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ISSN 2177-3548
[1][2] Universidade Federal do Espírito Santo | Título abreviado: O “organismo” na obra de B. F. Skinner | Endereço para correspondência: | Email: kelvinfonseka@
gmail.com | DOI: 10.18761/PAC.2018.n2.01
Para Skinner (1938), assim como Keller e Schoenfeld (e decorreriam de) diferentes definições de com-
(1950/1974), o objeto de estudo da análise do com- portamento. Caso a pele for utilizada como crité-
portamento não seria simplesmente o comporta- rio para demarcar a separação entre organismo e
mento, mas sim o comportamento dos organismos. ambiente (e.g., Tonneau, 2013a), ou se o organis-
Não se trata, portanto, de uma ciência que visa estu- mo for visto como a “fonte” da qual se origina o
dar todo e qualquer tipo de evento que possa ser de- comportamento (e.g., Teixeira, Oliveira, & Dias,
nominado “comportamento”. A geologia, por exem- 2005), ou ainda se o organismo for pressupos-
plo, estuda plasticidade (manutenção da forma após to como um bioprocesso (e.g., Palmer, 2004) ou
aplicação de força) e elasticidade (capacidade de vol- como um hospedeiro (e.g., Baer, 1976), teremos
tar à forma original anterior ao estágio de aplicação como consequência imediata distintas concepções
de força) como propriedades “comportamentais” de sobre o comportar-se. Além disso, surgem novas
materiais inorgânicos como rochas e pedras. Não é indagações quanto ao que se qualifica como um
esse o tipo de “comportamento” estudado pela aná- organismo “psicológico”, isto é, organismo que se
lise do comportamento. comporta (Matthews, 1985), diante da literatura
No entanto, ainda que a área eleja como seu sobre o comportamento de organismos acere-
objeto o comportamento dos organismos, na con- brais (Gagliano, Renton, Depczinsky, & Mancuso,
tingência de três termos o “organismo” está apenas 2014), de células neuronais (Stein, Xue, & Belluzi,
implícito, haja vista que ela releva apenas o com- 1994), e de robôs inorgânicos (Burgos, 2018).
portamento e os eventos antecedentes e consequen- Nesses casos, poderia a fronteira epidérmica servir
tes do comportar-se. Para Morris (1992), o orga- para delimitar aquilo que está se comportando - o
nismo estaria alocado nas características formais “organismo” - do ambiente, ou o fenômeno com-
(ou estruturais) que subsidiam o comportar-se. portamental deveria ser transdermal (Lee, 1981,
Essa aparente invisibilidade do organismo pode 1985, 1992, 1994, 1995, 1999)? Enfim, um termo
fundamentar a crítica segundo a qual a análise do que foi importado da fisiologia (Danziger, 1997)
comportamento seria uma ciência da “caixa-preta”, sem ser propriamente definido carrega consigo
já que, “para Skinner, os seres humanos são ‘orga- premissas não avaliadas que podem influenciar a
nismos vazios’, termo com o qual sugeria que não própria concepção do objeto de estudo central da
há nada dentro de nós que possa ser invocado para análise do comportamento. Diante dessa situação,
explicar o comportamento em termos científicos” tomamos a sugestão de Skinner (1974):
(Schultz & Schultz, 2002, p. 362). Ainda que essa
crítica esteja equivocada (Zilio 2013a), ela salienta Quando é importante ser preciso sobre um
uma característica inconteste da área: o organismo tema, nada além de um vocabulário técnico
não tem o mesmo protagonismo que o “comporta- será suficiente. Ele frequentemente parecerá
mento” no behaviorismo radical de Skinner, como forçado ou tortuoso. Maneiras antigas de falar
o próprio autor atestou: “afortunadamente para a são abandonadas com dificuldade, e novas ma-
psicologia, tem sido possível lidar com o comporta- neiras são desajeitadas e desconfortáveis, mas a
mento sem uma compreensão clara sobre quem ou mudança precisa ser feita. (p. 20)
o que está se comportando, assim como parece ser
possível lidar com personalidade sem definir ‘pes- Tendo em vista a ausência de uma definição ex-
soa’” (Skinner, 1947/1999b, p. 325). plícita de organismo, o objetivo deste artigo é anali-
Mas o que significa para a análise do compor- sar o contexto de ocorrência do termo em algumas
tamento dos organismos (e não de qualquer “com- obras de Skinner para, assim, refletir sobre os sig-
portamento”, salienta-se novamente), existir sem nificados possíveis que a ele foram atribuídos pelo
uma definição desse “organismo” que se compor- autor. Para tanto, na próxima seção descreveremos
ta? Afinal, a própria definição de comportamento como uma teoria behaviorista radical do significa-
seria dependente da definição de termos auxilia- do, embasada na discussão de Skinner em Verbal
res como “organismo” (Carrara & Zilio, 2013a), e Behavior (1957) e na análise operacional de termos
diferentes definições de organismo implicariam psicológicos (Skinner, 1945/1999g), pode nos au-
xiliar a compreender o contexto das ocorrências do dutos (livros) dos comportamentos verbais em nós
termo organismo. Em seguida, iremos analisar uma enquanto leitores. “Quando estudamos grandes
amostra dos textos de Skinner visando tornar mais obras, estudamos o efeito sobre nós dos registros so-
aparentes os possíveis contextos de surgimento do breviventes do comportamento dos homens (sic). É
termo em escritos do autor. nosso comportamento com respeito a tais registros
que estudamos; nós estudamos nosso pensamento,
não o deles” (Skinner, 1957, p. 452, itálicos no ori-
Significado em uma teoria não- ginal). Neste sentido há uma interpretação do texto
referencial de significado que, embora se fundamente nele, não se apropria
da intenção do, ou significado interno ao, autor do
A comunidade verbal científica buscar tornar mais mesmo (Abib, 1997).
