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Prefeitura de Municipal de Campinas do Estado de São Paulo

CAMPINAS - SP
Professor de Educação Básica I - Educação Infantil

JL015-N9
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Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
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OBRA

Prefeitura Municipal de Campinas do Estado de São Paulo

Professor de Educação Básica I - Educação Infantil

Edital Nº 01/2019

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Matemática - Profº Bruno Chieregatti e João de Sá Brasil
Conhecimentos Pedagógicos e Legislação - Profª Ana Maria B. Quiqueto
Legislação Federal - Profª Bruna Pinotti
Legislação Municipal - Prof° Ricardo Razaboni
Conhecimentos Específicos - Profª Ana Maria B. Quiqueto

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Elaine Cristina
Leandro Filho

DIAGRAMAÇÃO
Elaine Cristina
Danna Silva
Thais Regis
Renato Vilela

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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SUMÁRIO
LÍNGUA PORTUGUESA

Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)................................................................................ 01


Sinônimos e antônimos. Sentido próprio e figurado das palavras......................................................................................................... 11
Pontuação...................................................................................................................................................................................................................... 13
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção:
emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem........................................................................................................... 16
Concordância verbal e nominal............................................................................................................................................................................ 57
Regência verbal e nominal...................................................................................................................................................................................... 63
Colocação pronominal............................................................................................................................................................................................. 68
Crase................................................................................................................................................................................................................................ 68

MATEMÁTICA
Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou radiciação
com números racionais, nas suas representações fracionária ou decimal; Mínimo múltiplo comum...................................... 01
Porcentagem................................................................................................................................................................................................................ 09
Razão e proporção..................................................................................................................................................................................................... 12
Regra de três simples................................................................................................................................................................................................ 15
Equação do 1.º grau.................................................................................................................................................................................................. 18
Grandezas e medidas – quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa...................................................... 23
Relação entre grandezas – tabela ou gráfico.................................................................................................................................................. 28
Noções de geometria plana – forma, área, perímetro e Teorema de Pitágoras................................................................................ 44
Raciocínio Lógico: Estruturas lógicas, lógicas de argumentação, diagramas lógicos, sequências............................................. 64

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO


Princípios da prática docente: sociológicos, filosóficos, antropológicos e éticos ............................................................................ 01
História da Educação Brasileira: Escola, Estado e Sociedade ................................................................................................................... 09
Política educacional, estrutura e organização da educação ..................................................................................................................... 13
Currículo: Ciclos de aprendizagem. Currículo e os direitos dos educandos e dos educadores. Currículo e avaliação.
Currículo e projeto pedagógico. Currículo e práticas pedagógicas ...................................................................................................... 13
Gestão Escolar Democrática ................................................................................................................................................................................. 45
Projeto Político Pedagógico ................................................................................................................................................................................. 50
Avaliação Institucional ............................................................................................................................................................................................ 57
Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem ..................................................................................................................................... 67
Educação e Cidadania ............................................................................................................................................................................................. 75
Educação Ambiental ................................................................................................................................................................................................ 78
Princípios e Fundamentos da Educação Inclusiva ........................................................................................................................................ 79
Escola para a educação integral .......................................................................................................................................................................... 89
As dimensões da Tecnologia da Informação e Comunicação na educação ....................................................................................... 98
SUMÁRIO
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Constituição Federal e emendas relacionadas à Educação........................................................................................................................ 01


Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e suas alterações (LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996)............... 11
Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990)............................................................................. 30
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana......................................................................................................................................................................................... 31
Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva Revista da Educação Especial, v. 4, n. 1,
jan./jun. 2007................................................................................................................................................................................................................ 32

LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Lei nº 6.662/91 de 10/10/1991 (Dispõe sobre a criação do Conselho de Escola nas unidades educacionais)..................... 01
Lei nº 8.869 de 24/06/1996 (Dispõe sobre a criação, a composição, as atribuições e o funcionamento do Conselho
Municipal de Educação)........................................................................................................................................................................................... 03
Resolução nº 14/2014, da Secretaria Municipal da Educação – SME - (Estabelece as Diretrizes para a implementação
do processo de Avaliação Interna das Unidades Municipais de Ensino Fundamental e para a Constituição da Comissão
Própria de Avaliação (disponível no Diário Oficial do Município de 24/10/2014)).......................................................................... 04
Lei nº 12.987/2007 (Plano de Cargos e Carreiras do Magistério Municipal)....................................................................................... 06
Lei Complementar nº 57/2014 (Altera dispositivos da Lei nº 12.987/2007)........................................................................................ 06
Portaria SME nº114/2010 (Regimento Escola Comum da Rede Municipal de Ensino de Campinas)............................................. 06
Estatuto do Servidor Público de Campinas – Lei nº 1.399/55 (Artigo 15 e Artigos 184 a 204)................................................... 07
Decreto nº 15.514/06, que dispõe sobre o Programa de Avaliação Probatória do Servidor........................................................ 09
Manual de Ética da Prefeitura Municipal de Campinas – páginas 4 a 27.............................................................................................. 11

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Concepções: de educação, de Educação Infantil, de infância e de criança......................................................................................... 01


Leitura e escrita na Educação Infantil................................................................................................................................................................... 15
Plano de Ação Pedagógica Docente para a Educação Infantil.................................................................................................................. 30
Corporeidade: o corpo criança criador de culturas e conhecimentos.................................................................................................. 32
Os processos de criação no brincar - a constituição do brinquedo......................................................................................................... 32
A exploração e a construção estética das crianças......................................................................................................................................... 55
Os processos de relação com obras de arte e das criações e autoria das crianças, junto às várias formas de expressão
artística existentes: artes visuais, plásticas, literatura, música, dança, teatro, cinema..................................................................... 63
A prática docente: profissional, estética, ética, social, humana e dialógica com o outro................................................................ 65
História da Educação Infantil no Brasil............................................................................................................................................................... 77
Composição de tempos e espaços na Educação Infantil............................................................................................................................. 81
O conhecimento matemático na educação de crianças e suas relações junto às experiências cotidianas............................ 83
SUMÁRIO
Ciências naturais e suas relações com o ambiente, o corpo e o desenvolvimento humano na Educação Infantil............... 104
A Pesquisa e a exploração de novas descobertas na Educação Infantil............................................................................................... 130
Avaliação e registro do processo educacional na Educação Infantil...................................................................................................... 134
Formação continuada de professores e suas relações com o professor pesquisador.................................................................... 136
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil............................................................................................................................. 140
Diretrizes Curriculares da Educação Básica para a Educação Infantil – Município de Campinas....................................................... 161
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA
Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários).................................................................................................. 01
Sinônimos e antônimos. Sentido próprio e figurado das palavras.......................................................................................................................... 11
Pontuação....................................................................................................................................................................................................................................... 13
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção: emprego e
sentido que imprimem às relações que estabelecem.................................................................................................................................................... 16
Concordância verbal e nominal.............................................................................................................................................................................................. 57
Regência verbal e nominal........................................................................................................................................................................................................ 63
Colocação pronominal............................................................................................................................................................................................................... 68
Crase................................................................................................................................................................................................................................................. 68
Compreender significa
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DIVERSOS Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
TIPOS DE TEXTOS (LITERÁRIOS E NÃO O texto diz que...
LITERÁRIOS) É sugerido pelo autor que...
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
ção...
O narrador afirma...
Interpretação Textual
Erros de interpretação
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio-
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de  Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar sai do contexto, acrescentando ideias que não
e decodificar). estão no texto, quer por conhecimento prévio
do tema quer pela imaginação.
Contexto – um texto é constituído por diversas frases.  Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com atenção apenas a um aspecto (esquecendo que
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a um texto é um conjunto de ideias), o que pode
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- ser insuficiente para o entendimento do tema
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre desenvolvido.
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de  Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
seu contexto original e analisada separadamente, poderá contrárias às do candidato, fazendo-o tirar con-
ter um significado diferente daquele inicial. clusões equivocadas e, consequentemente, er-
rar a questão.
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe-
rências diretas ou indiretas a outros autores através de Observação: Muitos pensam que existem a ótica do
citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas em
uma prova de concurso, o que deve ser levado em consi-
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação deração é o que o autor diz e nada mais.
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A par-
tir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fundamen- Coesão e Coerência
tações), as argumentações (ou explicações), que levam ao
esclarecimento das questões apresentadas na prova. Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de
 Identificar os elementos fundamentais de uma ar- um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um
pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o
gumentação, de um processo, de uma época (nes-
que se vai dizer e o que já foi dito.
te caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os
São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre
quais definem o tempo).
eles, está o mau uso do pronome relativo e do prono-
 Comparar as relações de semelhança ou de dife-
me oblíquo átono. Este depende da regência do verbo;
renças entre as situações do texto.
aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer tam-
 Comentar/relacionar o conteúdo apresentado
bém de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
com uma realidade.
semântico, por isso a necessidade de adequação ao an-
 Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. tecedente.
 Parafrasear = reescrever o texto com outras pa- Os pronomes relativos são muito importantes na in-
lavras. terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
Condições básicas para interpretar existe um pronome relativo adequado a cada circunstân-
cia, a saber:
Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literá- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden-
rio (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), leitura te, mas depende das condições da frase.
e prática; conhecimento gramatical, estilístico (qualidades qual (neutro) idem ao anterior.
do texto) e semântico; capacidade de observação e de quem (pessoa)
síntese; capacidade de raciocínio. cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído.
Interpretar/Compreender
LÍNGUA PORTUGUESA

como (modo)
onde (lugar)
Interpretar significa: quando (tempo)
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. quanto (montante)
Através do texto, infere-se que... Exemplo:
É possível deduzir que... Falou tudo QUANTO queria (correto)
O autor permite concluir que... Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
Qual é a intenção do autor ao afirmar que... aparecer o demonstrativo O).

1
Dicas para melhorar a interpretação de textos Sei que a palavra da moda é precocidade, mas eu acre-
dito em conquistas tardias. Elas têm na minha vida um
 Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral gosto especial.
do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos Quando aprendi a guiar, aos 34 anos, tudo se transfor-
candidatos na disputa, portanto, quanto mais infor- mou. De repente, ganhei mobilidade e autonomia. A ci-
mação você absorver com a leitura, mais chances dade, minha cidade, mudou de tamanho e de fisionomia.
terá de resolver as questões. Descer a Avenida Rebouças num táxi, de madrugada, era
 Se encontrar palavras desconhecidas, não inter- diferente – e pior – do que descer a mesma avenida com
rompa a leitura. as mãos ao volante, ouvindo rock and roll no rádio. Pegar
 Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas a estrada com os filhos pequenos revelou-se uma delícia
forem necessárias. insuspeitada.
 Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma Talvez porque eu tenha começado tarde, guiar me pare-
conclusão). ce, ainda hoje, uma experiência incomum. É um ato que,
 Volte ao texto quantas vezes precisar. mesmo repetido de forma diária, nunca se banalizou in-
 Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as teiramente.
do autor. Na véspera do Ano Novo, em Ubatuba, eu fiz outra des-
 Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor coberta temporã.
compreensão. Depois de décadas de tentativas inúteis e frustrantes,
 Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de num final de tarde ensolarado eu conquistei o dom da
cada questão. flutuação. Nas águas cálidas e translúcidas da praia Bra-
 O autor defende ideias e você deve percebê-las. va, sob o olhar risonho da minha mulher, finalmente con-
 Observe as relações interparágrafos. Um parágra- segui boiar.
fo geralmente mantém com outro uma relação de Não riam, por favor. Vocês que fazem isso desde os oito
continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi- anos, vocês que já enjoaram da ausência de peso e esfor-
que muito bem essas relações. ço, vocês que não mais se surpreendem com a sensação
 Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou de balançar ao ritmo da água – sinto dizer, mas vocês se
seja, a ideia mais importante.
esqueceram de como tudo isso é bom.
 Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
Nadar é uma forma de sobrepujar a água e impor-se a
“incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora
ela. Boiar é fazer parte dela – assim como do sol e das
da resposta – o que vale não somente para Interpre-
montanhas ao redor, dos sons que chegam filtrados ao
tação de Texto, mas para todas as demais questões!
ouvido submerso, do vento que ergue a onda e lança
 Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
água em nosso rosto. Boiar é ser feliz sem fazer força, e
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
isso, curiosamente, não é fácil.
 Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
Essa experiência me sugeriu algumas considerações so-
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc.,
chamados vocábulos relatores, porque remetem a bre a vida em geral.
outros vocábulos do texto. Uma delas, óbvia, é que a gente nunca para de apren-
der ou de avançar. Intelectualmente e emocionalmente,
SITES de um jeito prático ou subjetivo, estamos sempre incor-
Disponível em: <http://www.tudosobreconcursos. porando novidades que nos transformam. Somos gene-
com/materiais/portugues/como-interpretar-textos> ticamente elaborados para lidar com o novo, mas não
Disponível em: <http://portuguesemfoco.com/pf/ só. Também somos profundamente modificados por ele.
09-dicas-para-melhorar-a-interpretacao-de-textos-em- A cada momento da vida, quando achamos que tudo já
-provas> aconteceu, novas capacidades irrompem e fazem de nós
Disponível em: <http://www.portuguesnarede. uma pessoa diferente do que éramos. Uma pessoa capaz
com/2014/03/dicas-para-voce-interpretar-melhor-um. de boiar é diferente daquelas que afundam como pedras.
html> Suspeito que isso tenha importância também para os re-
Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/cursinho/ lacionamentos.
questoes/questao-117-portugues.htm> Se a gente não congela ou enferruja – e tem gente que já
está assim aos 30 anos – nosso repertório íntimo tende a
se ampliar, a cada ano que passa e a cada nova relação.
Penso em aprender a escutar e a falar, em olhar o outro,
EXERCÍCIOS COMENTADOS em tocar o corpo do outro com propriedade e deixar-se
tocar sem susto. Penso em conter a nossa própria frustra-
ção e a nossa fúria, em permitir que o parceiro floresça,
LÍNGUA PORTUGUESA

1. (EBSERH – Analista Administrativo – Estatística –


AOCP-2015) em dar atenção aos detalhes dele. Penso, sobretudo, em
conquistar, aos poucos, a ansiedade e insegurança que
O verão em que aprendi a boiar nos bloqueiam o caminho do prazer, não apenas no sen-
Quando achamos que tudo já aconteceu, novas capaci- tido sexual. Penso em estar mais tranquilo na companhia
dades fazem de nós pessoas diferentes do que éramos do outro e de si mesmo, no mundo.
Assim como boiar, essas coisas são simples, mas preci-
IVAN MARTINS sam ser aprendidas.

2
Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar Em “c”: haver sempre tempo para aprender a ser mais
na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você criterioso com seus relacionamentos, a fim de que eles
boia, de vez em quando, morto de medo, sente que pode sejam vividos intensamente = incorreta – ser menos
afundar. É uma experiência que exige, ao mesmo tem- objetivo nos relacionamentos.
po, relaxamento e atenção, e nem sempre essas coisas Em “d”: haver sempre tempo para aprender coisas no-
se combinam. Se a gente se põe muito tenso e cerebral, vas, inclusive agir com o raciocínio nas relações amo-
a relação perde a espontaneidade. Afunda. Mas, largada rosas = incorreta – ser mais emoção.
apenas ao sabor das ondas, sem atenção ao equilíbrio, a Em “e”: ser necessário aprender nos relacionamentos,
relação também naufraga. Há uma ciência sem cálculos porém sempre estando alerta para aquilo de ruim que
que tem de ser assimilada a cada novo amor, por cada pode acontecer = incorreta – estar sempre cuidando,
um de nós. Ela fornece a combinação exata de atenção e não pensando em algo ruim.
relaxamento que permite boiar. Quer dizer, viver de for-
ma relaxada e consciente um grande amor. 2. (BACEN – TÉCNICO – CONHECIMENTOS BÁSICOS –
Na minha experiência, esse aprendizado não se fez ra- ÁREA 1 e 2 – CESPE-2013)
pidamente. Demorou anos e ainda se faz. Talvez porque
eu seja homem, talvez porque seja obtuso para as coi- Uma crise bancária pode ser comparada a um vendaval.
sas do afeto. Provavelmente, porque sofro das limitações Suas consequências sobre a economia das famílias e das
emocionais que muitos sofrem e que tornam as relações empresas são imprevisíveis. Os agentes econômicos rela-
afetivas mais tensas e trabalhosas do que deveriam ser. cionam-se em suas operações de compra, venda e troca
Sabemos nadar, mas nos custa relaxar e ser felizes nas de mercadorias e serviços de modo que cada fato econô-
águas do amor e do sexo. Nos custa boiar. mico, seja ele de simples circulação, de transformação ou
A boa notícia, que eu redescobri na praia, é que tudo se de consumo, corresponde à realização de ao menos uma
aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impos- operação de natureza monetária junto a um intermediário
síveis. financeiro, em regra, um banco comercial que recebe um
Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de me- depósito, paga um cheque, desconta um título ou ante-
lhorar. Mesmo se ela acabou, é certo que haverá outra cipa a realização de um crédito futuro. A estabilidade do
no futuro, no qual faremos melhor: com mais calma, com sistema que intermedeia as operações monetárias, por-
mais prazer, com mais intensidade e menos medo. tanto, é fundamental para a própria segurança e estabili-
O verão, afinal, está apenas começando. Todos os dias se dade das relações entre os agentes econômicos.
A iminência de uma crise bancária é capaz de afetar e
pode tentar boiar.
contaminar todo o sistema econômico, fazendo que os
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-mar-
titulares de ativos financeiros fujam do sistema financeiro
tins/noticia/2014/01/overao-em-que-aprendi-boiar.html
e se refugiem, para preservar o valor do seu patrimônio,
em ativos móveis ou imóveis e, em casos extremos, em
De acordo com o texto, quando o autor afirma que “To-
estoques crescentes de moeda estrangeira. Para se evitar
dos os dias se pode tentar boiar.”, ele refere-se ao fato de
esse tipo de distorção, é fundamental a manutenção da
credibilidade no sistema financeiro. A experiência brasi-
a) haver sempre tempo para aprender, para tentar relaxar leira com o Plano Real é singular entre os países que ado-
e ser feliz nas águas do amor, agindo com mais cal- taram políticas de estabilização monetária, uma vez que a
ma, com mais prazer, com mais intensidade e menos reversão das taxas inflacionárias não resultou na fuga de
medo. capitais líquidos do sistema financeiro para os ativos reais.
b) ser necessário agir com mais cautela nos relaciona- Pode-se afirmar que a estabilidade do Sistema Financei-
mentos amorosos para que eles não se desfaçam. ro Nacional é a garantia de sucesso do Plano Real. Não
c) haver sempre tempo para aprender a ser mais criterio- existe moeda forte sem um sistema bancário igualmente
so com seus relacionamentos, a fim de que eles sejam forte. Não é por outra razão que a Lei n.º 4.595/1964, que
vividos intensamente. criou o Banco Central do Brasil (BACEN), atribuiu-lhe si-
d) haver sempre tempo para aprender coisas novas, in- multaneamente as funções de zelar pela estabilidade da
clusive agir com o raciocínio nas relações amorosas. moeda e pela liquidez e solvência do sistema financeiro.
e) ser necessário aprender nos relacionamentos, porém Atuação do Banco Central na sua função de zelar pela
sempre estando alerta para aquilo de ruim que pode estabilidade do Sistema Financeiro Nacional. Internet: <
acontecer. www.bcb.gov.br > (com adaptações).

Resposta: Letra A. Ao texto: (...) tudo se aprende, Conclui-se da leitura do texto que a comparação entre
mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis. / “crise bancária” e “vendaval” embasa-se na impossibilida-
Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de de de se preverem as consequências de ambos os fenô-
LÍNGUA PORTUGUESA

melhorar = sempre há tempo para boiar (aprender). menos.


Em “a”: haver sempre tempo para aprender, para ten-
tar relaxar e ser feliz nas águas do amor, agindo com ( ) CERTO ( ) ERRADO
mais calma, com mais prazer, com mais intensidade e
menos medo = correta. Resposta: Certo. Conclui-se da leitura do texto que
Em “b”: ser necessário agir com mais cautela nos rela- a comparação entre “crise bancária” e “vendaval” em-
cionamentos amorosos para que eles não se desfaçam basa-se na impossibilidade de se preverem as conse-
= incorreta – o autor propõe viver intensamente. quências de ambos os fenômenos.

3
Voltemos ao texto: Uma crise bancária pode ser com- De acordo com o autor do texto Lastro e o sistema ban-
parada a um vendaval. Suas consequências sobre a cário, a reserva fracional foi criada com o objetivo de
economia das famílias e das empresas são imprevisí- a) tornar ilimitada a produção de dinheiro.
veis. b) proteger os bens dos clientes de bancos.
c) impedir que os bancos fossem à falência.
3. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018) d) permitir o empréstimo de mais dinheiro
e) preservar as economias das pessoas.
Lastro e o Sistema Bancário
Resposta: Letra D. Ao texto: (...) Com o tempo, os
[...] banqueiros se deram conta de que ninguém estava in-
Até os anos 60, o papel-moeda e o dinheiro depositado teressado em trocar dinheiro por ouro e criaram mano-
nos bancos deviam estar ligados a uma quantidade de bras, como a reserva fracional, para emprestar muito
ouro num sistema chamado lastro-ouro. Como esse me- mais dinheiro do que realmente tinham em ouro nos
cofres.
tal é limitado, isso garantia que a produção de dinheiro
Em “a”, tornar ilimitada a produção de dinheiro = in-
fosse também limitada. Com o tempo, os banqueiros
correta
se deram conta de que ninguém estava interessado em
Em “b”, proteger os bens dos clientes de bancos = in-
trocar dinheiro por ouro e criaram manobras, como a
correta
reserva fracional, para emprestar muito mais dinheiro do Em “c”, impedir que os bancos fossem à falência =
que realmente tinham em ouro nos cofres. Nas crises, incorreta
como em 1929, todos queriam sacar dinheiro para pagar Em “d”, permitir o empréstimo de mais dinheiro =
suas contas e os bancos quebravam por falta de fundos, correta
deixando sem nada as pessoas que acreditavam ter suas Em “e”, preservar as economias das pessoas = incorreta
economias seguramente guardadas.
Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o padrão- 4. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018) A
-ouro. Desde então, o dinheiro, na forma de cédulas e leitura do texto permite a compreensão de que
principalmente de valores em contas bancárias, já não
tendo nenhuma riqueza material para representar, é a) as dívidas dos clientes são o que sustenta os bancos.
criado a partir de empréstimos. Quando alguém vai até b) todo o dinheiro que os bancos emprestam é imaginá-
o banco e recebe um empréstimo, o valor colocado em rio.
sua conta é gerado naquele instante, criado a partir de c) quem pede um empréstimo deve a outros clientes.
uma decisão administrativa, e assim entra na economia. d) o pagamento de dívidas depende do “livre-mercado”.
Essa explicação permaneceu controversa e escondida e) os bancos confiscam os bens dos clientes endividados.
por muito tempo, mas hoje está clara em um relatório
do Bank of England de 2014. Resposta: Letra A.
Praticamente todo o dinheiro que existe no mundo é Em “a”, as dívidas dos clientes são o que sustenta os
criado assim, inventado em canetaços a partir da con- bancos = correta
cessão de empréstimos. O que torna tudo mais estra- Em “b”, todo o dinheiro que os bancos emprestam é
nho e perverso é que, sobre esse empréstimo, é cobrada imaginário = nem todo
uma dívida. Então, se eu peço dinheiro ao banco, ele in- Em “c”, quem pede um empréstimo deve a outros
venta números em uma tabela com meu nome e pede clientes = deve ao banco, este paga/empresta a outros
clientes
que eu devolva uma quantidade maior do que essa. Para
Em “d”, o pagamento de dívidas depende do “livre-
pagar a dívida, preciso ir até o dito “livre-mercado” e tra-
-mercado” = não só: (...) preciso ir até o dito “livre-mer-
balhar, lutar, talvez trapacear, para conseguir o dinheiro
cado” e trabalhar, lutar, talvez trapacear.
que o banco inventou na conta de outras pessoas. Esse é
Em “e”, os bancos confiscam os bens dos clientes endi-
o dinheiro que vai ser usado para pagar a dívida, já que a vidados = desde que não paguem a dívida
única fonte de moeda é o empréstimo bancário. No fim,
os bancos acabam com todo o dinheiro que foi inventa- 5. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEIRO
do e ainda confiscam os bens da pessoa endividada cujo GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018) Observe a charge abai-
dinheiro tomei. xo, publicada no momento da intervenção nas atividades
Assim, o sistema monetário atual funciona com uma de segurança do Rio de Janeiro, em março de 2018.
moeda que é ao mesmo tempo escassa e abundante. Es-
cassa porque só banqueiros podem criá-la, e abundante
porque é gerada pela simples manipulação de bancos
LÍNGUA PORTUGUESA

de dados. O resultado é uma acumulação de riqueza e


poder sem precedentes: um mundo onde o patrimônio
de 80 pessoas é maior do que o de 3,6 bilhões, e onde
o 1% mais rico tem mais do que os outros 99% juntos.
[...]
Disponível em https://fagulha.org/artigos/inventan-
do-dinheiro/
Acessado em 20/03/2018

4
Há uma série de informações implícitas na charge; NÃO ram a aceitar a responsabilidade de cuidar do dinheiro de
pode, no entanto, ser inferida da imagem e das frases a seus clientes e a dar recibos escritos das quantias guar-
seguinte informação: dadas. Esses recibos passaram, com o tempo, a servir
como meio de pagamento por seus possuidores, por ser
a) a classe social mais alta está envolvida nos crimes co- mais seguro portá-los do que portar dinheiro vivo. Assim
metidos no Rio; surgiram as primeiras cédulas de “papel moeda”, ou cé-
b) a tarefa da investigação criminal não está sendo bem- dulas de banco; concomitantemente ao surgimento das
-feita; cédulas, a guarda dos valores em espécie dava origem a
c) a linguagem do personagem mostra intimidade com instituições bancárias.
o interlocutor; Casa da Moeda do Brasil: 290 anos de História,
d) a presença do orelhão indica o atraso do local da char- 1694/1984.
ge;
e) as imagens dos tanques de guerra denunciam a pre- Depreende-se do texto que duas características das
sença do Exército. moedas se mantiveram ao longo do tempo: a veiculação
de formas em sua superfície e a associação de seu valor
Resposta: Letra D. monetário a atributos como beleza.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Depreende-se do texto que duas


características das moedas se mantiveram ao longo
do tempo: a veiculação de formas em sua superfície e
a associação de seu valor monetário a atributos como
beleza = errado (é o inverso).
Texto: (...) a associação dos atributos de beleza e ex-
NÃO pode ser inferida da imagem e das frases a se- pressão cultural ao valor monetário das moedas, que
guinte informação: quase sempre, na atualidade, apresentam figuras re-
Em “a”, a classe social mais alta está envolvida nos cri- presentativas da história, da cultura, das riquezas e do
mes cometidos no Rio = inferência correta poder das sociedades.
Em “b”, a tarefa da investigação criminal não está sen-
do bem-feita = inferência correta 7. (Câmara de Salvador-BA – Assistente Legislativo
Em “c”, a linguagem do personagem mostra intimida- Municipal – FGV-2018-adaptada) “Hoje, esse termo
de com o interlocutor = inferência correta denota, além da agressão física, diversos tipos de impo-
Em “d”, a presença do orelhão indica o atraso do local sição sobre a vida civil, como a repressão política, familiar
da charge = incorreta ou de gênero, ou a censura da fala e do pensamento de
Em “e”, as imagens dos tanques de guerra denunciam determinados indivíduos e, ainda, o desgaste causado
a presença do Exército = inferência correta pelas condições de trabalho e condições econômicas”. A
manchete jornalística abaixo que NÃO se enquadra em
6. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – NÍVEL SUPERIOR – nenhum tipo de violência citado nesse segmento é:
CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE-2014)
a) Presa por mensagem racista na internet;
As primeiras moedas, peças representando valores, ge- b) Vinte pessoas são vítimas da ditadura venezuelana;
ralmente em metal, surgiram na Lídia (atual Turquia), no c) Apanhou de policiais por destruir caixa eletrônico;
século VII a.C. As características que se desejava ressaltar d) Homossexuais são perseguidos e presos na Rússia;
eram transportadas para as peças por meio da panca- e) Quatro funcionários ficaram livres do trabalho escravo.
da de um objeto pesado, em primitivos cunhos. Com o
surgimento da cunhagem a martelo e o uso de metais Resposta: Letra C. Em “a”: Presa por mensagem ra-
nobres, como o ouro e a prata, os signos monetários pas- cista na internet = como a repressão política, familiar
saram a ser valorizados também pela nobreza dos metais ou de gênero
neles empregados. Em “b”: Vinte pessoas são vítimas da ditadura vene-
Embora a evolução dos tempos tenha levado à substi- zuelana = como a repressão política, familiar ou de
tuição do ouro e da prata por metais menos raros ou gênero
suas ligas, preservou-se, com o passar dos séculos, a as- Em “c”: Apanhou de policiais por destruir caixa eletrô-
LÍNGUA PORTUGUESA

sociação dos atributos de beleza e expressão cultural ao nico = não consta na Manchete acima
valor monetário das moedas, que quase sempre, na atua- Em “d”: Homossexuais são perseguidos e presos na
lidade, apresentam figuras representativas da história, da Rússia = como a repressão política, familiar ou de gê-
cultura, das riquezas e do poder das sociedades. nero
A necessidade de guardar as moedas em segurança le- Em “e”: Quatro funcionários ficaram livres do traba-
vou ao surgimento dos bancos. Os negociantes de ouro lho escravo = o desgaste causado pelas condições de
e prata, por terem cofres e guardas a seu serviço, passa- trabalho

5
8. (MPE-AL – ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – etc. é chamado à criação de um mundo pacificado, um
ÁREA JURÍDICA – FGV-2018) mundo sob a égide de uma cultura da paz.
Oportunismo à Direita e à Esquerda Mas, o que significa “cultura da paz”?
Construir uma cultura da paz envolve dotar as crianças e
Numa democracia, é livre a expressão, estão garantidos os adultos da compreensão de princípios como liberdade,
o direito de reunião e de greve, entre outros, obedecidas justiça, democracia, direitos humanos, tolerância, igualda-
leis e regras, lastreadas na Constituição. Em um regime de de e solidariedade. Implica uma rejeição, individual e co-
liberdades, há sempre o risco de excessos, a serem devi- letiva, da violência que tem sido percebida na sociedade,
damente contidos e seus responsáveis, punidos, conforme em seus mais variados contextos. A cultura da paz tem de
estabelecido na legislação. procurar soluções que advenham de dentro da(s) socie-
É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos cami- dade(s), que não sejam impostas do exterior.
nhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, da Cabe ressaltar que o conceito de paz pode ser aborda-
ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados em se do em sentido negativo, quando se traduz em um estado
beneficiar do barateamento do combustível. de não guerra, em ausência de conflito, em passividade e
Sempre há, também, o oportunismo político-ideológico
permissividade, sem dinamismo próprio; em síntese, con-
para se aproveitar da crise. Inclusive, neste ano de eleição,
denada a um vazio, a uma não existência palpável, difícil
com o objetivo de obter apoio a candidatos. Não faltam,
de se concretizar e de se precisar. Em sua concepção po-
também, os arautos do quanto pior, melhor, para desgas-
tar governantes e reforçar seus projetos de poder, por mais sitiva, a paz não é o contrário da guerra, mas a prática da
delirantes que sejam. Também aqui vale o que está delimi- não violência para resolver conflitos, a prática do diálogo
tado pelo estado democrático de direito, defendido pelos na relação entre pessoas, a postura democrática frente
diversos instrumentos institucionais de que conta o Estado à vida, que pressupõe a dinâmica da cooperação plane-
– Polícia, Justiça, Ministério Público, Forças Armadas etc. jada e o movimento constante da instalação de justiça.
A greve atravessou vários sinais ao estrangular as vias de Uma cultura de paz exige esforço para modificar o pen-
suprimento que mantêm o sistema produtivo funcionan- samento e a ação das pessoas para que se promova a
do, do qual depende a sobrevivência física da população. paz. Falar de violência e de como ela nos assola deixa
Isso não pode ser esquecido e serve de alerta para que as de ser, então, a temática principal. Não que ela vá ser
autoridades desenvolvam planos de contingência. esquecida ou abafada; ela pertence ao nosso dia a dia e
O Globo, 31/05/2018. temos consciência disso. Porém, o sentido do discurso, a
ideologia que o alimenta, precisa impregná-lo de pala-
“É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos ca- vras e conceitos que anunciem os valores humanos que
minhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, da decantam a paz, que lhe proclamam e promovem. A vio-
ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados em lência já é bastante denunciada, e quanto mais falamos
se beneficiar do barateamento do combustível.” Segundo dela, mais lembramos de sua existência em nosso meio
esse parágrafo do texto, o que “precisa acontecer” é
social. É hora de começarmos a convocar a presença da
paz em nós, entre nós, entre nações, entre povos.
a) manter-se o direito de livre expressão do pensamento.
b) garantir-se o direito de reunião e de greve. Um dos primeiros passos nesse sentido refere-se à ges-
c) lastrear leis e regras na Constituição. tão de conflitos. Ou seja, prevenir os conflitos potencial-
d) punirem-se os responsáveis por excessos. mente violentos e reconstruir a paz e a confiança en-
e) concluírem-se as investigações sobre a greve. tre pessoas originárias de situação de guerra é um dos
exemplos mais comuns a serem considerados. Tal mis-
Resposta: Letra D. Em “a”: manter-se o direito de livre são estende-se às escolas, instituições públicas e outros
expressão do pensamento. = incorreto locais de trabalho por todo o mundo, bem como aos
Em “b”: garantir-se o direito de reunião e de greve. = parlamentos e centros de comunicação e associações.
incorreto Outro passo é tentar erradicar a pobreza e reduzir as de-
Em “c”: lastrear leis e regras na Constituição. = incorreto sigualdades, lutando para atingir um desenvolvimento
Em “d”: punirem-se os responsáveis por excessos. sustentado e o respeito pelos direitos humanos, refor-
Em “e”: concluírem-se as investigações sobre a greve. = çando as instituições democráticas, promovendo a liber-
incorreto dade de expressão, preservando a diversidade cultural e
Ao texto: (...) há sempre o risco de excessos, a serem o ambiente.
devidamente contidos e seus responsáveis, punidos, É, então, no entrelaçamento “paz — desenvolvimento —
conforme estabelecido na legislação. / É o que precisa direitos humanos — democracia” que podemos vislum-
acontecer... = precisa acontecer a punição dos excessos.
brar a educação para a paz.
Leila Dupret. Cultura de paz e ações sócio-educativas:
LÍNGUA PORTUGUESA

9. (PC-MA – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – CES-


PE-2018) desafios para a escola contemporânea. In: Psicol. Esc.
Educ. (Impr.) v. 6, n.º 1. Campinas, jun./2002 (com adap-
Texto CG1A1AAA tações).

A paz não pode ser garantida apenas pelos acordos polí- De acordo com o texto CG1A1AAA, os elementos “ges-
ticos, econômicos ou militares. Cada um de nós, indepen- tão de conflitos” e “erradicar a pobreza” devem ser con-
dentemente de idade, sexo, estrato social, crença religiosa cebidos como

6
a) obstáculos para a construção da cultura da paz.
b) dispensáveis para a construção da cultura da paz.
c) irrelevantes na construção da cultura da paz.
d) etapas para a construção da cultura da paz.
e) consequências da construção da cultura da paz.

Resposta: Letra D. Em “a”: obstáculos para a construção da cultura da paz. = incorreto


Em “b”: dispensáveis para a construção da cultura da paz. = incorreto
Em “c”: irrelevantes na construção da cultura da paz. = incorreto
Em “d”: etapas para a construção da cultura da paz.
Em “e”: consequências da construção da cultura da paz. = incorreto
Ao texto: Um dos primeiros passos nesse sentido refere-se à gestão de conflitos. (...) Outro passo é tentar erradicar a
pobreza e reduzir as desigualdades = etapas para construção da paz.

10. (PC-SP - PAPILOSCOPISTA POLICIAL – VUNESP-2013) Leia o cartum de Jean Galvão

(https://www.facebook.com/jeangalvao.cartunista)

Considerando a relação entre a fala do personagem e a imagem visual, pode-se concluir que o que o leva a pular a
onda é a necessidade de

a) demonstrar respeito às religiões.


b) realizar um ritual místico.
c) divertir-se com os amigos.
d) preservar uma tradição familiar.
e) esquivar-se da sujeira da água.

Resposta: Letra E. Em “a”: demonstrar respeito às religiões. = incorreto


Em “b”: realizar um ritual místico. = incorreto
Em “c”: divertir-se com os amigos. = incorreto
Em “d”: preservar uma tradição familiar. = incorreto
Em “e”: esquivar-se da sujeira da água.
O personagem pula a onda para que não seja atingido pelo lixo que se encontra no mar.

11. (PM-SP - SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR – VUNESP-2015) Leia a tira.


LÍNGUA PORTUGUESA

(Folha de S.Paulo, 02.10.2015. Adaptado)

7
Com sua fala, a personagem revela que

a) a violência era comum no passado.


b) as pessoas lutam contra a violência.
c) a violência está banalizada.
d) o preço que pagou pela violência foi alto.

Resposta: Letra C. Em “a”: a violência era comum no passado. = incorreto


Em “b”: as pessoas lutam contra a violência. = incorreto
Em “c”: a violência está banalizada.
Em “d”: o preço que pagou pela violência foi alto. = incorreto
Infelizmente, a personagem revela que a violência está banalizada, nem há mais “punições” para os agressivos.

12. (PM-SP - ASPIRANTE DA POLÍCIA MILITAR [INTERIOR] – VUNESP-2017) Leia a charge.

(Pancho. www.gazetadopovo.com.br)

É correto associar o humor da charge ao fato de que

a) os personagens têm uma autoestima elevada e são otimistas, mesmo vivendo em uma situação de completo confi-
namento.
b) os dois personagens estão muito bem informados sobre a economia, o que não condiz com a imagem de criminosos.
c) o valor dos cosméticos afetará diretamente a vida dos personagens, pois eles demonstram preocupação com a apa-
rência.
d) o aumento dos preços de cosméticos não surpreende os personagens, que estão acostumados a pagar caro por eles
nos presídios.
e) os preços de cosméticos não deveriam ser relevantes para os personagens, dada a condição em que se encontram.

Resposta: Letra E. Em “a”: os personagens têm uma autoestima elevada e são otimistas, mesmo vivendo em uma
situação de completo confinamento. = incorreto
Em “b”: os dois personagens estão muito bem informados sobre a economia, o que não condiz com a imagem de
criminosos. = incorreto
Em “c”: o valor dos cosméticos afetará diretamente a vida dos personagens, pois eles demonstram preocupação com
a aparência. = incorreto
Em “d”: o aumento dos preços de cosméticos não surpreende os personagens, que estão acostumados a pagar caro
por eles nos presídios. = incorreto
Em “e”: os preços de cosméticos não deveriam ser relevantes para os personagens, dada a condição em que se
encontram.
Pela condição em que as personagens se encontram, o aumento no preço dos cosméticos não os afeta.

13. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR – FGV-2018)


LÍNGUA PORTUGUESA

Texto 1 – Além do celular e da carteira, cuidado com as figurinhas da Copa


Gilberto Porcidônio – O Globo, 12/04/2018

A febre do troca-troca de figurinhas pode estar atingindo uma temperatura muito alta. Preocupados que os mais afoi-
tos pelos cromos possam até roubá-los, muitos jornaleiros estão levando seus estoques para casa quando termina o
expediente. Pode parecer piada, mas há até boatos sobre quadrilhas de roubo de figurinha espalhados por mensagens
de celular.

8
Sobre a estrutura do título dado ao texto 1, a afirmativa Em “c”: a falta de muitas figurinhas no álbum; = incor-
adequada é: reto
Em “d”: a reclamação ser apresentada pelo pai e não
a) as figurinhas da Copa passaram a ocupar o lugar do pelo filho; = incorreto
celular e da carteira nos roubos urbanos; Em “e”: uma criança ajudar a um adulto e não o con-
b) as figurinhas da Copa se somaram ao celular e à car- trário. = incorreto
teira como alvo de desejo dos assaltantes; O humor está no fato de o álbum ser sobre um tema
c) o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros que incomum: assuntos sociais.
vendem as figurinhas da Copa;
d) os ladrões passaram a roubar as figurinhas da Copa 15. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018) Obser-
nas bancas de jornais; ve a charge abaixo.
e) as figurinhas da Copa se transformaram no alvo prin-
cipal dos ladrões.

Resposta: Letra B. Em “a”: as figurinhas da Copa


passaram a ocupar o lugar do celular e da carteira nos
roubos urbanos; = incorreto
Em “b”: as figurinhas da Copa se somaram ao celular e
à carteira como alvo de desejo dos assaltantes;
Em “c”: o alerta dado no título se dirige aos jornaleiros
que vendem as figurinhas da Copa; = incorreto
Em “d”: os ladrões passaram a roubar as figurinhas da
Copa nas bancas de jornais; = incorreto
Em “e”: as figurinhas da Copa se transformaram no
alvo principal dos ladrões. = incorreto
O título do texto já nos dá a resposta: além do celular No caso da charge, a crítica feita à internet é:
e da carteira, ou seja, as figurinhas da Copa também
passaram a ser alvo dos assaltantes. a) a criação de uma dependência tecnológica excessiva;
b) a falta de exercícios físicos nas crianças;
14. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUS- c) o risco de contatos perigosos;
TIÇA AVALIADOR – FGV-2018) d) o abandono dos estudos regulares;
e) a falta de contato entre membros da família.

16. (TJ-SC – ANALISTA ADMINISTRATIVO – FGV-


2018) Observe a charge a seguir:

A charge acima é uma homenagem a Stephen Hawking,


O humor da tira é conseguido através de uma quebra de destacando o fato de o cientista:
expectativa, que é:
a) ter alcançado o céu após sua morte;
a) o fato de um adulto colecionar figurinhas; b) mostrar determinação no combate à doença;
b) as figurinhas serem de temas sociais e não esportivos; c) ser comparado a cientistas famosos;
LÍNGUA PORTUGUESA

c) a falta de muitas figurinhas no álbum; d) ser reconhecido como uma mente brilhante;
d) a reclamação ser apresentada pelo pai e não pelo filho; e) localizar seus interesses nos estudos de Física.
e) uma criança ajudar a um adulto e não o contrário.
Resposta: Letra A. Em “a”: a criação de uma depen-
Resposta: Letra B. Em “a”: o fato de um adulto cole- dência tecnológica excessiva;
cionar figurinhas; = incorreto Em “b”: a falta de exercícios físicos nas crianças; = in-
Em “b”: as figurinhas serem de temas sociais e não correto
esportivos; Em “c”: o risco de contatos perigosos; = incorreto

9
Em “d”: o abandono dos estudos regulares; = incorreto A produção da obra acima, Os Retirantes (1944), foi realiza-
Em “e”: a falta de contato entre membros da família. = da seis anos depois da publicação do romance Vidas Secas.
incorreto Nessa obra, ao abordar a miséria e a seca claramente vis-
Através da fala do garoto chegamos à resposta: de- tas através da representação de uma família de retirantes,
pendência tecnológica - expressa em sua fala. Cândido Portinari

Resposta: Letra D. Em “a”: ter alcançado o céu após a) apresenta uma temática, assim como a descrição dos
sua morte; = incorreto personagens e do ambiente, de forma sutil e dinâmica.
Em “b”: mostrar determinação no combate à doença; b) permite visualizar a degradação da figura humana e o
= incorreto retrato da figura da morte afugentada pelos persona-
Em “c”: ser comparado a cientistas famosos; = incor- gens.
reto c) apresenta elementos físicos presentes no cotidiano dos
Em “d”: ser reconhecido como uma mente brilhante; retirantes vítimas da seca e aspectos relacionados à de-
Em “e”: localizar seus interesses nos estudos de Física. sigualdade social.
= incorreto d) utiliza a linguagem não verbal com o objetivo de cons-
Usemos a fala de Einstein: “a mente brilhante que es- truir uma imagem cuja ênfase mística se opõe aos fatos
távamos esperando”. da realidade observável.

17. (TJ-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FUNÇÃO ADMI- Resposta: Letra C. Em “a”: apresenta uma temática, as-
NISTRATIVA – IBFC-2017) sim como a descrição dos personagens e do ambiente,
de forma sutil e dinâmica.
Texto II Em “b”: permite visualizar a degradação da figura hu-
mana e o retrato da figura da morte afugentada pelos
personagens.
Em “c”: apresenta elementos físicos presentes no coti-
diano dos retirantes vítimas da seca e aspectos relacio-
nados à desigualdade social.
Em “d”: utiliza a linguagem não verbal com o objetivo de
construir uma imagem cuja ênfase mística se opõe aos
fatos da realidade observável.
A obra retrata, de forma nada sutil, os elementos físicos
de uma família vítima da seca.
A observação dos elementos não verbais do texto é res-
ponsável pelo entendimento do humor sugerido. Nesse
Linguagem Verbal e Não Verbal
sentido, a evolução do homem e do computador, através
de tais elementos, deve ser entendida como: O que é linguagem? É o uso da língua como forma de
expressão e comunicação entre as pessoas. A linguagem
a) complementar. não é somente um conjunto de palavras faladas ou escritas,
b) semelhante. mas também de gestos e imagens. Afinal, não nos comuni-
c) conflitante. camos apenas pela fala ou escrita, não é verdade?
d) antitética. Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem a
e) idealizada. analogia ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem utilizar
o verbo? Se não, tente, e verá que é impossível se ter algo
Resposta: Letra D. As imagens mostram um con- fundamentado e coerente! Assim, a linguagem verbal é a
traste entre o desenvolvimento do computador e do que utiliza palavras quando se fala ou quando se escreve.
homem; enquanto aquele vai se tornando mais “fino, A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da verbal,
elegante”, este fica sedentário, engorda. A palavra “an- não utiliza vocábulo, palavras para se comunicar. O objeti-
titética” significa “oposta, oposição”. vo, neste caso, não é de expor verbalmente o que se quer
dizer ou o que se está pensando, mas se utilizar de outros
18. (TRF-2.ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA meios comunicativos, como: placas, figuras, gestos, objetos,
ADMINISTRATIVA – CONSULPLAN-2017) cores, ou seja, dos signos visuais.
Vejamos: um texto narrativo, uma carta, o diálogo, uma
entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou televisiona-
do, um bilhete? = Linguagem verbal!
LÍNGUA PORTUGUESA

Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de fu-


tebol, o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança, o
aviso de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identificação
de “feminino” e “masculino” através de figuras na porta do
banheiro, as placas de trânsito? = Linguagem não verbal!
A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao
mesmo tempo, como nos casos das charges, cartoons e
anúncios publicitários.

10
Alguns exemplos: B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di-
Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol. ferentes na escrita:
Placas de trânsito. acender (atear) e ascender (subir); concertar (harmoni-
Imagem indicativa de “silêncio”. zar) e consertar (reparar); cela (compartimento) e sela (ar-
Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”. reio); censo (recenseamento) e senso (juízo); paço (palácio)
e passo (andar).
SITE
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/redacao/ C) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou
linguagem.htm> perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e cedo
(adv.); livre (adj.) e livre (verbo).
SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS. SENTIDO  Parônimos = palavras com sentidos diferentes,
PRÓPRIO E FIGURADO DAS PALAVRAS porém de formas relativamente próximas. São pa-
lavras parecidas na escrita e na pronúncia: cesta
(receptáculo de vime; cesta de basquete/esporte) e
Semântica é o estudo da significação das palavras e das sesta (descanso após o almoço), eminente (ilustre)
suas mudanças de significação através do tempo ou em e iminente (que está para ocorrer), osso (substan-
determinada época. A maior importância está em distin- tivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/ou verbo
guir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e ho- “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento
mônimos e parônimos (homonímia / paronímia). (medida) e cumprimento (saudação), autuar (pro-
cessar) e atuar (agir), infligir (aplicar pena) e infringir
1. Sinônimos (violar), deferir (atender a) e diferir (divergir), suar
(transpirar) e soar (emitir som), aprender (conhecer)
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto - e apreender (assimilar; apropriar-se de), tráfico (co-
abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir. mércio ilegal) e tráfego (relativo a movimento, trân-
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são sito), mandato (procuração) e mandado (ordem),
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara emergir (subir à superfície) e imergir (mergulhar,
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quando, afundar).
ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela outra,
em determinado enunciado (aguadar e esperar). 4. Hiperonímia e Hiponímia
Observação:
Hipônimos e hiperônimos são palavras que perten-
A contribuição greco-latina é responsável pela exis-
cem a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o
tência de numerosos pares de sinônimos: adversário e
antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemiciclo; hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o hipe-
contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diálogo; rônimo, mais abrangente.
transformação e metamorfose; oposição e antítese. O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipô-
nimo, criando, assim, uma relação de dependência se-
2. Antônimos mântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de hi-
peronímia com carros, já que veículos é uma palavra de
São palavras que se opõem através de seu significado: significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões.
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar; Veículos é um hiperônimo de carros.
mal - bem. Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
Observação: zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita
A antonímia pode se originar de um prefixo de sen- a repetição desnecessária de termos.
tido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático e
antipático; progredir e regredir; concórdia e discórdia; ativo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e inativo; esperar e desesperar; comunista e anticomunista; SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
simétrico e assimétrico.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
3. Homônimos e Parônimos
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
 Homônimos = palavras que possuem a mesma Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
LÍNGUA PORTUGUESA

grafia ou a mesma pronúncia, mas significados dife-


rentes. Podem ser ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua
A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife- Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
rentes na pronúncia:
rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher SITE
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.) e de- http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-
nuncia (verbo); providência (subst.) e providencia (verbo). -antonimos,-homonimos-e-paronimos

11
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Exemplos de variação no significado das palavras: Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
literal) reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido Paulo: Saraiva, 2010.
figurado)
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figura- SITE
do) http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denotacao/
As variações nos significados das palavras ocasionam
o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo POLISSEMIA
(conotação) das palavras.
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
A) Denotação multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando
mas que abarca um grande número de significados den-
apresenta seu significado original, independentemente
tro de seu próprio campo semântico.
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu signifi-
Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
cado mais objetivo e comum, aquele imediatamente
cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro signi- algo. Possibilidades de várias interpretações levando-se
ficado que aparece nos dicionários, sendo o significado em consideração as situações de aplicabilidade. Há uma
mais literal da palavra. infinidade de exemplos em que podemos verificar a ocor-
A denotação tem como finalidade informar o recep- rência da polissemia:
tor da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo O rapaz é um tremendo gato.
um caráter prático. É utilizada em textos informativos, O gato do vizinho é peralta.
como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bu- Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
las de medicamentos, textos científicos, entre outros. A Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
palavra “pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é sobrevivência
apenas um pedaço de madeira. Outros exemplos: O passarinho foi atingido no bico.
O elefante é um mamífero.
As estrelas deixam o céu mais bonito! Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em
B) Conotação comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
interpretações, dependendo do contexto em que este- “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o
ja inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias formato quadriculado que têm.
que vão além do sentido original da palavra, ampliando
sua significação mediante a circunstância em que a mes- 1. Polissemia e homonímia
ma é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbó-
lico. Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
conotativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau), comum. Quando a mesma palavra apresenta vários sig-
nificados, estamos na presença da polissemia. Por outro
reprovação (tomei pau no concurso).
lado, quando duas ou mais palavras com origens e sig-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen-
nificados distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos
tos no receptor da mensagem, através da expressividade
uma homonímia.
e afetividade que transmite. É utilizada principalmente
A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
numa linguagem poética e na literatura, mas também
significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em polissemia porque os diferentes significados para a palavra
anúncios publicitários, entre outros. Exemplos: “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra polis-
Você é o meu sol! sêmica: pode significar o elemento básico do alfabeto, o tex-
Minha vida é um mar de tristezas. to de uma canção ou a caligrafia de um determinado indiví-
Você tem um coração de pedra! duo. Neste caso, os diferentes significados estão interligados
porque remetem para o mesmo conceito, o da escrita.
LÍNGUA PORTUGUESA

#FicaDica 2. Polissemia e ambiguidade


Procure associar Denotação com Dicionário:
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
trata-se de definição literal, quando o termo
interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
é utilizado com o sentido que consta no di-
ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
cionário.
ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação
específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio)
em uma frase. Vejamos a seguinte frase:

12
Pessoas que têm uma alimentação equilibrada fre- Resposta: Letra E. “o país teve de recorrer a um pro-
quentemente são felizes. grama de racionamento”. Assinale a opção que apre-
Neste caso podem existir duas interpretações diferen- senta a forma de reescrever esse segmento, QUE
tes: ALTERA O SEU SENTIDO ORIGINAL.
As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli- Em “a”: O Brasil foi obrigado a recorrer a um progra-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada. ma de racionamento = mesmo sentido.
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela Em “b”: O país teve como recurso recorrer a um pro-
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma inter- grama de racionamento = mesmo sentido.
pretação. Para fazer a interpretação correta é muito im- Em “c”: O Brasil foi levado a recorrer a um programa
portante saber qual o contexto em que a frase é proferida. de racionamento = mesmo sentido.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Em “d”: O país obrigou‐se a recorrer a um programa
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, de racionamento = mesmo sentido.
comicidade. Repare na figura abaixo:
Em “e”: O Brasil optou por um programa de raciona-
mento = mudança de sentido (segundo o enunciado,
o país não teve outra opção a não ser recorrer. Na
alternativa, provavelmente havia outras opções, e o
país escolheu a de “recorrer”).

PONTUAÇÃO.

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que


(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- servem para compor a coesão e a coerência textual, além
-cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
mas duas seriam: depende, em certos momentos, da intenção do autor
Corte e coloração capilar do discurso. Assim, os sinais de pontuação estão direta-
ou mente relacionados ao contexto e ao interlocutor.
Faço corte e pintura capilar
1. Principais funções dos sinais de pontuação
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- A) Ponto (.)
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São  Indica o término do discurso ou de parte dele,
Paulo: Saraiva, 2010. encerrando o período.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa  Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final
de período, este não receberá outro ponto; neste
SITE caso, o ponto de abreviatura marca, também, o
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.
fim de período. Exemplo: Estudei português, mate-
htm
márica, constitucional, etc. (e não “etc..”)
 Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego
do ponto, assim como após o nome do autor de
EXERCÍCIO COMENTADO uma citação:
Haverá eleições em outubro
1. (SUSAM-AM – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napo-
FGV – 2014) “o país teve de recorrer a um programa de ra- leão Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
cionamento”. Assinale a opção que apresenta a forma de  Os números que identificam o ano não utili-
reescrever esse segmento, que altera o seu sentido original. zam ponto nem devem ter espaço a separá-los,
bem como os números de CEP: 1975, 2014, 2006,
a) O Brasil foi obrigado a recorrer a um programa de 17600-250.
racionamento.
LÍNGUA PORTUGUESA

b) O país teve como recurso recorrer a um programa de B) Ponto e Vírgula (;)


racionamento.
c) O Brasil foi levado a recorrer a um programa de racio-
 Separa várias partes do discurso, que têm a mes-
namento.
ma importância: “Os pobres dão pelo pão o traba-
d) O país obrigou‐se a recorrer a um programa de racio-
lho; os ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos
namento.
generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum espí-
e) O Brasil optou por um programa de racionamento.
rito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)

13
 Separa partes de frases que já estão separadas Usa-se a vírgula:
por vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor;
outros, montanhas, frio e cobertor. 1. Para marcar intercalação:
 Separa itens de uma enumeração, exposição de A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua
motivos, decreto de lei, etc. abundância, vem caindo de preço.
Ir ao supermercado; B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão
Pegar as crianças na escola; produzindo, todavia, altas quantidades de alimen-
Caminhada na praia; tos.
Reunião com amigos. C) das expressões explicativas ou corretivas: As in-
dústrias não querem abrir mão de suas vantagens,
C) Dois pontos (:) isto é, não querem abrir mão dos lucros altos.
 Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio
Coutinho trata este assunto: 2. Para marcar inversão:
A) do adjunto adverbial (colocado no início da ora-
 Antes de um aposto = Três coisas não me agra-
ção): Depois das sete horas, todo o comércio está de
dam: chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
portas fechadas.
 Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vi-
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
vendo a rotina de sempre. C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15
 Em frases de estilo direto de maio de 1982.
Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão? 3. Para separar entre si elementos coordenados
(dispostos em enumeração):
D) Ponto de Exclamação (!) Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
 Usa-se para indicar entonação de surpresa, cóle- A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e ani-
ra, susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me mais.
casar com você! 4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós que-
 Depois de interjeições ou vocativos remos comer pizza; e vocês, churrasco.
Ai! Que susto!
João! Há quanto tempo! 5. Para isolar:
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole bra-
E) Ponto de Interrogação (?) sileira, possui um trânsito caótico.
 Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres. B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
vedo) Observações:
Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres-
F) Reticências (...) são latina et coetera, que significa “e outras coisas”, seria
 Indica que palavras foram suprimidas: Comprei dispensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o
lápis, canetas, cadernos... acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empre-
 Indica interrupção violenta da frase: “- Não... que- guemos etc. predecido de vírgula: Falamos de política,
ro dizer... é verdad... Ah!” futebol, lazer, etc.
 Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este As perguntas que denotam surpresa podem ter com-
binados o ponto de interrogação e o de exclamação:
mal... pega doutor?
Você falou isso para ela?!
 Indica que o sentido vai além do que foi dito: Dei-
xa, depois, o coração falar...
Temos, ainda, sinais distintivos:
 a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), se-
G) Vírgula (,) paração de siglas (IOF/UPC);
 os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas
Não se usa vírgula pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira
Separando termos que, do ponto de vista sintático, opção aos parênteses, principalmente na matemá-
ligam-se diretamente entre si: tica;
 o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a
1. Entre sujeito e predicado: uma nota de rodapé ou no fim do livro, para subs-
Todos os alunos da sala foram advertidos.
LÍNGUA PORTUGUESA

tituir um nome que não se quer mencionar.


Sujeito predicado
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. Entre o verbo e seus objetos: Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
O trabalho custou sacrifício aos reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
realizadores. Paulo: Saraiva, 2010.
V.T.D.I. O.D. O.I. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

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SITE 2. (SERES-PE – AGENTE DE SEGURANÇA PENITEN-
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ CIÁRIA – CESPE – 2017 – ADAPTADA)
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-vir-
gula.htm Texto 1A1AAA

Após o processo de redemocratização, com o fim da di-


tadura militar, em meados da década de 80 do século
EXERCÍCIOS COMENTADOS passado, era de se esperar que a democratização das
instituições tivesse como resultado direto a consolidação
1. (STJ – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR- da cidadania — compreendida de modo amplo, abran-
GO 1 – CESPE – 2018 – ADAPTADA) gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e
sociais. Sobressaem, porém, problemas que configuram
Texto CB1A1CCC mais desafios para a cidadania brasileira, como a violên-
cia urbana — que ameaça os direitos individuais — e o
As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes re- desemprego — que ameaça os direitos sociais.
velaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir
relatos de sofrimento, dor, angústia que se transporta- de 1980, impacto do processo de modernização pelo
vam da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para mi- qual o país passou. Isso sugere que o boom do consumo
nha cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles colocou em circulação bens de alto valor e, consequente-
relatos sofridos, aflitos. As angústias dos que se senta- mente, aumentou as oportunidades para o crime, inclusi-
vam à minha frente, por diversas vezes, me escoltaram ve porque a maior mobilidade de pessoas torna o espaço
até minha casa e passaram a ser companheiras de noites social mais anônimo, menos supervisionado.
de insônia. Não havia outra solução a não ser escrever. Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais
Era preciso colocar no papel e compartilhar a dor da- dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade.
quelas pessoas que, mesmo ao fim do processo e com a O objetivo em relação à criminalidade torna-se bem me-
sentença prolatada, não me deixavam esquecê-las. nos ambicioso: o controle. A prisão ganha mais impor-
Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, fi-
tância na modernidade tardia, porque satisfaz uma dupla
lhas, esposas, namoradas, companheiras, todas tendo
necessidade dessa nova cultura: castigo e controle do
em comum a violência no corpo e na alma sofrida den-
risco. Essa postura às vezes proporciona controle, porém
tro de casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro
não segurança, pois o Estado tem o poder limitado de
para essas mulheres, havia se transformado no pior dos
manter a ordem por meio da polícia, sendo necessário
mundos.
dividir as tarefas de controle com organizações locais e
Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sen-
com a comunidade.
tavam à minha frente, os relatos se transformavam em
Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem pú-
desabafos de uma vida inteira. Era preciso explicar, justi-
ficar e muitas vezes se culpar por terem sido agredidas. blica e garantia dos direitos individuais: os desafios da
A culpa por ter sido vítima, a culpa por ter permitido, a polícia em sociedades democráticas. In: Revista Brasilei-
culpa por não ter sido boa o suficiente, a culpa por não ra de Segurança Pública. São Paulo, ano 5, 8.ª ed., fev. –
ter conseguido manter a família. Sempre a culpa. mar./2011, p. 84-5 (com adaptações).
Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma
força externa como se somente nós, juízes, promotores No primeiro parágrafo do texto 1A1AAA, os dois-pontos
e advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ci- introduzem
clo de violência, mas também lhes dar voz para reagir
àquela violência invisível. a) uma enumeração das “categorias de direitos”.
Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias b) resultados da “consolidação da cidadania”.
além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com c) um contra-argumento para a ideia de cidadania como
adaptações). algo “amplo”.
O trecho “juízes, promotores e advogados” explica o d) uma generalização do termo “direitos”.
sentido de “nós”. e) objetivos do “processo de redemocratização”.

( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Letra A. Recorramos ao texto (faça isso


SEMPRE durante seu concurso. O texto é a base para
Resposta: Certo. Ao trecho: (...) Aquelas mulheres encontrar as respostas para as questões!): (...) abran-
chegavam à Justiça buscando uma força externa como gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e
sociais. Os dois-pontos introduzem a enumeração dos
LÍNGUA PORTUGUESA

se somente nós, juízes, promotores e advogados, pu-


déssemos não apenas cessar aquele ciclo de violência direitos; apresenta-os.
(...). Os termos entre vírgulas servem para exemplificar
quem são os “nós” citados pela autora (juízes, promo- 3. (ANEEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE –
tores, advogados). 2010) Vão surgindo novos sinais do crescente otimismo
da indústria com relação ao futuro próximo. Um deles
refere-se às exportações. “O comércio mundial já está
voltando a se abrir para as empresas”, diz o gerente exe-

15
cutivo de pesquisas da Confederação Nacional da Indús-
tria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar a melhora CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO,
das expectativas dos industriais com relação ao mercado ADJETIVO, NUMERAL, PRONOME, VERBO,
externo. ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO E CONJUNÇÃO:
Quanto ao mercado interno, as expectativas da indústria EMPREGO E SENTIDO QUE IMPRIMEM ÀS
não se modificaram. Mas isso não é um mau sinal, pois
RELAÇÕES QUE ESTABELECEM.
elas já eram francamente otimistas. Há algum tempo, a
pesquisa da CNI, realizada mensalmente a partir de 2010,
registra grande otimismo da indústria com relação à de-
manda interna. Trata-se de um sentimento generalizado. Adjetivo
Em todos os setores industriais, a expressiva maioria dos
entrevistados acredita no aumento das vendas internas. É a palavra que expressa uma qualidade ou caracterís-
O Estado de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adapta- tica do ser e se relaciona com o substantivo, concordando
ções). com este em gênero e número.
As praias brasileiras estão poluídas.
O nome próprio “Renato da Fonseca” está entre vírgulas Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos
por tratar-se de um vocativo. (plural e feminino, pois concordam com “praias”).

( ) CERTO ( ) ERRADO 1. Locução adjetiva


Locução = reunião de palavras. Sempre que são neces-
Resposta: Errado. Recorramos ao texto (lembre-se de sárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma coisa,
fazer a mesma coisa no dia do seu concurso!): (...) diz o tem-se locução. Às vezes, uma preposição + substantivo tem
gerente executivo de pesquisas da Confederação Nacio- o mesmo valor de um adjetivo: é a Locução Adjetiva (expres-
nal da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar são que equivale a um adjetivo). Por exemplo: aves da noite
a melhora das expectativas. O termo em destaque não (aves noturnas), paixão sem freio (paixão desenfreada).
está exercendo a função de vocativo, já que não é uti-
lizado para evocar, chamar o interlocutor do diálogo. Observe outros exemplos:
Sua função é de aposto – explicar quem é o gerente
executivo da CNI. de águia aquilino
4. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO DO de aluno discente
TRABALHO – CESPE – 2014 – ADAPTADA) A correção de anjo angelical
gramatical do trecho “Entre as bebidas alcoólicas, cerve-
jas e vinhos são as mais comuns em todo o mundo” seria de ano anual
prejudicada, caso se inserisse uma vírgula logo após a de aranha aracnídeo
palavra “vinhos”.
de boi bovino
( ) CERTO ( ) ERRADO de cabelo capilar
de cabra caprino
Resposta: Certo. Não se deve colocar vírgula entre
sujeito e predicado, a não ser que se trate de um apos- de campo campestre ou rural
to (1), predicativo do sujeito (2), ou algum termo que de chuva pluvial
requeira estar separado entre pontuações. Exemplo: O
de criança pueril
Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa!
Os meninos, ansiosos (2), chegaram! de dedo digital
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo
de farinha farináceo
de fera ferino
de ferro férreo
de fogo ígneo
de garganta gutural
LÍNGUA PORTUGUESA

de gelo glacial
de guerra bélico
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal

16
de lago lacustre
de leão leonino
de lebre l eporino
de lua lunar ou selênico
de madeira lígneo
de mestre magistral
de ouro áureo
de paixão passional
de pâncreas pancreático
de porco suíno ou porcino
dos quadris ciático
de rio fluvial
de sonho onírico
de velho senil
de vento eólico
de vidro vítreo ou hialino
de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico

Observação:
Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo correspondente, com o mesmo significado: Vi as alunas da 5ª série.
/ O muro de tijolos caiu.

2. Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):


O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto).

3. Adjetivo Pátrio (ou gentílico)


Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe alguns deles:

Estados e cidades brasileiras:

Alagoas alagoano
Amapá amapaense
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
Campinas campineiro ou campinense
LÍNGUA PORTUGUESA

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4. Adjetivo Pátrio Composto
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:
África afro- / Cultura afro-americana
Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

5. Flexão dos adjetivos


O adjetivo varia em gênero, número e grau.

6. Gênero dos Adjetivos


Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos
substantivos, classificam-se em:

A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano,
a moça norte-americana.
Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

7. Número dos Adjetivos

A) Plural dos adjetivos simples


Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos subs-
tantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra
que estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a
palavra cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo.
Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).

B) Adjetivo Composto
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas o últi-
mo elemento concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso um dos
elementos que formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará invariável.
LÍNGUA PORTUGUESA

Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará
como adjetivo. Caso se ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um substantivo adjeti-
vado, o adjetivo composto inteiro ficará invariável. Veja:
Camisas rosa-claro.
Ternos rosa-claro.
Olhos verde-claros.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.

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Observação: Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer  Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre in- exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
variáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vesti-
dos cor-de-rosa. Observe alguns superlativos sintéticos:
O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele-
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. benéfico - beneficentíssimo

8. Grau do Adjetivo bom - boníssimo ou ótimo


Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a in- comum - comuníssimo
tensidade da qualidade do ser. São dois os graus do ad- cruel - crudelíssimo
jetivo: o comparativo e o superlativo.
difícil - dificílimo
A) Comparativo doce - dulcíssimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica
fácil - facílimo
atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais caracte-
rísticas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser fiel - fidelíssimo
de igualdade, de superioridade ou de inferioridade.
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade
No comparativo de igualdade, o segundo termo da de um ser é intensificada em relação a um conjunto de
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto seres. Essa relação pode ser:
ou quão.  De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
todas.
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Su-  De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
perioridade todas.

Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de In- O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,
ferioridade
antepostos ao adjetivo.
O superlativo absoluto sintético se apresenta sob
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de
duas formas: uma erudita - de origem latina – e outra
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São popular - de origem vernácula. A forma erudita é cons-
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/supe- tituída pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos
rior, grande/maior, baixo/inferior. -íssimo, -imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo;
a popular é constituída do radical do adjetivo português
Observe que: + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
 As formas menor e pior são comparativos de su- Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo com
perioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os terminados em
mau, respectivamente. –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio – cheíssimo.
 Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
(melhor, pior, maior e menor), porém, em compa- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
rações feitas entre duas qualidades de um mesmo Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
elemento, deve-se usar as formas analíticas mais reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
bom, mais mau,mais grande e mais pequeno. Por Paulo: Saraiva, 2010.
exemplo: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
elementos. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
duas qualidades de um mesmo elemento.
Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In- SITE
ferioridade http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
Sou menos passivo (do) que tolerante. morf32.php

B) Superlativo Advérbio
O superlativo expressa qualidades num grau muito
LÍNGUA PORTUGUESA

Compare estes exemplos:


elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou rela-
O ônibus chegou.
tivo e apresenta as seguintes modalidades:
O ônibus chegou ontem.
B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a quali-
dade de um ser é intensificada, sem relação com outros Advérbio é uma palavra invariável que modifica o
seres. Apresenta-se nas formas: sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de
 Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e
palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). do próprio advérbio.

19
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei temente, entrementes, imediatamente, primeira-
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio mente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
(bem) à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um ad- quando, de quando em quando, a qualquer mo-
jetivo (claros) mento, de tempos em tempos, em breve, hoje em
dia.
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acres- C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, de-
centar ideia de: pressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às cla-
Tempo: Ela chegou tarde. ras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos
Lugar: Ele mora aqui. poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em
Modo: Eles agiram mal. geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
Negação: Ela não saiu de casa. vão e a maior parte dos que terminam em “-men-
Dúvida: Talvez ele volte. te”: calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente, escan-
1. Flexão do Advérbio dalosamente, bondosamente, generosamente.
D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto,
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- efetivamente, certo, decididamente, deveras, indu-
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, bitavelmente.
porém, admitem a variação em grau. Observe: E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
A) Grau Comparativo F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, pro-
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo vavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo,
modo que o comparativo do adjetivo:
quem sabe.
 de igualdade: tão + advérbio + quanto (como):
G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em ex-
Renato fala tão alto quanto João.
cesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto,
 de inferioridade: menos + advérbio + que (do
quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo,
que): Renato fala menos alto do que João.
nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,
 de superioridade:
extremamente, intensamente, grandemente, bem
A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
(quando aplicado a propriedades graduáveis).
fala mais alto do que João.
A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
fala melhor que João. mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
Brando, o vento apenas move a copa das árvores.
B) Grau Superlativo I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, tam-
O superlativo pode ser analítico ou sintético: bém. Por exemplo: O indivíduo também amadurece
B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: Re- durante a adolescência.
nato fala muito alto. J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
de modo aos meus amigos por comparecerem à festa.
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala al-
tíssimo. Saiba que:
Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se
Observação: ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei
As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
comuns na língua popular. tarde possível.
Maria mora pertinho daqui. (muito perto) Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
A criança levantou cedinho. (muito cedo) em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu
calma e respeitosamente.
3. Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido
2. Classificação dos Advérbios
Há palavras como muito, bastante, que podem apare-
De acordo com a circunstância que exprime, o advér- cer como advérbio e como pronome indefinido.
bio pode ser de:
A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, aco-
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
lá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde,
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, de-
LÍNGUA PORTUGUESA

Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo


fronte, nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures,
e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
aquém, embaixo, externamente, à distância, à dis-
tância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à
esquerda, ao lado, em volta.
B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constan-

20
Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
#FicaDica adverbial desempenham na oração a função de adjunto
adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
Como saber se a palavra bastante é advérbio cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advér-
(não varia, não se flexiona) ou pronome bio. Exemplo:
indefinido (varia, sofre flexão)? Se der, na Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
frase, para substituir o “bastante” por “muito”, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
estamos diante de um advérbio; se der para Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
substituir por “muitos” (ou muitas), é um dade e de tempo, respectivamente.
pronome. Veja:
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
2. Estudei bastantes capítulos para o concurso. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
(estudei muitos capítulos) = pronome indefinido Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
4. Advérbios Interrogativos SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referen- SITE
tes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf75.php

Interrogação Direta Interrogação Indireta Artigo


Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
Onde mora? Indaguei onde morava.
-se como o termo variável que serve para individualizar
Por que choras? Não sei por que choras. ou generalizar o substantivo, indicando, também, o gê-
Aonde vai? Perguntei aonde ia. nero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
Donde vens? Pergunto donde vens. riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
Quando voltas? Pergunto quando voltas. “uma”[s] e “uns]).

5. Locução Adverbial A) Artigos definidos – São usados para indicar se-


res determinados, expressos de forma individual: O
Quando há duas ou mais palavras que exercem fun- concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam
ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode muito.
expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordi- B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de
nariamente por uma preposição. Veja: modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprova-
A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, da! Umas candidatas foram aprovadas!
para dentro, por aqui, etc.
B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc. 1. Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão,
em geral, frente a frente, etc. Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do
numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal con-
D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
teúdo.
hoje em dia, nunca mais, etc.
Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos)
admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo,
Janeiro, Veneza, A Bahia...
o adjetivo e outro advérbio:
Quando indicado no singular, o artigo definido pode
Chegou muito cedo. (advérbio)
indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
Joana é muito bela. (adjetivo)
No caso de nomes próprios personativos, denotando
De repente correram para a rua. (verbo) a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso
Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
LÍNGUA PORTUGUESA

Pedro é o xodó da família.


Essa matéria é mais bem interessante que aquela. No caso de os nomes próprios personativos estarem
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso! no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér- os Incas, Os Astecas...
bio: Cheguei primeiro. Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a)
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”.

21
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) 2. Classificação da Conjunção
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa-
dos. (qualquer classe) De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa- conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
cultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse
ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve isolamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de
ter é uns vinte anos. sentido que cada um dos elementos possui. Já no segun-
O artigo também é usado para substantivar palavras do caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o por- depende da existência do outro. Veja:
quê de tudo isso. / O bem vence o mal. Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
Podemos separá-las por ponto:
2. Há casos em que o artigo definido não pode ser Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
usado:
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
quentemente, orações coordenadas) coordenativa –
conhecidas: O professor visitará Roma.
“mas”. Já em:
Espero que eu seja aprovada no concurso!
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
bela Roma. principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te-
mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta
Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria (ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração
sairá agora? principal).
Exceção: O senhor vai à festa?
3. Conjunções Coordenativas
Após o pronome relativo “cujo” e suas variações: Esse
é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o can- São aquelas que ligam orações de sentido completo
didato cuja nota foi a mais alta. e independente ou termos da oração que têm a mesma
função gramatical. Subdividem-se em:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e
Paulo: Saraiva, 2010. não), não só... mas também, não só... como também,
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- bem como, não só... mas ainda.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SAC- A sua pesquisa é clara e objetiva.
CONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. Não só dança, mas também canta.
30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São pressando ideia de contraste ou compensação. São
Paulo: Saraiva, 2010. elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no
entanto, não obstante.
SITE Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.
http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
C) Alternativas: ligam orações ou palavras, expres-
sando ideia de alternância ou escolha, indicando
fatos que se realizam separadamente. São elas: ou,
Conjunção ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, tal-
vez... talvez.
Além da preposição, há outra palavra também inva- Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
riável que, na frase, é usada como elemento de ligação:
a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
palavras de mesma função em uma oração: que expressa ideia de conclusão ou consequência.
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
São Paulo. conseguinte, por isso, assim.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. Marta estava bem preparada para o teste, portanto
LÍNGUA PORTUGUESA

não ficou nervosa.


1. Morfossintaxe da Conjunção Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.

As conjunções, a exemplo das preposições, não exer- E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração
cem propriamente uma função sintática: são conectivos. que a explica, que justifica a ideia nela contida. São
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.
Não demore, que o filme já vai começar.
Falei muito, pois não gosto do silêncio!

22
4. Conjunções Subordinativas
#FicaDica
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma de-
las dependente da outra. A oração dependente, intro- Você deve ter percebido que a conjunção con-
duzida pelas conjunções subordinativas, recebe o nome dicional “se” também é conjunção integrante.
de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha A diferença é clara ao ler as orações que são
introduzidas por ela. Acima, ela nos dá a ideia
começado quando ela chegou.
da condição para que recebamos um telefo-
O baile já tinha começado: oração principal
nema (se for preciso ajuda). Já na oração: Não
quando: conjunção subordinativa (adverbial tem-
sei se farei o concurso. Não há ideia de
poral)
condição alguma, há? Outra coisa: o verbo da
ela chegou: oração subordinada
oração principal (sei) pede complemento (ob-
jeto direto, já que “quem não sabe, não sabe
As conjunções subordinativas subdividem-se em in-
algo”). Portanto, a oração em destaque exerce
tegrantes e adverbiais: a função de objeto direto da oração principal,
sendo classificada como oração subordinada
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por substantiva objetiva direta.
elas introduzida completa ou integra o sentido da prin-
cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos,
ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas:
que, se. D) Conformativas: introduzem uma oração que ex-
Quero que você volte. (Quero sua volta) prime a conformidade de um fato com outro. São
elas: conforme, como (= conforme), segundo, con-
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada soante, etc.
exerce a função de adjunto adverbial da principal. De O passeio ocorreu como havíamos planejado.
acordo com a circunstância que expressam, classificam-
-se em: E) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi-
nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da principal. São elas: para que, a fim de que, que, por-
ocorrência da oração principal. São elas: porque, que (= para que), que, etc.
que, como (= porque, no início da frase), pois que, Toque o sinal para que todos entrem no salão.
visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde
que, etc. F) Proporcionais: introduzem uma oração que ex-
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios. pressa um fato relacionado proporcionalmente à
ocorrência do expresso na principal. São elas: à
B) Concessivas: introduzem uma oração que expres- medida que, à proporção que, ao passo que e as
sa ideia contrária à da principal, sem, no entanto, combinações quanto mais... (mais), quanto me-
impedir sua realização. São elas: embora, ainda nos... (menos), quanto menos... (mais), quanto me-
que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por nos... (menos), etc.
O preço fica mais caro à medida que os produtos es-
mais que, posto que, conquanto, etc.
casseiam.
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
Observação:
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica
São incorretas as locuções proporcionais à medida
a hipótese ou a condição para ocorrência da prin-
em que, na medida que e na medida em que.
cipal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a
não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc.
G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen-
Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na
oração principal. São elas: quando, enquanto, antes
que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde
que, sempre que, assim que, agora que, mal (= as-
sim que), etc.
A briga começou assim que saímos da festa.

H) Comparativas: introduzem uma oração que ex-


LÍNGUA PORTUGUESA

pressa ideia de comparação com referência à ora-


ção principal. São elas: como, assim como, tal como,
como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do
que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (com-
binado com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.

23
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
a consequência da principal. São elas: de sorte que,
de modo que, sem que (= que não), de forma que, A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale-
de jeito que, que (tendo como antecedente na oração gria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito interes-
principal uma palavra como tal, tão, cada, tanto, ta- sante!
manho), etc. B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da mi-
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do nha frente.
exame.
As interjeições podem ser formadas por:
FIQUE ATENTO!  simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
 palavras: Oba! Olá! Claro!
Muitas conjunções não têm classificação
 grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu
única, imutável, devendo, portanto, ser clas-
Deus! Ora bolas!
sificadas de acordo com o sentido que apre-
sentam no contexto (destaque da Zê!). 1. Classificação das Interjeições

Comumente, as interjeições expressam sentido de:


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Atenção! Olha! Alerta!
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
Paulo: Saraiva, 2010. E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Ânimo! Adiante!
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
SITE H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamen-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84. te! Essa não! Chega! Basta!
php I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Quei-
ra Deus!
Interjeição J) Desculpa: Perdão!
K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo- L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
linguagem afetiva, em que não há uma ideia organizada Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz!
de maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios!
sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma de- Puxa! Pô! Ora!
corrente de uma situação particular, um momento ou um O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
contexto específico. Exemplos: P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me,
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição Deus!
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! Q) Silêncio: Psiu! Silêncio!
hum: expressão de um pensamento súbito = interjei- R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
ção
O significado das interjeições está vinculado à maneira Saiba que:
como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti- As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não so-
do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que frem variação em gênero, número e grau como os no-
for utilizada. Exemplos: mes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e
voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
Psiu! gumas interjeições sofrem variação em grau. Não se trata
contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua; de um processo natural desta classe de palavra, mas tão
significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando! só uma variação que a linguagem afetiva permite. Exem-
Ei, espere!” plos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.

Psiu! 2. Locução Interjetiva


LÍNGUA PORTUGUESA

contexto: alguém pronunciando em um hospital; signi-


ficado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!” Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!
puxa: interjeição; tom da fala: euforia Toda frase mais ou menos breve dita em tom excla-
mativo torna-se uma locução interjetiva, dispensando
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte! análise dos termos que a compõem: Macacos me mor-
puxa: interjeição; tom da fala: decepção dam!, Valha-me Deus!, Quem me dera!

24
1. As interjeições são como frases resumidas, sinté-
ticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por #FicaDica
essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe)
2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é As palavras anterior, posterior, último, antepe-
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras núltimo, final e penúltimo também indicam
classes gramaticais podem aparecer como inter- posição dos seres, mas são classificadas como
jeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora! adjetivos, não ordinais.
Francamente! (Advérbios)
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
-frase” porque sozinha pode constituir uma men- C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade,
sagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silêncio! ou seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois
Fique quieto! quintos, etc.
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi- D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: dos seres, indicando quantas vezes a quantidade
Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-ta- foi aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
que! Quá-quá-quá!, etc.
5. Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” 2. Flexão dos numerais
com a sua homônima “oh!”, que exprime admira-
ção, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
do “oh!” exclamativo e não a fazemos depois do uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/
“ó” vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe pie- duzentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/
dosa e pura!” (Olavo Bilac) quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão,
variam em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cardinais são invariáveis.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramá-
tica – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus primeiro segundo milésimo
Barbosa Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. primeira segunda milésima

SITE primeiros segundos milésimos


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ primeiras segundas milésimas
morf89.php
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
NUMERAL atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do es-
forço e conseguiram o triplo de produção.
Numeral é a palavra variável que indica quantidade Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes- flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa deter- triplas do medicamento.
minada sequência. Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
Os numerais traduzem, em palavras, o que os núme- duas terças partes.
ros indicam em relação aos seres. Assim, quando a ex-
pressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
trata de numerais, mas sim de algarismos. dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
a ideia expressa pelos números, existem mais algumas nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização
palavras consideradas numerais porque denotam quan- de sentido. É o que ocorre em frases como:
tidade, proporção ou ordenação. São alguns exemplos: “Me empresta duzentinho...”
década, dúzia, par, ambos(as), novena.
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (=
1. Classificação dos Numerais
segunda divisão de futebol)
A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determi-
3. Emprego e Leitura dos Numerais
LÍNGUA PORTUGUESA

nada de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns car-


dinais têm sentido coletivo, como por exemplo:
Os numerais são escritos em conjunto de três algaris-
século, par, dúzia, década, bimestre.
mos, contados da direita para a esquerda, em forma de
B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém
ou alguma coisa ocupa numa determinada se- centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma
quência: primeiro, segundo, centésimo, etc. separação através de ponto ou espaço correspondente a
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.

25
Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar exagero intencional, constituindo a figura de linguagem conhe-
cida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos
e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos
reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até dé-
cimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)

#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por associação. Ficará mais fácil!

Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua uti-
lização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
LÍNGUA PORTUGUESA

nove nono nônuplo nono


dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos

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catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php

Preposição

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreen-
LÍNGUA PORTUGUESA

são do texto.

1. Tipos de Preposição

A) Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.

27
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va- Meio = passeio de barco.
lendo como uma preposição, sendo que a última Origem = Nós somos do Nordeste.
palavra é uma (preposição): abaixo de, acerca de, Conteúdo = frascos de perfume.
acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por
cima de, por trás de. Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo-
cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre-
A preposição é invariável e, no entanto, pode unir-se positiva por trás de.
a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em
gênero ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a = pela. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Essa concordância não é característica da preposição, Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
mas das palavras às quais ela se une. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
Esse processo de junção de uma preposição com ou- reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
tra palavra pode se dar a partir dos processos de: Paulo: Saraiva, 2010.
 Combinação: união da preposição “a” com o ar- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
tigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
aos. Os vocábulos não sofrem alteração.
 Contração: união de uma preposição com outra SITE
palavra, ocorrendo perda ou transformação de fo- http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
nema: de + o = do, em + a = na, per + os = pelos,
de + aquele = daquele, em + isso = nisso. Substantivo
 Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposi-
ção + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal Substantivo é a classe gramatical de palavras variá-
do pronome “aquilo”). veis, as quais denominam todos os seres que existem,
sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e
fenômenos, os substantivos também nomeiam:
#FicaDica  lugares: Alemanha, Portugal
 sentimentos: amor, saudade
O “a” pode funcionar como preposição, prono-  estados: alegria, tristeza
me pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-  qualidades: honestidade, sinceridade
-los? Caso o “a” seja um artigo, virá preceden-  ações: corrida, pescaria
do um substantivo, servindo para determiná-lo
como um substantivo singular e feminino: A 1. Morfossintaxe do substantivo
matéria que estudei é fácil!
Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun-
ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como
núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di-
Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda,
termos e estabelece relação de subordinação entre eles. funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
Irei à festa sozinha. aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do obje-
Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é ar- to ou como núcleo do vocativo. Também encontramos
tigo; o segundo, preposição. substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de
Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem-
lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a penhadas por grupos de palavras.
apostila. = Nós a trouxemos.
2. Classificação dos Substantivos
2. Relações semânticas (= de sentido) estabeleci-
das por meio das preposições: A) Substantivos Comuns e Próprios
Observe a definição:
Destino = Irei a Salvador.
Modo = Saiu aos prantos. Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas
Lugar = Sempre a seu lado. casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil,
Assunto = Falemos sobre futebol. toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma
LÍNGUA PORTUGUESA

Tempo = Chegarei em instantes. cidade (em oposição aos bairros).


Causa = Chorei de saudade. Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
Fim ou finalidade = Vim para ficar. e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada
Instrumento = Escreveu a lápis. cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan-
Posse = Vi as roupas da mamãe. tivo comum.
Autoria = livro de Machado de Assis Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
Companhia = Estarei com ele amanhã. uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
Matéria = copo de cristal. homem, mulher, país, cachorro.

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Estamos voando para Barcelona. batalhão soldados
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da cardume peixes
espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – caravana viajantes peregrinos
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. cacho frutas
cancioneiro canções, poesias líricas
B) Substantivos Concretos e Abstratos colmeia abelhas
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa o
ser que existe, independentemente de outros seres. concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
Observação:
Os substantivos concretos designam seres do mundo elenco atores de uma peça ou filme
real e do mundo imaginário. esquadra navios de guerra
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, enxoval roupas
Brasília.
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma. falange soldados, anjos
fauna animais de uma região
B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa se-
res que dependem de outros para se manifestarem ou feixe lenha, capim
existirem. Por exemplo: a beleza não existe por si só, flora vegetais de uma região
não pode ser observada. Só podemos observar a beleza
frota navios mercantes, ônibus
numa pessoa ou coisa que seja bela. A beleza depende
de outro ser para se manifestar. Portanto, a palavra bele- girândola fogos de artifício
za é um substantivo abstrato. horda bandidos, invasores
Os substantivos abstratos designam estados, quali-
dades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem junta médicos, bois, credores, exa-
ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida minadores
(estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade júri jurados
(sentimento).
legião soldados, anjos, demônios
 Substantivos Coletivos leva presos, recrutas
malta malfeitores ou desordeiros
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha,
outra abelha, mais outra abelha. manada búfalos, bois, elefantes,
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. matilha cães de raça
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
molho chaves, verduras
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- multidão pessoas em geral
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, nuvem insetos (gafanhotos, mosqui-
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas tos, etc.)
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um subs-
tantivo no singular (enxame) para designar um conjunto penca bananas, chaves
de seres da mesma espécie (abelhas). pinacoteca pinturas, quadros
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
quadrilha ladrões, bandidos
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
mesmo estando no singular, designa um conjunto de se- ramalhete flores
res da mesma espécie. rebanho ovelhas
repertório peças teatrais, obras musicais
Substantivo coletivo Conjunto de:
réstia alhos ou cebolas
assembleia pessoas reunidas
romanceiro poesias narrativas
alcateia lobos
revoada pássaros
acervo livros
LÍNGUA PORTUGUESA

sínodo párocos
antologia trechos literários selecionados
talha lenha
arquipélago ilhas
tropa muares, soldados
banda músicos
turma estudantes, trabalhadores
bando desordeiros ou malfeitores
vara porcos
banca examinadores

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3. Formação dos Substantivos A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
se faz mediante a utilização das palavras “macho”
A) Substantivos Simples e Compostos e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra. macho e o jacaré fêmea.
O substantivo chuva é formado por um único ele- B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes
mento ou radical. É um substantivo simples. a pessoas de ambos os sexos: a criança, a teste-
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um munha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o in-
único elemento. divíduo.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros:
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto. colega e a colega, o doente e a doente, o artista e
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por a artista.
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, pas-
satempo. Substantivos de origem grega terminados em ema
ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o
sintoma, o teorema.
B) Substantivos Primitivos e Derivados  Existem certos substantivos que, variando de
B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva gênero, variam em seu significado:
de nenhuma outra palavra da própria língua por- o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça
tuguesa. (líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro) e
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origi- a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma (ca-
na de outra palavra. O substantivo limoeiro, por beleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de au-
exemplo, é derivado, pois se originou a partir da mento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética; con-
palavra limão. clusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública);
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora).
4. Flexão dos substantivos
6. Formação do Feminino dos Substantivos Bifor-
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá- mes
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por
exemplo, pode sofrer variações para indicar: Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: - aluna.
meninão / Diminutivo: menininho  Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a
ao masculino: freguês - freguesa
A) Flexão de Gênero  Substantivos terminados em -ão: fazem o femini-
Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- no de três formas:
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito 1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram 2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas 3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa. Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão -
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e sultana
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substanti-
vos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns.  Substantivos terminados em -or:
Veja estes títulos de filmes: acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
O velho e o mar troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz
Um Natal inesquecível  Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa:
Os reis da praia cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poe-
tisa / duque - duquesa / conde - condessa / profeta
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que - profetisa
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:  Substantivos que formam o feminino trocando o
A história sem fim -e final por -a: elefante - elefanta
Uma cidade sem passado  Substantivos que têm radicais diferentes no mas-
As tartarugas ninjas culino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca
 Substantivos que formam o feminino de maneira
5. Substantivos Biformes e Substantivos Unifor- especial, isto é, não seguem nenhuma das regras
LÍNGUA PORTUGUESA

mes anteriores: czar – czarina, réu - ré

1. Substantivos Biformes (= duas formas): apresen- 7. Formação do Feminino dos Substantivos Uni-
tam uma forma para cada gênero: gato – gata, ho- formes
mem – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única Epicenos:
forma, que serve tanto para o masculino quanto Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
para o feminino. Classificam-se em:

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Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma
forma para indicar o masculino e o feminino. Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exce-
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma para ções, nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro
designar os dois sexos. Esses substantivos são chamados de Preto. / A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Ale-
epicenos. No caso dos epicenos, quando houver a necessida- gre. / Uma Londres imensa e triste.
de de especificar o sexo, utilizam-se palavras macho e fêmea. Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. 10. Gênero e Significação

8. Sobrecomuns: Muitos substantivos, como já mencionado anterior-


Entregue as crianças à natureza. mente, têm uma significação no masculino e outra no fe-
minino. Observe: o baliza (soldado que à frente da tropa,
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- indica os movimentos que se deve realizar em conjunto; o
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem que vai à frente de um bloco carnavalesco, manejando um
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: ou proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (par-
A criança chorona chamava-se João. te do corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a
A criança chorona chamava-se Maria. cisma (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzen-
ta), a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro),
Outros substantivos sobrecomuns: a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma (cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
boa criatura. a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de na administração da crisma e de outros sacramentos), a
Marcela faleceu crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a
cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe
9. Comuns de Dois Gêneros: (vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que guia ou-
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. tras), a guia (documento, pena grande das asas das aves),
o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (fun-
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
cionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamen-
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
tos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o mo-
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
ral (ânimo), a moral (honestidade, bons costumes, ética),
A distinção de gênero pode ser feita através da análi-
o nascente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte),
se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs-
o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor), maria-
tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante;
-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a
um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa;
repórter francês - repórter francesa. pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo), o rádio
(aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga (remador),
A palavra personagem é usada indistintamente nos a voga (moda).
dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-se acen-
tuada preferência pelo masculino: O menino descobriu B) Flexão de Número do Substantivo
nas nuvens os personagens dos contos de carochinha.
Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino: Em português, há dois números gramaticais: o singu-
O problema está nas mulheres de mais idade, que não lar, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural,
aceitam a personagem. que indica mais de um ser ou grupo de seres. A caracte-
rística do plural é o “s” final.
Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. 11. Plural dos Substantivos Simples

Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e


)pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o “n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã –
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural).
proclama, o pernoite, o púbis. Exceção: cânon - cânones.
Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, Os substantivos terminados em “m” fazem o plural
a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a em “ns”: homem - homens.
Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o
LÍNGUA PORTUGUESA

libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).


plural pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz
São geralmente masculinos os substantivos de ori- - raízes.
gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o Atenção:
telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, O plural de caráter é caracteres.
o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o tra-
coma, o hematoma.

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Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexio- B) Flexiona-se somente o segundo elemento,
nam-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quin- quando formados de:
tais; caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
males, cônsul e cônsules. palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
Os substantivos terminados em “il” fazem o plural alto-falantes
de duas maneiras: palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-
1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis -recos
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
C) Flexiona-se somente o primeiro elemento,
Observação: quando formados de:
A palavra réptil pode formar seu plural de duas ma- substantivo + preposição clara + substantivo = água-
neiras: répteis ou reptis (pouco usada). -de-colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo = ca-
Os substantivos terminados em “s” fazem o plural valo-vapor e cavalos-vapor
de duas maneiras: substantivo + substantivo que funciona como deter-
1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o minante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave,
2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam in- bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-
variáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. -rã, peixe-espada - peixes-espada.

Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural D) Permanecem invariáveis, quando formados de:
de três maneiras. verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães saca-rolhas
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
13. Casos Especiais
Observação:
Muitos substantivos terminados em “ão” apresen- o louva-a-deus e os louva-a-deus
tam dois – e até três – plurais:
aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos an- o bem-te-vi e os bem-te-vis
cião – anciões/anciães/anciãos o bem-me-quer e os bem-me-queres
charlatão – charlatões/charlatães cor-
rimão – corrimãos/corrimões o joão-ninguém e os joões-ninguém.
guardião – guardiões/guardiães vilão
– vilãos/vilões/vilães 14. Plural das Palavras Substantivadas

Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
o látex - os látex. classes gramaticais usadas como substantivo apresen-
tam, no plural, as flexões próprias dos substantivos.
12. Plural dos Substantivos Compostos Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves.
A formação do plural dos substantivos compostos Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
depende da forma como são grafados, do tipo de pa-
lavras que formam o composto e da relação que esta- Observação:
belecem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen Numerais substantivados terminados em “s” ou “z”
comportam-se como os substantivos simples: aguar- não variam no plural: Nas provas mensais consegui mui-
dente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/ponta- tos seis e alguns dez.
pés, malmequer/malmequeres.
O plural dos substantivos compostos cujos elemen- 15. Plural dos Diminutivos
tos são ligados por hífen costuma provocar muitas dú-
vidas e discussões. Algumas orientações são dadas a Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” fi-
seguir: nal e acrescenta-se o sufixo diminutivo.
A) Flexionam-se os dois elementos, quando for-
mados de: pãe(s) + zinhos = pãezinhos
LÍNGUA PORTUGUESA

substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores


animai(s) + zinhos = animaizinhos
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
feitos botõe(s) + zinhos = botõezinhos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho- chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
mens
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras farói(s) + zinhos = faroizinhos
tren(s) + zinhos = trenzinhos

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colhere(s) + zinhas = colherezinhas Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços,
bolsos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, so-
flore(s) + zinhas = florezinhas ros, etc.
mão(s) + zinhas = mãozinhas
Observação:
papéi(s) + zinhos = papeizinhos Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas molho (ó) = feixe (molho de lenha).
funi(s) + zinhos = funizinhos
Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
pai(s) + zinhos = paizinhos
Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsa-
pé(s) + zinhos = pezinhos mes, as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
pé(s) + zitos = pezitos Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida-
16. Plural dos Nomes Próprios Personativos de, bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas com sentido de plural:
sempre que a terminação preste-se à flexão. Aqui morreu muito negro.
Os Napoleões também são derrotados. Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em cape-
As Raquéis e Esteres. las improvisadas.

17. Plural dos Substantivos Estrangeiros C) Flexão de Grau do Substantivo

Substantivos ainda não aportuguesados devem ser Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
escritos como na língua original, acrescentando-se “s” as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
(exceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os 1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho consi-
shorts, os jazz. derado normal. Por exemplo: casa
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de 2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tama-
acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os cho- nho do ser. Classifica-se em:
pes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, Analítico = o substantivo é acompanhado de um
os réquiens. adjetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Observe o exemplo: Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in-
Este jogador faz gols toda vez que joga. dicador de aumento. Por exemplo: casarão.
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tama-
18. Plural com Mudança de Timbre nho do ser. Pode ser:
Analítico = substantivo acompanhado de um adje-
Certos substantivos formam o plural com mudança tivo que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
de timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in-
fato fonético chamado metafonia (plural metafônico). dicador de diminuição. Por exemplo: casinha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Singular Plural
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
corpo (ô) corpos (ó) Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
esforço esforços reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
fogo fogos CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
forno fornos Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
fosso fossos
São Paulo: Saraiva, 2002.
imposto impostos
olho olhos SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
osso (ô) ossos (ó)
LÍNGUA PORTUGUESA

morf12.php
ovo ovos
poço poços Pronome
porto portos
posto postos Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
tijolo tijolos forma.

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O homem julga que é superior à natureza, por isso o tima a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do
homem destrói a natureza... discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é
Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é assim configurado:
superior à natureza, por isso ele a destrói... 1.ª pessoa do singular: eu
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de ter- 2.ª pessoa do singular: tu
mos (homem e natureza). 3.ª pessoa do singular: ele, ela
Grande parte dos pronomes não possuem significa- 1.ª pessoa do plural: nós
dos fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação 2.ª pessoa do plural: vós
dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar a 3.ª pessoa do plural: eles, elas
referência exata daquilo que está sendo colocado por
meio dos pronomes no ato da comunicação. Com ex- Esses pronomes não costumam ser usados como
ceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os de- complementos verbais na língua-padrão. Frases como
mais pronomes têm por função principal apontar para as “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu
pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando- até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem ser
-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
dessa característica, os pronomes apresentam uma for- mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
ma específica para cada pessoa do discurso. dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. -me até aqui”.
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] Frequentemente observamos a omissão do pronome
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se fala] formas verbais marcam, através de suas desinências, as
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem boa viagem. (Nós)
se fala]
B) Pronome Oblíquo
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme- sentença, exerce a função de complemento verbal
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência (objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (ob-
através do pronome seja coerente em termos de gênero jeto indireto)
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. Observação:
O pronome oblíquo é uma forma variante do prono-
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da
me pessoal do caso reto. Essa variação indica a função
nossa escola neste ano.
diversa que eles desempenham na oração: pronome reto
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân-
marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o
cia adequada]
complemento da oração. Os pronomes oblíquos sofrem
[neste: pronome que determina “ano” = concordância
variação de acordo com a acentuação tônica que pos-
adequada]
suem, podendo ser átonos ou tônicos.
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con-
cordância inadequada]
2. Pronome Oblíquo Átono
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, são precedidos de preposição. Possuem acentuação tô-
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. nica fraca: Ele me deu um presente.
Lista dos pronomes oblíquos átonos
1. Pronomes Pessoais 1.ª pessoa do singular (eu): me
2.ª pessoa do singular (tu): te
São aqueles que substituem os substantivos, indi- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
cando diretamente as pessoas do discurso. Quem fala 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se 2.ª pessoa do plural (vós): vos
os pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
a quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer
referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala.
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun-
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
ou do caso oblíquo.
LÍNGUA PORTUGUESA

A) Pronome Reto
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen-
tença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos
flores.
Os pronomes retos apresentam flexão de número,
gênero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa úl-

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A combinação da preposição “com” e alguns prono-
FIQUE ATENTO! mes originou as formas especiais comigo, contigo, consi-
Os pronomes o, os, a, as assumem formas es- go, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
peciais depois de certas terminações verbais: frequentemente exercem a função de adjunto adverbial
1. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o de companhia: Ele carregava o documento consigo.
pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
mesmo tempo que a terminação verbal é su- Ela veio até mim, mas nada falou.
primida. Por exemplo: Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de
fiz + o = fi-lo inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na
fazeis + o = fazei-lo prova, até eu! (= inclusive eu)
dizer + a = dizê-la
As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
2. Quando o verbo termina em som nasal, o por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pes-
pronome assume as formas no, nos, na, nas. soais são reforçados por palavras como outros, mesmos,
Por exemplo: próprios, todos, ambos ou algum numeral.
viram + o: viram-no Você terá de viajar com nós todos.
repõe + os = repõe-nos Estávamos com vós outros quando chegaram as más
retém + a: retém-na notícias.
tem + as = tem-nas Ele disse que iria com nós três.

3. Pronome Reflexivo
B.2 Pronome Oblíquo Tônico São pronomes pessoais oblíquos que, embora fun-
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos cionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função de a ação expressa pelo verbo.
objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte. Lista dos pronomes reflexivos:
Lista dos pronomes oblíquos tônicos: 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me
1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo lembro disso.
2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Gui-
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco lherme já se preparou.
2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Ela deu a si um presente.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas Antônio conversou consigo mesmo.

Observe que as únicas formas próprias do pronome tô- 1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As 2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. com esta conquista.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se
As preposições essenciais introduzem sempre pronomes conheceram. / Elas deram a si um dia de folga.
pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos
contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal,
os pronomes costumam ser usados desta forma: #FicaDica
Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. O pronome é reflexivo quando se refere à mes-
Não há nenhuma acusação contra mim. ma pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu
Não vá sem mim. me arrumei e saí.
É pronome recíproco quando indica recipro-
Há construções em que a preposição, apesar de surgir cidade de ação: Nós nos amamos. / Olhamo-
anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração -nos calados.
cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter O “se” pode ser usado como palavra expletiva
sujeito expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá ou partícula de realce, sem ser rigorosamente
ser do caso reto. necessária e sem função sintática: Os explora-
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. dores riam-se de suas tentativas. / Será que eles
Não vá sem eu mandar. se foram?
LÍNGUA PORTUGUESA

A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”


está correta, já que “para mim” é complemento de “fá-
C) Pronomes de Tratamento
cil”. A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
para mim!
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (por-
tanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira
pessoa. Alguns exemplos:

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Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques ou
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio- Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
sos em geral teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes- 4. Pronomes Possessivos
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais,
governadores, secretários de Estado, presidente da Repúbli- São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
ca (sempre por extenso) (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universidades (coisa possuída).
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais singular)
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de
igual categoria
Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes NÚMERO PESSOA PRONOME
de direito singular primeira meu(s), minha(s)
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento ce-
singular segunda teu(s), tua(s)
rimonioso
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus singular terceira seu(s), sua(s)
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se- plural primeira nosso(s), nossa(s)
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre-
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- plural segunda vosso(s), vossa(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados plural terceira seu(s), sua(s)
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma Note que:
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou A forma do possessivo depende da pessoa gramatical
literária. a que se refere; o gênero e o número concordam com o
objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição
Observações: naquele momento difícil.
1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados Observações:
em relação à pessoa com quem falamos: Espero que 1. A forma “seu” não é um possessivo quando resul-
V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este encontro. tar da alteração fonética da palavra senhor: Muito
2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da
obrigado, seu José.
pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que
2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam
Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu
posse. Podem ter outros empregos, como:
com propriedade.
A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
3. Os pronomes de tratamento representam uma forma
B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores.
anos.
Ao tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por
exemplo, estamos nos endereçando à excelência que C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
esse deputado supostamente tem para poder ocupar lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
o cargo que ocupa. 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à 2.ª o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Ex-
pessoa, toda a concordância deve ser feita com a celência trouxe sua mensagem?
3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi- 4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi-
vos e os pronomes oblíquos empregados em relação vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus
a eles devem ficar na 3.ª pessoa. livros e anotações.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promes- 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
sas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou
5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, 6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
ao longo do texto, a pessoa do tratamento escolhi- prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
da inicialmente. Assim, por exemplo, se começamos para que não ocorra redundância: Coloque tudo
a chamar alguém de “você”, não poderemos usar nos respectivos lugares.
LÍNGUA PORTUGUESA

“te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na


terceira pessoa. 5. Pronomes Demonstrativos

Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos São utilizados para explicitar a posição de certa pa-
teus cabelos. (errado) lavra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação
pode ser de espaço, de tempo ou em relação ao discurso.
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular

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A) Em relação ao espaço:  o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que”
Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da e puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s),
pessoa que fala: aquilo.
Este material é meu. Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da indiquei.)
pessoa com quem se fala:
Esse material em sua carteira é seu?  mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): va-
riam em gênero quando têm caráter reforçativo:
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com Eu mesma refiz os exercícios.
quem se fala: Elas mesmas fizeram isso.
Aquele material não é nosso. Eles próprios cozinharam.
Vejam aquele prédio! Os próprios alunos resolveram o problema.

B) Em relação ao tempo:  semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.


Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em  tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.
relação à pessoa que fala: 1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
Esta manhã farei a prova do concurso! eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este.
(ou então: este solteiro, aquele casado) - este se re-
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po- fere à pessoa mencionada em último lugar; aquele,
rém relativamente próximo à época em que se situa a à mencionada em primeiro lugar.
pessoa que fala: 2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afastamen- 3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
to no tempo, referido de modo vago ou como tempo com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste,
remoto: desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que esta-
Naquele tempo, os professores eram valorizados. va vendo. (no = naquilo)

C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se 6. Pronomes Indefinidos


falará ou escreverá):
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discur-
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se fa- so, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
lará: quantidade indeterminada.
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
ortografia, concordância. -plantadas.
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja- humano que seguramente existe, mas cuja identidade é
mos! desconhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:

Este e aquele são empregados quando se quer fazer A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres
termo referido em primeiro lugar e este para o referido na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, bel-
por último: trano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
Algo o incomoda?
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau- Quem avisa amigo é.
lo; este está mais bem colocado que aquele. (= este [São
Paulo], aquele [Palmeiras]) B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um
ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de
ou quantidade aproximada. São eles: cada, certo(s),
certa(s).
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau- Cada povo tem seus costumes.
LÍNGUA PORTUGUESA

lo; aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Certas pessoas exercem várias profissões.
Paulo], aquele [Palmeiras])
Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou Note que:
invariáveis, observe: Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pro-
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), nomes indefinidos adjetivos:
aquela(s).
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
Também aparecem como pronomes demonstrativos:

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algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
Menos palavras e mais ações.
Alguns se contentam pouco.

Os pronomes indefinidos podem ser divididos em variáveis e invariáveis. Observe:


 Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pou-
ca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros,
quantos, algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas.
 Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, algo, cada.

*Qualquer é composto de qual + quer (do verbo querer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plural é
feito em seu interior).
Todo e toda no singular e junto de artigo significa inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
Trabalho todo dia. (= todos os dias)

São locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja
quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
Cada um escolheu o vinho desejado.

7. Pronomes Relativos

São aqueles que representam nomes já mencionados anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as
orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = oração subordinada adjetiva).

O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome demonstrativo o, a, os, as.
Não sei o que você está querendo dizer.
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem expresso.
Quem casa, quer casa.
Observe:
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
quantas.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.

Note que:
O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substi-
tuído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais)
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais)

O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem ter várias classificações) são pronomes relativos.
Todos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas preposições:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria
LÍNGUA PORTUGUESA

ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou
encantado: o sítio ou minha tia?).
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-se
o qual / a qual)

O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou
de ser poeta, que era a sua vocação natural.

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O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o consequente
(o ser possuído, com o qual concorda em gênero e número); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo” equivale
a do qual, da qual, dos quais, das quais.
Existem pessoas cujas ações são nobres.
(antecedente) (consequente)

Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pronome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-se a)

“Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:

Emprestei tantos quantos foram necessários.


(antecedente)

Ele fez tudo quanto havia falado.


(antecedente)
O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre precedido de preposição.

É um professor a quem muito devemos.


(preposição)

“Onde”, como pronome relativo, sempre possui antecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A casa
onde morava foi assaltada.

Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em que: Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
no exterior.

Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:


 como (= pelo qual) – desde que precedida das palavras modo, maneira ou forma:
Não me parece correto o modo como você agiu semana passada.

 quando (= em que) – desde que tenha como antecedente um nome que dê ideia de tempo:
Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.

Os pronomes relativos permitem reunir duas orações numa só frase.


O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste esporte.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de gente
que conversava, (que) ria, observava.

8. Pronomes Interrogativos

São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações),
quanto (e variações).
Com quem andas?
Qual seu nome?
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.

O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo
quando desempenha função de complemento.
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia lhe ajudar.
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
LÍNGUA PORTUGUESA

reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, di-
ferentemente dos segundos, que são sempre precedidos de preposição.
A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu estava fazendo.
B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que eu estava fazendo.

39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São prol da paz no mundo.
Paulo: Saraiva, 2010. Repare que o pronome está “no meio” do verbo “reali-
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- zará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma pa-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. lavra que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, Veja: Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
nessa viagem.
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
São Paulo: Saraiva, 2002. clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa-
nharia nessa viagem).
SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo.
morf42.php A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
forem possíveis:
9. Colocação Pronominal  Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
Quando eu avisar, silenciem-se todos.
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos  Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal:
pronomes oblíquos átonos na frase. Não era minha intenção machucá-la.
 Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não
se inicia período com pronome oblíquo).
#FicaDica Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
Pronome Oblíquo é aquele que exerce a fun-  Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
ção de complemento verbal (objeto). Por isso, no concurso, mudo-me hoje mesmo!
memorize:  Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a
OBlíquo = OBjeto! proposta fazendo-se de desentendida.

10. Colocação pronominal nas locuções verbais


Embora na linguagem falada a colocação dos prono-
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas  Após verbo no particípio = pronome depois do
devem ser observadas na linguagem escrita. verbo auxiliar (e não depois do particípio):
Tenho me deliciado com a leitura!
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. Eu tenho me deliciado com a leitura!
A próclise é usada: Eu me tenho deliciado com a leitura!
 Não convém usar hífen nos tempos compostos e
 Quando o verbo estiver precedido de palavras nas locuções verbais:
que atraem o pronome para antes do verbo. São elas: Vamos nos unir!
Iremos nos manifestar.
A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,  Quando há um fator para próclise nos tempos
jamais, etc.: Não se desespere! compostos ou locuções verbais: opção pelo uso
B) Advérbios: Agora se negam a depor. do pronome oblíquo “solto” entre os verbos = Não
vamos nos preocupar (e não: “não nos vamos preo-
C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-
cupar”).
quem tudo!
D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se 11. Emprego de o, a, os, as
esforçou.
E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportu-  Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral,
nidade. os pronomes: o, a, os, as não se alteram.
F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. Chame-o agora.
 Orações iniciadas por palavras interrogativas: Deixei-a mais tranquila.
Quem lhe disse isso?
 Orações iniciadas por palavras exclamativas:  Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoan-
Quanto se ofendem! tes finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
LÍNGUA PORTUGUESA

 Orações que exprimem desejo (orações optativas):


Que Deus o ajude. (Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.
 A próclise é obrigatória quando se utiliza o pro-
nome reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o  Em verbos terminados em ditongos nasais (am,
material amanhã. / Tu sabes cantar? em, ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para
no, na, nos, nas.
Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do Chamem-no agora.
verbo. A mesóclise é usada: Põe-na sobre a mesa.

40
FIQUE ATENTO!
#FicaDica
O verbo pôr, assim como seus derivados (com-
Dica da Zê! por, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação,
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que sig- pois a forma arcaica do verbo pôr era poer.
nifica “antes”! Pronome antes do verbo! A vogal “e”, apesar de haver desaparecido do
Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, infinitivo, revela-se em algumas formas do
em Inglês – que significa “fim, final!). Pronome verbo: põe, pões, põem, etc.
depois do verbo!
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do ver-
bo 2. Formas Rizotônicas e Arrizotônicas

Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo,
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do
Paulo: Saraiva, 2010. radical): opinei, aprenderão, amaríamos.

SITE 3. Classificação dos Verbos


http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao-
-pronominal-.html Classificam-se em:
A) Regulares: são aqueles que apresentam o radi-
Observação: Não foram encontradas questões cal inalterado durante a conjugação e desinências
abrangendo tal conteúdo. idênticas às de todos os verbos regulares da mes-
ma conjugação. Por exemplo: comparemos os ver-
VERBO bos “cantar” e “falar”, conjugados no presente do
Modo Indicativo:
Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número,
tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o canto falo
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre cantas falas
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenôme- canta falas
no (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
cantamos falamos
1. Estrutura das Formas Verbais cantais falais
cantam falam
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
os seguintes elementos:
A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi- #FicaDica
ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-
-ava; fal-am. (radical fal-) Observe que, retirando os radicais, as desi-
B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que nências modo-temporal e número-pessoal
indica a conjugação a que pertence o verbo. Por mantiveram-se idênticas. Tente fazer com
exemplo: fala-r. São três as conjugações: outro verbo e perceberá que se repetirá o
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática fato (desde que o verbo seja da primeira
- E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir). conjugação e regular!). Faça com o verbo
C) Desinência modo-temporal: é o elemento que “andar”, por exemplo. Substitua o radical
designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: “cant” e coloque o “and” (radical do verbo
falávamos (indica o pretérito imperfeito do indicativo) andar). Viu? Fácil!
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo)
D) Desinência número-pessoal: é o elemento que B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações
designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
LÍNGUA PORTUGUESA

número (singular ou plural):


falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam Observação:
(indica a 3.ª pessoa do plural.) Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas
para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/
corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais altera-
ções não caracterizam irregularidade, porque o fonema
permanece inalterado.

41
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação completa. Os principais são adequar, precaver, compu-
tar, reaver, abolir, falir.
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
principais verbos impessoais são:

1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se ou fazer (em orações temporais).
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Existiam)
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)

2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)


Faz invernos rigorosos na Europa.
Era primavera quando o conheci.
Estava frio naquele dia.

3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, ama-
nhecer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido
figurado. Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal,
ou seja, terá conjugação completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo: Já passa das seis.

5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”, indicando suficiência:


Basta de tolices.
Chega de promessas.
6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência
a sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como
hipotético, tornando-se, tais verbos, pessoais.

7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
São unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais
(cacarejar, cricrilar, miar, latir, piar).

Os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

 Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

 Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
LÍNGUA PORTUGUESA

Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que,
além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

42
Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular
Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

FIQUE ATENTO!
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).

H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo prin-
cipal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.
LÍNGUA PORTUGUESA

43
4. Conjugação dos Verbos Auxiliares

4.1. SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

4.2. SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

4.3. SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês
4.4. SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles
4.5. ESTAR - Modo Indicativo

Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.
estou estive estava estivera estarei estaria
LÍNGUA PORTUGUESA

estás estiveste estavas estiveras estarás estarias


está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

44
4.6. ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

4.7. ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

4.8. HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

4.9. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

4.10. HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
LÍNGUA PORTUGUESA

haveres

haver

havermos
haverdes
Haverem

45
4.11. TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

4.12. TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
Tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
 Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a refle-
xibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço
da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respec-
tivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem.
 Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto re-
presentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele
mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota pen-
teou-me.

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular.

5. Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro.
LÍNGUA PORTUGUESA

Existem três modos:


A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

46
6. Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adje-
tivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:

A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de subs-
tantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exem-
plo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:


Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!
Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.
C) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o re-
sultado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames,
os candidatos saíram.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função
de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)
8. Tempos Verbais
LÍNGUA PORTUGUESA

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos
tempos.

A) Tempos do Modo Indicativo


Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.

47
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as
lições quando os amigos chegaram. (forma simples).
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse
o jogo.
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele
vier à loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Tabelas das Conjugações Verbais

1. Modo Indicativo

1.1. Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

1.2. Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
LÍNGUA PORTUGUESA

cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS


cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

48
1.3. Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

1.4. Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

1.5. Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

1.6. Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
LÍNGUA PORTUGUESA

cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS


cantarIAM venderIAM partirIAM

49
1.7. Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

1.8. Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

1.9. Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número
e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
LÍNGUA PORTUGUESA

cantaREM vendeREM partiREM R EM

50
C) Modo Imperativo

1. Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

2. Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

 No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem,
pedido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
 O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).
3. Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

 O verbo parecer admite duas construções:


Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).
LÍNGUA PORTUGUESA

 O verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php

VOZES DO VERBO

Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três as
vozes verbais:

A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
sujeito agente ação objeto (paciente)

B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a ação expressa pelo verbo:


O trabalho foi feito por ele.
sujeito paciente ação agente da passiva

C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
O menino feriu-se.

#FicaDica
Não confundir o emprego reflexivo do verbo com a noção de reciprocidade:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro)

1. Formação da Voz Passiva

A voz passiva pode ser formada por dois processos: analítico e sintético.
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte maneira:
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo:
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os alunos pintarão a escola)
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)

Observações:
 O agente da passiva geralmente é acompanhado da preposição por, mas pode ocorrer a construção com a pre-
posição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de soldados.
 Pode acontecer de o agente da passiva não estar explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
 A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a transformação
das frases seguintes:

Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)


O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito perfeito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz ativa)

Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)


O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indicativo)
LÍNGUA PORTUGUESA

Ele fará o trabalho. (futuro do presente)


O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)

 Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)

52
B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - Mantêm-se adequados o emprego de tempos e modos
ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, verbais e a correlação entre eles, ao se substituírem os
seguido do pronome apassivador “se”. Por exemplo: elementos sublinhados na frase acima, na ordem dada,
Abriram-se as inscrições para o concurso. por:
Destruiu-se o velho prédio da escola. a) tivessem acrescentado − trariam − contribuírem
b) acrescentassem − têm trazido − contribuírem
Observação: c) tinham acrescentado − trarão − contribuiriam
O agente não costuma vir expresso na voz passiva d) acrescentariam − trariam− contribuíram
sintética. e) tenham acrescentado − trouxeram − Contribuíram

1.1 Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva Resposta: Letra E.


Questão que envolve correlação verbal. Realizando as
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar alterações solicitadas, segue como ficariam (em des-
substancialmente o sentido da frase. taque):
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) Em “a”: tivessem acrescentado – trariam − contribui-
Sujeito da Ativa objeto Direto riam
Em “b”: acrescentassem – trariam − contribuiriam
A apostila foi comprada pelo concurseiro. Em “c”: tinham acrescentado – trouxeram − contri-
(Voz Passiva) buíram
Sujeito da Passiva Agente da Passiva Em “d”: acrescentassem – trariam − contribuíram
Em “e”: tenham acrescentado – trouxeram − Contri-
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; buíram = correta
o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo
ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo
2. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA APOIO
tempo.
ESPECIALIZADO – ESPECIALIDADE MEDICINA DO
Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos.
TRABALHO – FCC – 2012) Está inadequado o emprego
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
do elemento sublinhado na seguinte frase:
mestres.
a) Sou ateu e peço que me deem tratamento similar ao
Eu o acompanharei.
que dispenso aos homens religiosos.
Ele será acompanhado por mim.
Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não b) A intolerância religiosa baseia-se em preconceitos de
haverá complemento agente na passiva. Por exemplo: que deveriam desviar-se todos os homens verdadei-
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado. ramente virtuosos.
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir, c) A tolerância é uma virtude na qual não podem pres-
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva, cindir os que se dizem homens de fé.
porque o sujeito não pode ser visto como agente, pacien- d) O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito de
te ou agente paciente. nada fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.
e) Respeito os homens de fé, a menos que deixem de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS fazer o mesmo com aqueles que não a têm.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Resposta: Letra C.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Corrigindo o inadequado:
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Em “a”: Sou ateu e peço que me deem tratamento
Paulo: Saraiva, 2010. similar ao que dispenso aos homens religiosos.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Em “b”: A intolerância religiosa baseia-se em precon-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. ceitos de que deveriam desviar-se todos os homens
verdadeiramente virtuosos.
SITE Em “c”: A tolerância é uma virtude na qual (de que)
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ não podem prescindir os que se dizem homens de fé.
morf54.php Em “d”: O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito
de nada fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-
-los.
Em “e”: Respeito os homens de fé, a menos que dei-
EXERCÍCIOS COMENTADOS xem de fazer o mesmo com aqueles que não a têm.
LÍNGUA PORTUGUESA

1. (TST – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- 3. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA APOIO
TRATIVA – FCC – 2012) As vitórias no jogo interior talvez ESPECIALIZADO – ESPECIALIDADE MEDICINA DO
não acrescentem novos troféus, mas elas trazem recom- TRABALHO – FCC – 2012)
pensas valiosas, [...] que contribuem de forma significativa Transpondo-se para a voz passiva a construção Os ateus
para nosso sucesso posterior, tanto na quadra como fora despertariam a ira de qualquer fanático, a forma ver-
dela. bal obtida será:

53
a) seria despertada. c) Aos governantes mais responsáveis não...... (ocorrer)
b) teria sido despertada. tomar decisões sem medir suas consequências.
c) despertar-se-á. d) A toda decisão tomada precipitadamente...... (cos-
d) fora despertada. tumar) sobrevir consequências imprevistas e injustas.
e) teriam despertado. e) Diante de uma escolha,...... (ganhar) prioridade, reco-
menda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
Resposta: Letra A. humana.
Os ateus despertariam a ira de qualquer fanático
Fazendo a transposição para a voz passiva, temos: A Resposta: Letra C.
ira de qualquer fanático seria despertada pelos ateus. Flexões em destaque e sublinhei os termos que esta-
belecem concordância:
4. (TST – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- Em “a”: A nenhuma de nossas escolhas podem deixar
TRATIVA – ESPECIALIDADE SEGURANÇA JUDICIÁ- de corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
RIA – FCC – 2012) Em “b”: Não se poupam os que governam de refletir
...ela nunca alcançava a musa. sobre o peso de suas mais graves decisões.
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma Em “c”: Aos governantes mais responsáveis não ocor-
verbal resultante será: re tomar decisões sem medir suas consequências. =
Isso não ocorre aos governantes – uma oração exerce
a) alcança-se. a função de sujeito (subjetiva)
b) foi alcançada. Em “d”: A toda decisão tomada precipitadamente cos-
c) fora alcançada. tumam sobrevir consequências imprevistas e injustas.
d) seria alcançada. Em “e”: Diante de uma escolha, ganham prioridade,
e) era alcançada. recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta
a dor humana.
Resposta: Letra E.
Temos um verbo na voz ativa, então teremos dois
7. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – ANALISTA JUDICIÁRIO –
na passiva (auxiliar + o verbo da oração da ativa, no
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC – 2016 ) ... para quem
mesmo tempo verbal, forma particípio): A musa nun-
Manoel de Barros era comparável a São Francisco de As-
ca era alcançada por ela. O verbo “alcançava” está no
sis...
pretérito imperfeito, por isso o auxiliar tem que estar
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da
também (é = presente, foi = pretérito perfeito, era =
frase acima está em:
imperfeito, fora = mais que perfeito, será = futuro do
presente, seria = futuro do pretérito).
a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
5. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA APOIO b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no es-
ESPECIALIZADO – ESPECIALIDADE MEDICINA DO paço...
TRABALHO – FCC – 2012) Aos poucos, contudo, fui che- c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e
gando à constatação de que todo perfil de rede social é um Charles Baudelaire.
retrato ideal de nós mesmos. d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar-
Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra al- ros na literatura...
teração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser e) ... para depois casá-las...
substituído por:
a) ademais. Resposta: Letra A.
b) conquanto. “Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do Indicati-
c) porquanto. vo. Procuremos nos itens:
d) entretanto. Em “a”: Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo
e) apesar. Em “b”: Porque não seria = futuro do pretérito do In-
dicativo
RESPOSTA: Letra D. Em “c”: Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfei-
Contudo é uma conjunção adversativa (expressa opo- to do Indicativo
sição). A substituição deve utilizar outra de mesma Em “d”: Quase meio século separa = presente do Indi-
classificação, para que se mantenha a ideia do perío- cativo
do. A correta é entretanto. Em “e”: para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar
elas)
6. (TST – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
LÍNGUA PORTUGUESA

TRATIVA – FCC – 2012) O verbo indicado entre parên- 8. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – ANALISTA JUDICIÁRIO –
teses deverá flexionar-se no singular para preencher ade- ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC – 2016) Aí conheci o
quadamente a lacuna da frase: escritor e historiador de sua gente, meu saudoso amigo
Alcino Alves Costa. E foi dele que ouvi oralmente a his-
a) A nenhuma de nossas escolhas...... (poder) deixar de tória de Zé de Julião. Considerando-se a norma-padrão
corresponder nossos valores éticos mais rigorosos. da língua, ao reescrever-se o trecho acima em um único
b) Não se...... (poupar) os que governam de refletir sobre período, o segmento destacado deverá ser antecedido
o peso de suas mais graves decisões. de vírgula e substituído por

54
a) perante ao qual c) [...] país que transformou a infância numa bilionária in-
b) de cujo dústria de consumo...
c) o qual d) E, mesmo que se esforcem muito [...]
d) frente à quem e) Hoje há algo novo nesse cenário.
e) de quem
RESPOSTA: Letra D.
Resposta: Letra E. que nos ajude = presente do Subjuntivo
Voltemos ao trecho: ... meu saudoso amigo Alcino Alves Em “a”: que conseguissem = pretérito do Subjuntivo
Costa. E foi dele que ouvi oralmente... = a única alter- Em “b”: que proliferaram = pretérito perfeito (e também
nativa que substitui corretamente o trecho destacado é mais-que-perfeito) do Indicativo
“de quem ouvi oralmente”. Em “c”: que transformou = pretérito perfeito do Indicativo
Em “d”: que se esforcem = presente do Subjuntivo
9. (TRT 14.ª REGIÃO-RO E AC – TÉCNICO JUDICIÁ- Em “e”: há algo novo nesse cenário = presente do Indi-
RIO – FCC – 2016) “Isto pode despertar a atenção de ou- cativo
tras pessoas que tenham documentos em casa e se dis-
ponham a trazer para a Academia, que é a guardiã desse 12. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
tipo de acervo, que é muito difícil de ser guardado em FCC – 2016) O modelo ainda dominante nas discussões
casa, pois o tempo destrói e aqui temos a melhor técnica ecológicas privilegia, em escala, o Estado e o mundo...
de conservação de documentos”, disse Cavalcanti. Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
O termo sublinhado faz referência a verbal resultante será:

a) pessoas. a) é privilegiado.
b) acervo. b) sendo privilegiadas.
c) Academia. c) são privilegiados.
d) tempo. d) foi privilegiado.
e) são privilegiadas.
e) casa.
Resposta: Letra C.
Resposta: Letra B.
Há um verbo na ativa, então teremos dois na passiva
Ao trecho: a guardiã desse tipo de acervo, que (o qual)
(auxiliar + o particípio de “privilegia”) = O Estado e o
é muito difícil de ser guardado...
mundo são privilegiados pelo modelo ainda dominante.
10. (TRT 14.ª REGIÃO-RO E AC – TÉCNICO JUDICIÁ-
13. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – TÉCNICO JUDICIÁRIO
RIO – FCC – 2016) O marechal organizou o acervo... – FCC – 2016) Empregam-se todas as formas verbais de
A forma verbal está corretamente transposta para a voz acordo com a norma culta na seguinte frase:
passiva em:
a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento
a) estava organizando não poderia receber qualquer tipo de retificação.
b) tinha organizado b) Os documentos com assinatura digital disporam de al-
c) organizando-se goritmos de criptografia que os protegeram.
d) foi organizado c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam
e) está organizado contar com a proteção de uma assinatura digital.
d) Quem se propor a alterar um documento criptografado
Resposta: Letra D. deve saber que comprometerá sua integridade.
Temos: sujeito (o marechal), verbo na ativa (organizou) e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem
e objeto (o acervo). Como há um verbo na ativa, ao comprometer a integridade dos documentos.
passarmos para a passiva teremos dois (o auxiliar no
mesmo tempo que o verbo da ativa + o particípio do Resposta: Letra E.
verbo da voz ativa = organizado). O objeto exercerá Em “a”: Para que se mantesse (mantivesse) sua autenti-
a função de sujeito paciente, e o sujeito da ativa será cidade, o documento não poderia receber qualquer tipo
o agente da passiva (ufa!). A frase ficará: O acervo foi de retificação.
organizado pelo marechal. Em “b”: Os documentos com assinatura digital dispo-
ram (dispuseram) de algoritmos de criptografia que os
protegeram.
11. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO – Em “c”: Arquivados eletronicamente, os documentos
FCC – 2016) Precisamos de um treinador que nos ajude
LÍNGUA PORTUGUESA

poderam (puderam) contar com a proteção de uma as-


a comer... sinatura digital.
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o Em “d”: Quem se propor (propuser) a alterar um docu-
sublinhado acima está também sublinhado em: mento criptografado deve saber que comprometerá sua
integridade.
a) [...] assim que conseguissem se virar sem as mães ou Em “e”: Não é possível fazer as alterações que convie-
as amas... rem sem comprometer a integridade dos documentos
b) Não é por acaso que proliferaram os coaches. = correta

55
14. (TRT 21.ª REGIÃO-RN – TÉCNICO JUDICIÁRIO – c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar
FCC – 2017) Sessenta anos de história marcam, assim, a a morte.
trajetória da utopia no país. d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma e) E como seria a verdadeira boa morte?
verbal resultante será:
Resposta: Letra E.
a) foram marcados. Em “a”: Existe grande confusão = substantivo
b) foi marcado. Em “b”: o médico ou alguém causa ativamente a mor-
c) são marcados. te = pronome
d) foi marcada. Em “c”: prolonga o processo de morrer procurando
e) é marcada. distanciar a morte = substantivo
Em “d”: Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
Resposta: Letra E. Em “e”: E como seria a verdadeira boa morte? = ad-
Temos um verbo (no tempo presente) na ativa, então jetivo
teremos dois na passiva (auxiliar [no tempo presente]
+ particípio de “marcam”) = Assim, a trajetória da uto- 17. (PC-SP – ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP –
pia do país é marcada pelos sessenta anos de história. 2014) As formas verbais conjugadas no modo impera-
tivo, expressando ordem, instrução ou comando, estão
15. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO destacadas em
– SOLDADO PM 2.ª CLASSE – VUNESP – 2017) Consi-
dere as seguintes frases: a) Mas há outros cujas marcas acabam ficando bem ní-
Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos. tidas na memória: são aqueles donos de qualidades
Segundo, não memorize apenas por repetição. incomuns.
Terceiro, rabisque! b) Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e
Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos quase não acreditei no que ouvi.
empregados nessas frases está em destaque em: c) – Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí, vá
pro estúdio e ponha a rádio no ar.
a) [...] o acesso rápido e a quantidade de textos fazem d) Bem, o fato é que eu era o técnico de som do horário,
com que o cérebro humano não considere útil gravar precisava “passar” a transmissão lá para a câmara, e
esses dados [...] o locutor não chegava para os textos de abertura, pu-
b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem- blicidade, chamadas.
-número de informações. e) ... estremecíamos quando ele nos chamava para qual-
c) [...] após discar e fazer a ligação, não precisamos mais quer coisa, fazendo-nos entrar na sua sala imensa, já
dele... suando frio e atentos às suas finas e cortantes pala-
d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em vras.
que morou quando era criança?
e) É o que mostra também uma pesquisa recente condu- Resposta: Letra C.
zida pela empresa de segurança digital Kaspersky [...] Aos itens:
Em “a”: há = presente / acabam = presente / são =
Resposta: Letra D. presente
Os verbos das frases citadas estão no Modo Imperati- Em “b”: Voltei = pretérito perfeito / acreditei = preté-
vo (expressam ordem). Vamos aos itens: rito perfeito
Em “a”: ... o acesso rápido e a quantidade de textos Em “c”: deixe / largue / vá / ponha = verbos no modo
fazem = presente do Indicativo imperativo afirmativo (ordens)
Em “b”: Na internet, basta um clique = presente do Em “d”: era = pretérito imperfeito / precisava = preté-
Indicativo rito imperfeito / chegava = pretérito imperfeito
Em “c”: ... após discar e fazer a ligação, não precisamos Em “e”: fazendo-nos = gerúndio / suando = gerúndio
= presente do Indicativo
Em “d”: Pense rápido: = Imperativo 18. (PC-SP – AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP – 2013)
Em “e”: É o que mostra também uma pesquisa = pre- Em – O destino me prestava esse pequeno favor: com-
sente do Indicativo pletava minha identificação com o resto da humanida-
de, que tem sempre para contar uma história de objeto
16. (PC-SP – ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLI- achado; – o pronome em destaque retoma a seguinte
LÍNGUA PORTUGUESA

CIAL – VUNESP – 2014) Assinale a alternativa em que a palavra/expressão:


palavra em destaque na frase pertence à classe dos adje-
tivos (palavra que qualifica um substantivo). a) o resto da humanidade.
b) esse pequeno favor.
a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de eu- c) minha identificação.
tanásia... d) O destino.
b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte... e) completava.

56
Resposta: Letra A. Resposta: Letra E.
Completava minha identificação com o resto da huma- Há quem acredite que alcançará o sucesso profissio-
nidade, que (a qual) tem sempre para contar uma his- nal quando obtiver um diploma de mestrado, mas há
tória de objeto achado = pronome relativo que retoma aqueles que divergem de opinião e procuram investir
o resto da humanidade. em cursos profissionalizantes.

19. (PC-SP – AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP – 2013) 22. (PC-SP – AUXILIAR DE NECROPSIA – VUNESP –
Considere o trecho a seguir. 2014) Considerando que o adjetivo é uma palavra que
É comum que objetos ____________ esquecidos em locais modifica o substantivo, com ele concordando em gênero
públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados e número, assinale a alternativa em que a palavra desta-
se as pessoas __________ a atenção voltada para seus per- cada é um adjetivo.
tences, conservando-os junto ao corpo.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva- a) ... um câncer de boca horroroso, ...
mente, as lacunas do texto. b) Ele tem dezesseis anos...
c) Eu queria que ele morresse logo, ...
a) sejam ... mantesse d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às fa-
b) sejam ... mantém mílias.
c) sejam ... mantivessem e) E o inferno não atinge só os terminais.
d) seja ... mantivessem
e) seja ... mantêm Resposta: Letra A.
Em “a”: um câncer de boca horroroso = adjetivo
Resposta: Letra C. Em “b”: Ele tem dezesseis anos = numeral
Completemos as lacunas e depois busquemos o item Em “c”: Eu queria que ele morresse logo = advérbio
correspondente. A pegadinha aqui é a conjugação do Em “d”: com a crueldade adicional de dar esperança
verbo “manter”, no presente do Subjuntivo (mantiver): às famílias = substantivo
É comum que objetos sejam esquecidos em locais pú- Em “e”: E o inferno não atinge só os terminais = subs-
blicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados tantivo
se as pessoas mantivessem a atenção voltada para
seus pertences, conservando-os junto ao corpo.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL.
20. (PC-SP – ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLI-
CIAL – VUNESP – 2013) Nas frases – Não vou mais à
escola!… – e – Hoje estão na moda os métodos audiovi- Os concurseiros estão apreensivos.
suais. – as palavras em destaque expressam, correta e Concurseiros apreensivos.
respectivamente, circunstâncias de
No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra na
a) dúvida e modo. terceira pessoa do plural, concordando com o seu su-
b) dúvida e tempo. jeito, os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo
c) modo e afirmação. “apreensivos” está concordando em gênero (masculino)
d) negação e lugar. e número (plural) com o substantivo a que se refere: con-
e) negação e tempo. curseiros. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa,
número e gênero se correspondem. A correspondência
Resposta: Letra E. de flexão entre dois termos é a concordância, que pode
“não” – advérbio de negação / “hoje” – advérbio de ser verbal ou nominal.
tempo. 1. Concordância Verbal

21. (PC-SP – ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP – É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
2013) Assinale a alternativa que completa respectiva- seu sujeito.
mente as lacunas, em conformidade com a norma-pa-
drão de conjugação verbal. 1.1. Sujeito Simples - Regra Geral
Há quem acredite que alcançará o sucesso profissional O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
quando __________ um diploma de mestrado, mas há em número e pessoa. Veja os exemplos:
aqueles que _________ de opinião e procuram investir em
LÍNGUA PORTUGUESA

cursos profissionalizantes. A prova para ambos os cargos será aplicada às 13h.


3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
a) obtiver … divirgem
b) obter … divergem Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
c) obtesse … devirgem 3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
d) obter … divirgem
e) obtiver … divergem

57
1.1.1. Casos Particulares mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso
não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de
A) Quando o sujeito é formado por uma expressão tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia.
partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de, Nos casos em que o interrogativo ou indefinido esti-
metade de, a maioria de, a maior parte de, grande ver no singular, o verbo ficará no singular.
parte de...) seguida de um substantivo ou pronome Qual de nós é capaz?
no plural, o verbo pode ficar no singular ou no Algum de vós fez isso.
plural.
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. E) Quando o sujeito é formado por uma expressão
Metade dos candidatos não apresentou / apresenta- que indica porcentagem seguida de substantivo, o
ram proposta. verbo deve concordar com o substantivo.
25% do orçamento do país será destinado à Educação.
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos 85% dos entrevistados não aprovam a administração
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vân- do prefeito.
dalos destruiu / destruíram o monumento. 1% do eleitorado aceita a mudança.
Observação: 1% dos alunos faltaram à prova.
Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a  Quando a expressão que indica porcentagem não
unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque é seguida de substantivo, o verbo deve concordar
aos elementos que formam esse conjunto. com o número.
25% querem a mudança.
B) Quando o sujeito é formado por expressão que 1% conhece o assunto.
indica quantidade aproximada (cerca de, mais de,
menos de, perto de...) seguida de numeral e subs-  Se o número percentual estiver determinado por
artigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-
tantivo, o verbo concorda com o substantivo.
-á com eles:
Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Os 30% da produção de soja serão exportados.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenida-
Esses 2% da prova serão questionados.
de.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últi-
F) O pronome “que” não interfere na concordância;
mas Olimpíadas.
já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
do singular.
Observação: Fui eu que paguei a conta.
Quando a expressão “mais de um” se associar a ver- Fomos nós que pintamos o muro.
bos que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: És tu que me fazes ver o sentido da vida.
Mais de um colega se ofenderam na discussão. (ofende- Sou eu quem faz a prova.
ram um ao outro) Não serão eles quem será aprovado.
C) Quando se trata de nomes que só existem no G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as-
plural, a concordância deve ser feita levando-se sumir a forma plural.
em conta a ausência ou presença de artigo. Sem Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan-
artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo taram os poetas.
no plural, o verbo deve ficar o plural. Este candidato é um dos que mais estudaram!
Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
Estados Unidos possui grandes universidades.  Se a expressão for de sentido contrário – nenhum
Alagoas impressiona pela beleza das praias. dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no
As Minas Gerais são inesquecíveis. singular:
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira. Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
Nem uma das que me escreveram mora aqui.
D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos,  Quando “um dos que” vem entremeada de subs-
muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou tantivo, o verbo pode:
“de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro
pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o 1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atraves-
pronome pessoal. sa o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio
Quais de nós são / somos capazes? que faça o mesmo).
LÍNGUA PORTUGUESA

Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? 2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão po-
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino- luídos (noção de que existem outros rios na mesma
vadoras. condição).

Observação: H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o


Veja que a opção por uma ou outra forma indica a verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém diz Vossa Excelência está cansado?
ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize- Vossas Excelências renunciarão?

58
I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concor-
de acordo com o numeral. dância é feita no plural. Observe:
Deu uma hora no relógio da sala. Abraçaram-se vencedor e vencido.
Deram cinco horas no relógio da sala. Ofenderam-se o jogador e o árbitro.
Soam dezenove horas no relógio da praça.
Baterão doze horas daqui a pouco. 1.2.1. Casos Particulares

Observação:  Quando o sujeito composto é formado por núcleos


Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino, sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito. Descaso e desprezo marca seu comportamento.
O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas. A coragem e o destemor fez dele um herói.
Soa quinze horas o relógio da matriz.
 Quando o sujeito composto é formado por nú-
cleos dispostos em gradação, verbo no singular:
J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um se-
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do sin-
gundo me satisfaz.
gular. São verbos impessoais: Haver no sentido de
 Quando os núcleos do sujeito composto são
existir; Fazer indicando tempo; Aqueles que indi-
unidos por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural,
cam fenômenos da natureza. Exemplos: de acordo com o valor semântico das conjunções:
Havia muitas garotas na festa. Drummond ou Bandeira representam a essência da
Faz dois meses que não vejo meu pai. poesia brasileira.
Chovia ontem à tarde. Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta.
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de
1.2. Sujeito Composto “adição”. Já em:
Juca ou Pedro será contratado.
A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao ver- Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olimpíada.
bo, a concordância se faz no plural:
Pai e filho conversavam longamente. Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam
Sujeito no singular.

Pais e filhos devem conversar com frequência.  Com as expressões “um ou outro” e “nem um
Sujeito nem outro”, a concordância costuma ser feita no singular.
Um ou outro compareceu à festa.
B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas Nem um nem outro saiu do colégio.
gramaticais diferentes, a concordância ocorre da seguin-
te maneira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece  Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural
sobre a segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece ou no singular: Um e outro farão/fará a prova.
sobre a terceira (eles). Veja:
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.  Quando os núcleos do sujeito são unidos por
Primeira Pessoa do Plural (Nós) “com”, o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos re-
cebem um mesmo grau de importância e a palavra “com”
tem sentido muito próximo ao de “e”.
Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
O pai com o filho montaram o brinquedo.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
O governador com o secretariado traçaram os planos
para o próximo semestre.
Pais e filhos precisam respeitar-se.
O professor com o aluno questionaram as regras.
Terceira Pessoa do Plural (Eles)
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se
Observação: a ideia é enfatizar o primeiro elemento.
Quando o sujeito é composto, formado por um ele- O pai com o filho montou o brinquedo.
mento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é O governador com o secretariado traçou os planos
possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural para o próximo semestre.
(eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar O professor com o aluno questionou as regras.
de “tomaríeis”.
C) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, Com o verbo no singular, não se pode falar em sujeito
passa a existir uma nova possibilidade de concordância:
LÍNGUA PORTUGUESA

composto. O sujeito é simples, uma vez que as expres-


em vez de concordar no plural com a totalidade do sujei- sões “com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos
to, o verbo pode estabelecer concordância com o núcleo adverbiais de companhia. Na verdade, é como se hou-
do sujeito mais próximo. vesse uma inversão da ordem. Veja:
Faltaram coragem e competência. “O pai montou o brinquedo com o filho.”
Faltou coragem e competência. “O governador traçou os planos para o próximo semestre
Compareceram todos os candidatos e o banca. com o secretariado.”
Compareceu o banca e todos os candidatos. “O professor questionou as regras com o aluno.”

59
Casos em que se usa o verbo no singular: O Verbo “Ser”
Café com leite é uma delícia!
O frango com quiabo foi receita da vovó. A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân-
Quando os núcleos do sujeito são unidos por expres- cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo
sões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não somen- do sujeito.
te”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”, o verbo
ficará no plural. Quando o sujeito ou o predicativo for:
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
Nordeste. A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo
Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a notícia. SER concorda com a pessoa gramatical:
Quando os elementos de um sujeito composto são re- Ele é forte, mas não é dois.
sumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é Fernando Pessoa era vários poetas.
feita com esse termo resumidor. A esperança dos pais são eles, os filhos.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro
na vida das pessoas. no plural, o verbo SER concordará, preferencial-
mente, com o que estiver no plural:
1.2.2 Outros Casos Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros!
O Verbo e a Palavra “SE”
Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas Quando o verbo SER indicar
de particular interesse para a concordância verbal:
A) quando é índice de indeterminação do sujeito;  horas e distâncias, concordará com a expressão
B) quando é partícula apassivadora.
numérica:
É uma hora.
Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
São quatro horas.
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilô-
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na tercei-
metros.
ra pessoa do singular:
Precisa-se de funcionários.
 datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
Confia-se em teses absurdas.
estar expressa ou subentendida:
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver-
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos Hoje é dia 26 de agosto.
(VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o Hoje são 26 de agosto.
verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos:
Construiu-se um posto de saúde.  Quando o sujeito indicar peso, medida, quantida-
Construíram-se novos postos de saúde. de e for seguido de palavras ou expressões como
Aqui não se cometem equívocos pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER
Alugam-se casas. fica no singular:
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
#FicaDica Duas semanas de férias é muito para mim.
Para saber se o “se” é partícula apassivadora
ou índice de indeterminação do sujeito, tente  Quando um dos elementos (sujeito ou predica-
transformar a frase para a voz passiva. Se a fra- tivo) for pronome pessoal do caso reto, com este
se construída for “compreensível”, estaremos concordará o verbo.
diante de uma partícula apassivadora; se não, o No meu setor, eu sou a única mulher.
“se” será índice de indeterminação. Veja: Aqui os adultos somos nós.
Precisa-se de funcionários qualificados.
Tentemos a voz passiva: Observação:
Funcionários qualificados são precisados (ou Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) repre-
precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se” des- sentados por pronomes pessoais, o verbo concorda com
tacado é índice de indeterminação do sujeito. o pronome sujeito.
LÍNGUA PORTUGUESA

Agora: Eu não sou ela.


Vendem-se casas. Ela não é eu.
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção
correta! Então, aqui, o “se” é partícula apassi-  Quando o sujeito for uma expressão de sentido
vadora. (Dá para eu passar para a voz passiva. partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no plu-
Repare em meu destaque. Percebeu semelhan- ral, o verbo SER concordará com o predicativo.
ça? Agora é só memorizar!) A grande maioria no protesto eram jovens.
O resto foram atitudes imaturas.

60
O Verbo “Parecer” Observação:
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza,
verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordân- pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos
cias: dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado
 Ocorre variação do verbo PARECER e não se fle- no plural masculino, que é o gênero predominante quan-
xiona o infinitivo: As crianças parecem gostar do do há substantivos de gêneros diferentes.
desenho. Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
 A variação do verbo parecer não ocorre e o infini- jetivo fica no singular ou plural.
tivo sofre flexão: A beleza e a inteligência feminina(s).
As crianças parece gostarem do desenho. O carro e o iate novo(s).
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho
aas crianças) C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:
O adjetivo fica no masculino singular, se o substanti-
vo não for acompanhado de nenhum modificador:
FIQUE ATENTO! Água é bom para saúde.
Com orações desenvolvidas, o verbo PARE- O adjetivo concorda com o substantivo, se este for
CER fica no singular. Por exemplo: As pare- modificado por um artigo ou qualquer outro determinati-
des parece que têm ouvidos. (Parece que as vo: Esta água é boa para saúde.
paredes têm ouvidos = oração subordinada
substantiva subjetiva). D) O adjetivo concorda em gênero e número com os
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon-
trou-as muito felizes.
Concordância Nominal E) Nas expressões formadas por pronome indefinido
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE
A concordância nominal se baseia na relação entre no- + adjetivo, este último geralmente é usado no mas-
mes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se culino singular: Os jovens tinham algo de misterioso.
ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se: função adjetiva e concorda normalmente com o
nome a que se refere:
normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
Cristina saiu só.
termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
Cristina e Débora saíram sós.
A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
seguintes regras gerais:
Observação:
Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou “ape-
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
nas”, tem função adverbial, ficando, portanto, invariável:
se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
Eles só desejam ganhar presentes.
denunciavam o que sentia.

B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, #FicaDica


a concordância pode variar. Podemos sistematizar
essa flexão nos seguintes casos: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”.
Se a frase ficar coerente com o primeiro,
 Adjetivo anteposto aos substantivos: trata-se de advérbio, portanto, invariável; se
O adjetivo concorda em gênero e número com o houver coerência com o segundo, função de
substantivo mais próximo. adjetivo, então varia:
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Encontramos caída a roupa e os prendedores. Ele está só descansando. (apenas descansan-
Encontramos caído o prendedor e a roupa. do) - advérbio
Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula
Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de depois de “só”, haverá, novamente, um ad-
parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. jetivo:
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. descansando)

 Adjetivo posposto aos substantivos: G) Quando um único substantivo é modificado por


LÍNGUA PORTUGUESA

O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usa-
ou com todos eles (assumindo a forma masculina das as construções:
plural se houver substantivo feminino e masculi-  O substantivo permanece no singular e coloca-se
no). o artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. espanhola e a portuguesa.
A indústria oferece atendimento e localização perfeita.  O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos. antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. portuguesa.

61
1. Casos Particulares Alerta - Menos

É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per- Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
mitido sempre invariáveis.
Os concurseiros estão sempre alerta.
 Estas expressões, formadas por um verbo mais um Não queira menos matéria!
adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se
referem possuir sentido genérico (não vier prece- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dido de artigo). Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
É proibido entrada de crianças. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Em certos momentos, é necessário atenção. Paulo: Saraiva, 2010.
No verão, melancia é bom. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
É preciso cidadania. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Não é permitido saída pelas portas laterais. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
 Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto SITE
o verbo como o adjetivo concordam com ele. http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49.php
É proibida a entrada de crianças.
Esta salada é ótima.
A educação é necessária.
São precisas várias medidas na educação. EXERCÍCIOS COMENTADOS

Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - 1. (POLÍCIA FEDERAL – ESCRIVÃO DE POLÍCIA FE-
Quite DERAL – CESPE – 2013) Formas de tratamento como
Vossa Excelência e Vossa Senhoria, ainda que sejam em-
Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú- pregadas sempre na segunda pessoa do plural e no femi-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem. nino, exigem flexão verbal de terceira pessoa; além disso,
Seguem anexas as documentações requeridas. o pronome possessivo que faz referência ao pronome
A menina agradeceu: - Muito obrigada. de tratamento também deve ser o de terceira pessoa, e
Muito obrigadas, disseram as senhoras. o adjetivo que remete ao pronome de tratamento deve
Seguem inclusos os papéis solicitados. concordar em gênero e número com a pessoa — e não
Estamos quites com nossos credores. com o pronome — a que se refere.

Bastante - Caro - Barato - Longe ( ) CERTO ( ) ERRADO

Estas palavras são invariáveis quando funcionam Resposta: Certo. Afirmações corretas. As concordân-
como advérbios. Concordam com o nome a que se refe- cias verbal e nominal ao se utilizar pronome de trata-
rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje- mento devem ser na terceira pessoa e concordar em
tivos, ou numerais. gênero (masculino ou feminino) com a pessoa a quem
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) se dirige: “Vossa Excelência está cansada(o)?” – con-
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. cordará com quem está se falando: uma mulher ou um
(pronome adjetivo) homem / “Vossa Santidade trouxe seus pertences?” /
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) “Vossas Senhorias gostariam de um café?”.
As casas estão caras. (adjetivo)
Achei barato este casaco. (advérbio) 2. (PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – CONHECIMEN-
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) TOS BÁSICOS CARGOS DE TÉCNICO MUNICIPAL –
NÍVEL MÉDIO – CESPE – 2017)
Meio - Meia
Texto CB3A2BBB
A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo,
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi O reconhecimento e a proteção dos direitos humanos
meia porção de polentas. estão na base das Constituições democráticas modernas.
Quando empregada como advérbio permanece inva- A paz, por sua vez, é o pressuposto necessário para o re-
LÍNGUA PORTUGUESA

riável: A candidata está meio nervosa. conhecimento e a efetiva proteção dos direitos humanos
em cada Estado e no sistema internacional. Ao mesmo
#FicaDica tempo, o processo de democratização do sistema in-
ternacional, que é o caminho obrigatório para a busca
Dá para eu substituir por “um pouco”, assim do ideal da paz perpétua, não pode avançar sem uma
saberei que se trata de um advérbio, não gradativa ampliação do reconhecimento e da proteção
de adjetivo: “A candidata está um pouco dos direitos humanos, acima de cada Estado. Direitos
nervosa”. humanos, democracia e paz são três elementos funda-

62
mentais do mesmo movimento histórico: sem direitos A forma verbal “surge” poderia, sem prejuízo gramati-
humanos reconhecidos e protegidos, não há democra- cal para o texto, ser flexionada no plural, para concordar
cia; sem democracia, não existem as condições mínimas com “velocidade, persistência, relevância, precisão e fle-
para a solução pacífica dos conflitos. Em outras palavras, xibilidade”
a democracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se
tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns ( ) CERTO ( ) ERRADO
direitos fundamentais; haverá paz estável, uma paz que
não tenha a guerra como alternativa, somente quando Resposta: Errado. O verbo está concordando com o
existirem cidadãos não mais apenas deste ou daquele termo “combinação”, por isso deve ficar no singular.
Estado, mas do mundo.
Norberto Bobbio. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson 5. (TRIBUNAL DE CONTAS DO DISTRITO FEDERAL-
Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 1 (com adapta- -DF – CONHECIMENTOS BÁSICOS – ANALISTA DE
ções). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ARQUIVOLOGIA –
CESPE – 2014 – ADAPTADA) (...) Há décadas, países
Preservando-se a correção gramatical do texto CB3A- como China e Índia têm enviado estudantes para países
2BBB, os termos “não há” e “não existem” poderiam ser centrais, com resultados muito positivos.(...)
substituídos, respectivamente, por A forma verbal “Há” poderia ser corretamente substituída
por Fazem.
a) não existe e não têm.
b) não existe e inexiste. ( ) CERTO ( ) ERRADO
c) inexiste e não há.
d) inexiste e não acontece. Resposta: Errado. O verbo “fazer”, quando empre-
e) não tem e não têm. gado no sentido de tempo passado, não sofre flexão.
Portanto, sua forma correta seria: “faz décadas”
Resposta: Letra C.
Busquemos o contexto:
- sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, não
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL.
há democracia = poderíamos substituir por “não exis-
te”, inexiste (verbo “haver” empregado com o sentido
de “existir”)
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação
- sem democracia, não existem as condições mínimas
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome
para a solução pacífica dos conflitos = sentido de “exis-
(regência nominal) e seus complementos.
tir”. Poderíamos substituir por inexiste, mas no plural, já
que devemos concordar com “as condições mínimas”.
1. Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
A única “troca” adequada seria o verbo “haver” – que
pode ser utilizado com o sentido de “existir”. Teríamos:
sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, ine- A regência verbal estuda a relação que se estabele-
xiste democracia; sem democracia, não há as condições ce entre os verbos e os termos que os complementam
mínimas para a solução pacífica dos conflitos. (objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (ad-
juntos adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma
3. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚS- regência, o que corresponde à diversidade de significa-
TRIA E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO dos que estes verbos podem adquirir dependendo do
ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) Em “Vossa Exce- contexto em que forem empregados.
lência deve estar satisfeita com os resultados das nego- A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar,
ciações”, o adjetivo estará corretamente empregado se contentar.
dirigido a ministro de Estado do sexo masculino, pois o A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar
termo “satisfeita” deve concordar com a locução prono- agrado ou prazer”, satisfazer.
minal de tratamento “Vossa Excelência”. Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
“agradar a alguém”.
( ) CERTO ( ) ERRADO O conhecimento do uso adequado das preposições
é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência
Resposta: Errado. Se a pessoa, no caso o ministro, for verbal (e também nominal). As preposições são capazes
do sexo feminino (ministra), o adjetivo está correto; de modificar completamente o sentido daquilo que está
mas, se for do sexo masculino, o adjetivo sofrerá fle- sendo dito.
xão de gênero: satisfeito. O pronome de tratamento Cheguei ao metrô.
LÍNGUA PORTUGUESA

é apenas a maneira como tratar a autoridade, não re- Cheguei no metrô.


gendo as demais concordâncias. No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no
segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado.
4. (ABIN – AGENTE TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA –
CESPE – 2010 – ADAPTADA) (...) Da combinação entre A voluntária distribuía leite às crianças.
velocidade, persistência, relevância, precisão e flexibilida- A voluntária distribuía leite com as crianças.
de surge a noção contemporânea de agilidade, transfor- Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado
mada em principal característica de nosso tempo. como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (ob-

63
jeto indireto: às crianças); na segunda, como transitivo C) Verbos Transitivos Indiretos
direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto Os verbos transitivos indiretos são complementados
adverbial). por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos uma preposição para o estabelecimento da relação de re-
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um gência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de terceira
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes pessoa que podem atuar como objetos indiretos são o “lhe”,
formas em frases distintas. o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam os prono-
mes o, os, a, as como complementos de verbos transitivos
A) Verbos Intransitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não representam
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos de terceira
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes.
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
Chegar, Ir Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo-
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver- sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos
biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para iguais para todos.
indicar destino ou direção são: a, para.
Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple-
Fui ao teatro. mentos introduzidos pela preposição “a”:
Adjunto Adverbial de Lugar Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Eles desobedeceram às leis do trânsito.
Ricardo foi para a Espanha.
Adjunto Adverbial de Lugar Responder - Tem complemento introduzido pela pre-
posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a
quem” ou “ao que” se responde.
Comparecer
Respondi ao meu patrão.
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
Respondemos às perguntas.
em ou a.
Respondeu-lhe à altura.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
último jogo.
Observação:
O verbo responder, apesar de transitivo indireto quan-
B) Verbos Transitivos Diretos
do exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
Os verbos transitivos diretos são complementados por analítica:
objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição O questionário foi respondido corretamente.
para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre- Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente.
gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos
o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas ver- tos introduzidos pela preposição “com”.
bais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após Antipatizo com aquela apresentadora.
formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e Simpatizo com os que condenam os políticos que gover-
lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos. nam para uma minoria privilegiada.
São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxi-
liar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, de- Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa-
fender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem des-
prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar. taque, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São ver-
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente bos que apresentam objeto direto relacionado a coisas e
como o verbo amar: objeto indireto relacionado a pessoas.
Amo aquele rapaz. / Amo-o. Agradeço aos ouvintes a audiência.
Amo aquela moça. / Amo-a. Objeto Indireto Objeto Direto
Amam aquele rapaz. / Amam-no.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. Paguei o débito ao cobrador.
Objeto Direto Objeto Indireto
Observação:
LÍNGUA PORTUGUESA

Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos com particular cuidado:
adnominais): Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car- Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
reira) Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu- Paguei minhas contas. / Paguei-as.
mor) Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

64
Informar curso linguístico muito importante, pois além de permitir
Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto a correta interpretação de passagens escritas, oferece
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Dentre
Informe os novos preços aos clientes. os principais, estão:
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os no-
vos preços) Agradar
Na utilização de pronomes como complementos, veja Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
as construções: nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos pre- Sempre agrada o filho quando.
ços. Aquele comerciante agrada os clientes.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou
sobre eles) Agradar é transitivo indireto no sentido de causar
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
Observação: introduzido pela preposição “a”.
A mesma regência do verbo informar é usada para os O cantor não agradou aos presentes.
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir. O cantor não lhes agradou.

Comparar O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indire-


Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite to: O cantor desagradou à plateia.
as preposições “a” ou “com” para introduzir o comple-
mento indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com Aspirar
o) de uma criança. Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, ins-
pirar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
Pedir Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (As-
na forma de oração subordinada substantiva) e indireto pirávamos a ele)
de pessoa. Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes-
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”.
Pedi-lhe favores.
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (=
Objeto Indireto Objeto Direto
Aspiravam a ela)

Assistir
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
tar assistência a, auxiliar.
tantiva Objetiva Direta As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na lín- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen-
gua culta. No entanto, é considerada correta quando a ciar, estar presente, caber, pertencer.
palavra licença estiver subentendida. Assistimos ao documentário.
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa. Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino.
Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
uma oração subordinada adverbial final reduzida de infini- No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
tivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa). transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
Preferir lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in- conturbada cidade.
direto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. Chamar
Prefiro trem a ônibus. Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, so-
licitar a atenção ou a presença de.
Observação: Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá chamá-la.
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil vezes, Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
LÍNGUA PORTUGUESA

um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre-
existente no próprio verbo (pre). dicativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi- A torcida chamou ao jogador mercenário.
cado A torcida chamou o jogador de mercenário.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transiti- A torcida chamou ao jogador de mercenário.
vidade, apresentam mudança de significado. O conheci- Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
mento das diferentes regências desses verbos é um re- Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.

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Custar Querer
Custar é intransitivo no sentido de ter determinado Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver- vontade de, cobiçar.
bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito. Querem melhor atendimento.
Queremos um país melhor.
No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição,
duzida de infinitivo. estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.

Muito custa viver tão longe da família. Visar


Verbo Intransitivo Oração Subordinada Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo.
Custou-me (a mim) crer nisso. O gerente não quis visar o cheque.
Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
A Gramática Normativa condena as construções que O ensino deve sempre visar ao progresso social.
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-
pessoa: Custei para entender o problema. -estar público.
= Forma correta: Custou-me entender o problema.
Esquecer – Lembrar
Implicar Lembrar algo – esquecer algo
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (prono-
A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
minal)
implicavam um firme propósito.
B) ter como consequência, trazer como consequência,
No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou
acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
seja, exigem complemento sem preposição: Ele esque-
ceu o livro.
Como transitivo direto e indireto, significa compro-
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me,
meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São,
econômicas.
No sentido de antipatizar, ter implicância, é transiti- portanto, transitivos indiretos:
vo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com Ele se esqueceu do caderno.
quem não trabalhasse arduamente. Eu me esqueci da chave.
Eles se esqueceram da prova.
Namorar Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.
Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
anos. Há uma construção em que a coisa esquecida ou
lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre
Obedecer - Desobedecer leve alteração de sentido. É uma construção muito rara
Sempre transitivo indireto: na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la
Todos obedeceram às regras. em textos clássicos tanto brasileiros como portugueses.
Ninguém desobedece às leis. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa constru-
ção várias vezes.
Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (=
Proceder momentos é sujeito)
Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa Simpatizar - Antipatizar
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto São transitivos indiretos e exigem a preposição
adverbial de modo. “com”:
As afirmações da testemunha procediam, não havia Não simpatizei com os jurados.
como refutá-las. Simpatizei com os alunos.
LÍNGUA PORTUGUESA

Você procede muito mal.


A norma culta exige que os verbos e expressões que
Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo- dão ideia de movimento sejam usados com a preposi-
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introdu- ção “a”:
zido pela preposição “a”) é transitivo indireto. Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
O avião procede de Maceió. Cláudia desceu ao segundo andar.
Procedeu-se aos exames. Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
O delegado procederá ao inquérito.

66
2 Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
completiva nominal (subordinada substantiva).

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
paralelamente a; relativa a; relativamente a.

67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- COLOCAÇÃO PRONOMINAL.
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa “Prezado Candidato, o tópico acima foi abordado em:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pro-
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- nome, verbo, advérbio, preposição e conjunção: emprego
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. e sentido que imprimem às relações que estabelecem”

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61. CRASE.
php

A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais


idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a”
EXERCÍCIO COMENTADO com o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos
pronomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e
1. (POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍCIA FEDE- com o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as
RAL – CESPE – 2014 – ADAPTADA) quais). Casos estes em que tal fusão encontra-se demar-
O uso indevido de drogas constitui, na atualidade, sé- cada pelo acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo,
ria e persistente ameaça à humanidade e à estabilidade à qual, às quais.
das estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e O uso do acento indicativo de crase está condiciona-
culturais de todos os Estados e sociedades. Suas con- do aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal
sequências infligem considerável prejuízo às nações do e nominal, mais precisamente ao termo regente e termo
mundo inteiro, e não são detidas por fronteiras: avançam regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome -
por todos os cantos da sociedade e por todos os espaços que exige complemento regido pela preposição “a”, e o
geográficos, afetando homens e mulheres de diferen- termo regido é aquele que completa o sentido do termo
tes grupos étnicos, independentemente de classe social regente, admitindo a anteposição do artigo a(s).
e econômica ou mesmo de idade. Questão de relevân- Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela
cia na discussão dos efeitos adversos do uso indevido
contratada recentemente.
de drogas é a associação do tráfico de drogas ilícitas e
Após a junção da preposição com o artigo (destaca-
dos crimes conexos — geralmente de caráter transna-
dos entre parênteses), temos:
cional — com a criminalidade e a violência. Esses fato-
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contrata-
res ameaçam a soberania nacional e afetam a estrutura
da recentemente.
social e econômica interna, devendo o governo adotar
uma postura firme de combate ao tráfico de drogas, ar-
O verbo referir, de acordo com sua transitividade,
ticulando-se internamente e com a sociedade, de forma
classifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos re-
a aperfeiçoar e otimizar seus mecanismos de prevenção
e repressão e garantir o envolvimento e a aprovação dos ferimos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição
cidadãos. a + o artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o
Internet: <www.direitoshumanos.usp.br>. pronome demonstrativo aquela (àquela).

Observações importantes:
Nas linhas 12 e 13, o emprego da preposição “com”, em Alguns recursos servem de ajuda para que possamos
“com a criminalidade e a violência”, deve-se à regência confirmar a ocorrência ou não da crase. Eis alguns:
do vocábulo “conexos”.  Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a
( ) CERTO ( ) ERRADO crase está confirmada.
Os dados foram solicitados à diretora.
Resposta: Errado. Ao texto: (...) Questão de relevância Os dados foram solicitados ao diretor.
na discussão dos efeitos adversos do uso indevido de
drogas é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos  No caso de nomes próprios geográficos, substi-
crimes conexos — geralmente de caráter transnacional tui-se o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso re-
— com a criminalidade e a violência. sulte na expressão “voltar da”, há a confirmação da
crase.
LÍNGUA PORTUGUESA

O termo está se referindo à associação – associação do Faremos uma visita à Bahia.


tráfico de drogas e crimes conexos (1) com a criminalidade Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada)
(2) (associação daquilo [1] com isso [2])
Não me esqueço da viagem a Roma.
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
mais vividos.

68
Nas situações em que o nome geográfico se apresen-  Constata-se o uso da crase se as locuções prepo-
tar modificado por um adjunto adnominal, a crase está sitivas à moda de, à maneira de apresentarem-se
confirmada. implícitas, mesmo diante de nomes masculinos:
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas Tenho compulsão por comprar sapatos à Luis XV. (à
praias. moda de Luís XV)
 Não se efetiva o uso da crase diante da locução
adverbial “a distância”: Na praia de Copacabana,
#FicaDica observamos a queima de fogos a distância.
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos
Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou uma locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedes-
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a tre foi arremessado à distância de cem metros.
Campinas. = Volto de Campinas. (crase pra  De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade
quê?) -, faz-se necessário o emprego da crase.
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) Ensino à distância.
Ensino a distância.
 Em locuções adverbiais formadas por palavras re-
Quando o nome de lugar estiver especificado, ocor- petidas, não há ocorrência da crase.
rerá crase. Veja: Ela ficou frente a frente com o agressor.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo Eu o seguirei passo a passo.
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
Irei à Salvador de Jorge Amado. Casos em que não se admite o emprego da crase:

A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Antes de vocábulos masculinos.


aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
regente exigir complemento regido da preposição “a”. Esta caneta pertence a Pedro.
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) Antes de verbos no infinitivo.
Ele estava a cantar.
Iremos àquela reunião. Começou a chover.
(preposição + pronome demonstrativo)
Antes de numeral.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando O número de aprovados chegou a cem.
criança. (àquelas que eu ouvia quando criança) Faremos uma visita a dez países.
(preposição + pronome demonstrativo)
Observações:
A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-  Nos casos em que o numeral indicar horas – fun-
verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebem o acento cionando como uma locução adverbial feminina –
grave: ocorrerá crase: Os passageiros partirão às dezenove
 locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às horas.
pressas, à vontade...  Diante de numerais ordinais femininos a crase está
 locuções prepositivas: à frente, à espera de, à pro- confirmada, visto que estes não podem ser empre-
cura de... gados sem o artigo: As saudações foram direciona-
 locuções conjuntivas: à proporção que, à medida das à primeira aluna da classe.
que.  Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando
essa não se apresentar determinada: Chegamos to-
Cuidado: quando as expressões acima não exercerem dos exaustos a casa.
a função de locuções não ocorrerá crase. Repare: Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto
Eu adoro a noite! adnominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos
exaustos à casa de Marcela.
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer  Não há crase antes da palavra “terra”, quando essa
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não indicar chão firme: Quando os navegantes regressa-
preposição. ram a terra, já era noite.
Contudo, se o termo estiver precedido por um de-
Casos passíveis de nota: terminante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase.
LÍNGUA PORTUGUESA

Paulo viajou rumo à sua terra natal.


 A crase é facultativa diante de nomes próprios fe- O astronauta voltou à Terra.
mininos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
 Também é facultativa diante de pronomes posses-  Não ocorre crase antes de pronomes que reque-
sivos femininos: O diretor fez referência a (à) sua rem o uso do artigo.
empresa. Os livros foram entregues a mim.
 Facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja Dei a ela a merecida recompensa.
ficará aberta até as (às) dezoito horas.

69
 Pelo fato de os pronomes de tratamento relativos quando entrou em vigor a LRF, esses estados, como os
à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, o demais, estão sujeitos a regras precisas para a gestão do
uso da crase está confirmado no “a” que os antece- dinheiro público, para a criação de despesas e, em par-
de, no caso de o termo regente exigir a preposição. ticular, para os gastos com pessoal. Por que, tendo des-
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. cumprido algumas dessas regras, estariam interessados
 Não ocorre crase antes de nome feminino utiliza- em torná-las ainda mais rigorosas?
do em sentido genérico ou indeterminado: Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis
Estamos sujeitos a críticas. pelo dinheiro público que, por alguma razão, não a cum-
Refiro-me a conversas paralelas. priram. De que adiantaria, então, tornar a lei mais rigoro-
sa, se nem nas condições atuais esses responsáveis estão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS sendo capazes de cumpri-la? O problema não está na
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa lei. Mudá-la pode ser o pretexto não para torná-la mais
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. rigorosa, mas para atribuir-lhe alguma flexibilidade que
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- a desfigure. O verdadeiro problema é a dificuldade do
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São setor público de adaptar suas despesas às receitas em
Paulo: Saraiva, 2010. queda por causa da crise.

SITE Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com adapta-


http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-cra- ções).
se-.html
O emprego do acento grave em “às receitas” decorre da
regência do verbo “adaptar” e da presença do artigo de-
finido feminino determinando o substantivo “receitas”.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
( ) CERTO ( ) ERRADO
1. (POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍCIA FEDE-
Resposta: Certo. Texto: O verdadeiro problema é a di-
RAL – CESPE – 2014 – ADAPTADA) O acento indicativo
ficuldade do setor público de adaptar suas despesas às
de crase em “à humanidade e à estabilidade” é de uso
receitas em queda por causa da crise = quem adapta,
facultativo, razão por que sua supressão não prejudicaria
adapta algo/alguém A algo/alguém.
a correção gramatical do texto.
3. (FNDE – TÉCNICO EM FINANCIAMENTO E EXE-
( ) CERTO ( ) ERRADO
CUÇÃO DE PROGRAMAS E PROJETOS EDUCACIO-
NAIS – CESPE – 2012) O emprego do sinal indicativo de
RESPOSTA: Errado. Retomemos o contexto: (...) O
crase em “adequando os objetivos às necessidades” justi-
uso indevido de drogas constitui, na atualidade, séria e fica-se pela regência do verbo adequar, que exige com-
persistente ameaça à humanidade e à estabilidade das plemento regido pela preposição “a”, e pela presença de
estruturas e valores políticos (...). artigo definido feminino antes de “necessidades”.
O uso do acento indicativo de crase é obrigatório, já
que os termos “humanidade” e “estabilidade” comple- ( ) CERTO ( ) ERRADO
mentam o nome “ameaça” – “ameaça a quê? a quem?”
= a regência nominal pede preposição. RESPOSTA: Certo. Adequar o quê? – os objetivos
(objeto direto) – adequar o quê a quê? – a + as (=às)
2. (TCE-PA – CONHECIMENTOS BÁSICOS – AUDI- necessidades – objeto indireto. A explicação do enun-
TOR DE CONTROLE EXTERNO – EDUCACIONAL – ciado está correta.
CESPE – 2016)
4. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA-SE – TÉCNICO JUDICIÁ-
Texto CB1A1BBB RIO – CESPE – 2014 – ADAPTADA) No trecho “deu
início à sua caminhada cósmica”, o emprego do acento
Estranhamente, governos estaduais cujas despesas com grave indicativo de crase é obrigatório.
o funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou que
estouraram o limite de gastos com pessoal fixado pela ( ) CERTO ( ) ERRADO
Lei Complementar n.º 101/2000, denominada Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando sua própria RESPOSTA: Errado. “deu início à sua caminhada cós-
legislação destinada a assegurar, como alegam, maior ri-
LÍNGUA PORTUGUESA

mica” – o uso do acento indicativo de crase, neste


gor na gestão de suas finanças. Querem uma nova lei de caso, é facultativo (antes de pronome possessivo).
responsabilidade fiscal para, segundo argumentam, for-
talecer a estrutura legal que protege o dinheiro público
do mau uso por gestores irresponsáveis.
Examinando-se a situação financeira dos estados que
preparam sua versão da lei de responsabilidade fiscal,
fica difícil aceitar a argumentação. Desde maio de 2000,

70
c) a dispersão e a menor capacidade de conservar con-
teúdos.
HORA DE PRATICAR! d) a distração e a possibilidade de haver colaboração de
colegas e chefes.
(TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉDIO
e) o isolamento na realização das tarefas e a vigilância
- VUNESP – 2017 - ADAPTADA) Leia o texto, para res-
constante dos chefes.
ponder às questões de 1 a 7.
2. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos executivos
DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que a
no setor de tecnologia já tinham feito – ele transferiu sua
equipe para um chamado escritório aberto, sem paredes nova redação dada ao seguinte trecho do primeiro pará-
e divisórias. grafo apresenta concordância de acordo com a norma-
Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas ele -padrão: Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos
queria que todos estivessem juntos, para se conectarem executivos no setor de tecnologia já tinham feito.
e colaborarem mais facilmente. Mas em pouco tempo fi-
cou claro que Nagele tinha cometido um grande erro. a) Muitos executivos já havia transferido suas equipes
Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove para o chamado escritório aberto, como feito por Ch-
empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio ris Nagele.
chefe. b) Mais de um executivo já tinham transferido suas equi-
Em abril de 2015, quase três anos após a mudança para pes para escritórios abertos, o que só aconteceu com
o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa para um Chris Nagele fazem mais de quatro anos.
espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu próprio es- c) O que muitos executivos fizeram, transferindo suas
paço, com portas e tudo. equipes para escritórios abertos, também foi feito por
Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório Chris Nagele, faz cerca de quatro anos.
aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Uni- d) Devem fazer uns quatro anos que Chris Nagele trans-
dos são assim – e até onde se sabe poucos retornaram feriu sua equipe para escritórios abertos, tais como foi
ao modelo de espaços tradicionais com salas e portas. transferido por muitos executivos.
Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até e) Faz exatamente quatro anos que Chris Nagele fez o
15% da produtividade, desenvolver problemas graves que já tinham sido feitos por outros executivos do se-
de concentração e até ter o dobro de chances de ficar tor.
doentes em espaços de trabalho abertos – fatores que
estão contribuindo para uma reação contra esse tipo de 3. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
organização. DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão
Desde que se mudou para o formato tradicional, Nagele – até então –, em destaque no início do segundo pará-
já ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem sentir grafo, expressa um limite, com referência
falta do estilo de trabalho do escritório fechado. “Muita
gente concorda – simplesmente não aguentam o escri- a) temporal ao momento em que se deu a transferência
tório aberto. Nunca se consegue terminar as coisas e é da equipe de Nagele para o escritório aberto.
preciso levar mais trabalho para casa”, diz ele. b) espacial aos escritórios fechados onde trabalhava a
É improvável que o conceito de escritório aberto caia em equipe de Nagele antes da mudança para locais aber-
desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exemplo tos.
de Nagele e voltando aos espaços privados. c) temporal ao dia em que Nagele decidiu seguir o exem-
Há uma boa razão que explica por que todos adoram um plo de outros executivos, e espacial ao tipo de escritó-
espaço com quatro paredes e uma porta: foco. A verdade rio que adotou.
é que não conseguimos cumprir várias tarefas ao mesmo d) espacial ao caso de sucesso de outros executivos do
tempo, e pequenas distrações podem desviar nosso foco setor de tecnologia que aboliram paredes e divisórias.
por até 20 minutos. e) espacial ao novo tipo de ambiente de trabalho, e tem-
Retemos mais informações quando nos sentamos em um poral às mudanças favoráveis à integração.
local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental e
design de interiores. 4. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
(Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos podem ser ruins DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão
para funcionários.” Disponível em:<www1.folha.uol.com.br>. Aces- – contudo –, destacada no quinto parágrafo, estabelece
so em: 04.04.2017. Adaptado) uma relação de sentido com o parágrafo
1. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- a) anterior, confirmando com estatísticas o sucesso das
DIO - VUNESP – 2017) Segundo o texto, são aspectos
LÍNGUA PORTUGUESA

empresas que adotaram o modelo de escritórios aber-


desfavoráveis ao trabalho em espaços abertos compar- tos.
tilhados
b) posterior, expondo argumentos favoráveis à adoção
do modelo de escritórios abertos.
a) a impossibilidade de cumprir várias tarefas e a restri-
c) anterior, atestando a eficiência do modelo aberto com
ção à criatividade.
base em resultados de pesquisas.
b) a dificuldade de propor soluções tecnológicas e a
d) anterior, introduzindo informações que se contrapõem
transferência de atividades para o lar.
à visão positiva acerca dos escritórios abertos.

71
e) posterior, contestando com dados estatísticos o for- patinadores, maracatus, big bands, corredores evangéli-
mato tradicional de escritório fechado. cos, góticos satanistas, praticantes de ioga, dançarinos
de tango, barraquinhas de yakissoba e barris de cerveja
5. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- artesanal.
DIO - VUNESP – 2017) Assinale a frase do texto em que Tenho estado atento às agruras e oportunidades da ci-
se identifica expressão do ponto de vista do próprio au- dade porque, depois de cinco anos vivendo na Granja
tor acerca do assunto de que trata. Viana, vim morar em Higienópolis. Lá em Cotia, no fim da
tarde, eu corria em volta de um lago, desviando de patos
a) “Nunca se consegue terminar as coisas e é preciso levar e assustando jacus. Agora, aos domingos, corro pela Pau-
mais trabalho para casa”, diz ele. (6.º parágrafo). lista ou Minhocão e, durante a semana, venho testando
b) Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório diferentes percursos.
aberto... (4.º parágrafo). Corri em volta do parque Buenos Aires e do cemitério
c) Retemos mais informações quando nos sentamos em da Consolação, ziguezagueei por Santa Cecília e pelas
um local fixo, afirma Sally Augustin... (último parágra- encostas do Sumaré, até que, na última terça, sem que-
fo). rer, descobri um insuspeito parque noturno com bastan-
d) Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas te gente, quase nenhum carro e propício a todo tipo de
ele queria que todos estivessem juntos... (2.º parágra- atividades: o estacionamento do estádio do Pacaembu.
fo). (Antonio Prata. “O paulistano não é de jogar a toalha. Prefere esten-
e) É improvável que o conceito de escritório aberto caia dê-la e deitar em cima.” Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.
em desuso... (7.º parágrafo). br/colunas>. Acesso em: 13.04.2017. Adaptado)

6. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- É correto afirmar que, do ponto de vista do autor, o pau-
DIO - VUNESP – 2017) Na frase – É improvável que o listano
conceito de escritório aberto caia em desuso... (7.º pará-
grafo) – a expressão em destaque tem o sentido de a) busca em Ipanema o contato com a natureza exube-
rante que não consegue achar em sua cidade.
a) sofra censura. b) sabe como vencer a rudeza da paisagem de São Paulo,
b) torne-se obsoleto. encontrando nesta espaços para o lazer.
c) mostre-se alterado. c) se vê impedido de realizar atividades esportivas, no
d) mereça sanção. mar de asfalto que é São Paulo.
e) seja substituído. d) tem feito críticas à cidade, porque ela não oferece ati-
vidades recreativas a seus habitantes.
7. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- e) toma Ipanema como um símbolo daquilo que se pode
DIO - VUNESP – 2017) O trecho destacado na passagem alcançar, apesar de muito andar e andar.
– Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove
empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio 9. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
chefe.– tem sentido de: DIO - VUNESP – 2015)

a) até mesmo o próprio chefe. Ser gentil é um ato de rebeldia. Você sai às ruas e insis-
b) apesar do próprio chefe. te, briga, luta para se manter gentil. O motorista quase
c) exceto o próprio chefe. te mata de susto buzinando e te xingando porque você
d) diante do próprio chefe. usou a faixa de pedestres quando o sinal estava fechado
e) portanto o próprio chefe. para ele. Você posta um pensamento gentil nas redes so-
ciais apesar de ler dezenas de comentários xenofóbicos,
8. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- homofóbicos, irônicos e maldosos sobre tudo e todos.
DIO - VUNESP – 2017) Inclusive você. Afinal, você é obviamente um idiota gentil.
O problema de São Paulo, dizia o Vinicius, “é que você Há teorias evolucionistas que defendem que as socieda-
anda, anda, anda e nunca chega a Ipanema”. Se tomar- des com maior número de pessoas altruístas sobrevive-
mos “Ipanema” ao pé da letra, a frase é absurda e cômi- ram por mais tempo por serem mais capazes de manter
ca. Tomando “Ipanema” como um símbolo, no entanto, a coesão. Pesquisadores da atualidade dizem, baseados
como um exemplo de alívio, promessa de alegria em em estudos, que gestos de gentileza liberam substâncias
meio à vida dura da cidade, a frase passa a ser de um tris- que proporcionam prazer e felicidade.
te realismo: o problema de São Paulo é que você anda, Mas gentileza virou fraqueza. É preciso ser macho pacas
anda, anda e nunca chega a alívio algum. O Ibirapuera, o para ser gentil nos dias de hoje. Só consigo associar a
LÍNGUA PORTUGUESA

parque do Estado, o Jardim da Luz são uns raros respiros aversão à gentileza à profunda necessidade de ser – ou
perdidos entre o mar de asfalto, a floresta de lajes bati- parecer ser – invencível e bem-sucedido. Nossas fragili-
das e os Corcovados de concreto armado. dades seriam uma vergonha social. Um empecilho à car-
O paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere reira, ao acúmulo de dinheiro.
estendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois Não ter tempo para gentilezas é bonito. É justificável
metros quadrados de chão. É o que vemos nas aveni- diante da eterna ambivalência humana: queremos ser
das abertas aos pedestres, nos fins de semana: basta li- bons, mas temos medo. Não dizer bom-dia significa que
berarem um pedacinho do cinza e surgem revoadas de você é muito importante. Ou muito ocupado. Humilhar

72
os que não concordam com suas ideias é coisa de gente a) Talvez ele seje um caso de sucesso empresarial.
forte. E que está do lado certo. Como se houvesse um b) A paralização da equipe técnica demorou bastante.
lado errado. Porque, se nenhum de nós abrir a boca, nin- c) O funcionário reinvindicou suas horas extras.
guém vai reparar que no nosso modelo de felicidade tem d) Deve-se expor com clareza a pretenção salarial.
alguém chorando ali no canto. Porque ser gentil abala e) O assessor de imprensa recebeu o jornalista.
sua autonomia. Enfim, ser gentil está fora de moda. Estou
sempre fora de moda. Querendo falar de gentileza, ima- 13. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
ginem vocês! Pura rebeldia. Sair por aí exibindo minhas I – CESGRANRIO-2018) O grupo em que todas as pala-
vulnerabilidades e, em ato de pura desobediência civil, vras estão grafadas de acordo com a norma-padrão da
esperar alguma cumplicidade. Deve ser a idade. língua portuguesa é:
(Ana Paula Padrão, Gentileza virou fraqueza. Disponível em:
<http://www.istoe.com.br>. Acesso em: 27 jan 2015. Adaptado) a) admissão, infração, renovação
b) diversão, excessão, sucessão
É correto inferir que, do ponto de vista da autora, a gen- c) extenção, eleição, informação
tileza d) introdução, repreção, intenção
e) transmissão, conceção, omissão
a) é prerrogativa dos que querem ter sua importância re-
conhecida socialmente. 14. (MPE-AL - TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
b) é uma via de mão dupla, por isso não deve ser pratica- FGV-2018) “A crise não trouxe apenas danos sociais e
da se não houver reciprocidade. econômicos”; se juntarmos os adjetivos sublinhados em
c) representa um hábito primitivo, que pouco afeta as re- um só vocábulo, a forma adequada será
lações interpessoais. a) sociais-econômicos.
d) restringe-se ao gênero masculino, pois este representa b) social-econômicos.
os mais fortes. c) sociais-econômico.
d) socioeconômicos.
e) é uma qualidade desvalorizada em nossa sociedade
e) socioseconômicos.
nos dias atuais.
15. (IBGE – ANALISTA CENSITÁRIO – AGRONOMIA –
10. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
FGV-2017) “É preciso levar em conta questões econômi-
DIO - VUNESP – 2015) No final do último parágrafo, a
cas e sociais”; se juntássemos os adjetivos sublinhados
autora caracteriza a gentileza como “ato de pura desobe-
em forma de adjetivo composto, a forma correta, no con-
diência civil”; isso permite deduzir que
texto, seria:
a) assumir a prática da gentileza é rebelar-se contra có- a) econômicas-sociais;
digos de comportamento vigentes, mesmo que não b) econômico-social;
declarados. c) econômica-social;
b) é inviável, em qualquer época, opor-se às práticas e d) econômico-sociais;
aos protocolos sociais de relacionamento humano. e) econômicas-social.
c) é possível ao sujeito aderir às ideias dos mais fortes,
sem medo de ver atingida sua individualidade, no 6. (PC-RS – ESCRIVÃO E INSPETOR DE POLÍCIA – FUN-
contexto geral. DATEC-2018 - ADAPTADA) Sobre os vocábulos expan-
d) há, nas sociedades modernas, a constatação de que sível, fácil, considerável, artificial, multiplicável e acessível,
a vulnerabilidade de alguns está em ver a felicidade afirma-se que:
como ato de rebeldia.
e) obedecer às normas sociais gera prazer, ainda que isso I. Todos são flexionados da mesma forma quando no plu-
signifique seguir rituais de incivilidade e praticar a in- ral.
tolerância. II. Apenas um assume forma diferente dos demais quan-
do flexionado no plural.
11. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ESTA- III. Todos devem ser acentuados em sua forma plural.
TÍSTICA – AOCP-2015) Assinale a alternativa correta em Quais estão corretas?
relação à ortografia dos pares.
a) Apenas I.
a) Atenção – atenciozo. b) Apenas II.
b) Aprender – aprendizajem. c) Apenas III.
c) Simples – simplissidade. d) Apenas I e II.
LÍNGUA PORTUGUESA

d) Fúria – furiozo. e) Apenas II e III.


e) Sensação – sensacional.
17. (ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO
12. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010) BRANCO-SP – TECNÓLOGO DE ADMINISTRAÇÃO PO-
As palavras jeitinho, pesquisa e intrínseco apresentam LICIAL MILITAR – VUNESP-2010)
diferentes graus de dificuldade ortográfica e estão corre-
tamente grafadas. Assinale a alternativa em que a grafia __________ moro fora do Brasil. Sou baiana e, cada vez que
da palavra sublinhada está igualmente correta. volto a Salvador, fico chocada, constrangida e enojada

73
com essa prática _________ e, _________ não dizer, machista dos meus conterrâneos – não se veem mulheres fazendo
xixi na rua. Mas, antes de prender os___________, tente encontrar um banheiro público em Salvador. Se encontrar, tente
entrar – normalmente estão trancados –, e tente então não passar __________. Vamos copiar a Europa na proibição, mas
também na infraestrutura.
(Seção “Leitor”, Veja, 14.07.2010. Adaptado)

Os espaços do texto devem ser preenchidos, correta e respectivamente, com:

a) A dez anos … sub-desenvolvida … por quê … cidadões … mau


b) Há dez anos … subdesenvolvida … por que … cidadãos … mal
c) Fazem dez anos que … subdesenvolvida … porque … cidadões … mau
d) São dez anos que … sub desenvolvida … porquê … cidadãos … mal
e) Faz dez anos que … sub-desenvolvida … porque … cidadães … mau
18. (PM-SP - TECNÓLOGO DE ADMINISTRAÇÃO POLICIAL MILITAR – VUNESP-2014) Leia a tira de Hagar, por Chris
Browne, e assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas, em conformidade com as regras
de ortografia.

(Folha de S.Paulo, 08.02.2014, http://zip.net/bdmBgf)

a) porque ... por que ... porque ... atraz


b) por que ... por quê ... por que ... atraz
c) por que ... por que ... porque ... atráz
d) porque ... porquê ... por que ... atrás
e) por que ... por quê ... porque ... atrás

19. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018)

A frase do menino na charge – “naum eh verdade” – mostra uma característica da linguagem escrita de internautas que
é:
LÍNGUA PORTUGUESA

a) a sintetização exagerada;
b) o desrespeito total pela norma culta;
c) a criação de um vocabulário novo;
d) a tentativa de copiar a fala;
e) a grafia sem acentos ou sinais gráficos.

74
20. (TJ-SP – ADVOGADO - VUNESP/2013) a) artigo e pronome.
A Polícia Militar prendeu, nesta semana, um homem de b) artigo e preposição.
37 anos, acusado de ____________ de drogas e ____________ c) preposição e artigo.
à avó de 74 anos de idade. Ele foi preso em __________ d) pronome e artigo.
com uma pequena quantidade de drogas no bairro Ira- e) preposição e pronome.
puá II, em Floriano, após várias denúncias de vizinhos.
De acordo com o Comandante do 3.º BPM, o acusado 24. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO
era conhecido na região pela atuação no crime. – FGV-2017)
(www.cidadeverde.com/floriano. Acesso em 23.06.2013. Adaptado)
Texto 1 - “A democracia reclama um jornalismo vigoroso
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, e independente. A agenda pública é determinada pela
as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectiva- imprensa tradicional. Não há um único assunto relevan-
te que não tenha nascido numa pauta do jornalismo de
mente, com:
qualidade. Alguns formadores de opinião utilizam as
redes sociais para reverberar, multiplicar e cumprem as-
a) tráfico … mal-tratos … flagrante
sim relevante papel mobilizador. Mas o pontapé inicial é
b) tráfego … maltratos … fragrante
sempre das empresas de conteúdo independentes”.
c) tráfego … maus-trato … flagrante (O Estado de São Paulo, 10/04/2017)
d) tráfico … maus-tratos … flagrante O texto 1, do Estado de São Paulo, mostra um conjunto
e) tráfico … mau-trato … fragrante de adjetivos sublinhados que poderiam ser substituídos
por locuções; a substituição abaixo que está adequada é:
21. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS
DA AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) De acordo a) independente = com dependência;
com seu significado, o conjunto de características for- b) pública = de publicidade;
mais e sua posição estrutural no interior da oração, as c) relevante = de relevância;
palavras podem pertencer à mesma classe de palavras d) sociais = de associados;
ou não. Estabeleça a relação correta entre as colunas a e) mobilizador = de motivação.
seguir considerando tais aspectos (considere as palavras
em destaque). 25. (PC-SP - AUXILIAR DE NECROPSIA – VUNESP-2014)
Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica
(1) advérbio o substantivo, com ele concordando em gênero e núme-
(2) pronome ro, assinale a alternativa em que a palavra destacada é
(3) conjunção um adjetivo.
(4) substantivo
a) ... um câncer de boca horroroso, ...
( ) “Não há prisão pior [...]” b) Ele tem dezesseis anos...
( ) “O lugar de estudo era isso.” c) Eu queria que ele morresse logo, ...
( ) “E o olho sem se mexer [...]” d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às fa-
( ) “Ora, se eles enxergavam coisas tão distantes, [...]” mílias.
( ) “Emília respondeu com uma pergunta que me espan- e) E o inferno não atinge só os terminais.
tou.”
26. (TRE-AC – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMI-
A sequência está correta em NISTRATIVA – AOCP-2015) Assinale a alternativa cujo
“que” em destaque funciona como pronome relativo.
a) 1 – 4 – 2 – 3 – 2
b) 2 – 1 – 3 – 3 – 4 a) «É uma maneira de expressar a vontade que a gente
c) 3 – 4 – 1 – 3 – 2 tem. Acho que um voto pode fazer a diferença”.
d) 4 – 2 – 4 – 1 – 3 b) “Ele diz que vota desde os 18...”.
c) “Acho que um voto pode fazer a diferença”.
22. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015) d) “... e acreditam que um voto consciente agora pode
Assinale a alternativa em que o termo destacado é um influenciar futuramente na vida de seus filhos e netos”.
pronome indefinido. e) “O idoso afirma que sempre incentivou sua família a
votar”.
a) “Ele não exige fatos...”.
b) “Era um ídolo para mim.”. 27. (TRF-1.ª Região – ANALISTA JUDICIÁRIO – INFOR-
LÍNGUA PORTUGUESA

c) “Discordo dele.”. MÁTICA – FCC- 2014-ADAPTADA) No período O livro


d) “... espécie de carinho consigo mesmo.”. explica os espíritos chamados ‘xapiris’, que os ianomâmis
e) “O bom humor está disponível a todos...”. creem serem os únicos capazes de cuidar das pessoas e
das coisas, a palavra grifada tem a função de pronome
23. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015) relativo, retomando um termo anterior. Do mesmo modo
Em “Mas o bom humor de ambos os tornava parecidos.”, como ocorre em:
os termos destacados são, respectivamente,

75
a) Os ianomâmis acreditam que os xamãs recebem dos Um neurocientista de uma equipe que pesquisa esse as-
espíritos chamados “xapiris” a capacidade de cura. sunto afirma que se busca reforçar a ideia de que a me-
b) Eu queria escrever para os não indígenas não acharem mória não pode ser considerada um papel carbono, ou
que índio não sabe nada. seja, de que ela não reproduz fielmente um acontecimen-
c) O branco está preocupado que não chove mais em to. “Nossa esperança é que, ao propor uma explicação
alguns lugares. neural para o processo de geração das falsas memórias,
d) Gravou 15 fitas em que narrou também sua própria haja aplicações práticas nas cortes de justiça, por exem-
trajetória. plo”, diz o cientista. “Jurados e magistrados precisam de
e) Não sabia o que me atrapalhava o sono. evidências de que, por mais real que aparente ser, um
fato recordado por uma testemunha pode não ser verda-
28. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO AM- deiro. A memória humana não é como uma memória de
BIENTE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018) De acordo com computador, não está certa o tempo todo.”
as normas da linguagem padrão, a colocação pronominal O neurocientista relatou que quase três quartos dos pri-
está INCORRETA em: meiros 250 americanos que tiveram suas condenações
penais anuladas graças ao exame de DNA haviam sido
a) Virgínia encontrava-se acamada há semanas. vítimas de falso testemunho ocular. Um psicólogo entre-
b) A ferida não se curava com os remédios. vistado afirmou que, dependendo de como se conduz
c) A benzedeira usava uma peruca que não favorecia-a. uma acareação, ela pode confundir a pessoa interrogada.
d) Imediatamente lhe deram uma caneta-tinteiro verme- Correio Braziliense, 26/7/2013 (com adaptações).
lha.
e) Enquanto se rezavam Ave-Marias, a ferida era circun- O trecho “a memória não pode ser considerada um papel
dada. carbono” poderia ser corretamente reescrita da seguinte
forma: não pode-se considerá-la papel carbono.
29. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) A
frase em que se deveria usar a forma EU em lugar de ( ) CERTO ( ) ERRADO
MIM é:
32. (PC-MS – DELEGADO DE POLÍCIA – FAPEMS-2017)
a) Um desejo de minha avó fez de mim um artista; De acordo com os padrões da língua portuguesa, assina-
b) Há muitas diferenças entre mim e a minha futura mu- le a alternativa correta.
lher;
c) Para mim, ver filmes antigos é a maior diversão; a) A frase: “Ela lhe ama” está correta visto que “amar”
d) Entre mim viajar ou descansar, prefiro o descanso; se classifica como verbo transitivo direto, pois quem
e) Separamo-nos, mas sempre de mim se lembra. ama, ama alguém.
b) Em: “Sou te fiel”, o pronome oblíquo átono desem-
30. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE- penha função sintática de complemento nominal por
GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018-ADAPTADA) O complementar o sentido de adjetivos, advérbios ou
segmento em que a substituição do termo sublinhado substantivos abstratos, além de constituir emprego de
por um pronome pessoal foi feita de forma adequada é: ênclise.
c) No exemplo: “Demos a ele todas as oportunidades”, o
a) “deixou de ser uma ferramenta de sobrevivência” / dei- termo em destaque pode ser substituído por “Demo
xou de ser-lhe; lhes” todas as oportunidades”, tendo em vista o em-
b) “podemos definir violência” / podemos defini-la; prego do pronome oblíquo como complemento do
c) “Hoje, esse termo denota, além de agressão física, di- verbo.
versos tipos de imposição” / denota-los; d) Em: “Não me ..incomodo com esse tipo de barulho”,
d) “Consideremos o surgimento das desigualdades” / te.mos.um clássico emprego de mesóclise.
consideremos-lo; e) Na frase: “Alunos, aquietem-se! “, o termo destacado
e) “ao nos referirmos à violência” / ao nos referirmo-la. exemplifica o uso de próclise.

31. (MPU – Conhecimentos Básicos para os Cargos de 33. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU-
11 a 26 – CESPE-2013) NESP-2014)
Recordar algo nunca ocorrido é comum e pode aconte-
cer com pessoas de qualquer idade. Muitos indivíduos Compras de Natal
sequer percebem que determinadas lembranças foram
criadas, pois as cenas e até os sons evocados pelo cé- A cidade deseja ser diferente, escapar às suas fatalidades.
LÍNGUA PORTUGUESA

rebro surgem com a mesma nitidez e o mesmo grau de __________ de brilhos e cores; sinos que não tocam, balões
detalhamento das memórias reais. que não sobem, anjos e santos que não __________ , estre-
De acordo com alguns neurocientistas, quando a pessoa las que jamais estiveram no céu.
se recorda de uma sequência de eventos, o cérebro re- As lojas querem ser diferentes, fugir à realidade do ano
constrói o passado juntando os “tijolos” de dados, mas inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão
somente o ato de acessar as lembranças já modifica e de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coi-
distorce a realidade. sas que possam representar beleza e excelência.

76
Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em po- 37. (TRE-PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMI-
bres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil NISTRATIVA – FCC-2017) A substituição do elemento
anos, num abrigo de animais, em Belém. sublinhado pelo pronome correspondente, com os ne-
(Cecília Meireles, Quatro Vozes. Adaptado) cessários ajustes no segmento, foi realizada de acordo
com a norma padrão em:
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa,
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e a) quem considera o amor abstrato = quem lhe consi-
respectivamente, com: dera abstrato
b) consideram o amor algo ingênuo e pueril = conside-
a) Se enche … movem-se ram-lhe algo ingênuo e pueril
b) Se enchem … se movem c) parece que inviabiliza o amor = parece que inviabili-
c) Enchem-se … se move za-lhe
d) Enche-se … move-se d) o ressentimento é cego ao amor = o ressentimento
e) Enche-se … se movem lhe é cego
e) o amor não vê a hipocrisia = o amor não lhe vê
34. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013)
Assinale a alternativa correta quanto à colocação pro- 38. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE-
nominal, de acordo com a norma-padrão da língua por- GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018)
tuguesa.
Texto 1 – Guerra civil
a) O passageiro ao lado jamais imaginou-se na situação Renato Casagrande, O Globo, 23/11/2017
de ter de procurar a dona de uma bolsa perdida.
b) O homem se indignou quando propuseram-lhe que O 11.º Relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pú-
blica, mostrando o crescimento das mortes violentas no
abrisse a bolsa que encontrara.
Brasil em 2016, mais uma vez assustou a todos. Foram
c) Nos sentimos impotentes quando não conseguimos
61.619 pessoas que perderam a vida devido à violência.
restituir um objeto à pessoa que o perdeu.
Outro dado relevante é o crescimento da violência em
d) Para que se evite perder objetos, recomenda-se que
alguns estados do Sul e do Sudeste.
eles sejam sempre trazidos junto ao corpo.
Na verdade, todos os anos a imprensa nacional destaca
e) Em tratando-se de objetos encontrados, há uma ten-
os inaceitáveis números da violência no país. Todos se
dência natural das pessoas em devolvê-los a seus do-
assustam, o tempo passa, e pouca ação ocorre de fato.
nos.
Tem sido assim com o governo federal e boa parte das
demais unidades da Federação. Agora, com a crise, o ar-
35. (CONCURSO INTERNO DE SELEÇÃO PARA O CUR- gumento é a incapacidade de investimento, mas, mesmo
SO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS - PM/2014) A em períodos de economia mais forte, pouco se viu da im-
frase – Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. plementação de programas estruturantes com o objetivo
– está corretamente reescrita quanto à flexão verbal, à de enfrentar o crime. Contratação de policiais, aquisição
pontuação e à colocação pronominal em: de equipamentos, viaturas e novas tecnologias são me-
a) Se remordia, o amigo, no seu canto, sem que nada didas essenciais, mas é preciso ir muito além. Definir me-
visse. tas e alcançá-las, utilizando um bom método de traba-
b) O amigo, sem que nada vesse, se remordia no seu lho, deve ser parte de um programa bem articulado, que
canto. permita o acompanhamento das ações e que incentive o
c) Remordia-se, no seu canto, o amigo, sem que nada trabalho integrado entre as forças policiais do estado, da
visse. União e das guardas municipais.
d) Se remordia no seu canto o amigo, sem que nada
vesse. O segmento do texto 1 em que a conjunção E tem valor
adversativo (oposição) e NÃO aditivo (adição) é:
36. (PM-SP - SOLDADO DE 2.ª CLASSE – VU-
NESP-2017- ADAPTADA) Assinale a alternativa em que a) “...crescimento da violência em alguns estados do Sul
o trecho está reescrito conforme a norma-padrão da lín- e do Sudeste”;
gua portuguesa, com a expressão destacada substituída b) “Todos se assustam, o tempo passa, e pouca ação de-
pelo pronome correspondente. corre de fato”;
c) “Tem sido assim com o governo federal e boa parte
a) ... o prazer de contar aquelas histórias... → ... o prazer das demais unidades da Federação”;
de contar-nas...
LÍNGUA PORTUGUESA

d) “...viaturas e novas tecnologias”;


b) ... meio século sem escrever livros. → ... meio século e) “Definir metas e alcançá-las...”.
sem escrevê-los.
c) ... puxo a mesinha... → ... puxo-lhe... 39. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – AR-
d) ... livro que reúne entrevistas e textos de Ernest He- QUITETURA – FGV-2017) “... implica poder decifrar as
mingway... → ... livro que reúne-as... referências cristãs...”; a forma reduzida sublinhada fica
e) O médico que atendia pacientes... → O médico que convenientemente substituída por uma oração em forma
lhe atendia... desenvolvida na seguinte opção:

77
a) a possibilidade de decifrar as referências cristãs; Instituída por Getúlio Vargas para outro Brasil — ainda
b) a possibilidade de decifração das referências cristãs; agrário, com indústria e serviços incipientes —, a CLT tem
c) que se pudessem decifrar as referências cristãs; sido defendida por sindicatos em nome da “preservação
d) que possamos decifrar as referências cristãs; dos direitos do trabalhador”.
e) a possibilidade de que decifrássemos as referências Na vida real, longe das ideologias, a CLT, em função dos
cristãs. custos que impõe ao empregador, é, na verdade, eficien-
te instrumento de precarização do próprio trabalhador.
40. (COMPESA-PE – ANALISTA DE GESTÃO – ADMI- O Globo, Editorial, 22/8/2013 (com adaptações).
NISTRADOR – FGV-2018) “... mas já conhecem a brutal
realidade dos desaventurados cuja sina é cruzar fronteiras A conjunção “se” tem valor condicional na oração em que
para sobreviver.” A forma reduzida de “para sobreviver” está inserida.
pode ser nominalizada de forma conveniente na seguinte
alternativa: ( ) CERTO ( ) ERRADO

a) para que sobrevivam. 43. (PC-RS – DELEGADO DE POLÍCIA – FUNDA-


b) a fim de que sobrevivessem. TEC-2018 - ADAPTADA) Observe a frase: “com o gover-
c) para sua sobrevida. no criando leis e começando a punir quem agride o meio
d) no intuito de sobreviverem. ambiente” e avalie as afirmações seguintes:
e) para sua sobrevivência.
I. O sujeito das formas verbais criando e começando é
o mesmo.
41. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR- II. O sujeito de punir é inexistente.
GO 33 – TÉCNICO ÁREA ADMINISTRATIVA - NÍVEL III. O sujeito de agride é representado pelo pronome in-
MÉDIO – CESPE-2013) definido, portanto, classifica-se como indeterminado.
O Ministério Público é fruto do desenvolvimento do es-
tado brasileiro e da democracia. A sua história é marcada Quais estão corretas?
por processos que culminaram na sua formalização insti-
tucional e na ampliação de sua área de atuação. a) Apenas I.
No período colonial, o Brasil foi orientado pelo direito b) Apenas II.
lusitano. Não havia o Ministério Público como instituição. c) Apenas III.
Mas as Ordenações Manuelinas de 1521 e as Ordena- d) Apenas I e II.
ções Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores e) Apenas II e III.
de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e
de promover a acusação criminal. Existiam os cargos de 44. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA
procurador dos feitos da Coroa (defensor da Coroa) e de DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO-PE
procurador da Fazenda (defensor do fisco). – SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010) A frase:
A Constituição de 1988 faz referência expressa ao Minis- “Começa vacinação contra gripe A.”, só não está correta-
tério Público no capítulo Das Funções Essenciais à Justiça. mente analisada em:
Define as funções institucionais, as garantias e as veda-
ções de seus membros. Isso deu evidência à instituição, a) O sujeito é classificado como simples
tornando-a uma espécie de ouvidoria da sociedade bra- b) O núcleo do sujeito é vacinação.
sileira. c) O verbo é classificado como intransitivo.
Internet: <www.mpu.mp.br> (com adaptações). d) Vacinação é um substantivo abstrato.
e) O objeto direto é vacinação contra gripe A.
No período “A sua história é marcada por processos que
culminaram”, o termo “que” introduz oração de natureza 45. (TRF-4.ª REGIÃO – TÉCNICO ADMINISTRATIVO –
restritiva. ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC-2014)

( ) CERTO ( ) ERRADO No campo da técnica e da ciência, nossa época produz


milagres todos os dias. Mas o progresso moderno tem
42. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR- amiúde um custo destrutivo, por exemplo, em danos irre-
GO 33 – TÉCNICO ÁREA ADMINISTRATIVA - NÍVEL paráveis à natureza, e nem sempre contribui para reduzir
MÉDIO – CESPE-2013) a pobreza.
A pós-modernidade destruiu o mito de que as humani-
LÍNGUA PORTUGUESA

Uma legislação que tenha hoje 70 anos de vigência en-


trou em vigor muito antes do lançamento do primeiro dades humanizam. Não é indubitável aquilo em que acre-
computador pessoal e do início da histórica revolução ditam tantos filósofos otimistas, ou seja, que uma educa-
imposta pela tecnologia digital. Isso não seria proble- ção liberal, ao alcance de todos, garantiria um futuro de
ma se esse não fosse o caso da Consolidação das Leis liberdade e igualdade de oportunidades nas democracias
do Trabalho (CLT), destinada a regular um dos universos modernas. George Steiner, por exemplo, afirma que “bi-
mais impactados por esta revolução, o das relações tra- bliotecas, museus, universidades, centros de investigação
balhistas. por meio dos quais se transmitem as humanidades e as

78
ciências podem prosperar nas proximidades dos campos veram-se de tal forma a adequarem-se às necessidades
de concentração”. “O que o elevado humanismo fez de e vontades humanas. Contudo, o homem não mediu as
bom para as massas oprimidas da comunidade? Que uti- possíveis consequências que tal desenvolvimento pudes-
lidade teve a cultura quando chegou a barbárie?” se causar de modo a provocar o desequilíbrio ao meio
Numerosos trabalhos procuraram definir as característi- ambiente e a própria ameaça à vida humana.
cas da cultura no contexto da globalização e da extraordi- Desse modo, a preocupação com o meio ambiente é
nária revolução tecnológica. Um deles é o de Gilles Lipo- questionada, sendo centro de tomada de decisões, dian-
vetski e Jean Serroy, A cultura-mundo. Nele, defende-se te da grave problemática que ameaça romper com o equi-
a ideia de uma cultura global − a cultura-mundo − que líbrio ecológico do Planeta. E não apenas nos tradicionais
vem criando, pela primeira vez na história, denominado- meios de comunicação, tais como jornais impressos, rádio,
res culturais dos quais participam indivíduos dos cinco televisão, revistas, dentre outros, como também nos espa-
continentes, aproximando-os e igualando-os apesar das ços virtuais de interatividade, por meio das novas mídias,
diferentes tradições e línguas que lhes são próprias. as quais representam novos meios de comunicação, tem-
Essa “cultura de massas” nasce com o predomínio da ima- -se o debate sobre a problemática ambiental.
gem e do som sobre a palavra, ou seja, com a tela. A in- O capitalismo foi reestruturado e a partir das transforma-
dústria cinematográfica, sobretudo a partir de Hollywood, ções científicas e tecnológicas deu-se origem a um novo
“globaliza” os filmes, levando-os a todos os países, a to- estabelecimento social, em que por meio de redes e da
das as camadas sociais. Esse processo se acelerou com a cultura da virtualidade, configura-se a chamada socieda-
criação das redes sociais e a universalização da internet. de informacional, na qual a comunicação e a informação
Tal cultura planetária teria, ainda, desenvolvido um indivi- constituem-se ferramentas essenciais da Era Digital.
dualismo extremo em todo o globo. Contudo, a publici- As novas mídias, por meio da utilização da Internet, estão
dade e as modas que lançam e impõem os produtos cul- sendo consideradas como novos instrumentos de prote-
turais em nossos tempos são um obstáculo a indivíduos ção do meio ambiente, na medida em que proporcionam
independentes. a expansão da informação ambiental, de práticas susten-
O que não está claro é se essa cultura-mundo é cultura táveis, de reivindicações e ensejo de decisões em prol do
em sentido estrito, ou se nos referimos a coisas comple- meio ambiente.
tamente diferentes quando falamos, por um lado, de uma No ciberespaço, devido à conectividade em tempo real, é
ópera de Wagner e, por outro, dos filmes de Hitchcock e possível promover debates de inúmeras questões como a
de John Ford. construção da hidrelétrica de Belo Monte, o Novo Código
A meu ver, a diferença essencial entre a cultura do passa- Florestal, Barra Grande, dentre outras, as quais ensejam por
do e o entretenimento de hoje é que os produtos daquela tomada de decisões políticas, jurídicas e sociais. [...]
pretendiam transcender o tempo presente, continuar vi- Vislumbra-se que a Internet é um meio que aproxima pes-
vos nas gerações futuras, ao passo que os produtos deste soas e distâncias, sendo utilizada por um número ilimitado
são fabricados para serem consumidos no momento e de pessoas, a custo razoável e em tempo real. De fato, a
desaparecer. Cultura é diversão, e o que não é divertido Internet proporciona benefícios, pois, além de promover a
não é cultura. circulação de informações, a curto espaço de tempo, mui-
(Adaptado de: VARGAS LLOSA, M. A civilização do espetáculo. Rio de tos debates virtuais produzem manifestações sociais. Assim
Janeiro, Objetiva, 2013, formato ebook) sendo, tem-se a democratização das informações através
dos espaços virtuais, como blogs, websites, redes sociais, jor-
Possuem os mesmos tipos de complemento os verbos nais virtuais, sites especializados, sites oficiais, dentre outros,
grifados em: de modo a expandir conhecimentos, promover discussões e,
por vezes, influenciando nas tomadas de decisões dos go-
a) ... nossa época produz milagres todos os dias. // ... o vernantes e na proliferação de movimentos sociais. Desse
mito de que as humanidades humanizam. modo, os cidadãos acabam participando e exercendo a ci-
b) Essa “cultura de massas” nasce com o predomínio... // dadania de forma democrática no ciberespaço. [...]
Um deles é o de Gilles Lipovetski... Faz-se necessária a execução de ações concretas em prol
c) A pós-modernidade destruiu o mito de que... // ... nos- do meio ambiente, com adaptação e intermédio do novo
sa época produz milagres todos os dias. padrão de democracia participativa fomentado pelas novas
d) Essa cultura de massas nasce com o predomínio... // ... mídias, a fim de enfrentar a gestão dos riscos ambientais,
e nem sempre contribui para... dentre outras questões socioambientais. Ainda, são ne-
e) ... as ciências podem prosperar nas proximidades... // A cessárias discussões aprofundadas sobre a complexidade
pós-modernidade destruiu o mito de que... ambiental, agregando a interdisciplinaridade para escolhas
sustentáveis e na difusão do conhecimento. E, embora haja
46. (TRF-2.ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA inúmeros desafios a percorrer com a utilização das tecno-
ADMINISTRATIVA – CONSULPLAN-2017) logias de comunicação e informação (novas TIC’s), enten-
LÍNGUA PORTUGUESA

de-se que a atuação das novas mídias é de suma impor-


Internet e as novas mídias: contribuições para a proteção tância, pois possibilita a expansão da informação, a práxis
do meio ambiente no ciberespaço ambiental, o debate e as aspirações dos cidadãos, contri-
buindo, dessa forma, para a proteção do meio ambiente.
A sociedade passou por profundas transformações em (SILVA NUNES, Denise. Internet e as novas mídias: contribuições para
que a realidade socioeconômica modificou-se com ra- a proteção do meio ambiente no ciberespaço. In: Âmbito Jurídico, Rio
pidez junto ao desenvolvimento incessante das econo- Grande, XVI, n. 115, ago. 2013. Disponível em: http://ambito - juridico.
com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13051&revis-
mias de massas. Os mecanismos de produção desenvol- ta_caderno=17. Acesso em: jan. 2017. Adaptado.)

79
Analise os trechos a seguir. a) A conexão é feita por meio de uma plataforma especí-
fica, e os conteúdos, podem ser acessados pelos dis-
I. “[...] adequarem-se às necessidades e vontades huma- positivos móveis dos passageiros.
nas.” (1º§) b) O mercado brasileiro de automóveis, ainda é muito
II. “Contudo, o homem não mediu as possíveis consequên- grande, porém não é capaz de absorver uma presença
cias [...]” (1º§) maior de produtos vindos do exterior.
III. “Desse modo, a preocupação com o meio ambiente é c) Depois de chegarem às telas dos computadores e ce-
questionada, [...]” (2º§) lulares, as notícias estarão disponíveis em voos inter-
IV. “[...] por meio das novas mídias, as quais representam nacionais.
novos meios de comunicação, [...]” (2º§) d) Os últimos dados mostram que, muitas economias
apresentam crescimento e inflação baixa, fazendo com
Os verbos que, no contexto, exigem o mesmo tipo de que os juros cresçam pouco.
complemento verbal, foram empregados em apenas e) Pode ser que haja uma grande procura de carros im-
portados, mas as montadoras vão fazer os cálculos e
a) I e II. ver, se a importação vale a pena.
b) I, III e IV.
c) II e IV. 50. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010)
d) II, III e IV. Para a maioria das pessoas, os assaltantes, assassinos e
47. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL traficantes que possam ser encontrados em uma rua es-
I – CESGRANRIO-2018) O sinal de dois-pontos (:) está cura da cidade são o cerne do problema criminal. Mas os
empregado de acordo com a norma-padrão da língua danos que tais criminosos causam são minúsculos quan-
portuguesa em: do comparados com os de criminosos respeitáveis, que
vestem colarinho branco e trabalham para as organiza-
a) A diferença entre notícias falsas e verdadeiras é maior ções mais poderosas. Estima-se que as perdas provoca-
no campo da política: é menor nas publicações rela- das por violações das leis antitrust — apenas um item de
cionadas às catástrofes naturais. uma longa lista dos principais crimes do colarinho bran-
b) A explicação para a difusão de notícias falsas é que co — sejam maiores que todas as perdas causadas pelos
os usuários compartilham informações com as quais crimes notificados à polícia em mais de uma década, e
concordam: pois não verificam as fontes antes. as relativas a danos e mortes provocadas por esse crime
c) As informações enganosas são mais difundidas do que apresentam índices ainda maiores. A ocultação, pela in-
as verdadeiras: de acordo com estudo recente feito dústria do asbesto (amianto), dos perigos representados
por um instituto de pesquisa. por seus produtos provavelmente custou tantas vidas
d) As notícias falsas podem ser desmascaradas com o quanto as destruídas por todos os assassinatos ocorridos
uso do bom senso: mas esperar isso de todo mundo é nos Estados Unidos da América durante uma década in-
quase impossível. teira; e outros produtos perigosos, como o cigarro, tam-
e) As revistas especializadas dão alguns conselhos: não bém provocam, a cada ano, mais mortes do que essas.
entre em sites desconhecidos e não compartilhe notí- James William Coleman. A elite do crime. 5.ª ed., São Paulo: Manole,
cias sem fonte confiável.
2005, p. 1 (com adaptações).

48. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL


Não haveria prejuízo para o sentido original do texto
I – CESGRANRIO-2018) A vírgula está empregada cor-
nem para a correção gramatical caso a expressão “a cada
retamente em:
ano” fosse deslocada, com as vírgulas que a isolam, para
imediatamente depois de “e”.
a) A divulgação de histórias falsas pode ter consequên-
cias reais desastrosas: prejuízos, financeiros e cons-
( ) CERTO ( ) ERRADO
trangimentos às empresas.
b) As novas tecnologias, criaram um abismo ao separar
quem está conectado de quem não faz parte do mun- 51. (PC-SP - AUXILIAR DE NECROPSIA – VU-
do digital. NESP-2014) Assinale a alternativa cuja frase está correta
c) As pessoas tendem a aceitar apenas as declarações que quanto à pontuação.
confirmam aquilo que corresponde, às suas crenças.
d) Os jornalistas devem verificar as fontes citadas, cruzar a) O médico, solidário e comovido, apertou minha mão e
dados e checar se as informações refletem a realidade. entendeu o pedido de minha mãe.
e) Os consumidores de notícias não agem como cientis- b) A diferença entre parada cardíaca e morte, não é ensi-
nada, aos médicos nas faculdades.
LÍNGUA PORTUGUESA

tas porque não estão preocupados em conferir, pon-


tos de vista alternativos. c) Prof. Alvariz, chefe da clínica sabia qual a diferença en-
tre, parada cardíaca e morte.
49. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- d) O aborto de fetos anencéfalos motivo de muita revol-
GRANRIO-2018) A vírgula foi plenamente empregada ta, foi bastante contestado.
de acordo com as exigências da norma-padrão da língua e) Iniciei assim que o velhinho teve uma parada cardíaca,
portuguesa em: os processos de reanimação.

80
52. (TRF-4.ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA a) Separar o aposto.
ADMINISTRATIVA – FCC-2014) Quanto à pontuação, a b) Delimitar o sujeito.
frase inteiramente correta é: c) Delimitar uma nova oração.
d) Separar o vocativo.
a) Para Edward Said, a linguagem, é o terreno de onde e) Marcar uma pausa forte.
partem os humanistas uma vez que, é nela, que se
estabelecem não apenas as relações de sentido, mas 56. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CAR-
também o desafio de o leitor divisar e compartilhar, as GO 33 – NÍVEL MÉDIO – CESPE-2013)
escolhas produzidas pelo escritor. O Ministério Público é fruto do desenvolvimento do es-
b) Para Edward Said, a linguagem é o terreno de onde tado brasileiro e da democracia. A sua história é marcada
partem os humanistas uma vez que é nela, que se por processos que culminaram na sua formalização insti-
estabelecem não apenas as relações de sentido, mas tucional e na ampliação de sua área de atuação.
também o desafio, de o leitor divisar e compartilhar, as No período colonial, o Brasil foi orientado pelo direito
escolhas produzidas pelo escritor. lusitano. Não havia o Ministério Público como instituição.
c) Para Edward Said, a linguagem, é o terreno de onde Mas as Ordenações Manuelinas de 1521 e as Ordena-
partem os humanistas, uma vez que é nela que se es- ções Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores
tabelecem, não apenas as relações de sentido, mas de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e
também o desafio de o leitor divisar e compartilhar as de promover a acusação criminal. Existiam os cargos de
escolhas produzidas pelo escritor. procurador dos feitos da Coroa (defensor da Coroa) e de
d) Para Edward Said a linguagem é o terreno, de onde procurador da Fazenda (defensor do fisco).
partem os humanistas, uma vez que é nela que se A Constituição de 1988 faz referência expressa ao Minis-
estabelecem não apenas as relações de sentido mas, tério Público no capítulo Das Funções Essenciais à Justiça.
também, o desafio de o leitor divisar, e compartilhar as Define as funções institucionais, as garantias e as veda-
escolhas produzidas pelo escritor. ções de seus membros. Isso deu evidência à instituição,
e) Para Edward Said, a linguagem é o terreno de onde
tornando-a uma espécie de ouvidoria da sociedade bra-
partem os humanistas, uma vez que é nela que se
sileira.
estabelecem não apenas as relações de sentido, mas
Internet: <www.mpu.mp.br> (com adaptações).
também o desafio de o leitor divisar e compartilhar as
escolhas produzidas pelo escritor.
Em “No período colonial, o Brasil foi orientado”, a vírgula
após “colonial” é utilizada para isolar aposto.
53. (TRF-3.ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA
ADMINISTRATIVA – FCC-2016-ADAPTADA) Sem que
se altere o sentido da frase, todas as vírgulas podem ser ( ) CERTO ( ) ERRADO
substituídas por travessão, EXCETO em:
57. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS
a) Não se trata de defender a tradição, família ou pro- DA AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) “Os astrô-
priedade... nomos eram formidáveis. Eu, pobre de mim, não desven-
b) Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu daria os segredos do céu. Preso à terra, sensibilizar-me-ia
amigo, um homem... com histórias tristes [...]”. Nas alternativas a seguir, os vo-
c) Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa... cábulos acentuados do trecho anterior foram colocados
d) ... como precipitada, entre nós, de que estaria morto... em pares com palavras também acentuadas graficamen-
e) Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, te. Dentre os pares formados, indique o que apresenta
já traz... igual justificativa para tal evento.

54. (TRF-1.ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – INFOR- a) céu / avô


MÁTICA – FCC-2014-ADAPTADA) b) astrônomos / álibi
... a resposta a um problema que sempre atormentou ad- c) histórias / balaústre
ministradores: o recrutamento e a retenção de talentos. d) formidáveis / ínterim
O segmento introduzido pelos dois-pontos apresenta
sentido 58. (MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERO-
NÁUTICA ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁU-
a) restritivo. TICA EXAME DE ADMISSÃO AO CFS-B 1-2/2014) Rela-
b) explicativo. cione as colunas quanto às regras de acentuação gráfica,
c) conclusivo. sabendo que haverá repetição de números. Em seguida,
d) comparativo. assinale a alternativa com a sequência correta.
LÍNGUA PORTUGUESA

e) alternativo.
(1) Põe-se acento agudo no i e no u tônicos que formam
55. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA hiato com a vogal anterior.
DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO- (2) Acentua-se paroxítona terminada em i ou u seguidos
-PE - SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010 - ou não de s.
ADAPTADA) “– Mas não é minha cabeça que eles querem (3) Todas as proparoxítonas devem ser acentuadas.
degolar a cada jogo, François.” O uso da vírgula destacada (4) Oxítona terminada em e ou o, seguidos ou não de s,
neste trecho tem a função de: é acentuada.

81
( ) íris 63. (PC-RS – ESCRIVÃO E INSPETOR DE POLÍCIA –
( ) saída FUNDATEC-2018 - ADAPTADA) Relacione a Coluna 1
( ) compraríamos e a Coluna 2, associando os vocábulos às respectivas re-
( ) vendê-lo gras de acentuação gráfica.
( ) bônus
( ) viúvo Coluna 1
( ) bisavôs 1. Monossílabo tônico terminado em -o, -e, -a, seguidos
ou não de s.
a) 2 – 1 – 3 – 4 – 2 – 1 – 4 2. Proparoxítona.
b) 1 – 2 – 3 – 4 – 1 – 1 – 4 3. Oxítona terminada em -o, -e, -a, -em, seguidos ou não
c) 4 – 1 – 1 – 2 – 2 – 3 – 2 de s.
d) 2 – 2 – 3 – 4 – 2 – 1 – 3 4. Regra do hiato.
59. (TRANSPETRO – TÉCNICO AMBIENTAL JÚNIOR –
CESGRANRIO-2018) Em conformidade com o Acordo Coluna 2
Ortográfico da Língua Portuguesa vigente, atendem às ( ) Atrás.
regras de acentuação todas as palavras em: ( ) Último.
( ) Irá.
a) andróide, odisseia, residência ( ) Três.
b) arguição, refém, mausoléu ( ) Também.
c) desbloqueio, pêlo, escarcéu ( ) Está.
d) feiúra, enjoo, maniqueísmo ( ) Conteúdo.
e) sutil, assembléia, arremesso
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de
60. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – ARQUI- cima para baixo, é:
TETURA – FGV-2017-ADAPTADA) Entre as palavras
abaixo, retiradas dos textos 1 e 2, aquela que só existe a) 1 – 2 – 3 – 4 – 1 – 2 – 2.
com acento gráfico é: b) 3 – 1 – 2 – 3 – 4 – 3 – 2.
c) 1 – 2 – 2 – 1 – 1 – 4 – 1.
a) história; d) 3 – 3 – 1 – 1 – 4 – 3 – 4.
b) evidência; e) 3 – 2 – 3 – 1 – 3 – 3 – 4.
c) até;
64. (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR-PI – CURSO DE
d) país;
OFICIAIS – ENGENHEIRO CIVIL – NUCEPE-2014-A-
e) humanitárias.
DAPTADA) No trecho: “material altamente inflamável e
tóxico”, as palavras destacadas recebem acento gráfico.
61. (MPU – TÉCNICO – SEGURANÇA INSTITUCIONAL
Também devem receber esse acento as palavras:
E TRANSPORTE – CESPE-2015) A palavra “cível” recebe
acento gráfico em decorrência da mesma regra que de-
a) tórax e rúbrica.
termina o emprego de acento em amável e útil.
b) revólver e púdico.
c) alí e cadáver.
( ) CERTO ( ) ERRADO d) cajú e cálice.
e) bíceps e fétido.
62. (PC-RS – DELEGADO DE POLÍCIA – FUNDA-
TEC-2018 - ADAPTADA) Sobre acentuação gráfica de 65. (TJ-MG – OFICIAL JUDICIÁRIO – COMISSÁRIO DA
palavras, afirma-se que: INFÂNCIA E DA JUVENTUDE – CONSULPLAN-2017) A
sequência de vocábulos: “Islâmico, vitória, até, público”
I. sustentável, climáticas e reciclá-los são acentuados pode ser empregada para demonstrar exemplos de três
em virtude da mesma regra. regras de acentuação gráfica diferentes. Indique a seguir
II. A regra que determina o acento gráfico em país e con- o grupo de palavras que apresenta palavras cuja acen-
tribuído é diferente da que justifica o acento gráfico em tuação tenha as mesmas justificativas das palavras do
resíduos e início. grupo anteriormente apresentado (considere a mesma
III. O vocábulo viés é acentuado por ser um monossílabo ordem da sequência apresentada).
tônico terminado em e – acrescido de s.
a) atípica, aparência, é, vítimas
Quais estão corretas?
LÍNGUA PORTUGUESA

b) típico, província, será, Nínive


c) famílias, público, diários, várias
a) Apenas I. d) violência, próprios, já, violência
b) Apenas II.
c) Apenas III. 66. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018-ADAP-
d) Apenas I e II. TADA) Duas palavras que obedecem à mesma regra de
e) Apenas II e III. acentuação gráfica são:

82
a) indébita / também; 70. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010)
b) história / veículo; De acordo com as regras gramaticais, no trecho “a exor-
c) crônicas / atribuídos; bitante carga tributária a que estão submetidas as empre-
d) coíba / já; sas”, não se deve empregar acento indicativo de crase,
e) calúnia / plágio. devendo ocorrer o mesmo na frase:

67. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – a) Entregue o currículo as assistentes do diretor.


VUNESP/2013) Assinale a alternativa com as palavras b) Recorra a esta empresa sempre que precisar.
acentuadas segundo as regras de acentuação, respecti- c) Avise aquela colega que chegou sua correspondência.
vamente, de intercâmbio e antropológico. d) Refira-se positivamente a proposta filosófica da com-
panhia.
a) Distúrbio e acórdão. e) Transmita confiança aqueles que observam seu de-
b) Máquina e jiló. sempenho.
c) Alvará e Vândalo.
d) Consciência e características. 71. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO –
e) Órgão e órfãs. CESGRANRIO-2018) De acordo com a norma-padrão da
língua portuguesa, o sinal grave indicativo da crase deve
68. (FUNDASUS-MG – ANALISTA EM SERVIÇO PÚBLI- ser empregado na palavra destacada em:
CO DE SAÚDE - ANALISTA DE SISTEMA – AOCP-2015)
Observe o excerto: “Entre os fatores ligados à relação do a) A intenção da entrevista com o diretor estava relacio-
aluno com a instituição e com os colegas, gostar de ir à nada a programação que a empresa pretende desen-
escola (...)” e assinale a alternativa correta com relação volver.
ao emprego do acento utilizado nos termos destacados. b) As ações destinadas a atrair um número maior de
clientes são importantes para garantir a saúde finan-
a) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a ceira das instituições.
supressão do advérbio “a” com o pronome feminino c) As instituições financeiras deveriam oferecer condições
“a” que acompanha os substantivos “relação” e “es- mais favoráveis de empréstimo a quem está fora do
cola”. mercado formal de trabalho.
b) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a d) As pessoas interessadas em ampliar suas reservas fi-
nasalidade da vogal “a” que acompanha os substanti- nanceiras consideram que vale a pena investir na nova
vos “relação” e “escola”. moeda virtual.
c) Trata-se do acento circunflexo, empregado para assi- e) Os participantes do seminário sobre mercado financei-
nalar a vogal aberta “a” que acompanha os substanti- ro foram convidados a comparar as importações e as
vos “relação” e “escola”. exportações em 2017.
d) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a
supressão da preposição “a” com o artigo feminino 72. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
“a” que acompanha os substantivos “relação” e “es- CESGRANRIO-2018) O emprego do acento indicativo
cola”. de crase está de acordo com a norma-padrão em:
e) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a
junção da preposição “a” com o artigo feminino “a” a) O escritor de novelas não escolhe seus personagens
que acompanha os substantivos “relação” e “escola”. à esmo.
b) A audiência de uma novela se constrói no dia à dia.
69. (BADESC – ANALISTA DE SISTEMA – BANCO DE c) Uma boa história pode ser escrita imediatamente ou
DADOS – FGV-2010) Na frase “é ingênuo creditar a à prazo.
postura brasileira apenas à ausência de educação ade- d) Devido à interferências do público, pode haver mu-
quada” foi corretamente empregado o acento indicativo danças na trama.
de crase. e) O novelista ficou aliviado quando entregou a sinopse
Assinale a alternativa em que o acento indicativo de cra- à emissora.
se está corretamente empregado.
73. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
a) O memorando refere-se à documentos enviados na GRANRIO-2018) De acordo com a norma- -padrão
semana passada. da língua portuguesa, o acento grave indicativo da crase
b) Dirijo-me à Vossa Senhoria para solicitar uma audiên- deve ser empregado na palavra destacada em:
cia urgente.
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Prefiro montar uma equipe de novatos à trabalhar a) Os novos lançamentos de smartphones apresentam,
com pessoas já desestimuladas. em geral, pequena variação de funções quando com-
d) O antropólogo falará apenas àquele aluno cujo nome parados a versões anteriores.
consta na lista. b) Estudantes do ensino médio fizeram uma pesquisa
e) Quanto à meus funcionários, afirmo que têm horário junto a crianças do ensino fundamental para ver como
flexível e são responsáveis. elas se comportam no ambiente virtual.

83
c) O acesso dos jovens a redes sociais tem causado enor- 77. (TRF-4.ª REGIÃO – TÉCNICO ADMINISTRATIVO
mes prejuízos ao seu desempenho escolar, conforme – ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC-2014-ADAPTADA)
o depoimento de professores. Substituindo-se o elemento grifado pelo que se encon-
d) Os consumidores compulsivos sujeitam-se a ficar ho- tra entre parênteses, o sinal indicativo de crase deverá
ras na fila para serem os primeiros que comprarão os ser acrescentado em:
novos lançamentos.
e) As pessoas precisam ficar atentas a fatura do cartão a) ... que uma educação liberal, ao alcance de todos...
de crédito para não serem surpreendidas com valores (dispor de todos)
muito altos. b) ... por meio dos quais se transmitem as humanida-
des... − (ciências humanas)
74. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU- c) ... a todas as camadas sociais. − (qualquer classe so-
NESP-2014) cial)
A cada ano, ocorrem cerca de 40 mil mortes; segundo d) ... se nos referimos a coisas completamente diferen-
especialistas, quase metade delas está associada _____ tes... − (uma coisa completamente diferente)
bebidas alcoólicas. Isso revela a necessidade de um com- e) ... são um obstáculo a indivíduos independentes. (cria-
bate efetivo _____ embriaguez ao volante. ção de indivíduos independentes)
As lacunas do trecho devem ser preenchidas, correta e 78. (BANCO DO BRASIL – ESCRITURÁRIO – CESGRAN-
respectivamente, com: RIO-2018) De acordo com as exigências da norma-pa-
drão da língua portuguesa, o verbo destacado está cor-
a) às … a retamente empregado em:
b) as … à
c) à … à a) No mundo moderno, conferem-se às grandes me-
d) às … à trópoles importante papel no desenvolvimento da
e) à … a economia e da geopolítica mundiais, por estarem no
topo da hierarquia urbana.
75. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013) b) Conforme o grau de influência e importância interna-
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, cional, classificou-se as 50 maiores cidades em três
o acento indicativo de crase está corretamente empre- diferentes classes, a maior parte delas na Europa.
gado em:
c) Há quase duzentos anos, atribuem-se às cidades a
responsabilidade de motor propulsor do desenvol-
a) A população, de um modo geral, está à espera de que,
vimento e a condição de lugar privilegiado para os
com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes.
negócios e a cultura.
b) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensa-
d) Em centros com grandes aglomerações populacionais,
rem a sua postura.
realiza-se negócios nacionais e internacionais, além
c) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à puni-
de um atendimento bastante diversificado, como jor-
ções muito mais severas.
d) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a vida nais, teatros, cinemas, entre outros.
dos demais motoristas e de pedestres. e) Em todos os estudos geopolíticos, considera-se as ci-
e) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento da dades globais como verdadeiros polos de influência
nova lei para que ela possa funcionar. internacional, devido à presença de sedes de grandes
empresas transnacionais e importantes centros de
76. (PM-SP - SOLDADO DE 2.ª CLASSE – VUNESP-2017) pesquisas.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva-
mente, as lacunas do texto a seguir. 79. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
I – CESGRANRIO-2018) A palavra destacada atende às
Quase 30 anos depois de iniciar um trabalho de atendi- exigências de concordância da norma-padrão da língua
mento _____ presos da Casa de Detenção, em São Paulo, portuguesa em:
o médico oncologista Drauzio Varella chega ao fim de
uma trilogia com o livro “Prisioneiras”. Depois de “Es- a) Atualmente, causa impacto nas eleições de vários paí-
tação Carandiru” (1999), que mostra ________ entranhas ses as notícias falsas.
daquela que foi ________maior prisão da América Latina, b) A recomendação de testar a veracidade das notícias
e de “Carcereiros” (2012), sobre os funcionários que tra- precisam ser seguidas, para não prejudicar as pes-
balham no sistema prisional, Varella agora faz um retrato soas.
das detentas da Penitenciária Feminina da Capital, tam- c) O propósito de conferir grandes volumes de dados
bém na capital paulista, onde cumprem pena mais de resultaram na criação de serviços especializados.
LÍNGUA PORTUGUESA

duas mil mulheres. d) Os boatos causam efeito mais forte do que as notícias
(https://oglobo.globo.com. Adaptado) reais porque vem acompanhados de títulos chama-
tivos.
a) à … às … a e) Os resultados de pesquisas recentes mostram que
b) a … as … a 67% das pessoas consultam os jornais diariamente.
c) a … às … a
d) à … às … à
e) a … as … à

84
80. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO AM-
BIENTE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018)
GABARITO
Texto I
1 C
Portugueses no Rio de Janeiro
2 C
O Rio de Janeiro é o grande centro da imigração por- 3 A
tuguesa até meados dos anos cinquenta do século pas-
4 D
sado, quando chega a ser a “terceira cidade portuguesa
do mundo”, possuindo 196 mil portugueses — um déci- 5 E
mo de sua população urbana. Ali, os portugueses dedi- 6 B
cam-se ao comércio, sobretudo na área dos comestíveis,
7 A
como os cafés, as panificações, as leitarias, os talhos,
além de outros ramos, como os das papelarias e lojas 8 B
de vestuários. Fora do comércio, podem exercer as mais 9 E
variadas profissões, como atividades domésticas ou as de
barbeiros e alfaiates. Há, de igual forma, entre os mais 10 A
afortunados, aqueles ligados à indústria, voltados para 11 E
construção civil, o mobiliário, a ourivesaria e o fabrico de 12 E
bebidas.
A sua distribuição pela cidade, apesar da não formação 13 A
de guetos, denota uma tendência para a sua concentra- 14 D
ção em determinados bairros, escolhidos, muitas das ve- 15 D
zes, pela proximidade da zona de trabalho. No Centro da
cidade, próximo ao grande comércio, temos um grupo 16 B
significativo de patrícios e algumas associações de por- 17 B
te, como o Real Gabinete Português de Leitura e o Liceu 18 E
Literário Português. Nos bairros da Cidade Nova, Estácio
de Sá, Catumbi e Tijuca, outro ponto de concentração 19 E
da colônia, se localizam outras associações portuguesas, 20 D
como a Casa de Portugal e um grande número de casas
21 A
regionais. Há, ainda, pequenas concentrações nos bairros
periféricos da cidade, como Jacarepaguá, originalmente 22 E
formado por quintas de pequenos lavradores; nos subúr- 23 A
bios, como Méier e Engenho Novo; e nas zonas mais pri-
24 C
vilegiadas, como Botafogo e restante da zona sul carioca,
área nobre da cidade a partir da década de cinquenta, 25 A
preferida pelos mais abastados. 26 A
PAULO, Heloísa. Portugueses no Rio de Janeiro: salaza-
ristas e opositores em manifestação na cidade. In: ALVES, 27 D
Ida et alii. 450 Anos de Portugueses no Rio de Janeiro. Rio 28 C
de Janeiro: Ofi cina Raquel, 2017, pp. 260-1. Adaptado. 29 D
O texto emprega duas vezes o verbo “haver”. Ambos es-
tão na 3.ª pessoa do singular, pois são impessoais. Esse 30 B
papel gramatical está repetido corretamente em: 31 Errado
32 B
a) Ninguém disse que os portugueses havia de saírem
da cidade. 33 E
b) Se houvessem mais oportunidades, os imigrantes fi- 34 D
cariam ricos.
35 C
c) Haveriam de haver imigrantes de outras procedências
na cidade. 36 B
d) Os imigrantes vieram de Lisboa porque lá não haviam 37 D
LÍNGUA PORTUGUESA

empregos.
38 B
e) Os portugueses gostariam de que houvesse mais ofer-
tas de trabalho. 39 D
40 E
41 Certo
42 Certo

85
43 A ANOTAÇÕES
44 E
45 C
46 C ________________________________________________

47 E _________________________________________________
48 D _________________________________________________
49 C
_________________________________________________
50 Certo
51 A _________________________________________________
52 E _________________________________________________
53 A
_________________________________________________
54 B
_________________________________________________
55 D
56 Errado _________________________________________________
57 B _________________________________________________
58 A
_________________________________________________
59 B
60 E _________________________________________________

61 Certo _________________________________________________
62 B _________________________________________________
63 E
_________________________________________________
64 E
65 B _________________________________________________
66 E _________________________________________________
67 D
_________________________________________________
68 E
_________________________________________________
69 D
70 B _________________________________________________
71 A _________________________________________________
72 E
_________________________________________________
73 E
74 D _________________________________________________
75 A _________________________________________________
76 B _________________________________________________
77 E
_________________________________________________
78 C
79 E _________________________________________________
80 E _________________________________________________

_________________________________________________
LÍNGUA PORTUGUESA

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

86
ÍNDICE

MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou radiciação com
números racionais, nas suas representações fracionária ou decimal; Mínimo múltiplo comum................................................................. 01
Porcentagem.................................................................................................................................................................................................................................. 09
Razão e proporção....................................................................................................................................................................................................................... 12
Regra de três simples................................................................................................................................................................................................................. 15
Equação do 1.º grau.................................................................................................................................................................................................................... 18
Grandezas e medidas – quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa....................................................................... 23
Relação entre grandezas – tabela ou gráfico.................................................................................................................................................................... 28
Noções de geometria plana – forma, área, perímetro e Teorema de Pitágoras.................................................................................................. 44
Raciocínio Lógico: Estruturas lógicas, lógicas de argumentação, diagramas lógicos, sequências............................................................... 64
1.1.1. Propriedades da Adição de Números
RESOLUÇÃO DE SITUAÇÕES-PROBLEMA, Racionais
ENVOLVENDO: ADIÇÃO, SUBTRAÇÃO,
MULTIPLICAÇÃO, DIVISÃO, POTENCIAÇÃO O conjunto Q é fechado para a operação de adição,
OU RADICIAÇÃO COM NÚMEROS isto é, a soma de dois números racionais resulta em um
RACIONAIS, NAS SUAS REPRESENTAÇÕES número racional.
FRACIONÁRIA OU DECIMAL; MÍNIMO - Associativa: Para todos em : a + ( b + c ) = ( a +
MÚLTIPLO COMUM; MÁXIMO DIVISOR b)+c
- Comutativa: Para todos em : a + b = b + a
COMUM;
- Elemento neutro: Existe em , que adicionado a
todo em , proporciona o próprio , isto é: q + 0 = q
NÚMEROS RACIONAIS: FRAÇÕES, NÚMEROS - Elemento oposto: Para todo q em Q, existe -q em
DECIMAIS E SUAS OPERAÇÕES Q, tal que q + (–q) = 0

1. Números Racionais 1.2. Subtração de Números Racionais

Um número racional é o que pode ser escrito na for- A subtração de dois números racionais e é a própria
m
operação de adição do número com o oposto de q, isto
ma n , onde m e n são números inteiros, sendo que n é: p – q = p + (–q)

deve ser diferente de zero. Frequentemente usamos m 1.3. Multiplicação (Produto) de Números Racio-
n nais
para significar a divisão de m por n .
Como todo número racional é uma fração ou pode
Como podemos observar, números racionais podem ser escrito na forma de umaa fração, definimos o produto
ser obtidos através da razão entre dois números inteiros, de dois números racionais b e d , da mesma forma que o
c

razão pela qual, o conjunto de todos os números racio- produto de frações, através de:
nais é denotado por Q. Assim, é comum encontrarmos na
literatura a notação: a c a�c
Q= { m
n
: m e n em Z,n diferente de zero } � =
b d b� d

No conjunto Q destacamos os seguintes subconjun- O produto dos números racionais a e b também pode
tos: ser indicado por a × b, a.b ou ainda ab sem nenhum sinal

• 𝑄 = conjunto dos racionais não nulos; entre as letras.
• + = conjunto dos racionais não negativos;
𝑄 Para realizar a multiplicação de números racionais,
• 𝑄+∗
= conjunto dos racionais positivos; devemos obedecer à mesma regra de sinais que vale em
• 𝑄− = conjunto dos racionais não positivos; toda a Matemática:
• 𝑄−∗ = conjunto dos racionais negativos. (+1)�(+1) = (+1) – Positivo Positivo = Positivo
(+1)�(-1) = (-1) - Positivo Negativo = Negativo
Módulo ou valor absoluto: É a distância do ponto (-1)�(+1) = (-1) - Negativo Positivo = Negativo
que representa esse número ao ponto de abscissa zero. (-1)� (-1) = (+1) – Negativo Negativo = Positivo
3
3 3 3
Exemplo: Módulo de - 2 é 2 . Indica-se − =
2 2 #FicaDica
Módulo de+ 3 é 3 . Indica-se 3 3
2
= 2 O produto de dois números com o mesmo
2 2
sinal é positivo, mas o produto de dois
3 3 números com sinais diferentes é negativo.
Números Opostos: Dizemos que− 2 e 2 são núme-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

ros racionais opostos ou simétricos e cada um deles é


1.3.1. Propriedades da Multiplicação de Números
o oposto do outro. As distâncias dos pontos− 3 e 3
ao
2 2 Racionais
ponto zero da reta são iguais.
O conjunto Q é fechado para a multiplicação, isto é,
1.1. Soma (Adição) de Números Racionais o produto de dois números racionais resultaem um nú-
mero racional.
Como todo número racional é uma fração ou pode - Associativa: Para todos a,b,c em Q: a ∙ ( b ∙ c ) = ( a
ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição ∙b)∙c
a c
entre os números racionais e , , da mesma forma que - Comutativa: Para todos a,b em Q: a ∙ b = b ∙ a
a soma de frações, através de: d
b
- Elemento neutro: Existe 1 em Q, que multiplicado
a c a�d+b�c por todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é:
+ = q∙1=q
b d b�d

1
a b - Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo
- Elemento inverso: Para todo q = b em Q, a di- sinal da base.
q−1 =

ferente de zero, existe em Q: q � q−1 = 1, ou seja,


a b
b
×a =1 3
2 2 2 2 8
  =   .  .   =
- Distributiva: Para todos a,b,c em Q: a ∙ ( b + c ) = ( a  3   3   3   3  27
∙ b ) + ( a∙ c )
- Toda potência com expoente par é um número po-
1.4. Divisão de Números Racionais sitivo.

A divisão de dois números racionais p e q é a própria 2


 1  1  1 1
operação de multiplicação do número p pelo inverso de −  = −  .−  =
q, isto é: p ÷ q = p × q-1  5   5   5  25
De maneira prática costuma-se dizer que em uma di-
visão de duas frações, conserva-se a primeira fração e
multiplica-se pelo inverso da segunda: - Produto de potências de mesma base. Para redu-
Observação: É possível encontrar divisão de frações zir um produto de potências de mesma base a uma só
da seguinte forma: a . O procedimento de cálculo é o potência, conservamos a base e somamos os expoentes.
c.
mesmo. b
2 3 2+3 5
d  2  2  2 2 2 2 2  2 2
1.5. Potenciação de Números Racionais   .   =  . . . .  =   = 
𝐧
 5  5 5 55 5 5 5 5
A potência q do número racional é um produto
de fatores iguais. O número é denominado a base e o - Quociente de potências de mesma base. Para redu-
número é o expoente. zir um quociente de potências de mesma base a uma só
n potência, conservamos a base e subtraímos os expoen-
q = q � q � q � q � . . .� q, (q aparece n vezes) tes.

Exs: 3 3 3 3 3
5. . . . 2 5− 2 3
3 3 2 2 2 2 2 3 3
a)  2  =  2  .  2  .  2  =
3
8
:
    = =   =  
5 3 5 5 5
125
2 2 3 3 2 2
.
b)  − 1  =  − 1  .  − 1  .  − 1  = 1 2 2
  −
 2  2  2  2 8
c) (– 5)² = (– 5) � ( – 5) = 25 - Potência de Potência. Para reduzir uma potência de
potência a uma potência de um só expoente, conserva-
d) (+5)² = (+5) � (+5) = 25 mos a base e multiplicamos os expoentes.

3
1.5.1. Propriedades da Potenciação aplicadas a nú-  1  2  2 2
1 1 1
2
1
2+ 2+ 2
1
3+ 2
1
6

   =   .  .  =   =  = 
meros racionais  2   2 2 2 2 2 2

Toda potência com expoente 0 é igual a 1.


1.6. Radiciação de Números Racionais
0
 2
+  = 1 Se um número representa um produto de dois ou
 5 mais fatores iguais, então cada fator é chamado raiz do
número. Vejamos alguns exemplos:
- Toda potência com expoente 1 é igual à própria
base. Ex:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

9
1 4 Representa o produto 2. 2 ou 22. Logo, 2 é a raiz
 9
−  =− quadrada de 4. Indica-se 4 = 2.
 4 4
Ex:
- Toda potência com expoente negativo de um núme- 2
ro racional diferente de zero é igual a outra potência que 1 1 1 1
Representa o produto . ou   .
tem a base igual ao inverso da base anterior e o expoente 9 3 3 3
igual ao oposto do expoente anterior.
1 1 1 1
Logo, é a raiz quadrada de .Indica-se =
 3  5
−2
25 2
3 9 9 3
−  = −  =
 5  3 9

2
Ex: 6
0,216 Representa o produto 0,6 � 0,6 � 0,6 ou (0,6)3 . Assim, diz-se que é uma fração equivalente a 3
10 5
Logo, 0,6 é a raiz cúbica de 0,216. Indica-se 0,216 = 0,6 .
3
2. Operações com Frações
Assim, podemos construir o diagrama:
2.1. Adição e Subtração

2.1.1. Frações com denominadores iguais:

Ex:
Jorge comeu 3 de um tablete de chocolate e Miguel
8
5
desse mesmo tablete. Qual a fração do tablete de cho-
colate que Jorge e Miguel comeram juntos?
8

A figura abaixo representa o tablete de chocolate.


Nela também estão representadas as frações do tablete
que Jorge e Miguel comeram:
FIQUE ATENTO!
Um número racional, quando elevado ao
quadrado, dá o número zero ou um número
racional positivo. Logo, os números racio-
nais negativos não têm raiz quadrada em Q. 3 2 5
Observe que = =
8 8 8

O número −
100
não tem raiz quadrada em Q, pois Portanto, Jorge e Miguel comeram juntos 5
do table-
te de chocolate.
8
9 10
tanto −
10 como + , quando elevados ao quadrado, dão
100 . 3 3
Na adição e subtração de duas ou mais frações que
9
têm denominadores iguais, conservamos o denominador
Um número racional positivo só tem raiz quadrada no comum e somamos ou subtraímos os numeradores.
conjunto dos números racionais se ele for um quadrado Outro Exemplo:
perfeito.

O número 2 não tem raiz quadrada em Q, pois não


3 5 7 3+5−7 1
3 + − = =
2 2 2 2 2
existe número racional que elevado ao quadrado dê
2.
3 2.1.2. Frações com denominadores diferentes:
3 5
Frações Calcular o valor de + Inicialmente, devemos re-
8 6
duzir as frações ao mesmo denominador comum. Para
Frações são representações de partes iguais de um isso, encontramos o mínimo múltiplo comum (MMC) en-
todo. São expressas como um quociente de dois núme- tre os dois (ou mais, se houver) denominadores e, em se-
x guida, encontramos as frações equivalentes com o novo
ros , sendo x o numerador e y o denominador da
y denominador:
fração, com y ≠ 0 .
3 5 9 20
mmc (8,6) = 24 = = =
1. Frações Equivalentes 8 6 24 24
São frações que, embora diferentes, representam a 24 ∶ 8 � 3 = 9
mesma parte do mesmo todo. Uma fração é equivalente
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

a outra quando pode ser obtida multiplicando o nume- 24 ∶ 6 � 5 = 20


rador e o denominador da primeira fração pelo mesmo
número. Devemos proceder, agora, como no primeiro caso,
simplificando o resultado, quando possível:
Ex: 3 e 6 .
5 10 9 20 29
+ =
A segunda fração pode ser obtida multiplicando o 24 24 24
numerador e denominador de 3 por 2:
5
3�2 6 3 5 9 20 29
= Portanto: + = + =
5 � 2 10 8 6 24 24 24

3
#FicaDica #FicaDica
Na adição e subtração de duas ou mais fra- Sempre que possível, antes de efetuar a
ções que têm os denominadores diferentes, multiplicação, podemos simplificar as fra-
reduzimos inicialmente as frações ao menor ções entre si, dividindo os numeradores e os
denominador comum, após o que procede- denominadores por um fator comum. Esse
mos como no primeiro caso. processo de simplificação recebe o nome de
cancelamento.

2.2. Multiplicação

Ex:
De uma caixa de frutas, 4 são bananas. Do total de 2.3. Divisão
2 5
bananas, estão estragadas. Qual é a fração de frutas
3 Duas frações são inversas ou recíprocas quando o nu-
da caixa que estão estragadas? merador de uma é o denominador da outra e vice-versa.

Exemplo
2 é a fração inversa de 3
3 2
Representa 4/5 do conteúdo da caixa 5 ou 5 é a fração inversa de 1
1 5

Considere a seguinte situação:

Lúcia recebeu de seu pai os 4 dos chocolates con-


tidos em uma caixa. Do total de5chocolates recebidos,
Lúcia deu a terça parte para o seu namorado. Que fração
Representa 2/3 de 4/5 do conteúdo da caixa. dos chocolates contidos na caixa recebeu o namorado
de Lúcia?
Repare que o problema proposto consiste em calcular
2
o valor de de 4 que, de acordo com a figura, equivale A solução do problema consiste em dividir o total de
3 5 chocolates que Lúcia recebeu de seu pai por 3, ou seja,
a 8
do total de frutas. De acordo com a tabela acima, 2 4
15 3 :3
2 4
de 4 equivale a � . Assim sendo: 5
5 3 5
Por outro lado, dividir algo por 3 significa calcular 1
2 4 8 desse algo. 3
� =
3 5 15
Portanto: : 3 = de 4
4 1
Ou seja: 5 3 5
2 de 4 2 4 2�4 8 1 4 1 4 4 1
= � = = Como de 5= 3 � 5 = � , resulta que
3 5 3 5 3�5 15
3 5 3
O produto de duas ou mais frações é uma fração cujo 4 4 3 4 1
:3 = : = �
numerador é o produto dos numeradores e cujo deno- 5 5 1 5 3
minador é o produto dos denominadores das frações
dadas. 3 1
Observando que as frações e são frações inver-
1 3
sas, podemos afirmar que:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

2 4 7 2�4�7 56
Outro exemplo: � � = =
3 5 9 3 � 5 � 9 135
Para dividir uma fração por outra, multiplicamos a pri-
meira pelo inverso da segunda.
4 4 3 4 1 4
Portanto 5 : 3 = 5 ∶ 1 = 5 � 3 = 15

Ou seja, o namorado de Lúcia recebeu 4


do total de
chocolates contidos na caixa.
15

4 8 41 5 5
Outro exemplo: : = . 2 =
3 5 3 8 6
Observação:

4
1.2. Multiplicação
Note a expressão: . Ela é equivalente à expressão
3 1 Vamos calcular o valor do seguinte produto:
:
2 5
2,58 � 3,4 .
Transformaremos, inicialmente, os números decimais
em frações decimais:
Portanto
258 34 8772
2,58 � 3,4 = � = = 8,772
100 10 1000
Números Decimais
Portanto 2,58 � 3,4 = 8,772
De maneira direta, números decimais são números
que possuem vírgula. Alguns exemplos: 1,47; 2,1; 4,9587;
0,004; etc. #FicaDica
1. Operações com Números Decimais Na prática, a multiplicação de números
decimais é obtida de acordo com as
1.1. Adição e Subtração seguintes regras:
- Multiplicamos os números decimais como
Vamos calcular o valor da seguinte soma: se eles fossem números naturais.
- No resultado, colocamos tantas casas
5,32 + 12,5 + 0, 034 decimais quantas forem as do primeiro fator
somadas às do segundo fator.
Transformaremos, inicialmente, os números decimais
em frações decimais: Exemplo:
532 125 34 5320
Disposição
12500 34
prática:
17854
5,32 + 12,5 + 0,034 = 100 + 10
+ 1000 = 1000
+ 1000 + 1000 = 1000
= 17,854
652,2  1 casa decimal
532 125 34 5320 12500 34 17854
= + + = + + = = 17,854 X 2,03  2 casas decimais
100 10 1000 1000 1000 1000 1000
19 566
Portanto: 5,32 + 12,5 + 0, 034 = 17, 854

Na prática, a adição e a subtração de números deci- 1 304 4


mais são obtidas de acordo com a seguinte regra:
1 323,966  1 + 2 = 3 casas decimais
- Igualamos o número de casas decimais, acrescen-
tando zeros. 1.3. Divisão
- Colocamos os números um abaixo do outro, deixan-
do vírgula embaixo de vírgula.
- Somamos ou subtraímos os números decimais
como se eles fossem números naturais.
- Na resposta colocamos a vírgula alinhada com a vír-
gula dos números dados.

Exemplo

2,35 + 14,3 + 0, 0075 + 5 Vamos, por exemplo, efetuar a seguinte divisão:


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

24 ∶ 0,5
Disposição prática:
2,3500 Inicialmente, multiplicaremos o dividendo e o divisor
da divisão dada por 10.
14,3000
+ 0,0075
24 ∶ 0,5 = (24 � 10) ∶ (0,5 � 10) = 240 ∶ 5
5,0000
21,6575 A vantagem de tal procedimento foi a de transformar-
mos em número natural o número decimal que aparecia
na divisão. Com isso, a divisão entre números decimais
se transforma numa equivalente com números naturais.

5
Portanto: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48 2. Representação Decimal das Frações
p
Tomemos um número racional q tal que P não seja
#FicaDica múltiplo de q. Para escrevê-lo na forma decimal, basta
Na prática, a divisão entre números decimais efetuar a divisão do numerador pelo denominador.
é obtida de acordo com as seguintes regras:
- Igualamos o número de casas decimais do Nessa divisão podem ocorrer dois casos:
dividendo e do divisor.
- Cortamos as vírgulas e efetuamos a divisão 1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula,
como se os números fossem naturais. um número finito de algarismos. Decimais Exatos:
2
= 0,4
5
Ex: 24 ∶ 0,5 = 240 ∶ 5 = 48 1
= 0,25
4
Disposição prática: 35
= 8,75
4
153
= 3,06
50
Nesse caso, o resto da divisão é igual à zero. Assim
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula,
sendo, a divisão é chamada de divisão exata e o quocien-
infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se pe-
te é exato.
riodicamente. Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas:
Ex: 9,775 ∶ 4,25 1
= 0,333 …
3
Disposição prática:
1
= 0,04545 …
22

167
Nesse caso, o resto da divisão é diferente de zero. = 2,53030 …
66
Assim sendo, a divisão é chamada de divisão aproximada
e o quociente é aproximado.
FIQUE ATENTO!
Se quisermos continuar uma divisão aproximada, de-
Se após as vírgulas os algarismos não são pe-
vemos acrescentar zeros aos restos e prosseguir dividin-
riódicos, então esse número decimal não está
do cada número obtido pelo divisor. Ao mesmo tempo
contido no conjunto dos números racionais.
em que colocamos o primeiro zero no primeiro resto,
colocamos uma vírgula no quociente.
3.Representação Fracionária dos Números Deci-
mais

Trata-se do problema inverso: estando o número ra-


cional escrito na forma decimal, procuremos escrevê-lo
na forma de fração. Temos dois casos:

1º) Transformamos o número em uma fração cujo


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Ex: 0,14 ∶ 28
numerador é o número decimal sem a vírgula e o deno-
minador é composto pelo numeral 1, seguido de tantos
zeros quantas forem as casas decimais do número deci-
mal dado:

Ex: 2 ∶ 16

6
Subtraindo membro a membro, temos:
9
0,9 =
10 990x = 1234,34. . . – 12,34 … 990x = 1222

57 990x = 1234,34. . . – 12,34 … 990x = 1222


5,7 =
10

611
76 Simplificando, obtemos x = , a fração geratriz
0,76 = da dízima 1,23434... 495
100

Analisando todos os exemplos, nota-se que a idéia


348 consiste em deixar após a vírgula somente a parte pe-
3,48 =
100 riódica (que se repete) de cada igualdade para, após a
subtração membro a membro, ambas se cancelarem.

5 1
0,005 = =
1000 200 EXERCÍCIOS COMENTADOS
1. (EBSERH – Médico – IBFC/2016) Mara leu 1/5 das
2º) Devemos achar a fração geratriz da dízima dada; páginas de um livro numa semana. Na segunda semana,
para tanto, vamos apresentar o procedimento através de leu mais 2/3 de páginas. Se ainda faltam ler 60 (sessenta)
alguns exemplos: páginas do livro, então o total de páginas do livro é de:

Ex: a) 300
Seja a dízima 0,333... b) 360
Façamos e multipliquemos ambos os membros por 10: c) 400
d) 450
10x = 0,333 e) 480

Subtraindo, membro a membro, a primeira igualdade Resposta: Letra D.


da segunda:
Mara leu 1 2 3+10 13 do livro.
3 5
+3= 15
= 15
10x – x = 3,333 … – 0,333. . . 9x = 3 x =
9
13 15−13 2
3 Logo, ainda falta 1 − = = para ser
= 3,333 … – 0,333. . . 9x = 3 x = lido. 15 15 15
9 Essa fração que falta ser lida equivale a 60 páginas
3 2
Assim, a geratriz de 0,333... é a fração . Assim:  60 páginas.
Ex: 9 15
Seja a dízima 5,1717... Portanto,
1 30 páginas.

15
Façamos x = 5,1717. . . e 100x = 517,1717. . . Logo o livro todo (15/15) possui: 15∙30=450 páginas

Subtraindo membro a membro, temos: 2. Em uma caixa de ferramentas, 4/5 são chaves de fen-
da. Do total das chaves, 2/3 estão enferrujadas. Qual é
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

99x = 512 x = 512⁄99 a fração de chaves da caixa de ferramentas que estão


enferrujadas?
512
Assim, a geratriz de 5,1717... é a fração .
99 Resposta: 8/15
Ex: O problema proposto consiste em calcular o valor de
Seja a dízima 1,23434... 2/3 de 4/5, que equivale a 8/15 do total das chaves.

Façamos

x = 1,23434 … ;10x = 12,3434 …; 1000x = 1234,34 …


434 … ;10x = 12,3434 …; 1000x = 1234,34 …

7
Números Primos, MDC e MMC Quando a = k.b, então a é múltiplo de b e se conhe-
cemos b e queremos obter todos os seus múltiplos, basta
O máximo divisor comum e o mínimo múltiplo co- fazer k assumir todos os números naturais possíveis.
mum são ferramentas extremamente importantes na Ex. Para obter os múltiplos de dois, isto é, os números
matemática. Através deles, podemos resolver alguns da forma a = k x 2, k seria substituído por todos os nú-
problemas simples, além de utilizar seus conceitos em meros naturais possíveis.
outros temas, como frações, simplicação de fatoriais, etc.
Porém, antes de iniciarmos a apresentar esta teoria, é
importante conhecermos primeiramente uma classe de FIQUE ATENTO!
números muito importante: Os números primos. Um número b é sempre múltiplo dele mes-
mo. a = 1 x b ↔ a = b.
1. Números primos

Um número natural é definido como primo se ele tem A definição de divisor está relacionada com a de múl-
exatamente dois divisores: o número um e ele mesmo. tiplo.
Já nos inteiros, p ∈ ℤ é um primo se ele tem exatamente Um número natural b é divisor do número natural a,
quatro divisores: ±1 e ±𝑝 . se a é múltiplo de b.
Ex. 3 é divisor de 15, pois , logo 15 é múltiplo de 3 e
FIQUE ATENTO! também é múltiplo de 5.
Por definição,  0,  1  e  − 1  não são números
primos. #FicaDica
Um número natural tem uma quantidade fi-
Existem infinitos números primos, como demonstra-
nita de divisores. Por exemplo, o número 6
do por Euclides por volta de 300 a.C.. A propriedade de
poderá ter no máximo 6 divisores, pois tra-
ser um primo é chamada “primalidade”, e a palavra “pri-
balhando no conjunto dos números naturais
mo” também são utilizadas como substantivo ou adje-
não podemos dividir 6 por um número maior
tivo. Como “dois” é o único número primo par, o termo
do que ele. Os divisores naturais de 6 são os
“primo ímpar” refere-se a todo primo maior do que dois.
números 1, 2, 3, 6, o que significa que o nú-
O conceito de número primo é muito importante
mero 6 tem 4 divisores.
na teoria dos números. Um dos resultados da teoria dos
números é o Teorema Fundamental da Aritmética, que
afirma que qualquer número natural diferente de 1 pode MDC
ser escrito de forma única (desconsiderando a ordem)
como um produto de números primos (chamados fato- Agora que sabemos o que são números primos, múl-
res primos): este processo se chama decomposição em tiplos e divisores, vamos ao MDC. O máximo divisor co-
fatores primos (fatoração). É exatamente este conceito mum de dois ou mais números é o maior número que é
que utilizaremos no MDC e MMC. Para caráter de me- divisor comum de todos os números dados.
morização, seguem os 100 primeiros números primos Ex. Encontrar o MDC entre 18 e 24.
positivos. Recomenda-se que memorizem ao menos os Divisores naturais de 18: D(18) = {1,2,3,6,9,18}.
10 primeiros para MDC e MMC: Divisores naturais de 24: D(24) = {1,2,3,4,6,8,12,24}.
2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53,  Pode-se escrever, agora, os divisores comuns a 18 e
59, 61, 67, 71, 73, 79, 83, 89, 97, 101, 103, 107, 109, 113,  24: D(18)∩ D (24) = {1,2,3,6}.
127, 131, 137, 139, 149, 151, 157, 163, 167, 173, 179, 181, Observando os divisores comuns, podemos identifi-
191, 193, 197, 199, 211, 223, 227, 229, 233, 239, 241, 251, car o maior divisor comum dos números 18 e 24, ou seja:
257, 263, 269, 271, 277, 281, 283, 293, 307, 311, 313, 317, MDC (18,24) = 6.
331, 337, 347, 349, 353, 359, 367, 373, 379, 383, 389, 397, Outra técnica para o cálculo do MDC:
401, 409, 419, 421, 431, 433, 439, 443, 449, 457, 461, 463,
467, 479, 487, 491, 499, 503, 509, 521, 523, 541 Decomposição em fatores primos: Para obter o
MDC de dois ou mais números por esse processo, proce-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

2. Múltiplos e Divisores de-se da seguinte maneira:


Decompõe-se cada número dado em fatores primos.
Diz-se que um número natural a é múltiplo de outro O MDC é o produto dos fatores comuns obtidos, cada
natural b, se existe um número natural k tal que: um deles elevado ao seu menor expoente.
Exemplo: Achar o MDC entre 300 e 504.
𝑎 = 𝑘. 𝑏

Ex. 15 é múltiplo de 5, pois 15=3 x 5

Quando a=k.b, segue que a é múltiplo de b, mas tam-


bém, a é múltiplo de k, como é o caso do número 35 que
é múltiplo de 5 e de 7, pois: 35 = 7 x 5.

8
Fatorando os dois números:
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (FEPESE-2016) João trabalha 5 dias e folga 1, enquan-


to Maria trabalha 3 dias e folga 1. Se João e Maria folgam
no mesmo dia, então quantos dias, no mínimo, passarão
para que eles folguem no mesmo dia novamente?

a) 8
b) 10
Temos que: c) 12
300 = 22.3 .52 d) 15
504 = 23.32 .7 e) 24

O MDC será os fatores comuns com seus menores Resposta: Letra C. O período em que João trabalha
expoentes: e folga corresponde a 6 dias enquanto o mesmo pe-
Mdc (300,504)= 22.3 = 4 .3=12 ríodo, para Maria, corresponde a 4 dias. Assim, o pro-
blema consiste em encontrar o mmc entre 6 e 4. Logo,
MMC eles folgarão no mesmo dia novamente após 12 dias
pois mmc (6,4)=12.
O mínimo múltiplo comum de dois ou mais números
é o menor número positivo que é múltiplo comum de 2. Quais dos números a seguir são primos? Justifique.
todos os números dados. Consideremos:
Ex. Encontrar o MMC entre 8 e 6 a) 88
Múltiplos positivos de 6: M(6) = b) 20
{6,12,18,24,30,36,42,48,54,...} c) 101
Múltiplos positivos de 8: M(8) =
{8,16,24,32,40,48,56,64,...} Resposta: Letra C. Para ser número primo, um núme-
ro deve ser divisível apenas por 1 e por ele mesmo.
Podem-se escrever, agora, os múltiplos positivos co- Em outras palavras, caso um número seja múltiplo de
muns: M(6)∩M(8) = {24,48,72,...} qualquer outro, ele não é primo.
Observando os múltiplos comuns, pode-se identificar a) 88 é divisível por 2, 4, 8, 11, 22, entre outros. Logo,
o mínimo múltiplo comum dos números 6 e 8, ou seja: como existem divisores diferentes de 1 e de 88, dize-
Outra técnica para o cálculo do MMC: mos que 88 não é primo.
b) 20 é divisível por 2, 4, 5 e 10. Logo, como existem
Decomposição isolada em fatores primos: Para ob- divisores diferentes de 1 e de 20, dizemos que 20 não
ter o MMC de dois ou mais números por esse processo, é primo.
procedemos da seguinte maneira: c) 101 é primo porque não é divisível por nenhum nú-
- Decompomos cada número dado em fatores pri- mero primo menor que ele.
mos.
- O MMC é o produto dos fatores comuns e não-
-comuns, cada um deles elevado ao seu maior ex- PORCENTAGEM;
poente.

