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TEMA 01

TEMA 1: INTRODUÇÃO A FILOSOFIA I: A


PASSAGEM DO PENSAMENTO MÍTICO PARA
O PENSAMENTO FILOSÓFICO E OS
PRÉ-SOCRÁTICOS DE MAIOR RELEVÂNCIA.
1 GRÉCIA: O NASCEDOURO DA FILOSOFIA
E DA ÉTICA
Bem-vindos ao tema 1!

Figura 01 - Fotografia de ruínas da civilização grega.

Fonte: Disponível em: www.pixabay.com

FILOSOFIA , ÉTICA E
DESENVOLVIMENTO HUMANO 1
Hoje faremos uma viagem para a Grécia antiga e assim
compreenderemos as origens do pensamento filosófico e da
Ética. A origem desse modo peculiar de pensar, questionar
e se posicionar em relação ao mundo está diretamente ligada
à civilização grega antiga, ao modo de organização social
dessa civilização, ao seu modo de pensar e a sua história.
Mergulharemos na Grécia antiga e, através dela, conheceremos
o phatos (paixão) que motiva todas as pessoas a se aproximarem
da Filosofia.
Para isso, precisaremos nos esforçar para abandonar um
pouco o nosso ponto de vista de homens modernos para tentar
adentrar em uma forma completamente diferente de entender
o mundo.
Sabendo que se tratam de maneiras distintas de pensar,
de uma outra época e de um outro contexto, faremos o
exercício de mergulhar na narrativa desenvolvida pelos gregos
sem, necessariamente, querer encaixá-la na forma de nossa
compreensão atual. Tenho certeza que esse é um exercício muito
interessante. Vamos tentar?

Figura 02 - Têmis, Deusa grega da justiça. Representa, até hoje, o


direito e a justiça.

Fonte: Disponível em: www.pixabay.com

2 NORMA SUELI MENDES DA SILVA


A Filosofia surge na Grécia como um sistema de pensamento
que nasce para se sobrepor ao modo mítico de pensar que
dominava essa civilização. Para o pensamento mítico, a natureza,
as relações sociais e todas as questões que surgiam eram tradas
através das narrativas simbólicas sobre as várias divindades que
os gregos cultuavam.
A tempestade e os trovões, por exemplo, eram causados por
Zeus, o deus dos raios. A justiça era responsabilidade da deusa
Têmis, que protegia os oprimidos e fazia cumprir a justiça aos
opressores.
Os textos da Ilíada e da Odisseia, ambos de Homero,
apresentam a história dos deuses gregos que interferem no
destino dos homens e definem o destino de suas vidas. Mesmo
representando forças da natureza, os deuses gregos apresentavam
forma humana.

A Ilíada foi escrita no século VIII a.C. O texto é todo feito


em versos, como um grande poema.

A Odisseia foi escrita no mesmo período e conta as


aventuras de Odisseu, posteriormente denominado
Ulisses, em sua jornada do herói.

Para o homem grego, era como se as forças da natureza


com que conviviam diariamente fossem divindades a quem
cultuavam, afastando, assim, o terror, a obscuridade e a falta de
controle em relação a elas.
Através dessas narrativas poéticas, os mitos, que
apresentavam alegorias, ou seja, uma construção metafórica,
os gregos explicavam a origem do universo, da natureza, do
homem, dos fenômenos naturais, da vida e da morte, a sorte
e o azar, os desastres, o destino, enfim, a dinâmica de todas as
coisas.

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DESENVOLVIMENTO HUMANO 3
Os primeiros pensadores são os chamados pré-socráticos.
E o que esses pensadores representavam para romper com o
pensamento mítico?
Esse ponto é muito importante. A diferença crucial do
mito para a filosofia esta no fato de que no mito a realidade é
representada por uma narrativa poética que representa como as
coisas são, independente da intervenção do homem, a partir da
força dos deuses do Olimpo e da sua determinação.
A Filosofia surge como uma forma de ver a realidade através
da razão e da argumentação, que sobrepõe o modo fatalista
de entender a natureza e o destino dos homens como obra do
divino. O homem, com a filosofia, torna-se capaz de observar a
dinâmica do real e tentar explicar seu funcionamento segundo
sua capacidade de compreensão e descrição.

