Sie sind auf Seite 1von 46

80

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

OITAVA CÂMARA CRIMINAL


HABEAS CORPUS 0022815-25.2019.8.19.0000
IMPETRANTE 1: DR EDUARDO MAYR
IMPETRANTE 2: DR MAURICIO EDUARDO MAYR
PACIENTE: ADRIANA FERREIRA ALMEIDA NASCIMENTO
AUT. COATORA: MM JUIZ DA 2ª VARA DA COMARCA DE RIO BONITO
RELATOR: DES. CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR

HABEAS CORPUS. DELITO DE HOMICÍDIO DU-


PLAMENTE QUALIFICADO. IMPETRANTES QUE
REQUEREM O PROCESSAMENTO DO RECUR-
SO DE APELAÇÃO, SEM PREJUÍZO DO AFAS-
TAMENTO DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA E DA
REDUÇÃO DA SANÇÃO PENAL IMPOSTA À PA-
CIENTE. WRIT NÃO CONHECIDO.
1. Quanto ao processamento do recurso de apela-
ção e ao início da execução da sanção penal, a pa-
ciente já se valeu do mesmo objeto e da mesma
causa de pedir descritos no presente Writ, quando a
defesa impetrou o Habeas Corpus nº 0021667-
13.2018.8.19.0000, em cuja decisão a Oitava Câ-
mara Criminal analisou exaustivamente a matéria e
denegou a ordem, por unanimidade.
2. Diante da ausência de alteração fática ou jurídica
que se mostrasse capaz de configurar alguma ilega-
lidade ou abuso de poder contra a liberdade de lo-
comoção da paciente, dúvida não há de que o pre-
sente Writ, em relação às duas primeiras questões,
se revela manifestamente prejudicado, na medida
em que não cabe a uma Câmara Criminal ser revi-
sora de suas próprias decisões.
3. Quanto à dosimetria da sanção penal, melhor
sorte não assiste aos impetrantes, sobretudo por-
que o Estado-juiz analisou com o devido cuidado as
questões postas a seu julgamento, exteriorizando
as razões de fato e de direito que o convenceram a
HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 1

CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR:31934 Assinado em 15/08/2019 15:07:48


Local: GAB. DES CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR
81

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

fixar a pena definitiva da paciente em 20 anos de


reclusão, com base no critério trifásico adotado no
Código Penal.
4. O douto Julgador a quo fixou a pena-base acima
do mínimo legal, devido ao reconhecimento da mai-
or reprovabilidade da conduta da paciente, que
“atentou contra a vida de seu então companheiro,
pessoa portadora de necessidades especiais de
quem conhecia a rotina, utilizando-se de tal circuns-
tância para facilitar a execução do crime”, o que,
por óbvio, excede a normalidade do tipo penal. O
MM Juiz ainda afastou corretamente a incidência da
agravante prevista no artigo 61, II, e, do Estatuto
Repressivo, como forma de evitar a analogia in ma-
lan partem em desfavor da paciente. Com o reco-
nhecimento das agravantes previstas nos artigos
61, II, c, e 62, I, do mesmo diploma legal, a sanção
penal intermediária tornou-se definitiva em 20 anos
de reclusão, ante a ausência de causas de aumento
e diminuição a serem valoradas, em absoluta ob-
servância ao critério trifásico adotado em nosso or-
denamento jurídico, daí por que a decisão impug-
nada não implica nenhuma nulidade.
5. À mingua de ilegalidade ou abuso de poder con-
tra a liberdade de locomoção da paciente, o Habeas
Corpus desvia-se de sua finalidade e torna-se, por
consequência, inadequado para o único fim de re-
formar a sentença condenatória do Tribunal Popu-
lar, que é o que remanesce.
WRIT NÃO CONHECIDO.

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 2
82

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Habe-


as Corpus nº 0022815-25.2019.8.19.0000, em que figuram como im-
petrantes os doutores Eduardo Mayr e Mauricio Eduardo Mayr,
como paciente Adriana Ferreira Almeida Nascimento e como auto-
ridade coatora o MM Juiz da 2ª Vara da Comarca de Rio Bonito.

Acordam os Desembargadores da Oitava Câmara


Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
unanimidade, em não conhecer do Habeas Corpus, na forma do voto
do Relator.

RELATÓRIO

Cuida-se de Habeas Corpus com pedido liminar,


impetrado em benefício de Adriana Ferreira Almeida Nascimento, con-
tra decisões proferidas pelo MM Juiz da 2ª Vara da Comarca de Rio
Bonito, em cujos termos Sua Excelência indeferiu o processamento da
apelação e determinou o início da execução provisória da pena a que
fora condenada a paciente, por entender que a prestação jurisdicional
já se exauriu na Instância Ordinária.

Aduzem os impetrantes que a dosimetria da sanção


penal estaria precariamente fundamentada, em violação aos princí-
pios da razoabilidade e da proporcionalidade.

Com isso, pugnam, em caráter liminar, pelo imedia-


to processamento da apelação, com a abertura de prazo para o ofere-
cimento das razões na forma do artigo 600, § 4º, do Código de Pro-
cesso Penal, sem prejuízo da expedição de alvará de soltura em favor
da paciente e da análise da dosimetria da sanção penal.

No mérito, requerem a concessão da ordem, com a


confirmação da liminar.

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 3
83

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A inicial foi instruída com diversos documentos, en-


tre os quais destacam-se a ata da sessão de julgamento, a decisão
impugnada, o pedido de reconsideração formulado pela defesa e a
respectiva decisão que o indeferiu (anexo 1).

O pedido liminar foi indeferido por este Relator (fl.


26).

As informações foram prestadas pelo MM Juiz a


quo (fls. 29/49).

A douta Procuradoria de Justiça, no parecer da la-


vra do Dr Riscalla J. Abdenur, manifestou-se pelo não conhecimento
do Habeas Corpus (fls. 65/74).

É o relatório. Passo a decidir.

Quanto ao processamento do recurso de apelação


e ao início da execução da sanção penal, a paciente já se valeu do
mesmo objeto e da mesma causa de pedir descritos no presente Writ,
quando a defesa impetrou o Habeas Corpus nº 0021667-
13.2018.8.19.0000, em cuja decisão a Oitava Câmara Criminal anali-
sou exaustivamente a matéria e denegou a ordem, por unanimidade,
nos seguintes termos:

Segundo consta da denúncia, a paciente ofereceu promessa


de recompensa aos seus comparsas, para fins de planeja-
mento e execução do delito de homicídio de seu então com-
panheiro, Sr. Rene Senna, o que foi levado a efeito em 07
de janeiro de 2007, por volta das 11h, nas dependências de
um botequim localizado na Estrada de Lavras, nº 1.000,
Comarca de Rio Bonito.

Com o fim da primeira fase do procedimento do Tribunal do


Júri, a MM Juíza em exercício na 2ª Vara da Comarca de Rio
Bonito se convenceu da comprovação da materialidade e

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 4
84

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

dos indícios de autoria, e pronunciou a paciente em 08 de


outubro de 2007.

Em sessão plenária, o Conselho de Sentença absolveu a


paciente em 28 de novembro de 2011, contra cuja decisão
se insurgiu o Ministério Público por meio do recurso de ape-
lação, que restou julgado procedente pela Oitava Câmara
Criminal em 10 de abril de 2014, com a submissão da paci-
ente a novo julgamento.

Sobreveio a essa decisão a nova sessão plenária, quando,


desta vez, o Tribunal do Júri julgou procedente a pretensão
punitiva estatal e condenou a paciente nas penas do delito
previsto no artigo 121, § 2º, II e IV do Código Penal, ao total
de 20 (vinte) anos de reclusão.

Com a publicação da decisão condenatória em plenário, a


defesa interpôs recurso na própria sessão de julgamento e
requereu vista para a apresentação das razões, sem especi-
ficar, porém, de qual espécie recursal estava se valendo pa-
ra buscar a impugnação da sentença.

Não obstante a isso, o MM Juiz Presidente abriu vista à de-


fesa para o oferecimento das razões recursais.

Confira-se a parte dispositiva da decisão:

Isto posto, atendendo a vontade soberana do Egrégio Con-


selho de Sentença desta comarca, JULGO PROCEDENTE
A PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL para CONDENAR
ADRIANA FERREIRA ALMEIDA pela prática do crime pre-
visto no artigo 121, parágrafo 2º, incisos II e IV do Código
Penal. Passo a dosar a pena. 1ª Fase: a culpabilidade da ré
excedeu em muito a normal à espécie, considerando que
atentou contra a vida de seu então companheiro, pessoa
portadora de necessidades especiais de quem conhecia a
rotina, utilizando-se de tal circunstância para facilitar a exe-
cução do crime. A ré é primária e não possui antecedentes
criminais (FAC de fls. 7265/7268 e esclarecimentos de fl.
7273), considerando o princípio constitucional esculpido no
artigo 5º, LVII, da CR/88, não podendo inquéritos policiais e
processos criminais em andamento serem valorados para
macular essa circunstância. Não há elementos suficientes
para análise acerca de sua conduta social e personalidade,
razão pela qual deixam de ser valoradas. Nada há a valorar,

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 5
85

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

neste momento, no que tange aos motivos do crime, cuja


torpeza foi reconhecida pelo Conselho de Sentença e já são
considerados como qualificadora. As circunstâncias do crime
são anormais, já que impossibilitaram a defesa da vítima,
contudo constituem, do mesmo modo, qualificadora reco-
nhecida pelos jurados, não podendo ser valoradas neste
momento. O comportamento da vítima não influenciou para
a prática do delito. Assim, fixo a pena-base em 15 (quinze)
anos de reclusão. 2ª Fase: Não há circunstâncias atenuan-
tes, sendo certo que a acusada não era casada com a víti-
ma, razão pela qual impossível a aplicação da agravante
prevista no art. 61, II, e, do CP, sob pena de ocorrer analogia
in malam partem, tendo a união estável havida entre ré e ví-
tima sido considerada quando da análise das circunstâncias
judiciais. Impõe-se reconhecer, contudo, a existência da
agravante prevista no art. 61, II, c do CP (à traição, de em-
boscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que di-
ficultou ou tornou impossível a defesa do ofendido), admitida
pelos jurados como qualificadora. Isso porque, a circunstân-
cia prevista no art. 121, parágrafo 2º, I (motivo torpe) foi utili-
zada para qualificar o crime, devendo as demais circunstan-
cias reconhecidas pelo Conselho de Sentença como qualifi-
cadoras serem utilizadas como agravantes. Neste sentido a
lição de Guilherme de Souza Nucci: ´Entretanto, quando há
mais de uma qualificadora, prevista no tipo penal, a utiliza-
ção de uma delas já é suficiente para alterar a faixa de fixa-
ção de pena (...). As demais, quando reconhecidas, preci-
sam ser encaixadas em outro cenário propício. Por isso,
percorre-se a lista de agravantes; encontrando-as nesse
contexto, aplica-se como tal. Se por ventura não estiver nes-
se rol, parte-se para o art. 59 do CP.´ (NUCCI, Guilherme de
Souza. Tribunal do Júri. 2ª ed. São Paulo, Editora Revista
dos Tribunais, 2011, pg. 338/339) Na mesma linha a juris-
prudência do E. Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO RE-
GIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS COR-
PUS. HOMICÍDIO. QUALIFICADO. PRESENÇA DE QUA-
TRO QUALIFICADORAS. UTILIZAÇÃO DE UMA PARA
QUALIFICAR O CRIME E DE OUTRAS TRÊS PARA
EXASPERAR A REPRIMENDA NA SEGUNDA FASE DE
DOSIMETRIA. POSSIBILIDADE. INOVAÇÃO RECURSAL.
IMPOSSIBILIDADE. 1. Reconhecida a incidência de quatro
qualificadoras, relativamente a todas as imputações realiza-
das em desfavor do paciente, o sentenciante utilizou-se de
três delas como agravantes genéricas e de apenas uma pa-
ra qualificar o delito, não havendo, portanto, que se falar em

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 6
86

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

bis in idem, uma vez que não se verifica dupla valoração de


uma mesma qualificadora em diferentes fases de dosimetria
da pena. 2. É incabível o exame de tese não exposta no ha-
beas corpus e invocada apenas no agravo regimental, pois
configura indevida inovação recursal.3. Agravo regimental
improvido. (AgRg no HC 339393 / RJ - AGRAVO REGI-
MENTAL NO HABEAS CORPUS - Relator Ministro NEFI
CORDEIRO - SEXTA TURMA - Data do Julgamento
24/05/2016) Reconhece-se, ainda, a agravante prevista no
art. 62, I do CP, uma vez que a ré foi a autora intelectual do
crime, tendo promovido a cooperação criminosa entre os
agentes que participaram da ação. Assim, sendo reconheci-
das as agravantes previstas nos arts. 61, II, c e 62, I, todos
do CP, agravo a pena em 05 (dois) anos, passando a mes-
ma a 20 (vinte) anos de reclusão. 3ª Fase: Não há na hipó-
tese dos autos qualquer causa especial ou geral de aumento
ou diminuição de pena a ser considerada. ASSIM, FICA DE-
FINITIVAMENTE FIXADA A PENA EM 20 (VINTE) ANOS
DE RECLUSÃO. Tendo em vista o não preenchimento dos
requisitos trazidos nos arts. 44 e 77 do Código Penal, deixo
de proceder à substituição da pena privativa de liberdade por
pena restritiva de direito e à suspensão condicional da pena.
A pena privativa de liberdade imposta à ré ADRIANA FER-
REIRA ALMEIDA deverá ser cumprida inicialmente em regi-
me fechado, tendo em vista a regra contida no art. 33, §2º,
´a´ do Código Penal, levando em conta a pena fixada. Deixo
de aplicar o art. 387, §2º em razão de o tempo de prisão
provisória não cumprir o requisito objetivo para progressão
de regime. Com relação à possibilidade de recurso em liber-
dade, passo a decidir. O fumus commissi delicti é revelado
pela sentença condenatória recorrível que ora se prolata
com base na decisão soberana do conselho de sentença,
atingindo ares de certeza, ainda que sob eventual condição
resolutiva. Com relação ao periculum libertatis, como se vê
dos autos, a acusada não foi localizada nas tentativas de in-
timação para o presente julgamento em mais de um endere-
ço (fls. 7075, 7089 e 7146). A defesa veio aos autos à fl.
7080 dando a acusada por intimada, não informando, toda-
via, seu atual endereço. Assim, entendo que a acusada, ao
menos por ora, se encontra em local incerto e não sabido.
Nesta linha, analisando tal fato aliado à condenação que
agora sobre ela pesa, vislumbro risco concreto à aplicação
da lei penal, se mostrando presente a probabilidade de fuga.
Desta forma, presentes de forma preponderante os pressu-
postos autorizadores da prisão preventiva, não há que se fa-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 7
87

