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Curso de

Plantas Psicoativas: Uma


Abordagem Farmacológica
Ligia Moreiras Sena

MÓDULO II

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créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia
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MÓDULO II

PLANTAS CALMANTES

1. MARACUJÁ (Passiflora sp)

1.1. Nome científico

Como “maracujá” - são conhecidas diferentes espécies pertencentes ao


gênero Passiflora. O gênero Passiflora é composto por aproximadamente 500
espécies vegetais, sendo o gênero da família Passifloraceae com maior número de
espécies descritas. No Brasil, duas espécies são principalmente comercializadas em
função de suas propriedades alimentícias: Passiflora edulis, o maracujá utilizado
para o preparo de sucos, que algumas vezes pode ser confundido com a espécie
Passiflora incarnata, de origem européia, e a espécie Passiflora alata, ou “maracujá-
de-colher”, assim denominado em função do fruto apresentar polpa bastante
adocicada, permitindo que seja consumido in natura. Além dessas duas espécies, as
quais são as espécies de maracujá mais comumente encontradas em território
brasileiro, outras espécies também são conhecidas como maracujá, tais como
Passiflora coccinea, Passiflora caerulea, Passiflora quadrangularis, Passiflora
foetida, Passiflora maliformis, entre outras.

Flor de Passiflora incarnata Flor de Passiflora edulis Flor de Passiflora alata

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1.2. Nomes populares

As espécies do gênero Passiflora podem ser conhecidas com diferentes


nomes, em função tanto da espécie a que se refere quanto da região em que se
encontra. Assim, podem ser denominadas:
- maracujá-amarelo;
- maracujá-roxo;
- maracujá-de-colher;
- granadilla (países da América Latina);
- passion fruit (fruta da paixão, nos países de língua inglesa);
- maypop (países de língua inglesa).

1.3. Informações botânicas

As espécies do gênero Passiflora são plantas herbáceas, arbustivas e


trepadeiras vigorosas que se sustentam com auxílio de gavinhas, de caule
freqüentemente sulcado. Em algumas espécies, as folhas são arredondadas e, em
outras, são profundamente partidas, com bordos serrados. Apresentam flores:
grandes, vistosas, de coloração que pode variar de branco-esverdeada a alaranjada,
vermelha ou arroxeada, de acordo com a espécie. De modo geral, florescem no
período de dezembro a abril. Apresentam frutos arredondados cuja morfologia
externa também varia de acordo com a espécie, podendo ser de coloração verde,
amarelada, alaranjada, arroxeada ou com manchas verde-claras. As sementes são
achatadas, pretas, envolvidas por um arilo de textura gelatinosa de coloração
amarelada e translúcida. Frutificam durante todo o ano, de forma menos intensa de
maio a agosto. Sua maior disseminação por países tropicais se deve à preferência
por climas quentes e úmidos. Necessitam de solo argiloso-humoso, profundo, fértil e
bem drenado.

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Fruto imaturo de Fruto maduro de Fruto maduro de
Passiflora incarnata Passiflora edulis Passiflora alata

1.4. Histórico

As espécies pertencentes ao gênero Passiflora encontram-se distribuídas


em ambos os hemisférios, com predominância nas regiões tropicais do hemisfério
sul, exceto na África tropical, Ásia e Austrália, onde ocorrem mais raramente. Muitas
de suas espécies são cultivadas nos trópicos em função de seus frutos comestíveis.
Neste caso, destaca-se por seu amplo cultivo a espécie Passiflora edulis. Muitas
outras espécies do gênero são também cultivadas em jardins, estufas ou canteiros
residenciais em função da beleza de suas exóticas flores, que o fazem ser
conhecido como um gênero ornamental. E acredita-se que as espécies de maracujá
tenham sido primeiramente cultivadas não em função de seus frutos e, sim, em
função das belas flores que produzem.
O uso de espécies vegetais do gênero Passiflora para fins medicinais foi
descrito pela primeira vez pelo pesquisador espanhol Monardus, no Peru, em 1569
e, desde então, muitas espécies deste gênero têm sido utilizadas com freqüência
pela medicina tradicional em diversas regiões do mundo. Farmacopéias de vários
países contêm monografias sobre as possíveis ações medicinais do gênero:
Farmacopéia Britânica (British Herbal Pharmacopoeia), Farmacopéia Norte-
Americana (United States Homoeophatic Pharmacopoeia), Farmacopéia Indiana

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(Homoeophatic Pharmacopoeia of India), Farmacopéia Helvética, Farmacopéia
Alemã e Farmacopéia Francesa. No entanto, muitos dos compêndios vegetais, da
Materia Medica e das farmacopéias acima mencionadas contêm monografias
referentes apenas à espécie Passiflora incarnata. Já na Farmacopéia Brasileira,
considera-se como o “maracujá”, tradicionalmente utilizado, a espécie Passiflora
alata.
O nome popular da espécie em português, maracujá, deriva do termo tupi
“murukuia” ou “marakuia”, que significa “alimento que dá em cuia”, fazendo
referência à polpa e ao formato da casca dos frutos. Já o nome popular da espécie
em inglês, passion flower, significa “flor-da-paixão” e esse nome faz uma
interessante associação entre a flor das espécies de maracujá e a religiosidade
católica, mais especificamente à Paixão de Cristo. Acredita-se que os missionários
católicos que chegaram ao Brasil por ocasião do período de colonização e
catequização indígena tenham lançado mão da flor do maracujá para auxiliá-los a
ensinar aos indígenas, aqui presentes, a história da Paixão de Cristo, em uma
interessante e peculiar história. As cores mais freqüentes das flores foram
associadas às cores oficiais utilizadas nos rituais católicos praticados durante a
Semana Santa, o vermelho e o roxo. A coroa floral, onde se inserem as múltiplas e
finas pétalas, foi associada à coroa de espinhos colocada em Jesus. Os três
estigmas florais, onde se localiza o pólen da flor, representariam os três pregos que
fixaram e sustentaram Jesus na cruz. As anteras, órgãos sexuais femininos, em
número de cinco, representariam as chagas de Cristo. As gavinhas, caule
modificado com a função de sustentar a planta e auxiliá-la a crescer rente a
estruturas, representariam os chicotes utilizados para açoitar Jesus, e o fruto, por
último, representaria o mundo que seria salvo por Ele. Daí o nome pelo qual os
diferentes maracujás também podem ser conhecidos, como “flor-da-paixão” ou
“fruta-da-paixão”.