Você percebe a diferença?

Ao invés de consultar um oráculo (como era muito comum


na Grécia) para responder uma pergunta, os gregos começaram
a desenvolver argumentações racionais para explicar a dinâmica
das coisas. Ao invés de se submeter aos deuses, os gregos, com
a filosofia, poderiam explicar por si mesmos a realidade. A
Filosofia vem suplantar o mito, a obscuridade, a subordinação
dos homens aos deuses, através da razão e da sua capacidade de
argumentação.

2 ORIGEM DA FILOSOFIA
Os primeiros pensadores são os chamados pré-socráticos.
Eles têm esse nome não por acaso e marcam a transição do
mito à filosofia. Não que esses autores não fossem filósofos. Eles
eram. Mas são chamados de pré-socráticos justamente porque

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Sócrates é o autor considerado marco para o surgimento de um
modo específico de questionar e pensar sobre a realidade que
chamamos de filosofia.

A palavra Filosofia vem do grego Philo (amor, amizade)


+ sophia (conhecimento). Filosofia, portanto, quer dizer
amor ao conhecimento.

Os pré-socráticos são cruciais no percurso até o que Sócrates


vai representar, posteriormente, com sua atitude questionadora
e o seu modo peculiar de compreender a vida, a ética e a política.
Antes de prosseguirmos, vamos compreender como se forma
essa ponte do mito para a filosofia?

Quadro 01 – Mito e Filosofia

Mito Filosofia
Deuses como aqueles que O homem como aquele que
explicam o destino dos é capaz de compreender a
homens e da natureza. natureza e explicá-la.

Natureza como um mistério Natureza organizada por


divino. um princípio que pode ser
acessado pela razão.

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Linguagem utilizada: Linguagem utilizada:
Metáforas e alegorias Argumentação.
poéticas.

Fonte: Autoria própria, 2019.

2.1 TALES DE MILETO


Tales de Mileto foi o primeiro pré-socrático que lançou a
questão sobre a “origem” das coisas. Essa questão motivou todo
o debate posterior dos pré-socráticos. Tale perguntava sobre o
“princípio” (em grego, arché) da natureza (physis). Ele queria
descobrir o elemento a partir do qual surgia a natureza como
um todo. Essa questão é primordial
Figura 3 - Busto de Tales
para uma reflexão que pretendia de Mileto – c. 624 a.C/623
compreender como funcionava a a.C
natureza que circundava o homem
grego e que organizava o seu dia a
dia: o regime de chuvas, as cheias
e vazantes do rio, os períodos de
colheitas e de plantio.
Tales queria entender o elemento
a partir do qual surgem todas as
coisas e no qual todas as coisas se
transformam quando findam. Essa
pergunta fez sentido para Tales e Fonte: Ilustração de
foi muito importante para os pré- “Illustrerad verldshistoria
socráticos, tendo em vista que o utgifven av E. Wallis.
volume I”: Thales.

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homem grego dessa época percebia a natureza (physis) como um
ciclo em que tudo está integrado, tanto os elementos naturais,
como os animais, o próprio homem e até os deuses. A natureza é
uma espécie de organismo, um corpo, em que o funcionamento
se dá de maneira orgânica, sincronizada, conectada.

Se comparado com o nosso, esse é um modo distinto de


perceber a natureza, não é verdade?

