

Combinando as Eqs. (5.20) e (5.22) escreve-se então


91

kc TcNc −2 − 4kc TcNc −1 + 3(kc + ks )TcNc − 4ks Tr1 + ks Tr2 = 0 (5.23)

Em resumo, a Eq. (5.20) mostra que o número de incógnitas do problema


pode ser reduzido para Nc + Ni + 1. Considerando que as condições de contorno
em x = 0 e xr são do primeiro tipo, as temperaturas Tc0 e TrNr são conhecidas,
respectivamente T0 e T1 , e a Eq. (5.14) para o nó i = 1 pode ser reescrita como:

∆x2 000
Tc2 − 2Tc1 + T0 = − q (5.24)
kc c1

Analogamente, a Eq. (5.17) pode ser reescrita para o nó Nr − 1 como:

∆x2 000
T1 − 2TrNr −1 + TrNr −2 =− q (5.25)
kr rNr −1

Usando o fato de se conhecer as temperaturas no contorno, o número total


de incógnitas pode ser reduzido, então, para Nc + Nr − 1.

Listando as equações que temos à nossa disposição,

• Eq. (5.24)
∆x2 000
Tc2 − 2Tc1 + T0 = − q (5.26)
kc c1

• Eq. (5.14)

∆x2 000
Tci+1 − 2Tci + Tci−1 = − q , i = 1, 2, .., Nc − 1 (5.27)
kc ci

• Eq. (5.23)

kc TcNc −2 − 4kc TcNc −1 + 3(kc + ks )TcNc − 4ks Tr1 + ks Tr2 = 0 (5.28)


92

• Eq. (5.17)

∆x2 000
Tri+1 − 2Tri + Tri−1 = − q , i = 1, 2, .., Nr − 2 (5.29)
kr ri

• Eq. (5.25)
∆x2 000
T1 − 2TrNr −1 + TrNr −2 = − q (5.30)
kr rNr −1

obtém-se Nc + Nr − 1 equações. O sistema de equações algébricas lineares


(5.26) à (5.30) pode ser resolvido, então, para a determinação das incógnitas
Tci , com i = 1, 2, ..., Nc − 1 e Tri , com i = 1, 2, ..., Nr − 1 lembrando mais uma
vez que Tr0 = TcNc , Tc0 = T0 e TrNr = T1 . Observa-se também que aproximação
dada pelas Eqs. (5.26) à (5.30) não representa adequadamente o caso de geração
térmica nas células próximas às superfı́cies de contorno bem como nas células
próximas à interface.

5.3 Transferência de Calor por Condução em Re-

gime Permanente em um Meio Unidimesional

em Coordenadas Cilı́ndricas

5.3.1 Diferenças Finitas

Considere o meio composto representado na Fig. 5.4. Este meio consiste de


um elemento central, onde ocorre geração de energia térmica, e de uma camada
que o envolve.

Ao invés de partir da equação diferencial que modela matematicamente o


problema, vamos empregar a abordagem de volume de controle (empregada
na Seção 1.2 para a obtenção da equação diferencial que modela matematica-
mente o problema de condução de calor) para a obtenção da aproximação por
93

Cilindro c dT
-k = h (T - T1 )
dr r=R

Cilindro r

rc

Figura 5.4: Meio composto em coordenadas cilindricas.

diferenças finitas. Na Fig. 5.5 é representada a malha computacional a ser


empregada.

Na Fig. 5.6 é representado um nó qualquer no interior do cilindro c. O


balanço de energia na célula (volume de controle) em torno do nó i é escrito
como

000 2 2
qi− 1 + π qci (ri+ 1 −r )L − qi+ 1 = 0 (5.31)
2 2 i− 1 2 2

sendo
00
qi− 1 = 2π qi− 1 ri− 1 L (5.32a)
2 2 2

00
qi+ 1 = 2π qi+ 1 ri+ 1 L (5.32b)
2 2 2

00
onde q representa o fluxo de calor (W /m2 ) e L representa a dimensão perpen-
dicular ao plano do papel. Como aqui será tratado apenas o caso do fluxo de
calor na direção radial, a dimensão perpendicular não ficará na formulação fi-
00
nal do problema. Ela foi usada apenas para demonstrar que o fluxo de calor q
possui unidade W /m2 e q possui unidade de potência W .
94

Cilindro c Cilindro r

1 2 3 ... I-1 I I+1 I+2 ... M-1 M

∆r

ri=rc

rM=R

Figura 5.5: Malha computacional para o corpo composto em geometria cilin-


drica.

i-1/2 i+1/2
qi-1/2 qi+1/2
i-1 i i+1

Figura 5.6: Nó interior no cilindro c.

Usando a Lei de Fourier e aproximação por diferenças centradas,


00 dT (Ti − Ti−1 )
qi− 1 = −kc = −kc (5.33a)
2 dr r=r ∆r
i− 12
95


00 dT (Ti+1 − Ti )
qi+ 1 = −kc = −kc (5.33b)
2 dr r=r ∆r
i+ 12

Das Eqs. (5.33a), (5.33b) e (5.31) obtém-se

(Ti − Ti−1 ) 000 2 2


− 2π kc ri− 1 L + π qci (ri+ 1 −r
i− 12
) L+
∆r 2 2
(Ti+1 − Ti )
+ 2π kc ri+ 1 L = 0 (5.34)
∆r 2

ou então

− ri+ 1 Ti+1 + (ri+ 1 + ri− 1 ) Ti − ri− 1 Ti−1 =


2 2 2 2
000
∆rqci 2 2
= (ri+ 1 − ri− 1 ), i = 2, 3, ..., I − 1 (5.35)
2kc 2 2

Na Fig. 5.7 é representado o nó central do cilindro c.

∆r/2

q1/2
1 2

∆r

Figura 5.7: Nó central do cilindro c.

O balanço de energia nesta célula leva à seguinte expressão

00 000 ∆r2
−2π q 1 r 1 L + π qc1 L = 0 (5.36)
2 2 4
96

Usando a Lei de Fourier e aproximação por diferenças centradas,


00 dT T2 − T1
q = −kc
1 = −kc (5.37)
2 dr r=r 1
∆r
2

Das Eqs. (5.36) e (5.37) obtém-se:

000
qc
T1 − T2 = 1 ∆r2 (5.38)
4kc

Na Fig. 5.8 é representada a interface entre os cilindros c e r. É aqui assu-


mido que o contato térmico entre os cilindros c e r é perfeito.

Cilindro c Cilindro r

qI-1/2 qI+1/2
I-1 I I+1

∆r ∆r/2

ri=rc

Figura 5.8: Nó sobre a interface do cilindro c e r.

O balanço de energia nesta célula resulta em

00 000 000
2π qI− 1 rI− 1 L + π qcI (rI2 − rI−
2
1 ) L + 2π qrI (r
2
I+ 1
− rI2 ) L−
2 2 2 2
00
− 2π qI+ 1 rI+ 1 L = 0 (5.39)
2 2
97

Usando a Lei de Fourier e aproximação por diferenças centradas,


00 dT TI − TI−1
qI− 1 = −kc = −kc (5.40a)
2 dr r=r ∆r
I− 21


00 dT TI+1 − TI
qI+ 1 = −kr = −kr (5.40b)
2 dr r=r ∆r
I+ 21

Levando as Eqs. (5.40) na Eq. (5.39), obtém-se:

(TI − TI−1 ) 000 2 2 000



2 2

− 2kc rI− 1 + qcI (rI − rI− 1 ) + qrI rI+ 1 − rI +
∆r 2 2 2
(TI+1 − TI )
+ 2kr rI+ 1 = 0 (5.41)
∆r 2

ou então

− kr rI+ 1 TI+1 + (kr rI+ 1 + kc rI− 1 ) TI − kc rI− 1 TI−1 =


2 2 2 2
∆r h 000 2 2 000 2 2
i
= qcI (rI − rI− 1 ) + q (r
rI I+ 1 − r I ) (5.42)
2 2 2

Para os nós interiores no cilindro r obtém-se uma expressão semelhante


àquela deduzida para os nós interiores ao cilindro c, bastando apenas trocar o
000 000
termo de geração térmica qci e qri e a condutividade térmica kc por kr . Da Eq.
(5.35) escreve-se então:

− ri+ 1 Ti+1 + (ri+ 1 + ri− 1 ) Ti − ri− 1 Ti−1 =


2 2 2 2
000
∆rqri 2 2
= (ri+ 1 − ri− 1 ) = 0, i = I + 1, I + 2, ..., M − 1 (5.43)
2kr 2 2

Na Fig. 5.9 é representado o nó M, posicionado sobre a superfı́cie externa


do cilindro r. É aqui considerado que nesta superfı́cie ocorre a troca de calor
por convecção do cilindro r com o meio que o envolve, que se encontra na
temperatura Tamb .
98

Cilindro r Tamb
∆r/2

q r =R

M-1 qM-1/2 M

∆r

rM=R

Figura 5.9: Nó sobre a superfı́cie externa do cilindro r.

Aplicando o balanço de energia nesta célula obtém-se

00 2 000
2
2π qM− 1 rM− 1 L + π qrM (rM − rM− 1 ) L − 2π h rM L (TM − Tamb ) = 0 (5.44)
2 2 2

onde h é o coeficiente de troca térmica por convecção.