preciso o controle de estímulos aos quais o cientista Essa interpretação não “significa” nem uma
entra em contato ao fazer ciência por meio de esque- “transmissão” vertical de sentido do texto ao lei-
mas classificatórios, extinguindo extensões metafó- tor, e nem o inverso (uma imposição de sentidos
ricas, metonímicas e solecistas do tato, eliminando do leitor ao texto); podemos dizer que há uma
múltiplas fontes de controle e respostas intraverbais, “construção”: “o texto é aberto a uma pluralidade
bem como tornando acessíveis através de instrumen- de interpretações, mas não a qualquer interpreta-
tos eventos que podem, assim, tornar-se estímulos ção” (Laurenti, Lopes, & Araujo, 2016, p. 51). Essa
para o comportamento do cientista (Skinner, 1957). multiplicidade de variáveis permitiria uma plura-
Dessa forma, a comunidade científica “. . . minimiza lidade de leituras distintas que podem ser classi-
os efeitos de contingências extracientíficas ao insistir ficadas como coerentes ou incoerentes, mas não
que descrições de pesquisas permitam aos leitores como verdadeiras ou falsas: “se cada analista é, em
fazerem inferências precisas sobre as contingências si mesmo, um sujeito único, a mesma obra poderá
originais de investigação” (Lee, 1985, p. 190). Para incitar análises variadas (isto é, poderá atuar como
isso, a prática científica se apoia no uso de termos estímulos discriminativos com funções diversas)
técnicos, já que “tais nomes servem para demarcar feitas por analistas distintos” (Zilio, 2013b, p. 41).
certas porções do objeto de estudo científico como A sugestão de Skinner é que busquemos “signifi-
provisionalmente aceitáveis, portanto deixando li- cados”, “conteúdos” e “referências” nos determi-
vre a atenção do trabalhador para a consideração nantes de uma resposta (e não em suas proprieda-
de outras porções que permanecem problemáticas” des estruturais), que são encontrados nas “relações
(Dewey & Bentley, 1949, p.113). funcionais que por sua vez definem as classes de
Porém, a tarefa de compreender as funções respostas verbais” (Skinner, 1945/1999g, p. 374,
de um dado termo nada tem a ver com o desco- itálicos adicionados). Isso “significa” que, diante
brimento de “estados internos” de quem o utiliza; de um termo psicológico de nosso interesse, é re-
isso implica que não é o objetivo descobrir o que levante entendê-lo historicamente e perguntar: em
Skinner “realmente” pensava em sua “interiorida- que condições específicas essa resposta verbal foi
de” sobre o que o organismo era. Isso pressupõe emitida? Que consequências a comunidade verbal
uma teoria do significado organocêntrica: o autor provê para tal resposta para que ela continue sen-
como um “originador” de significados, que existem do ‘emitida’? No esforço de responder essas ques-
“dentro” de si e são “transferidos” ao texto para en- tões ao menos quatro pontos devem ser levados
tão serem lidos. em conta:
Essa não é a posição analítico-comportamental.
Em sentido metafórico, para Skinner (1989) “. . . li- (1) o comportamento verbal é modelado e man-
vros são comportamento verbal congelado” (p. 44), tido por contingências de reforço no contexto
e, na prática, além do comportamento verbal escri- de uma linguagem e de uma cultura; (2) é a his-
to do autor, nada teríamos além de nossas próprias tória de contingências de reforço que explica a
descrições (que também são elas mesmas compor- emissão do comportamento verbal; (3) o signi-
tamento verbal) dos efeitos produzidos pelos pro- ficado está numa história de contingências de
Textos Ano
Walden II 1948/1972
“Man” 1961
“within the . . .”, “internal economy “. . . the activity of an effector in response to direct
of the . . .”, “inside the . . .” “outside stimulation, a distinction which is more often of importan-
concepção morfológica
the . . .”; o organismo demarcado do ce in dealing with the internal economy of the organism”
ambiente pela fronteira da pele (Skinner, 1930/1999d, p. 431)
“Descartes excepted
“machine”, “mechanical”; compara-
máquina ‘man’ from his mechanical model of an organism. . .”
ções entre humanos e máquinas
(Skinner, 1990/1999, p. 579)
“another . . .”, “mediation of/by . . .”, “These important generalized reinforcers are social be-
social “social . . .”; relacionado à mediação cause the process of generalization usually requires the
do reforço por outro organismo mediation of another organism.” (Skinner, 1953, p. 299)
“infra-human . . .”, “lower . . .”, “simple “. . . or in converting a lower organism into a sensitive
não-humano
. . .”, “simpler . . .” psychological observer” (Skinner, 1955/1999h, p. 287)
“super-. . .”, “a community as a viable “All this makes it easier to think about such a community
superorganismo or perishable entity - as an . . .”; uma as a viable or perishable entity—as an organism with a
sociedade como um organismo life of its own.” (Skinner, 1968/1999f, p. 70)
Contextos e frequências de ocorrência do pretende ser exaustiva, haja vista que é provável que
termo organismo menções ao organismo tenham ficado de fora em
O que se pode depreender de uma análise de to- função das limitações do nosso método e também
das as menções ao termo organismo encontradas porque não foram discutidas (por questão de espa-
na amostra selecionada de comportamento verbal ço e significância) todas as categorias localizadas.
textual de Skinner? Nesta seção, será apresentada Em adendo, conforme já mencionado, diversas
uma análise quantitativa referente à frequência ocorrências do termo organismo não se encaixa-
de ocorrência do termo “organismo” nas obras de vam em categorias específicas. Estas ocorrências fo-
Skinner, assim como uma reflexão sobre os contex- ram alocadas na categoria “outras” (4,1% do total).
tos de ocorrência que pareceram ser os mais rele- Dessa forma, começaremos pelo registro quan-
vantes para a compreensão do significado atribuído titativo geral de ocorrência das categorias descritas
por Skinner ao organismo na análise do compor- anteriormente, exibido na Figura 1:
tamento. Ressalta-se, todavia, que essa análise não
Lócus do comportamento. Nota-se a prevalência de uma definição é que tomar o organismo como
da categoria lócus do comportamento (39,8%) nas um “lócus onde comportamento e ambiente inte-
menções ao organismo. É interessante lembrar que ragem” (Hineline, 1990, p. 307; Hineline, 1992, p.
