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Maringá – Paraná
2019
2019 Uniedusul Editora
Conselho Editorial
Alexandra Fante Nishiyama – Faculdade Maringá
Aline Rodrigues Alves Rocha – Pesquisadora
Ana Lúcia da Silva – UEM
André Dias Martins – Faculdade Cidade Verde
Brenda Zarelli Gatti – Pesquisadora
Carlos Antonio dos Santos – Pesquisador
Cleverson Gonçalves dos Santos – UTFPR
Constanza Pujals – Uningá
Delton Aparecido Felipe – UEM
Fabio Branches Xavier – Uningá
Fábio Oliveira Vaz – Unifatecie
Gilmara Belmiro da Silva – UNESPAR
João Paulo Baliscei – UEM
Kelly Jackelini Jorge – UNIOESTE
Larissa Ciupa – Uningá
Lourival Domingos Zamuner – UNINGÁ
Marcio Antonio Jorge da Silva – UEL
Márcio de Oliveira – UFAM
Pâmela Vicentini Faeti – UNIR/RM
Ricardo Bortolo Vieira – UFPR
Rodrigo Gaspar de Almeida – Pesquisador
Sâmilo Takara – UNIR/RM
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1......................................................................................................................................6
ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA: OS CINCO PILARES DA FORMAÇÃO DO CONHECIMENTO
E COMPORTAMENTO FINANCEIROS
EDUARDO WARTCHOW
ROBERTA DALL AGNESE DA COSTA
CARINE GELTRUDES WEBBER
CAPÍTULO 2....................................................................................................................................25
CONCEPÇÕES DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
ALISANDRA APARECIDA FRESE FAGUNDES
DIEGO DA SILVA
CAPÍTULO 3....................................................................................................................................36
CONCEPÇÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO NAS PRÁTICAS ESCOLARES
GERSI PEREIRA LOPES
DIEGO DA SILVA
CAPÍTULO 4....................................................................................................................................46
DESENVOLVIMENTO DE JOGOS DIGITAIS: O USO DO SCRATCH COMO FERRAMENTA DE
ENSINO DE MATEMÁTICA
JHONNY NUNES DA CUNHA
RODRIGO MIYASAKI
CAPÍTULO 5....................................................................................................................................55
DIFICULDADES NA GESTÃO DE ESCOLAS PÚBLICAS: UM ESTUDO DE CASO EM CURITIBA-
PR
VIVIEN KANIAK
ANANDA SINGH
RAQUEL MOMM
ADRIANA ROSELI WÜNSCH TAKAHASHI
CAPÍTULO 6....................................................................................................................................68
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: INICIATIVAS, MOTIVAÇÕES E PRERROGATIVAS
LEGAIS
ANA PAULA DE SOUZA SANTOS
CLÉBER SANTOS GONÇALVES
MARIA LUÍSA FURLAN COSTA
WELINGTON JÚNIOR JORGE
CAPÍTULO 7....................................................................................................................................77
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E ENSINO: USO DAS GEOTECNOLOGIAS NO ESTUDO DO
ESPAÇO GEOGRÁFICO
MARCIO SILVEIRA NASCIMENTO
CAPÍTULO 8....................................................................................................................................83
NEGRO E O CONTEXTO ESCOLAR: DESAFIOS
CARLOS THIAGO CRUZ DA SILVA
ODINO FERREIRA NETO
THOMAS ANDREW HOLMES GOODMAN
CAPÍTULO 9....................................................................................................................................96
OS DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE PARA O PROFESSOR NO SÉCULO XXI, NA
MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. UM ESTUDO DE CASO NOS CURSOS
TÉCNICOS, EIXO TECNOLÓGICO GESTÃO E NEGÓCIOS NA REGIÃO DO VALE DO RIO DOS
SINOS
DIANA RAQUEL SCHNEIDER GOTTSCHALCK
GISELLY SANTOS MENDES
.
CAPÍTULO 10 ............................................................................................................................... 111
PERCEPÇÕES E PRÁTICAS DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS SOBRE O ENSINO E
APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA NO CONTEXTO DA BNCC
ROBERTA DALL AGNESE DA COSTA
GRAZIANE SILVEIRA DUTRA
KAOANE DA SILVA FEITEN
KELLY DA SILVA MATIELLO
LAIANE MOSCHEN BRANCO
LARISSA MORAES DOS SANTOS
LUANA ANTONIOLI
SIMONE MORAES DA SILVA
SUÉLEN FORTUNA
VERÔNICA DOS SANTOS MARTINS
.
CAPÍTULO 11................................................................................................................................125
POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIOS A SEREM
SUPERADOS
RAUL DA SILVEIRA SANTOS
GEISA BRUNA MOURA FERREIRA
FRANCISCO PEREIRA DE OLIVEIRA
ADRIANE BEATRIZ LIMA DE SOUZA
RAQUEL AMORIM DOS SANTOS
ROGÉRIO ANDRADE MACIEL
.
CAPÍTULO 12 ...............................................................................................................................136
POSSIBILIDADE DE MELHORIA PARA A DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: SEMINÁRIOS
COMO FERRAMENTA FACILITADORA
ERICA ROBERTA LOVO ROCHA WATANABE
MATHEUS LOPES DEMITO
PRISCILA DOS SANTOS GASCHI LEITE
SIMONE DELEZUK INGLEZ
.
CAPÍTULO 13 ...............................................................................................................................145
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
VIVIANE RIEDNER
LEONNE BRUNO DOMINGUES ALVES
JAIRO DOS SANTOS RODRIGUES
VICTOR DA CRUZ PERES
CÁSSIO FURTADO LIMA
CAPÍTULO 1
ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA: OS CINCO
PILARES DA FORMAÇÃO DO CONHECIMENTO E
COMPORTAMENTO FINANCEIROS
O tema Educação Financeira vem se tornando bastante presente ao longo dos últimos anos. O
estudo sobre a ela engloba tanto o processo de análise e reflexão sobre alternativas de consumo, ana-
lisado por Lindstrom (2009), assim como de alternativas de investimento e planejamento financeiro,
analisado por autores como Zaremba (2007) e Cerbasi (2009). Há portanto, um vasto campo de estu-
do onde pode-se buscar informações a respeito. Isto é relevante, visto que a relação com o dinheiro se
faz em todos os momentos na vida de um indivíduo.
Erros podem facilmente ser cometidos no momento que ele busca obter recursos financeiros,
ou quando realiza gastos por meio do consumo e ainda quando investe o excedente obtido ou busca
financiamento por ter gastos superiores às suas receitas. Portanto, informações financeiras são neces-
sárias ao longo de toda a vida de um indivíduo, para que ele possa tomar decisões corretas e melhores
para a sua vida.
Segundo Zaremba (2007), o caminho para uma vida confortável e plena de realizações de-
pende de muito trabalho, de uma boa qualificação profissional, da capacidade de conseguir uma boa
remuneração em seu ramo de atividade, de gastar com sabedoria os recursos ganhos, da capacidade
de acumular recursos continuamente, aliando a isso uma educação que permita a gestão dos recursos
que são acumulados. Observando-se, porém, as facilidades do crédito, o nível elevado de endivida-
mento das famílias, o aumento na oferta de alternativas de consumo e de investimento, percebe-se
que as informações que vêm sendo produzidas nesta área não estão tendo repercussão no cotidiano
das pessoas. A necessidade de transformar tais estudos em produtos que possam apoiar processos de
Educação Financeira é a principal motivação deste trabalho.
Um dos problemas que este trabalho procura evidenciar está relacionado com a complexidade
do tema Educação Financeira, tendo em vista que ele engloba diferentes aspectos técnicos e compor-
tamentais, os quais costumam ser abordados de forma independente. Tal visão compartimentada difi-
culta o alcance de uma compreensão global da Educação Financeira. Sem ela, o processo educacional
corre o risco de não contribuir para melhor preparar o indivíduo para tomadas de decisão apropriadas.
Além disso, a diversidade de pensamentos entre os principais autores da área contribui para
que não haja um consenso, uma visão unificada de como elaborar um projeto de Educação Finan-
ceira, até mesmo porque as pessoas são distintas em relação a níveis de conhecimento, preferências,
padrões socioculturais e econômicos.
Pensar a Educação Financeira envolve refletir sobre padrões de vida e de consumo. Este fato
fica evidenciado quando Zaremba (2007) menciona que é importante não confundir conforto com
luxo e, na medida do possível, o indivíduo deve ser racional nas suas decisões de consumo e estilo
de vida. Tal racionalidade é questionada por autores tais como Kahnemann (2012), que sustenta que
os seres humanos têm como preponderante o viés emocional na tomada de decisão. Portanto, mesmo
quando um indivíduo recebe uma instrução financeira, não há garantias que ele necessariamente fará
uso deste conhecimento.
Este trabalho considera que além da técnica e dos cálculos financeiros, devem receber atenção
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A criação de programas de Educação Financeira é vista como solução para mitigar problemas
financeiros que pessoas e famílias enfrentam (HUSTON, 2010), (BRUHN et al., 2013). É importante
trazer um outro conceito que se aproxima da Educação Financeira, o de Alfabetização Financeira,
sobre os quais há preocupação na diferenciação (DONADIO, CAMPANARIO e RANGEL, 2012),
(HUSTON, 2010).
Segundo Huston (2010), a Alfabetização vai além da Educação Financeira, pois engloba tanto
o entendimento, que representa o conhecimento financeiro pessoal, quanto a Educação Financeira
em si, como a sua utilização e a aplicação dos conhecimentos na gestão das finanças pessoais. Desta
forma, a Educação Financeira representa um caminho que junto do capital humano (representado
pelas aptidões pessoais, inteligência e experiências), possibilita alcançar a Alfabetização Financeira.
A partir disso é que a pessoa sujeita a diversas questões comportamentais particulares como autocon-
trole, planejamento e ambiente sociocultural entre outros, tomar decisões que a conduzam para um
bem-estar financeiro.
Para Remund (2010), a Alfabetização Financeira pode ser classificada em cinco categorias:
conhecimento de conceitos financeiros; habilidade de se comunicar utilizando estes conceitos; apti-
dão em administrar suas finanças pessoais; habilidade em tomar decisões financeiras apropriadas e
confiança em planejar-se efetivamente para necessidades futuras. O autor destaca que outras inicia-
tivas relacionadas ao tema ampliam o campo de atuação da alfabetização para temas relacionados a
fraudes, ou mesmo para uma visão mais global do mundo.
Remund (2010) observa ainda não ter sido construído pelos pesquisadores um modelo opera-
cional para avaliar a Alfabetização Financeira que utilize, simultaneamente, todas as quatro variáveis
mais utilizadas para definir o conceito da mesma: orçamento (budgeting), poupança (saving), em-
préstimos ou endividamento (borrowing) e investimento (investing) (DONADIO, CAMPANARIO e
RANGEL, 2012).
Lusardi e Tufano (2009) concluíram que indivíduos com menor grau de Alfabetização Finan-
ceira estão mais propensos a terem problemas com endividamento, e consideraram que indivíduos
mais alfabetizados tendem a incluir ações em seus portfólios, compreendendo melhor os princípios de
diversificação de riscos. Por outro lado, a ignorância a respeito de conceitos financeiros pode ser re-
lacionada com a falta de planejamento para planos de aposentadoria, nenhuma participação em mer-
cados de ações, comportamentos errôneos relacionados à tomada de empréstimos (LUSARDI, 2008).
Este trabalho também considera que aspectos como a compreensão sobre os vieses compor-
tamentais, devam ser informados/abordados dentro dos projetos de Educação Financeira, tendo em
vista que a ação humana está intimamente ligada a heurísticas e vieses comportamentais. Entender
sobre o comportamento humano não pode ser desconsiderado ao tratar do tema, pois mesmo que sa-
bidamente a condição de influência de aspectos comportamentais continue sendo presente, a melhor
informação sobre estes aspectos aumentará a possibilidade de maior reflexão nas diversas situações
em que o indivíduo está diante de decisões econômicas.
3. METODOLOGIA
Mises (2010) destaca que a ciência econômica se distingue das ciências naturais. Ela não
deve, para Mises, se basear em investigações empíricas pois as expectativas sobre o comportamento
humano, nas ciências econômicas, não podem ser confirmadas ou refutadas por métodos predominan-
A ciência econômica lida com humanos, que agem a partir de seus propósitos. Por isso, o
cientista social, pode chegar a conclusões por pura dedução lógica, tanto na análise de experimentos
como em casos em que o processo de análise lógica indica serem desnecessários tais experimentos,
tendo em vista um conjunto presente de informações suficientes para o encaminhamento de dedu-
ções. Desta forma, esta pesquisa busca reflexões que permitam utilizar deduções a partir da revisão
bibliográfica.
Sabendo-se que não há uma linha de pensamento que aborde todos os elementos, devido à
complexidade de compreender a alfabetização financeira, torna-se necessário uma integração entre as
diferentes abordagens ao tema agrupando os pontos convergentes e inserindo aspectos comportamen-
tais. que segundo autores como Mises (2010), são imprescindíveis, mas acabam sendo ignorados pela
complexidade em se lidar com eles. A solução construída compreende pensar em termos de pilares
fundamentais, que incorporam os princípios do processo de alfabetização financeira proposto, e po-
dem me dar sustentação ao desenvolvimento de produto educacionais concretos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A técnica matemática compreende conjunto de regras e modos de processar que consta nos
livros de matemática ou matemática financeira. Ela descreve a habilidade em realizar as operações
matemáticas. A numeracia ou habilidade de se lidar com números tem sido estudada como um pré- re-
quisito para uma boa tomada de decisão. Aqueles que têm menor habilidade na utilização de números
possuem menor capacidade de retenção, de compreensão e uso apropriado de raciocínio matemático
(FERNANDES, LYNCH e NETEMEYER, 2014).
Estudos mencionam a relação existente entre a habilidade em lidar com números (numeracy)
ou habilidades cognitivas, em geral, com resultados financeiros. Embora sejam conceitos distintos,
numeracia e Alfabetização Financeira (financial literacy), tendem a ser positivamente correlaciona-
dos, visto que indivíduos com elevado nível de habilidade cognitiva tem maior facilidade no trato
com números ou cálculos numéricos e assim, tem maior nível potencial de alfabetização (HASTIN-
GS, MADRIAN e SIMMYHORN, 2013).
Zaremba (2007) destaca que muitas pessoas agem como se desconhecessem que pagar juros
abusivos, para bancos ou cartões de crédito, representa receita infalível para o fracasso financeiro.
Adicionalmente, desenvolver a técnica matemática, auxiliar na realização de cálculos, corresponde
apenas a uma das habilidades que devam ser foco no processo de alfabetizar financeiramente um
indivíduo. Isto porque como demonstra Kahnemann (2012), um indivíduo pode saber calcular e ao
mesmo tempo apresentar comportamentos desaconselháveis em termos financeiros, tendo em vista
que o ser humano tende a decisões sujeitas a vieses e comportamentos emocionais. Neste sentido é
preciso alertá-lo para o comportamento natural dos seres humanos, de modo que ele esteja ciente e
possa evitar cometer erros e preparar-se para enfrentá-los.
Mais importante do que se questionar um mundo consumista como apontado nos trabalhos
de Barroso (2013) e Augustinis, Costa e Barros (2012), cabe cada pessoa fazer sua reflexão de como
ela vai consumir, como pode consumir, como vai poupar, como formará sua reserva de aposentado-
ria, entre outras questões, pensando numa vida planejada em equilíbrio. Para Cerbasi (2009), poupar
demais pode ser tão perigoso quanto não poupar. Avaliar os comportamentos, as ações em relação a
objetivos estabelecidos, é importante na busca pelos melhores resultados.
Neste aspecto, cada pessoa vive uma realidade única. Quando o ser humano tem a liberdade
de escolher, está mais inclinado a tomadas de decisões condicionado por vieses de comportamento
emocionais. Kahnemann (2012) menciona o fato da estrutura cerebral apresentar um lado rápido,
intuitivo, emocional e outro, lento, racional, descrevendo os mesmos como sistemas 1 e 2 respecti-
vamente. A tendência de comportamento induz pela utilização do sistema 1. Quando operações que
o cérebro está executando são trabalhosas nele é gerada tensão cognitiva e mobilizado o sistema 2,
mudando a abordagem que as pessoas fazem de um problema de um modo intuitivo e casual para um
modo mais empenhado e analítico, o qual exige esforço.
A necessidade de simplificação nas informações, indicada por Thaler e Sunstein (2008), foca
na busca por repassá-las de maneira mais simplificada, a fim de que possa ser entendida pelos usuá-
rios. Mas Montier (2010) destaca que por mais que um investidor saiba, o que na verdade é simples,
como por exemplo, comprar algo com valor intrínseco maior do que o ofertado, os vieses comporta-
mentais nos impedem de fazer o que sabemos que deveríamos ter feito.
Cabe também questionar até que ponto vários dos temas relacionados podem implicar em
simplificação em sua abordagem, como no exemplo em que investimentos em renda variável são con-
Pode-se esconder o fato de que os comportamentos efetuados nas operações em bolsa de valo-
res pelo indivíduo não sejam saudáveis e este esteja, por exemplo, jogando e não investindo, sem ter
a clara noção do que está fazendo, como lembra Kahneman (2012). Uma das sugestões apresentadas
por este autor, é de que o indivíduo, sabendo que sofre de desconforto ao visualizar sua carteira de
ações diariamente, o que lhe conduz a fazer constantemente negócios, deveria acompanhar o desem-
penho do mercado com maior distanciamento.
Ao observar com menor frequência, tenderia a fazer menos negócios, o que lhe seria bené-
fico a longo prazo. Para tanto, Kahnemann (2012) cita trabalhos dos pesquisadores Terry Odean e
Brad Barber, os quais demonstraram que investidores mais ativos tinham piores resultados. Tal fato
demonstra como é importante uma maior compreensão sobre o comportamento humano, no sentido
de se buscar medidas protetivas.
Uma alternativa é trabalhar mais a consciência sobre o lado comportamental, buscando assim
melhorar as habilidades cognitivas, o que pode ser alcançado também com atividades e jogos que
exercitem funções não cognitivas como paciência, disciplina, concentração, autocontrole, e que são
igualmente relevantes para o amadurecimento do indivíduo como mencionado por Tough (2014).
O sistema cognitivo por si só não é capaz de produzir ações, e para influenciar o comporta-
mento, precisa operar por meio do sistema não cognitivo (afetivo) (CAMERER, LOEWENSTEIN e
PRELEC, 2005). Estes autores lembram que o cérebro consciente interpreta erroneamente comporta-
mentos automáticos, afetivos, acreditando que sejam resultados de deliberações cognitivas.
Ariely (2010) destaca que quando as pessoas tornam-se capazes de observar seus vieses, de
observar estas influências sobre suas atitudes, tem condições de decidir de forma melhor. Há nota-
do desencontro entre a velocidade de desenvolvimento tecnológico e o ritmo da evolução humana,
onde instintos e capacidades que antes eram de grande importância agora não mais o são (ARIELY,
2010). As características de formação do cérebro humano, desenvolvidas a milhares de anos atrás,
indicavam que era necessário pelo próprio instinto de sobrevivência uma resposta rápida a um perigo
aparente, visto que era condição necessária para a sobrevivência (MONTIER, 2010).
Se autores destacam que se a impulsividade é ruim, vale destacar que o excesso de análises
tornaria a vida menos dinâmica, porque uma pessoa ficaria presa a decisões simples como a escolha
do que comer, qual filme assistir, onde a decisão não necessita de uma análise mais aprofundada, e
assim, a interação existente no cérebro neste processo de tomada de decisão é fundamental e mui-
to importante para a maior parte das decisões relacionadas a rotina de uma pessoa (CAMERER,
LOEWENSTEIN e PRELEC, 2005).
Outro ponto é que os seres humanos possuem dificuldade de lidar com decisões voltadas
ao longo prazo, como demonstrado por pesquisadores que observaram que a consciência cognitiva
isoladamente é insuficiente para retardar a gratificação, pela forte presença das emoções no contexto
de tomada de decisão (CAMERER, LOEWENSTEIN e PRELEC, 2005), (ARIELY, 2010), (KAH-
NEMANN, 2012), (POUNDSTONE, 2015). Esta dificuldade na tomada de decisão de escolhas in-
tertemporais se reflete em outras ações não desejadas como gastos excessivos, falta de planejamento
(MISCHEL, 2014).
Os trabalhos de Mischel (2014) indicaram anos após ser efetuado o chamado marshmallow
test que, aqueles indivíduos que indicavam ter maior autocontrole por ocasião do teste, se mostravam
em situação financeira melhor muitos anos depois. Neste experimento, havia recompensa para aque-
les que retardavam o desejo de consumir o marshmallow imediatamente, recebendo uma quantidade
maior algum tempo depois.
Quando autores como Zaremba (2007) ou Cerbasi (2009) mencionam várias ações que devem
ser adotados por um investidor como: cortar prejuízos, não ser levado pela ganância, ter atenção com
diversificação entre outros, acabam não detalhando motivações comportamentais que bloqueiam o
investidor quando estas situações de fato acontecem, e que fazem com que o indivíduo tenha a ten-
dência a errar como qualquer humano. Por mais que se diga para alguém o que ela deveria talvez ter
feito, deveria se dizer porque ela não o fará provavelmente.
Kahnemann (2012) e Montier (2010) demonstram que as pessoas têm tendência a conside-
rarem-se, quando em comparação às demais, como sendo superiores à média quando estimam seu
desempenho, por exemplo, nas habilidades para dirigir automóveis. São comportamentos que de-
monstram o desejo de diferenciação, o que muitas vezes pode ser positivo, mas pode gerar igualmente
comportamentos perigosos, como ações mais agressivas em investimentos, ou mesmo estabelecimen-
to de padrões elevados de consumo por um julgamento precipitado das capacidades de pagamento ou
mesmo comparações indevidas com padrões de consumo assumidos por pessoas próximas.
Os trabalhos de Meier e Sprenger (2010) e Hastings e Mitchell (2011) indicaram que pessoas
com maior disposição a serem pacientes, com capacidade de foco no longo prazo ou que voluntaria-
mente participavam de projetos de Educação Financeira eram mais propensas a investir em questões
relacionadas a saúde ou poupar, o que demonstra que comportamentos devem ser estimulados (HAS-
TINGS, MADRIAN e SIMMYHORN, 2013).
Mas mesmo as ações que indicam que a paciência ou autocontrole pode ser treinado em cada
indivíduo, há evidências de que estes precisam ser recarregados (MONTIER, 2010; CAMERER,
LOEWENSTEIN e PRELEC, 2005). Experimentos apresentados pelos autores demonstraram que
pessoas expostas a situações em que tiveram que ser pacientes, posteriormente agiam de forma mais
impulsiva que grupos que não tiveram que resistir a um desejo prévio. Com isso, concluíram que nem
mesmo a força de vontade é suficiente para nos defender de vieses comportamentais.
A reação ou comportamento interpessoal pode ser vista em livros sobre finanças comporta-
mentais, marketing, técnicas de venda, sendo representada pela forma como a pessoa interage ativa
ou passivamente com o mundo e as pessoas ao seu redor. A este pilar podem se relacionar disciplinas
como marketing, publicidade, psicologia. O que há são ações de pessoas e marcas pelo uso da publi-
cidade, procurando direcionar ações, desejos, atitudes, onde cabe o questionamento sobre se o que a
pessoa faz cumpre propósitos e desejos próprios ou dos terceiros que estão agindo sobre ela.
Há um aspecto paternalista que se encontra sob a alegação de que é legítimo que arquitetos de
escolhas tentem influenciar o comportamento de pessoas para que elas tenham vidas mais longas, me-
lhores e mais saudáveis (THALER e SUNSTEIN, 2008). Os autores lembram que em muitos casos
indivíduos tomam péssimas decisões, as quais não teriam feito se conseguissem prestar total atenção
e possuíssem informações completas, habilidades cognitivas infinitas, e absoluto autocontrole. Mas
aqui pode-se criticar a forma como fazer isso, visto que é polêmico o julgamento de uma pessoa que
se julgue capaz de melhor decidir por outras, ou seja, o direcionamento proposital pode transformar-
se em mera manipulação.