Usando a Lei de Fourier e uma aproximação por diferença centrada,


00 dT TM − TM−1
qM− 1 = −kr = −kr (5.45)
2 dr r=r ∆r
M− 12

Levando a Eq. (5.45) na Eq. (5.44), obtém-se

000
(TM − TM−1 ) qr 2 2
−kr rM− 1 + M (rM − rM− 1 ) − h rM (TM − Tamb ) = 0 (5.46)
∆r 2 2 2
99

ou então,

000
qr ∆r 2 2
(kr rM− 1 + h rM ∆r) TM − kr rM− 1 TM−1 = M (rM − rM− 1 ) + h rM ∆r Tamb
2 2 2 2

(5.47)

Na Fig. 5.5 vemos que as incógnitas são Ti , i = 1, 2, ..., M. Dispomos das


seguintes equações

• Eq. (5.35)

− ri+ 1 Ti+1 + (ri+ 1 + ri− 1 ) Ti − ri− 1 Ti−1 =


2 2 2 2
000
∆r qci 2 2
(r 1 − ri− 1 ), i = 2, 3, ..., I − 1. (5.48)
2kc i+ 2 2

• Eq. (5.38)
000
qc
T1 − T2 = 1 ∆r2 (5.49)
4kc

• Eq. (5.42)

− kr rI+ 1 TI+1 + (kr rI+ 1 + kc rI− 1 ) TI − kc rI− 1 TI−1 =


2 2 2 2
∆r h 000 2 2 000 2 2
i
= qcI (rI − rI− 1 ) + q (r
rI I+ 1 − r I ) (5.50)
2 2 2

• Eq. (5.43)

− ri+ 1 Ti+1 + (ri+ 1 + ri− 1 ) Ti − ri− 1 Ti−1 =


2 2 2 2
000
∆r qri 2 2
= (r 1 − ri− 1) = 0 i = I + 1, I + 2, ..., M − 1. (5.51)
2kr i+ 2 2
100

• Eq. (5.47)

(kr rM− 1 + h rM ∆r) TM − kr rM− 1 TM−1 =


2 2
000
qrM ∆r 2 2
(rM − rM− 1 ) + h rM ∆r Tamb (5.52)
2 2

Fazendo a contagem das Eqs. (5.48) à (5.51) temos 1 + (I − 1 − 2 + 1) +


1 + (M − 1 − (I + 1) + 1) + 1 = M equações. O sistema das Eqs. (5.48) à (5.52)
pode então ser usado para determinar as M incógnitas Ti , i = 1, 2, ..., M. Deve
ser obsevado, também, que este é um sistema tridiagonal onde cada equação
tem no máximo três incógnitas: Ti , Ti+1 e Ti−1 .

A condição de contorno em r = R considerada nesta seção é uma condição


de terceiro tipo cuja formulação matemática é dada por:


dT
−kr = h(TM |r=R − Tamb ) (5.53)
dr r=R

Ao se escrever uma aproximação por diferenças finitas diretamente para a


Eq. (5.53) obtém-se por exemplo,

TM − TM−1
−kr = h(TM − Tamb ) (5.54)
∆r

ou então,

 
h∆r h∆r
1+ TM − TM−1 = Tamb (5.55)
kr kr

Primeiro, observe que para a obtenção da Eq. (5.54) a partir da Eq. (5.53)
foi empregada uma aproximação por diferenças atrasada com ET de O(∆X).
Segundo, você poderia ficar tentando usar a Eq. (apagado) ao invés da Eq.
(5.52) uma vez que a Eq. (5.55) é obtida diretamente da equação que modela
matematicamente a condição de contorno em r = R, Eq. (5.53).
101

Porém, comparando a Eq. (5.55) com a Eq. (5.52) você observa que na
primeira não aparece a contribuição da geração térmica na célula próxima à
superfı́cie externa do cilindro r.

Conclui-se então que, neste caso, a aproximação direta da formulação ma-


temática da condição de contorno não deve ser empregada. Visando contornar
esta dificuldade, pode ser usada a abordagem de volume de controle, que levou
a obtenção da Eq. (5.52).

5.4 Transferência de Calor por Condução em Re-

gime Permanente em um Meio Bidimensional

5.4.1 Diferenças Finitas

A formulação matemática do problema de transferência de calor por condução


em regime permanente em um meio bidimensional com condições de contorno
de primeiro tipo, conforme a representação esquemática feita na Fig. 5.10 é
dada por:

∂2 T (x, y) ∂2 T (x, y) 1 000


+ + q (x, y) = 0 , 0 < x < a , 0 < y < b (5.56a)
∂x2 ∂y2 k

T (0, y) = T1 (5.56b)

T (a, y) = T2 (5.56c)

T (x, 0) = T3 (5.56d)
102

T (x, b) = T4 (5.56e)

onde T representa a temperatura, q000 a intensidade da fonte térmica e k a con-


dutividade térmica do meio, considerada constante neste exemplo.

y y

∆x

J
T4

...
b j+1
i-1, j+1 i, j+1 i+1,j+1

∆y
i-1, j i, j i+1,j
j
i-1, j-1 i, j-1 i+1,j-1
j-1
T1 T2
...

1
0
0 a x
T3 0
0 1 2 ... i-1 i i+1 ... I x

(a) Domı́nio contı́nuo (domı́nio fı́sico). (b) Domı́nio discreto (malha computacional).

Figura 5.10: Domı́nio contı́nuo e malha computacional. Problema elı́ptico bi-


dimensional com condições de contorno de primeiro tipo (Dirichlet).

Usando uma aproximação por diferenças centradas para as derivadas se-


gunda temos:

∂2 T

Ti+1, j − 2Ti, j + Ti−1, j
2
= + O(∆x2 ) (5.57a)
∂x i, j
∆x2

∂2 T

Ti, j+1 − 2Ti, j + Ti, j−1
2
= 2
+ O(∆y2 ) (5.57b)
∂y i, j
∆y

e tomando o valor da fonte em cada nó da malha, q000 i, j , a Eq. (5.56a) é repre-
sentada para os nós interiores com a seguinte aproximação:

Ti+1, j − 2Ti, j + Ti−1, j Ti, j+1 − 2Ti, j + Ti, j−1 1 000


+ + q i, j = 0 (5.58)
∆x2 ∆y2 k
103

com i = 1, 2, ..., I − 1 , j = 1, 2, ..., J − 1.

Fazendo:

∆x = ∆y = ∆ (5.59)

a Eq. (5.58) é reescrita como:

∆2 000
Ti+1, j + Ti−1, j − 4Ti, j + Ti, j+1 + Ti, j−1 + q i, j = 0 (5.60)
k

com i = 1, 2, ..., I − 1 , j = 1, 2, ..., J − 1.

Para os pontos no contorno tem-se:

T0, j = T1 , j = 1, 2, ..., J − 1 (5.61a)

TI, j = T2 , j = 1, 2, ..., J − 1 (5.61b)

Ti,0 = T3 , i = 0, 1, 2, ..., I (5.61c)

Ti,J = T4 , i = 0, 1, 2, ..., I (5.61d)

Observe que para os nós (0, 0) e (I, 0) optamos pela condição T (x, 0) = T3 .
Poderı́amos ter usado T0,0 = T1 e T0,I = T2 . Para os nós (0, J) e (I, J) optamos
pela condição T (x, b) = T4 . Nestes casos poderı́amos ter feito T0,J = T1 e TI,J =
T2 . De fato, nenhum dos nós nos quatro cantos da malha computacional são
usados nas equações dos nós interiores, Eq. (5.58).

Com as Eqs. (5.58) e (5.61) temos um sistema com

(I − 1) × (J − 1) + 2(J + 1) + 2(I − 1) = (I + 1) × (J + 1) (5.62)


104

equações algébricas com (I + 1) × (J + 1) incógnitas, Ti, j com i = 0, 1, 2, ..., I,


e j = 0, 1, 2, ..., J.
A representação dada pela Eq. (5.58) é conhecida como a fórmula de cinco
pontos. Na Fig. 5.11 é representada a molécula de cálculo. Cabe obser-
var que, conforme esperado para problemas elı́pticos, as incógnitas em toda
a malha computacional devem ser calculadas simultaneamente, levando em
consideração as condições de contorno.

J
...

j+1

j-1
...

1 Condição Inicial
Conhecida
0
0 1 2 ... i-1 i i+1 ... I-1 I x

Figura 5.11: Molécula de cálculo.

5.4.2 Transformada Integral Clássica


Capı́tulo 6

Problemas Parabólicos

Neste capı́tulo são apresentados os detalhes relativos à obtenção de aproximações


por diferenças finitas assim como soluções analı́ticas e hı́bridas numérico-analı́ticas
para problemas parabólicos.

6.1 Transferência de Calor por Condução em Re-

gime Transiente em um Meio Unidimensional

Considere um problema de condução de calor em regime transiente em um


meio unidimensional sujeito a condições de contorno de terceiro tipo e com
uma fonte térmica interna ao meio.

A formulação matemática deste problema é dada por:

1 ∂T (x,t) ∂2 T (x,t) 1 000


= + q (x,t), 0 < x < L, t > 0 (6.1a)
α ∂t ∂x2 k

com as seguintes condições de contorno:


∂T (x,t)
−k + h1 T (x,t)|x=0 = h1 T∞,1 , t > 0 (6.1b)
∂x x=0

105
106


∂T (x,t)
k + h2 T (x,t)|x=0 = h2 T∞,2 , t > 0 (6.1c)
∂x x=L

e a seguinte condição inicial:

T (0,t) = f (x), 0 < x < L (6.1d)

onde q000 (x,t) é o termo fonte, k é a condutividade térmica do meio, h1 e h2 são


os coeficientes de troca térmica por convecção, T∞,1 e T∞,2 são as temperaturas
dos fluidos, ao redor respectivamente das superfı́cies de contorno x = 0 e x = L,
f (x) é a distribuição inicial de temperatura no meio, e a difusividade térmica é
dada por:
k
α= (6.2)
ρc p

onde ρ é a massa especı́fica e c p é o calor especı́fico.