Pareceria estranho para nós, por exemplo, considerar


que tanto os homens como os deuses são parte da natureza
e compõem esse todo integrado. Tendemos a pensar que a
natureza é algo separado de nós e controlável através das ciências
e da tecnologia. Mas para o grego, a natureza tinha um caráter
totalizante, uno, e também divino, possuindo “vontade” própria,
não controlável pelos homens. Daí porque é tão importante
compreender sua origem (a arché).
Para Tales, esse elemento originário era também o elemento
que permanecia imutável dentro desse ciclo que era a natureza:
de vida e morte, colheita e seca, chuva e estiagem, cheia e
vazante. Era aquilo que permanecia idêntico no transmutar da
natureza e nas suas alterações e, por isso mesmo, era aquilo que
sustenta a existência de todas as coisas.
Essa tentativa de determinar a “origem” de tudo é o início
do processo do homem de abandonar a submissão à vontade
dos deuses e à narrativa dos mitos e passar a compreender a
realidade através da argumentação e da razão. Veremos como
se desenvolve esse pensamento e como essa semente vai gerar a
árvore frondosa da Filosofia.
Através dessa reflexão, Tales conclui que o elemento a partir
do qual tudo se origina é a água. Ele observa que onde há vida,
há água. Para ele, todas as coisas se nutriam de água: a semente

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precisava de água para brotar, o homem precisava de água para
se manter, os animais também. Falando pelos termos de Tales:
todas as coisas têm uma natureza úmida. A falta de água, ou a
secura, significaria a morte. Assim, a água seria a origem, o fim
e àquilo a partir do qual tudo subsiste. Tudo vem da água, a água
sustenta a vida de tudo que existe e tudo termina na água.

Esse raciocínio nos parece bastante estranho, não é


mesmo?

Mas isso se deve ao fato de que quando falamos em água,


você certamente pensa no elemento químico expresso pela
fórmula H2O. Mas não é assim que pensava o homem grego.
Quando Tales fala “tudo vem da água”, ele pensa na natureza
líquida originária de todas as coisas. A água do rio ou da chuva,
a água que bebemos, são apenas manifestações dessa natureza
líquida universal.
O elemento originário permeia todas as coisas e por isso
tinha para Tales um sentido divino. Percebem que a reflexão
de Tales apresenta uma mudança importante na concepção
politeísta que sustenta o modo mítico de compreender a
realidade?
A origem é única, para ele, e mais importante, é explicada
racionalmente a partir de uma argumentação sobre o
funcionamento da natureza. Em um de seus aforismos Tales diz:
“Tudo está cheio de deuses”. Ele quer dizer que todas as coisas
são permeadas pelo princípio originário. Tudo tem vida, tudo é
divino e animado por uma “alma”, que é essa origem, substância
de todas as coisas. No pensamento de Tales é possível perceber
a origem tanto da filosofia metafísica, que pergunta pela
substância, como da ciência, que investiga e observa a natureza
e o seu funcionamento.

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No modo de compreender a realidade desse pré-socrático
essas duas coisas – metafísica e ciência – estão misturadas e,
por isso, são inseparáveis. Ambas irão, posteriormente, gerar
reflexões distintas na história do pensamento: a filosofia e a
física. Vamos compreender melhor esse processo conforme
desenvolvermos mais nossa conversa. Vamos continuar
investigando?

2.2 Anximandro de Mileto e Anaxímenis de Mileto

Figura 4 - Ruínas da antiga cidade de Mileto, atualmente Turquia.

Anaximandro foi discípulo de Tales e nasceu em


aproximadamente 610 a.c. Ele aprofundou tanto o debate sobre
a origem (arché) da natureza (physis) como tornou o debate
iniciado por Tales ainda mais filosófico, usando uma linguagem
que se aproxima ainda mais da utilizada pelos filósofos
posteriores.