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1.5. Usos populares e efeitos popularmente relatados

Embora diferentes espécies de maracujá sejam utilizadas para diferentes


condições, tais como diurético, antiinflamatório, anti-helmíntico, entre outras, uma
coisa possuem em comum: de forma geral, todas as espécies são indicadas
popularmente para o tratamento de condições nervosas, principalmente da
ansiedade. Assim, existem indicações populares para acalmar nervosismo de
“condição de mulher” (associado ao período de tensão pré-menstrual), para acalmar
“criança que não dorme”, para o tratamento de convulsões (principalmente infantis),
para ataque dos nervos, e para uma série de outros quadros associados à
hiperestimulação nervosa. No Brasil, a título de exemplo, a espécie Passiflora alata
(que consta como espécie oficial da Farmacopéia Brasileira) tem sido recomendada
popularmente como sedativa, diurética, ansiolítica e analgésica. Já a espécie
Passiflora caerulea (ou “maracujá-de-flor-azul”) tem sido indicada, no Brasil, tanto
como sedativa e ansiolítica como para o tratamento de erisipelas e outras doenças
inflamatórias da pele. Em outros países latino-americanos, a mesma espécie tem
sido utilizada também como anti-helmíntica, antidiarréico, tônico, no tratamento da
hipertensão, dos sintomas associados à menopausa, nas cólicas infantis, além de
sedativo e calmante. Já a Matéria Médica Americana menciona o uso de Passiflora
incarnata para o tratamento de diferentes formas de epilepsia e, na Europa, esta
espécie tem sido a espécie tradicional de referência no tratamento da insônia e da
ansiedade. No Brasil, é utilizada prioritariamente como analgésica, antiespasmódica,
antiasmática e sedativa, sendo a espécie Passiflora edulis a mais indicada pelas
comunidades tradicionais brasileiras para o tratamento de condições nervosas.

1.6. Dados químicos e farmacológicos

Diversos trabalhos científicos têm estudado a composição química dos


extratos de Passiflora. Como principais constituintes aparecem os alcalóides,
flavonóides, fenóis e compostos cianogênicos. P. incarnata e P. edulis são as duas
espécies mais estudadas com relação à constituição química de seus extratos. Em

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P. incarnata aparecem em maior quantidade os flavonóides luteolina, apigenina,
quercetina, canferol, vitexina, isovitexina, orientina, isorientina, entre outros. Esses
mesmos compostos também parecem ser os principais constituintes de outras
espécies de Passiflora, além dos alcalóides indólicos.
Muitos pesquisadores concordam que, quando comparado com a grande
variedade de fitoconstituintes do gênero Passiflora, foram realizados, até agora,
relativamente poucos estudos farmacológicos com as espécies do gênero. Desses
estudos, nota-se que a grande maioria investiga os efeitos dos extratos de apenas
algumas espécies do gênero sobre parâmetros relacionados à atividade do sistema
nervoso central, principalmente com relação à ansiedade. As espécies mais
estudadas com relação aos seus efeitos sobre parâmetros centrais parecem ser P.
edulis, P. alata e P. incarnata, espécies que co-existem em território brasileiro. No
entanto, tais estudos apresentam uma grande variedade de metodologia
experimental utilizada, dosagem via de administração e, talvez por essas variações,
resultados algumas vezes contraditórios.
Um estudo realizado no Brasil em 1984 demonstrou que a administração
intraperitoneal do extrato de P. alata, em camundongos, produziu os seguintes
efeitos: diminuição da atividade motora induzida por anfetamina, um
psicoestimulante; aumento do tempo de sono induzido por barbitúricos, um indicativo
de efeito hipnótico, ou seja, promovendo o sono; diminuição do tempo de latência do
sono, fazendo com que os animais dormissem mais rapidamente quando tratados
com o extrato de P. alata; e diminuição da mortalidade associada a convulsões
induzidas por pentilenotetrazol, indicativo de efeito protetor contra convulsões.
Todos esses efeitos foram obtidos com doses de 75 e 150 mg/kg. O mesmo estudo
indica a DL50 do mencionado extrato (dose necessária para matar 50% dos animais
experimentais e que é indicativa de segurança) como sendo de 456 mg/kg. Um
estudo realizado por outro grupo de pesquisadores também avaliou os efeitos
centrais de extratos de P. edulis e P. alata, nas doses de 50, 100 e 150 mg/kg.
Importante ressaltar que, neste trabalho, embora haja indicação das doses utilizadas
para investigação, não há indicação da via de administração utilizada. Outro
trabalho, também investigando os efeitos do extrato aquoso de P. edulis, indica, por

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sua vez, que o extrato não apresentou efeitos depressores centrais específicos e,
sim, efeitos depressores centrais “não-específicos”, embora não mencionem o que
consideram como efeitos “não-específicos”. Um estudo realizado em 1983, o qual
consistia em uma investigação sobre os efeitos centrais também de P. edulis,
demonstrou que o extrato aquoso da planta prolongou o tempo de sono induzido por
barbitúricos e por morfina, além de bloquear parcialmente os efeitos estimulantes
induzidos por anfetamina. Embora não haja informações sobre as doses em que tais
efeitos foram observados. Diferentes trabalhos apresentam resultados relacionados
à atividade tipo-ansiolítica da espécie, principalmente utilizando como teste o modelo
do labirinto em cruz elevado, o qual se baseia no medo inato dos animais de
laboratório a lugares abertos e intensamente iluminados. Nesse modelo, a espécie
parece aumentar o tempo que os animais permanecem nos braços abertos do
modelo, indicativo de atividade ansiolítica. Outros estudos, utilizando diferentes
testes animais de ansiedade, também apresentam resultados que corroboram sua
ação como um potencial ansiolítico natural.
A opinião de diferentes autores também diverge na questão das espécies do
gênero que produzem ou não efeitos centrais relevantes. Como exemplo, pode-se
citar a espécie P. edulis. Um grupo de pesquisas brasileiro indica a espécie como
sendo utilizada pela população tradicional brasileira para o tratamento de diversos
distúrbios centrais, na forma de sucos e refrescos. No entanto, um grupo de
cientistas indianos afirma o contrário, sugerindo que a espécie seja desprovida de
efeitos centrais relevantes. A justificativa para esta última opinião está na grande
semelhança morfológica entre P. incarnata e P. edulis. Esse grupo de pesquisa
indiano sugere que, em estudos nos quais os extratos de P. edulis tenham
demonstrado algum tipo de efeito depressor central, este extrato não seria realmente
de P. edulis e, sim, de P. incarnata. Esse tipo de observação reforça ainda mais a
necessidade de um estudo consistente sobre os efeitos depressores centrais das
duas espécies. Devidamente classificadas taxonomicamente, ainda mais num país
como o Brasil, cujos trabalhos científicos mencionam o grande uso feito pela
população, tanto de extratos de P. edulis quanto de P. incarnata, para o tratamento
das mesmas disfunções centrais. Foi justamente em função desta necessidade que