A verdade é que as pessoas podem ser muito influenciadas. Existe uma incapacidade cogni-
tiva para que percebam fatores exógenos que alteram seus estados emocionais e influenciam seus
comportamentos (CAMERER, LOEWENSTEIN e PRELEC, 2005). Estes autores citam exemplo em
que uma pessoa por se sentir confiável produz uma substância chamada oxitocina em seu cérebro.
No entanto, se ela recebesse uma massagem, por exemplo, a substância seria igualmente produzida,
provocando uma reação de maior envolvimento que não será percebida pelo indivíduo.
Mischel (2014) destaca que as aptidões não cognitivas, relacionadas aos traços de personali-
dade, podem ser trabalhadas exercitando nas pessoas a sua capacidade de avaliarem racionalmente as
Ariely (2008) cita um caso de um consultor de restaurantes que considerava alterações nos
preços dos cardápios como forma de aumentar as receitas do estabelecimento. Como isso era feito?
Eram estabelecidos preços altos para alguns pratos, que funcionavam com uma espécie de âncora de
expectativas. Os clientes acabavam não optando por estes pratos, mas eram induzidos a escolher o
segundo mais caro, o qual já era elaborado com uma margem mais alta de resultado. Quando uma
pessoa sabe da forma como ela pode ser influenciada, significa que ela também pode buscar utilizar
estas informações buscando influenciar outras pessoas, até porque qualquer pessoa, pode estar tanto
em posição de comprar como de vender um produto ou serviço. Empresas monitoram o comporta-
mento dos consumidores que não percebem muitas vezes que seus comportamentos são estimulados.
Se tivessem um mínimo de conhecimento sobre o assunto, teriam a chance de refletir criticamente
antes de fazer suas escolhas (FRENKEL, 2015).
Experiências demonstram que o que os consumidores estão dispostos a pagar pode ser facil-
mente manipulado, e isto significa que eles não têm grande controle sobre as próprias preferências e
sobre os preços que estão dispostos a pagar por mercadorias e serviços (ARIELY, 2008), (POUNDS-
TONE, 2015). O cérebro humano está programado e, ao fazer a compra de algum produto, efetua
uma ancoragem ao preço que pode ser pago por ele, de forma irracional (POUNDSTONE, 2015),
(ARIELY, 2008), (KAHNEMANN, 2012).
Este processo implica em uso de estratégias visando atrair o consumidor. Esta ancoragem que
faz a pessoa se atrair por determinado produto, também pode fazer com que ela se atraia mais por
uma loja em comparação a outra, por variáveis como ambiente, atendimento, ou seja, a âncora não
precisa ser o preço apenas.
Thaler e Sunstein (2008) indicavam em seus trabalhos que estratégias assumidas nas quais a inclusão
de participantes em planos de previdência era automática, dependendo da manifestação individual
para que os participantes deixassem o plano, tinham maior êxito do que aquelas em que as pessoas
estavam de fora e deviam optar por serem incluídas. Este ponto mostra que uma decisão que pode
ser considerada adequada, a geração de poupança para o futuro, reserva por outro lado o uso de uma
estratégia visando atingir este objetivo, direcionando a forma de apresentar uma alternativa para que
a pessoa faça o que se deseja dela, o que se julga mais adequado.
Segundo Ariely (2008), as pessoas moldam seus comportamentos comparando situações fi-
nanceiras de pessoas próximas. Ele destaca em sua obra alguns casos de pessoas que abandonaram
vocação profissional por alimentar desejos de maior ganho financeiro, o que mostra uma reação da
pessoa ao ambiente externo, porque nem sempre ela resultará positivamente para quem mudou de
vida. Uma sugestão apresentada por autores é a pessoa procurar limitar seus sonhos de consumo a
suas condições, como no processo de compra de um automóvel ou casa nova, mensuração que por
óbvio não é nada fácil (ARIELY, 2008), (SCHWARTZ, 2004).
Pensar de forma mais ampla é igualmente uma alternativa, mas difícil de ser superada pela
natureza humana (ARIELY, 2008). O autor cita o exemplo da pessoa que não se preocupa em gastar
mais dinheiro para colocar bancos de couro em um carro, porque o valor disso é observado em termos
relativos sobre o preço a ser pago pelo automóvel. Ela poderia avaliar com calma se não valeria a
pena destinar estes recursos para livros, viagens etc. Este viés também é destacado por Kahnemann
(2012) e Poundstone (2015), sendo chamado de arbitrariedade coerente, que significa que os compra-
dores são principalmente sensíveis às diferenças relativas, e não aos preços absolutos, fazendo com
que possam ser influenciadas por um vendedor que entenda como se aproveitar deste viés para melho-
rar sua venda. Fica claro que as técnicas de venda estão à frente da Educação Financeira, no sentido
de entender como obter resultados a partir da compreensão do comportamento humano.
Thaler e Sunstein (2008) lembram que a liberdade de escolha é a melhor defesa contra uma
arquitetura de escolhas negativa. Quanto maiores forem as informações relacionadas ao comporta-
mento do indivíduo e seu grau de compreensão em relação não só a como ele se comporta, mas como
ele reage aos estímulos externos, maiores as chances de decisões mais bem fundamentadas. Os au-
tores concluem que se a arquitetura de escolhas se faz presente, que se procurem criar estímulos que
conduzam as pessoas a boas escolhas e não a escolhas que lhes causem danos.
Akerlof e Shiller (2015) consideram que há duas barreiras para o indivíduo: a psicológica e
a de conhecimento. A psicológica foi tratada nestes pilares comportamentais e se relaciona, para os
autores, com a incapacidade de melhor julgamento a partir dos vieses comportamentais e a predomi-
nância do aspecto emocional nas decisões. A de conhecimento, será tratada nos próximos dois pilares,
e se relaciona a falta de informações e entendimento que acaba por confundir os indivíduos que não
possuem o claro conhecimento do que lhes é ofertado, seja para consumo, seja para investimento.
A ignorância impede que as pessoas façam aquilo que fariam se tivessem melhor informação,
assim dizemos que “o conhecimento liberta” (HAYEK, 1983). O autor lembrava que a possibilidade
de uma pessoa ser ou não capaz de uma escolha inteligente entre alternativas, ou de agir em confor-
midade com a resolução por ela tomada, é distinta da possibilidade de outras pessoas lhe imporem
ou não seus desejos. Portanto, será com a educação, melhor qualidade de informação, que melhores
ações humanas poderão ser esperadas.
Montier (2010), por outro lado, destaca o impulso que gestores tem pela tomada de risco,
buscando retornos acima da média do mercado, para que despertem o interesse de potenciais clientes.
O indivíduo que não tiver conhecimento do risco ao qual está exposto, das regras presentes nos inves-
timentos ou mesmo na obtenção de crédito, ficará cedo ou tarde em grande risco. Diferente de uma
cirurgia que rapidamente mostrará seus resultados, a má gestão de recursos poderá trazer respostas
negativas muito tempo a frente.
Cerbasi (2009) menciona outro critério, falando da chamada “regra dos 80”, na qual o indiví-
duo deve diminuir este número de sua idade para saber quanto deve investir em renda variável. Cada
livro e cada autor podem apresentar opiniões distintas, assim como cada indivíduo é único e deverá
fazer suas escolhas. Não há respostas prontas!
Cerbasi (2009) destaca que quanto mais fácil o acesso e mais baratos os juros de uma ope-
ração, maiores podem ser as armadilhas embutidas nos contratos. No Brasil, a legislação obriga as
instituições financeiras a informarem, antes da contratação, o Custo Efetivo Total (CET) da operação.
Este autor destaca estratégias relacionadas a investimentos, como a observações de prazos de aplica-
ções visando menores alíquotas de imposto de renda, ou seja, somente quem conhece os produtos tem
melhores condições de fazer bom planejamento.
Há trabalhos demonstrando que conselheiros financeiros agiam de acordo com seus próprios
interesses quando isso lhes beneficiava independente do que fosse de interesse aos seus clientes, as-
sim como vendedores de seguros de vida que preferiam comercializar planos com menor qualidade e
melhores condições de comissionamento, se aproveitando em especial de clientes com baixo grau de
compreensão dos produtos financeiros (HASTINGS, MADRIAN e SIMMYHORN, 2013).
No trabalho de Souza (2012) está presente o seguinte comentário: “vários alunos, ao pensa-
rem em investimento, ainda estavam presos somente à Caderneta de Poupança. Sem especificar o tipo
de investimento, apenas três grupos se referiram a investimentos mais rentáveis do que a Poupança”.
Importa observar o fato de que não se explica no trabalho apresentado, como funciona o investimento
da caderneta de poupança, quais os riscos envolvidos, bem como os riscos existentes em outras alter-
nativas tidas como mais atraentes, ou os motivos que potencializam um resultado superior em relação
a poupança.
Para compreender sua inserção em um ambiente capitalista, cada indivíduo seja na posição de
cliente, seja na posição oposta de quem está ofertando produtos e/ou serviços, deverá compreender
os conceitos relacionados ao tema que é tratado. Se por exemplo estiver negociando um produto de
Sem conhecer os produtos o indivíduo consumidor pode ficar sem condições de fazer me-
lhores julgamentos. Em uma venda por exemplo de um plano de previdência privada, seria mais
facilmente persuadido por aquele vendedor que fizesse uma simulação usando rentabilidades mais
agressivas para projeção de formação de reservas futuras. Sem entender dos regulamentos e regras
atuariais poderia trocar um plano por outro sem considerar de fato quais as regras vigentes em cada
uma das alternativas oferecidas, em virtude do critério de conversão de suas reservas financeiras em
benefício de aposentadoria.
Este pilar está relacionado a uma visão ampla da economia, a formação da cultura empreen-
dedora, ao posicionamento que cada indivíduo tem em relação a sociedade em que vive, suas con-
cepções em relação as visões de diferentes escolas econômicas, o livre mercado, o intervencionismo
estatal, o capitalismo, a busca pela compreensão lógica. É quando além de conhecer os conceitos, a
pessoa é capaz de estabelecer relações lógicas de conexão, de dedução.
A questão passa a ser como construir respostas sem ficar preso a vieses ideológicos, assumindo pos-
tura mais pragmática.
A relação com o dinheiro nunca foi tranquila, seja por influência religiosa por frases como “é
mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no céu”, ou pela difu-
são de teorias socialistas, sempre doutrinando para raiva contra ricos e tratando a pobreza como vir-
tude (MARTINS, 2004). Se existe desejo em fomentar cultura empreendedora, devem ser superados
preconceitos. Mises (2010) destacava que o lucro empresarial não é uma “recompensa” assegurada
pelo cliente ao fornecedor que lhe serviu melhor do que outro fornecedor indolente e rotineiro, ele é o
resultado da avidez dos compradores em sobrepujar outros que estão igualmente ansiosos em adquirir
bens cuja oferta é limitada.
Os dividendos das companhias são comumente chamados de lucros, sendo em realidade, juros
sobre o capital investido mais uma parte dos recursos que não são reinvestidos nas empresas (MISES,
2010). A melhor compreensão do papel das empresas, dos indivíduos, dos governos, é necessária para
que se construam raciocínios capazes de exercer verdadeira compreensão e análise crítica.
Martins (2004) menciona que a soma da poupança das pessoas é igual a soma do que é produ-
zido em bens de capital, bens que se destinam a produção de outros bens ou serviços, enaltecendo a
moralidade do ato de poupar. Conclui que este ato tem dupla função: além de permitir que a sociedade
enriqueça, serve como um seguro para a pessoa, pela aplicação de dinheiro em ativos que são capazes
de gerar renda, como ações de empresas ou imóveis (MARTINS, 2004). É importante o trabalho que
ao educar indique o que significa o ato de poupar e sua importância para a pessoa e a sociedade.
Além de poupar teremos o que a pessoa faz com o que poupou. Cerbasi (2009) afirma que
investir é multiplicar as reservas financeiras. São utilizadas então ferramentas como estudos de va-
lorização imobiliária, indicadores de desempenho econômico de empresas e de ações negociadas
em bolsa de valores, relatórios de rentabilidades de fundos de investimento, dados sobre crédito e
inadimplência, estudos sobre inflação, juros e moeda. O autor destacava que para desempenho dife-
renciado em investimentos é preciso ter acesso a conhecimentos complexos.
Neste quinto pilar está a capacidade que os indivíduos têm de interpretar as informações e
desta forma criar um julgamento lógico, olhar os números e o que está a sua volta e entender o que
significam, analisando por exemplo o contexto econômico.
Para demonstrar que são alfabetizados financeiramente, indivíduos devem demonstrar que
tem as habilidades necessárias para fazer escolhas dentro de um mercado que todos enfrentam com
suas características particulares, relacionadas muitas vezes a condições diferentes de estilos de vida,
estágios de vida, objetivos entre outros. Desta forma, não se pode apresentar soluções universais e
aplicáveis a todos da mesma forma (HUSTON, 2010).
Mesmo o que antes era considerado base para o mundo das finanças como a teoria moderna
de portfólio (modern portfolio theory), a hipótese dos mercados eficientes (the efficient Market hypo-
thesis) ou modelo de precificação de ativos (capital asset price model) são questionadas ou mesmo
responsabilizadas por muitos dos problemas no mercado, e fazem com que se procurem respostas no
mundo das finanças comportamentais (MONTIER, 2010).
Igualmente pode ser questionar a sustentabilidade da previdência social. Quando se trata desta
questão, Domingos (2011) avalia a dificuldade de sustentabilidade financeira futura para quem che-
gue a idade avançada porque os próprios governos estão endividados e, cedo ou tarde, podem não ter
como pagar suas contas, entre elas a Previdência Social, que hoje sustenta (de forma bastante precá-
ria) milhões de pessoas em todo o mundo, mas depende de contribuições daqueles que não sabem se
no futuro terão algo a receber.
A análise em sentido lógico deste problema, indica que a sustentabilidade depende de ava-
liações que demonstrem que pessoas receberão como aposentadoria valores coerentes com os quais
contribuíram ao longo dos anos. No entanto, este debate costuma ser limitado à busca pela defesa de
interesses pessoais, sem uma efetiva verificação lógica da viabilidade de regras que se pretende sejam
aplicadas.
Desenvolver comportamentos voltados a esta compreensão lógica que conecta diversos seg-
mentos relacionados a filosofia, política, cultura empreendedora, lógica matemática e econômica,
será fundamental para que os indivíduos sejam capazes de criar julgamentos críticos que lhes permi-
tam um posicionamento diante da complexidade do mundo e das relações entre as pessoas.
Será a compreensão lógica que permitirá que menores sejam os números de indivíduos víti-
mas de golpes financeiros, que permitirá que se compreenda a importância com a geração de poupan-
ça de longo prazo, que dificultará a existência de bolhas de preços de ativos, entre outros problemas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou contribuir em vários aspectos com a Educação e Alfabetização Finan-
ceiras. Identificados os cinco pilares de formação do conhecimento financeiro, cabe considerar que,
abordar iniciativas sob a ótica destes pilares apresentados, aumentará a chance de sucesso das inicia-
tivas voltadas a alfabetizar financeiramente, pelo trato mais abrangente que passa a ser observado.
Não basta encontrar os números, as respostas, é importante entender a lógica, o contexto, en-
Estes aspectos foram abordados nesta iniciativa, mas os pilares mencionados poderão ser avaliados
em quaisquer projetos a serem desenvolvidos, avaliando de que forma os mesmos nelas estarão inse-
ridos. Muitos projetos de Educação Financeira pecam por não considerar que todos estes pilares de
formação do conhecimento, descritos neste trabalho, atuam de forma sistemática. Trazer explicações,
em especial sobre aspectos relacionados a lógica e a economia comportamental, se mostra muito
relevante.
Procurar assim acreditar em um mundo apenas com indivíduos perfeitos, assim como acre-
ditar em mercados plenamente eficientes, só levará a frustração. Aceitar que o máximo que se pode
esperar ao educar de forma mais ampla os indivíduos, é que o ambiente competitivo voltado aos inte-
resses de consumo e investimento se tornará ainda mais complexo, pode ser uma observação racional
e lógica do que se vê no dia a dia. A questão então passa a ser como melhor preparar os indivíduos
para esta difícil realidade, reconhecendo na educação a sua relevância como melhor alternativa.
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INTRODUÇÃO
Avaliar é uma atividade constante na vida cotidiana. Todas as atividades desempenhadas pelos
homens são objetos de avaliação, seja propositalmente ou não, mas sempre sujeitas ao julgamento
para tirada de uma conclusão ou tomada de decisão.
“Num passado não muito distante a avaliação escolar fazia parte das interações normais do
dia-a-dia sem ser considerada como uma função separada do ato de educar”. (ETGES. 19Pp7). Ao
longo da história, por diversas contingencias, a avaliação tem sido usada de diferentes formas, com
distintas funções, objetivos e metodologias.
A avaliação atravessa o ato de planejar e de executar; por isso, contribui em todo o percurso
da ação planificada. A avaliação se faz presente não só na identificação da perspectiva político
social, como também na seleção de meios alternativos e na execução do projeto, tendo em
vista a sua construção. (...) A avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra.
Ela faz parte de seu modo de agir e, por isso, é necessário que seja usada da melhor forma
possível (LUCKESI, 2002, P118).
As concepções atuais sobre avaliação foram desenvolvidas a partir de 1980 quando a avalia-
ção, tendo entrado nos discursos sociais, especializados ou não, adquiriu certo reconhecimento púbi-
co. A análise dos discursos dos professores mostra que os procedimentos que há cerca de vinte anos
eram designados pelo termo que os engloba: avaliação (CHARDENET, 2007).
Mas, para, além disso, houve uma mudança na própria percepção dos docentes e da sociedade
quanto aos fins e meios da avaliação, incorporada à escola por seu caráter pedagógico e político.
Fazendo um recorte da década de 1980, podemos observar que a avaliação e suas concepções
eram denunciadas como instrumentos repressor, alienante, por que não dizer autoritário,
contrariando o que era posto, ou seja: a escola como espaço de construção da cidadania, de
autonomia e exercício do direito à democracia (CIPRIANO, 2007, P45).
O presente texto, elaborado com suporte em estudo bibliográfico, debate as principais concep-
ções de avaliação da aprendizagem destacada pela literatura especializada nas ultimas três décadas.
Busca desta forma, fazer conhecer as mudanças de perspectivas efetuadas nas práticas avaliativas,
ainda, debater suas implicações para os processos informativos. Ao final, são feitas breves considera-
ções sobre possibilidades e dificuldades da avaliação constitui-se efetivamente como instrumento de
emancipação e de reconstrução do saber.
Embora tenha tido tratamento diferenciado através dos tempos, a avaliação ainda hoje é con-
cebida e vivenciada nas escolas como um mecanismo de sustentação da lógica de organização do
trabalho escolar e, portanto, quase sempre, legitimador do fracasso, constituindo-se num perverso
instrumento de discriminação seletividade do processo escolar, classificando o aluno por meio de
provas e notas, causando o fracasso do aluno rotulando-os como incapazes.
(...) Não se restringe aos educadores em geral. É idêntica a visão dos alunos a respeito desse
tema, das famílias e da sociedade. O significado da avaliação na escola alcança um significado
próprio e universal, muito diferente do sentido que se atribui a essa palavra no nosso dia-a-
dia. Percebe-se o aluno sendo observado apenas em situações programadas (HOFFMANN,
2009, p24).
Os métodos de avaliação, sem dúvidas são elementos relevantes no conjunto das práticas
pedagógicas realizadas no processo de ensino e aprendizagem. Porém avalia, neste sentido, não se re-
sume apenas ao ato formal e estatístico; não é simplesmente atribuir notas que indicaram uma decisão
de avanço ou retenção nesta ou naquela disciplina. É necessário que haja, por parte dos envolvidos no
processo avaliativo, a compreensão de que a concepção de conhecimento determina o direcionamento
da prática pedagógica. Questionar o objetivo da avaliação, isto é, qual é o sentido desse ato, levar a
resposta de qual é o sentido atribuído ao conhecimento.
A resposta para essa pergunta é essencial para a compreensão de como ocorre a avaliação no
meio educativo, em seus objetivos e estratégias. E, de forma geral, apesar de existirem diversas cor-
rentes e nomenclaturas para identificar as práticas avaliativas nos meios escolares, podemos dizer que
a literatura aponta três grandes tendências: classificatória, diagnóstica e emancipatória.
Quando a avaliação tem por foco a capacidade de reprodução de determinado conteúdo repas-
sado pelo professor, são bons alunos os de maior capacidade mimética. Nessa perspectiva, ela é rea-
lizada apenas no final de aprendizagem, a fim de medir seu produto final, atuando como instrumento
de coleta de “nota” Luckesi (2000) que classifica os alunos como “bom”, “médio” ou “Inferior” sem
considerar um processo de reflexão autônoma. Por isso diz-se que esta avaliação tem caráter classi-
ficatório.
Para Luckesi (2000), com esta perspectiva o professor apenas domestica seus alunos, sem
contribuir para desenvolver seu potencial. O instrumento de avaliação tem ênfase quantitativa (pois
mensuram o acúmulo de informações) e as notas finais, coletadas em geral por meio de provas, visa
apenas aprovar ou reprovar o aluno, não intervindo para o crescimento do estudante.
Mas, à medida que o professor tira o foco da transmissão de conteúdos e avança em estratégias
Nessa perspectiva, a princípio, a avaliação adquire caráter de diagnóstico. Para Penna Firme
(1994), avaliações diagnósticas são conduzidas como propósito de identificar as fraquezas e as poten-
cialidades dos estudantes, com o intuito de informar futuras estratégias ao professor e ao aluno. Este
conceito está fundamentado na ideia de que, para o professor, a atenção ao desempenho do estudante
é elemento primordial à prática pedagógica; ou seja, a perspectiva emancipatória privilegia a avalia-
ção processual, em que o docente analisa todas as atividades do estudante ao executar uma tarefa de
avaliação e, após a mesma, faz considerações relevantes para um processo de reconstrução e aprimo-
ramento do saber. Para tanto, os instrumentos são diversificados, contínuos, e os alunos respeitados
em suas diferenças. (HOFFMANN, 2000; SAUL 2000).
Nos anos recentes têm sido elaborados diversos estudos que, a fim de promover estratégias
para atingir a avaliação segundo a concepção emancipatória e com o ideal de formação humana,
propõem modelos avaliativos com focos e elementos específicos. Apresentamos alguns deles, que as-
sumem denominações diversas, visando propiciar ao leitor uma visão das possibilidades de promover
processos avaliativos em perspectiva bastante diversa da tradicional abordagem classificatória.
No século XIX o estudo era concebido como forma de ascensão o ensino tinha caráter verba-
lista, extremamente autoritário, inibidor da ação ativa por parte do aluno, não permitia o desenvolvi-
mento da iniciativa ou espontaneidade na realização de qualquer criação dele. O ensino era centrado
no professor que apresentava os conteúdos totalmente desvinculados da realidade, não havendo ne-
nhuma articulação com o contexto social ou com o momento histórico que estava sendo vivenciado.
A avaliação, nesta concepção, tem a função de exame, pois valoriza os aspectos cognitivos
com ênfase na memorização; a verificação dos resultados se dá através de provas orais ou escritas nas
quais o aluno deve reproduzir exatamente aquilo que lhe foi ensinado. A tradição dos exames escola-
res que conhecemos hoje, em nossas escolas, foi sistematizada nos séculos XV e XVII, com as confi-
gurações da atividade pedagógica produzida pelos padres Jesuítas(Séc.XVI) e pelo Bispo John Amós
Comênio (fim do Séc. XVI e primeira metade do séc. XVIII) ( LUCKESI, 2003; SAVIANI, 2005).
Cabe ao educador desenvolver estratégias que lhe permitam conhecer os erros e acertos do
aluno a fim de promover o seu objetivo cognitivo.
Neste sentido, os dados adquiridos numa abordagem classificatória não possibilitando a superação
diante do conhecimento (ato de reconstrução de saberes), mas é mecanismo de diagnóstico da situa-
ção e ponto de partida para o avanço e o crescimento, não a “estagnação disciplinadora”. (LUCKESI,
2000, p.32).
