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Técnicas da Terapia Cognitivo

Comportamental

Brasília-DF.
Elaboração

Larissa Medeiros Bessa

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC .................................................................................. 13

CAPÍTULO 1
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA TCC................................................................................... 13

CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO GERAL DOS PRINCÍPIOS TEÓRICOS DA TERAPIA COGNITIVA
COMPORTAMENTAL................................................................................................................ 17

UNIDADE II
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL......................................................................... 26

CAPÍTULO 1
DELINEAMENTO DAS PRINCIPAIS TÉCNICAS, SUAS METAS E SEUS OBJETIVOS............................. 26

CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO DE TÉCNICAS COGNITIVAS COMPORTAMENTAIS COMPLEMENTARES.............. 38

CAPÍTULO 3
CONSIDERAÇÕES REFERENTES ÀS TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL E O
PÚBLICO ADOLESCENTE E INFANTIL.......................................................................................... 50

UNIDADE III
O PSICÓLOGO NA TCC....................................................................................................................... 57

CAPÍTULO 1
AS COMPETÊNCIAS DO TERAPEUTA.......................................................................................... 57

UNIDADE IV
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL........................................................................ 61

CAPÍTULO 1
ESTUDO SOBRE O TEMA DA CONCEITUALIZAÇÃO DE CASOS................................................... 61

CAPÍTULO 2
O DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA................................................................. 64
CAPÍTULO 3
PRINCÍPIOS ORIENTADORES PARA A CONCEITUALIZAÇÃO DE CASOS....................................... 74

CAPÍTULO 4
PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PROCESSO DE CONCEITUALIZAÇÃO...................................... 77

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 81

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 83
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
Na década de 1960, nos Estados Unidos, a terapia cognitiva fundamentou-se empírica
e conceitualmente por meio dos estudos de Aaron Beck. Seus trabalhos eram voltados,
principalmente, para a análise dos quadros depressivos. A partir deles, tornou-se
possível a identificação e descrição quanto aos aspectos do funcionamento das estruturas
cognitivas de diversos transtornos psicológicos, ou seja, a “vertente beckiniana” lançou
luz no que diz respeito a inúmeras informações dos processos cognitivos relacionados
aos problemas psicológicos (BECK, 1997).

Figura 1. Aaron Beck, fundador da Terapia Cognitiva.

Fonte: <http://flowir.com.br/intercambio-social/afinal-o-que-e-terapia-cognitiva-comportamental>. Acesso em: 25/1/2017.

Nesse sentido, a terapia cognitiva vem ganhando cada vez mais espaço e se desenvolvendo
de maneira progressiva em todo o mundo, sendo utilizada no tratamento de múltiplos
problemas psicológicos e de populações (FALCONE, 2001). Com suas diferentes
modalidades, ela trouxe várias inovações e obteve um crescimento significativo nos
últimos anos, quando comparada com outras formas de psicoterapia (KNAPP; ROHDE;
LYSZKOWSKI; JOHANNPETER, 2002).

A abordagem em questão engloba intervenções psicoterápicas, as quais assumem


como foco a promoção de mudanças referentes aos sistemas de significados, aos
pensamentos,às emoções e aos comportamentos do paciente, de modo que se busca
alcançar o alívio, ou até mesmo a completa remissão, dos sintomas que ele apresenta,
além de instigar a sua autonomia. Sua eficácia já foi testada para uma ampla gama de
8
transtornos psiquiátricos, constituindo um sistema de psicoterapia que abrange uma
teoria da psicopatologia e da personalidade unificadas, sustentadas por evidências
empíricas substanciais e com aplicações igualmente apoiadas por dados empíricos,
provenientes da teoria (NEUFELD; CAVENAGE, 2010; BECK, 1997).

Ressalta-se, a partir de então, que o objetivo deste processo psicoterápico envolve a


substituição de cognições disfuncionais por comportamentos e pensamentos mais
flexíveis e funcionais, considerando o indivíduo a partir do contexto no qual está
inserido.

O termo terapia cognitiva-comportamental elucida uma perspectiva teórica enfática


no que se refere ao papel dos processos cognitivos na mediação do comportamento.
Nessa direção, pode-se discutir o conceito de cognição enquanto um processo da
consciência, relacionado às percepções desenvolvidas a partir das experiências de vida.
É nesse ponto que se pode discutir a terapia cognitiva assumindo como base o modelo
cognitivo, o qual levanta a hipótese de que a percepção, processo cognitivo, influencia
as emoções e os comportamentos das pessoas, destacando-se claramente um dos
princípios fundamentais dessa abordagem (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Na figura a seguir, resume-se claramente a discussão sobre os aspectos relacionados


aos pensamentos, às emoções e aos comportamentos quem constituem sistemas que se
influenciam, de forma mútua e constante, nos processos de significado que as pessoas
geram ao vivenciar as situações de sua vida:

Figura 2.

Emoção

Situação

Pensamento Comportamento

Crenças
Si Mesmo
Mundo
Futuro

Fonte: Neto et al. (2003).

9
Destarte, de modo abrangente, as técnicas da terapia cognitiva-comportamental visam
trabalhar, em termos de ajustes cognitivos, os padrões e modos de funcionamentos
prejudiciais aos indivíduos, considerando o sistema de mútua influência entre
pensamento, emoção e comportamento. Dessa forma, por meio de registros de
pensamentos disfuncionais, técnicas de reestruturação cognitiva e sistemas de
análise das crenças irracionais, busca-se a reformulação ou ressignificação dos
padrões disfuncionais por padrões mais funcionais do pensamento, algo que, por
sua vez, refletirá também nas emoções e no comportamentos da pessoa (ABREU;
GUILHARDI, 2004).

A partir de então, torna-se importante ressaltar que o modelo cognitivo é embasado


em uma epistemologia construtivista, considerando o ser humano capaz de construir
sentidos diante dos já articulados externamente, tornando singular o mundo interno o
qual habita, por ser resultado de uma construção pessoal. Assim, o processo da cognição
vai além do que é apresentado ao indivíduo. Os significados, portanto, não provêm
unicamente da lógica pessoal (cognição) em relação ao espaço social.

Nesse sentido, de acordo com Beck (1964), a forma como as pessoas interpretam e
significam os fatos de certo contexto determina o que elas pensam, e não a situação por si
só. Mais ainda, diante de novas situações, o processo de pensamento extrai padronizações
observadas de cada acontecimento, de modo que transforma similaridades percebidas
em padrões gerais de interpretação. Tais padrões constituem uma rede de significados
em nossa estrutura cognitiva, caracterizadas como crenças ou esquemas pela terapia
cognitiva, de modo que englobam padrões indutores e orientadores da percepção e
interpretação da experiência (ABREU; GUILHARDI, 2004).

Dessa forma, um dos papéis principais o qual o terapeuta cognitivo comportamental


assume envolve o auxílio no aperfeiçoamento e ajuste de padrões cognitivos mais
funcionais, pautando-se na interação entre o paciente e seu ambiente.

A partir dessas primeiras considerações, podemos esclarecer que a presente disciplina


tem como objetivo principal estudar conceitos e pressupostos teóricos básicos da terapia
cognitiva comportamental, de modo que as principais técnicas dessa abordagem sejam
levantadas, enfatizadas e analisadas, incluindo-se as suas especificidades e objetivos.
Assim, noções de conceitualização de caso, intervenções cognitivas e comportamentais,
bem como reflexões críticas voltadas à eficácia e aos aspectos éticos inerentes às técnicas
também serão temas presentes na mesma.

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Objetivos
»» Apresentar, de modo geral, os princípios e conceitos da terapia
cognitiva-comportamental, discutindo-se a forma como essa abordagem
compreende o funcionamento do indivíduo e discorrendo, brevemente,
sobre a literatura nesta área.

»» Delinear as principais técnicas existentes, bem como as suas metas e seus


objetivos, também analisando suas singularidades.

»» Refletir diante das possíveis competências do terapeuta cognitivo


comportamental.

»» Estudar os aspectos referentes à conceitualização de caso e os pontos


principais para seu desenvolvimento, apontando os instrumentos
disponíveis aos profissionais da área e evidenciando os que são utilizados
de forma mais frequente.

11
12
TERAPIA COGNITIVO UNIDADE I
COMPORTAMENTAL – TCC

CAPÍTULO 1
Origem e desenvolvimento da TCC

As pesquisas de Aaron Beck, referentes aos processos psicológicos da depressão, deram


início ao modelo cognitivo, quando observou que o transtorno em questão refletia
uma tendência sistemática no modo em que os pacientes significavam as experiências
pessoais (BECK, 1997).

Apesar do treinamento psicanalítico, com base em alguns estudos clínicos, pesquisa


sistemática e observações clínicas, Beck questionou cada vez mais o modelo de
motivações inconscientes da psicanálise e o seu processo terapêutico. Dessa forma,
propôs que os sintomas consequentes da depressão poderiam ser analisados em
termos cognitivos, estando o humor e os comportamentos negativos relacionados
aos pensamentos rígidos e distorcidos, que os pacientes deprimidos apresentavam
(BECK, 1997).

Destarte, no início da década de 1960, começou o desenvolvimento da terapia cognitiva


por Aaron Beck, na Universidade da Pensilvânia, que teorizou a existência de um
transtorno de pensamento na essência das síndromes psiquiátricas, considerando
o componente principal envolvido na manutenção dos transtornos psicológicos a
cognição (KUNZLER, 2011).

Nesse contexto, Aaron Beck descreveu de forma mais profunda o quadro depressivo,
como resultado de interpretações tendenciosas dos acontecimentos, estas atribuídas
à ativação de representações negativas de si mesmo, do mundo e do futuro. Como
resultado, surgia um dos princípios da terapia cognitiva: a tríade cognitiva, a qual
engloba as três principais visões que o indivíduo atribui significado, sendo que
essa percepção causará impacto em seus sentimentos, pensamentos e ações (BECK,
1997).

13
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC

Figura 3.

Indivíduo

Cognições
negativas

Sobre Sobre
Si o
Mesmo Mundo

Sobre
o
Futuro

Fonte: Próprio autor.

Por meio dessas considerações, na hipótese do indivíduo ter uma visão negativa de si
próprio, do mundo e do futuro faz sentido pressupor que ele vai se sentir deprimido
e consequentemente indisposto para agir construtivamente, o que reforçará mais
ainda as cognições negativas, que por sua vez manterá esse ciclo vicioso, que o modelo
cognitivo apresenta como base para a compreensão relacionada ao funcionamento dos
transtornos mentais (BECK; RUSH; SHAW; EMERY, 1997).

Compreende-se, dessa forma, que o paradigma da tríade cognitiva está sendo


generalizável a outros transtornos, ou seja, os transtornos da psicopatologia provocam
mudanças profundas, nessas três visões básicas, gerando erros de pensamentos. Essas
distorções cognitivas, ou erros sistemáticos, durante o processamento de informações
a respeito de si mesmo, do mundo e/ou do futuro reforçam as cognições que podem ser
disfuncionais para o paciente, sendo elas analisadas, no trabalho psicoterápico, para
a compreensão quanto ao funcionamento do indivíduo, bem como para a criação de
intervenções possíveis para a mudança desses ciclos.

Logo, diferentes distorções cognitivas são possíveis de serem identificadas em diferentes


transtornos emocionais. Alguns exemplos dessas distorções estão detalhadas no quadro
abaixo:

14
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I

Quadro 1. Distorções cognitivas.

1. Catastrofização – pensar que o pior de uma situação irá acontecer, sem levar em consideração a possibilidade de outros desfechos. Acreditar
que o que aconteceu ou irá acontecer será terrível e insuportável. Exemplos: “Perder o emprego será o fim da minha carreira”. “Eu não suportarei a
separação da minha mulher”. “Se eu perder o controle será o fim”.

2. Raciocínio emocional (emocionalização) – presumir que sentimentos são fatos. Pensar que algo é verdadeiro porque tem uma emoção
(na verdade, um pensamento) muito forte a respeito. Deixar os sentimentos guiarem a interpretação da realidade. Presumir que as reações
emocionais necessariamente refletem a situação verdadeira. Exemplos: “Eu sinto que minha mulher não gosta mais de mim”. “Eu sinto que meus
colegas estão rindo às minhas costas”. “Sinto-me desesperado, portanto a situação deve ser desesperadora”.

3. Polarização (pensamento tudo-ou-nada, dicotômico) – ver a situação em duas categorias apenas, mutualmente exclusivas, ao invés
de um continuum. Perceber eventos ou pessoas em termos absolutos. Exemplos: “Deu tudo errado na festa”. “Devo sempre tirar a nota máxima, ou
serei um fracasso”. “Ou algo é perfeito, ou não vale a pena”. “Tudo foi uma perda de tempo total”.

4. Abstração seletiva (visão em túnel, filtro mental, filtro negativo) – um aspecto de uma situação complexa é o foco da atenção,
enquanto outros aspectos relevantes da situação são ignorados. Uma parte negativa (ou mesmo neutra) de toda uma situação é realçada, e todo
restante positivo não é percebido. Exemplos: “Veja todas as pessoas que não gostam de mim.” “A avaliação do meu chefe foi ruim” (focando apenas
um comentário negativo e negligenciando todos os comentários positivos).

5. Leitura mental – presumir, sem evidências, que sabe o que os outros estão pensando, desconsiderando outras hipóteses possíveis. Exemplos:
“Ela não está gostando da minha conversa”. “Ele está me achando inoportuno”. “Ele não gostou do meu projeto”.

6. Rotulação – colocar um rótulo global, rígido em si mesmo, numa pessoa, ou situação, desconsiderando outras hipóteses possíveis. Exemplos:
“Sou incompetente”. “Ele é uma pessoa má”. “Ela é burra”.

7. Minimização e maximização – características e experiências positivas em si mesmo, no outro ou nas situações são minimizadas enquanto o
negativo é magnificado. Exemplos: “Eu tenho um ótimo emprego, mas todo mundo tem”. “Obter notas boas não quer dizer que eu sou inteligente, os
outros obtém notas melhores do que eu”.

8. Imperativos (“Deveria” e “Tenho-que”) – interpretar eventos em termos de como as coisas deveriam ser, ao invés de simplesmente focar
em como as coisas são. Afirmações absolutistas na tentativa de prover motivação ou modificar um comportamento. Demandas feitas a si mesmo,
aos outros e ao mundo para evitar as consequências do não cumprimento dessas demandas.

Exemplos: “Eu tenho que ter controle sobre todas as coisas”. “Eu devo ser perfeito em tudo que faço”. “Eu não deveria ficar incomodado com minha
esposa”.

Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000600002>. Acesso em: 25/1/2017.

Para Beck, a forma distorcida ou não adaptativa de interpretar os acontecimentos


resulta nos transtornos psicológicos, influenciando tanto nas emoções quanto no
comportamento dos indivíduos. Assim, cada distúrbio possui um modelo cognitivo
próprio, ou seja, um modo específico de se perceber a realidade e consequentemente de
se comportar e se sentir diante dela (BECK et al., 1997).

Entende-se, assim, que a forma como o indivíduo estrutura suas experiências tem
relação direta com a forma que ele se sente e se comporta. É importante ressaltar que
não é a situação que determina os sentimentos e sim a forma como a pessoa a interpreta.
Com essas informações, torna-se ainda mais evidente a existência de uma relação entre
pensamentos, emoções e comportamentos, de forma que um tem capacidade de afetar,
manter e modular o outro (KUNZLER, 2011).

15
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC

Figura 4.

Pensamento

Sentimento Comportamento
Fonte: <http://www.casulepsicologia.com.br/especialidades>. Acesso em: 25/1/2017.

Nesse sentido, Rangé (2001a) afirma que a capacidade de pensar objetivamente é


interferida por pensamentos irracionais e absolutistas, estes decorrentes de emoções
disfuncionais. Isso não significa uma relação de causa entre pensamento e emoção, mas
sim de modulação e manutenção.

Ainda sobre essa relação, de acordo com Knapp (2004,) existe interação de reciprocidade
entre pensamentos, sentimentos e comportamentos, fisiologia e ambiente, e a
transformação em qualquer um desses fatores tem poder de iniciar mudanças nos
demais.

Por meio dessas considerações, justifica-se a capacidade da avaliação realista e a


alteração no pensamento produzirem uma melhora no humor e no comportamento, ou
seja, se explica algumas das principais técnicas utilizadas na terapia para a obtenção de
modificações cognitivas do cliente, que constituem o foco do terapeuta. As intervenções
da terapia cognitiva-comportamental, de modo geral, têm intenção de produzir
mudanças nos pensamentos e nos processos de significados, bem como a modificação
emocional e comportamental duradoura (BECK; DAVIS; FREEMAN, 2005).

No Brasil, a terapia cognitiva teve seu início no final da década de 1980 e, como sua
prática combina reestruturação cognitiva com técnicas cognitivo-comportamentais,
desenvolveu-se o termo terapia cognitiva comportamental. Atualmente, mais de 300
ensaios clínicos controlados evidenciam a sua eficácia (KUNZLER, 2011).

Nesse ponto, podemos avançar para o próximo capítulo, discutindo-se mais


detalhadamente os princípios teóricos da abordagem aqui estimada.