Ex. Achar o MMC entre 18 e 120. A definição de porcentagem passa pelo seu próprio
nome, pois é uma fração de denominador centesimal, ou
Fatorando os números: seja, é uma fração de denominador 100. Representamos
porcentagem pelo% e lê-se: “por cento”.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

50
Deste modo, a fração 100 ou qualquer uma equiva-
lente a ela é uma porcentagem que podemos representar
por 50%.

A porcentagem nada mais é do que uma razão, que


representa uma “parte” e um “todo” a qual referimos
18 = 2 .32 como 100%. Assim, de uma maneira geral, temos que:
120 = 23.3 .5 𝑝
𝐴= .𝑉
3 2
mmc (18, 120) = 2 � 3 � 5 = 8 � 9 � 5 = 360 100

9
Onde A, é a parte, p é o valor da porcentagem e V é o Ex. Um atirador tem taxa de acerto de 75% de seus
todo (100%). Assim, os problemas básicos de porcenta- tiros ao alvo. Se em um treinamento ele acertou 15 tiros,
gem se resumem a três tipos: quantos tiros ele deu no total?
Neste caso, o problema gostaria de saber quanto vale
Cálculo da parte (Conheço p e V e quero achar A): o “todo”, assim:
Para calcularmos uma porcentagem de um valor V, bas-
𝑝
ta multiplicarmos a fração correspondente, ou seja, 100 𝐴 15
por V. Assim: 𝑉= . 100 = . 100 = 0,2.100 = 20 𝑡𝑖𝑟𝑜𝑠
𝑝 75
𝑝
P% de V =A= 100 .V
Forma Decimal: Outra forma de representação de
porcentagens é através de números decimais, pois to-
Ex. 23% de 240 = 23 .240 = 55,2 dos eles pertencem à mesma classe de números, que são
100 os números racionais. Assim, para cada porcentagem, há
Ex. Em uma pesquisa de mercado, constatou-se que um numero decimal equivalente. Por exemplo, 35% na
67% de uma amostra assistem a certo programa de TV. forma decimal seriam representados por 0,35. A conver-
Se a população é de 56.000 habitantes, quantas pessoas são é muito simples: basta fazer a divisão por 100 que
assistem ao tal programa? está representada na forma de fração:
Aqui, queremos saber a “parte” da população que as- 75
siste ao programa de TV, como temos a porcentagem e o 75% = = 0,75
100
total, basta realizarmos a multiplicação:

67% de 56000=A=
67
56000=37520 Aumento e desconto percentual
100
Resp. 37 520 pessoas. Outra classe de problemas bem comuns sobre por-
centagem está relacionada ao aumento e a redução per-
Cálculo da porcentagem (conheço A e V e quero centual de um determinado valor. Usaremos as defini-
achar p): Utilizaremos a mesma relação para achar o va- ções apresentadas anteriormente para mostrar a teoria
lor de p e apenas precisamos rearranjar a mesma: envolvida

𝑝 𝐴 Aumento Percentual: Consideremos um valor inicial


𝐴= . 𝑉 → 𝑝 = . 100
100 𝑉 V que deve sofrer um aumento de de seu valor. Chame-
mos de VA o valor após o aumento. Assim:
Ex. Um time de basquete venceu 10 de seus 16 jogos. p
Qual foi sua porcentagem de vitórias? VA = V + .V
100
Neste caso, o exercício quer saber qual a porcenta-
gem de vitórias que esse time obteve, assim: Fatorando:
p
𝐴 10 VA = ( 1 + ) .V
𝑝 = . 100 = . 100 = 62,5% 100
𝑉 16
Em que (1 + p ) será definido como fator de au-
Resp: O time venceu 62,5% de seus jogos.
100
mento, que pode estar representado tanto na forma de
Ex. Em uma prova de concurso, o candidato acertou fração ou decimal.
48 de 80 questões. Se para ser aprovado é necessário
acertar 55% das questões, o candidato foi ou não foi Desconto Percentual: Consideremos um valor inicial
aprovado? V que deve sofrer um desconto de p% de seu valor. Cha-
Para sabermos se o candidato passou, é necessário memos de VD o valor após o desconto.
calcular sua porcentagem de acertos:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

p
𝐴 48 VD = V – .V
𝑝 = . 100 = . 100 = 60% > 55% 100
𝑉 80
Fatorando:

Logo, o candidato foi aprovado. p


VD = (1 – ) .V
100
Calculo do todo (conheço p e A e quero achar V):
No terceiro caso, temos interesse em achar o total (Nosso Em que (1 –
p
) será definido como fator de des-
100%) e para isso basta rearranjar a equação novamente: 100
conto, que pode estar representado tanto na forma de
𝑝 𝐴 𝐴 fração ou decimal.
𝐴= . 𝑉 → 𝑝 = . 100 → 𝑉 = . 100
100 𝑉 𝑝

10
Ex. Uma empresa admite um funcionário no mês de 𝑝2
janeiro sabendo que, já em março, ele terá 40% de au- V2 = V1 .(1 + )
mento. Se a empresa deseja que o salário desse funcio- 100
nário, a partir de março, seja R$ 3 500,00, com que salário Como temos também uma expressão para V1, basta
deve admiti-lo? substituir:
Neste caso, o problema deu o valor de e gostaria de 𝑝1 𝑝2
saber o valor de V, assim: V2 = V .(1 + ) .(1 + )
100 100
p
VA = ( 1 + 100 ).V
40
Assim, para cada aumento, temos um fator corres-
3500 = ( 1 + ).V pondente e basta ir multiplicando os fatores para chegar
100
ao resultado final.
3500 =(1+0,4).V
No caso de desconto, temos o mesmo caso, sendo V
3500 =1,4.V um valor inicial, vamos considerar que ele irá sofrer dois
3500 descontos sucessivos de p1% e p2%.
V= =2500
1,4
Sendo V1 o valor após o primeiro desconto, temos:
Resp. R$ 2 500,00 𝑝1
V1 = V.(1 – )
Ex. Uma loja entra em liquidação e pretende abaixar 100
em 20% o valor de seus produtos. Se o preço de um deles
é de R$ 250,00, qual será seu preço na liquidação? Sendo V2 o valor após o segundo desconto, ou seja,
Aqui, basta calcular o valor de VD : após já ter descontado uma vez, temos que:
p 𝑝2
VD = (1 – ) .V V2 = V_1 .(1 – )
100 100
20
VD = (1 – ) .250,00 Como temos também uma expressão para , basta
100 substituir:
VD = (1 –0,2) .250,00 𝑝1 𝑝2
V2 = V .(1 – ) .(1 – )
VD = (0,8) .250,00 100 100
Além disso, essa formulação também funciona para
VD = 200,00 aumentos e descontos em sequência, bastando apenas
a identificação dos seus fatores multiplicativos. Sendo V
Resp. R$ 200,00 um valor inicial, vamos considerar que ele irá sofrer um
aumento de p1% e, sucessivamente, um desconto de p2%.
FIQUE ATENTO! Sendo V1 o valor após o aumento, temos:
Em alguns problemas de porcentagem são
𝑝1
necessários cálculos sucessivos de aumen- V1 = V .(1+ )
tos ou descontos percentuais. Nesses ca- 100
sos é necessário ter atenção ao problema,
pois erros costumeiros ocorrem quando se Sendo V2 o valor após o desconto, temos que:
calcula a porcentagens do valor inicial para 𝑝2
obter todos os valores finais com descon- V2 = V_1 .(1 – )
tos ou aumentos. Na verdade, esse cálculo 100
só pode ser feito quando o problema diz Como temos uma expressão para , basta substituir:
que TODOS os descontos ou aumentos 𝑝1 𝑝2
são dados a uma porcentagem do valor V2 = V .(1+ ) .(1 – )
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

inicial. Mas em geral, os cálculos são feitos 100 100


como mostrado no texto a seguir. Ex. Um produto sofreu um aumento de 20% e depois
sofreu uma redução de 20%. Isso significa que ele voltará
Aumentos e Descontos Sucessivos: Consideremos ao seu valor original.
um valor inicial V, e vamos considerar que ele irá sofrer
dois aumentos sucessivos de p1% e p2%. Sendo V1 o valor ( ) Certo ( ) Errado
após o primeiro aumento, temos:
𝑝1 Este problema clássico tem como finalidade concei-
V1 = V .(1 + ) tuar esta parte de aumento e redução percentual e evitar
100 o erro do leitor ao achar que aumentando p% e dimi-
Sendo V2 o valor após o segundo aumento, ou seja, nuindo p%, volta-se ao valor original. Se usarmos o que
após já ter aumentado uma vez, temos que: aprendemos, temos que:

11
𝑝1 𝑝2 A razão basicamente é uma fração, e como sabem,
V2 = V . 1+ . 1– frações são números racionais. Entretanto, a leitura des-
100 100
𝐴𝑢𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑟𝑒𝑑𝑢çã𝑜
te número é diferente, justamente para diferenciarmos
quando estamos falando de fração ou de razão.
20 20 3
V2 = V .(1+ ) .(1 – ) a) Quando temos o número 5 e estamos tratando de
100 100
fração, lê-se: “três quintos”.
V2 = V .(1+0,2) .(1 – 0,2 ) 3
b) Quando temos o número 5
e estamos tratando
V2 = V .(1,2) .(0,8) de razão, lê-se: “3 para 5”.

96 Além disso, a nomenclatura dos termos também é


V2 = 0,96.V= V=96% de V diferente:
100
Ou seja, o valor final corresponde a 96% de V e não O número 3 é numerador
100%, assim, eles não são iguais, portanto deve-se assi-
nalar a opção ERRADO
3
a) Na fração 5

EXERCÍCIOS COMENTADOS O número 5 é denominador

1. (UNESP) Suponhamos que, para uma dada eleição, O número 3 é antecedente


uma cidade tivesse 18.500 eleitores inscritos. Suponha-
mos ainda que, para essa eleição, no caso de se verificar
um índice de abstenções de 6% entre os homens e de 9% b) Na razão
3
5
entre as mulheres, o número de votantes do sexo mas-
culino será exatamente igual ao número de votantes do
sexo feminino. Determine o número de eleitores de cada
sexo. O número 5 é consequente

Resposta: Denotamos o número de eleitores do sexo Ex. A razão entre 20 e 50 é = já a razão entre 50
20 2
50 5 50 5
femininos de F e de votantes masculinos de M. Pelo e 20 é = . Ou seja, deve-se sempre indicar o antece-
20 2
enunciado do exercícios, F+M = 18500. Além disso, o dente e o consequente para sabermos qual a ordem de
índice de abstenções entre os homens foi de 6% e montarmos a razão.
de 9% entre as mulheres, ou seja, 94% dos homens
e 91% das mulheres compareceram a votação, onde Ex.Numa classe de 36 alunos há 15 rapazes e 21 mo-
94%M = 91%F ou 0,94M = 0,91F. Assim, para deter- ças. A razão entre o número de rapazes e o número de
minar o número de eleitores de cada sexo temos os moças é 15 , se simplificarmos, temos que a fração equi-
seguinte sistema para resolver: 5 21
valente 7 , o que significa que para “cada 5 rapazes há 7
moças”. Por outro lado, a razão entre o número de rapa-
F + M = 18500 zes e o total de alunos é dada por 15 = 5 , o que equivale
� 36 12
0,94M = 0,91F a dizer que “de cada 12 alunos na classe, 5 são rapazes”.
0,91
Da segunda equação, temos que M = 0,94 F . Agora, Razão entre grandezas de mesma espécie: A razão
substituindo M na primeira equação do sistema en- entre duas grandezas de mesma espécie é o quociente
contra-se F =  9400 e por fim determina-se M = 9100. dos números que expressam as medidas dessas grande-
zas numa mesma unidade.
Ex. Um automóvel necessita percorrer uma estrada de
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

RAZÃO E PROPORÇÃO; 360 km. Se ele já percorreu 240 km, qual a razão entre a
distância percorrida em relação ao total?
Como os dois números são da mesma espécie (dis-
Razão tância) e estão na mesma unidade (km), basta fazer a ra-
zão:
Quando se utiliza a matemática na resolução de pro- 𝑟=
240 𝑘𝑚 2
=
blemas, os números precisam ser relacionados para se 360 𝑘𝑚 3
obter uma resposta. Uma das maneiras de se relacionar
os números é através da razão. Sejam dois números reais No caso de mesma espécie, porém em unidades di-
a e b, com b ≠ 0,define-se razão entre a e b (nessa ordem) ferentes, deve-se escolher uma das unidades e converter
o quociente a ÷ b, ou
𝑎
. a outra.
𝑏

12
Ex. Uma maratona possui aproximadamente 42 km de Ex. A Região Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais,
extensão. Um corredor percorreu 36000 metros. Qual a Rio de Janeiro e São Paulo) tem uma área aproximada de
razão entre o que falta para percorrer em relação à ex- 927 286 km2 e uma população de 66 288 000 habitantes,
tensão da prova? aproximadamente, segundo estimativas projetadas pelo
Veja que agora estamos tentando relacionar metros Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o
com quilômetros. Para isso, deve-se converter uma das ano de 1995. Qual a razão entre o número de habitantes
unidades, vamos utilizar “km”: e a área total?
36000 m=36 km Dividindo-se o número de habitantes pela área, obte-
remos o número de habitantes por km2 (hab./km2):
Como é pedida a razão entre o que falta em relação
ao total, temos que: 66288000 ℎ𝑎𝑏 ℎ𝑎𝑏
𝑑= = 71,5
927286 𝑘𝑚² 𝑘𝑚2
42 𝑘𝑚 − 36 𝑘𝑚 6 𝑘𝑚 1
𝑟= = =
42 𝑘𝑚 42 𝑘𝑚 7

Ex. Uma sala tem 8 m de comprimento. Esse compri- #FicaDica


mento é representado num desenho por 20 cm. Qual é a
A razão entre o número de habitantes e a
razão entre o comprimento representado no desenho e
área deste local é denominada densidade
o comprimento real?
demográfica.
Convertendo o comprimento real para cm, temos
que:
Ex. Um carro percorreu, na cidade, 83,76 km com 8 L
20 𝑐𝑚 1 de gasolina. Dividindo-se o número de quilômetros per-
𝑒= =
800 𝑐𝑚 40 corridos pelo número de litros de combustível consumi-
dos, teremos o número de quilômetros que esse carro
percorre com um litro de gasolina:
#FicaDica
A razão entre um comprimento no desenho 83,76 𝑘𝑚 𝑘𝑚
e o correspondente comprimento real, cha-
𝑐= = 10,47
8𝑙 𝑙
ma-se escala
#FicaDica
Razão entre grandezas de espécies diferentes: É
A razão entre a distância percorrida em rela-
possível também relacionar espécies diferentes e isto
ção a uma quantidade de combustível é de-
está normalmente relacionado a unidades utilizadas na
finida como “consumo médio”
física:

Ex. Considere um carro que às 9 horas passa pelo qui- Proporção


lômetro 30 de uma estrada e, às 11 horas, pelo quilô-
metro 170. Qual a razão entre a distância percorrida e o A definição de proporção é muito simples, pois se tra-
tempo gasto no translado? ta apenas da igualdade de razões.
Para montarmos a razão, precisamos obter as infor- 3 6
mações: Na proporção = (lê-se: “3 está para 5 assim
5 10
Distância percorrida: 170 km – 30 km = 140 km
como 6 está para 10”).
Tempo gasto: 11h – 9h = 2h
Observemos que o produto 3 x 10=30 é igual ao pro-
Calculamos a razão entre a distância percorrida e o
duto 5 x 6=30, o que caracteriza a propriedade funda-
tempo gasto para isso:
mental das proporções
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

140 𝑘𝑚 70 #FicaDica
𝑣= = = 70 𝑘 𝑚 ⁄ℎ
2ℎ 1
Se multiplicarmos em cruz (ou em x), tere-
Como são duas espécies diferentes, a razão entre elas mos que os produtos entre o numeradores
será uma espécie totalmente diferente das outras duas. e os denominadores da outra razão serão
iguais.

#FicaDica 2 6
Ex. Na igualdade = , temos 2 x 9=3 x 6=18, logo,
A razão entre uma distância e uma medida 3 9
temos uma proporção.
de tempo é chamada de velocidade.

13
Ex. Na bula de um remédio pediátrico recomenda-se 5 10 5 + 2 10 + 4 7 14
a seguinte dosagem: 7 gotas para cada 3 kg do “peso” da = → = → =
2 4 5 10 5 10
criança. Se uma criança tem 15 kg, qual será a dosagem
correta? ou
Como temos que seguir a receita, temos que atender
a proporção, assim, chamaremos de x a quantidade de 5 10 5 + 2 10 + 4 7 14
gotas a serem ministradas: = → = → =
2 4 2 4 2 4
7 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠 𝑥 𝑔𝑜𝑡𝑎𝑠
= b) Diferença dos termos: Analogamente a soma, te-
3 𝑘𝑔 15 𝑘𝑔
mos também que se realizarmos a diferença entre
os termos, também chegaremos em outras pro-
Logo, para atendermos a proporção, precisaremos porções:
encontrar qual o número que atenderá a proporção. Mul- 4 8 4−3 8−6 1 2
tiplicando em cruz, temos que: = → = → =
3 6 4 8 4 8
3x=105 ou

4 8 4−3 8−6 1 2
105 = → = → =
𝑥= 3 6 3 6 3 6
3
c) Soma dos antecedentes e consequentes: A soma
x=35 gotas dos antecedentes está para a soma dos conse-
quentes assim como cada antecedente está para o
Ou seja, para uma criança de 30 kg, deve-se ministrar seu consequente:
35 gotas do remédio, atendendo a proporção.
12 3 12 + 3 15 12 3
Outro jeito de ver a proporção: Já vimos que uma = → = = =
8 2 8+2 10 8 2
proporção é verdadeira quando realizamos a multiplica-
ção em cruz e encontramos o mesmo valor nos dois pro- d) Diferença dos antecedentes e consequentes: A
dutos. Outra maneira de verificar a proporção é verificar soma dos antecedentes está para a soma dos con-
se a duas razões que estão sendo igualadas são frações sequentes assim como cada antecedente está para
equivalentes. Lembra deste conceito? o seu consequente:

12 3 12 − 3 9 12 3
FIQUE ATENTO! = → = = =
Uma fração é equivalente a outra quando
8 2 8−2 6 8 2
podemos multiplicar (ou dividir) o nume-
rador e o denominador da fração por um
mesmo número, chegando ao numerador e FIQUE ATENTO!
denominador da outra fração. Usamos razão para fazer comparação entre
duas grandezas. Assim, quando dividimos uma
grandeza pela outra estamos comparando a
4 12 primeira com a segunda. Enquanto proporção é
Ex. e são frações equivalentes, pois:
3 9 a igualdade entre duas razões.
4x=12 →x=3
3x=9 →x=3
4
Ou seja, o numerador e o denominador de quan-
3 EXERCÍCIOS COMENTADOS
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

do multiplicados pelo mesmo número (3), chega ao nu-


merador e denominador da outra fração, logo, elas são
equivalentes e consequentemente, proporcionais. 1. O estado de Tocantins ocupa uma área aproximada de
278.500 km². De acordo com o Censo/2000 o Tocantins
Agora vamos apresentar algumas propriedades da tinha uma população de aproximadamente 1.156.000 ha-
proporção: bitantes. Qual é a densidade demográfica do estado de
Tocantins?
a) Soma dos termos: Quando duas razões são pro-
porcionais, podemos criar outra proporção soman- Resposta : A densidade demográfica é definida como
do os numeradores com os denominadores e divi- a razão entre o número de habitantes e a área ocu-
dindo pelos numeradores (ou denominadores) das pada:
razões originais:

14
Coloquemos as grandezas de mesma espécie em uma
1 156 000 hab. mesma coluna e as grandezas de espécies diferentes que
d= = 4,15 ha b⁄k m² se correspondem em uma mesma linha:
278 500 km² Distância (km) Litros de álcool
180 15
2. Se a área de um retângulo (A1 ) mede 300 cm² e a 210 x
área de um outro retângulo (A2 ) mede 100 cm², qual é o
valor da razão entre as áreas (A1 ) e (A2 ) ? Na coluna em que aparece a variável x (“litros de ál-
cool”), vamos colocar uma flecha:
Resposta : Ao fazermos a razão das áreas, temos:
A1 300
= =3
A2 100

Então, isso significa que a área do retângulo 1 é 3 ve- Observe que, se duplicarmos a distância, o consumo
zes maior que a área do retângulo 2. de álcool também duplica. Então, as grandezas distância
e litros de álcool são diretamente proporcionais. No
3.(CELESC – Assistente Administrativo – FEPESE/2016) esquema que estamos montando, indicamos esse fato
Dois amigos decidem fazer um investimento conjunto colocando uma flecha na coluna “distância” no mesmo
por um prazo determinado. Um investe R$ 9.000 e o ou- sentido da flecha da coluna “litros de álcool”:
tro R$  16.000. Ao final do prazo estipulado obtêm um
lucro de R$ 2.222 e decidem dividir o lucro de maneira
proporcional ao investimento inicial de cada um. Portan-
to o amigo que investiu a menor quantia obtém com o
investimento um lucro:

a) Maior que R$ 810,00


b) Maior que R$ 805,00 e menor que R$ 810,00
c) Maior que R$ 800,00 e menor que R$ 805,00
d) Maior que R$ 795,00 e menor que R$ 800,00 Armando a proporção pela orientação das flechas,
e) Menor que R$ 795,00 temos:

Resposta : Letra D. Ambos aplicaram R$ 9000,00+R$


16000,00=R$ 25000,00 e o lucro de R$ 2222,00 foi so-
bre este valor. Assim, constrói-se uma proporção en-
tre o valor aplicado (neste caso, R$ 9000,00 , pois o
exercício quer o lucro de quem aplicou menos) e seu
respectivo lucro:

9000 25000
= → 25x = 19998 → x = R$ 799,92
x 2222
Resposta: O carro gastaria 17,5 L de álcool.

REGRA DE TRÊS SIMPLES OU COMPOSTA;


#FicaDica
Procure manter essa linha de raciocínio nos di-
Regra de Três Simples
versos problemas que envolvem regra de três
simples ! Identifique as variáveis, verifique qual
Os problemas que envolvem duas grandezas direta-
é a relação de proporcionalidade e siga este
mente ou inversamente proporcionais podem ser resol-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

exemplo !
vidos através de um processo prático, chamado regra de
três simples.
Ex: Um carro faz 180 km com 15L de álcool. Quantos Ex: Viajando de automóvel, à velocidade de 60 km/h,
litros de álcool esse carro gastaria para percorrer 210 km? eu gastaria 4 h para fazer certo percurso. Aumentando
a velocidade para 80 km/h, em quanto tempo farei esse
Solução: percurso?
O problema envolve duas grandezas: distância e litros Solução: Indicando por x o número de horas e colo-
de álcool. cando as grandezas de mesma espécie em uma mesma
Indiquemos por x o número de litros de álcool a ser coluna e as grandezas de espécies diferentes que se cor-
consumido. respondem em uma mesma linha, temos:

15
Velocidade (km/h) Tempo (h) 1 � x = 0,02 � 12 → x = R$ 0,24
60 4
80 x Note que foi necessário passar 2 cm para metros, para
que as unidades de comprimento fiquei iguais. Assim,
Na coluna em que aparece a variável x (“tempo”), va- cada 2 cm custaram R$ 0,24 para o vendedor. Como
mos colocar uma flecha: ele vendeu 4 m de tecido, esses 2 cm não foram con-
siderados quatro vezes. Assim, ele deixou de ganhar
Velocidade (km/h) Tempo (h)
60 4 2. Para se construir um muro de 17m² são necessários 3
80 x trabalhadores. Quantos trabalhadores serão necessários
para construir um muro de 51m²?
Observe que, se duplicarmos a velocidade, o tempo
fica reduzido à metade. Isso significa que as grandezas Resposta: 9 trabalhadores.
velocidade e tempo são inversamente proporcionais.
No nosso esquema, esse fato é indicado colocando-se na As grandezas (área e trabalhadores) são diretamente
coluna “velocidade” uma flecha em sentido contrário ao proporcionais. Assim, a regra de três é direta:
da flecha da coluna “tempo”:

Área N Trabalhadores
17 3
51 x

17 � x = 51 � 3 → x = 9 trabalhadores

Na montagem da proporção devemos seguir o senti-


do das flechas. Assim, temos: Regra de Três Composta

O processo usado para resolver problemas que en-


volvem mais de duas grandezas, diretamente ou inver-
samente proporcionais, é chamado regra de três com-
posta.
Ex: Em 4 dias 8 máquinas produziram 160 peças. Em
quanto tempo 6 máquinas iguais às primeiras produzi-
riam 300 dessas peças?

Solução: Indiquemos o número de dias por x. Co-


Resposta: Farei esse percurso em 3 h. loquemos as grandezas de mesma espécie em uma só
coluna e as grandezas de espécies diferentes que se
correspondem em uma mesma linha. Na coluna em que
aparece a variável x (“dias”), coloquemos uma flecha:
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (CBTU – ASSISTENTE OPERACIONAL – FU-


MARC/2016) Dona Geralda comprou 4 m de tecido im-
portado a R$ 12,00 o metro linear. No entanto, o metro
linear do lojista media 2 cm a mais. A quantia que o lojis- Comparemos cada grandeza com aquela em que está
ta deixou de ganhar com a venda do tecido foi: o x.

a) R$ 0,69 As grandezas peças e dias são diretamente propor-


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

b) R$ 0,96 cionais. No nosso esquema isso será indicado colocan-


c) R$ 1,08 do-se na coluna “peças” uma flecha no mesmo sentido
d) R$ 1,20 da flecha da coluna “dias”:

Resposta: Letra B. As grandezas (comprimento e pre-


ço) são diretamente proporcionais. Assim, a regra de
três é direta:
Metros Preço
1 12
0,02 x

16
As grandezas máquinas e dias são inversamente pro- Comparando-se as grandezas duas a duas, nota-se
porcionais (duplicando o número de máquinas, o número que:
de dias fica reduzido à metade). No nosso esquema isso • Digitadores e formulários são diretamente propor-
será indicado colocando-se na coluna (máquinas) uma cionais, pois se o número de digitadores aumenta,
flecha no sentido contrário ao da flecha da coluna “dias”: a quantidade de formulários que pode ser digitada
também aumenta.
• Digitadores e linhas são diretamente proporcio-
nais, pois se a quantidade de digitadores aumenta,
o número de linhas que pode ser digitado também
aumenta.
• Digitadores e horas são inversamente proporcio-
nais, pois se o número de horas trabalhadas au-
menta, então são necessários menos digitadores
Agora vamos montar a proporção, igualando a razão para o serviço e, portanto, a quantidade de digi-
que contém o x, que é 4 , com o produto das outras ra- tadores diminui.
x
zões, obtidas segundo a orientação das flechas 6 � 160 :
A regra de três fica:
8 300

40 2400 12 3
= � �
x 5616 18 2,5
40 86400
→ =
x 252720
→ 86500x = 10108800
→ x = 117 digitadores

Resposta: Em 10 dias. 2. Em uma fábrica de brinquedos, 8 homens montam 20


carrinhos em 5 dias. Quantos carrinhos serão montados
por 4 homens em 16 dias?
FIQUE ATENTO!
Resposta:
Repare que a regra de três composta,
embora tenha formulação próxima à
regra de três simples, é conceitualmente Homens Carrinhos Dias
distinta devido à presença de mais de duas 8 20 5
grandezas proporcionais.
4 x 16
Observe que, aumentando o número de homens, a
produção de carrinhos aumenta. Portanto a relação
é diretamente proporcional (não precisamos inverter
EXERCÍCIOS COMENTADOS a razão).
Aumentando o número de dias, a produção de carri-
nhos aumenta. Portanto a relação também é direta-
1. (SEDUC-SP - ANALISTA DE TECNOLOGIA DA IN- mente proporcional (não precisamos inverter a razão).
FORMAÇÃO – VUNESP/2014) Quarenta digitadores Devemos igualar a razão que contém o termo x com o
preenchem 2 400 formulários de 12 linhas, em 2,5 horas. produto das outras razões.
Para preencher 5 616 formulários de 18 linhas, em 3 horas, Montando a proporção e resolvendo a equação, te-
e admitindo-se que o ritmo de trabalho dos digitadores mos:
seja o mesmo, o número de digitadores necessários será
20 8 5
a) 105 = �
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

π 4 16
b) 117
c) 123 Logo, serão montados 32 carrinhos.
d) 131
e) 149

Resposta: Letra B.
A tabela com os dados do enunciado fica:
Digitadores Formulários Linhas Horas
40 2400 12 2,5
x 5616 18 3

17
Aplicando a regra 6, isola-se a incógnita no 1º mem-
EQUAÇÕES DO 1º OU DO 2º GRAUS; bro. Para isso, divide-se ambos os lados da equação por
SISTEMA DE EQUAÇÕES DO 1º GRAU; 3, fazendo com que no 1º membro reste apenas :

EQUAÇÃO DO 1º GRAU 3x 12 12
= →x= → x = 4 → S = {4�
Uma equação é uma igualdade na qual uma ou mais 3 3 3
variáveis, conhecidas por incógnitas, são desconhecidas.
Resolver uma equação significa encontrar o valor das in-
cógnitas. Equações do primeiro grau são equações onde Exemplo: Resolva a equação
2x
+2 x− 4 = x +1
há somente uma incógnita a ser encontrada e seu ex- 3

poente é igual a 1. A forma geral de uma equação do Aplicando a regra 1, eliminam-se os parênteses. Para
primeiro grau é: ax+b=0 isso, aplica-se a distributiva no termo com parênteses:
Onde e são números reais. 2x
+ 2x − 8 = x + 1
O “lado esquerdo” da equação é denominado 1º 3
membro enquanto o “lado direito” é denominado 2º Aplicando a regra 2, igualam-se os denominadores
membro. de todos os termos. Nessa equação, o denominador co-
mum é “3”:

#FicaDica 2x 6x 24 3x 3
+ − = +
Para resolver uma equação do primeiro grau, 3 3 3 3 3
costuma-se concentrar todos os termos que
contenham incógnitas no 1º membro e to- Como há o mesmo denominador em todos os ter-
dos os termos que contenham somente nú- mos, eles podem ser “cortados”: 2x+6x-24=3x+3
meros no 2º membro.
Aplicando a regra 3, transfere-se o termo “” para o 1º
membro: 2x+6x-3x-24=3
Há diversas formas de equações do primeiro grau e
a seguir serão apresentados alguns deles. Antes, há uma Aplicando a regra 4, transfere-se o termo “” para o 2º
lista de “regras” para a solução de equações do primeiro membro: 2x+6x-3x=24+3
grau:
Aplicando a regra 5, simplificam-se as expressões em
Regra 1 – Eliminar os parênteses ambos os membros: 5x=27
Regra 2 – Igualar os denominadores de todos os ter-
mos caso haja frações Por fim, aplicando a regra 6, isola-se a incógnita no 1º
Regra 3 – Transferir todos os termos que contenham membro: x =
27 27
→S =
incógnitas para o 1º membro 5 5
Regra 4 – Transferir todos os termos que contenham
somente números para o 2º membro EQUAÇÃO DO 2º GRAU
Regra 5 – Simplificar as expressões em ambos os
membros Equações do segundo grau são equações nas quais
Regra 5 – Isolar a incógnita no 1º membro o maior expoente de é igual a 2. Sua forma geral é ex-
pressa por: ax2+bx+c=0
Exemplo: Resolva a equação 5x-4=2x+8
Onde a,b e c e são números reais e a≠0. Os números
As regras 1 e 2 não se aplicam pois não há parênteses, a, b e c são chamados coeficientes da equação:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

nem frações. Aplicando a regra 3, transfere-se o termo “” - a é sempre o coeficiente do termo em X2 .


para o 1º membro. Para fazer isso, basta colocá-lo no 1º - b é sempre o coeficiente do termo em X.
membro com o sinal trocado: 5x-4-2x=8 - c é sempre o coeficiente ou termo independente.

Aplicando a regra 4, transfere-se o termo “” para o 2º EQUAÇÃO COMPLETA E INCOMPLETA:


membro. Para fazer isso, basta colocá-lo no 1º membro
com o sinal trocado: 5x-2x=8+4 - Quando b ≠ 0 e c ≠ 0, a equação do 2º grau se diz
Aplicando a regra 5, simplifica-se as expressões em completa.
ambos os membros. Simplificar significa “juntar” todos Exemplos:
os termos com incógnitas em um único termo no 1º 5x2 – 8x + 3 = 0 é uma equação completa (a = 5,b
membro e fazer o mesmo com todos os temos que con- = – 8,c = 3).
tenham somente números no 2º membro: 3x=12 y2 + 12y + 20 = 0 é uma equação completa (a = 1,b
= 12,c = 20.

18
Quando b = 0 ou c = 0 ou b = c = 0, a equação do 2º Exemplo: Resolva a equação
grau se diz incompleta. Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=-1 e c=-6
Exemplos : Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante:
x2 – 81 = 0 é uma equação incompleta (a = 1,b = 0 Δ=b^2-4∙a∙c=(-1)2-4∙1∙(-6)=1+24=25
e c = – 81).
10t2 +2t = 0 é uma equação incompleta (a = 10,b = Como o discriminante não é negativo, aplica-se a re-
2 e c = 0). gra 3, que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara:
5y2 = 0 é uma equação incompleta (a = 5,b = 0 e c
= 0). 1 +5 6
−b ± Δ − −1 ± 25 1 ± 5 = =3
2 2
Todas essas equações estão escritas na forma ax2 + x=
2a
=
2 ×1
=
2
=
1 −5 −4
bx + c = 0 , que é denominada forma normal ou forma = = −2
2 2
reduzida de uma equação do 2º grau com uma incógnita.
Há, porém, algumas equações do 2º grau que não
estão escritas na forma ax2 + bx + c = 0 ; por meio de Assim, S={-2,3}
transformações convenientes, em que aplicamos o prin-
cípio aditivo para reduzi-las a essa forma. Exemplo: Resolva a equação x2-4x+4=0
Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=-4 e c=4
Ex: Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante: Δ=b-
Dada a equação: 2x2 – 7x + 4 = 1 – x^2, vamos escre- 2
-4∙a∙c=(-4)2-4∙1∙4=16-16=0
vê-la na forma normal ou reduzida.
2x2 – 7x + 4 – 1 + x2 = 0 Como o discriminante não é negativo, aplica-se a re-
2x2 + x2 – 7x + 4 – 1 = 0 gra 3, que consiste em utilizar a fórmula de Bháskara:
3x2 – 7x + 3 = 0
−b ± Δ − −4 ± 0 4 ± 0 4
RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DO 2º GRAU: FÓR- x=
2a
=
2×1
=
2
= =2
2
MULA DE BHÁSKARA
Assim, S={2}
Para encontras as soluções de equações do segundo Note que, como o discriminante é nulo, a equação
grau, é necessário conhecer seu discriminante, represen- possui duas raízes reais e idênticas iguais a 2.
tado pela letra grega Δ (delta).
Δ=b2 - 4∙a∙c Exemplo: Resolva a equação x2+2x+3=0
Aplicando a regra 1, identifica-se: a=1, b=2 e c=3
FIQUE ATENTO! Aplicando a regra 2, calcula-se o discriminante: Δ=b-
2
-4∙a∙c=(2)2-4∙1∙3=4-12=-8
O discriminante fornece importantes informa-
ções de uma equação do 2ª grau:
Como o discriminante é negativo, a equação não pos-
Se Δ>0→ A equação possui duas raízes reais
sui raízes reais.
e distintas
Assim, S=∅ (solução vazia).
Se Δ=0→ A equação possui duas raízes reais
e idênticas
Se Δ<0→ A equação não possui raízes reais
EXERCÍCIOS COMENTADOS
A solução é dada pela Fórmula de Bháskara: 1. (ENEM 2009) Um grupo de 50 pessoas fez um orça-
−b± Δ válida para os casos onde Δ>0 ou Δ=0. mento inicial para organizar uma festa, que seria dividido
x= ,
2a entre elas em cotas iguais. Verificou-se ao final que, para
Observações importantes: arcar com todas as despesas, faltavam R$ 510,00, e que
• Para utilizar a Fórmula de Bháskara a equação deve 5 novas pessoas haviam ingressado no grupo. No acerto
estar obrigatoriamente no formato ax2+bx+c=0. foi decidido que a despesa total seria dividida em partes
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Caso não esteja, é necessário colocar a equação iguais pelas 55 pessoas. Quem não havia ainda contribuí-
nesse formato para, em seguida, aplicar a fórmula! do pagaria a sua parte, e cada uma das 50 pessoas do
• Quando b=0 diz-se que as raízes das equações são grupo inicial deveria contribuir com mais R$ 7,00.
simétricas. De acordo com essas informações, qual foi o valor da
cota calculada no acerto final para cada uma das 55 pes-
As regras para solução de uma equação do 2º grau soas?
são as seguintes:
Regra 1 – Identificar os números e a) R$ 14,00.
Regra 2 – Calcular o discriminante b) R$ 17,00.
Regra 3 – Caso o discriminante não seja negativo, uti- c) R$ 22,00.
lizar a Fórmula de Bháskara d) R$ 32,00.
e) R$ 57,00.

19
Resolução: Letra D. De acordo com o enunciado da Inequação do 1˚ Grau
questão, 50 pessoas já haviam pagado sua parte da
despesa total, por isso não consideraremos o valor to- Inequação é toda sentença aberta expressa por uma
tal para elas, apenas o valor de R$ 7,00 adicional, que desigualdade. Ao invés do sinal de igualdade ( = ) rela-
deverá ser multiplicado por 50 pessoas. Além desse cionando duas expressões matemáticas, teremos os si-
pessoal, outros cinco juntaram-se ao grupo e preci- nais de maior ( > ), menor ( < ), maior ou igual ( ≥ ) ou
sam pagar sua parte, um valor que não conhecemos menor ou igual ( ≤ ). Abaixo seguem alguns exemplos:
e, portanto, podemos identificar como x. Somando-se x+1>0
o valor que essas pessoas pagarão ao valor acrescen- 2x-3≤5
tado ao restante do grupo, teremos um recolhimento -3x+7<2x+3
de R$ 510,00. Podemos então montar uma equação x-2≤4x-1
do 1° grau:
As inequações acima são do primeiro grau pois o ex-
(50 · 7) + (5 · x) = 510 poente da variável x é igual a 1.
350 + 5x = 510
5x = 510 – 350
FIQUE ATENTO!
5x = 160
x = 32 O método de resolução das inequações de
Portanto, cada um pagou o valor total de R$ 32,00. primeiro grau é o mesmo do método de
equações.
2. (ENEM 2013) A temperatura T de um forno (em graus
centígrados) é reduzida por um sistema a partir do ins-
tante de seu desligamento (t = 0) e varia de acordo com a PROPRIEDADES DA DESIGUALDADE
expressão T t = − t4 + 400 com t em minutos. Por motivos
2

de segurança, a trava do forno só é liberada para abertu- a) Propriedade Aditiva:


ra quando o forno atinge a temperatura de 39 ºC. Qual o
tempo mínimo de espera, em minutos, após se desligar o Mesmo sentido
forno, para que a porta possa ser aberta?

a) 19,0. Exemplo: Se 8 > 3, então 8 + 2 > 3 + 2, isto é: 10 > 5


b) 19,8.
c) 20,0. Somamos +2 aos dois membros da desigualdade
d) 38,0.
e) 39,0. b) Propriedade Multiplicativa:

Resolução: Letra D. De acordo com o enunciado, te- Mesmo sentido


t2
mos a equação T t = − + 400 e a informação
4
de que o forno só pode ser aberto quando T = 39. Exemplo: Se 8 > 3, então 8∙ 2 > 3 ∙ 2, isto é: 16 > 6.
Vamos igualar a equação a esse valor:

t2 Multiplicamos os dois membros por 2


39 = − + 400
4
Mudou de sentido
Novamente, para facilitar os cálculos, multiplicaremos
toda a equação por 4:
– t² + 1600 = 156 Exemplo: Se 8 > 3, então 8 ∙ (–2) < 3 ∙ (–2), isto é: –16
– t² = – 1444 < –6
Multiplicando toda a equação por (– 1), teremos a se-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

guinte equação do 2° grau incompleta: Multiplicamos os dois membros por –2


t² = 1444
𝑡 = 1444
t = ± 38 FIQUE ATENTO!
Uma desigualdade não muda de sentido
Como estamos procurando um valor para o “tempo”,
quando adicionamos ou subtraímos um
podemos desconsiderar a resposta negativa. Portan-
mesmo número aos seus dois membros, nem
to, t = 38 minutos.
quando multiplicamos ou dividimos seus dois
membros por um mesmo número positivo ou
negativo.

20
CONJUNTO UNIVERSO
2x − 3 ≤ 5
Toda inequação (assim como toda equação) deve ser
resolvida em um conjunto universo dado. O conjunto
2x ≤ 5 + 3
universo () corresponde ao conjunto de todos os valores
possíveis para a varíavel (ou outra incógnita).
2x ≤ 8
Vejamos, através do exemplo, a resolução de inequa-
ções do 1º grau. 8
x≤
2
a) x < 5, sendo U = ℕ

Os números naturais que tornam a desigualdade ver- x≤4


dadeira são: 0, 1, 2, 3 ou 4. Então V = {0, 1, 2, 3, 4}.
Colocando na solução tradicional:
b) x < 5, sendo U = ℤ
S = x∈ ℝ ⁄ x ≤ 4
Todo número inteiro menor que 5 satisfaz a desigual-
dade. Logo, V = {..., –2, –1, 0, 1, 2, 3, 4}. Já a solução em colchetes fica:

c) x < 5, sendo U = ℚ S = −∞, 4


Ou seja, neste caso, o colchete é fechado no lado do
Todo número racional menor que 5 é solução da ine- número 4 pois ele é o limite superior (todos os valores
quação dada. Como não é possível representar os infi- da solução devem ser maiores ou iguais a ele) e neste
nitos números racionais menores que 5 nomeando seus caso, ele também é solução (devido a ser maior ou igual
elementos, nós o faremos por meio da propriedade que e não somente maior), já o limite inferior vai para menos
caracteriza seus elementos. Assim: infinito e permanece com colchete aberto.

V = {X ∈ Q|x<5 }
RESOLUÇÃO DE INEQUAÇÕES DO 1º GRAU EXERCÍCIOS COMENTADOS

Como mencionado, a resolução de inequações ocorre 1.(FGV 2010). O conjunto de todas as soluções reais da
de forma similar à de equações. A diferença está na re- inequação 2x + 1 < 3x + 2 é
presentação do conjunto solução. Para mostrarmos essa
diferença, vamos resolver os dois primeiros exemplos a) ]-∞, -1[
apresentados sem U = ℝ b) ]-∞, 1[
c) ]-1, +∞[
x+1>0 d) ]1, +∞[
e) ]-1, 1[
Passando o +1 para o lado direito: x>-1  

Ou seja, o conjunto solução desta inequação serão to- Resposta: Letra c. Resolvendo a inequação do primei-
dos os valores de x pertencente ao domínio (neste caso, ro grau:
vamos utilizar todo o conjunto dos números reais) maio- 2x + 1 < 3x + 2
res que -1, assim a solução fica: S = x ∈ ℝ ⁄ x > −1 2x – 3x < 2 – 1
-x < 1
Uma outra maneira é a representação entre colchetes, x > -1
que fica da seguinte forma: S = −1, +∞
A solução da inequação é o conjunto de números reais
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Vamos explicar essa representação. A representação maiores que -1.


dos colchetes para fora indica que o número de dentro Logo, S = ]-1,+∞[.
não pertence a solução e também representa quando há
a presença do infinito (seja “mais” ou “menos” infinito). 2.(CESGRANRIO 2012) Qual é o menor valor inteiro que
Assim, -1 não está na solução mas é o limite inferior da satisfaz a desigualdade apresentada a seguir?
mesma. 9x + 2(3x – 4) > 11x – 14
Resolvendo agora o segundo exemplo, temos que:
a) -2
b) -1
c) 0
d) 1
e) 2

21
 Resposta: Letra b. Resolvendo a inequação do pri-
meiro grau:
9x + 2(3x – 4) > 11x – 14
9x + 6x – 8 > 11x – 14
15x – 8 > 11x – 14
15x – 11x > – 14 + 8 Como desejamos valores menores que zero, as raízes
4x > – 6 não entram no conjunto solução (“Bolinha vazia”). Assim,
x > -6/4 os valores possíveis que atendem a inequação são os va-
x > -3/2 lores entre 1 e 2. Pela representação dos colchetes, temos
que: S = 1,2
Como -3/2 = -1,5, o menor valor inteiro que satisfaz a
inequação é -1. Ou por outra representação: S = x ∈ ℝ 1 < 𝑥 < 2 }

b) a<0 e Δ>0: Observe neste tipo de gráfico que os


INEQUAÇÕES DO 2˚ GRAU valores de y menores que x1 e maiores que x2 pos-
suem y negativo e entre x1 e x2, y é positivo. Assim,
As inequações de segundo grau seguem exatamente uma representação na reta real indicará o seguinte:
o que foi visto nos diversos tipos de posição que a pa-
rábola pode ter no plano cartesiano. Basicamente uma
inequação de segundo grau possui a seguinte forma:
ax2+bx+c >0
ax2+bx+c<0
ax2+bx+c ≥0 ou
ax2+bx+c ≤0

FORMAS DA INEQUAÇÃO DO 2º GRAU

Vamos analisar novamente os seis casos possíveis de


combinações de valores de “a” e Δ e verificar o que ocor- A diferença das duas representações está se a ine-
re com o sinal de “y”: quação será apenas maior ou menor (“bolinha vazia” nas
a) a>0 e Δ>0: Observe neste tipo de gráfico que os va- raízes, ou seja, elas não entrarão no conjunto solução) ou
lores de y menores que x1 e maiores que x_]2 pos- maior ou igual ou menor ou igual (“bolinha cheia” nas
suem y positivo e entre x_1 e x2, y é negativo. Assim, raízes, elas entrarão no conjunto solução)
uma representação na reta real indicará o seguinte:
Exemplo:
Resolva a seguinte inequação: -x2+5x-4≤0
Resolução: Se você resolver a função do segundo
grau, encontrará como raízes, os números 1 e 4, ou seja,
Δ>0. Como a<0, temos a seguinte representação na reta
ou real:

Como desejamos valores menores ou iguais a zero,


temos como solução, todos os valores abaixo de 1 e to-
FIQUE ATENTO! dos os valores acima de 4. Assim, na representação por
A diferença das duas representações está se a colchetes: S = −∞, 1 ∪ 4, +∞
inequação será apenas maior ou menor (“bo-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

linha vazia” nas raízes, ou seja, elas não entra- Ou por outra representação: S = x ∈ ℝ x ≤ 1ou x ≥ 4}
rão no conjunto solução) ou maior ou igual ou
menor ou igual (“bolinha cheia” nas raízes, elas c) a>0 e Δ=0: Nos casos onde Δ=0, há apenas um
entrarão no conjunto solução). toque da parábola no eixo x. Assim, o sinal de “a”
determina se os valores da parábola serão positi-
vos ou negativos. No caso de “a” positivo, temos
Exemplo: toda a parábola positiva:
Resolva a seguinte inequação: x2-3x+2<0
Resolução: As raízes dessa função de segundo grau
são 1 e 2 (Verifique!). Com isso, temos que Δ>0 e pela
expressão, temos que a>0. Colocando na reta real, temos
que

22
ou
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(CESGRANRIO) O conjunto-solução da inequação 9 –


x² > 0 é:
A única diferença é se a raiz entrará ou não no con-
junto solução. a) – 3 > x > 3
b) – 3 < x < 3
a) a<0 e Δ=0: Nos casos onde Δ=0, há apenas um c) x = 3
toque da parábola no eixo x. Assim, o sinal de “a” d) x < 3
determina se os valores da parábola serão positi- e) x > 3
vos ou negativos. No caso de “a” negativo, temos  
toda a parábola negativa: Resposta: Letra B. Sabemos que a função f(x) = 9 – x²
é uma função quadrática, onde a=-1, b=0 e c=9.
Podemos concluir que o gráfico de f é uma parábola
com a concavidade para baixo, pois a<0.
Vamos agora descobrir as raízes da função f resolven-
do a equação:
ou 9 – x² = 0
x² = 9
x = ± √9
x=±3

Daí, o conjunto solução da equação é S = {-3, 3}.


A única diferença é se a raiz entrará ou não no con- O gráfico de f com as informações obtidas é apresen-
junto solução. tado a seguir.

b) a>0 e Δ<0: Os dois últimos tipos serão os mais


simples. Como a parábola não toca no eixo x, ape-
nas o sinal de “a” determina todo o sinal da pa-
rábola, assim, para “a” positivo temos a parábola
toda positiva:

c) a<0 e Δ<0: Como a parábola não toca no eixo x,


apenas o sinal de “a” determina todo o sinal da pa-
rábola, assim, para “a” negativo temos a parábola
toda negativa:

Logo, como queremos os valores de x onde f(x) > 0, te-


mos que o conjunto solução é: S = {x ∈ R | − 3 < 𝑥 < 3 }

FIQUE ATENTO!
Em resumo, para resolver uma inequação, GRANDEZAS E MEDIDAS – QUANTIDADE,
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

inicialmente calculamos os zeros da equação TEMPO, COMPRIMENTO, SUPERFÍCIE,


de segundo grau, ou seja, os pontos em que CAPACIDADE E MASSA;
o gráfico toca o eixo x. Em seguida, sabendo
qual a concavidade da parábola e os zeros da
equação, o gráfico pode ser esboçado e a O sistema de medidas e unidades existe para quanti-
análise do sinal pode ser feita. ficar dimensões. Como a variação das mesmas pode ser
gigantesca, existem conversões entre unidades para me-
lhor leitura.

23
Medidas de Comprimento

A unidade principal (utilizada no sistema internacional de medidas) de comprimento é o metro. Para medir dimen-
sões muito maiores ou muito menores que essa referência, surgiram seis unidades adicionais:

km hm dam m dm cm mm
(kilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (milímetro)

A conversão de unidades de comprimento segue potências de 10. Para saber o quanto se deve multiplicar (ou divi-
dir), utiliza-se a regra do , onde c é o número de casas que se andou na tabela acima. Adicionalmente, se você andou
para a direita, o número deverá ser multiplicado, se andou para a esquerda, será dividido. As figuras a seguir exempli-
ficam as conversões:
Ex: Conversão de 2,3 metros para centímetros

1o passo: Inicia-se da unidade que você vai converter.

2o passo: Conte a quantidade de casas que você anda de uma unidade para a outra. De metro para centímetro
foram 2 casas.

3o passo: Como foram duas casas (c=2) e andou-se para a direita, basta pegar o número em metros e multi-
plicar por 102=100. Assim, 2,3 x 100=230 cm.

Ex: Conversão de 125 000 mm para decâmetro:

1o passo: Inicia-se da unidade que você vai converter.

2o passo: Conte a quantidade de casas que você anda de uma unidade para a outra. De milímetro para decâ-
metro são 4 casas.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

3o passo: Como foram quatro casas (c=4) e andou-se para a esquerda, basta pegar o número em milímetros
e dividir por 104=1000. Assim, 125000 mm = 125000:10000=12,5 dam.

Medidas de Área (Superfície)

As medidas de área seguem as mesmas referências que as medidas de comprimento. A unidade principal é o metro
quadrado e as outras seis unidades são apresentadas a seguir:

km² hm² dam² m² dm² cm² mm²


(kilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (milímetro
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)

24
A conversão de unidades segue com potências de 10. A diferença agora é que ao invés da regra de , utiliza-se a re-
gra de , ou seja, o número de casas que se andou deve ser multiplicado por 2. A definição se multiplica ou divide segue
a mesma regra: Andou para a direita, multiplica, andou para a esquerda, divide. Sigam os exemplos:

Ex: Conversão de 2 km² para m²

1o passo: Inicia-se da unidade que você vai converter.

2o passo: Conte a quantidade de casas que você andou. Neste caso, de km2 para m2, andou-se 3 casas.

3o passo: Como foram 3 casas (c=3) e andou-se para a direita, basta pegar o número em km2 e multiplicar por
102x3=106=1000000. Assim, 2km2=2000000 m2.
Ex: Conversão de 20 mm² para cm²

1o passo: Inicia-se da unidade que você vai converter.

2o passo: Conte a quantidade de casas que você andou. Neste caso, de mm2 para cm2, andou-se 1 casa.

3o passo: Como foi apenas 1casa (c=1) e andou-se para a esquerda, basta pegar o número em mm2 e dividir
por 102x1=100. Assim, 20 km2=20:100=0,2 cm2.

Medidas de Volume (Capacidade)

As medidas de volume seguem as mesmas referências que as medidas de comprimento. A unidade principal é o
metro cúbico e as outras seis unidades são apresentadas a seguir:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

km³ hm³ dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(kilômetro (hectômetro- (decâmetro- (metro- (decímetro- (centímetro- (milímetro-
cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico) cúbico)

A conversão de unidades segue com potências de 10. A diferença agora é que ao invés da regra de , utiliza-se a re-
gra de , ou seja, o número de casas que se andou deve ser multiplicado por 3. A definição se multiplica ou divide segue
a mesma regra: Andou para a direita, multiplica, andou para a esquerda, divide. Sigam os exemplos:

25
Ex: Conversão de 3,7 m³ para cm³

1o passo: Inicia-se da unidade que você vai converter.

2o passo: Conte a quantidade de casas que você andou. Neste caso, de m3 para cm3, forma 2 casas.

3o passo: Como foram 2 casas (c=2) e andou-se para a direita, basta pegar o número em m3 e multiplicar por
10 =106=1000000. Assim, 3,7 m3=37000000 m3.
3x2

Ex: Conversão de 50000 dm³ para m³

1o passo: Inicia-se da unidade que você vai converter.

2o passo: Conte a quantidade de casas que você andou. Neste caso, de m3 para dm3, andou-se 1 casa.

3o passo: Como foi apenas 1casa (c=1) e andou-se para a esquerda, basta pegar o número em dm3 e multi-
plicar por 103x1=1000. Assim, 5000 dm3=50 m3.

kL hL dam³ m³ dm³ cm³ mm³


(quilolitro) (hectolitro) (decalitro) (litro) (decilitro) (centilitro) (mililitro)
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Para essa tabela, o roteiro para converter unidades de medidas é o mesmo utilizado para as medidas anteriores. A
diferença é que para cada unidade à direita multiplica-se por 10 e para cada unidade à esquerda divide-se por 10 (igual
para unidades de comprimento).

Medidas de Massa

As medidas de massa segue a base 10, como as medidas de comprimento. A unidade principal é o grama (g) e suas
seis unidades complementares estão apresentadas a seguir:
kg hg dag g dg cg mg
(kilograma) (hectograma) (decagrama) (grama) (decígrama) (centígrama) (milígrama)

26
Os passos para conversão de unidades segue o mes-
mo das medidas de comprimento. Utiliza-se a regra do ,
multiplicando se caminha para a direita e divide quando EXERCÍCIOS COMENTADOS
caminha para a esquerda.
1. (ENEM 2011) O medidor de energia elétrica de uma
residência, conhecido por “relógio de luz”, é constituído
FIQUE ATENTO! de quatro pequenos relógios, cujos sentidos de rotação
Outras unidades importantes: estão indicados conforme a figura:
• Massa: A tonelada, sendo que 1 tonelada
vale 1000 kg.
• Volume : O litro (l) que vale 1 decímetro
cúbico (dm³) e o mililitro, que vale 1 cm³.
• Área: O hectare (ha) que vale 1 hectômetro
quadrado (ou 10000 m²) e o alqueire, (varia
de região para região e normalmente a con-
versão desejada é dada na prova).

Medidas de Tempo A medida é expressa em kWh. O número obtido na lei-


tura é composto por 4 algarismos. Cada posição do nú-
Desse grupo, o sistema hora – minuto – segundo, que mero é formada pelo último algarismo ultrapassado pelo
mede intervalos de tempo, é o mais conhecido. ponteiro.

2h = 2 ∙ 60min = 120 min = 120 ∙ 60s = 7 200s O número obtido pela leitura em kWh, na imagem, é 

Para passar de uma unidade para a menor seguinte, a) 2 614.


multiplica-se por 60. b) 3 624.
c) 2 715.
0,3h não indica 30 minutos nem 3 minutos; como 1 d) 3 725.
décimo de hora corresponde a 6 minutos, conclui-se que e) 4 162.
0,3h = 18min.
Resposta: Letra a. Basta notar que o “relógio de luz”
Para medir ângulos, também temos um sistema não funciona como um relógio comum independente do
decimal. Nesse caso, a unidade básica é o grau. Na as- sentido de rotação. Depois basta fazer a composição
tronomia, na cartografia e na navegação são necessárias das classes de algarismos, baseada nas ilustrações.
medidas inferiores a 1º. Temos, então: Então:
1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’) • Milhar = 2
1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”) • Centena = 6
• Dezena = 1
Os minutos e os segundos dos ângulos não são, é • Unidade = 4
claro, os mesmos do sistema hora – minuto – segundo.
Há uma coincidência de nomes, mas até os símbolos que Compondo todos os fatores, resulta que o consumo
os indicam são diferentes: foi de 2614 kWh.

1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante 2. (NOVA 2017) Raquel saiu de casa às 13h 45min, ca-
do dia. minhando até o curso de inglês que fica a 15 minutos
1º 32’ 24” é a medida de um ângulo. de sua casa, e chegou na hora da aula cuja duração é de
uma hora e meia. A que horas terminará a aula de inglês?
#FicaDica a) 14h
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Por motivos óbvios, cálculos no sistema b) 14h 30min


hora – minuto – segundo são similares a c) 15h 15min
cálculos no sistema grau – minuto – segun- d) 15h 30min
do, embora esses sistemas correspondam a e) 15h 45min
grandezas distintas.
Resposta: Letra D. Basta somarmos todos os valores
mencionados no enunciado do teste, ou seja:
13h 45min + 15 min + 1h 30 min = 15h 30min

27
RELAÇÃO ENTRE GRANDEZAS – TABELA OU GRÁFICO; TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO –
MÉDIA ARITMÉTICA SIMPLES;

Estatística

Definições Básicas

Estatística: ciência que tem como objetivo auxiliar na tomada de decisões por meio da obtenção, análise, organi-
zação e interpretação de dados.
População: conjunto de entidades (pessoas, objetos, cidades, países, classes de trabalhadores, etc.) que apresen-
tem no mínimo uma característica em comum. Exemplos: pessoas de uma determinada cidade, preços de um produto,
médicos de um hospital, estudantes que prestam determinado concurso, etc.

Amostra: É uma parte da população que será objeto do estudo. Como em muitos casos não é possível estudar a
população inteira, estuda-se uma amostra de tamanho significativo (há métodos para determinar isso) que retrate o
comportamento da população. Exemplo: pesquisa de intenção de votos de uma eleição. Algumas pessoas são entre-
vistadas e a pesquisa retrata a intenção de votos da população.
Variável: é o dado a ser analisado. Aqui, será chamado de e cada valor desse dado será chamado de . Essa variável
pode ser quantitativa (assume valores) ou qualitativa (assume características ou propriedades).

Medidas de tendência central

São medidas que auxiliam na análise e interpretação de dados para a tomada de decisões. As três medidas de ten-
dência central são:

Média aritmética simples: razão entre a soma de todos os valores de uma mostra e o número de elementos da
amostra. Expressa por . Calculada por:
∑xi
x� =
n
Média aritmética ponderada: muito parecida com média aritmética simples, porém aqui cada variável tem um
peso diferente que é levado em conta no cálculo da média.
∑xi pi
x� =
∑pi

Mediana: valor que divide a amostra na metade. Em caso de número para de elementos, a mediana é a média entre
os elementos intermediários

Moda: valor que aparece mais vezes dentro de uma amostra.


Ex: Dada a amostra {1,3,1,2,5,7,8,7,6,5,4,1,3,2} calcule a média, a mediana e a moda.
Solução
Média:
1 + 3 + 1 + 2 + 5 + 7 + 8 + 7 + 6 + 5 + 4 + 1 + 3 + 2 55
x� = = = 3,92
14 14
Mediana:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Inicialmente coloca-se os valores em ordem crescente:


{1,1,1,2,2,3,3,4,5,5,6,7,7,8}

Como a amostra tem 14 valores (número par), os elementos intermediários são os 7º e 8º elementos. Nesse exem-
3+4 7
plo, são os números 3 e 4. Portanto, a mediana é a média entre eles: = = 3,5
2 2
Moda:
O número que aparece mais vezes é o número 1 e, portanto, é a moda da amostra nesse exemplo.
Ex: Dada a amostra {2,4,8,10,15,6,9,11,7,4,15,15,11,6,10} calcule a média, a mediana e a moda.
Solução:
Média:

28
2 + 4 + 8 + 10 + 15 + 6 + 9 + 11 + 7 + 4 + 15 + 15 + 11 + 6 + 10 133
x� = = = 8,867
15 14

Mediana:
Inicialmente coloca-se os valores em ordem crescente
{2,4,4,6,6,7,8,9,10,10,11,11,15,15,15}
Como a amostra tem 15 valores (número par), o elemento intermediário é o 8º elemento. Logo, a mediana é igual
a 9.

Moda:
O número que aparece mais vezes é o número 15 e, portanto, é a moda da amostra nesse exemplo.
Ex: A média de uma disciplina é calculada por meio da média ponderada de três provas. A primeira tem peso 3, a
segunda tem peso 4 e a terceira tem peso 5. Calcule a média de um aluno que obteve nota 8 na primeira prova, 5 na
segunda e 6 na terceira.

Solução:
Trata-se de um caso de média aritmética ponderada.
∑xi pi 3 ∙ 8 + 4 ∙ 5 + 5 ∙ 6 74
x� = = = = 6,167
∑pi 3+4+5 12

Tabelas e Gráficos

Tabelas
Tabelas podem ser utilizadas para expressar os mais diversos tipos de dados. O mais importante é saber interpretá-
-las e para isso é conveniente saber como uma tabela é estruturada. Toda tabela possui um título que indica sobre o
que se trata a tabela. Toda tabela é dividida em linhas e colunas onde, no começo de uma linha ou de uma coluna, está
indicado qual o tipo de dado que aquela linha/coluna exibe.
Ex:
Tabela 1 - Número de estudantes da Universidade ALFA divididos por curso

Curso Número de Estudantes


Administração 2000
Arquitetura 1450
Direito 2500
Economia 1800
Enfermagem 800
Engenharia 3500
Letras 750
Medicina 1500
Psicologia 1000
TOTAL 15300

Nesse caso, as colunas são: curso e número de estudantes e cada linha corresponde a um dos cursos da Universi-
dade com o respectivo número de alunos de cada curso.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Tabela 2 - Número de estudantes da Universidade ALFA divididos por curso e gênero

Curso Gênero Número de Estudantes


Homem 1200
Administração
Mulher 800
Homem 850
Arquitetura
Mulher 600
Homem 1600
Direito
Mulher 900

29
Homem 800
Economia
Mulher 1000
Homem 350
Enfermagem
Mulher 450
Homem 2500
Engenharia
Mulher 1000
Homem 200
Letras
Mulher 550
Homem 700
Medicina
Mulher 800
Homem 400
Psicologia
Mulher 600
TOTAL 15300

Nesse caso, as colunas são: curso, gênero e número de estudantes e cada linha corresponde a um dos cursos da
Universidade com o respectivo número de alunos de cada curso separados por gênero.

#FicaDica
Acima foram exibidas duas tabelas como exemplos. Há uma infinidade de tabelas cada uma com sua par-
ticularidade o que torna impossível exibir todos os tipos de tabelas aqui. Porém em todas será necessário
identificar linhas, colunas e o que cada valor exibido representa.

Gráficos

Para falar de gráficos em estatística é importante apresentar o conceito de frequência.

Frequência: Quantifica a repetição de valores de uma variável estatística.

Tipos de frequência
Absoluta: mede a quantidade de repetições.
Ex. Dos 30 alunos, seis tiraram nota 6,0. Essa nota possui freqüência absoluta:
fi = 4

Relativa: Relaciona a quantidade de repetições com o total (expresso em porcentagem)


Ex. Dos 30 alunos, seis tiraram nota 6,0. Essa nota possui freqüência relativa:
6
fr = ∙ 100 = 20%
30

Tipos de Gráficos

Gráficos de coluna: gráficos que têm como objetivo atribuir quantidades a certos tipos de grupos. Na horizontal
são apresentados os grupos (dados qualitativos) dos quais deseja-se apresentar dados enquanto na vertical são apre-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

sentados os valores referentes a cada grupo (dados quantitativos ou frequências absolutas)

Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo todo. A seguir há um gráfico que mostra a quantidade de
estudantes separados pelos seus continentes de origem:

30
Gráficos em pizzas: gráficos nos quais são expressas
Estudantes da Universidade ALFA relações entre grandezas em relação a um todo. Nesse
700 gráfico é possível visualizar a relação de proporcionalida-
600 de entre as grandezas. Recebe esse nome pois lembram
uma pizza pelo formato redondo com seus pedaços (fre-
500
quências relativas).
400

300 Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo


200
todo. A seguir há um gráfico que mostra a distribuição de
estudantes de acordo com seus continentes de origem
100

0
América do América do América Europa Ásia África Oceania
Norte Sul Central Estudantes da Universidade ALFA
30

Gráficos de barras: gráficos bastante similares aos de 150

colunas, porém, nesse tipo de gráfico, na horizontal são 260 630


apresentados os valores referentes a cada grupo (dados
quantitativos) enquanto na vertical são apresentados os
grupos (dados qualitativos) 440

Ex: A Universidade ALFA recebe estudantes do mundo 150


520

todo. A seguir há um gráfico que mostra a quantidade de


estudantes separados pelos seus continentes de origem:
América do Norte América do Sul América Central Europa Ásia África Oceania

Ex: Foi feito um levantamento do idioma falado


Estudantes da Universidade ALFA pelos alunos de um curso da Universidade ALFA.
Oceania Frequências absolutas:
África

Ásia

Europa

América Central

América do Sul

América do Norte

0 100 200 300 400 500 600 700

Gráficos de linhas: gráficos nos quais são exibidas


séries históricas de dados e mostram a evolução dessas
séries ao longo do tempo.

Ex: A Universidade ALFA tem 10 anos de existências


e seu reitor apresentou um gráfico mostrando o número
de alunos da Universidade ao longo desses 10 anos. Frequências relativas:

Estudantes da Universidade ALFA ao longo de 10 anos


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

2500

2000

1500

1000

500

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

31
x = 6 ∙ 5
EXERCÍCIO COMENTADO x = 30
Do mesmo modo, se a turma tem 25 meninas
1. (SEGEP-MA - Técnico da Receita Estadual – (Me é a média aritmética de suas notas), o quociente
FCC/2016) Três funcionários do Serviço de Atendimento da soma das notas das meninas (y) e a quantidade de
ao Cliente de uma loja foram avaliados pelos clientes que meninas (25) deve ser igual a Me, isto é:
atribuíram uma nota (1; 2; 3; 4; 5) para o atendimento (x + y)/(25+5) = 7
recebido. A tabela mostra as notas recebidas por esses y = 25∙Me
funcionários em um determinado dia. Para calcular a média da turma, devemos somar as no-
tas dos meninos (30) às notas das meninas (y) e dividir
pela quantidade de alunos (25 + 5 = 30). O resultado
deverá ser 7. Sendo assim, temos:

x + y
= 7
25 + 5
Considerando a totalidade das 95 avaliações desse dia, 30 + 25 ∙ Me
= 7
é correto afirmar que a média das notas dista da moda 30
dessas mesmas notas um valor absoluto, aproximada-
30 + 25 ∙ Me = 7 • 30
mente, igual a:
30 + 25 ∙ Me = 210
a) 0,33 25 ∙ Me = 210 – 30
b) 0,83
c) 0,65 25 ∙ Me = 180
d) 0,16
e) 0,21 Me = 7,2

Resposta: Letra C Trata-se de um caso de média arit- Portanto, a média aritmética das notas das meninas
mética ponderada. Considerando as 95 avaliações, o é 7,2. A alternativa correta é a letra b.
peso de cada uma das notas é igual ao total de pes-
soas que atribuiu a nota. Analisando a tabela
8 pessoas atribuíram nota 1
18 pessoas atribuíram nota 2
21 pessoas atribuíram nota 3
29 pessoas atribuíram nota 4
19 pessoas atribuíram nota 5
Assim, a média das 95 avaliações é calculada por:
Então, logo:
8 ∙ 1 + 18 ∙ 2 + 21 ∙ 3 + 29 ∙ 4 + 19 ∙ 5 318
x� = = = 3,34
8 + 18 + 21 + 29 + 19 95 P A1 ∪ A2 ∪ ⋯ ∪ An = P A1 + P A2 + ⋯ + P(An )

P A1 ∪ A2 ∪ ⋯ An = P S = 1
2. (UFC - 2016) A média aritmética das notas dos alunos
de uma turma formada por 25 meninas e 5 meninos é Portanto:
igual a 7. Se a média aritmética das notas dos meninos
P(A1 ) + P(A2 ) + P(A3 ) + . . . + P(An ) = 1
é igual a 6, a média aritmética das notas das meninas é
igual a:

a) 6,5 Probabilidade Condicionada


b) 7,2
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

c) 7,4 Considere dois eventos A e B de um espaço amostral


d) 7,8 S, finito e não vazio. A probabilidade de B condicionada a
e) 8,0 A é dada pela probabilidade de ocorrência de B sabendo
que já ocorreu A. É representada por P(B/A).
Resposta: Letra B. Primeiramente, será identificada a
n(A ∩ B)
soma das notas dos meninos por x e a da nota das Veja: P(B/A) =
meninas por y. Se a turma tem 5 meninos e a média n(A)
aritmética de suas notas é igual a 6, então a soma das
notas dos meninos (x) dividida pela quantidade de
meninos (5) deve ser igual a 6, isto é:
x
= 6
5

32
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.Uma bola será retirada de uma sacola contendo 5 bolas


verdes e 7 bolas amarelas. Qual a probabilidade desta
bola ser verde?

Resposta: 5/12. Neste exercício o espaço amostral


possui 12 elementos, que é o número total de bolas,
portanto a probabilidade de ser retirada uma bola ver-
de está na razão de 5 para 12.
Eventos Independentes Sendo S o espaço amostral e E o evento da retirada de
uma bola verde, matematicamente podemos repre-
Considere dois eventos A e B de um espaço amostral sentar a resolução assim:
S, finito e não vazio. Estes serão independentes somente n E
quando: P E =
n S
P(A/B) = P(A) 5
P(B/A) = P(B) P E =
12
Logo, a probabilidade desta bola ser verde é 5/12.
Intersecção de Eventos
2. (IBGE – Analista Censitário – FGV/2017) Entre os cin-
Considerando A e B como dois eventos de um espaço co números 2, 3, 4, 5 e 6, dois deles são escolhidos ao
amostral S, finito e não vazio, logo: acaso e o produto deles dois é calculado. A probabilida-
de desse produto ser um número par é:

n(A ∩ B) n A ∩ B + n(S) P(A ∩ B) a) 60%


P(B/A) = = = b) 75%
n(A) n A + n(S) P(A)
c) 80%
d) 85%
n(A ∩ B) n A ∩ B + n(S) P(A ∩ B)
P(A/B) = = = e) 90%
n(B) n B + n(S) P(B)
Resposta: Letra E. Para sabermos o tamanho do es-
paço amostral, basta calcularmos a combinação dos
Assim sendo: 5 elementos tomados 2 a 2 (a ordem não impor-
P(A ∩ B) = P(A) ∙ P(B/A) ta, pois a ordem dos fatores não altera o produto):
P A ∩ B = P B ∙ P(A/B) 5! 5 ∙ 4 .
C5,2 = = = 10
2! 3! 2
Considerando A e B como eventos independentes, Para o produto ser par, os dois números escolhidos
logo P(B/A) = P(B), P(A/B) = P(A), sendo assim: P(A ∩ B) deverão ser par ou um deles é par. O único caso onde
= P(A)∙ P(B). Para saber se os eventos A e B são indepen- o produto não dá par é quando os dois números são
dentes, podemos utilizar a definição ou calcular a proba- ímpares. Assim, apenas o produto 3 5 não pode ser
bilidade de A ∩ B. Veja a representação: escolhido. Logo, se 1/10 = 10% não terá produto par,
os outros 90% terão.
A e B independentes ↔ P(A/B) = P(A) ou
A e B independentes ↔ P(A ∩ B) = P(A) ∙ P(B)
GRÁFICOS E TABELAS
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

FIQUE ATENTO!
Os gráficos e tabelas apresentam o cruzamento entre
Um exercício de probabilidade pode envol-
dois dados relacionados entre si.
ver aspectos relativos à análise combinató-
A escolha do tipo e a forma de apresentação sempre
ria. É importante ter em mente a diferença
vão depender do contexto, mas de uma maneira geral
conceitual que existe entre ambos.
um bom gráfico deve:
-Mostrar a informação de modo tão acurado quanto
possível.
-Utilizar títulos, rótulos, legendas, etc. para tornar cla-
ro o contexto, o conteúdo e a mensagem.
-Complementar ou melhorar a visualização sobre
aspectos descritos ou mostrados numericamente
através de tabelas.

33
-Utilizar escalas adequadas.
-Mostrar claramente as tendências existentes nos da-
dos.

Tipos de gráficos

Barras- utilizam retângulos para mostrar a quantida-


de.

Barra vertical

Setor ou pizza- Muito útil quando temos um total e


queremos demonstrar cada parte, separando cada peda-
ço como numa pizza.
Fonte: tecnologia.umcomo.com.br

Barra horizontal

Fonte: educador.brasilescola.uol.com.br

Linhas- É um gráfico de grande utilidade e muito co-


mum na representação de tendências e relacionamentos
de variáveis

Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Histogramas

São gráfico de barra que mostram a frequência de


uma variável específica e um detalhe importante que são
faixas de valores em x.

Pictogramas – são imagens ilustrativas para tornar


mais fácil a compreensão de todos sobre um tema.

34
c) 50%.
d) 75%.
e) 90%.

Resposta: Letra E. 13,7/7,2=1,90


Houve um aumento de 90%.

2. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO - VU-


NESP/2017) A tabela seguinte, incompleta, mostra a
distribuição, percentual e quantitativa, da frota de uma
empresa de ônibus urbanos, de acordo com o tempo de
uso destes.
Da mesma forma, as tabelas ajudam na melhor visua-
lização de dados e muitas vezes é através dela que vamos
fazer os tipos de gráficos vistos anteriormente.

Podem ser tabelas simples:

Quantos aparelhos tecnológicos você tem na sua


casa?
aparelho quantidade
O número total de ônibus dessa empresa é
televisão 3
celular 4 a) 270.
b) 250.
Geladeira 1 c) 220
d) 180.
Até as tabelas que vimos nos exercícios de raciocínio e) 120.
lógico
Resposta: Letra D
81+27=108
EXERCÍCIOS COMENTADOS 108 ônibus somam 60%(100-35-5)
108-----60
x--------100
1. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) x=10800/60=180
Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Con-
tínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 3. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO - VU-
Estatística (IBGE), foram obtidos os dados da taxa de NESP/2017) O gráfico mostra o número de carros ven-
desocupação da população em idade para trabalhar. Es- didos por uma concessionária nos cinco dias subsequen-
ses dados, em porcentagem, encontram-se indicados na tes à veiculação de um anúncio promocional.
apresentação gráfica abaixo, ao longo de trimestres de
2014 a 2017.

MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Dentre as alternativas abaixo, assinale a que apresenta a O número médio de carros vendidos por dia nesse perí-
melhor aproximação para o aumento percentual da taxa odo foi igual a
de desocupação do primeiro trimestre de 2017 em re-
lação à taxa de desocupação do primeiro trimestre de a) 10.
2014. b) 9.
c) 8.
a) 15%. d) 7.
b) 25%. e) 6.

35
Resposta: Letra C. Tendo como referência o gráfico precedente, que mostra
os valores, em bilhões de reais, relativos à arrecadação
de receitas e aos gastos com despesas do estado do Pa-
raná nos doze meses do ano de 2015, assinale a opção
correta.
4. (CRBIO – Auxiliar Administrativo – VUNESP/2017)
Uma professora elaborou um gráfico de setores para a) No ano considerado, o segundo trimestre caracteri-
representar a distribuição, em porcentagem, dos cinco zou-se por uma queda contínua na arrecadação de
conceitos nos quais foram agrupadas as notas obtidas receitas, situação que se repetiu no trimestre seguinte.
pelos alunos de uma determinada classe em uma prova b) No primeiro quadrimestre de 2015, houve um período
de matemática. Observe que, nesse gráfico, as porcenta- de queda simultânea dos gastos com despesas e da
gens referentes a cada conceito foram substituídas por x arrecadação de receitas e dois períodos de aumento
ou por múltiplos e submúltiplos de x. simultâneo de gastos e de arrecadação.
c) No último bimestre do ano de 2015, foram registrados
tanto o maior gasto com despesas quanto a maior ar-
recadação de receitas.
d) No ano em questão, janeiro e dezembro foram os úni-
cos meses em que a arrecadação de receitas foi ultra-
passada por gastos com despesas.
e) A menor arrecadação mensal de receitas e o menor
gasto mensal com despesas foram verificados, respec-
tivamente, no primeiro e no segundo semestre do ano
de 2015.

Resposta: Letra B. Analisando o primeiro quadrimes-


tre, observamos que os dois primeiros meses de recei-
ta diminuem e os dois meses seguintes aumentam, o
Analisando o gráfico, é correto afirmar que a medida do mesmo acontece com a despesa.
ângulo interno correspondente ao setor circular que re-
presenta o conceito BOM é igual a

a) 144º.
b) 135º.
c) 126º
d) 117º
e) 108º.

Resposta: Letra A.
X+0,5x+4x+3x+1,5x=360
10x=360
X=36
Como o conceito bom corresponde a 4x: 4x36=144°

5. (TCE/PR – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CES-


PE/2016)
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

36
6. (BRDE – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – FUN- 7. (TJ/SP – ESTATÍSTICO JUDICIÁRIO – VU-
DATEC/2015) Assinale a alternativa que representa a NESP/2015) A distribuição de salários de uma empresa
nomenclatura dos três gráficos abaixo, respectivamente. com 30 funcionários é dada na tabela seguinte. 

Salário (em salários mínimos) Funcionários


1,8 10
2,5 8
3,0 5
5,0 4
8,0 2
15,0 1

Pode-se concluir que

a) o total da folha de pagamentos é de 35,3 salários.


b) 60% dos trabalhadores ganham mais ou igual a 3 sa-
lários.
c) 10% dos trabalhadores ganham mais de 10 salários.
d) 20% dos trabalhadores detêm mais de 40% da renda
total.
e) 60% dos trabalhadores detêm menos de 30% da renda
total.

Resposta: Letra D. a) 1,8x10+2,5x8+3,0x5+5,0x4+8,0x


2+15,0x1=104 salários
b) 60% de 30=18 funcionários e se juntarmos quem
ganha mais de 3 salários (5+4+2+1=12)
c)10% de 30=0,1x30=3 funcionários
E apenas 1 pessoa ganha
d) 40% de 104=0,4x104= 41,6
20% de 30=0,2x30=6
5x3+8x2+15x1=46, que já é maior.
e) 60% de 30=0,6x30=18
30% de 104=0,3x104=31,20da renda: 31,20

8. (TJ/SP – ESTATÍSTICO JUDICIÁRIO – VU-


NESP/2015) Considere a tabela de distribuição de fre-
quência seguinte, em que xi é a variável estudada e fi é a
frequência absoluta dos dados.
a) Gráfico de Setores – Gráfico de Barras – Gráfico de
Linha.
c) Gráfico de Pareto – Gráfico de Pizza – Gráfico de Ten- xi fi
dência. 30-35 4
c) Gráfico de Barras – Gráfico de Setores – Gráfico de Li-
35-40 12
nha.
d) Gráfico de Linhas – Gráfico de Pizza – Gráfico de Bar- 40-45 10
ras.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

45-50 8
e) Gráfico de Tendência – Gráfico de Setores – Gráfico de
Linha. 50-55 6
TOTAL 40
Resposta: Letra C. Como foi visto na teoria, gráfico de
barras, de setores ou pizza e de linha Assinale a alternativa em que o histograma é o que me-
lhor representa a distribuição de frequência da tabela.

a)

37
b)

c)

d)

e)

Resposta: Letra A. Colocando em ordem crescente: 30-35, 50-55, 45-50, 40-45, 35-40,

9. (DEPEN – AGENTE PENITENCIÁRIO FEDERAL – CESPE/2015)

Ministério da Justiça — Departamento Penitenciário Nacional — Sistema Integrado de Informações Penitenciárias –


InfoPen, Relatório Estatístico Sintético do Sistema Prisional Brasileiro, dez./2013 Internet:<www.justica.gov.br> (com
adaptações)
A tabela mostrada apresenta a quantidade de detentos no sistema penitenciário brasileiro por região em 2013. Nesse
ano, o déficit relativo de vagas — que se define pela razão entre o déficit de vagas no sistema penitenciário e a quan-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

tidade de detentos no sistema penitenciário — registrado em todo o Brasil foi superior a 38,7%, e, na média nacional,
havia 277,5 detentos por 100 mil habitantes.
Com base nessas informações e na tabela apresentada, julgue o item a seguir.
Em 2013, mais de 55% da população carcerária no Brasil se encontrava na região Sudeste.

( ) CERTO ( ) ERRADO
Resposta: Certo
555----100%
x----55%
x=305,25
Está correta, pois a região sudeste tem 306 pessoas.

38
Estatística Descritiva

Teste de Hipóteses

Definição: Processo que usa estatísticas amostrais para testar a afirmação sobre o valor de um parâmetro popula-
cional.

Para testar um parâmetro populacional, você deve afirmar cuidadosamente um par de hipóteses – uma que repre-
sente a afirmação e outra, seu complemento. Quando uma é falsa, a outra é verdadeira.
Uma hipótese nula H0 é uma hipótese estatística que contém uma afirmação de igualdade, tal como ≤, =, ≥
A hipótese alternativa Ha é o complemento da hipótese nula. Se H0 for falsa, Ha deve ser verdadeira, e contém afir-
mação de desigualdade, como <, ≠, >.

Vamos ver como montar essas hipóteses


Um caso bem simples.

Assim, fica fácil, se H0 for falsa, Ha é verdadeira


Há uma regrinha para formular essas hipóteses

Formulação verbal H0 Formulação Matemática Formulação verbal Ha


A média é A média é
...maior ou igual a k. ...menor que k
....pelo menos k. ... abaixo de k
...não menos que k. ...menos que k.
...menor ou igual a k. ..maior que k
....no máximo k. ... acima de k
...não mais que k. ...mais do que k.
... igual a k. ... não igual a k.
.... k. .... diferente de k.
...exatamente k. ...não k.

Exemplo: Um fabricante de torneiras anuncia que o índice médio de fluxo de água de certo tipo de torneira é menor
que 2,5 galões por minuto.

Referências
Larson, Ron. Estatística Aplicada. 4ed – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
Frequências

A primeira fase de um estudo estatístico consiste em recolher, contar e classificar os dados pesquisados sobre uma
população estatística ou sobre uma amostra dessa população.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

1. Frequência Absoluta

É o número de vezes que a variável estatística assume um valor.

1.1. Frequência Relativa

É o quociente entre a frequência absoluta e o número de elementos da amostra.


Na tabela a seguir, temos exemplo dos dois tipos:

39
2. Média aritmética

Média aritmética de um conjunto de números é o va-


lor que se obtém dividindo a soma dos elementos pelo
número de elementos do conjunto.
Representemos a média aritmética por .
A média pode ser calculada apenas se a variável en-
volvida na pesquisa for quantitativa. Não faz sentido cal-
cular a média aritmética para variáveis quantitativas.
Na realização de uma mesma pesquisa estatística
entre diferentes grupos, se for possível calcular a média,
1.2. Distribuição de frequência sem intervalos de ficará mais fácil estabelecer uma comparação entre esses
classe: grupos e perceber tendências.
Considerando uma equipe de basquete, a soma das
É a simples condensação dos dados conforme as re- alturas dos jogadores é:
petições de seu valores. Para um ROL  de tamanho ra-
zoável esta distribuição de frequência é inconveniente, já
que exige muito espaço. Veja exemplo abaixo:

Dados Frequência Se dividirmos esse valor pelo número total de joga-


dores, obteremos a média aritmética das alturas:
41 3
42 2
43 1
44 1 A média aritmética das alturas dos jogadores é 2,02m.
45 1
2.1. Média Ponderada
46 2
50 2 A média dos elementos do conjunto numérico A re-
lativa à adição e na qual cada elemento tem um “deter-
51 1 minado peso” é chamada média aritmética ponderada.
52 1
54 1
57 1
58 2 2.2. Mediana (Md)
60 2 Sejam os valores escritos em rol:
Total 20

Distribuição de frequência com intervalos de clas-


se: Sendo n ímpar, chama-se mediana o termo tal que
o número de termos da sequência que precedem é
Quando o tamanho da amostra é elevado é mais ra- igual ao número de termos que o sucedem, isto é, é
cional efetuar o agrupamento dos valores em vários in- termo médio da sequência ( ) em rol.
tervalos de classe. Sendo n par, chama-se mediana o valor obtido pela
média aritmética entre os termos e , tais que o nú-
mero de termos que precedem é igual ao número de
Classes Frequências
termos que sucedem , isto é, a mediana é a média
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

41 |------- 45 7 aritmética entre os termos centrais da sequência ( ) em


45 |------- 49 3 rol.
49 |------- 53 4 Exemplo 1:
53 |------- 57 1 Determinar a mediana do conjunto de dados:
{12, 3, 7, 10, 21, 18, 23}
57 |------- 61 5
Total 20 Solução:
Escrevendo os elementos do conjunto em rol, tem-se:
(3, 7, 10, 12, 18, 21, 23). A mediana é o termo médio des-
se rol. Logo: Md=12
Resposta: Md=12.

40
Exemplo 2: Exemplo 1:
Determinar a mediana do conjunto de dados: Em oito jogos, o jogador A, de bola ao cesto, apresen-
{10, 12, 3, 7, 18, 23, 21, 25}. tou o seguinte desempenho, descrito na tabela abaixo:

Solução: Jogo Número de pontos


Escrevendo-se os elementos do conjunto em rol, tem-
-se: 1 22
(3, 7, 10, 12, 18, 21, 23, 25). A mediana é a média arit- 2 18
mética entre os dois termos centrais do rol.
3 13
Logo: 4 24
5 26
Resposta: Md=15
6 20
3. Moda (Mo) 7 19
Num conjunto de números: , chama-se
moda aquele valor que ocorre com maior frequência. 8 18

Observação: a) Qual a média de pontos por jogo?


A moda pode não existir e, se existir, pode não ser b) Qual a variância do conjunto de pontos?
única.
Solução:
Exemplo 1:
O conjunto de dados 3, 3, 8, 8, 8, 6, 9, 31 tem moda a) A média de pontos por jogo é:
igual a 8, isto é, Mo=8.

Exemplo 2:
O conjunto de dados 1, 2, 9, 6, 3, 5 não tem moda.

4. Medidas de dispersão

Duas distribuições de frequência com medidas de b) A variância é:


tendência central semelhantes podem apresentar ca-
racterísticas diversas. Necessita-se de outros índices
numéricas que informem sobre o grau de dispersão ou
variação dos dados em torno da média ou de qualquer
outro valor de concentração. Esses índices são chamados
medidas de dispersão.
Desvio médio
Variância
Definição
Há um índice que mede a “dispersão” dos elemen-
tos de um conjunto de números em relação à sua média Medida da dispersão dos dados em relação à média
aritmética, e que é chamado de variância. Esse índice é de uma sequência. Esta medida representa a média das
assim definido: distâncias entre cada elemento da amostra e seu valor
Seja o conjunto de números , tal que médio.
é sua média aritmética. Chama-se variância desse con-
junto, e indica-se por , o número:
Desvio padrão
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Isto é: Definição
Seja o conjunto de números , tal que
é sua média aritmética. Chama-se desvio padrão desse
conjunto, e indica-se por , o número:
E para amostra

41
Isto é: 2. (TJM/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
VUNESP/2017) Leia o enunciado a seguir para respon-
der a questão.
A tabela apresenta o número de acertos dos 600 can-
didatos que realizaram a prova da segunda fase de um
concurso, que continha 5 questões de múltipla escolha
Exemplo:
As estaturas dos jogadores de uma equipe de bas- Número de Número de candidatos
quetebol são: 2,00 m; 1,95 m; 2,10 m; 1,90 m e 2,05 m. acertos
Calcular:
a) A estatura média desses jogadores. 5 204
b) O desvio padrão desse conjunto de estaturas. 4 132

Solução: 3 96
2 78
Sendo a estatura média, temos:
1 66
0 24

A média de acertos por prova foi de


Sendo o desvio padrão, tem-se:
a) 3,57.
b) 3,43
c) 3,32.
d) 3,25.
e) 3,19.
Resposta: Letra B.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (CRBIO – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – VU- 3. (PREF. GUARULHOS/SP – ASSISTENTE DE GES-


NESP/2017) Uma empresa tem 120 funcionários no to- TÃO ESCOLAR – VUNESP/2016) Certa escola tem 15
tal: 70 possuem curso superior e 50 não possuem curso classes no período matutino e 10 classes no período ves-
superior. Sabe-se que a média salarial de toda a empresa pertino. O número médio de alunos por classe no perío-
é de R$ 5.000,00, e que a média salarial somente dos fun- do matutino é 20, e, no período vespertino, é 25. Consi-
cionários que possuem curso superior é de R$ 6.000,00. derando os dois períodos citados, a média aritmética do
Desse modo, é correto afirmar que a média salarial dos número de alunos por classe é
funcionários dessa empresa que não possuem curso su-
perior é de a) 24,5.
b) 23.
a) R$ 4.000,00. c) 22,5.
b) R$ 3.900,00. d) 22.
c) R$ 3.800,00. e) 21.
d) R$ 3.700,00.
e) R$ 3.600,00. Resposta: Letra D.

Resposta: Letra E. S=cursam superior


M=não tem curso superior
M=300
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

S+M=600000
V=250

S=420000
M=600000-420000=180000

42
4. (SEGEP/MA – TÉCNICO DA RECEITA ESTADUAL a) 1,5
– FCC/2016) Para responder à questão, considere as in- b) 2
formações abaixo. c) 2,5
Três funcionários do Serviço de Atendimento ao Cliente d) 3
de uma loja foram avaliados pelos clientes que atribuí- e) 3,5
ram uma nota (1; 2; 3; 4; 5) para o atendimento recebido.
A tabela mostra as notas recebidas por esses funcioná- Resposta: Letra B. Como 24 é um número par, deve-
rios em um determinado dia. mos fazer a segunda regra:

6. (UFAL – AUXILIAR DE BIBLIOTECA – COPE-


VE/2016) A tabela apresenta o número de empréstimos
de livros de uma biblioteca setorial de um Instituto Fede-
Considerando a avaliação média individual de cada fun- ral, no primeiro semestre de 2016.
cionário nesse dia, a diferença entre as médias mais pró-
ximas é igual a Mës Empréstimos
a) 0,32. Janeiro 15
b) 0,21. Fevereiro 25
c) 0,35.
d) 0,18. Março 22
e) 0,24. Abril 30
Maio 28
Resposta: Letra B.
Junho 15

Dadas as afirmativas,

I. A biblioteca emprestou, em média, 22,5 livros por mês.


II. A mediana da série de valores é igual a 26.
III. A moda da série de valores é igual a 15.

Verifica-se que está(ão) correta(s)


a) II, apenas.
3,36-3,15=0,21 b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
5. (UFES – ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – e) I, II e III.
UFES/2017) Considere n números x1, x2, … , xn, em que
x1 ≤ x2 ≤ ⋯ ≤ xn . A mediana desses números é igual a Resposta: Letra D.
x(n + 1)/2, se n for ímpar, e é igual à média aritmética
de xn ⁄ 2 e x(n + 2)/2, se n for par. Uma prova composta
por 5 questões foi aplicada a uma turma de 24 alunos. A
tabela seguinte relaciona o número de acertos obtidos
na prova com o número de alunos que obtiveram esse Mediana
número de acertos. Vamos colocar os números em ordem crescente

Número de acertos Número de alunos 15,15,22,25,28,30


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

0 4
1 5
2 4 Moda é o número que mais aparece, no caso o 15.
3 3 7. (COSANPA - QUÍMICO – FADESP/2017) Algumas
4 5 Determinações do teor de sódio em água (em mg L-1)
foram executadas (em triplicata) paralelamente por qua-
5 3
tro laboratórios e os resultados são mostrados na tabela
abaixo.
A penúltima linha da tabela acima, por exemplo, indica
que 5 alunos tiveram, cada um, um total de 4 acertos na
prova. A mediana dos números de acertos é igual a

43
c) R$ 2.010,00.
Replicatas Laboratório
d) R$ 2.004,00.
1 2 3 4 e) R$ 2.008,00.
1 30,3 30,9 30,3 30,5
Resposta: Letra C. Vamos chamar de x a soma dos
2 30,4 30,8 30,7 30,4 salários dos 13 funcionários
3 30,0 30,6 30,4 30,7 x/13=1998
X=13.1998
Média 30,20 30,77 30,47 30,53
X=25974
Desvio 0,20 0,15 0,21 0,15 Vamos chamar de y o funcionário contratado com me-
Padrão nor valor e, portanto, 1,1y o com 10% de salário maior,
pois ele ganha y+10% de y
Utilize essa tabela para responder à questão. Y+0,1y=1,1y
(x+y+1,1y)/15=2013
O laboratório que apresenta o maior erro padrão é o de 25974+2,1y=15∙2013
número 2,1y=30195-25974
2,1y=4221
a) 1. Y=2010
b) 2.
c) 3. 10. (PREF. DE NITERÓI – AGENTE FAZENDÁRIO –
d) 4. FGV/2015) Os 12 funcionários de uma repartição da
prefeitura foram submetidos a um teste de avaliação de
Resposta: Letra C. Como o desvio padrão é maior no conhecimentos de computação e a pontuação deles, em
3, o erro padrão é proporcional, portanto também é uma escala de 0 a 100, está no quadro abaixo.
maior em 3.
50 55 55 55 55 60
8. (ANAC – ANALISTA ADMINISTRATIVO- 62 63 65 90 90 100
ESAF/2016) Os valores a seguir representam uma amos-
tra O número de funcionários com pontuação acima da mé-
dia é:
331546248
a) 3;
Então, a variância dessa amostra é igual a b) 4;
c) 5;
a) 4,0 d) 6;
b) 2,5. e) 7.
c) 4,5.
d) 5,5 Resposta: Letra A.
e) 3,0

Resposta: Letra C.

M=66,67
Apenas 3 funcionários estão acima da média.

NOÇÕES DE GEOMETRIA – FORMA,


ÂNGULOS, ÁREA, PERÍMETRO, VOLUME,
TEOREMAS DE PITÁGORAS OU DE TALES.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

9. (MPE/SP – OFICIAL DE PROMOTORIA I – VU- INTRODUÇÃO A GEOMETRIA PLANA


NESP/2016) A média de salários dos 13 funcionários de
uma empresa é de R$ 1.998,00. Dois novos funcionários 1. Ponto, Reta e Plano
foram contratados, um com o salário 10% maior que o
do outro, e a média salarial dos 15 funcionários passou a A definição dos entes primitivos ponto, reta e pla-
ser R$ 2.013,00. O menor salário, dentre esses dois novos no é quase impossível, o que se sabe muito bem e aqui
funcionários, é igual a será o mais importante é sua representação geométrica
e espacial.
a) R$ 2.002,00.
b) R$ 2.006,00.

44
1.1. Representação, (notação) - Duas retas são concorrentes se tiverem apenas um
ponto em comum.
→ Pontos serão representados por letras latinas
maiúsculas; ex: A, B, C,…
→ Retas serão representados por letras latinas minús-
culas; ex: a, b, c,…
→ Planos serão representados por letras gregas mi-
núsculas; ex: β,∞,α,...

1.2. Representação gráfica


Observe que r ∩ s = {H} . Sendo que H está contido
na reta r e na reta s.

Um plano é um subconjunto do espaço R³ de tal


modo que quaisquer dois pontos desse conjunto podem
ser ligados por um segmento de reta inteiramente con-
tida no conjunto.
Um plano no espaço R³ pode ser determinado por
qualquer uma das situações:
Postulados primitivos da geometria, qualquer postu- - Três pontos não colineares (não pertencentes à
lado ou axioma é aceito sem que seja necessária a prova, mesma reta);
contanto que não exista a contraprova. - Um ponto e uma reta que não contem o ponto;
- Numa reta bem como fora dela há infinitos pontos - Um ponto e um segmento de reta que não contem
distintos. o ponto;
- Dois pontos determinam uma única reta (uma e so- - Duas retas paralelas que não se sobrepõe;
mente uma reta). - Dois segmentos de reta paralelos que não se so-
brepõe;
- Duas retas concorrentes;
- Dois segmentos de reta concorrentes.

Duas retas (segmentos de reta) no espaço R³ podem


ser: paralelas, concorrentes ou reversas.
Duas retas são ditas reversas quando uma não tem
- Pontos colineares pertencem à mesma reta. interseção com a outra e elas não são paralelas. Pode-se
pensar de uma reta r desenhada no chão de uma casa e
uma reta s desenhada no teto dessa mesma casa.

- Três pontos determinam um único plano. Uma reta é perpendicular a um plano no espaço R³, se
ela intersecta o plano em um ponto P e todo segmento
de reta contido no plano que tem P como uma de suas
extremidades é perpendicular à reta.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

- Se uma reta contém dois pontos de um plano, esta


reta está contida neste plano. Uma reta r é paralela a um plano no espaço R³, se
existe uma reta s inteiramente contida no plano que é
paralela à reta dada.
Seja P um ponto localizado fora de um plano. A dis-
tância do ponto ao plano é a medida do segmento de
reta perpendicular ao plano em que uma extremidade é
o ponto P e a outra extremidade é o ponto que é a inter-
seção entre o plano e o segmento.
Se o ponto P estiver no plano, a distância é nula.

45
Diremos que quatro segmentos de reta, AB, BC, CD e DE
, nesta ordem, são proporcionais se: A B⁄B C = C D⁄D E .
Os segmentos AB e DE são os segmentos extremos e
os segmentos BC e CD e são os segmentos meios.
A proporcionalidade acima é garantida pelo fato que
existe uma proporção entre os números reais que repre-
sentam as medidas dos segmentos:
Planos concorrentes no espaço R³ são planos cuja in-
terseção é uma reta. m (AB) m (CD)
=
Planos paralelos no espaço R³ são planos que não m (BC) m (DE)
tem interseção.
Quando dois planos são concorrentes, dizemos que Feixe de Retas Paralelas
tais planos formam um diedro e o ângulo formado en-
tre estes dois planos é denominado ângulo diedral. Para Um conjunto de três ou mais retas paralelas num pla-
obter este ângulo diedral, basta tomar o ângulo forma- no é chamado feixe de retas paralelas. A reta que inter-
do por quaisquer duas retas perpendiculares aos planos cepta as retas do feixe é chamada de reta transversal. As
concorrentes. retas a, b, c e d que aparecem no desenho anexado, for-
mam um feixe de retas paralelas enquanto que as retas s
e t são retas transversais.

Planos normais são aqueles cujo ângulo diedral é um


ângulo reto (90°).

Razão entre Segmentos de Reta

Segmento de reta é o conjunto de todos os pontos


de uma reta que estão limitados por dois pontos que são
as extremidades do segmento, sendo um deles o ponto
inicial e o outro o ponto final. Denotamos um segmento
por duas letras como, por exemplo, AB, sendo A o início
e B o final do segmento.
Ex: AB é um segmento de reta que denotamos por AB. Teorema de Tales: Um feixe de retas paralelas de-
termina sobre duas transversais quaisquer, segmentos
proporcionais. A figura abaixo representa uma situação
onde aparece um feixe de três retas paralelas cortadas
por duas retas transversais.
Segmentos Proporcionais

Proporção é a igualdade entre duas razões equiva-


lentes. De forma semelhante aos que já estudamos com
números racionais, é possível estabelecer a proporcio-
nalidade entre segmentos de reta, através das medidas
desse segmentos.
Vamos considerar primeiramente um caso particular
com quatro segmentos de reta com suas medidas apre-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

sentadas na tabela a seguir:

m(AB) = 2cm m(PQ) =4 cm


m(CD) = 3cm m(RS) = 6cm
Identificamos na sequência algumas proporções:
A razão entre os segmentos AB e CD e a razão entre
os segmentos PQ e RS e , são dadas por frações equivalen- A B⁄B C = DE⁄E F
tes, isto é A B⁄C D = 2⁄3; PQ/RS = 4/6 e como 2/3 = 4/6, B C⁄ A B = EF ⁄D E
segue a existência de uma proporção entre esses quatro A B⁄D E = B C⁄ E F
segmentos de reta. Isto nos conduz à definição de seg- D E⁄ A B = E F ⁄B C
mentos proporcionais.

46
Ex: Consideremos a figura ao lado com um feixe de
retas paralelas, sendo as medidas dos segmentos indica-
das em centímetros.

Ângulo Circunscrito: É o ângulo, cujo vértice não


pertence à circunferência e os lados são tangentes à ela.
Assim:
B C⁄A B = E F⁄D E
A B⁄D E = B C⁄E F
D E⁄A B = E F⁄B C

#FicaDica
Uma proporção entre segmentos pode ser
formulada de várias maneiras. Se um dos
segmentos do feixe de paralelas for desco-
Ângulo Inscrito: É o ângulo cujo vértice pertence a
nhecido, a sua dimensão pode ser determi-
uma circunferência e seus lados são secantes a ela.
nada com o uso de razões proporcionais.

Ângulos

Ângulo: Do latim - angulu (canto, esquina), do grego


- gonas; reunião de duas semi-retas de mesma origem
não colineares.

Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do


que 90º.

Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do


que 90º.
[

Ângulo Raso:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

- É o ângulo cuja medida é 180º;


- É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.

Ângulo Central

a) Da circunferência: é o ângulo cujo vértice é o cen-


tro da circunferência;
b) Do polígono: é o ângulo, cujo vértice é o centro do
polígono regular e cujos lados passam por vértices
consecutivos do polígono.

47
Ângulo Reto:

- É o ângulo cuja medida é 90º;


- É aquele cujos lados se apóiam em retas perpendi-
culares.

Grau: (º): Do latim - gradu; dividindo a circunferência


em 360 partes iguais, cada arco unitário que corresponde
a 1/360 da circunferência denominamos de grau.

Ângulos formados por duas retas paralelas com


uma transversal
Ângulos Complementares: Dois ângulos são com-
plementares se a soma das suas medidas é 900. Lembre-se: Retas paralelas são retas que estão no
mesmo plano e não possuem ponto em comum.

Vamos observar a figura abaixo:

Ângulos Congruentes: São ângulos que possuem a


mesma medida.
Todos esses ângulos possuem relações entre si, e elas
estão descritas a seguir:

Ângulos colaterais internos: O termo colateral sig-


nifica “mesmo lado” e sua propriedade é que a soma des-
tes ângulos será sempre 180°

Ângulos Opostos pelo Vértice: Dois ângulos são


opostos pelo vértice se os lados de um são as respectivas
semi-retas opostas aos lados do outro.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Ângulos Suplementares: Dois ângulos são ditos su-


plementares se a soma das suas medidas de dois ângulos
é 180º.

Assim a soma dos ângulos 4 e 5 é 180° e a soma dos


ângulos 3 e 6 também será 180°

48
Ângulos colaterais externos: O termo colateral sig-
nifica “mesmo lado” e sua propriedade é que a soma
destes ângulos será sempre 180°

Assim, o ângulo 1 é igual ao ângulo 7 e o ângulo 2 é


igual ao ângulo 8

Ângulos correspondentes: São ângulos que ocupam


Assim a soma dos ângulos 2 e 7 é 180° e a soma dos uma mesma posição na reta transversal, um na região
ângulos 1 e 8 também será 180° interna e o outro na região externa.

Ângulos alternos internos: O termo alterno significa


lados diferentes e sua propriedade é que eles sempre se-
rão congruentes

Assim, o ângulo 1 é igual ao ângulo 5, o ângulo 2 é


igual ao ângulo 6, o ângulo 3 é igual ao ângulo 7 e o
ângulo 4 é igual ao ângulo 8.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

FIQUE ATENTO!
Há cinco classificações distintas para os
Assim, o ângulo 4 é igual ao ângulo 6 e o ângulo 3 é ângulos formados por duas retas parale-
igual ao ângulo 5 las que intersectam uma transversal. Então,
procure visualizar bem as imagens para as-
Ângulos alternos externos: O termo alterno signifi- sociá-las a cada classificação existente.
ca lados diferentes e sua propriedade é que eles sempre
serão congruentes

49
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (CS-UFG-2016) Considere que a figura abaixo representa um relógio analógico cujos ponteiros das horas (menor)
e dos minutos (maior) indicam 3 h e 40 min. Nestas condições, a medida do menor ângulo, em graus, formado pelos
ponteiros deste relógio, é:

a) 120°
b) 126°
c) 135°
d) 150°

Resposta: Letra B. Considerando que cada hora equivale a um ângulo de 30° (360/12 = 30) e que a cada 15 min o
ponteiro da hora percorre 7,5°. Assim, as 3h e 40 min indica um ângulo de aproximadamente 126°.

2. Na imagem a seguir, as retas u, r e s são paralelas e cortadas por uma reta transversal. Determine o valor dos ângu-
los x e y.

Resposta: x = 50° e y = 130°


Facilmente observamos que os ângulos x e 50° são opostos pelo vértice, logo, x = 50°. Podemos constatar também
que y e 50° são suplementares, ou seja:

50° + y = 180°
y = 180° – 50°
y = 130°
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Portanto,os ângulos procurados são y = 130° e x = 50°.

POLÍGONOS

Um polígono é uma figura geométrica plana limitada por uma linha poligonal fechada. A palavra “polígono” advém
do grego e quer dizer muitos (poly) e ângulos (gon).

Linhas poligonais e polígonos

Linha poligonal é uma sucessão de segmentos consecutivos e não-colineares, dois a dois. Classificam-se em:

50
Linha poligonal fechada simples:

Linha poligonal fechada não-simples:

Linha poligonal aberta simples:

Linha poligonal aberta não-simples:

FIQUE ATENTO!
Polígono é uma linha fechada simples. Um polígono divide o plano em que se encontra em duas regiões (a
interior e a exterior), sem pontos comuns.

Elementos de um polígono

Um polígono possui os seguintes elementos:


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Lados: Cada um dos segmentos de reta que une vértices consecutivos: AB, BC, CD, DE, EA.

Vértices: Ponto de encontro de dois lados consecutivos: A, B, C, D, E

Diagonais: Segmentos que unem dois vértices não consecutivos: AC, AD, BD, BE, CE

Ângulos internos: Ângulos formados por dois lados consecutivos: a� , b� , c� , d


� , e� .

Ângulos externos: Ângulos formados por um lado e pelo prolongamento do lado a ele consecutivo: a�1 , b1 , c1, d1 , e1

51
Classificação dos polígonos quanto ao número de lados

Nome Número de lados Nome Número de lados


triângulo 3 quadrilátero 4
pentágono 5 hexágono 6
heptágono 7 octógono 8
eneágono 9 decágono 10
hendecágono 11 dodecágono 12
tridecágono 13 tetradecágono 14
pentadecágono 15 hexadecágono 16
heptadecágono 17 octodecágono 18
eneadecágono 19 icoságono 20

A classificação dos polígonos pode ser ilustrada pela seguinte árvore:

Um polígono é denominado simples se ele for descrito por uma fronteira simples e que não se cruza (daí divide o
plano em uma região interna e externa), caso o contrário é denominado complexo.
Um polígono simples é denominado convexo se não tiver nenhum ângulo interno cuja medida é maior que 180°,
caso o contrário é denominado côncavo.
Um polígono convexo é denominado circunscrito a uma circunferência ou polígono circunscrito se todos os vértices
pertencerem a uma mesma circunferência.
Um polígono inscritível é denominado regular se todos os seus lados e todos os seus ângulos forem congruentes.

Alguns polígonos regulares:

a) triângulo equilátero
b) quadrado
c) pentágono regular
d) hexágono regular

Propriedades dos polígonos

De cada vértice de um polígono de n lados, saem dv = n – 3

O número de diagonais de um polígono é dado por:


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

n n−3
d=
2
Onde n é o número de lados do polígono.

A soma das medidas dos ângulos internos de um polígono de n lados (Si) é dada por:

Si = n − 2 � 180°

A soma das medidas dos ângulos externos de um polígono de n lados (Se) é igual a:

52
360°
Se =
n EXERCÍCIOS COMENTADOS

Em um polígono convexo de n lados, o número de 1. (PREF. DE POÁ-SP – ENGENHEIRO DE SEGURAN-


triângulos formados por diagonais que saem de cada ÇA DE TRABALHO – VUNESP/2015) A figura ilustra
vértice é dado por n - 2. um octógono regular de lado 2 m.

A medida do ângulo interno de um polígono regular


de n lados (ai ) é dada por:
n − 2 � 180°
ai =
n

A medida do ângulo externo de um polígono regular


de n lados (ae ) é dada por:
360°
ae =
n
Sendo a altura do trapézio ABCD igual a 1 cm, a área do
triângulo retângulo ADE vale, em cm²
A soma das medidas dos ângulos centrais de um po-
lígono regular de n lados (Sc ) é igual a 360º.
a) 5
b) 4
A medida do ângulo central de um polígono regular
c) 5
de n lados () é dada por:
d) 2 + 1
360° e) 2
ac =
n
Resposta: Letra D.
Polígonos regulares

Os polígonos regulares são aqueles que possuem to-


dos os lados congruentes e todos os ângulos congruen-
tes. Todas as propriedades anteriores são válidas para os
polígonos regulares, a diferença é que todos os valores
são distribuídos uniformemente, ou seja, todos os ângulos
terão o mesmo valor e todas as medidas terão o mesmo COMENTÁRIO:
valor.

Como a altura do trapézio mede 1 cm, temos um trian-


#FicaDica gulo isósceles de hipotenusa AB, assim, o segmento
Polígonos regulares são formas de polígo- AD = 2 + 2 . Assim, a área de ADE é:
nos mais estudadas e cobradas em questões
de concursos. 2+2 2 2 2 2
A= = + =1+ 2
2 2 2

2. (UNIFESP - 2003) Pentágonos regulares congruentes


podem ser conectados lado a lado, formando uma estrela
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

de cinco pontas, conforme destacado na figura a seguir

53
Nessas condições, o ângulo θ mede: Paralelogramo

a) 108°.
b) 72°.
c) 54°.
d) 36°.
e) 18°.

Resposta: Letra D.
Na ponta da estrela onde está destacado o ângulo θ,
temos o encontro de três ângulos internos de pen-
tágonos regulares. Para descobrir a medida de cada
um desses ângulos, basta calcular a soma dos ângulos
internos do pentágono e dividir por 5.

Características:
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
AB // DC e AD // BC .
Além de paralelos, os lados paralelos possuem a mes-
ma medida, ou seja: AB = DC e AD = BC
A altura é medida em relação a distância entre os seg-
mentos paralelos, ou seja: BG: altura = h
A base é justamente a medida dos lados que se me-
diu a altura: AD: base = b
A área é calculada como o produto da base pela al-
A fórmula para calcular a soma dos ângulos internos tura: Área= b∙h
de um polígono é: S = (n – 2) · 180 O perímetro é calculado como a soma das medidas
de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA
*n é o número de lados do polígono. No caso desse
exercício: Retângulo

S = (5 – 2) · 180
S = 3 · 180
S = 540

Dividindo a soma dos ângulos internos por 5, pois um


pentágono possui cinco ângulos internos, encontrare-
mos 108° como medida de cada ângulo interno.
Observe na imagem anterior que a soma de três ângu-
los internos do pentágono com o ângulo θ tem como
resultado 360°.
Características:
108 + 108 + 108 + θ = 360
324 + θ = 360 Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
AB // DC e AD // BC
θ = 360 – 324
θ = 36° Além de paralelos, os lados paralelos possuem a mes-
ma medida, ou seja: AB = DC e AD = BC
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Quadriláteros, Circunferência e Círculo Diferentemente do paralelogramo, todos os ângulos


do retângulo medem 90°: A
�=B � = C� = D
� = 90°
Quadriláteros
No retângulo, um par de lados paralelos
São figuras que possuem quatro lados dentre os será a base e o outro será a altura, no desenho:
quais temos os seguintes subgrupos: AB: altura = h e AD: base = b

A área é calculada como o produto da base pela al-


tura: Área= b∙h

54
O perímetro é calculado como a soma das medidas Trapézio
de todos os quatro lados:

Perímetro = AB + BC + CD + DA = 2b + 2h

Losango

Características:
Possuirá apenas um par de lados paralelos que serão
chamados de bases maior e menor:
AD// BC, AB: base maior = B e CD: base menor = b
A altura será definida como a distância entre as bases:
Características: BG: altura = h
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja: A área é calculada em função das bases e da altura:
AB // DC e AD // BC B+b
Possuem os quatro lados com medidas iguais: Área =
2
�h
AB = DC = AD = BC
No losango, definem-se diagonais como a distância O perímetro é calculado como a soma das medidas
entre vértices opostos, assim: de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA
BD: diagonal maior = D e AC: diagonal menor = d
Circunferência e Círculo
A área é Dcalculada
�d
a partir das diagonais e não dos
lados: Área = 2 Uma circunferência é definida como o conjunto de
pontos cuja distância de um ponto, denominado de cen-
O perímetro é calculado como a soma das medidas tro, O é igual a R, definido como raio.
de todos os quatro lados: AB + BC + CD + DA

Quadrado

Já um círculo é definido como um conjunto de pontos


cuja distância de O é menor ou igual a R.
Características:
Possuem lados paralelos, dois a dois, ou seja:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

AB // DC e AD // BC
Possuem os quatro lados com medidas iguais:
AB = DC = AD = BC
Diferentemente do losango, todos os ângulos do
quadrado medem 90°: A �=B � = C� = D
� = 90°
Seguindo a lógica do retângulo, temos o valor da base
e da altura iguais neste caso: BC: lado = L e AB: lado =
A área é calculada de maneira simples: Área = L2
O perímetro é calculado como a soma
das medidas de todos os quatro lados:
Perímetro = AB + BC + CD + DA = 4L

55
Características: Características:
A medida relevante da circunferência é o raio (R) que
é a distância de qualquer ponto da circunferência em re- A Área do Setor Circular (para α em radianos):
lação ao centro C. R2
A área é calculada em função do raio: Área = πR2 A= α − sen α
2
O perímetro, também chamado de comprimento da
circunferência, é calculado em função do raio também: 3. Posições Relativas entre Retas e Circunferências
Perímetro = 2πR
Dado uma circunferência de raio R e uma reta ‘r’ cuja
Setor Circular distância ao centro da circunferência é ‘d’, temos as se-
guintes posições relativas:
Um Setor Circular é uma região de um círculo com-
preendida entre dois segmentos de reta que se iniciam Reta Tangente: Reta e circunferência possuem ape-
no centro e vão até a circunferência. nas um ponto em comum (dOP = R)

#FicaDica
Em termos práticos, um setor circular é um
“pedaço” de um círculo.

Reta Exterior: Reta e circunferência não possuem


pontos em comum (dOP > R)

Características:

O ângulo α é definido como ângulo central


απR2
Área do Setor Circular (para α em graus): A =
360

Área do Setor Circular (para α em radianos):


αR2
A=
2

Segmento Circular

Um Segmento Circular é uma região de um círculo


compreendida entre um segmento que liga os pontos de Reta Secante: Reta e circunferência possuem dois
cruzamento dos segmentos de reta com a circunferência, pontos em comum (dOP < R)
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

ao qual definimos como corda AB e a circunferência.

56
TRIÂNGULOS E TEOREMA DE PITÁGORAS
EXERCÍCIOS COMENTADOS Definição

1.(SEEDUC-RJ – Professor – CEPERJ/2015) O quadrado Triângulo é um polígono de três lados. É o polígono


MNPQ abaixo tem lado igual a 12cm. Considere que as que possui o menor número de lados. Talvez seja o polí-
curvas MQ e QP representem semicircunferências de diâ- gono mais importante que existe. Todo triângulo possui
metros respectivamente iguais aos segmentos MQ e QP. alguns elementos e os principais são: vértices, lados, ân-
gulos, alturas, medianas e bissetrizes.
Apresentaremos agora alguns objetos com detalhes
sobre os mesmos.

A área sombreada, em cm2, corresponde a:


a) Vértices: A,B,C.
a) 30 b) Lados: AB,BC e AC.
b) 36 c) Ângulos internos: a, b e c.
c) 3 46π − 2
d) 6(36π − 1) Altura: É um segmento de reta traçada a partir de
e) 2(6π − 1) um vértice de forma a encontrar o lado oposto ao vértice
formando um ângulo reto. BH é uma altura do triângulo.

Resposta: Letra B. Aplicando a fórmula do segmen-


to circular, encontra-se a área de intersecção dos dois
círculos. Subtraindo esse valor da área do semicírculo,
chega-se ao resultado.

2. A figura abaixo é um losango. Determine o valor


de x e y, a medida da diagonal   AC , da diagonal   BD e
o perímetro do triângulo BMC.
Mediana: É o segmento que une um vértice ao ponto
médio do lado oposto. BM é uma mediana.

Bissetriz: É a semi-reta que divide um ângulo em


Resposta: Aplicando as relações geométricas referen- duas partes iguais. O ângulo B está dividido ao meio e
tes ao losango, tem-se: neste caso Ê = Ô.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

x = 15
y = 20
AC = 20 + 20 = 40
BD = 15 + 15 = 30
BMC = 15 + 20 + 25 = 60

Ângulo Interno: É formado por dois lados do triângu-


lo. Todo triângulo possui três ângulos internos.

57
Ângulo Externo: É formado por um dos lados do triân-
gulo e pelo prolongamento do lado adjacente (ao lado).

Triângulo Retângulo: Possui um ângulo interno reto


(90 graus). Atenção a esse tipo de triângulo pois ele é
muito cobrado!

Classificação dos triângulos quanto ao número de


lados

Triângulo Equilátero: Os três lados têm medidas


iguais. .
m(AB) = m(BC) = m(CA)

Medidas dos Ângulos de um Triângulo

Ângulos Internos: Consideremos o triângulo ABC. Po-


deremos identificar com as letras a, b e c as medidas dos
ângulos internos desse triângulo.

#FicaDica
Triângulo Isósceles: Dois lados têm medidas iguais.
m(AB) = m(AC). Em alguns locais escrevemos as letras maiús-
culas, acompanhadas de acento () para re-
presentar os ângulos.

Triângulo Escaleno: Todos os três lados têm medidas


diferentes.
Seguindo a regra dos polígonos, a soma dos ângu-
los internos de qualquer triângulo é sempre igual a 180
graus, isto é: a + b + c = 180°

Ex: Considerando
o triângulo abai-
xo, podemos achar o
valor de x, escrevendo:
70º + 60º + x = 180º e dessa forma, obtemos
2.1. Classificação dos triângulos quanto às medi- x = 180º − 70º − 60º = 50º
das dos ângulos

Triângulo Acutângulo: Todos os ângulos internos


MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

são agudos, isto é, as medidas dos ângulos são menores


do que 90º.
Ângulos Externos: Consideremos o triângulo ABC.
Como observamos no desenho, as letras minúsculas
representam os ângulos internos e as respectivas letras
maiúsculas os ângulos externos.

Triângulo Obtusângulo: Um ângulo interno é obtu-


so, isto é, possui um ângulo com medida maior do que
90º.

58
Todo ângulo externo de um triângulo é igual à soma
dos dois ângulos internos não adjacentes a esse ângulo
externo. Assim: A = b + c, B = a + c, C = a + b

Ex: No triângulo desenhado, podemos achar


a medida do ângulo externo x, escrevendo:
x = 50º + 80º = 130°.

LAL (Lado, Ângulo, Lado): Dados dois lados e um


ângulo. Dois triângulos são congruentes quando têm
dois lados congruentes e os ângulos formados por eles
também são congruentes.

Congruência de Triângulos

Duas figuras planas são congruentes quando têm a


mesma forma e as mesmas dimensões, isto é, o mesmo
tamanho. Para escrever que dois triângulos ABC e DEF
são congruentes, usaremos a notação: ABC ~ DEF
ALA (Ângulo, Lado, Ângulo): Dados dois ângulos e
Para os triângulos das figuras abaixo, existe a congruên- um lado. Dois triângulos são congruentes quando têm
cia entre os lados, tal que: AB ~ RS, BC ~ ST, CA ~ T e um lado e dois ângulos adjacentes a esse lado, respecti-
entre os ângulos: vamente, congruentes.

Se o triângulo ABC é congruente ao triângulo RST,


escrevemos: A�~R � , B� ~ S� , C� ~ �T LAAo (Lado, Ângulo, Ângulo oposto): Conhecido
um lado, um ângulo e um ângulo oposto ao lado. Dois
triângulos são congruentes quando têm um lado, um ân-
FIQUE ATENTO! gulo, um ângulo adjacente e um ângulo oposto a esse
Dois triângulos são congruentes, se os lado respectivamente congruente.
seus elementos correspondentes são
ordenadamente congruentes, isto é, os três
lados e os três ângulos de cada triângulo
têm respectivamente as mesmas medidas.
Deste modo, para verificar se um triângulo
é congruente a outro, não é necessário
saber a medida de todos os seis elementos,
basta conhecerem três elementos, entre os
quais esteja presente pelo menos um lado.
Para facilitar o estudo, indicaremos os lados Semelhança de Triângulos
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

correspondentes congruentes marcados


com símbolos gráficos iguais. Duas figuras são semelhantes quando têm a mesma
forma, mas não necessariamente o mesmo tamanho. Se
duas figuras R e S são semelhantes, denotamos:
Casos de Congruência de Triângulos
Ex: As ampliações e as reduções fotográficas são figu-
LLL (Lado, Lado, Lado): Os três lados são conheci- ras semelhantes. Para os triângulos:
dos. Dois triângulos são congruentes quando têm, res-
pectivamente, os três lados congruentes. Observe que os
elementos congruentes têm a mesma marca.

59
Os três ângulos são respectivamente congruentes, isto é: A~R, B~S, C~T

Casos de Semelhança de Triângulos

Dois ângulos congruentes: Se dois triângulos tem dois ângulos correspondentes congruentes, então os triângulos
são semelhantes.

Se A~D e C~F então: ABC =


� DEF

Dois lados proporcionais: Se dois triângulos tem dois lados correspondentes proporcionais e os ângulos formados
por esses lados também são congruentes, então os triângulos são semelhantes.

Como m(AB) ⁄ m(EF) = m(BC) ⁄ m(FG) = 2 ,

então ABC =
� EFG
Ex: Na figura abaixo, observamos que um triângulo pode ser “rodado” sobre o outro para gerar dois triângulos
semelhantes e o valor de x será igual a 8.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Três lados proporcionais: Se dois triângulos têm os três lados correspondentes proporcionais, então os triângulos
são semelhantes.

60
Teorema de Pitágoras

Dizem que Pitágoras, filósofo e matemático grego que viveu na cidade de Samos no século VI a. C., teve a intuição
do seu famoso teorema observando um mosaico como o da ilustração a seguir.

Observando o quadro, podemos estabelecer a seguinte tabela:

Triângulo ABC Triângulo A`B`C` Triângulo A``B``C``


Área do quadrado construído sobre a hipotenusa 4 8 16
Área do quadrado construído sobre um cateto 2 4 8
Área do quadrado construído sobre o outro cateto 2 4 9

Como 4 = 2 + 2 � 8 = 4 + 4 � 16 = 8 + 8 , Pitágoras observou que a área do quadrado construído sobre


a hipotenusa é igual à soma das áreas dos quadrados construídos sobre os catetos.

A descoberta feita por Pitágoras estava restrita a um triângulo particular: o triângulo retângulo isósceles. Estudos
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

realizados posteriormente permitiram provar que a relação métrica descoberta por Pitágoras era válida para todos os
triângulos retângulos. Os lados do triângulo retângulo são identificados a partir a figura a seguir:

61
Onde os catetos são os segmentos que formam o No triângulo equilátero, a altura e a mediana coin-
ângulo de 90° e a hipotenusa é o lado oposto a esse cidem. Logo, é ponto médio do lado BC. No triângulo
ângulo. Chamando de “a” e “b” as medidas dos catetos e retângulo AHC, é ângulo reto. De acordo com o teorema
“c” a medida da hipotenusa, define-se um dos teoremas de Pitágoras, podemos escrever:
mais conhecidos da matemática, o Teorema de Pitágoras:
c 2 = a2 + b2

Onde a soma das medidas dos quadrados dos catetos


é igual ao quadrado da hipotenusa.

Teorema de Pitágoras no quadrado

Aplicando o teorema de Pitágoras, podemos estabe-


lecer uma relação importante entre a medida d da diago- 3l2
nal e a medida l do lado de um quadrado. h² =
4

l 3
h=
2

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(TJ-SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – VU-


NESP/2017) A figura seguinte, cujas dimensões estão
d= medida da diagonal indicadas em metros, mostra as regiões   R e R , e ,
l= medida do lado ambas com formato de triângulos retângulos, situadas
1 2

em uma praça e destinadas a atividades de recreação in-


Aplicando o teorema de Pitágoras no triângulo retân- fantil para faixas etárias distintas.
gulo ABC, temos:

d² = l² + l²
d = √2l²
d=l 2

Teorema de Pitágoras no triângulo equilátero

Aplicando o teorema de Pitágoras, podemos estabe-


lecer uma relação importante entre a medida h da altura
e a medida l do lado de um triângulo equilátero.

Se a área de R eé R
54 ,m², então o perímetro
R1de
e R 2 , é, em
metros, igual a:
1 2

a) 54
b) 48
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

c) 36
d) 40
e) 42

Resposta: Letra B. Esse problema se resolve tanto por


semelhança de triângulos, quanto pela área de . Em
ambos os casos, encontraremos x = 12 m. Após isso,
pelo teorema de Pitágoras, achamos a hipotenusa do
triângulo
R1 e R 2 , , que será 20 m. Assim, o perímetro será
l= medida do lado 12+16+20 = 48 m.
h= medida da altura

62
2. (PM SP 2014 – VUNESP).  Duas estacas de madei-
ra, perpendiculares ao solo e de alturas diferentes, estão a b c
distantes uma da outra, 1,5 m. Será colocada entre elas = = = 2R
� sen B
sen A � sen C�
uma outra estaca de 1,7 m de comprimento, que ficará
apoiada nos pontos A e B, conforme mostra a figura.
Lei dos Cossenos

A lei dos cossenos é considerada uma generalização


do teorema de Pitágoras, onde para qualquer triângulo,
conseguimos relacionar seus lados com a subtração de
um termo que possui o ângulo oposto do lado de refe-
rência.

A diferença entre a altura da maior estaca e a altura da


menor estaca, nessa ordem, em cm, é:

a2 = b2 + c 2 − 2 � b � c � cos A
a) 95.
b) 75. 2 2 2
b = a + c − 2 � a � c � cos B �
c) 85. c = a + b − 2 � a � b � cos C�
2 2 2
d) 80.
e) 90.

Resposta: Letra D. Note que x é exatamente a dife- FIQUE ATENTO!


rença que queremos, e podemos calculá-lo através do Há três formas distintas de utilizar a Lei dos
Teorema de Pitágoras: Cossenos. Quando for utilizá-la, tenha cui-
dado ao expressar os termos conhecidos e a
1,72 = 1,52 + x 2 incógnita em uma das três equações propos-
2,89 = 2,25 + x 2 tas. Note que o termo à esquerda do sinal de
igual é o lado oposto ao ângulo que deve
x 2 = 2,89 – 2,25
aparecer na equação.
x² = 0,64x = 0,8 m ou 80 cm

LEI DOS SENOS E LEI DOS COSSENOS

Lei dos Senos EXERCÍCIOS COMENTADOS

A Lei dos senos relaciona os senos dos ângulos de 1. Calcule a medida de x:


um triângulo qualquer (não precisa necessariamente ser
retângulo) com os seus respectivos lados opostos. Além
disso, há uma relação direta com o raio da circunferência
circunscrita neste triângulo:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Resposta: Aplicando a lei dos senos, lembrando que


temos que aplicar ao ângulo oposto ao lado que ire-
mos usar. Assim, o lado de medida 100 possui o ângu-
lo A
� como oposto, e ele mede 30°, dado as medidas
dos outros ângulos, assim:

63
A grande diferença do ser humano em relação aos
x 100
= outros seres vivos está nesse ponto, pois tão importante
sen 45° sen 30° é o ato se interpretar uma informação quanto é elaborar
a mesma. Assim, nossa mente é capaz de receber dados
x 100 e deles extrair uma conclusão. Essa habilidade está dire-
= tamente ligada ao raciocínio lógico.
2/2 1/2 Muitos pensam que essa disciplina está voltada ape-
nas para as pessoas de “exatas”, mas ela é voltada para
x = 100 2 o público em geral e aqui seguem alguns exemplos que
provam nosso conceito:
- Um advogado reúne todas as informações dos au-
2.Calcule a medida de x: tos do processo e através do Raciocínio Lógico,
elabora sua tese de acusação ou defesa;
- Um médico ao estudar todos os exames consegue a
partir de raciocínio lógico, elaborar um diagnostico
e propor um tratamento;
- Um CEO de uma empresa, através dos relatórios
mensais consegue definir o plano de ação para es-
timular o crescimento da companhia.

Todos os exemplos acima mostram como será o estu-


do da disciplina, onde receberemos informações e delas
extrairemos respostas ou em outras palavras, conclusões.
Resposta: Aplicando a lei dos senos, lembrando que No Raciocínio Lógico, essas informações terão uma
ela se relaciona com a circunferência circunscrita ao particularidade: Elas sempre serão declarações onde po-
triângulo: deremos classificá-las de duas maneiras, VERDADEIRA ou
FALSA. Essas declarações serão chamadas de PROPOSI-
ÇÕES.
x As proposições são a base do pensamento lógico.
= 2R
sen 60° Este pensamento pode ser composto por uma ou mais
sentenças lógicas, formando uma idéia mais complexa.
x É importante ressaltar que objetivo fundamental de uma
=2 3 proposição é transmitir uma tese, que afirmam fatos ou
3/2 juízos que formamos a respeito das coisas.
Sabendo disso, uma questão importante tem que ser
respondida: como realmente podemos identificar uma
x=3
proposição? A única técnica direta que temos é verificar
se podemos atribuir o valor de verdadeiro ou falso a elas.
Entretanto, existe uma técnica indireta que facilita muito
RACIOCÍNIO LÓGICO: ESTRUTURAS o trabalho de identificação de uma proposição e é fre-
LÓGICAS, LÓGICAS DE ARGUMENTAÇÃO, quentemente cobrada em concursos públicos.
DIAGRAMAS LÓGICOS, SEQUÊNCIAS A técnica consiste em sabermos o que não é propo-
sição e por eliminação, achar a proposição. A seguir, se-
guem exemplos do que não é proposição e a recomen-
Conceito Fundamental: A Preposição dação é que se memorizem esses tipos para facilitar na
hora da prova:
No ensino fundamental, nos ensinam que os seres
humanos são diferentes dos outros animais e a justifica- i.) Sentenças Imperativas: Todas as declarações que
tiva é que os humanos pensam e os animais não pensam. remeterem a uma ordem não são proposições.
Porém, temos animais com inteligência suficiente para Ex: “Apague a luz.”, “Observe aquele painel”, “Não faça
serem treinados a executar tarefas, como os chimpanzés isso”.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

e os golfinhos. Assim, qual é o real motivo que nos dife-


renciam de todos os outros seres vivos? ii.) Sentenças Interrogativas: Perguntas não são defi-
A resposta envolve não somente o ato se pensar nidas como proposições:
como também o de se comunicar. Primeiro, aprendemos Ex: “Olá, tudo bem?”, “Qual a raiz quadrada de 5?”,
a falar, depois, a escrita dividiu nossa existência em Pré- “Onde está minha carteira?”
-História e História. Os registros por escrito guardaram os
pensamentos de nossos antepassados, proporcionando iii.) Sentenças Exclamativas:
as gerações futuras, dados importantíssimos para se ir Ex: “Como o dia está lindo!”, “Isto é um absurdo!”,
além daquilo que já foi feito. “Não concordo com isto!”
Porém, acabou surgindo o grande desafio que nor-
teou a disciplina de lógica: Como interpretar esses re- iv.) Sentenças que não tem verbo: 
gistros? Ex: “A bicicleta de Bruno”, “O cartão de João”.

64
v.) Sentenças abertas: Este tipo de sentença possui alfabeto (p,q,r,s,...). Uma definição equivalente é de uma
uma grande quantidade de exemplos e os exem- proposição que não se consegue dividi-la em partes
plos são importantes para sabermos identifica-las: menores, de tal maneira que as partes divididas gerem
Ex: “x é menor que 7 ou x < 7” – Essa expressão por novas proposições.
si só é genérica pois não temos informações de x Exemplos:
para saber se ele é ou não menor que 7.Entretanto, p – O rato comeu o queijo;
caso seja atribuído um valor a x, essa sentença se q – Astolfo é advogado;
tornará uma proposição, pois será possível atribuir r – Hermenegildo gosta de pizza;
VERDADEIRO ou FALSO a sentença original. Assim, s – Raimunda adora samba.
a expressão “Para x=5, tem-se que: 5 é menor que
7” é uma proposição e é VERDADEIRA. Por outro Já as proposições compostas são formadas por
lado, “Para x=9, tem-se que: 9 é menor que 7” é uma ou mais proposições que podem ser divididas,
uma proposição mas é FALSA. formando proposições simples. São, geralmente,
Ex: “z é a capital da França” – As sentenças abertas
designadas por letras maiúsculas do alfabeto (P,-
não necessariamente são números, como mostra
Q,R,S,...).Exemplos:
o exemplo. Se substituirmos “z” por “Toulouse”, a
P – O rato é branco e comeu o queijo;
sentença virará proposição e será FALSA. Se z = Pa-
Q – Astolfo é advogado e gosta de jogar futebol;
ris, a proposição será VERDADEIRA.
R – Hermenegildo gosta de pizza e de suco de uva;
Valores Lógicos das proposições – Leis de Pensa- S – Raimunda adora samba e seu tênis é vermelho.
mento
Veja que as proposições acima podem ser divididas
Definido o que é preposição, podemos aprofundar em duas partes. Observe:
o conceito apresentando as leis fundamentais (axiomas)
que norteiam a lógica:

1) Princípio do Terceiro Excluído: “Toda proposição


ou é verdadeira ou é falsa, isto é, verifica-se sempre
um destes casos e nunca um terceiro”.
Pode parecer óbvio, mas às vezes as pessoas se con-
fundem em questões de concursos públicos quan-
do aparecem as alternativas “VERDADEIRO”, “FAL-
SO” ou “NENHUMA DAS ANTERIORES”. Qualquer
proposição lógica será verdadeira ou falsa, não
existe uma terceira opção. As sentenças compostas dos exemplos acima não
são ligadas apenas pela conjunção “e”, podem ser li-
2) Principio da identidade: “Se uma proposição é gadas por outros CONECTORES LÓGICOS (Capítulo 2).
verdadeira, então todo objeto idêntico a ela tam- Seguem alguns exemplos para iniciar sua curiosidade
bém será verdadeiro”. pelo próximo capítulo:
Esse principio coloca que se duas proposições que T – Osmar tem uma moto OU Tainá tem um carro.
apresentam a mesma informação mas são escritas U – SE Kléber é asiático ENTÃO eu sou brasileiro.
de maneiras distintas, devem possuir o mesmo va-
lor lógico. Por exemplo, “Bruno é 5 anos mais velho
que João” e “João é 5 anos mais novo que Bruno”.
As duas proposições dizem a mesma coisa mas de FIQUE ATENTO!
maneira diferente. Portanto se uma delas é verda- As proposições compostas irão nortear
deira, a outra deve ser. seus estudos nos próximos capítulos, então
atente-se a saber como dividir as proposi-
3) Princípio da não contradição: “Uma proposição ções compostas em duas ou mais proposi-
não pode ser verdadeira ou falsa ao mesmo tem- ções simples!
po”
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Esse axioma é importante, pois a partir do momen-


to em uma proposição recebe um valor lógico, ele CONECTIVOS LÓGICOS
deve ser carregado em toda a análise para evitar
contradições. Como visto rapidamente no capítulo anterior, os
conectivos lógicos são estruturas usadas para formar
Tipos de proposições proposições compostas a partir da junção de proposi-
ções simples. As proposições compostas são linhas de
Existem dois tipos de proposições: Simples e Com- raciocínio mais complexas e permitem se formular te-
postas ses lógicas com vários níveis de pensamento. Observe o
As proposições simples são aquelas que não contêm exemplo a seguir:
nenhuma outra proposição como parte de si mesma. “Otávio gosta de jogar futebol e seu irmão não gos-
São, geralmente, designadas por letras minúsculas do ta de jogar futebol”

65
Facilmente conseguimos separar essa sentença em
FIQUE ATENTO!
duas: “Otávio gosta de jogar futebol” e “O irmão de
Otávio não gosta de jogar futebol”. Entretanto, ao in- No Raciocínio Lógico, pode-se existir a
vés de tratarmos as duas proposições simples separada- “negação da negação” que chamaremos de
mente, ligamos as mesmas com a palavrinha “e”, que é Dupla Negação e veremos isso mais adian-
um dos conectores lógicos que iremos estudar a seguir. te no capítulo 4. O que você precisa saber
Logo, com esse vínculo, poderemos estudar se a neste momento é que negando uma nega-
proposição composta é inteiramente verdadeira ou in- ção, voltaremos a uma frase afirmativa, ou
teiramente falsa, dependendo do valor lógico de cada na linguagem coloquial: “O não do não é
proposição simples, ou seja, cada proposição simples in- o sim”.
terfere no valor a ser atribuído na proposição composta.
As seções a seguir irão estudar os cinco conectivos A CONJUNÇÃO – Conectivo “e”
lógicos, apresentando suas características principais e as
combinações possíveis entre duas proposições simples. O próximo conectivo lógico certamente é um dos mais
usados dentro do raciocínio lógico e é também um dos
A Negação – Conectivo “Não” mais conhecidos. O “e” também é chamado de conjunção e
segue a mesma classificação da própria língua portuguesa.
O primeiro conectivo a ser estudado é o mais sim- Diferentemente do conectivo “não”, a conjunção irá
ples de todos e remete a negação de uma proposição. relacionar duas proposições simples, formando uma pro-
A importância deste conectivo se dá na ligação entre o posição composta. Vamos ao exemplo:
valor lógico VERDADEIRO e o valor lógico FALSO pois p : Carlos gosta de jogar badminton.
a negação de um valor lógico será exatamente o outro q : Pablo tomou suco de maçã
valor lógico, ou seja:
i) Se uma proposição for VERDADEIRA, sua negação Temos acima duas proposições simples e podemos
será FALSA. formar uma proposição composta usando o conectivo “e”:
ii) Se uma proposição for FALSA, sua negação será 𝑹 = 𝒑 ∧ 𝒒 : Carlos gosta de jogar badminton e Pablo
VERDADEIRA. tomou suco de maçã.

Aqui conseguimos observar a importância do “Prin- Seguindo as definições do capítulo 1, a proposição


cípio do terceiro excluído”, explicado no capítulo 1. Se composta será indicada com uma letra maiúscula, neste
tivéssemos mais do que dois valores lógicos, a negação caso, R. O símbolo
𝑹 = 𝒑 ∧ 𝒒indica a conjunção, ou seja, quando
se tornaria impossível pois não conseguiríamos criar um ele aparecer, estaremos usando o conectivo “e”.
vínculo de “ida e volta” entre os valores lógicos. Se invertermos a ordem das proposições simples, for-
O conectivo NÃO possui dois símbolos e recomenda- maremos outra proposição composta:
-se que o leitor conheça ambos pois as bancas de con- 𝑺 = 𝒒 ∧ 𝒑 : Pablo tomou suco de maçã e Carlos gosta
cursos não possuem um padrão em qual símbolo usar. de jogar badminton.
Observe o exemplo a seguir:
p : A secretária foi ao banco esta tarde. No caso da conjunção, o valor lógico da proposição
composta não se altera com a inversão das proposições
O exemplo acima já usa os conceitos vistos no capí- simples, mas outros conectivos que veremos a seguir po-
tulo 1, onde temos uma proposição simples e chamare- dem ter alterações dependendo da ordem das proposi-
mos essa proposição com uma letra minúscula “p” (Lê- ções simples.
-se “proposição p”). Vamos agora negar essa proposição Vamos agora analisar quais os valores lógicos possí-
usando os dois símbolos possíveis: veis para uma proposição composta formada pelo co-
~ p : A secretária não foi ao banco esta tarde. nectivo “e”. No capítulo 3 aprenderemos sobre as tabe-
¬ p : A secretária não foi ao banco esta tarde. las-verdade e elas ajudarão (e muito!) na memorização
das combinações possíveis dos conectivos lógicos. Por
Os símbolos “~” e “¬” são os símbolos que indicam enquanto, vamos enumerar todos os casos para familia-
negação. É Importante frisar que os símbolos de nega- rização:
ção não indicam a presença da palavra “não” na frase. i) Uma proposição composta formada por uma con-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Observe este outro exemplo: junção será VERDADEIRA se todas as proposições


q : Bráulio não comprou detergente simples forem VERDADEIRAS.
ii) Uma proposição composta formada por uma con-
Observe que a proposição q possui a palavra “não” e junção será FALSA se uma ou mais proposições
quando negarmos a mesma, ficaremos com a frase afir- simples forem FALSAS.
mativa:
~ q : Bráulio comprou detergente. Recuperando o exemplo anterior:
¬ q : Bráulio comprou detergente. 𝑹 = 𝒑 ∧ 𝒒 : Carlos gosta de jogar badminton e Pablo
tomou suco de maçã.
Termos que R será VERDADEIRO somente se p e q
forem VERDADEIROS. Se uma (ou as duas) proposições
simples for (forem) falsa(s), R será FALSO.

66
A DISJUNÇÃO – Conectivo “OU” A DISJUNÇÃO exclusiva – Conectivo “OU exclusivo”

O conectivo “ou”, também conhecido como disjun- O conectivo “ou” possui um caso particular que nor-
ção, segue a mesma linha de pensamento que o conec- malmente é cobrado em concursos públicos de maior
tivo “e”, relacionando duas proposições simples, forman- complexidade, porém é importante que o leitor tenha
do uma proposição composta. Vamos manter o exemplo conhecimento do mesmo pois pode se tornar um dife-
da seção anterior: rencial importante em concursos públicos de maior dis-
p : Carlos gosta de jogar badminton. puta.
q : Pablo tomou suco de maçã Este caso particular é chamado de “ou exclusivo” pois
implica que as proposições simples são eliminatórias, ou
Temos acima duas proposições simples e vamos for- seja, quando uma delas for VERDADEIRA, a outra será
mar agora uma proposição composta usando o conec- necessariamente FALSA. Veja o exemplo:
tivo “ou”: p: Diego nasceu no Brasil
𝑹 = 𝒑 ∨ 𝒒 : Carlos gosta de jogar badminton ou Pablo q: Diego nasceu na Argentina
tomou suco de maçã.
Temos duas proposições referentes a nacionalidade
O símbolo
𝑹 = 𝒑 ∨ 𝒒indica a disjunção, ou seja, quando ele de Diego. Fica claro que ele não pode ter nascido em
aparecer, estaremos usando o conectivo “ou”. Observe dois locais diferentes, ou seja, se p for VERDADEIRO, q
que ele é o símbolo do conectivo “e” invertido, então, é necessariamente FALSO e vice-versa. Assim, quando
muita atenção na hora de identificar um ou o outro. montarmos a disjunção, temos que indicar essa questão
Se invertermos a ordem das proposições simples, e será feito da seguinte forma:
𝑹 = 𝒑 ∨ 𝒒 : Ou Diego nasceu no Brasil ou na Argen-
formaremos outra proposição composta:
𝑺 = 𝒒 ∨ 𝒑 : Pablo tomou suco de maçã ou Carlos tina
gosta de jogar badminton.
A leitura da proposição lógica acrescente mais um
No caso da disjunção, o valor lógico da proposição “ou” no início e o restante é como se fosse um operador
“ou” convencional (que para diferenciar, é chamado de
composta também não se altera com a inversão das pro-
inclusivo), porém, o símbolo é sublinhado para indicar
posições simples (igual a conjunção).
exclusividade:
𝑹=𝒑∨𝒒 . Os casos possíveis para o “ou exclu-
Vamos agora analisar quais os valores lógicos possí-
sivo” são:
veis para uma proposição composta formada pelo co-
i) Uma proposição composta formada por uma dis-
nectivo “ou”. Novamente vale lembrar que no capítulo 3
junção exclusiva será VERDADEIRA se apenas uma
aprenderemos sobre as tabelas-verdade e elas ajudarão
das proposições for VERDADEIRA.
(e muito!) na memorização das combinações possíveis
ii) Uma proposição composta formada por uma dis-
dos conectivos lógicos. Por enquanto, vamos enumerar
junção exclusiva será FALSA se todas as proposi-
todos os casos para familiarização: ções simples forem FALSAS ou se as duas proposi-
i) Uma proposição composta formada por uma dis- ções forem VERDADEIRAS.
junção será VERDADEIRA se uma ou mais proposi-
ções forem VERDADEIRAS. Perceba que a diferença é sutil entre os casos inclusi-
ii) Uma proposição composta formada por uma dis- vo e exclusivo e ela se dá no caso das duas proposições
junção será FALSA se todas as proposições simples simples serem VERDADEIRAS. No caso exclusivo, isso é
forem FALSAS. uma contradição e assim a proposição composta deve
ser FALSA. Usando o exemplo:
Comparando com a conjunção, observa-se que hou- 𝑹 = 𝒑 ∨ 𝒒 : Ou Diego nasceu no Brasil ou na Argentina
ve uma certa “inversão” em relação as combinações das
proposições simples. Enquanto na conjunção precisá- Temos que R é VERDADEIRO se p for VERDADEIRO e
vamos de todas as proposições simples VERDADEIRAS q FALSO ou p FALSO e q VERDADEIRO. R é FALSO se p e
para que a proposição composta ser VERDADEIRA, no q forem ambas VERDADEIRAS ou ambas FALSAS.
operador “ou” precisamos de apenas 1 delas para tornar
a proposição composta VERDADEIRA. A CONDICIONAL – Conectivo “SE...ENTÃO”
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

No caso do valor lógico FALSO também há inversão,


onde no conectivo “e” basta 1 proposição simples ser O conectivo “Se...então”, conhecido como condicional
FALSA e na disjunção, precisamos de todas FALSAS. não é tão conhecido quanto o “e” e o “ou”, porém é o
que normalmente gera mais dúvidas e o que contém as
Assim: famosas “pegadinhas” que confundem o candidato du-
𝑹 = 𝒑 ∨ 𝒒 : Carlos gosta de jogar badminton ou Pablo rante a prova. A principal característica dele é que se você
tomou suco de maçã. inverter a ordem das proposições simples, o valor lógi-
Termos que R será VERDADEIRO se uma (ou as duas) co da proposição composta muda, o que não acontecia
proposição (ões) sejam VERDADEIRAS e R será FALSO se na conjunção e na disjunção. Vamos recuperar o mesmo
p e q forem FALSOS. exemplo das seções 2.2.3 e 2.2.4:
p : Carlos gosta de jogar badminton.
q : Pablo tomou suco de maçã

67
Temos acima duas proposições simples e vamos for- Exemplo:
mar agora uma proposição composta usando o conecti-
vo “Se...então”:
𝑹 = 𝒑 → 𝒒 : Se Carlos gosta de jogar badminton en-
tão Pablo tomou suco de maçã.

Observe que agora temos uma condição para que ii) Falácia de afirmar o consequente: Pode-se dizer
Pablo tome o suco de maçã. A frase em si pode parecer que é a pegadinha mais clássica da condicional
sem nexo, mas no Raciocínio Lógico nem sempre fará pois induz a pessoa a considerar que se o conse-
sentido a conexão de duas proposições e até por isso quente ocorreu (q), pode-se afirmar que o antece-
nós montamos esses exemplos para o leitor ficar mais dente (p) também ocorreu:
familiarizado com essa situação! Esse raciocínio está INCORRETO. Para justificar, lem-
O símbolo
𝑹 = 𝒑“ → ”𝒒 indica a condicional, mostrando que bre-se dos casos em que a condicional é VERDADEIRA.
a proposição da esquerda condiciona o acontecimento Em um desses casos, se o antecedente (p) for FALSO, não
da proposição da direita. As combinações possíveis para importa o valor lógico de q, a proposição com condicio-
esse conector são: nal será VERDADEIRA. Assim, se q ocorrer não é garantia
i) Uma proposição composta formada por uma condi- que p também ocorreu:
cional será VERDADEIRA se ambas as proposições
forem VERDADEIRAS ou a proposição a esquerda
do conector for FALSA.
ii) Uma proposição composta formada por uma condi-
cional será FALSA se a proposição a esquerda (ante-
cedente) do conector for VERDADEIRA e a proposi- iii) Modus Tollens: Nessa linha de raciocínio, estamos
ção a direita (consequente) do conector for FALSA. negando que o consequente (q) ocorreu e se olhar-
mos os casos possíveis da condicional, isso só será
Observe agora que a posição da proposição em rela- possível se o antecedente (p) também não ocorrer:
ção ao conector lógico importa no resultado da proposi-
ção composta. Considerando os casos observados, certa-
mente deve haver dúvidas do leitor em relação a situação
onde a proposição a esquerda do conector ser falsa e
isso implicar que a proposição composta seja verdadeira.
A explicação é a seguinte: Na condicional, limitamos Exemplo:
apenas ao caso da proposição da esquerda do conector
em si e não em relação a sua negação, ou seja, quando
montamos 𝑹 = 𝒑 → 𝒒 , estamos condicionando apenas ao
caso de p ocorrer, ou em outras palavras, p ser VERDA-
DEIRO. Se p for FALSO, não há nenhuma condição para
q, ou seja, não importa o que acontecer com q, já que p iv) Falácia de negar o antecedente: Novamente um
não é VERDADEIRO. Assim, define-se
𝑹 = 𝒑 → 𝒒 sempre VER- erro de pensamento referente aos casos possí-
DADEIRO quando p for FALSO. Logo: veis da condicional. Se você nega o antecedente
𝑹 = 𝒑 → 𝒒 : Se Carlos gosta de jogar badminton en- (p) não é garantia que o consequente (q) não irá
tão Pablo tomou suco de maçã. ocorrer pois a partir do momento que temos ~p, o
valor lógico de q pode ser qualquer um e a condi-
Temos R VERDADEIRO se p for FALSO ou se p for cional se manterá VERDADEIRA:
VERDADEIRO e q VERDADEIRO e R é FALSO apenas se p
for VERDADEIRO e q FALSO.

Pegadinhas da condicional

Este tópico é uma análise complementar da condi- Exemplo:


cional. Em concursos mais apurados, sobretudo de en-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

sino superior, existem certas “pegadinhas” que testam a


atenção do candidato em relação ao seu conhecimento.
Existem quatro formas de raciocínio que envolvem a con-
dicional que merecem destaque.
i) Modus Ponens: Essa linha de raciocínio é o básico FIQUE ATENTO!
da condicional onde considera a mesma VERDA-
DEIRA e no caso da ocorrência de p, podemos afir- As pegadinhas da condicional nem sempre
mar com certeza que q ocorreu: são cobradas em concursos mas se você
observar os exercícios resolvidos deste ca-
pítulo, verá o quanto é importante este co-
nector lógico e o conhecimento de todos
os casos possíveis.

68
A BI-CONDICIONAL – Conectivo “SE E SOMENTE SE” A segunda informação, que é o número de linhas da ta-
bela verdade, deriva do número de proposições simples que
O conectivo “Se e somente se”, conhecido como bi a estrutura composta possui. Usando essa conta simples:
condicional elimina justamente o limitante da condicio-
nal de não ser possível inverter a ordem das proposições 𝐿 = 2𝑛
sem perder o valor lógico da proposição composta. Ago-
ra, os dois valores lógicos serão limitantes, tanto se a Onde L é o número de linhas da tabela-verdade e n
proposição a esquerda do conector for VERDADEIRA ou é o número de proposições simples que ela possui. Ou
FALSA. Novamente vamos ao mesmo exemplo: seja, para duas proposições simples, temos 4 linhas na
p : Carlos gosta de jogar badminton. tabela-verdade, para 3 proposições simples, 8 linhas na
q : Pablo tomou suco de maçã tabela e para 4 proposições simples, a tabela possui 16
linhas. Além disso, para o caso de uma proposição sim-
Temos acima duas proposições simples e vamos for- ples, pode-se aplicar a fórmula também, e teremos duas
mar agora uma proposição composta usando o conecti- linhas na tabela-verdade.
vo “Se e somente se”: Esses valores são derivados da organização da tabe-
𝑹 = 𝒑 ↔ 𝒒 : Carlos gosta de jogar badminton se e la, para que tenhamos todos os casos possíveis avalia-
somente se Pablo tomou suco de maçã. dos. Com essa informação, podemos organizar a tabela
e isso será apresentado caso a caso nas seções seguin-
O símbolo
𝑹=𝒑↔𝒒 indica a bi condicional, ou seja, os dois tes.
sentidos devem ser satisfeitos. Em outras palavras, a bi
condicional será VERDADEIRA apenas se os valores lógi- TABELA-VERDADE DE PROPOSIÇÃO SIMPLES:
cos das duas proposições forem iguais: NEGAÇÃO
i) Uma proposição composta formada por uma bi
condicional será VERDADEIRA se ambas as propo- Nós iremos seguir a ordem do capítulo anterior e
sições forem VERDADEIRAS ou se ambas as propo-
apresentar a montagem das tabelas-verdade para os
sições forem FALSAS.
operadores lógicos descritos. Inicia-se pele negação,
ii) Uma proposição composta formada por uma bi
que é uma proposição simples e terá apenas duas linhas
condicional será FALSA se uma proposição for
na tabela-verdade:
VERDADEIRA e outra for FALSA e vice-versa.

Assim: p ~p
𝑹 = 𝒑 ↔ 𝒒 : Carlos gosta de jogar badminton se e V F
somente se Pablo tomou suco de maçã.
A proposição R será VERDADEIRA se p e q forem VER- F V
DADEIROS ou p e q forem FALSOS e R será FALSO se p for
VERDADEIRO e q FALSO ou p FALSO e q VERDADEIRO. Observe que a tabela possui duas colunas. A primei-
ra contém os valores possíveis para a proposição sim-
TABELAS VERDADE ples, que pela fundamentação da lógica, é o VERDADEI-
RO (V) e o FALSO (F).
A tabela-verdade é um dispositivo prático muito usa- Já a segunda coluna possui o operador lógico ne-
do para a organizar os valores lógicos de proposições gação. O operador foi aplicado em casa linha da tabela,
compostas pois ela ilustra todos os possíveis valores ló- gerando o resultado correspondente. Ou seja, se a pro-
gicos da estrutura composta, correspondentes a todas as posição p é V, sua negação será F e vice-versa.
possíveis atribuições de valores lógicos às proposições É importante frisar que as operações da tabela-ver-
simples. dade ocorrem de linha em linha, ou seja, se na primeira
Para se construir uma tabela verdade, são necessá- linha temos que a proposição p é V, esse valor perma-
rias três informações iniciais: O número de proposições necerá assim até que todas as operações daquela linha
que compõem a proposição composta, o número de correspondente tenham terminado.
linhas que a tabela-verdade irá ter e a variação dos va-
lores lógicos. TABELA-VERDADE PARA 2 PROPOSIÇÕES SIMPLES
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

A primeira informação é puramente visual, basta olhar


a proposição composta e verificar quantas proposições Chegamos as seções onde a tabela-verdade fará
simples a compõem, contando a quantidade de letras mais sentido, pois ela é aplicada em proposições com-
distintas que existem nela, vejam os exemplos: postas. Iniciando com uma estrutura de duas proposi-
𝒑 ∧ 𝒒 : Temos as proposições simples p e q, ou seja, a ções simples, vamos primeiramente explicar a organiza-
proposição composta possui duas proposições; ção destas proposições.
(𝒑 ∧ 𝒒) → (~𝒒 ↔ 𝒑) : Esta estrutura possui duas pro- Como já sabemos que são duas proposições sim-
posições simples também, p e q. Não se deve considerar ples, que chamaremos de p e q, temos que a tabela-ver-
a repetição das proposições que no caso de p e q, repe- dade terá quatro linhas:
tiram duas vezes;
𝒓 ↔ (𝒑 ∨ 𝒒) : Neste caso, com a presença da propo-
sição r, temos três proposições simples distintas, p,q e r.

69
p q p q
V V
V F
F V
F F

No caso da conjunção, temos que ela é VERDADEIRA


FIQUE ATENTO! apenas se as duas proposições compostas, p e q, forem
Observe que além das linhas correspon- VERDADEIRAS, caso contrário, ela será FALSA. Usando
dentes da tabela-verdade, nós inserimos essa informação, vamos preencher a tabela:
uma linha inicial indicando qual a proposi- Na primeira linha, temos que p é VERDADEIRO e q é
ção que estamos atribuindo o valor lógico. VERDADEIRO, logo, a conjunção nesse caso será VERDA-
Isso é de suma importância para se domi- DEIRA por definição:
nar esse conteúdo.
p q
Agora temos que combinar os dois valores lógicos V V V
possíveis entre as proposições, formando as quatro li-
V F
nhas. Para isso, recomenda-se que sigam os seguintes
passos: F V
F F
i) Na coluna da primeira proposição, atribua o valor
de V para a primeira metade das linhas e F para a A segunda linha possui p = V e q = F. Para a conjun-
segunda metade. Ou seja, as duas primeiras linhas ção é necessário que as duas proposições sejam V para
são V e as duas últimas são F: ela ser V, logo, ela será FALSA:

p q
p q
V
V V V
V
V F F
F
F V
F
F F
ii) Para a segunda coluna, repita o mesmo procedi-
Seguindo o mesmo raciocínio, a terceira linha possui
mento dentro de cada valor lógico atribuído para
p = F e q = V, o que faz a conjunção ser FALSA:
a coluna anterior. Ou seja, como temos V nas duas
primeiras linhas de p, vamos colocar V na primeira
linha e F na segunda. Da mesma forma, vamos fa- p q
zer o mesmo procedimento para as duas linhas de V V V
p que contém F:
V F F
p q F V F
V V F F
V F
Finalmente, a quarta linha possui as duas proposições
F V simples com valor lógico FALSO, o que faz a conjunção
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

F F ser FALSA também:

Pronto, a tabela-verdade para duas proposições foi p q


organizada e agora podemos passar para as proposições
V V V
compostas.
V F F
Tabela Verdade da Conjunção (“e”) F V F
Seguindo a ordem do capítulo anterior, temos o ope- F F F
rador lógico “e”, ou a conjunção. Para atribuir valores
lógicos a essa expressão, cria-se uma terceira coluna na Esta é a tabela-verdade para conjunção é deve ser
tabela-verdade e insere no título qual proposição lógica memorizada ou resolvida de forma rápida no caso de ta-
iremos tratar, desta maneira: belas maiores.

70
Tabela Verdade da Disjunção (“ou”) linha. Nos outros casos, ele será VERDADEIRO. Em caso
de dúvidas deste operador, recomenda-se a releitura do
Passando agora para o próximo conectivo, que é a capítulo 2.
disjunção (“ou”). Esse operador possui a definição con-
trária a conjunção, onde ele só será FALSO no caso de as p q
duas proposições simples serem FALSAS, caso contrário,
será sempre VERDADEIRO. V V V
V F F
Montando a tabela:
F V V
F F V
p q
V V Tabela Verdade da Condicional (“Se...então”)
V F
O último operador é o Bicondicional (“Se e somente
F V se”) e a tabela será montada da mesma forma:
F F
p q
A primeira, segunda e terceira linhas possuem ao me-
V V
nos 1 valor lógico VERDADEIRO, ou seja, condição sufi-
ciente para o operador lógico ser VERDADEIRO: V F
p q F V
V V V F F
V F V
Montaremos a tabela usando sua lógica simples: Ele
F V V será VERDADEIRO se as duas proposições simples tive-
F F rem o mesmo valor lógico e FALSO se tiverem valores
diferentes:
Já a última linha, possui ambas proposições simples com
o valor lógico FALSO, o que faz a disjunção ser FALSA tam- p q
bém:
V V V
V F F
p q
F V F
V V V
F F V
V F V
F V V Com essas informações memorizadas é possível
F F F montar QUALQUER tabela-verdade.

Esta é a tabela da disjunção é também deve ser me- Montagem de tabelas usando mais de um operador
morizada. lógico

Obviamente que as seções acima introduziram as ta-


Tabela Verdade da Condicional (“Se...então”)
belas-verdade fundamentais, que vão auxiliar na mon-
tagem de tabelas mais complexas. Vamos apresentar
O próximo conector lógico é a condicional (“Se...en-
um exemplo onde isso será aplicado. Considere a se-
tão”) e montaremos a tabela-verdade do mesmo jeito
guinte proposição composta:
que os anteriores:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

(𝒑 ∧ 𝒒) ↔ ~𝒑 ∨ 𝒒
p q
V V Observe que a proposição possui duas proposições
simples mas possui três operações lógicas. Para mon-
V F tar a tabela-verdade desta proposição, deveremos fazer
F V combinações dos resultados fundamentais vistos ante-
riormente.
F F
Iniciando, vamos montar a estrutura inicial, com as
colunas de p e q:
O princípio deste operador lógico está na relação en-
tre o antecedente (p) e o consequente (q). Ele será FAL-
SO apenas se 𝑝 = 𝑉 e 𝑞 = 𝐹 , o que ocorre na segunda

71
p q p q ~p
V V V V V F V
V F V F F F
F V F V F V
F F F F F V

Agora, vamos analisar a expressão: temos dois pa- Na segunda linha, temos a quarta e a segunda coluna
rênteses separados por uma bicondicional, portanto, te- com valores lógicos FALSO, o que faz a disjunção FALSA:
remos que saber os valores lógicos de cada parêntese
antes de resolver o “se e somente se”. Para isso, vamos p q ~p
criar colunas específicas na tabela para cada informação
e depois agrupá-las. V V V F V
Começando com a conjunção no primeiro parêntese V F F F F
e atribuindo os valores lógico de cada linha, cria-se uma
F V F V
terceira coluna a partir da primeira e da segunda:
F F F V
p q
Na terceira linha, temos ambos VERDADEIROS, o que
V V V faz a disjunção VERDADEIRA:
V F F
F V F p q ~p
F F F V V V F V
V F F F F
Agora, vamos resolver o segundo parêntese. Para
F V F V V
isso, precisaremos da negação de p para fazer uma dis-
junção com q. Logo, vamos criar primeiro uma coluna da F F F V
negação e depois faremos a disjunção:
E na quarta linha, temos a quarta coluna VERDADEI-
RA e a segunda coluna FALSA, o que faz a disjunção ser
p q ~p
VERDADEIRA:
V V V F
V F F F p q ~p
F V F V V V V F V
F F F V V F F F F
F V F V V
Observe que esta quarta coluna é a negação da pri-
meira, como deve ser, já que estamos negando a proposi- F F F V V
ção p. Criaremos agora uma quinta coluna, onde faremos
a disjunção de ~p (quarta coluna) e q (segunda coluna):
FIQUE ATENTO!
p q ~p Fizemos uma disjunção entre a quarta e a
V V V F segunda coluna, NESTA ORDEM. No caso
da disjunção, se fizéssemos invertido, não
V F F F haveria problemas, mas nem sempre isso
F V F V acontece. A recomendação é que se man-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

tenha a ordem da operação lógica.


F F F V
Finalmente, vamos criar a sexta coluna que será a bi-
Nós temos que utilizar os valores lógicos da quarta e
condicional da terceira e quinta colunas:
segunda colunas em cada linha correspondente da tabe-
la. É aqui que muitos candidatos se confundem e acabam
usando colunas diferentes. Na primeira linha, temos que p q ~p
a quarta coluna tem valor F e a segunda coluna tem valor V V V F V
V, assim a disjunção entre elas será V:
V F F F F
F V F V V
F F F V V

72
Na primeira linha, temos a terceira coluna VERDA- Para organizar todas as combinações possíveis dos
DEIRA e a quinta também, que pela bicondicional, gera valores lógicos, vamos usar o mesmo artifício visto na
um valor VERDADEIRO: tabela com duas proposições simples. Primeiro, vamos
dividir a primeira coluna em dois blocos de 4 linhas,
p q ~p onde o primeiro bloco será VERDADEIRO e o segundo,
FALSO:
V V V F V V
V F F F F p q r
F V F V V V
F F F V V V

Na segunda linha, temos ambas as colunas FALSAS, V


que pela bicondicional, gera um valor VERDADEIRO: V
F
p q ~p F
V V V F V V F
V F F F F V F
F V F V V
F F F V V Na segunda coluna, vamos subdividir cada bloco da
primeira coluna em dois novamente, colocando VER-
Na terceira e quarta linhas temos o mesmo caso, DADEIRO na primeira parte e FALSO na segunda, desta
com a terceira coluna FALSA e a quinta VERDADEIRA, o maneira:
que gera um valor FALSO na bicondicional:
p q r
p q ~p V V
V V V F V V V V
V F F F F V V F
F V F V V F V F
F F F V V F F
F
Pronto, esses são os resultados possíveis da propo-
sição composta, variando os valores lógicos das propo- F
sições simples p e q que a compõem. F

TABELA VERDADE PARA 3 PROPOSIÇÕES SIMPLES Veja que o primeiro bloco da primeira coluna, que é
VERDADEIRO foi dividido em dois blocos de duas linhas
Vamos agora aumentar a complexidade do proble- cada, em um, colocamos duas linhas VERDADEIRO e nas
ma inserindo uma terceira proposição, que chamaremos outras duas linhas, FALSO. Fazendo o mesmo para o blo-
de r. Pela relação de número de linhas da tabela, te- co seguinte:
remos então L=23=8 linhas. A tabela fica na seguinte
forma:
p q r
V V
p q r
V V
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

V F
V F
F V
F V
F F
F F

73
A terceira coluna é mais simples, basta subdividir cada bloco de duas linhas em uma linha cada, colocando V e F
intercalado, montando assim todas as combinações possíveis:

p q r
V V V
V V F
V F V
V F F
F V V
F V F
F F V
F F F

Como exemplo, vamos montar a tabela-verdade da seguinte proposição composta: ~𝑝 → 𝑞 ∧ 𝑟 ↔ 𝑝 ∨ 𝑟 . Com a


tabela acima, vamos organizar quais informações precisamos para montar a expressão final. Observando o primeiro
parênteses, precisaremos da negação de p, ou seja, ~p. Criando uma quarta coluna e preenchendo em função da pri-
meira:

p q r ~p
V V V F
V V F F
V F V F
V F F F
F V V V
F V F V
F F V V
F F F V

Agora precisaremos fazer a conjunção entre q e r no primeiro parênteses para poder combinar com a negação de p.
Montando a quinta coluna com , que é a combinação entre a segunda e a terceira coluna, temos que:

p q r ~p 𝒒∧𝒓

V V V F V
V V F F F
V F V F F
V F F F F
F V V V V
F V F V F
F F V V F
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

F F F V F

Interessante observar que ficamos apenas com duas linhas com o valor lógico VERDADEIRO e isso não é nenhum
problema, pois quando se realiza operações lógicas não teremos sempre a divisão de 50% VERDADEIRO e 50% FALSO.
Combinando a quarta e quinta colunas, podemos formar o primeiro parênteses, que é ~𝑝 → 𝑞 ∧ 𝑟 :

74
p q r ~p 𝒒∧𝒓 ~𝒑 → 𝒒 ∧ 𝒓

V V V F V V
V V F F F V
V F V F F V
V F F F F V
F V V V V V
F V F V F F
F F V V F F
F F F V F F

Antes de montarmos a bicondicional entre os dois parênteses, precisamos montar a coluna relativa ao segundo
parênteses da expressão. Colocando a conjunção a partir da primeira e terceira colunas:

p q r ~p 𝒒∧𝒓 ~𝒑 → 𝒒 ∧ 𝒓 𝒑∨𝒓

V V V F V V V
V V F F F V V
V F V F F V V
V F F F F V V
F V V V V V V
F V F V F F F
F F V V F F V
F F F V F F F

Finalmente, a oitava coluna é montada a partir da combinação entre a sexta e a sétima colunas:

p q r ~p 𝒒∧𝒓 ~𝒑 → 𝒒 ∧ 𝒓 𝒑∨𝒓 ~𝒑 → 𝒒 ∧ 𝒓 ↔ 𝒑∨𝒓

V V V F V V V V
V V F F F V V V
V F V F F V V V
V F F F F V V V
F V V V V V V V
F V F V F F F V
F F V V F F V F
F F F V F F F V

O resultado é interessante pois apenas a sétima linha da proposição completa possui valor lógico FALSO. Isso pode
ser facilmente uma questão de concurso, onde pergunta-se quais são os valores lógicos para que a proposição acima
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

seja FALSA. A resposta correta é p e q FALSOS e r VERDADEIRO.

75
TABELA VERDADE PARA 4 PROPOSIÇÕES SIMPLES A segunda coluna subdivide a primeira novamente
em dois, formando blocos de quatro linhas, intercalando
Os problemas envolvendo 4 proposições simples são os valores V e F:
mais trabalhosos pois envolvem 16 linhas de análise. En-
tretanto, a resolução é a mesma dos problemas de duas p q r s
ou três proposições simples. Considerando as proposi-
ções p, q, r e s, a tabela fica da seguinte maneira: V V
V V
p q r s V V
V V
V F
V F
V F
V F
F V
F V
F V
F V
F F
F F
F F
F F

A terceira coluna subdivide a segunda em blocos de


duas linhas, intercalando V e F:

p q r s
A primeira coluna é dividida em dois blocos de oito
linhas, atribuindo V ao primeiro bloco e F ao segundo. V V V
V V V
p q r s V V F
V V V F
V V F V
V V F V
V V F F
V V F F
V F V V
V F V V
V F V F
F F V F
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

F F F V
F F F V
F F F F
F F F F
F
F
F

76
A quarta coluna basta intercalar V e F: Inserindo os dois parênteses na terceira e quarta co-
lunas:
p q r s
V V V V p q 𝑝∧𝑞 → 𝑝∨𝑞

V V V F V V V V
V V F V V F F V
V V F F F V F V
V F V V F F F F
V F V F Aplicando a condicional entre a terceira e quarta co-
lunas:
V F F V
V F F F
p q 𝑝𝑝∧∧𝑞𝑞 →→ 𝑝𝑝∨∨𝑞𝑞 𝑝∧𝑞 → 𝑝∨𝑞
F V V V
F V V F V V V V V
F V F V V F F V V
F V F F F V F V V
F F V V F F F F V
F F V F O resultado da proposição composta mostra que
F F F V todas as linhas geraram um valor lógico VERDADEIRO.
F F F F Assim, podemos classificar essa proposição composta
como Tautologia.

CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES SEGUNDO A TA- FIQUE ATENTO!


BELA-VERDADE
O exemplo de tautologia foi com duas
Após a montagem de qualquer proposição composta proposições simples mas considere que a
na tabela-verdade, podemos classificar seu resultado de classificação é válida também para três ou
três maneiras: mais proposições simples.

Tautologia
Contradição
A tautologia ocorre quando todas as linhas da coluna
correspondente a proposição composta seja VERDADEI- A contradição é exatamente o contrário da tauto-
RA. Ou seja, não importa os valores lógicos das proposi- logia, onde todos os resultados lógicos da operação
ções simples, a proposição composta terá sempre o valor da proposição composta devem ser FALSOS. Observe o
lógico V. Observe o exemplo: exemplo:

Tabela-verdade para a proposição 𝑝 ∧ 𝑞 → 𝑝 ∨ 𝑞 . Tabela verdade para 𝑝 ↔ ~𝑞 ∧ (𝑝 ∧ 𝑞)..

São duas proposições simples, o que formará quatro Antes de montarmos a proposição composta, preci-
linhas na tabela: saremos montar a negação de q, a bicondicional do pri-
meiro parênteses e a disjunção do segundo, assim:

p q
p q ~q
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

𝑝𝑝↔
↔~𝑞
~𝑞 ∧∧(𝑝
(𝑝∧∧𝑞).
𝑞).
V V
V F V V F F V

F V V F V V F

F F F V F V F
F F V F F

77
Combinando a quarta e quinta colunas para montar a Nenhum A é B
disjunção entre os dois parênteses:
A segunda proposição categórica é a mais simples de
p q ~q se observar através do diagrama de conjuntos pois quan-
𝑝𝑝 ↔
↔ ~𝑞
~𝑞 ∧∧ (𝑝
(𝑝 ∧∧ 𝑞).
𝑞). 𝑝 ↔ ~𝑞 ∧ (𝑝 ∧ 𝑞).
do falamos que “Nenhum A é B”, conclui-se que nenhum
V V F F V F elemento do conjunto A pertence ao conjunto B, ou seja,
são dois conjuntos distintos sem nenhuma intersecção:
V F V V F F
F V F V F F
F F V F F F

Como todas as linhas do resultado final são FALSAS,


temos uma contradição.

Contingência

A contingência é o caso mais simples de todos pois


são as tabelas-verdade que não são tautologia ou con-
tradição, ou seja, possui os dois valores lógicos (V e F) no Diferentemente da proposição “Todo A é B”, dizer que
resultado final. “Nenhum A é B” é logicamente equivalente a dizer que
“Nenhum B é A”, ou seja, permite-se a inversão dos con-
PROPOSIÇÕES LÓGICAS juntos sem prejudicar o raciocínio.

As proposições categóricas são formadas basicamen- Algum A é B


te por três palavras: Todo, Nenhum e o Algum. Desta úl-
tima, deriva-se também o “Algum Não” para completar As próximas duas proposições também são categóri-
as quatro proposições fundamentais. Assim, vamos inter- cas, mas não casos extremos como as anteriores em que
pretar e representar as seguintes expressões: ou temos todos os elementos de A pertencente a B ou
não temos nenhum. A expressão “Algum A é B” estabe-
Todo A é B lece que ao menos um elemento pertence também ao
conjunto B. Ela não fala quantos elementos de A perten-
A primeira proposição categórica é bem conhecida e cem a B (podem ser todos inclusive), o que ela descarta
facilmente interpretada. Ela afirma que todos os elemen- é o fato de nenhum elemento de A pertencer a B, e essa
tos que pertencem ao grupo (ou na nossa linguagem, consideração será importante quando estudarmos a ne-
conjunto) A também pertencem ao conjunto B. Para este gação das proposições categóricas.
caso, temos duas representações possíveis: Além disso, são quatro diagramas possíveis para in-
terpretar essa proposição:

O primeiro caso talvez seja o que a maioria das pes-


soas pensam quando se diz que “Todo A é B”, ou seja,
o conjunto A sendo subconjunto do conjunto B. Entre-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

tanto, quando ambos os conjuntos são coincidentes, ou


sejam, são exatamente iguais, a proposição ainda é váli-
da, com todos os elementos do conjunto A pertencentes
também ao conjunto B.

FIQUE ATENTO! Os dois primeiros casos remetem ao conjunto A ser


Observe que quando falamos que “Todo A é subconjunto de B ou vice-versa. Em ambos consegui-
B” não é necessariamente verdade que “Todo mos afirmar que existe ao menos um elemento de A que
B é A” pois o primeiro caso da figura acima pertence a B. O terceiro caso é o mesmo de “Todo A é
justifica que nem todos os elementos de B B” pois, como dissemos, essa proposição afirma que te-
podem pertencer ao conjunto A.”. mos no mínimo um elemento de A que está em B, en-
tão logicamente todos os elementos de A pertencerem

78
a B atendem a “Algum A é B”. E o último caso é aquele Proposição Universal Negativa
onde temos termos exclusivos de A e B, mas uma região
de interseção onde há elementos pertencentes aos dois A proposição universal negativa é equivalente a ex-
conjuntos, satisfazendo a proposição. pressão “Nenhum A é B”, ou seja, todo o universo do
Além disso, é possível inverter os conjuntos de posi- conjunto A não pertence a B.
ção e manter a lógica correta, ou seja, se falarmos que
“Algum A é B”, pode-se afirmar que “Algum B é A” Proposição Particular Afirmativa

Algum A não é B A proposição particular afirmativa é equivalente a ex-


pressão “Algum A é B”, ou seja, algum caso de todo o
Análogo a proposição anterior, a proposição “Algum universo do conjunto A pertence a B.
A não é B” estabelece que há ao menos um elemento de
A que não pertence ao conjunto B. Novamente não se Proposição Particular Negativa
estipula quantos elementos de A não são de B (e podem
ser todos eles inclusive), mas sim que não temos todos A proposição particular negativa é equivalente a ex-
os elementos de A pertencendo a B, algum necessaria- pressão “Algum A não é B”, ou seja, algum caso de todo
mente não será. São três diagramas para representar o universo do conjunto A não pertence a B.
essa proposição categórica:
RELAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

As proposições categóricas possuem relações entre si


para aplicarmos valores lógicos quando necessário. Para
ajudar na memorização, construiu-se um diagrama com
as definições apresentadas abaixo:

No primeiro caso, como temos elementos exclusivos As proposições que são contraditórias entre si, ou
de A e B, esses elementos exclusivos satisfazem a propo- seja, aquelas ligadas pela diagonal do problema serão
sição. No segundo caso, temos B como subconjunto de justamente as negações lógicas da proposição categóri-
A sem serem coincidentes, o que também deixam alguns ca considerada, ou seja:
elementos de A não pertencendo a B. Finalmente o ter- - A negação de “Todo A é B” é “Algum A não é B”
ceiro caso, onde A e B não possuem intersecção (coinci- - A negação de “Nenhum A é B” é “Algum A é B”
dente com “Nenhum A é B”), temos que os elementos de - A negação de “Algum A é B” é “Nenhum A é B”
A não pertencem a B, bastava apenas 1 mas nesse caso - A negação de “Algum A não é B” é “Todo A é B”
foram todos.
Ou seja, nas proposições categóricas, negar uma pro-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS posição universal é transformá-la em uma proposição


particular de afirmação contrária e vice-versa. Isso refor-
As quatro proposições categóricas também possuem ça o que foi dito no início do capítulo que a negação
nomes formalizados que são de importante conheci- de “Todo A é B” não é “Nenhum A é B” e agora fica fácil
mento para se interpretar enunciados de concursos que de entender pois para que “Todo A é B” seja falso, basta
utilizarem essas definições. Vamos a elas apenas um único elemento de A não pertencer a B, o
caracteriza a proposição “Algum A não é B”.
Proposição Universal Afirmativa
No caso das relações “subalternas”, quando temos o
A proposição universal afirmativa é equivalente a ex- valor lógico definido da proposição universal, podemos
pressão “Todo A é B”, ou seja, todo o universo do con- expandi-lo para a sua correspondente proposição parti-
junto A pertence a B. cular, ou seja:

79
- O valor lógico da proposição particular afirmativa - R é subconjunto de A: Nesta primeira situação, po-
será o mesmo que o da proposição universal afir- demos ter A intersectando G ou não:
mativa.
- O valor lógico da proposição particular negativa será
o mesmo que o da proposição universal negativa.

ANÁLISE COM MAIS DE UMA PROPOSIÇÃO CATE-


GÓRICA ENVOLVIDA

Os problemas envolvendo proposições categóricas


podem ser simples de se revolver como visto no exercí-
cio comentado acima, porém, existem casos mais elabo- - A e R são coincidentes: Neste caso, A não cruza G
rados, onde pode haver 3 ou mais conjuntos para serem pois nenhum R é G;
analisados. Observe esse exemplo extraído de uma ban-
ca que aborda muito o raciocínio lógico, a ESAF:
Se é verdade que “Alguns A são R” e que “Nenhum G
é R”. então é necessariamente verdadeiro que:
a) Algum A não é G
b) Algum A é G
c) Nenhum A é G
d) Algum G é A
e) Nenhum G é A.

Observem neste caso que temos 3 conjuntos: A,R e


G e eles estão relacionados através de proposições cate- - A e R possuem intersecção com elementos exclusi-
góricas. Para resolver esse tipo de problema, temos que vos: Neste caso, pode-se haver intersecção ou não de A
utilizar dos diagramas de conjuntos para entende-lo. A em G:
ordem de aplicação das proposições determina seu êxi-
to no exercício, onde recomenda-se começar pelas pro-
posições universais e depois partir para as particulares.
Iniciando então por “Nenhum G é R”, o diagrama fica da
seguinte forma:

Nesse caso, G e R não possuem intersecções. Feito


isso, deve-se analisar a proposição “Algum A é R”, que
possui 4 casos distintos. Além disso, não sabemos se A
intersecta ou não o conjunto G, portanto teremos que
considerar ambos os casos:
Portanto são 6 casos para se analisar e verificar qual
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

- A é subconjunto de R: Nesta primeira situação, A não alternativa atende todos simultaneamente:


poderá intersectar G pois está dentro de R e nenhum R é G: a) Algum A não é G: Se observarmos os 6 casos, sem-
pre há ao menos um todos os elementos de A que
não pertencem a G, ou seja, não há nenhum caso
onde todos os elementos de A estão dentro de G.
Logo esta alternativa aparenta ser a correta.
b) Algum A é G: No primeiro, terceiro, quarto e sexto
casos, nenhum elemento de A pertence a G, logo
esta alternativa não é a correta.
c) Nenhum A é G: No segundo e quinto casos, há ele-
mentos de A que estão em G, logo esta alternativa
não é a correta.

80
d) Algum G é A: Os casos onde A e G não se cruzam Essa equivalência é fácil verificar na tabela-verdade:
eliminam esta alternativa da mesma forma que na
alternativa b p
e) Nenhum G é A: Da mesma forma que as alternativa 𝑝∧𝑝=𝑝 𝑝∨𝑝=𝑝
b e d, os casos onde A e G possuem intersecção
V V V
são suficientes para eliminar esta alternativa.
F F F
Logo, encontramos a alternativa correta. O que é im-
portante observar é que problemas envolvendo mais de Tanto na tabela-verdade da disjunção e da conjunção,
uma proposição categórica podem ser complicados e re- quando ambas as proposições são VERDADEIRAS, o re-
quererem uma análise aprofundada de todos os casos. sultado é VERDADEIRO e quando ambas são FALSAS, o
resultado da proposição composta é FALSO.
EQUIVALÊNCIA LÓGICA Usando frases nas proposições, essa propriedade nos
permite dizer que se p = “João é professor”, temos que:
A equivalência lógica é a relação entre duas propo- João é professor e João é professor = João é professor
sições lógicas que serão ditas equivalentes, ou seja, ao João é professor ou João é professor = João é professor
se montar a tabela-verdade de ambas, a distribuição dos
valores lógicos será a mesma. Comutação
O domínio desta teoria passará ao candidato a se-
gurança de se manipular expressões lógicas, buscando A propriedade comutativa da equivalência lógica é aná-
a equivalência correta nas alternativas da questão. Na loga a propriedade de mesmo nome da matemática. Ela
maioria das vezes, os enunciados das questões de equi- descreve que podemos mudar a ordem das proposições
valência lógica, usando frases simples como: “A negação simples sem afetar o resultado final. Existem três casos:
da expressão ... é:” ou também “A expressão logicamente
equivalente a ... é:”.
Para resolver esses exercícios, o candidato deverá re- 𝑝𝑝 ∧∧𝑝𝑞𝑞∧=𝑞 =𝑞∧𝑝
= 𝑞𝑞 ∧∧ 𝑝𝑝
conhecer na expressão original que tipo de equivalência 𝑝𝑝 ∨∨𝑝𝑞𝑞∨=
𝑞=𝑞∨𝑝
pode ser usada e é isso que iremos apresentar nas seções = 𝑞𝑞 ∨∨ 𝑝𝑝
a seguir. 𝑝𝑝 ↔𝑝↔𝑞𝑞 =𝑞↔ 𝑝
↔ 𝑞𝑞 = = 𝑞↔ ↔ 𝑝𝑝
EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS NOTÁVEIS
Ou seja, para a disjunção, conjunção e bicondicional é
Iniciando pelas equivalências mais simples, apresen- possível inverter a ordem das proposições simples, man-
taremos os cinco primeiros casos de relações lógicas: tendo o resultado final da proposição composta. Usando
novamente frases como exemplo, temos que se p = “An-
Dupla Negação dei 5km” e q = “Tomei um suco”:
Andei 5km e tomei um suco = Tomei um suco e andei 5 km
A dupla negação já foi introduzida quando se definiu Andei 5km ou tomei um suco = Tomei um suco ou
o operador lógico negação, ou o “não” e se apresentou andei 5 km
que “a negação da negação é a própria afirmação”. Em Andei 5km se e somente se tomei um suco = Tomei
outras palavras, a dupla negação anula dois operadores um suco se e somente se andei 5 km
“não” que estão juntos, como no exemplo a seguir:

FIQUE ATENTO!
~ ~𝑝 = 𝑝
O leitor mais atento percebeu uma poten-
cial “pegadinha” nesta propriedade pois ela
Ou seja, os dois operadores lógicos “~” são retirados, não vale para o operador “Se...então” que
restando apenas a proposição simples. é a condicional. Muita atenção quando for
utilizar essa propriedade!
Idempotência
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

Associação
A idempotência trata de duas relações, uma com o
operador “e” (conjunção) e outra com o operador “ou” A propriedade associativa também tem a mesma ca-
(disjunção). A idéia básica é mostrar que quando se apli- racterística encontrada na matemática, onde você pode
ca esses operadores na mesma proposição simples, o re- inverter a ordem das operações lógicas. Isso só pode ser
sultado é a própria proposição. Vejam os casos: feito caso tenhamos APENAS disjunção e conjunção nas
operações, observe:
𝑝∧𝑝=𝑝
𝑝∨𝑝=𝑝 𝑝 ∧𝑝 ∧𝑞 ∧𝑞𝑟∧ 𝑟= =𝑝 ∧𝑝 𝑞∧ 𝑞∧ 𝑟∧ 𝑟
𝑝 ∨𝑝 ∨𝑞 ∨𝑞 𝑟∨ 𝑟= =𝑝 ∨𝑝𝑞∨ 𝑞∨ 𝑟∨ 𝑟

81
O que a propriedade nos mostrou é que podemos
fazer a operação entre p e q antes de realizar a operação p q ∼ 𝑝 ∧ 𝑞 =~~𝑝𝒑∨∼ ~p
entre q e r. ∧ 𝒒𝑞 ∼ 𝑝 ∧~q
𝑞 = ~𝑝 ∨∼ 𝑞

Distribuição V V V F F F F
V F F V F V V
A propriedade distributiva também segue a analogia F V F V V F V
da propriedade vista na matemática, sendo conhecida
também como a propriedade “chuveirinho” onde a partir F F F V V V V
de um operador lógico externo aos parênteses, faz-se a
distribuição nos elementos internos, desta forma: Observando a quarta e a sétima coluna, verifica-se o
mesmo valor lógico em todas as linhas, o que prova a
equivalência.
𝑝 ∧𝑝 ∧𝑞 ∨𝑞𝑟∨ 𝑟= =𝑝 ∧𝑝𝑞∧ 𝑞∨ (𝑝
∨ (𝑝 ∧ 𝑟)
∧ 𝑟) Usando frases como exemplo, se considerarmos p =
“Eu sei nadar” e q = “Eu sei correr”, a negação correta
𝑝 ∨𝑝 ∨𝑞 ∧𝑞𝑟∧ 𝑟= =𝑝 ∨𝑝𝑞∨ 𝑞∧ (𝑝
∧ (𝑝 ∨ 𝑟)
∨ 𝑟) de “Eu sei nadar e sei correr” será “Eu não sei nadar ou
não sei correr”
Observe novamente que essa propriedade também Negação da disjunção – Regra de De Morgan
é válida APENAS para os operadores disjunção (“e”) e
conjunção (“ou”), sendo incorreto aplicar na condicional A negação da disjunção também é conhecida como
e na bicondicional. Usando frases como exemplo, consi- Regra de De Morgan:
dere que: p = “Almir é biólogo”, q = “Joseval é escri-
tor” e r = “Arlequina é bandida”, assim: ∼ 𝑝 ∨ 𝑞 = ~𝑝 ∧∼ 𝑞

A propriedade 𝑝 ∧ 𝑞 ∨ 𝑟 = 𝑝 ∧ 𝑞 ∨ (𝑝 ∧ 𝑟) nos A regra nos diz que ao negar uma disjunção, pode-
permite dizer que a proposição:
𝑝 ∨ 𝑞 ∧ 𝑟 “Almir
= 𝑝 ∨é 𝑞biólogo, e Jo-
∧ (𝑝 ∨ 𝑟) mos negar individualmente cada proposição simples
seval é médico ou Arlequina é bandida” é equivalente trocando o operador “ou” por um operador “e”. A prova
à proposição: “Almir é biólogo e Joseval é escritor, ou desta relação se dá na tabela-verdade a seguir:
Almir é biólogo e Arlequina
𝑝 ∧ 𝑞 ∨ 𝑟é bandida”
= 𝑝 ∧ 𝑞 ∨ (𝑝 ∧ 𝑟)
p q ∼ 𝑝 ∧ 𝑞 = ~𝑝
~ 𝒑∨∼ 𝑞 ~p
∼ 𝑝 ∧~q
𝑞 = ~𝑝 ∨∼ 𝑞
Já a propriedade 𝑝 ∨ 𝑞 ∧ 𝑟 = 𝑝 ∨ 𝑞 ∧ (𝑝 ∨ 𝑟) nos ∧𝒒
permite dizer que a proposição: “Almir é biólogo, ou Jo-
V V V F F F F
seval é médico e Arlequina é bandida” é equivalente à
proposição: “Almir é biólogo ou Joseval é escritor, e Al- V F V F F V F
mir é biólogo ou Arlequina é bandida” F V V F V F F
F F F V V V V
NEGAÇÃO DOS OPERADORES LÓGICOS
Observando a quarta e a sétima coluna, verifica-se o
Este tópico provavelmente é o mais importante deste
mesmo valor lógico em todas as linhas, o que prova a
capítulo pois apresentará as negações das proposições
equivalência.
lógicas mais utilizadas: “Disjunção”, “Conjunção”, “Condi- Usando frases como exemplo, se considerarmos p =
cional” e “Bicondicional” “Andei de bicicleta” e q = “joguei futebol”, a negação
correta de “Eu andei de bicicleta ou joguei futebol” será
Negação da conjunção – Regra de De Morgan “Eu não andei de bicicleta e não joguei futebol”.

As negações da conjunção e da disjunção são co-


nhecidas como Regras de De Morgan e são fáceis de Negação da Condicional
memorizar pela sua estrutura simples:
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

A negação da condicional é uma expressão que vem


∼ 𝑝 ∧ 𝑞 = ~𝑝 ∨∼ 𝑞
derivada de outras duas equivalências lógicas: Regra de
De Morgan e Implicação material (apresentada nos tópi-
cos seguintes). Como a idéia não é apresentar deduções,
A regra nos diz que ao negar uma conjunção, po- vamos mostrar a equivalência e prova-la através da tabe-
demos negar individualmente cada proposição simples la-verdade:
trocando o operador “e” por um operador “ou”. A prova ∼ 𝑝 → 𝑞 = 𝑝 ∧∼ 𝑞
desta relação se dá na tabela-verdade a seguir:

82
Montando a tabela-verdade:

p q 𝒑→𝒒 ~ 𝒑→𝒒 ~q 𝒑 ∧∼ 𝒒

V V V F F F
V F F V V V
F V V F F F
F F V F V F

Comparando a quarta e sexta colunas, podemos observar que todas as linhas possuem os mesmos valores lógicos,
comprovando a equivalência desta negação.
Usando frases como exemplo, se considerarmos p = “Fiz muitos gols” e q = “Sou o artilheiro”, a negação correta
de “Se fiz muitos gols então sou o artilheiro” será “Fiz muitos gols e não sou o artilheiro”.

Negação da Bicondicional

Certamente a negação da bicondicional é a expressão mais difícil dentre as apresentadas na equivalência lógica. Ela
não é simples de deduzir e usaremos a mesma abordagem da negação da condicional, que é apresentar a expressão e
provar com a tabela-verdade:
∼ 𝑝 ↔ 𝑞 = (𝑝 ∧∼ 𝑞) ∨ (𝑞 ∧ ~𝑝)

Montando a tabela-verdade:

p q∼ 𝑝 ↔ 𝑞 =∼(𝑝𝑝∧∼
↔ 𝑞) ~p
𝑞 ∼∨=(𝑞
𝑝
(𝑝↔ 𝑞~q𝑞)
∧∧∼
~𝑝) =∨(𝑝(𝑞∧∼
∧ ~𝑝)
𝑞) ∨∼(𝑞𝑝∧↔
~𝑝)
𝑞 = (𝑝 ∧∼ 𝑞) ∨ (𝑞 ∧ ~𝑝)
V V V F F F F F F
V F F V F V V F V
F V F V V F F V V
F F V F V V F F F

Observando a quarta e nona colunas, verifica-se o mesmo valor lógico em todas as linhas, o que prova a equiva-
lência lógica.
Usando frases como exemplo, se considerarmos p = “Passei de ano” e q = “Tirei 10 na prova”, a negação correta
de “Passei de ano se e somente se tirei 10 na prova” será “Passei de ano e não tirei 10 na prova ou tirei 10 na prova e
não passei de ano”.

EquivalÊncias lógicas da condicional e bicondicional

Além das negações dos operadores lógicos condicional e bicondicional, existem outras equivalências lógicas impor-
tantes que estatisticamente são cobradas com certa frequência nos concursos públicos e serão apresentadas a seguir:

Implicação Material

A implicação material é uma equivalência lógica aplicada ao operador condicional que transforma esse operador
em uma disjunção (“ou”):
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

𝑝 → 𝑞 = ~𝑝 ∨ 𝑞

Montando a tabela-verdade:

p q ~p
𝑝 → 𝑞 𝑝 =→~𝑝
𝑞 ∨=𝑞~𝑝 ∨ 𝑞

V V V F V
V F F F F
F V V V V
F F V V V

83
A terceira e quinta colunas possuem os mesmos valores lógicos em todas as linhas, podendo afirmar que são, por-
tanto, proposições equivalentes.
Usando frases como exemplo, se considerarmos p = “Andei distraído” e q = “Tropecei na calçada”, uma expres-
são equivalente a “Se andei distraído então tropecei na calçada” será “Não andei distraído ou tropecei na calçada”

Transposição

A transposição, como o próprio nome diz, é aplicada ao operador condicional, trocando de posição as proposições
simples, algo que não é permitido diretamente pela propriedade comutativa apresentada anteriormente. A equivalên-
cia é a seguinte:
𝑝 → 𝑞 = ~𝑞 → ~𝑝

Ou seja, nega-se e inverte-se as proposições simples para formar a equivalência. Comprovando pela tabela-verdade:

p q ~p →𝑝 ~𝑝
𝑝 → 𝑞 = ~𝑞 →~q𝑞 = ~𝑞 → ~𝑝

V V V F F V
V F F F V F
F V V V F V
F F V V V V

Assim, como a terceira e sexta colunas são idênticas, temos a equivalência lógica comprovada.
Usando as frases da implicação material como exemplo novamente, se considerarmos p = “Andei distraído” e q
= “Tropecei na calçada”, uma expressão equivalente a “Se andei distraído então tropecei na calçada” será “Se não
tropecei na calçada, então não andei distraído”

FIQUE ATENTO!
Sempre que no enunciado de um exercício de equivalência tivermos o operador condicional, desconfie se
não será aplicada as regras de implicação material ou transposição, normalmente elas que serão utilizadas
para resolver a questão!

Equivalência Material

A equivalência material é a última relação que veremos neste capítulo e envolve o operador bicondicional que sem-
pre irá proporcionar expressões maiores para memorização. Além disso, são dois casos para se analisar: O primeiro,
transforma-se a bicondicional em duas operações condicionais:
𝒑↔𝒒 = 𝒑→𝒒 ∧ 𝒒→𝒑

Intuitivamente essa expressão não é difícil pois o próprio nome “bicondicional” já se refere a “duas condicionais”. O
importante é lembrar que as duas condicionais são ligadas por um operador “e” e não por um operador “ou”. A tabe-
la-verdade fica:

p q 𝒑𝒑 ↔
↔ 𝒒𝒒 =
= 𝒑𝒑 →
→ 𝒒𝒒 ∧∧ 𝒒𝒒
𝒑→→
↔𝒑𝒑𝒒 = 𝒑 → 𝒒 ∧ 𝒒 → 𝒑
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

V V V V V V
V F F F V F
F V F V F F
F F V V V V

Usando frases como exemplo, se considerarmos p = “A bolsa é azul” e q = “O estojo é vermelho”, uma expressão
equivalente para “A bolsa é azul se e somente se o estojo é vermelho” será “Se a bolsa é azul então o estojo é vermelho
e se o estojo é vermelho então a bolsa é azul”.
O outro caso de equivalência material é a conversão da bicondicional em operadores “ou” e “e”:
𝒑 ↔ 𝒒 = 𝒑 ∧ 𝒒 ∨ ~𝒑 ∧ ~𝒒

84
Essa expressão não é tão intuitiva como o primeiro caso mas dá para se criar um raciocínio imaginando que a bi-
condicional foi separada em duas conjunções das afirmações e negações ligadas por uma disjunção. A tabela-verdade
fica desta maneira:

p q 𝒑 ↔ 𝒒 = ~p
𝒑𝒑→↔𝒒~q
𝒒∧ =𝒒 𝒑
→∧𝒑𝒒 ∨ ~𝒑
𝒑↔∧ ~𝒒
𝒒 = 𝒑 ∧ 𝒒 ∨ ~𝒑 ∧ ~𝒒

V V V F F V F V
V F F F V F F F
F V F V F F F F
F F V V V F V V

Com a terceira e oitava coluna idênticas, temos a equivalência comprovada. Usando as mesmas frases como exem-
plo, se considerarmos p = “A bolsa é azul” e q = “O estojo é vermelho”, uma outra expressão equivalente para “A
bolsa é azul se e somente se o estojo é vermelho” será “A bolsa é azul e o estojo é vermelho ou a bolsa não é azul e o
estojo não é vermelho”.

LÓGICA DA ARGUMENTAÇÃO

Tanto o argumento, quanto a proposição, formam as bases para o estudo da lógica. Todavia, a proposição ainda
continua sendo o elemento fundamental, pois a partir dela que são construídos os argumentos. Mas afinal de contas, o
que é um Argumento? Essa definição é importante para o seguimento do capítulo e será apresentada a seguir.
Um argumento é feito de uma composição de duas ou mais proposições. Diferentemente de uma proposição
composta, o argumento apresenta as proposições de maneira separada, classificando-as em dois tipos: Premissas e
Conclusão. As premissas são as bases e as informações que irão nortear a Conclusão (que é única, apenas 1 proposição
pode ser a conclusão). Assim, a estrutura básica de um argumento é: Premissas Conclusão.
Normalmente, os argumentos são apresentados na forma vertical, separando as premissas e a conclusão por um
traço, desta maneira:

As três premissas informam que há uma característica genética de olhos azuis na família, onde seu pai e você pos-
suem olhos azuis. Dadas essas informações, concluiu-se que seu filho terá a mesma característica, ou seja, olho azul.
Como este argumento é mais genérico, vamos a um mais direto que vocês irão lidar em seus concursos:

A argumentação apresenta que o grupo denominado “brasileiros” pertence em sua integralidade ao conjunto “de-
vedores”. Assim, se eu pertenço ao grupo dos “brasileiros”, naturalmente estarei no grupo “devedores”.
Um ponto importante a se ressaltar neste exemplo é a estrutura particular dele. Quanto tivermos um argumento
composto por 2 (duas) premissas e a conclusão, ele será considerado um caso particular e terá o nome de silogismo.
Ambos os argumentos foram conclusões verdadeiras das premissas que consideramos. Neste caso, iremos classifi-
ca-los como argumentos válidos, ou seja, as premissas levam a esta conclusão.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

A oposição disso é justamente uma ou mais premissas falharem na conclusão, e isso tornará o argumento inválido,
pois não atende integralmente todas as premissas.
Outro caso de argumentos que podem ser cobrados são aqueles que envolvem conectivos lógicos, como por exem-
plo, neste exercício que caiu em um concurso:

85
Se considerarmos as proposições: O ponto chave da lógica da argumentação é verificar
se a conclusão é uma consequência lógica das premissas.
Isso será feito neste caso usando os conjuntos. A primei-
ra proposição diz que todas as mulheres são morenas,
assim o conjunto “mulheres” está dentro ou é coinciden-
te ao conjunto “morenas”:

Ou seja, toda a argumentação é montada sob propo-


sições compostas ligadas pelos conectivos lógicos. Nos
concursos públicos, isso pode aparecer diretamente, ou
em forma de frases onde o leitor deverá convertê-la para
expressões lógicas. Para verificar se o argumento é válido
ou não, usaremos as técnicas apresentadas a seguir.

ANÁLISE DA VALIDADE DOS ARGUMENTOS

Normalmente quando os argumentos são analisados,


a primeira estratégia pensada é o uso dos diagramas de
conjuntos, ou conhecidos também como diagramas de
Euler. Essa estratégia será a primeira a ser apresentada
nesta seção, porém, é importante que fique claro que
ela funciona em alguns casos específicos e que em casos
onde o argumento foi construído sob conectivos lógicos A segunda proposição diz que nenhuma morena can-
(exemplo anterior), sua praticidade não é encontrada. ta, ou seja, não há intersecção entre esses conjuntos:
Logo, serão apresentadas 4 estratégias definitivas para
se resolver qualquer problema de argumentação.

FIQUE ATENTO!
Vocês encontrarão exercícios onde mais
de uma técnica pode ser usada para sua
resolução. Esta apostila será uma referên-
cia para sugestão de qual técnica utilizar.
Caso consiga resolver por outra técnica, é
um ponto a mais no seu aprendizado.

Diagramas de Conjuntos (Euler) Assim, a conclusão torna-se válida pois o conjunto


mulheres também não possui intersecção com o conjun-
A análise de argumentos usando os diagramas de tos “cantoras”, tornando assim o argumento válido. É im-
conjuntos só é efetivamente vantajosa se os argumentos portante frisar que sabemos que parte das mulheres não
forem montados com proposições categóricas (capítulo são morenas mas isso não pode interferir na validade do
5). Ou seja, as premissas devem conter as expressões que argumento. A única coisa que devemos ver sob o ponto
designam este tipo, como todo, nenhum, algum e al- de vista lógico é que se as premissas forem verdadeiras,
gum não. Algumas variações podem existir, como pelo temos que ter a conclusão verdadeira.
menos um e cada um, mas sempre serão remetidas as Vamos agora com um exemplo de argumento inváli-
proposições que aprendemos no capítulo anterior. do. Observem:
Este método prevê que desenharemos as premissas
dentro de cada conjunto correspondente, procurando as
interseções entre eles. Após a construção do diagrama,
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

verifica-se a validade do argumento.

Exemplo:
Repetindo a estratégia do exemplo anterior, temos
que a primeira premissa nos mostra que o conjunto
“convidados” está dentro ou é coincidente ao conjunto
“parentes”:

86
A conclusão nos fala que Roberto não é parente, o
que é verdade na segunda e na terceira possibilidade.
ou Na primeira, ambas as premissas são atendidas mas a
conclusão é falsa, já que Roberto está dentro do conjun-
to parentes.
Quando uma ou mais das possibilidades falha, não
temos garantia integral do argumento, tornando-o in-
válido.

Premissas verdadeiras

A segunda estratégia já envolve premissas que não


tenham as proposições categóricas. Ela é eficiente quan-
do ao menos uma das proposições é simples, ou seja,
não há nenhum conectivo lógico com ela ou se temos
A segunda premissa nos mostra que Roberto não é uma das premissas com uma conjunção, pois assim con-
um convidado. Neste caso, veja que temos três possi- seguimos valorar logicamente as proposições simples
bilidades, duas no primeiro caso da premissa e um no que a compõe.
segundo caso. A posição de Roberto está indicada com Para avaliar a validade do argumento, basta adotar
um “X”: que todas as premissas são verdadeiras e a partir da
proposição simples, verificar se a conclusão mantém-se
verdadeira.
Se o resultado da conclusão for verdadeiro, o argu-
mento é válido, caso contrário, se a conclusão for falsa
ou se você não conseguir definir seu valor lógico, ele
será inválido.
Vamos a um exemplo:

ou

Esse argumento está montado apenas com os valo-


res lógicos e temos uma proposição simples no terceiro
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

argumento. Assim, vamos adotar a estratégia de premis-


sas verdadeiras, ou seja:

ou

Na terceira proposição, temos que R é verdadeiro e


a partir disso, para a segunda premissa ser verdadeira,
temos que ter ~Q=V, ou seja Q=F.

87
Esse resultado implica na primeira premissa, pois se Q=F, para a condicional ser verdadeira, precisaremos ter que
P seja falso, ou seja, P=F .
Com os três valores lógicos, podemos avaliar a conclusão, onde se P=F, temos ~P=V, tornando a conclusão verda-
deira e o argumento válido.
Se após essas associações tivéssemos encontrado ~P=F, teríamos uma contradição, o que tornaria o argumento
inválido.

Tabela verdade

O método de resolução do argumento por tabela verdade é utilizado quando não se consegue resolver pelos dois
métodos anteriores, ou seja, quando não temos proposições categóricas ou quando não temos premissas sob a forma
de proposições simples ou uma delas sendo uma conjunção. Entretanto, mesmo para o caso onde o método de pre-
missas verdadeiras é aplicável, a tabela verdade pode ser utilizada, tornando um método mais genérico.
A resolução se baseia na construção da tabela verdade e temos que olhar as linhas correspondentes a todas as
premissas possuírem o valor VERDADEIRO. Se nessa linha, a conclusão também for VERDADEIRA, temos um argumento
válido, caso contrário, ele será inválido.

FIQUE ATENTO!
Lembre-se que a quantidade de linhas da tabela-verdade é calculada em função da quantidade de propo-
sições simples que formam as premissas. Quanto maior o problema, mais trabalhoso será a sua resolução!

Vamos analisar um exemplo passo a passo:


Analise o argumento a seguir e verifique se ele é válido
Se Pablo é ator e Irene é médica, então João é carpinteiro.
João não é carpinteiro ou Irene é médica.
Logo, Pablo não é ator ou Irene é médica.

Passando para a linguagem lógica, temos que:

Observe que este argumento possui duas premissas e uma conclusão, porém é formado por três proposições sim-
ples. Assim, a tabela-verdade terá 8 linhas e não 4. Construindo a base da tabela:

p q r
V V V
V V F
V F V
V F F
F V V
F V F
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

F F V
F F F

As próximas duas colunas serão correspondentes à primeira premissa:

p q r

V V V V V
V V F V F
V F V F V

88
V F F F V
F V V F V
F V F F V
F F V F V
F F F F V

As duas colunas seguintes são correspondentes à segunda premissa:

p q r ~𝒓 ∨ 𝒒~𝒓 ∨ 𝒒

V V V V V F V
V V F V F V V
V F V F V F F
V F F F V V V
F V V F V F V
F V F F V V V
F F V F V F F
F F F F V V V

Agora, as próximas três colunas se referem a conclusão:

p q r ~𝒓 ∨ 𝒒
~𝒓 ∨ 𝒒 ~𝒑
~𝒑∨∨~𝒒
~𝒒 ~𝒑 ∨ ~𝒒

V V V V V F V F F F
V V F V F V V F F F
V F V F V F F F V V
V F F F V V V F V V
F V V F V F V V F V
F V F F V V V V F V
F F V F V F F V V V
F F F F V V V V V V

Com a tabela construída, temos que identificar as linhas que possuem ambas as premissas verdadeiras, ou seja, te-
mos que analisar a quinta e sétima colunas, procurando as linhas em que ambas são V. Se observarmos, encontraremos
a primeira, quarta, quinta, sexta e oitava linhas nesta configuração:

p q r ~𝒓 ∨ 𝒒~𝒓 ∨ 𝒒 ~𝒑
~𝒑∨∨~𝒒
~𝒒 ~𝒑 ∨ ~𝒒

V V V V V F V F F F
V V F V F V V F F F
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

V F V F V F F F V V
V F F F V V V F V V
F V V F V F V V F V
F V F F V V V V F V
F F V F V F F V V V
F F F F V V V V V V

Observando essas cinco linhas, temos que a conclusão (última coluna) é VERDADEIRA em quatro delas, excetuan-
do-se apenas a primeira linha, onde a conclusão, assim, como nem todos os casos foram atendidos, o argumento é
inválido. Vale lembrar que basta 1 caso FALSO para o argumento não ser válido.

89
Conclusão Falsa Resposta: Letra D. Podemos interpretar do exercício
que o mesmo quer a identificação da proposição. As
Para os casos onde temos um número de proposições alternativas A,B,C e E são respectivamente sentenças
simples maior (acima de 3), uma alternativa ao invés de se exclamativas, sem verbo, interrogativa e imperativa, o
aplicar uma tabela verdade que terá muitas linhas será o que não as caracterizam como proposições. Já a al-
método da conclusão Falsa, ou seja, considera-se o valor ternativa D é uma sentença que pode ser classificada
lógico FALSO na conclusão além de considerar as premis- como verdadeira ou falsa, caracterizando uma propo-
sas VERDADEIRAS. Se este caso existir, teremos um argu- sição.
mento inválido, caso contrário, ele será válido. Este méto-
do funciona bem quando a conclusão é uma condicional 2. (NOVA CONCURSOS – 2018) Assinale a alternativa
ou uma conjunção, pois conseguiremos atribuir valores que representa um não cumprimento das 3 leis de pen-
lógicos a todas as proposições simples que a compõe. samento da lógica 
Observe o exemplo a seguir, extraído do livro Racio-
cínio Lógico Simplificado, de Sérgio Carvalho e Weber a) Se Abelardo é mais alto que Hormindo, pelo princípio
Campos, um dos livros que usamos como referência para da identidade posso dizer que Hormindo é mais baixo
montar esta apostila:
que Abelardo.
b) A proposição “Choveu está manhã na cidade” pode
ser considerada “meia verdade” se apenas uma leve
garoa atingir a cidade.
c) O réu no processo afirmou que não estava dirigindo
embriagado, porém o mesmo foi encontrado sentado
Temos 4 proposições simples formando o argumento, no banco do motorista durante a abordagem policial,
o que faria a tabela-verdade ter 16 linhas. Se tentarmos caracterizando uma contradição.
pelo método de premissas verdadeiras, teríamos muitos d) Eu sou milionário pois tenho patrimônio acima de 1
casos a analisar, uma vez que as mesmas são condicionais. milhão de reais. Josevaldo possui menos que 1 milhão
Para facilitar, vamos então adotar também a conclusão e não pode ser considerado um milionário.
FALSA, o que para a condicional, tem-se apenas um caso, e) Não estava presente para afirmar que foi o gato que
que é a proposição da esquerda VERDADEIRA e da direita derrubou o vaso.
FALSA, assim temos que 𝑨 = 𝑽 e ~𝑫 = 𝑭 ⟹ 𝑫 = 𝑽.
Com esses valores lógicos definidos, podemos ir para Resposta: Letra B. Não existe “meia verdade” dentro
a segunda premissa, onde sabemos o valor de . Para essa da lógica. As proposições receberão apenas dois va-
premissa ser verdadeira, teremos que ter . Na primeira lores lógicos: Verdadeiro ou Falso.
premissa, a condicional será verdadeira, dado que se .
Como , temos que ter para atender a primeira premissa. 3. (PREFEITURA DE SARZEDO, MG – TÉCNICO ADMI-
Finalmente, como , temos que ter , mas isso contradiz a NISTRATIVO – IBGP, 2018) “Cecília comprará ou o ves-
primeira premissa que determinou que . tido azul ou o vestido preto.” 
Como houve falha em provar que a conclusão é FALSA Com base na estrutura lógica, assinale a alternativa COR-
com as premissas VERDADEIRAS, temos que a conclusão RETA.
é VERDADEIRA o que faz o argumento VÁLIDO!
a) 𝑝∨𝑞
b) 𝑝∧𝑞
EXERCÍCIOS COMENTADOS c) 𝑝∨𝑞
d) 𝑝→𝑞
1. (SEFAZ-SP – AGENTE FISCAL DE TRIBUTOS ESTA-
Resposta: Letra C. Provavelmente muitos devem ter
DUAIS – FCC – 2006) Das cinco frases abaixo, quatro
delas têm uma mesma característica lógica em comum, pensado que este era um caso de “ou exclusivo”, mas
enquanto uma delas não tem essa característica.  observe que o verbo em questão é “comprar” e não
“vestir”. Cecília pode muito bem comprar os dois ves-
I. Que belo dia!  tidos, não há nada lógico que impeça isso, porém se a
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

II. Um excelente livro de raciocínio lógico.  proposição fosse “Cecília vestirá ou o vestido azul ou
III. O jogo terminou empatado?  o vestido preto”, aí teríamos o caso de “ou exclusivo”
IV. Existe vida em outros planetas do universo.  pois ela não poderia vestir os dois vestidos ao mesmo
V. Escreva uma poesia.  tempo.

A frase que não possui essa característica comum é a 4. (EMATER-MG – ASSESSOR JURÍDICO – GESTÃO
CONCURSO – 2018) Considere as proposições compos-
a) I tas abaixo, identificadas como P e Q.
b) II
c) III P: Se faz frio, então bebo muita água.
d) IV Q: Se estudo e trabalho no mesmo dia, fico muito can-
e) V sado.

90
Sabendo-se que as duas proposições citadas no enunciado também é FALSA, sendo o único caso da disjunção ser
são falsas, é verdade afirmar que FALSA. Por fim, a alternativa D também é falsa pois “A
memória apresenta defeito” é FALSA e isso na conjunção
a) Fico muito cansado ou bebo muita água já caracteriza uma proposição composta FALSA.
b) Não estudo e trabalho no mesmo dia e faz frio
c) Não fico muito cansado e não bebo muita água 6. (EMATER, MG – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
d) Se faz frio, então não estudo e trabalho no mesmo dia GESTÃO CONCURSO, 2018) Para Alencar (2002, p.14), “na
tabela verdade figuram todos os possíveis valores lógicos
Resposta: Letra C. O enunciado nos diz que as duas da proposição composta, correspondentes a todas as pos-
condicionais são falsas, ou seja, podemos afirmar que síveis atribuições de valores lógicos às proposições simples
“Faz frio” e “Estudo e trabalho no mesmo dia” são VER- correspondentes.” Considerando duas proposições identifi-
DADEIRAS e “Bebo muita água” e “Fico muito cansado” cadas como p e q, deseja-se construir a tabela verdade da
são FALSAS, pois é a única combinação possível para as proposição composta , conforme descrito na tabela a seguir.
condicionais serem FALSAS. Logo, a letra A é FALSA pois
ambas são FALSAS e a disjunção será FALSA, a letra B é
FALSA pois ‘Não estudo e trabalho” é FALSO o que faz
a conjunção ser FALSA. A letra C é VERDADEIRA pois as
duas negações geram proposições VERDADEIRAS que
combinada em uma conjunção, formam uma proposi-
ção VERDADEIRA. E por fim a letra D é FALSA pois “Faz
frio” é VERDADEIRO e “Não estudo e trabalho no mes-
mo dia” é FALSO e combinados em uma condicional, Os valores lógicos da proposição composta , descritos de
gera uma proposição FALSA. cima para baixo na última coluna da tabela, serão, respec-
tivamente,
5. (COLÉGIO PEDRO II – ANALISTA DA TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO - 2018) Considere as seguintes proposi- a) (F);(F);(F);(F)
ções P e Q, sendo que P é falsa e Q é verdadeira;  b) (F);(V);(F);(F)
c) (V);(V);(V);(V)
P: Se o monitor está funcionando, então a placa de vídeo d) (V);(F);(V);(V)
não está com defeito.    
Q: A placa de vídeo está com defeito se, e somente se, a Resposta: Letra D. O exercício já auxiliou deixando a
memória não apresenta defeito.  tabela com todas as colunas organizado. A “pegadinha”
é se você esquecer de fazer a negação final, que faria
Logo, é verdadeira a proposição: você marcar a alternativa B e não a D.
p q ~q
a) Se o monitor não está funcionando, então a memória
não apresenta defeito. V V F F V
b) Ou o monitor está funcionando ou a memória não apre- V F V V F
senta defeito.
c) O monitor não está funcionando ou a memória apre- F V F F V
senta defeito. F F V F V
d) O monitor está funcionando e a memória apresenta de-
feito.
7. (EMATER, MG – ASSESSOR JURÍDICO – GESTÃO
Resposta: Letra A e B (Anulada). Como P é uma condi- CONCURSO, 2018) Considere que temos três proposi-
cional FALSA, temos que “O monitor está funcionando” ções, identificadas como p, q e r. Objetiva-se construir uma
é VERDADEIRO e “A placa de vídeo não está com defei- tabela-verdade para avaliar os valores lógicos que a propo-
to” é FALSO. No caso de Q temos duas possibilidades: sição composta 𝑝 𝑣 ~ 𝑟 → 𝑞 ᴧ ~ 𝑟 .A esse respeito, avalie
“A placa de vídeo está com defeito” e “A memória não as afirmações a seguir.
apresenta defeito” são ambas VERDADEIRAS ou ambas
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

FALSAS. Entretanto, como vimos em P que “A placa de I. A tabela-verdade, nesse caso, terá seis linhas.
vídeo está com defeito” é VERDADEIRO, só teremos um II. A tabela-verdade, nesse caso, terá oito linhas.
caso, onde “A memória não apresenta defeito” também é III. Haverá apenas três linhas da tabela-verdade na coluna
VERDADEIRO. A alternativa A é VERDADEIRA pois temos correspondente à proposição composta p v ~ r → q ᴧ ~
uma condicional e a proposição “O monitor não está r, que assumirá o valor verdadeiro.
funcionando” é FALSA, o que faz a condicional ser VER-
DADEIRA. A alternativa B é VERDADEIRA também pois Está correto apenas o que se afirma em 
“O monitor está funcionando” é VERDADEIRO e isso já
basta para uma disjunção ser VERDADEIRA, além disso, a) II
“A memória não apresenta defeito” também é VERDA- b) III
DEIRA. A alternativa C é FALSA pois “O monitor não está c) I e III
funcionando” é FALSO e “A memória apresenta defeito” d) II e III

91
Resposta: Letra A. Antes de montarmos a tabela-verdade, já podemos verificar que a afirmação I está errada e a
II está certa pois está relacionado com o número de linhas da tabela, que é uma função apenas da quantidade de
proposições simples, neste caso 3. Montando a tabela verdade e respeitando a ordem de resolução dos operadores
lógicos, pois não temos parênteses (negação primeiro, depois as conjunções e disjunções e por fim a condicional),
você verificará que a linhas 2,5,6 e 7 são VERDADEIRAS, tornando a afirmação III incorreta pois ela afirma que são 3
linhas que são VERDADEIRAS.

8. (CÂMARA MUNICIPAL DE ARARAQUARA – AGENTE ADMINISTRATIVO – IBFC, 2017) De acordo com o raciocí-
nio lógico proposicional a proposição composta [𝑝 ∨ (~𝑞 ↔ 𝑟)] → ~𝑝 é uma: 

a) Contingência
b) Tautologia
c) Contradição
d) Equivalência

Resposta: Letra A. Construindo a tabela verdade:

p q r ~p ~q[𝑝 ∨ (~𝑞 ↔ 𝑟)] →𝒑 ∨~𝑝


(~𝒒 ↔ 𝒓) 𝒑 ∨ ~𝒒 ↔ 𝒓 → ~𝒑

V V V F F F V F
V V F F F V V F
V F V F V V V F
V F F F V F V F
F V V V F F F V
F V F V F V V V
F F V V V V V V
F F F V V F F V

9. (PC-ES – PERITO CRIMINAL – FUNCAB, 2013). A negação de “Todos os padeiros dessa cidade são talentosos” é:

a) Todos os padeiros dessa cidade não são talentosos.


b) Somente um padeiro dessa cidade é talentoso.
c) Não já padeiro talentoso nessa cidade.
d) Existe algum padeiro dessa cidade que não é talentoso.
e) Não há padeiros nessa cidade.

Resposta: Letra D. A negação de uma proposição universal afirmativa será uma proposição particular negativa, ou
seja “Algum A não é B” que nesse caso é “Algum padeiro dessa cidade não é talentoso”.

10. (SERPRO – ANALISTA – ESAF, 2001). Todos os alunos de Matemática são, também, alunos de Inglês, mas nenhum
aluno de inglês é aluno de História. Todos os alunos de Português são também alunos de informática, e alguns alunos
de informática são também alunos de história. Como nenhum aluno de informática é aluno de inglês, e como nenhum
aluno de Português e aluno de História, então:

a) pelo menos um aluno de Português é aluno de Inglês


b) pelo menos um aluno de Matemática é aluno de História
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

c) nenhum aluno de Português é aluno de Matemática


d) todos os alunos de Informática são alunos de Matemática
e) todos os alunos de Informática são alunos de Português

Resposta: Letra C. São muitos diagramas para se montar, porém quase todos são proposições universais de fácil en-
tendimento. Unificando todas as informações, monta-se o diagrama e se observa que nenhum aluno de Português
é aluno de Matemática.

92
11. (EMSERH – PSICÓLOGO – FUNCAB, 2016). Dizer Resposta: Letra C. Questão trabalhosa mas possí-
que não é verdade que Francisco é dentista e Tânia é vel. Considere p = “Hoje é Carnaval” e q = “É 8 ou 9
enfermeira, é logicamente equivalente a dizer que é de fevereiro”. Aplicando a negação da bicondicional,
verdade que: temos que: = Hoje é carnaval e não é nem 8 e nem 9
de fevereiro ou é 8 ou 9 de fevereiro e não é carnaval.
a) Se Francisco não é dentista, então Tânia não é en- Usando a propriedade comutativa onde podemos in-
fermeira. verter a ordem das proposições, conseguimos montar
b) Francisco não é dentista e Tânia não é enfermeira. a alternativa C.
c) Se Francisco não é dentista, então Tânia é enfermeira.
d) Francisco não é dentista ou Tânia não é enfermeira. 15. (ANAC – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF,
e) Francisco é dentista ou Tânia não é enfermeira. 2016). A proposição “se o voo está atrasado, então o
aeroporto está fechado para decolagens” é logicamente
Resposta: Letra D. Aplicando a regra de De Morgan, equivalente à proposição:
a negação da conjunção será a disjunção das nega-
ções, então nega-se ambas as proposições e aplica- a) o voo está atrasado e o aeroporto está fechado para
-se o operador “ou”. decolagens.
b) o voo não está atrasado e o aeroporto não está fecha-
12. (TJ-SP – ESCREVENTE – VUNESP, 2017). Uma ne- do para decolagens.
gação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é c) o voo está atrasado, se e somente se, o aeroporto está
pobre” é: fechado para decolagens.
d) se o voo não está atrasado, então o aeroporto não
a) Se João é rico, então Maria é pobre está fechado para decolagens.
b) João não é rico, e Maria não é pobre e) o voo não está atrasado ou o aeroporto está fechado
c) João é rico, e Maria não e pobre para decolagens.
d) Se João não é rico, então Maria não é pobre
e) João não é rico, ou Maria não é pobre Resposta: Letra E. Como a questão envolve condicio-
nal, devemos pensar em aplicar a implicação material
ou a transposição. Olhando as alternativas, temos ape-
Resposta: Letra B. Aplicando a regra de De Mor-
nas uma delas que é condicional, então provavelmen-
gan, a negação da disjunção será a conjunção das
te será melhor aplicar a implicação material primeiro,
negações.
que gera o seguinte resultado: “O voo não está atra-
sado ou o aeroporto está fechado para decolagens”.
13. (PREFEITURA DE MARILÂNDIA – AGENTE ADMI-
NISTRATIVO – IDECAN, 2016). A negação da propo-
16. (PMRJ – ADMINISTRADOR – PMRJ, 2016). Uma
sição composta “Se goleia o rival, então é campeão” é
proposição logicamente equivalente a “se eu não posso
equivalente a: pagar um táxi, então vou de ônibus” é a seguinte: 
a) Não goleia o rival e é campeão. a) se eu não vou de ônibus, então posso pagar um táxi 
b) Goleia o rival e não é campeão. b) se eu posso pagar um táxi, então não vou de ônibus
c) Não goleia o rival ou é campeão. c) se eu vou de ônibus, então não posso pagar um táxi
d) Nem goleia o rival, nem é campeão. d) se eu não vou de ônibus, então não posso pagar um
táxi
Resposta: Letra B. A negação da condicional é uma
conjunção da primeira proposição com a negação da Resposta: Letra A. Como todas as alternativas são
segunda, o que aparece na alternativa B. condicionais, provavelmente o exercício se resolve apli-
cando a transposição. Negando as duas proposições e
14. (TJ-PR – ANALISTA JUDICIÁRIO – PUC-PR, 2017). invertendo a ordem, temos que “Se eu não vou de ôni-
Arno, especialista em lógica, perguntou: qual a nega- bus, então posso pagar um taxi”. Observe que já temos
ção de “hoje é carnaval se, e somente se, for 8 ou 9 de uma negação na frase original e na hora de negarmos,
fevereiro”? faremos uma dupla negação, eliminando os dois “não”.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

A resposta CORRETA é:  17. (PMRJ – ADMINISTRADOR – PMRJ, 2016). A pro-


posição equivalente para “A lua é um satélite natural se e
a) Hoje não é Carnaval se, e somente se, não for 8 ou somente se Saturno ter anéis” é:
9 de fevereiro
b) Hoje não é Carnaval e não é 8 nem 9 de fevereiro a) Se a Lua é um satélite natural, então Saturno tem anéis
c) Hoje não é Carnaval e é 8 ou 9 de fevereiro ou hoje é ou Se Saturno tem anéis, então a Lua é um satélite
Carnaval e não é nem 8 e nem 9 de fevereiro natural
d) Hoje é Carnaval e é 8 de fevereiro b) Se a Lua é um satélite natural, então Saturno não tem
e) Hoje é Carnaval e é 8 ou 9 de fevereiro ou hoje não é anéis e Se Saturno não tem anéis, então a Lua é um
Carnaval e não é nem 8 e nem 9 de fevereiro satélite natural

93
c) Se a Lua é um satélite natural, então Saturno tem anéis fica indefinida sob o ponto de vista lógico, uma vez
e Se Saturno tem anéis, então a Lua é um satélite na- que não temos informações suficientes para determi-
tural nar se Adriano é ou não vice-presidente do TCE, mas
d) Se a Lua não é um satélite natural, então Saturno não isto não afeta a escolha da alternativa correta.
tem anéis e Se Saturno tem anéis, então a Lua é um
satélite natural 20. (PF – ESCRIVÃO – CESPE, 2009). A sequência de
proposições a seguir constitui uma dedução correta:
Resposta: Letra C. Aplicando a equivalência material
que transforma a bicondicional em duas condicionais, Se Carlos não estudou, então ele fracassou na prova de
temos que “Se a Lua é um satélite natural, então sa- Física.
turno tem anéis e se Saturno tem anéis, então a Lua é Se Carlos jogou futebol, então ele não estudou.
um satélite natural”. Carlos não fracassou na prova de Física
Carlos não jogou futebol
18. (TCE-RS – ENGENHEIRO – CESPE, 2004). A seguin-
te afirmação é válida: ( ) CERTO ( ) ERRADO

Premissa 1: Toda pessoa honesta paga os impostos de- Resposta: Certo. Considerando as três primeiras li-
vidos nhas como premissas e a última como conclusão, cha-
Premissa 2: Carlos paga os impostos devidos maremos de a: Carlos estudou, b: Carlos fracassou na
Conclusão: Carlos é uma pessoa honesta prova de Física e c: Carlos jogou futebol. Construindo
a tabela-verdade com a ordem estudada nesta apos-
( ) CERTO ( ) ERRADO tila, teremos que apenas a linha 4 terá as 3 premissas
VERDADEIRAS simultaneamente e nesta linha temos
Resposta: Errado. Montando as premissas dentro do também a conclusão VERDADEIRA. Logo, este argu-
diagrama de Euler, se o conjunto “pagam impostos” mento é válido.
e “honestos” não forem coincidentes, não há como
garantir que Carlos está necessariamente dentro do
conjunto “honestos”. Portanto, o argumento torna-se
inválido.

19. (TCE/AC – ANALISTA – CESPE, 2008). Considere


que as seguintes proposições são premissas de um ar-
gumento:

1. César é o presidente do tribunal de contas e Tito é um


conselheiro
2. César não é o presidente do tribunal de contas ou
Adriano impõe penas disciplinares na forma da lei
3. Se Adriano é vice-presidente do tribunal de contas,
então Tito não é o corregedor.

Com base nas definições apresentadas no texto acima,


assinale a opção em que a proposição apresentada, jun-
to com essas premissas, forma um argumento válido:

a) Adriano não é o vice-presidente do tribunal de contas


b) Se César é o presidente do tribunal de contas, então
Adriano não é o corregedor.
c) Se Tito é o corregedor, então Adriano é o vice-presi-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

dente do tribunal de contas.


d) Tito não é o corregedor
e) Adriano impõe penas disciplinares na forma da lei

Resposta: Letra E. Utilizando o método de premissas


verdadeiras, a primeira premissa já nos garante que
César é o presidente do tribunal de contas e Tito é um
conselheiro. Na segunda, como temos uma disjunção
e a primeira proposição é falsa, já que César é o pre-
sidente do tribunal, temos que ter que Adriano impõe
penas disciplinares na forma da lei, o que é exatamen-
te a alternativa E. Para completar, a terceira premissa

94
6. (Pref. Teresina – PI) Roberto trabalha 6 horas por dia
de expediente em um escritório. Para conseguir um dia
HORA DE PRATICAR! extra de folga, ele fez um acordo com seu chefe de que
trabalharia 20 minutos a mais por dia de expediente pelo
1.(SAAE de Aimorés – MG) Em uma festa de aniversário, número de dias necessários para compensar as horas de
cada pessoa ingere em média 5 copos de 250 ml de refri- um dia do seu trabalho. O número de dias de expediente
gerante. Suponha que em uma determinada festa, havia que Roberto teve que trabalhar a mais para conseguir
20 pessoas presentes. Quantos refrigerantes de 2 litros o seu dia de folga foi igual a Parte superior do formulário
organizador da festa deveria comprar para alimentar as
20 pessoas?  a) 16
b) 15
a) 12 c) 18
b) 13 d) 13
c) 15 e) 12
d) 25
7.(ITAIPU BINACIONAL) O valor da expressão:
2. Analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa 1 + 1 + 1 + 1𝑥7 + 1 + 1𝑥0 + 1 − 1 é
CORRETA:
I) 3 𝑥 4 ∶ 2 = 6 a) 0
II) 3 + 4 𝑥 2 = 14 b) 11
III) O resto da divisão de 18 por 5 é 3 c) 12
d) 29
a) I somente e) 32
b) I e II somente
c) I e III somente 8. Qual a diferença prevista entre as temperaturas no
d) I, II e III Piauí e no Rio Grande do Sul, num determinado dia, se-
gundo as informações? Tempo no Brasil: Instável a enso-
3. (Pref. de Timon – MA) O problema de divisão 648 : 2 larado no Sul. Mínima prevista -3º no Rio Grande do Sul.
é equivalente à: Máxima prevista 37° no Piauí.

a) 600: 2 𝑥 40: 2 𝑥 8: 2 a) 34
b) 6: 2 + 4: 2 + 8: 2 b) 36
c) 600: 2 − 40: 2 − 8: 2 c) 38
d) 600: 2 + 40: 2 + 8: 2 d) 40
e) 6: 2𝑥4: 2𝑥8: 2 e) 42

4. (Pref. de São José do Cerrito – SC) Qual o valor da 9. Qual é o produto de três números inteiros consecuti-
expressão: 34 + 14.4⁄2 − 4 ? vos em que o maior deles é –10?

a) 58 a) -1320
b) -31 b) -1440
c) 92 c) +1320
d) -96 d) +1440
e) nda
5. (IF-ES) Um caminhão tem uma capacidade máxima de
700 kg de carga. Saulo precisa transportar 35 sacos de ci- 10. Três números inteiros são consecutivos e o menor
mento de 50 kg cada um. Utilizando-se desse caminhão, deles é +99. Determine o produto desses três números.
o número mínimo de viagens que serão necessárias para
a) 999.000
realizar o transporte de toda a carga é de:
b) 999.111
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

c) 999.900
a) 4 d) 999.999
b) 5 e) 1.000.000
c) 2
d) 6 11. Adicionando –846 a um número inteiro e multiplican-
e) 3 do a soma por –3, obtém-se +324. Que número é esse?

a) 726
b) 738
c) 744
d) 752
e) 770

95
12. Numa adição com duas parcelas, se somarmos 8 à 17. (PREF. ITATINGA-PE – ASSISTENTE ADMINIS-
primeira parcela, e subtrairmos 5 da segunda parcela, o TRATIVO – IDHTEC/2016) O número 102 + 101 + 100 é
que ocorrerá com o total? a representação de que número?

a) -2 a) 100
b) -1 b) 101
c) +1 c) 010
d) +2 d) 111
e) +3 e) 110

13. (Prefeitura de Chapecó – Engenheiro de Trânsito 18. (TRF-SP – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2014) O
– IOBV/2016) A alternativa cujo valor não é divisor de resultado da expressão numérica 53 : 51 × 54 : 5 × 55 : 5 :
18.414 é: 56 - 5 é igual a :

a) 27 a) 120.
b) 31
c) 37 b)
1
d) 22 5
c) 55.
14. Verifique se os números abaixo são divisíveis por 4. d) 25.
e) 620.
a) 23418
b) 65000 19. (FEI-SP) O valor da expressão B = 5 . 108 . 4 . 10-3 é:
c) 38036
d) 24004 a) 206
e) 58617
b) 2 . 106
c) 2 . 109
15. (ALGÁS – ASSISTENTE DE PROCESSOS ORGANI-
ZACIONAIS – COPEVE/2014) d) 20 . 10-4

Critério de divisibilidade por 11 20. (PREF. GUARULHOS-SP –ASSISTENTE DE GES-


TÃO ESCOLAR – VUNESP/2016) Para iniciar uma vi-
Esse critério é semelhante ao critério de divisibilidade por sita monitorada a um museu, 96 alunos do 8º ano e 84
9. Um número é divisível por 11 quando a soma alter- alunos do 9º ano de certa escola foram divididos em
nada dos seus algarismos é divisível por 11. Por soma grupos, todos com o mesmo número de alunos, sendo
alternada queremos dizer que somamos e subtraímos al- esse número o maior possível, de modo que cada gru-
garismos alternadamente (539  5 - 3 + 9 = 11). po tivesse somente alunos de um único ano e que não
Disponível em:<http://educacao.globo.com>  . Acesso restasse nenhum aluno fora de um grupo. Nessas con-
em: 07 maio 2014.   dições, é correto afirmar que o número total de grupos
formados foi
Se A e B são algarismos do sistema decimal de numera-
ção e o número 109AB é múltiplo de 11, então a) 8
b) 12
a) B = A
c) 13
b) A+B=1
c) B-A=1 d) 15
d) A-B=10 e) 18
e) A+B=-10
21. (PREF. ITATINGA-PE – ASSISTENTE ADMINIS-
16. (IF-SE – TÉCNICO DE TECNOLOGIA DA INFOR- TRATIVO – IDHTEC/2016) Um ciclista consegue fazer
MAÇÃO - FDC-2014) João, nascido entre 1980 e 1994, um percurso em 12 min, enquanto outro faz o mesmo
irá completar, em 2014, x anos de vida. Sabe-se que x percurso 15 min. Considerando que o percurso é circular
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

é divisível pelo produto dos seus algarismos. Em 2020, e que os ciclistas partem ao mesmo tempo do mesmo
João completará a seguinte idade: local, após quanto tempo eles se encontrarão?

a) 32 a) 15 min
b) 30 b) 30 min
c) 28 c) 1 hora
d) 26 d) 1,5 horas
e) 2 horas

22. (PREF. SANTA TERIZINHA DO PROGRESSO-SC


– PROFESSOR DE MATEMÁTICA – CURSIVA/2018)
Acerca dos números primos, analise.

96
I- O número 11 é um número primo; c) I e III
II- O número 71 não é um número primo; d) II e III
III- Os números 20 e 21 são primos entre si. e) Todos os itens

Dos itens acima: 26. (TRT- 15ª REGIÃO SP– ANALISTA JUDICIÁRIO –
FCC/2018) André, Bruno, Carla e Daniela eram sócios em
a) Apenas o item I está correto. um negócio, sendo a participação de cada um, respecti-
b) Apenas os itens I e II estão corretos. vamente, 10%, 20%, 20% e 50%. Bruno faleceu e, por não
c) Apenas os itens I e III estão corretos. ter herdeiros naturais, estipulara, em testamento, que sua
d) Todos os itens estão corretos. parte no negócio deveria ser distribuída entre seus só-
cios, de modo que as razões entre as participações dos
23. (SAMAE DE CAXIAS DO SUL –RS – OPERADOR três permanecessem inalteradas. Assim, após a partilha, a
DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO nova participação de André no negócio deve ser igual a:
– OBJETIVA/2017) Marcar C para as afirmativas Certas,
E para as Erradas e, após, assinalar a alternativa que apre- a) 20%.
senta a sequência CORRETA: b) 8%
c) 12,5%
(---) Pertencem ao conjunto dos números naturais ímpa- d) 15%
res os números ímpares negativos e os positivos. e) 10,5%
(---) O número 72 é divisível por 2, 3, 4, 6, 8 e 9
(---) A decomposição do número 256 em fatores primos é 27. (PREF. GUARULHOS-SP – AUXILIAR ADMINIS-
27 TRATIVO – VUNESP/2018) Um terreno retangular tem
(---) Considerando-se os números 84 e 96, é correto afir- 35 m de largura e 1750 m2 de área. A razão entre a largu-
mar que o máximo divisor comum é igual a 12. ra e o comprimento desse terreno é 

a) E - E - C - C. a) 0,8.
b) E - C - C - E. b) 0,7.
c) C - E - E - E. c) 0,6.
d) E - C - E - C. d) 0,5.
e) C - E - C - C. e) 0,4.

24. (PREF. GUARULHOS-SP – AGENTE ESCOLAR 28. (UTPR 2018) O preço de cada peça é definido pro-
– VUNESP/2016) No ano de 2014, três em cada cinco porcionalmente à área de cada uma em relação à unida-
estudantes, na faixa etária dos 18 aos 24 anos, estavam de padrão. Por exemplo, a área da peça B é metade da
cursando o ensino superior, segundo dados do Instituto área da unidade padrão, desse modo o preço da peça B
Brasileiro de Geografia e Estatística. Supondo-se que na- é metade do preço da unidade padrão, ou seja, R$ 12,00.
quele ano 2,4 milhões de estudantes, naquela faixa etária, Assim, as peças A, C e D custam respectivamente: 
não estivesse cursando aquele nível de ensino, o número
dos que cursariam o ensino superior, em milhões, seria: a) R$ 12,00; R$ 12,00; R$ 4,00
b) R$ 12,00; R$ 6,00; R$ 6,00
a) 3,0 c) R$ 6,00; R$ 4,00; R$ 4,00
d) R$ 12,00; R$ 4,00; R$ 6,00
b) 3,2
e) R$ 12,00; R$ 6,00; R$ 4,00
c) 3,4
d) 3,6
29. Dividindo-se 660 em partes inversamente proporcio-
e) 4,0
nais aos números 1/2, 1/3 e 1/6 obtém-se que números?
2.5 (PREF. TERRA DE AREIA-RS – AGENTE ADMI-
a) 30, 10, 5.
NISTRATIVO – OBJETIVA/2016) Três funcionários
b) 30, 20, 10.
(Fernando, Gabriel e Henrique) de determinada empresa c) 40, 30, 20.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

deverão dividir o valor de R$ 950,00 entre eles, de forma d) 20, 10, 5


diretamente proporcional aos dias trabalhos em certo
mês. Sabendo-se que Fernando trabalhou 10 dias, Ga- 30. Certo concreto é obtido misturando-se uma parte de
briel, 12, e Henrique, 16, analisar os itens abaixo:  cimento, dois de areis e quatro de pedra. Qual será (em
m³) a quantidade de areia a ser empregada, se o volume
I - Fernando deverá receber R$ 260,00. a ser concretado é 378 m³?
II - Gabriel deverá receber R$ 300,00.
III - Henrique deverá receber R$ 410,00. a) 108m3
b) 100m3
Está(ão) CORRETO(S): c) 80m3
e) 60m3
a) II
b) I e II

97
31. A herança de R$ 30.000,00 deve ser repartida entre 36. (EBSERH – TÉCNICO EM ENFERMAGEM –
Antonio, Bento e Carlos. Cada um deve receber em par- IBFC/2017) Paulo gastou 40% de 3/5 de seu salário e
tes diretamente proporcionais a 3, 5 e 6, respectivamen- ainda lhe restou R$ 570,00. Nessas condições o salário
te, e inversamente proporcionais às idades de cada um. de Paulo é igual a:
Sabendo-se que Antonio tem 12 anos, Bento tem 15 anos
e Carlos 24 anos, qual será a parte recebida por Bento? a) R$ 2375,00
b) R$ 750,00
a) R$ 12.000,00. c) R$ 1240,00
b) R$ 14.000,00. d) R$ 1050,00
b) R$ 8.000,00. e) R$ 875,00
c) R$ 24.000,00.

32. (SAAE Aimorés- MG – Ajudante – MÁXIMA/2016) 37. (PREF. TANGUÁ-RJ – TÉCNICO E ENFERMAGEM
Misturam-se 30 litros de álcool com 20 litros de gasolina. – MS CONCURSOS/2017) Raoni comprou um fogão
A porcentagem de gasolina na mistura é igual a:  com 25% de desconto, pagando por ele R$ 330,00. Qual
era o preço do fogão sem o desconto?
a) 40%
b) 20% a) R$ 355,00
c) 30% b) R$ 412,50
d) 10% c) R$ 440,00
d) R$ 460,00
33. (PREF. PIRAÚBA-MG – OFICIAL DE SERVIÇO PÚ-
BLICO – MS CONCURSOS/2017) Certo estabelecimen- 38. (EBSERH – ADVOGADO – IBFC/2016) Ao comprar
to de ensino possui em seu quadro de estudantes alunos um produto, José obteve um desconto de 12% (doze
de várias idades. A quantidade de alunos matriculados por cento) por ter pagado à vista e pagou o valor de R$
neste estabelecimento é de 1300. Sabendo que deste to- 105,60 (cento e cinco reais e sessenta centavos). Nessas
tal 20% são alunos maiores de idade, podemos concluir condições, o valor do produto, sem desconto, é igual a:
que a quantidade de alunos menores de idade que estão
matriculados é:
a) R$ 118,27
b) R$ 125,00
a) 160
c) R$ 120,00
b) 1040
d) R$ 130,00
c) 1100
d) 1300 e) R$ 115,00

34. (PREF. JACUNDÁ-PA – AUXILIAR ADMINISTRATI- 39. (PREF. ITAPEMA-SC – AGENTE MUNICIPAL DE
VO – INAZ/2016) Das 300 dúzias de bananas que seu José TRÂNSITO – MS CONCURSOS/2016) Segundo da-
foi vender na feira, no 1° dia, ele vendeu 50% ao preço de dos do IBGE, a população de Itapema (SC) em 2010 era
R$ 3,00 cada dúzia; no 2° dia ele vendeu 30% da quantidade de, aproximadamente, 45.800 habitantes. Já atualmente,
que sobrou ao preço de R$ 2,00; e no 3° dia ele vendeu 20% essa população é de, aproximadamente, 59.000 habitan-
do que restou da venda dos dias anteriores ao preço de R$ tes. O aumento percentual dessa população no período
1,00. Quanto seu José apurou com as vendas das bananas de 2010 a 2016 foi de:
nos três dias?
a) 22,4%
a) R$ 700,00 b) 28,8%
b) R$ 540,00 c) 71,2%
c) R$ 111,00 d) 77,6%
d) R$ 450,00
e) R$ 561,00 40. (EBSERH – ADVOGADO – IBFC/2016) Joana gas-
tou 60% de 50% de 80% do valor que possuía. Portanto,
35. (COLÉGIO PEDRO II – PROFESSOR – 2016) Com a a porcentagem que representa o que restou para Joana
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

criação de leis trabalhistas, houve muitos avanços em re- do valor que possuía é:
lação aos direitos dos trabalhadores. Entretanto, ainda há
muitas barreiras. Atualmente, a renda das mulheres cor- a) 76%
responde, aproximadamente, a três quartos da renda dos b) 24%
homens. Considerando os dados apresentados, qual a dife- c) 32%
rença aproximada, em termos percentuais, entre a renda do d) 68%
homem e a da mulher?
e) 82%
a) 75%
b) 60%
c) 34%
d) 25%

98
41. (TRT 11ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – 44. (COLÉGIO PEDRO II – PROFESSOR – 2018) O nú-
FCC/2015) Em 2015 as vendas de uma empresa foram mero decimal que representa a quantidade de crianças e
60% superiores as de 2014. Em 2016 as vendas foram jovens envolvidos em atividades não agrícolas no Brasil,
40% inferiores as de 2015. A expectativa para 2017 é de segundo o PNAD 2015, é: 
que as vendas sejam 10% inferiores as de 2014. Se for
confirmada essa expectativa, de 2016 para 2017 as ven- a) 68/10
das da empresa vão. b) 0,68
c) 6,8
a) diminuir em 6,25% d) 68/100
b) aumentar em 4%
c) diminuir em 4% 45. Em seu testamento, uma mulher decide dividir seu
d) diminuir em 4,75% patrimônio entre seus quatro filhos. Tal divisão foi feita
e) diminuir em 5,5% da seguinte forma:

42. (SAMAE CAXIAS DO SUL –RS –AJUSTADOR DE • João receberá 1/5;


HIDRÔMETROS – OBJETIVA/2017) Em certa turma de • Camila receberá 15%;
matemática do Ensino Fundamental, o professor dividiu • Ana receberá R$ 16.000,00;
igualmente os 34 alunos em dois grupos (A e B) para que • Carlos receberá 25%.
participassem de certa competição de matemática en-
volvendo frações. Para cada resposta correta dada pelo A fração que representa a parte do patrimônio recebida
grupo, este ganhava 10 pontos e, para cada resposta por Ana é:
incorreta, o grupo transferia 5 dos seus pontos para a
equipe adversária. Considerando-se que os grupos A e B a) 2/4.
iniciaram a competição com 20 pontos cada, e as ques- b) 3/5.
tões foram as seguintes, assinalar a alternativa CORRETA: c) 2/5.
d) 1/4.
e) 3/4.

46. Bela é uma leitora voraz. Ela comprou uma cópia


do best seller «A Beleza da Matemática». No primeiro dia,
Bela leu 1/5 das páginas mais 12 páginas, e no segundo
dia, ela leu 1/4 das páginas restantes mais 15 páginas.
No terceiro dia, ela leu 1/3 das páginas restantes mais 18
páginas. Então, Bela percebeu que restavam apenas 62
páginas para ler, o que ela fez no dia seguinte. Então, o
livro lido por Bela possuía o seguinte número de páginas:

a) 120.
b) 180.
c) 240.
d) 300.

47. (EMAP – CARGOS DE NÍVEL MËDIO – CES-


PE/2018) Os operadores dos guindastes do Porto de
Itaqui são todos igualmente eficientes. Em um único dia,
seis desses operadores, cada um deles trabalhando du-
a)  grupo B ficou com 25 pontos a mais do que o grupo A. rante 8 horas, carregam 12 navios.
b) grupo A ficou com 10 pontos a mais do que o grupo B.
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

c) grupo B ganhou ao todo 30 pontos e perdeu 5. Com referência a esses operadores, julgue o item seguin-
d) grupo A ganhou ao todo 20 pontos e perdeu 10. te.
e) Os dois grupos terminaram a competição com a mes-
ma pontuação, 30 pontos cada. Para carregar 18 navios em um único dia, seis desses
operadores deverão trabalhar durante mais de 13 horas.
43. (UFGO) Uma fração equivalente a 3/4 cujo denomi-
nador é um múltiplo dos números 3 e 4 é: ( ) CERTO ( ) ERRADO

a) 6/8
b) 9/12
c) 15/24
d) 12/16

99
48. (PREF. SUZANO-SP – GUARDA CIVIL MUNICIPAL 53. (VUNESP – TJM – SP – AGENTE DE SEGURAN-
– VUNESP/2018) Para imprimir um lote de panfletos, uma ÇA JUDICIÁRIA – 2013) Se certa máquina trabalhar
gráfica utiliza apenas uma máquina, trabalhando 5 horas por seis horas por dia, de forma constante e sem parar, ela
dia durante 3 dias. O número de horas diárias que essa má- produzira n peças em seis dias. Para produzir quantidade
quina teria que trabalhar para imprimir esse mesmo lote em igual das mesmas peças em quatro dias, essa máquina
2 dias seria  deverá trabalhar diariamente, nas mesmas condições, um
número de horas igual a
a) 8,0.
b) 7,5. a) 12.
c) 7,0. b) 10.
d) 6,5. c) 9.
e) 6,0. d) 8.

49. (VUNESP – CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO CAR- 54. (VUNESP – AUXILIAR AGROPECUÁRIO – 2014)
LOS – AGENTE DE COPA – 2013) Com uma lata de leite O refeitório de uma fábrica prepara suco para servir no
condensado, é possível se fazer 30 brigadeiros. Sabendo almoço. Com 5 litros de suco é possível encher comple-
que o preço de cada lata é de 4 reais, e para uma come- tamente 20 copos de 250 ml. Em um certo dia, foram
moração serão necessários 450 brigadeiros, o total gasto, servidas 90 refeições e acompanhando cada uma delas,
em reais, para fazer esses brigadeiros, será de 1 copo com 250 ml de suco. O número, mínimo, de litros
de suco necessário para o almoço, desse dia, foi
a) 45
b) 53 a) 21,5.
c) 60 b) 22.
d) 70. c) 22,5.
d) 23.
50. (VUNESP – CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS e) 23,5.
– RECEPCIONISTA – 2013) Num posto de gasolina, foi pedi-
do ao frentista que enchesse o tanque de combustível. Foram 55. (PREF. TERESINA-PI – PROFESSOR – NUCE-
colocados 20,6 litros de gasolina, pelos quais custou R$ 44,29. PE/2016) Sabendo que o comprimento do muro Parque
Se fossem colocados 38 litros de gasolina, o valor a ser pago Zoobotânico é de aproximadamente 1,7 km e sua altura
seria de é de 1,7 m, um artista plástico pintou uma área corres-
pondente a 34 m² do muro em 8 horas trabalhadas em
a) R$ 37,41. um único dia. Trabalhando no mesmo ritmo e nas mes-
b) R$ 79,80. mas condições, para pintar este muro, o pintor levará
c) R$ 81,70.
d) R$ 85,30. a) 83 dias.
e) R$ 88,50. b) 84 dias.
c) 85 dias.
51. (VUNESP - CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO CAR- d) 86 dias.
LOS – RECEPCIONISTA – 2013) Lendo 30 páginas por e) 87 dias.
dia de um livro, gastarei 6 dias para ler esse livro. Se eu ler
20 páginas por dia desse mesmo livro, gastarei 56. (SES-PR – TÉCNICO DE ENFERMAGEM –
UFPR/2009) Uma indústria metalúrgica consegue pro-
a) 9 dias. duzir 24.000 peças de determinado tipo em 4 dias, tra-
b) 8 dias. balhando com seis máquinas idênticas, que funcionam 8
c) 6 dias. horas por dia em ritmo idêntico de produção. Quantos
d) 5 dias. dias serão necessários para que essa indústria consiga
e) 4 dias. produzir 18.000 peças, trabalhando apenas com 4 dessas
máquinas, no mesmo ritmo de produção, todas elas fun-
52. (VUNESP – PROCON – AUXILIAR DE MANUTEN-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

cionando 12 horas por dia?


ÇÃO – 2013) Um supermercado fez a seguinte oferta
“3/4 de quilograma de carne moída por apenas R$ 4,50 a) 3.
‘’. Uma pessoa aproveitou a oferta e comprou 3 quilogra- b) 4.
mas de carne moída. Essa pessoa pagou pelos 3 quilo- c) 5.
gramas de carne d) 6.
e) 8.
R$ 18,00.
R$ 18,50.
R$ 19,00.
R$ 19,50.
R$ 20,00.

100
57. (CISMARPA – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – 61. (PREFEITURA DE SARZEDO-MG – TÉCNICO ADMI-
IPEFAE/2015)  Em um restaurante, 4 cozinheiros fazem NISTRATIVO – IBGP – 2018) Analise o trecho e assina-
120 pratos em 5 dias. Para atender uma demanda maior le a alternativa que completa CORRETAMENTE a lacuna: 
de pessoas, o gerente desse estabelecimento contratou “___________ são declarações às quais pode ser atribuído
mais 2 cozinheiros. Quantos pratos serão feitos em 8 dias ou valor verdadeiro ou valor falso.” 
de funcionamento do restaurante? 
a) 288 a) Proposições
b) 294 b) Conjunções
c) 296 c) Permutações
d) 302 d) Afirmações

58. (CRO-SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – 62. (PREFEITURA DE SARZEDO-MG – TÉCNICO ADMI-


VUNESP/2015) Cinco máquinas, todas de igual eficiên- NISTRATIVO – IBGP – 2018) Acerca das proposições,
cia, funcionando 8 horas por dia, produzem 600 peças analise. 
por dia. O número de peças que serão produzidas por 12
dessas máquinas, funcionando 10 horas por dia, durante I. A árvore é vermelha. Pode-se dizer que essa afirmação
5 dias, será igual a ou é falsa ou é verdadeira. Portanto, trata-se de uma pro-
posição.
a) 1800. II. Bom dia! Trata-se de uma saudação. Não podemos di-
b) 3600. zer que a frase é falsa, nem mesmo que é verdadeira.
c) 5400. Portanto, a frase não é uma proposição.
d) 7200. III. As informações das proposições possuem valor lógico
e) 9000. totalmente verdadeiro ou totalmente falso. Nunca uma
proposição será verdadeira e falsa ao mesmo tempo. 
59. (PREF. PORTO ALEGRE-RS – FMP CONCUR-
SOS/2012) A construção de uma casa é realizada em 10 Está(ão) CORRETA(S) a(s) afirmativa(s).
dias por 30 operários trabalhando 8 horas por dia. O nú-
mero de operários necessários para construir uma casa a) I apenas
em 8 dias trabalhando 6 horas por dia é b) III apenas
c) I e II apenas
a) 18.
d) I, II, III
b) 24.
c) 32.
63. (PREFEITURA DE SARZEDO-MG – TÉCNICO ADMI-
d) 38.
NISTRATIVO – IBGP – 2018) “Se o pássaro cantar, então
e) 50.
ele está vivo.” 
Com base na estrutura lógica, assinale a alternativa COR-
60.(VUNESP – PMESP – CURSO DE FORMAÇÃO DE
OFICIAIS – 2014) A tabela, com dados relativos à cidade RETA.
de São Paulo, compara o número de veículos de frota, o
número de radares e o valor total, em reais, arrecada- a) 𝑝∨𝑞

do com multas de trânsito, relativos aos anos de 2004 e b) 𝑝∧𝑞


2013: c) 𝑝↔𝑞
d) 𝑝⟶𝑞

Ano Frota Radares Arrecadação 64. (ARCON-PA – ASSISTENTE TÉCNICO – IADES –


2004 5,8 milhões 260 328 milhões 2018) Considere as proposições a seguir. 
2013 7,5 milhões 601 850 milhões
i) Se Amanda vai ao parque, não está calor;
ii) Se está calor, Jorge toma um suco gelado;
Se o número de radares e o valor da arrecadação ti- iii) Se Jorge vai ao parque, Amanda fica em casa. 
vessem crescido de forma diretamente proporcional ao
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

crescimento da frota de veículos no período considera-


Sabendo que Amanda não fica em casa e que Jorge toma
do, então em 2013 a quantidade de radares e o valor
um suco gelado, infere-se que
aproximado da arrecadação, em milhões de reais (des-
considerando-se correções monetárias), seriam, respec-
a) está calor.
tivamente,
b) Amanda vai ao parque.
c) Jorge fica em casa.
a) 336 e 424.
b) 336 e 426. d) Jorge não vai ao parque
c) 334 e 428. e) não está calor
d) 334 e 430.
e) 330 e 432.

101
65. (PC-SP – AUXILIAR DE PAPILOSCOPISTA – VUNESP 70. (PBH ATIVOS S.A. – ANALISTA JURÍDICO – IBGP
– 2018) Considere falsidade a proposição I, e verdade a – 2018) A negação da frase “Toda gestão imobiliária pre-
proposição II: cisa de regulação cadastral” é equivalente a:

I. Se Ana é auxiliar de papiloscopista, então Caio é inves- a) “Existe alguma gestão imobiliária que não precisa de
tigador. regularização cadastral”.
II. Caio é investigador ou Monica é escrivã. b) “Nenhuma gestão imobiliária precisa da regularização
cadastral”.
Com base no que foi apresentado, é verdade que c) “Toda gestão imobiliária independe da regularização
cadastral”.
a) Caio não é investigador, e Monica não é escrivã. d) “Alguma gestão imobiliária precisa da regularização
b) Ana não é auxiliar de papiloscopista, e Monica é es- cadastral”.
crivã.
c) Ana não é auxiliar de papiloscopista, e Caio não é in- 71. (PC-SP – AGENTE POLICIAL – VUNESP – 2018) Leia
vestigador. a frase a seguir: “Qualquer pessoa sabe andar de bicicle-
d) Ana é auxiliar de papiloscopista, e Monica é escrivã. ta”. A afirmação que corresponde à negação lógica dessa
e) Caio é investigador, e Mônica é escrivã. frase é:

66. (AL-RS – AGENTE LEGISLATIVO – FUNDATEC – a) Todos que andam de bicicleta também andam de mo-
2018) A tabela-verdade da fórmula é equivalente à ta- tocicleta.
bela-verdade da fórmula da alternativa: b) Apenas uma pessoa sabe andar de bicicleta
c) Pelo menos uma pessoa não sabe andar de bicicleta.
a) ¬𝑃 → (𝑄 ∨ 𝑅) d) As crianças não sabem andar de bicicleta
b) 𝑃 ∨ (¬𝑄 ∨ ¬𝑅) e) Ninguém sabe andar de bicicleta
c) 𝑃 ∨ (𝑄 ∨ 𝑅)
d) 𝑃 → (¬𝑄 ∧ ¬𝑅) 72. (TJ-SC – TÉCNICO JUDICÁRIO AUXILIAR – FGV –
e) (𝑄 ∨ 𝑅) → 𝑃 2018) Considere a afirmação: “Nenhum médico é cego”.
A negação dessa afirmação é:
67. (AL-RS – TÉCNICO LEGISLATIVO – FUNDATEC–
2018) A tabela-verdade da fórmula : a) Há, pelo menos, um médico cego.
b) Nenhum cego é médico.
a) Só é falsa quando P e Q são falsos c) Todos os médicos são cegos.
b) É uma tautologia d) Todos os cegos são médicos.
c) É uma contradição e) Todos os médicos não são cegos.
d) Só é falsa quando P e Q são verdadeiros
e) Só é falsa quando P é verdadeiro e Q é falso 73. (SEFAZ-RS – TÉCNICO TRIBUTÁRIO – CESPE – 2018)
A negação da proposição “O IPTU, eu pago parcelado; o
68. (IGP-SC – PERITO CRIMINAL AMBIENTAL – IESES– IPVA, eu pago em parcela única” pode ser escrita como
2017) Indique a alternativa que representa uma tauto-
logia: a) “Eu não pago o IPTU parcelado e não pago o IPVA em
parcela única”
a) Se Rafael é inteligente ou Fabricio é chato então Rafael b) “Eu não pago o IPTU parcelado e pago o IPVA parce-
não é inteligente e Fabricio não é chato. lado”
b) Se Rafael é inteligente e Fabricio é chato então Rafael c) “Eu não pago o IPTU parcelado ou não pago o IPVA em
é inteligente e Fabricio não é chato. parcela única”
c) Se Rafael é inteligente ou Fabricio é chato então Rafael d) “Eu pago o IPTU em parcela única e pago o IPVA par-
é inteligente e Fabricio é chato. celado”
d) Se Rafael é inteligente e Fabricio é chato então Rafael e) “Eu pago o IPTU em parcela única ou pago o IPVA par-
é inteligente ou Fabricio é chato celado”
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

69. (PREFEITURA DE NITERÓI – ANALISTA – FGV – 74. (PREFEITURA DE MARICÁ – ORIENTADOR PEDA-
2018) A negação de “Nenhum analista é magro” é: GÓGICO – COESAC – 2018) A negação lógica da afirma-
ção condicional “se Ana adoece, então Pedro fica triste”
a) “Há pelo menos um analista magro”. é:
b) “Alguns magros são analistas”.
c) “Todos os analistas são magros”. a) Se Ana não adoece, Pedro não fica triste.
d) “Todos os magros são analistas”. b) Se Ana adoece, então Pedro não fica triste.
e) “Todos os analistas não são magros”. c) Ana adoece ou Pedro não fica triste.
d) Ana adoece e Pedro não fica triste.
e) Se Pedro fica triste, Ana adoece.

102
75. (PREFEITURA DE CONCHAS. – ASSISTENTE AD- b) A investigação foi feita adequadamente ou as provas
MINISTRATIVO – METRO CAPITAL SOLUÇÕES – 2018) foram consistentes.
Sabe-se que Heloísa dança ballet e fala italiano, a nega- c) A investigação não foi feita adequadamente, mas as
ção desta proposição então é: provas foram consistentes.
d) A investigação não foi feita adequadamente ou as pro-
a) Heloísa não dança ballet ou não fala italiano. vas não foram consistentes.
b) Se Heloísa dança ballet, então não fala italiano. e) A investigação foi feita adequadamente mas as provas
c) Heloísa não dança ballet, e não fala italiano. não foram consistentes.
d) Heloísa fala italiano ou não dança ballet.
e) Heloísa não fala italiano ou dança ballet. 79. (CRF-TO – ANALISTA DE TI - IADES, 2019).
Suponha que, no Conselho Federal de Farmácia, traba-
76. (PREFEITURA DE NITERÓI. – AUDITOR MUNICI- lhem 5 analistas de tecnologia da informação. Uma nova
PAL – FGV – 2018) Considere a sentença: “Se Arlindo é rede de computadores será projetada e implementada
baixo, então Arlindo não é atleta”. Assinale a opção que para modernização dos processos. Para tanto, será mon-
apresenta a sentença logicamente equivalente à senten- tada uma equipe com 4 analistas, sendo 2 responsáveis
ça dada. unicamente por projetar a rede e outros 2 responsáveis
unicamente por instalar e configurar a rede. Quantas
a) “Se Arlindo não é atleta, então Arlindo é baixo”. equipes distintas podem ser formadas para a execução
b) “Se Arlindo não é baixo, então Arlindo é atleta”. da tarefa?
c) “Se Arlindo é atleta, então Arlindo não é baixo”.
d) “Arlindo é baixo e atleta”. a) 20
e) “Arlindo não é baixo e não é atleta”. b) 40
c) 35
77. (TRT 15° REGIÃO – ANALISTA – FCC – 2018) Consi- d) 30
dere os dois argumentos a seguir:  e) 25

I. Se Ana Maria nunca escreve petições, então ela não 80. (CRF-TO – ANALISTA DE TI - IADES, 2019).
sabe escrever petições. Ana Maria nunca escreve peti- Geraldo tem 4 porta-arquivos de mesa de cores diferen-
ções. Portanto, Ana Maria não sabe escrever petições.  tes (azul, verde, amarelo e vermelho) para organizar os
II. Se Ana Maria não sabe escrever petições, então ela processos administrativos da própria repartição. Ele pre-
nunca escreve petições. Ana Maria nunca escreve peti- tende colocar os porta-arquivos lado a lado sobre uma
ções. Portanto, Ana Maria não sabe escrever petições.  escrivaninha. De quantas maneiras diferentes ele pode
Comparando a validade formal dos dois argumentos e organizar esses porta-arquivos?
a plausibilidade das primeiras premissas de cada um, é
correto concluir que a) 36
b) 12
a) o argumento I é inválido e o argumento II é válido, c) 24
mesmo que a primeira premissa de I seja mais plausí- d) 48
vel que a de II. e) 8
b) ambos os argumentos são válidos, a despeito das pri-
meiras premissas de ambos serem ou não plausíveis. 81. (POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍCIA - FU-
c) ambos os argumentos são inválidos, a despeito das VEST, 2013).
primeiras premissas de ambos serem ou não plausí- Em um aeroporto, 30 passageiros que desembarcaram
veis. de determinado voo e que estiveram nos países A, B ou
d) o argumento I é inválido e o II é válido, pois a primeira C, nos quais ocorre uma epidemia infecciosa, foram sele-
premissa de II é mais plausível que a de I. cionados para ser examinados. Constatou-se que exata-
e) o argumento I é válido e o II é inválido, mesmo que a mente 25 dos passageiros selecionados estiveram em A
primeira premissa de II seja mais plausível que a de I. ou em B, nenhum desses 25 passageiros esteve em C e 6
desses 25 passageiros estiveram em A e em B.
78. (PC-SP – ESCRIVÃO – VUNESP – 2018) De um argu-
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

mento válido, sabe-se que suas premissas são: Com referência a essa situação hipotética, julgue o item
que segue.
I. Se a investigação é feita adequadamente e as provas
são consistentes, então é certo que o réu será condena- Se 2 dos 30 passageiros selecionados forem escolhidos
do. ao acaso, então a probabilidade de esses 2 passageiros
II. O réu não foi condenado. terem estado em 2 desses países é inferior a 1/30.
Dessa forma, uma conclusão para esse argumento está ( ) CERTO ( ) ERRADO
contida na alternativa:

a) A investigação não foi feita adequadamente e as pro-


vas não foram consistentes.