Dessa forma, o ato de avaliar não serve como pausa para pensar a prática e retornar a ela;
mas sim como um meio de julgar a prática e torna-la estratificada. De fato, o momento de
avaliação deveria ser um “momento de fôlego” na escalada, para, em seguida, ocorrer a
retomada da marcha de forma mais adequada, e nunca como um ponto definitivo de chegada,
especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico como, no caso, a aprendizagem.
Com a função classificatória, a avaliação não auxilia em nada o avanço e o crescimento.
Somente com a função diagnóstica ela pode servir para essa finalidade. (LUCKESI, 2000,
p.34-35).
Para Luckesi (2000) a avaliação emancipatória visa promover os sujeitos, a libertação dos mo-
delos classificatórios e de estagnação social, proporcionando seu crescimento. Deste modo, não pode
ser o momento final da aprendizagem, mas, sim, parte deste processo, de modo que haja a percepção,
a crítica e a prática dos agentes ( aluno e professor). Cabe ao professor mediar a interação do aluno
com o objeto de conhecimento, proporcionando-lhe meios para que a construção dos saberes ocorra.
E professor e aluno devem aprender com a avaliação: o primeiro, ao perceber os limites e o estágio
de conhecimento do aluno em relação a determinado tema/assunto; este, por sua vez, ao detectar os
temas em que tem dificuldade.
Os jesuítas (século XVI), nas normas orientações dos estudos escolásticos, seja nas classes
inferiores ou nas superiores, ainda que definissem com rigor os procedimentos a serem levados em
conta num ensino eficiente [...], tinham um atenção especial com o ritual das provas e exames [...].
(2008. P.22).
Portanto, como ponto de partida para considerações posteriores, é importante analisar cuida-
dosamente o aspecto problemático da avaliação da aprendizagem, pois em muitas escolas brasileiras,
os professores fazem a defesa das provas como único instrumento e, ainda, como verificador qualita-
tivo e punitivo, tendo definidos períodos exclusivos para essa finalidade.
A concepção tecnicista teve inicio no século XX, nos Estados Unidos, com estudos do teórico
Thorndike sobre os testes educacionais, com influência da psicologia. Os testes psicológicos de inte-
ligência têm a função de mensurar os comportamentos e a aprendizagem pode ser então quantificada.
Segundo Chueiri (2008, p.56), essa forma de conceber a avaliação, oportunizou a “expansão de uma
cultura dos testes e medidas na educação”; nessa pedagogia se comprova o rendimento com base
nos objetivos comportamentais, os quais se reduzem a uma medida e, portanto, separa o processo de
ensino de seu resultado. Para esta “autora” a ideia de avaliar, não só para medir mudanças compor-
tamentais, mas também a aprendizagem, portanto para quantificar resultados, encontra-se apoiada na
nacionalidade instrumental preconizada pelo Positivismo “(2008 p56)”.
Uma medida é objetiva no sentido de que, uma vez definida a unidade, deve-se ter sempre a
mesma medida para o mesmo fenômeno. Certamente, um erro é sempre possível, devido às
imperfeições da instrumentação, pois ele resulta então das condições de operacionalização
dos instrumentos. Ele provém da operação de medida e, portanto neutralizado (HADJI, apud
CHUEIRI, 2008, P.56).
A avaliação reduzida a uma medida, ou seja, à veracidade da prova, supõe aceitar a prova
como um instrumento, não levando em conta que a subjetividade de quem avalia pode, embora não
devesse influenciar no resultado; assim:
Este conceito de avaliação tem caráter excludente, pois os resultados dos testes tinham função
de explicar a eliminação dos “retardados mentais”, bem como o ingresso segundo as condições cog-
nitivas da cada sujeito.
Embora Luckesi (2003) reconheça a utilidade e a necessidade dos exames nas situações que
exigem classificação, como os concursos, e naquelas que requerem certificação de conhecimentos,
para ele, a sala de aula é o lugar onde, em termos de avaliação, deveria predominar o diagnóstico
como recurso de acompanhamento e reorientação da aprendizagem, em vez de predominarem os exa-
mes como recursos classificatórios (Luckesi, 2003, p.47).
Desta forma, mesmo que seja defensável a atribuição de notas/conceitos por docentes em
busca de elementos indicativos da promoção dos estudantes, assim como a elaboração de índices de
desemprego pelos governos, permitindo gerar uma referência nacional de qualidade do ensino, cabe
reconhecer que os processos avaliativos em vigor pouco ou nada contribuem para construção de co-
Para a dificuldade de avançar nessa perspectiva concorre tanto a cultura avaliativa herdada da
escola tradicional quanto a falta de conhecimento dos professores sobre as concepções de avaliação
presentes nos procedimentos que empregam – ou seja, falta de formação quanto às possibilidades de
contribuição da avaliação para os processos de ensino-aprendizagem.
No que diz respeito á cultura avaliativa, não podemos esquecer a base autoritária e discipli-
nadora que constitui e que ainda fundamenta a organização pedagógica e burocrática das escolas de
ensino fundamental. As práticas educativas, inclusive as avaliativas, refletem o caráter sócio-históri-
co-cultural da educação, do mesmo modo que esta perpetua e alimenta determinadas práticas sociais.
Sendo assim, como ressalta Cipriano (2007, p.45), embora tenhamos nas escolas um discurso de
desejo de formação dos alunos por meio de processos de aprendizagem significativas, de promover
sujeitos, emancipar mentes e transformar o meio social via formação reflexiva e crítica, a avaliação
permanece repressora – conteudista, sem considerar o histórico e o processo de cada aluno, sem au-
xiliar o docente a elaborar estratégias para práticas de ensino futuras.
“A avaliação na sala de aula tem que estar para além do autoritarismo” fundamentada numa
concepção de conhecimento, sociedade e educação, que possibilite ampliar a compreensão
do processo avaliativo para além da verificação. O autoritarismo da avaliação exclui ou
ignora um fazer com a responsabilidade pelo aprender. Ela não é para dominar, não é para
o professor, mas para a emancipação do aprendiz. [...] (LUCKESI 1980 apud CIPRIANO,
2007, P.45).
(...) o conhecimento deve ser o referente teórico que dá sentido global ao processo de
realizar uma avaliação. Aqui está o sentido e o significado da avaliação, como substrato, o
da educação. (p.29).
Portanto, para esse autor, a avaliação está estritamente ligada a natureza do conhecimento, e
uma vez reconhecida essa natureza, a avaliação deverá ajustar-se a ela se quiser ser fiel e manter a
coerência epistemológica.
Nessa direção, partimos do pressuposto de que a avaliação, como prática escolar, não é uma
atividade neutra ou meramente técnica, isto é, não se dá num vazio conceitual, mas é dimensionada
por um modelo teórico de mundo, de ciência e de educação, traduzida em prática pedagógica.
Uma avaliação espelha um juízo de valor, uma dada concepção de mundo e de educação,
e por isso vem impregnada de um olhar absolutamente intencional que revela quem é o
educador quando interpreta os eventos de cena pedagógica. (p.173)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste texto, procurou-se discutir a compreensão que temos do processo de avaliação
da aprendizagem, com base na Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional nº 9394/96 e o que
ocorre dentro dos sistemas de Ensino.
Observasse também que avaliar tem-se confundido com a possibilidade de medir a quantidade
de conhecimentos adquiridos pelos alunos e alunas, considerando o que foi ensinado pelo professor
ou professara.
A complexidade das questões relativas à avaliação, assim como a multiplicidade dos atores
envolvidos nos seus processos, não permite propor ações imediatas com o intuito de rever dificulda-
des no curto prazo. Distante de imaginar que a mera inclusão de uma disciplina/conteúdo na grade de
formação seja capaz de alterar o quadro aqui descrito, para que avanços ocorram tanto na teoria quan-
to na prática, parece-nos necessários que instituições encarregadas na formação de professores, em
todos os níveis (graduação, pós-graduação, formação continuada), atentem para a importância deste
tema. Do mesmo modo, cabe aprofundar pesquisas sobre como os professores pensam e elaboram os
processos avaliativos, investigando os fundamentos das suas práticas. Tais medidas devem merecer
atenção das políticas públicas, podendo ser chave para elevar os índices resultantes dos testes de larga
escala.
Mas, ainda que os objetivos dos diversos atores sociais envolvidos nestes processos estejam
imbuídos do ideal emancipatório, ou seja, de promoção de sujeitos e contribuição para a aprendiza-
gem, a herança cultural da avaliação classificatória da escola tradicional, aliada à falta de formação e
conhecimento dos professores sobre práticas formativas, não permite contemplar estes objetivos.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, que vigora
atualmente no país,
A verificação do rendimento escolar deve se dar por meio de uma avaliação contínua e
cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais (art.
24, inciso V).
Como se pode notar, com base na lei, o processo avaliativo deve ser contínuo e os critérios
qualitativos prevalecem sobre os quantitativos. Mas, na verdade, isso não acontece. Atribuir uma
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O artigo em questão distende através de uma pesquisa bibliografia de diversos autores que
apresentam acerca o processo de alfabetização, tendo como objetivo compreender o processo da al-
fabetização pelo quais as crianças passam suas dificuldades e aprendizagem no processo educacional
e escolar. Por isso, no desenvolvimento deste trabalho apresentaram-se as discussões que vem sendo
realizadas nos âmbitos da alfabetização e daquelas que estão sendo feitas na linguística, voltados para
os aspectos que envolvem a aquisição da linguagem escrita e aprendizagem da leitura.
De acordo com Soares (2000) quando acercamos o assunto alfabetização estamos nos re-
trogradamos a consecução da leitura e da escrita, enquanto que ao tratamos de letramento estamos
alegando a requisito de quem não apenas sabe ler e escrever, mas que realiza atividades que usam a
escrita.
Salienta a importância do professor alfabetizador para que este transcurso seja trabalhado de
modo competente, onde ele seja capaz de alcançar alternativas e estratégicas diversificadas para que
a aprendizagem da leitura e escrita aconteça amplamente. Valorizar os ambientes alfabetizador pode
apresentar-se como um suporte fundamental para que o processo de alfabetização seja alcance os
objetivos com coerência, e assim as crianças atinjam seus objetivos, tornar-se cidadãos atuantes na
sociedade.
Segundo Teberosky (2003) os professores como guiadores deste processo possuem a res-
O processo da alfabetização deve considerar que o mesmo inicia, antes da criança iniciar sua
vida escolar, pois ela vive em constante aprendizagem. De acordo Palhares (2016) crianças de socie-
dades como a nossa, muito centradas na escrita, já iniciam seu processo de alfabetização e letramento
antes mesmo de chegar às instituições de ensino formal. Aprender a ler e escrever faz parte dessa
aprendizagem. Neste contexto Ferreiro (1999, p.47) afirma que “a alfabetização não é um estado ao
qual se chega, mas um processo cujo início é na maioria dos casos anterior a escola é que não termina
ao finalizar a escola primária”.
Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes,
divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas
começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de
interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropriar-se
da escrita. (FERREIRO, 1999, p.23).
O aprendizado que a criança traz em sua bagagem, é fundamental para aperfeiçoar o mesmo e
construir outros conhecimentos. Pois ao refletir sobre o processo de integração dos alunos na escola
acontece através da obtenção da leitura e escrita. Compreender o processo de alfabetização das crian-
ças da leitura e escrita, situação está importante para a inclusão na vida social, proporciona entendi-
mento e respeito do universo da ligação que influencia na construção da vivencia da criança, e é neste
momento que o desenvolvimento humano se dá a partir da compreensão mundo.
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Uma pessoa alfabetizada conhece o código alfabético, domina as relações grafo fônicas, em
outras palavras, sabe que sons as letras apresentam, é capaz de ler palavras textos simples,
mas não necessariamente é usuário da leitura e da escrita na vida social. Pessoas alfabetizadas
podem, eventualmente, ter pouca ou nenhuma familiaridade com a escrita de jornais, revistas,
documentos, e muitos outros tipos de textos; podem também encontrar dificuldades para
se expressarem por escrito. [...] Letrado, no sentido em que estamos usando esse termo,
é alguém que se apropriou suficientemente da escrita e da leitura a ponto de usá-las com
desenvoltura, com propriedade, para dar conta de suas atribuições sociais e profissionais
(CARVALHO, 2007, P.66).
Neste contexto, pode-se considerar que o alfabetizado conhece o código, lê e escreve, mas têm
pouca familiaridade com textos que circular nas diversas instâncias sociais. A aquisição do código
pode ter ficado restrito ao material didático e a pessoa acaba construindo a ideia de que somente este
tipo de texto serve para aprender ler e escrever. Enquanto, o letrado, por sua vez usa a leitura com
desembaraço para resolver situações na vida social e profissional, mas desconhece o funcionamento
do código.
Ao pensarmos em alfabetização devemos ter em mente que as crianças possam atingir seu
desenvolvimento de forma continua, onde seus conhecimentos consiga interagir socialmente com
o outro, ter acesso aos bens culturais e agir no mundo letrado. Pois a alfabetização e letramento são
palavras chave para o mundo social, porque é através da alfabetização e do letramento que as pessoas
conseguem participar diretamente do mundo no exercício de suas funções sociais, buscando o domí-
nio do código convencional da leitura e da escrita em suas práticas sociais.
Letramento é usar a escrita para se orientar no mundo (o atlas), nas ruas (os sinais de transito)
para receber instruções (para encontrar um tesouro... para consertar um aparelho... para tomar
um remédio), enfim, é usar a escrita para não ficar perdido (SOARES, 2004, p. 43).
Ainda segundo Soares (1998): Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não insepará-
veis, ao contrário, o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e a escrever no contexto das
práticas sociais da leitura e da escrita (SOARES, 1998, p. 47).
Nesta perspectiva, percebe-se em uma sociedade letrada as crianças mantém-se uma interliga-
ção com a linguagem escrita, compreendendo sua utilização, características e modalidades, bem antes
do seu ingresso na escola. Letramento e alfabetização são processos distintos, porém interdependen-
tes e indissociáveis. Soares aponta que no letramento ocorre,
[...] imersão das crianças na leitura e na escrita, participação em experiências variadas com
a leitura e a escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material
escrito – e o que é propriamente da alfabetização, [...] consciência fonológica e fonêmica
das relações fonema-grafema, habilidades de codificação e decodificação da língua escrita,
conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da forma sonora da fala para a
forma gráfica da escrita [...] (SOARES, 2003, p.15)
Quando a criança inicia o processo de alfabetização passa a ampliar sua visão de realidade,
com isso torna-se fundamental que esse processo seja estimulado e ofertado subsidio para que se tor-
ne importante e com ênfase na vida das crianças. Pois uma proposta de alfabetização requer organi-
zar rotinas, em projetos sequenciais e atividades permanentes e escolhas de bons materiais de leitura
e escrita, como ainda saber estudá-los, fazendo uma reflexão sobre a escrita e com práticas sociais
de leitura e produção de textos torna-se bem mais efetivo neste processo que requer o conhecimento
propriamente dito. (HANCK , 2006)
Pode-se observar que o desenvolvimento das crianças dá-se através das mais variadas ma-
neiras diferentes suportes como placas, outdoors, rótulos de embalagens, escutam histórias e nessas
experiências culturais com práticas de leitura e escrita a criança vai se constituindo como sujeito
letrado, construindo seu aprendizado com significado, tornando-se um cidadão atuante na sociedade.
(KLOSINSKI,2003).
Morais e Albuquerque (2004) contribuem quando ressaltam que: As crianças vivem em am-
bientes ricos em experiências de leitura e escrita, não só se motivam para ler e escrever, mas come-
çam, desde cedo, a refletir, ter sobre as características dos diferentes textos que circulam ao seu redor,
sobre seus estilos, usos e finalidades.
Nesse entendimento, Morais e Albuquerque (2004) afirmam que para alfabetizar letrando fa-
z-se necessário democratizar a vivencia de práticas de uso da leitura e escrita e ajudar a criança a
ativamente reconstruir essa invenção social que é a escrita alfabética. Esses autores referem–se sobre
os aspectos constitutivos de uma prática de alfabetização na perspectiva do letramento, pois entende-
-se que ser letrado é empregar a leitura e/ou a escrita, nas diferentes situações sociais, tanto público
quanto privadas. Assim, a ampliação dos modos de acessos e de intervenção no universo letrado
estará vinculada à dimensão sistêmica e discursiva da língua configurando – se na alfabetização e no
letramento.
O PROFESSOR ALFABETIZADOR
O professor alfabetizador precisa de outros dons para se sair bem. Ele deve ter respeito pelos
alunos, evitar o papel de cúmplice de um sistema interessado em manter esmagada uma grande parte
do seu povo, confiar na capacidade de desenvolvimento dos alunos e ter criatividade, inventividade,
iniciativa, combatividade e fé em sua capacidade de tornar este mundo melhor. (LEMLE, 1988, p.6)
O docente precisa compreender como o sistema da escrita funciona. Deve entender que a fala,
a leitura são processos distintos, porém, interligados, pois a aprendizagem da escrita tem com a fina-
lidade a leitura. Esta, por sua vez focaliza a fala.
Cagliari (2007) diz que, “[...] a alfabetização é a aprendizagem da leitura e da escrita. [...] ler
e escrever são atos linguísticos”. Portanto, ao professor alfabetizador, é de fundamental compreen-
der como a linguística aplicada à alfabetização explica certas situações que ocorrem no ato de ler e
escrever, principalmente, os aspectos relacionados à variação linguística. Contudo, faz-se necessário
entender que os atos que o ato de ler e escrever não são tão simples como parecem “[...] a escrita é
algo com o qual nós, adultos, estamos tão envolvidos que nem nos damos conta de como vive alguém
que não lê e não escreve, de como a criança encara essas atividades...” (CAGLIARI, 2007, P.96).
Segundo Cagliari,
Para nós, adultos quaisquer A é A, seja ele escrito como for. Quando a criança começa a
aprender a escrever, ninguém lhe diz isso e, muitas vezes, ela fica admirada diante das coisas
que a professora (e os adultos) fazem com as letras. (CAGLIARI, 2007, P.97).
Uma boa proposta de alfabetização requer que do professor alfabetizador um bom planeja-
mento o que pressupõem saber como os alunos escrevem, organizar rotinas em projetos, sequências
e atividades permanentes e escolher bons materiais de leitura e estudá-los, Além disso, não podem
faltar em sala as letras do alfabeto, a lista de nomes dos estudantes, livros e os textos à gostos das
crianças. Assim na hora de escrever, eles terão onde se apoiar ou verificar palavras conhecidas oficiais
e se as antecipações realizadas estão corretas.
O processo ensino aprendizagem deve estar pautado entre a teoria e a prática, neste sentido
ter os ambientes alfabetizadores nas salas é importante visto que nossos alunos apreendem das mais
diversas formas e tempos. Assim sendo, este processo deve contemplar atividades aos alunos que
permitam observar, comparar, operar, experimentar, pesquisar, aplicar e manusear objetos reais.
Ambientes alfabetizadores precisam ser antes de tudo, apresentados às crianças, não como
mais um espaço disponível, mas como “o lugar”, do saber, do aprender, do criar, do produzir, da troca,
da calmaria, da explosão, da construção do conhecimento.
CONCLUSÃO
Ao concluir este artigo percebe-se que o processo de alfabetização das crianças através de
leitura e escrita, torna-se condição necessária para a integração na vida social. É preciso assimilar e
situar em práticas levando aos nossos estudantes leituras interessantes que forneçam uma identifica-
ção com a vivência diária de cada um.
Como pode-se observar, letramento e alfabetização são processos distintos, mas que não de-
vem ser dissociados. Não se trata de alfabetizar sem letrar ou vice-versa. É importante ressaltar que,
na alfabetização, não se trata de agora em diante, retornar os métodos sintéticos ou analíticos, mas de
selecionar textos significativos que circulam na sociedade e promover uma reflexão sobre a língua.
Enquanto, professor alfabetizador necessita apresentar óbvios em suas ações o objetivo que
pretende atingir, como concebe a alfabetização e o letramento, percebeu também que alfabetizar
letrando, é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, assim o
educando deve ser alfabetizado e letrado para assim construir a aprendizagem de forma ampla e sig-
nificativa. Além do que professor deve ter consciência que alfabetizar não é apenas ensinar a ler e
escrever, o aluno precisa sair da escola, sabendo ler, escrever, inferir, se expressar, compreender, fazer
uso social da escrita.
REFERÊNCIAS
BATISTA, João. ABC do Alfabetizador. 4ed. Belo Horizonte: Editora Alfa Educativa, 2006.
CAGLIARI, Luís Carlos. Alfabetização e Linguística. 10ª ed. São Paulo: Scipione, 2007.
FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização leitura do mundo, leitura da palavra. 3ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 2ª Ed. São Paulo. Ática. 1988. Série Princípios.
__________ Letramento: um tema em três g êneros / Magda Soares. 2. ed. 8. Reimpor. Belo Hori-
zonte: Autêntica 2004.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
PALHARES.I 2016, A alfabetização deve começar na educação infantil, disponível em: http://
sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,a-alfabetizacao-deve-comecar-na-educacao-infantil-
--imp-,1825077
TEBEROSKY, Ana. Aprender a ler e escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: 2003.
A história dos números tem alguns milhares de anos. É impossível saber exatamente como
tudo começou. Mas uma coisa é certa; os homens não inventaram primeiro os números para
depois aprenderem a contar. Pelo contrário, os números foram se formando lentamente, pela
prática diária das contagens. (VITTI ,1999, p. 50).
Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, defende que a evolução do ser humano nem
sempre é gradual, a raça humana pode retroceder com o passar dos anos. Fora o que aconteceu com
o ensino de matemática, por um lado os problemas se multiplicaram de forma monstruosa, mas o en-
sino não foi associado a resolução de problemas reais, que podem ser visualizados pelos aprendizes.
Criou-se uma matemática desconectada do real, que na maioria das vezes não é compreendida pelo
aluno.
Charlot, pesquisador francês dos processos de aprendizagem afirma:
Aprender é uma relação entre duas atividades: a atividade humana que produziu aquilo que
se deve aprender e a atividade na qual o sujeito que aprende se engaja — sendo a mediação
entre ambas assegurada pela atividade daquele que ensina ou forma. Em termos simples: para
apropriar- se de um saber, é preciso introduzir-se nas relações que permitiram produzi- lo.
O essencial não é repetir a própria atividade humana, tal como ela ocorre ou ocorreu, mas
adotar, durante a atividade de aprendizagem, a postura (relação com o mundo, com o outro e
consigo mesmo) que corresponde a essa atividade humana. Esta é uma condição necessária,
mas não suficiente: é preciso, a partir dessa postura, dominar as operações específicas de tal
atividade -aquelas que constituem sua normatividade. Por outro lado, o processo pode ser
invertido: o domínio progressivo das operações permite, pouco a pouco, assumir a postura.
(CHARLOT, p. 20. 2001).
Falta no ensino de matemática uma situação problema, os conteúdos estudados para fazer parte da
vivência dos estudantes, não é possível aprender algo que não faz parte da sua realidade, por isso a
aversão ao ensino matemático.
O professor que atua no ensino regular sempre é desafiado a ensinar matemática para não-ma-
temáticos, o que torna o processo ainda mais completo. O processo ensino aprendizagem pressupõe
alguém que quer ensinar e outrem que deseja aprender, como a utilidade da aprendizagem matemática
não é demonstrada o processo é falho. Na maioria das vezes tem-se de um lado o educador que deseja
ensinar, mas falta do aluno o querer aprender, no mundo da liberdade é impossível subjugar o desejo
do outro.
1 Teoria defendida por Rousseau no Século XVI, diz respeito a capacidade de mudança, o homem não pode per-
manecer no mesmo estado.
O professor do século XXI precisa estar disposto a lidar com as novas tecnologias em sala
de aula, a maioria dos professores ainda veem a tecnologia como empecilho para o processo de
aprendizagem tradicional. É praticamente impossível lidar com educação neste século sem o uso
da tecnologia, o ensino bancário não chama desperta a curiosidade do estudando, a curiosidade é o
principio fundante do processo de aprendizagem.
2
O PNC recomenda diretamente o uso de tecnologia na educação:
Entretanto o simples uso das TICs em sala de aula não resolve a questão, é preciso colocar a
tecnologia a favor da educação.