16
CAPÍTULO 2
Apresentação geral dos princípios
teóricos da terapia cognitiva
comportamental

Inicialmente, o foco do tratamento é no reconhecimento dos pensamentos automáticos,


por parte do paciente, e posteriormente passa a ser no aumento da consciência quanto
às crenças intermediárias e centrais, fatores esses que correspondem aos três níveis de
cognição da teoria da terapia cognitiva (KNAPP, 2004).

Sendo assim, para a teoria da terapia cognitiva é possível identificar três níveis de
cognição: os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças centrais
(ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).

Figura 5.

Pensamentos automáticos

Crenças intermediárias
(pressupostos e regras)

Crenças nucleares
(esquemas)

Fonte: <http://sorayafarias.blogspot.com.br/2013/06/terapia-cognitivo-comportamental-tcc.html>. Acesso em: 25/1/2017.

Os pensamentos automáticos surgem rapidamente e brevemente diante de situações


variadas do dia a dia. Constituem uma interpretação imediata, sendo este nível mais
superficial e espontâneo. Frequentemente são aceitos como plausíveis e verdadeiros,
sendo que a maioria dos indivíduos não está primeiramente consciente da sua existência
e sim das emoções associadas, mas, se estiverem treinados para identificar e monitorar
os pensamentos em questão, torna-se possível avaliá-los e também desenvolver
reflexões sobre os mesmos (BECK et al., 2005).

17
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC

Os pensamentos automáticos são uma experiência comum a todos nós, pois a


interpretação de uma situação, que influencia as respostas emocional, comportamental
e fisiológica subsequentes, frequentemente é expressa por eles. Descrevem pensamentos
e imagens que surgem no decorrer do dia para todas as pessoas (KUNZLER, 2011).

De acordo com J. Beck (1997), é importante ressaltar que, no caso das pessoas que
estão sofrendo de alguma disfunção psicológica, a checagem da realidade, por meio do
monitoramento e resposta aos pensamentos automáticos, pode se tornar um exame
crítico, difícil de engajamento. No entanto, por meio das técnicas da terapia cognitiva,
torna-se possível que aos poucos o indivíduo consiga ir aprendendo a realizar esse
processo. Inclusive, isso engloba um dos objetivos da terapia: ajudar o paciente a se
conscientizar quanto aos seus pensamentos automáticos e sua inferência nas emoções
e comportamentos.

Nesse sentido, já adiantando, de modo breve, questões sobre o papel do profissional dessa
área, é essencial que o terapeuta cognitivo comportamental dê ênfase na observação
e classificação dos pensamentos apresentados pelo cliente, de modo conjunto com
o mesmo, em termos de grau de ajustamento psicossocial e cultural, considerando
também a sua interação com o meio ambiente em que vivencia. Mais ainda, analisar
como ele se adapta aos valores que apresenta e o quanto esse sistema o beneficia ou o
prejudica, no que se refere ao alcance de seus mais diversos objetivos, considerando que
é por meio desse processo que o levantamento inerente às propostas de intervenções
psicológicas surge. Na tabela abaixo, visualiza-se a classificação e análise de alguns
pensamentos automáticos disfuncionais, assim como a apresentação dos mesmos no
modelo funcional:

Quadro 2.

Pensamento Disfuncional Pensamento Funcional

Não dimensional e global Multidimensional


“Eu sou injusto” “Eu sou um pouco injusto, mas reconheço meu defeito”

Absolutista e moralista Relativista e não crítico


“Ela não presta” “Ela errou como todos podem um dia errar”

Invariante Variável
“Sempre serei uma pessoa injusta” “Minha injustiça varia conforme a situação”

Diagnóstico de caráter Diagnóstico comportamental


“Minha injustiça é um problema de personalidade” “Tenho situações que sou injusto”

Irreversibilidade Reversibilidade
“Nada mudará” “Posso aprender a mudar”
Fonte: NETO et al. (2003).

18
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I

Segundo Kuyken, Padesky e Dudley (2010), os pensamentos automáticos constituem


o centro da conceitualização explicando a ligação entre uma situação e uma reação
emocional, iniciando a análise de como o indivíduo funciona e organiza suas
experiências. Nessa direção, a análise deles torna-se imprescindível para o trabalho
do psicoterapeuta cognitivo comportamental, que poderá identificar os pensamentos
desadaptativos relacionados às queixas do paciente, trabalhando com ele em direção à
mudança destas instâncias, criando estratégias de adaptação, as quais possam favorecer
seu modo de funcionamento.

Com relação às crenças intermediárias, elas representam uma classe existente


entre os pensamentos automáticos, específico das situações, e as crenças centrais,
mais absolutas, e por isso são chamadas de intermediárias. Elas envolvem atitudes,
suposições e regras desenvolvendo-se sob a influência das crenças centrais, que serão
descritas posteriormente. As crenças intermediárias são menos maleáveis quanto à
modificação, comparando-as com os pensamentos automáticos. No entanto, quando
comparadas às crenças centrais elas podem ser modificadas de forma mais fácil
(BECK, 1997).

Ainda a respeito das crenças intermediárias, elas possuem poder de influência na


interpretação do indivíduo frente a uma situação. Assim, como já se observou a relação
entre pensamento, sentimento e comportamento nas considerações anteriores, essa
visão influenciará também como a pessoa irá pensar e se comportar. Essas crenças
podem também ser definidas como crenças condicionais, do tipo “se... então...”, “eu
deveria”, “eu tenho que”, apresentando-se de modo inflexível (GREENBERGER;
PADESKY, 1999).

As crenças intermediárias também são consideradas crenças associadas ou pressupostos


subjacentes e, quando formam um conjunto congruente, podem funcionar como suporte
às crenças centrais que estão relacionadas (KUYKEN et al., 2010).

No caso das crenças centrais, elas dizem respeito a entendimentos que são tão
fundamentais e profundos, que os indivíduos não os articulam frequentemente, nem
para si próprios. Podemos falar que elas são representadas como verdades absolutas e
se mantêm mesmo de forma não adaptativa e funcional, pois a pessoa possui a tendência
de focar selecionando dados que confirmem a crença central, desconsiderando
informações contrárias. Esses dados explicam também o porquê dessas crenças serem
caracterizadas como globais, supergeneralizadas e rígidas (BECK, 1997).

19
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC

A partir de então, torna-se importante que o paciente compreenda os seguintes aspectos


relacionados à sua crença central, educando-os a respeito do mesmo ser passível de
modificação e monitoramento, algo essencial para o trabalho terapêutico ocorrer de
forma eficaz:

Quadro 3. Educando o paciente sobre as crenças centrais e monitorando suas operações.

É importante para a paciente entender o seguinte sobre sua crença central:


»» Que isso é uma ideia, não necessariamente uma verdade.
»» Que ela pode, com convicção, acreditar nisso, até mesmo “sentir” que é verdade e ainda assim que ela seja, em grande parte ou inteiramente,
não verdadeira.
»» Que a crença central está enraizada em eventos da infância e que pode ou não ter sido verdadeira no momento em que a paciente
imediatamente veio a acreditar nela.
»» Que a crença central continua a ser mantida por meio da operação dos seus esquemas, nos quais a paciente prontamente as reconhece em
forma de dados que apoiam enquanto ignora ou reduz dados em contrário.
»» Que ela e o terapeuta, trabalhando juntos, podem usar uma variedade de estratégias ao longo do tempo para mudar essa ideia, de modo que
a paciente possa ver a si mesma de uma forma mais realista.

Fonte: Beck (1997).

De acordo com J. Beck (2007), pessoas com crenças centrais negativas, a respeito de si
próprias, apresentam, de modo geral, funcionamento dentro de categorias voltadas ao
conteúdo de desamparo, desamor e desvalorização. O primeiro refere-se ao sentimento
de incompetência, o segundo ao desmerecimento de amor e o terceiro ao significado
negativo atribuído à própria natureza. Alguns exemplos de crenças centrais negativas
sobre si, os quais podem ser identificados nessas três diferentes categorias de crenças
negativas, podem ser vistos a seguir:

Quadro 4.

Categorias de crenças
centrais negativas Exemplos de crenças centrais negativas sobre si.
sobre si.

Sou incapaz, inadequado, ineficiente, fraco, descontrolado, uma vítima, vulnerável, sem recursos, passível de
maus-tratos, inferior, um fracasso, um perdedor.
Desamparo.
Não consigo me proteger, não consigo mudar, não tenho atitude/objetivo, não sou bom o suficiente, não sou igual
aos outros.

Sou indesejável, indigno de amor, diferente, feio, defeituoso, imperfeito, monótono, negligenciado, rejeitado,
Desamor. abandonado, sozinho, relegado à própria sorte.
Não sou amado, querido, bom o suficiente para ser amado.

Sou sem valor, inaceitável, mau, louco, derrotado, um nada, um lixo, cruel, perigoso, venenoso, maligno.
Desvalorização.
Não mereço viver, receber atenção.

Fonte: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872010000200002>. Acesso em: 25/1/2017.

20
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I

Kuyken, Padesky e Dudley (2010) ensinam que uma forma de detectar a presença de
uma crença central é observando os pensamentos que são acompanhados de emoções
intensas, que não se transformam mesmo diante de evidencias contraditórias. Esses
autores também se referem às crenças centrais como aquelas que as pessoas têm a
respeito de si própria, dos outros/do mundo e do futuro, fatores estes que nos remetem
novamente ao conceito de tríade cognitiva, o qual engloba essas três percepções que o
indivíduo significa de forma única.

Alguns autores referem-se à crença central como sendo o nosso DNA ou algo visceral,
que não se consegue expressar ou traduzir em palavras o exato valor do conteúdo dessa
crença (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).

Segundo J. Beck (1997), as crenças centrais são formadas a partir da interação do


indivíduo com o mundo e com as pessoas, o que direciona a determinadas aprendizagens
e compreensões, que podem ser variadas quanto à precisão e funcionalidade. Assim,
tais crenças evidenciam as formas desenvolvidas pelos indivíduos ao lidar com as
situações do dia a dia e são conhecidas também como crenças nucleares, como elucidado
anteriormente.

Considerando os aspectos dos três níveis de cognição analisados, observa-se que eles se
inter-relacionam. Uma crença central origina crenças intermediárias que, por sua vez,
traz pensamentos automáticos, também disfuncionais, em situações de desempenho.
Assim, cada distúrbio psicológico de cada indivíduo tem relação com um conjunto
de crenças centrais, crenças intermediárias e pensamentos automáticos específicos
(FREEMAN; DATTILIO, 1998).

Em uma determinada situação, as crenças intermediárias interferem na percepção


da pessoa, a qual se expressa pelos pensamentos automáticos inerentes à situação.
Os mesmos influenciam suas emoções e, consequentemente, seus comportamentos e
respostas fisiológicas (BECK, 1997).

A relação apresentada a seguir ilustra o modelo cognitivo, que tem como crença
central o tema voltado ao fracasso/incompetência, de modo que lança luz a respeito
dos aspectos discutidos nos parágrafos anteriores, apontando a ligação existente
entre crenças centrais e intermediárias, com os pensamentos automáticos, emoções e
comportamentos de um indivíduo, em determinado contexto:

21
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC

Quadro 5.

Crença central

Eu sou incompetente.


Crença intermediária

Se eu não entendo algo perfeitamente, então eu sou burro.


Situação → Pensamentos Automáticos → Reações
Ler este livro → Isso é difícil demais. → Emocional

Eu jamais entenderia isso.

Tristeza

→ Comportamental
Fecha o livro

→ Fisiológica
Peso no abdômen
Fonte: Beck (1997).

Utilizando o exemplo da figura anterior, o leitor fictício em questão apresentou os


pensamentos citados, tendo em vista que suas crenças centrais inarticuladas quanto a
sua incompetência inferiram em sua percepção diante da situação. É nesse ponto que
o terapeuta aprende a observar e conceituar as dificuldades do paciente em termos
cognitivos (J. BECK, 1997).

A conceitualização de caso, processo sobre o qual voltaremos a falar de modo mais


detalhado adiante, engloba e refere-se, justamente, a esses aspectos das crenças
centrais e intermediárias citados acima, bem como suas ligações com os pensamentos
automáticos, emoções e comportamentos do cliente. O terapeuta utiliza essa ferramenta
com o fim de obter uma estrutura, para a compreensão de cada paciente em sua
subjetividade. O conjunto de crenças centrais, crenças intermediárias, pensamentos
automáticos, emoções e comportamentos é individual e singular. Assim, cada pessoa
apresenta formas exclusivas de funcionamento e resposta frente às situações que surgem

22
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I

em sua vida. Esse conjunto ou sistema pode ser comparado a uma rede estruturada
e inter-relacionada de crenças e pensamentos, que guiam o indivíduo em suas ações,
em vários eventos do seu cotidiano, e que pode ser descrito também como esquema
(KNAPP, 2004).

Nessa direção, o conceito de esquemas, para a terapia cognitiva comportamental, é


caracterizado como interpretações distorcidas, as quais se encontram organizadas
em estruturas cognitivas, constituídas pelas crenças e pelos pensamentos
automáticos os quais foram relacionados anteriormente. Essas estruturas cognitivas
relacionam-se à função de codificar, avaliar e interpretar situações, de modo que se
estabelece um padrão de percepção da realidade, tornando-se uma espécie de filtro
cognitivo (MENDES, 2007).

Corroborando o parágrafo anterior, os autores Knapp e Back (2008) discutem que os


esquemas podem produzir, a partir de um viés de processamento de informações, o
conteúdo cognitivo típico de um transtorno, sendo ele caracterizado por um sistema
específico individual de conteúdos cognitivos disfuncionais, ou seja, cada transtorno
tem uma espécie de constelação cognitiva própria e conjunto idiossincrático de crenças,
como podemos analisar a partir da lista a seguir:

Quadro 6. Perfil cognitivo de transtornos psiquiátricos.

Depressão – visão negativa de si, dos outros e do futuro.


Hipomania ou episódios maníacos – visão inflada de si, dos outros e do futuro.
Comportamento suicida – desesperança e conceito autodesqualificador.
Ansiedade generalizada – medo de perigos físicos ou psicológicos.
Fobia – medo de perigos em situações específicas, evitáveis.
Pânico – medo de um perigo físico ou mental iminente.
Estado paranoide – visão dos outros como manipulativos e mal-intencionados.
Transtorno conversivo – ideia de anormalidade motora ou sensória.
Obsessivo-compulsivo – pensamentos continuados sobre segurança; atos repetitivos para precaver-se de ameaças.
Anorexia ou bulimia – medo de ser gordo e não atraente.
Hipocondria – preocupação com doença insidiosa.
Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000600002>. Acesso em: 26/1/2017.

A maior parte do funcionamento do indivíduo é por esquemas. O mesmo maximiza


informações, por meio da esquematização do conhecimento, e isso economiza energias
psíquicas, já que permite a tomada de decisão frente aos estímulos e contextos, sem a
necessidade da reflexão nos mínimos detalhes e a toda hora. Os esquemas são descritos
também como um programa ou uma base regular de dados, que são ativados por alguns
estímulos. De forma sucinta, essas unidades semânticas têm um funcionamento voltado
a um tipo de processamento automático. Destaca-se que sua principal característica

23
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC

refere-se à padronização, podendo um esquema ser comparado a um eixo fundamental


o qual não possui muitas variações e sua peça principal constitui a crença central.
Alguns esquemas predominantes serão apresentados, a seguir, os quais foram listados
pelos autores Rangé e Silvares (2001):

»» Tema sobre o desamparo: “Sou carente”.

»» Tema sobre a indesejabilidade: “Sou indesejável”.

»» Tema sobre a autonomia: “Nunca serei independente”.

»» Tema sobre o valor: “Sou superficial”.

»» Tema sobre a ligação: “Não poderei viver sem você”.

»» Tema sobre padrões e limites: “Beleza é tudo para mim”.

Como já discutido, quando um desses esquemas é ativado, em uma determinada


situação, ocorre uma influência de modo direto no conteúdo da percepção, no
surgimento de lembranças de memória pessoal e na interpretação que o indivíduo faz
diante dessa vivência, apresentando um tipo de sistematização quanto ao processo de
percepção da realidade. Uma vez que uma crença básica se forma, pode influenciar
a formação subsequente de outras relacionadas e, apresentando característica de
persistência, incorporam-se na estrutura cognitiva duradoura, ou seja, na estrutura do
esquema. Esse processo modela o estilo de pensamento de uma pessoa, promovendo
erros cognitivos presentes na psicopatologia (KNAPP; BECK, 2008).

Com relação a isso, a conceitualização cognitiva permite a visualização desses esquemas,


de forma a englobar as relações entre emoções, pensamentos e comportamentos em um
modelo cognitivo, compreendendo as configurações cognitivas de diferentes transtornos
mentais, a partir de cada indivíduo (KNAPP; BECK, 2008).

Assim, na terapia cognitiva-comportamental, a formulação de caso tem como base esse


modelo cognitivo dos transtornos emocionais, que foi desenvolvido por Aaron Beck,
o qual engloba as crenças centrais e intermediárias e os pensamentos automáticos
disfuncionais, associados a emoções e comportamentos não adaptativos (NEUFELD;
CAVENAGE, 2010).

