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Como V. pode crescer tão mais rápido sem todos esses bens físicos?
Há muito menos coisas a gerenciar, menos coisas que podem dar errado. V. não
tem o efeito de arrastar 50.000 pessoas com V. Suponhamos que temos dois
fornecedores fabricando monitores para nós e que um deles perde o pique. É muito mais
fácil conseguirmos extrair mais capacidade do fornecedor restante do que montarmos,
nós mesmos, uma nova fábrica. Se tivéssemos que construir nossas próprias fábricas
para cada componente do sistema, seria simplesmente impossível crescer 57% ao ano.
Eu passaria 500% do meu tempo entrevistando possíveis vice-presidentes porque a
empresa não teria 15.000 empregados, mas sim 80.000.
Indiretamente, empregamos algo em torno disso atualmente. Há, por exemplo,
10.000 técnicos em assistência em campo, que dão assistência aos nossos produtos,
mas só um pequeno número deles trabalha para nós. Eles são contratados de outras
empresas. Mas, pergunte ao cliente: “Quem é aquela pessoa que acaba de consertar seu
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computador?” A grande maioria acha que a pessoa trabalha para nós, o que é ótimo. Isso
faz parte da integração virtual.
Vocês não estão terceirizando sua assistência pós-venda? Isso que V. está
descrevendo é muito diferente de terceirizar?
Terceirizar, pelo menos no mundo da Tecnologia da Informação (TI), é quase
sempre uma maneira de livrar-se de um problema que a empresa não conseguiu resolver
sozinha. O caso clássico é a empresa com 2.000 pessoas no departamento de TI.
Ninguém sabe o que elas fazem e ninguém sabe porque fazem. A solução: terceirizar a TI
para um fornecedor de assistência e esperar que possa resolver o problema. Mas, se
examinarmos o que acontece cinco anos mais tarde, o quadro não é lá muito bom.
Com nossos fornecedores de assistência, estamos trabalhando para estabelecer
medidas de qualidade e, mais importante, construir elos de dados que nos deixem ver em
tempo real como estamos nos saindo – quando as peças são enviadas, por exemplo, ou
quanto tempo leva para responder a um pedido de serviço. Examinamos nossa empresa
e vemos, por exemplo, que nos próximos 10 anos estaremos ganhando muito dinheiro
com computadores notebook. A Dell poderá precisar de 20 milhões de monitores de tela-
plana, e em alguns anos haverá mais demanda que oferta. Em outros anos, haverá mais
oferta que demanda. Algumas empresas estão fazendo investimentos de muitos bilhões
de dólares na fabricação desses monitores.
Então bolamos um pequeno negócio em que o fornecedor concorda em suprir 25%
do volume de monitores que precisamos e, graças ao compromisso de longo prazo que
fazemos com eles, recebemos nossos monitores entra-ano-sai-ano, até quando há mais
demanda do que oferta. O fornecedor acaba se tornando realmente nosso parceiro. Eles
escolhem engenheiros próprios para apoiar a nossa equipe de design, e começamos a
tratá-los como se fizessem parte da empresa. Por exemplo, quando lançamos um novo
produto, os engenheiros deles estão baseados dentro das nossa fábricas. Se um cliente
liga sobre um problema, paramos de mandar o produto enquanto eles consertam falhas
no design em tempo real.
V. fala em mix de clientes. O modelo direto implica alguma estratégia especial com
o cliente?
Se V. tivesse me feito essa pergunta há 12 anos, eu teria dito que não fazíamos
muita distinção entre nosso maior e nosso menor cliente. Hoje, fazemos. Nossa estratégia
com o cliente é uma área em que o modelo evoluiu. Ficamos peritos em desenvolver o
que chamamos negócios “escaláveis”, i.e., aqueles em que podemos aumentar as
receitas mais depressa do que as despesas. Nós realmente cuidamos bem de medidas
financeiras como as margens brutas por segmento da clientela, e nos concentramos em
segmentos aos quais podemos servir de maneira lucrativa à medida que adquirimos
escala. As pessoas às vezes se surpreendem de saber que 90% das nossas vendas vão
para instituições – empresas ou governo – e 70% para clientes muito grandes que
compram, no mínimo, 1 milhão de dólares em PCs por ano.
Quando se está tentando atingir segmentos lucrativos, as médias impedem que se
veja com clareza e demonstrativos financeiros globais não significam grande coisa. Nossa
idéia de segmentação é pegar números realmente grandes e “limpar suas médias”. Até
fazer um exame profundo e entender o que está acontecendo por empresa, por cliente,
por geografia, não se sabe nada. Essa foi uma lição que aprendemos do jeito mais difícil.