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

lar em violação ao princípio constitucional da presunção de


inocência, razão pela qual rejeito a possibilidade de recurso
em liberdade e determino a prisão preventiva da acusada.
Expeça-se mandado de prisão. Expeça-se carta de execu-
ção de sentença provisória à VEP. COMUNIQUE-SE, na
forma do Aviso Conjunto TJ/ CGJ nº 08/2013, ao Coordena-
dor da Secretaria de Administração Penitenciária no sentido
de providenciar a transferência da acusada para estabeleci-
mento prisional compatível com o regime fixado na senten-
ça. Observado o princípio da congruência, deixo de fixar in-
denização mínima, nos moldes do artigo 387, inciso IV do
Código de Processo Penal, uma vez que não há pedido for-
mulado neste sentido. Condeno a ré, ainda, ao pagamento
das custas processuais, na forma do art. 804 do CPP, de-
vendo eventual hipossuficiência ser aferida no juízo da exe-
cução. Após o trânsito em julgado, oficie-se ao Tribunal Re-
gional Eleitoral deste Estado, com cópia desta sentença,
comunicando-se a condenação do réu, com sua devida iden-
tificação, em cumprimento ao disposto no artigo 15, III, da
Constituição da República e ao artigo 72, § 2o, do Código
Eleitoral, anote-se, comunique-se e expeça-se a Carta de
Sentença, expeçam-se as demais comunicações de praxe,
em especial ao INI, IFP e Distribuidor. Dou a presente por
publicada em Plenário, as partes por intimadas, determinan-
do o registro. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-
se. Plenário do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Bonito,
15 de dezembro de 2016. Em seguida, pediu a palavra a
Defesa para dizer que interpõe recurso e requer vista
dos autos para apresentação das razões. Pelo MM. Dr.
Juiz foi dado o seguinte DESPACHO: Dê-se vista à Defe-
sa, para apresentação das razões (grifo nosso). O Juiz
Presidente dispensou os Senhores Jurados, declarando en-
cerrada a presente Sessão às 21 h 29 min. Nada mais ha-
vendo, eu, Ludmilla Macieira Bortone, mat. 01/23011, auxili-
ar de Gabinete, e Felipe Rodrigues Pacheco, TAJ, Matrícula
01/33302, digitamos a presente ata e eu, Vicente Lovisi, ma-
trícula, 01/23585 a subscrevo, que, lida e achada conforme
vai devidamente assinada.

Em 16 de dezembro de 2016, um dia após o término do jul-


gado, a defesa requereu a apresentação das razões em se-
gunda instância de forma extemporânea e contraditória, sem
observar as regras do artigo 600, § 4º, do Código de Proces-
so Penal, das quais deflui a obrigação de o apelante decla-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 8
88

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

rar, na petição ou no termo, o desejo de arrazoar na instân-


cia superior, quando da interposição da apelação.

Como se depreende da aludida decisão, a própria defesa


requereu a abertura de vista para o oferecimento das razões
no momento da interposição do recurso em plenário, daí por
que não poderia, no dia seguinte ao ato, requerer algo abso-
lutamente incompatível com o pedido anterior, o que eviden-
cia as preclusões lógica e temporal no caso em exame.

Com isso, o MM Juiz a quo indeferiu corretamente a apre-


sentação das razões em segunda instância:

[...].

Considerando que a defesa não requereu a prerrogativa


prevista no art. 600, §4º do CPP no ato de interposição do
recurso, até para evitar questionamento futuro acerca da
tempestividade das razões, indefiro o pedido de apresenta-
ção das razões recursais na superior instância. Dê-se ciên-
cia à Defesa e ao Ministério Público.

Diante dessa decisão, a defesa deveria ter apresentado as


razões perante a própria autoridade impetrada para dar iní-
cio ao processamento da apelação, mas assim não o fez, na
medida em que preferiu fazer uso de um segundo recurso
contra uma única decisão do Tribunal Popular, ao interpor o
protesto por novo júri, que deixou de ser recebido nos se-
guintes termos:

A acusada ADRIANA FERREIRA ALMEIDA apresentou pro-


testo por novo júri (fls. 7499/7605) com fundamento no revo-
gado art. 607 do CPP, alegando que a norma tem caráter
penal e, por essa razão, deveria ser aplicada à hipótese, já
que vigente na data do crime. É O BREVE RELATÓRIO.
PASSO A DECIDIR. Previam os arts. 607 e 608 do CPP: Art.
607. O protesto por novo júri é privativo da defesa, e somen-
te se admitirá quando a sentença condenatória for de reclu-
são por tempo igual ou superior a vinte anos, não podendo
em caso algum ser feito mais de uma vez. § 1º Não se admi-
tirá protesto por novo júri, quando a pena for imposta em
grau de apelação (art. 606). § 2º O protesto invalidará qual-
quer outro recurso interposto e será feito na forma e nos
prazos estabelecidos para interposição da apelação. § 3º No
novo julgamento não servirão jurados que tenham tomado

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 9
89

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

parte no primeiro. Art. 608. O protesto por novo júri não im-
pedirá a interposição da apelação, quando, pela mesma sen-
tença, o réu tiver sido condenado por outro crime, em que
não caiba aquele protesto. A apelação, entretanto, ficará
suspensa, até a nova decisão provocada pelo protesto. (gri-
fou-se) Analisando a norma revogada, percebe-se de forma
clara que a mesma não ostenta caráter material, mas ape-
nas processual, já que somente disciplinava o cabimento de
um recurso. Sendo assim, tratando-se de norma processual,
sua revogação gera efeitos de forma imediata, não havendo
que se falar em ultra atividade. Acerca da hipótese ensina
Fernando da Costa Tourinho Filho : ´A extinção do protesto
por novo júri, provocada pela Lei 11.689/2008, deve ser de
aplicação imediata, tão logo entre em vigor o corpo de nor-
mas que alteraram a configuração do Tribunal do Júri. Se-
gue-se o disposto no art. 2º do Código de Processo penal: ´A
lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo
da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anteri-
or´. Significa, pois, que todo réu que estiver respondendo a
processo, no contexto do júri, ao atingir a sentença condena-
tória, proferida em plenário, com pena fixada em 20 anos ou
mais, já não terá direito de invocar o protesto por novo júri.
Afinal, no momento processual em que alcançou a decisão
condenatória e, portanto, poderia, em tese, fazer uso do re-
curso colocado à sua disposição pela legislação, em autênti-
ca expectativa de direito, o mencionado recurso deixou de
existir. Note-se a posição do STJ, nessa ótica, salientando
que somente se poderia usar protesto por novo júri quando a
decisão condenatória, superior a vinte anos, fosse proferida
sob a égide da lei anterior. (...) Normas processuais aplicam-
se de imediato, sem qualquer retroatividade. Essa é a regra.
Naturalmente, não se desconhece a exceção, que cuida do
cenário das normas processuais materiais. São aquelas que,
apesar de figurarem no contexto do processo penal, regendo
atos praticados pelas partes durante a investigação ou du-
rante o trâmite processual, possuem nítido conteúdo de Di-
reito Penal. Essa essência de direito material é extraída das
consequências que podem provocar, quando utilizadas, o
que lhes confere denominação de instituto misto. (...) No
mais, extrair um recurso qualquer do sistema processual,
encurtar ou estender a instrução, permitir ou vedar determi-
nada prova, alterar prazos recursais, modificar o trâmite de
certos recurso, enfim, transformar o processo é medida tipi-
camente instrumental, não se relacionando, em absoluto,
com o direito material. (...) O protesto por novo júri não pas-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 10
90

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

sava de uma segunda chance, concedida ao acusado, por-


que se entendia que a pena fora fixada em patamar elevado.
Para a época talvez fosse mesmo, o que já não se coaduna
com a realidade, pois inúmeras penas são mais severas do
que 20 anos. E nem por isso os condenados obtêm um novo
julgamento. Não se pode considerar o antigo direito ao pro-
testo por novo júri como norma processual penal material
somente pelo fato de que sua interposição condicionava-se
a um determinado patamar de pena. Essa situação não tem
o condão de transformar a norma processual pura e norma
material. Note-se que, deferido o protesto por novo júri, o réu
que estava preso assim, continuava e seguia a novo julga-
mento pronto a receber, sendo o caso, idêntica penalidade.
Logo, poderia continuar detido como se nada tivesse sido al-
terado. O protesto por novo júri não permitia a soltura do
acusado, nem gerava a extinção de sua punibilidade. Em
suma, deferido ou não, nenhuma consequência no campo
penal desencadeava. A sua utilização não afetava o direito
de punir do estado. Aliás, cabia ao Tribunal do Júri, por in-
termédio de outro Conselho de Sentença, julgar novamente
o caso. Nada mais. A sua extinção, em boa hora determina-
da pelo legislador, confere modernidade ao sistema recursal
no processo penal brasileiro e a norma puramente proces-
sual tem, indubitavelmente, aplicação imediata, colhendo to-
dos os feitos em andamento, pouco importando quando o fa-
to criminoso foi cometido. Sobre o não cabimento de protes-
to por novo júri após a revogação do art. 607 do CPP já de-
cidiram este Tribunal de Justiça e o Superior Tribunal de
Justiça: 0208682-69.2011.8.19.0001 - EMBARGOS IN-
FRINGENTES E DE NULIDADE - 1ª Ementa - Des(a). JOÃO
ZIRALDO MAIA - Julgamento: 01/04/2014 - QUARTA CÂ-
MARA CRIMINAL CARTA TESTEMUNHÁVEL. EMBARGOS
INFRINGENTES. HOMICÍDIO. PLEITO DE PROTESTO
POR NOVO JURI. DATA DOS FATOS ANTERIOR À VI-
GÊNCIA DA LEI. JULGAMENTO REALIZADO EM DATA
POSTERIOR. NÃO CABIMENTO DA RETROATIVIDADE
PRETENDIDA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 2º DO CPP. A
norma revogada (artigo 607 do CPP) era um meio recursal,
e, como tal, dizia respeito a uma garantia constitucional im-
plícita, o duplo grau de jurisdição. Assim, não há que se co-
gitar da retroatividade ou ultra-atividade mais benigna da
norma revogada. O princípio a ser empregado é o da aplica-
ção imediata da lei processual, preconizado pelo artigo 2º do
Código de Processo Penal, que reclama a aplicação imedia-
ta da nova norma, ainda que menos benéfica ao agente do

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 11
91

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

delito, ao passo que a garantia constitucional estatuída no


art. 5.º, inciso XL, CF (irretroatividade, salvo mais benéfica),
somente incide sobre normas de direito material (penal). O
princípio é o tempus regit actum, até porque não se deve
confundir a expectativa de um determinado direito com a
efetiva presença do mesmo. RECURSO DESPROVIDO.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍ-
DIO. AUMENTO DA PENA REALIZADO NO JULGAMENTO
DA APELAÇÃO. RECURSO DO ART. 607 DO CPP. CABI-
MENTO. LEI N. 11.689/2008. INAPLICÁVEL AO CASO
CONCRETO. PROTESTO POR NOVO JÚRI. FAVOR DIS-
PENSADO À LIBERDADE QUE PRESCINDE DE FORMA-
LIDADES. PLEITO MINISTERIAL DE NÃO CONHECIMEN-
TO DO PROTESTO POR NOVO JÚRI POR INTEMPESTI-
VIDADE. IMPROCEDÊNCIA. GARANTIA CONFERIDA AO
CONDENADO QUE PODERIA SER ACAUTELADA DE
OFÍCIO. NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DOS PRIN-
CÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
APLICAÇÃO DO PRAZO DE 15 DIAS AO PROTESTO POR
NOVO JÚRI CONTRA ACÓRDÃO DE APELAÇÃO. POSSI-
BILIDADE. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. O fato da
pena ter sido majorada acima de 20 anos, somente no jul-
gamento da apelação, não é óbice à interposição do protesto
por novo júri. 2. O entendimento de ambas as Turmas que
julgam matéria penal nesta Corte é no sentido de que a Lei
n. 11.689/2008 é norma de caráter processual, vigorando,
assim, o princípio tempus regit actum. Dessa forma, sendo a
publicação da decisão impugnada o marco inicial para o
exercício do direito subjetivo da parte sucumbente recorrer,
constata-se que o recorrido faz jus ao protesto pelo novo júri,
pois a sentença condenatória foi publicada em 27 de abril de
2006 e o acórdão que majorou a pena em 24 de abril de
2007. 3. O extinto recurso de protesto por novo júri era, na
verdade, um ´favor dispensado à liberdade´, em face da im-
putação de uma pena rigorosa por pessoas leigas. Por essa
razão, a doutrina ensina que a sua interposição prescinde de
maiores formalidades e até mesmo de fundamentação, bas-
tando ao recorrente apresentar seu simples inconformismo.
4. No caso, o direito do recorrido de pleitear um novo júri,
poderia resultar da simples conversão da apelação interpos-
ta e conhecida, sendo prescindível a própria interposição do
recurso do art. 607 do Código de Processo Penal. Nesse
contexto, não atenderia aos parâmetros da razoabilidade e
da proporcionalidade afastar o direito do recorrido a um novo
julgamento perante o Tribunal Popular, com base no des-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 12
92

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

cumprimento do prazo previsto no § 2º do art. 607 do Código


de Processo Penal. 5. Não se mostra desarrazoado o para-
lelismo realizado pelo Tribunal de origem, para aplicar o pra-
zo do recurso especial ao protesto por novo júri interposto
em segundo grau, pois superada a vedação de cabimento
do protesto por novo júri quando fixada a pena em apelação,
a dependência e prejudicialidade antes estabelecida entre o
recurso do art. 607 do Código de Processo Penal e a apela-
ção é transferida para os recursos especial e extraordinário.
6. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp
1134649 / PR - Relator Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZ-
ZE - QUINTA TURMA - Data do Julgamento 26/08/2014)
Nessa linha, incabível o recurso interposto, impossível o seu
recebimento. Não há, do mesmo modo, como receber a irre-
signação como recurso de apelação em homenagem ao
princípio da fungibilidade, já que na peça recursal não há
impugnação da sentença proferida ou alegação de nulidade
do feito, apenas fundamentação no sentido do cabimento do
protesto por novo júri. Assim, ainda que recebida a peça
como apelação, nada teria o Tribunal de Justiça a julgar, le-
vando em conta o princípio do tantum devolutum quantum
apellatum. Por fim, levando em conta a preclusão lógica e
temporal, inadmissível, também, a interposição de novo re-
curso em face da sentença condenatória. Pelo exposto,
DEIXO DE RECEBER O RECURSO DE PROTESTO POR
NOVO JÚRI. Preclusa esta decisão, certifique-se o trânsito
em julgado da sentença e expeça-se mandado de prisão e
carta de sentença à VEP. Ciência ao Ministério Público, As-
sistente de Acusação e Defesa.