O Scratch é um sistema open source que foi desenvolvido pelo professor Mitchel Resnick,
do grupo MIT Edu em 2007 para fins educacionais. Segundo a empresa desenvolvedora o sistema é
usado em mais de 150 países e está disponível em mais de 40 línguas. A média de idade dos usuários
varia entre 8 e 16 anos. A maior concentração de usuários se encontra nos Estados Unidos, onde a
programação com Scratch é introduzia como componente curricular nas primeiras fases do ensino.
O programa possibilita que o usuário trabalhe com programação de forma simples, podendo
aliar em um mesmo projeto gráficos, animações, músicas e sons. A interface é intuitiva e composta
por três áreas principais, a saber: Palco, que é a interface gráfica do sistema; Bloco de comandos, par-
te que contém os todos comandos que podem ser utilizados; Área de comandos, nessa parte é criada
a programação.
Todas as ações e movimentos do aplicativo saem do bloco de comando e são arrastadas para
a área de comandos. Os comandos são prontos, cabe ao usuário organiza-los da forma desejada. No
exemplo a seguir quando o usuário clicar em iniciar seu personagem vai andar 1 passo e essa ação vai
ser repetida 10 vezes.
Como pode ser visto acima, as peças precisam estar devidamente encaixadas para que ação
se realizada. O Scratch tem varias formas de encaixe conforme visto na figura 3. No caso abaixo o
personagem não ira executar nenhuma ação, já que as peças não estão devidamente encaixadas.
A pesquisa contou com estudantes do 7ª ano ao 9ª ano do ensino fundamental, na faixa etária
3
de 11 a 15 anos. Os encontros se deram durante a eletiva de Criação de Jogos Digitais. Foram três
turmas de 17 alunos cada com duas aulas seguidas uma vez por semana.
Em um primeiro momento o software livre Scratch foi apresentado aos estudantes, bem como
seus comandos básicos e a lógica para criar blocos de ação. Os alunos também foram orientados
quando a postura em sala de aula, não sendo permitido a abertura de sites não relacionados os Scratch
e o uso de celulares.
Em um segundo momento fora proposto aos estudantes a criação de algumas ação e jogos
específicos disponíveis no Apêndice A. As aulas sempre tinham como principio que o estudante
aprendesse a logica de programação criando um jogo pre estabelecido pelo professor, depois um
momento livre para criatividade, podendo o aluno criar um jogo ou animação de sua preferência, já
que aprendeu a programação e consegue pensar logicamente sozinho.
Para coleta dos resultados os alunos foram submetidos a resolução de questionário de pesquisa
utilizando o Google Forms. Depois aplicou-se o método de análise quantitativo para analise e junção
dos dados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O problema gerador desta pesquisa foi a aversão dos alunos ao ensino de matemática tradicional,
é comum encontrar alunos até mesmo no ensino médio com grande dificuldade nas operações básicas.
A maioria dos professores ensinam o conteúdo de forma mecânica, sem se preocupar com uma
matemática que nasce dos problemas enfrentados no dia-a-dia do aluno. Na eletiva os problemas
lógicos matemáticos tinham notória semelhança com o dia a dia dos estudantes, já que todos gostavam
de jogar.
3 O grande diferencial das disciplinas eletivas é que os estudantes têm a opção de se matricular na eletiva de sua
preferência.
Na primeira aula foi apresentado aos estudantes a história da computação. Desde a criação
do primeiro computador até a o desenvolvimento da internet. Durante a apresentação os alunos foram
convidados a pesquisar os fatos na internet, a cada nova descoberta via-se a empolgação dos mesmos.
4
Os estudantes ficaram muito impressionados com o fato do ENIAC ter cerca de 180 m² e pesar 30
toneladas.
Algoritmo é o passo a passo de como fazer cada coisa. Com esse conceito simples iniciamos a
aula e pedimos os estudantes que criassem um algoritmo para as ações de vir a escola, fazer uma prova,
tomar banho, conversar no WhatsApp, dentre outras ações. Cada passo foi exemplificado de forma
detalhada pelos alunos.
Definido o conceito de algoritmo agora é possível criar um jogo ou animação com sequência
lógica. Nesta aula já surgiram as primeiras animações, o personagem se movia e falava alguma frase.
A ideia de movimento já era concebida pelos estudantes, foi preciso então introduzir a ideia
condicional. Sempre – Se, tocar na cor, volte, conforme exemplo abaixo.
4 Primeiro computador criado em 1946 pelo exército dos Estados Unidos da América.
Esse foi o primeiro jogo bom objetivo, o jogador não deveria chegar ao final do jogo, mas cada
vez que ele encostava na borda do labirinto ele voltava para o inicio do jogo de tinha de refazer seu
caminho.
Depois do primeiro jogo ficar pronto, os estudantes foram convidados a colocar mais algumas
funções para aumentar o grau de dificuldade do jogo, para isso foi introduzido um novo personagem.
O novo personagem que ficariam andando na tela e sempre que o personagem principal o tocasse teria
que iniciar o jogo voltando para a posição de início. Foi apresentada também a ideia de fases no jogo,
sempre que o personagem principal chegar a tal ponto do jogo o mesmo trocaria o plano de junto do
Scratch passando assim para outra fase.
Por fim os estudantes vendo a função som no Scratch ficaram curiosos para ver seu
funcionamento, optamos então por colocar som nesse jogo. Não foi necessário explicar para cerca
de 50% da turma como funcionava, alguns por intuição outros por que olharam na internet como
implementar o som, alguns estudantes chegaram a baixar músicas e sons da internet para seus jogos.
Fora proposto aos alunos a criação de um jogo com as operações básicas da matemática.
O jogo deveria sortear dois números aleatórios, perguntar qual seria a soma, adição, subtração ou
multiplicação dos mesmos, pedir ao jogador que informe qual a resposta correta e por fim verificar se
a resposta informada estava correta ou não.
Nesta aula introduzimos o conceito de variável, os estudantes criaram 3 variáveis N1, que
armazena o primeiro número sorteado, N2 que armazena o segundo número e pôr fim a variável
resultado, que armazena a relação entre os dois números.
Os estudantes se sentiram desafiados a fazer um jogo mais complexo, alguns nunca imaginaram
que seriam capazes de fazer tal programação, entretanto 100% da turma conseguiu realizar com
maestria. Alguns ainda foram além sempre que o jogador errava a questão o jogador mudava de
feição, o mesmo acontecia quando a resposta estava correta.
4. CONCLUSÃO
O projeto é bem simples de ser replicado por outros professores, o professor pode acessar
o site http://scratch.mit.edu e criar sua conta gratuita possibilitando assim a criação dos jogos, caso
não tenha internet na escola também é possível usar o Scratch de forma offline. Também é possível
encontrar vídeo aulas ensinando como utilizar a ferramenta.
Para que a experiência seja aplicada basta que se tenha na escola laboratório de informática,
como já mencionado não necessitante precisa de ter acesso a internet. Esse projeto pode ser aplicado
por professor de qualquer área, não necessariamente ligado as ciências exatas, já que o Schatch é
interdisciplinar.
5. AGRADECIMENTOS
Agradeço em especial aos estudantes pela dedicação e envolvimento com as aulas propostas e
a coordenação do CEPI Professor Pedro Gomes pelo apoio no desenvolvimento deste projeto.
6. REFERÊNCIAS
VITTI, C. M. Matemática com prazer, a partir da história e da geometria. 2ª Ed. Piracicaba – São
Paulo. Editora UNIMEP. 1999. 103p.
Com esse objetivo este estudo realizou uma pesquisa em uma escola estadual da rede pública
de Curitiba que, por meio de entrevistas com a diretora da escola, com o secretário administrativo e
uma pedagoga, além de observação em campo e pesquisa documental, buscou levantar as principais
dificuldades relacionadas a gestão, categorizando-as em 4 dimensões. As dimensões foram: gestão
financeira, gestão de pessoas, gestão pedagógica e gestão das condições de trabalho.
Espera-se com esta pesquisa contribuir para uma melhor compreensão das barreiras que
envolvem a gestão escolar e o exercício do diretor escolar na prática que podem prejudicar a prestação
de um ensino de qualidade para a comunidade. Além disso pretende-se mostrar quais são as iniciativas
e ações desenvolvidas por este profissional a fim de superar as dificuldades encontradas e que podem
servir de inspiração para outros gestores na educação que encontram os mesmos embaraços em suas
práticas no dia a dia.
REFERENCIAL TEÓRICO
Ademais existem os recursos recebidos diretamente nas escolas que, se por um lado possibilitam
maior transparência e agilidade no suprimento das necessidades mais urgentes da escola, por outro,
representam para os gestores novos desafios no sentido de conhecer quais financiamentos sua escola
pode ter acesso, aprender as regras de utilização de cada um dos fundos, e o conhecimento necessário
para realizar as adequadas prestações de contas. Desta forma administrar recursos escassos passa a ser
uma das atribuições frequentes dos gestores escolares brasileiros (VELOSO, 2001).
Em relação a gestão de pessoas considera-se que atua como elemento-chave para que as
organizações escolares possam obter desempenho satisfatório (MEMON; MANGI; CHANDAN,
2009). Nas escolas públicas, a gestão de pessoas diz respeito à aspectos como o ingresso dos
colaboradores na escola, a influência dos líderes sobre os colaboradores, a avaliação de desempenho
dos mesmos e os relacionamentos existentes entre os gestores e os funcionários da escola.
Romão e Padilha (1997) apontam que as formas de provimento de cargos de diretores escolares
no Brasil são a nomeação (indicação), o concurso público, a eleição ou o esquema misto. Nesse
último, avalia-se a competência técnica do candidato e na sequência, realizam-se eleições por parte
da comunidade. Já no diz respeito ao ingresso dos demais funcionários das escolas como professores
e colaboradores em geral o ingresso de dá por meio de concurso público (THOMAZINI; JACOMINI,
2019).
Outro aspecto concernente à gestão de pessoas se refere à liderança e sua influência sobre
os colaboradores. Evidencia-se relevante o papel dos líderes sobre a motivação de seus liderados.
Neste exercício dos líderes, que sabem comunicar-se são capazes de motivar e inspirar as pessoas a
Em termos da gestão das condições de trabalho nas escolas Vidal et al. (2005) apontam que
esse representa um fator de sucesso para o aumento da criação de valor na escola. Outros autores
como Lee, Franco e Albernaz (2004) e Soares e Sátyro (2008) corroboram a ideia e complementam
que, quando adequada, a infraestrutura física das escolas influencia positivamente o desempenho
dos alunos. Entretanto a condição da maior parte das escolas brasileiras é de deficiente infraestrutura
física e quantidade escassa de equipamentos para o desenvolvimento do trabalho dos colaboradores
como carteiras, lousas, equipamentos, dentre outros (GONÇALVES; SPOSITO, 2002). Além disso,
a segurança daqueles que estudam e trabalham nas escolas merecem atenção. Autores como Codo
(1999) e Batista e El-Mor (1999) evidenciaram que dentre as situações frequentes relacionadas à
insegurança nas escolas estão depredações, roubos; agressões físicas entre alunos e de alunos para
com professores. Neste contexto, além dos desafios de angariar recursos e direcionar ações para
melhoria das instalações físicas da escola, contribuindo para o melhor desempenho dos alunos e
melhoria das condições de trabalho dos colaboradores da escola, também é necessário desenvolver
planos de ação para garantir a segurança dos alunos e colaboradores da escola.
Diante do exposto, ficam claros os desafios enfrentados pelos gestores de escolas públicas
brasileiras e a importância de aprofundar o estudo e os debates em relação a esse tema relevante para
METODOLOGIA
A presente pesquisa foi realizada em uma escola estadual da rede pública de Curitiba-PR e
caracteriza-se como qualitativa e descritiva. Esta técnica foi selecionada por incluir as duas grandes
vertentes em investigação científica que são o rigor da objetividade e a riqueza da subjetividade,
permitindo ao pesquisador aprofundar-se no caso estudado. De acordo com Creswell (2010) são
típicos da pesquisa qualitativa a coleta de dados no ambiente natural, o pesquisador como coletor dos
dados e observador do comportamento dos entrevistados, a utilização de várias fontes de dados como
documentos, observações e entrevistas, além é claro, da possibilidade de investigação interpretativa.
Portanto, partindo-se de uma abordagem qualitativa é possível abordar um fenômeno e conhecê-lo
no contexto em que ele ocorre permitindo assim uma visão mais integrada de vários pontos de vista
importantes dentro do contexto; além disso, o pesquisador pode se manter no que Thiollent (1982)
intitula “situação flutuante” durante a entrevista, permitindo estimular o entrevistado e entender o seu
universo.
Inicialmente a escola foi contatada via telefone e os objetivos da pesquisa foram explicados
a diretora, que aceitou contribuir com a pesquisa. Foram feitas 3 visitas a escola em dois diferentes
turnos (manhã e tarde). Durante as visitas realizadas foram feitas observações, registradas pelos
pesquisadores em diários de campo, e entrevistas com os três principais gestores da Escola: a diretora,
o secretário e a pedagoga. Para isso, foi utilizado e um roteiro de entrevistas e gravador de voz.
Além disso, foram acessados alguns documentos apresentados pelos entrevistados além de pesquisa
na internet a fim de se obter outros dados relevantes da escola.
CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
Construída em 1911, no governo Francisco Xavier da Silva, inicialmente para atender ao Ensino
Primário atualmente o colégio atende ao Ensino Fundamental, Ensino Médio, EJA Fundamental e
Médio. Ao todo estão matriculados 557 alunos, divididos em 3 períodos e 21 turmas.
Em relação à capacitação dos servidores constatou-se que são muito qualificados. Os professores
possuem graduação, sendo que 2 professores possuem mestrado e 1 possui doutorado. Foi relatado
que o governo do estado oferece diversos cursos para capacitar os profissionais e que esses cursos
são satisfatórios. As capacitações acontecem através da Secretaria Estadual de Educação e o Núcleo
Pedagógico do Estado e professores e funcionários fazem os cursos regularmente para se capacitar e
para aumentar a pontuação de carreira a fim de alcançar elevação de nível salarial a cada dois anos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Isso acontece porque, segundo a diretora, as empresas prestadoras de serviço cobram até valores
mais altos para a escola devido aos procedimentos burocráticos excessivos, pois elas precisam prover
documentações diversas, algumas com custo considerável para pequenos prestadores de serviços,
para poder ser fornecedoras de uma escola do Estado. A escola, por sua vez, é obrigada a fazer três
orçamentos em empresas diferentes, e às vezes, por fazer vários orçamentos com uma empresa e não
contratar os serviços dela, a empresa termina por não mais atender a escola. Devido a essas dificuldades
quando há necessidade de alguma ação emergencial, como trocar o vidro de uma janela, por exemplo,
a escola faz com o recurso financeiro próprio da APMF. Entretanto se o valor for mais alto, a escola
precisa contar com os recursos do Estado, o que pode ser bastante demorado e burocrático adiando os
serviços. A diretora acrescenta que a burocracia é necessária para o Estado, pois traz transparência e
legitimidade nas ações perante a sociedade, mas que isso acaba por complicar a solução de consertos
que, na maioria das vezes, poderiam ser mais facilmente resolvidos.
Além disso a diretora comenta que os professores e funcionários sempre são consultados
acerca da aplicação dos recursos financeiros da escola, sendo eles que decidem o que é prioridade e
o que pode esperar um pouco mais para ser resolvido. O entrevistado 2 complementa que a escola
recebe três tipos de verbas, o Fundo Rotativo Estadual, o Programa de Manejamento da Escola e o
Programa Mais Educação. Segundo o secretário, os repasses sempre vem para a escola, as vezes com
uma certa demora, mas nunca deixam de receber.
A escola também conta com uma cantina mantida pela APMF que rende cerca de R$ 90,00
ao dia sendo que a maior parte é destinada ao capital de giro da própria cantina, sobrando um valor
pequeno para utilização em eventualidades, como manutenções emergenciais das instalações.
O entrevistado 2 relata que os recursos para ações emergenciais são os mais complicados, pois é
necessário fazer uma solicitação de cota extra para o governo do estado, e as vezes demora para ser
liberado, bem como é algo burocrático. O procedimento burocrático complica-se devido a linguagem
do sistema on line ser difícil, e que isso exige muita atenção e tempo para realizar a solicitação. Em
alguns casos, os próprios professores e funcionários realizam os reparos necessários, dependendo da
complexidade.
Pelo exposto, pode-se perceber, a partir dos entrevistados, que a responsabilidade pela gestão
financeira da escola é da diretora, com participação do secretário e dos demais que podem auxiliar nos
tramites necessários. Essa dinâmica da gestão financeira da escola apresenta desafios à diretora e aos
envolvidos, tais como a excesso de procedimentos burocráticos e a escassez de recursos, que acabam
por dificultar o processo. Este achado coaduna com a visão de outros autores em que os desafios à
gestão financeira elencados a partir da realidade das escolas pautadas em um sistema centralizado, de
dependência do poder público mantenedor dos recursos e também a pouca autonomia da organização
A gestão de pessoas no espaço escolar público possui características particulares, uma vez
que a escola não tem autonomia para intervir por exemplo na demissão ou admissão de funcionários,
uma vez que estes são concursados. Em relação à problemas com rotatividade e assiduidade dos
colaboradores da escola, foi relatado pelos entrevistados que os professores estão com suas cargas
horárias muito elevadas e às vezes acabam faltando ao trabalho por não conseguir se locomover de
uma escola a outra. Os docentes chegam a lecionar em até três escolas diferentes no dia para conseguir
fechar sua carga horária de aulas e o tempo de locomoção acaba se tornando um entrave. Durante
todas as visitas à escola, os pesquisadores atestaram falta de professores. Nessas situações, os alunos
eram supridos por atividades passadas pela diretora ou pela pedagoga para não ficassem com o tempo
ocioso. Ainda, segundo a diretora, muitas vezes os professores acabam faltando sem justificativas
plausíveis e a escola precisa se adequar para que os alunos não sejam prejudicados pela falta de aula.
Outra questão que influencia é que os contratados temporários não possuem vínculo definitivo
com a escola e mudam constantemente de instituição até para atender as demandas da secretaria de
educação. Isso termina por causar a fragilização do vínculo entre os colaboradores com a escola
(Costa et al., 2012; Flach, 2012).
“Outra situação é a comunicação, o diálogo com o professor que as vezes é difícil. Eu prezo
por dar um atendimento de qualidade na secretaria tanto para o professor quanto para a
comunidade, mas para isso acontecer tem que obedecer a algumas regras. Então a gente pede
para o professor que encaminhe a sua atividade, sua avaliação com 24h de antecedência para
que a gente possa preparar este material. E muitas vezes ele chega em cima da hora pedindo
85 cópias de página frente e verso” (Entrevistado 2).
Em relação à participação dos professores e funcionários, bem como dos pais e da comunidade
externa nas discussões dos documentos norteadores da escola, em especial do PPP, todos os três
entrevistados argumentam que são feitas discussões coletivas para que sejam elaboradas propostas a
serem avaliadas para compor o projeto. A pedagoga, entretanto, afirma que a participação dos pais no
espaço escolar é baixa, considerando que eles trabalham e possuem pouco tempo para interação com
a escola de seus filhos:
Em relação a infraestrutura observou-se que mesmo o prédio sendo antigo e com pontos
de deterioração no geral é limpo, organizado, com boa iluminação e ventilação. O pátio, mesmo
pequeno, atende as necessidades da escola, pois os alunos são divididos em turnos para o intervalo e
atividades físicas. Entretanto no que tange à segurança os três entrevistados foram unânimes em dizer
que a escola não possui vigia ou guarda, tendo somente algumas câmeras no interior da escola e que,
segundo a Entrevistada1, não funcionam perfeitamente. Isso traz riscos a integridade dos alunos e já
houve histórico de furto.
A gestão escolar é fundamental e essencial como base do sistema educativo pois é a partir
dela que se sedimenta uma educação de qualidade que pode estabelecer as bases para promover um
aprendizado com valor e equidade para todos. Portanto é necessário um direcionamento efetivo por
parte dos agentes públicos em direção à superação das atuais barreiras que impedem um modelo mais
efetivo de escola.
Sem a pretensão de aprofundar ou esgotar o tema, esta pesquisa visou investigar as principais
dificuldades de gestão de uma escola pública brasileira na cidade de Curitiba-PR. Através dos
resultados obtidos é possível afirmar que a escola estudada apresenta diversas dificuldades em termos
de gestão financeira, gestão de pessoas, gestão pedagógica e das condições de trabalho. Em relação a
gestão financeira as maiores dificuldades encontradas foram o excesso de procedimentos burocráticos,
a escassez de recursos e as adversidades provenientes da dependência do poder público mantenedor
dos recursos que acarreta em pouca autonomia na organização escolar. Em relação a gestão de pessoas
as maiores dificuldades evidenciadas foram a alta rotatividade, as frequentes ausências de professores
e escassez de recursos humanos.
De maneira geral, encontrou-se que os desafios para a gestão da escola são constantes, mas
é importante frisar que as iniciativas desenvolvidas pelos profissionais da educação conseguem
muitas vezes suprir as demandas ou ao menos, driblar as dificuldades. O esforço e a dedicação desses
profissionais devem ser destacados e merecem maior atenção por parte do poder público e em termos
de reconhecimento da sociedade.
De forma geral os achados dessa pesquisa estão em consonância com a literatura atual sobre
o tema que discorre sobre as mesmas dificuldades encontradas por outros pesquisadores em outros
contextos público escolares. Dentre as limitações da pesquisa destaca-se que o estudo foi realizado em
apenas uma escola o que não permite fazer generalizações sobre os resultados encontrados. Sugere-se
a realização de estudos futuros envolvendo vários casos, de várias escolas e ampliando-se o número
de entrevistados dentro da escola.
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ANA PAULA DE SOUZA SANTOS pelo uso das Tecnologias Digitais da Informação
UEM e Comunicação (TIDCs).
De maneira consensual, não existe, na literatura sobre a história da EaD no Brasil, um marco
histórico que seja apontado taxativamente como sendo o de início das práticas da modalidade. Dessa
forma, na tentativa de compreensão desse percurso, lançamos mão de aspectos destacados com
regularidade entre pesquisadores da área, sem podermos, porém, afirmar que estes sejam únicos.
Alves (2001) salienta que há alguns registros que apontam iniciativas isoladas de ensino
a distância já no final do século XIX, em nosso país. Tais experiências faziam uso de materiais
impressos, sendo divulgadas em jornais e outros materiais/recursos de circulação.
[...] o Jornal do Brasil, que iniciou suas atividades em 1891, registra na primeira edição
da seção de classificados, anúncio oferecendo profissionalização por correspondência
(datilógrafo), o que faz com que se afirme que já se buscavam alternativas para a melhoria da
educação brasileira, e coloca dúvidas sobre o verdadeiro momento inicial da EAD (ALVES,
2001, p. 2).
Doravante as propostas de ensino a distância são intensificadas, não só pelo veículo rádio,
mas de maneira cada vez mais ampliada. Segundo Silva e Costa (2017), no ano 1939, por exemplo,
entra em cena o Instituto Rádio Técnico Monitor (hoje Instituto Monitor[2]), ofertando cursos
profissionalizantes a distância. Em 1940, foi criada a Universidade do Ar, direcionada a orientação
metodológica de professores secundários. No ano de 1947, esta foi incorporada ao Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial(Senac)[3]. Em 1941, foi criado o Instituto Universal Brasileiro[4], que
oferta educação em diferentes etapas e intensidades, abrangendo os Ensinos Fundamental e Médio,
por meio de cursos supletivos e profissionalizantes.
Dentro deste contexto, Saraiva (1996) aponta que a concepção do Projeto Satélite Avançado
de Comunicações Interdisciplinares (Projeto Saci)[5], em 1969, e do Projeto Minerva[6], em 1970
ocupava-se de proporcionar formação a alunos de séries iniciais e professores sem formação.
A partir de 1978, por meio do empenho da Fundação Roberto Marinho, junto à Fundação Padre
Anchieta, criou-se o Telecurso 2º Grau, que posteriormente absorveu também o ensino fundamental,
por meio do Telecurso 1º Grau. Em 1995 o projeto passou a ser conhecido como Telecurso 2000 e
opera até os dias de hoje [7].