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o grupo de pesquisas, do qual faz parte a autora desta apostila, decidiu investigar os
efeitos centrais da espécie P. edulis, devidamente coletada e identificada
taxonomicamente como sendo realmente tal espécie. Os resultados preliminares
deste trabalho, os quais fazem parte de sua tese de doutorado atualmente em
andamento, apontam efeitos centrais significativos de diferentes partes da espécie
P. edulis, tais como efeitos do tipo ansiolítico, hipnótico e sedativo, sem prejuízo da
atividade motora, ou seja, um efeito relativamente seletivo.
Com relação à espécie P. incarnata, um estudo de 1997 relata sua atividade
ansiolítica na dose de 400 mg/kg e atividade sedativa em doses superiores,
indicando que a diferença qualitativa dos efeitos farmacológicos observados seja
produzida de forma dose-dependente. Deve-se considerar, no entanto, que as doses
utilizadas em tal trabalho (400 mg/kg e 800 mg/kg) são consideradas altas, em se
tratando da investigação de efeitos farmacológicos de espécies vegetais, não
reproduzindo de forma fidedigna o efeito sedativo obtido pela população quando da
utilização da espécie, uma vez que seria necessária uma grande quantidade de
planta para obtenção de tal efeito sedativo.
É importante mencionar, neste ponto, que a seleção de determinadas partes
da planta para a preparação do extrato, quando da investigação dos efeitos centrais
de espécies de Passiflora, é extremamente importante. Isso porque a inserção de
partes inertes da planta, ou seja, desprovidas de princípios ativos, ou com uma
concentração menor dos mesmos, pode prejudicar a obtenção dos efeitos centrais
desejados. Um exemplo existente na literatura são as raízes de P. incarnata as
quais, quando presentes no extrato, podem adulterar os efeitos da espécie por
serem destituídas de efeitos ansiolíticos, ou produzirem efeitos muito tênues, e
devem ser separadas das partes aéreas para preparação de extratos terapêuticos.
Essa observação foi feita apenas pelo mesmo grupo de pesquisas indiano
mencionado anteriormente e, no entanto, nenhum outro trabalho indicou, até o
momento, a mesma conclusão. O que é importante realmente é o fato de que
diferentes estudos podem estar mencionando efeitos de uma mesma espécie
vegetal utilizando, no entanto, extratos com constituição química diferente, em
função das partes que foram utilizadas em sua preparação.

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A questão da via de administração também é muito relevante e as diferentes
vias têm sido utilizadas por diferentes grupos de pesquisa. Um grande número de
trabalhos investigativos sobre os efeitos centrais de espécies de Passiflora utiliza a
via intraperitoneal de administração, como por exemplo, nos trabalhos acima
mencionados. No entanto, existe uma contradição com relação a tal metodologia. A
grande maioria dos trabalhos utiliza como justificativa principal para seus estudos o
amplo e difundido uso que a população tradicional faz de tais espécies vegetais,
desde tempos imemoriais, para o tratamento de diferentes disfunções centrais.
Porém, a via de administração mais utilizada popularmente é, sem dúvida, a via oral,
uma vez que as populações fazem uso, principalmente, de sucos e refrescos das
espécies. O conhecimento farmacológico atesta que a via de administração
intraperitoneal diverge completamente da via oral com relação ao modo de ação de
drogas. Portanto, tais estudos talvez não estejam representando a ação mencionada
pela população da forma mais fidedigna, que seria utilizada como via de
administração a via oral.
Com relação a estudos clínicos, muitas informações já se encontram
divulgadas na literatura a respeito da eficácia de extratos de maracujá como
ansiolíticos ou para tratar outras condições associadas à hiperestimulação
psicomotora. Um trabalho realizado em 2001 com 65 pacientes, os quais
apresentavam dependência química a opiáceos, afirma que o extrato de P. incarnata
mostrou-se benéfico no tratamento dos sintomas mentais da síndrome de
abstinência. Uma vez que o grupo tratado com o extrato da espécie apresentou uma
redução no número de sintomas associados à abstinência, quando comparado ao
grupo que recebeu clonidina e ao grupo que recebeu um placebo. O mesmo grupo
de pesquisa, também em 2001, verificou os efeitos do tratamento com cápsulas
contendo extrato de P. incarnata em pacientes com diagnóstico para ansiedade
generalizada. Os resultados obtidos por eles mostraram que tal extrato foi tão eficaz
no tratamento dos sintomas desse tipo de ansiedade como o oxazepam, uma droga
benzodiazepínica utilizada na clínica. Embora esses efeitos aparecessem mais
rapidamente nos pacientes que receberam esse último tratamento do que nos
pacientes que receberam o extrato da planta. Os autores afirmam que uma

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vantagem do uso desse extrato no tratamento da ansiedade generalizada estaria
associada à ausência de efeitos colaterais freqüentemente presentes com o
tratamento com benzodiazepínicos, uma vez que os pacientes tratados com o
extrato de P. incarnata neste estudo não apresentaram prejuízos de desempenho
em suas ocupações.
Finalmente, é importante mencionar que muita discussão tem sido gerada na
literatura científica a respeito de quais seriam os componentes biologicamente ativos
presentes nos extratos de espécies de Passiflora, os quais seriam os responsáveis
pelas atividades centrais tanto relatadas pela população quanto observadas
experimentalmente. Pesquisadores de diferentes instituições em todo o mundo têm
apresentado diferentes opiniões a respeito da bioatividade de espécies de
Passiflora. Alguns grupos sugerem que sejam os alcalóides harmânicos (também
presentes em algumas espécies alucinógenas) os fitoconstituintes bioativos, devido
a suas propriedades inibitórias da enzima monoaminaoxidase, que degradam
neurotransmissores como a dopamina, a serotonina e a noradrenalina. Outros
grupos de pesquisa, por sua vez, sugerem que os constituintes responsáveis pela
atividade central sejam os flavonóides. Nesse contexto, o flavonóide crisina tem
recebido especial atenção na literatura científica. O derivado γ-pirônico maltol
também já foi cogitado como sendo um dos possíveis responsáveis pela atividade
central, embora alguns resultados tenham se apresentado contrários a essa teoria.
Há ainda grupos que acreditam que nenhum dos fitoconstituintes, atualmente
conhecidos em espécies do gênero Passiflora, seja o responsável pelas atividades
ansiolíticas e sedativas. Uma teoria a ser considerada é a de que talvez não exista
um único componente presente nos extratos que seja o responsável pela atividade
central, que se daria em função do sinergismo entre diferentes categorias de
compostos. Como pode ser observado, portanto, não existe um consenso entre as
várias hipóteses postuladas. O que faz com que os estudos que tentam desvendar
não só os componentes bioativos centrais de espécies de Passiflora, como também
seus mecanismos de ação, continuem a ser desenvolvidos tanto no Brasil como em
diferentes regiões do mundo.

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2. MELISSA (Melissa officinalis)

Melissa officinalis

2.1. Nome científico

A planta conhecida por melissa é, na verdade, a espécie vegetal Melissa


officinalis, pertencendo à família das Lamiáceas, plantas conhecidas por serem
arbustivas e extremamente ricas em óleos voláteis aromáticos. Existem três
subespécies de Melissa officinalis: subespécie officinalis, subespécie inodora e
subespécie altissima. No entanto, somente a subespécie officinalis possui valor
comercial e o odor característico de limão da erva-cidreira, popularmente conhecida.