“. . . um lócus, um ponto em que muitas condições 1284) é circular, já que transfere a dúvida do termo
genéticas e ambientais confluem num efeito con- organismo para o termo lócus – qual a natureza
junto” (Skinner, 1974, p. 168) já fora uma definição desse lócus? Onde começa e termina?
de pessoa dada por Skinner. Mas o problema ime- Aumentos acentuados de menções em rela-
diato em aceitar essa prevalência como sinônimo ção aos capítulos anteriores na ocorrência das ca-
tegorias lócus do comportamento e organismo que lo 5) e privação e saciação (capítulo 9); no Verbal
se comporta ocorreram principalmente com a pu- Behavior (1957), nos capítulos sobre o compor-
blicação de The Behavior of Organisms (1938) e tamento verbal sob controle de estímulos verbais
Science and Human Behavior (1953/2005), o que (capítulo 4), o tato (capítulo 5), e o operante verbal
pode ser atribuído ao tamanho dessas obras. Outro como unidade de análise (capítulo 8); no Beyond
fator possivelmente relevante na explicação desses Freedom and Dignity (1971), no capítulo sobre li-
aumentos acentuados de um capítulo para outro berdade (capítulo 2); no About Behaviorism (1974),
no lócus do comportamento é que essas obras têm no capítulo em que se pergunta sobre o que está
capítulos extensos reservados ao “problema do dentro da pele (capítulo 13); e no Recent Issues in
organismo” (Valentine, 1992), ou seja, a lidar con- the Analysis of Behavior (1989), refletindo outro li-
ceitualmente com a “variabilidade não-explicada” vro, no capítulo sobre o The Behavior of Organisms
(Morris, 1992; Roche & Barnes, 1997) do compor- cinquenta anos depois (capítulo 12).
tamento operante de organismos vertebrados com A descrição de Skinner (1938) sobre o drive
sistemas nervosos centrais, historicamente o foco pressupõe uma variável interveniente, o que sugere
de pesquisas experimentais na análise do compor- divergência de uma descrição puramente centrada
tamento (Rasmussen, 2018; Roche & Barnes, 1997). no ambiente na explicação da variabilidade com-
Para isso, uma variável interveniente - no que não portamental operante – pois padrões de relações
envolve hipóteses sobre a existência de processos entre comportamento e contexto podem ser des-
não-observados e apenas abstrai relações empíri- critas apenas em termos de eventos ambientais e
cas (no caso sobre a história das relações comporta- comportamentais em vez de organísmicos (Baer,
mento-ambiente) (MacCorquodale & Meehl, 1948) 1976) – e mostra que “. . . mesmo na própria prosa
- chegou a ser incluída em explicações iniciais do de Skinner, a inclusão de ‘estados’ intervenientes
comportamento operante (Skinner, 1938), o drive: faz do comportamento um sintoma de processos
subjacentes” (Hineline, 1990, p. 315). Em contras-
O problema do drive emerge pois muito do te, a previsibilidade dispensaria o apelo a variáveis
comportamento de um organismo demonstra intervenientes porque não haveria processos subja-
uma aparente variabilidade. Um rato nem sem- centes pressupostos, como quando Skinner sugere
pre responde a comida colocada à sua frente, e que o comportamento começou a ser aceito como
um fator chamado sua ‘fome’ é invocado como objeto de estudo em seu próprio mérito “. . . quan-
explicação. É porque comer não é inevitável que do os organismos estudados eram muito pequenos
somos levados a hipotetizar um estado interno e seu comportamento muito simples para sugerir
ao qual atribuímos a variabilidade. Quando não processos iniciadores internos” (Skinner, 1989, p.
há variabilidade, nenhum estado é necessário. 61, itálicos adicionados).
Dado que um rato usualmente responde a um
choque flexionando sua perna, nenhum “drive Organismo que se comporta. Organismo que se
de flexão” comparável à fome é necessário. (p. comporta foi a segunda categoria mais recorrente
341, itálicos adicionados) na amostra (19,7%). Essa frequência é compatível
com a descrição de que “um organismo é mais do
Assim, o aumento acentuado de ocorrência do que um corpo; é um corpo que faz coisas. Tanto
uso do termo organismo para se referir ao lócus do órgão como organismo são etimologicamente re-
comportamento ocorria em capítulos em que essa lacionados a trabalho. O organismo é o executor”
‘aparente variabilidade’ era um problema imediato. (Skinner, 1989, p. 28). Antes de aceitar essa compa-
Num registro cumulativo, capítulo a capítulo, do tibilidade como um delineamento do termo, cabe
The Behavior of Organisms (1938), esse aumento notar que apesar dessas ocorrências do organismo
acentuado em relação aos capítulos anteriores pode na voz ativa como sujeito de diferentes predicados
ser observado no capítulo sobre drive (capítulo 9); verbais (aspecto temático da categoria organismo
no Science and Human Behavior (1953/2005), nos que se comporta), é questionável a pertinência de
capítulos sobre comportamento operante (capítu- falar de comportamento dos organismos (Roche &
Barnes, 1997), pois em línguas anglófonas e lusófo- do ambiente por um critério epidérmico sugerem
nas “. . . os verbos de ação possuem um sujeito que uma concepção morfológica de organismo (Palmer,
os realiza e a nossa língua é configurada de tal for- 2004) nos textos de Skinner. Isso salienta uma am-
ma a sempre ligar o comportamento a um sujeito, biguidade no peso da pele na condição de demar-
seja ele definido ou indefinido” (Carrara & Zilio, cadora de uma fronteira entre o que é e o que não
2013b, p. 101). Isso ocorre dado que os padrões lin- é organismo, visto que “a pele não é tão importante
guísticos desses idiomas “. . . virtualmente não per- como uma fronteira” (Skinner, 1969, p. 228). Se a
mitem ações sem agentes, quando alguém descreve pele for vista como uma fronteira organísmica seria
alguma ação que não tem um agente externo óbvio, plausível falar do comportamento como algo que
um agente é gratuitamente pressuposto. Por con- começaria “dentro” do organismo (e.g., Tonneau,
venção o agente pressuposto é usualmente interno 2013a), assim como do organismo como um subs-
ou mentalista” (Hineline, 1980, p. 81): seria um trato orgânico que comporta diferentes “pessoas”
problema saltar desse “organismo como executor” (e.g. Skinner, 1947/1999b, 1974, 1989). Mas ape-
para uma definição com o sentido do organismo sar de descrever que o comportamento é “emitido”
como “agente iniciador” do seu comportamento. apenas em um sentido metafórico pois “a luz não se
encontra dentro do filamento antes de ser emitida”
Concepção morfológica de organismo. Quando (Skinner, 1974, p. 53; ver também Skinner, 1989, p.