Podemos concluir, por meio dessas colocações, que, na prática, a formulação funciona
como um guia apontando o funcionamento do indivíduo e estruturando o curso do
tratamento, de forma a unificar e priorizar os sintomas, influenciar na escolha das
intervenções e o momento de utiliza-las e, ainda, possibilitar a prevenção de possíveis
problemas (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).
24
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I

Na sua forma mais simples, temos como resultado a conceitualização cognitiva


descrevendo ciclos viciosos, constituintes dos processos caracterizados como esquemas
cognitivos. Essa elaboração de caso relaciona e interliga pensamentos, emoções e
comportamentos distorcidos e, assim, contribui demasiadamente para a compreensão
do terapeuta quanto ao funcionamento do cliente, auxiliando também na escolha do
trabalho terapêutico adequado (KNAPP; BECK, 2008).

Observando, por meio dos últimos parágrafos delineados acima, a importância do


tema referente à conceitualização de caso, além de sua característica complexa e
densa, que será novamente estimado na última unidade desta disciplina. No entanto,
de forma bem mais profunda e minuciosa, devido a sua relevância. Anteriormente
a isso, considerando-se que se torna essencial a discussão e apresentação quanto
a outros aspectos da terapia cognitiva comportamental, na unidade seguinte e,
consequentemente, nos capítulos que a compõem, serão analisadas as técnicas que
representam a abordagem em questão.

25
TÉCNICAS DA
TERAPIA COGNITIVA UNIDADE II
COMPORTAMENTAL

Observamos que a meta terapêutica primordial da terapia cognitiva comportamental,


desde o seu início, tem sido corrigir e reestruturar os pensamentos distorcidos,
desenvolvendo estratégias para produzir a mudança necessária no indivíduo, com a
finalidade de melhorar os transtornos da psicopatologia. Essa meta é decorrente do
princípio fundamental desta abordagem, que, lembrando mais uma vez, consiste
no processo dos indivíduos interpretarem a realidade de determinada maneira,
influenciando na forma como eles se sentem e agem diante disso. Sendo assim,
transformações no pensamento e nos processos de significados intuem a modificação
emocional e comportamental duradoura (BECK et al., 2005).

Tendo como base as considerações essenciais discutidas acima, no capítulo seguinte


aprofundar-se-á quanto às técnicas da terapia cognitiva comportamental, as quais
direcionam o trabalho terapêutico como um todo. Lembrando-se que ela é um tipo de
terapia adaptável a cada indivíduo singularmente (BECK, 1997).

CAPÍTULO 1
Delineamento das principais técnicas,
suas metas e seus objetivos

As formas de terapia cognitiva que têm por base o modelo Beck, realizam o tratamento
por meio do processo de formulação cognitiva de um transtorno específico e sua
aplicação à conceituação ou compreensão do paciente individual. Como já discutido
anteriormente, o objetivo primordial de tal processo envolve a produção de mudança
cognitiva, no que se refere ao pensamento e sistema de crenças da pessoa, em busca da
transformação emocional e comportamental (BECK, 1997).

Não existe uma receita pronta com estratégias e técnicas, as quais devem ser utilizadas de
modo isolado, mecânico e generalizável com qualquer paciente. Como afirmado antes,

26
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

a terapia, bem como a utilização das técnicas, é um processo adaptável e personalizado


para cada pessoa. Nesse sentido, o processo de conceitualização de caso é a ferramenta
que mais auxilia na escolha das intervenções mais apropriadas, direcionando esse
processo. Apontando e organizando dados fundamentais e singulares relacionados à
história do cliente e aos padrões de pensamentos e comportamentos disfuncionais, a
conceitualização lança luz a respeito de quais técnicas serão mais eficazes e adequadas
para cada situação e contexto observado na clínica. Portanto, na próxima unidade, será
retomada e apresentada de forma mais precisa.

Das técnicas cognitivo-comportamentais existentes, as mais utilizadas envolvem


o registro de pensamento disfuncional (RPD), o questionamento socrático e os
experimentos comportamentais (GREENBERGER; PADESKY, 1999).

Na terapia cognitiva comportamental, o tratamento inicial enfatiza e objetiva a ampliação


da consciência do paciente a respeito de seus pensamentos automáticos, para depois
identificar as crenças centrais e intermediárias. Com relação a isso, a primeira técnica
citada no parágrafo anterior envolve a reflexão e identificação quanto aos pensamentos
automáticos dos pacientes, de maneira que auxilia o processo de conscientização dele a
respeito dos pensamentos automáticos presentes no seu modo de funcionar, iniciando
a base para o trabalho da reestruturação cognitiva (KNAPP; BECK, 2008).

De acordo com J. Beck (1997), a habilidade de aprender a identificar pensamentos


automáticos é como qualquer outra. No entanto, alguns profissionais e clientes
necessitam de mais orientação e exercício. No quadro 7, a autora apresenta um resumo
de técnicas para serem utilizadas na identificação dos pensamentos em questão.

Quadro 7. Resumo de técnicas para identificar pensamentos automáticos.

Pergunta básica:

O que estava passando pela sua cabeça neste momento?


Identificar os pensamentos automáticos:
1. Faça essa pergunta quando você perceber uma mudança no (ou intensificação de) afeto durante uma sessão.
2. Faça o paciente descrever uma situação problemática ou momento durante o qual ele experimentou uma mudança de afeto e faça a pergunta
acima.
3. Caso necessário, faça o paciente utilizar uma imagem para descrever a situação específica ou o momento em detalhes (como se estivesse
acontecendo agora) e então faça a pergunta acima.
4. Caso necessário ou desejado, faça o paciente encenar uma interação específica com você e então faça a pergunta acima.

Outras perguntas para obter os pensamentos automáticos:


1. Sobre o que você acha que estava pensando?
2. Você acha que poderia ter pensado sobre __________ou__________?
3. Você estava imaginando algo que poderia acontecer ou lembrando de algo que aconteceu?
4. O que essa situação significou para você? (Ou diz para você?)
5. Você estava pensando __________? (O terapeuta coloca um pensamento oposto à resposta esperada.)
Fonte: Beck (1997).

27
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

A interpretação distorcida e errônea de situações, positivas ou neutras, frequentemente


ocorre em indivíduos que apresentam algum tipo de transtorno psicológico. Dessa
forma, seus pensamentos automáticos são tendenciosos. Nesse sentido, a identificação,
o exame crítico e a correção possibilita o desenvolvimento de respostas mais adaptativas
(BECK, 1997).

Nessa direção, a técnica do registro de pensamentos consiste no indivíduo registrar


o pensamento disfuncional decorrente de uma situação específica, bem como anotar
a emoção negativa ligada a ele e a sua intensidade. Posteriormente, o paciente anota
uma resposta adaptativa a esse pensamento e, feito isso, avalia, em porcentagem
(0% a 100%), o quanto acredita no pensamento automático registrado, agora
levando em consideração a resposta mais adaptativa que registrou. Por último,
nessa tarefa, o cliente escreve novamente a intensidade da emoção, mas agora após
ter realizado esse exercício e considerado essa resposta racional e mais flexível. Essa
prática ajuda os pacientes a responderem seus pensamentos disfuncionais de forma
mais efetiva, gerando consequentes modificações de estados de humor negativos
(RANGÉ, 2001b).

Destarte, o registro de pensamentos disfuncional é utilizado para rastrear


pensamentos distorcidos, que são ativados em determinadas situações, gerando
emoções e comportamentos negativos subsequentes. A partir das informações
do paragrafo anterior, nota-se que esse exercício busca capacitar os pacientes
a esclarecer e modificar os significados que atribuíram a eventos perturbadores,
como também criar respostas alternativas mais funcionais frente a tais situações
(KNAPP; BECK, 2008).

Assim, percebe-se que a técnica do registro de pensamentos automáticos enfatiza os


pensamentos caracterizados enquanto disfuncionais, ou seja, o terapeuta cognitivo
preocupa-se em identificar os que distorcem a realidade, são emocionalmente aflitivos
e/ou interferem prejudicialmente nas habilidades e metas do paciente, auxiliando-o a
responde-los de modo mais adaptativo (BECK, 1997).

No quadro a seguir, pode-se visualizar o instrumento do registro de pensamentos


disfuncionais, suas instruções adicionais e os espaços constituintes deles.

28
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Quadro 8. Registro de pensamentos disfuncionais.

Instruções: Quando você notar seu humor ficando pior, pergunte-se: O que está passando no meu pensamento? E anote, logo que possível, o
pensamento (ou imagem mental) na coluna Pensamento Automático. Identifique, então, qual a emoção, sentimento ou estado de humor que você
sentiu quando teve este pensamento. A seguir, verifique quão realistas ou verdadeiros são estes pensamentos e construa uma resposta mais racional,
com pensamentos alternativos mais adequados para a situação.
Avalie quanto mudou seu pensamento e sua emoção original.

Situação Pensamento Emoção Resposta Resultado


Especifique a situação, o automático Que sentimentos ou adaptativa Avalie quanto você
que aconteceu. Que pensamentos e/ emoções (tristeza, Use essas perguntas para acredita agora em
ou imagens passaram ansiedade, raiva etc.) você compor as respostas aos seus pensamentos
Onde você estava,
por sua cabeça naquela sentiu naquela situação. pensamentos automáticos. automáticos (0-100%)
fazendo o quê.
situação? Sublinhe Se possível, avalie a e na intensidade de suas
Quem estava envolvido. intensidade de cada Se possível, avalie quanto emoções (0-100%).
o pensamento mais
emoção (0-100%). você acredita em cada
importante ou aquele que
resposta alternativa.
mais lhe incomodou.
Quais as possíveis
Se possível, avalie quanto
distorções cognitivas
você acredita em cada
(veja Lista de Distorções
um dos pensamentos
Cognitivas) que você fez?
(0-100%).
Para construir a resposta alternativa, faça as perguntas:
1. Quais são as evidências de que o pensamento automático é verdadeiro? Quais as evidências de que ele não é verdadeiro?
2. Há explicações alternativas para o evento, ou formas alternativas de enxergar a situação?
3. Quais são as implicações, no caso dos pensamentos serem verdadeiros? Qual é o pior da situação? O que é o mais realista?
O que é possível fazer a respeito?

Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000600002>. Acesso em: 26/1/2017.

Na ausência da ferramenta apresentada acima, solicita-se que o cliente desenhe três


colunas em uma folha de papel, escrevendo em cada uma “situação”, “pensamentos
automáticos” e “emoções”. Feito isso, o terapeuta pede para que ele descreva uma
situação recente, a qual se lembra de ter sido capaz de mexer fortemente com suas
emoções, trazendo à tona sentimentos como ansiedade, raiva, angústia, tristeza
(FARIA, 2011).

Posteriormente, o profissional sugere que o paciente se imagine estando novamente


na situação relatada, de modo que detalhe os pensamentos e as emoções que surgiram
nesse contexto, escrevendo-os nas colunas correspondentes. Nesse processo, o terapeuta
pode ajuda-lo questionando ou elaborando perguntas que destaquem de modo separado
os pensamentos e as emoções decorrentes, ainda destacando o comportamento
disfuncional consequentemente, haja vista que a maior parte das pessoas não possui o
entendimento sobre os pensamentos automáticos negativos precederem sentimentos
desconfortáveis e inibições comportamentais. Dessa forma, muitas vezes elas também
não possuem o conhecimento de que as emoções são coerentes com o conteúdo dos
pensamentos automáticos (DATTILIO; PADESKY, 1995; FARIA, 2011).

Assim, o Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD), apresentado na figura anterior,


é uma das ferramentas principais da terapia, pois possibilita o auxílio no rastreamento

29
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

de tais pensamentos e emoções, assim como dos comportamentos subsequentes. Esse


exercício é capaz de ensinar o paciente a descobrir, esclarecer e alterar o significado
dado a eventos perturbadores, além de tornar possível o desenvolvimento de uma
resposta racional ou alternativa (DATTILIO; PADESKY, 1995).

Com relação a isso,Beck (1997) afirma que avaliar a utilidade e validade dos pensamentos
automáticos, considerando a produção e o desenvolvimento de respostas adaptativas a
eles, é capaz de gerar uma mudança de afeto com conteúdo positivo.

O paciente, normalmente, encontra-se mais ciente da emoção decorrente do pensamento


do que do pensamento em si. No entanto, como já discutido anteriormente, com o
auxílio e questionamento do terapeuta, essa inconsciência começa a ser trabalhada,
podendo trazer tais pensamentos para o nível consciente do indivíduo.

Um contexto oportuno para trabalhar um pensamento automático é quando o terapeuta


percebe uma mudança de afeto do paciente na própria sessão, denuncia o observado
para ele e o solicita que descreva o que está se passando pela sua cabeça, visto que os
pensamentos tomados por afeto constituem os mais relevantes para se avaliar. Ele o
orienta a falar o máximo de detalhes sobre a situação e no tempo presente. Se surgir
dificuldade, por parte do paciente, na identificação de pensamentos em situações
interpessoais, o terapeuta pode utilizar a técnica do roleplay (ou dramatização), na
qual o paciente desempenha seu próprio papel e o terapeuta o da outra pessoa, que
interagia com ele na situação que o mesmo trouxe para a sessão (BECK, 1997; KNAPP;
BECK, 2008).

No caso de também existir dificuldade em classificar a intensidade quanto às emoções,


após a identificação dos pensamentos automáticos, a Escala de Intensidade Emocional
pode ser construída com a ajuda do terapeuta, para a obtenção de uma espécie de
guia para classificações posteriores. Ao perceber a emoção predominante do cliente,
o profissional a escolhe e provê um embasamento lógico para o desenvolvimento da
escala.

Assim, após ter apresentado o quadro simples quanto às intensidades e emoções, o


terapeuta, ao se deparar com a dificuldade do cliente em atribuir um número específico
à intensidade de emoção para cada situação vivenciada, aponta o quadro da escala de
intensidade com a situação de menor grau e/ou maior grau de emoção já identificadas,
levantadas por ele próprio, por exemplo. Algo que facilita o trabalho para o julgamento
do cliente quanto aos próximos graus de emoção que irá atribuir às outras situações
levantadas na terapia (BECK, 1997).

30
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Nos quadros a seguir podemos entender de modo mais claro a utilização da ferramenta
da escala de intensidade emocional, a qual auxilia na classificação quanto ao grau de
emoções vivenciadas, em situações diversas do paciente. O primeiro refere-se ao quadro
geral da escala, o qual sempre é apresentado aos pacientes, direcionando-os quanto à
forma de identificação inerente à intensidade de suas emoções. Já o segundo quadro
apresenta a escala de intensidade discutida no parágrafo anterior, a qual é utilizada nos
casos que envolvem dificuldades, por parte dos pacientes, na identificação do grau de
suas emoções.

Quadro 9.

0% 25% 50% 75% 100%

Sem tristeza alguma Um pouco triste Medianamente triste Bastante triste O mais triste que eu já
estive ou poderia imaginar
estar
Fonte: Beck (1997).

Quadro 10.

Grau de emoção/ Situações


ansiedade
0% Assistindo a filme na TV no domingo passado.
10% Imaginando se eu chegaria tarde para a terapia hoje.
20% Dor no lado: apendicite?
30% Imaginando por que mamãe chamou inesperadamente.
40% Pensando sobre quanto trabalho eu tenho para fazer.
50% Participando da aula quando eu estou certa da resposta.
60% Pensando sobre procurar o auxiliar de ensino.
70% Conversando com amigos sobre a vida após a formatura.
80% Participando da aula quando eu estou insegura da minha resposta.
90% A noite, antes da minha prova bimestral de economia.
100% O acidente de carro do meu pai.
Fonte: Beck (1997).

No caso do quadro anterior, ele ilustra um exemplo de várias situações, as quais


envolvem a presença do sentimento voltado à ansiedade. A partir do que foi exposto
anteriormente, nessa tabela, pode-se sugerir que o terapeuta, a partir dos trabalhos
na sessão, identificou que a primeira situação envolvia um contexto tranquilo e com
ausência da emoção em questão, para o cliente. Já a última ocorrência descrita foi
identificada como um fato atribuído a um alto grau de ansiedade, de modo que essa
escala iniciou-se a partir das situações que lhe eram extremas, uma sem ansiedade e
outra com extrema intensidade da emoção em questão. Dessa forma, o terapeuta age

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UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

como um facilitador, no que diz respeito ao paciente começar a aprender a identificar


os graus intermediários, a partir dos dois extremos apresentados. Assim, aos poucos
as emoções, bem como suas intensidades, vão sendo identificadas e classificadas mais
facilmente.

Percebe-se que por meio da técnica do registro de pensamento automático, trabalha-se com
as emoções e os comportamentos decorrentes, o que torna o terapeuta capaz de observar
pensamentos tendenciosos nesses ciclos, também levantando crenças irracionais as quais
fazem parte do funcionamento do paciente. Nesse sentido, o autor Albert Ellis elaborou
uma lista com crenças irracionais, que auxiliam quanto ao entendimento a respeito dos
pensamentos disfuncionais e suas características, as quais já foram discutidas acima
(ELLIS, 1976; ELLIS, 1994; ELLIS; LANGE, 1994).

De acordo com o autor estimado acima, os dez (10) exemplos delineados abaixo
representam cognições bastante comuns, apontando erros de pensamentos que são
possíveis de serem identificados e trabalhados, a partir das intervenções da terapia
cognitiva comportamental:

1. “Preocupo-me demais com o que as pessoas pensam de mim”.

2. “Não posso fracassar em tarefas importantes, pois se eu fracassar será


horrível e não suportarei”.