103
82. (EPE – ANALISTA – CESGRANRIO, 2014).
A probabilidade de um indivíduo selecionado aleatoria-
mente em uma população apresentar problemas circula-
tórios é de 25%. Sabe-se que indivíduos com problemas GABARITO
de circulação apresentam o dobro da probabilidade de
serem fumantes do que aqueles sem tais problemas. Se
1 B
um indivíduo fumante é selecionado dessa população,
qual a probabilidade de ele apresentar problemas circu- 2 C
latórios? 3 D

a) 2/5 4 A
b) 1/4 5 E
c) 1/3 6 C
d) 1/2
e) 2/3 7 B
8 D
83. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – 9 A
CESGRANRIO, 2018).
Para montar uma fração, deve-se escolher, aleatoriamen- 10 C
te, o numerador no conjunto N = {1, 3, 7, 10} e o denomi- 11 B
nador no conjunto D = {2, 5, 6, 35}.
12 E
Qual a probabilidade de que essa fração represente um 13 C
número menor do que 1(um)? 14 B
15 C
a) 50%
b) 56,25% 16 B
c) 25% 17 D
d) 75%
e) 87,5% 18 A
19 B
20 D
21 C
22 C
23 D
24 D
25 A
26 C
27 B
28 E
29 A
30 B
31 A
32 A
33 B
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

34 E
35 D
36 B
37 C
38 C
39 B
40 A
41 A

104
42 C ANOTAÇÕES
43 B
44 C
45 B ________________________________________________

46 C _________________________________________________
47 ERRADO _________________________________________________
48 B
_________________________________________________
49 C
50 C _________________________________________________
51 A _________________________________________________
52 A
_________________________________________________
53 C
_________________________________________________
54 C
55 C _________________________________________________
56 A _________________________________________________
57 A
_________________________________________________
58 E
59 E _________________________________________________

60 A _________________________________________________
61 A _________________________________________________
62 D
_________________________________________________
63 D
64 D _________________________________________________
65 D _________________________________________________
66 D
_________________________________________________
67 A
_________________________________________________
68 D
69 A _________________________________________________
70 A _________________________________________________
71 C
_________________________________________________
72 A
73 C _________________________________________________

74 D _________________________________________________
75 A _________________________________________________
76 C
_________________________________________________
77 E
MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

78 D _________________________________________________
79 D _________________________________________________
80 C
_________________________________________________
81 ERRADO
_________________________________________________
82 A
83 B _________________________________________________

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105
ANOTAÇÕES

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MATEMÁTICA E RACIOCÍNIO LÓGICO

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106
ÍNDICE

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Princípios da prática docente: sociológicos, filosóficos, antropológicos e éticos ............................................................................... 01


História da Educação Brasileira: Escola, Estado e Sociedade ....................................................................................................................... 09
Política educacional, estrutura e organização da educação ........................................................................................................................ 13
Currículo: Ciclos de aprendizagem. Currículo e os direitos dos educandos e dos educadores. Currículo e avaliação.
Currículo e projeto pedagógico. Currículo e práticas pedagógicas ......................................................................................................... 13
Gestão Escolar Democrática .................................................................................................................................................................................... 45
Projeto Político Pedagógico .................................................................................................................................................................................... 50
Avaliação Institucional ............................................................................................................................................................................................... 57
Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem ......................................................................................................................................... 67
Educação e Cidadania ................................................................................................................................................................................................ 75
Educação Ambiental ................................................................................................................................................................................................... 78
Princípios e Fundamentos da Educação Inclusiva ............................................................................................................................................ 79
Escola para a educação integral ............................................................................................................................................................................. 89
As dimensões da Tecnologia da Informação e Comunicação na educação .......................................................................................... 98
(Faria, 1999; Rocha,1999). A consolidação de uma pers-
PRINCÍPIOS DA PRÁTICA DOCENTE: SOCIO- pectiva pedagógica assim denominada: Pedagogia da In-
LÓGICOS, FILOSÓFICOS, ANTROPOLÓGICOS fância emerge de uma acumulação científica da área da
E ÉTICOS. educação que passa a criticar a reprodução de modelos
educativos reducionistas e conservadores de educação/
ensino, produção/transmissão de conhecimentos, vida
PEDAGOGIA DA INFÂNCIA coletiva/sala de aula e crianças/alunos. Rocha (1999) e
Faria (2009) indicaram, a princípio, a Pedagogia da Infân-
Constitui-se de um conjunto de fundamentos e indi- cia como uma perspectiva de educação pública para a
cações de ação pedagógica que tem como referência as Educação Infantil, porém, a seguir, estenderam-na para
crianças e as múltiplas concepções de infância em dife- todos aqueles que estão entre 0 e 10 anos de vida.
rentes espaços educacionais. Essa perspectiva pedagógi-
ca consolida-se, na contemporaneidade, a partir de uma CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E DE PEDAGOGIA DA
crítica histórica, política, sociológica e antropológica aos EDUCAÇÃO INFANTIL
conceitos de criança e infância. Dessa forma, difere-se
das pedagogias centradas na criança que tiveram sua De acordo com os Parâmetros Curriculares, a criança
emergência nos movimentos da Escola Nova do final do é um sujeito social e histórico que está inserido em uma
século XIX e início do século XX, na Europa e nos Esta- sociedade na qual partilha de uma determinada cultura.
dos Unidos, e que, no Brasil, estão representadas pelos É profundamente marcada pelo meio social em que se
Pioneiros da Educação como Anísio Teixeira e Lourenço desenvolve, mas também contribui com ele. A criança,
Filho. assim, não é uma abstração, mas um ser produtor e pro-
Se as pedagogias ativas, centradas na criança, esta- duto da história e da cultura.
beleciam à crítica a pedagogia tradicional a partir dos Olhar a criança como ser que já nasce pronto, ou que
conhecimentos sobre a criança produzidos pelas inves- nasce vazio e carente dos elementos entendidos como
tigações do campo da biologia e da psicologia evolu- necessários à vida adulta ou, ainda, a criança como su-
tiva, uma Pedagogia da Infância compreende que toda jeito conhecedor, cujo desenvolvimento se dá por sua
e qualquer ação educativa exige considerar as crianças própria iniciativa e capacidade de ação, foram, durante
e os contextos socioculturais que definem sua infância. muito tempo, concepções amplamente aceitas na Educa-
Toma as crianças como seres humanos dotados de ação ção Infantil até o surgimento das bases epistemológicas
social, portadores de história, capazes de múltiplas rela- que fundamentam, atualmente, uma pedagogia para a
ções, produtores de formas culturais próprias construí- infância. Os novos paradigmas englobam e transcendem
das com seus pares, apesar de profundamente afetados a história, a antropologia, a sociologia e a própria psico-
pelas culturas e sociedades das quais fazem parte. Afirma logia resultando em uma perspectiva que define a crian-
a infância como uma categoria geracional, social e histó- ça como ser competente para interagir e produzir cultura
rica e geograficamente construída, heterogênea, atraves- no meio em que se encontra.
sada pelas variáveis de gênero, classe, religião e etnia. A Essa perspectiva é hoje um consenso entre estudio-
Pedagogia da Infância admite como pressuposto básico sos da Educação Infantil. A interação a que se referem os
a criança como um sujeito de direitos (a provisão, a pro- autores citados não é uma interação genérica. Trata-se
teção e a participação social), com base na Convenção de interação social, um processo que se dá a partir e por
dos Direitos das Crianças (1989). Nessa perspectiva de meio de indivíduos com modos histórica e culturalmen-
afirmação das crianças como sujeitos de direitos, exige te determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviável
a definição de indicativos pedagógicos que possibilitem dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas inte-
às crianças a experiência da infância de forma a tomar rações e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvi-
parte em projetos educacionais fundados na democracia, mento decorrente. Nessa perspectiva, a interação social
na diversidade, na participação social, a partir de práti- torna-se o espaço de constituição e desenvolvimento da
cas educativas que privilegiem as relações sociais entre consciência do ser humano desde que nasce.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

todos os segmentos envolvidos (crianças, familiares e Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda
educadores). não é adulto, ou é um adulto em miniatura, a criança é
Tomando como pressuposto que toda apropriação um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em
cultural e qualquer aprendizagem é resultado de uma re- crescimento e em desenvolvimento. É um ser humano
lação social e partilhada de significados coletivos, indica completo porque tem características necessárias para ser
propostas pedagógicas onde as interações, as brincadei- considerado como tal: constituição física, formas de agir,
ras, a ludicidade e as linguagens estejam vinculadas aos pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu cor-
conhecimentos das artes, da cultura, da ciência e da tec- po está continuamente aumentando em peso e altura. É
nologia. No Brasil, a elaboração teórica acerca da Peda- um ser em desenvolvimento porque essas características
gogia da Infância teve seu início logo após a aprovação estão em permanente transformação. As mudanças que
da Educação Infantil como primeira etapa da Educação vão acontecendo são qualitativas e quantitativas— o re-
Básica - Constituição Nacional (1988) e Lei de Diretrizes cém-nascido é diferente do bebê que engatinha, que é
e Bases da Educação Nacional (1996). As discussões so- diferente daquele que já anda, já fala, já tirou as fraldas.
bre as especificidades de uma Pedagogia da Educação O crescimento e o desenvolvimento da criança peque-
Infantil sedimentaram os princípios daquilo que será, na ocorrem tanto no plano físico quanto no psicológico,
posteriormente, instituído como Pedagogia da Infância pois um depende do outro.

1
Embora dependente do adulto para sobreviver, a das crianças pequenas e o interesse de umas pelas ou-
criança é um ser capaz de interagir num meio natural, tras, o que faz com que aprendam a perceber-se e a levar
social e cultural desde bebê. A partir de seu nascimen- em conta os pontos de vista dos outros, permitindo a
to, o bebê reage ao entorno, ao mesmo tempo em que circulação das ideias, a complementação ou a resistência
provoca reações naqueles que se encontram por perto, às iniciativas dos parceiros. A oposição entre parceiros,
marcando a história daquela família. Os elementos de por exemplo, incita a própria argumentação, a objetiva-
seu entorno que compõem o meio natural (o clima, por ção do pensamento e o recuo reflexivo das crianças.
exemplo), social (os pais, por exemplo) e cultural (os va- Ao se levar em conta esses aspectos, não se pode
lores, por exemplo) irão configurar formas de conduta e perder de vista a especificidade da pedagogia da Educa-
modificações recíprocas dos envolvidos. ção Infantil, como afirma Rocha:
No que diz respeito às interações sociais, ressalta-se Enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como
que a diversidade de parceiros e experiências potenciali- objeto fundamental o ensino nas diferentes áreas atra-
za o desenvolvimento infantil. vés da aula; a creche e a pré-escola têm como objeto
Crianças expostas a uma gama ampliada de possibi- as relações educativas travadas num espaço de convívio
lidades interativas têm seu universo pessoal de signifi- coletivo que tem como sujeito a criança de 0 até 6 anos
cados ampliado, desde que se encontrem em contextos de idade.
coletivos de qualidade. Essa afirmativa é considerada vá- É importante destacar que essas relações educativas,
lida para todas as crianças, independentemente de sua às quais a autora se refere, na instituição de Educação
origem social, pertinência étnico-racial, credo político ou Infantil são perpassadas pela função indissociável do cui-
religioso, desde que nascem. dar/educar, tendo em vista os direitos e as necessidades
Por sua vez, a visão da criança como ser que é tam- próprios das crianças no que se refere à alimentação, à
bém parte da natureza e do cosmo merece igualmente saúde, à higiene, à proteção e ao acesso ao conhecimen-
destaque, especialmente se considerarmos as ameaças to sistematizado. Este último aspecto torna-se especial-
de esgotamento de recursos em nosso planeta e as alte- mente relevante no caso das creches no Brasil, onde em
rações climáticas evidentes nos últimos anos. Conforme muitas delas ainda predomina um modelo de atendi-
alerta Tiriba (2005), os seres humanos partilham a vida mento voltado principalmente à alimentação, à higiene
na Terra com inúmeras espécies animais, vegetais e mi- e ao controle das crianças, como demonstra a maioria
nerais, sem as quais a vida no planeta não pode existir. dos diagnósticos e dos estudos de caso realizados em
Essas espécies, por sua vez, interagem permanentemen- creches brasileiras.
te, estabelecendo-se um equilíbrio frágil e instável entre Essa afirmação evidencia a não-superação do caráter
todos os seres que habitam o ar, a água dos rios, dos compensatório da Educação Infantil denunciado por Kra-
lagos e dos mares, os campos, as florestas e as cidades, mer que ainda se manifesta nos dias atuais, como tam-
em nosso sistema solar e em todo o universo. bém a polarização assistência versus educação, aponta-
A intenção de aliar uma concepção de criança à qua- da insistentemente por Kuhlmann Jr. Sabemos que não
lidade dos serviços educacionais a ela oferecidos implica basta apenas transferir as creches para os sistemas de
atribuir um papel específico à pedagogia desenvolvida ensino, pois “na sua história, as instituições pré-escola-
nas instituições pelos profissionais de Educação Infan- res destinaram uma educação de baixa qualidade para as
til. Captar necessidades que bebês evidenciam antes crianças pobres, e isso é que precisa ser superado”.
que consigam falar, observar suas reações e iniciativas, Assim, a ênfase na apropriação de significados pelas
interpretar desejos e motivações são habilidades que crianças, na ampliação progressiva de conhecimentos
profissionais de Educação Infantil precisam desenvolver, de modo contextualizado, com estratégias apropriadas
ao lado do estudo das diferentes áreas de conhecimento às diferentes fases do desenvolvimento infantil, parece
que incidem sobre essa faixa etária, a fim de subsidiar de bastante justificada.
modo consistente as decisões sobre as atividades desen- Da mesma forma que defendemos uma perspectiva
volvidas, o formato de organização do espaço, do tempo, educacional que res- peite a diversidade cultural e pro-
dos materiais e dos agrupamentos de crianças. mova o enriquecimento permanente do uni- verso de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Pesquisas realizadas desde a década de 1970 enfati- conhecimentos, atentamos para a necessidade de ado-
zam que todas as crianças podem aprender, mas não sob ção de estratégias educacionais que permitam às crian-
qualquer condição. Antes mesmo de se expressarem por ças, desde bebês, usufruírem da natureza, observarem e
meio da linguagem verbal, bebês e crianças são capazes sentirem o vento, brincarem com água e areia, atividades
de interagir a partir de outras linguagens (corporal, ges- que se tornam especialmente relevantes se considerar-
tual, musical, plástica, faz-de-conta, entre outras) des- mos que as crianças ficam em espaços internos às cons-
de que acompanhadas por parceiros mais experientes. truções na maior parte do tempo em que se encontram
Apoiar a organização em pequenos grupos, estimulan- nas instituições de Educação Infantil. Criando condições
do as trocas entre os parceiros; incentivar a brincadeira; para que as crianças desfrutem da vida ao ar livre, apren-
dar- lhes tempo para desenvolver temas de trabalho a dam a conhecer o mundo da natureza em que vivemos,
partir de propostas prévias; oferecer diferentes tipos de compreendam as repercussões das ações humanas nesse
materiais em função dos objetivos que se tem em men- mundo e sejam incentivadas em atitudes de preservação
te; organizar o tempo e o espaço de modo flexível são e respeito à biodiversidade, estaremos difundindo uma
algumas formas de intervenção que contribuem para o concepção de educação em que o ser humano é parte da
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. As ini- natureza e não seu dono e senhor absoluto.
ciativas dos adultos favorecem a intenção comunicativa Os aspectos anteriormente abordados devem ser

2
considerados no processo de discussão e elaboração - à diferença e à semelhança;
de diretrizes pedagógicas dos sistemas de ensino e das - à igualdade de oportunidades;
propostas pedagógicas das instituições de Educação - ao conhecimento e à educação;
Infantil. Vale ressaltar a relevância da participação dos - a profissionais com formação específica;
professores, dos demais profissionais da instituição e da - a espaços, tempos e materiais específicos
comunidade nesse processo, não só para que os aspec-
tos citados sejam efetiva- mente considerados no desen- Após discutir como o ambiente de Educação Infantil
volvimento da proposta como também para cumprir a e sua gestão estão intimamente ligados a uma proposta
legislação. pedagógica e a uma determinada concepção de criança,
Em síntese, para propor parâmetros de qualidade podemos nos perguntar: o que é preciso fazer, que deci-
para a Educação Infantil, é imprescindível levar em conta sões será preciso tomar para que realmente o tempo e as
que as crianças desde que nascem são: oportunidades de convivência das crianças nas creches e
escolas estejam de acordo com uma concepção contem-
- cidadãos de direitos; porânea de educação e garantam o protagonismo das
- indivíduos únicos, singulares; crianças, a parceria com suas famílias, a convivência em
- seres sociais e históricos; ambientes ricos, afetivos e desafiadores? O que é priori-
- seres competentes, produtores de cultura; tário, hoje, na gestão das unidades de Educação Infantil
- indivíduos humanos, parte da natureza animal, ve- para que se garanta esse objetivo?
getal e mineral.
FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DE PROFES-
Por sua vez, as crianças encontram-se em uma fase de SORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL
vida em que de- pendem intensamente do adulto para sua
sobrevivência. Apesar da relativamente recente inclusão da educa-
ção de crianças de 0 a 5 anos nos sistemas de ensino
Precisam, portanto, ser cuidadas e educadas, o que im- – compondo o nível chamado de educação infantil –,
plica, diferentes posições têm sido levantadas em relação ao
- ser auxiliadas nas atividades que não puderem rea- profissional que seria responsável pelas crianças nes-
lizar sozinhas; ses sistemas. Cada vez mais se fortalece a compreensão
- ser atendidas em suas necessidades básicas físicas e de que, no sistema de ensino, o profissional responsá-
psicológicas; vel pela educação da criança é o docente (vide Lei no
- ter atenção especial por parte do adulto em momen- 9.394/96, artigo 13), tal como ocorre em outros níveis de
tos peculiares de sua vida. ensino, ou seja, alguém técnica e legalmente habilitado
para educar crianças dessa faixa etária.
Além disso, para que sua sobrevivência esteja garan- Isso contraria posicionamentos sobre o tema que não
tida e seu crescimento e desenvolvimento sejam favo- pressupõem um preparo sistematizado do profissional e
recidos, para que o cuidar/educar sejam efetivados, é que, quando o fazem, não consideram que esse preparo
necessário que sejam oferecidas às crianças dessa faixa deve guiar-se por normas referentes ao magistério. Ao
etária condições de usufruírem plenamente suas possibi- contra-argumentar em relação a tais posições, devemos
lidades de apropriação e de produção de significados no ressaltar que, nos últimos trinta anos, o conhecimento
mundo da natureza e da cultura. As crianças precisam ser científico sobre a educação, a aprendizagem e o desen-
apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas volvimento de crianças pequenas tem avançado muito,
a: provocando impacto nos diferentes países em relação ao
aprimoramento da educação infantil.
- brincar; No Brasil, a presença de educadores leigos trabalhan-
- movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre; do junto às crianças em pré-escolas e creches ainda é
- expressar sentimentos e pensamentos; muito grande. Além disso, o nível de escolaridade dos
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

- desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capaci- profissionais que atuam na educação infantil é mais baixo
dade de expressão; do que o nível de escolaridade daqueles que trabalham
- ampliar permanentemente conhecimentos a respeito nos demais níveis de ensino. Isso tem levado à discussão
do mundo da natureza e da cultura apoiadas por estraté- da necessidade de se eliminar a presença de leigos na
gias pedagógicas apropriadas; educação infantil e as formas diversas de enquadramen-
- diversificar atividades, escolhas e companheiros de to profissional e de contratação por redes de ensino que
interação em creches, pré-escolas e centros de Educação consideram como profissionais da educação auxiliares de
Infantil. desenvolvimento infantil, técnicos em desenvolvimento
infantil, recreacionistas, monitores, pajens e outras deno-
A criança, parte de uma sociedade, vivendo em nosso minações. Para bem encaminhar essa reflexão, temos de
país, tem direito: rever o que se entende por identidade da educação in-
fantil e por profissionais da educação, bem como pensar
- à dignidade e ao respeito; a formação de profissionais da educação infantil.
- autonomia e participação; É preciso considerar que a formação profissional dos
- à felicidade, ao prazer e à alegria; educadores que trabalham na educação infantil é um
- à individualidade, ao tempo livre e ao convívio social; processo cultural que depende da função atribuída à

3
creche e à pré-escola. Historicamente, tal formação, prin- planejamento das situações de convivência, aprendiza-
cipalmente dos educadores que trabalham com crianças gem e desenvolvimento. Há, portanto, conteúdos especí-
menores de 3 anos, está fundamentada em uma concep- ficos na formação do professor que atua na creche.
ção de cuidado infantil como processo naturalizado que O professor de crianças de 0 a 3 anos de idade deve
se aprende e se desenvolve no processo de instituição ser um especialista e sua formação, oferecida nos cursos
da parentalidade, sobretudo das funções maternas, e de graduação, especialização e na formação continuada,
que se dá não em uma instituição educacional, mas em deve possibilitar a esse profissional lidar com a organi-
contexto domiciliar e comunitário. Isso tem gerado muita zação dos espaços e dos tempos das unidades (os esta-
atuação leiga, predominantemente feminina. Também é belecimentos) de educação infantil e com as dinâmicas
muito recente conceber a educação de crianças menores dos grupos infantis, com foco em diferentes prioridades:
de 6 anos como tarefa dos sistemas de ensino, estes mais cuidado físico, atividades propostas para ocorrerem em
preocupados em garantir o aprendizado da alfabetização grupo ou individualmente que possibilitam a construção,
e de noções básicas das chamadas disciplinas escolares pela criança, de significações sobre o mundo e sobre si.
(Barreto, 1994; Ongari; Molina, 2003). Respondendo ao argumento 2: Criança pequena não
Para acompanharmos alguns debates que circulam está pronta para aprender e, assim, não precisa de um
em nossa sociedade, vamos examinar três dos argumen- professor.
tos que têm sido apresentados para defender que a pre- Essa concepção, muitas vezes defendida por um olhar
sença de um professor é desnecessária, ou secundária, leigo, é superada quando se pensa que a educação de
em se tratando da educação de crianças de até 3 anos: crianças de 0 a 3 anos em estabelecimentos educacio-
Respondendo ao argumento 1: Para atender e educar nais, deve considerar que essa fase é constitutiva do
criança pequena, basta ser mulher, não é preciso uma processo de se tornar humano, o qual se dá na relação
formação específica. com o outro. Em outras palavras, a criança, desde o nas-
A concepção assistencialista tradicionalmente usada cimento, interage com parceiros diversos que lhe ajudam
para orientar o atendimento às crianças de famílias de a significar o mundo e a si mesma, a realizar um número
baixa renda em creches fez com que fossem admitidas crescente de diferentes aprendizagens e a constituir-se
para trabalhar nesses locais pessoas sem qualificação como um ser histórico singular.
profissional específica, em uma concepção de que bas- Ora, se desde o nascimento já estão presentes pro-
taria a experiência de cuidado dos próprios filhos. Consi- cessos de aprendizagem, estes requerem uma atenção
derando suficiente a transposição de competências ma- especial quando ocorrem no contexto de uma instituição
ternais para orientar o trabalho com o grupo de crianças, de educação coletiva de crianças, que é diferente do con-
desse profissional eram esperadas paciência, capacidade texto familiar e requer habilidades próprias de quem tra-
para se relacionar afetivamente com as crianças e firmeza balha com as crianças em relação ao planejamento dos
ambientes, às atitudes e aos procedimentos que com-
na condução do grupo infantil.
põem os cuidados com alimentação, higiene, conforto,
Entretanto, um olhar mais aprofundado à questão
proteção e estímulos a brincadeiras.
revela que a condição de ser mulher não é aceita quan-
Nas instituições de educação infantil, o professor
do se trata de atender crianças das camadas sociais de
tem de responder à especificidade das características
melhor renda. Essas famílias e as unidades educacionais
das crianças e atuar como um mediador especial, como
que as atendem há muito defendem que o foco de seu
um recurso de que elas dispõem para aprender a realizar
trabalho é educacional, e não assistencial.
diferentes ações e desenvolver-se, ou seja, ampliar sua
De modo a garantir equidade no tratamento das
forma de agir, sentir e pensar. No decorrer das interações
crianças dos diferentes grupos sociais, tem-se que não que estabelece com elas, o professor busca ser sensível
apenas admitir a articulação e a indissociação das tare- às suas necessidades e aos seus desejos, fortalecer as re-
fas de educar e cuidar, como também reconhecer que a lações que elas estabelecem entre si e preocupar-se em
efetividade dessas tarefas requer que as ações fiquem a envolvê-las em atividades significativamente variadas, a
cargo de alguém cuja formação profissional exige que serem realizadas com diferentes recursos.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

sejam trabalhados certos conhecimentos específicos, ou A mediação do professor se faz à medida que ele
seja, conhecimentos próprios de um professor. busca familiarizar a criança com significações historica-
É certo que, além de sujeitos de aprendizagem em mente elaboradas para orientar as pessoas a como agir
determinada etapa de seu desenvolvimento e em deter- e compreender as situações e os elementos do mundo.
minada cultura, as crianças são dependentes da ajuda de O professor age de uma forma indireta, pelo arranjo do
um parceiro adulto para o atendimento individualizado contexto de aprendizagem das crianças: os espaços, os
de suas necessidades de proteção, afeto, higiene, ali- objetos, os horários, os agrupamentos infantis. Mas, em
mentação, sono etc. Contudo, se a meta é garantir aten- especial, ele atua de modo direto conforme interage com
dimento a necessidades e desejos das crianças e respeito as crianças, apresenta-lhes modelos, considera suas rea-
aos seus direitos, o risco é pensá-la ligada à satisfação ções durante a troca, as refeições, as brincadeiras e ou-
apenas de necessidades físicas (o que já seria meio cami- tras explorações, responde ao que elas perguntam, faz
nho andado) e a experiências pouco exigentes, no senti- perguntas para conhecer suas respostas, pega-as no colo
do de pouco desafiadoras, para as crianças. quando se emocionam e, por vezes, opõe-se ao que elas
Garantir o bem-estar refere-se a atributos dinâmicos estabelecem para ajudá-las a ampliar o olhar, ensinar-
e deve perpassar o conjunto das decisões pensadas para -lhes as regras de seu grupo social ou aperfeiçoar seu
as crianças, os professores e os familiares em relação ao modo de sentir as situações, tudo isso desde muito cedo.

4
As ações do professor junto às crianças são cultural tro primeiras séries do Ensino Fundamental a oferecida
e historicamente constituídas e baseiam-se, em especial, em nível médio, na modalidade Normal (Brasil, 1996).
na representação que ele faz de seu papel e na concep- De acordo com o artigo 29 da LDB, a educação infan-
ção de criança e de educação infantil que possui. Daí a til tem como finalidade o desenvolvimento integral da
importância de o professor centrar seu olhar na criança criança de 0 a 5 anos de idade em seus aspectos físi-
e vê-la como parceira ativa, dona de um modo próprio cos, afetivos, intelectuais, linguísticos e sociais, comple-
de significar o mundo e a si mesma, ponto que reformula mentando a ação da família e da comunidade. A fim de
certas concepções que veem o ensino como um movi- alcançar resultados mais promissores, de acordo com a
mento que parte do professor e que tomam a criança produção científica da área, esse paradigma do desen-
como mero receptor de suas mensagens. Essas novas re- volvimento integral da criança, a ser necessariamente
presentações e concepções devem ser apropriadas pelo compartilhado com a família, deve efetivar-se conside-
professor em sua formação profissional. rando as formas como ela, desde o nascimento, vivencia
Para dar visibilidade ao processo de desenvolvimento o mundo, constrói significação e conhecimentos, expres-
das crianças, o professor precisa aprender a documentar sa-se, interage com diferentes parceiros, manifestando
situações por meio de registros diários, a refletir sobre desejos e curiosidades de modos bastante peculiares
suas práticas pedagógicas de modo a identificar e tra- (Brasil, 2009a).
duzir os sinais das crianças e, a partir disso, a organizar o Uma rede de ensino pode contratar nutricionistas,
cotidiano infantil. além de psicólogos, fonoaudiólogos etc., profissionais
Respondendo ao argumento 3: Criança pequena de nível superior graduados em áreas distintas do ma-
precisa é de alguém para trocá-la e supervisioná-la ao gistério para trabalhar na educação infantil, conforme a
brincar. O professor só necessita trabalhar com ela nos disponibilidade de seus recursos financeiros. Contudo, é
momentos destinados às atividades pedagógicas. exigida formação – no mínimo, de nível médio na moda-
O modelo higienista de atendimento em instituições lidade Normal – dos recreacionistas ou profissionais com
como creches e parques infantis defende a presença de outras denominações contratados para trabalhar com as
pessoas capazes de dar atenção ao desenvolvimento físi- crianças.
co das crianças e privilegia o aprendizado pelo cuidador
de noções de higiene, nutrição e primeiros socorros. Já Conclusão
uma concepção recreacionista da educação infantil en-
fatiza a presença de animadores culturais – por vezes, Já existem argumentos suficientes para se interpre-
agentes da comunidade – junto às crianças para ocupá- tar a Lei no 9.394/96 e afirmar que todos os profissio-
-las em seu tempo livre. nais responsáveis pelas turmas de crianças pequenas em
Entretanto, os pesquisadores que estudam o desen- creches, pré-escolas ou entidades equivalentes devem
volvimento e a educação de bebês afirmam que momen- ser professores com formação específica em educação
tos de sono, alimentação e convivência em pequenos infantil, responsáveis e conscientes da importância de
grupos constituem situações importantes de aprendiza- todas as atividades pelas quais se responsabilizam, inclu-
gem, desenvolvimento e constituição da pessoa. sive trocas, alimentação, higiene etc.
Concluindo, o que já se tem como conhecimento Na formação desse profissional, deve-se considerar
o que dispõe o Parecer CNE/CEB nº 20/09, que trata das
acumulado sobre educação e cuidado de crianças de até
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil:
3 anos em instituições tipo creche evidencia que essas
As instituições de Educação Infantil devem assegurar
tarefas, por ocorrerem em um ambiente diverso do fa-
a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado
miliar, precisam de planejamento, desenvolvimento e
como algo indissociável ao processo educativo.
avaliação das situações aí vividas pelas crianças, funções
As práticas pedagógicas devem ocorrer de modo
estas a serem exercidas por alguém com uma formação
a não fragmentar a criança nas suas possibilidades de
específica: o professor. viver experiências, na sua compreensão do mundo fei-
A formação desse docente deve ser objeto de muita ta pela totalidade de seus sentidos, no conhecimento
pesquisa e investimento, a fim de garantir às famílias que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

que constrói na relação intrínseca entre razão e emoção,


seus filhos estão tendo seu direito a uma educação in- expressão corporal e verbal, experimentação prática e
fantil de qualidade garantido, com reflexos positivos para elaboração conceitual. As práticas envolvidas nos atos
outras esferas de sua vida cultural, escolar e pessoal. de alimentar-se, tomar banho, trocar fraldas e contro-
lar os esfíncteres, na escolha do que vestir, na atenção
O que diz a legislação? aos riscos de adoecimento mais fácil nessa faixa etária,
no âmbito da Educação Infantil, não são apenas práticas
A Lei no 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Edu- que respeitam o direito da criança de ser bem atendi-
cação Nacional (LDB), ao tratar das instituições que inte- da nesses aspectos, como cumprimento do respeito a
gram o sistema de ensino, declara que a ação pedagógi- sua dignidade como pessoa humana. Elas são também
ca é tarefa de docentes, e isso inclui a educação infantil. práticas que respeitam e atendem ao direito da crian-
Já o artigo 62 da referida Lei especifica: ça de apropriar-se, por meio de experiências corporais,
A formação de docentes para atuar na Educação Bási- dos modos estabelecidos culturalmente de alimentação
ca far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de e promoção de saúde, de relação com o próprio corpo e
graduação plena em universidades e institutos superio- consigo mesma, mediadas pelas professoras e professo-
res de educação, admitida como formação mínima para res, que intencionalmente planejam e cuidam da organi-
o exercício do magistério na Educação Infantil e nas qua- zação dessas práticas.

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A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim Recentemente, a legislação educacional brasileira
orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e passou a reconhecer a criança, como sujeito de direitos –
sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da uma “criança cidadã”. Entre os direitos estão: a educação
proteção integral da criança. O cuidado, compreendido em pré-escolas, creches e instituições similares.
na sua dimensão necessariamente humana de lidar com O reconhecimento importância da infância além do
questões de intimidade e afetividade, é característica não contexto familiar insere-se em amplo movimento de luta
apenas da Educação Infantil, mas de todos os níveis de em defesa dos direitos das crianças, com participação de
ensino. Na Educação Infantil, todavia, a especificidade da diversos segmentos sociais de alcance mundial, como
criança bem pequena, que necessita do professor até ad- a Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) e
quirir autonomia para os cuidados de si, expõe de forma Convenção Mundial dos Direitos da Criança (1989), assim
mais evidente a relação indissociável do educar e cuidar como no Brasil, a Constituição Federal (1988), o Estatuto
nesse contexto. A definição e o aperfeiçoamento dos da Criança e do Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e
modos como a instituição organiza essas atividades são Bases (1996).
partes integrantes de sua proposta curricular e devem ser Para que os direitos possam ser concretizados é ne-
realizados sem fragmentar ações. cessária a ética no trabalho da educação infantil para que
Um bom planejamento das atividades educativas as crianças possam alcançar a cidadania plena. Assim
favorece a formação de competências para a criança sendo, a importância da investigação do assunto é o de
aprender a cuidar de si. No entanto, na perspectiva que apresentar a ética como um dos principais fundamentos
integra o cuidado, educar não é apenas isto. Educar cui- da Educação Infantil, considerando que não pode existir
dando inclui acolher, garantir a segurança, mas também direito nem respeito, se não for despertada a consciência
alimentar a curiosidade, a ludicidade e a expressividade ética em favor da criança.
infantis.
Educar de modo indissociado do cuidar é dar con- Referenciais
dições para as crianças explorarem o ambiente de di-
ferentes maneiras (manipulando materiais da natureza O que significa a criança ser reconhecida hoje como
ou objetos, observando, nomeando objetos, pessoas ou sujeito de direitos? Que direitos possuem as crianças?
situações, fazendo perguntas etc.) e construírem senti- Em princípio, pode-se considerar que a noção de direi-
dos pessoais e significados coletivos, à medida que vão tos remete à ideia de cidadania; ou seja, os cidadãos são
se constituindo como sujeitos e se apropriando de um sujeitos que possuem prerrogativas de uma vida e con-
modo singular das formas culturais de agir, sentir e pen- vivência digna, livre e igualitária em relação aos seus se-
sar. Isso requer do professor ter sensibilidade e delicade- melhantes. Os direitos humanos referem-se, portanto, à
za no trato de cada criança, e assegurar atenção especial própria sobrevivência e se caracterizam como históricos,
conforme as necessidades que identifica nas crianças inalienáveis, irrenunciáveis, imprescritíveis, relativos, uni-
(Brasil, 2009). versais, cuja concretização pode ser exigida sempre que
Hoje, os pesquisadores em didática e os formadores houver omissão do responsável.
de professores em cursos de graduação, especialização e Os direitos fundamentais dos cidadãos geralmente
em programas de formação continuada estão desafiados são prescritos formalmente em leis e no ordenamento
a relerem suas concepções de ensino à luz do que hoje jurídico dos países, e correspondem ao dever do Estado
já se conhece sobre a educação de bebês em ambiente em assegurar que sejam cumpridos, por meio das polí-
coletivo. Da mesma forma, há que se rever e aprofundar ticas públicas. Essas políticas devem defender os valores
os conhecimentos sobre a organização e a operacionali- éticos que constituem a condição essencial de respeito à
zação dos cuidados com higiene, alimentação e bem-es- dignidade humana. Partindo desses princípios que surge
tar dos bebês em ambientes de educação coletiva, sem a ética.
copiar os modelos domésticos ou dos serviços de saúde,
que são contextos com outras características e outros Considerações finais
objetivos (Oliveira, 2001).
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Tais tarefas, sem dúvida, abrem outras oportunidades O texto teve como objetivo abordar o tema sobre a
para a educação de nossas crianças! ética na Educação Infantil. Observou-se que hoje, a ética
se apresenta como uma disciplina de formação moral na
Ética na educação infantil. Educação.
As propostas pedagógicas da educação infantil de- A ética e a educação estão unidas, porque existe a
vem buscar a interação entre as diversas áreas de co- necessidade de se respeitar a cultura da criança, acompa-
nhecimento e aspectos da vida cidadã, com conteúdos nhando as transformações que surgiram com seus con-
básicos para a construção de conhecimentos, valores, ceitos históricos, alcançando os dias atuais.
cidadania e ética na criança. Considerando esses con- Os profissionais da Educação Infantil promovem no
teúdos, o objetivo desse trabalho é o de refletir sobre aluno os valores éticos, pois como foi descrito pelos au-
o tema da ética na educação infantil, destacando as leis tores estudados, o educador deve ter como objetivo ofe-
que reconhecem os direitos e cidadania da criança em recer à criança o desenvolvimento da autonomia, capa-
sua primeira fase escolar. O que ocorre é que grande par- citando-a a construir as suas próprias normas. Contudo,
te das escolas não desenvolve um programa educacio- essa construção deve ser orientada, pois é fundamental
nal voltado para esses fatores. Dessa forma, investiga-se à criança nessa fase escolar, aprender o que é certo ou
qual a importância da Ética na Educação Infantil? errado, o que pode ou não prejudicar o seu semelhante.

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Assim, verificou-se que infelizmente, essa questão é Por isso, como afirma Kramer (1989), para que essa
problema relegado em relação à sua importância, por- função se efetive na prática: [...] o trabalho pedagógico
que não se cuida da formação da conduta infantil, mas precisa se orientar por uma visão das crianças como se-
deixa-se que ela se forme. É nesse aspecto que está en- res sociais, indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs
volvido um requisito essencial para que a estrutura men- e cidadãos. Isso exige que levemos em consideração suas
tal se oriente para uma direção correta: a disciplina. diferentes características, não só em termos de histórias
Sucede que, a mente da criança se exercita e se de vida ou de região geográfica, mas também de classe
forma, tomando conformações que jamais se alterarão social, etnia e sexo. Reconhecer as crianças como seres
substancialmente, pois as estruturas sociais, cognitivas, sociais que são implica em não ignorar as diferenças.
físicas e emocionais se fixam. É exatamente nesse sentido que devemos considerar
Nesse processo da Educação Infantil é necessário ao as experiências sociais acumuladas de cada aluno e seu
educador compreender a criança em sua individualidade, contexto social, de modo a construir a partir daí um am-
atendendo a sua formação emocional, mas impor limites, biente escolar acolhedor em que o aluno se sinta parte
não esperando pela cristalização prematura da perfeição do todo e esteja totalmente aberto a novas aprendiza-
ética. Sempre demonstrar que limite não é um castigo, gens.
mas ensinar que não se pode fazer tudo o que quer, pois Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
é a partir da compreensão da norma de convivência que (2001), o enfoque social oferecido aos processos de ensi-
o pequeno aprende a diferenciar entre o seu pensamen- no e aprendizagem traz para a discussão pedagógica as-
to e o dos outros que o cercam. Essa norma que se deve pectos de excepcional importância, em particular no que
revelar viva, altiva, permanente e reguladora de condu- se refere ao modo como se devem entender as relações
ta nas mais variadas situações é denominada de ética. entre desenvolvimento e aprendizagem, à relevância da
Concluindo, a ética na Educação Infantil, oportuniza à relação interpessoal nesse processo, à relação entre edu-
criança, a fácil integração social do ambiente: a adaptabi- cação e cultura e ao papel da ação educativa ajustada às
lidade no espaço escolar, isentando-a de prejuízos, inibi- situações de aprendizagem e às características da ativi-
ções, constrangimentos e inferiorizações, auxiliando-a a dade mental construtiva do aluno em cada momento de
conquistar o futuro e a cidadania em sua plenitude. sua escolaridade. Nesse sentido, o segundo passo ao se
discutir uma pedagogia crítico-social dos conteúdos, de
O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO E APRENDI- acordo com Saviani (2003), não seria a apresentação de
ZAGEM novos conhecimentos pelo professor (Pedagogia Tradi-
cional) nem o problema como um obstáculo que inter-
Nessa análise, será discutido o papel desempenhado
rompe a atividade dos alunos (Pedagogia Nova). Caberia,
pelo professor e pelos alunos em sala de aula, de modo
neste momento, a identificação dos principais problemas
a destacar, a atuação do professor na interação do aluno
postos pela prática social. E a este segundo passo, Savia-
com o conhecimento.
ni (2003) chama de problematização, através da qual se
Saviani (2003), ao defender uma pedagogia crítico-
detectam questões que precisam ser resolvidas no âm-
-social dos conteúdos na qual professor e alunos se en-
contram numa relação social específica – que é a relação bito da prática social e, em consequência, que conheci-
de ensino - com o objetivo de estudar os conhecimentos mento é necessário dominar.
acumulados historicamente, a fim de construir e aprimo- Percebe-se então, a importância do enfoque social
rar novas elaborações do conhecimento, aponta que o na aprendizagem da criança. É através da problemati-
ponto de partida da ação pedagógica não seria a pre- zação desse “social” que o conhecimento começa a ser
paração dos alunos, cuja iniciativa é do professor (Peda- construído individualmente e socializado através da me-
gogia Tradicional ) nem a atividade, que é de iniciativa diação do professor.
dos alunos (Pedagogia Nova ), mas seria a prática social A aprendizagem escolar tem um vínculo direto com o
comum a professor e alunos, considerando que do ponto meio social que circunscreve não só as condições de vida
de vista pedagógico há uma diferença essencial em que das crianças, mas também a sua relação com a escola e
estudo, sua percepção e compreensão das matérias. A
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

professor, de um lado, e os alunos de outro, encontram-


-se em níveis diferentes de compreensão (conhecimento consolidação dos conhecimentos depende do significa-
e experiências) da prática social. do que eles carregam em relação à experiência social das
Assim sendo, Fontana (2000) afirma que é preciso crianças e jovens na família, no meio social, no trabalho.
que o adulto assuma o seu papel com o objetivo claro Dessa forma, segundo os Parâmetros Curriculares
da relação de ensino (que é o de ensinar), levando em Nacionais (2001), se potencialmente não podemos mais
consideração a condição de ambos os lados dessa práti- deixar de ter inquietações com o domínio de conheci-
ca, como parceiros intelectuais, desiguais em termos de mentos formais para a participação crítica na sociedade,
desenvolvimento psicológico e dos lugares sociais ocu- considera-se também que é indispensável uma adequa-
pados no processo histórico, mas por isso mesmo, par- ção pedagógica às características de um aluno que pen-
ceiros na relação contraditória do conhecimento. sa, de um professor que sabe e de conteúdos com valor
É justamente, pensando nessa “prática social” que o social e formativo.
professor deve estar ciente de que não basta tratar so- O ensino tem, portanto, de acordo com Libâneo
mente de conteúdos atuais em sala de aula, mas sim, (1994), como função principal garantir o processo de
também, resgatar conhecimentos mais amplos e históri- transmissão e assimilação dos conteúdos do saber es-
cos, para que os alunos possam interpretar suas experi- colar e, através desse processo, o desenvolvimento das
ências e suas aprendizagens na vida social. capacidades cognoscitivas dos alunos, de maneira que, o

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professor planeje, dirija e comande o processo de ensino, Segundo Libâneo):
tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria O trabalho docente é atividade que dá unidade ao
dos alunos para a aprendizagem. binômio ensino-aprendizagem, pelo processo de trans-
É justamente o que defende Saviani (2003) como missão-assimilação ativa de conhecimentos, realizando a
terceiro passo no processo de ensino, que não coincide tarefa de mediação na relação cognitiva entre o aluno e
com assimilação de conteúdos transmitidos pelo profes- as matérias de estudo.
sor por comparação com conhecimentos anteriores (Pe- Desse modo, percebemos uma interrelação entre dois
dagogia Tradicional) nem com a coleta de dados (Peda- momentos do processo de ensino – transmissão e assimi-
gogia Nova), ainda que por certo envolva transmissão e lação ativa – que supõe o confronto entre os conteúdos
assimilação de conhecimentos podendo, eventualmente, sistematizados, trazidos pelo professor, e a experiência
envolver levantamento de dados. Trata-se de uma instru- sociocultural do aluno e por suas forças cognoscitivas,
mentalização, da apropriação pelas camadas populares enfrentando as situações escolares de aprendizagem por
das ferramentas culturais produzidas socialmente e pre- meio da orientação do professor.
servados historicamente de modo que a sua apropriação Finalmente então, chega-se ao quinto passo, no qual
pelos alunos está na dependência de sua transmissão di- Saviani (2003) nos coloca que não será a aplicação (Pe-
reta ou indireta pelo professor. dagogia Tradicional) nem a experimentação (Pedago-
gia Nova), mas o ponto de chegada que será a própria
Essencialmente, é o que nos coloca Fontana e Cruz
prática social, compreendida agora não mais em termos
ao afirmarem que “deixa-se de esperar das crianças a
sincréticos pelos alunos. Neste momento, ocorre uma
postura de ouvinte valorizando-se sua ação e sua ex- elevação dos alunos ao nível do professor, posto que em
pressão. Possibilitar à criança situações em que ela possa consequência de todo o processo, manifesta-se nos alu-
agir e ouvi-la expressar suas elaborações passam a ser nos a competência de expressarem um entendimento da
princípios básicos da atuação do professor”. prática em termos tão elaborados quanto era possível ao
De fato, a criança precisa ser ouvida para que através professor.
de suas palavras e da problematização feita a partir delas, Dessa forma, observa-se uma desigualdade no ponto
ocorra uma aprendizagem ativa e crítica. de partida (primeiro passo) e uma igualdade no ponto de
Desse modo, segundo Fontana e Cruz (1997), pensar chegada. Através da ação pedagógica é possível formar
sobre o modo como a criança utiliza a palavra, é pensar sujeitos sociais críticos e ativos numa sociedade pensan-
em uma atividade intelectual nova e complexa. Assim, o te.
que a professora faz é levar as crianças a desenvolverem A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode con-
um tipo de atividade intelectual que elas ainda não reali- tribuir para sua transformação, mas para isso tem que
zam por si mesmas. sair de si mesma, e, em primeiro lugar tem que ser assi-
É neste sentido que consiste a intervenção e o papel milada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efe-
do professor na prática educativa. tivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prá-
Sem dúvida, através de suas orientações, interven- tica transformadora se insere um trabalho de educação
das consciências, de organização dos meios materiais e
ções e mediações, o professor deve provocar e instigar
planos concretos de ação; tudo isso como passagem in-
os alunos a pensarem criticamente e a se colocarem
dispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse
como sujeitos de sua própria aprendizagem. sentido, uma teoria é prática na medida em que materia-
Portanto, como afirmam Fontana e Cruz (1997), o liza, através de uma série de mediações, o que antes só
professor através de suas perguntas, não nega nem ex- existia idealmente, como conhecimento da realidade ou
clui as definições iniciais das crianças, ao contrário, ele as antecipação ideal de sua transformação.
problematiza e as “empurra” para outro patamar de ge- É justamente, pela formação de sujeitos autônomos
neralização, levando as crianças a considerarem relações e produtivos que a educação deve se destacar, pois por
que não foram incluídas nas suas primeiras definições, meio dela, professores e alunos, reciprocamente apren-
provocando reelaborações na argumentação desenvol- dem, de modo que assim ambos possam inserir-se criti-
vida por elas. camente em seu processo histórico e na sociedade.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Efetivamente, neste momento chegamos ao quarto Contudo, consideramos, neste trabalho, que cabe ao
passo defendido por Saviani (2003), que não é a gene- professor, mediar o chamado “saber elaborado” acumu-
ralização (Pedagogia Tradicional) nem a hipótese (Pe- lado historicamente pela sociedade com as vivências do
dagogia Nova), trata-se de “catarse”, entendida como: aluno possibilitando uma aprendizagem crítica para sua
Elaboração superior da estrutura em superestrutura na atuação como sujeito na sociedade, enfocando o ensino
consciência dos homens, em que ocorre a efetiva incor- dos conhecimentos do passado, da tradição, para o en-
poração dos instrumentos culturais, transformados ago- tendimento das situações presentes e formas de se rede-
ra em elementos ativos de transformação social. finir as ações futuras.
Nesse processo de entrecruzamento e incorporação Portanto, a ação pedagógica no processo de ensino
se fazem presentes e atuantes, como afirmam Fontana e consiste, basicamente, na “prática social”. De modo que,
Cruz (1997), as maneiras de dizer e pensar da criança e inicialmente cabe ao educador, mediar conhecimentos
o papel do professor como parceiro social de sua apren- historicamente acumulados bem como os conhecimen-
dizagem, que considera os saberes trazidos em sala de tos atuais, possibilitando, ao fim de todo o processo, que
aula, provocando outros significados e sentidos além do o educando tenha a capacidade de reelaborar o conhe-
que os alunos já conhecem, buscando articular conheci- cimento e de expressar uma compreensão da prática em
mentos e chegar ao conhecimento sistematizado. termos tão elaborados quanto era possível ao educador.

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Percebe-se então, que tal prática social só pôde ser gava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que
alcançada através de uma ação pedagógica mediadora Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xa-
e problematizadora dos conteúdos sistematizados, das vante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar
vivências dos alunos e dos acontecimentos da sociedade o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a
atual. mulher índia respondeu: “- Porque ele quer.”
Assim sendo, na relação de ensino estabelecida na Podemos também obter algumas noções de como
sala de aula, o professor precisa ter o entendimento de era feita a educação entre os índios na série Xingu, pro-
que ensinar não é simplesmente transferir conhecimento, duzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste
mas, ao contrário, é possibilitar ao aluno momentos de seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas
reelaboração do saber dividido, permitindo o seu acesso estruturas de madeira das construções das ocas, numa
critico a esses saberes e contribuindo para sua atuação altura inconcebivelmente alta.
como ser ativo e crítico no processo históricocultural da Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trou-
sociedade. xeram somente a moral, os costumes e a religiosidade
De fato, este é o verdadeiro papel do professor me- europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos.
diador que almeja através da sua ação pedagógica en- Este método funcionou absoluto durante 210 anos,
sinar os conhecimentos construídos e elaborados pela de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a His-
humanidade ao longo da história e assim contribuir na tória da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por
formação de uma sociedade pensante. Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem
estruturada em termos de educação o que se viu a se-
Referência: guir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas régias, o
BARBOSA, M.C.S. Pedagogia da infância. In: OLIVEI- subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família
Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve transferir o
RA, D.A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F. Belo Horizonte:
Reino para o Novo Mundo.
UFMG/Faculdade de Educação, 2010.
Na verdade não se conseguiu implantar um sistema
Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação
educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família
Infantil V. 1
Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Formação e Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João
profissionalização de professores da educação infantil. VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medi-
Revista acadêmica de Educação do ISE Vera Cruz. v.2, n.2. cina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciati-
SANTOS, P. F. Ética na educação infantil va mais marcante em termos de mudança, a Imprensa
BULGRAEN, V. C. O papel do professor e sua media- Régia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente
ção nos processos de elaboração do conhecimento. Re- “descoberto” e a nossa História passou a ter uma com-
vista Conteúdo, Capivari, v.1, n.4, ago./dez. 2010. plexidade maior.
A educação, no entanto, continuou a ter uma impor-
tância secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias
espanholas já existiam muitas universidades, sendo que
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: ES-
em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em
COLA, ESTADO E SOCIEDADE. 1551 a do México e a de Lima, a nossa primeira Universi-
dade só surgiu em 1934, em São Paulo.
Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e
A História da Educação Brasileira não é uma Histó- D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e mui-
ria difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em tos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclama-
rupturas marcantes e fáceis de serem observadas. ção da República tentou-se várias reformas que pudes-
A primeira grande ruptura travou-se com a chegada sem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a
mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. educação brasileira não sofreu um processo de evolução
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses que pudesse ser considerado marcante ou significativo
trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o em termos de modelo.
que não quer dizer que as populações que por aqui vi- Até os dias de hoje muito tem se mexido no plane-
viam já não possuíam características próprias de se fazer jamento educacional, mas a educação continua a ter as
educação. E convém ressaltar que a educação que se pra- mesmas características impostas em todos os países do
ticava entre as populações indígenas não tinha as marcas mundo, que é a de manter o “status quo” para aqueles
repressivas do modelo educacional europeu. que frequentam os bancos escolares.
Num programa de entrevista na televisão o indige- Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira
nista Orlando Villas Boas contou um fato observado por tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facil-
ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica mente observável. E é isso que tentamos passar neste
educacional entre os índios: Orlando observava uma mu- texto.
lher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher Os períodos foram divididos a partir das concepções
terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, do autor em termos de importância histórica.
pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Se considerarmos a História como um processo em
Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim eterna evolução não podemos considerar este trabalho
que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jo- como terminado. Novas rupturas estão acontecendo no

9
exato momento em que esse texto está sendo lido. A que não se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Es-
educação brasileira evolui em saltos desordenados, em cola de Artes e Edificações Militares, na Bahia, e a Escola
diversas direções. de Artilharia, no Rio de Janeiro.
Os jesuítas foram expulsos das colônias em função
Período Jesuítico de radicais diferenças de objetivos com os dos interesses
da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o
A educação indígena foi interrompida com a chegada proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer
dos jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasilei- Portugal da decadência que se encontrava diante de ou-
ro em março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel tras potências europeias da época. Além disso, Lisboa
passou por um terremoto que destruiu parte significativa
de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a
da cidade e precisava ser reerguida. A educação jesuítica
primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo
não convinha aos interesses comerciais emanados por
como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando ape- Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus
nas 21 anos. Irmão Vicente tornou-se o primeiro profes- tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal
sor nos moldes europeus, em terras brasileiras, e durante pensou em organizar a escola para servir aos interesses
mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação do Estado.
da fé religiosa. Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo
No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação da fé tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portu-
católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não gal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias
seria possível converter os índios à fé católica sem que de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de
soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica Estudos que só passou a funcionar após o afastamento
estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos após de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com
a chegada, já era composta por cinco escolas de instru- professor único e uma não se articulava com as outras.
ção elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Portugal logo percebeu que a educação no Brasil es-
Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de tava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para
Janeiro, Pernambuco e Bahia). isso instituiu o “subsídio literário” para manutenção dos
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trou- ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio”
xeram somente a moral, os costumes e a religiosidade era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a car-
ne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de
europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos.
exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os profes-
Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um
sores ficavam longos períodos sem receber vencimentos
documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio Studio- a espera de uma solução vinda de Portugal.
rum. Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras; Os professores geralmente não tinham preparação
além do curso elementar mantinham cursos de Letras e para a função, já que eram improvisados e mal pagos.
Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teolo- Eram nomeados por indicação ou sob concordância de
gia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação bispos e se tornavam “proprietários” vitalícios de suas
de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática aulas régias.
Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filoso- O resultado da decisão de Pombal foi que, no princí-
fia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e pio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a
Ciências Físicas e Naturais. praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado
Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado
de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a His- para dar continuidade a um trabalho de educação.
tória da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Período Joanino
Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem estrutu-
rado, em termos de educação, o que se viu a seguir foi o A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova
mais absoluto caos. ruptura com a situação anterior. Para atender as neces-
No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 resi- sidades de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Acade-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

dências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de mias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca
seminários menores e escolas de primeiras letras instala- Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante
das em todas as cidades onde havia casas da Companhia em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo al-
de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma guns autores, o Brasil foi finalmente “descoberto” e a
grande ruptura histórica num processo já implantado e nossa História passou a ter uma complexidade maior. O
consolidado como modelo educacional. surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as ideias
fossem divulgados e discutidos no meio da população
Período Pombalino letrada, preparando terreno propício para as questões
políticas que permearam o período seguinte da História
Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bah- do Brasil.
ia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do A educação, no entanto, continuou a ter uma im-
Pará. Com eles levaram também a organização monolíti- portância secundária. Para o professor Lauro de Oliveira
ca baseada no Ratio Studiorum. Lima (1921- ) “a ‘abertura dos portos’, além do significa-
Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educati- do comercial da expressão, significou a permissão dada
aos ‘brasileiros’ (madeireiros de pau-brasil) de tomar
va no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Epis-
conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno
copal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro,
chamado civilização e cultura”.

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Período Imperial A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que
o curso secundário se tornasse formador do cidadão e
D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu fi- não como simples promotor a um nível seguinte. Reto-
lho D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em mando a orientação positivista, prega a liberdade de en-
1824, outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. sino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de
179 desta Lei Magna dizia que a “instrução primária é ensino que não seja por escolas oficiais, e de frequência.
gratuita para todos os cidadãos”. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em tro-
Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de profes- ca de um certificado de assistência e aproveitamento e
sores institui-se o Método Lancaster, ou do “ensino mú- transfere os exames de admissão ao ensino superior para
tuo”, onde um aluno treinado (decurião) ensinava um
as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desas-
grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de
trosos para a educação brasileira.
um inspetor.
Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instru- Num período complexo da História do Brasil surge a
ção: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral
Academias. Em 1827 um projeto de lei propõe a criação e Cívica com a intenção de tentar combater os protestos
de pedagogias em todas as cidades e vilas, além de pre- estudantis contra o governo do presidente Arthur Ber-
ver o exame na seleção de professores, para nomeação. nardes.
Propunha ainda a abertura de escolas para meninas. A década de vinte foi marcada por diversos fatos
Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as relevantes no processo de mudança das características
províncias passariam a ser responsáveis pela administra- políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o Mo-
ção do ensino primário e secundário. Graças a isso, em vimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Mo-
1835, surge a primeira Escola Normal do país, em Nite- derna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922),
rói. Se houve intenção de bons resultados não foi o que a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a
aconteceu, já que, pelas dimensões do país, a educação 1927).
brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados Além disso, no que se refere à educação, foram reali-
pífios. zadas diversas reformas de abrangência estadual, como
Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joa- as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Tei-
quim, na cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio xeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario
Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo peda-
Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Aze-
gógico para o curso secundário. Efetivamente o Colégio
vedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928
Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império
e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.
para atingir tal objetivo.
Até a Proclamação da República, em 1889 pratica-
Período da Segunda República
mente nada se fez de concreto pela educação brasileira.
O Imperador D. Pedro II, quando perguntado que profis-
A Revolução de 30 foi o marco referencial para a en-
são escolheria não fosse Imperador, afirmou que gosta-
trada do Brasil no mundo capitalista de produção. A acu-
ria de ser “mestre-escola”. Apesar de sua afeição pessoal
mulação de capital, do período anterior, permitiu com
pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gestão,
que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na
para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional.
produção industrial. A nova realidade brasileira passou
Período da Primeira República a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era
preciso investir na educação. Sendo assim, em 1930, foi
A República proclamada adotou o modelo político criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em
americano baseado no sistema presidencialista. Na or- 1931, o governo provisório sanciona decretos organizan-
ganização escolar percebe-se influência da filosofia po- do o ensino secundário e as universidades brasileiras ain-
sitivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como da inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como
princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensi- “Reforma Francisco Campos”.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

no, como também a gratuidade da escola primária. Estes Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o
princípios seguiam a orientação do que estava estipula- Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por
do na Constituição brasileira. Fernando de Azevedo e assinado por outros conceitua-
Uma das intenções desta Reforma era transformar o dos educadores da época.
ensino em formador de alunos para os cursos superiores Em 1934 a nova Constituição (a segunda da Repúbli-
e não apenas preparador. Outra intenção era substituir a ca) dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de
predominância literária pela científica. todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Pode-
Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, res Públicos.
já que não respeitava os princípios pedagógicos de Com- Ainda em 1934, por iniciativa do governador Arman-
te; pelos que defendiam a predominância literária, já que do Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo.
o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às A primeira a ser criada e organizada segundo as normas
tradicionais, tornando o ensino enciclopédico. do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.
O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica en- Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal,
tre as matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no
acentuando, assim, a parte literária em detrimento da atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade
científica. de Educação na qual se situava o Instituto de Educação.

11
Período do Estado Novo geral da educação nacional. Esta comissão, presidida
pelo educador Lourenço Filho, era organizada em três
Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova subcomissões: uma para o Ensino Primário, uma para o
Constituição em 1937. A orientação político-educacio- Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Em novem-
nal para o mundo capitalista fica bem explícita em seu bro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado à Câma-
texto sugerindo a preparação de um maior contingente ra Federal, dando início a uma luta ideológica em torno
de mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo das propostas apresentadas. Num primeiro momento as
mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o discussões estavam voltadas às interpretações contra-
ensino pré-vocacional e profissional. ditórias das propostas constitucionais. Num momento
Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino posterior, após a apresentação de um substitutivo do
sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pes- Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais marcantes
soas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado o relacionaram-se à questão da responsabilidade do Es-
dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obri- tado quanto à educação, inspirados nos educadores da
gatoriedade do ensino primário Também dispõe como velha geração de 1930, e a participação das instituições
obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as privadas de ensino.
escolas normais, primárias e secundárias. Depois de 13 anos de acirradas discussões foi pro-
No contexto político o estabelecimento do Estado mulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem
Novo, segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as rei-
que as discussões sobre as questões da educação, pro- vindicações da Igreja Católica e dos donos de estabeleci-
fundamente ricas no período anterior, entrem “numa mentos particulares de ensino no confronto com os que
espécie de hibernação”. As conquistas do movimento defendiam o monopólio estatal para a oferta da educa-
renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram ção aos brasileiros.
enfraquecidas nessa nova Constituição de 1937. Marca Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para
uma distinção entre o trabalho intelectual, para as clas- a Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado
ses mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o muitas iniciativas marcaram este período como, talvez,
ensino profissional para as classes mais desfavorecidas. o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950,
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capane- em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura
ma, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Re- o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Car-
formas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, neiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola-classe e
e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará,
Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática
o ensino profissionalizante. baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método
O ensino ficou composto, neste período, por cinco Psicogenético; em 1953 a educação passa a ser adminis-
anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de trada por um Ministério próprio: o Ministério da Educa-
colegial, podendo ser na modalidade clássico ou científi- ção e Cultura; em 1961 a tem início uma campanha de
co. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano
de preparatório para o ensino superior, e passou a se Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos
preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa di- analfabetos; em 1962 é criado o Conselho Federal de
visão do ensino secundário, entre clássico e científico, a Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educa-
predominância recaiu sobre o científico, reunindo cerca ção e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em
de 90% dos alunos do colegial. 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Progra-
ma Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educa-
Período da Nova República ção e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.

O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção Período do Regime Militar


de uma nova Constituição de cunho liberal e democráti-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

co. Esta nova Constituição, na área da Educação, deter- Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas
mina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto
e dá competência à União para legislar sobre diretrizes de que as propostas eram “comunizantes e subversivas”.
e bases da educação nacional. Além disso, a nova Cons- O Regime Militar espelhou na educação o caráter
tituição fez voltar o preceito de que a educação é direi- antidemocrático de sua proposta ideológica de gover-
to de todos, inspirada nos princípios proclamados pelos no: professores foram presos e demitidos; universidades
Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos
nos primeiros anos da década de 30. confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estu-
Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha dantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes
regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de
de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - alunos e professores.
SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade Neste período deu-se a grande expansão das uni-
após a Revolução de 1930. versidades no Brasil. Para acabar com os “excedentes”
Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna (aqueles que tiravam notas suficientes para serem apro-
de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão vados, mas não conseguiam vaga para estudar), foi cria-
com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma do o vestibular classificatório.

12
Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimen- Até os dias de hoje muito tem se mexido no plane-
to Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando- jamento educacional, mas a educação continua a ter as
-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Frei- mesmas características impostas em todos os países do
re. O MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no mundo, que é mais o de manter o “status quo”, para
Brasil. Não conseguiu. E, entre denúncias de corrupção, aqueles que frequentam os bancos escolares, e menos
acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-se a Funda- de oferecer conhecimentos básicos, para serem aprovei-
tados pelos estudantes em suas vidas práticas.
ção Educar.
Concluindo podemos dizer que a História da Edu-
É no período mais cruel da ditadura militar, onde cação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem de-
qualquer expressão popular contrária aos interesses do marcado e facilmente observável. Ela é feita em rupturas
governo era abafada, muitas vezes pela violência física, marcantes, onde em cada período determinado teve ca-
que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da racterísticas próprias.
Educação Nacional, em 1971. A característica mais mar- A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e
cante desta Lei era tentar dar a formação educacional um rupturas inseridas no processo, a educação brasileira não
cunho profissionalizante. evoluiu muito no que se refere à questão da qualidade.
As avaliações, de todos os níveis, estão priorizadas na
Período da Abertura Política aprendizagem dos estudantes, embora existam outros
critérios. O que podemos notar, por dados oferecidos
pelo próprio Ministério da Educação, é que os estudantes
No fim do Regime Militar a discussão sobre as ques- não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar.
tões educacionais já haviam perdido o seu sentido peda- Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam
gógico e assumido um caráter político. Para isso contri- sendo usados como norma de ação, nossa educação só
buiu a participação mais ativa de pensadores de outras teve caráter nacional no período da Educação jesuítica.
áreas do conhecimento que passaram a falar de educa- Após isso o que se presenciou foi o caos e muitas pro-
ção num sentido mais amplo do que as questões perti- postas desencontradas que pouco contribuíram para o
nentes à escola, à sala de aula, à didática, à relação dire- desenvolvimento da qualidade da educação oferecida.
É provável que estejamos próximos de uma nova rup-
ta entre professor e estudante e à dinâmica escolar em
tura. E esperamos que ela venha com propostas desvincu-
si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por ladas do modelo europeu de educação, criando soluções
questões políticas durante o Regime Militar, profissionais novas em respeito às características brasileiras. Como
de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico, fizeram os países do bloco conhecidos como Tigres Asiá-
passaram a assumir postos na área da educação e a con- ticos, que buscaram soluções para seu desenvolvimento
cretizar discursos em nome do saber pedagógico. econômico investindo em educação. Ou como fez Cuba
No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para que, por decisão política de governo, erradicou o analfa-
uma nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo betismo em apenas um ano e trouxe para a sala de aula
Deputado Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o todos os cidadãos cubanos.
Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um substitutivo Na evolução da História da Educação brasileira a pró-
ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apre- xima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse
senta um novo Projeto que acabou por ser aprovado em único, que atenda às necessidades de nossa população e
dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento que seja eficaz. (Texto adaptado de BELLO, J. L. P.).
do Deputado Octávio Elísio.
Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de
hoje, a fase politicamente marcante na educação, foi o POLÍTICA EDUCACIONAL, ESTRUTURA E
trabalho do economista e Ministro da Educação Paulo ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO.
Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através
de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal
de Educação e criou o Conselho Nacional de Educação,
Prezado candidato, confira a LDB e as políticas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta mu-


educacionais a seção referente a Legislação.
dança tornou o Conselho menos burocrático e mais po-
lítico.
Mesmo que possamos não concordar com a forma
como foram executados alguns programas, temos que CURRÍCULO: CICLOS DE APRENDIZAGEM.
reconhecer que, em toda a História da Educação no Bra- CURRÍCULO E OS DIREITOS DOS EDU-
sil, contada a partir do descobrimento, jamais houve exe- CANDOS E DOS EDUCADORES. CURRÍCU-
cução de tantos projetos na área da educação numa só LO E AVALIAÇÃO. CURRÍCULO E PROJETO
administração. PEDAGÓGICO. CURRÍCULO E PRÁTICAS
O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cur- PEDAGÓGICAS.
sos e o seu “Provão”, onde os alunos das universidades
têm que realizar uma prova ao fim do curso para rece-
ber seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem CURRÍCULO E SUAS DEFINIÇÕES
simplesmente assinar a ata de presença e se retirar sem
responder nenhuma questão, é levada em consideração O debate sobre Currículo e sua conceituação é neces-
como avaliação das instituições. Além do mais, entre ou- sário para que saibamos defini-lo e para conhecer quais
tras questões, o exame não diferencia as regiões do país. as teorias que o sustentam na educação. Um Currículo

13
não é um conjunto de conteúdos dispostos em um su- TEORIAS DO CURRÍCULO
mário ou índice. Pelo contrário, a construção de um Cur-
rículo demanda: Para Silva (2005) é importante entender o significado
a) uma ou mais teorias acerca do conhecimento es- de teoria como discurso ou texto político. Uma proposta
colar; curricular é um texto ou discurso político sobre o currícu-
b) a compreensão de que o Currículo é produto de lo porque tem intenções estabelecidas por um determi-
um processo de conflitos culturais dos diferentes nado grupo social. De acordo com esse autor, uma Teoria
grupos de educadores que o elaboram; do Currículo ou um discurso sobre o Currículo, mesmo
c) conhecer os processos de escolha de um conteúdo que pretenda apenas descrevê-lo tal como é, o que efe-
e não de outro (disputa de poder pelos grupos) tivamente faz é produzir uma noção de currículo. Como
(LOPES, 2006). sabemos as chamadas “teorias do currículo”, assim como
as teorias educacionais mais amplas, estão recheadas de
Para iniciar o debate vamos apresentar algumas de- afirmações sobre como as coisas devem ser (SILVA, 2005).
finições de currículo para compreender as teorias que É preciso entender o que as teorias do currículo pro-
circulam entre nós, educadores. De acordo com Lopes duzem nas propostas curriculares e como interferem em
(2006, contra capa): nossa prática. Uma teoria define-se pelos conceitos que
[...] o currículo se tece em cada escola com a carga de utiliza para conceber a realidade. Os conceitos de uma
seus participantes, que trazem para cada ação pedagó- teoria dirigem nossa atenção para certas coisas que sem
gica de sua cultura e de sua memória de outras escolas e elas não veríamos. Os conceitos de uma teoria organi-
de outros cotidianos nos quais vive. É nessa grande rede zam e estruturam nossa forma de ver a realidade (SILVA,
cotidiana, formada de múltiplas redes de subjetividade, 2005).
que cada um de nós traçamos nossas histórias de aluno/
aluna e de professor/professora. O grande tapete que é Para Silva (2005) as teorias do currículo se caracteri-
o currículo de cada escola, também sabemos todos, nos zam pelos conceitos que enfatizam. São elas:
enreda com os outros formando tramas diferentes e mais Teorias Tradicionais: (enfatizam) ensino - aprendiza-
belas ou menos belas, de acordo com as relações cultu- gem-avaliação – metodologia- didática-organização –
rais que mantemos e do tipo de memória que nós temos planejamento- eficiência- objetivos.
de escola [...]. Teorias Críticas: (enfatizam) ideologia- reprodução
Essa concepção converge com a de Tomaz Tadeu da cultural e social- poder- classe social- capitalismo- rela-
Silva (2005, p.15): ções sociais de produção- conscientização- emancipa-
O currículo é sempre resultado de uma seleção: de ção- currículo oculto- resistência.
um universo mais amplo de conhecimentos e saberes se- Teorias Pós-Críticas: (enfatizam) identidade – alterida-
leciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente de – diferença subjetividade - significação e discurso- sa-
o currículo. ber e poder- representação- cultura- gênero- raça- et-
As definições de currículo de Lopes (2006) e Silva nia- sexualidade- multiculturalismo.
(2005) são aquelas de Sacristán (2003):
[...] conjunto de conhecimentos ou matérias a serem As teorias tradicionais consideram–se neutras, cientí-
superadas pelo aluno dentro de um ciclo-nível educativo ficas e desinteressadas, as críticas argumentam que não
ou modalidade de ensino; o currículo como experiência re- existem teorias neutras, científicas e desinteressadas,
criada nos alunos por meio da qual podem desenvolver-se; toda e qualquer teoria está implicada em relações de po-
o currículo como tarefa e habilidade a serem dominadas; der.
o currículo como programa que proporciona conteúdos e As pós-críticas começam a se destacar no cenário na-
valores para que os alunos melhorem a sociedade em re- cional, os currículos existentes abordam poucas questões
lação à reconstrução da mesma [...] que as representam. Encontramos estas que dimensões
nos PCNS, temas transversais (ética, saúde, orientação
Lopes (2006), Silva (2005) e Sacristán (2000) afirmam
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

sexual, meio ambiente, trabalho, consumo e pluralidade


que o Currículo não é uma listagem de conteúdos. O cur- cultural) e em algumas produções literárias no campo do
rículo é processo constituído por um encontro cultural, sa-
multiculturalismo.
beres, conhecimentos escolares na prática da sala de aula,
locais de interação professor e aluno. O que é essencial para qualquer teoria é saber qual
Essas reflexões devem orientar a ação dos profissio- conhecimento deve ser ensinado e justificar o porquê
nais da educação quanto ao Currículo, além de estimular desses conhecimentos e não outros devem ser ensina-
o valor formativo do conhecimento pedagógico para os dos, de acordo com os conceitos que enfatizam.
professores, o que realmente nos importa como docentes. Quantas vezes em nosso cotidiano escolar paramos
para refletir sobre Teorias do currículo e o Currículo?
Quando organizamos um planejamento bimestral, anual
#FicaDica pensamos sobre aquela distribuição de conteúdo de
Conhecer as teorias sobre o Currículo nos forma crítica? Discute-se que determinado conteúdo é
leva a refletir sobre para que serve, a quem importante porque é fundamento para a compreensão
serve e que política pedagógica elabora o daquele que o sucederá no bimestre posterior ou no ano
Currículo. que vem. Alegamos que se o aluno não tiver acesso a
determinado conteúdo não conseguirá entender o se-

14
guinte. Somos capazes de perceber em nossas atitudes ou pela falta de tempo, devido as condições do trabalho
(na prática docente), na forma como abordamos os con- docente ou pela falta de conhecimento das propostas
teúdos selecionados, um posicionamento tradicional ou políticas-pedagógicas implantadas pelo Governo.
crítico? E por que adotamos tal atitude? Todavia, diante do desafio de ser professor, cabe-
Precisamos entender os vínculos entre o currículo e -nos entender quais os saberes socialmente relevantes,
quais os critérios de hierarquização entre esses saberes/
a sociedade, e saber como os professores/as, a escola, o
disciplinas, as concepções de educação, de sociedade,
currículo e os materiais didáticos tenderão a reproduzir a de homem que sustentam as propostas curriculares im-
cultura hegemônica e favorecer mais uns do que outros. plantadas. Quem são os sujeitos que poderão definir e
Também é certo que essa função pode ser aceita com organizar o currículo? E quais os pressupostos que de-
passividade ou pode aproveitar espaços relativos de au- fendemos?
tonomia, que sempre existem, para exercer a contra-he- O estudo das teorias do currículo não é a garantia
gemonia, como afirma Apple. Essa autonomia pode se de se encontrar as respostas a todos os nossos questio-
refletir nos conteúdos selecionados, mas principalmente namentos, é uma forma de recuperarmos as discussões
se define na forma como os conteúdos são abordados curriculares no ambiente escolar e conhecer os diferentes
no ensino. discursos pedagógicos que orientam as decisões em tor-
no dos conteúdos até a “racionalização dos meios para
A forma como trabalhamos os conteúdos em sala de
obtê-los e comprovar seu sucesso” (SACRISTÁN, 2000).
aula indica nosso entendimento dos conhecimentos es-
colares. Demonstra nossa autonomia diante da escolha. Para nós, professores, os estudos sobre as teorias
SARUP (apud SACRISTÁN, 2000) distingue a perspec- do poderão responder aos questionamentos da comu-
tiva crítica da tradicional da seguinte forma: nidade escolar como: a valorização dos professoras/es, o
A finalidade do currículo crítico é o inverso do cur- baixo rendimento escolar, dificuldades de aprendizagem,
rículo tradicional; este último tende a “naturalizar” os desinteresse, indisciplina e outras dimensões. Poderão,
acontecimentos; aquele tenta obrigar os alunos/a a que sobretudo, mostrar que os Currículos não são neutros.
questione as atitudes e comportamentos que considera Eles são elaborados com orientações políticas e pedagó-
gicas. Ou seja, é produto de grupos sociais que disputam
“naturais “. O currículo crítico oferece uma visão da reali-
o poder.
dade como processo mutante contínuo, cujo agentes são As reformulações curriculares atuais promovem dis-
os seres humanos, os quais, portanto, estão em condição cussões entre posições diferentes, há os que defendem
de realizar sua transformação. A função do currículo não os currículos por competências, os científicos, os que en-
é “refletir “uma realidade fixa, mas pensar sobre a reali- fatizam a cultura, a diversidade, os mais críticos à ciên-
dade social; é demonstrar que o conhecimento e os fa- cia moderna, enfim, teorias tradicionais, críticas e pós-
tos sociais são produtos históricos e, consequentemente, -críticas disputam esse espaço cheio de conflitos, Como
que poderiam ter sido diferentes (e que ainda podem afirma Silva (2005), o Currículo é um território político
sê-lo). contestado.
Diante desse complexo mundo educacional de ten-
dências, teorias, ideologias e práticas diversas, cabe-nos
É por isso que Albuquerque /Kunzle (2006) pergun- estudar para conhecê-las, podendo assim assumir uma
tam: conduta crítica na ação docente.
Quando pensamos o currículo tomamos a ideia de
caminho: que caminho vamos percorrer ao longo deste William Pinar (apud LOPES, 2006), estudioso do cam-
tempo escolar? Que seleções vamos fazer? Que seleções po do currículo, afirma:
temos feito? E mais: em que medida nós, professoras/ [...] estudar teoria de currículo, é importante na medi-
es e pedagogas/os interferimos nesta seleção? Qual é o da em que oferece aos professores de escolas públicas, a
conhecimento com que a escola deve trabalhar? Quando compreensão dos diversos mundos em que habitamos e,
especialmente a retórica política que cerca as propostas
escolhemos um livro didático, ele traz desenhado o currí-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

educacionais e os conteúdos curriculares. Os professores


culo oficial: o saber legitimado, o saber reconhecido que de escolas (norte americanas) têm dificuldades em resistir
deve ser passado ás novas gerações. Porque isso é que o a modismos educacionais passageiros, porque, em parte
currículo faz: uma seleção dentro da cultura daquilo que não lembram das teorias e da história do currículo, porque
se considera relevante que as novas gerações aprendam. muito frequentemente não as estudaram [...]
Esses questionamentos dizem respeito aos conteú- Essa também é a realidade brasileira. Precisamos es-
dos escolares. Na escola aprendemos a fazer listagens tudar nossas propostas curriculares, bem como as teorias
de conteúdos e julgamos que eles vão explicar o mundo do currículo e tendências pedagógicas para que possamos
para os alunos. No entanto, não estamos conseguindo entender nossa prática e suas consequências aos alunos e
articular esses conteúdos com a vida dos nossos alunos. docentes.
Ultimamente utilizamos de temas transversais, projetos Acerca disso, Eisner (apud SACRISTÁN, 2000), pontua
especiais e há até sugestões de criar novas disciplinas, que:
como direito do consumidor, educação fiscal, ecologia, [...] que o ensino é o conjunto de atividades que trans-
para dar conta desta realidade imediata. formam o currículo na prática para produzir a aprendi-
Temos dificuldades de assumirmos estas discussões zagem, é uma característica marcante do pensamento
curriculares devido a uma tradição que designava a ou- curricular atual, interar o plano curricular a prática de
tros seguimentos da educação as decisões pedagógicas ensiná-lo não apenas o torna realidade em termos de

15
aprendizagem, mas que na própria atividade podem se derados seriamente. Não é o mesmo avaliar a roupa que
modificar as primeiras intenções e surgir novos fins [...] iremos usar por conta do clima, se compararmos com a
A sala de aula é o espaço onde se concretiza o cur- avaliação que fazemos sobre os rumos de nosso projeto
rículo e deve acontecer o processo ensino e aprendiza- de vida. As implicações são bem diferentes.
gem. Este processo acontece não só por meio da trans- Pois bem, o mesmo acontece na escola. No entan-
ferência de conteúdos, mas, também pela influência das to, no espaço escolar, nem sempre as decisões estão nas
diversas relações e interações desse espaço escolar, na mãos dos mesmos sujeitos: estudantes, professores, di-
sala de aula e na relação professor-aluno. retores, coordenadores, pais, responsáveis. Na maioria
Concordamos que o eixo central do Currículo é di- das vezes, a tomada de decisão fica sob a responsabi-
versos conhecimentos. Para defini-lo se faz necessário lidade dos professores e/ou do conselho de classe. Isso
discutir a serviço de quem a escola está. Defendemos faz com que o peso da avaliação fique redobrado e co-
que o trabalho escolar defina seu Currículo a partir da loca o professor no lugar daquele que deve realizar tal
cultura do aluno, respeitando-a, mas sem perder a ênfase tarefa a partir de critérios previamente estabelecidos, de
no conhecimento clássico das disciplinas que compõem preferência, coletivamente. A avaliação é, portanto, uma
a grade curricular. atividade que envolve legitimidade técnica e legitimida-
Alguns autores afirmam que o ponto de partida é o de política na sua realização.
aluno concreto. Outros questionam o que sabemos so- Ou seja, quem avalia, o avaliador, seja ele o professor,
bre esse aluno concreto, se realmente partimos dele. E ao o coordenador, o diretor etc., deve realizar a tarefa com
questionarem afirmam que “a cultura popular é, assim, a legitimidade técnica que sua formação profissional lhe
um conhecimento que deve, legitimamente, fazer parte confere. Entretanto, o professor deve estabelecer e res-
do Currículo, pois toda cultura é fruto do trabalho hu- peitar princípios e critérios refletidos coletivamente, re-
mano”. ferenciados no projeto político-pedagógico, na proposta
O conhecimento científico é o que dá as explicações curricular e em suas convicções acerca do papel social
mais objetivas para a realidade e este é o objetivo prin- que desempenha a educação escolar. Este é o lado da
cipal da escola. No entanto, é preciso questionar, o que legitimação política do processo de avaliação e que en-
determina a legitimidade de um conhecimento. volve também o coletivo da escola.
Se a escola é o lugar da construção da autonomia e
INDAGAÇÕES SOBRE CURRÍCULO: Currículo e da cidadania, a avaliação dos processos, sejam eles das
Avaliação aprendizagens, da dinâmica escolar ou da própria ins-
tituição, não deve ficar sob a responsabilidade apenas
Em “Currículo e Avaliação”, de Cláudia de Oliveira Fer- de um ou de outro profissional, é uma responsabilidade
nandes e Luiz Carlos de Freitas, a avaliação é apresentada tanto da coletividade, como de cada um, em particular.
como uma das atividades do processo pedagógico ne- O professor não deve se eximir de sua responsabili-
cessariamente inserida no projeto pedagógico da escola, dade do ato de avaliar as aprendizagens de seus estu-
não podendo, portanto, ser considerada isoladamen- dantes, assim como os demais profissionais devem tam-
te. Deve ocorrer em consonância com os princípios de bém, em conjunto com os professores e os estudantes,
aprendizagem adotados e com a função que a educação participar das avaliações a serem realizadas acerca dos
escolar tenha na sociedade. A avaliação é apresentada demais processos no interior da escola. Dessa forma,
como responsabilidade coletiva e particular e há defesa ressaltamos a importância do estímulo à autoavaliação,
da importância de questionamentos a conceitos crista- tanto do grupo, quanto do professor.
lizados de avaliação e sua superação. O texto faz consi- Entendendo a avaliação como algo inerente aos pro-
derações não só sobre a avaliação da aprendizagem dos cessos cotidianos e de aprendizagem, na qual todos os
estudantes que ocorre na escola, mas a respeito da ava- sujeitos desses processos estão envolvidos, pretende-
liação da instituição como um todo (protagonismo do mos, com este texto, levar à reflexão de que a avaliação
coletivo de profissionais) e ainda sobre a avaliação do na escola não pode ser compreendida como algo à parte,
sistema escolar (responsabilidade do poder público). isolado, já que tem subjacente uma concepção de edu-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

cação e uma estratégia pedagógica. Também pretende-


CURRÍCULO E AVALIAÇÃO mos estimular a equipe escolar a questionar conceitos já
arraigados no campo da avaliação, bem como despertar
Este texto tem como propósito propiciar uma reflexão para novas e possíveis práticas na avaliação escolar.
sobre aspectos da avaliação escolar que estão presentes Há a avaliação da aprendizagem dos estudantes, em
no cotidiano da escola. Pensar a avaliação e seus proces- que o professor tem um protagonismo central, mas há
sos no âmbito das reflexões acerca do currículo escolar também a necessária avaliação da instituição como um
reveste-se de grande importância pelas implicações que todo, na qual o protagonismo é do coletivo dos profis-
podem ter na formação dos estudantes. sionais que trabalham e conduzem um processo com-
Avaliação é um termo bastante amplo. Avaliamos a plexo de formação na escola, guiados por um projeto
todo instante: “o dia estará quente? Que roupa usar? Irá político-pedagógico coletivo. E, finalmente, há ainda a
chover? A decisão de ontem foi a mais acertada? Devo avaliação do sistema escolar, ou do conjunto das escolas
levar adiante aquele projeto? Assumo este novo compro- de uma rede escolar, na qual a responsabilidade principal
misso?” é do poder público. Esses três níveis de avaliação não são
Mesmo nos processos de avaliação mais simples, isolados e necessitam estar em regime de permanentes
sabemos que para tomar determinadas decisões faz-se trocas, respeitados os protagonistas, de forma que se
necessário que alguns critérios e princípios sejam consi- obtenha legitimidade técnica e política.

16
A avaliação, como parte de uma ação coletiva de for- todos, entre outros. A avaliação, portanto, sendo parte de
mação dos estudantes, ocorre, portanto, em várias esfe- um processo maior, deve ser usada tanto no sentido de
ras e com vários objetivos. um acompanhamento do desenvolvimento do estudan-
te, como no sentido de uma apreciação final sobre o que
A avaliação e o papel social da educação escolar este estudante pôde obter em um determinado período,
sempre com vistas a planejar ações educativas futuras.
Que relações se estabelecem? Quando a avaliação acontece ao longo do processo, com
o objetivo de reorientá-lo, recebe o nome de avaliação
Até que ponto, nós, professores, refletimos sobre nos- formativa e quando ocorre ao final do processo, com a
sas ações cotidianas na escola, nossas práticas em sala de finalidade de apreciar o resultado deste, recebe o nome
aula, sobre a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que de avaliação somativa. Uma não é nem pior, nem melhor
pré-julgamos ou outras situações do cotidiano? Muitas que a outra, elas apenas têm objetivos diferenciados.
vezes, nosso discurso expressa aquilo que entendemos
como adequado em educação e aquilo que almejamos. A concepção de educação e a avaliação
Isso tem seu mérito! Contudo, nossas práticas, imbuídas
de concepções, representações e sentidos, ou seja, reple- Para se instaurar um debate no interior da escola, so-
tas de ações que fazem parte de nossa cultura, de nossas bre as práticas correntes de avaliação, é necessário que
crenças, expressam um “certo modo” de ver o mundo. explicitemos nosso conceito de avaliação. Qual a função
Esse “certo modo” de ver o mundo, que está imbricado da avaliação, a partir do papel da educação escolar na
na ação do professor, traz para nossas ações reflexos de sociedade atual? Às vezes, aquilo que parece óbvio não
nossa cultura e de nossas práticas vividas, que ainda es- o é tanto assim. Para que é feita a avaliação na escola?
tão muito impregnados pela lógica da classificação e da Qual o lugar da avaliação no processo de ensino e apren-
seleção, no que tange à avaliação escolar. dizagem?
Um exemplo diz respeito ao uso das notas escolares Tradicionalmente, nossas experiências em avalia-
que colocam os avaliados em uma situação classificató- ção são marcadas por uma concepção que classifica as
ria. Nossa cultura meritocrática naturaliza o uso das no- aprendizagens em certas ou erradas e, dessa forma, ter-
tas a fim de classificar os melhores e os piores avaliados. mina por separar aqueles estudantes que aprenderam os
Em termos de educação escolar, os melhores seguirão conteúdos programados para a série em que se encon-
em frente, os piores voltarão para o início da fila, refazen- tram daqueles que não aprenderam.
do todo o caminho percorrido ao longo de um período Essa perspectiva de avaliação classificatória e seleti-
de estudos. Essa concepção é naturalmente incorporada va, muitas vezes, torna-se um fator de exclusão escolar.
em nossas práticas e nos esquecemos de pensar sobre o Entretanto, é possível concebermos uma perspectiva de
que, de fato, está oculto e encoberto por ela. avaliação cuja vivência seja marcada pela lógica da inclu-
Em nossa sociedade, de um modo geral, ainda é bas- são, do diálogo, da construção da autonomia, da media-
tante comum as pessoas entenderem que não se pode ção, da participação, da construção da responsabilidade
avaliar sem que os estudantes recebam uma nota pela com o coletivo.
sua produção. Tal perspectiva de avaliação alinha-se com a proposta
Avaliar, para o senso comum, aparece como sinônimo de uma escola mais democrática, inclusiva, que conside-
de medida, de atribuição de um valor em forma de nota ra as infindáveis possibilidades de realização de apren-
ou conceito. Porém, nós, professores, temos o compro- dizagens por parte dos estudantes. Essa concepção de
misso de ir além do senso comum e não confundir avaliar avaliação parte do princípio de que todas as pessoas são
com medir. Avaliar é um processo em que realizar provas capazes de aprender e de que as ações educativas, as es-
e testes, atribuir notas ou conceitos é apenas parte do tratégias de ensino, os conteúdos das disciplinas devem
todo. ser planejados a partir dessas infinitas possibilidades de
A avaliação é uma atividade orientada para o futuro. aprender dos estudantes.
Avalia-se para tentar manter ou melhorar nossa atuação Pode-se perceber, portanto, que as intenções e usos
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

futura. Essa é a base da distinção entre medir e avaliar. da avaliação estão fortemente influenciados pelas con-
Medir refere-se ao presente e ao passado e visa obter in- cepções de educação que orientam a sua aplicação.
formações a respeito do progresso efetuado pelos estu- Hoje, é voz corrente afirmar-se que a avaliação não
dantes. Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações deve ser usada com o objetivo de punir, de classificar
obtidas com vistas a planejar o futuro. Portanto, medir ou excluir. Usualmente, associa-se mais a avaliação so-
não é avaliar, ainda que o medir faça parte do processo mativa a estes objetivos excludentes. Entretanto, tanto
de avaliação. Avaliar a aprendizagem do estudante não a avaliação somativa quanto a formativa podem levar a
começa e muito menos termina quando atribuímos uma processos de exclusão e classificação, na dependência
nota à aprendizagem. das concepções que norteiem o processo educativo.
A educação escolar é cheia de intenções, visa a atingir A prática da avaliação pode acontecer de diferentes
determinados objetivos educacionais, sejam estes relati- maneiras. Deve estar relacionada com a perspectiva para
vos a valores, atitudes ou aos conteúdos escolares. nós coerente com os princípios de aprendizagem que
A avaliação é uma das atividades que ocorre dentro adotamos e com o entendimento da função que a educa-
de um processo pedagógico. Este processo inclui outras ção escolar deve ter na sociedade. Se entendermos que
ações que implicam na própria formulação dos objetivos os estudantes aprendem de variadas formas, em tempos
da ação educativa, na definição de seus conteúdos e mé- nem sempre tão homogêneos, a partir de diferentes vi-

17
vências pessoais e experiências anteriores e, junto a isso, a realização de seus trabalhos e de suas aprendizagens,
se entendermos que o papel da escola deva ser o de in- ajudando-os a localizar suas dificuldades e suas poten-
cluir, de promover crescimento, de desenvolver possibi- cialidades, redirecionando-os em seus percursos.
lidades para que os sujeitos realizem aprendizagens vida A avaliação formativa, assim, favorece os processos
afora, de socializar experiências, de perpetuar e construir de autoavaliação, prática ainda não incorporada de ma-
cultura, devemos entender a avaliação como promotora neira formal em nossas escolas.
desses princípios, portanto, seu papel não deve ser o de Instaurar uma cultura avaliativa, no sentido de uma
classificar e selecionar os estudantes, mas sim o de auxi- avaliação entendida como parte inerente do processo e
liar professores e estudantes a compreenderem de forma não marcada apenas por uma atribuição de nota, não é
mais organizada seus processos de ensinar e aprender. tarefa muito fácil.
Essa perspectiva exige uma prática avaliativa que não Uma pergunta, portanto, que o coletivo escolar ne-
cessita responder diz respeito às concepções de educa-
deve ser concebida como algo distinto do processo de
ção que orientam sua prática pedagógica, incluindo o
aprendizagem.
processo de avaliação. Qual o entendimento que a es-
Entender e realizar uma prática avaliativa ao longo do cola construiu sobre sua concepção de educação e de
processo é pautar o planejamento dessa avaliação, bem avaliação?
como construir seus instrumentos, partindo das intera- Há pelos menos dois aspectos sobre os quais a escola
ções que vão se construindo no interior da sala de aula precisa refletir, como parte de sua concepção de edu-
com os estudantes e suas possibilidades de entendimen- cação. Um diz respeito à exclusão que ela pode realizar,
tos dos conteúdos que estão sendo trabalhados. caso afaste os estudantes da cultura, do conhecimento
A avaliação tem como foco fornecer informações escolar e da própria escola, pela indução da evasão por
acerca das ações de aprendizagem e, portanto, não pode meio de reprovação, como já foi abordado no texto so-
ser realizada apenas ao final do processo, sob pena de bre currículo e cultura.
perder seu propósito. Podemos chamar essa perspectiva Aqui os processos de avaliação podem atuar para le-
de avaliação formativa. gitimar a exclusão, dando uma aparência científica à ava-
Segundo Allal (1986), “os processos de avaliação liação e transferindo a responsabilidade da exclusão para
o próprio estudante.
formativa são concebidos para permitir ajustamentos
1. É fundamental transformar a prática avaliativa em
sucessivos durante o desenvolvimento e a experimenta-
prática de aprendizagem.
ção do curriculum”. Perrenoud (1999) define a avaliação 2. É necessário avaliar como condição para a mudan-
formativa como “um dos componentes de um dispositi- ça de prática e para o redimensionamento do processo
vo de individualização dos percursos de formação e de de ensino/aprendizagem.
diferenciação das intervenções e dos enquadramentos 3. Avaliar faz parte do processo de ensino e de apren-
pedagógicos”. dizagem: não ensinamos sem avaliar, não aprendemos
Outro aspecto fundamental de uma avaliação forma- sem avaliar. Dessa forma, rompe-se com a falsa dicoto-
tiva diz respeito à construção da autonomia por parte do mia entre ensino e avaliação, como se esta fosse apenas
estudante, na medida em que lhe é solicitado um papel o final de um processo.
ativo em seu processo de aprender. Ou seja, a avaliação Outro aspecto diz respeito ao papel esperado dos
formativa, tendo como foco o processo de aprendiza- estudantes na escola e o desenvolvimento de sua auto-
gem, numa perspectiva de interação e de diálogo, co- nomia e auto direção. Neste caso, a avaliação pode ser
loca também no estudante, e não apenas no professor, usada para gerar a subordinação do estudante e não
a responsabilidade por seus avanços e suas necessida- para valorizar seu papel como sujeito de direitos com ca-
des. Para tal, é necessário que o estudante conheça os pacidade para decidir.
conteúdos que irá aprender, os objetivos que deverá al- A escola, portanto, não é apenas um local onde se
aprende um determinado conteúdo escolar, mas um es-
cançar, bem como os critérios que serão utilizados para
paço onde se aprende a construir relações com as “coi-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

verificar e analisar seus avanços de aprendizagem. Nessa


sas” (mundo natural) e com as “pessoas” (mundo social).
perspectiva, a autoavaliação torna-se uma ferramenta
Essas relações devem propiciar a inclusão de todos e
importante, capaz de propiciar maior responsabilidade
o desenvolvimento da autonomia e auto direção dos es-
aos estudantes acerca de seu próprio processo de apren- tudantes, com vistas a que participem como construtores
dizagem e de construção da autonomia. de uma nova vida social.
A avaliação formativa é aquela em que o professor A importância dessa compreensão é fundamental
está atento aos processos e às aprendizagens de seus es- para que se possa, no processo pedagógico, orientar a
tudantes. O professor não avalia com o propósito de dar avaliação para essas finalidades. Entretanto, isso não re-
uma nota, pois dentro de uma lógica formativa, a nota é tira, nem um pouco, a importância da aprendizagem dos
uma decorrência do processo e não o seu fim último. O conteúdos escolares mais específicos e que são igual-
professor entende que a avaliação é essencial para dar mente importantes para a formação dos estudantes. Se,
prosseguimento aos percursos de aprendizagem. por um lado, a escola deve valorizar a capacidade dos
Continuamente, ela faz parte do cotidiano das tare- estudantes de criar e expressar sua cultura, por outro, vi-
fas propostas, das observações atentas do professor, das vendo em um mundo altamente tecnológico e exigente,
práticas de sala de aula. Por fim, podemos dizer que ava- as contribuições já sistematizadas das variadas ciências e
liação formativa é aquela que orienta os estudantes para das artes não podem ser ignoradas no trabalho escolar.

18
A característica processual da avaliação professores e estudantes. Não é apenas em uma situação
de prova que os juízos se desenvolvem tendo por base as
Normalmente, a noção de avaliação é reduzida à me- respostas dadas pelos estudantes.
dição de competências e habilidades que um estudante Esses juízos de valor interferem (para o bem ou para
exibe ao final de um determinado período ou processo o mal) nas relações entre os professores e os estudan-
de aprendizagem. Vista assim, a avaliação é uma forma tes. Não são raras as situações em que os professores
de se verificar se o estudante aprendeu ou não o conteú- começam a orientar suas estratégias metodológicas em
do ensinado. Embora isso possa fazer parte do conceito função de seus juízos de valor sobre os estudantes, con-
de avaliação, ela é mais ampla e envolve também outras figurando uma situação delicada, principalmente quando
esferas da sala de aula. os juízos negativos de valor passam a comandar a ação
É sabido, por exemplo, que o professor procura res- metodológica do professor. Nesses casos, há um con-
paldo na avaliação para exercer o controle sobre o com- tínuo prejuízo do estudante, pois o preconceito que se
portamento dos estudantes na sala de aula. Isso acontece forma sobre ele termina por retirar as próprias oportuni-
porque a sala de aula isolou-se tanto da vida real que os dades de aprendizagem do estudante.
motivadores naturais da aprendizagem tiveram que ser O acompanhamento dessas situações revela que, ao
substituídos por motivadores artificiais, entre eles a nota. agirem assim, esses professores terminam por afetar ne-
Assim, o estudante estuda apenas para ter uma nota e gativamente a autoimagem do estudante, o que repre-
não para ter suas possibilidades e leitura do mundo am- senta um fator contrário à motivação do aluno para a
aprendizagem. Podemos dizer que a reprovação oficia-
pliadas. Isso, é claro, limita os horizontes da formação do
lizada em uma prova, por exemplo, é de fato, apenas a
estudante e da própria avaliação. O poder de dar uma
consequência de uma relação professor-aluno malsuce-
nota não raramente é usado para induzir subordinação e
dida durante o processo de ensino-aprendizagem.
controlar o comportamento do estudante em sala. Quando o estudante é reprovado em uma situação
Além disso, nem sempre o professor avalia apenas o de prova, de fato, ele já havia sido reprovado, antes, no
conhecimento que o estudante adquiriu em um deter- processo. Foi a relação professor-aluno que o reprovou.
minado processo de aprendizagem, mas também seus Isso deve alertar o professor para a necessidade de uma
valores ou atitudes. Dessa forma, ao conceituarmos a relação bem-sucedida, motivadora e positiva para com o
avaliação escolar, realizada nas salas de aula, devemos estudante durante o processo de aprendizagem, no qual
levar em conta que são vários os aspectos incluídos nesta se evite o uso de procedimentos e ações que contribuam
definição: o conhecimento aprendido pelo estudante e para a criação de uma autoimagem negativa.
seu desenvolvimento, o comportamento do estudante e Pode-se afirmar, igualmente, que mesmo nas situa-
seus valores e atitudes. ções de organização curricular baseada em ciclos e em
Alguns desses aspectos são avaliados formalmente progressão continuada, o fato de se eliminar o poder de
(em provas, por exemplo), mas outros são avaliados in- reprovação dos instrumentos avaliativos não significa
formalmente (nas conversas com os estudantes, no dia- que não esteja havendo avaliação.
-a-dia da sala de aula). Investigar, portanto, como está Tanto os ciclos quanto a progressão continuada, em
ocorrendo a avaliação em sua sala de aula – consideran- algumas situações, permanecem fazendo uso de técni-
do os aspectos formais e informais – pode ser um bom cas informais de avaliação (observações, trabalhos sem
começo para aprimorar as práticas avaliativas usadas. critérios muito definidos etc.) inerentes ao processo de
Em decorrência desses aspectos informais, avaliamos ensino-aprendizagem que podem até ser mais perversos
muito mais do que pensamos avaliar. Nas salas de au- que as próprias provas formais, quando usadas com pro-
las, estamos permanentemente emitindo juízos de valor pósito classificatório e excludente.
sobre os estudantes (frequentemente de forma pública). Dessa forma, podemos perceber o quanto é funda-
Esses juízos de valores vão conformando imagens e re- mental avaliar os processos de aprendizagem dos es-
presentações entre professores e estudantes, entre estu- tudantes na escola em ciclos. Como fazer com que os
dantes e professores e entre os próprios estudantes. estudantes aprendam aquilo que não vêm conseguindo
aprender? É preciso, antes de mais nada, avaliar. Depois,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Devemos ter em mente que, em nossa prática, não


traçar estratégias e maneiras de intervenção junto aos
estamos avaliando nossos estudantes e crianças, mas as
estudantes que favoreçam a aprendizagem.
aprendizagens que eles realizam. Entre o formal e o in-
Um equívoco que parece persistir, ainda entre par-
formal na avaliação vimos que todo processo avaliativo te dos educadores, desde as primeiras experiências com
implica na formulação de juízos de valor ou em aprecia- ciclos básicos e promoção automática no Brasil, é o de
ções. É próprio do ser humano projetar o seu futuro e, que combater a reprovação implica em não avaliar o pro-
depois, comparar com o que conseguiu, de fato, realizar cesso de ensino-aprendizagem dos estudantes, em não
e emitir um juízo de valor. Pode-se dizer que, nesse sen- fazer provas, em não fazer testes, em não atribuir notas
tido, a avaliação faz parte do ser humano. ou conceitos que reflitam tal processo.
Porém, é importante chamar a atenção para o fato de Um outro equívoco ainda parece relacionar-se com
que se o juízo de valor é algo inerente ao ser humano, o essa questão: há uma máxima de que os estudantes, ao
uso que é feito de tal juízo, com o objetivo de classificar não serem reprovados, não aprendem e saem da escola
e excluir, não é. Em páginas anteriores, vimos como isso sem aprender o básico de leitura, escrita e matemática.
depende da concepção de educação que se quer utilizar. Diz o senso comum que “os estudantes estão sain-
Na sala de aula, boa parte das atividades que vão sen- do da escola sem aprender, porque não são avaliados
do realizadas tende a gerar juízos de valor por parte de e não são reprovados!” Tal equívoco nos remete a outra

19
máxima, que já faz parte de nossa cultura escolar: a de Há variadas formas de se elaborar instrumentos. Eles
que a reprovação é garantidora de uma maior qualidade podem ser trabalhos, provas, testes, relatórios, interpre-
do ensino. Poderíamos reduzir toda a riqueza do ato de tações, questionários etc., referenciados nos programas
educar ao momento da promoção ou retenção dos es- gerais de ensino existentes para as redes escolares e que
tudantes? definem objetivos e conteúdos para uma determinada
Ora, o que viabiliza uma melhor qualidade de ensino etapa ou série, ou podem ser referenciados no conhe-
são professores bem formados e informados; condições cimento que o professor tem do real estágio de desen-
de trabalho; recursos materiais; escolas arejadas, claras volvimento de seus alunos e do percurso que fizeram na
e limpas, com mobiliário adequado, com espaços de es- aprendizagem.
tudo, de pesquisa e prazer para professores e estudan- É importante ressaltar também que os resultados ad-
tes, sempre, é claro, fazendo uso dessas condições com vindos da aplicação dos instrumentos são provisórios e
seriedade e responsabilidade, de maneira a garantir a não definitivos. O que o estudante demonstrou não co-
aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes. nhecer em um momento poderá vir a conhecer em outro.
A questão do tempo de aprendizagem de cada estudan-
O cotidiano e suas possíveis práticas de avaliação te é um fator, na maioria das vezes, pouco levado em
das aprendizagens
consideração.
É importante ressaltar ainda que a simples utiliza-
Inúmeras práticas avaliativas permeiam o cotidiano
ção de instrumentos diferenciados de provas e testes
escolar. Em uma mesma escola, ou até em uma sala de
(memorial, portfólio, caderno de aprendizagens etc.) já
aula, é possível identificarmos práticas de avaliação con-
cebidas a partir de diferentes perspectivas teóricas e con- propicia uma vivência de avaliação distinta da tradicio-
cepções pedagógicas e de ensino. nal. O que queremos dizer é que, muitas vezes, a prática
Isso é natural, uma vez que nossas práticas incorpo- concreta leva a uma posterior mudança de concepção
ram diferentes vivências e modelos, bem como são per- de avaliação. A descrição dos instrumentos será colocada
meadas por nossas crenças e princípios, nem sempre tão mais adiante. Retomemos agora a discussão acerca de
coerentes assim. A escola, ao longo das décadas, vem sua construção.
passando por inúmeras transformações do ponto de vis- A construção dos instrumentos, quando é feita a
ta das concepções pedagógicas e correntes teóricas. partir de programas e objetivos gerais, toma como refe-
A cada período, podemos considerar que a escola in- rência tais programas e não as aprendizagens reais dos
corpora determinadas práticas, rejeita outras, perpetua estudantes ou do grupo. Se, por um lado, isso faz com
outras tantas. No entanto, é importante perceber que, que a questão do tempo de aprendizagem específico
mais do que defender uma ou outra corrente teórica, de cada estudante seja um fator quase inexistente na
a busca pela coerência nas ações educativas deve ser elaboração desse tipo de instrumento, por outro, é um
o norte do professor. Por exemplo, se, como professor, importante fator de geração de equidade entre os obje-
propicio sempre estudos em grupo em sala de aula, no tivos e conteúdos que se espera que as escolas ensinem
momento de avaliar também devo manter uma certa a seus estudantes. Sem isso, correríamos o risco de que
coerência com essa metodologia implementada em sala cada professor fixasse o seu próprio conteúdo ou nível
de aula. Se mobilizo os estudantes a estarem sempre de aprendizagem para seus estudantes. Dessa forma, a
identificando informações e pouco promovo situações coleta dos dados obtidos com os instrumentos que se re-
de análise e reflexão, tal competência não será cobra- ferenciam nos programas gerais de ensino revelará aqui-
da no momento da avaliação. Primeiro ela terá que ser lo que os estudantes aprenderam ou não aprenderam.
vivenciada pelos estudantes no seu nível de desenvolvi- Voltaremos a falar desse tipo de instrumento quando
mento. examinarmos a avaliação de sistemas de ensino.
O professor, porém, não necessita e não deve limitar-
Os instrumentos
-se a esse tipo de instrumento. Ele pode construir outros
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

que sejam mais sensíveis ao estágio de desenvolvimento


É importante reproduzir aqui uma fala recorrente em
específico de seus alunos, confiando que tais instrumen-
nossas salas de aula. Nossas falas representam nossas
tos proporcionarão a dimensão da possibilidade, do “vir
concepções e ideias sobre as coisas e o mundo. Pois bem,
a saber”, revelando melhor o papel inclusivo da escola e
uma professora, em dia de prova, muitas vezes diz para
da educação, a crença no potencial do aprendizado do
sua turma: “hoje faremos uma avaliação!” Essa fala traz
estudante.
uma incorreção conceitual, comum em nosso cotidiano
Se bem planejados e construídos, os instrumentos
escolar, e importante de ser refletida. Se a avaliação é um
(trabalhos, provas, testes, relatórios, portfólios, memo-
processo que não se resume a medir ou verificar apenas,
riais, questionários etc.) têm fundamental importância
como pode ser feito em um dia? A fala adequada da pro-
para o processo de aprendizagem ainda que não devam
fessora deveria ser: “Hoje, vamos fazer um exercício que
ser usados apenas para a atribuição de notas na perspec-
servirá de base para a avaliação de vocês!”.
tiva de aprovação ou reprovação dos estudantes.
Ao falarmos de instrumentos utilizados nos proces-
O que significa um instrumento de avaliação bem ela-
sos de avaliação, estaremos falando das tarefas que são
borado? Certamente, copiar tarefas de livros didáticos ou
planejadas com o propósito de subsidiar, com dados, a
planejar atividades, sem se ter a clareza do que estariam
análise do professor acerca do momento de aprendiza-
objetivando, não são boas estratégias para a elaboração
gem de seus estudantes.
de tais instrumentos.

20
Um exemplo de prática avaliativa inadequada pode Além disso, a avaliação formativa considera em que
ser visto quando uma tarefa é retirada de um livro di- ponto o estudante se encontra em seu processo de
dático para servir de questão de teste ou prova. Muitas aprendizagem. Para Villas Boas (2004), a avaliação for-
vezes, uma boa atividade de um livro didático não se en- mativa é criteriada, ou seja, toma como referenciais os
quadra no propósito de avaliar a aprendizagem realizada objetivos e os critérios de avaliação, mas ao mesmo tem-
por um estudante, simplesmente porque ela não foi pen- po toma como referência o próprio estudante. Isso sig-
sada com esse fim. nifica que a análise de seu progresso considera aspectos
Um instrumento mal elaborado pode causar distor- tais como o esforço despendido, o contexto particular do
ções na avaliação que o professor realiza e suas implica- seu trabalho e o progresso alcançado ao longo do tem-
ções podem ter consequências graves, uma vez que todo po. Consequentemente, o julgamento de sua produção
ato avaliativo envolve um julgamento que, no caso da e o retorno que lhe será oferecido levarão em conta o
educação escolar, significa, em última instância, aprovar
processo desenvolvido pelo estudante e não apenas os
ou reprovar.
critérios estabelecidos para realizar a avaliação. A avalia-
A elaboração de um instrumento de avaliação ainda de-
verá levar em consideração alguns aspectos importantes: ção formativa é realizada ao longo de todo o processo de
a) a linguagem a ser utilizada: clara, esclarecedora, ensino e aprendizagem.
objetiva; O professor, trabalhando na perspectiva da avaliação
b) a contextualização daquilo que se investiga: em formativa, não está preocupado no dia-a-dia em atribuir
uma pergunta sem contexto podemos obter inúmeras notas aos estudantes, mas em observar e registrar seus
respostas e, talvez, nenhuma relativa ao que, de fato, percursos durante as aulas, a fim de analisar as possibi-
gostaríamos de verificar; lidades de aprendizagem de cada um e do grupo como
c) o conteúdo deve ser significativo, ou seja, deve ter um todo. Pode, dessa forma, planejar e replanejar os pro-
significado para quem está sendo avaliado; cessos de ensino, bem como pode planejar as possibi-
d) estar coerente com os propósitos do ensino; lidades de intervenção junto às aprendizagens de seus
e) explorar a capacidade de leitura e de escrita, bem estudantes.
como o raciocínio. O registro da avaliação formativa pode ser feito de di-
Podemos fazer algumas considerações em relação ferentes maneiras. O professor deve encontrar uma for-
aos instrumentos que podem ser utilizados ou construí- ma de documentar os dados que for coletando ao lon-
dos com a finalidade de acompanhar a aprendizagem go do processo. A periodicidade de coleta desses dados
dos estudantes, em vez de fazer uma medição pontual também deve ser realizada de acordo com a realidade
do seu desempenho.
de cada grupo e do contexto em geral (possibilidades do
Comumente já encontramos, nas práticas da Educa-
professor, turma, escola).
ção Infantil, instrumentos que revelam um processo de
O importante não é a forma, mas a prática de uma
avaliação muito voltado ao acompanhamento das apren-
dizagens e desenvolvimento das crianças, ou seja, uma concepção de avaliação que privilegia a aprendizagem.
avaliação incorporada ao cotidiano e ao planejamento Em uma prática de avaliação formativa, o instrumento de
diário. registro do professor deve ter o propósito de acompa-
Sabemos também que, na Educação Infantil, os (as) nhar o processo de aprendizagem de seus estudantes.
professores (as), de um modo geral, já realizam uma ava- A finalidade é registrar este acompanhamento, os
liação muito próxima da formativa, uma vez que exercem avanços e recuos dos estudantes, a fim de informar o
uma avaliação mais contínua do processo das crianças, professor acerca do processo, para que, assim, possa
desvinculada da necessidade de pontuá-la com indica- mediar e traçar estratégias de ação adequadas a cada
dores numéricos ou de outra ordem, para fins de apro- estudante e às suas potencialidades.
vação. As práticas avaliativas na Educação Infantil, de um Outros instrumentos de registro podem e devem coe-
modo geral, primam pela lógica da inclusão das crianças xistir: planilhas de notas, relatórios do desempenho dos
com vistas à sua permanência e continuidade nas cre- estudantes, anotações diárias das aulas, diários do pro-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ches, pré-escolas e escolas de Ensino Fundamental. fessor, no qual ele anota o que fez, o que foi produtivo,
Podemos considerar também que, tradicionalmente, como poderia ser melhorado, enfim, há uma infinidade
nossas experiências, principalmente no Ensino Funda- de possibilidades de registro da prática e do crescimen-
mental, são marcadas por uma avaliação classificatória,
to dos estudantes e crianças. Na Educação Infantil é co-
seletiva e, muitas vezes, excludente, como já vimos.
mum a prática de relatórios discursivos acerca dos pro-
No entanto, como tornar a avaliação dos processos
cessos das crianças. Os professores costumam registrar
de aprendizagem dos estudantes mais interativa, dialógi-
ca, formativa? Vimos que a avaliação formativa é aquela sob forma de relatórios tais processos. Nesses registros,
que orienta os estudantes para realização de seus tra- é comum os professores relatarem considerações a res-
balhos e de suas aprendizagens, ajudando-os a localizar peito do processo de desenvolvimento e aprendizagem
suas dificuldades e suas potencialidades, redirecionan- de cada criança individualmente, do coletivo (da turma
do-os em seus percursos. como um todo) e do seu próprio trabalho. Ao avaliar seu
Nesse sentido, como já vimos, um aspecto funda- processo de ensino, o professor poderá considerar mais
mental de uma avaliação formativa diz respeito à cons- amplamente o processo de aprendizagem de cada crian-
trução da autonomia por parte do estudante, na medida ça e do coletivo. Portanto, é fundamental considerar que
em que lhe é solicitado um papel ativo em seu processo a avaliação das ações de ensino está diretamente relacio-
de aprender. nada à avaliação das aprendizagens.

21
Finalmente, há ainda a possibilidade de se ter instru- memória dos processos de ensino e de aprendizagem,
mentos destinados a informar aos estudantes e respon- tanto para estudantes, quanto para professores, é o port-
sáveis, bem como às secretarias de educação acerca da fólio.
aprendizagem dos estudantes. São os registros do tipo O portfólio é uma tarefa de suma importância para os
boletins, relatórios quantitativos ou qualitativos. Estes estudantes e crianças, pois os coloca em contato com sua
são resumos daquilo que foi coletado ao longo de um aprendizagem constantemente.
período e expressam não o processo, mas o resultado Além disso, também é um instrumento de avaliação
do mesmo. importante, pois serve para valorizar seu trabalho, seu
Cabe-nos refletir acerca do papel desses registros. crescimento e suas aprendizagens. No portfólio, os es-
Seria coerente com a proposta de uma educação voltada tudantes deixam registrado de maneira concreta o seu
para a construção da cidadania e da autonomia, que os caminho ao longo da escolaridade. Funciona como “um
estudantes, por exemplo, só tomassem contato com o fi- baú de memórias”. Ao final do ano ou ciclo, o estudante
nal de seu processo de aprendizagem, depois de findo o terá um dossiê de sua trajetória e poderá ter um acervo
bimestre, trimestre, semestre ou ano? Estariam acompa- de material rico para lhe auxiliar nas suas próximas eta-
nhando seu processo e podendo, dessa forma, ser mais pas.
autônomos e responsáveis pelo mesmo? Segundo Villas Boas (2004, p.38), “o portfólio é um
procedimento de avaliação que permite aos alunos par-
No caso da Educação Infantil, essas informações acer-
ticipar da formulação dos objetivos de sua aprendizagem
ca da avaliação da aprendizagem, ao longo do processo
e avaliar seu progresso. Eles são, portanto, participantes
educativo, geralmente são apresentadas em forma de ativos da avaliação, selecionando as melhores amostras
relatórios de grupo e relatórios individuais, ou ainda, por de seu trabalho para incluí-las no portfólio”. O portfólio
meio de reuniões coletivas ou individuais com pais e/ou pode constituir-se, tanto para estudantes quanto para
responsáveis pelas crianças. professores, como uma coleção dos trabalhos que con-
ta a história de seus esforços, progressos, desempenho,
Práticas que podem ser incorporadas ao Ensino criações, dúvidas etc. Nesse sentido, o portfólio pode ser
Fundamental. considerado um instrumento de registro que serve para
a avaliação dos processos.
Dentro da perspectiva de uma avaliação contínua, Ao selecionar os trabalhos que comporão o portfólio,
cumulativa, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- professores e estudantes devem fazer uma autoavalia-
cional recomenda às Escolas de Ensino Fundamental, em ção crítica e cuidadosa, a partir dos objetivos estabele-
seu artigo 24: cidos, dos propósitos de cada tarefa ou atividade que
“V - A verificação do rendimento escolar observará os estará compondo o instrumento. Podemos ainda dizer
seguintes critérios: que, além de servir como instrumento de autoavaliação e
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho de registro da memória dos processos, o portfólio pode
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos so- ser um instrumento de comunicação com os pais e/ou
responsáveis. É prática corrente, na Educação Infantil, as
bre os quantitativos e dos resultados ao longo do perío-
crianças rememorarem as tarefas que elaboraram duran-
do sobre os de eventuais provas finais...” te um período, selecionarem e colocarem essas tarefas
A partir da recomendação legal, estaríamos utilizando em uma pasta que será enviada para casa, a fim de que
os instrumentos de registro de informação do processo os responsáveis possam ver o que foi realizado no perío-
de aprendizagem mais adequados? do. Ou seja, aquilo que não sabiam bem e agora já sa-
Lembramos ainda o quanto é fundamental uma prá- bem. Entendemos que tal prática possa ser ressignificada
tica que tenha memória. Memória que só pode existir a para os outros níveis de ensino.
partir do registro dos processos, das descobertas, das Um outro instrumento que facilita a prática de uma
tentativas, dos percursos das turmas. Os conhecimentos avaliação formativa é o Caderno de Aprendizagens, um
construídos pelos professores ao longo de sua prática, caderno no qual os estudantes se depararão com suas
os instrumentos elaborados, os planejamentos feitos, as dúvidas e possibilidades de avanço; um caderno de estu-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

atividades realizadas, tudo isso registrado significa a legi- dos paralelos, digamos assim.
timação de um saber elaborado a partir da prática. Pode ser uma iniciativa do próprio estudante ou uma
Isso fica bastante evidente quando nos reportamos à prática a ser incorporada pelo professor em seu plane-
Educação Infantil, pois a LDB diz em seu Art. 31 que “na jamento.
Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acom-
panhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o O Caderno de Aprendizagens pode ser utilizado
em duas situações:
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino
Fundamental”.
1. Atividades de acompanhamento dos conteúdos
Assim sendo, constitui-se um processo contínuo e escolares
abrangente que considera a criança em sua integralida- São atividades com o propósito de superar as difi-
de. É considerada como parte inerente do processo de culdades e dúvidas que tenham ficado dos conteúdos já
formação e, portanto, deve ser parâmetro para o desen- estudados nas aulas.
volvimento de todo o trabalho pedagógico na Educação Podem ser atividades de áreas variadas, bem como
Infantil. de apenas uma área. Essa prática pode orientar uma
Um procedimento de avaliação que cumpre a função maior reflexão quanto ao conteúdo estudado e quanto
de ser também instrumento de registro e que propicia a às aprendizagens que o estudante vem realizando.

22
2. Registros Reflexivos nossa prática cotidiana, por exemplo, a autoavaliação do
Os registros reflexivos têm por objetivo servir de au- ensino (feita pelo professor) e a autoavaliação da apren-
toavaliação para os estudantes. Podem ser registrados os dizagem (feita pelo aluno). Na maioria das vezes, quando
caminhos que o estudante fez para sanar suas dúvidas, esta é realizada, aparece de forma assistemática ou ape-
para compreender aquilo que ainda não sabia e agora já nas em determinados momentos do ano letivo, quase
sabe, as dúvidas que ainda permanecem. que separada do processo.
Acreditamos que refletir sobre sua própria aprendi- A autoavaliação ainda não se tornou um hábito em
zagem faz com que o estudante adquira uma maior res- nossas salas de aula. Se é papel da escola formar sujeitos
ponsabilidade sobre sua escolaridade. Porém, responsa- autônomos, críticos, por que ainda não incorporamos tal
bilidades são aprendidas, construídas. prática? Por que ainda insistimos em uma avaliação que
Somente uma prática constante de reflexão e in- não favorece o aprendizado e que não está coerente com
corporada como algo natural ao processo pode, com o nosso discurso atual? Por que insistimos em uma avalia-
tempo, levar a uma mudança de postura por parte dos ção que coloca todo o processo nas mãos do professor,
estudantes. eximindo assim o estudante de qualquer responsabilida-
Um outro instrumento de avaliação pode ser o Memo- de?
rial. Em que consiste e qual seu propósito? O Memorial Ainda hoje, apesar de nossos discursos pedagógicos
se constitui em uma escrita livre do estudante acerca de terem avançado bastante, insistimos em uma avaliação
suas vivências ao longo do ano. Devem ser registrados os que não favorece o aprendizado, pois é concebida como
avanços, os receios, os sucessos, os medos, as conquis- algo que não se constitui como parte do processo de
tas, as reflexões, sobre todo o processo experienciado. aprendizagem, mas apenas como um momento de ve-
O propósito do memorial é fazer com que o estudan- rificação.
te tenha um momento de reflexão não apenas de suas Em uma concepção de educação cujo foco do pro-
aprendizagens relativas aos conteúdos específicos, como cesso de ensino e aprendizagem seja o professor, há
já faz no Caderno de Aprendizagens, mas que possa re- coerência com uma prática de avaliação cujos critérios e
fletir sobre seu compromisso, seu envolvimento e em que expectativas estejam somente a cargo do professor. No
este está contribuindo para seu crescimento e o cresci- entanto, orientar a avaliação para uma prática formativa,
mento do grupo. É no memorial que o estudante exercita contemplando a autoavaliação, torna-se um pressuposto
sua capacidade reflexiva sobre sua atuação, empenhos para avançarmos em direção a uma necessária coerência
e compromisso consigo, com os colegas e professores. com uma concepção mais atual de ensino e aprendiza-
Escrever o Memorial também cumpre o propósito de gem.
fazer com que o estudante desenvolva sua capacidade Os processos de autoavaliação podem e devem ser
de se expressar por um texto escrito, pois sabemos da individuais e de grupo. Não devem ficar restritos ape-
fundamental importância do estudante saber registrar, nas aos aspectos mais relativos a atitudes e valores. Os
em um texto escrito, suas ideias de forma organizada, estudantes, em todos os níveis de ensino, devem refletir
clara, coerente, desenvolta e correta, no sentido estrito sobre seus avanços não só relativos à sua socialização,
do uso da língua escrita. bem como sobre aqueles relativos às suas aprendizagens
Como desenvolver esse instrumento na Educação específicas.
Infantil? Os mesmos propósitos podem ser trabalhados Ter clareza sobre o que é esperado dele é o primeiro
na Educação Infantil. As crianças podem falar sobre suas passo para que o estudante possa realizar sua autoava-
conquistas, dúvidas, sucessos, medos. Podem registrar a liação. Como poderia saber se estou aprendendo o que
partir de desenhos, painéis, mímicas etc. As professoras deveria, da forma como deveria, se não sei o que vou
podem gravar, escrever pelas crianças, arquivar os regis- aprender? Todos nós, para podermos fazer uma análise
tros. de nossos potenciais e necessidades, em primeiro lugar
Para sintetizar, são aspectos importantes de uma prá- devemos conhecer o que vamos aprender. A autoavalia-
tica de avaliação formativa: utilização de instrumentos de ção ainda não faz parte da cultura escolar brasileira.
avaliação diferenciados; autoavaliação que leve a uma Entretanto, se quisermos sujeitos autônomos, críticos,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

autorreflexão e maior responsabilidade sobre sua pró- devemos ter consciência de que tal prática deve ser in-
pria aprendizagem, retirando das mãos do professor tal corporada ao cotidiano dos planejamentos dos profes-
responsabilidade; utilização de diferentes formas de re- sores, do currículo, por fim.
gistro da aprendizagem dos estudantes; uma forte con- Isso, na escola, se traduz em conhecer não só o pro-
cepção de que se avalia, especialmente, para dar conti- grama de ensino do ciclo, etapa ou série, mas principal-
nuidade à aprendizagem dos estudantes e crianças e não mente, as expectativas dos professores, as nossas pró-
para medir ou dar notas. prias, refletir sobre por que frequentar a escola, sobre
o que é mais importante aprender e sobre aquilo que
A autoavaliação queremos conhecer.
Depois, para além disso, é importante que o professor
Algumas práticas que levariam a uma maior autono- propicie uma prática constante de autoavaliação para os
mia e compromisso dos estudantes, a um diálogo mais estudantes, que se torne uma rotina, incorporada ao pla-
profícuo entre os sujeitos da aprendizagem, à constru- nejamento, com instrumentos elaborados para esse fim
ção do conhecimento de forma mais criativa e menos e, especialmente, que os resultados obtidos da autoa-
mecânica ainda continuam distanciadas do cotidiano da valiação sejam utilizados, seja em conversas individuais,
maioria de nossas escolas. Ainda não incorporamos em tarefas orientadas ou exercícios de grupo. O processo de

23
avaliação, seja ou não autoavaliação, não se encerra com Para isso, o conselho de classe, no ensino funda-
a aplicação de um instrumento e com a análise dos resul- mental, deve ser convocado periodicamente, visto como
tados obtidos. Avaliar implica em tomar decisões para o momento de interação entre professores, planejamento,
futuro, a partir desses resultados. estudo e decisões acerca de como trabalhar com as di-
A autoavaliação quando realizada no grupo significa ficuldades e as possibilidades apresentadas pelos estu-
verificar e avaliar, no coletivo, se os propósitos estabe- dantes. O conselho não deve mais ser entendido como
lecidos com o grupo estão sendo contemplados. Nova- momento de fechamento de notas e decisões acerca da
mente, coloca-se a situação do grupo ter conhecimento aprovação ou reprovação de alunos. É também um espa-
daquilo que é esperado dele, da construção coletiva de ço privilegiado para o resgate da dimensão coletiva do
metas e regras. A partir daí, pode-se então, fazer uma trabalho docente.
autoavaliação dos processos do grupo, seja em termos O conselho existe para que as decisões sejam com-
atitudinais, seja em relação aos conhecimentos construí- partilhadas. Mas como compartilhar decisões, se não
dos coletiva e individualmente. estivermos a par de todo o processo, desde seu plane-
A autoavaliação deve favorecer ao estudante a autor- jamento?
reflexão acerca de sua postura, suas atitudes individuais e
no grupo, seu papel no grupo, seus avanços, seus medos Outros espaços de avaliação
e conquistas. Deve ajudar na superação das dificuldades
de aprendizagem, naturais a todo e qualquer processo Embora tenhamos privilegiado o tratamento das
de aprender. questões relativas à avaliação da aprendizagem do es-
tudante, portanto, com foco na relação professor-estu-
O conselho de classe dante, a sala de aula não é o único espaço em que os
processos devem ser avaliados. Muito do que o professor
Outro aspecto diretamente relacionado à avaliação consegue ou não em seu local de trabalho depende de
diz respeito ao conselho de classe. Esse espaço precisa fatores que estão presentes no âmbito da escola e do
ser ressignificado e a sua real função resgatada. Existiria sistema de ensino. Tais fatores ou facilitadores precisam
espaço mais rico para a discussão dos avanços, progres- igualmente ser avaliados como parte integrante da expli-
sos, necessidades dos estudantes e dos grupos? Existi- cação das conquistas e fracassos que possam ocorrer no
ria espaço mais privilegiado de troca entre professores âmbito da sala de aula. Esses outros espaços possuem
que trabalham com os mesmos estudantes para traçar seus próprios procedimentos de avaliação.
estratégias de atuação em conjunto que favoreçam os O espaço mais próximo da sala de aula é o espaço
processos de aprender? Não seria o conselho de classe, da escola como um todo. A escola é uma organização
o momento no qual deveríamos estudar os desafios de- complexa com múltiplos atores e interesses.
correntes da prática? Por fim, o conselho de classe tam- A avaliação da escola é chamada de avaliação insti-
bém ajudaria a resgatar a dimensão coletiva do trabalho tucional. Nesta, o ponto de apoio é o projeto político-
docente. No entanto, o conselho de classe, em boa parte -pedagógico da escola construído coletivamente e que
das escolas, ou tornou-se uma récita de notas e concei- deve orientar o conjunto dos profissionais envolvidos no
tos, palco de lamúrias e reclamações ou, simplesmente, processo de formação dos estudantes.
inexiste. Acontecendo dessa forma, o conselho de classe O projeto político-pedagógico deve fixar indicadores
coaduna-se com a perspectiva da avaliação classificatória a serem alcançados pelo coletivo da escola. Indicadores
e seletiva, perdendo seu potencial. não são padrões a serem obedecidos cegamente, mas
O espaço do conselho de classe poderia estar desti- marcas que o coletivo da escola espera atingir e para
nado a traçar estratégias para as intervenções pedagógi- as quais se organiza. Pode envolver a fixação de índices
cas com os estudantes, com os grupos. Poderia também menores de reprovação, índices maiores de domínio de
se constituir em espaço de estudo e discussão acerca de leitura ou outro conteúdo específico, expectativas de
questões teóricas que ajudariam na reflexão docente so- melhoria do clima organizativo da escola etc. Pode en-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

bre os desafios que o cotidiano escolar nos impõe: vio- volver ainda a obtenção de uma melhor articulação com
lência escolar, estudantes com necessidades educativas a comunidade local, ou a luta por demandas a serem fei-
especiais, as formas e procedimentos de avaliação dos tas ao poder público e que sejam vitais para o melhor
professores, construção coletiva de ações que levariam a funcionamento da escola.
uma maior qualidade do trabalho pedagógico, avaliação A avaliação institucional é também uma forma de
das metas e princípios estabelecidos no projeto político permitir a melhor organização do coletivo da escola com
pedagógico da escola e sua concretização junto aos es- vistas a uma gestão mais democrática e participativa que
tudantes e às turmas, formas de relacionamento da esco- permita à coletividade entender quais os pontos fortes e
la com as famílias etc. fracos daquela organização escolar, bem como mobilizar,
Como transformar o conselho de classe em um mo- criar e propor alternativas aos problemas.
mento de integração e discussão do processo pedagó- Finalmente, ainda existe o espaço do próprio sistema
gico? É importante lembrar que para ser um espaço de ou rede escolar, enquanto o conjunto das escolas per-
discussão coletiva, é importante que os professores pla- tencentes a este. Dentre as várias formas de avaliação
nejem suas ações e práticas de forma coletiva, desde o que esta instância comporta, destacamos a avaliação de
início. Como traçar estratégias de encaminhamento con- rendimento do conjunto dos estudantes pertencentes a
juntas se as ações não são planejadas em conjunto? uma rede de ensino ou a chamada avaliação de sistema.

24
Aqui, além do rendimento dos alunos, são feitas ava- pela palavra currículo, tão familiar a todos que trabalha-
liações de fatores associados a tais rendimentos e pes- mos nas escolas e nos sistemas educacionais. Por causa
quisadas as características das escolas que podem facili- dessa familiaridade, talvez não dediquemos muito tempo
tar ou dificultar o trabalho do professor e a obtenção dos a refletir sobre o sentido do termo, bastante frequente
resultados esperados pelos alunos. em conversas nas escolas, palestras a que assistimos, tex-
Essa avaliação, apesar de ser externa à escola, não tos acadêmicos, notícias em jornais, discursos de nossas
necessariamente tem que ser externa à rede, ou seja, autoridades e propostas curriculares oficiais. À palavra
preparada fora da rede avaliada. Ela pode ser construí- currículo associam-se distintas concepções, que derivam
da pelas secretarias de educação de forma a envolver as dos diversos modos de como a educação é concebida
escolas e os professores no próprio processo de elabora- historicamente, bem como das influências teóricas que a
ção da avaliação, de maneira que esta seja realizada com afetam e se fazem hegemônicas em um dado momento.
legitimidade técnica e política. Diferentes fatores sócioeconômico, políticos e culturais
Os resultados obtidos na avaliação de sistema devem contribuem, assim, para que currículo venha a ser enten-
ser enviados às escolas para serem usados, tanto na sua dido como:
avaliação institucional, como pelo professor na avaliação (a) os conteúdos a serem ensinados e aprendidos;
da aprendizagem dos alunos. (b) as experiências de aprendizagem escolares a se-
E por fim, temos os sistemas de avaliações nacionais rem vividas pelos alunos;
como SAEB, Prova Brasil, Enem, Enade, que passaram a (c) os planos pedagógicos elaborados por professo-
ser implementados no Brasil ainda nos anos 90 e que res, escolas e sistemas educacionais;
cumprem a função de traçar para professores, pesqui- (d) os objetivos a serem alcançados por meio do pro-
sadores e para a sociedade, em geral, um panorama da cesso de ensino;
situação da educação no país, em seus diversos níveis de (e) os processos de avaliação que terminam por in-
ensino. Tais sistemas cumprem um papel social impor- fluir nos conteúdos e nos procedimentos selecionados
tante, na medida em que têm como propósito dar sub- nos diferentes graus da escolarização.
sídios para a construção de uma escola de melhor quali- Sem pretender considerar qualquer uma dessas ou de
dade. Os resultados dessas grandes avaliações devem ser outras concepções como certa ou como errada, já que
amplamente divulgados e debatidos nas escolas, redes, elas refletem variados posicionamentos, compromissos e
meios de comunicação para que, de fato, se tornem um pontos de vista teóricos, podemos afirmar que as discus-
instrumento de democratização do sistema educacional sões sobre o currículo incorporam, com maior ou menor
brasileiro. ênfase, discussões sobre os conhecimentos escolares,
sobre os procedimentos e as relações sociais que con-
CURRÍCULO, CONHECIMENTO E CULTURA formam o cenário em que os conhecimentos se ensinam
e se aprendem, sobre as transformações que desejamos
O texto Currículo, Conhecimento e Cultura , de An- efetuar nos alunos e alunas, sobre os valores que dese-
tônio Flávio Moreira e Vera Maria Candau, apresenta jamos inculcar e sobre as identidades que pretendemos
elementos para reflexão texto sobre questões consi- construir. Discussões sobre conhecimento, verdade, po-
deradas significativas no desenvolvimento do currículo der e identidade marcam, invariavelmente, as discussões
nas escolas. Analisa a estreita vinculação que há entre a sobre questões curriculares. Como estamos concebendo,
concepção de currículo e as de Educação debatidas em então, a palavra currículo neste texto? Procurando resu-
um dado momento. Nessa perspectiva, aborda a passa- mir os aspectos acima mencionados, estamos entenden-
gem recente da preocupação dos pesquisadores sobre do currículo como as experiências escolares que se des-
as relações entre currículo e conhecimento escolar para dobram em torno do conhecimento, em meio a relações
as relações entre currículo e cultura. Apresenta a cons- sociais, e que contribuem para a construção das identi-
trução do conhecimento escolar como característica da dades de nossos/as estudantes. Currículo associa-se, as-
escola democrática que reconhece a multiculturalidade e sim, ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos
a diversidade como elementos constitutivos do processo com intenções educativas. Por esse motivo, a palavra tem
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ensino-aprendizagem. sido usada para todo e qualquer espaço organizado para


afetar e educar pessoas, o que explica o uso de expres-
Os estudos de currículo: desenvolvimento e preo- sões como o currículo da mídia, o currículo da prisão etc.
cupações Nós, contudo, estamos empregando a palavra currícu-
lo apenas para nos referirmos às atividades organizadas
Questões referentes ao currículo têm-se constituído por instituições escolares. Ou seja, para nos referirmos à
em frequente alvo da atenção de autoridades, professo- escola. Cabe destacar que a palavra currículo tem sido
res, gestores, pais, estudantes, membros da comunidade. também utilizada para indicar efeitos alcançados na es-
Quais as razões dessa preocupação tão nítida e tão per- cola, que não estão explicitados nos planos e nas pro-
sistente? Será mesmo importante que nós, profissionais postas, não sendo sempre, por isso, claramente perce-
da educação, acompanhemos toda essa discussão e nela bidos pela comunidade escolar. Trata-se do chamado
nos envolvamos? Não será suficiente deixarmos que as currículo oculto, que envolve, dominantemente, atitudes
autoridades competentes tomem as devidas decisões so- e valores transmitidos, subliminarmente, pelas relações
bre o que deve ser ensinado nas salas de aula? Para exa- sociais e pelas rotinas do cotidiano escolar. Fazem parte
minarmos possíveis respostas a essas perguntas, talvez do currículo oculto, assim, rituais e práticas, relações hie-
seja necessário esclarecer o que estamos entendendo rárquicas, regras e procedimentos, modos de organizar

25
o espaço e o tempo na escola, modos de distribuir os Por bem ou por mal, a cultura é agora um dos elemen-
alunos por grupamentos e turmas, mensagens implícitas tos mais dinâmicos – e mais imprevisíveis – da mudança
nas falas dos(as) professores(as) e nos livros didáticos. histórica no novo milênio. Não deve nos surpreender, en-
São exemplos de currículo oculto: a forma como a esco- tão, que as lutas pelo poder sejam, crescentemente, sim-
la incentiva a criança a chamar a professora (tia, Fulana, bólicas e discursivas, ao invés de tomar, simplesmente,
Professora etc); a maneira como arrumamos as carteiras uma forma física e compulsiva, e que as próprias políti-
na sala de aula (em círculo ou alinhadas); as visões de cas assumam progressivamente a feição de uma política
família que ainda se encontram em certos livros didáticos cultural.
(restritas ou não à família tradicional de classe média). Ainda, é inegável a pluralidade cultural do mundo em
Que consequências tais aspectos, sobre os quais muitas que vivemos e que se manifesta, de forma impetuosa,
vezes não pensamos, podem estar provocando nos alu- em todos os espaços sociais, inclusive nas escolas e nas
nos? Não seria importante identificá-los e verificar como, salas de aula. Essa pluralidade frequentemente acarreta
nas práticas de nossa escola, poderíamos estar contri- confrontos e conflitos, tornando cada vez mais agudos
buindo para um currículo oculto capaz de oprimir alguns os desafios a serem enfrentados pelos profissionais da
de nossos(as) estudantes (por razões ligadas a classe educação. No entanto, essa mesma pluralidade pode
social, gênero, raça, sexualidade)? Julgamos importante propiciar o enriquecimento e a renovação das possibili-
ressaltar que, qualquer que seja a concepção de currículo dades de atuação pedagógica. Antes, porém, de analisar-
que adotamos, não parece haver dúvidas quanto à sua mos as relações entre currículo e cultura, examinaremos
importância no processo educativo escolar. Como essa o outro tema central das discussões sobre currículo – o
importância se evidencia? Pode-se afirmar que é por in- conhecimento escolar. Procuraremos realçar sua impor-
termédio do currículo que as “coisas” acontecem na es- tância para todos os que se envolvem no processo cur-
cola. No currículo se sistematizam nossos esforços peda- ricular e destacaremos o processo de sua elaboração em
gógicos. O currículo é, em outras palavras, o coração da diferentes níveis do sistema educativo. Subjacente aos
escola, o espaço central em que todos atuamos, o que nossos comentários está a crença de que a escola precisa
nos torna, nos diferentes níveis do processo educacional, preparar-se para bem socializar os conhecimentos esco-
responsáveis por sua elaboração. O papel do educador lares e facilitar o acesso do(a) estudante a outros saberes.
no processo curricular é, assim, fundamental. Ele é um Subjacente aos nossos comentários está a crença de que
dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos os conhecimentos que se constroem e que circulam nos
currículos que se materializam nas escolas e nas salas diferentes espaços sociais constituem direito de todos. ...
de aula. Daí a necessidade de constantes discussões e A escola precisa preparar-se para bem socializar os co-
reflexões, na escola, sobre o currículo, tanto o currículo nhecimentos escolares e facilitar o acesso do(a) estudan-
formalmente planejado e desenvolvido quanto o currí- te a outros saberes.
culo oculto. Daí nossa obrigação, como profissionais da
educação, de participar crítica e criativamente na elabo- Esclarecendo o que entendemos por conhecimento
ração de currículos mais atraentes, mais democráticos, escolar
mais fecundos. Nessas reflexões e discussões, podemos e
devemos recorrer aos documentos oficiais, como a Lei de Que devemos entender por conhecimento escolar?
Diretrizes e Bases, as Diretrizes Curriculares Nacionais, as
Reiteramos que ele é um dos elementos centrais do cur-
Propostas Curriculares Estaduais e Municipais. Neles en-
rículo e que sua aprendizagem constitui condição indis-
contraremos subsídios fundamentais para o nosso traba-
pensável para que os conhecimentos socialmente produ-
lho. Podemos e devemos também recorrer aos estudos
zidos possam ser apreendidos, criticados e reconstruídos
que vêm sendo feitos, em nosso país, por pesquisadores
por todos/as os/as estudantes do país. Daí a necessida-
e estudiosos do campo. Tais estudos têm-se intensifica-
de de um ensino ativo e efetivo, com um/a professor/a
do, principalmente a partir da década de 1990, têm sido
apresentados em inúmeros congressos e seminários, comprometido(a), que conheça bem, escolha, organize e
bem como publicados em periódicos de expressiva cir- trabalhe os conhecimentos a serem aprendidos pelos(as)
alunos(as). Daí a importância de selecionarmos, para
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

culação nacional. Recentes análises desses estudos des-


tacam como as preocupações dos pesquisadores têm-se inclusão no currículo, conhecimentos relevantes e sig-
deslocado das relações entre currículo e conhecimento nificativos. Mas, para que nossos pontos de vista sejam
escolar para as relações entre currículo e cultura. Que as- bem compreendidos, é preciso esclarecer o que estamos
pectos têm provocado essa virada? Por que o foco tão considerando como qualidade e relevância na educação
forte em questões culturais? Resumidamente, cabe re- e no currículo. A nosso ver, uma educação de qualida-
conhecer, hoje, a preponderância da esfera cultural na de deve propiciar ao(à) estudante ir além dos referentes
organização de nossa vida social, bem como na teoria presentes em seu mundo cotidiano, assumindo-o e am-
social contemporânea. O papel do educador no processo pliando-o, transformando-se, assim, em um sujeito ativo
curricular é, assim, fundamental. Ele é um dos grandes na mudança de seu contexto. Que se faz necessário para
artífices, queira ou não, da construção dos currículos que que esse movimento ocorra? A nosso ver, são indispen-
se materializam nas escolas e nas salas de aula. sáveis conhecimentos escolares que facilitem ao(à) alu-
Stuart Hall, conhecido intelectual caribenho radica- no(a) uma compreensão acurada da realidade em que
do na Grã-Bretanha e um dos fundadores do centro de está inserido, que possibilitem uma ação consciente e
pesquisas que foi o berço dos Estudos Culturais, na Uni- segura no mundo imediato e que, além disso, promovam
versidade de Birmingham (Inglaterra), é especialmente a ampliação de seu universo cultural. Entendemos rele-
incisivo nessa perspectiva. vância, então, como o potencial que o currículo possui de

26
tornar as pessoas capazes de compreender o papel que escolar, historicamente criada pela própria escola, na es-
devem ter na mudança de seus contextos imediatos e da cola e para a escola. Que importância tem para nós, pro-
sociedade em geral, bem como de ajudá-las a adquirir fessores e gestores, compreender o que se chama de co-
os conhecimentos e as habilidades necessárias para que nhecimento escolar? De que modo conhecer essa noção
isso aconteça. Relevância sugere conhecimentos e expe- modifica nossa prática? Cientificamo-nos de que os co-
riências que contribuam para formar sujeitos autônomos, nhecimentos ensinados na escola não são cópias exatas
críticos e criativos que analisem como as coisas passaram de conhecimentos socialmente construídos. Assim, não
a ser o que são e como fazer para que elas sejam dife- há como inserir, nas salas de aula e nas escolas, os sabe-
rentes do que hoje são. Que implicações esses pontos de res e as práticas tal como funcionam em seus contextos
vistas têm para a prática curricular? Julgamos que uma de origem. Para se tornarem conhecimentos escolares, os
educação de qualidade, como a que defendemos, requer conhecimentos de referência sofrem uma descontextua-
a seleção de conhecimentos relevantes, que incentivem lização e, a seguir, um processo de recontextualização.
mudanças individuais e sociais, assim como formas de A atividade escolar, portanto, supõe uma certa ruptu-
organização e de distribuição dos conhecimentos esco- ra com as atividades próprias dos campos de referência.
lares que possibilitem sua apreensão e sua crítica. Tais Essa constatação certamente afeta o trabalho pedagó-
processos necessariamente implicam o diálogo com os gico. Como? Cientes das transformações por que pas-
saberes disciplinares assim como com outros saberes sam os conhecimentos de referência até se tornarem
socialmente produzidos. Referimo-nos a conhecimen- conhecimentos escolares, não iremos mais supor que a
tos escolares relevantes e significativos. Mas talvez não escola possa ser organizada, para o ensino de Ciências,
tenhamos, até o momento, esclarecido suficientemente por exemplo, como um pequeno laboratório, similar aos
o que estamos denominando de conhecimento escolar. que existem em outros locais. A investigação científica,
Que aspectos o caracterizam? Quem o constrói? Onde? tal como se desenvolve em um laboratório de pesquisas,
Inicialmente, cabe ressaltar que concebemos o conheci- é bem distinta da sequência de passos estipulados em
mento escolar como uma construção específica da esfera um manual didático de experiências científicas escolares.
educativa, não como uma mera simplificação de conheci- Outro exemplo pode ser encontrado no campo das ativi-
mentos produzidos fora da escola. Consideramos, ainda, dades desportivas. A prática do desporto apresenta, em
que o conhecimento escolar tem características próprias locais de treinamento de atletas profissionais, caracterís-
que o distinguem de outras formas de conhecimento. ticas bem diferenciadas das experiências oferecidas ao(à)
Ou seja, vemos o conhecimento escolar como um tipo estudante nas aulas de Educação Física. Torna-se sem
de conhecimento produzido pelo sistema escolar e pelo sentido, portanto, qualquer tentativa de transformar tais
contexto social e econômico mais amplo, produção essa aulas em momentos de preparação de futuros atletas.
que se dá em meio a relações de poder estabelecidas no Os dois exemplos citados permitem-nos perceber como
aparelho escolar e entre esse aparelho e a sociedade. O a concepção de conhecimento escolar que propomos
currículo, nessa perspectiva, constitui um dispositivo em pode influir na seleção e na organização das experiên-
que se concentram as relações entre a sociedade e a es- cias de aprendizagem a serem vividas por estudantes e
cola, entre os saberes e as práticas socialmente construí- docentes. Em síntese, a visão de conhecimento escolar
dos e os conhecimentos escolares. Podemos dizer que os por nós adotada, bem como o reconhecimento de que
primeiros constituem as origens dos segundos. devemos trabalhar com conhecimentos significativos e
Em outras palavras, os conhecimentos escolares pro- relevantes, terão certamente efeitos no processo de ela-
vêm de saberes e conhecimentos socialmente produ- boração do projeto político-pedagógico da escola. Mas
zidos nos chamados “âmbitos de referência dos currí- em que consistem os mencionados processos de des-
culos”. Que são esses âmbitos de referência? Podemos contextualização e recontextualização do conhecimento
considerá-los como correspondendo: escolar? Que processos são empregados na “fabricação”
(a) às instituições produtoras do conhecimento cien- dos conhecimentos escolares? Mencionaremos alguns
tífico (universidades e centros de pesquisa); deles, apoiando-nos em Terigi. Em primeiro lugar, des-
(b) ao mundo do trabalho; tacamos a descontextualização dos saberes e das práti-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

(c) aos desenvolvimentos tecnológicos; cas, que costuma fazer com que o conhecimento escolar
(d) às atividades desportivas e corporais; dê a impressão de “pronto”, “acabado”, impermeável a
(e) à produção artística; críticas e discussões. O processo de produção, com to-
(f) ao campo da saúde; dos os seus conflitos e interesses, tende a ser omitido.
(g) às formas diversas de exercício da cidadania; Qual a consequência dessa omissão? O estudante acaba
(h) aos movimentos sociais. aprendendo simplesmente o produto, o resultado de um
longo trajeto, cuja complexidade também se perde. Ao
Nesses espaços, produzem-se os diferentes saberes observarmos com cuidado os livros didáticos, podemos
dos quais derivam os conhecimentos escolares. Os co- verificar que eles não costumam incluir, entre os conteú-
nhecimentos oriundos desses diferentes âmbitos são, dos selecionados, os debates, as discordâncias, os pro-
então, selecionados e “preparados” para constituir o cur- cessos de revisão e de questionamento que marcam os
rículo formal, para constituir o conhecimento escolar que conhecimentos e os saberes em muitos de seus contex-
se ensina e se aprende nas salas de aula. Ressalte-se que, tos originais. Dificilmente encontramos, em programas e
além desses espaços, a própria escola constitui local em em materiais didáticos, menções às disputas que se tra-
que determinados saberes são também elaborados, en- vam, por exemplo, no avanço do próprio conhecimento
sinados e aprendidos. Exemplifique-se com a gramática científico.

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Devemos avaliar o processo de descontextualização forma. Os que historicamente têm sido vistos como os
que vimos discutindo como totalmente nocivo ao pro- mais “importantes” costumam ser avaliados segundo
cesso curricular? A nosso ver, certo grau de descontex- padrões vistos como mais “rigorosos”, ainda que não se
tualização se faz necessário no ensino, já que os saberes problematize quem ganha e quem perde com essa “hie-
e as práticas produzidos nos âmbitos de referência do rarquia”. Chega- se mesmo a aceitar, sem questionamen-
currículo não podem ser ensinados tal como funcionam tos, que as vozes de docentes de determinadas discipli-
em seu contexto de origem. Todavia, precisamos estar nas sejam ouvidas, nos Conselhos de Classe, com mais
atentos para o risco de perda de sentido dos conheci- intensidade que as de docentes de disciplinas em que o
mentos, possível de acontecer se trabalharmos com uma processo de avaliação não se centra em provas ou testes
forte descontextualização. Conhecimentos totalmente escritos. Em quarto lugar, o processo de construção do
descontextualizados, aparentemente “puros”, perdem conhecimento escolar sofre, inegavelmente, efeitos de
suas inevitáveis conexões com o mundo social em que relações de poder. Recorrendo mais uma vez ao Conse-
são construídos e funcionam. Conhecimentos totalmen- lho de Classe: a “hierarquia” que se encontra no currículo,
te descontextualizados não permitem que se evidencie com base na qual se valorizam diferentemente os conhe-
como os saberes e as práticas envolvem, necessariamen- cimentos escolares e se “justifica” a prioridade concedida
te, questões de identidade social, interesses, relações de à matemática em detrimento da língua estrangeira ou da
poder e conflitos interpessoais. Conhecimentos totalmen- geografia, deriva, certamente, de relações de poder. Nes-
te descontextualizados desfavorecem, assim, um ensino sa hierarquia, se supervalorizam as chamadas disciplinas
mais reflexivo e uma aprendizagem mais significativa. científicas, secundarizando-se os saberes referentes às
Não seria oportuno, então, que buscássemos, na escola, artes e ao corpo. Nessa hierarquia, separam-se a razão
verificar se e como tais questões se expressam nos livros da emoção, a teoria da prática, o conhecimento da cul-
didáticos com que trabalhamos? Como, tendo em vista o tura. Nessa hierarquia, legitimam-se saberes socialmente
que vimos apresentando, poderíamos pensar em novas reconhecidos e estigmatizam-se saberes populares. Nes-
estratégias de crítica e de utilização dos livros? Como po- sa hierarquia, silenciam-se as vozes de muitos indivíduos
deríamos preencher algumas das “lacunas” neles obser- e grupos sociais e classificam-se seus saberes como in-
vadas? Não seria pertinente procurarmos complementar dignos de entrarem na sala de aula e de serem ensina-
os conhecimentos incluídos nos livros com informações dos e aprendidos. Nessa hierarquia, reforçam-se relações
e discussões referentes aos processos de construção dos de poder favoráveis à manutenção das desigualdades e
conhecimentos de referência, tais como ocorrem em ou- das diferenças que caracterizam nossa estrutura social.
tros espaços sociais? Que interesses, conflitos e disputas De que modo a compreensão dos processos de constru-
os têm marcado? Como podemos nos informar melhor ção do conhecimento escolar é útil ao(à) professor(a)? Se
sobre tais processos? A quem podemos recorrer? Julga- o(a) professor(a) entende como o conhecimento escolar
mos que o debate dessas e de outras questões similares se produz, saberá melhor distinguir em que momento
pode, na escola, estimular novas e criativas formas de se os mecanismos implicados nessa produção estão favo-
trabalhar tanto o livro didático quanto outros materiais e recendo ou atravancando o trabalho docente. Em outras
outras fontes que nos auxiliam no complexo processo de palavras, a compreensão do processo de construção do
favorecer a aprendizagem de nossos(as) estudantes. Em conhecimento escolar facilita ao professor uma maior
segundo lugar, ressaltamos a subordinação dos conhe- compreensão do próprio processo pedagógico, o que
cimentos escolares ao que conhecemos sobre o desen- pode estimular novas abordagens, na tentativa tanto de
volvimento humano. Ou seja, os conhecimentos escola- bem selecionar e organizar os conhecimentos quanto de
res costumam ser selecionados e organizados com base conferir uma orientação cultural ao currículo. Vejamos,
nos ritmos e nas sequências propostas pela psicologia então, como abordar, nas decisões curriculares, a diversi-
do desenvolvimento. É bastante comum, em nossas salas dade cultural que marca nossa sociedade. ... O processo
de aula, o esforço do(a) professor(a) por escolher ativi- de construção do conhecimento escolar sofre, inegavel-
dades e conteúdos que se mostrem adequados à etapa mente, efeitos de relações de poder.
do desenvolvimento em que supostamente se encontra
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

o(a) aluno(a). Em muitos casos, a consequência é igno- Cultura, diversidade cultural e currículo
rarmos o quanto muitos(as) de nossos(as) estudantes
conseguem “queimar etapas” e aprender, de modo que Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja
nos surpreende, conhecimentos que julgávamos acima útil esclarecermos, inicialmente, como a estamos conce-
de seu alcance. Para o adolescente familiarizado com as bendo, já que seus sentidos têm variado ao longo dos
inúmeras possibilidades oferecidas pela internet, o aces- tempos, particularmente no período da transição de for-
so a informações e saberes se faz, frequentemente, de mações sociais tradicionais para a modernidade (Bocock,
modo não linear e não gradativo. Será que, na escola, 1995; Canen e Moreira, 2001). Acreditamos que tal escla-
estamos sabendo tirar suficiente proveito das vantagens recimento pode subsidiar a discussão das relações entre
resultantes do uso de novas tecnologias? Como podería- currículo e cultura. O primeiro e mais antigo significado
mos aproveitá-las melhor? de cultura encontra-se na literatura do século XV, em que
Em terceiro lugar, os conhecimentos escolares ten- a palavra se refere a cultivo da terra, de plantações e de
dem a se submeter aos ritmos e às rotinas que permitem animais. É nesse sentido que entendemos palavras como
sua avaliação. Ou seja, tendemos a ensinar conhecimen- agricultura, floricultura, suinocultura. O segundo signifi-
tos que possam ser, de algum modo, avaliados. Mas, é cado emerge no início do século XVI, ampliando a ideia
claro, nem todos os conteúdos são avaliados da mesma de cultivo da terra e de animais para a mente humana.

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Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada, considerável impacto nas ciências sociais e nas humani-
afirmando-se mesmo que somente alguns indivíduos, dades em geral. Deriva da antropologia social e também
grupos ou classes sociais apresentam mentes e maneiras se refere a significados compartilhados. Diferentemente
cultivadas e que somente algumas nações apresentam da concepção anterior, porém, ressalta a dimensão sim-
elevado padrão de cultura ou civilização. No século XVIII, bólica, o que a cultura faz, em vez de acentuar o que
consolida-se o caráter classista da ideia de cultura, evi- a cultura é. Nessa mudança, efetua- se um movimento
dente na ideia de que somente as classes privilegiadas do que para o como. Concebe-se, assim, a cultura como
da sociedade europeia atingiriam o nível de refinamento prática social, não como coisa (artes) ou estado de ser
que as caracterizaria como cultas. O sentido de cultura, (civilização). Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo
que ainda hoje a associa às artes, tem suas origens nes- natural existem, mas não apresentam sentidos intrínse-
sa segunda concepção: cultura, tal como as elites a con- cos: os significados são atribuídos a partir da linguagem.
cebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura, Quando um grupo compartilha uma cultura, comparti-
cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não lha um conjunto de significados, construídos, ensinados
encontramos vestígios dessa concepção tanto em alguns e aprendidos nas práticas de utilização da linguagem. A
de nossos atuais currículos como em textos que se es- palavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas
crevem sobre currículo? Para alguns docentes, o estudo por meio das quais significados são produzidos e com-
da literatura, por exemplo, ainda tende a se restringir a partilhados em um grupo. São os arranjos e as relações
escritores e livros vistos como clássicos. envolvidas em um evento que passam, dominantemente,
Para alguns estudiosos da cultura e da educação, os a despertar a atenção dos que analisam a cultura com
grandes autores, as grandes obras e as grandes ideias base nessa quinta perspectiva, passível de ser resumida
deveriam constituir o núcleo central dos currículos de na ideia de que cultura representa um conjunto de prá-
nossas escolas. Já no século XX, a noção de cultura passa ticas significantes. Não será pertinente considerarmos
a incluir a cultura popular, hoje penetrada pelos conteú- também o currículo como um conjunto de práticas em
dos dos meios de comunicação de massa. Diferenças e que significados são construídos, disputados, rejeitados,
tensões entre os significados de cultura elevada e de cul- compartilhados? Como entender, então, as relações en-
tura popular acentuam-se, levando a um uso do termo tre currículo e cultura? Quando um grupo compartilha
cultura que se marca por valorizações e avaliações. Será uma cultura, compartilha um conjunto de significados,
que algumas de nossas escolas não continuam a fechar construídos, ensinados e aprendidos nas práticas de uti-
suas portas para as manifestações culturais associadas à lização da linguagem. A palavra cultura implica, portanto,
cultura popular, contribuindo, assim, para que saberes e o conjunto de práticas por meio das quais significados
valores familiares a muitos(as) estudantes sejam desvalo- são produzidos e compartilhados em um grupo.
rizados e abandonados na entrada da sala de aula? Pode- Se entendermos o currículo, como propõe Williams,
ria ser diferente? Como? Um terceiro sentido da palavra como escolhas que se fazem em vasto leque de possibi-
cultura, originado no Iluminismo, a associa a um proces- lidades, ou seja, como uma seleção da cultura, podemos
so secular geral de desenvolvimento social. Esse signifi- concebê-lo, também, como conjunto de práticas que
cado é comum nas ciências sociais, sugerindo a crença produzem significados. Nesse sentido, considerações
em um processo harmônico de desenvolvimento da hu- de Silva podem ser úteis. Segundo o autor, o currículo
manidade, constituído por etapas claramente definidas, é o espaço em que se concentram e se desdobram as
pelo qual todas as sociedades inevitavelmente passam. lutas em torno dos diferentes significados sobre o social
Tal processo acaba equivalendo, por “coincidência”, aos e sobre o político. É por meio do currículo que certos
rumos seguidos pelas sociedades europeias, as únicas grupos sociais, especialmente os dominantes, expressam
a atingirem o grau mais elevado de desenvolvimento. sua visão de mundo, seu projeto social, sua “verdade”.
Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos O currículo representa, assim, um conjunto de práticas
que sim. Em alguns cursos de História, por exemplo, as que propiciam a produção, a circulação e o consumo de
referências se fazem, dominantemente, às histórias dos significados no espaço social e que contribuem, intensa-
povos “desenvolvidos”, o que nos aliena dos esforços e mente, para a construção de identidades sociais e cultu-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

dos rumos seguidos na maioria dos países que formam rais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de
o chamado Terceiro Mundo Em um quarto sentido, a grande efeito no processo de construção da identidade
palavra “culturas” (no plural) corresponde aos diversos do(a) estudante. Não se mostra, então, evidente a íntima
modos de vida, valores e significados compartilhados relação entre currículo e cultura? Se, em uma sociedade
por diferentes grupos (nações, classes sociais, grupos cindida, a cultura é um terreno no qual se processam dis-
étnicos, culturas regionais, geracionais, de gênero etc) e putas pela preservação ou pela superação das divisões
períodos históricos. Trata-se de uma visão antropológica sociais, o currículo é um espaço em que esse mesmo
de cultura, em que se enfatizam os significados que os conflito se manifesta. O currículo é um campo em que se
grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais. tenta impor tanto a definição particular de cultura de um
Cultura identifica-se, assim, com a forma geral de vida dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O currícu-
de um dado grupo social, com as representações da rea- lo é um território em que se travam ferozes competições
lidade e as visões de mundo adotadas por esse grupo. A em torno dos significados. O currículo não é um veículo
expressão dessa concepção, no currículo, poderá eviden- que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas
ciar-se no respeito e no acolhimento das manifestações sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões,
culturais dos(as) estudantes, por mais desprestigiadas se produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se,
que sejam. Finalmente, um quinto significado tem tido portanto, a criação, recriação, contestação e transgres-

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são. Como todos esses processos se “concretizam” no incorporado tais preocupações? Como temos atendido
currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam ao que determina a Lei nº 10639/2003, que torna obri-
esforços tanto por consolidar as situações de opressão e gatório, nos estabelecimentos de ensino fundamental e
discriminação a que certos grupos sociais têm sido sub- médio, o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira?
metidos, quanto por questionar os arranjos sociais em De que modo os professores se têm inteirado das lutas
que essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao e conquistas dos negros, das mulheres, dos homosse-
nos lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de xuais e de outros grupos minoritários oprimidos? Sem
práticas, em salas de aulas, que contribuem para crista- pretender oferecer respostas prontas a serem aplicadas
lizar preconceitos e discriminações, representações este- em quaisquer situações, move-nos a intenção de apre-
reotipadas e desrespeitosas de certos comportamentos, sentar alguns princípios que possam nortear a constru-
certos estudantes e certos grupos sociais. Em Conselhos ção coletiva, em cada escola, de currículos que visem a
de Classe, algumas dessas visões, lamentavelmente, se enfrentar alguns dos desafios que a diversidade cultural
refletem em frases como: “vindo de onde vem, ele não nos tem trazido. Fundamentamo-nos, nesse propósito,
podia mesmo dar certo na escola!”. Ao mesmo tempo, em estudos, pesquisas, práticas e depoimentos de do-
há inúmeros e expressivos relatos de práticas alternativas centes comprometidos com uma escola cada vez mais
em que professores(as) desafiam as relações de poder democrática. Nossa intenção é convidar o profissional da
que têm justificado e preservado privilégios e margina- educação a engajar- se no instigante processo de pensar
lizações, procurando contribuir para elevar a autoestima e desenvolver currículos para essa escola.
de estudantes associados a grupos subalternizados. O Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, in-
currículo é um campo em que se tenta impor tanto a tensificar a sensibilidade do(a) docente e do gestor para
definição particular de cultura de um dado grupo quanto a pluralidade de valores e universos culturais, para a ne-
o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território em cessidade de um maior intercâmbio cultural no interior
que se travam ferozes competições em torno dos signi- de cada sociedade e entre diferentes sociedades, para
ficados. a conveniência de resgatar manifestações culturais de
Ou seja, no processo curricular, distintas e complexas determinados grupos cujas identidades se encontram
têm sido as respostas dadas à diversidade e à pluralidade ameaçadas, para a importância da participação de todos
que marcam de modo tão agudo o panorama cultural no esforço por tornar o mundo menos opressivo e in-
contemporâneo. Cabe também ressaltar a significativa justo, para a urgência de se reduzirem discriminações e
influência exercida, junto às crianças e aos adolescentes preconceitos. O objetivo maior concentra-se, cabe desta-
que povoam nossas salas de aula, pelos “currículos” por car, na contextualização e na compreensão do processo
eles “vividos” em outros espaços socioeducativos (sho- de construção das diferenças e das desigualdades. Nosso
ppings, clubes, associações, igrejas, meios de comuni- propósito é que os currículos desenvolvidos tornem evi-
cação, grupos informais de convivência etc), nos quais dente que elas não são naturais; são, ao contrário, “in-
se fazem sentir com intensidade muitos dos complexos venções/construções” históricas de homens e mulheres,
fenômenos associáveis ao processo de globalização que sendo, portanto, passíveis de serem desestabilizadas e
hoje vivenciamos. Nesses outros espaços extraescolares, mesmo transformadas. Ou seja, o existente nem pode ser
os currículos tendem a se organizar com objetivos distin- aceito sem questionamento nem é imutável; constitui-se,
tos dos currículos escolares, o que faz com que valores sim, em estímulo para resistências, para críticas e para a
como padronização, consumismo, individualismo, sexis- formulação e a promoção de novas situações pedagógi-
mo e etnocentrismo possam entrar em acirrada compe- cas e novas relações sociais.
tição com outras metas, visadas por escolas e famílias.
Vale perguntar: como temos, nas salas de aula, reagido Princípios para a construção de currículos multi-
a esse “confuso” panorama em que a diversidade se faz culturalmente orientados
tão presente? Como temos nos esforçado para deses-
tabilizar privilégios e discriminações? Como temos bus- Passemos aos nossos princípios. Insistimos, inicial-
cado neutralizar influências “indesejáveis”? Como temos, mente, na necessidade de uma nova postura, por parte
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

na escola, dialogado com os “currículos” desses outros do professorado e dos gestores, no esforço por construir
espaços? Em resumo, o complexo, variado e conflituo- currículos culturalmente orientados. Propomos, a seguir,
so cenário cultural em que estamos imersos se reflete que se reescrevam os conhecimentos escolares, que se
no que ocorre em nossas salas de aula, afetando sen- evidencie a ancoragem social desses conhecimentos,
sivelmente o trabalho pedagógico que nelas se proces- bem como que se transforme a escola e o currículo em
sa. Voltamos a perguntar: como as diferenças derivadas espaços de crítica cultural, de diálogo e de desenvolvi-
de dinâmicas sociais como classe social, gênero, etnia, mento de pesquisas. Esperamos que nossos princípios
sexualidade, cultura e religião têm “contaminado” nos- possam nortear a escolha de novos conteúdos, a adoção
so currículo, tanto o currículo formal quanto o currículo de novos procedimentos e o estabelecimento de novas
oculto? Como temos considerado, no currículo, essa plu- relações na escola e na sala de aula.
ralidade, esse caráter multicultural de nossa sociedade?
Como articular currículo e multiculturalismo? Que es- A necessidade de uma nova postura
tratégias pedagógicas podem ser selecionadas? Temos,
professores e gestores, reservado tempo e espaço su- Elaborar currículos culturalmente orientados deman-
ficientes para que essas discussões aconteçam nas es- da uma nova postura, por parte da comunidade escolar,
colas? Como nossos projetos político-pedagógicos têm de abertura às distintas manifestações culturais. Faz-se

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indispensável superar o “daltonismo cultural”, ainda bas- quer “cor” ou “sabor”. O que estamos desejando, em vez
tante presente nas escolas. O professor “daltônico cul- disso, é que os interesses ocultados sejam identificados,
tural” é aquele que não valoriza o “arco-íris de culturas” evidenciados e subvertidos, para que possamos, então,
que encontra nas salas de aulas e com que precisa traba- reescrever os conhecimentos. Desejamos que o aluno
lhar, não tirando, portanto, proveito da riqueza que mar- perceba o quanto, em Geografia, os conhecimentos re-
ca esse panorama. É aquele que vê todos os estudantes ferentes aos diversos continentes foram construídos em
como idênticos, não levando em conta a necessidade de íntima associação com o interesse, de certos países, em
estabelecer diferenças nas atividades pedagógicas que aumentar suas riquezas pela conquista e colonização de
promove. O daltonismo cultural a que nos referimos ex- outros povos. Em conformidade com essa proposta, en-
pressa-se, por exemplo, na visão da professora de uma contram-se já numerosos(as) professores(as) de História
escola normal que desencoraja uma pesquisadora inte- que não mais se contentam em ensinar aos(às) estudan-
ressada em compreender o tratamento dado, na escola, tes apenas a visão do dominante, do vencedor. Já se fa-
a questões referentes a racismo na formação docente. zem frequentes, em suas aulas na escola fundamental,
“Lamento, mas aqui você não terá material para seu es- discussões como: o Brasil foi descoberto ou invadido
tudo. Não temos problema nenhum de racismo aqui. pelos portugueses? A Lei Áurea, assinada pela Princesa
Eu, por exemplo, ao entrar em sala, trato todos os meus Isabel, pretendeu de fato beneficiar os escravos? Domin-
alunos como se fossem brancos”. O daltonismo é tão in- gos Fernandes Calabar deve ser mesmo considerado um
tenso que chega a impedir que a professora reconheça a traidor? Em 1964 houve uma revolução ou um golpe?
presença da diversidade (e de suas consequências) na es- Esses e outros inúmeros pontos controversos de nossa
cola. Em casos como esse, pode ser útil, em um primeiro História são discutidos por docentes e alunos(as), o que
momento, buscarmos sensibilizar o corpo docente para faz brotar uma análise bem mais lúcida dos diferentes e
a pluralidade e para a diversidade. Como fazê-lo? Que conflitantes motivos implicados nos fatos históricos, an-
estratégias empregar nessa tarefa, para que se possa tes vistos como “objetivos” e tratados com base em uma
ter a maior adesão possível dos que ainda não percebe- única versão, aceita sem questionamento.
ram a importância de tais aspectos? Nessa perspectiva, A consequência é que a análise se amplia e se en-
é importante articular o aprofundamento teórico com riquece pelo confronto de pontos de vista. Além dessa
vivências de experiências em que os/as profissionais da ampliação da análise, muitos docentes têm também pro-
educação são convidados/as a se colocar “em situação” curado incluir no currículo outras Histórias: a das mulhe-
e analisar as suas próprias reações. Como se sentiriam e res, a dos povos indígenas, a dos negros, por exemplo.
reagiriam, por exemplo, se, como algumas pessoas ne- Tais inclusões preenchem algumas das lacunas mais en-
gras ainda têm sido, fossem impedidos(as) de entrar pela contradas nas propostas curriculares oficiais, trazendo à
“porta da frente” em um edifício residencial ou em um cena vozes e culturas negadas e silenciadas no currículo.
hotel de luxo? Segundo Torres Santomé, as culturas ou vozes dos gru-
Outra estratégia possível diz respeito ao resgate pos sociais minoritários e/ ou marginalizados que não
de histórias de vida e análise de estudos de caso reais, dispõem de estruturas de poder costumam ser excluídas
trazidos pelos próprios educadores ou registrados em das salas de aula, chegando mesmo a ser deformadas ou
pesquisas realizadas sobre tal temática. Talvez alguns estereotipadas, para que se dificultem (ou de fato se anu-
docentes se estimulem a apresentar e a discutir situa- lem) suas possibilidades de reação, de luta e de afirmação
ções em que se viram, eles próprios, discriminados, ou de direitos. Cabe evitar atribuir qualquer caráter exótico
em que presenciaram pessoas sendo depreciadas e des- às manifestações culturais de grupos minoritários. Ade-
respeitadas. Como se comportaram nesses momentos? mais, sua presença no currículo não deve assumir o tom
Em resumo, a ruptura do daltonismo cultural e da visão fortuito, “turístico”, tão criticado por Torres Santomé. É
monocultural da dinâmica escolar é um processo pes- preciso que os estudos desenvolvidos venham a catalisar,
soal e coletivo que exige desconstruir e desnaturalizar junto aos membros das culturas negadas e silenciadas, a
estereótipos e “verdades” que impregnam e configuram formação de uma auto-imagem positiva. Para esse mes-
a cultura escolar e a cultura da escola. Após a adoção de mo propósito, pode ser útil a discussão, em diferentes
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

uma nova postura frente à pluralidade, outros princípios disciplinas, dos rumos de diferentes movimentos sociais
e propósitos podem mostrar-se úteis na formulação dos (negros, mulheres, indígenas, homossexuais), para que
currículos. Vejamos alguns deles. se compreendam e se acentuem avanços, dificuldades
e desafios. Líderes desses grupos podem ser convida-
O currículo com um espaço em que se reescreve o dos a participar das atividades. Exposições e cartazes
conhecimento escolar podem ilustrar trajetórias e conquistas. Cabe esclarecer
que não estamos argumentando a favor do efeito Robin
Sugerimos que se procure, no currículo, reescrever o Hood, segundo o qual se tira de um para dar ao outro,
conhecimento escolar usual, tendo-se em mente as dife- ou seja, não estamos recomendando que simplesmente
rentes raízes étnicas e os diferentes pontos de vista en- se substitua um conhecimento por outro. O que estamos
volvidos em sua produção. No processo de construção sugerindo é que se explorem e se confrontem perspec-
do conhecimento escolar, que já abordamos, se “retiram” tivas, enfoques e intenções, para que possam vir à tona
os interesses e os objetivos usualmente envolvidos na propósitos, escolhas, disputas, relações de poder, repres-
pesquisa e na produção do conhecimento de origem. sões, silenciamentos, exclusões. O trabalho com notícias
O conhecimento escolar tende a ficar, em decorrência difundidas pela mídia, frequentemente derivadas de
desse processo, “asséptico”, “neutro”, despido de qual- leituras distintas e até mesmo contraditórias dos fatos,

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assim como com músicas, vídeos e outras produções ra, cabe reiterar, substituir um conhecimento por outro,
culturais, permite ilustrar com clareza os confrontos que mas sim propiciar aos(às) estudantes a compreensão
pretendemos ver explicitados. Examinando diferentes in- das relações de poder envolvidas na hierarquização das
terpretações, os(as) alunos(as) poderão melhor perceber, manifestações culturais e dos saberes, assim como nas
por exemplo, os objetivos e os jogos, por vezes escusos, diversas imagens e leituras que resultam quando certos
implicados em muitas medidas de nossos políticos e go- olhares são privilegiados em detrimento de outros. Nes-
vernantes. Certamente a análise atenta e a discussão crí- sa perspectiva, é importante que consideremos a escola
tica de notícias referentes à decisão de invadir o Iraque, como um espaço de cruzamento de culturas e saberes.
tomada pelo presidente George Bush, após os ataques A escola deve ser concebida como um espaço ecológico
terroristas de 11 de setembro de 2001, poderão ajudar de cruzamento de culturas. A responsabilidade específica
o(a) aluno(a) a contrapor à versão oficial norte-america- que a distingue de outros espaços de socialização e lhe
na uma outra versão dos acontecimentos em pauta. confere identidade e relativa autonomia é exatamente a
A leitura crítica de jornais permite também verificar possibilidade de promover análises e interações das in-
como, na França, se tenta impedir que meninas muçul- fluências plurais que as diferentes culturas exercem, de
manas frequentem as salas de aula usando seus véus. forma permanente, sobre as novas gerações.
A justificativa é que as escolas francesas são seculares O responsável definitivo da natureza, do sentido e
e que os símbolos religiosos, portanto, devem ser bani- da consistência do que os alunos e as alunas aprendem
dos de suas práticas. Proibições similares têm ocorrido em sua vida escolar é este vivo, fluido e complexo cru-
também na Alemanha, vetando-se às professoras o uso zamento de culturas que se produz na escola, entre as
do véu. O que não se divulga é como tal medida acaba propostas da cultura crítica, alojada nas disciplinas cien-
por solapar importante elemento da identidade dessas tíficas, artísticas e filosóficas; as determinações da cultura
jovens, desrespeitando o direito à diferença que deve acadêmica, refletidas nas definições que constituem o
pautar toda sociedade que se quer democrática, plural e currículo; os influxos da cultura social, constituída pelos
inclusiva. Ou seja, a compreensão dos diferentes pontos valores hegemônicos do cenário social; as pressões do
de vista envolvidos na contenda permite que o(a) alu- cotidiano da cultura institucional, presente nos papéis,
no(a) desconstrua o olhar do poder hegemônico e infira nas normas, nas rotinas e nos ritos próprios da escola
que outros olhares descortinam outros ângulos, outras como instituição específica; e as características da cultura
razões, outros interesses. Leva-o(a) a compreender me- experiencial, adquirida individualmente pelo aluno atra-
lhor alguns dos elementos que promovem a persistência, vés da experiência nos intercâmbios espontâneos com
no mundo de hoje, do ódio, da violência, do racismo, da seu meio.
xenofobia, do fundamentalismo. Não será indispensável Conceber a dinâmica escolar nesse enfoque supõe
que a escola procure denunciar e colocar em xeque essa repensar seus diferentes componentes e romper com a
persistência? Professores dos primeiros anos do ensino tendência homogeneizadora e padronizadora que im-
fundamental podem também estimular o(a) aluno(a) a pregna suas práticas. Para Moreira e Candau, a escola
reescrever conhecimentos, saberes, mitos, costumes, len- sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a
das, contos. Inúmeras histórias infantis, por exemplo, têm diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se
sido reescritas com base no emprego de pontos de vista mais confortável com a homogeneização e a padroniza-
distintos dos usuais. O caso dos Três Porquinhos pode ção. No entanto, abrir espaços para a diversidade, a dife-
surpreender se a figura do Lobo representar o especula- rença e para o cruzamento de culturas constitui o grande
dor imobiliário que tão bem conhecemos. desafio que está chamada a enfrentar.
As atitudes da Cigarra e da Formiga podem ser rea- A escola precisa, assim, acolher, criticar e colocar em
valiadas, tendo-se em mente a forma como se concebem contato diferentes saberes, diferentes manifestações cul-
e se organizam trabalho e lazer na sociedade contempo- turais e diferentes óticas. A contemporaneidade requer
rânea. O desfecho do passeio de Chapeuzinho Vermelho culturas que se misturem e ressoem mutuamente, que
à casa da avó pode ser outro, caso imaginemos novos convivam e se modifiquem. Que se modifiquem modi-
perfis e novas relações para os personagens da história. ficando outras culturas pela convivência ressonante. Ou
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Ou seja, de novos patamares podemos perceber novos seja, um processo contínuo, que não pare nunca, por não
horizontes, novas trajetórias, novas possibilidades. O que se limitar a um dar ou receber, mas por ser contamina-
estamos sugerindo é que nos situemos, na prática peda- ção, ressonância.
gógica culturalmente orientada, além da visão das cultu-
ras como inter-relacionadas, como mutuamente geradas O currículo como um espaço em que se explicita a
e influenciadas, e procuremos facilitar a compreensão do ancoragem social dos conteúdos
mundo pelo olhar do subalternizado. No currículo, trata-
-se de desestabilizar o modo como o outro é mobilizado Sugerimos, como outra estratégia (intimamente rela-
e representado. “O olhar do poder, suas normas e pres- cionada à anterior), que se desenvolva nos(as) estudan-
supostos, precisa ser desconstruído”. Ou seja, trata-se de tes a capacidade de perceber o que tem sido denomi-
desafiar a ótica do dominante e de promover o atrito de nado de ancoragem social dos conteúdos. Pretendemos
diferentes abordagens, diferentes obras literárias, dife- que se propicie uma maior compreensão de como e em
rentes interpretações de eventos históricos, para que se que contexto social um dado conhecimento surge e se
favoreça ao(à) aluno(a) entender como o conhecimen- difunde. Nesse sentido, vale examinar como um deter-
to socialmente valorizado tem sido escrito de uma dada minado conceito foi proposto historicamente, por que se
forma e como pode, então, ser reescrito. Não se espe- tornou ou não aceito, por que permaneceu ou foi subs-

32
tituído, que tipos de discussões provocou, de que forma turma de ensino médio, abandonou a antologia tradicio-
promoveu o avanço do conhecimento na área em pauta nalmente empregada. Optou, então, por formular, com
e, ainda, como esse avanço propiciou benefícios (ou não) os(as) alunos(as), uma antologia alternativa que abrigasse
à humanidade (ou a certos grupos da humanidade). Não as diferentes vozes e identidades que hoje povoam o Ca-
seria estimulante envolvermos nossos(as) estudantes nadá e que pudesse trazer à cena cultura, vida, dor, san-
nas lutas travadas em torno da aceitação do modelo he- gue, paixão, sensibilidade, assim como desafiar relações
liocêntrico do universo? Não seria enriquecedor acom- de poder que garantem a continuidade de diferenças e
panharmos e situarmos na história o surgimento e as desigualdades no mundo contemporâneo. O que os(as)
transformações dos modelos de átomo, discutindo suas estudantes escolheram para compor a nova antologia
contribuições para o avanço da ciência e da tecnologia? abriu as portas da sala de aula para suas posições histó-
O que estamos propondo é que se evidenciem, no cur- ricas, experiências, visões de mundo. Ainda: denunciou
rículo, a construção social e os rumos subsequentes dos a persistente hegemonia da cultura de origem europeia,
conhecimentos, cujas raízes históricas e culturais tendem claramente expressa na herança colonial que continua a
a ser usualmente “esquecidas”, o que faz com que cos- se infiltrar no currículo. Não se está diante de uma con-
tumem ser vistos como indiscutíveis, neutros, universais, firmação de que visões da cultura como mente cultivada
intemporais. ou como desenvolvimento social atrelado aos padrões
Trata- se de questionar a pretensa estabilidade e o europeus continuam presentes nos currículos escolares?
caráter aistórico do conhecimento produzido no mun- O mesmo autor nos oferece outro exemplo que também
do ocidental, cuja hegemonia tem sido incontestável. se harmoniza com o princípio que estamos defendendo.
Trata- se, mais uma vez, de caminhar na contramão do Pergunta- nos se é possível dividirmos a realidade hu-
processo de transposição didática, durante o qual usual- mana em culturas, raças, histórias, tradições e socieda-
mente se costumam eliminar os vestígios da construção des claramente diferentes e conseguirmos suportar, com
histórica dos saberes. Procurando ilustrar nosso ponto de dignidade, as consequências dessas classificações. Insis-
vista com outros exemplos, sugerimos perguntas que, no te, então, no questionamento do caráter aparentemen-
ensino das Ciências Naturais, podem se revelar bastante te natural, científico mesmo, dessas divisões. Para isso,
pertinentes. Eis algumas delas: acrescenta, há que se compreender a dinâmica histórica
(a) onde situar as origens da ciência: em culturas eu- das categorias por meio das quais temos sido rotulados,
ropeias ou culturas não europeias? identificados, definidos e situados na estrutura social.
(b) em que medida a ciência moderna pode ser con- Para isso, há que se focalizar, no currículo, a construção
siderada ocidental? dessas categorias. Somente assim iremos desafiar seus
(c) existem ou podem vir a existir ciências, elaboradas significados e abrir espaço, na escola e na sala de aula,
em outras culturas, que também “funcionem”, que tam- para a diversidade. Ou seja, Willinsky rejeita a ideia de
que existe uma verdade, uma essência ou um núcleo em
bém expliquem a realidade?
qualquer categoria. Incentiva-nos, nas diferentes disci-
(d) por que a escola insiste em apresentar a ciência
plinas curriculares, a tornar evidente e a desestabilizar a
ocidental como a única possibilidade?
construção histórica de categorias que nos têm marcado,
(e) que conflitos se encontram subjacentes aos pro-
tais como raça, nação, sexualidade, masculinidade, femi-
cessos de construção e de difusão do conhecimento
nilidade, idade, religião etc. Com essa estratégia, preten-
científico?
de explicitar como o mundo tem sido dividido.
(f) que debates têm sido gerados pela introdução, na
Aceitando e seguindo a orientação de Willinsky, po-
comunidade científica, de novas teorias?
deríamos planejar coletivamente, na escola, nas distintas
(g) por que a escola insiste em apresentar uma teo-
disciplinas, a análise, durante determinado período de
ria consensual da ciência, subestimando as divergências tempo, de como a ideia de raça, por exemplo, vem sen-
referentes a temáticas priorizadas, metodologias, funda- do empregada para garantir privilégios e legitimar atos
mentos teóricos, objetivos? de opressão. Exemplifiquemos. Em Ciências, poderíamos
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Acreditamos que a exploração de questões como es- problematizar o caráter supostamente científico da ca-
sas, em um curso de Ciências Naturais, tanto ajuda a de- tegoria, até hoje evocado em muitos textos. Em História,
safiar a suposta neutralidade cultural da ciência quanto a poderíamos examinar como a categoria tem justificado
iluminar perspectivas e possibilidades insuspeitadas de processos de colonização, de rotulação, de hierarquiza-
desenvolvimento científico. ção de grupos e culturas, de escravidão, de restrição a
O princípio que estamos defendendo nos instiga migrações. Em Geografia, poderíamos explicitar como a
também a relacionar os conteúdos curriculares às expe- categoria raça se tem acrescentado, de modo harmônico,
riências culturais dos(as) estudantes e ao mundo concre- às razões apresentadas para conquistas, novas distribui-
to, o que permite analisar quem lucra e quem perde com ções de espaços, novos mapas. Em Literatura, a discussão
as formas de emprego desses conhecimentos. Experiên- de representações das raças em diferentes textos literá-
cia desenvolvida por um pesquisador canadense, John rios propiciaria verificar o que essas representações têm
Willinsky, pode ser associada a esse enfoque. Bastante valorizado, distinguido, incluído e excluído. Em Educa-
crítico da forma como habitualmente se analisam obras ção Física, poderíamos desmistificar a imagem do negro
poéticas nas salas de aula, despindo-as de seus propósi- como o “atleta perfeito”, como o corpo que melhor se
tos culturais e estéticos, o autor, ao ser desafiado por um presta para o salto, a corrida, o jogo, a dança, o movi-
estudante para dar uma unidade de Literatura em uma mento.

33
O currículo como espaço de reconhecimento de representações que construímos dos outros, daqueles
nossas identidades culturais que consideramos diferentes. As relações entre nós e os
outros estão carregadas de dramaticidade e ambiguida-
Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de de. Em sociedades nas quais a consciência das diferenças
especial relevância, diz respeito a se procurar, na escola, se faz cada vez mais forte, reveste-se de especial impor-
promover ocasiões que favoreçam a tomada de cons- tância aprofundarmos questões como: quem incluímos
ciência da construção da identidade cultural de cada um na categoria nós? Quem são os outros? Quais as impli-
de nós, docentes e gestores, relacionando-a aos proces- cações dessas questões para o currículo? Como nossas
sos socioculturais do contexto em que vivemos e à his- representações dos outros se refletem nos currículos?
tória de nosso país. O que temos constatado é a pouca Esses são temas fundamentais que estamos desafiados a
consciência que, em geral, temos desses processos e do trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na edu-
cruzamento de culturas neles presente. Tendemos a uma cação. Nossa maneira de nos situarmos em relação aos
visão homogeneizadora e estereotipada de nós mesmos outros tende a construir-se em uma perspectiva etno-
e de nossos alunos e alunas, em que a identidade cultural cêntrica. Quem são os nós? Tendemos a incluir na cate-
é muitas vezes vista como um dado, como algo que nos goria nós todas aquelas pessoas e aqueles grupos sociais
é impresso e que perdura ao longo de toda nossa vida. que têm referenciais semelhantes aos nossos, que têm
Desvelar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica, hábitos de vida, valores, estilos e visões de mundo que se
contextualizada e plural das identidades culturais é fun- aproximam dos nossos e os reforçam. Quem são os ou-
damental, articulando- se as dimensões pessoal e coleti- tros? Tendem a ser os que entram em choque com nos-
va desses processos. Constitui um exercício fundamental sas maneiras de nos situarmos no mundo, por sua classe
tornarmo-nos conscientes de nossos enraizamentos cul- social, etnia, religião, valores, tradições, sexualidade etc.
turais, dos processos em que misturam ou se silenciam Como temos entendido esse outro? Para Skliar e Dus-
determinados pertencimentos culturais, bem como ser- chatzky, principalmente de três formas distintas: o outro
mos capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá- como fonte de todo mal, o outro como sujeito pleno de
-los. Constitui um exercício fundamental tornarmo-nos um grupo cultural, o outro como alguém a tolerar. A pri-
conscientes de nossos enraizamentos culturais, dos pro- meira perspectiva, segundo os autores, marcou predo-
cessos em que misturam ou se silenciam determinados minantemente as relações sociais durante o século XX
pertencimentos culturais, bem como sermos capazes de e pode se revestir de diferentes formas, desde a elimi-
reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los. nação física do outro, até a coação interna, mediante a
Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns regulação de costumes e moralidades. Nesse modo de
exercícios podem ser propostos, buscando-se criar opor- nos situarmos diante do outro, assumimos uma visão
tunidades em que o profissional da educação se esti- binária e dicotômica. Em um lado separamos os bons,
mule a falar sobre como percebe a construção de sua os verdadeiros, os autênticos, os civilizados, cultos, de-
identidade. Como vêm sendo criadas nossas identidades fensores da liberdade e da paz. Em outro, deixamos os
de gênero, raça, sexualidade, classe social, idade, profis- outros: os maus, os falsos, os bárbaros, os ignorantes e
são? Como temos aprendido a ser quem somos, como os terroristas. Se nos identificamos com os primeiros,
profissionais da educação, brasileiros(as), homens, mu- o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, dominar ou
lheres, casados(as), solteiros(as), negros(as), brancos(as), subjugar os outros. Caso nos sintamos representados
jovens ou idosos(as)? Nesses momentos, tem sido bas- como integrantes do pólo oposto, ou internalizamos a
tante frequente a afirmação “nunca pensei na formação nossa maldade e nos deixamos salvar, passando para o
da minha identidade cultural”, ou então “me considero lado dos bons, ou nos confrontamos violentamente com
uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão usada eles. Como essa primeira perspectiva se traduz na esco-
por uma professora jovem, querendo se referir à dificul- la? Mostra-se presente quando: (a) atribuímos o fracasso
dade de nomear os referentes culturais configuradores escolar dos(as) alunos(as) às suas características sociais
de sua trajetória de vida. A socialização em pequenos ou étnicas; (b) diferenciamos os tipos de escolas segun-
grupos, entre os(as) educadores(as), dos relatos sobre a do a origem social dos(as) estudantes, considerando que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

construção de suas identidades culturais pode se reve- alguns têm maior potencial que outros e, para desen-
lar uma experiência profundamente vivida, muitas vezes volvermos uma educação de qualidade, não podemos
carregada de emoção, que dilata tanto a consciência dos misturar estudantes de diferentes potenciais; (c) nos si-
próprios processos de formação identitária do ponto de tuamos, como professores(as), diante dos(as) alunos(as),
vista cultural, quanto a sensibilidade para favorecer esse com base em estereótipos e expectativas diferenciadas
mesmo dinamismo nas práticas educativas que organiza- segundo a origem social e as características culturais dos
mos. Nesses processos, podemos nos dar conta da com- grupos de referência; (d) valorizamos exclusivamente o
plexidade envolvida na configuração dos distintos traços racional e desvalorizamos os aspectos afetivos presentes
identitários que coexistem, por vezes contraditoriamen- nos processos educacionais; (e) privilegiamos somente a
te, na construção das diferenças de que somos feitos. comunicação verbal, desconsiderando outras formas de
comunicação humana, como a corporal, a artística etc.
O currículo como espaço de questionamento de Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de
nossas representações sobre os “outros” uma marca cultural, estamos concebendo-o como mem-
bro de uma dada cultura, vista como uma comunidade
Junto ao reconhecimento da própria identidade cul- homogênea de crenças e estilos de vida. O outro, ainda
tural, outro elemento a ser ressaltado relaciona-se às que não seja a fonte de todo mal, é diferente de nós, tem

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uma essência claramente definida, distinta da que nos mos, que discutíssemos, na escola, com que recursos po-
caracteriza. Na área da educação, essa visão se expressa, demos contar em nossa comunidade e como fazer para
por exemplo, quando nos limitamos a abordar o outro que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar-
de forma genérica e “folclórica”, apenas em dias espe- -se familiares a nossos(as) alunos(as). ... Abrir as portas,
ciais, usualmente incluídos na lista dos festejos escolares, na escola, a diferentes manifestações da cultura popular,
tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência Negra. além das que compõem a chamada cultura erudita.
Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos des-
tanto a admitir a existência de diferenças quanto a acei- tacar. Ao intentarmos transformar a escola em um espa-
tá-las. Nessa admissão, contudo, reside um paradoxo. Se ço cultural, estamos convidando cada professor(a), como
aceitamos, por princípio, todo e qualquer diferente, de- intelectual que é, a desempenhar o papel de crítico(a)
veríamos aceitar os grupos cujas marcas são comporta- cultural. Estamos considerando que a atividade intelec-
mentos anti-sociais ou opressivos, como os racistas. Que tual implica o questionamento do que parece inscrito na
consequências a adoção dessa perspectiva pode ter para natureza das coisas, do que nos é apresentado como na-
a prática pedagógica? Julgamos que a simples tolerância tural, questionamento esse que visa, fundamentalmente,
pode nos situar em uma posição débil, evitando que to- a mostrar que as coisas não são inevitáveis. A atividade
memos posição em relação aos valores que dominam a intelectual centra-se, assim, na crítica da cultura em que
cultura contemporânea. Pode impedir que polemizemos, estamos imersos. Como se expressa essa atividade na
levando-nos a assumir a conciliação como valor último. prática curricular? Julgamos que cabe à escola, por meio
Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”, vendo-a de suas atividades pedagógicas, mostrar ao aluno que as
como comportamentos a serem inevitavelmente cultiva- coisas não são inevitáveis e que tudo que passa por natu-
dos. Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar ral precisa ser questionado e pode, consequentemente,
diante dos outros. No entanto, acreditamos que a tipolo- ser modificado. Cabe à escola levá-lo a compreender que
gia proposta por Skliar e Duschatzky expressa as posições a ordem social em que está inserido define-se por ações
mais presentes na nossa sociedade hoje, evidenciando a sociais cujo poder não é absoluto. O que existe precisa
complexidade das questões relacionadas à alteridade e ser visto como a condição de uma ação futura, não como
à diferença. O que desejamos destacar é que o modo seu limite. Nossos questionamentos devem, então, pro-
como concebemos a condição humana pode bloquear vocar tensões e desafiar o existente. Podem não mudar o
nossa compreensão dos outros. Portanto, é importante mundo, mas podem permitir que o aluno o compreenda
promovermos processos educacionais nos quais identi- melhor. Como nos diz Bauman, “para operar no mundo
fiquemos e desconstruamos nossas suposições, em ge- (por contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso entender
ral implícitas, que não nos permitem uma aproximação como o mundo opera”. A crítica de diferentes artefatos
aberta e empática à realidade dos outros. culturais na escola pode, por exemplo, levar-nos a identi-
ficar e a desafiar visões estereotipadas da mulher propa-
O currículo como um espaço de crítica cultural gadas em anúncios; imagens desrespeitosas de homos-
sexuais difundidas em programas cômicos de televisão;
Apresentamos agora outro princípio, fortemente re- preconceitos contra povos não ocidentais evidentes em
lacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os desenhos animados; mensagens encontradas em revistas
conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir al- para adolescentes do sexo feminino (e da classe média)
guns dos artefatos culturais que circundam o(a) aluno(a). que incentivam o uso de drogas, o consumismo e o indi-
A ideia é tornar o currículo um espaço de crítica cultural. vidualismo; estímulos à erotização precoce das meninas,
Como fazê-lo? Um dos caminhos é abrir as portas, na es- visíveis em brinquedos e programas infantis; presença
cola, a diferentes manifestações da cultura popular, além e aceitação da violência em filmes, jogos e brinquedos.
das que compõem a chamada cultura erudita. Músicas Outros exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o
populares, danças, filmes, programas de televisão, festas ponto de vista de que os produtos culturais à nossa volta
populares, anúncios, brincadeiras, jogos, peças de teatro, nada têm de ingênuos ou puros; ao contrário, incorpo-
poemas, revistas e romances precisam fazer-se presentes ram intenções de apoiar, preservar ou produzir situações
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

nas salas de aula. Da mesma forma, levando-se em conta que favorecem certos grupos e outros não. Tais artefatos,
a importância de ampliar os horizontes culturais dos(as) como se tem insistentemente acentuado, desempenham,
estudantes, bem como de promover interações entre di- junto com o currículo escolar, importante papel no pro-
ferentes culturas, outras manifestações, mais associadas cesso de formação das identidades de nossas crianças
aos grupos dominantes, precisam ser incluídas no cur- e nossos adolescentes, devendo constituir- se, portanto,
rículo. A intenção é que a cultura dos estudantes e da em elementos centrais de crítica em processos curricula-
comunidade possa interagir com outras manifestações e res culturalmente orientados.
outros espaços culturais como museus, exposições, cen-
tros culturais, música erudita, clássicos da literatura. Se O currículo como um espaço de desenvolvimento
aceitarmos a inexistência, no mundo contemporâneo, de de pesquisas
qualquer “pureza cultural”, se pretendermos abrir espaço
na escola para a complexa interpenetração das culturas Como intelectual que é, todo(a) profissional da edu-
e para a pluralidade cultural, tanto as manifestações cul- cação precisa comprometer-se com o estudo e com a
turais hegemônicas como as subalternizadas precisam pesquisa, bem como posicionar-se politicamente. Pre-
integrar o currículo e ser objeto de apreciação e crítica. cisa, assim, situar-se frente aos problemas econômicos,
Talvez fosse útil, para o desenvolvimento do que sugeri- sócio-políticos, culturais e ambientais que hoje nos de-

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safiam e que desconhecem as fronteiras entre as nações embora nossa sociedade seja reticente quanto às suas
ou entre as classes sociais. Sem esse esforço, será impos- capacidades de aprendizagem podem continuar apren-
sível propiciar ao(à) aluno(a) uma compreensão maior dendo coisas complexas como um novo idioma ou ainda
do mundo em que vive, para que nele possa atuar auto- cursar uma faculdade e virem a exercer uma nova pro-
nomamente. Sem esse esforço, será impossível a propo- fissão.
sição de alternativas viáveis, decorrentes de reflexões e O desenvolvimento geral do indivíduo será resulta-
investigações cuidadosas e rigorosas. Daí a necessidade do de suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das
de um posicionamento claro e de um comprometimento habilidades aprendidas durante as várias fases da vida. A
com a pesquisa. Será possível e desejável que nós, pro- aprendizagem está diretamente relacionada com o de-
fissionais da educação infantil e do ensino fundamental, senvolvimento cognitivo.
venhamos a nos envolver com pesquisa? Julgamos que As passagens pelos estágios da vida são marcadas
sim. Propomos que todo(a) profissional da educação ve- por constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”,
nha, de algum modo, a participar de pesquisas sobre sua diz a sabedoria popular. Assim, os indivíduos tendem
prática pedagógica ou administrativa, sobre a disciplina a melhorar suas realizações nas tarefas que a vida lhes
que ensina, sobre os saberes docentes, sobre o currículo, impõe. A aprendizagem permite ao sujeito compreender
sobre a avaliação, sobre a educação em geral, sobre a melhor as coisas que estão à sua volta, seus companhei-
sociedade em que vivemos ou sobre temas diversificados ros, a natureza e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-se
(não incluídos no currículo). Consideramos que gestores ao seu ambiente físico e social.
e docentes precisam organizar os tempos e os espaços A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), um
escolares para abranger as atividades de pesquisa aqui autêntico representante da abordagem cognitiva, traz
propostas. É fundamental que, nesse esforço, se veri- contribuições significativas ao processo ensino-apren-
fiquem os recursos necessários e os recursos com que dizagem, principalmente à aprendizagem desenvolvida
se pode contar. A comunidade em que a escola se situa nas escolas. Sendo uma teoria cognitiva, apresenta a
pode e deve participar tanto do planejamento como da preocupação com os processos centrais do pensamento,
implementação dos estudos. como organização do conhecimento, processamento de
A Secretaria de Educação deve ser chamada a colabo- informação, raciocínio e tomada de decisão. Considera a
rar. A pesquisa do(a) professor(a) da escola básica certa- aprendizagem como um processo interno, mediado cog-
mente difere da pesquisa levada a cabo na universidade nitivamente, mais do que como um produto direto do
e nos centros de pesquisa, o que, entretanto, não a torna ambiente, de fatores externos ao aprendiz. Apresenta-se
inferior. A participação em pesquisa pode mesmo con- como o principal defensor do método de aprendizagem
tribuir para que o trabalho do profissional da educação por descoberta (insight).
venha a ser mais valorizado. Estamos defendendo, em A teoria de Bruner apresenta muitos pontos seme-
resumo, que se torne o currículo, em cada escola, um es- lhantes às teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner consi-
paço de pesquisa. A pesquisa, concebida em um sentido dera a existência de estágios durante o desenvolvimento
mais amplo, reiteramos, não está restrita à universidade. cognitivo e propõe explicações similares às de Piaget,
Como professores(as)/ intelectuais que atuamos na esco- quanto ao processo de aprendizagem. Atribui importân-
la, precisamos enfrentar esse desafio, tornando-nos pes- cia ao modo como o material a ser aprendido é disposto,
quisadores(as) dos saberes, valores e práticas que ensi- assim como Gestalt, valorizando o conceito de estrutura
namos e/ou desenvolvemos, centrando nosso ensino na e arranjos de ideias. “Aproveitar o potencial que o indiví-
pesquisa. Nesse processo, poderemos aperfeiçoar nosso duo traz e valorizar a curiosidade natural da criança são
desempenho profissional, poderemos nos situar melhor princípios que devem ser observados pelo educador”.
no mundo, poderemos, ainda, nos engajar na luta por A escola não deve perder de vista que a aprendiza-
melhorá-lo. Nesse processo, poderemos despertar nos gem de um novo conceito envolve a interação com o
alunos e nas alunas o espírito de pesquisa, de busca, de já aprendido. Portanto, as experiências e vivências que o
ter prazer no aprender, no conhecer coisas novas. Não aluno traz consigo favorecem novas aprendizagens. Bru-
deveríamos, então, começar, já na próxima reunião de ner chama a atenção para o fato de que as matérias ou
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

professores(as) de nossa escola, a refletir sobre como disciplinas tais como estão organizadas nos currículos,
tornar o currículo um espaço de estudos e de pesquisas? constituem-se muitas vezes divisões artificiais do saber.
Estamos certos de que essa discussão pode ser extrema- Por isso, várias disciplinas possuem princípios comuns
mente estimulante e proveitosa. sem que os alunos – e algumas vezes os próprios profes-
sores – analisem tal fato, tornando o ensino uma repeti-
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ção sem sentido, em que apenas respondem a comandos
arbitrários, Bruner propõe o ensino pela descoberta. O
A aprendizagem é um processo contínuo que ocor- método da descoberta não só ensina a criança a resolver
re durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra problemas da vida prática, como também garante a ela
infância até a mais avançada velhice. Normalmente uma uma compreensão da estrutura fundamental do conheci-
criança deve aprender a andar e a falar; depois a ler e es- mento, possibilitando assim economia no uso da memó-
crever, aprendizagens básicas para atingir a cidadania e ria, e a transferência da aprendizagem no sentido mais
a participação ativa na sociedade. Já os adultos precisam amplo e total.
aprender habilidades ligadas a algum tipo de trabalho Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é
que lhes forneça a satisfação das suas necessidades bási- que a criança aprenda a aprender corretamente, ainda
cas, algo que lhes garanta o sustento. As pessoas idosas que “corretamente” assuma, na prática, sentidos diferen-

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tes para as diferentes faixas etárias. Para que se garanta ritária, pois os professores, via re regra, não participam
uma aprendizagem correta, o ensino deverá assegurar a dessa tarefa. Nessas condições, tendem a mostrar-se
aquisição e permanência do aprendido (memorização), sem elos significativos com as experiências de vida dos
de forma a facilitar a aprendizagem subsequente (trans- alunos, seus interesses e necessidades.
ferência). Este é um método não estruturado, portanto o De modo geral, no meio escolar, quando se faz refe-
professor deve estar preparado para lidar com perguntas rência a planejamento do ensino – aprendizagem, este se
e situações diversas. O professor deve conhecer a fundo reduz ao processo através do qual são definidos os ob-
os conteúdos a serem tratados. Deve estar apto a conhe- jetivos, o conteúdo programático, os procedimentos de
cer respostas corretas e reconhecer quando e porque as ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação
respostas alternativas estão erradas. Também necessita da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser
saber esperar que os alunos cheguem à descoberta, sem consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina
apressa-los, mas garantindo a execução de um programa de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento
mínimo. Deve também ter cuidado para não promover adotado pela maioria dos professores e que passou a ser
um clima competitivo que gere, ansiedade e impeça al- valorizado apenas em sua dimensão técnica.
guns alunos de aprender. Em nosso entendimento a escola faz parte de um
O modelo de ensino e aprendizagem de David P. contexto que engloba a sociedade, sua organização, sua
Ausubel (1980) caracteriza-se como um modelo cogni- estrutura, sua cultura e sua história. Desse modo, qual-
tivo que apresenta peculiaridades bastante interessantes quer projeto de ensino – aprendizagem está ligado a
para os professores, pois centraliza-se, primordialmente, este contexto e ao modo de cultura que orienta um mo-
no processo de aprendizagem tal como ocorre em sala delo de homem e de mulher que pretendemos formar,
de aula. Para Ausubel, aprendizagem significa organi- para responder aos desafios desta sociedade. Por esta
zação e integração do material aprendido na estrutura razão, pensamos que é de fundamental importância que
cognitiva, estrutura esta na qual essa organização e inte- os professores saibam que tipo de ser humano preten-
gração se processam. dem formar para esta sociedade, pois disto depende, em
Psicólogos e educadores têm demonstrado uma cres- grande parte, as escolhas que fazemos pelos conteúdos
cente preocupação com o modo como o indivíduo apren- que ensinamos, pela metodologia que optamos e pe-
de e, desde Piaget, questões do tipo: “Como surge o co- las atitudes que assumimos diante dos alunos. De certo
nhecer no ser humano? Como o ser humano aprende? O modo esta visão limitada ou potencializada o processo
conhecimento na escola é diferente do conhecimento da ensino-aprendizagem não depende das políticas públi-
vida diária? O que é mais fácil esquecer?” atravessaram as cas em curso, mas do projeto de formação cultural que
investigações científicas. Assim, deve interessar à escola possui o corpo docente e seu compromisso com objeto
saber como criança, adolescentes e adultos elaboram seu de estudo.
conhecer, haja vista que a aquisição do conhecimento é a
questão fundamental da educação formal. Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem
A psicologia cognitiva preocupa responder estas constitui-se, ao longo prazo, num projeto de formação
questões estudando o dinamismo da consciência. A humana, propomos que esta formação seja orientada
aprendizagem é, portanto, a mudança que se preocupa por um processo de autonomia que ocorra pela produ-
com o eu interior ao passar de um estado inicial a um es- ção autônoma do conhecimento, como forma de pro-
tado final. Implica normalmente uma interação do indi- mover a democratização dos saberes e como modo de
víduo com o meio, captando e processando os estímulos elaborar a crítica da realidade existente.
selecionados. Isto quer dizer que só há crítica se houver produção
O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão autônoma do conhecimento elaborado através de uma
bem mais abrangente do que o espaço restrito do pro- prática efetiva da pesquisa. Entendemos que é pela prá-
fessor na sala de aula ou às atividades desenvolvidas pe- tica da pesquisa que exercitamos a reflexão sobre a rea-
los alunos. Tanto o professor quanto o aluno e a escola lidade como forma de sistematizar metodologicamente
encontram-se em contextos mais globais que interferem nosso olhar sobre o mundo para podermos agir sobre
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

no processo educativo e precisam ser levados em consi- os problemas. Isto quer dizer que não pesquisamos por
deração na elaboração e execução do ensino. pesquisar e nem refletimos por refletir. Tanto a reflexão
Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coisas: quanto à pesquisa são meios pelos quais podemos agir
uma visão de mundo (incluídos aqui os conteúdos da como sujeitos transformadores da realidade social. Isto
aprendizagem) e planejamento das ações (entendido indica que nosso trabalho, como professores, é o de en-
como um processo de racionalização do ensino). A prá- sinar a aprender para que o conhecimento construído
tica de planejamento do ensino tem sido questionada pela aprendizagem seja um poderoso instrumento de
quanto a sua validade como instrumento de melhoria combate às formas de injustiças que se reproduzem no
qualitativa no processo de ensino como o trabalho do interior da sociedade.
professor: Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para com-
[...] a vivência do cotidiano escolar nos tem eviden- preendermos melhor o processo em que se vivencia a
ciado situações bastante questionáveis neste sentido. construção do conhecimento no indivíduo.
Percebe-se, de início, que os objetivos educacionais pro- Apresentamos as ideias básicas de Piaget sobre o de-
postos nos currículos dos cursos apresentam confusos e senvolvimento mental e sobre o processo de construção
desvinculados da realidade social. Os conteúdos a serem do conhecimento, que são adaptação, assimilação e aco-
trabalhados, por sua vez, são definidos de forma auto- modação.

37
Piaget diz que o indivíduo está constantemente inte- dos, precisam ser ensinados pela escola a fim de garantir
ragindo com o meio ambiente. Dessa interação resulta aos educandos o direito aos conhecimentos, produzidos
uma mudança contínua, que chamamos de adaptação. socialmente, aos quais não teriam acesso por outras vias.
Com sentido análogo ao da Biologia, emprega a palavra As diferentes teorias do currículo decidem quais co-
adaptação para designar o processo que ocasiona uma nhecimentos precisam ser selecionados e buscam justi-
mudança contínua no indivíduo, decorrente de sua cons- ficar por que “estes” e não “aqueles” devem estar na se-
tante interação com o meio. leção. Para isso, recorrem a discussões sobre a natureza
Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subpro- humana, a natureza da aprendizagem ou sobre a nature-
cessos: assimilação e acomodação. A assimilação está za do próprio conhecimento, da cultura e da sociedade,
relacionada à apropriação de conhecimentos e habi- inclusive diferenciando-se entre si na ênfase que dão a
lidade. O processo de assimilação é um dos conceitos esses elementos.
fundamentais da teoria da instrução e do ensino. Per- É importante haver uma distinção entre currículo e
mite-nos entender que o ato de aprender é um ato de pedagogia. O currículo encerra o conhecimento pode-
conhecimento pelo qual assimilamos mentalmente os roso, que é aquele que dota o aluno da capacidade de
fatos, fenômenos e relações do mundo, da natureza e compreender o mundo de forma mais plena; já a peda-
da sociedade, através do estudo das matérias de ensi- gogia inclui, entre outros aspectos, a didática.
no. Nesse sentido, podemos dizer que a aprendizagem Não cabe, no documento curricular, informar como
é uma relação cognitiva entre o sujeito e os objetos de o professor deve ensinar, pois esse aspecto refere-se ao
conhecimento. âmbito do conhecimento profissional do docente. Ainda
A acomodação é que ajuda na reorganização e na que, para o professor, não haja essa divisão na prática
modificação dos esquemas assimilatórios anteriores do cotidiana, ela precisa estar clara para quem elabora o do-
indivíduo para ajustá-los a cada nova experiência, aco- cumento curricular.
modando-as às estruturas mentais já existentes. Portan- Ora, o fato de existirem diferentes teorias indica que
to, a adaptação é o equilíbrio entre assimilação e acomo- há diferentes posições na discussão sobre o currículo,
dação, e acarreta uma mudança no indivíduo. não somente conceituais, mas também político-sociais
e ideológicas, o que lhe confere um caráter dinâmico e
A inteligência desempenha uma função adaptativa, temporário. O currículo, por definição, nunca será defini-
pois é através dela que o indivíduo coleta as informa- tivo. Nunca se chegará a um currículo que seja o ponto
ções do meio e as reorganiza, de forma a compreender final.
melhor a realidade em que vive, nela agi, transformando. O currículo é um processo muito complexo, que en-
Para Piaget (1969), a inteligência é adaptação na sua for- volve múltiplas dimensões e só pode ser compreendido
ma mais elevada, isto é, o desenvolvimento mental, em quando se observa a articulação entre elas.
sua organização progressiva, é uma forma de adaptação O documento curricular é apenas uma dessas dimen-
sempre mais precisa à realidade. É preciso ter sempre em sões, uma “carta de intenções” que, por sua vez, apresen-
mente que Piaget usa a palavra adaptação no sentido ta escolhas marcadas por relações de poder e que visam
em que é usado pela Biologia, ou seja, uma modificação à formação de um determinado sujeito.
que ocorre no indivíduo em decorrência de sua interação
com o meio. 1. Essas dimensões do currículo, que não esgotam
Portanto, é no processo de construção do conheci- todas as possibilidades, são:
mento e na aquisição de saberes que devemos fazer com
que o aluno seja motivado a desenvolver sua aprendi- Currículo prescrito: é o documento com a proposta
zagem e ao mesmo tempo superar as dificuldades que curricular em si. O currículo prescrito tem um significado
sentem em assimilar o conhecimento adquirido. prático, uma vez que vai pautar a alocação de recursos e
a produção de materiais, criar uma base para o trabalho
Currículo - Educação integral, alfabetização, inter- do professor ou educador e, assim, influenciar as demais
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

disciplinaridade, protagonismo e autoria, emancipa- dimensões. Ele também tem um significado simbólico,
ção humana porque resulta de discussões, embates e interesses di-
versos – e, assim, vai evidenciar aqueles que tiveram mais
No cotidiano, se trabalha com várias concepções de força para se expressar na sua formulação;
currículo: das puramente técnicas, que consideram cur-
rículo apenas como um documento que define os con- Currículo planejado: é a própria produção dos ma-
teúdos a serem ensinados, às que englobam a prática do teriais pedagógicos com base no currículo prescrito e
professor em contato com o aluno e o conhecimento, ou que também vai atender a outros interesses e interpreta-
mesmo todas as práticas que acontecem na escola. ções, notadamente mercadológicos e das editoras: livros
Currículo deve apresentar quais conhecimentos de- didáticos, guias curriculares etc.;
vem ser ensinados, o que deve ser ensinado e por que
ensinar este ou aquele conhecimento, mais do que ensi- Currículo organizado: compreende o conjunto de
nados, o que deve ser aprendido e por que aprendê-lo. escolhas que a escola faz a partir da interpretação do
Falar de currículo é falar de uma seleção cultural de documento curricular e do currículo planejado. Como di-
conhecimentos, saberes e práticas de ensino-aprendiza- vidir o tempo? Como utilizar espaços? Como localizar e
gem que, produzidos em contextos históricos determina- trazer para a escola saberes da comunidade?

38
Currículo em ação: compreende o que acontece, na lhas curriculares são coerentes com as demandas e ne-
prática, entre o professor e os alunos. É o conjunto de es- cessidades das crianças e dos adolescentes do território
colhas que o professor ou educador faz para desenvolver e não foram determinadas apenas pela disponibilidade
suas práticas de ensino e que está marcado pelas dimensões de recursos existentes.
anteriores; Podem caber a abertura da escola a novos conheci-
mentos e sua integração em uma proposta de democra-
Currículo avaliado: o conjunto dos conhecimentos tização dos conhecimentos.
que se determina que garanta a aprendizagem. Com- Não existe uma fórmula única de ofertar educação
preende a avaliação realizada pela escola e as avaliações integral. Portanto, também não existe uma proposta cur-
externas. Nesta dimensão, ocorre uma revisão de todo o ricular integral única, fechada. Assim como o conceito de
processo: verifica-se se o currículo prescrito funcionou. currículo em si, o currículo na perspectiva da educação
Assim, o currículo avaliado tende a influenciar o currículo integral é, também, uma proposta em construção.
prescrito. O currículo na perspectiva da educação integral está
O currículo pode comportar uma dimensão filosófica em construção – mas isso não significa ausência de pres-
que reflete sobre o sujeito que se quer formar e sobre supostos.
qual é o papel da escola para que isso aconteça. Na educação integral, os diversos campos de aprendi-
Na perspectiva da educação integral, busca-se garan- zagem se complementam, uma vez que, na vida cotidia-
tir o pleno desenvolvimento de crianças, adolescentes e na, se mesclam educação intencional e não intencional.
jovens e se reconhece que isso só é possível quando se Para que essa complementação ocorra, é necessário
observam diferentes dimensões: física, afetiva, cognitiva, tanto ampliar tempos e espaços de aprendizagens quan-
ética, estética e política, em uma proposta multidimen- to integrar os diferentes campos.
sional e integrada. O Guia Politicas de Educação Integral, defende que a
Essa opção pelo pleno desenvolvimento e por uma am- chamada parte diversificada do currículo, que constitui
pliação de repertórios não é neutra: reconhece crianças, a oferta de conteúdos condizentes com as necessidades
adolescentes e jovens como sujeitos de direitos e opta pela dos diferentes territórios, se integre às aprendizagens já
cidadania, um conceito que se traduz pelo exercício de di- oferecidas, constituindo um currículo uno e organizado.
reitos civis, políticos e sociais, direito à vida, à liberdade, à Ora, isso somente é possível em um contexto de ges-
propriedade, à igualdade perante a lei; direito a participar tão democrática, porque é necessário que os profissio-
no destino da sociedade; direito à educação, ao trabalho, ao nais envolvidos tenham alguma forma de comunicação,
salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila, entre outros. diálogo e troca, além de evitarem hierarquizar as áreas
Para a educação integral, o sujeito precisa ser res- do saber e reconhecerem a importância de todas as
peitado e considerado em sua integralidade, inserido na ações desenvolvidas com crianças, adolescentes e jovens
sociedade sob uma perspectiva cidadã e autônoma, de em seu cotidiano. Na verdade, o ideal é mesmo trazer es-
exercício de plenos direitos. Uma discussão que antece- sas crianças, adolescentes e jovens, bem como a comu-
de a proposta curricular. Dessa forma, uma primeira rela- nidade e as famílias, para a discussão sobre o currículo.
ção que se estabelece entre educação integral e currículo Ampliação e integração de saberes; território; amplia-
está no âmbito da questão: que sujeito se quer formar? ção e qualificação dos tempos e espaços; e gestão de-
Feita a opção por uma educação integral para for- mocrática constituem, portanto, aspectos que devem ser
mar um sujeito de direitos, cidadão e autônomo, cabe considerados em propostas curriculares na perspectiva
indagar quais conteúdos, saberes e práticas precisam ser da educação integral.
contemplados em uma proposta curricular que objetiva Não existe um consenso sobre o que cabe ou não
o desenvolvimento desse sujeito. cabe no currículo. Para alguns, o currículo é apenas um
A educação integral seria, em si mesma, um conceito, documento, uma listagem. Para outros, em oposição, en-
uma nova abordagem curricular. Essa abordagem sinte- globa todas as práticas que acontecem, dentro da escola,
tiza o que se quer para uma sociedade. Nesse sentido, ou, se o foco for a educação integral e sua perspectiva de
não cabe falar de currículo na educação integral ou para ampliação de espaços, também o que acontece fora da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

a educação integral, mas falar de currículo e educação escola, em outros espaços educativos.
integral. O currículo responde a uma seleção de conhecimen-
No currículo considerado sob a perspectiva da educa- tos e à tomada de uma postura, que pode ser tanto no
ção integral, podem caber tanto os conteúdos expressos sentido de restringir o acesso a esses conhecimentos
em propostas de currículo prescrito quanto o currículo como, de acordo com o que defende a educação inte-
oculto: aquele que está presente no cotidiano escolar gral, democratizá-los.
sob a forma de aprendizagens não planejadas e que re- Finalmente, há, na discussão sobre o currículo, aquilo
sulta das relações interpessoais desenvolvidas na escola, que se ensina que está expresso e aquilo que está oculto,
da hierarquização entre administradores, direção, profes- assim como temas que respondem ao mundo contem-
sores e alunos e da forma como os alunos são levados a porâneo e que ora entram nas propostas curriculares, ora
se relacionar com o conhecimento. delas são retirados, como as questões de gênero, raça e
Podem caber ainda as atividades oferecidas, tem- etnia, sexualidade etc.
po e frequência com que são ofertadas, as instituições A discussão sobre currículo e educação integral não
envolvidas, os espaços utilizados na aprendizagem e os pode ser dissociada das condições objetivas que se en-
espaços de discussão e de gestão em uma arquitetura contram no território, tampouco daquelas que estão no
contextualizada, singular e pertinente quando as esco- interior da unidade escolar.

39
Embora, seja necessário observar o potencial edu- • A base filosófica: a escola será compreendida e
cativo do território, por vezes, essas mesmas condições respeitada em suas especificidades temporais e
também se traduzem em dificuldades e desafios: falta de espaciais, ou seja, históricas; o currículo será orga-
acesso a bens culturais, problemas de infraestrutura da nizado para atender as características das fases do
escola, formação insuficiente de professores etc. – e, no desenvolvimento humano, os aspectos cognitivos,
contexto político atual, corte de verbas. afetivos e psicomotores do estudante e o trabalho
O currículo é monopólio dos especialistas, e a peda- pedagógico será flexível para assegurar o sucesso
gogia é monopólio dos pedagogos. A alienação começa escolar.
com os professores: se você pergunta para o professor • A base socioantropológica: fundamenta um currícu-
por que ele ensina o que ele ensina, ele não faz a menor lo que considera os significados socioculturais da
ideia. cada prática, no conjunto das condições de exis-
É preciso considerar que a educação integral pode tência em que ocorrem, que envolvem o estudante
ser uma oportunidade estratégica para promover a equi- e sua comunidade; esta dimensão fornece os siste-
dade no contexto da educação brasileira. A escola, em mas simbólicos que articulam as relações entre o
particular, tem um papel na redução das desigualdades, sujeito que aprende e os objetos de aprendizagem.
ainda que não se possa cobrar dela a resolução de todas, • A base sociopsicopedagógica: firma um currículo
uma vez que já está inserida numa sociedade desigual, que considera a relação entre desenvolvimento e
que em muito extrapola seus muros e seu alcance. aprendizagem; promove o desenvolvimento in-
Mesmo assim, a instituição escolar pode atuar na re- telectual na relação com o mundo; compreende
dução das desigualdades por meio do currículo. a escola como espaço de trabalho cooperativo e
Considerar, numa proposta curricular, que os alunos coletivo. Essas dimensões têm por base a relação
vêm de contextos muitos diversos rompe ainda com uma da escola, de seus diferentes interlocutores com
noção errônea de meritocracia: a de que, bastando ape- o local onde se encontra, assim, a Proposta Peda-
nas o aluno se esforçar, ele tudo pode. gógica da Escola é construída a partir da pesquisa
Uma proposta de currículo e educação integral pode socioantropológica, da articulação com as insti-
ser pensada para reduzir desigualdades não apenas so- tuições e atores sociais locais que tenham víncu-
cioeconômicas, mas também cognitivas, que subsistem los com as comunidades do entorno da escola e
entre os alunos e refletem o contexto social de onde eles das discussões feitas nos quatro segmentos que
vêm. compõem a comunidade escolar, para contemplar
A Escola em Tempo Integral, acompanhando o Proje- a diversidade em seus aspectos sociais, culturais,
to Político Pedagógico apresentado como marco para a políticos, econômicos, éticos, estéticos, gênero e
Rede Estadual de Ensino, considera o estudante em seus étnico.
aspectos biológico e emocional, o qual passa por trans-
formações que dialogam com seu processo de apren- O currículo da Escola em Tempo Integral contempla
dizagem, sendo considerado seu ritmo e especificida- os processos que se relacionam ao lugar e ao desen-
des no qual o conhecimento e o currículo se integram e volvimento sustentável, valorizando os saberes locais e
constituem estabelecendo uma ampla rede de significa- os novos conhecimentos e, dessa maneira, resgatando
ções, reafirmando a escola como lugar de construções e a importância da escola para a comunidade onde está
ações coletivas, que passa, necessariamente, pela inter- inserida pode contribuir para a superação das desigual-
locução, pela escuta de todos os segmentos da Comu- dades escolares e sociais. Constitui-se favorecendo a es-
nidade Escolar. colarização dos estudantes com deficiências nas turmas
O currículo é interdisciplinar, resgatando o ser em comuns e atendendo as diferentes necessidades dos es-
sua unidade e diversidade, no qual a construção do co- tudantes, sem fragmentação e rupturas na construção do
nhecimento perpassa pelo trabalho coletivo, pela cultura conhecimento e garantindo a interdisciplinaridade.
de paz e pelo reconhecimento e acolhimento das dife- Para além de considerar a criança e o adolescente em
renças dos estudantes. Explicitado na Proposta Político- suas especificidades, próprias de sua fase de desenvolvi-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

-Pedagógica da escola materializa e revela a sociedade e mento e das relações que estabelece com o entorno, a
o homem social que se busca, bem como o compromisso Escola em Tempo Integral tem como princípio orientador
com a cidadania e com a justiça social. do trabalho pedagógico: a politecnia, a pesquisa, a rela-
ção parte-totalidade, a relação teoria-prática, o reconhe-
2. As fontes do currículo estruturam-se conside- cimento dos saberes, a interdisciplinaridade e a avaliação
rando as dimensões epistemológica, filosófica, so- emancipatória.
cioantropológica e sociopsicopedagógica. A Politecnia é o conceito estruturante do pensar e
do fazer pedagógico, que busca a formação integral do
• A base epistemológica: refere-se à compreensão do sujeito e materializa-se na indissociabilidade entre a for-
modo de produção do conhecimento, que se dá mação intelectual, física e tecnológica visando superar a
pela relação entre sujeito e objeto em circunstân- fragmentação do conhecimento humano. Desenvolve-
cias históricas determinadas; em decorrência desta -se, tendo o trabalho como princípio educativo, uma vez
relação, o homem é produto das circunstâncias, que é o trabalho o substrato pelo qual o ser humano
ao mesmo tempo em que as transforma. Não há produz cultura e transforma a natureza. A noção de poli-
aprendizagem sem protagonismo do estudante, tecnia busca superar a dicotomia entre trabalho manual
que constrói significados pela ação. e trabalho intelectual, religando os elementos constituti-

40
vos do trabalho, os conhecimentos teóricos aos conhe- • Resgatar o sentido humano, o mais profundo e
cimentos práticos, desvelando os processos pelos quais significativo eixo da interdisciplinaridade, pergun-
a vida material é produzida com vistas à transformação tando-se a todo o momento: o que há de profun-
do indivíduo e a sua emancipação. Prepara o estudante damente humano neste novo conteúdo? Em que
para entender os fundamentos científicos das diferentes este conteúdo contribui para que os estudantes se
técnicas que serão encontradas por ele no seu percurso tornem mais humanizados?
escolar, aproximando os diferentes campos do conheci- • Trabalhar o conteúdo contextualizado, organizan-
mento por meio da ação-reflexão-ação. do-o por meio de conceitos, temas geradores, pe-
O primeiro passo rumo à proposta do currículo in- dagogia de projetos, unidades de trabalho. Estas
terdisciplinar é a mudança do paradigma de escola e da possibilidades contribuem para superar a artificia-
postura dos professores. A função da escola é de cons- lidade da escola, aproximando-a da vida real e es-
truir, pela práxis, uma nova relação humana, revendo timulam a iniciativa, a criatividade, a cooperação e
criticamente o acervo de conhecimentos acumulados e a corresponsabilidade;
tomando consciência da participação pessoal na defini- • Desenvolver projetos coletivos na escola, garantin-
ção de papéis sociais, quanto a conteúdos, metodologias do a integração de conteúdos por meio do pla-
e atividades. E também no que se refere à maneira de nejamento coletivo tendo as características das fa-
tratar o estudante e os componentes que devem ser es- ses do desenvolvimento humano, das áreas e dos
timulados, tais como: a auto expressão (livre, crítica, cria- componentes curriculares como referência. Um
tiva e consciente); a autovalorização (reconhecimento da projeto surge de uma situação, de uma necessi-
própria dignidade); a corresponsabilidade (iniciativa, par- dade sentida pela própria escola e consta de um
ticipação e colaboração); a curiosidade e a autonomia na conjunto de atividades planejadas e empreendidas
construção do conhecimento, estabelecendo uma rede por iniciativa da escola e do seu coletivo em torno
de significação interdisciplinar. A qualidade da educação de um objetivo comum.
necessita de um currículo interdisciplinar e é alcançada
via gestão participativa, trabalho em equipe, parceria e Relação parte-totalidade: o desafio de compreen-
cooperação. Todos estes mecanismos visam superar o der fatos e realidades amplas e complexas, a partir da
modelo individualista, fragmentado e centralizador de escolha de conteúdos curriculares, demanda uma relação
administração e de produção do saber. Uma prática es- constante entre a parte e a totalidade. A contemporanei-
colar interdisciplinar tem algumas características que po- dade exige compreender a realidade e o conhecimento
dem ser apontadas como fundamentos para a transfor- no seu movimento constante de ir e vir, da parte para
mação curricular, e que exigem mudança de atitudes, de o todo e do todo para a parte, como um processo de
procedimentos e de posturas por parte dos professores e estabelecer limites e amplitudes de problemas e busca
de todos os sujeitos envolvidos no processo educacional, de alternativas de solução, bem como da compreensão
tais como: de fenômenos. Constitui-se como processo e exercício
• Perceber-se interdisciplinar, sentir-se parte do uni- de transitar pelos conhecimentos científicos e dados de
verso e um universo à parte (resgatar sua própria realidade, viabilizando a construção de novos conheci-
inteireza, sua unidade); mentos.
• Historicizar e contextualizar os conteúdos (resgatar
a memória dos acontecimentos, interessando-se Relação teoria-prática: é, genericamente, uma im-
por suas origens, causas, consequências e signifi- posição da vida em sociedade. Não há intervenção hu-
cações; aprender a ler jornais e a discutir as notí- mana na realidade com vistas a transformá-la sem uma
cias); prévia organização planejada com método e intenciona-
• Valorizar o trabalho em parceria, em equipe interdis- lidade. Isso pressupõe uma íntima aproximação do pen-
ciplinar, integrada (tanto o corpo docente como o samento e da ação, para resultar em transformação. A
discente), estabelecendo pontos de contato entre relação teoria-prática torna-se um processo contínuo de
as diversas áreas do conhecimento, componentes fazer, teorizar e refazer. Por um lado, a teoria constituída
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

curriculares e as atividades do currículo; por ideias, hipóteses que levam a representações abstra-
• Desenvolver atitude de busca, de pesquisa, de tas, constrói os conceitos que somente serão consubs-
transformação, de construção, de investigação e tanciados na prática. Quando submetida à realidade, a
de descoberta; teoria apartada da prática social vira palavra vazia e sem
• Definir uma base teórica como eixo norteador de significado. Já a prática, se exclusivamente considerada,
todo o trabalho escolar, seja humanista (que tipo se transforma em mera atividade para execução de tare-
de ser humano se quer formar), psicopedagógico fas, reduzida a um fazer repetitivo que pode se traduzir
(que teoria de aprendizagem fundamenta o proje- em automação, ou seja, em ação destituída de reflexão.
to escolar) ou relacional (assim como as relações Em um mundo caracterizado pela dinamicidade, em que
interpessoais, a questão do poder, da autonomia e as condições materiais renovam cotidianamente as rela-
da centralização decisória na escola); ções sociais e produtivas, a prática que não se sustenta
• Dinamizar as coordenações dos diversos coletivos no conhecimento torna-se imobilista e conservadora.
(trabalho integrado com conteúdos afins), enri- O diálogo permanente entre teoria e prática se cons-
quecendo e atualizando planejamentos e plano de titui como fundamento da transformação da realidade,
estudos dos diversos componentes curriculares/ desde que consciente de sua condição sócio-histórica, e
áreas do conhecimento; consequentemente, de suas determinações sociais.

41
Reconhecimento dos saberes: a concepção pe- autoria, no protagonismo e na emancipação dos sujei-
dagógica que orienta a construção curricular, afirma a tos. Ainda, subjacente à concepção de Avaliação Eman-
centralidade das práticas sociais como origem e foco do cipatória encontra-se o protagonismo do estudante,
processo de conhecimento da realidade, o diálogo como voltando-se todas as ações da escola para firmar sua au-
mediação de saberes e de contradições entende que a toconfiança e autonomia com participação ativa na vida
transformação da realidade se dá pela ação dos próprios da escola, de sua comunidade, ampliando estas posturas
sujeitos. Em decorrência, assume a complementaridade para o todo social.
entre todas as formas de conhecimento, reconhecendo Na dinâmica educativa, a Avaliação é diagnóstica,
que o saber popular se constitui no ponto de partida constitui-se em um instrumento de suporte do planeja-
para a produção do conhecimento científico. Embo- mento e da execução das atividades, que envolve pro-
ra todas as pessoas exerçam atividades intelectuais ao fessor e educando. É preciso avaliar permanentemente e
pensar a realidade e organizar suas concepções a par- processualmente.
tir dos determinantes socioculturais que lhes conferem A Avaliação é uma atividade que não existe nem so-
organicidade, é preciso reconhecer que a compreen- brevive por si mesma, devendo estar sempre articulada
são mais complexa da realidade supõe a superação do com o processo de ensino e o Projeto Político Pedagó-
senso comum mediante a democratização do acesso gico. Assim, a avaliação diagnóstica tem caráter forma-
ao conhecimento sistematizado. Assim, o saber popu- tivo, por considerar o processo educativo, com vistas a
lar será também o ponto de chegada do conhecimento reorientá-lo.
científico. Por outro lado, se o conhecimento científico Considerando que o estudante é também sujeito
universalmente sistematizado não conseguir estabele- responsável pelo seu ato de aprender, a autoavaliação,
cer o diálogo com indivíduos, grupos e suas realidades, associada à avaliação do professor, é uma estratégia fun-
levando-os a superar o senso comum, dificilmente será damental para a consistência do processo avaliativo. O
reconhecido e, portanto, corre o risco de não constituir sujeito constrói o seu conhecimento, consequentemen-
significado que motive sua apropriação. te, constrói também sua avaliação e avalia a sua apren-
dizagem. Dessa forma, o próprio estudante está apto a
A escola é o espaço de promoção do diálogo dos dizer sobre o que está ou não aprendendo. O registro do
diferentes saberes, reconhecendo seu poder de transfor- processo de construção do conhecimento de cada es-
mar a realidade, mas também os seus limites, oriundos tudante considera seu estágio de desenvolvimento, suas
de seu modo de produção, que reflete as desigualdades relações com o grupo onde se encontra, entendendo a
de acesso ao conhecimento e à cultura. Na perspectiva construção do conhecimento enquanto síntese indivi-
da correção das distorções historicamente dadas e res- dual e coletiva, provisória. Neste sentido, é registrada em
ponsáveis pelas dificuldades de acesso e permanência Pareceres Descritivos, os quais são elaborados pelo cole-
na escola, uma prática pedagógica comprometida com tivo de professores que tem interface com o estudante,
o enfrentamento das desigualdades define o caráter po- seu auto avaliação e a auto avaliação do professor.
lítico da educação. Essa atitude significa colocar a práxis O Parecer Descritivo detalha “descritivamente”, os
pedagógica no espaço mais permanente da sociedade: conhecimentos. Deve incorporar as avaliações das Ati-
o espaço das lutas sociais pela emancipação do ser hu- vidades Curriculares Obrigatórias e Eletivas nas áreas do
mano. conhecimento;

Avaliação emancipatória: é fundante do processo • Ao final de cada ano: é elaborado Parecer Descritivo
pedagógico desenvolvido na escola. Caracteriza-se por (Final) o qual indicará de forma global os diferen-
ser processual, diagnóstica, prognóstica, formativa e se tes elementos do percurso escolar do estudante,
pauta pela premissa de que todos são capazes de apren- detalhando seus avanços e dificuldades a serem
der. A concepção da avaliação emancipatória explicita- trabalhadas na sua construção do conhecimento;
da na Escola em Tempo Integral incorpora os preceitos
contidos na LDB e nas Diretrizes Curriculares Nacionais, • Plano Pedagógico: deve ser elaborado Plano Peda-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

salientando-se a interdisciplinaridade e a ênfase no tra- gógico específico para cada estudante que detalhe
balho pelas áreas de conhecimento, cujas informações o acompanhamento do seu percurso escolar e as
devem pautar o redimensionamento das ações peda- ações necessárias para que os professores plane-
gógicas, do coletivo de professores, para avançar no jem o trabalho pedagógico para a superação das
processo de construção da aprendizagem. A avaliação dificuldades apresentadas pelo estudante. Cons-
como processo obriga-nos a observar o estudante em titui-se em um conjunto de atividades pedagógi-
diferentes situações, que expressam sua construção do cas específicas, planejadas, executadas e acompa-
conhecimento, considerando não só as suas produções nhadas pelos professores, durante o processo de
em si, mas também as circunstâncias e condições de sua aprendizagem tendo por objetivo a superação das
elaboração, que podem interferir favorecendo ou dificul- dificuldades constatadas e registradas no Parecer
tando as aprendizagens. Descritivo.
A investigação contínua sobre os processos da cons- • Conselhos de Classe Participativos são espaços de
trução da aprendizagem demanda rigor metodológico, diálogo sistemáticos, bimestrais/ trimestrais, os
por meio de registros significativos que sinalizem as pos- quais têm a finalidade de acompanhar o desen-
sibilidades de transformação. Investiga as construções já volvimento e a aprendizagem individual e coletiva
realizadas pelos educandos, investindo na autonomia, na dos educandos. Conta com a participação da equi-

42
pe diretiva, de professores das áreas do conheci- deve estar integrado. A formação é premissa constante
mento e das Atividades Curriculares Obrigatórias e do trabalho do professor e do gestor. Deve centrar-se na
Eletivas, de estudantes, de pais e de funcionários. valorização dos saberes e da prática docente com per-
Constitui-se em mais um momento da reflexão de manente reflexão sobre o cotidiano escolar e sobre as
todas as áreas do conhecimento sobre o proces- transformações do conhecimento. Em uma perspectiva
so de aprendizagem das turmas e dos estudantes, emancipatória, deve contemplar, simultaneamente, os
com a respectiva ação propositiva para redefinição aspectos pedagógicos, as diferentes áreas do conheci-
do trabalho docente junto aos estudantes; mento, a identificação do que motiva e interessa ao estu-
dante, as metodologias mais adequadas para o sucesso
O Projeto Político Pedagógico da Escola em Tempo escolar e a utilização dos recursos.
Integral é construído a partir da pesquisa sócio antro- Como o processo de aprendizagem e construção do
pológica, da articulação com as instituições e atores so- conhecimento é mutável, provisório e está em constante
ciais locais que tenham vínculos com as comunidades aperfeiçoamento, a formação continuada enfatiza-se no
do entorno da escola e das discussões feitas nos qua- estudo das teorias educacionais, das novas metodologias
tro segmentos que compõe a comunidade escolar, para de ensino e informações atualizadas sobre as áreas do
contemplar a diversidade em seus aspectos sociais, cul- conhecimento acompanhada da experimentação, sendo
turais, políticos, econômicos, éticos, estéticos, étnico e de processo ininterrupto e intencional para o aperfeiçoa-
gênero. mento da prática pedagógica junto aos estudantes.
A Escola em Tempo Integral apresenta espaços/tem-
3. O Projeto Político Pedagógico da Escola em po que possibilitam a ressignificação da prática docente,
Tempo Integral deve: a qual permite a produção coletiva de conhecimento, e
um ensino voltado para a formação integral do cidadão.
• promover a permanência do(a) estudante na escola, Estabelecer criteriosamente quais as formações a serem
criando as condições de melhor aprendizado; planejadas para o ano letivo implica no conhecimento
• proporcionar aos(às) estudantes ações e exercícios das necessidades dos estudantes, dos temas que devem
no campo social, cultural, esportivo e tecnológico ser abordados ou aprofundados pelos professores, de
dentro da escola e em ambientes coletivos diver- uma postura problematizadora para que a ampliação do
sificados; tempo escolar se constitua de fato como possibilidade
• favorecer a interdisciplinaridade e a transdiscipli- de formação integral dos sujeitos envolvidos nos proces-
nariedade, fazendo com que ocorra a articulação sos de ensino e de aprendizagem.
entre o núcleo comum curricular e as demais ativi- A concepção de Escola em Tempo Integral reconhe-
dades desenvolvidas na escola; ce o estudante enquanto ser uno, não fragmentado, e
• incentivar a participação da comunidade no pro- entende que todos os seus aspectos (afetivo, cognitivo,
cesso educacional, promovendo a construção da físico, social dentre outros) devem estar presentes no
cidadania; planejamento das atividades da escola. O espaço escolar
• adequar as atividades educacionais à realidade lo- deve ser acolhedor, prazeroso, um permanente convite
cal; desafiador para que as crianças e jovens reconheçam
• proporcionar ao(à) estudante experiência educativa este lugar como lugar de encontro, para exercer direitos
que possibilite o desenvolvimento integral, con- e deveres de cidadão.
siderando os aspectos cognitivos, motor, social, É nesta perspectiva que o Gestor e a Equipe Diretiva,
emocional e cultural; juntamente com o Conselho Escolar, abrem espaços para
• conceber a escola enquanto espaço de socialização, uma gestão participativa, que tenha por centralidade a
onde o(a) estudante possa experimentar uma vi- construção do conhecimento dos estudantes a qual pas-
vência coletiva e formular uma concepção de mun- sa por fomentar as condições físicas necessárias para este
do, de sociedade e de cidadania; atendimento, a permanente formação dos professores, o
• possibilitar o acesso à tecnologia da informação e cuidado com as relações entre os diferentes segmentos,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

incluir a educação alimentar e nutricional no pro- firmando a solidariedade e o compromisso de todos que
cesso de ensino e aprendizagem. estão envolvidos no processo educacional. Revisitar coti-
dianamente os Princípios e Fundamentos da escola, reor-
A educação inclusiva nas Escolas em Tempo Integral denar os planejamentos, avaliar quais as prioridades os
deve contemplar as características da fase de desenvolvi- pontos de estrangulamento, superar os entraves à apren-
mento das crianças e adolescentes, promovendo e pos- dizagem são algumas das importantes responsabilidades
sibilitando seu acesso à aprendizagem e ao convívio com do Gestor e sua Equipe, que se somam para estabelecer
seus pares. as condições coletivas para o atendimento das necessi-
A concepção de formação continuada do coletivo de dades dos estudantes.
professores e gestores que atuam na Escola em Tempo Neste sentido, o Sistema de Avaliação Institucional
Integral considera ações de estudo, reflexão, discussão, é importante instrumento para visualizar cada parte e o
análise do contexto onde se encontra a comunidade es- todo da escola. Importante instrumento para desenca-
colar, a compreensão de que cada estudante tem seu dear o planejamento e as ações para o sucesso do pro-
próprio ritmo e necessidades quanto à construção da cesso de aprendizagem dos(as) estudantes.
aprendizagem e o ensino e a aprendizagem em jorna- O Gestor e a Equipe Pedagógica devem realizar as
da ampliada na qual o trabalho pedagógico nos turnos intervenções necessárias para que a escola desenvolva,

43
de fato, uma Proposta Político Pedagógica na qual o cur- • A construção de espaço/tempo escolar que pos-
rículo ofereça aprendizagens significativas aos estudan- sibilite ao estudante compreender se enquanto
tes, na qual o currículo assuma papel articulador entre a construtor de sua existência e da sociedade, asse-
cultura local e a diversidade planetária. Reafirma, assim, gurando as condições para construção e realização
a importância da dimensão cultural no processo educa- de seu(s) Projeto(s) de Vida firmando os valores, o
cional, pensando a escola como dinamizadora da cultura, mundo do trabalho, a cidadania; 2
de sua expressão e a elaboração e apropriação dos sabe- • Compromisso com a aprendizagem de todos os(as)
res pelos(as) estudantes, com diálogo permanente com estudantes e com a redução dos índices de evasão
todos os segmentos da comunidade escolar de forma e repetência.
corresponsável.
O Coordenador Pedagógico é sempre um articulador O planejamento e a organização da Escola em Tempo
do trabalho pedagógico, deve privilegiar o planejamento Integral considera as faixas etárias dos estudantes e con-
coletivo entre os professores de diversas áreas do conhe- templa suas necessidades, numa organização espaço/
cimento, oportunizando a socialização de experiências, tempo que atenda suas peculiaridades:
o enriquecimento das ideias, a criatividade e múltiplos
olhares da/para a realidade. Infância de 6 a 8 anos de idade com o primeiro
Nesta perspectiva o planejamento é ato coletivo, in- contato com a escola, o grupo de colegas, os professo-
terativo, com a articulação e o envolvimento de todos os res onde inicia o processo de ampliação da socialização.
profissionais por um objetivo comum: as aprendizagens. Neste momento a alfabetização e o letramento exigem
Os professores realizam planejamento coletivo, dialo- prática pedagógica centrada no lúdico;
gando com as diversas áreas do conhecimento, estabe- Segunda Infância situada entre os 9 e 11 anos de
lecendo condições para a socialização de experiências, idade ocorre a consolidação das relações estabelecidas
o enriquecimento das ideias, análise das dificuldades na primeira fase e inicia-se a fase das operações concre-
encontradas pelos estudantes e caminhos para sua su- tas, da aquisição intelectual e da introspecção, das dúvi-
peração. O trabalho coletivo é promotor da socialização das, das perguntas e de um certo grau de reflexão;
dos saberes e das condições para o sucesso dos estu-
dantes, estimulando os professores ao estudo, buscando Adolescência- entre os 12 e 14 anos de idade fase
as estratégias e metodologias mais adequadas para o conhecida como fase de transição entre adolescência e
trabalho escolar. Conforme as características de cada es- jovem, onde seus processos de pensamento asseme-
cola, o Coordenador Pedagógico deve estabelecer, junto lham-se aos dos adultos é a fase da abstração e da cons-
aos professores da classe comum e dos profissionais que trução de hipóteses.
atuam nas Salas de Recursos, a necessária articulação
para que os estudantes possam desenvolver suas apren- 5. As aprendizagens devem contemplar:
dizagens tendo pleno acolhimento na classe comum. As-
sim (re)afirmar a escola enquanto espaço prazeroso de Na Infância de 6 a 8 anos de idade, nos três primei-
construção do conhecimento espelha a responsabilidade ros anos do Ensino Fundamental, devem possibilitar ao
com uma educação de qualidade social, voltada para a estudante:
inclusão que não pode prescindir de instrumentos para • A alfabetização e o letramento;
análise da realidade, das necessidades dos estudantes, • O desenvolvimento das diversas formas de expres-
dos professores, dos funcionários e da ação responsável são, que incluem o aprendizado global e interdis-
e comprometida dos Gestores, das Equipes Diretivas, do ciplinar;
coletivo de professores, dos estudantes, dos pais e res- • O espaço de apropriação e produção de conheci-
ponsáveis. mento, onde o afeto, cognição e ludicidade cami-
nhem juntos e integrados;
4. A Escola em Tempo Integral firma: • Mobilidade nas salas de aula e atividades que le-
vem os estudantes a explorar mais intensamente
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

• Metodologia que considera as diferenças individu- as diversas linguagens; da literatura, das artes e a
ais e as características e necessidades de cada fase utilizar materiais que ofereçam condições de ra-
de desenvolvimento do estudante; ciocinar e criar manuseando e explorando as suas
• Matriz curricular flexível, que estabelece interface características e propriedades.
entre a Formação Geral e as Atividades Curricula-
res Obrigatórias e Eletivas; Na Segunda Infância - dos 9 e 11 anos de idade:
• Duração do tempo escolar de 8 horas diárias, para • O planejamento pedagógico deve levar em consi-
todo o ensino fundamental, acompanhada de ali- deração as diferentes áreas do conhecimento na
mentação escolar adequada à ampliação do tem- perspectiva interdisciplinar;
po do estudante na escola; • O desenvolvimento das diversas formas de expres-
• Organização do espaço, preferencialmente, em sa- são inclui o aprendizado global e interdisciplinar
las ambientes; da língua portuguesa, da literatura, da música e
• Participação permanente de professores, estudantes das demais artes, da educação física, da matemá-
e gestores nas diferentes atividades propostas no tica, das ciências da natureza, da história e da ge-
Projeto Político Pedagógico; ografia;
• Integração permanente com a cultura e comunida- • Na execução do planejamento pedagógico devem
de local; ser adotadas estratégias de trabalho que favore-

44
çam a constituição de grupos, onde se desenvol-
vam a cooperação, a participação, a formação de GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA.
opiniões próprias e a solidariedade;

Na Adolescência- entre os 12 e 14 anos de idade:


• O planejamento pedagógico deve considerar as vá- Pensar e buscar a autonomia da escola pública é
rias formas de expressão que estão associadas ao uma tarefa que se apresenta de forma complexa, pois,
aprendizado interdisciplinar das áreas do conheci- é complexo alcançar a liberdade total ou independência,
mento conforme a Base Nacional Comum; principalmente, quando se tem que considerar os dife-
• Os professores devem elaborar o planejamento pe- rentes agentes sociais e as muitas interfaces e interde-
dagógico e adotar estratégias interdisciplinares pendências que fazem parte da organização educacional.
para que os estudantes possam construir sistemas Por isso, a busca pela autonomia deve ser muito bem
e teorias, efetuar operações, pensar em termos trabalhada, haja vista que só ela é capaz de equacionar a
abstratos, formular hipóteses e testá-las sistema- problemas e questões que envolvem a escola.
ticamente; Sabe-se que a descentralização do sistema educacional
• O atendimento pedagógico se dá por meio de áreas brasileiro e a autonomia da escola pública são processos
do conhecimento e seus componentes curricula- complementares e interdependentes. Assim, tanto a des-
res. centralização como a autonomia são limitadas por essas
relações, visto que a escola é parte de um sistema e com
O Currículo da Escola em Tempo Integral apresenta a ele se relaciona institucionalmente, observando e partici-
Formação Geral articulada e integrada às Atividades Cur- pando das definições macropolíticas, prestando conta das
riculares Obrigatórias e Eletivas. atividades e resultados e cumprindo as normas gerais do
sistema educacional e que garantem sua unidade.
Formação Geral: Linguagens: Língua Portuguesa; É preciso assumir que para mudar a educação tem-
Língua Estrangeira Moderna; Arte; Educação Física; -se que mudar a escola, principalmente em sua gestão
descentralizando suas atividades administrativas e peda-
Ciências Humanas: Geografia; História; Ensino Religioso; gógicas. Para isto, ela tem que estar mais perto de seus
usuários. Não há dúvida que a escola tem sido uma das
Ciências da Natureza e Matemática. instituições mais sacrificada da nossa sociedade, pois, em
geral, as decisões mais importantes para seu funciona-
Referência: mento são decididas fora dela, sem a participação direta
MOTA, M. S. G.; PEREIRA, F. E. L. Desenvolvimento e dos seus atores, tal como a nomeação de seus professores
Aprendizagem: Processo de construção do conhecimen- e diretores, o currículo, as avaliações, o destino de seus
to e desenvolvimento mental do indivíduo. Disponível recursos, entre outros. A própria formação e capacitação
em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/tcc_ de seus docentes tem respondido mais a planejamentos
desenvolvimento.pdf feitos de forma centralizada sem muita consideração às
BRASIL: Ministério da Educação. Indagações sobre suas necessidades. Além de tudo isso, não recebem re-
currículo: currículo, conhecimento e cultura / [Antônio cursos para realizar o que estimam necessário.
Flávio Barbosa Moreira , Vera Maria Candau] ; organi- Igualmente, é válido enfatizar que para ser eficaz,
zação do documento Jeanete Beauchamp, Sandra De- uma escola tem que possuir autonomia para decidir so-
nise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. – Brasília, bre temas importantes, tais como a aplicação dos seus
2007. recursos, seu currículo e seu calendário escolar, o proces-
SABAINI, S. M. G; BELLINI, L. M. Porque estudar currí- so de formação continuada dos seus profissionais, além
culo e teorias de currículo. de suas estratégias para avaliar a aprendizagem dos alu-
ALBUQUERQUE, Janeslei A; KUNZLE, Maria Rosa. O nos. Desse modo, além dos temas de interesse comum
currículo e suas dimensões, multirracial e multicultural. a todos os alunos, a escola deve ter competência para
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

In: Caderno Pedagógico nº 4, APP-SINDICATO 60 ANOS. incluir em seu currículo temas de interesse da comuni-
2007. dade na qual está inserida. Entende-se, dessa forma, que
LOPES, Alice C. Pensamento e política curricular – en- as escolas devem ser pensadas como um espaço de ges-
trevista com William Pinar. In: Políticas de currículo em tão compartilhada entre docentes, pais e autoridades lo-
múltiplos contextos. São Paulo: Cortez, 2006. cais, numa administração colegiada com total caráter de
SACRISTÁN J. G.; PÉREZ GÓMEZ A. I. Compreender e descentralização. Esta prática, entretanto, deve favorecer
transformar o ensino. Porto Alegre: ArtMed, 2000. para a criação e manutenção de um ambiente escolar
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: onde o clima organizacional seja favorável à aprendiza-
uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: gem e os professores e demais educadores desenvolvam
Autêntica, 2005. seu trabalho em equipe.
A autonomia é assim entendida como um princípio
regulador das relações entre a escola, o sistema educa-
cional e o sistema social e somente sua construção po-
derá levar a uma articulação entre os âmbitos endógeno
e exógeno, macro e micro, responsabilização pelo todo
(LUCK, 2000).

45
Para que se entenda o que vem a ser autonomia é na formulação dos programas; redirecionar recursos a
relevante que se busque analisar seus conceitos. A prin- fim de suportar os objetivos desenvolvidos em cada es-
cipal concepção de autonomia é aquela já compreendida cola; permitir a realização de orçamentos realistas devi-
pelo senso comum que a vê como uma possibilidade de do a pais e professores estarem mais cientes da situação
alguém ou algo ter plena liberdade para construção dos financeira da escola, dos limites de duração e custo dos
atos e projetos. programas; valorizar melhor os professores e ajudar a
Esta concepção vê a autonomia como independência, sua liderança a todos os níveis.
isolamento, onde o sujeito assume o completo poder / A escola é, pois, uma organização social onde coa-
controle em completa oposição ao poder / controle exer- bitam pessoas das mais variadas faixas etárias (adultos,
cido por outros. Ser autônomo implica desta forma, um crianças, adolescentes, jovens), sendo, portanto, uma
corte radical e uma ausência total de qualquer depen- organização com fins educativos. Dessa forma, Barroso
dência dos outros. Contudo, esta percepção correspon- (1996, p. 185) considera que “a autonomia da escola deve
de muito pouco ao verdadeiro significado da autonomia ser construída e não decretada”. Com certeza, a autono-
mia da escola tem de ter em conta a especificidade da
que prever liberdade, mas também exige responsabilida-
organização escolar, sendo construída pela interação dos
de coletiva do grupo onde ela é exercida.
diferentes atores organizacionais em cada escola.
Barroso (1996) observa que o conceito de autonomia
Como se pode ver, a autonomia, é, pois, o resultado
está ligado à ideia de “autogoverno”, onde os sujeitos se do equilíbrio de forças numa escola entre os diversos de-
regulam por regras próprias. Contudo, isto não é sinôni- tentores de influência e pressupõe a autonomia dos seus
mo de indivíduos independentes: atores. Na realidade, a autonomia da escola não se cons-
A autonomia é um conceito relacional (somos sempre trói por decreto; pelo contrário “esta perspectiva retira
autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sentido à tentativa de encontrar, a partir das chamadas
sua ação se exerce sempre num contexto de interdepen- „escolas eficazes‟, estruturas e modalidades de gestão
dência e num sistema de relações. A autonomia é tam- que funcionem como padrão da autonomia para todas
bém um conceito que exprime um certo grau de rela- as escolas.”.
tividade: somos mais, ou menos, autônomos; podemos Desse modo, observa-se que a autonomia da escola
ser autônomos em relação a umas coisas e não o ser em pública passa pela capacidade da mesma se identificar e,
relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira por isso mesmo, de se diferenciar daquilo que a envolve.
de gerir, orientar, as diversas dependências em que os Mas, esta capacidade de se diferenciar implica que seja
indivíduos e os grupos se encontram no seu meio bio- capaz de se relacionar e interagir com o meio que a en-
lógico ou social, de acordo com as suas próprias leis. ” volve. Autonomia não significa independência, mas sim
Macedo (1991) declara que “a autonomia pressu- interdependência.
põe auto-organização. “Ao auto organizarem-se, isto é, A construção de identidade própria pressupõe a par-
ao estruturar-se na realização de objetivos que define o ticipação de todos os atores que interagem entre si. A
sistema diferencia-se de outros sistemas com quem está nova concepção das organizações implica a „recupe-
em inter-relação, criando a sua própria identidade. É um ração‟ da importância dos atores. Não se trata de uma
sistema autônomo. ”. Assim, a autonomia pressupõe que concepção de racionalidade ilimitada, mas sim de uma
se seja capaz de identificar, e assim, se diferenciar dos concepção onde atores e sistema se condicionam mu-
outros. Mas, esta capacidade de diferenciação só é pos- tuamente: se os atores são constrangidos pelas regras do
sível na inter-relação com os outros. “Quanto mais são as sistema, eles contribuem também para a transformação e
trocas de energia, informação e matéria que um sistema alteração dessas mesmas regras.
estabelece com o „meio‟, maior é a sua riqueza, a sua Para alcançar tais objetivos, será necessário grande
complexidade, as possibilidades de construção da auto- esforço e vontade política do governo e da sociedade
nomia.”. civil, envolvendo vários atores e recursos. Entretanto, não
Para Macedo (1991), “a essência da autonomia da há dúvida de que, no centro desses desafios, encontra-se
escola passa pela capacidade de efetuar trocas com os a escola, como agência educativa de formar os futuros
outros sistemas que envolvem a escola”. Dentro dessa
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

cidadãos e de prestação dos serviços educacionais dire-


ótica, a autonomia da escola não é algo adquirido, mas tamente a população.
sim algo que se vai construindo na interrelação, pois só Nesse contexto, é relevante frisar que se faz neces-
assim a escola vai criando a sua própria identidade. sário à escola e seus profissionais que ampliem a cons-
É pertinente refletir sobre algumas formas de con- ciência sobre esse quadro e reconstruam suas práticas
cretização da autonomia da escola, permitindo perceber organizativas e pedagógicas em consonância com as ex-
quais os princípios teóricos, ideológicos, ou políticos que pectativas sociais em torno da função da escola na socie-
estão na base de uma determinada visão da autonomia dade contemporânea e, consequentemente, dos resulta-
escolar. Além disso, esta reflexão contribui também para dos a serem obtidos no desempenho de seus alunos.
uma melhor compreensão dos diversos caminhos possí-
veis na construção da autonomia da escola, não sendo, 1. Projeto Político-Pedagógico: e a construção co-
contudo, uma descrição exaustiva. letiva da autonomia da Escola
Como se vê, a autonomia se presta para permitir que
pessoas competentes na escola pública tomem decisões É do consenso de todos que o Projeto Político Pe-
que favoreçam a aprendizagem; dar voz à comunidade
dagógico ultrapassa a mera elaboração de planos, que
escolar nas decisões cruciais; acentuar a prestação de
só se prestam a cumprir exigências burocráticas. Isso é
contas das decisões; conduzir a uma maior criatividade
confirmado por Veiga quando afirma que:

46
O projeto político-pedagógico busca um rumo, uma tica, apontando brevemente a gestão democrática como
direção. É uma ação intencional, com um sentido explí- possibilidades de organização do trabalho da escola pú-
cito, com um compromisso definido coletivamente. Por blica pela via do Projeto Político Pedagógico e da Orga-
isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, nização Curricular.
um projeto político por estar intimamente articulado ao
compromisso sócio-político e com os interesses reais e 2. Fundamentação teórica
coletivos da população majoritária. (...) Na dimensão pe-
dagógica reside a possibilidade da efetivação da inten- A prática educativa é um fenômeno social, sendo uma
cionalidade da escola, que é a formação do cidadão par- atividade humana necessária à existência e ao funciona-
ticipativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. mento de toda a sociedade.
Pedagógico, no sentido de se definir as ações educativas Através das Políticas Públicas em Educação tem-se
e as características necessárias às escolas de cumprirem oportunidades de refletir e construir novos paradigmas
seus propósitos e sua intencionalidade. (VEIGA, 1995) que possibilitem uma educação voltada para a classe
Dentro desse entendimento, pode-se ver que o pro- trabalhadora. Precisa-se lançar um olhar político sobre
jeto político-pedagógico é o fruto da interação entre os o final do século XX que possibilite a reflexão sobre as
objetivos e prioridades estabelecidas pela coletividade, discussões contemporâneas da ciência política e, por
que estabelece, através da reflexão, as ações necessárias conseguinte, a urgência de um novo enfoque das ciên-
à construção de uma nova realidade. É, antes de tudo, cias sociais, com óbvias consequências sobre as políticas
um trabalho que exige comprometimento de todos os educacionais.
envolvidos no processo educativo: professores, equipe A partir deste enfoque, podem-se demandar novos
técnica, alunos, seus pais e a comunidade como um todo. conceitos de Estado, Nação, Democracia, Cidadania e um
Essa prática de construção de um projeto deve es- repensar sobre a formação política e pedagógica do pro-
tar amparada por concepções teóricas sólidas e supõe o fessor.
aperfeiçoamento e a formação de seus agentes. Só as- A Pedagogia é um campo do conhecimento sobre a
sim serão rompidas as resistências em relação a novas problemática educativa na sua totalidade e historicidade
práticas educativas. Os agentes educativos devem sentir-
e, ao mesmo tempo uma diretriz orientadora de sua ação
-se atraídos por essa proposta, pois só assim terão uma
educativa. O pedagógico refere-se à finalidade da ação
postura comprometida e responsável. Trata-se, portanto,
educativa, implicando objetivos sócio-políticos a partir dos
da conquista coletiva de um espaço para o exercício da
quais se estabelecem formas organizativas e metodológi-
autonomia.
cas da ação educativa. Entra em cena o papel do pedago-
go e do diretor, na construção do Projeto Político Pedagó-
COLEGIADOS ESCOLARES E A PARTICIPAÇÃO DA
gico da escola, que é um instrumento que descreve e revela
COMUNIDADE NA VIDA ESCOLAR.
o espaço escolar para além de suas intenções, que supere
1. A gestão democrática os conflitos, elimine as competitividades corporativas e au-
toritárias, rompendo com a rotina do mundo impessoal e
As evidentes mudanças científicas-tecnológicas, eco- racionalizado da burocracia que permeia as relações no
nômicas, sociais, políticas e cultural, ocorridas no mundo interior da escola.
contemporâneo têm influenciado direta e indiretamente Para Pino “encontramo-nos em período de transição,
a organização da sociedade que concretamente reflete onde resoluções têm sido elaboradas com o intuito de
em seus processos educacionais. normalizar ou legalizar, as Legislações e as Políticas Pú-
Em sincronia com essas mudanças, que já vem de blicas que regem a educação em nosso país”.
outrora, a organização da sociedade mediada por es- Cidadãos e educadores devem conhecer bem a lei que
sas relações refletiu, em diferentes contextos históricos nos rege e acompanhar permanentemente os andamen-
e formas de desenvolvimento de gestão pedagógica e tos das discussões e as novas resoluções que estão sen-
administrativa, buscando referências nos mais variados do apresentadas pelo Conselho Nacional de Educação. É
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

espaços de composição social. importante, portanto, que cada profissional da educação,


Para cumprir sua função social, a escola precisa con- esteja participando através de organizações, conselhos e
siderar as práticas da sociedade, seja ela de natureza so- sindicatos, destas discussões a fim de poder contribuir na
cial, política, econômica ou cultural. elaboração de Leis que favoreçam o desenvolvimento de
Neste sentido é essencial conhecer as expectativas nosso próprio trabalho e consequentemente o desenvol-
dessa comunidade, seus anseios, sua forma de organi- vimento de nosso alunado.
zação, sobrevivência seus costumes e valores. A partir Pensando nas Políticas Públicas, não podemos negar
daí poder auxiliá-la a ampliar seu instrumental de com- a importância do Fórum Nacional em Defesa da Escola
preensão e transformação social. Para tanto é preciso ter Pública que mobilizou educadores de todo canto deste
clareza do homem e de sociedade que pretende formar, país, promovendo em nível nacional, estadual e munici-
para realizar práticas pedagógicas, comprometidas, par- pal, vários seminários, palestras e encontros, debates e
ticularmente num país de contrastes como o nosso, onde congressos a fim de se buscar coletivizar as propostas de
convivem grandes desigualdades. cada entidade representativa.
O presente texto, ainda que não tenha a pretensão de De acordo com Pino a estes “atores coletivos cabe
esgotar a discussão pretende buscar ao debate o papel o papel de assegurar as políticas globais e articuladas
do diretor e do pedagogo unitário, na gestão democrá- como moderadoras das desigualdades econômicas e so-

47
ciais e de responderem ao aumento das demandas no tos de ação social. Assim sendo, o pedagogo e o dire-
contexto de uma maior divisão do trabalho e expansão tor, à luz de uma concepção progressista de educação,
do mercado na sociedade de massas”. têm sua função de mediador do trabalho pedagógico,
É importante registrarmos a necessidade de a socie- agindo em todos os espaços de contradição para a
dade civil ocupar seu assento na condução das Políticas transformação da prática de uma educação pública
Públicas em nosso país, se de fato queremos a democra- e de qualidade, visando à emancipação das classes
tização das mesmas bem como das relações sociais. Não populares.”
podemos permitir a acomodação e a manutenção das Neste sentido a gestão democrática passa a ser vista
linhas conservadoras nas questões educacionais. É um sob o ponto da organização coletiva da escola em função
trabalho lento que precisa de todos nós. As modificações de seus sujeitos, pois é uma tarefa que exige rigor teó-
nos indicam profundas reformas na Educação Brasileira e rico prático de quem organiza, decide debate, discute o
que não podem deixar de ser acompanhadas atentamen- trabalho escolar. Significa permitir o trabalho específico
te por nós educadores. e ao mesmo tempo, orgânico dos sujeitos em função das
Considerando a especificidade do trabalho pedagó- necessidades histórico-sociais dos seus alunos. Tomando
gico no âmbito da escola pública e as demandas coti- aqui a especificidade do trabalho do pedagogo, na ten-
dianas inerentes a sua organização, é preciso estar dis- tativa de entender seu papel como mediador da inten-
cutindo as relações sociais entre sociedade, educação e cionalidade educativa da escola, pela via dos diferentes
trabalho, fazendo uma análise reflexiva, fortalecendo as segmentos que a compõe.
ações articuladoras deste processo, considerando ainda, A sociedade precisa cuidar da formação dos indiví-
a perspectiva do papel do diretor e do pedagogo unitá- duos, auxiliarem no desenvolvimento de suas capaci-
rio dentro das escolas públicas. Repensadas sob a luz da dades, prepará-los para a participação ativa e transfor-
gestão democrática. madora nas várias instâncias da vida social, pois não há
Compreender de que forma a sociedade mundiali- sociedade sem prática educativa e nem prática educativa
zada, o neoliberalismo e as ideologias conservadoras sem sociedade.
tratam de orientar os sistemas educativos para, sobre a Para Gadotti “a prática educativa não é apenas exi-
gência da vida em sociedade, mas também o processo
base de um pensamento único, reafirmar seus projetos
de prover os indivíduos de conhecimentos e experiências
como os exclusivamente possíveis e válidos.
culturais que os tornam preparados para atuar no meio
Preparar os profissionais da educação em todos os social e transformá-lo em função de suas necessidades
níveis e modalidades, no empenho e na busca de novas sejam elas, econômicas, sociais ou políticas”.
alternativas, capazes de contribuir com a melhoria e no Pela ação educativa, o meio exerce influência sobre
desempenho de nossas práticas pedagógicas numa con- os indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas
dição de aprendiz e de pesquisadores deste novo tempo influências torna-se capazes de estabelecer uma relação
da história da educação. ativa e transformadora em relação ao meio social.
Para Ferreira: “gestão significa tomar decisões, orga- Tais influências se manifestam por meio desconhecido
nizar, dirigir as políticas educacionais que se desenvol- de experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas
vem na escola comprometida com a formação da cida- e costumes acumulados por muitas gerações de indiví-
dania. E, pensar na gestão democrática da escola pública duos e grupos, transmitidos, assimilados e recriados pelas
nos remete obrigatoriamente, pensar a possibilidade de novas gerações.
organicamente constituir a escola como espaço de con- A escola, como instituição social, tem como função a
tradição, delimitando os processos de organização dos democratização dos conhecimentos produzidos historica-
mente pela humanidade, é um espaço de mediação entre
segmentos escolares diante de seu papel enquanto es-
sujeito e sociedade, para isso o conhecimento é a fonte
cola pública”.
para efetivação de um processo de emancipação humana
Saviani afirma que neste contexto: “a gestão do
e de transformação social. E assim, o papel político da
mundo globalizado e a gestão educacional devem se escola deve estar atrelado ao seu papel pedagógico.
alicerçar em ideais que necessitam ser firmado, expli- Durante décadas a escola aconteceu de forma mui-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

citados, compreendidos e partilhados nas tomadas de to semelhante à da Administração de Empresas, o que


decisões sobre a formação dos cidadãos, que estejam não contribuiu para que a escola cumprisse com sua real
atuantes a dirigir o mundo e as instituições. Com- função e muito menos atendesse as necessidades da co-
preendendo a educação como uma mediação que se munidade escolar, sendo vista como uma educação que
realiza num contexto social que se faz a partir das de- reforçava a prática da divisão do trabalho, a formação de
terminações da contemporaneidade e a partir do ser sujeitos em massa, possíveis reprodutores da lógica vi-
que aprende, necessário se faz a estes dois “mundos” gente.
para cumprir com a responsabilidade de educador em As mudanças ocorridas nos últimos anos nas áreas da
formar mentes e corações”. ciência, tecnologia, economia e na cultura, influenciou a
Se a pedagogia estuda as práticas educativas tendo organização da sociedade, e isso reflete na área educa-
em vista explicitar finalidades, objetivos sociopolíticos e cional. Ao longo dos anos houveram avanços e retroces-
formas de intervenção pedagógica para a educação, o sos, porém, deve-se lembrar que para pensar em gestão
pedagógico se expressa, justamente, na intencionalidade democrática da escola pública necessita obrigatoriamen-
e no direcionamento dessa ação. te pensar a escola como espaço de contradição, e que
Para Gadotti: “fazer pedagogia é fazer prática teó- se organiza coletivamente numa relação intrínseca entre
rica por excelência. É descobrir e elaborar instrumen- teoria e prática.