a pele é eleita como fronteira entre um sujeito co- 130), a ausência de uma elaboração explícita sobre
nhecedor interno e um mundo conhecido externo é o que ou quem se comporta (Skinner, 1947/1999b)
mais fácil pressupor processos subjacentes causado- dá margem a uma interpretação organocêntrica de
res do comportamento (Bentley, 1941a, 1941b) ou “emissão” do comportamento, revivida em compa-
ver o organismo como um invólucro biológico para rações do organismo com uma “caixa preta”. Para
a variabilidade comportamental: “a integridade ou Latour (1998/2011):
unidade do indivíduo foi pressuposta, talvez por-
que o organismo é uma unidade biológica. Mas está . . . a expressão caixa-preta é usada em ciberné-
muito nítido que mais de uma pessoa, no sentido tica sempre que uma máquina ou um conjunto
de um sistema integrado e organizado de respos- de comandos se revela complexo demais. Em
tas, existe dentro da pele” (Skinner, 1947/1999b, p. seu lugar, é desenhada uma caixinha preta, a
325) – com “pessoas dentro da pele” como metáfora respeito da qual não é preciso saber nada, a não
para variabilidade comportamental de um organis- ser o que nela entra e o que dela sai. (p. 4)
mo (e.g., Skinner, 1989, p. 28). Os aumentos mais
acentuados de frequência em relação a capítulos Por exemplo, Skinner (1955/1999h) descreve
anteriores na categoria concepção morfológica ocor- como o comportamento pode ser explicado cien-
reram justamente em discussões sobre eventos pri- tificamente em função de condições/eventos he-
vados (Skinner, 1953/2005), comportamento psicó- reditários/ambientais em termos de output e input
tico (Skinner, 1955/1999h) e comportamento verbal colocando o organismo no centro da imagem,
(Skinner, 1957). Essas diversas ocorrências (6,9%) semelhante a um esquema mediacional S-O-R
em que o organismo é diretamente contrastado (Morris, 1992), como mostra a Figura 2:
Refletindo a ambivalência sobre a fronteira frequente (5,3%). Dado que reações químicas
organísmica, a imagem da caixa preta parece ser autocatalíticas podem apresentar características
tanto pressuposta (Skinner, 1969, 1989) como re- comumente associadas apenas a sistemas vivos,
jeitada (Skinner, 1974) em diferentes obras do au- como imprevisibilidade, irreducibilidade, irrever-
tor. Skinner (1989), critica a direção internalista em sibilidade e emergência (Marr, 1996; ver também
que “filósofos, psicólogos, cientistas do cérebro e da Margulis, 1998), se o conjunto de seres vivos se di-
computação” olham para explicar a origem do com- ferencia de corpos não-vivos por ser constituído
portamento em vez de olharem para a história de de sistemas que se comportam de modos passíveis
contingências de reforçamento, complementando: de explicação mediante leis do comportamento, e
não por critérios taxionômicos (Roche & Barnes,
Essa posição é às vezes caracterizada como tra- 1997), então não seria necessariamente contra-
tar uma pessoa como uma caixa-preta e ignorar ditório buscar por análises comportamentais em
seus conteúdos. . . Mas nada está sendo ignora- organismos vivos sem sistemas nervosos cen-
do. Analistas do comportamento deixam o que trais (Roche & Barnes, 1997); assim, esse conjun-
está dentro da caixa-preta para aqueles que têm to poderia incluir células como neurônios (Stein
os instrumentos e métodos para estudá-la pro- et. al.,1994) e organismos aneurais como plantas
priamente. (p. 24, itálicos adicionados) (Burgos, 2018; Gagliano et. al., 2014).
Organismo vivo. “O comportamento é uma ca- Produto da filogênese. O uso de organismos não-
racterística primária de coisas vivas” (Skinner, -humanos (como ratos brancos e pombos) como
1953/2005, p. 45), e essa proximidade entre as animais representativos em pesquisas experimentais
definições de vida e comportamento fica evidente era preferido por motivos éticos, de conveniência
com a categoria organismo vivo ser a quarta mais experimental e de custo (Harrison, 1994; Skinner,
1938, 1956/1999a, 1960/1999c), fundamentado na homem (sic) é mais do que um produto imutável
premissa de que se essas formas de vida são frutos de processos biológicos; ele é uma entidade psico-
de processos evolutivos, é razoável pressupor a con- lógica, e como tal ele é também largamente arti-
tinuidade interespécies (Carrara, 2005; Danziger, ficial [man-made]” (p. 55). Mesmo que a menção
1997). Correspondentemente, a maior concentração ao “produto imutável” seja parte da crítica ao argu-
de menções ao organismo enquanto produto da filo- mento, dizer largamente ainda implica uma estreita
gênese ocorreu justamente em discussões sobre com- faixa de substrato orgânico “natural” universal. Essa
portamento “inato” e o papel da fisiologia na expli- imagem esboçada nas menções de Skinner (1974,
cação do comportamento (Skinner, 1974), sendo a 1989) pressupõe a dotação genética do organismo
sexta categoria mais frequente. como “. . . um substrato pré-constituído de uni-
Mesmo afirmando não ser uma questão neces- versais humanos biológicos” (Ingold, 1995, p. 195,
sária definir quem ou que se comporta (Skinner, itálicos adicionados) e só funciona numa narrati-
1947/1999b), outra ambivalência se revela nos di- va ocidental iluminista de que o ser humano teria
ferentes momentos em que Skinner toma a seleção “transcendido” a biologia ao “sair” do processo evo-
natural como critério para designar o organismo lutivo ao “entrar” na cultura (Ingold, 2006).
que se comporta: “A seleção natural nos dá o orga- A busca pelo “humano anatomicamente mo-
nismo. . . Um organismo é mais do que um corpo; é derno”, o representante dos primeiros humanos
um corpo que faz coisas. Tanto órgão como organis- cuja dotação genética nos daria “. . .uma especifi-
mo são etimologicamente relacionados a trabalho. cação independente de contexto do organismo hu-
O organismo é o executor” (Skinner, 1989, p. 28, mano, dado a todo e cada membro da espécie no
itálicos no original). A imagem esboçada a partir momento da concepção” (Ingold, 1995, p. 196, itáli-
desse critério pressupõe uma hierarquia, em que o cos adicionados) reflete essa narrativa moderna, na
organismo existe além de um mero corpo (pois se qual a tendência a ver o “biológico” como “estático”
movimenta, modifica o mundo, é modificado por reflete muito mais uma preocupação mitológica do
ele) e aquém de uma pessoa (pois essa só existiria que histórica (Oyama, 2000). Esse esboço do orga-
após a ação das contingências de reforçamento): nismo, dotado de uma carga genética resultante de
“Uma pessoa é antes de tudo um organismo, um uma história evolutiva longínqua que desde então
membro de uma espécie e uma subespécie, pos- não mudou (e que para todos os propósitos seria
suindo uma dotação genética de características “fixa”), também ignora que não há um pré-pro-
anatômicas e fisiológicas. . . O organismo se torna grama ambientalmente independente e essencial
uma pessoa conforme adquire um repertório de do organismo “armazenado” nos genes (Lewontin,
comportamento. . .” (Skinner, 1974, p. 207, itálicos 1992, 2000; Lopes & Laurenti, 2016; Oyama, 2000)
adicionados); “ele começa como um organismo e e que os processos evolutivos não produzem pa-
se torna uma pessoa ou um eu conforme adquire drões universais fixos porque “geneticamente her-
um repertório de comportamento” (Skinner, 1974, dado” e “fixo/imutável” não são categorias equiva-
p. 225, itálicos adicionados); “começando com o lentes e intercambiáveis (Gould, 1996; Lewontin,
organismo que evoluiu através da seleção natural, 1992, 2000; Oyama, 2000).