3. “As pessoas e as coisas devem ser sempre como eu quero que sejam – se
não forem, será o fim, terrível, insuportável”.

4. “Se qualquer um dos três primeiros eventos ocorrer, eu sempre culparei


alguém! Alguém agiu de forma errada, como não deveria, e são pessoas
imprestáveis por terem agido assim.

5. “Se eu me preocupar, obsessivamente, a respeito de um evento iminente


ou do que alguém pensa sobre mim, as coisas realmente irão melhorar”.

6. “Existem soluções perfeitas, para todos os problemas, e eu preciso


encontrá-las, imediatamente!”.

7. “É mais fácil evitar situações e responsabilidades difíceis do que


enfrentá-las”.

8. “Se eu jamais me envolver seriamente com algo e mantiver este


distanciamento, jamais serei infeliz”.

32
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

9. “O passado e todas as coisas horríveis que me aconteceram quando


criança, ou no meu relacionamento ou emprego anteriores, fazem com
que eu me sinta e aja desta forma agora”.

10. “Pessoas e coisas ruins não deveriam existir e, quando existem, devem
me perturbar seriamente!”.

As crenças apresentadas acima também são trabalhadas, de modo mais indireto, a


partir da técnica do registro de pensamentos automáticos, considerando que por meio
da identificação dos mesmos alcança-se consequentemente a visualização quanto às
crenças e esquemas presentes em seu modelo cognitivo, abrindo uma compreensão
quanto à forma que o cliente vivencia o mundo e, consequentemente, possibilitando
ressignificações diante de eventos perturbadores e criações de respostas racionais e
mais adaptativas (KNAPP; BECK, 2008).

Adicionado ao exposto acima, para o psicoterapeuta cognitivo-comportamental, é


essencial observar e classificar, com os seus clientes, as crenças, os pensamentos, as
emoções e os comportamentos no que se refere ao grau de ajustamento psicossocial
e cultural dos mesmos com relação aos seus contextos. Mais ainda, avaliar como ele
próprio se adapta a seus valores e a forma como esse conjunto beneficia ou prejudica o
paciente a alcançar seus mais diversos objetivos, haja vista que é por meio dessa análise
que propostas de intervenções psicológicas surgem e são delineadas. Nesse sentido, a
ferramenta do RPD se mostra bastante útil (NETO et al., 2003).

Os autores Knapp e Beck (2008) frisam que para as transformações estruturais


acontecerem, deve-se ir além da mudança de erros cognitivos associados a um
transtorno específico. Os pensamentos automáticos, assim como as crenças mais
arraigadas, necessitam de análise e correção, com o intuito de se alterar suas formas de
organização, de modo que elas devem ser reavaliadas, ou seja, o terapeuta e o paciente
precisam trabalhar no sentido de procurar por evidências que as sustente e as corrijam,
utilizando, para isso, o teste de realidade. O mesmo refere-se à outra técnica bastante
utilizada na terapia cognitiva comportamental, que também se apresenta sob o nome
de questionamento socrático.

Essa técnica levanta questionamentos a respeito das evidências reais que o paciente
possui quanto as suas declarações, ajudando-o a avaliar e testar seus pensamentos
automáticos, de forma a comprovar a realidade e obter uma perspectiva mais realista
dos acontecimentos. Esse teste de realidade permite que os pensamentos se tornem

33
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

hipóteses, que serão testadas e, muitas vezes, os pacientes são surpreendidos trazendo
uma nova perspectiva para os seus anseios (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).

Quadro 11. Questionando os pensamentos automáticos.

1. Quais são as evidências?

Quais são as evidências que apoiam essa ideia?

Quais são as evidências contra essa ideia?

2. Existe explicação alternativa?

3. Qual é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso?

O que é o melhor que poderia acontecer?

Qual é o resultado mais realista?

4. Qual é o efeito da minha crença no pensamento automático?

Qual poderia ser o efeito de mudar o meu pensamento?

5. O que eu deveria fazer em relação a isso?

6. O que eu diria _______ (a um amigo) se ele ou ela estivesse na mesma situação?

Fonte: Beck (1997).

Tal questionamento, no início, acontece por meio do auxílio do terapeuta, que irá
ajudar nesse processo de testar a validade das ideias inadequadas e buscar respostas
mais racionais para os problemas. O conteúdo das perguntas e respostas englobam
buscas por evidências que comprovem ou contradigam o pensamento, também
podendo envolver explicação alternativa sobre certa situação, como se observa nos
exemplos das perguntas que o quadro anterior demonstra. Mais ainda, os pensamentos
também são analisados em termos de utilidade, levando o paciente a refletir em torno
das desvantagens e vantagens ao acreditar plenamente em determinado ponto de vista
(PEÇANHA, 2005).

Esse exercício ajuda o paciente a avaliar crenças intermediárias, de maneira que o


terapeuta faça perguntas mais persuasivas e menos imparciais, estimulando o cliente
a desenvolver pontos de vistas alternativos. O questionamento socrático também é
utilizado a partir dos dados obtidos no registro de pensamentos disfuncionais, pois,
como se percebe no quadro a seguir, os dados coletados nesse instrumento servem
de base para a formulação de perguntas as quais questionam evidências, analisam
vantagens e desvantagens, possibilitando o desenvolvimento de respostas alternativas
e mudanças na intensidade das emoções (BECK, 1997).

34
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Quadro 12.

Instrução: Quando você perceber o seu humor piorando, pergunte a si mesmo “O que está passando pela minha cabeça agora?” e, assim que
possível, anote o pensamento ou imagem mental na coluna Pensamento Automático.
Data/ Hora Situações Pensamento(s) Emoção(ões) Respostas Resultado
automático(s) adaptativas
1. Que evento 1. Que pensamento(s) 1. Que emoção(ões) 1. (opcional) Que distorção1. Quanto você
real, fluxo de e/ou imagem(ns) passou (tristeza/ansiedade/ cognitiva você realizou? acredita agora em
pensamentos, pela sua cabeça? raiva etc.) você sentiu cada pensamento
2. Use as perguntas abaixo
devaneios ou no momento? automático?
2. Quanto você para compor uma resposta
recordações
acreditou em cada um 2. Quão intensa ao(s) pensamento(s) 2. Que emoção(ões)
levaram à emoção
no momento? (0-100%) foi a automático(s). você sente agora? Quão
desagradável?
emoção? intensa (0-100%) é a
3. Quanto você acredita
2. Qual (se houver) emoção?
em cada resposta?
sensação física
3. O que você fará (ou
aflitiva você teve?
fez)?
Sexta, 8/2003 Pensando sobre Ele não vai querer ir Triste 75%. (Erro de adivinhação). 1. P.A. – 50%.
perguntar ao Bob comigo.
3h da tarde Na realidade eu não sei se 2.Tristeza – 50%.
se ele quer tomar
90%. ele quer ou não (90%).
café. 3. Ansiedade – 50%.
Ele é afetuoso comigo na
aula (90%).
A pior coisa que
acontecerá é que ele dirá
não e eu me sentirei mal
por algum tempo (90%).
O melhor é que ele dirá
sim (100%).
O mais realista é que
ele pode dizer que está
ocupado, mas ainda agir
de forma amigável (80%).
Se eu continuar supondo
que ele não quer sair
comigo, eu não terei
nenhuma chance com ele
(100%).
Eu deveria apenas levantar
e perguntar a ele (100%).
O que é que tem de mais,
de qualquer forma? (75%).
Perguntas para ajudar a compor uma resposta alternativa: (1) Qual é a evidência de que o pensamento automático é verdadeiro? Falso? (2) Há
uma explicação alternativa? (3) O que é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso? O que é o melhor que poderia acontecer? Qual é o
resultado mais realista? (4) Qual é o efeito de eu acreditar no pensamento automático? Qual poderia ser o efeito de eu mudar o meu pensamento?
(5) O que eu deveria fazer em relação a isso? (6) Se __________ [nome do amigo] estivesse na situação e tivesse esse pensamento, o que eu
diria para ele?
Fonte: Beck (1997).

Em suma, o profissional auxilia o paciente a responder de formas alternativas aos seus


pensamentos distorcidos, utilizando um questionamento cuidadoso e minucioso de
modo conjunto a ele, por meio de perguntas como as exemplificadas na parte inferior
do quadro anterior.

Com relação à técnica referente aos experimentos comportamentais, também


apresentada como uma das mais utilizadas na abordagem cognitiva comportamental,
35
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

ela engloba a consideração de experiências que podem ser realizados dentro ou fora do
consultório, sendo aplicadas sozinhas ou ao mesmo tempo em que o questionamento
socrático (KNAPP, 2004).

Considerando que os indivíduos precisam progredir de forma cautelosa, são feitas


prescrições comportamentais de tarefas graduais para cada paciente, com a finalidade
de promover experiências bem-sucedidas, de acordo com a capacidade atual de
enfrentamento, evitando sobrecargas com tarefas mais árduas que a capacidade de
cada um (BECK et al., 2005).

Os experimentos comportamentais assumem como principal objetivo expor o paciente


a situações que representam ameaça e geram emoções voltadas ao sentimento de
medo, ansiedade e/ou angústia. O trabalho, por exigir a realização de uma intervenção
de modo gradual, envolve a elaboração e o esclarecimento quanto à hierarquia dos
estímulos temidos. Assim, muitas vezes, o processo engloba a utilização da técnica
referente à dessensibilização sistemática, em que se estimula o desenvolvimento de
imagens mentais, com conteúdos e situações que significam ameaça ao paciente, para
o mesmo enfrenta-las de modo cauteloso e mais distante. O terapeuta vai provocando
reflexões quanto aos aspectos que se relacionam com os pensamentos, emoções e
comportamentos envolvidos nesse sistema, testando-os de modo direto no ambiente
do consultório. Diante da reformulação de significados e diminuição dos sintomas,
posteriormente, em alguns casos, realiza-se a técnica da exposição in vivo, a qual consiste
na confrontação real diante do estímulo que provoca as emoções desconfortáveis no
cliente, podendo ser realizada dentro ou fora do consultório, dependendo de cada caso
(WRIGHT et al., 2008).

Alguns exemplos de pensamentos automáticos que podem, de forma direta, serem


testados no próprio consultório, incluem os exemplos apresentados no quadro a seguir:

Quadro 13.

Pensamento automático Experimento comportamental

Eu não sei o que dizer para ele. A paciente dramatiza a si mesma enquanto o terapeuta interpreta a
outra parte.

Eu não consigo [me fazer] telefonar para marcar uma consulta no A paciente faz a chamada telefônica do consultório.
médico.

Não há empregos para os quais eu seja qualificada. A paciente revisa anúncios classificados com o terapeuta.

Seu eu ficar cada vez mais tonta eu desmaiarei. A paciente fica tonta através da hiperventilação enquanto gira em
uma cadeira (CLARK, 1989).

Fonte: Beck (1997).

36
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

De acordo com J. Beck (1997), os experimentos comportamentais, que são elaborados


de forma adequada, constituem poderosos agentes no que se refere à possível mudança
cognitiva e emocional do paciente.

Observa-se que maior parte da terapia cognitiva é centrada em técnicas de resolução


de problemas, ensinando os pacientes a definir o problema, gerar formas alternativas
de enfrenta-lo e programar outras soluções disponíveis. Falamos aqui sobre as
principais técnicas, considerando que elas irão variar de acordo com o transtorno em
questão e, principalmente, com as variáveis do paciente e do terapeuta (FREEMAN;
DATTILIO, 1998).

Enfatiza-se, nesse ponto, mais uma vez, a importância da conceitualização de caso,


já que ela direciona a terapia auxiliando o psicólogo frente a diversas considerações
teóricas e inúmeras técnicas, permitindo, assim, a determinação de uma trajetória mais
eficaz e apropriada, mesmo diante dessa gama de possibilidades (KUYKEN et al., 2010).

Pelo fato da conceitualização permitir a compreensão cognitiva do cliente e,


consequentemente, a escolha referente ao trabalho terapêutico mais adequado, pode-se
perceber, de forma clara, que, sem a mesma, o tratamento irá se resumir à aplicação de
técnicas cognitivas e comportamentais variadas, podendo gerar resultados ineficazes.

Dessa forma, ao se deparar com a existência de uma ampla gama de técnicas, na


abordagem da terapia cognitiva comportamental, percebe-se que o processo de
conceitualizar torna-se fundamental para afunilar, esclarecer, orientar e determinar
o percurso mais eficiente e adequado para a realização do tratamento do paciente.
Consequentemente, a conceitualização constitui-se enquanto uma ferramenta de
auxílio, com a qual o profissional apresentará uma maior capacidade no que diz respeito
à elaboração de metas e intervenções mais apropriadas, diante de cada caso com o qual
trabalha (KNAPP; BECK, 2008).

37
CAPÍTULO 2
Apresentação de técnicas cognitivas
comportamentais complementares

Como as principais técnicas da terapia cognitiva comportamental, vistas no capítulo


anterior, as que serão descritas nesse capítulo também assumem como principal
objetivo influenciar o pensamento, a emoção e o comportamento do paciente. As
técnicas complementares abrangem um número maior de quantidade, sendo portanto
aqui apresentadas por meio de tópicos, para uma melhor visualização e compreensão
quanto a elas.

Vale ressaltar que as técnicas complementares também deverão ser levadas em conta a
partir da análise do terapeuta quanto a conceituação geral, metas e objetivos específicos
de seu paciente.

Resolução de problemas

Essa técnica envolve a criação, de modo conjunto com o paciente, de uma lista de
problemas, no qual o terapeuta vai indagando a respeito dos problemas que surgem em
seu cotidiano, encorajando-o a agir diante de resoluções a respeito desses contratempos,
à medida que sugere algumas soluções possíveis e o instrui oferecendo algumas
orientações.

No decorrer da progressão da terapia, muitos clientes podem se beneficiar dessa


técnica e aprender a detectar um problema, projetar e selecionar soluções, inclusive
implementando-as e também analisando a sua eficácia. No entanto, alguns irão precisar
de auxílio para testar suas crenças disfuncionais, as quais estão prejudicando sua ação
quanto a tal resolução. Nesse caso, o terapeuta pode utilizar, junto com o questionamento
socrático, o Relatório de Resolução de Problemas, para ajudar o paciente a analisar e
responder à crença que o impede tal resolução (BECK, 1997).

Logo a seguir, pode-se analisar o Relatório de Resolução de Problemas, apresentado


com dados do caso de uma paciente, com o nome fictício de Sally.

38
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Quadro 14. Relatório de resolução de problemas.

Nome do paciente: Sally Data: 4/2012


(Quando pensamentos automáticos, crenças e/ou altas emoções interferem na resolução de problemas).
1. Problema
Começar a pesquisa para a cadeira de economia.
2. Significado especial: pensamentos automáticos e crenças
Eu não sou competente o suficiente para fazer isso.
3. Resposta ao significado especial
Eu sou competente o suficiente para entregar. Eu realmente não sei quão bem eu farei até que eu faça.
4. Solução(ões) possível(eis)
1. Ater-me à ideia original.
2. Anotar o esboço no papel (1/2 hora).
3. Conversar sobre ideias com o colega de quarto.
4. Ler textos sugeridos e tomar breves notas.
5. Escrever primeiro um rascunho; visar a uma nota C e não a uma nota A.

Fonte: Beck (1997).

No quadro, o terapeuta auxilia a paciente provocando reflexões diante dos pensamentos


automáticos e crenças apresentadas nessa situação específica, utilizando também a
técnica do questionamento socrático, a fim de que novas respostas sejam elaboradas.
Processo este que abre portas para a implementação de soluções alternativas, quebrando
comportamentos de procrastinação ou evitação (BECK, 1997).

A tomada de decisões

Essa técnica envolve uma intervenção bastante simples, sendo desenvolvida a partir
da consideração quanto à dificuldade de alguns pacientes no processo de tomar
decisões.

Nesse trabalho, o terapeuta solicita que o cliente classifique as desvantagens, bem como
as vantagens, de cada contexto considerado na sessão que está lhe gerando dúvida.
Posteriormente, ambos desenvolvem um sistema que considerará cada item e situação
levantada e seus aspectos associados à vantagem e desvantagem, lançando luz diante
de informações essenciais para a extração de uma conclusão, no que se refere à melhor
opção a ser acatada (BECK, 1997). A lista a seguir mostra a análise de vantagens e
desvantagens, voltadas a situações relacionadas ao emprego e curso de férias de uma
paciente.

39
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Quadro 15.

Vantagens do emprego Desvantagens do emprego


1. Ganhar dinheiro. 1. Ter que encontrar um.
2. Talvez aprender habilidades. 2. Menos tempo livre.
3. Mudar o que eu venho fazendo. 3. Possivelmente não gostar dele.
4. Conhecer pessoas diferentes. Desvantagens dos cursos de férias
5. Sentir-me mais produtiva. 1. Não ganhar dinheiro e dispendê-lo ao matricular-me.
6. É bom para o currículo. 2. Não aumentar minhas habilidades.
Vantagens do curso de férias 3. Superior ao que eu tenho feito.
1. Dois amigos vão participar. 4. Não me faz me sentir tão produtiva.
2. Poderia fazer uma cadeira a menos no segundo semestre. 5. Não me ajuda no currículo.
3. Muito tempo livre.
4. É uma quantidade conhecida.
5. Poderia encontrar pessoas novas.
6. Mais fácil matricular-me do que encontrar um emprego.
Fonte: Beck (1997).