“Segundo Belloni (1998), a história da modalidade pode ser resumida como uma série de
ações nem sempre coerentes e muitas vezes contraditórias ligadas a políticas fragmentadas
sem bases estruturantes de médio e longo prazos” (PIMENTEL: 2017).
Pode-se dizer que houve, ao longo dos anos, uma série de tentativas legais de implantação da
EaD no Brasil, em especial no nível de educação superior. A exemplo, temos a investida brasileira
na criação de uma universidade aberta aos moldes da Open University[8] na Inglaterra no ano de
Vem a ser apenas no ano de 1996, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB 9.394/1996), o início da normatização da modalidade. Segundo Burci et al, toda
a regulamentação da EaD é feita por meio de diferentes modalidades de textos, como decretos,
pareceres, portarias e resoluções (BURCI et al: 2017). Entretanto, não podemos dizer que há sempre
ações coerentes ou bases estruturais de médio e longo prazo.
Com a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), por exemplo, por meio
do Decreto nº 5.800/06, sendo esta cristalização de diferentes documentos anteriores, o Estado
brasileiro amplia as discussões acerca das conceituações da EaD e, principalmente, traz o atrelamento
da modalidade à educação pública. Passa-se, então, a haver, sistematicamente, a oferta de ensino
superior público a distância no país.
A ampliação da EaD no Brasil nos anos 2000 corresponde ao seu alinhamento com as prescrições
dos organismos internacionais (BURCI et al: 2017) e a um contexto mundial de políticas públicas
educacionais articuladas “ao discurso da modernidade, da globalização, do acesso à sociedade da
informação” (PIMENTEL: 2016, p. 134). Esta se encontra amplamente relacionada ao uso das TDICs
e interfere “cada vez mais na estruturação da educação presencial, nos níveis de graduação e pós-
graduação, nas esferas pública e privada” (PIMENTEL: 2016, p. 134).
A respeito da UAB, sistema principal pelo qual a EaD é expandida e interiorizada pelo viés
público, recorremos ainda a Costa (2012), que, amparada na obra de Otto Peters (2003), aponta
que o empenho brasileiro se deu na implantação de sistemas de ensino a distância Dumodais – ou
de dual mode. Isso significa que a concepção da oferta de cursos a distância se deu por meio de
universidades já consolidadas na modalidade presencial, se utilizando de sua já consistente estrutura
física e de recursos humanos. No caso do Brasil, inclusive, buscou-se integrar a educação a distância
a instituições de ensino superior públicas, pelo sistema UAB.
A UAB tem sido comumente denominada como Sistema Universidade Aberta do Brasil,
conforme assinala Costa (2012), em referência ao seu design. O sistema é integrado pela parceria
entre Instituições públicas de Ensino Superior (IES) de todas as esferas, configurado como sistema
nacional .
Apesar da rejeição da proposta em sua tramitação no Congresso Nacional, abriu-se caminho
para “tudo o que se tem no país em termos de EaD” (COSTA: 2012, p. 283).Todavia, importa
ressaltar, segundo a autora, que, na implantação de sistemas de ensino a distância, outros países
também encontraram resistência.
Reconhecida apenas em 1996, por meio da LDB – Lei nº 9.394/96, a EaD passa então a ser
pauta prioritária de discussões no MEC. Em 1999, houve a articulação de setenta instituições de
educação superior pública, que passaram a reunir-se no intuito de buscar maneiras de melhorar o
ensino público no Brasil através da educação a distância: foi então criada a Universidade Virtual
Pública do Brasil (UniRede). Foram diversas reuniões, sendo esse consórcio integrado às ações do
Programa Sociedade da Informação, lançado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Segundo Costa (2012), em agosto de 2000, foi finalmente assinado, pelos ministros da
Educação, da Ciência e Tecnologia e das Comunicações, um termo de adesão de lançamento do
consórcio. Formalizou-se a UniRede, que contava então como sessenta e duas instituições de ensino
superior públicas de diferentes denominações: Universidades Federais, Estaduais e Centros de
Educação Tecnológica.
No ano de 2004, por meio da parceria entre a UniRede e a Secretaria de Educação a Distância
(Seed), pertencente ao Ministério da Educação, foi publicado um edital público para chamada das
universidades públicas a desenvolverem cursos de graduação a distância. O Edital 001/2004-SEED-
MEC explicitava a
Após a organização do Fórum das Estatais pela Educação, em 2005, foi publicado o documento
Fórum das Estatais pela Educação: Diálogo para a Cidadania e Inclusão, que teve como proposta a
“criação de uma fundação de direito privado, sem fins lucrativos, denominada Fundação de Fomento
à Universidade Aberta do Brasil” (COSTA: 2012, p. 286). Em 2006, por meio do Decreto nº 5.800,
de 8 de junho, o sistema UAB foi finalmente instituído.
Apesar da defesa e do desenvolvimento da EaD na educação superior sob esse viés, com
vínculo à esfera pública, seguindo a transformações e movimentos nacionais e internacionais, a
modalidade, pouco mais de 20 anos após o início de sua regulamentação, é destaque nos números
de ingressantes e matrículas gerais no último nível de ensino, superando, ano após ano, os dados
quantitativos da modalidade presencial, principalmente na iniciativa privada.
De posse de tais dados, em consonância com o que se tem observado ano após ano, é possível
inferir que a proporção de expansão da EaD é muito mais acentuada e na contramão do que ocorre
com a modalidade presencial. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras
de Ensino Superior (ABMES) em 2018 apontou que, nesse ritmo, em 2023, o número de matrículas
na modalidade a distância será maior que o da presencial, o que aponta para a viabilidade, aceitação
e adesão a essa nova forma de aprender e ensinar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com levantamento bibliográfico publicado por Bondioli e Carvalho, pode-se afirmar
que a EaD
“é uma ferramenta educacional inclusiva desde sua criação, pois permite o acesso a formação
e especialização a cidadãos impossibilitados de dar continuidade a sua educação por outros
métodos” (2015, p. 93).
Podemos dizer que esta parcela da população que passa a ter acesso à educação formal,
especialmente a superior, pela ampliação da EaD, corresponde a diferentes grupos. São elas as pessoas
com deficiência, maiores de 25 anos, de baixa renda, que moram longe das instituições presenciais
ou que possuem incompatibilidades de horários com as aulas presenciais (BURCI et al: 2017). São
pessoas que antes estavam excluídas do processo de escolarização e que, dificilmente teriam acesso
ao ensino sem as especificidades trazidas pela EaD.
Sendo assim, segundo as autoras, a educação a distância se torna mais uma possibilidade para
acesso dos estudantes brasileiros a um ensino de qualidade. Trata-se de uma forma de garantia dos
direitos sociais assegurados pela Constituição Federal de 1988, que, em seu artigo 205, considera a
educação como um direito de todos (BRASIL: 1988).
Mais do que o simples acesso ao ensino formal, a EaD pode ir além. Utilizando como objeto
os Institutos Federais, as autoras Basso e Costa (2018) trazem como proposta a crescente utilização da
EaD para promoção de atividades de extensão universitária. O potencial de tal associação é reiterado
pelas palavras:
As autoras defendem que, considerando os efeitos positivos das atividades de extensão para
toda a comunidade e considerando também as dificuldades enfrentadas pelas instituições em promover
tais atividades, a educação a distância pode contribuir com sua manutenção.
Contudo, levando em consideração que a partir da formalização da EaD houve uma rápida
e intensa expansão dos cursos ofertados pela modalidade, num momento em que as instituições da
iniciativa privada passam a ter destaque e crescimento, preocupa-nos o fato de a educação superior –
e em especial aquela ofertada na modalidade a distância – estar concentrada nos espaços em que os
lucros ocupam local de destaque.
Para além das defesas de um lado ou outro a respeito do desenvolvimento econômico do país,
acreditamos ser necessário pautar, de maneira cada vez mais sistemática e responsável, o crescimento
da EaD no Brasil. Só assim, será possível contribuir para que os ganhos da modalidade, a curto,
médio e longo prazos, sejam observados não apenas nos aspectos quantitativos.
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da educação profissional e tecnológica. V. 1, n. 12, 2017.
MARCIO SILVEIRA NASCIMENTO mized with the help of technology. Being indis-
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecno- pensable for some teaching activities in the dis-
logia do Amazonas – IFAM cipline of geography. Innovation in the teaching
of geography is of great importance, there are
many subsidies, but it needs a direction, a simple
guideline or base on which to support the chang-
es brought about by the insertion of the technolo-
RESUMO: O ensino de geografia sempre en- gies. According to some authors, by geoprocess-
ing, a set of techniques that have the function of
frentou algumas dificuldades no que se refere ao
collecting, processing, analyzing and offering in-
estudo do espaço, o qual necessita de precisas
formation with geographic (or spatial) reference,
informações sobre os lugares. Parte dessas difi- can help in the process of teaching-learning, es-
culdades pode ser minimizada com o auxílio da tablishing a dynamic and interactive classroom
tecnologia. Sendo indispensáveis para algumas environment to raise the learning of geographic
atividades de ensino na disciplina de geografia. A phenomena and teacher-student communication.
inovação no ensino de geografia é de grande im-
portância, existem muitos subsídios, mas precisa KEY WORDS: Geotechnologies, Methodolo-
de um direcionamento, uma simples diretriz ou gies, Teaching.
base em que se apoiem as mudanças provocadas
pela inserção das tecnologias. Assim esta pesqui-
sa abordará como as geotecnologias (ou tecno- INTRODUÇÃO
logias espaciais), conhecidas também, segundo
alguns autores, por geoprocessamento, conjunto As inovações tecnológicas dinamizam o
de técnicas que tem como função coletar, proces- espaço geográfico nas diferentes escalas, do local
sar, analisar e oferecer informações com referên- ao global, molduram a relação do homem com o
cia geográfica (ou espacial), podem auxiliar no
meio, nos seus modos de produção logística e pa-
processo de ensino-aprendizagem, estabelecendo
um meio dinâmico e interativo em sala de aula drões de consumo. Os recursos tecnológicos não
para a elevar a aprendizagem dos fenômenos são apenas ferramentas (máquinas), não substi-
geográficos e a comunicação professor e aluno. tuem o profissional de educação, na verdade deve
PALAVRAS CHAVES: Geotecnologias, Meto- haver a integração da tecnologia (conhecimento)
dologias, Ensino. e sistema técnico (combinação especifica de má-
quinas e métodos empregados para obter um re-
sultado desejado) (GONÇALVES, 1994). A utili-
ABSTRACT: The teaching of geography has al-
zação das geotecnologias no ensino da geografia
ways faced some difficulties regarding the study
of space, which needs precise information about é de extrema importância, surgindo como uma
the places. Part of these difficulties can be mini- ferramenta de suporte, visando o desenvolvimen-
Nesse contexto a tecnologia está cada vez mais inserida em todos os setores da sociedade, e
a escola não fica excluída, portanto a tecnologia deve ser utilizada como um meio, que visa o me-
lhor desempenho do profissional da educação e, ao mesmo tempo despertando o interesse do aluno
pelo conhecimento cientifico. (CORREA et al, 2010). Dessa maneira, propõe-se verificar a utilização
dessas inovações tecnológicas em sala de aula. A preocupação surgiu a respeito da manipulação des-
ta tecnologia, atualmente, as pesquisas agrícolas, geológicas, ecológicas, de planejamento urbano e
regional estão intrinsecamente ligadas a estas tecnologias. No entanto, esta interação (tecnologia e
prática pedagógica), deve percorrer todas as etapas escolares, do básico ao superior. Embora o acesso
ao conhecimento tecnológico, esbarra nas políticas públicas, que infelizmente priorizam outras di-
mensões, especialmente nos países subdesenvolvidos (FITZ, 1999). Vale ressaltar que neste artigo,
alertamos ao leitor, que não estamos propondo substituir o professor pela ferramenta, e sim a integra-
ção para um melhor ensino aprendizado no ensino de geografia.
Dessa forma durante anos, o ensino da disciplina geografia, se regulava no modelo tradicional
em que admitia a descrição, a enumeração, o repasse de conhecimentos, e, que, excluindo as comple-
xidades e contradições do espaço. Esse modelo se consolidou em um estudo meramente descritivo
das paisagens naturais, sem estabelecer vínculos com o social com o humano. Os métodos didáticos
baseavam-se na memorização e na descrição de conceitos que compõem a disciplina.
A insatisfação dos alunos em relação a aulas ditas “tradicionais”, ou seja, aulas expositivas
nas quais são utilizados apenas o quadro e pincel. Argumenta-se que os alunos de hoje precisam saber
para que e por que precisam saber determinado assunto. Essa é a típica aprendizagem utilitária, isto é,
só aprendo se for útil, necessário para entrar no mercado de trabalho, visando ao retorno financeiro.
A internet faz ainda mais o mundo ser digital e acessível aos jovens, é possível encontrar softwares
que fazem uma navegação pelo corpo humano e visualização da Terra do espaço sem sair do lugar. É
difícil, portanto, prender a atenção do aluno em aulas feitas do conjunto quadro + professor.
O papel das tecnologias na educação é de ferramenta enquanto recurso mediador para o ensino
de geografia, assim é necessário a instrumentalização básica dos usuários, neste caso o professor e o
aluno, uma vez que não se irá ensinar sobre as tecnologias, mas como utilizá-las para aprender/ensi-
nar as abordagens geográficas. Ensinar geografia, então, não pode ser confundido com ensinar sobre
as tecnologias de informação e comunicação. Estas darão o suporte que a geografia hoje necessita
para ser entendida na escola. O conhecimento geográfico exige a mediação de recursos educacionais
digitais para ser assimilado em todas as suas possibilidades e dimensões (STURMER, 2011).
Para tal o professor apresenta-se como um mediador entre o aluno e as geotecnologias, no en-
sino aprendizado da geografia. Então o professor deverá ter subsídios para expor ao aluno o conteúdo
e a prática de todas essas ferramentas.
Na prática pedagógica, percebe-se que o professor de Geografia tem por objetivo ensinar a
ciência geográfica ao aluno, despertar nele a vontade de conhecer, compreender e assimilar
a análise do espaço vivido, além das relações sociais e naturais do planeta. O desafio do
professor de Geografia consiste em explicitar os mecanismos de ordem global/regional e as
interferências humanas (CORREA et al, 2010, p. 94).
Dessa forma, estudiosos como Callai (2000), Cavalcanti (2002) e Lacoste (1993) afirmam que
a geografia deve ajudar na construção do cidadão crítico, para que saiba pensar não apenas seu espaço
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante destacar que há diferenças quanto à estrutura das escolas no ensino de geografia,
em escolas públicas é diferenciado e mais crítico pela falta de recursos didáticos atualizados e
em número adequado. Os investimentos em tecnologias e capacitação profissional são pontos
insuficientemente atendidos, o que resulta em dificuldades para os professores de geografia.
Portanto o estereótipo atual de ensino aos poucos está mudando por conta do ingresso das
inovações tecnológicas na educação, professores mais tradicionais enfrentam dificuldades em mudar
sua rotina e sua didática associando a mesma com as novas tecnologias, em contrario a isso, os alunos
estão cada vez mais ligados aos meios digitais e com isso seus comportamentos alteram em favor da
multimídia, interação digital etc., fato este que consequente gera nos professores uma sensação de
impotência devida suas práticas utilizadas atualmente não se tornarem mais vigentes ao período em
que se encontram e com isso os incentivam a buscar novas metodologias e possivelmente possam en-
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CARLOS THIAGO CRUZ DA SILVA ABSTRACT: This article presents a study about
UERJ blacks and the school context. The study was
established within the Colegio Municipal Amaral
ODINO FERREIRA NETO Peixoto, located in the city of rio de janeiro. A
UENF
bibliographical research was done in order to
THOMAS ANDREW HOLMES GOODMAN enrich the work with relevant data and ideas in
Universidade Santa Úrsula society. In addition to bibliographical references,
a field research was carried out in order to know
the local environment to which the school is
inserted. The study addresses the following
RESUMO: O presente artigo traz um estudo
problem question: the lack of a didactic sequence
acerca do negro e o contexto escolar. O estudo
addressing the black as an important character in
foi estabelecido no âmbito do Colégio Municipal
the school context. It is hoped that the article will
Amaral Peixoto, localizado no município de
promote relevant reflections to debate racism,
Rio de Janeiro. Foi realizada uma pesquisa although legally prohibited, but that, according
bibliográfica a fim de enriquecer o trabalho com to the data pointed out in the study, exists and
dados e ideias relevantes na sociedade. Além is present not only in the school but in different
de referenciais bibliográficos, foi realizada sectors of society. It is hoped that the various actors
uma pesquisa de campo a fim de conhecer o of the schools will understand their importance
universo local o qual a escola está inserida. O for the establishment of true citizenship and be
estudo aborda seguinte questão problema: A promoters of the empowerment of citizenship.
falta de uma sequência didática abordando o
negro como personagem importante no contexto
escolar. Espera-se que o artigo promova reflexões
relevantes para se debater o racismo, embora KEYWORDS: Education. Racism. Black.
legalmente proibido, mas que, segundo os dados
apontados no estudo, existe e está presente, não
somente na escola, mas em diversos setores da
sociedade. Espera-se que os diversos atores das 1. INTRODUÇÃO
escolas compreendam a sua importância para o
estabelecimento de uma verdadeira cidadania e
sejam promotores da potencialização do acesso
à cidadania. As ações afirmativas e legislações são
passos importantes para atenuar desigualdades
em diversos setores sociais que ocorrem por
PALAVRAS-CHAVE: Educação. Racismo. um determinante: a cor da pele. Foram quase
Negro.
quatro séculos de escravidão que ocasionam
diversos impactos sociais até os presentes dias. A
O objetivo geral do artigo consiste em promover uma reflexão sobre a forma que a instituição
de ensino trata as questões raciais dentro do espaço escolar e estabelecer propostas de intervenção
para se trabalhar a questão racial no contexto escolar. O estudo tem como objetivos específicos:
realizar uma pesquisa bibliográfica; realizar uma pesquisa de campo no Colégio Municipal Amaral
Peixoto; construir um mapa da empatia de professores e alunos; conhecer mais acerca dos alunos que
estão inseridos em uma unidade escolar; construir saberes acerca das relações estabelecidas entre
alunos negros e o contexto escolar da unidade escolar pesquisada; analisar os dados obtidos e propor
formas de intervenção.
Espera-se que o artigo promova reflexões relevantes para se debater o racismo, embora
legalmente proibido, mas que, segundo os dados apontados no estudo, existe e está presente, não
somente na escola, mas em diversos setores da sociedade.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A escravidão com prática legal durou quase quatro séculos no Brasil e suas marcas são sentidas
até os presentes dias. Observa-se temporalmente que a inserção da população negra em um estado de
direito de fato caminha a passos curtos. Dessa forma, apesar de completar-se 130 anos da abolição da
escravatura no Brasil, constata-se que boa parte da população negra vive às margens da sociedade em
relação a vários direitos sociais básicos (AMARAL, 2011).
Podemos considerar o racimo como um dos elementos maliciosos mais segregadores de nossa
sociedade, a qual o Brasil é fruto do período colonial e escravocrata imposto severamente na época
da exploração dos colonizadores.
A partir do século XVI a escravidão tomou força e ação no país, ganhando traços
no período colonial até o império. Tornou-se um ponto forte nas expedições negreiras da época,
resultando em consequente comércio de escravos para serem vendidos ao Brasil.
Após muitas reivindicações e luta dos escravos, o tráfico foi abolido oficialmente com a Lei
Eusébio de Queiroz, em 1871, a Lei do Ventre Livre garantiu liberdade aos filhos dos escravos, mais
adiante, a Lei dos Sexagenários (1885) garantiu liberdade aos escravos maiores de 60 anos de idade.
E, por conseguinte, não última etapa, a abolição foi concedida pela Lei Áurea, assinada em 13 de
maio de 1888.
Será que o Brasil, um país com uma das maiores populações negras no mundo, ainda torna
o negro o centro dessas contradições? Ao que parece o país conseguiu ao longo de sua história
produzir um quadro de extrema desigualdade social e racial, mas a despeito de toda essa tentativa de
silenciamento, podemos destacar o fortalecimento e a resistência negra em busca de uma democracia
verdadeiramente racial.
Mas qual é a dificuldade em falar sobre racismo? Difícil porque em nosso país,
há uma larga dificuldade em reconhecer a existência do racismo no Brasil, em especial, os casos
que acontecem nas escolas, empresas, organizações sociais e na sociedade como um todo. Sempre
escutamos, aqui ninguém é racista, mas se conhecem muitos racistas.
Quero deixar bem claro, todavia, que o retorno ou não ao fascismo é, em definitivo, uma
questão social, não uma questão psicológica. Se me detenho nos aspectos psicológicos,
Nesse caminho, há consequências diretas e devastadoras no âmbito escolar, meio onde relações
são construídas e podem ser permeadas por ações positivas e negativas, integrantes ou excludentes
Notamos nos textos acima, um toque de silêncio torna-se imperador, vale ressaltar que
qualquer omissão diante desses fatos, estaremos fadados ao racismo, tangenciando uma forma velada
de observar os acontecimentos. No cotidiano escolar, o racismo cresce, gera produção e reprodução
de práticas vexatórias e discriminatórias, acima de tudo criminosas.
A escola e a família devem repensar suas práticas e contribuir para suscitar indivíduos plenos
em suas reflexões e críticos sobre o racismo. Algumas práticas podem ser enriquecedoras, tais como:
Destacaremos abaixo, algumas ferramentas pedagógicas que podem ser inseridas no contexto
sobre o racismo, como: alguns filmes e vídeos:
quando falamos em uma educação inclusiva para as nossas escolas, a partir do olhar
multicultural, temos que ter em mente dois aspectos importantes: primeiramente, que as
diferenças não constituem incompletudes, defeitos, falhas ou caracteres de anormalidade, e
sim, que elas se caracterizam como uma pluralidade de formas legítimas de ver, de ser e de
estar no mundo. E, em segundo lugar, que se faz necessário e urgente olhar para o interior de
nossas salas de aulas, não apenas procurando os que estão ausentes fisicamente desse local,
mas também buscando os grupos e os indivíduos a quem os processos educativo e social têm
negado espaço, representação, voz, permanência e sucesso.
3 MATERIAL(IS) E MÉTODOS
A presente pesquisa foi realizada com alunos e professores de uma turma de Educação Básica
para Jovens e Adultos (EJA), do turno noturno entre os dias 18 e 22 de junho de 2018, no Colégio
Municipal Amaral Peixoto.
O grupo de alunos tem composição socioeconômica de baixa renda, tendo 19 integrantes, dos
quais, 5 são do sexo feminino e 1 do sexo masculino. A idade dos alunos varia entre 14 e 63 anos.
Já os professores, com idades variando entre 31 e 47 anos, são em número de seis, sendo 15
do sexo feminino e 4 do sexo masculino. Sua formação acadêmica inclui Normal (1), Graduação (1)
e Pós-Graduação (4) em diferentes áreas de conhecimento.
O presente trabalho é uma pesquisa aplicada, uma vez que propõe ferramentas que ataquem
o problema. É exploratória apresentando características de pesquisa bibliográfica tipo desktop com
consulta a artigos e periódicos, especialmente no ambiente virtual, acerca dos tópicos da fundamentação
teórica e sobre outros trabalhos que se fizeram abordando o mesmo tema. Soma-se a isso, um estudo
de campo para coletar dados sobre como alunos e professores percebem a participação do negro na
sua escola e na sociedade brasileira. Os dados coletados, embora por meio de questionários, passaram
por uma análise qualitativa e quantitativa.
O trabalho teve como ponto de partida a observação participante onde alunos e professores
eram observados no ambiente da escola no tocante ao tema, negro e o currículo escolar. A partir dessas
observações foram definidas as hipóteses a respeito da percepção do papel do negro no currículo e na
sociedade brasileira, e traçados os procedimentos.