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Anaximandro avança na investigação sobre a origem das
coisas perguntando sobre “porque” e “como” todas as coisas
derivam do elemento originário. Além disso, ele escreve em
prosa, não em verso, como Tales. Essa informação parece
irrelevante, mas não é, pois isso demonstra um rompimento
com a estrutura poética dos mitos e um avanço em direção à
estrutura argumentativa da filosofia.
Para Anaximandro, a água não poderia ser o elemento
originário porque ela já é, na realidade, um elemento derivado.
A origem de tudo seria o infinito (em grego, á-peiron),
que é indefinido e imaterial, e que permeia todas as coisas.
Vamos acompanhar a explicação para entender melhor o que
Anaximandro quer dizer.
O á-peiron é, para Anaximandro, aquilo que não possui
limites, não podendo ser determinado espacialmente, nem
ter sua natureza definida e delimitada. E, por ser ilimitado, o
á-peiron pode dar origem a todas as coisas, conformando-se de
várias formas distintas. Todas as coisas são geradas a partir do
á-peiron e a partir dele se determinam e existem.
Para Anaximandro, o mundo era constituído por uma série
de contrários como, por exemplo, o frio e o quente, o claro e o
escuro etc. Tais elementos, nessa perspectiva, vivem em disputa
para predominar sobre o outro. O movimento do real consistia
nessa dança de contrários, em alguns momentos, de equilíbrio,
e, em outros, de sobreposição de um ou de outro elemento.
Assim, para ele, se explicam a justiça e a injustiça no destino dos
homens. Anaximandro desenvolve uma espécie de cosmologia
que se aproxima do que a gente tem por ciência, porém, assim
como Tales e os outros pré-socráticos, ele compreende que a
natureza é animada por um movimento eterno.

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Figura 4 - Busto de Anaxímenes

Fonte: Disponível em: https://docplayer.com.br/docsimages/64/51465866/images/16-7.


jpg

Anaxímenes nasceu em Mileto, aproximadamente em 588


ac. Ele considera que o princípio originário é resultado da
transformação de um ar infinito que ele chama de pneuma. Todas
as coisas surgiriam de um processo de rarefação e condensação
desse ar infinito. Ao fazer essa afirmação, Axímenes aprofunda
ainda mais o debate sobre a origem das coisas, pois ele, além
de identificar o elemento que origina todas as coisas, explica a
partir de qual processo é possível passar do elemento primordial
(a unidade) para as muitas e diferentes coisas que constituem o
mundo (a multiplicidade).
Esse debate estabelecido pelos pré-socráticos nos mostra um
elemento importante que difere da mentalidade mítica grega:
há, agora, a possibilidade de reformulação e correção das teses
propostas. Existe, portanto, argumentação e discussão, e não

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mitos estáveis e incontestáveis que revelavam o funcionamento
do universo. Isso é um elemento importante que devemos notar
e que é fundamental para entender o papel dos pré-socráticos
e do seu pensamento científico-filosófico para o surgimento da
filosofia. Vamos juntos descobrir como isso vai acontecer?
Antes de falarmos dos filósofos contemporâneos de Sócrates,
vejamos uma síntese dos filósofos naturalistas estudados até
agora.

Quadro 02 – Filósofos naturalistas

Tales de Mileto Anaxímenes de Mileto


Pergunta pela origem (arché) Pergunta pelo “porque”
da natureza (physis) e “como” todas as coisas
derivam do elemento
Elemento originário: originário
Água
Elemento originário:
á-peiron, o infinito
Anaximandro de Mileto
Explica a partir de qual processo é possível passar do
elemento primordial (a unidade) para as muitas e diferentes
coisas que constituem o mundo (a multiplicidade).
Elemento originário:
pneuma, ar infinito

Fonte: Autoria própria, 2019.

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3 PARMÊNIDES E HERÁCLITO: “SER” OU
“NÃO-SER”?
Em relação ao pensamento dos pré-socráticos anteriores
e ao debate sobre a natureza e sua origem, o pensamento de
Parmênides e Heráclito representam uma mudança importante
no direcionamento do debate que aproxima ainda mais o
pensamento grego do que depois chamaremos de Filosofia com
Sócrates.
Parmênides vai introduzir um elemento importante para
as discussões posteriores da filosofia, a ideia de ser. “Ser” é,
aparentemente, somente um verbo que conjugamos para
indicar a qualidade de existência do sujeito ao qual ele se refere.
Mas, para a filosofia, ser pode ser compreendido como um
substantivo.
O ser para a filosofia exprime a essência do que é. Ou seja,
aquilo que define e subsiste em todos os seres e que por isso é
estável e os define. Em filosofia existe uma disciplina que estuda
o ser, a ontologia. A discussão sobre o ser vai ser crucial para
o debate da ética grega e da ética moderna que estudaremos
posteriormente.
Parmênides escrevia que o ser é e não pode não ser; o
não-ser não é, e não pode ser, de modo nenhum. Parece uma
colocação óbvia e, ao mesmo tempo, enigmática. Mas vamos
entender o que Parmênides quer dizer. Para ele o ser significa o
positivo puro e o não-ser, o contrário, o negativo puro. Assim,
se existe o ser é necessário que o não-ser não exista. Tudo o que
se pensa e se diz, para ele, é, então, é “ser”, assim, não se pode
dizer sobre aquilo que não é, ou seja, sobre o não-ser. Isso seria
uma contradição.
Parmênides conclui que o ser é imutável e imóvel, porque
a mobilidade supõe o não-ser, na transição de um estado de