Fazer a análise quanto a dois ou mais itens é importante, haja vista, que ao examinar
as vantagens e desvantagens de um, o paciente é favorecido a lembrar alguns aspectos
relacionados ao outro item. O cliente e terapeuta continuam esse exercício até que
o primeiro afirme que sente que registrou de modo completo e preciso o mesmo (J.
BECK, 1997).

Monitoração de atividade e agendamento

O próprio nome dessa técnica acusa sua principal função: monitorar as atividades do
paciente. Contudo, ela pode ser acompanhada de duas tabelas: a primeira se restringe
mais à anotação de todas as suas tarefas diárias, juntamente com o grau de realização
(R) e prazer (P) que ela sentiu ao vivenciar cada uma, em cada horário detalhado na
coluna correspondente; já na segunda, ela engloba uma escala que especifica, de modo
bem mais claro, as tarefas que lhe provocam mais o sentimento de realização e prazer,
possibilitando reflexões diante dessas questões (BECK, 1997).

Assim, diante das informações coletadas acima, o trabalho pode ser direcionado à
monitoração e medição de humores negativos, ao agendamento referente às atividades
mais prazerosas ou mais difíceis, além da verificação das previsões. Os dados
levantados são essenciais para mudanças significativas ocorrerem, as quais melhoram
significativamente seu humor, pois permitem a identificação quanto à existência de
padrões e pensamentos automáticos aflitivos (BECK, 1997).

40
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Na próxima imagem observamos a Tabela de Atividades de uma paciente e, logo


em seguida, a Escala de Realização e Prazer, inerente a cada atividade da Tabela de
Atividades:

Tabela 1. Tabela de atividades.

Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7


6-7
7-8
Rotina matinal
8-9
R=2 P=0
Estudo
9-10
R=2 P=0
Terapia
10-11
R=5 P=4
Sentar no pátio
11-12
R=1 P=3
Almoço
12-1
R=1 P=3
Aula de química
1-2
A=3 P=3
2-3 ↓
Estudo
3-4
R=2 P=1
4-5 ↓
5-6 ↓
Jantar
6-7
R=2 P=4
TV
7-8
R=2 P=2
8-9 ↓
9-10 ↓
10-11 ↓
11-12 Dormir
12-1 ↓
1-2 ↓
2-3 ↓
3-4 ↓
4-5 ↓
5-6 ↓
Fonte: BECK (1997).

41
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Tabela 2.

Escala de Realização Escala de Prazer Conclusões


0 - Assistir um filme ruim na TV. 0 - Estudar para exame de química.
1 1
2 2
3 - Limpar a minha escrivaninha. 3 - Andar de bicicleta ao redor do campus.
4 4
5 - Conferir meu talão de cheques. 5 - Jantar com colega de quarto.
6 6
7 7
8 - Terminar meu trabalho de literatura inglesa. 8 - Ganhar jogo de baseball do alojamento.
9 9
10 - Resolver um problema difícil de química. 10 - Tirar A+ em um trabalho.
Fonte: Beck (1997).

Essa técnica pode auxiliar o paciente a planejar de modo mais produtivo o seu tempo,
encoraja-lo no sentido de se comprometer com relação a mudanças necessárias e
identificar os pensamentos que lhe prejudicam em seus processos de transformações.
Tudo isso ocorre de forma colaborativa com o terapeuta, o qual utiliza a tabela de
atividade para observar pensamentos automáticos que interferem nas questões
do prazer, podendo trabalhar com o cliente em direção a novos pensamentos, que
teriam afetado de modo mais positivo seu humor, propondo novas atividades e novos
pensamentos para a tabela de atividades do paciente, aprimorando-a a partir das
singularidades do mesmo (BECK, 1997).

Relaxamento

É importante ressaltar que alguns pacientes, de modo paradoxal, experimentam um


efeito estimulante a partir dos exercícios de relaxamento, podendo se mostrar mais
ansiosos ou tensos. Sendo assim, mais uma vez, é imprescindível que o terapeuta
analise a especificidade de cada caso, observando se essa técnica envolverá utilidade
em seu contexto (BECK, 1997).

Essa técnica pode ser realizada a partir de exercícios de respiração, solicitando ao


paciente que inspire e expire de modo mais profundo e lento, bem como mais curto
e rápido, atentando-se para o aumento de ar na região torácica e, alternadamente, na
região abdominal. É indicada a utilização de um ambiente adequado, onde tenha um
espaço tranquilo, o qual permita o paciente se posicionar de modo confortável, para a
obtenção de um estado de conforto e bem-estar.

42
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Essa técnica é bastante utilizada nos casos de fobia social, transtorno do pânico e/ou
psicopatologias que envolvam intensos sintomas fisiológicos de ansiedade em situações
cotidianas, não se restringindo á situações de desempenho (OST; JERREMALM;
JOHANSSON, 1981).

Cartões de enfrentamento
Os cartões de enfrentamento constituem pequenos cartões que os pacientes devem
ler frequentemente, normalmente três vezes por dia, e, por isso, devem deixa-los
em lugares de fácil e constante acesso. Eles contêm informações a respeito de um
pensamento automático ou crença, com respostas adaptativas de um lado e do outro
com estratégias comportamentais para utilização em casos problemáticos específicos,
compondo autoinstruções para motivas o paciente (BECK, 1997).

Quando um paciente tem dificuldade de avaliar pensamentos aflitivos, ele e o terapeuta


criam uma resposta adaptativa e um pensamento automático, desenvolvendo, assim,
um cartão de enfrentamento que ele pode ler regularmente, para integra-lo cada vez
mais em seu pensamento. Um exemplo desse tipo de cartão de enfrentamento pode ser
visto a seguir:

Quadro 16.

CARTÃO DE ENFRENTAMENTO 1
(Lado 1)
Pensamento automático:
Eu não consigo fazer isso.
(Lado 2)
Resposta adaptativa:
Bem, eu poderia sentir que eu não consigo fazer isso, mas isso pode não ser verdade. Muitas vezes, no passado, eu pensei que não conseguiria
ler e entender esse texto, mas se eu realmente continuo e abro o livro e começo a ler, eu de fato entendo, pelo menos até certo ponto. Pode ser
difícil, mas provavelmente não é verdade que eu não consigo fazer isso. O pior que pode acontecer é que eu começarei a ler e não entenderei, mas,
então, posso parar ou perguntar para alguém sobre isso ou fazer outro trabalho em vez desse. Isso seria melhor do que simplesmente não tentar.
Pensamento negativo apenas abala a minha motivação. Eu deveria continuar e testar a ideia de que eu não consigo fazer isso.
Fonte: Beck (1997).

Primeiramente o paciente, junto com o terapeuta, identifica o pensamento automático


com conteúdo de incapacidade. Logo depois, eles discutem pontos importantes que
devem ser relembrados e escritos no lado contrário do cartão, desenvolvendo uma
resposta mais adaptativa, a qual aponta novas possibilidades que contradizem o
pensamento automático e, assim, incentivam o paciente a pensar e agir de modo mais
funcional diante do contexto apresentado. O profissional e o cliente também discutem
a respeito do momento mais adequado para a leitura do cartão, que será considerado
tomando-se por base a dificuldade e o pensamento apresentados.

43
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Existe um segundo tipo de cartão de enfrentamento, mais voltado para o cliente passar
por situações que julga serem as mais difíceis. Dessa forma, de modo também conjunto
com o terapeuta, estratégias e sugestões, que possam ser úteis para o cliente enfrentar
as situações que mais teme, são desenvolvidas para o mesmo sempre ter em mãos os
aspectos mais importantes que devem ser lembrados nas situações mais delicadas. Isso
pode ser descrito como cartão de enfrentamento dois (2) e, no quadro a seguir, elucida-se
um exemplo, diante de uma situação que envolve o sentimento de ansiedade,

Quadro 17.

CARTÃO DE ENFRENTAMENTO 2
Estratégias para quando eu estou ansiosa
1. Fazer um Registro de Pensamento Disfuncional.
2. Ler os cartões de enfrentamento.
3. Ligar para um amigo.
4. Sair para caminhar ou correr.
Fonte: Beck (1997).

Existe outro cartão de enfrentamento com instruções para motivar o paciente, o


qual também é desenvolvido de forma colaborativa com o terapeuta. Nesse ponto, o
profissional também assume o papel de levantar as vantagens e desvantagens, quanto
à leitura do papel, estimulando o paciente a identificar e responder seus pensamentos
automáticos, os quais foram previstos na sessão como capazes de inibir a utilização dos
cartões de enfrentamento ( BECK, 1997).

Nesse caso, o cartão de enfrentamento denominado três é constantemente utilizado


quando se percebe que o paciente está desmotivado, no que diz respeito à prática
dessa técnica, algo que muitas vezes despenderá maior tempo, por parte do terapeuta
e cliente, de trabalho na terapia, haja vista que eles deverão atentar-se na análise das
questões que corroboram essa desmotivação, bem como na criação e visualização de
respostas mais adaptativas diante dos pensamentos que influenciam a ocorrência dessa
resistência (BECK, 1997). A seguir observa-se um exemplo de elaboração do cartão de
enfrentamento três, na situação que o paciente julga ser demasiadamente difícil, a qual
envolve solicitar a ajuda de um professor:

Quadro 18.

CARTÃO DE ENFRENTAMENTO 3
Quando eu desejo pedir ajuda ao professor
1. Relembrar a mim mesmo que isso não é grande coisa. O pior que pode acontecer é ele ser indelicado.
2. Lembrar que isso é uma experiência. Mesmo que ela não funcione desta vez, é uma boa prática para mim.
3. Se ele for indelicado, provavelmente isso não tem nada a ver comigo. Ele pode estar ocupado ou irritado com alguma outra coisa.
4. Mesmo que ele não possa me ajudar, e daí? Será um fracasso dele como professor, não meu como aluno. Isso significa que ele não está fazendo
o trabalho dele de forma adequada.
5. Então, eu deveria ir procura-lo agora. Lembre-se, na pior das hipóteses, é uma boa prática.
Fonte: Beck (1997).

44
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Exposição graduada
Quando se trata de alcançar uma meta, constantemente os pacientes tornam-se
confusos, ansiosos e desmotivados, ao dar foco na enorme distância que ainda existe
para alcançarem esse processo. Por isso, ao se discutir as etapas e os passos necessários
para se chegar em determinado objetivo, enfatiza-se aspectos voltados para o período
mais atual e presente, sendo frequentemente mais tranquilizador para o cliente
(BECK, 1997).

Dessa forma, atividades que estão associadas a baixos ou moderados níveis de ansiedade,
por exemplo, são consideradas para o paciente coloca-las em prática primeiramente
e em modo gradual. Desse modo, elabora-se uma hierarquia entre as atividades que
serão realizadas, propondo-se a realização de cada tarefa em momentos diferentes e
por etapas, a fim de obter uma queda na ansiedade do cliente ao realizar as de menor
dificuldade, até que ele possa fazer a atividade, que julga lhe gerar mais ansiedade, com
relativa facilidade (BECK, 1997).

A próxima imagem, em formato de escada, demonstra o processo discutido acima,


o qual consiste na separação de metas em passos menores e graduais, apontando a
hierarquia entre as atividades que causam menor grau de ansiedade (listadas na parte
inferior), as quais são realizadas inicialmente, e as que causam maior grau de ansiedade
(listadas na parte superior), as quais são enfrentadas posteriormente:

Figura 6.

Expressar
sua opinião
em classe

Responder
a uma
pergunta
em aula

Fazer uma
pergunta
em aula

Fazer uma
pergunta ao
professor depois
da aula

Fazer uma pergunta


a outro estudante
depois da aula

Fonte: Beck (1997).

45
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

De acordo com J. Beck (1997), nessa técnica, o paciente pode ser estimulado a trabalhar
mais em uma hierarquia ou exposição graduada, se preencher uma tabela ou gráfico
de atividades. Esse instrumento pode ser simples, apresentando espaços para o
preenchimento de informações relacionadas à data, atividade e nível de ansiedade.
Contudo, pode ser mais elaborado, como mostra o quadro a seguir, contento espaços
para o preenchimento de dados voltados às técnicas de enfrentamento utilizadas, bem
como para a anotação das previsões percebidas, ou seja, dos pensamentos que ele previu
e não ocorreram, tarefa esta que contribui para a reflexão do paciente com relação à
falta de precisão que muitos de seus pensamentos apresentam, algo que, por sua vez,
facilita o seu processo de questionamento e ressignificação.

Quadro 19.

Data Atividade Nível previsto de Nível atual de Previsões Técnicas de


ansiedade 0-100 ansiedade 1-100 enfrentamento usadas
4/2004 Fazer perguntas 80 50 Eu não serei capaz de fazer RPD antes da aula.
na aula isso.
Ler cartões de enfrentamento
Nada sairá da minha boca. antes da aula.
Eu farei papel de boba.
Fonte: BECK (1997).

Role-play (dramatização)

O role-play envolve uma técnica que pode auxiliar o processo de aprendizagem e prática
de algumas habilidades sociais do paciente, além de contribuir na identificação de
pensamentos automáticos, no desenvolvimento de resposta racional e na modificação
de crenças intermediárias e centrais no trabalho psicoterápico. O terapeuta avalia as
habilidades que o paciente já apresenta, para depois decidir como usar essa técnica,
diante da escolha quanto à habilidade que deve ser desenvolvida. Por exemplo, o
profissional pode fazer uso dessa técnica para identificar pensamentos automáticos ou
para ensinar habilidades de assertividade (BECK, 1997).

Nessa direção, durante a sessão, o terapeuta propõe um problema, trazido pelo cliente,
o qual envolve alguma dificuldade de relacionamento interpessoal ou dificuldade do
cliente em participar de algum contexto. A técnica, assim, funciona como uma espécie
de ensaio comportamental, de modo que se encena ou simula a situação-problema, o
paciente e o terapeuta desempenhando papéis de acordo com a situação que o cliente
trouxe como queixa para a sessão, tentando simular o contexto hipotético da forma
mais próxima a que aconteceu de fato (SOUZA; ORTI; SILVA, 2012).

46
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Esse tipo de dramatização possibilita que emoções e atitudes surjam, as quais poderão
ser trabalhadas a partir de suas análises, possibilitando o paciente a representar e
enfrentar possíveis bloqueios e inibições (SOUZA; ORTI; SILVA, 2012).

Gráfico em formato de torta


Essa técnica abrange a criação de um gráfico, sob o formato de torta, o qual pode ser
elaborado e utilizado para auxiliar o paciente quanto ao estabelecimento de metas
e/ou para determinar responsabilidades diante de aspectos de sua vida. Muitas vezes, o
paciente apresenta resistência em especificar problemas e as mudanças que almeja em
seu dia a dia (BECK, 1997).

Inicialmente, o terapeuta orienta a criação de um diagrama a respeito do que ocorre em


sua vida, no momento atual, perguntando sobre quanto tempo o paciente despende em
áreas de seu cotidiano como, por exemplo, a escolar, profissional e de lazer. Feito isso,
ele solicita que o cliente elabore, então, um diagrama com informações referentes ao
que ele considera que corresponderia a sua visão de vida ideal. A partir das imagens a
seguir, pode-se observar de modo mais claro esse processo, discutido em questão:

Figura 7.

Diversão Amigos

Amigos

Lado intelectual
escola/trabalho

Lado intelectual
escola/trabalho

Fonte: Beck (1997).

Diante dessas informações coletadas, o terapeuta, junto com o cliente,


estabelece novas metas, as quais organizam e aprimoram o gasto de
tempo do paciente com relação a cada área citada, desenvolvendo-se,
assim, intervenções para que o cliente alcance cada vez mais o estilo de
vida apresentado em seu gráfico, caracterizado enquanto seu modelo
ideal (BECK, 1997).

47
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Esse tipo de técnica também pode possibilitar a visão do paciente quanto às causas
existentes para alguns resultados que surgem em sua vida, ou seja, o gráfico aponta tal
processo de causalidade. No caso de um paciente que atribua incapacidade para uma
nota ruim que tirou em uma prova, o terapeuta investiga e estimula outras explicações
existentes possíveis, as quais também merecem ser consideradas no sentido de terem
influenciado o resultado obtido (BECK, 1997). Podemos observar na imagem a seguir
um exemplo do gráfico em forma de torta para causalidade.

Figura 8.

#7
Incapacidade #1
O professor não
ensina bem

#6 #2
Depressão e ansiedade O teste estava
reduziram minha
difícil
concentração

#3
#5
Algum material #4 Má sorte
não-ensinado Pediu
em aula emprestado
anotações de
aula

Fonte: BECK (1997).

Ressalta-se que, no caso do exemplo citado anteriormente, como o tema da incapacidade


foi a questão que o paciente atribuiu, com grau de 100% de certeza, para a obtenção
da nota ruim em seu exame, o profissional orienta que ele considere essa relação de
causalidade analisada por último, ao escrever as outras possíveis no desenho, haja
vista que esse cuidado estimula a reflexão e consideração de modo mais forte e pleno
quanto as outras explicações existentes, favorecendo-o na visão de outros fatores que
contribuíram para o mau desempenho que apresentou na prova.