Irresignada com o decisum contrário à sua pretensão, desta


vez a defesa interpôs carta testemunhável, em cujas razões
requereu o provimento do recurso, com vistas a submeter a
paciente a novo julgamento pelo Tribunal Popular, ao argu-
mento de que as normas penais que regulavam o protesto
por novo júri possuíam natureza híbrida, de cunho material e
processual, daí por que se aplicariam fora do seu alcance de
vigência, inclusive posteriormente à sua revogação, segundo
a regra da ultra-atividade da lei penal mais benéfica.

No entanto, a Oitava Câmara Criminal do Tribunal de Justiça


do Estado do Rio de Janeiro negou provimento à carta tes-
temunhável, uma vez que adotou o entendimento pacificado
nos tribunais superiores, para quem a Lei nº 11.689/08 pos-
sui natureza tipicamente processual e, por consequência,

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 13
93

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

aplicação imediata, segundo o princípio tempus regit actum,


previsto no artigo 2° do Código de Processo Penal.

Contra essa decisão insurgiu-se a defesa por meio do recur-


so de embargos de declaração, que restou desprovido por
unanimidade pelo Órgão Colegiado.

Sobreveio ao decisum novo recurso de embargos de decla-


ração, do qual a Oitava Câmara Criminal, também por una-
nimidade, não conheceu.

Na sequência, a defesa interpôs recurso especial com pedi-


do de efeito suspensivo, a fim de sustar os efeitos da deci-
são impugnada até o julgamento do mérito pelo Superior
Tribunal de Justiça.

No entanto, Sua Excelência, a Terceira Vice-Presidente do


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, indeferiu o
pedido de concessão de efeito suspensivo ao recurso espe-
cial, o que levou o MM Juiz da 2ª Vara da Comarca de Rio
Bonito a determinar o início da execução provisória da pena,
ante o exaurimento da prestação jurisdicional em segunda
instância:

[...]. O C. Supremo Tribunal Federal fixou jurisprudência, in-


clusive em sede de repercussão geral, no sentido de que a
execução provisória de acórdão penal condenatório proferi-
do em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário, não compromete o princípio constitucional da
presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII,
da Constituição Federal (ARE 964246 RG/SP - Repercussão
Geral no Recurso Extraordinário com Agravo - Relator Min.
Teori Zavascki - julgamento em 10/11/2016). Note-se que tal
entendimento ganha ainda mais relevo em se tratando de
decisão proferida pelo Tribunal do Júri, considerando a pre-
visão constitucional de soberania de seus veredictos (art. 5º,
XXXVIII, c da CF). Na hipótese em análise, tendo em vista
que o recurso de protesto por novo júri não foi recebido por
este juízo, em decisão mantida pela. E. Oitava Câmara Cri-
minal deste Tribunal de Justiça, verifica-se o esgotamento
da jurisdição em segunda instância, havendo sido interposto
recurso especial ao qual não foi atribuído efeito suspensivo.
Pelo exposto, respeitado o duplo grau de jurisdição e defini-
da autoria e materialidade do delito, não há razão para que
seja postergada a execução da pena, em especial no caso

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 14
94

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

em análise que tem por objeto crime praticado há mais de


uma década. Deste modo, expeça-se mandado de prisão em
desfavor da ré para execução provisória da pena imposta.
Ciência ao ministério Público, Assistente de Acusação e De-
fesa.

A seguir, a defesa opôs embargos de declaração, aos quais


o Julgador a quo negou provimento nos seguintes temos:

Trata-se de embargos de declaração opostos às fls.


78/13/7814v pela defesa em face da decisão de fls.
7809/7810, que determinou a prisão da ré para execução
provisória da pena, sob alegação de erro material, em razão
da suposta existência de recurso de apelação pendente de
julgamento, o que faria com que não houvesse sido esgota-
da a jurisdição em segunda instância. O Ministério Público
se manifestou às fls. 7833/7836 pelo não provimento dos
embargos. É o relatório. DECIDO. Como se vê dos autos, ao
final do segundo julgamento da acusada pelo Tribunal do Jú-
ri desta comarca, realizado entre 13 e 15 de dezembro de
2016, no qual restou a mesma condenada à pena de 20 (vin-
te) anos de reclusão pelo homicídio qualificado de Rene Se-
na, a defesa se manifestou no sentido de interpor recurso e
requerer vista dos autos para apresentação de razões (fl.
7378). Note-se que quando da interposição do recurso não
indicou a defesa qual meio de impugnação da sentença se-
ria manejado. No dia seguinte ao término do julgamento,
apresentou a defesa pedido de revogação da prisão preven-
tiva decretada (fls. 7395/7396), sendo certo que ao final da
peça pleiteou a apresentação das razões recursais perante a
superior instância, na forma do art. 600, §4º do CPP. Às fls.
7426/7427 foi proferida decisão revogando a prisão preven-
tiva da acusada, impondo medidas cautelares diversas e in-
deferindo o pedido de apresentação das razões recursais
perante a segunda instância, haja vista que não requerida
quando da interposição do recurso. Apresentou, então, a de-
fesa, protesto por novo júri às fls. 7499/7505, o qual foi
inadmitindo em decisão proferida às fls. 7509/7514 nos se-
guintes termos: A acusada ADRIANA FERREIRA ALMEIDA
apresentou protesto por novo júri (fls. 7499/7605) com fun-
damento no revogado art. 607 do CPP, alegando que a nor-
ma tem caráter penal e, por essa razão, deveria ser aplicada
à hipótese, já que vigente na data do crime. É O BREVE
RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR. Previam os arts. 607 e
608 do CPP: Art. 607. O protesto por novo júri é privativo da

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 15
95

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

defesa, e somente se admitirá quando a sentença condena-


tória for de reclusão por tempo igual ou superior a vinte
anos, não podendo em caso algum ser feito mais de uma
vez. § 1º Não se admitirá protesto por novo júri,
quando a pena for imposta em grau de apelação (art. 606). §
2º O protesto invalidará qualquer outro re-
curso interposto e será feito na forma e nos prazos estabele-
cidos para interposição da apelação. § 3º No novo julga-
mento não servirão jurados que tenham tomado parte no
primeiro. Art. 608. O protesto por novo júri não impedirá a in-
terposição da apelação, quando, pela mesma sentença, o
réu tiver sido condenado por outro crime, em que não caiba
aquele protesto. A apelação, entretanto, ficará suspensa, até
a nova decisão provocada pelo protesto. (grifou-se) Anali-
sando a norma revogada, percebe-se de forma clara que a
mesma não ostenta caráter material, mas apenas processu-
al, já que somente disciplinava o cabimento de um recurso.
Sendo assim, tratando-se de norma processual, sua revoga-
ção gera efeitos de forma imediata, não havendo que se fa-
lar em ultra atividade. Acerca da hipótese ensina Fernando
da Costa Tourinho Filho: ´A extinção do protesto por novo jú-
ri, provocada pela Lei 11.689/2008, deve ser de aplicação
imediata, tão logo entre em vigor o corpo de normas que al-
teraram a configuração do Tribunal do Júri. Segue-se o dis-
posto no art. 2º do Código de Processo penal: ´A lei proces-
sual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior´. Significa,
pois, que todo réu que estiver respondendo a processo, no
contexto do júri, ao atingir a sentença condenatória, proferi-
da em plenário, com pena fixada em 20 anos ou mais, já não
terá direito de invocar o protesto por novo júri. Afinal, no
momento processual em que alcançou a decisão condenató-
ria e, portanto, poderia, em tese, fazer uso do recurso colo-
cado à sua disposição pela legislação, em autêntica expec-
tativa de direito, o mencionado recurso deixou de existir. No-
te-se a posição do STJ, nessa ótica, salientando que somen-
te se poderia usar protesto por novo júri quando a decisão
condenatória, superior a vinte anos, fosse proferida sob a
égide da lei anterior. (...) Normas processuais aplicam-se de
imediato, sem qualquer retroatividade. Essa é a regra. Natu-
ralmente, não se desconhece a exceção, que cuida do cená-
rio das normas processuais materiais. São aquelas que,
apesar de figurarem no contexto do processo penal, regendo
atos praticados pelas partes durante a investigação ou du-
rante o trâmite processual, possuem nítido conteúdo de Di-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 16
96

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

reito Penal. Essa essência de direito material é extraída das


consequências que podem provocar, quando utilizadas, o
que lhes confere denominação de instituto misto. (...) No
mais, extrair um recurso qualquer do sistema processual,
encurtar ou estender a instrução, permitir ou vedar determi-
nada prova, alterar prazos recursais, modificar o trâmite de
certos recursos, enfim, transformar o processo é medida tipi-
camente instrumental, não se relacionando, em absoluto,
com o direito material. (...) O protesto por novo júri não pas-
sava de uma segunda chance, concedida ao acusado, por-
que se entendia que a pena fora fixada em patamar elevado.
Para a época talvez fosse mesmo, o que já não se coaduna
com a realidade, pois inúmeras penas são mais severas do
que 20 anos. E nem por isso os condenados obtêm um novo
julgamento. Não se pode considerar o antigo direito ao pro-
testo por novo júri como norma processual penal material
somente pelo fato de que sua interposição condicionava-se
a um determinado patamar de pena. Essa situação não tem
o condão de transformar a norma processual pura e norma
material. Note-se que, deferido o protesto por novo júri, o réu
que estava preso assim, continuava e seguia a novo julga-
mento pronto a receber, sendo o caso, idêntica penalidade.
Logo, poderia continuar detido como se nada tivesse sido al-
terado. O protesto por novo júri não permitia a soltura do
acusado, nem gerava a extinção de sua punibilidade. Em
suma, deferido ou não, nenhuma consequência no campo
penal desencadeava. A sua utilização não afetava o direito
de punir do estado. Aliás, cabia ao Tribunal do Júri, por in-
termédio de outro Conselho de Sentença, julgar novamente
o caso. Nada mais. A sua extinção, em boa hora determina-
da pelo legislador, confere modernidade ao sistema recursal
no processo penal brasileiro e a norma puramente proces-
sual tem, indubitavelmente, aplicação imediata, colhendo to-
dos os feitos em andamento, pouco importando quando o fa-
to criminoso foi cometido. Sobre o não cabimento de protes-
to por novo júri após a revogação do art. 607 do CPP já de-
cidiram este Tribunal de Justiça e o Superior Tribunal de
Justiça: 0208682-69.2011.8.19.0001 - EMBARGOS IN-
FRINGENTES E DE NULIDADE - 1ª Ementa - Des(a). JOÃO
ZIRALDO MAIA - Julgamento: 01/04/2014 - QUARTA CÂ-
MARA CRIMINAL CARTA TESTEMUNHÁVEL. EMBARGOS
INFRINGENTES. HOMICÍDIO. PLEITO DE PROTESTO
POR NOVO JURI. DATA DOS FATOS ANTERIOR À VI-
GÊNCIA DA LEI. JULGAMENTO REALIZADO EM DATA
POSTERIOR. NÃO CABIMENTO DA RETROATIVIDADE