Foi feita a apresentação, para os alunos, do vídeo da música “A vida é um desafio” da banda
Racionais MC. Seguiu-se, então, questionários (anexos 1 e 2) de coleta de dados de caráter aberto
e predominantemente subjetivo, em função tempo e do tamanho do grupo. Os questionários foram
entregues pelo professor/pesquisador para que os alunos preenchessem em casa e retornassem no dia
seguinte. Já os questionários dos professores foram entregues, respondidos no ambiente do Colégio
e retornados no mesmo dia. Ambos os questionários, além de conter perguntas objetivas como idade,
sexo, grau de instrução, envolviam questões subjetivas a respeito de como os integrantes de ambos os
grupos viam e sentiam as questões de racismo no colégio e na sociedade brasileira e de que maneira
e de que maneira esse tema poderia ser trabalhado no colégio. Todos os questionários de alunos e
professores foram retornados.
Foram feitos, com base nesses dados organizados, um quadro de empatia dos alunos e outro
dos professores como personagens centrais. A partir desses quadros foram pensadas práticas que
pudessem atender aos anseios mais frequentemente manifestados por ambos os grupos.
Os dados obtidos pelos questionários distribuídos aos professores e alunos foram consolidados
em gráficos, trazendo uma abordagem quantitativa, e foram consolidados em mapas da empatia,
trazendo uma característica mais qualitativa.
O gráfico 3 traz a opinião dos alunos em relação a presença personagens negros nos livros
didáticos. Pode-se observar que 47,37% dos discentes já observaram personagem negros nos livros
didáticos, 42,10 % disseram que não perceberam personagens negros nos livros e 10,51 % não soube-
ram responder. Cabe ressaltar que muitos estudantes disseram não receber livro didático, fato justifi-
cado por opção pedagógica de não uso do material por parte de alguns docentes.
Em relação ao gráfico 4, 47,06% disseram não conhecer nenhum personagem negro na história
do Brasil. Em contrapartida, 41,18% disseram conhecer personagem negros. Muitos alunos citaram
pessoas negras importantes de outros países, não citando nenhum personagem brasileiro.
Gráfico 4 – Opinião dos alunos referentes ao conhecimento de algum personagem negro na história
do Brasil.
Em relação a exclusão de pessoas por conta cor da pele (gráfico 5), 78% dos alunos disseram
não conhecer nenhuma pessoa que tenha sido excluída e 26,32% disseram conhecer.
Gráfico 5 – Opinião dos alunos sobre a exclusão de pessoas em atividades escolares por conta da
cor da pele.
Quase 80% dos entrevistados, conforme observado no gráfico 6, acreditam que pessoas negras
Gráfico 6 – Opinião dos alunos sobre a dificuldades das pessoas negras em concluir os estudos.
Apesar da criação da Lei Áurea, 78,99% dos alunos afirmaram que as pessoas negras não
estão realmente libertas (gráfico 7)
Gráfico 7 – Opinião dos alunos sobre o fato dos negros estarem ou não realmente libertos.
No gráfico 8, pode se constar que 78,95% dos estudantes disseram que não observam atividades
escolares que trabalhem o tema racismo. Os discentes, conforme mostrado no mapa da empatia dos
alunos (Imagem 2), apontaram que gostariam que fossem desenvolvidas as seguintes atividades:
feiras, projetos, debates, atividades em grupo e trabalhos sobre consciência negra.
5 DISCUSSÃO
[...] se faz necessário, neste exercício, relembrar que cidadão significa individuo no gozo os
direitos civis e políticos de um Estado e que cidadania tem que ver com dizer, com o uso dos
direitos e o direito de ter deveres de cidadão. (Freire, 2001:45).
Assim, olhando os dados coletados na entrevista, podemos notar, que por mais que
nossa educação tenta viabilizar o processo de inclusão, ainda é tênue a falta de diálogo com principais
fontes históricas da construção do país. Culmina-se, em uma prática não libertadora, pois ainda não
conjuga o homem o domínio de sua própria história e cultura.
As relações humanas que não se baseiam na aceitação do outro como um legítimo outro na
convivência não são relações sociais (1998). Nesse contexto, ainda existe uma invisibilidade muito
grande em relação aos escritores e personagens negros na sociedade a reflexão de Ana Thais é digna
de ser levada em consideração:
É tão triste saber que se declarar negro é motivo de discriminação, de chacota, de redução.
Vocês brancos têm o péssimo costume de se meter em tudo, querer validar tudo, dizer amém
ao que acham que lhes convém, ao que acham que é da sua alçada também, mas tenho uma
coisa a lhes dizer: não é. [...]
E essa invisibilidade no cotidiano escolar pode suscitar inúmeros fatores, como: discriminação
racial, segregação racial e reconhecimento da própria história /identidade, evasão escolar, desestimulo
para os estudos entre outros aspectos desafiadores.
Para minimizar os efeitos do racismo inteorizado no cotidiano, nossas escolas deveriam criar
reflexões didáticas sobre o tema, tais como: História e Identidade, daí enveredar-se para costumes,
personagens negros importantes dentre outras questões.
O Património cultural, como realidade complexa, tem que ser devidamente considerado –
desde o código genético e do genoma humano, até às tradições, às comunidades,
às instituições, aos hábitos e costumes, num conjunto vasto do que designamos como
Património imaterial (o modo como os artesãos trabalham, como a culinária se desenvolve,
como as pessoas e as comunidades se relacionam), passando pelos vestígios arqueológicos,
pelos monumentos, pelo modo de organização das populações e das 9 cidades, mas também
pela valorização da criação contemporânea […] (Martins, 2007, p. 17).
Nesse contexto, é relevante repensar o negro e sua importância para a sociedade. A escola
deve assumir esse protagonismo para disseminar a cultura negra e mostrar toda a riqueza que há
nessa cultura. Nessa perspectiva, há proposição de construção de uma página no Facebook, intitulada
“Cultura Negra: luz, câmera, ação.” A fim de servir com ferramenta para divulgar todas as produções
e projetos relacionados ao povo negro construídos no espaço escolar.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
• O povo negro como sujeito de construção de identidade em nosso país foi muito importante,
mas se deparam ainda com situações marginalizadas, que excluem e geram preconceitos;
• Os dados educacionais revelam índices mais baixo da estudante negros em relação aos
estudantes brancos;
• É relevante que a escola seja protagonista e viabilize, dentro do contexto escolar, ações
pedagógicas que coloquem o negro como personagem importante na escola, na comunidade
e em diversos segmentos sociais.
ADORNO, Sérgio. Violência e Racismo: Discriminação no acesso à justiça penal. Em: Lilia Moritz.
Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp: estação Ciência, 199.
AMARAL, S.P. História do Negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro Orientais, 2011. 114
p.
ARCZ, L.S.; NETO, H.M. Quando o passado atropela o presente: notas de um Brasil que insiste
no racismo. Cadernos de Campos, São Paulo, n.25, p.31-35, 2011.
MATTOS, H.M. Escravidão e Cidadania no Brasil Monárquico. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
p. 7 – 54.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro / Edgar Morin; tradução de
Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2.
ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.
XAVIER, Giseli Pereira de Moura & CANEN, Ana. Multiculturalismo e educação inclusiva:
contribuições da universidade para a formação continuada de professores de escolas públicas
no Rio de Janeiro. Pro-Posições, 2008.
Este estudo tem como objetivo conhecer as dificuldades encontradas, no exercício da profissão,
pelos professores que trabalham em escolas privadas, nos cursos técnicos, no Eixo Tecnológico Gestão
e Negócios, na modalidade de educação a distância, região do Vale do Rio dos Sinos (estado do Rio
Grande do Sul, Brasil), em contexto de Educação a Distância (EAD). Devido à experiência e ao
mesmo tempo, a acessibilidade a este universo, considerou-se desenvolver um estudo que permitisse
conhecer quais os desafios que o docente encontra, diariamente, na sua profissão.
Ao analisar esse contexto educacional, constata-se que os professores necessitam saber fazer
uso das ferramentas disponíveis e, ao mesmo tempo, desenvolver o papel pedagógico, respeitando
o desenvolvimento individual de cada estudante, de forma a orientar quais são os respectivos papeis
nesse contexto. Verifica-se, ainda, a crescente evolução da tecnologia na comunicação educacional
e a quebra de paradigmas do ensino tradicional, tendo o professor um novo desafio na sua profissão
docente: o de se preparar para este novo cenário de avanço tecnológico em sala de aula.
Para muitos professores, a escolha da profissão ocorre ainda na infância, quando os futuros
professores, em suas brincadeiras infantis, já se imaginavam mestres, ou mesmo quando identificam
1 B-Learning -
Buscando relacionar essa perspectiva, Tardif (2012) descreve que os saberes experienciais do
professor não são somente baseados na sua experiência em sala de aula, mas, em grande parte, trazem
na bagagem a cultura herdada na vida escolar na infância.
Ainda segundo Tardif (2012, p. 72) ao longo de sua história de vida pessoal e escolar, supõe-se
que o futuro professor interioriza certo número de conhecimentos, de competências, de crenças, de
valores, etc., os quais estruturam a sua personalidade e suas relações com os outros (especialmente
com as crianças) e são reatualizados e reutilizados, de maneira não reflexiva, mas com grande
convicção, na prática de seu ofício.
Este contexto de escolha da profissão mais voltada à docência em cursos técnicos, não foge à
regra em relação aos professores que são professores por formação. Esta observação se faz necessária,
uma vez que alguns dos professores, durante a entrevista, de modo informal, relataram o sonho de se
tornarem professores no início de sua trajetória profissional.
No entanto, por uma exigência familiar e uma cultura impregnada, na sociedade, que
relacionava à docência com salários baixos, automaticamente, os futuros professores escolhiam
outras profissões, em busca de melhores salários e deixavam a docência para um futuro próximo, fato
que ocorre nos dias de hoje.
Existem, neste contexto, duas perspectivas que precisam ser consideradas: a) A primeira
refere-se aos desafios no início da profissão para os professores que são oriundos de formação em
licenciatura, e buscam conquistar seu espaço e experiência na docência, passando pelas áreas da
educação infantil e ensino fundamental;
O professor novato sente-se desarmado e desajustado ao constatar que a prática real do ensino
não corresponde aos esquemas ideais em que obteve a sua formação; sobretudo, tendo em
conta que os professores mais experientes, valendo-se da sua antiguidade, os irão obsequiar
com os piores grupos, os piores alunos e as piores condições de trabalho.
Sabe-se que são muitos os desafios enfrentados pelo professor em seu início de carreira, uma
vez que o autor descreve que a realidade encontrada pelo professor novato não condiz com a realidade
ensinada em sala de aula. Portanto, a realidade se opõem, em muitos casos, aos ensinamentos recebidos.
Contudo, é preciso ponderar que um fator positivo nos cursos de licenciatura refere-se aos
estágios obrigatórios, quando o aspirante a docente necessita, obrigatoriamente, conviver com a
realidade da sala de aula ao longo do seu curso, nos mais diversos níveis de ensino, sejam eles
educação infantil, ensino fundamental anos iniciais ou, até mesmo, ensino fundamental anos finais.
Este profissional precisa, entre outros tantos desafios, desaprender algumas atitudes
desenvolvidas ao longo da sua trajetória profissional. Por ser tratar de docência em cursos técnicos,
o profissional precisa, necessariamente, desta experiência profissional, para que ele consiga com
sucesso aproximar o aluno do mercado de trabalho, sendo esse o propósito dos cursos técnicos.
É preciso insistir: este saber necessário ao professor – de que ensinar não é transferir
conhecimento – não apenas precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões
de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica, mas também, precisa ser
constantemente testemunhado e vivido.
Sob esse ponto de vista, o professor tem um grande desafio em sua carreira, qual seja o de
colocar-se no lugar do aluno, buscando compreender uma melhor forma de ensinar e aprender. O
autor referenciado estabelece, ainda, que é preciso criar possibilidades para a sua própria construção,
uma vez que não detém, em muitos casos, conhecimento pedagógico, o que facilitaria sua entrada na
profissão docente.
A EAD vem ganhando cada vez mais importância por conta de sua relação estrutural com
muitas formas de aprendizado online, visto que anteriormente se estudava ou se comunicava através
de correspondências. Em 1970, começou uma nova era na EAD, na qual se inaugurou a comunicação
através de dois pontos importantes, o rádio e a televisão, e, em seguida, vieram vídeos e fitas cassetes.
Segundo Peters (2009) os avanços destas tecnologias são inestimáveis e tornaram a educação
a distância ainda mais relevante. Atualmente, esta forma de aprendizado não foi apenas reconhecida,
mas também incentivada pelos governos. Para Wilson et. al. (2013, p. 28), “a produção de conteúdo e
uso das mídias devem promover uma pedagogia focada nos alunos, capaz de estimular a investigação
e o pensamento reflexivo por parte dos estudantes”.
Para Moran (2013, p. 63) “a educação a distância (EAD), antes vista como uma modalidade
secundária ou especial para situações específicas, destaca-se hoje como um caminho estratégico para
realizar mudanças profundas na educação”.
O docente deste novo cenário vem a ser o protagonista, pois as mudanças que estão acontecendo
na sociedade, mediadas pelas tecnologias, são tão grandiosas que implicam, em médio prazo, a
necessidade de reinventar a educação em todos os níveis e formas.
Segundo Horn e Staker (2015) a tecnologia digital abre a possibilidade para os grandes
educadores alcançarem mais alunos, pois é possível coordenar de tal forma que seja possível atender
um grande número de alunos na modalidade B-Learning.
Kenski (2013) traz uma reflexão e comenta a urgência de um novo modelo de formação; na
sua concepção, as novas tecnologias digitais de comunicação refletem diretamente na necessidade de
adoção de novos tipos de formação e escolarização. Ainda de acordo com Kenski (2012, p. 88), “as
tecnologias ampliam as possibilidades de ensino para além do curto e delimitado espaço de presença
física de professores e alunos na mesma sala de aula”. O autor traz inúmeras contribuições sobre a
tecnologia, seja do ponto de vista de formação docente, ou sob a ótica da contribuição no processo de
Para Bacich, Neto e Trevisani (2015) a atualidade requer um docente que promova a mediação,
discussão e problematização, ao passo que estimule o protagonismo individual, estimulando-os a
ensinarem a si mesmos, e uns aos outros. Diante das definições por parte destes autores, é possível
perceber a responsabilidade que o professor possui em suas mãos, sendo que se espera muito desse
profissional.
[...], há uma série de obstáculos no caminho: a formação intelectual valoriza mais conteúdo
oral e textual, separando razão e emoção. O professor não costuma ter uma formação
emocional, afetiva. Por isso, tende a enxergar mais os erros que os acertos.
A partir das contribuições dos autores consultados, que afirmam a importância da formação
docente para o sucesso da educação na modalidade B-Learning, e de forma a compreender como
esses elementos, em síntese, são de grande importância, Castells (2017) retrata, em sua obra, que
computadores, assim como sistemas, são geradores de informação, sendo alimentados pela mente
humana, ou seja, o que pensamos e como pensamos pode ser transmitido dos mais diversos meios,
como bens, produção de materiais, serviços, entre outros.
Nesta concepção, se um professor apresentar-se mais preparado para estar em sala de aula,
este poderá, através do seu conhecimento, alinhado com a tecnologia, produzir materiais didáticos que
contribuam ao conhecimento do aluno. As mudanças ocorridas nos últimos anos têm sido impactantes
na vida das pessoas, assim como, na educação principalmente.
As mudanças atreladas às tecnologias, de acordo com Jenkins, Ford e Green (2014) partem das
novas tecnologias que possibilitam ao público exercer um impacto muito maior em suas produções,
bem como permitem às instituições controlarem o comportamento. Ou seja, é preciso estar atento, ao
mesmo tempo em que a tecnologia torna as informações imediatas, esta demandará do professor ou
aluno, a constante atenção às informações disponibilizadas e selecionadas.
A dificuldade é que a mudança educacional não é uma entidade única, mesmo que
mantenhamos a análise no nível mais simples de uma inovação em uma sala de aula. A
inovação é multidimensional e existem, pelo menos, três componentes ou dimensões em
jogo, na implementação de qualquer novo programa ou política:
O autor, no entanto, compreende que o processo de mudança para esta transformação está
atrelado a três fases: a) A primeira delas, chamada de início, deve trazer uma análise das necessidades
e a decisão de aderir, ou não, ao processo de mudança; b) Já a fase dois refere-se à implementação,
que ocorre geralmente nos dois ou três primeiros anos de uso; c) Por último, a fase três, denominada
pelo autor de fase de continuação ou rotinização, é aquela em que é preciso avaliar se a mudança será,
ou não, parte contínua do processo.
Diante desse desafio na mudança educacional, é preciso compreender que a inovação faz parte
do processo de transformação, seja ele educacional ou social, e que, segundo Kenski (2012, p.19), “as
tecnologias invadem as nossas vidas, ampliam a nossa memória, garantem novas possibilidades de
bem-estar e fragilizam as capacidades naturais do ser humano”.
FORMAÇÃO CONTINUADA
Segundo Imbernón (2010, p. 47), ”a formação continuada deveria promover a reflexão dos
professores, potencializando um processo constante de auto-avaliação sobre o que faz e por que
faz”. Autores como Nóvoa (1997) e Imbernón (2009) compreendem que a formação dos professores
faz parte do desenvolvimento profissional, no qual, são necessários a continuidade da prática e o
compartilhamento de informações.
[...] a formação deve apoiar-se em uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente, de
modo a lhes permitir examinar suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas
atitudes, etc., realizando um processo constante de autoavaliação que oriente seu trabalho.
Em síntese, Imbernón (2006) complementa que a formação deve contribuir para que o professor
adquira conhecimentos e atitudes, a fim de despertar no profissional um espirito investigativo e,
acima de tudo, reflexivo.
Ainda em suas obras, Imbernón (2006, 2009, 2010) faz diversas reflexões, em grande parte
voltadas à formação continuada, mas do ponto de vista coletivo, salienta que a formação requer um
clima de colaboração entre os professores, no qual os professores podem se apoiar uns aos outros,
assim como um profissional que possa auxiliá-los durante as aulas, enfim, precisam seracompanhados,
despertados para irem em busca de conhecimento.
Imbernón (2010, p. 33) afirma que “a formação dos professores influi e recebe a influência
do contexto em que se produz e, por sua vez, condiciona os resultados”. E, por fim, Imbernón (2010)
traz uma importante reflexão, encontrada em muitas escolas de formadores, que se refere à formação
continuada, realizada através de “treinamentos”, onde um palestrante, ou algum profissional renomado
exemplifica em uma sala de “treinamento” um caso de sucesso e espera que o professor utilize este
exemplo em sala de aula, com o intuito de mudar a prática e a metodologia de ensino. Contudo,
esquece que o perfil do aluno não é o mesmo em que tal “case de sucesso” foi aplicado.
De acordo com Fullan (2009, p. 240), “apesar de retórica sobre a formação docente na sociedade
atual, não parece haver uma crença ou confiança real de que investir na formação de professores traria
resultados”, então, como mudar este pensamento, como fazer com que as instituições possam de fato
mudar essa concepção? Talvez a busca por esta resposta seja longa e um tanto quanto desafiadora.
Há um “lapso” por parte dos professores, instituições e governo, visto que muitos professores,
atualmente, atualizam-se somente, quando ao término do mês, houver sobra de algum recurso
financeiro; caso não ocorra, a forma de atualização acontece através de cursos gratuitos e com emissão
de certificado.
Em relação às instituições, são raras as que proporcionam cursos “pagos” aos seus professores.
Em grande parte das vezes ocorre o que já foi citado anteriormente: trazem um “palestrante” e esperam
que as experiências por ele colocadas sejam, de imediato, aplicadas na sala de aula, o que, em muitos
casos, proporciona aos professores uma imensa frustração, notoriamente sentida no ambiente escolar.
Na região em estudo, há somente uma instituição que trabalha diretamente com o professor,
mas voltado ao coletivo. Existe o desenvolvimento de reuniões pedagógicas, porém direcionadas
ao desenvolvimento pessoal e profissional do professor, não trazendo palestrantes externos, mas,
construindo uma parceria sólida entre professor e escola.
Segundo Nóvoa (2003) nos últimos vinte anos houve uma grande fragmentação da atividade
do professor: muitos profissionais fazem mal o seu trabalho, menos por incompetência mais por
incapacidade de cumprirem, simultaneamente, um enorme leque de funções.
Ainda, segundo o autor, este leque ao qual se refere, trata de destinar tempo a programar aulas,
avaliar os alunos, corrigir trabalhos e atividades fora da sala de aula, ao mesmo tempo, estar disponível
para esclarecer dúvidas, orientar os alunos, esclarecer dúvidas dos pais, sempre que necessárias,
relativas à vida escolar do aluno, participar de reuniões pedagógicas, atualizar-se periodicamente,
aprender e fazer uso das tecnologias em sala de aula.
No entanto, há vinte anos, Nóvoa (2003) fez tal reflexão, porém, considerando que estamos
no ano de 2018, houve poucas mudanças. Pelo contrário, as responsabilidades tendem a crescer;
atualmente o professor precisa estar atento, inclusive, ao comportamento do aluno em sala de aula.
Ainda, segundo, Nóvoa (2003) que afirma que vários autores possuem a mesma concepção de que os
professores estão sobrecarregados e, por este motivo, não conseguem desenvolver bem suas funções.
Já o ensino privado não evidencia atrasos de salários e, tampouco, um aluno agressivo, mas
recebe um aluno de nível médio, sedento por conhecimento, com turmas, geralmente, por volta de 40
O professor que exerce sua profissão voltada ao ensino profissional possui uma grande
dificuldade em administrar sua própria formação, primeiro, porque a média de idade dos professores
é acima dos trinta anos, geralmente são noivos, casados e possuem filhos. Ao mesmo tempo, precisam
saber administrar o tempo entre a família, a constante atualização e qualidade do ensino desenvolvido
na modalidade da educação a distância.
Muitos são os desafios na profissão docente e a relação que Hargreaves, Earl, Moore e
Manning (2002) fazem ao afirmar como seus alunos, os docentes não são papéis em branco a serem
preenchidos, e o aprendizado não é osmótico. Mudar crenças e práticas é um trabalho extremamente
difícil. Quando a mudança envolve cultura, não basta impor é preciso fazer com que o docente
realmente acredite na mudança, e entenda o real significado da necessidade de transformação.
Para Moran (2013) quanto mais tecnologias, maior será a importância de profissionais
competentes, confiáveis, humanos e, também, criativos, pois a educação é um processo de profunda
interação humana, com menos encontros presenciais e múltiplas formas de orientar, motivar e
acompanhar o aluno.
Na concepção de Freire, Freire e Oliveira (2014), não se pode ter medo de cometer erro, pois o
erro é consequência de tentativas, e arriscar é algo extremamente necessário para enfrentar os desafios
da sociedade tecnológica. Além disto, estes autores (p.105) citam que “um bom educador faz com que
os estudantes se cansem e que fiquem curiosos. Eu não acredito muito em educadores que mantém
suas turmas bem-comportadas”.
Atualmente, um dos grandes desafios do professor é manter o estudante motivado com seu
aprendizado, não é algo que seja fácil, mas se trata de um grande desafio, senão o maior.
A população objeto deste estudo contemplou 361 alunos, 17 docentes e quatro diretores das
escolas técnicas privadas que ofertam cursos técnicos no Eixo Gestão e Negócios, na modalidade de
EAD, localizadas nas cidades pertencentes à região do Vale do Rio do Sinos.
Quanto à abordagem este trabalho caracteriza-se como qualitativo e quantitativo, uma vez que
tais abordagens fundamentam-se na possibilidade de coleta de informações, ao mesmo tempo, em
que permite o confrontamento, via entrevistas de dados que não seriam possíveis apenas por meio da
aplicação de questionários.
A caracterização do perfil dos estudantes respondentes revelou que 38% são residentes da
cidade de Canoas; seguido por Novo Hamburgo com 19%, São Leopoldo com 17%, sendo 26%
residentes em outras cidades que não pertencentes à Região do Vale do Rio dos Sinos.