48
Numa gestão democrática é necessário que haja par- ética Não basta desenvolver a avaliação educacional a
ticipação de fato, através da participação de toda a co- serviço de uma ação com perspectiva par o futuro, mas
munidade escolar e das instâncias colegiadas. Isso exige torná-la referência para decisões educativas pautadas
mudança no papel do diretor quanto à fragmentação dos por valores, por posturas políticas, fundamentos filosó-
trabalhos, mudança de postura, centralização das toma- ficos e considerações sociais.
das de decisões, e corporativismo. Ao considerar a análise Os protagonistas da avaliação precisam ser levados a
feita a respeito da gestão escolar, não se pode falar em refletir sobre o que fazem e por que fazem. As práticas
resultados, no processo ensino aprendizagem, sem pri- educacionais exigem, além de conhecimento, metodolo-
meiro analisar o contexto social, político e econômico em gia, trabalho científico, a inclusão da dimensão ética e
que esta aprendizagem acontece, e para que isso aconte- sensível. Nesse sentido programas e projetos desenvol-
ça é preciso reportar à questão social, pois ela pode nos vidos para dar conta de problemas apresentados para o
indicar o ingresso de um novo sujeito histórico, numa estudo de uma área de conhecimento ou para resolver
sociedade em constante transformação. questões de determinadas escolas, estariam responden-
Coutinho diz que “a gestão democrática da educa- do às dimensões ético-políticas neste contexto avaliativo.
ção compreende noção de cidadania como capacidade As reformas educacionais Oriundas de posturas po-
conquistada por todos os indivíduos, de se apropriarem líticas que não devem se sobrepujar aos atos educati-
dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as vos, as novas medidas em avaliação educacional afetam
potencialidades de realização humana abertas pela via os sentimentos dos atores envolvidos, por se tratar de
social em cada contexto histórico determinado”. uma atividade prática, ética em seu sentido mais original,
Neste sentido é preciso compreender a gestão, como porque está embasada em juízo de valor. Não concorda-
tomadas de decisões, como organização e direciona- mos que deva haver regra única em avaliação, ainda que
mento das políticas educacionais que se desenvolvem elencada no bojo de diretrizes unificadoras das reformas
na escola, comprometida com a formação do cidadão. educacionais, porque cada situação envolve a singulari-
É um compromisso de quem toma decisões, de quem dade dos participantes do processo educativo. Não en-
tem consciência do coletivo democrático, de quem tem contramos mecanismos únicos, classificatórios que deem
responsabilidade de formar seres humanos por meio da conta da complexidade do ato avaliativo. É preciso con-
educação. siderar, como alerta Morim, a complexidade inerente a
Segundo Prais “isto significa entender o conhecimen- tal finalidade.
to como fonte para efetivação de um processo de eman-
cipação humana e de transformação social. Garantindo 4. A participação dos pais da comunidade
dessa forma o processo ensino aprendizagem como um
caminho para a ruptura e a serviço das mudanças neces- Os pais devem participar da escolaridade de seus
sárias”. filhos, considerando, entretanto, a natureza do envolvi-
Os momentos coletivos que permitem a discussão, mento; a realidade social destes pais; a constituição de
as análises e os avanços, no sentido de articulação en- suas famílias; a luta pela sobrevivência, etc., nos faz pon-
tre teoria e prática, são o momento, segundo Kunzer de derar que as dificuldades de aprendizagem dos alunos
apropriação do saber coletivo que passa a garantir uma não podem ser atribuídas às famílias, muito menos o tra-
“pedagogia emancipatória” uma luta pela superação in- balho de superação destas dificuldades não pode recair
telectual entre pensamento e ação, teoria e prática. sob a responsabilidade destes, mas dos profissionais que
atuam nas escolas, bem como são de sua responsabilida-
3. Conselhos de classe versus “conselhos de classe” de a aquisição de atitudes e habilidades que favoreçam o
enriquecimento das relações interpessoais no ambiente
Os conselhos de classe vêm sendo realizados, em escolar.
grande parte das escolas, orientados por modelos avalia- É compromisso dos pais acompanhar o processo vivi-
tivos classificatórios e com caráter sentencitivo - se pro- do pelos filhos, dialogar com a escola, assumir o que lhes
pondo a deferir uma sentença ao aluno. Nestas sessões, é de responsabilidade. Promover o diálogo entre os pais
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

o privilégio ao passado é evidente. Hoffman defende que e os professores é função da escola, que não significa
atribuir a eles a tarefa da escola. A educação inclusiva
esta deve ser uma ação voltada para o futuro, de caráter
Num processo de avaliação mediadora, a promoção se
interativo e reflexivo, deliberadora de novas ações que
baseia na evolução alcançada pelo aluno, na sua singu-
garantam a aquisição de competências necessárias à
laridade e de acordo com suas possibilidades, desde que
aprendizagem dos alunos.
se tenha garantido as melhores oportunidades possíveis
Os momentos do conselho de classe precisam ser
à aprendizagem e ao desenvolvimento de todos e de
repensados pelas escolas e serem utilizados para a am-
cada um. Nesse contexto, a responsabilidade pelo fracas-
pliação das perspectivas acerca dos diferentes jeitos de so não pode ser atribuída ao aluno, às suas dificuldades
ser e de aprender do educando que interage com outros ou à sua incapacidade.
educadores e com outros conhecimentos. As questões
atitudinais não devem ocupar um tempo enorme em de- A responsabilidade pelo desenvolvimento da apren-
trimento das questões do ensino-aprendizagem. dizagem contínua do aluno recai sobre os educadores
Para Hoffman, projetar a avaliação no futuro dos alu- e sobre a comunidade. Dessa compreensão decorre o
nos significa reforçar as setas dos seus caminhos: confiar, princípio da educação inclusiva: oferecer ao aluno opor-
apoiar, sugerir e, principalmente, desafiá-los a prosseguir tunidade máxima de aprendizagem e de inserção social,
por meio de provocações significativas. Uma atividade em condições de igualdade educativa, isto é, oferece ao

49
aluno condições adequadas de aprendizagem de acordo reflexões para a análise dos princípios norteadores. Fi-
com suas características, suas possibilidades. Isso signifi- nalizaremos discutindo os elementos básicos da organi-
ca encontrar meios para favorecer aprendizagem de to- zação do trabalho pedagógico, necessários à construção
dos os alunos. Assim, são professores e escolas que pre- do projeto políticopedagógico.
cisam adequar-se aos alunos e não os alunos que devem
adequar-se às escolas e aos professores. A, dimensão da O QUE É PROJETO POLÍTICOPEDAGÓGICO?
exclusão de muitos alunos da escola pode ser medida:
- pela constatação das práticas reprovativas baseadas No sentido etimológico, o termo projeto vem do la-
em parâmetros de maturidade e de normalidade; tim projectu, participio passado do verbo projicere, que
- pela ocorrência dos encaminhamentos de alunos significa lançar para diante. Plano, intento, designio. Em-
para classes e escolas especiais por erros na ava- presa, empreendimento. Redação provisoria de lei. Plano
liação pedagógica. A inclusão nas classes regulares geral de edificação.
de alunos que necessitam de atendimento espe- Ao construirmos os projetos de nossas escolas, plane-
cializado, sem que haja a preparação do professor jamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lança-
no desempenho de seu papel, priva os alunos com mo-nos para diante, com base no que temos, buscando
necessidades especiais de uma escolaridade digna. o possível. É antever um futuro diferente do presente.
Para Hoffman, um sério compromisso irá mobilizar Nas palavras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas
a escola brasileira deste século: formar e qualificar com o presente e promessas para o futuro. Projetar sig-
profissionais conscientes de sua responsabilidade nifica tentar quebrar um estado confortável para arris-
ética frente à inclusão. Se incluir é fundamental e car-se, atravessar um período de instabilidade e buscar
singular, como no caminho de Santiago, é neces- uma nova estabilidade em função da promessa que cada
sário valorizar cada passo do processo, sem pressa, projeto contém de estado melhor do que o presente. Um
vivendo cada dia o inusitado. projeto educativo pode ser tomado como promessa frente
a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os
campos de ação possível, comprometendo seus atores e
Fonte
autores.
OST, N. M.
Nessa perspectiva, o projeto políticopedagógico vai
MOURA, M. M. Autonomia e gestão democrática: ca-
além de um simples agrupamento de planos de ensi-
minhos para a valorização da escola pública, 2011.
no e de atividades diversas. O projeto não é algo que é
construído e em seguida arquivado ou encaminhado às
autoridades educacionais como prova do cumprimento
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em
todos os momentos, por todos os envolvidos com o pro-
cesso educativo da escola.
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
Para Veiga e colegas, o projeto políticopedagógico
intencional, com um sentido explícito, com um compro-
tem sido objeto de estudos para professores, pesquisa-
misso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pe-
dores e instituições educacionais em níveis nacional, es-
dagógico da escola é, também, um projeto político por
tadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade
estar intimamente articulado ao compromisso sociopo-
do ensino.
lítico com os interesses reais e coletivos da população
O presente estudo tem a intenção de refletir acerca
majoritária. E político no sentido de compromisso com
da construção do projeto políticopedagógico, entendido
a formação do cidadão para um tipo de sociedade. “A
como a própria organização do trabalho pedagógico de
dimensão política se cumpre na medida em que ela se
toda a escola.
realiza enquanto prática especificamente pedagógica”.
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efe-
tivação da intencionalidade da escola, que é a formação
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

#FicaDica
do cidadão participativo, responsável, compromissado,
A escola é o lugar de concepção, realização crítico e criativo. É pedagógico no sentido de definir as
e avaliação de seu projeto educativo, uma ações educativas e as características necessárias às esco-
vez que necessita organizar seu trabalho pe- las para cumprir seus propósitos e sua intencionalidade.
dagógico com base em seus alunos. Nessa Político e pedagógico têm, assim, uma significação
perspectiva, é fundamental que ela assuma indissociável. Nesse sentido é que se deve considerar o
suas responsabilidades, sem esperar que as projeto políticopedagógico como um processo perma-
esferas administrativas superiores tomem nente de reflexão e discussão dos problemas da esco-
essa iniciativa, mas que lhe deem as condi- la, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua
ções necessárias para levá-la adiante. Para intencionalidade, que “não é descritiva ou constatativa,
tanto, é importante que se fortaleçam as re- mas é constitutiva”. Por outro lado, propicia a vivência
lações entre escola e sistema de ensino. democrática necessária para a participação de todos os
membros da comunidade escolar e o exercício da cida-
dania. Pode parecer complicado, mas se trata de uma re-
lação recíproca entre a dimensão política e a dimensão
Para isso, começaremos conceituando projeto políti-
pedagógica da escola.
copedagógico. Em seguida, trataremos de trazer nossas

50
O projeto políticopedagógico, ao se constituir em Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógi-
processo democrático de decisões, preocupa-se em ins- ca de organização das instâncias superiores, implicando
taurar uma forma de organização do trabalho pedagógi- uma mudança substancial na sua prática.
co que supere os conflitos, buscando eliminar as relações Para que a construção do projeto políticopedagógico
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com seja possível não é necessário convencer os professores,
a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocra- a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou
cia que permeia as relações no interior da escola, dimi- mobilizá-los de forma espontânea, mas propiciar situa-
nuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho ções que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o
que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de fazer pedagógico de forma coerente.
decisão. O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não
Desse modo, o projeto políticopedagógico tem a tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo
ver com a organização do trabalho pedagógico em dois e na ótica do poder centralizador que dita as normas e
níveis: como organização de toda a escola e como or- exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é
ganização da sala de aula, incluindo sua relação com o para a descentralização em busca de sua autonomia e
contexto social imediato, procurando preservar a visão qualidade.
de totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar Do exposto, o projeto políticopedagógico não visa
que o projeto políticopedagógico busca a organização simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a
do trabalho pedagógico da escola na sua globalidade. uma qualidade em todo o processo vivido. Vale acres-
A principal possibilidade de construção do projeto centar, ainda, que a organização do trabalho pedagógi-
políticopedagógico passa pela relativa autonomia da es-
co da escola tem a ver com a organização da sociedade.
cola, de sua capacidade de delinear sua própria identida-
A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição
de. Isso significa resgatar a escola como espaço público,
como lugar de debate, do diálogo fundado na reflexão social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no
coletiva. Portanto, é preciso entender que o projeto po- seu interior as determinações e contradições dessa so-
líticopedagógico da escola dará indicações necessárias ciedade.
à organização do trabalho pedagógico que inclui o tra-
balho do professor na dinâmica interna da sala de aula, 1. Princípios norteadores do projeto políticopeda-
ressaltado anteriormente. gógico
Buscar uma nova organização para a escola constitui
uma ousadia para educadores, pais, alunos e funcioná- A abordagem do projeto políticopedagógico, como
rios. Para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de organização do trabalho de toda a escola, está fundada
um referencial que fundamente a construção do projeto nos princípios que deverão nortear a escola democrática,
políticopedagógico. A questão é, pois, saber a qual refe-
pública e gratuita:
rencial temos que recorrer para a compreensão de nossa
a) Igualdade de condições para acesso e permanên-
prática pedagógica. Nesse sentido, temos que nos alicer-
çar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica cia na escola. Saviani alerta-nos para o fato de que
viável, que parta da prática social e esteja compromissa- há uma desigualdade no ponto de partida, mas a
da em solucionar os problemas da educação e do ensino igualdade no ponto de chegada deve ser garantida
de nossa escola; uma teoria que subsidie o projeto políti- pela mediação da escola. O autor destaca que “só
copedagógico. Por sua vez, a prática pedagógica que ali é possível considerar o processo educativo em seu
se processa deve estar ligada aos interesses da maioria conjunto sob a condição de se distinguir a demo-
da população. Faz-se necessário, também, o domínio das cracia como possibilidade no ponto de partida e
bases teóricometodológicas indispensáveis à concretiza- democracia como realidade no ponto de chegada”.
ção das concepções assumidas coletivamente. Mais do Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais
que isso, afirma Freitas, (...) as novas formas têm que ser que a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação
pensadas em um contexto de luta, de correlações de for- do atendimento com simultânea manutenção de quali-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ça - às vezes favoráveis, às vezes desfavoráveis. Terão que


dade.
nascer no próprio “chão da escola”, com apoio dos pro-
fessores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas
por alguém, longe da escola e da luta da escola. b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias
Isso significa uma enorme mudança na concepção econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao
do projeto políticopedagógico e na própria postura da projeto políticopedagógico da escola é o de propi-
administração central. Se a escola se nutre da vivência ciar uma qualidade para todos.
cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes A qualidade que se busca implica duas dimensões in-
de sua organização do trabalho pedagógico à adminis- dissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não
tração central, seja o Ministério da Educação, a Secretaria está subordinada à outra; cada uma delas tem perspec-
de Educação Estadual ou Municipal, não compete a eles tivas próprias.
definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos,
inovações e coordenar as ações pedagógicas planejadas a técnica. A qualidade formal não está afeita, necessa-
e organizadas pela própria escola. Em outras palavras, as riamente, a conteúdos determinados. Demo afirma que
escolas necessitam receber assistência técnica e financei- a qualidade formal “significa a habilidade de manejar
ra decidida em conjunto com as instâncias superiores do meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos
sistema de ensino. diante dos desafios do desenvolvimento”.

51
A qualidade política é condição imprescindível da Nesse sentido, fica claro entender que a gestão de-
participação. Está voltada para os fins, valores e conteú- mocrática, no interior da escola, não é um princípio fácil
dos. Quer dizer “a competência humana do sujeito em de ser consolidado, pois se trata da participação crítica
termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins his- na construção do projeto políticopedagógico e na sua
tóricos da sociedade humana”. gestão.
Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato
de que a qualidade se centra no desafio de manejar os d) Liberdade é outro princípio constitucional. O prin-
instrumentos adequados para fazer a história humana. A cípio da liberdade está sempre associado à ideia
qualidade formal está relacionada com a qualidade polí- de autonomia. O que é necessário, portanto, como
tica e esta depende da competência dos meios. ponto de partida, é o resgate do sentido dos con-
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de to- ceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e a
das as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que liberdade fazem parte da própria natureza do ato
garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de pedagógico. O significado de autonomia remete-
todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta -nos para regras e orientações criadas pelos pró-
quantitativa de acesso global, no sentido de que as crian- prios sujeitos da ação educativa, sem imposições
ças em idade escolar entrem na escola. É preciso garantir externas.
a permanência dos que nela ingressarem. Em síntese, qua- Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e a
lidade “implica consciência crítica e capacidade de ação, liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é
saber e mudar”. uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora,
O projeto políticopedagógico, ao mesmo tempo em a liberdade é uma experiência de educadores e constrói-
que exige de educadores, funcionários, alunos e pais a -se na vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos
definição clara do tipo de escola que intentam, requer a livres com os outros, não apesar dos outros”. Se pensa-
definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de mos na liberdade na escola, devemos pensá-la na relação
sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As entre administradores, professores, funcionários e alunos
ações específicas para a obtenção desses fins são meios. que aí assumem sua parte de responsabilidade na cons-
Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a trução do projeto políticopedagógico e na relação destes
construção do projeto políticopedagógico. com o contexto social mais amplo.
Heller afirma que:
c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela
Constituição vigente e abrange as dimensões peda- A liberdade é sempre liberdade para algo e não apenas
gógica, administrativa e financeira. Ela exige uma liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas
ruptura histórica na prática administrativa da esco- como o fato de sermos livres de alguma coisa, encontra-
la, com o enfrentamento das questões de exclusão mo-nos no estado de arbítrio, definimo-nos de modo ne-
e reprovação e da não-permanência do aluno na gativo. A liberdade é uma relação e, como tal, deve ser
sala de aula, o que vem provocando a margina- continuamente ampliada. O próprio conceito de liberdade
lização das classes populares. Esse compromisso contém o conceito de regra, de reconhecimento, de inter-
implica a construção coletiva de um projeto po- venção recíproca. Com efeito, ninguém pode ser livre se,
líticopedagógico ligado à educação das classes em volta dele, há outros que não o são!
populares. Por isso, a liberdade deve ser considerada, também,
A gestão democrática exige a compreensão em pro- como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e di-
fundidade dos problemas postos pela prática pedagógi-
vulgar a arte e o saber direcionados para uma intencio-
ca. Ela visa romper com a separação entre concepção e
nalidade definida coletivamente.
execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática.
e) Valorização do magistério é um princípio central na
Busca resgatar o controle do processo e do produto do
discussão do projeto políticopedagógico.
trabalho pelos educadores.
A qualidade do ensino ministrado na escola e seu su-
A gestão democrática implica principalmente o re-
cesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

pensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista


sua socialização. A socialização do poder propicia a práti- da vida socioeconómica, política e cultural do país rela-
ca da participação coletiva, que atenua o individualismo; cionam-se estreitamente a formação (inicial e continua-
da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidarie- da), condições de trabalho (recursos didáticos, recursos
dade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a físicos e materiais, dedicação integral à escola, redução
dependência de órgãos intermediários que elaboram po- do número de alunos na sala de aula etc), remuneração,
líticas educacionais das quais a escola é mera executora. elementos esses indispensáveis à profissionalização do
A busca da gestão democrática inclui, necessariamen- magistério.
te, a ampla participação dos representantes dos diferen- A melhoria da qualidade da formação profissional e a
tes segmentos da escola nas decisões/ações adminis- valorização do trabalho pedagógico requerem a articu-
trativo-pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de lação entre instituições formadoras, no caso as institui-
Marques: “A participação ampla assegura a transparência ções de ensino superior e a Escola Normal, e as agências
das decisões, fortalece as pressões para que sejam elas empregadoras, ou seja, a própria rede de ensino. A for-
legítimas, garante o controle sobre os acordos estabe- mação profissional implica, também, a indissociabilidade
lecidos e, sobretudo, contribui para que sejam contem- entre a formação inicial e a formação continuada.
pladas questões que de outra forma não entrariam em O reforço à valorização dos profissionais da educa-
cogitação”. ção, garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento pro-

52
fissional permanente, significa “valorizar a experiência e 2. Construindo o projeto políticopedagógico
o conhecimento que os professores têm a partir de sua
prática pedagógica”. O projeto políticopedagógico é entendido, neste
A formação continuada é um direito de todos os pro- estudo, como a própria organização do trabalho peda-
fissionais que trabalham na escola, uma vez que ela não gógico da escola. A construção do projeto políticope-
só possibilita a progressão funcional baseada na titula- dagógico parte dos princípios de igualdade, qualidade,
ção, na qualificação e na competência dos profissionais, liberdade, gestão democrática e valorização do magis-
mas também propicia, fundamentalmente, o desenvol- tério. A escola é concebida como espaço social marcado
vimento profissional dos professores articulado com as pela manifestação de práticas contraditórias, que apon-
escolas e seus projetos. tam para a luta e/ou acomodação de todos os envolvidos
A formação continuada deve estar centrada na escola na organização do trabalho pedagógico.
e fazer parte do projeto políticopedagógico. Assim, com- O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar
pete à escola: a) proceder ao levantamento de necessi-
e compreender a organização do trabalho pedagógico,
dades de formação continuada de seus profissionais; b)
no sentido de gestar uma nova organização que reduza
elaborar seu programa de formação, contando com a
participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmenta-
de fortalecer seu papel na concepção, na execução e na ção e do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a cons-
avaliação do referido programa. trução do projeto políticopedagógico é um instrumento
Assim, a formação continuada dos profissionais da de luta, é uma forma de contrapor-se à fragmentação do
escola compromissada com a construção do projeto trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e
políticopedagógico não deve se limitar aos conteúdos aos efeitos negativos do poder autoritário e centraliza-
curriculares, mas se estender à discussão da escola de dor dos órgãos da administração central.
maneira geral e de suas relações com a sociedade. Daí, A construção do projeto políticopedagógico, para
passarem a fazer parte dos programas de formação con- gestar uma nova organização do trabalho pedagógico,
tinuada questões como cidadania, gestão democrática, passa pela reflexão anteriormente feita sobre os princí-
avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas tec- pios. Acreditamos que a análise dos elementos constitu-
nologias de ensino, entre outras. tivos da organização trará contribuições relevantes para
Veiga e Carvalho afirmam que “o grande desafio da a construção do projeto políticopedagógico.
escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado seu
Pelo menos sete elementos básicos podem ser apon-
papel de mera ‘repetidora’ de programas de ‘treinamen-
tados: a) as finalidades da escola; b) a estrutura organiza-
to’, é ousar assumir o papel predominante na formação
dos profissionais”. cional; c) o currículo; d) o tempo escolar; e) o processo de
Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa decisão; f) as relações de trabalho; g) a avaliação.
tomada de consciência dos princípios norteadores do a) As finalidades da escola
projeto políticopedagógico não pode ter o sentido es- A escola persegue finalidades. É importante ressaltar
pontaneísta de cruzar os braços diante da atual organiza- que os educadores precisam ter clareza das finalidades
ção da escola, inibidora da participação de educadores, de sua escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre
funcionários e alunos no processo de gestão. a ação educativa que a escola desenvolve com base nas
É preciso ter consciência de que a dominação no finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades
interior da escola efetiva-se por meio das relações de da escola referem-se aos efeitos intencionalmente pre-
poder que se expressam nas práticas autoritárias e con- tendidos e almejados.
servadoras dos diferentes profissionais, distribuídos - Das finalidades estabelecidas na legislação em vi-
hierarquicamente, bem como por meio das formas de gor, o que a escola persegue, com maior ou menor
controle existentes no interior da organização escolar. ênfase?
Como resultante dessa organização, a escola pode ser - Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a
descaracterizada como instituição histórica e socialmen- de preparar culturalmente os indivíduos para uma
te determinada, instância privilegiada da produção e da melhor compreensão da sociedade em que vivem?
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

apropriação do saber. As instituições escolares represen- - Como a escola procura atingir sua finalidade política
tam «armas de contestação e luta entre grupos culturais e social, ao formar o indivíduo para a participação
e econômicos que têm diferentes graus de poder». Por política que implica direitos e deveres da cidada-
outro lado, a escola é local de desenvolvimento da cons- nia?
ciência crítica da realidade. - Como a escola atinge sua finalidade de formação
Acreditamos que os princípios analisados e o apro- profissional, ou melhor, como ela possibilita a
fundamento dos estudos sobre a organização do traba- compreensão do papel do trabalho na formação
lho pedagógico trarão contribuições relevantes para a profissional do aluno?
compreensão dos limites e das possibilidades dos proje- - Como a escola analisa sua finalidade humanística,
tos político-pedagógicos voltados para os interesses das ao procurar promover o desenvolvimento integral
camadas menos favorecidas. da pessoa?
Veiga acrescenta, ainda, que “a importância desses
princípios está em garantir sua operacionalização nas As questões levantadas geram respostas e novas in-
estruturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na dagações por parte da direção, de professores, funcio-
legislação, na proposta, no currículo, e outra é estar ocor- nários, alunos e pais. O esforço analítico de todos pos-
rendo na dinâmica interna da escola, no real, no concreto”. sibilitará a identificação de quais finalidades precisam

53
ser reforçadas, quais as que estão relegadas e como elas A análise e a compreensão da estrutura organizacio-
poderão ser detalhadas de acordo com as áreas do co- nal da escola significam indagar sobre suas característi-
nhecimento, das diferentes disciplinas curriculares, do cas, seus polos de poder, seus conflitos - O que sabemos
conteúdo programático. da estrutura pedagógica? Que tipo de gestão está sen-
É necessário decidir, coletivamente, o que se quer re- do praticada? O que queremos e precisamos mudar na
forçar dentro da escola e como detalhar as finalidades nossa escola? Qual é o organograma previsto? Quem o
para atingir a almejada cidadania. constitui e qual é a lógica interna? Quais as funções edu-
Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe cativas predominantes? Como são vistas a constituição e
de alguma autonomia na determinação das finalidades a distribuição do poder? Quais os fundamentos regimen-
e dos objetivos específicos. O autor enfatiza: “Interessará tais? -, enfim, caracterizar do modo mais preciso possível
reter se as finalidades são impostas por entidades exte- a estrutura organizacional da escola e os problemas que
riores ou se são definidas no interior do ‘território social’ afetam o processo de ensino e aprendizagem, de modo
e se são definidas por consenso ou por conflito ou até a favorecer a tomada de decisões realistas e exequíveis.
se são matéria ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19). Avaliar a estrutura organizacional significa questionar
Essa colocação está sustentada na ideia de que a es- os pressupostos que embasam a estrutura burocrática
cola deve assumir, como uma de suas principais tarefas, da escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos
o trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educati- a criar ou a modificar a realidade social. Para poderem
va. Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito de au- realizar um ensino de qualidade e cumprir suas finalida-
tonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem des, as escolas têm que romper com a atual forma de
deixar de lado os outros níveis da esfera administrativa organização burocrática que regula o trabalho pedagó-
educacional. Nóvoa nos diz que a autonomia é impor- gico - pela conformidade às regras fixadas, pela obediên-
tante para “a criação de uma identidade da escola, de um cia a leis e diretrizes emanadas do poder central e pela
ethos científico e diferenciador, que facilite a adesão dos cisão entre os que pensam e executam -, que conduz à
diversos atores e a elaboração de um projeto próprio” fragmentação e ao consequente controle hierárquico
(1992, p. 26). que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a
A ideia de autonomia está ligada à concepção eman- ordem e a disciplina.
cipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacio-
pode depender dos órgãos centrais e intermediários que
nal, ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obs-
definem a política da qual ela não passa de executora.
táculos e vislumbrar as possibilidades, os educadores vão
Ela concebe seu projeto políticopedagógico e tem auto-
desvelando a realidade escolar, estabelecendo relações,
nomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova
definindo finalidades comuns e configurando novas for-
atitude de liderança, no sentido de refletir sobre suas fi-
mas de organizar as estruturas administrativas e peda-
nalidades sociopolíticas e culturais.
gógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola
b) A estrutura organizacional
na direção do que se pretende. Assim, considerando o
A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas
contexto, os limites, os recursos disponíveis (humanos,
estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As pri-
meiras asseguram, praticamente, a locação e a gestão materiais e financeiros) e a realidade escolar, cada insti-
de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, tuição educativa assume sua marca, tecendo, no coletivo,
ainda, das estruturas administrativas todos os elemen- seu projeto políticopedagógico, propiciando consequen-
tos que têm uma forma material, como, por exemplo, temente a construção de uma nova forma de organiza-
a arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele ção.
se apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipa- c) O currículo
mentos e materiais didáticos, mobiliário, distribuição das Currículo é um importante elemento constitutivo da
organização escolar. Currículo implica, necessariamente,
dependências escolares e espaços livres, cores, limpeza e
a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e
saneamento básico (água, esgoto, lixo e energia elétrica).
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

a opção por um referencial teórico que o sustente.


As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a Currículo é uma construção social do conhecimento,
ação das administrativas, “organizam as funções educa- pressupondo a sistematização dos meios para que essa
tivas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz construção se efetive; é a transmissão dos conhecimen-
as suas finalidades”. tos historicamente produzidos e as formas de assimilá-
As estruturas pedagógicas referem-se, fundamental- -los; portanto, produção, transmissão e assimilação são
mente, às interações políticas, às questões de ensino e processos que compõem uma metodologia de constru-
aprendizagem e às de currículo. Nas estruturas pedagó- ção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currícu-
gicas incluem-se todos os setores necessários ao desen- lo propriamente dito. Nesse sentido, o currículo refere-se
volvimento do trabalho pedagógico. à organização do conhecimento escolar.
A análise da estrutura organizacional da escola visa O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, simplificação do conhecimento científico, que se ade-
verificando as relações funcionais entre elas. É preciso fi- quaria à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a ne-
car claro que a escola é uma organização orientada por cessidade de promover, na escola, uma reflexão aprofun-
finalidades, controlada e permeada pelas questões do dada sobre o processo de produção do conhecimento
poder. escolar, uma vez que ele é, ao mesmo tempo, processo e

54
produto. A análise e a compreensão do processo de pro- apropriado ao desenvolvimento de práticas curriculares
dução do conhecimento escolar ampliam a compreensão que favoreçam o bom rendimento e a autonomia dos
sobre as questões curriculares. estudantes e, em particular, que reduzam os elevados ín-
Na organização curricular é preciso considerar alguns dices de evasão e repetência de nossa escola de primeiro
pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não grau”.
é um instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e A noção de controle social na teoria curricular críti-
a escola precisa identificar e desvelar os componentes ca é mais um instrumento de contestação e resistência à
ideológicos do conhecimento escolar que a classe do- ideologia veiculada por intermédio dos currículos, tanto
minante utiliza para a manutenção de privilégios. A de- do formal quanto do oculto.
terminação do conhecimento escolar, portanto, implica Orientar a organização curricular para fins emancipa-
uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura do- tórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplifica-
minante, quanto da cultura popular. O currículo expressa das de sociedade, concebida como um todo homogê-
uma cultura.
neo, e de ser humano, como alguém que tende a aceitar
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser
papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que
separado do contexto social, uma vez que ele é historica-
mente situado e culturalmente determinado. vive. Controle social, na visão crítica, é uma contribuição
O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideo-
curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas logia veiculada por intermédio dos currículos escolares.
instituições têm sido orientadas para a organização hie-
rárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Com d) O tempo escolar
base em Bernstein (1989), chamo a atenção para o fato O tempo é um dos elementos constitutivos da orga-
de que a escola deve buscar novas formas de organiza- nização do trabalho pedagógico. O calendário escolar
ção curricular, em que o conhecimento escolar (conteú- ordena o tempo: determina o início e o fim do ano, pre-
do) estabeleça uma relação aberta e inter-relacione-se vendo os dias letivos, as férias, os períodos escolares em
em torno de uma ideia integradora. Esse tipo de orga- que o ano se divide, os feriados cívicos e religiosos, as
nização curricular, o autor denomina de currículo-inte- datas reservadas à avaliação, os períodos para reuniões
gração. O currículo integração, portanto, visa reduzir o técnicas, cursos etc.
isolamento entre as diferentes disciplinas curriculares, O horário escolar, que fixa o número de horas por
procurando agrupá-las num todo mais amplo.
semana e que varia em razão das disciplinas constantes
Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo dei-
na grade curricular, estipula também o número de aulas
xa de ter significado por si só, para assumir uma impor-
tância relativa e passar a ter uma função bem determina- por professor. Tal como afirma Enguita: “Às matérias tor-
da e explícita dentro do todo de que faz parte”. nam-se equivalentes porque ocupam o mesmo número
O quarto ponto refere-se à questão do controle so- de horas por semana, e são vistas como tendo menor
cial, já que o currículo formal (conteúdos curriculares, prestígio se ocupam menos tempo que as demais”.
metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação A organização do tempo do conhecimento escolar
pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle é marcada pela segmentação do dia letivo, e o currícu-
social é instrumentalizado pelo currículo oculto, enten- lo é, consequentemente, organizado em períodos fixos
dido este como as “mensagens transmitidas pela sala de de tempo para disciplinas supostamente separadas. O
aula e pelo ambiente escolar”. Assim, toda a gama de controle hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes
visões do mundo, as normas e os valores dominantes são é desperdiçado e controlado pela administração e pelo
passados aos alunos no ambiente escolar, no material di- professor.
dático e mais especificamente por intermédio dos livros Em resumo, quanto mais compartimentado for o
didáticos, na relação pedagógica, nas rotinas escolares. tempo, mais hierarquizadas e ritualizadas serão as rela-
Os resultados do currículo oculto “estimulam a conformi- ções sociais, reduzindo, também, as possibilidades de se
dade a ideais nacionais e convenções sociais ao mesmo institucionalizar o currículo-integração que conduz a um
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

tempo que mantêm desigualdades socioeconómicas e ensino em extensão.


culturais”. Enguita, ao discutir a questão de como a escola con-
Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle so- tribui para a inculcação da precisão temporal nas ativida-
cial que têm permeado as principais tendências do pen- des escolares, assim se expressa:
samento curricular, procurou defender o ponto de vista A sucessão de períodos muito breves - sempre de
de que controle social não envolve, necessariamente, menos de uma hora -dedicados a matérias muito dife-
orientações conservadoras, coercitivas e de conformida- rentes entre si, sem necessidade de sequência lógica en-
de comportamental. De acordo com o autor, subjacente tre elas, sem atender à melhor ou à pior adequação de
ao discurso curricular crítico, encontra-se uma noção de seu conteúdo a períodos mais longos ou mais curtos e
controle social orientada para a emancipação. Faz senti- sem prestar nenhuma atenção à cadência do interesse
do, então, falar em controle social comprometido com e do trabalho dos estudantes; em suma, a organização
fins de liberdade que deem ao estudante uma voz ativa habitual do horário escolar ensina ao estudante que o
e crítica. importante não é a qualidade precisa de seu trabalho,
Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor a que o dedica, mas sua duração. A escola é o primeiro
chama a atenção para o fato de que a noção crítica de cenário em que a criança e o jovem presenciam, aceitam
controle social não pode deixar de discutir “o contexto e sofrem a redução de seu trabalho a trabalho abstrato.

55
Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico tor- se organiza para colocar em ação seu projeto político-
na-se necessário que a escola reformule seu tempo, es- pedagógico. A avaliação do projeto políticopedagógico,
tabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes numa visão crítica, parte da necessidade de conhecer a
de educadores, fortalecendo a escola como instância de realidade escolar, busca explicar e compreender critica-
educação continuada. mente as causas da existência de problemas, bem como
É preciso tempo para que os educadores aprofundem suas relações, suas mudanças e se esforça para propor
seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador
aprendendo. E preciso tempo para acompanhar e avaliar é conferido pela autocrítica.
o projeto políticopedagógico em ação. É preciso tempo Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão
global analisam o projeto políticopedagógico não como
para os estudantes se organizarem e criarem seus espa-
algo estanque, desvinculado dos aspectos políticos e
ços para além da sala de aula. sociais; não rejeitam as contradições e os conflitos. A
avaliação tem um compromisso mais amplo do que a
e) O processo de decisão mera eficiência e eficácia das propostas conservadoras.
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das Portanto, acompanhar e avaliar o projeto políticopeda-
tarefas, das ações e principalmente das decisões é orien- gógico é avaliar os resultados da própria organização do
tado por procedimentos formalizados, prevalecendo as trabalho pedagógico.
relações hierárquicas de mando e submissão, de poder Considerando a avaliação dessa forma, é possível
autoritário e centralizador. salientar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação
Uma estrutura administrativa da escola, adequada à é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao
realização de objetivos educacionais, de acordo com os projeto políticopedagógico. Segundo, ela imprime uma
interesses da população, deve prever mecanismos que direção às ações dos educadores e dos educandos.
estimulem a participação de todos no processo de de- O processo de avaliação envolve três momentos: a
cisão. Isso requer uma revisão das atribuições específi- descrição e a problematização da realidade escolar, a
cas e gerais, bem como da distribuição do poder e da compreensão crítica da realidade descrita e problema-
tizada e a proposição de alternativas de ação, momento
descentralização do processo de decisão. Para que isso
de criação coletiva.
seja possível é necessário que se instalem mecanismos A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
institucionais visando à participação política de todos instrumento de exclusão dos alunos provenientes das
os envolvidos com o processo educativo da escola. Paro classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática,
(1993, p. 34) sugere a instalação de processos eletivos deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do alu-
de escolha de dirigentes, colegiados com representação no de apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais
de alunos, pais, associação de pais e professores, grêmio e tecnológicos produzidos historicamente e deve ser re-
estudantil, processos coletivos de avaliação continuada sultante de um processo coletivo de avaliação diagnos-
dos serviços escolares etc. tica.

f) As relações de trabalho 3. Gestão educacional decorrente da concepção


E importante reiterar que, quando se busca uma nova do projeto políticopedagógico
organização do trabalho pedagógico, está se conside-
rando que as relações de trabalho, no interior da escola, A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho,
deverão estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa
reciprocidade e de participação coletiva, em contraposi- criar condições para gerar uma outra forma de organiza-
ção do trabalho pedagógico.
ção à organização regida pelos princípios da divisão do
A reorganização da escola deverá ser buscada de
trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico. É
dentro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa
nesse movimento que se verifica o confronto de interes- será o empenho coletivo na construção de um projeto
ses no interior da escola. Por isso, todo esforço de gestar políticopedagógico, e isso implica fazer rupturas com o
uma nova organização deve levar em conta as condições existente para avançar.
concretas presentes na escola. Há uma correlação de for- É preciso entender o projeto políticopedagógico da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ças e é nesse embate que se originam os conflitos, as escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto,
tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas ela precisa de um tempo razoável de reflexão e ação ne-
formas de relações de trabalho, com espaços abertos à cessário à consolidação de sua proposta.
reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunica- A construção do projeto políticopedagógico requer
ção horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos continuidade das ações, descentralização, democratiza-
com o processo educativo, a descentralização do poder. ção do processo de tomada de decisões e instalação de
A esse respeito, Machado assume a seguinte posição: “O um processo coletivo de avaliação de cunho emancipa-
processo de luta é visto como uma forma de contrapor- tório.
-se à dominação, o que pode contribuir para a articula- Finalmente, é importante destacar que o movimento
ção de práticas emancipatórias”. de luta e resistência dos educadores é indispensável para
A partir disso, novas relações de poder poderão ser ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se
construídas na dinâmica interna da sala de aula e da es- fazem necessárias dentro e fora dos muros da escola.
cola.
Referência:
g) A avaliação VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto político-
Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à refle- pedagógico da escola: uma construção possível. Papirus,
xão, com base em dados concretos sobre como a escola 2002.

56
das vezes, a tomada de decisão fica sob a responsabi-
lidade dos professores e/ou do conselho de classe. Isso
EXERCÍCIO COMENTADO faz com que o peso da avaliação fique redobrado e co-
loca o professor no lugar daquele que deve realizar tal
1. (Pref. Gramado/RS - Supervisor Pedagógico – Su- tarefa a partir de critérios previamente estabelecidos, de
perior – FUNDATEC/2015) Sobre o Projeto Político preferência, coletivamente. A avaliação é, portanto, uma
Pedagógico, de acordo com Veiga, analise as seguintes atividade que envolve legitimidade técnica e legitimida-
assertivas: de política na sua realização.
I. É preciso entendê-lo como uma reflexão sobre o coti- Ou seja, quem avalia, o avaliador, seja ele o professor,
diano da escola. o coordenador, o diretor etc., deve realizar a tarefa com
II. O que ele visa é simplesmente um rearranjo da escola. a legitimidade técnica que sua formação profissional lhe
III. A sua construção, entre outras coisas, requer continui- confere. Entretanto, o professor deve estabelecer e res-
dade das ações, descentralização e democratização do peitar princípios e critérios refletidos coletivamente, re-
processo de tomada de decisões. Quais estão corretas? ferenciados no projeto político-pedagógico, na proposta
curricular e em suas convicções acerca do papel social
a) Apenas I. que desempenha a educação escolar. Este é o lado da
b) Apenas I e II. legitimação política do processo de avaliação e que en-
c) Apenas I e III. volve também o coletivo da escola.
d) Apenas II e III. Se a escola é o lugar da construção da autonomia e
e) I, II e III. da cidadania, a avaliação dos processos, sejam eles das
aprendizagens, da dinâmica escolar ou da própria ins-
Resposta: Letra C. Em “c”: Certo – Na Assertiva I con- tituição, não deve ficar sob a responsabilidade apenas
forme Veiga “não é possível que o projeto político pe- de um ou de outro profissional, é uma responsabilidade
dagógico seja aceito pela comunidade escolar como tanto da coletividade, como de cada um, em particular.
um simples documento, como ampliação da burocra- O professor não deve se eximir de sua responsabili-
cia escolar ou como se estivesse desligado do cotidia- dade do ato de avaliar as aprendizagens de seus estu-
no escolar e tampouco é aceitável que os gestores ig- dantes, assim como os demais profissionais devem tam-
norem a importância e a relevância do projeto político bém, em conjunto com os professores e os estudantes,
pedagógico para a organização e democratização da participar das avaliações a serem realizadas acerca dos
escola.” Na assertiva III - conforme afirma Veiga (2003, demais processos no interior da escola. Dessa forma,
p. 277), “a legitimidade de um projeto político-peda- ressaltamos a importância do estímulo à autoavaliação,
gógico está estreitamente ligada ao grau e ao tipo de tanto do grupo, quanto do professor.
participação de todos os envolvidos com o processo Entendendo a avaliação como algo inerente aos pro-
educativo, o que requer continuidade de ações”. cessos cotidianos e de aprendizagem, na qual todos os
sujeitos desses processos estão envolvidos, pretende-
mos, com este texto, levar à reflexão de que a avaliação
na escola não pode ser compreendida como algo à parte,
AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL isolado, já que tem subjacente uma concepção de edu-
cação e uma estratégia pedagógica. Também pretende-
mos estimular a equipe escolar a questionar conceitos já
Este texto tem como propósito propiciar uma reflexão arraigados no campo da avaliação, bem como despertar
sobre aspectos da avaliação escolar que estão presentes para novas e possíveis práticas na avaliação escolar.
no cotidiano da escola. Pensar a avaliação e seus proces- Há a avaliação da aprendizagem dos estudantes, em
sos no âmbito das reflexões acerca do currículo escolar que o professor tem um protagonismo central, mas há
reveste-se de grande importância pelas implicações que também a necessária avaliação da instituição como um
podem ter na formação dos estudantes. todo, na qual o protagonismo é do coletivo dos profis-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Avaliação é um termo bastante amplo. Avaliamos a sionais que trabalham e conduzem um processo com-
todo instante: “o dia estará quente? Que roupa usar? Irá plexo de formação na escola, guiados por um projeto
chover? A decisão de ontem foi a mais acertada? Devo político-pedagógico coletivo. E, finalmente, há ainda a
levar adiante aquele projeto? Assumo este novo compro- avaliação do sistema escolar, ou do conjunto das escolas
misso?” de uma rede escolar, na qual a responsabilidade principal
Mesmo nos processos de avaliação mais simples, é do poder público. Esses três níveis de avaliação não são
sabemos que para tomar determinadas decisões faz-se isolados e necessitam estar em regime de permanentes
necessário que alguns critérios e princípios sejam consi- trocas, respeitados os protagonistas, de forma que se
derados seriamente. Não é o mesmo avaliar a roupa que obtenha legitimidade técnica e política.
iremos usar por conta do clima, se compararmos com a A avaliação, como parte de uma ação coletiva de for-
avaliação que fazemos sobre os rumos de nosso projeto mação dos estudantes, ocorre, portanto, em várias esfe-
de vida. As implicações são bem diferentes. ras e com vários objetivos.
Pois bem, o mesmo acontece na escola. No entan-
to, no espaço escolar, nem sempre as decisões estão nas A avaliação e o papel social da educação escolar
mãos dos mesmos sujeitos: estudantes, professores, di-
retores, coordenadores, pais, responsáveis. Na maioria Que relações se estabelecem?

57
Até que ponto, nós, professores, refletimos sobre nos- formativa e quando ocorre ao final do processo, com a
sas ações cotidianas na escola, nossas práticas em sala de finalidade de apreciar o resultado deste, recebe o nome
aula, sobre a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que de avaliação somativa. Uma não é nem pior, nem melhor
pré-julgamos ou outras situações do cotidiano? Muitas que a outra, elas apenas têm objetivos diferenciados.
vezes, nosso discurso expressa aquilo que entendemos
como adequado em educação e aquilo que almejamos. A concepção de educação e a avaliação
Isso tem seu mérito! Contudo, nossas práticas, imbuídas
de concepções, representações e sentidos, ou seja, reple- Para se instaurar um debate no interior da escola, so-
tas de ações que fazem parte de nossa cultura, de nossas bre as práticas correntes de avaliação, é necessário que
crenças, expressam um “certo modo” de ver o mundo. explicitemos nosso conceito de avaliação. Qual a função
Esse “certo modo” de ver o mundo, que está imbricado da avaliação, a partir do papel da educação escolar na
na ação do professor, traz para nossas ações reflexos de sociedade atual? Às vezes, aquilo que parece óbvio não
nossa cultura e de nossas práticas vividas, que ainda es- o é tanto assim. Para que é feita a avaliação na escola?
tão muito impregnados pela lógica da classificação e da Qual o lugar da avaliação no processo de ensino e apren-
seleção, no que tange à avaliação escolar. dizagem?
Um exemplo diz respeito ao uso das notas escolares Tradicionalmente, nossas experiências em avalia-
que colocam os avaliados em uma situação classificató- ção são marcadas por uma concepção que classifica as
ria. Nossa cultura meritocrática naturaliza o uso das no- aprendizagens em certas ou erradas e, dessa forma, ter-
tas a fim de classificar os melhores e os piores avaliados. mina por separar aqueles estudantes que aprenderam os
Em termos de educação escolar, os melhores seguirão conteúdos programados para a série em que se encon-
em frente, os piores voltarão para o início da fila, refazen- tram daqueles que não aprenderam.
do todo o caminho percorrido ao longo de um período Essa perspectiva de avaliação classificatória e seleti-
de estudos. Essa concepção é naturalmente incorporada va, muitas vezes, torna-se um fator de exclusão escolar.
em nossas práticas e nos esquecemos de pensar sobre o Entretanto, é possível concebermos uma perspectiva de
que, de fato, está oculto e encoberto por ela. avaliação cuja vivência seja marcada pela lógica da inclu-
Em nossa sociedade, de um modo geral, ainda é bas- são, do diálogo, da construção da autonomia, da media-
tante comum as pessoas entenderem que não se pode ção, da participação, da construção da responsabilidade
avaliar sem que os estudantes recebam uma nota pela com o coletivo.
sua produção. Tal perspectiva de avaliação alinha-se com a proposta
Avaliar, para o senso comum, aparece como sinônimo de uma escola mais democrática, inclusiva, que conside-
de medida, de atribuição de um valor em forma de nota ra as infindáveis possibilidades de realização de apren-
ou conceito. Porém, nós, professores, temos o compro- dizagens por parte dos estudantes. Essa concepção de
misso de ir além do senso comum e não confundir avaliar avaliação parte do princípio de que todas as pessoas são
com medir. Avaliar é um processo em que realizar provas capazes de aprender e de que as ações educativas, as es-
e testes, atribuir notas ou conceitos é apenas parte do tratégias de ensino, os conteúdos das disciplinas devem
todo. ser planejados a partir dessas infinitas possibilidades de
A avaliação é uma atividade orientada para o futuro. aprender dos estudantes.
Avalia-se para tentar manter ou melhorar nossa atuação Pode-se perceber, portanto, que as intenções e usos
futura. Essa é a base da distinção entre medir e avaliar. da avaliação estão fortemente influenciados pelas con-
Medir refere-se ao presente e ao passado e visa obter in- cepções de educação que orientam a sua aplicação.
formações a respeito do progresso efetuado pelos estu- Hoje, é voz corrente afirmar-se que a avaliação não
dantes. Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações deve ser usada com o objetivo de punir, de classificar
obtidas com vistas a planejar o futuro. Portanto, medir ou excluir. Usualmente, associa-se mais a avaliação so-
não é avaliar, ainda que o medir faça parte do processo mativa a estes objetivos excludentes. Entretanto, tanto
de avaliação. Avaliar a aprendizagem do estudante não a avaliação somativa quanto a formativa podem levar a
começa e muito menos termina quando atribuímos uma processos de exclusão e classificação, na dependência
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

nota à aprendizagem. das concepções que norteiem o processo educativo.


A educação escolar é cheia de intenções, visa a atingir A prática da avaliação pode acontecer de diferentes
determinados objetivos educacionais, sejam estes relati- maneiras. Deve estar relacionada com a perspectiva para
vos a valores, atitudes ou aos conteúdos escolares. nós coerente com os princípios de aprendizagem que
A avaliação é uma das atividades que ocorre dentro adotamos e com o entendimento da função que a educa-
de um processo pedagógico. Este processo inclui outras ção escolar deve ter na sociedade. Se entendermos que
ações que implicam na própria formulação dos objetivos os estudantes aprendem de variadas formas, em tempos
da ação educativa, na definição de seus conteúdos e mé- nem sempre tão homogêneos, a partir de diferentes vi-
todos, entre outros. A avaliação, portanto, sendo parte de vências pessoais e experiências anteriores e, junto a isso,
um processo maior, deve ser usada tanto no sentido de se entendermos que o papel da escola deva ser o de in-
um acompanhamento do desenvolvimento do estudan- cluir, de promover crescimento, de desenvolver possibi-
te, como no sentido de uma apreciação final sobre o que lidades para que os sujeitos realizem aprendizagens vida
este estudante pôde obter em um determinado período, afora, de socializar experiências, de perpetuar e construir
sempre com vistas a planejar ações educativas futuras. cultura, devemos entender a avaliação como promotora
Quando a avaliação acontece ao longo do processo, com desses princípios, portanto, seu papel não deve ser o de
o objetivo de reorientá-lo, recebe o nome de avaliação classificar e selecionar os estudantes, mas sim o de auxi-

58
liar professores e estudantes a compreenderem de forma Uma pergunta, portanto, que o coletivo escolar ne-
mais organizada seus processos de ensinar e aprender. cessita responder diz respeito às concepções de educa-
Essa perspectiva exige uma prática avaliativa que não ção que orientam sua prática pedagógica, incluindo o
deve ser concebida como algo distinto do processo de processo de avaliação. Qual o entendimento que a es-
aprendizagem. cola construiu sobre sua concepção de educação e de
Entender e realizar uma prática avaliativa ao longo do avaliação?
processo é pautar o planejamento dessa avaliação, bem Há pelos menos dois aspectos sobre os quais a escola
como construir seus instrumentos, partindo das intera- precisa refletir, como parte de sua concepção de edu-
ções que vão se construindo no interior da sala de aula cação. Um diz respeito à exclusão que ela pode realizar,
com os estudantes e suas possibilidades de entendimen- caso afaste os estudantes da cultura, do conhecimento
tos dos conteúdos que estão sendo trabalhados. escolar e da própria escola, pela indução da evasão por
A avaliação tem como foco fornecer informações meio de reprovação, como já foi abordado no texto so-
acerca das ações de aprendizagem e, portanto, não pode bre currículo e cultura.
ser realizada apenas ao final do processo, sob pena de Aqui os processos de avaliação podem atuar para le-
perder seu propósito. Podemos chamar essa perspectiva gitimar a exclusão, dando uma aparência científica à ava-
de avaliação formativa. liação e transferindo a responsabilidade da exclusão para
Segundo Allal (1986), “os processos de avaliação o próprio estudante.
formativa são concebidos para permitir ajustamentos 1. É fundamental transformar a prática avaliativa em
sucessivos durante o desenvolvimento e a experimenta- prática de aprendizagem.
ção do curriculum”. Perrenoud (1999) define a avaliação 2. É necessário avaliar como condição para a mudan-
formativa como “um dos componentes de um dispositi- ça de prática e para o redimensionamento do pro-
vo de individualização dos percursos de formação e de cesso de ensino/aprendizagem.
diferenciação das intervenções e dos enquadramentos 3. Avaliar faz parte do processo de ensino e de apren-
pedagógicos”. dizagem: não ensinamos sem avaliar, não apren-
Outro aspecto fundamental de uma avaliação forma- demos sem avaliar. Dessa forma, rompe-se com a
tiva diz respeito à construção da autonomia por parte do falsa dicotomia entre ensino e avaliação, como se
estudante, na medida em que lhe é solicitado um papel esta fosse apenas o final de um processo.
ativo em seu processo de aprender. Ou seja, a avaliação
formativa, tendo como foco o processo de aprendiza- Outro aspecto diz respeito ao papel esperado dos
gem, numa perspectiva de interação e de diálogo, co- estudantes na escola e o desenvolvimento de sua auto-
loca também no estudante, e não apenas no professor, nomia e auto direção. Neste caso, a avaliação pode ser
a responsabilidade por seus avanços e suas necessida- usada para gerar a subordinação do estudante e não
des. Para tal, é necessário que o estudante conheça os para valorizar seu papel como sujeito de direitos com ca-
conteúdos que irá aprender, os objetivos que deverá al- pacidade para decidir.
cançar, bem como os critérios que serão utilizados para A escola, portanto, não é apenas um local onde se
verificar e analisar seus avanços de aprendizagem. Nessa aprende um determinado conteúdo escolar, mas um es-
perspectiva, a autoavaliação torna-se uma ferramenta paço onde se aprende a construir relações com as “coi-
importante, capaz de propiciar maior responsabilidade sas” (mundo natural) e com as “pessoas” (mundo social).
aos estudantes acerca de seu próprio processo de apren- Essas relações devem propiciar a inclusão de todos e
dizagem e de construção da autonomia. o desenvolvimento da autonomia e auto direção dos es-
A avaliação formativa é aquela em que o professor tudantes, com vistas a que participem como construtores
está atento aos processos e às aprendizagens de seus es- de uma nova vida social.
tudantes. O professor não avalia com o propósito de dar A importância dessa compreensão é fundamental
uma nota, pois dentro de uma lógica formativa, a nota é para que se possa, no processo pedagógico, orientar a
uma decorrência do processo e não o seu fim último. O avaliação para essas finalidades. Entretanto, isso não re-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

professor entende que a avaliação é essencial para dar tira, nem um pouco, a importância da aprendizagem dos
prosseguimento aos percursos de aprendizagem. conteúdos escolares mais específicos e que são igual-
Continuamente, ela faz parte do cotidiano das tare- mente importantes para a formação dos estudantes. Se,
fas propostas, das observações atentas do professor, das por um lado, a escola deve valorizar a capacidade dos
práticas de sala de aula. Por fim, podemos dizer que ava- estudantes de criar e expressar sua cultura, por outro, vi-
liação formativa é aquela que orienta os estudantes para vendo em um mundo altamente tecnológico e exigente,
a realização de seus trabalhos e de suas aprendizagens, as contribuições já sistematizadas das variadas ciências e
ajudando-os a localizar suas dificuldades e suas poten- das artes não podem ser ignoradas no trabalho escolar.
cialidades, redirecionando-os em seus percursos.
A avaliação formativa, assim, favorece os processos A característica processual da avaliação
de autoavaliação, prática ainda não incorporada de ma-
neira formal em nossas escolas. Normalmente, a noção de avaliação é reduzida à me-
Instaurar uma cultura avaliativa, no sentido de uma dição de competências e habilidades que um estudante
avaliação entendida como parte inerente do processo e exibe ao final de um determinado período ou processo
não marcada apenas por uma atribuição de nota, não é de aprendizagem. Vista assim, a avaliação é uma forma
tarefa muito fácil. de se verificar se o estudante aprendeu ou não o conteú-

59
do ensinado. Embora isso possa fazer parte do conceito os juízos negativos de valor passam a comandar a ação
de avaliação, ela é mais ampla e envolve também outras metodológica do professor. Nesses casos, há um con-
esferas da sala de aula. tínuo prejuízo do estudante, pois o preconceito que se
É sabido, por exemplo, que o professor procura res- forma sobre ele termina por retirar as próprias oportuni-
paldo na avaliação para exercer o controle sobre o com- dades de aprendizagem do estudante.
portamento dos estudantes na sala de aula. Isso acontece O acompanhamento dessas situações revela que, ao
porque a sala de aula isolou-se tanto da vida real que os agirem assim, esses professores terminam por afetar ne-
motivadores naturais da aprendizagem tiveram que ser gativamente a autoimagem do estudante, o que repre-
substituídos por motivadores artificiais, entre eles a nota. senta um fator contrário à motivação do aluno para a
Assim, o estudante estuda apenas para ter uma nota e aprendizagem. Podemos dizer que a reprovação oficia-
não para ter suas possibilidades e leitura do mundo am- lizada em uma prova, por exemplo, é de fato, apenas a
pliadas. Isso, é claro, limita os horizontes da formação do consequência de uma relação professor-aluno malsuce-
estudante e da própria avaliação. O poder de dar uma dida durante o processo de ensino-aprendizagem.
nota não raramente é usado para induzir subordinação e Quando o estudante é reprovado em uma situação
controlar o comportamento do estudante em sala. de prova, de fato, ele já havia sido reprovado, antes, no
Além disso, nem sempre o professor avalia apenas o processo. Foi a relação professor-aluno que o reprovou.
conhecimento que o estudante adquiriu em um deter- Isso deve alertar o professor para a necessidade de uma
minado processo de aprendizagem, mas também seus relação bem-sucedida, motivadora e positiva para com o
valores ou atitudes. Dessa forma, ao conceituarmos a estudante durante o processo de aprendizagem, no qual
avaliação escolar, realizada nas salas de aula, devemos se evite o uso de procedimentos e ações que contribuam
levar em conta que são vários os aspectos incluídos nesta para a criação de uma autoimagem negativa.
definição: o conhecimento aprendido pelo estudante e Pode-se afirmar, igualmente, que mesmo nas situa-
seu desenvolvimento, o comportamento do estudante e ções de organização curricular baseada em ciclos e em
seus valores e atitudes. progressão continuada, o fato de se eliminar o poder de
Alguns desses aspectos são avaliados formalmente reprovação dos instrumentos avaliativos não significa
(em provas, por exemplo), mas outros são avaliados in- que não esteja havendo avaliação.
formalmente (nas conversas com os estudantes, no dia-
Tanto os ciclos quanto a progressão continuada, em
-a-dia da sala de aula). Investigar, portanto, como está
algumas situações, permanecem fazendo uso de técni-
ocorrendo a avaliação em sua sala de aula – consideran-
cas informais de avaliação (observações, trabalhos sem
do os aspectos formais e informais – pode ser um bom
começo para aprimorar as práticas avaliativas usadas. critérios muito definidos etc.) inerentes ao processo de
Em decorrência desses aspectos informais, avaliamos ensino-aprendizagem que podem até ser mais perversos
muito mais do que pensamos avaliar. Nas salas de au- que as próprias provas formais, quando usadas com pro-
las, estamos permanentemente emitindo juízos de valor pósito classificatório e excludente.
sobre os estudantes (frequentemente de forma pública). Dessa forma, podemos perceber o quanto é funda-
Esses juízos de valores vão conformando imagens e re- mental avaliar os processos de aprendizagem dos es-
presentações entre professores e estudantes, entre estu- tudantes na escola em ciclos. Como fazer com que os
dantes e professores e entre os próprios estudantes. estudantes aprendam aquilo que não vêm conseguindo
Devemos ter em mente que, em nossa prática, não aprender? É preciso, antes de mais nada, avaliar. Depois,
estamos avaliando nossos estudantes e crianças, mas as traçar estratégias e maneiras de intervenção junto aos
aprendizagens que eles realizam. Entre o formal e o in- estudantes que favoreçam a aprendizagem.
formal na avaliação vimos que todo processo avaliativo Um equívoco que parece persistir, ainda entre par-
implica na formulação de juízos de valor ou em aprecia- te dos educadores, desde as primeiras experiências com
ções. É próprio do ser humano projetar o seu futuro e, ciclos básicos e promoção automática no Brasil, é o de
depois, comparar com o que conseguiu, de fato, realizar que combater a reprovação implica em não avaliar o pro-
e emitir um juízo de valor. Pode-se dizer que, nesse sen- cesso de ensino-aprendizagem dos estudantes, em não
tido, a avaliação faz parte do ser humano.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

fazer provas, em não fazer testes, em não atribuir notas


Porém, é importante chamar a atenção para o fato de ou conceitos que reflitam tal processo.
que se o juízo de valor é algo inerente ao ser humano, o Um outro equívoco ainda parece relacionar-se com
uso que é feito de tal juízo, com o objetivo de classificar essa questão: há uma máxima de que os estudantes, ao
e excluir, não é. Em páginas anteriores, vimos como isso não serem reprovados, não aprendem e saem da escola
depende da concepção de educação que se quer utilizar. sem aprender o básico de leitura, escrita e matemática.
Na sala de aula, boa parte das atividades que vão sen- Diz o senso comum que “os estudantes estão saindo da
do realizadas tende a gerar juízos de valor por parte de escola sem aprender, porque não são avaliados e não são
professores e estudantes. Não é apenas em uma situação reprovados!” Tal equívoco nos remete a outra máxima, que
de prova que os juízos se desenvolvem tendo por base as já faz parte de nossa cultura escolar: a de que a reprovação
respostas dadas pelos estudantes.
é garantidora de uma maior qualidade do ensino. Podería-
Esses juízos de valor interferem (para o bem ou para
mos reduzir toda a riqueza do ato de educar ao momento
o mal) nas relações entre os professores e os estudan-
da promoção ou retenção dos estudantes?
tes. Não são raras as situações em que os professores
Ora, o que viabiliza uma melhor qualidade de ensino
começam a orientar suas estratégias metodológicas em
são professores bem formados e informados; condições
função de seus juízos de valor sobre os estudantes, con-
de trabalho; recursos materiais; escolas arejadas, claras
figurando uma situação delicada, principalmente quando
e limpas, com mobiliário adequado, com espaços de es-

60
tudo, de pesquisa e prazer para professores e estudan- não definitivos. O que o estudante demonstrou não co-
tes, sempre, é claro, fazendo uso dessas condições com nhecer em um momento poderá vir a conhecer em outro.
seriedade e responsabilidade, de maneira a garantir a A questão do tempo de aprendizagem de cada estudan-
aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes. te é um fator, na maioria das vezes, pouco levado em
consideração.
O cotidiano e suas possíveis práticas de avaliação É importante ressaltar ainda que a simples utiliza-
das aprendizagens ção de instrumentos diferenciados de provas e testes
(memorial, portfólio, caderno de aprendizagens etc.) já
Inúmeras práticas avaliativas permeiam o cotidiano propicia uma vivência de avaliação distinta da tradicio-
escolar. Em uma mesma escola, ou até em uma sala de nal. O que queremos dizer é que, muitas vezes, a prática
aula, é possível identificarmos práticas de avaliação con- concreta leva a uma posterior mudança de concepção
cebidas a partir de diferentes perspectivas teóricas e con- de avaliação. A descrição dos instrumentos será colocada
cepções pedagógicas e de ensino.
mais adiante. Retomemos agora a discussão acerca de
Isso é natural, uma vez que nossas práticas incorpo-
sua construção.
ram diferentes vivências e modelos, bem como são per-
A construção dos instrumentos, quando é feita a
meadas por nossas crenças e princípios, nem sempre tão
coerentes assim. A escola, ao longo das décadas, vem partir de programas e objetivos gerais, toma como refe-
passando por inúmeras transformações do ponto de vis- rência tais programas e não as aprendizagens reais dos
ta das concepções pedagógicas e correntes teóricas. estudantes ou do grupo. Se, por um lado, isso faz com
A cada período, podemos considerar que a escola in- que a questão do tempo de aprendizagem específico
corpora determinadas práticas, rejeita outras, perpetua de cada estudante seja um fator quase inexistente na
outras tantas. No entanto, é importante perceber que, elaboração desse tipo de instrumento, por outro, é um
mais do que defender uma ou outra corrente teórica, importante fator de geração de equidade entre os obje-
a busca pela coerência nas ações educativas deve ser tivos e conteúdos que se espera que as escolas ensinem
o norte do professor. Por exemplo, se, como professor, a seus estudantes. Sem isso, correríamos o risco de que
propicio sempre estudos em grupo em sala de aula, no cada professor fixasse o seu próprio conteúdo ou nível
momento de avaliar também devo manter uma certa coe- de aprendizagem para seus estudantes. Dessa forma, a
rência com essa metodologia implementada em sala de coleta dos dados obtidos com os instrumentos que se re-
aula. Se mobilizo os estudantes a estarem sempre identifi- ferenciam nos programas gerais de ensino revelará aqui-
cando informações e pouco promovo situações de análise lo que os estudantes aprenderam ou não aprenderam.
e reflexão, tal competência não será cobrada no momento Voltaremos a falar desse tipo de instrumento quando
da avaliação. Primeiro ela terá que ser vivenciada pelos es- examinarmos a avaliação de sistemas de ensino.
tudantes no seu nível de desenvolvimento. O professor, porém, não necessita e não deve limitar-
-se a esse tipo de instrumento. Ele pode construir outros
Os instrumentos que sejam mais sensíveis ao estágio de desenvolvimento
específico de seus alunos, confiando que tais instrumen-
É importante reproduzir aqui uma fala recorrente em tos proporcionarão a dimensão da possibilidade, do “vir
nossas salas de aula. Nossas falas representam nossas a saber”, revelando melhor o papel inclusivo da escola e
concepções e ideias sobre as coisas e o mundo. Pois bem, da educação, a crença no potencial do aprendizado do
uma professora, em dia de prova, muitas vezes diz para
estudante.
sua turma: “hoje faremos uma avaliação!” Essa fala traz
Se bem planejados e construídos, os instrumentos
uma incorreção conceitual, comum em nosso cotidiano
(trabalhos, provas, testes, relatórios, portfólios, memo-
escolar, e importante de ser refletida. Se a avaliação é um
processo que não se resume a medir ou verificar apenas, riais, questionários etc.) têm fundamental importância
como pode ser feito em um dia? A fala adequada da pro- para o processo de aprendizagem ainda que não devam
fessora deveria ser: “Hoje, vamos fazer um exercício que ser usados apenas para a atribuição de notas na perspec-
servirá de base para a avaliação de vocês!”. tiva de aprovação ou reprovação dos estudantes.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Ao falarmos de instrumentos utilizados nos proces- O que significa um instrumento de avaliação bem ela-
sos de avaliação, estaremos falando das tarefas que são borado? Certamente, copiar tarefas de livros didáticos ou
planejadas com o propósito de subsidiar, com dados, a planejar atividades, sem se ter a clareza do que estariam
análise do professor acerca do momento de aprendiza- objetivando, não são boas estratégias para a elaboração
gem de seus estudantes. de tais instrumentos.
Há variadas formas de se elaborar instrumentos. Eles
podem ser trabalhos, provas, testes, relatórios, interpre- Um exemplo de prática avaliativa inadequada pode
tações, questionários etc., referenciados nos programas ser visto quando uma tarefa é retirada de um livro di-
gerais de ensino existentes para as redes escolares e que dático para servir de questão de teste ou prova. Muitas
definem objetivos e conteúdos para uma determinada vezes, uma boa atividade de um livro didático não se en-
etapa ou série, ou podem ser referenciados no conhe- quadra no propósito de avaliar a aprendizagem realizada
cimento que o professor tem do real estágio de desen- por um estudante, simplesmente porque ela não foi pen-
volvimento de seus alunos e do percurso que fizeram na sada com esse fim.
aprendizagem. Um instrumento mal elaborado pode causar distor-
É importante ressaltar também que os resultados ad- ções na avaliação que o professor realiza e suas implica-
vindos da aplicação dos instrumentos são provisórios e ções podem ter consequências graves, uma vez que todo

61
ato avaliativo envolve um julgamento que, no caso da Consequentemente, o julgamento de sua produção
educação escolar, significa, em última instância, aprovar e o retorno que lhe será oferecido levarão em conta o
ou reprovar. processo desenvolvido pelo estudante e não apenas os
A elaboração de um instrumento de avaliação ainda de- critérios estabelecidos para realizar a avaliação. A avalia-
verá levar em consideração alguns aspectos importantes: ção formativa é realizada ao longo de todo o processo de
a) a linguagem a ser utilizada: clara, esclarecedora, ensino e aprendizagem.
objetiva; O professor, trabalhando na perspectiva da avaliação
b) a contextualização daquilo que se investiga: em formativa, não está preocupado no dia-a-dia em atribuir
uma pergunta sem contexto podemos obter inú- notas aos estudantes, mas em observar e registrar seus
meras respostas e, talvez, nenhuma relativa ao que, percursos durante as aulas, a fim de analisar as possibi-
de fato, gostaríamos de verificar; lidades de aprendizagem de cada um e do grupo como
c) o conteúdo deve ser significativo, ou seja, deve ter um todo. Pode, dessa forma, planejar e replanejar os pro-
significado para quem está sendo avaliado; cessos de ensino, bem como pode planejar as possibi-
d) estar coerente com os propósitos do ensino; lidades de intervenção junto às aprendizagens de seus
e) explorar a capacidade de leitura e de escrita, bem estudantes.
O registro da avaliação formativa pode ser feito de di-
como o raciocínio.
ferentes maneiras. O professor deve encontrar uma for-
ma de documentar os dados que for coletando ao lon-
Podemos fazer algumas considerações em relação
go do processo. A periodicidade de coleta desses dados
aos instrumentos que podem ser utilizados ou construí-
também deve ser realizada de acordo com a realidade
dos com a finalidade de acompanhar a aprendizagem
de cada grupo e do contexto em geral (possibilidades do
dos estudantes, em vez de fazer uma medição pontual
professor, turma, escola).
do seu desempenho.
O importante não é a forma, mas a prática de uma
Comumente já encontramos, nas práticas da Educação
concepção de avaliação que privilegia a aprendizagem.
Infantil, instrumentos que revelam um processo de avalia-
Em uma prática de avaliação formativa, o instrumento de
ção muito voltado ao acompanhamento das aprendiza-
registro do professor deve ter o propósito de acompa-
gens e desenvolvimento das crianças, ou seja, uma ava-
nhar o processo de aprendizagem de seus estudantes.
liação incorporada ao cotidiano e ao planejamento diário.
A finalidade é registrar este acompanhamento, os
Sabemos também que, na Educação Infantil, os (as)
avanços e recuos dos estudantes, a fim de informar o
professores (as), de um modo geral, já realizam uma ava-
professor acerca do processo, para que, assim, possa
liação muito próxima da formativa, uma vez que exercem
mediar e traçar estratégias de ação adequadas a cada
uma avaliação mais contínua do processo das crianças,
estudante e às suas potencialidades.
desvinculada da necessidade de pontuá-la com indica-
Outros instrumentos de registro podem e devem coe-
dores numéricos ou de outra ordem, para fins de apro-
xistir: planilhas de notas, relatórios do desempenho dos
vação. As práticas avaliativas na Educação Infantil, de um
estudantes, anotações diárias das aulas, diários do pro-
modo geral, primam pela lógica da inclusão das crianças
fessor, no qual ele anota o que fez, o que foi produtivo,
com vistas à sua permanência e continuidade nas cre-
como poderia ser melhorado, enfim, há uma infinidade
ches, pré-escolas e escolas de Ensino Fundamental.
de possibilidades de registro da prática e do crescimen-
Podemos considerar também que, tradicionalmente,
to dos estudantes e crianças. Na Educação Infantil é co-
nossas experiências, principalmente no Ensino Funda-
mum a prática de relatórios discursivos acerca dos pro-
mental, são marcadas por uma avaliação classificatória,
cessos das crianças. Os professores costumam registrar
seletiva e, muitas vezes, excludente, como já vimos.
sob forma de relatórios tais processos. Nesses registros,
No entanto, como tornar a avaliação dos processos
é comum os professores relatarem considerações a res-
de aprendizagem dos estudantes mais interativa, dialógi-
peito do processo de desenvolvimento e aprendizagem
ca, formativa? Vimos que a avaliação formativa é aquela
de cada criança individualmente, do coletivo (da turma
que orienta os estudantes para realização de seus tra-
como um todo) e do seu próprio trabalho. Ao avaliar seu
balhos e de suas aprendizagens, ajudando-os a localizar
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

processo de ensino, o professor poderá considerar mais


suas dificuldades e suas potencialidades, redirecionan-
amplamente o processo de aprendizagem de cada crian-
do-os em seus percursos.
ça e do coletivo. Portanto, é fundamental considerar que
Nesse sentido, como já vimos, um aspecto funda-
a avaliação das ações de ensino está diretamente relacio-
mental de uma avaliação formativa diz respeito à cons-
nada à avaliação das aprendizagens.
trução da autonomia por parte do estudante, na medida
Finalmente, há ainda a possibilidade de se ter instru-
em que lhe é solicitado um papel ativo em seu processo
mentos destinados a informar aos estudantes e respon-
de aprender.
sáveis, bem como às secretarias de educação acerca da
Além disso, a avaliação formativa considera em que
aprendizagem dos estudantes. São os registros do tipo
ponto o estudante se encontra em seu processo de apren-
boletins, relatórios quantitativos ou qualitativos. Estes
dizagem. Para Villas Boas (2004), a avaliação formativa é
são resumos daquilo que foi coletado ao longo de um
criteriada, ou seja, toma como referenciais os objetivos
período e expressam não o processo, mas o resultado
e os critérios de avaliação, mas ao mesmo tempo toma
do mesmo.
como referência o próprio estudante. Isso significa que a
Cabe-nos refletir acerca do papel desses registros.
análise de seu progresso considera aspectos tais como o
Seria coerente com a proposta de uma educação voltada
esforço despendido, o contexto particular do seu trabalho
para a construção da cidadania e da autonomia, que os
e o progresso alcançado ao longo do tempo.
estudantes, por exemplo, só tomassem contato com o fi-

62
nal de seu processo de aprendizagem, depois de findo o de memórias”. Ao final do ano ou ciclo, o estudante terá
bimestre, trimestre, semestre ou ano? Estariam acompa- um dossiê de sua trajetória e poderá ter um acervo de
nhando seu processo e podendo, dessa forma, ser mais material rico para lhe auxiliar nas suas próximas etapas.
autônomos e responsáveis pelo mesmo? Segundo Villas Boas (2004, p.38), “o portfólio é um
No caso da Educação Infantil, essas informações acer- procedimento de avaliação que permite aos alunos par-
ca da avaliação da aprendizagem, ao longo do processo ticipar da formulação dos objetivos de sua aprendizagem
educativo, geralmente são apresentadas em forma de e avaliar seu progresso. Eles são, portanto, participantes
relatórios de grupo e relatórios individuais, ou ainda, por ativos da avaliação, selecionando as melhores amostras
meio de reuniões coletivas ou individuais com pais e/ou de seu trabalho para incluí-las no portfólio”. O portfólio
responsáveis pelas crianças. pode constituir-se, tanto para estudantes quanto para
professores, como uma coleção dos trabalhos que con-
Práticas que podem ser incorporadas ao Ensino ta a história de seus esforços, progressos, desempenho,
Fundamental. criações, dúvidas etc. Nesse sentido, o portfólio pode ser
considerado um instrumento de registro que serve para
Dentro da perspectiva de uma avaliação contínua, a avaliação dos processos.
cumulativa, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- Ao selecionar os trabalhos que comporão o portfólio,
cional recomenda às Escolas de Ensino Fundamental, em professores e estudantes devem fazer uma autoavalia-
ção crítica e cuidadosa, a partir dos objetivos estabele-
seu artigo 24:
cidos, dos propósitos de cada tarefa ou atividade que
“V - A verificação do rendimento escolar observará os
estará compondo o instrumento. Podemos ainda dizer
seguintes critérios:
que, além de servir como instrumento de autoavaliação e
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho
de registro da memória dos processos, o portfólio pode
do aluno, com prevalência dos aspectos qualita- ser um instrumento de comunicação com os pais e/ou
tivos sobre os quantitativos e dos resultados ao responsáveis. É prática corrente, na Educação Infantil, as
longo do período sobre os de eventuais provas crianças rememorarem as tarefas que elaboraram duran-
finais...” te um período, selecionarem e colocarem essas tarefas
A partir da recomendação legal, estaríamos utilizando em uma pasta que será enviada para casa, a fim de que
os instrumentos de registro de informação do processo os responsáveis possam ver o que foi realizado no perío-
de aprendizagem mais adequados? do. Ou seja, aquilo que não sabiam bem e agora já sa-
Lembramos ainda o quanto é fundamental uma prá- bem. Entendemos que tal prática possa ser ressignificada
tica que tenha memória. Memória que só pode existir a para os outros níveis de ensino.
partir do registro dos processos, das descobertas, das Um outro instrumento que facilita a prática de uma
tentativas, dos percursos das turmas. Os conhecimentos avaliação formativa é o Caderno de Aprendizagens, um
construídos pelos professores ao longo de sua prática, caderno no qual os estudantes se depararão com suas
os instrumentos elaborados, os planejamentos feitos, as dúvidas e possibilidades de avanço; um caderno de es-
atividades realizadas, tudo isso registrado significa a legi- tudos paralelos, digamos assim.
timação de um saber elaborado a partir da prática. Pode ser uma iniciativa do próprio estudante ou
Isso fica bastante evidente quando nos reportamos à uma prática a ser incorporada pelo professor em seu
Educação Infantil, pois a LDB diz em seu Art. 31 que “na planejamento.
Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acom-
panhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o O Caderno de Aprendizagens pode ser utilizado
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino em duas situações:
Fundamental”.
Assim sendo, constitui-se um processo contínuo e 1. Atividades de acompanhamento dos conteú-
abrangente que considera a criança em sua integralida- dos escolares
São atividades com o propósito de superar as difi-
de. É considerada como parte inerente do processo de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

culdades e dúvidas que tenham ficado dos conteúdos


formação e, portanto, deve ser parâmetro para o desen-
já estudados nas aulas.
volvimento de todo o trabalho pedagógico na Educação
Podem ser atividades de áreas variadas, bem como
Infantil.
de apenas uma área. Essa prática pode orientar uma
Um procedimento de avaliação que cumpre a função
maior reflexão quanto ao conteúdo estudado e quanto
de ser também instrumento de registro e que propicia a
às aprendizagens que o estudante vem realizando.
memória dos processos de ensino e de aprendizagem,
tanto para estudantes, quanto para professores, é o port- 2. Registros Reflexivos
fólio. Os registros reflexivos têm por objetivo servir de au-
O portfólio é uma tarefa de suma importância para os toavaliação para os estudantes. Podem ser registrados
estudantes e crianças, pois os coloca em contato com sua os caminhos que o estudante fez para sanar suas dú-
aprendizagem constantemente. vidas, para compreender aquilo que ainda não sabia e
Além disso, também é um instrumento de avaliação agora já sabe, as dúvidas que ainda permanecem.
importante, pois serve para valorizar seu trabalho, seu Acreditamos que refletir sobre sua própria aprendi-
crescimento e suas aprendizagens. No portfólio, os estu- zagem faz com que o estudante adquira uma maior res-
dantes deixam registrado de maneira concreta o seu ca- ponsabilidade sobre sua escolaridade. Porém, responsa-
minho ao longo da escolaridade. Funciona como “um baú bilidades são aprendidas, construídas.

63
Somente uma prática constante de reflexão e in- não favorece o aprendizado e que não está coerente com
corporada como algo natural ao processo pode, com o nosso discurso atual? Por que insistimos em uma avaliação
tempo, levar a uma mudança de postura por parte dos que coloca todo o processo nas mãos do professor, exi-
estudantes. mindo assim o estudante de qualquer responsabilidade?
Um outro instrumento de avaliação pode ser o Memo- Ainda hoje, apesar de nossos discursos pedagógicos
rial. Em que consiste e qual seu propósito? O Memorial terem avançado bastante, insistimos em uma avaliação
se constitui em uma escrita livre do estudante acerca de que não favorece o aprendizado, pois é concebida como
suas vivências ao longo do ano. Devem ser registrados os algo que não se constitui como parte do processo de
avanços, os receios, os sucessos, os medos, as conquis- aprendizagem, mas apenas como um momento de ve-
tas, as reflexões, sobre todo o processo experienciado. rificação.
O propósito do memorial é fazer com que o estudan- Em uma concepção de educação cujo foco do pro-
te tenha um momento de reflexão não apenas de suas cesso de ensino e aprendizagem seja o professor, há
aprendizagens relativas aos conteúdos específicos, como coerência com uma prática de avaliação cujos critérios e
já faz no Caderno de Aprendizagens, mas que possa re- expectativas estejam somente a cargo do professor. No
fletir sobre seu compromisso, seu envolvimento e em que entanto, orientar a avaliação para uma prática formativa,
este está contribuindo para seu crescimento e o cresci- contemplando a autoavaliação, torna-se um pressuposto
mento do grupo. É no memorial que o estudante exercita para avançarmos em direção a uma necessária coerência
sua capacidade reflexiva sobre sua atuação, empenhos com uma concepção mais atual de ensino e aprendiza-
e compromisso consigo, com os colegas e professores. gem.
Escrever o Memorial também cumpre o propósito de Os processos de autoavaliação podem e devem ser
fazer com que o estudante desenvolva sua capacidade individuais e de grupo. Não devem ficar restritos ape-
de se expressar por um texto escrito, pois sabemos da nas aos aspectos mais relativos a atitudes e valores. Os
fundamental importância do estudante saber registrar, estudantes, em todos os níveis de ensino, devem refletir
em um texto escrito, suas ideias de forma organizada, sobre seus avanços não só relativos à sua socialização,
clara, coerente, desenvolta e correta, no sentido estrito bem como sobre aqueles relativos às suas aprendizagens
do uso da língua escrita. específicas.
Como desenvolver esse instrumento na Educação Ter clareza sobre o que é esperado dele é o primeiro
Infantil? Os mesmos propósitos podem ser trabalhados passo para que o estudante possa realizar sua autoava-
na Educação Infantil. As crianças podem falar sobre suas liação. Como poderia saber se estou aprendendo o que
conquistas, dúvidas, sucessos, medos. Podem registrar a deveria, da forma como deveria, se não sei o que vou
partir de desenhos, painéis, mímicas etc. As professoras
aprender? Todos nós, para podermos fazer uma análise
podem gravar, escrever pelas crianças, arquivar os regis-
de nossos potenciais e necessidades, em primeiro lugar
tros.
devemos conhecer o que vamos aprender. A autoavalia-
Para sintetizar, são aspectos importantes de uma prá-
ção ainda não faz parte da cultura escolar brasileira.
tica de avaliação formativa: utilização de instrumentos de
Entretanto, se quisermos sujeitos autônomos, críticos,
avaliação diferenciados; autoavaliação que leve a uma
devemos ter consciência de que tal prática deve ser in-
autorreflexão e maior responsabilidade sobre sua pró-
corporada ao cotidiano dos planejamentos dos profes-
pria aprendizagem, retirando das mãos do professor tal
sores, do currículo, por fim.
responsabilidade; utilização de diferentes formas de re-
gistro da aprendizagem dos estudantes; uma forte con- Isso, na escola, se traduz em conhecer não só o pro-
cepção de que se avalia, especialmente, para dar conti- grama de ensino do ciclo, etapa ou série, mas principal-
nuidade à aprendizagem dos estudantes e crianças e não mente, as expectativas dos professores, as nossas pró-
para medir ou dar notas. prias, refletir sobre por que frequentar a escola, sobre
o que é mais importante aprender e sobre aquilo que
A autoavaliação queremos conhecer.
Depois, para além disso, é importante que o professor
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Algumas práticas que levariam a uma maior autono- propicie uma prática constante de autoavaliação para os
mia e compromisso dos estudantes, a um diálogo mais estudantes, que se torne uma rotina, incorporada ao pla-
profícuo entre os sujeitos da aprendizagem, à constru- nejamento, com instrumentos elaborados para esse fim
ção do conhecimento de forma mais criativa e menos e, especialmente, que os resultados obtidos da autoa-
mecânica ainda continuam distanciadas do cotidiano da valiação sejam utilizados, seja em conversas individuais,
maioria de nossas escolas. Ainda não incorporamos em tarefas orientadas ou exercícios de grupo. O processo de
nossa prática cotidiana, por exemplo, a autoavaliação do avaliação, seja ou não autoavaliação, não se encerra com
ensino (feita pelo professor) e a autoavaliação da apren- a aplicação de um instrumento e com a análise dos resul-
dizagem (feita pelo aluno). Na maioria das vezes, quando tados obtidos. Avaliar implica em tomar decisões para o
esta é realizada, aparece de forma assistemática ou ape- futuro, a partir desses resultados.
nas em determinados momentos do ano letivo, quase A autoavaliação quando realizada no grupo significa
que separada do processo. verificar e avaliar, no coletivo, se os propósitos estabe-
A autoavaliação ainda não se tornou um hábito em lecidos com o grupo estão sendo contemplados. Nova-
nossas salas de aula. Se é papel da escola formar sujeitos mente, coloca-se a situação do grupo ter conhecimento
autônomos, críticos, por que ainda não incorporamos tal daquilo que é esperado dele, da construção coletiva de
prática? Por que ainda insistimos em uma avaliação que metas e regras. A partir daí, pode-se então, fazer uma

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autoavaliação dos processos do grupo, seja em termos O conselho existe para que as decisões sejam com-
atitudinais, seja em relação aos conhecimentos construí- partilhadas. Mas como compartilhar decisões, se não
dos coletiva e individualmente. estivermos a par de todo o processo, desde seu plane-
A autoavaliação deve favorecer ao estudante a autor- jamento?
reflexão acerca de sua postura, suas atitudes individuais e
no grupo, seu papel no grupo, seus avanços, seus medos Outros espaços de avaliação
e conquistas. Deve ajudar na superação das dificuldades
de aprendizagem, naturais a todo e qualquer processo Embora tenhamos privilegiado o tratamento das
de aprender. questões relativas à avaliação da aprendizagem do es-
tudante, portanto, com foco na relação professor-estu-
O conselho de classe dante, a sala de aula não é o único espaço em que os
processos devem ser avaliados. Muito do que o professor
Outro aspecto diretamente relacionado à avaliação consegue ou não em seu local de trabalho depende de
diz respeito ao conselho de classe. Esse espaço precisa fatores que estão presentes no âmbito da escola e do
ser ressignificado e a sua real função resgatada. Existiria sistema de ensino. Tais fatores ou facilitadores precisam
espaço mais rico para a discussão dos avanços, progres- igualmente ser avaliados como parte integrante da expli-
sos, necessidades dos estudantes e dos grupos? Existi- cação das conquistas e fracassos que possam ocorrer no
ria espaço mais privilegiado de troca entre professores âmbito da sala de aula. Esses outros espaços possuem
que trabalham com os mesmos estudantes para traçar seus próprios procedimentos de avaliação.
estratégias de atuação em conjunto que favoreçam os O espaço mais próximo da sala de aula é o espaço
processos de aprender? Não seria o conselho de classe, da escola como um todo. A escola é uma organização
o momento no qual deveríamos estudar os desafios de- complexa com múltiplos atores e interesses.
correntes da prática? Por fim, o conselho de classe tam- A avaliação da escola é chamada de avaliação insti-
bém ajudaria a resgatar a dimensão coletiva do trabalho tucional. Nesta, o ponto de apoio é o projeto político-
docente. No entanto, o conselho de classe, em boa parte -pedagógico da escola construído coletivamente e que
das escolas, ou tornou-se uma récita de notas e concei- deve orientar o conjunto dos profissionais envolvidos no
tos, palco de lamúrias e reclamações ou, simplesmente, processo de formação dos estudantes.
O projeto político-pedagógico deve fixar indicadores
inexiste. Acontecendo dessa forma, o conselho de classe
a serem alcançados pelo coletivo da escola. Indicadores
coaduna-se com a perspectiva da avaliação classificatória
não são padrões a serem obedecidos cegamente, mas
e seletiva, perdendo seu potencial.
marcas que o coletivo da escola espera atingir e para
O espaço do conselho de classe poderia estar desti-
as quais se organiza. Pode envolver a fixação de índices
nado a traçar estratégias para as intervenções pedagógi-
menores de reprovação, índices maiores de domínio de
cas com os estudantes, com os grupos. Poderia também
leitura ou outro conteúdo específico, expectativas de
se constituir em espaço de estudo e discussão acerca de melhoria do clima organizativo da escola etc. Pode en-
questões teóricas que ajudariam na reflexão docente so- volver ainda a obtenção de uma melhor articulação com
bre os desafios que o cotidiano escolar nos impõe: vio- a comunidade local, ou a luta por demandas a serem fei-
lência escolar, estudantes com necessidades educativas tas ao poder público e que sejam vitais para o melhor
especiais, as formas e procedimentos de avaliação dos funcionamento da escola.
professores, construção coletiva de ações que levariam a A avaliação institucional é também uma forma de
uma maior qualidade do trabalho pedagógico, avaliação permitir a melhor organização do coletivo da escola com
das metas e princípios estabelecidos no projeto político vistas a uma gestão mais democrática e participativa que
pedagógico da escola e sua concretização junto aos es- permita à coletividade entender quais os pontos fortes e
tudantes e às turmas, formas de relacionamento da esco- fracos daquela organização escolar, bem como mobilizar,
la com as famílias etc. criar e propor alternativas aos problemas.
Como transformar o conselho de classe em um mo- Finalmente, ainda existe o espaço do próprio sistema
mento de integração e discussão do processo pedagó- ou rede escolar, enquanto o conjunto das escolas per-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

gico? É importante lembrar que para ser um espaço de tencentes a este. Dentre as várias formas de avaliação
discussão coletiva, é importante que os professores pla- que esta instância comporta, destacamos a avaliação de
nejem suas ações e práticas de forma coletiva, desde o rendimento do conjunto dos estudantes pertencentes a
início. Como traçar estratégias de encaminhamento con- uma rede de ensino ou a chamada avaliação de sistema.
juntas se as ações não são planejadas em conjunto? Aqui, além do rendimento dos alunos, são feitas avalia-
ções de fatores associados a tais rendimentos e pesqui-
Para isso, o conselho de classe, no ensino funda- sadas as características das escolas que podem facilitar
mental, deve ser convocado periodicamente, visto como ou dificultar o trabalho do professor e a obtenção dos
momento de interação entre professores, planejamento, resultados esperados pelos alunos.
estudo e decisões acerca de como trabalhar com as di- Essa avaliação, apesar de ser externa à escola, não
ficuldades e as possibilidades apresentadas pelos estu- necessariamente tem que ser externa à rede, ou seja,
dantes. O conselho não deve mais ser entendido como preparada fora da rede avaliada. Ela pode ser construí-
momento de fechamento de notas e decisões acerca da da pelas secretarias de educação de forma a envolver as
aprovação ou reprovação de alunos. É também um espa- escolas e os professores no próprio processo de elabora-
ço privilegiado para o resgate da dimensão coletiva do ção da avaliação, de maneira que esta seja realizada com
trabalho docente. legitimidade técnica e política.

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Os resultados obtidos na avaliação de sistema devem FIGARI (1996) afirma que, nessa acepção mais alar-
ser enviados às escolas para serem usados, tanto na sua gada de avaliação educacional há a noção de estrutura
avaliação institucional, como pelo professor na avaliação que define realidades diferentes: as macroestruturas (os
da aprendizagem dos alunos. sistemas educacionais), as mesoestruturas (as escolas) e
E por fim, temos os sistemas de avaliações nacionais as microestruturas (as salas de aulas).
como SAEB, Prova Brasil, Enem, Enade, que passaram a No espaço da macro e da mesoestrutura, a avaliação
ser implementados no Brasil ainda nos anos 90 e que geralmente consiste no processo de observação e inter-
cumprem a função de traçar para professores, pesqui- pretação dos resultados da aprendizagem que objetiva
sadores e para a sociedade, em geral, um panorama da orientar as decisões necessárias ao bom funcionamento
situação da educação no país, em seus diversos níveis de da escola, dos sistemas educacionais e também subsidiar
ensino. Tais sistemas cumprem um papel social impor- a formulação de políticas públicas.
tante, na medida em que têm como propósito dar sub- Na mesma linha de raciocínio, Almerindo Afonso
sídios para a construção de uma escola de melhor quali- (2003) analisa a avaliação educacional numa perspectiva
dade. Os resultados dessas grandes avaliações devem ser sociológica, nos seguintes níveis: micro, meso, macro e
amplamente divulgados e debatidos nas escolas, redes, mega. A perspectiva de avaliação defendida pelo autor
meios de comunicação para que, de fato, se tornem um entende que a “escola é confrontada com dimensões
instrumento de democratização do sistema educacional éticas, simbólicas, políticas, sociais e pedagógicas que
brasileiro. devem ser consideradas como um todo por quem tem
especiais responsabilidades na administração da educa-
AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL ção quer em nível do Estado, quer em nível municipal e
local, quer em nível da própria unidade escolar”. (AFON-
Na palavra “avaliação” estão contidos os termos “va- SO, 2003, p. 49).
lor” e “ação”, circunstância que sugere a imprescindi- O nível microssociológico da avaliação ocorre no âm-
bilidade da concepção valorativa da ação educacional. bito da sala de aula, é a avaliação da aprendizagem, de
CASALI (2007, p.10) a define como “um saber situar co- responsabilidade do docente. Ela deve ter caráter forte-
tidianamente, numa certa ordem hierárquica, o valor de mente formativo, ser contínua e baseada na reflexão do
algo enquanto meio (mediação) para a realização da vida processo ensino-aprendizagem.
do(s) sujeitos(s) em questão, no contexto dos valores cul- O nível mesossociológico da avaliação é aquele que
turais e, no limite, dos valores universais.” envolve a análise de uma instituição escolar na sua to-
Nesse fanaite, avaliar é reconhecer ou atribuir um va- talidade, ou seja, engloba todos os componentes do
lor. Em se tratando de educação, tal atividade se tradu- processo educacional: gestão e organização da escola,
ziria no esforço de se adotar uma postura radicalmente processo ensino-aprendizagem, currículo, qualificação
docente, infraestrutura escolar, resultados educacionais,
ética e epistemológica no processo de ensino e (ad)mi-
perfil socioeconômico dos alunos, ação da escola com a
nistração do saber.
sociedade, participação dos pais, entre outros aspectos
Tal como os valores, os processos avaliativos na edu-
da escola.
cação são histórica e culturalmente construídos e se
O nível macrossociológico da avaliação é aquele de-
prestam não como fins em si mesmo, mas como referên-
senvolvido em âmbito nacional, por organismos externos
cias mediadoras de ações concretas, isto é, como meios
à escola, e tem como objetivo verificar a qualidade do
(recursos, instrumentos) de valoração dos resultados ob-
ensino e da educação no país. No Brasil há o INEP – Ins-
tidos.
tituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, que
Existem três âmbitos de alcance dos valores, logo,
coordena os processos de avaliação externa às escolas.
das avaliações: “há valores para um sujeito, há valores
São exemplos desse tipo de avaliação a Prova Brasil, o
para uma cultura, há valores para a humanidade” (CA-
SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica, o ENEM
SALI, 2007). Dito de outro modo: o singular, o parcial, o
– Exame Nacional do Ensino Médio.
universal. A avaliação se perfaz, portanto, como medida e
O nível megassociológico da avaliação é aquele de-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

referência de valor para um, dois, ou para os três âmbitos


senvolvido por organismos internacionais que buscam fi-
de reflexão científica (CASALI, 2007, p. 13). Ela se refere à
xar padrões de desempenho, de referência para a criação
determinação do mérito ou do valor de um dado proces-
de metas e diretrizes para os sistemas educacionais de
so ou do que dele resultou, seja no âmbito do sujeito, da
diferentes países, em nível global. Tem-se como exemplo
cultura, ou de toda a humanidade. o PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos,
coordenado pela Organização de Cooperação e Desen-
No campo da educação, os processos avaliativos dos volvimento Econômico - OCDE.
resultados esperados de determinados sujeitos (alunos), A criação desses níveis mais globais (mega e macro)
de uma determinada cultura ou de toda uma comuni- deve-se ao fato de a avaliação ter adquirido grande cen-
dade de pessoas se torna ainda mais complexa porque tralidade nas políticas públicas pelos organismos gover-
obviamente não pode se contentar na aferição de meros namentais, particularmente nas políticas educacionais,
rendimentos escolares ou institucionais, mas deve alme- com o propósito de os Estados ampliarem as ações de
jar acima de tudo a formação integral do ser pela apre- controle e fiscalização sobre as escolas e os sistemas
ciação de todos os elementos que permeiam o processo educacionais, fenômeno apontado pelos estudiosos em
ensino-aprendizagem, ou seja, a toda a realidade educa- avaliação como a presença do “Estado Avaliador” na edu-
tiva (BRANDALISE, 2010).
cação.

66
A avaliação institucional numa perspectiva crítica é tiva mais instrumental, mas não se apontaram caminhos
aquela que consegue captar o movimento institucional mais concretos na perspectiva crítica. Marcados pelo
presente nas relações da instituição. Toda instituição é medo de cair no tecnicismo, deixamos para um plano se-
constituída por dois princípios em permanente tensão: cundário a dimensão técnica de nosso trabalho.
o instituído e o instituinte. CASTORIADES (1975) explica O professor quer sugestões, propostas, orientações
que o instituído é o conjunto de forças sedimentadas, para tão desafiadora prática; muitos gostariam até de al-
consolidadas, que buscam a conservação e reprodução gumas “receitas”; sabemos que estas não existem, dada a
do quadro institucional vigente. O instituído é a forma. Já dinâmica e complexidade da tarefa educativa. Nós temos
o conjunto de forças em constante estado de tensão, de clareza da não existência de “modelitos prontos e aca-
mudança, de transformação, de recriação é o instituinte. bados”, entendemos que é necessário ao educador de-
O instituinte é o campo de forças. senvolver um método de trabalho para não ficar apenas
A avaliação institucional é formalmente a avaliação nos modismos. Ao trabalharmos com a dimensão das
desse instituído e instituinte. Ela tem que identificar as- mediações visamos, de um lado, a apresentar algumas
pectos concretos, formais e informais, explícitos ou não, possibilidades, tiradas da própria prática das instituições
internos e externos, que viabilizam a realização dos ob- de ensino e dos educadores que estão buscando uma
jetivos e fins educacionais propostos num projeto insti- forma de superação da avaliação seletiva, e, de outro, re-
tucional. Há, portanto, que se considerar toda a dinâmica fletir sobre possíveis equívocos que se incorre na tentati-
institucional para captar o espírito da instituição avaliada. va de mudar ações tradicionais. Fazendo uma análise das
Nesta perspectiva, a avaliação institucional tem um cará- dificuldades observadas para a mudança da avaliação,
ter formativo, está voltada para a compreensão e promo- parece que o que tem mais força na prática da escola são
ção da autoconsciência da instituição escolar. coisas que não estão escritas em lugar algum (currículo
Nos debates contemporâneos sobre a educação há oculto), quase que uma espécie de tradição pedagógica
uma exigência cada vez maior com o desempenho da disseminada em costumes, rituais, discursos, formas de
escola, porque ela é considerada uma instituição social organização; dá-se a impressão que isto determina mais
imprescindível à sociedade atual, à formação humana, a prática do que as infindáveis manifestações teóricas já
ainda que essa exigência se exprima de modos variados feitas.
e contraditórios. Ao indicar mudanças, remete-nos à necessidade de
envolvimento de todos com tal processo; para haver mu-
Referência: dança, é preciso compromisso com uma causa, que pede
BRASIL: Ministério da Educação. Indagações sobre tanto a reflexão, a elaboração teórica, quanto a disposi-
currículo: currículo e avaliação / [Cláudia de Oliveira Fer- ção afetiva, o querer. No entanto tão logo emerge esta
nandes, Luiz Carlos de Freitas]; organização do docu- compreensão, vem também a ponderação de que a mu-
mento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia dança não depende apenas do indivíduo, dado que os
Ribeiro do Nascimento. – Brasília: Ministério da Educa- sujeitos vivem em contextos históricos que limitam suas
ção, Secretaria de Educação Básica, 2007. ações em vários aspectos. Mudança é criar possibilida-
https://jus.com.br/artigos/65883/avaliacao-institu- des: numa sociedade tão seletiva, num sistema educa-
cional-uma-nova-proposta-de-avaliacao-interna-e-ex- cional marcado pelo autoritarismo, seria possível avaliar
terna de outra forma num contexto social assim contraditório
e competitivo? A resposta a estas perguntas, antes de
ser uma questão lógica ou teórica, é histórica: objetiva-
mente, “apesar do sistema”, ou seja, constatamos que os
AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E educadores estão fazendo. Como veremos no decorrer
APRENDIZAGEM deste trabalho, o que visamos não é simplesmente fa-
zer uma ou outra mudança, mas construir uma autêntica
práxis transformadora.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Avaliar aprendizagens é um sério problema educacio- A tarefa que se coloca, a partir disso, aponta para três
nal há muito tempo. Desde a década de 60, no entan- direções:
to, a grande crítica são os enormes estragos da prática
classificatória e excludente: os elevadíssimos índices de
FIQUE ATENTO!
reprovação e evasão, aliados a um baixíssimo nível da
qualidade da educação escolar, em termos de apropria- Fortalecimento: valorizar as práticas inovado-
ção do conhecimento ou de formação de uma cidadania ras existentes para que não sejam efêmeras.
ativa e crítica. Recentemente, a avaliação está também - Avanço: criar novas práticas.
em pauta como decorrência das várias iniciativas toma- - Crítica: não baixar a guarda em relação à
das por mantenedoras, públicas ou privadas, no sentido presença e influência da avaliação tradicional.
de reverter este quadro de fracasso escolar. A discussão
sobre avaliação não deve ser feita de forma isolada de
um projeto Políticopedagógico, inserido num projeto so- No cotidiano escolar, muitas vezes, nosso empenho
cial mais amplo. Ultimamente, tem se analisado o papel se concentra na mudança das ideias (nossas e dos co-
político da avaliação, tem se criticado muito as práticas legas) a respeito da avaliação. Esta estratégia, embora
avaliativas dos professores, tem se indicado uma alterna- importante, é insuficiente se não atentarmos para as es-
truturas de percepção e de pensamento: pode haver sim-

67
ples mudança de conteúdos num arcabouço equivocado. damental, que é a postura de compromisso em superar
Nossa grande preocupação é a mudança da prática do as dificuldades percebidas. A questão principal não é a
professor. Toda ação humana consciente, toda prática é mudança de técnicas, mas é a mudança de paradigma,
pautada por algum nível de reflexão. As ideias que nos posicionamento, visão de mundo e valores. Neste pri-
habitam - assim como a maneira como operamos com meiro capítulo, estaremos refletindo sobre esta mudança
elas - têm consequências práticas; a forma como agimos essencial no sentido da avaliação, analisada do ponto de
sobre o mundo, seja o mundo educacional, político ou vista de sua tradução em práticas concretas na escola. O
econômico, é em parte determinada pela forma como o que estará em pauta aqui é a intencionalidade que o pro-
percebemos (Apple, 1989:84). Qualquer inovação, antes fessor atribui à avaliação no seu cotidiano. Aprendemos
de existir na realidade, configura-se na imaginação do que o homem é um ser racional. Todavia, quando ana-
sujeito. Fica claro, pois, o desafio de sermos criativos para lisamos o conjunto de sua obra, bate uma séria dúvida,
imaginar novas formas de arranjo da prática educativa face às enormes contradições por ele produzidas. Sucede
em geral, e da avaliativa em particular, e delas tirarmos que, se olharmos com mais cuidado, percebemos que é
transformação, aliada à fruição e alegria. As formas de racional, não necessariamente no sentido do bom senso,
mediação que traremos representam a sistematização de do bem, do belo, mas por ter uma razão, um porquê para
iniciativas que já vêm ocorrendo. Nossa contribuição vai sua ação.
no sentido de: A intencionalidade é a marca humana por excelên-
cia; no longo processo filogenético, tornamo-nos homo
a) Aprender com as práticas de mudança, procurar ti- sapiens porque intencionados, porque projetamos, não
rar lições e princípios; nos conformamos com as condições dadas. Notem que
b) Ajudar a socializar, valorizar, validar práticas; neste processo, naturalmente, a avaliação também teve
c) Criticar, superar contradições; um papel decisivo. Muitas têm sido as tentativas de
d) Explorar possibilidades ainda encobertas. mudança da avaliação. No entanto, muda-se, muda-se,
e não se consegue transformar a prática. Onde estaria
O que está em pauta não é a mera existência de um o núcleo do problema da avaliação?- No seu conteúdo
rol de sugestões ou opções de o que fazer. O caminho (abrangência?).- Na sua forma (exigência quantitativa?).-
para se chegar a uma prática transformadora é bem mais Na sua intencionalidade (finalidade, objetivo?).- Nas suas
complexo: é a criação de um novo plano de ação do su- relações (com a metodologia, com as condições de tra-
jeito, que é fruto tanto da percepção de uma necessidade balho, com o sistema de ensino, com a condição de vida
quanto da clareza de uma finalidade (dialética necessida- dos alunos?).O acompanhamento de processes de mu-
de - finalidade - plano de ação). O problema não é ape- dança da avaliação em escolas e redes de ensino têm
nas “ter o que fazer”, “saber” o que deve ser feito, e sim, demonstrado o seguinte:
interiorizar, entrar no movimento conceitual e no movi-
mento histórico da atividade educativa. Por isto enfatiza- 1. A mudança em outros aspectos da avaliação (conte-
údo, forma, relações) sem a mudança na sua inten-
mos a questão do método de trabalho para o professor.
cionalidade não tem levado a alterações mais subs-
Para mudar a avaliação, precisamos, obviamente, mudar
tanciais.
seus elementos constituintes (exemplo: conteúdo e for-
2. A mudança na intencionalidade da avaliação, mes-
ma). Contudo, embora necessário, isto não é suficiente, mo sem maiores mudanças em outros aspectos
uma vez que a prática avaliativa não depende apenas num primeiro momento, tem possibilitado avanços
dela mesma. Ora, no caso da avaliação, a partir do traba- significativos do trabalho.
lho de análise sobre o material empírico, registrado dos
discursos dos educadores e da observação da prática,
nestas duas classes - Avaliação e Relações - emergem Pode haver mudança no conteúdo e na forma de ava-
seis grandes categorias: - Avaliação: intencionalidade; liar, pode haver mudança na metodologia de trabalho
forma; conteúdo. - Relações: prática pedagógica; institui- em sala de aula e até na estrutura da escola, e, no entan-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ção; sistema. Isto significa que a mudança da avaliação, to, não se tocar no que é decisivo: intervir na realidade
para ser efetiva, deverá estar atenta a estes seis vetores; a fim de transformar. Se não houver um re-enfoque da
para se criar uma nova ecologia avaliativa, um novo am- própria intencionalidade da avaliação, de pouco adianta-
biente cultural no campo da avaliação será preciso se dar ra. A intencionalidade é o problema nuclear da avaliação,
conta, em alguma medida, destas dimensões. portanto alguns cuidados devem ser reforçados:- não
tomá-la como absoluta, definitiva.- não reduzi-la a um
AVALIAÇÃO COMO COMPROMISSO COM A campo por demais particular ou especifico.- não con-
APRENDIZAGEM DE TODOS - POR UMA NOVA IN- fundi-la com a realidade.- não usá-la como refúgio dos
TENCIONALIDADE conflitos, para encobrir as contradições da prática.- não
deixar de perceber seu enraizamento na realidade.
A avaliação, para assumir o caráter transformador,
antes de tudo deve estar comprometida com a apren-
dizagem da totalidade dos alunos. Este é o seu sentido
mais radical, é o que justifica sua existência no proces-
so educativo. A observação mais atenta aponta que as
mudanças na avaliação têm ocorrido, mas não no fun-

68
lam intrinsecamente. “Avaliar o aluno como um todo” é
FIQUE ATENTO! uma das representações mais fortes entre os professores
quando tratam de suas práticas avaliativas: expressam
A concretização de uma nova intencionali-
isto tanto em relação ao que estão realizando, quanto
dade é, a nosso ver, o maior desafio contem-
ao que é idealizado. Quando vamos discutir com os pro-
porâneo da avaliação da aprendizagem. Ao
fessores alguma questão concreta de um instrumento
analisarmos as condições para a mudança da
de avaliação, não raramente vem certa decepção ou um
intencionalidade da avaliação, encontramos
sério questionamento. Percebe-se que o problema não
muitos obstáculos; contudo, um dos maio-
está no instrumento em si - que pode variar, naturalmen-
res e a tradição avaliativa já existente: há a
te, de qualidade -, mas naquilo que está sendo ensinado.
assimilação, por parte do professor, de uma
Um dos grandes problemas da educação escolar é a falta
verdadeira cultura da repetência, uma estra-
de articulação entre o que se quer e a prática pedagó-
nha indiferença para com a lógica classifica-
gica, a intenção declarada e a enraizada. Assim temos
tória, bem como para com os elevadíssimos
dois aspectos essenciais na elaboração da proposta de
índices de reprovação e evasão escolar. No
trabalho:
processo de mudança, visamos à incorpora-
- O que o aluno precisa aprender (para definir o que
ção da nova intencionalidade; porém, não há
ensinar)
como “garantir” em termos absolutos, não
- Como o aluno conhece (para saber o que ensinar)
há uma atividade que seja intrinsecamente
A prática avaliativa, obviamente, se dará em cima dis-
emancipatória; exige-se atenção, espírito crí-
to, enquanto processo e enquanto produto:
tico, reflexão o tempo todo. Contudo, a bus-
ca de sua tradução em práticas concretas, - O que se está ensinando, até que ponto é relevante?
coerentes com o princípio, é imprescindível - Em que medida está se ensinando da forma adequada?
e ajuda o enraizamento da nova concepção
nos sujeitos e, no limite, na própria insti- A avaliação reflete aquilo que o professor julga ser o
tuição. É preciso ousar, investigar, procurar fundamental, “o que vale”.- mais ou menos consciente
caminhos para assegurar a aprendizagem. - Devemos atentar para o possível descompasso entre
Existem soluções relativamente simples, que o que se pensa ser o mais importante e aquilo que efe-
estão no espaço da autonomia do professor tivamente está se solicitando nas avaliações. A pergun-
e da escola (abertura a novos possíveis!). ta sobre o conteúdo da avaliação, sobre o que deve ser
avaliado, resgata, pois, de imediato o questionamento: o
que vale a pena ensinar?
A situação do professor, com muita frequência, está A forma de avaliar diz respeito ao “como”, a maneira
difícil; mas se internamente se fecha a possibilidade, se já concreta com que a avaliação se dará no cotidiano das
não acredita que o aluno possa aprender, se já não tenta, instituições de ensino; envolve os rituais, as rotinas, o
com certeza ficará mais difícil ainda, tanto para ele quan- desdobramento das diretrizes e normas, enfim, as ma-
to para o aluno. Esperar pouco do outro é uma forma de neiras de fazer e de expressar os resultados da avaliação
profundo desrespeito! O professor não pode desistir do da aprendizagem.
aluno! Todo ser humano é capaz de aprender. Quando interrogamos os professores sobre o como
deve ser a avaliação, a perspectiva da avaliação como
CONTEÚDO E FORMA DA AVALIAÇÃO processo costuma ser outra representação das mais pre-
sentes e enfatizadas. Entendemos que avaliação proces-
Conteúdo e forma são duas dimensões essenciais na sual, contínua, é essa atenção e ocupação permanente
concretização da avaliação da aprendizagem. O conteú- do professor com a apropriação efetiva do conhecimen-
do da avaliação diz respeito ao o que é tornado como to por parte do aluno, com a interação aluno-objeto do
objetivo de análise. A forma refere-se ao “como “ esta conhecimento-realidade; é uma postura, um compromis-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

avaliação ocorre. Muitos professores expressam a per- so durante todo o processo de ensino-aprendizagem, e
cepção da necessidade de mudança tanto na forma não o multiplicar “provinhas” - embora não prescinda de
quanto no conteúdo da avaliação por eles praticada. Do instrumentos e atividades variadas.
ponto de vista do processo de mudança, isto é importan- Nossa preocupação fundamental se centra em rela-
te por tratar-se de algo que constitui o cotidiano mesmo ção à avaliação e à mudança de postura, visando superar
da avaliação, sua realização na sala de aula e que, em sua abominável ênfase seletiva. Até que ponto o instru-
grande medida, está ao seu alcance por não depender mento influi? Entendemos que os instrumentos não são
tanto de fatores externos. Falar do conteúdo da avaliação neutros, embora tenham uma autonomia relativa. É claro
e, antes de tudo, refletir sobre o campo sobre o qual irá que o como avaliar, a qualidade do instrumento também
incidir. A avaliação pode se dar sobre diferentes aspec- é importante, pois a própria transformação da postura
tos da realidade: indivíduo, sala de aula, instituição de do professor pode ficar comprometida se ele se prender
ensino, sistema de ensino ou sociedade como um todo. a instrumentos e formas de avaliar tradicionais. Ocorre
Dependendo do foco, teremos suas várias modalidades: que este como está ligado à concepção (arraigada) de
autoavaliação, avaliação do processo de ensino-apren- educação que o professor/escola tem. Se não mudarem
dizagem, avaliação institucional, avaliação do sistema as finalidades, de nada adiantara sofisticar o instrumen-
educacional e avaliação do sistema social, que se articu- to. São, portanto, desafios que se implicam: a mudança
de postura em relação às finalidades (da educação e da

69
avaliação) e a busca de mediações adequadas (de ensinar pela sedução, seja pelo controle. É necessário reconhe-
e de avaliar).O que vislumbramos é que os professores cer que, no contexto da escola brasileira contemporânea,
tenham uma tecnologia educacional incorporada, qual está muito difícil ser professor. Neste quadro, a avaliação
seja, que precisem cada vez menos de artefatos, mas que tradicional tende a ser uma forma de alívio, uma vez que:
possam desenvolver mente/fatos avaliativos (nele e nos - Do ponto de vista subjetivo, canaliza a culpa para
alunos). Almeja-se que com o tempo o professor incor- alguém (aluno/família);
pore uma nova tecnologia de avaliação, de maneira que - Do ponto de vista objetivo, das condições de tra-
confie na sua experiência, na sua intuição e fique mais balho (controle disciplinar). Mas o que colocar no
livre de instrumentos formais - embora estes não possam lugar da pressão da nota? Duas perspectivas são
ser eliminados -. Como esta intuição não é nata, tem de fundamentais: o sentido para o estudo para o tra-
ser trabalhada, construída, e constantemente criticada. balho pedagógico e a forma adequada de traba-
Cabe lembrar, para que venham a se constituir em práxis lho em sala de aula. Estes dois elementos se com-
transformadora, que as várias iniciativas avaliativas de- binam no processo pedagógico, de maneira que
vem estar articuladas com a nova intencionalidade, bem quando falta um, e o outro está presente, há uma
como a outras dimensões do processo educativo.
espécie de compensação, mas quando os dois es-
tão em baixo nível, o trabalho em sala fica quase
AVALIAÇÃO E VÍNCULO PEDAGÓGICO
impossível. O que se vislumbra, pois, em termos de
Historicamente, a avaliação tendeu a se automatizar, superação é o poder de o professor estar centrado
a se tornar um fim em si mesma. Corrigir esta distorção na proposta pedagógica, e não mais na nota.
implica reconhecer que a avaliação da aprendizagem se
dá no campo pedagógico que, antes de mais nada, pre- Os educadores, que estão inovando a prática peda-
cisa ser resgatado, configurado e valorizado. Se a fina- gógica, apontam, como forma de superação do vínculo
lidade da escola pode ser assumida como a educação
alienado, o resgate da significação do estudo e dos con-
através do ensino, ao abordarmos o vínculo pedagógico,
teúdos, e a busca de uma metodologia participativa em
estamos diante do que é essencial na tarefa educativa es-
sala, para que eles não precisem da nota a fim de con-
colar, sua atividade-fim. Todavia, esta finalidade não vem
se realizando a contento, de tal forma que, na atualidade, trolar os alunos, ganhar o aluno pela proposta pedagó-
o problema central da escola, do ponto de vista político, gica e não pela “muleta” das ameaças. Por meio de novas
e a não totalidade dos alunos que por ela passa. Já da atividades, professores e alunos redescobrem o gosto
ótica pedagógica, compreendemos que o problema nu- pelo conhecimento que vem da compreensão, do enten-
clear reside na proposta de trabalho equivocada. dimento, da percepção do aumento da capacidade de
O grande desafio pedagógico em sala de aula é a intervir no mundo. Assim, a avaliação – como regulagem
questão da formação humana através do trabalho com o das aprendizagens – é tomada como base para reorientar
conhecimento baseado no relacionamento interpessoal a organização do trabalho pedagógico (replanejamento).
e na organização da coletividade. Quando nos referimos O preparo adequado do curso, da segurança, firmeza, é
ao vínculo pedagógico, queremos abarcar o conjunto que permite o melhor aproveitamento. A atividade do
do trabalho que o docente desencadeia em sala de aula professor numa perspectiva dialética implica basicamen-
e, particularmente, seu elemento fulcral que é a gestão te: conhecer a realidade, ter clareza de objetivos e traçar
mesma do processo de conhecimento (necessidades, mediações significativas, agir de acordo com o planejado
objetivos, conteúdos, metodologia, relacionamentos, e avaliar sua prática (Methodos). E a tarefa fundamental
recursos, interfaces, além da avaliação).O trabalho de é, a partir de um Projeto político Libertador, construir um
construção do conhecimento na escola está baseado no vínculo pedagógico coerente com o compromisso com a
trabalho de gerações passadas e presentes; não reali- aprendizagem efetiva de todos os alunos.
zar uma atividade significativa traz como consequência
contribuir para a reprodução do sistema de alienação da AVALIAÇÃO E MUDANÇAS INSTITUCIONAIS E
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

organização social, na medida em que colabora para a SOCIAIS


formação de sujeitos passivos, acríticos.
A avaliação deveria ser uma mediação para a qualifi- No processo de mudança, as manifestações dos edu-
cação da prática escolar. No entanto, não é isto que vem cadores em relação à avaliação não se limitam a ela; mui-
ocorrendo, dado que, quando surgem dificuldades em to pelo contrário, remetem a outros aspectos, inclusive a
sala, procura-se resolver pela pressão da nota, e as ques- organização escolar e social. É importante percebermos
tões pedagógicas fundamentais não são devidamente este contexto maior e termos dele uma leitura crítica. A
enfocadas. A existência da reprovação desde as séries mudança avaliativa não pode ficar restrita à mudança
iniciais introduz a alienação na relação pedagógica: ao de mentalidade e práticas dos professores; embora isto
invés de o professor investir na mobilização do aluno seja absolutamente fundamental, precisa ser articulada
para o estudo, para a proposta de trabalho, passa a usar com mudanças estruturais da própria escola, do sistema
a avaliação como arma. No fundo, a questão seria muito educacional e da sociedade, sob pena de se comprome-
simples: o professor resgatar o seu papel essencial que ter qualquer esforço na direção de uma nova concepção
é ensinar. Embora isto pareça elementar, com frequên- dos atores sociais. A transformação na avaliação não se
cia, a preocupação maior do professor, como analisamos restringe a um esforço isolado do professor, mas é fruto
acima, não está sendo ensinar, mas “sobreviver”, seja de um trabalho coletivo; por outro lado, objetiva-se em

70
estruturas: construção de novas formas de organização, der mais e melhor; não deixar ninguém pelo caminho,
rotinas, rituais, regras etc., a fim de que não seja preciso, a avançar juntos; refletir, desfrutar o prazer de conhecer;
cada instante, a tomada de consciência e a boa vontade de pensar com a própria cabeça; descobrir novas possibili-
cada um. As estruturas sintetizam o desejo do grupo num dades de organização do real, ser capaz de intervir, abrir
determinado momento, e certo que devemos estar atentos novos horizontes dentro e fora da escola. Concluímos,
ao risco de se fossilizarem; portanto, pedem abertura à su- enfatizando a importância absolutamente essencial da
peração, mas nem por isso são dispensáveis; ao contrário, é participação do professor no processo de mudança na
a sua explicação e concretização que fornecerá o patamar condição de sujeito (e não de objeto), caminhando de
para novas mudanças. uma prática imitativa (cultura da reprovação) ou reati-
A instituição deve ter uma forma de organização que va (mera aprovação) a práxis transformadora (ensino de
seja inclusiva, que busque, de todas as maneiras, rom- qualidade democrática para todos)!
per com qualquer subterfúgio que leve à exclusão. Este
desejo, este comprometimento dos educadores, todavia, Fonte
deve se traduzir em práticas concretas, em iniciativas, ne- VASCONCELLOS, Celso. Avalição da aprendizagem.
gociações, regras, leis, ritos, vale dizer, numa nova cultura
institucional. O envolvimento da escola como um todo TEXTO COMPLEMENTAR
(também as estruturas administrativas e comunitárias) é
condição para a consolidação da mudança da avaliação. O QUE É MESMO O ATO DE AVALIAR A APREN-
Uma queixa recorrente entre os educadores diz respeito DIZAGEM?
à carga horária das disciplinas. Muitas vezes, ouve-se a Cipriano Carlos Luckesi
pergunta: “Como posso conhecer melhor os alunos, se
pouco convivo com eles?” Ora, antes de ser uma questão A avaliação da aprendizagem escolar se faz presen-
de avaliação da aprendizagem, trata-se de avaliação cur- te na vida de todos nós que, de alguma forma, estamos
ricular. O que se espera é a adequação da carga horária comprometidos com atos e práticas educativas. Pais,
à proposta de ensino: para quem não sabe o que quer, educadores, educandos, gestores das atividades educati-
solicitar aumento de aulas semanais sugere mais oportu- vas públicas e particulares, administradores da educação,
nismo corporativo do que zelo pedagógico. todos, estamos comprometidos com esse fenômeno que
O individualismo está muito enraizado na sociedade
cada vez mais ocupa espaço em nossas preocupações
e, em particular, no professor: são anos e anos de traba-
educativas.
lho isolado; cada um busca a sua saída. Apesar de a par-
ticipação individual ser fundamental, não podemos ficar O que desejamos é uma melhor qualidade de vida.
limitados a isto. Uma coisa é um professor fazer algo ino- No caso deste texto, compreendo e exponho a avaliação
vador; isto tem seu valor. Mas quando a escola assume da aprendizagem como um recurso pedagógico útil e
aquilo enquanto proposta coletiva, o significado é bem necessário para auxiliar cada educador e cada educando
diferente em termos de processo de mudança. Reside aí na busca e na construção de si mesmo e do seu melhor
a importância do Projeto político pedagógico, que é o modo de ser na vida.
piano global da instituição. É entendido como a sistema- A avaliação da aprendizagem não é e não pode con-
tização, nunca definitiva, de um processo de planejamen- tinuar sendo a tirana da prática educativa, que ameaça
to participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na cami- e submete a todos. Chega de confundir avaliação da
nhada, que define claramente o tipo de ação educativa aprendizagem com exames. A avaliação da aprendiza-
que se quer realizar. gem, por ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmica e
Trata-se de um importante caminho para a constru- construtiva, diversa dos exames, que não são amorosos,
ção da identidade da escola. É um instrumento teórico- são excludentes, não são construtivos, mas classificató-
-metodológico de transformação da realidade. Visa aju- rios. A avaliação inclui, traz para dentro; os exames sele-
dar a enfrentar os desafios cotidianos, só que de uma cionam, excluem, marginalizam.
forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica, cien- No que se segue, apresento aos leitores alguns en-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

tífica, e, o que é essencial, participativa. É um elemen- tendimentos básicos para compreender e praticar a ava-
to de organização e integração da atividade prática da liação da aprendizagem como avaliação e não, equivoca-
instituição neste processo de transformação, na medida damente, como exames.
em que expressa o compromisso do grupo com uma Antes de mais nada, uma disposição psicológica ne-
caminhada. Tornar vivo o projeto, não deixar que fique cessária ao avaliador
engavetado, fazê-lo advir, incorporá-lo na prática, não é O ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção
tarefa especifica de um ou outro membro da instituição, do melhor resultado possível, antes de mais nada, impli-
e sim de todos que o construíram. O processo de elabo- ca a disposição de acolher. Isso significa a possibilidade
ração participativa do projeto é um espaço privilegiado de tomar uma situação da forma como se apresenta, seja
de construção do coletivo escolar. ela satisfatória ou insatisfatória agradável ou desagra-
Uma das maiores tarefas colocadas para a sociedade dável, bonita ou feia. Ela é assim, nada mais. Acolhê-la
no seu conjunto é conseguir articular uma efetiva visão como está é o ponto de partida para se fazer qualquer
de futuro positiva para a juventude. O ser humano gosta coisa que possa ser feita com ela. Avaliar um educando
de desafios; a tarefa que está posta é a de superar sua implica, antes de mais nada, acolhe-lo no seu ser e no
formulação alienada - ser melhor, conseguir nota, passar seu modo de ser, como está, para, a partir daí, decidir o
de ano - e apontar novas tarefas para os alunos: apren- que fazer.

71
A disposição de acolher está no sujeito do avaliador, de avaliar, como todo e qualquer ato de conhecer, ini-
e não no objeto da avaliação. O avaliador é o adulto da cia-se pela constatação, que nos dá a garantia de que o
relação de avaliação, por isso ele deve possuir a disposi- objeto é como é. Não há possibilidade de avaliação sem
ção de acolher. Ele é o detentor dessa disposição. E, sem a constatação.
ela, não há avaliação. Não é possível avaliar um objeto, A constatação oferece a ‘base material’ para a segun-
uma pessoa ou uma ação, caso ela seja recusada ou ex- da parte do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja,
cluída, desde o início, ou mesmo julgada previamente. atribuir uma qualidade, positiva ou negativa, ao objeto
Que mais se pode fazer com um objeto, ação ou pessoa que está sendo avaliado. No exemplo acima, qualifico
que foram recusados, desde o primeiro momento? Nada, a cadeira como satisfatória ou insatisfatória, tendo por
com certeza! base as suas propriedades atuais. Só a partir da consta-
Imaginemos um médico que não tenha a disposição tação, é que qualificamos o objeto de avaliação. A partir
para acolher o seu cliente, no estado em que está; um dos dados constatados é que atribuímos-lhe uma quali-
empresário que não tenha a disposição para acolher a dade.
sua empresa na situação em que está; um pai ou uma
mãe que não tenha a disposição para acolher um filho Entretanto, essa qualificação não se dá no vazio. Ela
ou uma filha em alguma situação embaraçosa em que se é estabelecida a partir de um determinado padrão, de
encontra. Ou imaginemos cada um de nós, sem dispo- um determinado critério de qualidade que temos, ou que
sição para nos acolhermos a nós mesmos no estado em estabelecemos, para este objeto. No caso da cadeira, ela
que estamos. As doenças, muitas vezes, não podem mais está sendo qualificada de satisfatória ou insatisfatória em
sofrer qualquer intervenção curativa adequada devido ao função do quê? Ela, no caso, será satisfatória ou insatis-
fato de que a pessoa, por vergonha, por medo social ou fatória em função da finalidade à qual vai servir. Ou seja,
por qualquer outra razão, não pode acolher o seu pró- o objeto da avaliação está envolvido em uma tessitura
prio estado pessoal, protelando o momento de procurar cultural (teórica), compreensiva, que o envolve. Manten-
ajuda, chegando ao extremo de ‘já não ter muito mais o do o exemplo acima, a depender das circunstâncias onde
que fazer!’. esteja a cadeira, com suas propriedades específicas, ela
A disposição para acolher é, pois, o ponto de partida será qualificada de positiva ou de negativa. Assim sendo,
para qualquer prática de avaliação. É um estado psicoló-
uma mesma cadeira poderá ser qualificada como satisfa-
gico oposto ao estado de exclusão, que tem na sua base
tória para um determinado ambiente, mas insatisfatória
o julgamento prévio. O julgamento prévio está sempre
para um outro ambiente, possuindo as mesmas proprie-
na defesa ou no ataque, nunca no acolhimento. A dispo-
dades específicas. Desde que diagnosticado um objeto
sição para julgar previamente não serve a uma prática de
de avaliação, ou seja, configurado e qualificado, há algo,
avaliação, porque exclui.
obrigatoriamente, a ser feito, uma tomada de decisão so-
Para ter essa disposição para acolher, importa estar
bre ele. O ato de qualificar, por si, implica uma tomada
atento a ela. Não nascemos naturalmente com ela, mas
de posição – positiva ou negativa –, que, por sua vez,
sim a construímos, a desenvolvemos, estando atentos ao
modo como recebemos as coisas. Se antes de ouvirmos conduz a uma tomada de decisão. Caso um objeto seja
ou vermos alguma coisa já estamos julgando, positiva qualificado como satisfatório, o que fazer com ele? Caso
ou negativamente, com certeza, não somos capazes de seja qualificado como insatisfatório, o que fazer com ele?
acolher. A avaliação só nos propiciará condições para a O ato de avaliar não é um ato neutro que se encerra na
obtenção de uma melhor qualidade de vida se estiver constatação. Ele é um ato dinâmico, que implica na de-
assentada sobre a disposição para acolher, pois é a partir cisão de ‘o que fazer’ Sem este ato de decidir, o ato de
daí que podemos construir qualquer coisa que seja. avaliar não se completa. Ele não se realiza. Chegar ao
diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situação de
1. Por uma compreensão do ato de avaliar ‘diagnosticar sem tomar uma decisão’ assemelha-se à si-
tuação do náufrago que, após o naufrágio, nada com to-
Assentado no ponto de partida acima estabelecido, das as suas forças para salvar-se e, chegando às margens,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

o ato de avaliar implica dois processos articulados e in- morre, antes de usufruir do seu esforço. Diagnóstico sem
dissociáveis: diagnosticar e decidir. Não é possível uma tomada de decisão é um curso de ação avaliativa que
decisão sem um diagnóstico, e um diagnóstico, sem uma não se completou.
decisão é um processo abortado. Como a qualificação, a tomada de decisão também
Em primeiro lugar, vem o processo de diagnosticar, não se faz num vazio teórico. Toma-se decisão em função
que constitui-se de uma constatação e de uma qualifi- de um objetivo que se tem a alcançar. Um médico toma
cação do objeto da avaliação. Antes de mais nada, por- decisões a respeito da saúde de seu cliente em função
tanto, é preciso constatar o estado de alguma coisa (um de melhorar sua qualidade de vida; um empresário toma
objeto, um espaço, um projeto, uma ação, a aprendiza- decisões a respeito de sua empresa em função de me-
gem, uma pessoa...), tendo por base suas propriedades lhorar seu desempenho; um cozinheiro toma decisões a
específicas. Por exemplo, constato a existência de uma respeito do alimento que prepara em função de dar-lhe
cadeira e seu estado, a partir de suas propriedades ‘físi- o melhor sabor possível, e assim por diante.
cas’ (suas características): ela é de madeira, com quatro Em síntese, avaliar é um ato pelo qual, através de uma
pernas, tem o assento estofado, de cor verde... A cons- disposição acolhedora, qualificamos alguma coisa (um
tatação sustenta a configuração do ‘objeto’, tendo por objeto, ação ou pessoa), tendo em vista, de alguma for-
base suas propriedades, como estão no momento. O ato ma, tomar uma decisão sobre ela.

72
Quando atuamos junto a pessoas, a qualificação e a O ato de acolher é um ato amoroso, que traz ‘para den-
decisão necessitam ser dialogadas. O ato de avaliar não tro’, para depois (e só depois) verificar as possibilidades
é um ato impositivo, mas sim um ato dialógico, amoroso do que fazer.
e construtivo. Desse modo, a avaliação é uma auxiliar de Assentados no acolhimento do nosso educando,
uma vida melhor, mais rica e mais plena, em qualquer de podemos praticar todos os atos educativos, inclusive a
seus setores, desde que constata, qualifica e orienta pos- avaliação. E, para avaliar, o primeiro ato básico é o de
sibilidades novas e, certamente, mais adequadas, porque diagnosticar, que implica, como seu primeiro passo,
assentadas nos dados do presente. coletar dados relevantes, que configurem o estado de
aprendizagem do educando ou dos educandos. Para tan-
2. Avaliação da aprendizagem escolar to, necessitamos instrumentos. Aqui, temos três pontos
básicos a levar em consideração: 1) dados relevantes; 2)
Vamos transpor esse conceito da avaliação para a instrumentos; 3) utilização dos instrumentos.
compreensão da avaliação da aprendizagem escolar. To-
mando as elucidações conceituais anteriores, vamos apli- Cada um desses pontos merece atenção.
car, passo a passo, cada um dos elementos à avaliação da
aprendizagem escolar. Os dados coletados para a prática da avaliação da
Iniciemos pela disposição de acolher. Para se proces- aprendizagem não podem ser quaisquer. Deverão ser
sar a avaliação da aprendizagem, o educador necessita coletados os dados essenciais para avaliar aquilo que
dispor-se a acolher o que está acontecendo. Certamente estamos pretendendo avaliar. São os dados que carac-
o educador poderá ter alguma expectativa em relação a terizam especificamente o objeto em pauta de avalia-
possíveis resultados de sua atividade, mas necessita estar
ção. Ou seja, a avaliação não pode assentar-se sobre
disponível para acolher seja lá o que for que estiver acon-
dados secundários do ensino-aprendizagem, mas, sim,
tecendo. Isso não quer dizer que ‘o que está acontecen-
sobre os que efetivamente configuram a conduta ensi-
do’ seja o melhor estado da situação avaliada. Importa
nada e aprendida pelo educando. Caso esteja avaliando
estar disponível para acolhê-la do jeito em que se encon-
aprendizagens específicas de matemática, dados sobre
tra, pois só a partir daí é que se pode fazer alguma coisa.
essa aprendizagem devem ser coletados e não outros; e,
assim, de qualquer outra área do conhecimento. Dados
Mais: no caso da aprendizagem, como estamos tra-
essenciais são aqueles que estão definidos nos planeja-
balhando com uma pessoa – o educando –, importa aco-
mentos de ensino, a partir de uma teoria pedagógica, e
lhê-lo como ser humano, na sua totalidade e não só na
que foram traduzidos em práticas educativas nas aulas.
aprendizagem específica que estejamos avaliando, tais
Isso implica que o planejamento de ensino necessita
como língua portuguesa, matemática, geografia....
ser produzido de forma consciente e qualitativamente
Acolher o educando, eis o ponto básico para proce-
satisfatória, tanto do ponto de vista científico como do
der atividades de avaliação, assim como para proceder
ponto de vista políticopedagógicos.
toda e qualquer prática educativa. Sem acolhimento, te-
Por outro lado, os instrumentos de avaliação da
mos a recusa. E a recusa significa a impossibilidade de aprendizagem, também, não podem ser quaisquer ins-
estabelecer um vínculo de trabalho educativo com quem trumentos, mas sim os adequados para coletar os da-
está sendo recusado. dos que estamos necessitando para configurar o estado
A recusa pode se manifestar de muitos modos, desde de aprendizagem do nosso educando. Isso implica que
os mais explícitos até os mais sutis. A recusa explícita se os instrumentos: a) sejam adequados ao tipo de con-
dá quando deixamos claro que estamos recusando al- duta e de habilidade que estamos avaliando (informa-
guém. Porém, existem modos sutis de recusar, tal como ção, compreensão, análise, síntese, aplicação...); b) sejam
no exemplo seguinte. Só para nós, em nosso interior, adequados aos conteúdos essenciais planejados e, de
sem dizer nada para ninguém, julgamos que um aluno fato, realizados no processo de ensino (o instrumento
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

X ‘é do tipo que dá trabalho e que não vai mudar’. Esse necessita cobrir todos os conteúdos que são conside-
juízo, por mais silencioso que seja em nosso ser, está lá rados essenciais numa determinada unidade de ensino-
colocando esse educando de fora. E, por mais que pareça -aprendizagem; c) adequados na linguagem, na clareza
que não, estará interferindo em nossa relação com ele. e na precisão da comunicação (importa que o educando
Ele sempre estará fora do nosso círculo de relações. Aco- compreenda exatamente o que se está pedindo dele);
lhê-lo significa estar aberto para recebê-lo como é. E só adequados ao processo de aprendizagem do educando
vendo a situação como é podemos compreendê-la para, (um instrumento não deve dificultar a aprendizagem do
dialogicamente, ajudá-lo. educando, mas, ao contrário, servir-lhe de reforço do que
já aprendeu. Responder as questões significativas signifi-
Isso não quer dizer aceitar como certo tudo que vem ca aprofundar as aprendizagens já realizadas.).
do educando. Acolher, neste caso, significa a possibilida- Um instrumento de coleta de dados pode ser desas-
de de abrir espaço para a relação, que, por si mesma, terá troso, do ponto de vista da avaliação da aprendizagem,
confrontos, que poderão ser de aceitação, de negocia- como em qualquer avaliação, na medida em que não co-
ção, de redirecionamento. Por isso, a recusa consequen- lete, com qualidade, os dados necessários ao processo
temente impede as possibilidades de qualquer relação de avaliação em curso. Um instrumento inadequado ou
dialógica, ou seja, as possibilidades da prática educativa. defeituoso pode distorcer completamente a realidade e,

73
por isso, oferecer base inadequada para a qualificação A teoria pedagógica dá o norte da prática educativa e
do objeto da avaliação e, consequentemente, conduzir a o planejamento do ensino faz a mediação entre a teoria
uma decisão também distorcida. pedagógica e a prática de ensino na aula. Sem eles, a
Será que nossos instrumentos de avaliação da apren- prática da avaliação escolar não tem sustentação.
dizagem, utilizados no cotidiano da escola, são suficien- Deste modo, caso utilizemos uma teoria pedagógica
temente adequados para caracterizar nossos educan- que considera que a retenção da informação basta para
dos? Será que eles coletam os dados que devem ser o desenvolvimento do educando, os dados serão quali-
coletados? Será que eles não distorcem a realidade da ficados diante desse entendimento. Porém, caso a teoria
conduta de nossos educandos, nos conduzindo a juízos pedagógica utilizada tenha em conta que, para o desen-
distorcidos? volvimento do educando, importa a formação de suas
Quaisquer que sejam os instrumentos – prova, tes- habilidades de compreender, analisar, sintetizar, aplicar...,
te, redação, monografia, dramatização, exposição oral, os dados coletados serão qualificados, positiva ou nega-
arguição, etc. – necessitam manifestar qualidade satisfa- tivamente, diante dessa exigência teórica.
tória como instrumento para ser utilizado na avaliação Assim, para qualificar a aprendizagem de nossos
da aprendizagem escolar, sob pena de estarmos quali- educandos, importa, de um lado, ter clara a teoria que
ficando inadequadamente nossos educandos e, conse- utilizamos como suporte de nossa prática pedagógica,
quentemente, praticando injustiças. Muitas vezes, nossos e, de outro, o planejamento de ensino, que estabelece-
educandos são competentes em suas habilidades, mas
mos como guia para nossa prática de ensinar no decorrer
nossos instrumentos de coleta de dados são inadequa-
das unidades de ensino do ano letivo. Sem uma clara e
dos e, por isso, os julgamos, incorretamente, como in-
consistente teoria pedagógica e sem um satisfatório pla-
competentes. Na verdade, o defeito está em nossos
instrumentos, e não no seu desempenho. Bons instru- nejamento de ensino, com sua consequente execução,
mentos de avaliação da aprendizagem são condições de os atos avaliativos serão praticados aleatoriamente, de
uma prática satisfatória de avaliação na escola. forma mais arbitrária do que o são em sua própria cons-
tituição. Serão praticados sem vínculos com a realidade
Ainda uma palavra sobre o uso dos instrumentos. educativa dos educandos.
Realizados os passos anteriores, chegamos ao diag-
Como nós nos utilizamos dos instrumentos de ava- nóstico. Ele é a expressão qualificada da situação, pessoa
liação, no caso da avaliação da aprendizagem? Eles são ou ação que estamos avaliando.
utilizados, verdadeiramente, como recursos de coleta de Temos, pois, uma situação qualificada, um diagnós-
dados sobre a aprendizagem de nossos educandos, ou tico. O que fazer com ela? O ato avaliativo, só se com-
são utilizados como recursos de controle disciplinar, de pletará, como dissemos nos preliminares deste estudo,
ameaça e submissão de nossos educandos aos nossos com a tomada de decisão do que fazer com a situação
desejos? Podemos utilizar um instrumento de avaliação diagnosticada.
junto aos nossos educandos, simplesmente, como um Caso a situação de aprendizagem diagnosticada seja
recurso de coletar dados sobre suas condutas aprendi- satisfatória, que vamos fazer com ela? Caso seja insatis-
das ou podemos utilizar esse mesmo instrumento como fatória, que vamos fazer com ela? A situação diagnostica-
recurso de disciplinamento externo e aversivo, através da da, seja ela positiva ou negativa, e o ato de avaliar, para
ameaça da reprovação, da geração do estado de medo, se completar, necessita da tomada de decisão A decisão
da submissão, e outros. Afinal, aplicamos os instrumen- do que fazer se impõe no ato de avaliar, pois, em si mes-
tos com disposição de acolhimento ou de recusa dos mo, ele contém essa possibilidade e essa necessidade. A
nossos educandos? Ao aplicarmos os instrumentos de avaliação não se encerra com a qualificação do estado
avaliação, criamos um clima leve entre nossos educan- em que está o educando ou os educandos ela obriga a
dos ou pesaroso e ameaçador? Aplicar instrumentos de decisão, não é neutra. A avaliação só se completa com
avaliação exige muitos cuidados para que não distorçam a possibilidade de indicar caminhos mais adequados e
a realidade, desde que nossos educandos são seres hu- mais satisfatórios para uma ação, que está em curso. O
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

manos e, nessa condição, estão submetidos às múltiplas ato de avaliar implica a busca do melhor e mais satisfató-
variáveis intervenientes em nossas experiências de vida. rio estado daquilo que está sendo avaliado.
Coletados os dados através dos instrumentos, como A avaliação da aprendizagem, deste modo, nos pos-
nós os utilizamos? Os dados coletados devem retratar o sibilita levar à frente uma ação que foi planejada dentro
estado de aprendizagem em que o educando se encontra. de um arcabouço teórico, assim como político. Não será
Isto feito, importa saber se este estado é satisfatório qualquer resultado que satisfará, mas sim um resultado
ou não. Daí, então, a necessidade que temos de qualificar compatível com a teoria e com a prática pedagógica que
a aprendizagem, manifestada através dos dados coleta- estejamos utilizando.
dos. Para isso, necessitamos utilizar-nos de um padrão Em síntese, avaliar a aprendizagem escolar implica es-
de qualificação. O padrão, ao qual vamos comparar o es- tar disponível para acolher nossos educandos no estado
tado de aprendizagem do educando, é estabelecido no em que estejam, para, a partir daí, poder auxiliá-los em
planejamento de ensino, que, por sua vez, está susten- sua trajetória de vida. Para tanto, necessitamos de cuida-
tado em uma teoria do ensino. Assim, importa, para a dos com a teoria que orienta nossas práticas educativas,
prática da qualificação dos dados de aprendizagem dos assim como de cuidados específicos com os atos de ava-
educandos, tanto a teoria pedagógica que a sustenta, liar que, por si, implicam em diagnosticar e renegociar
permanentemente o melhor caminho para o desenvolvi-
como o planejamento de ensino que fizemos.

74
mento, o melhor caminho para a vida. Por conseguinte,
a avaliação da aprendizagem escolar não implica apro- EDUCAÇÃO E CIDADANIA
vação ou reprovação do educando, mas sim orientação
permanente para o seu desenvolvimento, tendo em vista
tornar-se o que o seu SER pede.
A cidadania está diretamente ligada com a relação
Concluindo entre o povo e o direito de participar nas decisões ad-
ministrativas do estado. Estabelecendo vínculo com os
A qualidade de vida deve estar sempre posta à nossa direitos, sejam eles políticos ou econômicos.
frente. Ela é o objetivo. Não vale a pena o uso de tantos O Brasil viveu épocas de forte autoritarismo onde a
atalhos e tantos recursos, caso a vida não seja alimenta- política era centralizada nos interesses de poucas pes-
da tendo em vista o seu florescimento livre, espontâneo soas. Desde a República a cidadania enfrentou inúmeras
e criativo. A prática da avaliação da aprendizagem, para limitações, sendo que em alguns momentos da história
manifestar-se como tal, deve apontar para a busca do do Brasil ela simplesmente deixou de existir.
melhor de todos os educandos, por isso é diagnóstica, e Quando a constituição foi promulgada em 1988, o
não voltada para a seleção de uns poucos, como se com- exercício da cidadania se tornou presente, constando em
portam os exames. Por si, a avaliação, como dissemos, é muitos artigos da constituinte de 88, veja abaixo alguns:
inclusiva e, por isso mesmo, democrática e amorosa. Por
ela, por onde quer que se passe, não há exclusão, mas TÍTULO I
sim diagnóstico e construção. Não há submissão, mas Dos Princípios Fundamentais
sim liberdade. Não há medo, mas sim espontaneidade e
busca. Não há chegada definitiva, mas sim travessia per- Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
manente, em busca do melhor. Sempre! união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis-
trito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Fonte: Disponível Pátio On-line Direito e tem como fundamentos:
Pátio. Porto alegre: ARTMED. Ano 3, n. 12 fev./abr. I - a soberania;
2006. II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
EXERCÍCIO COMENTADO Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exer-
ce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
1. (SEE-DF – Professor de Educação Básica – Superior termos desta Constituição.
– CESPE/2017) Avaliar e examinar são ações diferentes:
enquanto a primeira é pontual, classificatória e diagnós- Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos
tica, a segunda é somativa, seletiva e inclusiva. entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
( ) CERTO ( ) ERRADO Federativa do Brasil:
Resposta: Errado. Avaliar é um processo amplo e que I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
está vinculado às concepções do avaliador. O exame II - garantir o desenvolvimento nacional;
gera uma medida, não sendo inclusivo. Como afirma III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
Luckesi “o ato de examinar está a serviço exclusiva- desigualdades sociais e regionais;
mente da classificação do educando, tendo por base o IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de ori-
seu desempenho de aprendizagem já realizada e não gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
em realização” discriminação. CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas


2. (SEE-DF – Professor de Educação Básica – Superior
relações internacionais pelos seguintes princípios:
– CESPE/2017) Na avaliação diagnóstica, identifica-se
I - independência nacional;
a situação socioeconômica do aluno com o objetivo de
II - prevalência dos direitos humanos;
distinguir se os eventuais problemas que ele apresentar
III - autodeterminação dos povos;
serão de natureza física, moral, familiar ou psicológica
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
( ) CERTO ( ) ERRADO VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
Resposta: Errado. A avaliação diagnóstica serve para VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
subsidiar a elaboração do planejamento e não para IX - cooperação entre os povos para o progresso da hu-
distinguir os “problemas” dos estudantes. manidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará
a integração econômica, política, social e cultural dos po-
vos da América Latina, visando à formação de uma comu-
nidade latino-americana de nações.

75
TÍTULO II de autorização, desde que não frustrem outra reunião
Dos Direitos e Garantias Fundamentais anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
CAPÍTULO I XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de cooperativas independem de autorização, sendo veda-
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es- da a interferência estatal em seu funcionamento;
trangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprieda- dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
de, nos termos seguintes: judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, julgado;
nos termos desta Constituição; XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algu- permanecer associado;
ma coisa senão em virtude de lei; XXI - as entidades associativas, quando expressamente
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento autorizadas, têm legitimidade para representar seus fi-
desumano ou degradante; liados judicial ou extrajudicialmente;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado XXII - é garantido o direito de propriedade;
o anonimato; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapro-
agravo, além da indenização por dano material, moral ou priação por necessidade ou utilidade pública, ou por
à imagem; interesse social, mediante justa e prévia indenização
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Cons-
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e tituição;
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade
e a suas liturgias; competente poderá usar de propriedade particular, as-
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de segurada ao proprietário indenização ulterior, se hou-
assistência religiosa nas entidades civis e militares de ver dano;
internação coletiva; XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, de penhora para pagamento de débitos decorrentes de
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alter- financiar o seu desenvolvimento;
nativa, fixada em lei; XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utili-
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artísti- zação, publicação ou reprodução de suas obras, trans-
ca, científica e de comunicação, independentemente de missível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
censura ou licença; XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra a) a proteção às participações individuais em obras cole-
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indeni- tivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusi-
zação pelo dano material ou moral decorrente de sua ve nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômi-
violação;
co das obras que criarem ou de que participarem aos
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações
nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
sindicais e associativas;
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos indus-
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação ju- triais privilégio temporário para sua utilização, bem
dicial;
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

como proteção às criações industriais, à propriedade das


XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das co- marcas, aos nomes de empresas e a outros signos dis-
municações telegráficas, de dados e das comunicações tintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, mento tecnológico e econômico do País;
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins XXX - é garantido o direito de herança;
de investigação criminal ou instrução processual penal; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou País será regulada pela lei brasileira em benefício do
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
lei estabelecer; seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao consumidor;
exercício profissional; XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
XV - é livre a locomoção no território nacional em tem- informações de seu interesse particular, ou de interesse
po de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem ar- sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
mas, em locais abertos ao público, independentemente Estado;

76
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturaliza-
pagamento de taxas: do, em caso de crime comum, praticado antes da naturali-
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de zação, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime
defesa de direitos e esclarecimento de situações de inte- político ou de opinião;
resse pessoal; LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judici- autoridade competente;
ário lesão ou ameaça a direito; LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato sem o devido processo legal;
jurídico perfeito e a coisa julgada; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a orga-
nização que lhe der a lei, assegurados: ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
a) a plenitude de defesa; LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
b) o sigilo das votações; meios ilícitos;
c) a soberania dos veredictos; LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos julgado de sentença penal condenatória;
contra a vida; LVIII - o civilmente identificado não será submetido a iden-
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem tificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; (Re-
pena sem prévia cominação legal; gulamento).
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação públi-
réu; ca, se esta não for intentada no prazo legal;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos proces-
direitos e liberdades fundamentais; suais quando a defesa da intimidade ou o interesse social
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável
o exigirem;
e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei; LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis por ordem escrita e fundamentada de autoridade judi-
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de ciária competente, salvo nos casos de transgressão mi-
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos litar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandan- LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
tes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
(Regulamento) competente e à família do preso ou à pessoa por ele
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de indicada;
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitu- LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
cional e o Estado Democrático; quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, a assistência da família e de advogado;
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do LXIV - o preso tem direito à identificação dos respon-
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada
patrimônio transferido; pela autoridade judiciária;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
entre outras, as seguintes: quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
a) privação ou restrição da liberdade; sem fiança;
b) perda de bens;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
c) multa;
responsável pelo inadimplemento voluntário e ines-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

d) prestação social alternativa;


cusável de obrigação alimentícia e a do depositário
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas: infiel;
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que al-
do art. 84, XIX; guém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
b) de caráter perpétuo; ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilega-
c) de trabalhos forçados; lidade ou abuso de poder;
d) de banimento; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
e) cruéis; proteger direito líquido e certo, não amparado por
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distin- habeas corpus ou habeas data, quando o responsá-
tos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo vel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
do apenado; pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade fí- atribuições do Poder Público;
sica e moral; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser im-
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que petrado por:
possam permanecer com seus filhos durante o período de a) partido político com representação no Congresso
amamentação; Nacional;

77
b) organização sindical, entidade de classe ou associa-
ção legalmente constituída e em funcionamento há
pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus EDUCAÇÃO AMBIENTAL
membros ou associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre
que a falta de norma regulamentadora torne inviável O modo como o homem vem utilizando os recursos
o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e naturais de forma inadequada tem levado a muitas con-
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sobera- sequencias, sobretudo para o meio ambiente que cada
nia e à cidadania; vez mais vem sendo degradado, onde o ser humano tem
LXXII - conceder-se-á habeas data: visado apenas o lucro em detrimento da degradação am-
a) para assegurar o conhecimento de informações re- biental. Diante dessa situação, se faz necessária uma edu-
lativas à pessoa do impetrante, constantes de registros cação ambiental que conscientize as pessoas em relação
ou bancos de dados de entidades governamentais ou ao mundo em que vivem para que possam ter acesso a
de caráter público; uma melhor qualidade de vida, mas sem desrespeitar o
b) para a retificação de dados, quando não se prefira meio ambiente, tentando estabelecer o equilíbrio entre o
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administra- homem e o meio.
tivo; A educação ambiental deve ser um exercício para a
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor cidadania, e neste contexto, este estudo apresenta como
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimô- objetivo diagnosticar as principais dificuldades e desafios
nio público ou de entidade de que o Estado participe, enfrentados pela Educação Ambiental no Ensino Funda-
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao mental I nas escolas públicas, tendo em vista que neste
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, sal- nível os educandos são bastante curiosos e abertos ao
vo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do conhecimento, e além de adquirirem o conhecimento
ônus da sucumbência; com facilidade, ainda repassam para aqueles que estão
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral ao seu redor, pois é comum uma criança ao chegar em
e gratuita aos que comprovarem insuficiência de re- casa repassar e comentar aquilo que aprendeu na esco-
la, o que acaba levando e contribuindo para conscien-
cursos;
tização dos adultos. Ainda será identificada a visão dos
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciá-
docentes a cerca da Educação Ambiental, e observado
rio, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na
como esta vem sendo trabalhada pelos professores em
sentença;
sala de aula, sobretudo nas escolas publicas, buscando
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na
compreender como as questões ambientais vem sendo
forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989) tratada nas mesmas.
a) o registro civil de nascimento; Para a concretização desse trabalho foi realizada uma
b) a certidão de óbito; pesquisa bibliográfica baseada em algumas linhas de es-
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas tudo científicos; Educação, Educação Ambiental e Psico-
data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da logia. E a partir de uma interpretação das suas principais
cidadania. teorias, o trabalho foi conduzidos à sua parte prática, ou
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são as- seja, a ida ao campo de estudo, que teve por objetivo a
segurados a razoável duração do processo e os meios que percepção de professores do Ensino Fundamental I da
garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela rede pública, nos ajudando a compreender os principais
Emenda Constitucional nº 45, de 2004) desafios e dificuldades encontradas neste nível em re-
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias funda- lação à Educação Ambiental; através de observações in
mentais têm aplicação imediata. loco e entrevistas com questionários semi-estruturados
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição realizadas com professores no período de maio a julho
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios de 2011 em duas escolas públicas; Escola Municipal de
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Ensino Fundamental José Rodrigues e Escola de Ensino
República Federativa do Brasil seja parte.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Fundamental Júlia Verônica Rodrigues, ambas localizadas


§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos no Município de Areia – PB.
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congres-
so Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos Educação ambiental e sua importância
respectivos membros, serão equivalentes às emendas cons-
titucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de A expressão “Educação Ambiental” (E. A.) surgiu ape-
2004) (Atos aprovados na forma deste parágrafo) nas nos anos 70, sobretudo quando surge a preocupação
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal In- com a problemática ambiental. A partir de então surge
ternacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (In- vários acontecimentos que solidificaram tais questões,
cluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) como a Conferência de Estocolmo em 1972, a Confe-
rência Rio-92 em 1992, realizada no Rio de Janeiro, que
Fonte estabeleceu uma importante medida, Agenda 21, que foi
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/cons- um plano de ação para o século XXI visando a sustentabi-
tituicao/ConstituicaoCompilado.htm lidade da vida na terra (Dias, 2004), dentre outros.
A sobrevivência humana sempre esteve ligada ao
meio natural. Mas com o padrão desenvolvimentista de
acumulação e concentração de capital, verifica-se uma

78
apropriação da natureza de forma inadequada, onde se Recusar-se a ensinar crianças e jovens com neces-
retira dela muito além do necessário ao sustento huma- sidades educacionais especiais (NEE) é crime: todas as
no em nome do capitalismo que só visa o lucro, provo- instituições devem oferecer atendimento especializado,
cando desequilíbrio na relação do homem com o meio chamado de Educação Especial. No entanto, o termo não
natural, onde o processo de degradação tem aumentado deve ser confundido com escolarização especial, que
cada vez mais, comprometendo a qualidade de vida da atende os portadores de deficiência em uma sala de aula
sociedade. Desta maneira se faz necessário medidas ur- ou escola separada, apenas formadas de crianças com
gentes em todo mundo quanto a uma conscientização NEE. Isso também é ilegal.
das pessoas que a levem a gerar novos conceitos sobre O artigo 208 da Constituição brasileira especifica que
a importância da preservação do meio ambiente no dia- é dever do Estado garantir “atendimento educacional es-
-dia, e a educação ambiental é uma ferramenta que con- pecializado aos portadores de deficiência, preferencial-
tribuirá significativamente neste processo de conscienti- mente na rede regular de ensino”, condição que também
zação, pois a E. A. Segundo Dias (2004, p 523) é: consta no artigo 54 do ECA (Estatuto da Criança e do
“Processo permanente no qual os indivíduos e a co- Adolescente).
munidade tomam consciência do seu meio ambiente e A legislação também obriga as escolas a terem pro-
adquirem novos conhecimentos, valores, habilidades, ex- fessores de ensino regular preparados para ajudar alunos
periências e determinação que os tornam aptos a agir e com necessidades especiais a se integrarem nas classes
resolver problemas ambientais, presentes e futuros.” comuns. Ou seja, uma criança portadora de deficiência
não deve ter de procurar uma escola especializada. Ela
A educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril tem direito a cursar instituições comuns, e é dever dos
de 1999, pela Lei Nº 9.795– Lei da Educacao Ambiental, professores elaborar e aplicar atividades que levem em
onde em seu Art. 2º afirma: «A educação ambiental é um conta as necessidades específicas dela.
componente essencial e permanente da educação nacio- No caso da alfabetização para cegos, por exemplo,
nal, devendo estar presente, de forma articulada, em to- o aluno tem direito a usar materiais adaptados ao le-
dos os níveis e modalidades do processo educativo, em tramento especial, como livros didáticos transcritos em
caráter formal e não-formal”. É importante lembrar que braille para escrever durante as aulas. De acordo com o
o Brasil é o único país da América Latina que possui uma decreto 6.571, de 17 de setembro de 2008, o Estado deve
política nacional específica para a Educação Ambiental. oferecer apoio técnico e financeiro para que o atendi-
A EA nesta perspectiva apresenta um carater in- mento especializado esteja presente em toda a rede pú-
terdisciplinar, onde sua abordagem deve ser integrada blica de ensino. Mas o gestor da escola e as Secretarias
e continua, e não ser uma nova disciplina, ou seja, “A de Educação e administração é que precisam requerer os
Educação Ambiental não deve ser implantada como uma recursos para isso.
disciplina no curriculo de ensino em conformidade com Às vezes o atendimento escolar especial (AEE) deve
a lei 9.795/99” ser feito com um profissional auxiliar, em caso de pa-
A EA tem sido um componente importante para se ralisia cerebral, por exemplo. Esse profissional auxilia na
repensar as teorias e práticas que fundamentam as ações execução das atividades, na alimentação e na higiene
educativas, quer nos contextos formais ou informais, pessoal. O professor e o responsável pelo AEE devem
deve ser interdisciplinar, orientado para solução dos pro- coordenar o trabalho e planejar as atividades. O auxiliar
blemas voltados para realidade local, adequando-os ao não foge do tema da aula, que é comum a todos os alu-
público alvo e a realidade dos mesmos, pois os proble- nos, mas o adapta da melhor forma possível para que o
mas ambientais de acordo com Dias (2004) devem ser aluno consiga acompanhar o resto da classe.
compreendidos primeiramente em seu contexto local, Mas a preparação da escola não deve ser apenas
e em seguida ser entendida em seu contexto global. É dentro da sala de aula: alunos com deficiência física ne-
importante que ocorra um processo participativo perma- cessitam de espaços modificados, como rampas, eleva-
nente, de maneira que não seja apenas e exclusivamente dores (se necessário), corrimões e banheiros adaptados.
informativa, é imprescindível a prática, de modo a desen- Engrossadores de lápis, apoio para braços, tesouras es-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

volver e incutir uma consciência crítica sobre a problemá- peciais e quadros magnéticos são algumas tecnologias
tica ambiental. assistivas que podem ajudar o desempenho das crianças
e jovens com dificuldades motoras.

Educação Inclusiva – pessoa com deficiência


PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA EDUCA-
ÇÃO INCLUSIVA A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido
muito distorcido e um movimento muito polemizado pe-
los mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No
O que é inclusão social escolar? entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, per-
manentes ou temporários, mais graves ou menos severos
Inclusão escolar é acolher todas as pessoas, sem ex- no ensino regular nada mais é do que garantir o direito
ceção, no sistema de ensino, independentemente de cor, de todos à educação - e assim diz a Constituição!
classe social e condições físicas e psicológicas. O termo Inovar não tem necessariamente o sentido do inu-
é associado mais comumente à inclusão educacional de sitado. As grandes inovações estão, muitas vezes na
pessoas com deficiência física e mental. concretização do óbvio, do simples, do que é possível

79
fazer, mas que precisa ser desvelado, para que possa ser águas os alunos podem afundar. Mas há sistemas orga-
compreendido por todos e aceito sem outras resistên- nizacionais de ensino que tornam esse percurso muito
cias, senão aquelas que dão brilho e vigor ao debate das difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a
novidades. correnteza do rio e a força dos que querem se manter no
O objetivo de nossa participação neste evento é cla- seu curso principal.
rear o sentido da inclusão, como inovação, tornando-o Um desses sistemas, que muito apropriadamente
compreensível, aos que se interessam pela educação se denomina “de cascata”, prevê a exclusão de algumas
como um direito de todos, que precisa ser respeitado. crianças, que têm déficits temporários ou permanentes
Pretendemos, também demonstrar a viabilidade da in- e em função dos quais apresentam dificuldades para
clusão pela transformação geral das escolas, visando a aprender. Esse sistema contrapõe-se à melhoria do en-
atender aos princípios deste novo paradigma educacio- sino nas escolas, pois mantém ativo, o ensino especial,
nal. que atende aos alunos que caíram na cascata, por não
Para descrever o nosso caminho na direção das es- conseguirem corresponder às exigências e expectativas
da escola regular. Para se evitar a queda na cascata, na
colas inclusivas vamos focalizar nossas experiências, no
maioria das vezes sem volta, é preciso remar contra a
cenário educacional brasileiro sob três ângulos: o dos
correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão: o
desafios provocados por essa inovação, o das ações no
ensino de baixa qualidade e o subsistema de ensino es-
sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o pecial, desvinculada e justaposto ao regular.
trabalho de formação de professores e, finalmente o das Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um
perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de desafio que precisa ser assumido por todos os educado-
sua implementação. res. É um compromisso inadiável das escolas, pois a edu-
cação básica é um dos fatores do desenvolvimento eco-
Uma educação para todos nômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser
realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos
O princípio democrático da educação para todos só modelos tradicionais de organização do sistema escolar.
se evidencia nos sistemas educacionais que se especiali- Se hoje já podemos contar com uma Lei Educacional
zam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os que propõe e viabiliza novas alternativas para melhoria
alunos com deficiência. A inclusão, como consequência do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na maio-
de um ensino de qualidade para todos os alunos provo- ria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a
ca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que
é um motivo a mais para que o ensino se modernize e existe em geral são projetos de inclusão parcial, que não
para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É estão associados a mudanças de base nas escolas e que
uma inovação que implica num esforço de atualização e continuam a atender aos alunos com deficiência em es-
reestruturação das condições atuais da maioria de nossas paços escolares semi ou totalmente segregados (classes
escolas de nível básico. especiais, salas de recurso, turmas de aceleração, escolas
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como especiais, os serviços de itinerância).
uma nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, As escolas que não estão atendendo alunos com
sem dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e deficiência em suas turmas regulares se justificam, na
privadas, de modo que se tornem aptas para responder maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores
às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo para esse fim. Existem também as que não acreditam nos
com suas especificidades, sem cair nas teias da educação benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situa-
ção, especialmente os casos mais graves, pois não teriam
especial e suas modalidades de exclusão.
condições de acompanhar os avanços dos demais cole-
gas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na
do que nas classes e escolas especiais.
escola regular decorre, portanto, das possibilidades de Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é
se conseguir progressos significativos desses alunos na a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação no-
escolaridade, por meio da adequação das práticas peda-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

vas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a


gógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue todos os alunos, o que, implica na atualização e desen-
atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que volvimento de conceitos e em aplicações educacionais
as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, compatíveis com esse grande desafio.
mas resultam em grande parte do modo como o ensi- Muda então a escola ou mudam os alunos, para se
no é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. ajustarem às suas velhas exigências? Ensino especializa-
Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas tam- do em todas as crianças ou ensino especial para deficien-
bém as que são pobres, as que não vão às aulas porque tes? Professores que se aperfeiçoam para exercer suas
trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as funções, atendendo às peculiaridades de todos os alu-
que de tanto repetir desistiram de estudar. nos, ou professores especializados para ensinar aos que
não aprendem e aos que não sabem ensinar?
Os desafios
As ações
Toda criança precisa da escola para aprender e não
para marcar passo ou ser segregada em classes especiais Visando os aspectos organizacionais, ao nosso ver
e atendimentos à parte. A trajetória escolar não pode é preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino
ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas nelas ministrado. A escola aberta para todos é a grande

80
meta e, ao mesmo tempo, o grande problema da educa- Por outro lado, a inclusão não implica em que se de-
ção na virada do século. senvolva um ensino individualizado para os alunos que
Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendi-
trabalho em muitas frentes. Destacaremos as que con- zagem e outros, relacionados ao desempenho escolar.
sideramos primordiais, para que se possa transformar a Na visão inclusiva, não se segregam os atendimentos,
escola, em direção de um ensino de qualidade e, em con- seja dentro ou fora das salas de aula e, portanto, nenhum
sequência, inclusivo. aluno é encaminhado às salas de reforço ou aprende, a
partir de currículos adaptados. O professor não predeter-
Temos de agir urgentemente: mina a extensão e a profundidade dos conteúdos a se-
rem construídos pelos alunos, nem facilita as atividades
- Colocando a aprendizagem como o eixo das esco- para alguns, porque, de antemão já prevê q dificuldade
las, porque escola foi feita para fazer com que todos os que possam encontrar para realizá-las. Porque é o aluno
alunos aprendam; que se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de
- Garantindo tempo para que todos possam apren- regular o seu processo de construção intelectual.
der e reprovando a repetência; A avaliação constitui um outro entrave à implemen-
- Abrindo espaço para que a cooperação, o diálogo, tação da inclusão. É urgente suprimir o caráter classifi-
a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam catório da avaliação escolar, através de notas, provas,
exercitados nas escolas, por professores, administrado- pela visão diagnóstica desse processo que deverá ser
res, funcionários e alunos, pois são habilidades mínimas contínuo e qualitativo, visando depurar o ensino e torná-
para o exercício da verdadeira cidadania; -lo cada vez mais adequado e eficiente à aprendizagem
- Estimulando, formando continuamente e valorizan- de todos os alunos. Essa medida já diminuiria substan-
do o professor que é o responsável pela tarefa funda- cialmente o número de alunos que são indevidamente
mental da escola - a aprendizagem dos alunos; avaliados e categorizados como deficientes, nas escolas
- Elaborando planos de cargos e aumentando salá- regulares.
rios, realizando concursos públicos de ingresso, acesso e
A aprendizagem como o centro das atividades es-
remoção de professores.
colares e o sucesso dos alunos, como a meta da escola,
independentemente do nível de desempenho a que cada
Que ações implementar para que a escola mude?
um seja capaz de chegar são condições de base para que
Para melhorar as condições pelas quais o ensino é se caminha na direção de escolas acolhedoras. O senti-
ministrado nas escolas, visando, universalizar o acesso, do desse acolhimento não é o da aceitação passiva das
ou seja, a inclusão de todos, incondicionalmente, nas tur- possibilidades de cada um, mas o de serem receptivas a
mas escolares e democratizar a educação, sugerimos o todas as crianças, pois as escolas existem, para formar
que, felizmente, já está ocorrendo em muitas redes de as novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros
ensino, verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da membros, os mais privilegiados.
inclusão. A inclusão não prevê a utilização de métodos e téc-
A primeira sugestão para que se caminhe para uma nicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiên-
educação de qualidade é estimular as escolas para que cia. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem
elaborem com autonomia e de forma participativa o seu chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o pro-
Projeto Político Pedagógico, diagnosticando a demanda, fessor considera o nível de possibilidades de desenvol-
ou seja, verificando quantos são os alunos, onde estão e vimento de cada um e explora essas possibilidades, por
porque alguns estão fora da escola. meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se en-
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que quadra por si mesmo, na medida de seus interesses e
estão à margem dela, não será possível elaborar um cur- necessidades, seja para construir uma ideia, ou resolver
rículo escolar que reflita o meio social e cultural em que um problema, realizar uma tarefa. Eis aí um grande desa-
se insere. A integração entre as áreas do conhecimento fio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais,
e a concepção transversal das novas propostas de orga- cujo paradigma é condutista, e baseado na transmissão
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

nização curricular consideram as disciplinas acadêmicas dos conhecimentos.


como meios e não fins em si mesmas e partem do res- O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e na
peito à realidade do aluno, de suas experiências de vida escola como um todo é compatível com a vocação da
cotidiana, para chegar à sistematização do saber. escola de formar as gerações. É nos bancos escolares que
Como essa experiência varia entre os alunos, mes- aprendemos a viver entre os nossos pares, a dividir as
mo sendo membros de uma mesma comunidade, a im- responsabilidades, repartir as tarefas. O exercício dessas
plantação dos ciclos de formação é uma solução justa, ações desenvolve a cooperação, o sentido de se traba-
embora ainda muito incompreendida pelos professores e lhar e produzir em grupo, o reconhecimento da diversi-
pais, por ser uma novidade e por estar sendo ainda pou- dade dos talentos humanos e a valorização do trabalho
co difundida e aplicada pelas redes de ensino. De fato, de cada pessoa para a consecução de metas comuns de
se dermos mais tempo para que os alunos aprendam, um mesmo grupo.
eliminando a seriação, a reprovação, nas passagens de O tutoramento nas salas de aula tem sido uma solu-
um ano para outro, estaremos adequando o processo de ção natural, que pode ajudar muito os alunos, desenvol-
aprendizagem ao ritmo e condições de desenvolvimento vendo neles o hábito de compartilhar o saber. O apoio ao
dos aprendizes - um dos princípios das escolas de quali- colega com dificuldade é uma atitude extremamente útil
dade para todos e humana e que tem sido muito pouco desenvolvida nas

81
escolas, sempre tão competitivas e despreocupadas com efetivar a inclusão escolar. Eles introjetaram o papel de
a construção de valores e de atitudes morais. praticantes e esperam que os formadores lhes ensinem o
Além dessas sugestões, referentes ao ensino nas es- que é preciso fazer, para trabalhar com níveis diferentes
colas, a educação de qualidade para todos e a inclusão de desempenho escolar, transmitindo-lhes os novos co-
implicam em mudanças de outras condições relativas à nhecimentos, conduzindo-lhes da mesma maneira como
administração e aos papéis desempenhados pelos mem- geralmente trabalham com seus próprios alunos. Acredi-
bros da organização escolar. tam que os conhecimentos que lhes faltam para ensinar
Nesse sentido é primordial que sejam revistos os pa- as crianças com deficiência ou dificuldade de aprender
péis desempenhados pelos diretores e coordenadores, por outras incontáveis causas referem-se primordialmen-
no sentido de que ultrapassem o teor controlador, fis- te à conceituação, etiologia, prognósticos das deficiên-
calizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de cias e que precisam conhecer e saber aplicar métodos e
apoio, orientação do professor e de toda a comunidade técnicas específicas para a aprendizagem escolar desses
escolar. alunos. Os dirigentes das redes de ensino e das escolas
A descentralização da gestão administrativa, por sua particulares também pretendem o mesmo, num primeiro
vez, promove uma maior autonomia pedagógica, admi- momento, em que solicitam a nossa colaboração.
nistrativa e financeira de recursos materiais e humanos Se de um lado é preciso continuar investindo maci-
das escolas, por meio dos conselhos, colegiados, assem- çamente na direção da formação de profissionais quali-
bleias de pais e de alunos. Mudam-se os rumos da admi- ficados, não se pode descuidar da realização dessa for-
nistração escolar e com isso o aspecto pedagógico das mação e estar atento ao modo pelo qual os professores
funções do diretor e dos coordenadores e supervisores aprendem para se profissionalizar e para aperfeiçoar
emerge. Deixam de existir os motivos pelos quais que seus conhecimentos pedagógicos, assim como reagem
esses profissionais ficam confinados aos gabinetes, às às novidades, aos novos possíveis educacionais.
questões burocráticas, sem tempo para conhecer e parti-
cipar do que acontece nas salas de aula. A metodologia

Visando à formação continuada dos professores Diante dessas circunstâncias e para que possamos
atingir nossos propósitos de formar professores para
Sabemos que, no geral, os professores são bastante uma escola de qualidade para todos, idealizamos um
resistentes às inovações educacionais, como a inclusão. projeto de formação que tem sido adotado por redes de
A tendência é se refugiarem no impossível, considerando ensino públicas e escolas particulares brasileiras, desde
que a proposta de uma educação para todos é válida, 1991.
porém utópica, impossível de ser concretizada com mui- Nossa proposta de formação se baseia em princípios
tos alunos e nas circunstâncias em que se trabalha, hoje, educacionais construtivistas, pois reconhecemos que a
nas escolas, principalmente nas redes públicas de ensino. cooperação, a autonomia intelectual e social, a aprendi-
A maioria dos professores têm uma visão funcional zagem ativa e a cooperação são condições que propi-
do ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de ciam o desenvolvimento global de todos os alunos, assim
trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas sa- como a capacitação e o aprimoramento profissional dos
las de aula é rejeitado. Também reconhecemos que as professores.
inovações educacionais abalam a identidade profissional, Nesse contexto, o professor é uma referência para o
e o lugar conquistado pelos professores em uma dada aluno e não apenas um mero instrutor, pois enfatizamos
estrutura ou sistema de ensino, atentando contra a expe- a importância de seu papel tanto na construção do co-
riência, os conhecimentos e o esforço que fizeram para nhecimento, como na formação de atitudes e valores do
adquiri-los. futuro cidadão. Assim sendo, a formação continuada vai
Os professores, como qualquer ser humano, tendem além dos aspectos instrumentais de ensino.
a adaptar uma situação nova às anteriores. E o que é ha- A metodologia que adotamos reconhece que o pro-
bitual, no caso dos cursos de formação inicial e na educa- fessor, assim como o seu aluno, não aprende no vazio.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ção continuada, é a separação entre teoria e prática. Essa Assim sendo, partimos do “saber fazer” desses profissio-
visão dicotômica do ensino dificulta a nossa atuação, nais, que já possuem conhecimentos, experiências, cren-
como formadores. Os professores reagem inicialmente à ças, esquemas de trabalho, ao entrar em contato com a
nossa metodologia, porque estão habituados a aprender inclusão ou qualquer outra inovação.
de maneira incompleta, fragmentada e essencialmente Em nossos projetos de aprimoramento e atualiza-
instrucional. Eles esperam aprender uma prática inclusi- ção do professor consideramos fundamental o exercício
va, ou melhor, uma formação que lhes permita aplicar es- constante de reflexão e o compartilhamento de ideias,
quemas de trabalho pré-definidos às suas salas de aulas, sentimentos, ações entre os professores, diretores, coor-
garantindo-lhes a solução dos problemas que presumem denadores da escola. Interessam-nos as experiências
encontrar nas escolas inclusivas. concretas, os problemas reais, as situações do dia-a-dia
Em uma palavra, os professores acreditam que a for- que desequilibram o trabalho, nas salas de aula. Eles são
mação em serviço lhes assegurará o preparo de que ne- a matéria-prima das mudanças. O questionamento da
cessitam para se especializarem em todos os alunos, mas própria prática, as comparações, a análise das circuns-
concebem essa formação como sendo mais um curso de tâncias e dos fatos que provocam perturbações e/ou res-
extensão, de especialização com uma terminalidade e pondem pelo sucesso vão definindo, pouco a pouco, aos
com um certificado que lhes convalida a capacidade de professores as suas “teorias pedagógicas”. Pretendemos

82
que os professores sejam capazes de explicar o que ou- Temos estimulado em todas as redes em que atua-
trora só sabiam reproduzir, a partir do que aprendiam em mos a criação dos centros, pois ao nosso ver, eles resu-
cursos, oficinas, palestras, exclusivamente. Incentivamos mem o que pretendemos, quando nos referimos à for-
os professores para que interajam com seus colegas com mação continuada - um local em que o professor e toda
regularidade, estudem juntos, com e sem o nosso apoio comunidade escolar vem para realimentar o conheci-
técnico e que estejam abertos para colaborar com seus mento pedagógico, além de servir igualmente aos alunos
pares, na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão. e a todos os interessados pela educação, no município.
O fato de os professores fundamentarem suas práti- Ao nosso ver, os cursos e demais atividades de for-
cas e argumentos pedagógicos no senso comum dificul- mação em serviço, habitualmente oferecidos aos profes-
ta a explicitação dos problemas de aprendizagem. Essa sores não estão obtendo o retorno que o investimento
dificuldade pode mudar o rumo da trajetória escolar de propõe. Temos insistido na criação desses Centros, por-
alunos que muitas vezes são encaminhados indevida- que a existência de seus serviços redireciona o que já é
mente para as modalidades do ensino especial e outras usual nas redes de ensino, ou seja, o apoio ao professor,
pelos itinerantes. Não concordamos com esse suporte a
opções segregativas de atendimento educacional.
alunos e professores com dificuldades, porque “apagam
Daí a necessidade de se formarem grupos de estudos
incêndio”, agem sobre os sintomas, oferecem soluções
nas escolas, para a discussão e a compreensão dos pro-
particularizadas, locais, mas não vão à fundo no proble-
blemas educacionais, à luz do conhecimento científico e
ma e suas causas. Os serviços itinerantes de apoio não
interdisciplinarmente, se possível. Os grupos são organi- solicitam o professor, no sentido de que se mobilize, de
zados espontaneamente pelos próprios professores, no que reveja sua prática. Sua existência não obriga o pro-
horário em que estão nas escolas e são acompanhados, fessor a assumir a responsabilidade pela aprendizagem
inicialmente, pela equipe da rede de ensino, encarregada de todos os alunos, pois já existe um especialista para
da coordenação das ações de formação. As reuniões têm atender aos casos mais difíceis, que são os que justa-
como ponto de partida, as necessidades e interesse co- mente fazem o professor evoluir, na maneira de proce-
muns de alguns professores de esclarecer situações e de der com a turma toda. Porque se um aluno não vai bem,
aperfeiçoar o modo como trabalham nas salas de aula. seja ele uma pessoa com ou sem deficiência, o problema
O foco dos estudos está na resolução dos problemas de precisa ser analisado não apenas com relação às reações
aprendizagem, o que remete à análise de como o ensino dessa ou de outra criança, mas ao grupo como um todo,
está sendo ministrado, pois o processo de construção do ao ensino que está sendo ministrado, para que os alunos
conhecimento é interativo e os seus dois lados devem ser possam aprender, naquele grupo.
analisados, quando se quer esclarecê-lo. A itinerância não faz evoluir as práticas, o conhe-
Participam dos grupos, além dos professores, o di- cimento pedagógico dos professores. Ë, na nossa opi-
retor da escola, coordenadores, mas há grupos que se nião, mais uma modalidade da educação especial que
formam entre membros de diversas escolas, que este- acomoda o professor do ensino regular, tirando-lhe a
jam voltados para um mesmo tema de estudo, como por oportunidade de crescer, de sentir a necessidade de bus-
exemplo a indisciplina, a sexualidade, a ética e a violên- car soluções e não aguardar que alguém de fora venha,
cia, a avaliação e outros assuntos pertinentes. regularmente, para resolver seus problemas. Esse servi-
A equipe responsável pela coordenação da forma- ço igualmente reforça a ideia de que os problemas de
ção é constituída por professores, coordenadores, que aprendizagem são sempre do aluno e que só o especia-
são da própria rede de ensino, e por parceiros de outras lista poderá se incumbir de removê-los, com adequação
Secretarias afins: Saúde, Esportes, Cultura. Nós trabalha- e eficiência.
mos diretamente com esses profissionais, mas também O tipo de formação que estamos implementando
para tornar possível a inclusão implica no estabelecimen-
participamos do trabalho nas escolas, acompanhando-
to de parcerias entre professores, alunos, escolas, pro-
-as esporadicamente, quando somos solicitados - minha
fissionais de outras áreas afins, Universidades, para que
equipe de alunos e eu.
possa se manter ativa e capaz de fazer frente às inúmeras
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

solicitações que essa modalidade de trabalho provoca


Os Centros de Desenvolvimento do Professor nos interessados. Por outro lado, essas parcerias ense-
jam o desenvolvimento de outras ações, entre as quais a
Algumas redes de ensino criaram o que chamamos investigação educacional e em outros ramos do conhe-
de Centros de Desenvolvimento do Professor, os quais cimento. São nessas redes e a partir dessa formação que
representam um avanço nessa nova direção de formação estamos pesquisando e orientando trabalhos de nossos
continuada, que estamos propondo, pois sediam a maio- alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de
ria das ações de aprimoramento da rede, promovendo Educação / Unicamp e onde estamos observando os efei-
eventos de pequeno, médio e grande porte, como wor- tos desse trabalho, nas redes.
kshops, seminários, entrevistas, com especialistas, fóruns Não dispensamos os cursos, oficinas e outros even-
e outras atividades. Sejam atendendo individualmente, tos de atualização e de aperfeiçoamento, quando estes
como em pequenos e grandes grupos os professores, são reivindicados pelo professor e nesse sentido a parce-
pais, comunidade. Os referidos Centros também se de- ria com outros grupos de pesquisa da Unicamp e colegas
dicam ao encaminhamento e atendimento de alunos que de outras Universidades têm sido muito eficiente. Mas há
necessitam de tratamento clínico, em áreas que não se- cursos que oferecemos aos professores, que são minis-
jam a escolar, propriamente dita. trados por seus colegas da própria rede, quando estes

83
se dispõem a oferecê-los ou são convidados por nós, ao cionar condições de se desenvolver e de se tornar um
conhecermos o valor de sua contribuição para os demais. cidadão, alguém com identidade social e cultural
As escolas e professores com os quais estamos tra- Melhorar as condições da escola é formar gerações
balhando já apresentam sintomas pelos quais podemos mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livre-
perceber que estão evoluindo dia -a- dia para uma Edu- mente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos
cação de qualidade para Todos. Esses sintomas podem nos contradizer nem mesmo contemporizar soluções,
ser resumidos no que segue: mesmo que o preço que tenhamos de pagar seja bem
- reconhecimento E valorização da diversidade, alto, pois nunca será tão alto quanto o resgate de uma
como elemento enriquecedor do processo de ensino e vida escolar marginalizada, uma evasão, uma criança es-
aprendizagem; tigmatizada, sem motivos.
- Professores conscientes do modo como atuam, A escola prepara o futuro e de certo que se as crian-
para promover a aprendizagem de todos os alunos; ças conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade
- Cooperação entre os implicados no processo edu- nas suas salas de aula, serão adultos bem diferentes de
cativo - dentro e fora da escola;
nós, que temos de nos empenhar tanto para defender o
- Valorização do processo sobre o produto da apren-
indefensável.
dizagem;
A inclusão escolar remete a escola a questões de es-
- Enfoques curriculares, metodológicos e estratégias
pedagógicas que possibilita, a construção coletiva do co- trutura e de funcionamento que subvertem seus paradig-
nhecimento. mas e que implicam em um redimensionamento de seu
É preciso, contudo, considerar que a avaliação dos papel, para um mundo que evolui a “bytes”.
efeitos de nossos projetos não se centra no aproveita- O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que
mento de alguns alunos, os deficientes, nas classes regu- seja ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de
lares. Embora estes casos sejam objeto de nossa atenção, toda e qualquer mudança, especialmente no meio edu-
queremos acima de tudo saber se os professores evoluí- cacional, é irreversível e convence a todos pela sua lógi-
ram na sua maneira de fazer acontecer a aprendizagem ca, pela ética de seu posicionamento social.
nas suas salas de aula; se as escolas se transformaram, A inclusão está denunciando o abismo existente
se as crianças estão sendo respeitadas nas suas possibi- entre o velho e o novo na instituição escolar brasileira.
lidades de avançar, autonomamente, na construção dos A inclusão é reveladora dessa distância que precisa ser
conhecimentos acadêmicos; se estes estão sendo cons- preenchida com as ações que relacionamos anterior-
truídos no coletivo escolar, em clima de solidariedade; se mente.
a as relações entre as crianças, pais, professores e toda a Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, ao
comunidade escolar se estreitaram, nos laços da coope- nosso ver, dependendo de uma expansão rápida dos
ração, do diálogo, fruto de um exercício diário de com- projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso de
partilhamento de seus deveres, problemas, sucessos. transformar a escola, para se adequar aos novos tempos.
Se hoje ainda são experiências locais, as que estão
Outras alternativas de formação demonstrando a viabilidade da inclusão, em escolas e re-
des de ensino brasileiras, estas experiências têm a força
Para ampliar essas parcerias estamos utilizando tam- do óbvio e a clareza da simplicidade e só essas virtudes
bém as redes de comunicação à distância para inter- são suficientes para se antever o crescimento desse novo
câmbios de experiências entre alunos e profissionais da paradigma no sistema educacional.
educação, pais e comunidade. Embora ainda incipiente, Não se muda a escola com um passe de mágica. A
o Caleidoscópio - Um Projeto de Educação Para Todos
implementação da escola de qualidade, que é igualitária,
é o nosso site na Internet e por meio deste hipertexto
justa e acolhedora para todos, é um sonho possível.
estamos trabalhando no sentido de provocar a intera-
A aparente fragilidade das pequenas iniciativas, ou
tividade presencial e virtual entre as escolas, como mais
uma alternativa de formação continuada, que envolve os seja, essas experiências locais que têm sido suficientes
alunos, as escolas e a rede como um todo. O Caleidos- para enfrentar o poder da máquina educacional, velha e
enferrujada, com segurança e tranquilidade. Essas inicia-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

cópio tem sido objeto de estudos de nossos alunos e de


outras unidades da Unicamp, relacionadas à ciência da tivas têm mostrado a viabilidade da inclusão escolar nas
computação e está crescendo como proposta e abrindo escolas brasileiras.
canais de participação com a comunidade e com outras As perspectivas do ensino inclusivo são, pois, anima-
instituições que se propõe a participar do movimento in- doras e alentadoras para a nossa educação. A escola é do
clusivo, dentro e fora das escolas. povo, de todas as crianças, de suas famílias, das comuni-
Se pretendemos mudanças nas práticas de sala de dades, em que se inserem.
aula, não podemos continuar formando e aperfeiçoando Crianças, bem-vindas à uma nova escola!
os professores como se as inovações só se referissem à
aprendizagem dos alunos da educação infantil, da escola Referências:
fundamental e do ensino médio... MANTOAN: M T. E. Todas as crianças são bem-vindas
à escola. Universidade Estadual de Campinas/ Unicamp.
As perspectivas

A escola para a maioria das crianças brasileiras é o


único espaço de acesso aos conhecimentos universais e
sistematizados, ou seja, é o lugar que vai lhes propor-

84
prontos a serem passados aos alunos. São uma constru-
DIVERSIDADE E RELAÇÕES ÉTNICO-RA- ção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas
CIAIS. em contextos concretos e em dinâmicas sociais, políticas
e culturais, intelectuais e pedagógicas (Lopes 2006). Co-
nhecimentos e práticas expostos às novas dinâmicas e
reinterpretados em cada contexto histórico.
Prezado candidato, confira a seguir um texto relacio-
nado ao tema indicado e não deixe de conferir em Legis-
Á necessidade de sabermos como a lei nº 10.639/03
lação as Diretrizes pertinentes ao estudo da Diversidade.
vem influenciado a elaboração de um currículo voltado
as necessidades humanas atuais e como a Rede Munici-
Refletir sobre o currículo perpassa questões tão im-
pal de Ensino de Lucas do Rio Verde como poder consti-
portantes quanto imprescindíveis para uma análise dos
tuído vem orientando a proposta curricular com base na
aspectos subjetivos referentes à concepção de currículo
lei, principalmente com as disciplinas de História, artes
que temos construído ao longo da história da educação
e língua portuguesa nas sérias inicias do Ensino Funda-
brasileira. Dependendo do lugar de onde estamos, das
mental na inserção destes conteúdos no currículo escolar
posições ideológicas que assumimos, podemos influen-
de Rede municipal como oportunidade de a escola fa-
ciar e materializar um currículo que ora contemple os
zer a educação contemplando as relações étnico-raciais,
ditames e normas das legislações educacionais, ora assu-
para desenvolver no educando a capacidade de respeito,
ma e transpareça a vida dos educandos, suas habilidades
e competências. valorização e convivência com as expressões e manifes-
tações da cultura afro-brasileira no cotidiano da sala de
A presente pesquisa tem como objetivo investigar aula e na comunidade onde as escolas se encontram in-
como foi elaborada e aplicada a proposta curricular para seridas. Incluir os conteúdos das culturas afro-brasileira
promoção da educação das relações étnico-raciais no no currículo das escolas de ensino fundamental e médio
sistema municipal de educação do Município de Lucas é mais do que um desafio é um dever político dos ges-
do Rio Verde Estado de Mato Grosso, em conformidade tores e professores e representa um meio de tornar a
com as determinações da LDB, tendo em vista as alte- escola espaço inclusivo, e de valorização das diferenças
rações propiciadas pela lei nº 10.639/03, das Diretrizes culturais que caracterizam o Brasil (MACEDO, 2007; OLI-
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Ét- VEIRA, 2003).
nico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
-Brasileira e Africana. O estudo buscou analisar as políticas públicas do
município (Plano Municipal de Educação, proposta cur-
Partimos da compreensão de que os primeiros passos ricular) através da sua proposta curricular educacional
para construir relações educacionais de respeito e valo- voltada para as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
rização das diversas etnias está em constituir nas escolas Educação das Relações Étnico-Raciais da rede Munici-
espaços de experienciação de vivências democráticas de pal de Ensino de Lucas do Rio Verde. Fez se necessário
produção de conhecimento. Minha pesquisa procurara à utilização de pesquisa qualitativa, levantamento biblio-
responder. Como a Rede Municipal de Ensino de Lucas gráfico, pesquisa de campo e documental bem como o
do Rio Verde vem cumprindo a lei Nº 10.639/03? Como é estudo da proposta curricular da Secretaria Municipal de
a organização curricular da Secretaria Municipal de Edu- Educação do Município. E de que forma se faz presen-
cação? De que forma se faz presente no espaço esco- te no espaço escolar para atender as diretrizes da Lei n°
lar para atender as diretrizes da Lei n° 10.639/03?Como 10.639/03. Em um segundo momento uma visita “In loco”
a Lei 10.639/03 que já completou oito (08) anos de sua as Instituições Municipais de Ensino sendo elas as Escolas
publicação, efetivamente está sendo implementada no Municipais Eça de Queirós e Caminho para o Futuro que
Município? atuam com as séries iniciais do ensino Fundamental, para
analisar suas propostas pedagógicas e constatar a imple-
O currículo, como forma de organização do conheci- mentação da lei após sua publicação nas Escolas Públicas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

mento escolar, tem em seu conteúdo a intencionalidade Municipais citadas.


e, por isso, deve estar aberto às interações e à criativida-
de dos agentes e atores internos e externos ao ambiente Para Lopes (2006) antes de refletir sobre o currículo
escolar (Lopes 2006). Sendo o currículo uma organiza- e suas implicações na constituição de identidades indivi-
ção/instituição que expressa os interesses do grupo que duais e sociais é preciso refletir sobre a função social da
o escolheu, é preciso compreender, no processo de ensi- escola e as condições de acesso da população negra ou
no-aprendizagem, assuntos que fomentem diálogos que mestiça a esta instituição e sua permanência na mesma.
tenham nexos com a realidade social do sujeito aprendiz. Lopes (2006) vai dizer que o currículo não é construído
Na elaboração de propostas pedagógicas e currículos de forma neutra e desinteressada, ele é um instrumento
escolares, devemos considerar concepções inerentes aos político de poder e controle social sobre a produção do
grupos presentes na escola, identificando suas especifici- conhecimento.
dades (Macedo 2007).
Considerando que a educação para a igualdade ra-
As indagações sobre o currículo presentes nas escolas cial mereceu destaque especial na Constituição Federal
e na teoria pedagógica mostram um primeiro significa- de 1988, em que foi possível ver-se refletir antigas rei-
do: a consciência de que os currículos não são conteúdos vindicações das entidades da sociedade civil organizada

85
por meio do Movimento Negro, o texto da Lei estabe- formação estão mutuamente implicados.” (Tomaz Tadeu
leceu uma nova configuração para a escola, no sentido da Silva,19991)
não apenas de assegurar igualdade de condições para
o acesso e permanência dos vários grupos étnicos, mas A educação escolarizada no Brasil ainda está pauta-
também redefinindo o tratamento dispensado pelo sis- da numa tradição europeia que valoriza a erudição, uma
tema de ensino à diversidade racial que caracteriza a so- cultura livresca pouco condizente com a nossa realidade.
ciedade brasileira. O conteúdo programático da educação básica tem man-
tido uma visão monocultural e eurocêntrica, deixando de
No primeiro capitulo intitulado, Currículo escolar e a fora as muitas culturas existentes na sociedade brasileira,
implementação da lei 10.639/03, versa sobre as questões principalmente a cultura de tradição oral.
do currículo na educação sua importância o currículo,
como forma de organização do conhecimento escolar, e Para Simone Santos o ato de educar na escola oficial
suas implicações após um breve relato sobre a promul- não tem atingido o objetivo de possibilitar às pessoas
gação da lei 10,639/03 que inclui a obrigatoriedade da uma visão mais abrangente do mundo em que vivem,
temática de História e Cultura afro-brasileiras nos cur- muito ao contrário, segue o modelo da “educação ban-
rículos escolares introduz a obrigação do ensino da his- cária”, em que são depositados conhecimentos um a um,
tória e da cultura africana e afro-brasileira nos currículos que pouco contribuem para uma formação cidadã. Nesse
escolares do ensino fundamental e secundário de todas modelo de educação, os conhecimentos adquiridos (lei-
as escolas do país, estipula que a contribuição histórica tura, cálculos, datas históricas) são considerados sempre
dos Negros na formação da sociedade e da identidade como mais importantes que os conhecimentos sentidos:
brasileira. músicas, danças, histórias, contos, lendas e parlendas.
No segundo capitulo intitulada Proposta Curricular
do Município de Lucas do Rio Verde e Lei 10.639/03, Neste sentido ela ainda afirma que o currículo, como
procura responder como o município de Lucas do Rio forma de organização do conhecimento escolar, tem em
Verde-MT vem trabalhando em conformidade com as seu conteúdo a intencionalidade e, por isso, deve es-
determinações da LDB, tendo em vista as alterações pro- tar aberto às interações e à criatividade dos agentes e
piciadas pela lei nº 10.639/03, das Diretrizes Curriculares atores internos e externos ao ambiente escolar. Sendo
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais o currículo uma organização/instituição que expressa os
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e interesses do grupo que o escolheu, é preciso compreen-
Africana. Através da proposta curricular do Município e der, no processo de ensino-aprendizagem, assuntos que
como esse currículo é efetivado no espaço escolar atra- fomentem diálogos que tenham nexos com a realidade
vés dos projeto político pedagógico Nos anos inicias do social do sujeito aprendiz. Na elaboração de propostas
ensino fundamental, aqui me atento ao 4° e 5° ano. pedagógicas e currículos escolares, devemos considerar
concepções inerentes aos grupos presentes na escola,
Por fim, as aproximações conclusivas apresentam as identificando suas especificidades.
considerações apontadas pelo estudo, propondo uma
síntese que destacando como o município de Lucas do O currículo, pensado em toda a sua dinâmica, não se
Rio Verde trabalha as questões étnico racial a partir da limita aos conhecimentos relacionados às vivências do
lei 10.639/03 após 8 anos de sua promulgação através da educando, mas introduz sempre conhecimentos novos
organização currículo e como realmente implementou as que, de certa forma, contribuem para a formação huma-
ações afirmativas no espaço escolar. na dos sujeitos. Nessa perspectiva, um currículo para a
formação humana é aquele orientado para a inclusão de
CURRÍCULO ESCOLAR E A IMPLEMENTAÇÃO DA todos no acesso aos bens culturais e ao conhecimento
LEI 10.639/03 (LIMA, 2006).

1.1 Educação e currículo O termo currículo tem sua origem latina, em que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

apresenta vários conceitos. Com isso, a palavra sofreu


O termo currículo é encontrado em registros do sécu- algumas transformações, mas não perdeu o sentido
lo XVII, sempre relacionado a um projeto de controle do original, sempre resguardando sua essência. Surgiu do
ensino e da aprendizagem, ou seja, da atividade prática verbo currere, que significa (correr). Ficou conhecido
da escola. Desde os seus primórdios, currículo envolvia como Curriculum, que era um nome “neutro” e por ser
uma associação entre o conceito de ordem e método, no plural. Currículo significa “carreira”. Dentre suas mo-
caracterizando-se como um instrumento facilitador da dificações, aparecem várias expressões, tais como Cursus
administração escolar. Forensis “carreira do foro” e Cursus Honorum “Carreiras
das honras ligadas às funções públicas”.
O currículo o espaço onde se corporificam formas de
conhecimento e de saber. O currículo é um dos locais Nos séculos XIV e XV utilizava-se a expressão cursus
privilegiados onde se entrecruzam saber e poder, repre- em algumas línguas e logo depois adotou-se o termo
sentação e domínio, discurso e regulação e é também curricuium e, em 1682, passa a se utilizar no Inglês, a
no currículo que se condensam relações de poder que palavra curricle que ficou conhecida como “cursinho”.
são cruciais para o processo de formação de subjetivi- Já em 1824, a palavra Curricuium fica conhecida como
dades sociais. Em suma, currículo, poder e processo de curso de aperfeiçoamento ou estudos universitários. No

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século XX, o termo curricuium, utilizado na Inglaterra, vai de engendrar estratégias que busquem de fato o estudo
para os Estados Unidos com sentido de Currículo Vitae da história da África e dos afro-brasileiros nas práticas
e, somente por volta de 1940, o Brasil aportuguesa a pa- educacionais.
lavra. Assim, Gonzaga (2005, p.10) afirma que: A palavra
curriculum, de origem latina, significa o curso, a rota, o Santos, também salienta que é necessário que os
caminho da vida ou das atividades de uma pessoa ou educadores e educadoras “comecem a mudar as suas
grupo de pessoas. O currículo educacional representa a formas de pensar o currículo, olhar e sentir o presente
síntese dos conhecimentos e valores que caracterizam como meio de reflexão para a construção do futuro”
um processo social expresso pelo trabalho pedagógico (apud SANTOS e ALMEIDA, 2007, p. 140). A partir das
desenvolvido nas escolas. práticas pedagógicas e das políticas transformadoras
será possível construir um mundo em que os indivíduos
Conforme o autor, o currículo ligado à escola deve sejam críticos e reflexivos sobre as questões do negro no
preocupar-se com os valores estabelecidos pela comu- nosso país.
nidade para transformá-los em trabalho pedagógico.
Em outras palavras, a escola precisa conhecer e valorizar 1.2 Lei 10.639 e relações raciais
o conhecimento que as pessoas possuem para, através
dele, elaborar atividades relacionadas ao meio em que A demanda por reparações visa a que o Estado e a so-
vivem, favorecendo, assim, estratégias de melhorias para ciedade tomem medidas para ressarcir os descendentes
o ensino. de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais,
sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime
O currículo, como forma de organização do conheci- escravista, bem como em virtude das políticas explícitas
mento escolar, tem em seu conteúdo a intencionalidade ou tácitas de branqueamento da população, de manu-
e, por isso, deve estar aberto às interações e à criativida- tenção de privilégios exclusivos para grupos com poder
de dos agentes e atores internos e externos ao ambiente de governar e de influir na formulação de políticas, no
escolar. Sendo o currículo uma organização/instituição pós-abolição. Visa também a que tais medidas se con-
que expressa os interesses do grupo que o escolheu, é cretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda
preciso compreender, no processo de ensino-aprendiza- sorte de discriminações.
gem, assuntos que fomentem diálogos que tenham ne-
Cabe ao poder constituído Estado estabelecer políti-
xos com a realidade social do sujeito aprendiz. Na elabo-
cas de reparações, no que cumpre ao disposto na Cons-
ração de propostas pedagógicas e currículos escolares,
tituição Federal, Art. 205, que assinala o dever do Esta-
devemos considerar concepções inerentes aos grupos
do de garantir indistintamente, por meio da educação,
presentes na escola, identificando suas especificidades. A
iguais direitos para o pleno desenvolvimento de todos
escola ao recepcionar tais experiências étnicas e culturais
e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou profissio-
em seu espaço, propicia assim uma democracia cognitiva
nal. Sem a intervenção do Estado, os postos à margem,
alçada na afirmação da cidadania cultural destes grupos
entre eles os afro-brasileiros, dificilmente, e as estatísti-
étnico-sociais, objetivando pensar na ressignificação de cas o mostram sem deixar dúvidas, romperão o sistema
suas culturas e histórias que foram podadas de participa- meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiça,
ção no tecido social brasileiro e, sobretudo, educacional ao reger-se por critérios de exclusão, fundados em pre-
(FREIRE,2002). conceitos e manutenção de privilégios para os sempre
privilegiados.
Assegurar na educação a difusão dos conhecimentos
dos afrodescendentes, permite valorizar a história destes Políticas de reparações voltadas para a educação dos
segmentos étnicos e reconhecer suas práticas culturais e negros devem oferecer garantias a essa população de in-
religiosas, no contexto da educação evidenciando entre gresso, permanência e sucesso na educação escolar, de
os sujeitos educativos a trajetória destes povos e o per- valorização do patrimônio histórico-cultural afro-brasi-
curso histórico tomado por eles (BERGAMASCHI, 2008).
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

leiro, de aquisição das competências e dos conhecimen-


tos tidos como indispensáveis para continuidade nos
É relevante que nesse currículo esteja incluída a his- estudos, de condições para alcançar todos os requisitos
tória e a cultura dos afro-brasileiros desde a educação tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de en-
infantil e tentar começar mudar a ideia sobre a questão sino, bem como para atuar como cidadãos responsáveis
racial. e participantes, além de desempenharem com qualifica-
ção uma profissão.
Neste contexto, é necessário se pensar um currícu- A demanda da comunidade afro-brasileira por reco-
lo que motive a construção e a transformação socioe- nhecimento, valorização e afirmação de direitos, no que
ducacional do indivíduo. Para Saviani (apud SANTOS e diz respeito à educação, passou a ser particularmente
ALMEIDA, 2007, p. 140) “o currículo deve pôr o homem apoiada com a promulgação da Lei 10639/2003, que al-
no nível de sua época e que isto corresponda a desenvol- terou a Lei 9394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade
ver uma educação para o futuro, que busque preparar as do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas.
jovens gerações para as tarefas que as esperam”. Desta
forma, acredito que a implementação da lei 10.639/03 A Lei 10.639/03 chega ao Estado Brasileiro no bojo
nos currículos escolares contribuirá para a construção de do debate da implantação das políticas de ações afirma-
uma sociedade digna e justa. É urgente a necessidade tivas para a população negra que, embora reivindicadas

87
pelo movimento social negro, compõem o discurso es- Afro-Brasileira e Africana fazem parte dessas medidas. O
tratégico dos organismos internacionais que defendem Parecer CNE 003/2004 propõe uma série de ações peda-
a instituição de políticas sociais focalizadas para os mais gógicas para o conjunto da escola, visando à implemen-
pobres, entre quais, os negros. tação da Lei 10.639/03. Fundamenta-se nos dispositivos
da Constituição Federal em a Lei 9394/96, que tratam do
Neste sentido, a Lei 10.639/03 pode configurar-se direito à igualdade de condições de vida e de cidadania,
como um instrumento de luta para o questionamento do direito às histórias e às culturas que compõem a na-
da ordem vigente, na medida em que coloca em xeque ção brasileira na escola, e do direito ao acesso às dife-
construções ideológicas de dominação, fundadoras da rentes fontes da cultura nacional a todos os brasileiros.
sociedade brasileira. Conforme Gomes,
Trata-se de política curricular fundada em dimensões
A Lei 10.639/03 e suas respectivas diretrizes curricu- históricas, sociais e antropológicas, oriundas da realidade
lares nacionais podem ser consideradas como parte do brasileira, e busca combater o racismo, e as discrimina-
projeto educativo emancipatório do Movimento Negro ções que atingem particularmente os negros. (CNE, 2004,
em prol de uma educação antirracista e que reconheça p. 11).
e respeite a diversidade. Por isso, essa legislação deve
ser entendida como uma medida de ação afirmativa, pois Pedagogias de combate ao racismo e a discrimina-
introduz em uma política de caráter universal, a LDBEN ção para os negros oferecem conhecimentos e seguran-
9394/96, uma ação específica voltada para um segmento ça para orgulharem-se de sua origem africana; para os
da população brasileira com um comprovado histórico brancos permitem que identifiquem as influências, a con-
de exclusão, de desigualdades de oportunidades educa- tribuição, a participação e a importância da história e da
cionais e que luta pelo respeito à sua diferença (2007, cultura dos negros na construção de sua própria história.
p.106).
Em 2001, a Conferência Mundial contra o Racismo,
As discussões em torno da diversidade sociocultural que se realizou em Durban sob os auspícios da ONU, re-
e das questões étnico-raciais desenvolvidas ao longo do presenta, após a Constituição de 1988, um segundo pon-
século XX pelos movimentos sociais, em especial o Mo- to de ruptura importante. Ela permite pela primeira vez
vimento Negro, culminaram com a aprovação em janeiro
uma contestação pública do mito da nação fora do Brasil
de 2003 da Lei 10.639, que estabelece o ensino obriga-
e, à sociedade civil, sobretudo ao Movimento Negro, de
tório da História e Cultura Afro- Brasileira e Africana na
romper com o isolamento no qual ele foi mantido por
Educação Básica. A Lei 10.639 provocou um movimento
um longo tempo, isolamento que sufocou suas reivindi-
em direção a ressignificação de práticas educacionais, no
cações históricas (SAILLANT; ARAUJO, 2007, p.463).
sentido de pautá-las na valorização da imagem da popu-
lação negra e reafirmar as suas contribuições na forma-
O debate sobre a promoção da igualdade das rela-
ção nacional. A atual legislação educacional é enfática em
relação à necessidade da alteração da abordagem dada ções étnico raciais na escola ganhou intensidade a partir
ao negro no sistema educacional. A LDB - Lei 9394/06, de janeiro de 2003 com a promulgação da lei 10.639 que
em seus artigos Art.26, 26 A e 79 B - determina a obriga- altera o Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
toriedade do ensino da História e Cultura afro-brasileiras ção, o documento mais importante da política educacio-
nos estabelecimentos de educação básica e o Parecer nal brasileira.
03/04 do Conselho Nacional de Educação, aborda a ne-
cessidade de cuidados com a utilização de determinados Ela introduz a obrigação do ensino da história e da
materiais didáticos. cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares
do ensino fundamental e secundário de todas as escolas
Já há algum tempo, intelectuais e educadores com- do país, estipula que a contribuição histórica dos Negros
prometidos com a luta contra os preconceitos e as desi- na formação da sociedade e da identidade brasileira de-
gualdades raciais, vêm alertando sobre a necessidade de verá ser resgatada nos conteúdos de ensino e estabele-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

alterar a abordagem dada ao negro nos livros didáticos. ce o 20 de Novembro, dia da “consciência negra”, como
uma data comemorativa do calendário escolar. A partir
A inclusão da temática de História e Cultura afro-bra- dessa lei, a escola brasileira foi progressivamente leva-
sileiras nos currículos escolares se dá, no sentido de am- da a repensar seu modelo de educação para as relações
pliar a discussão da diversidade cultural, racial, social e étnico-raciais, iniciando uma reflexão fecunda em favor
econômica brasileira. Assim, é importante ressaltar que de uma escola de qualidade para todos, junto à qual as
o artigo 26 acrescido à lei 9.394/1996, provoca bem histórias, as culturas e as identidades dos alunos seriam
mais que a inclusão de novos conteúdos, exige que se reconhecidas e valorizadas.
repensem relações étnico-raciais, sociais, pedagógicas,
procedimentos de ensino, condições oferecidas para Neste contexto, é necessário se pensar um currículo
aprendizagem, objetivos tácitos e explícitos da educação que motive a construção e a transformação sócio educa-
oferecida pelas escolas. cional do indivíduo. Para Saviani (apud SANTOS e ALMEI-
DA, 2007, p. 140)
Seguindo a mesma linha, foram implantadas as Dire-
trizes Curriculares Nacionais para a Educação das Rela- “O currículo deve pôr o homem no nível de sua épo-
ções Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura ca e que isto corresponda a desenvolver uma educação

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para o futuro, que busque preparar as jovens gerações como meta o direito dos negros se reconhecerem na
para as tarefas que as esperam”. (p.140) cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias,
manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus
O currículo, pensado em toda a sua dinâmica, não se pensamentos” (p. 10).
limita aos conhecimentos relacionados às vivências do
educando, mas introduz sempre conhecimentos novos REFERÊNCIA
que, de certa forma, contribuem para a formação hu- https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/arti-
mana dos sujeitos. Nessa perspectiva, um currículo para gos/pedagogia/curriculo-escolar-e-as-relacoes-etnicos-
a formação humana é aquele orientado para a inclusão -raciais/58798
de todos no acesso aos bens culturais e ao conhecimen-
to (LIMA, 2006). Assim, teremos um currículo a serviço
da diversidade. Como a diversidade é característica da
espécie humana nos saberes, modos de vida, culturas, ESCOLA PARA A EDUCAÇÃO INTEGRAL
personalidades, meios de perceber o mundo, o currículo
precisa priorizar essa universalidade. A instituição escolar
não pode isentar-se do seu compromisso enquanto pro- Educação Integral
piciadora de formas acolhedoras da diversidade.
A formulação de uma proposta de Educação Integral
A educação para as relações étnico-raciais gira em concretiza o ideal de uma Educação Pública Nacional e
torno de uma proposta educativa, que prima por uma Democrática, contextualizada historicamente, portanto
ação humanizadora e democrática, que na escola visua- problematizada segundo os desafios, avanços e limites
liza a pluralidade e diversidade cultural, étnica, racial, de do sistema educacional e da organização curricular no
gênero, geracional e religiosa existentes neste espaço de século XXI, caminhando na direção oposta à da desesco-
saber, Henz e Rossato (2009), colocam que: larização social e da minimização dos efeitos e das possi-
bilidades do trabalho escolar.
A educação como um valor social, [...] ainda não é tra- Pode-se dizer, conforme guará (2006), que conceber
tada como um valor social em si. As políticas públicas, as a perspectiva humanística da educação como formação
priorizações, as organizações sociais não tomam a edu- integral implica compreender e significar o processo
cação como um fenômeno prévio ao desenvolvimento. educativo, como condição para a ampliação do desen-
No entanto, entendemos a educação como um processo volvimento humano. Em suas reflexões sobre Educação
de suma importância da constituição de identidades de Integral, a referida autora destaca que para garantir a
homens e mulheres que se humanizam pela interação qualidade da educação básica é preciso considerar que a
com os outros e com o mundo: a educação escolar pode concretude do processo educativo compreende, funda-
ser um espaço-tempo em que, de forma mais sistemática mentalmente, a relação da aprendizagem das crianças e
e tendo acesso as descobertas e construções científicas dos adolescentes com a sua vida e com sua comunidade.
de gerações anteriores, às novas gerações vão se situan- Para dar conta dessa qualidade, é necessário que o con-
do e se descobrindo no mundo em que vivem (HENZ e junto de conhecimentos sistematizados e organizados
ROSSATO, 2009, p. 15). A partir das práticas pedagógicas no currículo escolar também inclua práticas, habilidades,
e das políticas transformadoras será possível construir costumes, crenças e valores que estão na base da vida
um mundo em que os indivíduos sejam críticos e reflexi- cotidiana e que, articulados ao saber acadêmico, consti-
vos sobre as questões do negro no nosso país. tuem o currículo necessário à vida em sociedade.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a Educação Inte-
O Art. 242 da C.F/1988, em seu § 1º, e o Art. 26 § 4º gral é fruto de debates entre o poder público, a comuni-
da LDB nº 9.394/96 dizem que o ensino de História do dade escolar e a sociedade civil, de forma a assegurar o
Brasil deverá levar em conta as contribuições das dife- compromisso coletivo com a construção de um projeto
rentes culturas e etnias para a formação do povo bra-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

de educação que estimule o respeito aos direitos huma-


sileiro, especialmente as de matriz indígena, africana e nos e o exercício da democracia. Esses debates represen-
europeia. A Lei nº 10.639/03, ao alterar a LDB, vai mais tam a valorização da pluralidade de saberes e a criação
além. Ela ultrapassa a ótica de que o sentido da ação dos de momentos privilegiados em que se possa compreen-
negros no Brasil se resume à mera contribuição e traz der a importância das distintas formas de conhecimen-
para o epicentro a ideia de participação, constituição e to e suas expressões no mundo contemporâneo. Desse
configuração da sociedade brasileira por meio das rela- modo, retomam-se questões candentes como a da ne-
ções entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre cessidade de ressignificação da relação com a natureza,
descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos e na perspectiva da sustentabilidade ambiental, na pauta
povos indígenas (Brasil- MEC, 2004, p. 11). Além disso, da construção de um projeto de sociedade democráti-
podemos afirmar que a Lei nº 10.639/03 extrapola o co- ca em relação ao acesso, usufruto, produção e difusão
nhecimento específico do ensino de História, incluindo de saberes, espaços, bens culturais e recursos em geral,
outras áreas do conhecimento, como Artes e Literatura. numa interação em rede com diferentes espaços sociais
da cidade. A construção da oferta de Educação Integral,
Dessa maneira as Diretrizes Curriculares Nacionais tal como afirma Torres (2006), está implicada na partici-
(2004), enquanto política curricular de ações afirmativas, pação social para orientar, influenciar e decidir sobre os
de reparações, de reconhecimento, de valorização “têm assuntos públicos.

89
Instituir o debate para construir uma proposta de que podem estimular uma concepção de cidadania que
Educação Integral, representa o convite para a criação de tem como dimensão central a participação decisória nas
estratégias que assegurem às crianças, aos adolescentes esferas dos poderes instituídos e desempenhar um papel
e aos jovens o acesso aos veículos de comunicação, ao social crítico por meio dos rituais de ensino e de apren-
domínio de diferentes linguagens, à prática da leitura, dizagem.
à crítica e, principalmente, à produção de comunicação Face às características e aos desafios da contempora-
como instrumento de participação democrática. Trata-se neidade, as funções, historicamente definidas para cada
de instituir uma mobilização consequente para a forma- uma das instituições socializadoras – entre elas a escola
ção que reconheça a diversidade como patrimônio ima- –, também se modificaram e exigem novas configura-
terial fundamental da sociedade, que incentive a educa- ções, o que implica agregar novos conceitos e assumir
ção ambiental e o respeito aos direitos humanos. novas posturas, mais dialógicas e articuladas, determi-
A formulação de uma proposta de Educação Integral nando novos acordos entre essas instituições.
está implicada na oferta dos serviços públicos requeri- Não se deve ter receio de assumir que a escola, neste
dos para atenção integral, conjugada à proteção social, o momento, tem ocupado esse lugar central no “cuidado”
que pressupõe políticas integradas (intersetoriais, trans- às crianças e aos jovens, ainda que enfrentando inúme-
versalizadas) que considerem, além da educação, outras ros desafios e fazendo-o de modo solitário. Além dis-
demandas dos sujeitos, articuladas entre os campos da so, é preciso salientar o fato de que a instituição escolar,
educação, do desenvolvimento social, da saúde, do es- por vezes, não tem sabido estabelecer um diálogo com
porte, da inclusão digital e da cultura. a sociedade, o que pode estar associado a convicções
Nessa perspectiva, entende-se que o tempo qualifica- e crenças que impedem a leitura do momento histórico
do é aquele que mescla atividades educativas diferencia- que exige novas formas de funcionamento das institui-
das e que, ao fazê-lo, contribui para a formação integral ções, a partir do redirecionamento de sua função. Po-
do aluno, para a superação da fragmentação e do estrei- de-se afirmar que o compartilhamento das decisões e a
tamento curricular e da lógica educativa demarcada por ação coletiva tornaram-se imperativos na relação entre
espaços físicos e tempos delimitados rigidamente. Nesse escola e sociedade.
sentido, entende-se que a extensão do tempo – quanti- O espaço ocupado pela escola na sociedade e o pa-
dade – deve ser acompanhada por uma intensidade do pel que ela pode assumir refletem a prática do Estado
tempo – qualidade – nas atividades que constituem a jor- vigente e vinculam-se a programas governamentais. Na
nada ampliada na instituição escolar. formulação do programa “Uma escola do tamanho do
Brasil” lançado em 2002, pelo então candidato a Presi-
A Instituição Escolar: Saberes, currículo e apren- dente, Luís Inácio Lula da Silva, está estabelecido que:
dizagem
Se a escola tem, historicamente, produzido a exclusão
O debate acerca da Educação Integral requer o alar- por meio dos fenômenos da evasão e da repetência, pos-
gamento da visão sobre a instituição escolar de tal modo sibilitar a permanência de todos e a aprendizagem exige,
que a abertura para o diálogo possa ser também expres- necessariamente, repensar a estrutura seriada da escola.
são do reconhecimento de que “a escola compõe uma Todos podem aprender; a escola é que deve mudar seus
rede de espaços sociais (institucionais e não-institu- tempos e espaços, reorganizando-se para tanto.
cionais) que constrói comportamentos, juízos de valor,
saberes e formas de ser e estar no mundo”. Esse alar- A construção da proposta de Educação Integral, que
gamento possibilita a problematização consequente do ora se apresenta, carrega, em sua dinâmica, as tensões
projeto educativo frente ao sucesso escolar, por meio candentes vividas para reorganizar espaços, tempos e
das relações entre saberes, currículo e aprendizagem. saberes. Por isso, é preciso convergir, para o seio des-
Os estudos de Franco Cambi (1999) apontam para sa proposta, o diálogo numa rede de coletivos de ação
a ideia de que a escola é o espaço, por excelência, de para reeducar a gestão política dos sistemas escolares
institucionalização da aprendizagem, fornecendo as fer- e de seus quadros, criando, inclusive, um sistema de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ramentas concebidas para auxiliar o uso público da ra- comunicação com estudantes, profissionais da área de
zão, tanto aquelas associadas ao conhecimento científico educação, professores, gestores de áreas afins e outros
quanto às associadas às convenções sociais. A leitura, a parceiros, para troca de informações, acompanhamento,
escrita e a livre discussão possibilitam a construção e res- dentre outras demandas. Isso tudo implica assumir uma
significação dos espaços públicos e dos espaços sociais disposição para o diálogo e para a construção de um
onde as pessoas reivindicam e exercem sua cidadania e projeto político e pedagógico que contemple princípios,
representam as bases para a construção da esfera pú- ações compartilhadas e intersetoriais na direção de uma
blica. Educação Integral.
O processo de institucionalização da esfera pública A destinação de um espaço específico para a temá-
foi estabelecido por meio das relações da política cons- tica do currículo, neste debate em favor da formulação
titucional e parlamentar, do estabelecimento dos direi- de uma política de Educação Integral, representa o re-
tos e do sistema judicial, até ao ponto em que a esfera conhecimento da existência de um campo de estudos
pública tornou-se um princípio organizacional do orde- consolidado sobre a política de currículo e, desse modo,
namento político democrático. A institucionalização da favorece o encontro de pesquisadores para qualificar a
aprendizagem, por meio da escola, acompanhou esse interlocução em curso. Por estar vinculada ao alcance de
mesmo processo e fornece, até hoje, o legado das ideias metas para o desempenho escolar, a política de Educa-

90
ção Integral, em questão, é debatida em interface com a igualdade e estimular os ambientes de trocas, e, para-
avaliação de desempenho nas habilidades expressas no fraseando Boaventura de Souza Santos (2002), pode-se
domínio da Língua Portuguesa (com foco na leitura) e dizer, em um projeto aberto, em que cada pessoa tem
no domínio da Matemática (com foco na resolução de direito à igualdade, sempre que a diferença inferioriza
problemas), por meio da Prova Brasil. Faz-se necessário e tem direito à diferença toda vez que a igualdade ho-
o debate sobre os conteúdos escolares nos diferentes mogeneíza, para dar conta da complexidade do mundo
domínios do conhecimento e em sua imbricação com as contemporâneo10. Tal projeto deve estar comprometido
diferentes bases epistemológicas que orientam as pes- com a transformação da sociedade e com a formação de
quisas e a produção do conhecimento. Do mesmo modo, cidadãos e encontra, no diálogo, uma ferramenta eficaz.
torna-se necessário o debate sobre as consequências das Na “disponibilidade para o diálogo”, no sentido usado
pesquisas e da produção do conhecimento sobre a or- por Freire, de “abertura respeitosa aos outros”, é possí-
ganização didática e pedagógica, justificadas nas epis- vel potencializar todos os agentes educativos enquanto
temologias da aprendizagem. Por um lado, trata-se de instituições formadoras. Dessa forma, a escola poderá ser
reafirmar a condição da universidade como locus da for- afetada positivamente, pelas práticas comunitárias, pela
mação dos educadores e, por outro lado, de reafirmar liberdade e autonomia presentes nos espaços de educa-
a condição da escola como locus do trabalho empírico ção informal, pela concretude e pelo movimento da vida
dessa formação. cotidiana.
A reaproximação entre a escola e a vida representa
Relação Escola e comunidade um desafio enfrentado por muitos educadores em dife-
rentes tempos e, pelo menos, desde o advento da insti-
À Escola antiga, presumida da importância do seu tucionalização da escola obrigatória, laica, gratuita, uni-
papel e fechada no seu exclusivismo acanhado e esté- versal e controlada pelo Estado, fortemente influenciado
ril, sem o indispensável complemento e concurso de to- pelo desenvolvimento da ciência moderna. A perspecti-
das as outras instituições sociais, se sucederá a escola va do deslocamento entre a escola e a vida se expressa
moderna, aparelhada de todos os recursos para aten- na forma de socialização destacada por Moll (2000), em
der e fecundar a sua ação na solidariedade como meio sua leitura de Ariès (1981), que aponta a escola como
social, em que então, e só então, se tornará capaz de provocadora da ruptura do processo de sociabilidade e
influir, transformando-se num centro poderoso de cria- de aprendizagem no convívio com as comunidades, que
ção, atração e irradiação de todas as forças e atividades acontecia até o final do século XVII:
educativas. (Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, A escola substituiu a aprendizagem como meio de
1932) educação. Isto quer dizer que a criança deixou de ser
misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente
com eles. A despeito de muitas reticências e retardamen-
O presente debate está implicado no exame acerca do
tos, a criança foi separada dos adultos e mantida à dis-
papel e da função social que a escola pode desempenhar
tância numa espécie de quarentena, antes de ser solta no
na vida, conforme os educadores brasileiros aprenderam
mundo. Essa quarentena foi a escola, o colégio. Começou
a reconhecer, revisitando a história de longo prazo da
então um longo processo de enclausuramento das crian-
educação, de modo particular, na leitura do Manifesto
ças (como dos loucos, dos pobres, das prostitutas) que
dos Pioneiros. Os signatários desse documento antecipa-
se estenderia até nossos dias e ao qual se dá o nome de
ram que, ao longo dos anos, tanto a escola quanto as de-
escolarização.
mais instituições sociais, a seu modo, assumiriam papéis
A tensão instituidora permanece: estar na escola até
focais – e, hoje reconhecemos, às vezes paralelos, nos
os dias de hoje pode representar a possibilidade de im-
processos educativos – sem a preocupação de desenvol-
bricar-se na estrutura societária e, ao mesmo tempo, na
ver um projeto comum, onde cada uma consiga dialo-
de homogeneização. Por isso mesmo, o papel da escola
gar, compartilhar responsabilidades, inter-relacionar-se e
na proposição do projeto de Educação Integral deve se
transformar-se no encontro com o outro. Para desenvol-
constituir a partir da luta por uma escola mais viva, de
ver esse projeto comum, a escola e demais instituições
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

modo que se rompa, também, gradativamente, com a


sociais podem ser orientadas a se constituir como uma
ideia de sacrifício, atrelada ao Ensino Formal e, por outro
“comunidade de aprendizagem”, tal como define Torres:
lado, de prazer a tudo que é proposto como alternativo
Uma comunidade de aprendizagem é uma comuni-
ou informal em relação a esse sistema escolar.
dade humana organizada que constrói um projeto edu-
cativo e cultural próprio para educar a si própria, suas
Romper a dicotomia, entre as aulas acadêmicas e as
crianças, seus jovens e adultos, graças a um esforço en-
atividades educacionais complementares, exige a elabo-
dógeno, cooperativo e solidário, baseado em um diag-
ração de um projeto político-pedagógico aberto à parti-
nóstico não apenas de suas carências, mas, sobretudo,
cipação e à gestão compartilhada de ações convergentes
de suas forças para superar essas carências.
à formação integral de crianças, de adolescentes e de
Para que a escola funcione como uma comunidade
jovens – do contrário, pode-se estar apenas capturando
de aprendizagem, constituída pela reunião de diferentes
o seu tempo livre, com a pretensão de que, na escola, fi-
atores e saberes sociais, que constrói um projeto educa-
carão melhor cuidados ou de que aprenderão mais, per-
tivo e cultural próprio e como ponto de encontro e de le-
manecendo por mais tempo na escola, ou seja, oferecen-
gitimação de saberes oriundos de diferentes contextos, é
do-lhes “mais do mesmo” – o que as experiências nessa
necessário o estabelecimento de políticas socioculturais.
direção têm demonstrado não melhorar o processo de
Além de reconhecer as diferenças, é preciso promover a
aprendizagem.

91
Ao se enfrentar a distância que hoje caracteriza as re- agentes da educação – gestores, professores, orientado-
lações entre escola e comunidade é que se pode ampliar res pedagógicos, entre outros – reproduzem, muitas ve-
a dimensão das experiências educadoras na vida dos es- zes, em suas práticas, as diversas formas de preconceitos
tudantes, promovendo a qualificação da educação públi- e discriminações ainda existentes em nossa sociedade.
ca brasileira. Para isso, as diversas experiências comuni- Essas evidências estão configuradas nas cenas do coti-
tárias precisam estar articuladas aos principais desafios diano escolar, por meio das situações nas quais os meni-
enfrentados por estudantes e professores. nos e meninas, muitas vezes, são inscritos simbolicamen-
Quando a escola compartilha a sua responsabilidade te como lentos, imaturos, dispersivos, desorganizados,
pela educação, ela não perde seu papel de protagonis- com dificuldade de aprendizagem e indisciplinados. Na
ta, porque sua ação é necessária e insubstituível, porém perspectiva do sucesso escolar, é preciso reconfigurar
não é suficiente para dar conta da tarefa da Educação essas cenas, considerando os sentidos do aprender, tal
Integral. como enfatiza Moll:
Toda escola está situada em uma comunidade com Aprender significa estar com os outros, implica aco-
especificidades culturais, saberes, valores, práticas e lhida, implica presença física e simbólica, implica ser
crenças – o desafio é reconhecer a legitimidade das Ao chamado pelo nome, implica sentir-se parte do grupo,
se enfrentar a distância que hoje caracteriza as relações implica processos de colaboração, implica ser olhado.
entre escola e comunidade é que se pode ampliar a di- Aquele que é desprezado pelo olhar da professora tam-
mensão das experiências educadoras na vida dos estu- bém o será, de alguma forma, pelos colegas. A partir daí
dantes, promovendo a qualificação da educação pública produz-se uma intrincada rede de preconceitos que se
brasileira. A educação é um dos ambientes da cultura dissemina nos conselhos de classe, nas reuniões de pro-
marcada pela reconstrução de conhecimentos, tecnolo- fessores, nas conversas do recreio, nos encontros com
gias, saberes e práticas. Não importa a área de formação os pais. Pouco a pouco, determinados alunos, que são
dos professores, seus trabalhos se realizam em territórios numerosos no conjunto das escolas, vão ficando de fora,
culturais nos quais os estudantes estão situados. Segun- vão sendo rotulados com marcas invisíveis, vão sendo
do Charlot (2000) essa perspectiva desafia os professores considerados inaptos, incapazes, inoportunos... Se usás-
a olhar seus alunos de outra maneira, para inscrevê-los semos a metáfora de um trem para pensar a escola, esses
simbolicamente no espaço de sala de aula, como sujeitos seriam aqueles que viajam sentados nos últimos vagões,
produtores de significados. que, aos poucos, vão descarrilhando.

A escola desempenha um papel fundamental no pro- Os estudos de Abramovay (2004), já citados ante-
cesso de construção e de difusão do conhecimento e riormente, demonstram, ainda, que os sentimentos de
está situada como local do diálogo entre os diferentes não-pertencimento e de exclusão social, vividos pelos
saberes, as experiências comunitárias e os saberes sis- alunos, podem estar associados tanto à violência fora da
tematizados historicamente pela sociedade em campos escola, quanto à violência na escola e contra a escola. A
de conhecimento e, nessa posição, pode elaborar novas fragilidade do diálogo entre escola e comunidade pode
abordagens e selecionar conteúdos. Assim, o desenvolvi- ser apontada como uma das principais causas de fenô-
mento integral dos estudantes não pode ser considerado menos como a rebeldia frente às normas escolares; os al-
como responsabilidade exclusiva das escolas, mas tam- tos índices de fracasso escolar; pichações e depredações
bém de suas comunidades, uma vez que, somente juntas de prédios escolares; atitudes desrespeitosas no convívio
podem ressignificar suas práticas e saberes. Desse modo, escolar e a apatia dos alunos.
a instituição escolar é desafiada a reconhecer os sabe- A dimensão propositiva que anima o debate acerca
res da comunidade, além daqueles trabalhados nos seus da Educação Integral pretende instigar para o reencan-
currículos, e com eles promover uma constante e fértil tamento dos fazeres escolares em seu cotidiano e para a
transformação tanto dos conteúdos escolares quanto da reinvenção do olhar em relação a todos e a cada um dos
vida social. estudantes.
A relação escola e comunidade pode ser marcada
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

pela experiência de diálogo, de trocas, de construção de Tempos e Espaços da Educação Integral


saberes e pela possibilidade de, juntas, constituírem-se
em uma comunidade de aprendizagem, de modo que A promoção do projeto de Educação Integral, enrai-
a interação entre as pessoas que atuam na escola e as zado no projeto políticopedagógico da escola, pressu-
que vivem na comunidade pode auxiliar a superação de põe o diálogo com a comunidade, de modo a favorecer a
preconceitos, muitos deles calcados em estereótipos de complementaridade entre os diferentes agentes e espa-
classe, raça/etnia, gênero, orientação sexual, geração, ços educativos e, no sentido dessa lógica, há pelo menos
dentre outros. duas posições, à primeira vista díspares, mas que podem,
Estudos recentes, como os de Abramovay (2004), têm inclusive, complementarem-se.
apontado que tanto as “dificuldades de aprendizagem” Historicamente, o projeto de Educação Integral está
quanto o “bom desempenho escolar” não se relacionam enraizado na instituição escolar, o que a pressupõe
exclusivamente às condições cognitivas dos alunos, mas, como espaço privilegiado da formação completa do alu-
principalmente, à (in) adequação do sistema escolar, à no sem, no entanto, considerar-se como o único espaço
distância/aproximação cultural entre escola e seu públi- dessa formação. Em outras palavras, a escola – por meio
co, e ao (des) respeito que alunos e educadores sofrem de planejamento, projetos integrados e também de seu
no ambiente escolar. Há inúmeras evidências de que os projeto pedagógico – pode proporcionar experiências,

92
fora de seu espaço formal, que estão vinculadas a esses A ampliação da jornada, na perspectiva da Educação
seus projetos institucionais, elaborados pela comunidade Integral, auxilia as instituições educacionais a repensar
escolar. Encontram-se, nesse caso, por exemplo, as visitas suas práticas e procedimentos, a construir novas organi-
a museus, parques e idas a outros espaços socioculturais, zações curriculares voltadas para concepções de apren-
sempre acompanhadas por profissionais que, intencio- dizagens como um conjunto de práticas e significados
nalmente, constroem essas possibilidades educativas em multirreferenciados, inter-relacionais e contextualizados,
outros espaços educativos que se consolidam no projeto nos quais a ação educativa tenha como meta tentar com-
maior – o do espaço formal de aprendizagens. preender e modificar situações concretas do mundo.
Todavia, a discussão sobre os princípios da Educação Nessas circunstâncias, a ampliação da jornada não
Integral, pode, também, seguir outros caminhos. Cesar pode ficar restrita à lógica da divisão em turnos, pois
Coll (1999) ao tratar do tema na perspectiva do movi- isso pode significar uma diferenciação explícita entre um
mento das Cidades Educadoras, incita a abertura de um tempo de escolarização formal, de sala de aula, com to-
processo de reflexão e de debate público que conduza das as dimensões e ordenações pedagógicas, em contra-
ao estabelecimento de um novo contrato social na edu- posição a um tempo não instituído, sem compromissos
cação, um contrato que estabeleça claramente as obriga- educativos, ou seja, mais voltado à ocupação do que à
ções e responsabilidades dos diferentes agentes sociais educação.
que atuam, de fato, como agentes educativos. Nessa Assim, faz-se necessária uma nova organização do
perspectiva, entende-se que não se trata de afirmar a currículo escolar, em que se priorize muito mais a flexi-
centralidade da escola em termos de sediar, exclusiva- bilização do que a rigidez ou a compartimentalização, o
que não significa tornar o currículo frágil e descompro-
mente, as ações e atividades que envolvem a Educação
metido com a aprendizagem do conjunto de conheci-
Integral.
mentos que estruturam os saberes escolares. É somente
Essa reflexão remete novamente a Torres, quando
a partir do projeto político-pedagógico, construído cole-
afirma que, em uma comunidade de aprendizagem, to- tivamente, que a escola pode orientar e articular as ações
dos os espaços são educadores – toda a comunidade e e atividades propostas na perspectiva da consecução da
a cidade com seus museus, igrejas, monumentos, locais Educação Integral, baseada em princípios legais e valores
como ruas e praças, lojas e diferentes locações – caben- sociais, referenciados nos desafios concretos da comuni-
do à escola articular projetos comuns para sua utilização dade onde está inserida a escola.
e fruição considerando espaços, tempos, sujeitos e obje-
tos do conhecimento. Formação de Educadores na Perspectiva da Edu-
Nesse processo de aprender, o tempo assume gran- cação Integral
de importância, pois a aprendizagem requer elaboração,
requer realização de múltiplas experiências, requer poder A ideia de que o ofício de professor também pode
errar no caminho das tentativas e buscas, enfim, requer ser entendido como uma arte pode aprimorar o proces-
considerar os diferentes tempos dos sujeitos da aprendi- so interativo de ensinar e de aprender, tal como define
zagem. Também requer considerar o tempo de cada um Stenhouse:
dos parceiros da comunidade: o tempo da escola, que Dizer que o ensino é uma arte não significa que os
está preso a um calendário e o da comunidade, que flui professores nasçam e que não se façam. Ao contrário, os
e é mais abrangente, que envolve mais experiências que artistas aprendem e trabalham extraordinariamente para
podem ajudar a otimizar e direcionar melhor o tempo isso, mas aprendem por meio da prática crítica de sua
da escola. arte.
A esse respeito, podemos dizer que a ampliação do Nesse sentido, educador é aquele que reinventa a re-
tempo na Educação Integral tem sido alvo de debates lação com o mundo, que reinventa sua relação com o
conteúdo que ensina, com o espaço da sala de aula e
sobre a maior permanência das crianças e jovens, seja
com seus alunos. É aquele que se permite ver nos alunos
no espaço escolar, seja na perspectiva da cidade como
possibilidade e processos em realização. Por isso pode
espaço educativo. Nas experiências de Educação Integral
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

ser comparado a um artista na arte de mediar aprendi-


conhecidas, podemos perceber que as concepções que
zagens e buscar sempre o (re)encantamento com sua
orientam as ações e espaços são muito variadas em re- profissão.
lação aos objetivos, à organização, ao tipo de atividade Para implementar o projeto de Educação Integral e de
proposta, assim como às próprias denominações contra- tempo integral, é imprescindível a superação de grande
turno, turno inverso, turno contrário, ampliação de jorna- parte dos modelos educacionais vigentes. Assim, a cons-
da, turno complementar, atividades extras, entre outros. trução de uma proposta de Educação Integral pressupõe
Nesse contexto, é importante ressaltar que o aumen- novos conteúdos relacionados à sustentabilidade am-
to do tempo escolar necessário à Educação Integral que biental, aos direitos humanos, ao respeito, à valorização
propomos não objetiva dar conta apenas dos problemas das diferenças e à complexidade das relações entre a es-
que os alunos enfrentam devido ao baixo desempenho cola comunidades indígenas e quilombolas. Trata-se de
nos diversos sistemas de avaliação, pois o que se pode tarefa a ser empreendida, tanto pelos cursos de forma-
constatar, em alguns casos, é que o aumento da jornada ção inicial e continuada, quanto pelos sistemas e pelas
de trabalho escolar dos alunos em disciplinas específicas, próprias escolas.
como Matemática ou Língua Portuguesa, tem gerado Em relação ao currículo, para enfrentar o desafio de
processos de hiperescolarização, que não apresentam os superar a fragmentação do conhecimento escolar, é pre-
resultados desejados. ciso investir na articulação entre as atividades pedagó-

93
gicas da sala de aula e as da vida na família, no bairro e pensar em uma política que alcance novos patamares de
na cidade, por meio do uso dos equipamentos públicos inclusão, e uma consistente valorização profissional a ser
e das práticas universitárias. A atuação dos profissionais garantida pelos gestores públicos, de modo a permitir
da educação não se deve limitar aos espaços tradicionais dedicação exclusiva e qualificada à educação. Também
da escola e, nesse sentido, ganha relevância a valorização é necessário pensar na adequação dos espaços físicos e
do trabalho e da cultura como princípios educativos. das condições materiais, lúdicas, científicas e tecnológi-
A organização do currículo, dos conteúdos escolares, cas a essa nova realidade.
dos tempos e espaços educativos precisa estar inserida Nesse sentido, para além do debate curricular dos
no contexto da produção do conhecimento e da pesqui- cursos de graduação, a Educação Integral requer uma
sa científica. Esse contexto pode fortalecer as iniciativas maior interação com os estudantes da pedagogia e das
que emergem das escolas e de suas comunidades por licenciaturas em seu universo cotidiano. A escola pau-
evidenciar a necessidade da proposição do projeto polí- tada pela Educação Integral representa um laboratório
tico-pedagógico, com a participação dos integrantes do permanente desses futuros profissionais que, desde o
Conselho Escolar. É importante reconhecer o desempe- início de seus cursos, passarão a manter intenso contato
nho de funções específicas nessa proposição. O coorde- com as crianças e com os como para o aprimoramento
nador pedagógico assume o papel de articulador da re- das instituições – básica e universitária – que poderão
lação entre a escola e a comunidade, na proposição dos adequar seus conteúdos programáticos teóricos e práti-
projetos políticopedagógicos que se identificam como cos, ao longo desse processo inter-relacional.
democráticos. Essa identificação se manifesta, de modo Os funcionários da instituição escolar se inserem nes-
privilegiado, nos debates acadêmicos por meio da busca ta nova filosofia, conforme jovens, numa troca de expe-
de superação dos reducionismos técnicos ou políticos, riências úteis para a formação e o trabalho de ambos,
da proposição de um novo modo de vivenciar as dimen- bem já propõe o Programa Profuncionários, do Ministé-
sões administrativa e pedagógica no planejamento da rio da Educação, em parceria com os Sistemas Públicos
educação e do incentivo ao protagonismo da população de Ensino, de tal modo que a escola passa a reconhecer
usuária (estudantes, pais e comunidades). os diferentes agentes educadores que nela convivem e
Contextualizado nos objetivos e metas gerais que trabalham. De acordo com as negociações em curso en-
caracterizam a atuação sistêmica, o projeto pedagógico tre o Ministério da Educação e o Movimento Sindical a
deve preocupar-se com o planejamento das atividades expansão do referido Programa será feita por meio da
cotidianas da escola; deve prever as possibilidades de in- Rede Federal de Educação Técnica e Tecnológica que
teração com a comunidade e com a cidade por meio da ofertará cursos em cinco áreas profissionalizantes: ges-
visita a museus, parques, comunidades indígenas e qui- tão, infraestrutura, multimeios didáticos, alimentação es-
lombolas, dentre outras e deve, ainda, estimular a parti- colar e biblioteconomia.
cipação de colaboradores da comunidade em atividades A falta de isonomia entre as carreiras e os salários dos
pedagógicas extraclasse, sob a supervisão dos profissio- profissionais da educação, no território nacional, tem di-
nais da educação. Outros aspectos importantes referem- ficultado avanços na qualidade da educação.
-se à definição dos critérios para avaliação sistemática A escola integral, de tempo integral, visa, acima de
do planejado e do realizado, à previsão da formação tudo, resgatar os princípios republicanos de equidade,
continuada dos educadores, enfim, a tudo aquilo que diz tanto na oferta do direito público e subjetivo do cida-
respeito à promoção do aprendizado e bem-estar dos dão quanto na prestação dos serviços dos educadores
atores escolares. – agentes públicos –, com os quais o Estado Brasileiro
Esses pressupostos para a qualidade social da escola possui imensa dívida a ser honrada para o bem comum
de tempo integral, já aplicados em alguns sistemas de da nação. Esse débito histórico se concentra, sobretu-
ensino de forma bastante satisfatória, trazem consigo do, na valorização e no reconhecimento da profissão, na
um outro requisito indispensável: a democratização da perspectiva de tornar a carreira atrativa aos jovens, em
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

gestão. O projeto político-pedagógico tem por princí- melhorar as condições de saúde e trabalho, enfim, em
pio superar a recorrente divisão social do trabalho e as evidenciar a importância social dos educadores.
práticas autoritárias existentes na escola. Nesse sentido, A compreensão da jornada de trabalho dos professo-
cabe às direções potencializar a participação social: dos res na perspectiva da Educação Integral requer a inclusão
conselhos escolares, dos grêmios estudantis, das asso- de períodos de estudo, de acompanhamento pedagógi-
ciações de pais, de moradores, dentre outros grupos co, de preparação de aulas e de avaliação de organiza-
constituídos na comunidade que queiram participar, so- ção da vida escolar. A reorganização dessa jornada exige
lidariamente, do projeto escolar, bem como conselhos de que a formação de educadores inclua conteúdos espe-
idosos, de mulheres, os movimentos negros, de artistas cíficos de formulação e acompanhamento de projetos e
e outros. No que concerne a um projeto de Educação In- de gestão intersetorial e comunitária. Exige também que
tegral, o projeto político-pedagógico, pensado sob a ló- os processos de formação continuada para a formulação,
gica da vivência democrática, congrega sujeitos e agrega implantação e implementação de projetos de Educação
valores socioculturais bastante significativos à formação Integral incluam profissionais das áreas requeridas para
completa do aluno. compor a integralidade pressuposta neste debate: cultu-
Visando à concretização de uma formação que leve ra, artes, esportes, lazer, assistência social, inclusão digi-
em conta os pontos, anteriormente elencados, é preciso tal, meio ambiente, ciência e tecnologia, dentre outras.

94
Os trabalhadores em Educação no contexto da tarefas, conferindo à escola a possibilidade de criar sua
Educação Integral identidade sem, necessariamente, precisar emoldurar-se
ao cartesianismo das políticas de cunho global. Ao possi-
Uma política de Educação Integral pressupõe uma bilitar esta forma de organização, o sistema pode e deve
consistente valorização profissional, a ser garantida pe- cobrar contrapartidas sobre os resultados, os quais tam-
los gestores públicos, de modo a permitir dedicação bém deverão observar, para o bem comum, critérios de
exclusiva e qualificada à educação. Também pressupõe elaboração democráticos.
adequação dos espaços físicos e das condições materiais,
lúdicas, científicas e tecnológicas a essa nova realidade. A Poder Público: O Papel Indutor do Estado
participação dos trabalhadores em educação no debate
para formular uma proposta de Educação Integral, com Na tessitura legal que sustenta a possibilidade de efe-
base em tais pressupostos, é marcada pelas negociações tivação da Educação Integral nas escolas públicas brasi-
para regulamentar o Piso Salarial Nacional Profissional, leiras, dois princípios fundamentais com relação à edu-
bem como pela mobilização nacional para que o piso cação precisam ser destacados: direito de todos e dever
seja operacionalizado. O incremento no financiamento do Estado, sem desconsiderar a importância da família
da educação e a ampliação dos investimentos públicos e a colaboração da sociedade nos processos formativos
em educação, são fundamentais para realizar a valoriza- do cidadão.
ção dos profissionais da educação e para a qualidade da O atual governo reconhece que a ampliação dos tem-
educação. pos e dos espaços educativos é necessária, possível e, por
As diferentes etapas e modalidades de ensino ense- isso, expressa a proposição da Educação Integral, à luz
jam, cada uma, olhares e projetos diferentes e represen- das experiências bem-sucedidas e em curso no país. Essa
tam demandas que se complexificam no âmbito da Esco- ação indutora expressa a vontade política e a determina-
la de Educação Integral em tempo integral, segundo as ção para investir mais recursos e para estimular e forta-
inter-relações e interdisciplinaridades pertinentes ao cur- lecer os mecanismos de controle público. Referenciada
rículo e ao projeto político-pedagógico. Na concepção no Plano de Desenvolvimento da Educação, a proposta
de Santos (2008), a distribuição do tempo pedagógico de Educação Integral representa um esforço para supe-
é marcada pela organização de períodos fixos para dis- rar a dicotomia da quantidade e qualidade enraizada na
história da ampliação da matrícula nos Sistemas Públicos
ciplinas, controlada pela administração e pelo professor,
de Ensino, de modo a promover o acesso, a permanência
tal organização deve ser superada. Desse modo, a Edu-
e o sucesso das crianças, dos adolescentes e dos jovens
cação Integral, por estar implicada na mudança da rotina
nas escolas. Trata-se, assim, de um instrumento, por ex-
escolar, por meio da reestruturação do tempo pedagó-
celência, para a oferta dos serviços educacionais sob o
gico, evidencia o currículo em consonância com o refe-
princípio segundo o qual “a educação não é privilégio”,
rencial teórico que fundamenta o projeto da escola, e é
que nomeia a consagrada obra de Anísio Teixeira (2007).
enriquecida com as concepções da comunidade escolar.
A insubstituível ação indutora do governo Federal, no
Dentre as características institucionais do contexto de entanto, é coadjuvante, pois a oferta dos serviços educa-
formulação de uma Política de Educação Integral, desta- cionais para o atendimento dos direitos sociais é parte da
ca-se o reconhecimento da importância da construção tarefa mais ampla de construção de um Sistema Nacional
do Sistema Nacional de Formação dos Profissionais da Articulado, responsável por institucionalizar o esforço or-
Educação, no âmbito do Conselho Técnicocientífico da ganizado, autônomo e permanente do Estado e da so-
Educação Básica da CAPES. Esse Sistema será de imensa ciedade, por meio da gestão democrática e participativa.
relevância para orientar os novos currículos acadêmicos, A ação integrada das esferas de governo e dos entes fe-
para aferir a qualidade dos cursos de pedagogia e das derados é a tarefa imediata para a ampliação das escolas
licenciaturas ofertadas nas redes públicas e privadas, e e da jornada escolar, de modo a viabilizar a proposição
para orientar o ingresso dos profissionais do magistério progressiva para uma Educação Integral de Tempo In-
nas redes públicas, seja através da revisão dos estágios tegral, como prevê a LDB. Para possibilitar, efetivamen-
acadêmicos – dentro da concepção de interatividade te, políticas de educação pública de qualidade, o MEC
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

permanente entre universidade e escola básica – seja induziu ações no marco sistêmico do PDE para apoiar
por meio da reestruturação dos estágios probatórios, transformações na estrutura da escola, na reorganização
de modo a conferir-lhes maior potencial de avaliação do dos tempos e espaços escolares, na formação de profes-
educador e da contraprestação dos sistemas e redes de sores, nas formas de ensinar, de aprender e de avaliar, e
ensino. Outra possibilidade a ser debatida, refere-se à na implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos,
constituição da rede de instituições de educação supe- dentre outros. Portanto, a Educação Integral não pode,
rior para formação dos profissionais da educação, cre- necessariamente, prescindir da reorganização curricular
denciada pelo MEC. para buscar a unidade entre as diversas realidades dos
Os sistemas de ensino poderão ampliar a prática da estudantes e suas famílias, seus espaços concretos, tem-
gestão democrática ao promover a participação social pos vividos, de modo que o aprendizado se dê pela so-
nos Conselhos de Educação (Estaduais e Municipais), cialização, pelas vivências culturais, pelo investimento na
bem como realizar eleição para diretores de escola, ob- autonomia, por desafios, prazer e alegria e pelo desen-
servadas as prerrogativas de autonomia administrativa. volvimento do ser humano em todas as dimensões.
A prática da gestão democrática, todavia, não se É papel do governo Federal auxiliar na disseminação
confunde com autonomia indiscriminada e à revelia dos das novas concepções de currículo, conhecimento, de-
sistemas. Trata-se de compartilhar responsabilidades e senvolvimento humano e aprendizado que, muitas vezes,

95
estão restritas aos espaços de pesquisa acadêmica (Uma impõe-se como necessidade e tarefa, que se devem ao
escola do tamanho do Brasil, 2002). Por outro lado, ao reconhecimento da desarticulação institucional e da pul-
desempenhar esse papel, o Ministério da Educação toma verização na oferta das políticas sociais, mas também ao
como sua responsabilidade na proposição da Educação passo seguinte desse reconhecimento, para articular os
Integral a oferta das condições técnico-financeiras que componentes materiais e ideais que qualifiquem essas
possibilitem a ampliação dos tempos e dos espaços de políticas. Por isso, é preciso ressaltar a intersetorialida-
que a escola dispõe para organizar o processo de ensi- de como característica de uma nova geração de políticas
no e de aprendizagem como parte da política de quali- públicas que orientam a formulação de uma proposta de
ficação do processo educativo no país. Nessa oferta, o Educação Integral.
Ministério da Educação procura reconhecer demandas, Governança, segundo Diniz, envolve “capacidade de
identificar oportunidades e oferecer estratégias susten- coordenação do Estado entre as distintas políticas e os
táveis, por meio de uma dinâmica especificamente regu- diferentes interesses em jogo, capacidade de comando e
lada entre os agentes, setores da sociedade e esferas de de direção do Estado e capacidade de implementação”.
governo, para manter as condições de diálogo, reconhe- Nesse sentido, governança requer, do Estado, a capa-
cer dissensos e construir consensos. cidade de coordenar atores sociais e políticos envolvidos,
É necessário enfatizar as linhas mestras de discussão dotados de poder e legitimidade no processo decisório
do papel do Estado na efetivação da Educação Integral de políticas públicas, para que além de fortalecer contex-
em tempo integral tal qual tratadas nos marcos legais. tos democráticos, se possa alcançar objetivos comuns a
Tais linhas são: as responsabilidades do Estado, como ins- um menor custo, o que potencializa novas ações. A go-
tância maior de exercício do poder público na condução vernança também torna mais transparentes as relações
das políticas educacionais; o direito de todos os cidadãos entre estado e sociedade e contribui para que o Estado
à educação de qualidade; e o espaço privilegiado em que seja capaz de responder adequadamente às demandas
se concretizam as propostas educativas. Uma sociedade sociais, implementando intervenções ajustadas à resolu-
democrática e republicana não se consolida sem a prer- ção dos problemas diagnosticados.
rogativa da efetiva educação dos cidadãos, que perpassa Considerando o sentido intersetorial que a Educação
os processos escolares, seguindo para além deles. Integral adquiriu nas reflexões e marcos legais, Carvalho
Entendemos que, por essa perspectiva, a Educação destaca que uma nova “arquitetura de ação pública” foi
Integral responde ao direito à educação entre a ampla colocada em ação. Com esse efeito, a autora enfatiza a
gama de direitos sociais, políticos e humanos de todos os função que cabe ao Estado:
cidadãos. A esse respeito, Vernor Muñoz, assevera que:
O Estado tem aqui papel central na regulação e ga-
Os processos educativos são a máxima evidência da rantia da prestação dos serviços de direito dos cidadãos.
inter-relação entre os direitos humanos. Por essa razão, o Não se compreende mais o Estado como agente único da
direito à educação é uma garantia individual e um direito ação pública, mas espera-se que cumpra sua missão de
social cuja expressão máxima é a pessoa e o exercício da intelligentia do fazer público e, em consequência, exerça
sua cidadania. papel indutor e articulador de esforços governamentais
e societários em torno de prioridades da política pública.
Diante do exposto, a concepção de Educação Inte-
gral, que promova a formação para o exercício pleno da Na articulação promovida pelo Estado deve-se res-
cidadania em uma sociedade democrática implica uma saltar a importância de se considerar o aluno como cen-
concepção de Estado que atue na construção dos pilares tro de um fazer educativo integrado que movimenta a
fundamentais, para que as escolas públicas possam atin- parceria entre agentes públicos (gestão intersetorial) e
gir esse fim. Para a concretização da Educação Integral sociedade civil (gestão comunitária participativa). A qua-
de Tempo Integral, com foco na qualidade da aprendi- lidade da aprendizagem do aluno é o que, o desafio con-
zagem, é fundamental a intervenção do Poder Público vergente e o compromisso das principais políticas sociais
na orquestração das ações de diferentes áreas sociais do Brasil na atualidade. Vale destacar que já são obser-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

em que cabe, ao Estado, o planejamento, a coordenação vadas, no país, iniciativas de articulação entre as políticas
da implementação, o monitoramento e a avaliação das públicas de diferentes áreas sociais. A Assistência Social
ações pedagógicas que ocorrem no espaço e tempo es- e a Educação, por exemplo, têm a frequência à escola
colar e outros espaços socioeducativos. como critério para a permanência no Programa Bolsa
Para tanto, dois conceitos podem contribuir para o Família, sendo verificada por uma articulação de ações
entendimento da atual proposta de Educação Integral: interministeriais.
intersetorialidade e governança. Promover essa aproximação entre as diversas arenas
Intersetorialidade, segundo Sposati (2006), requer se- da vida cotidiana significa, por sua vez, articular diversos
torialidade. Não podemos partir do princípio de que ela setores das políticas públicas, fazendo uso dos diversos
seja boa, em si mesma, ou que descaracterize as áreas equipamentos sociais. Neste sentido, o Projeto de Educa-
integradas. Muito pelo contrário, a setorialidade tem-se ção Integral, ora proposto, dá concretude ao princípio da
apresentado como elemento de poder na disputa por transversalidade das políticas públicas, que deveria es-
recursos e espaços para a construção de políticas pú- tar incorporado às concepções curriculares da Educação
blicas específicas e eficientes. Para o debate acerca da Básica. É necessário promover maior articulação entre as
Educação Integral, do ponto de vista das ações preconi- atividades desenvolvidas no campo da educação formal,
zadas pelo Ministério da Educação, a intersetorialidade pelos estabelecimentos de ensino e órgãos de gestão – e

96
os demais setores – saúde, cultura, esporte, lazer, justiça, e reprodução da vida. O território significa a constituição
assistência social, entre outros. necessária de laços que se definem no plano material da
Recentemente, inúmeros planos de ação governa- existência, como também nos investimentos simbólicos,
mentais e programas intersetoriais propõem essa articu- éticos, morais e estéticos que revelam o sentido próprio
lação. Sem a ambição de fazermos aqui um inventário da sociedade. Pertencemos a um território, o guardamos,
exaustivo, poderíamos citar o Plano Nacional de Educa- o habitamos e nos impregnamos dele ao realizar o nosso
ção em Direitos Humanos, o Plano Nacional de Defesa e modo de existir.
garantia do Direito da Criança e do Adolescente à Convi- Promover o encontro entre modos diferentes de exis-
vência Familiar e Comunitária, o Plano de Enfrentamento tir configura-se no desafio de constituir visibilidades das
do Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescen- diferenças como matéria necessária à constituição do ser,
tes e o Programa Mais Educação. Também, por meio do de construção de identidades (pessoais, culturais, políti-
Decreto nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, foi instituí- cas, religiosas e sociais) e de reconhecimento e respeito
do, entre o Ministério da Educação e o Ministério da Saú- do outro. Nesse sentido, o encontro de diferenças e de
de, o Programa Saúde na Escola, que pretende elaborar diferentes nos conduz a diálogos possíveis para expe-
estratégias de articulação das políticas nos dois setores. riências comunicativas, indispensáveis para uma educa-
É preciso conhecer essas proposições e, dependendo da ção que se quer integral e integradora.
proposta escolhida, articulá-las ao objetivo comum de A necessária construção de projetos políticopeda-
construção de um projeto de Educação Integral, com gógicos requer estratégia de mobilização, para que os
qualidade social. processos educativos sejam pensados por meio da cons-
trução de redes socioeducativas, a partir da relação dia-
Papel das redes Socioeducativas lógica entre a escola e a comunidade. Nesses projetos,
a escola tem o papel de sede e centro, mas o fluxo de
A ideia de redes socioeducativas coloca-se na pers- saberes a transborda em busca de valores, conhecimen-
pectiva de criar uma outra cultura do educar/formar, que tos, experiências e recursos disponíveis localmente: nas
tem na escola seu locus catalisador, mas que a transcen- universidades, em instituições de educação não-formal,
de, para explorar e desenvolver os potenciais educati- nas escolas técnicas, nas empresas, nas ONG’s, nos movi-
vos da comunidade. Reconhece que o ambiente social é mentos sociais e nas pessoas, em geral.
espaço de aprendizagem e assim deve ser considerado Ao se entrelaçar a escola à comunidade nas suas múl-
pelos sujeitos que se enxergam como aprendizes per- tiplas e complexas escalas territoriais de seu modo de
manentes da vida. A comunidade no entorno da escola existir, a educação torna-se instrumento de democracia
também aprende a envolver-se com esse processo edu- e pode efetivar a construção de condições para cidada-
cativo e a reconhecer, como espaços educativos, uma nia. Educar para a cidadania é possibilitar à criança, ao
praça, uma rua, um parque, uma biblioteca, um clube, um jovem e ao adulto entender a sociedade e participar das
teatro, um cinema, uma associação de bairro, um pátio, suas decisões, reconhecendo o lugar onde vive, sua es-
entre múltiplas experiências e possibilidades de convi- cola, seu bairro e sua vizinhança como parceiros de seu
vências nos territórios. desenvolvimento.
Pensar e praticar a educação, como exercício da vida, Essa integração não passa apenas pela possibilidade
implica reconhecer diferentes sujeitos de diálogo presen- de deslocamento das atividades de dentro da escola para
tes no universo social. Tal afirmação precisa ser traduzida fora da escola. Sair da escola não significa simplesmente
como superação da condição de objeto de aprendiza- aprender os conteúdos curriculares em outro lugar, com
gem a que são reduzidos os estudantes e suas comu- uma aparência mais atrativa e moderna – significa ir além
nidades, própria de algumas concepções de escola, do e abrir possibilidades concretas para que os assuntos que
autoritarismo pedagógico e da homogeneidade cultural, interessam às crianças e aos jovens e aqueles assuntos
para a afirmação e constituição de sujeitos em apren- que preocupam a comunidade sejam objeto do trabalho
dizagem; fundamento de uma educação democrática e sistemático da escola.
republicana. Para isso, é importante que a escola reconheça os ou-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

Esses sujeitos da/em aprendizagem estão em proces- tros territórios do exercício da vida, do conhecer e do
so permanente de constituição de uma educação criativa fazer. Assim, a Educação Integral, em questão, não se
e participativa na garantia e afirmação de seus direitos e restringe à possibilidade de ampliação do tempo que a
de sua cidadania, voltada para a reflexão crítica e autô- criança ou o jovem passa na escola, mas à possibilidade
noma do mundo vivido e percebido e que promova pro- de integração com outras ações educativas, culturais e
cessos cognitivos vinculados às experiências particulares lúdicas presentes no território e vinculadas ao processo
e universais como valorização da diferença e superação formativo. Dessa forma, busca garantir a eles o direito
das desigualdades. fundamental à circulação pela cidade, como condição de
A realização da vida em sociedade acontece em uma acesso às oportunidades, espaços e recursos existentes,
dimensão de tempo e de espaço que se convencionou como direito à ampliação contínua do repertório socio-
chamar de território. A equação espaço-tempo, demar- cultural e à expressão autônoma e crítica da sociedade e
cada ou delimitada pelas intenções e ações humanas, como possibilidade de projeto mais generoso de nação
surge como recurso e abrigo para a exteriorização e con- e de país.
cretização tanto da existência individual como coletiva. Articular políticas públicas visando à criação de um
A sociedade, ao se apropriar e fazer uso de um terri- Programa Nacional de Educação Integral é uma forma
tório, compartilha o domínio das condições de produção de fazer com que o conceito de Educação Integral, aqui

97
exposto, se efetive. Articular esses processos em projetos ciliar a extensão da informação, a variedade das fontes
políticopedagógicos dos territórios permite que esses de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão,
sejam incorporados, de forma intencional e planejada, à em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos
trajetória educativa de cada um. informações demais e dificuldade em escolher quais são
Não bastasse o desafio de integrar as políticas públi- significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da
cas setoriais em um Plano de Educação Integral, a terri- nossa mente e da nossa vida.
torialização propõe ainda que cada política pública seja
A aquisição da informação, dos dados dependerá
articulada em um dado território. É a partir desses conhe-
cada vez menos do professor. As tecnologias podem
cimentos, saberes, potenciais, conflitos, dessas contradi-
trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e
ções e dificuldades que se expressam no território que
atraente. O papel do professor - o papel principal - é
deverão ser implementadas as políticas públicas.
ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los,
Busca-se, assim, um processo de radicalização demo-
a contextualizá-los.
crática que reconhece os sujeitos sociais como protago-
nistas do processo educativo, devendo o poder público Aprender depende também do aluno, de que ele es-
apoiar o desenvolvimento dos mesmos. No debate para teja pronto, maduro, para incorporar a real significação
a proposição da Educação Integral a política pública pas- que essa informação tem para ele, para incorporá-la vi-
sa a ser construída a partir de diferentes territórios. Nesse vencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação
debate, pode emergir, portanto, um novo sentido de pú- não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emo-
blico, de políticas públicas, de equipamentos públicos, de cional - não se tornará verdadeiramente significativa, não
atores sociais, de vivência de espaço-tempo, de práticas será aprendida verdadeiramente.
plurais, de visibilidade dos sujeitos, de produção de his-
tórias coletivas como manifestações da vida de pessoas, Avançaremos mais pela educação positiva do que
de lugares e modos de fazer educação. pela repressiva. É importante não começar pelos pro-
Na perspectiva das redes socioeducativas, a Educa- blemas, pelos erros, não começar pelo negativo, pelos
ção Integral não significa, portanto, uma simples reunião limites. E sim começar pelo positivo, pelo incentivo, pela
ou soma de oportunidades educativas locais que são esperança, pelo apoio na nossa capacidade de aprender
organizadas para serem acessadas pelos atores sociais. e de mudar.
Pelo contrário, essas oportunidades estão implicadas na Ajudar o aluno a que acredite em si, que se sinta se-
formulação de argumentos, com base na narração das guro, que se valorize como pessoa, que se aceite plena-
experiências, em curso nos territórios, para que essas mente em todas as dimensões da sua vida. Se o aluno
possam ser visualizadas por seu conjunto, por seus tra- acredita em si, será mais fácil trabalhar os limites, a dis-
ços singulares, segundo a diversidade dos sujeitos, dos ciplina, o equilíbrio entre direitos e deveres, a dimensão
saberes e das oportunidades educativas. grupal e social.

Referências As dificuldades para mudar na educação


BRASIL: Ministério da Educação (MEC). Educação in-
tegral: texto referência para o debate nacional. - Brasília: As mudanças demorarão mais do que alguns pen-
Mec., Secad, 2009. sam, porque nos encontramos em processos desiguais
de aprendizagem e evolução pessoal e social. Não temos
muitas instituições e pessoas que desenvolvam formas
avançadas de compreensão e integração, que possam
AS DIMENSÕES DA TECNOLOGIA DA INFOR- servir como referência. Predomina a média, a ênfase no
intelectual, a separação entre a teoria e a prática.
MAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO.
Temos grandes dificuldades no gerenciamento emo-
cional, tanto no pessoal como no organizacional, o que
dificulta o aprendizado rápido. São poucos os modelos
Segundo MORAN, MASETTO e BEHRENS, muitas for-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

vivos de aprendizagem integradora, que junta teoria e


mas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos prática, que aproxima o pensar do viver.
tempo demais, aprendemos muito pouco, nos desmo- A ética permanece contraditória entre a teoria e a
tivamos continuamente. Tanto professores como alunos prática. Os meios de comunicação mostram com fre-
temos a clara sensação de que muitas aulas convencio- quência como alguns governantes, empresários, políti-
nais estão ultrapassadas. Mas, para onde mudar? Como cos e outros grupos de elite agem impunemente. Muitos
ensinar e aprender em uma sociedade mais interconec- adultos falam uma coisa – respeitar as leis - e praticam
tada? outra, deixando confusos os alunos e levando-os a imitar
Avançaremos mais se soubermos adaptar os progra- mais tarde esses modelos.
mas previstos às necessidades dos alunos, criando cone- O autoritarismo da maior parte das relações huma-
xões com o cotidiano, com o inesperado, se transformar- nas interpessoais, grupais e organizacionais espelha o es-
mos a sala de aula em uma comunidade de investigação. tágio atrasado em que nos encontramos individual e co-
letivamente de desenvolvimento humano, de equilíbrio
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexi- pessoal, de amadurecimento social. E somente podemos
bilidade espaço temporal, pessoal e de grupo, menos educar para a autonomia, para a liberdade com proces-
conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa sos fundamentalmente participativos, interativos, liberta-
e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é con-

98
dores, que respeitem as diferenças, que incentivem, que emocionais e suas linguagens. Os pais, principalmente a
apoiem, orientados por pessoas e organizações livres. mãe, facilitam ou complicam, com suas atitudes e formas
As mudanças na educação dependem, em primeiro de comunicação mais ou menos maduras, o processo de
lugar, de termos educadores maduros intelectual e emo- aprender a aprender dos seus filhos.
cionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, A criança também é educada pela mídia, principal-
que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais mente pela televisão. Aprende a informar-se, a conhecer
valha a pena entrar em contato, porque dele saímos en- - os outros, o mundo, a si mesmo - a sentir, a fantasiar,
riquecidos. a relaxar, vendo, ouvindo, “tocando” as pessoas na tela,
O educador autêntico é humilde e confiante. Mos- que lhe mostram como viver, ser feliz e infeliz, amar e
tra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que odiar. A relação com a mídia eletrônica é prazerosa -
não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade ninguém obriga - é feita através da sedução, da emo-
do aprender, a nossa ignorância, as nossas dificuldades. ção, da exploração sensorial, da narrativa - aprendemos
Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, vendo as estórias dos outros e as estórias que os outros
a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a nos contam. Mesmo durante o período escolar a mídia
uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas mostra o mundo de outra forma - mais fácil, agradável,
e a novas sínteses. compacta - sem precisar fazer esforço. Ela fala do coti-
Os grandes educadores atraem não só pelas suas diano, dos sentimentos, das novidades. A mídia continua
ideias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula educando como contraponto à educação convencional,
chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, di- educa enquanto estamos entretidos.
ferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na Os Meios de Comunicação, principalmente a televi-
sua forma de olhar, na forma de comunicar-se, de agir. são, desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais
São um poço inesgotável de descobertas. de comunicação sensorial, emocional e racional, super-
Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, pondo linguagens e mensagens, que facilitam a intera-
não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. São docen- ção, com o público. A TV fala primeiro do “sentimento”
tes “papagaios”, que repetem o que leem e ouvem, que - o que você sentiu”, não o que você conheceu; as ideias
se deixam levar pela última moda intelectual, sem ques- estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afe-
tioná-la. tiva.
É importante termos educadores/pais com um ama- Os Meios de Comunicação operam imediatamente
durecimento intelectual, emocional, comunicacional e com o sensível, o concreto, principalmente, a imagem
ético, que facilite todo o processo de organizar a apren- em movimento. Combinam a dimensão espacial com a
dizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valori- cinestésica, onde o ritmo torna-se cada vez mais aluci-
zem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que nante (como nos videoclipes). Ao mesmo tempo utilizam
a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabele- a linguagem conceitual, falada e escrita, mais formalizada
cer formas democráticas de pesquisa e de comunicação. e racional. Imagem, palavra e música se integram dentro
As mudanças na educação dependem também de de um contexto comunicacional afetivo, de forte impacto
termos administradores, diretores e coordenadores mais emocional, que facilita e predispõe a aceitar mais facil-
abertos, que entendam todas as dimensões que estão en- mente as mensagens.
volvidas no processo pedagógico, além das empresariais A eficácia de comunicação dos meios eletrônicos,
ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, em particular da televisão, se deve também à capacida-
que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológi- de de articulação, de superposição e de combinação de
co e o humano, contribuindo para que haja um ambiente linguagens totalmente diferentes - imagens, falas, músi-
de maior inovação, intercâmbio e comunicação. ca, escrita - com uma narrativa fluida, uma lógica pouco
As mudanças na educação dependem também dos delimitada, gêneros, conteúdos e limites éticos pouco
alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enorme- precisos, o que lhe permite alto grau de entropia, de in-
mente o processo, estimulam as melhores qualidades do terferências por parte de concessionários, produtores e
professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros consumidores.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

de caminhada do professor-educador. A televisão combina imagens estáticas e dinâmi-


Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam cas, imagens ao vivo e gravadas, imagens de captação
mais, ajudam o professor a ajuda-los melhor. Alunos que imediata, imagens referenciais (registradas diretamente
provêm de famílias abertas, que apoiam as mudanças, com a câmara) com imagens criadas por um artista no
que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem computador. Junta imagens sem ligação referencial (não
ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapida- relacionadas com o real) com imagens “reais” do passa-
mente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas do (arquivo, documentários) e as mistura com imagens
mais produtivas. “reais” do presente e imagens do passado não “reais”.
A imagem na televisão, cinema e vídeo é sensorial,
Integrar os meios de comunicação na escola sensacional e tem um grande componente subliminar,
isto é, passa muitas informações que não captamos cla-
Antes da criança chegar à escola, já passou por pro- ramente.
cessos de educação importantes: pelo familiar e pela mí- O olho nunca consegue captar toda a informação.
dia eletrônica. No ambiente familiar, mais ou menos rico Então escolhe um nível que dê conta do essencial, do
cultural e emocionalmente, a criança vai desenvolvendo suficiente para dar um sentido ao caos, de organizar a
as suas conexões cerebrais, os seus roteiros mentais, multiplicidade de sensações e dados. Foca a atenção,

99
em alguns aspectos analógicos, nas figuras destacadas, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis
nas que se movem e com isso conseguimos acompanhar manipulações. É importante educar para usos democrá-
uma estória. Mas deixamos de lado, inúmeras informa- ticos, mais progressistas e participativos das tecnologias,
ções visuais e sensoriais, que não são percebidas cons- que facilitem a evolução dos indivíduos. O poder público
cientemente. A força da linguagem audiovisual está em pode propiciar o acesso de todos os alunos às tecno-
que consegue dizer muito mais do que captamos, che- logias de comunicação como uma forma paliativa, mas
gar simultaneamente por muitos mais caminhos do que necessária de oferecer melhores oportunidades aos po-
conscientemente percebemos e encontra dentro de nós bres, e também para contrabalançar o poder dos grupos
uma repercussão em imagens básicas, centrais, simbóli- empresariais e neutralizar tentativas ou projetos autori-
cas, arquetípicas, com as quais nos identificamos ou que tários.
se relacionam conosco de alguma forma Se a educação fundamental é feita pelos pais e pela
É uma comunicação poderosa, como nunca antes a mídia, urgem ações de apoio aos pais para que incentivem
tivemos na história da humanidade e as novas tecnolo- a aprendizagem dos filhos desde o começo das vidas de-
gias de multimídia e realidade virtual só estão tornando les, através do estímulo, das interações, do afeto. Quando
esse processo de simulação muito mais exacerbado, ex- a criança chega à escola, os processos fundamentais de
plorando-o até limites inimagináveis. aprendizagem já estão desenvolvidos de forma significa-
A organização da narrativa televisiva, principalmente tiva. Urge também a educação para as mídias, para com-
a visual, não se baseia somente - e muitas vezes, não preendê-las, criticá-las e utilizá-las da forma mais abran-
primordialmente- na lógica convencional, na coerência gente possível.
interna, na relação causa-efeito, no princípio de não-con-
tradição, mas numa lógica mais intuitiva, mais conectiva. Preparar os professores para a utilização do com-
Imagens, palavras e música vão se agrupando segundo putador e da Internet
critérios menos rígidos, mais livres e subjetivos dos pro-
dutores que pressupõem um tipo de lógica da recepção - O primeiro passo é facilitar o acesso dos professo-
também menos racional, mais intuitiva. res e dos alunos ao computador e à Internet. Procurar de
Um dos critérios principais é a contiguidade a justa- todas as formas possíveis que todos possam ter o acesso
posição por algum tipo de analogia, de associação por mais fácil, frequente e personalizado possível às novas
semelhança ou por oposição, por contraste. Ao colocar tecnologias. Ter salas de aula conectadas, salas ambiente
pedaços de imagens ou cenas juntas, em sequência, para pesquisa, laboratórios bem equipados. Facilitar que
criam-se novas relações, novos significados, que antes os professores possam ter seus próprios computadores.
não existiam e que passam a ser considerados aceitá- Facilitar que cada aluno possa ter um computador pes-
veis, “naturais”, “normais”. Colocando, por exemplo, vá- soal portátil. Sabemos que esta situação no Brasil é atual-
rias matérias em sequência, num mesmo bloco e em dias mente uma utopia, mas hoje o ensino de qualidade passa
sucessivos - como se fossem capítulos de uma novela -, também necessariamente pelo acesso rápido, contínuo
sobre o assassinato de uma atriz, o de várias crianças e e abrangente a todas as tecnologias, principalmente às
outros crimes semelhantes, acontecidos no Brasil e em telemáticas.
outros países, multiplica-se a reação de indignação da Um dos projetos políticos mais importantes é que a
população, o seu desejo de vingança. Isto favorece os sociedade encontre formas de diminuir a distância que
defensores da pena de morte; o que não estava explícito separa no acesso à informação entre os que podem e os
em cada reportagem e nem tal vez fosse a intenção dos que não podem pagar por ela. As escolas públicas, co-
produtores. munidades carentes precisam ter esse acesso garantido
A televisão estabelece uma conexão aparentemen- para não ficarem condenadas à segregação definitiva, ao
te lógica entre mostrar e demonstrar. Mostrar é igual a analfabetismo tecnológico, ao ensino de quinta classe.
demonstrar, a provar, a comprovar. A força da imagem é - O segundo passo é ajudar na familiarização com
tão evidente que torna-se difícil não fazer essa associação o computador, com seus aplicativos e com a Internet.
comprovatória (“se uma imagem me impressiona, é verda- Aprender a utilizá-lo no nível básico, como ferramenta.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

deira”). Também é muito comum a lógica de generalizar a No nível mais avançado: dominar as ferramentas da WEB,
partir de uma situação concreta. Do individual, tendemos do e-mail. Aprender a pesquisar nos search, a participar
ao geral. Uma situação isolada converte-se em situação de listas de discussão, a construir páginas.
paradigmática, padrão. A televisão, principalmente, tran- - O nível seguinte é auxiliar os professores na utiliza-
sita continuamente entre as situações concretas e a ge- ção pedagógica da Internet e dos programas multimídia.
neralização. Mostra dois ou três escândalos na família real Ensiná-los a fazer pesquisa.
inglesa e tira conclusões sobre o valor e a ética da realeza Começar pela pesquisa aberta, onde há liberdade de
como um todo. escolha do lugar (tema pesquisado livremente) e pes-
Ao mesmo tempo, o não mostrar equivale a não exis- quisa dirigida, focada para um endereço específico ou
tir, a não acontecer. O que não se vê, perde existência. um site determinado. Pesquisa nos sites de busca, nos
Um fato mostrado com imagem e palavra tem mais força bancos de dados, nas bibliotecas virtuais, nos centros de
que se somente é mostrado com palavra. Muitas situa- referência. Pesquisa dos temas mais gerais para os mais
ções importantes do cotidiano perdem força, por não ter específicos, pesquisa grupal e pessoal.
sido valorizadas pela imagem-palavra televisiva. - A internet pode ser utilizada em um projeto isolado
A educação escolar precisa compreender e incorpo- de uma classe, como algo complementar ou um projeto
rar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, voluntário, com alunos se inscrevendo. A Internet pode

100
ser um projeto entre vários colégios ou grupos, na mesma alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de
cidade, de várias cidades ou países. O projeto pode evo- modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um
luir para a interdisciplinaridade, integrando várias áreas novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que
e professores. A Internet pode fazer parte de um projeto pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas
institucional, que envolve toda a escola de forma mais co- das formas atuais de ensinar e de aprender.
laborativa.
A escola pode utilizar a Internet em uma sala espe- Fonte
cial ou laboratório, onde os alunos se deslocam especial- MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. No-
mente, em períodos determinados, diferentes da sala de vas tecnologias e mediação pedagógica.
aula convencional. A internet também pode ser utilizada
na sala de aula conectada, só pelo professor, como uma
tecnologia complementar do professor ou pode ser utili-
zada também pelos alunos conectados através de note-
books na mesma sala de aula, sem deslocamento.