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 17
97

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PRETENDIDA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 2º DO CPP. A


norma revogada (artigo 607 do CPP) era um meio recursal,
e, como tal, dizia respeito a uma garantia constitucional im-
plícita, o duplo grau de jurisdição. Assim, não há que se co-
gitar da retroatividade ou ultra-atividade mais benigna da
norma revogada. O princípio a ser empregado é o da aplica-
ção imediata da lei processual, preconizado pelo artigo 2º do
Código de Processo Penal, que reclama a aplicação imedia-
ta da nova norma, ainda que menos benéfica ao agente do
delito, ao passo que a garantia constitucional estatuída no
art. 5.º, inciso XL, CF (irretroatividade, salvo mais benéfica),
somente incide sobre normas de direito material (penal). O
princípio é o tempus regit actum, até porque não se deve
confundir a expectativa de um determinado direito com a
efetiva presença do mesmo. RECURSO DESPROVIDO.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍ-
DIO. AUMENTO DA PENA REALIZADO NO JULGAMENTO
DA APELAÇÃO. RECURSO DO ART. 607 DO CPP. CABI-
MENTO. LEI N. 11.689/2008. INAPLICÁVEL AO CASO
CONCRETO. PROTESTO POR NOVO JÚRI. FAVOR DIS-
PENSADO À LIBERDADE QUE PRESCINDE DE FORMA-
LIDADES. PLEITO MINISTERIAL DE NÃO CONHECIMEN-
TO DO PROTESTO POR NOVO JÚRI POR INTEMPESTI-
VIDADE. IMPROCEDÊNCIA. GARANTIA CONFERIDA AO
CONDENADO QUE PODERIA SER ACAUTELADA DE
OFÍCIO. NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DOS PRIN-
CÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
APLICAÇÃO DO PRAZO DE 15 DIAS AO PROTESTO POR
NOVO JÚRI CONTRA ACÓRDÃO DE APELAÇÃO. POSSI-
BILIDADE. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. O fato da
pena ter sido majorada acima de 20 anos, somente no jul-
gamento da apelação, não é óbice à interposição do protesto
por novo júri. 2. O entendimento de ambas as Turmas que
julgam matéria penal nesta Corte é no sentido de que a Lei
n. 11.689/2008 é norma de caráter processual, vigorando,
assim, o princípio tempus regit actum. Dessa forma, sendo a
publicação da decisão impugnada o marco inicial para o
exercício do direito subjetivo da parte sucumbente recorrer,
constata-se que o recorrido faz jus ao protesto pelo novo júri,
pois a sentença condenatória foi publicada em 27 de abril de
2006 e o acórdão que majorou a pena em 24 de abril de
2007. 3. O extinto recurso de protesto por novo júri era, na
verdade, um ´favor dispensado à liberdade´, em face da im-
putação de uma pena rigorosa por pessoas leigas. Por essa
razão, a doutrina ensina que a sua interposição prescinde de

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 18
98

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

maiores formalidades e até mesmo de fundamentação, bas-


tando ao recorrente apresentar seu simples inconformismo.
4. No caso, o direito do recorrido de pleitear um novo júri,
poderia resultar da simples conversão da apelação interpos-
ta e conhecida, sendo prescindível a própria interposição do
recurso do art. 607 do Código de Processo Penal. Nesse
contexto, não atenderia aos parâmetros da razoabilidade e
da proporcionalidade afastar o direito do recorrido a um novo
julgamento perante o Tribunal Popular, com base no des-
cumprimento do prazo previsto no § 2º do art. 607 do Código
de Processo Penal. 5. Não se mostra desarrazoado o para-
lelismo realizado pelo Tribunal de origem, para aplicar o pra-
zo do recurso especial ao protesto por novo júri interposto
em segundo grau, pois superada a vedação de cabimento
do protesto por novo júri quando fixada a pena em apelação,
a dependência e prejudicialidade antes estabelecida entre o
recurso do art. 607 do Código de Processo Penal e a apela-
ção é transferida para os recursos especial e extraordinário.
6. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp
1134649 / PR - Relator Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZ-
ZE - QUINTA TURMA - Data do Julgamento 26/08/2014)
Nessa linha, incabível o recurso interposto, impossível o seu
recebimento. Não há, do mesmo modo, como receber a irre-
signação como recurso de apelação em homenagem ao
princípio da fungibilidade, já que na peça recursal não há
impugnação da sentença proferida ou alegação de nulidade
do feito, apenas fundamentação no sentido do cabimento do
protesto por novo júri. Assim, ainda que recebida a peça
como apelação, nada teria o Tribunal de Justiça a julgar, le-
vando em conta o princípio do tantum devolutum quantum
apellatum. Por fim, levando em conta a preclusão lógica e
temporal, inadmissível, também, a interposição de novo re-
curso em face da sentença condenatória. Pelo exposto,
DEIXO DE RECEBER O RECURSO DE PROTESTO POR
NOVO JÚRI. Preclusa esta decisão, certifique-se o trânsito
em julgado da sentença e expeça-se mandado de prisão e
carta de sentença à VEP. Ciência ao Ministério Público, As-
sistente de Acusação e Defesa.´ Tal decisão foi integralmen-
te mantida em julgamento de carta testemunhável interposta
pela defesa, como relatado na decisão embargada, penden-
te apenas a análise de recurso especial, ao qual foi negado
efeito suspensivo por decisão da 3ª Vice-Presidência deste
E. Tribunal de Justiça. RELATADOS. DECIDO. Analisando
detidamente os autos, verifica-se que em momento algum foi
efetivamente interposto recurso de apelação. Ao final da

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 19
99

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

sessão plenária a defesa interpôs recurso não especificado.


Após, no bojo de pedido de revogação de prisão preventiva,
fez menção à apresentação de razões de apelação em se-
gundo grau, o que foi indeferido. Em seguida, apresentou
protesto por novo júri, nada abordando acerca da interposi-
ção de recurso de apelação. Tem-se, então, que a única
menção a recurso de apelação pela defesa desde a senten-
ça proferida na sessão de julgamento foi quando do reque-
rimento de apresentação de razões perante a superior ins-
tância. Caso buscasse a defesa a interposição de recurso de
apelação, em que pese tal ato não ter constado da ata da
sessão de julgamento, após o indeferimento da apresenta-
ção de razões recursais perante a segunda instancia, deve-
ria ter apresentado as razões de apelação, o que não fez,
tendo apresentado, apenas, protesto por novo júri. Tendo
em vista a ausência de interposição de recurso de apelação
ou da apresentação de suas razões, não há como se enten-
der pelo não esgotamento da jurisdição em segunda instân-
cia com o não provimento da carta testemunhável interposta
contra decisão que não recebeu o protesto por novo júri e
reconheceu que a oportunidade para a apresentação de
apelação havia restado preclusa. Ainda que se entendesse
que houve uma interposição tácita do recurso de apelação,
em se tratando de processo da competência do Tribunal do
Júri, a fundamentação de tal espécie de recurso é vinculada,
conforme determina o art. 593, III do CPP. No caso destes
autos a possibilidade de recurso ainda seria mais restrita,
uma vez que já houve a interposição e julgamento de apela-
ção fundamentada em decisão dos jurados manifestante
contrária à prova dos autos, sendo incabível novo recurso
pelo mesmo fundamento (art. 593, §3º do CPP), razão pela
qual, mesmo que adotado o entendimento de que teria ocor-
rido a interposição de apelação, a remessa ao Tribunal de
Justiça na forma do art. 601 do CPP estaria prejudicada. Is-
so porque, seria obrigatório que a Defesa, no ato de interpo-
sição, ou no máximo antes de esgotado o prazo para tal, in-
dicasse o fundamento do apelo. Sobre o tema válida é a
transcrição de trecho da obra de Fernando da Costa Touri-
nho Filho : Embora se possa argumentar que as decisões do
Tribunal Popular poderiam estar inseridas no inciso I do art.
593 (sentenças definitivas de condenação ou absolvição),
preferiu a norma processual penal excepcionar o caso do jú-
ri, justamente para fazer com que a apelação, nessas hipó-
teses, ficasse vinculada a uma motivação. Não se apresenta
apelação, no contesto do tribunal de júri, por qualquer razão

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 20
100

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ou inconformismo, mas somente nos casos enumerados nas


alíneas do inciso III do art. 593. Garante-se o duplo grau de
jurisdição, ao mesmo tempo em que se busca preservar a
soberania dos veredictos. (...) Quando a parte pretender re-
correr, deve oferecer, logo na petição de interposição, qual o
motivo que o leva a apelar, deixando expressa a alínea elei-
ta do inciso III do art. 593 do Código de Processo penal.
Posteriormente, no momento de apresentação das razões,
fica vinculado ao motivo declinado. A única possibilidade de
alterar o fundamento da apelação ou ampliar o seu incon-
formismo, abrangendo outras hipóteses do inciso III, é fazê-
lo ainda no prazo para apresentar a apelação, oferecendo
outra petição nesse sentido. Assim, sendo, o Tribunal so-
mente pode julgar nos limites da interposição. (grifou-se) O
E. Supremo Tribunal Federal pacificou o mesmo entendi-
mento através da sua súmula 713: Súmula 713 - O efeito
devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos
fundamentos da sua interposição Não é outra a orientação
seguida pelo C. Superior Tribunal de Justiça: PENAL E
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RE-
CURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRELIMI-
NAR DE SUPOSTA PRECLUSÃO. FALTA DE ADMISSIBI-
LIDADE APELO NOBRE DO PARQUET. INOCORRÊNCIA.
MANDANTE DO CRIME. AGRAVANTE GENÉRICA DO
ART. 62, I, DO CP. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. INCI-
DÊNCIA DA SÚMULA 731/STF. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. Imprescindibilidade do duplo juízo de ad-
missibilidade, não vinculando o juízo prévio desta Corte da-
quele feito pelo Tribunal de origem. 2. Inocorrência da ale-
gada preclusão, pois o magistrado ´possui a faculdade de
gerenciar o processo a ele vinculado, determinando os atos
processuais que entender necessários´ (AgRg no AResp
461513, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, DJe 28/3/14). 3.
Não foi objeto de apreciação pelo Tribunal de origem a tese
de ausência de quesito próprio para avaliação do agravante
na qualidade de mandante prevista no art. 62, I, do CP.
Ocorrência de supressão de instância. 4. Incidência do
enunciado n. 713 da Súmula/STF: ´O efeito devolutivo da
apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos
da sua interposição´. 5. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1565838/RJ - Relator Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK - QUINTA TURMA - Data do Julgamento
10/10/2017) AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS COR-
PUS. JÚRI. APELAÇÃO. DECISÃO MANIFESTAMENTE
CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. EFEITO DEVOLUTI-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 21
101

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

VO. LIMITE. RAZÕES RECURSAIS. ERRO OU INJUSTIÇA


NA APLICAÇÃO DA PENA E OMISSÃO QUANTO AO RE-
GIME INICIAL FECHADO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
NOVO ATO COATOR APONTADO EM AGRAVO REGI-
MENTAL. INOVAÇÃO RECURSAL. AUSÊNCIA DE CÓPIA
DO DECISUM. HABEAS CORPUS MAL INSTRUÍDO.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Nas apelações
oriundas de decisões proferidas pelo Tribunal do Júri, o efei-
to devolutivo do recurso encontra limite nas razões expostas
pelo recorrente, em respeito ao princípio da dialeticidade que
rege os recursos no âmbito processual penal. 2. Na hipóte-
se, as matérias relativas a erro ou injustiça na aplicação da
pena e do regime inicial não foram examinadas na origem,
mesmo porque não submetidas à apreciação do Tribunal a
quo, por ocasião do oferecimento da apelação defensiva, a
qual ficou restrita à decisão manifestamente contrária à pro-
va dos autos. Nesse contexto, fica obstada a análise originá-
ria dos temas por esta Corte, sob pena de se incorrer em
inadmissível supressão de instância. 3. A indicação de novo
ato coator em agravo regimental configura inovação recur-
sal. Ademais, não instruída a impetração com a cópia do ato
coator, mostra-se inviável o exame do apontado constrangi-
mento ilegal. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no
HC 363567/SP - Relator Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ - SEXTA TURMA - Data do Julgamento 26/09/2017)
(grifou-se) Deste modo, ainda que se entenda pela interposi-
ção da apelação, não havendo indicação do seu fundamento
e inexistindo razões do apelo das quais se possa extrair a
base legal, prejudicada fica a análise do suposto recurso pe-
lo juízo ad quem. Por tudo que foi exposto, conheço dos
embargos de declaração, eis que tempestivos, mas no méri-
to lhes nego provimento, mantendo a decisão atacada. Ci-
ência ao Ministério Público, Assistente de Acusação e Defe-
sa.

Com isso, percebe-se que não há nenhuma ilegalidade ou


abuso de poder contra a liberdade de locomoção da pacien-
te, na medida em que o MM Juiz da 2ª Vara da Comarca de
Rio Bonito analisou com o devido cuidado as questões pos-
tas a seu julgamento, exteriorizando as razões de fato e de
direito que o convenceram a determinar o início da execução
provisória da pena, sobretudo porque a própria defesa abriu
mão do recurso de apelação interposto na sessão plenária
do Tribunal Popular, quando deixou de oferecer as respecti-
vas razões na forma e prazo legais, para interpor o protesto

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 22
102

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

por novo júri, cujo recebimento é objeto de irresignação até a


presente data, mediante recurso especial.

Com efeito, a interposição simultânea ou cumulativa de dois


recursos contra uma única decisão é vedada, em regra, em
nosso ordenamento jurídico, daí por que não cabe à defesa
fazer uso da apelação e do protesto por novo júri contra uma
decisão condenatória decorrente da prática de crime único,
mas tão somente “quando, pela mesma sentença, o réu tiver
sido condenado por outro crime, em que não caiba aquele
protesto”, tal qual dispunha o revogado artigo 608 do Código
de Processo Penal, cujo preceito é admitido tanto pela dou-
trina quanto pela jurisprudência e constitui uma exceção ao
princípio da singularidade ou unirrecorribilidade dos recur-
sos.

No caso em exame, portanto, não há como acolher a tese de


que a apelação ficou sobrestada com a interposição do pro-
testo por novo júri, uma vez que o título condenatório da pa-
ciente decorre da prática de um único delito, e não de crimes
diversos, como determinava o legislador.

Como bem destacado pelo Ministro Marco Aurélio, “não co-


abitam o mesmo teto o protesto e a apelação quando con-
denado o Réu por crime único, como ocorre, por ficção jurí-
dica, na continuidade delitiva. A utilização simultânea do pro-
testo e da apelação, a ensejar a suspensão quanto a esta úl-
tima, pressupõe crimes diversos - artigo 608 do Código de
Processo Penal” (HC 68733, Segunda Turma, julgado em
10/09/1991, DJ 18-10-1991).