Por compreender o foco de estudo deste trabalho, o ensino técnico, no qual o docente compartilha
com o aluno a experiência por ele vivenciada no mercado de trabalho, houve a necessidade de avaliar
qual a formação acadêmica que o corpo docente apresenta. Ao analisar as respostas dos professores
respondentes, identificou-se que dos 17 respondentes, 14 são formados na área de gestão e negócios
e possuem experiência profissional relevante para estarem em sala de aula.
Faz-se necessário a formação de ambas, isoladamente, não há como desenvolver o papel docente
com qualidade e assertividade. Na formação técnica, não se constrói o conhecimento pedagógico, e
sim o técnico, no qual o profissional precisa saber fazer e fazer corretamente; ao contrário, muitas
vezes, da formação pedagógica, na qual o aluno desenvolve o conhecimento respeitando seus limites
de aprendizagem.
Durante a entrevista realizada, alguns dos docentes que não cursavam Mestrado ou Doutorado
destacaram que não o fazem por motivos financeiros, mas pretendem fazê-lo futuramente, tanto que
se preparam para este processo, pois almejam bolsas de estudos que exigem preparo, dedicação e
Também se identificou que frente a modalidade de EAD, seis docentes possuem entre 13
meses e 24 meses de experiência, sendo esta a maior representatividade. Os docentes que possuem
até um ano de experiência na modalidade, sentem-se desafiados, e por este motivo permanecem na
educação a distância.
As experiências profissionais voltadas à modalidade devem ser tratadas com bastante cuidado,
uma vez que são profissionais que iniciaram e permaneceram no ensino, consequentemente procuram
formas de se adequar, ao mesmo tempo em que desejam exercer seu papel de forma diferenciada no
ambiente escolar.
Quanto à carga horária que cada docente dedica à modalidade EAD, no que tange sua
organização, bem como frente ao conteúdo que será abordado em sala de aula. Observou-se que
eventualmente docentes ministram uma disciplina diferente a sua área de formação, o que requer do
docente uma dedicação à parte, quando ocorre.
Frente a este desafio constatou-se que muitas vezes, a carga horária não prevista para
preparação de material, impacta diretamente em processos de atualização profissional, a percepção
dos docentes respondentes reflete exatamente esta realidade, sendo que 11 professores dedicam de 5
a 10 horas da sua semana na organização das aulas; quatro docentes destinam até 4 horas semanais;
já quanto à dedicação está acima de 11 horas semanais, o número reduz para dois docentes.
Em grande parte das escolas, em que estes profissionais atuam tais horas não são remuneradas,
ou seja, esta dedicação de forma gratuita, o que faz com que, em muitos casos, os docentes acabem
por se desmotivar, pois ocupam parte de seu período de lazer na preparação de material.
Como o docente precisa ter sempre um plano alternativo, em muitos casos, este procura
utilizar o celular do próprio aluno, contudo, há outro desafio, o da internet apresentar-se estável e
com velocidade suficientemente necessária para que o aluno possa utilizar o seu próprio equipamento
como forma de consulta, na falta de um computador.
Outro desafio, na percepção dos docentes, está no uso das ferramentas, porém neste item os
profissionais têm consciência de que precisam ir à busca de qualificação, ou seja, a competência em
proficiência tecnológica.
Alguns dos entrevistados ainda relataram, de forma espontânea, que se tivessem a oportunidade
de trabalharem mais próximos às suas residências, certamente, demandaria menos tempo, e
consequentemente proporcionaria não somente o tempo livre, mas uma melhor qualidade de vida,
inclusive, para sua própria saúde.
Bem como, poderiam realizar mais cursos e melhorem sua performance em sala de aula. Em
relação aos docentes que não responderam, foram consideradas somente as respostas adequadas às
questões, no caso, estes docentes reportaram informações que não condiziam com o enunciado da
questão proposta.
Ao serem questionados quais os canais que utilizam para a sua atualização, foram identificadas,
as mídias, mais precisamente leituras digitais e vídeos, outro canal bastante utilizado pelos entrevistados,
são os cursos, sejam pagos ou não. Alguns dos entrevistados procuram atualizar-se com palestras,
trocas de experiência, estas últimas são muito importantes, pois a escola tem como propósito formar
para o mercado de trabalho, estar próxima e proporcionar ao aluno esta relevante experiência. Os
entrevistados que não responderam, não consideraram exatamente a pergunta, portanto suas respostas
não estavam de acordo.
CONCLUSÃO
É notável que a profissão docente passa por inúmeros desafios, percebe-se que as bibliografias
que identificam os desafios da profissão, formação inicial e a formação continuada buscam identificar
quais são as principais definições de cada etapa.
A escolha pelo tema este estudo “os desafios da profissão docente para o professor no século
XXI, na modalidade de educação a distância”, buscou realizar um estudo de caso, cuja população em
estudo compreende os professores que trabalham com a educação a distância, na Região do Vale do
Rio dos Sinos.
Um dos maiores desafios, talvez o maior, está na própria gestão do tempo, embora, alguns
professores não o identificam como sendo um desafio, talvez pelo fato de exercerem a docência,
trabalhando um ou dois dias na semana, totalizando neste caso, o máximo de 6 horas em sala de aula
como professor no EAD.
Outro desafio, que está relacionado à gestão de tempo, está no conciliar a vida pessoal com
O que talvez nós todos, professores de EAD, não soubéssemos antes de ingressar no universo
da educação a distância, seriam os desafios, as necessidades, a busca necessária e constante pela
formação continuada. Vale ressaltar que, por mais desafios que os professores desta investigação
tenham, todos fazem seu trabalho com o maior comprometimento, buscando absorver para si próprios
os desafios, jamais imaginando abandonar o trabalho nesta modalidade.
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ROBERTA DALL AGNESE DA COSTA RESUMO: O objetivo desta pesquisa foi cola-
Docente do Instituto Educacional do Alto Uruguai – borar com a construção de um corpus de conhe-
Unidade de Caxias do Sul cimento que abrange desde o perfil do professor
(formação inicial e continuada), suas percepções
GRAZIANE SILVEIRA DUTRA
Acadêmica do curso de Pedagogia do Instituto Edu- sobre a implantação da BNCC na escola em que
cacional do Alto Uruguai atua até a compreensão das intervenções pedagó-
gicas propostas para o ensino e aprendizagem de
KAOANE DA SILVA FEITEN Ciências Humanas nos anos Iniciais do Ensino
Acadêmica do curso de Pedagogia do Instituto Edu-
Fundamental. Para a coleta sistemática dos da-
cacional do Alto Uruguai
dos optou-se por um questionário composto de
KELLY DA SILVA MATIELLO perguntas fechadas e abertas. Trata-se, portanto,
Acadêmica do curso de Pedagogia do Instituto Edu- de uma pesquisa qualitativa, de caráter explorató-
cacional do Alto Uruguai ria e do tipo estudo de caso. As perguntas abertas
foram tabuladas e analisadas utilizando um pro-
LAIANE MOSCHEN BRANCO
tocolo baseado na análise de conteúdo. Dentre os
Acadêmica do curso de Pedagogia do Instituto Edu-
cacional do Alto Uruguai principais resultados observa-se que os professo-
res participantes da pesquisa são em sua maioria
LARISSA MORAES DOS SANTOS pedagogos com pelo menos um curso de pós-gra-
Acadêmica do curso de Pedagogia do Instituto Edu- duação. Além disso, como opinião geral a respei-
cacional do Alto Uruguai to da BNCC, os professores indicaram que é um
ABSTRACT: The objective of this research was to collaborate with the construction of a corpus of
knowledge ranging from the profile of the teacher (initial and continued formation), his perceptions
about the BNCC’s implantation in the school in which it operates until the understanding of the ped-
agogical interventions proposed for teaching and learning of Human Sciences in the Early Years of
Elementary School. For the systematic collection of data, a questionnaire composed of closed and
open questions was chosen. It is, therefore, a qualitative research, of exploratory character and of the
type of case study. The open questions were tabulated and analyzed using a protocol based on con-
tent analysis. Among the main results it is observed that the teachers participating in the research are
mostly pedagogues with at least one postgraduate course. In addition, as a general opinion about the
BNCC, teachers indicated that it is a document that seeks to give equal quality to National Education
and that there is still a lack of training and information in schools about its implementation. From
these and other detailed information in the text, it was possible to elaborate and discuss with other
authors about the specificities of Geography teaching in the Early Years.
KEY WORDS: Perceptions and practices; teachers in the early years; Geography teaching.
1. INTRODUÇÃO
As proposições sobre o ensino de Ciências Humanas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
têm mudado muito nos últimos anos (ARESI, 2018). Estes processos de mudança têm sido
impulsionados pela aprovação de novos documentos acerca do ensino no Brasil, por exemplo, a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC).
Estes questionamentos sobre como, por que e o que ensinar acerca de determinado objeto
de conhecimento, devem ser trazidos para o contexto de formação de professores em nível superior
para que novas sínteses sejam propostas. Assim, considerando a importância da pesquisa durante o
processo de formação acadêmica, principalmente no que diz respeito a construção e autoria de uma
história acadêmica, foi proposta e executada esta investigação (CHAER et. al., 2012).
2. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Segundo Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem que destaca
uma visão interpretativa do mundo, analisando cenários naturais, tentando entender os fenômenos e os
significados que as pessoas atribuem a eles. No caso específico desta pesquisa, o cenário corresponde
a sala de aula, enquanto, o fenômeno analisado trata das percepções e práticas dos professores sobre
os processos de ensino e aprendizagem de Geografia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Quanto aos objetivos, enquadra-se como pesquisa exploratória, definida por Gil (2009) como
um meio de proporcionar maior familiaridade com o tema pesquisado. Estas pesquisas podem ser de
caráter bibliográfico ou estudo de caso. O estudo de caso caracteriza-se como a análise de uma unidade,
ou um pequeno grupo (ALVES-MAZZOTTI, 2006). No caso desta investigação, os professores dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental constituem-se como o grupo de análise e suas percepções e
práticas como os dados de pesquisa.
Na fase da pesquisa, para a coleta sistemática dos dados, por se tratar de percepções de sujeitos
sobre determinada temática, optou-se por um questionário. No caso desta pesquisa, os sujeitos são
professores em exercício nos Aos Iniciais do Ensino Fundamental e as suas opiniões sobre a BNCC
(de forma geral) e o ensino de Geografia, de acordo com as proposições da BNCC. O questionário,
enquanto instrumento de coleta de dados de pesquisas qualitativas, é definido conforme Gil (2009),
como a técnica de investigação composta por um número de questões que são apresentadas por
escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,
expectativas, situações vivenciadas etc.
A execução da pesquisa, por sua vez, incluiu tanto a tabulação dos dados quanto a análise e
interpretação dos resultados. Para análise dos dados seguiu-se o protocolo sistematizado por Costa
(2018) baseado em Bardin (2011). Este protocolo, utilizado também por Costa et al. (2018a), Costa
et al. (2018b) e Reis e Costa (2018), é composto por três etapas: I - Pré-análise – organização do
corpus da pesquisa (trata da elaboração dos indicadores que nortearão a interpretação final); II -
Exploração do material – codificação e categorização (compreende a codificação, na qual os dados
são transformados em unidades e categorização, na qual são definidas as unidades de registro. O
critério assumido foi léxico – classificação das palavras segundo seu sentido, com emparelhamento
dos sinônimos ou sentidos próximos); III - Tratamento dos resultados – atribuição de significado aos
resultados (é o tratamento dos resultados é a atribuição de significado a eles).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
BLOCO I
Em relação à formação dos professores, 82% são graduados em Pedagogia (tabela 1) e 31%
possuem pós-graduação voltada para a gestão escolar e suas áreas derivadas (tabela 2). A maioria dos
professores trabalha em média a mais de dez anos (68%) com a docência.
BLOCO II
Quando questionados sobre a leitura da BNCC, 56% dos respondentes indicou ter lido apenas
a parte referente aos anos iniciais, 31% indicou não ter lido e apenas 13% responderam positivamente.
Estes dados se aproximam daqueles obtidos por Maciel et al. (2017) em que os participantes
desconheciam o documento como um todo.
Quando perguntados a respeito da opinião, de maneira geral, sobre a BNCC, 50% dos docentes
indicaram que ela procura oportunizar igualdade (ideia de educação mínima) e/ou melhorias no
ensino. Porém, cabe ressaltar que 13% deles indicaram que a BNCC não abrange todas as realidades.
Outras subcategorias de respostas podem ser identificadas na tabela 3.
Sobre a transição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a BNCC, os professores
indicaram que percebem a falta de formação adequada para a compreensão das novas diretrizes (37%),
apenas 6% responderam que não há necessidade de formação e 4% que tem sido realizados estudos
nas escolas. Outras categorias de respostas podem ser identificadas na tabela 4.
Tabela 4: Percepções acerca da transição dos PCNs para a BNCC dos professores participantes da
pesquisa.
Cabe ainda destacar que, o conceito de competências já aparecia no texto da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (artigos 32 e 35), portanto, essa diretriz de ensino já estava prevista
para o sistema nacional de Educação (ARESI, 2018). Ademais, quando ao ensino por competências e
a formação inicial e continuada de professores para a execução do disposto na BNCC, cabe a União as
ações de fiscalização do processo de formação de professores, bem como a coordenação do processo
de implantação e correção das desigualdades existentes nas diferentes regiões (ARESI, 2018).
Neste contexto de transição, algumas escolas já estão com seus documentos alinhados à Base,
enquanto outras, ainda estão na fase de construção e implementação. Assim sendo, sobre a implantação
da Base na escola em que trabalha, 50% dos professores indicaram que os planos de estudos já
foram atualizados, 31% que já ocorram discussões sobre a temática nas reuniões pedagógicas e 19%
que ainda estão vivenciando a fase de implementação. Outras subcategorias de respostas podem ser
identificadas na tabela 5.
Antes da BNCC, vigoravam os PCNs, que não se caracterizavam como pressuposto legal, mas
como uma recomendação que evidenciava os conteúdos mínimos de cada área do conhecimento. A
BNCC surge, então, em função da necessidade de melhoria da Educação brasileira e a partir de uma
grande consulta às bases educacionais brasileiras, pesquisadores das Instituições de Ensino Superior
e educadores de todos os níveis.
Assim, conforme também verificado por Maciel et al. (2017), os professores concordam sobre a
necessidade de capacitações personalizadas por unidade escolar e formação continuada na perspectiva
do seu cotidiano. Essas informações corroboram com a resposta apontada pelos participantes desta
pesquisa sobre a importância do trabalho de cada escola na efetivação da renovação dos currículos em
face as necessidades de cada realidade.
BLOCO III
O termo espaço vivido como fundamento, foi apontado por 31% dos professores, indicando
alguma aproximação com o previsto pela BNCC. Esta percepção sobre o espaço vivido é citada na
BNCC e envolve as categorias fundamentais a serem trabalhadas na Geografia escolar: elas, as de
lugar, de paisagem, de território e de região (BRASIL, 2018, GUIMARÃES, 2018).
Das dez competências gerais estabelecidas na BNCC, têm-se três competências ligadas ao
conhecimento, nomeadamente a primeira, segunda e a terceira, outras três ligadas às habilidades,
quarta, quinta e sexta, e mais quatro ligadas a atitudes e ao caráter, sete, oito, nove e dez. Assim, as
competências ligadas ao conhecimento dizem respeito, principalmente, ao pensamento científico,
crítico e criativo – para investigar, analisar problemas e criar soluções; e ao senso estético – para fazer
fruir diversas manifestações artísticas e culturais. Enquanto, as competências relativas as atitudes
relacionam-se com a comunicação – para produzir sentidos que melhorem o entendimento mútuo; a
argumentação – para formular, negociar e defender ideias; a cultura digital – para comunicar-se, resolver
problemas e disseminar conhecimentos. Já as competências socioemocionais indicam a necessidade
de autogestão – para fazer escolhas em relação ao futuro com liberdade; de autoconhecimento e
autocuidado – para cuidar de si e dos outros; de empatia e cooperação – para respeitar e promover o
respeito ao outro; e, por fim, autonomia – para tomar decisões seguindo princípios éticos, democráticos,
inclusivos, sustentáveis e solidários (BRASIL, 2018). Diferente de outros documentos anteriores, a
BNCC explicita claramente a intenção de romper com uma Educação que coloque o foco do currículo
apenas no desenvolvimento cognitivo, valorizando, portanto, as competências socioemocionais do
sujeito para o processo de aprendizagem (BRASIL, 2018).
Tabela 10: Percepções sobre os principais desafios da docência de Geografia atualmente segundo os
professores participantes da pesquisa.
A BNCC, quando elenca as dez competências gerais para o ensino e aprendizagem, cita, na
competência de número dois, o pensamento crítico, científico e criativo para exercitar a curiosidade
intelectual, recorrendo à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a
Tabela 11: Práticas de sala de aula que instigam a investigação ou a pesquisa dos professores partici-
pantes da pesquisa.
Observa-se que, o que a BNCC chama de abordagem própria das ciências, a investigação, a
reflexão e a análise crítica não foram citadas explicitamente pelos professores. Apenas a abordagem
voltada para a criatividade foi lembrada por 18% deles. Cabe destacar que, especificamente na área
das Ciências Humanas, os procedimentos de investigação devem contribuir para que os alunos
desenvolvam a capacidade de observação de diferentes indivíduos, situações e objetos, trazendo à
tona dinâmicas sociais em razão de sua própria natureza (BRASIL, 2018).
Para além da BNCC, pode-se considerar o exposto por Bassoli (2014), e classificar como ensino
por investigação as diferentes denominações que ele recebe na literatura, como questionamentos e
resolução de problemas (problematização). De qualquer modo, ao professor, cabe o planejamento
de atividades que se diferenciem fundamentalmente por envolver, obrigatoriamente, a discussão de
ideias, elaboração de hipóteses explicativas e experimentos para testá-las (CAMPOS; NIGRO, 1999).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo colaborar com a construção de um corpus de conhecimento
que abrange desde o perfil do professor pedagogo (formação inicial e continuada), suas percepções
sobre a implantação da BNCC na escola em que atua até a compreensão das intervenções pedagógicas
propostas para o ensino e aprendizagem deste componente específico. Para tanto, acadêmicas-
pesquisadoras do curso de Pedagogia elaboram um questionário que foi respondido por professores
em exercício dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Após a análise e tabulação dos dados pode-se traçar um perfil profissional sobre os professores
participantes da pesquisa, compreender sobre seus entendimentos a respeito da BNCC e da transição
dos PCNs para a nova normativa educacional. Além disso, e como principal enfoque da pesquisa,
conseguiu-se elaborar e discutir com outros autores acerca das especificidades do ensino de Geografia
nos Anos Iniciais.
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1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo analisar questões referentes às políticas de ações
afirmativas no sistema de educação superior, para, além disso, no que diz respeito à cultura do negro
e da negra no espaço acadêmico, bem como as contribuições que esta política pode oportunizar
em relação à valorização e o respeito para com o diferente. Além, de disponibilizar uma produção
científica, com o intuito de contribuir com as literaturas já disponíveis sobre a temática que é proposta
no presente trabalho.
No entanto, as cotas podem servir como um instrumento valioso para a inserção do negro
no espaço acadêmico, porém, as universidades devem estar prontas para ajudar na ampliação de um
mundo mais tolerante e de ampla riqueza simbólica.
Assim, acredita-se que por meio de políticas de ações afirmativas, teremos uma sociedade
mais justa no que concerne o respeito e a valorização das diferenças, e consequentemente, será dada
a devida importância às “minorias” que sempre estiveram à margem da sociedade, tendo em vista que
esse tipo de política visa corrigir, mesmo que parcialmente, as desigualdades históricas impostas a
esses grupos.
O conceito de cultura possui vários significados, tomando em seu amplo sentido etnográfico
“cultura” é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade
(Laraia, 2006, p.25). Candau (1997, 2000, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006) ao longo dos anos tem
procurado identificar e quantificar os desafios que precisam ser enfrentados, se de fato, quisermos
promover uma educação intercultural dentro de uma conjuntura crítica e emancipatória, que valorize,
respeite e promova os direitos humanos. Segundo a autora algumas características permeiam esse
conceito:
Ainda segundo a autora, outra característica é importante de ser enfatizada é que a cultura:
Está constituída pela afirmação de que nas sociedades em que vivemos os processos de
hibridização cultural são intensos e mobilizadores da construção de identidades abertas, em
construção permanente, o que supõe que as culturas não são puras. Sempre que a humanidade
pretendeu promover a pureza cultural e étnica, as consequências foram trágicas: genocídio,
holocausto, eliminação e negação do outro. A hibridização cultural é um elemento importante
para levar em consideração na dinâmica dos diferentes grupos socioculturais. (CANDAU,
2008, p. 51).
Candau deixa evidente a importância do diálogo entre os diferentes grupos culturais que
configuram a sociedade contemporânea. Portanto, é necessário um diálogo que reconheça e acima de
tudo respeite as diferenças, que não tente homogeneizar a pluralidade cultural, tentativa esta que já
trouxe sérios problemas para a humanidade como bem deixa claro a autora.
As ações afirmativas nos dias correntes é um termo de amplo alcance que designa um
conjunto de estratégias, iniciativas ou políticas que visam favorecer grupos ou segmentos
sociais que se encontram em piores condições de competições em qualquer sociedade em
razão, na maior parte das vezes, da prática de discriminação negativas, sejam elas presentes
ou passadas (MENEZES, 2001, p. 27).
As ações afirmativas surgiram como possíveis respostas aos problemas criados pela
discriminação e desigualdades que estão presentes, desde um passado distante até os dias atuais na
sociedade. Nesse sentido, as ações afirmativas estão voltadas para grupos que são considerados vítimas
de processos históricos de exclusão e discriminação, ou seja, geralmente abarcam as “minorias”
étnicas, raciais, mulheres e deficientes. Bergman (1996, p. 7) entende que a:
Ademais, conforme apontado pela autora, é necessário que ocorra uma inserção profunda no
contexto da educação intercultural, como caminho a ser seguido para romper com os pré-conceitos e
discriminações que estão intrínsecos na sociedade. Para além disso, é preciso desnaturalizar processos
marcados pelos estereótipos que ajudam a caracterizar a sociedade brasileira de uma forma negativa.
METODOLOGIA
Metodologicamente o trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, que para
Gil (2002, p.44), “[...] a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Em consonância a essa assertiva, afirma
Bocatto (2006, p. 266):
Assim, foram feitas pesquisas em sites, revistas eletrônicas, livros e textos já publicados no
sentido de compreender e obter mais base teórica sobre o tema proposto.
Recorreu-se ainda a abordagem qualitativa, que para Minayo (2001, p. 32) “é uma pesquisa
que trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos”. Ademais,
“a pesquisa qualitativa evita números, lida com interpretações das realidades sociais” (BAUER,
2014, p. 23). Nesse sentido, foram catalogadas diversas publicações sobre cultura, inclusive trabalho
de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de doutorado e artigos. Essas escolhas “se
definem pela natureza dos temas estudados e pelas áreas em que os trabalhos se situam” (SEVERINO,
2007, p.134). Logo, destaca-se a coerência na escolha das obras para balizamento teórico do presente
trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Albuquerque e Filho afirmam que “por mais de trezentos anos a maior parte da riqueza
produzida, consumida no Brasil ou exportada foi fruto da exploração do trabalho escravo” (2006,
p.65). Essa assertiva ajuda a entender um pouco o contexto de exclusão e negação dos direitos dos
negros no Brasil. Portanto, foi séculos de negação, o que ocasionou em uma sociedade desigual e que
sempre enxergou os negros como inferiores.
Ademais, com toda certeza, a exclusão do negro, no que diz respeito ao processo escolar,
tem início ainda na educação básica. Isso acontece devido há alguns fatores, como por exemplo, o
não reconhecimento e consequentemente a desvalorização e o desrespeito para com a cultura afro-
brasileira. Cavalleiro deixa claro que:
Nos dia de hoje, fica nítida a exclusão social, política e econômica de alguns grupos. No
entanto, essa desigualdade deve ser combatida através de políticas públicas. Precisamos de ações
que garantam os direitos da cidadania, e as políticas públicas são, constitucionalmente, uma forma
de assegurar esses direitos. Como ressaltado por Pedro Demo (2000, p. 14) “Os direitos humanos
são inalienáveis, e devidos por natureza”. Como reverter ou amenizar esse quadro de injustiça e
desigualdades raciais?