Alguns caminhos para integrar as tecnologias


num ensino inovador

Na sociedade da informação, todos estamos rea-


prendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar; rea-
prendendo a integrar o humano e o tecnológico; a inte-
grar o individual, o grupal e o social.
É importante conectar sempre o ensino com a vida
do aluno. Chegar ao aluno por todos os caminhos pos-
síveis: pela experiência, pela imagem, pelo som, pela re-
presentação (dramatizações, simulações), pela multimí-
dia, pela interação on line e off line.
Partir de onde o aluno está. Ajuda-lo a ir do concre-
to ao abstrato, do imediato para o contexto, do viven-
cial para o intelectual. Os professores, diretores, admi-
nistradores terão que estar permanentemente processo
de atualização através de cursos virtuais, de grupos de
discussão significativos, participando de projetos colabo-
rativos dentro e fora das instituições em que trabalham.
Tanto nos cursos convencionais como à distância te-
remos que aprender a lidar com a informação e o co-
nhecimento de formas novas, pesquisando muito e co-
municando-nos constantemente. Isso nos fará avançar
mais rapidamente na compreensão integral dos assuntos
específicos, integrando-os num contexto pessoal, emo-
cional e intelectual mais rico e transformador. Assim po-
deremos aprender a mudar nossas ideias, sentimentos e
valores onde se fizer necessário.
Necessitamos de muitas pessoas livres nas escolas
que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do en-
sino – escolar e gerencial - Só pessoas livres, autônomas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

- ou em processo de libertação - podem educar para a


liberdade, podem educar para a autonomia, podem trans-
formar a sociedade. Só pessoas livres merecem o diploma
de educador.
Faremos com as tecnologias mais avançadas o mes-
mo que fazemos conosco, com os outros, com a vida. Se
somos pessoas abertas, as utilizaremos para comunicar-
-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fe-
chadas, desconfiadas, utilizaremos as tecnologias de for-
ma defensiva, superficial. Se somos pessoas autoritárias,
utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumen-
tar o nosso poder. O poder de interação não está funda-
mentalmente nas tecnologias, mas nas nossas mentes.
Ensinar com as novas mídias será uma revolução,
se mudarmos simultaneamente os paradigmas conven-
cionais do ensino, que mantêm distantes professores e

101
c) A ERER reconhece a presença de sujeitos étnicos de
matriz africana e indígena no território do conheci-
HORA DE PRATICAR! mento (currículos oficiais).
d) A ERER fomenta ações educativas de combate ao racis-
1. (Secretaria do Estado de Educação – SC – Supervi- mo e às discriminações. Esse princípio encaminha para
sora - Nível Superior - ACAFE - 2017) “A ação peda- que se estabeleça conexão entre os objetivos da esco-
gógica da escola, ancorada na perspectiva de percurso la e os dos sujeitos negros e indígenas, na busca por
formativo como unidade, consiste em condição concreta igualdade e equidade.
de repensar tempos, espaços e formas de aprendizagem
na relação com desenvolvimento humano, como alterna- 3. (Secretaria do Estado de Educação – MG – Especia-
tiva que busca superar os atuais limites impostos pelos lista em Educação - Nível Superior - FCC - 2012). Os
componentes curriculares no ambiente escolar”. Nesse pressupostos de uma gestão participativa fundamentam-
sentido, analise as afirmações a seguir, marque V para -se em valores inquestionáveis subjacentes a todos os
as Verdadeiras e F para as Falsas, e assinale a alternativa desdobramentos da gestão. É um desses pressupostos:
com a sequência correta.
Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: formação a) A realidade e o conhecimento são construídos indivi-
integral na educação básica. Florianópolis: SED, 2014. dualmente conforme as habilidades de cada membro
do grupo.
b) O reconhecimento de que os grupos sociais são plu-
( ) Cabe pensar o currículo escolar como um contexto
ralistas, e que eles constituem sistemas de pessoas e
em permanente (re)elaboração, em constante disputa e
grupos heterogêneos.
reordenamento.
c) O poder de influência de um indivíduo é vinculado ape-
( ) É preciso reconhecer a fonte das questões de análise nas ao papel que ele desempenha na gestão escolar.
na realidade vivenciada pela comunidade como aquela d) O condicionamento de todos a uma participação em
que oferece os problemas, os objetos de análise e síntese atividades promovidas pelos gestores da unidade es-
à luz dos conhecimentos sistematizados. colar.
( ) Importa compreender como se produz e se reproduz
o conhecimento na escola (áreas, disciplinas, temáticas 4. (Secretaria do Estado de Educação – MG – Especia-
etc.) e como crianças, jovens, adultos e idosos apro- lista em Educação - Nível Superior - FCC - 2012). Na
priam-se ou não desses conhecimentos. atualidade, um dos assuntos mais discutidos no mundo
( ) Demanda fazer escolhas quanto à forma mais apro- da educação são as COMPETÊNCIAS. Para Philippe Perre-
priada de organização escolar (série, ciclo, módulos, noud, sociólogo suíço, especialista em práticas pedagógi-
dentre outros modos), considerando os sujeitos dentro cas e instituições de ensino, COMPETÊNCIA em educação
de seus espaços de vida, sejam eles urbanos, rurais, das é
periferias urbanas, quilombos, aldeias indígenas, dentre
outros. a) o currículo que defende o agrupamento de assuntos
para serem memorizados e uma sequência de exercí-
a) V - V - F – F cios a serem praticados até serem dominados pelos
b) V - V - V – V alunos.
c) F - F - V - V b) o referencial de conteúdos curriculares que os alunos
d) F - V - F - V precisam aprender para se assumirem como cidadãos
capazes de desenvolver e expressar opiniões, analisar e
2. (Secretaria do Estado de Educação – SC – Super- julgar comportamentos e fatos do cotidiano.
visora - Nível Superior - ACAFE - 2017) “A educação c) a faculdade de mobilizar simultaneamente um conjun-
das relações étnico-raciais/ERER tem por alvo a formação to de recursos cognitivos - como saberes, habilidades
de cidadãos, mulheres e homens empenhados em pro- e informações - para se posicionar com clareza e solu-
cionar com pertinência e eficácia variadas situações de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

mover condições de igualdade no exercício de direitos


aprendizagem.
sociais, políticos, econômicos, dos direitos de ser, viver,
d) a capacidade indispensável da escola de constituir-se
pensar, próprios aos diferentes pertencimentos étnico-
em um lugar no qual as gerações transmitam umas
-raciais e sociais.” Nesse sentido, todas as alternativas às outras o acervo dos conhecimentos historicamente
estão corretas, exceto a: construídos.
Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina – 2014
p.66/67.
5. MPOG MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,
a) A abertura proposta pela ERER para os currículos en- ORÇAMENTO E GESTÃO – ANALISTA TÉCNICO –
caminha novos saberes, novas formas de ensinar e SUPERIOR – ESAF (ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
novos comportamentos para aqueles a quem se dará FAZENDÁRIA) 2012
essa oportunidade de aprender. A implantação da Educação Integral nas escolas requer
b) A ERER se aloja na ideia da desconstrução dos mode- a construção de um Projeto Pedagógico que considere a
los e instituições escolares assumidos como únicos e organização do trabalho pedagógico em tempos e am-
propõe a construção de possibilidades educativas que biências apropriadas às aprendizagens, a formação dos
levem em conta a pluralidade étnica. agentes envolvidos no processo de formação, além de

102
infraestrutura e meios para sua viabilização. Acerca da
Educação Integral, é incorreto afirmar: ANOTAÇÕES
a) implica na oferta de serviços públicos necessários à
proteção social articulados ao processo educativo, tais ________________________________________________
como desenvolvimento social, saúde, esporte, inclu-
são digital, cultura, etc. _________________________________________________
b) sua construção envolve um processo dinâmico per-
_________________________________________________
meado por tensões decorrentes da reorganização dos
espaços, tempos, saberes e fazeres que constituem o _________________________________________________
currículo escolar.
c) o desenvolvimento integral dos estudantes não deve _________________________________________________
ser considerado como responsabilidade exclusiva da
escola, devendo a família e a comunidade participado _________________________________________________
processo educativo
_________________________________________________
d) implementar um projeto de Educação Integral requer
ruptura com grande parte dos paradigmas educacio- _________________________________________________
nais vigentes.
e) a ampliação do tempo de permanência na escola pos- _________________________________________________
sibilita a divisão em turnos, diferenciando o tempo de
escolarização formal, de sala de aula, de outras dimen- _________________________________________________
sões pedagógicas, mais voltadas à ocupação produti- _________________________________________________
va do tempo.
_________________________________________________

_________________________________________________
GABARITO _________________________________________________

_________________________________________________
1 B
2 C _________________________________________________

3 B _________________________________________________
4 C _________________________________________________
5 E
_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________ CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

_________________________________________________

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_________________________________________________

_________________________________________________

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_________________________________________________

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103
ANOTAÇÕES

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO

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104
ÍNDICE

LEGISLAÇÃO FEDERAL

Constituição Federal e emendas relacionadas à Educação.......................................................................................................................... 01


Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e suas alterações (LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996)..................... 11
Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990)................................................................................. 30
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana........................................................................................................................................................................................... 31
Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva Revista da Educação Especial, v. 4, n. 1,
jan./jun. 2007.................................................................................................................................................................................................................. 32
III - atendimento educacional especializado aos por-
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E EMENDAS RE- tadores de deficiência, preferencialmente na rede re-
LACIONADAS À EDUCAÇÃO. gular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às
crianças até 5 (cinco) anos de idade;
Dentro do terceiro capítulo do título da CF/88 voltado V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
à ordem social, a primeira seção é dedicada à educação, quisa e da criação artística, segundo a capacidade de
delineando, entre outros aspectos, seus princípios basi- cada um;
lares e a abrangência do dever do Estado em fornecer VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
educação à população, conforme artigos 205, 206 e 208. condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
CAPÍTULO III educação básica, por meio de programas suplementa-
DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO res de material didático escolar, transporte, alimenta-
ção e assistência à saúde.
Seção I § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
DA EDUCAÇÃO público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Es- Poder Público, ou sua oferta irregular, importa respon-
tado e da família, será promovida e incentivada com sabilidade da autoridade competente.
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen- § 3º Compete ao Poder Público recensear os educan-
volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
cidadania e sua qualificação para o trabalho. zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência
à escola.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos se-
guintes princípios: [...]
I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
cia na escola; O artigo 6º da Constituição Federal menciona o direi-
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar to à educação como um de seus direitos sociais. A edu-
o pensamento, a arte e o saber; cação proporciona o pleno desenvolvimento da pessoa,
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, não apenas capacitando-a para o trabalho, mas também
e coexistência de instituições públicas e privadas de para a vida social como um todo. Contudo, a educação
ensino; tem um custo para o Estado, já que nem todos podem
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen- arcar com o custeio de ensino privado.
tos oficiais; No título VIII, que aborda a ordem social, delimita-se
V - valorização dos profissionais da educação escolar, a questão da obrigação do Estado com relação ao direito
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com à educação, assim como menciona-se quais outros agen-
ingresso exclusivamente por concurso público de pro- tes responsáveis pela efetivação deste direito.
vas e títulos, aos das redes públicas; Neste sentido, o artigo 205, CF, prevê: “A educação,
VI - gestão democrática do ensino público, na forma direito de todos e dever do Estado e da família, será pro-
da lei; movida e incentivada com a colaboração da sociedade,
VII - garantia de padrão de qualidade. visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu prepa-
VIII - piso salarial profissional nacional para os pro- ro para o exercício da cidadania e sua qualificação para
fissionais da educação escolar pública, nos termos de o trabalho”.
lei federal. Resta claro que a educação não é um dever exclusivo
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de do Estado, mas da sociedade como um todo e, principal-
trabalhadores considerados profissionais da educação mente, da família. Depreende-se que educação vai além
básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração do mero aprendizado de conteúdos e envolve a educa-
ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito ção para a cidadania e o comportamento ético em so-
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- ciedade – a educação da qual o constituinte fala não é
nicípios. apenas a formal, mas também a informal.
Por seu turno, o artigo 206 da Constituição estabelece
[...] os princípios que devem guiar o ensino:
- “igualdade de condições para o acesso e permanên-
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efe- cia na escola”, que significa a compreensão de que
a educação é um direito de todos e não apenas
LEGISLAÇÃO FEDERAL

tivado mediante a garantia de:


I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua- dos mais favorecidos, cabendo ao Estado investir
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada in- para que os menos favorecidos ingressem e per-
clusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não maneçam na escola;
tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gra-
tuito;

1
- “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e di- faculdades públicas é, somente, pelo preparo intelectual
vulgar o pensamento, a arte e o saber”, de forma do cidadão, a ser testado em avaliações com tal fito,
que o ensino tem um caráter ativo e passivo, indo como o vestibular e o exame nacional do ensino médio.
além da compreensão de conteúdos dogmático se
abrangendo também os processos criativos; #FicaDica
- “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
e coexistência de instituições públicas e privadas A abrangência do dever do Estado em rela-
de ensino”, de modo que não se entende haver um ção à educação, nos termos do artigo 208,
único método de ensino, uma única maneira de CF, envolve:
aprender, permitindo a exploração das atividades - educação básica obrigatória e gratuita dos
educacionais também por instituições privadas. 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade;
A respeito das instituições privadas, o artigo 209, - universalização progressiva do ensino mé-
CF prevê que “o ensino é livre à iniciativa privada, dio gratuito;
atendidas as seguintes condições: I - cumprimento - atendimento educacional especializado
das normas gerais da educação nacional; II - au- aos portadores de deficiência;
torização e avaliação de qualidade pelo Poder Pú- - educação infantil às crianças até 5 (cinco)
blico”; anos de idade;
- “gratuidade do ensino público em estabelecimentos - acesso aos níveis mais elevados do ensino,
oficiais”, sendo esta a principal vertente de imple- da pesquisa e da criação artística (entra aqui
mentação do direito à educação pelo Estado; o ensino superior);
- “valorização dos profissionais da educação esco- - oferta de ensino noturno;
lar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, - atendimento por programas suplementa-
com ingresso exclusivamente por concurso público res de material didático escolar, transporte,
de provas e títulos, aos das redes públicas”, bem alimentação e assistência à saúde;
como “piso salarial profissional nacional para os - zelo, junto aos pais, da frequência dos alu-
profissionais da educação escolar pública, nos ter- nos do ensino fundamental.
mos de lei federal”, pois sem a valorização dos pro- *** Apenas a educação básica – ensino
fissionais responsáveis pelo ensino será inatingível fundamental – é obrigatória e gratuita de
o seu aperfeiçoamento. Além disso, “a lei disporá forma universal – CONSIDERA-SE DIREITO
sobre as categorias de trabalhadores considerados PÚBLICO SUBJETIVO, sendo que seu não
profissionais da educação básica e sobre a fixação oferecimento gera responsabilidade do ad-
de prazo para a elaboração ou adequação de seus ministrador.
planos de carreira, no âmbito da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios” (artigo Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi-
206, parágrafo único, CF); das as seguintes condições:
- “gestão democrática do ensino público, na forma da I - cumprimento das normas gerais da educação na-
lei”, remetendo ao direito de participação popular cional;
na tomada de decisões políticas referentes às ativi- II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder
dades de ensino; e Público.
- “garantia de padrão de qualidade”, posto que sem Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en-
qualidade de ensino é impossível atingir uma me- sino fundamental, de maneira a assegurar formação
lhoria na qualificação pessoal e profissional dos básica comum e respeito aos valores culturais e artís-
nacionais. ticos, nacionais e regionais.
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, cons-
Enquanto que os artigos 205 e 206 da Constituição tituirá disciplina dos horários normais das escolas pú-
possuem uma menor densidade normativa, colacionan- blicas de ensino fundamental.
do princípios diretores e ideias basilares, o artigo 208 § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em
volta-se à regulamentação do modo pelo qual o Estado língua portuguesa, assegurada às comunidades indí-
efetivará o direito à educação. genas também a utilização de suas línguas maternas
Interessante notar, em primeira análise, que o Estado e processos próprios de aprendizagem.
se exime da obrigatoriedade no fornecimento de edu- Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
cação superior, no art. 208, V, quando assegura, apenas, Municípios organizarão em regime de colaboração
o “acesso” aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa seus sistemas de ensino.
e criação artística. Fica denotada ausência de compro- § 1º A União organizará o sistema federal de ensino
metimento orçamentário e infraestrutural estatal com e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino
LEGISLAÇÃO FEDERAL

um número suficiente de universidades/faculdades pú- públicas federais e exercerá, em matéria educacional,


blicas aptas a recepcionar o maciço contingente de alu- função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
nos que saem da camada básica de ensino, sendo, pois, equalização de oportunidades educacionais e padrão
clarividente exemplo de aplicação da reserva do possível mínimo de qualidade do ensino mediante assistência
dentro da Constituição. Ainda, é preciso observar que se técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e
utiliza a expressão “segundo a capacidade de cada um”, aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitu-
de forma que o critério para admissão em universidades/ cional nº 14, de 1996)

2
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino monstrarem insuficiência de recursos, quando houver
fundamental e na educação infantil. (Redação dada falta de vagas e cursos regulares da rede pública na
pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) localidade da residência do educando, ficando o Poder
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão priori- Público obrigado a investir prioritariamente na expan-
tariamente no ensino fundamental e médio. (Incluído são de sua rede na localidade.
pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) § 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estí-
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a mulo e fomento à inovação realizadas por universi-
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dades e/ou por instituições de educação profissional
definirão formas de colaboração, de modo a assegu- e tecnológica poderão receber apoio financeiro do
rar a universalização do ensino obrigatório.(Redação Poder Público.   (Redação dada pela Emenda Consti-
dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) tucional nº 85, de 2015)
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritaria- Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu-
mente ao ensino regular. (Incluído pela Emenda Cons- cação, de duração decenal, com o objetivo de articular
titucional nº 53, de 2006) o sistema nacional de educação em regime de cola-
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos boração e definir diretrizes, objetivos, metas e estraté-
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Muni- gias de implementação para assegurar a manutenção
cípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis,
resultante de impostos, compreendida a proveniente etapas e modalidades por meio de ações integradas
de transferências, na manutenção e desenvolvimento dos poderes públicos das diferentes esferas federativas
do ensino. que conduzam a: (Redação dada pela Emenda Consti-
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida tucional nº 59, de 2009)
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu- I - erradicação do analfabetismo;
nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, II - universalização do atendimento escolar;
não é considerada, para efeito do cálculo previsto nes- III - melhoria da qualidade do ensino;
te artigo, receita do governo que a transferir. IV - formação para o trabalho;
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no V - promoção humanística, científica e tecnológica do
«caput» deste artigo, serão considerados os sistemas País.
de ensino federal, estadual e municipal e os recursos VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
aplicados na forma do art. 213. públicos em educação como proporção do produto in-
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará terno bruto. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
prioridade ao atendimento das necessidades do ensi-
59, de 2009)
no obrigatório, no que se refere a universalização, ga-
rantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos
Seção II
do plano nacional de educação. (Redação dada pela
DA CULTURA
Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício
assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão fi-
dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura na-
nanciados com recursos provenientes de contribuições
sociais e outros recursos orçamentários. cional, e apoiará e incentivará a valorização e a difu-
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adi- são das manifestações culturais.
cional de financiamento a contribuição social do salá- § 1º O Estado protegerá as manifestações das cultu-
rio-educação, recolhida pelas empresas na forma da ras populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de
lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, outros grupos participantes do processo civilizatório
de 2006) nacional.
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemora-
da contribuição social do salário-educação serão dis- tivas de alta significação para os diferentes segmentos
tribuídas proporcionalmente ao número de alunos étnicos nacionais.
matriculados na educação básica nas respectivas re- 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura,
des públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Consti- de duração plurianual, visando ao desenvolvimento
tucional nº 53, de 2006) cultural do País e à integração das ações do poder pú-
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es- blico que conduzem à: (Incluído pela Emenda Consti-
colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comu- tucional nº 48, de 2005)
nitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em I defesa e valorização do patrimônio cultural brasi-
lei, que: leiro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem 2005)
seus excedentes financeiros em educação; II produção, promoção e difusão de bens culturais; (In-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra cluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao III formação de pessoal qualificado para a gestão da
Poder Público, no caso de encerramento de suas ati- cultura em suas múltiplas dimensões; (Incluído pela
vidades. Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão IV democratização do acesso aos bens de cultura; (In-
ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fun- cluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
damental e médio, na forma da lei, para os que de-

3
V valorização da diversidade étnica e regional. (Incluí- I - diversidade das expressões culturais; Incluído pela
do pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005) Emenda Constitucional nº 71, de 2012
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os II - universalização do acesso aos bens e serviços cul-
bens de natureza material e imaterial, tomados indi- turais; Incluído pela Emenda Constitucional nº 71, de
vidualmente ou em conjunto, portadores de referência 2012
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos III - fomento à produção, difusão e circulação de co-
formadores da sociedade brasileira, nos quais se in- nhecimento e bens culturais; Incluído pela Emenda
cluem: Constitucional nº 71, de 2012
I - as formas de expressão; IV - cooperação entre os entes federados, os agentes
II - os modos de criar, fazer e viver; públicos e privados atuantes na área cultural; Incluído
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e de- V - integração e interação na execução das políticas,
mais espaços destinados às manifestações artístico- programas, projetos e ações desenvolvidas; Incluído
-culturais; pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais;
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, Incluído pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012
ecológico e científico. VII - transversalidade das políticas culturais; Incluído
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comu- pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012
nidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural VIII - autonomia dos entes federados e das instituições
brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilân- da sociedade civil; Incluído pela Emenda Constitucio-
cia, tombamento e desapropriação, e de outras formas nal nº 71, de 2012
de acautelamento e preservação. IX - transparência e compartilhamento das informa-
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, ções; Incluído pela Emenda Constitucional nº 71, de
a gestão da documentação governamental e as pro- 2012
X - democratização dos processos decisórios com
vidências para franquear sua consulta a quantos dela
participação e controle social; Incluído pela Emenda
necessitem.
Constitucional nº 71, de 2012
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o
XI - descentralização articulada e pactuada da gestão,
conhecimento de bens e valores culturais.
dos recursos e das ações; Incluído pela Emenda Cons-
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão
titucional nº 71, de 2012
punidos, na forma da lei.
XII - ampliação progressiva dos recursos contidos nos
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios
orçamentos públicos para a cultura. Incluído pela
detentores de reminiscências históricas dos antigos Emenda Constitucional nº 71, de 2012
quilombos. § 2º Constitui a estrutura do Sistema Nacional de Cul-
§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vin- tura, nas respectivas esferas da Federação: Incluído
cular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012
décimos por cento de sua receita tributária líquida, I - órgãos gestores da cultura; Incluído pela Emenda
para o financiamento de programas e projetos cultu- Constitucional nº 71, de 2012
rais, vedada a aplicação desses recursos no pagamen- II - conselhos de política cultural; Incluído pela Emen-
to de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de da Constitucional nº 71, de 2012
19.12.2003) III - conferências de cultura; Incluído pela Emenda
I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído Constitucional nº 71, de 2012
pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) IV - comissões intergestores; Incluído pela Emenda
II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitu- Constitucional nº 71, de 2012
cional nº 42, de 19.12.2003) V - planos de cultura; Incluído pela Emenda Constitu-
III - qualquer outra despesa corrente não vincula- cional nº 71, de 2012
da diretamente aos investimentos ou ações apoia- VI - sistemas de financiamento à cultura; Incluído pela
dos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de Emenda Constitucional nº 71, de 2012
19.12.2003) VII - sistemas de informações e indicadores culturais;
Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, organi- Incluído pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012
zado em regime de colaboração, de forma descentra- VIII - programas de formação na área da cultura; e
lizada e participativa, institui um processo de gestão Incluído pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012
e promoção conjunta de políticas públicas de cultu- IX - sistemas setoriais de cultura. Incluído pela Emen-
ra, democráticas e permanentes, pactuadas entre os da Constitucional nº 71, de 2012
entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo § 3º Lei federal disporá sobre a regulamentação do
promover o desenvolvimento humano, social e econô- Sistema Nacional de Cultura, bem como de sua arti-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

mico com pleno exercício dos direitos culturais. (Incluí- culação com os demais sistemas nacionais ou políticas
do pela Emenda Constitucional nº 71, de 2012) setoriais de governo. Incluído pela Emenda Constitu-
§ 1º O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se cional nº 71, de 2012
na política nacional de cultura e nas suas diretrizes, § 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios or-
estabelecidas no Plano Nacional de Cultura, e rege- ganizarão seus respectivos sistemas de cultura em leis
-se pelos seguintes princípios: Incluído pela Emenda próprias. Incluído pela Emenda Constitucional nº 71,
Constitucional nº 71, de 2012 de 2012

4
Seção III § 5º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vin-
DO DESPORTO cular parcela de sua receita orçamentária a entidades
públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas despor- e tecnológica.
tivas formais e não-formais, como direito de cada um, § 6º O Estado, na execução das atividades previstas
observados: no caput, estimulará a articulação entre entes, tanto
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes públicos quanto privados, nas diversas esferas de go-
e associações, quanto a sua organização e funciona- verno. (Parágrafo acrescido pela Emenda Constitucio-
mento; nal nº 85, de 2015, republicada no DOU de 3/3/2015)
II - a destinação de recursos públicos para a promoção § 7º O Estado promoverá e incentivará a atuação no
prioritária do desporto educacional e, em casos espe- exterior das instituições públicas de ciência, tecnolo-
cíficos, para a do desporto de alto rendimento; gia e inovação, com vistas à execução das atividades
III - o tratamento diferenciado para o desporto profis- previstas no caput. (Parágrafo acrescido pela Emenda
sional e o não- profissional; Constitucional nº 85, de 2015, republicada no DOU
IV - a proteção e o incentivo às manifestações despor- de 3/3/2015)
tivas de criação nacional.
§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio na-
disciplina e às competições desportivas após esgota- cional e será incentivado de modo a viabilizar o de-
rem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada senvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-es-
em lei. tar da população e a autonomia tecnológica do País,
§ 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de ses- nos termos de lei federal.
senta dias, contados da instauração do processo, para Parágrafo único. O Estado estimulará a formação e o
proferir decisão final. fortalecimento da inovação nas empresas, bem como
§ 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma nos demais entes, públicos ou privados, a constituição
de promoção social. e a manutenção de parques e polos tecnológicos e de
demais ambientes promotores da inovação, a atua-
Capítulo IV ção dos inventores independentes e a criação, absor-
Da Ciência e Tecnologia ção, difusão e transferência de tecnologia. (Parágrafo
único acrescido pela Emenda Constitucional nº 85, de
(Denominação do capítulo com redação dada pela 2015, republicada no DOU de 3/3/2015)
Emenda Constitucional nº 85, de 2015, republicada
no DOU de 3/3/2015) Art. 219-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e
Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desen- os Municípios poderão firmar instrumentos de coope-
volvimento científico, a pesquisa, a capacitação cien- ração com órgãos e entidades públicos e com entida-
tífica e tecnológica e a inovação. (“Caput” do artigo des privadas, inclusive para o compartilhamento de
com redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, recursos humanos especializados e capacidade insta-
de 2015, republicada no DOU de 3/3/2015) lada, para a execução de projetos de pesquisa, de de-
senvolvimento científico e tecnológico e de inovação,
§ 1º A pesquisa científica básica e tecnológica rece- mediante contrapartida financeira ou não financeira
berá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista assumida pelo ente beneficiário, na forma da lei. (Ar-
o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e tigo acrescido pela Emenda Constitucional nº 85, de
inovação. (Parágrafo com redação dada pela Emenda 2015, republicada no DOU de 3/3/2015)
Constitucional nº 85, de 2015, republicada no DOU Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia
de 3/3/2015) e Inovação será organizado em regime de colabora-
§ 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderan- ção entre entes, tanto públicos quanto privados, com
temente para a solução dos problemas brasileiros e vistas a promover o desenvolvimento científico e tec-
para o desenvolvimento do sistema produtivo nacio- nológico e a inovação.
nal e regional. § 1º Lei federal disporá sobre as normas gerais do Sis-
§ 3º O Estado apoiará a formação de recursos huma- tema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
nos nas áreas de ciência, pesquisa, tecnologia e ino- § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios le-
vação, inclusive por meio do apoio às atividades de gislarão concorrentemente sobre suas peculiaridades.
extensão tecnológica, e concederá aos que delas se (Artigo acrescido pela Emenda Constitucional nº 85,
ocupem meios e condições especiais de trabalho. (Pa- de 2015, republicada no DOU de 3/3/2015)
rágrafo com redação dada pela Emenda Constitucio-
nal nº 85, de 2015, republicada no DOU de 3/3/2015) 1. Ciência, tecnologia e inovação
LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 4º A lei apoiará e estimulará as empresas que in-


vistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento
ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnoló-
humanos e que pratiquem sistemas de remuneração gica e a inovação. Segundo Nathália Masson, “a ciência
que assegurem ao empregado, desvinculada do sa- refere-se ao conjunto de informações organizadas e sis-
lário, participação nos ganhos econômicos resultan- tematizadas, adquiridas em certa área do conhecimento
tes da produtividade de seu trabalho. - sempre de maneira metódica e rigorosa -, que podem

5
ser transmitidas por um processo pedagógico de ensino. za e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
Já a tecnologia, pane da aplicação prática das informa- prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo
ções teóricas reunidas pela ciência, associa novas pesqui- em comissão declarado em lei de livre nomeação e
sas (científicas e tecnológicas), com o intuito de produzir exoneração;
e criar”. III - o prazo de validade do concurso público será de
até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período;
1.1. Proposta do Estado IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital
de convocação, aquele aprovado em concurso público
- A pesquisa científica básica e tecnológica receberá de provas ou de provas e títulos será convocado com
tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o prioridade sobre novos concursados para assumir car-
bem público e o progresso da ciência, tecnologia go ou emprego, na carreira;
e inovação. V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente
- A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderante- por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos
mente para a solução dos problemas brasileiros e em comissão, a serem preenchidos por servidores de
para o desenvolvimento do sistema produtivo na-
carreira nos casos, condições e percentuais mínimos
cional e regional.
previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de
- O Estado apoiará a formação de recursos humanos
direção, chefia e assessoramento;
nas áreas de ciência, pesquisa, tecnologia e inova-
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à
ção, inclusive por meio do apoio às atividades de
extensão tecnológica, e concederá aos que delas livre associação sindical;
se ocupem meios e condições especiais de traba- VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos
lho. limites definidos em lei específica;
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos
1.2. Iniciativa Privada (incentivos governamentais) públicos para as pessoas portadoras de deficiência e
definirá os critérios de sua admissão;
A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por
em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, tempo determinado para atender a necessidade tem-
formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos porária de excepcional interesse público;
e que pratiquem sistemas de remuneração que assegu- X - a remuneração dos servidores públicos e o sub-
rem ao empregado, desvinculada do salário, participação sídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão
nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de ser fixados ou alterados por lei específica, observada a
seu trabalho. iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão
geral anual, sempre na mesma data e sem distinção
1.3. Sistema Nacional de Tecnologia e Inovação de índices;
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de
1.3.1. Organização cargos, funções e empregos públicos da administra-
ção direta, autárquica e fundacional, dos membros
Será organizado em regime de colaboração entre en- de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
tes, tanto públicos quanto privados Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
1.3.2. Objetivo proventos, pensões ou outra espécie remuneratória,
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as van-
Promover o desenvolvimento científico e tecnológico
tagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
e a inovação.
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se
Capítulo VII
como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e
Da administração pública
nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do
Seção I Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio
Disposições gerais dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Po-
der Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do
Art. 37. A administração pública direta e indireta de Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis- e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em
trito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicida- no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
de e eficiência e, também, ao seguinte: aos membros do Ministério Público, aos Procuradores
LEGISLAÇÃO FEDERAL

I - os cargos, empregos e funções públicas são aces- e aos Defensores Públicos;


síveis aos brasileiros que preencham os requisitos es- XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo
tabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos
forma da lei; pagos pelo Poder Executivo;
II - a investidura em cargo ou emprego público de- XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quais-
pende de aprovação prévia em concurso público de quer espécies remuneratórias para o efeito de remu-
provas ou de provas e títulos, de acordo com a nature- neração de pessoal do serviço público;

6
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servi- I - as reclamações relativas à prestação dos serviços
dor público não serão computados nem acumulados públicos em geral, asseguradas a manutenção de ser-
para fins de concessão de acréscimos ulteriores; viços de atendimento ao usuário e a avaliação perió-
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de dica, externa e interna, da qualidade dos serviços; (II
cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalva- - o acesso dos usuários a registros administrativos e a
do o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos informações sobre atos de governo, observado o dis-
arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; posto no art. 5º, X e XXXIII;
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos III - a disciplina da representação contra o exercício
públicos, exceto, quando houver compatibilidade de negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função
horários, observado em qualquer caso o disposto no na administração pública.
inciso XI: § 4º Os atos de improbidade administrativa impor-
a) a de dois cargos de professor; tarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou função pública, a indisponibilidade dos bens e o res-
científico; sarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis- em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
sionais de saúde, com profissões regulamentadas; § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou
e funções e abrange autarquias, fundações, empresas não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as
públicas, sociedades de economia mista, suas subsi- respectivas ações de ressarcimento.
diárias, e sociedades controladas, direta ou indireta- § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de di-
mente, pelo poder público; reito privado prestadoras de serviços públicos respon-
XVIII - a administração fazendária e seus servidores derão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
fiscais terão, dentro de suas áreas de competência e causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
jurisdição, precedência sobre os demais setores admi- contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
nistrativos, na forma da lei; § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições
XIX – somente por lei específica poderá ser criada au- ao ocupante de cargo ou emprego da administração
tarquia e autorizada a instituição de empresa pública, direta e indireta que possibilite o acesso a informações
de sociedade de economia mista e de fundação, ca- privilegiadas.
bendo à lei complementar, neste último caso, definir § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira
as áreas de sua atuação; dos órgãos e entidades da administração direta e in-
XX - depende de autorização legislativa, em cada direta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser
caso, a criação de subsidiárias das entidades mencio- firmado entre seus administradores e o poder público,
nadas no inciso anterior, assim como a participação que tenha por objeto a fixação de metas de desempe-
de qualquer delas em empresa privada; nho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de
as obras, serviços, compras e alienações serão con- 1998)
tratados mediante processo de licitação pública que I - o prazo de duração do contrato;
assegure igualdade de condições a todos os concor- II - os controles e critérios de avaliação de desempe-
rentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de nho, direitos, obrigações e responsabilidade dos diri-
pagamento, mantidas as condições efetivas da pro- gentes;
posta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
III - a remuneração do pessoal.”
exigências de qualificação técnica e econômica indis-
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas pú-
pensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
blicas e às sociedades de economia mista, e suas subsi-
XXII - as administrações tributárias da União, dos Es-
diárias, que receberem recursos da União, dos Estados,
tados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades
do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento
essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por
de despesas de pessoal ou de custeio em geral.
servidores de carreiras específicas, terão recursos prio-
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos
ritários para a realização de suas atividades e atuarão
de forma integrada, inclusive com o compartilhamen- de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts.
to de cadastros e de informações fiscais, na forma da 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou
lei ou convênio. função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços forma desta Constituição, os cargos eletivos e os car-
e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter gos em comissão declarados em lei de livre nomeação
educativo, informativo ou de orientação social, dela e exoneração.
não podendo constar nomes, símbolos ou imagens § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites
remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste
LEGISLAÇÃO FEDERAL

que caracterizem promoção pessoal de autoridades


ou servidores públicos. artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III em lei.
implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput
responsável, nos termos da lei. deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às
usuário na administração pública direta e indireta, re- respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite
gulando especialmente: único, o subsídio mensal dos Desembargadores do res-

7
pectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo pú-
e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio men- blico o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,
sal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, não XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei esta-
se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios belecer requisitos diferenciados de admissão quando
dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. a natureza do cargo o exigir. (Incluído pela Emenda
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, Constitucional nº 19, de 1998)
autárquica e fundacional, no exercício de mandato § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato ele-
eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: tivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual e Municipais serão remunerados exclusivamente por
ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo
função; de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do verba de representação ou outra espécie remunera-
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar tória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art.
pela sua remuneração; 37, X e XI. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19,
III - investido no mandato de Vereador, havendo com- de 1998)
patibilidade de horários, perceberá as vantagens de § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e
seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remu- dos Municípios poderá estabelecer a relação entre a
neração do cargo eletivo, e, não havendo compatibili- maior e a menor remuneração dos servidores públicos,
dade, será aplicada a norma do inciso anterior; obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, XI.
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário pu-
será contado para todos os efeitos legais, exceto para blicarão anualmente os valores do subsídio e da re-
promoção por merecimento; muneração dos cargos e empregos públicos. (Incluído
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e
afastamento, os valores serão determinados como se
dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos or-
no exercício estivesse.
çamentários provenientes da economia com despesas
correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para
Seção II
aplicação no desenvolvimento de programas de quali-
DOS SERVIDORES PÚBLICOS
dade e produtividade, treinamento e desenvolvimento,
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de
modernização, reaparelhamento e racionalização do
1998)
serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou
prêmio de produtividade. (Incluído pela Emenda Cons-
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- titucional nº 19, de 1998)
nicípios instituirão, no âmbito de sua competência, re- § 8º A remuneração dos servidores públicos organiza-
gime jurídico único e planos de carreira para os servi- dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
dores da administração pública direta, das autarquias (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
e das fundações públicas. (Vide ADIN nº 2.135-4) Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
Municípios instituirão conselho de política de adminis- cípios, incluídas suas autarquias e fundações, é asse-
tração e remuneração de pessoal, integrado por ser- gurado regime de previdência de caráter contributivo
vidores designados pelos respectivos Poderes. (Reda- e solidário, mediante contribuição do respectivo ente
ção dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) público, dos servidores ativos e inativos e dos pen-
(Vide ADIN nº 2.135-4) sionistas, observados critérios que preservem o equi-
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos de- líbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
mais componentes do sistema remuneratório obser- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41,
vará: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19.12.2003)
19, de 1998) § 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previ-
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a com- dência de que trata este artigo serão aposentados, cal-
plexidade dos cargos componentes de cada carreira; culados os seus proventos a partir dos valores fixados
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) na forma dos §§ 3º e 17: (Redação dada pela Emenda
II - os requisitos para a investidura; (Incluído pela Constitucional nº 41, 19.12.2003)
Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - por invalidez permanente, sendo os proventos pro-
III - as peculiaridades dos cargos. (Incluído pela Emen- porcionais ao tempo de contribuição, exceto se decor-
da Constitucional nº 19, de 1998) rente de acidente em serviço, moléstia profissional ou
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal mante- doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da
LEGISLAÇÃO FEDERAL

rão escolas de governo para a formação e o aperfei- lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41,
çoamento dos servidores públicos, constituindo-se a 19.12.2003)
participação nos cursos um dos requisitos para a pro- II - compulsoriamente, com proventos proporcionais
moção na carreira, facultada, para isso, a celebração ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de
de convênios ou contratos entre os entes federados. idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade,
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de na forma de lei complementar; (Redação dada pela
1998) Emenda Constitucional nº 88, de 2015)

8
III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mí- cela excedente a este limite, caso aposentado à data
nimo de dez anos de efetivo exercício no serviço pú- do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº
blico e cinco anos no cargo efetivo em que se dará 41, 19.12.2003)
a aposentadoria, observadas as seguintes condições: II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o
15/12/98) limite máximo estabelecido para os benefícios do regi-
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribui- me geral de previdência social de que trata o art. 201,
ção, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e acrescido de setenta por cento da parcela excedente
trinta de contribuição, se mulher; (Redação dada pela a este limite, caso em atividade na data do óbito. (In-
Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) cluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessen- § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios
ta anos de idade, se mulher, com proventos proporcio- para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor
nais ao tempo de contribuição. (Redação dada pela real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação
Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
§ 2º - Os proventos de aposentadoria e as pensões, § 9º - O tempo de contribuição federal, estadual ou
por ocasião de sua concessão, não poderão exceder a municipal será contado para efeito de aposentadoria
remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo e o tempo de serviço correspondente para efeito de
em que se deu a aposentadoria ou que serviu de re- disponibilidade. (Incluído pela Emenda Constitucional
ferência para a concessão da pensão. (Redação dada nº 20, de 15/12/98)
pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) § 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de
§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, contagem de tempo de contribuição fictício. (Incluído
por ocasião da sua concessão, serão consideradas pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
as remunerações utilizadas como base para as con- § 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma
total dos proventos de inatividade, inclusive quando
tribuições do servidor aos regimes de previdência de
decorrentes da acumulação de cargos ou empregos
que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei.
públicos, bem como de outras atividades sujeitas a
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41,
contribuição para o regime geral de previdência so-
19.12.2003) cial, e ao montante resultante da adição de proventos
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios di- de inatividade com remuneração de cargo acumulável
ferenciados para a concessão de aposentadoria aos na forma desta Constituição, cargo em comissão de-
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, res- clarado em lei de livre nomeação e exoneração, e de
salvados, nos termos definidos em leis complementa- cargo eletivo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
res, os casos de servidores: (Redação dada pela Emen- 20, de 15/12/98)
da Constitucional nº 47, de 2005) § 12 - Além do disposto neste artigo, o regime de
I portadores de deficiência; (Incluído pela Emenda previdência dos servidores públicos titulares de car-
Constitucional nº 47, de 2005) go efetivo observará, no que couber, os requisitos e
II que exerçam atividades de risco; (Incluído pela critérios fixados para o regime geral de previdência
Emenda Constitucional nº 47, de 2005) social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de
III cujas atividades sejam exercidas sob condições es- 15/12/98)
peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade fí- § 13 - Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo
sica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de em comissão declarado em lei de livre nomeação e
2005) exoneração bem como de outro cargo temporário ou
§ 5º - Os requisitos de idade e de tempo de contribui- de emprego público, aplica-se o regime geral de pre-
ção serão reduzidos em cinco anos, em relação ao dis- vidência social. (Incluído pela Emenda Constitucional
posto no § 1º, III, “a”, para o professor que comprove nº 20, de 15/12/98)
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções § 14 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
de magistério na educação infantil e no ensino funda- nicípios, desde que instituam regime de previdência
mental e médio. (Redação dada pela Emenda Consti- complementar para os seus respectivos servidores ti-
tucional nº 20, de 15/12/98) tulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor
§ 6º - Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é regime de que trata este artigo, o limite máximo es-
tabelecido para os benefícios do regime geral de pre-
vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à
vidência social de que trata o art. 201. (Incluído pela
conta do regime de previdência previsto neste artigo.
Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
§ 15. O regime de previdência complementar de que
15/12/98)
LEGISLAÇÃO FEDERAL

trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do res-


§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pectivo Poder Executivo, observado o disposto no art.
pensão por morte, que será igual: (Redação dada pela 202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio
Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) de entidades fechadas de previdência complementar,
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor de natureza pública, que oferecerão aos respectivos
falecido, até o limite máximo estabelecido para os be- participantes planos de benefícios somente na moda-
nefícios do regime geral de previdência social de que lidade de contribuição definida. (Redação dada pela
trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da par- Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

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§ 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, neração proporcional ao tempo de serviço. (Redação
o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servi- dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
dor que tiver ingressado no serviço público até a data § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessida-
da publicação do ato de instituição do correspondente de, o servidor estável ficará em disponibilidade, com
regime de previdência complementar. (Incluído pela remuneração proporcional ao tempo de serviço, até
Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) seu adequado aproveitamento em outro cargo. (Reda-
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados ção dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão de- § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
vidamente atualizados, na forma da lei. (Incluído pela é obrigatória a avaliação especial de desempenho por
Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) comissão instituída para essa finalidade. (Incluído pela
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de apo- Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
sentadorias e pensões concedidas pelo regime de que
trata este artigo que superem o limite máximo esta- Seção III
belecido para os benefícios do regime geral de previ- DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FE-
dência social de que trata o art. 201, com percentual DERAL E DOS TERRITÓRIOS
igual ao estabelecido para os servidores titulares de (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18,
cargos efetivos. (Incluído pela Emenda Constitucional de 1998)
nº 41, 19.12.2003)
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos
completado as exigências para aposentadoria volun- de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
tária estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por per- base na hierarquia e disciplina, são militares dos Es-
manecer em atividade fará jus a um abono de per- tados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação
manência equivalente ao valor da sua contribuição dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
previdenciária até completar as exigências para apo- § 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado
sentadoria compulsória contidas no § 1º, II. (Incluído
em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º;
pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual espe-
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime
cífica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso
próprio de previdência social para os servidores titu-
X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos res-
lares de cargos efetivos, e de mais de uma unidade
pectivos governadores. (Redação dada pela Emenda
gestora do respectivo regime em cada ente estatal,
Constitucional nº 20, de 15/12/98)
ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X. (Incluído
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Dis-
pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) trito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo in- em lei específica do respectivo ente estatal. (Redação
cidirá apenas sobre as parcelas de proventos de apo- dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
sentadoria e de pensão que superem o dobro do limite
máximo estabelecido para os benefícios do regime ge- Seção IV
ral de previdência social de que trata o art. 201 desta DAS REGIÕES
Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei,
for portador de doença incapacitante. (Incluído pela Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá
Emenda Constitucional nº 47, de 2005) articular sua ação em um mesmo complexo geoeco-
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercí- nômico e social, visando a seu desenvolvimento e à
cio os servidores nomeados para cargo de provimento redução das desigualdades regionais.
efetivo em virtude de concurso público. (Redação dada § 1º - Lei complementar disporá sobre:
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - as condições para integração de regiões em desen-
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: volvimento;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de II - a composição dos organismos regionais que execu-
1998) tarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes
I - em virtude de sentença judicial transitada em jul- dos planos nacionais de desenvolvimento econômico e
gado; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de social, aprovados juntamente com estes.
1998) § 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além de
II - mediante processo administrativo em que lhe outros, na forma da lei:
seja assegurada ampla defesa; (Incluído pela Emenda I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de
Constitucional nº 19, de 1998) custos e preços de responsabilidade do Poder Público;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de II - juros favorecidos para financiamento de atividades
desempenho, na forma de lei complementar, assegu- prioritárias;
LEGISLAÇÃO FEDERAL

rada ampla defesa. (Incluído pela Emenda Constitu- III - isenções, reduções ou diferimento temporário de
cional nº 19, de 1998) tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídi-
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do cas;
servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual IV - prioridade para o aproveitamento econômico e
ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo social dos rios e das massas de água represadas ou re-
de origem, sem direito a indenização, aproveitado em presáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas
outro cargo ou posto em disponibilidade com remu- periódicas.

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§ 3º - Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União in- § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de-
centivará a recuperação de terras áridas e cooperará senvolve, predominantemente, por meio do ensino,
com os pequenos e médios proprietários rurais para o em instituições próprias.
estabelecimento, em suas glebas, de fontes de água e § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
de pequena irrigação. do trabalho e à prática social.

O primeiro artigo da LDB estabelece que a educação


é um processo que não se dá exclusivamente nas esco-
EXERCÍCIO COMENTADO las. Trata-se da clássica distinção entre educação formal
e não formal ou informal: “A educação formal é aquela
1. (PC-PI – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – NUCE- desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente
PE – 2018) A administração pública direta e indireta de demarcados; a informal como aquela que os indivíduos
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito aprendem durante seu processo de socialização - na fa-
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de mília, bairro, clube, amigos, etc., carregada de valores e
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e cultura própria, de pertencimento e sentimentos herda-
eficiência. Aponte a alternativa incorreta. dos; e a educação não formal é aquela que se apren-
de ‘no mundo da vida’, via os processos de comparti-
a) A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo lhamento de experiências, principalmente em espaços e
indeterminado para atender a necessidade temporária ações coletivas cotidianas” . A LDB disciplina apenas a
de excepcional interesse público. educação escolar, ou seja, a educação formal, que não
b) As funções de confiança, exercidas exclusivamente por exclui o papel das famílias e das comunidades na educa-
servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos ção informal.
em comissão, a serem preenchidos por servidores de
carreira nos casos, condições e percentuais mínimos
previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de #FicaDica
direção, chefia e assessoramento.
c) É garantido ao servidor público civil o direito à livre Educação formal – escolar
associação sindical. Educação informal – comunitária, familiar, re-
d) O direito de greve será exercido nos termos e nos limi- ligiosa.
tes definidos em lei específica.
e) A lei reservará percentual dos cargos e empregos pú-
blicos para as pessoas com deficiência e definirá os
critérios de sua admissão. TÍTULO II
DOS PRINCÍPIOS E FINS DA EDUCAÇÃO NACIONAL
Resposta: Letra A. O erro encontra-se na palavra “in-
determinado”: se a necessidade excepcional é tempo- Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, ins-
rária, então o correto seria dizer que a contratação é pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli-
por tempo determinado. O candidato deve estar bas- dariedade humana, tem por finalidade o pleno desen-
tante atento e fazer uma leitura minuciosa de cada volvimento do educando, seu preparo para o exercício
alternativa para não cair nesse tipo de “pegadinha” da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
muito comum em questões de múltipla escolha. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin-
tes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO cia na escola;
NACIONAL E SUAS ALTERAÇÕES (LEI Nº II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divul-
9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996). gar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
A lei estudada neste tópico “estabelece as diretrizes V - coexistência de instituições públicas e privadas de
e bases da educação nacional”. Data de 20 de dezembro ensino;
de 1996, tendo sido promulgada pelo ex-presidente Fer- VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
nando Henrique Cardoso, mas já passou por inúmeras tos oficiais;
alterações desde então. Partamos para o comentário em VII - valorização do profissional da educação escolar;
bloco de seus dispositivos: VIII - gestão democrática do ensino público, na forma
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
TÍTULO I IX - garantia de padrão de qualidade;
LEGISLAÇÃO FEDERAL

DA EDUCAÇÃO X - valorização da experiência extraescolar;


XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
Art. 1º A educação abrange os processos formativos as práticas sociais;
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência XII - consideração com a diversidade étnico-racial;
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes- XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem
quisa, nos movimentos sociais e organizações da so- ao longo da vida.
ciedade civil e nas manifestações culturais.

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A educação escolar deve permitir a formação do cida- hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, con-
dão e do trabalhador: uma pessoa que consiga se inserir forme dispuser o Poder Público em regulamento, na
no mercado de trabalho e ter noções adequadas de ci- esfera de sua competência federativa.
dadania e solidariedade no convívio social. Entre os prin- Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direi-
cípios, trabalha-se com o direito de acesso à educação to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, gru-
de qualidade (gratuita nos estabelecimentos públicos), a po de cidadãos, associação comunitária, organização
liberdade nas atividades de ensino em geral (tanto para o sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons-
educador quanto para o educado), a valorização do pro- tituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder
fessor, o incentivo à educação informal e o respeito às público para exigi-lo.
diversidades de ideias, gêneros, raça e cor. § 1º O poder público, na esfera de sua competência
federativa, deverá:
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes
#FicaDica em idade escolar, bem como os jovens e adultos que
não concluíram a educação básica;
A educação é dever da família e do Estado. II - fazer-lhes a chamada pública;
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequên-
cia à escola.
TÍTULO III § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Pú-
DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR
blico assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino
obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi-
em seguida os demais níveis e modalidades de ensino,
ca será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua- conforme as prioridades constitucionais e legais.
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
seguinte forma: artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judi-
a) pré-escola; ciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição
b) ensino fundamental; Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judi-
c) ensino médio; cial correspondente.
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin- § 4º Comprovada a negligência da autoridade com-
co) anos de idade; petente para garantir o oferecimento do ensino obri-
III - atendimento educacional especializado gratuito gatório, poderá ela ser imputada por crime de respon-
aos educandos com deficiência, transtornos globais do sabilidade.
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, de ensino, o Poder Público criará formas alternativas
preferencialmente na rede regular de ensino; de acesso aos diferentes níveis de ensino, independen-
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental temente da escolarização anterior.
e médio para todos os que não os concluíram na idade Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma-
própria; trícula das crianças na educação básica a partir dos 4
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- (quatro) anos de idade.
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas
cada um; as seguintes condições:
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às I - cumprimento das normas gerais da educação na-
condições do educando; cional e do respectivo sistema de ensino;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e II - autorização de funcionamento e avaliação de qua-
adultos, com características e modalidades adequadas lidade pelo Poder Público;
às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e
previsto no art. 213 da Constituição Federal.
permanência na escola;
Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas
instituição de ensino pública ou privada, de qualquer
da educação básica, por meio de programas suple-
mentares de material didático-escolar, transporte, ali- nível, é assegurado, no exercício da liberdade de cons-
mentação e assistência à saúde; ciência e de crença, o direito de, mediante prévio e
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defi- motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de
nidos como a variedade e quantidade mínimas, por aula marcada para dia em que, segundo os preceitos
aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento de sua religião, seja vedado o exercício de tais ativida-
do processo de ensino-aprendizagem. des, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e
LEGISLAÇÃO FEDERAL

X - vaga na escola pública de educação infantil ou de sem custos para o aluno, uma das seguintes presta-
ensino fundamental mais próxima de sua residência a ções alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do
toda criança a partir do dia em que completar 4 (qua- art. 5º da Constituição Federal:
tro) anos de idade. I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser
Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, du- realizada em data alternativa, no turno de estudo do
rante o período de internação, ao aluno da educação aluno ou em outro horário agendado com sua anuên-
básica internado para tratamento de saúde em regime cia expressa;

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II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade TÍTULO IV
de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega de- Da Organização da Educação Nacional
finidos pela instituição de ensino.
§ 1º A prestação alternativa deverá observar os pa- Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
râmetros curriculares e o plano de aula do dia da au- nicípios organizarão, em regime de colaboração, os
sência do aluno. respectivos sistemas de ensino.
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alter- § 1º Caberá à União a coordenação da política na-
nativa de que trata este artigo substituirá a obrigação cional de educação, articulando os diferentes níveis e
original para todos os efeitos, inclusive regularização sistemas e exercendo função normativa, redistributiva
do registro de frequência. e supletiva em relação às demais instâncias educa-
§ 3º As instituições de ensino implementarão progres- cionais.
sivamente, no prazo de 2 (dois) anos, as providências e § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
adaptações necessárias à adequação de seu funciona- zação nos termos desta Lei.
mento às medidas previstas neste artigo. Art. 9º A União incumbir-se-á de:
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola-
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino
boração com os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
militar a que se refere o art. 83 desta Lei.
nicípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins-
Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em eta-
tituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos
pas a formação escolar, nos seguintes termos:
Territórios;
- A educação básica é obrigatória e gratuita. Envolve a
III - prestar assistência técnica e financeira aos Esta-
pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio.
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
A educação infantil deve ser garantida próxima à volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimen-
residência. Com efeito, existe a garantia do direito to prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo
à creche gratuita. No mais, pessoas fora da idade sua função redistributiva e supletiva;
escolar que queiram completar seus estudos têm di- IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
reito ao ensino fundamental e médio. Distrito Federal e os Municípios, competências e dire-
- A educação superior envolve os níveis mais elevados trizes para a educação infantil, o ensino fundamental
do ensino, da pesquisa e da criação artística, deven- e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus
do ser acessível conforme a capacidade de cada um. conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação
- Neste contexto, devem ser assegurados programas básica comum;
suplementares de material didático-escolar, trans- IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
porte, alimentação e assistência à saúde. Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedi-
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade do mentos para identificação, cadastramento e atendi-
ensino básico e assegura a possibilidade de se buscar ju- mento, na educação básica e na educação superior, de
dicialmente a garantia deste direito em caso de negativa alunos com altas habilidades ou superdotação;
pelo poder público. Será possível fazê-lo por meio de man- V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
dado de segurança ou ação civil pública. Além da judi- educação;
cialização para fazer valer o direito na esfera cível, cabe VI - assegurar processo nacional de avaliação do
em caso de negligência o acionamento na esfera penal, rendimento escolar no ensino fundamental, médio e
buscando-se a punição por crime de responsabilidade. superior, em colaboração com os sistemas de ensino,
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis objetivando a definição de prioridades e a melhoria da
efetuar a matrícula da criança. qualidade do ensino;
Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do ensino VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação
particular, desde que sejam respeitadas as normas da educa- e pós-graduação;
ção nacional, autorizado o funcionamento pelo poder público VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
e que tenha possibilidade de se manter independentemente instituições de educação superior, com a cooperação
de auxílio estatal, embora exista previsão de tais auxílios em dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este
circunstâncias determinadas descritas no artigo 213, CF. nível de ensino;
Já o artigo 7o-A, passando a valer em 03 de março de IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
2019, disciplina o direito do aluno de, por motivo religioso, avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
faltar à aula ou à prova, devendo ser aplicada atividade ou educação superior e os estabelecimentos do seu siste-
aula substitutiva para eventual reposição. ma de ensino.
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
Nacional de Educação, com funções normativas e de
#FicaDica supervisão e atividade permanente, criado por lei.
LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a


A LDB amplia o conteúdo da própria CF, ao
IX, a União terá acesso a todos os dados e informa-
garantir não apenas o ensino fundamental,
ções necessários de todos os estabelecimentos e ór-
mas todo o ensino básico (pré-escola, fun-
gãos educacionais.
damental e médio) como obrigatório e gra-
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
tuito, também prevendo de forma expressa a
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
gratuidade do ensino infantil (creches).
mantenham instituições de educação superior.

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Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- criando processos de integração da sociedade com a
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino; escola;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
na oferta do ensino fundamental, as quais devem as- filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a
segurar a distribuição proporcional das responsabili- frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre
dades, de acordo com a população a ser atendida e os a execução da proposta pedagógica da escola;
recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a re-
esferas do Poder Público; lação dos alunos que apresentem quantidade de faltas
III - elaborar e executar políticas e planos educacio- acima de 30% (trinta por cento) do percentual per-
nais, em consonância com as diretrizes e planos na- mitido em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.803, de
cionais de educação, integrando e coordenando as 2019)
suas ações e as dos seus Municípios; IX - promover medidas de conscientização, de preven-
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e ção e de combate a todos os tipos de violência, es-
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de pecialmente a intimidação sistemática (bullying), no
educação superior e os estabelecimentos do seu siste- âmbito das escolas;
ma de ensino; X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura
V - baixar normas complementares para o seu sistema de paz nas escolas.
de ensino; XI - promover ambiente escolar seguro, adotando es-
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com tratégias de prevenção e enfrentamento ao uso ou de-
prioridade, o ensino médio a todos que o demanda- pendência de drogas.
rem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede I - participar da elaboração da proposta pedagógica
estadual. do estabelecimento de ensino;
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
competências referentes aos Estados e aos Municípios.
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integran-
alunos de menor rendimento;
do-os às políticas e planos educacionais da União e
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabeleci-
dos Estados;
dos, além de participar integralmente dos períodos
II - exercer ação redistributiva em relação às suas es-
dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen-
colas;
III - baixar normas complementares para o seu siste- volvimento profissional;
ma de ensino; VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele- cola com as famílias e a comunidade.
cimentos do seu sistema de ensino; Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es- gestão democrática do ensino público na educação
colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per- básica, de acordo com as suas peculiaridades e con-
mitida a atuação em outros níveis de ensino somente forme os seguintes princípios:
quando estiverem atendidas plenamente as neces- I - participação dos profissionais da educação na ela-
sidades de sua área de competência e com recursos boração do projeto pedagógico da escola;
acima dos percentuais mínimos vinculados pela Cons- II - participação das comunidades escolar e local em
tituição Federal à manutenção e desenvolvimento do conselhos escolares ou equivalentes.
ensino. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede des escolares públicas de educação básica que os in-
municipal. tegram progressivos graus de autonomia pedagógica
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, e administrativa e de gestão financeira, observadas as
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou com- normas gerais de direito financeiro público.
por com ele um sistema único de educação básica. Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as I - as instituições de ensino mantidas pela União;
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão II - as instituições de educação superior criadas e
a incumbência de: mantidas pela iniciativa privada;
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; III - os órgãos federais de educação.
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
LEGISLAÇÃO FEDERAL

e financeiros; Federal compreendem:


III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas- I - as instituições de ensino mantidas, respectivamen-
-aula estabelecidas; te, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de II - as instituições de educação superior mantidas pelo
cada docente; Poder Público municipal;
V - prover meios para a recuperação dos alunos de III - as instituições de ensino fundamental e médio
menor rendimento; criadas e mantidas pela iniciativa privada;

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IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe-
deral, respectivamente. #FicaDica
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa O regime de colaboração impõe que a
privada, integram seu sistema de ensino. União, os Estados, o DF e os Municípios
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen- partilhem do dever de fornecer educação
dem: à população, cada um em sua esfera de
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de competência, mas de forma colaborativa,
educação infantil mantidas pelo Poder Público muni- compartilhando vivência e redistribuindo
recursos humanos e materiais.
cipal;
II - as instituições de educação infantil criadas e man-
tidas pela iniciativa privada;
III - os órgãos municipais de educação. TÍTULO V
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis DOS NÍVEIS E DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃO
classificam-se nas seguintes categorias administrati- E ENSINO
vas: CAPÍTULO I
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpo- DA COMPOSIÇÃO DOS NÍVEIS ESCOLARES
radas, mantidas e administradas pelo Poder Público;
II - privadas, assim entendidas as mantidas e admi- Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
nistradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito I - educação básica, formada pela educação infantil,
privado. ensino fundamental e ensino médio;
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua- II - educação superior.
drarão nas seguintes categorias:
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas CAPÍTULO II
as que são instituídas e mantidas por uma ou mais DA EDUCAÇÃO BÁSICA
pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não
apresentem as características dos incisos abaixo; SEÇÃO I
II - comunitárias, assim entendidas as que são instituí- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
das por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
sem fins lucrativos, que incluam na sua entidade man- volver o educando, assegurar-lhe a formação comum
tenedora representantes da comunidade; indispensável para o exercício da cidadania e forne-
III - confessionais, assim entendidas as que são ins- cer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
tituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou posteriores.
mais pessoas jurídicas que atendem a orientação con- Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em
fessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância
anterior; regular de períodos de estudos, grupos não-seriados,
IV - filantrópicas, na forma da lei. com base na idade, na competência e em outros cri-
térios, ou por forma diversa de organização, sempre
A LDB estabelece um regime de colaboração entre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
as entidades de ensino nas esferas federativas diversas, recomendar.
no entanto, coloca competência à União de encabeçar e § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusi-
coordenar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança, ve quando se tratar de transferências entre estabele-
descrito no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de cimentos situados no País e no exterior, tendo como
controle, autorizando funcionamento ou suspendendo- base as normas curriculares gerais.
-o, realizando avaliação constante de desempenho, entre § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
outros deveres. liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
Uma nota interessante é reparar que o artigo 10 es- critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso
tabelece o dever dos Estados de garantir a educação no reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
ensino fundamental e priorizar a educação no ensino Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
médio, ao passo que o artigo 11 coloca o dever dos mu- médio, será organizada de acordo com as seguintes
nicípios de garantir a educação infantil e priorizar a edu- regras comuns:
cação fundamental. É possível, ainda, integrar educação I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
municipal e estadual em um sistema único. horas para o ensino fundamental e para o ensino mé-
dio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos es-


tabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios, em efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado
integração com seus docentes. Este processo de intera- aos exames finais, quando houver; ;
ção entre instituição e docente, bem como destes com a II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto
comunidade local, é conhecido como gestão democrá- a primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
tica. a) por promoção, para alunos que cursaram, com
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria
escola;

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b) por transferência, para candidatos procedentes de ma de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
outras escolas; parte diversificada, exigida pelas características regionais e
c) independentemente de escolarização anterior, me- locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educan-
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de dos.
desenvolvimento e experiência do candidato e permita § 1º Os currículos a que se refere o caput devem
sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portu-
regulamentação do respectivo sistema de ensino; guesa e da matemática, o conhecimento do mundo fí-
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão sico e natural e da realidade social e política, especial-
regular por série, o regimento escolar pode admitir mente da República Federativa do Brasil, observado,
formas de progressão parcial, desde que preservada a na educação infantil, o disposto no art. 31, no ensino
sequência do currículo, observadas as normas do res- fundamental, o disposto no art. 32, e no ensino médio,
pectivo sistema de ensino; o disposto no art. 36.
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres-
alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de sões regionais, constituirá componente curricular obri-
adiantamento na matéria, para o ensino de línguas gatório da educação básica.
estrangeiras, artes, ou outros componentes curricula- § 3º A educação física, integrada à proposta pedagó-
res; gica da escola, é componente curricular obrigatório da
V - a verificação do rendimento escolar observará os educação infantil e do ensino fundamental, sendo sua
seguintes critérios: prática facultativa ao aluno:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos a seis horas;
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do II - maior de trinta anos de idade;
período sobre os de eventuais provas finais; III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em si-
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos tuação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de
com atraso escolar;
outubro de 1969;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
V - (VETADO);
diante verificação do aprendizado;
VI - que tenha prole.
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
contribuições das diferentes culturas e etnias para a
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de
formação do povo brasileiro, especialmente das ma-
baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
trizes indígena, africana e europeia.
instituições de ensino em seus regimentos; § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, sexto ano, será ofertada a língua inglesa.
conforme o disposto no seu regimento e nas normas § 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência as linguagens que constituirão o componente curricu-
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas lar de que trata o § 2o deste artigo.
letivas para aprovação; § 7º A integralização curricular poderá incluir, a cri-
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir his- tério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas en-
tóricos escolares, declarações de conclusão de série e volvendo os temas transversais de que trata o caput.
diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com § 8º A exibição de filmes de produção nacional consti-
as especificações cabíveis. tuirá componente curricular complementar integrado
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o in- à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progres- obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
siva, no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo má- prevenção de todas as formas de violência contra a
ximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de criança e o adolescente serão incluídos, como temas
carga horária, a partir de 2 de março de 2017. transversais, nos currículos escolares de que trata o
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei no 8.069,
educação de jovens e adultos e de ensino noturno re- de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Ado-
gular, adequado às condições do educando, conforme lescente), observada a produção e distribuição de ma-
o inciso VI do art. 4º. terial didático adequado.
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- § 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluí-
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número da entre os temas transversais de que trata o caput.
de alunos e o professor, a carga horária e as condições § 10. A inclusão de novos componentes curriculares
materiais do estabelecimento. de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Cur-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de en- ricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional
sino, à vista das condições disponíveis e das caracte- de Educação e de homologação pelo Ministro de Esta-
rísticas regionais e locais, estabelecer parâmetro para do da Educação.
atendimento do disposto neste artigo. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamen-
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino tal e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
fundamental e do ensino médio devem ter base na- obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasi-
cional comum, a ser complementada, em cada siste- leira e indígena.

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§ 1º O conteúdo programático a que se refere este ar- deve considerar as matrizes indígena, africana e europeia
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura como temas transversais. Ainda em tal condição, cabe
que caracterizam a formação da população brasileira, o aprendizado de Conteúdos relativos aos direitos hu-
a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo manos e à prevenção de todas as formas de violência
da história da África e dos africanos, a luta dos negros contra a criança e o adolescente. É obrigatório o estudo
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e in- da história e cultura afro-brasileira e indígena. Ainda, a
dígena brasileira e o negro e o índio na formação da educação deve considerar as peculiaridades da zona ru-
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições ral quando nela for ministrada.
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
história do Brasil. SEÇÃO II
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro- DA EDUCAÇÃO INFANTIL
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão mi-
nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da edu-
especial nas áreas de educação artística e de literatura cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
e história brasileiras. integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus as-
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica pectos físico, psicológico, intelectual e social, comple-
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: mentando a ação da família e da comunidade.
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so- Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças
bem comum e à ordem democrática; de até três anos de idade;
II - consideração das condições de escolaridade dos II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
alunos em cada estabelecimento; co) anos de idade.
III - orientação para o trabalho; Art. 31. A educação infantil será organizada de acor-
IV - promoção do desporto educacional e apoio às do com as seguintes regras comuns:
práticas desportivas não-formais. I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
Art. 28. Na oferta de educação básica para a popula- desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de pro-
ção rural, os sistemas de ensino promoverão as adap- moção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
tações necessárias à sua adequação às peculiaridades II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas)
da vida rural e de cada região, especialmente: horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos)
dias de trabalho educacional;
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
às reais necessidades e interesses dos alunos da zona
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas
rural;
para a jornada integral;
II - organização escolar própria, incluindo adequação
IV - controle de frequência pela instituição de educa-
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às
ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
condições climáticas;
(sessenta por cento) do total de horas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
V - expedição de documentação que permita atestar
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
indígenas e quilombolas será precedido de manifes- criança.
tação do órgão normativo do respectivo sistema de
ensino, que considerará a justificativa apresentada A educação infantil é ministrada em creches até os
pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico 3 anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de
do impacto da ação e a manifestação da comunidade idade.
escolar.
SEÇÃO III
A educação básica tem por papel a formação da base DO ENSINO FUNDAMENTAL
do educado.
Os critérios para mudança de série podem ser pro- Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
moção (aprovação em etapa anterior), transferência ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, ini-
(candidatos de outras escolas) e avaliação (análise da ciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo
experiência e desenvolvimento do candidato). O ensino a formação básica do cidadão, mediante:
poderá ser acelerado caso necessário. Nas situações de I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
alunos que não acompanhem seu ritmo, deverá ser ga- do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
rantida recuperação. escrita e do cálculo;
Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%, II - a compreensão do ambiente natural e social, do
no mínimo, para aprovação. sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
LEGISLAÇÃO FEDERAL

O currículo da educação básica segue uma base na- em que se fundamenta a sociedade;
cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
e da realidade social e política. A educação física deve habilidades e a formação de atitudes e valores;
ser oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao alu- IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
no em certas situações, como de trabalho, serviço mili- de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
tar, idade superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo, que se assenta a vida social.

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§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
ensino fundamental em ciclos. mentos adquiridos no ensino fundamental, possibili-
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- tando o prosseguimento de estudos;
gular por série podem adotar no ensino fundamental II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania
o regime de progressão continuada, sem prejuízo da do educando, para continuar aprendendo, de modo a
avaliação do processo de ensino-aprendizagem, ob- ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas con-
servadas as normas do respectivo sistema de ensino. dições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em III - o aprimoramento do educando como pessoa hu-
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí- mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimen-
genas a utilização de suas línguas maternas e proces- to da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
sos próprios de aprendizagem. IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecno-
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o lógicos dos processos produtivos, relacionando a teo-
ensino a distância utilizado como complementação da ria com a prática, no ensino de cada disciplina.
aprendizagem ou em situações emergenciais. Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defi-
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri- nirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino
gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de
crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatu- I - linguagens e suas tecnologias;
to da Criança e do Adolescente, observada a produção II - matemática e suas tecnologias;
e distribuição de material didático adequado. III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluí-
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata
do como tema transversal nos currículos do ensino
o caput do art. 26, definida em cada sistema de en-
fundamental.
sino, deverá estar harmonizada à Base Nacional Co-
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, mum Curricular e ser articulada a partir do contexto
é parte integrante da formação básica do cidadão e histórico, econômico, social, ambiental e cultural.
constitui disciplina dos horários normais das escolas § 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
públicas de ensino fundamental, assegurado o respei- ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e prá-
to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas ticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
quaisquer formas de proselitismo. § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os proce- será obrigatório nos três anos do ensino médio, asse-
dimentos para a definição dos conteúdos do ensino gurada às comunidades indígenas, também, a utiliza-
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação ção das respectivas línguas maternas.
e admissão dos professores. § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofer-
constituída pelas diferentes denominações religiosas, tar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
para a definição dos conteúdos do ensino religioso. preferencialmente o espanhol, de acordo com a dispo-
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in- nibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sistemas de ensino.
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o pe- § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da
ríodo de permanência na escola. Base Nacional Comum Curricular não poderá ser su-
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das perior a mil e oitocentas horas do total da carga ho-
formas alternativas de organização autorizadas nesta rária do ensino médio, de acordo com a definição dos
Lei. sistemas de ensino.
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progres- § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas esperados para o ensino médio, que serão referência
de ensino. nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base
Nacional Comum Curricular.
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar
O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade e
a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabetização,
trabalho voltado para a construção de seu projeto de
também incentiva a formação do cidadão, da pessoa em
vida e para sua formação nos aspectos físicos, cogniti-
contato com o mundo que o cerca estabelecendo víncu- vos e socioemocionais.
los de solidariedade e amizade. O ensino fundamental § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
deve ser presencial, em regra. O ensino religioso é fa- avaliação processual e formativa serão organizados
cultativo. A carga horária diária é de no mínimo 4 horas.
LEGISLAÇÃO FEDERAL

nas redes de ensino por meio de atividades teóricas e


práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e
SEÇÃO IV atividades on-line, de tal forma que ao final do ensino
DO ENSINO MÉDIO médio o educando demonstre:
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação bá- que presidem a produção moderna;
sica, com duração mínima de três anos, terá como fi- II - conhecimento das formas contemporâneas de lin-
nalidades: guagem.

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Art. 36. O currículo do ensino médio será composto com instituições de educação a distância com notó-
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerá- rio reconhecimento, mediante as seguintes formas de
rios formativos, que deverão ser organizados por meio comprovação:
da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme I - demonstração prática;
a relevância para o contexto local e a possibilidade II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
dos sistemas de ensino, a saber: experiência adquirida fora do ambiente escolar;
I - linguagens e suas tecnologias; III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
II - matemática e suas tecnologias; tras instituições de ensino credenciadas;
III - ciências da natureza e suas tecnologias; IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; pacionais;
V - formação técnica e profissional. V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e nais ou estrangeiras;
das respectivas competências e habilidades será feita VI - cursos realizados por meio de educação a distân-
de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema cia ou educação presencial mediada por tecnologias.
de ensino. § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo
§ 2º (Revogado) de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser com- profissional previstas no caput.
posto itinerário formativo integrado, que se traduz
na composição de componentes curriculares da Base A etapa final do ensino médio tem a duração de três
Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários anos e busca fornecer a consolidação e o aprofunda-
formativos, considerando os incisos I a V do caput. mento dos conhecimentos transmitidos no ensino fun-
§ 4º (Revogado) damental, com a devida atenção a conhecimentos que
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade permitam o ingresso do aluno no ensino universitário e
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte na carreira de trabalho. Neste ponto, a LDB sofreu al-
do ensino médio cursar mais um itinerário formativo terações recentes pela Medida Provisória nº 746/2016,
de que trata o caput. convertida na Lei nº 13.415, de 2017, que foi alvo de inú-
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- meras críticas, notadamente por estabelecer como facul-
mação com ênfase técnica e profissional considerará:
tativos conhecimentos que antes eram tidos como obri-
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no se-
gatórios. Para entender melhor esta questão, percebe-se
tor produtivo ou em ambientes de simulação, esta-
que na verdade a proposta é a especificação de matrizes
belecendo parcerias e fazendo uso, quando aplicável,
ainda durante o ensino médio: o aluno poderá escolher
de instrumentos estabelecidos pela legislação sobre
em quais áreas de conhecimento pretende se concentrar.
aprendizagem profissional;
Por exemplo, um aluno que não queira se especializar em
II - a possibilidade de concessão de certificados inter-
ciências humanas, não teria a obrigação de cursar maté-
mediários de qualificação para o trabalho, quando
a formação for estruturada e organizada em etapas rias como história e geografia. Um aluno que não tenha
com terminalidade. interesse em ir para a universidade e já queira ingres-
§ 7º A oferta de formações experimentais relaciona- sar no mercado de trabalho, terá aulas concentradas em
das ao inciso V do caput, em áreas que não constem formação técnica e profissional, aprendendo marcenaria,
do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, depende- mecânica, administração, entre outras questões. As áreas
rá, para sua continuidade, do reconhecimento pelo que podem ser optadas são as seguintes: linguagens e
respectivo Conselho Estadual de Educação, no prazo suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciên-
de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos cias da natureza e suas tecnologias; ciências humanas
Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da e sociais aplicadas; formação técnica e profissional. As
data de oferta inicial da formação. únicas matérias estabelecidas como obrigatórias são:
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que português, matemática, artes, educação física, filosofia e
se refere o inciso V do caput, realizada na própria ins- sociologia – estas quatro últimas inicialmente seriam fa-
tituição ou em parceria com outras instituições, deve- cultativas, mas devido a pressões sociais foram colocadas
rá ser aprovada previamente pelo Conselho Estadual como obrigatórias. Ainda é cedo para dizer se realmente
de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de este será o rumo conferido pela reforma, eis que a Base
Educação e certificada pelos sistemas de ensino. Nacional Comum Curricular que detalhará estas ques-
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com tões ainda está em discussão.
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensi-
no médio ao prosseguimento dos estudos em nível su- SEÇÃO IV-A
perior ou em outros cursos ou formações para os quais DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL
a conclusão do ensino médio seja etapa obrigatória. MÉDIO
LEGISLAÇÃO FEDERAL

§ 10. Além das formas de organização previstas no art.


23, o ensino médio poderá ser organizado em módu- Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste
los e adotar o sistema de créditos com terminalidade Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral
específica. do educando, poderá prepará-lo para o exercício de
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur- profissões técnicas.
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino po- Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho
derão reconhecer competências e firmar convênios e, facultativamente, a habilitação profissional pode-

19
rão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos Seção V
de ensino médio ou em cooperação com instituições Da Educação de Jovens e Adultos
especializadas em educação profissional.
Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
médio será desenvolvida nas seguintes formas: àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de
I - articulada com o ensino médio; estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
II - subsequente, em cursos destinados a quem já te- própria e constituirá instrumento para a educação e a
nha concluído o ensino médio. aprendizagem ao longo da vida.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
nível médio deverá observar: aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur- estudos na idade regular, oportunidades educacionais
riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Na- apropriadas, consideradas as características do aluna-
cional de Educação; do, seus interesses, condições de vida e de trabalho,
II - as normas complementares dos respectivos siste- mediante cursos e exames.
mas de ensino; § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos e a permanência do trabalhador na escola, mediante
termos de seu projeto pedagógico. ações integradas e complementares entre si.
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível § 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-
médio articulada, prevista no inciso I do caput do art. -se, preferencialmente, com a educação profissional,
36-B desta Lei, será desenvolvida de forma: na forma do regulamento.
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con- Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa-
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado mes supletivos, que compreenderão a base nacional
de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento
técnica de nível médio, na mesma instituição de en- de estudos em caráter regular.
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-
sino, efetuando-se matrícula única para cada aluno;
-se-ão:
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrícu-
os maiores de quinze anos;
las distintas para cada curso, e podendo ocorrer:
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
maiores de dezoito anos.
oportunidades educacionais disponíveis;
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
educandos por meios informais serão aferidos e reco-
as oportunidades educacionais disponíveis; nhecidos mediante exames.
c) em instituições de ensino distintas, mediante con-
vênios de intercomplementaridade, visando ao plane- A educação de jovens e adultos objetiva permitir a con-
jamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico clusão do ensino fundamental e médio para aqueles que
unificado. já ultrapassaram a idade regular em que isso deveria ter
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação pro- acontecido.
fissional técnica de nível médio, quando registrados,
terão validade nacional e habilitarão ao prossegui-
mento de estudos na educação superior. #FicaDica
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
Educação básica:
técnica de nível médio, nas formas articulada conco-
- Ensino infantil – creche e pré-escola;
mitante e subsequente, quando estruturados e orga-
- Ensino fundamental;
nizados em etapas com terminalidade, possibilitarão
- Ensino médio (colegial) – pode também
a obtenção de certificados de qualificação para o
abranger o ensino técnico.
trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de
Educação básica tardia – EJA – educação de
cada etapa que caracterize uma qualificação para o
jovens e adultos.
trabalho.

A educação profissional e técnica pode se dar durante CAPÍTULO III


o Ensino Médio, notadamente se o estudante fizer a op- Da Educação Profissional e Tecnológica
ção por esta categoria de ensino (o ensino médio pode
ser voltado à formação técnico-profissional, preparando Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
o jovem para o ingresso no mercado de trabalho inde- cumprimento dos objetivos da educação nacional, in-
pendentemente de ensino universitário), quanto após o tegra-se aos diferentes níveis e modalidades de edu-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Ensino Médio, em instituições próprias de ensino técni- cação e às dimensões do trabalho, da ciência e da
co-profissionalizante (neste sentido, há cursos técnicos- tecnologia.
-profissionais com menor duração que os cursos de ensi- § 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica
no superior e que são equiparados a este). poderão ser organizados por eixos tecnológicos, pos-
sibilitando a construção de diferentes itinerários for-
mativos, observadas as normas do respectivo sistema
e nível de ensino.

20
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá VII - promover a extensão, aberta à participação da
os seguintes cursos: população, visando à difusão das conquistas e benefí-
I – de formação inicial e continuada ou qualificação cios resultantes da criação cultural e da pesquisa cien-
profissional; tífica e tecnológica geradas na instituição.
II – de educação profissional técnica de nível médio; VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo-
III – de educação profissional tecnológica de gradua- ramento da educação básica, mediante a formação e
ção e pós-graduação. a capacitação de profissionais, a realização de pesqui-
§ 3º Os cursos de educação profissional tecnológica sas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de
de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no extensão que aproximem os dois níveis escolares.
que concerne a objetivos, características e duração, de Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
acordo com as diretrizes curriculares nacionais esta- cursos e programas:
belecidas pelo Conselho Nacional de Educação. I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferen-
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em tes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
articulação com o ensino regular ou por diferentes atendam aos requisitos estabelecidos pelas institui-
estratégias de educação continuada, em instituições ções de ensino, desde que tenham concluído o ensino
especializadas ou no ambiente de trabalho. médio ou equivalente;
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro- II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá concluído o ensino médio ou equivalente e tenham
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação sido classificados em processo seletivo;
para prosseguimento ou conclusão de estudos.
III - de pós-graduação, compreendendo programas
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec-
de mestrado e doutorado, cursos de especialização,
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos di-
cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada
plomados em cursos de graduação e que atendam às
a matrícula à capacidade de aproveitamento e não
exigências das instituições de ensino;
necessariamente ao nível de escolaridade.
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
A educação profissional e tecnológica pode se dar
aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas insti-
não apenas no ensino médio, mas também em institui-
ções próprias, que podem conferir inclusive diploma de tuições de ensino.
formação em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, en- § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no in-
tre outros. O acesso a este tipo de ensino não necessaria- ciso II do caput deste artigo serão tornados públicos
mente exige conclusão dos níveis prévios de educação, pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória
eis que seu principal objetivo não é o ensino de conteú- a divulgação da relação nominal dos classificados, a
dos típicos, mas sim a capacitação profissional. respectiva ordem de classificação, bem como do cro-
nograma das chamadas para matrícula, de acordo
CAPÍTULO IV com os critérios para preenchimento das vagas cons-
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR tantes do respectivo edital.
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: tituições públicas de ensino superior darão prioridade
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do de matrícula ao candidato que comprove ter renda fa-
espírito científico e do pensamento reflexivo; miliar inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor
II - formar diplomados nas diferentes áreas de co- renda familiar, quando mais de um candidato preen-
nhecimento, aptos para a inserção em setores pro- cher o critério inicial.
fissionais e para a participação no desenvolvimento § 3º O processo seletivo referido no inciso II considera-
da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação rá as competências e as habilidades definidas na Base
contínua; Nacional Comum Curricular.
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação Art. 45. A educação superior será ministrada em insti-
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse variados graus de abrangência ou especialização.
modo, desenvolver o entendimento do homem e do Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos,
meio em que vive; bem como o credenciamento de instituições de educa-
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da hu- periodicamente, após processo regular de avaliação.
manidade e comunicar o saber através do ensino, de § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
publicações ou de outras formas de comunicação; eventualmente identificadas pela avaliação a que se
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá re-
cultural e profissional e possibilitar a correspondente sultar, conforme o caso, em desativação de cursos e
LEGISLAÇÃO FEDERAL

concretização, integrando os conhecimentos que vão habilitações, em intervenção na instituição, em sus-


sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistema- pensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou
tizadora do conhecimento de cada geração; em descredenciamento.
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun- § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
do presente, em particular os nacionais e regionais, responsável por sua manutenção acompanhará o pro-
prestar serviços especializados à comunidade e esta- cesso de saneamento e fornecerá recursos adicionais,
belecer com esta uma relação de reciprocidade; se necessários, para a superação das deficiências.

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§ 3o No caso de instituição privada, além das sanções c) a identificação dos docentes que ministrarão as
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavalia- aulas em cada curso, as disciplinas que efetivamen-
ção poderá resultar em redução de vagas autorizadas te ministrará naquele curso ou cursos, sua titulação,
e em suspensão temporária de novos ingressos e de abrangendo a qualificação profissional do docente e
oferta de cursos. o tempo de casa do docente, de forma total, contínua
§ 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante ou intermitente.
procedimento específico e com aquiescência da insti- § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
tuição de ensino, com vistas a resguardar os interesses mento nos estudos, demonstrado por meio de provas
dos estudantes, comutar as penalidades previstas nos e outros instrumentos de avaliação específicos, apli-
§§ 1o e 3o deste artigo por outras medidas, desde que cados por banca examinadora especial, poderão ter
adequadas para superação das deficiências e irregula- abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com
ridades constatadas. as normas dos sistemas de ensino.
§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
deral deverão adotar os critérios definidos pela União salvo nos programas de educação a distância.
para autorização de funcionamento de curso de gra- § 4º As instituições de educação superior oferecerão,
duação em Medicina. no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, padrões de qualidade mantidos no período diurno,
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições
dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo públicas, garantida a necessária previsão orçamentá-
reservado aos exames finais, quando houver. ria.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe-
de cada período letivo, os programas dos cursos e de- cidos, quando registrados, terão validade nacional
mais componentes curriculares, sua duração, requisi- como prova da formação recebida por seu titular.
tos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão
critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as res- por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por
pectivas condições, e a publicação deve ser feita, sen- instituições não-universitárias serão registrados em
do as 3 (três) primeiras formas concomitantemente: universidades indicadas pelo Conselho Nacional de
I - em página específica na internet no sítio eletrônico Educação.
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o § 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer-
seguinte: sidades estrangeiras serão revalidados por universida-
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter des públicas que tenham curso do mesmo nível e área
como título “Grade e Corpo Docente”; ou equivalente, respeitando-se os acordos internacio-
b) a página principal da instituição de ensino supe- nais de reciprocidade ou equiparação.
rior, bem como a página da oferta de seus cursos aos § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe-
ingressantes sob a forma de vestibulares, processo se- didos por universidades estrangeiras só poderão ser
letivo e outras com a mesma finalidade, deve conter reconhecidos por universidades que possuam cursos
a ligação desta com a página específica prevista neste de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mes-
inciso;
ma área de conhecimento e em nível equivalente ou
c) caso a instituição de ensino superior não possua sí-
superior.
tio eletrônico, deve criar página específica para divul-
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão
gação das informações de que trata esta Lei;
a transferência de alunos regulares, para cursos afins,
d) a página específica deve conter a data completa de
na hipótese de existência de vagas, e mediante pro-
sua última atualização;
cesso seletivo.
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão
ensino superior, por meio de ligação para a página
referida no inciso I; na forma da lei.
III - em local visível da instituição de ensino superior e Art. 50. As instituições de educação superior, quando
de fácil acesso ao público; da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disci-
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anual- plinas de seus cursos a alunos não regulares que de-
mente, de acordo com a duração das disciplinas de monstrarem capacidade de cursá-las com proveito,
cada curso oferecido, observando o seguinte: mediante processo seletivo prévio.
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di- Art. 51. As instituições de educação superior creden-
ferenciada, a publicação deve ser semestral; ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do e normas de seleção e admissão de estudantes, leva-
início das aulas; rão em conta os efeitos desses critérios sobre a orien-
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo tação do ensino médio, articulando-se com os órgãos
LEGISLAÇÃO FEDERAL

docente até o início das aulas, os alunos devem ser normativos dos sistemas de ensino.
comunicados sobre as alterações; Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli-
V - deve conter as seguintes informações: nares de formação dos quadros profissionais de nível
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cul-
de ensino superior; tivo do saber humano, que se caracterizam por:
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curri- I - produção intelectual institucionalizada mediante o
cular de cada curso e as respectivas cargas horárias; estudo sistemático dos temas e problemas mais rele-

22
vantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
quanto regional e nacional; ções asseguradas pelo artigo anterior, as universida-
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titula- des públicas poderão:
ção acadêmica de mestrado ou doutorado; I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico
III - um terço do corpo docente em regime de tempo e administrativo, assim como um plano de cargos e
integral. salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os
Parágrafo único. É facultada a criação de universida- recursos disponíveis;
des especializadas por campo do saber. II - elaborar o regulamento de seu pessoal em confor-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegu- midade com as normas gerais concernentes;
radas às universidades, sem prejuízo de outras, as se- III - aprovar e executar planos, programas e projetos
guintes atribuições: de investimentos referentes a obras, serviços e aqui-
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e sições em geral, de acordo com os recursos alocados
pelo respectivo Poder mantenedor;
programas de educação superior previstos nesta Lei,
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
obedecendo às normas gerais da União e, quando for
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
o caso, do respectivo sistema de ensino;
suas peculiaridades de organização e funcionamento;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas,
VI - realizar operações de crédito ou de financiamen-
observadas as diretrizes gerais pertinentes; to, com aprovação do Poder competente, para aquisi-
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes- ção de bens imóveis, instalações e equipamentos;
quisa científica, produção artística e atividades de ex- VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
tensão; providências de ordem orçamentária, financeira e pa-
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci- trimonial necessárias ao seu bom desempenho.
dade institucional e as exigências do seu meio; § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos ser estendidas a instituições que comprovem alta qua-
em consonância com as normas gerais atinentes; lificação para o ensino ou para a pesquisa, com base
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; em avaliação realizada pelo Poder Público.
VII - firmar contratos, acordos e convênios; Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos seu Orçamento Geral, recursos suficientes para manu-
de investimentos referentes a obras, serviços e aqui- tenção e desenvolvimento das instituições de educa-
sições em geral, bem como administrar rendimentos ção superior por ela mantidas.
conforme dispositivos institucionais; Art. 56. As instituições públicas de educação superior
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for- obedecerão ao princípio da gestão democrática, asse-
ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos res- gurada a existência de órgãos colegiados deliberati-
pectivos estatutos; vos, de que participarão os segmentos da comunidade
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e institucional, local e regional.
cooperação financeira resultante de convênios com Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu-
entidades públicas e privadas. parão setenta por cento dos assentos em cada órgão
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino elaboração e modificações estatutárias e regimentais,
e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários bem como da escolha de dirigentes.
Art. 57. Nas instituições públicas de educação supe-
disponíveis, sobre:
rior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito
I - criação, expansão, modificação e extinção de cur-
horas semanais de aulas.
sos;
II - ampliação e diminuição de vagas;
A educação superior se funda no tripé: ensino, pes-
III - elaboração da programação dos cursos; quisa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propiciar
IV - programação das pesquisas e das atividades de o acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto dentro
extensão; do ambiente acadêmico quanto fora dele; no aspecto pes-
V - contratação e dispensa de professores; quisa, busca-se desenvolver os conhecimentos já existen-
VI - planos de carreira docente. tes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a comunidade
§ 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser diri- por meio de atividades que possam ir além dos ambientes
gidas a setores ou projetos específicos, conforme acor- acadêmicos, inserindo-se no cotidiano da vida social.
do entre doadores e universidades. Classicamente, a educação superior se dá nos níveis
§ 3º No caso das universidades públicas, os recursos de graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibu-
das doações devem ser dirigidos ao caixa único da lares, e pós-graduação, cujo acesso também se dá por
instituição, com destinação garantida às unidades a processos seletivos próprios, funcionando como comple-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

serem beneficiadas. mentação ao ensino superior. Entretanto, o ensino su-


Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público perior também pode se dar em cursos sequenciais e em
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial cursos de extensão, de menor duração e complexidade.
para atender às peculiaridades de sua estrutura, or- O ensino superior pode ser ministrado em instituições pú-
ganização e financiamento pelo Poder Público, assim blicas ou privadas. Independentemente da natureza da institui-
como dos seus planos de carreira e do regime jurídico ção, é necessário respeitar as regras mínimas sobre duração do
do seu pessoal. ano letivo, programas de curso, componentes curriculares, etc.

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O diploma faz prova da formação II - terminalidade específica para aqueles que não
puderem atingir o nível exigido para a conclusão do
É possível a transferência entre instituições. A trans- ensino fundamental, em virtude de suas deficiências,
ferência a pedido está condicionada a número de vagas e aceleração para concluir em menor tempo o progra-
e a processo seletivo. As transferências de ofício se sujei- ma escolar para os superdotados;
tam a critérios próprios. Um exemplo de transferência de III - professores com especialização adequada em ní-
ofício se dá no caso de remoção de servidor público de vel médio ou superior, para atendimento especializa-
ofício no interesse da Administração (caso o servidor ou do, bem como professores do ensino regular capaci-
seu dependente estude em instituição pública na cidade tados para a integração desses educandos nas classes
onde estava lotado, tem o direito de ser transferido para comuns;
a instituição pública da nova lotação). IV - educação especial para o trabalho, visando a
É possível que uma pessoa assista aulas nas institui- sua efetiva integração na vida em sociedade, inclu-
ções públicas independentemente de vínculo com o cur- sive condições adequadas para os que não revelarem
so, desde que haja vagas disponíveis. capacidade de inserção no trabalho competitivo, me-
Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige- diante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
-se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição como para aqueles que apresentam uma habilidade
possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do superior nas áreas artística, intelectual ou psicomo-
corpo docente se dedique exclusivamente à docência. tora;
Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
superior, as instituições de ensino superior são dotadas sociais suplementares disponíveis para o respectivo
de autonomia para se organizarem. nível do ensino regular.
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro
especial. nacional de alunos com altas habilidades ou superdo-
As instituições públicas devem obedecer ao princípio tação matriculados na educação básica e na educação
da gestão democrática, assegurado pela existência de superior, a fim de fomentar a execução de políticas
órgãos colegiados deliberativos que mesclem membros públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das po-
da comunidade, do corpo docente e do corpo discente. tencialidades desse alunado.
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos
com altas habilidades ou superdotação, os critérios
#FicaDica e procedimentos para inclusão no cadastro referido
no caput deste artigo, as entidades responsáveis pelo
Educação superior – nível universitário – em cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados
instituições públicas ou privadas – o ingresso do cadastro e as políticas de desenvolvimento das po-
deve se dar conforme mérito (vestibulares). tencialidades do alunado de que trata o caput serão
definidos em regulamento.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
CAPÍTULO V estabelecerão critérios de caracterização das institui-
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ções privadas sem fins lucrativos, especializadas e com
atuação exclusiva em educação especial, para fins de
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar Parágrafo único. O poder público adotará, como al-
oferecida preferencialmente na rede regular de ensi- ternativa preferencial, a ampliação do atendimento
no, para educandos com deficiência, transtornos glo- aos educandos com deficiência, transtornos globais do
bais do desenvolvimento e altas habilidades ou super- desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
dotação. na própria rede pública regular de ensino, indepen-
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es- dentemente do apoio às instituições previstas neste
pecializado, na escola regular, para atender às pecu- artigo.
liaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em clas- A educação especial volta-se a educandos com defi-
ses, escolas ou serviços especializados, sempre que, ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
em função das condições específicas dos alunos, não habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada,
for possível a sua integração nas classes comuns de exige-se a especialização das instituições de ensino e de
ensino regular. seus profissionais.
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do
caput deste artigo, tem início na educação infantil e TÍTULO VI
estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
LEGISLAÇÃO FEDERAL

art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei.


Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es-
candos com deficiência, transtornos globais do desen- colar básica os que, nela estando em efetivo exercício
volvimento e altas habilidades ou superdotação: e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e I – professores habilitados em nível médio ou superior
organização específicos, para atender às suas neces- para a docência na educação infantil e nos ensinos
sidades; fundamental e médio;

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II – trabalhadores em educação portadores de diplo- ção à docência a estudantes matriculados em cursos
ma de pedagogia, com habilitação em administração, de licenciatura, de graduação plena, nas instituições
planejamento, supervisão, inspeção e orientação edu- de educação superior.
cacional, bem como com títulos de mestrado ou dou- § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
torado nas mesmas áreas; nota mínima em exame nacional aplicado aos con-
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- cluintes do ensino médio como pré-requisito para o
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ingresso em cursos de graduação para formação de
ou afim; e docentes, ouvido o Conselho Nacional de Educação -
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos CNE.
respectivos sistemas de ensino para ministrar conteú- § 7º (VETADO).
dos de áreas afins à sua formação para atender o dis- § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
posto no inciso V do caput do art. 36. terão por referência a Base Nacional Comum Curri-
Parágrafo único. A formação dos profissionais da cular.
educação, de modo a atender às especificidades do Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se re-
exercício de suas atividades, bem como aos objetivos fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos
das diferentes etapas e modalidades da educação bá- de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou
sica, terá como fundamentos: superior, incluindo habilitações tecnológicas.
I – a presença de sólida formação básica, que propicie Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais para os profissionais a que se refere o caput, no local
de suas competências de trabalho; de trabalho ou em instituições de educação básica e
II – a associação entre teorias e práticas, mediante es- superior, incluindo cursos de educação profissional,
tágios supervisionados e capacitação em serviço; cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos
III – o aproveitamento da formação e experiências an- e de pós-graduação.
teriores, em instituições de ensino e em outras ativi- Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas
dades. de educação básica a cursos superiores de pedagogia
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos e licenciatura será efetivado por meio de processo se-
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteú- letivo diferenciado.
dos de áreas afins à sua formação ou experiência pro- § 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no
fissional, atestados por titulação específica ou prática caput deste artigo os professores das redes públicas
de ensino em unidades educacionais da rede pública municipais, estaduais e federal que ingressaram por
ou privada ou das corporações privadas em que te- concurso público, tenham pelo menos três anos de
nham atuado, exclusivamente para atender ao inciso exercício da profissão e não sejam portadores de di-
V do caput do art. 36; ploma de graduação.
V - profissionais graduados que tenham feito comple-
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conse- § 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta
de cursos de pedagogia e outras licenciaturas defini-
lho Nacional de Educação.
rão critérios adicionais de seleção sempre que acorre-
Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu-
rem aos certames interessados em número superior
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de
ao de vagas disponíveis para os respectivos cursos.
licenciatura plena, admitida, como formação mínima
§ 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem
para o exercício do magistério na educação infantil
definidos em regulamento pelas universidades, terão
e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a
prioridade de ingresso os professores que optarem por
oferecida em nível médio, na modalidade normal.
cursos de licenciatura em matemática, física, química,
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
biologia e língua portuguesa.
cípios, em regime de colaboração, deverão promover Art. 63. Os institutos superiores de educação mante-
a formação inicial, a continuada e a capacitação dos rão:
profissionais de magistério. I - cursos formadores de profissionais para a educação
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos pro- básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
fissionais de magistério poderão utilizar recursos e formação de docentes para a educação infantil e para
tecnologias de educação a distância. as primeiras séries do ensino fundamental;
§ 3º A formação inicial de profissionais de magisté- II - programas de formação pedagógica para portado-
rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiaria- res de diplomas de educação superior que queiram se
mente fazendo uso de recursos e tecnologias de edu- dedicar à educação básica;
cação a distância. III - programas de educação continuada para os pro-
§ 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

fissionais de educação dos diversos níveis.


cípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e Art. 64. A formação de profissionais de educação para
permanência em cursos de formação de docentes em administração, planejamento, inspeção, supervisão e
nível superior para atuar na educação básica pública. orientação educacional para a educação básica, será
§ 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- feita em cursos de graduação em pedagogia ou em
nicípios incentivarão a formação de profissionais do nível de pós-graduação, a critério da instituição de
magistério para atuar na educação básica pública ensino, garantida, nesta formação, a base comum na-
mediante programa institucional de bolsa de inicia- cional.

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Art. 65. A formação docente, exceto para a educação I - receita de impostos próprios da União, dos Estados,
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, tre- do Distrito Federal e dos Municípios;
zentas horas. II - receita de transferências constitucionais e outras
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério transferências;
superior far-se-á em nível de pós-graduação, priori- III - receita do salário-educação e de outras contribui-
tariamente em programas de mestrado e doutorado. ções sociais;
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- IV - receita de incentivos fiscais;
versidade com curso de doutorado em área afim, po- V - outros recursos previstos em lei.
derá suprir a exigência de título acadêmico. Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza- de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes, nicípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas
inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de car- respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita
reira do magistério público: resultante de impostos, compreendidas as transferên-
I - ingresso exclusivamente por concurso público de cias constitucionais, na manutenção e desenvolvimen-
provas e títulos; to do ensino público.
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
com licenciamento periódico remunerado para esse pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
fim; nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios,
III - piso salarial profissional; não será considerada, para efeito do cálculo previsto
IV - progressão funcional baseada na titulação ou ha- neste artigo, receita do governo que a transferir.
bilitação, e na avaliação do desempenho; § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de
V - período reservado a estudos, planejamento e ava- impostos mencionadas neste artigo as operações de
liação, incluído na carga de trabalho; crédito por antecipação de receita orçamentária de
VI - condições adequadas de trabalho. impostos.
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes
§ 1º A experiência docente é pré-requisito para o exer-
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada
cício profissional de quaisquer outras funções de ma-
a receita estimada na lei do orçamento anual, ajusta-
gistério, nos termos das normas de cada sistema de
da, quando for o caso, por lei que autorizar a abertura
ensino.
de créditos adicionais, com base no eventual excesso
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no
de arrecadação.
§ 8º do art. 201 da Constituição Federal, são conside-
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previs-
radas funções de magistério as exercidas por profes-
tas e as efetivamente realizadas, que resultem no não
sores e especialistas em educação no desempenho de atendimento dos percentuais mínimos obrigatórios,
atividades educativas, quando exercidas em estabele- serão apuradas e corrigidas a cada trimestre do exer-
cimento de educação básica em seus diversos níveis e cício financeiro.
modalidades, incluídas, além do exercício da docência, § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do
as de direção de unidade escolar e as de coordenação caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
e assessoramento pedagógico. Municípios ocorrerá imediatamente ao órgão respon-
§ 3º A União prestará assistência técnica aos Estados, sável pela educação, observados os seguintes prazos:
ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
de concursos públicos para provimento de cargos dos cada mês, até o vigésimo dia;
profissionais da educação. II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé-
simo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
Os profissionais da educação devem possuir forma- III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
ção específica, notadamente possuir habilitação para a final de cada mês, até o décimo dia do mês subse-
docência, que pode se dar pelas licenciaturas e magisté- quente.
rios em geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
formação e área afim que habilite para o ensino de ma- reção monetária e à responsabilização civil e criminal
térias específicas (ex.: profissional do Direito pode lecio- das autoridades competentes.
nar português, filosofia e sociologia). Além disso, devem Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
possuir experiência em atividades de ensino. Quanto ao senvolvimento do ensino as despesas realizadas com
ensino superior, exige-se pós-graduação, que pode ser vistas à consecução dos objetivos básicos das institui-
uma simples especialização, embora deva preferencial- ções educacionais de todos os níveis, compreendendo
mente se possuir mestrado ou doutorado. No âmbito as que se destinam a:
do ensino público, exige-se valorização do profissional, I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen-
criando-se plano de carreira e aperfeiçoando-se as con- te e demais profissionais da educação;
LEGISLAÇÃO FEDERAL

dições de trabalho. II - aquisição, manutenção, construção e conservação


de instalações e equipamentos necessários ao ensino;
TÍTULO VII III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados
DOS RECURSOS FINANCEIROS ao ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação visando precipuamente ao aprimoramento da quali-
os originários de: dade e à expansão do ensino;

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V - realização de atividades-meio necessárias ao fun- § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e
cionamento dos sistemas de ensino; 2º, a União poderá fazer a transferência direta de re-
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas cursos a cada estabelecimento de ensino, considerado
públicas e privadas; o número de alunos que efetivamente frequentam a
VII - amortização e custeio de operações de crédito escola.
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste ar- § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
tigo; exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e
VIII - aquisição de material didático-escolar e manu- dos Municípios se estes oferecerem vagas, na área de
tenção de programas de transporte escolar. ensino de sua responsabilidade, conforme o inciso VI
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: inferior à sua capacidade de atendimento.
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de en- artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumpri-
sino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento mento pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do
de sua qualidade ou à sua expansão; disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de legais.
caráter assistencial, desportivo ou cultural; Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco-
III - formação de quadros especiais para a adminis- las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comuni-
tração pública, sejam militares ou civis, inclusive di- tárias, confessionais ou filantrópicas que:
plomáticos; I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distri-
IV - programas suplementares de alimentação, assis- buam resultados, dividendos, bonificações, participa-
tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológi- ções ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma for-
ca, e outras formas de assistência social; ma ou pretexto;
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da edu- escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao
cação, quando em desvio de função ou em atividade Poder Público, no caso de encerramento de suas ati-
alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino. vidades;
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e desen- IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re-
volvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos cebidos.
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. destinados a bolsas de estudo para a educação básica,
na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiên-
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita- cia de recursos, quando houver falta de vagas e cursos
riamente, na prestação de contas de recursos públicos, regulares da rede pública de domicílio do educando,
o cumprimento do disposto no art. 212 da Constitui- ficando o Poder Público obrigado a investir priorita-
ção Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Consti- riamente na expansão da sua rede local.
tucionais Transitórias e na legislação concernente. § 2º As atividades universitárias de pesquisa e exten-
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o são poderão receber apoio financeiro do Poder Públi-
Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão co, inclusive mediante bolsas de estudo.
mínimo de oportunidades educacionais para o ensino
fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por No aspecto orçamentário, merece destaque a exi-
aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade. gência de dedicação de parcela mínima dos impostos da
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar- União (18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) vol-
tigo será calculado pela União ao final de cada ano, tada à educação. Ainda, coloca-se o papel de suplemen-
com validade para o ano subsequente, considerando tação e redistribuição da União em relação aos Estados
variações regionais no custo dos insumos e as diversas e Municípios e dos Estados com relação aos Municípios,
modalidades de ensino. repassando-se verbas para permitir que estas unidades
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e federativas consigam lograr êxito em oferecer parâmetro
dos Estados será exercida de modo a corrigir, progres- mínimo de qualidade no ensino que é de sua incumbên-
sivamente, as disparidades de acesso e garantir o pa- cia.
drão mínimo de qualidade de ensino.
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a TÍTULO VIII
fórmula de domínio público que inclua a capacidade DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
de atendimento e a medida do esforço fiscal do res-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

pectivo Estado, do Distrito Federal ou do Município em Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo-
favor da manutenção e do desenvolvimento do ensino. ração das agências federais de fomento à cultura e de
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo assistência aos índios, desenvolverá programas inte-
será definida pela razão entre os recursos de uso cons- grados de ensino e pesquisa, para oferta de educação
titucionalmente obrigatório na manutenção e desen- escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas,
volvimento do ensino e o custo anual do aluno, relati- com os seguintes objetivos:
vo ao padrão mínimo de qualidade.

27
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti-
a recuperação de suas memórias históricas; a reafir- tuições de ensino experimentais, desde que obedeci-
mação de suas identidades étnicas; a valorização de das as disposições desta Lei.
suas línguas e ciências; Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as nor-
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o mas de realização de estágio em sua jurisdição, obser-
acesso às informações, conhecimentos técnicos e cien- vada a lei federal sobre a matéria.
tíficos da sociedade nacional e demais sociedades in- Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
dígenas e não-índias. admitida a equivalência de estudos, de acordo com as
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente normas fixadas pelos sistemas de ensino.
os sistemas de ensino no provimento da educação in- Art. 84. Os discentes da educação superior poderão
tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas
programas integrados de ensino e pesquisa. respectivas instituições, exercendo funções de moni-
§ 1º Os programas serão planejados com audiência toria, de acordo com seu rendimento e seu plano de
das comunidades indígenas. estudos.
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os se- própria poderá exigir a abertura de concurso públi-
guintes objetivos: co de provas e títulos para cargo de docente de ins-
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua ma- tituição pública de ensino que estiver sendo ocupado
terna de cada comunidade indígena; por professor não concursado, por mais de seis anos,
II - manter programas de formação de pessoal espe- ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41
cializado, destinado à educação escolar nas comuni- da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições
dades indígenas; Constitucionais Transitórias.
III - desenvolver currículos e programas específicos, Art. 86. As instituições de educação superior constituí-
neles incluindo os conteúdos culturais corresponden- das como universidades integrar-se-ão, também, na
tes às respectivas comunidades; sua condição de instituições de pesquisa, ao Sistema
IV - elaborar e publicar sistematicamente material di- Nacional de Ciência e Tecnologia, nos termos da le-
dático específico e diferenciado. gislação específica.
§ 3º No que se refere à educação superior, sem pre-
juízo de outras ações, o atendimento aos povos indí- TÍTULO IX
genas efetivar-se-á, nas universidades públicas e pri- Das Disposições Transitórias
vadas, mediante a oferta de ensino e de assistência
estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de- Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se
senvolvimento de programas especiais. um ano a partir da publicação desta Lei.
Art. 79-A. (VETADO). § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publi-
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de cação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional,
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen- para os dez anos seguintes, em sintonia com a Decla-
to e a veiculação de programas de ensino a distância, ração Mundial sobre Educação para Todos.
em todos os níveis e modalidades de ensino, e de edu- § 2º (Revogado).
cação continuada. § 3º O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura supletivamente, a União, devem:
e regime especiais, será oferecida por instituições es- I - (Revogado).
pecificamente credenciadas pela União. II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a rea- e adultos insuficientemente escolarizados;
lização de exames e registro de diploma relativos a III - realizar programas de capacitação para todos
cursos de educação a distância. os professores em exercício, utilizando também, para
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação isto, os recursos da educação a distância;
de programas de educação a distância e a autoriza- IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino
ção para sua implementação, caberão aos respectivos fundamental do seu território ao sistema nacional de
sistemas de ensino, podendo haver cooperação e inte- avaliação do rendimento escolar.
gração entre os diferentes sistemas. § 4º (Revogado).
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento di- § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando
ferenciado, que incluirá: a progressão das redes escolares públicas urbanas de
I - custos de transmissão reduzidos em canais comer- ensino fundamental para o regime de escolas de tem-
ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em po integral.
LEGISLAÇÃO FEDERAL

outros meios de comunicação que sejam explorados § 6º A assistência financeira da União aos Estados,
mediante autorização, concessão ou permissão do po- ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos
der público; Estados aos seus Municípios, ficam condicionadas ao
II - concessão de canais com finalidades exclusiva- cumprimento do art. 212 da Constituição Federal e
mente educativas; dispositivos legais pertinentes pelos governos benefi-
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder ciados.
Público, pelos concessionários de canais comerciais. Art. 87-A. (VETADO).

28
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os 2. (CREF - 3ª Região - Assistente Administrativo -
Municípios adaptarão sua legislação educacional e de Quadrix/2013 - adaptada) Assinale a alternativa con-
ensino às disposições desta Lei no prazo máximo de trária ao disposto pela Lei Federal n° 9.394:
um ano, a partir da data de sua publicação.
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus es- a) A educação, dever da família e do Estado, inspirada
tatutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarie-
normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos dade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvi-
por estes estabelecidos. mento do educando, seu preparo para o exercício da
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o cidadania e sua qualificação para o trabalho.
disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. b) O acesso ao ensino fundamental é direito público sub-
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve- jetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos,
nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a associação comunitária, organização sindical, entida-
contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respec- de de classe ou outra legalmente constituída, e, ain-
tivo sistema de ensino. da, o Ministério Público, acionar o Poder Público para
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o exigi-lo.
regime anterior e o que se institui nesta Lei serão re- c) Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escola-
solvidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, me- res públicas de educação básica que os integram pro-
diante delegação deste, pelos órgãos normativos dos gressivos graus de autonomia pedagógica e adminis-
sistemas de ensino, preservada a autonomia univer- trativa e de gestão financeira, observadas as normas
sitária. gerais de direito financeiro público.
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- d) A educação física, integrada à proposta pedagógica da
cação. escola, é componente curricular da Educação Básica,
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, ajustando-se às faixas etárias e às condições da popu-
de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novem- lação escolar, sendo obrigatória nos cursos noturnos.
bro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24
de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de Resposta: Letra D. Eis o teor da Lei nº 9.394: “artigo
1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 26, § 3º A educação física, integrada à proposta peda-
1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais gógica da escola, é componente curricular obrigatório
leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer ou- da educação infantil e do ensino fundamental, sendo
tras disposições em contrário. sua prática facultativa ao aluno: I - que cumpra jorna-
da de trabalho igual ou superior a seis horas; II - maior
de trinta anos de idade; III - que estiver prestando ser-
viço militar inicial ou que, em situação similar, estiver
EXERCÍCIOS COMENTADOS obrigado à prática da educação física; IV - amparado
pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969;
1. (UFPA - Assistente de Aluno - CEPS-UFPA/2015) A V - (VETADO); VI - que tenha prole”.
Lei nº 9.394/1996 estabelece que: A. Correta, conforme artigo 2o, LDB.
B. Correta, conforme artigo 5o, LDB.
a) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios C. Correta, conforme artigo 15, LDB.
organizarão, em regime de colaboração, os respecti-
vos sistemas de esportes nacionais. 3. (Prefeitura de Alto Piquiri - Cuidador Social -
b) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios KLC/2012) A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
organizarão, em regime de colaboração, a merenda estabelece:
escolar, o transporte escolar, os livros didáticos, a ma-
nutenção de veículos públicos e particulares. a) os parâmetros curriculares nacionais.
c) os municípios devem garantir a todos os alunos o en- b) as diretrizes e bases da educação nacional.
sino médio primeiramente e depois o ensino funda- c) exclusivamente as normas da educação básica.
mental. d) as leis e diretrizes somente para a educação superior
d) os Estados devem assegurar primeiramente o ensino e) unicamente o funcionamento do sistema de avaliação.
médio, a educação de jovens e adultos, a educação
quilombola e a educação especial. Resposta: Letra B.Conforme consta na própria Lei nº
e) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios 9.394, ela “estabelece as diretrizes e bases da educa-
organizarão, em regime de colaboração, os respecti- ção nacional”.
vos sistemas de ensino. A, C, D e E. Incorretas, são abrangidas as diretrizes e
bases da educação nacional, em todos os níveis.
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Resposta: Letra E. É o teor do artigo 8º da Lei nº


9.394/1996: “A União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios organizarão, em regime de colabora-
ção, os respectivos sistemas de ensino”.
A, B, C, D. Incorretas, por exclusão, devido ao teor do
artigo 8o, Lei nº 9.394/1996.

29
Não obstante aos direitos expostos acima, a criança
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCEN- e o adolescente são providos de direitos à convivência
TE (LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990). familiar e comunitária, como meio de desenvolvimento
integral dos mesmo. O Direito à educação, cultura ao
esporte e ao lazer, em igual condições entre todos. O
Dispõe a lei sobre a proteção à criança e o adolescente, Direito à profissionalização e à proteção no trabalho.
provendo-se também outras providências, como direitos
e deveres. Importante salientar que há nesta lei a
previsão dos atos infracionais praticados por criança e Prezado candidato, não deixe de conferir a lei
adolescente, bem como crimes em espécies praticados na íntegra no site oficial do Planalto. Acesse: http://
contra estes. www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
De acordo com a lei, considera-se criança a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela
entre doze e dezoito anos de idade. Excepcionalmente,
em casos previstos em lei, aplicar-se-á a lei para pessoas
de dezoito anos até vinte e um anos de idade. EXERCÍCIOS COMENTADOS
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata o ECA, assegurando-se- 1. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos)
lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento 8.069/90), é considerado criança
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade. a) a pessoa até seis anos incompletos de idade.
Importante ressaltar que é dever da família, da b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
comunidade, da sociedade em geral e do poder público c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade.
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade.
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não te-
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, nha cometido nenhum crime.
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. Resposta: Letra C. O Estatuto da Criança e do Adoles-
Explica-se que a garantia de prioridade compreende: cente opta por categorizar separadamente estas duas
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- categorias de menores. Criança é aquele que tem até
quer circunstâncias; 12 anos de idade (na data de aniversário de 12 anos,
b) precedência de atendimento nos serviços públicos passa a ser adolescente), adolescente é aquele que
ou de relevância pública; tem entre 12 e 18 anos (na data de aniversário de 18
c) preferência na formulação e na execução das polí- anos, passa a ser maior), conforme o artigo 2º do ECA.
ticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas 2. (Câmara dos Deputados - Analista Legislativo -
áreas relacionadas com a proteção à infância e à CESPE/2014) Julgue o próximo item , referente ao dis-
juventude. posto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e às
atribuições do conselho tutelar.
Por fim, nenhuma criança ou adolescente será As disposições do ECA aplicam-se apenas a crianças, in-
objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, divíduos até doze anos de idade incompletos, e a ado-
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na lescentes, indivíduos entre doze e dezoito anos de idade.
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos
seus direitos fundamentais. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Acerca dos Direitos Fundamentais da criança e do
adolescente, observa-se o título II do ECA, onde estão Resposta: Errado. Preconiza o artigo 2º, parágrafo
previstos direitos à vida e à saúde (inclusive de pré-natal), único, ECA: “Nos casos expressos em lei, aplica-se ex-
de liberdade, respeito e à dignidade, sendo assegurado cepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoi-
às crianças e adolescentes os direitos de : to anos e vinte e um anos de idade”.
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
LEGISLAÇÃO FEDERAL

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;


V - participar da vida familiar e comunitária, sem dis-
criminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

30
A presente publicação, parceria entre o Ministério da
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS Educação e a Secretaria Especial de Políticas de Promo-
PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNI- ção da Igualdade Racial, tem o mérito de trazer ao co-
CO-RACIAIS E PARA O ENSINO DE HISTÓ- nhecimento de todos os setores interessados da socieda-
RIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRI- de, questões, informações, bem como os marcos legais
CANA. das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e
Cultura Afro- Brasileira e Africana, de acordo com a ho-
Prezado candidato, a seguir você confere os tex- mologação, em 18 de maio de 2004, do Parecer 03/2204,
tos de introdução e apresentação das Diretrizes so- de 10 de março, do Conselho Pleno do CNE aprovando o
licitadas, além da Legislação pertinente que institui projeto de resolução dessas diretrizes.
as Diretrizes. Confira o material na íntegra em nosso Amplia-se, assim, o debate sobre tema de alta rele-
site para consulta, visto seu formato e extensão, para vância na agenda do Governo Federal.
melhor aproveitamento. Tarso Genro
Ministro da Educação
Apresentação do MEC
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CONSELHO
O Ministério da Educação, comprometido com a PLENO/DF
pauta de políticas afirmativas do governo federal, vem
instituindo e implementando um conjunto de medidas e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
ações com o objetivo de corrigir injustiças, eliminar dis- Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cul-
criminações e promover a inclusão social e a cidadania tura Afro-Brasileira e Africana.
para todos no sistema educacional brasileiro. 23001.000215/2002-96
O Brasil, ao longo de sua história, estabeleceu um CNE/CP 3/2004, aprovado em 10/3/2004
modelo de desenvolvimento excludente, impedindo que Proc. 23001000215/2002-96
milhões de brasileiros tivessem acesso à escola ou nela
permanecessem. Com a criação da Secretaria de Educa- I – RELATÓRIO
ção Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), o
Ministério da Educação dá um grande passo para enfren- Este parecer visa a atender os propósitos expressos
tar a injustiça nos sistemas educacionais do país. na Indicação CNE/CP 6/ 2002, bem como regulamentar a
Garantir o exercício desse direito e forjar um novo alteração trazida à Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da
modo de desenvolvimento com inclusão é um desafio Educação Nacional, pela Lei 10.639/2000, que estabelece
que impõe ao campo da educação decisões inovadoras. a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-
Na reestruturação do MEC, o fortalecimento de políticas -Brasileira e Africana na Educação Básica. Desta forma,
e a criação de instrumentos de gestão para a afirmação busca cumprir o estabelecido na Constituição Federal
cidadã tornaram-se prioridades, valorizando a riqueza de nos seus Art. 5º, I, Art. 210, Art. 206, I, § 1° do Art. 242,
nossa diversidade étnico-racial e cultural. Art. 215 e Art. 216, bem como nos Art. 26, 26 A e 79 B na
A constituição da Secad traduz uma inovação institu- Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
cional. Pela primeira vez, estão reunidos os programas de que asseguram o direito à igualdade de condições de
alfabetização e de educação de jovens e adultos, as coor- vida e de cidadania, assim como garantem igual direito
denações de educação indígena, diversidade e inclusão às histórias e culturas que compõem a nação brasileira,
educacional, educação no campo e educação ambiental. além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura
Esta estrutura permite a articulação de programas de nacional a todos brasileiros.
combate à discriminação racial e sexual com projetos de Juntam-se a preceitos analógicos os Art. 26 e 26 A da
valorização da diversidade étnica. Um dos seus objeti- LDB, como os das Constituições Estaduais da Bahia (Art.
vos é tornar a multiplicidade de experiências pedagógi- 275, IV e 288), do Rio de Janeiro (Art. 306), de Alagoas
cas dessas áreas em modos de renovação nas práticas (Art. 253), assim como de Leis Orgânicas, tais como a de
educacionais. Mais do que uma reunião de programas, Recife (Art. 138), de Belo Horizonte (Art. 182, VI), a do Rio
a tarefa da nova secretaria é articular as competências e de Janeiro (Art. 321, VIII), além de leis ordinárias, como lei
experiências desenvolvidas, tanto pelos sistemas formais Municipal nº 7.685, de 17 de janeiro de 1994, de Belém,
de ensino como pelas práticas de organizações sociais, a Lei Municipal nº 2.251, de 30 de novembro de 1994, de
em instrumentos de promoção da cidadania, da valoriza- Aracaju e a Lei Municipal nº 11.973, de 4 de janeiro de
ção da diversidade e de apoio às populações que vivem 1996, de São Paulo .(1)
em situações de vulnerabilidade social. Junta-se, também, ao disposto no Estatuto da Criança
e do Adolescente (Lei 8.096, de 13 de junho de 1990),
LEGISLAÇÃO FEDERAL

Para democratizar a educação, é preciso mobilizar


toda a sociedade. O MEC, por intermédio da Secad, tem bem como no Plano Nacional de Educação (Lei 10.172,
a missão de promover a união de esforços com os go- de 9 de janeiro de 2001).
vernos estaduais e municipais, ONG’s, sindicatos, asso- Todos estes dispositivos legais, bem como reivindi-
ciações profissionais e de moradores, contando com a cações e propostas do Movimento Negro ao longo do
cooperação de organismos internacionais para ampliar o século XX, apontam para a necessidade de diretrizes que
acesso, garantir a permanência e contribuir para o apri- orientem a formulação de projetos empenhados na va-
moramento de práticas e valores dos sistemas de ensino. lorização da história e cultura dos afro-brasileiros e dos

31
africanos, assim como comprometidos com a de educa- níveis de ensino, em escolas devidamente instaladas e
ção de relações étnico-raciais positivas, a que tais con- equipadas, orientados por professores qualificados para
teúdos devem conduzir. o ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com
Destina-se, o parecer, aos administradores dos siste- formação para lidar com as tensas relações produzidas
mas de ensino, de mantenedoras de estabelecimentos pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de
de ensino, aos estabelecimentos de ensino, seus pro- conduzir a reeducação das relações entre diferentes gru-
fessores e a todos implicados na elaboração, execução, pos étnico-raciais, ou seja, entre descendentes de africa-
avaliação de programas de interesse educacional, de pla- nos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. Estas
nos institucionais, pedagógicos e de ensino. Destina-se, condições materiais das escolas e de formação de pro-
também, às famílias dos estudantes, a eles próprios e a fessores são indispensáveis para uma educação de qua-
todos os cidadãos comprometidos com a educação dos lidade, para todos, assim como o é o reconhecimento e
brasileiros, para nele buscarem orientações, quando pre- valorização da história, cultura e identidade dos descen-
tenderem dialogar com os sistemas de ensino, escolas e dentes de africanos.
educadores, no que diz respeito às relações étnico-ra-
ciais, ao reconhecimento e valorização da história e cul-
tura dos afro-brasileiros, à diversidade da nação brasilei- POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ES-
ra, ao igual direito à educação de qualidade, isto é, não PECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO
apenas direito ao estudo, mas também à formação para INCLUSIVA. REVISTA DA EDUCAÇÃO ESPE-
a cidadania responsável pela construção de uma socie- CIAL, V. 4, N. 1, JAN./JUN. 2007
dade justa e democrática.
Em vista disso, foi feita consulta sobre as questões
objeto deste parecer, por meio de questionário enca- Abaixo, segue o teor da Política Nacional da Edu-
minhado a grupos do Movimento Negro, a militantes cação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva –
individualmente, aos Conselhos Estaduais e Municipais MEC/2008, disponível também no seguinte link:
de Educação, a professores que vêm desenvolvendo tra- http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaedu-
balhos que abordam a questão racial, a pais de alunos, cespecial.pdf
enfim a cidadãos empenhados com a construção de uma
sociedade justa, independentemente de seu pertenci- I – APRESENTAÇÃO
mento racial. Encaminharam-se em torno de mil ques-
tionários e o responderam individualmente ou em grupo O movimento mundial pela inclusão é uma ação po-
250 mulheres e homens, entre crianças e adultos, com lítica, cultural, social e pedagógica, desencadeada em
diferentes níveis de escolarização. Suas respostas mos- defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos,
traram a importância de se tratarem problemas, dificul- aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discri-
dades, dúvidas, antes mesmo de o parecer traçar orien- minação. A educação inclusiva constitui um paradigma
tações, indicações, normas. educacional fundamentado na concepção de direitos hu-
manos, que conjuga igualdade e diferença como valores
Questões introdutórias indissociáveis, e que avança em relação à idéia de eqüi-
dade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas
O parecer procura oferecer uma resposta, entre ou- da produção da exclusão dentro e fora da escola.
tras, na área da educação, à demanda da população afro- Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos
descendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, sistemas de ensino evidenciam a necessidade de con-
isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e frontar as práticas discriminatórias e criar alternativas
valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, para superá-las, a educação inclusiva assume espaço
de política curricular, fundada em dimensões históricas, central no debate acerca da sociedade contemporânea e
sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, do papel da escola na superação da lógica da exclusão.
e busca combater o racismo e as discriminações que A partir dos referenciais para a construção de sistemas
atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, educacionais inclusivos, a organização de escolas e clas-
propõe A divulgação e produção de conhecimentos, a ses especiais passa a ser repensada, implicando uma mu-
formação de atitudes, posturas e valores que eduquem dança estrutural e cultural da escola para que todos os
cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial alunos tenham suas especificidades atendidas.
– descendentes de africanos, povos indígenas, descen- Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secreta-
dentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na ria de Educação Especial apresenta a Política Nacional de
construção de uma nação democrática, em que todos, Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,
igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua iden- que acompanha os avanços do conhecimento e das lutas
tidade valorizada. sociais, visando constituir políticas públicas promotoras
LEGISLAÇÃO FEDERAL

É importante salientar que tais políticas têm como de uma educação de qualidade para todos os alunos.
meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura
nacional, expressarem visões de mundo próprias, mani- II - MARCOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS
festarem com autonomia, individual e coletiva, seus pen-
samentos. É necessário sublinhar que tais políticas têm, A escola historicamente se caracterizou pela visão da
também, como meta o direito dos negros, assim como educação que delimita a escolarização como privilégio
de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políti-

32
cas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação;
A partir do processo de democratização da educação se ainda configuradas por campanhas assistenciais e ações
evidencia o paradoxo inclusão/exclusão, quando os sis- isoladas do Estado.
temas de ensino universalizam o acesso, mas continuam
excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos Nesse período, não se efetiva uma política pública
padrões homogeneizadores da escola. Assim, sob for- de acesso universal à educação, permanecendo a con-
mas distintas, a exclusão tem apresentado características cepção de ‘políticas especiais’ para tratar da temática da
comuns nos processos de segregação e integração que educação de alunos com deficiência e, no que se refere
pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso escolar. aos alunos com superdotação, apesar do acesso ao ensi-
A partir da visão dos direitos humanos e do concei- no regular, não é organizado um atendimento especiali-
to de cidadania fundamentado no reconhecimento das zado que considere as singularidades de aprendizagem
diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma desses alunos.
identificação dos mecanismos e processos de hierarqui- A Constituição Federal de 1988 traz como um dos
zação que operam na regulação e produção das desi- seus objetivos fundamentais, “promover o bem de to-
gualdades. Essa problematização explicita os processos dos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
normativos de distinção dos alunos em razão de carac- quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso
terísticas intelectuais, físicas, culturais, sociais e lingüísti- IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de
cas, entre outras, estruturantes do modelo tradicional de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o
educação escolar. exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.
A educação especial se organizou tradicionalmente No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de
como atendimento educacional especializado substitu- condições de acesso e permanência na escola” , como um
tivo ao ensino comum, evidenciando diferentes com- dos princípios para o ensino e, garante, como dever do
preensões, terminologias e modalidades que levaram a Estado, a oferta do atendimento educacional especializa-
criação de instituições especializadas, escolas especiais do, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208).
e classes especiais. Essa organização, fundamentada no O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº
conceito de normalidade/anormalidade, determina for- 8.069/90, artigo 55, reforça os dispositivos legais supra-
mas de atendimento clínico terapêuticos fortemente an- citados, ao determinar que “os pais ou responsáveis têm
corados nos testes psicométricos que definem, por meio a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede
de diagnósticos, as práticas escolares para os alunos com regular de ensino”. Também, nessa década, documentos
deficiência. como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990)
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência e a Declaração de Salamanca (1994), passam a influenciar a
teve início na época do Império com a criação de duas formulação das políticas públicas da educação inclusiva.
instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educa-
1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Institu- ção Especial, orientando o processo de ‘integração ins-
trucional’ que condiciona o acesso às classes comuns
to dos Surdos Mudos, em 1857, atual Instituto Nacional
do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições
da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro.
de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares
No início do século XX é fundado o Instituto Pestalo-
programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os
zzi - 1926, instituição especializada no atendimento às
alunos ditos normais”.
pessoas com deficiência mental; em 1954 é fundada a
Ao reafirmar os pressupostos construídos a partir de
primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
padrões homogêneos de participação e aprendizagem, a
– APAE e; em 1945, é criado o primeiro atendimento edu-
Política não provoca uma reformulação das práticas edu-
cacional especializado às pessoas com superdotação na
cacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes
Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. potenciais de aprendizagem no ensino comum, manten-
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com do a responsabilidade da educação desses alunos exclu-
deficiência passa ser fundamentado pelas disposições sivamente no âmbito da educação especial.
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à - Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas
educação, preferencialmente dentro do sistema geral de de ensino devem assegurar aos alunos currículo, méto-
ensino. dos, recursos e organização específicos para atender às
A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao suas necessidades; assegura a terminalidade específica
definir ‘tratamento especial’ para os alunos com “defi- àqueles que não atingiram o nível exigido para a con-
ciências físicas, mentais, os que se encontrem em atraso clusão do ensino fundamental, em virtude de suas de-
considerável quanto à idade regular de matrícula e os ficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados
superdotados”, não promove a organização de um siste-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

para conclusão do programa escolar. Também define,


ma de ensino capaz de atender as necessidades educa- dentre as normas para a organização da educação bá-
cionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento sica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
dos alunos para as classes e escolas especiais. mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V)
Em 1973, é criado no MEC, o Centro Nacional de e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, conside-
Educação Especial – CENESP, responsável pela gerência radas as características do alunado, seus interesses, con-
da educação especial no Brasil, que, sob a égide inte- dições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”
gracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às (art. 37).

33
Em 1999, o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei A Portaria nº 2.678/02 aprova diretriz e normas para
nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Brail-
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a le em todas as modalidades de ensino, compreendendo
educação especial como uma modalidade transversal a o projeto da Grafia Braile para a Língua Portuguesa e a
todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a recomendação para o seu uso em todo o território na-
atuação complementar da educação especial ao ensino cional.
regular. Em 2003, o Ministério da Educação cria o Programa
Acompanhando o processo de mudanças, as Dire- Educação Inclusiva: direito à diversidade, visando trans-
trizes Nacionais para a Educação Especial na Educação formar os sistemas de ensino em sistemas educacionais
Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, de- inclusivos, que promove um amplo processo de forma-
terminam que: “Os sistemas de ensino devem matricular ção de gestores e educadores nos municípios brasileiros
todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para para a garantia do direito de acesso de todos à escolari-
o atendimento aos educandos com necessidades edu- zação, a organização do atendimento educacional espe-
cacionais especiais, assegurando as condições necessá- cializado e a promoção da acessibilidade.
rias para uma educação de qualidade para todos”. (MEC/ Em 2004, o Ministério Público Federal divulga o docu-
SEESP, 2001). mento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de dis-
para realizar o atendimento educacional especializado seminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclu-
complementar ou suplementar a escolarização, porém, são, reafirmando o direito e os benefícios da escolariza-
ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, ção de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns
não potencializa a adoção de uma política de educação do ensino regular.
inclusiva na rede pública de ensino prevista no seu artigo Impulsionando a inclusão educacional e social, o De-
2º. creto nº 5.296/04 regulamentou as leis nº 10.048/00 e nº
O Plano Nacional de Educação - PNE, Lei nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a pro-
10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a déca- moção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou
da da educação deveria produzir seria a construção de com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa
uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diver- Brasil Acessível é implementado com o objetivo de pro-
sidade humana”. Ao estabelecer objetivos e metas para mover e apoiar o desenvolvimento de ações que garan-
que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às tam a acessibilidade.
necessidades educacionais especiais dos alunos, aponta O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº
um déficit referente à oferta de matrículas para alunos 10.436/2002, visando a inclusão dos alunos surdos, dis-
com deficiência nas classes comuns do ensino regular, põe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular,
à formação docente, à acessibilidade física e ao atendi- a formação e a certificação de professor, instrutor e tra-
mento educacional especializado. dutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portugue-
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no sa como segunda língua para alunos surdos e a organiza-
Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pes- ção da educação bilíngüe no ensino regular.
soas com deficiência têm os mesmos direitos humanos Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Ativi-
e liberdades fundamentais que as demais pessoas, defi- dade das Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em
nindo como discriminação com base na deficiência, toda todos os estados e no Distrito Federal, são formados
diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular centros de referência para o atendimento educacional
o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades especializado aos alunos com altas habilidades/superdo-
fundamentais. Esse Decreto tem importante repercussão tação, a orientação às famílias e a formação continuada
na educação, exigindo uma reinterpretação da educação aos professores. Nacionalmente, são disseminados re-
especial, compreendida no contexto da diferenciação ferenciais e orientações para organização da política de
adotada para promover a eliminação das barreiras que educação inclusiva nesta área, de forma a garantir esse
impedem o acesso à escolarização. atendimento aos alunos da rede pública de ensino.
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com De-
CNE/CP nº1/2002, que estabelece as Diretrizes Curricula- ficiência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil
res Nacionais para a Formação de Professores da Educa- é signatário, estabelece que os Estados Parte devem as-
ção Básica, define que as instituições de ensino superior segurar um sistema de educação inclusiva em todos os
devem prever em sua organização curricular formação níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desen-
docente voltada para a atenção à diversidade e que con- volvimento acadêmico e social compatível com a meta
temple conhecimentos sobre as especificidades dos alu- de inclusão plena, adotando medidas para garantir que:
nos com necessidades educacionais especiais.
LEGISLAÇÃO FEDERAL

“a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do


A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de sistema educacional geral sob alegação de deficiência e
Sinais como meio legal de comunicação e expressão, de- que as crianças com deficiência não sejam excluídas do
terminando que sejam garantidas formas institucionali- ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alega-
zadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão ção de deficiência; b) As pessoas com deficiência possam
da disciplina de Libras como parte integrante do currícu- ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade
lo nos cursos de formação de professores e de fonoau- e gratuito, em igualdade de condições com as demais
diologia. pessoas na comunidade em que vivem (Art. 24)”.

34
Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO
lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos que objetiva, dentre as suas ações, fomentar, no currículo
da educação básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem
inclusão, acesso e permanência na educação superior.
Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento - PAC, é lançado o Plano de Desenvolvimento da
Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência, tendo como eixos a acessibili-
dade arquitetônica dos prédios escolares, a implantação de salas de recursos e a formação docente para o atendimento
educacional especializado.
No documento Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas, publicado pelo Ministério da Edu-
cação, é reafirmada a visão sistêmica da educação que busca superar a oposição entre educação regular e educação especial.
“Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade da educação especial nos diferentes níveis, etapas e mo-
dalidades de ensino, a educação não se estruturou na perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades edu-
cacionais especiais, limitando, o cumprimento do princípio constitucional que prevê a igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola e a continuidade nos níveis mais elevados de ensino” (2007, p. 09).
O Decreto nº 6.094/2007 estabelece dentre as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do aces-
so e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo
a inclusão educacional nas escolas públicas.

III - DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em todas as escolas de educação básica, acompanha, na educa-
ção especial, indicadores de acesso à educação básica, matrícula na rede pública, inclusão nas classes comuns, oferta
do atendimento educacional especializado, acessibilidade nos prédios escolares e o número de municípios e de escolas
com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais.
A partir de 2004, com a atualização dos conceitos e terminologias, são efetivadas mudanças no Censo Escolar, que
passa a coletar dados sobre a série ou ciclo escolar dos alunos atendidos pela educação especial, possibilitando, a par-
tir destas informações que registram a progressão escolar, criar novos indicadores acerca da qualidade da educação.
Os dados do Censo Escolar/2006, na educação especial, registram a evolução de 337.326 matrículas em 1998 para
700.624 em 2006, expressando um crescimento de 107%. No que se refere à inclusão em classes comuns do ensino
regular, o crescimento é de 640%, passando de 43.923 alunos incluídos em 1998, para 325.316 alunos incluídos em
2006, conforme demonstra o gráfico a seguir:

LEGISLAÇÃO FEDERAL

Quanto à distribuição das matrículas nas esferas pública e privada, em 1998, registra-se 157.962 (46,8%) alunos com
necessidades educacionais especiais nas escolas privadas, principalmente em instituições especializadas filantrópicas. Com
o desenvolvimento de políticas de educação inclusiva, evidencia-se um crescimento de 146% das matrículas nas escolas
públicas, que passaram de 179.364 (53,2%) em 1998, para 441.155 (63%) em 2006, conforme demonstra o gráfico a seguir:

35
Com relação à distribuição das matrículas por etapa e nível de ensino, em 2006: 112.988 (16%) são na educação
infantil, 466.155 (66,5%) no ensino fundamental, 14.150 (2%) no ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e
adultos, 46.949 (6,7%) na educação profissional (básico) e 1.962 (0,28%) na educação profissional (técnico).
No âmbito da educação infantil, as matrículas concentram-se nas escolas/classes especiais que registram 89.083
alunos, enquanto apenas 24.005 estão matriculados em turmas comuns, contrariando os estudos nesta área que afir-
mam os benefícios da convivência e aprendizagem entre crianças com e sem deficiência desde os primeiros anos de
vida para o seu desenvolvimento.
O Censo das matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na educação superior registra que,
entre 2003 e 2005, o número de alunos passou de 5.078 para 11.999 alunos. Este indicador, apesar do crescimento de
136% das matrículas, reflete a exclusão educacional e social, principalmente das pessoas com deficiência, salientando
a necessidade de promover a inclusão e o fortalecimento das políticas de acessibilidade nas instituições de educação
superior.
A evolução das ações da educação especial nos últimos anos se expressa no crescimento do número de municípios
com matrículas, que em 1998 registra 2.738 municípios (49,7%) e, em 2006 alcança 4.953 municípios (89%), um cresci-
mento de 81%. Essa evolução também revela o aumento do número de escolas com matrícula, que em 1998 registra
apenas 6.557 escolas e chega a 54.412 escolas em 2006, representando um crescimento de 730%. Destas escolas com
matrícula em 2006, 2.724 são escolas especiais, 4.325 são escolas comuns com classe especial e 50.259 são escolas
comuns com inclusão nas turmas de ensino regular.
O indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios escolares, em 1998, aponta que 14% dos 6.557 estabeleci-
mentos de ensino com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais possuíam sanitários com acessi-
bilidade. Em 2006, das 54.412 escolas com matrículas de alunos atendidos pela educação especial, 23,3% possuíam sa-
nitários com acessibilidade e 16,3% registraram ter dependências e vias adequadas (indicador não coletado em 1998).
Em relação à formação dos professores com atuação na educação especial, em 1998, 3,2% possuíam ensino funda-
mental; 51% possuíam ensino médio e 45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professores que atuam na educa-
ção especial, 0,62% registraram somente ensino fundamental, 24% registraram ensino médio e 75,2% ensino superior.
Nesse mesmo ano, 77,8% destes professores, declararam ter curso específico nessa área de conhecimento.

IV - OBJETIVO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a in-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

clusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação,
orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e conti-
nuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação
infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o
atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e
da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e arti-
culação intersetorial na implementação das políticas públicas.

36
V - ALUNOS ATENDIDOS PELA EDUCAÇÃO ESPE- As definições do público alvo devem ser contextuali-
CIAL zadas e não se esgotam na mera categorização e especi-
ficações atribuídas a um quadro de deficiência, transtor-
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a nos, distúrbios e aptidões. Considera-se que as pessoas
educação especial organizada de forma paralela à educa- se modificam continuamente transformando o contexto
ção comum seria mais apropriada para a aprendizagem no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação
dos alunos que apresentavam deficiência, problemas de pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão,
saúde, ou qualquer inadequação com relação à estrutu- enfatizando a importância de ambientes heterogêneos
ra organizada pelos sistemas de ensino. Essa concepção que promovam a aprendizagem de todos os alunos.
exerceu impacto duradouro na história da educação es-
pecial, resultando em práticas que enfatizavam os as- VI - DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE EDU-
pectos relacionados à deficiência, em contraposição à CAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO
dimensão pedagógica. INCLUSIVA
O desenvolvimento de estudos no campo da educa-
ção e a defesa dos direitos humanos vêm modificando os A educação especial é uma modalidade de ensino que
conceitos, as legislações e as práticas pedagógicas e de perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o
gestão, promovendo a reestruturação do ensino regu- atendimento educacional especializado, disponibiliza os
lar e especial. Em 1994, com a Declaração de Salamanca serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta
se estabelece como princípio que as escolas do ensino os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas
regular devem educar todos os alunos, enfrentando a si- turmas comuns do ensino regular.
tuação de exclusão escolar das crianças com deficiência, O atendimento educacional especializado identifica,
das que vivem nas ruas ou que trabalham, das super- elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessi-
dotadas, em desvantagem social e das que apresentam bilidade que eliminem as barreiras para a plena parti-
diferenças lingüísticas, étnicas ou culturais. cipação dos alunos, considerando as suas necessidades
O conceito de necessidades educacionais especiais, específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento
que passa a ser amplamente disseminado, a partir dessa educacional especializado diferenciam-se daquelas reali-
Declaração, ressalta a interação das características indi- zadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à
viduais dos alunos com o ambiente educacional e social, escolarização. Esse atendimento complementa e/ou su-
chamando a atenção do ensino regular para o desafio plementa a formação dos alunos com vistas à autonomia
de atender as diferenças. No entanto, mesmo com essa
e independência na escola e fora dela.
perspectiva conceitual transformadora, as políticas edu-
O atendimento educacional especializado disponi-
cacionais implementadas não alcançaram o objetivo de
biliza programas de enriquecimento curricular, o ensino
levar a escola comum a assumir o desafio de atender as
de linguagens e códigos específicos de comunicação e
necessidades educacionais de todos os alunos.
sinalização, ajudas técnicas e tecnologia assistiva, dentre
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação
outros. Ao longo de todo processo de escolarização, esse
especial passa a constituir a proposta pedagógica da
atendimento deve estar articulado com a proposta peda-
escola, definindo como seu público-alvo os alunos com
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e al- gógica do ensino comum.
tas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que A inclusão escolar tem início na educação infantil,
implicam em transtornos funcionais específicos, a edu- onde se desenvolvem as bases necessárias para a cons-
cação especial atua de forma articulada com o ensino trução do conhecimento e seu desenvolvimento global.
comum, orientando para o atendimento às necessidades Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas
educacionais especiais desses alunos. de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos
Consideram-se alunos com deficiência àqueles que físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e
têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, a convivência com as diferenças favorecem as relações
mental, intelectual ou sensorial, que em interação com interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do
diversas barreiras podem ter restringida sua participação nascimento aos três anos, o atendimento educacional
plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com especializado se expressa por meio de serviços de inter-
transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que venção precoce que objetivam otimizar o processo de
apresentam alterações qualitativas das interações sociais desenvolvimento e aprendizagem em interface com os
recíprocas e na comunicação, um repertório de interes- serviços de saúde e assistência social.
ses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. In- Em todas as etapas e modalidades da educação bá-
cluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes sica, o atendimento educacional especializado é organi-
do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com zado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, consti-
altas habilidades/superdotação demonstram potencial tuindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino e deve
elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isola- ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na
LEGISLAÇÃO FEDERAL

das ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, própria escola ou centro especializado que realize esse
psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada serviço educacional.
criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e Desse modo, na modalidade de educação de jovens
realização de tarefas em áreas de seu interesse. Dentre e adultos e educação profissional, as ações da educação
os transtornos funcionais específicos estão: dislexia, di- especial possibilitam a ampliação de oportunidades de
sortografia, disgrafia, discalculia, transtorno de atenção e escolarização, formação para a inserção no mundo do
hiperatividade, entre outros. trabalho e efetiva participação social.

37
A interface da educação especial na educação indíge- VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
na, do campo e quilombola deve assegurar que os recur-
sos, serviços e atendimento educacional especializado BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e
estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos Bases da Educação Nacional, LDB 4.024, de 20 de dezem-
com base nas diferenças socioculturais desses grupos. bro de 1961.
Na educação superior, a transversalidade da educa- BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e
ção especial se efetiva por meio de ações que promo- Bases da Educação Nacional, LDB 5.692, de 11 de agosto
vam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. de 1971.
Estas ações envolvem o planejamento e a organização BRASIL. Constituição da República Federativa do Bra-
de recursos e serviços para a promoção da acessibili- sil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.
dade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que ção Especial. Lei Nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989.
devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no Bra-
desenvolvimento de todas as atividades que envolvem o sil. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990.
ensino, a pesquisa e a extensão. BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para To-
Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas co- dos: plano de ação para satisfazer as necessidades bási-
muns, a educação bilíngüe - Língua Portuguesa/LIBRAS, cas de aprendizagem. UNESCO, Jomtiem/Tailândia, 1990.
desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação so-
língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como bre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO,
segunda língua na modalidade escrita para alunos sur- 1994.
dos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
Portuguesa e o ensino da Libras para os demais alunos ção Especial. Política Nacional de Educação Especial. Bra-
da escola. O atendimento educacional especializado é sília: MEC/SEESP, 1994.
ofertado, tanto na modalidade oral e escrita, quanto na BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e
língua de sinais. Devido à diferença lingüística, na me- Bases da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezem-
dida do possível, o aluno surdo deve estar com outros bro de 1996.
pares surdos em turmas comuns na escola regular. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
O atendimento educacional especializado é realizado ção Especial. Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos 1999.
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda ção Especial. Lei Nº 10.048, de 08 de novembro de 2000.
língua, do sistema Braille, do soroban, da orientação e BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comu- ção Especial. Lei Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
nicação alternativa, do desenvolvimento dos processos BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
mentais superiores, dos programas de enriquecimento ção Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Espe-
curricular, da adequação e produção de materiais didá- cial na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial
ticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e - MEC/SEESP, 2001.
não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. BRASIL. Ministério da Educação. Lei Nº 10.172, de 09
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educa-
especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibi- ção e dá outras providências.
lizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras BRASIL. Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001.
e guia intérprete, bem como de monitor ou cuidador aos Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação
alunos com necessidade de apoio nas atividades de hi- de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas
giene, alimentação, locomoção, entre outras que exijam Portadoras de Deficiência. Guatemala: 2001.
auxílio constante no cotidiano escolar. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Edu-
Para atuar na educação especial, o professor deve ter cação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002.
como base da sua formação, inicial e continuada, conhe- Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá
cimentos gerais para o exercício da docência e conheci- outras providências.
mentos específicos da área. Essa formação possibilita a BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
sua atuação no atendimento educacional especializado e ção Especial. Decreto Nº 5.296 de 02 de dezembro de
deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da 2004.
atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
recursos, nos centros de atendimento educacional espe- ção Especial. Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de
cializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições 2005. Regulamenta a Lei Nº 10.436, de 24 de abril de
de educação superior, nas classes hospitalares e nos am- 2002.
bientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educa-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

de educação especial. ção Especial. Direito à educação: subsídios para a gestão


Esta formação deve contemplar conhecimentos de dos sistemas educacionais – orientações gerais e marcos
gestão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista legais. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
o desenvolvimento de projetos em parceria com outras BRASIL. IBGE. Censo Demográfico, 2000. Disponível
áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, os atendi- em: <http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/popu-
mentos de saúde, a promoção de ações de assistência lacao/censo2000/default.shtm>. Acesso em: 20 de jan.
social, trabalho e justiça. 2007.

38
BRASIL. INEP. Censo Escolar, 2006. Disponível em: Resposta: Letra C. Consta na Política Nacional de
<http:// http://www.inep.gov.br/basica/censo/default. Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusi-
asp >. Acesso em: 20 de jan. 2007. va: “a educação especial é uma modalidade de ensino
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades,
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 2006. realiza o atendimento educacional especializado, dis-
BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Desenvol- ponibiliza os serviços e recursos próprios desse aten-
vimento da Educação: razões, princípios e programas. dimento e orienta os alunos e seus professores quanto
Brasília: MEC, 2007. a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular”.
A, B, D e E. Incorretas, não correspondendo ao concei-
to colacionado na Política Nacional de Educação Espe-
#FicaDica
cial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
A Política Nacional de Educação Especial
de 2008 mudou a visão da educação es-
pecial no sistema de ensino brasileiro. Uma
das suas principais vertentes é garantir o
acesso de todos os alunos ao ensino regu-
lar, formando professores para a inclusão
e melhorando o acesso físico, transporte
e mobiliário. A Política também eliminou a
possibilidade de exclusão total ou parcial
das turmas comuns, que na prática gerava
exclusão social. Assim, o ensino daqueles
que possuem necessidades especiais deve
ser complementado ou suplementado por
meio de atendimento especializado.

Prezado candidato, a seguir você confere um ma-


terial relacionado diretamente a temática da Inclusão,
que você pode aprofundar no material da Revista que
disponibilizamos em nosso site para consulta. Aces-
se: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/rev-
4web.pdf

EXERCÍCIO COMENTADO
1. (UFSC - Pedagogo - Educação Especial - COPERVE-
-UFSC/2018) Na Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), a educação
especial é:

a) uma modalidade de educação escolar oferecida, pre-


ferencialmente, na rede regular de ensino, para edu-
candos portadores de necessidades especiais.
b) uma modalidade que deve, no que for possível, en-
quadrar-se no sistema geral de educação, a fim de in-
tegrar os alunos com deficiência na comunidade.
c) uma modalidade de ensino que perpassa todos os
níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento
educacional especializado, disponibiliza os serviços
e recursos próprios desse atendimento e orienta os
alunos e seus professores quanto a sua utilização nas
turmas comuns do ensino regular.
d) específica para atender crianças e jovens que apresen-
LEGISLAÇÃO FEDERAL

tem deficiências físicas ou mentais, os que se encon-


trem em atraso considerável quanto à idade regular
de matrícula e os superdotados.
e) específica para crianças e jovens com deficiência que
possuem condições de acompanhar e desenvolver as
atividades curriculares programadas do ensino co-
mum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais.

39
5. (DPE-PE - Defensor Público - CESPE/2015) No item
abaixo, é apresentada uma situação hipotética, seguida
HORA DE PRATICAR! de uma assertiva a ser julgada conforme as normas do
ECA e o entendimento do STJ.
1.(TCE-PA - Auditor de Controle Externo - Área Marcelino, maior imputável, fotografou sua sobrinha,
Administrativa - Serviço Social - CESPE/2016) Julgue de treze anos de idade, enquanto ela tomava banho.
o item subsecutivo, acerca do Estatuto da Criança e do As fotos mostravam as partes íntimas da adolescente e
Adolescente (ECA). algumas imagens mostravam apenas os órgãos genitais
De acordo com o ECA, é considerada criança a pessoa da garota. Apurou-se que Marcelino jamais praticou
com até doze anos de idade incompletos. qualquer ato libidinoso com a sobrinha nem divulgou o
material fotográfico obtido e que ele utilizava as fotos
( ) CERTO ( ) ERRADO apenas para satisfazer a própria lascívia. Nessa situação,
Marcelino responderá por crime previsto no ECA,
2. (DPU - Assistente Social - CESPE/2016) Segundo uma vez que registrou cena pornográfica envolvendo
as normas contidas na legislação social voltada para os adolescente.
direitos sociais e proteção de crianças e adolescentes,
julgue o seguinte item. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Para o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo,
é prioritária a aplicação de medidas privativas ou
restritivas de liberdade em estabelecimento educacional,
de modo a garantir a inclusão social dos egressos do GABARITO
sistema socioeducativo.
1 Certo
( ) CERTO ( ) ERRADO
2 Errado
3. (TJ-DFT - Analista Judiciário - Judiciária - 3 Errado
CESPE/2015) Julgue o próximo item, de acordo com
4 Errado
o disposto no Código de Defesa do Consumidor e no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 5 Certo
De acordo com o ECA, o conselho tutelar pode
aplicar, conforme a gravidade do caso, medida de
encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico
aos pais que apliquem castigo físico ou tratamento cruel
ou degradante como formas de disciplina ou correção do
comportamento de criança ou adolescente.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. (DPE-PE - Defensor Público - CESPE/2015) No item


abaixo, é apresentada uma situação hipotética, seguida
de uma assertiva a ser julgada conforme as normas do
ECA e o entendimento do STJ.
Alberto, adolescente condenado a cumprir medida
socioeducativa de internação, diante da inexistência de
estabelecimento apropriado na cidade de residência
de seus pais, foi custodiado em unidade distante,
em razão da superlotação da unidade mais próxima.
Nessa situação, houve violação ao direito absoluto do
adolescente previsto no ECA: Alberto deveria ter sido
enviado para a localidade mais próxima do domicílio dos
seus pais, mesmo que a unidade de custódia estivesse
superlotada.

( ) CERTO ( ) ERRADO
LEGISLAÇÃO FEDERAL

40
ÍNDICE

LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Lei nº 6.662/91 de 10/10/1991 (Dispõe sobre a criação do Conselho de Escola nas unidades educacionais)......................... 01
Lei nº 8.869 de 24/06/1996 (Dispõe sobre a criação, a composição, as atribuições e o funcionamento do Conselho
Municipal de Educação)............................................................................................................................................................................................... 03
Resolução nº 14/2014, da Secretaria Municipal da Educação – SME - (Estabelece as Diretrizes para a implementação
do processo de Avaliação Interna das Unidades Municipais de Ensino Fundamental e para a Constituição da Comissão
Própria de Avaliação (disponível no Diário Oficial do Município de 24/10/2014)).............................................................................. 04
Lei nº 12.987/2007 (Plano de Cargos e Carreiras do Magistério Municipal).......................................................................................... 06
Lei Complementar nº 57/2014 (Altera dispositivos da Lei nº 12.987/2007)............................................................................................ 06
Portaria SME nº114/2010 (Regimento Escola Comum da Rede Municipal de Ensino de Campinas)............................................. 06
Estatuto do Servidor Público de Campinas – Lei nº 1.399/55 (Artigo 15 e Artigos 184 a 204).......................................................... 07
Decreto nº 15.514/06, que dispõe sobre o Programa de Avaliação Probatória do Servidor............................................................ 09
Manual de Ética da Prefeitura Municipal de Campinas – páginas 4 a 27.................................................................................................. 11
g) alternativas de solução para os problemas de natu-
LEI Nº 6.662/91 DE 10/10/1991 (DISPÕE SO- reza administrativa e pedagógica;
BRE A CRIAÇÃO DO CONSELHO DE ESCOLA h) atividades extracurriculares e extraclasses que vi-
NAS UNIDADES EDUCACIONAIS). sem um maior aprimoramento do educando;
i) a organização e o funcionamento da escola, o aten-
dimento à demanda e demais aspectos pertinentes,
LEI 6.662/1991 de acordo com as orientações fixadas pela Secretaria
Municipal de Educação:
A presente Lei, aprovada pela Câmara Municipal de
Campinas-SP, criou o conselho de escola nas unidades 1. aprovando medidas adotadas pela escola quanto
educacionais do referido Município. ao atendimento e acomodação da demanda, turno de
Deste modo, tem-se que ao Conselho de Escola funcionamento, distribuição de séries e classes por tur-
caberá estabelecer, para o âmbito da escola, diretrizes nos, utilização de espaço físico;
e critérios gerais relativos à sua ação, organização, 2. fixando critérios para ocupação do prédio escolar
funcionamento, relacionamento com a comunidade e suas instalações, e condições para sua preservação,
compatíveis com as orientações e diretrizes traçadas bem como para cessão a outras atividades que não de
pela Secretaria Municipal de Educação, por meio de seus ensino, de interesse da comunidade;
diversos órgãos centrais ou intermediários, participando 3. analisando, aprovando e acompanhando projetos
efetivamente na implementação de suas deliberações. pedagógicos propostos por iniciativa dos professores
Ademais, o Conselho de Escola será um centro e especialistas da própria escola para serem nela im-
permanente de debates de articulação entre os vários plantados.
setores da escola, tendo em vista o atendimento das
necessidades comuns e a solução dos conflitos que II - Discutir e dar parecer sobre:
possam interferir no funcionamento da escola e dos a) ampliações e reformas em geral no prédio da uni-
problemas administrativos e pedagógicos que esta dade;
enfrenta. b) problemas existentes entre o corpo docente, entre
Visto isso, observa-se que são objetivos do Conselho: os alunos ou entre os funcionários e que estejam pre-
I - Ser a base de democratização da gestão do sistema judicando o projeto pedagógico da unidade;
municipal de ensino, com a participação ativa do mu- c) posturas individuais que surjam em qualquer dos
nícipe, como sujeito do processo educacional; segmentos que interagem na Unidade e que coloquem
II - Propiciar a mais ampla participação da comunida- em risco as diretrizes e as metas deliberadas;
de no processo educacional da unidade, reconhecendo d) as penalidades disciplinares a que estiverem sujei-
o seu direito e o seu dever quanto a isso; tos os funcionários, servidores e alunos da unidade es-
III - Garantir a democracia plena na gestão financeira colar sem prejuízo de recorrência a outras instâncias.
da unidade, naquilo em que ela tem autonomia em
relação à receita e as despesas;
III - Elaborar, conjuntamente com a equipe de educa-
IV - Contribuir para a qualidade do ensino ministra
dores da unidade, o calendário escolar e o projeto pe-
do na unidade;
dagógico da unidade, observadas as normas do Con-
V - Integrar todos os segmentos da unidade na discus-
selho Estadual de Educação, da Secreta ria Municipal
são pedagógica e metodológica;
de Educação e da legislação pertinente.
VI - Integrar a escola nos contexto social, econômico,
IV - Apreciar os relatórios anuais da Unidade, anali-
cultural em sua área de abrangência;
sando seu desempenho, tendo por parâmetros as dire-
VII - Levar a Unidade Escolar a interagir em todos os
acontecimentos de relevância que ocorreram ou que trizes e metas deliberadas.
venham a ocorrer em sua área de abrangência; V - Acompanhar o desenvolvimento do projeto peda-
VIII - Ser uma das instâncias da construção e do exer- gógico da unidade.
cício da cidadania.
Da composição do conselho de escola
Em outra perspectiva, são atribuições e competência
dos Conselhos de Escola: O Conselho de Escola compõe-se, no mínimo de 9
I - Deliberar sobre: (nove) e, no máximo, de 39 (trinta e nove) conselheiros
a) as diretrizes a serem seguidas e metas a serem al- vinculados à Unidade Escolar, e do diretor da respectiva
cançadas pela unidade educacional; unidade.
b) a captação e o investimento de recursos próprios Consideram-se Conselheiros vinculados a Unidade
da unidade; Escolar os alunos, docentes, pais de alunos e funcionários
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

c) a criação e as normas regulamentares dos organis- da mesma. Ademais, comporá também o Conselho
mos auxiliares da unidade que venham a ser criados; de Escola 1 (um) representante da Associação ou
d) os projetos, a ação e as prioridades dos organismos Associações de Moradores do(s) bairro (s) atendido (s)
auxiliares que existam na unidade; pela Unidade, quando esta (s) existirem e estiverem
e) projetos de atendimentos integral ao aluno, no devidamente registradas.
campo material, psicopedagógico, social ou de saúde; Tem-se, conforme a Lei, que o número de Conselheiros
f) programas regulares ou especiais que visem a inte- será determinado pelo número de classes e turmas
gração escola-família-comunidade; existentes na mesma unidade escolar, de forma que:

1
I - Até 10 classes ou turmas: 09 Conselheiros; Cada segmento representado no Conselho de
II - De 11 a 20 classes ou turmas: 19 Conselheiros; Escola elegerá sempre, concomitantemente com os
III - De 21 a 30 classes ou turmas: 29 Conselheiros; Conselheiros efetivos, igual número de suplentes, que
IV - Mais de 30 classes ou turmas: 39 Conselheiros; substituirão os primeiros, automaticamente, em suas
ausências e impedimentos.
A composição do Conselho de Escola obedecerá à Deixará de pertencer ao Conselho de Escola o
seguinte proporcionalidade: Conselheiro que perder seu vinculo com a unidade,
I - Nas Escolas de 1º Grau: sendo substituído automaticamente por seu suplente já
40% (quarenta por cento) de docentes; eleito.
05% (cinco por cento) de especialistas de educação;
05% (cinco por cento) dos demais funcionários;
#FicaDica
25% (vinte e cinco por cento) de pais e alunos;
25% (vinte e cinco por cento) de alunos. Em caso de um segmento não ter mais re-
presentantes efetivos ou suplentes pelo mo-
II - Nas Unidades de Educação Infantil (C.I.): tivo estabelecido acima ou por desistência
15% (quinze por cento) de docentes e/ou especialistas; explícita, nova eleição deverá ser providen-
35% (trinta e cinco por cento) dos demais funcioná- ciada, sem a qual nenhuma reunião ordinária
rios; 50% (cinqüenta por cento) de pais de crianças. ou extraordinária do Conselho dá Escola terá
validade.
III - Nas Unidades de Educação Infantil (Pré):
40% (quarenta por cento) de docentes;
05% (cinco por cento) de especialistas; O Conselheiro representante da Associação ou
05% (cinco por cento) dos demais funcionários; Associações de Moradores do (s) bairro (s) atendidos
50% (cinqüenta por cento) de pais de alunos. pela Unidade Escolar, será eleito em Assembléia da (s)
entidade (s) especialmente convocada para este fim.
IV - Nas Unidades de Ensino Supletivo: Ademais, o mesmo instrumento que elegeu o
(1ª a 4ª e 5ª a 8ª séries) Conselheiro representante da Associação ou Associações
40% (quarenta por cento) de docentes; de Moradores deverá substituí-lo anualmente ou em
05% (cinco por cento) de especialistas; caso de vacância do cargo, a qualquer tempo.
05% (cinco por cento) dos demais funcionários; Por fim, o suplente do Conselheiro representante da
50% (cinqüenta por cento) de alunos. Associação ou Associações de Moradores do (s) bairro
(s), será em número equivalente ao de associações em
condições de participar do Conselho, menos 1 (um), ou,
#FicaDica no mínimo, 1 (um), eleito (s) na mesma assembléia que
escolheu o Conselheiro efetivo.
Caso os percentuais calculados sobre o nú-
mero total de Conselheiros vinculados não Das reuniões ordinárias e extraordinárias
correspondam a números inteiros, arredon-
dar-se-á para o inteiro mais próximo, exceto As reuniões ordinárias do Conselho de Escoa terão
quando este for igual a 0 (zero), sendo ga- periodicidade bimestral, com calendário anual de
rantida pelo menos uma vaga para cada seg- reuniões já marcado antecipadamente no ato da posse.
mento, mantendo-se a proporcionalidade Os representantes dos alunos terão sempre direito a
estipulada entre os outros segmentos para voz e voto, salvo nos assuntos que, por força legal, sejam
o número de vagas restantes. Caso estes restritos aos que estiverem no gozo da capacidade civil.
arredondamentos alterem o total de Conse- Os Conselheiros suplentes poderão participar de
lheiros, proceder-se-ão acertos, retirando-se todas as reuniões sem direito a voto, salvo quando
conselheiros dos segmentos mais numero- estiverem substituindo Conselheiro efetivo.
sos e acrescendo-se aos menos numerosos, O Conselho de Escola poderá se reunir a qualquer
mantendo-se sempre, a necessária paridade. época, em caráter extraordinário, mediante convocação
por escrito:
Por fim, observa-se, acerca da composição do I - Do Diretor da Escola;
Conselho, que ela e as atas de suas reuniões ordinárias II - De 1/3 (um terço) dos Conselheiros efetivos, em
deverão ser remetidas à Secretaria Municipal de requerimento dirigido ao residente, especificando o
motivo da convocação;
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Educação, bem como serão afixadas em local visível para


que todos delas tomem ciência, até no máximo 5 (cinco) III - Do Conselho das Escolas Municipais.
dias úteis após sua eleição.
Ademais, a convocação por escrito, de que trata
Da Eleição do Conselho de Escola este artigo, deverá chegar individualmente a cada um
dos Conselheiros efetivos ou suplentes, no mínimo 72
Os Conselheiros devem ser eleitos entre seus pares, (setenta e duas) horas antes da reunião, que comprovará
anualmente, nos primeiros 30 (trinta) dias do ano letivo, o seu recebimento.
em eleição escrutínio secreto, com exceção do Diretor.

2
Por sua vez, a reunião extraordinária do Conselho Ademais, tem-se que o Conselho Municipal de
de Escola se fará sempre segundo a pauta para a qual Educação terá autonomia no cumprimento de suas
a mesma foi convocada e, que deverá constar da carta atribuições
convocatória. Não obstante, as referidas reuniões
extraordinárias só poderão ser convocadas para horário Ao Conselho Municipal de Educação compete:
idêntico ao estabelecido para as ordinárias. I - fixar diretrizes para a organização do sistema mu-
O Conselheiro efetivo que faltar a duas reuniões nicipal de ensino; 
sucessivas, sem justificativa por escrito, deverá ser II - colaborar com o Poder Público Municipal na for-
substituído por seu suplente, mediante exoneração e mulação da política e na elaboração do plano muni-
convocação por escrito do Diretor da unidade. cipal de educação;
Importante ressaltar que na ausência de um ou mais III - zelar pelo cumprimento das disposições constitu-
Conselheiros efetivos, assumirá, com direito a voto, cionais, legais e normativas em matéria de educação; 
igual número de suplentes. Não obstante, não serão IV - exercer atribuições próprias do Poder Público lo-
permitidos votos por procuração. cal, conferidos em lei, em matéria educacional; 
Por fim, considerar-se-á adotada a proposta que V - exercer por delegação, competências próprias do
obtiver a maioria simples dos Conselheiros, não Poder Público Estadual em matéria educacional; 
sendo possível a acumulação de votos, posto que são VI - assistir e orientar os poderes públicos na condu-
individuais, sendo que em caso de empate em alguma ção dos assuntos educacionais do município; 
votação, caberá ao Diretor da Unidade Escolar exercer o VII - opinar sobre convênios de ação interadminis-
voto de desempate. trativa que envolvam o Poder Público Municipal e as
demais esferas do Poder Público ou do setor privado; 
VIII - subsidiar o plano de aplicação de recursos públi-
cos, em Educação, no Município; 
EXERCÍCIO COMENTADO IX - propor medidas ao Poder Público Municipal para
efetiva assunção de suas responsabilidades em rela-
ção à educação infantil e ao ensino fundamental; 
1. Assinale a alternativa incorreta:
X - propor critérios para o funcionamento dos servi-
Tem-se que o número de Conselheiros será determinado
ços escolares de apoio à educação (merenda escolar,
pelo número de classes e turmas existentes na mesma
transporte escolar e outros); 
unidade escolar, de forma que:
XI - pronunciar-se no tocante à instalação e funciona-
mento de estabelecimento de ensino de todos os níveis
a) Até 10 classes ou turmas: 09 Conselheiros;
situados no Município: 
b) De 11 a 20 classes ou turmas: 19 Conselheiros; XII - opinar sobre assuntos educacionais, quando soli-
c) De 21 a 30 classes ou turmas: 29 Conselheiros; citado pelo Poder Público;
d) De 30 a 41 classes ou turmas: 39 Conselheiros; XIII - estudar, sugerir e deliberar juntamente com a
e) Mais de 30 classes ou turmas: 39 Conselheiros; Secretaria Municipal de Educação medidas que visam
a expansão qualitativa do Ensino Municipal; 
Resposta: Letra D. Após 30 classes ou turmas deverá XIV - opinar sobre a criação, ampliação e localização
ter como composição 39 Conselheiros. das escolas municipais; 
XV - elaborar e alterar o seu Regimento; 
XVI - decidir os recursos das Escolas de Educação In-
fantil do setor privado, no caso de indeferimento de
LEI Nº 8.869 DE 24/06/1996 (DISPÕE SOBRE autorização de funcionamento da unidade.
A CRIAÇÃO, A COMPOSIÇÃO, AS ATRIBUI-
ÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO CONSE- Composição
LHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO).
O Conselho Municipal de Educação será composto por
número ímpar de membros com a seguinte composição: 
LEI 8.869/96 – Dispõe acerca do Conselho Munici- - Secretário Municipal de Educação;
pal de Educação - 1 representante das Coordenadorias de Educação
das Secretarias de Ação Regional (SAR`s);
Tem-se que o Conselho Municipal de Educação - 1 representante da Fundação Municipal para Educa-
exercerá suas funções normativas, deliberativas e ção Comunitária FUMEC;
de assessoramento ao Sistema Municipal de Ensino, - 1 representante do Conselho Municipal dos Direitos
respeitando as diretrizes básicas de educação nacional da Criança e do Adolescente;
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

e estadual. - 1 representante da Faculdade de Educação da Uni-


As funções normativas e deliberativas de competência camp;
do Conselho Estadual de Educação, só poderão ser - 1 representante da Faculdade de Educação da Puc-
exercidas pelo Conselho Municipal de Educação, camp;
mediante prévia delegação de competência, a partir da - 1 representante das Delegacias Estaduais de Ensino;
expressa solicitação do Conselho Municipal de Educação, - 1 representante do Sindicato dos Estabelecimentos
respeitadas as diretrizes básicas de educação nacional e Particulares de Educação Infantil, Ensino Funda-
estadual. mental e Ensino Médio;

3
- 1 representante da Câmara Municipal; Em caso de impedimento, o Vice-Presidente
- 1 representante do Sindicato dos Professores (SIN- substituirá o Presidente.
PRO);
- 1 representante das Escolas oficiais que ministrem Importante destacar que para a elaboração de atos a
ensino técnico; serem submetidos ao Plenário, o Conselho Municipal de
- 1 representante do Conselho das Direções das Es- Educação tem as seguintes comissões permanentes: 
colas Municipais; I - Comissão de Educação Infantil;
- 1 representante da União Campineira dos Estudan- II - Comissão de Ensino Fundamental: Regular e Su-
tes Secundaristas; pletivo;
- 1 representante dos Sindicatos dos Trabalhadores III - Comissão de Legislação, Normas e Planejamento.
no Serviço Público Municipal;
- 1 representante dos Conselhos de Escola; Da estrutura física

A Presidência do Conselho será exercida pelo titular do Para atender as suas finalidades, o Conselho Municipal
órgão municipal responsável pela política educacional. O contará com dotação orçamentária própria e recursos
vice-presidente e o secretário serão eleitos pela maioria físicos da seguinte ordem:
simples dos conselheiros. a) Salas destinadas exclusivamente a o seu funciona-
O mandato de cada Conselheiro é de 2 (dois) anos, mento; 
podendo ser reconduzido por igual período pela b) Mobiliário e equipamento suficiente; 
entidade de origem ou órgão municipal. c) Serviço de limpeza e manutenção.
Cada uma das entidades representadas terá assento
no Conselho Municipal de Educação através de um Por fim, anualmente o Conselho Municipal de
Titular e um Suplente nomeados pelo Prefeito. Educação apresentará a sua proposta orçamentária, bem
como, a prestação de contas aos órgãos competentes
Dos órgãos do Conselho para aprovação.

São órgãos do Conselho referido acima:


I- Plenário
II- Presidência EXERCÍCIO COMENTADO
III- Comissões
IV- Órgãos Auxiliares, que são compostos por secreta- 1. São órgãos do Conselho Municipal de Educação, ex-
ria executiva e consultoria técnica ceto:

O Plenário é órgão deliberativo do Conselho a) Plenário


Municipal de Educação e reunir-se-á ordinária e b) Presidência
extraordinariamente, em sessões públicas, convocadas c) Comissões
pelo Presidente, deliberando com maioria simples dos d) Órgãos Auxiliares, que são compostos por secretaria
membros presentes. executiva e consultoria técnica
Acerca das reuniões, tem-se que serão mensais, e) Câmara julgadora
sendo que as reuniões extraordinárias ocorrerão sempre
que necessárias, convocadas pelo Presidente ou por Resposta: Letra E. Não há menção a Câmara Julga-
2/3 (dois terços) de seus membros, com antecedência dora na Lei analisada.
mínima de 48 (quarenta e oito horas), limitando-se sua
pauta ao assunto que justificou sua convocação.
Qualquer pessoa pode ser convidada por um dos RESOLUÇÃO Nº 14/2014, DA SECRETARIA
membros a comparecer ás reuniões do Conselho MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO – SME - (ES-
Municipal de Educação, a fim de prestar esclarecimentos TABELECE AS DIRETRIZES PARA A IMPLE-
sobre a matéria em discussão, e participar dos debates MENTAÇÃO DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO
sem direito a voto.
INTERNA DAS UNIDADES MUNICIPAIS
Ademais, as decisões do Conselho Municipal de
Educação serão homologadas pelo (a) Secretário (a) DE ENSINO FUNDAMENTAL E PARA A
Municipal de Educação e tomarão a forma de resolução. CONSTITUIÇÃO DA COMISSÃO PRÓPRIA
DE AVALIAÇÃO (DISPONÍVEL NO DIÁRIO
Competência do Presidente do Conselho Municipal OFICIAL DO MUNICÍPIO DE 24/10/2014)).
de Educação
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

I - Representar o Conselho;  Resolução SME nº 14/2014


II - Cumprir e fazer cumprir esta lei; 
III - Convocar e presidir as reuniões do Conselho Mu- A presente resolução estabelece as diretrizes para a
nicipal de Educação;  implementação da Avaliação Institucional da Educação
IV - Aprovar a pauta de reunião e a ordem do dia;  Infantil e para a constituição da Comissão Própria
V - Solicitar as providências e os recursos necessários de Avaliação (CPA) na Rede Municipal de Ensino de
ao bom funcionamento do Conselho; Campinas.

4
Sendo assim, são princípios dessa resolução: I - assumir a condução do processo de Avaliação Inter-
I - a participação de todos os sujeitos envolvidos com a na na Unidade Educacional;
unidade educacional visando o avanço no processo de II - sistematizar as informações obtidas, no processo
qualificação a partir das especificidades e disposições de Avaliação Interna, para facilitar a interlocução com
locais de cada unidade escolar; as ações desencadeadas pela Secretaria Municipal de
II - a qualidade negociada entre os atores internos Educação (SME);
e entre estes e os atores externos à unidade educa- III - desenvolver o processo de Avaliação Interna, a
cional, produzindo acordos para contemplar as ações partir dos princípios da participação, da qualidade ne-
prioritárias definidas no plano de avaliação do ano. gociada e do trabalho coletivo;
Esta disposto, dentro da resolução, disposições acerca IV - incentivar a participação de todos os sujeitos das
da avaliação institucional, sendo interna ou externa. Unidades Educacionais, nas diferentes etapas do pro-
Vejamos: cesso de Avaliação Interna;
A Avaliação Institucional Participativa das unidades V - corresponsabilizar a Comunidade Escolar na aná-
de Educação Infantil ocorrerá: lise dos dados coletados no processo de Avaliação In-
I. no âmbito interno da unidade educacional e deno- terna, valorizando a sua participação;
minar-se-á Avaliação Interna (Autoavaliação); VI - manter informada a Comunidade Escolar sobre o
II. no âmbito externo à unidade educacional e deno- processo de Avaliação Interna, seus encaminhamentos
minar-se-á Acompanhamento Externo, ficando sob a e resultados;
responsabilidade do NAED (Núcleo de Ação Educativa VII - identificar, no processo educativo, fragilidades
Descentralizado). e/ou potencialidades, estabelecendo estratégias para
superação das dificuldades observadas;
A Avaliação Interna é o processo pelo qual a VIII - elaborar e sistematizar o Plano de Acompanha-
unidade educacional constrói conhecimento sobre sua mento e de Avaliação, monitorando as ações.
própria realidade com a finalidade de planejar as ações IX - garantir, por meio de múltiplos registros, a partici-
destinadas ao aprimoramento institucional e à superação pação das crianças, sujeitos do processo de Avaliação
das dificuldades identificadas nas dimensões política, Institucional Participativa (AIP), conforme fundamen-
pedagógica e administrativa, como uma tarefa de toda a tos estabelecidos nas Diretrizes Curriculares da Educa-
comunidade escolar. ção Infantil na RMEC.
O processo de Avaliação Interna deverá ser
coordenado pela Comissão Própria de Avaliação (CPA)
Acerca das competências, tem-se que:
e terá um membro da equipe gestora como articulador
O Diretor Educacional deverá responsabilizar-se pela
deste processo.
otimização de tempos e espaços, para o desenvolvimento
Os Centros Integrados Municipais de Educação
do processo de Avaliação Interna da unidade educacional.
Infantil (CIMEI) constituirão uma CPA única, devendo-se
Compete ao Coordenador Pedagógico assessorar,
garantir a representatividade de todos os segmentos das
orientar, acompanhar e participar da implementação
unidades do bloco.
da Avaliação Institucional Participativa, nas Unidades
A CPA assume a tarefa de mobilizar e viabilizar
os mecanismos necessários para que a Avaliação Educacionais e nas diversas instâncias da SME.
Institucional Participativa se efetive. Compete ao Supervisor Educacional assessorar,
Os membros da CPA deverão assumir a orientar, acompanhar e participar da implementação
responsabilidade pelo desenvolvimento do processo da Avaliação Institucional Participativa nas Unidades
avaliativo interno. Educacionais em todas as instâncias da SME, no que tange
A CPA deverá ser constituída por, no mínimo: ao cumprimento da legalidade, gestão da informação e
I - um representante do segmento docente; indicadores das unidades educacionais.
II - um representante dos Agentes/Monitores de Edu- Compete ao Representante Regional coordenar a
cação Infantil, nas unidades educacionais que apre- equipe de Profissionais do NAED e as equipes gestoras
sentem este segmento; das escolas, assegurando o cumprimento da Política de
III - um representante dos funcionários; Avaliação Institucional Participativa em sua respectiva
IV - um representante das famílias; região.
V - um representante da equipe gestora. Compete ao titular do Departamento Pedagógico:
I - considerar os dados da Avaliação Institucional Par-
Aos docentes participantes da CPA poderão ser ticipativa, na elaboração do Plano de Trabalho Anual
atribuídas Horas Projeto na seguinte conformidade: I - junto às suas Coordenadorias e Assessorias.
ao representante do segmento, escolhido por seus pares, II - zelar pela gestão das informações produzidas pelo
até 09 (nove) horas projetos semanais; II - aos demais processo de Avaliação Institucional Participativa.
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

docentes participantes da CPA, até 04 (quatro) horas III - assegurar devolutivas, por meio de documento,
projetos semanais. elaboradas pelas instâncias sob sua responsabilidade,
Não obstante, ao representante dos Agentes de às demandas apontadas pelas CPAs.
Educação Infantil ou Monitor Infanto-juvenil I, escolhido IV - realizar reuniões de negociação entre CPAs e ges-
por seus pares, poderão ser atribuídas até 04 (quatro) tores centrais.
horas extras mensais. V - organizar e promover encontros de formação dos
A partir das prioridades estabelecidas coletivamente membros das CPAs.
e elencadas no Projeto Pedagógico, a CPA deverá:

5
Compete ao titular do Departamento de Apoio à Comentário: A alternativa correta é a letra A. A CPA
Escola: deve ser composta por no mínimo:
I - assegurar devolutivas escritas, elaboradas pelas I - um representante do segmento docente;
instâncias sob sua responsabilidade, às demandas II - um representante dos Agentes/Monitores de Edu-
apontadas pelas CPAs. cação Infantil, nas unidades educacionais que apre-
II - garantir apoio logístico para os encontros de Ne- sentem este segmento;
gociação e de Formação dos membros das CPAs. III - um representante dos funcionários;
III - inserir no planejamento anual ações que corres- IV - um representante das famílias;
pondam aos compromissos assumidos com as escolas. V - um representante da equipe gestora. (DICA: No
mínimo um de cada representação)
Compete ao titular da SME:
I - assegurar, no âmbito da Rede Municipal de Ensino
de Campinas (RMEC), a Avaliação Institucional Parti-
cipativa. LEI Nº 12.987/2007 (PLANO DE CARGOS E
II - fi rmar compromissos com as Comissões Próprias CARREIRAS DO MAGISTÉRIO MUNICIPAL).
de Avaliação, estabelecendo os termos e o tempo ne- LEI COMPLEMENTAR Nº 57/2014 (ALTERA
cessário para a sua resolução, através das reuniões de DISPOSITIVOS DA LEI Nº 12.987/2007)
negociação com as unidades educacionais garantin-
do, no mínimo, uma reunião anual
LEI Nº 12.987 DE 28 DE JUNHO DE 2007
A CPA (Comissão Própria de Avaliação) deverá ser
constituída por, no mínimo: A presente Lei dispõe sobre o plano de cargos,
a) I - um representante do segmento docente; carreiras e vencimentos do magistério público municipal
II - um representante dos Agentes/Monitores de Edu- de campinas e dá outras providências. Desta feita, se
cação Infantil, nas unidades educacionais que apre- faz de extrema importância a leitura da mesma na
sentem este segmento; íntegra, com acesso ao link: https://leismunicipais.com.
III - um representante dos funcionários; br/a/sp/c/campinas/lei-ordinaria/2007/1298/12987/
IV - um representante das famílias; lei-ordinaria-n-12987-2007-dispoe-sobre-o-plano-de-
V - um representante da equipe gestora. cargos-carreiras-e-vencimentos-do-magisterio-publico-
municipal-de-campinas-e-da-outras-providencias
b) I - dois representantes do segmento docente;
II - um representante dos Agentes/Monitores de Edu-
cação Infantil, nas unidades educacionais que apre- PORTARIA SME Nº114/2010 (REGIMENTO
sentem este segmento; ESCOLA COMUM DA REDE MUNICIPAL DE
III - um representante dos funcionários; ENSINO DE CAMPINAS)
IV - um representante das famílias;
V - um representante da equipe gestora.
PORTARIA SME Nº 114/2010
c) I - dois representantes do segmento docente;
II - dois representantes dos Agentes/Monitores de Edu- A presente norma homologou o Regimento Escolar
cação Infantil, nas unidades educacionais que apre- Comum das Unidades Educacionais da Rede Municipal
sentem este segmento; de Ensino de Campinas, a qual passou a vigorar em 1º de
III - um representante dos funcionários; Janeiro de 2011.
IV - um representante das famílias; Importante destacar que a referida Portaria contém
V - um representante da equipe gestora. conteúdo riquíssimo e autoexplicativo, dispondo acerca
da gestão escolar municipal; dos direitos, deveres e
d) I - dois representantes do segmento docente; atribuições a comunidade escolar; da valorização e
II - um representante dos Agentes/Monitores de Edu- da formação continuada da equipe educacional; da
cação Infantil, nas unidades educacionais que apre- educação básica, composta pelos ensinos infantil,
sentem este segmento; fundamental e educação especial; da organização da vida
III – dois representantes dos funcionários; da escola, incluindo-se os documentos básicos, como
IV - um representante das famílias; projeto pedagógico; e, por fim, a avaliação institucional.
V - um representante da equipe gestora. Sugere-se a leitura da íntegra no link:
http://www.campinas.sp.gov.br/uploads/
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

e) I - dois representantes do segmento docente; pdf/550774812.pdf


II - um representante dos Agentes/Monitores de Edu-
cação Infantil, nas unidades educacionais que apre-
sentem este segmento;
III - um representante dos funcionários;
IV - dois representantes das famílias;
V - um representante da equipe gestora.

6
CAPÍTULO II 
ESTATUTO DO SERVIDOR PÚBLICO DE Dos Deveres
CAMPINAS – LEI Nº 1.399/55 (ARTIGO 15 E
ARTIGOS 184 A 204). Art. 184 - São deveres dos funcionários: 
I - Assiduidade; 
II - Pontualidade; 
ESTATUTO DO SERVIDOR PÚBLICO DE CAMPINAS III - Discreção; 
– LEI Nº 1.399/55 IV - Urbanidade; 
V - Lealdade às instituições constitucionais e adminis-
Artigo 15 trativas a que servir; 
VI - Observância das normas legais e regulamentares; 
O artigo 15 dispõe regras acerca da divulgação do VII - Obediência às ordens superiores exceto quando
concurso público municipal. Vejamos: manifestadamente ilegais; 
A divulgação do concurso far-se-á, sem prejuízo de VIII - Levar ao conhecimento da autoridade superior
outros meios, através da publicação do respectivo edital irregularidade de que tiver ciência em razão do cargo; 
no Diário Oficial do Município por, no mínimo, dez dias IX - Zelar pela economia e conservação do material
úteis antes do início das inscrições, devendo o edital que lhe for confiado; 
conter, pelo menos: X - Providenciar para que esteja sempre em ordem no
I. A relação de cargos públicos a serem providos com assentamento individual, a sua declaração de família; 
sua respectiva remuneração; XI - Atender prontamente: 
II. O número de vagas existentes, bem como o total a) às requisições para defesa da Fazenda Pública; 
correspondente à reserva destinada a pessoas porta- b) à expedição das certidões requeridas para a defesa
doras de necessidades especiais; de direito.
III. As atribuições e tarefas essenciais dos cargos ou
empregos públicos; CAPÍTULO III 
IV. Para o caso de portadores de necessidades espe- Das Proibições
ciais: a. A previsão de adaptação das provas, do curso
Art. 185 - Ao funcionário é proibido: 
de formação, se houver, conforme a necessidade espe-
I - Referir-se de modo depreciativo em informação,
cial do candidato; b. A exigência de declaração, feita
parecer ou despacho às autoridades e atos da admi-
pelo candidato portador de necessidades especiais no
nistração pública, podendo, porém em trabalho assi-
ato da inscrição, de sua deficiência e de concordância
nado, criticá-los do ponto de vista doutrinário ou de
em se submeter, quando convocado, à perícia médica
organização do serviço; 
a ser realizada por profissional de saúde da Prefeitura
II - Retirar sem prévia autorização da autoridade com-
Municipal de Campinas e que terá decisão terminativa petente, qualquer documento ou objeto da repartição; 
sobre a qualificação do candidato como deficiente ou III - Promover manifestação de apreço ou de desapre-
não, e o grau de deficiência capacitante para o exer- ço, fazer circular ou subscrever lista de donativos no
cício do cargo. recinto da repartição; (ver O.S nº 298, de 07/07/1977)
V. A descrição: a. Dos requisitos gerais para a inscrição; (Ver O.S nº 560, de 08/09/1997) 
b. Dos documentos que os candidatos deverão apre- IV - Valer-se do cargo para lograr proveito pessoal; 
sentar no ato da inscrição; c. Dos critérios de desem- V - Coagir ou aliciar subordinados com objetivos de
pate; d. Do conteúdo das disciplinas que serão objetos natureza partidária; 
das provas; e. Da natureza e forma das provas, do va- VI - Participar da gerência ou da administração de
lor relativo e o critério para determinação das médias empresas industrial ou comercial, salvo quando estiver
das mesmas; f. Das notas mínimas exigidas para a de licença para tratar de interesses particulares ou em
aprovação. disponibilidade e durante o período de afastamento; 
VI. As fases do Concurso público; VII - Praticar a usura em qualquer das formas; 
VII. O cronograma com previsão do horário e local de VIII - Pleitear como Procurador, ou intermediário, jun-
aplicação das provas, e se for o caso, da apresentação to às Repartições Públicas Municipais, salvo quando se
dos títulos, a ser confirmado em ato posterior; tratar de percepção de vencimentos ou vantagens de
VIII. O prazo para a apresentação de recurso que de- parente até 2º grau; 
safie às suas notas, aos títulos, e os pareceres e laudos IX - Receber propinas, comissões, presentes e vanta-
de saúde; gens de qualquer espécie em razão das atribuições; 
IX. Valor e forma de pagamento de taxa de inscrição; X - Cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos
X. A validade do concurso casos previstos em Lei, o desempenho de cargo que lhe
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

competir ou a seus subordinados.


Artigos 184 a 204
CAPÍTULO IV
Vejamos o que dizem os artigos que serão cobrados Da Responsabilidade
no certame:
Art. 186 - Pelo exercício irregular de suas atribuições,
o funcionário responde civil, penal e administrativa-
mente. 

7
Art. 187 - A responsabilidade civil decorre de procedi- em multa de até 50 % (cinquenta por cento) por dia
mento doloso ou culposo, que importem em prejuízo do vencimento ou remuneração, obrigado, neste caso,
para a Fazenda Municipal ou de terceiros.  o funcionário a permanecer em serviço.
§ 1º A indenização de prejuízos causados poderá ser Art. 198 - A pena de demissão será aplicada nos casos
liquidada mediante o desconto em prestações men- de: 
sais, não excedente da 10a (décima) parte do venci- I - Crime contra a administração pública; 
mento ou remuneração, na falta de outros bens que II - Abandono do cargo; 
respondam pela indenização. (ver O.S nº 580, de III - Incontinência pública e escandalosa e embriaguez
30/03/1999-GP)  habitual; 
§ 2º Tratando-se de danos causados a terceiros, res- IV - Insubordinação grave em serviço; 
ponderá o funcionário perante a Fazenda Municipal, V - Ofensa física em serviço contra o funcionário ou
em ação regressiva proposta depois de transitar em particular, salvo em legítima defesa; 
julgado a decisão de última instância que houver con- VI - Aplicação irregular dos dinheiros públicos; 
denado a Fazenda a indenizar o terceiro prejudicado. VII - Lesão aos cofres públicos e delapidação do patri-
Art. 188 - A responsabilidade penal abrange os cri- mônio municipal; 
mes e contravenções imputados ao funcionário nessa VIII - Corrupção passiva nos termos da Lei Penal; 
IX - Transgressão de qualquer dos itens IV a X do ar-
qualidade.
tigo 185.
Art. 189 - A responsabilidade administrativa resulta
de atos ou omissões praticados no desempenho das
§ 1º Considera-se abandono de cargo a ausência em
atribuições funcionais. serviço, sem justa causa, por mais de 30 (trinta) dias
Art. 190 - As cominações civis, penais, disciplinares, consecutivos ou entradas atrasadas ou saídas anteci-
poderão acumular-se sendo umas e outras indepen- padas na forma prevista no item II do artigo 134, des-
dentes entre si, bem assim as instâncias civil, penal e de que em número superior a 90 (noventa), ocorridas
administrativa. consecutivamente. (nova redação de acordo com a Lei
nº 3.441, de 09/03/1966)
CAPÍTULO V 
Das Penalidades § 2º - Será ainda demitido o servidor que, durante o
ano, faltar ao serviço 60 (sessenta) dias interpolada-
Art. 191 - São penas disciplinares:  mente, sem causa justificada, ou apresentar, consecu-
I - Advertência;  tivamente ou não, entradas atrasadas ou saídas ante-
II - Repreensão;  cipadas em número superior a 30% (trinta por cento)
III - Multas;  do total de entradas ou saídas no ano, de acordo com
IV - Suspensão;  a jornada de trabalho, a saber: (nova redação de acor-
V - Demissão;  do com o art. 69 da Lei nº 8.219, de 23/12/1994) 
VI - Cassação de aposentadoria e disponibilidade. I - 8/40 horas ......................................... mais de 120 en-
Art. 192 - Na aplicação das penas disciplinares serão tradas/saídas 
consideradas a natureza e a gravidade da infração e II - inferior a 8 e superior a 4 horas .......... mais de 60
os danos que dela provierem para o serviço público. entradas/saídas 
Art. 193 - Será punido o funcionário que, sem justa III - plantões .......................................... mais de 15 entra-
causa, deixar de submeter-se à inspeção médica de- das/saídas”
terminada por autoridade competente. Art. 199 - O ato de demissão mencionará sempre a
Art. 194 - A pena de advertência será aplicada verbal- causa da penalidade.
mente em casos de natureza leve, de desobediência Art. 200 - Atenta a gravidade da falta a demissão po-
derá ser aplicada com a nota “A bem do serviço pú-
ou falta de cumprimento dos deveres, devendo constar
blico”.
somente do assentamento pessoal.
Art. 201 - Para a imposição da pena disciplinar, são
Art. 195 - No caso de abandono de cargo, o Chefe
competentes: 
da Repartição ou serviço onde tenha exercício o fun- I - O Prefeito Municipal nos casos de demissão, multa,
cionário promoverá a publicação do Edital de chama- cassação de aposentadoria e disponibilidade e sus-
mento, pelo prazo de 20 (vinte) dias.  pensão por mais de 30 (trinta) dias; 
Parágrafo Único - Findo o prazo fixado neste artigo e II - O Diretor do Departamento e Inspetor Fiscal, nos
não tendo sido feita prova de força maior, o Chefe de demais casos.
repartição ou Serviço proporá a expedição de Decreto Art. 202 - Será cassada a Aposentadoria e disponibili-
de demissão. dade se ficar provado que o inativo: 
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Art. 196 - A pena de repreensão será aplicada por es- I - Praticou falta grave no exercício do cargo; 
crito, aos casos de desobediência ou falta de cumpri- II - Aceitou ilegalmente cargo ou função pública; 
mento dos deveres. III - Aceitou representação de Estado estrangeiro sem
Art. 197 - A pena de suspensão, que não excederá de prévia autorização do Presidente da República; 
90 (noventa) dias, será aplicada em casos de falta gra- IV - Praticou usura em qualquer das suas formas. 
ve ou reincidência.  Parágrafo Único - Será igualmente cassada a dispo-
Parágrafo Único - Quando houver conveniência para nibilidade ao funcionário que não assumir no prazo
o serviço, a pena de suspensão poderá ser convertida legal o exercício do cargo em que for aprovado.

8
Art. 203 - Será aplicada a pena de disponibilidade ao IV - identificar a demanda de capacitação e aperfeiço-
funcionário em gozo de estabilidade, quando a con- amento à luz das metas e objetivos contidos no plane-
veniência do serviço público aconselhar o seu afasta- jamento institucional;
mento. V - identificar a relação entre desempenho e a quali-
Art. 204 - Prescreverá:  dade de vida do servidor público municipal;
I - Em 2 (dois) anos a falta sujeita a repreensão, multa VI - fornecer elementos para o aprimoramento das
ou suspensão;  condições de trabalho;
II - Em 4 (quatro) anos as faltas sujeitas:  VII - propiciar o auto desenvolvimento do servidor es-
a) A pena de demissão no caso do § 2º do artigo 198;  tagiário e assunção do papel social que desempenha
b) Cassação de aposentadoria e disponibilidade.  como servidor público.
Parágrafo Único - A falta também prevista na Lei Pe-
nal como crime, prescreverá juntamente com estes. A avaliação probatória será realizada semestralmente,
durante os primeiros 36 (trinta e seis) meses de efetivo
exercício do servidor estagiário, ressalvadas as hipóteses
de suspensão previstas neste decreto, observando-se os
EXERCÍCIO COMENTADO seguintes procedimentos:
I - a avaliação probatória será realizada pelo superior
1. A falta sujeita a repreensão, multa ou suspensão pres- imediato do servidor estagiário, com base no planeja-
creverá em: mento da unidade de trabalho e publicação do instru-
mento de avaliação;
a) 1 ano II - a avaliação probatória será submetida, posterior-
b) 2 anos mente, a julgamento da Comissão Permanente de
c) 3 anos Avaliação Probatória especialmente constituída para
d) 4 anos esta finalidade;
e) 5 anos III - ao servidor avaliado deve ser dada ciência das
conclusões de todas as suas avaliações, bem como do
Resposta: Letra B. De acordo com o artigo 204 su- julgamento da Comissão Permanente de Avaliação ao
pramencionado, a falta sujeita a repreensão, multa ou final do período probatório;
suspensão prescreverá em 2 (dois) anos. IV - o servidor poderá enviar, semestralmente, avalia-
ção própria com base no mesmo instrumento de ava-
liação;
V - a avaliação resultará em nota final, sendo que o
DECRETO Nº 15.514/06, QUE DISPÕE SOBRE
servidor estagiário deverá alcançar aproveitamento
O PROGRAMA DE AVALIAÇÃO PROBATÓ- médio de 70% (setenta por cento) do total de pontos
RIA DO SERVIDOR em análise;
VI - A Comissão Permanente de Avaliação de Estágio
Probatório poderá recomendar, a qualquer tempo, a
DECRETO Nº 15.514 DE 23 DE JUNHO DE 2006
exoneração do servidor que não apresente resultados
satisfatórios.
O Prefeito do Município de Campinas, no uso de suas
atribuições legais e considerando o disposto no art. 15
da Lei nº 1.399, de 08 de novembro de 1955 e no § 4º do A avaliação probatória será realizada através de
art. 41 da Constituição Federal, decretou o programa de instrumento de avaliação elaborado pela Secretaria
avaliação probatória do servidor. Municipal de Recursos Humanos, observando o disposto
A avaliação probatória é o instrumento legal no art. 15 da Lei nº 1.399/55, e terá como objetivos
pelo qual serão avaliadas a aptidão e a capacidade específicos:
demonstrada no trabalho pelo servidor nomeado para I - detectar a aptidão do servidor estagiário e a ne-
cargo de provimento efetivo em cumprimento de estágio cessidade de sua integração nas diversas atividades,
probatório. visando à qualidade do trabalho;
São objetivos do programa de avaliação probatória: II - identificar a capacidade e potencial de trabalho
I - avaliar a qualidade dos trabalhos desenvolvidos dos servidores estagiários de modo que estes sejam
pelo servidor estagiário, tendo em vista a satisfação melhor aproveitados no conjunto de atividades da
dos usuários dos serviços da Prefeitura Municipal de unidade;
Campinas, a busca da eficácia no cumprimento da III - identificar necessidades e aspirações de capacita-
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

função social e o objetivo permanente de realização ção e de aperfeiçoamento dos servidores estagiários;
dos direitos da cidadania; IV - estimular o desenvolvimento profissional dos ser-
II - subsidiar o planejamento institucional da Prefeitu- vidores estagiários;
ra Municipal, visando a aprimorar as metas, os objeti- V - identificar a necessidade de remoção dos servido-
vos e o desenvolvimento organizacional; res estagiários ou de recrutamento de novos servido-
III - fornecer elementos para avaliação da política de res;
pessoal e subsidiar os programas de melhoria do de- VI - identificar os problemas relativos às condições de
sempenho gerencial; trabalho da unidade;

9
VII - planejar e incentivar a melhoria da qualidade do III - recomendar a efetivação ou exoneração do ser-
trabalho e dos serviços desenvolvidos na unidade, ten- vidor cujo desempenho não atenda ao estabelecido
do em vista as necessidades dos usuários; neste decreto e no regulamento, baseando-se no pa-
VIII - fornecer subsídios para o planejamento estraté- recer do responsável pela avaliação probatória e pela
gico da Prefeitura Municipal de Campinas; avaliação do próprio servidor estagiário;
IX - gerar um sistema de informações integrado, capaz IV - dar ciência ao servidor da avaliação realizada;
de subsidiar a gestão e o desenvolvimento de pessoal; V - encaminhar à Secretaria Municipal de Recursos
X - verificar a pontualidade e assiduidade do servidor Humanos os documentos referentes à avaliação de
estagiário, considerando que este não poderá se au- desempenho para arquivamento e anotações no pron-
sentar por mais de 02 (dois) dias, consecutivos ou não, tuário de cada servidor avaliado;
em cada período de avaliação de estágio probatório, VI - encaminhar ao Departamento de Processos Dis-
excluídas as LTS e ausências legais. Ultrapassado o li- ciplinares e Investigatórios da Secretaria Municipal de
mite de 12 (doze) faltas, consecutivas ou não, o ser- Assuntos Jurídicos, para as medidas cabíveis, os casos
vidor será exonerado após a avaliação da Comissão de negligência, extravio e perda de prazo dos instru-
Permanente de Avaliação Probatória, observados o mentos de avaliação probatória;
direito a ampla defesa e ao contraditório. VII - será considerado cientificado das avaliações pro-
batórias o servidor estagiário que não atender as três
Não será permitido ao servidor em estágio probatório: convocações efetuadas pela Comissão Permanente de
I - a alteração de lotação a pedido; Avaliação Probatória.
II - a licença para estudo ou missão de qualquer na-
Com base nas avaliações probatórias, a Comissão
tureza;
Permanente de Avaliação Probatória elaborará parecer
III - a cessão funcional, com ou sem ônus, para o Mu-
no qual recomendará a aquisição ou não de estabilidade
nicípio. no cargo.
O servidor que não obtiver conceito favorável a sua
Será suspenso o cômputo do estágio probatório nos confirmação no estágio probatório, poderá apresentar
seguintes casos: defesa escrita no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
I - o exercício de funções estranhas ao cargo; data da ciência do parecer a que se refere o artigo 15.
II - as licenças e os afastamentos legais previstos em
lei municipal; I- A defesa será apreciada pela Comissão Permanente
III - casos de licença para estudo, missão de qualquer de Avaliação Probatória que emitirá parecer final.
natureza e cessão funcional. II- Será considerado cientificado do parecer final o ser-
vidor estagiário que não atender a três convocações
São atribuições dos responsáveis pela avaliação efetuadas pela Comissão Permanente de Avaliação
probatória: Probatória.
I - entregar, no prazo de 7 (sete) dias úteis, o instru- III- Acolhido o parecer final da Comissão Permanen-
mento de avaliação do servidor estagiário devidamen- te de Avaliação Probatória, o Secretário Municipal
te preenchido com todos os quesitos à Comissão Per- de Recursos Humanos recomendará a aprovação ou
manente de Avaliação Probatória, apontando, quando a exoneração do servidor e encaminhará ao Prefeito
for o caso, as possíveis causas do baixo desempenho e Municipal para decisão final.
apresentando soluções dentro das possibilidades ad- IV- O ato de exoneração do servidor submetido ao
ministrativas. estágio probatório, com base na decisão que concluir
II - emitir parecer relatando a prática de falta grave pela sua desaprovação, será fundamentado.
pelo servidor estagiário, a sua inaptidão na avaliação
de desempenho, além de outros fatos relevantes;
III - participar dos encontros realizados pela Comissão EXERCÍCIO COMENTADO
Permanente de Avaliação Probatória.
1. São objetivos do programa de avaliação probatória,
A Comissão Permanente de Avaliação Probatória,
exceto:
nomeada pelo Prefeito Municipal, com mandato de 04
(quatro) anos, será composta de três servidores efetivos a) avaliar a qualidade dos trabalhos desenvolvidos pelo
estáveis como titulares e três servidores efetivos estáveis servidor estagiário, tendo em vista a satisfação dos
como suplentes indicados pela Administração Municipal, usuários dos serviços da Prefeitura Municipal de Cam-
para os casos de impedimentos legais.
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

pinas, a busca da eficácia no cumprimento da função


São atribuições da Comissão Permanente de Avaliação social e o objetivo permanente de realização dos di-
Probatória: reitos da cidadania;
I - organizar e realizar encontros dos responsáveis b) subsidiar o planejamento institucional da Prefeitura
pela avaliação probatória para uniformizar parâme- Municipal, visando a aprimorar as metas, os objetivos
tros e mecanismos, bem como para dirimir dúvidas e o desenvolvimento organizacional;
acerca do procedimento da avaliação probatória; c) fornecer elementos para avaliação da política de pes-
II - analisar e julgar o resultado das avaliações enca- soal e subsidiar os programas de melhoria do desem-
minhadas pelo responsável pela avaliação probatória; penho gerencial;

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d) identificar a demanda de capacitação e aperfeiçoa- - Impessoalidade: o agente público deve tratar to-
mento à luz das metas e objetivos contidos no plane- dos iguais, sem atribuição de privilégios a qualquer
jamento institucional; pessoa.
e) identificar a relação entre desempenho e a qualidade - Moralidade: este princípio tem a junção do princí-
de vida do servidor público estadual; pio da Legalidade com o da Finalidade, resultando
em Moralidade. Ou seja, o princípio da moralidade
Resposta: Letra E. De acordo com a Lei analisada é traz a ideia de que o trabalhador da administração
objetivo do Programa de Avaliação Probatória iden- pública tem que ter bases éticas na administração.
tificar a relação entre desempenho e a qualidade de - Publicidade: todos os atos devem ser públicos, ex-
vida do servidor público MUNICIPAL. ceto os quais visão a necessidade de se ter sigilo.
- Eficiência: o administrador deve ter uma boa ges-
tão, ser um bom profissional e não utilizar da pro-
crastinação para desenvolver seu trabalho.
MANUAL DE ÉTICA DA PREFEITURA MUNI-
CIPAL DE CAMPINAS – PÁGINAS 4 A 27
#FicaDica
Para melhor fixação dos 5 princípios explí-
Manual de Ética citos, lembrem: LIMPE (é a inicial de cada
princípio).
Missão do Servidor Público

O Servidor Público, durante ou após o período


probatório, tem as seguintes missões: FIQUE ATENTO!
I- Promover o bem comum; Além desses princípios explícitos, ainda pos-
II- Representar a comunidade perante outras comu- sui o grupo dos princípios implícitos, que
nidades; são: Princípio do Interesse Público, Princípio
III- Mediar às relações entre os cidadãos e o governo; da Finalidade, Princípio da Igualdade, Princí-
IV- Mediar às relações entre os próprios cidadãos. pio da Lealdade e boa-fé, Princípio da Mo-
tivação.
Princípios da Administração Pública

A Constituição Federal prevê, no artigo 37, caput, os Apesar da referida regra, deve-se ainda tomar cuidado,
princípios expressos ou explícitos que a administração tendo em vista que há outros princípios constitucionais
pública deverá observar, sendo eles: LEGALIDADE, que a administração pública deve obedecer, que não
IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE E estão no artigo 37, caput, quais são:
EFICIÊNCIA. 1) participação (art. 37, § 3º, da CF);
2) celeridade processual (art. 5º, LXXVIII, da CF);
Conceitualmente, a administração pública é o 3) devido processo legal formal e material (art. 5º,
conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado que LIV, da CF);
objetivam satisfazer as necessidades da sociedade, como 4) contraditório (art. 5º, LV, da CF);
por exemplo: na área da educação, cultura, segurança, 5) ampla defesa (art. 5º, LV, da CF).
saúde, dentre outros. Ou seja, a administração pública é
a gestão dos interesses públicos por meio da prestação Sugere-se o acesso ao link: http://www.campinas.
de serviços públicos, sendo dividida em administração sp.gov.br/arquivos/manual_etica.pdf
pública direta e indireta.
Como dito, o objetivo principal da administração
pública é trabalhar a favor do interesse público, como
também, dos direitos e interesses dos cidadãos. EXERCÍCIO COMENTADO
Todo trabalhador que atua na administração pública
é, comumente, conhecido como gestor público. O gestor 1. São princípios expressos da Administração pública,
público possui uma grande carga de responsabilidade, exceto:
devendo sempre seguir com transparência e ética,
principalmente, aos princípios da administração pública a) Legalidade
que são: b) Impessoalidade
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

- Legalidade: este princípio é base do Estado de Di- c) Moralidade


reito sendo um dos mais importantes para a Admi- d) Eficiência
nistração Pública. Em sentido ao Art. 5º da CF, que e) Interesse Público
diz que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, ou Resposta: Letra E. O Interesse Público é um princípio
seja, todo administrador público deve realizar seus implícito, posto que não esta disposto no artigo 37 da
atos sob a égide da lei. Constituição Federal.

11
c) motivação.
d) supremacia do interesse privado sobre o público.
HORA DE PRATICAR! e) impessoalidade.

1. (Gestor Público Consórcio Intermunicipal Grande 5.( Prova: IADES – 2013 – EBSERH – Advogado EB-
ABC – 2015 – IMES) A administração pública direta e SERH – 2013 – Iades) Dentre outros, são princípios
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, constitucionais da Administração Pública, a
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin-
cípios de: a) legalidade, a independência e a impessoalidade.
b) eficiência, a legalidade e a moralidade.
I – legalidade. c) moralidade, a soberania e a efciência.
II – tempestividade. d) publicidade, o pluralismo político e a legalidade.
III – eficiência. e) impessoalidade, a não intervenção e a publicidade
IV – impessoalidade.
V – publicidade.
VI – moralidade.
VII – oportunidade. GABARITO

Com base nas informações acima, indique a alternativa


1 D
correta.
2 D
a) Apenas as afirmativas IV e VII estão incorretas. 3 D
b) Apenas as afirmativas I, II, III, V, VI e VII estão corretas.
c) Todas as afirmativas estão corretas. 4 E
d) Apenas as afirmativas II e VII estão incorretas. 5 B

2. (Delegado de Polícia/PI – 2014 – UESPI) Terêncio,


delegado de polícia, atendia com presteza e gentileza
apenas algumas pessoas na cidade na qual exercia seu
mister. Terêncio feria o seguinte princípio da administra-
ção pública:

a) autotutela.
b) razoabilidade.
c) publicidade.
d) moralidade.
e) eficiência.

3. (Escrivão de Polícia Civil/PI – 2014 – UESPI) A vei-


culação do ato praticado pela administração pública no
Diário Oficial do Estado, com o objetivo de divulgar fatos
e ações ocorridos ou praticados no âmbito da Adminis-
tração Pública, atende o seguinte princípio da adminis-
tração pública:

a) eficiência.
b) moralidade.
c) supremacia do interesse público.
d) publicidade.
e) impessoalidade.

4. Analista Judiciário – TRT 16ª REGIÃO/MA – 2014


– FCC) O Diretor Jurídico de uma autarquia estadual no-
meou sua companheira, Cláudia, para o exercício de car-
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

go em comissão na mesma entidade. O Presidente da


autarquia, ao descobrir o episódio, determinou a imedia-
ta demissão de Cláudia, sob pena de caracterizar grave
violação a um dos princípios básicos da Administração
Pública. Trata-se do princípio da

a) presunção de legitimidade.
b) publicidade.

12
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Concepções: de educação, de Educação Infantil, de infância e de criança........................................................................................................ 01
Leitura e escrita na Educação Infantil................................................................................................................................................................................ 15
Plano de Ação Pedagógica Docente para a Educação Infantil................................................................................................................................ 30
Corporeidade: o corpo criança criador de culturas e conhecimentos.................................................................................................................. 32
Os processos de criação no brincar - a constituição do brinquedo..................................................................................................................... 32
A exploração e a construção estética das crianças...................................................................................................................................................... 55
Os processos de relação com obras de arte e das criações e autoria das crianças, junto às várias formas de expressão
artística existentes: artes visuais, plásticas, literatura, música, dança, teatro, cinema.................................................................................... 63
A prática docente: profissional, estética, ética, social, humana e dialógica com o outro............................................................................. 65
História da Educação Infantil no Brasil............................................................................................................................................................................. 77
Composição de tempos e espaços na Educação Infantil.......................................................................................................................................... 81
O conhecimento matemático na educação de crianças e suas relações junto às experiências cotidianas........................................... 83
Ciências naturais e suas relações com o ambiente, o corpo e o desenvolvimento humano na Educação Infantil........................... 104
A Pesquisa e a exploração de novas descobertas na Educação Infantil.............................................................................................................. 130
Avaliação e registro do processo educacional na Educação Infantil.................................................................................................................... 134
Formação continuada de professores e suas relações com o professor pesquisador.................................................................................. 136
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.......................................................................................................................................... 140
Diretrizes Curriculares da Educação Básica para a Educação Infantil – Município de Campinas.............................................................. 161
pectiva pedagógica assim denominada: Pedagogia da In-
CONCEPÇÕES: DE EDUCAÇÃO, DE fância emerge de uma acumulação científica da área da
EDUCAÇÃO INFANTIL, DE INFÂNCIA E DE educação que passa a criticar a reprodução de modelos
CRIANÇA. educativos reducionistas e conservadores de educação/
ensino, produção/transmissão de conhecimentos, vida
coletiva/sala de aula e crianças/alunos. Rocha (1999) e
Faria (2009) indicaram, a princípio, a Pedagogia da Infân-
PEDAGOGIA DA INFÂNCIA cia como uma perspectiva de educação pública para a
Educação Infantil, porém, a seguir, estenderam-na para
Constitui-se de um conjunto de fundamentos e indi- todos aqueles que estão entre 0 e 10 anos de vida.
cações de ação pedagógica que tem como referência as
crianças e as múltiplas concepções de infância em diferentes Fonte: BARBOSA, M.C.S. Pedagogia da infância. In:
espaços educacionais. Essa perspectiva pedagógica consoli- OLIVEIRA, D.A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F. Belo Hori-
da-se, na contemporaneidade, a partir de uma crítica histó- zonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010.
rica, política, sociológica e antropológica aos conceitos de
criança e infância. Dessa forma, difere-se das pedagogias CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E DE PEDAGOGIA DA
centradas na criança que tiveram sua emergência nos mo- EDUCAÇÃO INFANTIL
vimentos da Escola Nova do final do século XIX e início do
século XX, na Europa e nos Estados Unidos, e que, no Brasil, De acordo com os Parâmetros Curriculares, a criança
estão representadas pelos Pioneiros da Educação como Aní- é um sujeito social e histórico que está inserido em uma socie-
sio Teixeira e Lourenço Filho. dade na qual partilha de uma determinada cultura. É profunda-
Se as pedagogias ativas, centradas na criança, estabe- mente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas
leciam à crítica a pedagogia tradicional a partir dos co- também contribui com ele. A criança, assim, não é uma abs-
nhecimentos sobre a criança produzidos pelas investiga- tração, mas um ser produtor e produto da história e da cultura.
ções do campo da biologia e da psicologia evolutiva, uma Olhar a criança como ser que já nasce pronto, ou que
Pedagogia da Infância compreende que toda e qualquer nasce vazio e carente dos elementos entendidos como ne-
ação educativa exige considerar as crianças e os contextos cessários à vida adulta ou, ainda, a criança como sujeito co-
socioculturais que definem sua infância. Toma as crianças nhecedor, cujo desenvolvimento se dá por sua própria ini-
ciativa e capacidade de ação, foram, durante muito tempo,
como seres humanos dotados de ação social, portadores
concepções amplamente aceitas na Educação Infantil até o
de história, capazes de múltiplas relações, produtores de
surgimento das bases epistemológicas que fundamentam,
formas culturais próprias construídas com seus pares, ape-
atualmente, uma pedagogia para a infância. Os novos pa-
sar de profundamente afetados pelas culturas e socieda-
radigmas englobam e transcendem a história, a antropolo-
des das quais fazem parte. Afirma a infância como uma
gia, a sociologia e a própria psicologia resultando em uma
categoria geracional, social e histórica e geograficamente
perspectiva que define a criança como ser competente para
construída, heterogênea, atravessada pelas variáveis de
interagir e produzir cultura no meio em que se encontra.
gênero, classe, religião e etnia. A Pedagogia da Infância Essa perspectiva é hoje um consenso entre estudio-
admite como pressuposto básico a criança como um su- sos da Educação Infantil. A interação a que se referem os
jeito de direitos (a provisão, a proteção e a participação autores citados não é uma interação genérica. Trata-se
social), com base na Convenção dos Direitos das Crianças de interação social, um processo que se dá a partir e por
(1989). Nessa perspectiva de afirmação das crianças como meio de indivíduos com modos histórica e culturalmen-
sujeitos de direitos, exige a definição de indicativos pe- te determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviável
dagógicos que possibilitem às crianças a experiência da dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas inte-
infância de forma a tomar parte em projetos educacionais rações e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvi-
fundados na democracia, na diversidade, na participação mento decorrente. Nessa perspectiva, a interação social
social, a partir de práticas educativas que privilegiem as re- torna-se o espaço de constituição e desenvolvimento da
lações sociais entre todos os segmentos envolvidos (crian- consciência do ser humano desde que nasce.
ças, familiares e educadores). Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda
Tomando como pressuposto que toda apropriação não é adulto, ou é um adulto em miniatura, a criança é
cultural e qualquer aprendizagem é resultado de uma re- um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em
lação social e partilhada de significados coletivos, indica crescimento e em desenvolvimento. É um ser humano
propostas pedagógicas onde as interações, as brincadei- completo porque tem características necessárias para ser
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ras, a ludicidade e as linguagens estejam vinculadas aos considerado como tal: constituição física, formas de agir,
conhecimentos das artes, da cultura, da ciência e da tec- pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu cor-
nologia. No Brasil, a elaboração teórica acerca da Peda- po está continuamente aumentando em peso e altura. É
gogia da Infância teve seu início logo após a aprovação um ser em desenvolvimento porque essas características
da Educação Infantil como primeira etapa da Educação estão em permanente transformação. As mudanças que
Básica - Constituição Nacional (1988) e Lei de Diretrizes vão acontecendo são qualitativas e quantitativas— o re-
e Bases da Educação Nacional (1996). As discussões so- cém-nascido é diferente do bebê que engatinha, que é
bre as especificidades de uma Pedagogia da Educação diferente daquele que já anda, já fala, já tirou as fraldas.
Infantil sedimentaram os princípios daquilo que será, O crescimento e o desenvolvimento da criança peque-
posteriormente, instituído como Pedagogia da Infância na ocorrem tanto no plano físico quanto no psicológico,
(Faria, 1999; Rocha,1999). A consolidação de uma pers- pois um depende do outro.

1
Embora dependente do adulto para sobreviver, a das crianças pequenas e o interesse de umas pelas ou-
criança é um ser capaz de interagir num meio natural, tras, o que faz com que aprendam a perceber-se e a levar
social e cultural desde bebê. A partir de seu nascimen- em conta os pontos de vista dos outros, permitindo a
to, o bebê reage ao entorno, ao mesmo tempo em que circulação das ideias, a complementação ou a resistência
provoca reações naqueles que se encontram por perto, às iniciativas dos parceiros. A oposição entre parceiros,
marcando a história daquela família. Os elementos de por exemplo, incita a própria argumentação, a objetiva-
seu entorno que compõem o meio natural (o clima, por ção do pensamento e o recuo reflexivo das crianças.
exemplo), social (os pais, por exemplo) e cultural (os va- Ao se levar em conta esses aspectos, não se pode
lores, por exemplo) irão configurar formas de conduta e perder de vista a especificidade da pedagogia da Educa-
modificações recíprocas dos envolvidos. ção Infantil, como afirma Rocha:
No que diz respeito às interações sociais, ressalta-se Enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como
que a diversidade de parceiros e experiências potenciali- objeto fundamental o ensino nas diferentes áreas atra-
za o desenvolvimento infantil. vés da aula; a creche e a pré-escola têm como objeto
Crianças expostas a uma gama ampliada de possibi- as relações educativas travadas num espaço de convívio
lidades interativas têm seu universo pessoal de signifi- coletivo que tem como sujeito a criança de 0 até 6 anos
cados ampliado, desde que se encontrem em contextos de idade.
coletivos de qualidade. Essa afirmativa é considerada vá- É importante destacar que essas relações educativas,
lida para todas as crianças, independentemente de sua às quais a autora se refere, na instituição de Educação
origem social, pertinência étnico-racial, credo político ou Infantil são perpassadas pela função indissociável do cui-
religioso, desde que nascem. dar/educar, tendo em vista os direitos e as necessidades
Por sua vez, a visão da criança como ser que é tam- próprios das crianças no que se refere à alimentação, à
bém parte da natureza e do cosmo merece igualmente saúde, à higiene, à proteção e ao acesso ao conhecimen-
destaque, especialmente se considerarmos as ameaças to sistematizado. Este último aspecto torna-se especial-
de esgotamento de recursos em nosso planeta e as alte- mente relevante no caso das creches no Brasil, onde em
rações climáticas evidentes nos últimos anos. Conforme muitas delas ainda predomina um modelo de atendi-
alerta Tiriba (2005), os seres humanos partilham a vida mento voltado principalmente à alimentação, à higiene
na Terra com inúmeras espécies animais, vegetais e mi- e ao controle das crianças, como demonstra a maioria
nerais, sem as quais a vida no planeta não pode existir.
dos diagnósticos e dos estudos de caso realizados em
Essas espécies, por sua vez, interagem permanentemen-
creches brasileiras.
te, estabelecendo-se um equilíbrio frágil e instável entre
Essa afirmação evidencia a não-superação do caráter
todos os seres que habitam o ar, a água dos rios, dos
compensatório da Educação Infantil denunciado por Kra-
lagos e dos mares, os campos, as florestas e as cidades,
mer que ainda se manifesta nos dias atuais, como tam-
em nosso sistema solar e em todo o universo.
bém a polarização assistência versus educação, aponta-
A intenção de aliar uma concepção de criança à qua-
da insistentemente por Kuhlmann Jr. Sabemos que não
lidade dos serviços educacionais a ela oferecidos implica
basta apenas transferir as creches para os sistemas de
atribuir um papel específico à pedagogia desenvolvida
nas instituições pelos profissionais de Educação Infan- ensino, pois “na sua história, as instituições pré-escola-
til. Captar necessidades que bebês evidenciam antes res destinaram uma educação de baixa qualidade para as
que consigam falar, observar suas reações e iniciativas, crianças pobres, e isso é que precisa ser superado”.
interpretar desejos e motivações são habilidades que Assim, a ênfase na apropriação de significados pelas
profissionais de Educação Infantil precisam desenvolver, crianças, na ampliação progressiva de conhecimentos
ao lado do estudo das diferentes áreas de conhecimento de modo contextualizado, com estratégias apropriadas
que incidem sobre essa faixa etária, a fim de subsidiar de às diferentes fases do desenvolvimento infantil, parece
modo consistente as decisões sobre as atividades desen- bastante justificada.
volvidas, o formato de organização do espaço, do tempo, Da mesma forma que defendemos uma perspectiva
dos materiais e dos agrupamentos de crianças. educacional que res- peite a diversidade cultural e pro-
Pesquisas realizadas desde a década de 1970 enfati- mova o enriquecimento permanente do uni- verso de
zam que todas as crianças podem aprender, mas não sob conhecimentos, atentamos para a necessidade de ado-
qualquer condição. Antes mesmo de se expressarem por ção de estratégias educacionais que permitam às crian-
meio da linguagem verbal, bebês e crianças são capazes ças, desde bebês, usufruírem da natureza, observarem e
de interagir a partir de outras linguagens (corporal, ges- sentirem o vento, brincarem com água e areia, atividades
que se tornam especialmente relevantes se considerar-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tual, musical, plástica, faz-de-conta, entre outras) des-


de que acompanhadas por parceiros mais experientes. mos que as crianças ficam em espaços internos às cons-
Apoiar a organização em pequenos grupos, estimulan- truções na maior parte do tempo em que se encontram
do as trocas entre os parceiros; incentivar a brincadeira; nas instituições de Educação Infantil. Criando condições
dar- lhes tempo para desenvolver temas de trabalho a para que as crianças desfrutem da vida ao ar livre, apren-
partir de propostas prévias; oferecer diferentes tipos de dam a conhecer o mundo da natureza em que vivemos,
materiais em função dos objetivos que se tem em men- compreendam as repercussões das ações humanas nesse
te; organizar o tempo e o espaço de modo flexível são mundo e sejam incentivadas em atitudes de preservação
algumas formas de intervenção que contribuem para o e respeito à biodiversidade, estaremos difundindo uma
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. As ini- concepção de educação em que o ser humano é parte da
ciativas dos adultos favorecem a intenção comunicativa natureza e não seu dono e senhor absoluto.

2
Os aspectos anteriormente abordados devem ser - à diferença e à semelhança;
considerados no processo de discussão e elaboração - à igualdade de oportunidades;
de diretrizes pedagógicas dos sistemas de ensino e das - ao conhecimento e à educação;
propostas pedagógicas das instituições de Educação - a profissionais com formação específica;
Infantil. Vale ressaltar a relevância da participação dos - a espaços, tempos e materiais específicos
professores, dos demais profissionais da instituição e da
comunidade nesse processo, não só para que os aspec- Fonte: Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Edu-
tos citados sejam efetiva- mente considerados no desen- cação Infantil V. 1
volvimento da proposta como também para cumprir a
legislação. CRITÉRIOS PARA UM ATENDIMENTO EM CRECHES
Em síntese, para propor parâmetros de qualidade QUE RESPEITE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS
para a Educação Infantil, é imprescindível levar em conta CRIANÇAS
que as crianças desde que nascem são:
- cidadãos de direitos;
Apresentação
- indivíduos únicos, singulares;
Este documento compõe-se de duas partes. A primeira
- seres sociais e históricos;
contém critérios relativos à organização e ao funcionamen-
- seres competentes, produtores de cultura;
to interno das creches, que dizem respeito principalmente
- indivíduos humanos, parte da natureza animal, ve- as práticas concretas adotadas no trabalho direto com as
getal e mineral. crianças. A segunda explicita critérios relativos à definição
de diretrizes e normas políticas, programas e sistemas de
Por sua vez, as crianças encontram-se em uma fase de financiamento de creches, tanto governamentais como não
vida em que de- pendem intensamente do adulto para governamentais.
sua sobrevivência. Não inclui, assim, o detalhamento e as especificações
Precisam, portanto, ser cuidadas e educadas, o que técnicas necessárias para a implantação dos programas.
implica, Os critérios foram redigidos no sentido positivo, afirmando
- ser auxiliadas nas atividades que não puderem rea- compromissos dos políticos, administradores e dos edu-
lizar sozinhas; cadores de cada creche com um atendimento de qualida-
- ser atendidas em suas necessidades básicas físicas de, voltado para as necessidades fundamentais da criança.
e psicológicas; Dessa forma, podem ser adotados ao mesmo tempo como
- ter atenção especial por parte do adulto em mo- um roteiro para implantação e avaliação e um termo de
mentos peculiares de sua vida. responsabilidade. O texto utiliza uma linguagem direta, vi-
sando todos aqueles que lutam por um atendimento que
garanta o bem-estar e o desenvolvimento das crianças.
Além disso, para que sua sobrevivência esteja garan-
O documento focaliza o atendimento em creche, para
tida e seu crescimento e desenvolvimento sejam favo-
crianças entre 0 a 6 anos de idade. Na maior parte das cre-
recidos, para que o cuidar/educar sejam efetivados, é
ches, as crianças permanecem em tempo integral, voltan-
necessário que sejam oferecidas às crianças dessa faixa do para suas casas diariamente. A creche, assim, caracte-
etária condições de usufruírem plenamente suas possibi- riza-se, quase sempre, pela presença de crianças menores
lidades de apropriação e de produção de significados no de 4 anos e pelas longas horas que ali permanecem dia-
mundo da natureza e da cultura. As crianças precisam ser riamente. Embora muitos dos itens incluídos apliquem-se
apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas também a outras modalidades de atendimento, como a
a: pré-escola, a qualidade da educação e do cuidado em cre-
- brincar; ches constitui o objeto principal do documento. Atingir,
- movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre; concreta e objetivamente, um patamar mínimo de qua-
- expressar sentimentos e pensamentos; lidade que respeite a dignidade e os direitos básicos das
- desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capaci- crianças, nas instituições onde muitas delas vivem a maior
dade de expressão; parte de sua infância, nos parece, nesse momento, o obje-
- ampliar permanentemente conhecimentos a respei- tivo mais urgente.
to do mundo da natureza e da cultura apoiadas por es- Os pressupostos do documento baseiam-se em três
tratégias pedagógicas apropriadas; áreas de conhecimento e ação: dados sistematizados e
- diversificar atividades, escolhas e companheiros de não sistematizados sobre a realidade vivida no cotidiano
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da maioria das creches brasileiras que atendem a crian-


interação em creches, pré-escolas e centros de Educação
ça pequena pobre; o estado do conhecimento sobre o
Infantil.
desenvolvimento infantil em contextos alternativos à
família, no Brasil e em países mais desenvolvidos, que
A criança, parte de uma sociedade, vivendo em nosso vem trazendo contribuições importantes para o enten-
país, tem direito: dimento do significado das interações e das vivências da
- à dignidade e ao respeito; criança pequena e o papel que desempenham em seu
- autonomia e participação; desenvolvimento psicológico, físico, social e cultural; dis-
- à felicidade, ao prazer e à alegria; cussões nacionais e internacionais sobre os direitos das
- à individualidade, ao tempo livre e ao convívio so- crianças e a qualidade dos serviços voltados para a po-
cial; pulação infantil.

3
Sua primeira versão foi preparada no contexto de um • As meninas também participam de jogos que de-
projeto de assessoria e formação de profissionais de cre- senvolvem os movimentos amplos: correr, jogar,
che de Belo Horizonte, financiado por Vitae*. Posterior- pular
mente foi discutido no 1° Simpósio Nacional de Educa- • Demonstramos o valor que damos às brincadeiras
ção Infantil, em Brasília. A partir do final de 1994, contou infantis participando delas sempre que as crianças
com o apoio do Ministério de Educação e do Desporto, pedem
que organizou um encontro de especialistas, em São • Os adultos também acatam as brincadeiras propos-
Paulo, para discutir a segunda versão do documento. tas pelas crianças
Outros grupos e pessoas também colaboraram com crí-
ticas e sugestões durante todo o período de elaboração Nossas crianças têm direito à atenção individual
do texto.
• Chamamos sempre as crianças por seu nome
ESTA CRECHE RESPEITA A CRIANÇA: Critérios para • Observamos as crianças com atenção para conhe-
a unidade creche cermos melhor cada uma delas
• O diálogo aberto e contínuo com os pais nos ajuda
• Nossas crianças têm direito à brincadeira a responder às necessidades individuais da criança
• Nossas crianças têm direito à atenção individual • A criança é ouvida
• Nossas crianças têm direito a um ambiente acon- • Sempre procuramos saber o motivo da tristeza ou
chegante, seguro e estimulante do choro das crianças
• Nossas crianças têm direito ao contato com a na- • Saudamos e nos despedimos individualmente das
tureza crianças na chegada e saída da creche
• Nossas crianças têm direito a higiene e à saúde • Conversamos e somos carinhosos com as crianças
• Nossas crianças têm direito a uma alimentação sadia no momento da troca de fraldas e do banho
• Nossas crianças têm direito a desenvolver sua curio- • Comemoramos os aniversários de nossas crianças
• Crianças muito quietas, retraídas, com o olhar para-
sidade, imaginação e capacidade de expressão
do, motivam nossa atenção especial
• Nossas crianças têm direito ao movimento em es-
• Aprendemos a lidar com crianças mais agitadas e
paços amplos
ativas sem discriminá-las ou puni-las
• Nossas crianças têm direito à proteção, ao afeto e
• Aprendemos a lidar com preferências individuais
à amizade
das crianças por alimentos
• Nossas crianças têm direito a expressar seus senti-
• Ficamos atentos à adequação de roupas e calçados
mentos
das crianças nas diversas situações
• Nossas crianças têm direito a uma especial atenção
• Damos suporte às crianças que têm dificuldades
durante seu período de adaptação à creche para se integrar nas brincadeiras dos grupos
• Nossas crianças têm direito a desenvolver sua iden- • Procuramos respeitar as variações de humor das
tidade cultural, racial e religiosa crianças
• Procuramos respeitar o ritmo fisiológico da criança:
Nossas crianças têm direito à brincadeira no sono, nas evacuações, nas sensações de frio e
calor
• Os brinquedos estão disponíveis às crianças em to- • Crianças com dificuldades especiais recebem apoio
dos os momentos para participar das atividades e brincar com os co-
• Os brinquedos são guardados em locais de livre legas
acesso às crianças • Nossas crianças têm direito a momentos de privaci-
• Os brinquedos são guardados com carinho, de for- dade e quietude
ma organizada • Evitamos usar e que as crianças usem apelidos que
• As rotinas da creche são flexíveis e reservam perío- discriminem outras crianças
dos longos para as brincadeiras livres das crianças • Procuramos analisar porque uma criança não está
• As famílias recebem orientação sobre a importância bem e encaminhá-la à orientação especializada
das brincadeiras para o desenvolvimento infantil quando necessário  
• Ajudamos as crianças a aprender a guardar os brin-
quedos nos lugares apropriados Nossas crianças têm direito a um ambiente acon-
• As salas onde as crianças ficam estão arrumadas de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

chegante, seguro e estimulante


forma a facilitar brincadeiras espontâneas e inte-
rativas • Arrumamos com capricho e criatividade os lugares
• Ajudamos as crianças a aprender a usar brinquedos onde as crianças passam o dia
novos •Nossas salas são claras, limpas e ventiladas
• Os adultos também propõem brincadeiras às crian- • Não deixamos objetos e móveis quebrados nos es-
ças paços onde as crianças ficam
• Os espaços externos permitem as brincadeiras das • Mantemos fora do alcance das crianças produtos
crianças potencialmente perigosos
• As crianças maiores podem organizar os seus jogos • As crianças têm lugares agradáveis para se recostar
de bola, inclusive futebol e desenvolver atividades calmas

4
• As crianças têm direito a lugares adequados para • Acompanhamos com as famílias o calendário de va-
seu descanso e sono cinação das crianças
• Nossa creche demonstra seu respeito às crianças • Acompanhamos o crescimento e o desenvolvimen-
pela forma como está arrumada e conservada to físico das crianças
• Nossa creche sempre tem trabalhos realizados pelas • Mantemos comunicação com a família quando uma
crianças em exposição criança fica doente e não pode frequentar a creche
• Quando fazemos reformas na creche nossa primeira • Procuramos orientação nos serviços básicos de saú-
preocupação é melhorar os espaços usados pelas de para a prevenção de doenças contagiosas exis-
crianças tentes no bairro
• Quando fazemos reformas tentamos adequar à al- • Procuramos orientação especializada para o caso
tura das janelas, os equipamentos e os espaços de de crianças com dificuldades físicas, psicoativas ou
circulação às necessidades de visão e locomoção problemas de desenvolvimento
das crianças • Sempre que necessário encaminhamos as crianças
• Nossa equipe procura desenvolver relações de tra- ao atendimento de saúde disponível ou orienta-
balho cordiais e afetivas mos as famílias para fazê-lo
• Procuramos tornar acolhedor o espaço que usamos • O cuidado com a higiene não impede a criança de
para receber e conversar com as famílias brincar e se divertir
• Procuramos garantir o acesso seguro das crianças • Damos o exemplo para as crianças, cuidando de
à creche nossa aparência e nossa higiene pessoal
• Lutamos para melhorar as condições de segurança
no trânsito nas proximidades da creche Nossas crianças têm direito a uma alimentação
sadia
Nossas crianças têm direito ao contato com a na-
tureza • Preparamos os alimentos com capricho e carinho
• Nossas crianças têm direito a um ambiente tranqui-
• Nossa creche procura ter plantas e canteiros em es-
lo e agradável para suas refeições
paços disponíveis
• Planejamos alimentos apropriados para as crianças
• Nossas crianças têm direito ao sol
de diferentes idades
• Nossas crianças têm direito de brincar com água
• Permitimos que meninos e meninas participem de
• Nossas crianças têm oportunidade de brincar com
algumas atividades na cozinha, sempre que pos-
areia, argila, pedrinhas, gravetos e outros elemen-
sível
tos da natureza
• Procuramos respeitar preferências, ritmos e hábitos
• Sempre que possível levamos os bebês e as crianças
alimentares individuais das crianças
para passear ao ar livre
• Nossas crianças aprendem a observar, amar e pre- • Procuramos diversificar a alimentação das crianças,
servar a natureza educando-as para uma dieta equilibrada e variada
• Incentivamos nossas crianças a observar e respeitar • Incentivamos as crianças maiorzinhas a se alimen-
os animais tarem sozinhas
• Nossas crianças podem olhar para fora através de • A água filtrada está sempre acessível às crianças
janelas mais baixas e com vidros transparentes • Incentivamos a participação das crianças na arru-
• Nossas crianças têm oportunidade de visitar par- mação das mesas e dos utensílios, antes e após as
ques, jardins e zoológicos refeições
• Procuramos incluir as famílias na programação rela- • Nossa cozinha é limpa e asseada
tiva à natureza • Nossa despensa é limpa, arejada e organizada
• Valorizamos o momento da mamadeira, seguran-
Nossas crianças têm direito à higiene e à saúde do no colo os bebês e demonstrando carinho para
com eles
• Nossas crianças têm direito de manter seu corpo, • Ajudamos os pequenos na transição da mamadeira
cuidado, limpo e saudável para a colher e o copo
• Nossas crianças aprendem a cuidar de si próprias e • Procuramos sempre incluir alimentos frescos nos
cardápios
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

assumir responsabilidades em relação à sua higie-


ne e saúde • Procuramos manter uma horta, mesmo pequena,
• Nossas crianças têm direito a banheiros limpos e em para que as crianças aprendam a plantar e cuidar
bom funcionamento das verduras
• O espaço externo da creche e o tanque de areia são • As famílias são informadas sobre a alimentação da
limpos e conservados periodicamente de forma a criança e suas sugestões são bem recebidas
prevenir contaminações
• Nossas crianças têm direito à prevenção de contá-
gios e doenças
• Lutamos para melhorar as condições de saneamen-
to nas vizinhanças da creche

5
NOSSAS CRIANÇAS TÊM DIREITO A DESENVOLVER • Os bebês têm oportunidade de explorar novos am-
SUA CURIOSIDADE, IMAGINAÇÃO E CAPACIDADE bientes e interagir com outras crianças e adultos
DE EXPRESSÃO • As crianças pequenas têm direito de testar seus pri-
meiros passos fora do berço
Nossas crianças têm direito de aprender coisas novas • Reservamos espaços livres cobertos para atividades
sobre seu bairro, sua cidade, seu país, o mundo, a cultura físicas em dias de chuva
e a natureza • Organizamos com as crianças aquelas brincadeiras
de roda que aprendemos quando éramos peque-
• Valorizamos nossas crianças quando tentam expres- nos
sar seus pensamentos, fantasias e lembranças • Procuramos criar ocasiões para as famílias participa-
• Nossas crianças têm oportunidade de desenvolver rem de atividades ao ar livre com as crianças
brincadeiras e jogos simbólicos
• Nossas crianças têm oportunidade de ouvir músicas Nossas crianças têm direito à proteção, ao afeto
e de assistir teatro de fantoches e à amizade
• Nossas crianças são incentivadas a se expressar
através de desenhos, pinturas, colagens e mode- • Nossas crianças sabem que são queridas quando
lagem em argila percebem que suas famílias são bem-vindas e res-
• Nossas crianças têm direito de ouvir e contar his- peitadas na creche
tórias • Nossa creche respeita as amizades infantis
• Nossas crianças têm direito de cantar e dançar • Nossa creche valoriza a cooperação e a ajuda entre
• Nossas crianças têm livre acesso a livros de história, adultos e crianças
mesmo quando ainda não sabem ler • Nossas crianças encontram conforto e apoio nos
• Procuramos não deixar as perguntas das crianças adultos sempre que precisam
sem resposta • Procuramos entender porque a criança está triste
• Quando não sabemos explicar alguma coisa para as ou chorando
• Procuramos ajudar as pessoas da equipe quando
crianças, sempre que possível procuramos buscar
enfrentam problemas pessoais sérios
informações adequadas e trazê-las posteriormente
• Procuramos não interromper bruscamente as ativi-
para elas
dades das crianças
• Sempre ajudamos as crianças em suas tentativas de
• Evitamos situações em que as crianças se sintam ex-
compreender as coisas e os acontecimentos à sua
cluídas
volta
• Evitamos comentar assuntos relacionados com as
• Não reprimimos a curiosidade das crianças pelo seu
crianças e seus familiares na presença delas
corpo
• Nossas crianças, mesmo quando brincam autono-
• Não reprimimos a curiosidade sexual das crianças mamente, não ficam sem a proteção e o cuidado
• Bebês e crianças bem pequenas aproveitam a com- dos adultos
panhia de crianças maiores para desenvolver novas • Conversamos e brincamos com os bebês quando
habilidades e competências estão acordados
• Crianças maiores aprendem muito observando e • Nossas crianças recebem atenção quando nos pe-
ajudando a cuidar de bebês e crianças pequenas dem ou perguntam alguma coisa
• Não deixamos nossas crianças assistindo televisão • Procuramos proteger as crianças de eventuais
por longos períodos agressões dos colegas
• As famílias são informadas sobre o desenvolvimento • Ajudamos as crianças a desenvolver seu autocontro-
de suas crianças  le e aprender a lidar com limites para seus impul-
sos e desejos
NOSSAS CRIANÇAS TÊM DIREITO AO MOVIMEN- • Explicamos as crianças os motivos para comporta-
TO EM ESPAÇOS AMPLOS mentos e condutas que não são aceitos na creche
• Nunca deixamos de procurar entender e tomar pro-
Nossas crianças têm direito de correr, pular e saltar vidências quando nossas crianças aparecem na
em espaços amplos, na creche ou nas suas proximidades creche machucadas e amedrontadas

• Nossos meninos e meninas têm oportunidade de


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

NOSSAS CRIANÇAS TÊM DIREITO A EXPRESSAR


jogar bola, inclusive futebol SEUS SENTIMENTOS
• Nossos meninos e meninas desenvolvem sua força,
agilidade e equilíbrio físico nas atividades realiza- Nossas crianças têm direito à alegria e à felicidade
das em espaços amplos
• Nossos meninos e meninas, desde bem pequenos, po- • Nossos meninos e meninas têm direito a expressar
dem brincar e explorar espaços externos ao ar livre tristeza e frustração
• Nossas crianças não são obrigadas a suportar lon- • Procuramos ensinar meninos e meninas como ex-
gos períodos de espera pressar e lidar com seus sentimentos e impulsos
• Os bebês não são esquecidos no berço • Procuramos sempre enfrentar as reações emocio-
• Os bebês têm direito de engatinhar nais das crianças com carinho e compreensão

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• Procuramos sempre entender as reações das crian- NOSSAS CRIANÇAS TÊM DIREITO A DESENVOLVER
ças e buscar orientação para enfrentar situações de SUA IDENTIDADE CULTURAL, RACIAL E RELIGIOSA
conflito
• O bem-estar físico e psicológico das crianças é um Nossas crianças têm direito a desenvolver sua autoes-
de nossos objetivos principais tima
• Ajudamos as crianças a desenvolver sua autonomia
• Sempre conversamos com as crianças sobre suas • Meninos e meninas têm os mesmos direitos e de-
experiências em casa e no bairro veres
• Nossas crianças podem, sempre que querem, pro- • Nossas crianças, negras e brancas, aprendem a gos-
curar e ficar perto de seus irmãozinhos que tam- tar de seu corpo e de sua aparência
bém estão na creche • Respeitamos crenças e costumes religiosos diversos
• Nossas crianças expressam seus sentimentos atra- dos nossos
vés de brincadeiras, desenhos e dramatizações • Nossas crianças não são discriminadas devido ao
• A manifestação de preconceitos de raça, sexo ou estado civil ou à profissão de seus pais
• A creche é um espaço de criação e expressão cultu-
religião nos mobiliza para que procuremos incen-
ral das crianças, das famílias e da comunidade
tivar atitudes e comportamentos mais igualitários
• Nossas crianças, de todas as idades, participam de
na creche.
comemorações e festas tradicionais da cultura bra-
sileira: carnaval, festas juninas, natal, datas espe-
Nossas crianças têm direito a uma especial aten- ciais de nossa história
ção durante seu período de adaptação à creche • Nossas crianças visitam locais significativos de nos-
sa cidade, sempre que possível: parques, museus,
• As crianças recebem nossa atenção individual quan- jardim zoológico, exposições
do começam a frequentar a creche • Nossas crianças visitam locais significativos do bair-
• As mães e os pais recebem uma atenção especial ro, sempre que possível: a padaria, uma oficina, a
para ganhar confiança e familiaridade com a cre- praça, o corpo de bombeiros, um quintal
che • Estimulamos os pais a participar ativamente de
• Nossas crianças têm direito à presença de um de eventos e atividades na creche
seus familiares na creche durante seu período de
adaptação A POLÍTICA DE CRECHE RESPEITA CRIANÇA
• Nosso planejamento reconhece que o período de
adaptação é um momento muito especial para Critérios para políticas e programas de creche
cada criança, sua família e seus educadores
• Nosso planejamento é flexível quanto a rotinas e • A política de creche respeita os direitos fundamen-
tais da criança
horários para as crianças em período de adaptação
• A política de creche está comprometida com o
• Nossas crianças têm direito de trazer um objeto
bem-estar e o desenvolvimento da criança
querido de casa para ajudá-las na adaptação à cre-
• A política de creche reconhece que as crianças têm
che: uma boneca, um brinquedo, uma chupeta, um direito a um ambiente aconchegante, seguro e es-
travesseiro timulante
• Criamos condições para que os irmãozinhos maio- • A política de creche reconhece que as crianças têm
res que já estão na creche ajudem os menores em direito à higiene e à saúde
sua adaptação à creche • A política de creche reconhece que as crianças têm
• As mães e os pais são sempre bem-vindos à creche direito a uma alimentação saudável
• Reconhecemos que uma conversa aberta e franca • A política de creche reconhece que as crianças têm
com as mães e os pais é o melhor caminho para direito à brincadeira
superar as dificuldades do período de adaptação • A política de creche reconhece que as crianças têm
• Observamos com atenção a reação dos bebês e de direito a ampliar seus conhecimentos
seus familiares durante o período de adaptação • A política de creche reconhece que as crianças têm
• Nunca deixamos crianças inseguras, assustadas, direito ao contato com a natureza
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

chorando ou apáticas, sem atenção e carinho


• Nossas crianças têm direito a um cuidado especial A política de creche respeita os direitos funda-
com sua alimentação durante o período de adap- mentais da criança
tação
• As creches têm por objetivo educar e cuidar de
• Observamos com cuidado a saúde dos bebês du-
crianças até 6 anos de idade
rante o período de adaptação
• As creches não estão sendo usadas por crianças
com mais de 7 anos como alternativa à educação
de 1º grau
• As creches são concebidas como um serviço público
que atende a direitos da família e da criança

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• A política de creche procura responder ao princípio • A política de creche reconhece que os profissionais
de igualdade de oportunidade para as classes so- são elementos chave para garantir o bem-estar e o
ciais, os sexos, as raças e os credos desenvolvimento da criança
• A política de creche reconhece que as crianças têm • As creches dispõem de um número de profissionais
uma família suficiente para educar e cuidar de crianças peque-
• A política de creche prevê a gestão democrática dos nas
equipamentos e a participação das famílias e da • O programa dá importância à formação profissio-
comunidade nal prévia e em serviço do pessoal, bem como à
• A programação para as creches respeita e valoriza supervisão
as características culturais da população atendida • A formação prévia e em serviço concebe que é fun-
• O programa de creches integra o planejamento mu- ção do profissional de creche educar e cuidar de
nicipal, estadual, regional e federal de ações mais forma integrada
gerais
• Os profissionais dispõem de conhecimentos sobre
• A política de creche estimula a produção e o inter-
desenvolvimento infantil
câmbio de conhecimentos sobre educação infantil
• A política de creche reconhece que os adultos que
• Há um projeto para as creches com explicitação de
trabalham com as crianças têm direito a condições
metas, estratégias, mecanismos de supervisão e
avaliação favoráveis para seu aperfeiçoamento pessoal, edu-
• O plano de expansão das creches, em quantidade e cacional e profissional
localização, responde às necessidades das famílias • A política de creche reconhece a importância da co-
e crianças municação entre famílias e educadores
• O plano para creche prevê entre suas metas a me-
lhoria da qualidade do atendimento à criança A política de creche reconhece que as crianças
• O orçamento para as creches é suficiente para ofe- têm direito a um ambiente aconchegante, seguro e
recer um atendimento digno às crianças e um re- estimulante
conhecimento do trabalho do adulto profissional • Os profissionais responsáveis elaboram projetos de
• Os critérios para admissão de crianças nas creches
construção ou reforma dos prédios das creches que vi-
são democráticos, transparente e não discrimina-
sam em primeiro lugar as necessidades, o bem-estar e o
tórios
desenvolvimento das crianças
• As pessoas que trabalham nas creches que traba-
lham nas creches são reconhecidas e tratadas • O orçamento possibilita construção ou reforma ade-
como profissionais nos planos da formação edu- quada dos prédios das creches
cacional, do processo de seleção, do salário e dos • Os prédios das creches recebem manutenção periódica
direitos trabalhistas • O orçamento das creches prevê compra, reposição
• O per capita repassado às creches respeita o crono- e manutenção de mobiliário, equipamentos e ma-
grama pré estabelecido teriais necessários para que os ambientes sejam
• O valor do per capita repassado pelo poder público aconchegantes, seguros e estimulantes
às creches conveniadas é suficiente para oferecer • O orçamento das creches prevê compra, reposição
um tratamento digno às crianças e manutenção de roupas necessárias para as crian-
• O valor do per capita repassado às creches segue
ças dormirem, se trocarem em caso de imprevistos
uma curva ascendente
e se lavarem
• Os critérios para estabelecimento e avaliação de
• Os prédios contam com espaço interno e externo
convênios são transparentes e acessíveis ao públi-
adequado ao número de crianças atendidas e às
co
• As entidades conveniadas permitem o acesso públi- necessidades de sua faixa etária
co aos equipamentos e acolhem a orientação dos • Os prédios oferecem condições adequadas para o
órgãos responsáveis bem-estar e o conforto da crianças: insolação, ilumi-
nação, ventilação, sonorização, esgoto e água potável
A política de creche está comprometida com o • Os prédios oferecem condições adequadas para as
bem-estar e o desenvolvimento da criança necessidades profissionais e pessoais dos adultos
• Os ambientes das creches são adequados às fun-
• O programa para as creches prevê educação e cui- ções de educar e cuidar de crianças pequenas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dado de forma integrada visando, acima de tudo, • As creches dispõem de espaços externos sombre-
o bem-estar e o desenvolvimento da criança ados, sem entulho, lixo, ou outras situações que
• A melhoria da qualidade do serviços oferecido nas ofereçam perigo às crianças
creches é um objetivo do programa
• O programa prevê a manutenção dos espaços ver-
• As creches são localizadas em locais de fácil acesso,
des das creches para que ofereçam condições de
cujo entorno não oferece riscos à saúde e segu-
uso sem perigo
rança
• Os espaços internos das creches, seu mobiliário e o
• Os projetos de construção e reforma das creches
visam, em primeiro lugar, o bem-estar e o desen- material disponível permitem que a criança brin-
volvimento da criança que, durma, aprenda, se alimente, vá ao banheiro,
se lave e tenha privacidade

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• As creches dispõem de mesas, cadeiras, mamadei- • As crianças dispõem de móveis e utensílios suficien-
ras, pratos e talheres para as crianças se alimen- tes e adequados para se alimentarem
tarem • A formação prévia e em serviço dos profissionais
• As creches respeitam a regulamentação local sobre considera a alimentação e outras atividades liga-
normas de segurança e higiene das ao cuidado como integradas ao processo edu-
• Os adultos recebem formação prévia e em serviço cativo infantil
sobre como criar, arrumar conservar e usar um am- • A programação das creches integra a alimentação e
biente aconchegante, seguro e estimulante para as outras atividades ligadas ao cuidado no processo
crianças educativo

A política de creche reconhece que as crianças Têm direito à brincadeira


têm direito à higiene e à saúde
• O orçamento para creches prevê a compra e reposi-
• O orçamento das creches prevê custos para manu- ção de brinquedos, material para expressão artísti-
tenção da higiene e promoção de condições favo- ca e livros em quantidade e qualidade satisfatórias
ráveis à saúde de crianças e funcionários para o número de crianças e as faixas etárias

• Os prédios das creches são limpos, arejados e bem • Os brinquedos, os materiais e os livros são conside-
insolados, evitando ser espaços propagadores de rados como instrumento do direito à brincadeira e
doenças entre as crianças não como um presente excepcional
• As creches dispõem de água potável • A construção das creches prevê a possibilidade de
• O esgotamento sanitário não corre pelos pátios das brincadeiras em espaço interno e externo
creches e nos espaços próximos • As creches dispõem de número de educadores com-
• O lixo das creches é recolhido diariamente patível com a promoção de brincadeiras interativas
• As creches dispõem de produtos para a higiene pes- • Os prédios das creches dispõem de mobiliário que
soal das crianças facilite o uso, a organização e conservação dos
• As creches dispõem de utensílios e produtos de lim- brinquedos
peza • A formação prévia e em serviço reconhece a impor-
• O programa de manutenção das creches está atento tância da brincadeira e da literatura infantil para o
para infestações com insetos e animais nocivos desenvolvimento da criança
• O Planejamento sanitário e da saúde da região in- • A programação para as creches reconhece e incor-
corpora a ação desenvolvida nas creches e a orien- pora o direito das crianças à brincadeira
tação aos profissionais que ali trabalham
• A formação prévia e em serviço dos adultos está Têm direito a ampliar seus conhecimentos
atenta para temas relacionados à higiene e à saúde
• A definição da função do profissional integra a pre- • A política de creche possibilita que as crianças te-
ocupação com a saúde e a higiene na creche nham acesso à produção cultural da humanidade
• A programação para as crianças prevê ações relacio- • O orçamento para creches prevê a compra e reposi-
nadas à área de saúde e higiene ção de livros e materiais adequados para o número
• As creches dispõem de material necessário para de crianças e as faixas etárias
prestar os primeiros socorros e seus profissionais • Os brinquedos, os materiais e os livros são consi-
estão informados para onde devem encaminhar as derados como instrumentos importantes para a
crianças em casos de acidente promoção do desenvolvimento e ampliação dos
• A programação de saúde dá especial atenção à co- conhecimentos das crianças
municação entre família e creche • Os profissionais de creche dispõem de um nível de
instrução compatível com a função de educador
Têm direito a uma alimentação saudável • A formação prévia e em serviços dos profissionais
contempla o acesso à cultura e a ampliação dos
• O orçamento das creches prevê um custo de ali- conhecimentos das crianças como aspectos impor-
mentação per capita pelo menos equivalente ao tante do trabalho da creche
• A política de creche incorpora a preocupação de en-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

destinado a uma criança na cesta básica


• A programação da alimentação nas creches prevê contrar meios adequados para promover o desen-
alimentos in natura volvimento infantil, sem submeter precocemente
• O cardápio das creches é balanceado e variado para as crianças a um modelo escolar rígido
responder às necessidades calóricas e proteicas das • A programação prevê que as famílias sejam infor-
crianças madas dos progressos de suas crianças sem que
• As creches dispõem de espaços adequados, areja- isto implique em avaliação formal
dos, limpos e seguros para armazenamento e pre- • A política de creche propicia que os educadores am-
paro de alimentos pliem seus conhecimentos e sua formação pessoal,
• As creches dispõem de utensílios necessários ao educacional e profissional
preparo de alimentos

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Têm direito ao contato com a natureza Considerando que conflitos são inerentes à vida so-
cial e psíquica e que sua explicitação e negociação são
• O orçamento para construção, reforma e conserva- necessárias para que os envolvidos tenham seus direi-
ção das creches prevê custos para manutenção de tos respeitados e os objetivos comuns sejam alcançados,
área verde no entorno ou dentro da creche este artigo tem como objetivo analisar as relações entre
• As instâncias de arborização e jardinagem munici- famílias e profissionais de creche que se desenvolvem no
pal incluem as creches e seus espaços externos nos cuidado compartilhado das crianças, buscando apreen-
projetos locais der seus pontos de vista e a forma como lidam com suas
• O projeto de construção e reforma dos prédios das diferenças.
creches prevê espaços externos que comportem
plantas A escolha da creche
• O programa prevê que as creches tenham condi-
ções para plantio de pequenas hortas e árvores
Quando os pais decidem compartilhar o cuidado e a
frutíferas de rápido crescimento
educação de um filho com profissionais de uma creche
• Os profissionais de creche recebem formação e
partem do conhecimento que possuem sobre a institui-
orientação para propiciar o contato e o respeito
ção, seja pelo contato direto com esse tipo de serviço,
das crianças para com a natureza
• A programação para as crianças dá especial atenção seja com base no que ouviram das pessoas que com-
ao tema da natureza põem sua rede de sociabilidade.
• A programação das creches incentiva passeios e ou- Os dois sentidos da creche – espaço assistencial que
tras atividades que favoreçam maior contato com a tem sido ressignificado como espaço educativo – coexis-
natureza tem e podem ser identificados nas falas e expectativas
dos pais e mães, ao falarem de desconfiança e de pre-
Referência: conceito a respeito de uma creche genérica, de insegu-
Campos, Maria Malta. Critérios para um atendimen- rança e medo de partilhar o cuidado das crianças com
to em creches que respeite os direitos fundamentais das pessoas relativamente desconhecidas, da “sensação de
crianças / Maria Malta Campos e Fúlvia Rosemberg. – abandono” ao deixar o filho pela primeira vez na institui-
6.ed. Brasília : MEC, SEB, 2009. ção, mas, ao mesmo tempo, da dificuldade e do alívio da
conquista da vaga e das vantagens de poder contar com
CRECHE E FAMÍLIA: UMA PARCERIA NECESSÁRIA profissionais preparados: “A gente sente pena porque
acha que está abandonando lá, e não, depois que eu vi,
A crescente demanda por creches revela uma ten- não é nada disso não. É um preconceito, que nem minha
dência da família contemporânea a buscar parceiros para prima falava muito: ‘Dá um dó de deixar...’ Eu falo: ‘Não
conciliar cuidados e educação dos filhos pequenos e o dá dó, porque elas cuidam muito melhor que a gente’”
trabalho materno. (Mãe do Cláudio, dois anos, e de Carina, três anos).
A insuficiência de vagas em creches públicas diante Não se trata apenas da superação do preconceito em
da demanda, ou o elevado custo das creches particula- relação à instituição em si, mas também de uma ideo-
res, não permite, na maioria das vezes, que esse serviço logia que defende a socialização primária como tarefa
seja escolhido com base em princípios, valores e critérios exclusiva dos membros da família, sobretudo, da mãe.
da família, impossibilidade associada à relação assimétri- Para Chodorow (1978) as capacidades e aptidões
ca, entre usuários e instituição (Sarti, 1998).
das mulheres para maternagem e para obter satisfação
A creche, instituição marcada por um histórico assis-
nela estão fortemente internalizadas e psicologicamente
tencialista e organizada de forma improvisada e precá-
reforçadas, e são construídas, ao longo do processo de
ria, está sendo ressignificada como centro de cuidado
desenvolvimento, no interior da estrutura psíquica femi-
e educação infantil, de acordo com a noção do direito
nina. Sendo assim, conforme Moraes (1994), as mulheres
universal à educação. Essa ressignificação reflete-se evi-
dentemente nas relações entre usuários e profissionais, podem sentir um gozo e uma possibilidade de transcen-
permeadas por expectativas mútuas. As mudanças sur- dência na maternidade. Várias mães entrevistadas reve-
gem não apenas na creche, mas na família e, sobretudo, lam uma ambiguidade, fruto do desejo de cuidar dire-
nas interações entre ambas (Haddad, 2003; Amorim, Ros- tamente dos filhos e, ao mesmo tempo, da necessidade
seti-Ferreira, 2004; Maranhão, 2005). de dar continuidade ao projeto de vida pessoal ou de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Apesar dos esforços de muitos profissionais de cre- aumentar a renda da família.


che de interagir com as famílias, visando compartilhar a Tentei voltar a trabalhar, mas, ela mamava o peito,
educação infantil, ainda há evidentes dificuldades de se ela não queria saber de outra coisa, era só o peito. Eu
lidar com o aspecto relacional do confronto entre os in- queria curtir ela um pouco, as outras não tinham mama-
divíduos envolvidos no cuidado da criança, dados seus do no peito, ela estava mamando e era tudo o que eu
pontos de vista diversos. Segundo Bonomi (1998) que se queria, só que a gente precisa trabalhar. (Mãe de Karen)
baseia na experiência italiana, os pais não encontram es- O modelo tradicional de pai provedor e mãe dedi-
paço para troca de experiências com a equipe da creche, cada exclusivamente aos cuidados e educação dos filhos
mas apenas a imposição de um modelo educacional pela é um desejo acalentado por alguns casais, como explica
instituição (Bonomi, 1998). um pai:

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Eu não gostaria que a minha mulher trabalhasse, A argumentação de parentes e ou amigos sobre os
gostaria que ela cuidasse da minha filha, desse estrutura riscos das diferentes opções que cada família tem para
emocional, afetiva, seria muito bom. Mas, infelizmente, a cuidar e educar os pequenos interfere na decisão de pais
situação do país acaba pressionando a mulher a pensar e mães em favor da creche, embora isso, de início, não
assim: Você não pode ficar em casa o dia inteiro, enquan- exclua a insegurança, pois a creche ainda é percebida,
to o seu marido rala, ou coisa desse tipo, então, a mulher por algumas famílias, como um lugar inferior à “escoli-
se sente, às vezes, coagida pela situação econômica do nha” ou aos cuidados da “babá”.
país a lutar. (Pai de Juliana, dois anos) Eu achava que a gente ia colocar em uma escolinha,
A primeira opção para compatibilizar os dois papéis sabe, mais conhecida, ou então, pegar uma babá pra ficar
é delegar os cuidados da criança às avós, mantendo, de com ela, mas aí a minha sogra falou: Não! Vamos colocar
certa forma, o modelo tradicional de cuidado individua- ela na creche, porque uma babá, ela vai estar sozinha
lizado, prestado por uma mulher, no contexto familiar. com a menina, e ninguém vai poder falar o que ela fez e
Minha mãe não tinha condições de ficar com ela, o que ela não fez. Na creche não, se alguém fizer alguma
devido à idade, então, fui obrigada a fazer isto, embora coisa errada, alguém vai comentar e todo mundo vai fi-
não quisesse. Eu achava que ela era muito pequena, ia car sabendo. Então, é mais seguro. E ela falou sobre esta
completar os dois anos, além de que ela vem de uma creche onde já tinha um sobrinho, o Davi. Aí, eu falei: Ah,
adoção, então ela já vem com uma rejeição, uma certa coitada. Ela é muito pequenininha, ela nem anda, nem
carência. Você tira uma criança de um abrigo pra depois fala, vai sofrer muito.
pôr numa creche! Eu sempre achei que o lugar ideal da O preconceito não incide apenas sobre a creche
criança é junto da mãe, mas infelizmente eu preciso tra- como instituição de cuidado infantil, mas sobre seu caráter
balhar. (Mãe de Rute, três anos) de serviço público, percebido como de pouco crédito, pelo
No caso, é evidente o conflito materno ao “ter” de atendimento de baixa resolutividade e massificado, no
compartilhar o cuidado da filha adotiva com os educa- qual o usuário se sente “mais um”, como disse outra mãe.
dores da creche, o que, para ela, significa perpetuar “o A convivência coletiva com populações dos segmen-
abandono” de uma criança que foi retirada de um abrigo. tos sociais mais pobres, característica da clientela que
Amorim et al. (2004) citam que os motivos que levam utiliza os serviços públicos por serem gratuitos, pode re-
os pais a colocarem os filhos na creche são diversos e presentar para os pais com melhores condições de vida
contraditórios. Confirmam o que se observa nas atitudes que procuram o serviço uma proximidade com a diver-
e na fala dos familiares e profissionais, sujeitos desta pes- sidade social, vivida como “ameaçadora” no sentido de
quisa, quanto às suas diferentes concepções e sentimen- uma possível “contaminação” com o outro, em um país
tos, refletidos na forma como se posicionam diante da caracterizado por uma sociabilidade endógena, intraclas-
necessidade de compartilhar os cuidados e a educação se e não interclasses sociais.
de crianças pequenas. Essas concepções e sentimentos Pesar esses riscos com os benefícios ao desenvolvi-
representam, segundo as autoras, os motores do modo mento infantil depende da superação dos preconceitos
como os familiares promovem o contato da criança no sobre uma creche genérica, em confronto com o reco-
novo espaço. nhecimento das qualidades de um serviço, em particular,
Minha situação é assim, só eu que trabalho na mi- com base na competência de seus profissionais.
nha casa, meu marido não trabalha. Ele faz bico, assim. Os familiares e os profissionais comparam um ser-
Quando aparece ele faz, quando não aparece, ele fica viço com outro, pois sabem que há diversidade entre as
cuidando dela. Vai fazer uns três anos, então, quero que instituições, com maior ou menor infraestrutura e quali-
ele arrume um serviço. Porque, eu sozinha não dá, não dade de serviços. Entretanto, inscrever o filho na lista de
tem como, o salário é pouco. Eu falei: eu tenho que arru- demanda de uma creche é apenas o início de um proces-
mar uma creche pra ela, pra ele poder ir trabalhar. (Mãe so que pode ser mais ou menos demorado e repleto de
de Tânia, três anos) significados, até que se consiga a vaga.
O caso é peculiar. A mãe matriculou a filha na creche
como estratégia para que o pai procurasse um emprego A confiança
fixo e dividisse com ela o sustento do lar. Há outros casos
referidos pela diretora, cujos homens são sustentados Os primeiros contatos entre as famílias e os profis-
pelas mulheres há longo tempo, sem que isto represente sionais são decisivos na construção do relacionamento
uma troca de papéis deliberada, com base num acordo entre ambos. As primeiras impressões dos pais podem
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

consensual entre o casal, mas sim algo que, embora per- ser confirmadas ou modificadas nos primeiros dias como
manente, é vivido como circunstancial, semelhante à si- usuários, ainda vulneráveis por estarem no início de uma
tuação temporária de desemprego do pai. relação com os profissionais.
Antes de procurar uma creche, os pais ponderam, de Pelos relatos das mães a respeito dessa fase, obser-
um lado, as necessidades econômicas, as mudanças no vam-se preocupações relativas à separação temporária
contexto familiar, as carências da infância, os limites dos do filho, à continuidade dos cuidados com a alimenta-
avós em dar conta da tarefa de compartilhar com os pais ção, conforto e segurança da criança. A mãe receia que
a educação e o cuidado dos netos e, de outro, as infor- as necessidades do filho não sejam percebidas no cole-
mações veiculadas na mídia sobre maus tratos de crian- tivo; que os cuidados sejam diferentes de casa, que sinta
ças em instituições ou sob a guarda de babás. fome ou seja agredido pelos outros.