2.2. Nomes populares

Freqüentemente conhecida como erva-cidreira, essa denominação pode dar


margem a confusões, uma vez que em algumas regiões esse mesmo nome pode ser
usado para designar três diferentes espécies: a Melissa officinalis, o Cymbopogon
citratus e a Lippia alba. Portanto, é importante ressaltar que tais espécies são

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absolutamente diferentes pertencendo, inclusive, a famílias botânicas distintas.
Embora a espécie Cymbopogon citratus possa também ser chamada de erva-
cidreira, o nome mais adequado seria capim-cidreira, ou capim-limão, justamente
com o intuito de se distinguir essas duas espécies tão freqüentemente confundidas,
apesar de muito diferentes. Como a erva-cidreira verdadeira considera-se a espécie
Lippia alba, enquanto a denominação melissa é destinada à espécie Melissa
officinalis, que também é chamada, em diferentes regiões, de:
- melissa;
- limão-bálsamo;
- bálsamo comum (em regiões de Portugal);
- abelha-bálsamo;
- lemon balm (em países de língua inglesa).

2.3. Informações botânicas

De aspecto herbáceo ou arbustivo, a espécie Melissa officinalis possui baixa


estatura, crescendo no máximo até 1 a 3 pés de altura. Possui haste de formato
retangular, com raízes curtas e folhas pecioladas que se dão aos pares. As folhas,
em formato de coração, possuem bordos serrilhados e textura macia, conferida por
pêlos de superfície, e emitem um forte odor de limão quando partidas ou trituradas.
Florescem geralmente de julho a outubro, com flores brancas ou amarelas (em
menor ocorrência) que nascem em pequenos feixes nas axilas das folhas.
Geralmente, a parte aérea da planta perece no inverno e, em função das raízes
serem perenes, volta a germinar no verão. A planta cresce livremente em diferentes
tipos de solo e é propagada por sementes, estaquia ou por pedaços de suas raízes
replantadas. Recomenda-se seu plantio entre o inverno e o outono.

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Detalhe da flor e da folha de Melissa officinalis

2.4. Histórico

Existem registros que afirmam que o nome “melissa” tenha sido originado do
grego melisso, que significa abelha. Isso porque sendo suas flores muito ricas em
néctar, muitas vezes são plantadas próximas a áreas de criação de abelhas, que
utilizam esse néctar para produção de um tipo valioso de mel. Espécie de origem
européia, a melissa era inicialmente cultivada em países como a Itália, Portugal e
Espanha, de onde foram trazidas para o Brasil por ocasião da colonização;
atualmente, é uma espécie comum em quase todas as regiões do mundo. Em
função da grande beleza de suas flores, geralmente de coloração branca, existe a
lenda de que o imperador romano Carlos Magno tenha ordenado o plantio desta
espécie em todos os mosteiros, para que tanto a beleza quanto o aroma de suas
flores pudessem tornar esses locais ainda mais sublimes.
A melissa é uma planta medicinal que tem sido utilizada há mais de 2000
anos em função da crença popular de que promove uma longa vida e favorece a
memória, recuperando-a em casos de amnésia. Os historiadores greco-romanos
Dioscórides e Plínio já mencionavam a espécie como útil para tratar os sintomas das
picadas de cobras ou escorpiões, isso porque a planta possuiria um efeito
“calmante” capaz de diminuir as dores causadas por tais ferimentos. Registros de
sua história medicinal remetem à Materia Medica dos anos de 50 a 80 a.C.. Acredita-
se que tenha sido introduzida na Grã-Bretanha por volta do século IV, sendo

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considerada, já naquela época, como uma planta rejuvenescedora e fortalecedora
das funções mentais, que também atuava afastando estados melancólicos.
Justamente por ser muito empregada pelas mulheres da época como um
rejuvenescedor, muitos a consideravam como um verdadeiro elixir da longa vida.
Existem evidências de que o amplo uso da melissa na Europa tenha se difundido na
Idade Média, tendo sido seu uso medicinal recomendado por Paracelso (1493-1541)
como um bálsamo capaz de reavivar o homem e como indicação para qualquer tipo
de queixa decorrente de um estado desordenado do sistema nervoso. E foi nessa
época que o chá de melissa passou a ser muito utilizado em função de seus
benefícios para o cérebro, especificamente para melhorar a memória.

2.5. Usos populares e efeitos popularmente relatados

O uso popular da melissa se faz, predominantemente, em função de suas


supostas atividades como calmante, tranqüilizante, em casos de nervosismo ou
inquietação, para promover o sono ou melhorar a memória, para curar dores de
cabeça. Mas além desses efeitos relacionados ao funcionamento cerebral, muitas
comunidades utilizam a melissa como carminativo, ou seja, na prevenção ou
tratamento de gases intestinais, como febrífugo ou diurético. Além disso, é
freqüentemente utilizada para fins antiespasmódicos e antimicrobianos. O chá de
suas folhas é muito utilizado também, em diferentes regiões, para o tratamento de
resfriados ou de excesso de secreção das vias aéreas superiores. No Brasil, o
principal uso da melissa é como um remédio caseiro sedativo, calmante ou
tranqüilizante, utilizado no tratamento de “doença dos nervos”, da hipertensão e de
sintomas associados à angústia e à falta de sono. É também freqüentemente
utilizado como anti-reumático.

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2.6. Dados químicos e farmacológicos

A espécie Melissa officinalis é muito conhecida popularmente em função de


suas propriedades calmantes e, de acordo com comunidades tradicionais de
diferentes regiões do mundo, age promovendo o relaxamento, o bem-estar advindo
do alívio da tensão nervosa, combate problemas digestivos associados ao estresse
e alivia a insônia, como resultado de sua atividade relaxante. O suíço Paracelso, que
viveu entre 1493 e 1541 e que é considerado até hoje um dos pais da medicina, já
recomendava o uso de Melissa officinalis para dar ânimo aos homens, além da
indicá-la para todas as queixas supostamente causadas por um estado desordenado
do sistema nervoso. Muitos herbalistas da época também atribuíam ao chá da
melissa não somente efeitos benéficos sobre o cérebro como também efeitos
específicos de melhoria da memória. Dados mais atuais sugerem que, além de
propriedades espasmolítica e antibacteriana, a melissa poderia agir modulando um
grande número de medidas comportamentais. Sendo indicada na maioria das vezes
como um sedativo moderado, em distúrbios do sono e na atenuação de sintomas de
distúrbios nervosos, incluindo a redução da excitabilidade, da ansiedade e do
estresse.
Com relação à sua composição química, muitos estudos fitoquímicos têm
indicado a presença, tanto em suas folhas como em seu óleo volátil, dos seguintes
compostos: monoterpenos (como o citral, considerado um dos constituintes
majoritários); ácidos carboxílicos fenólicos (como o ácido rosmarínico); aldeídos
monoterpênicos (como o geranial, o citronelal ou o neral); flavonóides (como a
luteolina, também conhecida por ser um de seus principais constituintes), além de
compostos terpenóides como o ácido carnósico, o ácido ursólico e o ácido
oleanólico, e do fenilpropanóide ácido caféico. Muitos estudos, inclusive, já foram
realizados especificamente com alguns desses compostos de forma isolada, com a
finalidade de se investigar suas propriedades biológicas. Assim, por exemplo, já foi
comprovada a ação do citral como um composto com propriedade
anticolinesterásica fraca, bem como os efeitos antioxidantes, antiamiloidogênicos e
antiapoptóticos de compostos fenólicos como o ácido rosmarínico.