6.1.1 Diferenças Finitas

6.1.1.1 Formulação Explı́cita

Para os nós interiores, façamos a aproximação por diferenças finitas diretamente


na Eq. (6.1a), empregando, nesta seção, uma formulação implı́cita. Conforme
visto na Seção 2.2.2, façamos uma aproximação por diferença avançada na de-
rivada primeira no tempo:

∂T (x,t) n Tin+1 − Tin



= + O(∆t) (6.3)
∂t i ∆t

e uma aproximação por diferença centrada para a derivada segunda no espaço:

n n − 2T n + T n
∂2 T (x,t) Ti+1 i i−1
= + O(∆x2 ) (6.4)
∂x2 i ∆x2

onde i representa a discretização no domı́nio espacial e n a discretização domı́nio


107

temporal, conforme a representação feita na Fig. 2.8.

Substituindo as Eqs. (6.3) e (6.4) na Eq. (6.1a), tem-se:

n − 2T n + T n
1 Tin+1 − Tin Ti+1 i i−1 1 000
= 2
+ qi n , para i = 1, 2, ..., N − 1 (6.5)
α ∆t ∆x k

Definindo-se
∆t
r=α (6.6)
∆x2

a Eq. (6.5) é reescrita como:

∆t 000 n
Tin+1 = r Ti−1
n
+ (1 − 2r) Tin + r Ti+1
n
+α q , i = 1, 2, ..., N − 1 (6.7)
k i

Conforme visto na Seção 5.3.1 não devemos aplicar a aproximação por


diferenças finitas diretamente para as condições de contorno. Assim, aplica-
remos aqui duas abordagens distintas, a do volume de controle e a dos nós
fictı́cios, demonstrando a equivalência das duas abordagens.

Na Fig. 6.1 são apresentadas as células da malha computacional próximas


à superfı́cie de contorno x = 0.

T¥ ,1 q1/2 1
0 2

q"conv0 = h1 (T¥ ,1 - T0 )
∆x/2 ∆x

Figura 6.1: Células próximas a superfı́cie de contorno x = 0.

O balanço de energia na meia célula representada pelo ı́ndice i = 0, como


108

indicado na Fig. 6.1, leva à seguinte equação:

∆x ∂T n

000 n ∆x
qconv0 − q1/2 + q0 A = ρ cp A (6.8)
2 2 ∂t 0

onde A é a área transversal ao fluxo de calor, de forma que:

00
qconv0 = qconv0 A = h1 A (T∞,1 − T0n ) (6.9)

e
∂T n T1n − T0n

00
q 1 = q A = −A k
1 = −A k (6.10)
2 2 ∂x i= 1 ∆x
2

Substituindo as Eqs. (6.9) e (6.10) na Eq. (6.8), e usando a diferença


avançada para a derivada primeira no tempo, resulta:

T1n − T0n 000 n ∆x ∆x T0n+1 − T0n


h1 (T∞,1 − T0n ) +k + q0 = ρ cp (6.11)
∆x 2 2 ∆t

que pode ser reescrito como:

2 α h1 ∆t 2 α h1 ∆t n 2 α ∆t n 2 α ∆t n 2 α ∆t 000 n
T0n+1 = T0n + T∞,1 − T0 + T − T + q0
k ∆x k ∆x ∆x2 1 ∆x2 0 2k
(6.12)

Definindo:
2r h1 ∆x
λ1 = (6.13)
k

e usando a definição dada pela Eq. (6.6), a Eq. (6.12) é reescrita de forma
simplificada:

α∆t 000 n
T0n+1 = (1 − λ1 − 2r) T0n + 2r T1n + λ1 T∞,1 + q (6.14)
k 0

Vamos agora demonstrar como a Eq. (6.14) também pode ser obtida usando
o nó fictı́cio i = −1 representado na Fig. 6.2.
109

-1 0 1 2 N-1 N N+1

∆x/2 ∆x ∆x/2

(a) x = 0. (b) x = L.

Figura 6.2: Representação nó fictı́cio i = −1.

A partir da condição de contorno em x = 0, dada pela Eq. (6.1b), escreve-se:

T1n − T−1
n
−k + h1 T0n = h1 T∞,1 (6.15)
2∆x

ou seja:
n 2h1 ∆x n
T−1 = T1n − (T0 − T∞,1 ) (6.16)
k

Escrevendo, então a equação desenvolvida para os nós interiores, Eq. (6.7),


para o nó no contorno em x = 0, i = 0, obtém-se:

α ∆t 000 n
T0n+1 = r T−1
n
+ (1 − 2r) T0n + r T1n + q0 (6.17)
k

n , a Eq. (6.17) pode ser


Usando a expressão dada pela Eq. (6.16) para T−1
reescrita como:

2rh1 ∆x n α∆t 000 n


T0n+1 = rT1n − (T0 − T∞,1 ) + (1 − 2r)T0n + rT1n + q (6.18)
k k 0

Utilizando a definição de λ1 dada pela Eq. (6.13), obtém-se:

α∆t 000 n
T0n+1 = (1 − λ1 − 2r) T0n + 2r T1n + λ1 T∞,1 + q (6.19)
k 0
110

A Eq. (6.19) é idêntica à Eq. (6.14). Fica assim demonstrada a equivalência


das formulações para a discretização da condição de contorno em x = 0, tanto
com a aproximação por diferenças diretamente na equação usando o nó fictı́cio,
quanto com o balanço de energia no volume de controle.

Para o nó em x = L façamos uso do nó fictı́cio i = N + 1. A partir da Eq.


(6.1c) escreve-se:
n −Tn
TN+1 N−1
k + h2 TNn = h2 T∞,2 (6.20)
2∆x

que pode ser reescrita mais apropriadamente como:

n n 2h2 ∆x n
TN+1 = TN−1 − (TN − T∞,2 ) (6.21)
k

Escrevendo a equação dos nós interiores, Eq. (6.7), para o nó no contorno
em x = L, ou seja, o nó i = N, obtém-se:

∆t 000 n
TNn+1 = r TN−1
n
+ (1 − 2r) TNn + r TN+1
n
+α q (6.22)
k N

e substituindo a Eq. (6.21) na Eq. (6.22), resulta:

2r h2 ∆x n α ∆t 000 n
TNn+1 = r TN−1
n
+(1−2r) TNn +r TN−1
n
− (TN −T∞,2 )+ q (6.23)
k k N

Definindo ainda
2r h2 ∆x
λ2 = (6.24)
k

obtém-se

α ∆t 000 n
TNn+1 = (1 − λ2 − 2r) TNn + 2r TN−1
n
+ λ2 T∞,2 + q (6.25)
k N

Em resumo, temos as seguintes equações:


111

• Para o nó i = 0

α ∆t 000 n
T0n+1 = (1 − λ1 − 2r) T0n + 2r T1n + λ1 T∞,1 + q (6.26a)
k 0

• Para os nós interiores, i = 1, 2, ...N − 1

∆t 000 n
Tin+1 = r Ti−1
n
+ (1 − 2r) Tin + r Ti+1
n
+α q (6.26b)
k i

• Para o nó i = N

α ∆t 000 n
TNn+1 = (1 − λ2 − 2r) TNn + 2r TN−1
n
+ λ2 T∞,2 + q (6.26c)
k N

Este esquema numérico é conhecido como método explı́cito simples. Cada


uma das Eqs. (6.26) possui uma única incógnica, e a partir do conhecimento
das temperaturas no instante n podem ser calculadas as temperaturas no instante
n + 1. Para a implementação computacional deste método parte-se, então, da
condição inicial dada pela Eq. (6.1d), que de forma discretizada pode ser escrita
como:
Ti0 = f (xi ) = fi , i = 0, 1, 2, ..., N (6.27)

Conforme mencionado na Seção 2.2.2, o método explı́cito simples é condi-


cionalmente estável, sendo necessário que:

∆t 1
r=α 2
≤ (6.28)
∆x 2
112

6.1.1.2 Formulação Implı́cita

Vejamos inicialmente a obtenção da aproximação da Eq. (6.1a) para os nós


interiores, usando a seguinte aproximação para a derivada segunda:

n n − 2T n + T n
∂2 T (x,t) Ti+1 i i−1
= + O(∆x2 ) (6.29)
∂x2 i ∆x2

Empregando a Eq. (6.29) e a aproximação por diferença avançada para a


derivada no tempo, Eq. (6.3), a Eq. (6.1a) é reescrita como:

n+1
Ti+1 − 2Tin+1 + Ti−1
n+1
1 000 n 1 Tin+1 − Tin
+ q = , i = 1, 2, ..., N − 1 (6.30)
∆x2 k i α ∆t

Usando a definição dada pela Eq. (6.6) para r, a Eq. (6.30) é escrita como:

n+1
−rTi−1 + (1 + 2r) Tin+1 − r Ti+1
n+1
= din , i = 1, 2, ..., N − 1 (6.31)

onde:
α∆t 000 n
din = Tin + q (6.32)
k i

Para a meia célula próxima à superfı́cie de contorno em x = 0, o balanço de


energia leva a uma equação equivalente à Eq. (6.11), mas agora são considera-
das as temperaturas no instante n + 1, levando a:

n+1 T1n+1 − T0n+1 000 n ∆x ∆x T0n+1 − T0n


h1 (T∞,1 − T0 ) + k + q0 = ρ cp (6.33)
∆x 2 2 ∆t

Das Eqs. (6.6), (6.13) e (6.33) obtém-se:

α∆t 000 n
(1 + 2r + λ1 ) T0n+1 − 2r T1n+1 = T0n + λ1 T∞,1 + q (6.34)
k 0

Vamos demonstrar agora que este mesmo resultado pode ser obtido empre-
gando o nó fictı́cio i = −1. A partir da condição de contorno em x = 0 dada
113

pela Eq. (6.1b) escrevemos uma equação semelhante à Eq. (6.15), mas as tem-
peraturas são agora consideradas no instante n + 1, ou seja:

T1n+1 − T−1
n+1
−k + h1 T0n+1 = h1 T∞,1 (6.35)
2∆x

que pode ser reescrito mais apropriadamente como:

n+1 2h1 ∆x n+1


T−1 = T1n+1 − (T0 − T∞,1 ) (6.36)
k

Escrevendo a equação para os nós interiores, Eq. (6.31), no nó i = 0, ou


seja, na superfı́cie de contorno x = 0, resulta:

n+1
−r T−1 + (1 + 2r) T0n+1 − r T1n+1 = d0n , i = 1, 2, ..., N − 1 (6.37)

com
α ∆t 000 n
d0n = T0n + q (6.38)
k 0

Substituindo as Eqs. (6.36) e (6.38) na Eq. (6.37) escreve-se:

2r h1 ∆x n+1 2r h1 ∆x α∆t 000 n


−r T1n+1 + T0 − T∞,1 +(1+2r) T0n+1 −r T1n+1 = T0n + q
k k k 0
(6.39)

Usando a definição de λ1 dada pela Eq. (6.13) escreve-se então a Eq. (6.39)
como:

α ∆t 000 n
(1 + 2r + λ1 ) T0n+1 − 2r T1n+1 = T0n + λ1 T∞,1 + q (6.40)
k 0

que é idêntica, portanto, à Eq. (6.34), demonstrando a equivalência da aborda-


gem de volume de controle com aquela baseada em nós fictı́cios.