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Os comportamentos e as falas das mães, sobre esta As mães com filhos menores de três anos parecem
fase, revelam uma luta interna entre usufruir a vaga, ar- sentir mais insegurança do que aquelas com crianças no
duamente conquistada, e confiar que o filho ficará bem na pré-escolar, o que se justifica, tanto pela vulnerabilida-
creche. A sensibilidade da equipe da creche, em relação ao de biológica e dependência dos cuidados de um adulto
comportamento materno, na fase de adaptação, pode dar como pela aceitação social da idade em que a criança
pistas importantes sobre a forma de ajudar ambas, mãe e deve ir à escola. Para conferir se os filhos estão com as
criança, a começar bem a vida no novo ambiente. pessoas certas e em ambiente seguro, algumas mães uti-
A mãe avalia a atenção do profissional com seu filho e lizam estratégias para observá-los depois que os deixam
com o grupo, assim como a reação da criança ao novo na sala. Esse comportamento pode ser interpretado pelos
ambiente: “Porque no começo, aqui, eu vi a atenção profissionais como evidência de que a princípio é apenas
da tia. Dava uma atenção! Eu achava que ela não ia ter a necessidade que impõe deixar a criança aos cuidados
muita atenção, igual à que a mãe dá. As tias cuidam deles, e só com o tempo a confiança é estabelecida.
muito bem das crianças, nossa é, assim, uma creche Ah, eu tinha medo, assim, de não conseguirem fazer
muito boa” (Mãe de Tânia, três anos). ela dormir, de não darem a comidinha pra ela, porque ela
O uso da palavra “tia”, para denominar o profissional, é difícil. Ela não vai, na primeira vez que está com fome,
pode ser interpretado como uma expectativa da mãe de comer o que derem pra ela, entendeu? Medo de não te-
que a relação do educador com sua filha seja permeada rem o tempo e a paciência pra fazer tudo o que eu faria
pela afetividade, semelhante àquela de um membro da dentro de casa; de balançar, de carregar, de fazer dormir,
família, como a irmã da mãe ou do pai teria, uma atenção de tudo, o banho, que ela odeia lavar a cabeça, entendeu,
individualizada à criança, “igual à que a mãe dá”. Para eu morria de medo. (Mãe da Lícia, um ano)
Rosemberg (1992) e Kramer (2002), pode significar uma Algumas mães expressam diferentemente as emo-
desvalorização do educador, ao qual bastaria o afeto e o ções suscitadas ao delegar o cuidado do filho aos profis-
conhecimento do senso comum, por serem o cuidado e sionais da creche, preferem não acompanhá-lo no pro-
educação infantil naturalizados pelas relações de gênero cesso de adaptação, apostando na capacidade de ele “se
e parentesco. acostumar” ao novo ambiente.
A referência sendo sempre a família, a mãe pode A reação da criança ao novo ambiente pode variar
confundir seu papel com o do educador e competir com suas características pessoais, idade, atitude do edu-
com ele, assim como imaginar que o cuidado é realiza- cador, planejamento dos cuidados e a reação dos pais.
do na creche da mesma forma que o é em casa. Prova- Os profissionais também têm que lidar com suas emo-
velmente, derive daí a fantasia de que as necessidades ções nesse momento. Eles precisam que os pais depo-
individuais não sejam atendidas, os educadores não sitem confiança neles para que possam cuidar e educar
sejam bastante atenciosos e cuidadosos, o filho não se com autonomia, embora, ao se colocarem no lugar des-
alimente e adoeça. ses pais, reconheçam as dificuldades, principalmente das
Há também uma concepção de criança, socialmen- “mães”, no processo.
te construída, incapaz de relacionar-se com as outras Porque eu sempre coloquei a minha posição pra elas:
crianças e adultos, além daqueles do meio familiar. Olha, eu sou assim, se eu te falar alguma coisa que te
Ah! O primeiro dia foi terrível. Ela chorava. Porque a magoa, por favor, você volta e fala para mim porque nós
outra sempre ficou comigo. Então, é a primeira vez que somos seres humanos e nós erramos. Eu gostaria que
ela sai, eu chorei muito, ela também. No começo ela você depositasse toda a confiança em mim porque seu
não queria vir, nossa! Eu ia trabalhar, não via a hora de filho vai ficar comigo doze horas, você precisa me conhe-
eu pegar ela, então eu fui acostumando. Eu achava que cer, gostar de mim, confiar, porque se não vai ser muito
ninguém ia cuidar dela direito, achava que ela ia ficar difícil. É doloroso para a mãe deixar um filho aqui. (Edu-
sozinha, isolada em um canto; eu achava que ela ia ficar cadora)
desprezada, era só isso que passava na minha cabeça, A consciência do seu papel em relação às funções pa-
num canto triste. Na minha cabeça, era isso, que nin- ternas e maternas permite que o educador identifique
guém ia olhar pra ela... não de “não olhar pra ela”, mas sentimentos ambíguos das mães que se sentem confian-
deixar sozinha num canto. (Mãe de Tânia, três anos) tes quando os filhos demonstram afeto pela equipe e,
As famílias observam outros usuários e trocam im- ao mesmo tempo, temem perder “o lugar especial” que
pressões enquanto esperam abrir o portão. Às vezes, ocupam na vida da criança: “É, quando ela não queria
um comentário ou atitude de outra mãe pode suscitar ir embora, como hoje, eu... eu fico... É porque ela gosta
dúvidas, estranhamentos que reacendem uma descon- também, se ela não gostasse, ela queria ir embora, se ela
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fiança latente. A evasão de lactentes, pela dificuldade não quer ir embora é porque ela gosta também” [sorri]
na adaptação ou pelos frequentes episódios de adoe- (Mãe de Taís, cinco anos).
cimento, causa insegurança nas outras mães, podendo O educador também lida com ambiguidades diante
ser associado por elas a um “descuido” dos educadores. das manifestações afetivas das crianças, sentindo-se gra-
Eu só queria saber de outras mães por que coloca- tificado pelo fato de elas, às vezes, preferirem permane-
vam o nenenzinho e tiravam rápido. O que acontece, cer na creche e, até mesmo, se identificarem com ele.
porque as mães tiram? Por que a criança chora? Uma Mesmo no grupo da pré-escola, as mães contam: “Ah,
mãe colocou num dia, depois de três dias ela tirou a ele fala que eu tenho que cortar cabelo e pintar a unha
nenenzinha. Porque ela chorava, ela deixava, saía e ela igual a você”. Então, tem a questão da identidade! Aí eu
chorava. (Mãe de André, cinco anos; Edílson, quatro explico que é diferente. Aqui a gente brinca, é diferen-
anos; Paula, três anos; Dane, dez meses). te a relação, mas elas ficam incomodadas. Elas chegam

12
brincando, mas você percebe. Já no grupo de crianças A mesma educadora que foi avaliada pela mãe de Rute
menores, é diferente, elas não têm ciúmes. Por exemplo, como “brusca”, no momento de acolhê-la, quando a crian-
a criança tem uma afinidade com o educador, pra elas é ça ainda era de colo, é considerada, posteriormente, pela
bom, porque se eles estão gostando, é porque não está mesma mãe, como adequada por sua “firmeza”, qualida-
tendo nada de ruim com eles. Como a Nora, eu não po- de necessária para estabelecer limites para a menina que
dia sair da sala que ela gritava, que ela queria ficar co- cresceu.
migo por todo o lugar, e a mãe achava isso muito legal. Ao contrário das mães, a maioria dos pais que acom-
“Criança é sincera, se ela está gostando é porque não panham os filhos no processo de adaptação mostra-se
estão maltratando minha filha”. (Educadora)
mais tranquila, com preocupações mais genéricas, me-
No momento em que a mãe entrega o filho para o
nos detalhadas em relação aos cuidados da criança.
educador, a criança pode se agarrar a ela, o que exige ha-
Assim, as diferenças de comportamento relatadas e
bilidade do profissional para lidar com a situação. A mãe
fala de sua dificuldade inicial em entregar a filha à educa- observadas podem ser explicadas pelo papel tradicional
dora que a retirava “bruscamente” de seu colo. Procurou do pai de iniciar o filho no mundo extrafamiliar, estimu-
discutir com a equipe da creche, o que considerava um lando sua independência. Para o pai, considerando que é
problema, mas sentiu-se incompreendida, o que afetou, educado em uma sociedade na qual o cuidado da criança
desde então, sua relação com os profissionais. é naturalizado como função feminina, talvez, possa ser
Logo no começo, embora a Rute gostasse da creche, mais tranquilo deixar o filho sob os cuidados de outros,
ela queria que eu ficasse com ela. Então, várias vezes, a sobretudo, quando este outro é uma mulher.
educadora me tirou a menina do colo, me arrancou a Entretanto, há casos em que o pai se mostra tão ou
menina do colo. Aí eu ficava um pouco e depois ia embo- mais ansioso que a mãe. Houve dois casos em que se
ra, ela chorava um pouco, mas não é que ela não queria evidenciaram, posteriormente, relações problemáticas
ficar não, ela não queria que eu fosse. Então, em uma das entre pai-mãe-filha, afetando inclusive a saúde da crian-
reuniões, eu disse que queria falar sobre isto, aí virou um ça. Assim, segundo Butler (2003), se o gênero são os sig-
novelo. Todas as mães reclamaram da mesma coisa. Eu nificados culturais assumidos pelo corpo sexuado, não se
não sei se todas as mães foram chamadas ou não, mas eu pode dizer que ele decorra de um sexo, desta ou daquela
fui chamada para uma reunião com as educadoras, e de maneira.
lá pra cá, sinceramente, eu não tenho coragem de falar Para homens e mulheres, o fato de o filho já ter fre-
nada. (Mãe da Rute, três anos)
quentado outra creche pode ser tanto um aspecto fa-
No final do dia, também pode haver tensão entre o
cilitador como o contrário, dependendo de como foi a
educador, a mãe e a criança, pois esta, da mesma forma
que se agarrou à mãe no momento da entrada, pode vi- vivência pregressa. Apesar das diferenças de gênero e
rar as costas para ela, agarrando-se ao educador. grau de parentesco com a criança, para pais, mães, avós,
De acordo com Viorst (1986), a criança menor de três irmãos, tios, o processo de aquisição de confiança é lento
anos pode reagir às primeiras separações temporárias de e variável, dependendo da história pessoal, valores, ex-
seu ambiente familiar com um comportamento de alhea- pectativas de cada família, e de como os profissionais da
mento, recebendo a mãe com frieza, tratando-a com creche percebem essas peculiaridades e lidam com elas.
uma atitude distante e apática, como se estivesse cas- O mais difícil é você criar o vínculo com a mãe. Você
tigando-a por ter partido. Na perspectiva dos educado- tem que ter muita paciência. O que eu costumo comen-
res, o desenvolvimento da autonomia e a socialização da tar, é que você tem sempre que respeitar a mãe. Mui-
criança, mediado pelos profissionais da creche, pode sig- tas vezes, ela tem conceitos, crenças, que a gente não
nificar uma perda para a mãe. Ao mesmo tempo, na pers- concorda, mas você também deve saber como dizer não
pectiva da mãe, contar para o educador as manifestações para ela. (Técnica de enfermagem)
de afeto da criança pode ser uma maneira de garantir o Respeitar o direito das crianças, ao mesmo tempo, a
compromisso dele com o retorno deste sentimento. perspectiva dos pais e deixar claros os limites do contex-
É uma sensação de perda! Parecia assim que eu es- to coletivo, torna complexa a relação entre profissionais
tava tomando o lugar dela, como mãe. Por mais que ela e famílias. A equipe percebe as dificuldades e vai lidando
tentasse mostrar uma outra coisa, um outro sentimento,
com cada família, tendo de enfrentar os seus próprios
mas a gente sabe, que sempre tem aquele medo da mãe,
sentimentos de rejeição inicial em relação às suas pecu-
principalmente ciúmes. “Olha, o final de semana inteiro,
liaridades.
o fulano falou em você”. (Educadora)
A primeira abordagem com os pais é sempre difícil.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

À medida que a criança cresce, as expectativas de cui-


dados e a relação com os educadores modificam-se. Eu percebi que dependendo da forma como eu os rece-
A educadora Teresa sempre foi um pouquinho mais bo e conduzo a entrevista, eles agem comigo. Têm aque-
dura. Se bem que eu pedi, pelo amor de Deus, que este les que eu olho e já sinto antipatia, sabe. Mas eu passo
ano ela assumisse o módulo em que a Rute está. É uma por cima disso, porque temos que ser profissionais. As
contradição! [sorri]. Embora eu não concorde com a for- pessoas que eu sinto uma antipatia inicial, depois são
ma que ela tira a criança do colo da mãe. Porque a Teresa as que eu mais gosto, engraçado isso. Então quando eu
é mais dura, entendeu? Então eu acho que a Rute precisa as recebo, cumprimento, falo quem eu sou, falo “fique
de um pouco de... A Teresa é bem segura, embora eu não à vontade”, brinco, aí elas agem normalmente comigo,
concorde com a forma que ela tira a criança do colo da mãe. apesar de que têm aqueles que não têm jeito. (Técnica
É uma contradição, mas... [sorri]. (Mãe de Rute, três anos) de enfermagem)

13
Procurar compreender os motivos dos conflitos iniciais É um exercício muito grande o de você separar, fazer
ou posteriores possibilita que as primeiras impressões se- o seu papel. As mães gostam de conversar, e eu gosto de
jam atualizadas e a relação possa fluir. Um conflito não sentar com elas e jogar conversa fora, de falar do tempo,
explícito e não resolvido pode dificultar cada vez mais das outras coisas, falar de novela e tal, mas com ela não.
a relação, apesar de a criança reagir de forma diferente, Com essa, eu atendo, com a mesma diligência que eu
mostrando alguma autonomia em relação ao comporta- atendo os outros, só que não é além das vísceras, en-
mento dos pais. tendeu? Eu não tenho nenhum afeto, eu tenho respeito,
Quando o pai fez a matrícula do Wilson, no lugar do tenho respeito como ser humano, como uma usuária da
registro de nascimento, ele me entregou o RG da criança. creche. Mas, por exemplo, assim, se fôssemos fazer um
Passou um tempo, eu estava conferindo todas as pastas e amigo secreto eu ia fazer de tudo pra rasgar o papel e
vi que não tinha a certidão, não lembrei que tinha o RG e não tirá-la entendeu? Preferiria tirar a mãe da Rute, com
pedi para o pai. Nossa! Ele voou pra cima de mim7, falou toda aquela coisa chata que ela tem. (Diretora)
um monte. Eu falei assim: claro, eu percebi que houve As impressões de um profissional da creche a res-
uma falha e estou tentando reparar. Ele falou que eu não peito de um pai ou mãe parecem generalizar-se entre
tinha responsabilidade, que não sei o quê! Desde esse a equipe, talvez pelos comentários internos, talvez pelo
dia ele virou a cara pra mim, não conversa, dificilmen- tipo de relação que a família estabelece com todos.
te ele me cumprimenta. Mas o Wilson me cumprimenta, As diversas famílias podem ter religião, conhecimen-
fala: “Bom dia! Boa tarde!”, cumprimenta todo mundo tos, valores e condições de vida diferentes que repercu-
que passa ao lado dele, diferente do pai, por qualquer tem no jeito que cuidam das crianças, sendo que os prin-
coisinha que acontece vira a cara. (Técnica de enferma- cipais conflitos incidem nos cuidados com a alimentação
gem) e higiene (Maranhão, 2005).
Como todas as relações humanas em que há compar- Eu pensava assim: “Nunca vou colocar meus filhos lá,
tilhamento de ações visando a um objetivo comum, a re- imagina, eles vão pegar piolho”. Eu discriminava mesmo, eu
lação dos profissionais com a família se constitui grada- nem sei por que eu fazia aquilo. Depois que meus sobri-
tivamente, permeada por contradições, na lida cotidiana nhos vieram pra cá, eu vi que aqui era bem diferente da
com os cuidados e a educação das crianças. escola que eu pagava R$ 1.200,00 por mês; aqui o cuidado
É complicado, porque você bate o olho, quem vê cara e a parte educativa era bem melhor. (Mãe de Ana Cláudia,
não vê coração. Mas quando eu entrei... você sempre tem quatro anos)
receio de deixar um filho na mão de outra pessoa. Você A inserção de crianças com melhores condições eco-
não sabe, quais os princípios que aquelas pessoas têm, nômicas também torna diferentes as demandas e a for-
você não conhece as normas diretivas que vão ajudar na ma como as famílias lidam com as regras institucionais.
formação do seu filho, é difícil, você não tem essa noção, As famílias de estratos médios da população, que outro-
é só o tempo. É como o casamento. (Pai de Juliana, dois ra não eram usuárias de creche pública, cada vez mais
anos) passam a fazê-lo, tanto pela perda de poder aquisitivo
como pela superação de preconceitos sobre a creche. Es-
Os conflitos sas famílias são culturalmente mais exigentes e menos
subservientes do que as famílias mais pobres, o que sig-
As famílias diferem em sua relação cotidiana com os nifica novos desafios para a relação entre profissionais e
profissionais. Algumas seguem as regras de funciona- usuários.
mento sem questionar, outras reclamam, “há mães que Só que eu vim com as regalias que eu tinha na outra
burlam as normas ou mentem”, conforme refere a direto- escola. Assim, eu chegava no horário que eu queria, mes-
ra que atribui “a relação confusa” de uma delas aos pro- mo que fosse fora de horário e os funcionários tivessem
blemas enfrentados pela família. Se, por um lado, a recla- indo embora eu estava chegando. Tudo bem, eu não fazia
mação da peça de roupa perdida é legítima, por outro, a isso de propósito, porque a empresa tinha acabado de ser
tentativa de burlar a regra sobre doenças transmissíveis, privatizada e eu trabalhava até tarde. Então, às vezes, eu
ou o horário de chegada e saída das crianças, revela as vinha pegar as crianças uma hora depois do horário de en-
dificuldades de algumas famílias lidarem com os limites cerramento das atividades da creche. (Mãe de Ana Cláudia,
impostos pelo contexto coletivo. quatro anos)
Não gosto desta mãe, ela mente, joga no meio, princi- Algumas famílias, identificadas com uma condição
palmente, quando chega atrasada. Quando o menino esta- social mais favorecida e, portanto, predispostas a um tra-
va com catapora, ela colocou-o no módulo e saiu correndo. tamento de qualidade, confundem o direito (universal)
Uma vez perdeu uma calça, apesar deles orientarem para ao serviço público de boa qualidade com o “seu” direito,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

colocar o nome, e passou o ano inteiro perguntando se a personalizando-o e desrespeitando frequentemente re-
calça apareceu. Ela diz que o patrão anda reclamando que gras coletivas, o que pode ser interpretado como impre-
o menino fica doente, tem problemas em casa e o marido cisão dos limites entre o público e o privado, conforme
está desempregado. Quando ele estava empregado a re- formulação de Da Matta (1986). Essa atitude é encontra-
lação com a creche era melhor. Mas é uma relação muito da em camadas sociais que buscam se diferenciar exigin-
confusa! (Diretora) do um tratamento “privado”, que nega a universalidade
Os profissionais também são pessoas com valores, do direito ao atendimento público, levando a lógica per-
peculiaridades, preferências e dificuldades que precisam sonalista que preside as relações no mundo privado para
ser elaboradas para que se relacionem de forma profis- o mundo público. O que deveria ser um direito universal
sional com as diferentes famílias. Criar vínculos profissio- transforma-se, mais uma vez, num favor, que remete a
nais não é o mesmo que criar vínculos pessoais. uma condição particular.

14
Em uma primeira conversa informal a mãe referida Considerações finais
disse à pesquisadora que fora “disciplinada pela cre-
che”. O uso desta expressão poderia sugerir o conceito A relação entre profissionais e famílias constitui-se
de disciplina de Foucault (1979, 1987) – o exercício do gradativamente, permeada por afinidades e contradi-
poder por meio da coerção sutil, ininterrupta, constante, ções, na lida cotidiana com as crianças. A complexidade
impondo um rigoroso código que normatiza o tempo, o dessa relação foi confirmada pelas evidências de que por
espaço e os movimentos, visando à “docilização dos cor- ela perpassam questões de várias ordens: gênero, direi-
pos”. O sentido dado ao termo, entretanto, remete a ou- tos sociais, organização e integração de serviços para a
tro significado. Ela referia-se a uma prática adquirida no infância, desigualdade socioeconômica, diversidade cul-
contato com a creche, ao ser chamada a refletir sobre os tural dos usuários, formação dos profissionais de educa-
cuidados infantis, baseados na perspectiva dos educado- ção infantil e de saúde.
res que compartilham os cuidados e a educação de seus Embora não se possa negar totalmente que o modelo
filhos. Há um limite tênue entre a atitude normativa por disciplinador, no sentido foucaultiano, permeie, de algu-
parte da equipe e a negociação entre equipe e família de ma maneira, a prática dos profissionais, a evidência dos
valores, crenças, conhecimentos e hábitos distintos e que conflitos pode ser a expressão de que as famílias e os
afetam diretamente o cuidado das crianças. profissionais encontram espaço para expor suas insatis-
Achava que eu dando bens materiais, eu estava su- fações e negociar as regras, limites e acordos necessários
prindo a minha presença. Então, eu dava muito, pre- ao processo de compartilhar educação e cuidado infantil.
sentes, brinquedos, passeios, mas a minha presença era Os conflitos são inerentes à vida social e psíquica e sua
pouca, até que a diretora da creche me chamou. Aí ela ausência pode significar apatia e submissão de uma das
me falou um monte de coisa que a princípio eu achei partes e sua não explicitação pode resultar em violência
que foi um atrevimento fora do comum, nunca ninguém (Galvão, 2004).
falou dessa maneira comigo. Até então, eu me achava Compartilhar cuidados implica o encontro de famí-
um exemplo de mãe, sabe, a mãe perfeita! Depois que lias e profissionais que podem ter perspectivas diferen-
ela falou tudo aquilo, eu fui me disciplinando. Fui vendo
tes sobre desenvolvimento e necessidades infantis, o que
que ela tinha razão. Aí, eu comecei a disciplinar com a
demanda uma constante negociação entre as partes. No
alimentação. Eu dava lanche todo dia, então, eu comecei
entanto, é preciso considerar, sobretudo, a perspectiva
a prestar atenção na alimentação, no dia-a-dia do meu
da criança, foco do cuidado e, ao mesmo tempo, partici-
filho, nos horários, ver a dificuldade das outras pessoas.
pante ativa da relação entre sua família e os profissionais
Não que eu fosse uma pessoa egoísta, nada disso, mas
de educação infantil.
eu achava que a dificuldade só atingia os outros, a mim,
não! Eu era inatingível. Então, a creche pra mim foi uma
lição de vida e, hoje, quando eu penso que a minha filha Fonte: MARANHÃO,
LEITURA D. G.;
E ESCRITA NASARTI, C. A. Disponível em
EDUCAÇÃO
já vai sair daqui! Eu já estou sofrendo antecipadamente. http://www.scielo.br/
INFANTIL
(Mãe de Ana Cláudia, quatro anos)
Os profissionais também têm que lidar com as con-
tradições que as diferenças sociais evidenciam, até mes-
mo em uma mesma família. A ALFABETIZAÇÃO NA CONCEPÇÃO INTERACIO-
A diferença era muito gritante. Na sala tinha mui- NISTA DE LINGUAGEM OU SOB A PERSPECTIVA DO
tos casos estranhos, uma mãe que não tinha condições LETRAMENTO
nenhuma, nenhuma mesmo. E têm as diferenças entre
mães que são irmãs. Dá um dó ver o jeitinho dela, a mãe O processo de construção da língua escrita, pela sua
mais pobre deixa a filha um pouco pra escanteio. Às ve- complexidade, exige muito mais do que algumas técni-
zes, ela vem a semana inteira com uma roupa, e a prima cas e/ou treinos mecânicos, e que a capacidade de ler e
toda bem arrumadinha sabe, e a roupa que a Ana Cecília escrever depende da compreensão de como funciona a
usava era roupa velha, que não servia para a Ana Cláu- estrutura da língua e do modo como ela é usada no meio
dia ou que ela não queria mais. Nossa, ver uma situação social. Dentre outras, as teorias construtivista e históri-
dessa, eu não gosto, isso é uma coisa que me aborrece! co-cultural (também conhecida, no Brasil, como socioin-
(Técnica de enfermagem) teracionista), elaboradas, respectivamente, por Piaget
Os profissionais estranham e necessitam lidar tanto (1987) e Vygotsky (1988), iluminam a reflexão sobre o
com os valores e as práticas das famílias mais pobres processo de alfabetização, na perspectiva a que estamos
como daquelas consideradas “diferenciadas”. As maiores nos referindo. Não desconhecemos as diferenças nas
dificuldades de compartilhar cuidados encontram-se nos posturas teóricas de ambos os teóricos e dos seus res-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

extremos da hierarquia social. pectivos contextos sócio-históricos em que produziram


Embora a creche venha tentando superar o estigma suas teorias. Pretendemos indicar os pontos de concor-
de instituição para crianças pobres, existem muitas con- dância mais gerais dessas duas teorias que contribuem
tradições nesta prática, evidenciadas, por exemplo, na para a compreensão do processo de aprendizagem, nes-
fala da coordenadora pedagógica que expressa achar te caso, da escrita e da leitura.
“engraçado” que, “não precisando”, algumas famílias se- Para Piaget (1987), a criança é vista como sujeito ati-
jam usuárias da creche. Sua atitude reflete a ambigui- vo no processo de aprendizagem, que interage com os
dade quanto ao reconhecimento do cuidado e da edu-
outros e com os objetos de conhecimento, num processo
cação da criança pequena como funções que requerem
permanente de estruturação/reestruturação de esque-
serviços de qualidade, para além das funções maternas e
mas mentais.
paternas desempenhadas no âmbito privado.

15
Para Vygotsky (1988), o homem constitui-se na sua A metodologia sociointeracionista acredita que a vi-
relação com os outros, o que implica entender que ele vência em sociedade é essencial para a transformação
(o homem) não possui nada pronto. Nesse sentido, o co- da criança. Assim, o conhecimento é construído e con-
nhecimento se dá pelas relações entre o indivíduo e o cretizado progressivamente. Nessa esfera o professor
mundo exterior e desenvolve-se num processo histórico, age como alguém que conduz a criança ao aprendizado.
sendo que a aprendizagem ocorre por uma mediação Seu papel é ativo em sala de aula – não como o detentor
social, em que a linguagem assume papel predominante. e o transmissor de conhecimentos, mas como mediador
Segundo Benveniste (1982), pela linguagem, ocorre e estimulador da aprendizagem. Incentivar a curiosidade
a ação de um indivíduo sobre o outro, o que promove a
e a vontade de aprender são os principais desafios de
interação. Daí, a importância da fala nesse processo. Na
uma escola sociointeracionista.
visão interacionista, a aquisição da linguagem resulta da
Portanto, a criança aprende identificando-se, imitan-
interação entre o programa mental inato do aprendiz e a
linguagem produzida por ele em conjunto com um inter- do, brincando, fazendo analogias, opondo-se, codifican-
locutor que possui o domínio da língua. Nesse processo, do e decodificando símbolos e seus significados, sempre
a criança vai testando suas “iniciativas verbais” através num ambiente social que preza a construção do conhe-
do seu relacionamento com os outros. Podemos dizer, cimento e que valoriza o seu próprio saber.
então, que as crianças elaboram hipóteses a respeito da
linguagem e, na medida do seu uso, vão conferindo as DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM.
representações que vão “dando certo” e construindo a
própria competência interlocutiva. Concepção sobre os processos de desenvolvimen-
No caso da educação formal, é fundamental a ação to e aprendizagem
intencional do professor, planejada para interferir nesse
processo com a finalidade de levar o aluno a aprender Piaget escreveu sobre a interação entre indivíduo e
usar adequadamente a linguagem nas suas diversas mo- meio constituída através de dois processos: organização
dalidades. interna das experiências e adaptação ao meio. Piaget não
A opção por um ensino baseado na gramática tradi- deu ênfase aos valores sociais e culturais no desenvolvi-
cional, por exemplo, só daria conta da primeira dessas mento da inteligência, pressupostos escritos por Vygotsky
dimensões e não serviria para levar o aluno à competên-
Lev Semenovich Vygotsky estudou sistematicamente
cia no uso da língua. Ora, o uso da língua começa muito
a psicologia e seu projeto principal foram os processos
antes da vida escolar, e vale considerar que a maneira
como a criança capta a linguagem, no seu convívio, in- de transformação do desenvolvimento na dimensão filo-
fluencia fortemente a aprendizagem. genética, histórico social e ontogenético.
Nesse entendimento, afirma Richter (2000), a lingua- As diferenças entre os dois autores parecem ser mui-
gem se desdobra em três dimensões indissociáveis: for- tas, mas eles partilham de pontos de vista semelhantes.
ma, função e estratégia. A opção por um ensino baseado Ambos entenderam o conhecimento como adaptação e
na gramática tradicional, por exemplo, só daria conta da como construção individual e compreenderam a apren-
primeira dessas dimensões e não serviria para levar o dizagem e o desenvolvimento como autorregulados.
aluno à competência no uso da língua. Ora, o uso da Discordaram quanto ao processo de construção des-
língua começa muito antes da vida escolar, e vale consi- se conhecimento, ambos viram o desenvolvimento e a
derar que a maneira como a criança capta a linguagem, aprendizagem da criança como participativa, não ocor-
no seu convívio, influencia fortemente a aprendizagem. rendo de maneira automática.
A criança transforma aquilo que aprende de acordo
Fonte com sua capacidade interna e nata, tornando-se trans-
JOSEFI, A. H. B. Alfabetização: concepções e contextos formadora da aprendizagem, criadora, se essa capacida-
de ensino. Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização de de aprendizagem e oportunidade lhe for oferecida.
nos Países de Língua Portuguesa. Vygotsky e Piaget estavam preocupados com o de-
senvolvimento intelectual, porém cada um começou e
SOCIOINTERACIONISMO
perseguiu por diferentes questões e problemas. Piaget
estava interessado em como o conhecimento é adqui-
O sociointeracionismo é uma teoria de aprendizagem
com o foco na interação. Segundo ela, a aprendizagem rido ou construído, onde a teoria é um acontecimen-
acontece em contextos históricos, sociais e culturais. As- to da invenção ou construção que ocorre na mente do
indivíduo, Vygotsky estava preocupado com a questão
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sim, o conhecimento real da criança é o ponto de partida


para o conhecimento potencial. de como os fatores sociais e culturais influenciam o de-
No início do século XX, um psicólogo russo chamado senvolvimento intelectual. A teoria de Vygotsky é uma
Lev Vygotsky, buscava reformular a psicologia por meio teoria de transmissão do conhecimento da cultura para
de uma abordagem que permitisse entender as relações a criança, os indivíduos interagem com agentes sociais
entre os indivíduos, as suas funções psicológicas e seu mais lecionados, como professores e colegas. As crianças
contexto social. Suas pesquisas revolucionárias, pro- constroem e internalizam o conhecimento que esses se-
põem uma situação de ensino/aprendizagem em que o res instruídos possuem. Enquanto que Piaget, não acre-
aprendiz, por meio do seu convívio social e da interação ditava que a transmissão direta desse tipo fosse viável.
com outras pessoas é capaz de construir o seu conhe- Para ele as crianças adquirem uma forma própria de se
cimento. desenvolver no social, mediante a construção pessoal

16
desse conhecimento. Piaget aprovou a construção in- Vygotsky (1987), faz uma diferenciação entre proces-
dividual como singular e diferente, embora comumente sos psicológicos, superiores rudimentares e processos
ligada e próxima daquela da cultura, com isso a criança psicológicos avançados. Nos primeiros, ele colocaria a
tem a chance de errar e construir. Vai ocorrendo períodos linguagem oral, como processo psicológico superior ad-
de desequilibração para uma nova sustentação de bases. quirido na vida social mais extensa e por toda a espécie,
Sabemos que muitos indivíduos estão estacionados em e sendo produzido pela internalização de atividades so-
algumas etapas de desenvolvimento e isso é refletido no ciais, através da fala. A interação e a linguagem têm um
dia-a-dia, com um jeito particular de pensar. importante destaque no pensamento de Vygotsky, uma
vez que irão contribuir no desenvolvimento dos proces-
Em relação à aprendizagem e desenvolvimento, as- sos psicológicos, através da ação. Vygotsky substituiu os
sunto deste estudo, tanto Vygotsky como Piaget, acre- instrumentos de trabalho por instrumentos psicológicos,
ditavam no desenvolvimento e aprendizagem, embora, explicando desta forma, a evolução dos processos na-
seus pontos de vista sobre o relacionamento sejam di-
turais até alcançar os processos mentais superiores, por
ferentes. Vygotsky tinha a ideia de que a aprendizagem
isso, a linguagem, instrumento de imenso poder, assegu-
é a força propulsora do desenvolvimento intelectual, en-
quanto que para Piaget o próprio desenvolvimento é a ra que significados linguisticamente criados sejam signi-
força propulsora. Piaget tinha a concepção de que o nível ficados sociais e compartilhados.
de desenvolvimento colocava limites sobre o que podia Vygotsky atribui importância a linguagem, pois além
ser aprendido e sobre o nível da compreensão possível da função comunicativa, ela é essencial no processo de
daquela aprendizagem, onde cada pessoa tem um ritmo, transição do interpessoal em intramental; na formação
não podendo ir além daquele estádio adquirido. do pensamento e da consciência; na organização e pla-
Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento po- nejamento da ação; na regulação do comportamento e,
tencial e zona de desenvolvimento proximal. A zona de em todas as demais funções psíquicas superiores do su-
desenvolvimento potencial é o nível de desenvolvimento jeito, como vontade, memória e atenção.
em que os estudantes são capazes de solucionar pro-
blemas de forma independente, enquanto que a zona As implicações do desenvolvimento para Piaget e
de desenvolvimento proximal é o nível em que os estu- Vygotsky
dantes podem resolver problemas com “apoio” (Lester
1994), ou seja, com a modelação do conhecimento e a Tomando o ponto de vista educacional, as duas teo-
interação social, os estudantes podem aprender coisas rias divertem. Embora Vygotsky e Piaget considerassem
que não aprendiam sozinhos. Piaget coloca que a nova
o conhecimento como uma construção individual, para
construção é sempre realizada sobre uma construção
Vygotsky toda construção era mediada pelos fatores ex-
anterior e que, com a desiquilibração, é sempre possível
o avanço das construções anteriores. Os fatores sociais, ternos sociais. Isto é, o professor e o programa institucional
para Vygotsky desempenham um papel fundamental no devem modelar ou explicar o conhecimento. Dessa forma,
desenvolvimento intelectual. A cultura estabelece um co- a criança constrói o seu próprio conhecimento interno a
nhecimento que é internalizado e construído pelas crian- partir do que é oferecido. A criança não inventa, mas reme-
ças. As crianças por sua vez vão tornando-se indivíduos mora, copia o que está socialmente exposto e a disposição.
com funções e habilidades intelectuais. Piaget, por sua A sociedade atribui a isto, um processo de transmissão de
vez, reconheceu infinitamente o papel dos fatores sociais cultura, e com isso o facilitador ou professor é o instrutor
no desenvolvimento intelectual. As interações sociais fo- da criança. Assim, o trabalho do agente é, entre outras coi-
ram consideradas como uma fonte do conflito cogniti- sas, modelar cuidadosamente o conhecimento.
vo, portanto, de desequilibração e, consequentemente, Piaget considerou a construção do conhecimento
de desenvolvimento. Ou seja, também desta forma, são como um ato individual da criança. Os fatores sociais in-
consideradas para a construção do conhecimento social. fluenciam a desequilibração individual através do confli-
to cognitivo e apontam que há construção a ser feita. A
O papel da linguagem no desenvolvimento inte- verdadeira construção do conhecimento não é medida,
lectual para Vygotsky e Piaget no sentido vygotskiano, pelo fator social e ambiente; ele
não é copiado de um referencial e modelo. O conheci-
A diferença mais nítida entre os dois teóricos, é refe-
mento anterior é reconstruído diante da desiquilibração
rente ao papel da linguagem no desenvolvimento inte-
socialmente provocada e estimulada. O papel do profes-
lectual. Vygotsky trata a aquisição da linguagem do meio
social como o resultado entre raciocínio e pensamento sor é visto basicamente como o de encorajar, estimular e
apoiar a exploração, a construção e invenção.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em nível intelectual. Piaget considerou a linguagem fa-


lada como manifestação da função simbólica, quando o “É óbvio que o professor enquanto organizador per-
indivíduo emprega a capacidade de empregar símbolos manece indispensável no sentido de criar as situações
para representar, o que reflete o desenvolvimento in- e de arquitetar os projetos iniciais que introduzam os
telectual, mas não o produz (Fowler 1994). Piaget con- problemas significativos à criança. Em segundo lugar,
siderou a linguagem como facilitadora, mas não como ele é necessário para proporcionar contraexemplos que
necessária ao desenvolvimento intelectual. Para Piaget, forcem a reflexão e a reconsideração das soluções rápi-
a linguagem reflete, mas não produz inteligência. A úni- das. O que é desejado é que o professor deixe de ser um
ca maneira de avançar a um nível intelectual mais eleva- expositor satisfeito em transmitir soluções prontas; o seu
do não é na linguagem com suas representações, e sim, papel deveria ser aquele de um mentor, estimulando a
através da ação. (Fowler 1994). iniciativa e a pesquisa”. Piaget. (1973).

17
Nas obras de Piaget, a criança pode utilizar as fontes e Desenvolvimento proximal e desenvolvimento
formas de informação no processo de construção. A crian- real para Vygotsky
ça pode ativamente ouvir uma exposição ou ler um livro
e empregar a informação recebida na construção. O pro- Para Vygotsky (1987), a zona de desenvolvimento pro-
cesso não é o de recriar um modelo, mas o de inventá-lo. ximal representa o espaço entre o nível de desenvolvi-
mento real, ou seja, aquele momento, onde a criança era
A interação social no desenvolvimento e aprendi- apta a resolver um problema sozinha, e o nível de desen-
zagem escolar para Piaget e Vygotsky volvimento potencial, a criança o fazia com colaboração
de um adulto ou um companheiro. A referência da zona
Para Vygotsky (1998), a aprendizagem não começa
de desenvolvimento proximal implica na compreensão de
na escola, que toda situação de aprendizagem escolar se
outras ideias que completa a ideia central, tais como:
depara sempre com uma história de aprendizagem pré-
via. Vygotsky retoma o tema da zona de desenvolvimen- a) O que a criança consegue hoje com a colaboração
to proximal e sua relação com a aprendizagem. de uma pessoa mais especializada, mais tarde po-
Tanto para Piaget como para Vygotsky, o ambiente derá realizar sozinha.
da sala de aula requer interação social, embora por cir- b) A criança consegue autonomia na resolução do
cunstâncias distintas. Para Vygotsky, o ambiente social é problema, através da assistência e auxílio do adul-
a fonte de modelos dos quais as construções devem se to, ou por outra criança mais velha, formando des-
aproximar. É a fonte do conhecimento socialmente cons- ta forma uma construção dinâmica entre aprendi-
truído que serve de modelo e media as construções do zagem e desenvolvimento.
indivíduo. A aprendizagem, e o desenvolvimento são ad- c) Segundo Vygotsky (1987), a aprendizagem acelera
quiridos por modelos e, claro, pela motivação da criança. processos superiores internos que são capazes de
Para Piaget, a interação com os colegas e adultos. atuar quando a criança encontra interagida com o
Vygotsky coloca que no cotidiano das crianças, elas meio ambiente e com outras pessoas. O autor res-
observam o que os outros dizem, porque dizem, o que salta a importância de que esses processos sejam
falam, porque falam, internalizando tudo o que é ob- internalizados pela criança.
servado e se apropriando do que viu e ouviu. Recriam
e conservam o que se passa ao redor. Em função des- Vygotsky colocou que “as funções mentais superiores
ta constatação, Vygotky afirma que a aprendizagem da
são produto do desenvolvimento sócio histórico da es-
criança se dá pelas interações com outras crianças de seu
pécie, sendo que a linguagem funciona como mediador.
ambiente, que determina o que por ela é internalizado. A
Lima (1990), por isso que a sua teoria ficou conhecida
criança vai adquirindo estruturas linguísticas e cognitivas,
mediado pelo grupo. como sociointeracionista.
Não se pode ignorar o papel desempenhado pelas
O desenvolvimento cognitivo para Vygotsky e Pia- crianças ao se relacionarem e interagirem com outras
get pessoas, que sejam professores, pais e outras crianças
mais velhas e mais experientes. A mediação é a forma
Segundo Piaget (1987), a origem do desenvolvimento de conceber o percurso transcorrido pela pessoa no seu
cognitivo dá-se do interior para o exterior, ocorrendo em processo de aprender. Quando o professor, se utilizan-
função da maturidade da pessoa. O autor considera que do a mediação, consegue chegar a zona de desenvolvi-
o ambiente poderá influenciar no desenvolvimento cog- mento proximal, através dos “porquês” e dos “como”, ele
nitivo, porém sua ênfase recai no papel do ambiente para pode atingir maneiras através das quais a instrução será
o desenvolvimento biológico, ressaltando a maturidade mais útil para a criança. Desta forma, o professor terá
do desenvolvimento. condições de não só utilizar meios concretos, visuais e
A abordagem de Vygotsky se contrapõe a de Piaget, reais, mas, com maior propriedade, fazer uso de recursos
o desenvolvimento é de fora para dentro, através da in- que se reportem ao pensamento abstrato, ajudando à
ternalização. Vygotsky afirma que o conhecimento se dá criança a superar suas capacidades.
dentro de um contexto, afirmando serem as influências
sociais mais importantes que o contexto biológico.
Desenvolvimento e aprendizagem para Piaget
Resumindo, para a teoria vygotskiana, o desenvolvi-
mento ocorre em função da aprendizagem, ao contrário
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do pensamento de Piaget que assegura ser a aprendi- Ao elaborar a teoria psicogenética, Piaget procurou
zagem uma consequência do desenvolvimento. Ex: in- mostrar quais as mudanças qualitativas por que passa a
teração e troca com outras crianças e do adulto como criança, desde o estágio inicial de uma inteligência prá-
modelo. tica (período sensóriomotor), até o pensamento formal,
O desenvolvimento cognitivo para Piaget, é o de lógico-dedutivo, a partir da adolescência. A adaptação
equilibração, existiria uma interação entre o indivíduo e do sujeito vai ocorrendo, de maneira que é necessário
o meio, ligados com outros fatores como experiências, investigar. Para que esta adaptação se torne abrangente,
genética, maturação biológica, formando os esquemas, a é necessário investigar como esses conhecimentos são
assimilação, a acomodação, a adaptação e a assimilação. adquiridos. Este questionamento é o interesse principal
da epistemologia genética. Dolle (1993).

18
Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser aceito A teoria de Vygotsky trata o indivíduo como um
como algo predeterminado desde o nascimento ou de agente e o meio, é externo, com isso, os indivíduos inte-
acordo com a teoria inatista, nem resultado do simples ragem com o social, com colegas e mediadores. Através
registro de percepções e informações como comenta o disso, as crianças internalizam e constroem o conheci-
empirismo. Resulta das ações e interações do sujeito com mento, sob influência desse meio e como são passados
o ambiente onde vive. Todo o conhecimento é uma cons- os conhecimentos.
trução que vai sendo elaborada desde a infância, através Piaget não desconsiderava que o conhecimento é in-
da interação sujeito com os objetos que procura conhe- fluenciado pelo externo, como muitos pensam, apenas
cer, sejam eles do mundo físico ou cultural. acreditava que a criança adquire esses modelos externos,
Os objetos do conhecimento têm propriedades e par- através da cultura, história e modelo social, mas ao mes-
ticularidades que nem sempre são assimiladas pela pes- mo tempo tem uma influência constitucional única que a
soa. Por isso, uma criança que já construiu o esquema ajuda ou dificulta a construir seu conhecimento.
de sugar, com maior facilidade utiliza a mamadeira, mas
terá que modificar o esquema para chupeta, comer com Para Piaget a construção do conhecimento individual
colher, etc. Também será mais fácil para essa criança, ela
é única, a criança tem chance de errar e construir, para
já tem esquemas assimilados.
A este processo de ampliação ou modificação de haver desequilíbrio necessário para novas aquisições.
um esquema de assimilação. Piaget chamou de acomo- O facilitador deve investigar, reforçando, para que
dação, embora seja estimulado pelo objeto, é também não ocorra falhas no processo de conhecimento e tam-
possível graças à atividade do sujeito, pois é este que se bém pra que não ocorra desgaste demasiado, sem me-
transforma para a elaboração de novos conhecimentos. dição. Quando a criança estiver “congelada” no desen-
Com sucessivas aproximações, construindo acomo- volvimento, cabe ao facilitador, mostrar o caminho para
dações e assimilações, completa-se o processo a que a aprendizagem. Muitas vezes, a criança sozinha “não dá
Piaget chamou de adaptação. A cada adaptação consti- conta” de suas próprias experimentações.
tuída e realizada, o esquema assimilador se torna solidi- Para Vygotsky, a aprendizagem é a força propulsora
ficado e disponível para que a pessoa realize novas aco- do desenvolvimento intelectual, enquanto que para Pia-
modações. O que promove este movimento é o processo get, o próprio desenvolvimento é a força propulsora.
de equilibração, conceito central na teoria construtivista. As duas concepções sobre aprendizagem devem ser
complementares, não adianta acreditar unicamente na
Diante de um estímulo, o indivíduo pode olhar como
constituição do próprio sujeito, e nem contar com meios
desafio, uma suposta falta no conhecimento, faz com que
a pessoa se “desequilibra” intelectualmente, fica curioso, externos. Deve haver senso de percepção para perceber
instigado, motivado e, através de assimilações e acomo- o que a criança necessita no momento, a utilização ine-
dações, procura restabelecer o equilíbrio que é sempre rente de construção ou uma espera do meio, por isso a
dinâmico, pois é alcançado por meio de ações físicas e utilização dos dois processos deve ser considerada.
também mentais. Para Piaget o nível de desenvolvimento colocava li-
O pensamento vai se tornando cada vez mais com- mites sobre o que podia ser aprendido e sobre o nível
plexo e abrangente, interagindo com objetos do conhe- de compreensão possível daquela aprendizagem, não
cimento cada vez mais diferentes e abstratos. podendo, a pessoa ir além do seu ritmo. Não adiantaria
A educação é um processo necessário, é importante irem além do ritmo da criança, de maneira tradicional ou
considerar o principal objetivo da educação que é auto- simplista. O que resultaria num bloqueio na aprendiza-
nomia, tanto intelectual como moral. gem. Se a criança não consegue ir além do que lhe é
A criança vai usando o sistema, pela sua própria es- permitido mentalmente, cabe observar e usar técnicas
trutura mental, que Piaget destaca, a lógica, a moral, a
para que esse desenvolvimento ocorra, com ajuda exter-
linguagem e a compreensão de regras sociais que não
são inatas, que não são impostas de dentro para fora e na, e colocações de questões para a própria criança per-
sim construídas pelo sujeito ao longo do desenvolvimen- ceber onde está, dentro do que lhe é cobrado, exigido.
to, através de estágios diferentes um do outro. Seria uma troca de meios para que esse desenvolvimento
A afetividade está correlacionada a esta inteligência e ocorra, fatores internos e externos intercalando-se. Po-
desempenha papel de uma fonte energética da qual de- rém, dependendo do nível intelectual da constituição
penderia o funcionamento da inteligência. “A afetividade mental, pode não haver um potencial para as novas aco-
pode ser a causa de acelerações ou retardos no desen- modações.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

volvimento intelectual e que ela própria não engendra


estruturas cognitivas, nem modifica as estruturas do fun- Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento po-
cionamento nas quais intervém” Dolle (1993), tencial e zona de desenvolvimento proximal, uma forma
Tanto Piaget como Vygotsky estavam preocupados seria sem apoio na resolução de problemas e a outra
com a questão do desenvolvimento e cada um buscou forma, é a forma em que os indivíduos podem resolver
formas diferentes e complementares para elaboração os problemas com apoio, ou seja, com a modelação de
das estruturas mentais e formação de esquemas. conhecimento e a interação do meio social, os indivíduos
Para Piaget o conhecimento é construído, como for-
podem adquirir conhecimentos que antes não podiam. A
ma de constituição individual, enquanto que Vygotsky
desequilibração é sempre possível para as construções an-
comentou os fatores sociais, históricos e culturais in-
teriores. É necessário errar, para ocorrer o conhecimento.
fluenciáveis no desenvolvimento.

19
Não são somente as desequilibrações anteriores que Aprender a ler e a escrever permite que nos identifi-
podem ser desenvolvidas, mas as “superiores”, se exis- quemos com outras pessoas do nosso país e do nosso
te a pessoa que oferece orientação para o indivíduo, ele convívio, promovendo dessa maneira o acesso: à cultura,
acaba por superar, para poder ir aonde quer chegar. Na ao conhecimento de novas tecnologias e o estreitamen-
medida em que o indivíduo recebe uma orientação, ele to de laços entre outros indivíduos de nossa sociedade.
começa a formular hipóteses, antes desconhecidas por Entretanto nos dias além das características destacadas o
ele mesmo. acesso à leitura e a escrita possibilita a inserção e inclu-
Os fatores sociais para Vygotsky desempenham um são dentro da sociedade.
A importância de saber ler e escrever relaciona-se as
papel fundamental no desenvolvimento intelectual. A
grandes mudanças provocadas em esfera mundial. Vive-
cultura estabelece um conhecimento que é internalizado
mos em um mundo globalizado, no qual determinadas
e construído pelas crianças. Piaget reconheceu os fatores atividades precisam dessa habilidade, como também
sociais no desenvolvimento intelectual que provoca desi- equipamentos, pequenas tarefas e outros afazeres do
quilibração e construção desse conhecimento. nosso cotidiano fazem com que os seus manipulado-
É necessário um modelo para orientar e fazer a crian- res saibam ler e escrever. A alfabetização e letramento
ça pensar sobre como está para desenvolver-se. Nas tro- são conceitos diferentes, mas, porém, caminham juntos.
cas de valores entre o meio, o indivíduo vai aprendendo Sendo assim é relevante analisarmos cada um e observar
a pensar por si mesmo. como esses conceitos são aplicados e a sua importância.
Enquanto no referencial construtivista o conheci- O conceito de letramento surgiu a partir das deman-
mento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade, das emergentes que surgiram principalmente durante o
onde o ser é visto como ativo, para Vygotsky o sujeito século XX e início do século XXI. A partir das transforma-
não é apenas ativo, mas interativo, porque constitui co- ções que mudaram a forma de organização mundial a di-
nhecimento através de relações intra e interpessoais. É mensão de ensino aplicado nas escolas passa a ser ques-
tionada e reformulada, deixando de ir além da lógica de
na troca com outros sujeitos e consigo próprio que há
ensino estabelecida dentro da sala de aula, da relação
internalização de conhecimentos, papéis e funções so- entre o aluno / professor e professor /aluno no processo
ciais, o que permite a constituição de conhecimentos e de aprendizagem. Essa dimensão perpassa os muros da
da consciência. escola e vai de encontro com as demandas provenientes
da sociedade (econômica, social, política e cultural).
Enquanto para Piaget a aprendizagem depende do Os estudos e o próprio conceito de letramento surgi-
estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito, para ram durante o século XX início do século XXI, mas para
Vygotsky, a aprendizagem favorece o desenvolvimento definirmos com mais precisão, os estudos sobre ele sur-
das funções mentais. giram durante a década de 1980 em alguns países da
Os estágios de desenvolvimento são importantes na a América do Norte (Canadá) e também na Europa. No
avaliação profissional, para saber onde o indivíduo se en- Brasil os estudos sobre o letramento surgiram também
contra para fornecer subsídios para novas aquisições. Os quase na mesma época que nos outros países e um
educadores não devem deixar de perceber o sujeito em de seus pioneiros foi Paulo Freire. O método utilizado
por Paulo Freire para alfabetizar aqueles que não eram
relação ao tempo e a cultura. A criança transforma aqui-
abrangidos pelas políticas educacionais do governo, em
lo que aprende de acordo com sua capacidade interna,
sua metodologia Paulo Freire formava círculos de estu-
tornando-se transformadora da aprendizagem, criadora, dos e a partir do conhecimento prévio de seus alunos ele
se essa capacidade de aprendizagem e oportunidade lhe partia para o processo de alfabetização.
for oferecida. Nesse sentido podemos compreender que o concei-
Sabemos que muitos indivíduos estão estacionados to de letramento tem como objetivo principal analisar a
em algumas etapas de desenvolvimento e isso é refletido forma como a escrita e a leitura interferem e modificam a
no dia-a-dia, com um jeito particular de pensar. vida social do indivíduo.
Alfabetização é o processo de aprendizagem onde se
Fonte: SAYEGH, F. desenvolve a habilidade de ler e escrever, já o letramento
desenvolve o uso competente da leitura e da escrita nas
CONCEITOS, LÍNGUA E ENSINO DE LÍNGUA, ALFA- práticas sociais.
BETIZAÇÃO E LETRAMENTO Então, uma das principais diferenças está na quali-
dade do domínio sobre a leitura e a escrita. Enquanto o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sujeito alfabetizado sabe codificar e decodificar o siste-


A sociedade na qual estamos inseridos caracteriza-
ma de escrita, o sujeito letrado vai além, sendo capaz
-se por vários elementos que nos constituem como um
de dominar a língua no seu cotidiano, nos mais distin-
povo e uma nação. Uma pessoa que mora fora e decidi
tos contextos.
fazer uma pesquisa sobre o nosso país encontrará vários A alfabetização é o processo de ensino e aprendiza-
elementos que demonstram que somos uma unidade ou gem de um sistema linguístico e da forma como usá-lo
nação, isso é válido para qualquer país do mundo. Para para se comunicar com a sociedade.
que saibamos as diferenças existentes entre um país e ou- Através da alfabetização, o sujeito será capaz de codi-
tro utilizamos de elementos nacionais os quais podemos ficar e decodificar uma língua, aprendendo a ler e escre-
destacar a língua oficial, as fronteiras que nos rodeiam e ver. Esse processo também habilita o sujeito a desenvol-
os traços culturais existentes entre outros elementos. ver diversos métodos de aprendizado da língua.

20
Enquanto a alfabetização desenvolve a aquisição da O brincar ensina a criança a lidar com as emoções. Por
leitura e da escrita, o letramento se ocupa da função so- meio da brincadeira, a criança equilibra as tensões pro-
cial de ler e escrever. venientes de seu mundo cultural, construindo sua indivi-
O letramento é o estado que um indivíduo ou grupo dualidade, sua marca pessoal e sua personalidade. Por-
social alcança depois de se familiarizar com a escrita e a tanto, a escola deve facilitar a aprendizagem utilizando
leitura, possuindo uma maior experiência para desenvol- atividades lúdicas que criem um ambiente alfabetizador
ver as práticas do seu uso nos mais diversos contextos a fim de favorecer o processo de aquisição de autonomia
sociais. Um indivíduo letrado é capaz de se informar por na hora do aprendizado.
meio de jornais, interagir, seguir receitas, criar discursos, Como benefício social – a criança, através do lúdico, re-
interpretar textos, entre outros. presenta situações que simbolizam uma realidade que ainda
A alfabetização é um processo que começa muito an- não pode alcançar; através dos jogos simbólicos se explica o
tes da entrada da criança na escola, onde é submetida real e o eu. Por exemplo, brincar de boneca representa uma
a mecanismos formais de aprendizagem da leitura e da situação que ela ainda vai viver e, portanto, desenvolve um
escrita. instinto natural. O brincar constrói na criança a noção social
da importância das regras e do respeito aos outros.
Hoje, tão importante quanto conhecer o funciona-
Em resumo, percebemos que, mais do que um passa-
mento do sistema de escrita é poder se engajar em prá-
tempo, o lúdico é altamente importante como estratégia
ticas sociais letradas. Assim, enquanto a alfabetização se
de trabalho para o desenvolvimento dos conteúdos con-
ocupa da aquisição da escrita, o letramento se preocupa
ceituais, procedimentais e atitudinais na formação das
com a função social do ler e do escrever. crianças e deve estar presente na sala de aula.
A expressão letramento apareceu ao lado da alfabeti- A fala é o principal instrumento de comunicação das
zação por se considerar o domínio mecânico da leitura e crianças com os professores e os colegas. Entretanto, é
da escrita insuficiente na sociedade atual. Tornou-se ob- recente a tendência de torná-la um conteúdo na escola.
jetivo da escola introduzir os alunos nas práticas sociais Hoje, compreende-se que todos precisam saber se ex-
de leitura e escrita, pois deixou de ser satisfatório em sua pressar e usar a linguagem em variadas situações comu-
formação o desenvolvimento específico da habilidade de nicativas: conversas, entrevistas, seminários, ao telefone,
codificar e decodificar a escrita. entre tantas outras. Para desenvolver a comunicação oral
Para tal, é necessário mais do que apresentar para os desde cedo, é importante diversificar os assuntos tra-
alunos as letras e sua relação com os sons, as palavras e tados em sala de aula. O grupo pode discutir uma re-
as frases. É preciso trabalhar com textos reais estimulan- portagem, um fato recente ou até um texto científico.
do a leitura e a escrita dos diversos gêneros textuais para Trazer outras pessoas para bater papo também ajuda. A
que aprendam a diferenciá-los e a perceber a funciona- importância do desenvolvimento da linguagem oral não
lidade de cada um dos textos (para que eles servem) e se limita a questões ligadas aos relacionamentos sociais,
as diversas finalidades da leitura e da escrita (para que como aprender a se comunicar, a expressar suas ideias,
lemos e escrevemos). pensamentos e dúvidas. É fundamental também para o
Dessa forma, percebemos que alfabetizar e letrar são desenvolvimento cognitivo, principalmente ligado ao
duas tarefas a serem desenvolvidas concomitantemente aprendizado da escrita e da leitura.
nas classes de alfabetização. Por meio de um trabalho de desenvolvimento da ora-
Um ambiente é alfabetizador quando promove um lidade, as crianças aprendem a distinção entre linguagem
conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita oral e escrita (quando percebem que o que está sendo
das quais as crianças têm oportunidade de participar. lido não é exatamente igual ao que está sendo contado),
organizam o pensamento e a linguagem, ampliam o vo-
As crianças têm preferências por atividades diferentes
cabulário, aprendem a explicar, justificar, opinar e argu-
e cada uma apresenta um ritmo próprio. O desenvolvi-
mentar para defender seus pontos de vista.
mento das atividades psicomotoras, do relacionamento O trabalho com a linguagem oral é fundamental tam-
com os outros, da fala e de diversas outras formas de bém como preparação para a produção de textos, pois,
comunicação vão acontecendo em épocas relativamente mesmo no momento em que as crianças não escrevem
distintas. As crianças reagem de formas diferentes, por convencionalmente, elas podem produzir textos oralmente
isso o ambiente alfabetizador precisa ser organizado e trabalhando a organização de ideias, a topicalização dos
assimilar hábitos de trabalho que contribuam para a in- fatos, a coerência, a organização discursiva dos textos.
dependência de cada uma delas. Dessa forma, percebe-se que o trabalho com a lin-
A sala de aula deve estar preparada de forma a des- guagem oral é pré-requisito fundamental, devendo estar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pertar o interesse pela leitura, pela escrita e pelo manu- presente em todas as aulas.
seio do material didático. A construção da escrita caracteriza-se por ser um pro-
A evolução da leitura e da escrita, tendência natural, cesso que ocorre nas interações sociais vivenciadas pela
criança, isto é, na interação com os adultos, a qual não
expressiva e criativa da criança, pode ser facilitada pelo
somente vai dando sentido à escrita da própria criança,
educador por meio de atividades lúdicas, que servirão de
como também contribui para que ela se torne “sujeito”.
apoio ao desenvolvimento da linguagem falada e ao pro-
Dessa forma, a alfabetização como prática social pre-
cesso de aquisição da linguagem escrita. Jogar e brincar cisa lidar com textos reais e com as reais necessidades de
são atividades que, se bem orientadas, certamente con- leitura e escrita, para que as crianças percebam a função
tribuirão para o desenvolvimento da psicomotricidade social de tal aprendizado e assim estabeleçam um diálo-
no contexto do processo escolar. go com o mundo.

21
A função da escola, na área de linguagem, é intro- 1. Conceito de Língua e Ensino da Língua
duzir a criança no mundo da escrita, explorando tanto a
língua oral quanto a escrita como forma de interlocução, Inicialmente o conceito de língua refere-se a todo o
em que quem fala ou escreve é um sujeito que em de- conjunto de gestos, sons e elementos que tem o intuito
terminado contexto social e histórico, em determinada de promover a comunicação de indivíduos em uma so-
situação pragmática, interage com um locutor, também ciedade. A língua pode ser expressa tanto pela oralida-
um sujeito, e o faz levado por um objetivo, um desejo, de e também por gestos (no caso, a língua brasileira de
uma necessidade de interação.  sinais-LIBRAS). Pode ser entendida também como uma
É fundamental que, no processo de alfabetização, as forma de expressar a ideia de pertencimento e identidade
crianças saibam as funções sociais e as finalidades da lei- de determinado povo e identidade pois através do ato de
tura e da escrita; precisam saber para que se aprende a fala saberei se é um homem ou uma mulher que estão
escrever e a ler. Só compreendendo e praticando esse falando, sua idade e demais. É um fator social, muitas das
exercício é que a alfabetização terá sentido. vezes podendo exercer e estabelecer relações de poderes
A proposta de alfabetização e letramento deve na- entre uma classe e outra.
turalmente adequar-se às exigências da realidade atual. Dessa forma o ensino da língua a ser aprendida na es-
Nessa realidade, a letra de imprensa está presente em cola deve pautar-se nas questões expostas acimas como
todos os momentos da vida de crianças e adultos: nos ainda em um outro ponto. Quando se estuda a língua
livros, na televisão, nas revistas, nos jornais, nas embala- na escola geralmente aprende-se a língua culta, cheia de
gens, nos rótulos, no teclado do computador. regras e normas, passa-se anos aprendendo ela sendo
A consciência fonológica pode ser definida como a que no dia a dia a língua falada e que também faz parte
habilidade de manipular a estrutura sonora das palavras, da língua do país, mas que não está oficializada em do-
desde a substituição de determinado som até sua seg- cumentos ou livros é descartada. Deve-se nesse sentido
mentação em unidades menores. propiciar ao aluno que tanto a língua oficial, aquela em
É uma capacidade cognitiva a ser desenvolvida, uma que estudamos por anos e que é cheia de regras e normas
vez que contribui para o processo de aquisição da leitura de aplicação também é importante como a utilizada em
e da escrita. Sua importância está ligada à compreensão nosso dia a dia cheia de variações regionais e sotaques,
do princípio alfabético e ao desenvolvimento de habilida- sem preocupação com as normas também é importante
des, como o reconhecimento de sílabas e fonemas numa e faz parte da língua que compõe o sentimento e o ideal
palavra. de pertencimento e identidade. Sendo o assim o proces-
É de suma importância no desenvolvimento da cons- so de ensino da língua deve estar vazio de preconceitos
ciência fonológica o trabalho com rima e aliterações. e estereótipos proporcionando ao aluno o sentimento de
É necessário compreender que o conceito de letra- pertencimento e mais ainda, possibilitando que se torne
mento vai além dos dizeres sobre que uma pessoa é um aluno alfabetizado e também letrado.
especialista em determinado assunto e outra não, essa
posição não é ideal pois o conceito acaba se tornando O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
raso e deixando a parte o seu principal objetivo que é a
compreensão e análise dos códigos escritos e interpreta- O processo de alfabetização tem sido um grande de-
dos no meio social por cada indivíduo. safio a ser enfrentado pelo professor-alfabetizador e pela
Durante o processo de alfabetização de jovens e adul- sociedade que almeja uma educação de qualidade em
tos os materiais, recursos e métodos de ensino devem nossas escolas. Uma grande quantidade de nossos alunos
ser adequados a sua idade e sua vivência pois estes dife- tem demonstrado muita deficiência na leitura, interpreta-
rentemente das crianças possuem uma visão de mundo ção e redação de textos. Apesar da importância dos mo-
que se difere a delas. Em pesquisas realizadas percebe-se vimentos de renovação da educação, as avaliações nacio-
que os materiais utilizados para jovens e adultos são de nais e regionais noticiadas para todos nós evidenciam um
crianças causando um certo estranhamento e déficit no quadro não muito diferente do que já existia nas décadas
processo de alfabetização e letramento. passadas. Se antes a grande preocupação era a evasão es-
O conceito de alfabetização pode ser interpretado colar, hoje são as imensas dificuldades de leitura e o bai-
pelo processo de aquisição das habilidades de ler e es- xo índice de competências nas séries iniciais e até mesmo
crever. É um processo individual e está interligado com a no ensino fundamental e médio. As crianças necessitam
escola, pois, através da entrada da criança em uma idade do professor-alfabetizador experiente e competente, que
específica na escola e com a instrução e acompanhamen- venha contribuir para a prática de um ensino interativo,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

to dos professores é que ela irá ser alfabetizada. contextualizado e muito bem planejado.
As atividades que são elaboradas aos alunos devem Assim, de posse dos conhecimentos e conteúdos
ser atividades nas quais eles possam explorar suas emo- necessários, ele incentiva a compreensão e produção de
ções e criatividade, como exemplo, podemos citar ati- novos conhecimentos, contribuindo na formação de se-
vidades como o clube da leitura, contação de histórias, res humanos capazes de gerar a construção dos saberes,
produções individuais ou em grupos de histórias produ- a partir de suas reflexões e ações e da realidade que os
zidas pelos alunos e demais. Tais atividades aqui colo- cerca. Diante dos problemas que se enfrenta no proces-
cadas possibilitarão ao aluno que ao mesmo tempo em so educacional, especialmente na alfabetização das séries
que seja alfabetizado ele também se torne um indivíduo iniciais, depara-se com a urgência de soluções que contri-
letrado. buam na construção do saber. Competir e estar aberto a
todas as possibilidades que fazem parte do aprendizado

22
para a vida é um direito de todos e dever dos educado- pois este começa muito antes da escolarização. É útil se
res na escola e na sociedade, pois uma criança aprende perguntar através de que tipo de práticas a criança é in-
por meio das relações que estabelece com seu ambiente. troduzida na língua escrita, e como se apresenta este ob-
Assim acontece no processo de alfabetização e aquisição jeto no contexto escolar. Há práticas que levam a criança
de novos conhecimentos. É tarefa primordial do professor à convicção de que o conhecimento é algo que os outros
como mediador do conhecimento refletir sobre a metodo- possuem e que só se pode obter da boca dos outros, sem
logia ideal que leva as crianças a compreenderem o fun- nunca ser participante na construção do conhecimento.
cionamento da língua e saber utilizá-la cada vez melhor. Nos dias de hoje, em que a sociedade do mundo
Para quem pretende assumir os riscos dessa perma- inteiro está cada vez mais centrada na escrita, ser al-
nente revisão sobre o processo de alfabetização, é funda- fabetizado, isto é, saber ler e escrever tem se revelado
mental que não deixe de ser sensível, e também criativo condição insuficiente para responder adequadamente
e crítico, pois há muitos aspectos específicos a considerar às demandas da sociedade contemporânea. É preciso
e não se deve supor que todas as informações necessá-
ir além da simples aquisição do código escrito e fazer
rias à prática docente já estejam catalogadas e analisadas.
uso da leitura e da escrita no cotidiano apropriando-se
É essencial que se continue a pesquisar e experimentar
da função social dessas duas práticas.
novos caminhos. O interesse despertado pelo tema da al-
Enfim, é preciso letrar-se, isto é, buscar por meio
fabetização vem produzindo um aumento significativo de
pesquisas, seminários, livros, artigos e teses. Isso mostra de pesquisas e cursos de formação, as ações pedagó-
que é preciso renunciar à ideia de que já sabemos tudo gicas de reorganização do ensino e reformulação dos
e podemos fazer tudo, ou não sabemos nada e nada po- modos de ensinar e fazê-las acontecer na prática em
demos fazer. De acordo com as valiosas experiências de sala de aula. Segundo a professora Magda Becker Soa-
educadores que fizeram diferença res, “letrar é mais que alfabetizar”. Portanto, competir
Em nossa sociedade, entende-se que se faz necessá- e estar aberto a todas as possibilidades que fazem par-
rio aceitar a frustração e deve-se perder o medo do fra- te do aprendizado para a vida são quesitos essenciais
casso e do desconhecido. Conhecendo de perto os mé- na formação escolar, pois uma criança aprende por
todos de alfabetização e suas respectivas características, meio das relações que estabelece com seu ambiente.
comparando e avaliando o desempenho dos alunos alfa- Assim acontece no processo de alfabetização e
betizados com métodos diferentes, e também analisando aquisição de novos conhecimentos. A cada momento,
a maneira que se processa a alfabetização nas séries ini- multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e
ciais, pode-se definir com mais clareza porque acontece a de escrita, não só no papel, mas também através dos
defasagem na leitura, na escrita e na interpretação textual meios eletrônicos. Se uma criança sabe ler, mas não
que estão presentes em muitos alunos. é capaz de ler um livro, uma revista ou um jornal e se
sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de es-
Alfabetização em processo crever uma carta, ela é alfabetizada, mas não é letrada.
Desde os tempos do Brasil Colônia, e até muito recen-
Muito se tem falado a respeito do fracasso da alfabe- temente, o problema que enfrentávamos em relação à
tização em grande parte das nossas escolas. Verificando cultura escrita era o analfabetismo. Esse problema foi
o resultado das avaliações nacionais podemos compro- relativamente superado nas últimas décadas, ou seja,
var os sérios problemas de aprendizagem existentes em foi vencido de forma pelo menos razoável. É necessá-
grande parte das escolas de nosso país. Segundo alguns rio, portanto, não desmerecer a importância de ensinar
pesquisadores, muitas publicações importantes sobre
a ler e a escrever, reconhecendo que isso não basta.
esse assunto não conseguiram uma entrada mais efetiva
Mas isso não quer dizer que os dois processos, alfabe-
nas ações escolares, mas tiveram algumas de suas versões
tização e letramento sejam processos distintos; na ver-
tomadas como referências fundamentais na elaboração
dade, não se distinguem, deve-se alfabetizar letrando.
de programas nacionais e regionais, como o Programa
Nacional do Livro Didático e os Parâmetros Curriculares Alfabetização e letramento se somam. Ou melhor, a
Nacionais. Necessitamos compreender o que está acon- alfabetização é um componente do letramento. Anali-
tecendo com o processo de alfabetização de nossos alu- sando as experiências de Eglê Pontes Franchi, profes-
nos das séries iniciais. Sabe-se que eles necessitam de sora e pesquisadora, autora recomendada pelo Profes-
mediadores do conhecimento que venham contribuir sor Paulo Freire, conhecida por sua experiência com a
para a prática de um ensino interativo, contextualizado alfabetização de crianças e também com a formação
e muito bem planejado. Por isso, precisamos conhecer os de professores, compreendemos melhor o processo de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

métodos de alfabetização e suas respectivas característi- alfabetizar. Como muitos educadores, ela verificou na
cas, comparar e avaliar o desempenho dos alunos alfabe- prática, como age na sociedade acriança que é alfabe-
tizados com métodos diferentes e analisar a maneira que tizada com a utilização de tudo o que ela já conhece
se processa a alfabetização no processo ensino-aprendi- e como isso se reflete na vida familiar e social na qual
zagem. ela convive.
Para Emília Ferreiro, “os saberes que o aluno traz para
a escola e como eles devem ser trabalhados pelos profes- Os alfabetizandos, enquanto operam sobre a des-
sores, fazem parte da linguagem no processo de alfabeti- coberta das letras, das sílabas e das palavras iniciais
zação”. Diante disso, podemos observar que os processos de seu vocabulário escrito, já dominam amplamente a
de aquisição da leitura e da língua escrita no contexto es- linguagem rica e variada de que se servem na conver-
colar devem considerar o desenvolvimento das crianças, sação e no diálogo. Por isso é que a alfabetização deve

23
ancorar-se na linguagem que as crianças dominam e todo. Algumas crianças entram na primeira série
nascer com fortes marcas da oralidade. “Trata-se de sabendo ler. O professor lê textos em voz alta e é
considerar a prática oral das crianças como o contexto acompanhado pela classe. Os alunos são estimu-
em que as primeiras palavras e as primeiras frases es- lados a copiar textos com base em uma situação
critas ganham naturalidade”. social pré-existente. A leitura em voz alta por parte
dos estudantes é substituída por encenações de si-
Métodos e técnicas de alfabetização tuações que foram lidas ou desenhos que ilustram
os trechos lidos.
Nas últimas décadas assistiu-se a um abandono na
discussão sobre a eficácia de processos e métodos de As crianças aprendem a escrever em letra de forma
alfabetização, que passaram a ser identificados como e a consciência fônica é uma consequência. Com base
propostas tradicionais, e passou-se a discutir e analisar nas pesquisas e experiências de Emília Ferreiro, podemos
uma abordagem construtivista de grande impacto con- discutir e analisar que a prática alfabetizadora tem se
centrado na polêmica sobre os métodos utilizados. Po-
ceitual nessa área. Assim, valorizar o diagnóstico dos co-
rém, nenhuma dessas discussões levou em conta o co-
nhecimentos prévios dos alunos e a análise de seus erros
nhecimento que as crianças já apresentam antes mesmo
como indicadores construtivos do processo de aprendi-
do início da escolarização. Se aceitarmos que a criança
zagem, como também inserir a criança em práticas so-
não é uma tábua rasa onde se inscrevem as letras e as
ciais que envolvem a escrita e a leitura, é a realização efe- palavras segundo determinado método; se aceitarmos
tiva de práticas docentes que defendem uma educação que o “fácil” e o “difícil” não podem ser definidos a partir
de qualidade e que preparam o ser humano para a vida. da perspectiva do adulto, mas da de quem aprende; se
Para Sanz “método é a palavra grega para perseguição e aceitarmos que qualquer informação deve ser assimilada,
prosseguimento, com o sentido de esforço para alcançar e portanto transformada, para ser operante, então deve-
um fim, investigação. O que nos permite compreendê-lo ríamos também aceitar que os métodos (como conse-
como caminho para atingir um resultado”. Ele ainda diz quência de passos ordenados para chegar a um fim) não
que “o método, como estratégia, e a técnica, como tática, oferecem mais do que sugestões, incitações, quando não
formam um par nobre”. Desta forma, é essencial que se práticas rituais ou conjunto de proibições.
conheça um pouco mais sobre os métodos utilizados pe- O método não pode criar conhecimento. Tendo em
los alfabetizadores, como também as pesquisas e expe- conta a complexidade da realidade brasileira, pode-se
riências de quem já têm uma larga trajetória nessa área, observar que já aconteceram muitas coisas para viabili-
a fim de analisar com cuidado o que se deve buscar para zar melhorias em todos os setores do processo ensino-
alfabetizar nossas crianças. -aprendizagem, principalmente nas escolas públicas, que
- O Método Fônico enfatiza as relações símbolo-som, necessitam de maior atenção na alfabetização das séries
sendo que na linha sintética o aluno conhece os iniciais. Muitas mudanças em relação à escolarização
sons representados pelas letras e combina esses vêm ocorrendo e mais crianças em idade escolar estão
sons para pronunciar palavras e, na linha analíti- nas salas de aula. Esse é o primeiro passo. Em seguida
ca o aluno antes aprende uma série de palavras e vem o desafio da qualidade da aprendizagem. As mu-
depois parte para a associação entre o som e as danças têm se revelado muito lentas, pois convivemos
partes das palavras. Principalmente com sistemas educativos municipais
- O Método da Linguagem Total defende que os sis- e estaduais que tornam ainda mais difícil a ocorrência de
temas linguísticos estão interligados e que a relação evoluções e transformações no processo educacional. Den-
entre imagens e sons deve ser evitada. Neste, são tre as várias mudanças que ocorreram estão o incentivo à
formação continuada dos profissionais da educação e a im-
apresentados textos inteiros, porque acredita-se que
plantação do Ensino Fundamental de nove anos. Este, apro-
se aprende lendo. O professor lê textos para os alu-
vado em fevereiro de 2006, com base na Lei 11.274/2006,
nos que o acompanham, assim se familiarizando com
que incentiva nove anos de escolaridade obrigatória, com a
a linguagem escrita, para posteriormente aprender
inclusão das crianças de seis anos. Ressalte-se que o ingres-
palavras, em seguida as sílabas e depois as letras. so da criança de seis anos no ensino fundamental não pode
- O Método Alfabético faz com que os alunos primei- constituir uma medida meramente administrativa.
ro identifiquem as letras pelos nomes, depois so- É preciso atenção ao processo de desenvolvimento e
letrem as sílabas e, em seguida, as palavras antes aprendizagem das crianças, o que implica conhecimento
de lerem sentenças curtas e, finalmente, histórias.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e respeito às suas características etárias, sociais, psico-


Quando os alunos encontram palavras desconhe- lógicas e cognitivas. Não foi de um momento para ou-
cidas, as soletram até decodificá-las. O Analítico tro que essas transformações ocorreram, e nem foi pela
parte de uma visão global para depois deter-se vontade de um único legislador ou de um determinado
nos detalhes, e o Sintético começa a ensinar por governo que as mudanças se processaram. Todo esse
partes ou elementos das palavras, tais como letras, processo vem acontecendo com base em muita pesqui-
sons ou sílabas, para depois combiná-los em pala- sa e dedicação de profissionais que convivem nessa so-
vras. A ênfase é a correspondência som-símbolo. A ciedade tão carente de educação. Tanto as crianças das
orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais camadas favorecidas quanto as das camadas populares
enfatiza que é necessário se fazer um diagnóstico convivem diariamente com práticas de leitura e escrita,
prévio do aluno antes de optar por qualquer mé- ou seja, vivem em ambientes de letramento. A diferença é

24
que as crianças das classes mais favorecidas têm um con- linguagem oral como a que existe para a linguagem es-
vívio frequente e mais intenso com material escrito e com crita. A escola, incorporando esse comportamento pre-
práticas de leitura e de escrita. Diante dessa realidade é conceituoso da sociedade em geral, também rotula seus
necessário propiciar igualmente, a todas elas, o acesso ao alunos pelos modos diferentes de falar. (...) Em outras
letramento num processo que prossiga por toda a vida. A palavras, um se torna o aluno “certinho” porque é falan-
formação continuada do professor vai muito além dos sa- te do dialeto de prestígio, o outro é um aluno carente
beres teóricos em sala de aula. O conhecimento das ques-
(“burro”) porque é falante de um dialeto estigmatizado
tões históricas, sociais e culturais que envolvem a prática
pela sociedade.
educacional, o desenvolvimento dos alunos nos aspectos
afetivo, cognitivo e social, bem como a reflexão crítica so- Para que a escola possa efetivamente contribuir para
bre o seu papel diante dos alunos e da sociedade, são a continuidade do processo de aprendizagem das crian-
elementos indispensáveis no processo de alfabetização. ças e, ao mesmo tempo, considerar alguns paradigmas
da educação brasileira, como a inclusão e o reconheci-
A linguagem escrita no processo de alfabetização mento à diversidade, é necessário livrar-se de preconcei-
tos relativos à fala das camadas populares e acolher as
Por tudo o que foi analisado e refletido até aqui deve crianças com toda a bagagem cultural que trazem para
ter ficado claro que o trabalho do professor-alfabeti- a escola.
zador no primeiro ano de escolaridade obrigatória não
deve significar a antecipação da aprendizagem da leitura Fonte
e da escrita pelas crianças, e muito menos a aceleração FASSBINDER, I., FASSBINDER, P., LEITE, R. C. e LOVI-
desse processo. Mesmo sabendo que elas estão cons- SON, C. C..
truindo a linguagem da escrita
Entre as suas múltiplas linguagens, essa não é a única
História dos Métodos de Alfabetização no Brasil
maneira de a criança partilhar significados e se inserir na
cultura e deve ser ensinada no contexto das demais lin-
guagens. Muito antes de serem capazes de ler, no senti- A fim de contribuir para o debate a respeito do tema,
do convencional do termo, as crianças tentam interpretar apresento neste texto uma síntese de alguns dos resulta-
os diversos textos que encontram ao seu redor (livros, dos de pesquisas que venho desenvolvendo, há mais de
embalagens comerciais, cartazes de rua), títulos (anún- duas décadas, a respeito da história do ensino de língua
cios de televisão, estórias em quadrinhos, etc.). e literatura no Brasil e, em particular, a respeito do ensi-
Letramento seria é o estado ou a condição de quem no da leitura e escrita na fase inicial de escolarização de
não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva as práticas crianças, ou alfabetização, como esse processo passou a
sociais que usam a escrita. Seria, portanto, o uso compe- ser denominado, entre nós, a partir do início do século XX.
tente da tecnologia da escrita nas situações de leitura e Em nosso país, a história da alfabetização tem sua
produção de textos reais, com sentido e significado para face mais visível na história dos métodos de alfabetiza-
quem lê e escreve. As crianças descobrem sobre a língua
ção, em torno dos quais, especialmente desde o final do
escrita antes de aprender a ler. Essa afirmativa se baseia
século XIX, vêm-se gerando tensas disputas relacionadas
em estudos nos quais estabelece comparação entre a
aquisição da linguagem oral e da linguagem escrita. As- com “antigas” e “novas” explicações para um mesmo
sim como as crianças adquirem a linguagem oral quando problema: a dificuldade de nossas crianças em aprender
envolvida sem contextos comunicativos em que essa lin- a ler e a escrever, especialmente na escola pública.
guagem é significativa para elas, da mesma forma o uso Visando a enfrentar esse problema e auxiliar “os no-
constante e significativo da linguagem escrita possibilita vos” a adentrarem no mundo público da cultura letrada,
e enriquece o seu processo de alfabetização. essas disputas em torno dos métodos de alfabetização
vêm engendrando uma multiplicidade de tematizações,
A linguagem oral no processo de alfabetização normatizações e concretizações, caracterizando-se como
um importante aspecto dentre os muitos outros envol-
A linguagem oral que abrange a fala, a escuta e a vidos no complexo movimento histórico de constituição
compreensão acompanha todas as interações estabele- da alfabetização como prática escolar e como objeto de
cidas pelas crianças em suas práticas sociais. É assim que estudo/pesquisa.
meninos e meninas se apropriam da cultura escolar, des-
Dada tal complexidade e considerando tanto os
de o ingresso na instituição. É também por meio da fala
objetivos deste evento quanto as urgências específicas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que as crianças adentram na escola, levando consigo as


marcas de sua classe social, de sua origem e identidade deste momento histórico, optei por fazer delimitações
cultural, constituída por conhecimentos, crenças e valo- no tema proposto para esta conferência, enfatizando, na
res. Trazem, portanto, a variedade linguística do grupo história dos métodos de alfabetização: a disputa pela he-
social a que pertencem. gemonia de determinados métodos na situação paulista,
Nesse sentido, é importante lembrar que a popula- devido ao caráter modelar que se buscou imprimir às ini-
ção brasileira fala de diferentes formas, em função dos ciativas educacionais desse estado, a partir dos anos de
espaços geográficos que ocupa, da classe social, da ida- 1890; e o período compreendido entre as décadas finais
de e do gênero a que pertence. Analisadas do ponto de do século XIX e os dias atuais, uma vez que, a partir da
vista linguístico, todas essas variedades são legítimas e proclamação da República, iniciou-se processo sistemáti-
corretas, já que não temos uma gramática normativa da co de escolarização das práticas de leitura e escrita.

25
Apesar de todos os riscos envolvidos na opção por Decorridos mais de cem anos desde a implantação,
abordar um longo período histórico em tão breve ex- em nosso país, do modelo republicano de escola, pode-
posição e por abordar também um momento históri- mos observar que, desde essa época, o que hoje deno-
co ainda presente, mesmo ciente desses riscos, espero, minamos “fracasso escolar na alfabetização” se vem im-
com esta conferência, contribuir para a compreensão de pondo como problema estratégico a demandar soluções
importantes aspectos do passado e do presente da alfa- urgentes e vem mobilizando administradores públicos,
betização em nosso país, e, em decorrência, contribuir, legisladores do ensino, intelectuais de diferentes áreas
também, para a elaboração de projetos para o futuro, de conhecimento, educadores e professores.
que possam auxiliar nossas crianças a realizarem plena- Desde essa época, observam-se repetidos esforços
mente seu direito de aprender a ler e escrever. Outro não de mudança, a partir da necessidade de superação da-
é, certamente, o objetivo maior e o “fim último” deste quilo que, em cada momento histórico, considerava-se
evento e de todos os que dele participam. tradicional nesse ensino e fator responsável pelo seu fra-
casso. Por quase um século, esses esforços se concentra-
Escola e alfabetização ram, sistemática e oficialmente, na questão dos métodos
de ensino da leitura e escrita, e muitas foram as disputas
Em nosso país, desde o final do século XIX, especial- entre os que se consideravam portadores de um novo
mente com a proclamação da República, a educação ga- e revolucionário método de alfabetização e aqueles que
nhou destaque como uma das utopias da modernidade. continuavam a defender os métodos considerados an-
A escola, por sua vez, consolidou-se como lugar neces- tigos e tradicionais. A partir das duas últimas décadas,
sariamente institucionalizado para o preparo das novas a questão dos métodos passou a ser considerada tradi-
gerações, com vistas a atender aos ideais do Estado re- cional, e os antigos e persistentes problemas da alfabe-
publicano, pautado pela necessidade de instauração de tização vêm sendo pensados e praticados predominan-
uma nova ordem política e social; e a universalização temente, no âmbito das políticas públicas, a partir de
da escola assumiu importante papel como instrumento outros pontos de vista, em especial a compreensão do
de modernização e progresso do Estado-Nação, como processo de aprendizagem da criança alfabetizanda, de
principal propulsora do “esclarecimento das massas ile- acordo com a psicogênese da língua escrita.
tradas”. O que é esse “tradicional”? Quando e por quê se en-
No âmbito desses ideais republicanos, saber ler e es- gendra um tipo de ensino de leitura e escrita que hoje é
crever se tornou instrumento privilegiado de aquisição acusado de “tradicional”? O que representava para a(s)
de saber/esclarecimento e imperativo da modernização época(s) em que ocorre seu engendramento? Qual sua
e desenvolvimento social. A leitura e a escrita — que até relação com a tradição que lhe é anterior? Quanto desse
então eram práticas culturais cuja aprendizagem se en- “tradicional” subsiste nas práticas alfabetizadoras, mes-
contrava restrita a poucos e ocorria por meio de trans- mo nas dos professores que querem superá-las? Como
missão assistemática de seus rudimentos no âmbito pri- se pode explicar sua insistente permanência? Como dia-
vado do lar, ou de maneira menos informal, mas ainda logam entre si a tradição e os repetidos esforços de mu-
precária, nas poucas “escolas” do Império (“aulas régias”) dança em alfabetização?
— tornaram-se fundamentos da escola obrigatória, leiga
e gratuita e objeto de ensino e aprendizagem escolari- A questão dos métodos de alfabetização
zados. Caracterizando-se como tecnicamente ensináveis,
as práticas de leitura e escrita passaram, assim, a ser sub- A fim de contribuir para a compreensão desse processo
metidas a ensino organizado, sistemático e intencional, e para a busca de respostas às questões formuladas acima,
demandando, para isso, a preparação de profissionais tomemos como exemplo a situação paulista. Analisando,
especializados. com base em fontes documentais, o ocorrido nessa pro-
Desse ponto de vista, os processos de ensinar e de víncia/estado em relação à questão dos métodos de ensino
aprender a leitura e a escrita na fase inicial de escola- inicial da leitura e escrita, desde as décadas finais do século
rização de crianças se apresentam como um momento XIX, optei por dividir esse período em quatro momentos
de passagem para um mundo novo — para o Estado e cruciais, cada um deles caracterizado pela disputa em torno
para o cidadão —: o mundo público da cultura letrada, de certas tematizações, normatizações e concretizações re-
que instaura novas formas de relação dos sujeitos entre lacionadas com o ensino da leitura e escrita e consideradas
si, com a natureza, com a história e com o próprio Esta- novas e melhores, em relação ao que, em cada momento,
do; um mundo novo que instaura, enfim, novos modos e era considerado antigo e tradicional nesse ensino. Em de-
conteúdos de pensar, sentir, querer e agir. corrência dessas disputas, tem-se, cada um desses momen-
No entanto, especialmente desde as últimas duas tos, a fundação de uma nova tradição relativa ao ensino
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

décadas, as evidências que sustentam originariamente inicial da leitura e escrita.


essa associação entre escola e alfabetização vêm sen- Apresento a seguir cada um desses quatro momentos
do questionadas, em decorrência das dificuldades de cruciais com as respectivas disputas pela hegemonia de
se concretizarem as promessas e os efeitos pretendidos determinados métodos de alfabetização e, dentre outros
com a ação da escola sobre o cidadão. Explicada como múltiplos aspectos neles observáveis, menciono o papel
problema decorrente, ora do método de ensino, ora do desempenhado pelas cartilhas, que, dada sua condição de
aluno, ora do professor, ora do sistema escolar, ora das instrumento privilegiado de concretização dos métodos e
condições sociais, ora de políticas públicas, a recorrência conteúdos de ensino, permanecem no tempo e permitem
dessas dificuldades de a escola dar conta de sua tarefa recuperar aspectos importantes dessa história, contribuin-
histórica fundamental não é, porém, exclusiva de nossa do significativamente para a criação de uma cultura escolar
época. e para a transmissão da(s) tradição (ões).

26
1º momento-A metodização do ensino da leitura Esse 1o. momento se estende até o início da década
de 1890 e nele tem início um disputa entre os defensores
do “método João de Deus” e aqueles que continuavam a
Até o final do Império brasileiro, o ensino carecia de defender e utilizar os métodos sintéticos: da soletração,
organização, e as poucas escolas existentes eram, na ver- fônico e da silabação. Com essa disputa, funda-se uma
dade, salas adaptadas, que abrigavam alunos de todas nova tradição: o ensino da leitura envolve necessariamen-
as “séries” e funcionavam em prédios pouco apropriados te uma questão de método, ou seja, enfatiza-se o como
para esse fim; eram as “aulas régias”, já mencionadas. Em ensinar metodicamente, relacionado com o que ensinar;
decorrência das precárias condições de funcionamento, o ensino da leitura e escrita é tratado, então, como uma
nesse tipo de escola o ensino dependia muito mais do questão de ordem didática subordinada às questões de
empenho de professor e alunos para subsistir. E o material ordem linguística (da época).
de que se dispunha para o ensino da leitura era também
precário, embora, na segunda metade do século XIX, hou- 2º momento – A institucionalização do método
vesse aqui algum material impresso sob a forma de livros analítico
para fins de ensino de leitura, editados ou produzidos na
A partir de 1890, implementou-se a reforma da
Europa. Habitualmente, porém, iniciava-se o ensino da lei- instrução pública no estado de São Paulo. Pretenden-
tura com as chamadas “cartas de ABC” e depois se liam e do servir de modelo para os demais estados, essa re-
se copiavam documentos manuscritos. forma se iniciou com a reorganização da Escola Nor-
Para o ensino da leitura, utilizavam-se, nessa época, mal de São Paulo e a criação da Escola-Modelo Anexa;
métodos de marcha sintética (da “parte” para o “todo”): em 1896, foi criado o Jardim da Infância nessa escola.
Do ponto de vista didático, a base da reforma estava
da soletração (alfabético), partindo do nome das letras;
nos novos métodos de ensino, em especial no então
fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da novo e revolucionário método analítico para o ensino
silabação (emissão de sons), partindo das sílabas. Dever- da leitura, utilizado na Escola-Modelo Anexa (à Nor-
-se-ia, assim, iniciar o ensino da leitura com a apresenta- mal), onde os normalistas desenvolviam atividades
ção das letras e seus nomes (método da soletração/alfa- “práticas” e onde os professores dos grupos escolares
bético), ou de seus sons (método fônico), ou das famílias (criados em 1893) da capital e do interior do estado
silábicas (método da silabação), sempre de acordo com deveriam buscar seu modelo de ensino.
certa ordem crescente de dificuldade. Posteriormente, re- A partir dessa primeira década republicana, pro-
unidas as letras ou os sons em sílabas, ou conhecidas as fessores formados por essa escola normal passaram a
famílias silábicas, ensinava-se a ler palavras formadas com defender programaticamente o método analítico para
essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por fim, ensinavam- o ensino da leitura e disseminaram-no para outros es-
-se frases isoladas ou agrupadas. Quanto à escrita, esta se tados brasileiros, por meio de “missões de professo-
restringia à caligrafia e ortografia, e seu ensino, à cópia, res” paulistas. Especialmente mediante a ocupação de
cargos na administração da instrução pública paulista
ditados e formação de frases, enfatizando-se o desenho
e a produção de instruções normativas, de cartilhas e
correto das letras.
de artigos em jornais e em revistas pedagógicas, esses
As primeiras cartilhas brasileiras, produzidas no final professores contribuíram para a institucionalização do
do século XIX sobretudo por professores fluminenses e método analítico, tornando obrigatória sua utilização
paulistas a partir de sua experiência didática, baseavam-se nas escolas públicas paulistas. Embora a maioria dos
nos métodos de marcha sintética (de soletração, fônico e professores das escolas primárias reclamasse da lenti-
de silabação) e circularam em várias províncias/estados do dão de resultados desse método, a obrigatoriedade de
país e por muitas décadas. sua utilização no estado de São Paulo perdurou até se
Em 1876, data que elegi como marco inicial do pri- fazerem sentir os efeitos da “autonomia didática” pro-
meiro momento crucial nessa história, foi publicada em posta na “Reforma Sampaio Dória” (Lei 1750, de 1920).
Portugal a Cartilha Maternal ou Arte da Leitura, escrita Diferentemente dos métodos de marcha sintéti-
pelo poeta português João de Deus. A partir do início da ca até então utilizados, o método analítico, sob forte
década de 1880, o “método João de Deus” contido nessa influência da pedagogia norte-americana, baseava-se
cartilha passou a ser divulgado sistemática e programa- em princípios didáticos derivados de uma nova con-
cepção — de caráter biopsicofisiológico — da crian-
ticamente principalmente nas províncias de São Paulo e
ça, cuja forma de apreensão do mundo era entendida
do Espírito Santo, por Antonio da Silva Jardim, positivista
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como sincrética. A despeito das disputas sobre as di-


militante e professor de português da Escola Normal de ferentes formas de processuação do método analítico,
São Paulo. o ponto em comum entre seus defensores consistia na
Diferentemente dos métodos até então habituais, o necessidade de se adaptar o ensino da leitura a essa
“método João de Deus” ou “método da palavração” ba- nova concepção de criança.
seava-se nos princípios da moderna linguística da época De acordo com esse método analítico, o ensino da
e consistia em iniciar o ensino da leitura pela palavra, para leitura deveria ser iniciado pelo “todo”, para depois
depois analisá-la a partir dos valores fonéticos das letras. se proceder à análise de suas partes constitutivas. No
Por essas razões, Silva Jardim considerava esse método entanto, diferentes se foram tornando os modos de
como fase científica e definitiva no ensino da leitura e fator processuação do método, dependendo do que seus
de progresso social. defensores consideravam o “todo”: a palavra, ou a sen-

27
tença, ou a “historieta”. O processo baseado na “histo- sores dos métodos sintéticos e os defensores dos mé-
rieta” foi institucionalizado em São Paulo, mediante a todos analíticos não cessaram; mas o tom de combate
publicação do documento Instruções praticas para o e defesa acirrada que se viu nos momentos anteriores
ensino da leitura pelo methodo analytico – modelos foi-se diluindo gradativamente, à medida que se acen-
de lições. Nesse documento, priorizava-se a “historie- tuava a tendência de relativização da importância do
ta” (conjunto de frases relacionadas entre si por meio método e, mais restritamente, a preferência, nesse âm-
de nexos lógicos), como núcleo de sentido e ponto de bito, pelo método global (de contos), defendido mais
partida para o ensino da leitura. enfaticamente em outros estados brasileiros.
As cartilhas produzidas no âmbito do 2º. momento
Essa tendência de relativização da importância do
na história da alfabetização, especialmente no início do
método decorreu especialmente da disseminação, reper-
século XX, passaram a se basear programaticamente no
cussão e institucionalização das então novas e revolu-
método de marcha analítica (processos da palavração e
sentenciação), buscando se adequar às instruções oficias, cionárias bases psicológicas da alfabetização contidas no
no caso paulista. livro Testes ABC para verificação a maturidade necessária
Iniciou-se, assim, uma acirrada disputa entre parti- ao aprendizado da leitura e escrita (1934), escrito por M.
dários do então novo e revolucionário método analítico B. Lourenço Filho. Nesse livro, o autor apresenta resulta-
para o ensino da leitura e os que continuavam a defen- dos de pesquisas com alunos de 1º grau (atual 1ª série
der e utilizar os tradicionais métodos sintéticos, especial- do ensino fundamental), que realizou com o objetivo de
mente o da silabação. Concomitantemente a essa dispu- buscar soluções para as dificuldades de nossas crianças
ta, teve lugar uma outra relativa aos diferentes modos no aprendizado da leitura e escrita. Propõe, então, as
de processuação do método analítico, dentre as quais se oito provas que compõem os testes ABC, como forma de
destaca a travada entre os professores paulistas e o flu- medir o nível de maturidade necessária ao aprendizado
minense João Köpke. da leitura e escrita, a fim de classificar os alfabetizandos,
Nesse 2º. momento, que se estende até aproximada- visando à organização de classes homogêneas e à racio-
mente meados dos anos de 1920, a ênfase da discussão nalização e eficácia da alfabetização.
sobre métodos continuou incidindo no ensino inicial da Desse ponto de vista, a importância do método de
leitura, já que o ensino inicial da escrita era entendido alfabetização passou a ser relativizada, secundarizada e
como uma questão de caligrafia (vertical ou horizontal) considerada tradicional. Observa-se, no entanto, embora
e de tipo de letra a ser usada (manuscrita ou de impren-
com outras bases teóricas, a permanência da função ins-
sa, maiúscula ou minúscula), o que demandava especial-
trumental do ensino e aprendizagem da leitura, enfati-
mente treino, mediante exercícios de cópia e ditado. É
também ao longo desse momento, já no final da déca- zando-se a simultaneidade do ensino de ambas, as quais
da de 1910, que o termo “alfabetização” começa a ser eram entendidas como habilidades visuais, auditivas e
utilizado para se referir ao ensino inicial da leitura e da motoras.
escrita. Também a partir dessa época, aproximadamente, as
As disputas ocorridas nesse 2º. momento fundam cartilhas passaram a se basear predominantemente em
uma outra nova tradição: no o ensino da leitura envolve métodos mistos ou ecléticos (analítico-sintético e vice-
enfaticamente questões didáticas, ou seja, o como ensi- versa) e começaram a se produzir os manuais do profes-
nar, a partir da definição das habilidades visuais, audi- sor acompanhando as cartilhas, assim como se dissemi-
tivas e motoras da criança a quem ensinar; o ensino da nou a idéia e a prática do “período preparatório”.
leitura e escrita é tratado, então, como uma questão de Vai-se, assim, constituindo um ecletismo processual
ordem didática subordinada às questões de ordem psi- e conceitual em alfabetização, de acordo com o qual a
cológica da criança. alfabetização (aprendizado da leitura e escrita) envolve
obrigatoriamente uma questão de “medida”, e o méto-
3º momento – A alfabetização sob medida do de ensino se subordina ao nível de maturidade das
crianças em classes homogêneas. A escrita continuou
Em decorrência da “autonomia didática” propos- sendo entendida como uma questão de habilidade cali-
ta pela “Reforma Sampaio Dória” e de novas urgên-
gráfica e ortográfica, que devia ser ensinada simultanea-
cias políticas e sociais, a partir de meados da década
mente à habilidade de leitura; o aprendizado de ambas
de 1920 aumentaram as resistências dos professores
demandava um “período preparatório”, que consistia em
quanto à utilização do método analítico e começaram
exercícios de discriminação e coordenação viso-motora
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a se buscar novas propostas de solução para os pro-


blemas do ensino e aprendizagem iniciais da leitura e e auditivo-motora, posição de corpo e membros, dentre
da escrita. outros.
Os defensores do método analítico continuaram a Nesse 3o. momento, que se estende até aproxima-
utilizá-lo e a propagandear sua eficácia. No entanto, damente o final da década de 1970, funda-se uma outra
buscando conciliar os dois tipos básicos de métodos nova tradição no ensino da leitura e da escrita: a alfabe-
de ensino da leitura e escrita (sintéticos e analíticos), tização sob medida, de que resulta o como ensinar su-
em várias tematizações e concretizações das décadas bordinado à maturidade da criança a quem se ensina;
seguintes, passaram-se a utilizar: métodos mistos ou as questões de ordem didática, portanto, encontram-se
ecléticos (analítico-sintético ou vice-versa), considera- subordinadas às de ordem psicológica.
dos mais rápidos e eficientes. A disputa entre os defen-

28
4º momento – Alfabetização: construtivismo e Nesse 4º momento — ainda em curso —, funda-se
desmetodização uma outra nova tradição: a desmetodização da alfabeti-
zação, decorrente da ênfase em quem aprende e o como
A partir do início da década de 1980, essa tradição aprende a língua escrita (lecto-escritura), tendo-se gera-
passou a ser sistematicamente questionada, em decor- do, no nível de muitas das apropriações, um certo silen-
rência de novas urgências políticas e sociais que se fi- ciamento a respeito das questões de ordem didática e,
zeram acompanhar de propostas de mudança na edu- no limite, tendo-se criado um certo ilusório consenso de
cação, a fim de se enfrentar, particularmente, o fracasso que a aprendizagem independe do ensino.
da escola na alfabetização de crianças. Como correlato É importante ressaltar, no entanto, que, também na
teóricometodológico da busca de soluções para esse década de 1980, observa-se a emergência do pensamen-
problema, introduziu-se no Brasil o pensamento cons- to interacionista em alfabetização, que vai gradativamen-
trutivista sobre alfabetização, resultante das pesquisas te ganhando destaque e gerando uma espécie de dis-
sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidas pela puta entre seus defensores e os do construtivismo. Essa
pesquisadora argentina Emilia Ferreiro e colaboradores. “nova” disputa, por sua vez, foi-se diluindo, à medida que
Deslocando o eixo das discussões dos métodos de ensi- certos aspectos de certa apropriação do interacionismo
no para o processo de aprendizagem da criança (sujeito foram sendo conciliados com certa apropriação do cons-
cognoscente), o construtivismo se apresenta, não como trutivismo; essa conciliação, pelo que posso observar até
um método novo, mas como uma “revolução conceitual”, o momento, foi subsumida no discurso institucional so-
demandando, dentre outros aspectos, abandonarem-se bre alfabetização.
as teorias e práticas tradicionais, desmetodizar-se o pro- E, dentre a multiplicidade de problemas que enfren-
cesso de alfabetização e se questionar a necessidade das tamos hoje a respeito do ensino inicial da leitura e escri-
cartilhas. ta, as dificuldades decorrentes, em especial, da ausên-
A partir de então, verifica-se, por parte de autorida- cia de uma “didática construtivista” vêm abrindo espaço
des educacionais e de pesquisadores acadêmicos, um es- para a tentativa, por parte de alguns pesquisadores, de
forço de convencimento dos alfabetizadores, mediante apresentar “novas” propostas de alfabetização baseadas
divulgação massivas de artigos, teses acadêmicas, livros em antigos métodos, como os de marcha sintética.
Devo, ainda, mencionar, pelo menos, dentre essa
e vídeos, cartilhas, sugestões metodológicas, relatos de
multiplicidade de aspectos, as discussões e propostas em
experiências bem sucedidas e ações de formação con-
torno do letramento, entendido ora como complementar
tinuada, visando a garantir a institucionalização, para a
à alfabetização, ora como diferente desta e mais desejá-
rede pública de ensino, de certa apropriação do cons-
vel, ora como excludentes entre si.
trutivismo.
Inicia-se, assim, uma disputa entre os partidários do
Modernidades em alfabetização
construtivismo e os defensores — quase nunca “confes-
sos”, mas atuantes especialmente no nível das concreti-
Ao longo do período histórico abordado nos tópicos
zações — dos tradicionais métodos (sobretudo o misto anteriores, observa-se a recorrência discursiva da mu-
ou eclético), das tradicionais cartilhas e do tradicional dança, marcada pela tensão constante entre modernos e
diagnóstico do nível de maturidade com fins de classifi- antigos, no âmbito da disputa pela hegemonia de deter-
cação dos alfabetizandos, engendrando-se um novo tipo minados métodos de alfabetização.
de ecletismo processual e conceitual em alfabetização. A mudança proposta em cada um dos quatro mo-
Quanto aos métodos e cartilhas de alfabetização, os mentos cruciais exigiu sempre uma operação de diferen-
questionamentos de que foram alvo parecem ter sido ciação qualitativa em relação ao que era sentido como
satisfatoriamente assimilados, resultando: na produção passado (recente) em cada um desses momentos, me-
de cartilhas “construtivistas” ou “socioconstrutivista” ou diante a reconstituição sintética desse passado, a fim de
“construtivistas-interacionistas”; na convivência destas homogeneizá-lo e esvaziá-lo de qualidades e diferenças,
com cartilhas tradicionais e, mais recentemente, com os identificando-o como portador do antigo — indesejável,
livros de alfabetização, nas indicações oficiais e nas es- decadente e obstáculo ao progresso — , e buscando-se
tantes dos professores, muitos dos quais alegam tê-las definir o novo — melhor e mais desejável — ora contra,
apenas para consulta quando da preparação de suas au- ora independente em relação ao antigo, mas sempre a
las; e no ensino e aprendizagem do modelo de leitura e partir dele.
escrita veiculado pelas cartilhas, mesmo quando os pro- Para viabilizar a mudança, tornou-se, portanto, ne-
fessores dizem seguir uma “linha construtivista” ou “in-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cessário, em cada um dos


teracionista” e seus alunos não utilizarem diretamente quatro momentos cruciais, produzir uma versão do
esse instrumento em sala de aula. passado e desqualificá-la, como se se tratasse de uma
De qualquer modo, nesse momento, tornam-se he- herança incômoda, que impõe resistências à fundação
gemônicos o discurso institucional sobre o construti- do novo, especialmente quando a filiação decorrente
vismo e as propostas de concretização decorrentes de (embora, muitas vezes, não assumida) da tradição atuan-
certas apropriações da teoria construtivista. E tem-se, te no presente (e, em particular, a tradição decorrente
hoje, a institucionalização, em nível nacional, do cons- de um passado recente, sentido como presente, porque
trutivismo em alfabetização, verificável, por exemplo, nos operante no nível das concretizações) ameaça fazer vol-
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), dentre tantas tarem à cena os mesmos personagens do passado, que
outras iniciativas recentes. seus herdeiros desejam esquecer, rever ou aprimorar.

29
No entanto, se houve desejos de mudanças assim histórico ao longo do qual se observa o movimen-
como mudanças efetivas, ao longo dessa história se po- to aqui apresentado, coexistem diferentes modernida-
dem encontrar, também, permanências e semelhanças des, no que se refere à alfabetização, de acordo com o
indicadoras de continuidades entre o quatro momentos modo como, em cada um dos momentos: produziram-se
cruciais. o sentimento e a consciência do tempo então presen-
Dentre essas semelhanças e permanências, podem- te; pretendeu-se, com “a verdade científica e definitiva”,
-se observar, por exemplo, as relacionadas: com a “ques- constitutiva da busca incessante daquele sentido moder-
tão dos métodos”, uma vez que, mesmo postulando a no da escola e da educação, preencher a lacuna entre
mudança dos métodos de alfabetização, no âmbito des- seu passado e futuro; e buscaram-se os sentidos do ler
sa querela os sujeitos se movimentam em torno de um e escrever, para se enfrentarem as dificuldades de nos-
mesmo eixo — a eficácia da alfabetização é uma questão sas crianças em adentrar no mundo público da cultura
de métodos —; e com as concretizações impostas pelas letrada.
cartilhas de alfabetização, que vão sedimentando, conco-
mitantemente a uma cultura escolar, certas concepções Fonte
de língua/linguagem, alfabetização, métodos e conteú- MORTATTI, M. R. L. História dos Métodos de Alfabe-
dos desse ensino de leitura e escrita. tização no Brasil.
Ou, ainda, dentre essas semelhanças e permanências, Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arqui-
pode-se observar que, mesmo se propondo o desloca- vos/pdf/Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf
mento do eixo das discussões dos métodos de ensino
para o nível de maturidade ou o processo de aprendiza-
gem do alfabetizando, justificado por outras tendências PLANO DE AÇÃO PEDAGÓGICA DOCENTE
em psicologia — como é o caso das resultantes das pes- PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.
quisas de Lourenço Filho e das desenvolvidas por Fer-
reiro e colaboradores —, permanece a psicologia como
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
base teórica com função diretora no ensino da leitura e
da escrita. Ou se podem observar, também, as semelhan-
A aprendizagem é um processo contínuo que ocor-
ças e filiações entre as várias tendências em psicologia
que se apresentam como diferentes entre si, encontran- re durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra
do-se, porém, algumas delas, assentadas em bases epis- infância até a mais avançada velhice. Normalmente uma
temológicas comuns. criança deve aprender a andar e a falar; depois a ler e es-
crever, aprendizagens básicas para atingir a cidadania e
É possível, então, pensar que, no ritmo desse com- a participação ativa na sociedade. Já os adultos precisam
plexo movimento histórico da alfabetização no Brasil, aprender habilidades ligadas a algum tipo de trabalho
marcado pela questão dos métodos, a despeito das mu- que lhes forneça a satisfação das suas necessidades bási-
danças efetivamente ocorridas, a desejada ruptura com cas, algo que lhes garanta o sustento. As pessoas idosas
a tradição se processa, muitas vezes, no interior de um embora nossa sociedade seja reticente quanto às suas
quadro de referências tradicional e, por vezes, ao nível capacidades de aprendizagem podem continuar apren-
das superestruturas, apenas, indicando a continuidade, dendo coisas complexas como um novo idioma ou ainda
no tempo, de certos ideais centrados na concepção de cursar uma faculdade e virem a exercer uma nova pro-
educação como esclarecimento — fim não atingido, que
fissão.
permanece como parâmetro primeiro a demandar ajus-
O desenvolvimento geral do indivíduo será resulta-
tes e meios cada vez mais eficazes —, em cujo âmbito
se vai consolidando o interesse pela alfabetização como do de suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das
área estratégica e cada vez mais autônoma (ainda que habilidades aprendidas durante as várias fases da vida. A
limitada) para a objetivação de projetos políticos e so- aprendizagem está diretamente relacionada com o de-
ciais decorrentes de urgências de cada época, ao mesmo senvolvimento cognitivo.
tempo em que se vão produzindo reflexões e saberes As passagens pelos estágios da vida são marcadas
que configuram o movimento de escolarização do en- por constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”,
sino e aprendizagem da leitura e escrita e de sua cons- diz a sabedoria popular. Assim, os indivíduos tendem
tituição como objeto de estudo/pesquisa, evidenciando a melhorar suas realizações nas tarefas que a vida lhes
a alfabetização como o signo mais complexo da relação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

impõe. A aprendizagem permite ao sujeito compreender


problemática entre educação e modernidade. Enquanto melhor as coisas que estão à sua volta, seus companhei-
suposto e prometido resultado da ação da escola e en- ros, a natureza e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-se
quanto rito de iniciação na passagem do mundo priva-
ao seu ambiente físico e social.
do para o mundo público da cultura e da linguagem, o
ensinoaprendizagem da língua escrita na fase inicial de A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), um
escolarização de crianças se torna índice de medida e autêntico representante da abordagem cognitiva, traz
testagem da eficiência, da ação modernizadora da edu- contribuições significativas ao processo ensino-apren-
cação contra a “barbárie”. dizagem, principalmente à aprendizagem desenvolvida
É possível, enfim, pensar que, sob o signo da moder- nas escolas. Sendo uma teoria cognitiva, apresenta a
nidade, ou seja, do tempo preocupação com os processos centrais do pensamento,

30
como organização do conhecimento, processamento de Psicólogos e educadores têm demonstrado uma cres-
informação, raciocínio e tomada de decisão. Considera a cente preocupação com o modo como o indivíduo apren-
aprendizagem como um processo interno, mediado cog- de e, desde Piaget, questões do tipo: “Como surge o co-
nitivamente, mais do que como um produto direto do nhecer no ser humano? Como o ser humano aprende? O
ambiente, de fatores externos ao aprendiz. Apresenta-se conhecimento na escola é diferente do conhecimento da
como o principal defensor do método de aprendizagem vida diária? O que é mais fácil esquecer?” atravessaram as
por descoberta (insight). investigações científicas. Assim, deve interessar à escola
A teoria de Bruner apresenta muitos pontos seme- saber como criança, adolescentes e adultos elaboram seu
lhantes às teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner consi- conhecer, haja vista que a aquisição do conhecimento é a
dera a existência de estágios durante o desenvolvimento questão fundamental da educação formal.
cognitivo e propõe explicações similares às de Piaget, A psicologia cognitiva preocupa responder estas
quanto ao processo de aprendizagem. Atribui importân- questões estudando o dinamismo da consciência. A
cia ao modo como o material a ser aprendido é disposto, aprendizagem é, portanto, a mudança que se preocupa
assim como Gestalt, valorizando o conceito de estrutura com o eu interior ao passar de um estado inicial a um es-
e arranjos de ideias. “Aproveitar o potencial que o indiví- tado final. Implica normalmente uma interação do indi-
duo traz e valorizar a curiosidade natural da criança são víduo com o meio, captando e processando os estímulos
princípios que devem ser observados pelo educador”. selecionados.
A escola não deve perder de vista que a aprendiza- O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão
gem de um novo conceito envolve a interação com o bem mais abrangente do que o espaço restrito do pro-
já aprendido. Portanto, as experiências e vivências que o fessor na sala de aula ou às atividades desenvolvidas pe-
aluno traz consigo favorecem novas aprendizagens. Bru- los alunos. Tanto o professor quanto o aluno e a escola
ner chama a atenção para o fato de que as matérias ou encontram-se em contextos mais globais que interferem
disciplinas tais como estão organizadas nos currículos, no processo educativo e precisam ser levados em consi-
constituem-se muitas vezes divisões artificiais do saber. deração na elaboração e execução do ensino.
Por isso, várias disciplinas possuem princípios comuns Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coisas:
sem que os alunos – e algumas vezes os próprios profes- uma visão de mundo (incluídos aqui os conteúdos da
sores – analisem tal fato, tornando o ensino uma repeti- aprendizagem) e planejamento das ações (entendido
ção sem sentido, em que apenas respondem a comandos como um processo de racionalização do ensino). A prá-
arbitrários, Bruner propõe o ensino pela descoberta. O tica de planejamento do ensino tem sido questionada
método da descoberta não só ensina a criança a resolver quanto a sua validade como instrumento de melhoria
problemas da vida prática, como também garante a ela qualitativa no processo de ensino como o trabalho do
uma compreensão da estrutura fundamental do conheci- professor:
mento, possibilitando assim economia no uso da memó- [...] a vivência do cotidiano escolar nos tem eviden-
ria, e a transferência da aprendizagem no sentido mais ciado situações bastante questionáveis neste sentido.
amplo e total. Percebe-se, de início, que os objetivos educacionais pro-
Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é postos nos currículos dos cursos apresentam confusos e
que a criança aprenda a aprender corretamente, ainda desvinculados da realidade social. Os conteúdos a serem
que “corretamente” assuma, na prática, sentidos diferen- trabalhados, por sua vez, são definidos de forma auto-
tes para as diferentes faixas etárias. Para que se garanta ritária, pois os professores, via re regra, não participam
uma aprendizagem correta, o ensino deverá assegurar a dessa tarefa. Nessas condições, tendem a mostrar-se
aquisição e permanência do aprendido (memorização), sem elos significativos com as experiências de vida dos
de forma a facilitar a aprendizagem subsequente (trans- alunos, seus interesses e necessidades.
ferência). Este é um método não estruturado, portanto o De modo geral, no meio escolar, quando se faz refe-
professor deve estar preparado para lidar com perguntas rência a planejamento do ensino – aprendizagem, este se
e situações diversas. O professor deve conhecer a fundo reduz ao processo através do qual são definidos os ob-
os conteúdos a serem tratados. Deve estar apto a conhe- jetivos, o conteúdo programático, os procedimentos de
cer respostas corretas e reconhecer quando e porque as ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação
respostas alternativas estão erradas. Também necessita da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser
saber esperar que os alunos cheguem à descoberta, sem consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina
apressa-los, mas garantindo a execução de um programa de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento
mínimo. Deve também ter cuidado para não promover adotado pela maioria dos professores e que passou a ser
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

um clima competitivo que gere, ansiedade e impeça al- valorizado apenas em sua dimensão técnica.
guns alunos de aprender. Em nosso entendimento a escola faz parte de um
O modelo de ensino e aprendizagem de David P. contexto que engloba a sociedade, sua organização, sua
Ausubel (1980) caracteriza-se como um modelo cogni- estrutura, sua cultura e sua história. Desse modo, qual-
tivo que apresenta peculiaridades bastante interessantes quer projeto de ensino – aprendizagem está ligado a
para os professores, pois centraliza-se, primordialmente, este contexto e ao modo de cultura que orienta um mo-
no processo de aprendizagem tal como ocorre em sala delo de homem e de mulher que pretendemos formar,
de aula. Para Ausubel, aprendizagem significa organi- para responder aos desafios desta sociedade. Por esta
zação e integração do material aprendido na estrutura razão, pensamos que é de fundamental importância que
cognitiva, estrutura esta na qual essa organização e inte- os professores saibam que tipo de ser humano preten-
gração se processam. dem formar para esta sociedade, pois disto depende, em

31
grande parte, as escolhas que fazemos pelos conteúdos A inteligência desempenha uma função adaptativa,
que ensinamos, pela metodologia que optamos e pe- pois é através dela que o indivíduo coleta as informa-
las atitudes que assumimos diante dos alunos. De certo ções do meio e as reorganiza, de forma a compreender
modo esta visão limitada ou potencializada o processo melhor a realidade em que vive, nela agi, transformando.
ensino-aprendizagem não depende das políticas públi- Para Piaget (1969), a inteligência é adaptação na sua for-
cas em curso, mas do projeto de formação cultural que ma mais elevada, isto é, o desenvolvimento mental, em
possui o corpo docente e seu compromisso com objeto sua organização progressiva, é uma forma de adaptação
de estudo. sempre mais precisa à realidade. É preciso ter sempre em
mente que Piaget usa a palavra adaptação no sentido
Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem em que é usado pela Biologia, ou seja, uma modificação
constitui-se, ao longo prazo, num projeto de formação que ocorre no indivíduo em decorrência de sua interação
humana, propomos que esta formação seja orientada com o meio.
por um processo de autonomia que ocorra pela produ- Portanto, é no processo de construção do conheci-
ção autônoma do conhecimento, como forma de pro- mento e na aquisição de saberes que devemos fazer com
mover a democratização dos saberes e como modo de que o aluno seja motivado a desenvolver sua aprendi-
elaborar a crítica da realidade existente. zagem e ao mesmo tempo superar as dificuldades que
Isto quer dizer que só há crítica se houver produção sentem em assimilar o conhecimento adquirido.
autônoma do conhecimento elaborado através de uma
prática efetiva da pesquisa. Entendemos que é pela prá- Referência:
tica da pesquisa que exercitamos a reflexão sobre a rea- MOTA, M. S. G.; PEREIRA, F. E. L. Desenvolvimento e
lidade como forma de sistematizar metodologicamente Aprendizagem: Processo de construção do conhecimen-
nosso olhar sobre o mundo para podermos agir sobre to e desenvolvimento mental do indivíduo. Disponível
os problemas. Isto quer dizer que não pesquisamos por em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/tcc_
pesquisar e nem refletimos por refletir. Tanto a reflexão desenvolvimento.pdf
quanto à pesquisa são meios pelos quais podemos agir
como sujeitos transformadores da realidade social. Isto
indica que nosso trabalho, como professores, é o de en- CORPOREIDADE: O CORPO
sinar a aprender para que o conhecimento construído CRIANÇA CRIADOR DE CULTURAS E
pela aprendizagem seja um poderoso instrumento de CONHECIMENTOS.
combate às formas de injustiças que se reproduzem no
interior da sociedade.
Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para com-
preendermos melhor o processo em que se vivencia a Prezado candidato, confira os tópicos a seguir referente
construção do conhecimento no indivíduo. a organização do espaço escolar, as disciplinas, a cons-
Apresentamos as ideias básicas de Piaget sobre o de- trução do conhecimento infantil e sua relação direta no
senvolvimento mental e sobre o processo de construção processo do Aprender e geração de conhecimento.
do conhecimento, que são adaptação, assimilação e aco-
modação.
Piaget diz que o indivíduo está constantemente inte- OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO NO BRINCAR -
ragindo com o meio ambiente. Dessa interação resulta A CONSTITUIÇÃO DO BRINQUEDO
uma mudança contínua, que chamamos de adaptação.
Com sentido análogo ao da Biologia, emprega a palavra
adaptação para designar o processo que ocasiona uma Embora, atualmente, a importância do brincar para o
mudança contínua no indivíduo, decorrente de sua cons- desenvolvimento infantil seja amplamente reconhecida,
tante interação com o meio. é comum observarmos crianças, por vezes muito peque-
Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subpro- nas, com uma rotina bastante atribulada, tomada por
cessos: assimilação e acomodação. A assimilação está diversas atividades e compromissos. Muitas vezes, fica
relacionada à apropriação de conhecimentos e habi-
difícil encontrarmos alguma brecha, na correria do dia a
lidade. O processo de assimilação é um dos conceitos
dia dessas crianças, na qual elas possam, simplesmente,
fundamentais da teoria da instrução e do ensino. Per-
mite-nos entender que o ato de aprender é um ato de ter espaço e tempo para brincar. Mas, afinal, por que o
conhecimento pelo qual assimilamos mentalmente os brincar é considerado algo tão importante para o desen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fatos, fenômenos e relações do mundo, da natureza e volvimento das crianças?


da sociedade, através do estudo das matérias de ensi- Segundo Vygotsky (1989) - o brincar cria a chama-
no. Nesse sentido, podemos dizer que a aprendizagem da zona de desenvolvimento proximal, impulsionando a
é uma relação cognitiva entre o sujeito e os objetos de criança para além do estágio de desenvolvimento que
conhecimento. ela já atingiu. Ao brincar, a criança se apresenta além do
A acomodação é que ajuda na reorganização e na esperado para a sua idade e mais além do seu comporta-
modificação dos esquemas assimilatórios anteriores do mento habitual. Para Vygotsky, o brincar também libera
indivíduo para ajustá-los a cada nova experiência, aco- a criança das limitações do mundo real, permitindo que
modando-as às estruturas mentais já existentes. Portan- ela crie situações imaginárias. Ao mesmo tempo é uma
to, a adaptação é o equilíbrio entre assimilação e acomo- ação simbólica essencialmente social, que depende das
dação, e acarreta uma mudança no indivíduo.

32
expectativas e convenções presentes na cultura. Quando A brincadeira na educação e suas perspectivas
duas crianças brincam de ser um bebê e uma mãe, por
O lúdico é importante na educação infantil é através
exemplo, elas fazem uso da imaginação, mas, ao mesmo
dele que a criança vem a desenvolver habilidades para a
tempo, não podem se comportar de qualquer forma; de-
aprendizagem se efetivar.
vem, sim, obedecer às regras do comportamento espera-
A educação lúdica sempre esteve presente em todas
do para um bebê e uma mãe, dentro de sua cultura. Caso
as épocas entre os povos e estudiosos, sendo de grande
não o façam, correm o risco de não serem compreendi-
importância no desenvolvimento do ser humano na edu-
das pelo companheiro de brincadeira.
cação infantil e na sociedade.
 Brincar com outras crianças é muito diferente de
brincar somente com adultos.  O brinquedo entre pares Os jogos e brinquedos sempre estiveram presentes
possui maior variedade de estratégias de improviso, en- no ser humano desde a antiguidade, mas nos dias de
volve mais negociações e é mais criativo (Sawyer, 1997). hoje a visão sobre o lúdico é diferente. Implicam-se o
Assim, ao brincar com seus companheiros, a criança seu uso e em diferentes estratégias em torno da pratica
aprende sobre a cultura em que vive, ao mesmo tempo no cotidiano.
em que traz novidades para a brincadeira e ressignifica Para que o lúdico contribua na construção do conhe-
esses elementos culturais. Aprende, também, a negociar cimento faz-se necessário que o educador direcione toda
e a compartilhar objetos e significados com as outras a atividade estabeleça os  objetivos  fazendo com que 
crianças. a brincadeira tenha um caráter pedagógico e não uma
mera brincadeira, promovendo assim, interação social e
O brincar também permite que a criança tome cer- o desenvolvimento de habilidades intelectivas.
ta distância daquilo que a faz sofrer, possibilitando-lhe
explorar, reviver e elaborar situações que muitas vezes Contexto Histórico da Ludicidade
são difíceis de enfrentar. Autores clássicos da psicanálise,
como Freud (1908) e Melanie Klein (1932, 1955), ressal- A história da humanidade a partir da Idade Média
tam a importância do brincar como um meio de expres- mostra que os jogos, embora sempre presentes nas ativi-
são da criança, contexto no qual ela elabora seus confli- dades sócio educacionais, não eram vistos como um re-
tos e demonstra seus sentimentos, ansiedades desejos e curso pedagógico capaz de promover a  aprendizagem,
fantasias. mas tendo como  foco as atividades recreativas
Já Winnicott (1975), pediatra e psicanalista inglês, faz Ariés (1981) afirma que:
referência à dimensão de criação presente no brincar. Se- Na Idade Média, os jogos eram basicamente destina-
gundo esse autor, é muito mais importante o uso que se dos aos homens, visto que as mulheres e as crianças não
faz de um objeto e o tipo de relação que se estabelece eram consideradas cidadãos e, por conseguinte, estando
com ele do que propriamente o objeto usado. A ênfase sempre à margem, não participavam de todas as ativi-
está no significado da experiência para a criança. Brin- dades organizadas pela sociedade. Porém, em algumas
cando, ela aprende a transformar e a usar os objetos, ao ocasiões nas quais eram realizadas as festas da comuni-
mesmo tempo em que os investe e os “colore” confor- dade, o jogo funcionava como um grande elemento de
me sua subjetividade e suas fantasias. Isso explica por união entre as pessoas.
que, muitas vezes, um urso de pelúcia velho e esfarrapa- Ariès, relata que apenas os homens tinham o privile-
do tem mais importância para uma criança do que um gio de participar dos jogos, pois nesse período as mulhe-
brinquedo novo e repleto de recursos, como luzes, cores, res e as crianças não exerciam esse direito, por não serem
sons e movimento. considerados cidadãos. Na Idade Média as crianças eram
Dessa forma, percebe-se como o brincar é algo es- vista como adultos em miniaturas e tinham que trabalhar,
sencial para o desenvolvimento infantil. Uma criança que raramente os meninos eram inseridos nas brincadeiras.
não consegue brincar deve ser objeto de preocupação. Apesar de todas essas restrições, nos momentos fes-
Disponibilizar espaço e tempo para brincadeiras, portan- tivos os jogos eram considerados um instrumento de
to, significa contribuir para um desenvolvimento saudá- união e integração entre a comunidade.
vel. É importante também que os adultos resgatem sua No Renascimento, inicia-se o período no qual uma
capacidade de brincar, tornando-se, assim, mais disponí- nova concepção de infância desponta e tem como ca-
veis para as crianças enquanto parceiros e incentivadores
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

racterísticas o desenvolvimento da inteligência mediante


de brincadeiras. o brincar, alterando a ideia anterior de que o jogo era
somente uma distração.
Texto adaptado de Fernanda Martins Marques e Hele- Sobre isto, Kishimoto (2002, p. 62) afirma que:
nise Lopes Ebersol O renascimento vê a brincadeira como conduta livre
que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o
estudo. Por isso, foi adotada como instrumento de apren-
dizagem de conteúdos escolares. Para se contrapor aos
processos verbalistas de ensino, à palmatória vigente, o
pedagogo deveria dar forma lúdica aos conteúdos.

33
A autora confirma a informação de que durante o Dalla Valle, (2010, p.22) relata que:
Renascimento  o jogo serviu para divulgar princípios de independente do tempo historico; o ato de brincar possi-
moral, ética e conteúdos de áreas como história e geo- bilita uma ordenação da realidade, uma oportunidade de li-
dar com regras e manifestações culturais, além de lidar com
grafia, com base de que o lúdico era uma conduta livre
outro, seus anseios, experimentando sensações de perda e
que favorecia o desenvolvimento da inteligência, facili-
vitória.
tando o estudo. Iniciando um processo de entendimento Dalla Valle, considera que a importancia do brincar
por parte das sociedades, com relação a algumas especi- não depende do espaço e nem do tempo o qual está
ficidades infantis, mudando a concepção de que as crian- inserido, em qualquer contexto desempenha muito bem
ças eram adultas em miniatura. seu papel de oportunizar a criança à compreensão de re-
No Romantismo o jogo aparece como conduta típica gras, de estar em grupo e poder absorver para sua vida
e espontânea da criança, que com sua consciência poé- manifestações culturais e emoções novas por meio das
tica do mundo, reconhece a mesma como uma natureza brincadeiras infantis.
boa, mais que um ser em desenvolvimento com carac- É por isso que a proposta de incluir as atividades lúdi-
terísticas próprias, embora passageiras, a criança é vista cas na educação infantil vem sendo discutida por muitos
como um ser que imita e brinca dotada de espontaneida- pensadores e educadores, que a formação do educador
de e liberdade, semelhante à alma do poeta.  seja de total responsabilidade pela permanência do alu-
Froebel 1913, foi influenciado pelo grande movimen- no na escola, para adquirir valores, melhorar os relacio-
namentos entre os colegas na sociedade que é um direi-
to de seu tempo em favor do jogo. Ao elaborar sua teoria
to de todos.
da lei da conexão interna, percebe que o jogo resulta
O sentido real, verdadeiro, funcional da educação lú-
em benefícios intelectuais, morais e físicos e o constitui dica estará garantindo se o educador estiver preparado
como elemento importante no desenvolvimento integral para realizá-lo. Nada será feito se ele não tiver um pro-
da criança. fundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais
Nesse contexto, o lúdico torna-se uma das formas da educação lúdica, condições suficientes para socializar
adequadas para a aprendizagem dos conteúdos escola- o conhecimento e predisposição para levar isso adiante
res, em que o professor deverá usá-lo como uma ferra- (ALMEIDA, 2000, p.63)
menta fundamental na prática pedagógica. Encontra-se nos dias de hoje, lugares que ainda não
O lúdico no contexto histórico do Brasil surgiu por colocaram em seu cotidiano, atividades lúdicas para
meio de raízes folclóricas nos quais diversos estudos enriquecer as ferramentas para o processo de ensino e
clássicos apontam que as origens brasileiras são prove- aprendizagem. A educação lúdica sempre esteve presen-
nientes da mistura de três raças, negros, índios e portu- te em todas as épocas, é ainda desvalorizado em algu-
mas instituições. defasando o processo de construção de
gueses durante o processo de sua colonização.
conhecimento.
Em virtude da ampla miscigenação étnica a partir do
primeiro grupo de colonização, fica difícil precisar a con- Os Vários Olhares Sobre a Ludicidade
tribuição especifica de brancos, negros e índios nos jo-
gos tradicionais infantis atuais no Brasil. Existem muitos olhares, e muitos contares de pessoas
É bastante conhecida a influencia portuguesa através que vivem, pensam e escrevem sobre a ludicidade, nos
de versos, advinhas e parlendas. possibilitando ter ideias do papel e da importância deste
Sobre isso Kishimoto (2002, p.22), afirma que: termo tão discutido e utilizado na educação infantil.
Desde os primórdios da colonização a criança brasi- Evoluímos muito no discurso a cerca do brincar e re-
leira vem sendo ninada com cantigas de origem portu- conhecemos cada vez mais seu significado para a criança
guesas. E grande parte dos jogos tradicionais populariza- e suas possibilidades nas áreas da educação, cultura e la-
dos no mundo inteiro como, jogo o de saquinho (ossinho), zer. Abordaremos aqui três Teorias: a Sociantropológica,
amarelinha, bolinha de gude, jogo de botão, pião e outros, Filosófica e Psicológica, como exemplos desta vastidão
chegou ao Brasil, sem dúvida por intermédio dos primeiros de “olhares’ sobre a ludicidade”.
Nesses “vários olhares sobre a ludicidade” percebe-se
portugueses. Posteriormente, no Brasil receberam novas
que não há uma concordância entre suas ideias, muito
influencias aglutinando-se com outros elementos folclóri-
pelo contrário as dissonâncias foram fundamentais para
cos como, o do povo negro e do índio. que houvesse diferentes embasamentos teórico-meto-
Kishimoto relata que as brincadeiras e as cantigas dológico que sustentaram suas obras.
que fazem parte da cultura brasileira, receberam fortes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nas teorias Socioantropológicas verifica-se o ato de


influencias dos portugueses, não descartando a contri- brincar como uma ação psicológico onde o brincar seria
buição de outras culturas de povos, como a do negro e oposto a realidade.
do índio. Sobre isto Brougère afirma: 
Muitos pesquisadores denominam o século XXI como Brincar é visto como um mecanismo psicológico que
o século da ludicidade. Peiodo que a diversão, lazer e garante ao sujeito manter certa distância em relação ao
entretenimento, apresentam-se como condições muito real, fiel na concepção de Freud, que vê no brincar o mo-
pesquisadas pela sociedade. E por tornar-se a dimensão delo do princípio de prazer oposto ao princípio da realida-
lúdica alvo de tantas atenções e desejos, faz-se necessá- de. Brincar torna-se o arquétipo de toda atividade cultu-
ral que, como a arte, não se limita a uma relação simples
rio e fundamental resgatar sua essência, dedicando estu-
como o real. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.19)
dos e pesquisas no sentido de evocar seu real significado.

34
Essa concepção traduz a psciologização contempo- as atividades surgem liberadas, livres, exercendo-se
rânea do brincar, ou seja, tenta justificar a necessidade pelo simples prazer que encontram em fazê-lo.( O Brincar
de um individuo de se isolar das influências do mundo, e suas teorias, 2002, p.113).
durante uma brincadeira. Como exemplo de uma ação que esta dentro desta
Ainda sobre esta concepção Brougère afirma: concepção é o ato do andar de um bebê, como afirma
Concepções como essas apresentam o defeito de não Heloysa Dantas: Em certo sentido, pode-se dizer que toda
levar em conta a dimensão social da atividade humana a motricidade infantil é lúdica, marcada por uma expressi-
que o jogo, tanto quanto outros comportamentos não po- vidade que supera de longe a instrumentalidade. (O Brin-
dem descartar. Brincar não é uma dinâmica interna do in- car e suas teorias, 2002, p. 114)
divíduo, mas uma atividade dotada de uma significação No que compreende a revolução do brincar esta teo-
social precisa que, como outras, necessitam de aprendiza- ria afirma que não somente durante a fase de se quando é
gem. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.20) um bebê que ocorre o mesmo padrão lúdico, mas se repete
A concepção socioantropológica, também garante mais tarde em novos patamares do desenvolvimento como
que o processo de aprendizagem é que torna possível o afirma Heloysa Dantas: O grafismo é um bom exemplo de
ato de brincar, pois afirma que antes que a criança brin- anterioridade do gesto em relação à intenção: a criança de
que ela tem que aprender a brincar, reconhecendo assim três a quatro anos dirá que ainda não sabe o que esta dese-
certas características essenciais do jogo como o aspecto nhando, por que ainda não acabou.(O Brincar e suas teorias,
fictício que possui alguns deles. A respeito disto, Brou- 2002, p.116)
gère, afirma: Esta concepção também busca justificar o porquê de
Há, portanto, estruturas preexistentes que definem a que as crianças têm facilidades em aprender a manusear
atividade lúdica em geral, e cada brincadeira em particu- certos objetos, o qual os adultos encontram dificuldades.
lar, e a criança as aprende antes de utiliza-la em novos De acordo com Dantas: Brincar com palavras, com letras,
contextos, sozinha, ou em brincadeiras solitárias, ou en- com o computador: manuseá-los livremente, ludicamente,
tão com outras crianças. (O Brincar e suas teorias, 2002, antes de dar a este manuseio um caráter instrumental.[...]
p.22)
as crianças aprendem informática mais depressa do que os
Após essa rápida análise da teoria Socioantropológica
adultos brincam  com o computador, antes de tentar “usa-
percebe-se que para ela o jogo é antes de tudo um lugar
-lo para”. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.116)
de construção de uma cultura lúdica e que para o jogo
Nesta teoria reforça-se a ideia de que o brincar aproxi-
existir tem que haver uma cultura pré-existente a ele.
ma-se de fazer arte, como afirma Heloysa Dantas:
É dentro do quadro do Romantismo que o jogo apa-
Pela reiteração do termo brincar quero sublinhar o
rece como conduta típica e espontânea da criança. Nas-
caráter caprichoso e gratuito destas atividades, em que o
cendo neste período as Teorias filosóficas onde podemos
adulto propõe mas não impõe, convida mas não obriga,
citar como um dos maiores contribuintes desta teoria o
mantém a liberdade através da oferta de possibilidades
Filósofo Froebel reconhecido como o “psicólogo da in-
fância”, ele acreditou na criança, enalteceu sua perfeição, alternativas. (O Brincar e suas teorias, p. 117)
valorizou sua liberdade e desejou a expressão na nature- Dentro desta concepção também estão envolvidos re-
za infantil por meio de brincadeiras livres e espontâneas. lações entre o jogo e o trabalho, sobre isso, Heloysa Dan-
Sobre isto Kishimoto afirma que Froebel: tas afirma que: para Dewey o trabalho aparece como ob-
Sustenta que a repreensão e a ausência de liberdade jetivação do pensamento, como aquela atividade que pode
à criança impedem a ação estimuladora da atividade es- adicionar ao prazer do processo o beneficio do produto. (O
pontânea, considerada elemento essencial no desenvolvi- Brincar e suas teorias, p.118)
mento físico, intelectual e moral. (O Brincar e suas teorias, Esta concepção afirma que o jogo tem o fator decisi-
p.60) vo para assegurar o desenvolvimento natural da criança,
De acordo com a afirmação acima se percebe o quan- pós relata que todos os povos em todos os tempos con-
to é importante para a criança que esta em fase de de- taram com os jogos como parte importante da educação
senvolvimento a liberdade de brincar, de experimentar, e de crianças, especialmente de crianças pequenas.
de ter a oportunidade de criar e recriar, possibilitando-a
desenvolver suas habilidades físicas, intelectuais e mo- Brinquedoteca: Um Espaço de Construção do Lúdi-
rais. co.
Sobre esta teoria e sobre a prática froebeliana há As brinquedotecas no Brasil começaram a surgir nos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

quem afirme que teria havido uma ruptura da prática à anos 80. Como toda ideia nova, apesar do encantamen-
passagem a prática, pós haveria jardineiras comandando
to que desperta, tem que enfrentar dificuldades não so-
a cultura infantil a partir de orientações minuciosas, des-
mente para conseguir sobreviver economicamente, mas
tinadas à aquisição de conteúdos escolares.
também para se impor como instituição reconhecida e
E por fim, as Teorias Psicológicas, essa teoria comtem-
valorizada a nível educacional.
pla a concepção de que toda a atividade é lúdica desde
que ela exerça por si mesma (pela criança), sem que seja A incorporação do jogo como recurso para desenvol-
pressionada por outro individuo. ver e educar a criança, especialmente da faixa pré-escolar,
Segundo Dantas, esta teoria é marcada pela dialética cresce paralelamente à expansão de creches, estimulada
Walloniana, que afirma-se simultaneamente um estado por movimentos sociais de reivindicações populares.
atual e uma tendência futura:

35
Cunha (2009, p.13) afirma que: A principal implicação educacional da brinquedoteca
Dento do contexto social brasileiro, a oportunização do é a valorização da atividade lúdica, que tem como con-
brincar assumiu, através da brinquedoteca, características sequência o respeito às necessidades afetivas da criança.
próprias, voltadas para a necessidade de melhor atender as Promovendo o respeito à criança, contribui para diminuir
crianças e as famílias brasileiras. Como consequência deste a opressão dos sistemas educacionais extremamente rí-
fato, seu papel dentro do campo da educação cresceu e gidos.
 Além de resgatar o direito à infância, a brinquedoteca
hoje podemos afirmar, com segurança, que ela é um agen-
tenta salvar a criatividade e a espontaneidade da crian-
te de mudança do ponto de vista educacional.     
ça tão ameaçada pela tecnologia educacional de mas-
Cunha relata que, no Brasil as Brinquedotecas vêm sa.  Nos últimos anos, a tecnologia e a ciência obtiveram
ganhando espaço no contexto educacional melhorando avanços significativos sob todos os âmbitos, refletidos na
significativamente o aprendizado, com características es- sociedade atual. Mas, no que tange à infância e o desen-
pecíficas, como o brincar livremente com finalidade edu- volvimento da criança, houve progressos e regressos.
cativa, atendendo as necessidades da comunidade esco- O brincar, por exemplo, faz parte e interfere no desen-
lar. volvimento das crianças, e progressivamente, estudiosos
A mesma tem como objetivo proporcionar estímulos da área da Psicologia, da Pedagogia e outras ciências,
para que a criança possa brincar livremente e por ser um reconheceram a relevância do brincar para o desenvolvi-
local onde as crianças permanecem por algumas horas, é mento global das crianças.
um espaço onde acontece uma interação educacional. E Todavia, ocorreram regressos quanto ao espaço, tem-
as pessoas que trabalham na brinquedoteca são educa- po, objetos, condições de segurança, de liberdade e o
convívio social que comprometeram as brincadeiras na
dores preocupados com a felicidade e com o desenvolvi-
fase infantil devido ao surgimento da modernidade e
mento emocional, social e intelectual das crianças.
avanços tecnológicos.
FROEBEL (1912, p.) concebe o brincar como “ativida- Santos (2009, p.55) relata que: brinquedo industria-
de livre e espontânea, responsável pelo desenvolvimento lizado é projetado pelo adulto para a criança, conforme
físico, moral, cognitivo. E os dons e brinquedos como ob- concepção que o adulto possui, não cabendo a criança
jetos que subsidiam as atividades infantis.” criar ou acrescentar nada e, em muitos momentos, de-
De acordo com Froebel, por meio da atividade livre, vido ao alto custo do objeto, nem mesmo brincar com
que as brinquedotecas podem proporcionar, a criança liberdade. Quando o brinquedo é oferecido como prova
desenvolve sua estrutura física e psíquica, permitindo de status, para satisfazer a vaidade do adulto, as reco-
que a mesma cresça livremente. Já os brinquedos irão mendações quanto ao uso são tantas, que restringem a
ajudar na realização das atividades que serão aplicadas. atividade lúdica.
Segundo Santos muitos brinquedos tecnológicos,
E assim a criança aprende com aquilo que lhe é natural,
que geralmente vem com muitas funções que só um
o brincar. adulto consegue manipular, inibindo o desenvolvimento
Segundo Nylse Helena da Silva Cunha, Presidente da da criança, pois limitam a criatividade e a liberdade da
Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABB): mesma. E pelo fato de muitas vezes este brinquedo ter
a Brinquedoteca é um espaço preparado para esti- um alto custo, o adulto acaba fazendo muitas recomen-
mular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma dações restringindo o ato de brincar.
grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente
especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a ex- As Brincadeiras e as Novas Tecnologias
plorar, a sentir, a experimentar.
De acordo com Cunha a brinquedoteca proporcio- As brincadeiras despertam nas crianças várias ações
ao concretizar as regras do jogo, seja ela qual for, as
na a criança estímulos para que ela possa desenvolver
mesmas procuram se envolver nessa brincadeira, e em
suas capacidades, permitindo que mesma tenha acesso relação ao lúdico os brinquedos e as brincadeiras rela-
a brinquedos diversificados em um ambiente apropriado cionam-se diretamente com a criança, porém, não se
e cheio de atrativos, onde ela possa explorar e se desen- confundem com o jogo, que aparece com significações
volver cognitivamente. opostas e contraditórias, visto que a brincadeira se des-
Ressalta-se então, a importância da brinquedoteca no taca como uma ação livre e sendo supervisionada pelo
meio educacional como espaço que propicia diversos es- adulto.
tímulos num momento tão decisivo como a infância, pois Diante disto Pinto (2003, p.27) afirma que:
é nesta fase que ocorre o desenvolvimento harmonioso Brinquedos e brincadeiras aparecem com significações
e consciente do educando, o que permite ampliar suas opostas e contraditórias: a brincadeira é vista como uma
ação livre, já o brinquedo expressa qualquer objeto que
habilidades e capacidades de forma global.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

serve de suporte para as brincadeiras livre ou fica atrelado


 Pode-se dizer que a Brinquedoteca é um espaço que ao ensino de conteúdos escolares.
permite na contemporaneidade, o resgate em vivenciar Para a autora esse elementos que constituem o brin-
o lúdico esquecido pelas pessoas, e negado às crianças. quedo e a brincadeira são definidas como regras prees-
Mas, acima de tudo como destaca CUNHA (2001, p. 16), tabelecidas que exigem certas habilidades das crianças.
ela tem a função de «fazer as crianças felizes, este é o Entretanto, a brincadeira é uma ação que não exige um
objetivo mais importante». objeto-brinquedo para acontecer, é jogando que a elas
Cunha afirma que, a Brinquedoteca proporciona à constroem conhecimentos que ajudará no seu desempe-
criança a felicidade do brincar de forma livre e muito signi- nho escolar. Ao brincar a criança faz uma releitura do seu
ficativa para o desenvolvimento físico e cognitivo da crian- contexto sociocultural, em que a mesma amplia, modifi-
ça. ca, cria e recria por meio dos papeis que irão representar.

36
Portanto, é fundamental a importância no que diz Pelas ficções, pelas diversas imagens que mostra, a
respeito a utilização das brincadeiras e dos jogos no televisão fornece às crianças conteúdo para suas brinca-
processo ensino pedagógico, diante dos conteúdos que deiras. Elas se transformam, por meio das brincadeiras,
podem ser ensinados por intermédio de atividades lúdi- em personagens vistos na televisão. De qualquer modo,
cas em que a criança fiva em contato com em diferentes a televisão tornou-se uma fornecedora essencial, senão
atividades manipulando vários materiais, tais como jo- exclusiva, dos suportes de brincadeira, o que só pode re-
gos educativos, os didáticos, os jogos de construção e os forçar sua presença junto à criança.
apoios de expressão. Numa sociedade que fragmenta os contextos cul-
Considerando esses fatores, o desenvolvimentro da
turais, a televisão oferece uma referência comum, um
diversidade de  materiais obriga a necessidade de ade-
suporte de comunicação. A mesma não se opõe à brin-
quar os mesmos, quanto ao espaço da brincadeira con-
cadeira, mas alimenta-a, influencia-a, estrutura-a na me-
tribui para o desenvolvimento cognitivo, físico, emocio-
nal, social e moral, sem que se perca a característica do dida em que a brincadeira não nasceu do nada, mas sim
brincar como ação livre, iniciada e mantida pela criança. daquilo com o que a criança é confrontada, reciproca-
A importância do espaço lúdico na construção do mente, a brincadeira permite à criança apropriar-se de
conhecimento é oportunizar a criança observar o mun- certos conteúdos da televisão.
do imaginado por ela, e quando ela vê esta realidade de A televisão tem influência sobre a imagem do brin-
maneira muito distorcida, procuramos conversar com a quedo e sobre seu uso e, é claro, estimula o consumo
mesma, esclarecendo as coisas, fazendo com que a crian- de alguns deles. Seja diretamente por intermédio das
ça fique mais perto da nossa realidade. emissões dos programas ou indiretamente através dos
Esta é uma das formas de brincar mais saudáveis para brinquedos que se adaptaram à sua lógica, a televisão in-
o desenvolvimento da criança, razão pelo qual o “faz-de- tervém muito profundamente na brincadeira da criança,
-conta” infantil deve ser tratado e subsidiado com serie- na sua cultura lúdica.
dade, atribuindo o papel relevante no ato de brincar e na Quando o aluno se volta para a sociedade atual, por
constituição do pensamento infantil. É brincando e jo- meio da informática, não está apenas frente a um novo
gando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual, instrumento de consumo ou brinquedo. O computador
auditivo, tátil, motor, modo de aprender e entrar em uma estrutura um novo recorte da realidade. Um recorte que
relação cognitiva com o mundo. possibilita ao usuário recriar uma parte da realidade. Este
Para melhor compreensão é interessante o que Pinto
fato nunca antes tinha acontecido nas dimensões atuais.
(2003, p.65) nos diz:
Pesquisas apontam que computador, videogames, fil-
O espaço lúdico não precisa ficar restrito a quatro pa-
redes, ao contrario, deve fluir por todo o ambiente, den- me e programa de TV com conteúdo adequado estimu-
tro e fora das classes. Um dos objetivos desse espaço é lam a seleção de informação, a capacidade de dedução e
favorecer o encontro de crianças, para brincar, jogar, fazer a lógica.
amigos, propiciar a convivência alegre e descontraída dos Entretanto, com o desenvolvimento das sociedades e
frequentadores. das transformações tecnológicas tudo isso se altera. As
Seguindo o pensamento da autora, esse espaço a produções gradativamente se tornaram mais sofisticadas
criança interage com o meio físico, com outras crianças intelectualmente. O capitalismo criou um novo modelo de
e com adultos, construindo assim, regras de convivên- saber, onde a tecnologia assume uma dinâmica cada vez
cia e competência, treina suas habilidades e capacidades maior.
de ganhar ou perder, saber respeitar suas diferenças dos Com a criação da rede de computadores, e principal-
outros, aprender a lutar por seus direitos, defender seu mente da internet, não basta apenas o sujeito aprender
espaço, mas respeitar o do amigo. Parecem coisas tão a lidar com as informações mais gerais. É preciso apro-
simples e tão óbvias, mas são muito difíceis de fazer na fundá-las, decodificando-as em toda a sua complexida-
prática. de. Isto porque agora o sujeito está sozinho frente ao
Essas atividades lúdicas têm objetivos diversos, usa- processo de transmissão e produção/reprodução das
das para divertir, outras vezes para socializar, promover a informações.
união de grupos e, num enfoque pedagógico serve como
A base de informações maiores não virá dos profes-
instrumento para transmitir conhecimentos. É fato que
sores, mas dos próprios computadores que poderão ser
nossa cultura e, talvez, mais ainda a das crianças, absor-
acionados nos lares, nas bibliotecas ou na própria escola.
veu a mídia e, de um modo privilegiado, a televisão. A
O professor se tornará então um orientador de formas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

televisão transformou a vida e a cultura da criança. Ela


influenciou particularmente na cultura ludicidade. de estudo mais adaptadas as necessidades dos alunos.
Essa cultura lúdica não está fechada em torno de si (Santos, Santa Marli. p.80.)
mesma; ela integra elementos externos que influenciam a Cabe aos professores, se quiserem participar deste
brincadeira: atitudes e capacidades, cultura e meio social. processo de transformação social e uma constante reci-
Ela está imersa na cultura geral à qual a criança pertence. clagem. Um professor atualizado é aquele que tem olhos
A cultura retira elementos do repertório de imagens que no futuro e a ação no presente, para não perder as possi-
representa a sociedade no seu conjunto, é preciso que bilidades que o momento atual continuamente lhe apre-
se pense na importância da imitação na brincadeira. A senta. (Santos, Santa Marli. p.80.)
mesma incorpora, também, elementos presentes na tele-
visão, fornecedora generosa de imagens variadas.

37
As Contribuições do Lúdico na Construção do Co- De acordo com Negrine é fundamental que os pro-
nhecimento fessores tenham conhecimento do saber que a criança
construiu na interação com o ambiente familiar e socio-
O brincar é uma atividade constante na vida de toda cultural, para formular sua proposta pedagógica. E por
criança, algo que lhe é natural e muito importante para meio de investigações, brincadeiras o educador conse-
o seu desenvolvimento. As brincadeiras, para a criança, gue conhecer a realidade e o conhecimento prévio que
constituem atividades primárias que trazem grandes be- cada criança traz consigo.
nefícios do ponto de vista físico, intelectual e social e a A criança por muito tempo foi considerada um adulto
maneira como a mesma brinca reflete sua forma de pen- em miniatura. Ela tem características próprias e para se
sar e agir. tornar um adulto, ela precisa percorrer todas as etapas
Negrine (1994, p.19) afirma que: de seu desenvolvimento físico, cognitivo, social e emo-
as contribuições das atividades lúdicas no desenvol- cional. Seu primeiro apoio nesse desenvolvimento é a
vimento integral indicam que elas contribuem poderosa- família, posteriormente, esse grupo se amplia com os co-
mente no desenvolvimento global da criança e que todas legas de brincadeiras e a escola.
as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteli- A brincadeira lúdica vem ampliando sua importância,
gência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são
deixando de ser um simples divertimento e tornando-se
inseparáveis, sendo a afetividade a que constitui a energia
uma ponte entre a infância e a vida adulta.
necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e
motriz da criança.
A Brincadeira Despertando a Criatividade
Negrine relata que o lúdico é uma atividade de gran-
de eficácia na construção do desenvolvimento infantil,
pois o brincar gera um espaço para pensar, e que por O jogo simbólico ou de faz-de-conta, particularmen-
meio deste a criança avança no raciocínio, desenvolve o te, é ferramenta para a criação da fantasia, necessária a
pensamento, estabelece contatos sociais, compreende o leituras não convencionais do mundo. Abre caminho para
meio, satisfaz desejos, desenvolve habilidades, conheci- autonomia, a criatividade, a exploração de significados e
mentos e criatividade. As interações que o brincar e o sentidos. Atua também sobra a capacidade da criança de
jogo oportunizam favorecem a superação do egocen- imaginar e representar outras formas de expressão.. .
trismo, que é natural em toda criança, desenvolvendo a Trata-se de oferecer à criança os brinquedos que, por
solidariedade e a socialização. sua forma, sentido e manipulação, criarão possibilidades
A capacidade de brincar possibilita às crianças um de desenvolver o raciocínio através do jogo.
espaço para resolução dos problemas que as rodeiam. A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança
A criança, por meio da brincadeira, reproduz o discurso e contribui para o processo de apropriação de signos so-
externo e o internaliza, construindo seu próprio pensa- ciais. Cria condições para uma transformação significati-
mento. va da consciência infantil, por exigir das crianças formas
 De acordo com Vigotsky (1984, p.97): mais complexa de relacionamentos com o mundo. Isso
a brincadeira cria para as crianças uma “zona de de- ocorre em virtude das características da brincadeira.
senvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a Os objetos manipulados na brincadeira, especialmen-
distância entre o nível de desenvolvimento real, determi- te, são usados de modo simbólico, como um substituto
nado pela capacidade de resolver independentemente um para os outros, por intermédio de gestos imitativos re-
problema, e o nível de desenvolvimento potencial, deter- produtores das posturas, expressões e verbalizações que
minado através da resolução de um problema sob a orien- ocorrem no ambiente da criança. Na verdade, só o fato
tação de um adulto ou com a colaboração de um compa- de colocarmos o material a disposição da criança permite
nheiro mais capaz. que ela desenvolva sua atividade real. Com o material a
Vigotsky afirma que, por meio do brincar origina-se criança age, e nessa idade toda a aprendizagem ocorre
na criança a zona de desenvolvimento proximal que se
por meio da ação.
define por funções que ainda não amadureceram, mas
É através da apercepção criativa, mais do qualquer outra
que estão em processo de maturação, funções que estão
coisa, que o individuo sente que a vida é digna de ser vivida.
presente nas crianças em estado embrionário.
Muitos indivíduos experimentaram suficientemente o
Por meio das atividades lúdicas, a criança reproduz
muitas situações vividas em seu cotidiano, as quais, pela viver criativo para reconhecer, de maneira tantalizante,
imaginação e pelo faz-de-conta, são reelaboradas. a forma não criativa pela qual estão vivendo, como se
estivessem presos à criatividade de outrem, ou de uma
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

 Esta representação do cotidiano se dá por meio da


combinação entre experiências passadas e novas pos- máquina.
sibilidades de interpretações e reproduções do real, de Viver de maneira criativa ou viver de maneira não
acordo com suas afeições, necessidades, desejos e pai- criativa constituem alternativas que podem ser nitida-
xões. Estas ações são fundamentais para a atividade cria- mente contrastadas.
dora do homem. A criatividade que estamos estudando relaciona-se
Negrine (1994), em estudos realizados sobre apren- com abordagem do individuo a realidade externa. Su-
dizagem e desenvolvimento infantil, afirma que “quando pondo-se uma capacidade cerebral razoável, inteligên-
a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-his- cia suficiente para capacitar o indivíduo a tornar-se uma
tória, construída a partir de suas vivências, grande parte pessoa ativa e a tomar parte na vida da comunidade,
delas através da atividade lúdica”.   tudo o que acontece é criativo.

38
Segundo Marzollo e Lloyd ( 1972, p.162): Portanto, o brinquedo facilita a compreensão da rea-
“a criatividade é basicamente uma atitude, que ocor- lidade, é muito mais um processo do que um produto,
rem facilmente entre as crianças pequenas, mas que que não é o fim de uma atividade ou o resultado de uma
precisa ser mantida e reforçada para não ser sacrificada experiência, por ser essencialmente dinâmico. O brin-
no nosso mundo excessivamente lógico”. quedo possibilita a emergência de comportamentos es-
Assim, brincando, a criança vai, pouco a pouco, or- pontâneos e improvisados, exigindo movimentação físi-
ganizando  suas relações emocionais; isso vai dando a ela
ca, emocional, além de provocar desafio mental. E neste
condições para desenvolver relações sociais, aprendendo a
contexto, a criança só ou com companheiros integra-se
se conhecer melhor e a conhecer e a aceitar a existência dos
outros. ou volta-se contra o ambiente em que está.
A criatividade também está situada no domínio cog- Por outro lado, o padrão do desempenho e normas
nitivo, mas exerce um influencia mais forte sobre o domi- cabe aos participantes criar; há liberdade para tomar de-
no afetivo, e tem relação com a expressão pessoal e a in- cisões. A direção que o brinquedo segue é determinada
terpretação de emoções, pensamentos e ideias: Moyles, pelas variáveis de personalidade da criança, do grupo e
2002, p.82) considera que “é um processo mais impor- do contexto social em que as mesmas vivem. O brinque-
tante do que qualquer produto especifico para a criança do é a essência da infância; é o veículo do crescimento,
pequena, como podemos constatar”. As crianças criam e o caminho que dá à criança condições para explorar o
recriam constantemente ideias e imagens que lhes per- mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando descobrir
mitem representar e entender a si mesmas e suas ideias e entender seus sentimentos, as suas ideias e sua forma
sobre a realidade. As atividades expressivas das crianças de reagir. Assim, uma criança, ao se apropriar de uma
de quatro anos inicialmente vão representar aquilo que boneca, poderá denominá-la de mãe ou de qualquer ou-
as impressionou em situações de vida real, mas dentro
tra pessoa, dependendo do momento em que se passar
de um ano ou dois as crianças rapidamente se tornam
mais imaginativas e criativas, na medida em que sua ca- a brincadeira. Nesse instante, é liberada a criatividade, a
pacidade de simbolizar aumenta. imaginação, o significado, a especificidade.
Meek, (1985, p. 41) afirma que:
A criatividade e a imaginação estão enraizadas no Ao término desse estudo conclui-se que o lúdico é
brincar de todas as crianças pequenas e, portanto, são uma forma facilitadora de aprendizado. Com ele a crian-
partes do repertório de todas as crianças, não de minorias ça desenvolve aspectos afetivos, cognitivos, motores e
talentosas. Ela diz enfaticamente que elas constituem a sociais., podendo assim interagir com o meio em que
base da verdadeira educação. vive de forma dinâmica e prazerosa. O jogo, a brinca-
Poderíamos dizer que o brincar leva naturalmente deira e o brinquedo não podem ser ignorados nas fases
à criatividade, porque em todos os níveis do brincar as iniciais da vida da criança e, infelizmente, é o que acon-
crianças precisam usar habilidades e processos que pro- tece quando muito professores, em função de não terem
porcionam oportunidades de ser criativo. acesso a informações mais precisas sobre o lúdico, aca-
Para ser criativo é preciso ousar ser diferente, requer
bam agindo de maneira tradicional, deixando de utilizar
tempo e imaginação, o que está disponível para a maio-
ria das crianças, requer autoconfiança, algum conheci- esse elemento facilitador no processo de formação de
mento, receptividade, senso de absurdo e a capacidade um cidadão crítico e reflexivo.
de brincar. Tudo isso faz parte da infância e, muito disso Precisamos incentivar os professores para trabalha-
precisa ser estimulado com mais vigor no contexto da rem de forma dinamizadora, criando atividades que pos-
escola e da educação. sam chamar a atenção da criança no ambiente escolar,
possibilitando a construção de ideias e conceitos que
A Função do Brinquedo para o Desenvolvimento contribuam na sua vida como seres que vivem, lutam e
Integral do Ser Humano participam em uma sociedade que precisa lutar pelos di-
reitos humanos. O bom êxito de toda atividade lúdica
Através do brinquedo, a criança inicia sua integração pedagógica depende exclusivamente do adequado pre-
social; aprende a conviver com os outros, a situar-se fren- paro e liderança do professor.
te ao mundo que a cerca, pois brincar não é perda de Brougére (2000) tem razão em afirmar que: Encontra-
tempo, nem simplesmente uma maneira de preencher o
mo-nos frente a uma brincadeira que sujeita a conteúdos
tempo, pois a criança que não tem a oportunidade para
definidos socialmente, não é mais brincadeira, transfor-
brincar é como um peixe fora da água. Portanto, o brin-
quedo possibilita o desenvolvimento integral da criança, mou-se em uma atividade controlada pela mestra que se
utiliza na educação para manter os alunos interessados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

já que se envolve afetivamente, convive socialmente e


opera mentalmente, tudo de uma maneira envolvente, em sua proposta.
em que ela desprende energia, imagina, constrói suas Portanto, a realidade observada dessa prática na pes-
normas e cria alternativas para resolver imprevistos que quisa mostra que, com o passar do tempo, esta dificulda-
surgem no ato de brincar. de também estará superada. Mas, na educação, o agora
Por essa razão, Callois apud Ferreira (199?) afirma que: é mais importante que o ontem, devendo servir de base
O brinquedo não se constitui numa aprendizagem do para as decisões do amanhã e um estudo detalhado de
trabalho. Ele não prepara um ofício definido, mas admite todas as questões permitirá mudanças gradativas que
que pode introduzir na vida em seu conjunto geral fazen- não devem servir apenas para a escola em questão, mas
do crescer as capacidades de superar os obstáculos ou de também para professores e administradores escolares
enfrentar dificuldades. que, assim, oferecerão melhores condições de cresci-

39
mento e aproveitamento na escola.  Ao estabelecermos Alguns filósofos garantem que brincar é essencial
uma proposta de relações educativas democráticas, vol- para uma boa base da cultura de um povo.
tadas para a participação societária, engajamo-nos nas Segundo Emerson Capaz, no prefácio da obra “Histó-
distintas estruturas de apresentação para o exercício da ria do Brinquedo: Para as crianças conhecerem e os adul-
cidadania. Afinal, educar o ser humano é prepará-lo para tos se lembrarem” (ATZINGEM, 2001, p. XVIII).
a vida, independente dos desafios que possamos encon- “Conhecer a fundo, portanto, esse poderoso instrumen-
trar.
to, irá nos ajudar a educar melhor nossos filhos, a melhor
Em todos os países, independente de seu grau de de- prepará-los para uma vida mais saudável.
senvolvimento, as brincadeiras tradicionais estão sendo Crianças que passam a sua infância utilizando brin-
deixadas de lado para o uso da informatização, com isso quedos e brincadeiras que exercitam a sua criatividade,
muitas das vezes não se utiliza brincadeiras no processo em vez de simplesmente apertarem botões, serão adultos
de formação da criança, por acreditar que é algo dispen- diferenciados.”
sável e sem funcionalidade. Diante de tal contexto ques- Estudos e pesquisas afirmam cada vez mais a con-
tiona-se: qual a contribuição que o brinquedo emprega- tribuição positiva das atividades lúdicas empregadas
do nas brincadeiras infantis pode proporcionar para a na educação infantil, estão proporcionando condições
formação de um individuo? adequadas emocional, motora, social e cognitiva. Pois
O lúdico é uma necessidade do ser humano em qual-
segundo MALUF (2008) “mais importante do que o tipo
quer idade, as técnicas lúdicas fazem com que a criança
aprenda com prazer, alegria e entretenimento. É impor- de atividade lúdica é a forma como é dirigida e como
tante destacar que a educação lúdica está distante da é vivenciada, e o porquê de estar sendo realizada. Toda
concepção ingênua de passatempo e diversão superficial. criança que participa de atividades lúdicas, adquire novos
NEGRINE (2000) afirma: conhecimentos e desenvolve habilidades de forma natu-
“que a capacidade lúdica está diretamente relaciona- ral e agradável, que gera um forte interesse em aprender
da a sua pré-história de vida. Acredita ser, antes de mais e garante o prazer”.
nada, um estado de espirito e um saber que progressiva- Quando se fala do brincar para a vida a adulta cada
mente vai se instalando na conduta do ser devido ao seu vez mais está se perdendo esse lúdico, pela falta de tem-
modo de vida”. po, a vida agitada. Em mundo globalizado cada vez mais
O lúdico é a forma de desenvolver a criatividade, os
necessita-se de praticidade, então progressivamente os
conhecimentos, raciocínio de uma criança através de jo-
gos, música, dança, mímica. O intuito é educar e ensinar indivíduos estão se afastando do convívio lúdico. Como
se divertindo e interagindo com os outros. O brincar é afirma NEGRINE (2000) “como consequências, o adulto
considerado uma importante fonte de desenvolvimento de hoje vive uma oscilação constante da auto-imagem e
e aprendizado. da auto-estima. À medida que a idade avança necessita-
Caracterizando-se por ser espontâneo funcional e sa- mos cada vez mais vivenciar atividades compartilhadas.”
tisfatório. O brinquedo, tem história, as vezes muito antigas.
Independente de época, cultura social, os jogos e os Como diz o ditado, “uma viagem que nos permite per-
brinquedos fazem parte da vida da criança, pois elas vi- correr culturas, estilos, modos de vida, regras sociais,
vem num mundo de fantasia, de encantamento, de ale- uso de materiais, ferramentas, relações pessoais.” Afirma
gria, de sonhos, onde realidade e faz-de-conta se con- dessa forma Atzingen (2001) “ao conhecer esse universo
fundem (KISHIMOTO, 2000).
mágico, descobrimos que o brinquedo é muito mais que
Está pesquisa relatará uma importante análise so-
bre as transformações acontecidas na infância para vida entretenimento. É, acima de tudo, um processo cultural
adulta, mostrando e abordando diferentes formas de in- que forma, amplia e estabelece valores.”
clusão, de orientação para profissão, formação de caráter Entendemos que é possível aprender brincando, pois
e conduta de um adulto, visando à integração de todos com as brincadeiras será possível aprendermos a ga-
para um mesmo meio. nhar ou perder, a esperar, a ter autonomia, liderança e
A inserção de atividades lúdicas é hoje uma exigência conseguirmos lidar melhor com as dificuldades e frus-
na sociedade, que entende estes como um dos possíveis trações ocorridas ao longo do desenvolvimento da vida.
caminhos, para uma boa escola, integrando seus alunos Desenvolvimento esse que ocorre de maneira diferente
em uma sociedade mais democrática. Como Kishimoto em cada criança, por isso as atividades lúdicas devem ser
(1995, p. 5) afirma:
elaboradas de acordo com os interesses das crianças de
“A concepção de brincar como forma de desenvolver a
autonomia das crianças requer um uso livre de brinquedos uma forma lúdica e participativa.
BRANDÃO (2004, p. 10) afirma que: “A recreação (lú-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e materiais, que permita a expressão dos projetos criados


pelas crianças. Só assim, o brincar estará contribuindo dico) é uma ocorrência de todos os tempos, é parte in-
para a construção da autonomia”. tegrante da vida de todo o ser humano, mas também é
Criança, lazer, escola. Quando usadas separadamen- um problema que surge e deve ser estudado e orientado
te, são cercadas de uma polêmica que cresce ainda mais, como um dos aspectos fundamentais da estrutura so-
à medida que se procura relacioná-las, transformando-se cial”.
em obstáculo difícil de transpor. Uma série de equívocos ATZINGEN (2001) afirma que:
está presente nas discussões que procuram relacionar o “Não podemos perder de vista que nossas crianças são,
lúdico e o processo educativo, principalmente quando em grande parte de suas vidas, educadas e se relacionam
envolvem tentativas de viabilização de propostas de in- com o mundo adulto pelo brincar, e que fazem usando o
tervenção.
brinquedo como instrumento.”

40
Então o brincar deve ser cada vez mais estudado, pes- não-integrado pode gerar no indivíduo uma ansiedade
quisado e aplicado na educação infantil, para que assim perturbadora, mobilizando defesas rígidas e impedindo
possa se ter seres humanos cada vez mais bem prepara- que o impulso criativo apresente-se. Neste caso, pode-
dos para a vida adulta e que possam assim lidar com suas mos considerar que as condições de relacionamento
possíveis frustações. Como para Rubem Alves: precoce não foram suficientemente satisfatórias, capazes
“Que a leitura seja um Brinquedo... de gerar um grau de segurança necessário ao indivíduo,
Que a Alma voe, deslocando-se do texto, para fazer para o enfrentamento do novo ou a experiência espon-
suas próprias aventuras... tânea de desenvolvimento do Eu.
Que haja coragem para pensar o insólito... A segurança nas próprias capacidades, juntamente
Que o pensamento seja capaz de comtemplar os fun- com a aceitação de aspectos não-integrados do Eu e
damentos...” de dimensões desconhecidas da realidade, pode lançar
Os estudos iniciais apontam que a sociedade de hoje o indivíduo a experiências inesperadas de imensuráveis
espera ter uma escola que busque qualidade, e para isso
significações criativas. Nesta óptica, a infância pode ser
vem tentando desenvolver metodologias que auxiliem
entendida como um período intensamente produtivo
na formação da criança trazendo para sua estrutura a
enquanto o momento em que o ser humano realiza as
participação mais ativa da comunidade, novas formas
de aprendizado como as próprios brinquedos e brinca- efetivas definições na construção de sua individualidade,
deiras, e o lúdico empregado na educação em busca de meta atingida com uma disposição saudável em que a
melhorias para a própria estrutura escolar e do individuo criança lança-se a experiências com liberdade e despren-
em formação. dimento frente ao desconhecido.
Constatou-se que um adulto que viveu uma infância O ser humano, durante a infância, além de utilizar o
lúdica e com brinquedos e brincadeiras orientadas ou li- potencial criativo para atingir uma adaptação ao mundo,
vres, jogos de raciocínio e de coordenação tiveram uma como fará durante toda sua existência, está comprome-
melhor formação para vida. tido com a constituição de uma identidade pessoal, que
pode ser considerada a obra criativa mais importante de
O potencial criativo, a saúde e o desenvolvimento sua vida, visto que todas as demais realizações derivarão
infantil desta primeira. É na infância que o ser humano saudá-
vel, mais exaustivamente, explorará as experiências re-
Para Winnicott (1975), o potencial criativo é inato e veladoras de aspectos subjetivos que lhe são próprios e
torna-se presente no relacionamento do indivíduo com que lhe permitirão uma escalada de definições pessoais
o mundo, sendo o principal responsável pelo sentimento que deverão configurar um perfil individual ou um estilo
de “valor do viver”, isto é, o sentimento de que a vida próprio de ser e fazer. Mais tarde, depois de alicerçada
é significativa e vale a pena ser vivida. Para o autor, o a obra do empreendimento do Eu, passará a desvendar
desenvolvimento humano está associado ao desenvol- o refinamento de certas peculiaridades, a ampliar habili-
vimento do potencial criativo e a criatividade desenvol- dades ou adquirir outras novas performances, aprimorar
ve-se em paralelo ao desenvolvimento emocional do capacidades e aprofundar a afetividade, enriquecendo
indivíduo. a ampliação de sua subjetividade, de modo contínuo e
Em sua Teoria da Brincadeira, Winnicott (1975) apre- inesgotável.
senta uma relação direta entre o desenvolvimento do A criança, o adolescente, o adulto e o idoso, todos
potencial criativo e da afetividade. Menciona um “clima” são criativos, pois cada fase do desenvolvimento huma-
afetivo que envolve a experiência criativa e que evidencia
no apresenta particularidades que apontam aspectos
o sentimento de confiança presente no acontecimento
criativos específicos; a criatividade está na raiz da vida e a
criador. A autoconfiança ou “estado de segurança” se-
manutenção da existência depende da utilização do po-
gundo o autor, deriva da experiência satisfatória de re-
lacionamento no início da vida, período no qual o ser tencial criador. Contudo, na infância mais que no período
humano é duplamente dependente – é dependente e de vida do adolescente, do adulto ou o idoso, vemos uma
desconhece que o seja. As experiências de que a pessoa urgência criadora cujo investimento do indivíduo justifica
da mãe e o relacionamento com ela mantido são “dignas a adoção de cuidados especiais por parte do ambiente
de confiança”, permitem ao bebê o estabelecimento do que serão determinantes para a criatividade e saúde fu-
“espaço potencial” e o desenvolvimento da subjetivida- turas, já que estão sendo construídos os alicerces de toda
de. Com a confiança, o indivíduo pode experimentar o a criatividade futura nas definições fundamentais do Eu.
estado de “relaxamento” no qual o impulso criativo ma- Lesner e Hillman (1983) corroboram esta visão quan-
nifesta-se, afirma Winnicott. É no estado de relaxamento, do afirmam que o desenvolvimento da Criatividade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

conclui o autor, que a experiência humana pode desfru- apresenta três estágios. O primeiro, que denominaram
tar de uma qualidade “não-intencional” que a transforma “Estágio do Enriquecimento Criativo Interno”, cujo pe-
efetivamente em uma experiência criadora. ríodo é determinado da infância à adolescência, no qual
O estado de relaxamento ou “repouso”, para Winni- há aquisição de habilidades básicas e desenvolvimento
cott (1989), remete o indivíduo à experiência primordial de um senso de identidade; nesta fase concluem que o
do “estado não-integrado” da personalidade que antece- instinto criativo está direcionado para o Eu. O segundo,
de o estado integrado. O estado não-integrado da perso- denominado “Estágio do Enriquecimento Criativo Exter-
nalidade (...) é o estado primordial do vir-a-ser ou estado no” que se estende da adolescência à idade madura e é
emocional criativo que veicula e atualiza a realidade po- definido como o período em que o indivíduo utiliza o seu
tencial das infinitas possibilidades inerentes à vida huma- sentimento de identidade para enriquecer tanto o outro
na (Sakamoto, 2002, p.125). Sendo inevitável, o estado como a si mesmo e os valores de seus produtos criati-

41
vos vão além de seu próprio Eu. Finalmente, o terceiro com o desenvolvimento saudável, permite ao psicólogo
ou “Estágio da Auto Avaliação Criadora” que se inicia na orientar a tomada de decisões sobre os fatores decisivos
velhice e vai até a morte, é o período em que segundo que permeiam o bem-estar e a adequada construção da
os autores, a criatividade retorna para uma característica pessoa humana.
mais narcisista, mostrando-se mais voltada para o enri- No atendimento clínico de uma família, cujos filhos
quecimento interno ou autoavaliação; o objetivo deste gêmeos – Bruno e Clara (nomes fictícios), foram acompa-
período é a aceitação e satisfação com o próprio ciclo da nhados da idade de dois aos sete anos, pode-se contem-
vida e consequentemente, a aceitação da morte. plar um exemplo claro das possibilidades preventivas de
Na medida em que se considera que a criativida- assistência ao desenvolvimento infantil, conjugada com
de está na base da saúde do ser humano, como afirma o brincar.
Winnicott (1975) e verifica-se que durante a infância o O acompanhamento das crianças ocorreu em des-
indivíduo empreende a construção das raízes de sua in- dobramento à psicoterapia individual da mãe que fre-
dividualidade, pode-se averiguar os aspectos essenciais quentemente trazia questões relativas à maternidade e
do desenvolvimento infantil que asseguram o ponto de cuidado de seus filhos. Nestas ocasiões havia a oportu-
partida mais promissor de um processo bem sucedido. nidade de trabalhar-se inúmeros aspectos envolvidos no
A criança, quando inicia a fala, brinca com sua voz, cotidiano da família, especialmente acerca das caracte-
experimenta toda sorte dos sons por ela produzidos, até rísticas e necessidades das crianças em função de cada
que desenvolve a linguagem e o tom emocional da co- momento evolutivo. O relacionamento da mãe com as
municação oral. Ao adquirir a marcha, brinca com o cor- crianças era muito construtivo e apresentava vantagens
po, experimenta toda sorte de movimentos, desafiando para o atendimento de necessidades e o desenvolvimen-
a manutenção do equilíbrio físico e o enfrentamento de to de peculiaridades de cada filho. Clara e Bruno, apesar
quedas bruscas voluntárias, até que se torna capaz de de gêmeos, cresciam cada um a seu modo.
realizar sofisticados desempenhos de agilidade e des- Na idade de três anos e meio, a pedido da genitora
treza motora. A criança que exercita o jogo do relacio- foram realizadas consultas clínicas com cada um dos fi-
namento social experimenta o ato de tomar a iniciativa
lhos com o objetivo de verificar as impressões trazidas
do convite ao envolvimento afetivo e arrisca a recusa do
por ela sobre prováveis dificuldades no desenvolvimen-
contato interpessoal, investe nas identificações subjetivas
to. Foram realizadas sessões de Observação Lúdica, indi-
das diversificadas relações que estabelece com os outros
viduais e conjuntas, esta última a pedido das crianças. A
e, às vezes brinca com a imitação dos papéis sociais. A
consulta clínica com a presença de ambos foi realizada
criança que desenvolve as mais diversas habilidades, en-
conforme solicitada por Bruno e Clara, porque entende-
tre elas a da escrita e leitura, experimenta ora a exibição
-se que o pedido poderia estar vinculado a uma busca
social em busca de aprovação, ora a omissão consciente
de suas conquistas. Experimenta os poderes e limites de de comunicar elementos importantes que pudessem ex-
seu corpo, imagina seus encantos e descobre seus de- pressar fatores ou questões relacionados à experiência
sejos, põe à prova hipóteses sobre o seu entendimento de serem gêmeos. Considera-se que estarem juntos po-
do mundo, duvida da veracidade dos fatos, e ao mesmo deria determinar a emergência de fatores afetivos e de
tempo vai construindo crenças de si mesma, crenças so- convivência que fossem relevantes para eles. A realização
bre as pessoas com quem convive e sobre outras que da sessão conjunta foi interessante porque pôde-se veri-
ocasionalmente encontra, sobre como é o mundo social, ficar a forma de relacionamento de ambos, já observada
sobre como é o universo concreto. A criança explora e na situação individual, além de constatar o modo genuí-
descobre a si e ao mundo, criando uma maneira própria no de ser de cada um frente ao outro, ora pareciam mui-
de compreender sua experiência e relacionar-se, que se- to sincronizados como parceiros bastante conhecidos e
rão aprimoradas com o desenvolvimento da capacida- ora agiam de maneira destacadamente individualizada.
de de abstração. A criança desenvolve-se em direção à Na ocasião deste atendimento diagnóstico inicial,
vida adulta, somando experiências determinantes que nada foi observado como preocupante ou incompatível
irão compor a arquitetura de seu futuro. Neste sentido, a com as expectativas de desenvolvimento daquele mo-
atenção à infância mostra-se um fator de grande interes- mento evolutivo. Sendo assim, a orientação oferecida
se na prevenção da saúde mental de indivíduos e grupos, sobre as crianças foi no sentido de que ambos parece-
e para o conjunto e o equilíbrio social. ram adequados frente ao desenvolvimento psicológico e
O amparo à infância por parte do ambiente “suficien- que a mãe poder-se-ia tranquilizar em relação às dúvidas
temente bom” deve seguir duas marcadas tendências: de apresentadas. Foi colocado ainda, que em virtude de sua
suporte afetivo que garante a liberdade de expressão e atenção ao desenvolvimento psicológico dos filhos, uma
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

experimentação no qual se origina o fluir criativo, e de reavaliação seria oportuna depois de um ou dois anos.
suporte cognitivo que garante a segurança da situação Na idade de cinco anos, a mãe pediu novamente uma
de experimentação demarcada pelo conhecimento de consulta aos filhos, já que Bruno mostrava-se “agressivo”
parâmetros da realidade, no qual limites e/ou regras ge- (sic) e Clara, por sua vez, muito cordata em todas as si-
ram um ponto de partida para a experiência de novas tuações. Neste atendimento clínico, foi realizado o Jogo
descobertas. dos Rabiscos proposto por Winnicott (1984), recurso
Na experiência clínica, casos de atendimento pre- que permitiu uma observação lúdica abrangente sobre
ventivo passam a ser mais usuais com famílias cujos pais o modo particular de cada um relacionar-se com a rea-
possuem acesso amplo à informação e buscam esclareci- lidade e que permitiu identificar algumas das fantasias
mentos sobre o desenvolvimento infantil. Nestas famílias, presentes na situação clínica. Bruno demonstrou mais
a atenção à criança e ao adolescente e a preocupação insegurança no contato inicial, mas a partir do momento

42
em que se assegurou de que a mãe o aguardaria na sala vações práticas, como por exemplo: “minha amiga estava
de espera, colocou-se na situação de modo espontâneo com medo e não queria ir, aí eu disse pra ela que ela ia se
e adequado para sua idade. Trouxe, na expressão de suas arrepender” (sic). Por outro lado, mostrava-se um pouco
fantasias, conteúdos de rivalidade edípica pertinentes ao ressentida em relação ao pai, que ela considerava que
desenvolvimento psicológico para sua idade. Clara, por gostava mais da irmãzinha de três anos. Na medida em
outro lado, mostrou-se prontamente acessível e parti- que esta situação afetiva relacionada ao pai poderia estar
cipou com muito interesse do Jogo, mantendo durante vinculada à elaboração edípica, foi sugerida uma obser-
toda a consulta uma preocupação em agradar. Seus de- vação por parte dos pais em relação às suas queixas e foi
senhos expressavam situações formais isentas de conflito indicada uma nova avaliação psicológica após o período
e que muitas vezes, reproduziam conteúdos pedagógicos de um ano.
que provavelmente havia aprendido na escola. A partir Pode-se apreciar neste atendimento clínico, a impor-
das consultas clínicas esclareceu-se à família o que pôde tância de uma intervenção precoce e a inquestionável
ser percebido nas crianças, isto é, que tanto Bruno quan- influência que uma família “suficientemente boa” pode
to Clara mostravam-se adequados intelectualmente, com oferecer ao desenvolvimento saudável de seus filhos.
bom repertório de comportamentos sociais e que Bruno Clara pôde receber intenso amparo da família em suas
demonstrava conflitos afetivos próprios de sua idade, dificuldades afetivas e modificar a atitude de distancia-
mas Clara mostrava-se mais distante afetivamente, pa- mento e desenvolver recursos para lidar com situações
recendo valorizar demasiadamente os aspectos intelec- emocionais a ponto de poder colaborar com seus cole-
tuais em detrimento dos emocionais. Recomendou-se guinhas de classe. Bruno pôde receber uma indicação
um trabalho de orientação psicológica à família para que terapêutica no momento mais favorável ao atendimen-
os pais pudessem acompanhar os aspectos observados to de suas angústias. O ambiente suficientemente bom
em relação à dificuldade afetiva de Clara. A mãe passou a pode nutrir as necessidades e expectativas de desenvol-
estimular o contato mais afetuoso com a filha e auxiliá-la vimento da criança, oferecendo atenção a peculiaridades
nas situações em que a criança demonstrava dificuldade do indivíduo, proteção para amparar a fragilidade egói-
ca, cuidados para ancorar os processos de experimenta-
de expressar suas verdadeiras emoções e pensamentos –
ção do viver e de construção da subjetividade, incentivo
insistia para que a criança mencionasse suas preferências
ao enfrentamento das dificuldades pessoais e circunstan-
e escolhesse o que de fato desejasse. Foi indicado ainda
ciais e auxílio que possa representar elementos definidos
à mãe que oferecesse, à Clara, várias oportunidades para
e necessários aos indivíduos em momentos críticos das
que ela experimentasse situações emocionais e de rela-
diversas etapas do desenvolvimento humano.
cionamentos interpessoais que pudessem lhe estimular
O “ambiente suficientemente bom” deve assegurar a
a envolver-se afetivamente. A escolha de brinquedos e
continuidade do processo de desenvolvimento pessoal e
brincadeiras que incentivassem o relacionamento afetivo inseri-lo no conjunto da realidade sociocultural em que
era um assunto de discussão na orientação psicológica toma parte o indivíduo; o ambiente suficientemente bom
oferecida à mãe. Esta relatava progressos na atitude de deve cumprir a missão de trazer o mundo à percepção da
Clara que, por exemplo, organizou, com ajuda de sua pessoa ao mesmo tempo em que deve nele integrar-se
mãe, um chá de bonecas com as amigas, no qual ela pró- de modo que ela encontre e estabeleça o seu lugar ou
pria escolheu o cardápio e arrumou a mesa do chá. Clara estilo, no espaço de convivência humana.
também mudou na escola, segundo o relato da mãe. Pas- Contempla-se hoje uma realidade mundial crítica
sou a ser uma das alunas mais sociáveis de sua classe e com seus índices de violência ou estatísticas do elevado
segundo a professora, uma ótima assistente para intervir número de casos de depressão nas mais diferentes ida-
em situações de conflito interpessoal apresentados em des, desde a infância, que leva a refletir sobre a necessi-
sua classe. Em relação ao irmão, ela também passou a dade urgente de assistência preventiva da saúde mental.
referir o que de fato queria e deixou sua conduta anterior Esta preocupante paisagem social remete a reflexões
de ser dominada por ele. sobre o desenvolvimento saudável da criança como fa-
Aos sete anos de idade, Clara pediu à mãe para ser tor fundamental da edificação do futuro da humanidade,
levada ao consultório, referindo estar com “saudade de pois ele torna possível efetivamente a construção de uma
jogar um jogo de desenhar” que lá havia jogado. Enten- sociedade mais compatível com as necessidades huma-
de-se que ela havia compreendido adequadamente a na- nas e suas possibilidades saudáveis criativas. A saúde
tureza do trabalho clínico e que estava pedindo para ser da criança pode ser entendida como o alicerce de uma
atendida em consulta. Os pais pediram o atendimento de adaptação satisfatória futura do indivíduo que pode tra-
Clara e também o de Bruno, argumentando que gosta- duzir uma produtividade criativa e uma vivência de bem-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

riam de um parecer psicológico frente à maturidade ou -estar pessoal e social, o que significa que o brincar tem
adequação para o ingresso na primeira série do Ensino um papel significativo.
Fundamental. Foi combinada a realização de um aten- Na atualidade, a valorização da qualidade de vida,
dimento psicodiagnóstico e que apresentou um desfe- que segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde)
cho inesperado para as duas crianças. Bruno, que estava pressupõe a percepção do indivíduo sobre sua vida no
demonstrando grande dificuldade em lidar com situa- contexto sociocultural e em relação aos seus valores e
ções de fracasso e que no relato dos pais apresentava padrões, objetivos e expectativas, demonstra a impor-
acentuada desobediência para com a mãe, recebeu um tância e necessidade do ser humano desfrutar de um
encaminhamento para psicoterapia que foi prontamen- sentimento de que a vida tem um sentido para si e que a
te iniciada. Clara estava bastante mudada e mostrava-se existência é uma experiência reveladora de capacidades
comunicativa e afetiva, parecia adequada em suas obser- e contentamento.

43
O indivíduo adaptado e satisfeito em relação a sua duas crianças brincam de ser um bebê e uma mãe, por
vida proporciona ao grupo social um relacionamento exemplo, elas fazem uso da imaginação, mas, ao mesmo
afetivo construtivo além de oferecer outras contribuições tempo, não podem se comportar de qualquer forma; de-
pessoais para o bom convívio interpessoal. Pessoas psi- vem, sim, obedecer às regras do comportamento espera-
cologicamente saudáveis, socialmente adaptadas, con- do para um bebê e uma mãe, dentro de sua cultura. Caso
sequentemente mostrar-se-ão produtivas e criativas. Por não o façam, correm o risco de não serem compreendi-
sua vez, grupos saudáveis consequentemente compro- das pelo companheiro de brincadeira.
metidos com princípios e objetivos definidos mostrar-se-  Brincar com outras crianças é muito diferente de
-ão agentes importantes para traçar rumos favoráveis ao brincar somente com adultos.  O brinquedo entre pares
desenvolvimento da humanidade. possui maior variedade de estratégias de improviso, en-
Neste horizonte de reflexões, considera-se que a vi- volve mais negociações e é mais criativo (Sawyer, 1997).
são da trajetória da existência humana começa com o Assim, ao brincar com seus companheiros, a criança
desenvolvimento na infância. Nesta direção de enten- aprende sobre a cultura em que vive, ao mesmo tempo
em que traz novidades para a brincadeira e ressignifica
dimento, é oportuno considerar relevante o estudo das
esses elementos culturais. Aprende, também, a negociar
implicações dos fatores ambientais sobre o desenvolvi-
e a compartilhar objetos e significados com as outras
mento infantil para o destino de grupos humanos e do
crianças.
próprio conjunto maior da humanidade. Diante da pos-
sibilidade de identificarmos elementos fundamentais ao O brincar também permite que a criança tome cer-
desenvolvimento humano na infância, pode-se propor ta distância daquilo que a faz sofrer, possibilitando-lhe
mudanças favoráveis nas condições de cuidado às crian- explorar, reviver e elaborar situações que muitas vezes
ças que representem no futuro uma humanidade trans- são difíceis de enfrentar. Autores clássicos da psicanálise,
formada nos padrões atuais, na qual os seres humanos como Freud (1908) e Melanie Klein (1932, 1955), ressal-
possam mostrar-se psiquicamente mais saudáveis, por- tam a importância do brincar como um meio de expres-
tanto mais felizes e engajados em projetos de vida mais são da criança, contexto no qual ela elabora seus confli-
coerentes com suas subjetividades, em que a sociedade tos e demonstra seus sentimentos, ansiedades desejos e
humana possa constituir uma vida comunitária mais de- fantasias.
mocrática e fraterna. Já Winnicott (1975), pediatra e psicanalista inglês, faz
referência à dimensão de criação presente no brincar. Se-
Na história da evolução da humanidade já se vence- gundo esse autor, é muito mais importante o uso que se
ram muitos desafios. Hoje, os limites da distância geo- faz de um objeto e o tipo de relação que se estabelece
gráfica no mundo foram ultrapassados com a realidade com ele do que propriamente o objeto usado. A ênfase
da globalização e a comunicação imediata. Pode-se, cer- está no significado da experiência para a criança. Brin-
tamente, vencer outros obstáculos na experiência de vi- cando, ela aprende a transformar e a usar os objetos, ao
ver, resta saber se deseja-se buscar uma vida mais digna mesmo tempo em que os investe e os “colore” confor-
para todos, apoiada em valores humanos mais compatí- me sua subjetividade e suas fantasias. Isso explica por
veis com os objetivos de uma sociedade justa e feliz. A que, muitas vezes, um urso de pelúcia velho e esfarrapa-
valorização do brincar vem a ser importante estratégia do tem mais importância para uma criança do que um
para impulsionar a criatividade e a saúde psíquica do ser brinquedo novo e repleto de recursos, como luzes, cores,
humano. sons e movimento.
Dessa forma, percebe-se como o brincar é algo es-
Embora, atualmente, a importância do brincar para o sencial para o desenvolvimento infantil. Uma criança que
não consegue brincar deve ser objeto de preocupação.
desenvolvimento infantil seja amplamente reconhecida,
Disponibilizar espaço e tempo para brincadeiras, portan-
é comum observarmos crianças, por vezes muito peque-
to, significa contribuir para um desenvolvimento saudá-
nas, com uma rotina bastante atribulada, tomada por
vel. É importante também que os adultos resgatem sua
diversas atividades e compromissos. Muitas vezes, fica
capacidade de brincar, tornando-se, assim, mais disponí-
difícil encontrarmos alguma brecha, na correria do dia a veis para as crianças enquanto parceiros e incentivadores
dia dessas crianças, na qual elas possam, simplesmente, de brincadeiras.
ter espaço e tempo para brincar. Mas, afinal, por que o
brincar é considerado algo tão importante para o desen- Texto adaptado de Fernanda Martins Marques e Hele-
volvimento das crianças?
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nise Lopes Ebersol


Segundo Vygotsky (1989) - o brincar cria a chama-
da zona de desenvolvimento proximal, impulsionando a A brincadeira na educação e suas perspectivas
criança para além do estágio de desenvolvimento que
ela já atingiu. Ao brincar, a criança se apresenta além do O lúdico é importante na educação infantil é através
esperado para a sua idade e mais além do seu comporta- dele que a criança vem a desenvolver habilidades para a
mento habitual. Para Vygotsky, o brincar também libera aprendizagem se efetivar.
a criança das limitações do mundo real, permitindo que A educação lúdica sempre esteve presente em todas
ela crie situações imaginárias. Ao mesmo tempo é uma as épocas entre os povos e estudiosos, sendo de grande
ação simbólica essencialmente social, que depende das importância no desenvolvimento do ser humano na edu-
expectativas e convenções presentes na cultura. Quando cação infantil e na sociedade.

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Os jogos e brinquedos sempre estiveram presentes No Romantismo o jogo aparece como conduta típica
no ser humano desde a antiguidade, mas nos dias de e espontânea da criança, que com sua consciência poé-
hoje a visão sobre o lúdico é diferente. Implicam-se o tica do mundo, reconhece a mesma como uma natureza
seu uso e em diferentes estratégias em torno da pratica boa, mais que um ser em desenvolvimento com carac-
no cotidiano. terísticas próprias, embora passageiras, a criança é vista
como um ser que imita e brinca dotada de espontaneida-
Para que o lúdico contribua na construção do conhe-
de e liberdade, semelhante à alma do poeta. 
cimento faz-se necessário que o educador direcione toda
Froebel 1913, foi influenciado pelo grande movimen-
a atividade estabeleça os  objetivos  fazendo com que  to de seu tempo em favor do jogo. Ao elaborar sua teoria
a brincadeira tenha um caráter pedagógico e não uma da lei da conexão interna, percebe que o jogo resulta
mera brincadeira, promovendo assim, interação social e em benefícios intelectuais, morais e físicos e o constitui
o desenvolvimento de habilidades intelectivas. como elemento importante no desenvolvimento integral
da criança.
Contexto Histórico da Ludicidade Nesse contexto, o lúdico torna-se uma das formas
adequadas para a aprendizagem dos conteúdos escola-
A história da humanidade a partir da Idade Média res, em que o professor deverá usá-lo como uma ferra-
mostra que os jogos, embora sempre presentes nas ativi- menta fundamental na prática pedagógica.
O lúdico no contexto histórico do Brasil surgiu por
dades sócio educacionais, não eram vistos como um re-
meio de raízes folclóricas nos quais diversos estudos
curso pedagógico capaz de promover a  aprendizagem, clássicos apontam que as origens brasileiras são prove-
mas tendo como  foco as atividades recreativas nientes da mistura de três raças, negros, índios e portu-
Ariés (1981) afirma que: gueses durante o processo de sua colonização.
Na Idade Média, os jogos eram basicamente destina- Em virtude da ampla miscigenação étnica a partir do
dos aos homens, visto que as mulheres e as crianças não primeiro grupo de colonização, fica difícil precisar a con-
eram consideradas cidadãos e, por conseguinte, estando tribuição especifica de brancos, negros e índios nos jo-
sempre à margem, não participavam de todas as ativi- gos tradicionais infantis atuais no Brasil.
dades organizadas pela sociedade. Porém, em algumas É bastante conhecida a influencia portuguesa através
ocasiões nas quais eram realizadas as festas da comuni- de versos, advinhas e parlendas.
dade, o jogo funcionava como um grande elemento de Sobre isso Kishimoto (2002, p.22), afirma que:
Desde os primórdios da colonização a criança brasi-
união entre as pessoas.
leira vem sendo ninada com cantigas de origem portu-
Ariès, relata que apenas os homens tinham o privile- guesas. E grande parte dos jogos tradicionais populariza-
gio de participar dos jogos, pois nesse período as mulhe- dos no mundo inteiro como, jogo o de saquinho (ossinho),
res e as crianças não exerciam esse direito, por não serem amarelinha, bolinha de gude, jogo de botão, pião e outros,
considerados cidadãos. Na Idade Média as crianças eram chegou ao Brasil, sem dúvida por intermédio dos primeiros
vista como adultos em miniaturas e tinham que trabalhar, portugueses. Posteriormente, no Brasil receberam novas
raramente os meninos eram inseridos nas brincadeiras. influencias aglutinando-se com outros elementos folclóri-
Apesar de todas essas restrições, nos momentos fes- cos como, o do povo negro e do índio.
tivos os jogos eram considerados um instrumento de Kishimoto relata que as brincadeiras e as cantigas
união e integração entre a comunidade. que fazem parte da cultura brasileira, receberam fortes
No Renascimento, inicia-se o período no qual uma influencias dos portugueses, não descartando a contri-
buição de outras culturas de povos, como a do negro e
nova concepção de infância desponta e tem como ca-
do índio.
racterísticas o desenvolvimento da inteligência mediante Muitos pesquisadores denominam o século XXI como
o brincar, alterando a ideia anterior de que o jogo era o século da ludicidade. Peiodo que a diversão, lazer e
somente uma distração. entretenimento, apresentam-se como condições muito
Sobre isto, Kishimoto (2002, p. 62) afirma que: pesquisadas pela sociedade. E por tornar-se a dimensão
O renascimento vê a brincadeira como conduta livre lúdica alvo de tantas atenções e desejos, faz-se necessá-
que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o rio e fundamental resgatar sua essência, dedicando estu-
estudo. Por isso, foi adotada como instrumento de apren- dos e pesquisas no sentido de evocar seu real significado.
dizagem de conteúdos escolares. Para se contrapor aos Dalla Valle, (2010, p.22) relata que:
processos verbalistas de ensino, à palmatória vigente, o independente do tempo historico; o ato de brincar possi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bilita uma ordenação da realidade, uma oportunidade de li-


pedagogo deveria dar forma lúdica aos conteúdos.
dar com regras e manifestações culturais, além de lidar com
A autora confirma a informação de que durante o
outro, seus anseios, experimentando sensações de perda e
Renascimento  o jogo serviu para divulgar princípios de vitória.
moral, ética e conteúdos de áreas como história e geo- Dalla Valle, considera que a importancia do brincar
grafia, com base de que o lúdico era uma conduta livre não depende do espaço e nem do tempo o qual está
que favorecia o desenvolvimento da inteligência, facili- inserido, em qualquer contexto desempenha muito bem
tando o estudo. Iniciando um processo de entendimento seu papel de oportunizar a criança à compreensão de re-
por parte das sociedades, com relação a algumas especi- gras, de estar em grupo e poder absorver para sua vida
ficidades infantis, mudando a concepção de que as crian- manifestações culturais e emoções novas por meio das
ças eram adultas em miniatura. brincadeiras infantis.

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É por isso que a proposta de incluir as atividades lúdi- A concepção socioantropológica, também garante
cas na educação infantil vem sendo discutida por muitos que o processo de aprendizagem é que torna possível o
pensadores e educadores, que a formação do educador ato de brincar, pois afirma que antes que a criança brin-
seja de total responsabilidade pela permanência do alu- que ela tem que aprender a brincar, reconhecendo assim
no na escola, para adquirir valores, melhorar os relacio- certas características essenciais do jogo como o aspecto
namentos entre os colegas na sociedade que é um direi- fictício que possui alguns deles. A respeito disto, Brou-
to de todos. gère, afirma:
O sentido real, verdadeiro, funcional da educação lú- Há, portanto, estruturas preexistentes que definem a
dica estará garantindo se o educador estiver preparado atividade lúdica em geral, e cada brincadeira em particu-
para realizá-lo. Nada será feito se ele não tiver um pro- lar, e a criança as aprende antes de utiliza-la em novos
fundo conhecimento sobre os fundamentos essenciais contextos, sozinha, ou em brincadeiras solitárias, ou en-
da educação lúdica, condições suficientes para socializar tão com outras crianças. (O Brincar e suas teorias, 2002,
o conhecimento e predisposição para levar isso adiante p.22)
(ALMEIDA, 2000, p.63) Após essa rápida análise da teoria Socioantropológica
Encontra-se nos dias de hoje, lugares que ainda não percebe-se que para ela o jogo é antes de tudo um lugar
colocaram em seu cotidiano, atividades lúdicas para de construção de uma cultura lúdica e que para o jogo
enriquecer as ferramentas para o processo de ensino e existir tem que haver uma cultura pré-existente a ele.
aprendizagem. A educação lúdica sempre esteve presen- É dentro do quadro do Romantismo que o jogo apa-
te em todas as épocas, é ainda desvalorizado em algu- rece como conduta típica e espontânea da criança. Nas-
mas instituições. defasando o processo de construção de cendo neste período as Teorias filosóficas onde podemos
conhecimento. citar como um dos maiores contribuintes desta teoria o
Filósofo Froebel reconhecido como o “psicólogo da in-
Os Vários Olhares Sobre a Ludicidade fância”, ele acreditou na criança, enalteceu sua perfeição,
valorizou sua liberdade e desejou a expressão na nature-
Existem muitos olhares, e muitos contares de pessoas za infantil por meio de brincadeiras livres e espontâneas.
que vivem, pensam e escrevem sobre a ludicidade, nos Sobre isto Kishimoto afirma que Froebel:
possibilitando ter ideias do papel e da importância deste Sustenta que a repreensão e a ausência de liberdade
termo tão discutido e utilizado na educação infantil. à criança impedem a ação estimuladora da atividade es-
Evoluímos muito no discurso a cerca do brincar e re- pontânea, considerada elemento essencial no desenvolvi-
conhecemos cada vez mais seu significado para a criança mento físico, intelectual e moral. (O Brincar e suas teorias,
e suas possibilidades nas áreas da educação, cultura e la- p.60)
zer. Abordaremos aqui três Teorias: a Sociantropológica, De acordo com a afirmação acima se percebe o quan-
Filosófica e Psicológica, como exemplos desta vastidão to é importante para a criança que esta em fase de de-
de “olhares’ sobre a ludicidade”. senvolvimento a liberdade de brincar, de experimentar, e
Nesses “vários olhares sobre a ludicidade” percebe-se de ter a oportunidade de criar e recriar, possibilitando-a
que não há uma concordância entre suas ideias, muito desenvolver suas habilidades físicas, intelectuais e mo-
pelo contrário as dissonâncias foram fundamentais para rais.
que houvesse diferentes embasamentos teórico-meto- Sobre esta teoria e sobre a prática froebeliana há
dológico que sustentaram suas obras. quem afirme que teria havido uma ruptura da prática à
Nas teorias Socioantropológicas verifica-se o ato de passagem a prática, pós haveria jardineiras comandando
brincar como uma ação psicológico onde o brincar seria a cultura infantil a partir de orientações minuciosas, des-
oposto a realidade. tinadas à aquisição de conteúdos escolares.
Sobre isto Brougère afirma:  E por fim, as Teorias Psicológicas, essa teoria comtem-
Brincar é visto como um mecanismo psicológico que pla a concepção de que toda a atividade é lúdica desde
garante ao sujeito manter certa distância em relação ao que ela exerça por si mesma (pela criança), sem que seja
real, fiel na concepção de Freud, que vê no brincar o mo- pressionada por outro individuo.
delo do princípio de prazer oposto ao princípio da realida- Segundo Dantas, esta teoria é marcada pela dialética
de. Brincar torna-se o arquétipo de toda atividade cultu- Walloniana, que afirma-se simultaneamente um estado
ral que, como a arte, não se limita a uma relação simples atual e uma tendência futura:
como o real. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.19) as atividades surgem liberadas, livres, exercendo-se
Essa concepção traduz a psciologização contempo- pelo simples prazer que encontram em fazê-lo.( O Brincar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

rânea do brincar, ou seja, tenta justificar a necessidade e suas teorias, 2002, p.113).
de um individuo de se isolar das influências do mundo, Como exemplo de uma ação que esta dentro desta
durante uma brincadeira. concepção é o ato do andar de um bebê, como afirma
Ainda sobre esta concepção Brougère afirma: Heloysa Dantas: Em certo sentido, pode-se dizer que toda
Concepções como essas apresentam o defeito de não a motricidade infantil é lúdica, marcada por uma expressi-
levar em conta a dimensão social da atividade humana vidade que supera de longe a instrumentalidade. (O Brin-
que o jogo, tanto quanto outros comportamentos não po- car e suas teorias, 2002, p. 114)
dem descartar. Brincar não é uma dinâmica interna do in- No que compreende a revolução do brincar esta teo-
divíduo, mas uma atividade dotada de uma significação ria afirma que não somente durante a fase de se quando é
social precisa que, como outras, necessitam de aprendiza- um bebê que ocorre o mesmo padrão lúdico, mas se repete
gem. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.20) mais tarde em novos patamares do desenvolvimento como

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afirma Heloysa Dantas: O grafismo é um bom exemplo de A mesma tem como objetivo proporcionar estímulos
anterioridade do gesto em relação à intenção: a criança de para que a criança possa brincar livremente e por ser um
três a quatro anos dirá que ainda não sabe o que esta dese- local onde as crianças permanecem por algumas horas, é
nhando, por que ainda não acabou.(O Brincar e suas teorias, um espaço onde acontece uma interação educacional. E
2002, p.116) as pessoas que trabalham na brinquedoteca são educa-
Esta concepção também busca justificar o porquê de dores preocupados com a felicidade e com o desenvolvi-
que as crianças têm facilidades em aprender a manusear mento emocional, social e intelectual das crianças.
certos objetos, o qual os adultos encontram dificuldades. FROEBEL (1912, p.) concebe o brincar como “ativida-
De acordo com Dantas: Brincar com palavras, com letras, de livre e espontânea, responsável pelo desenvolvimento
com o computador: manuseá-los livremente, ludicamente, físico, moral, cognitivo. E os dons e brinquedos como ob-
antes de dar a este manuseio um caráter instrumental.[...] jetos que subsidiam as atividades infantis.”
as crianças aprendem informática mais depressa do que os De acordo com Froebel, por meio da atividade livre,
adultos brincam  com o computador, antes de tentar “usa- que as brinquedotecas podem proporcionar, a criança
-lo para”. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.116) desenvolve sua estrutura física e psíquica, permitindo
Nesta teoria reforça-se a ideia de que o brincar aproxi- que a mesma cresça livremente. Já os brinquedos irão
ma-se de fazer arte, como afirma Heloysa Dantas: ajudar na realização das atividades que serão aplicadas.
Pela reiteração do termo brincar quero sublinhar o E assim a criança aprende com aquilo que lhe é natural,
caráter caprichoso e gratuito destas atividades, em que o o brincar.
adulto propõe mas não impõe, convida mas não obriga, Segundo Nylse Helena da Silva Cunha, Presidente da
mantém a liberdade através da oferta de possibilidades Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABB):
alternativas. (O Brincar e suas teorias, p. 117) a Brinquedoteca é um espaço preparado para esti-
Dentro desta concepção também estão envolvidos re- mular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma
lações entre o jogo e o trabalho, sobre isso, Heloysa Dan- grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente
tas afirma que: para Dewey o trabalho aparece como ob- especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a ex-
jetivação do pensamento, como aquela atividade que pode plorar, a sentir, a experimentar.
adicionar ao prazer do processo o beneficio do produto. (O De acordo com Cunha a brinquedoteca proporcio-
Brincar e suas teorias, p.118) na a criança estímulos para que ela possa desenvolver
Esta concepção afirma que o jogo tem o fator decisivo suas capacidades, permitindo que mesma tenha acesso
para assegurar o desenvolvimento natural da criança, pós a brinquedos diversificados em um ambiente apropriado
relata que todos os povos em todos os tempos conta- e cheio de atrativos, onde ela possa explorar e se desen-
ram com os jogos como parte importante da educação de volver cognitivamente.
crianças, especialmente de crianças pequenas. Ressalta-se então, a importância da brinquedoteca no
meio educacional como espaço que propicia diversos es-
tímulos num momento tão decisivo como a infância, pois
Brinquedoteca: Um Espaço de Construção do Lúdico.
é nesta fase que ocorre o desenvolvimento harmonioso
e consciente do educando, o que permite ampliar suas
As brinquedotecas no Brasil começaram a surgir nos
habilidades e capacidades de forma global.
anos 80. Como toda ideia nova, apesar do encantamen-
 Pode-se dizer que a Brinquedoteca é um espaço que
to que desperta, tem que enfrentar dificuldades não so-
permite na contemporaneidade, o resgate em vivenciar
mente para conseguir sobreviver economicamente, mas
o lúdico esquecido pelas pessoas, e negado às crianças.
também para se impor como instituição reconhecida e
Mas, acima de tudo como destaca CUNHA (2001, p. 16),
valorizada a nível educacional.
ela tem a função de «fazer as crianças felizes, este é o
A incorporação do jogo como recurso para desenvol-
objetivo mais importante».
ver e educar a criança, especialmente da faixa pré-escolar, Cunha afirma que, a Brinquedoteca proporciona à
cresce paralelamente à expansão de creches, estimulada criança a felicidade do brincar de forma livre e muito signi-
por movimentos sociais de reivindicações populares. ficativa para o desenvolvimento físico e cognitivo da crian-
Cunha (2009, p.13) afirma que: ça.
Dento do contexto social brasileiro, a oportunização do A principal implicação educacional da brinquedoteca
brincar assumiu, através da brinquedoteca, características é a valorização da atividade lúdica, que tem como con-
próprias, voltadas para a necessidade de melhor atender as sequência o respeito às necessidades afetivas da criança.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

crianças e as famílias brasileiras. Como consequência deste Promovendo o respeito à criança, contribui para diminuir
fato, seu papel dentro do campo da educação cresceu e a opressão dos sistemas educacionais extremamente rí-
hoje podemos afirmar, com segurança, que ela é um agen- gidos.
te de mudança do ponto de vista educacional.       Além de resgatar o direito à infância, a brinquedoteca
Cunha relata que, no Brasil as Brinquedotecas vêm tenta salvar a criatividade e a espontaneidade da crian-
ganhando espaço no contexto educacional melhorando ça tão ameaçada pela tecnologia educacional de mas-
significativamente o aprendizado, com características es- sa.  Nos últimos anos, a tecnologia e a ciência obtiveram
pecíficas, como o brincar livremente com finalidade edu- avanços significativos sob todos os âmbitos, refletidos na
cativa, atendendo as necessidades da comunidade esco- sociedade atual. Mas, no que tange à infância e o desen-
lar. volvimento da criança, houve progressos e regressos.

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O brincar, por exemplo, faz parte e interfere no desen- Considerando esses fatores, o desenvolvimentro da
volvimento das crianças, e progressivamente, estudiosos diversidade de  materiais obriga a necessidade de ade-
da área da Psicologia, da Pedagogia e outras ciências, quar os mesmos, quanto ao espaço da brincadeira con-
reconheceram a relevância do brincar para o desenvolvi- tribui para o desenvolvimento cognitivo, físico, emocio-
mento global das crianças. nal, social e moral, sem que se perca a característica do
Todavia, ocorreram regressos quanto ao espaço, tem- brincar como ação livre, iniciada e mantida pela criança.
po, objetos, condições de segurança, de liberdade e o A importância do espaço lúdico na construção do
convívio social que comprometeram as brincadeiras na conhecimento é oportunizar a criança observar o mun-
fase infantil devido ao surgimento da modernidade e do imaginado por ela, e quando ela vê esta realidade de
avanços tecnológicos. maneira muito distorcida, procuramos conversar com a
Santos (2009, p.55) relata que: brinquedo industria- mesma, esclarecendo as coisas, fazendo com que a crian-
lizado é projetado pelo adulto para a criança, conforme ça fique mais perto da nossa realidade.
concepção que o adulto possui, não cabendo a criança Esta é uma das formas de brincar mais saudáveis para
criar ou acrescentar nada e, em muitos momentos, de- o desenvolvimento da criança, razão pelo qual o “faz-de-
vido ao alto custo do objeto, nem mesmo brincar com -conta” infantil deve ser tratado e subsidiado com serie-
liberdade. Quando o brinquedo é oferecido como prova dade, atribuindo o papel relevante no ato de brincar e na
de status, para satisfazer a vaidade do adulto, as reco- constituição do pensamento infantil. É brincando e jo-
mendações quanto ao uso são tantas, que restringem a gando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual,
atividade lúdica. auditivo, tátil, motor, modo de aprender e entrar em uma
Segundo Santos muitos brinquedos tecnológicos, relação cognitiva com o mundo.
que geralmente vem com muitas funções que só um Para melhor compreensão é interessante o que Pinto
adulto consegue manipular, inibindo o desenvolvimento (2003, p.65) nos diz:
da criança, pois limitam a criatividade e a liberdade da O espaço lúdico não precisa ficar restrito a quatro pa-
mesma. E pelo fato de muitas vezes este brinquedo ter redes, ao contrario, deve fluir por todo o ambiente, den-
um alto custo, o adulto acaba fazendo muitas recomen- tro e fora das classes. Um dos objetivos desse espaço é
dações restringindo o ato de brincar. favorecer o encontro de crianças, para brincar, jogar, fazer
amigos, propiciar a convivência alegre e descontraída dos
As Brincadeiras e as Novas Tecnologias frequentadores.
Seguindo o pensamento da autora, esse espaço a
As brincadeiras despertam nas crianças várias ações criança interage com o meio físico, com outras crianças
ao concretizar as regras do jogo, seja ela qual for, as e com adultos, construindo assim, regras de convivên-
mesmas procuram se envolver nessa brincadeira, e em cia e competência, treina suas habilidades e capacidades
relação ao lúdico os brinquedos e as brincadeiras rela- de ganhar ou perder, saber respeitar suas diferenças dos
cionam-se diretamente com a criança, porém, não se outros, aprender a lutar por seus direitos, defender seu
confundem com o jogo, que aparece com significações espaço, mas respeitar o do amigo. Parecem coisas tão
opostas e contraditórias, visto que a brincadeira se des- simples e tão óbvias, mas são muito difíceis de fazer na
taca como uma ação livre e sendo supervisionada pelo prática.
adulto. Essas atividades lúdicas têm objetivos diversos, usa-
Diante disto Pinto (2003, p.27) afirma que: das para divertir, outras vezes para socializar, promover a
Brinquedos e brincadeiras aparecem com significações união de grupos e, num enfoque pedagógico serve como
opostas e contraditórias: a brincadeira é vista como uma instrumento para transmitir conhecimentos. É fato que
ação livre, já o brinquedo expressa qualquer objeto que nossa cultura e, talvez, mais ainda a das crianças, absor-
serve de suporte para as brincadeiras livre ou fica atrelado veu a mídia e, de um modo privilegiado, a televisão. A
ao ensino de conteúdos escolares. televisão transformou a vida e a cultura da criança. Ela
Para a autora esse elementos que constituem o brin- influenciou particularmente na cultura ludicidade.
quedo e a brincadeira são definidas como regras prees- Essa cultura lúdica não está fechada em torno de si
tabelecidas que exigem certas habilidades das crianças. mesma; ela integra elementos externos que influenciam a
Entretanto, a brincadeira é uma ação que não exige um brincadeira: atitudes e capacidades, cultura e meio social.
objeto-brinquedo para acontecer, é jogando que a elas Ela está imersa na cultura geral à qual a criança pertence.
constroem conhecimentos que ajudará no seu desempe- A cultura retira elementos do repertório de imagens que
nho escolar. Ao brincar a criança faz uma releitura do seu representa a sociedade no seu conjunto, é preciso que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

contexto sociocultural, em que a mesma amplia, modifi- se pense na importância da imitação na brincadeira. A
ca, cria e recria por meio dos papeis que irão representar. mesma incorpora, também, elementos presentes na tele-
Portanto, é fundamental a importância no que diz visão, fornecedora generosa de imagens variadas.
respeito a utilização das brincadeiras e dos jogos no Pelas ficções, pelas diversas imagens que mostra, a
processo ensino pedagógico, diante dos conteúdos que televisão fornece às crianças conteúdo para suas brinca-
podem ser ensinados por intermédio de atividades lúdi- deiras. Elas se transformam, por meio das brincadeiras,
cas em que a criança fiva em contato com em diferentes em personagens vistos na televisão. De qualquer modo,
atividades manipulando vários materiais, tais como jo- a televisão tornou-se uma fornecedora essencial, senão
gos educativos, os didáticos, os jogos de construção e os exclusiva, dos suportes de brincadeira, o que só pode re-
apoios de expressão. forçar sua presença junto à criança.

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Numa sociedade que fragmenta os contextos cul- Negrine (1994, p.19) afirma que:
turais, a televisão oferece uma referência comum, um as contribuições das atividades lúdicas no desenvol-
suporte de comunicação. A mesma não se opõe à brin- vimento integral indicam que elas contribuem poderosa-
cadeira, mas alimenta-a, influencia-a, estrutura-a na me- mente no desenvolvimento global da criança e que todas
dida em que a brincadeira não nasceu do nada, mas sim as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteli-
daquilo com o que a criança é confrontada, reciproca- gência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são
mente, a brincadeira permite à criança apropriar-se de inseparáveis, sendo a afetividade a que constitui a energia
certos conteúdos da televisão. necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e
A televisão tem influência sobre a imagem do brin- motriz da criança.
quedo e sobre seu uso e, é claro, estimula o consumo Negrine relata que o lúdico é uma atividade de gran-
de alguns deles. Seja diretamente por intermédio das de eficácia na construção do desenvolvimento infantil,
emissões dos programas ou indiretamente através dos pois o brincar gera um espaço para pensar, e que por
brinquedos que se adaptaram à sua lógica, a televisão in-
meio deste a criança avança no raciocínio, desenvolve o
tervém muito profundamente na brincadeira da criança,
pensamento, estabelece contatos sociais, compreende o
na sua cultura lúdica.
meio, satisfaz desejos, desenvolve habilidades, conheci-
Quando o aluno se volta para a sociedade atual, por
mentos e criatividade. As interações que o brincar e o
meio da informática, não está apenas frente a um novo
jogo oportunizam favorecem a superação do egocen-
instrumento de consumo ou brinquedo. O computador
estrutura um novo recorte da realidade. Um recorte que trismo, que é natural em toda criança, desenvolvendo a
possibilita ao usuário recriar uma parte da realidade. Este solidariedade e a socialização.
fato nunca antes tinha acontecido nas dimensões atuais. A capacidade de brincar possibilita às crianças um
Pesquisas apontam que computador, videogames, fil- espaço para resolução dos problemas que as rodeiam.
me e programa de TV com conteúdo adequado estimu- A criança, por meio da brincadeira, reproduz o discurso
lam a seleção de informação, a capacidade de dedução e externo e o internaliza, construindo seu próprio pensa-
a lógica. mento.
Entretanto, com o desenvolvimento das sociedades e  De acordo com Vigotsky (1984, p.97):
das transformações tecnológicas tudo isso se altera. As a brincadeira cria para as crianças uma “zona de de-
produções gradativamente se tornaram mais sofisticadas senvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a
intelectualmente. O capitalismo criou um novo modelo de distância entre o nível de desenvolvimento real, determi-
saber, onde a tecnologia assume uma dinâmica cada vez nado pela capacidade de resolver independentemente um
maior. problema, e o nível de desenvolvimento potencial, deter-
Com a criação da rede de computadores, e principal- minado através da resolução de um problema sob a orien-
mente da internet, não basta apenas o sujeito aprender tação de um adulto ou com a colaboração de um compa-
a lidar com as informações mais gerais. É preciso apro- nheiro mais capaz.
fundá-las, decodificando-as em toda a sua complexida- Vigotsky afirma que, por meio do brincar origina-se
de. Isto porque agora o sujeito está sozinho frente ao na criança a zona de desenvolvimento proximal que se
processo de transmissão e produção/reprodução das define por funções que ainda não amadureceram, mas
informações. que estão em processo de maturação, funções que estão
A base de informações maiores não virá dos profes- presente nas crianças em estado embrionário.
sores, mas dos próprios computadores que poderão ser Por meio das atividades lúdicas, a criança reproduz
acionados nos lares, nas bibliotecas ou na própria escola. muitas situações vividas em seu cotidiano, as quais, pela
O professor se tornará então um orientador de formas
imaginação e pelo faz-de-conta, são reelaboradas.
de estudo mais adaptadas as necessidades dos alunos.
 Esta representação do cotidiano se dá por meio da
(Santos, Santa Marli. p.80.)
combinação entre experiências passadas e novas pos-
Cabe aos professores, se quiserem participar deste
sibilidades de interpretações e reproduções do real, de
processo de transformação social e uma constante reci-
acordo com suas afeições, necessidades, desejos e pai-
clagem. Um professor atualizado é aquele que tem olhos
no futuro e a ação no presente, para não perder as possi- xões. Estas ações são fundamentais para a atividade cria-
bilidades que o momento atual continuamente lhe apre- dora do homem.
senta. (Santos, Santa Marli. p.80.) Negrine (1994), em estudos realizados sobre apren-
dizagem e desenvolvimento infantil, afirma que “quando
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

As Contribuições do Lúdico na Construção do Co- a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-his-
nhecimento tória, construída a partir de suas vivências, grande parte
delas através da atividade lúdica”.  
O brincar é uma atividade constante na vida de toda De acordo com Negrine é fundamental que os pro-
criança, algo que lhe é natural e muito importante para fessores tenham conhecimento do saber que a criança
o seu desenvolvimento. As brincadeiras, para a criança, construiu na interação com o ambiente familiar e socio-
constituem atividades primárias que trazem grandes be- cultural, para formular sua proposta pedagógica. E por
nefícios do ponto de vista físico, intelectual e social e a meio de investigações, brincadeiras o educador conse-
maneira como a mesma brinca reflete sua forma de pen- gue conhecer a realidade e o conhecimento prévio que
sar e agir. cada criança traz consigo.

49
A criança por muito tempo foi considerada um adulto A criatividade também está situada no domínio cog-
em miniatura. Ela tem características próprias e para se nitivo, mas exerce um influencia mais forte sobre o domi-
tornar um adulto, ela precisa percorrer todas as etapas no afetivo, e tem relação com a expressão pessoal e a in-
de seu desenvolvimento físico, cognitivo, social e emo- terpretação de emoções, pensamentos e ideias: Moyles,
cional. Seu primeiro apoio nesse desenvolvimento é a 2002, p.82) considera que “é um processo mais impor-
família, posteriormente, esse grupo se amplia com os co- tante do que qualquer produto especifico para a criança
legas de brincadeiras e a escola. pequena, como podemos constatar”. As crianças criam e
A brincadeira lúdica vem ampliando sua importância, recriam constantemente ideias e imagens que lhes per-
deixando de ser um simples divertimento e tornando-se mitem representar e entender a si mesmas e suas ideias
uma ponte entre a infância e a vida adulta. sobre a realidade. As atividades expressivas das crianças
de quatro anos inicialmente vão representar aquilo que
A Brincadeira Despertando a Criatividade as impressionou em situações de vida real, mas dentro
de um ano ou dois as crianças rapidamente se tornam
O jogo simbólico ou de faz-de-conta, particularmen- mais imaginativas e criativas, na medida em que sua ca-
te, é ferramenta para a criação da fantasia, necessária a pacidade de simbolizar aumenta.
leituras não convencionais do mundo. Abre caminho para Meek, (1985, p. 41) afirma que:
autonomia, a criatividade, a exploração de significados e A criatividade e a imaginação estão enraizadas no
sentidos. Atua também sobra a capacidade da criança de brincar de todas as crianças pequenas e, portanto, são
imaginar e representar outras formas de expressão.. . partes do repertório de todas as crianças, não de minorias
Trata-se de oferecer à criança os brinquedos que, por talentosas. Ela diz enfaticamente que elas constituem a
sua forma, sentido e manipulação, criarão possibilidades base da verdadeira educação.
de desenvolver o raciocínio através do jogo. Poderíamos dizer que o brincar leva naturalmente
A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança à criatividade, porque em todos os níveis do brincar as
e contribui para o processo de apropriação de signos so- crianças precisam usar habilidades e processos que pro-
ciais. Cria condições para uma transformação significati- porcionam oportunidades de ser criativo.
va da consciência infantil, por exigir das crianças formas Para ser criativo é preciso ousar ser diferente, requer
mais complexa de relacionamentos com o mundo. Isso tempo e imaginação, o que está disponível para a maio-
ocorre em virtude das características da brincadeira. ria das crianças, requer autoconfiança, algum conheci-
Os objetos manipulados na brincadeira, especialmen- mento, receptividade, senso de absurdo e a capacidade
te, são usados de modo simbólico, como um substituto de brincar. Tudo isso faz parte da infância e, muito disso
para os outros, por intermédio de gestos imitativos re- precisa ser estimulado com mais vigor no contexto da
produtores das posturas, expressões e verbalizações que escola e da educação.
ocorrem no ambiente da criança. Na verdade, só o fato
de colocarmos o material a disposição da criança permite A Função do Brinquedo para o Desenvolvimento
que ela desenvolva sua atividade real. Com o material a Integral do Ser Humano
criança age, e nessa idade toda a aprendizagem ocorre
por meio da ação. Através do brinquedo, a criança inicia sua integração
É através da apercepção criativa, mais do qualquer outra social; aprende a conviver com os outros, a situar-se fren-
coisa, que o individuo sente que a vida é digna de ser vivida. te ao mundo que a cerca, pois brincar não é perda de
Muitos indivíduos experimentaram suficientemente o tempo, nem simplesmente uma maneira de preencher o
viver criativo para reconhecer, de maneira tantalizante, tempo, pois a criança que não tem a oportunidade para
a forma não criativa pela qual estão vivendo, como se brincar é como um peixe fora da água. Portanto, o brin-
estivessem presos à criatividade de outrem, ou de uma quedo possibilita o desenvolvimento integral da criança,
máquina. já que se envolve afetivamente, convive socialmente e
Viver de maneira criativa ou viver de maneira não opera mentalmente, tudo de uma maneira envolvente,
criativa constituem alternativas que podem ser nitida- em que ela desprende energia, imagina, constrói suas
mente contrastadas. normas e cria alternativas para resolver imprevistos que
A criatividade que estamos estudando relaciona-se surgem no ato de brincar.
com abordagem do individuo a realidade externa. Su- Por essa razão, Callois apud Ferreira (199?) afirma que:
pondo-se uma capacidade cerebral razoável, inteligên- O brinquedo não se constitui numa aprendizagem do
cia suficiente para capacitar o indivíduo a tornar-se uma trabalho. Ele não prepara um ofício definido, mas admite
pessoa ativa e a tomar parte na vida da comunidade, que pode introduzir na vida em seu conjunto geral fazen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tudo o que acontece é criativo. do crescer as capacidades de superar os obstáculos ou de


Segundo Marzollo e Lloyd ( 1972, p.162): enfrentar dificuldades.
“a criatividade é basicamente uma atitude, que ocor- Portanto, o brinquedo facilita a compreensão da rea-
rem facilmente entre as crianças pequenas, mas que que lidade, é muito mais um processo do que um produto,
precisa ser mantida e reforçada para não ser sacrificada não é o fim de uma atividade ou o resultado de uma
no nosso mundo excessivamente lógico”. experiência, por ser essencialmente dinâmico. O brin-
Assim, brincando, a criança vai, pouco a pouco, or- quedo possibilita a emergência de comportamentos es-
ganizando  suas relações emocionais; isso vai dando a ela pontâneos e improvisados, exigindo movimentação físi-
condições para desenvolver relações sociais, aprendendo a ca, emocional, além de provocar desafio mental. E neste
se conhecer melhor e a conhecer e a aceitar a existência dos contexto, a criança só ou com companheiros integra-se
outros. ou volta-se contra o ambiente em que está.

50
Por outro lado, o padrão do desempenho e normas Em todos os países, independente de seu grau de de-
cabe aos participantes criar; há liberdade para tomar de- senvolvimento, as brincadeiras tradicionais estão sendo
cisões. A direção que o brinquedo segue é determinada deixadas de lado para o uso da informatização, com isso
pelas variáveis de personalidade da criança, do grupo e muitas das vezes não se utiliza brincadeiras no processo
do contexto social em que as mesmas vivem. O brinque- de formação da criança, por acreditar que é algo dispen-
do é a essência da infância; é o veículo do crescimento, sável e sem funcionalidade. Diante de tal contexto ques-
o caminho que dá à criança condições para explorar o tiona-se: qual a contribuição que o brinquedo emprega-
mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando descobrir do nas brincadeiras infantis pode proporcionar para a
formação de um individuo?
e entender seus sentimentos, as suas ideias e sua forma
O lúdico é uma necessidade do ser humano em qual-
de reagir. Assim, uma criança, ao se apropriar de uma
quer idade, as técnicas lúdicas fazem com que a criança
boneca, poderá denominá-la de mãe ou de qualquer ou-
aprenda com prazer, alegria e entretenimento. É impor-
tra pessoa, dependendo do momento em que se passar tante destacar que a educação lúdica está distante da
a brincadeira. Nesse instante, é liberada a criatividade, a concepção ingênua de passatempo e diversão superficial.
imaginação, o significado, a especificidade. NEGRINE (2000) afirma:
“que a capacidade lúdica está diretamente relaciona-
Ao término desse estudo conclui-se que o lúdico é da a sua pré-história de vida. Acredita ser, antes de mais
uma forma facilitadora de aprendizado. Com ele a crian- nada, um estado de espirito e um saber que progressiva-
ça desenvolve aspectos afetivos, cognitivos, motores e mente vai se instalando na conduta do ser devido ao seu
sociais., podendo assim interagir com o meio em que modo de vida”.
vive de forma dinâmica e prazerosa. O jogo, a brinca- O lúdico é a forma de desenvolver a criatividade, os
deira e o brinquedo não podem ser ignorados nas fases conhecimentos, raciocínio de uma criança através de jo-
iniciais da vida da criança e, infelizmente, é o que acon- gos, música, dança, mímica. O intuito é educar e ensinar
tece quando muito professores, em função de não terem se divertindo e interagindo com os outros. O brincar é
acesso a informações mais precisas sobre o lúdico, aca- considerado uma importante fonte de desenvolvimento
bam agindo de maneira tradicional, deixando de utilizar e aprendizado.
esse elemento facilitador no processo de formação de Caracterizando-se por ser espontâneo funcional e sa-
um cidadão crítico e reflexivo. tisfatório.
Independente de época, cultura social, os jogos e os
Precisamos incentivar os professores para trabalha-
brinquedos fazem parte da vida da criança, pois elas vi-
rem de forma dinamizadora, criando atividades que pos-
vem num mundo de fantasia, de encantamento, de ale-
sam chamar a atenção da criança no ambiente escolar, gria, de sonhos, onde realidade e faz-de-conta se con-
possibilitando a construção de ideias e conceitos que fundem (KISHIMOTO, 2000).
contribuam na sua vida como seres que vivem, lutam e Está pesquisa relatará uma importante análise so-
participam em uma sociedade que precisa lutar pelos di- bre as transformações acontecidas na infância para vida
reitos humanos. O bom êxito de toda atividade lúdica adulta, mostrando e abordando diferentes formas de in-
pedagógica depende exclusivamente do adequado pre- clusão, de orientação para profissão, formação de caráter
paro e liderança do professor. e conduta de um adulto, visando à integração de todos
Brougére (2000) tem razão em afirmar que: Encontra- para um mesmo meio.
mo-nos frente a uma brincadeira que sujeita a conteúdos A inserção de atividades lúdicas é hoje uma exigência
definidos socialmente, não é mais brincadeira, transfor- na sociedade, que entende estes como um dos possíveis
mou-se em uma atividade controlada pela mestra que se caminhos, para uma boa escola, integrando seus alunos
utiliza na educação para manter os alunos interessados em uma sociedade mais democrática. Como Kishimoto
em sua proposta. (1995, p. 5) afirma:
Portanto, a realidade observada dessa prática na pes- “A concepção de brincar como forma de desenvolver a
quisa mostra que, com o passar do tempo, esta dificulda- autonomia das crianças requer um uso livre de brinquedos
de também estará superada. Mas, na educação, o agora e materiais, que permita a expressão dos projetos criados
pelas crianças. Só assim, o brincar estará contribuindo
é mais importante que o ontem, devendo servir de base
para a construção da autonomia”.
para as decisões do amanhã e um estudo detalhado de
Criança, lazer, escola. Quando usadas separadamen-
todas as questões permitirá mudanças gradativas que
te, são cercadas de uma polêmica que cresce ainda mais,
não devem servir apenas para a escola em questão, mas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

à medida que se procura relacioná-las, transformando-se


também para professores e administradores escolares em obstáculo difícil de transpor. Uma série de equívocos
que, assim, oferecerão melhores condições de cresci- está presente nas discussões que procuram relacionar o
mento e aproveitamento na escola.  Ao estabelecermos lúdico e o processo educativo, principalmente quando
uma proposta de relações educativas democráticas, vol- envolvem tentativas de viabilização de propostas de in-
tadas para a participação societária, engajamo-nos nas tervenção.
distintas estruturas de apresentação para o exercício da Alguns filósofos garantem que brincar é essencial
cidadania. Afinal, educar o ser humano é prepará-lo para para uma boa base da cultura de um povo.
a vida, independente dos desafios que possamos encon- Segundo Emerson Capaz, no prefácio da obra “Histó-
trar. ria do Brinquedo: Para as crianças conhecerem e os adul-
tos se lembrarem” (ATZINGEM, 2001, p. XVIII).

51
“Conhecer a fundo, portanto, esse poderoso instrumen- Que haja coragem para pensar o insólito...
to, irá nos ajudar a educar melhor nossos filhos, a melhor Que o pensamento seja capaz de comtemplar os fun-
prepará-los para uma vida mais saudável. damentos...”
Crianças que passam a sua infância utilizando brin- Os estudos iniciais apontam que a sociedade de hoje
quedos e brincadeiras que exercitam a sua criatividade, espera ter uma escola que busque qualidade, e para isso
em vez de simplesmente apertarem botões, serão adultos vem tentando desenvolver metodologias que auxiliem
diferenciados.” na formação da criança trazendo para sua estrutura a
Estudos e pesquisas afirmam cada vez mais a con- participação mais ativa da comunidade, novas formas
tribuição positiva das atividades lúdicas empregadas de aprendizado como as próprios brinquedos e brinca-
na educação infantil, estão proporcionando condições deiras, e o lúdico empregado na educação em busca de
adequadas emocional, motora, social e cognitiva. Pois melhorias para a própria estrutura escolar e do individuo
segundo MALUF (2008) “mais importante do que o tipo em formação.
de atividade lúdica é a forma como é dirigida e como Constatou-se que um adulto que viveu uma infância
é vivenciada, e o porquê de estar sendo realizada. Toda lúdica e com brinquedos e brincadeiras orientadas ou li-
criança que participa de atividades lúdicas, adquire novos vres, jogos de raciocínio e de coordenação tiveram uma
conhecimentos e desenvolve habilidades de forma natu- melhor formação para vida.
ral e agradável, que gera um forte interesse em aprender
e garante o prazer”. O potencial criativo, a saúde e o desenvolvimento
Quando se fala do brincar para a vida a adulta cada infantil
vez mais está se perdendo esse lúdico, pela falta de tem-
po, a vida agitada. Em mundo globalizado cada vez mais Para Winnicott (1975), o potencial criativo é inato e
necessita-se de praticidade, então progressivamente os torna-se presente no relacionamento do indivíduo com
indivíduos estão se afastando do convívio lúdico. Como o mundo, sendo o principal responsável pelo sentimento
afirma NEGRINE (2000) “como consequências, o adulto de “valor do viver”, isto é, o sentimento de que a vida
é significativa e vale a pena ser vivida. Para o autor, o
de hoje vive uma oscilação constante da auto-imagem e
desenvolvimento humano está associado ao desenvol-
da auto-estima. À medida que a idade avança necessita-
vimento do potencial criativo e a criatividade desenvol-
mos cada vez mais vivenciar atividades compartilhadas.”
ve-se em paralelo ao desenvolvimento emocional do
O brinquedo, tem história, as vezes muito antigas.
indivíduo.
Como diz o ditado, “uma viagem que nos permite per-
Em sua Teoria da Brincadeira, Winnicott (1975) apre-
correr culturas, estilos, modos de vida, regras sociais,
senta uma relação direta entre o desenvolvimento do
uso de materiais, ferramentas, relações pessoais.” Afirma potencial criativo e da afetividade. Menciona um “clima”
dessa forma Atzingen (2001) “ao conhecer esse universo afetivo que envolve a experiência criativa e que evidencia
mágico, descobrimos que o brinquedo é muito mais que o sentimento de confiança presente no acontecimento
entretenimento. É, acima de tudo, um processo cultural criador. A autoconfiança ou “estado de segurança” se-
que forma, amplia e estabelece valores.” gundo o autor, deriva da experiência satisfatória de re-
Entendemos que é possível aprender brincando, pois lacionamento no início da vida, período no qual o ser
com as brincadeiras será possível aprendermos a ga- humano é duplamente dependente – é dependente e
nhar ou perder, a esperar, a ter autonomia, liderança e desconhece que o seja. As experiências de que a pessoa
conseguirmos lidar melhor com as dificuldades e frus- da mãe e o relacionamento com ela mantido são “dignas
trações ocorridas ao longo do desenvolvimento da vida. de confiança”, permitem ao bebê o estabelecimento do
Desenvolvimento esse que ocorre de maneira diferente “espaço potencial” e o desenvolvimento da subjetivida-
em cada criança, por isso as atividades lúdicas devem ser de. Com a confiança, o indivíduo pode experimentar o
elaboradas de acordo com os interesses das crianças de estado de “relaxamento” no qual o impulso criativo ma-
uma forma lúdica e participativa. nifesta-se, afirma Winnicott. É no estado de relaxamento,
BRANDÃO (2004, p. 10) afirma que: “A recreação (lú- conclui o autor, que a experiência humana pode desfru-
dico) é uma ocorrência de todos os tempos, é parte in- tar de uma qualidade “não-intencional” que a transforma
tegrante da vida de todo o ser humano, mas também é efetivamente em uma experiência criadora.
um problema que surge e deve ser estudado e orientado O estado de relaxamento ou “repouso”, para Winni-
como um dos aspectos fundamentais da estrutura so- cott (1989), remete o indivíduo à experiência primordial
cial”. do “estado não-integrado” da personalidade que antece-
ATZINGEN (2001) afirma que: de o estado integrado. O estado não-integrado da perso-
“Não podemos perder de vista que nossas crianças são, nalidade (...) é o estado primordial do vir-a-ser ou estado
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em grande parte de suas vidas, educadas e se relacionam emocional criativo que veicula e atualiza a realidade po-
com o mundo adulto pelo brincar, e que fazem usando o tencial das infinitas possibilidades inerentes à vida huma-
brinquedo como instrumento.” na (Sakamoto, 2002, p.125). Sendo inevitável, o estado
Então o brincar deve ser cada vez mais estudado, pes- não-integrado pode gerar no indivíduo uma ansiedade
quisado e aplicado na educação infantil, para que assim perturbadora, mobilizando defesas rígidas e impedindo
possa se ter seres humanos cada vez mais bem prepara- que o impulso criativo apresente-se. Neste caso, pode-
dos para a vida adulta e que possam assim lidar com suas mos considerar que as condições de relacionamento
possíveis frustações. Como para Rubem Alves: precoce não foram suficientemente satisfatórias, capazes
“Que a leitura seja um Brinquedo... de gerar um grau de segurança necessário ao indivíduo,
Que a Alma voe, deslocando-se do texto, para fazer para o enfrentamento do novo ou a experiência espon-
suas próprias aventuras... tânea de desenvolvimento do Eu.

52
A segurança nas próprias capacidades, juntamente Na medida em que se considera que a criativida-
com a aceitação de aspectos não-integrados do Eu e de está na base da saúde do ser humano, como afirma
de dimensões desconhecidas da realidade, pode lançar Winnicott (1975) e verifica-se que durante a infância o
o indivíduo a experiências inesperadas de imensuráveis indivíduo empreende a construção das raízes de sua in-
significações criativas. Nesta óptica, a infância pode ser dividualidade, pode-se averiguar os aspectos essenciais
entendida como um período intensamente produtivo do desenvolvimento infantil que asseguram o ponto de
enquanto o momento em que o ser humano realiza as partida mais promissor de um processo bem sucedido.
efetivas definições na construção de sua individualidade, A criança, quando inicia a fala, brinca com sua voz,
meta atingida com uma disposição saudável em que a
experimenta toda sorte dos sons por ela produzidos, até
criança lança-se a experiências com liberdade e despren-
que desenvolve a linguagem e o tom emocional da co-
dimento frente ao desconhecido.
municação oral. Ao adquirir a marcha, brinca com o cor-
O ser humano, durante a infância, além de utilizar o
potencial criativo para atingir uma adaptação ao mundo, po, experimenta toda sorte de movimentos, desafiando
como fará durante toda sua existência, está comprome- a manutenção do equilíbrio físico e o enfrentamento de
tido com a constituição de uma identidade pessoal, que quedas bruscas voluntárias, até que se torna capaz de
pode ser considerada a obra criativa mais importante de realizar sofisticados desempenhos de agilidade e des-
sua vida, visto que todas as demais realizações derivarão treza motora. A criança que exercita o jogo do relacio-
desta primeira. É na infância que o ser humano saudá- namento social experimenta o ato de tomar a iniciativa
vel, mais exaustivamente, explorará as experiências re- do convite ao envolvimento afetivo e arrisca a recusa do
veladoras de aspectos subjetivos que lhe são próprios e contato interpessoal, investe nas identificações subjetivas
que lhe permitirão uma escalada de definições pessoais das diversificadas relações que estabelece com os outros
que deverão configurar um perfil individual ou um estilo e, às vezes brinca com a imitação dos papéis sociais. A
próprio de ser e fazer. Mais tarde, depois de alicerçada criança que desenvolve as mais diversas habilidades, en-
a obra do empreendimento do Eu, passará a desvendar tre elas a da escrita e leitura, experimenta ora a exibição
o refinamento de certas peculiaridades, a ampliar habili- social em busca de aprovação, ora a omissão consciente
dades ou adquirir outras novas performances, aprimorar de suas conquistas. Experimenta os poderes e limites de
capacidades e aprofundar a afetividade, enriquecendo seu corpo, imagina seus encantos e descobre seus de-
a ampliação de sua subjetividade, de modo contínuo e sejos, põe à prova hipóteses sobre o seu entendimento
inesgotável.
do mundo, duvida da veracidade dos fatos, e ao mesmo
A criança, o adolescente, o adulto e o idoso, todos
tempo vai construindo crenças de si mesma, crenças so-
são criativos, pois cada fase do desenvolvimento huma-
no apresenta particularidades que apontam aspectos bre as pessoas com quem convive e sobre outras que
criativos específicos; a criatividade está na raiz da vida e a ocasionalmente encontra, sobre como é o mundo social,
manutenção da existência depende da utilização do po- sobre como é o universo concreto. A criança explora e
tencial criador. Contudo, na infância mais que no período descobre a si e ao mundo, criando uma maneira própria
de vida do adolescente, do adulto ou o idoso, vemos uma de compreender sua experiência e relacionar-se, que se-
urgência criadora cujo investimento do indivíduo justifica rão aprimoradas com o desenvolvimento da capacida-
a adoção de cuidados especiais por parte do ambiente de de abstração. A criança desenvolve-se em direção à
que serão determinantes para a criatividade e saúde fu- vida adulta, somando experiências determinantes que
turas, já que estão sendo construídos os alicerces de toda irão compor a arquitetura de seu futuro. Neste sentido, a
a criatividade futura nas definições fundamentais do Eu. atenção à infância mostra-se um fator de grande interes-
Lesner e Hillman (1983) corroboram esta visão quan- se na prevenção da saúde mental de indivíduos e grupos,
do afirmam que o desenvolvimento da Criatividade e para o conjunto e o equilíbrio social.
apresenta três estágios. O primeiro, que denominaram O amparo à infância por parte do ambiente “suficien-
“Estágio do Enriquecimento Criativo Interno”, cujo pe- temente bom” deve seguir duas marcadas tendências: de
ríodo é determinado da infância à adolescência, no qual suporte afetivo que garante a liberdade de expressão e
há aquisição de habilidades básicas e desenvolvimento experimentação no qual se origina o fluir criativo, e de
de um senso de identidade; nesta fase concluem que o
suporte cognitivo que garante a segurança da situação
instinto criativo está direcionado para o Eu. O segundo,
de experimentação demarcada pelo conhecimento de
denominado “Estágio do Enriquecimento Criativo Exter-
parâmetros da realidade, no qual limites e/ou regras ge-
no” que se estende da adolescência à idade madura e é
ram um ponto de partida para a experiência de novas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

definido como o período em que o indivíduo utiliza o seu


sentimento de identidade para enriquecer tanto o outro descobertas.
como a si mesmo e os valores de seus produtos criati- Na experiência clínica, casos de atendimento pre-
vos vão além de seu próprio Eu. Finalmente, o terceiro ventivo passam a ser mais usuais com famílias cujos pais
ou “Estágio da Auto Avaliação Criadora” que se inicia na possuem acesso amplo à informação e buscam esclareci-
velhice e vai até a morte, é o período em que segundo mentos sobre o desenvolvimento infantil. Nestas famílias,
os autores, a criatividade retorna para uma característica a atenção à criança e ao adolescente e a preocupação
mais narcisista, mostrando-se mais voltada para o enri- com o desenvolvimento saudável, permite ao psicólogo
quecimento interno ou autoavaliação; o objetivo deste orientar a tomada de decisões sobre os fatores decisivos
período é a aceitação e satisfação com o próprio ciclo da que permeiam o bem-estar e a adequada construção da
vida e consequentemente, a aceitação da morte. pessoa humana.

53
No atendimento clínico de uma família, cujos filhos desenvolvimento psicológico para sua idade. Clara, por
gêmeos – Bruno e Clara (nomes fictícios), foram acompa- outro lado, mostrou-se prontamente acessível e parti-
nhados da idade de dois aos sete anos, pode-se contem- cipou com muito interesse do Jogo, mantendo durante
plar um exemplo claro das possibilidades preventivas de toda a consulta uma preocupação em agradar. Seus de-
assistência ao desenvolvimento infantil, conjugada com senhos expressavam situações formais isentas de conflito
o brincar. e que muitas vezes, reproduziam conteúdos pedagógicos
O acompanhamento das crianças ocorreu em des- que provavelmente havia aprendido na escola. A partir
dobramento à psicoterapia individual da mãe que fre- das consultas clínicas esclareceu-se à família o que pôde
quentemente trazia questões relativas à maternidade e
ser percebido nas crianças, isto é, que tanto Bruno quan-
cuidado de seus filhos. Nestas ocasiões havia a oportu-
to Clara mostravam-se adequados intelectualmente, com
nidade de trabalhar-se inúmeros aspectos envolvidos no
bom repertório de comportamentos sociais e que Bruno
cotidiano da família, especialmente acerca das caracte-
rísticas e necessidades das crianças em função de cada demonstrava conflitos afetivos próprios de sua idade,
momento evolutivo. O relacionamento da mãe com as mas Clara mostrava-se mais distante afetivamente, pa-
crianças era muito construtivo e apresentava vantagens recendo valorizar demasiadamente os aspectos intelec-
para o atendimento de necessidades e o desenvolvimen- tuais em detrimento dos emocionais. Recomendou-se
to de peculiaridades de cada filho. Clara e Bruno, apesar um trabalho de orientação psicológica à família para que
de gêmeos, cresciam cada um a seu modo. os pais pudessem acompanhar os aspectos observados
Na idade de três anos e meio, a pedido da genitora em relação à dificuldade afetiva de Clara. A mãe passou a
foram realizadas consultas clínicas com cada um dos fi- estimular o contato mais afetuoso com a filha e auxiliá-la
lhos com o objetivo de verificar as impressões trazidas nas situações em que a criança demonstrava dificuldade
por ela sobre prováveis dificuldades no desenvolvimen- de expressar suas verdadeiras emoções e pensamentos –
to. Foram realizadas sessões de Observação Lúdica, indi- insistia para que a criança mencionasse suas preferências
viduais e conjuntas, esta última a pedido das crianças. A e escolhesse o que de fato desejasse. Foi indicado ainda
consulta clínica com a presença de ambos foi realizada à mãe que oferecesse, à Clara, várias oportunidades para
conforme solicitada por Bruno e Clara, porque entende- que ela experimentasse situações emocionais e de rela-
-se que o pedido poderia estar vinculado a uma busca cionamentos interpessoais que pudessem lhe estimular
de comunicar elementos importantes que pudessem ex- a envolver-se afetivamente. A escolha de brinquedos e
pressar fatores ou questões relacionados à experiência
brincadeiras que incentivassem o relacionamento afetivo
de serem gêmeos. Considera-se que estarem juntos po-
era um assunto de discussão na orientação psicológica
deria determinar a emergência de fatores afetivos e de
convivência que fossem relevantes para eles. A realização oferecida à mãe. Esta relatava progressos na atitude de
da sessão conjunta foi interessante porque pôde-se veri- Clara que, por exemplo, organizou, com ajuda de sua
ficar a forma de relacionamento de ambos, já observada mãe, um chá de bonecas com as amigas, no qual ela pró-
na situação individual, além de constatar o modo genuí- pria escolheu o cardápio e arrumou a mesa do chá. Clara
no de ser de cada um frente ao outro, ora pareciam mui- também mudou na escola, segundo o relato da mãe. Pas-
to sincronizados como parceiros bastante conhecidos e sou a ser uma das alunas mais sociáveis de sua classe e
ora agiam de maneira destacadamente individualizada. segundo a professora, uma ótima assistente para intervir
Na ocasião deste atendimento diagnóstico inicial, em situações de conflito interpessoal apresentados em
nada foi observado como preocupante ou incompatível sua classe. Em relação ao irmão, ela também passou a
com as expectativas de desenvolvimento daquele mo- referir o que de fato queria e deixou sua conduta anterior
mento evolutivo. Sendo assim, a orientação oferecida de ser dominada por ele.
sobre as crianças foi no sentido de que ambos parece- Aos sete anos de idade, Clara pediu à mãe para ser
ram adequados frente ao desenvolvimento psicológico e levada ao consultório, referindo estar com “saudade de
que a mãe poder-se-ia tranquilizar em relação às dúvidas jogar um jogo de desenhar” que lá havia jogado. Enten-
apresentadas. Foi colocado ainda, que em virtude de sua de-se que ela havia compreendido adequadamente a na-
atenção ao desenvolvimento psicológico dos filhos, uma tureza do trabalho clínico e que estava pedindo para ser
reavaliação seria oportuna depois de um ou dois anos.
atendida em consulta. Os pais pediram o atendimento de
Na idade de cinco anos, a mãe pediu novamente uma
Clara e também o de Bruno, argumentando que gosta-
consulta aos filhos, já que Bruno mostrava-se “agressivo”
riam de um parecer psicológico frente à maturidade ou
(sic) e Clara, por sua vez, muito cordata em todas as si-
adequação para o ingresso na primeira série do Ensino
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tuações. Neste atendimento clínico, foi realizado o Jogo


dos Rabiscos proposto por Winnicott (1984), recurso Fundamental. Foi combinada a realização de um aten-
que permitiu uma observação lúdica abrangente sobre dimento psicodiagnóstico e que apresentou um desfe-
o modo particular de cada um relacionar-se com a rea- cho inesperado para as duas crianças. Bruno, que estava
lidade e que permitiu identificar algumas das fantasias demonstrando grande dificuldade em lidar com situa-
presentes na situação clínica. Bruno demonstrou mais ções de fracasso e que no relato dos pais apresentava
insegurança no contato inicial, mas a partir do momento acentuada desobediência para com a mãe, recebeu um
em que se assegurou de que a mãe o aguardaria na sala encaminhamento para psicoterapia que foi prontamen-
de espera, colocou-se na situação de modo espontâneo te iniciada. Clara estava bastante mudada e mostrava-se
e adequado para sua idade. Trouxe, na expressão de suas comunicativa e afetiva, parecia adequada em suas obser-
fantasias, conteúdos de rivalidade edípica pertinentes ao vações práticas, como por exemplo: “minha amiga estava

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com medo e não queria ir, aí eu disse pra ela que ela ia se O indivíduo adaptado e satisfeito em relação a sua
arrepender” (sic). Por outro lado, mostrava-se um pouco vida proporciona ao grupo social um relacionamento
ressentida em relação ao pai, que ela considerava que afetivo construtivo além de oferecer outras contribuições
gostava mais da irmãzinha de três anos. Na medida em pessoais para o bom convívio interpessoal. Pessoas psi-
que esta situação afetiva relacionada ao pai poderia estar cologicamente saudáveis, socialmente adaptadas, con-
vinculada à elaboração edípica, foi sugerida uma obser- sequentemente mostrar-se-ão produtivas e criativas. Por
vação por parte dos pais em relação às suas queixas e foi sua vez, grupos saudáveis consequentemente compro-
indicada uma nova avaliação psicológica após o período metidos com princípios e objetivos definidos mostrar-se-
de um ano. -ão agentes importantes para traçar rumos favoráveis ao
Pode-se apreciar neste atendimento clínico, a impor- desenvolvimento da humanidade.
tância de uma intervenção precoce e a inquestionável Neste horizonte de reflexões, considera-se que a vi-
influência que uma família “suficientemente boa” pode são da trajetória da existência humana começa com o
oferecer ao desenvolvimento saudável de seus filhos. desenvolvimento na infância. Nesta direção de enten-
Clara pôde receber intenso amparo da família em suas dimento, é oportuno considerar relevante o estudo das
dificuldades afetivas e modificar a atitude de distancia- implicações dos fatores ambientais sobre o desenvolvi-
mento e desenvolver recursos para lidar com situações mento infantil para o destino de grupos humanos e do
emocionais a ponto de poder colaborar com seus cole- próprio conjunto maior da humanidade. Diante da pos-
guinhas de classe. Bruno pôde receber uma indicação sibilidade de identificarmos elementos fundamentais ao
terapêutica no momento mais favorável ao atendimen- desenvolvimento humano na infância, pode-se propor
to de suas angústias. O ambiente suficientemente bom mudanças favoráveis nas condições de cuidado às crian-
pode nutrir as necessidades e expectativas de desenvol- ças que representem no futuro uma humanidade trans-
vimento da criança, oferecendo atenção a peculiaridades formada nos padrões atuais, na qual os seres humanos
do indivíduo, proteção para amparar a fragilidade egói- possam mostrar-se psiquicamente mais saudáveis, por-
ca, cuidados para ancorar os processos de experimenta- tanto mais felizes e engajados em projetos de vida mais
ção do viver e de construção da subjetividade, incentivo coerentes com suas subjetividades, em que a sociedade
ao enfrentamento das dificuldades pessoais e circunstan- humana possa constituir uma vida comunitária mais de-
ciais e auxílio que possa representar elementos definidos mocrática e fraterna.
e necessários aos indivíduos em momentos críticos das
diversas etapas do desenvolvimento humano. Na história da evolução da humanidade já se vence-
O “ambiente suficientemente bom” deve assegurar a ram muitos desafios. Hoje, os limites da distância geo-
continuidade do processo de desenvolvimento pessoal e gráfica no mundo foram ultrapassados com a realidade
inseri-lo no conjunto da realidade sociocultural em que da globalização e a comunicação imediata. Pode-se, cer-
toma parte o indivíduo; o ambiente suficientemente bom tamente, vencer outros obstáculos na experiência de vi-
deve cumprir a missão de trazer o mundo à percepção da ver, resta saber se deseja-se buscar uma vida mais digna
pessoa ao mesmo tempo em que deve nele integrar-se para todos, apoiada em valores humanos mais compatí-
de modo que ela encontre e estabeleça o seu lugar ou veis com os objetivos de uma sociedade justa e feliz. A
estilo, no espaço de convivência humana. valorização do brincar vem a ser importante estratégia
Contempla-se hoje uma realidade mundial crítica para impulsionar a criatividade e a saúde psíquica do ser
com seus índices de violência ou estatísticas do elevado humano.
número de casos de depressão nas mais diferentes ida-
des, desde a infância, que leva a refletir sobre a necessi-
A EXPLORAÇÃO E A CONSTRUÇÃO
dade urgente de assistência preventiva da saúde mental.
ESTÉTICA DAS CRIANÇAS.
Esta preocupante paisagem social remete a reflexões
sobre o desenvolvimento saudável da criança como fa-
tor fundamental da edificação do futuro da humanidade,
pois ele torna possível efetivamente a construção de uma ARTES VISUAIS
sociedade mais compatível com as necessidades huma-
nas e suas possibilidades saudáveis criativas. A saúde Introdução
da criança pode ser entendida como o alicerce de uma
adaptação satisfatória futura do indivíduo que pode tra- As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem
duzir uma produtividade criativa e uma vivência de bem- sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e reali-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-estar pessoal e social, o que significa que o brincar tem dade por meio da organização de linhas, formas, pontos,
um papel significativo. tanto bidimensional como tridimensional, além de volu-
Na atualidade, a valorização da qualidade de vida, me, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultu-
que segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) ra, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados,
pressupõe a percepção do indivíduo sobre sua vida no entalhes etc.
contexto sociocultural e em relação aos seus valores e O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o
padrões, objetivos e expectativas, demonstra a impor- contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança
tância e necessidade do ser humano desfrutar de um são atributos da criação artística. A integração entre os
sentimento de que a vida tem um sentido para si e que a aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cogni-
existência é uma experiência reveladora de capacidades tivos, assim como a promoção de interação e comunica-
e contentamento. ção social, conferem caráter significativo às Artes Visuais.

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As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida O questionamento da livre expressão e da ideia de
infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos que a aprendizagem artística era uma consequência au-
muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gra- tomática dos processos de desenvolvimento resultaram
vetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo em um movimento, em vários países, pela mudança nos
seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das Artes rumos do ensino de arte. Surge a constatação de que o
Visuais para expressar experiências sensíveis. desenvolvimento artístico é resultado de formas comple-
xas de aprendizagem e, portanto, não ocorre automati-
Tal como a música, as Artes Visuais são linguagens
camente à medida que a criança cresce.
e, portanto, uma das formas importantes de expressão
A arte da criança, desde cedo, sofre influência da cul-
e comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua tura, seja por meio de materiais e suportes com que faz
presença no contexto da educação, de um modo geral, e seus trabalhos, seja pelas imagens e atos de produção
na educação infantil, particularmente. artística que observa na TV, em revistas, em gibis, rótulos,
estampas, obras de arte, trabalhos artísticos de outras
Presença das artes visuais na educação infantil: crianças etc.
ideias e práticas correntes Embora seja possível identificar espontaneidade e au-
tonomia na exploração e no fazer artístico das crianças,
A presença das Artes Visuais na educação infantil, ao seus trabalhos revelam: o local e a época histórica em
longo da história, tem demonstrado um descompasso que vivem; suas oportunidades de aprendizagem; suas
entre os caminhos apontados pela produção teórica e ideias ou representações sobre o trabalho artístico que
a prática pedagógica existente. Em muitas propostas as realiza e sobre a produção de arte à qual têm acesso,
práticas de Artes Visuais são entendidas apenas como assim como seu potencial para refletir sobre ela.
As crianças têm suas próprias impressões, ideias e in-
meros passatempos em que atividades de desenhar, co-
terpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico.
lar, pintar e modelar com argila ou massinha são desti- Tais construções são elaboradas a partir de suas expe-
tuídas de significados. riências ao longo da vida, que envolvem a relação com a
Outra prática corrente considera que o trabalho deve produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu
ter uma conotação decorativa, servindo para ilustrar te- próprio fazer. As crianças exploram, sentem, agem, refle-
mas de datas comemorativas, enfeitar as paredes com tem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir
motivos considerados infantis, elaborar convites, carta- daí constroem significações sobre como se faz, o que é,
zes e pequenos presentes para os pais etc. para que serve e sobre outros conhecimentos a respeito
Nessa situação, é comum que os adultos façam gran- da arte.
de parte do trabalho, uma vez que não consideram que Nesse sentido, as Artes Visuais devem ser concebidas
a criança tem competência para elaborar um produto como uma linguagem que tem estrutura e características
adequado. próprias, cuja aprendizagem, no âmbito prático e reflexi-
As Artes Visuais têm sido, também, bastante uti- vo, se dá por meio da articulação dos seguintes aspectos:
- fazer artístico — centrado na exploração, expressão
lizadas como reforço para a aprendizagem dos mais
e comunicação de produção de trabalhos de arte por
variados conteúdos. São comuns as práticas de colorir meio de práticas artísticas, propiciando o desenvolvi-
imagens feitas pelos adultos em folhas mimeografadas, mento de um percurso de criação pessoal;
como exercícios de coordenação motora para fixação e - apreciação — percepção do sentido que o objeto
memorização de letras e números. propõe, articulando-o tanto aos elementos da linguagem
As pesquisas desenvolvidas a partir do início do sé- visual quanto aos materiais e suportes utilizados, visando
culo em vários campos das ciências humanas trouxeram desenvolver, por meio da observação e da fruição24, a
dados importantes sobre o desenvolvimento da criança, capacidade de construção de sentido, reconhecimento,
sobre o seu processo criador e sobre as artes das várias análise e identificação de obras de arte e de seus pro-
culturas. Na confluência da antropologia, da filosofia, da dutores;
psicologia, da psicanálise, da crítica de arte, da psicope- - reflexão — considerado tanto no fazer artístico
dagogia e das tendências estéticas da modernidade, sur- como na apreciação, é um pensar sobre todos os conteú-
giram autores que formularam os princípios inovadores dos do objeto artístico que se manifesta em sala, com-
partilhando perguntas e afirmações que a criança realiza
para o ensino das artes, da música, do teatro e da dan-
instigada pelo professor e no contato com suas próprias
ça. Tais princípios reconheciam a arte da criança como
produções e as dos artistas.
manifestação espontânea e auto expressiva: valorizavam
a livre expressão e a sensibilização para o experimento
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O desenvolvimento da imaginação criadora, da ex-


artístico como orientações que visavam ao desenvolvi- pressão, da sensibilidade e das capacidades estéticas das
mento do potencial criador, ou seja, as propostas eram crianças poderão ocorrer no fazer artístico, assim como
centradas nas questões do desenvolvimento da criança. no contato com a produção de arte presente nos mu-
Tais orientações trouxeram inegável contribuição seus, igrejas, livros, reproduções, revistas, gibis, vídeos,
para que se valorizasse a produção criadora infantil, mas CD-ROM, ateliês25 de artistas e artesãos regionais, feiras
o princípio revolucionário que advogava a todos a neces- de objetos, espaços urbanos etc. O desenvolvimento da
sidade e a capacidade da expressão artística aos poucos capacidade artística e criativa deve estar apoiado, tam-
se transformou em “um deixar fazer” sem nenhum tipo bém, na prática reflexiva das crianças ao aprender, que
de intervenção, no qual a aprendizagem das crianças articula a ação, a percepção, a sensibilidade, a cognição
pôde evoluir muito pouco. e a imaginação.