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Embora os mecanismos de ação central da melissa ainda não estejam
totalmente esclarecidos, sugere-se que os compostos ativos dos extratos de suas
folhas estejam dentre os mencionados acima. Esses componentes podem ser os
responsáveis inclusive, pelos efeitos observados in vitro, os quais demonstram
potente atividade antioxidante e afinidade de ligação tanto com receptores
muscarínicos quanto com receptores nicotínicos de tecido cortical do cérebro
humano. Este mecanismo de ação, relacionado à função da acetilcolina cerebral,
tem sido o mais freqüentemente estudado quando se trata de Melissa officinalis, e
facilmente se compreende o motivo: uma das doenças neurológicas mais
conhecidas e freqüentes atualmente, a Doença de Alzheimer, parece envolver
particularmente mecanismos cerebrais que envolvem a função colinérgica.
A Doença de Alzheimer, também conhecida por Mal de Alzheimer, ocorre
com relativa freqüência em pessoas idosas e acredita-se que seja o resultado do
mau funcionamento de diferentes vias bioquímicas. Existem diferentes hipóteses
para a causa deste distúrbio, embora a mais discutida atualmente seja a “hipótese
colinérgica”. A acetilcolina é um neurotransmissor sintetizado a partir de dois
precursores, a acetil coenzima A e a colina. Para que esses dois precursores
possam dar origem à acetilcolina, é necessária a presença de uma enzima que
facilita esse processo e que é chamada de acetiltransferase. Após realizar suas
funções neurobiológicas, e para que não se acumule em excesso nas sinapses, a
acetilcolina precisa ser degradada. E isso ocorre com a participação de uma
segunda enzima, de ação oposta à primeira, e denominada acetilcolinesterase que
age, por sua vez, quebrando a acetilcolina novamente em seus precursores (acetil
coenzima A e colina). Portanto, quando a enzima acetilcolinesterase age de forma
intensa, muita acetilcolina é degradada, diminuindo a função colinérgica cerebral. De
forma contrária, quando algum composto inibe a ação da acetilcolinesterase,
impedindo assim a destruição da acetilcolina, esse neurotransmissor se acumula no
sistema nervoso central, aumentando a atividade colinérgica cerebral.
A hipótese colinérgica da Doença de Alzheimer considera que tal distúrbio
seja resultante de uma diminuição da quantidade disponível de acetilcolina em
determinadas regiões cerebrais. Os principais medicamentos atualmente disponíveis

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para o tratamento do Alzheimer agem contrabalançando essa falta de acetilcolina,
ou seja, aumentam o nível colinérgico no cérebro. E fazem isso justamente inibindo
a ação da acetilcolinesterase, aquela enzima que degrada a acetilcolina e, por isso,
são denominadas de drogas inibidoras da acetilcolinesterase. No entanto, e
infelizmente, algumas das drogas aprovadas com tal finalidade terapêutica
apresentam algum nível de hepatotoxicidade e, em função disso, tem-se dado maior
importância e relevância à busca de novos compostos com ação semelhante e
menor ocorrência de efeitos secundários indesejados. E, nesse aspecto, as plantas
utilizadas tradicionalmente ocupam novamente lugar de destaque. Não é de
surpreender, portanto, o fato de que um dos principais anticolinesterásicos
atualmente empregados no tratamento do Alzheimer tenha sido descoberto
justamente a partir de uma planta. Trata-se do alcalóide galantamina, isolado de
várias espécies vegetais pertencentes à família botânica Amaryllidaceae,
principalmente da espécie Galanthus nivalis.
Além da hipótese colinérgica, existe também uma hipótese complementar
muito aceita atualmente na tentativa de se explicar as causas da Doença de
Alzheimer, hipótese essa que tem associado o distúrbio a um processo inflamatório.
Peptídeos do tipo β-amilóide existentes em placas senis encontradas em cérebros
de pacientes com Alzheimer têm sido associadas a processos inflamatórios nos
quais espécies reativas de oxigênio são liberadas. Essas espécies reativas de
oxigênio, conhecidas vulgarmente como radicais livres, podem causar danos a
componentes celulares, além de atuarem como um segundo mensageiro em
processos de inflamação. Assim, compostos antioxidantes, que atuariam capturando
esses radicais livres, também podem ser considerados muito úteis no tratamento do
Alzheimer, principalmente em seu componente mnemônico, ou seja, relativo à
memória.
Nesse sentido, existe um grande número de pesquisas sobre os efeitos
biológicos de plantas tradicionalmente utilizadas em infusões ou em remédios
caseiros para melhorar a memória. Esses estudos podem ser in vitro ou in vivo e
envolvem, freqüentemente, ensaios para verificar a atividade anticolinesterásica ou a
atividade antioxidante dos extratos vegetais. Tais investigações são realizadas com

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a finalidade de encontrar novas moléculas ou grupo de moléculas que possam ser
utilizadas terapeuticamente sem a toxicidade observada com os compostos
quimicamente sintetizados. Para tal finalidade, portanto, a melhor estratégia de
escolha para investigação do potencial terapêutico de espécies vegetais seria testar
justamente aquelas indicadas pela população como capazes de melhorar a
memória. E a espécie Melissa officinalis parece ser a espécie de escolha com
relação a essa atividade, em função de ser indicada para melhorar a memória há
centenas de anos. E muitos trabalhos já podem ser encontrados facilmente na
literatura científica, atestando justamente sua propriedade anticolinesterásica, como
um antioxidante natural e com propriedades antiamiloidogênicas.
Um relativo número de estudos realizados nesta década tem demonstrado a
existência de um efeito benéfico do tratamento com o extrato de Melissa officinalis,
indicando principalmente melhoria da função cognitiva e redução da agitação em
pacientes com Doença de Alzheimer, em estágio leve a moderado. Um estudo
recente, de 2006, mostra que essa planta é realmente capaz de modular o humor e
a performance cognitiva, quando administrada a voluntários jovens e saudáveis.
Além disso, um teste padronizado e controlado por placebo avaliou a eficácia e
segurança de Melissa officinalis em 42 pacientes com Alzheimer, em estágio leve a
moderado. Os indivíduos foram tratados durante 4 meses. Os resultados revelaram
que os pacientes que receberam o extrato de melissa experimentaram melhora
significativa na cognição após 16 semanas de tratamento. Os pesquisadores deste
estudo não observaram diferenças significativas na freqüência de efeitos colaterais
entre o grupo que recebeu placebo e o grupo que recebeu o extrato de melissa. No
entanto, a freqüência de agitação foi maior no grupo que recebeu placebo,
comparado ao qual recebeu o tratamento ativo, mostrando uma vantagem associada
ao uso de melissa em quadros de Alzheimer, consistente com o uso tradicional que
se faz dessa planta no tratamento da ansiedade.
Outras investigações, também recentes, têm mostrado que tanto o extrato
etanólico quanto a planta seca de Melissa officinalis possuem a propriedade de se
ligar a receptores colinérgicos em testes in vitro, além de melhorar o desempenho da
memória e aumentar a sensação de tranqüilidade em 20 voluntários sadios, com