Para a condição de contorno em x = L, dada pela Eq. (6.1c), escreve-se,


114

empregando-se o nó fictı́cio i = N + 1, a seguinte equação:

n+1 n+1
TN+1 − TN−1
k + h2 TNn+1 = h2 T∞,2 (6.41)
2∆x

de onde obtém-se:

n+1 n+1 2h2 ∆x n+1


TN+1 = TN−1 − (TN − T∞,2 ) (6.42)
k

Escrevendo a equação para os nós interiores, Eq. (6.31), no nó i = N + 1,


sobre a superfı́cie de contorno x = L, portanto, resulta:

n+1
−r TN−1 + (1 + 2r) TNn+1 − r TN+1
n+1
= dNn (6.43)

com:
α ∆t 000 n
dNn = TNn + q (6.44)
k N

Substituindo as Eqs. (6.42) e (6.44) na Eq. (6.43) escreve-se:

n+1 2r h2 ∆x n+1 2r h2 ∆x α∆t 000 n


−r TN−1 +(1+2r) TNn+1 −r TN−1
n+1
+ TN − T∞,2 = TNn + q
k k k N
(6.45)

Usando a definição de λ2 dada pela Eq. (6.24) escreve-se então a Eq. (6.45)
como:

n+1 α ∆t 000 n
−2r TN−1 + (1 + 2r + λ2 ) TNn+1 = TNn + λ2 T∞,2 + q (6.46)
k N

Usando a abordagem de volume de controle para a meia célula próxima ao


nó i = N pode-se obter a mesma equação, comprovando mais uma vez a equi-
valência desta abordagem com aquela empregando o nó fictı́cio. A obtenção da
Eq. (6.46) com o uso do volume de controle fica como exercı́cio para o leitor.

Em resumo temos as seguintes equações:


115

• para i = 0

α ∆t 000 n
(1 + 2r + λ1 ) T0n+1 − 2r T1n+1 = T0n + λ1 T∞,1 + q (6.47a)
k 0

• para os nós interiores, i = 1, 2, ..., N − 1:

n+1 α ∆t 000 n
−r Ti−1 + (1 + 2r) Tin+1 − r Ti+1
n+1
= Tin + q (6.47b)
k i

• para o nó i = N:

n+1 α ∆t 000 n
−2r TN−1 + (1 + 2r + λ2 ) TNn+1 = TNn + λ2 T∞,2 + q (6.47c)
k N

Na Fig. 2.9 é apresentada a molécula de cálculo para o esquema aqui apre-


sentado, conhecido como método implı́cito simples. Cabe observar que a Eq.
n+1
(6.47b) possue três incógnitas, Ti−1 , Tin+1 e Ti+1
n+1
, e as Eqs. (6.47a) e (6.47c)
possuem duas incógnitas cada, T0n+1 e T1n+1 , e TN−1
n+1
e TNn+1 , respectivamente.
Como estas equações são acopladas, devem ser resolvidas simultaneamente
para cada instante de tempo. Partindo então do conhecimento da distribuição
de temperatura no instante n, as temperaturas no instante n + 1 são calcula-
das resolvendo-se simultaneamente as Eqs. (6.47a), (6.47b) e (6.47c). Para a
implementação computacional deste método parte-se da condição inicial dada
pela Eq. (6.1d) ou, na respectiva forma discretizada, dada pela Eq. (6.27). Este
método é incondicionalmente estável. O sistema de equações lineares dado pe-
las Eqs. (6.47a) a (6.47c) pode ser mais convenientemente escrito na forma
matricial:
ATn+1 = g (6.48a)
116

onde:
 
 (1 + 2r + λ1 ) −2r ... 0 
 

 −r (1 + 2r) −r 

..
 
. −r (1 + 2r) −r
 
 
A= 

 ... 

 
 

 −r (1 + 2r) −r 

 
0 −2r (1 + 2r + λ2 )
(6.48b)

 T
n+1
T = T0n+1 T1n+1 ... TNn+1 (6.48c)

 
T0n + λ1 T∞,1 + α∆t 000 n
 k q 0 
 
T1n + α∆t 000 n
k q 1
 
 
..
 
.
 
 
g=  (6.48d)
Tin + α∆t 000 n
 
k q i
 
 
 .. 

 . 

 
TNn + λ2 T∞,2 + α∆t 000 n
k q N

cuja solução pode ser obtida com:

Tn+1 = A−1 g (6.49)


117

6.2 Tranferência de Calor por Condução em Re-

gime Transiente em um Meio Unidimensional

com Propriedades Térmicas Dependentes da

Temperatura

6.2.1 Diferenças Finitas

Na Seção 6.1 foi considerado o problema de transferência de calor em regime


transiente em um meio unidimensional sujeito a condições de contorno de ter-
ceiro tipo e com uma fonte térmica interna ao meio para o caso em que as pro-
priedades térmicas do meio são constantes. Nesta seção é abordado o mesmo
problema, mas para o caso em que as propriedades térmicas variam com a tem-
peratura.

A formulação matemática deste problema é dada por:

 
∂ ∂T (x,t) 000 ∂T (x,t)
k(T (x,t)) + q (x,t) = C(T (x,t)) , 0<x<L e t >0
∂x ∂x ∂t
(6.50a)

∂T (x,t)
k(T (x,t)) = h1 (T (x,t)|x=0 − T∞1 ) , para t > 0 (6.50b)
∂x x=0

∂T (x,t)
−k(T (x,t)) = h2 (T (x,t)|x=L − T∞2 ) , para t > 0 (6.50c)
∂x x=L

T (x,t) = Tini (x) para t > 0 (6.50d)

sendo
C(T (x,t)) = ρc p (T ) (6.51)

000
onde q (x,t) é o termo fonte, k(T (x,t)) é a condutividade térmica do meio com
dependência na temperatura, c p (T (x,t)) é o calor especı́fico com dependência
na temperatura, e os outros sı́mbolos já foram definidos na Seção 6.1.

Vamos obter primeiramente uma aproximação para a Eq. (6.50a). Na Fig.


118

6.3 é apresentada a célula em torno de um nó interior da malha computacional


empregada para a discretização do domı́nio.

∆x

i-1/2 i+1/2
i-1 i i+1

∆x

Figura 6.3: Célula em torno de um nó interior da malha computacional.

A derivada segunda na posição calculada no nó i e no instante n é aproxi-


mada então com diferenças centradas:

(x,t) n (x,t) n
   
k(T ) ∂T∂x − k(T ) ∂T∂x
∂T (x,t) n
 
∂ i+1/2 i−1/2
k(T ) = (6.52)
∂x ∂x i ∆x

Usando então diferenças centradas para a derivada primeira na posição, a


Eq. (6.52) é escrita como
" #
∂T (x,t) n n −Tn n −Tn
  
∂ 1 n Ti+1 i n Ti i−1
k(T ) = ∆x ki+1/2 − ki−1/2
∂x ∂x i ∆x ∆x
(6.53)

onde
n 1 n n
 1 n
= k(Tin ) + k(Ti+1

ki+1/2 = ki + ki+1 ) (6.54a)
2 2
n 1 n n
 1
= k(Tin ) + k(Ti−1
n

ki−1/2 = ki + ki−1 ) (6.54b)
2 2

A derivada primeira no tempo é aproximada por uma diferença avançada, a


saber:
∂T (x,t) n Tin+1 − Tin

= (6.55)
∂t i ∆t
119

Levando as Eqs.(6.53) e (6.55) na Eq. (6.50a) resulta:

1 h n n n
 n n n
i 000 n
2
ki+1/2 Ti+1 − Ti − ki−1/2 Ti − Ti−1 + qi =
∆x
n+1 n

T − Ti
Cni i , i = 1, 2, ..., N − 1 (6.56)
∆t

ou então,

∆t h n
Tin+1 Tin + n n

= k Ti+1 − T i − (6.57)
Cni ∆x2 i+1/2
n n n
i ∆t 000 n
− ki−1/2 Ti − Ti−1 + n qi , i = 1, 2, ..., N − 1
Ci

Combinando as Eqs. (6.54) e (6.57),

∆t  n
Tin+1 = Tin + n
 n
Ti+1 − Tin

n 2
ki + ki+1 (6.58)
2Ci ∆x
 ∆t 000 n
kin + ki−1
n
 n n
− Ti − Ti−1 + n qi , i = 1, 2, ..., N − 1
Ci