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ser para outro. O “ser” é uma unidade. Pense na figura de uma
esfera, uma figura que possui uma unidade coesa, apesar de
limitada, ela é sólida e completa. É essa imagem que define o ser
para Parmênides.
Heráclito, por outro lado, diz o oposto de Parmênides.
Heráclito escreve que Tudo se move (panta rhei). Para ele,
nada permanece fixo, tudo sempre muda e nada escapa a essa
dinâmica. O movimento é o princípio de todas as coisas, que
gera e sustenta toda natureza. Um trecho muito famoso de
Heráclito descreve bem essa dinâmica infindável de mudanças
que define o universo:

Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não


se pode tocar duas vezes uma substância mortal no
mesmo estado, pois, por causa da impetuosidade e da
velocidade da mudança, ela se dispersa e se reúne, vem
e vai (...) Nos descemos e não descemos pelo mesmo rio,
nos próprios somos e não somos (HERÁCLITO, [540 a.C.
– 470 a. C.] apud SOUZA, 1996, p.85).

Esse trecho bastante poético de Heráclito nos transmite


uma mensagem interessante. O que o filósofo nos diz é que não
podemos descer mais de uma vez em um mesmo rio, pois, nesse
caso, o rio não será o mesmo, considerando que suas águas estão
sempre em movimento e escoam incessantemente em direção
ao mar. E, além disso, nós também não seremos os mesmos,
pois estamos sempre nos modificando, aprendendo e mudando
quem somos.
Assim, a experiência de entrar em um rio, mesmo que o
mesmo rio, vai ser sempre uma experiência nova. Heráclito então
conclui que podemos e não podemos entrar no mesmo rio. Que

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somos e não somos, ao mesmo tempo. Parece contraditório,
não é mesmo? Mas o que Heráclito quer nos dizer é que é
exatamente essa contradição que constitui o ser, pois, para ele,
o ser é exatamente esse movimento constante. O devir, ou seja,
o constante processo de mudança a que tudo está submetido
funciona justamente a partir da passagem de um contrário ao
outro: do ser ao não-ser, incessantemente.
É como se tudo escorresse, como um líquido, e nunca
se aprisionasse em uma forma coesa e estática. A natureza
funcionaria exatamente harmonizando esses contrários.

Figura 5 - Homens gregos tocando Lira

Pense na música, é um bom exemplo para compreender a


harmonia de contrários. A música é constituída de dois opostos:
o som e o silêncio.
Organizamos os momentos de som e de silêncio e formamos
as melodias. Heráclito considera que a natureza constitui essa
espécie de afinação e usa o exemplo do arco e da lira, dois
instrumentos gregos para explicar a harmonia de contrários.
Para finalizar, vejamos a síntese das ideias de Parmênides e
Heráclito no quadro seguinte.

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Quadro 3 – A descoberta do “ser”

Parmênides Heráclito

Introdução da ideia de “ser” Introdução da ideia de


O ser é estável e imutável contingência

Universo como afirmação da O ser é estável e imutável


realidade do ser
Universo como harmonização
de contrários

Fonte: Autoria própria, 2019.

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REFERÊNCIAS
SOUZA, José Cavalcante de (Org). Os pré-socráticos: Fragmentos, Doxografia
e Comentários. Trad. José Cavalcanti de Souza et al. São Paulo: Nova Cultural,
1996. (Coleção os Pensadores).

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