Soma-se a isso o fato de que a defesa tenta se valer até a


presente data do recurso previsto no revogado artigo 607 do
Código de Processo Penal, como forma de submeter a paci-
ente a novo julgamento pelo Tribunal Popular, o que corro-
bora a assertiva de que a defesa preferiu o protesto por novo
júri à apelação, cujo sobrestamento, repita-se, não é admiti-
do na hipótese dos autos.

Logo, a remessa dos autos ao Tribunal de Justiça para fins


de análise da apelação implicaria verdadeira violação ao
princípio da singularidade dos recursos e desvirtuaria os
postulados da celeridade processual e razoável duração do
processo, consagrados no artigo 5º, LXXVIII, da Constituição
da República, sobretudo porque os fatos imputados na de-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 23
103

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

núncia se deram em 07 de janeiro de 2007, cuja matéria fáti-


co-probatória já foi objeto de julgamento pela Oitava Câmara
Criminal.

Ademais, a interposição do protesto por novo júri invalida,


por si só, qualquer outro recurso, segundo os termos do re-
vogado artigo 607, § 2º, do Código de Processo Penal, cuja
regra ainda é adotada pela doutrina e pela jurisprudência.

Como lecionam EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA e DOU-


GLAS FISCHER, “segundo a regra do § 2º do art. 607 do
CPP, o protesto invalidará qualquer outro recurso interposto
e será feito na forma e nos prazos estabelecidos para inter-
posição da apelação. Noutras palavras: se houvesse direito
ao protesto e formulado o pleito pela defesa, quaisquer ou-
tros recursos promovidos em face da sentença condenatória
seriam considerados sem efeito” (Comentários ao Código de
Processo Penal. 2ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011,
p. 1.267).

Nesse sentido a apelação nº 0025947-75.2005.8.19.0002,


julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janei-
ro:

DECISÃO MONOCRÁTICATRIBUNAL DO JÚRI.- RÉUS


CONDENADOS À PENA DE 45 (QUARENTA E CINCO)
ANOS DE RECLUSÃO, EM REGIME FECHADO E PERDA
DO CARGO PÚBLICO.- RECUSOS DE APELAÇÃO E
PROTESTO POR NOVO JURI. RECEBIMENTO APENAS
DO PRIMEIRO RECURSO.CARTA TESTEMUNHÁVEL.
DECISÃO DESTA CÂMARA REJEITANDO-A, POR MAIO-
RIA DE VOTOS. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NU-
LIDADE PROVIDO, DETERMINANDO-SE NOVO JULGA-
MENTO DOS APELANTES PELO TRIBUNAL DO JÚRI.
Considerando que o recurso de protestos por novo júri inva-
lida qualquer outro recurso interposto, nos termos estabele-
cidos no § 2º, do artigo 607, do Código de Processo Penal,
com a redação vigente antes da Lei nº. 11.689/08, o recurso
de apelação interposto pelos apelantes às fls. 1.172, resta
prejudicado (0025947-75.2005.8.19.0002 - APELAÇÃO.
Des. VALMIR DOS SANTOS RIBEIRO - Julgamento:
07/10/2010 - OITAVA CÂMARA CRIMINAL).

Como se não bastasse, a defesa não consignou na ata de


julgamento os motivos que a levaram a se insurgir contra a

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 24
104

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

decisão prolatada no Tribunal Popular, deixando de fazer


menção expressa às alíneas do inciso III do artigo 593, do
Código de Processo Penal, em violação ao Enunciado nº
713 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, segundo o
qual “o efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri
é adstrito aos fundamentos da sua interposição”.

Deveras, em nosso sistema processual penal, o legislador


ordinário procurou limitar as hipóteses passíveis de ser obje-
to de recurso contra a decisão do Tribunal do Júri, cuja irre-
signação deve se ater aos casos enumerados nas alíneas
do inciso III, do aludido dispositivo legal.

Com isso, o legislador prestigiou o princípio do duplo grau de


jurisdição, sem deixar de observar a regra da soberania dos
vereditos, consagrada no artigo 5º, XXXVIII, da Carta Políti-
ca.

Quando do oferecimento das razões, portanto, todo o incon-


formismo expendido deve ficar vinculado aos fundamentos
do apelo.

Em outros termos, o efeito devolutivo da apelação limita-se


aos fundamentos apresentados no momento da interposição
do recurso, e não no oferecimento das razões.

Nesse sentido, convém trazer à colação os ensinamentos de


Ada Pellegrini Grinover1, in expressi verbis:

“As apelações do júri, previstas no art. 593, III, letras a, b, c


e d, são de fundamentação vinculada e, sendo assim, se a
parte invocar uma das alíneas, não pode o tribunal julgar
com base em outra. Não pode também o recorrente, após
ter restringido na petição a sua impugnação a determinada
hipótese, nas razões ampliar o âmbito da devolução do re-
curso para incluir outra, quando já superado o prazo legal de
interposição da apelação. Nada impediria, contudo, à parte
de, ainda no prazo, acrescentar à impugnação outra maté-
ria.” [...].

Confiram-se sobre o tema, os seguintes arestos deste Egré-


gio Tribunal de Justiça:

1
GRINOVER, Ada Pellegrini. Recursos no Processo Penal. Teoria Geral dos Recursos. Recursos em Espécie. Ações de
Impugnação. Reclamação aos Tribunais. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 118-119.

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 25
105

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

JÚRI - DEVERGÊNCIAS NO RESULTADO DAS VOTA-


ÇÕES ENTRE OS QUESITOS SEGUNDO E TERCEIRO
AUSÊNCIA DE PROTESTO E DE PREJUÍZO - VOTAÇÃO
MAJORITÁRIA - NULIDADE INOCORRENTE - DOSIME-
TRIA PENAL BEM MEDIDA - CANCELAMENTO DE OFÍ-
CIO DA PENA DE MULTA, NÃO COMINADA NO PRECEI-
TO SECUNDÁRIO. [...] Relativamente à dosimetria penal,
também não assiste razão à defesa, pois não se verifica erro
ou injustiça na sua medida, considerada a duplicidade de
qualificadoras, fundamento que, aliás, sequer foi invocado
no termo de interposição do recurso, conforme exigência
contida na Súmula 713 do STF: "O efeito devolutivo da ape-
lação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da
sua interposição". Recurso improvido. Cancelamento da pe-
na de multa, de ofício (0092327-57.2009.8.19.0029 - APE-
LAÇÃO. DES. VALMIR DE OLIVEIRA SILVA - Julgamento:
27/03/2012 - TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL).

APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO TENTADO. JÚRI.


RECURSO DEFENSIVO. ARGUIÇÃO DE NULIDADE.
EFEITO DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO. PEÇA DE INTER-
POSIÇÃO DESTOANTE DAS CONTRRAZÕES. APLICA-
ÇÃO DA SÚMULA 713 INEXISTÊNCIA DE NULIDADE.
DECISÃO CONSONANTE COM A PROVA COLIGIDA.
DOSIMETRIA REVISTA. A matéria aduzida nas razões de
apelação, as quais foram subscritas por novo patrono, não
foi suscitada na peça de interposição de recurso. Assim, em
homenagem ao verbete sumular nº 713 do Supremo Tribunal
Federal, o qual preleciona que o efeito devolutivo da apela-
ção contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos de
sua interposição, não há como se conhecer do apelo neste
particular. [...] RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO,
E, NO MÉRITO, PARCIALMENTE PROVIDO PARA REDU-
ZIR A PENA-BASE E APLICAR A FRAÇÃO DE 2/3 EM RA-
ZÃO DA TENTATIVA, RESTANDO A PENA FINAL EM 03
(TRÊS) ANOS E 02 (DOIS) MESES DE RECLUSÃO, MAN-
TIDO O REGIME PRISIONAL.Leg: art. 121, caput, c/c artigo
14, II, todos do CP (0015668-28.2008.8.19.0001
(2009.050.01848) – APELAÇÃO. DES. ALEXANDRE H.
VARELLA - Julgamento: 27/10/2009 - SÉTIMA CÂMARA
CRIMINAL).

APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFI-


CADO. RECURSO INTERPOSTO COM FULCRO NA ALÍ-
NEA "C", DO INCISO III, DO ART. 593, DO CPP (ERRO

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 26
106

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

OU INJUSTIÇA NO TOCANTE À APLICAÇÃO DA PENA).


RAZÕES APRESENTADAS APÓS O QUINQUÍDIO RE-
CURSAL PRETENDENDO DISCUTIR SE A CONDENA-
ÇÃO FOI MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA
DOS AUTOS, PREVISÃO DA ALÍNEA "D" DO MESMO DI-
PLOMA LEGAL. Quanto ao fundamento recursal apresen-
tado tempestivamente na petição de interposição do apelo,
não pode prosperar, posto que não houve erro e nem injusti-
ça no tocante à aplicação da pena, uma vez que o apelante
foi condenado na pena mínima, sendo fixado o regime fe-
chado, este obrigatório na espécie. Recurso, apenas nesta
parte, conhecido e, no mérito, desprovido. No que concerne
ao pedido contido nas razões, tal não pode ser, sequer, co-
nhecido, vez que é tido e sabido que o efeito devolutivo da
apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos
de sua interposição, matéria esta já sumulada no Supremo
Tribunal Federal na ementa de nº 713. RECURSO PARCI-
ALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO, NA FORMA DO
VOTO DO RELATOR. (0193381-24.2007.8.19.0001
(2008.050.05671) – APELAÇÃO. DES. GILMAR AUGUSTO
TEIXEIRA - Julgamento: 24/03/2009 - SÉTIMA CÂMARA
CRIMINAL).

O Colendo Superior Tribunal de Justiça também já se mani-


festou sobre a matéria:

HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO SIMPLES – NULIDADE


POSTERIOR À PRONÚNCIA – TESTEMUNHAS ARRO-
LADAS PELA DEFESA NÃO INQUIRIDAS EM RAZÃO DA
INTEMPESTIVIDADE DE OFERECIMENTO DA CONTRA-
RIEDADE AO LIBELO – MÁCULA À AMPLA DEFESA –
QUESTÃO NÃO LEVADA AO CONHECIMENTO DO TRI-
BUNAL A QUO – APELAÇÃO CRIMINAL QUE SE RES-
TRINGIU À FIXAÇÃO DA PENA – LIMITAÇÃO DO APELO
CONTRA DECISÃO EMANADA DO CONSELHO DE SEN-
TENÇA AOS FUNDAMENTOS DE SUA INTERPOSIÇÃO –
AUSÊNCIA DE AMPLA DEVOLUTIVIDADE – REVISÃO
CRIMINAL AJUIZADA PERANTE A CORTE DE 2º GRAU
BUSCANDO SANAR A MENCIONADA NULIDADE – PE-
DIDO CARENTE DE DECISÃO – SUPRESSÃO DE INS-
TÂNCIA – NÃO CONHECERAM DA ORDEM. 1. É vedado
o exame, neste Superior Tribunal de Justiça, de questão não
levada ao conhecimento do Tribunal a quo, sob pena de su-
pressão de instância. 2. Diferentemente da apelação funda-
da no inciso I do artigo 593 do Código de Processo Penal,

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 27
107

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

aquela interposta contra decisão do Tribunal do Júri se limita


aos fundamentos de sua interposição, sob pena de afronta à
constitucional soberania do Conselho de Sentença. 3. Por-
tanto, ausente a ampla devolutividade do recurso nessa hi-
pótese, inviável considerar o Tribunal Estadual como coator
por não ter reconhecido de ofício a nulidade aqui impugna-
da. 4. Pendente de apreciação o mérito da revisão criminal
ajuizada perante a Corte de 2º Grau, por meio da qual a de-
fesa busca a declaração da apontada nulidade, o conheci-
mento da presente ordem configuraria supressão de instân-
cia. 5. Não conheceram da ordem (STJ – HC 88669/SP –
Quinta Turma – Ministra Jane Silva – Desembargadora con-
vocada do TJ/MG – DJ 26/11/2007).

Quanto ao início da execução provisória, com o julgamento


do Habeas Corpus nº 126.292, o Supremo Tribunal Federal
determinou que “a execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em grau de apelação, ainda que su-
jeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o
princípio constitucional da presunção de inocência afirmado
pelo artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal” (HC
126292, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno,
julgado em 17/02/2016).

Sobreveio a esse julgado a propositura das Ações Declara-


tórias de Constitucionalidade 43 e 44, em cuja decisão nos-
sa Corte Suprema indeferiu a medida cautelar formulada pe-
lo Partido Nacional Ecológico e pelo Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil, que pretendiam suspender
a execução antecipada da pena de todos os acórdãos prola-
tados em segunda instância, com base no reconhecimento
da legitimidade constitucional do artigo 283 do Código de
Processo Penal.

Segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, po-


rém, o aludido dispositivo legal não veda o início da execu-
ção da pena após a condenação nas instâncias ordinárias.

Deveras, levando-se em conta o exaurimento do exame fáti-


co-probatório, do qual deflui a responsabilidade penal do
apelante, não há motivo para impedir a execução provisória
da pena, sobretudo porque o recurso especial ou extraordi-
nário se restringe à análise de direito.

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 28
108

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Trata-se de entendimento que foi reafirmado no julgamento


do ARE nº 964.246-RG/SP, quando o Supremo Tribunal Fe-
deral reconheceu a repercussão geral da matéria:

CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). ACÓRDÃO PENAL CON-
DENATÓRIO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. POSSIBILIDA-
DE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. JURIS-
PRUDÊNCIA REAFIRMADA. 1. Em regime de repercussão
geral, fica reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal no sentido de que a execução provisória de acórdão
penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que su-
jeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o
princípio constitucional da presunção de inocência afirmado
pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. 2. Recur-
so extraordinário a que se nega provimento, com o reconhe-
cimento da repercussão geral do tema e a reafirmação da ju-
risprudência sobre a matéria (ARE 964246 RG, Relator: Min.
TEORI ZAVASCKI, julgado em 10/11/2016).