elas [as contingências de reforçamento] constroem Não há um rascunho universal intacto do or-
os repertórios chamados pessoas” (Skinner, 1989, ganismo nos genes, à espera da ação moldadora da
p. 28); menções que criam uma imagem do orga- história, pois se “. . . não existe nenhuma natureza
nismo como um “fundo” biológico para a pessoa, humana de tocaia dentro de nós que tenha de al-
“anterior” às contingências de reforçamento. gum modo escapado à corrente da história” (Ingold,
Quando critica o argumento de que aplicar uma 2006, p. 13), seriam os humanos holandeses conce-
análise científica do comportamento para mudar bidos durante o final da 2ª Guerra Mundial, cujos
práticas culturais estaria necessariamente além do genes de crescimento foram alterados em vista da
escopo da ciência porque envolveria julgamentos Fome de Inverno de 1944-1945, tornando-os mais
de valor e não acomodaria uma suposta “natureza propensos a doenças metabólicas, esquizofrenia e
humana”, Skinner (1961/1999e) afirma que “. . .o níveis mais altos de colesterol LDL (Tobi, Goeman,
Monajemi, Gu, Putter, Zhang, Slieker, Stok, comportamento de Descartes sobre o conceito do
Thijssen, Müller, van Zwet, Bock, Meissner, Lumey, reflexo (Skinner, 1930/1999d, 1953/2005, 1990).
Slagboom, & Heijmans, 2014), os mesmos organis-
mos que os humanos Bajau (“Nômades do Mar”) do Superorganismo e organismo individual. Há uma
sudeste da Ásia, que têm baços maiores como parte outra ambivalência nos textos de Skinner, relacio-
de uma resposta fisiológica de mergulho adaptada a nada ao seu tratamento do comportamento de in-
um estilo de vida nômade e dependente da comida divíduos em grupos. Skinner (1953/2005) declara
obtida através de caça submarina (Ilardo, Moltke, que não é o grupo que se comporta, mas em pelo
Korneliussen, Cheng, Stern, Racimo, Damgaard, menos três momentos de sua obra (0,2%) apresen-
Sikora, Seguin-Orlando, Rasmussen, van den ta metáforas organísmicas da sociedade (Skinner,
Munckhof, ter Horst, Joosten, Netea, Salingkat, 1948/1972, 1968/1999f, 1989). As duas primeiras
Nielsen, & Willerslev, 2018)? menções ao superorganismo ocorrem em discus-
Ainda assim, na obra de Skinner há momentos sões sobre comunidades experimentais (Skinner,
que tensionam as premissas desse esboço do orga- 1948/1972, 1968/1999f) e a terceira sobre compor-
nismo (Lopes & Laurenti, 2016): o autor critica a tamento verbal (1989). Na primeira o superorga-
ideia de que genes e cromossomos “armazenem” a nismo está associado a grupos que funcionam com
informação para o desenvolvimento do organismo harmonia e eficiência:
porque uma célula “. . .não consulta um estoque de
informações para aprender como mudar, ela muda O problema de uma estrutura eficiente de grupo
por causa de fatores que são o produto de uma his- é suficiente para absorver o interesse de qual-
tória de variação e seleção, um produto que não é quer um. A organização de uma comissão de
bem representado pela metáfora do armazenamen- cientistas ou um grupo de escritores está ainda
to” (Skinner, 1981, p. 503) e a noção consequente longe do que poderia ser. Mas nos falta con-
do desenvolvimento como mero desdobrar de algo trole no mundo lá fora para investigar estrutu-
que sempre esteve lá, pois “. . .como na evolução ras mais eficientes. Aqui, ao contrário — aqui
pré-darwinista (na qual evoluir significa desenro- podemos começar a entender e construir o
lar como alguém que desenrola um pergaminho), o Superorganismo. Podemos construir grupos de
desenvolvimentismo é uma forma de criacionismo” artistas e cientistas que agirão tão harmoniosa e
(Skinner, 1989, p. 16). Dessas diferentes elaborações eficientemente quanto um time campeão de fu-
em torno do organismo enquanto produto da filogê- tebol. (Skinner, 1948/1972, pp. 289-290, itálicos
nese pode-se avaliar que existe outra ambivalência adicionados)
em relação ao termo: ora como um organismo pré-
-formado, além do corpo mas aquém da pessoa, à Essa menção ocorre em Walden 2, quando
espera da ação diferenciadora das contingências de “Frazier está falando sobre grupos, e sua referên-
reforçamento (Skinner, 1961/1999e, 1974, 1989), cia ao superorganismo deve ser considerada uma
ora como um organismo ativo capaz de afetar a his- referência a uma espécie ou cultura humana me-
tória evolutiva de sua espécie através de sua ação lhoradas em vez de a um indivíduo” (Moxley, 1999,
na cultura (Skinner, 1981, 1989; ver também Kuo, p. 135). Mas Skinner não escreve sobre a espécie
1967; Lopes & Laurenti, 2016). humana como um todo num sentido genético e ge-
nérico, mas de comunidades ou culturas:
Organismo como máquina. Etimologicamente, or-
ganismo não está apenas associado a “trabalho” mas Utopias frequentemente ocuparam ilhas, mas
também a “máquina” (Catania, 1992; Lewontin, muros isolam tão bem quanto água. (Os mem-
2000), e 7 das 8 ocorrências do organismo como bros de uma seita, não importa quão bem orga-
máquina estavam concentradas em artigos ou capí- nizada, não são usualmente considerados uma
tulos sobre comportamento respondente (Skinner, comunidade se estão amplamente dispersos ge-
1930/1999d, 1953/2005), e todas ocorriam numa ograficamente.) Existe também um certo isola-
descrição da influência do modelo mecânico de mento da tradição. O europeu do século XVIII
podia esperar abandonar muito da sua cultura partilhado; as partes trabalham juntas para o todo
quando chegasse ao Taiti; a vida num monas- integrado, com alta cooperação e baixo conflito. .
