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Desmistificando a Depressão

Poucas doenças da atualidade tem sido tão comentadas quanto a


depressão, que está se tornando cada vez mais prevalente na nossa
época, por diversos motivos, nem todos ainda bem compreendidos. Apesar
de toda a informação veiculada constantemente nos meios de comunicação
a depressão é um fenômeno ainda não bem compreendido pela maioria
das pessoas e cercada de muitos mitos e preconceitos. É comum se ouvir
coisas do tipo: “Depressão não existe”, Depressão é doença de rico”,
“Depressão é doença de madame”, “Depressão é coisa de mulher”,
“Depressão é frescura”, “Depressão é falta do que fazer”, “Dá mais trabalho
pra ele/ela que melhora”, e assim por diante. Todos comentários desairosos
que desqualificam o portador de depressão, o que só ajuda a colocar o
paciente ainda mais para baixo do que a doença já o coloca. Esses
preconceitos dificultam a compreensão do fato de que depressão é uma
doença real, tão concreta quanto uma artrite, uma cardiopatia ou uma
diabete, mas não tão simples de compreender em função de que seus
sintomas são, de certa forma, abstratos, não mensuráveis por exames de
sangue ou raios-x, como no caso de outras doenças ditas “orgânicas”. No
entanto, o substrato da depressão também é orgânico, no sentido de que é
resultado de algo que ocorre em nosso organismo, a nível bioquímico, na
intimidade do funcionamento do sistema nervoso central. Na depressão, o
órgão afetado pe aquele que controla todos os outros ou, mais que isso,
que controla toda a nossa existência, inclusive a forma como nos sentimos,
como pensamos, como tomamos decisões, como planejamos e
conduzimos as nossas ações, como avaliamos as circunstâncias, as outras
pessoas e a nós mesmos. A depressão pode alcançar graus variados e, em
muitos casos, torna-se uma doença grave e potencialmente letal. Pouca
gente sabe que – apesar de todos os tratamentos disponíveis - 15% dos
casos de depressão terminam em suicídio. Esse dado não é muito
divulgado entre a população devido a um preconceito, inclusive no meio
médico, em relação ao suicídio. Mais do que um preconceito, o suicídio é
tratado como um tabu, algo sobre o qual não se deve falar. Algo do tipo
que quando se fala as pessoas se benzem ou batem na madeira para
mantê-lo a distância. Poucas coisas tem sido cercadas de tanto mistério,
proibição e provocam tanto medo quanto o suicídio. Nos assusta muito a
idéia que, de repente, algo dentro de nós pode fugir ao nosso controle e
atentar contra nossa própria vida. No caso da depressão, muitas vezes,
essa é uma, que para a maioria das pessoas passa longe ou é mantida a
distância na base do Deus me livre!, é uma ameaça sempre presente e que
em algumas vezes se concretiza causando pânico e consternação inclusive
entre aqueles que antes nutriam idéias do tipo “depressão não existe ou é
frescura de quem não tem o que fazer”. A nível inconsciente o que de fato
acontece, é usamos um mecanismo de defesa do ego, a negação, para
negar a existência de algo que nos inquieta, que nos perturba por ser de
difícil compreensão. E todo mundo sabe que nada é mais atemorizante do
que o desconhecido. Vamos, então, deixar de lado o preconceito e a
negação e olhar de frente para essa questão examinando o que é verdade
e o que é mito a respeito dessa polêmica doença.

Parte do problema se deve a uma confusão semântica. O termo


“depressão” é usado correntemente para descrever uma série de outras
coisas que não a condição clínica que a medicina resolveu designar de
“depressão”, o que talvez possa ser considerado um equívoco histórico.
Alterações de humor simples e perfeitamente normais do dia-a-dia de todo
mundo também são designadas como depressão. É normal todo mundo
eventualmente sentir-se deprimido ou sentir algum mal-estar emocional que
costuma se chamar de depressão. É comum ouvirmos as pessoas dizerem
“Ah, hoje estou meio deprimido(a)”. Mas isso é muito diferente de estar
sofrendo da condição clínica chamada de “depressão”. Assim sendo, como
essas oscilações de humor normais são uma experiência universal, todo
mundo pensa que sabe tudo sobre o que é estar deprimido e sobre como
lidar com isso. Daí surgem fórmulas simplistas do tipo, “Quando estou
deprimido saio para dar uma volta e volto melhor”, “Se me deprimo compro
alguma coisa que eu gosto e já me sinto melhor”, etc. Infelizmente, quando
se trata de depressão clínica a coisa não é assim tão simples.

Vamos analisar então os mitos mais comuns em relação à


depressão, tendo em mente que aqui utilizamos o termo mito no sentido de
idéia pré-concebida e distorcida a respeito de alguma coisa.

Mito 1: Depressão não existe.

A Depressão é um problema médico sério que afeta não apenas o humor e


os pensamentos do indivíduo, mas o organismo como um todo. Existem
fatores genéticos e biológicos que fazem parte da gênese das depressões.
Pessoas portadoras de depressão apresentam uma elevação no nível de
hormônios relacionados ao estresse, como o cortisol, e exames de pet-
scan do cérebro de pacientes de depressão mostram que a atividade
cerebral está diminuída em determinadas áreas cerebrais.

Mito 2: Depressão não tem cura.


A Depressão é uma doença tratável e mais de 80 por cento dos indivíduos
portadores melhoram com o tratamento. A medida que os tratamentos
existentes vão sendo aperfeiçoados e novos tratamentos vão sendo
desenvolvidos esse número deve continuar aumentando. O primeiro passo
é procurar um médico para fazer um diagnóstico acurado a partir do qual
poderá ser instituído o tratamento mais adequado para cada caso em
particular.
Mito 3: Ter Depressão não é diferente da tristeza comum ou estar na
“fossa”– isso é uma coisa normal da vida.