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uma dose de 1600 mg de extrato seco das folhas encapsulado. Os autores deste
trabalho, também realizado em 2006, afirmam que o óleo volátil de Melissa officinalis
inibiu a enzima acetilcolinesterase de maneira dose-dependente. E 65% dessa
inibição foi obtida com uma quantidade de óleo essencial equivalente a 1013 mg da
planta, o que é considerada uma quantidade relativamente pequena. Nesse
trabalho, a melissa também apresentou uma forte atividade antioxidante,
representada pela capacidade de capturar radicais livres presentes em uma solução.
A melissa também é freqüentemente empregada na terapêutica
farmacológica em combinação com outras plantas. Como exemplo, pode-se citar a
lista de drogas catalogadas pela indústria farmacêutica da Alemanha, a qual inclui
49 produtos contendo, em sua composição, Melissa officinalis. A planta que mais
freqüentemente aparece em combinação com a melissa é a valeriana, Valeriana
officinalis, também descrita nesta apostila, e essa combinação tem apresentado
efeitos positivos sobre a qualidade do sono, de forma similar à dose de 0,125 mg do
medicamento sintético triazolam. Outros estudos também atestam a grande validade
da combinação melissa-valeriana no tratamento de distúrbios do sono, como um
realizado em 1999 em que foram observadas melhorias significativas na qualidade
do sono durante o tratamento de 30 dias com 600 mg diárias da combinação dos
extratos de melissa e valeriana. Estudos adicionais sugerem efeitos específicos da
Melissa officinalis, quando empregada sozinha, como sedativo, antiagitação e
calmante. Dentre tais estudos, inclui-se um realizado com animais experimentais em
que foi observada redução da movimentação espontânea após administração tanto
do óleo volátil de melissa quando dos terpenos isolados do seu extrato, além de
reduções na atividade comportamental exploratória em situações aversivas,
promovida pela administração do extrato hidroalcoólico de melissa. Neste último
estudo, realizado em 1991, também foi observado um aumento nos parâmetros de
sono induzido por pentobarbital, indicando efeitos hipnóticos significativos do extrato
de melissa.
O óleo volátil da melissa também tem sido freqüentemente empregado em
práticas de aromaterapia e, em função desta prática, diversas investigações têm sido
conduzidas com o objetivo de verificar a validade ou não deste uso para fins

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tranqüilizantes ou calmantes. Assim, um estudo clínico realizado em 2002 examinou
os efeitos do óleo volátil de Melissa officinalis, empregado em aromaterapia, sobre
parâmetros de agitação e qualidade de vida em 71 pacientes, os quais sofriam de
algum tipo de demência grave. Os resultados deste trabalho mostraram que, após 4
semanas de tratamento, os pacientes tratados com o óleo volátil da melissa
mostraram-se menos agitados, mais sociáveis e mais engajados em atividades
construtivas do que aqueles que receberam placebo.
Alguns resultados também indicam a ação da Melissa officinalis como um
modulador do humor. Um trabalho realizado em 2003 afirma que a ingestão de
doses únicas de melissa foi capaz tanto de modular o humor quanto de melhorar o
desempenho cognitivo, em voluntários jovens saudáveis, de maneira dose-
dependente, e relaciona tais efeitos também à atividade sobre a neurotransmissão
colinérgica.

3. VALERIANA (Valeriana officinalis)

Canteiro de cultivo de Valeriana officinalis

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3.1. Nome científico

Valeriana é o nome popular que recebem as espécies do gênero Valeriana,


tais como Valeriana wallichii, Valeriana fauriei e Valeriana angustifolia. O gênero
contém mais de 250 espécies atualmente descritas e pertence à família
Valerianaceae. Na dependência do tipo de condições onde pode ser cultivada, cada
espécie é mais utilizada em uma região geográfica. Assim, Valeriana wallichii é a
espécie mais freqüentemente utilizada na Índia e Valeriana angustifolia na China. No
entanto, a mais conhecida em diferentes partes do mundo por suas atividades
calmantes, sedativas e tranqüilizantes é, sem dúvida, a espécie Valeriana officinalis.
A qual será considerada neste item e que consta como a espécie oficial utilizada na
Europa e nos Estados Unidos, estando presente nas farmacopéias de diversos
outros países.

3.2. Nomes populares

A Valeriana officinalis não apresenta grande diversidade de nomes


populares, quando comparada às outras espécies vegetais apresentadas nesta
apostila. Dentre alguns dos nomes pelos quais a planta também pode ser conhecida,
pode-se mencionar:
- heliotrópio-de-jardim;
- amantilla (em países de língua espanhola);
- erva-de-gato.

3.3. Informações botânicas

A Valeriana officinalis é uma planta perene, herbácea, com pequenas e


numerosas flores de coloração rósea (brancas mais raramente), que florescem após
o segundo ano de idade e no período de primavera e verão. Geralmente apresenta
cerca de 1 metro de altura, podendo alcançar no máximo 2 metros. Possui um caule
resistente a intempéries e reto, dificilmente quebrável. Suas folhas são do tipo

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compostas e presentes em grande número. Desenvolve-se em lugares temperados,
de onde são originárias, frescos, com solo profundo e pouco úmido (dificilmente se
desenvolvem em solos com tendência à retenção de água). Seus frutos são
pequenos e apresentam somente uma semente. A propagação desta planta se dá
por meio do rizoma, que é também a parte empregada para uso medicinal e que
costuma ser coletada para tal finalidade por volta do mês de outubro, em função da
concentração de princípios ativos.

Detalhe da planta de Valeriana officinalis

3.4. Histórico

Acredita-se que a planta tenha recebido o nome “valeriana” como uma


derivação do termo em latim “valere”, que significa bem-estar, felicidade, força e
vigor, fazendo referência à finalidade do uso da planta. A espécie foi descrita por
Dioscórides como um sedativo moderado.
Seu uso contra estados de angústia, nervosismo, insônia, irritação e outras
condições associadas já é relatado há mais de 2000 anos, uma vez que já era
recomendada também por Galeno, para o tratamento de tais condições.