tério pode começar com um ritual de renasci- . nossa definição é social; o organismo é simples-
mento. Tudo isso torna mais fácil pensar sobre mente uma unidade com alta cooperação e baixís-
uma comunidade como essa como uma enti- simo conflito entre suas partes” (p. 3144). Tal qual
dade viável ou perecível – como um organismo colônias de insetos eussociais como formigas e abe-
com uma vida própria. (Skinner, 1968/1999f, p. lhas e grupos altamente cooperativos com baixo ní-
70, itálicos adicionados) vel de conflito interno, propósito comum, especia-
lização de funções e dependência mútua (Pepper &
O tamanho dessa comunidade ou cultura que se Herron, 2008; Queller & Strassman, 2009; West &
“comporta” com harmonia e eficiência não é especi- Kiers, 2009; West, Fisher, Gardner, & Kiers, 2015).
ficado pelo autor – o fator relevante parece ser o ní- Dado que “Skinner também se refere às estru-
vel de cooperação: “nós estivemos considerando um turas orgânicas como unidade de seleção natural.
tipo de superorganismo, cuja primeira metade ga- . . as estruturas orgânicas não teriam sobrevivido
nha quando a segunda metade age sobre o mundo, se tivessem competido entre si. A evolução dessas
e cuja segunda metade ganha quando a primeira estruturas é sistêmica . . .” (Abib, 2007, p. 52), ana-
metade faz contato com aquele mundo” (Skinner, logias entre humanos e órgãos ou células tornam-
1989, p. 45, itálicos adicionados). Essa menção está -se tentadoras: “Walden 2 funciona como um or-
no capítulo sobre o ouvinte onde Skinner (1989) hi- ganismo, cada componente em conjunção com os
potetiza possíveis vantagens que tiveram papel sele- outros, todos por um e um por todos. Motivação
tivo na evolução do comportamento verbal. Apesar altruísta não é necessária porque as metacontingên-
dessas três ocasiões, “é sempre um indivíduo que cias asseguram que o que seja bom para um seja
se comporta, entretanto. O problema apresentado bom para todos” (Glenn, 2004, p. 7). Não é de todo
pelo grupo maior é explicar porque muitos indiví- estranho que analogias organísmicas da sociedade
duos se comportam juntos” (Skinner, 1953/2005, p. criem contexto para analogias gigantescas do re-
311, itálicos no original). forçamento; uma ciência moldada para o estudo,
Por que, então, a escrita em metáforas orga- previsão e controle do comportamento do organis-
nísmicas de sociedade? “Tudo acaba voltando ao mo individual (2,6%), ao supor uma sociedade ide-
método científico. Ficções ainda estão na moda. Na al, projeta o organismo individual como imagem
prática temos de dizer alguma coisa sobre grupos” de uma sociedade sem conflitos. A substituição do
(Skinner, 1980, p. 111, itálicos no original). Talvez a equilíbrio instável do contracontrole político por
falta de melhores termos para descrever o compor- um governo benevolente (Dittrich, 2004), e o de-
tamento de muitos organismos humanos compor- senho resistente a mudanças do Código de Walden
tando-se juntos, cooperativamente, harmoniosa e 2 (Moxley, 1999) revelam uma visão homeostáti-
eficientemente, tenha criado contexto para que uma ca de sociedade (tal qual seria um organismo) em
descrição do corpo vivo (humano), por extensão que desequilíbrio e conflito são vistos a priori com
metafórica, fosse tomado como imagem de uma desconfiança (Martín-Baró, 1996) e que enviesa o
utopia que viesse a incorporar essas características. foco de intervenções apenas para o comportamen-
Por exemplo, mesmo rejeitando uma continuidade to do organismo individual, “. . . deixando arranjos
entre o comportamento social de humanos e o de estruturais intactos. Questões relativas à integrida-
insetos eussociais, pois teriam se desenvolvido por de operacional e moralidade do sistema como um
processos diferentes e seriam mantidos por razões todo raramente são colocadas” (Prilleltensky, 1994,
diferentes (Skinner, 1961/1999e), as características p. 130; ver também Holland, 1978).
que Skinner pressupõe para comunidades huma- Embora se possa arguir em defesa de sua uti-
nas superorganísmicas como Walden 2 são muito lidade, a analogia sociedade-organismo ainda é
semelhantes às características definidoras da no- apenas uma analogia – sociedades humanas ainda
ção de “organismalidade” proposta por Queller e têm muitos conflitos para terem a “organismalida-
Strassman (2009): quando há “. . . propósito com- de” (Queller & Strassman, 2009, p. 3144) de um su-
perorganismo. Essa analogia pode ser encontrada que negar a importância da biologia para a com-
na sociologia organicista de Worms e Novicow do preensão do comportamento) que pressuponham
final do século XIX, segundo a qual “. . .da mes- inevitabilidade e rigidez de papéis, pois “. . .na me-
ma forma que um organismo era mais do que um dida em que biologia signifique destino e necessi-
monte de células, uma sociedade era mais do que dade, ela também pode ser usada para delimitar
um grupo de indivíduos; um fenômeno novo emer- responsabilidade” (Oyama, 2000, p. 176). Tendo
gia de sua conjunção” (Barberis, 2004, p. 133). Tal em vista os problemas dessa analogia, permanece a
vertente teve função histórica no estabelecimento questão na análise do comportamento de explicar
da “sociedade” como um objeto de estudo em seu o comportamento de muitas pessoas se comportan-
próprio mérito para a sociologia, arguindo por uma do juntas, sem o apelo a analogias organísmicas de
correspondência pontual entre as divisões das duas sociedade.