56
A criança e as artes visuais Na garatuja, a criança tem como hipótese que o de-
senho é simplesmente uma ação sobre uma superfície, e
O trabalho com as Artes Visuais na educação infantil ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa
requer profunda atenção no que se refere ao respeito das ação produziu.
peculiaridades e esquemas de conhecimento próprios a A percepção de que os gestos, gradativamente, pro-
cada faixa etária e nível de desenvolvimento. Isso signi- duzem marcas e representações mais organizadas per-
fica que o pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a mite à criança o reconhecimento dos seus registros.
percepção, a intuição e a cognição da criança devem ser No decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam
trabalhados de forma integrada, visando a favorecer o
sobretudo o prolongamento de movimentos rítmicos de
desenvolvimento das capacidades criativas das crianças.
ir e vir, transformam-se em formas definidas que apre-
No processo de aprendizagem em Artes Visuais a
sentam maior ordenação, e podem estar se referindo a
criança traça um percurso de criação e construção indivi-
dual que envolve escolhas, experiências pessoais, apren- objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros
dizagens, relação com a natureza, motivação interna e/ desenhos.
ou externa. O percurso individual da criança pode ser sig- Na medida em que crescem, as crianças experimen-
nificativamente enriquecido pela ação educativa inten- tam agrupamentos, repetições e combinações de ele-
cional; porém, a criação artística é um ato exclusivo da mentos gráficos, inicialmente soltos e com uma grande
criança. É no fazer artístico e no contato com os objetos gama de possibilidades e significações, e, mais tarde, cir-
de arte que parte significativa do conhecimento em Artes cunscritos a organizações mais precisas.
Visuais acontece. No decorrer desse processo, o prazer Apresentam cada vez mais a possibilidade de exprimir
e o domínio do gesto e da visualidade evoluem para o impressões e julgamentos sobre seus próprios trabalhos.
prazer e o domínio do próprio fazer artístico, da simboli- Enquanto desenham ou criam objetos também brin-
zação e da leitura de imagens. cam de “faz-de-conta” e verbalizam narrativas que ex-
O ponto de partida para o desenvolvimento estético primem suas capacidades imaginativas, ampliando sua
e artístico é o ato simbólico que permite reconhecer que forma de sentir e pensar sobre o mundo no qual estão
os objetos persistem, independentes de sua presença fí- inseridas.
sica e imediata. Operar no mundo dos símbolos é per- Na evolução da garatuja para o desenho de formas
ceber e interpretar elementos que se referem a alguma mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de
coisa que está fora dos próprios objetos. Os símbolos
elaborar imagens no fazer artístico. Começando com
reapresentam o mundo a partir das relações que a crian-
símbolos muito simples, ela passa a articulá-los no es-
ça estabelece consigo mesma, com as outras pessoas,
paço bidimensional do papel, na areia, na parede ou em
com a imaginação e com a cultura.
Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é ca- qualquer outra superfície. Passa também a constatar a
paz de, ocasionalmente, manter ritmos regulares e pro- regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente
duzir seus primeiros traços gráficos, considerados muito e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando
mais como movimentos do que como representações. É esse conhecimento em suas próprias produções.
a conhecida fase dos rabiscos, das garatujas. A repeti- No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que
da exploração e experimentação do movimento amplia o desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe so-
o conhecimento de si próprio, do mundo e das ações bre o mundo e esse saber estará relacionado a algumas
gráficas. Muito antes de saber representar graficamen- fontes, como a análise da experiência junto a objetos
te o mundo visual, a criança já o reconhece e identifica naturais (ação física e interiorizada); o trabalho realizado
nele qualidades e funções. Mais tarde, quando controla sobre seus próprios desenhos e os desenhos de outras
o gesto e passa a coordená-lo com o olhar, começa a crianças e adultos; a observação de diferentes objetos
registrar formas gráficas e embora todas as modalidades simbólicos do universo circundante; as imagens que cria.
artísticas devam ser contempladas pelo professor, a fim No decorrer da simbolização, a criança incorpora pro-
de diversificar a ação das crianças na experimentação de gressivamente regularidades ou códigos de representa-
materiais, do espaço e do próprio corpo, destaca-se o ção das imagens do entorno, passando a considerar a
desenvolvimento do desenho por sua importância no fa-
hipótese de que o desenho serve para imprimir o que
zer artístico delas e na construção das demais linguagens
se vê.
visuais (pintura, modelagem, construção tridimensional,
É assim que, por meio do desenho, a criança cria e re-
colagens). O desenvolvimento progressivo do desenho
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

implica mudanças significativas que, no início, dizem res- cria individualmente formas expressivas, integrando per-
peito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para cepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem
construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras
primeiros símbolos. crianças e adultos.
Imagens de sol, figuras humanas, animais, vegeta- A imitação, largamente utilizada no desenho pelas
ção e carros, entre outros, são frequentes nos desenhos crianças e por muitos combatida, desenvolve uma função
das crianças, reportando mais a assimilações dentro da importante no processo de aprendizagem. Imitar decorre
linguagem do desenho do que a objetos naturais. Essa antes de uma experiência pessoal, cuja intenção é a apro-
passagem é possível graças às interações da criança com priação de conteúdos, de formas e de figuras por meio
o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. da representação.

57
As atividades em artes plásticas que envolvem os O fazer artístico
mais diferentes tipos de materiais indicam às crianças
as possibilidades de transformação, de reutilização e de Crianças de zero a três anos
construção de novos elementos, formas, texturas etc. A
relação que a criança pequena estabelece com os dife- - Exploração e manipulação de materiais, como lápis
rentes materiais se dão, no início, por meio da exploração e pincéis de diferentes texturas e espessuras, brochas,
sensorial e da sua utilização em diversas brincadeiras. carvão, carimbo etc.; de meios, como tintas, água, areia,
Representações bidimensionais e construção de objetos terra, argila etc.; e de variados suportes gráficos, como
tridimensionais nascem do contato com novos materiais, jornal, papel, papelão, parede, chão, caixas, madeiras etc.
no fluir da imaginação e no contato com as obras de arte. - Exploração e reconhecimento de diferentes movi-
Para construir, a criança utiliza-se das características mentos gestuais, visando a produção de marcas gráficas.
associativas dos objetos, seus usos simbólicos, e das pos- - Cuidado com o próprio corpo e dos colegas no con-
sibilidades reais dos materiais, a fim de, gradativamente, tato com os suportes e materiais de artes.
relacioná-los e transformá-los em função de diferentes - Cuidado com os materiais e com os trabalhos e ob-
argumentos. jetos produzidos individualmente ou em grupo.

OBJETIVOS Orientações didáticas


Crianças de zero a três anos
Considera-se aqui a utilização de instrumentos, ma-
A instituição deve organizar sua prática em torno da teriais e suportes diversos, como lápis, pincéis, tintas, pa-
aprendizagem em arte, garantindo oportunidades para péis, cola etc., para o fazer artístico a partir do momento
que as crianças sejam capazes de: em que as crianças já tenham condições motoras para
seu manuseio.
- ampliar o conhecimento de mundo que possuem, As crianças podem manusear diferentes materiais,
manipulando diferentes objetos e materiais, explorando
perceber marcas, gestos e texturas, explorar o espaço fí-
suas características, propriedades e possibilidades de
sico e construir objetos variados. Essas atividades devem
manuseio e entrando em contato com formas diversas
ser bem dimensionadas e delimitadas no tempo, pois o
de expressão artística;
interesse das crianças desta faixa etária é de curta dura-
- utilizar diversos materiais gráficos e plásticos sobre
ção, e o prazer da atividade advém exatamente da ação
diferentes superfícies para ampliar suas possibilidades de
exploratória. Nesse sentido, a confecção de tintas e mas-
expressão e comunicação.
sas com as crianças é uma excelente oportunidade para
que elas possam descobrir propriedades e possibilidades
Crianças de quatro a cinco anos
de registro, além de observar transformações. Vários ti-
pos de tintas podem ser criados pelas crianças, utilizan-
Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a fai-
do elementos da natureza, como folhas, sementes, flores,
xa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados
e ampliados, garantindo-se, ainda, oportunidades para terras de diferentes cores e texturas que, misturadas com
que as crianças sejam capazes de: água ou outro meio e peneiradas, criam efeitos instigan-
tes quando usadas nas pinturas. Há também diversas re-
- interessar-se pelas próprias produções, pelas de ceitas de massas caseiras com corantes comestíveis que
outras crianças e pelas diversas obras artísticas (regio- são excelentes para modelagem. Outra possibilidade é
nais, nacionais ou internacionais) com as quais entrem pesquisar junto com as crianças a existência de locais
em contato, ampliando seu conhecimento do mundo e próximos à instituição de onde se podem extrair tipos de
da cultura; barro propícios a modelagens.
- produzir trabalhos de arte, utilizando a linguagem O trabalho com estruturas tridimensionais também
do desenho, da pintura, da modelagem, da colagem, da pode ser desenvolvido por meio da colagem, montagem
construção, desenvolvendo o gosto, o cuidado e o res- e justaposição de sucatas previamente selecionadas, lim-
peito pelo processo de produção e criação. pas e organizadas, provenientes de embalagens diversas,
elementos da natureza, tecidos etc. É preciso observar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Conteúdos cuidadosamente que as sucatas selecionadas sejam ade-


quadas ao trabalho que se quer desenvolver. Assim, para
Os conteúdos estão organizados em dois blocos. O um jogo de construção, por exemplo, é preciso oferecer
primeiro bloco se refere ao fazer artístico e o segundo sucatas que possam ser empilhadas, encaixadas, justa-
trata da apreciação em Artes Visuais. postas etc. Da mesma forma, para trabalhos de colagem,
A organização por blocos visa a oferecer visibilidade as sucatas devem oferecer uma superfície que aceite a
às especificidades da aprendizagem em artes, embora as cola e que permitam a composição com diferentes su-
crianças vivenciem esses conteúdos de maneira integra- portes e materiais. É importante considerar, ainda, o per-
da. curso individual de cada criança, evitando-se a constru-
ção de modelos padronizados.

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Quando se tratar de atividades de desenho ou pin- - Respeito e cuidado com os objetos produzidos indi-
tura, é aconselhável que o professor esteja atento para vidualmente e em grupo.
oferecer suportes variados e de diferentes tamanhos - Valorização de suas próprias produções, das de ou-
para serem utilizados individualmente ou em pequenos tras crianças e da produção de arte em geral.
grupos, como panos, papéis ou madeiras, que permitam
a liberdade do gesto solto, do movimento amplo e que Orientações didáticas
favoreçam um trabalho de exploração da dimensão es-
pacial, tão necessária às crianças desta faixa etária. Para que as crianças possam criar suas produções, é
As marcas gráficas realizadas em diferentes superfí- preciso que o professor ofereça oportunidades diversas
cies, inclusive no próprio corpo, permitem a percepção para que elas se familiarizem com alguns procedimen-
das variadas possibilidades de impressão. A articula- tos ligados aos materiais utilizados, aos diversos tipos de
ção entre as sensações corporais e as marcas gráficas, suporte e para que possam refletir sobre os resultados
bem como o registro gráfico que surgir daí, fornecerá às obtidos.
crianças um maior conhecimento de si mesmas e poderá É aconselhável, portanto, que o trabalho seja organi-
contribuir para as atividades de representação da própria zado de forma a oferecer às crianças a possibilidade de
imagem, dos sentimentos e de suas experiências corpo- contato, uso e exploração de materiais, como caixas, la-
rais. Essas atividades podem se dar sobre a areia seca ou tinhas, diferentes papéis, papelões, copos plásticos, em-
molhada, na terra, sobre diferentes tipos e tamanhos de balagens de produtos, pedaços de pano etc. É indicada a
papel etc. Pode-se, por exemplo, utilizar tinta para im- inclusão de materiais típicos das diferentes regiões brasi-
primir marcas em um papel comprido sobre o qual as leiras, pois além de serem mais acessíveis, possibilitam a
crianças caminham e vão percebendo, aos poucos, que exploração de referenciais regionais.
as inscrições, que no início eram bem visíveis, vão ficando Para que a criança possa desenhar, é importante que
cada vez mais fracas até desaparecerem. ela possa fazê-lo livremente sem intervenção direta, ex-
Sugere-se que sejam apresentadas atividades varia- plorando os diversos materiais, como lápis preto, lápis
das que trabalhem uma mesma informação de diversas de cor, lápis de cera, canetas, carvão, giz, penas, gravetos
formas. Pode-se, por exemplo, eleger um instrumento, etc., e utilizando suportes de diferentes tamanhos e tex-
como o pincel, para crianças que já manejem esse ins- turas, como papéis, cartolinas, lixas, chão, areia, terra etc.
trumento, e usá-lo sobre diferentes superfícies (papel Há várias intervenções possíveis de serem realizadas
liso, rugado, lixa, argila etc.) ou um mesmo meio, como e que contribuem para o desenvolvimento do desenho
a tinta, por exemplo, em diversas situações (soprada em da criança. Uma delas é, partindo das produções já fei-
canudo, com esponjas, com carimbos etc.). É preciso tra- tas pelas crianças, sugerir-lhes, por exemplo, que copiem
balhar com as crianças os cuidados necessários com o seus próprios desenhos em escala maior ou menor. Esse
próprio corpo e com o corpo dos outros, principalmente tipo de atividade possibilita que a criança reflita sobre
com os olhos, boca, nariz e pele, quando elas manuseiam seu próprio desenho e organize de maneira diferente os
diferentes materiais, instrumentos e objetos. pontos, as linhas e os traçados no espaço do papel. Outra
A seleção dos materiais deve ser subordinada à se- possibilidade é utilizar papéis que já contenham algum
gurança que oferecem. Devem-se evitar materiais tóxi- tipo de intervenção, como, por exemplo, um risco, um
cos, cortantes ou aqueles que apresentam possibilidade recorte, uma colagem de parte de uma figura etc., para
de machucar ou provocar algum dano para a saúde das que a criança desenhe a partir disso.
crianças. É interessante propor às crianças que façam desenhos
Os diversos materiais para produções artísticas de- a partir da observação das mais diversas situações, cenas,
vem ser organizados de maneira a que as crianças te- pessoas e objetos. O professor pode pedir que observem
nham fácil acesso a eles. Isso contribui para que elas e desenhem a partir do que viram. Por exemplo, as crian-
possam cuidar dos materiais de uso individual e coletivo, ças podem perceber as formas arredondadas dos calca-
desenvolvendo noções relacionadas à sua conservação. nhares, distinguir os diferentes tamanhos dos dedos, das
unhas, observar a sola do pé e a parte superior dele, bem
Crianças de quatro a cinco anos como as características que diferenciam os pés de cada
um.
- Criação de desenhos, pinturas, colagens, modela- As histórias, as imagens significativas ou os fatos do
gens a partir de seu próprio repertório e da utilização dos cotidiano podem ampliar a possibilidade de as crianças
escolherem temas para trabalhar expressivamente. Tais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

elementos da linguagem das Artes Visuais: ponto, linha,


forma, cor, volume, espaço, textura etc. intervenções educativas devem ser feitas com o objeti-
- Exploração e utilização de alguns procedimentos vo de ampliar o repertório e a linguagem pessoal das
necessários para desenhar, pintar, modelar etc. crianças e enriquecer seus trabalhos. Os temas e as in-
- Exploração e aprofundamento das possibilidades tervenções podem ser um recurso interessante desde
oferecidas pelos diversos materiais, instrumentos e su- que sejam observados seus objetivos e função no desen-
portes necessários para o fazer artístico. volvimento do percurso de criação pessoal da criança. É
- Exploração dos espaços bidimensionais e tridimen- preciso, no entanto, ter atenção quanto a programação
sionais na realização de seus projetos artísticos. de atividades para as crianças para se favorecer também
- Organização e cuidado com os materiais no espaço aquelas originárias das suas próprias ideias ou geradas
físico da sala. pelo contato com os mais diversos materiais.

59
O professor, conhecendo bem o grupo, pode apre- obras e outras características. As informações vão sendo
sentar sugestões e auxiliar as crianças a desenvolverem simplificadas ou aprofundadas conforme a curiosidade
as propostas pelas quais optaram, indicando materiais e as possibilidades do grupo. Algumas crianças desta-
mais adequados a cada uma. carão cores e outras, dependendo da sensibilidade, po-
As criações tridimensionais devem ser feitas em eta- derão arriscar comentários sobre a similaridade gráfica
pas, pois exigem diversas ações, como colagem, pintura,
entre o trabalho do artista e de suas próprias produções.
montagem etc. Fazer maquetes de cidades ou brinque-
dos são exemplos de atividades que podem ser realiza- Evidentemente, é necessário que o professor escolha um
das e que envolvem a composição de volumes, propor- determinado contexto para que certa imagem possa ser
cionalidades, equilíbrios etc. apresentada, permitindo, inclusive, que os trabalhos em
Guardar, organizar a sala e documentar as produções Artes Visuais aconteçam também em atividades interdis-
são ações que podem ajudar cada criança na percepção ciplinares, que são muito pertinentes nas relações de en-
de seu processo evolutivo e do desenrolar das etapas de sino e aprendizagem.
trabalho. As crianças têm prazer em reconhecer certas figu-
Essa é uma tarefa que o professor poderá realizar ras, identificando-as às personagens de uma história já
junto ao grupo. A exposição dos trabalhos realizados é conhecida, de um desenho e, até mesmo, de alguns fil-
uma forma de propiciar a leitura dos objetos feitos pelas mes vistos na televisão. Então, a partir da visualização de
crianças e a valorização de suas produções.
certas imagens, o professor poderá trabalhar com essas
Apreciação em Artes Visuais personagens por meio de jogos simbólicos, fazendo pe-
quenas dramatizações dentro do próprio espaço que a
Crianças de zero a três anos sala oferece, aproveitando os objetos presentes.
As crianças podem observar imagens figurativas fixas
- Observação e identificação de imagens diversas. ou em movimento e produções abstratas. Se for dada a
oportunidade para o trabalho com objetos e imagens da
Orientações didáticas produção artística (regional, nacional ou internacional),
se for possibilitado o contato com artistas, as visitas às
No que diz respeito às leituras das imagens, deve- exposições etc., o professor estará criando possibilida-
-se eleger materiais que contemplem a maior diversida-
de para que as crianças desenvolvam relações entre as
de possível e que sejam significativos para as crianças.
representações visuais e suas vivências pessoais ou gru-
É aconselhável que, por meio da apreciação, as crianças
reconheçam e estabeleçam relações com o seu universo, pais, enriquecendo seu conhecimento do mundo, das
podendo conter pessoas, animais, objetos específicos às linguagens das artes e instrumentalizando-as como lei-
culturas regionais, cenas familiares, cores, formas, linhas toras e produtoras de trabalhos artísticos.
etc. Entretanto, imagens abstratas ou renascentistas, por Outra questão ainda merece destaque: o que fazer
exemplo, também podem ser mostradas para as crian- com as produções das crianças? As respostas são múlti-
ças. Nesses casos, há que se observar o sentido narrativo plas. Elas podem virar um brinquedo que será utilizado
que elas atribuem a essas imagens e considerá-lo como tão logo a atividade termine; podem ser documentadas
parte do processo de construção da leitura de imagens. e arquivadas para que as crianças adquiram aos poucos
É aconselhável que as crianças realizem uma observação a percepção do seu processo criativo como um todo e
livre das imagens e que possam tecer os comentários
possam atinar para o montante de trabalho produzido;
que quiserem de tal forma que todo o grupo participe. O
professor pode atuar como um provocador da aprecia- podem ser enviadas para suas casas para servirem de en-
ção e leitura da imagem. Nesses casos o professor deve feites nas paredes etc. Mas, antes disso, as produções de-
acolher e socializar as falas das crianças. vem ser expostas, durante um certo período, nas depen-
dências das instituições de educação infantil, tanto nos
Orientações didáticas corredores quanto nas paredes das salas, o que favorece
a sua valorização pelas crianças. Produção, comunicação,
Ao trabalhar com a leitura de imagens, é importante exposição, valorização e reconhecimento formam um
elaborar perguntas que instiguem a observação, a desco- conjunto que alimenta a criança no seu desenvolvimento
berta e o interesse das crianças, como: “O que você mais artístico. A participação em exposições organizadas es-
gostou?”, “Como o artista conseguiu estas cores?”, “Que pecialmente para dar destaque à produção infantil cola-
instrumentos e meios ele usou?”, “O que você acha que
bora com a autoestima das crianças e de seus familiares.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

foi mais difícil para ele fazer?”. Este é um bom momen-


to para descobrir que temas são mais significativos para É essencial que se incluam atividades que se con-
elas. O professor poderá criar espaços para a construção centrem basicamente na leitura das imagens produzidas
de uma observação mais apurada, instigando a descrição pelas próprias crianças (desenhos, colagens, recortes,
daquilo que está sendo observado. objetos tridimensionais, pinturas etc.). Permitir que elas
É aconselhável que o professor interfira nessas obser- falem sobre suas criações e escutem as observações dos
vações, aguçando as descobertas, fomentando as verba- colegas sobre seus trabalhos é um aspecto fundamental
lizações e até ajudando as crianças na apreensão signifi- do trabalho em artes. É assim que elas poderão reformu-
cativa do conteúdo geral da imagem, deixando sempre lar suas ideias, construindo novos conhecimentos a partir
que as crianças sejam as autoras das interpretações. É das observações feitas, bem como desenvolver o contato
interessante fornecer dados sobre a vida do autor, suas social com os outros.

60
Nesta etapa é possível fortalecer o reconhecimento lhável que o professor esteja atento para redimensionar
da singularidade de cada indivíduo na criação, mostran- as atividades propostas, seja em relação ao tempo, ou à
do que não existe um jeito certo ou errado de se produzir própria atividade. Cada criança, pelo seu ritmo, demons-
um trabalho de arte, mas sim um jeito individualizado, tra a necessidade de prolongar o tempo de trabalho ou
singular. Comentar os resultados dos trabalhos possibi- de reduzi-lo, quando for o caso.
lita a descoberta do percurso na criação e a percepção No que diz respeito à organização do tempo pode-se
das soluções encontradas no processo de construção. apontar três possibilidades de organização: as atividades
Nas leituras grupais, as crianças elaboram não somente permanentes, as sequências de atividades e os projetos.
os conteúdos comentados, mas estabelecem uma ex-
periência de contato e diálogo com as outras crianças, Atividades permanentes
desenvolvendo o respeito, a tolerância à diversidade de
interpretações ou atribuição de sentido às imagens, a São situações didáticas que acontecem com regulari-
admiração e dando uma contribuição às produções rea- dade diária ou semanal, na rotina das crianças. Os ateliês
lizadas, por intermédio de uma prática de solidariedade ou os ambientes de trabalho nos quais são oferecidas
e inclusão. É nessa interação ativa que acontecem simul- diversas atividades simultâneas, como desenhar, pintar,
taneamente a observação, a apreciação, a verbalização e modelar e fazer construções e colagens, para que as
a ressignificação das produções. Nessas situações, nova- crianças escolham o que querem fazer, é um exemplo
mente, a imaginação, a ação, a sensibilidade, a percep- de atividade permanente. Esses ateliês permitem o de-
ção, o pensamento e a cognição são reativados. senvolvimento do percurso individual de cada criança, na
medida em que elas podem fazer suas escolhas, regu-
Orientações gerais para o professor lar por si mesmas o tempo dedicado a cada produção
e experimentar diversas possibilidades. É aconselhável
Os conteúdos da aprendizagem em artes poderão também que se garanta um tempo na rotina para que as
ser organizados de modo a permitir que, por um lado, a crianças possam desenhar diariamente sem a interven-
criança utilize aquilo que já conhece e tem familiaridade,
ção direta do professor.
e, por outro lado, que possa estabelecer novas relações,
alargando seu saber sobre os assuntos abordados.
Sequências de atividades
Convém ainda lembrar que a necessidade e o interes-
se também são criados e suscitados na própria situação
A sequência de atividades se constitui em uma série
de aprendizagem. Tendo clareza do seu projeto de traba-
planejada e orientada de tarefas, com objetivo de pro-
lho, o professor poderá imprimir maior qualidade à sua
mover uma aprendizagem específica e definida. São se-
ação educativa ao garantir que:
quências que podem fornecer desafios com diferentes
graus de complexidade, auxiliando as crianças a resol-
- a criança possa compreender e conhecer a diversi-
dade da produção artística na medida em que estabelece verem problemas a partir de diferentes proposições. Por
contato com as imagens das artes nos diversos meios, exemplo, se o objetivo é fazer com que elas avancem
como livros de arte, revistas, visitas às exposições, conta- em relação à representação da figura humana por meio
to com artistas, filmes etc.; do desenho, pode-se planejar várias etapas de trabalho
- exista a possibilidade do uso de diferentes materiais complementares, ajudando-as numa elaboração pro-
pelas crianças, fazendo com que estes sejam percebidos gressiva e cada vez mais rica de seus conhecimentos e
em sua diversidade, manipulados e transformados; habilidades, como:
- os pontos de vista de cada criança sejam respeita-
dos, estimulando e desenvolvendo suas leituras singula- - jogos de percepção e observação do seu corpo e do
res e produções individuais; corpo de seus colegas;
- as trocas de experiências entre as crianças acon- - desenhar a partir de uma interferência colocada
teçam nos momentos de conversa e reflexão sobre os previamente no papel, que pode ser um desenho ou uma
trabalhos, elaborações conjuntas e atividades em grupo; colagem de uma parte do corpo humano;
- o prazer lúdico seja o gerador do processo de pro- - observação de figuras humanas nas imagens da arte;
dução; - desenho a partir do que foi observado;
- a arte seja compreendida como linguagem que - observação de corpos em movimento pesquisados
em revistas, em vídeos, em fotos;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

constrói objetos plenos de sentido;


- a valorização da ação artística e o respeito pela di- - representação figurativa por meio do desenho das
versidade dessa produção sejam elementos sempre pre- apreensões perceptivas do corpo;
sentes. - montagem de painéis que contenham ampliações
dos desenhos de figuras humanas elaborados pelas
Organização do tempo crianças do grupo.

A organização do tempo em Artes Visuais deve res- Tanto quanto as atividades livres, as sequências de
peitar as possibilidades das crianças relativas ao ritmo e atividades também levam a apreciar, a refletir, e a buscar
interesse pelo trabalho, ao tempo de concentração, bem significados nas imagens da arte.
como ao prazer na realização das atividades. É aconse-

61
Projetos coberto de jornal para evitar manchas, a secagem das
produções pode ser feita pregando os trabalhos em va-
Os projetos são formas de trabalho que envolve di- rais ou em paredes, tudo pode ser organizado de forma
ferentes conteúdos e que se organizam em torno de um transitória, mas que possibilite a realização de uma ativi-
produto final cuja escolha e elaboração são comparti- dade em Artes Visuais.
lhadas com as crianças. Muitas vezes eles não terminam É possível organizar ateliês, que são espaços específi-
com esse produto final, mas geram novas aprendizagens cos e próprios para a realização de diferentes atividades
e novos projetos. em Artes Visuais. Nesses ateliês, os materiais devem ficar
A construção de um cenário para brincar ou de uma constantemente acessíveis às crianças, em prateleiras, es-
maquete, a ornamentação de um bolo de aniversário ou tantes, caixas etc., de forma a permitir a livre escolha. É
de uma mesa de festa, a elaboração de um painel, de necessário também que haja lugar para a secagem dos
uma exposição, ou a ilustração de um livro são exemplos trabalhos, sejam eles pinturas ou objetos tridimensionais.
de projetos de artes. Os projetos em artes são permea- A presença de torneiras e pias é fundamental para a lava-
dos de negociação e de pesquisas entre professores e gem de pincéis, brochas e outros tipos de materiais, as-
crianças. Se de um lado o professor planeja as etapas e sim como as mãos, rostos etc. Quanto ao armazenamen-
pode antecipar o produto final, por sua vez, as crianças to das produções realizadas, pastas e arquivos também
interferem no planejamento, alterando o processo a par- podem fazer parte desses locais que devem, inclusive,
tir das soluções que encontram nas suas produções. abrigar exposições permanentes das produções.
Os projetos podem ter como ponto de partida um
tema, um problema sugerido pelo grupo ou decorrente Os recursos materiais
da vida da comunidade, uma notícia de televisão ou de
jornal, um interesse particular das crianças etc. Uma das Os materiais são a base da produção artística. É im-
condições para sua escolha é que ele mobilize o interesse portante garantir às crianças acesso a uma grande diver-
do grupo como um todo. As crianças, em primeiro lugar, sidade de instrumentos, meios e suportes. Alguns deles
mas também os professores devem sentir-se atraídos são de uso corrente, como lápis preto, lápis de cor, pin-
pela questão. céis, lápis de cera, carvão, giz, brochas, rolos de pintar,
espátulas, papéis de diferentes tamanhos, cores e textu-
É aconselhável que o professor observe atentamen-
ras, caixas, papelão, tintas, argila, massas diversas, bar-
te e avalie continuamente o processo, tendo em vista a
bantes, cola, tecidos, linhas, lãs, fita crepe, tesouras etc.
reestruturação do trabalho a cada etapa do projeto.
Outros materiais podem diversificar os procedimentos
em Artes Visuais, como canudos, esferas, conta-gotas,
Organização do espaço
colheres, cotonetes, carretilhas, fôrmas diversas, papel-
-carbono, estêncil, carimbos, escovas, pentes, palitos, su-
A organização da sala, a quantidade e a qualidade
catas, elementos da natureza etc.
dos materiais presentes e sua disposição no espaço são
Com relação às sucatas é importante que se faça uma
determinantes para o fazer artístico.
seleção, garantindo que não ofereçam perigo à saúde
É aconselhável que os locais de trabalho, de uma da criança, que estejam em boas condições e que se-
maneira geral, acomodem confortavelmente as crianças, jam adequadas ao uso. Cada região brasileira possui uma
dando o máximo de autonomia para o acesso e uso dos grande variedade de materiais próprios, tanto naturais
materiais. Espaços apertados inibem a expressão artís- quanto artesanais e industrializados. O professor pode e
tica, enquanto os espaços suficientemente amplos fa- deve aproveitá-los desde que sejam respeitados os cui-
vorecem a liberdade de expressão. Nesse sentido, vale dados descritos.
lembrar que os locais devem favorecer o andar, o correr Materiais e instrumentos, como mimeógrafos, vídeos,
e o brincar das crianças. Devem, também, ser concebidos projetores de slides, retroprojetores, mesas de luz, com-
e equipados de tal forma que sejam interessantes para putadores, fotografias, xerox, filmadoras, CD-ROM etc.,
as crianças, ativando o desejo de produzir e o prazer de possibilitam o uso da tecnologia atual na produção artís-
estar ali. Precisam, igualmente, permitir o rearranjo do tica, o que enriquece a quantidade de recursos de que o
mobiliário de acordo com as propostas. Faz parte do pro- professor pode lançar mão.
cesso criativo certa desordem no local de trabalho causa-
da, por exemplo, pela variedade de materiais utilizados. Observação, registro e avaliação formativa
A arrumação do espaço ao término das atividades deve
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

envolver a participação das crianças. A avaliação deve buscar entender o processo de cada
O espaço deve possibilitar também a exposição dos criança, a significação que cada trabalho comporta, afas-
trabalhos e sua permanência nesse local pelo tempo que tando julgamentos, como feio ou bonito, certo ou er-
for desejável. rado, que utilizados dessa maneira em nada auxiliam o
Muitas vezes as atividades nas instituições acontecem processo educativo.
num mesmo espaço. O professor pode, então, organizar A observação do grupo, além de constante, deve fazer
o ambiente de forma a criar cantos específicos para cada parte de uma atitude sistemática do professor dentro do
atividade: cantos de brinquedos, de Artes Visuais, de lei- seu espaço de trabalho. O registro dessas observações e
tura de livros etc. No canto de artes, podem ser acomo- das percepções que surgem ao longo do processo, tanto
dadas caixas que abrigam os materiais, o chão pode ser em relação ao grupo quanto ao percurso individual de

62
cada criança, fornece alguns parâmetros valiosos que podem orientar o professor na escolha dos conteúdos a serem
trabalhados. Podem também, ajudá-lo a avaliar a adequação desses conteúdos, colaborando para um planejamento
mais afinado com as necessidades do grupo de crianças.
Quando se aborda a questão da avaliação em Artes Visuais, surge inevitavelmente a discussão sobre a possibilidade
de realizá-la, posto que as produções em artes são sempre expressões singulares do sujeito produtor e, sendo assim,
não seriam passíveis de julgamento.
Em Artes Visuais a avaliação deve ser sempre processual e ter um caráter de análise e reflexão sobre as produções
das crianças. Isso significa que a avaliação para a criança deve explicitar suas conquistas e as etapas do seu processo
criativo; para o professor, deve fornecer informações sobre a adequação de sua prática para que possa repensá-los e
estruturá-los sempre com mais segurança.
São consideradas como experiências prioritárias em Artes Visuais realizada para as crianças de zero a três anos: a ex-
ploração de diferentes materiais e a possibilidade de expressar-se por meio deles. Para isso é necessário que as crianças
tenham tido oportunidade de desenhar, pintar, modelar, brincar com materiais de construção em diversas situações,
utilizando os mais diferentes materiais.
A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que tenham tido muitas oportunidades, na instituição de educação
infantil, de vivenciar experiências envolvendo as Artes Visuais, pode-se esperar que as crianças utilizem o desenho, a
pintura, a modelagem e outras formas de expressão plástica para representar, expressar-se e comunicar-se. Para tanto,
é necessário que as crianças tenham vivenciado diversas atividades, envolvendo o desenho, a pintura, a modelagem
etc., explorando as mais diversas técnicas e materiais.

OS PROCESSOS DE RELAÇÃO COM OBRAS DE ARTE E DAS CRIAÇÕES E AUTORIA DAS


CRIANÇAS, JUNTO ÀS VÁRIAS FORMAS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA EXISTENTES: ARTES
VISUAIS, PLÁSTICAS, LITERATURA, MÚSICA, DANÇA, TEATRO, CINEMA.

Fundamentos da arte

Para pensar sobre a história da arte devemos relacionar à cultura dos mais variados povos existentes no mundo.
Cada representação artística, as manifestações da criatividade humana: pintura, escultura, arquitetura, etc., através da
qual o ser humano expressa suas ideias, emoções e forma de ver o mundo tem seu objetivo, atravessa os tempos se
modificando, criando e contando o passado e recriando o presente.
A história da arte, assim como os relatos históricos, ajuda a compor a história da sociedade. Todo conhecimento
que se tem até hoje, foi reunido graças aos esforços de historiadores, antropólogos, arqueólogos, artistas, filósofos,
linguistas e outros estudiosos que se empenharam na busca e no registro das manifestações artísticas.
O estudo da história da arte nos mostra as atividades artísticas realizadas pelo homem ao longo dos anos, ela
acompanha o desenvolvimento da história da humanidade revelando as opiniões, emoções e ideais dos povos e cultu-
ras de acordo com seu tempo, com o objetivo de compreender as manifestações que foram e estão sendo realizadas
até hoje.
Para documentar e manter os registros seguindo as descobertas e a evolução, a história da arte é organizada em
períodos que acompanham o próprio desenvolvimento das civilizações é um processo contínuo que registra diaria-
mente o que estamos vivendo.
Os períodos em que está dividida, equivalem à divisão cronológica do percurso da humanidade, já que sua trajetó-
ria se confunde com a própria história do homem.  Assim temos manifestações artísticas presentes na Pré-História, na
Antiguidade e nas Idades Média, Moderna e Contemporânea.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

63
Veja a linha do tempo da arte:

A arte está presente na nossa história, com ela compomos o percurso de uma sociedade, se pensarmos que o
homem sempre criou, inventou ou reinventou objetos para ajudar a superar suas necessidades e vencer desafios po-
demos definir a arte como fruto da criação do homem e de seus valores junto a sociedade. Ela é uma necessidade que
faz o homem se comunicar e refletir sobre as questões sociais e culturais dentro da sociedade.
A arte nos chama a olhar a olhar além dos interesses imediatos, para valorizar o nosso ser e o nosso destino, ela nos
leva a assumir amplamente a nossa identidade não apenas como indivíduos pertencentes a uma sociedade em deter-
minado tempo ou lugar, mas nos voltando para as necessidades sociais e culturais, aprendendo a observar, a explorar
e, principalmente, a valorizar a convivência, os encontros e a riqueza das relações sociais.
A Arte é uma das possibilidades que tem o educando de relacionar-se com o meio social de forma mais prazerosa.

Tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil

No ambiente escolar, a disciplina de artes é uma atividade que o aluno pode expressar seus sentimentos e emoções,
por meio da pintura plástica, escultura, cinema, teatro, dança, música, arquitetura ou outros. A arte, está ligada ao senso
estético e criada a partir de percepção, emoção e ideias.
A escola é o espaço destinado ao planejamento dessas atividades, produção e execução desses trabalhos voltados
para o desenvolvimento das expressões artísticas dos alunos.
Como defendem os Parâmetros Curriculares Brasileiros (PCNs), é papel da escola “ensinar a produção histórica e
social da arte e, ao mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade de imaginar e edificar propostas artísticas pessoais ou
grupais com base em intenções próprias.”
Quando se fala em escola, não se restringe apenas a denominação do espaço físico que ela possui, vai além, deve
se contar todo um aparato técnico e pedagógico proporcionado por sua comunidade, que é composta de professores,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

coordenador pedagógico, diretor, alunos e pessoal de apoio, todos os atores que a fazem funcionar.
A arte faz parte do currículo do sistema educacional de todos os países. Muitas pessoas têm a ideia de que a arte
auxilia as crianças a obter habilidades motoras, e por isso faz parte do currículo. Se por um lado isto é verdade, por
outro as competências e habilidades obtidas por meio do ensino dela vão muito além.
O ensino de arte é sugerido e indicado desde as primeiras idades, pois abrange diversos segmentos que estimulam
e contribuem para o desenvolvimento das crianças, como música (som, altura, duração, timbre, intensidade, densida-
de), plástica (forma, cor, linha, plano, volume, textura), teatro (representação de texto, personagem, caracterização,
cenografia, sonoplastia, iluminação), arte circense, literatura, poesia e outros.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que o estudo da Área Curricular Arte se divida em: Música, Artes
Visuais, Teatro e Dança.

64
Um aluno que teve a sua competência artística bem Para estimular o estudante a usar a sua criatividade
trabalhada e/ou explorada, será capaz de perceber sua nas produções, é importante oferecer a ele uma ampla
realidade cotidiana mais vivamente, podendo criar con- variedade de materiais e ensinar pequenas técnicas, por
dições para conquistar uma finalidade de vida melhor, ou exemplo, a de misturar as cores. O objetivo não é a for-
seja, dará funcionalidade ao que aprende. mação de artistas profissionais, mas sim de alunos que
O acesso à cultura e educação torna a vida das pes- se enxerguem como construtores e participantes da sua
soas mais fácil, pois a ajuda a entender o mundo à nossa própria aprendizagem de forma criativa.
volta, os fatos, a história e a realidade. Todas as ciências O que é considerado belo pela maioria das pessoas é, na
que permeiam o conhecimento do homem devem ser verdade, uma repetição de padrões, muitos deles arbitrários.
oferecidas como forma de educação, a arte é uma maté- O belo pode estar em qualquer coisa; na singularidade ou no
ria fundamental para fortificar o ensino e o conhecimento que é considerado fora do padrão estético. Com o aluno ten-
em outras áreas, uma vez que a arte pode ser relacionada do consciência disso, ele se torna mais inclusivo no sentido
com a ciência, com a psicologia, com a História e etc. de aceitar o que é diferente, se abrindo à diversidade.
Na rede de educação no Brasil, a arte é pouco divul- É preciso analisar as tendências pedagógicas que in-
gada, ensinada, promovida e aceita pela sociedade, isso fluenciaram e continuam influenciando o ensino-apren-
porque a Educação no país falhou em ensinar nas esco- dizagem da arte, para avaliar e escolher qual a prática
las sobre a história da arte, fazendo disso uma faculda- educativa mais adequada a utilizar.
de exclusiva do conhecimento. O resultado é que a arte Infelizmente é possível afirmar que é grande o nú-
não faz parte do nosso conhecimento, fica excluída do
mero de professores que desconhecem essa caminhada
nosso cotidiano, uma vez que não criamos o hábito de
histórica e, por isso terminando sem saber que tipo de
apreciar a arte. E como apreciar algo sobre o qual não
sociedade e de cidadão querem preparar para o futuro.
entendemos? A arte passou e passa, ainda, a distância,
Sendo assim, fica difícil mudar as concepções de ensino e
nas escolas e no ensino. Hoje, vemos que o resultado é
aprendizagem da arte, que continuam presentes de for-
uma população que considera a arte como sendo algo
ma mesclada na sociedade, provocando um emaranhado
para os privilegiados e para a elite.
de posturas e uma grande confusão tanto na cabeça dos
O  ensino de artes ajuda a criança a expressar seus
alunos como na dos próprios professores.
sentimentos. Por meio da arte, expressão artística e suas
Portanto, cabe aos professores de arte permanece-
diversas linguagens não-verbais (pintura, desenho, mú-
rem vigilantes e atentos, para que saibam escolher cor-
sica, teatro, escultura), livres por natureza, é possível en-
retamente e não terminem sem saber a serviço de quem
tender a criança e conscientizá-la de que ela tem uma
voz que merece ser ouvida. querem estar desenvolvendo o ensino e a aprendizagem
Assim, de uma forma subjetiva e ao mesmo tempo da arte.
objetiva, é possível trabalhar uma série de outros temas
relacionados às disciplinas do currículo básico, enrique- A PRÁTICA DOCENTE: PROFISSIONAL,
cendo a aprendizagem. ESTÉTICA, ÉTICA, SOCIAL, HUMANA E
As artes têm um papel muito importante na formação DIALÓGICA COM O OUTRO.
integral do aluno, já que são capazes de transformar o
estudante por meio da magia, da fantasia, da descoberta
e da aventura, possibilitando o desenvolvimento da sen- Ser professor: formação, saberes e desafios para
sibilidade e da criatividade desde os primeiros anos de a profissão
vida da criança.
A arte implica em utilizar competências cognitivas, Sabemos que a formação formal de um professor ini-
sociais, motoras, dentre outras, para alterar e recombi- cia-se nas instituições credenciadas para isso e que ele
nar os aspectos da vida como um todo, pois para criar é praticamente não é um agente produtor de seus próprios
necessário sentir a plenitude do ser, que está sempre em saberes, já que não participa ou colabora nas escolhas
mudança, permite encontrar o belo em qualquer lugar das disciplinas, ou seja, do conteúdo do currículo do seu
que seja. curso. Sendo passivo, segue os modelos que a instituição
O pensamento, a imaginação, a percepção e a sensi- dá, de acordo com o momento histórico - político - social
bilidade de uma criança devem ser trabalhados de forma em que se encontra.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

integrada, favorecendo o desenvolvimento das suas ca- Basta lembrarmo-nos que há alguns anos atrás, tínha-
pacidades criativas, de acordo com a faixa etária. mos professores instruídos pelas universidades, atuando
Ao trabalhar com as artes visuais, é importante en- de uma forma que exigia somente o domínio da técnica,
pois sua função principal era mediar a relação Estado e
volver o aluno em um contexto social para que ele or-
comunidade, transmitindo os ideais daquele, no meio
ganize as ideias, invente, crie e construa a linguagem da
desta, conforme Guimarães(2004) “esse processo se deu
arte por meio das várias leituras do mundo. Para tanto, é
na esteira de maior produtividade escolar, por meio da
fundamental que o professor compreenda como se dá o
racionalização ou, mais propriamente, da burocratização
processo de criação de cada faixa etária, para que possa
do trabalho e da participação do processo ensino/apren-
propiciar aos alunos a oportunidade de crescer por meio
dizagem.”
de suas experiências artísticas.

65
Após mudanças políticas, viu-se uma brecha para que Os saberes necessários para a prática docente são ad-
discussões em torno desse tema questionassem essa for- quiridos por fases, onde a primeira se dá com a própria
ma de ensinar, tendo destaque, segundo Guimarães “o vivencia do profissional, já a segunda acontece durante a
enfoque de formação de professores denominado ensi- formação profissional de forma sistemática e a terceira é
no com pesquisa” A partir desse momento vemos que concretizada com a prática, ou seja, após o término da for-
os saberes docentes voltam-se para o lado mais huma- mação, que é onde o professor vai mostrar o que apren-
no, preocupando-se com o indivíduo como sujeito ativo, deu juntamente com os saberes construídos ao longo de
embora não abandonasse aspecto daquela prática ba- sua vida.
seada na técnica . (...) o saber docente se compõe, na verdade, de vários
Segundo Guimarães “essa prática presente na maioria saberes provenientes de diferentes fontes. Esses saberes
das escolas reproduz, em grande parte, a estrutura dos são os saberes disciplinares, curriculares, profissionais e
cursos de formação e os processos formativos hoje pre- experiências. (Tardif, 2002. p.33)
dominantes nas licenciaturas??. Esses saberes são originados desde o momento em
A formação do docente também dar-se de forma que se decide por esta profissionalidade, ou seja, quando
continuada, Guimarães citando Pérez Gomes afirma passa a viver situações educacionais cotidianas. O pro-
que “compreende-se que formação inicial e contínua se fissional da educação, mais especificamente o professor
vinculam, constituindo-se num continuum formativo”, precisa estar em comunhão com o seu local de trabalho,
como, muitas vezes, as formações continuada que os assim como qualquer outro profissional, para que haja,
professores participam são promovidos pelas secretarias um rendimento de metas, onde os objetivos sejam reali-
de educação, a formação deste profissional traduz o que zados. Desta maneira coloca-se a questão de se trabalhar
Guimarães (2004) chama de “ideário do custo-benefício em gestão, que acontece a partir do momento em que os
e da viabilidade para o mercado” ou seja, a atuação do profissionais passam a realizarem ações em comunhão,
docentes nas escolas tornas-se semelhante as dos mo- ao mesmo tempo em que assumem compromisso com
delos empresariais. a Escola.
E é nesse ponto que entra outra questão a de iden-
Deste modo é necessário que o ambiente de trabalho
tidade docente. Mas, antes é preciso lembrar que a for-
seja aconchegante, construtivista e democrático, pois é
mação continuada também depende muito do interesse
onde entra a concepção do novo Currículo Escolar que
do profissional, que deve ir a busca do aperfeiçoamento,
vem juntamente com a visão democrática para ser apli-
participando de conferências, palestras, cursos e outros.
cado, esperando assim que haja um maior acompanha-
Enfim, procurar atualizar seus saberes didáticos, pedagó-
mento da sociedade em relação à educação, ou seja,
gicos e disciplinares.
passe a aumentar a ligação já existente entre a Escola e
No entanto, é justamente quando ele investe me-
nos nele mesmo, acomodando a sua prática, o seu sa- a Sociedade.
ber fazer. Com isso, a identidade docente acaba sendo Contudo sabe-se que se o local de trabalho não é
menosprezada, não tendo status de profissão que me- aprovado pelo profissional, pode ocorrer uma série de
reça prestígio, como diz Guimarães (2004) ela é vista, situações desagradáveis, como a incoerência de ações,
“a identidade da profissão docente como um “que fa- impedindo que o modelo de gestão seja concretizado.
zer” de baixa aspiração profissional, a ser desenvolvido Esse ambiente é refletido tanto na formação do professor
por pessoas cordatas e generosas??. Ainda segundo o quanto na Instituição de ensino.
autor “tornar o professor um “profissional” passa, ne- Um aspecto que também caracteriza a docência é a
cessariamente, por maior qualificação”, pois citando falta de preocupação pela forma como os docentes e os
Perrenoud, ele afirma também que “uma sociedade só discentes se integram no ensino. A inserção profissional
estará pronta a pagar a profissionalização pelo seu pre- no ensino é o período de tempo que abarca os primeiros
ço justo quando as tarefas cumpridas lhe parecerem anos, nos quais os professores tratam de realizar a tran-
bastantes importantes para merecerem tal esforço??. sição de estudantes a docentes. É um período de tensões
Com isso, podemos concluir que a identidade docente e aprendizagens intensivas, em contextos geralmente
não é o que se espera que ela seja, pois não é como uma desconhecidos, e durante o qual os professores princi-
teoria que se cria, e sim como a profissão de docente piantes devem adquirir conhecimento profissional, além
é vista e interpretada pela sociedade. Afirma Guimarães de conseguirem manter o equilíbrio pessoal.
citando Sacristán, “a profissionalidade docente é (...) a (...) definimos a inserção com a transição de um pro-
afirmação do que é especifico na ação docente, isto é, o fessor em formação até chegar a ser um profissional au-
conjunto de comportamento, conhecimento, destrezas, tônomo. A inserção pode ser mais bem entendida como
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

atitudes e valores que constituem a especificidade de ser uma parte de um contínuo processo de desenvolvimento
professor”. profissional dos professores. (Vonk, 1996, p.115).
Não podemos deixar de levar em consideração que A representatividade social que a formação docen-
identidade docente aqui citada é a identidade que Gui- te apresenta quanto ao bom desempenho do professor
marães diz aproximar-se do conceito de identidade para diante de seu cenário de atuação profissional, conside-
os outros, que por sua vez, aproxima-se do conceito de rando as crescentes demandas nas exigências sociais,
profissionalidade docente. Também não podemos deixar tem sido um dos pontos nos quais se situa o discurso
de lembrar que a identidade profissional de quem ensina dos espaços educacionais. Quanto se trata de discutir a
não é gerada espontaneamente nos cursos de formação, necessidade do professor se atualizar, muitas são as jus-
mas que ala constitui-se no professor durante toda sua tificativas que surgem tentando programar e solidificar,
trajetória de vida pessoal, universitária e profissional. cada vez mais, uma atuação concreta para o trabalho do-

66
cente. Por se tratar de um momento em que acontecem O professor não pode parar no tempo, nota-se que há
avanços advindos do desenvolvimento econômico e das uma necessidade de estar na constante busca de se aper-
múltiplas alterações que decorrem no meio social, a or- feiçoar através de pós-graduação, palestras, pesquisas,
ganização do trabalho educativo alcança novos paradig- lendo livros. Como profissional da educação o mesmo
mas e alterações diversas, reclamando o reencontro de sabe que os saberes são temporais, que estão em cons-
seres pensantes e atuantes na perspectiva de construir tantes mudanças, desse modo achar que sabe de tudo
respostas educacionais que correspondam aos objetivos para ser um bom profissional é um erro que não pode
sócio-educacionais vigentes. mais cometido.
Art. 61. A formação de profissionais da educação, de Os vários setores da atividade humana passam por
significativas mudanças que se concretizam em novas
modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e mo-
configurações da ordem econômica e política relaciona-
dalidades de ensino e às características de cada fase do
da ao conhecimento, às vinculações pessoais, às comu-
desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: nicações, entre outras, que trazem conseqüências mui-
I - a associação entre teorias e práticas, inclusive me- to diretas para a educação escolar. (GUIMARÃES, 2004,
diante a capacitação em serviço; p.27).
II - aproveitamento da formação e experiências ante- Segundo Guimarães (2004) essas mudanças afetam
riores em instituições de ensino e outras atividades. (LDB diretamente os professores, não somente no âmbito do
1996) conhecimento, mas também da ética, estando em jogo
Nesse pressuposto, a formação continuada se faz elo entendimentos, convicções e atitudes necessárias ao
entre a profissão e a construção da identidade do educa- processo de preparação de crianças e jovens. O profes-
dor a formalizar a dinâmica social do trabalho docente, sor tem por obrigação estar atento e aberto às mudanças
especialmente pelo seu caráter conjunto e pela intera- tecnológicas. Do contrário o choque de mundo entre o
ção da classe educativa visando à melhoria da qualidade docente e o discente (que já é grande) pode formar um
do ensino, rumo ao alcance dos seus objetivos, os quais abismo que torne a aprendizagem uma utopia.
A atividade profissional do professor pode ser carac-
retratam como função social para a escola a instrumen-
terizada como uma atividade de mediação não só entre o
talização de um ensino no qual se vivencie a garantia de
aluno e a cultura, mas também entre a escola, pais e alu-
uma educação para a vida, ou seja, o que se aprenda na nos, Estado e comunidade, etc. Esse caráter de mediação
escola seja útil na vida fora da instituição. (...) justifica os investimentos de organismos diversos na
Assim a profissão docente, mesmo diante das mu- configuração de uma identidade do professor na socie-
danças ocorridas na educação nas últimas décadas, ainda dade. (GUIMARÃES, 2004, p. 32).
é muito desvalorizada e desacreditada. Fato esse que já Os pais, as crianças, os adolescentes mudaram. A so-
começa no curso de formação inicial, onde muitos es- ciedade mudou. Vivemos rodeados pelas drogas, pedo-
condem ou sentem receio de falar que estão cursando filia, prostituição, delinquência, desestruturamento fami-
Pedagogia (por exemplo) na universidade. liar. O docente convive com diferentes realidades dentro
Atualmente, a educação tem se tornado alvo de aten- da escola, ignorá-las levaria nossa educação a um pro-
ção das políticas públicas, pois se percebeu que a mesma cesso de estagnação ainda maior do que o presenciado
é imprescindível para o crescimento e desenvolvimento atualmente.
de toda nação. De acordo com Guimarães (2004) as atividades de-
senvolvidas pelo professor são amplas e complexas e
O investimento na formação é um ponto de partida
ecoam de maneiras diferentes para cada aluno, de acor-
que apresenta possibilidades de melhoria da profissio-
do com a singularidade dos contextos, da experiência e
nalidade e de um significado diferente para a profis- da história de vida de cada um. É imprescindível que o
sionalização e o profissionalismo docentes, bem como professor conheça a realidade em que o aluno se encon-
possibilidade para a ressignificação da sua identidade tra, onde o mesmo deve trazê-la para sua sala de aula,
profissional nesse contexto pródigo em mudança de na- para que o educando a reconheça e lhe dê a importância
tureza variada. (GUIMARÃES, 2004, p. 27). de um mundo que precisa ser mudado e não ignorado,
Vários projetos e novos modelos educacionais foram instigando-o a sentir prazer em aprender.
implantados na escola. Mudanças também ocorreram
dentro das universidades, na formação do docente. E o Ser professor na contemporaneidade
professor que há anos leciona como fica diante de tantas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mudanças? É preciso capacitá-lo e prepará-lo para que Nas ultimas duas décadas muitas transformações
essa quebra de paradigma ocorra, mas sem causar danos ocorreram no panorama da educação brasileira e na pro-
ao profissional. fissão do professor. Muitas são as discussões sobre esta
profissão que esbarra em concepções sobre o trabalho
Afirmar o direito da pessoa humana à educação é as-
que o professor exerce, muitas vezes relacionado a uma
sumir uma responsabilidade muito mais pesada do que
atividade meramente técnica, subordinada ao conhe-
assegurar a cada um a capacidade de ler, escrever e con- cimento produzido pelos cientistas. Essas concepções
tar. É garantir a toda criança o inteiro desenvolvimento estão relacionadas à perspectiva tradicionalmente prati-
de suas funções mentais e a aquisição de conhecimentos cada pelas instituições de formação de professores, que
e valores morais correspondentes ao exercício de suas deixa evidente a dicotomia entre o trabalho docente em
funções, até adaptação à vida social atual (PIAGET 2007) relação às atividades de pesquisa.

67
Outra discussão relevante está na tradicional concep- fessor enfrenta a profissão com uma atitude de desilusão
ção da vocação do professor, que historicamente teve o e de renúncia. A imagem social não é fator determinan-
seu trabalho caracterizado como missão. Ser professor te na aquisição da identidade profissional do professor.
sempre foi uma tarefa difícil, que exige deste profissional Contudo, é um dos aspectos que favorecem a elaboração
ser um modelo de virtudes, capaz de mudar os compor- coletiva da identidade profissional do professor.
tamentos e atitudes. O processo de construção da identidade é assunto
Houve um tempo que ser professor era comparado a na pauta de discussões de sociólogos, psicólogos e an-
ser sacerdote do saber, era a manifestação de uma voca- tropólogos a respeito da definição e o próprio processo
de formação da identidade. Segundo esses estudiosos tal
ção ou missão transcendente, não o exercício de um ofí-
formação é um processo interno ao indivíduo, mas que
cio, uma profissão. Entretanto se educar é missão, é dom
ocorre de acordo com sua cultura e categoria social, e
torna-se incoerente e desnecessário exigir que o profes- tem início na fase infantil, já que as crianças assimilam
sor invista em sua formação acadêmica e continuada. traços e características de pessoas e objetos externos.
Nesse sentido a profissão docente apresenta duas Dito isto, é possível definir identidade como um con-
especificidades que nos parecem diferenciá-la das de- junto de características pelas quais alguém pode ser re-
mais. A especificidade acadêmica que trata dos saberes conhecido.
e do saber fazer, que remete à transmissão, ao ensino de Sob a ótica sociológica, identidade pode ser definida
conhecimentos, técnicas e seu emprego, o profissiona- como características distintivas do carácter de uma pes-
lismo. Por outro lado, há a especificidade pedagógica / soa ou o carácter de um grupo que se relaciona com o
humanista que nos remete à vocação do formar cidadãos que eles são e com o que tem sentido para eles. Giddens,
pensantes transformadores de realidades. Com isso, e (2004) afirma que, o nome é um marcador importante da
baseado nas ideias de Morin (2001) é possível classificar identidade individual, e dar um nome é também impor-
a profissão de professor como uma profissão comple- tante do ponto de vista da identidade do grupo. O gêne-
xa, caracterizada pela incerteza e pela ambiguidade das ro, a orientação sexual, a nacionalidade ou a etnicidade,
funções. e a classe social são as principais fontes de identidade.
Diante das implicações, dos desafios e conflitos que A identidade pessoal é singular ao sujeito através de
permeiam a função docente, e perante a complexidade interações sociais, da consciência e das estruturas sociais
em que o sujeito está inserido. Todavia, a identidade pes-
da educação no contexto da sociedade contemporânea,
soal não é estática, há a possibilidade de mudança de
globalizada, multiculturalista, imersa numa realidade
acordo com as sucessivas fases da vida. Vianna (1999, p.
complexa, requer do professor ações e conhecimento 52) ressalta
polivalente. A identidade é um processo de construção histórica
Pedro Demo (2004) em uma reportagem para a revis- reajustada ao longo das diferentes etapas da vida e de
ta Profissão Mestre, afirma que ser profissional da edu- acordo com o contexto no qual a pessoa atua, uma cons-
cação hoje é acima de tudo saber continuamente renovar trução que exige constantes negociações entre tempos di-
sua profissão. versos do sujeito e ambientes ou sistemas nos quais ele
Entende-se então que o professor enquanto profis- está inserido.
sional deve ser um eterno aprendiz e sendo capaz de re- Percebe-se aqui que a aquisição da identidade pes-
fletir sobre sua prática diária, pois na verdade, não só no soal precede à profissional, perpassando pela social e se
trabalho, mas em todos os aspectos da vida. Com isso solidifica a partir de identificações infantis que são re-
constata-se que o professor nunca está pronto, acabado, tomadas na adolescência. Entretanto, a identidade pro-
mas, sempre em processo de (re) construção de saberes. fissional do professor não deve ser confundida com a
Dessa forma, ao refletir sobre a função do professor identidade social.
como um profissional da educação que contribui para Partindo dessa perspectiva, Pimenta (2002, p. 07) de-
uma transformação qualitativa da sociedade, há de se fine
considerar a presença da responsabilidade político-so- Que a identidade profissional do professor se constrói
a partir da significação social da profissão [...] constrói-se
cial na docência, haja vista que, a formação do cidadão
também, pelo significado que cada professor, enquanto
perpassa pela dimensão da formação política, pois esta
ator e autor, confere à atividade docente de situar-se no
propicia formar cidadãos críticos e transformadores. mundo, de sua história de vida, de suas representações, de
Como dito anteriormente, ser professor não é uma seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que
vocação, embora alguns a tenham, não é uma técnica, tem em sua vida: o ser professor. Assim, como a partir de
embora requer uma excelente operacionalização técni- sua rede de relações com outros professores, nas escolas,
co-metodológica. É ser um profissional de ensino, com-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nos sindicatos, e em outros agrupamentos.


petente, legitimado por um conhecimento específico A construção da identidade profissional docente pas-
exigente e complexo. sa por dificuldades relevantes em sua constituição, seja
em relação às dificuldades impostas pelo novo contexto
Identidade profissional do professor educacional e social da contemporaneidade, seja pelo
legado histórico da profissão. Afirmar-se enquanto pro-
A imagem do professor passa por mudanças signi- fissional da educação é algo relativamente novo entre os
ficativas no decorrer do tempo e isso faz com que este próprios professores, talvez pelo fato de historicamente
redefina seu papel e sua função de acordo com as mu- ser disseminada a ideia de que a imagem do professor é
danças que alteram as relações de seu trabalho. E em uma extensão da família, que deve dedicar-se com afinco
paralelo com a degradação da sua imagem social o pro- a cuidar e zelar pelo bem estar das crianças e jovens.

68
Souza (2005) indica duas concepções sobre a profis- Arroyo (2000) apresenta um dos entraves que o pro-
são do professor, uma em que são valorizados os conhe- fessor enfrenta na contemporaneidade é a descaracteri-
cimentos formais, codificados e transmissíveis, atestados zação e desprofissionalização do professor. E ele enfatiza
por títulos universitários, e outra em que a profissão é a redução dos mestres a ensinantes. Para este autor, é
construída no processo de trabalho, experiência, qualida- fundamental um redimensionamento do ofício do pro-
des pessoais, trabalho em grupo e solidariedade nas re- fessor e de sua identidade e esta nova identidade “tende
lações de trabalho. As duas dimensões resultam em for-
a ser afirmada frente à nova descaracterização da escola
mas identitárias distintas com relação ao ser professor.
e da ação educativa” (p. 22). Esse aspecto fatalmente re-
A forma como o docente reconhece a profissão difere
entre a própria categoria. Dito desta forma, o autor sa- percute na identidade profissional, podendo ser fator de
lienta que parece haver um consenso entre os docentes crise.
de que a profissionalização do professor é construída na A crise de identidade e a crise da profissão docente
articulação entre a experiência, a didática e a flexibilidade apresenta uma relação muito estreita, com limites mui-
de transitar em diferentes assuntos de uma determinada to tênues entre os aspectos que as caracterizam. Assim
área de conhecimento. como o professore se demonstra confuso em muitos as-
Diante do exposto até aqui, pressupõe-se que a cons- pectos, em muitos momentos surgi um profissional com
trução e afirmação da identidade do professor enquanto a profissionalidade abalada, mal definida, em conflito
profissional é processual, subjetiva, correspondente às com uma autoimagem pouco expressiva e desvalorizada.
trajetórias individuais e sociais, com a possibilidade de Nesse contexto, a profissão docente necessita de um
construção / desconstrução / reconstrução, atribuindo processo de profissionalização para a partir dele, deixar
sentido ao trabalho e centrado na imagem social que se aflorar uma profissionalidade bem resolvida, e conse-
tem da profissão e legitimada a partir da relação de per-
quentemente, uma identidade mais clara e definida que
tencimento a uma determinada profissão.
repercutirá significativamente no devir das práticas do-
Crise da identidade profissional: descaracterização centes e das atividades diárias existentes no contexto
e desprofissionalização escolar e educativo.

Partindo do pressuposto que toda profissão afirma Desafios de ser professor na contemporaneidade
uma identidade, identidade profissional do professor é
uma maneira de ser professor. Nesse sentido, ao expor Nas últimas décadas, em decorrência das mudanças
crise da identidade profissional do professor, é expor sociais, econômicas e culturais, o mundo todo tem pres-
uma crise na maneira e no jeito de ser professor. tado mais atenção na educação, especialmente a que se
Esse caminho aparenta ser excessivamente tortuoso, desenvolve nos sistemas escolares, submetendo-a a uma
se não for considerada que a ação profissional do do- análise pública constante, e educar tem se tornado uma
cente está condicionada por uma série de outros fatores tarefa cada vez mais exigente e de enorme responsabili-
e inserida num processo muito mais amplo que o seu
dade. E isso requer equilíbrio e coerência entre orienta-
espaço / tempo de atuação. Vale evidenciar a não pre-
tensão de ignorar os problemas advindos das dificulda- ção formativa, procedimentos pedagógicos adaptados e
des na interação social com os grupos onde trabalha, a expectativas dos implicados no processo, o professor e
insatisfação com as condições de trabalho, a desvalori- o aluno.
zação social, sentimentos de insegurança em relação à Desempenhar essa tarefa com compromisso e qua-
sua integridade física afetam diretamente o trabalho do lidade exige, da parte do professor, reunir um conjunto
professor. Contudo, tais aspectos não podem ser os úni- de saberes e competências que lhe permitam a constru-
cos indicadores na análise de uma suposta crise de iden- ção de um ensino de qualidade. Os saberes do professor
tidade profissional do professor. Crenças, valores éticos e são construídos ao longo de toda uma carreira e vida do
morais, representações construídas / reconstruídas sobre professor, razão que justifica que não sejam contempo-
ser professor são outros indicadores. râneos uns dos outros, uma vez que se vão adquirindo ao
Assim posto, é preciso considerar que a formação de longo do tempo. São assim saberes temporais, em cuja
um professor, e consequentemente a construção de sua construção intervêm dimensões identitárias, de socializa-
identidade profissional, resulta de um processo de cons-
ção profissional, fases e
trução de múltiplas identidades que repercutem direta
mudanças, que se constituem num conjunto de co-
e significativamente no fazer docente. Concomitante a
isso, não se pode perder de vista outras implicações des- nhecimentos, competências, habilidades e atitudes. Na
ótica de Tardif (2008), o saber docente “relaciona-se com
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

se processo, como por exemplo, as políticas públicas e a


forma como o Estado lida com seus professores. a pessoa, com a sua identidade, com a sua experiência de
As reformas políticas educacionais implantadas pelo vida, com a sua história profissional, com as suas relações
Estado elaboradas sem nenhuma participação dos pro- com os alunos na sala de aula e com os outros”.
fessores cabendo a eles apenas executar, sem direito a Diante disso, não se pode falar em aprendizagem sem
refletir e discutir sobre relações que trarão conseqüên- falar no professor. O contexto social na contemporanei-
cias diretas para o seu trabalho vêm causando mudanças dade impõe a prática educativa um número de deman-
no cotidiano docente. O fazer do professor, sua autono- das muito grande, levando assim o educador do século
mia e a identidade docente, que também está intima- XXI a repensar a sua atuação ema sala de aula e os enor-
mente atrelada à instituição escolar, vêm sofrendo com mes desafios profissionais que enfrenta a fim de atender
essas decisões políticas da educação. as exigências do contexto atual.

69
Ao professor têm sido colocadas demandas de na- O professor do presente não pode ser apenas alguém
turezas bastante distintas. Em se tratando do ponto de que aplica conhecimentos produzidos por outrem, mas
vista social ele tem tido que aprender a conviver mais tenha de ser um sujeito que assume a sua prática peda-
intensamente com os interesses e pensamento dos alu- gógica a partir dos significados que ele próprio lhe atri-
nos e pais no cotidiano escolar e a ter uma maior intera- bui. Alguém que, porque teve uma míriade de vivências
ção com a comunidade onde a escola está inserida. No com significados determinantes, é capaz de estruturar
campo institucional, ele tem sido solicitado a participar e orientar a sua prática, selecionar determinados con-
mais ativamente nas definições dos rumos pedagógicos teúdos, dar prioridade a certas atividades e aprimorar a
e políticos da escola, a definir recortes adequados no competência de aprender a decifrar várias linguagens,
universo de conhecimentos a serem trabalhados em suas percorrer diferentes motivações humanas, ampliar o seu
aulas, a elaborar e gerir projetos de trabalho. Quanto ao leque de experiências. Alguém que é, sobretudo, capaz
aspecto pessoal, tem sido chamado a tomar decisões de de cultivar as diferenças, criar oportunidades para expan-
modo mais intenso sobre seu próprio percurso formador
dir o conhecimento, ampliar a convivência e a sensibili-
e profissional, a romper paulatinamente com a cultura
dade na formação do aluno e se configura como modelo
de isolamento profissional, a partir da ampliação da con-
de competências e de uma cultura de excelência numa
vivência com colegas em horários de discussões coleti-
vas e nos trabalhos em projetos, a debater e reivindicar diversidade de imagens e representações.
condições que permitam viabilizar a essência do próprio Estes conhecimentos tem se tornado como desafio
trabalho. a ser vencido pelo professor a fim de que este se torne
um profissional competente, o que no contexto educa-
Os pilares da educação e suas implicações à prática tivo atual comporta da sua parte, ter a capacidade de
pedagógica articular, mobilizar e colocar em ação os conhecimen-
O século XXI deixa evidente que os notáveis pro- tos adquiridos, as habilidades e os valores necessários
gressos científicos, tecnológicos e econômicos ocorri- pautados nos pilares da educação para que obtenha um
dos, relacionados a diferentes aspectos da globalização, desempenho eficiente e eficaz das atividades que a na-
provocaram profunda mudança ideológica, cultural, so- tureza do seu trabalho requer. São estas competências e
cial e profissional revelada em fenômenos de exclusão o desenvolvimento pessoal que no decurso da formação
social, persistindo as desigualdades de desenvolvimento devem ser estimulados numa perspectiva crítico-reflexi-
no mundo, os países que quiserem prosperar devem se va que o levará o professor a compreender as suas res-
comprometer com a educação e entender as transfor- ponsabilidades.
mações, porque elas vão ditar as competências, exigidas Vale ressaltar aqui a relevância da formação inicial,
não só em conhecimentos e habilidades no trabalho, mas continuada e em serviço como elemento de desenvol-
também relacionadas ao caráter e à personalidade. vimento pessoal e profissional do professor da contem-
Diante da tamanha aceleração no contexto social para poraneidade.
Delors, a prática pedagógica deve preocupar-se em de- A formação inicial e continuada do professor é o pri-
senvolver quatro aprendizagens fundamentais, que serão meiro passo para vencer os desafios da educação con-
para cada indivíduo os pilares do conhecimento: apren- temporânea e deve ser vista como uma necessidade de
der a conhecer que indica o interesse, a abertura para o mudança do paradigma de ensino, de um modelo pas-
conhecimento, que verdadeiramente liberta o indivíduo sivo, baseado na aquisição de conhecimentos, para um
da ignorância; aprender a fazer que mostra a coragem
modelo baseado no desenvolvimento de competências e
de executar, de correr riscos, de inovar, de reinventar, de
competências que atendam as necessidades dos alunos
errar mesmo na busca de acertar; aprender a conviver
levando em conta as mudanças aceleradas da sociedade
que traz o desafio da convivência que atualmente tem
se tornado algo bastante difícil e apresenta o respeito a em que este está inserido, com a finalidade de o levar a
todos e o exercício de ética e solidariedade como cami- aprender, a adquirir competências, a aprender a apren-
nho do entendimento e de boas relações; e, finalmente, der.
aprender a ser, que, talvez, seja o mais importante por Para conseguir desenvolver tais competências, Freire
explicitar o papel do cidadão e o objetivo de viver. (2008) defende que “é preciso que o formando, desde o
Os pilares são quatro, e os saberes e competências a princípio da sua experiência formadora, se assuma como
se adquirir são apresentados, aparentemente, divididos, um sujeito da produção do saber, se convença definiti-
porém essas quatro vias não podem, no entanto, disso- vamente de que ensinar não é transferir conhecimentos,
ciar-se por estarem intimamente ligadas, constituindo mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua
interação com o fim único de uma formação holística do construção”.
indivíduo. Outro desafio que atualmente é colocado ao profes-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A competência está na capacidade do sujeito para sor tem a ver com a multiplicidade do conhecimento e
mobilizar saberes, conhecimentos, habilidades e atitu- dos seus processos, exigindo assim do professor que sai-
des, resolver problemas e tomar decisões adequadas ba, sobretudo, dominar e compreender as novas lingua-
e não no fato de alguém possuir um elevado número gens e experiências, bem como saber articulá-las com
de saberes ou competências. Possuir conhecimentos ou outra competência, baseada no processo de mediação
capacidades específicas não é garantia de que um pro- e diálogo com os alunos. Processo em que o professor
fissional seja “competente”, porque apesar de muitos deve ter um papel essencial, para que a partir da sua in-
profissionais possuírem conhecimentos e capacidades termediação todos possam informar, comunicar, discutir,
importantes, nem sempre sabem mobilizá-los de modo participar, criar, estimular o acesso a novas linguagens,
adequado no momento oportuno levando em conside- como forma de ampliar o grau de compreensão e auto-
ração o contexto atual. nomia das vivências dos sujeitos.

70
Maior exigência quanto a responsabilidades, altera- Para Nóvoa (2006) dilema, entre outros conceitos, são
ção do papel do professor como fonte única de trans- decisões que só se consegue ponderar através do conhe-
missão, dificuldade de determinar o papel da escola e cimento e através dos valores. Pautado nessa afirmativa,
da educação escolar, reformas políticas que trazem im- cabe ao professor reestruturar seu trabalho, perante as
plícitos os papéis e deveres desses profissionais e que expectativas e pressões da condição social contempo-
mudam constantemente, mudanças nas expectativas rânea, que solicita a qualidade do ensino oferecido, en-
sociais e na função social da escola, sentimento de cul- frentando os dilemas com os quais o trabalho docente
pa, baixa autoestima e desvalorização docente, abalo na se depara.
segurança e autoconfiança do professor com relação aos Diante disso, é possível crer que o professor se sente
conteúdos que mudam constantemente, mudanças na só em alguns momentos de sua trajetória por conta do
relação professor-aluno, depreciação econômica e social conflito entre as suas concepções sobre ser professor e
da profissão, são desafios presentes no dia-a-dia do pro- sobre a relevância do seu trabalho e as expectativas dos
fessor contemporâneo. Além desses, conduzir as novas demais sujeitos que “atuam” na esfera escolar.
gerações a um futuro em que priorizem as virtudes em
detrimento dos vícios e prejuízos morais, do crime e da A Formação e a Prática
violência, a um futuro mais promissor, este é o maior de-
safio do educador atualmente. Há algumas décadas, acreditava-se que, quando ter-
Partindo da hipótese central dos desafios contempo- minada a graduação, o profissional estaria apto para
atuar na sua área o resto da vida. Hoje a realidade é di-
râneos à afirmação identitária e de poder da profissão
ferente, principalmente para o profissional docente. Este
docente, pode-se antever como diversos aspectos exter-
deve estar consciente de que sua formação é permanen-
nos (formação contínua, intervenção do Estado, repre-
te, e é integrada no seu dia-a-dia nas escolas. 
sentações sociais dos sujeitos envolvidos com a escola) e
O professor não deve se abster de estudar, o prazer
de natureza interna (relação professor-professor, profes-
pelo estudo e a leitura deve ser evidente, senão não irá
sor-aluno, professor-comunidade de pais, relações entre conseguir passar esse gosto para seus alunos“O professor
vida pública e vida privada) implicam drasticamente na que não aprende com prazer não ensinará com prazer. “
forma de constituição do “ser professor”. Snyders. (1990)
Percebe-se que, os tempos e espaços educacionais se São grandes os desafios que o profissional docente
modificaram e ampliaram, alterando profundamente os enfrenta, mas manter-se atualizado e desenvolver práti-
papéis e ações do professor, que passa, tal qual numa cas pedagógicas eficientes, são os principais.
fábrica taylorista, a ter seus tempos e seus fazeres con- Nóvoa (2002, p. 23) diz que: “O aprender contínuo
trolados por sujeitos externos ao processo escolar. é essencial se concentra em dois pilares: a própria pes-
Ao relacionar esses diversos aspectos pode-se visua- soa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento
lizar a rede de dilemas que se entrelaçam no processo de profissional permanente.” Para esse estudioso português,
formação de professores e na sua profissionalização. Po- a formação continuada se dá de maneira coletiva e de-
rém, apesar desse confuso contexto, percebe-se a exis- pende da experiência e da reflexão como instrumentos
tência de um núcleo identitário entre os professores que contínuos de análise.
se traduz na crença de que o professor tem que ensinar
com responsabilidade social. A relação sócio-interacionista
O professor deve estar envolvido no processo, pois A teoria do desenvolvimento intelectual de Vygotsky,
como destaca Villela (2006) o trabalho docente se torna sustenta que todo conhecimento é construído social-
mais intenso à medida que assume novos requisitos so- mente, no âmbito das relações humanas. Essa teoria, tem
bre as condições, a natureza e a organização do ensino, o por base o desenvolvimento do indivíduo como resulta-
que se caracteriza como um desafio para os professores. do de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel
Destaca-se ainda a necessidade de olhar às coisas da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimen-
de outra forma, a fim de considerar novas perspectivas, to, sendo essa teoria considerada, histórico-social.
para que seja possível adotar posturas mais abertas e O conhecimento que permite o desenvolvimento
mais compreensivas em relação aos desafios postos no mental se dá na relação com os outros. Nessa perspectiva
o professor constrói sua formação, fortalece e enriquece
trabalho docente. Dentre tais desafios, destacam-se as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

seu aprendizado. Por isso é importante ver a pessoa do


tecnologias acessíveis, disponíveis e adequadas, a in-
professor e valorizar o saber de sua experiência.
fraestrutura confortável, uma organização inovadora que
Para Nóvoa (1997, p.26): “A troca de experiências e a
possua um projeto pedagógico coerente e participativo,
partilha de saberes consolidam espaços de formação mú-
a preparação profissional nos aspectos intelectual, emo-
tua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar,
cional, comunicacional, eticamente e com boa remu- simultaneamente, o papel de formador e de formando.”
neração, condições de trabalho adequadas para estes O trabalho em equipe e o trabalho interdisciplinar se
profissionais, tempo para os profissionais pesquisarem e revelam importantes. Quando as decisões são tomadas
estudarem, assim como a importância do aspecto afeti- em conjunto, desfavorece, de certa forma, a resistência
vo na relação professor-aluno, a interdisciplinaridade e a às mudanças e todos passam a ser responsáveis para o
busca de soluções para os dilemas enfrentados. sucesso da aprendizagem na escola.

71
O trabalho interdisciplinar evita que os professores A proposta prático-reflexiva, propõe-se a levar em
conduzam seus trabalhos isoladamente, em diferentes conta esta série de variáveis do processo didático, seja
direções, pois a produção de práticas educativas eficazes, aproveitando, seja buscando um processo de metacog-
surge de uma reflexão da experiência pessoal partilhada nição, onde o professor perceba os efeitos de sua atua-
entre os colegas. ção na aprendizagem de seus alunos.
O sucesso profissional do professor, o espaço ideal
para seu crescimento, sua formação continuada, pode Formação e Valorização
ser também seu local de trabalho. A real valorização do magistério precisa ter três ali-
cerces sólidos: boa formação inicial, boa formação con-
O Professor como Prático-Reflexivo tinuada e boas condições de trabalho, salário e carreira.
Estudos apontam que existe a necessidade de que o A Universidade ocupa um papel essencial, mas não
professor seja capaz de refletir sobre sua prática e dire- o único, para a formação do professor. Ás universidades
cabe o papel de oferecer o potencial físico, humano e pe-
cioná-la segundo a realidade em que atua, voltada aos
dagógico para a formação acontecer no melhor nível de
interesses e às necessidades dos alunos.
qualidade.
Nesse sentido, Freire, (1996, p.43) afirma que: “É pen-
Não é raro encontrarmos profissionais que respon-
sando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se sabilizam a instituição pelo desajuste entre as informa-
pode melhorar a próxima prática.” ções recebidas e sua aplicabilidade. A formação só será
Para entendermos melhor esse aspecto, devemos re- completa quando esses profissionais se auto produzirem.
correr a Schön. Nóvoa (S/D) diz: “Os professores têm de se assumir como
Donald Schön, foi idealizador do conceito de Profes- produtores da sua profissão.”
sor Prático-Reflexivo, percebeu que em várias profissões, O desenvolvimento profissional corresponde ao curso
não apenas na prática docente, existem situações confli- superior somado ao conhecimento acumulado ao longo
tantes, desafiantes, que a aplicação de técnicas conven- da vida. Uma boa graduação é necessária, mas não basta,
cionais, simplesmente não resolvem problemas. é essencial atualizar-se sempre, isso remete a necessi-
Não se trata aqui de abandonar a utilização da técni- dade da formação continuada no processo da atuação
ca na prática docente, mas haverá momentos em que o profissional, ou seja, há a necessidade da construção do
professor estará em situações conflitantes e ele não terá saber, no processo de atuação profissional.
como guiar-se somente por critérios técnicos pré-esta- A valorização e melhor remuneração que o profissio-
belecidos. nal docente almeja, depende em boa parte de formação
Para Nóvoa (1997, p.27): e atuação profissional.
“ As situações conflitantes que os professores são obri-
gados a enfrentar (e resolver) apresentam características O professor pesquisador e sua prática.
únicas, exigindo portanto características únicas: o profis-
sional competente possui capacidades de autodesenvol-    Observa-se que ao longo do tempo a metodologia
vimento reflexivo (…) A lógica da racionalidade técnica aplicada pelos professores de diversas áreas vem sofren-
opõe-se sempre ao desenvolvimento de uma práxis refle- do transformações significativas, reduzindo aos poucos o
xiva.” método de ensino tradicional e tecnicista no desenvolvi-
Os bons profissionais lançam mão de uma série de mento de suas aulas e incorporando novos métodos de
estratégias não planejadas, cheias de criatividade, para ensino. Diante desses aspectos observamos que a partir
da implementação de práticas inovadoras, o professor
resolver problemas no dia-a-dia.
vem se habituando a novas tecnologias, buscando de-
Schön identifica nos bons profissionais uma combi-
ferentes formas de ensino e pesquisa a serem aplicadas
nação de ciência, técnica e arte. É esta dinâmica que pos-
tanto em sala de aula, como também fora dela.
sibilita o professor agir em contextos instáveis como o Tem-se conhecimento que a maior parte dos profes-
da sala de aula. O processo é essencialmente meta cog- sores não procura a pesquisa educacional para instruir
nitivo, onde o professor dialoga com a realidade que lhe e melhorar as suas práticas (MITCHEL, 1985; COOKSON,
fala, em reflexão permanente. 1987; GURNEY. 1989; DOIG. 1994). Em decorrência dis-
Ora, para maior mobilização do conceito de reflexão so o envolvimento dos acadêmicos nos movimentos dos
na formação de professores é necessário criar condições professores como pesquisador tem sido, na sua maio-
de trabalho em equipe entre os professores. Sendo assim, ria, para produzir uma literatura acadêmica sobre a pes-
isso sugere que a escola deve criar espaço para esse cres- quisa de professores (MITCHEL, 1985; COOKSON, 1987;
cimento. GURNEY. 1989; DOIG. 1994) ou para produzir manuais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nesse sentido, Schön (1997, p. 87) nos diz que: e livros-textos para professores sobre como pesquisar
(…) Nessa perspectiva o desenvolvimento de uma prá- (KEMMIS E METAGGART, 1988; ALTRICHTER ET AL., 1993),
tica reflexiva eficaz tem que integrar o contexto institucio- não usando o conhecimento que eles vêm gerando, atra-
nal. O professor tem de se tornar um navegador atendo à vés de suas pesquisas, para informar seus próprios traba-
burocracia. E os responsáveis escolares que queiram enco- lhos nas universidades. Em geral os pesquisadores têm
rajar os professores a tornarem-se profissionais reflexivos usado o processo de pesquisa-ação para estudar suas
devem criar espaços de liberdade tranqüila onde a reflexão próprias práticas, tendo em vista que a pesquisa-ação
seja possível. Estes são os dois lados da questão – aprender educacional é uma estratégia para o desenvolvimento
a ouvir os alunos e aprender a fazer da escola um lugar de professores e pesquisadores de modo que possam
no qual seja possível ouvir os alunos – devem ser olhados utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em
como inseparáveis.” decorrência, o aprendizado de seu alunado.

72
Segundo Brown (2001), pesquisa-ação é um termo todas as atividades que procuram desenvolver o pensa-
que se aplica a projetos em que os pesquisadores bus- mento reflexivo; competência prática onde o professor
cam efetuar transformações em suas próprias práticas. diferentemente do intuitivo, copia o que é bom, pouco
Portanto, qualquer tipo de reflexão sobre a ação é cha- cria, mas, ao selecionar, consegue boas cópias, alcança
mada de pesquisa-ação. resultados de qualidade e competência emocional. Ele
Dentro desse contexto, o professor busca aprimorar trabalha o conhecimento sempre com base no autoco-
seus métodos de ensino por meio da reflexão e pesquisa, nhecimento. Expõe suas ideias por meio do sentimento,
centralizando seus trabalhos e buscando o aperfeiçoa- provocando uma sintonia mais imediata.
mento de sua prática docente. Segundo Ivani Fazenda (2008)
O presente artigo tem como objetivo analisar e dis- Aprender a pesquisar, fazendo pesquisa, é próprio de
cutir acerca do conceito de professor pesquisador, tendo uma educação interdisciplinar, que, segundo nossos da-
em vista as necessidades e finalidades para sua formação dos, deveria se iniciar desde a pré-escola. Uma das pos-
sibilidades de execução de um projeto interdisciplinar na
e prática docente. Para tal reflexão este estudo consiste
universidade é a pesquisa coletiva, em que exista uma
em uma revisão bibliográfica na literatura acerca deste
pesquisa nuclear que catalise as preocupações dos dife-
assunto.
rentes pesquisadores, e pesquisas-satélites em que cada
um possa ter o seu pensar individual e solitário. Na pes-
Professor: educador ou pesquisador? quisa interdisciplinar, está a possibilidade de que cada
pesquisador possa revelar a sua própria potencialidade,
Desde o passado, a profissão docente sempre foi de a sua própria competência. (p. 10)
grande importância, como processo de socialização da A pesquisa no processo educacional está interligada
cultura e dos conhecimentos sistematizados nas diferen- ao aprendizado e reflexões sobre as práticas cotidianas
tes sociedades. Atualmente os professores tem que lidar fazendo a ponte entre os saberes populares e acadêmi-
não só com alguns saberes, como era no passado, mas cos, entre o que os alunos estudam e como percebem
também com a tecnologia e com a complexidade social dados deste estudo no âmbito familiar e grupos socie-
que exige cada vez mais reflexões e respostas imediatas tários. Neste sentido Zeichner apud Pimenta (2003) res-
aos problemas postos no cotidiano vivenciado por eles salta a importância de preparar professores para que as-
mesmos e pelos alunos. sumam uma atitude reflexiva em relação ao seu ensino
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases – LDB (1996), no e às condições sociais que o influenciam, reconhecendo
artigo 43, a educação superior deve incentivar o trabalho nessa tendência de formação reflexiva uma estratégia
de pesquisa e investigação científica buscando desenvol- para melhorar a formação de professores.
ver a ciência, a tecnologia, criação e difusão da cultura. Ser educador é formar seres pensantes que percebam
Desse modo, desenvolver o entendimento do homem que podem transformar as suas vidas e a de outras pes-
do meio em que vive, promovendo a divulgação dos co- soas. Paulo Freire (1985), em seus estudos relata que o
nhecimentos científicos e técnicos que compõem o pa- indivíduo deve saber sobre a sua realidade, para só então
trimônio da humanidade e comunicar o saber através do buscar transformá-la.
ensino, publicações ou outras formas de comunicação. O espaço de aprendizado é, portanto, um meio para a
Diante desse fato nos vem o seguinte questionamen- construção da consciência crítica, na interligação entre o
to: existe distinção entre professor e pesquisador? Em aprendizado a partir da realidade vivenciada e a interpreta-
uma análise mais criteriosa observamos que são profis- ção da sua condição de exploração. Trata-se de interpretar
para transformar e neste ponto a educação é a base para
sões que se interligam e que podem ser trabalhadas em
os sujeitos refletirem sobre seus processos e sua condição
conjunto, tanto um professor pode ser um pesquisador
como sujeito atuante na sociedade, diante disso, o capitulo
como um pesquisador pode ser um professor.
seguinte aborda uma conceituação e reflexão a cerca do
O professor é visto como aquele que coloca em práti- direcionamento do professor pesquisador.
ca o que diz os pesquisadores que seguem modelos clás-
sicos, desconhecendo a prática da sala de aula. Quan- Conceituando e refletindo o professor pesquisador
do um professor é também um pesquisador ele agrega
ao seu currículo um ponto positivo, pois consegue aliar Lima (2007), define o professor como o profissional
prática e teoria. Todo professor deve inovar em sua aula, que ministra, relaciona ou instrumentaliza os alunos
trazendo novas experiências e ensinando aos seus alunos para as aulas ou cursos em todos os níveis educacio-
vários processos de aprendizagem. Tal processo deve ser nais, segundo concepções que regem esse profissional
instigado desde sua formação acadêmica para ser base da educação e o pesquisador, como aquele que exerce
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

propulsora de um ensino de qualidade. a atividade de buscar reunir informações sobre um de-


As qualidades necessárias para um bom professor terminado problema ou assunto e analisá-las, utilizando
está nas dimensões que envolvem suas qualidades emo- para isso o método científico com o objetivo de aumen-
cionais, políticas, éticas, reflexivas e críticas, sobretudo tar o conhecimento de determinado assunto, descobrir
as de caráter do saber. De acordo com Fazenda (2008) algo novo ou contestar teorias anteriores.
é importante que o professor tenha quatro tipos dife- No que se refere ao papel do pesquisador ou do pro-
rentes de competências, caracterizadas por ele como: fessor-pesquisador ele afirma que “desde sua formação
competência intuitiva onde o professor não se contenta deve estar relacionado ao contexto e às práticas pedagó-
em executar o planejamento elaborado - ele busca sem- gicas e de ensino, então a ação reflexiva sobre a prática
pre alternativas novas e diferenciadas para seu trabalho; docente e a importância da utilização da pesquisa para
competência intelectiva na qual o professor privilegia tal, terá um sentido”, Lima (2007).

73
Tal afirmação nos leva a ideia de que a pesquisa deve informal todo o processo formativo como é o caso da
ser parte integrante do processo de formação acadêmica cultura e das representações que os docentes trazem
dos professores e consequentemente se refletirá no seu consigo e que, muitas vezes, são desconsideradas pela
processo de ensino. Ela é um componente necessário tan- origem de sua existência.
to para o aperfeiçoamento e inovação das aulas quanto A importância de realizar reflexões acerca das dife-
para o próprio aprendizado continuado do docente. rentes dimensões da formação e da prática docente e
Garcia (2009), afirma que o professor pesquisador se- saberes se faz por vários motivos, entre elas, as traje-
ria aquele professor que busca questões relativas à sua tórias formativas dos professores, a não valorização da
prática com o objetivo de aperfeiçoá-las. A partir disto cultura e das representações docentes como elementos
são apresentadas diferenças entre a “pesquisa do profes- de formação e posteriormente da produção da prática
sor” e a “pesquisa acadêmica ou científica”. No que diz pedagógica.
respeito à finalidade ela aponta que: De acordo com Pérez Gómez (1997) os modelos de
A pesquisa acadêmica tem a preocupação com a ori- formação vigentes em que se estabelece uma relação li-
ginalidade, a validade e a aceitação pela comunidade near e hierárquica entre o conhecimento científico e as
científica. A pesquisa do professor tem como finalidade o suas aplicações práticas, criando uma relação igualmente
conhecimento da realidade para transformá-la, visando à linear entre tarefas de ensino e processos de aprendiza-
melhoria de suas práticas pedagógicas e à autonomia do gem. O modelo de aquisição do conhecimento implícito
professor. Em relação ao rigor, o professor pesquisa sua é fator de orientação de ações e condutas do professor
própria prática e encontra-se, portanto, envolvido, dife- na sala de aula, funcionando, muitas vezes, como pon-
rentemente do pesquisador teórico. Em relação aos ob- to de referência para identificação do que é aprender e,
jetivos, a pesquisa do professor tem caráter instrumental consequentemente, de como ensinar.
e utilitário, enquanto a pesquisa acadêmica em educação Na educação atual se busca um professor que possa
em geral está conectada com objetivos sociais e políticos desmistificar o processo de ensino-aprendizagem, es-
mais amplos. (Garcia 2009, p. 177). tando disposto a modificar sua prática pedagógica para
O professor deve se preocupar em atingir da melhor melhora-la. Cabe ao professor estimular a curiosidade de
forma possível, seus objetivos buscando uma reflexão seu aluno, deixando-o livre para aventurar-se no mundo
junto aos alunos, sobre os desafios que permeiam o pro- do saber, respeitando sua autonomia e sua dignidade,
fessor no contexto atual. Neste sentido os objetivos da sendo tolerante com suas dificuldades, facilitando a su-
pesquisa devem ser claros e possuir uma relevância aca- peração da mesma.
dêmica e social. A pesquisa é sempre uma investigação Neste sentido, percebe-se a importância da formação
para conhecimento da realidade, entendimento sobre a de um professor reflexivo/pesquisador para formação de
mesma e quando necessário à busca de sua transforma- um profissional capaz de analisar sua própria prática e
ção. Demo (2011) define que: através desta análise aprimorar sua prática pedagógica
Primeiro, é preciso distinguir a pesquisa como prin- no sentido de formar cada vez mais pessoas capazes de
cípio científico e a pesquisa como princípio educativo. pensar, formar para o pensamento e não simplesmente
Nós estamos trabalhando a pesquisa principalmente para a recepção de informações.
como pedagogia, como modo de educar, e não apenas Formar seres críticos caracteriza o desfecho final de
como construção técnica do conhecimento. Bem, se nós todo o processo de ensino e aprendizagem, assim o pro-
aceitamos isso, então a pesquisa indica a necessidade da fessor não se atem apenas aos métodos tecnicista de en-
educação ser questionadora, do indivíduo saber pensar. sino preparando assim indivíduos capazes de refletir as
É a noção do sujeito autônomo que se emancipa através suas ações.1
de sua consciência crítica e da capacidade de fazer pro-
postas próprias. (Demo 2011, p. 22). Ética na profissão
O professor precisa assumir a responsabilidade de re-
passar o conhecimento acadêmico e aperfeiçoá-lo atra- Ética é a “ciência da moral, que estuda os comporta-
vés da pesquisa tendo em vista que é uma das melho- mentos morais do homem para com uma força metafísica
res estratégias para o aprendizado do alunado. Miranda e a sociedade, e tem como finalidade garantir a integri-
(2006) considera que o professor pesquisador relaciona dade de um grupo através do regimento da conduta dos
a prática que se torna um meio fundamentado e desti- seus membros, de acordo com princípios de conveniência
nado aos conhecimentos, desde que esses conhecimen- geral”. Segundo Isabel Baptista, doutorada em filosofia
tos passem a ser orientados e apropriados pela ação e da educação pela faculdade de letras da Universidade do
reflexão do professor, que são elementos fundamentais Porto, a ética pode ser entendida ainda, como uma refle-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

visando à melhoria da formação da prática docente. xão de caráter filosófico sobre os princípios e valores que
devem orientar o ser humano - noções como o bem, o
Formação na prática docente mal ou a justiça. Ainda segundo a autora, a moral signifi-
ca “uma formalização de normas de conduta que terão de
Falar sobre a formação docente requer a considera- estar de acordo ou subordinadas àquilo que entendemos
ção de vários aspectos e elementos componentes desta por valores éticos, obrigando no fundo, a considerar o pri-
formação. Ao referirmos à formação docente estamos mado da Ética sobre a Moral”.
nos voltando não só para os aspectos constituintes da A ética e moral no campo educacional devem ser en-
formação formal, importante e expressiva na constituição 1 Fonte: www.webartigos.com/www.inesul.edu.br/www.
dos saberes necessários à prática pedagógica, mas tam- cdr4apgn.wordpress.com/ www.efdeportes.com/ Alcindo Ferreira Pra-
bém àqueles que compõem e acompanham de modo do/Jecilene Barreto Coutinho/Osvaldineide Pereira de Oliveira Reis/
Osvaldo Arsenio Villalba/Maria Gilmara Mesquita Bezerra Gomes

74
tendidas como processo de reflexão e ação no que diz Tem a ver com que diz respeito à guia da ação, fun-
respeito à identidade do educador, bem como suas ori- dada nos princípios do respeito da solidariedade e da
gens e o papel que vem atuando na educação e dentro justiça, na direção do bem coletivo.
das relações sociais ao longo do tempo. A definição de Para impedir confusões entre à ética e a moral. Po-
Aristóteles no campo da ética não se resume apenas na de-se dizer que a ética se diferencia da moral por não
reflexão da virtude do bem e da obrigação, mas na dis- possui caráter normativo, ela tem um caráter reflexivo
cussão e na escolha. “Nós nos deliberamos e decidimos que possibilita que as ações morais possam ser julgadas
sobre tudo aquilo que, para ser e existir depende de nos- com base em seus princípios como: o respeito, a justiça,
sa vontade e de nossa ação.” (Chauí, 2005, p.312). a liberdade.
Ética e a moral são indispensáveis para o desenvol- O respeito é princípio nuclear da ética – dele decor-
vimento educacional e na construção do caráter do ho- rem os outros. Respeitar implica, em primeiro lugar, o
mem, diante das pressões decorrentes do modo de viver reconhecimento da presença do outro como semelhan-
que a sociedade exige para a boa convivência, que são te, em sua humanidade. Contudo, para respeitar alguém
os valores éticos. O trabalho de trazer à tona a discussão é necessário antes de qualquer coisa admitir que esse
sobre a ética e a moral como condição da identidade do alguém exista e reconhecer sua existência. Algo que pa-
educador é um instrumento indispensável na conquista rece fácil e simples, no entanto, guarda grandes com-
da valorização deste profissional e de um ambiente de plexidades. Muitas vezes passamos pelas pessoas sem
trabalho salutar e amistoso. reconhecê-las, não escutamos o que ela tem a nos dizer,
A sociedade brasileira contemporânea tem enfrenta- falamos o que queremos sem sequer mostrar interesse
do o problema de como educar para o respeito às dife- no discurso do outro, os outros “eus” existentes no outro,
renças e para o respeito a todos os seres humanos. Com- tem ideias e sentimos próprios deles.
batendo a violência, essa é uma das principais questões Não sou eu, mas são como eu e minha existência de-
éticas. Atualmente são espantosos os casos de ações vio-
pende também do reconhecimento deles.
lentas e desrespeito nas escolas, agressões de todas as
O educando no curso de sua trajetória rumo ao apren-
formas, além do uso de drogas, ameaças, descriminação,
der, busca garantir o seu desenvolvimento. Todos os seres
desrespeito aos professores e aos alunos.
humanos têm o direito à aprendizagem e ao desenvol-
Daí surge à questão, como a ética poderá nos auxiliar
vimento; e é em busca desse aprendizado significativo e
para a construção de uma educação contra a violência? O
do seu desenvolvimento que o educando dirige-se à es-
artigo 2º da LDB considera que, inspirada nos princípios
da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, é fi- cola, pública ou privada, com tudo pelo lugar que ocupa
nalidade da educação nacional o pleno desenvolvimento na pratica educativa, o educador tem como compromisso
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania ser solidário para com o educando, o que significa ensi-
e sua qualificação para o trabalho. nar com eficiência para ele aprender bem e, por aprender
O artigo 1º diz que a educação abrange os proces- bem, cresça.
sos formativos que se desenvolvem em varias esferas O que consiste em uma pratica educativa pautada por
(família, convivência, trabalho, escola, movimento sociais uma conduta ética centrada no atendimento das neces-
e etc.). A educação voltada para a cidadania e os progra- sidades do educando como aprendiz dos mais variados
mas educacionais voltados para esse fim, e para que o conteúdos escolares. O que não significa de jeito algum,
homem possa se relacionar entre si se faz necessário a instruir teoricamente procedimentos éticos aos edu-
crença na tolerância, a marca do bom senso, da razão e cando; como “ensinar lições de moral”; todavia praticar
da civilidade e ainda a crença na possibilidade de formar condutas éticas com eles, é no exercício profissional de
este homem ensinando-o a tolerância e a civilidade den- educadores, próximo ao educando, que podemos agir
tro do espaço e do tempo na escola. junto com eles ao qual carece estar acordado nosso sen-
Em nossos tempos, a LDB institui que a escola é um timento ético. Em vista a uma ação benfeitora, ou seja,
espaço de formação de cidadão, difusão de valores que afetuosa (o que significa “agir com o outro” no seu modo
inspirem cidadania e ética, mas não pressupõe que a es- de ser e na sua necessidade).
cola, local onde esta formação acontece (ao menos par- A ideia de um código ético voltado para a educação
cialmente, como diz a lei), seja um espaço ético, operan- vem despertar os educadores à verdadeira essência do
do por meios éticos que inspirem valores éticos. bem, do fazer o bem e fazê-lo bem feito, os educado-
Em sua obra “Pedagogia da Autonomia”, Paulo Freire res precisam conhecer a ética para então passar a agir
(2006), recomenda a proposta de uma prática educativa eticamente dentro e fora da sua profissão como um ser
que reflita sobre o compromisso e a responsabilidade do pensante e agente ativo na construção da cidadania.2
educador, em relação à sala de aula, os limites da ética,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do que é “ser ético”. Dimensão ética e afetiva da docência


Na introdução do tema, Paulo Freire chama a atenção
para o omportamento ético do professor, pautando nos A profissão docente, suas características, a forma de
saberes por ele propostos e que são imprescindíveis à desempenhá-la, sua importância e as exigências que
prática educativa, e a obrigatoriedade de que o docente recaem sobre ela, variam de acordo com as diferentes
observe estas virtudes. concepções e valores atribuídos à educação, ao ensi-
Em se tratando da prática pedagógica e a ética do no, e à aprendizagem nos variados tempos e espaços.
docente, bem como as virtudes que o docente precisa Compreender a profissão docente pressupõe entender a
apresentar como comportamento ético, precisam encon- complexidade do ensino como prática social que consti-
trar-se adequadas a um modelo de educação na socie- tui o seu eixo.
dade.
2 Por Nivea Maria Coutinho Soares e Deborah dos Santos

75
Como prática social o ensino é dinâmico, multidi- O professor em formação dever ser orientado a per-
mensional, interativo, sempre inédito e imprevisível. ceber que a dimensão afetiva, presente nos processos
É uma prática que recebe influências de aspectos eco- de ensino e de aprendizagem, pode funcionar como ele-
nômicos, psicológicos, técnicos, culturais, éticos, políti- mento facilitador ou bloqueador da aprendizagem.
cos, institucionais, afetivos e estéticos (Caldeira e Azzi, Uma boa parte do trabalho docente é de cunho afeti-
1997; Candau, 1998; Pimenta, 1997). Sem perder de vis- vo, emocional. Baseia-se em emoções, em afetos, na ca-
ta esta compreensão, o presente trabalho focalizará as pacidade não somente de pensar nos alunos, mas igual-
dimensões ética e afetiva presentes no ensino, partindo mente de perceber e sentir suas emoções, seus temores,
da compreensão que a Didática tem dentre seus objeti- suas alegrias, seus próprios bloqueios afetivos. (TARDIF,
vos, oferecer subsídios teórico-práticos para uma com- 2002, p. 130).
preensão crítica e contextualizada do ensino. A tomada O clima afetivo desencadeado em sala de aula tem
de consciência da presença da ética e da afetividade no interferência direta no que nela ocorre. Em função, disso
trabalho do professor faz parte da trajetória da Didática é que se gosta ou não de assistir a determinada aula,
em direção à apreensão do ensino em sua multidimen- sente-se à vontade ou constrangido para expor dúvidas
sionalidade. e participar das atividades, tem-se ou não prazer em
Desta forma, tendo como objetivo identificar evidên- estudar determinado assunto ou matéria, aprende-se a
cias das dimensões ética e afetiva, como elementos in- gostar ou não gostar de uma disciplina, sente-se motiva-
tegrantes da docência e intervenientes no processo de ção, interesse, aborrecimento, ou tédio para as atividades
ensino, esta pesquisa tomando por base, a abordagem escolares ou acadêmicas.
qualitativa, utilizou como fonte de dados a observação Consoante o autor em pauta, pelas peculiaridades
participante, a roda de conversa e os trabalhos escritos do objeto de trabalho docente, a prática pedagógica dos
apresentados pelos alunos. professores consiste em gerenciar relações sociais e en-
volve tensões, dilemas, negociações e estratégias de in-
Reflexões sobre as dimensões ética e afetiva como teração.
elementos integrantes do ensino Por exemplo, o professor tem que trabalhar com gru-
pos, mas também tem de se dedicar aos indivíduos; deve
Uma das características mais marcantes do trabalho
dar sua matéria, mas de acordo com os alunos, que vão
docente é o fato de ser interativo. O ensino dirige-se a
assimilá-la de maneira muito diferente; deve agradar aos
seres humanos, ao mesmo tempo seres individuais e so-
alunos mas sem que isso se transforme em favoritismo;
ciais. Tardif (2002) entende que o objeto do trabalho do-
deve motivá-los, sem paparicá-los; deve avaliá-los, sem
cente são os seres humanos que possuem características
excluí-los, etc. Ensinar é, portanto, fazer escolhas cons-
peculiares. O professor trabalha com sujeitos individuais
tantemente em plena interação com os alunos. Ora, essas
e heterogêneos, com diferentes histórias, ritmos, interes-
escolhas dependem da experiência dos professores, de
ses necessidades e afetividades. Isso torna as situações
de ensino complexas, únicas, imprevisíveis e incabíveis seus conhecimentos, convicções e crenças, de seu com-
em generalizações ou esquemas predefinidos de ação. promisso com o que fazem, de suas representações a
Além de individual, o objeto do trabalho docente é respeito dos alunos e, evidentemente, dos próprios alu-
também social. Sua origem de classe, etnia e gênero o nos. (TARDIF, 2002, p. 132).
expõe a diferentes influências e experiências que reper- Por ser um trabalho interativo, o ensino exige investi-
cutem em sala da aula, provocando diferentes reações e mento pessoal do professor para garantir o envolvimen-
expectativas no professor e nos alunos. Neste sentido, to do aluno, para despertar seu interesse e participação,
Tardif (2002, p. 130) alerta para a noção de que o objeto e para evitar desvios que possam prejudicar o trabalho.
do trabalho docente escapa constantemente ao controle Por esse motivo Tardif (2002) acentua que a personali-
do trabalhador, ou seja, do professor. O aluno oferece re- dade do professor é um componente de seu trabalho,
sistências, apresenta variações de humor, de motivação, o que ele denomina de trabalho investido, ou seja, no
dificuldades, emoções não tem um comportamento li- desempenho de seu trabalho o professor, empenha e in-
near, previsível. Pode estar aparentemente atento, mas veste o que ele é como pessoa.
seu pensamento apresenta-se distante, pode não parti- Aquilo que nos parece ser a característica do trabalho
cipar com intervenções orais, mas acompanhar o desen- investido ou vivido é a integração ou absorção da perso-
volvimento da aula e estabelecendo suas relações. Além nalidade do trabalhador no processo de trabalho quoti-
disso, todas as experiências pessoais e sociais estão me- diano enquanto elemento central que contribui para a
realização desse processo. (...)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

diando o acontece em sala de aula. Não é, portanto, uma


situação de fácil controle, como seria se o objeto fosse Nesse tipo de atividade, a personalidade do trabalha-
inanimado, material, que permanece amanhã, do mesmo dor, suas emoções, sua afetividade fazem parte integran-
jeito que se deixou hoje (se não houver interferência de te do processo de trabalho: a própria pessoa, com suas
outro sujeito no objeto). qualidades, seus defeitos, sua sensibilidade, em suma,
As características destacadas evidenciam a presença tudo o que ela é, torna-se de uma certa maneira, um
das dimensões ética e afetiva no desenvolvimento do instrumento de trabalho. Nesse sentido ela é um com-
ensino. É fundamental perceber que, ao trabalhar um ponente tecnológico das profissões de interação. Essa
conteúdo, desenvolver uma atividade ou aplicar um ins- tecnologia emocional é representada por posturas físi-
trumento de avaliação estas questões estarão inevitavel- cas, por maneiras de estar com os alunos. (TARDIF, 2002,
mente interferindo no processo. p. 142).

76
Assim é que rapidamente os alunos diferenciam seus Pimenta e Anastasiou (2002) também apresentam
professores pelas características pessoais: o introvertido, elementos que contribuem para a compreensão da ética
sério, o mais extrovertido, brincalhão, o carismático, ami- como integrante do trabalho docente, já que pressupõe
go, frio, distante, organizado, competente, seguro. São intencionalidades, objetivos, definição de caminhos para
peculiaridades pessoais que integram o exercício da do- o alcance desses objetivos:
cência e afetam o trabalho que o professor desenvolve, Assim, de um lado, é preciso considerar que a ativi-
por meio de suas decisões, atitudes, escolhas, a forma dade profissional de todo professor possui uma natureza
como enfrenta os problemas que se apresentam, ates- pedagógica, isto é, vincula-se a objetivos educativos de
tando que a dimensão ética faz-se necessariamente pre- formação humana e a processos metodológicos e orga-
sente. nizacionais de transmissão e apropriação de saberes e
Outra manifestação da ética no trabalho do professor modos de ação. O trabalho docente está impregnado
suscitada por Tardif (2002) diz respeito ao fato de que, intencionalidade, pois visa à formação humana por meio
de conteúdos e habilidades, de pensamento e ação, o
trabalhando com grupos, o professor não pode deixar
que implica escolhas, valores, compromissos éticos. Isso
de atingir os indivíduos. Segundo o autor esse proble-
significa introduzir objetivos de natureza conceitual,
ma nunca é resolvido de maneira satisfatória do ponto
procedimental e valorativa, em relação aos conteúdos
de vista ético, pois os professores nunca podem atender
da matéria que ensina; transformar o saber científico ou
às necessidades singulares de todos os alunos assumindo tecnológico em conteúdos formativos; selecionar e or-
padrões gerais de uma organização de massa. (2002, p. ganizar conteúdos de acordo com critérios lógicos ou
146). Alguns professores procuram adotar no seu dia-a- psicológicos, função das características dos alunos e das
-dia, estratégias próprias de atendimento, distribuição finalidades do ensino; utilizar métodos e procedimentos
da atenção e acompanhamento de seus alunos, estando de ensino específicos, inserindo-os numa estrutura or-
sempre atentos a essa tensão entre o individual e o co- ganizacional em que participe de decisões e ações co-
letivo. Outros ignoram essa particularidade da docência letivas. Por isso, para ensinar, o professor necessita de
e seguem seu trabalho de modo homogêneo, sem se conhecimentos e práticas que ultrapassem o campo de
preocupar com as individualidades. Os dois casos estão sua especialidade. (PIMENTA E ANASTASIOU, 2002, p. 16)
afetados pela ética, uma vez que envolvem decisões, va- Pelo exposto, constata-se que o trabalho que o pro-
lores, relações de poder, são atitudes que se pautam em fessor desenvolve abrange a dimensão ética e a dimensão
concepções e trazem repercussões para a formação do afetiva. Neste sentido, no desempenho de seu trabalho,
aluno. jamais estará apenas apresentando um conhecimento
Outra questão ética apresentada pelo autor, refere- neutro, impermeável. Sua posição, decisões, escolhas,
-se à forma como o professor torna acessível ao aluno, o comportamentos, atitudes, seus sentimentos, emoções e
conhecimento a ser trabalhado. O professor tem um do- a forma como gerencia a sala de aula, os conteúdos e as
mínio de conhecimentos diferente dos alunos e a forma interações interpessoais influenciam o desenvolvimento,
como interage com eles ao trabalhar esse conhecimento a aprendizagem e a formação de seus alunos.3
envolve um problema ético para o qual nem sempre dis-
pensa a devida atenção. A abordagem que dá ao conhe-
cimento a ser aprendido demonstra preocupação com a
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO
base cognitiva que o aluno traz, ou não leva em consi- BRASIL.
deração esse aspecto? Apresenta o conteúdo de forma a
despertar o interesse do aluno? Relaciona com a realida- .
de? Dá um enfoque fragmentado ou interdisciplinar? O A História da Educação Brasileira não é uma Histó-
trabalho com o conteúdo expressa valores, concepções, ria difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em
opções; compromete-se com um determinado tipo de rupturas marcantes e fáceis de serem observadas.
visão de ensino; contribui para a formação de determi- A primeira grande ruptura travou-se com a chegada
mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo.
nadas aprendizagens.
Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses
Tendo como objeto de trabalho o ensino, a discipli-
trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o
na Didática deve contribuir para que o licenciando com-
que não quer dizer que as populações que por aqui vi-
preenda que as atitudes do professor e o modo como se viam já não possuíam características próprias de se fazer
relaciona com a docência, com o conhecimento e com educação. E convém ressaltar que a educação que se pra-
os estudantes, seus valores, seus interesses e gostos são
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ticava entre as populações indígenas não tinha as marcas


também elementos formadores. repressivas do modelo educacional europeu.
(...) os ofícios ou profissões de relações humanas Num programa de entrevista na televisão o indige-
apontam para questões de poder, de maneira intrínseca, nista Orlando Villas Boas contou um fato observado por
mas também para problemas de valor, seus próprios ob- ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica
jetos são seres humanos capazes de emitir juízos de valor educacional entre os índios: Orlando observava uma mu-
e possuem, como seres humanos, direitos e privilégios. lher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher
Nesse sentido, a dimensão ética não é um elemento pe- terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela,
riférico nas ocupações e profissões de relações humanas, pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando.
mas está no próprio cerne do trabalho. (TARDIF, 2002, p. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim
145)
3 Fonte: www.uece.br/Carmensita Matos Braga Passos

77
que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jo- Se considerarmos a História como um processo em
gava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que eterna evolução não podemos considerar este trabalho
Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xa- como terminado. Novas rupturas estão acontecendo no
vante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar exato momento em que esse texto está sendo lido. A
o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a educação brasileira evolui em saltos desordenados, em
mulher índia respondeu: “- Porque ele quer.” diversas direções.
Podemos também obter algumas noções de como
era feita a educação entre os índios na série Xingu, pro- Período Jesuítico
duzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste
seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas A educação indígena foi interrompida com a chegada
estruturas de madeira das construções das ocas, numa dos jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasilei-
altura inconcebivelmente alta. ro em março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel
de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trou-
primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo
xeram somente a moral, os costumes e a religiosidade
como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando ape-
europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos.
nas 21 anos. Irmão Vicente tornou-se o primeiro profes-
Este método funcionou absoluto durante 210 anos,
sor nos moldes europeus, em terras brasileiras, e durante
de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a His-
mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação
tória da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por da fé religiosa.
Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação da fé
estruturada em termos de educação o que se viu a se- católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não
guir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas régias, o seria possível converter os índios à fé católica sem que
subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica
Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve transferir o estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos após
Reino para o Novo Mundo. a chegada, já era composta por cinco escolas de instru-
Na verdade não se conseguiu implantar um sistema ção elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito
educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de
Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Janeiro, Pernambuco e Bahia).
Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trou-
VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medi- xeram somente a moral, os costumes e a religiosidade
cina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciati- europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos.
va mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um
Régia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio Studio-
“descoberto” e a nossa História passou a ter uma com- rum. Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras;
plexidade maior. além do curso elementar mantinham cursos de Letras e
A educação, no entanto, continuou a ter uma impor- Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teolo-
tância secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias gia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação
espanholas já existiam muitas universidades, sendo que de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática
em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filoso-
1551 a do México e a de Lima, a nossa primeira Universi- fia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e
dade só surgiu em 1934, em São Paulo. Ciências Físicas e Naturais.
Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos,
Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e
de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a His-
D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e mui-
tória da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por
tos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclama-
Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem estrutu-
ção da República tentou-se várias reformas que pudes-
rado, em termos de educação, o que se viu a seguir foi o
sem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a
mais absoluto caos.
educação brasileira não sofreu um processo de evolução No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 resi-
que pudesse ser considerado marcante ou significativo dências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de
em termos de modelo. seminários menores e escolas de primeiras letras instala-
Até os dias de hoje muito tem se mexido no plane- das em todas as cidades onde havia casas da Companhia
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

jamento educacional, mas a educação continua a ter as de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma
mesmas características impostas em todos os países do grande ruptura histórica num processo já implantado e
mundo, que é a de manter o “status quo” para aqueles consolidado como modelo educacional.
que frequentam os bancos escolares.
Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira Período Pombalino
tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facil-
mente observável. E é isso que tentamos passar neste Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bah-
texto. ia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do
Os períodos foram divididos a partir das concepções Pará. Com eles levaram também a organização monolíti-
do autor em termos de importância histórica. ca baseada no Ratio Studiorum.

78
Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educati- Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas,
va no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Epis- já que não respeitava os princípios pedagógicos de Com-
copal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, te; pelos que defendiam a predominância literária, já que
que não se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Es- o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às
cola de Artes e Edificações Militares, na Bahia, e a Escola tradicionais, tornando o ensino enciclopédico.
de Artilharia, no Rio de Janeiro. O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica en-
Os jesuítas foram expulsos das colônias em função tre as matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral,
de radicais diferenças de objetivos com os dos interesses acentuando, assim, a parte literária em detrimento da
da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o científica.
proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que
Portugal da decadência que se encontrava diante de ou- o curso secundário se tornasse formador do cidadão e
tras potências europeias da época. Além disso, Lisboa não como simples promotor a um nível seguinte. Reto-
passou por um terremoto que destruiu parte significativa mando a orientação positivista, prega a liberdade de en-
da cidade e precisava ser reerguida. A educação jesuítica sino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de
não convinha aos interesses comerciais emanados por ensino que não seja por escolas oficiais, e de frequência.
Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus Além disso, prega ainda a abolição do diploma em tro-
tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal ca de um certificado de assistência e aproveitamento e
pensou em organizar a escola para servir aos interesses transfere os exames de admissão ao ensino superior para
do Estado. as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desas-
Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo trosos para a educação brasileira.
tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portu- Num período complexo da História do Brasil surge a
gal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral
de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de e Cívica com a intenção de tentar combater os protestos
Estudos que só passou a funcionar após o afastamento estudantis contra o governo do presidente Arthur Ber-
nardes.
de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com
A década de vinte foi marcada por diversos fatos
professor único e uma não se articulava com as outras.
relevantes no processo de mudança das características
Portugal logo percebeu que a educação no Brasil es-
políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o Mo-
tava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para
vimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Mo-
isso instituiu o “subsídio literário” para manutenção dos
derna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922),
ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio”
a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a
era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a car-
1927).
ne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de
Além disso, no que se refere à educação, foram reali-
exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os profes- zadas diversas reformas de abrangência estadual, como
sores ficavam longos períodos sem receber vencimentos as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Tei-
a espera de uma solução vinda de Portugal. xeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario
Os professores geralmente não tinham preparação Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Aze-
para a função, já que eram improvisados e mal pagos. vedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928
Eram nomeados por indicação ou sob concordância de e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.
bispos e se tornavam “proprietários” vitalícios de suas
aulas régias. Período da Segunda República
O resultado da decisão de Pombal foi que, no princí-
pio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a A Revolução de 30 foi o marco referencial para a en-
praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado trada do Brasil no mundo capitalista de produção. A acu-
e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado mulação de capital, do período anterior, permitiu com
para dar continuidade a um trabalho de educação. que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na
produção industrial. A nova realidade brasileira passou
Período Joanino a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era
preciso investir na educação. Sendo assim, em 1930, foi
A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em
ruptura com a situação anterior. Para atender as neces- 1931, o governo provisório sanciona decretos organizan-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sidades de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Acade- do o ensino secundário e as universidades brasileiras ain-
mias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca da inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como
Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante “Reforma Francisco Campos”.
em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo al- Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o
guns autores, o Brasil foi finalmente “descoberto” e a Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por
nossa História passou a ter uma complexidade maior. O Fernando de Azevedo e assinado por outros conceitua-
surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as ideias dos educadores da época.
fossem divulgados e discutidos no meio da população Em 1934 a nova Constituição (a segunda da Repúbli-
letrada, preparando terreno propício para as questões ca) dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de
políticas que permearam o período seguinte da História todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Pode-
do Brasil. res Públicos.

79
Ainda em 1934, por iniciativa do governador Arman- Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha
do Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além
A primeira a ser criada e organizada segundo as normas de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial -
do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931. SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade
Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, após a Revolução de 1930.
Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna
atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão
de Educação na qual se situava o Instituto de Educação. com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma
geral da educação nacional. Esta comissão, presidida
Período do Estado Novo pelo educador Lourenço Filho, era organizada em três
subcomissões: uma para o Ensino Primário, uma para o
Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Em novem-
bro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado à Câma-
Constituição em 1937. A orientação político-educacio-
ra Federal, dando início a uma luta ideológica em torno
nal para o mundo capitalista fica bem explícita em seu
das propostas apresentadas. Num primeiro momento as
texto sugerindo a preparação de um maior contingente
discussões estavam voltadas às interpretações contra-
de mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo ditórias das propostas constitucionais. Num momento
mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o posterior, após a apresentação de um substitutivo do
ensino pré-vocacional e profissional. Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais marcantes
Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino relacionaram-se à questão da responsabilidade do Es-
sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pes- tado quanto à educação, inspirados nos educadores da
soas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado o velha geração de 1930, e a participação das instituições
dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obri- privadas de ensino.
gatoriedade do ensino primário Também dispõe como Depois de 13 anos de acirradas discussões foi pro-
obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as mulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem
escolas normais, primárias e secundárias. a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as rei-
No contexto político o estabelecimento do Estado vindicações da Igreja Católica e dos donos de estabeleci-
Novo, segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com mentos particulares de ensino no confronto com os que
que as discussões sobre as questões da educação, pro- defendiam o monopólio estatal para a oferta da educa-
fundamente ricas no período anterior, entrem “numa ção aos brasileiros.
espécie de hibernação”. As conquistas do movimento Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para
renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram a Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado
enfraquecidas nessa nova Constituição de 1937. Marca muitas iniciativas marcaram este período como, talvez,
uma distinção entre o trabalho intelectual, para as clas- o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950,
ses mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura
ensino profissional para as classes mais desfavorecidas. o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Car-
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capane- neiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola-classe e
ma, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Re- escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará,
formas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática
baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método
e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço
Psicogenético; em 1953 a educação passa a ser adminis-
Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza
trada por um Ministério próprio: o Ministério da Educa-
o ensino profissionalizante.
ção e Cultura; em 1961 a tem início uma campanha de
O ensino ficou composto, neste período, por cinco alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano
anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos
colegial, podendo ser na modalidade clássico ou científi- analfabetos; em 1962 é criado o Conselho Federal de
co. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educa-
de preparatório para o ensino superior, e passou a se ção e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em
preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa di- 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Progra-
visão do ensino secundário, entre clássico e científico, a ma Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educa-
predominância recaiu sobre o científico, reunindo cerca ção e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.
de 90% dos alunos do colegial.
Período do Regime Militar
Período da Nova República
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas


O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto
de uma nova Constituição de cunho liberal e democráti- de que as propostas eram “comunizantes e subversivas”.
co. Esta nova Constituição, na área da Educação, deter- O Regime Militar espelhou na educação o caráter
mina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário antidemocrático de sua proposta ideológica de gover-
e dá competência à União para legislar sobre diretrizes no: professores foram presos e demitidos; universidades
e bases da educação nacional. Além disso, a nova Cons- foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos
tituição fez voltar o preceito de que a educação é direi- confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estu-
to de todos, inspirada nos princípios proclamados pelos dantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes
Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de
nos primeiros anos da década de 30. alunos e professores.

80
Neste período deu-se a grande expansão das uni- simplesmente assinar a ata de presença e se retirar sem
versidades no Brasil. Para acabar com os “excedentes” responder nenhuma questão, é levada em consideração
(aqueles que tiravam notas suficientes para serem apro- como avaliação das instituições. Além do mais, entre ou-
vados, mas não conseguiam vaga para estudar), foi cria- tras questões, o exame não diferencia as regiões do país.
do o vestibular classificatório. Até os dias de hoje muito tem se mexido no plane-
Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimen- jamento educacional, mas a educação continua a ter as
to Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando- mesmas características impostas em todos os países do
-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Frei- mundo, que é mais o de manter o “status quo”, para
re. O MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no aqueles que frequentam os bancos escolares, e menos
Brasil. Não conseguiu. E, entre denúncias de corrupção, de oferecer conhecimentos básicos, para serem aprovei-
acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-se a Funda- tados pelos estudantes em suas vidas práticas.
ção Educar. Concluindo podemos dizer que a História da Edu-
cação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem de-
É no período mais cruel da ditadura militar, onde
marcado e facilmente observável. Ela é feita em rupturas
qualquer expressão popular contrária aos interesses do
marcantes, onde em cada período determinado teve ca-
governo era abafada, muitas vezes pela violência física,
racterísticas próprias.
que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e
Educação Nacional, em 1971. A característica mais mar- rupturas inseridas no processo, a educação brasileira não
cante desta Lei era tentar dar a formação educacional um evoluiu muito no que se refere à questão da qualidade.
cunho profissionalizante. As avaliações, de todos os níveis, estão priorizadas na
aprendizagem dos estudantes, embora existam outros
Período da Abertura Política critérios. O que podemos notar, por dados oferecidos
pelo próprio Ministério da Educação, é que os estudantes
No fim do Regime Militar a discussão sobre as ques- não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar.
tões educacionais já haviam perdido o seu sentido peda- Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam
gógico e assumido um caráter político. Para isso contri- sendo usados como norma de ação, nossa educação só
buiu a participação mais ativa de pensadores de outras teve caráter nacional no período da Educação jesuítica.
áreas do conhecimento que passaram a falar de educa- Após isso o que se presenciou foi o caos e muitas pro-
ção num sentido mais amplo do que as questões perti- postas desencontradas que pouco contribuíram para o
nentes à escola, à sala de aula, à didática, à relação dire- desenvolvimento da qualidade da educação oferecida.
ta entre professor e estudante e à dinâmica escolar em É provável que estejamos próximos de uma nova rup-
si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por tura. E esperamos que ela venha com propostas desvincu-
questões políticas durante o Regime Militar, profissionais ladas do modelo europeu de educação, criando soluções
de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico, novas em respeito às características brasileiras. Como
passaram a assumir postos na área da educação e a con- fizeram os países do bloco conhecidos como Tigres Asiá-
cretizar discursos em nome do saber pedagógico. ticos, que buscaram soluções para seu desenvolvimento
No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para econômico investindo em educação. Ou como fez Cuba
uma nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo que, por decisão política de governo, erradicou o analfa-
Deputado Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o betismo em apenas um ano e trouxe para a sala de aula
Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um substitutivo todos os cidadãos cubanos.
Na evolução da História da Educação brasileira a pró-
ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apre-
xima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse
senta um novo Projeto que acabou por ser aprovado em
único, que atenda às necessidades de nossa população e
dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento
que seja eficaz. (Texto adaptado de BELLO, J. L. P.).
do Deputado Octávio Elísio.
Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de
hoje, a fase politicamente marcante na educação, foi o COMPOSIÇÃO DE TEMPOS E ESPAÇOS NA
trabalho do economista e Ministro da Educação Paulo EDUCAÇÃO INFANTIL.
Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através
de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal
de Educação e criou o Conselho Nacional de Educação, Organização do trabalho pedagógico – materiais,
vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta mu- ambientes, tempos
dança tornou o Conselho menos burocrático e mais po-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

lítico. Para mediar as aprendizagens, promotoras do de-


Mesmo que possamos não concordar com a forma senvolvimento infantil, é preciso tencionar uma ação
como foram executados alguns programas, temos que educativa devidamente planejada, efetiva e avaliada. Por
reconhecer que, em toda a História da Educação no Bra- isto, é imprescindível pensar o tempo, os ambientes e os
sil, contada a partir do descobrimento, jamais houve exe- materiais. Ressalte-se, entretanto, que o que determina
cução de tantos projetos na área da educação numa só as aprendizagens não são os elementos em si, mas as
administração. relações propostas e estabelecidas com eles.
O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cur- Materiais: os materiais compõem as situações de
sos e o seu “Provão”, onde os alunos das universidades aprendizagem quando usados de maneira dinâmica,
têm que realizar uma prova ao fim do curso para rece- apropriada à faixa etária e aos objetivos da intervenção
ber seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem pedagógica.

81
Assim, materiais são objetos, livros, impressos de - Construção da identidade da criança como agente
modo geral, brinquedos, jogos, papéis, tecidos, fantasias, que integra e transforma o espaço;
tapetes, almofadas, massas de modelar, tintas, madeiras, - Desenvolvimento da independência. Por exemplo:
gravetos, figuras, ferramentas, etc. tomar água sozinha, alcançar o interruptor de luz, ter
Podem ser recicláveis, industrializados, artesanais, de acesso a saboneteira e toalhas, circular e orientar-se com
uso individual e ou coletivo, sonoros, visuais, riscantes e segurança pela instituição;
ou manipuláveis, de diferentes tamanhos, cores, pesos e - amplitude E segurança para que a criança explore
texturas, com diferentes propriedades. seus movimentos corporais (arrastar-se, correr, pular, pu-
Entretanto, a intencionalidade pedagógica não pode xar objetos, etc.);
ignorar e sobrepujar a capacidade da criança de tudo - Possibilidades estimuladoras dos sentidos das crian-
transformar, de simbolizar, de desprender-se do mundo ças, em relação a odores, iluminação, sons, sensação tátil
dos adultos e ver possibilidades nos restos, nos destro- e visual, entre outros;
ços, no que é desprezado. Significa dizer que as crianças - Observância da organização do espaço para que
produzem cultura e são produto delas, de modo que a seja um ambiente estimulante, agradável, seguro, fun-
interpretação e releitura que a criança faz do mundo e cional e propício à faixa etária;
das coisas que estão à sua volta reverte-se em possibili- - Garantia da acessibilidade a crianças e adultos com
dades de novos conhecimentos e aprendizagens. visão ou locomoção limitadas;
Um objeto, um livro, um brinquedo pode oportunizar - Organização que evite, ao máximo, acidentes e con-
diferentes ações, permitir a exploração e propiciar intera- flitos;
ções entre as crianças e os adultos. Para tanto, é funda- - Renovação periódica mediante novos arranjos no
mental que os materiais: mobiliário, materiais e elementos decorativos.
- Provoquem, desafiem, estimulem a curiosidade, a Tempo: as aprendizagens e o desenvolvimento das
imaginação e a aprendizagem; crianças ocorrem dentro de um determinado tempo.
- Fiquem ao alcance da criança, tanto para serem Esse tempo é articulado. Ou seja, o tempo cronológico
acessados quanto para serem guardados; – aquele do calendário - articula-se com o tempo his-
- Estejam disponíveis para o uso frequente e ativo; tórico – aquele construído nas relações socioculturais e
históricas, - visto que as crianças carregam e vivenciam
- Não tragam danos à saúde infantil;
as marcas de sua época e de sua comunidade. E ainda
- Sejam analisados e selecionados em função das
podemos falar do tempo vivido, incorporado por nós
aprendizagens e dos possíveis sentidos que as crianças
como instituição social e que regula nossa vida, segundo
possam atribuir-lhes;
Norbert Elias (1998).
- Estejam adequados às crianças com deficiência vi-
Quando a criança tem a oportunidade de participar,
sual, auditiva ou física, com transtornos globais, com al-
no cotidiano, de situações que lidam com duração, pe-
tas habilidades / superdotação; riodicidade e sequência, ela consegue antecipar fatos, fa-
- Contemplem a diversidade social, religiosa, cultu- zer planos e construir sua noção de tempo. É importante
ral, étnico-racial e linguística; • possam ser colhidos e que o planejamento e as práticas pedagógicas levem em
explorados em diversos ambientes, para além das salas conta a necessidade de:
de atividades, mas também em pátios, parques, quadras, - Diminuir o tempo de espera na passagem de uma
jardins, praças, hortas etc; atividade para outra;
- Sejam analisados e selecionados em função das - Evitar esperas longas e ociosas, especialmente ao
aprendizagens e de acordo com a idade. final da jornada diária;
Ambientes: quando planejamos, algumas questões - Flexibilizar o período de realização da atividade, ao
nos norteiam: que tipos de atividades serão seleciona- considerar os ritmos e interesses de cada um e ou dos
das, em que momentos serão feitas e em que local é mais grupos;
adequado realizá-las? A depender do espaço físico, po- - Distribuir as atividades de acordo com o interesse e
dem ser mais qualitativas as aquisições sensoriais e cog- as condições de realização individual e coletiva;
nitivas das crianças. O espaço é elemento fundamental - Permitir a vivência da repetição do conhecido e o
para o desenvolvimento infantil. E qual a relação entre contato com a novidade;
espaço e ambiente? - Alternar os momentos de atividades de higiene, ali-
Espaço e ambientes são elementos indissociáveis, mentação, repouso; atividades coletivas (entrada, saída,
ou seja, um não se constitui sem o outro. Dessa forma, pátio, celebrações, festas); atividades diversificadas (brin-
apreende-se do termo espaço como as possibilidades de cadeiras e explorações individuais ou em grupo); ativida-
abstração feita pelo ser humano, sobre um determinado des coordenadas pelo professor (roda de conversa, hora
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

lugar, de modo a torná-lo palpável. Já ambiente é consti- da história, passeios, visitas, oficinas etc); atividades de
tuído por inúmeros significados, que são ressignificados livre escolha da criança, ainda que supervisionadas pelos
pelo sujeito de acordo com suas experiências, vivências profissionais.
e culturas. Aqui, cabe uma breve consideração sobre as possí-
Os ambientes da Educação Infantil têm como cen- veis denominações que um currículo pode comportar em
tro a criança e precisam ser organizados em função de relação à organização do trabalho pedagógico: ativida-
suas necessidades e interesses, inclusive com mobiliário des, temas geradores, projetos, vivências, entre outras.
adequado. É interessante que permitam explorações in- É plausível insistir que o importante é que essas estraté-
dividuais, grupais, simultâneas, livres e ou dirigidas pelos gias adquiram sentido para a criança e não sirvam ape-
profissionais. Para tanto, é fundamental que os ambien- nas para mantê-la ocupada, controlada, quieta, soterrada
tes sejam organizados para favorecer: por uma avalanche de tarefas.

82
Não interessa banir essas denominações (e seus usos)
de nosso vocabulário e cotidiano. Interessa fazer com O CONHECIMENTO MATEMÁTICO NA
que as atividades, temas geradores, projetos, vivências EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS E SUAS RELAÇÕES
e outras práticas sejam ressignificadas, sejam objetos de JUNTO ÀS EXPERIÊNCIAS COTIDIANAS.
reflexão, colocando as crianças em “situação de aprendi-
zagem”. Interessa, portanto, dialogar historicamente com
essas práticas, reexaminá-las e restituí-las na organiza- Atualmente, a sociedade, em especial, os educado-
ção do trabalho pedagógico. res, defendem com muito empenho uma educação com
Existem muitas possibilidades de organização do tra- qualidade social como um direito fundamental de todo
balho pedagógico ao longo da jornada diária, semanal, cidadão, a ser assegurado pelo Estado. Além disso, iden-
bimestral. Elegemos quatro situações didáticas que po- tifica-se a qualidade social da educação pelas suas carac-
dem integrar/articular as linguagens não somente em terísticas de relevância, pertinência e equidade.
cada turma, mas também no coletivo escolar. Em qual- O objetivo deste texto é esboçar o sentido que assu-
quer uma das situações didáticas, cabe levar em conside- mem esses três requisitos no campo da formação mate-
ração os objetivos, conteúdos, materiais, espaços / am- mática no Ensino Fundamental. Relevância: diz respeito
bientes, tempos, interesses e características das crianças. aos elementos que compõem uma formação matemática
que contribua para a plena inclusão de todos na vida so-
Ou seja, ter sempre em mente: onde está a criança nas
cial, em suas múltiplas dimensões.
situações de aprendizagem propostas pelos professores?
Pertinência: refere-se à compreensão da complexida-
Atividades permanentes: ocorrem com regularidade de e da diversidade dos fenômenos educacionais para
(diária, semanal, quinzenal, mensal) e têm a função de a conquista de uma efetiva formação matemática. Equi-
familiarizar as crianças com determinadas experiências dade: trata do que é preciso fazer para, respeitadas as
de aprendizagem. Asseguram o contato da criança com diferenças humanas e as especificidades dos contextos,
rotinas básicas para a aquisição de certas aprendizagens, oferecer a todos oportunidades iguais para usufruir o sa-
visto que a constância possibilita a construção do conhe- ber matemático, como um dos mais importantes bens
cimento. É importante planejar e avaliar com a criança culturalmente construídos pelo homem.
e todos os envolvidos no processo como o trabalho foi É claro que, nos limites deste trabalho, não se poderá
realizado. dar conta da extensão e da complexidade das questões
Sequência de atividades: trata-se de um conjunto delineadas acima. O que se tenta é trazer alguns pontos
de propostas que geralmente obedecem a uma ordem para a reflexão dos professores que ensinam Matemá-
crescente de complexidade. O objetivo é trabalhar ex- tica, com a expectativa de que sejam aprofundados por
periências mais específicas, aprendizagens que requerem meio de outros estudos e, acima de tudo, venham a ser
aprimoramento com a experiência. Os planejamentos confrontados com a sua prática.
diários, geralmente, seguem essa organização didática.
Atividades ocasionais: permitem trabalhar com as Matemática e Educação Matemática
crianças, em algumas oportunidades, um conteúdo con-
A matemática no mundo de hoje
siderado valioso, embora sem correspondência com o
que está planejado. Trabalhada de maneira significativa, As atividades que envolvem a matemática estão pre-
a organização de uma situação independente se justifica, sentes desde as ações mais simples do dia a dia às mais
a exemplo de passeios, visitas pedagógicas, comemora- complexas realizações no campo da ciência e da tecno-
ções, entre outras. logia.
Projetos didáticos: os objetivos são claros, o período Nossa sociedade é permeada por tecnologias de base
de realização é determinado, há divisão de tarefas e uma científica e intenso fluxo de informações de vários tipos.
avaliação final em função do pretendido. Suas principais As mudanças no mundo do trabalho têm sido rápidas e
características são objetivos mais abrangentes e a exis- profundas e requerem capacidade de adaptação a novos
tência de um produto final. processos de produção e de comunicação. Nesse contex-
to, o cidadão, se vê, cada vez mais, chamado a resolver
Referências: problemas para os quais aptidões matemáticas podem
CARVALHO, M.T.V.; ORTIZ, C. Interações: ser profes- trazer uma valiosa contribuição.
sor de bebês – cuidar, educar e brincar, uma única ação. Assim, é inegável que a matemática é relevante na
Coleção Interações. São Paulo: Editora Edgard Blucher. vida cotidiana, na ciência, na tecnologia e indispensável
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

2012. ao homem em relação à sua participação na cultura con-


Currículo em Movimento da Educação Básica Educa- temporânea e no exercício da cidadania.
O conhecimento matemático
ção Infantil. Distrito Federal, 2013.
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação In-
Em todas as épocas, as atividades matemáticas esti-
fantil. Ministério da Educação. veram, entre as formas de interação do homem com o
mundo físico, social e cultural, em intensidade e diversi-
dade crescentes, relacionadas com a evolução histórica.
As atividades matemáticas, movidas pela necessidade do
homem de organizar e ampliar seu conhecimento e pela
sua capacidade de intervenção sobre os fenômenos que

83
o cercam, geraram, ao longo da evolução histórica, um dualmente, estabelecer a diferença entre os vários pro-
corpo de saber ― a Matemática, que é um campo cien- cedimentos de descoberta, invenção e validação e, em
tífico extenso e diversificado. E, contrariamente ao que particular, procura-se fazer o estudante compreender a
pensam muitos, é um campo em permanente evolução distinção entre uma prova lógico-dedutiva e uma veri-
nos dias atuais e não um repertório de conhecimentos ficação empírica, baseada na visualização de desenhos,
antigos e imutáveis. na construção de modelos materiais ou na medição de
Considerando o que é afirmado acima, a Matemáti- grandezas.
ca pode ser vista como uma fonte de modelos para os
fenômenos nas mais diversas áreas. Tais modelos são Os campos de conteúdos da Matemática escolar
construções abstratas que se constituem instrumentos
para a compreensão desses fenômenos. Modelos ma- Na cultura escolar, nas duas últimas décadas, os con-
temáticos incluem conceitos, relações entre conceitos, teúdos matemáticos a serem ensinados e aprendidos
procedimentos e representações simbólicas que, em um
têm sido organizados em grandes campos. Embora se
processo contínuo, passam de instrumentos na resolu-
observem algumas variações, há razoável concordância
ção de uma classe de problemas a objetos próprios de
entre as várias propostas de classificação desses con-
conhecimento.
teúdos. Neste texto adotam-se cinco campos: números
Na verdade, há um caminho de mão dupla que, em
um sentido, conduz os problemas dos outros campos da e operações; geometria; álgebra; grandezas e medidas;
atividade humana para os modelos matemáticos abs- estatística, probabilidades, combinatória.
tratos e, no outro sentido, leva as especulações internas Esses agrupamentos têm tido um efeito positivo ao
da matemática para as aplicações, muitas delas novas e facilitarem o trabalho pedagógico. Entretanto, é indis-
inesperadas. pensável que tais campos não sejam vistos como blo-
Assim, aprofundar o conhecimento sobre os mode- cos estanques e autossuficientes. Além disso, é preciso
los matemáticos fortalece a contribuição da Matemática considerar que a aprendizagem é mais eficiente quando
para outras áreas do saber. No sentido oposto, buscar os conhecimentos são revisitados, de forma progressiva-
questões, cada vez mais complexas, nos outros campos mente ampliada e aprofundada, durante todo o percur-
do conhecimento, promove o desenvolvimento de novos so escolar. Ao mesmo tempo, é fundamental reconhecer
modelos matemáticos. Essas duas ações fornecem bons que a elaboração desses conhecimentos não ocorre de
alicerces para a prática da interdisciplinaridade, tão al- maneira espontânea, mas como consequência da mobi-
mejada nos dias atuais. lização de recursos metodológicos adequados, tema que
será abordado mais adiante.
A validação do conhecimento em Matemática
Matemática e linguagem
Outra característica importante do conhecimento
matemático está relacionada a seu método científico de Outro aspecto importante da Matemática é a diver-
validação. Os homens recorreram, nas atividades ma- sidade de formas simbólicas presentes em seu corpo
temáticas, a diversos métodos para validar e organizar de conhecimento: língua natural, linguagem simbólica,
o conhecimento nesse campo do saber. Entre esses, o desenhos, gráficos, tabelas, diagramas, ícones, entre ou-
método axiomático-dedutivo, em especial, desde a ci- tros, que desempenham papel central, não só para re-
vilização grega, predomina na Matemática e assume a presentar os conceitos, relações e procedimentos, mas
primazia de ser o único método aceito, na comunidade na própria formação desses conteúdos. Por exemplo,
científica, para a comprovação de um fato matemático.
um mesmo número racional pode ser representado por
Os conceitos de axioma, definição, teorema e demons-
símbolos, tais como ¼, 0,25, 25%, ou pela área de uma
tração são centrais nesse método e, por extensão, passa-
região plana ou, ainda, pela expressão “um quarto”.
ram a ser, para muitos, a face mais visível da Matemática.
Uma função pode ser representada, entre outras pos-
A esse respeito, no entanto, várias ressalvas se im-
põem. Primeiramente, o próprio conceito de rigor lógico sibilidades, por uma tabela, por um gráfico cartesiano ou
nas demonstrações mudou, no decorrer da história, mes- por símbolos matemáticos.
mo no âmbito da comunidade matemática. Em segundo
lugar, trata-se de um método de validação do fato ma- Saber e saber fazer
temático, muito mais do que um método de descoberta
As aptidões matemáticas são uma mescla intrincada
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ou de uso do conhecimento matemático. Na construção


efetiva desse conhecimento, faz-se uso permanente da de muitos elementos, entre os quais se destacam os co-
imaginação, de raciocínios indutivos, plausíveis, de con- nhecimentos e as habilidades.
jecturas, de tentativas, de verificações empíricas, enfim, Os conhecimentos constituem-se em um complexo
recorre-se a uma variedade complexa de outros proce- conjunto de elaborações cognitivas associadas a concei-
dimentos. tos e procedimentos, adquiridos nas diversificadas expe-
Além desses aspectos, embora a validação pelo mé- riências da vida e também relacionadas a saberes explici-
todo lógico-dedutivo seja privilegiada na Matemática, tamente organizados e sistematizados pelo homem. No
as questões de ensino e aprendizagem, associadas a tal caso da Matemática, tais saberes sistematizados incluem
método, estão longe de terem sido resolvidas. São co- conceitos, relações entre os conceitos, linguagem pró-
nhecidas as dificuldades didáticas quando se busca, gra- pria e procedimentos técnicos.

84
No entanto, tais conhecimentos só ganham significa- A Contextualização na Formação Matemática
do em situações vivenciadas pelas pessoas. Nessas situa-
ções, elas são chamadas a mobilizar os conhecimentos Articulação entre o novo e o já adquirido
e a ligá-los, de forma eficaz, às experiências práticas. Em
outros termos, é necessário que todos tenham a capaci- Os conhecimentos e habilidades não correspondem
dade e a oportunidade de administrar as mais diferen- a capacidades prontas, acabadas, guardadas em gavetas
tes situações da vida, pelo recurso a intuições, conceitos, para serem usadas quando for preciso. Eles estão feitos
princípios, informações, métodos, técnicas, como fruto e se fazem, constantemente, na experiência de cada si-
de suas experiências pessoais. tuação, quando são mobilizados conhecimentos e habi-
Cada vez mais, defende-se a ideia de que é preci- lidades já adquiridos, ao mesmo tempo em que se cons-
so saber e saber fazer Matemática. No contexto dessa troem o que ainda não se sabe e aquilo que é necessário
discussão, mesmo que de forma simplificada, podemos saber.
associar o saber aos conhecimentos apreendidos pelo Uma das ideias mais destacadas nas novas tendências
estudante, e o saber fazer à sua capacidade de mobilizar educacionais é a de que a criança, ao chegar à escola, traz
esses conhecimentos como resposta a um problema. muitos conhecimentos e habilidades matemáticas adqui-
ridos em suas experiências nos diversos meios sociais em
Habilidades matemáticas mais gerais que circula. É indispensável que a escola, em particular o
professor, possa estabelecer as articulações apropriadas
Indicar um conjunto de habilidades matemáticas mais entre esses conhecimentos e as habilidades já adquiridos
gerais a serem construídas no decorrer da formação es- e aqueles que serão vivenciados pela criança. É o difícil
colar é sempre uma tarefa difícil. Por isso, adverte-se que diálogo entre o que provém, de um lado, do senso co-
a relação que se indica a seguir deve ser encarada com mum, da intuição, das informações vagas, das estratégias
cautela. Seu caráter abstrato torna indispensável que sua pessoais e, do outro, dos conhecimentos e das habilida-
concretização seja fruto de um trabalho pedagógico para des mais sistematizadas e universais que fazem parte do
que essas habilidades sejam incorporadas, em cada si- ensino escolar. Esse diálogo é particularmente desafiador
tuação, levando em conta as características do contexto quando se trata da criança nos primeiros anos da esco-
educacional em questão, a maturidade cognitiva dos es- laridade.
tudantes e seus conhecimentos prévios. Os educadores matemáticos têm defendido a ideia
Além disso, tais habilidades não se realizam num va- de que os conceitos relevantes para a formação ma-
zio, mas apoiadas nos conhecimentos matemáticos a que temática atual devem ser abordados desde o início da
estão intimamente associadas e sobre os quais serão te- formação escolar. Isso vale mesmo para conceitos que
cidas considerações mais adiante, neste texto. podem atingir níveis elevados de complexidade, como
Assim, sem esquecer as interdependências entre elas, os de número racional, probabilidade, semelhança, sime-
pode-se propor a seguinte relação de habilidades gerais tria, entre muitos outros. Tal ponto de vista apoia-se na
para a formação matemática do estudante: concepção de que a construção de um conceito pelas
- interpretar matematicamente situações presentes pessoas processa-se no decorrer de um longo período,
nas diversas práticas sociais; de estágios mais intuitivos aos mais formais. Além disso,
- estabelecer conexões entre os campos da Matemá- um conceito nunca é isolado, mas se integra a um con-
tica e entre esta e as outras áreas do saber; junto de outros por meio de relações, das mais simples
- raciocinar, fazer abstrações com base em situações às mais complexas. Dessa maneira, não se deve esperar
concretas, generalizar, organizar e representar; que a aprendizagem de conceitos e procedimentos se
- comunicar-se utilizando as diversas formas de lin- realize de forma completa e num período curto de tem-
guagem empregadas na Matemática; po. Por isso, ela é mais efetiva quando os conteúdos são
- resolver problemas, criando estratégias próprias revisitados, de forma progressiva, ampliada e aprofunda-
para sua resolução, que desenvolvam a iniciativa, a ima- da, durante todo o percurso escolar. Convém lembrar, no
ginação, a criatividade e a capacidade de avaliar as solu- entanto, que esses vários momentos devem ser sempre
ções obtidas; bem articulados, em especial, evitando-se a fragmenta-
- utilizar a argumentação matemática apoiada em vá- ção ou as retomadas repetitivas.
rios tipos de raciocínio: dedutivo, indutivo, probabilístico,
por analogia, plausível, entre outros; Conexões internas à Matemática escolar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- empregar as novas tecnologias de computação e


informação (TIC). Ao longo de sua evolução, o conhecimento mate-
- desenvolver a sensibilidade para as ligações da Ma- mático foi sendo organizado em disciplinas e subdisci-
temática com as atividades estéticas nas criações cultu- plinas, como Aritmética, Álgebra, Geometria, Estatística,
rais da humanidade; probabilidade, entre outras. Essas divisões, paralelamen-
- perceber a beleza das construções matemáticas, te, foram repercutindo na matemática escolar. Na seção
presente na simplicidade, na harmonia e na organicidade “Os campos de conteúdos da matemática escolar”, vis-
de suas construções; ta anteriormente, foi mencionada uma possibilidade de
- estabelecer conexões da Matemática com a dimen- organizar o conhecimento em campos de conteúdos da
são lúdica das atividades humanas. Matemática para o Ensino Fundamental que pode ser as-
sociado às disciplinas acima referidas.

85
Entretanto, nem a Matemática, nem a sua vertente pedagógicos para garantir esse conjunto de ações cons-
escolar devem ser encaradas como uma justaposição de titui em um dos maiores desafios para a concretização da
subdisciplinas estanques, mas como um conjunto de co- perspectiva interdisciplinar na escola atual.
nhecimentos bem articulados entre si. O conceito de nú- Convém mencionar que várias experiências têm sido
mero e as operações numéricas, por exemplo, permeiam propostas para incorporar a interdisciplinaridade na es-
todas as áreas da Matemática, e a resolução de equações cola, como a pedagogia de projetos, o trabalho com te-
algébricas repousa em propriedades dos sistemas numé- mas integradores e com temas transversais.
ricos. Uma razão da inclusão das grandezas e medidas
como um campo específico entre os que compõem a As práticas sociais como fonte de contextualiza-
Matemática escolar reside na riqueza de suas conexões ções
com outros campos da Matemática. Por exemplo, a ori-
gem dos números decimais e das frações é inseparável A Matemática, como todo conhecimento, é produzida
do problema da medida de grandezas. pelos homens em sua interação com os outros homens
Outra articulação desejada é a que se deve estabele- e com o mundo. Assim, o conhecimento matemático li-
cer entre os vários significados de um mesmo conceito ga-se, sempre, a algum contexto. No entanto, essas liga-
no interior da própria Matemática escolar. Por exemplo, ções não são, em geral, explícitas e nem fáceis de serem
a operação de adição está associada às ideias de juntar, desvendadas. Um dos sinais dessa dificuldade pode ser
comparar e acrescentar. Além disso, também é importan- identificado nos legítimos reclamos dos estudantes: Por
te buscar conexões entre as diversas representações de que é preciso estudar isso? Prá que serve a Matemática
um mesmo conteúdo. É o caso das figuras geométricas, que nos tentam ensinar?
que podem ser associadas a objetos do mundo físico, a Cabe, então, aos responsáveis pela formação escolar,
desenhos ou a entes abstratos definidos com base em um importante papel: buscar conexões que deem signi-
princípios lógicos. ficado aos conteúdos matemáticos. Nesse sentido, já fo-
ram mencionadas, em seções anteriores deste trabalho,
Ligações entre a Matemática e outras disciplinas: a conexões entre os subcampos da própria.
interdisciplinaridade
Matemática e também as várias ligações dela com
Em anos recentes, têm se multiplicado as análises outros saberes.
sobre a maneira como as disciplinas escolares estão or-
ganizadas e o papel que desempenham no ensino e na Contudo, devem ser buscadas contextualizações que
aprendizagem, com destaque para a necessária incor- incluam um leque mais variado de vivências dos estu-
poração da perspectiva da interdisciplinaridade. Nesse dantes. Quando se trata, em particular, das crianças dos
debate, critica-se a fragmentação do saber ensinado nas anos iniciais do Ensino Fundamental, uma excelente fon-
escolas, alimentada pela organização do currículo em te de contextualizações pode ser encontrada no universo
disciplinas justapostas e estanques, que competem por infantil: vida doméstica; esportes; brincadeiras e jogos,
seu espaço e seus objetivos particulares, distanciando-se histórias, músicas e em tantas outras atividades.
do diálogo com outras disciplinas. É um desafio fascinante tentar o diálogo do saber
A prática da interdisciplinaridade ainda é rara. Para matemático – para muitos, tido como árido e pouco
ser efetivamente praticada e ampliada, ela requer trans- acessível – com a riqueza do imaginário das crianças e
formações amplas, que se estendam a todo o sistema com a simplicidade dos seus jogos e de suas brincadei-
educacional: os currículos, as modalidades de avaliação, ras, sempre marcados pelo “faz de conta”.
a organização do tempo e dos espaços na escola, o livro Outras contextualizações podem ser construídas com
didático, entre outros. Essa prática exige, em especial, base em atividades de compra e venda, reais ou fictícias,
mudanças nas formações inicial e continuada dos edu- que contribuem para a atribuição de significado às ope-
cadores, que exercem inegável papel na moldagem de rações básicas. Lidar com preços de mercadorias em di-
suas concepções. versas embalagens ou com contas de água, luz e telefo-
Convém observar, no entanto, que interdisciplinari- ne, por exemplo, permite um contato importante com os
dade não deve implicar uma diminuição da importância conceitos de grandezas e de medidas, além de propiciar
das áreas específicas do conhecimento. Ao contrário, discussões de natureza socioeconômica, desde que com-
uma perspectiva interdisciplinar adequada nutre-se do patíveis com o mundo da criança.
aprofundamento nas várias áreas do saber. Mas, é preciso cuidado com contextualizações arti-
Para o diálogo interdisciplinar, é necessário que cada ficiais, em que as situações apresentadas são apenas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

área específica contribua com saberes consistentes e pretexto para a obtenção de números a serem usados
aprofundados, que não sejam meras justaposições de em operações matemáticas. Por exemplo, recorrer-se às
conhecimentos superficiais, mas que ―de fato ― favore- alturas dos montes Everest (8 844 m) e Aconcágua (6 959
çam conexões significativas entre esses conhecimentos. m), exibidos em belas imagens, para “contextualizar” a
Para tanto, é necessário um duplo movimento: em um multiplicação de 8 844 por 6 959.
sentido, procurar interligar vários saberes; buscar temas Também é preciso cautela no uso de desenhos ou
comuns a diferentes campos do conhecimento; tentar de imagens para “tornar mais concreta” a medição ou a
construir modelos para situações complexas presentes comparação entre comprimentos. Por exemplo, no dese-
na realidade; em outro, buscar aprofundar o conheci- nho em perspectiva de um dado de jogar, suas arestas
mento disciplinar; construir modelos para um recorte es- não possuem, em geral, o mesmo comprimento, como
pecífico da realidade. Encontrar a organização e o tempo têm na realidade.

86
Metodologias de Ensino e Aprendizagem da Ma- enfrentada, a qual se apresenta de maneira contextualiza-
temática da. É como se, em certa medida, o estudante fosse levado
a ‘reconstruir’ ou ‘reinventar’ o conhecimento didatica-
Transformações no saber a ensinar mente transposto para a sala de aula.
Ao adotar esse caminho, os papéis docente e discente
A contextualização não deve ser vista como a simples invertem-se de maneira significativa. Enquanto ao profes-
inserção de elementos das práticas sociais na formação sor cabe o papel de criar situações que levem os estudan-
matemática, mas como instrumento que permita ao es- tes na direção da aprendizagem, estes devem realizar uma
tudante estabelecer relações entre os diferentes conhe- espécie de reconstrução do objeto de conhecimento. Essa
cimentos, construídos historicamente, com os quais ele escolha metodológica caminha no sentido inverso à an-
entrará em contato. Mesmo tendo sua origem nas prá- terior: nesse caso, o professor não parte da apresentação
ticas e nas necessidades sociais, o conjunto de conhe- do conhecimento matemático, mas de uma situação pre-
cimentos que servirá de motor para as aprendizagens
viamente elaborada para que, no processo de resolução,
escolares precisará passar por algumas transformações.
o aluno construa seu próprio conhecimento. Resumindo,
Ele deverá ser submetido, pelo conjunto do sistema edu-
o estudante assume, nessa proposta metodológica, um
cacional, a um processo de descontextualização, no qual
papel essencial e ativo no processo, que se dará por meio
se afasta das práticas sociais que lhe deram origem. Tal
processo toma corpo nos referenciais curriculares e de da vivência de situações preparadas pelo professor.
avaliação, nos livros didáticos, entre outras formas. Che- O segundo caminho tem sido defendido, frequente-
gando à escola, esse conjunto de conhecimentos deverá mente, nos estudos em Educação Matemática, que têm
sofrer uma nova adaptação, para que possa ser ensinado colocado em evidência três escolhas metodológicas coe-
pelo professor e aprendido pelo aluno. Nesse momento, rentes com essa opção: a resolução de problemas, a utili-
dois caminhos são possíveis. zação da modelagem e o trabalho com projetos.
No primeiro, o professor apresenta para os alunos o
objeto de conhecimento descontextualizado, tal como Resolução de problemas
chegou à porta da escola. No segundo, ele busca reali-
zar uma contextualização desse objeto de conhecimento. De início, é preciso diferenciar a ideia de problema as-
Em qualquer dos casos, supõe-se que seu objetivo final é sociada à metodologia em que se enfatiza a transmissão
o estudante ser capaz de, ao final do processo de apren- do conhecimento daquela ligada à metodologia em que
dizagem, reunir um conjunto de conhecimentos que lhe o estudante é colocado em situação de ator principal no
permita desenvolver as habilidades necessárias à resolu- processo de aprendizagem. Na primeira escolha metodo-
ção das situações e dos problemas que enfrentará não lógica, é privilegiado o problema fechado, que se caracte-
somente na continuidade de seus estudos, mas também riza por uma aplicação de conhecimentos já supostamen-
em suas práticas sociais e cotidianas. te aprendidos pelo estudante. Nesse caso, já de antemão,
o estudante é conduzido a identificar o conhecimento a
O foco na transmissão do conhecimento ser utilizado em sua resolução, sem que haja maiores es-
tímulos à construção de conhecimentos e à utilização do
O primeiro dos caminhos acima mencionados, no raciocínio matemático.
entanto, reflete a concepção do professor como emissor O uso exclusivo desse tipo de problema consegue
do conhecimento e o aluno como receptor. Ou seja, o mascarar a efetiva aprendizagem, à medida que, ao an-
professor ensina, geralmente por meio de seu discurso,
tecipar o conhecimento em jogo na situação, o estudante
e o aluno deve aprender, por meio de uma escuta atenta
atua de forma mecânica e, muitas vezes, sem construir
do discurso do professor. Essa escolha metodológica se
significado, na resolução do problema.
baseia, geralmente, em três etapas: a apresentação do
Em contraposição ao problema fechado, estudos
objeto de conhecimento, a oferta de exemplos de apli-
cação e uma extensa bateria de exercícios de fixação do em Educação Matemática têm colocado em evidência o
conteúdo estudado. trabalho com problemas abertos e situações-problema.
A opção por esse caminho demanda estudantes bas- Apesar de apresentarem objetivos diferentes, estes dois
tante motivados e com grande capacidade de concen- últimos tipos de problemas colocam o estudante, em
tração, o que não parece ser o caso na maioria de nossas certo sentido, em situação análoga àquela do matemáti-
escolas, particularmente com estudantes de menor ida- co no exercício de sua atividade.
de6. Na verdade, a predominância desse tipo de ensino Diante deles, o estudante deve realizar tentativas de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em nosso sistema escolar tem sido apontada na literatura resolução, estabelecer hipóteses, testá-las e validar seus
educacional como uma das causas das sérias dificuldades resultados8.
na aprendizagem.
Modelagem matemática no ensino e aprendiza-
O estudante como sujeito ativo da aprendizagem gem

No segundo caso, cabe ao professor promover uma Em anos recentes, os estudos em Educação Matemá-
recontextualização do conhecimento em jogo na relação tica têm posto em evidência a ideia de modelagem ma-
didática, ou seja, promover uma situação de aprendiza- temática: “a arte de transformar problemas da realidade
gem em que o conhecimento que se deseja que o estu- em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando
dante aprenda apareça na forma de uma situação a ser suas soluções na linguagem do mundo real”.

87
A modelagem matemática pode ser entendida como A Matemática e a Formação para a Cidadania
um método de trabalho científico. Nessa perspectiva, há
coerência desse método com os pontos de vista expos- A convivência na complexa sociedade atual tem sido
tos neste texto sobre as características da matemática marcada por graves tensões sociais, geradas por persis-
como fonte de modelos para o conhecimento dos fenô- tentes desigualdades no acesso a bens e serviços e às
menos da natureza e da cultura. esferas de decisão política, e pela supervalorização das
No entanto, neste momento, é a modelagem mate- ideias de mercado e de consumo, entre outras razões.
mática como estratégia de ensino e aprendizagem que Além disso, ainda prevalece no mundo uma ordem social
convém destacar, pela estreita conexão dessa estratégia contrária aos princípios da solidariedade e da igualdade
com ações envolvidas na resolução de problemas aber- de oportunidades para todos. Essa é uma situação inde-
tos e de situações-problema. sejável, que precisa ser superada, e devemos buscar en-
De fato, quando a modelagem matemática propõe contrar o papel da formação matemática que contribua
uma situação-problema ligada ao mundo real, com sua para superá-la.
inerente complexidade, o estudante é chamado a mobi-
Uma formação que valorize a participação efetiva do
lizar um leque variado de conhecimentos e habilidades:
estudante na sua aprendizagem e que incentive a sua au-
selecionar variáveis que serão relevantes para o modelo a
tonomia, certamente, colabora para a construção da ci-
construir; problematizar, ou seja, formular um problema
dadania. O estímulo ao diálogo permanente entre todos
teórico, na linguagem do campo matemático envolvido;
formular hipóteses explicativas do fenômeno em causa; que atuam na sala de aula ― estudantes e professor ― e
recorrer ao conhecimento matemático acumulado para a o incentivo ao trabalho coletivo são outras ações que fa-
resolução do problema formulado (o que, muitas vezes, vorecem o desenvolvimento da capacidade de conviver
requer um esforço de simplificação, pelo fato de que o harmonicamente em sociedade e de respeitar as diferen-
modelo originalmente pensado pode revelar-se mate- ças entre as pessoas. A sala de aula de Matemática não
maticamente muito complexo); validar, isto é, confrontar é só um local para aprendizagem dessa disciplina e para
as conclusões teóricas com os dados empíricos existen- a interação entre os estudantes, propiciada e mediada
tes, o que, quase sempre, leva à necessidade de modifi- pelo professor; ela deve ser sempre uma oportunidade
cação do modelo, que é essencial para revelar o aspecto valiosa para o cultivo de condutas coletivas importantes
dinâmico da construção do conhecimento. para a vida social.
Evidencia-se, além disso, que a estratégia de mode- É preciso defender uma formação que reconheça sa-
lagem matemática no ensino e na aprendizagem tem beres e práticas matemáticas dos cidadãos e das comu-
sido apontada como um instrumento de formação de nidades locais – que são aptidões prévias relativamente
um estudante: comprometido com problemas relevantes eficientes – sem que se abdique do saber matemático
da natureza e da cultura de seu meio; crítico e autôno- mais universal.
mo, na medida em que toma parte ativa na construção É preciso defender uma formação que reconheça sa-
do modelo para a situação problema; envolvido com o beres e práticas matemáticas dos cidadãos e das comu-
conhecimento matemático em sua dupla dimensão de nidades locais ― que são aptidões prévias relativamente
instrumento de resolução de problemas e de acervo de eficientes. Essa formação deve-se abdicar do saber mate-
teorias abstratas acumuladas ao longo da história; que mático mais universal.
“faz Matemática”, com interesse e prazer.
Conteúdos Matemáticos no Ensino Fundamental
Projetos de ensino e aprendizagem
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Do ponto de vista metodológico, a proposta de uma
Fundamental (Brasil, 2009), em discussão na comunidade
pedagogia de projetos de trabalho harmoniza-se com a
educacional, indicam, enfaticamente, a necessidade de
da resolução de problemas abertos, de situações-pro-
um Ciclo de alfabetização, destinado a crianças de 6, 7 e
blema ou a da modelagem matemática, tendo em co-
8 anos de idade, sem deixar de lado a defesa do Ensino
mum com essas a valorização do envolvimento ativo do
professor e dos estudantes nas ações desenvolvidas na Fundamental como um todo integrado. Nos limites deste
sala de aula. Além disso, os projetos que articulem vá- texto, opta-se por apresentar uma visão de conjunto da
rios campos do saber são oportunidades adequadas à Matemática escolar que, se espera, seja abordada do 1º
prática da interdisciplinaridade. Outra dimensão positiva ao 9º anos do Ensino Fundamental, acrescida, em alguns
pontos, de comentários sobre o ciclo de alfabetização.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dessa ação pedagógica é a possibilidade de escolha de


projetos com temas de interesse da comunidade, que
favoreçam o despertar do estudante para os problemas Números e operações
do contexto social e para a necessidade de ações que
tornem mais justo e humano esse contexto. As atividades matemáticas no mundo atual reque-
Deve-se dar atenção, por outro lado, à harmonização rem a capacidade de contar coleções, comparar e medir
dos projetos de trabalho de sala de aula com o projeto grandezas e realizar codificações, que dão significados
pedagógico maior da escola. Sem essa sintonia, agra- ao conceito de número natural. É também indiscutível sa-
va-se a fragmentação do trabalho escolar que tem sido ber que ler e escrever números no sistema de numeração
apontada como um dos fatores que atuam negativamen- decimal são habilidades fundamentais, em particular no
te na instituição escolar. ciclo de alfabetização.

88
Recomenda-se trabalhar, de maneira gradual e inte- cinco primeiros anos do Ensino Fundamental, deve passar
grada, os diversos significados e propriedades das ope- a abordar, progressivamente, os conceitos de variável, ex-
rações fundamentais de adição, subtração, multiplicação pressão algébrica, igualdade algébrica, equações (do 1º e
e divisão. É importante dar atenção especial à aquisição do 2º graus), proporcionalidade e função. Em particular,
progressiva e gradual dos algoritmos formalizados, que o aprofundamento desta última noção deve apoiar-se em
se beneficiam do desenvolvimento do senso numérico, situações do cotidiano do estudante, evitando-se a siste-
das propriedades das operações e das habilidades de matização precoce.
cálculo mental.
Após o ciclo de alfabetização, a potenciação pode ser Geometria
gradualmente estudada até seu desenvolvimento mais
completo nos últimos anos do Ensino Fundamental, com Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em parti-
ênfase no significado dessa operação, ou seja, na ideia de cular no ciclo de alfabetização, sugere-se que o trabalho
com a Geometria seja centrado na exploração do espaço
crescimento exponencial. A radiciação de índice 2 ou 3
que envolve a criança. As situações em que ela seja levada
(raiz quadrada e raiz cúbica), igualmente de forma lenta e
a se situar no espaço que a cerca devem ser particular-
significativa, pode ser abordada a partir do 6º ano do En-
mente exploradas. Dessa maneira, em momentos iniciais,
sino Fundamental. Os conceitos de número racional e de podem ser propostas atividades que levem o estudante a
número inteiro estão presentes nas atividades matemáti- compreender as ideias de pontos de referência e desloca-
cas em quase todas as práticas sociais. Para sua aprendi- mentos e, gradualmente, de direção, sentido, ângulo, pa-
zagem eficiente, as pesquisas têm indicado a necessida- ralelismo, perpendicularidade e coordenadas cartesianas.
de de se levarem em conta seus vários significados, suas É também no espaço que cerca a criança que ela
diversas representações (por exemplo, as representações encontra as diferentes figuras geométricas, planas e es-
decimal e fracionária dos racionais) e a abordagem sig- paciais, e identifica, de modo progressivo, suas proprie-
nificativa de seus algoritmos, na qual desempenham pa- dades. Os difíceis caminhos didáticos que favorecem
péis chave as ideias, bem contextualizadas, das opera- a passagem gradual do mundo concreto para os entes
ções nos naturais e nos inteiros e o conceito básico de geométricos abstratos passam sempre pelo emprego
equivalência nos racionais. adequado de desenhos, de construções geométricas, de
A noção de porcentagem é extremamente importan- planificações, do uso de programas tecnológicos ou soft-
te nas práticas sociais e é um conteúdo a ser abordado wares de geometria dinâmica, de ampliação e de redução
simultaneamente ao de número racional. No entanto, é de figuras. Por esses caminhos, podem ser abordados im-
preciso cuidado na progressão desses dois últimos con- portantes conceitos e resultados, tais como a semelhança
ceitos, que só deveriam ser formalizados a partir do 6º e os Teoremas de Tales e de Pitágoras.
ano do Ensino Fundamental. O número irracional tem
sua origem ligada a problemas no âmbito da própria Ma- Grandezas e medidas
temática, que é a existência de segmentos que não têm
uma medida comum. Mas, atenção! Nesse caso, trata-se Os conceitos de grandeza e de medida de grandezas
da medição abstrata e não daquela realizada com instru- estão presentes nas múltiplas atividades das pessoas: no
mentos físicos. Também surgem, por exemplo, nas raízes dia a dia, nas práticas profissionais, no mundo da tecno-
quadradas de números inteiros que não são quadrados logia e da ciência. Por isso, a construção desses conceitos
perfeitos. As dificuldades conceituais associadas aos ir- é tão importante e recomenda-se que seja iniciada desde
os primeiros anos escolares, de maneira bastante informal
racionais indicam que eles só sejam estudados nos anos
no ciclo de alfabetização, sendo ampliada e aprofundada
finais do Ensino Fundamental. Em uma formação mate-
nos anos posteriores do Ensino Fundamental. A compa-
mática sintonizada com os desafios do século XXI, não se
ração de grandezas, que são atributos de objetos ou de
pode deixar de lado o trabalho com o cálculo mental e as fenômenos físicos, pode ocorrer de maneira informal e
estimativas. Também não podemos prescindir do uso da quase despercebida. São corriqueiras perguntas como:
calculadora, assunto que será mais aprofundado adian- Quem está mais longe? Qual é a marca mais barata?
te neste texto. A respeito disso, as questões relativas ao Quanto tempo demora? Quanto pesa? Quanto custa?
ensino e à aprendizagem dessas habilidades são nume- Qual é o mais curto?
rosas e desafiadoras. Cabe ao ensino escolar, progressivamente, sistemati-
Álgebra zar e aprofundar tais questões, de modo que os estudan-
tes possam construir as noções de medição e de unidade
As tendências atuais em Educação Matemática enca- de medida (padronizada ou não) para um leque amplo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ram a Álgebra como uma forma de pensar matematica- de grandezas e começar a usar instrumentos de medição.
mente, caracterizada, entre outros aspectos, pela busca No Ensino Fundamental, deve-se dar muita atenção às
de generalizações e de regularidades. Adotado esse pon- grandezas geométricas: comprimento (perímetro), área,
to de vista, é recomendável que o ensino desse conteúdo volume (capacidade) e abertura de ângulo. Mas, outras
seja desenvolvido desde a primeira etapa do Ensino Fun- grandezas podem ser estudadas, sempre em situações
damental. Mas é importante preservar, cuidadosamente, com significado: valor monetário (dinheiro), tempo, mas-
no ciclo de alfabetização, a informalidade da abordagem, sa e temperatura. Grandezas determinadas pela razão de
bem como evitar reduzir, nos anos posteriores, a álgebra duas outras (kWh, velocidade, densidade, etc.) podem ser
a simples manipulação simbólica. Além disso, o trabalho construídas com estudantes dos anos finais do Ensino
com esse campo da Matemática escolar, após o emprego Fundamental, bem como demandam alguma atenção as
do raciocínio algébrico de maneira informal, realizado nos unidades de medida da informática: Kb, Mb, Gb, etc.

89
Estatística, probabilidades e combinatória - favorecer a aquisição de saberes profissionais perti-
nentes, cumprindo o papel de texto de referência.
Muitos afirmam que uma grande inovação do conhe- Para o desempenho satisfatório dessas funções, impor-
cimento na segunda metade do século XX foi o relevo ta não só o que está contido no livro do aluno, mas tam-
conquistado pelo campo da estatística, probabilidades e bém as orientações e os textos informativos incluídos no
combinatória, cujo desenvolvimento está muito relacio- manual do professor.
nado ao advento do computador e das ciências da com- Por outro lado, há situações em que o livro didático tem
putação e da informação. Novos conhecimentos tornaram ocupado o papel dominante no ensino. Quando isso ocor-
indispensáveis mudanças na cultura escolar. As propostas re, é bom lembrar que, apesar de toda a sua importância,
curriculares mais recentes têm incluído como um novo o livro não deve ser o único suporte do trabalho do pro-
campo de conteúdos a estatística, por meio da qual se fessor. É sempre desejável buscar enriquecê-lo com outras
procuram abordar o levantamento de dados sobre deter- fontes, a fim de ampliar ou aprimorar o conteúdo que ele
minada questão da realidade física ou social, o tratamen- traz e, acima de tudo, adequá-lo ao grupo de estudantes
to, a organização, a apresentação e a interpretação desses que o utilizam.
dados (tabelas, dispositivos gráficos, medidas estatísticas, Nesse sentido, vale a pena valorizarmos cada dia mais
etc.) e a formulação de conclusões de natureza estatística. a riqueza do material contido no acervo de livros comple-
A teoria das probabilidades, em sua vertente escolar, ser- mentares ― paradidáticos ― destinados aos primeiros
ve como base para a estatística e também como modelo anos do Ensino Fundamental, os quais têm sido distribuí-
teórico para os fenômenos envolvendo a ideia de incerte- dos pelo Ministério da Educação tem distribuído para es-
za. As mencionadas propostas curriculares incluem, ainda, colas públicas do país.
a combinatória, que lida, entre outros conteúdos, com a Mas é preciso cuidado. Por mais ajuda que os livros
contagem sistemática de conjuntos discretos. Todos esses ofereçam, o professor é insubstituível e deve-se, sempre,
conteúdos podem se fazer presentes no ciclo de alfabe- procurar levar em consideração as especificidades sociais e
tização, mas é preciso cuidado para se evitar a sua siste- culturais da escola, para que a formação integral do estu-
matização nessa fase.
dante seja mais efetiva.
Recursos Didáticos
Os jogos na formação matemática
O livro didático e a sala de aula
O interesse pelos jogos matemáticos vem de longa
O livro didático traz para os processos de ensino e de
data, tanto que existe, hoje, uma extensa bibliografia so-
aprendizagem mais um personagem, o seu autor, que
bre o tema e um crescente interesse dos professores em
passa a dialogar com o professor e com o estudante. Nes-
incorporá-los a sua prática pedagógica. O ponto de vis-
se diálogo, o livro é portador de escolhas sobre o saber a
ser estudado – no nosso caso a Matemática –, os métodos ta privilegiado é o de que os jogos devem ser encarados
adotados para que os estudantes consigam aprendê-lo como situações-problema e, baseando-se nelas, podem
mais eficazmente, a seleção e a organização dos conteú- ser tratados conceitos e relações matemáticas relevantes
dos ao longo dos anos de escolaridade. para o ensino.
Cria-se, dessa maneira, uma teia de relações interli- A denominação genérica “jogos matemáticos” preten-
gando quatro polos: um deles é formado pelo autor e o de englobar situações-problema de vários tipos, como jo-
livro didático; o professor, o estudante e a Matemática gos que envolvem disputa entre duas pessoas ou entre pa-
compõem os outros três. res, incluindo os clássicos e suas variações ― por exemplo,
Uma reflexão sobre o livro didático, que procure con- o xadrez, o jogo de damas, o jogo da velha e muitos outros
templar o cenário complexo acima esquematizado, pode- jogos de tabuleiro ―, muitos deles com ricas ligações com
-se inspirar no estudo de Gérard & Roegiers11 para dele as várias culturas regionais; quebra-cabeças de montagem
extrair um elenco das funções mais importantes desse ou movimentação de peças, como o tangram e os po-
livro em relação ao estudante e ao professor. liminós; os desafios, enigmas e paradoxos, formulados
Tratando-se do estudante, tais funções podem ser: em linguagem do cotidiano e que requeiram raciocínio
- favorecer a aquisição de saberes socialmente relevan- lógico para serem desvendados.
tes; Vários aspectos têm sido apontados como pedagogi-
- consolidar, ampliar, aprofundar e integrar os conhe- camente relevantes nas experiências com jogos nas aulas
cimentos; de Matemática. Em primeiro lugar, menciona-se a ne-
cessidade de desenvolver a dimensão lúdica, importante
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- propiciar o desenvolvimento de competências e ha-


bilidades do estudante, que colaborem para aumentar sua para o desenvolvimento integral do estudante. Ao lado
autonomia; disso, os jogos também são instrumentos importantes
- contribuir para a formação social e cultural e para o para favorecer a inserção do estudante em sua cultura.
desenvolvimento da capacidade de convivência e de exer- Em segundo lugar, argumenta-se que ideias e rela-
cício da cidadania. ções matemáticas importantes estão presentes em uma
Com respeito ao professor: enorme variedade de jogos e, por meio desses, é possível
- contribuir com o planejamento didático-pedagógico um encontro inicial e estimulante com ambos. Além dis-
anual e com a gestão das aulas; so, a busca de estratégias para a vitória ou para solucio-
- oferecer subsídios à formação didático-pedagógica; nar um desafio inclui, normalmente, uma variedade de
- auxiliar na avaliação da aprendizagem do estudante; questões de lógica ou de

90
Matemática. Esse fato possibilitaria a exploração de Por exemplo, refletir sobre as dificuldades históricas
um mesmo jogo em diversos níveis, dependendo do es- da chamada “regra dos sinais”, relativa à multiplicação
tágio dos participantes. de números negativos, e discutir a criação dos números
No âmbito pedagógico, é fundamental o aspecto irracionais são iniciativas que podem contribuir bastante
interativo propiciado pela experiência com jogos mate- para o ensino desses conteúdos, particularmente para
máticos. Os estudantes não ficam na posição de meros que o professor consiga associar as dificuldades de seus
observadores, tomando conhecimentos de novos fatos. estudantes às dificuldades encontradas historicamente
Ao contrário, transformam-se em elementos ativos, na pelo homem no processo de desenvolvimento do conhe-
tentativa de ganhar a partida ou na busca de um ca- cimento matemático.
minho para a solução do problema posto à sua frente.
Certamente, tal atitude é extremamente positiva para a As tecnologias de informação e a comunicação
aprendizagem das ideias matemáticas subjacentes aos
jogos. Além do mais, a vitória em uma partida ou a des- As mudanças tecnológicas das últimas décadas re-
coberta da solução de um desafio são experiências rele- percutiram de forma evidente na Matemática, com o
vantes para fortalecer a autoconfiança, tão indispensá- advento de novos recursos de armazenamento e comu-
nicação de informações, de computação e de criação de
vel ao processo de aprendizagem. É bom lembrar, em
“realidades virtuais”.
contrapartida, que as derrotas repetidas e os insucessos
Na escola, não só surgiram novos conteúdos curri-
frequentes diante dos desafios podem levar a frustrações
culares, mas também se passou ao emprego de meto-
e reforçar a ideia de incapacidade para compreender os
dologias de ensino e aprendizagem com uso de novas
fatos na área da Matemática.
tecnologias.
O caráter recreativo da experiência com jogos pode Um primeiro ponto a mencionar é o papel que a
tornar a Matemática mais atraente para os estudantes calculadora e o computador desempenham para, entre
que desenvolveram reações sobre como lidar com esse outras possibilidades, facilitar os cálculos com números
conhecimento. de ordem de grandeza elevada; armazenar, organizar e
Outro mérito seria o de contribuir para atitudes po- dar acesso a grande quantidade de informações (banco
sitivas de convivência, pois, nos jogos não individuais, de dados); fornecer imagens visuais para conceitos ma-
o estudante é chamado a negociar as regras do jogo, a temáticos; permitir a criação de “micromundos” virtuais
respeitá-las, a colaborar com seus parceiros de jogo, a para a simulação de “experimentos matemáticos”; per-
aprende a perder e a saber ganhar. mitir rápido acesso aos múltiplos recursos da Internet.
Deve-se, advertir, no entanto, que não é uma tarefa Por isso, o emprego da calculadora, ou do computa-
fácil trazer os jogos matemáticos para a escola. A com- dor, não deve ser encarado como limitador do desenvol-
plexidade de alguns jogos, mesmo os mais comuns, re- vimento das habilidades matemáticas para operar com
quer, de um lado, clareza sobre os vários conceitos ma- números, como ainda tem sido entendido por muitos. Ao
temáticos envolvidos e, de outro, um planejamento do contrário, ambos devem ser vistos como instrumentos
momento e da maneira adequados para a sua utilização de expansão dessa capacidade de calcular. A competên-
como recurso didático. Só assim, serão garantidos a ri- cia de efetuar as operações básicas da aritmética, com
queza conceitual, o prazer em participar da atividade e a números inteiros e racionais, continua sendo necessária
conquista da autoconfiança dos estudantes. para a formação básica de todos os cidadãos, respeitada
a complexidade dessas operações.
História da Matemática como recurso didático O uso da calculadora, por exemplo, torna indispen-
sável desenvolver no estudante a capacidade de efetuar
Uma das formas mais eficazes de atribuir significado cálculos mentais e estimativas. O cálculo por arredonda-
aos conceitos matemáticos é contextualizá-los no pro- mento é uma dessas estratégias, ao lado da estimativa
da ordem de grandeza dos resultados das operações. A
cesso de evolução histórica desses conceitos.
ampliação dessas capacidades vai permitir ao estudante
No entanto, ao trazermos a história da Matemática
controlar o resultado de cálculos realizados com a cal-
para a sala de aula, não podemos nos limitar à descrição
culadora ou o computador e, dessa forma, não o deixar
de fatos ocorridos no passado ou à atuação de persona-
refém desses instrumentos.
gens famosos.
Convém lembrar também que as novas tecnologias
Em primeiro lugar, é importante que as articulações
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de ensino e aprendizagem não atuam por si sós e não


da matemática com as necessidades humanas de cada podem sozinhas fazer com que os estudantes aprendam
época sejam evidenciadas. Mais importante ainda, é Matemática.
preciso levar em conta as contribuições do processo de Dessa maneira, elas não diminuem o papel ou a res-
construção histórica dos conceitos e procedimentos ma- ponsabilidade do professor em sala de aula. Ao contrá-
temáticos para a superação das dificuldades de aprendi- rio, o planejamento didático das atividades a serem de-
zagem desses conteúdos em sala de aula. senvolvidas assume lugar essencial entre as suas tarefas.
A construção progressiva dos números naturais, ra- E, tendo em conta o amplo leque de possibilidades que
cionais, irracionais, negativos e imaginários ao longo da tais tecnologias oferecem, pode-se até dizer que o papel
história é uma fonte importante para a didática atual do professor fica mais amplo e complexo.
desses conceitos.

91
Outros recursos didáticos Como se reafirmou neste texto, a formação matemá-
tica pertinente começa por reconhecer a complexidade
As metodologias de ensino e aprendizagem mencio- dos fenômenos de ensino e aprendizagem e a recorrer
nadas neste texto requerem de professores e estudantes aos conhecimentos construídos na área didático-peda-
o recurso permanente a variadas fontes de informação e gógica. Nesses estudos, deslocou-se a atenção exclusiva
a momentos de interação fora dos limites da sala de aula. ao ensino e passou-se a valorizar também a aprendiza-
gem. Para tanto, metodologias de ensino e aprendiza-
As leituras complementares de livros, de jornais e revis-
gem mais eficientes e recursos didáticos variados preci-
tas, as buscas na Internet, as sessões de vídeo, as visitas sam ser experimentados.
culturais, os grupos de estudo e os chamados “estudos O requisito da equidade traduziu-se, neste texto, pela
do meio” são alguns dos recursos mais conhecidos, mas indicação de características de uma formação que pos-
professores e estudantes devem exercitar a criatividade sibilite a todos o acesso ao conhecimento matemático.
na busca de ampliar esse leque de possibilidades. Essa formação deve valorizar os conhecimentos e habili-
O recurso a materiais concretos nas aulas de Mate- dades já adquiridos pelas crianças e pelos jovens e o seu
mática tem sido defendido de forma muito frequente na nível de desenvolvimento cognitivo; deve proporcionar
literatura educacional. São numerosos os depoimentos também um espaço de construção coletiva de cidadãos
de professores sobre os efeitos positivos do uso desses críticos, autônomos e solidários.
Em vários pontos deste texto, foram feitas considera-
materiais na aprendizagem, entre os quais encontram-se
ções sobre a função essencial a ser desempenhada pelo
modelos de figuras geométricas, moldes para montagem professor no processo de ensino e aprendizagem, ao
de figuras, maquetes, dobraduras, material dourado, lado do igualmente essencial e ativo papel a ser exercido
ábaco, barras Cuisenaire, “dinheiro de fichas”, e instru- pelo estudante. Também foi ressaltado um elenco varia-
mentos de desenho e de medição. do e complexo de conhecimentos e habilidades mate-
No entanto, é preciso que se exerça permanente vigi- máticas que o professor precisa mobilizar para o devido
lância sobre alguns aspectos envolvidos no uso didático cumprimento de sua função. Cabe, então, às instâncias
de materiais concretos. Deve-se evitar a ilusão de que formadoras uma parcela fundamental de responsabi-
o uso do material, por si só, exerça um papel positivo lidade de dar oportunidade aos que vão ensinar, ou já
sobre a aprendizagem. Faz-se necessária uma ação pré- ensinam, Matemática na escola, para a aquisição desses
conhecimentos e habilidades.
via de análise das estruturas conceituais subjacentes ao
material concreto: é preciso desvendar “a matemática do Fonte
material”, para que seja eficaz o seu emprego como ins- SANTOS, M. C. dos; LIMA, P. F. Considerações sobre
trumento auxiliar de aprendizagem. a Matemática no Ensino Fundamental. Disponível em:
Outro aspecto a mencionar é o emprego de medições http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_do-
realizadas em materiais concretos como uma maneira de cman&task=doc_download&gid=7166&Itemid=
levar o estudante a descobrir ou a comprovar proprie-
dades geométricas. Embora essa abordagem possa ser EDUCAÇÃO INFANTIL
útil no ensino introdutório das referidas propriedades,
recomenda-se ter sempre em conta que todas as me- A criança e a matemática
dições feitas no mundo material são necessariamente
As noções matemáticas (contagem, relações quanti-
aproximadas. Por exemplo, em um triângulo abstrato, na
tativas e espaciais etc.) são construídas pelas crianças a
Geometria escolar, a soma das medidas de seus ângulos partir das experiências proporcionadas pelas interações
internos é 180°. No entanto, em um triângulo construído com o meio, pelo intercâmbio com outras pessoas que
de papel (ou desenhado no papel) a soma de seus ângu- possuem interesses, conhecimentos e necessidades que
los, medidos com um transferidor, valendo-se de todo podem ser compartilhados. As crianças têm e podem ter
o cuidado, será apenas, aproximadamente, igual a 180°. várias experiências com o universo matemático e outros
que lhes permitem fazer descobertas, tecer relações, or-
Considerações Finais ganizar o pensamento, o raciocínio lógico, situar-se e lo-
calizar-se espacialmente. Configura-se desse modo um
Este texto visa propiciar a reflexão sobre uma forma- quadro inicial de referências lógico-matemáticas que re-
querem outras, que podem ser ampliadas. São manifes-
ção matemática que cumpra os requisitos de relevân-
tações de competências, de aprendizagem advindas de
cia, pertinência e equidade, na busca de uma educação processos informais, da relação individual e cooperativa
com qualidade social. Aqui se defendeu que, para ser
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da criança em diversos ambientes e situações de diferen-


relevante, a formação precisa reconhecer a presença da tes naturezas, sobre as quais não se tem planejamento
matemática nas atividades humanas, das mais rotineiras e controle. Entretanto, a continuidade da aprendizagem
às mais complexas. Deve, além disso, tornar acessível a matemática não dispensa a intencionalidade e o plane-
todos o acervo de conhecimentos matemáticos histori- jamento. Reconhecer a potencialidade e a adequação de
camente acumulados. A relevância da formação nutre-se uma dada situação para a aprendizagem, tecer comen-
também da exploração das conexões do conhecimento tários, formular perguntas, suscitar desafios, incentivar a
matemático, seja entre as suas subdisciplinas, seja com verbalização pela criança etc., são atitudes indispensáveis
outros saberes científicos, sem esquecer que todo co- do adulto. Representam vias a partir das quais as crianças
nhecimento matemático relevante está associado a algu- elaboram o conhecimento em geral e o conhecimento
matemático em particular.
ma prática social.

92
Deve-se considerar o rápido e intenso processo de mudança vivido pelas crianças nessa faixa etária. Elas apresen-
tam possibilidades de estabelecer vários tipos de relação (comparação, expressão de quantidade), representações
mentais, gestuais e indagações, deslocamentos no espaço.
Diversas ações intervêm na construção dos conhecimentos matemáticos, como recitar a seu modo a sequência
numérica, fazer comparações entre quantidades e entre notações numéricas e localizar-se espacialmente. Essas ações
ocorrem fundamentalmente no convívio social e no contato das crianças com histórias, contos, músicas, jogos, brinca-
deiras etc.
As respostas de crianças pequenas a perguntas de adultos que contenham a palavra “quantos?” podem ser alea-
toriamente “três”, “cinco”, para se referir a uma suposta quantidade. O mesmo ocorre às perguntas que contenham
“quando?”. Nesse caso, respostas como “terça-feira” para indicar um dia qualquer ou “amanhã” no lugar de “ontem”
são frequentes. Da mesma forma, uma criança pequena pode perguntar “quanto eu custo?” ao subir na balança, no lu-
gar de “quanto eu peso?”. Esses são exemplos de respostas e perguntas não muito precisas, mas que já revelam algum
discernimento sobre o sentido de tempo e quantidade. São indicadores da permanente busca das crianças em construir
significados, em aprender e compreender o mundo.
À medida que crescem, as crianças conquistam maior autonomia e conseguem levar adiante, por um tempo maior,
ações que tenham uma finalidade, entre elas atividades e jogos. As crianças conseguem formular questões mais ela-
boradas, aprendem a trabalhar diante de um problema, desenvolvem estratégias, criam ou mudam regra de jogos,
revisam o que fizeram e discutem entre pares as diferentes propostas.

Objetivos

Crianças de zero a três anos

A abordagem da Matemática na educação infantil tem como finalidade proporcionar oportunidades para que as
crianças desenvolvam a capacidade de:

Crianças de quatro a seis anos

Para esta fase, o objetivo é aprofundar e ampliar o trabalho para a faixa etária de zero
a três, garantindo, ainda, oportunidades para que sejam capazes de:

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Conteúdos
A seleção e a organização dos conteúdos matemáticos representam um passo importante no planejamento da
aprendizagem e devem considerar os conhecimentos prévios e as possibilidades cognitivas das crianças para ampliá-
-los. Para tanto, deve-se levar em conta que:

93
Os domínios sobre os quais as crianças de zero a seis anos fazem suas primeiras incursões e expressam ideias ma-
temáticas elementares dizem respeito a conceitos aritméticos e espaciais.
Propõe-se a abordagem desses conteúdos de forma não simplificada, tal como aparecem nas práticas sociais. Se
por um lado, isso implica trabalhar com conteúdos complexos, por outro lado, traz implícita a ideia de que a criança vai
construir seu conhecimento matemático por meio de sucessivas reorganizações ao longo da sua vida.
Complexidade e provisoriedade são, portanto, inseparáveis, pois o trabalho didático deve necessariamente levar
em conta tanto a natureza do objeto de conhecimento como o processo pelo qual as crianças passam ao construí-lo.

Crianças de zero a três anos

Orientações didáticas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os bebês e as crianças pequenas estão começando a conhecer o mundo e a estabelecer as primeiras aproximações
com ele. As situações cotidianas oferecem oportunidades privilegiadas para o trabalho com a especificidade das ideias
matemáticas. As festas, as histórias e, principalmente, os jogos e as brincadeiras permitem a familiarização com ele-
mentos espaciais e numéricos, sem imposição. Assim, os conceitos matemáticos não são o pretexto nem a finalidade
principal a ser perseguida. As situações deverão ter um caráter múltiplo para que as crianças possam interessar-se, fazer
relações sobre várias áreas e comunicá-las.
As modificações no espaço, a construção de diferentes circuitos de obstáculos com cadeiras, mesas, pneus e panos
por onde as crianças possam engatinhar ou andar — subindo, descendo, passando por dentro, por cima, por baixo —
permitem a construção gradativa de conceitos, dentro de um contexto significativo, ampliando experiências. As brinca-
deiras de construir torres, pistas para carrinhos e cidades, com blocos de madeira ou encaixe, possibilitam representar

94
o espaço numa outra dimensão. O faz-de-conta das crianças pode ser enriquecido, organizando-se espaços próprios
com objetos e brinquedos que contenham números, como telefone, máquina de calcular, relógio etc. As situações de
festas de aniversário podem constituir-se em momento rico de aproximação com a função dos números. O professor
pode organizar junto com as crianças um quadro de aniversariantes, contendo a data do aniversário e a idade de cada
criança. Pode também acompanhar a passagem do tempo, utilizando o calendário. As crianças por volta dos dois anos
já podem, com ajuda do professor, contar quantos dias faltam para seu aniversário. Pode-se organizar um painel com
pesos e medidas das crianças para que elas observem suas diferenças. As crianças podem comparar o tamanho de seus
pés e depois olhar os números em seus sapatos. O folclore brasileiro é fonte riquíssima de cantigas e rimas infantis
envolvendo contagem e números, que podem ser utilizadas como forma de aproximação com a sequência numérica
oral. São muitas as formas possíveis de se realizar o trabalho com a Matemática nessa faixa etária, mas ele sempre deve
acontecer inserido e integrado no cotidiano das crianças.

Crianças de quatro a seis anos


Nesta faixa etária aprofundam-se os conteúdos indicados para as crianças de zero a três anos, dando-se crescente
atenção à construção de conceitos e procedimentos especificamente matemáticos. Os conteúdos estão organizados
em três blocos: “Números e sistema de numeração”, “Grandezas e medidas” e “Espaço e forma”. A organização por
blocos visa a oferecer visibilidade às especificidades dos conhecimentos matemáticos a serem trabalhados, embora as
crianças vivenciem esses conteúdos de maneira integrada.

Números e sistema de numeração


Este bloco de conteúdos envolve contagem, notação e escrita numéricas e as operações matemáticas.

Orientações didáticas
Os conhecimentos numéricos das crianças decorrem do contato e da utilização desses conhecimentos em proble-
mas cotidianos, no ambiente familiar, em brincadeiras, nas informações que lhes chegam pelos meios de comunicação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

etc. Os números estão presentes no cotidiano e servem para memorizar quantidades, para identificar algo, antecipar
resultados, contar, numerar, medir e operar. Alguns desses usos são familiares às crianças desde pequenas e outros
nem tanto.

Contagem

Contar é uma estratégia fundamental para estabelecer o valor cardinal de conjuntos de objetos. Isso fica evidencia-
do quando se busca a propriedade numérica dos conjuntos ou coleções em resposta à pergunta “quantos?” (cinco, seis,
dez etc.). É aplicada também quando se busca a propriedade numérica dos objetos, respondendo à pergunta “qual?”.
Nesse caso está também em questão o valor ordinal de um número (quinto, sexto, décimo etc.).

95
A contagem é realizada de forma diversificada pelas crianças, com um significado que se modifica conforme o con-
texto e a compreensão que desenvolvem sobre o número.

Pela via da transmissão social, as crianças, desde muito pequenas, aprendem a recitar a sequência numérica, muitas
vezes sem se referir a objetos externos. Podem fazê-lo, por exemplo, como uma sucessão de palavras, no controle do
tempo para iniciar uma brincadeira, por repetição ou com o propósito de observar a regularidade da sucessão. Nessa
prática, a criança se engana, pára, recomeça, progride. A criança pode, também, realizar a recitação das palavras, numa
ordem própria e particular, sem necessariamente fazer corresponder as palavras da sucessão aos objetos de uma co-
leção (1, 3, 4, 19, por exemplo).

Embora a recitação oral da sucessão dos números seja uma importante forma de aproximação com o sistema nu-
mérico, para evitar mecanização é necessário que as crianças compreendam o sentido do que se está fazendo. O grau
de desafio da recitação de uma série depende dos conhecimentos prévios das crianças, assim como das novas apren-
dizagens que possam efetuar. Ao elaborar situações didáticas para que todos possam aprender e progredir em suas
aprendizagens, o professor deve levar em conta que elas ocorrem de formas diferentes entre as crianças. Exemplos de
situações que envolvam recitação:

Na contagem propriamente dita, ou seja, ao contar objetos as crianças aprendem a distinguir o que já contaram
do que ainda não contaram e a não contar duas (ou mais) vezes o mesmo objeto; descobrem que tampouco devem
repetir as palavras numéricas já ditas e que, se mudarem sua ordem, obterão resultados finais diferentes daqueles de
seus companheiros; percebem que não importa a ordem que estabelecem para contar os objetos, pois obterão sempre
o mesmo resultado. Podem-se propor problemas relativos à contagem de diversas formas. É desafiante, por exemplo,
quando as crianças contam agrupando os números de dois em dois, de cinco em cinco, de dez em dez etc.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

96
Notação e escrita numéricas que antecipem a localização da figurinha no álbum ou, se
abrindo em determinada página, devem folhear o álbum
A importância cultural dos números e do sistema de para frente ou para trás. É interessante também confec-
numeração é indiscutível. A notação numérica, na qual cionar uma tabela numérica (com o mesmo intervalo nu-
os símbolos são dotados de valores conforme a posição mérico do álbum) para que elas possam ir marcando os
que ocupam, característica do sistema hindu-arábico de números das figurinhas já obtidas.
numeração, é uma conquista do homem, no percurso da Há diferentes tipos de calendários utilizados social-
história, e um dado da realidade contemporânea. mente (folhinhas anuais, mensais, semanais) que podem
Ler os números, compará-los e ordená-los são proce- ser apropriados para diferentes usos e funções na insti-
dimentos indispensáveis para a compreensão do signifi- tuição, como marcar o dia corrente no calendário e es-
cado da notação numérica. Ao se deparar com números crever a data na lousa; usar o calendário para organizar a
em diferentes contextos, a criança é desafiada a apren- rotina, marcando compromissos importantes do grupo,
der, a desenvolver o seu próprio pensamento e a pro- como os aniversários das crianças, a data de um passeio
duzir conhecimentos a respeito. Nem sempre um mes- etc.
mo número representa a mesma coisa, pois depende do As crianças podem pesquisar as informações numéri-
contexto em que está. Por exemplo, o número dois pode cas de cada membro de seu grupo (idade, número de sa-
estar representando duas unidades, mas, dependendo pato, número de roupa, altura, peso etc.). Com ajuda do
da sua posição, pode representar vinte ou duzentas uni- professor, as crianças podem montar uma tabela e criar
dades; pode representar uma ordem, segundo, ou ainda problemas que comparem e ordenem escritas numéricas,
representar um código (como nos números de telefone buscando as informações necessárias no próprio quadro,
ou no código de endereçamento postal). Compreender o a partir de perguntas como: “quantas crianças vestem
atual sistema numérico envolve uma série de perguntas, determinado número de roupa?”, “quantos anos um tem
como: “quais os algarismos que o compõem?”, “como se a mais que o outro?”, “quanto você precisará crescer para
chamam?”, “como são escritos?”, “como podem ser com- ficar do tamanho de seu amigo?”.
binados?”, “o que muda a cada combinação?”. Para res- É possível também pesquisar a idade dos familiares,
ponder essas questões é preciso que as crianças possam da pessoa mais velha da instituição, da cidade, do país
trabalhar desde pequenas com o sistema de numeração ou do mundo.
tal como ele se apresenta. Jogos de baralho, de adivinhação ou que utilizem da-
Propor situações complexas para as crianças só é dos também oferecem inúmeras situações para que as
possível se o professor aceitar respostas diferentes das crianças pensem e utilizem a sequência ordenada dos
convencionais, isto é, aceitar que o conhecimento é números, considerando o antecessor e o sucessor, façam
provisório e compreender que as crianças revisam suas suas próprias anotações de quantidades e comparem re-
ideias e elaboram soluções cada vez melhores. sultados.
Para as crianças, os aspectos relevantes da nume- Fichas que indicam a ordinalidade — primeiro, se-
ração são os que fazem parte de suas vidas cotidianas. gundo, terceiro — podem ser sugeridas às crianças
Pesquisar os diferentes lugares em que os números se como material para uso nas brincadeiras de faz-de-con-
encontram, investigar como são organizados e para que ta, quando é necessário, por exemplo, decidir a ordem de
servem, é tarefa fundamental para que possam iniciar a atendimento num posto de saúde ou numa padaria; em
compreensão sobre a organização do sistema de nume- jogos ou campeonatos.
ração.
Há diversos usos de números presentes nos telefo- Operações
nes, nas placas de carro e de ônibus, nas camisas de jo- Nos contextos mencionados, quando as crianças con-
gadores, no código de endereçamento postal, nas eti- tam de dois em dois ou de dez em dez, isto é, quando
quetas de preço, nas contas de luz etc., para diferenciar e contam agregando uma quantidade de elementos a par-
nomear classes ou ordenar elementos e com os quais as tir de outra, ou contam tirando uma quantidade de outra,
crianças entram em contato, interpretando e atribuindo ou ainda quando distribuem figuras, fichas ou balas, elas
significados. estão realizando ações de acrescentar, agregar, segregar
São muitas as possibilidades de a criança investigar as e repartir relacionadas a operações aritméticas. O cálculo
regras e as regularidades do sistema numérico. A seguir, é, portanto, aprendido junto com a noção de número e a
são apresentadas algumas. partir do seu uso em jogos e situações-problema. Nessas
Quando o professor lê histórias para as crianças, pode
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

incluir a leitura do índice e da numeração das páginas,


organizando a situação de tal maneira que todos possam
participar.
É importante aceitar como válidas respostas diversas
e trabalhar a partir delas. Histórias em capítulos, coletâ-
neas e enciclopédias são especialmente propícias para o
trabalho com índice. Ao confeccionar um livro junto com
as crianças é importante pesquisar, naqueles conhecidos,
como se organiza o índice e a numeração das páginas.
Colecionar em grupo um álbum de figurinhas pode
interessar às crianças. Iniciada a coleção, pode-se pedir

97
Situações, em geral as crianças calculam com apoio dos dedos, de lápis e papel ou de materiais diversos, como con-
tas, conchinhas etc. É importante, também que elas possam fazê-lo sem esse tipo de apoio, realizando cálculos mentais
ou estimativas. A realização de estimativas é uma necessidade, por exemplo, de quem organiza eventos. Para calcular
quantas espigas de milho precisarão ser assadas na fogueira da festa de São João, é preciso perguntar: “quantas pes-
soas participarão da festa?”, “quantas espigas de milho cada um come?”. As crianças pequenas também já utilizam
alguns procedimentos para comparar quantidades.
Geralmente se apoiam na contagem e utilizam os dedos, estabelecendo uma correspondência termo a termo, o que
permite referir-se a coleções ausentes.
Pode-se propor para as crianças de cinco e seis anos situações em que tenham de resolver problemas aritméticos
e não contas isoladas, o que contribui para que possam descobrir estratégias e procedimentos próprios e originais.
As soluções encontradas podem ser comunicadas pela linguagem informal ou por desenhos (representações não
convencionais). Comparar os seus resultados com os dos outros, descobrir o melhor procedimento para cada caso e
reformular o que for necessário permite que as crianças tenham maior confiança em suas próprias capacidades. Assim,
cada situação de cálculo constitui-se num problema aberto que pode ser solucionado de formas diversas, pois existem
diferentes sentidos da adição e da subtração, os problemas podem ter estruturas diferentes, o grau de dificuldade varia
em função dos tipos de perguntas formuladas. Esses problemas podem propiciar que as crianças comparem, juntem,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

separem, combinem grandezas ou transformem dados numéricos.

98
Grandezas e medidas

Orientações didáticas

De utilidade histórica reconhecida, o uso de medidas mostrou-se não só como um eficiente processo de resolução
de problemas práticos do homem antigo como teve papel preponderante no tecido das inúmeras relações entre no-
ções matemáticas. A compreensão dos números, bem como de muitas das noções relativas ao espaço e às formas, é
possível graças às medidas. Da iniciativa de povos (como os egípcios) para demarcar terras fazendo medições resultou
a criação dos números fracionários ou decimais. Mas antes de surgir esse número para indicar medidas houve um lon-
go caminho e vários tipos de problemas tiveram de ser resolvidos pelo homem.
As medidas estão presentes em grande parte das atividades cotidianas e as crianças, desde muito cedo, têm contato
com certos aspectos das medidas. O fato de que as coisas têm tamanhos, pesos, volumes, temperaturas diferentes e
que tais diferenças frequentemente são assinaladas pelos outros (está longe, está perto, é mais baixo, é mais alto, mais
velho, mais novo, pesa meio quilo, mede dois metros, a velocidade é de oitenta quilômetros por hora etc.) permite
que as crianças informalmente estabeleçam esse contato, fazendo comparações de tamanhos, estabelecendo relações,
construindo algumas representações nesse campo, atribuindo significado e fazendo uso das expressões que costumam
ouvir. Esses conhecimentos e experiências adquiridos no âmbito da convivência social favorecem a proposição de si-
tuações que despertem a curiosidade e interesse das crianças para continuar conhecendo sobre as medidas.
O professor deve partir dessas práticas para propor situações-problema em que a criança possa ampliar, aprofun-
dar e construir novos sentidos para seus conhecimentos. As atividades de culinária, por exemplo, possibilitam um rico
trabalho, envolvendo diferentes unidades de medida, como o tempo de cozimento e a quantidade dos ingredientes:
litro, quilograma, colher, xícara, pitada etc.
A comparação de comprimentos, pesos e capacidades, a marcação de tempo e a noção de temperatura são experi-
mentadas desde cedo pelas crianças pequenas, permitindo-lhes pensar, num primeiro momento, essencialmente sobre
características opostas das grandezas e objetos, como grande/pequeno, comprido/curto, longe/perto, muito/pouco,
quente/frio etc. Entretanto, esse ponto de vista pode se modificar e as comparações feitas pelas crianças passam a ser
percebidas e anunciadas a partir das características dos objetos, como, por exemplo, a casa branca é maior que a cinza;
minha bola de futebol é mais leve e menor do que a sua etc. O desenvolvimento dessas capacidades comparativas não
garante, porém, a compreensão de todos os aspectos implicados na noção de medida. CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

99
As crianças aprendem sobre medidas, medindo. A
ação de medir inclui: a observação e comparação sen-
sorial e perceptiva entre objetos; o reconhecimento da
utilização de objetos intermediários, como fita métrica,
balança, régua etc., para quantificar a grandeza (compri-
mento, extensão, área, peso, massa etc.). Inclui também
efetuar a comparação entre dois ou mais objetos res-
pondendo a questões como: “quantas vezes é maior?”,
“quantas vezes cabe?”, “qual é a altura?”, “qual é a dis-
tância?”, “qual é o peso?” etc. A construção desse conhe-
cimento decorre de experiências que vão além da edu-
cação infantil.

Para iniciar esse processo, as crianças já podem ser


solicitadas a fazer uso de unidades de medida não con-
vencionais, como passos, pedaços de barbante ou pali-
tos, em situações nas quais necessitem comparar distân-
cias e tamanhos: medir as suas alturas, o comprimento
da sala etc. Podem também utilizar-se de instrumentos
convencionais, como balança, fita métrica, régua etc.,
para resolver problemas. Além disso, o professor pode
criar situações nas quais as crianças pesquisem formas
alternativas de medir, propiciando oportunidades para
que tragam algum instrumento de casa. O uso de uma
unidade padronizada, porém, deverá aparecer como res-
posta às necessidades de comunicação entre as crianças,
uma vez que a utilização de diferentes unidades de me-
dida conduz a resultados diferentes nas medidas de um
mesmo objeto.
O dinheiro também é uma grandeza que as crianças
O tempo é uma grandeza mensurável que requer têm contato e sobre a qual podem desenvolver algumas
mais do que a comparação entre dois objetos e exige re- ideias e relações que articulam conhecimentos relativos
lações de outra natureza. Ou seja, utiliza-se de pontos de a números e medidas. O dinheiro representa o valor dos
referência e do encadeamento de várias relações, como objetos, do trabalho etc. As cédulas e moedas têm um
dia e noite; manhã, tarde e noite; os dias da semana; os valor convencional, constituindo-se em rico material que
meses; o ano etc. Presente, passado e futuro; antes, ago- atende várias finalidades didáticas, como fazer trocas,
ra e depois são noções que auxiliam a estruturação do comparar valores, fazer operações, resolver problemas
pensamento. e visualizar características da representação dos núme-
ros naturais e dos números decimais. Além disso, o uso
O uso dos calendários e a observação das suas ca- do dinheiro constitui-se uma oportunidade que por si só
incentiva a contagem, o cálculo mental e o cálculo esti-
racterísticas e regularidades (sete dias por semana, a
mativo.
quantidade de dias em cada mês etc.) permitem marcar
o tempo que falta para alguma festa, prever a data de um
passeio, localizar as datas de aniversários das crianças,
marcar as fases da lua.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

100
Espaço e forma

Orientações didáticas

O pensamento geométrico compreende as relações e representações espaciais que as crianças desenvolvem, desde
muito pequenas, inicialmente, pela exploração sensorial dos objetos, das ações e deslocamentos que realizam no meio
ambiente, da resolução de problemas. Cada criança constrói um modo particular de conceber o espaço por meio das
suas percepções, do contato com a realidade e das soluções que encontra para os problemas.
Considera-se que as experiências das crianças, nessa faixa etária, ocorrem prioritariamente na sua relação com a
estruturação do espaço e não em relação à geometria propriamente dita, que representa uma maneira de conceituar
o espaço por meio da construção de um modelo teórico. Nesse sentido, o trabalho na educação infantil deve colocar
desafios que dizem respeito às relações habituais das crianças com o espaço, como construir, deslocar-se, desenhar
etc., e à comunicação dessas ações. Assim, à educação infantil coloca-se a tarefa de apresentar situações significativas
que dinamizem a estruturação do espaço que as crianças desenvolvem e para que adquiram um controle cada vez
maior sobre suas ações e possam resolver problemas de natureza espacial e potencializar o desenvolvimento do seu
pensamento geométrico.
As crianças exploram o espaço ao seu redor e, progressivamente, por meio da percepção e da maior coordenação
de movimentos, descobrem profundidades, analisam objetos, formas, dimensões, organizam mentalmente seus deslo-
camentos. Aos poucos, também antecipam seus deslocamentos, podendo representá-los por meio de desenhos, esta-
belecendo relações de contorno e vizinhança. Uma rica experiência nesse campo possibilita a construção de sistemas de
referências mentais mais amplos que permitem às crianças estreitarem a relação entre o observado e o representado.
Nesse terreno, a contribuição do adulto, as interações entre as crianças, os jogos e as brincadeiras podem propor-
cionar a exploração espacial em três perspectivas: as relações espaciais contidas nos objetos, as relações espaciais entre
os objetos e as relações espaciais nos deslocamentos.
As relações espaciais contidas nos objetos podem ser percebidas pelas crianças por meio do contato e da manipu-
lação deles. A observação de características e propriedades dos objetos possibilitam a identificação de atributos, como
quantidade, tamanho e forma. É possível, por exemplo, realizar um trabalho com as formas geométricas por meio da
observação de obras de arte, de artesanato (cestas, rendas de rede), de construções de arquitetura, pisos, mosaicos,
vitrais de igrejas, ou ainda de formas encontradas na natureza, em flores, folhas, casas de abelha, teias de aranha etc.
A esse conjunto podem ser incluídos corpos geométricos, como modelos de madeira, de cartolina ou de plástico, ou
modelos de figuras planas que possibilitam um trabalho exploratório das suas propriedades, comparações e criação de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

contextos em que a criança possa fazer construções.


As relações espaciais entre os objetos envolvem noções de orientação, como proximidade, interioridade e direcio-
nalidade. Para determinar a posição de uma pessoa ou de um objeto no espaço é preciso situá-los em relação a uma
referência, seja ela outros objetos, pessoas etc., parados ou em movimento. Essas mesmas noções, aplicadas entre
objetos e situações independentes do sujeito, favorecem a percepção do espaço exterior e distante da criança.
As relações espaciais nos deslocamentos podem ser trabalhadas a partir da observação dos pontos de referência
que as crianças adotam, a sua noção de distância, de tempo etc. É possível, por exemplo, pedir para as crianças descre-
verem suas experiências em deslocar-se diariamente de casa até a instituição. Pode-se também propor jogos em que
elas precisem movimentar-se ou movimentar um objeto no espaço. As estratégias adotadas, as posições escolhidas, as
comparações entre tamanhos, as características da construção realizada e o vocabulário adotado pelas crianças cons-
tituem-se em objeto de atenção do professor.

101
Para coordenar as informações que percebem do es- Vários tipos de brincadeiras e jogos que possam in-
paço, as crianças precisam ter oportunidades de obser- teressar à criança pequena constituem-se rico contexto
vá-las, descrevê-las e representá-las. em que ideias matemáticas podem ser evidenciadas pelo
O desenho é uma forma privilegiada de representa- adulto por meio de perguntas, observações e formulação
ção, na qual as crianças podem expressar suas ideias e de propostas. São exemplos disso cantigas, brincadeiras
registrar informações. É uma representação plana da rea- como a dança das cadeiras, quebra-cabeças, labirintos,
lidade. Desenhar objetos a partir de diferentes ângulos dominós, dados de diferentes tipos, jogos de encaixe, jo-
de visão, como visto de cima, de baixo, de lado, e propor gos de cartas etc.
situações que propiciem a troca de ideias sobre as repre-
Os jogos numéricos permitem às crianças utilizarem
sentações é uma forma de se trabalhar a percepção do
espaço. números e suas representações, ampliarem a contagem,
Pode-se propor, também, representações tridimen- estabelecerem correspondências, operarem. Cartões,
sionais, como construções com blocos de madeira, de dados, dominós, baralhos permitem às crianças se fa-
maquetes, painéis etc. Apesar de estar intrinsecamente miliarizarem com pequenos números, com a contagem,
associado ao processo de desenvolvimento do faz-de- comparação e adição. Os jogos com pistas ou tabuleiros
-conta, o jogo de construção permite uma exploração numerados, em que se faz deslocamento de um objeto,
mais aprofundada das propriedades e características as- permitem fazer correspondências, contar de um em um,
sociativas dos objetos, assim como de seus usos sociais de dois em dois etc. Jogos de cartas permitem à distri-
e simbólicos. Para construir, a criança necessita explorar buição, comparação de quantidades, a reunião de cole-
e considerar as propriedades reais dos materiais para, ções e a familiaridade com resultados aditivos. Os jogos
gradativamente, relacioná-las e transformá-las em fun- espaciais permitem às crianças observarem as figuras e
ção de diferentes argumentos de faz-de-conta. No início, suas formas, identificar propriedades geométricas dos
as crianças utilizam os materiais buscando ajustar suas
objetos, fazer representações, modelando, compondo,
ações a eles — por exemplo, deixando de coloca-los na
boca para olhá-los, lançá-los ao chão, depois empilhá-los decompondo ou desenhando. Um exemplo desse tipo
e derrubá-los, equilibrá-los, agrupá-los etc. — até que os de jogo é a modelagem de dois objetos em massa de
utilizam como objetos substitutos para o faz-de-conta, modelar ou argila, em que as crianças descrevem seu
transformando-os em aviões, castelos, casinhas etc. processo de elaboração.
As crianças podem utilizar para suas construções os Pelo seu caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras
mais diversos materiais: areia, massa de modelar, argila, permitem que o grupo se estruture, que as crianças esta-
pedras, folhas e pequenos troncos de árvores. beleçam relações ricas de troca, aprendam a esperar sua
Além desses, materiais concebidos intencionalmente vez, acostumem-se a lidar com regras, conscientizando-
para a construção, como blocos geométricos das mais -se que podem ganhar ou perder.
diversas formas, espessuras, volumes e tamanhos; blocos
imitando tijolos ou ainda pequenos ou grandes blocos Organização do tempo
plásticos, contendo estruturas de encaixe, propiciam não
somente o conhecimento das propriedades de volumes
As situações de aprendizagem no cotidiano das cre-
e formas geométricas como desenvolvem nas crianças
ches e pré-escolas podem ser organizadas de três manei-
capacidades relativas à construção com proporcionali-
dade e representações mais aproximadas das imagens ras: as atividades permanentes, os projetos e as sequên-
desejadas, auxiliando-as a desenvolver seu pensamento cias de atividades.
antecipatório, a iniciativa e a solução de problemas no Atividades permanentes são situações propostas de
âmbito das relações entre espaço e objetos. forma sistemática e com regularidade, mas não são ne-
O trabalho com o espaço pode ser feito, também, a cessariamente diárias. A utilização do calendário assim
partir de situações que permitam o uso de figuras, de- como a distribuição de material, o controle de quantida-
senhos, fotos e certos tipos de mapas para a descrição des de peças de jogos ou de brinquedos etc., no cotidia-
e representação de caminhos, itinerários, lugares, loca- no da instituição pode atrair o interesse das crianças e se
lizações etc. Pode-se aproveitar, por exemplo, passeios caracterizar como atividade permanente. Para isso, além
pela região próxima à instituição ou a locais específicos, de serem propostas de forma sistemática e com regulari-
como a praia, a feira, a praça, o campo, para incentivar a dade, o professor deverá ter o cuidado de contextualizar
pesquisa de informações sobre localização, caminhos a tais práticas para as crianças, transformando-as em ati-
serem percorridos etc. Durante esse trabalho, é possível
vidades significativas e organizando-as de maneira que
introduzir nomes de referência da região, como bairros,
representem um crescente desafio para elas. Pelo fato de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

zonas ou locais aonde se vai, e procurar localizá-los nos


essas situações estarem dentro de uma instituição edu-
mapas ou guias da cidade.
cacional, requerem planejamento e intenção educativa.
Orientações gerais para o professor É preciso lembrar que os jogos de construção e de
regras são atividades permanentes que propiciam o tra-
Jogos e brincadeiras balho com a Matemática.
As sequências de atividades se constituem em uma
Às noções matemáticas abordadas na educação in- série de ações planejadas e orientadas com o objetivo de
fantil correspondem uma variedade de brincadeiras e jo- promover uma aprendizagem específica e definida. São
gos, principalmente aqueles classificados como de cons- sequenciadas para oferecer desafios com graus diferen-
trução e de regras. tes de complexidade.

102
Pode-se, por exemplo, organizar com as crianças, Observação, registro e avaliação formativa
uma sequência de atividades envolvendo a ação de cole-
cionar pequenos objetos, como pedrinhas, tampinhas de Considera-se que a aprendizagem de noções mate-
garrafa, conchas, folhas, figurinhas etc. máticas na educação infantil esteja centrada na relação
Semanalmente, as crianças trazem novas peças e de diálogo entre adulto e crianças e nas diferentes for-
agregam ao que já possuíam, anotam, acompanham e mas utilizadas por estas últimas para responder pergun-
controlam o crescimento de suas coleções em registros. tas, resolver situações-problema, registrar e comunicar
O professor propõe o confronto dos registros para que qualquer ideia matemática. A avaliação representa, neste
o grupo conheça diferentes estratégias, experimente no- caso, um esforço do professor em observar e compreen-
vas formas e possa avançar em seus procedimentos de der o que as crianças fazem, os significados atribuídos
registro. Essas atividades, que se desenvolverão ao longo por elas aos elementos trabalhados nas situações vi-
de vários dias, semanas ou meses, permitem às crianças venciadas. Esse é um processo relacionado com a ob-
executar operações de adição, de subtração, assim como servação da criança nos jogos e atividades e de seu en-
tendimento sobre diferentes domínios que vão além da
produzir e interpretar notações numéricas em situações
própria Matemática. A avaliação terá a função de mapear
nas quais isso se torna funcional. Por outro lado, é pos-
e acompanhar o pensamento da criança sobre noções
sível comparar, em diferentes momentos da constituição
matemáticas, isto é, o que elas sabem e como pensam
da coleção, as quantidades de objetos colecionados por
para reorientar o planejamento da ação educativa. De-
diferentes crianças, assim como ordenar quantidades e ve-se evitar a aplicação de instrumentos tradicionais ou
notações do menor ao maior ou do maior ao menor. Es- convencionais, como notas e símbolos com o propósito
tes problemas tornam-se mais complexos conforme au- classificatório, ou juízos conclusivos.
mentam as coleções. O aumento das quantidades com a Os significados e pontos de vista infantis são dinâmi-
qual se opera funciona como uma “variável didática”, na cos e podem se modificar em função das perguntas dos
medida em que exige a elaboração de novas estratégias, adultos, do modo de propor as atividades e do contexto
ou seja, uma coisa é agregar 4 elementos a uma coleção nas quais ocorrem. A partir do que observa, o professor
de 5, e outra bem diferente é agregar 18 a uma coleção deverá propor atividades para que as crianças avancem
de 25. As estratégias, no último caso, podem ser diversas nos seus conhecimentos. Deve-se levar em conta que,
e supõem diferentes decomposições e recomposições por um lado, há uma diversidade de respostas possíveis
dos números em questão. É comum, por exemplo, as a serem apresentadas pelas crianças, e, por outro, essas
crianças utilizarem “risquinhos” ou outras marcas para respostas estão frequentemente sujeitas a alterações,
anotar a quantidade de peças que possuem, sem neces- tendo em vista não só a forma como pensam, mas a
sariamente corresponder uma marca para cada objeto. natureza do conceito e os tipos de situações-problema
Ao confrontar os diferentes tipos de registro, surgem envolvidos.
questões, como ter de contar tudo de novo. Dessa forma, Nesse sentido, a avaliação tem um caráter instrumen-
analisando e discutindo seus procedimentos, as crianças tal para o adulto e incide sobre os progressos apresenta-
podem experimentar diferentes tipos de registro até dos pelas crianças.
achar o que consideram mais adequados. São consideradas como experiências prioritárias para
Conforme a quantidade de peças aumenta, surgem a aprendizagem matemática realizada pelas crianças de
novos problemas: “como desenhar todas aquelas pe- zero a três anos o contato com os números e a explora-
ças?”, “como saber qual número corresponde àquela ção do espaço. Para isso, é preciso que as crianças par-
quantidade?”. Usar o conhecimento que possuem para ticipem de situações nas quais sejam utilizadas a con-
buscar a solução de seu problema é tarefa fundamental. tagem oral, referências espaciais e temporais. Também
é preciso que se criem condições para que as crianças
Uma das formas de procurar resolver essa questão é
engatinhem, arrastem-se, pulem etc., de forma a explo-
utilizar a correspondência termo a termo e a contagem
rarem o máximo seus espaços.
associada a algum referencial numérico, como fita métri-
A partir dos quatro e até os seis anos, uma vez que
ca, balança etc. Essa busca de soluções para problemas
tenham tido muitas oportunidades na instituição de
reais que surgem ao longo do registro e da contagem, le- educação infantil de vivenciar experiências envolvendo
vando as crianças a estabelecerem novas relações, refle- aprendizagens matemáticas, pode-se esperar que as
tir sobre seus procedimentos, argumentar sobre aquelas crianças utilizem conhecimentos da contagem oral, re-
que consideram a melhor forma de organização de suas gistrem quantidades de forma convencional ou não con-
coleções, possibilita um avanço real nas suas estratégias.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vencional e comuniquem posições relativas à localização


Projetos são atividades articuladas em torno da ob- de pessoas e objetos.
tenção de um produto final, visível e compartilhado com A criança utiliza seus conhecimentos para contar oral-
as crianças, em torno do qual são organizadas as ativida- mente objetos. Um aspecto importante a observar é se
des. A organização do trabalho em projetos possibilita as crianças utilizam a contagem de forma espontânea
divisão de tarefas e responsabilidades e oferece contex- para resolver diferentes situações que se lhe apresentam,
tos nos quais a aprendizagem ganha sentido. Organizar isto é, se fazem uso das ferramentas. Por exemplo: se, ao
uma festa junina ou construir uma maquete são exem- distribuir os lápis, distribuem um de cada vez, tendo de
plos de projetos. Cada projeto envolve uma série de ati- fazer várias “viagens” ou se contam primeiro as crianças
vidades que também se organiza numa sequência. para depois pegar os lápis. Também pode-se observar
se, ao contar objetos, sincronizam seus gestos com a se-

103
quência recitada; se organizam a contagem; se deixam cia, de acordo com a idade e o amadurecimento dos alu-
de contar algum objeto ou se o contam mais de uma vez. nos e sob influência do processo de aprendizagem, ainda
O professor deverá acompanhar os usos que as crianças que explicações mágicas persistam. Também é possível o
fazem e os avanços que elas adquirem na contagem. contato com uma variedade de aspectos do mundo, ex-
Em relação ao registro de quantidades, pode-se ob- plorando-os, conhecendo-os, explicando-os e iniciando
servar as diferentes estratégias usadas pelas crianças, a aprendizagem de conceitos, procedimentos e valores
como se desenham o próprio objeto, se desenham uma importantes.
marca como pauzinhos, bolinhas etc., se colocam um nú- Desde o início do processo de escolarização e alfa-
mero para cada objeto ou se utilizam um único numeral betização, os temas de natureza científica e técnica, por
para representar o total de objetos. sua presença variada, podem ser de grande ajuda, por
A localização de pessoas e objetos e sua comunica- permitirem diferentes formas de expressão. Não se trata
ção podem ser observadas nas situações cotidianas nas somente de ensinar a ler e a escrever para que os alunos
quais esses conhecimentos se façam necessários. Pode- possam aprender Ciências, mas também de fazer usos
-se observar se as crianças usam e comunicam posições das Ciências para que os alunos possam aprender a ler
relativas entre objetos e se denominam as posições de e a escrever.
localização. Essa fase é marcada por um grande desenvolvimento
da linguagem oral, descritiva e narrativa, das nomeações
CIÊNCIAS NATURAIS E SUAS RELAÇÕES de objetos e seres vivos, suas partes e propriedades. Esta
COM O AMBIENTE, O CORPO E O característica permite que os alunos possam enriquecer
DESENVOLVIMENTO HUMANO NA relatos sobre observações realizadas e comunicá-las aos
EDUCAÇÃO INFANTIL. seus companheiros.
A capacidade de narrar ou descrever um fato, nessa
fase, é enriquecida pelo desenho, que progressivamente
Ciências Naturais no primeiro ciclo incorpora detalhes do objeto ou do fenômeno observa-
do. O desenho é uma importante possibilidade de regis-
O processo de aprendizagem das crianças, tendo ou tro de observações compatível com esse momento da
não cursado a educação infantil, inicia-se muito antes da escolaridade, além de um instrumento de informação da
escolaridade obrigatória. São frequentemente curiosas, própria Ciência. Conhecer desenhos informativos elabo-
buscam explicações para o que veem, ouvem e sentem. rados por adultos — em livros, enciclopédias ou o dese-
O que é isso? Como funciona? Como faz? E os famosos nho do professor — contribui para a valorização desse
porquês. instrumento de comunicação das informações.
São perguntas que fazem a si mesmas e às pessoas Além do desenho, outras formas de registro se con-
em muitas situações de sua vida. figuram como possibilidades nessa fase: listas, tabelas,
As fontes para a obtenção de respostas e de conheci- pequenos textos, utilizando conhecimentos adquiridos
mentos sobre o mundo vão desde o ambiente doméstico em Língua Portuguesa e Matemática.
e a cultura regional, até a mídia e a cultura de massas. Muito importante no ensino de Ciências é a compa-
Portanto, as crianças chegam à escola tendo um reper- ração entre fenômenos ou objetos de mesma classe, por
tório de representações e explicações da realidade. É exemplo: diferentes fontes de energia, alimentação dos
importante que tais representações encontrem na sala animais, objetos de mesmo uso.
de aula um lugar para manifestação, pois, além de cons- Orientados pelo professor, que lhes oferece informa-
tituírem importante fator no processo de aprendizagem, ções e propõe investigações, os alunos realizam compa-
poderão ser ampliadas, transformadas e sistematizadas rações e estabelecem regularidades que permitem algu-
com a mediação do professor. É papel da escola e do mas classificações e generalizações. Por exemplo, podem
professor estimular os alunos a perguntarem e a busca- compreender que existem diferentes fontes de calor; que
rem respostas sobre a vida humana, sobre os ambientes todos os animais se alimentam de plantas ou de outros
e recursos tecnológicos que fazem parte do cotidiano ou animais e que objetos são feitos de determinados mate-
que estejam distantes no tempo e no espaço. riais apropriados ao seu uso.
Entretanto, crianças pequenas compreendem e vi- Outra característica deste momento da criança é o
vem a realidade natural e social de modo diferente dos desenvolvimento da linguagem causal. A criança é capaz
adultos. Fora ou dentro da escola, as crianças emprestam de estabelecer sequências de fatos, identificando causas
magia, vontade e vida aos objetos e às coisas da natureza e consequências relacionadas a essas sequências, mas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ao elaborar suas explicações sobre o mundo. De modo ainda não as associa a princípios ou leis gerais das Ciên-
geral, em torno de oito anos as crianças passam a exibir cias. Essa característica possibilita o trabalho de identifi-
um modo menos subjetivo e mais racional de explicar cação e registro de encadeamento de eventos ao longo
os acontecimentos e as coisas do mundo. São capazes do tempo, estabelecendo-se a distinção entre causas e
de distinguir os objetos das próprias ações e organizar consequências.
etapas de acontecimentos em intervalos de tempo. Também é de grande importância que o professor in-
No primeiro ciclo são inúmeras as possibilidades de centive o aluno a formular suposições e perguntas, pois
trabalho com os conteúdos da área de Ciências Naturais. esse procedimento permite conhecer as representações
Nas classes de primeiro ciclo é possível a elaboração de e conceitos intuitivos dos alunos, orientando o processo
algumas explicações objetivas e mais próximas da Ciên- de construção de conhecimentos.

104
Observar, comparar, descrever, narrar, desenhar e Ambiente
perguntar são modos de buscar e organizar informações
sobre temas específicos, alvos de investigação pela classe. No primeiro ciclo, os conteúdos pretendem uma pri-
Tais procedimentos por si só não permitem a aquisição do meira aproximação da noção do ambiente como resul-
conhecimento conceitual sobre o tema, mas são recur- tado das interações entre seus componentes — seres
sos para que a dimensão conceitual, a rede de ideias que vivos, ar, água, solo, luz e calor — e da compreensão de
confere significado ao tema, possa ser trabalhada pelo que, embora constituídos pelos mesmos elementos, os
professor. diversos ambientes diferenciam-se pelos tipos de seres
vivos, pela disponibilidade dos demais componentes e
Objetivos de Ciências Naturais para o primeiro ci- pelo modo como se dá a presença do ser humano.
clo A observação direta ou indireta de diferentes am-
bientes, a identificação de seus componentes e de al-
As atividades e os projetos de Ciências Naturais de-
gumas relações entre eles, bem como a investigação de
vem ser organizados para que os alunos ganhem pro-
como o homem se relaciona com tais ambientes, permi-
gressivamente as seguintes capacidades:
te aos alunos uma primeira noção e a diferenciação de
•observar, registrar e comunicar algumas semelhan-
ambiente natural e ambiente construído. Os seres vivos
ças e diferenças entre diversos ambientes, identificando a
presença comum de água, seres vivos, ar, luz, calor, solo e — animais e vegetais — destacam-se entre os compo-
características específicas dos ambientes diferentes; nentes dos ambientes, estudando-se suas características
• estabelecer relações entre características e compor- e hábitos — alimentação, reprodução, locomoção — em
tamentos dos seres vivos e condições do ambiente em relação ao ambiente em que vivem. É possível uma pri-
que vivem, valorizando a diversidade da vida; meira aproximação ao conceito de ser vivo por meio do
• observar e identificar algumas características do estudo do ciclo vital: nascimento, crescimento, reprodu-
corpo humano e alguns comportamentos nas diferentes ção e morte. Todos esses conteúdos também fazem par-
fases da vida, no homem e na mulher, aproximando-se te do documento Meio Ambiente. Para a realização das
à noção de ciclo vital do ser humano e respeitando as investigações sugeridas, o professor pode tomar como
diferenças individuais; referência ambientes e seres vivos da sua região e outros
• reconhecer processos e etapas de transformação de distantes, no tempo e no espaço.
materiais em objetos; Comparando-se ambientes diferentes — floresta, rio,
• realizar experimentos simples sobre os materiais e represa, lago, plantação, campo, cidade, horta, etc. —,
objetos do ambiente para investigar características e pro- busca-se identificar suas regularidades (os componentes
priedades dos materiais e de algumas formas de energia; comuns) e suas particularidades (disponibilidade dos di-
• utilizar características e propriedades de materiais, ferentes componentes, tipos de seres vivos, o modo e a
objetos, seres vivos para elaborar classificações; intensidade da ocupação humana).
• formular perguntas e suposições sobre o assunto em Cabe ao professor orientar os alunos sobre o que e
estudo; onde observar, de modo que se coletem dados impor-
• organizar e registrar informações por meio de dese- tantes para as comparações que se pretende, pois a ha-
nhos, quadros, esquemas, listas e pequenos textos, sob bilidade de observar implica um olhar atento para algo
orientação do professor; que se tem a intenção de ver.
• comunicar de modo oral, escrito e por meio de dese- As observações realizadas resultam em um conjunto
nhos, perguntas, suposições, dados e conclusões, respei-
de dados que são organizados por meio de desenhos e
tando as diferentes opiniões e utilizando as informações
listas, de modo que as características de cada ambiente
obtidas para justificar suas ideias;
fiquem registradas. Ao realizar registros os alunos têm a
• valorizar atitudes e comportamentos favoráveis à
oportunidade de sistematizar os conhecimentos que ad-
saúde, em relação à alimentação e à higiene pessoal, de-
senvolvendo a responsabilidade no cuidado com o pró- quiriram. Entretanto, parte das comparações no primeiro
prio corpo e com os espaços que habita. ciclo são feitas oralmente, quando os alunos descrevem
os ambientes investigados, apontando suas diferenças e
Conteúdos de Ciências Naturais para o primeiro semelhanças, e comparam seus resultados às suposições
ciclo iniciais.
Durante esses trabalhos os alunos adquirem um re-
No primeiro ciclo as crianças têm uma primeira apro- pertório de imagens e alguns novos significados para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ximação das noções de ambiente, corpo humano e trans- ideias de ambiente, solo, seres vivos, entre outras que
formações de materiais do ambiente por meio de técni- forem exploradas. Desenvolvem a habilidade de descre-
cas criadas pelo homem. Podem aprender procedimentos ver os ambientes, identificando, comparando e classifi-
simples de observação, comparação, busca e registro de cando seus diferentes componentes. Portanto, ampliam
informações, e também desenvolver atitudes de respon- suas noções, verificando por diferentes que sejam todos
sabilidade para consigo, com o outro e com o ambiente. apresentam componentes comuns e a ocupação humana
Os textos seguintes buscam explicitar os alcances dos possibilita diferentes transformações. Aspecto a ser con-
conteúdos em cada bloco temático, apontando-se possí- siderado ao se tratar de ambientes construídos é o fato
veis conexões entre blocos, com outras áreas e com os de apresentarem, geralmente, menor diversidade de se-
temas transversais, tendo-se o tratamento didático em res vivos, presença de habitações individuais e coletivas e
perspectiva. condições ambientais de vida humana bastante variadas.

105
Focalizando-se os ambientes construídos pelo ho- São inúmeros os temas que permitem trabalhar as rela-
mem, como uma horta, uma pastagem ou as cidades, ções dos seres vivos entre si e destes com os demais com-
evidencia-se a necessidade humana de transformar os ponentes dos ambientes; relações de alimentação, relações
ambientes a fim de utilizar os seus recursos e ocupar entre as características do corpo e do comportamento e as
espaços. É pertinente a abordagem da degradação am- condições do ambiente.
biental como consequência de certos modos de interfe- A respeito das relações alimentares explora-se a exis-
rência humana. Esses assuntos são tratados em conexão tência de diferentes hábitos — herbívoros, carnívoros e
com o bloco “Recursos tecnológicos” e com o documen- onívoros — e da dependência alimentar entre todos os
to Meio Ambiente. seres vivos, incluindo o ser humano. A forma de obtenção
Os estudos sobre ambientes se complementam com de alimentos e água pelos animais na natureza, e por aque-
as investigações sobre os seres vivos que os habitam, na les domesticados, mostra comportamentos interessantes.
perspectiva de conhecer como determinado ser vivo se Compará-los às formas de obtenção de alimentos pelo ser
relaciona com outros seres vivos e demais componentes humano em diferentes culturas permite a investigação do
de seu ambiente. Cada animal ou planta apresenta mo- poder transformador da espécie humana.
dos de alimentação, sustentação e locomoção, forma do Sobre sustentação e locomoção explora-se a presença
corpo, reprodução e outras características que o capaci- de coluna vertebral, carapaças e musculatura em animais
tam a explorar e sobreviver em seu meio específico. aquáticos e terrestres, apontando-se para a relação porte
Estudos sobre determinados animais e plantas tam- do animal, meio em que ele vive e presença de esqueleto.
bém oferecem oportunidades para a compreensão do Por exemplo: no ambiente terrestre não são encontrados
processo do ciclo vital, que tem peculiaridades em se- animais invertebrados de grande porte; já no aquático são
res vivos determinados, mas é comum a todos: nascer, conhecidos polvos e lulas muito grandes. Como a água sus-
crescer, reproduzir e morrer. É importante que se tenha tenta o peso dos corpos, tais animais podem sobreviver no
claro que o ciclo vital é um processo de cada espécie e meio aquático.
não do indivíduo; é a espécie que se mantém por meio Outro aspecto a ser considerado é a relação forma do
da reprodução. corpo e locomoção no meio. Exemplo: os peixes são ani-
É necessário considerar que as descrições e explica- mais aquáticos que nadam e apresentam o corpo em forma
ções que os alunos conceberão a cada investigação pro-
de fuso; essa forma permite melhor deslocamento na água,
posta serão realizadas, inicialmente, com a utilização de
o que é importante para caçar alimento e fugir de preda-
seu próprio vocabulário, que deverá se aperfeiçoar ao
dores. A respeito dos vegetais estuda-se o caule como es-
longo dos trabalhos, embora não se deva exigir a utili-
trutura de sustentação, importante para a sobrevivência de
zação da nomenclatura científica em sua complexidade.
grande parte dos vegetais terrestres.
A coleta de informações sobre a vida de determi-
A reprodução nos animais pode ser estudada enfocan-
nados animais em seus ambientes pode ser feita pela
do-se o desenvolvimento dos filhotes no interior do corpo
observação de figuras, leituras de pequenos textos rea-
lizadas pelo professor para a classe, cultivo de plantas, materno ou em ovos postos no ambiente, a alimentação
criação de pequenos animais (tatuzinhos de jardim, mi- dos filhotes e o cuidado com a prole, os rituais de acasa-
nhocas, borboletas, besouros), em que se preservem as lamento, as épocas de cio, o tempo de gestação, o tempo
condições de sua vida na natureza, ou ainda por meio de que os filhotes levam para atingir a maturidade e o tempo
filmes e de contato com pessoas que conheçam a vida de vida. São funções rítmicas, interessantes e importantes
dos animais e das plantas. de serem estudadas.
Criações de pequenos animais em sala de aula ofere- Para o estudo da reprodução nos vegetais, é convenien-
cem oportunidades para que os alunos se organizem nos te o cultivo daqueles com ciclo vital curto, que apresentem
cuidados necessários à manutenção das criações, para a flores, como as hortaliças, o feijão e a batata-doce. Estuda-
realização de observações a longo prazo a respeito das -se a participação de insetos e pássaros na polinização, a
características do corpo e dos hábitos dos animais sele- formação dos frutos, sua variedade; condições de germi-
cionados. Da mesma forma, o cultivo de plantas constitui nação e crescimento das sementes — influência da luz, do
excelente oportunidade para que se trabalhe com os alu- calor, da água e do ar.
nos atitudes de valorização da vida em sua diversidade. Muito interessante é o trabalho com funções rítmicas
Criações ou cultivo de plantas podem ser feitos utilizan- nos vegetais: a frutificação de algumas plantas e as esta-
do-se pequenos espaços e materiais de sucata, como la- ções do ano, a abertura e o fechamento de flores ao longo
tas ou caixotes. do dia. Esse assunto permite que se construa a noção de
Parte significativa do conhecimento sobre seres vivos que os vegetais (como todos os seres vivos) apresentam
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

é obtida por meio de leitura de livros, revistas e enciclo- funções que se repetem com o mesmo intervalo de tempo
pédias, buscando-se informações sobre as características (funções rítmicas), ajustadas ao dia, à noite e às estações do
das plantas e hábitos de animais habitantes de diferentes ano (ciclos geofísicos).
ambientes. Este conhecimento tem duplo papel: sugerir Vários temas de estudo sobre seres vivos podem ser
observações sobre seres vivos que estão sendo investi- realizados em conexão com o bloco “Ser humano e saú-
gados e ainda informar sobre seres vivos distantes no de”, comparando-se características do corpo e do compor-
tempo e no espaço. Por exemplo, pode-se conhecer tamento dos seres humanos aos demais seres vivos, par-
habitantes das profundezas dos mares e de florestas ticularmente aos animais. Também podem ser explorados
virgens, sobre animais selvagens (não-domesticados), vínculos com o bloco “Recursos tecnológicos”, nas ques-
animais extintos ou em extinção, plantas ornamentais, tões relativas à produção de alimentos, medicamentos,
plantas medicinais, etc. vestuário, materiais de construção, etc.

106
Conteúdos para o primeiro ciclo referentes a fatos, As mesmas figuras e fotos do painel permitem a in-
conceitos, procedimentos, valores e atitudes: trodução da questão dos comportamentos, hábitos e ca-
racterísticas do corpo nas diferentes idades. Como são
• comparação de diferentes ambientes naturais e as pessoas? O que parecem estar fazendo? Como imagi-
construídos, investigando características comuns e dife- nam o cotidiano delas: o que comem, como realizam sua
rentes, para verificar que todos os ambientes apresentam higiene? Como se divertem e descansam? São questões
seres vivos, água, luz, calor, solo e outros componentes
que os alunos respondem revelando o que já conhecem
e fatos que se apresentam de modo distinto em cada
ambiente; e o que imaginam sobre os assuntos que se pretende
• comparação dos modos com que diferentes seres trabalhar.
vivos, no espaço e no tempo, realizam as funções de ali- A questão das transformações no desenvolvimento
mentação, sustentação, locomoção e reprodução, em re- envolve vários aspectos, alguns relativos à biologia do
lação às condições do ambiente em que vivem; ser humano, outros a hábitos — de asseio, de alimen-
• comparação do desenvolvimento e da reprodução tação, de lazer — e outros, ainda, a valores associados à
de diferentes seres vivos para compreender o ciclo vital cultura e às escolhas realizadas por cada um.
como característica comum a todos os seres vivos; É importante que as crianças entrem em contato com
• formulação de perguntas e suposições sobre os am- a ideia de que a vida compreende a morte, parte do ciclo
bientes e os modos de vida dos seres vivos;
vital da espécie humana e de todos os seres vivos.
• busca e coleta de informações por meio de observa-
ção direta e indireta, experimentação, entrevistas, leitura No primeiro ciclo os alunos podem conhecer as ca-
de textos selecionados; racterísticas externas do corpo humano, comparando
• organização e registro de informações por meio de crianças, adolescentes e adultos dos dois sexos. Podem
desenhos, quadros, esquemas, listas e pequenos textos, identificar as características gerais do corpo humano,
sob orientação do professor; que nos identificam como espécie, e as características
• interpretação das informações por intermédio do particulares de sexo, idade e etnia. É interessante, além
estabelecimento de relações, de semelhanças e diferen- de estabelecer comparações entre diferentes seres hu-
ças e de sequências de fatos; manos, compará-los a vários animais. A estrutura geral,
• utilização das informações obtidas para justificar revestimento do corpo, postura bípede, limites e alcan-
suas ideias;
ces das formas de percepção do meio (aspectos relativos
• comunicação oral e escrita de suposições, dados e
conclusões, respeitando diferentes opiniões. aos órgãos dos sentidos) podem ser explorados. Consti-
tuem-se assuntos que conectam este bloco temático ao
Ser Humano e Saúde bloco “Ambiente”.
É possível encontrarem dificuldade de diferenciar
O bloco “Ser humano e saúde” aborda neste ciclo os meninos e meninas pequenas, desde que vestidos; di-
primeiros estudos sobre as transformações durante o ficuldade que deixa de existir na identificação de jovens
crescimento e o desenvolvimento, enfocando-se as prin- e adultos. O surgimento de pelos no rosto e no corpo,
cipais características — relativas ao corpo, aos comporta- crescimento muscular acentuado no homem, surgimento
mentos e às atitudes — nas diferentes fases da vida. Com de seios das meninas, mudanças na voz — diferente no
atenção especial, estudam-se as condições essenciais à
homem e na mulher —, enfim, todo o conjunto de carac-
manutenção da saúde da criança, medidas de prevenção
às doenças infectocontagiosas, particularmente a AIDS, terísticas sexuais secundárias permite a distinção entre
aspectos também tratados nos documentos de Orienta- os dois sexos a partir da puberdade. São indicadores de
ção Sexual e de Saúde. transformações externas que acompanham o amadure-
Ao falar de assuntos relativos ao corpo humano, é fre- cimento interno, psíquico, fisiológico e anatômico, que
quente o surgimento, entre os alunos, de vergonha e de podem ser apontados aos alunos deste ciclo e se consti-
“brincadeiras” dirigidas aos mais gordos ou mais magros, tuem objeto de estudo a partir do segundo ciclo.
muito altos ou muito baixos. Qualquer traço diferente Acompanham essas mudanças no corpo transforma-
pode ser alvo das “brincadeirinhas”. É importante que ções de comportamento e interesses, que variam segun-
o professor incentive seus alunos a valorizarem as dife- do as diferenças culturais e merecem ser abordadas.
renças individuais, seja quanto à cor, à idade, ao corpo, Também com relação aos comportamentos cabem
seja quanto ao ritmo de aprendizagem ou às diferenças
socioculturais. O professor, trabalhando num clima de comparações entre os seres humanos e os demais ani-
cooperação e solidariedade com sua classe, favorece a mais. Essas comparações permitem identificar compor-
autoestima e a formação de vínculos entre os integrantes tamentos semelhantes, como a alimentação dos filhotes,
particularmente em aves e mamíferos, os cuidados com a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do grupo.
Ao investigar o ciclo de vida dos seres humanos o prole, alguns rituais de conquista e acasalamento, e esta-
professor pode solicitar aos alunos que coletem algu- belecer diferenças nesses mesmos comportamentos que,
mas figuras ou retratos de pessoas em diferentes fases nos seres humanos, são também aprendidos e impreg-
da vida: bebê, criança, jovem, adulto e idoso. A partir nados pela cultura, mas guardam elementos do mundo
dessa coleção, professor e alunos podem organizar um animal ao qual pertencem.
painel em que as diferentes idades sejam apresentadas É interessante verificar que bebês humanos, como os
em sequência, construindo-se, assim, uma representação de outras espécies, são totalmente dependentes dos que
do ciclo de vida do ser humano. Essa representação se deles cuidam. A atenção que recebem, a alimentação e
enriquece com figuras de mulheres grávidas, iniciando o asseio especiais são determinantes de sua saúde e seu
novos ciclos. desenvolvimento.

107
Quanto à sua fase de desenvolvimento, a infância, os O posto de saúde local, ou outro equipamento de
alunos podem verificar que, sob orientação dos adultos, saúde, pode fornecer referências quanto aos cuidados
são capazes de cuidar de sua higiene, das tarefas esco- para a higiene e alimentação dos bebês, das crianças em
lares, de se alimentarem, de escolher as formas de lazer idade escolar, dos jovens, dos adultos e dos idosos. Tam-
e de repousar. Isto é, na infância já existe relativa auto- bém no posto de saúde, professor e alunos podem se
nomia. Durante esses trabalhos o professor incentiva os informar sobre as verminoses, doenças muito frequentes
alunos a desenvolverem essas capacidades, valorizando na infância, e sobre a AIDS: as formas de transmissão e
os modos saudáveis de alimentação, de cuidados com de contágio, cuidados necessários para evitá-las e for-
o corpo, de lazer e repouso, a organização e limpeza do mas de tratamento do doente.
espaço e dos materiais escolares, bem como a cultura e Ao planejar os conteúdos deste tema, especial aten-
o conhecimento. Atenção especial deve ser dedicada ao ção deve ser dada às doenças e aos problemas de hi-
estudo da formação da dentição permanente e aos cui- giene, saúde pessoal e ambiental que incidem sobre a
dados com os dentes. comunidade local.
Ainda na infância inicia-se a tomada de consciência
acerca do esquema geral do corpo. A criança deve ser Conteúdos para o primeiro ciclo referentes a fatos,
incentivada a perceber seu corpo, limites e capacidades, conceitos, procedimentos, valores e atitudes:
externar as sensações de desconforto e prazer, amplian-
do sua capacidade de se expressar sobre o que sente, • comparação do corpo e de alguns comportamentos
percebe e deseja. de homens e mulheres nas diferentes fases de vida — ao
Acerca da juventude os alunos verificam a crescente nascer, na infância, na juventude, na idade adulta e na
independência e as acentuadas mudanças no corpo, sen- velhice — para compreender algumas transformações,
do momento de transição da infância para a vida adulta. valorizar e respeitar as diferenças individuais;
Os alunos poderão compreender que essa é uma fase • conhecimento de condições para o desenvolvimen-
de muitas e fundamentais escolhas para a vida, com no- to e preservação da saúde: atitudes e comportamentos
vas responsabilidades e dificuldades a serem resolvidas. favoráveis à saúde em relação a alimentação, higiene
É um momento de profundas modificações no corpo, no
ambiental e asseio corporal; modos de transmissão e
modo de se relacionar com o mundo, com sua sexualida-
prevenção de doenças contagiosas, particularmente a
de e com o sexo oposto. A consciência do corpo que se
AIDS;
inicia na infância continua a se desenvolver e se amplia
• comparação do corpo e dos comportamentos do
nessa fase, o que é facilitado pelo incentivo do adulto.
ser humano e de outros animais para estabelecer seme-
Sobre a vida adulta os alunos podem reconhecer a
lhanças e diferenças;
conquista da autonomia e a ampliação das responsabili-
• elaboração de perguntas e suposições acerca das
dades relativas ao trabalho, à família, à comunidade e a si
características das diferentes fases da vida e dos hábitos
próprio, a permanente necessidade de vínculos afetivos,
cuidados com a higiene, alimentação, repouso e lazer. de alimentação e de higiene para a manutenção da saú-
Nessa fase da vida a consciência do corpo é significativa, de, em cada uma delas;
principalmente quando a pessoa adquiriu conhecimen- • observação, representação e comparação das con-
tos básicos a esse respeito. dições de higiene dos diferentes espaços habitados,
Muito importante é a investigação sobre a velhice, desenvolvendo cuidados e responsabilidades para com
fase da vida geralmente apresentada como sinônimo esses espaços;
de aposentadoria: sem trabalho, sem sonhos, sem ne- • busca e coleta de informações por meio de leituras
cessidades pessoais, só doenças. É preciso reverter esse realizadas pelo professor para a classe, interpretação de
quadro de valores, incentivando as crianças desde cedo imagens, entrevistas a familiares, pessoas da comunida-
a valorizarem a experiência dos idosos, cuja importância de e especialistas em saúde;
para a família e a comunidade cresce à medida que se • confrontação das suposições individuais e coletivas
reconhece no idoso uma pessoa que pode produzir, que com as informações obtidas;
tem projetos a realizar e necessidades que não podem • organização e registro de informações por meio de
ser esquecidas. desenhos, quadros, listas e pequenos textos, sob orien-
O enriquecimento do conhecimento do aluno sobre tação do professor;
as diferentes fases do ciclo vital e sobre as transforma- • comunicação oral e escrita de suposições, dados e
ções que ocorrem durante esse desenvolvimento pode conclusões, respeitando diferentes opiniões.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ser alcançado por meio de busca e organização de in-


formações em fontes diversas: visitas ao posto de saúde Recursos tecnológicos
local, leituras que o professor realiza para seus alunos e
entrevistas com pessoas de diferentes idades da comu- A transformação da natureza para a utilização de
nidade. recursos naturais — alimentos, materiais e energia — é
Junto com os alunos, o professor prepara as entre- inseparável da civilização. Produtos industriais ou arte-
vistas, organizando questões a respeito do cotidiano das sanais são partes do cotidiano. Depende-se de materiais
pessoas, no presente e no passado, de modo que as in- básicos, como minérios e madeira, do plantio, da criação
formações a serem obtidas sejam relevantes para a for- de animais, da pesca, assim como de uma enorme varie-
mação da noção de transformação no desenvolvimento dade de bens produzidos industrialmente — de roupas a
humano. veículos, de medicamentos a aparelhos.

108
Desde o primeiro ciclo os alunos poderão investigar químicos representados pelas propriedades de condu-
sobre os produtos que consomem, sobre as técnicas di- ção elétrica e de calor pelos metais, a transparência dos
versas para obtenção e transformação de alguns com- vidros, entre tantas outras que podem ser identificadas
ponentes dos ambientes, que são considerados como pela observação direta, pela experimentação ou pela
recursos naturais essenciais à existência. busca de informação realizada pelo professor ou com
Alguns processos, por meio dos quais vegetais, ani- seu auxílio.
mais, materiais e energia são utilizados, podem ser estu- A exploração de materiais e objetos pode ser reali-
dados realizando-se uma primeira aproximação da ideia zada de diferentes modos. A observação direta no en-
de técnica. torno — escola, casa, meios de transportes — possibilita
Não é possível nem desejável o estudo exaustivo so- a identificação de alguns objetos e os materiais de que
bre todos os processos citados. O importante é a seleção são feitos.
e a investigação de alguns dos temas apontados, para Com a participação e sob incentivo do professor, os
que o aluno se informe, de modo geral, sobre a origem alunos podem organizar coleções de objetos ou figuras
de objetos que cumprem a mesma finalidade e são feitos
e os modos de obtenção de alguns alimentos, objetos
de diferentes materiais: panelas (de barro e de alguns ti-
de consumo e energia. É recomendável, ao planejar essa
pos de metal), calçados (de couro, plástico, tecido, etc.),
seleção, que o professor leve em conta as possibilida-
colheres (de pau, metal ou plástico). Podem colecionar
des reais de realização de procedimentos de observação
também objetos ou figuras de objetos diferentes feitos
e experimentação, bem como as visitas e utilização de com o mesmo material: coleções de objetos de papel,
diversas fontes de informação. Investigações das pro- de metal, de vidro, etc., e situá-los como produtos so-
duções de interesse local e regional cumprem muito cioculturais.
bem esse papel. Os produtos regionais e os processos A partir desses levantamentos, algumas relações po-
de produção podem ser comparados àqueles de outras dem ser traçadas quanto ao uso dos diferentes materiais
regiões, ou de outros tempos, possibilitando a amplia- em objetos específicos, relacionando-se a conveniência
ção dos conhecimentos e a verificação da variedade de do material escolhido ao objeto elaborado e buscando
transformações. informações que permitam explicar por que se usa de-
A utilização dos seres vivos como recursos naturais terminado material para a confecção de certos objetos.
pode ser abordada em conexão com o bloco “Ambiente”. Alguns experimentos são modos interessantes de
Por exemplo, com relação à utilização dos vegetais pelo buscar informações para a verificação das propriedades
homem, focalizam-se seus possíveis usos como alimen- dos materiais. As relações de diferentes materiais com a
tos, remédios, tecidos, embalagens, fonte de materiais água, a luz, o calor; as alterações produzidas nos diferen-
para a habitação, produção de papel e também como tes materiais pela ação de forças; as possibilidades de ser
combustível (carvão vegetal). Investigam-se técnicas que ou não decomposto (“desmanchado”) quando enterrado
possibilitam a obtenção e utilização desses recursos, tais no solo, são algumas possibilidades de investigação.
como extração ou cultivo das plantas que são alimento, Os processos de transformação artesanal e industrial
nas hortas, pomares e lavouras; a criação de animais em de materiais em objetos podem ser investigados utili-
granjas, viveiros e pastagens; a caça e a pesca, destacan- zando-se diferentes estratégias: trazendo para a escola
do-se as questões da pesca e da caça depredatórias. trabalhadores de indústria ou de oficinas artesanais, rea-
A produção e a manutenção de uma horta na escola lizando visitas previamente preparadas a locais de pro-
serve ao estudo do ciclo vital e das características de di- dução na região e realizando na escola pequenas oficinas
ferentes plantas; pode ser de grande valor para a forma- — marcenaria, cerâmica, reciclagem de papel. Também
ção de atitudes de cooperação na realização de tarefas aqui a escolha dos temas de estudo é realizada toman-
do como referência processos importantes realizados na
e oferecer oportunidades de trabalhar a valorização da
região.
máxima utilização dos recursos disponíveis para a obten-
Todo processo produtivo deve ser investigado con-
ção de alimentos.
siderando-se os materiais ou as matérias primas neces-
Portanto, crianças pequenas poderão trabalhar com
sárias, os instrumentos e as máquinas que operam as
temas bastante diversos para investigar os animais e os transformações e suas etapas. A partir desses pontos
vegetais como recursos da natureza e as técnicas mais básicos, o professor poderá elaborar com seus alunos
comuns utilizadas nessas explorações. Considerando a questões para entrevistas, roteiro para visitas e planejar
realidade local, o professor seleciona temas para investi- oficinas de produção de objetos na escola, com apoio
gações: estudar a vida dos vegetais e plantar uma horta;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da comunidade. As informações coletadas pelos alunos,


estudar os peixes, entrevistar um pescador e organizar sob orientação desses pontos básicos, são registradas na
visita ao mercado; estudar os derivados do leite e pes- forma de desenhos com legendas para os materiais e ins-
quisar as condições de vida de rebanhos leiteiros são al- trumentos, e desenhos com legendas sequenciados para
gumas das possibilidades. as transformações.
Os estudos sobre transformações de materiais em É importante que, ao lado do conhecimento sobre a
objetos estabelecem possibilidades ricas para o desen- utilização dos recursos naturais, os alunos recebam al-
volvimento das habilidades de observar, generalizar (sin- gumas informações acerca das consequências da prática
tetizar) e relacionar, por meio do ensino e aprendizagem predatória ambiental. Tais informações contribuem para
dos procedimentos correlatos. Os alunos também pode- o início da formação de atitudes de preservação do meio
rão verificar a existência de alguns fenômenos físicos e ambiente.

109
Conteúdos para o primeiro ciclo referentes a fatos, Com este critério pretende-se avaliar se o aluno, ten-
conceitos, procedimentos, valores e atitudes: do realizado várias atividades em pequenos grupos de
busca de informações em fontes variadas, é capaz de
• investigação de processos artesanais ou industriais cooperar nas atividades de grupo e acompanhar ade-
da produção de objetos e alimentos, reconhecendo a quadamente um novo roteiro.
matéria-prima, algumas etapas e características de de- • Registrar sequências de eventos observadas em ex-
terminados processos; perimentos e outras atividades, identificando etapas e
• conhecimento de origens e algumas propriedades transformações.
de determinados materiais e formas de energia, para re- Com este critério pretende-se avaliar a capacidade do
lacioná-las aos seus usos; aluno de identificar e registrar sequências de eventos —
• formulação de perguntas e suposições sobre os as etapas e as transformações — em um experimento ou
processos de transformação de materiais em objetos; em outras atividades.
• busca e coleta de informações por meio de obser- • Identificar e descrever algumas transformações do
vação direta e indireta, experimentação, interpretação de corpo e dos hábitos — de higiene, de alimentação e ati-
imagens e textos selecionados; vidades cotidianas — do ser humano nas diferentes fases
• organização e registro de informações por intermé- da vida.
dio de desenhos, quadros, esquemas, listas e pequenos Com este critério pretende-se avaliar se o aluno rela-
textos; ciona os hábitos e as características do corpo humano a
• interpretação das informações por meio do esta- cada fase do desenvolvimento e se identifica as transfor-
belecimento de regularidades e das relações de causa e mações ao longo desse desenvolvimento.
efeito; • Identificar os materiais de que os objetos são feitos,
• utilização das informações obtidas para justificar descrevendo algumas etapas de transformação de mate-
suas ideias; riais em objetos a partir de observações realizadas
• comunicação oral e escrita de suposições, dados e Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é ca-
conclusões, respeitando diferentes opiniões. paz de compreender que diferentes materiais são empre-
gados para a confecção de diferentes objetos. Pretende-
Critérios de avaliação de Ciências Naturais para o -se avaliar também a capacidade do aluno de descrever
primeiro ciclo as etapas de transformação de materiais em objetos.

Os critérios de avaliação estão referenciados nos ob- Segundo ciclo


jetivos, mas, como se pode notar, não coincidem inte-
gralmente com eles. Os objetivos são metas, balizam e Ciências Naturais no segundo ciclo
orientam o ensino, indicam expectativas quanto ao de-
senvolvimento de capacidades pelos alunos ao longo de No segundo ciclo a escola já não é novidade. O alu-
cada ciclo. Sabe-se, porém, que o desenvolvimento de no desta fase possui um repertório de imagens e ideias
todas as capacidades não se completa dentro da dura- quantitativa e qualitativamente mais elaborado que no
ção de um ciclo. Assim, é necessário o estabelecimento primeiro ciclo. Nem todos os alunos iniciam esse ciclo
de critérios de avaliação que indiquem as aprendizagens já sabendo ler e escrever efetivamente, o que não pode
imprescindíveis, básicas para cada ciclo, dentro do con- constituir impedimento à aprendizagem de Ciências Na-
junto de metas que os norteia. turais. Pelo contrário, uma vez que a área propicia a prá-
• Identificar componentes comuns e diferentes em tica de várias formas de expressão, a aprendizagem de
ambientes diversos a partir de observações diretas e in- Ciências não só é possível como pode incentivar o aluno
diretas. a ler e a escrever.
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno, utili- Sob orientação do professor, o aluno pode desen-
zando dados de observação direta ou indireta, reconhece volver observações e registros mais detalhados, buscar
que todo ambiente é composto por seres vivos, água, informações por meio de leitura em fontes diversas, or-
ar e solo, e os diversos ambientes diferenciam-se pelos ganizá-las por meio da escrita e de outras formas de re-
tipos de seres vivos e pelas características da água e do presentação, de modo mais completo e elaborado que
solo. o aluno do primeiro ciclo. Ampliam-se, também, as pos-
• Observar, descrever e comparar animais e vegetais sibilidades de estabelecer relações, o que permite tra-
em diferentes ambientes, relacionando suas característi- balhar com maior variedade de informações, alargando
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cas ao ambiente em que vivem a compreensão do mundo e das interações do homem


Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é com esse mundo.
capaz de identificar características dos seres vivos que O aluno deste ciclo já pode compreender com maior
permitem sua sobrevivência nos ambientes que habitam, e crescente desenvoltura explicações e descrições nos
utilizando dados de observação. textos informativos que lê, ou naqueles lidos pelo profes-
• Buscar informações mediante observações, experi- sor, o que representa um ganho significativo em relação
mentações ou outras formas, e registrá-las, trabalhando ao ciclo anterior.
em pequenos grupos, seguindo um roteiro preparado O desenho como forma de registro já é mais claro e
pelo professor, ou pelo professor em conjunto com a detalhado, aproximando-se do desenho informativo, ca-
classe. racterístico das Ciências.

110
Os registros de atividades práticas de observação e • Identificar os processos de captação, distribuição
experimentação podem ser sistematizados em relatórios e armazenamento de água e os modos domésticos de
que contenham a descrição das etapas básicas: materiais tratamento da água — fervura e adição de cloro —, rela-
utilizados, procedimentos e dados obtidos. cionando-os com as condições necessárias à preservação
O estabelecimento de regularidades nas relações de da saúde.
causa e efeito, forma e função, dependência e sincronici- • Compreender a importância dos modos adequados
dade ou sequência é possível ser realizado pela compa- de destinação das águas servidas para a promoção e ma-
ração de eventos, objetos e fenômenos, sob orientação nutenção da saúde.
do professor, que oferece informações e propõe inves- • Caracterizar materiais recicláveis e processos de tra-
tigações aos alunos. A busca de informações em livros, tamento de alguns materiais do lixo — matéria orgânica,
jornais e revistas é agora possível de se realizar com cres- papel, plástico, etc.
cente autonomia. É este o instrumental do aluno para • Formular perguntas e suposições sobre o assunto
em estudo.
interpretar dados e informações, e pelo qual será capaz
• Buscar e coletar informações por meio da observa-
de realizar algumas generalizações. A partir do segundo
ção direta e indireta, da experimentação, de entrevistas
ciclo os alunos são capazes de trabalhar com uma varie-
e visitas, conforme requer o assunto em estudo e sob
dade de informações progressivamente maiores, genera-
orientação do professor.
lizações mais abrangentes, aproximando-se dos modelos • Confrontar as suposições individuais e coletivas com
oferecidos pelas Ciências. as informações obtidas, respeitando as diferentes opi-
Observar, comparar, descrever, narrar, desenhar e niões, e reelaborando suas ideias diante das evidências
perguntar são modos de buscar e organizar informa- apresentadas.
ções sobre temas específicos, alvos de investigação pela • Organizar e registrar as informações por intermédio
classe. Tais procedimentos não permitem a aquisição do de desenhos, quadros, tabelas, esquemas, gráficos, listas,
conhecimento conceitual sobre o tema, mas são recur- textos e maquetes, de acordo com as exigências do as-
sos para que a dimensão conceitual, a rede de ideias que sunto em estudo, sob orientação do professor.
confere significado ao tema, possa ser trabalhada pelo • Interpretar as informações por meio do estabeleci-
professor. mento de relações de dependência, de causa e efeito, de
sequência e de forma e função.
Objetivos de Ciências Naturais para o segundo ci- • Responsabilizar-se no cuidado com os espaços que
clo habita e com o próprio corpo, incorporando hábitos pos-
síveis e necessários de alimentação e higiene no preparo
• Identificar e compreender as relações entre solo, dos alimentos, de repouso e lazer adequados.
água e seres vivos nos fenômenos de escoamento da • Valorizar a vida em sua diversidade e a preservação
água, erosão e fertilidade dos solos, nos ambientes ur- dos ambientes.
bano e rural.
• Caracterizar causas e consequências da poluição da Conteúdos de Ciências Naturais para o segundo
água, do ar e do solo. ciclo
• Caracterizar espaços do planeta possíveis de serem
ocupados pelo homem, considerando as condições de É com um repertório ampliado pelas noções anterior-
qualidade de vida. mente aprendidas e pelo desenvolvimento das capaci-
• Compreender o corpo humano como um todo inte- dades de ler, representar e estabelecer relações que o
aluno do segundo ciclo realiza estudos comparativos dos
grado e a saúde como bem-estar físico, social e psíquico
elementos constituintes dos ambientes, particularmente
do indivíduo.
o solo e a água, de algumas fontes e transformações de
• Compreender o alimento como fonte de matéria e
energia, das interferências do ser humano no ambiente
energia para o crescimento e manutenção do corpo, e a
e suas consequências, do funcionamento do corpo hu-
nutrição como conjunto de transformações sofridas pe- mano, integrando aspectos diversos e as condições de
los alimentos no corpo humano: a digestão, a absorção saúde, bem como das tecnologias utilizadas para a ex-
e o transporte de substâncias e a eliminação de resíduos. ploração de recursos naturais e reciclagem de materiais.
• Estabelecer relação entre a falta de asseio corporal,
a higiene ambiental e a ocorrência de doenças no ho- Ambiente
mem.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• Identificar as defesas naturais e estimuladas (vaci- No segundo ciclo ampliam-se as noções de ambiente
nas) do corpo. natural e ambiente construído, por meio do estudos das
• Caracterizar o aparelho reprodutor masculino e fe- relações entre seus elementos constituintes, especial-
minino, e as mudanças no corpo durante a puberdade, mente o solo e a água. Algumas fontes e transformações
respeitando as diferenças individuais do corpo e do com- de energia são abordadas neste bloco em conexão com
portamento nas várias fases da vida. o bloco “Recursos tecnológicos”.
• Identificar diferentes manifestações de energia — Esses componentes também são investigados como
luz, calor, eletricidade e som — e conhecer alguns pro- recursos naturais, estudando-se seus usos e consequên-
cessos de transformação de energia na natureza e por cias associados a diferentes atividades humanas, como a
meio de recursos tecnológicos. agricultura e a ocupação urbana. A poluição dos ambien-

111
tes também é trabalhada como resultado de diferentes Ainda relacionado à qualidade da água como solven-
interações do homem com seu meio, também em cone- te estuda-se sua importância para a higiene pessoal e
xão com o bloco “Recursos tecnológicos”. Grande parte ambiental. As formas de obtenção e tratamento da água,
desses assuntos é tratada no documento Meio Ambiente. bem como o destino das águas servidas, podem ser tra-
Para os alunos do segundo ciclo é possível, com auxí- balhados em conexão com o bloco “Recursos tecnoló-
lio do professor, investigar as relações entre água, calor, gicos”.
luz, seres vivos, solo e outros materiais, a fim de entender As características e propriedades do solo nos diferen-
os aspectos da dinâmica ambiental. Ao estudar essas re- tes ambientes são estudadas sob o enfoque das relações
lações, os alunos se aproximam de diferentes conceitos entre esse componente, a água e os seres vivos, incluin-
das Ciências Naturais, como mistura, fertilidade, erosão, do o ser humano.
decomposição e ciclo da água. Observações diretas e indiretas e leituras são meios
Problemas relevantes — onde existe água no planeta? de os alunos obterem informações acerca da existência
A água das nuvens, dos seres vivos e dos rios é a mesma? de diferentes tipos de solo e sua relação com as diversas
A água na natureza nunca acaba? — permitem discutir atividades humanas.
a presença da água no planeta e suas transformações. Existem características do solo que são facilmente
Essas questões, entre outras, se constituem em convites observáveis — cor, textura, umidade, cheiro, presença
para os alunos expressarem suas suposições, buscarem de restos de seres vivos, presença destacada de grânu-
informações e verificá-las. Possibilita ao professor conhe- los, cobertura vegetal. Outras requerem a realização de
cer as representações dos alunos e organizar os passos atividade experimental para que possam ser verificadas
seguintes de sua intervenção. — quantidades de areia, argila, ar, matéria orgânica, ca-
Investigações sobre as formas com que a água se pacidade de escoamento da água (permeabilidade). Essa
apresenta no ambiente podem ser organizadas de modo diversidade de características são referências para a com-
a permitir a verificação da existência de água nos mares, paração e a classificação dos diferentes tipos de solos.
rios, geleiras, misturada ao solo, na chuva, na torneira, Uma estratégia interessante e fácil de ser utilizada é
nos canos, nos poços, no corpo dos seres vivos. Ao mes- a coleta de amostras de diferentes tipos de solo, em di-
mo tempo, tal verificação suscita dúvidas que são escla- ferentes ambientes, para comparação das características
recidas à medida que os alunos conhecem as proprieda- apontadas. Comparando as amostras por meio de obser-
des ou características da água. vações e experimentos, os alunos podem identificar uma
Por meio de atividades experimentais orientadas pelo regularidade: os solos são compostos por água, ar, areia,
professor, os alunos podem estabelecer a relação entre argila, restos de animais e vegetais e matéria orgânica
troca de calor e mudanças de estado físico da água, con- decomposta.
cluindo pela ideia de transformação — a água é a mesma Também por comparação identificam diferenças re-
—, pois o que muda é a forma como se apresenta, o seu lativas à quantidade de areia, argila, matéria orgânica,
estado físico; a causa dessa mudança é a troca de calor maior ou menor permeabilidade, cobertura vegetal.
Associando o tipo de solo às características do local
entre a água e o meio. Esse conhecimento é fundamen-
de origem, os alunos podem se aproximar da noção de
tal para a compreensão de como a água se transforma,
solo como resultado da ação dos vários elementos do
possibilitando uma aproximação do conceito de ciclo da
meio sobre a rocha-mãe, às vezes incluindo a ação hu-
água.
mana.
Podem ser abordados os ambientes aquáticos, estu-
Entre esses elementos destaca-se a ação de micror-
dando-se sua variedade e suas composições: as formas
ganismos (bactérias e fungos microscópicos) e fungos
de vida presentes e como se relacionam (por exemplo,
macroscópicos (cogumelos, orelhas-de-pau, etc.) sobre
quem come quem), a relação com a luz, as quantidades
os restos de vegetais, animais e seus dejetos, decompon-
de sais dissolvidos e a constituição do fundo dos rios e do-os.
dos mares. O estudo sobre a decomposição pode ser realizado
É interessante que os alunos verifiquem e/ou sejam por meio de várias atividades experimentais e leituras.
informados de que a água na natureza se encontra mis- Podem-se associar as informações sobre decomposição
turada a outros materiais: o mar é uma mistura de água, à necessidade de utilização de adubo na preparação dos
vários sais e outros componentes; um suco vegetal con- solos para o plantio, sistematizando uma primeira apro-
tém água misturada a vitaminas, sais minerais e outras ximação da noção de fertilidade do solo, como resulta-
substâncias; o sangue, a urina e o suor são misturas de do da ação de seres decompositores sobre os restos de
água com diferentes materiais. Ao verificarem que di-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

animais e vegetais mortos, beneficiando o solo. Esse as-


ferentes materiais podem estar dissolvidos na água, os sunto também é tratado no documento Meio Ambiente.
alunos entram em contato com o fato de a água ser um Os estudos sobre o solo se completam com a investi-
solvente. gação acerca da degradação do solo pela erosão. Conhe-
Por meio de experimentos é possível essa verificação, cendo a relação entre a água e o solo (permeabilidade),
bem como por intermédio de alguns processos simples os alunos saberão que a água da chuva se infiltra no solo,
de separação de misturas; filtração da água lodosa, de- podendo ser mais ou menos retida nos diferentes tipos
cantação da água salgada ou lodosa, evaporação e con- de solo.
densação da água de sucos vegetais também constituem Mas, o que acontece quando a chuva cai sobre o solo
oportunidades de discutir as possibilidades de muitos descoberto de vegetação? E quando cai sobre solo co-
materiais dissolverem-se na água. berto por mata ou plantação? Há alguma diferença?