Para o tratamento da condição de contorno em x = 0, ou seja i = 0, dado


pela Eq. (6.50b), será usado o nó fictı́cio i = −1. Da Eq. (6.50b) escreve-se:
!
Tn1 − T−1
n
k0n = h1 (T0n − T∞1 ) (6.59)
2∆x

ou então,
n 2h1 ∆x n
T−1 = T1n − (T0 − T∞1 ) (6.60)
k0n

Escrevendo a equação para nós interiores, Eq. (6.58), para o nó sobre a
superfı́cie de contorno, i = 0, obtém-se

∆t  n  ∆t 000 n
T0n+1 = T0n + n n n n n
 n n
(k0 + k1 ) (T1 − T0 ) − k0 + k−1 T0 − T−1 + n q0
2Cn0 ∆x2 C0
(6.61)
n , e com a Eq. (6.61) calcula-se então T n+1 ,
Com a Eq. (6.60) calcula-se T−1 0
120

observando que
n n
k−1 = k(T−1 ) (6.62)

Para o tratamento da condição de contorno em x = L, ou seja i = N, dado


pela Eq. (6.50c), será usado o nó fictı́cio i = N + 1. Da Eq. (6.50c) escreve-se

 n −Tn
TN+1

N−1
−kNn = h2 (TNn − T∞2 ) (6.63)
2∆x

ou então,
n n 2h2 ∆x n
TN+1 = TN−1 − (TN − T∞2 ) (6.64)
kNn

Escrevendo a equação para nós interiores, Eq.(6.58), para o nó sobre a su-
perfı́cie de contorno, i = N, obtém-se

∆t  n
TNn+1 = TNn + n
 n n

kN + kN+1 TN+1 − TN − (6.65)
2CnN ∆x2
 ∆t 000 n
kNn + kN−1
n
 n n
− TN − TN−1 + n qN , i = 1, 2, ..., N − 1
CN

n
Com a Eq. (6.64) calcula-se TN+1 e com a Eq. (6.65) calcula-se então TNn+1 ,
observando que
n n
kN+1 = k(TN+1 ) (6.66)

Observe que as Eqs. (6.60) e (6.61), assim como as Eqs. (6.64) e (6.65),
poderiam ter sido combinadas, mas optou-se aqui por mantê-las separadas para
obter maior clareza na apresentação.

Em resumo tem-se então as seguintes equações:

• Eq. (6.60) para i = 0

n 2h1 ∆x n
T−1 = T1n − (T0 − T∞1 ) (6.67a)
k0n
121

• Eq. (6.61) para i = 0

∆t
T0n+1 = T0n + [(kn + k1n ) (T1n − T0n ) − (6.67b)
2Cn0 ∆x2 0
∆t 000
k0n + k−1
n
 n n
+ + n q0 n

− T0 − T−1
C0

• Eq. (6.58) para i = 1, 2, ..., N − 1

∆t  n
Tin+1 = Tin + n
 n
Ti+1 − Tin

n 2
ki + ki+1 (6.68)
2Ci ∆x
 ∆t 000 n
kin + ki−1
n
 n n
− Ti − Ti−1 + n qi
Ci

• Eq. (6.64) para i = N

n n 2h2 ∆x n
TN+1 = TN−1 − (TN − T∞2 ) (6.69)
kNn

• Eq. (6.65) para i = N

∆t  n
TNn+1 = TNn + n
 n n

n kN + kN+1 TN+1 − TN − (6.70)
2CN ∆x2
 ∆t 000 n
kNn + kN−1
n
 n n
− TN − TN−1 + n qN
CN

Observa-se a partir das Eqs. (6.67a) e (6.68) que optou-se aqui pela formulação
explı́cita para a aproximação por diferenças finitas para o problema, Eqs. (6.50a
- 6.50d), onde a condição inicial, Eq. (6.50d), é escrita para os nós da malha
computacional da seguinte forma

T0i = Tini (xi ) (6.71)

A distribuição de temperaturas para o instante n + 1 é obtida então com uma


simples marcha a partir do instante n = 0 onde a condição inicial é conhecida.
122

Este método é condicionalmente estável, devendo ser respeitada a condição

∆t 1
αni 2
≤ (6.72)
∆x 2

A obtenção da formulação implı́cita é deixada como exercı́cio para o leitor.


Porém, deve ser observado que o uso de produtos do tipo kin+1 Tin+1 , ou seja
k(T (xi ,tn+1 ))T (xi ,tn+1 ), pode levar a dificuldades de convergência devido à
não linearidade da aproximação. Sem significativo prejuı́zo para a precisão dos
cálculos, o valor para a propriedade térmica pode ser atrasado em um passo no
tempo resultando em

kin Tin+1 , ou se ja k(T (xi ,tn ))T (xi ,tn+1 ) (6.73)

6.3 Transferência de Calor por Condução em Re-

gime Transiente em um Meio Composto

6.3.1 Diferenças Finitas

Na Seção 5.2.1 foi considerado o problema de condução de calor em regime


permanente em um meio composto por duas placas paralelas, com fontes inter-
nas, e sujeitas a condições de contorno de primeiro tipo, i.e. Dirichlet. Nesta
seção será considerado o problema transiente, e serão usadas condições de con-
torno de segundo e de terceiro tipo, i.e. Neumann e Robin, respectivemente. A
situação fı́sica aqui descrita está representada esquematicamente na Fig. 6.4.

A formulação matemática do problema aqui descrito é dada por:

• Placa c

∂2 Tc (x,t) 1 000 1 ∂Tc (x,t)


2
+ qc (x,t) = , 0 < x < xc e t > 0 (6.74a)
∂x kc αc ∂t
123

Isolamento Placa Placa


Térmico c r
¶T ¶Tr
¶x
=0 -k r
¶x x= xr
(
= h Tr x= xr
- Tf )

x
x=xc x=xr
x=0

Figura 6.4: Representação esquemática de um meio composto com condições


de contorno de segundo e terceiro tipo.


∂Tc (x,t)
= 0, em x = 0 e t > 0 (6.74b)
∂x2 x=0

Tc (x,t)|t=0 = Tcini , em t = 0 e 0 < x < xc (6.74c)

• Placa r

∂2 Tr (x,t) 1 000 1 ∂Tr (x,t)


2
+ qr (x,t) = , xc < x < xr e t > 0 (6.75a)
∂x kr αr ∂t

∂Tr (x,t) 
− kr = h Tr (x,t)|x=x − T∞ em x = xr e t > 0 (6.75b)
∂x2 x=xr r

Tr (x,t)|t=0 = Trini para t = 0 e xc < x < xr (6.75c)

000 000
onde qc e qr representam os termos fontes, kc e kr são as condutividades
térmicas, h é o coeficiente de troca térmica por convecção (coeficiente de pelı́cula),
T f é a temperatura do fluido ao redor da superfı́cie de contorno em x = xr , Tcini
e Trini são as distribuições iniciais de temperatura, e as difusividades térmicas
são dadas por
kc
αc = (6.76a)
ρc c pc
124

kr
αr = (6.76b)
ρr c pr

onde ρc e ρr representam as massas especı́ficas e c pc e c pr são os calores es-


pecı́ficos.

As Eqs. (6.74a) e (6.75a) possuem derivadas segunda na variável espacial


x, e derivadas primeira no tempo t, necessitando, portanto, de quatro condições
de contorno (duas para cada placa) e duas condições iniciais para completar
a formulação do problema. As duas condições iniciais são dadas pelas Eqs.
(6.74c) e (6.75c). As Eqs. (6.74b) e (6.74c) correspondem a uma condição
de contorno para cada placa, faltando, portanto, uma condição para cada uma
destas.

Como as placas c e r estão em contato, ao invés de se estabelecer uma


condição de contorno para cada placa tem-se duas condições de interface em
x = xc , como por exemplo

Tc (x,t)|x=xc = Tr (x,t)|x=xc (6.77a)


∂Tc (x,t) ∂Tc (x,t)
kc = kr (6.77b)
∂x x=xc ∂x x=xc

onde a primeira representa o contato térmico perfeito entre as placas c e r, e a


segunda a continuidade do fluxo de calor.

As Eqs. (6.74), (6.75) e (6.77) fornecem, portanto, a formulação matemática


completa do problema aqui considerado.

Será utilizada, nesta seção, a mesma discretização do domı́nio espacial con-


siderado na Seção 5.2.1 e representada esquematicamente nas Figs. 5.2 e 5.3.

Empregando diferenças centradas para a derivada segunda no espaço na Eq.


(6.74a)
n
∂2 Tc (x,t) Tcni+1 − 2Tcni + Tcni−1
= (6.78)
∂x2 i ∆x2
125

e diferenças avançadas na derivada primeira no tempo

∂Tc (x,t) n Tcn+1 − Tcni



i
= (6.79)
∂t i ∆t

a Eq. (6.74a) é aproximada por

Tcni+1 − 2Tcni + Tcni−1 1 Tcn+1 − Tcni



1 000 n i
+ qci = (6.80)
∆x2 kc αc ∆t

de onde se obtém

∆t  n  α ∆t 000
c
Tcn+1 n n
= αc 2 Tci+1 − 2Tci + Tci−1 + q n , i = 1, 2, ..., Nc − 1 (6.81)
i
∆xc kc ci

Devem ser feitas aqui duas observações. A primeira é relativa à Eq. (6.78).
Ao se tomar as temperaturas no instante n tem-se então a formulação explicita,
de forma que em cada equação ter-se-à apenas uma incógnita, conforme pode
ser observado na Eq. (6.81). A segunda observação é relativa ao emprego da
discretização na placa c como

xc
∆xc = (6.82)
Nc

Nesta seção consideraremos discretizações diferentes nas duas placas. A


Eq. (6.82) fornece o tamanho do intervalo entre dois nós da malha computaci-
onal para a placa c, e para a placa r, faremos

xr − xc
∆xr = (6.83)
Nr

Considera-se então que as discretizações nas duas placas podem ser dife-
rentes, se ∆xc 6= ∆xr , mas tem-se em cada placa uma discretização regular, ou
seja, a distância entre quaisquer dois nós consecutivos em uma mesma placa é
constante. Em todo este livro são consideradas malhas regulares, à exceção do
126

capı́tulo (??????) onde são consideradas malhas não regulares.