Diários de autodeclaração positiva


Essa técnica consiste em simples anotações diárias, relacionadas às coisas que o paciente
está fazendo, consideradas positivas, bem como aspectos que ele percebe ocorrendo em
seu contexto diante dos quais julga merecer algum crédito. Logo a seguir, visualiza-se
uma elaboração de lista de créditos, com autodeclarações positivas.

48
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

Quadro 20. Lista de créditos.

(Coisas que eu fiz que foram positivas ou foram um pouco difíceis, mas as fiz assim mesmo)
1. Tentei acompanhar o que foi dito na sala de aula de estatística.
2. Terminei de digitar o meu trabalho e o entreguei.
3. Conversei com Júlia no almoço.
4. Liguei para Jon para confirmar o trabalho de química.
5. Preparei o jantar em vez de ir dormir.
6. Li o capítulo 5 do livro de economia.
Fonte: Beck (1997).

Essa técnica possui ainda mais relevância considerando que ela tem capacidade de
preparar o paciente a questionar as crenças centrais, observadas no progresso da terapia,
estimulando seu potencial em analisar pensamentos e situações positivas alternativas,
as quais lhe auxiliarão no processo de questionamento e reelaboração de novas crenças,
que refletirão em um modo de funcionamento mais adaptativo.

49
CAPÍTULO 3
Considerações referentes às técnicas
da terapia cognitiva comportamental e
o público adolescente e infantil

A partir da apresentação das técnicas da Terapia Cognitiva Comportamental, torna-se


importante a discussão quanto aos aspectos existentes nessa abordagem, os quais são
mais voltados ao trabalho psicoterapêutico quando se trata do atendimento psicológico
com as crianças e/ou adolescentes.

Nesse sentido, a terapia também assume como foco o auxílio para o indivíduo
reconhecer e transformar padrões de pensamentos distorcidos, emoções negativas
e comportamentos disfuncionais, ou seja, segue os mesmos princípios que a terapia
com os adultos, considerando a premissa de que existe influência e interação entre
pensamentos, sentimentos e comportamentos da pessoa. Mais, ainda, reconhece que
as variáveis cognitivas, afetivas e comportamentais assumem grande importância nos
desenvolvimentos e manutenções dos transtornos (HELDT et. al., 2013).

O trabalho, com o público em questão, enfatiza, assim, os processos de aprendizagem


e o impacto dos modelos no ambiente social, de modo que o estilo de processamento
de informação e da experiência emocional do paciente são estimados. Tendo em vista
que as interpretações cognitivas e os padrões comportamentais perpassam os contextos
interpessoais e sociais, ambos constituem fatores essenciais para a elaboração de
estratégias de tratamento na psicoterapia com crianças (KENDALL, 2006).

No trabalho inicial com a criança ou o adolescente, o profissional deve buscar


compreender o seu funcionamento de forma ampla, analisando seu histórico médico e
escolar, sua relação com seus familiares e amigos, fatores que elucidem como ocorreu
e ocorre seu desenvolvimento, bem como o motivo da procura ou do encaminhamento
para a terapia. A entrevista clínica, observações e coleta de informações devem ser
realizadas a partir de métodos diversificados, adaptando-se à faixa etária, demanda e
etapa de desenvolvimento, na qual o adolescente ou a criança apresenta e se encontra
(STALLARD, 2010).

Dependendo dos fatores citados acima, torna-se possível trabalhar, durante as sessões,
com a utilização de metáforas, as quais podem servir de comparação e reflexão diante
de fatos que ocorrem e/ou ocorreram na vida do paciente, com jogos, que englobem
aspectos de disputa, perda ou ganho, podendo trazer à tona aspectos de suas relações

50
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

interpessoais e com qualquer outro tipo de brincadeira, a qual envolva uma linguagem
mais acessível e compreensível, no caso das crianças, e mais característica da fase
adolescente. Tais cuidados podem contribuir para seus os pensamentos, sentimentos e
comportamentos emergirem de forma mais clara, durante o processo psicoterapêutico,
de modo que o profissional também poderá participar e se inserir, inclusive, nas
questões relacionadas aos sonhos e fantasias, aspectos presentes nessa fase de vida
(BALIEIRO JUNIOR, 2001).

Nessa direção, uma sala que contenha diversos materiais interativos, como, por exemplo,
massa para modelar, bonecos, jogos, tintas, fantoches e lápis de cor, bem como alguns
quadros de super-heróis, personagens de desenhos e séries, infantis e juvenis, podem
criar um ambiente no qual a criança e o adolescente se sintam mais à vontade, pois
tendem a se identificar e reconhecer mais o ambiente que possui características em
comuns com as de seu cotidiano (PETERSEN; WAINES et al., 2011).

Ainda com relação às ferramentas contribuintes para o trabalho com o público em


questão, Bunge, Gomar e Mandil (2012) afirmam que o uso da biblioterapia, que
consiste nos contos e implementações de narrativas terapêuticas, é um recurso bastante
utilizado na terapia cognitiva comportamental, sendo que as histórias com elementos
semelhantes aos do contexto que o adolescente ou a criança participam, bem como as
metáforas frequentemente apresentadas nas fábulas, constituem recursos estimulantes
para a criança e o adolescente trabalhar e visualizar suas próprias questões. As técnicas de
narração, as quais envolvem a criação de uma história problematizando a situação vivida
pelo paciente, também assumem importante papel, já que possibilitam a externalização
dos problemas vivenciados e o aprendizado em direção ao seu enfrentamento.

Outro ponto diferencial, relacionado ao atendimento do público adolescente e infantil,


encontra-se na ênfase do tratamento envolver a participação da família, de modo que o
terapeuta deve estimular e facilitar o envolvimento e engajamento dos pais, no que diz
respeito às praticas educativas adequadas às necessidades dos filhos. Ao compartilhar
a compreensão e o modelo cognitivo das dificuldades e problemas apresentados e
observados no contexto na terapia, pode-se propiciar o surgimento do sentimento de
esperança e entendimento, tanto nos pais quanto na criança ou no adolescente. Esse
fator é de extrema relevância, haja vista que os sentimentos de impotência e dificuldade
de se visualizar transformações podem, assim, ser trabalhados e a família passa a ser
encorajada a assumir um papel ativo cada vez maior, diante dos processos levantados
na terapia (REINECKE; DATTILIO; FREEMAN, 2006).

Dessa forma, os pais assumem e participam mais dos aspectos relacionados à


educação do filho que se torna agente de suas próprias mudanças, diante de suas

51
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

próprias demandas. A partir dessas considerações, observa-se que na terapia


cognitiva comportamental com crianças e adolescentes, os pais estão de forma regular
envolvidos nos programas de tratamento psicoterápico (REINECKE; DATTILIO;
FREEMAN, 2006).

Figura 9.

Fonte: <http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/101-maneiras-se-divertir-filhos-692974.shtml>. Acesso em:


27/1/2017.

A inclusão dos pais no âmbito da psicoterapia com crianças e adolescentes, que tenham
problemas comportamentais e emocionais, aumenta a chance de obtenção de benefícios
a partir do tratamento. Os pais podem participar por meio de duas formas, como
colaboradores ou como consultores, no processo psicoterapêutico. Na primeira forma,
eles se envolvem com a implementação dos programas de tratamento, já na segunda
forma eles fornecem suporte que auxiliam no sentido de buscar uma determinação
quanto à natureza da dificuldade da criança ou adolescente (KENDALL, 2006).

O psicólogo, a partir das informações coletadas, junto com a importante participação,


citada acima, dos pais, vai construindo hipóteses sobre os fatores contribuintes para
os problemas apresentados, podendo aplicar as ferramentas e escalas que coletam
informações sobre transtornos específicos, utilizando, inclusive, o diagrama da
conceituação cognitiva, com o intuito de buscar compreender a criança e o adolescente
a partir da forma como se vê, enxerga os outros e o mundo e o futuro. Assim,
investigam-se também os eventos específicos, bem como as crenças, que podem ser os
desencadeadores dos pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais, que
surgem no contexto que vivenciam e se relacionam com os sintomas e problemas, os
quais apresentam na fase atual de vida (PETERSEN; WAINES et al., 2011).

O profissional, no trabalho com a criança e o adolescente, não atua no sentido de objetivar


restritamente a substituição de pensamentos negativos por positivos, pois, muito mais
do que isso, ele facilita e instiga a reflexão e questionamento da própria criança e

52
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

do próprio adolescente frente aos pensamentos disfuncionais, possibilitando que os


mesmos identifiquem o significado e o sentido, os quais se associam a tais pensamentos,
para trabalhar, dessa forma, nesse nível mais profundo e complexo os pensamentos,
emoções e comportamentos desadaptativos (BUNGE; GOMAR; MANDIL, 2012).

Como a psicoterapia abrange a identificação de pensamentos, emoções e


comportamentos, no caso das crianças e adolescentes, existem métodos que podem
auxiliá-las de forma mais específica nesse processo. A utilização de um quadro
com carinhas desenhadas, as quais representam sentimentos de tristeza, medo,
alegria, raiva e surpresa pode ser útil para o trabalho de educação e treinamento,
ajudando-os na identificação e nomeação de seus sentimentos. O terapeuta também
aborda os sinais fisiológicos que cada emoção pode apresentar, solicitando que o
paciente relembre uma situação recente na qual ele sentiu alguma dessas emoções,
de modo que descreva também as sensações corporais que percebeu surgindo antes,
durante e depois do contexto analisado. O uso de uma tabela, com desenhos de várias
partes do corpo humano, é contribuinte para essa intervenção, haja vista que lança luz
quanto aos lugares exatos que a criança ou o adolescente percebe que são afetados,
no sentido fisiológico do corpo, quando ela sente medo, por exemplo, ou seja, quando
vivencia alguma das emoções discutidas na sessão (STALLARD, 2010).

Com relação aos pensamentos automáticos, para as crianças pode-se utilizar a técnica
de desenhar balões em branco, os quais serão preenchidos por ela e depois os conteúdos
serão discutidos com o terapeuta, a fim de que haja um aprimoramento quanto à visão
da situação e do pensamento registrado. O Baralho das Emoções, o qual é composto por
quarenta e duas (42) cartas, sendo que metade é voltada para meninos e a outra metade
para meninas, apresenta desenhos expressando emoções específicas, que também pode
ser utilizado ao longo do tratamento, no sentido de auxiliar o profissional a trabalhar,
com mais propriedade, na identificação das emoções infantis. Em se tratando dos
adolescentes, o profissional pode solicitar a criação de um diário e/ou caderno de
anotações, em que eles devem descrever, de forma sucinta, pensamentos que surgem
em determinadas situações. Assim, a partir de todas essas intervenções, o terapeuta
poderá identificar padrões, destacar aspectos que considera mais importantes, além
de propor a reflexão dos pais e dos pacientes diante de alguns conteúdos registrados
nesses instrumentos (STALLARD, 2010).

Esses métodos discutidos facilitam a análise e o reconhecimento de pensamentos


e o monitoramento e, até mesmo, a medição dos sentimentos, em determinados
contextos que a criança e o adolescente participam. Nesse sentido, pode-se utilizar o
Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD) nas sessões, de modo que o profissional
constantemente oriente e conscientize cada passo dessa ferramenta, já que a mesma

53
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

apresenta mais complexidade para o público enfatizado nesse tópico, principalmente


para o público infantil (STALLARD, 2010).

Nesse ponto, destaca-se a possibilidade da utilização de histórias e esquemas


ilustrados, com as crianças, apontando a relação existente entre pensamento, emoção
e comportamento, por meio dessas ferramentas. Os pais participam desse processo
de conscientização junto com os filhos, contribuindo para que todos eles aprendam a
identificar previamente algumas situações, se preparando para enfrentar acontecimentos
repetitivos a partir de novas possibilidades. Identificando-se pensamentos, emoções
e comportamentos, propõe-se questionamentos e reflexões diante deles, auxiliando e
objetivando a reformulação e a ressignificação das distorções observadas. A partir de
então, o terapeuta auxilia, tanto a criança quanto o adolescente, no desenvolvimento de
novas habilidades, as quais serão mais adaptativas para eles, todo esse processo tendo
como principal foco a reestruturação cognitiva e a consideração dos aspectos singulares
existentes em cada caso (STALLARD, 2010).

Como observado, a participação dos pais é essencial e de extrema relevância quando se


trata do trabalho psicoterápico com adolescentes e crianças. Dessa forma, existem alguns
pontos relevantes para se considerar em relação ao trabalho com os pais, ou seja, ao seu
treinamento no âmbito da terapia, em se tratando de orientações e conscientização
quanto à existência de técnicas, as quais eles podem empregar na relação que assumem
com os filhos.

Basicamente, técnicas de condicionamento operante e aprendizagem social são


consideradas no contexto do trabalho com os pais. Assim, orienta-se que eles devem
utilizar reforçamento positivo, para instigar o comportamento pró-social do filho, por
meio de elogios e brincadeiras, por exemplo. A criança ou adolescente pode se sentir
mais valorizado e passar a ter mais disciplina e obediência, inclusive em outras áreas
de sua vida. A técnica da economia de fichas, baseada em contingências, também é
bastante considerada, sendo um sistema que ocorre em situações que o individuo
apresenta comportamentos desejáveis e é reforçado pelos pais, ou seja, eles lhe dão
fichas como reforço imediato, as quais poderão ser trocadas, posteriormente, por
reforços mais valiosos. No entanto, se comportamentos inadequados surgirem tais
fichas serão retiradas, pelos próprios pais também, englobando uma espécie de punição.
Desse modo, incentiva-se a emissão de comportamentos desejáveis, desestimulando a
emissão de comportamentos indesejáveis (PATTERSON, 1996).

Para a implementação dessas técnicas, torna-se crucial que o terapeuta oriente a


escolha das recompensas, as quais serão realizadas pelos responsáveis e pelo filho,
atentando-se para as considerações quanto à faixa etária do paciente, à sua singularidade

54
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II

e às suas próprias demandas. Esse cuidado deve-se ao fato da importância de se


personalizar esse processo, de modo que se torne efetivo e assuma sua plena eficácia.
A tentativa é de se trabalhar em cima de estilos de disciplinas permissivos, punitivos,
incoerentes e desadaptativos, dos pais com relação aos filhos, em direção à criação de
estratégias de manejo cognitivo e comportamental eficazes (PATTERSON, 1996).

A complexidade característica da interação entre os pais e filhos causa impacto na


dinâmica familiar e individual, podendo contribuir ou prevenir a ocorrência de
comportamentos disfuncionais, problemas de relacionamento e o surgimento ou
agravamentos de transtornos em adolescentes ou crianças. Dessa forma, observa-se
que o papel dos pais assume relevante influência no comportamento infantil e juvenil,
haja vista que intervenções nas práticas adotadas pelos pais ou responsáveis tem
capacidade de trazer melhoras significativas, no que diz respeito aos comportamentos
infanto-juvenis (LOBO; FLACH; ANDRETTA, 2011).

Assim, o terapeuta cognitivo trabalha considerando, com frequência, a participação


e conscientização dos pais, tratando-se do contexto da terapia. A psicoeducação, que
se realiza com pacientes adultos, também se realiza com a participação dos pais e da
criança ou adolescente, levantando explicações sobre o funcionamento do paciente,
seus sintomas e o tipo de tratamento considerado. Como já considerado anteriormente,
esse processo pode auxiliar tanto o paciente quanto os pais em determinadas situações,
orientando-os sobre como devem agir e esclarecendo possíveis dúvidas (CAMINHA;
CAMINHA, 2007).

Figura 10.

Fonte: <https://i.ytimg.com/vi/CWJ7VoI7Nn8/maxresdefault.jpg>. Acesso em: 27/1/2017.

55
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Observa-se que o terapeuta cognitivo, ao lidar com o público infantil e adolescente,


precisa ser flexível e criativo, adaptando-se aos métodos utilizados para a realidade
de cada paciente, procurando se aproximar da linguagem mais lúdica e específica
dessas fases, algo que pode até mesmo favorecer a formação do vínculo nesse contexto.
Para finalizar, destaca-se também a importância quanto à consideração de fatores
relacionados à escola, podendo essa área possuir informações e constituir um ambiente
significativo para o tratamento, tendo em vista que na adolescência e na infância o
contexto escolar assume relevância em seus dia a dia. Tal instituição ocupa boa parte
do tempo diário da criança e do adolescente, representando-se enquanto fonte de
educação e também fonte de relacionamentos interpessoais, fatores que, assim como os
existentes no ambiente familiar, participam constantemente do seu desenvolvimento e
influenciam suas experiências diversas (BUNGE; GOMAR; MANDIL, 2012).

56
O PSICÓLOGO NA TCC UNIDADE III

CAPÍTULO 1
As competências do terapeuta

Ao se discutir a respeito do papel que o terapeuta cognitivo comportamental assume no


contexto do trabalho psicoterápico, torna-se importante esclarecermos e discutirmos
alguns princípios dessa abordagem, pois, embora o processo seja específico para
cada pessoa, existem pontos essenciais por detrás da terapia cognitiva que devem ser
considerados para todos os pacientes (BECK, 1997).

O primeiro deles ressalta que a terapia deve se basear em uma formulação contínua do
funcionamento do paciente e seus problemas, ou seja, ao longo da terapia, o terapeuta e
o cliente analisam as experiências deste último por meio do modelo cognitivo (KUYKEN
et al., 2010).