112
As crianças podem levantar suposições e testá-las • estabelecimento de relações de dependência (ca-
com experimentos e observações. Deste modo, é possí- deia alimentar) entre os seres vivos em diferentes am-
vel o professor encaminhar a noção de que o solo des- bientes;
coberto recebe a água da chuva com maior impacto que • estabelecimento de relação de dependência entre
solos cobertos nos quais as raízes dos vegetais formam a luz e os vegetais (fotossíntese), para compreendê-los
redes que impedem a desagregação do solo. Em con- como iniciadores das cadeias alimentares;
sequência, a água carrega partículas de solo em maior • reconhecimento da diversidade de hábitos e com-
quantidade na primeira situação. Por meio da compara- portamentos dos seres vivos relacionados aos períodos
ção dessas situações torna-se viável elaborar a ideia de do dia e da noite e à disponibilidade de água;
erosão, considerando-se que esse fenômeno ocorre com • elaboração de perguntas e suposições sobre as rela-
mais intensidade nos ambientes transformados pelo ho- ções entre os componentes dos ambientes;
mem, em vista do desmatamento por ele realizado. • busca e coleta de informação por meio de observa-
Investigam-se também as consequências da erosão ção direta e indireta, experimentação, entrevistas, visitas,
para o ambiente, relacionando-se a perda de materiais leitura de imagens e textos selecionados;
do solo com a perda de sua fertilidade, assoreamento • organização e registro de informações por inter-
dos rios, desbarrancamento de terrenos inclinados até a médio de desenhos, quadros, tabelas, esquemas, listas,
formação de voçorocas e, consequentemente, a redução textos e maquetes;
da variedade de seres vivos no ambiente. • confrontação das suposições individuais e coletivas
A relação da água com a luz na formação do arco-íris com as informações obtidas;
pode ser investigada por meio de atividade experimen- • interpretação das informações por meio do esta-
tal em que os alunos constroem e verificam hipóteses e belecimento de relações de causa e efeito, dependência,
exploram uma característica importante da luz branca, o sincronicidade e sequência;
fato de ser composta por luzes coloridas. • utilização das informações obtidas para justificar
Pode-se ainda estudar as relações da luz com os seres suas ideias;
vivos em alguns aspectos. Quanto aos animais, é inte- • comunicação oral e escrita: de suposições, dados e
ressante comparar comportamentos e corpos daqueles conclusões.
de hábito diurno àqueles de hábitos noturnos, caso da
maior parte dos animais de grande porte das florestas Ser Humano e Saúde
brasileiras (onça, anta, vários macacos). Quanto aos ve-
getais, já no segundo ciclo os alunos podem ser informa- Por intermédio de estratégias variadas os alunos po-
dos sobre a produção de seu alimento a partir de água, dem construir a noção de corpo humano como um todo
ar e luz, pelo processo da fotossíntese (ver o tópico so- integrado, que expressa as histórias de vida dos indiví-
bre problematização). Essa informação é básica para a duos e cuja saúde depende de um conjunto de atitudes
compreensão da presença das plantas no início de todas e interações com o meio, tais como alimentação, higiene
as cadeias alimentares, que representa uma relação de pessoal e ambiental, vínculos afetivos, inserção social, la-
dependência entre os seres vivos de quaisquer ambien- zer e repouso adequados.
tes — aquáticos e terrestres, transformados ou não pelas É muito comum a analogia entre o corpo humano e
atividades humanas. uma máquina. É comum, mas imprópria. Como todo sis-
Essas noções introduzem a apreciação das transfor- tema vivo o corpo é capaz de reprodução, trocas com o
mações de energia, assunto que se completa com o es- meio e autorregulação, o que o diferencia largamente de
tudo de equipamentos e máquinas no bloco “Recursos uma máquina.
tecnológicos”. O corpo humano é um todo integrado em que os di-
versos aparelhos e sistemas realizam funções específicas,
Conteúdos para o segundo ciclo relativos a fatos, con- interagindo para a manutenção desse todo. O equilíbrio
do corpo também depende das suas interações com o
ceitos, procedimentos, valores e atitudes:
meio.
Uma disfunção de qualquer aparelho, sistema ou
• estabelecimento de relação entre troca de calor e
órgão representa um problema do organismo todo. Da
mudanças de estados físicos da água para fundamentar
mesma forma, alterações no ambiente afetam o orga-
explicações acerca do ciclo da água;
nismo.
• comparação de diferentes misturas na natureza
Com esse olhar estuda-se, neste ciclo, o corpo, algu-
identificando a presença da água, para caracterizá-la
mas de suas funções e seu estado de equilíbrio, isto é, a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como solvente; saúde.


• comparação de solos de diferentes ambientes re- A proposição para a classe de situações em que os
lacionando suas características às condições desses am- alunos possam perceber e explicar alterações do corpo
bientes para se aproximar da noção de solo como com- — como o rubor, o aumento de suor, a aceleração das
ponente dos ambientes integrado aos demais; pulsações e do ritmo respiratório — decorrentes de mu-
• comparação de diferentes tipos de solo para iden- dança no seu estado de repouso (ao correr, pular corda,
tificar suas características comuns: presença de água, ar, etc.) permite ao professor conhecer as representações
areia, argila e matéria orgânica; dos alunos acerca do corpo, ao mesmo tempo em que já
• estabelecimento de relações entre os solos, a água aponta para a ideia de totalidade desse corpo, uma vez
e os seres vivos nos fenômenos de permeabilidade, fer- que ao realizar tais atividades os alunos poderão perce-
tilidade e erosão; ber alterações em várias funções simultaneamente.

113
A análise do professor sobre as suposições apresen- A digestão é estudada como processo de transfor-
tadas lhe permite traçar o caminho a ser percorrido a mação das substâncias alimentares em outras menores
partir do patamar de conhecimentos dos alunos, ainda que podem ser absorvidas pelo sangue e distribuídas
que incipientes, sobre os diferentes sistemas do corpo para o corpo todo. Esse processo, que ocorre no apare-
humano, no sentido da aproximação do conhecimento lho digestivo, é estudado em seus aspectos mais gerais,
oferecido pela ciência. localizando-se as principais transformações verificadas
Esse caminho significa a busca de informações em na boca, no estômago e no intestino delgado, sem que
textos selecionados, compatíveis com os alcances para se entre em detalhes sobre o nome das enzimas, controle
estudos sobre o corpo humano e a saúde no segundo hormonal, etc. A formação das fezes no intestino grosso
ciclo. Significa, também, a seleção de estratégias e ati- e sua eliminação são estudadas considerando-se sua re-
vidades que contribuam para a aprendizagem de pro- lação com a presença da flora intestinal e com a ingestão
cedimentos, atitudes, valores e conceitos reunidos nos de fibras na alimentação.
conteúdos deste bloco. A busca de informações, por meio de leituras e ex-
Não importa por qual sistema do corpo humano se perimentos, sobre as transformações dos alimentos no
iniciem os estudos, mas sim que o professor assegure a tubo digestivo — da boca ao reto — situa o aluno quan-
abordagem das relações entre os sistemas, garantindo a to às transformações que os alimentos sofrem por ação
construção da noção do corpo como um todo integrado dos movimentos das partes do tubo (digestão mecânica)
e dinamicamente articulado à vida emocional e ao meio e por ação de sucos digestivos (enzimas, que não devem
físico e social. ser nomeadas nesse ciclo).
Para o trabalho com diferentes sistemas ou aparelhos, As substâncias alimentares que chegam a todas as
é interessante que os alunos, em grupos, expressem suas partes do corpo combinam-se com o oxigênio, liberando
representações, por exemplo, desenhando sistemas e energia. É essa energia que o corpo usa para realizar suas
aparelhos dentro do contorno do corpo humano e es- atividades e manter sua temperatura. Esta informação
crevendo explicações sobre seu funcionamento. deve ser transmitida pelo professor aos alunos, pois a
A comparação entre os resultados dos diferentes gru- compreensão do processo da respiração em sua totali-
pos da classe, acompanhado de conversa entre os alu- dade (incluindo o que ocorre em nível celular e as trocas
nos a seu respeito, dá ao professor as referências sobre gasosas nos pulmões) abrange conhecimentos comple-
o conhecimento que os alunos já têm sobre o assunto. A xos, mas é importante que os alunos saibam o papel do
busca de informações em atlas anatômicos simplificados, oxigênio no corpo humano. É possível, entretanto, o es-
livros ou outras fontes adequadas aos alunos desse ciclo, tudo das vias respiratórias, os mecanismos de ventilação
permite que o professor encaminhe a confrontação entre dos pulmões e as trocas gasosas entre os pulmões e o
as representações realizadas e o conhecimento estabele- sangue.
cido sobre o aparelho ou sistema em estudo. A compreensão mais aprofundada de como o corpo
É necessária a clareza de que os estudos sobre corpo integra as funções dos aparelhos e responde a estímulos
humano, que têm início no primeiro ciclo, alarguem-se do meio nos remete ao estudo dos sistemas de regula-
no segundo ciclo, mas não podem ser realizados com a ção: sistema nervoso, sistema hormonal e sistema imu-
profundidade que ganham nos ciclos posteriores. É pre- nológico.
ciso compreender os alcances desses estudos neste ciclo, Por operarem interligando todos os sistemas por in-
o que será abordado a seguir. termédio de mecanismos complexos e se apresentarem
No segundo ciclo é importante que os alunos com- como grandes redes pelo corpo, seus estudos requerem
preendam o sistema circulatório como conjunto de estru- o estabelecimento de grande número de relações, o que
turas voltadas ao transporte e distribuição de materiais não se mostra adequado ao trabalho com alunos de pri-
pelo corpo. São transportadas as substâncias alimenta- meiro e segundo ciclos.
res, que chegam ao sangue após serem transformadas No entanto, é possível tratar o sistema imunológico
no aparelho digestivo, e o oxigênio, absorvido pelo san- como forma de defesa natural do organismo, que pode
gue em contato com os pulmões. Distribuídos pelo san- ser estimulada pelas vacinas, contra a ação de elementos
gue, oxigênio e substâncias alimentares chegam a todas estranhos. A variedade das vacinas, seu uso correto, for-
as partes do corpo sendo utilizados para manutenção e mas de atuação e a importância das campanhas de va-
crescimento. Nesse processo, formam-se resíduos que cinação podem ser investigados por meio de entrevistas
devem ser eliminados. a agentes de saúde nos postos de saúde da região. Os
O sangue recolhe os resíduos das atividades de todas resultados dessas pesquisas podem ser divulgados à co-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

as partes do corpo e os transporta para os rins, que fil- munidade, na forma de folhetos preparados pelos alunos
tram o sangue, produzindo a urina. com o auxílio do professor.
O sangue caminha sempre dentro de vasos, passan- É importante a consideração, para os alunos, de que
do pelo coração, um órgão muscular cujos movimentos a eficiência do sistema imunológico está associada às
rítmicos impulsionam o líquido do coração para o corpo condições de higiene, alimentação, repouso e bem-estar
através das artérias e, no sentido de volta, do corpo para psíquico e social do indivíduo.
o coração, através das veias. A importância do asseio corporal e ambiental, da
Como o corpo ganha materiais para o seu crescimen- alimentação, de repouso e lazer adequados para a pre-
to e energia para realizar suas atividades? Essa questão servação da saúde são assuntos a serem trabalhados no
é respondida pelos estudos sobre digestão e respiração. decorrer de toda investigação sobre o corpo humano. Os

114
alunos estudam as necessidades específicas de cada apa- Esses assuntos podem ser tratados dentro de proje-
relho, e o professor sempre evidencia que uma disfunção tos em que se estudem também questões de saúde de
ou problema em determinado órgão ou aparelho repre- outras comunidades, para que os alunos tracem compa-
senta um desequilíbrio no corpo todo, isto é, o corpo rações entre as suas condições de higiene e saúde e as
todo adoece. de outros grupos, o que é interessante para a expansão
Um tema extremamente importante a ser considera- de sua compreensão de mundo.
do é a alimentação. Alunos desse ciclo podem investigar Neste ciclo, também são importantes os estudos so-
aspectos culturais e educacionais dos hábitos alimenta- bre os aparelhos reprodutores feminino e masculino e
res, as principais substâncias alimentares, suas funções e sobre as transformações que ocorrem no corpo de meni-
a importância da higiene na alimentação. nas e meninos durante a puberdade.
A pesquisa sobre hábitos alimentares em outras cul- A observação do próprio corpo (como é, como era,
turas, próximas ou distantes no tempo e no espaço, sobre quais mudanças estão ocorrendo) e a comparação des-
os próprios hábitos alimentares e de pessoas da comu- ses dados com padrões de desenvolvimento — que po-
nidade de diferentes idades permite conhecer alimentos dem ser obtidos dos agentes de saúde — permitem aos
mais consumidos nas diferentes refeições, motivos do alunos situarem seu momento de desenvolvimento e
consumo, gostos pessoais, como foram formados, prefe- considerarem variações individuais ligadas à hereditarie-
rência por alimentos crus ou cozidos, por frutas, legumes dade e ao histórico pessoal.
e verduras ou carnes, entre outros aspectos de relevância Para os estudos sobre o aparelho reprodutor mascu-
local que podem ser investigados. lino e feminino é indicado, como para os demais apare-
A análise dos dados obtidos e organizados poderá lhos, a representação inicial, em que os alunos desenham
proporcionar o entendimento sobre as influências do o que já conhecem ou ainda como os imaginam, anotan-
gosto pessoal, das condições socioeconômicas, da cul- do os nomes dos órgãos e suas funções. Para evitar cons-
tura e do conhecimento, na formação dos hábitos ali- trangimentos, o professor solicita desenhos individuais
mentares. e os recolhe, devolvendo-os aos alunos após a etapa de
Outra investigação possível diz respeito às substân- investigação para que cada um possa comparar sua re-
cias que compõem os alimentos e seus papéis no fun- presentação inicial àquela obtida por meio dos estudos.
cionamento do corpo. Por meio de experimentos simples Neste ciclo estudam-se os órgãos dos aparelhos repro-
os alunos podem verificar a presença de água, açúcares dutores e suas principais funções. Os alunos podem bus-
e amido em diferentes alimentos. A leitura de rótulos de car e coletar informações por meio de leitura orientada
diferentes alimentos industrializados informa sobre as pelo professor.
demais substâncias. As questões sobre sexualidade, que muito prova-
velmente surgirão, merecem ser trabalhadas. Assuntos
O estudo das funções específicas dos diversos nu-
como a construção da identidade sexual, o prazer, a
trientes não é adequado a este ciclo, uma vez que um
masturbação e demais aspectos são abordados levan-
mesmo nutriente pode cumprir diferentes papéis e al-
do-se em conta os componentes biológicos e culturais.
guns deles são utilizados com diferentes fins, depen-
É importante que o professor esteja atento e explicite
dendo do estado nutricional do indivíduo. Entretanto, os
os aspectos culturais envolvidos, buscando evitar pre-
alunos deste ciclo podem compreender que as substân-
conceitos e responder dúvidas, valorizando os vínculos
cias alimentares, no seu conjunto, são utilizadas para o
entre afeto, responsabilidade, sexualidade e autoestima.
fornecimento de energia e de materiais de construção
É também da maior importância que o grau de maturi-
do corpo.
dade psíquica e biológica da classe seja parâmetro no
Visitas a postos de saúde locais ou entrevistas com aprofundamento das respostas ou investigações acerca
agentes de saúde podem fornecer informações sobre a desses assuntos.
máxima utilização dos alimentos; como usar talos e cas-
cas de vegetais, como enriquecer o pão, etc. Conteúdos para o segundo ciclo relativos a fatos,
A elaboração de cardápios a partir das informações conceitos, procedimentos, valores e atitudes:
acerca da utilização de recursos disponíveis é estimulan-
te para a construção de um padrão nutricional desejável • estabelecimento de relações entre os diferentes
e compatível com a realidade. aparelhos e sistemas que realizam as funções de nutri-
Também aborda este assunto o documento Saúde. ção para compreender o corpo como um todo integrado:
Levando em conta as características da comunidade transformações sofridas pelo alimento na digestão e na
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

com que trabalha e os objetivos que intenciona cumprir, respiração, transporte de materiais pela circulação e eli-
o professor pode propor para sua classe algumas investi- minação de resíduos pela urina;
gações sobre as relações entre as condições de higiene e • estabelecimento de relações entre aspectos bioló-
verminoses, carência nutricional e as doenças da desnu- gicos, afetivos, culturais, socioeconômicos e educacio-
trição, higiene pessoal e doméstica, afecções do aparelho nais na preservação da saúde para compreendê-la como
urinário (muito comum nas jovens e meninas), poluição bem-estar psíquico, físico e social;
ambiental e doenças do aparelho respiratório, entre tan- • identificação de limites e potencialidades de seu
tas outras. Pelo perigo que representa à vida dos jovens próprio corpo, compreendendo-o como semelhante mas
é necessário que os alunos sejam informados sobre as não igual aos demais para desenvolver autoestima e cui-
formas de contágios e prevenção à AIDS. dado consigo próprio;

115
• reconhecimento dos alimentos como fontes de Água, lixo, solo e saneamento básico
energia e materiais para o crescimento e a manutenção
do corpo saudável valorizando a máxima utilização dos Esses assuntos estão intimamente relacionados aos
recursos disponíveis na reorientação dos hábitos de ali- estudos sobre Ambiente, sendo também tratados nos
mentação; documentos Meio Ambiente e Saúde.
• estabelecimento de relações entre a falta de higiene Sua abordagem no segundo ciclo é constituída pe-
pessoal e ambiental e a aquisição de doenças: contágio las investigações acerca dos resultados das intervenções
por vermes e microrganismos; humanas na circulação e transformação dos materiais no
• estabelecimento de relações entre a saúde do corpo ambiente, tendo em vista a construção de conhecimen-
e a existência de defesas naturais e estimuladas (vacinas); tos básicos que fundamentem o valor à sua preservação.
• comparação dos principais órgãos e funções do Nesse sentido os espaços a serem considerados vão
aparelho reprodutor masculino e feminino, relacionando desde a casa, a escola e seu entorno até o planeta como
seu amadurecimento às mudanças no corpo e no com- um todo.
A casa é um ambiente dinâmico. Nela as pessoas
portamento de meninos e meninas durante a puberdade
trocam afetos, experiências, emoções, se abrigam, des-
e respeitando as diferenças individuais;
cansam, se alimentam, se banham e eliminam dejetos.
• estabelecimento de relações entre aspectos biológi-
Enfim, é na casa, que as pessoas realizam as atividades
cos, afetivos e culturais na compreensão da sexualidade
mais íntimas e necessárias à sua sobrevivência. Na casa
e suas manifestações nas diferentes fases da vida; entram e saem pessoas, entram alimentos e água, saem
• elaboração de perguntas e suposições acerca dos dejetos e lixo. A água e os alimentos são modificados ao
assuntos em estudo; cozinharmos, ao fazermos a limpeza da casa e o asseio
• busca e coleta de informação por meio da observa- pessoal. Dessas atividades sobram restos que compõem
ção direta e indireta, experimentação, entrevistas, visitas o lixo doméstico.
a equipamentos de saúde (postos, hospitais), leitura de Mas os alimentos são transformados também dentro
imagens e textos selecionados; do corpo. As fezes e urina são resíduos resultantes des-
• confronto das suposições individuais e coletivas às sas transformações, sendo eliminados, respectivamente,
informações obtidas; pelos aparelhos digestivo e excretor.
• organização e registro de informações por meio de Tanto os resíduos eliminados pelo corpo quanto o
desenhos, quadros, tabelas, esquemas, listas, textos e lixo doméstico não podem permanecer na casa, pois
maquetes; constituem excelente meio de proliferação de seres vivos
• interpretação das informações por intermédio do — ratos, baratas, moscas, bactérias, fungos, etc. — que
estabelecimento de relações de dependência, causa e se alimentam desses restos e podem causar ou transmitir
efeito, forma e função, sequência de eventos; doenças às pessoas da casa e da vizinhança.
• utilização das informações obtidas para justificar Assim, os dejetos devem ser lançados para fora da
suas ideias; casa, isto é, para o ambiente. A casa não é, portanto, uma
• comunicação oral e escrita: de suposições, dados e unidade isolada. É um sistema em constante troca com o
conclusões. ambiente. É ele o receptor final dos dejetos provenientes
de cada casa. Mas, se a casa precisa se manter limpa para
Recursos Tecnológicos que as pessoas não contraiam doenças, o ambiente tam-
bém necessita cuidados.
Muitos e diversos são os assuntos que permitem aos Quanto maior o aglomerado humano, maiores os
problemas para a manutenção da higiene do ambiente.
alunos deste ciclo ampliar as noções acerca das técnicas
Nas regiões industriais, nos portos, nas regiões de ga-
que medeiam a relação do ser humano com o meio, ve-
rimpo, aumenta a variedade de dejetos lançados no am-
rificando também aspectos relacionados às consequên-
biente.
cias do uso e ao alcance social. A escolha dos estudos a
É necessário, portanto, que as trocas com o ambiente
serem realizados pode tomar como referência os proble- sejam feitas de modo a garantir a sua preservação.
mas ambientais locais. As técnicas que o homem cria para efetuar essas tro-
Em conexão com os blocos “Ambiente” e “Ser huma- cas, mantendo casa e ambiente em condições saudáveis,
no e saúde”, desenvolvem-se estudos sobre a ocupação constituem o saneamento básico.
humana dos ambientes e os modos como o solo, a água Assim, promover o acesso da população à água trata-
e os alimentos são aproveitados mediante o desenvolvi- da, ao escoamento e tratamento dos dejetos, à coleta de
mento de técnicas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

lixo e à preservação do ambiente são medidas de caráter


Também é possível no segundo ciclo a realização de preventivo fundamentais à manutenção da saúde.
estudos comparativos de equipamentos, instrumentos e
ferramentas, classificando-os segundo critérios diversos, Captação e armazenamento da água
para que os alunos conheçam a diversidade de suas for-
mas, utilidades e fontes de energia consumidas. Uma investigação importante incide sobre os modos
Esses assuntos serão apresentados em tópicos com a de captação de água na região onde a escola se encon-
finalidade de organizar a discussão e mostrar as articu- tra — se provém de fontes, de poços, de rios ou riachos,
lações com os demais blocos e com temas transversais, de represas, como são e onde se localizam — e sobre as
bem como os alcances dos diferentes conteúdos. formas de armazenamento — caixas d’água ou açudes,
que coletam água da chuva.

116
Podem-se, também, buscar informações a respeito É importante que se estudem as doenças de veicula-
das condições das fontes de água locais no passado, ção hídrica recorrentes na região, seus principais sinto-
quando a intensidade da interferência humana ainda não mas, modos de contágio e prevenção, em conexão com o
era tão acentuada. tema transversal Saúde e o bloco “Ser humano e saúde”.
Complementa essas investigações a busca de infor- A pesquisa sobre o padrão de construção das fossas
mação nos postos de saúde e em outras fontes — livros, sépticas, necessárias à preservação da água do subsolo,
agentes de saúde, órgãos públicos responsáveis pelo sa- e sobre a necessidade de construção de redes e trata-
neamento — sobre as doenças veiculadas pela água em mento de esgoto também é objeto de conhecimento dos
sua região e suas causas (agentes biológicos ou quími- alunos.
cos). Os resultados desses estudos podem ser organizados
Os resultados dessas pesquisas informam os alunos em um folheto, ou em outro recurso de comunicação, a
sobre as condições da água e de seu armazenamento ser divulgado para sua comunidade.
na região em que vivem e os capacita a qualificar a água
que consomem, bem como a conhecer as medidas ne- Coleta e tratamento de lixo
cessárias para a solução dos problemas que porventura
existam. Quais os constituintes do lixo na casa? E na escola?
Algumas soluções dizem respeito diretamente à famí- Essas questões são facilmente respondidas pela obser-
lia da criança: construção de poços em local adequado, vação direta, a partir da qual se estabelece uma lista de
manutenção de caixas d’água e cisternas cobertas. Ou- componentes do lixo. Pode-se também observar que
tras, dizem respeito às ações da comunidade junto aos existem categorias de materiais nessa composição —
órgãos competentes, a fim de conquistar o direito à água plástico, metais, restos de alimentos e papéis.
limpa e tratada. Os alunos devem ser informados de que A busca de informações sobre as formas de desti-
fervura da água e/ou uso de produtos clorados são me- nação do lixo é realizada mediante a leitura de textos e
didas alternativas para a eliminação de microrganismos
artigos de jornal selecionados, ou de outras fontes, que
da água, muito necessárias em locais onde não há abas-
permitam aos alunos conhecerem os diferentes destinos
tecimento de água tratada.
do lixo (aterro sanitário, incineração e lixão), bem como
A distribuição de água por meio de redes de abasteci-
as possibilidades de reciclagem (vidro, papel e metal) e
mento pode ser trabalhada com construção de maquetes
produção de compostos para adubagem e gás natural (a
em que se represente todo o processo: da captação à
partir de restos de alimento e papel). São materiais reci-
chegada da água às casas.
cláveis aqueles que podem ser reaproveitados por meio
Para essa atividade é importante que o professor
de processos e técnicas específicos.
oriente os alunos na elaboração de um plano, que an-
Nem sempre todas as informações a respeito dos
tecede a construção. Esse plano deve conter: materiais
necessários à realização da atividade, desenho da ma- destinos do lixo estão disponíveis para os alunos e seu
quete com suas medidas, o conjunto de estruturas que professor. No entanto, mesmo que parcialmente realiza-
permitem o transporte da água (canos). dos, esses estudos devem proporcionar a compreensão
Também são interessantes experimentações com va- de que o lixo não pode ser mantido a céu aberto, nem
sos comunicantes que o professor e sua classe podem acumulado em solos rasos, em leito de rios ou próximo
realizar utilizando sucatas de recipientes plásticos, canu- a mananciais, pois esses são casos em que se verifica a
dos ou pedaços de cano. As montagens são realizadas contaminação da água, do solo e do ar e a proliferação
de modo a simular as ligações entre caixas de água e de animais transmissores de doenças. O uso de incine-
encanamentos de edifício ou casa. Essa atividade facilita radores ou a queima direta do lixo representa um grave
a compreensão sobre a relação direta entre pressão da risco à saúde, posto que a mistura de gases resultante da
água e altura do recipiente de estoque. queima contém substâncias tóxicas, algumas canceríge-
nas, que atingem a atmosfera e espalham-se.
Destino das águas servidas
Solo e atividades humanas
Para onde vão as águas de banho ou de lavagens dos
sanitários, das roupas? Para onde vão as águas servidas? São possíveis investigações sobre os usos do solo
O encaminhamento apontado para o estudo da cap- associados a diferentes atividades humanas: agricultura,
tação e do armazenamento da água aplica-se também a criação de animais e ocupação urbana. Para cada caso
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

este tema, que completa os estudos sobre a utilização da procura-se relacionar as características do solo no am-
água e sua destinação. São indicadas a investigação no biente original, antes das transformações necessárias à
entorno e a busca de informações em postos de saúde atividade em questão, e as possíveis consequências do
e em outras fontes — livros, agentes de saúde, órgãos uso inadequado.
públicos responsáveis pelo saneamento. Na atividade agrícola tornam-se necessárias a corre-
Os problemas de contaminação da água por dejetos ção do solo e a utilização de adubos para o plantio. O
são debatidos quando se estuda o destino da água servi- manejo incorreto do solo — abandono de culturas, quei-
da: seja pela construção inadequada de fossas, seja pelo madas, desmatamento em larga escala, prática de mo-
lançamento de esgotos não tratados em rios, riachos e nocultura e plantio fora da curva de nível — acarreta a
mares. perda de fertilidade e condições propícias para a erosão.

117
Quanto à criação de animais, podem ser investiga- Dependendo da região em que a escola se encontre é
das as condições de formação e manutenção dos pastos. importante que questões da poluição sejam investigadas,
A utilização de solos impróprios e o pastoreio intensivo relacionando-as aos problemas de saúde da população.
(pisoteamento do solo seminu) acabam por produzir in-
tensa erosão, podendo se consumar a desertificação de Diversidade dos equipamentos
vastas áreas.
A impermeabilização dos solos urbanos, principal- A compreensão do conceito de energia e suas trans-
mente em função do uso extensivo de asfalto, impede formações requer um nível de abstração que ainda não
o escoamento natural das águas pluviais. Para que não se estabeleceu nos alunos deste ciclo. Entretanto, es-
ocorram enchentes, tornam-se necessárias a construção tudos sobre aplicações práticas das manifestações de
e a manutenção de sistemas de escoamento. energia permitem a exploração de aspectos interessan-
Devido ao tempo disponível, não é possível o estu- tes e consequente ampliação da noção de energia e suas
do aprofundado de todos esses assuntos. Recomenda-se transformações.
que o professor mencione as diferentes formas de uso Durante o segundo ciclo os alunos podem entrar em
do solo e eleja aquela mais significativa em sua região contato com uma variedade de equipamentos, máqui-
para uma investigação mais detida. Os alunos poderão nas, instrumentos e demais aparelhos utilizados para os
coletar informações por meio da observação direta, por mais diversos fins, nos ambientes urbanos ou rurais, co-
entrevistas e leituras em jornais. O estabelecimento das nhecer seus nomes, para que servem e como servem ao
relações entre os vários aspectos envolvidos, além do re- homem, quais as fontes de energia que utilizam e quais
gistro e da organização dos dados coletados são proce- transformações realizam.
dimentos também importantes. É possível a uma classe reunir esse conhecimento
realizando observações diretas ou indiretas de diferentes
Poluição utensílios e equipamentos, acompanhadas de classifica-
ções, utilizando-se critérios propostos pela própria classe
São inúmeras as causas e consequências da poluição ou pelo professor.
no planeta, a maior parte relacionada ao uso depreda- No sentido de se orientar o trabalho para construção
tório dos recursos naturais por intermédio de técnicas das noções que se pretende, é possível classificar equipa-
inadequadas. Cabe ressaltar que a poluição é uma ques- mentos segundo a finalidade que cumprem: transporte
(bicicleta, carro, avião, barco, etc.), comunicação (rádio,
tão global, pois atinge a dinâmica do planeta em seu
campainha, telefone, televisão, máquina fotográfica,
equilíbrio. Por exemplo: os poluentes lançados no ar pela
etc.), iluminação (vela, lamparina, lâmpada, etc.), aqueci-
queima de combustíveis fósseis atingem a atmosfera e,
mento (chuveiro, ferro de passar roupa, torradeira, etc.),
por ação das chuvas, retornam à superfície terrestre, con-
manipulação e preparo de materiais (trator, betoneira,
taminando solos e águas.
furadeira, britadeira, liquidificador, arado, etc.).
Estudos específicos sobre poluição requerem conhe-
Os mesmos equipamentos podem ser investigados
cimentos da Biologia, da Física e da Química. São interes-
com relação às fontes de energia que utilizam — ener-
santes para a abordagem contextualizada dos conceitos gia elétrica, energia química dos combustíveis, energia
das Ciências nos ciclos finais do ensino fundamental. solar, energia de movimento do homem, dos animais ou
Alunos de segundo ciclo, ao estudarem o destino das do vento — e às transformações que realizam. É possível
águas servidas e do lixo, os modos como se dá a ocupa- dar destaque ao fato de que, por diferentes que sejam
ção humana e suas consequências no ambiente, entram os equipamentos e suas finalidades, todos eles utilizam
em contato com a ideia de poluição, tomada como pre- alguma forma de energia para seu funcionamento. Com
sença de materiais na água, no solo e no ar, que trazem esse destaque começa-se a mostrar para o aluno a rela-
prejuízo à saúde pessoal e ambiental. ção entre energia e realização de trabalho.
Além do lixo, dos esgotos e das queimadas, outras É interessante observar que há equipamentos que
formas de poluição podem ser conhecidas. Os agrotó-
transformam um tipo de energia em outro. É o caso
xicos — pesticidas, herbicidas e fungicidas — são subs-
de equipamentos que servem à iluminação e à comu-
tâncias que eliminam pragas agrícolas mas, misturadas
nicação. Por diferentes que sejam as fontes energéticas,
ao solo e à água, são incorporadas aos vegetais e, con-
equipamentos de iluminação irão transformá-las em luz
sequentemente, aos animais e ao homem através das
(outra forma de energia). Por sua vez, equipamentos de
cadeias alimentares. São venenos que têm efeito cumu-
comunicação são sistemas que convertem diferentes for-
lativo nos organismos vivos, causando danos irreversí-
mas de energia (geralmente elétrica) em som (energia
veis à saúde. Por sua importância, esse assunto pode ser
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

estudado, ainda que de forma abreviada, conhecendo-se acústica) e imagem (luz).


a variedade e o uso dessas substâncias na agricultura, os Além de estudos sobre equipamentos, também é in-
problemas que acarretam para a saúde e técnicas alter- teressante o desenvolvimento de investigações acerca
nativas no controle de pragas. dos utensílios, ferramentas ou instrumentos de diferentes
Tão grave quanto o uso de agrotóxicos na agricultura aplicações — música, marcenaria, mecânica ou culinária.
são os resíduos tóxicos dos escapamentos de veículos e A reunião dessa categoria de objetos em uma coleção,
indústrias, acarretando problemas ambientais relaciona- seguida de classificação com a aplicação de diferentes
dos à intensificação do efeito estufa, à inversão térmica, critérios permite algumas discussões importantes acerca
entre outros, que serão tratados nos ciclos finais do en- da adequação das formas e materiais que constituem os
sino fundamental. diferentes utensílios e ferramentas ao uso que deles se
faz.

118
Por exemplo, na categoria dos instrumentos musicais • comparação e classificação de equipamentos,
de corda, é possível o aluno relacionar o tamanho das utensílios, ferramentas, relacionando seu funcionamento
cordas, sua espessura e comprimento, à qualidade do à utilização de energia, para se aproximar da noção de
som que delas se consegue: quanto mais grossa a corda, energia como capacidade de realizar trabalho;
mais grave o som, quanto menor a porção vibrante de • reconhecimento e nomeação das fontes de energia
uma determinada corda, mais agudo o som. A mesma que são utilizadas por equipamentos ou que são produto
relação pode ser estabelecida nos instrumentos de per- de suas transformações;
cussão: quanto maior o tamanho do instrumento, mais • elaboração de perguntas e suposições sobre os as-
grave o som; quanto menor o instrumento, mais agudo suntos em estudo;
o som. • busca e organização de informação por meio de ob-
Quanto aos instrumentos de marcenaria ou mecâ- servação direta e indireta, experimentação, entrevistas,
nica, pode-se estabelecer a relação entre as qualidades visitas, leitura de imagens e textos selecionados, valori-
do material que os confecciona — metal — e o tipo de
zando a diversidade de fontes;
serviço que prestam. Instrumentos de marcenaria ou me-
• confronto das suposições individuais e coletivas às
cânica são feitos de metal, pois devem ser resistentes,
informações obtidas;
algumas vezes cortantes, qualidades que são possíveis
• organização e registro de informações por meio de
de se obter pela modelagem dos metais na fabricação
de ferramentas. desenhos, quadros, tabelas, esquemas, listas, textos, ma-
É importante que as investigações sobre equipamen- quetes;
tos, utensílios e ferramentas sejam conduzidas de modo • interpretação das informações por intermédio do
a mostrar sua diversidade e a possibilidade de com- estabelecimento de relações causa e efeito, sincronicida-
preender por que são tão úteis e necessárias nas diversas de e sequência;
atividades humanas. • utilização das informações obtidas para justificar
Também tomam parte desses trabalhos as indicações suas ideias desenvolvendo flexibilidade para reconside-
sobre os cuidados no uso de equipamentos e instrumen- rá-las mediante fatos e provas;
tos e a valorização de seu uso no trabalho e no lazer. • comunicação oral e escrita: de suposições, dados e
Investigações no campo da história das invenções e conclusões;
experimentações sobre condução elétrica ou máquinas • valorização da divulgação dos conhecimentos ela-
simples também podem ser organizadas e propostas borados na escola para a comunidade;
como formas de ampliação do conhecimento acerca da • tomar fatos e dados como tais e utilizá-los na elabo-
diversidade dos equipamentos e seu funcionamento. ração de suas ideias.

Conteúdos para o segundo ciclo relativos a fatos, con- Critérios de avaliação de Ciências Naturais para o
ceitos, procedimentos, valores e atitudes: segundo ciclo

• comparação das condições do solo, da água, do ar Os critérios de avaliação para este ciclo seguem a
e a diversidade dos seres vivos em diferentes ambientes mesma abordagem que a do ciclo anterior.
ocupados pelo homem; • Comparar diferentes tipos de solo identificando
• caracterização de técnicas de utilização do solo nos componentes semelhantes e diferentes.
ambientes urbano e rural, identificando os produtos des- Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é
ses usos e as consequências das formas inadequadas de capaz de compreender que os solos têm componentes
ocupação;
comuns — areia, argila, água, ar, seres vivos, inclusive os
• reconhecimento do saneamento básico como técni-
decompositores e restos de seres vivos — e os diferentes
ca que contribui para a qualidade de vida e a preservação
solos apresentam esses componentes em quantidades
do meio ambiente;
variadas.
• reconhecimento das formas de captação, armaze-
namento e tratamento de água, de destinação das águas • Relacionar as mudanças de estado da água às trocas
servidas e das formas de tratamento do lixo na região de calor entre ela e o meio, identificando a amplitude
em que se vive, relacionando-as aos problemas de saúde de sua presença na natureza, muitas vezes misturada a
local; diferentes materiais
• reconhecimento das principais formas de poluição e Com este critério pretende-se avaliar se o aluno iden-
tifica a presença da água em diferentes espaços terres-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

outras agressões ao meio ambiente de sua região, iden-


tificando as principais causas e relacionando-as aos pro- tres e no corpo dos seres vivos e que as trocas de calor
blemas de saúde da população local; entre água e o meio têm como efeito a mudança de es-
• caracterização de materiais recicláveis e processos tado físico, sendo capaz de explicar o ciclo da água na
de reciclagem do lixo; natureza.
• caracterização dos espaços do planeta possíveis de • Relacionar solo, água e seres vivos nos fenômenos
serem ocupados pelo ser humano; de escoamento e erosão. Com este critério pretende-se
• comparação e classificação de equipamentos, uten- avaliar se o aluno é capaz de compreender que a per-
sílios, ferramentas para estabelecer relações entre as ca- meabilidade é uma propriedade do solo, estando rela-
racterísticas dos objetos (sua forma, material de que é cionada à sua composição, e a água, agente de erosão,
feito); atua mais intensamente em solos descobertos.

119
• Estabelecer relação alimentar entre seres vivos de • Realizar registros de sequências de eventos em ex-
um mesmo ambiente. Com este critério pretende-se ava- perimentos, identificando etapas, transformações e esta-
liar se o aluno identifica a cadeia alimentar como relação belecendo relações entre os eventos.
de dependência alimentar entre animais e vegetais, es- Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é ca-
tando os vegetais no início de todas elas. paz de identificar e registrar sequências de eventos — as
• A plicar seus conhecimentos sobre as relações etapas e as transformações — em um experimento por
água-solo-seres vivos na identificação de algumas con- ele realizado e de estabelecer relações causais entre os
sequências das intervenções humanas no ambiente eventos.
construído. • Buscar informações por meio de observações, expe-
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é rimentações ou outras formas, e registrá-las, trabalhan-
capaz de reconhecer a erosão e a perda de fertilidade
do em pequenos grupos, seguindo um roteiro prepara-
dos solos como resultado da ação das chuvas sobre so-
do pelo professor, ou pelo professor em conjunto com
los desmatados e queimados (ambiente devastado), e a
necessidade de construção de sistemas de escoamento a classe
de água em locais onde o solo foi recoberto por asfalto Com este critério pretende-se avaliar se o aluno, ten-
(ambiente urbano). do realizado várias atividades em pequenos grupos de
• Identificar e localizar órgãos do corpo e suas fun- busca de informações em fontes variadas, é capaz de
ções, estabelecendo relações entre sistema circulatório, cooperar nas atividades de grupo e acompanhar ade-
aparelho digestivo, aparelho respiratório e aparelho ex- quadamente um novo roteiro.
cretor.
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é Orientações Didáticas
capaz de perceber a disposição espacial dos órgãos e
aparelhos estudados e suas funções, compreendendo o Com a finalidade de subsidiar o educador, tanto para
corpo como um sistema em que tais aparelhos se rela- a confecção de planejamentos quanto para sua interven-
cionam realizando trocas. ção direta no processo de ensino e aprendizagem, este
• Identificar as relações entre condições de alimen- documento aborda orientações didáticas gerais para a
tação e higiene pessoal e ambiental e a preservação da intervenção problematizadora, para a busca de informa-
saúde humana. ções em fontes variadas e para a elaboração de projetos,
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é ca- além de discutir a importância da sistematização.
paz de compreender que a saúde individual depende de
um conjunto de fatores: alimentação, higiene pessoal e
ambiental, e a carência, ou inadequação, de um ou mais Problematização
desses fatores acarreta doença.
• Identificar e descrever as condições de saneamento Os alunos desenvolvem fora da escola uma série de
básico — com relação à água e ao lixo — de sua região, explicações acerca dos fenômenos naturais e dos produ-
relacionando-as à preservação da saúde. tos tecnológicos, que podem ter uma lógica interna di-
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é ca- ferente da lógica das Ciências Naturais, embora às vezes
paz de compreender como o saneamento se estrutura a ela se assemelhe. De alguma forma essas explicações
na sua região, relacionando-o aos problemas de saúde satisfazem as curiosidades dos alunos e fornecem res-
ali verificados. postas às suas indagações. São elas o ponto de partida
• Reconhecer diferentes papéis dos microrganismos e para o trabalho de construção da compreensão dos fe-
fungos em relação ao homem e ao ambiente. nômenos naturais, que na escola se desenvolve.
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é ca- É necessário que os modelos trazidos pelos alunos se
paz de compreender que os microrganismos e fungos mostrem insuficientes para explicar um dado fenômeno,
atuam como decompositores, contribuindo para a ma- para que eles sintam necessidade de buscar informações
nutenção da fertilidade do solo, e que alguns deles são e reconstruí-los ou ampliá-los. Em outras palavras, é pre-
causadores de doenças, entre eles o vírus da AIDS. ciso que os conteúdos a serem trabalhados se apresen-
• Reconhecer diferentes fontes de energia utilizadas
tem como um problema a ser resolvido.
em máquinas e outros equipamentos e as transforma-
O professor poderá promover a desestabilização dos
ções que tais aparelhos realizam.
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é ca- conhecimentos prévios, criando situações em que se es-
paz de nomear as formas de energia utilizadas em má- tabeleçam os conflitos necessários para a aprendizagem
quinas e equipamentos, descrevendo suas finalidades e — aquilo que estava suficientemente explicado não se
as transformações que realizam, identificando algumas mostra como tal na nova situação apresentada. Colo-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

delas como outras formas de energia. ca-se, assim, um problema para os alunos, cuja solução
• Organizar registro de dados em textos informativos, passa por coletar novas informações, retomar seu mode-
tabelas, desenhos ou maquetes, que melhor se ajustem à lo e verificar o limite dele.
representação do tema estudado. Definido um tema de trabalho é importante o pro-
Com este critério pretende-se avaliar se o aluno é fessor distinguir quais questões são problemas para si
capaz de representar diferentes objetos de estudo por próprio, que têm sentido em seu processo de aprendi-
meio de: desenhos ou maquetes, que guardem detalhes zagem das Ciências, e quais terão sentido para os alu-
relevantes do modelo observado; tabelas, como instru- nos, estando portanto adequadas às suas possibilidades
mento de registro e interpretação de dados; textos in- cognitivas. Também deve-se distinguir entre as questões
formativos, como forma de comunicação de suposições, que de fato mobilizam para a aprendizagem — proble-
informações coletadas e conclusões. mas — e outras que não suscitam nenhuma mobilização.

120
Por exemplo: supondo-se uma classe trabalhando com Busca de informações em fontes variadas
o tema da cadeia alimentar, investigando como os seres
vivos se alimentam. Frequentemente os alunos já sabem A busca de informações em fontes variadas é um pro-
que os animais se alimentam de plantas, de outros ani- cedimento importante para o ensino e aprendizagem de
mais ou de ambos. Possivelmente pensam que as plantas Ciências. Além de permitir ao aluno obter informações
se alimentam da terra que consomem pela raiz. Sabe-se, para a elaboração de suas ideias e atitudes, contribui
entretanto, que as plantas produzem seu próprio ali- para o desenvolvimento de autonomia com relação à
mento por meio do processo da fotossíntese, para o qual obtenção do conhecimento.
concorre a água, a luz do sol e o gás carbônico do ar. São modalidades desse procedimento: observação,
Têm-se aqui dois modelos explicativos: um pertinente experimentação, leitura, entrevista, excursão ou estudo
à lógica do aluno e outro fornecido pela Ciência, que se do meio.
pretende que seja apropriado por esse aluno. Que per- É importante que se tenha claro que a construção do
guntas poderão gerar conflitos de modo que o modelo conhecimento não se faz exclusivamente a partir de cada
do aluno se mostre, para ele, insuficiente na explicação um desses procedimentos. Eles se constituem, como o
sobre a alimentação das plantas? Como o aluno poderá próprio nome diz, em modos de obter informações.
compreender que a terra não é alimento para as plan- Ao estudar o tema a ser investigado por sua classe
tas, que vegetais não comem terra? Alguns caminhos são o professor verifica no conhecimento estabelecido uma
possíveis para que o problema se coloque para o aluno rede de ideias implicada no tema em questão e seleciona
de modo favorável à reformulação de seus modelos, tais quais noções pretende desenvolver com seus alunos. As
como questões, experimentos, observações propostos noções escolhidas nortearão o professor na elaboração
pelo professor. de problematização às propostas de observação, expe-
Por exemplo, o professor poderá perguntar para a rimentação e outras estratégias para a busca de infor-
classe: “Se as plantas comem terra, por que a terra dos mações. O professor deve ter clareza de que são as teo-
vasos não diminui?”, “Como explicar o fato de algumas rias científicas que oferecem as referências para que os
plantas sobreviverem em vasos apenas com água?” e alunos elaborem suas reinterpretações sobre os temas
“Como algumas plantas vivem sobre outras plantas, com em estudo, num processo contínuo de confronto entre
as raízes expostas (algumas samambaias, orquídeas)?”, diferentes ideias. É papel do professor trazer elementos
ou ainda, “Como vocês podem provar que as plantas co- das teorias científicas e outros sistemas explicativos para
mem terra pelas raízes?”. Esses problemas exigem dos sua classe sob a forma de perguntas, nomeações, indica-
alunos explicações novas, que deverão colocá-los em ções para observação e experimentação, leitura de textos
movimento de busca de informações — por meio da e em seu próprio discurso explicativo.
experimentação, da leitura ou de outras formas — que É nesse processo intrinsecamente dinâmico de busca
lhes ofereçam elementos para reelaborarem os modelos de informações e confronto de ideias que o conhecimen-
anteriores. to científico se constrói.
Tomando o mesmo assunto, perguntas como “As O sujeito que observa, experimenta ou lê põe em
plantas produzem seu próprio alimento?”, ou “De que ação seus conhecimentos anteriores, interpretando as
maneira as plantas aproveitam o ar?” poderão ser res- informações a partir de seus próprios referenciais. Por-
pondidas pelos alunos nas formulações: “Não, as plantas tanto, se esses momentos se destinam a coletar infor-
comem terra” e “As plantas aproveitam o ar para respi- mações para encaminhar as discussões e investigações
rar”. Constata-se que os modelos explicativos das crian- planejadas, é necessário que se oriente o aluno nessa
ças continuam suficientes para responder as questões busca, de modo que ele obtenha os dados necessários
colocadas. Portanto, essas questões não se configuram ao confronto das suposições previamente estabelecidas
em problemas. e possa reelaborá-las, tomando como referência a rede
Uma questão só é um problema quando os alunos de ideias instalada pelo professor.
podem ganhar consciência de que seu modelo não é su-
ficiente para explicá-lo. A partir de então, podem elabo- Observação
rar um novo modelo mediante investigações e confron-
tações de ideias orientadas pelo professor. A capacidade de observar já existe em cada pessoa, à
A problematização busca promover mudança concei- medida que, olhando para objetos determinados, pode
tual. Sabe-se que nem sempre ela ocorre; frequentemen- relatar o que vê. Deve-se considerar que só são conheci-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

te concepções alternativas se preservam. Ainda assim, das as observações dos alunos quando eles comunicam
pode haver aprendizagem significativa dos conceitos o que veem, seja por meio de registros escritos, desenhos
científicos. Ao solucionar problemas, os alunos com- ou verbalizações. Mas observar não significa apenas ver,
preendem quais são as ideias científicas necessárias para e sim buscar ver melhor, encontrar detalhes no objeto
sua solução e praticam vários procedimentos. Conforme observado, buscar aquilo que se pretende encontrar.
já discutido no capítulo sobre ensino e aprendizagem Sem essa intenção, aquilo que já foi visto antes — caso
de Ciências, os alunos podem se apropriar de conceitos dos ambientes do entorno, do céu, do corpo humano,
científicos, mesmo conservando conceitos alternativos. E das máquinas utilizadas habitualmente, etc. — será re-
poderão ser capazes de utilizar diferentes domínios de conhecido dentro do patamar estável dos conhecimento
ideias em diferentes situações. prévios. De certo modo, observar é olhar o “velho” com
um “novo olho”.

121
Para desenvolver a capacidade de observação dos Ainda que o professor selecione aspectos a serem ob-
alunos é necessário, portanto, propor desafios que os servados, ofereça um roteiro de observação, ou propo-
motivem a buscar os detalhes de determinados objetos, nha desafios, também é importante que uma parte das
para que o mesmo objeto seja percebido de modo cada observações seja feita de modo espontâneo pelos alunos,
vez mais completo e diferente do modo habitual. seguindo seus próprios interesses, o que em geral ocorre
Assim, a observação na área de Ciências Naturais é naturalmente. É essencial que usufruam pessoalmente de
um procedimento guiado pelo professor, previamente passeios e filmes, fazendo suas próprias descobertas que
planejado. A comparação de objetos semelhantes, mas poderão ser relatadas aos colegas e integrar o conjunto
não idênticos; perguntas específicas sobre o lugar em de conhecimentos desenvolvidos para o tema.
que se encontram objetos determinados, sobre suas for-
mas, ou outros aspectos que se pretende abordar com
Experimentação
os alunos, são incentivos para a busca de detalhes no
processo de observação.
Também a supervisão de quem sabe o que mostrar — Frequentemente, o experimento é trabalhado como
o próprio professor, um guia ou um monitor — durante uma atividade em que o professor, acompanhando um
atividades de observação é valiosa para que os alunos protocolo ou guia de experimento, procede à demons-
percebam os detalhes do objeto observado. tração de um fenômeno; por exemplo, demonstra que a
Existem dois modos de realizar observações. O pri- mistura de vinagre e bicarbonato de sódio produz uma
meiro, estabelecendo-se contato direto com os objetos reação química, verificada pelo surgimento de gás. Nesse
de estudo: ambientes, animais, plantas, máquinas e ou- caso, considera-se que o professor realize uma demons-
tros objetos que estão disponíveis no meio. O segundo, tração para sua classe, e a participação dos alunos resida
mediante recursos técnicos ou seus produtos. São os ca- em observar e acompanhar os resultados.
sos de observações feitas por meio de microscópio, te- Mesmo nas demonstrações, a participação dos alu-
lescópio, fotos, filmes ou gravuras. nos pode ser ampliada, desde que o professor solicite a
Para se realizar atividades de observação indireta, é eles que apresentem expectativas de resultados, expli-
necessário reunir na sala de aula um acervo de materiais quem os resultados obtidos e compare-os ao esperado.
impressos com ilustrações ou fotos em que os alunos Muitas vezes trabalha-se com demonstrações para
possam observar e comparar certos aspectos solicitados alunos pequenos, como nos casos de experimentos que
pelo professor. Os filmes devem ser gravados em vídeo
envolvem o uso de materiais perigosos — ácidos, formol,
para uso no momento apropriado. Também são bons re-
entre outros — e fogo, ou quando não há materiais sufi-
cursos para a coleta de informações pelos alunos orien-
tados pelo professor, que o assiste previamente e avisa cientes para todos.
os alunos sobre quais aspectos deverão considerar com A experimentação é realizada pelos alunos quando
atenção. discutem ideias e manipulam materiais. Ao lhes oferecer
Observações diretas interessantes para o bloco temá- um protocolo definido ou guia de experimento, os de-
tico “Ambiente” podem ser realizadas mediante estudos safios estão em interpretar o protocolo, organizar e ma-
do meio, que ocorrem nas proximidades da própria es- nipular os materiais, observar os resultados e checá-los
cola ou em seus arredores: parque, jardim, represa, ca- com os esperados.
pão de mata, plantações, áreas em construção, ou outros Os desafios para experimentar ampliam-se quando se
ambientes cuja visitação seja possível. Essas visitas preci- solicita aos alunos que construam o experimento. As exi-
sam ser preparadas. O professor deve conhecer o local, gências quanto à atuação do professor, nesse caso, são
avaliando as condições de segurança necessárias para maiores que nas situações precedentes: discute com os
que os alunos realizem os trabalhos. Também seleciona alunos a definição do problema, conversa com a classe
os aspectos a serem observados e o tempo necessário sobre materiais necessários e como atuar para testar as
para a atividade. Verifica a necessidade de materiais e de suposições levantadas, os modos de coletar e relacionar
acompanhantes para supervisionar e cuidar dos alunos. os resultados.
O professor prepara um roteiro que é discutido com os Como fonte de investigação sobre os fenômenos e
alunos, pois é importante que cheguem ao local de visita
suas transformações, o experimento se torna mais impor-
sabendo onde e o que observar, como proceder regis-
tante quanto mais os alunos participam na confecção de
tros. Em conversa anterior ao passeio, além de esclarecer
dúvidas sobre o roteiro e enriquecê-lo com sugestões seu guia ou protocolo, realizam por si mesmos as ações
dos alunos, o professor entra em contato com os conhe- sobre os materiais e discutem os resultados, preparam o
cimentos que as crianças já têm sobre os assuntos que modo de organizar as anotações e as realizam. Não exis-
te experimento que não dê certo. Quando os resultados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

estão estudando.
Observações diretas são ricas, pois obtêm-se im- diferem do esperado, estabelecido pelo protocolo ou
pressões com todos os sentidos e não apenas impres- pela suposição do aluno, deve-se investigar a atuação de
sões visuais, como em observações indiretas. Além disso alguma variável, de algum aspecto ou fator que não foi
o contato direto com ambientes, seres vivos, áreas em considerado em princípio, ou que surgiu aleatoriamente,
construção, máquinas em funcionamento, possibilita ao acaso. É uma discussão que enriquece o processo.
observações de tamanhos, formas, comportamentos e Também, é bastante comum os alunos terem ideias
outros aspectos dinâmicos, dificilmente proporcionados para mudar experimentos protocolados. É preciso incen-
pelas observações indiretas. Uma vantagem destas úl- tivar a discussão dessas ideias e pô-las em prática, sem-
timas, entretanto, é possibilitar o contato com imagens pre que possível. Não há perda de tempo nisso.
distantes no espaço e no tempo.

122
Leitura de Textos Informativos As atividades de sistematização tendem a ser mais
formais no segundo ciclo do que no primeiro.
Uma das causas do índice elevado de reprovação na No primeiro ciclo a reunião de resultados parciais,
quinta série é o fato de os professores terem a expectati- acompanhada de uma conversa com a classe, pode re-
va de que seus alunos saibam ler e escrever textos infor- presentar o fechamento dos trabalhos sobre um tema.
mativos, considerando que esses procedimentos tenham O professor também pode propor um registro final so-
sido aprendidos nas séries anteriores. Também por isso é bre os conhecimentos adquiridos na forma de desenhos
necessário investir no ensino e aprendizagem da leitura e coletivos e individuais, pequenos textos, dramatizações,
escrita de textos informativos. dependendo do assunto tratado.
Além do livro didático, outras fontes oferecem textos No segundo ciclo, os fechamentos já podem se orga-
informativos: enciclopédias, livros paradidáticos, artigos nizar na forma de textos-síntese, maquetes acompanha-
de jornais e revistas, folhetos de campanhas de saúde, de das de textos explicativos, relatórios que agreguem uma
museus, textos da mídia informatizada, etc. quantidade expressiva de dados e informações.
É importante que o aluno possa ter acesso a uma
diversidade de textos informativos, pois cada um deles Projetos
tem estrutura e finalidade próprias. Trazem informações
diferentes, e muitas vezes divergentes, sobre um mesmo O projeto é uma estratégia de trabalho em equipe
assunto, além de requererem domínio de diferentes ha- que favorece a articulação entre os diferentes conteúdos
bilidades e conceitos para sua leitura. da área de Ciências Naturais e desses com os de outras
Outro aspecto a ser considerado diz respeito aos mo- áreas do conhecimento, na solução de um dado proble-
dos como a terminologia científica e os conceitos surgem ma. Conceitos, procedimentos e valores apreendidos
nos textos. Há textos em que a terminologia é usada di- durante o desenvolvimento dos estudos das diferentes
retamente, desacompanhada de explicação. Nesse caso áreas podem ser aplicados e conectados, ao mesmo
o leitor deve conhecer os conceitos relativos aos termos tempo em que novos conceitos, procedimentos e valores
empregados, pré-requisito para uma boa leitura. Outros se desenvolvem.
textos explicam os termos científicos que utilizam, de- Um projeto envolve uma série de atividades com o
mandando poucos pré-requisitos em relação ao domínio propósito de produzir, com a participação das equipes
conceitual do leitor. de alunos, algo com função social real: um jornal, um li-
O professor precisa conhecer previamente os textos vro, um mural, etc.
que sugere aos alunos, verificando se os pré-requisitos Todo projeto é desenhado como uma sequência de
etapas que conduzem ao produto desejado, todas elas
exigidos para a leitura são de domínio de sua classe e a
compartilhadas com os alunos. De modo geral: a defini-
qualidade das informações impressas.
ção do tema; a escolha do problema principal que será
Artigos de jornais e revistas, voltados para o público
alvo de investigação; o estabelecimento do conjunto de
adulto, frequentemente demandam alguns pré-requi-
conteúdos necessários e suficientes para que o aluno
sitos para uma leitura integral. Para utilizá-los em sala
realize o tratamento do problema colocado; o estabe-
de aula o professor pode escolher trechos, legendas de
lecimento das intenções educativas, ou objetivos que se
fotos e ilustrações para serem lidos pelos alunos, ou pro- pretende alcançar pelo projeto; a seleção de atividades
ceder à leitura e explicação de textos. Mas há revistas e para exploração e fechamento do tema; a previsão de
suplementos de jornais dirigidos ao público infantil. Sua modos de avaliação dos trabalhos do aluno e do próprio
leitura integral pode ser realizada pela criança e deve ser projeto.
incentivada pelo professor, na busca de informações em
fontes variadas. Definição do Tema
Incentivar a leitura de livros infanto-juvenis sobre
assuntos relacionados às Ciências Naturais, mesmo que Pode-se considerar tema de um projeto em Ciências
não sejam sobre os temas tratados diretamente em sala Naturais um aspecto da natureza ou das relações entre o
de aula, é uma prática que amplia os repertórios de co- homem e a natureza que se pretenda investigar.
nhecimento da criança, tendo reflexos em sua aprendi- Analisando-se os blocos de conteúdos propostos
zagem. para os ciclos, apontam-se possíveis temas, alguns inter-
A prática de colecionar artigos de jornais e revistas nos aos blocos, outros que articulam conteúdos entre os
é útil para o professor, que terá acesso a variedades de blocos. Os temas podem ser desde os mais abrangentes
textos e ilustrações quando forem necessárias. ou gerais, até os mais específicos ou circunscritos a de-
terminados fenômenos. Na primeira categoria, situam-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Sistematização de conhecimentos -se, por exemplo, temas como “A água na natureza”


(primeiro ciclo) ou “Em que regiões da Terra o homem
É necessário que o professor organize fechamentos pode viver?” (segundo ciclo), que possibilitam articular
ou sistematizações de conhecimentos, parciais e gerais, conteúdos dos diferentes blocos. Na segunda categoria
para cada tema estudado por sua classe. Durante a inves- podem-se citar temas como “Por que é preciso escovar
tigação de um tema uma série de noções, procedimentos os dentes?” (primeiro ciclo) e “Importância das vacinas”
e atitudes vão se desenvolvendo; fechamentos parciais (segundo ciclo), que articulam conteúdos internos a um
devem ser produzidos de modo a organizar com a classe único bloco. Esses mesmos temas ainda podem ser trata-
as novas aquisições. Ao final das investigações sobre o dos de forma a considerar conteúdos da área de História
tema, recuperam-se os aspectos fundamentais dos fe- e Geografia e necessariamente serão utilizados conheci-
chamentos parciais, produzindo-se, então, a síntese final. mentos das áreas de Língua Portuguesa e Matemática.

123
Escolha do Problema • avaliação final dos projetos sobre as apresentações
feitas pelos grupos, quando se apreciam as aprendiza-
Conforme já foi discutido em problematização, uma gens de conteúdos realizadas;
questão toma a dimensão de um problema quando sus- • avaliação do processo e produtos dos projetos pe-
cita a dúvida, estimula a solução e cria a necessidade los educadores que participaram direta ou indiretamen-
de ir em busca de informações para que as soluções se te, tendo em vista considerar quais aspectos alcançaram
apresentem. Implica, ainda, confrontar soluções diferen- as intenções pretendidas e quais devem ser aperfeiçoa-
tes, analisá-las e concluir sobre a que melhor explica o dos, as causas das dificuldades e como, de uma próxima
tema em estudo. vez, será possível superá-las. Essa avaliação deve ser re-
Escolher o problema é, portanto, transformar o tema gistrada, para que não se percam seus resultados.
em uma questão com essas características.
desenvolvimento
Conteúdos e Atividades Necessários ao Tratamen- A Psicologia do desenvolvimento é o estudo
to do Problema científico das mudanças progressivas psicológicas que
ocorrem nos seres humanos com a idade. Este campo
Ao planejar o projeto, o professor precisa delimitar examina mudanças através de uma ampla variedade de
o campo de investigação sobre o tema, abrangendo tópicos, incluindo habilidades motoras, habilidades em
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais per- solução de problemas, entendimento conceitual, aquisi-
tinentes e possíveis, considerando as características do ção de linguagem, entendimento da moral e formação
ciclo a que o projeto se destina. Os conteúdos do projeto da identidade.
dizem respeito àqueles em desenvolvimento e a outros, Psicólogos desenvolvimentistas investigaram ques-
novos, que representam acréscimo à compreensão do tões fundamentais, tais como saber se as crianças são
tema. É necessário que o professor elabore e apresente qualitativamente diferentes dos adultos ou simplesmen-
aos alunos um roteiro contendo os aspectos a serem in- te falta a experiência que em adultos têm.
vestigados, os procedimentos necessários, as atividades Questões importantes para o desenvolvimento
a serem realizadas e os materiais necessários. É impor- Três questões importantes que dizem respeito à natu-
tante, ainda, que se esclareçam as etapas da investigação reza do desenvolvimento.
e o modo de organização dos dados obtidos. Uma delas diz respeito quer desenvolvimento ocorre
através da acumulação gradual de conhecimento ou por
Intenções Educativas ou Objetivos turnos a partir de uma fase de reflexão para o outro.
A outra questão diz respeito, a saber, se as crianças
Estabelecidos pelo professor ao planejar o projeto, os nascem com conhecimento inato ou valor as coisas atra-
objetivos devem ser apresentados aos alunos como nor- vés da experiência.
teadores das investigações que se farão. Uma terceira área significativa da investigação analisa
contextos sociais que afetam o desenvolvimento.
Fechamento do Projeto
1. Fatores que influenciam o desenvolvimento hu-
Atividades de fechamento de um projeto devem ter mano
como intenção: a) reunir e organizar os dados, interpre-
tá-los e responder ao problema inicialmente proposto, Vários fatores indissociados e em constante interação
articulando as soluções parciais encontradas no decorrer afetam todos os aspectos do desenvolvimento humano, são
do processo; b) organizar apresentações ao público in- eles:
terno e externo à classe. Dependendo do tema e do ciclo Hereditariedade:
que realizou o projeto as apresentações podem incluir  A carga genética estabelece o potencial do indivíduo,
elaboração de folhetos, jornal, cartazes, dramatizações, que pode ou não se desenvolver.
maquetes, exposições orais e seminários, ou exposição Crescimento orgânico:
de experimentos (feira de ciências). Refere-se ao aspecto físico.
 Maturação neurofisiológica:
Avaliação É o que torna possível determinado padrão de com-
portamento.
Existem várias avaliações envolvidas na execução de Meio:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

projetos: O conjunto de influências e estimulações ambientais


• avaliações voltadas a dar acompanhamento aos altera os padrões de comportamento do indivíduo.
grupos que realizam o projeto, que o professor realiza
observando as contribuições individuais e resultados 2. Aspectos do desenvolvimento humano
parciais dos grupos. Esse modo de avaliação permite que
o professor detecte as dificuldades e ajude os alunos a O desenvolvimento humano deve ser entendido
superá-las; como uma globalidade, mas para efeito de estudo, tem
• autoavaliação durante o projeto; é um instrumento sido abordado a partir de quatro aspectos básicos (todos
que permite ao professor e aos próprios alunos conhece- os aspectos relacionam-se permanentemente):
rem as dificuldades e as aquisições individuais;

124
Aspecto físico-motor: refere-se ao crescimento or- Canguilhem (1904) ainda traz uma distinção impor-
gânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de tante a respeito da terminologia, afirmando que o pa-
manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo. tológico é anormal, mas nem todo o anormal, que pode
EX: a criança leva a chupeta à boca ou consegue tomar ser adaptativo, é patológico. Este implica em pathos, sen-
a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, porque já timento de sofrimento e impotência. Assim, percebe-se
coordena os movimentos das mãos. a complexidade da tarefa de demarcar fronteiras entre
Aspecto intelectual: é a capacidade de pensamento, normalidade, anormalidade, e patologia.
raciocínio.
Ex.: a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura 3. O conceito de normalidade
para puxar um brinquedo que está embaixo de um mó-
vel. A partir da dificuldade de se sustentar o simples dua-
Aspecto afetivo-emocional: é o modo particular de lismo saúde-doença no campo da psicopatologia, sur-
o indivíduo integrar suas experiências. É o sentir. A se- giram diversas formas de pensar o conceito de normal.
xualidade faz parte desse aspecto. Ajuriaguerra e Marcelli (1986) sustentam que todas as
Ex.: a vergonha em algumas situações, o medo em definições estão baseadas em algum dos quatro pontos
de vista: saúde-doença; média estatística; normal en-
outras, a alegria de rever um amigo.
quanto ideal; normal como processo dinâmico, que pres-
Aspecto Social: é a maneira como o indivíduo reage
supõe certo equilíbrio.
diante das situações que envolvem outras pessoas.
A noção estática de saúde e doença é difícil de ser
Ex: em um grupo de crianças no parque, é possível
sustentada hoje, já que, no sentido da ausência de sin-
observar algumas que espontaneamente buscam outras
tomas, todos seriam normais até o ponto crucial em que
para brincar, e algumas que permanecem sozinhas.4 surge a patologia. Além disso, sabe-se que, todo o ser
humano possui uma grande suscetibilidade a adquirir
Ao longo da história, a noção de normalidade e pato- doenças mais ou menos graves ao longo da vida. Mes-
logia vem sendo amplamente discutida. Na antiga Gré- mo considerando apenas aquelas doenças incuráveis e
cia, influenciada pelos pensamentos hipocráticos, tinha- que, consequentemente, acompanharão o indivíduo até
-se uma concepção dinâmica acerca da doença. A saúde o fim de sua vida, cabe questionar o que o define como
seria a harmonia e o equilíbrio, enquanto a doença seria anormal, já que muitas vezes é possível prosseguir a vida
a perturbação deste último. mantendo as atividades anteriores à doença. O normal
Este desequilíbrio, no entanto, não é considerado de enquanto média não leva em conta a pressão cultural, já
todo disfuncional, mas sim como uma tentativa da pró- que condutas desviantes de tal cultura seriam considera-
pria natureza de restaurar a saúde e o equilíbrio ante- das, neste modelo, anormais.
riores. A doença é, assim, uma reação generalizada com Todos os que, de alguma forma, transcendessem os
intenção de cura (CANGUILHEM, 1904). limites do conformismo social ou da capacidade inte-
Já na visão de Comte, apoiado nos pensamentos de lectual, por exemplo, seriam anormais (AJURIAGUERRA;
Broussais, a doença consiste no excesso ou na falta de MARCELLI, 1986). Além disso, já dizia Canguilhem (1904)
excitação corporal. Assim, a doença se constituiria a par- que, definindo normal e anormal em termos de frequên-
tir de mudanças da intensidade de estmulação, à qual cia estatística relativa, o patológico poderia ser conside-
é indispensável para a manutenção da saúde (CANGUI- rado normal, enquanto que um estado de saúde perfeita,
LHEM, 1904). Claude Bernard, por sua vez, considera pela baixa frequência, seria anormal.
que as doenças possuem, em sua totalidade, uma fun- O normal como ideal pressupõe, primeiramente, um
ção normal subjacente. Assim, a doença é uma função determinado sistema de valores. Cabe questionar, pri-
normal perturbada, sendo necessário para a sua cura o meiramente, como seria escolhido um sistema de valores
conhecimento acerca da fisiologia das funções normais padrão para o estabelecimento da normalidade. Caso o
ideal fosse um grupo social, voltaríamos à noção da nor-
(BERNARD, s.d.apud CANGUILHEM, 1904). Já de acordo
ma estatística, já que todos teriam de enquadrar-se no
com Leriche, a saúde é a vida no silêncio dos órgãos, en-
modelo de tal grupo; caso o sistema de valores ideal fos-
quanto a doença é a perturbação (CANGUILHEM, 1904,
se pessoal, cada indivíduo possuiria sua própria definição
p. 67).
de normalidade, o que torna inútil o conceito (AJURIA-
Percebe-se que estas concepções de saúde e doença,
GUERRA; MARCELLI, 1986).
apesar de distintas, centram-se em mudanças fisiológi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Por fim, o conceito dinâmico diz respeito à capacida-


cas corporais. Quando se adentra no campo da psico- de de retorno a um equilíbrio anterior. Isto sugere que
patologia, no entanto, não é mais possível esta forma de haja um processo de adaptação a certa condição, na qual
distinção, tanto pelo desconhecimento da fisiologia dos se corre o risco de promover a submissão e conformismo
processos mentais, quanto pelo tênue limite entre o que diante das situações sociais (AJURIAGUERRA; MARCELLI,
é considerado normal e o que não é. Isto é representa- 1986).
do na afirmação de Legache, de que a desorganização Bergeret (1996), por sua vez, faz uma tentativa de
mórbida não é necessariamente o inverso da normal, já definir o normal em relação à flexibilidade que o sujei-
que podem existir estados patológicos sem correspon- to possui em atender suas necessidades pulsionais e de
dências no estado normal (CANGUILHEM, 1904). seus processos primários e secundários tanto no plano
4 Por Thiago de Almeida pessoal quanto social. O normal, para ele, não seria uma

125
pessoa que se declara como tal ou um doente que ignora Assim, Bergeret (1996) levanta a hipótese da defini-
sua doença, mas uma pessoa que tenha conseguido su- ção de normalidade como uma adaptação à respectiva
perar suas dificuldades internas e externas, mesmo que estrutura do sujeito. No entanto, isto levanta uma im-
em alguma situação excêntrica tenha se comportado de portante questão: considerando esta adaptação, toma-
maneira aparentemente “anormal”. mos como normais os comportamentos mais originais e
Outra forma de compreender o normal é, conforme adaptados de cada estrutura, seja neurótica ou psicótica,
postula Winnicott (1967), a da grande maioria dos psi- ao passo que se consideram anormais o grupo de or-
canalistas, os quais possuem a tendência de “pensar na ganizações antidepressivas, como, por exemplo, o “falso
saúde como a ausência de distúrbios psiconeuróticos” self”, de Winnicott.
(WINNICOTT, 1967, p. 9). No entanto, segundo o autor, Esta concepção de normalidade acaba por causar es-
isso não é verdade, necessitando a emergência de crité- tranheza, já que estruturas psicóticas, usualmente, não
rios mais sutis. Para ele, deve-se pensar na normalidade são consideradas normais. Em primeiro lugar porque não
em termos de liberdade dentro da personalidade, de
passaram pela estruturação edípica; em segundo lugar
capacidade para ter confiança e fé, de questões de cons-
porque estas organizações analíticas parecem ser mais
tância e confiabilidade objetal, de liberdade em relação à
bem adaptadas à realidade.
auto-ilusão, e também de algo que tem mais a ver com a
O autor explica, porém, que estas organizações narcisis-
pobreza enquanto qualidade da realidade psíquica pes-
tas intermediárias são frágeis, e sua estabilidade “contenta-
soal (WINNICOTT, 1967, p. 9).
Dessa forma, a saúde estaria diretamente relacionada -se em imitar às custas de ardis psicopatológicos variados,
com a passagem da dependência para a independência incessantemente renovados e profundamente custosos e
ou autonomia, sendo que a vida de um individuo saudá- alienantes” (BERGERET, 1996, p. 42). A estrutura psicótica
vel é caracterizada tanto por sentimentos positivos quan- (não descompensada), segundo o autor, seria muito mais
to por sentimentos negativos gerados por medo, dúvidas verdadeira do que tais organizações e mais rica em poten-
e frustrações (WINNICOTT, 1967). cial de criatividade.
A concepção freudiana difere das demais pela ênfase Dessa forma, a noção de normalidade deve ser pen-
ao desenvolvimento psíquico sobre a classificação noso- sada independentemente da noção de estrutura (DIATKI-
lógica. Neste sentido, Bergeret (1996) considera que o NE, 1967 apud BERGERET, 1996). Ajuriaguerra e Marcelli
grande mérito de Freud foi demonstrar que não existe (1986) sustentam a mesma posição, lembrando que, para
uma solução de continuidade entre o “normal” e o “neu- Freud o sujeito normal e o neurótico atravessam os mes-
rótico”. O que pode ser diferenciado entre eles é apenas mos estágios maturativos durante a infância. Além disso,
o uso e a flexibilidade de mecanismos que parecem ser Melanie Klein utiliza termos próprios à psicopatologia,
os mesmos em ambos os casos. como fase esquizo-paranóide e posição depressiva, para
Percebe-se que nenhuma das classificações é capaz designar estados normais da criança, durante seu desen-
de explicar exaustivamente os fenômenos envolvidos nos volvimento.
diferentes estados psicológicos. Assim, considera-se in- Isto vai ao encontro à observação de que, a qualquer
dispensável levar em conta conjuntamente os aspectos momento, um sujeito pode, independente de sua es-
fisiológicos, psicológicos e dinâmicos do sujeito. Qualquer trutura, entrar na patologia mental; por outro lado, um
tentativa de definição apoiada em apenas um desses as- doente mental bem tratado pode retornar ao estado de
pectos torna-se simplista, ignorando a complexidade do “normalidade”. Segundo Bergeret (1996), esta possibili-
ser humano. dade de adoecimento ou recuperação está condicionada
à estruturação, de modo que sujeitos de organizações
4. A questão estrutural analíticas não possuem tal capacidade.
Evidentemente, o tipo de estruturação psíquica exer-
4.1. Normal X Patológico
ce grande influência sobre o funcionamento do sujeito.
No entanto, concordamos com a afirmação dos autores
No que diz respeito à estrutura, é importante diferen-
citados de que esta estruturação não é, por si só, sufi-
ciá-las das organizações. Em psicopatologia, a estrutura
ciente para classificá-lo como normal ou anormal. Neste
pode ser conceituada como “aquilo que, em um estado
psíquico mórbido ou não, é constituído por elementos sentido, questiona-se a afirmação de Bergeret, segundo a
metapsicológicos profundos e fundamentais da perso- qual sujeitos de organização analítica não seriam capazes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nalidade, fixados em um conjunto estável e definitivo” de restabelecimento ante a doença mental. Tal afirmação
(BERGERET, 1996, p. 51). pressupõe uma generalização, deixando de considerar os
A estrutura, neurótica ou psicótica, com ou sem esta- possíveis contextos em que foi estabelecida esta organi-
do psicopatológico, é sólida e, conforme há a existência zação, bem como os diferentes tipos de tratamento que
ou não de rupturas patológicas, pode levar a estados su- poderiam ser oferecidos ao sujeito.5
cessivos de adaptação, desadaptação, readaptação, en-
tre outros. As organizações, por outro lado, são menos
sólidas e, em caso de trauma mais ou menos agudo, po-
dem sucumbir à depressão ou evoluir para uma estrutura
5 Marina Zanella Delatorre/Anelise Schaurich dos Santos/Hericka
mais sólida e definitiva (BERGERET, 1996). Zogbi Jorge Dias

126
5. Psicologia do Desenvolvimento - Contribuições  Jean Piaget (1896-1980)
Teóricas Jean Piaget (1896-1980) foi um dos investigadores
mais influentes do séc. 20 na área da psicologia do de-
Sigmund Freud (1856-1939) senvolvimento. Piaget acreditava que o que distingue o
Propõe, à data, um novo e radical modelo da mente ser humano dos outros animais é a sua capacidade de ter
humana, que alterou a forma como pensamos sobre nós um pensamento simbólico e abstrato. Piaget acreditava
próprios, a nossa linguagem e a nossa cultura. A sua des- que a maturação biológica estabelece as pré-condições
crição da mente enfatiza o papel fundamental do incons- para o desenvolvimento cognitivo. As mudanças mais
ciente na psique humana e apresenta o comportamento significativas são mudanças qualitativas (em género) e
humano como resultado de um jogo e de uma interação não qualitativas (em quantidade).
de energias. Existem dois aspectos principais nesta teoria: o pro-
Freud contribuiu para a eliminação da tradicional cesso de conhecer e os estágios/ etapas pelos quais nós
oposição básica entre sanidade e loucura ao colocar a passamos à medida que adquirimos essa habilidade.
normalidade num continuum e procurou compreender
Como biólogo, Piaget estava interessado em como é
funcionamento do psiquismo normal através da génesis
que um organismo se adapta ao seu ambiente (ele des-
e da evolução das doenças psíquicas.
creveu esta capacidade como inteligência) - O compor-
Estudo do desenvolvimento psíquico da pessoa a
partir do estádio indiferenciado do recém-nascido até à tamento é controlado através de organizações mentais
formação da personalidade do adulto. denominadas “esquemas”, que o indivíduo utiliza para
Muitos dos problemas psicopatológicos da idade representar o mundo e para designar as ações.
adulta de que trata a Psicanálise têm as suas raízes, as Essa  adaptação é guiada por uma orientação bio-
suas causas, nas primeiras fases ou estádios do desen- lógica para obter o balanço entre esses esquemas e o
volvimento. ambiente em que está. (equilibração). Assim, estabele-
Na perspectiva freudiana, a “construção” do sujeito, cer um desequilíbrio é a motivação primária para alterar
da sua personalidade, não se processa em termos objeti- as estruturas mentais do indivíduo. Piaget descreveu dois
vos (de conhecimento), mas em termos objetais. processos utilizados pelo sujeito na sua tentativa de adap-
O objeto, em Freud, é um objeto libidinal, de prazer tação:  assimilação e acomodação. Estes dois processos
ou desprazer, “bom ou mau”, gratificante ou não gratifi- são utilizados ao longo da vida à medida que a pessoa se
cante, positivo ou negativo. vai progressivamente adaptando ao ambiente de uma for-
A formação dos diferentes estádios é determinada, ma mais complexa.
precisamente, por essa relação objetal. (Estádios: Oral,  
Anal, Fálico, Latência, Genital) Lev Vygotsky (1896-1934)
  Lev Vygotsky desenvolveu a teoria sociocultural do
A sua teoria sobre o desenvolvimento da personali- desenvolvimento cognitivo. A sua teoria tem raízes na
dade atribui uma nova importância às necessidades da teoria marxista do materialismo dialético, ou seja, que as
criança em diversas fases do desenvolvimento e sobre as mudanças históricas na sociedade e a vida material pro-
consequências da negligência dessas necessidades para duzem mudanças na natureza humana.
a formação da personalidade. Vygotsky abordou o desenvolvimento cognitivo por
  um processo de orientação. Em vez de olhar para o final
Erik Erikson (1904-1994) do processo de desenvolvimento, ele debruçou-se sobre
A teoria que desenvolveu nos anos 50 partiu do apro- o processo em si e analisou a participação do sujeito nas
fundamento da teoria psicossexual de Freud e respecti-
atividades sociais  → Ele propôs que o  desenvolvimento
vos estádios, mas rejeita que se explique a personalidade
não precede a socialização. Ao invés, as estruturas sociais
apenas com base na sexualidade.
e as relações sociais levam ao desenvolvimento das fun-
Acredita na importância da infância para o desenvol-
vimento da personalidade mas, ao contrário de Freud, ções mentais.
acredita que a personalidade se continua a desenvolver Ele acreditava que a aprendizagem na criança po-
para além dos 5 anos de idade. dia ocorrer através do jogo, da brincadeira, da instrução
No seu trabalho mais conhecido, Erikson propõe 8 formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz
estágios do desenvolvimento psicossocial através mais experiente.
dos quais um ser humano em desenvolvimento saudá- O processo básico pelo qual isto ocorre é a media-
vel deveria passar da infância para a idade adulta. Em ção (a ligação entre duas estruturas, uma social e uma
cada estágio cada sujeito confronta-se, e de preferência pessoalmente construída, através de instrumentos ou
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

supera, novos desafios ou conflitos. Cada estágio/ fase sinais). Quando os signos culturais vão sendo interna-
do desenvolvimento da criança é importante e deve ser lizados pelo sujeito é quando os humanos adquirem a
bem resolvida para que a próxima fase possa ser supera- capacidade de uma ordem de pensamento mais elevada.
da sem problemas. Ao contrário da imagem de Piaget em que o indiví-
Tal como Piaget, concluiu que não se deve apressar duo constrói a compreensão do mundo, o conhecimento
o desenvolvimento das crianças, que se deve dar o tem- sozinho, Vygostky via o desenvolvimento cognitivo como
po necessário a cada fase de desenvolvimento, pois cada dependendo mais das interações com as pessoas e com
uma delas é muito importante. Sublinhou que apressar os instrumentos do mundo da criança
o desenvolvimento pode ter consequências emocionais Esses instrumentos são reais: canetas, papel, compu-
e minar as competências das crianças para a sua vida fu- tadores; ou símbolos: linguagem, sistemas matemáticos,
tura. signos.

127
  6. Teoria de Vygotsky do Desenvolvimento Cog- Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve
nitivo considerar o sujeito como “geneticamente social” e estu-
dar a criança contextualizada, nas relações com o meio.
Vygostsky sublinhou as  influências socioculturais no Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para
desenvolvimento cognitivo da criança: aprofundar a explicação dos fatores de desenvolvimen-
-  O desenvolvimento não pode ser separado do con- to (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia
texto social animal).
- A cultura afeta a forma como pensamos e o que pen- Considera que não é possível selecionar um único as-
samos pecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários
- Cada cultura tem o seu próprio impacto campos funcionais nos quais se distribui a atividade in-
- O conhecimento depende da experiência social fantil (afetivo, motor e cognitivo).  
A criança desenvolve representações mentais do
mundo através da cultura e da linguagem. Vemos então que para ele não é possível dissociar o
Os adultos têm um importante papel no desenvolvi- biológico do social no homem. Esta é uma das caracterís-
mento através da orientação que dão e por ensinarem ticas básicas da sua Teoria do Desenvolvimento.
(“guidance and teaching”).  
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) – inter- Burrhus F. Skinner (1904 – 1990)
valo entre a resolução de problemas assistida e indivi- Psicólogo Americano, conduziu trabalhos pioneiros
dual. em Psicologia Experimental e defendia o comportamen-
Uma vez adquirida a linguagem nas crianças, elas utili- talismo / behaviorismo (estudo do comportamento ob-
zam a linguagem/discurso interior, falando alto para elas servável).
próprias de forma a direcionarem o seu próprio compor- Tinha uma abordagem sistemática para compreender
tamento, linguagem essa que mais tarde será internaliza- o comportamento humano, uma abordagem de efeito
da e silenciosa – Desenvolvimento da Linguagem. considerável nas crenças e práticas culturais correntes.
  Fez investigação na área da modelação do compor-
Konrad Lorenz (1903-1989) tamento pelo reforço positivo ou negativo (condiciona-
Zoólogo austríaco, ornitólogo e um dos fundadores mento). O condicionamento operante explica que um
da Etologia moderna (estudo do comportamento animal) determinado comportamento tem uma maior probabi-
Desenvolveu a ideia de um mecanismo inato que de- lidade de se repetir se a seguir à manifestação do com-
sencadeia os comportamentos instintivos (padrões de portamento se apresentar de um reforço(agradável). É
ação fixos) → modelo para a motivação para o compor- uma forma de condicionamento onde o comportamento
tamento acabará por ocorrer antes da resposta.
Considera-se hoje que o sistema nervoso e de con- A aprendizagem, pode definir-se como uma mudan-
trolo do comportamento envolvem transmissão de infor- ça relativamente estável no potencial de comportamen-
mação e não transmissão de energias. to, atribuível a uma experiência - Importância dos estí-
O seu trabalho empírico é uma das grandes contri- mulos ambientais na aprendizagem
buições, sobretudo no que se refere ao IMPRINTING e  
aos PERÍODOS CRÍTICOS Albert Bandura (1925-presente)
O imprinting é um excelente exemplo da interação É, tal como Skinner, da linha behaviorista da Psicolo-
de fatores genéticos e ambientais no comportamento – o gia. No entanto enfatiza a modificação do comportamen-
que é inato e específico na espécie e  as propriedades to do indivíduo durante a sua interação. Ao contrário da
específicas da aprendizagem; linha behaviorista radical de Skinner, acredita que o ser
O trabalho de Lorenz forneceu uma evidência muito humano é capaz de aprender comportamentos sem so-
importante de que existem períodos críticos na vida onde frer qualquer tipo de reforço. Para ele, o indivíduo é ca-
um determinado tipo definido de estímulo é necessário paz de aprender também através de reforço vicariante,
para o desenvolvimento normal. Como é necessária a ex- ou seja, através da observação do comportamento dos
posição repetitiva a um estímulo ambiental (provocando outros e de suas consequências, com contato indireto
uma associação com ele), podemos dizer que o imprin- com o reforço. Entre o estímulo e a resposta, há também
ting é um tipo de aprendizagem, ainda que contendo um o espaço cognitivo de cada indivíduo.
elemento inato muito forte. É um dos autores associado ao Cognitivismo-So-
  cial, uma teoria da aprendizagem baseada na ideia de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Henri Wallon (1879 – 1962) que as pessoas aprendem através da observação dos


Wallon procura explicar os fundamentos da psicolo- outros e que os processos do pensamento humano são
gia como ciência, os seus aspectos epistemológicos, ob- centrais para se compreender a personalidade:
jetivos e metodológicos. - As pessoas aprendem pela observação dos outros.
Considera que o homem é determinado fisiológica e - A aprendizagem é um processo interno que pode
socialmente, sujeito às disposições internas e às situa- ou não alterar o comportamento.
ções exteriores. - As pessoas comportam-se de determinadas manei-
Wallon propõe a psicogénese da pessoa completa ras para atingir os seus objetivos.
(psicologia genética), ou seja, o estudo integrado do - O comportamento é auto dirigido (por oposição a
desenvolvimento.   determinado pelo ambiente)

128
- O reforço e a punição têm efeitos indiretos e im-
predizíveis tanto no comportamento como na aprendi-
zagem. EXERCÍCIOS COMENTADOS
- Os adultos (pais, educadores, professores) têm um
papel importante como modelos no processo de apren-
1. (TJ-PR – PUC-PR – 2017) Sobre as Teorias do Desen-
dizagem da criança.
volvimento apresentadas nas proposições a seguir.  
I. Psicogenética (Piaget).
Urie Bronfenbrenner (1917 – presente)
II. Psicossocial (Erikson).
Um dos grandes autores que desenvolveu a Aborda-
III. Histórico-cultural (Vygostky).
gem Ecológica do Desenvolvimento Humano: o sujei-
 
to desenvolve-se em contexto, em 4 níveis dinâmicos – a
É CORRETO apenas o que se afirma em:
pessoas, o processo, o contexto, o tempo.
A sua proposta difere da da Psicologia Científica até
a) As teorias apontadas nas proposições I e III compreen-
então (70’s): privilegia os aspectos saudáveis do desen-
dem o desenvolvimento como estágios e/ou períodos
volvimento, os estudos realizados em ambientes natu-
que se sucedem. 
rais e a análise da participação da pessoa focalizada no
b) Segundo a teoria apontada na proposição III, o nível
maior nº possível de ambientes e em contato com diferen-
de desenvolvimento real de uma criança define fun-
tes pessoas.
ções que já amadureceram, ou seja, os produtos finais
Bronfenbrenner explicita a necessidade dos pesqui-
do desenvolvimento. 
sadores estarem atentos à diversidade que caracteriza o
c) As teorias apontadas nas proposições I e II apresentam
homem – os seus processos psicológicos, a sua participa-
como foco de estudo e pesquisa o desenvolvimento
ção dinâmica nos ambientes, as suas características pes-
sócio-cognitivo. 
soais e a sua construção histórico-sócio-cultural.
d) Para a teoria apontada na proposição III, o adulto ex-
Define o desenvolvimento humano como “o conjun-
periente atua como um mediador do conhecimento,
to de processos através dos quais as particularidades da
enquanto que para a teoria apontada na proposição
pessoa e do ambiente interagem para produzir constância
II, o adulto deve ser uma figura de afeto. 
e mudança nas características da pessoa no curso de sua
e) Para a teoria apontada na proposição I, o ponto crítico
vida” (Bronfenbrenner, 1989, p.191).
do desenvolvimento é a relação entre as bases bioló-
A Abordagem Ecológica do Desenvolvimento privile-
gicas do comportamento e os acontecimentos sociais,
gia estudos longitudinais, com destaque para instrumen-
sendo o conceito fundamental o de sistema funcional
tos que viabilizem a descrição e compreensão dos siste-
do aprendizado.  
mas da maneira mais contextualizada possível.
 
Arnold Gesell (1880-1961) RESPOSTA: Letra B. Em “a”, Errado – Vygostky tem
Psicólogo Americano que se especializou na área do uma abordagem sócio-interacionista que buscava ca-
desenvolvimento infantil. Os seus primeiros trabalhos vi- racterizar os aspectos tipicamente humanos do com-
saram o estudo do atraso mental nas crianças, mas cedo portamento e elaborar hipóteses de como as caracte-
percebeu que é necessária a compreensão do desenvol- rísticas humanas se formam ao longo da história do
vimento normal para se compreender um desenvolvi- indivíduo. Sua teoria não defendia o desenvolvimento
mento anormal. em estágios.
Foi pioneiro na sua metodologia de observação e me- Em “c”, Errado – Piaget acreditava que a maturação
dição do comportamento e, portanto, foi dos primeiros a biológica estabelece as pré-condições para o desen-
implementar o estudo quantitativo do desenvolvimento volvimento cognitivo.
humano, do nascimento até à adolescência. Em “d”, Errado – Segundo Erickson, cada estágio/ fase
Realizou uma descrição detalhada e total do desen- do desenvolvimento da criança é importante e deve
volvimento da criança; realça, com base em pesquisas ser bem resolvida para que a próxima fase possa ser
rigorosas e sistemáticas, o papel do processo de matura- superada sem problemas.
ção no desenvolvimento. Em “e” Errado - Alexander Romanovich Luria foi quem
Gesell  e colaboradores caracterizaram o desenvolvi- apresentou a Teoria do Sistema Funcional do Apren-
mento segundo quatro dimensões da conduta: motora, dizaddo. Segundo ele, a função cerebral não pode ser
verbal, adaptativa e social. Nesta perspectiva cabe um entendida como a função de uma área em particular
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

papel decisivo às maturações nervosa, muscular e hor- e, com isso, a função passa a ser entendida como um
monal no processo de desenvolvimento. sistema funcional completo e complexo, sem reduzir
Desenvolveu, a partir dos seus resultados, escalas uma atividade cognitiva complexa a uma ou poucos
para avaliação do desenvolvimento e inteligência. agrupamentos neuronais específicos.
Inaugurou o uso da fotografia e da observação atra-
vés de espelhos de um só sentido como ferramentas de
investigação6

6 Texto adaptado de Ana Almada

129
Para que o sujeito conheça o objeto também é de
A PESQUISA E A EXPLORAÇÃO DE NOVAS grande necessidade aborda-lo, e nesse sentido podemos
DESCOBERTAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. dizer que não há possibilidade de conhecimento do ob-
jeto se ele estiver ausente do sujeito.
Mas para o sujeito construir o seu conhecimento a
“O conhecimento é a grande categoria do processo respeito de um objeto qualquer é preciso também que
educacional. É estratégia fundamental e privilegiada de esse objeto tenha significado para o sujeito. Mesmo um
vida, de uma vida práxica que se constrói, histórica e so- simples significado no primeiro momento já é o suficien-
cialmente, no cotidiano que emoldura a catalisa nossas te. O que vale é prender o aluno ao objeto, para que no
experiências. O conhecimento é mediação central do segundo momento ele desperte mais desejo de conhe-
processo educativo. E aí ele se constrói concretamente, cê-lo, se este fizer parte das suas necessidades. Nesse
supondo evidentemente intencionalidade, metodologia sentido, podemos afirmar que a mobilização é o caminho
e planejamento”. e a meta é o significado que o objeto tem para o sujeito.
Em se tratando da mobilização para o conhecimento,
“Celso Vasconcellos vem trazer, através deste livro,
podemos dizer que nenhum sujeito se debruçará horas a
uma valiosa contribuição, na medida em que coloca e
desenvolve esta discussão, não mais num plano pura- fio sobre um objeto que não satisfaça as suas necessida-
mente especulativo, mas naquele plano bem concreto des num sentido bem amplo. E isto é o grande problema
e imediato da prática real do educador. É isso mesmo: que enfrentamos na sala de aula hoje em dia – não con-
sem perder, em nenhum momento, o apoio rigoroso de seguimos despertar a atenção dos nossos alunos porque
seus referenciais teóricos, a exposição/ reflexão de Celso não estamos oferecendo para eles objetos que satisfa-
parte da experiência concreta do trabalho pedagógico çam as suas necessidades, as suas curiosidades.
na sala de aula, onde ele acontece de maneira efetiva Partindo-se do princípio da dialética da mobilização,
e imediata. A abordagem desenvolvida pelo autor já é concordamos plenamente que ninguém motiva ninguém,
uma experiência muito palpável da unidade profunda ninguém se motiva sozinho, os sujeitos se motivam em
dos processos envolvidos na relação educacional. Com comunhão, mediados pela realidade – parafraseado de
razão, afirma que é na sala de aula que ‘o professor tem Paulo Freire.
sua prática, seleciona conteúdos, passa posições políti-
Já os professores adeptos da linha pedagógica tra-
cas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores’. A
dicional não aplicam a dialética da mobilização em sala
relação pedagógica, cerne da efetivação da formação
humana, é mediada pela própria realidade, pois nela se de aula. Eles têm uma visão equivocada sobre o que é
‘dialoga’ sobre o mundo real”. (Trechos do Prefácio, por construção do conhecimento. Para esses professores o
Antonio Joaquim Severino). caráter reflexivo e ativo dos alunos em torno do objeto
não tem significância, e basta que esses alunos estejam
Esta obra visa: em sala de aula, pois sendo assim eles acham que os alu-
-Possibilitar uma tomada de consciência dos pressu- nos já podem estar motivados.
postos implícitos na prática pedagógica
-Fazer a crítica da relação pedagógica de cunho tra- Articulação realidade-Objeto-Mediação
dicional, alienado
-Despertar para a necessidade de superar a relação Para que o educando, sujeito conhecedor ou trans-
pedagógica baseada na mera justaposição, em direção formador do objeto, no processo de mobilização para o
à interação conhecimento, tenha sucesso na sua empreitada a favor
-Trabalhar os fundamentos da Metodologia Dialé-
das descobertas, é necessário que a sua ação seja cons-
tica de Construção do Conhecimento em Sala de Aula,
estabelecendo alguns princípios norteadores da prática ciente e voluntária, tão quanto necessária seja a do pro-
pedagógica. fessor.
É preciso, nesse sentido, que o professor conheça a
A MOBILIZAÇÃO PARA O CONHECIMENTO realidade dos seus alunos, suas necessidades, para assim
poder traçar a mobilização para o conhecimento e ter
Não há aprendizagem sem o interesse do aluno em conhecimento de onde quer chegar. Somente assim o
aprender. trabalho da metodologia dialética poderá ter sucesso.
Conhecer a realidade do aluno é um ponto de partida
Para que um determinado objeto se torne objeto de muito importante se quisermos realmente buscar a mo-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

conhecimento é imprescindível que o aluno esteja mo- bilização. Mas uma realidade concreta e vista pelos olhos
bilizado para conhecê-lo. É preciso que o aluno tenha da razão, desprezando a realidade empírica que corres-
mobilidade para tal, tendo a intenção de conhecer esse ponde a somente o superficial das coisas.
objeto desconhecido. E o ato da mobilização para o co-
Portanto, para que isso ocorra, o primeiro passo seria
nhecimento do objeto exige do sujeito uma carga ener-
a prática social comum a professor e aluno.
gética física e psíquica durante todo o processo. É impor-
tante ressaltar que durante essa aprendizagem também Para o educador construtivista é importante ressaltar
estão presentes cargas afetivas em torno do objeto a ser a presença da psicogênese durante o processo de co-
conhecido, e que essas cargas não podem ser demasia- nhecimento, no qual estão interrelacionados a infraestru-
das, pois assim poderá ocasionar distúrbios, em virtude tura orgânica, o cérebro, o amadurecimento da função e
da grande ansiedade de quem quer conhecer o objeto. as relações sociais.

130
O homem é geneticamente social, mas ele também o aluno deve ter em conta que a contradição é o núcleo
é social e o seu conhecimento é produto da inteligência. para que isso ocorra. O homem deve ser ativo para su-
A forma de conhecer as coisas tem elementos dife- perar as contradições, as dúvidas em torno do objeto. Se
renciados, mesmo apresentando estrutura básica se- não houver as contradições não teria sentido algum a
melhantes. Vejamos que em certa fase da vida a criança construção do conhecimento. A contradição deve existir
pode deixar de entender algo que para o homem na sua para que seja superada, em torno da ideia que há entre
fase adulta seja tão óbvio, tão comum! Às vezes os adul- o objeto e o sujeito.
tos não percebem certas coisas, mas nem por isso elas Diante do exposto, o papel do professor seria esta-
deixam de existir! belecer a contradição, tendo em vista as representações
Durante o processo de ensino-aprendizagem é muito
mentais que o aluno tem consigo. Mas essa negação não
comum observarmos educadores que pulam/queimam
é o simples fato de dizer “não” para o vazio, uma nega-
as etapas da aprendizagem – os professores ao invés de
se prenderem aos pormenores iniciais sobre o assunto, ção sem sentido. É uma negação/contradição que provo-
vão logo, para o que eles dizem “ao que interessa”. É que o aluno a sair do seu estado de inércia e se mobilize
o que chamamos de técnica do atalho. Isso bloqueia o através da expressão do seu pensamento, criticando a
raciocínio lógico do aluno, tendo em vista que a aprendi- realidade dos fatos existenciais. Para isso o professor tem
zagem é um processo visto em fazes. que ter em mente os conhecimentos já adquiridos pelos
Uma característica da mobilidade para o conheci- alunos, afinal o aluno tem um quadro de significados e
mento é a clareza dos objetivos. Mas não tratamos aqui uma gama de conhecimentos anteriores que precisam
dos objetivos mecânicos que não despertam o sujeito ser aprimorados.
para o conhecimento, e sim, de objetivos que satisfaçam A vontade de vencer a contradição sempre existen-
realmente as necessidades dos alunos. te entre o sujeito e o objeto é uma luta constante dos
Infelizmente os objetivos traçados pelas escolas só homens. Mas essa contradição pode sofrer interferên-
atendem às regras do sistema, tendo como prioridade cias no estabelecimento. Às vezes o sujeito não se sente
o programa conteudista, o que o diretor quer e o que desafiado por uma contradição porque está mais ligado
possivelmente poderá cair no vestibular. Desse modo em outra – deslocamento de contradição. Em outro mo-
fica difícil educar para a vida! mento o sujeito esquece certa contradição e vai à busca
Sendo assim, a intencionalidade do educador, que daquela que mais lhe interessa, esquecendo as demais –
aponta a real definição sobre o seu papel, deixa de existir
bloqueio de contradição.
e, consequentemente, a intencionalidade do sujeito/alu-
Para a construção de conhecimentos pautada na vi-
no também não tem sentido.
são libertadora a criticidade deve fundamentalmente
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO existir. Como poderia o professor entrar em contradição
com o aluno se este estivesse no senso comum? O aluno,
Consiste em possibilitar que o aluno faça o confronto nesse caso, permaneceria numa passividade e longe de
direto com o objeto, de forma a apreendê-lo em suas ser um sujeito crítico e pensante. Mas a criticidade a que
relações internas e externas. Tal procedimento deve per- me refiro não é aquela que somente fala mal das coisas
mitir que o aluno estabeleça relações de causa e efeito e ao nosso redor, e sim, aquela que questiona a realidade,
compreenda o essencial. Quanto mais abrangentes essas a razão de ser das coisas.
relações forem, melhor o aluno as compreenderá. Uma das tarefas mais difíceis para o educador é trazer
É exatamente o momento em que o aluno, no seu o sujeito/aluno do senso comum – estado sincrético –
estudo, passa a conhecer o objeto e tirar conclusões so- para o senso crítico – análise e síntese do conhecimento.
bre tal, para assim poder construir novos conhecimentos O problema aqui é denominado de continuidade e rup-
sobre o mesmo. tura.
É nesse momento que o aluno vai conhecer o objeto Mas o certo é que o educador deve partir do ponto
a ser estudado, mas com a ajuda do professor. Nenhum onde o educando se encontra para então, a partir daí,
dever toma partido de um aprendizado isolado. Os dois, procurar estimular o conhecimento do aluno, através de
“em comunhão,” devem interagir constantemente em
análises sobre o objeto até então desconhecido. E, para
torno do objeto e a realidade.
isso, é grandiosa a importância que teremos de dar às
Sendo assim, o professor, ao invés de dar o conheci-
mento pronto para o aluno, mobiliza-o, estimula-o para aproximações sucessivas acerca do objeto a ser estuda-
que ele mesmo possa buscar o conhecimento e refletir do, afinal a construção do conhecimento em torno de um
objeto não se dá de uma só vez.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sobre o mesmo, com o auxilia da ajuda do professor.


Aos nos aproximarmos de um objeto teremos a opor-
Processo de conhecimento em sala de aula tunidade de conhecê-lo, feito isto é hora de analisá-lo
com persistência e demora. Somente depois disso pode-
Apesar da mobilização do sujeito ser uma caracterís- mos fazer a síntese sobre o objeto estudado.
tica para conhecer os objetos, ainda somente isto não é Para que o educando tenha conhecimento pleno da
necessário para eu haja a construção do conhecimento. realidade ele deve analisar o objeto o qual pretende co-
A ação do sujeito sobre o objeto a ser conhecido é a nhecer na sua totalidade. Mas não é isso que as escolas
necessidade primordial. Isto posto, podemos dizer que pregam. A escola é organizada em disciplinas e com a
o importante então não é só motivar, mas colocar o su- função de “vomitar” conteúdos e mais conteúdos, dei-
jeito a par da construção do conhecimento. E para isso xando a desejar na relação sujeito e realidade social.

131
Para a práxis pedagógica podemos afirmar que não so comum para o senso crítico. E sendo assim, ao invés
existe aprendizagem passiva. Toda prática de aprendiza- do professor sobrecarregar a memória dos alunos com
gem exige ação ativa por parte de quem quer conhecer questões fúteis que não trazem significado algum para
o objeto. E nessa prática ativa não basta somente prestar os alunos, ele devia persistir no levantamento de situa-
atenção ao que o professor fala, pois, sendo assim o ato ção problema, para que os alunos sejam estimulados a
de agir, contestar ficaria no esquecimento, dando lugar à refletir/penar sobre algum tema-problema. Sendo assim,
passividade por parte de aluno. O aluno deve comparar
os alunos tentarão resolver o problema e, caso não con-
levantar hipóteses, duvidar, questionar, julgar, dar solu-
sigam, o professor dá um ajuda e o encaminham nova-
ção aos problemas, pois só assim ele estará desenvolven-
do o que nós chamamos de operações mentais. mente para a continuidade da resolução do problema. O
importante é se ligar no problema.
Na metodologia dialética o que se pretende é uma A respeito do planejamento das aulas, o professor
prática pedagógica que tenha sentido e que seja de alto deveria estimular muito mais a criatividade dos alunos,
grau de significância. Não bastam somente as tarefas. lendo textos e pedindo que tirassem a ideia central dos
Fazer as tarefas só pó fazer, quando o aluno está condi- mesmos e interrogando sobre dúvidas acerca do con-
cionado a notas não é uma prática educativa decente. A teúdo abordado, ao invés de ficar no círculo vicioso da
escola deve procurar uma ação consciente: intencionali- tarefa mecanizada.
dade do sujeito. É preciso que o aluno queira fazer, tenha No ato do planejamento ou elaboração das aulas, o
intenção de fazer. Nada forçado tem sentido positivo. professor deve estar preocupado com o movimento do
Quanto às tarefas, é ideal que não olhemos para os real, esquecendo, portanto, do movimento do conceito.
tipos de atividades e sim observemos se elas represen- Uma coisa é o professor conceituar para os alunos algo
tam algo de concreto. Que seja uma atividade que exija
que pode estar ligado à realidade. Outra coisa é o pro-
raciocínio, que seja mais motora, pois sendo assim po-
derá criar uma ação ativa mais concreta sobre o aluno, fessor tentar conceituar para esses mesmos alunos uma
para que ele desenvolva seus conhecimentos com mais expressão química muito distante das experiências vivi-
vontade. das por esses alunos. O professor jamais deverá ser es-
Na construção do conhecimento deve existir uma li- cravo dos programas que só abordam conteúdos fora da
gação forte entre o sujeito e o objeto, ambos devem es- realidade.
tar interrelacionados com o social para que a construção Isto posto, é bom ressaltar que não é fácil estabelecer
desse conhecimento não seja restrito. Sujeito e objeto a mudança da prática pedagógica por parte do profes-
são sempre modificados e dependentemente da prática sor, no sentido da dialética da travessia. Muitos proble-
social, e isso é o que chamamos de caráter social do co- mas de várias ordens são vistos como barreiras para que
nhecimento. o professor saia do seu estado de estagnação e mergu-
No processo ensino-aprendizagem o professor não lhe na prática educacional inovadora. As condições de
pode fazer sozinho a tarefa. Não pode fazer pelo aluno, trabalho, sua condição, econômica, etc, são alguns entre
mas também o aluno não pode realizar suas atividades
tantos fatores que impedem o rompimento da barreira
sozinho. O professor deve sim, ser o mediador na cons-
trução do conhecimento, estimulando o aluno a dar pas- da pedagogia tradicional.
sos mais largos em busca de novos horizontes. Esta sim,
é que deveria ser a forma de trabalho em sala de aula. Exposição dialogada
Além disso, o professor deve provocar o aluno a pensar,
criticar, estar sempre com o pensamento em atividade. A prática pedagógica marcada pela exposição dialo-
Deve dispor de objetos e dar condições para que o alu- gada tem certa vantagem sobre a metodologia expositi-
no tenha rendimento naquilo que ele se debruça para va, em virtude de a primeira favorecer ao aluno a liberda-
conhecer. Deve interagir com o seu aluno em busca de de de poder opinar, levantar hipóteses sobre problemas
soluções para os problemas propostos. tratados na sala de aula. Um outro lado positivo é a pró-
A problematização caracteriza a construção do co- pria interação que há entre o aluno e o professor durante
nhecimento no momento em que o sujeito vive sendo a abordagem do assunto em pauta.
desafiado pela natureza para poder transformá-la. O De a aula dialogada corresponde a um avanço em
sujeito encontra problemas para conhecer ou transfor-
relação à expositiva, o que diríamos da exposição pro-
mar o objeto. E são justamente esses problemas o motor
vocativa? É justamente nesse tipo de exposição que os
principal que faz com que o sujeito seja motivado para
o desafio de construir mais conhecimentos em torno do problemas são colocados para serem solucionados pelos
alunos. Nesta fase os alunos são estimulados para de-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

objeto de estudo.
senvolver uma reflexão de confronto. O que o professor
Estabelecendo a contradição diz é investigado pelos alunos. Aqui, tanto a postura dos
alunos quanto a do professor tomam outro rumo.
Estabelecer contradição representa um passo primor- Face ao exposto, perguntamos: diante de tanta liber-
dial para a constante busca da construção do conheci- dade dada ao aluno para que ele possa falar à vontade,
mento. Pela problematização o professor deve sempre podemos dizer que o professor não pode mais falar? Cla-
adotar a contradição, confrontando-a como o conhe- ro que não! O professor sempre deverá ser o mediador
cimento elementar ou parcialmente apropriado que o na sala de aula e a sua presença será muito importante
aluno tem. E isso traz a possibilidade de ganho de co- para ajudar o aluno a sair do estágio sincrético da cons-
nhecimento por parte do aluno, transpondo-lhe do sen- trução do conhecimento.

132
Certamente o professor contribui para a aceleração É certo afirmar que jamais poderemos subjugar a
da reconstrução do saber – investigação versus exposi- nossa síntese material, pois, sendo assim estaríamos con-
ção – quando orienta os alunos em meio às dúvidas na fessando a nossa própria impossibilidade de construir o
solução dos problemas. O aluno trás o seu conhecimento conhecimento.
sincrético e o professor como mediador expões algumas A interação social entre o educador e o caminho que
informações e o aluno, nesse sentido, deverá ser capaz o educando está trilhando se concretiza no momento em
de superar este estágio do conhecimento.
que há a expressão contínua das representações sinté-
O professor, quanto à questão das técnicas, deverá fi-
ticas elaboradas pelos educandos. Ao passo que as re-
car atento quando exigir dos alunos apresentação de tra-
balhos em grupo. O que importa aqui não é esperar uma presentações sintéticas são expostas e comentadas em
apresentação, uma exposição espetacular daquilo que sala de aula, ocorre uma interação social entre os alunos,
foi estudado pelos alunos, nem sequer poupar as ener- como também entre esses e um novo conhecimento que
gias do professor. O mais importante mesmo com isso poder ser reconstruído naquele momento.
é ajudar para que dessa forma os alunos engrandeçam Para que haja uma interação social dentro da classe
a sua construção de conhecimento. De certa forma, esta é preciso que se crie um ambiente interativo. Esse am-
ou outras técnicas deverão ser submetidas a um método biente só pode ser construído se houver um clima de
ideal, onde seja necessária a apresentação sincrética do respeito mútuo entre os alunos. O professor, para isso,
objeto de estudo, expressão das representações prévias, deverá ajudar para que esse ambiente saudável seja cria-
problematização, fornecimento de subsídios, elaboração do. É nesse clima que tudo que o aluno fala deverá ter
de hipóteses, …, síntese conclusiva, etc. importância. Também ninguém poderá tomar o espaço
de outro falando demais. Mas falar de menos também
ELABORAÇÃO E EXPRESSÃO DA SÍNTESE DO CO-
prejudica o desenvolvimento do trabalho.
NHECIMENTO
São tantas as formas de expressão do conhecimento
Aqui o aluno recolhe novos elementos apresentados que o educando pode utilizar: oral, gestual, gráfica, es-
pelo professor, estabelece novas relações até então não crita, etc. em todas elas estão presentes a construção de
percebidas ou ainda percebidas de maneira diferente. conhecimento que, de certa forma, provocou a mudança
Essa ação permite que o aluno construa um conhecimen- da realidade em relação a um conhecimento prévio so-
to mais elaborando, a partir da complementação ou da bre o assunto abordado.
negação do conhecimento anterior.
É o momento em que o educando, tendo terminado Elaboração da síntese
o seu estudo sobre o objeto, possa fazer um apanhado
sintético a respeito dele. É neste momento que se espe- Tendo em vista que a própria construção do conhe-
ra que esta síntese tenha consistência fidedigna sobre o cimento pode ser considerada de síntese, e em virtude
objeto estudado, do contrário, o aluno deverá percorrer
de que só podemos fazer análises do problema depois
todo o caminho de volta, da síncrese para a análise até
da elaboração de uma síntese precária, fica difícil deter-
chegar à construção de uma nova síntese.
minar em qual momento seria oportuno e aconselhável
Necessidade de expressão para a elaboração da síntese, isto porque a análise e a
síntese estão intimamente muito articuladas.
A expressão material do conhecimento auxilia o aluno Em se tratando dos níveis de síntese, podemos en-
na concretização da sua síntese. Se esta vai ser mate- tender que há uma complexidade específica para cada
rializada através da fala, tem a vantagem de a interação forma de expressão dessa síntese. Na ordem crescente
social provocar a correção de possíveis erros detectados de abstração de conhecimento podemos citar a dramati-
na síntese. Se a síntese for materializada através da es- zação, a forma verbal e por último a forma escrita.
crita isto ajudará para que o trabalho sintético seja bem Para qualquer objeto de conhecimento há infinita
mais elaborado e tenha maior perfeição, pois a partir da possibilidade de se realizar a sequência: síncrese >aná-
formatação podem se fazer correções à vontade (ao con- lise > síntese. E para saber se o educando chegou ao
trário da síntese falada).
grau de síntese minimamente satisfatória na construção
Na relação do sujeito com o mundo, o professor deve
do conhecimento, os educadores observam a expressão
entender que a fala é, sem dúvida, não somente um meio
de comunicação, mas um instrumento de pensamento. À dos educandos em torno da problematização abordada,
medida que o sujeito vai conhecendo algo, interagindo para assim poder verificar se os alunos atingiram a sín-
com o mundo social à sua volta, ele sente vontade de ex- tese mínima.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pressar-se sobre as descobertas advindas desse conhe-


cimento. E, ao passo que o objeto é mais estranho para Interação na elaboração
o sujeito ele sente muito mais vontade de fazer uso da
palavra para poder conhecer o objeto de estudo. Se o educando assim preferir, ele pode solicitar várias
No processo de determinação da síntese observamos formas de expressão da síntese elaborada pelos alunos
que, enquanto aquilo que sintetizamos está somente em – de uma síntese provisória ele pode solicitar que os alu-
nossa cabeça, podemos expor esse conhecimento de for- nos construam uma síntese menos elaborada, uma mais
ma mais generalizada, mas, à medida que formatamos elaborada. E pode ainda pedir uma síntese em grupo,
a síntese materializando-a para o texto escrito, estamos promovendo a interação durante a elaboração. E pode
concretizando o trabalho, realizando uma síntese conclu- ainda o professor exigir que os alunos construam uma
siva e restrita ao que está no papel. síntese pessoal ou individual a partir da síntese grupal.

133
É importante saber que existe um limite na elabora-
ção da síntese. Nem todos os educandos são capazes de AVALIAÇÃO E REGISTRO DO PROCESSO
chegar ao estágio da síntese, ficando paralisados na sín- EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
crese. Mesmo com a ajuda do educador alguns alunos
sentem dificuldades e são limitados na elaboração da
síntese. O conhecimento científico apurado, presente em Avaliar crianças exige dos educadores muita observa-
alguns textos, juntamente com o conhecimento filosófi- ção, reflexão, registros diários e, sobretudo, grande sen-
co, podem ser um dos motivos que atrapalha certos alu- sibilidade. Esses são os pontos que se destacam neste
nos a chegar na reta final do estágio síncrese-análise-sín- livro, já considerado um clássico da coleção. Nele Jussara
tese, porque sentem dificuldades em analisar os textos. Hoffmann defende que não devemos pensar na avalia-
ção como um ato classificatório, mas como acompanha-
Retorno à prática social mento e promoção do desenvolvimento. A autora apre-
senta estudos sobre o desenvolvimento infantil, sobre a
Se a prática da construção do conhecimento é pauta- utilização de pareceres descritivos e encaminha procedi-
da na realidade social, podemos afirmar que o ser huma- mentos para a elaboração de relatórios de avaliação. As
no como sujeito detentor e construtor de conhecimento, orientações da autora são importantes também para os
poderá modificar a sua realidade através da prática so- professores dos anos iniciais.
cial, com vista na força da sua expressão carregada de O Livro, traz questionamentos muito pertinentes em
significados. Para isso, o sujeito deverá ser compreendi- relação à avaliação nas Instituições Infantis, desde seu
do e ter o dom de envolver as pessoas através do seu surgimento às formas como é realizada atualmente,
conhecimento, articulado com a realidade social. fazendo-nos discutir sobre o formato dos registros de
avaliação em detrimento à essência desse processo – o
CONCLUSÃO de compreensão e acompanhamento da criança para lhe
oportunizar o desenvolvimento pleno.
A função primordial da educação está na construção Primeiro, considero que fazer algumas considerações
do conhecimento. A ação pedagógica na escola deve sobre a Educação Infantil é crucial, não somente para nos-
oportunizar a construção do conhecimento, o que numa sa conduta profissional, mas para o processo de ensino e
instância maior resulta na constituição de identidades aprendizagem que oferecemos na escola, na perspectiva
autônomas, capazes de estabelecer relações críticas en- de que a função da escola seria o de propiciar as crianças
tre os homens, suas ações e o mundo. Entretanto sabe- caminhos para que aprendessem, de forma consciente,
mos que nem sempre as práticas pedagógicas atingem, os mecanismos de apropriação de conhecimentos, assim
ou procuram atingir a construção do conhecimento. Esse como a de possibilitar a integração da criança entre os
é um processo no qual é necessária a permanente busca aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e so-
de significado, de sentido. ciais, atuando criticamente em seu espaço social.
O conhecimento só acontece através do significado Embora haja um consenso sobre a necessidade da
que adquire aquilo que se estuda, aquilo que se fala e Educação Infantil na promoção desses aspectos, o aten-
que se faz por quem realiza a ação, seja ele professor ou dimento institucional deste nível de ensino vem apre-
aluno; e principalmente só acontece quando há intera- sentando ao longo de sua história concepções bastante
ção, onde todos têm voz para falar e discutir. Caso con- divergentes sobre sua finalidade social. Um dos fatores
trário, só se tem informações e sujeitos. Falta a interação é que Grande parte dessas instituições foi canalizada a
entre eles, ou seja, a construção de significados. atender somente crianças de baixa renda, sendo esta –
A escola é a referência para a elaboração de uma durante muitos anos – a justificativa para a existência
leitura de mundo baseada no conhecimento científico. de atendimentos de baixo custo, com aplicações orça-
Logo, o principal determinante no processo de elabo- mentárias insuficientes, escassez de recursos materiais,
ração dessa leitura, que é construção de conhecimento, instalações precárias e um quadro de profissionais com
está no currículo – formal, em ação e oculto – como ação formação insuficiente.
pedagógica. Dessa forma é fundamental ao professor e Nesta perspectiva, a tônica do trabalho institucional
aos profissionais da educação, avaliar as questões curri- foi pautada por uma visão que estigmatizava a popula-
culares, na busca de uma ação pedagógica que contribua ção de baixa renda; o atendimento nas instituições de
efetivamente para a construção do conhecimento. So- Educação Infantil era entendido como um favor ofereci-
mente uma revisão profunda das questões curriculares, do para poucos, selecionados por critérios excludentes,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que envolva o planejamento dos programas, a discussão assumindo uma concepção educacional com característi-
dos mesmos, a formulação dos planos de trabalho dos cas assistencialistas, sem considerar as questões de cida-
professores e a sua aplicação, ou seja, toda a ação peda- dania ligadas aos ideais de liberdade e igualdade.
gógica; poderá transformar a situação em que se encon-
tra a situação educacional hoje. Com efeito, para modificar essa concepção de educa-
ção assistencialista, é imprescindível atentar-nos para as
Fonte questões que estão além dos aspectos legais. Assumindo
VASCONCELLOS, Celso. Construção do conhecimento as especificidades da Educação Infantil – principalmente a
em sala de aula. Libertad – Centro de Pesquisa, formação prática avaliativa - e revendo concepções sobre a infância,
e Assessoria Pedagógica. 14ª ed., 2002. as relações entre classes sociais e as responsabilidades da
sociedade.

134
É inquestionável que, ao desenvolvermos a questão Há muito tempo, vários teóricos em educação, vêm
da prática avaliativa em Educação Infantil, teremos que le- fazendo críticas contundentes aos instrumentos de men-
var em conta que as instituições que atendem as crianças suração padronizados utilizados principalmente para
mais pobres, estão ainda muito distantes da elaboração medir a “inteligência” das crianças e sua prontidão, pois
de propostas pedagógicas e do desenvolvimento de um tais testes valorizam apenas o “produto” (resposta) e não
processo de avaliação. o “processo”. E o conhecimento exclusivo do produto
não leva a um conhecimento de fato da criança.
“O espaço institucional assistencialista, voltado para a
“A discriminação das classes populares na escola
satisfação das necessidades de guarda, higiene e alimen-
explica-se, na verdade pela opressão que essas classes
tação, desqualificado e desatendido em termos de recur-
sos humanos e materiais, não chega a enunciar sequer dominadas, através da imposição de sua cultura e da lin-
preocupação com essa questão. Da mesma forma, não guagem, apresentadas como legítimas, e da conseqüen-
sofre nenhuma pressão das famílias nesse sentido, que te desvalorização de uma cultura e linguagem que só por
aceitam o caráter de depósito e guarda dos filhos, sem ser diferente daquela considerada legítima, é acusada
exercer qualquer reivindicação sobre seu papel educativo “de”deficiente”. (SOARES, 1986).
ou até mesmo desconhecendo essa possibilidade”. Assim, tenho que tais testes, ao afirmarem preten-
Entretanto, gradativamente vem surgindo uma preo- der medir a capacidade e prontidão da criança, acabam,
cupação com processos avaliativos em algumas institui- na verdade, é tomando as diferenças culturais, sociais e
ções, principalmente aquelas que atendem crianças da linguísticas por deficiências e se tornando, com isto, um
classe média, ainda que sem uma política global e funda- instrumento de seletividade social e de marginalização,
mentada no que se refere à prática avaliativa. na escola, das crianças das classes menos favorecidas.
Ao se inserir nas instituições de Educação Infantil, a
Essas avaliações, como algumas outras, são ampla-
avaliação, desvinculada de estudos e teóricos sobre o de-
mente usadas, e o fracasso nos mesmos leva a separar
senvolvimento da criança, vêm assumindo posturas errô-
as crianças, discriminá-las, a considerá-las imaturas e re-
neas, controlando a ação do professor e apresentando
pareceres descritivos que encerram concepções discipli- tardar ou deixar de introduzi-las no processo seguinte,
nadoras, sentencivas e comparativas que ferem seriamen- contribuindo para que, muito, cansadas de esperar e com
te o respeito à infância, resultando numa análise irreal do baixa-estima, acabam por desistir da escola.
desenvolvimento infantil, negando principalmente toda a Verifico, pois, que nessa criança que fracassa na esco-
bagagem da criança avaliada e a identidade do professor la, em que são apontados somente aspectos negativos e
que trabalhou com ela. defasagens, existem reais positividades a serem conheci-
Com efeito, a avaliação classificatória se faz presen- das e exploradas devendo-se fundar o processo de ensi-
te através de registros e fichas comportamentalistas, em no-aprendizagem a partir dessas positividades.
que no final de um semestre são correlacionados todos Entretanto, instrumentos como os aqui citados, levam
os comportamentos apresentados pela criança e com- comumente a uma visão falsa da real capacidade dessas
parados com os comportamentos esperados pela escola. crianças, pois, - elaborados a partir de uma concepção e
Estando muitos desses comportamentos almejados des-
prática burguesa (que entre outros aspectos, valoriza o
vinculados da realidade da maioria das crianças e a mercê
produto ao invés do processo) - são utilizados para dis-
do foco de visão do professor, é comum assistirmos cenas
criminar as crianças, cujo pensamento e saber foi gerado
tórridas de crianças que ficam retidas na Educação Infantil
com a justificativa de estarem inaptas ao ingresso no En- numa prática social diferente.
sino Fundamental. Neste livro, Jussara Hoffmann, explicita estas preocu-
Tais práticas na Educação Infantil possuem um entendi- pações e propõe apontar pressupostos básicos à prática
mento equivocado da avaliação nessa etapa da educação, avaliativa:
o que vem gerando sérios problemas, com consequências “.. uma proposta pedagógica que vise levar em con-
preocupantes, sobretudo, para as crianças de determina- ta a diversidade de interesses e possibilidades de explo-
das camadas da sociedade. As classes de alfabetização, ração do mundo pela criança, respeitando sua própria
por exemplo, concebem a Educação Infantil com o cará- identidade sociocultural.. um professor curioso e investi-
ter de terminalidade, atendendo crianças de seis anos de gador do mundo da criança agindo como mediador.. um
idade e retendo-as até que tenham atingido os padrões processo avaliativo permanente de observação, registro
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

desejáveis de aprendizagem da leitura e da escrita. A es- e reflexão acerca da ação e do pensamento das crianças,
sas crianças tem sido vedado, assim, o direito de serem
de suas diferenças culturais e de desenvolvimento”..
matriculadas aos sete anos na primeira série do Ensino
Fundamental.
A avaliação deve ser entendida, prioritariamente, como
Ainda há outras práticas de avaliação que assumem
o caráter de conferir às produções das crianças - notas, um conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir so-
conceitos, estrelas, carimbos com desenhos de caras tris- bre as condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua
tes ou alegres conforme o julgamento do professor – em prática às necessidades colocadas pelas crianças, devendo
detrimento de uma avaliação processual e destinada a permitir que elas acompanhem suas conquistas, suas difi-
auxiliar o processo de aprendizagem, fortalecendo a au- culdades e suas possibilidades ao longo de seu processo de
toestima das crianças. aprendizagem.

135
Para que isso ocorra, o professor deve compartilhar com
elas seus avanços e suas possibilidades de superação das di- FORMAÇÃO CONTINUADA DE
ficuldades. Importante, também, é o conhecimento sobre o PROFESSORES E SUAS RELAÇÕES COM O
desenvolvimento infantil, que está bem fundamentado nas PROFESSOR PESQUISADOR
teorias construtivista-interacionista de Piaget, sociointeracio-
nista de Vygostsky e outros, para um embasamento teórico
que justifique a prática de não fragmentação no processo Formação continuada do educador
avaliativo, mas de indissociabilidade nas relações sociais, afe-
tivas e nas conquistas na área cognitiva pela criança. A formação e o trabalho docente são uma questão
Enfim, a obra de Jussara Hoffmann traz esta discussão de importante uma vez que o mesmo deve estar consciente
forma séria e concisa; um pouco restrita e superficial - como que sua formação deve ser contínua e está relacionada ao
assume a própria autora, se compararmos a amplitude e seu dia-a-dia, o aprender contínuo é essencial e se concen-
complexidade do assunto -, mas de fundamental importân- tra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a es-
cia para principiarmos a discussão enquanto pesquisadores e cola como lugar de crescimento profissional permanente. A
planejarmos a nossa intervenção enquanto educadores, ten-
formação continuada se dá de maneira coletiva e depende
do como prioridade, a criança.
de experiência, reflexões como instrumentos de análise.
O docente não pode se privar de estudar, grande são
Elaborando relatórios individuais de avaliação
os desafios que o profissional enfrenta, mas manter-se
O registro da história da criança, no processo avaliativo, não atualizado e desenvolver prática pedagógica é indispen-
pode significar apenas memória como função bancária, ou seja, sável para que haja maior mobilização na formação de
há que se pensar no significado desse registro para além da co- professores, é necessário criar condições favoráveis tanto
leta de dados ou informações a partir da observação de uma na formação continuada quanto na valorização do mes-
criança. Por outro lado, em avaliação, não há como nos basear- mo.
mos apenas na memória, porque ela é muitas vezes falha. A me- A formação continuada é uma exigência para os tem-
mória pode ser precária, generalista. Ela não é rigorosa e nem pos atuais. Desse modo, pode-se afirmar que a formação
sempre se aprofunda. docente é iniciada com a escolarização básica e depois
Por que é importante registrar? Vygotsky valoriza a lin- se complementa nos cursos de formação inicial, com ins-
guagem escrita, porque é mais reflexiva que a linguagem oral. trumentalização do professor para agir na prática social,
Por meio da fala, organizamos o nosso pensamento. A escri- para atuar no mundo e no mercado de trabalho.
ta, representando a nossa fala, exige uma reorganização do As universidades vêm ocupando um papel essencial,
pensamento, uma maior reflexão e conexão entre as ideias mas não é o único, para a formação de professores. O de-
defendidas. Por meio da escrita, o educador pode distanciar- senvolvimento profissional não corresponde só a cursos
-se de si mesmo e refletir sobre essas ideias –corporificadas -, de formação de professores mas soma ao conhecimento
analisando-as, interpretando-as, analisando os – quadros - ali
adquiridos ao longo da vida. A formação não conduz só
esboçados, no sentido de encontrar outras respostas para si-
no saber na sala de aula é preciso garantir uma gestão
tuações vividas ou melhores caminhos a percorrer.
Nesse sentido, os relatórios de avaliação representam a escolar de qualidade e diversas práticas pedagógicas e na
análise e a reconstituição da situação vivida pela criança na perspectiva histórico, sociocultural.
interação com outras crianças e com o professor. Eles repre- Os docentes precisam de qualificação tanto na área
sentam, ao mesmo tempo, reflexo, reflexão e abertura a no- pedagógica como nos campos específicos do conheci-
vos possíveis. Ao objetivar, por meio do relatório, o seu en- mento. A formação inicial deve passar por reformulação
tendimento sobre o processo vivido pela criança, o educador profundas. Isso implica em garantir ao profissional um
se reconhece como partícipe desse processo, corresponsável conhecimento básico para a sua atuação no âmbito es-
pela história construída por ela. Elaborar o relatório de acom- colar, pois a aprendizagem ocorre quando por meio de
panhamento da criança equivale, assim, ao educador assumir uma experiência mudamos nosso conhecimento anterior
conscientemente seu compromisso com ela, e abrir-se à cola- sobre uma ideia, comportamento ou conceito.
boração da própria criança, dos pais e de outros educadores É essencial adquirir conhecimentos seja através de
no processo avaliativo. uma graduação, pós-graduação, seminários, palestras,
Por outro lado, relatórios de avaliação podem configurar- encontros pedagógicos em fim todos os cursos que ve-
-se em elos significativos entre a percepção do professor e nham contribuir para a nossa formação pessoal e profis-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

suas intenções pedagógicas, à medida que representam uma sional. Além disso, colocamos em prática o que aprende-
ruptura com o cotidiano mecânico e rotineiro, que impede a mos no exercício da profissão com o desejo de contribuir
reflexão.
para um melhor desempenho, uma melhor aprendizagem
dos alunos.
Fonte: http://pedagogarenata.blogspot.com.br/
Os grandes pensadores têm contribuído muito no
processo educacional, sabemos que muitos tem procu-
rado desvendar problemas que ora para muitos profis-
sionais da educação não sabiam como resolver, lidar com
determinados problemas enfrentados na prática pedagó-
gica.

136
E é percebível que muitos tem procurado por em prá- Os professores são agentes ativos na construção de
tica teorias e tem obtido resultado satisfatórios pois sa- sua própria prática (sem esquecer que estão em intera-
bemos que por trás de cada professor, em qualquer sala ção com os demais e imersos nas limitações da escola) e
do mundo, estão séculos de reflexões sobre o ofício de que adquirem e utilizam um corpo de conhecimento, as
educar e o trabalho desses profissionais vem sendo de- vezes chamado profissional ou destreza, em suas ativida-
senvolvidos através das ideias desses teóricos que passa- des docentes.
ram a ser incorporadas a prática pedagógica desses pro- O conhecimento profissional docente tem sido ca-
fissionais. Quem não conhece Vygotsky? O teórico que racterizado como complexo dinâmico e multifacetado. O
aos educadores interessa em particular os estudos sobre conhecimento de si mesmo e de seu processo pessoal
o desenvolvimento intelectual? de aprendizagem profissional da docência também tem
Na teoria de desenvolvimento intelectual de Vygot- sido identificado como componente do conhecimento
sky, sustenta que todo conhecimento é construído so- profissional do professor.
cialmente, no âmbito das relações humanas. Essa teoria De certa forma, o repensar a concepção da forma-
tem por base o desenvolvimento do indivíduo como ção dos professores, que até pouco tempo objetivava a
resultado de um processo sócio histórico enfatizando o capacitação, através da transmissão do conhecimento, a
papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvol- fim de que aprendessem a atuar eficazmente na sala de
vimento, sendo essa teoria considerada, histórico social. aula vem sendo substituído pela abordagem de analisar
O conhecimento que permite o desenvolvimento mental a prática que este professor vem desenvolvendo, enfa-
se dá na relação com os outros. tizando a temática do saber docente e a busca de uma
Nessa perspectiva o professor constrói sua formação, base de conhecimentos para os professores, consideran-
fortalece e enriquece seu aprendizado. Portanto é impor- do os saberes da experiência.
tante ver a pessoa do professor e valorizar o saber de sua Considerando que a tarefa do professor tem como
experiência. característica ser um trabalho interativo, a dificuldade
A troca de experiências e a partilha de saberes con- de trabalhar com os saberes formalizados sugere assim
solidam espaços de formação mútua, nos quais cada contribuir para o aperfeiçoamento da prática docente e
professor é chamado a desempenhar simultaneamente, formação de professores.
o papel de formador e de formando. A a reorganização dos cursos de formação deve ser
Estudos indicam que existe necessidade de que o pensada num contexto de transformação de todo o sis-
professor seja capaz de refletir sobre a sua prática e di- tema escolar, para que tais cursos não tenham que se
recioná-la segundo a realidade em que atua, voltada aos converter, simplesmente em um espaço de compensação
interesses e das necessidades dos alunos. de déficit deixados por uma diferente educação.
Há uma necessidade de o educador adequar o con- Assim como a reforma escolar não é possível sem
teúdo ao nível cognitivo e a experiência das crianças para mudança da formação docente, esta é impossível desa-
que os mesmos possam ser compreendidos por qual- companhada de uma reforma escolar. Ambas são inter-
quer aluno. dependentes. Somente a partir da compreensão desses
Para maior mobilização de conceito de reflexão na processos será possível repensar os cursos de formação,
formação de professores é necessário criar condições de modo que possam promovê-los.
de trabalho em equipe entre discente. Sendo assim isso Diante disso, se fala muito em educação de qualida-
sugere que a escola deve criar espaço para seu cresci- de, e que para isso acontecer precisa-se do compromis-
mento. Além de bons salários e de formação adequada so de todos para que essas mudanças venham ocorrer
é preciso garantir uma gestão escolar competente, onde de fato.
acabe com o isolamento da sala de aula. Somente a formação do professor não é o suficiente
O desenvolvimento de uma prática reflexiva eficaz para a melhoria do ensino, é necessário o desenvolvi-
tem que integrar o contexto institucional. O professor mento de políticas públicas que visem melhorar todo o
tem que se tornar um navegador atento a burocracia. sistema educacional, desde: servidores, recursos didáti-
E os responsáveis escolares que queiram encorajar os cos infraestrutura, enfim ,tudo que contribui para melho-
professores a tornarem-se profissionais reflexivos devem rar o interesse e o desempenho do aluno na escola. Além
criar espaços de liberdade tranquila onde a reflexão seja disso, é necessário o envolvimento da família, escola e
possível. Estes são os dois lados da questão, aprender comunidade pois isso também interferem no processo
a ouvir os alunos e aprender a fazer da escola um lugar de aprendizagem escolar.
no qual seja possível ouvir alunos e devem ser olhados Todos esses fatores, o modo como a família vê a esco-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como inseparáveis. la e fala dela é um dos principais fatores no processo. O


A formação de professores socialmente legitimada é valor que a família dá à unidade de ensino, a forma como
feita em espaços destinados especialmente para esses os pais vivenciaram a própria escolarização e as expec-
fins. Trata-se de espaços externos da escola, em tempos tativas em relação aos filhos influem muito no sucesso
que divergem do efetivo trabalho do professor. A forma- das crianças.
ção dos professores é questionada e colocada em xeque É necessário um trabalho em equipe onde a escola
sempre que surge um novo método ou uma nova políti- possa desenvolver projetos que venham envolver família,
ca imposta pelo Estado. escola e comunidade. Pois sabemos que para uma edu-
A consequência mais imediata que o professor é cação de boa qualidade não depende só do educador,
constantemente submetido a cursos de capacitação para só da formação continuada dos mesmos, mas de todo o
aprimorar e reavaliar seus saberes. sistema social.

137
Atualmente inúmeros estudos têm focalizado aspec- sencial a implementação de formações continuada para
tos relacionados ao comportamento de alguns profes- educadores nas unidades escolares, nas quais os docen-
sores e a formação dos alunos estabelecida através de tes poderão refletir sobre sua prática e trocar informa-
uma ligação contínua, estreita e extensa em sala de aula. ções junto a seus pares. A importância dessa mudança
Uma vez que nós os docentes temos o poder de tomar na prática pedagógica implica a releitura da função do
decisões e influenciar os alunos diretamente e indireta- professor como profissional reflexivo e da escola como
mente. E muitas vezes somos vistos como emissor da in- organização promotora do desenvolvimento do proces-
formação, organizador de atividade e realimentador por so educativo.
excelência do sistema educacional. A valorização e melhor remuneração que o profis-
Nesse sentido, a interação estabelecida caracteriza-se sional docente almeja em boa parte de sua formação e
pela seleção de conteúdos, organização, sistematização atuação inicial como ainda de sua formação continuada
didática para facilitar o aprendizado dos nossos alunos. além de boas condições de trabalho, salário e carreira.
Logo, a relação que traçamos entre nós e os discentes Sabemos que a escola na atualidade sofre com o de-
depende fundamentalmente da afetividade, confiança, senvolvimento acelerado que ocorre a sua volta, onde
empatia e respeito entre ambas partes para que se de- as informações são atualizadas em função de segundos,
senvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem. ocasionando de certa forma, o desgaste e o compro-
Os educadores não podem permitir que tais senti- metimento das ações voltadas para o aprimoramento
mentos interfiram no cumprimento ético de seu dever do ensino, fazendo com que a sala de aula se torne um
de professor. ambiente de pouca relevância para a consolidação do
Assim situações diferenciadas que formamos comum conhecimento. Sabemos, também, que a mudança ace-
determinado aluno, como por exemplo melhorar a nota lerada do contexto social influi fortemente no papel a
deste, para que ele não fique de recuperação, norteadas desempenhar pelo professor no processo de ensino. O
as vezes pelo fator amizade ou empatia, não deveria exis- professor deve apresentar uma postura norteadora do
tir nas atitudes de um formador de opiniões. processo ensino-aprendizagem, levando em conside-
O bom professor é o que consegue, enquanto falar, ração que sua prática pedagógica em sala de aula tem
trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu papel fundamental no desenvolvimento intelectual de
pensamento. Sua aula se torna um desafio para manter seu aluno, podendo ele ser o foco de crescimento ou de
aluno em sintonia com o que está mediando na sala de introspecção do mesmo quando da sua aplicação meto-
aula. Logo não podemos pensar que a construção do dológica na condução da aprendizagem.
conhecimento é individual e sim uma via dupla, onde o O exercício de pensar o tempo, de pensar a técni-
professor em sala de aula é um intermediário entre con- ca, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de
teúdos da aprendizagem e discente. pensar o quê das coisas, o para quê, o como, o em favor
A escola é a instituição que tem por finalidade pro- de quê, de quem, o contra quê, o contra quem são exi-
ver atividades para desenvolver esses aspectos. Sendo gências fundamentais de uma educação democrática à
a educação um fator social, ela deve refletir a realidade altura dos desafios do nosso tempo.
concreta na qual esse ser social vive, atua e, muitas ve- Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibi-
zes procura modificar. A função da educação é integrar lidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos
a formação da pessoa e a sua inserção na sociedade e, conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa
assim, assegurar sua plena realização. Cabe à educação, e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é con-
dessa forma, formar indivíduos autônomos, pensantes, ciliar a extensão da informação, a variedade das fontes
ativos, capazes de participar da construção de uma so- de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão,
ciedade contextualizada. Os métodos pedagógicos não em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos
podem ser dissociados desses enfoques, eles devem ser informações demais e dificuldade em escolher quais são
apoiados no conhecimento do aluno e no seu meio, pois significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da
todas as crianças, sejam quais forem suas origens familia- nossa mente e da nossa vida.
res, sociais, étnicas, têm direito igual ao desenvolvimento A aquisição da informação, dos dados dependerá
máximo que sua personalidade comporta. Elas não de- cada vez menos do professor. As tecnologias podem
vem ter outra limitação além de suas aptidões. trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e
A escola representa um lugar em constante movi- atraente. O papel do professor, o papel principal, é aju-
mentação e transformação, em que os atores sociais en- dar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a
volvidos no processo educativo são agentes da dinâmica contextualizá-los. O papel do educador é mobilizar o de-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

social que ocorre no interior do espaço escolar, em um sejo de que o aluno aprenda, que se sinta sempre com
processo de saberes. Considerando isso é necessário que vontade de aprender. Só podemos ensinar até onde con-
os mesmos envolvidos procurem buscar alternativas que seguimos aprender. E se temos tantas dificuldades em
venham a mudar o processo educacional. ensinar, entre outras coisas, é porque aprendemos pouco
O processo de formação continuada, trata-se efeti- até agora.
vamente de um processo continuo que toma como par- É importante não começar pelos problemas, pelos er-
tido o saber experiencial dos professores, os problemas ros, não começar pelo negativo, pelos limites. E sim co-
e desafios da prática escolar. Nesse contexto a pratica meçar pelo positivo, pelo incentivo, pela esperança, pelo
pedagógica estará sempre nesse processo continuo em apoio na nossa capacidade de aprender e mudar. Ajudar
busca da construção do saber, o que significa a consti- o aluno a que acredite em si, que se sinta seguro, que
tuição de uma conduta de vida profissional. Se torna es- se valorize como pessoa, que se aceite plenamente em

138
todas as dimensões da sua vida. Se o aluno acredita em passado, precisamos saber que outras possibilidades são
si, será mais fácil trabalhar os limites, a disciplina, o equi- possíveis e por isso se faz necessário estar aberto para
líbrio entre direitos e deveres, a dimensão grupal e social. aprender com os próprios alunos e também com os ou-
Tem a ver com o prazer de aprender, de entender, tros professores, refletindo sempre sobre o que a prática,
de buscar, de saber fazer, de construir, de conseguir dar para que e como podemos melhorar.
conta de alguma coisa que nos desafia ou que desafia O desafio está em encontrar tempo para conhecer as
nossos educandos. novas tecnologias, ler sobre elas, atualizar-se e planejar
Educadores e educadoras que rompem com a forma- o seu uso, prevendo com os alunos objetivos, caminhos
lidade na prática pedagógica são aqueles que colocam e atividades para desenvolver a pesquisa, organizando
coração no caminho pedagógico e insistem, inventam e e participando de momentos coletivos e individuais e
reinventam possibilidades para que os seus educandos avaliando o processo de cada sujeito na busca de novas
aprendam, porque, para desenvolver-se, importa que propostas para as transformações necessárias à escola.
aprendam significativamente sobre tudo que se passa Muitos professores resistem às mudanças, preocupa-
diante de seus olhos. Muitas vezes, isso parece ser difícil, dos em não dominar as novas propostas. Contudo, há
mas se o coração estiver lá tudo se torna fácil, inventa-se necessidade de uma parceria professores-coordenado-
e flui. res pedagógicos, para juntos, vencerem o medo, as inse-
Mesmo, porque, os modernos conceitos definem o guranças e aos poucos conquistarem seus espaços. Para
professor eficiente como aquele que instrumentaliza o isso, é necessário criar mecanismos visando sensibilizar o
aluno, permitindo-lhe dominar o mecanismo do aprender professor da importância de se discutir a prática pedagó-
e tornando-o independente para, a qualquer momento, gica, pois, a falta de uma maior reflexão sobre essa ques-
estando ou não no âmbito escolar, continuar aprenden- tão, como já foi mencionado, faz o professor permanecer
do. na sua postura tradicional com uma atuação totalmente
Como a função do educador se efetiva na prática, para acrítica e reprodutiva. Na escola temos pessoas que de-
que a ação tenha êxito é imprescindível um aprendiza- sempenham diferentes funções, todas de suma impor-
do contínuo na busca de novas estratégias e caminhos, tância para o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
ou seja, da renovação e inovação constantes, com muita
reflexão, tolerância, diálogo, parceria e participação co- Precisa-se exercitar o difícil aprendizado de que é na
letiva, fortalecendo, assim, a autonomia e incentivando a diferença que se faz o todo, onde não há superiores e
criatividade nas instituições educacionais sob nossa res- inferiores, mas trabalhadores e trabalhadoras da edu-
ponsabilidade. cação construindo uma escola pública a cada dia mais
Nas palavras do Governador Roberto Requião, em sua humana, democrática e de qualidade Trata-se, de uma
palestra de abertura do curso PDE “se não tivermos na escola onde se ensine bem aquilo que os alunos preci-
sala de aula um professor altamente capacitado para a sam aprender, pois, sem o domínio do saber, eles não
formação de nossos estudantes, de nada adianta desti- alcançarão a liberdade e muito menos a possibilidade de
nar, como estamos destinando, 30% do orçamento para agir e de transformar a sua realidade.
a educação”. Disse ainda: “Queremos escolas vivas, criati- Há que se contar com profissionais competentes, isto
vas, agitadas, professores que mobilizem as salas de aula, é, que tenham uma visão ampla e profunda dos proces-
que abram horizontes, que descortinem a vida e as mara- sos pedagógicos, das necessidades e interesses dos alu-
vilhas do conhecimento. Queremos professores e alunos nos, das condições reais do trabalho docente, das rela-
esclarecidos que não se submetam ao controle da opinião ções que se dão no processo ensino-aprendizagem e na
pública, a verdadeira ditadura do pensamento dominante sociedade.
hoje imposta pela grande mídia”. Compreende-se que para isso o pedagogo terá que
Todo professor pode ser mais que um mero transmis- buscar embasamentos teóricos para aperfeiçoar-se e
sor de informações, desde que se sinta realmente inco- assim contribuir com os demais profissionais para uma
modado a ponto de buscar novos rumos para sua prática melhor compreensão de trabalhar no coletivo em to-
profissional, espero contar com o interesse dos profissio- dos os aspectos. Cabe ao pedagogo, como coordenador
nais do município para enfrentar mais esse desafio. pedagógico, vencer os desafios com que se depara no
Não existe uma, mas várias fórmulas mágicas, são di- cotidiano da escola, superando o conflito entre o real e
ferentes para cada situação, por isso precisamos experi- o possível e integrando a comunidade escolar em be-
mentar muitas delas para ver qual funcionará melhor em nefício do processo ensino-aprendizagem. Desse modo,
cada uma das nossas salas de aula. É preciso também faz-se necessário construir caminhos de aproximação,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

repensar a prática, a fim de verificar se estamos fazen- negociação, diálogo e troca, avaliando situações do coti-
do alguma coisa de errado que esteja impedindo que os diano escolar e dando encaminhamentos necessários no
resultados sejam melhores. Não se pode ensinar ao pro- sentido de coordenar um trabalho voltado para a trans-
fessor o que ele precisa aprender. As aprendizagens signi- formação do ensinar e aprender.
ficativas são construções próprias do sujeito. Ele pode até
sentir a necessidade de mudanças, mas se não entender o
significado essencial de uma proposta pedagógica numa
direção, não saberá como construí-la.
Não basta alguém dizer-lhe que deve fazer diferen-
te se ele não pensar diferente sobre o que faz. Para que
não continuemos repetindo as estratégias e técnicas do

139
Porém, reafirma, no art. 9º, IV, que: “A União incum-
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL bir-se-á de (...) estabelecer, em colaboração com os Es-
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. tados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e
diretrizes para a educação infantil (...) que nortearão os
currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegu-
A expansão da educação no Brasil e no mundo tem rar formação básica comum”.
ocorrido de forma crescente nas últimas décadas, acom- De acordo com a LDB e considerando seu papel e sua
panhando a intensificação da urbanização, a participação responsabilidade na indução, proposição e avaliação das
da mulher no mercado de trabalho e as mudanças na or- políticas públicas relativas à educação nacional, o Minis-
ganização e estrutura das famílias. Por outro lado, a socie- tério da Educação e do Desporto propõe, por meio deste
dade está mais consciente da importância das experiên- documento, um Referencial Curricular Nacional para a
cias na primeira infância, o que motiva demandas por uma Educação Infantil.
educação institucional para crianças de zero a seis anos. Características do Referencial Curricular Nacional
A conjunção desses fatores ensejou um movimento da para a Educação Infantil
sociedade civil e de órgãos governamentais para que o Este documento constitui-se em um conjunto de re-
atendimento às crianças de zero a seis anos fosse reco- ferências e orientações pedagógicas que visam a contri-
nhecido na Constituição Federal de 1988. A partir de en- buir com a implantação ou implementação de práticas
tão, a educação infantil em creches e pré-escolas passou a educativas de qualidade que possam promover e ampliar
ser, ao menos do ponto de vista legal, um dever do Estado as condições necessárias para o exercício da cidadania
e um direito da criança (artigo 208, inciso IV). O Estatuto das crianças brasileiras.
da Criança e do Adolescente, de 1990, destaca também o Sua função é contribuir com as políticas e programas
direito da criança a este atendimento. de educação infantil, socializando informações, discus-
Reafirmando essas mudanças, a Lei de Diretrizes e Ba- sões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de
ses da Educação Nacional, Lei nº 9.394, promulgada em técnicos, professores e demais profissionais da educação
dezembro de 1996, estabelece de forma incisiva o vínculo infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e
entre o atendimento às crianças de zero a seis anos e a municipais.
educação. Aparecem, ao longo do texto, diversas referên- Considerando-se as especificidades afetivas, emocio-
cias específicas à educação infantil. nais, sociais e cognitivas das crianças de zero a seis anos,
No título III, Do Direito à Educação e do Dever de Edu- a qualidade das experiências oferecidas que podem con-
car, art. 4o, IV, se afirma que: “O dever do Estado com edu- tribuir para o exercício da cidadania devem estar emba-
cação escolar pública será efetivado mediante a garantia sadas nos seguintes princípios:
de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas às
crianças de zero a seis anos de idade”. Tanto as creches - o respeito à dignidade e aos direitos das crianças,
para as crianças de zero a três anos como as pré-escolas, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, eco-
para as de quatro a seis anos, são consideradas como ins- nômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.;
tituições de educação infantil. A distinção entre ambas é - o direito das crianças a brincar, como forma particu-
feita apenas pelo critério de faixa etária. lar de expressão, pensamento, interação e comunicação
A educação infantil é considerada a primeira etapa da infantil;
educação básica (título V, capítulo II, seção II, art. 29), ten- - o acesso das crianças aos bens socioculturais dispo-
do como finalidade o desenvolvimento integral da criança níveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades re-
até seis anos de idade. O texto legal marca ainda a com- lativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao
plementaridade entre as instituições de educação infantil pensamento, à ética e à estética;
e a família. - a socialização das crianças por meio de sua partici-
Outras questões importantes para este nível de edu- pação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais,
cação são tratadas na LDB, como as que se referem à for- sem discriminação de espécie alguma;
mação dos profissionais, as relativas à educação especial - o atendimento aos cuidados essenciais associados à
e à avaliação. sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade.
Considerando a grande distância entre o que diz o tex- A estes princípios cabe acrescentar que as crianças
to legal e a realidade da educação infantil, a LDB dispõe têm direito, antes de tudo, de viver experiências pra-
no título IX, Das Disposições Transitórias, art. 89, que: “As zerosas nas instituições. O conjunto de propostas aqui
creches e pré-escolas existentes ou que venham a ser cria- expressas responde às necessidades de referências na-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

das deverão, no prazo de três anos, a contar da publicação cionais, como ficou explicitado em um estudo recente
desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino”. elaborado pelo Ministério da Educação e do Desporto,
No título IV, que trata da organização da Educação que resultou na publicação do documento “Proposta
Nacional, art. 11, V, considera-se que: “Os Municípios pedagógica e currículo em educação infantil: um diag-
incumbir-se-ão de: (...) oferecer a educação infantil em nóstico e a construção de uma metodologia de análise.”
creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino funda- Nesse documento, constatou-se que são inúmeras e di-
mental, permitida a atuação em outros níveis de ensino versas as propostas de currículo para a educação infantil
quando estiverem atendidas plenamente as necessida- que têm sido elaboradas, nas últimas décadas, em várias
des de sua área de competência e com recursos acima partes do Brasil. Essas propostas, tão diversas e hete-
dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição rogêneas quanto o é a sociedade brasileira, refletem o
Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino”. nível de articulação de três instâncias determinantes na

140
construção de um projeto educativo para a educação infantil. São elas: a das práticas sociais, a das políticas públicas e
a da sistematização dos conhecimentos pertinentes a essa etapa educacional. Porém, se essa vasta produção revela a
riqueza de soluções encontradas nas diferentes regiões brasileiras, ela revela, também, as desigualdades de condições
institucionais para a garantia da qualidade nessa etapa educacional.
Considerando e respeitando a pluralidade e diversidade da sociedade brasileira e das diversas propostas curricu-
lares de educação infantil existentes, este Referencial é uma proposta aberta, flexível e não obrigatória, que poderá
subsidiar os sistemas educacionais, que assim o desejarem, na elaboração ou implementação de programas e currículos
condizentes com suas realidades e singularidades. Seu caráter não obrigatório visa a favorecer o diálogo com propos-
tas e currículos que se constroem no cotidiano das instituições, sejam creches, pré-escolas ou nos diversos grupos de
formação existentes nos diferentes sistemas.
Nessa perspectiva, o uso deste Referencial só tem sentido se traduzir a vontade dos sujeitos envolvidos com a edu-
cação das crianças, sejam pais, professores, técnicos e funcionários de incorporá-lo no projeto educativo da instituição
ao qual estão ligados.
Se por um lado, o Referencial pode funcionar como elemento orientador de ações na busca da melhoria de qua-
lidade da educação infantil brasileira, por outro, não tem a pretensão de resolver os complexos problemas dessa
etapa educacional. A busca da qualidade do atendimento envolve questões amplas ligadas às políticas públicas, às
decisões de ordem orçamentária, à implantação de políticas de recursos humanos, ao estabelecimento de padrões de
atendimento que garantam espaço físico adequado, materiais em quantidade e qualidade suficientes e à adoção de
propostas educacionais compatíveis com a faixa etária nas diferentes modalidades de atendimento, para as quais este
Referencial pretende dar sua contribuição.

Algumas considerações sobre creches e pré-escolas


O atendimento institucional à criança pequena, no Brasil e no mundo, apresenta ao longo de sua história concepções
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bastante divergentes sobre sua finalidade social. Grande parte dessas instituições nasceram com o objetivo de atender ex-
clusivamente às crianças de baixa renda. O uso de creches e de programas pré-escolares como estratégia para combater a
pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças foi, durante muitos anos, justificativa para a existência de
atendimentos de baixo custo, com aplicações orçamentárias insuficientes, escassez de recursos materiais; precariedade de
instalações; formação insuficiente de seus profissionais e alta proporção de crianças por adultos.
Constituir-se em um equipamento só para pobres, principalmente no caso das instituições de educação infantil, financia-
das ou mantidas pelo poder público, significou em muitas situações atuar de forma compensatória para sanar as supostas
faltas e carências das crianças e de suas famílias. A tônica do trabalho institucional foi pautada por uma visão que estigma-
tizava a população de baixa renda. Nessa perspectiva, o atendimento era entendido como um favor oferecido para poucos,
selecionados por critérios excludentes. A concepção educacional era marcada por características assistencialistas, sem con-
siderar as questões de cidadania ligadas aos ideais de liberdade e igualdade.

141
Modificar essa concepção de educação assistencialista A criança
significa atentar para várias questões que vão muito além
dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as es- A concepção de criança é uma noção historicamente
pecificidades da educação infantil e rever concepções sobre construída e consequentemente vem mudando ao longo
a infância, as relações entre classes sociais, as responsabili- dos tempos, não se apresentando de forma homogênea
dades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e épo-
pequenas.
ca. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma
Embora haja um consenso sobre a necessidade de que
cidade existam diferentes maneiras de se considerar as
a educação para as crianças pequenas deva promover a
integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, crianças pequenas dependendo da classe social a qual
cognitivos e sociais da criança, considerando que esta é um pertencem e/ou do grupo étnico do qual fazem parte.
ser completo e indivisível, as divergências estão exatamente Boa parte das crianças pequenas brasileiras enfrenta um
no que se entende sobre o que seja trabalhar com cada um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito
desses aspectos. cedo a precárias condições de vida e ao trabalho infan-
Há práticas que privilegiam os cuidados físicos, partin- til, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras
do de concepções que compreendem a criança pequena crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo
como carente, frágil, dependente e passiva, e que levam à de suas famílias e da sociedade em geral todos os cui-
construção de procedimentos e rotinas rígidas, dependen- dados necessários ao seu desenvolvimento. Essa duali-
tes todo o tempo da ação direta do adulto. Isso resulta em dade revela a contradição e conflito de uma sociedade
períodos longos de espera entre um cuidado e outro, sem que não resolveu ainda as grandes desigualdades sociais
que a singularidade e individualidade de cada criança seja presentes no cotidiano.
respeitada. Essas práticas tolhem a possibilidade de inde-
A criança como todo ser humano, é um sujeito social
pendência e as oportunidades das crianças de aprenderem
e histórico e faz parte de uma organização familiar que
sobre o cuidado de si, do outro e do ambiente. Em con-
cepções mais abrangentes os cuidados são compreendidos está inserida em uma sociedade, com uma determinada
como aqueles referentes à proteção, saúde e alimentação, cultura, em um determinado momento histórico. É pro-
incluindo as necessidades de afeto, interação, estimulação, fundamente marcada pelo meio social em que se desen-
segurança e brincadeiras que possibilitem a exploração e a volvem, mas também o marca. A criança tem na família,
descoberta. biológica ou não, um ponto de referência fundamental,
Outras práticas têm privilegiado as necessidades emo- apesar da multiplicidade de interações sociais que esta-
cionais apresentando os mais diversos enfoques ao longo belece com outras instituições sociais.
da história do atendimento infantil. A preocupação com o
desenvolvimento emocional da criança pequena resultou
em propostas nas quais, principalmente nas creches, os As crianças possuem uma natureza singular, que as
profissionais deveriam atuar como substitutos maternos. caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo
Outra tendência foi usar o espaço de educação infan-
de um jeito muito próprio. Nas interações que estabele-
til para o desenvolvimento de uma pedagogia relacional,
cem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas
baseada exclusivamente no estabelecimento de relações
pessoais intensas entre adultos e crianças. Desenvolvi- e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu
mento cognitivo é outro assunto polêmico presente em esforço para compreender o mundo em que vivem, as
algumas práticas. relações contraditórias que presenciam e, por meio das
O termo “cognitivo” aparece ora especificamente li- brincadeiras, explicitam as condições de vida a que es-
gado ao desenvolvimento das estruturas do pensamen- tão submetidas e seus anseios e desejos. No processo
to, ou seja, da capacidade de generalizar, recordar, for- de construção do conhecimento, as crianças se utilizam
mar conceitos e raciocinar logicamente, ora se referindo das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade
a aprendizagens de conteúdos específicos. A polêmica que possuem de terem ideias e hipóteses originais so-
entre a concepção que entende que a educação deve bre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva as
principalmente promover a construção das estruturas crianças constroem o conhecimento a partir das intera-
cognitivas e aquela que enfatiza a construção de conhe- ções que estabelecem com as outras pessoas e com o
cimentos como meta da educação, pouco contribui por- meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em
que o desenvolvimento das capacidades cognitivas do cópia da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho
pensamento humano mantém uma relação estreita com de criação, significação e ressignificação.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o processo das aprendizagens específicas que as expe-


Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particu-
riências educacionais podem proporcionar. Polêmicas
lar das crianças serem e estarem no mundo é o grande
sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na relação
pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou desafio da educação infantil e de seus profissionais. Em-
para o conhecimento tem constituído, portanto, o pano- bora os conhecimentos derivados da psicologia, antro-
rama de fundo sobre o qual se constroem as propostas pologia, sociologia, medicina etc. possam ser de grande
em educação infantil. valia para desvelar o universo infantil apontando algu-
A elaboração de propostas educacionais veicula ne- mas características comuns de ser das crianças, elas per-
cessariamente concepções sobre criança, educar, cuidar manecem únicas em suas individualidades e diferenças.
e aprendizagem, cujos fundamentos devem ser conside-
rados de maneira explícita.

142
Educar O desenvolvimento integral depende tanto dos cuida-
dos relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cui-
Nas últimas décadas, os debates em nível nacional dados com os aspectos biológicos do corpo, como a quali-
e internacional apontam para a necessidade de que as dade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto
instituições de educação infantil incorporem de maneira da forma como esses cuidados são oferecidos e das opor-
integrada as funções de educar e cuidar, não mais dife- tunidades de acesso a conhecimentos variados.
renciando nem hierarquizando os profissionais e institui- As atitudes e procedimentos de cuidado são influencia-
ções que atuam com as crianças pequenas e/ou aqueles dos por crenças e valores em torno da saúde, da educação
que trabalham com as maiores. As novas funções para e do desenvolvimento infantil. Embora as necessidades hu-
a educação infantil devem estar associadas a padrões manas básicas sejam comuns, como alimentar-se, proteger-
-se etc. as formas de identifica-las, valorizá-las e atendê-las
de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de
são construídas socialmente. As necessidades básicas po-
desenvolvimento que consideram as crianças nos seus
dem ser modificadas e acrescidas de outras de acordo com
contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concreta- o contexto sociocultural. Pode-se dizer que além daquelas
mente, nas interações e práticas sociais que lhes forne- que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são
cem elementos relacionados às mais diversas linguagens também base para o desenvolvimento infantil.
e ao contato com os mais variados conhecimentos para a A identificação dessas necessidades sentidas e expres-
construção de uma identidade autônoma. sas pelas crianças, depende também da compreensão
A instituição de educação infantil deve tornar aces- que o adulto tem das várias formas de comunicação que
sível a todas as crianças que a frequentam, indiscrimi- elas, em cada faixa etária possuem e desenvolvem. Prestar
nadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu atenção e valorizar o choro de um bebê e responder a ele
desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel so- com um cuidado ou outro depende de como é interpre-
cializador, propiciando o desenvolvimento da identidade tada a expressão de choro, e dos recursos existentes para
das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, responder a ele. É possível que alguns adultos conversem
realizadas em situações de interação. com o bebê tentando acalmá-lo, ou que peguem-no ime-
Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer diatamente no colo, embalando-o. Em determinados con-
às crianças condições para as aprendizagens que ocor- textos socioculturais, é possível que o adulto que cuida da
rem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações criança, tendo como base concepções de desenvolvimento
pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas e aprendizagem infantis, de educação e saúde, acredite que
os bebês devem aprender a permanecer no berço, após
pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas
serem alimentados e higienizados, e, portanto, não consi-
aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira
derem o embalo como um cuidado, mas como uma ação
integrada no processo de desenvolvimento infantil. que pode “acostumar mal” a criança. Em outras culturas, o
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuida- embalo tem uma grande importância no cuidado de bebês,
dos, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma inte- tanto que existem berços próprios para embalar.
grada e que possam contribuir para o desenvolvimento das O cuidado precisa considerar, principalmente, as neces-
capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar sidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e
com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualida-
e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos de do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado
mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, também precisam seguir os princípios de promoção à saú-
a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capaci- de. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preser-
dades de apropriação e conhecimento das potencialidades vação da vida e com o desenvolvimento das capacidades
corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na pers- humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos
pectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e estejam baseados em conhecimentos específicos sobre o
saudáveis. desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das
crianças, levando em consideração as diferentes realidades
Cuidar socioculturais.
Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometi-
do com o outro, com sua singularidade, ser solidário com
Contemplar o cuidado na esfera da instituição da edu-
suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso
cação infantil significa compreendê-lo como parte inte-
depende a construção de um vínculo entre quem cuida e
grante da educação, embora possa exigir conhecimentos, quem é cuidado.
habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pe-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Além da dimensão afetiva e relacional do cuidado, é


dagógica. Ou seja, cuidar de uma criança em um contexto preciso que o professor possa ajudar a criança a identificar
educativo demanda a integração de vários campos de co- suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de
nhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes forma adequada. Assim, cuidar da criança é sobretudo dar
áreas. atenção a ela como pessoa que está num contínuo cresci-
A base do cuidado humano é compreender como aju- mento e desenvolvimento, compreendendo sua singulari-
dar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar dade, identificando e respondendo às suas necessidades.
significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O Isto inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o
cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação
possui uma dimensão expressiva e implica em procedimen- deste conhecimento e de suas habilidades, que aos poucos
tos específicos. a tornarão mais independente e mais autônoma.

143
Brincar Para brincar é preciso que as crianças tenham certa
independência para escolher seus companheiros e os
Para que as crianças possam exercer sua capacidade de papéis que irão assumir no interior de um determinado
criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas ex- tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem uni-
periências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam camente da vontade de quem brinca.
elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que Pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imagi-
ocorrem por meio de uma intervenção direta. nativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem
A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém acionar seus pensamentos para a resolução de proble-
um vínculo essencial com aquilo que é o “não-brincar”. Se mas que lhe são importantes e significativos. Propician-
a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imagina- do a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual
ção isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da as crianças podem experimentar o mundo e internalizar
linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver uma compreensão particular sobre as pessoas, os senti-
consciência da diferença existente entre a brincadeira e a mentos e os diversos conhecimentos.
realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para reali- O brincar apresenta-se por meio de várias categorias
zar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de de experiências que são diferenciadas pelo uso do mate-
elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes rial ou dos recursos predominantemente implicados. Es-
novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre sas categorias incluem: o movimento e as mudanças da
por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da percepção resultantes essencialmente da mobilidade físi-
realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, ca das crianças; a relação com os objetos e suas proprie-
no plano das emoções e das ideias, de uma realidade ante- dades físicas assim como a combinação e associação en-
riormente vivenciada. tre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários
Isso significa que uma criança que, por exemplo, bate níveis de organização a serem utilizados para brincar; os
ritmicamente com os pés no chão e imagina-se cavalgan- conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e ati-
do um cavalo, está orientando sua ação pelo significado da tudes que se referem à forma como o universo social se
situação e por uma atitude mental e não somente pela per- constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras,
cepção imediata dos objetos e situações. constituindo-se em um recurso fundamental para brin-
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os car. Estas categorias de experiências podem ser agrupa-
espaços valem e significam outra coisa daquilo que apa- das em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de
rentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam faz-de-conta ou com papéis, considerada como atividade
os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que fundamental da qual se originam todas as outras; brincar
estão brincando. com materiais de construção e brincar com regras.
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de cons-
O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, trução e aqueles que possuem regras, como os jogos de
é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro),
outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a
realidade de maneira não-literal, transferindo e substi- ampliação dos conhecimentos infantis por meio da ativi-
tuindo suas ações cotidianas pelas ações e características dade lúdica.
do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na
A brincadeira favorece a autoestima das crianças, au- instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brinca-
xiliando-as a superar progressivamente suas aquisições deiras na vida das crianças. Consequentemente é ele que
de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interio- organiza sua base estrutural, por meio da oferta de deter-
rização de determinados modelos de adulto, no âmbito minados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da de-
de grupos sociais diversos. limitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar.
Essas significações atribuídas ao brincar transfor- Por meio das brincadeiras os professores podem ob-
mam-no em um espaço singular de constituição infantil. servar e constituir uma visão dos processos de desen-
Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhe- volvimento das crianças em conjunto e de cada uma em
cimentos que já possuíam anteriormente em conceitos particular, registrando suas capacidades de uso das lin-
gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir guagens, assim como de suas capacidades sociais e dos
um determinado papel numa brincadeira, a criança deve recursos afetivos e emocionais que dispõem.
conhecer alguma de suas características. A intervenção intencional baseada na observação das
Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém brincadeiras das crianças, oferecendo-lhes material ade-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na fa- quado, assim como um espaço estruturado para brincar
mília ou em outros ambientes, do relato de um colega ou permite o enriquecimento das competências imaginati-
de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema vas, criativas e organizacionais infantis. Cabe ao professor
ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimen- organizar situações para que as brincadeiras ocorram de
tos é múltipla, mas estes encontram-se, ainda, fragmen- maneira diversificada para propiciar às crianças a possi-
tados. É no ato de brincar que a criança estabelece os bilidade de escolherem os temas, papéis, objetos e com-
diferentes vínculos entre as características do papel assu- panheiros com quem brincar ou os jogos de regras e de
mido, suas competências e as relações que possuem com construção, e assim elaborarem de forma pessoal e inde-
outros papéis, tomando consciência disto e generalizan- pendente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e
do para outras situações. regras sociais.

144
É preciso que o professor tenha consciência que na - a individualidade e a diversidade;
brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que - o grau de desafio que as atividades apresentam e o
sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, fato de que devam ser significativas e apresentadas de ma-
em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa pers- neira integrada para as crianças e o mais próximas possí-
pectiva não se deve confundir situações nas quais se ob- veis das práticas sociais reais;
jetiva determinadas aprendizagens relativas a conceitos, - a resolução de problemas como forma de aprendiza-
procedimentos ou atitudes explícitas com aquelas nas gem.
quais os conhecimentos são experimentados de uma ma-
neira espontânea e destituída de objetivos imediatos pe-
Essas considerações podem estruturar-se nas seguin-
las crianças. Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, espe-
tes condições gerais relativas às aprendizagens infantis a
cialmente aqueles que possuem regras, como atividades
serem seguidas pelo professor em sua prática educativa.
didáticas. É preciso, porém, que o professor tenha cons-
ciência que as crianças não estarão brincando livremente
nestas situações, pois há objetivos didáticos em questão. Interação

Aprender em situações orientadas A interação social em situações diversas é uma das es-
tratégias mais importantes do professor para a promoção
A organização de situações de aprendizagens orien- de aprendizagens pelas crianças. Assim, cabe ao profes-
tadas ou que dependem de uma intervenção direta do sor propiciar situações de conversa, brincadeiras ou de
professor permite que as crianças trabalhem com diver- aprendizagens orientadas que garantam a troca entre as
sos conhecimentos. Estas aprendizagens devem estar ba- crianças, de forma a que possam comunicar-se e expres-
seadas não apenas nas propostas dos professores, mas, sar-se, demonstrando seus modos de agir, de pensar e
essencialmente, na escuta das crianças e na compreensão de sentir, em um ambiente acolhedor e que propicie a
do papel que desempenham a experimentação e o erro confiança e a autoestima. A existência de um ambiente
na construção do conhecimento. acolhedor, porém, não significa eliminar os conflitos, dis-
A intervenção do professor é necessária para que, na putas e divergências presentes nas interações sociais, mas
instituição de educação infantil, as crianças possam, em pressupõe que o professor forneça elementos afetivos e
situações de interação social ou sozinhas, ampliar suas
de linguagem para que as crianças aprendam a conviver,
capacidades de apropriação dos conceitos, dos códigos
buscando as soluções mais adequadas para as situações
sociais e das diferentes linguagens, por meio da expres-
com as quais se defrontam diariamente. As capacidades
são e comunicação de sentimentos e ideias, da experi-
mentação, da reflexão, da elaboração de perguntas e res- de interação, porém, são também desenvolvidas quando
postas, da construção de objetos e brinquedos etc. Para as crianças podem ficar sozinhas, quando elaboram suas
isso, o professor deve conhecer e considerar as singula- descobertas e sentimentos e constroem um sentido de
ridades das crianças de diferentes idades, assim como a propriedade para as ações e pensamentos já comparti-
diversidade de hábitos, costumes, valores, crenças, etnias lhados com outras crianças e com os adultos, o que vai
etc. das crianças com as quais trabalha respeitando suas potencializar novas interações. Nas situações de troca,
diferenças e ampliando suas pautas de socialização. podem desenvolver os conhecimentos e recursos de que
Nessa perspectiva, o professor é mediador entre as dispõem, confrontando-os e reformulando-os.
crianças e os objetos de conhecimento, organizando e Nessa perspectiva, o professor deve refletir e discutir
propiciando espaços e situações de aprendizagens que com seus pares sobre os critérios utilizados na organiza-
articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, ção dos agrupamentos e das situações de interação, mes-
sociais e cognitivas de cada criança aos seus conheci- mo entre bebês, visando, sempre que possível, a auxiliar
mentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferen- as trocas entre as crianças e, ao mesmo tempo, garan-
tes campos de conhecimento humano. Na instituição tir-lhes o espaço da individualidade. Assim, em determi-
de educação infantil o professor constitui-se, portanto, nadas situações, é aconselhável que crianças com níveis
no parceiro mais experiente, por excelência, cuja função
de desenvolvimento diferenciados interajam; em outras,
é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, sau-
deve-se garantir uma proximidade de crianças com in-
dável e não discriminatório de experiências educativas e
teresses e níveis de desenvolvimento semelhantes. Pro-
sociais variadas.
Para que as aprendizagens infantis ocorram com su- piciar a interação quer dizer, portanto, considerar que as
cesso, é preciso que o professor considere, na organiza- diferentes formas de sentir, expressar e comunicar a rea-
lidade pelas crianças resultam em respostas diversas que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ção do trabalho educativo:


são trocadas entre elas e que garantem parte significati-
- a interação com crianças da mesma idade e de idades va de suas aprendizagens. Uma das formas de propiciar
diferentes em situações diversas como fator de promoção essa troca é a socialização de suas descobertas, quando o
da aprendizagem e do desenvolvimento e da capacidade professor organiza as situações para que as crianças com-
de relacionar-se; partilhem seus percursos individuais na elaboração dos
- os conhecimentos prévios de qualquer natureza, que diferentes trabalhos realizados.
as crianças já possuem sobre o assunto, já que elas apren- Portanto, é importante frisar que as crianças se desen-
dem por meio de uma construção interna ao relacionar volvem em situações de interação social, nas quais con-
suas ideias com as novas informações de que dispõem e flitos e negociação de sentimentos, ideias e soluções são
com as interações que estabelece; elementos indispensáveis.

145
O âmbito social oferece, portanto, ocasiões únicas verbalmente. A observação acurada das crianças é um
para elaborar estratégias de pensamento e de ação, pos- instrumento essencial nesse processo. Os gestos, movi-
sibilitando a ampliação das hipóteses infantis. Pode-se es- mentos corporais, sons produzidos, expressões faciais, as
tabelecer, nesse processo, uma rede de reflexão e cons- brincadeiras e toda forma de expressão, representação
trução de conhecimentos na qual tanto os parceiros mais e comunicação devem ser consideradas como fonte de
experientes quanto os menos experientes têm seu papel conhecimento para o professor sobre o que a criança já
na interpretação e ensaio de soluções. A interação permi- sabe. Com relação às crianças maiores, podem-se tam-
te que se crie uma situação de ajuda na qual as crianças bém criar situações intencionais nas quais elas sejam
avancem no seu processo de aprendizagem. capazes de explicitar seus conhecimentos por meio das
diversas linguagens a que têm acesso.
Diversidade e Individualidade
Resolução de Problemas
Cabe ao professor a tarefa de individualizar as situa-
ções de aprendizagens oferecidas às crianças, conside- Nas situações de aprendizagem o problema adquire
rando suas capacidades afetivas, emocionais, sociais e um sentido importante quando as crianças buscam solu-
cognitivas assim como os conhecimentos que possuem ções e discutem-nas com as outras crianças. Não se trata
dos mais diferentes assuntos e suas origens sociocultu- de situações que permitam “aplicar” o que já se sabe,
rais diversas. Isso significa que o professor deve planejar mas sim daquelas que possibilitam produzir novos co-
e oferecer uma gama variada de experiências que respon- nhecimentos a partir dos que já se tem e em interação
da, simultaneamente, às demandas do grupo e às indivi- com novos desafios. Neste processo, o professor deve
dualidades de cada criança. reconhecer as diferentes soluções, socializando os resul-
Considerar que as crianças são diferentes entre si, im- tados encontrados.
plica propiciar uma educação baseada em condições de
aprendizagem que respeitem suas necessidades e ritmos Proximidade com as práticas sociais reais
individuais, visando a ampliar e a enriquecer as capaci-
dades de cada criança, considerando-as como pessoas
A prática educativa deve buscar situações de aprendi-
singulares e com características próprias. Individualizar a
zagens que reproduzam contextos cotidianos nos quais,
educação infantil, ao contrário do que se poderia supor,
por exemplo, escrever, contar, ler, desenhar, procurar
não é marcar e estigmatizar as crianças pelo que diferem,
uma informação etc. tenha uma função real. Isto é, es-
mas levar em conta suas singularidades, respeitando-as
creve-se para guardar uma informação, para enviar uma
e valorizando-as como fator de enriquecimento pessoal
mensagem, contam-se tampinhas para fazer uma cole-
e cultural.
ção etc.
Aprendizagem significativa e conhecimentos pré-
vios Educar crianças com necessidades especiais

Os assuntos trabalhados com as crianças devem As pessoas que apresentam necessidades especiais
guardar relações específicas com os níveis de desenvol- (portadores de deficiência mental, auditiva, visual, física
vimento das crianças em cada grupo e faixa etária e, tam- e deficiência múltipla, e portadores de altas habilidades)
bém, respeitar e propiciar a amplitude das mais diversas representam 10% da população brasileira e possuem, em
experiências em relação aos eixos de trabalho propostos. sua grande maioria, uma vasta experiência de exclusão
O processo que permite a construção de aprendi- que se traduz em grandes limitações nas possibilidades
zagens significativas pelas crianças requer uma intensa de convívio social e usufruto dos equipamentos sociais
atividade interna por parte delas. Nessa atividade, as (menos de 3% têm acesso a algum tipo de atendimento),
crianças podem estabelecer relações entre novos con- além de serem submetidas a diversos tipos de discrimi-
teúdos e os conhecimentos prévios (conhecimentos nação
que já possuem), usando para isso os recursos de que Uma ação educativa comprometida com a cidadania
dispõem. Esse processo possibilitará a elas modificarem e com a formação de uma sociedade democrática e não
seus conhecimentos prévios, matizá-los, ampliá-los ou excludente deve, necessariamente, promover o convívio
diferenciá-los em função de novas informações, capa- com a diversidade, que é marca da vida social brasileira.
citando-as a realizar novas aprendizagens, tornando-as Essa diversidade inclui não somente as diversas culturas,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

significativas. os hábitos, os costumes, mas também as competências,


É, portanto, função do professor considerar, como as particularidades de cada um.
ponto de partida para sua ação educativa, os conhe- Aprender a conviver e relacionar-se com pessoas que
cimentos que as crianças possuem, advindos das mais possuem habilidades e competências diferentes, que
variadas experiências sociais, afetivas e cognitivas a que possuem expressões culturais e marcas sociais próprias,
estão expostas. Detectar os conhecimentos prévios das é condição necessária para o desenvolvimento de valo-
crianças não é uma tarefa fácil. Implica que o professor res éticos, como a dignidade do ser humano, o respeito
estabeleça estratégias didáticas para fazê-lo. Quanto ao outro, a igualdade e a equidade e a solidariedade. A
menores são as crianças, mais difícil é a explicitação de criança que conviver com a diversidade nas instituições
tais conhecimentos, uma vez que elas não se comunicam educativas, poderá aprender muito com ela. Pelo lado

146
das crianças que apresentam necessidades especiais, A qualidade do processo de integração depende da es-
o convívio com as outras crianças se torna benéfico na trutura organizacional da instituição, pressupondo propos-
medida em que representa uma inserção de fato no uni- tas que considerem:
verso social e favorece o desenvolvimento e a aprendiza-
gem, permitindo a formação de vínculos estimuladores, - grau de deficiência e as potencialidades de cada
o confronto com a diferença e o trabalho com a própria criança;
dificuldade. - idade cronológica;
Os avanços no pensamento sociológico, filosófico e - disponibilidade de recursos humanos e materiais
legal vêm exigindo, por parte do sistema educacional existentes na comunidade;
brasileiro, o abandono de práticas segregacionistas que, - condições socioeconômicas e culturais da região;
ao longo da história, marginalizaram e estigmatizaram - estágio de desenvolvimento dos serviços de educação
pessoas com diferenças individuais acentuadas. A LDB, especial já implantado nas unidades federadas.
no seu capítulo V, Da Educação Especial, parágrafo 3º,
determina que: “A oferta de educação especial, dever Para que o processo de integração dessas crianças possa
constitucional do Estado, tem início na faixa etária de acontecer de fato, há que se envolver toda a comunidade,
zero a seis anos, durante a educação infantil”. de forma que o trabalho desenvolvido tenha sustentação.
A Educação Especial, termo cunhado para a educa- É preciso considerar este trabalho como parte do projeto
ção dirigida aos portadores de deficiência, de condutas educativo da instituição.
típicas e de altas habilidades, é considerada pela Cons-
tituição brasileira, como parte inseparável do direito à O Professor de Educação Infantil
educação. A posição da UNESCO, considera a educação
especial como uma forma enriquecida de educação em Embora não existam informações abrangentes sobre os
profissionais que atuam diretamente com as crianças nas
geral, que deve contribuir para a integração na socieda-
creches e pré-escolas do país, vários estudos têm mostrado
de dos portadores de deficiência, de condutas típicas e
que muitos destes profissionais ainda não têm formação
de altas habilidades. O Estatuto da Criança e do Adoles-
adequada, recebem remuneração baixa e trabalham sob
cente, em seu art. 54, III, afirma que: “É dever do estado
condições bastante precárias. Se na pré-escola, constata-se,
assegurar à criança e ao adolescente (...) atendimento
ainda hoje, uma pequena parcela de profissionais conside-
educacional especializado aos portadores de deficiência, rados leigos, nas creches ainda é significativo o número de
preferencialmente na rede regular de ensino”. O MEC de- profissionais sem formação escolar mínima cuja denomina-
senvolve, por intermédio de sua Secretaria de Educação ção é variada: berçarista, auxiliar de desenvolvimento infan-
Especial (SEESP) uma política visando à integração das til, babá, pajem, monitor, recreacionista etc.
crianças portadoras de necessidades especiais ao siste- A constatação dessa realidade nacional diversa e de-
ma de ensino, propondo a inclusão destas crianças nas sigual, porém, foi acompanhada, nas últimas décadas,
instituições de educação infantil. de debates a respeito das diversas concepções sobre
No mundo inteiro tem se observado iniciativas no criança, educação, atendimento institucional e reorde-
sentido da inclusão cada vez maior das crianças com neces- namento legislativo que devem determinar a formação
sidades especiais nos mais diversos espaços sociais, o que de um novo profissional para responder às demandas
culmina hoje com a Declaração de Salamanca, de princípios, atuais de educação da criança de zero a seis anos. As
política e prática das necessidades educativas especiais. funções deste profissional vêm passando, portanto, por
Este documento se inspira “no princípio de integração e no reformulações profundas. O que se esperava dele há al-
reconhecimento da necessidade de ação para conseguir gumas décadas não corresponde mais ao que se espera
escola para todos, isto é, escolas que incluam todo mundo nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates têm indi-
e conheçam as diferenças, promovam a aprendizagem e cado a necessidade de uma formação mais abrangente
atendam às necessidades de cada um”. A realidade brasi- e unificadora para profissionais tanto de creches como
leira, de uma forma geral, exige que se busque alternativas de pré-escolas e de uma restruturação dos quadros de
para a integração do portador de deficiência, de maneira a carreira que leve em consideração os conhecimentos já
garantir-lhe uma convivência participativa. acumulados no exercício profissional, como possibilite a
A Escola Inclusiva é uma tendência internacional deste atualização profissional.
final de século. É considerada Escola Inclusiva aquela que Em resposta a esse debate, a LDB dispõe, no título VI,
abre espaço para todas as crianças, abrangendo aquelas art. 62 que: “A formação de docentes para atuar na edu-
com necessidades especiais. O principal desafio da Escola cação básica far-se-á em nível superior, em curso de li-
Inclusiva é desenvolver uma pedagogia centrada na criança, cenciatura, de graduação plena, em universidades e insti-
capaz de educar a todas, sem discriminação, respeitando tutos superiores de educação, admitida, como formação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

suas diferenças; uma escola que dê conta da diversidade mínima para o exercício do magistério na educação in-
das crianças e ofereça respostas adequadas às suas carac- fantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamen-
terísticas e necessidades, solicitando apoio de instituições tal, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal”.
e especialistas quando isso se fizer necessário. É uma meta Considerando a necessidade de um período de transição
a ser perseguida por todos aqueles comprometidos com o que permita incorporar os profissionais cuja escolaridade
fortalecimento de uma sociedade democrática, justa e soli- ainda não é a exigida e buscando proporcionar um tem-
dária. As alternativas de atendimento educacional às crian- po para adaptação das redes de ensino, esta mesma Lei
ças que apresentam necessidades educativas especiais, no dispõe no título IX, art. 87, § 4º que: “até o fim da década
Brasil, vão desde o atendimento em instituições especiali- da Educação somente serão admitidos professores habi-
zadas até a completa integração nas várias instituições de litados em nível superior ou formados por treinamento
educação. em serviço”.

147
Isto significa que as diferentes redes de ensino deve- Organização do referencial curricular nacional
rão colocar-se a tarefa de investir de maneira sistemática para a educação infantil
na capacitação e atualização permanente e em serviço
de seus professores (sejam das creches ou pré-escolas), A partir do diagnóstico realizado pela COEDI/DPE/
aproveitando as experiências acumuladas daqueles que SEF/MEC das propostas pedagógicas e dos currículos de
educação infantil de vários estados e municípios brasi-
já vêm trabalhando com crianças há mais tempo e com
leiros em 1996, pode-se observar alguns dados impor-
qualidade. Ao mesmo tempo, deverão criar condições de tantes que contribuem para a reflexão sobre a organiza-
formação regular de seus profissionais, ampliando-lhes ção curricular e seus componentes. Essa análise aponta
chances de acesso à carreira como professores de edu- para o fato de que a maioria das propostas concebe a
cação infantil, função que passa a lhes ser garantida pela criança como um ser social, psicológico e histórico, tem
LDB, caso cumpridos os pré-requisitos. Nessa perspecti- no construtivismo sua maior referência teórica, aponta
va, faz-se necessário que estes profissionais, nas institui- o universo cultural da criança como ponto de partida
ções de educação infantil, tenham ou venham a ter uma para o trabalho e defende uma educação democrática
formação inicial sólida e consistente acompanhada de e transformadora da realidade, que objetiva a formação
adequada e permanente atualização em serviço. Assim, de cidadãos críticos. Ao mesmo tempo, constata-se um
grande desencontro entre os fundamentos teóricos ado-
o diálogo no interior da categoria tanto quanto os in-
tados e as orientações metodológicas. Não são explici-
vestimentos na carreira e formação do profissional pelas tadas as formas que possibilitam a articulação entre o
redes de ensino é hoje um desafio presente, com vista à universo cultural das crianças, o desenvolvimento infantil
profissionalização do docente de educação infantil. e as áreas do conhecimento.
Em consonância com a LDB, este Referencial utiliza a Com o objetivo de tornar visível uma possível forma
denominação “professor de educação infantil” para de- de articulação, a estrutura do Referencial Curricular Na-
signar todos os/as profissionais responsáveis pela educa- cional para a Educação Infantil relaciona objetivos gerais
ção direta das crianças de zero a seis anos, tenham eles/ e específicos, conteúdos e orientações didáticas numa
elas uma formação especializada ou não. perspectiva de operacionalização do processo educativo.
Para tanto estabelece uma integração curricular na
qual os objetivos gerais para a educação infantil norteiam
Perfil profissional
a definição de objetivos específicos para os diferentes ei-
xos de trabalho. Desses objetivos específicos decorrem
O trabalho direto com crianças pequenas exige que os conteúdos que possibilitam concretizar as intenções
o professor tenha uma competência polivalente. Ser po- educativas. O tratamento didático que busca garantir a
livalente significa que ao professor cabe trabalhar com coerência entre objetivos e conteúdos se explicita por
conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde meio das orientações didáticas.
cuidados básicos essenciais até conhecimentos especí- Essa estrutura se apoia em uma organização por ida-
ficos provenientes das diversas áreas do conhecimen- des — crianças de zero a três anos e crianças de quatro
to. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma a seis anos — e se concretiza em dois âmbitos de expe-
formação bastante ampla do profissional que deve tor- riências — Formação Pessoal e Social e Conhecimento
nar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constan- de Mundo — que são constituídos pelos seguintes eixos
de trabalho: Identidade e autonomia, Movimento, Artes
temente sobre sua prática, debatendo com seus pares, visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e so-
dialogando com as famílias e a comunidade e buscando ciedade, e Matemática.
informações necessárias para o trabalho que desenvol- Cada documento de eixo se organiza em torno de
ve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a uma estrutura comum, na qual estão explicitadas: as
prática direta com as crianças a observação, o registro, o ideias e práticas correntes relacionadas ao eixo e à crian-
planejamento e a avaliação. ça e aos seguintes componentes curriculares: objetivos;
A implementação e/ou implantação de uma propos- conteúdos e orientações didáticas; orientações gerais
ta curricular de qualidade depende, principalmente dos para o professor e bibliografia.
professores que trabalham nas instituições. Por meio de
suas ações, que devem ser planejadas e compartilhadas Organização por idade
com seus pares e outros profissionais da instituição, po- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
de-se construir projetos educativos de qualidade junto 1996, explicita no art. 30, capítulo II, seção II que: “A edu-
aos familiares e às crianças. A ideia que preside a cons- cação infantil será oferecida em: I - creches ou entidades
trução de um projeto educativo é a de que se trata de um equivalentes para crianças de até três anos de idade; II -
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

processo sempre inacabado, provisório e historicamente pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos”.
contextualizado que demanda reflexão e debates cons- Este Referencial Curricular Nacional para a Educação
tantes com todas as pessoas envolvidas e interessadas. Infantil adota a mesma divisão por faixas etárias con-
Para que os projetos educativos das instituições pos- templada nas disposições da LDB. Embora arbitrária do
sam, de fato, representar esse diálogo e debate constan- ponto de vista das diversas teorias de desenvolvimento,
te, é preciso ter professores que estejam comprometidos buscou-se apontar possíveis regularidades relacionadas
aos aspectos afetivos, emocionais, cognitivos e sociais
com a prática educacional, capazes de responder às de-
das crianças das faixas etárias abrangidas. No entanto,
mandas familiares e das crianças, assim como às ques-
em alguns documentos fez-se uma diferenciação para os
tões específicas relativas aos cuidados e aprendizagens
primeiros 12 meses de vida da criança, considerando-se
infantis.
as especificidades dessa idade.

148
A opção pela organização dos objetivos, conteúdos e ba os interesses momentâneos, as tradições específicas e
orientações didáticas por faixas etárias e não pela desig- as convenções de grupos sociais particulares. O domínio
nação institucional — creche e pré-escola — pretendeu progressivo das diferentes linguagens que favorecem a
também considerar a variação de faixas etárias encontra- expressão e comunicação de sentimentos, emoções e
das nos vários programas de atendimento nas diferentes ideias das crianças, propiciam a interação com os outros
regiões do país, não identificadas com as determinações e facilitam a mediação com a cultura e os conhecimentos
da LDB. constituídos. Incide sobre aspectos essenciais do desen-
volvimento e da aprendizagem e engloba instrumentos
Organização em âmbitos e eixos fundamentais para as crianças continuarem a aprender
ao longo da vida.
Frente ao mundo sociocultural e natural que se apre- Destacam-se os seguintes eixos de trabalho: Movi-
senta de maneira diversa e polissêmica optou-se por um mento, Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita,
recorte curricular que visa a instrumentalizar a ação do
Natureza e sociedade, Matemática.
professor, destacando os âmbitos de experiências es-
Estes eixos foram escolhidos por se constituírem em
senciais que devem servir de referência para a prática
uma parcela significativa da produção cultural humana
educativa. Considerando-se as particularidades da faixa
que amplia e enriquece as condições de inserção das
etária compreendida entre zero e seis anos e suas formas
específicas de aprender criou-se categorias curriculares crianças na sociedade.
para organizar os conteúdos a serem trabalhados nas Componentes curriculares
instituições de educação infantil. Esta organização visa a
abranger diversos e múltiplos espaços de elaboração de Objetivos
conhecimentos e de diferentes linguagens, a construção
da identidade, os processos de socialização e o desen- Os objetivos explicitam intenções educativas e esta-
volvimento da autonomia das crianças que propiciam, belecem capacidades que as crianças poderão desenvol-
por sua vez, as aprendizagens consideradas essenciais. ver como consequência de ações intencionais do pro-
Os âmbitos são compreendidos como domínios ou cam- fessor. Os objetivos auxiliam na seleção de conteúdos e
pos de ação que dão visibilidade aos eixos de trabalho meios didáticos.
educativo para que o professor possa organizar sua prá- A definição dos objetivos em termos de capacidades
tica e refletir sobre a abrangência das experiências que — e não de comportamentos — visa a ampliar a possi-
propicia às crianças. bilidade de concretização das intenções educativas, uma
O Referencial Curricular Nacional para a Educação In- vez que as capacidades se expressam por meio de diver-
fantil define dois âmbitos de experiências: Formação Pes- sos comportamentos e as aprendizagens que convergem
soal e Social e Conhecimento de Mundo. É preciso ressal- para ela podem ser de naturezas diversas. Ao estabelecer
tar que esta organização possui um caráter instrumental objetivos nesses termos, o professor amplia suas possibi-
e didático, devendo os professores ter consciência, em lidades de atendimento à diversidade apresentada pelas
sua prática educativa, que a construção de conhecimen- crianças, podendo considerar diferentes habilidades, in-
tos se processa de maneira integrada e global e que há teresses e maneiras de aprender no desenvolvimento de
inter-relações entre os diferentes âmbitos a serem traba- cada capacidade.
lhados com as crianças. Embora as crianças desenvolvam suas capacidades de
O âmbito de Formação Pessoal e Social refere-se às maneira heterogênea, a educação tem por função criar
experiências que favorecem, prioritariamente, a constru-
condições para o desenvolvimento integral de todas as
ção do sujeito. Está organizado de forma a explicitar as
crianças, considerando, também, as possibilidades de
complexas questões que envolvem o desenvolvimento
aprendizagem que apresentam nas diferentes faixas etá-
de capacidades de natureza global e afetiva das crianças,
rias. Para que isso ocorra, faz-se necessário uma atuação
seus esquemas simbólicos de interação com os outros e
com o meio, assim como a relação consigo mesmas. O que propicia o desenvolvimento de capacidades envol-
trabalho com este âmbito pretende que as instituições vendo aquelas de ordem física, afetiva, cognitiva, ética,
possam oferecer condições para que as crianças apren- estética, de relação interpessoal e inserção social.
dam a conviver, a ser e a estar com os outros e consigo As capacidades de ordem física estão associadas à
mesmas em uma atitude básica de aceitação, de respeito possibilidade de apropriação e conhecimento das po-
e de confiança. tencialidades corporais, ao autoconhecimento, ao uso do
Este âmbito abarca um eixo de trabalho denominado corpo na expressão das emoções, ao deslocamento com
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Identidade e autonomia. O âmbito de Conhecimento de segurança.


Mundo se refere à construção das diferentes linguagens As capacidades de ordem cognitiva estão associadas
pelas crianças e às relações que estabelecem com os ob- ao desenvolvimento dos recursos para pensar, o uso e
jetos de conhecimento. Este âmbito traz uma ênfase na apropriação de formas de representação e comunicação
relação das crianças com alguns aspectos da cultura. envolvendo resolução de problemas.
A cultura é aqui entendida de uma forma ampla e plu- As capacidades de ordem afetiva estão associadas à
ral, como o conjunto de códigos e produções simbólicas, construção da autoestima, às atitudes no convívio social,
científicas e sociais da humanidade construído ao longo à compreensão de si mesmo e dos outros.
das histórias dos diversos grupos, englobando múltiplos As capacidades de ordem estética estão associadas
aspectos e em constante processo de reelaboração e res- à possibilidade de produção artística e apreciação desta
significação. Esta ideia de cultura transcende, mas englo- produção oriundas de diferentes culturas.

149
As capacidades de ordem ética estão associadas à Nos eixos de trabalho, estas categorias de conteúdos
possibilidade de construção de valores que norteiam a estão contempladas embora não estejam explicitadas de
ação das crianças. forma discriminada.
As capacidades de relação interpessoal estão asso- A seguir, as categorias de conteúdos serão melhor ex-
ciadas à possibilidade de estabelecimento de condições plicadas de forma a subsidiar a reflexão e o planejamento
para o convívio social. Isso implica aprender a conviver do professor.
com as diferenças de temperamentos, de intenções, de Os conteúdos conceituais referem-se à construção
hábitos e costumes, de cultura etc. ativa das capacidades para operar com símbolos, ideias,
As capacidades de inserção social estão associadas à imagens e representações que permitem atribuir sentido
possibilidade de cada criança perceber-se como membro à realidade.
participante de um grupo de uma comunidade e de uma
sociedade. Desde os conceitos mais simples até os mais com-
Para que se possa atingir os objetivos é necessário
plexos, a aprendizagem se dá por meio de um processo
selecionar conteúdos que auxiliem o desenvolvimento
de constantes idas e vindas, avanços e recuos nos quais
destas capacidades.
as crianças constroem ideias provisórias, ampliam-nas e
Conteúdos modificam-nas, aproximando-se gradualmente de con-
ceitualizações cada vez mais precisas.
As diferentes aprendizagens se dão por meio de su- O conceito que uma criança faz do que seja um ca-
cessivas reorganizações do conhecimento, e este pro- chorro, por exemplo, depende das experiências que ela
cesso é protagonizado pelas crianças quando podem tem que envolvam seu contato com cachorros. Se num
vivenciar experiências que lhes forneçam conteúdos primeiro momento, ela pode, por exemplo, designar
apresentados de forma não simplificada e associados a como “Au-Au” todo animal, fazendo uma generalização
práticas sociais reais. É importante marcar que não há provisória, o acesso a uma nova informação, por exem-
aprendizagem sem conteúdos. plo, o fato de que gatos diferem de cachorros, permite-
Pesquisas e produções teóricas realizadas, principal- -lhe reorganizar o conhecimento que possui e modificar
mente durante a última década, apontam a importância a ideia que tem sobre o que é um cachorro. Esta con-
das aprendizagens específicas para os processos de de- ceitualização, ainda provisória, será suficiente por algum
senvolvimento e socialização do ser humano, ressignifi- tempo — até o momento em que ela entrar em contato
cando o papel dos conteúdos nos processos de apren- com um novo conhecimento.
dizagem. Assim, deve-se ter claro que alguns conteúdos con-
Muitas das pautas culturais e saberes socialmente ceituais são possíveis de serem apropriados pelas crian-
constituídos são aprendidos por meio do contato direto ças durante o período da educação infantil. Outros não,
ou indireto com atividades diversas, que ocorrem nas di- e estes necessitarão de mais tempo para que possam ser
ferentes situações de convívio social das quais as crianças construídos. Isso significa dizer que muitos conteúdos
participam no âmbito familiar e cotidiano. serão trabalhados com o objetivo apenas de promover
Outras aprendizagens, no entanto, dependem de si- aproximações a um determinado conhecimento, de co-
tuações educativas criadas especialmente para que ocor- laborar para elaboração de hipóteses e para a manifesta-
ram. O planejamento dessas situações envolve a seleção ção de formas originais de expressão.
de conteúdos específicos a essas aprendizagens. Os conteúdos procedimentais referem-se ao saber
Nessa perspectiva, este Referencial concebe os con-
fazer. A aprendizagem de procedimentos está direta-
teúdos, por um lado, como a concretização dos propósi-
mente relacionada à possibilidade de a criança construir
tos da instituição e, por outro, como um meio para que
instrumentos e estabelecer caminhos que lhes possibili-
as crianças desenvolvam suas capacidades e exercitem
sua maneira própria de pensar, sentir e ser, ampliando tem a realização de suas ações. Longe de ser mecânica
suas hipóteses acerca do mundo ao qual pertencem e e destituída de sentido, a aprendizagem de procedimen-
constituindo-se em um instrumento para a compreen- tos constitui-se em um importante componente para o
são da realidade. Os conteúdos abrangem, para além de desenvolvimento das crianças, pois relaciona-se a um
fatos, conceitos e princípios, também os conhecimentos percurso de tomada de decisões. Desenvolver procedi-
relacionados a procedimentos, atitudes, valores e nor- mentos significa apropriar-se de “ferramentas” da cultura
mas como objetos de aprendizagem. A explicitação de humana necessárias para viver. No que se refere à edu-
conteúdos de naturezas diversas aponta para a neces- cação infantil, saber manipular corretamente os objetos
sidade de se trabalhar de forma intencional e integrada de uso cotidiano que existem à sua volta, por exemplo, é
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

com conteúdos que, na maioria das vezes, não são trata- um procedimento fundamental, que responde às neces-
dos de forma explícita e consciente. sidades imediatas para inserção no universo mais pró-
Esta abordagem é didática e visa a destacar a im- ximo. É o caso de vestir-se ou amarrar os sapatos, que
portância de se dar um tratamento apropriado aos di- constituem-se em ações procedimentais importantes no
ferentes conteúdos, instrumentalizando o planejamento processo de conquista da independência. Dispor-se a
do professor para que possa contemplar as seguintes perguntar é uma atitude fundamental para o processo
categorias: os conteúdos conceituais que dizem respei- de aprendizagem. Da mesma forma, para que as crianças
to ao conhecimento de conceitos, fatos e princípios; os possam exercer a cooperação, a solidariedade e o res-
conteúdos procedimentais referem-se ao “saber fazer” e peito, por exemplo, é necessário que aprendam alguns
os conteúdos atitudinais estão associados a valores, ati- procedimentos importantes relacionados às formas de
tudes e normas. colaborar com o grupo, de ajudar e pedir ajuda etc.

150
Deve-se ter em conta que a aprendizagem de proce- Embora estejam elencados por eixos de trabalho,
dimentos será, muitas vezes, trabalhada de forma articu- muitos conteúdos encontram-se contemplados em mais
lada com conteúdos conceituais e atitudinais. de um eixo. Essa opção visa a apontar para o tratamen-
Os conteúdos atitudinais tratam dos valores, das to integrado que deve ser dado aos conteúdos. Cabe ao
normas e das atitudes. Conceber valores, normas e ati- professor organizar seu planejamento de forma a apro-
tudes como conteúdos implicam torná-los explícitos e veitar as possibilidades que cada conteúdo oferece, não
compreendê-los como passíveis de serem aprendidos e restringindo o trabalho a um único eixo, em fragmentan-
planejados. do o conhecimento.

As instituições educativas têm uma função básica Seleção de conteúdos


de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um
contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os Os conteúdos aqui elencados pretendem oferecer
valores impregnam toda a prática educativa e são apren- um repertório que possa auxiliar o desenvolvimento das
didos pelas crianças, ainda que não sejam considerados capacidades colocadas nos objetivos gerais. No entanto,
como conteúdos a serem trabalhados explicitamente, considerando as características particulares de cada gru-
isto é, ainda que não sejam trabalhados de forma cons- po e suas necessidades, cabe ao professor selecioná-los
ciente e intencional. A aprendizagem de conteúdos deste e adequá-los de forma que sejam significativos para as
tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as crianças.
atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam Deve se ter em conta que o professor, com vistas a
presentes desde as relações entre as pessoas até a se- desenvolver determinada capacidade, pode priorizar
leção dos conteúdos, passando pela própria forma de determinados conteúdos; trabalhá-los em diferentes
organização da instituição. A falta de coerência entre o momentos do ano; voltar a eles diversas vezes, aprofun-
discurso e a prática é um dos fatores que promove o fra- dando-os a cada vez etc. Como são múltiplas as possibili-
casso do trabalho com os valores. dades de escolha de conteúdos, os critérios para selecio-
Nesse sentido, dar o exemplo evidencia que é possí- ná-los devem se atrelar ao grau de significado que têm
vel agir de acordo com valores determinados. Do contrá- para as crianças. É importante, também, que o professor
rio, os valores tornam-se vazios de sentido e aproximam- considere as possibilidades que os conteúdos oferecem
-se mais de uma utopia não realizável do que de uma para o avanço do processo de aprendizagem e para a
realidade possível. ampliação de conhecimento que possibilita.
Para que as crianças possam aprender conteúdos ati-
tudinais, é necessário que o professor e todos os profis- Integração dos conteúdos
sionais que integram a instituição possam refletir sobre
os valores que são transmitidos cotidianamente e sobre Os conteúdos são compreendidos, aqui, como instru-
os valores que se quer desenvolver. Isso significa um po- mentos para analisar a realidade, não se constituindo um
sicionamento claro sobre o quê e o como se aprende nas fim em si mesmos. Para que as crianças possam com-
instituições de educação infantil. preender a realidade na sua complexidade e enriquecer
Deve-se ter em conta que, por mais que se tenha a sua percepção sobre ela, os conteúdos devem ser tra-
intenção de trabalhar com atitudes e valores, nunca a balhados de forma integrada, relacionados entre si. Essa
instituição dará conta da totalidade do que há para en- integração possibilita que a realidade seja analisada por
sinar. Isso significa dizer que parte do que as crianças diferentes aspectos, sem fragmentá-la. Um passeio pela
aprendem não é ensinado de forma sistemática e cons- rua pode oferecer elementos referentes à análise das
ciente e será aprendida de forma incidental. Isso amplia a paisagens, à identificação de características de diferentes
responsabilidade de cada um e de todos com os valores grupos sociais, à presença de animais, fenômenos da na-
e as atitudes que cultivam. tureza, ao contato com a escrita e os números presentes
nas casas, placas etc., contextualizando cada elemento na
Organização dos conteúdos por blocos complexidade do meio.
O mesmo passeio envolve, também, aprendizagens
Os conteúdos são apresentados nos diversos eixos de relativas à socialização, mobilizam sentimentos e emo-
trabalho, organizados por blocos. Essa organização visa a ções constituindo-se em uma atividade que pode contri-
contemplar as dimensões essenciais de cada eixo e situar buir para o desenvolvimento das crianças.
os diferentes conteúdos dentro de um contexto organi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

zador que explicita suas especificidades por um lado e Orientações Didáticas


aponta para a sua “origem” por outro. Por exemplo, é im-
portante que o professor saiba, ao ler uma história para Os conteúdos estão intrinsecamente relacionados
as crianças, que está trabalhando não só a leitura, mas com a forma como são trabalhados com as crianças. Se,
também, a fala, a escuta, e a escrita; ou, quando organiza de um lado, é verdade que a concepção de aprendiza-
uma atividade de percurso, que está trabalhando tanto a gem adotada determina o enfoque didático, é igualmen-
percepção do espaço, como o equilíbrio e a coordenação te verdade, de outro lado, que nem sempre esta relação
da criança. se explicita de forma imediata. A prática educativa é bas-
Esses conhecimentos ajudam o professor a dirigir sua tante complexa e são inúmeras as questões que se apre-
ação de forma mais consciente, ampliando as suas possi- sentam no cotidiano e que transcendem o planejamento
bilidades de trabalho. didático e a própria proposta curricular. Na perspectiva

151
de explicitar algumas indicações sobre o enfoque didáti- Sequência de atividades
co e apoiar o trabalho do professor, as orientações didá-
ticas situam-se no espaço entre as intenções educativas São planejadas e orientadas com o objetivo de pro-
e a prática. As orientações didáticas são subsídios que mover uma aprendizagem específica e definida. São
remetem ao “como fazer”, à intervenção direta do pro- sequenciadas com intenção de oferecer desafios com
fessor na promoção de atividades e cuidados alinhados graus diferentes de complexidade para que as crianças
com uma concepção de criança e de educação. possam ir paulatinamente resolvendo problemas a partir
Vale lembrar que estas orientações não representam de diferentes proposições. Estas sequências derivam de
um modelo fechado que define um padrão único de um conteúdo retirado de um dos eixos a serem traba-
intervenção. Pelo contrário, são indicações e sugestões lhados e estão necessariamente dentro de um contexto
para subsidiar a reflexão e a prática do professor. específico. Por exemplo: se o objetivo é fazer com que as
Cada documento de eixo contém orientações didá- crianças avancem em relação à representação da figura
ticas gerais e as específicas aos diversos blocos de con- humana por meio do desenho, pode-se planejar várias
teúdos. Nas orientações didáticas gerais explicitam-se etapas de trabalho para ajudá-las a reelaborar e enri-
condições relativas à: princípios gerais do eixo; organi- quecer seus conhecimentos prévios sobre esse assunto,
zação do tempo, do espaço e dos materiais; observação, como observação de pessoas, de desenhos ou pinturas
registro e avaliação. de artistas e de fotografias; atividades de representação
a partir destas observações; atividades de representação
Organização do tempo a partir de interferências previamente planejadas pelo
educador etc.
A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual
será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de Projetos de trabalho
trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina
deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações Os projetos são conjuntos de atividades que traba-
de aprendizagens orientadas. A apresentação de novos lham com conhecimentos específicos construídos a partir
conteúdos às crianças requer sempre as mais diferen-
de um dos eixos de trabalho que se organizam ao redor
tes estruturas didáticas, desde contar uma nova história,
de um problema para resolver ou um produto final que
propor uma técnica diferente de desenho até situações
se quer obter. Possui uma duração que pode variar con-
mais elaboradas, como, por exemplo, o desenvolvimento
forme o objetivo, o desenrolar das várias etapas, o desejo
de um projeto, que requer um planejamento cuidadoso
e o interesse das crianças pelo assunto tratado. Compor-
com um encadeamento de ações que visam a desenvol-
tam uma grande dose de imprevisibilidade, podendo ser
ver aprendizagens específicas. Estas estruturas didáticas
alterado sempre que necessário, tendo inclusive modi-
contêm múltiplas estratégias que são organizadas em
ficações no produto final. Alguns projetos, como fazer
função das intenções educativas expressas no projeto
educativo, constituindo-se em um instrumento para o uma horta ou uma coleção, podem durar um ano inteiro,
planejamento do professor. Podem ser agrupadas em ao passo que outros, como, por exemplo, elaborar um
três grandes modalidades de organização do tempo. São livro de receitas, podem ter uma duração menor.
elas: atividades permanentes, sequência de atividades e Por partirem sempre de questões que necessitam ser
projetos de trabalho. respondidas, possibilitam um contato com as práticas so-
ciais reais. Dependem, em grande parte, dos interesses
Atividades permanentes das crianças, precisam ser significativos, representar uma
questão comum para todas e partir de uma indagação
São aquelas que respondem às necessidades básicas da realidade. É importante que os desafios apresenta-
de cuidados, aprendizagem e de prazer para as crianças, dos sejam possíveis de serem enfrentados pelo grupo de
cujos conteúdos necessitam de uma constância. A es- crianças. Um dos ganhos de se trabalhar com projetos
colha dos conteúdos que definem o tipo de atividades é possibilitar às crianças que a partir de um assunto re-
permanentes a serem realizadas com frequência regular, lacionado com um dos eixos de trabalho, possam esta-
diária ou semanal, em cada grupo de crianças, depende belecer múltiplas relações, ampliando suas ideias sobre
das prioridades elencadas a partir da proposta curricular. um assunto específico, buscando complementações com
Consideram-se atividades permanentes, entre outras: conhecimentos pertinentes aos diferentes eixos. Esse
aprendizado serve de referência para outras situações,
permitindo generalizações de ordens diversas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- brincadeiras no espaço interno e externo;


- roda de história; A realização de um projeto depende de várias etapas
- roda de conversas; de trabalho que devem ser planejadas e negociadas com
- ateliês ou oficinas de desenho, pintura, modelagem as crianças para que elas possam se engajar e acompa-
e música; nhar o percurso até o produto final. O que se deseja al-
- atividades diversificadas ou ambientes organizados cançar justifica as etapas de elaboração. O levantamento
por temas ou materiais à escolha da criança, incluindo dos conhecimentos prévios das crianças sobre o assunto
momentos para que as crianças possam ficar sozinhas se em pauta deve se constituir no primeiro passo. A sociali-
assim o desejarem; zação do que o grupo já sabe e o levantamento do que
- cuidados com o corpo. desejam saber, isto é, as dúvidas que possuem, pode se
constituir na outra etapa.

152
Onde procurar as informações pode ser uma decisão A escrita é, sem dúvida, a mais comum e acessível. O
compartilhada com crianças, familiares e demais funcio- registro diário de suas observações, impressões, ideias
nários da instituição. Várias fontes de informações po- etc. pode compor um rico material de reflexão e ajuda
derão ser usadas, como livros, enciclopédias, trechos de para o planejamento educativo. Outras formas de regis-
filmes, análise de imagens, entrevistas com as mais dife- tro também podem ser consideradas, como a gravação
rentes pessoas, visitas a recursos da comunidade etc. O em áudio e vídeo; produções das crianças ao longo do
registro dos conhecimentos que vão sendo construídos tempo; fotografias etc.
pelas crianças deve permear todo o trabalho, podendo A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada
incluir relatos escritos, fitas gravadas, fotos, produção em dezembro de 1996, estabelece, na Seção II, referente
das crianças, desenhos etc. Os projetos contêm sequên- à educação infantil, artigo 31 que: “... a avaliação far-se-á
cias de atividades e pode-se utilizar atividades perma- mediante o acompanhamento e registro do seu desen-
nentes já em curso. volvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o
A característica principal dos projetos é a visibilida- acesso ao ensino fundamental”.
de final do produto e a solução do problema comparti- Existem ainda no Brasil práticas na educação infantil
lhado com as crianças. Ao final de um projeto, pode-se que possuem um entendimento equivocado da avaliação
dizer que a criança aprendeu porque teve uma intensa nessa etapa da educação, o que vem gerando sérios pro-
participação que envolveu a resolução de problemas de blemas, com consequências preocupantes, sobretudo,
naturezas diversas. Soma-se a todas essas características para as crianças de determinadas camadas da sociedade.
mais uma, ligada ao caráter lúdico que os projetos na A mais grave é a existência das chamadas “classes de alfa-
educação infantil têm. Se o projeto é sobre castelos, reis, betização” que conferem à educação infantil o caráter de
rainhas, as crianças podem incorporar em suas brincadei- terminalidade. São classes que atendem crianças a partir
ras conhecimentos que foram construindo, e o produto de seis anos, retendo-as até que estejam alfabetizadas.
final pode ser um baile medieval. Há muitos projetos que As crianças que frequentam essas classes não ingressam
envolvem a elaboração de bonecos do tamanho de adul- na primeira série do ensino fundamental, até que tenham
atingido os padrões desejáveis de aprendizagem da lei-
tos, outros a construção de circos, de maquetes, produ-
tura e escrita. A essas crianças têm sido vedado, assim, o
tos que por si só já representam criação e diversão para
direito constitucional de serem matriculadas na primei-
as crianças, sem contar o prazer que lhes dá de conhecer
ra série do ensino fundamental aos sete anos de idade.
o mundo.
Outras práticas de avaliação conferem às produções das
crianças: notas, conceitos, estrelas, carimbos com dese-
Organização do espaço e seleção dos materiais
nhos de caras tristes ou alegres conforme o julgamento
do professor. A avaliação nessa etapa deve ser proces-
A organização dos espaços e dos materiais se cons-
sual e destinada a auxiliar o processo de aprendizagem,
titui em um instrumento fundamental para a prática
fortalecendo a autoestima das crianças.
educativa com crianças pequenas. Isso implica que, para Neste documento, a avaliação é entendida, priorita-
cada trabalho realizado com as crianças, deve-se planejar riamente, como um conjunto de ações que auxiliam o
a forma mais adequada de organizar o mobiliário dentro professor a refletir sobre as condições de aprendizagem
da sala, assim como introduzir materiais específicos para oferecidas e ajustar sua prática às necessidades coloca-
a montagem de ambientes novos, ligados aos projetos das pelas crianças. É um elemento indissociável do pro-
em curso. Além disso, a aprendizagem transcende o es- cesso educativo que possibilita ao professor definir cri-
paço da sala, toma conta da área externa e de outros térios para planejar as atividades e criar situações que
espaços da instituição e fora dela. A pracinha, o super- gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como
mercado, a feira, o circo, o zoológico, a biblioteca, a pa- função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse
daria etc. são mais do que locais para simples passeio, processo como um todo. No que se refere às crianças, a
podendo enriquecer e potencializar as aprendizagens. avaliação deve permitir que elas acompanhem suas con-
quistas, suas dificuldades e suas possibilidades ao longo
Observação, registro e avaliação formativa de seu processo de aprendizagem. Para que isso ocorra,
o professor deve compartilhar com elas aquelas observa-
A observação e o registro se constituem nos princi- ções que sinalizam seus avanços e suas possibilidades de
pais instrumentos de que o professor dispõe para apoiar superação das dificuldades.
sua prática. Por meio deles o professor pode registrar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

São várias as situações cotidianas nas quais isso já


contextualmente, os processos de aprendizagem das ocorre, como, por exemplo, quando o professor diz:
crianças; a qualidade das interações estabelecidas com “Olhe que bom, você já está conseguindo se servir sozi-
outras crianças, funcionários e com o professor e acom- nho”, ou quando torna observável para as crianças o que
panhar os processos de desenvolvimento obtendo infor- elas sabiam fazer quando chegaram na instituição com
mações sobre as experiências das crianças na instituição. o que sabem até aquele momento. Nessas situações, o
Esta observação e seu registro fornecem aos profes- retorno para as crianças se dá de forma contextualizada,
sores uma visão integral das crianças ao mesmo tempo o que fortalece a função formativa que deve ser atribuída
em que revelam suas particularidades. São várias as ma- à avaliação. Além dessas, existem outras situações que
neiras pelas quais a observação pode ser registrada pelos podem ser aproveitadas ou criadas com o objetivo de
professores. situar a criança frente ao seu processo de aprendizagem.

153
É importante que o professor tenha consciência disso, - observar e explorar o ambiente com atitude de
para que possa atuar de forma cada vez mais intencional. curiosidade, percebendo-se cada vez mais como inte-
Isso significa definir melhor a quem se dirige a avaliação grante, dependente e agente transformador do meio
— se ao grupo todo ou às crianças em particular; qual o ambiente e valorizando atitudes que contribuam para
melhor momento para explicitá-la e como deve ser feito. sua conservação;
Esses momentos de retorno da avaliação para a criança - brincar, expressando emoções, sentimentos, pensa-
devem incidir prioritariamente sobre as suas conquistas. mentos, desejos e necessidades;
Apontar aquilo que a criança não consegue realizar ou - utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical,
não sabe, só faz sentido numa perspectiva de possível plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções
superação, quando o professor detém conhecimento so- e situações de comunicação, de forma a compreender
bre as reais possibilidades de avanço da criança e sobre e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos,
as possibilidades que ele tem para ajudá-la. Do contrá- necessidades e desejos e avançar no seu processo de
rio, ao invés de potencializar a ação das crianças e forta- construção de significados, enriquecendo cada vez mais
lecer a sua autoestima, a avaliação pode provocar-lhes sua capacidade expressiva;
um sentimento de impotência e fracasso. Outro ponto - conhecer algumas manifestações culturais, demons-
importante de se marcar refere-se à representação que trando atitudes de interesse, respeito e participação fren-
a criança constrói sobre a avaliação. O professor deve te a elas e valorizando a diversidade.
ter consciência de que a forma como a avaliação é com-
preendida, na instituição e por ele próprio, será de fun- A instituição e o projeto educativo
damental importância para que a criança possa construir
uma representação positiva da mesma. O Referencial Curricular propõe um diálogo com pro-
A avaliação também é um excelente instrumento para gramas e projetos curriculares de instituições de educa-
que a instituição possa estabelecer suas prioridades para ção infantil, nos estados e municípios. Este diálogo supõe
o trabalho educativo, identificar pontos que necessitam atentar para duas dimensões complementares que pos-
de maior atenção e reorientar a prática, definindo o que sam garantir a efetividade das propostas: uma de nature-
avaliar, como e quando em consonância com os princí- za externa; outra, interna às instituições.
pios educativos que elege.
Para que possa se constituir como um instrumento Condições externas
voltado para reorientar a prática educativa, a avaliação
deve se dar de forma sistemática e contínua, tendo como As particularidades de cada proposta curricular de-
objetivo principal a melhoria da ação educativa. O pro- vem estar vinculadas principalmente às características
fessor, ciente do que pretende que as crianças aprendam, socioculturais da comunidade na qual a instituição de
pode selecionar determinadas produções das crianças ao educação infantil está inserida e às necessidades e ex-
longo de um período para obter com mais precisão infor- pectativas da população atendida. Conhecer bem essa
mações sobre sua aprendizagem. Os pais, também, têm população permite compreender suas reais condições de
o direito de acompanhar o processo de aprendizagem vida, possibilitando eleger os temas mais relevantes para
de suas crianças, se inteirando dos avanços e conquistas, o processo educativo de modo a atender a diversidade
compreendendo os objetivos e as ações desenvolvidas existente em cada grupo social.
pela instituição. Nos diferentes municípios, existe um conjunto de co-
nhecimentos, formas de viver e de se divertir, de se ma-
Objetivos gerais da educação infantil nifestar religiosamente, de trabalhar etc. que se constitui
em uma cultura própria. A valorização e incorporação
A prática da educação infantil deve se organizar de desta cultura no currículo das instituições é fonte valiosa
modo que as crianças desenvolvam as seguintes capa- para a intervenção pedagógica. Além disso, o conheci-
cidades: mento das questões específicas de cada região, sejam
- desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de elas de ordem econômica, social ou ambiental permite a
forma cada vez mais independente, com confiança em elaboração de propostas curriculares mais significativas.
suas capacidades e percepção de suas limitações; A problemática social de muitas das comunidades
- descobrir e conhecer progressivamente seu próprio brasileiras faz com que os profissionais e as instituições
corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo de educação infantil tenham que considerar questões
e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bastante complexas que não podem ser ignoradas, pois
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bem-estar; afetam diretamente a vida das crianças pequenas. A des-


- estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e nutrição, a violência, os abusos e maus tratos, os proble-
crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando grada- mas de saúde etc. que algumas crianças sofrem não são
tivamente suas possibilidades de comunicação e interação questões que só a instituição de educação infantil pode
social; resolver isoladamente. Só uma ação conjunta entre os
- estabelecer e ampliar cada vez mais as relações so- diversos recursos da comunidade como as associações
ciais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e civis e os conselhos de direitos das crianças, as organi-
pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade zações governamentais e não-governamentais ligadas à
e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; saúde, à assistência, à cultura etc. pode encaminhar so-
luções mais factíveis com a realidade de cada situação.

154
Condições internas Em se tratando de crianças tão pequenas, a atmosfe-
ra criada pelos adultos precisa ter um forte componente
As creches e pré-escolas existentes no Brasil se cons- afetivo. As crianças só se desenvolverão bem, caso o cli-
tituíram de forma muito diversa ao longo de sua história, ma institucional esteja em condições de proporcionar-
se caracterizando por uma variedade de modalidades de -lhes segurança, tranquilidade e alegria. Adultos amigá-
atendimento. Há creches funcionando em período inte- veis, que escutam as necessidades das crianças e, com
gral entre 8 e 12 horas por dia, que atendem o ano todo afeto, atendem a elas, constituem-se em um primeiro
sem interrupção; outras fecham para férias; há creches de passo para criar um bom clima. As crianças precisam ser
meio período; há creches que atendem 24 horas por dia; respeitadas em suas diferenças individuais, ajudadas em
há pré-escolas funcionando de 3 a 4 horas e há inclusive seus conflitos por adultos que sabem sobre seu compor-
as que atendem em período integral. tamento, entendem suas frustrações, possibilitando-lhes
Ao se pensar em uma proposta curricular deve-se le- limites claros. Os adultos devem respeitar o desenvolvi-
var em conta não só o número de horas que a criança mento das crianças e encorajá-las em sua curiosidade,
passa na instituição, mas também a idade em que come- valorizando seus esforços.
çou a frequentá-la e quantos anos terá pela frente. Estas
questões acabam influindo na seleção dos conteúdos a Formação do coletivo institucional
serem trabalhados com as crianças, na articulação curri-
cular de maneira a garantir um maior número de expe- Elaborar e implantar um projeto educativo requer das
riências diversificadas a todas as crianças que a frequen- equipes de profissionais das instituições um grande es-
tam. Muitas instituições de educação infantil têm a tarefa forço conjunto. A direção da instituição tem um papel
complexa de receber crianças a qualquer tempo e idade. chave neste processo quando auxilia a criação de um cli-
É possível, por exemplo, que crianças ingressem com seis ma democrático e pluralista. Deve incentivar e acolher as
meses, com dois anos ou cinco anos. Esta especificidade participações de todos de modo a possibilitar um projeto
da educação infantil exige uma flexibilidade em relação que contemple a explicitação das divergências e das ex-
às propostas pedagógicas e em relação aos objetivos pectativas de crianças, pais, docentes e comunidade.
educacionais que se pretende alcançar. O coletivo de profissionais da instituição de educação
O fato de muitas instituições atenderem em horário infantil, entendido como organismo vivo e dinâmico é
integral implica uma maior responsabilidade quanto ao o responsável pela construção do projeto educacional e
desenvolvimento e aprendizagens infantis, assim como do clima institucional. A tematização da prática, o com-
com a oferta de cuidados adequados em termos de saú- partilhar de conhecimentos são ações que conduzidas
de e higiene. Estes horários estendidos devem significar com intencionalidade, formam o coletivo criando con-
sempre maiores oportunidades de aprendizagem para as dições para que o trabalho desenvolvido seja debatido,
crianças e não apenas a oferta de atividades para passar compreendido e assumido por todos. Compartilhar é um
o tempo ou muito menos longos períodos de espera. processo que contribui para que a instituição se consti-
Em alguns municípios, existe um tipo de prática em tua como unidade educacional no qual são expressas as
que as crianças ficam um período na creche e o outro na teorias e os saberes que sustentam a prática pedagógica.
pré-escola. Nestes casos ou ainda naqueles onde há tro- Esse processo tece a unidade do projeto educativo que
ca de turnos de professores entre os períodos da manhã embora traduzida pelos diferentes indivíduos do coleti-
e da tarde, é necessário um planejamento em conjunto, vo, parte de princípios comuns. A unidade é, portanto,
evitando repetições de atividades ou lacunas no trabalho construída dinamicamente.
com as crianças. Não é desejável que a creche seja consi-
derada apenas um espaço de cuidados físicos e recreação Espaço para formação continuada
e a pré-escola o local onde se legitima o aprendizado.
A elaboração da proposta curricular de cada institui- O coletivo, segundo as características apontadas aci-
ção se constitui em um dos elementos do projeto educa- ma, não pode prescindir da formação continuada que
tivo e deve ser fruto de um trabalho coletivo que reúna deve fazer parte da rotina institucional e não pode ocor-
professores, demais profissionais e técnicos. Outros as- rer de forma esporádica.
pectos são relevantes para o bom desenvolvimento do Hora e lugar especialmente destinado à formação de-
projeto pedagógico e devem ser considerados, abran- vem possibilitar o encontro entre os professores para a
gendo desde o clima institucional, formas de gestão, troca de ideias sobre a prática, para supervisão, estudos
passando pela organização do espaço e do tempo, dos sobre os mais diversos temas pertinentes ao trabalho,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

agrupamentos, seleção e oferta dos materiais até a par- organização e planejamento da rotina, do tempo e ati-
ceria com as famílias e papel do professor. vidades e outras questões relativas ao projeto educativo.
A instituição deve proporcionar condições para que
Ambiente Institucional todos os profissionais participem de momentos de for-
mação de naturezas diversas como reuniões, palestras,
O ambiente de cooperação e respeito entre os profis- visitas, atualizações por meio de filmes, vídeos etc.
sionais e entre esses e as famílias favorece a busca de uma
linha coerente de ação. Respeito às diferenças, explicitação
de conflitos, cooperação, complementação, negociação e
procura de soluções e acordos devem ser a base das rela-
ções entre os adultos.

155
Espaço físico e recursos materiais Os recursos materiais

A estruturação do espaço, a forma como os materiais Recursos materiais entendidos como mobiliário, es-
estão organizados, a qualidade e adequação dos mes- pelhos, brinquedos, livros, lápis, papéis, tintas, pincéis,
mos são elementos essenciais de um projeto educativo. tesouras, cola, massa de modelar, argila, jogos os mais
Espaço físico, materiais, brinquedos, instrumentos sono- diversos, blocos para construções, material de sucata,
ros e mobiliários não devem ser vistos como elementos roupas e panos para brincar etc. devem ter presença
passivos, mas como componentes ativos do processo obrigatória nas instituições de educação infantil de for-
educacional que refletem a concepção de educação as- ma cuidadosamente planejada.
sumida pela instituição. Constituem-se em poderosos Os materiais constituem um instrumento importan-
auxiliares da aprendizagem. Sua presença desponta te para o desenvolvimento da tarefa educativa, uma vez
como um dos indicadores importantes para a definição que são um meio que auxilia a ação das crianças. Se de
de práticas educativas de qualidade em instituição de um lado, possuem qualidades físicas que permitem a
educação infantil. No entanto, a melhoria da ação edu- construção de um conhecimento mais direto e baseado
cativa não depende exclusivamente da existência destes na experiência imediata, por outro lado, possuem qua-
objetos, mas está condicionada ao uso que fazem deles lidades outras que serão conhecidas apenas pela inter-
os professores junto às crianças com as quais trabalham. venção dos adultos ou de parceiros mais experientes. As
Os professores preparam o ambiente para que a criança crianças exploram os objetos, conhecem suas proprieda-
possa aprender de forma ativa na interação com outras des e funções e, além disso, transformam-nos nas suas
crianças e com os adultos. brincadeiras, atribuindo-lhes novos significados.
Os brinquedos constituem-se, entre outros, em obje-
Versatilidade do espaço tos privilegiados da educação das crianças. São objetos
que dão suporte ao brincar e podem ser das mais diver-
O espaço na instituição de educação infantil deve sas origens materiais, formas, texturas, tamanho e cor.
propiciar condições para que as crianças possam usufruí- Podem ser comprados ou fabricados pelos professores
-lo em benefício do seu desenvolvimento e aprendiza- e pelas próprias crianças; podem também ter vida curta,
gem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil e quando inventados e confeccionados pelas crianças em
permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas determinada brincadeira e durar várias gerações, quando
pelas crianças e pelos professores em função das ações transmitidos de pai para filho. Nessa perspectiva, as ins-
desenvolvidas. tituições devem integrá-los ao acervo de materiais exis-
Deve ser pensado e rearranjado, considerando as di- tentes nas salas, prevendo critérios de escolha, seleção
ferentes necessidades de cada faixa etária, assim como e aquisição de acordo com a faixa etária atendida e os
os diferentes projetos e atividades que estão sendo de- diferentes projetos desenvolvidos na instituição.
senvolvidos. Particularmente, as crianças de zero a um
ano de idade necessitam de um espaço especialmente Acessibilidade dos materiais
preparado onde possam engatinhar livremente, ensaiar
os primeiros passos, brincar, interagir com outras crian- Outro ponto importante a ser ressaltado diz respeito
ças, repousar quando sentirem necessidade etc. Os vá- à disposição e organização dos materiais, uma vez que
rios momentos do dia que demandam mais espaço livre isso pode ser decisivo no uso que as crianças venham a
para movimentação corporal ou ambientes para acon- fazer deles. Os brinquedos e demais materiais precisam
chego e/ou para maior concentração, ou ainda, ativida- estar dispostos de forma acessível às crianças, permitin-
des de cuidados implicam, também, planejar, organizar e do seu uso autônomo, sua visibilidade, bem como uma
mudar constantemente o espaço. Nas salas, a forma de organização que possibilite identificar os critérios de or-
organização pode comportar ambientes que permitem denação.
o desenvolvimento de atividades diversificadas e simul- É preciso que, em todas as salas, exista mobiliário
tâneas, como, por exemplo, ambientes para jogos, artes, adequado ao tamanho das crianças para que estas dis-
faz-de-conta, leitura etc. ponham permanentemente de materiais para seu uso es-
Pesquisas indicam que ambientes divididos são mais pontâneo ou em atividades dirigidas. Este uso frequente
indicados para estruturar espaços para crianças peque- ocasiona, inevitavelmente, desgaste em brinquedos, li-
nas ao invés de grandes áreas livres. Os pequenos in- vros, canetas, pincéis, tesouras, jogos etc. Esta situação
teragem melhor em grupos quando estão em espaços comum não deve ser pretexto para que os adultos guar-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

menores e mais aconchegantes de onde podem visua- dem e tranquem os materiais em armários, dificultando
lizar o adulto. Os elementos que dividem o espaço são seu uso pelas crianças. Usar, usufruir, cuidar e manter os
variados, podendo ser prateleiras baixas, pequenas casi- materiais são aprendizagens importantes nessa faixa etá-
nhas, caixas, biombos baixos dos mais diversos tipos etc. ria. A manutenção e reposição destes materiais devem
Esse tipo de organização favorece à criança ficar sozinha, fazer parte da rotina das instituições e não acontecer de
se assim o desejar. forma esporádica.
Na área externa, há que se criar espaços lúdicos que
sejam alternativos e permitam que as crianças corram,
balancem, subam, desçam e escalem ambientes diferen-
ciados, pendurem-se, escorreguem, rolem, joguem bola,
brinquem com água e areia, escondam-se etc.

156
Segurança do espaço e dos materiais A razão adulto/criança, porém, não pode ser um cri-
tério isolado. Mesmo quando as proporções acima indi-
Para as crianças circularem com independência no cadas são respeitadas, há de se considerar que grupos
espaço, é necessário um bom planejamento que garanta com muitas crianças e muitos professores não resolvem
as condições de segurança necessárias. É imprescindível as necessidades de um trabalho mais individualizado e
o uso de materiais resistentes, de boa qualidade e testa- cria um ambiente inadequado.
dos pelo mercado, como vidros e espelhos resistentes,
materiais elétricos e hidráulicos de comprovada eficácia Organização do tempo
e durabilidade. É necessária, também, proteção adequa-
da em situações que dão acesso a lugares onde exista A rotina na educação infantil pode ser facilitadora ou
possibilidade de risco, como escadas, varandas, janelas, cerceadora dos processos de desenvolvimento e apren-
acesso ao exterior etc. Os brinquedos devem ser seguros dizagem.
(seguindo as normas do Inmetro), laváveis e necessitam Rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a criança,
estar em boas condições. Os brinquedos de parque de- que precisa adaptar-se a ela e não o contrário, como de-
vem estar bem fixados em área gramada ou coberta com veria ser; desconsideram também o adulto, tornando seu
areia e não sobre área cimentada. trabalho monótono, repetitivo e pouco participativo.
O número de horas que a criança permanece na ins-
Critérios para formação de grupos de crianças tituição, a amplitude dos cuidados físicos necessários ao
atendimento, os ritmos e diferenças individuais e a espe-
As diferenças que caracterizam cada fase de desen- cificidade do trabalho pedagógico demandam um pla-
volvimento são bastante grandes, o que leva, muitas ve- nejamento constante da rotina. A organização do tempo
zes, as instituições a justificar os agrupamentos homo- deve prever possibilidades diversas e muitas vezes simul-
gêneos por faixa etária. Esta forma de agrupamento está tâneas de atividades, como atividades mais ou menos
relacionada muito mais a uma necessidade do trabalho movimentadas, individuais ou em grupos, com maior ou
dos adultos do que às necessidades da criança. Se, de um menor grau de concentração; de repouso, alimentação
e higiene; atividades referentes aos diferentes eixos de
lado, isto facilita a organização de algumas atividades e
trabalho.
o melhor aproveitamento do espaço físico disponível, de
Considerada como um instrumento de dinamização
outro, dificulta a possibilidade de interação que um gru-
da aprendizagem, facilitador das percepções infantis so-
po heterogêneo oferece.
bre o tempo e o espaço, uma rotina clara e compreensí-
Não há uma divisão rígida, mas é comum que bebês
vel para as crianças é fator de segurança. A rotina pode
fiquem em um mesmo grupo até conseguirem andar. As
orientar as ações das crianças, assim como dos professo-
crianças que já andam bem e estão iniciando o contro-
res, possibilitando a antecipação das situações que irão
le dos esfíncteres costumam ser concentradas em outro
acontecer.
agrupamento. Após a retirada das fraldas, as crianças
costumam ser agrupadas por idade, isto é, em turmas de Ambiente de cuidados
três, quatro, cinco e seis anos de idade. Numa concepção
de educação e aprendizagem que considera a interação A instituição necessita criar um ambiente de cuida-
como um elemento vital para o desenvolvimento, o con- do que considere as necessidades das diferentes faixas
tato entre estas crianças de diferentes faixas etárias e etárias, das famílias e as condições de atendimento da
com diferentes capacidades deve ser planejado. Isto quer instituição.
dizer que é interessante prever constantes momentos na Como as crianças pequenas se caracterizam por um
rotina ou planejar projetos que integrem estes diferentes ritmo de crescimento e desenvolvimento físico variado
agrupamentos. os cuidados devem incluir o acompanhamento deste
Tão importante quanto pensar nos agrupamentos por processo.
faixa etária é refletir sobre o número de crianças por gru- É possível, principalmente na creche, que alguns gru-
pos e a proporção de adulto por crianças. Quanto me- pos iniciem o ano com determinadas características e ne-
nores as crianças, mais desaconselhados são os grupos cessidades, que estarão modificadas no final do primeiro
muito grandes, pois há uma demanda de atendimento trimestre. Algumas crianças começam a frequentar o pri-
individualizado. Até os 12 meses, é aconselhável não ter meiro grupo das creches ainda no seu primeiro mês de
mais de 6 crianças por adulto, sendo necessária uma aju- vida, outras serão matriculadas próximo ao quarto mês
da nos momentos de maior demanda, como, por exem-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ou no final do primeiro ano. Assim nas instituições que


plo, em situações de alimentação. Do primeiro ao se- atendem bebês e crianças pequenas, não se pode prever
gundo ano de vida, aproximadamente, aconselha-se não uma organização do cotidiano de forma homogênea e
mais do que 8 crianças para cada adulto, ainda com ajuda que se mantenha o ano todo sem alterações.
em determinados momentos. A partir do momento no A organização dos momentos em que são previstos
qual as crianças deixam as fraldas até os 3 anos, pode-se cuidados com o corpo, banho, lavagem de mãos, higie-
organizar grupos de 12 a 15 crianças por adulto. Quando ne oral, uso dos sanitários, repouso e brincadeiras ao ar
as crianças adquirem maior autonomia em relação aos livre, podem variar nas instituições de educação infantil,
cuidados e interagem de forma mais independente com segundo os grupos etários atendidos, o tempo de per-
seus pares, é possível pensar em grupos maiores, mas manência diária das crianças na instituição e os acordos
que não ultrapassem 25 crianças por professor. estabelecidos com as famílias.

157
As atividades de cuidado das crianças se organizam Respeito aos vários tipos de estruturas familiares
em função de suas necessidades nas 24 horas do dia. Isto
exige uma programação conjunta com as famílias para Constate-se que as famílias independente da classe
divisão de responsabilidades, evitando-se a sobreposi- social a qual pertencem se organizam das mais diversas
ção ou a ausência de alguns dos cuidados essenciais. maneiras. Além da família nuclear que é constituída pelo
O planejamento dos cuidados e da vida cotidiana na pai, mãe e filhos, proliferam hoje as famílias mono paren-
instituição deve ser iniciado pelo conhecimento sobre tais, nas quais apenas a mãe ou o pai está presente. Exis-
a criança e suas peculiaridades, que se faz pelo levan- tem, ainda, as famílias que se reconstituíram por meio de
tamento de dados com a família no ato da matrícula e novos casamentos e possuem filhos advindos dessas re-
por meio de um constante intercâmbio entre familiares lações. Há, também, as famílias extensas, comuns na his-
e professores. Algumas informações podem ser colhidas tória brasileira, nas quais convivem na mesma casa várias
previamente à sua entrada na instituição, como os es- gerações e/ou pessoas ligadas por parentescos diversos.
quemas, preferências e intolerância alimentar; os hábitos É possível ainda encontrar várias famílias coabitando em
de sono e de eliminação; os controles e cuidados espe- uma mesma casa. Enfim, parece não haver limites para os
ciais com sua saúde. Outras serão conhecidas na própria arranjos familiares na atualidade.
interação com a criança e sua família, ao longo do tempo. As crianças têm direito de ser criadas e educadas no
seio de suas famílias. O Estatuto da Criança e do Adoles-
Parceria com as famílias cente reafirma, em seus termos, que a família é a primeira
instituição social responsável pela efetivação dos direitos
As características da faixa etária das crianças atendi- básicos das crianças. Cabe, portanto, às instituições es-
das, bem como as necessidades atuais de construção de tabelecerem um diálogo aberto com as famílias, consi-
uma sociedade mais democrática e pluralista apontam derando-as como parceiras e interlocutoras no processo
para a importância de uma atenção especial com a rela- educativo infantil.
ção entre as instituições e as famílias.
Constata-se em muitas instituições que estas relações Acolhimento das diferentes culturas, valores e
têm sido conflituosas, baseadas numa concepção equi- crenças sobre educação de crianças
vocada de que as famílias dificultam o processo de so-
cialização e de aprendizagem das crianças. No caso das A pluralidade cultural, isto é, a diversidade de etnias,
famílias de baixa renda, por serem consideradas como crenças, costumes, valores etc. que caracterizam a popu-
portadoras de carências de toda ordem. No caso das fa- lação brasileira marca, também, as instituições de educa-
mílias de maior poder aquisitivo, a crítica incide na rela- ção infantil.
ção afetiva estabelecida com as crianças. Esta concepção O trabalho com a diversidade e o convívio com a dife-
traduz um preconceito que gera ações discriminatórias, rença possibilitam a ampliação de horizontes tanto para
impedindo o diálogo. Muitas instituições que agem em o professor quanto para a criança. Isto porque permite
função deste tipo de preconceito têm procurado implan- a conscientização de que a realidade de cada um é ape-
tar programas que visam a instruir as famílias, especial- nas parte de um universo maior que oferece múltiplas
mente as mães, sobre como educar e criar seus filhos escolhas. Assumir um trabalho de acolhimento às dife-
dentro de um padrão preestabelecido e considerado rentes expressões e manifestações das crianças e suas
adequado. Essa ação, em geral moralizadora, tem por famílias significa valorizar e respeitar a diversidade, não
base o modelo de família idealizada e tem sido responsá- implicando a adesão incondicional aos valores do outro.
vel muito mais por um afastamento das duas instituições Cada família e suas crianças são portadoras de um vasto
do que por um trabalho conjunto em prol da educação repertório que se constitui em material rico e farto para
das crianças. o exercício do diálogo, aprendizagem com a diferença,
Visões mais atualizadas sobre a instituição familiar a não discriminação e as atitudes não preconceituosas.
propõem que se rejeite a ideia de que exista um único Estas capacidades são necessárias para o desenvol-
modelo. Enfoques teóricos mais recentes procuram en- vimento de uma postura ética nas relações humanas.
tender a família como uma criação humana mutável, su- Nesse sentido, as instituições de educação infantil, por
jeita a determinações culturais e históricas que se consti- intermédio de seus profissionais, devem desenvolver a
tui tanto em espaço de solidariedade, afeto e segurança capacidade de ouvir, observar e aprender com as famí-
como em campo de conflitos, lutas e disputa. lias.
A valorização e o conhecimento das características ét- Acolher as diferentes culturas não pode se limitar às
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nicas e culturais dos diferentes grupos sociais que com- comemorações festivas, a eventuais apresentações de
põem a nossa sociedade, e a crítica às relações sociais danças típicas ou à experimentação de pratos regionais.
discriminatórias e excludentes indicam que, novos cami- Estas iniciativas são interessantes e desejáveis, mas não
nhos devem ser trilhados na relação entre as instituições são suficientes para lidar com a diversidade de valores e
de educação infantil e as famílias. crenças.

Compreender o que acontece com as famílias, en-


tender seus valores ligados a procedimentos disciplina-
res, a hábitos de higiene, a formas de se relacionar com
as pessoas etc. pode auxiliar a construção conjunta de
ações. De maneira geral, as instituições de educação de-

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vem servir de apoio real e efetivo às crianças e suas fa- - condutas em caso de emergência e problemas de
mílias, respondendo às suas demandas e necessidades. saúde;
Evitar julgamentos moralistas, pessoais ou vinculados a - informações quanto a participação das crianças e
preconceitos é condição para o estabelecimento de uma famílias em eventos especiais.
base para o diálogo.
As orientações podem ser modificadas caso haja um
Estabelecimento de canais de comunicação trabalho coletivo envolvendo as famílias e o coletivo de
profissionais por meio de consultas e negociações per-
Existem oportunidades variadas de incluir as famílias manentes.
no projeto institucional. Há experiências interessantes As trocas recíprocas e o suporte mútuo devem ser a
de criação de conselhos e associações de pais que são tônica do relacionamento. Os profissionais da instituição
canais abertos de participação na gestão das unidades devem partilhar, com os pais, conhecimentos sobre de-
educacionais. senvolvimento infantil e informações relevantes sobre
A comunicação mais individualizada entre as famílias as crianças utilizando uma sistemática de comunicações
e as instituições de educação infantil deve ocorrer desde regulares.
o início de forma planejada. Após os primeiros contatos,
a comunicação entre as famílias e os professores pode Inclusão do conhecimento familiar no trabalho
se tornar uma rotina mais informal, mas bastante ativa. educativo
Entrar todos os dias até a sala onde sua criança está e
trocar algumas palavras com o professor pode ser um É possível integrar o conhecimento das famílias nos
fator de tranquilidade para muitos pais. Quanto menor a projetos e demais atividades pedagógicas. Não só as
criança, mais importante essa troca de informações. Este questões culturais e regionais podem ser inseridas nas
contato direto não deve ser substituído por comunica- programações por meio da participação de pais e demais
ções impessoais, escritas de maneira burocrática. Opor- familiares, mas também as questões afetivas e motiva-
tunidades de encontros periódicos com os pais de um ções familiares podem fazer parte do cotidiano peda-
mesmo grupo por meio de reuniões, ou mesmo contatos gógico. Por exemplo, a história da escolha do nome das
individuais fazem parte do cotidiano das instituições de crianças, as brincadeiras preferidas dos pais na infância,
educação infantil. as histórias de vida etc. podem tornar-se parte integrante
Em geral a troca de informações é diária com as famí- de projetos a serem trabalhados com as crianças.
lias, principalmente quando há cuidados especiais que a
criança esteja necessitando. Assim, para que o professor Acolhimento das famílias e das crianças na instituição
não fique sobrecarregado pela necessidade de dar aten-
ção às famílias e crianças ao mesmo tempo, o planeja-
A entrada na instituição
mento deste momento — em conjunto com os pais e
a ajuda de outros funcionários — é fundamental para o
O ingresso das crianças nas instituições pode criar
relacionamento de todos os envolvidos.
ansiedade tanto para elas e para seus pais como para os
É preciso combinar formas de comunicação para tro-
professores. As reações podem variar muito, tanto em
cas específicas de informações, como uso de medica-
relação às manifestações emocionais quanto ao tempo
mentos, que precisam ser dados em doses precisas, de
acordo com receita do médico, ou eventos ligados à saú- necessário para se efetivar o processo.
de e alimentação. Isso evita esquecimentos que podem Algumas crianças podem apresentar comportamen-
ser prejudiciais para a saúde da criança e facilita a vida do tos diferentes daqueles que normalmente revelam em
professor e da família. seu ambiente familiar, como alterações de apetite; re-
Com as famílias de crianças maiores, a comunicação é torno às fases anteriores do desenvolvimento (voltar a
de natureza diferente. As informações entre as famílias e urinar ou evacuar na roupa, por exemplo).
a instituição podem ser mais esporádicas, ocorrendo so- Podem, também, adoecer; isolar-se dos demais e criar
mente à medida das necessidades. As reuniões para dis- dependência de um brinquedo, da chupeta ou de um pa-
cussão sobre o andamento dos trabalhos com as crianças ninho. As instituições de educação infantil devem ter fle-
são sempre bem-vindas e se constituem em um direito xibilidade diante dessas singularidades ajudando os pais
dos pais. e as crianças nestes momentos.

No entanto, a participação das famílias não deve estar A entrevista de matrícula pode ser usada para apresen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sujeita a uma única possibilidade. As instituições de edu- tar informações sobre o atendimento oferecido, os objeti-
cação infantil precisam pensar em formas mais variadas vos do trabalho, a concepção de educação adotada. Esta
de participação de modo a atender necessidades e inte- é uma boa oportunidade também para que se conheça
resses também diversificados. alguns hábitos das crianças e para que o professor estabe-
Os pais, também, devem ter acesso à: leça um primeiro contato com as famílias.
Quanto mais novo o bebê, maior a ligação entre mãe e
- filosofia e concepção de trabalho da instituição; filho. Assim, não é apenas a criança que passa pela adap-
- informações relativas ao quadro de pessoal com as tação, mas também a mãe. Dependendo da família e da
qualificações e experiências; criança, outros membros como o pai, irmãos, avós poderão
- informações relativas à estrutura e funcionamento estar envolvidos no processo de adaptação à instituição. A
da creche ou da pré-escola; maneira como a família vê a entrada da criança na institui-

159
ção de educação infantil tem uma influência marcante nas O choro da criança, durante o processo de inserção,
reações e emoções da criança durante o processo inicial. parece ser o fator que mais provoca ansiedade tanto nos
Acolher os pais com suas dúvidas, angústias e ansieda- pais quanto nos professores. Mas parece haver, também,
des, oferecendo apoio e tranquilidade, contribui para que uma crença de que o choro é inevitável e que a criança
a criança também se sinta menos insegura nos primeiros acabará se acostumando, vencida pelo esgotamento fí-
dias na instituição. Reconhecer que os pais são as pessoas sico ou emocional, parando de chorar. Alguns acreditam
que mais conhecem as crianças e que entendem muito so- que, se derem muita atenção e as pegarem no colo, as
bre como cuidá-las pode facilitar o relacionamento. Antes crianças se tornarão manhosas, deixando-as chorar. Essa
de tudo, é preciso estabelecer uma relação de confiança
experiência deve ser evitada. Deve ser dada uma atenção
com as famílias, deixando claro que o objetivo é a parceria
especial às crianças, nesses momentos de choro, pegan-
de cuidados e educação visando ao bem-estar da criança.
do no colo ou sugerindo-lhes atividades interessantes.
Quando há um certo número de crianças para ingressar na
instituição, pode-se fazer uma reunião com todos os pais O professor pode planejar a melhor forma de organi-
novos para que se conheçam e discutam conjuntamente zar o ambiente nestes primeiros dias, levando em consi-
suas dúvidas e preocupações. deração os gostos e preferências das crianças, repensan-
do a rotina em função de sua chegada e oferecendo-lhes
Os primeiros dias atividades atrativas. Ambientes organizados com mate-
rial de pintura, desenho e modelagem, brinquedos de ca-
No primeiro dia da criança na instituição, a atenção do sinha, baldes, pás, areia e água etc., são boas estratégias.
professor deve estar voltada para ela de maneira especial. As orientações acima são válidas também para os
Este dia deve ser muito bem planejado para que a criança primeiros dias do ano ou do semestre, quando todas as
possa ser bem acolhida. É recomendável receber poucas crianças e funcionários estão em período de adaptação.
crianças por vez para que se possa atendê-las de forma É necessário um período de planejamento da equipe
individualizada. Com os bebês muito pequenos, o princi- para organizar a entrada e a rotina das crianças.
pal cuidado será preparar o seu lugar no ambiente, o seu
berço, identificá-lo com o nome, providenciar os alimen- Passagem para a escola
tos que irá receber, e principalmente tranquilizar os pais.
A permanência na instituição de alguns objetos de transi- Com a saída das crianças, as famílias enfrentam no-
ção, como a chupeta, a fralda que ele usa para cheirar, um
vamente grandes mudanças. A passagem da educação
mordedor, ou mesmo o bico da mamadeira a que ele está
infantil para o ensino fundamental representa um marco
acostumado, ajudará neste processo. Pode-se mesmo soli-
significativo para a criança podendo criar ansiedades e
citar que a mãe ou responsável pela criança venha, alguns
dias antes, ajudar a preparar o berço de seu bebê. inseguranças. O professor de educação infantil deve con-
Quando o atendimento é de período integral, é reco- siderar esse fato desde o início do ano, estando disponí-
mendável que se estabeleça um processo gradual de inser- vel e atento para as questões e atitudes que as crianças
ção, ampliando o tempo de permanência de maneira que a possam manifestar. Tais preocupações podem ser apro-
criança vá se familiarizando aos poucos com o professor, veitadas para a realização de projetos que envolvam vi-
com o espaço, com a rotina e com as outras crianças com sitas a escolas de ensino fundamental; entrevistas com
as quais irá conviver. professores e alunos; programar um dia de permanên-
É importante que se solicite, nos primeiros dias, e até cia em uma classe de primeira série. É interessante fazer
quando se fizer necessário, a presença da mãe ou do pai um ritual de despedida, marcando para as crianças este
ou de alguém conhecido da criança para que ela pos- momento de passagem com um evento significativo. Es-
sa enfrentar o ambiente estranho junto de alguém com sas ações ajudam a desenvolver uma disposição positiva
quem se sinta segura. Quando tiver estabelecido um vín- frente às futuras mudanças demonstrando que, apesar
culo afetivo com o professor e com as outras crianças, é das perdas, há também crescimento.
que ela poderá enfrentar bem a separação, sendo capaz
de se despedir da pessoa querida, com segurança e des- Acolhimento de famílias com necessidades espe-
prendimento. ciais
Este período exige muita habilidade, por isso, o pro-
fessor necessita de apoio e acompanhamento, especial-
Algumas famílias enfrentam problemas sérios ligados
mente do diretor e membros da equipe técnica uma vez
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ao alcoolismo, violência familiar ou problemas de saúde


que ele também está sofrendo um processo de adapta-
ção. Os professores precisam ter claro qual é o papel da e desnutrição que comprometem sua atuação junto às
mãe (ou de quem estiver acompanhando a criança) em crianças.
seus primeiros dias na instituição. Apenas quando a sobrevivência física e mental está
Os pais podem encontrar dificuldades de tempo para seriamente comprometida pela conduta familiar, ou
viver este processo por não poderem se ausentar muitos quando a criança sofre agressão sexual, é possível pensar
dias no trabalho. Neste caso, seria importante que pu- em uma ação mais enérgica para a interrupção imediata
dessem estar presentes, ao menos no primeiro dia, e que do comportamento agressor, admitindo-se, em casos ex-
depois pudessem ser substituídos por alguém da con- tremos, o encaminhamento de crianças para instituições
fiança da criança. especializadas longe do convívio familiar.

160
No geral, as famílias que porventura tiverem dificul- Agradecemos igualmente à professora Miriam Bene-
dades em cumprir qualquer uma de suas funções para dita de Castro Camargo pelo excelente trabalho desen-
com as crianças deverão receber toda ajuda possível das volvido na mediação do processo de elaboração destas
instituições de educação infantil, da comunidade, do po- diretrizes, junto às Coordenadoras Pedagógicas de Edu-
der público, das instituições de apoio para que melho- cação Infantil e a equipe ampliada1. Agradeço, também,
rem o desempenho junto às crianças. a todas as pessoas que mesmo não tendo contato direto
com o texto, contribuíram significativamente para a sua
Referências realização.
Referencial Curricular Nacional para a Educação O fato de estarmos à frente da Assessoria de Currículo
Infantil volume 1. e poder compartilhar e vivenciar momentos significativos
das relações com o conhecimento, como este, é um privi-
légio, que nos motiva, emociona, e contribui para definir
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO e redefinir nossas próprias convicções e agora, com esta
BÁSICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL – produção, compartilham com os outros educadores da
MUNICÍPIO DE CAMPINAS Rede Municipal de Educação de Campinas (RMEC).

Introdução
Prezado candidato, a seguir você confere os textos de In- As Diretrizes Curriculares de Educação Infantil vêm
trodução do material solicitado. Visto seu formato e exten- sendo desenhadas desde 2007,
são disponibilizamos o conteúdo na íntegra em nosso site quando a Secretaria Municipal de Educação, por ini-
para consulta para não haver danos em seus estudos. Não ciativa dos NAEDs, realizou o Seminário de Educação
deixe de conferir em: https://www.novaconcursos.com.br/ Infantil/ 2007, que envolveu todos os profissionais da
retificacoes RMEC, os quais realizaram comunicações orais sobre
a suas práticas pedagógicas. O relato dessas experiên-
Apresentação cias foram sistematizados pelas Equipes dos NAEDs, em
2009, com a intenção em constituir-se em uma proposta
As Diretrizes Curriculares afirmam uma concepção pedagógica, com as experiências vividas no cotidiano
que questiona e transforma o indivíduo, refletindo con- com bebês e crianças pequenas da Rede Municipal de
tinuamente sobre o trabalho pedagógico e valorizam a Ensino de Campinas – RMEC.
pesquisa em nome de uma Educação Infantil criativa e Tal movimento se concretiza em 2012, com a escrita
transformadora das experiências individuais e sociais. das Diretrizes Curriculares de
A Assessoria de Currículo da Secretaria Municipal de Educação Infantil da SME, elaborada pela equipe
Educação (SME) Campinas, elabora este documento em constituída pela Assessoria de Currículo e Pesquisa Edu-
que prioriza as infâncias das crianças, as infâncias volta- cacional do Departamento Pedagógico. O processo de
das a uma educação para a autonomia. Aos profissionais escrita iniciou-se com a elaboração de um texto prelimi-
oferece perspectivas para a construção de um pensa- nar que foi enviado às Unidades Educacionais para estu-
mento educativo que orienta os processos pedagógicos, do e análise, que retornaram para a Assessoria de Currí-
culo, em forma de contribuições, coletivas ou individuais,
discute o cotidiano e suas especificidades, numa cons-
a serem acrescidas, suprimidas, substituídas e reavaliadas
tante avaliação e redefinição de percursos.
na escrita final do documento.
Não se trata de concluir estas Diretrizes, mas sinali-
Neste percurso aconteceram dois seminários, o “I Se-
zar o que está por vir: o chão da escola, a voz dos pro- minário Curricular – Educação Infantil 2012”, que tratou
fissionais, os questionamentos das crianças, a busca da sobre as “Minúcias do cotidiano e da Arte em Educação
qualidade social da educação e a relação com o conhe- Infantil” e, o “II Seminário Curricular – Educação Infantil
cimento. 2012”, no qual foi lido o texto preliminar, acrescido das
A elaboração e sistematização das Diretrizes Curricu- contribuições recebidas para que os envolvidos conhe-
lares é o primeiro passo, o começo de uma nova etapa cessem as propostas das demais Unidades Escolares (U.E)
que traz a sua implementação, num processo contínuo e esclarecessem, se necessário fosse, as sugestões das
de reflexão e ação que contribua para uma educação de quais eram representantes. Em seguida, a equipe respon-
qualidade. sável pela escrita retomou sua continuidade, consideran-
Compreendemos que um currículo será efetivamente do as sugestões vindas dos profissionais da Educação
assumido por toda a rede quando todos e cada um pu- Infantil da Rede Municipal de Campinas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

derem nele reconhecer a sua identidade. Isso só é pos- Destarte, este documento “Diretrizes Curriculares da
sível no diálogo em que cada um possa falar e ouvir o Educação Infantil Pública – um processo contínuo de re-
outro. flexão e ação” sintetiza a complexidade do pensamento
Nossos sinceros agradecimentos à SME, ao Departa- pedagógico da Educação Infantil da RMEC e orienta os
mento Pedagógico, aos Núcleos de processos educativos nas Unidades Educacionais, que
Ação Educativa Descentralizada (NAED) e às Unida- atendem bebês e crianças pequenas na primeira etapa
des de Educação Infantil, por acreditarem, oportunizarem da Educação Básica. As Diretrizes foram organizadas a
e compartilharem o processo de elaboração da escrita partir do diálogo entre os profissionais que atuam na
deste documento curricular, num movimento significati- área educacional e a equipe que se propôs a elaborá-las,
vo de reflexão da prática para uma implementação igual- junto à Assessoria de Currículo da Secretaria Municipal
mente reflexiva das Diretrizes Curriculares. de Educação – SME.

161
Este documento é composto da história que contex-
tualiza o movimento, que é constitutivo e condicionante
de realizações na Educação Infantil pública de Campinas. HORA DE PRATICAR
O mesmo está organizado em três tópicos:
No primeiro tópico “Das Histórias da Educação Infan- 1. SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA - SP (SESI/SP) -
til em Campinas”, intitulado estão os cernes relacionais ANALISTA PEDAGÓGICO - SUPERIOR- CENTRO DE
dos cotidianos educativos ao longo do tempo. Relatou- SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS (CESPE) -
-se a 2008
história do movimento curricular na RMEC e, muitos Assinale a opção correta a respeito de conceitos relacio-
esforços foram feitos no sentido de conferir ao docu- nados a alfabetização e letramento, conforme proposta
mento a legitimidade necessária, naquilo que, embora de Magda Soares.
não faça parte do cotidiano de todos, faz parte da his-
tória de muitos e continuará gestando outras histórias, a) Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não
outros olhares, outros sentidos... inseparáveis, sendo ideal ensinar a ler e escrever no
O tópico, denominado “Criança, Currículo, Infância: contexto das práticas sociais de leitura e escrita.
Práxis Educacionais Inventivas”, tem o foco no cotidia- b) Letramento corresponde ao processo pelo qual se ad-
no da Educação Infantil propriamente dito, optou-se por quire a tecnologia de codificar em língua escrita e a de
um texto que reafirmasse a todo o momento sua ideia decodificar a língua escrita.
central de que currículo é relação e que, portanto, as di- c) Alfabetizado é não só aquele que sabe ler e escrever,
retrizes cumprem o papel de orientar os caminhos, sem mas aquele que responde às demandas sociais de lei-
deixar de apontar as possibilidades que permitem um tura e escrita.
fazer cotidiano intenso, criativo, transgressor e inovador. d) Como alfabetizar e letrar são duas ações distintas, é
Em sua terceira parte, chamada “(Trans)formação necessário que o sujeito tenha aprendido a ler e escre-
Continuada: reflexão e criação do fazer pedagógico”, tra- ver para envolver-se nas práticas de leitura e escrita.
ça-se os caminhos que a formação percorrerá com vistas
a instigar, provocar, subsidiar, sistematizar, propor e pu- 2. (UFRN – COMPERVE – 2017) Para Piaget, o cresci-
blicizar os movimentos vivenciados na Educação Infantil mento cognitivo é um processo que ocorre em duas eta-
da RMEC. pas: pela assimilação e pela acomodação. Tal processo
Reconhece-se que outros movimentos de diálogo é acompanhado de três princípios inter-relacionados,
com as comunidades educativas poderiam qualificar e quais sejam: 
estender a finalização deste documento, considerando
que as sugestões vindas das discussões nas Unidades
a) assimilação, esquema e acomodação. 
Educacionais, em muito contribuíram para o enriqueci-
b) esquema, organização e acomodação. 
mento do mesmo. Entretanto, optou-se por encerrar esta
c) organização, adaptação e equilíbrio. 
etapa, neste momento, e aprofundar discussões sobre
d) equilíbrio, organização e esquema. 
temas específicos da área e elaborando coletivamente
cadernos temáticos na sequência deste documento.
3. TJ – PE (Tribunal de Justiça de Pernambuco) – Analis-
O movimento de elaboração das Diretrizes Curricula-
ta Judiciário – Superior – FCC (Fundação Carlos Chagas)
res da Educação Infantil representa
2011
um grande marco na Educação Infantil de Campinas e
A formação continuada dos professores é uma impor-
mantém aberto o diálogo com a Rede, em processo con-
tante ação para o aperfeiçoamento e atualização das
tínuo de construção que permite vislumbrar caminhos
práticas docentes. Uma estratégia privilegiada para o
para a organização das práticas pedagógicas da SME.
desenvolvimento de uma formação voltada a garantir o
Nesta direção, serão elaborados Cadernos, com as se-
compromisso com a qualidade da ação educativa é
guintes propostas temáticas: Documentação e Registro;
Arte e Ciência; Letramento; Relações Étnico Raciais; Edu-
a) o fornecimento gratuito de curso pelas redes educa-
cação Especial; Gênero e Sexualidade; Projetos; Corpo e
cionais municipais e estaduais, visto que é um dever
Movimento, como metas a serem cumpridas nos próxi-
do estado proporcionar o desenvolvimento do profis-
mos períodos.
sional docente.
b) o desenvolvimento de cursos de pós-graduação, nos
quais os docentes poderão aperfeiçoar seus conheci-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mentos teóricos a respeito de temas de seu interesse.


c) a implementação de formações nas unidades escola-
res, nas quais os docentes poderão refletir sobre sua
prática e trocar informações junto a seus pares.
d) o estabelecimento de quantidade e periodicidade mí-
nima para o desenvolvimento de cursos para recicla-
gem dos docentes.
e) a exigência de que cada professor, após sua formação
inicial, continue a se aperfeiçoar por meio de curso de
pós-graduação stricto-sensu.

162
ANOTAÇÕES
GABARITO

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1 A
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2 C
3 C
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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163
ANOTAÇÕES

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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