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Poesia completa
MANOEL DE BARROS
Poesia completa
[3]
Copyright © 2010, Manoel de Barros
ISBN 9788580440003
10-01326 CDD-869.91
2010
Todos os direitos desta edição reservados à
TEXTO EDITORES LTDA.
[Uma editora do grupo Leya]
Av. Angélica, 2163 – Conjunto 175
01227-200 – Santa Cecília – São Paulo – SP – Brasil
www.leya.com
[4]
SUMÁRIO
LIVROS INFANTIS
Exercícios de ser criança [1999] 469
O fazedor de amanhecer [2001] 473
Cantigas por um passarinho à toa [2003] 481
Poeminha em Língua de brincar [2007] 485
[5]
POEMAS
CONCEBIDOS
SEM PECADO
[9]
CABELUDINHO
1.
2.
[11]
Dela sempre trazia novidades:
— A ladeira falou pro caminhão: “pode me
descer de motor parado, benzinho…”
Era o pai dela no guidão.
3.
[12]
4.
5.
[13]
6.
Carta acróstica:
“Vovó aqui é tristão
Ou fujo do colégio
Viro poeta
Ou mando os padres…”
7.
Êta mundão
moça bonita
cavalo bão
este quarto de pensão
a dona da pensão
e a filha da dona da pensão
sem contar a paisagem da janela que é de se entrar de soneto
e o problema sexual que, me disseram, sem roupa
alinhada não se resolve.
8.
[14]
— Não.
— Uma louca,
as ruínas de Pompeia?
— Não.
— És uma estátua de nuvens,
o muro das lamentações?
— Não.
— Ai, entonces que reino é o teu, darling?
Me conta, te dou fazenda,
me afundo, deixo o cachimbo.
Me conta que reino é o teu?
— Não.
Mas pode pegar em mim que estou uma Sodoma…
9.
[15]
Sou bugre mesmo
me explica mesmo:
se eu não sei parar o sangue, que que adianta
não ser imbecil ou borboleta?
Me explica por que penso naqueles moleques
como nos peixes
que deixava escapar do anzol
com o queixo arrebentado?
Qual, antes melhor fechar essa torneira, bugre velho…
10.
[16]
11.
[17]
[18]
POSTAIS DA CIDADE
O ESCRÍNIO
[19]
Nhanhá mijava na rede porque brincou com fogo de dia
— Mijo de véia não disaparta nosso amor, né benzinho?
— Yes!
Um dia Nhanhá Gertrudes fazia bolo de arroz.
Negra Margarida socava pilão.
E eu nem sei o que fazia mesmo.
Veio um negro risonho e disse sem perder o riso:
— Vãobora comigo, negra?
E levou Margarida enganchada no dedo pra São Saruê.
Daí eu fiquei naquele casarão que tinha noites de medo.
Nhanhá sonhava bobagens que eu fugi de casa pra ser
chalaneiro no Porto de Corumbá!
O mijo de Nhanhá sentia, no pingar, um vazio inédito e
fazia uma lagoinha boa no mosaico…
Desse tempo adquiri a mania de mirar-me no espelho
das águas…
A DRAGA
[20]
Geleia de sapos!
Só as crianças e as putas do jardim entendiam a sua fala
de furnas brenhentas.
Quando Mário morreu, um literato oficial, em
necrológio caprichado, chamou-o de Mário-Captura-Sapo!
Ai que dor!
Ao literato cujo fazia-lhe nojo a forma coloquial.
Queria captura em vez de pega para não macular (sic)
a língua nacional lá dele…
O literato cujo, se não engano, é hoje senador pelo
Estado.
Se não é, merecia.
A vida tem suas descompensações.
Da velha draga
Abrigo de vagabundos e de bêbados, restaram as
expressões: estar na draga, viver na draga por estar sem
dinheiro, viver na miséria
Que ora ofereço ao filólogo Aurélio Buarque de
Holanda
Para que as registre em seus léxicos
Pois que o povo já as registrou.
SEU MARGENS
[21]
MARIA-PELEGO-PRETO
DONA MARIA
[22]
Com pouco a senhora estará balofa, inchada de cachaça,
os lábios como cogumelos
Sua boca vai cair no chão
Uma lagarta torva pode ir roendo seu lábio superior
pelo lado de fora
Um moleque pode passar a esfregar terra em seu olho
Ligeiro visgo começará a crescer de seus pés
Alguns dias depois sua gaita estará cheia de formiga e
areia
A senhora estará cheia de lacraias sem anéis
E ninguém suportará o cheiro de seu corpo, não é
assim?
Dona Maria teve um arrepio.
— Epa moço! eu não queria dizer tanto. Só pensei de
comprar uma gaita, me sentar na calçada e ficar tocando,
tocando… até que a vida melhorasse. O resto o senhor que
inventou. Desse jeito, já estou vendo os meninos passarem
por mim a gritar: — Maria Gaiteira, fiu! Maria Gaiteira,
fiu fiu!
Por favor, moço, mande esses meninos embora pra casa
deles. O senhor já me largou na sarjeta, já fez crescer visgo
no meu pé, e agora ainda manda os moleques me
xingarem…
O PRECIPÍCIO
[23]
Foi parar nos fundos de um precipício.
Lá onde branquejam os ossos do Sargento Aquino,
fuzilado na revolta de 1917
Debaixo de um tarumeiro.
CACIMBA DA SAÚDE
[24]
RETRATOS A CARVÃO
POLINA
[25]
CLÁUDIO
[26]
SABASTIÃO
Desencostado da terra
Sabastião
Meu amigo
Um pouco louco.
RAPHAEL
Na trouxa
Trouxe Raphael.
[27]
Ponhamos que fosse um anjo
O anjo de sua mãe
[28]
Que deixava passar este canto
Sem de hexâmetros entrar!
De resto
Juvêncio não é um herói
Raphael não tem mãe Clitemnestra
E nenhuma cidade disputará a glória de me haver
dado à luz.
Falo da vida de um menino do mato sem importância.
Isto não tem importância.
ANTONINHA-ME-LEVA
[29]
Há muitas maneiras de viver mas essa de Antoninha era
de morte!
[30]
INFORMAÇÕES SOBRE A MUSA
[31]