disciplinas, ou seja, “. . .havia uma anatomia social,
uma fisiologia social, uma patologia social e, natu-
ralmente, uma terapêutica social” (Barberis, 2004, Considerações finais
p. 134). Assim, algumas das críticas que podem
ser feitas a essa analogia na análise do comporta- Em função da ausência de uma definição explícita
mento já foram feitas à sociologia organicista no e consensual de “organismo” na literatura analítico-
final do século XIX. Não é escopo deste trabalho -comportamental, o objetivo desta pesquisa foi ana-
explorar essas dimensões, mas é válido notar que lisar o contexto de ocorrência do termo “organis-
metáforas organísmicas da sociedade, com suas mo” em 8 obras de Skinner, abarcando um período
analogias entre humanos e órgãos/células, podem de 60 anos, visando localizar variáveis relevantes
servir para justificar hierarquias de classe (Esposito, para a compreensão de seu significado. Os dados
2011; Winthrop-Young, 2010). E, especialmente em foram organizados em 17 categorias relativas ao
algumas narrativas darwinistas sociais da “evolução contexto de ocorrência do termo. Abarcando 66%
social”, nas quais do total de 1266 menções, as categorias lócus do
comportamento (com 504 ocorrências), organismo
. . . havia uma necessidade de demonstrar que que se comporta (com 250 ocorrências) e concep-
a ordem social de algum modo espelhava a ção morfológica de organismo (com 88 ocorrên-
ordem natural. Isso criava um potencial para cias) foram as três mais frequentes.
uma ampla extensão de equivalências, analo- Descrever a função do termo “organismo”
gias, imagens e metáforas: que sociedades eram na obra de Skinner é uma tarefa difícil dado que
equivalentes a organismos biológicos ou que ra- o próprio autor diminuiu a importância de se sa-
ças representavam espécies biológicas; indivíduos ber quem ou que se comporta para que possa
são análogos a células. . . (Hawkins, 1997, p. 34, haver um estudo científico do comportamento
itálicos adicionados) (Skinner, 1947/1999b). Essa tarefa acaba, então,
encontrando-se com outra igualmente difícil: a de
A analogia organísmica de sociedade assumia definir “comportamento”, pois assim como “orga-
um caráter marcadamente “imunitário” (Esposito, nismo” é um termo auxiliar relevante do ponto de
2011) nessas narrativas, o que facilitava a justifica- vista da definição de comportamento (Carrara &
ção de políticas de higiene social, nas quais se criam Zilio, 2013a), “comportamento” também é um ter-
categorias de organismos “defeituosos”, “intrusos” mo auxiliar relevante na definição de organismo.
ou “parasíticos” que devem ser descartados para A primeira categoria em quantidade numérica de
que não se comprometa a integridade do superor- ocorrências (39,8%) foi justamente a do organis-
ganismo (e.g., Binding & Hoche, 1920/2015; Hitler, mo enquanto lócus do comportamento, congruente
1939/1969). com algumas definições de pessoa (Skinner, 1974)
O comportamento de indivíduos em grupos e organismo (Hineline, 1990, 1992) encontradas na
precisa ser estudado sem atalhos via equiparações literatura analítico-comportamental, o que, embora
com a dimensão biológica (o que não é o mesmo não forneça uma resposta ao problema da definição
de organismo porque transfere a dúvida de organis- mos como plantas (Gagliano et al., 2014), neurô-
mo para lócus, salienta que a variabilidade compor- nios (Stein et al., 1994) e robôs inorgânicos (Burgos,
tamental era um elemento contextual importante 2018). Apesar disso, a preferência por organismos
para a ocorrência do termo: as maiores frequências não-humanos na pesquisa experimental em análise
de menção no termo nessa categoria ocorreram em do comportamento (Perone, 1985) costuma ser res-
discussões sobre drive (Skinner, 1938), compor- trita àqueles que de algum modo informam sobre
tamento operante e privação e saciação (Skinner, o comportamento humano (Keller & Schoenfeld,
1953/2005), comportamento verbal sob controle 1950/1974), o que se reflete na escolha por organis-
de estímulos verbais e tato (Skinner, 1957), liber- mos com sistemas nervosos centrais desenvolvidos
dade (Skinner, 1971)e fisiologia e eventos privados (Roche & Barnes, 1997) e na maior frequência do
(Skinner, 1974). organismo não-humano (4,1%), quinta categoria
Quando o organismo era um lócus de varia- mais recorrente, em comparação com o organismo
bilidade em temas historicamente caros à psicolo- humano (3,3%), oitava categoria mais recorrente. A
gia, como eventos privados (Skinner, 1953/2005), descrição desses organismos não-humanos, porém,
comportamento psicótico (Skinner, 1955/1999h) vinha acompanhada de um viés antropocêntrico
e comportamento verbal (Skinner, 1957), a pele que ancorava o desempenho desses a um padrão
emergia como critério delimitador entre organismo humano (Barrett, 2016), dadas as diversas men-
e ambiente, evidenciando uma concepção morfoló- ções a esses organismos não-humanos como “mais
gica de organismo (Palmer, 2004), terceira categoria simples” (simple/simpler) ou “inferiores” (lower) na
mais recorrente na análise (com 6,9%) e evidente obra de Skinner (e.g., 1953/2005, 1957, 1960/1999c,
em analogias (frequentemente centradas no cére- 1971, 1974).