Em face do exposto, denega-se a ordem, ante a ausência de


constrangimento ilegal a ser sanado.

Sobreveio a esse decisum a interposição do recurso


de embargos de declaração, ao qual o órgão Julgador negou provi-
mento:

Cuida-se de Embargos de Declaração opostos contra o v.


acórdão proferido pela Oitava Câmara Criminal (e-doc 057),
mediante o qual o Órgão Colegiado denegou, por unanimi-
dade, a ordem de Habeas Corpus, em que se pretendia a
revogação da ordem de prisão embasada na execução pro-
visória da pena, sem prejuízo do processamento da apela-
ção interposta na sessão plenária do Tribunal Popular,
quando a embargante restou condenada nas penas do delito
previsto no artigo 121, § 2º, II e IV do Código Penal, ao total
de 20 anos de reclusão.

Em suas razões, alega a defesa, em síntese, a existência de


obscuridade no acórdão recorrido, precisamente nos funda-
mentos dos quais se valeu o Órgão Colegiado para indeferir
o processamento da apelação interposta pela embargante,
ao argumento de que o revogado artigo 607 do Código de
HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 29
109

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Processo Penal teria justificado a rejeição do protesto por


novo júri, mas se mantido “vigente no impedimento de acu-
mulação de recursos” (fl. 148).

Com isso, pugna a defesa pelo esclarecimento da suposta


obscuridade.

A douta Procuradoria de Justiça exarou parecer, por meio do


qual manifestou-se pela rejeição dos embargos (e-doc 153).

É o breve relatório. Passo a decidir.

Não têm os aclaratórios como prosperar, na medida em que


não há nenhuma obscuridade decorrente da decisão contra
a qual se insurge a embargante.

O decisum recorrido está assim ementado:

HABEAS CORPUS. DELITO DE HOMICÍDIO DUPLAMEN-


TE QUALIFICADO. IMPETRANTES QUE SE INSURGEM
CONTRA A ORDEM DE PRISÃO EMBASADA NA EXECU-
ÇÃO PROVISÓRIA DA PENA E REQUEREM O PROCES-
SAMENTO DA APELAÇÃO INTERPOSTA NA SESSÃO
PLENÁRIA DO TRIBUNAL POPULAR. INTERPOSIÇÃO DE
DOIS RECURSOS CONTRA UMA ÚNICA DECISÃO CON-
DENATÓRIA, DECORRENTE DA PRÁTICA DE CRIME
ÚNICO. DEFESA QUE PREFERIU O PROTESTO POR
NOVO JÚRI À APELAÇÃO, CUJO SOBRESTAMENTO NÃO
É ADMITIDO NA HIPÓTESE DOS AUTOS. INVALIDAÇÃO
DE QUALQUER OUTRO RECURSO. ORDEM DENEGADA.
1. Segundo consta da denúncia, a paciente ofereceu pro-
messa de recompensa aos seus comparsas, para fins de
planejamento e execução do delito de homicídio de seu en-
tão companheiro, ganhador da “Mega-Sena”, o que foi leva-
do a efeito em 07 de janeiro de 2007, por volta das 11h, nas
dependências de um botequim localizado na Estrada de La-
vras, nº 1.000, Comarca de Rio Bonito.
2. Em sessão plenária do Tribunal Popular, o Conselho de
Sentença absolveu a paciente em 28 de novembro de 2011,
contra cuja decisão se insurgiu o Ministério Público por meio
do recurso de apelação, que restou julgado procedente pela
Oitava Câmara Criminal em 10 de abril de 2014, com a
submissão da paciente a novo julgamento.
3. Sobreveio a essa decisão a nova sessão plenária, quan-
do, desta vez, o Tribunal do Júri julgou procedente a preten-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 30
110

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

são punitiva estatal e condenou a paciente nas penas do de-


lito previsto no artigo 121, § 2º, II e IV do Código Penal, ao
total de 20 anos de reclusão.
4. Com a publicação da decisão condenatória em plenário, a
defesa interpôs recurso na própria sessão de julgamento e
requereu vista para a apresentação das razões, sem especi-
ficar, porém, de qual espécie recursal estava se valendo pa-
ra buscar a impugnação da sentença. Não obstante a isso, o
MM Juiz Presidente abriu vista à defesa para o oferecimento
das razões recursais.
5. Em 16 de dezembro de 2016, um dia após o término do
julgado, a defesa requereu a apresentação das razões em
segunda instância de forma extemporânea e contraditória,
sem observar as regras do artigo 600, § 4º, do Código de
Processo Penal, das quais deflui a obrigação de o apelante
declarar, na petição ou no termo, o desejo de arrazoar na
instância superior, quando da interposição da apelação.
Como se depreende da aludida decisão, a própria defesa
requereu a abertura de vista para o oferecimento das razões
no momento da interposição do recurso em plenário, daí por
que não poderia, no dia seguinte ao ato, requerer algo abso-
lutamente incompatível com o pedido anterior, o que eviden-
cia as preclusões lógica e temporal no caso em exame. Com
isso, o MM Juiz a quo indeferiu corretamente a apresentação
das razões em segunda instância.
6. Diante dessa decisão, a defesa deveria ter apresentado
as razões perante a própria autoridade impetrada para dar
início ao processamento da apelação, mas assim não o fez,
na medida em que preferiu fazer uso de um segundo recurso
contra uma única decisão do Tribunal Popular, ao interpor o
protesto por novo júri, que deixou de ser recebido pelo douto
Julgador a quo.
7. Irresignada com o decisum contrário à sua pretensão,
desta vez a defesa interpôs carta testemunhável, em cujas
razões requereu o provimento do recurso, com vistas a
submeter a paciente a novo julgamento pelo Tribunal Popu-
lar, ao argumento de que as normas penais que regulavam o
protesto por novo júri possuíam natureza híbrida, de cunho
material e processual, daí por que se aplicariam fora do seu
alcance de vigência, inclusive posteriormente à sua revoga-
ção, segundo a regra da ultra-atividade da lei penal mais be-
néfica. No entanto, a Oitava Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro negou provimento à car-
ta testemunhável, uma vez que adotou o entendimento paci-
ficado nos tribunais superiores, para quem a Lei nº

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 31
111

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11.689/08 possui natureza tipicamente processual e, por


consequência, aplicação imediata, segundo o princípio tem-
pus regit actum, previsto no artigo 2° do Código de Processo
Penal.
8. Contra essa decisão insurgiu-se a defesa por meio do re-
curso de embargos de declaração, que restou desprovido
por unanimidade pelo Órgão Colegiado. Sobreveio ao deci-
sum novo recurso de embargos de declaração, do qual a Oi-
tava Câmara Criminal, também por unanimidade, não co-
nheceu. Na sequência, a defesa interpôs recurso especial
com pedido de efeito suspensivo, a fim de sustar os efeitos
da decisão impugnada até o julgamento do mérito pelo Su-
perior Tribunal de Justiça. No entanto, Sua Excelência, a
Terceira Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro, indeferiu o pedido de concessão de efeito
suspensivo ao recurso especial, o que levou o MM Juiz da 2ª
Vara da Comarca de Rio Bonito a determinar o início da
execução provisória da pena, ante o exaurimento da presta-
ção jurisdicional em segunda instância. A seguir, a defesa
opôs embargos de declaração, aos quais o Julgador a quo
negou provimento.
9. Com isso, percebe-se que não há nenhuma ilegalidade ou
abuso de poder contra a liberdade de locomoção da pacien-
te, na medida em que o MM Juiz da 2ª Vara da Comarca de
Rio Bonito analisou com o devido cuidado as questões pos-
tas a seu julgamento, exteriorizando as razões de fato e de
direito que o convenceram a determinar o início da execução
provisória da pena, sobretudo porque a própria defesa abriu
mão do recurso de apelação interposto na sessão plenária
do Tribunal Popular, quando deixou de oferecer as respecti-
vas razões na forma e prazo legais, para interpor o protesto
por novo júri, cujo recebimento é objeto de irresignação até a
presente data, mediante recurso especial.
10. Com efeito, a interposição simultânea ou cumulativa de
dois recursos contra uma única decisão é vedada, em regra,
em nosso ordenamento jurídico, daí por que não cabe à de-
fesa fazer uso da apelação e do protesto por novo júri contra
uma decisão condenatória decorrente da prática de crime
único, mas tão somente “quando, pela mesma sentença, o
réu tiver sido condenado por outro crime, em que não caiba
aquele protesto”, tal qual dispunha o revogado artigo 608 do
Código de Processo Penal, cujo preceito é admitido tanto
pela doutrina quanto pela jurisprudência e constitui uma ex-
ceção ao princípio da singularidade ou unirrecorribilidade
dos recursos.

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 32
112

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11. No caso em exame, portanto, não há como acolher a te-


se de que a apelação ficou sobrestada com a interposição
do protesto por novo júri, uma vez que o título condenatório
da paciente decorre da prática de um único delito, e não de
crimes diversos, como determinava o legislador.
12. Como bem destacado pelo Ministro Marco Aurélio, “não
coabitam o mesmo teto o protesto e a apelação quando
condenado o Réu por crime único, como ocorre, por ficção
jurídica, na continuidade delitiva. A utilização simultânea do
protesto e da apelação, a ensejar a suspensão quanto a esta
última, pressupõe crimes diversos - artigo 608 do Código de
Processo Penal” (HC 68733, Segunda Turma, julgado em
10/09/1991, DJ 18-10-1991).
13. Soma-se a isso o fato de que a defesa tenta se valer até
a presente data do recurso previsto no revogado artigo 607
do Código de Processo Penal, como forma de submeter a
paciente a novo julgamento pelo Tribunal Popular, o que cor-
robora a assertiva de que a defesa preferiu o protesto por
novo júri à apelação, cujo sobrestamento, repita-se, não é
admitido na hipótese dos autos.
14. Logo, a remessa dos autos ao Tribunal de Justiça para
fins de análise da apelação implicaria verdadeira violação ao
princípio da singularidade dos recursos e desvirtuaria os
postulados da celeridade processual e razoável duração do
processo, consagrados no artigo 5º, LXXVIII, da Constituição
da República, sobretudo porque os fatos imputados na de-
núncia se deram em 07 de janeiro de 2007, cuja matéria fáti-
co-probatória já foi objeto de julgamento pela Oitava Câmara
Criminal.
15. Ademais, a interposição do protesto por novo júri invali-
da, por si só, qualquer outro recurso, segundo os termos do
revogado artigo 607, § 2º, do Código de Processo Penal, cu-
ja regra ainda é adotada pela doutrina e pela jurisprudência.
Como lecionam Eugênio Pacelli de Oliveira e Douglas Fis-
cher, “segundo a regra do § 2º do art. 607 do CPP, o protes-
to invalidará qualquer outro recurso interposto e será feito na
forma e nos prazos estabelecidos para interposição da ape-
lação. Noutras palavras: se houvesse direito ao protesto e
formulado o pleito pela defesa, quaisquer outros recursos
promovidos em face da sentença condenatória seriam con-
siderados sem efeito” (Comentários ao Código de Processo
Penal. 2ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 1.267).
Nesse sentido a apelação nº 0025947-75.2005.8.19.0002,
julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janei-
ro.

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 33
113

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

16. Como se não bastasse, a defesa não consignou na ata


de julgamento os motivos que a levaram a se insurgir contra
a decisão prolatada no Tribunal Popular, deixando de fazer
menção expressa às alíneas do inciso III do artigo 593, do
Código de Processo Penal, em violação ao Enunciado nº
713 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, segundo o
qual “o efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri
é adstrito aos fundamentos da sua interposição”. Deveras,
em nosso sistema processual penal, o legislador ordinário
procurou limitar as hipóteses passíveis de ser objeto de re-
curso contra a decisão do Tribunal do Júri, cuja irresignação
deve se ater aos casos enumerados nas alíneas do inciso III,
do aludido dispositivo legal. Com isso, o legislador prestigiou
o princípio do duplo grau de jurisdição, sem deixar de obser-
var a regra da soberania dos vereditos, consagrada no artigo
5º, XXXVIII, da Carta Política. Quando do oferecimento das
razões, portanto, todo o inconformismo expendido deve ficar
vinculado aos fundamentos do apelo. Em outros termos, o
efeito devolutivo da apelação limita-se aos fundamentos
apresentados no momento da interposição do recurso, e não
no oferecimento das razões. Precedentes.
17. Quanto ao início da execução provisória, com o julga-
mento do Habeas Corpus nº 126.292, o Supremo Tribunal
Federal determinou que “a execução provisória de acórdão
penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda
que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não com-
promete o princípio constitucional da presunção de inocência
afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal”
(HC 126292, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Ple-
no, julgado em 17/02/2016). Sobreveio a esse julgado a pro-
positura das Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43
e 44, em cuja decisão nossa Corte Suprema indeferiu a me-
dida cautelar formulada pelo Partido Nacional Ecológico e
pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil,
que pretendiam suspender a execução antecipada da pena
de todos os acórdãos prolatados em segunda instância, com
base no reconhecimento da legitimidade constitucional do
artigo 283 do Código de Processo Penal. Segundo o enten-
dimento do Supremo Tribunal Federal, porém, o aludido dis-
positivo legal não veda o início da execução da pena após a
condenação nas instâncias ordinárias. Deveras, levando-se
em conta o exaurimento do exame fático-probatório, do qual
deflui a responsabilidade penal do apelante, não há motivo
para impedir a execução provisória da pena, sobretudo por-
que o recurso especial ou extraordinário se restringe à análi-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 34
114

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

se de direito. Trata-se de entendimento que foi reafirmado


no julgamento do ARE nº 964.246-RG/SP, quando o Supre-
mo Tribunal Federal reconheceu a repercussão geral da ma-
téria.
ORDEM DENEGADA.