Comparar Depressão com a tristeza comum – a depressão normal pela


qual todos passam eventualmente – é o mesmo que comparar resfriado
com tuberculose. Todo mundo fica triste ou levemente deprimido por
alguma coisa, usualmente devido a alguma perda, revés ou
desapontamento que dura um ou dois dias. A Depressão pode durar desde
algumas semanas até uma vida inteira, e os sintomas da doença são muito
mais intensos e debilitantes. Ninguém comete suicídio porque seu time de
futebol perdeu um jogo ou porque um relacionamento terminou a menos
que esteja sofrendo efetivamente de Depressão.

Mito 4: Pessoas que acham que têm depressão estão apenas com
pena de si mesmas.

A Depressão afeta cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil. Algumas das


mais proeminentes e conhecidas personalidades da história sofreram de
Depressão, tais como Alexandre o Grande, Isac Newton, Michelangelo,
Winston Churchill, Chopin, Dostoievski, Napoleão Bonaparte, Abraão
Lincoln, Olavo Bilac, Elis Regina, Ulisses Guimarães, e muitos outros, que
não são propriamente o tipo de pessoa que anda por aí sentindo pena de si
mesma.
Mito 5 – Você pode mandar a depressão embora, se não pode isso é
sinal de fraqueza.

A Depressão não pode ser afastada por força de vontade tanto quanto não
se pode afastar uma cardiopatia ou uma diabete dessa maneira. A
Depressão é causada por uma alteração bioquímica no cérebro, que não
pode ser superada apenas por pensamento positivo ou determinação. Em
vista de todo estigma que está associado à doença mental, buscara ajuda
para tratar a Depressão é um ato de coragem e força – não propriamente
uma fraqueza.

Mito 6 – A Depressão irá embora por si mesma

Para indivíduos extremamente afortunados, a depressão poderá ter uma


remissão espontânea. Mas, para a maioria, ela pode perdurar por meses,
anos ou indefinidamente. Além disso, a depressão pode passar por si
mesma por um tempo para retornar no futuro; uma vez que a pessoa teve
um episódio de depressão ela se torna predisposta a ter outros. A
Depressão clínica é uma doença potencialmente fatal, pois o suicídio pode
ser o resultado final, especialmente quando o paciente demora a buscar
ajuda, esperando que o problema irá se resolver com o tempo, ou
abandona precocemente o tratamento achando já estar “curado”.
Mito 7: A Depressão é um fato normal do envelhecimento.

A Depressão não faz parte natural do envelhecimento, embora, com o


avanço da idade as pessoas vão se tornando mais vulneráveis, inclusive
por que, muitas vezes, os idosos experimentam com mais freqüência
eventos de vida capazes de desencadear um episódio depressivo: perdas
entre familiares e amigos, doenças físicas em geral, muitas vezes crônicas
e debilitantes, isolamento afetivo e dificuldades financeiras. Acrescente-se
o fato de que as pessoas que hoje estão com mais de 60 anos cresceram
em uma época na qual a doença mental não era muito discutida ou era tida
como “coisa de louco”, então, são mais resistentes ou sentem-se
constrangidos ao buscar ajuda de especialistas dessa área. Em função
disso, a incidência de suicídios é maior entre pessoas com mais de 65
anos, quando, então, os homens se tornam mais vulneráveis que as
mulheres. É imperativo que idosos com depressão busquem ajuda médica
o mais precocemente possível. Normalmente isso é feito através dos
familiares, pois, nesses casos, o paciente dificilmente busca ajuda por
conta própria.

Mito 8: Depressão é coisa de mulher.

Embora a Depressão seja duas vezes mais freqüente entre as mulheres ela
também afeta os homens. Por outro lado, a depressão em homens é
provavelmente menos diagnosticada visto que os homens relutam mais em
buscar ajuda devido ao machismo. Em contrapartida, homens tem uma
taxa mais alta de tentativas de suicídio bem sucedidas, em parte,
justamente pelo fato de custarem mais a procurar ajuda.

Mito 9: A Depressão não afeta crianças e adolescentes – a Depressão


nessa idade faz parte do processo de crescimento.

Gostaríamos de acreditar que toda a criança experimenta uma infância feliz


e saudável, mas, infelizmente, esse não é o caso. Pesquisas demonstram
que 1 em cada 33 crianças e 1 em cada 8 adolescentes apresentam
depressão a cada ano. As crianças não tem tanta facilidade de articular
seus sentimentos quanto os adultos, logo os adultos devem tomar a
iniciativa e estar atentos para detectar sintomas de depressão nas crianças.
Os adolescente muitas vezes se fecham e não expressam seus
sentimentos, especialmente quando o ambiente familiar não é favorável ao
diálogo.

Mito 10: Se alguém em sua família sofre de Depressão, você


fatalmente irá herdá-la.
Da mesma forma que descendentes de portadores de hipertensão,
hemofilia ou diabetes nem sempre irão herdar essas doenças, nem todos
os familiares de portadores de Depressão irão herdar a predisposição para
essa doença. Apenas haverá uma maior probabilidade de que isso
aconteça, mas não se trata de uma condenação. Nesse caso, o importante
é estar atento para buscar ajuda assim que os primeiros sintomas
começarem a se apresentar, pois, quanto antes o diagnóstico for feito e o
tratamento iniciado melhores as chances de recuperação.

Rubens Mário Mazzini Rodrigues


Médico Psiquiatra
www.yatros.com.br

Como definiu Brian Sutton-Smith, um dos principais educadores dos


Estados Unidos: "O contrário de brincadeira não é trabalho. É
depressão".

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