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A valeriana está presente em muitas lendas medievais, freqüentemente
associada a contextos místicos, ou fazendo referência às suas propriedades
sedativas. Na Idade Média, acreditava-se que a realização de um ritual, realizado no
último dia de lua cheia e logo após o pôr-do-sol, e o qual consistia em colher a
planta e, segurando-a nas mãos, proferir um texto mágico, protegeria a pessoa
contra qualquer tipo de mal físico, assegurando saúde até a próxima lua cheia. A
espécie também é mencionada em muitos rituais medievais de expulsão de
demônios, pois se acreditava que o mau odor de suas raízes teria a propriedade de
limpar o espírito de indivíduos agitados, histéricos e que estivessem sob jugo de
entidades malévolas.
Tão interessante quanto, é um relato que associa a valeriana ao episódio do
Flautista de Hamelin. O episódio, ocorrido em 1284, tornou-se folclórico após ser
escrito pelos Irmãos Grimm e conta como um flautista conseguiu livrar uma cidade
alemã, Hamelin, da infestação de ratos. Alguns relatos folclóricos alemães dizem
que, além de tocar sua flauta mágica, o flautista levava em seus bolsos muitas
raízes de valeriana. O mau cheiro liberado por elas teria sido capaz de atrair os
ratos, os quais, sedados pela planta, acabaram afogados no mar. Embora seja um
relato pitoresco e folclórico, é interessante notar como o efeito tranqüilizante da
espécie já fazia parte do imaginário e do cotidiano em tempos remotos.

3.5. Usos populares e efeitos popularmente relatados

De forma inquestionável, os principais usos populares da espécie dizem


respeito às suas propriedades sobre o sistema nervoso central, embora efeitos sobre
outros sistemas orgânicos também sejam freqüentemente mencionados. Assim, a
espécie é popularmente indicada para promover o sono, combater a ansiedade e a
insônia, para tratar episódios convulsivos, como sedativo, contra a irritabilidade
nervosa, a fadiga e o estresse emocional, todas essas indicações em função de
seus efeitos relaxantes e tranqüilizantes. Além dos efeitos centrais, também é
indicada para tratar distúrbios gastrointestinais, tais como espasmos e dispepsias,
para tratar a hipertensão, angina, palpitações, asma brônquica, e cólicas menstruais.

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3.6. Dados químicos e farmacológicos

Planta tradicionalmente utilizada principalmente contra a insônia, mas


também como um tranqüilizante moderado, a Valeriana officinalis é, atualmente,
uma das espécies vegetais mais utilizadas medicinalmente em todo o mundo. O
rizoma e as raízes secas desta planta têm recebido reputação considerável como
um tranqüilizante e para promover o sono por mais de 1 milênio, e esse
conhecimento milenar foi intensamente incorporado também pela medicina atual.
Estima-se que, só na Alemanha, existam mais de 400 produtos contendo valeriana
em sua composição. Além disso, quase todos os fitoterápicos voltados ao tratamento
de distúrbios do sono também contêm, em sua composição, extratos de valeriana.
Atualmente, seu uso vem aumentando ainda mais em substituição a outras espécies
vegetais, as quais são utilizadas para a mesma finalidade. Como exemplo, pode-se
citar o caso da espécie Kava Kava (Piper methysticum), também tradicionalmente
utilizada como hipnótico, ansiolítico, sedativo e tranqüilizante. Recentemente, relatos
de toxicidade hepática causados por extratos de Kava, a qual possui efeitos
farmacológicos muito semelhantes aos da valeriana, fizeram com que órgãos
fiscalizadores recomendassem a retirada de produtos à base de seus extratos do
mercado. Dessa forma, produtos contendo extratos de valeriana passaram a
substituir, no gosto popular, aqueles que apresentavam algum tipo de toxicidade.
Durante as décadas de 80 e 90, com o aumento do uso de medicamentos
benzodiazepínicos, a utilização da valeriana para tratar distúrbios do sono ou
ansiedade diminuiu consideravelmente. Os benzodiazepínicos (tais como o
diazepam, alprazolam, midazolam, mais conhecidos pelos nomes-fantasias Valium®,
Frontal® e Dormonid®, respectivamente, entre outros compostos) são os
medicamentos de escolha, na clínica, para promover o sono e tratar distúrbios de
ansiedade; no entanto, são drogas que podem causar um grande número de efeitos
secundários indesejados, tais como baixa tolerância, dependência, insônia
paradoxal, amnésia e relaxamento muscular. Em função disso, os últimos anos vêm
presenciando novamente o aumento do uso de compostos de origem vegetal para

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tratar a insônia, a ansiedade e demais sintomas associados ao estresse e, nesse
contexto, a valeriana ocupa lugar de destaque.
Inúmeros estudos vêm sendo realizados para comprovar a eficácia clínica da
valeriana e, a despeito do grande número de trabalhos presentes na literatura, ainda
é objeto de estudo de um considerável número de pesquisas voltadas a estabelecer
a base química e farmacológica de sua atividade psicobiológica.
A parte da planta empregada medicinalmente são as raízes e os rizomas, as
quais contêm do ponto de vista químico, dois principais grupos de compostos: os
sesquiterpenos do óleo volátil e os valepotriatos. Entre os sesquiterpenos
encontrados no óleo volátil, óleo esse dotado de um odor desagradável, estão
presentes a valeranona, o ácido valerênico, o ácido acetoxivalerênico, o valeranal e
outros monoterpenos e sesquiterpenos. Os três últimos compostos mencionados
(ácido valerênico, acetoxivalerênico e valeranal) só ocorrem na espécie Valeriana
officinalis, o que permite distingui-la de outras espécies do gênero, podendo ser
utilizado para sua correta identificação. O segundo grupo de compostos são os
valepotriatos, principalmente diidrovaltrato, acevaltrato, isovaleroxi-hidroxivaltrato,
valtrato e isovaltrato, sendo que os dois últimos representam 90% do conteúdo de
valepotriatos. Por conterem uma determinada parte química comum, também podem
ser chamados de compostos iridóides. Esses valepotriatos são compostos químicos
muito instáveis, ou seja, degradam-se com facilidade, ocorrendo somente enquanto
o material ainda está fresco ou quando o extrato é seco em temperaturas abaixo de
40o C. Se a planta não for seca e armazenada de forma adequada, ocorre a
degradação dos valepotriatos, que é o que confere o cheiro desagradável
característico pelo qual o extrato de valeriana é conhecido.
Além dos sesquiterpenos do óleo volátil e dos valepotriatos, outros
constituintes como flavonóides, triterpenos, lignanas e alcalóides também podem
estar presentes nos extratos de valeriana. Muitas pesquisas têm sido realizadas com
o objetivo de determinar qual desses compostos é o responsável por sua ação sobre
o sistema nervoso central, o que tem gerado certa polêmica. Durante muitos anos,
seu efeito calmante foi atribuído ao óleo volátil, em função do fato de que esse tipo
de atividade era associado a plantas as quais continham óleos com odores