Com efeito, ao invés do afirmado, não restou configurada


nenhuma obscuridade a ser sanada, conceito que não pode
ser confundido com irresignação da defesa contra um deci-
sum contrário à pretensão da embargante, até porque o re-
curso em tela não se presta para julgar, novamente, ques-
tões que já foram decididas por esta Câmara.

Ao Tribunal compete, na análise do Habeas Corpus, exami-


nar as questões de fato e de direito alegadas nas razões ex-
pendidas na exordial, que sejam relevantes para um julga-
mento coerente e consistente, à luz do Livro III, Título II, Ca-
pítulo X, do Código de Processo Penal, o que restou devi-
damente realizado nestes autos.

Toda a matéria referente aos pedidos formulados pelos im-


petrantes no Habeas Corpus foi abordada e decidida, com
enfoque expresso nos pontos controvertidos e dispositivos
legais pertinentes.

O acórdão foi decidido em 35 (trinta e cinco) laudas, cuja


matéria impugnada restou devidamente analisada, pondera-
da e julgada, de forma clara e em harmonia com o entendi-
mento jurisprudencial deste Egrégio Tribunal de Justiça e
dos tribunais superiores.

Confiram-se alguns segmentos do acórdão:

[...].

Com isso, percebe-se que não há nenhuma ilegalidade ou


abuso de poder contra a liberdade de locomoção da pacien-
te, na medida em que o MM Juiz da 2ª Vara da Comarca de
Rio Bonito analisou com o devido cuidado as questões pos-
tas a seu julgamento, exteriorizando as razões de fato e de
direito que o convenceram a determinar o início da execução
provisória da pena, sobretudo porque a própria defesa abriu
mão do recurso de apelação interposto na sessão plenária
do Tribunal Popular, quando deixou de oferecer as respecti-
vas razões na forma e prazo legais, para interpor o protesto

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 35
115

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

por novo júri, cujo recebimento é objeto de irresignação até a


presente data, mediante recurso especial.

Com efeito, a interposição simultânea ou cumulativa de dois


recursos contra uma única decisão é vedada, em regra, em
nosso ordenamento jurídico, daí por que não cabe à defesa
fazer uso da apelação e do protesto por novo júri contra uma
decisão condenatória decorrente da prática de crime único,
mas tão somente “quando, pela mesma sentença, o réu tiver
sido condenado por outro crime, em que não caiba aquele
protesto”, tal qual dispunha o revogado artigo 608 do Código
de Processo Penal, cujo preceito é admitido tanto pela dou-
trina quanto pela jurisprudência e constitui uma exceção ao
princípio da singularidade ou unirrecorribilidade dos recur-
sos.

No caso em exame, portanto, não há como acolher a tese de


que a apelação ficou sobrestada com a interposição do pro-
testo por novo júri, uma vez que o título condenatório da pa-
ciente decorre da prática de um único delito, e não de crimes
diversos, como determinava o legislador.

Como bem destacado pelo Ministro Marco Aurélio, “não co-


abitam o mesmo teto o protesto e a apelação quando con-
denado o Réu por crime único, como ocorre, por ficção jurí-
dica, na continuidade delitiva. A utilização simultânea do pro-
testo e da apelação, a ensejar a suspensão quanto a esta úl-
tima, pressupõe crimes diversos - artigo 608 do Código de
Processo Penal” (HC 68733, Segunda Turma, julgado em
10/09/1991, DJ 18-10-1991).

Soma-se a isso o fato de que a defesa tenta se valer até a


presente data do recurso previsto no revogado artigo 607 do
Código de Processo Penal, como forma de submeter a paci-
ente a novo julgamento pelo Tribunal Popular, o que corro-
bora a assertiva de que a defesa preferiu o protesto por novo
júri à apelação, cujo sobrestamento, repita-se, não é admiti-
do na hipótese dos autos.

Logo, a remessa dos autos ao Tribunal de Justiça para fins


de análise da apelação implicaria verdadeira violação ao
princípio da singularidade dos recursos e desvirtuaria os
postulados da celeridade processual e razoável duração do
processo, consagrados no artigo 5º, LXXVIII, da Constituição
da República, sobretudo porque os fatos imputados na de-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 36
116

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

núncia se deram em 07 de janeiro de 2007, cuja matéria fáti-


co-probatória já foi objeto de julgamento pela Oitava Câmara
Criminal.

Ademais, a interposição do protesto por novo júri invalida,


por si só, qualquer outro recurso, segundo os termos do re-
vogado artigo 607, § 2º, do Código de Processo Penal, cuja
regra ainda é adotada pela doutrina e pela jurisprudência.

Como lecionam EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA e DOU-


GLAS FISCHER, “segundo a regra do § 2º do art. 607 do
CPP, o protesto invalidará qualquer outro recurso interposto
e será feito na forma e nos prazos estabelecidos para inter-
posição da apelação. Noutras palavras: se houvesse direito
ao protesto e formulado o pleito pela defesa, quaisquer ou-
tros recursos promovidos em face da sentença condenatória
seriam considerados sem efeito” (Comentários ao Código de
Processo Penal. 2ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011,
p. 1.267).

Nesse sentido a apelação nº 0025947-75.2005.8.19.0002,


julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janei-
ro:

DECISÃO MONOCRÁTICATRIBUNAL DO JÚRI.- RÉUS


CONDENADOS À PENA DE 45 (QUARENTA E CINCO)
ANOS DE RECLUSÃO, EM REGIME FECHADO E PERDA
DO CARGO PÚBLICO.- RECUSOS DE APELAÇÃO E
PROTESTO POR NOVO JURI. RECEBIMENTO APENAS
DO PRIMEIRO RECURSO.CARTA TESTEMUNHÁVEL.
DECISÃO DESTA CÂMARA REJEITANDO-A, POR MAIO-
RIA DE VOTOS. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULI-
DADE PROVIDO, DETERMINANDO-SE NOVO JULGA-
MENTO DOS APELANTES PELO TRIBUNAL DO JÚRI.
Considerando que o recurso de protestos por novo júri inva-
lida qualquer outro recurso interposto, nos termos estabele-
cidos no § 2º, do artigo 607, do Código de Processo Penal,
com a redação vigente antes da Lei nº. 11.689/08, o recurso
de apelação interposto pelos apelantes às fls. 1.172, resta
prejudicado (0025947-75.2005.8.19.0002 - APELAÇÃO.
Des. VALMIR DOS SANTOS RIBEIRO - Julgamento:
07/10/2010 - OITAVA CÂMARA CRIMINAL).

Como se não bastasse, a defesa não consignou na ata de


julgamento os motivos que a levaram a se insurgir contra a

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 37
117

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

decisão prolatada no Tribunal Popular, deixando de fazer


menção expressa às alíneas do inciso III do artigo 593, do
Código de Processo Penal, em violação ao Enunciado nº
713 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, segundo o
qual “o efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri
é adstrito aos fundamentos da sua interposição”.

Deveras, em nosso sistema processual penal, o legislador


ordinário procurou limitar as hipóteses passíveis de ser obje-
to de recurso contra a decisão do Tribunal do Júri, cuja irre-
signação deve se ater aos casos enumerados nas alíneas
do inciso III, do aludido dispositivo legal.

Com isso, o legislador prestigiou o princípio do duplo grau de


jurisdição, sem deixar de observar a regra da soberania dos
vereditos, consagrada no artigo 5º, XXXVIII, da Carta Políti-
ca.

Quando do oferecimento das razões, portanto, todo o incon-


formismo expendido deve ficar vinculado aos fundamentos
do apelo.

Em outros termos, o efeito devolutivo da apelação limita-se


aos fundamentos apresentados no momento da interposição
do recurso, e não no oferecimento das razões.

Nesse sentido, convém trazer à colação os ensinamentos de


Ada Pellegrini Grinover , in expressi verbis:

“As apelações do júri, previstas no art. 593, III, letras a, b, c


e d, são de fundamentação vinculada e, sendo assim, se a
parte invocar uma das alíneas, não pode o tribunal julgar
com base em outra. Não pode também o recorrente, após
ter restringido na petição a sua impugnação a determinada
hipótese, nas razões ampliar o âmbito da devolução do re-
curso para incluir outra, quando já superado o prazo legal de
interposição da apelação. Nada impediria, contudo, à parte
de, ainda no prazo, acrescentar à impugnação outra maté-
ria.” [...].

Confiram-se sobre o tema, os seguintes arestos deste Egré-


gio Tribunal de Justiça:

JÚRI - DEVERGÊNCIAS NO RESULTADO DAS VOTA-


ÇÕES ENTRE OS QUESITOS SEGUNDO E TERCEIRO

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 38
118

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AUSÊNCIA DE PROTESTO E DE PREJUÍZO - VOTAÇÃO


MAJORITÁRIA - NULIDADE INOCORRENTE - DOSIME-
TRIA PENAL BEM MEDIDA - CANCELAMENTO DE OFÍCIO
DA PENA DE MULTA, NÃO COMINADA NO PRECEITO
SECUNDÁRIO. [...] Relativamente à dosimetria penal, tam-
bém não assiste razão à defesa, pois não se verifica erro ou
injustiça na sua medida, considerada a duplicidade de quali-
ficadoras, fundamento que, aliás, sequer foi invocado no
termo de interposição do recurso, conforme exigência conti-
da na Súmula 713 do STF: "O efeito devolutivo da apelação
contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua
interposição". Recurso improvido. Cancelamento da pena de
multa, de ofício (0092327-57.2009.8.19.0029 - APELAÇÃO.
DES. VALMIR DE OLIVEIRA SILVA - Julgamento:
27/03/2012 - TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL).

APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO TENTADO. JÚRI. RE-


CURSO DEFENSIVO. ARGUIÇÃO DE NULIDADE. EFEITO
DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO. PEÇA DE INTERPOSIÇÃO
DESTOANTE DAS CONTRRAZÕES. APLICAÇÃO DA SÚ-
MULA 713 INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. DECISÃO
CONSONANTE COM A PROVA COLIGIDA. DOSIMETRIA
REVISTA. A matéria aduzida nas razões de apelação, as
quais foram subscritas por novo patrono, não foi suscitada
na peça de interposição de recurso. Assim, em homenagem
ao verbete sumular nº 713 do Supremo Tribunal Federal, o
qual preleciona que o efeito devolutivo da apelação contra
decisões do júri é adstrito aos fundamentos de sua interposi-
ção, não há como se conhecer do apelo neste particular. [...]
RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NO MÉRI-
TO, PARCIALMENTE PROVIDO PARA REDUZIR A PENA-
BASE E APLICAR A FRAÇÃO DE 2/3 EM RAZÃO DA TEN-
TATIVA, RESTANDO A PENA FINAL EM 03 (TRÊS) ANOS
E 02 (DOIS) MESES DE RECLUSÃO, MANTIDO O REGIME
PRISIONAL. Leg: art. 121, caput, c/c artigo 14, II, todos do
CP (0015668-28.2008.8.19.0001 (2009.050.01848) – APE-
LAÇÃO. DES. ALEXANDRE H. VARELLA - Julgamento:
27/10/2009 - SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL).

APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFI-


CADO. RECURSO INTERPOSTO COM FULCRO NA ALÍ-
NEA "C", DO INCISO III, DO ART. 593, DO CPP (ERRO OU
INJUSTIÇA NO TOCANTE À APLICAÇÃO DA PENA). RA-
ZÕES APRESENTADAS APÓS O QUINQUÍDIO RECUR-
SAL PRETENDENDO DISCUTIR SE A CONDENAÇÃO FOI

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 39
119

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS,


PREVISÃO DA ALÍNEA "D" DO MESMO DIPLOMA LEGAL.
Quanto ao fundamento recursal apresentado tempestiva-
mente na petição de interposição do apelo, não pode pros-
perar, posto que não houve erro e nem injustiça no tocante à
aplicação da pena, uma vez que o apelante foi condenado
na pena mínima, sendo fixado o regime fechado, este obri-
gatório na espécie. Recurso, apenas nesta parte, conhecido
e, no mérito, desprovido. No que concerne ao pedido contido
nas razões, tal não pode ser, sequer, conhecido, vez que é
tido e sabido que o efeito devolutivo da apelação contra de-
cisões do Júri é adstrito aos fundamentos de sua interposi-
ção, matéria esta já sumulada no Supremo Tribunal Federal
na ementa de nº 713. RECURSO PARCIALMENTE CO-
NHECIDO E DESPROVIDO, NA FORMA DO VOTO DO
RELATOR. (0193381-24.2007.8.19.0001 (2008.050.05671)
– APELAÇÃO. DES. GILMAR AUGUSTO TEIXEIRA - Jul-
gamento: 24/03/2009 - SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL).