Para o tratamento da condição de contorno em x = 0 faremos uso do nó


fictı́cio i = −1. A Eq. (6.74b) é então aproximada usando diferenças centradas,

Tcn1 − Tcn−1
=0 (6.84)
2∆x

Logo,
Tcn−1 = Tcn1 (6.85)

Escrevendo, então, a Eq. (6.81) para nós interiores no nó que representa a
superfı́cie de contorno em x = 0, ou seja i = 0, obtém-se

∆t  n  α ∆t 000
c
Tcn+1
0
n n
= αc 2 Tc1 − 2Tc0 + Tc−1 + qc0n (6.86)
∆xc kc

Aplicando a Eq. (6.85) na Eq. (6.86), tem-se

∆t  αc ∆t 000 n
Tcn+1 = 2αc Tcn1 − Tcn0 + q (6.87)
0 2
∆xc kc c0

A equação para os nós interiores na placa r é obtida de forma análoga à


empregada para a placa c. Assim, a partir da Eq. (6.81), escreve-se:

∆t  n  α ∆t 000
r
Trn+1 = αr T − 2T n
+ T n
ri−1 + q n , i = 1, 2, ..., Nr − 1 (6.88)
i
∆xr2 ri+1 ri
kr ri

Para o tratamento da condição de contorno em x = xr faremos uso do nó


fictı́cio i = Nr + 1. A Eq. (6.75b) é escrita como

TrnN − TrnN  
−kr r+1 r−1
= h TrnNr − T1 (6.89)
2∆xr

ou então,
2h∆xr  n 
TrnN = TrnN − TrNr − T1 (6.90)
r+1 r−1 kr
127

Escrevendo, então, a equação para nós interiores, Eq. 6.88, no nó que re-
presenta a superfı́cie de contorno em x = xc , ou seja no nó i = Nr , obtém-se

∆t  n  α ∆t 000
r
Trn+1 = αr T − 2T n
+ T n
rNr−1 + q n (6.91)
Nr
∆xr2 rNr+1 rNr
kr rNr

onde TrnN é dada pela Eq. (6.90).


r+1

Para o tratamento da interface, x = xr , façamos uso de um balanço de


energia. A situação aqui considerada está representada esquematicamente na
Fig.6.5. Assim, escreve-se:

 
00 00 ∆xc 00 ∆xr
00 ∆xc ∆xr ∂T
qcN A−qr1/2 A+qcNc A+qr A = ρc c pc A + ρr c pc A
c−1/2 2 2 2 2 ∂t x=xc
(6.92)

onde A é a área transversal através da qual é transferido o calor. Para o caso


aqui considerado, no qual a constante de área A acompanha todos os termos da
Eq. (6.92), então da formulação.

∆xc/2 ∆xr/2
Placa c Placa r

qcN -1/ 2
c 0 1
Nc-1 Nc qr1/ 2

∆xc ∆xr

x=xc

Figura 6.5: Representação da interface entre as placas c e r.

Usando a Lei de Fourier e as aproximações por diferenças centradas, tem-


se:
∂Tc n TcnNc − TcnNc −1

00
qcN = −kc = −kc (6.93)
c−1/2 ∂x i=Nc−1/2 ∆xc
128

∂Tr n Trn1 − Trn0



00
qr1/2 = −kr = −kr (6.94)
∂x i=1/2 ∆xr

Substituindo as Eqs. (6.93) e (6.94) na Eq. (6.92) obtém-se:

 
TcnNc − TcnNc −1 Trn1 − Trn0

− 2kc + 2kr +
∆xc ∆xr
000 000 ∂T
+ qNc ∆xc + qr ∆xr = (ρc c pc ∆xc + ρr c pr ∆xr ) (6.95)
∂t x=xc

Assumindo a condição de contato térmico perfeito na interface entre as pla-


cas, escreve-se:
TcnNc = Trn0 (6.96)

Agora, usando diferença avançada, escreve-se a derivada no tempo da Eq.


(6.97) como:
Tcn+1 − TcnNc

∂T Nc
= (6.97)
∂t x=xc ∆t

Levando as Eqs. (6.96) e (6.97) na Eq. (6.95) obtém-se

    000
− 2kc ∆xr TcNc − TcNc −1 ∆t + 2kr ∆xc Tr1 − TcNc ∆t + qcNnc ∆xc2 ∆xr ∆t+
n n n n

000 n
 
2 n+1 n
+ qr ∆xc ∆xr ∆t = (ρc c pc ∆xc + ρr c pr ∆xr ) ∆xc ∆xr TcNc − TcNc (6.98)

que pode ser reescrita mais apropriadamente como:

1
Tcn+1 = TcnNc + × (6.99)
Nc
(ρc c pc ∆xc2 ∆xr + ρr c pr ∆xc ∆xr2 )
n h  
n n
× −2∆t kc ∆xr TcNc − TcNc −1 +
 i  000 000 n
o
n n n
+ kr ∆xc Tr1 − TcNc + ∆xc ∆xr ∆t qcNc ∆xc + qr0 ∆xr

Conclui-se, desta forma, a obtenção da aproximação por diferenças finitas


para o problema considerado nesta seção. Em resumo, têm-se as seguintes
129

equações:

• Eq. (6.87) para i = 0

∆t  αc ∆t 000 n
Tcn+1 = 2αc Tc
n
− Tc
n
+ q (6.100)
0
∆xc2 1 0
kc c0

• Eq. 6.81 para i = 1, 2, ..., Nc − 1,

∆t  n  α ∆t 000
c
Tcn+1 = αc Tci+1 − 2T n
ci + T n
ci−1 + q n (6.101)
i 2
∆xc kc ci

• Eq. 6.99 para i = Nc ,

1
Tcn+1 = Tc
n
+ × (6.102)
Nc Nc
(ρc c pc ∆xc2 ∆xr + ρr c pr ∆xc ∆xr2 )
n h  
× −2∆t kc ∆xr TcnNc − TcnNc −1 +
 i  000 000 n
o
n n n
+ kr ∆xc Tr1 − TcNc + ∆xc ∆xr ∆t qcNc ∆xc + qr0 ∆xr

• Eq. 6.88 para i = 1, 2, ..., Nr − 1,

∆t  n  α ∆t 000
r
Trn+1 = αr Tri+1 − 2T n
ri + T n
ri−1 + q n (6.103)
i 2
∆xr kr ri

• Eqs. 6.90 e 6.91 para i = Nr ,

2h∆xr  n 
TrnN = TrnN − TrNr − T1 (6.104)
r+1 r−1 kr

∆t  n  α ∆t 000
r
Trn+1 = αr TrNr+1 − 2T n
rNr + T n
rNr−1 + q n (6.105)
Nr 2
∆xr kr rNr

Esta formulação é explicita e, portanto, condicionalmente estável, devendo-


130

se respeitar a condição

 
∆t ∆t 1
max αc 2 , αr 2 ≤ (6.106)
∆xc ∆xr 2

Para a implementação computacional do método aqui apresentado, parte-se


da condição inicial, matematicamente representada pelas Eqs. (6.74c) e (6.75c),
que na forma discretizada fica:

Tc (xi , 0) = Tc0i = Tcini (xi ), 0 ≤ x ≤ xc e i = 1, 2, ..., Nc (6.107)

Tr (xi , 0) = Tr0i = Trini (xi ), xc ≤ x ≤ xr e i = 1, 2, ..., Nr (6.108)

A obtenção da fórmula implı́cita fica como exercı́cio para o leitor.

6.4 Tranferência de Calor por Condução em Re-

gime Transiente em um Meio Composto em

Coordenadas Cilı́ndricas

6.4.1 Diferenças Finitas

Na Seção 5.3.1 foi considerado o problema de transferência de calor por condução


no regime permanente, em um meio composto, e em coordenadas cilı́ndricas.
Nesta seção será tratado o problema em regime transiente.

6.4.1.1 Formulação Explı́cita

Na Fig. 5.4 é representado esquematicamente o meio composto para o problema


abordado (descrito acima), com a respectiva malha computacional representada
na Fig. 5.5. Na Fig. 5.6 é representado um nó genérico no interior do cilindro c.
O balanço de energia na célula (volume de controle) em torno do nó i é escrito
131

como

000
    ∂T
2 2 2 2
qi− 1 + qci π ri+ 1 − ri− 1 L − qi+ 1 = ρc c pc π ri+ 1 − ri− 1 L (6.109)
2 2 2 2 2 2 ∂t r=ri

onde
000
qi− 1 = 2π qci ri− 1 L (6.110a)
2 2

000
qi+ 1 = 2π qci ri+ 1 L (6.110b)
2 2

ρc e c pc representam respectivamente a massa especı́fica e o calor especı́fico do


cilindro c, e os outros sı́mbolos já foram definidos na Seção 5.3.1.

Usando a Lei de Fourier e aproximações por diferenças centradas resulta

∂T n Tin − Ti−1
n

qi− 1 = −kc = −kc (6.111a)
2 ∂r r=ri − 1 ∆r
2

∂T n n −Tn

Ti+1 i
qi+ 1 = −kc = −kc (6.111b)
2 ∂r r=ri + 1 ∆r
2

onde i e n são os ı́ndices que representam os nós da malha computacional res-


pectivamente no espaço e no tempo.