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desagradáveis. No entanto, a partir do final da década de 60, com o isolamento dos
valepotriatos, esses compostos passaram a ser vistos como os responsáveis pela
propriedade calmante da valeriana. Até a década de 90, realmente acreditava-se
que eram apenas os valepotriatos que exerciam atividade sobre o sistema nervoso
central, a despeito de serem compostos instáveis e que estão presentes apenas em
quantidades pequenas na maioria das preparações. Polêmicas à parte, uma coisa
tem se tornado mais clara à medida que avançam as pesquisas sobre a valeriana: é
muito provável que sua ação não seja devida a um ou dois compostos determinados
ou classes de compostos e, sim, a uma ação sinérgica entre todos – ou a maioria –
de seus compostos os quais, juntos, eliciariam a atividade depressora do sistema
nervoso central.
Os efeitos depressores da valeriana sobre o sistema nervoso central já
foram demonstrados tanto em animais de laboratório quanto na clínica médica e,
atualmente, parece haver certo nível de consenso com relação à sua ação: a maioria
dos estudos científicos afirma, com base em seus resultados, que os compostos
presentes na valeriana agem sobre a via de neurotransmissão GABAérgica, ou seja,
atuam interferindo na quantidade do neurotransmissor GABA (ácido gama-
aminobutírico) que é liberado nas fendas sinápticas. O GABA é o principal
neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, modulando diversos sistemas
funcionais. É justamente sobre o GABA, aumentando sua atividade, que agem os
medicamentos benzodiazepínicos, utilizados na clínica para tratar a insônia e os
sintomas da ansiedade, como já mencionado anteriormente.
Sugere-se que diferentes constituintes de valeriana interajam com o sistema
GABAérgico no cérebro: já foi relatada a inibição da GABA-transaminase (enzima
que faz a degradação do GABA), a interação com receptores
GABA/benzodiazepínicos e a interferência na recaptação e liberação do GABA nas
fendas sinápticas, mecanismos os quais poderiam explicar, pelo menos em parte, os
efeitos hipnótico, sedativo e ansiolítico da valeriana.
Existem muitos dados experimentais comprovando a ação hipnótica da
valeriana, tanto em animais experimentais quanto em humanos. Em animais, o
extrato etanólico das raízes de valeriana é capaz tanto de diminuir a latência para o

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início do sono induzido por pentobarbital, como de prolongar o tempo de sono. Isto
quer dizer que animais tratados com o extrato de valeriana dormem mais
rapidamente e durante um tempo maior. Além disso, animais sob o efeito da
valeriana apresentam diminuição da locomoção espontânea, o que é um indicativo
de sua atividade sedativa. Esses resultados fazem com que a valeriana seja,
realmente, considerada útil como medicamento, não somente por apresentar
propriedades de um hipnótico moderado, como também por produzir efeitos de
melhoria da qualidade do sono
Estudos sobre os efeitos da valeriana em seres humanos indicam que seus
extratos são capazes de aumentar o sono de ondas lentas – característico do sono
profundo –, de melhorar a qualidade do sono e de diminuir a latência para início do
sono, fazendo com que os indivíduos durmam mais rapidamente.
Alguns grupos de pesquisadores afirmam a existência do próprio
neurotransmissor GABA nos extratos de valeriana. Caso isso seja realmente
comprovado, ainda assim não é suficiente para explicar totalmente os efeitos da
planta. Isso porque o GABA, quando administrado sistemicamente, não atravessa
facilmente a barreira hemato-encefálica, ou seja, não chega facilmente às estruturas
cerebrais. Embora não expliquem totalmente os efeitos da valeriana, outros estudos
têm demonstrado a ação de seus compostos isolados sobre a neurotransmissão
GABAérgica. Como exemplo, podem-se citar estudos afirmando que o ácido
valerênico é capaz de inibir a degradação do GABA, contribuindo para o aumento da
quantidade desse neurotransmissor na fenda sináptica. Em animais de laboratório, o
ácido valerênico têm apresentado efeitos sedativos e anticonvulsivantes, muito
provavelmente em função de uma ação direta sobre neurônios GABAérgicos,
incluindo aumento da liberação de GABA, diminuição da recaptação ou diminuição
da degradação do mesmo.
Estudos com humanos reproduzem os resultados obtidos em animais de
laboratório. Em voluntários saudáveis, por exemplo, doses entre 400 e 900 mg do
extrato de valeriana mostraram-se capazes de diminuir a latência de sono e de
melhorar a qualidade do mesmo, diminuindo o número de vezes em que o indivíduo
acorda ao longo de uma noite. No entanto, é importante ressaltar que, na maioria

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dos indivíduos, esse efeito sobre o sono não é observado rapidamente. Em alguns
casos, os efeitos benéficos da valeriana somente são observados após cerca de
duas semanas de tratamento contínuo, ou seja, os efeitos podem não aparecer de
forma aguda.
Com relação aos efeitos adversos que a valeriana pode produzir, a literatura
científica afirma que raramente ocorrem. Quando ocorrem, podem se manifestar na
forma de alterações do funcionamento gastrointestinal, por alergia de contato, dores
de cabeça, sono agitado paradoxal (que é quando ocorre o efeito oposto ao
esperado, ou seja, o indivíduo apresenta ainda mais insônia) e midríase (dilatação
pupilar). A título de exemplo, pode-se citar um estudo sobre os efeitos do tratamento
com o extrato de valeriana, durante 14 dias, em 16 pacientes. Apenas dois efeitos
adversos foram relatados: dor de cabeça e efeitos gastrointestinais. Já outro estudo,
esse com 102 indivíduos, no qual foi avaliado o tempo de reação, o grau de alerta e
a concentração dessas pessoas após o uso do extrato das raízes de valeriana, na
dose de 600 mg, não foram observados efeitos secundários indesejados.
Atualmente, não se conhece muito bem seus efeitos durante a gestação e a
lactação, o que recomenda cautela no uso nessas condições. Ainda com relação
aos cuidados recomendados, muitos artigos científicos afirmam que os compostos
bioativos presentes na valeriana são capazes de potencializar os efeitos de drogas
barbitúricas, de benzodiazepínicos ou de outros hipno-sedativos. Isso levanta a
questão do cuidado que devem ter pacientes que fazem tratamento utilizando a
valeriana, uma vez que seus efeitos sedativos podem potencializar os efeitos de
outros compostos.
Neste ponto, é relevante enfatizar que o objetivo desta apostila não é, de
forma alguma, recomendar ou estimular o uso de determinadas espécies vegetais,
pelo contrário. Seu único objetivo é apresentar, de forma sintética, o que se encontra
disponível atualmente na literatura científica a respeito dos mecanismos de ação
farmacológica de diferentes espécies utilizadas tradicionalmente por diferentes
comunidades. Caso haja interesse no uso medicinal de tais espécies, faz-se
absolutamente necessária a recomendação e orientação médica adequada,
lembrando que a automedicação faz um grande número de vítimas anualmente, o

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que é válido não somente no caso de medicamentos sintéticos como também no
caso de medicamentos de origem vegetal.

----------FIM DO MÓDULO II----------

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