O Colendo Superior Tribunal de Justiça também já se mani-


festou sobre a matéria:

HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO SIMPLES – NULIDADE


POSTERIOR À PRONÚNCIA – TESTEMUNHAS ARROLA-
DAS PELA DEFESA NÃO INQUIRIDAS EM RAZÃO DA IN-
TEMPESTIVIDADE DE OFERECIMENTO DA CONTRARI-
EDADE AO LIBELO – MÁCULA À AMPLA DEFESA –
QUESTÃO NÃO LEVADA AO CONHECIMENTO DO TRI-
BUNAL A QUO – APELAÇÃO CRIMINAL QUE SE RES-
TRINGIU À FIXAÇÃO DA PENA – LIMITAÇÃO DO APELO
CONTRA DECISÃO EMANADA DO CONSELHO DE SEN-
TENÇA AOS FUNDAMENTOS DE SUA INTERPOSIÇÃO –
AUSÊNCIA DE AMPLA DEVOLUTIVIDADE – REVISÃO
CRIMINAL AJUIZADA PERANTE A CORTE DE 2º GRAU
BUSCANDO SANAR A MENCIONADA NULIDADE – PEDI-
DO CARENTE DE DECISÃO – SUPRESSÃO DE INSTÂN-
CIA – NÃO CONHECERAM DA ORDEM. 1. É vedado o
exame, neste Superior Tribunal de Justiça, de questão não
levada ao conhecimento do Tribunal a quo, sob pena de su-
pressão de instância. 2. Diferentemente da apelação funda-
da no inciso I do artigo 593 do Código de Processo Penal,
aquela interposta contra decisão do Tribunal do Júri se limita
aos fundamentos de sua interposição, sob pena de afronta à
constitucional soberania do Conselho de Sentença. 3. Por-
tanto, ausente a ampla devolutividade do recurso nessa hi-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 40
120

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

pótese, inviável considerar o Tribunal Estadual como coator


por não ter reconhecido de ofício a nulidade aqui impugna-
da. 4. Pendente de apreciação o mérito da revisão criminal
ajuizada perante a Corte de 2º Grau, por meio da qual a de-
fesa busca a declaração da apontada nulidade, o conheci-
mento da presente ordem configuraria supressão de instân-
cia. 5. Não conheceram da ordem (STJ – HC 88669/SP –
Quinta Turma – Ministra Jane Silva – Desembargadora con-
vocada do TJ/MG – DJ 26/11/2007).

Quanto ao início da execução provisória, com o julgamento


do Habeas Corpus nº 126.292, o Supremo Tribunal Federal
determinou que “a execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em grau de apelação, ainda que su-
jeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o
princípio constitucional da presunção de inocência afirmado
pelo artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal” (HC
126292, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno,
julgado em 17/02/2016).

Sobreveio a esse julgado a propositura das Ações Declara-


tórias de Constitucionalidade 43 e 44, em cuja decisão nos-
sa Corte Suprema indeferiu a medida cautelar formulada pe-
lo Partido Nacional Ecológico e pelo Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil, que pretendiam suspender
a execução antecipada da pena de todos os acórdãos prola-
tados em segunda instância, com base no reconhecimento
da legitimidade constitucional do artigo 283 do Código de
Processo Penal.

Segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, po-


rém, o aludido dispositivo legal não veda o início da execu-
ção da pena após a condenação nas instâncias ordinárias.

Deveras, levando-se em conta o exaurimento do exame fáti-


co-probatório, do qual deflui a responsabilidade penal do
apelante, não há motivo para impedir a execução provisória
da pena, sobretudo porque o recurso especial ou extraordi-
nário se restringe à análise de direito.

Trata-se de entendimento que foi reafirmado no julgamento


do ARE nº 964.246-RG/SP, quando o Supremo Tribunal Fe-
deral reconheceu a repercussão geral da matéria:

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 41
121

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INO-
CÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). ACÓRDÃO PENAL CONDE-
NATÓRIO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. JURISPRU-
DÊNCIA REAFIRMADA. 1. Em regime de repercussão geral,
fica reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal Fede-
ral no sentido de que a execução provisória de acórdão pe-
nal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujei-
to a recurso especial ou extraordinário, não compromete o
princípio constitucional da presunção de inocência afirmado
pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. 2. Recur-
so extraordinário a que se nega provimento, com o reconhe-
cimento da repercussão geral do tema e a reafirmação da ju-
risprudência sobre a matéria (ARE 964246 RG, Relator: Min.
TEORI ZAVASCKI, julgado em 10/11/2016).

Diante dessa realidade, percebe-se, sem grande esforço in-


telectivo, que não foram os revogados artigos 607 e 608 do
Código de Processo Penal que inviabilizaram o processa-
mento da apelação, mas a opção da própria defesa em abrir
mão desse recurso, quando deixou de oferecer as respecti-
vas razões na forma e prazo legais, para interpor o protesto
por novo júri, cujo recebimento é objeto de irresignação até a
presente data, mediante recurso especial.

Ao tomar essa decisão, a defesa nada mais fez do que in-


terpor cumulativamente dois recursos contra uma única de-
cisão, o que é vedado pelo princípio da singularidade ou
unirrecorribilidade, cuja aplicação na hipótese dos autos não
advém dos aludidos dispositivos legais, mas de outras fontes
normativas que têm absoluta aplicação no processo penal, a
teor do artigo 3º da Lei Adjetiva Penal.

Como leciona Guilherme Souza Nucci, “princípio jurídico


quer dizer um postulado que se irradia por todo o sistema de
normas, fornecendo um padrão de interpretação, integração,
conhecimento e aplicação do direito positivo, estabelecendo
uma meta maior a seguir. Cada ramo do Direito possui prin-
cípios próprios, que informam todo o sistema, podendo estar
expressamente previstos no ordenamento jurídico ou ser im-
plícitos, isto é, resultar da conjugação de vários dispositivos
legais, de acordo com a cultura jurídica formada com o pas-
sar dos anos de estudo de determinada matéria. O processo
penal não foge à regra, erguendo-se em torno de princípios,

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 42
122

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

que, por vezes, suplantam a própria literalidade da lei” (Ma-


nual de Processo Penal e Execução Penal. 8ª ed. São Pau-
lo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 82).

Ao insistir com o protesto por novo júri como forma de sub-


meter a embargante a novo julgamento pelo Tribunal Popu-
lar, a defesa inviabilizou a apelação, cujo sobrestamento na
hipótese dos autos não constitui uma exceção ao princípio
da singularidade, e tampouco possui previsão normativa.

Em face do exposto, conheço dos embargos e lhes nego


provimento.

Logo, diante da ausência de alteração fática ou ju-


rídica que se mostrasse capaz de configurar alguma ilegalidade ou
abuso de poder contra a liberdade de locomoção da paciente, dúvida
não há de que o presente Writ, em relação ao processamento do re-
curso de apelação e ao início da execução da sanção penal, se revela
manifestamente prejudicado, na medida em que não cabe a uma
Câmara Criminal ser revisora de suas próprias decisões.

Quanto à dosimetria da sanção penal, melhor sorte


não assiste aos impetrantes, sobretudo porque o Estado-juiz analisou
com o devido cuidado as questões postas a seu julgamento, exteriori-
zando as razões de fato e de direito que o convenceram a fixar a pe-
na definitiva da paciente em 20 anos de reclusão, com base no crité-
rio trifásico adotado no Código Penal.

Nesse sentido, convém trazer à colação o segmen-


to da decisão impugnada, do qual decorreu o cálculo da sanção penal
da paciente:

Isto posto, atendendo a vontade soberana do Egrégio Con-


selho de Sentença desta comarca, JULGO PROCEDENTE
A PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL para CONDENAR
ADRIANA FERREIRA ALMEIDA pela prática do crime pre-
visto no artigo 121, parágrafo 2º, incisos II e IV do Código
Penal. Passo a dosar a pena. 1ª Fase: a culpabilidade da ré
excedeu em muito a normal à espécie, considerando que
atentou contra a vida de seu então companheiro, pessoa
HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 43
123

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

portadora de necessidades especiais de quem conhecia a


rotina, utilizando-se de tal circunstância para facilitar a exe-
cução do crime. A ré é primária e não possui antecedentes
criminais (FAC de fls. 7265/7268 e esclarecimentos de fl.
7273), considerando o princípio constitucional esculpido no
artigo 5º, LVII, da CR/88, não podendo inquéritos policiais e
processos criminais em andamento serem valorados para
macular essa circunstância. Não há elementos suficientes
para análise acerca de sua conduta social e personalidade,
razão pela qual deixam de ser valoradas. Nada há a valorar,
neste momento, no que tange aos motivos do crime, cuja
torpeza foi reconhecida pelo Conselho de Sentença e já são
considerados como qualificadora. As circunstâncias do crime
são anormais, já que impossibilitaram a defesa da vítima,
contudo constituem, do mesmo modo, qualificadora reco-
nhecida pelos jurados, não podendo ser valoradas neste
momento. O comportamento da vítima não influenciou para
a prática do delito. Assim, fixo a pena-base em 15 (quinze)
anos de reclusão. 2ª Fase: Não há circunstâncias atenuan-
tes, sendo certo que a acusada não era casada com a víti-
ma, razão pela qual impossível a aplicação da agravante
prevista no art. 61, II, e, do CP, sob pena de ocorrer analogia
in malam partem, tendo a união estável havida entre ré e ví-
tima sido considerada quando da análise das circunstâncias
judiciais. Impõe-se reconhecer, contudo, a existência da
agravante prevista no art. 61, II, c do CP (à traição, de em-
boscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que di-
ficultou ou tornou impossível a defesa do ofendido), admitida
pelos jurados como qualificadora. Isso porque, a circunstân-
cia prevista no art. 121, parágrafo 2º, I (motivo torpe) foi utili-
zada para qualificar o crime, devendo as demais circunstan-
cias reconhecidas pelo Conselho de Sentença como qualifi-
cadoras serem utilizadas como agravantes. Neste sentido a
lição de Guilherme de Souza Nucci: ´Entretanto, quando há
mais de uma qualificadora, prevista no tipo penal, a utiliza-
ção de uma delas já é suficiente para alterar a faixa de fixa-
ção de pena (...). As demais, quando reconhecidas, preci-
sam ser encaixadas em outro cenário propício. Por isso,
percorre-se a lista de agravantes; encontrando-as nesse
contexto, aplica-se como tal. Se por ventura não estiver nes-
se rol, parte-se para o art. 59 do CP.´ (NUCCI, Guilherme de
Souza. Tribunal do Júri. 2ª ed. São Paulo, Editora Revista
dos Tribunais, 2011, pg. 338/339) Na mesma linha a juris-
prudência do E. Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO RE-
GIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS COR-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 44
124

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PUS. HOMICÍDIO. QUALI-FICADO. PRESENÇA DE QUA-


TRO QUALIFICADORAS. UTILIZAÇÃO DE UMA PARA
QUALIFICAR O CRIME E DE OUTRAS TRÊS PARA
EXASPERAR A REPRIMENDA NA SEGUNDA FASE DE
DOSIMETRIA. POSSIBILIDADE. INOVAÇÃO RECURSAL.
IMPOSSIBILIDADE. 1. Reconhecida a incidência de quatro
qualificadoras, relativamente a todas as imputações realiza-
das em desfavor do paciente, o sentenciante utilizou-se de
três delas como agravantes genéricas e de apenas uma pa-
ra qualificar o delito, não havendo, portanto, que se falar em
bis in idem, uma vez que não se verifica dupla valoração de
uma mesma qualificadora em diferentes fases de dosimetria
da pena. 2. É incabível o exame de tese não exposta no ha-
beas corpus e invocada apenas no agravo regimental, pois
configura indevida inovação recur-sal.3. Agravo regimental
improvido. (AgRg no HC 339393 / RJ - AGRAVO REGI-
MENTAL NO HABEAS CORPUS - Relator Ministro NEFI
CORDEIRO - SEXTA TURMA - Data do Julgamento
24/05/2016) Reconhece-se, ainda, a agravante prevista no
art. 62, I do CP, uma vez que a ré foi a autora intelectual do
crime, tendo promovido a cooperação criminosa entre os
agentes que participaram da ação. Assim, sendo reconheci-
das as agravantes previstas nos arts. 61, II, c e 62, I, todos
do CP, agravo a pena em 05 (dois) anos, passando a mes-
ma a 20 (vinte) anos de reclusão. 3ª Fase: Não há na hipó-
tese dos autos qualquer causa especial ou geral de aumento
ou diminuição de pena a ser considerada. ASSIM, FICA DE-
FINITIVAMENTE FIXADA A PENA EM 20 (VINTE) ANOS
DE RECLUSÃO. Tendo em vista o não preenchimento dos
requisitos trazidos nos arts. 44 e 77 do Código Penal, deixo
de proceder à substituição da pena privativa de liberdade por
pena restritiva de direito e à suspensão condicional da pena.
A pena privativa de liberdade imposta à ré ADRIA-NA FER-
REIRA ALMEIDA deverá ser cumprida inicialmente em regi-
me fechado, tendo em vista a regra contida no art. 33, §2º,
´a´ do Código Penal, levando em conta a pena fixada.

Com efeito, o douto Julgador a quo fixou a pena-


base acima do mínimo legal, devido ao reconhecimento da maior re-
provabilidade da conduta da paciente, que “atentou contra a vida de
seu então companheiro, pessoa portadora de necessidades especiais
de quem conhecia a rotina, utilizando-se de tal circunstância para faci-

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 45
125

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

litar a execução do crime”, o que, por óbvio, excede a normalidade do


tipo penal.

O MM Juiz ainda afastou corretamente a incidência


da agravante prevista no artigo 61, II, e, do Código Penal, como forma
de evitar a analogia in malan partem em desfavor da paciente.

Com o reconhecimento das agravantes previstas


nos artigos 61, II, c, e 62, I, do Estatuto Repressivo, a sanção penal
intermediária tornou-se definitiva em 20 anos de reclusão, ante a au-
sência de causas de aumento e diminuição a serem valoradas, em
absoluta observância ao critério trifásico adotado em nosso ordena-
mento jurídico, daí por que a decisão impugnada não implica nenhu-
ma nulidade.

À mingua de ilegalidade ou abuso de poder contra a


liberdade de locomoção da paciente, o Habeas Corpus desvia-se de
sua finalidade e torna-se, por consequência, inadequado para o único
fim de reformar a sentença condenatória do Tribunal Popular, que é o
que remanesce.

Em face do exposto, deixo de conhecer do Habeas


Corpus.

Rio de Janeiro, 14 agosto de 2019.

CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR


Desembargador Relator

HC nº 0022815-25.2019.8.19.0000 (8ª C. Crim.) - ACÓRDÃO - Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior fl. 46

Das könnte Ihnen auch gefallen