Já nesse primeiro tópico, observa-se a presença do processo de conceitualização


cognitiva, o qual se desenvolve de forma ininterrupta, desde o início da terapia até o
fim, apresentando um decurso dinâmico, no qual o paciente poderá ter participação
(SOUZA; CÂNDIDO, 2010).

Esse primeiro princípio é considerado como um dos fatores que diferencia a terapia
cognitiva-comportamental de outras terapias, pois aponta o processo contínuo da
formulação de caso e a possibilidade da participação do cliente nesse processo (ROSO,
2011). Desde o início, o terapeuta identifica o pensamento presente, mantenedor de
sentimentos negativos, para, posteriormente, verificar possíveis fatores que precipitam
e influenciam as percepções disfuncionais do paciente. Desse modo, ele levanta hipótese
quanto a padrões persistentes de interpretações, que podem predispor a pessoa a
respostas menos adaptativas (BECK, 1997).

O terapeuta, em seu primeiro encontro, delineia sua formulação a partir dos dados da
sessão primária e refina essa conceituação continuamente, ao longo da terapia, diante
de novos dados que vão surgindo. Ele compartilha a conceituação com o paciente, de

57
UNIDADE III │ O PSICÓLOGO NA TCC

modo que verifica se está indo na direção correta, como também auxilia o paciente a
enxergar sua experiência por meio do modelo cognitivo, algo que, por sua vez, contribui
para que ele próprio perceba os pensamentos ligados a seus afetos angustiantes e
formule novas respostas, estas mais funcionais, frente a eles (BECK, 1997).

O segundo princípio, da abordagem em questão, destaca a importância de o processo


terapêutico necessitar de uma aliança terapêutica segura, a qual requer empatia,
postura de respeito, interesse e compreensão, por parte do terapeuta, com relação
às dificuldades trazidas pelo paciente, para que ele se sinta acolhido e confiante para
trabalhar com o profissional. É importante destacar que, no caso dos pacientes com
transtornos de personalidade, deve-se dar uma ênfase maior sobre o relacionamento
terapêutico para forjar uma boa aliança no trabalho, o que neste caso torna necessário
que o terapeuta dispenda mais tempo construindo esse laço (BECK, 1997).

Ainda quanto ao segundo princípio da terapia cognitiva comportamental, Knapp


(2004) afirma que é necessário nunca deixar de se estar atento para o estabelecimento
de uma boa relação terapêutica, haja vista que esse cuidado pode diminuir os impasses
da terapia.

Depois de estabelecida essa boa relação, um terceiro princípio enfatiza a importância


da participação e colaboração, tanto do terapeuta quanto do cliente, no processo da
terapia. No início, o terapeuta assume mais o papel ativo, mas aos poucos encoraja o
paciente a participar de forma cada vez mais autônoma (BECK,1997).

J. Beck (1997) discorre sobre o quarto princípio da terapia cognitiva, esclarecendo


que seu processo terapêutico é orientado por metas e centralizado na resolução de
problemas. Assim, no decorrer desse processo, o terapeuta orienta o cliente a enumerar
seus problemas e, a partir de então, estabelecer metas específicas diante dos mesmos.
O papel do terapeuta também engloba o auxílio no que se refere a avaliação e respostas,
frente aos pensamentos que interferem o alcance de tais metas, atentando-se para
os obstáculos que dificultam o paciente na resolução de problemas e no alcance de
objetivos por si mesmo.

Alguns pacientes têm dificuldade na avaliação de ideias disfuncionais as quais os


prejudicam na utilização de habilidades funcionais, ou seja, apresentam obstáculos em
resolução de problemas, necessitando de orientação e instrução direta, do terapeuta,
para aprender novas estratégias. Assim, o terapeuta deve conceituar as dificuldades
singulares do cliente e identificar o nível e tipo adequado de intervenção (BECK, 1997).

No processo citado acima, observa-se que os problemas são abordados por meio de
metas voltadas para o aqui e agora, fator este que representa um quinto princípio.

58
O PSICÓLOGO NA TCC │ UNIDADE III

O forte foco voltado aos problemas atuais, os quais são identificados pela avaliação
mais realista das experiências que são, no momento, angustiantes, frequentemente
conduzem à redução dos sintomas (BECK, 1997).

Entretanto, nesse quinto princípio, existem situações que se apresentam enquanto


exceções, tornando, dessa forma, indispensável que o terapeuta direcione sua
atenção ao passado. Essas situações englobam as seguintes circunstâncias: quando a
terapia direcionada aos anseios atuais do paciente provoca pouco ou nenhum efeito
cognitivo, emocional e comportamental; quando a pessoa manifesta forte preferência,
voltando-se, de modo frequente, às questões passadas ou quando o profissional visualiza
a importante necessidade de se entender quando e como pensamentos disfuncionais
surgiram no passado e o impacto que eles têm sobre o paciente no momento presente
(BECK, 1997).

Nesse ponto, ressalta-se que na condição do paciente apresentar um transtorno de


personalidade o terapeuta deve oferecer tempo proporcionalmente maior provocando
reflexões e discussões, as quais levantem dados de sua história de vida, bem como
crenças e comportamentos de enfrentamento originados na infância (BECK, 1997)

A terapia cognitiva também visa educar e ensinar o paciente a ser seu terapeuta,
enfatizando a prevenção de recaída. Destarte, o terapeuta o auxilia no estabelecimento
de metas, na identificação e avaliação de pensamentos e crenças disfuncionais e no
planejamento de mudanças comportamentais, ensinando-o a forma de realizar cada um
desses processos. Assim, o sexto princípio dessa abordagem destaca o fato de a terapia
cognitiva ser educativa, apontando também o papel do terapeuta no que se refere a
encorajar o cliente no registro de ideias importantes, que possam servir de apoio após
o encerramento do trabalho (BECK, 1997).

J. Beck (1997) fala que, como regra, a terapia cognitiva objetiva ter um tempo limitado,
tendo um número de sessões mais ou menos padronizado. No entanto, esse sétimo
princípio varia, considerando que alguns pacientes requerem muito mais ou muito
menos tempo de terapia, ou seja, o caso de cada paciente é extremamente singular.
Assim, o terapeuta deve avaliar e analisar o progresso de cada trabalho psicoterápico,
já que crenças disfuncionais, que apresentam características muito rígidas e padrões
comportamentais contribuintes para a angústia crônica, indicam necessidade de mais
tempo de terapia, por exemplo.

Com relação às sessões, elas possuem estruturas, não importando o diagnóstico ou


estágio do tratamento, o que permite dar foco e atenção para o que é mais importante
para o paciente. Esse oitavo princípio também maximiza o uso do tempo da terapia,
esclarecendo, de modo mais detalhado, seu processo tanto para o paciente como para

59
UNIDADE III │ O PSICÓLOGO NA TCC

o terapeuta. Além disso, esse formato estruturado da terapia possibilita a realização da


autoterapia por parte do cliente, após seu término (BECK, 1997).

Dessa forma, o terapeuta cognitivo adere a uma estrutura previamente definida em


cada sessão, de modo que checa o humor do paciente, obtém uma breve revisão do
que ocorreu durante a semana, solicita feedback ao final de cada sessão, estipula novas
tarefas de casa, elabora com o paciente uma agenda para as sessões e revisa os itens
da mesma, sendo que todo esse processo permanece continuamente no decorrer da
terapia (BECK, 1997).

Voltando na questão da terapia cognitiva visar o desenvolvimento de um processo


educativo com o paciente, observou-se que se torna possível ao terapeuta ensinar
ao paciente ser seu próprio terapeuta. O nono princípio, da abordagem em questão,
engloba tal papel do profissional de forma ainda mais profunda, destacando o auxílio
do terapeuta com relação à educação dos clientes quanto à identificação, avaliação e
respostas frente a seus pensamentos e crenças disfuncionais (BECK, 1997).

Assim, esse processo envolve o foco diante de um problema específico, a identificação


de seus pensamentos disfuncionais, a avaliação e validade desses pensamentos e
o projeto de um plano de ação. De acordo com J. Beck (1997), tudo isso ocorre pelo
questionamento socrático leve, o qual já foi discutido anteriormente. O terapeuta o
utiliza de forma colaborativa com o paciente, ajudando-o a questionar e determinar a
funcionalidade e precisão de seus pensamentos, lançando luz sobre crenças subjacentes
as quais ele mantém sobre si, sobre os outros e sobre o mundo, aspectos essenciais para
o avanço da terapia.

Finalmente, o décimo e último princípio afirma que a terapia cognitiva faz uso de técnicas
variadas para modificar humor, pensamento e comportamento. As estratégias cognitivas
são centrais na terapia, como a descoberta orientada e o questionamento socrático,
mas outras orientações também são utilizadas pelos terapeutas, principalmente as das
abordagens comportamental e gestalt, que são consideradas a partir de uma estrutura
cognitiva. A ênfase no tratamento irá depender do transtorno e do paciente trabalhado
em questão, devendo o terapeuta estipular técnicas tendo por base seus objetivos nas
sessões e sua formulação de caso, esta última envolve nossa próxima discussão na
unidade seguinte (BECK, 1997).

60
A PRÁTICA NA
TERAPIA COGNITIVA UNIDADE IV
COMPORTAMENTAL

CAPÍTULO 1
Estudo sobre o tema da
conceitualização de casos

Na terapia cognitiva-comportamental, a avaliação psicológica começa por meio da


realização de uma anamnese completa e um exame do estado mental do cliente, assim
como outras psicoterapias (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Logo nesse início do tratamento terapêutico começa a formulação de uma conceituação,


a qual promove a união lógica entre pensamentos automáticos e crenças de nível mais
profundo. Dessa forma, ocorrendo alguma falha nesse quadro maior o terapeuta terá
uma tendência menor em direcionar a terapia de forma eficiente e eficaz (BECK, 1997;
KNAPP; ROCHA, 2003).

A conceitualização de caso define-se enquanto um processo no qual o terapeuta e


cliente trabalham em conjunto, para descrever e, posteriormente, explicar os problemas
relatados na terapia. Primeiramente, a função desse processo é direcionar o trabalho
terapêutico entendendo-o em termos cognitivos, de forma a aliviar o sofrimento do
cliente e a desenvolver a sua resiliência (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Destarte, o processo de conceitualização começa tipicamente em níveis mais descritivos,


descrevendo-se os problemas em termos cognitivos comportamentais e posteriormente,
por meio dos modelos explanatórios, compreende-se, por meio da teoria, como os
sintomas são mantidos. Se precisar, pode-se evoluir para uma explicação histórica
de como os fatores predisponentes e protetores influenciaram o desenvolvimento das
dificuldades do paciente. Assim, as vivências do indivíduo junto à teoria e à pesquisa
na terapia cognitiva comportamental são os principais fatores de uma conceitualização
(KUYKEN et al., 2010).

Beck e Alford (2000), em um de seus trabalhos, falam a respeito da formulação,


apontando a sua importância, considerando-a a base para fornecer estratégias para

61
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

corrigir conceitos individuais, os quais são ativados em situações específicas levando


o indivíduo a se comportar de maneira disfuncional. Por isso, esses autores defendem
que, na ausência da formulação o trabalho terapêutico, torna-se vago e sem precisão,
não tornando possível que o terapeuta saiba para onde se direcionar.

Podemos compreender essas afirmações onsiderando que, havendo uma boa


compreensão quanto aos fenômenos que são apresentados na terapia, torna-se possível
e mais fácil o planejamento de estratégias para o alcance de certos objetivos, ou seja,
a partir do desenvolvimento de uma boa formulação da situação ou das dificuldades
trazidas, pelos pacientes, para a terapia, pode-se planejar procedimentos eficazes com o
intuito de atingir as mudanças desejadas, algo que, consequentemente, torna mais fácil
para o terapeuta avaliar se um determinado tipo de intervenção psicológica é adequada
ou não (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).

Nessa direção, também se conclui que, para o planejamento devido de intervenções,


é necessária uma boa compreensão acerca dos fatores que causam e/ou mantém as
psicopatologias, sendo importante ressaltar que tais intervenções são individualizadas,
já que cada um tem uma história de experiências e aprendizagens únicas, apontando
a impossibilidade de haver uma formula terapêutica que sirva para todos de forma
indiscriminada (CAMINHA, 2005).

Portanto, nesse processo, existe a adaptação do conhecimento cientifico à história


pessoal de cada um, o que evidencia a necessidade de se estar atento aos requisitos
fundamentais de uma formulação para, assim, desenvolvê-la da forma mais adequada
(ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).

Com relação a isso, Kuyken, Padesky e Dudley (2010) comparam a conceitualização de


caso com um caldeirão, utilizando essa metáfora para descrever esse processo. Esses
autores justificam que o caldeirão reúne a teoria, a pesquisa e as experiências do cliente,
as quais devem ser integradas para se elaborar uma nova descrição e compreensão
das dificuldades do paciente, sendo, portanto, um procedimento original e único
para cada cliente. Assim, a pesquisa e a teoria da terapia cognitiva comportamental
são ingredientes imprescindíveis no caldeirão, mas, com a junção do conhecimento
empírico, a conceitualização de caso se diferencia dos simples processo de significar
experiências, em que as pessoas se encontram a todo instante. Nesse sentido, durante
a conceitualização, as hipóteses são desenvolvidas constantemente, com base na
experiência do indivíduo, na pesquisa e na terapia, sendo testadas e revisadas de acordo
com as observações e feedback do cliente.

Ao longo das entrevistas iniciais, iniciando a formulação, o terapeuta deve descobrir


formas de identificar ou levantar hipóteses, acerca de quais são os problemas atuais

62
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

do paciente e como se desenvolveram e se mantêm. Nesse decurso, deve se elaborar


que pensamentos e crenças disfuncionais associam-se a essas situações e descrever
as emoções e reações fisiológicas e comportamentais relacionadas ao pensamento.
Assim, pode-se também realizar previsões de seu comportamento em certas condições
(KNAPP; ROCHA, 2003).

Igualmente importantes são as experiências passadas, pois frequentemente são


contribuintes para a angústia em questão e, por isso, devem ser estudadas. Além
disso, o terapeuta deve estar atento para apresentar as estratégias cognitivas, afetivas
e comportamentais que o indivíduo utiliza para lidar com as crenças disfuncionais,
auxiliando-o na compreensão quanto ao porquê determinados comportamentos se
apresentam e enfatizando a mudança necessária, dando mais foco à terapia. Finalmente,
também deve-se prestar atenção aos eventos estressores, que possuem relação com o
surgimento da dificuldade ou com a inibição de estratégias funcionais (FREEMAN;
DATTILIO, 1998).

De forma sucinta, para a formulação ser efetiva, o profissional deverá procurar aspectos
específicos com o seu cliente, como, por exemplo, o diagnóstico clínico, os anseios
atuais do paciente, bem como os fatores estressores precipitantes desses problemas,
suas predisposições genéticas e familiares, os pensamentos automáticos e as crenças
intermediárias e centrais apresentadas no caso dele (KNAPP; ROCHA, 2003).

Todos esses pontos são trabalhados e reavaliados no curso da terapia, por meio de
relatos de aspecto subjetivo do paciente e dos instrumentos objetivos disponíveis ao
terapeuta (RANGÉ, 2001a).

Assim, a conceitualização não deve ser tomada como verdade sobre o paciente,
envolvendo, portanto, hipóteses sobre o seu funcionamento e que poderão ser
reanalisadas posteriormente (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).

Apesar do processo de conceitualização abranger uma colheita de dados referente a


todas as queixas do paciente, ainda na retenção desses dados, desenvolve-se uma lista
de problemas do cliente que serão abordados na terapia segundo a prioridade de cada
um (BIELING; KUYKEN, 2003).

Um instrumento de importante auxílio nesse processo, de levantamento de situações


sobre a vida do paciente, é o diagrama de conceitualização cognitiva de J. Beck
(1997). Ele é essencial para o auxílio quanto à organização das diversas e variadas
informações coletadas no decurso da conceitualização com o cliente, sendo descrito
mais detalhadamente no capítulo seguinte (KNAPP; ROCHA, 2003).

63
CAPÍTULO 2
O Diagrama de Conceitualização
Cognitiva

J. Beck (1997) aconselha o preenchimento do diagrama de conceitualização cognitiva


assim que o terapeuta tenha reunido informações sobre os pensamentos automáticos,
emoções, comportamentos e/ou crenças específicas do paciente. Dessa forma, o
entendimento de um paciente pelo terapeuta se inicia, levantando hipóteses e refinando
esse processo de conceituação até a última sessão, tornando a formulação de caso um
processo contínuo, sujeito a modificações de acordo com novos dados, que são revelados,
e questionamentos, os quais são confirmados ou rejeitados.

Observa-se o diagrama de conceitualização cognitiva de J. Beck (1997) na figura 11,


apresentando espaços para o preenchimento dos dados discutidos no parágrafo
anterior, de modo que o terapeuta vai coletando e organizando informações, as quais
serão constantemente refinadas, com a finalidade de esclarecer aspectos específicos
existentes em cada caso e desenvolver estratégias baseadas nesses fatores.