Entramos, erradamente, nas vendas a varejo em 1989, achando que nossos negócios
diretos não cresceriam o suficiente, e fomos às mega-lojas de computadores e clubes de
armazéns. Mas quando realmente começamos a entender a lucratividade do segmento,
percebemos que tinha sido um erro, então voltamos atrás.
Durante anos, não fomos atrás do mercado consumidor porque não conseguíamos
atingir nossos objetivos de lucro. Então deixamos que nossos concorrentes
apresentassem máquinas com preços baixíssimos e margens zero. Achamos que eles é
que iriam ensinar sobre PCs aos consumidores, enquanto concentrávamos nossos
esforços em segmentos mais lucrativos. E aí, porque somos diretos e podemos ver quem
está comprando o quê, notamos algo interessante. O preço de venda médio ao
consumidor, do setor, estava baixando mas o nosso estava subindo. Os consumidores
que já estavam comprando sua segunda ou terceira máquina – que queriam as máquinas
mais poderosas e precisavam de muito menos suporte – estavam vindo a nós. E sem
pensar muito nisso, tínhamos um negócio de um bilhão de dólares com os consumidores,
que era rentável. Então decidimos, em 1997, que era hora de dedicarmos um grupo para
servir esse segmento.
O rápido crescimento da Dell nos últimos anos tem sido acompanhado por uma
segmentação cada vez mais fina da clientela. Esse é um elemento importante da
integração virtual da Dell com os clientes. Quanto mais precisa é a segmentação, mais
apta a Dell fica para prever o que os clientes vão precisar e quando. A Dell então
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coordena o fluxo daquelas informações estratégicas de volta aos fornecedores,
substituindo com eficiência estoque por informações.
Então, com o passar do tempo, vocês vão dividindo o mercado em segmentos cada
vez mais precisos?
Sim, por diversos motivos. Um deles é identificar oportunidades e economia
singulares. O outro é uma questão puramente gerencial: não é possível gerenciar bem
uma coisa excessivamente grande. A segmentação melhora nossa atenção e foco (ver
figura “Segmentação de Ciclo-Rápido”).
Cada segmento tem suas próprias questões. Na educação, por exemplo, como
levar suporte técnico a uma sala de aula se o professor não tem telefone? É preciso usar
uma abordagem totalmente diferente. A segmentação permite personalizar os programas
para as necessidades dos clientes. Se V. simplesmente amontoa clientes diferentes
juntos, pode ter certeza que alguns deles ficarão no final da lista de algum gerente, que
talvez jamais consiga resolver os problemas deles. É por isso que servir um segmento é o
único trabalho do gerente.
A maioria dos desafios administrativos na Dell Computer tem a ver com o que chamamos
velocidade – aumentar o ritmo de cada elemento da nossa empresa. Os ciclos de vida na nossa
empresa são medidos em meses, não anos, e se não formos rápidos, estamos fora do jogo.
Gerenciar a velocidade é gerenciar a informação – usando um fluxo constante de informações
para orientar práticas de operação, desde os medidores de desempenho que definimos até a
maneira como trabalhamos com nossos fornecedores.
Medidores de Desempenho.
Na Dell, usamos o balanço e os elementos básicos de P&L numa base mensal, como
ferramentas básicas para administrar as operações. Do balanço, rastreamos três medidas de fluxo
de caixa, muito de perto. Examinamos semanalmente quantos dias de estoque temos, para cada
produto. Podemos então trabalhar de perto com nossos fornecedores para possuirmos o estoque
certo. Quando não temos tudo, podemos usar nosso modelo de vendas diretas para orientar o
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cliente a produtos similares, que efetivamente estejam disponíveis. Assim, usamos informações
de estoque para trabalhar na linha de frente e na retaguarda ao mesmo tempo.
Também controlamos muito rigidamente as contas a receber e a pagar. Isso é básico, mas
consideramos de alta prioridade. A recompensa é que temos um ciclo negativo de conversão de
caixa de cinco dias, i.e., somos pagos antes de termos que pagar aos nossos fornecedores. Como
nossos concorrentes geralmente têm que respaldar seus revendedores oferecendo-lhes crédito, o
modelo direto nos dá uma vantagem de custo natural. E quanto mais pudermos encurtar nosso
ciclo de cobrança, maior nossa vantagem.
Os medidores de desempenho em tempo real no P&L, que consideramos os melhores
indicadores da saúde da empresa, são nossas margens, nosso preço médio de venda, e as
despesas gerais indiretas associadas à venda. Nós dividimos o P&L nesses elementos principais
por segmento da clientela, por produto e por país. Esses medidores podem nos alertar
imediatamente para problemas, por exemplo, com o mix de produtos que está sendo vendido em
qualquer país específico.