bro) com “caixas pretas” (e.g., Skinner, 1969, 1989), A abordagem do animal representativo na aná-
concepção que salienta uma ambivalência no cri- lise do comportamento enfatiza similaridades inte-
tério de demarcação organismo-ambiente já que respécies e escolhe alguns organismos não-huma-
“a pele não é tão importante como uma fronteira” nos (como ratos brancos e pombos) para estudar
(Skinner, 1969, p. 228) e a expressão “emissão” do aspectos do comportamento humano (Harrison,
comportamento não implica que ele exista em al- 1994), por motivos éticos, de custo e de conveni-
gum lugar dentro do organismo antes de ser “emi- ência experimental (Skinner, 1938, 1956/1999a,
tido” (Skinner, 1974, 1989). 1960/1999c). De fato, “. . .o termo organismo esta-
O organismo que se comporta, segunda categoria belece uma categoria que une animais e humanos
mais frequente (19,7%), é compatível com uma de- e, portanto, estabelece a plausibilidade de assumir
finição de organismo enquanto executor (Skinner, atributos similares para ambos” (Danziger, 1997,
1989), o que não necessariamente implica “inicia- p. 53), pois o organismo é um produto da filogê-
ção” do comportamento (e.g., Teixeira, Oliveira, nese, sétima categoria mais recorrente (3,5%), cuja
& Dias, 2005), pois línguas de raiz indo-européia maior concentração de frequência foi em contexto
(como anglófonas e lusófonas) pressupõem agen- de discussão sobre comportamento “inato” e even-
tes para ações, mesmo implicitamente (Carrara tos fisiológicos na descrição do comportamento
& Zilio, 2013b; Hineline, 1980; Morris, 1992), de (Skinner, 1974). Parece haver aqui a pressuposição
modo que é questionável falar de comportamento de que os processos evolutivos culminem num or-
“dos” organismos (Roche & Barnes, 1997). ganismo como uma “pré-pessoa” à espera da ação
Se a escolha de um organismo vivo, quarta cate- diferenciadora de uma história ontogenética em
goria mais frequente (5,3%), como sujeito na aná- meio a outros organismos (Skinner, 1961/1999e,
lise experimental do comportamento não se deve 1974, 1989) – em contraste direto com outras
a critérios taxionômicos, mas pela possibilidade declarações do autor criticando tanto a metáfo-
de gerar fenômenos comportamentais passíveis ra do “armazenamento” de informação nos genes
de uma descrição de relações funcionais (Roche (Skinner, 1981) como a ideia do desenvolvimento
& Barnes, 1997), então não seria necessariamente do organismo como o desenrolar de um plano pré-
contraditório buscar tais fenômenos em organis- -existente nos genes (Skinner, 1989).
As menções ao organismo como máquina, pe- . .o organismo normal é o nexo de um grande núme-
núltima categoria em frequência (0,6%), estavam ro de forças em interação que são individualmente
associadas a discussões sobre o modelo mecânico fracas” (Lewontin, 2000, p. 118), o termo organis-
cartesiano de pessoa e comportamento responden- mo é um nexo de pelo menos 15 diferentes discus-
te (Skinner, 1930/1999d, 1953/2005, 1990). O orga- sões. Dessas, pelo menos três ambivalências teóricas
nismo, então, parece ser algo além da máquina, pois se destacam ao demonstrarem tensões na obra de
exibe mais variabilidade comportamental (operan- Skinner, relativas às relações organismo/ambiente
te) que essa, mas ainda é homogêneo, “simples”, (qual o critério de demarcação entre os dois?), pré-
“inferior”, está aquém da pessoa; falta a ação dife- formacionismo/epigenética (há algo de “acabado”
renciadora das contingências de reforçamento que no produto da filogênese?) e indivíduo/grupo (uma
lhe confere “pessoalidade”, ou seja, a variabilidade sociedade ideal funcionaria como um organismo?).
comportamental associada a fenômenos caros à Cada uma dessas questões mereceria um tratamen-
psicologia, como pensamento e emoções (Skinner, to à parte, e sugerimos que a escolha ou a criação
1953/2005), linguagem (Skinner, 1957) e (des)ajus- de uma definição de organismo deva ser informada
tamento em uma sociedade (Skinner, 1955/1999h). pelo critério de que “uma teoria apropriada deve ser
Dado que o organismo é, às vezes, descrito como capaz de representar a multiplicidade de sistemas
um lugar no qual podem existir diferentes pessoas de respostas. Ela deve fazer algo mais: deve abolir a
(Skinner, 1947/1999b, 1974, 1989), o organismo concepção do indivíduo como um fazedor, como um
é pressuposto como um lugar de unidade. Há um originador da ação” (Skinner (1947/1999b, p. 326):
reflexo dessa premissa nas ocasiões em que era ne- uma definição de organismo deve ser capaz de abar-
cessário descrever o funcionamento de uma socie- car a variabilidade comportamental sem com isso
dade sem desajustados, cujos organismos cooperam pressupor que essa variabilidade tenha como ponto
eficientemente e harmoniosamente; mesmo negan- de origem o próprio organismo.
do uma continuidade causal entre os tipos de com- Por fim, cabe ressaltar que a presente pesquisa
portamento social de humanos e animais (Skinner, possui limitações. Primeiramente, o mecanismo de
1961/1999e), Skinner (1948/1972, 1968/1999f, 1989) busca do programa Mendeley não sinaliza ocorrên-
pressupõe para Walden 2 características semelhantes cias de palavras quando as sílabas estão separadas.
às que são usadas para descrever a “organismalida- Assim, por exemplo, caso as sílabas das palavras
de” de sociedades de insetos eussociais (Pepper & organismo ou organisms estivessem separadas em
Herron, 2008; Queller & Strassman, 2009; West & função de mudança de linha de parágrafos, elas
Kiers, 2009; West, Fisher, Gardner, & Kiers, 2015). não seriam sinalizadas pelo mecanismo de busca
Assim, o organismo individual, nona categoria em e, consequentemente, também não seriam conta-
frequência de ocorrências (2,6%), é tomado como bilizadas na análise. Em segundo lugar, a amostra
analogia de uma sociedade que funciona como um de 8 textos de Skinner talvez não seja representa-
superorganismo, última categoria em ocorrências tiva de toda a extensa produção do autor. Em ou-
(0,2%). Pode ser que algo precise ser dito sobre gru- tras palavras, é necessário estender a análise para
pos (Skinner, 1980), mas não sendo eles que se com- outras obras de Skinner, o que poderia nos dar um
portam e sim organismos em grupos comportando-se quadro mais completo e preciso acerca do uso do
juntos (Skinner, 1953/2005). O problema de explicar termo “organismo”, análise essa que poderá ser rea-
tais fenômenos permanece atual e talvez possa ser lizada em pesquisas futuras. Por fim, cabe ressaltar
abordado mais frutiferamente sem apelo a analogias novamente que a categorização dos contextos de
organísmicas (e.g., Zilio, 2016). ocorrência do termo é um exercício interpretativo
A imagem que então surge do organismo a partir realizado por pesquisadores que possuem histórias
dos textos de Skinner é a de um lócus onde confluem particulares de vida, ou seja, os efeitos produzidos
muitas questões na literatura da análise do compor- pelas obras de Skinner podem ser diversos em lei-
tamento. O termo não surgia sob controle de uma tores com histórias distintas, o que significa que
única discussão (enquanto variável que controlava o outros(as) pesquisadores(as) podem chegar a cate-
comportamento do organismo-autor): assim como “. gorias diferentes a partir da mesma fonte de dados.
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