Medidas foram sendo tomadas ao longo dos anos e a Lei 10/639 foi um importante avanço.
Essa lei foi sancionada pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva em 2003. Com isso, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) foi alterada e a partir desse momento tornou-se obrigatório o
ensino da História e Cultura Afro-Brasileira. Consolidando-se mais um importante passo na construção
de uma sociedade mais justa e que reconheça a importância dos negros para esse país, importância
essa que vai além da mão de obra, mas que perpassa por produção de variados conhecimentos que
contribuíram para a cultura brasileira.
A aprovação da Lei 12.711 foi um importante passo na concretização dessa política de acesso.
“A política de igualdade racial é parte essencial da construção da democracia, e, as políticas de ações
afirmativas têm se demonstrado um caminho importante” (RIBEIRO, 2012, p. 49). O sistema de cotas
reserva de um determinado percentual das vagas disponíveis nas instituições de ensino superior. A
referida Lei deixa claro que os institutos técnicos federais e as universidades públicas devem reservar
50% das suas vagas para os estudantes que vieram de escola pública e, dentro desse grupo há critérios
de renda, raça e classe social. Para que o indivíduo tenha direito a esta política, é necessário que o
mesmo se enquadre pelo menos em um dos critérios exigidos por lei.
Sendo assim, um dos grandes desafios a ser vencido – para que de fato ocorra igualdade na
sociedade – é apontado por Florestan ao enfatizar que:
Justiça, hoje, requer tanto redistribuição quanto reconhecimento; nenhum deles, sozinho,
é suficiente. A partir do momento em que se adota essa tese, entretanto, a questão de
como combiná-los torna-se urgente. Sustento que os aspectos emancipatórios das duas
problemáticas precisam ser integrados em um modelo abrangente e singular. A tarefa, em
parte, é elaborar um conceito amplo de justiça que consiga acomodar tanto as reivindicações
defensáveis de igualdade social quanto às reivindicações defensáveis de reconhecimento da
diferença. (Fraser, 2007, p.103)
Através das políticas de cunho compensatório, entre elas as cotas raciais, o negro vem tendo
uma maior representatividade no ensino superior. Historicamente o ensino superior público era e ainda
é caracterizado pela parte mais abastada da população, a elite brasileira, no entanto, essa realidade,
mesmo que a passos lentos, vem mudando. O pensamento que será abordado no que se refere à
representação social vem do meio sociológico, psicológico. Que segundo Moscovici (2003, p. 23),
citado por Naiff e Souza (2009).
Percebemos na sociedade brasileira que a imagem do negro causa certa indiferença no que
diz respeito à igualdade, se considerarmos que a identidade negra sempre foi negada, discriminada.
Todavia nos últimos anos, o acesso ao ensino superior desses sujeitos por meio das políticas públicas,
vem proporcionando ao negro uma maior visibilidade dentro de um espaço extremamente elitizado.
Este é um dos exemplos no qual é perceptível o histórico prejudicial no que se refere à educação
voltada para a população negra, o que é ocasionada por inúmeros motivos, dentre eles, por exemplo, o
racismo cotidiano e a marginalização do negro, fatores estes que contribuem na perpetuação de uma
história de fracasso escolar do negro desde a educação básica, refletindo na disputa das vagas para
adentrar no ensino superior. As desvantagens sociais vivenciadas pelos negros são flagrantes, por isso
a necessidade de políticas que amenizem esse déficit histórico de exclusão. Como bem explica Bernd
(1987), pensar sobre os caminhos percorridos pelo os negros é importante, pois:
Permanecer no nível dos signos, isto é, se resumir a combater os signos do poder branco, não
haverá um real enfrentamento do problema. É necessário chegar à estrutura profunda: lá onde
os estereótipos se constroem como causa e consequência de preconceito. (p.33).
CONCLUSÃO
O fim da escravidão no Brasil, não ocasionou por parte do Estado o interesse por políticas de
integração da população negra, pelo contrário, os negros ficaram à margem da sociedade. É importante
refletirmos sobre a cultura negra e levarmos em consideração suas especificidades construídas ao
REFERÊNCIAS
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de Estudos Afro-Orientais; Fundação Cultural Palmares, Salvador, BA: 2006.
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Dumará e Fundação Ford. Trad. Nadjeda Rodrigues Marques e Camila Olsen. 2003.
ERICA ROBERTA LOVO ROCHA meros. Alguns pontos que foram orientados aos
WATANABE alunos discutirem em suas redações são: a im-
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, portância de conhecer esses temas antes do início
UTFPR das aulas prática, o quão familiarizado o aluno já
estava com o tema e práticas, além disso pediu-
MATHEUS LOPES DEMITO -se dicas de melhoria para as próximas turmas e
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, avaliação sobre o uso de seminários. Os alunos
UTFPR apresentaram desafios e possibilidades para essa
maneira de ensino, sugerindo modificações para
PRISCILA DOS SANTOS GASCHI LEITE os próximos semestres como forma de melhoria
Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
da ferramenta, em prol da educação. De manei-
UTFPR
ra geral, concluiu-se que o uso de seminários em
disciplinas de graduação é de extrema necessi-
SIMONE DELEZUK INGLEZ
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, dade, pois além de facilitar a interiorização dos
UTFPR conteúdos pelos discentes, desenvolve nos alu-
nos qualidades e outras características necessá-
rias para o profissional no mercado de trabalho.
RESUMO: Esse trabalho consiste em uma dis-
cussão reflexiva sobre a importância dos semi-
nários como ferramenta facilitadora no processo PALAVRA-CHAVE: Docência no Ensino Supe-
de ensino-aprendizagem. O conteúdo abordado rior; Normas de Segurança de Laboratório; Me-
pelos discentes foram as Normas de Segurança todologia de ensino-aprendizagem; Educação.
de Laboratório. Trabalhou-se com uma turma de
30 alunos, na disciplina de Química Geral Ex-
perimental do primeiro período de Engenharia
Química de uma Universidade Federal do Para- ABSTRACT: This paper consists of a reflective
ná. Dividiu-se a turma em 5 grupos e trabalhou discussion about the importance of the seminars
temas específicos com cada grupo. A discussão as a facilitating tool in the teaching-learning pro-
apresentada foi desenvolvida considerando re- cess. The content addressed by the students was
dações de avaliação feitas pelos próprios alunos. the Laboratory Safety Standards. We worked with
Após a análise das respostas dos alunos notou que a group of 30 students, in the discipline of Exper-
73% dos alunos não se consideravam cientes das imental General Chemistry of the first period of
Normas de Segurança de Laboratório antes dos Chemical Engineering of a Federal University of
seminários e apenas 27% desses alunos julgaram Paraná. The student’s class were divided into 5
já ter um contato prévio com o tema. A relação groups and worked on specific topics with each
de alunos que já tiveram contato com aulas práti- group. The discussion presented was developed
cas de química anteriormente ao ensino superior considering essays written by the students them-
em engenharia química segue esses mesmos nú- selves. After analyzing the students’ responses,
1. INTRODUÇÃO
O reconhecimento dos perigos é o primeiro passo a ser dado para minimizar a exposição
aos agentes químicos nos ambientes em que são manipulados. Se o perigo não é identificado
adequadamente, ou o consenso sobre o que é perigoso não está claramente definido, o objetivo de
reduzir a exposição certamente não será alcançado (Uema, 2015).
Dentre os diferentes ambientes de trabalho, os laboratórios universitários são locais que são
voltados para o ensino, pesquisa e extensão. Nestes ambientes laboratoriais estão presentes máquinas,
equipamentos e produtos químicos, considerados fatores de risco em potencial, tais como riscos
físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e riscos de acidentes. Com isso, sujeitos as leis e normas
de segurança do trabalho (Muller e Mastroeni, 2004).
As normas de segurança em laboratórios devem ser seguidas para que qualquer tipo de risco
a integridade física seja minimizado. Para isso, o uso de equipamentos de proteção coletiva (EPC),
equipamentos de proteção individual (EPI) e treinamento em segurança laboratorial são de extrema
importância para reduzir os riscos associados a este ambiente.
O seminário é uma dessas ferramentas de comunicação de ensino coletivo, que tem como
método a interação, o diálogo e a parceria dos alunos, enfatizando a troca de conhecimentos e a
De maneira geral, podemos dizer que o engenheiro químico precisa unir capacidade analítica,
pensamento lógico e senso prático em suas ações no dia a dia. Isso porque, no trabalho, ele terá que
lidar com ciências exatas. Um bom profissional da área é muito atento aos detalhes e isso permite
atuar nos projetos com maior segurança (Schaid et al., 2001). Diante disto surge o seminário como
facilitador para desenvolver essas características aos estudantes desde os períodos iniciais de curso.
2. METODOLOGIA UTILIZADA
A turma é composta por trinta alunos que foram divididos em grupos de seis integrantes,
totalizando cinco grupos de trabalho para apresentação dos seminários. A Tabela 1 relaciona os temas
específicos de cada grupo e o motivo de estudar estes temas no primeiro contato universitário.
Tabela 1: Relação dos temas dos seminários trabalhados pelos grupos com os respectivos obje-
tivos.
Destaca-se algumas frases escritas pelos próprios discentes ao avaliar o tema estudado:
“Normas de segurança em laboratórios é um tema do qual eu tive muito pouco contato, pois
não realizei muitas aulas práticas de química em laboratórios anteriormente, tendo realizado
somente uma prática no ensino médio (o teste de chama). Durante essa prática, o tema
sobre as normas de segurança em laboratórios não foi abordado, pois a prática foi feita pela
professora, e os alunos apenas observaram. Portanto, abordar esse tema antes de começarmos
a efetivamente ter aulas práticas é de grande importância, pois a falta desse conhecimento
pode prejudicar a segurança dos alunos, uma vez que não estariam familiarizados com o
significado dos símbolos de laboratório, ou com os procedimentos de primeiros socorros em
caso de acidentes no laboratório, por exemplo. É também importante pois um engenheiro
químico pode ter muito contato com laboratórios, portanto abordar esse tema durante o curso
de graduação ajuda não somente durante o curso, como também pode ajudar ao trabalhar em
laboratórios no futuro. ”
“Primeiramente, segurança em laboratórios não é um assunto muito bem abordado nas escolas,
especialmente no ensino médio, sendo muitas vezes simplesmente ignorado. Por exemplo,
eu não tive aulas de prevenção de acidentes e primeiros socorros em laboratório, apesar de
ter constantes aulas de química em laboratório, portanto, caso tivesse acontecido algum erro,
ninguém saberia o que fazer. Seguidamente, dada a quantidade de aulas experimentais que
teremos ao longo do curso, e da chance de continuarmos trabalhando em laboratórios depois
do fim do curso, torna-se essencial sabermos como lidar com situações de emergência. ”
Com relação ao apresentado pelos discentes, pode-se dizer que os alunos reagiram bem à
atividade proposta pelo professor e desenvolvida por eles. Todos os acadêmicos conseguiram perceber
que é de fundamental importância discutir as normas de segurança em laboratório antes do início das
aulas práticas e conseguem relacionar a necessidade desse conteúdo com sua futura profissão como
engenheiro químico.
Após a análise das respostas dos alunos notou que 73% dos alunos não se consideravam
cientes das normas e seguranças em laboratório antes dos seminários aplicados e apenas 27% desses
alunos julgaram já ter um contato prévio com o tema. A relação de alunos que já tiveram contato com
aulas práticas de química anteriormente ao ensino superior em engenharia química segue esse mesmo
resultado. Nesse sentido, para grande maioria, o primeiro contato com assuntos relacionados aos
acidentes em laboratório, perigos existentes, ações e comportamentos preventivos, equipamentos de
segurança e primeiros socorros, se dá justamente através desses seminários iniciais.
Uma ferramenta muito utilizada nas salas de aula e apresentações em geral é o seminário. Ter
contato com essa ferramenta desde o começo da vida acadêmica é importante aos alunos para que eles
desenvolvam aptidões cada vez mais necessárias no mercado de trabalho, como boa comunicação,
facilidade em falar em público, desenvolver e seguir linhas de raciocínio específicas, além de prestar
atenção nos outros.
O seminário encontra-se como uma boa alternativa para possibilitar aos discentes o
desenvolvimento de tomadas de decisão ao que tange o processo ensino-aprendizagem, servindo como
um incentivador à pesquisa, uma vez que toda a apresentação deve ser procurada e bem embasada; ao
ensino, uma vez que os alunos devem preocupar-se com a melhor maneira de transmitir seus dados
ao resto da turma; e à extensão, mostrando a realidade do tema pesquisado faculdade a fora, em
comunidades, empresas e outras universidades.
Pelo viés dos próprios discentes, o seminário foi uma peça indispensável nesse primeiro
momento universitário tanto para começar a desenvolver as características citadas acima, como para
relacionar-se com os colegas da nova turma. Alguns relatos estão expostos, abaixo:
“A abordagem em forma de seminário é eficaz, uma vez que os alunos devem pesquisar e
depois apresentar, o conteúdo é aprendido e repassado de uma forma mais compreensível
para os demais colegas. [...] os seminários foram bem apresentados e, de forma clara e direta,
tivemos contato com todas as normas e medidas de segurança dos laboratórios. ”
“[...] apresentações deste modo ajudam bastante a mostrar a forma como serão enfrentados os
semestres seguintes e a dar mais confiança para os alunos, principalmente os mais tímidos. “
“[...] a apresentação do seminário não foi uma experiência edificante apenas por motivos
técnicos: a prática da comunicação verbal e da convivência em grupo é um diferencial para
nós, futuros engenheiros, que em breve ingressaremos no mercado de trabalho.”
Como discutido pelos alunos, os seminários se mostraram de grande valia para compreender
e interiorizar os conteúdos trabalhados. Além de proporcionar aprendizado técnico, também
proporcionou desenvolvimento interpessoal, contato com a turma e facilitou esse primeiro momento
com o universo universitário, um mundo completamente novo para grande maioria da turma.
“[...] imagino que seria mais proveitoso se tivessem temas mais específicos, como exposições
a ácidos, bases, sais, solventes, entre outros. Para que os alunos pudessem ter maior noção
dos perigos específicos de cada composto. Mantendo essa mesma forma de apresentação, já
que é de fundamental importância para o melhor domínio possível da dicção e capacidade de
apresentação de cada aluno. “
“[...] seria interessante se, valendo parte da nota, os alunos tivessem feito um resumo dos
temas dos outros grupos para serem entregues na próxima aula. “
“ [...] considero viável que nos próximos semestres algumas partes dos seminários serem
explicadas por alguém com mais experiência na área, e não somente alunos. ”
Como exposto, algumas sugestões dos discentes para melhorar a metodologia de seminários
aplicados são: expor na realidade dos laboratórios os objetos, símbolos e equipamentos tratados nos
seminários, criar outros temas específicos de apresentação, escrever resumos sobre a apresentação
dos outros grupos e chamar profissionais da área para reforçar alguns ensinamentos. Para os
próximos semestres pretende-se estudar, adaptar e aplicar algumas dessas sugestões, de acordo com o
cronograma da ementa da disciplina e avaliar se foi ou não melhor para os alunos em termos técnicos,
interpessoal e desenvolvimento de perfil requerido no curso.
Com o passar dos anos o cenário político e socioeconômico muda e o perfil do profissional
requerido na área da engenharia química é efêmero e transcende a maneira tradicional de ensino das
universidades. Por conta disso é cada vez mais necessário formar profissionais aptos a trabalharem nos
diferentes momentos do mercado e por isso se dá a importância de arriscar metodologias alternativas
de ensino.
Pensamento lógico, capacidade analítica e senso de avaliação são algumas das características
necessárias para um bom profissional de engenharia e que foram perceptíveis através das redações. As
duas melhores redações desenvolvidas pelos alunos estão expostas na íntegra, abaixo:
Na prática tivemos a oportunidade de aprender algumas técnicas para evitar acidentes pessoais
e contaminações por substâncias químicas. Hoje me sinto parcialmente familiarizadas com o
tema laboratório e com as aulas práticas de químicas, graças à forma efetiva e eficiente com
Será de grande importância a permanência dos seminários, com novos temas e com diferentes
formas de montagem das equipes, para que aprendemos a trabalhar com diferentes grupos
e opiniões, com o objetivo nos aproximar da realidade que teremos fora da universidade. ”
Durante o ensino médio, quase não tive contato com as normas de segurança, pois as aulas
práticas eram escassas. Dentre as normas apresentadas, tive bastante contato com as normas
referentes à sinalização do local, reagentes e resíduos. No ensino superior tive contato com as
mesmas normas apresentadas durante o seminário, porém essas normas foram apresentadas
pelo professor da matéria. Ao envolver os alunos, acredito que o engajamento seja maior,
consequentemente o conteúdo não é esquecido facilmente.
Acredito que para os próximos semestres, o seminário deve ser mantido, mas ele deve ser
acompanhado de uma dinâmica de grupo para assim envolver mais os estudantes. ”
Note-se que as linhas de raciocínio para a escrita das redações seguiram um caminho
convergente entre elas, todos os alunos abordaram temáticas sobre a importância do tema, vivencia
com práticas e o tema, análise dos seminários e as características positivas dos mesmos.
6. CONCLUSÕES
Os três tópicos analisados foram sobre a reação dos alunos frente às Normas de Segurança de
Trabalho, o viés do discente no desenvolvimento de seminários e a lapidação do perfil do engenheiro
químico através dessas ferramentas.
Com relação a reação dos alunos, notou-se que a grande maioria da turma nunca tinha tido
contato com o tema e tampouco com aulas práticas laboratoriais, o que enaltece a necessidade de
trabalhar esse quesito nas turmas de primeiro período. No entanto, ao analisarmos as redações dos
discentes para definir o quão efetivo foram os seminários para lecionar os assuntos, bem como
desenvolver características, vimos que é uma ferramenta útil, facilitadora e que foi bem recebida e
elogiada pelos alunos da graduação. Algumas sugestões de melhoria foram dadas aos alunos e serão
adaptadas e implementadas nos próximos semestres.
Por fim, é consenso geral da turma que estudar diferentes conteúdos de maneira cognitiva
através de seminários, como foi o caso das Normas de Segurança em Laboratório, desenvolve e lapida
o perfil necessário para um profissional de Engenharia Química, como por exemplo, uma pessoa líder,
comunicativa e que saiba falar em público.
Rodrigues, F. R. A.; Cunha, G. A. A.; Bruno, R. C. Seminários temáticos como estratégia interdis-
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No início do processo civilizatório era a tribo, a família, que se encarregava de ensinar sua
prole. Com o tempo, aos poucos, essa tarefa foi dividida com mestres itinerantes das academias
de Artes e, pouco mais tarde, com a instituição escola, que se encarregou de ensinar/transmitir a
bagagem cultural valorizada às novas gerações. Basicamente, até o século XI, não se pensava na
preparação para a função docente, preparação daquele(a) que ensina. Para Nóvoa (1995), foi durante
o século XII que a Igreja Católica, administradora da educação, mostrou suas primeiras expressões
relativas à formação de professores, visto que, naquela época, o docente era um teólogo. Mas a
demanda pela escola começou a esboçar crescimento, indicativo da necessidade de formar maior
número de docentes.
6 A concepção marxista de dialética, influenciada pelo pensamento hegeliano, implica em uma prática que se faz
mediante a teoria e uma teoria que se robustece com a prática, onde, se parte da realidade material para o confronto com
os conceitos e se volta para a realidade material afim de transformá-la (MARX, 1985). Por essa concepção, o mundo
somente é compreendido na perspectiva de um todo, na sua totalidade, em que cada movimento reflete uma ideia a outra
contrária até chegar ao conhecimento da verdade, e não se compreende a vida social fora da existência de antagonismos,
dos conflitos. (BLOIS, 2006).
7 Em um sentido restrito, referimo-nos à estrutura social para designar os elementos estruturais da organização
socioeconômica e cultural das sociedades, que se sobrepõe aos elementos culturais, como valores e representação que,
comum a grupos sociais distintos – nesse caso, campesinos e os professores, especificamente – constitui uma superestru-
tura (MARX, 1982) (HARVEY, 2002).
No contexto mundial do século XVIII, explica Saviani (2009), a Revolução Francesa (1789-
1799) teve grande influência na criação das Escolas Normais para preparo de professores a fim de
atender à crescente demanda pela instrução popular. Não sem razão, a França foi pioneira na criação
das Escolas Normais, seguida pela Itália, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos. Tais Escolas, no
entender de Nóvoa (1995, p. 15), “passam a contribuir de forma decisiva, produzindo a profissão
docente (a nível coletivo), para a gênese de uma cultura profissional, além da socialização dos seus
membros”.
O emergente corpo profissional dos professores passou a exigir do Estado alguns direitos
como, por exemplo, autonomia e independência. Em contrapartida, informa Nóvoa (1995), o Estado
passou a exigir e oferecer uma permissão para ensinar, que somente era obtida por meio de concurso ou
de exame classificatório. Aos concursos e exames poderiam se submeter todos os que apresentassem
alguns requisitos como, por exemplo, conhecimentos literários, idade, bom comportamento moral.
Conforme o autor, a licença para lecionar significava o aval do Estado para o professor que, de posse
dessa licença, legitimava seu papel social nas ações educativas da escola e se firmava como um grupo
ocupacional que, pouco mais tarde, lançou-se na luta pela melhoria de seu estatuto sócio profissional.
Na explanação de Nóvoa (1995, p. 17), a segunda metade do século XIX foi posta como
um momento decisivo no processo de profissionalização do professor. Naquela época, firmes
concepções ideológicas delineavam a formação e traçavam um perfil profissional dos professores:
não são burgueses, mas também não são povos; não devem ser intelectuais, mas possuir “um bom
acervo de conhecimentos”; não são notáveis locais, mas devem desempenhar papel importante na
sociedade, manter relações com todos os grupos sem privilegiar nenhum deles; não podem ter uma
vida miserável, mas devem evitar toda a ostentação; não exercer seu trabalho com independência,
sendo inútil que usufruam de alguma autonomia.
Para Nóvoa (1995), foi no final do século XIX, como estratégia do Estado, que se organizaram
grupos de inspetores para assegurar controle sobre o ensino e professores que passaram a reivindicar
a conjugação, diante dos privilégios de funcionários estatais, em relação àqueles que possuem os
trabalhadores livres. Nesse mesmo período, mostrou-se crescente a demanda pela instrução, cabendo
aos professores assegurar a integração política e social por meio da escola. No final desse século, deu-
se início ao ingresso das mulheres no magistério e novos posicionamentos do Estado em relação às
reivindicações de melhoria salarial, condições para prosseguimento de estudos e formação profissional.
8 É o resultado de um processo histórico e sociopolítico, nascido em meados do século XV. É uma criação da mo-
dernidade que nasceu do pensamento jusnaturalista de Thomas Hobbes (1588-1679) e se formou em John Locke (1632-
1704), Immanuel Kant (1724-1804), que impõem uma visão racionalista idealista do direito, revista por Hans Kelsen
(1881-1973). (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998).
9 Denominação empregada pelo pesquisador norte-americano Donald Schön, cuja expressão mais conhecida é
“racionalidade prática”. (DINIZ-PEREIRA, 2010).
A racionalidade técnica foi denominada por Saviani (2011, p. 9) como “modelo dos conteúdos
culturais-cognitivos 12 de formação de professores”. Na adoção desse modelo compete às instituições
formadoras apenas a organização e sistematização do conhecimento já apreendido pelo acadêmico
durante sua formação.
10 Refere-se ao conhecimento que o indivíduo adquire ao longo de sua vida, pela experiência.
11 Refere-se ao conhecimento formal, claro, regrado e facilmente comunicável. (HOUAISS; VILAR, 2008).
12 Nesse artigo, às vezes, o autor também se reporta à expressão “modelo cultural-cognitivo” com o mesmo signi-
ficado.
Pela exposição de Saviani (2011), nas instituições formadoras de professores para atuação
nos anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior predomina o modelo de
conteúdos culturais-cognitivos. Enquanto que o modelo pedagógico-didático prevalece em instituições
formadoras de professores para atuação na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.
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