Trabalhando com Fornecedores.
O maior desafio no trabalho com os fornecedores é sincronizá-los com o ritmo rápido que
temos que manter. A chave para que funcione é a informação. Fluxos de informação corretos nos
permitem trabalhar com nossos parceiros de modo a aumentar a rapidez, seja diretamente
(melhorando a logística) ou indiretamente (melhorando a qualidade).
Vejamos nossa estratégia de assistência, por exemplo. Os clientes nos pagam por
assistência e suporte e nós contratamos parceiros (terceiros) para que façam as visitas de
assistência técnica. Os clientes nos ligam quando têm problemas e essa chamada inicial
desencadeia dois despachos eletrônicos – um para embarcar as peças necessárias diretamente
da Dell às instalações do cliente e um para enviar os parceiros aos clientes. Nosso papel como
corretores de informação facilita o trabalho dos parceiros, garantindo que as peças necessárias
estarão no local quando eles chegarem.
Mas nosso papel não pára por aí. Devido ao fato de a má qualidade criar atrito no sistema,
o que nos faz andar mais lentamente, queremos captar informações que possam ser usadas para
corrigir problemas, para que não aconteçam mais. Então recolhemos a peça defeituosa para
diagnosticar o que saiu errado, e devolvemos essa informação aos nossos fornecedores para que
possam projetar novamente a peça. Evidentemente, não poderíamos operar desse modo se
estivéssemos lidando com centenas de fornecedores. Então, para nós, trabalhar com um número
pequeno de parceiros é uma das chaves para melhorar a qualidade – e portanto a velocidade – do
nosso sistema. Kevin Rollins é vice-presidente da Dell Computer Corporation.
A medida que sua estratégia com os clientes foi evoluindo, a marca da Dell também
mudou?
Grande parte da nossa marca é ser a maneira mais eficiente e eficaz dos nossos
clientes comprarem tecnologias Intel ou Microsoft. Mas, além disso, estamos evoluindo
para nos tornarmos um selecionador de tecnologia. Muitas vezes falamos aos clientes
sobre “tecnologia relevante”. A Intel e a Microsoft tendem a se lançar numa grande
variedade de coisas, algumas especulativas e destinadas a explorar novas tecnologias.
Nós achamos que é nossa função ajudar nossos clientes a peneirarem a tecnologia
relevante às necessidades de hoje no meio de toda essa tecnologia de ponta.
Como essa estratégia afeta sua própria P&D? Que papel a P&D desempenha na sua
empresa?
Na Dell, acreditamos que o cliente está no controle e que nossa função é pegar
toda a tecnologia que está no mercado e aplicá-la de maneira útil para que satisfaça as
necessidades do cliente. Nós mesmos não estamos tentando inventar nova arquitetura,
mas gastaremos um quarto de bilhão de dólares este ano e empregaremos algo em torno
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de 1500 pessoas para melhorar a experiência do usuário como um todo – isso significa
fornecer a mais recente tecnologia relevante, tornando-a fácil de usar e mantendo os
custos baixos. E, além de escolher a tecnologia adequada, nosso grupo de P&D
concentra-se em aperfeiçoar o processo e a qualidade na fabricação.
Aos 13 anos, Michael Dell era um empresário bem sucedido. Da casa de seus pais em
Houston, Dell dirigia um empreendimento de troca de selos pelo correio. Aos 16, vendia
assinaturas do Houston Post. Dell começou a faculdade preparatória para Medicina, mas
encontrou tempo para montar um negócio vendendo chips de memória e drives de discos
para computadores IBM, do seu quarto no alojamento da Universidade do Texas em
Austin. Dell comprava seus produtos a preço de custo dos vendedores da IBM a quem, na
época, a IBM fazia encomendar grandes cotas de PCs mensalmente, que geralmente
excediam a demanda. Dell revendia seu estoque pelos jornais (e mais tarde pelas revistas
nacionais de computação), Cerca de 10 ou 15% abaixo do preço de varejo.