Para a derivada no tempo na Eq. (6.109) usaremos uma aproximação por


diferença avançada
∂T n Tin+1 − Tin

= (6.112)
∂t r=ri ∆t

Levando as Eqs. (6.110) e (6.112) na Eq. (6.109), obtém-se


"
n −Tn

α c ∆t T
Tin+1 = Tin + −2ri− 1 i i−1
(6.113)
ai 2 ∆r
000 #
qcin ai n −Tn
Ti+1 i
+ + 2ri+ 1
kc 2 ∆r

onde i = 2, 3, ..., I − 1 e a difusidade térmica do material do cilindro c é dada


132

por
kc
αc = (6.114)
pc c pc

e
2 2
ai = ri+ 1 −r , i = 2, 3, ..., I − 1 (6.115)
2 i− 1 2

Definindo
αc ∆t
pc = (6.116)
∆r2

a Eq. 6.113 é reescrita como

2pc ∆r h
Tin+1 Tin + n
− Tin −

= ri+ 1 Ti+1 (6.117)
ai 2
i 000 ∆t
Tin − Ti−1
n
+ qcin

− ri− 1
2 pc c pc

com i = 2, 3, ..., I − 1.

Na Fig. 5.7 é representado o nó central do cilindro c. O balanço de energia


nessa célula leva à seguinte expressão

∆r2 ∆r2 ∂T

00 000
q 2πr 1 L + qc1 π
1 L = ρc c pc π L (6.118)
2 2 4 4 ∂t i=1

Usando a lei de Fourier e uma aproximação por diferença centrada, tem-se

∂T n T2n − T1n

00
q = −kc
1 = −kc (6.119)
2 ∂r r=r 1 ∆r
2

Utilizando uma aproximação por diferença avançada para a derivada no


tempo
T1n+1 − T1n

∂T
= (6.120)
∂t i=1 ∆t

Por fim, aplicando as Eqs. (6.119) e (6.120) na Eq. (6.118), tem-se a se-
133

guinte expressão:

000 ∆t
T1n+1 = (1 − 4pc ) T1n + 4pc T2n + qc1n (6.121)
ρc c p c

onde pc é dado pela Eq. (6.116). Na Fig. 5.8 é representada a interface entre os
cilindros c e r. É aqui assumido que o contato térmico entre os cilindros c e r é
perfeito.

O balanço de energia nesta célula resulta na seguinte expressão

00 000
  000
  00
2 2 2 2
qI− 1 2πrI− 1 L − qcI π rI − rI− 1 L + qrI π rI+ 1 − rI L − qI+ 1 2πrI+ 1 L =
2 2 2 2 2 2
n    o ∂T
ρc c pc π rI2 − rI−
2
1
2
+ ρr c pr π rI+ 1 − rI
2
L (6.122)
2 2 ∂t r=rI

Usando a lei de Fourier e aproximações por diferenças centradas, tem-se:

∂T n TIn − TI−1
n

00
qI− 1 = −kc = −kc (6.123a)
2 ∂r r=r ∆r
I− 21

∂T n n −Tn

00 TI+1 I
qI+ 1 = −kr = −kr (6.123b)
2 ∂r r=r ∆r
I+ 21

Utilizando uma aproximação por diferença avançada para a derivada no


tempo
∂T n TIn+1 − TIn

= (6.124)
∂r r=rI ∆t

Por fim, aplicando as Eqs. (6.123) e (6.124) na Eq. (6.122), tem-se a se-
guinte expressão:

2∆t h
TIn+1 TIn + n
− TIn −

= kr rI+ 1 TI+1 (6.125)
δ∆r 2

n n
i ∆t  000 − 000 +

− kc rI− 1 TI − TI−1 + qcI aI + qrI aI
2 δ
134

onde
a− 2 2
I = rI − rI− 1 (6.126a)
2

a+ 2 2
I = rI+ 1 − rI (6.126b)
2

δ = ρr c pr a− +
I + ρr pr aI (6.126c)

A aproximação por diferenças finitas para os nós interiores ao cilindro r é


obtida de forma análoga àquela empregada para o obtenção da Eq. (6.117),
resultando, então, na seguinte expressão:

2pr ∆r h
Tin+1 = Tin + n
− Tin

ri+ 1 Ti+1 (6.127)
ai 2
i 000 ∆t
− ri− 1 Tin − Ti−1
n
+ q ri n , i = I + 1, I + 2, ..., M − 1
2 ρr c pr

onde
αr ∆t
pr = (6.128)
∆r2

Na Fig. 5.9 é representado o nó i = m localizado sobre a superfı́cie externa


do cilindro r. Nesta superfı́cie ocorre a troca de calor por convecção para o
ambiente que o envolve e que se encontra na temperatura Tamb . Na Seção 5.3 foi
empregada a abordagem de volume de controle para a obtenção da aproximação
por diferenças finitas para o nó i = M. Nesta seção usaremos o nó fictı́cio
i = M + 1, representado na Fig. 6.6.

A condição de contorno de troca de calor por convecção na superfı́cie r = R


é formulada matematicamente como


∂T (x,t)
−kr = h (T (r,t)|r=R − Tamb ) (6.129)
∂r r=R

onde h é o coeficiente de troca térmica por convecção.


135

Cilindro r

∆r/2

M-1 M M+1

∆r

rM=R

Figura 6.6: Nó fictı́cio na superfı́cie externa do cilindro r.

A Eq. 6.129 é então aproximada por

n
(TM+1 n )
− TM−1
−kr = h (TMn − Tamb ) (6.130)
2∆r

de onde obtém-se

n n 2h∆r
TM+1 = TM−1 + (Tamb − TMn ) (6.131)
kr

A equação para os nós interiores no cilindro r, Eq. (6.127), é então escrita


136

para o nó sobre a superfı́cie do cilindro r, i = M:

2pr ∆r  000 ∆t
TMn+1 = TMn + n
− TMn − rM−1/2 TMn − TM−1
n
+ qrMn
 
rM+1/2 TM+1
aM ρr c p r
(6.132)

Conclui-se, desta forma, a obtenção da aproximação por diferenças fini-


tas para o problema considerado nesta seção.Em resumo, têm-se as seguintes
equações:

• Eq. (6.121) para i = 1

000 ∆t
T1n+1 = (1 − 4pc ) T1n + 4pc T2n + qc1n (6.133)
ρc c p c

• Eq. 6.117, i = 2, 3, ..., I − 1,

2pc ∆r h
Tin+1 Tin + n
− Tin −

= ri+ 1 Ti+1 (6.134)
ai 2
i 000 ∆t
Tin − Ti−1
n
+ qcin

− ri− 1
2 pc c pc

• Eq. 6.125, i = I,

2∆t h
TIn+1 TIn + n
− TIn −

= kr rI+ 1 TI+1 (6.135)
δ∆r 2
i ∆t  000 − 000

− kc rI− 1 TIn − TI−1
n
+ qcI aI + qrI a+
I
2 δ

• Eq. 6.127, i = I + 1, I + 2, ..., M − 1,

2pr ∆r h
Tin+1 = Tin + n
− Tin

ri+ 1 Ti+1 (6.136)
ai 2
i 000 ∆t
− ri− 1 Tin − Ti−1
n
+ qri n , i = I + 1, I + 2, ..., M − 1
2 ρr c pr
137

• Eqs. 6.131 e 6.132, i = M,

n n 2h∆r
TM+1 = TM−1 + (Tamb − TMn ) (6.137)
kr

2pr ∆r 
TMn+1 = TMn + n
− TMn −

rM+1/2 TM+1 (6.138)
aM
000 ∆t
− rM−1/2 TMn − TM−1
n
+ qrMn

ρr c pr

A formulação dada pelas Eqs. (6.133 − 6.138) é explicita porque em cada


uma delas há apenas uma incógnita. Conhecendo as temperaturas no instante
n, as temperaturas no instante n + 1 são facilmente calculadas. As temperaturas
no instante n = 0 são conhecidas

T (r,t) = Tini (r) (6.139)

que para a malha computacional é escrita como

Tin=0 = Tini (ri ), i = 1, 2, ..., M (6.140)

6.4.1.2 Formulação Implı́cita

Para a obtenção das aproximações por diferenças finitas com a formulação


implı́cita apresentada na Seção 6.1.1.2 partimos das aproximações da derivada
segunda dada pela Eq.(6.29) onde as temperaturas são representadas no instante
n + 1.

Nesta seção, para a obtenção das aproximações por diferenças finitas com
a formulação implı́cita para o problema considerado na Seção anterior, 6.4.1.1,
partiremos diretamente das equações obtidas naquela seção com a formulação
explı́cita.

Da Eq. (6.117), obtém-se para os nós interiores no cilindro c a seguinte


138

expressão:

2pc ∆r   000 n ∆t
Tin+1 = Tin + n+1
− Tin+1 − ri−1/2 Tin+1 − Ti−1
n+1

ri+1/2 Ti+1 +qci
ai ρc c p c
(6.141)

Observe que alteramos o ı́ndice temporal de n para n + 1 apenas nas tempe-


raturas que advêm da aproximação da derivada segunda.

O primeiro termo do lado direito é mantido no instante n porque esta tem-


peratura vem da discretização da derivada primeira no tempo.