A empresa de computação de Dell no seu quarto no alojamento da universidade
rendia US$ 80000 por mês no início de 1984, o suficiente para convencê-lo a desistir da
faculdade. Naquela época, começou a fazer e vender seus próprios clones dos
computadores da IBM, com a marca PC’s Limited. Dell vendia suas máquinas diretamente
para os consumidores finais, em vez de vendê-los em lojas como a maioria dos
fabricantes fazia. Eliminando o acréscimo do varejo, Dell podia vender seus PCs por uns
40% do preço de um IBM.
mais
Integração
Michael Dell iniciou uma empresa de computação no seu quarto na faculdade em 1984, a
partir de uma idéia simples: fugir do canal dos revendedores pelo qual os computadores
eram vendidos na época e, em vez disso, vender diretamente ao cliente e fabricar seus
computadores pessoais por encomenda. Essa idéia, hoje chamada modelo de negócios
diretos, eliminou o custo do estoque e as despesas da revenda. O modelo tinha outras
vantagens que não eram visíveis quando Dell fundou sua empresa, a Dell Computer
Corporation. “Você acaba tendo um relacionamento com o cliente”, explica Michael Dell,
“e isso cria informações valiosas que, por sua vez, nos permitem alavancar nossas
relações tanto com os clientes como com os fornecedores. Combinando essas
informações com a tecnologia, temos uma infra-estrutura para revolucionar os modelos de
negócios tradicionais de grandes empresas mundiais”.
O modelo da Dell Computers envolve a fabricação de computadores com base em
componentes disponíveis no mercado. A decisão de não fabricar os componentes liberou
a Dell da carga de possuir bens, dos riscos da pesquisa e desenvolvimento, e de
gerenciar um grande número de empregados. Disseminar o risco do desenvolvimento e
da fabricação entre diversos fornecedores permitiu à Dell crescer muito mais depressa do
que cresceria se essas funções fossem desenvolvidas dentro da empresa.
O uso feito pela Dell de tecnologia e informação para esmaecer as fronteiras
tradicionais na cadeia de fornecimento entre fornecedores, fabricantes e usuários finais foi
denominado integração virtual. Em uma empresa de computadores tradicional, como a
Digital Computer, os processos eram integrados verticalmente, com toda a pesquisa,
desenvolvimento, fabricação e distribuição feitas internamente. Isso permitiu um alto nível
de comunicação e a capacidade de desenvolver produtos com base na interação da
empresa com seus clientes. A desvantagem era o alto risco e os custos do
desenvolvimento, e a propriedade dos bens num setor volátil. Para ter as vantagens de
uma empresa integrada, a Dell trata os fornecedores e prestadores de serviços como se
fossem de dentro da empresa. Seus sistemas são conectados em tempo real ao sistema
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da Dell, e seus empregados participam das equipes de projeto e de lançamentos de
produto. A tecnologia aumenta os incentivos econômicos para colaborar porque possibilita
compartilhar bancos de dados e metodologias de projeto, melhorando o tempo até o
mercado.
A Dell mede a velocidade de estoque, a recíproca do tempo médio que um produto
passa em estoque. Para isso, cada componente é marcado com um carimbo de data.
Acumular estoque no veloz setor de PCs é uma proposta de alto risco já que os
componentes podem ficar obsoletos muito depressa. Em alguns casos, como o dos
monitores da Sony, a Dell não tem o produto em estoque, mas pede que a UPS ou a
Airborne Express apanhe os monitores na fábrica da Sony no México, o computador na
fábrica da Dell em Austin, Texas, combine-os e entregue-os aos clientes. Os fornecedores
da Dell se beneficiam das informações em tempo real sobre demanda, e de um
compromisso da Dell de um determinado nível de compra. Os resultados são
impressionantes. Enquanto a Compaq, IBM e a Hewlett-Packard todas anunciaram
planos, no final de 1998, de copiar partes do modelo da Dell, fazendo vários planos de
fabricar por encomenda, todas tiveram dificuldade de fazer a transição. A maioria está
passando para um nível de estoque-alvo de quatro semanas, enquanto a Dell mantém
apenas oito dias de estoque, o que lhe permite girar o estoque 46 vezes por ano.
Do lado do cliente, a Dell segmentou sua clientela para poder oferecer serviços
com valor agregado a clientes diferentes. A Dell configura os PCs e dá assistência aos
grandes clientes. Coloca também software padrão e placas de patrimônio nas máquinas,
a pedido dos clientes. Para alguns clientes, a Dell tem uma equipe que auxilia na compra
e assistência técnica de PCs, no local do cliente. “A idéia por trás da integração virtual é
que lhe permite conhecer as necessidades do cliente mais rápido e com maior eficiência
do que qualquer outro modelo”. Além disso, permite à Dell ser eficiente e responder às
mudanças, ao mesmo tempo. Passando algum tempo com o cliente e acompanhando as
tendências tecnológicas, a Dell tenta estar alguns passos adiante da mudança, para
poder até mesmo criá-la e moldá-la.