Definindo
2pc ∆r
Ai = (6.142a)
ai

Ari+1/2 = Ai ri+1/2 (6.142b)

Ari−1/2 = Ai ri−1/2 (6.142c)

onde pc é dado pela Eq. (6.116) e ai pela Eq. (6.115), a Eq. (6.141) é rescrita
como

− Ari−1/2 Tin+1 (1 + Ari−1/2 + Ari+1/2 )Tin+1 − Ari+1/2 Ti+1


n+1
=
000 ∆t
Tin + qcin , i = 2, 3, ..., I − 1 (6.143)
ρc c pc

A equação para o nó central do cilindro c, obtida com a formulação explı́cita


da Eq. (6.121), pode ser reescrita como:

000 ∆t
T1n+1 = T1n + 4pc (T2n − T1n ) + qc1n (6.144)
ρc c pc

onde o primeiro termo do lado direito tem origem na derivada primeira no


tempo e o segundo termo do lado direito tem origem na discretização da de-
139

rivada segunda no espaço. A formulação implı́cita é, então, escrita como

000 ∆t
T1n+1 = T1n + 4pc T2n+1 − T1n+1 + qc1n

(6.145)
ρc c p c

de onde resulta

000 ∆t
(1 + 4pc )T1n+1 − 4pc T2n+1 = T1n + qc1n (6.146)
ρc c pc

Para o nó na interface entre os cilindros c e r escreve-se a partir da Eq.


(6.125),

2∆t 
TIn+1 = TIn + n+1
− TIn+1

kr rI+1/2 TI+1 (6.147)
δ∆r
 ∆t  000 n − 000

− kc rI−1/2 TIn+1 − TI−1
n+1
= qcI aI + qrI n a+
I
δ

onde a− +
I , aI e δ são dados pela Eq. (6.126)

Definindo
2∆t
BrI+1/2 = kr r (6.148a)
δ∆r I+1/2
2∆t
BrI−1/2 = kr r (6.148b)
δ∆r I−1/2

obtém-se, a partir da Eq. (6.147):

n+1
− Br TI−1 + (1 + Br + Br )TIn+1 −
I− 12 I+ 21 I− 12

∆t  000 n − 000

− Br n+1 n
1 TI+1 = TI + qcI aI + qrI n a+
I (6.149)
I+ 2 δ

Para os nós interiores no cilindro r escreve-se a partir da Eq (6.127),

2pr ∆r   000 n ∆t
Tin+1 = Tin + n+1
− Tin+1 − ri−1/2 Tin+1 − Ti−1
n+1

ri+1/2 Ti+1 +qri
ai ρr c pr
(6.150)
140

Definindo
2pr ∆r
Ci = (6.151a)
ai

Cri+1/2 = Ci ri+1/2 (6.151b)

Cri−1/2 = Ci ri−1/2 (6.151c)

onde pr dado pela Eq. (6.128). Assim, a Eq. (6.150) pode ser reescrita como:

n+1
− Cri−1/2 Ti−1 + (1 + Cri+1/2 + Cri−1/2 )Tin+1 − Cri+1/2 Ti+1
n+1
=
000 ∆t
Tin + qri n , i = I + 1, I + 2, ..., M − 1 (6.152)
ρr c pr

Para o nó sobre a superfı́cie externa do cilindro r, i = M, faremos um


balanço de energia. Com base na Fig. 5.9 escrevemos

00 000 2 2
2πqM−1/2 rM−1/2 L + qrMn π(rM − rM−1/2 )L − 2πhrM L(TM − Tamb ) =

2 2 ∂T
ρr c pr π(rM − rM−1/2 )L (6.153)
∂t r=rM

onde h é o coeficiente de troca térmica por convecção.

Usando a lei de Fourier e uma aproximação por diferença centrada,

TMn+1 − TM−1
n+1

00 ∂T
qM−1/2 = −kr = −kr (6.154)
∂t r=rM ∆r

Utilizando uma aproximação por diferença centrada para a derivada no tempo

TMn+1 − TM−1
n

∂T
= (6.155)
∂t r=rM ∆r

e definindo
a− 2 2
M = rM − rM−1/2 (6.156a)

2rM−1/2 αr ∆t
sM−1/2 = (6.156b)
∆r a−
M
141

2hrM αr ∆t
vM = (6.156c)
∆r a− M

pode-se reescrever, então, a Eq. (6.153) da seguinte maneira:

n+1 000 ∆t
−sM−1/2 TM−1 +(1+sM−1/2 +vM )TMn+1 = TMn +qrMn +vM Tamb (6.157)
ρr c pr

Conclui-se, desta forma, a obtenção da aproximação por diferenças fini-


tas para o problema considerado nesta seção. Em resumo tem-se as seguintes
equações:

• Eq. (6.146) com i = 1,

000 ∆t
(1 + 4ρc )T1n+1 − 4pc T2n+1 = T1n + qc1n (6.158)
ρc c pc

• Eq. (6.143),

− Ari−1/2 Tin+1 (1 + Ari−1/2 + Ari+1/2 )Tin+1 − Ari+1/2 Ti+1


n+1
=
000 ∆t
Tin + qcin , i = 2, 3, ..., I − 1 (6.159)
ρc c pc

• Eq. (6.149), i = I,

n+1
− BrI−1/2 TI−1 + (1 + BrI+1/2 + BrI−1/2 )TIn+1 −
∆t  000 n − 000

n+1
− BrI+1/2 TI+1 = TIn + qcI aI + qrI n a+
I (6.160)
δ

• Eq. (6.152),

n+1
− Cr Ti−1 + (1 + Cr + Cr )Tin+1 − Cr n+1
Ti+1 =
i− 12 i+ 12 i− 21 i+ 21

000 ∆t
Tin + qri n , i = I + 1, I + 2, ..., M − 1 (6.161)
ρr c pr
142

• Eq. (6.157), i = M

n+1 000 ∆t
− sM− 1 TM−1 + (1 + sM− 1 + vM )TMn+1 = TMn + qrMn + vM Tamb
2 2 ρr c pr
(6.162)

As Eqs. (6.158 − 6.162) têm duas ou três incógnitas cada, sendo portanto,
acopladas. Para a obtenção das temperaturas Tin+1 , i = 1, 2, ..., M, a partir do
conhecimento das temperaturas Tin , i = 1, 2, ..., M, é necessário resolver o sis-
tema de equações algébricas lineares Eqs. (6.158 − 6.162) a cada instante de
tempo. A molécula de cálculo está representada na Fig. 2.9.

Para o cálculo das temperaturas no instante n = 1 é necessário o conheci-


mento das temperaturas no instante inicial n = 0, ou seja:

T (r,t)|t=0 = Tini (r) (6.163)

que de forma discretizada fica,

Tin=0 = Tini (ri ) (6.164)

Este método é incondicionalmente estável.

6.4.2 Modelagem de uma Resistência de Contato

Na Fig. 6.7 é representada a interface entre os cilindros c e r sendo considerado


um contato térmico imperfeito, que é modelado pela resistência de uma folga
entre os cilindros.

É aqui considerado um nó adicional na malha computacional, i = int, que


pertence ao cilindro r e possui uma temperatura diferente daquela no nó I, que
pertence ao cilindro c.

O balanço de energia na meia célula representada pelo nó I e pertencente ao


143

Folga

Cilindro c Cilindro r

qI-1/2 qI+1/2
I-1 I+1
I int

Figura 6.7: Interface com contato térmico imperfeito.

cilindro c é escrito como

00 000
qI−1/2 2πrI−1/2 L + qcI π(rI2 − rI−1/2
2
)L − h f 2πrI L(TI − Tint ) =

∂T
ρr c pc π(rI2 − rI−1/2
2
)L (6.165)
∂t r=rI

Observe que a resistência de contato é aqui modelada como uma troca


térmica por convecção da superfı́cie externa do cilindro c, i = I, para a su-
perfı́cie interna do cilindro r, i = int, com o coeficiente de troca térmica h f .

Usando a lei de Fourier e uma aproximação por diferença centrada, tem-se:

∂T n TIn − TI−1
n

00
qI−1/2 = −kc = −kc (6.166)
∂t i=I−1/2 ∆r

Das Eqs. (6.165) e (6.166) obtém-se

000
αc ∆t 2rI−1/2 n qcIn
 
 2h f rI n
TIn+1 = TIn − n
TI − TI−1 + n
(TI − Tint ) +
a−
I ∆r kc ρc c pc
(6.167)

onde a−
I é dado pela Eq. (6.126a), e os outros sı́mbolos já foram definidos

anteriormente.

O balanço de energia na meia célula representada pelo nó i = int e perten-


144

cente ao cilindro r é escrito como

00 000
2 2
− qI+1/2 2πrI+1/2 L + qrI π(rI+1/2 − rint )L + h f 2πrI L(TI − Tint ) =

2 2 ∂T
ρr c pr π(rI+1/2 − rint )L (6.168)
∂t r=rint

Considerando que
rint = rI (6.169)

e usando a lei de Fourier e uma aproximação por diferença centrada, tem-se:

∂T n n −Tn

00 TI+1 int
qI+1/2 = −kr = −kr (6.170)
∂t r=I+1/2 ∆r

Assim, a Eq. (6.165) pode ser reescrita como:

000
2rI+1/2 n qrI n
 
n+1 n αr ∆t 2h f rI n n n

Tint = Tint − + (TI − Tint ) + TI+1 − Tint +
aI kr ∆r ρr c pr
(6.171)

onde a+
I é dado pela Eq. (6.126b).

Foi aqui empregada uma formulação explı́cita. A obtenção da formulação


implı́cita é deixada como exercı́cio para o leitor.

Voltando então a Seção 6.4.1.1, a Eq. (6.135) para o nó na interface i = I é


então substituı́da pelas duas equações para as incógnitas TI e Tint , Eq. (6.167),
i = I,

000
αc ∆t 2rI−1/2 n qcIn
 
 2h f rI n
TIn+1 = TIn − n
TI − TI−1 + n
(TI − Tint ) +
a−
I ∆r kc pc c pc
(6.172)

Eq. (6.173), i = int,

000
2rI+1/2 n qrI n
 
n+1 n αr ∆t 2h f rI n n n

Tint = Tint − + (TI − Tint ) + TI+1 − Tint +
aI kr ∆r pr c pr
(6.173)
145

6.4.3 Solução Analı́tica Exata: Transformada Integral Clássica

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