64
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

Figura 11.
DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA

Nome: ________________________ Terapeuta: ________________________ Data: __________________


Diagnóstico: Eixo I__________________________ Eixo II_____________________________

DADOS RELEVANTES DA INFÂNCIA

CRENÇAS NUCLEARES

PRESSUPOSTOS / REGRAS

ESTRATÉGIAS COMPENSATÓRIAS

SITUAÇÃO 1 SITUAÇÃO 2 SITUAÇÃO 3

Pensamento automático Pensamento automático Pensamento automático

Significado do PA Significado do PA Significado do PA

Emoção Emoção Emoção

Comportamento Comportamento Comportamento

Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000600002>. Acesso em: 27/1/2017.

Segundo Neufeld e Cavenage (2010), a psicoeducação é a base para o início quanto ao


desenvolvimento de uma conceitualização eficiente, sendo necessário explicar e verificar
se o paciente compreendeu o modelo cognitivo, a relação existente entre pensamento,

65
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

sentimento e comportamento. Para isso, é utilizada a parte de baixo do diagrama de


conceitualização cognitiva, que constitui a identificação do contexto, pensamento
automático, emoção, comportamento e reação fisiológica do indivíduo.

Nesse sentido, as utoras citadas acima propõem uma sistematização quanto ao processo
de conceitualização, discorrendo sobre seis etapas importantes, no que se refere ao
preenchimento do diagrama em questão. A primeira etapa, a qual já foi citada no
parágrafo anterior, ocorre quando o terapeuta já realizou o levantamento de informações
a respeito da história de vida do paciente. As demais etapas serão apresentadas no
decorrer da discussão deste capítulo, haja vista que englobam reflexões direcionadas
ao auxílio dos profissionais, no que se refere ao desenvolvimento de habilidades para a
conceitualização cognitiva de casos.

Em se tratando dos terapeutas menos experientes, os dados obtidos no início do


preenchimento do diagrama, que constituem a primeira etapa da proposta de
sistematização da conceitualização, apresentada na página anterior, podem ser
discutidos com seus supervisores. Esse trabalho colaborativo pode favorecer a
ocorrência de uma experiência de aprendizado com melhores qualidades e mais
eficiência, pois nesse âmbito, são discutidas questões como resultados das intervenções,
limitações terapêuticas, plano de tratamento, progresso da terapia e até mesmo as
reações do profissional. Nesse sentido, a conceitualização funciona como uma espécie
de teste relacionado à habilidade do terapeuta compreender o funcionamento do
cliente e criar propostas essenciais para a mudança objetivada (KUYKEN et al., 2010;
WALLER, 2009).

Assim, de início, o diagrama não fica preenchido completamente, o terapeuta pode


deixar os espaços em branco ou incluir itens com ponto de interrogações, que poderão
ser verificados ou deduzidos em sessões futuras, inclusive em encontros com seus
supervisores. Mais ainda, quando a meta da sessão é ajudar o indivíduo a compreender o
quadro mais amplo de suas limitações, o terapeuta poderá compartilhar a conceituação
com o paciente, o que acaba permitindo também a verificação desses conceitos, para se
assegurar a precisão e veracidade dos mesmos (BIELING; KUYKEN, 2003).

Desse modo, o paciente também pode participar dessa tomada de decisão, construindo
também a conceitualização com o terapeuta. Essa participação é importantíssima no
processo terapêutico, já que, quando o cliente se percebe cognitivamente, sua motivação
e colaboração melhoram sensivelmente e os resultados também, consequentemente
(KUYKEN et al., 2010).

Nesse ponto, é importante ressaltar que no caso da formulação resultar em um


diagnóstico de transtorno de personalidade, frisa-se a necessidade de se estar atento

66
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

para essa situação específica. Diante de um diagnóstico desse tipo, aconselha-se ao seu
não compartilhamento, visto que esse relato tende a atrapalhar mais do que ajudar o
processo terapêutico. Assim, nessas situações, podem-se discutir as características e o
modo de funcionamento cognitivo-comportamental do cliente, sem evidenciar o nome
do transtorno descoberto, pois dessa forma o trabalho terapêutico poderá ter maior
benefício diante desse processo.

Voltando a falar sobre a possível participação ativa do paciente, na terapia cognitiva


comportamental, e seus benefícios, destaca-se que quando ele leva o registro de
pensamentos automáticos à sessão abre possibilidade para a discussão da relação
desses pensamentos com as crenças centrais, por meio das perguntas quanto aos
seus significados. Os dados coletados no decorrer das entrevistas serão, assim, inter-
relacionados e os pontos questionados poderão ser respondidos e associados no
diagrama (BECK, 1997).

Nesse sentido, o diagrama favorece a identificação das crenças e estratégias


compensatórias possibilitando, consequentemente, o entendimento quanto aos
motivos que influenciaram o desenvolvimento dessas crenças e quanto à forma
como as estratégias compensatórias se associaram às crenças centrais (NEUFELD;
CAVENAGE, 2010).

Contudo, para o alcance relacionado a esses aspectos, citados no parágrafo acima,


destaca-se a segunda etapa, relacionada ao preenchimento do diagrama, a qual envolve
o levantamento de informações, comportamentos, emoções e pensamentos presentes
no cotidiano do indivíduo. O terapeuta torna-se responsável por observar cognições
inerentes às expectativas que o paciente tem de si, dos outros/do mundo e do futuro;
anotar os sentimentos e emoções identificados e a forma como o cliente os nomeia, bem
como as reações fisiológicas decorrentes dessas situações (JOSE; GOLDFRIED, 2008).

Nessa direção, o terapeuta assume mais a direção quanto às atividades do trabalho


terapêutico, até o momento em que o cliente vai aprendendo e assumindo mais esse
processo, ao se perceber e se conhecer cognitivamente de modo mais aprimorado.
Então, inicialmente o profissional solicita que o paciente identifique situações diversas
que lhe geram incomodo, medo, tristeza, dúvida, raiva, angústia, frustração ou
insegurança. Inclusive, ocorre também a solicitação quanto a esses mesmos aspectos
relacionados às experiências infantis que lhe foram significativas, pois as mesmas
influenciam nas crenças que ele apresenta sobre si e sobre o mundo. Esse tipo de
intervenção é demasiado importante, visto que ao estimular a obtenção de dados
fornecidos pela própria fala do cliente é que surgem as informações fundamentais
para a conceitualização (BECK, 1997).

67
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Dessa forma, o terapeuta coleta dados que vão apresentando uma conceitualização
abrangente do cliente. Para facilitar esse processo discutido no paragrafo anterior,
criou-se um mapa de situações por área da vida, o qual pode ser visto na tabela seguinte:

Tabela 3.

Tríade Categorias a serem Área da Área da Área da Área da Área da Área da


cognitiva levantadas vida 1 vida 2 vida 3 vida 4 vida 5 vida “n...”
Situação 1:
Pensamento Automático
(PA):
Significado do PA:
Emoção e Reação
fisiológica (RF):
Comportamento:
Sobre si
Situação 2:
Pensamento Automático
(PA):
Significado do PA:
Emoção e Reação
fisiológica (RF):
Comportamento:

Situação 1:
Pensamento Automático
(PA):
Significado do PA:
Emoção e Reação
fisiológica (RF):
Comportamento:
Sobre os
outros/mundo Situação 2:
Pensamento Automático
(PA):
Significado do PA:
Emoção e Reação
fisiológica (RF):
Comportamento:

Situação 1: Situação 2:
Pensamento Automático Pensamento Automático (PA):
(PA):
Sobre o Significado do PA: Significado do PA:
futuro Emoção e Reação Emoção e Reação fisiológica (RF):
fisiológica (RF):
Comportamento: Comportamento:

Fonte: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872010000200002>. Acesso em: 27/1/2017.

A importância do mapa, apresentado na tabela 3, reside no fato de ele evitar que o


terapeuta preencha o diagrama de conceitualização cognitiva de modo a negligenciar

68
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

algum aspecto da vida do paciente, ou seja, esse instrumento diminui a possibilidade


de o profissional compreender de modo incorreto a totalidade do cliente, se restringir
alguma de suas dificuldades a uma única área de sua vida (NEUFELD; CAVENAGE,
2010).

Destarte, por meio do mapa pode-se antes sistematizar a coleta de dados, apresentando
uma visão mais extensa de uma dificuldade ou sintoma presente na vida dele,
coletando situações suficientes para a elaboração da conceitualização cognitiva do
cliente na sessão. O terapeuta, nesse sentido, é estimulado a analisar todas as áreas
da vida do cliente. Assim, o paciente coleta muitas informações sobre o cliente, de
modo que o auxilia no processo de identificação quanto aos pensamentos, emoções e
comportamentos em cada situação, levantando sua maneira de pensar, sentir e agir.
Esse processo é bastante singular, pois o profissional vai encontrar formas de explicar o
modelo cognitivo e o sistema de crenças, a partir do diagrama, que façam sentido para
cada cliente (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

No caso das crianças, a utilização de uma linguagem mais lúdica e simples torna-se
mais eficaz, enquanto que para alguns adultos os termos técnicos ou palavras eruditas
podem ser utilizadas. Contudo, cada caso apresentará uma demanda específica quanto
a explicação e linguagem necessária para auxiliar o paciente na identificação dos
pensamentos automáticos, principalmente, e na compreensão do modelo cognitivo.

A partir do levantamento de dados sobre os aspectos já discutidos, tais informações


podem ser organizadas a partir da utilização do diagrama destacado na figura 11,
processo este que engloba a terceira etapa da sistematização da conceitualização, o
qual favorecerá a identificação quanto às crenças e estratégias de compensações que
o paciente apresenta, bem como os motivos relacionados ao seu desenvolvimento e a
forma na qual elas se conectam (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Observando de modo mais profundo, o diagrama aos poucos irá permitindo o


conhecimento quanto à relação existente entre as crenças centrais, as crenças
intermediárias, os pensamentos automáticos atuais e as emoções e comportamentos
do indivíduo, organizando ainda os dados fornecidos pelo paciente e mostrando o mapa
cognitivo da psicopatologia dele (KNAPP; ROCHA, 2003).

Assim, nesse instrumento, devem-se estar incluídos os três grupos de crenças centrais,
que constituem a tríade cognitiva. Dessa forma, as crenças sobre si mesmo, sobre
os outros e/ou sobre o mundo e sobre o futuro devem estar presentes no mesmo
(NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

69
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Nesse sentido, de modo sucinto, observa-se que o diagrama de J. Beck (1997) pode
ser considerado uma conceitualização na qual se reúnem os dados referentes às
situações-problema do cliente e englobam as estratégias comportamentais, bem como as
informações importantes da sua infância, sendo facilmente compreensível tanto para o
cliente quanto para o terapeuta. Dessa forma, tal diagrama mostra-se bastante útil, podendo
servir de instrumento didático para o paciente, o qual poderá entender suas dificuldades
sob o ponto de vista do modelo cognitivo junto ao terapeuta (KUYKEN et al., 2010).

A partir de então, nesse ponto destacando a quarta etapa do processo de sistematização,


torna-se possível que o paciente perceba alguns aspectos comuns a partir dos registros
do diagrama, lançando luz quanto aos comportamentos que são recorrentes nas
situações que vivencia. O terapeuta, portanto, facilita o processo quanto à percepção
de padrões comportamentais, emocionais e cognitivos. Enfatiza-se a identificação dos
significados dos pensamentos automáticos para favorecer a identificação das crenças
centrais, provocando reflexões voltadas às similaridades encontradas, atentando-se
para a frequência em que elas ocorrem e a extensão que elas assumem em sua vida,
no sentido de influenciar seu funcionamento. As técnicas da flecha descendente e da
utilização de “outros como referência” constituem ferramentas essenciais para esse
processo de intervenção (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

A quinta etapa envolve a parte de cima do diagrama de conceitualização cognitiva, na


qual se encontram localizadas os espaços referentes às crenças centrais e intermediárias
e as estratégias compensatórias. As técnicas mais trabalhadas nessa etapa envolvem
a utilização do questionamento socrático, da flecha descendente e dos “outros como
referência”, todas com o intuito de auxiliar o cliente a analisar o que pensa sobre si,
sobre os outros/o mundo e sobre o futuro. A solicitação quanto ao preenchimento de
frases incompletas como, por exemplo, “eu sou...”, “os outros são...”, “o mundo é” e
“o futuro é...” também ajudam nesse processo de identificação da tríade cognitiva,
levantando as crenças centrais existentes (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Para se trabalhar com as crenças intermediárias, o terapeuta pode sugerir ao paciente


que transforme as frases das crenças centrais, apresentadas acima, em premissas sob
o formato do “se... então...”. No caso dele apresentar uma crença central do tipo “eu
sou indigno de amor”, pode se obter a elaboração seguinte, por exemplo: “se eu sou
indigno de amor, então nada que eu faça irá fazer diferença”. Nesse sentido, o terapeuta
irá solicitar que o cliente desenvolva esse exercício com o máximo de informações e
preenchimentos possíveis para essa frase, de modo que elucide e aponte o que faz
sentido para ele, além de expressar os sentimentos que surgem diante dessa associação
condicional (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Ressalta-se, nesse ponto, que existe uma infinita gama de possibilidades de crenças
intermediárias, para uma mesma crença central, algo que caracteriza os sistemas

70
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

de crenças dos seres-humanos enquanto um processo tão singular e único, além de


complexo, que, por isso, impede qualquer conceitualização cognitiva se desenvolver a
partir de um molde pronto e padronizado, na tentativa de compreender o funcionamento
do cliente (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Quanto às estratégias compensatórias, ao se trabalhar com a identificação das crenças


centrais e intermediárias, o paciente percebe também quais reações ele apresenta um
maior número de vezes, as quais impedem que o ciclo vicioso relacionado à ativação
disfuncional do sistema de uma crença seja quebrado. Essas condutas, que podem
funcionar enquanto mecanismos de evitação e comportamentos em busca de segurança,
podem ser apuradas a partir da utilização de técnicas como o questionamento socrático
e a análise de evidencias, facilitando o cliente a identificar essas reações. O terapeuta
e o cliente enfatizam as estratégias compensatórias com características de maior
nocividade e frequência, ou seja, as que influenciam na retroalimentação desse sistema
disfuncional (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Alguns exemplos de estratégias compensatórias, que foram citadas acima, típicas,


podem ser vistas no quadro a seguir:

Quadro 21.

Evita emoção negativa Exibe intensas emoções (por exemplo, para atrair atenção)
Tenta ser perfeito Propositalmente demonstra-se incompetente ou desamparado
É exageradamente responsável Evita responsabilidade
Evita intimidade Busca intimidade inadequada
Busca reconhecimento Evita atenção
Evita confronto Provoca outros
Tenta controlar as situações Abdica do controle para outros
Age de forma infantil Age de forma autoritária
Tenta agradar os outros Distancia-se dos outros ou tenta agradar apenas a si mesmo.
Fonte: Beck (1997).

Na sexta e última etapa, retoma-se uma visão dos conteúdos identificados, sendo
importante discutir com o paciente que o diagrama apresenta uma parte de seu
funcionamento, atentando-se para o possível surgimento do sentimento de culpa diante
dos aspectos discutidos quanto à sua cognição. Com relação a isso, refletir em cima da
explicação quanto a sua consciência frente a tais aspectos, constituir uma ferramenta
importante, no que diz respeito ao trabalho contra a ativação disfuncional de alguma
dessas crenças e padrões comportamentais, pode trazer a tona o sentimento de conforto
e esperança para o mesmo (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Com todas essas considerações, é importante ressaltar que após o fechamento parcial
da conceitualização cognitiva, continua sendo constantemente reelaborada durante o
trabalho com o cliente. Por meio das reflexões anteriores, evidencia-se, mais uma vez,

71
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

que a escolha da intervenção é determinada pela hipótese cognitiva construída, ou seja,


por meio da conceitualização o terapeuta orienta-se a respeito de comportamentos
passados e presentes, podendo ainda ser capaz de predizer os comportamentos futuros,
de modo que coleta dados para delinear o tipo de trabalho mais indicado, em cada caso
(RANGÉ, 2004).

A imagem a seguir aponta um diagrama de conceituação cognitiva preenchido de modo


completo, no que diz respeito aos dados discutidos nesse capítulo, referente à paciente
de nome fictício Sally.

Figura 12.
DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA

NomNome: ______________________ Sally _________________________ Data: _22/02_____________________


Diagnóstico: Eixo I _____________ Episódio depressivo maior_____ Eixo II _______________ Nenhum _________

DADOS RELEVANTES DA INFÂNCIA


Comparava-se com irmão mais velho. Mãe crítica.

Crença Central
Eu sou inadequada.

Suposições Condicionais/Crenças/Regras

SITUAÇÃO 1 SITUAÇÃO 2 SITUAÇÃO 3


Conversando com Pensando sobre as Refletindo sobre a
calouros sobre os créditos exigências do curso. dificuldade do texto de
de colocação avançada. matemática.

Pensamento Automático Pensamento Automático Pensamento Automático


Todos eles são mais Eu não serei capaz de Eu não serei capaz de
inteligentes do que eu. fazer isso [ensaio de pesquisa]. terminar o curso.

Significado do P.A. Significado do P.A. Significado do P.A.


Eu sou incapaz. Eu sou incapaz. Eu sou inadequada.

Emoção Emoção Emoção


Tristeza. Tristeza. Tristeza.

Comportamento
Comportamento Comportamento
Fechou o livro; parou de
- Chorou.
estudar.

(positiva) Quando eu trabalho muito arduamente, eu posso fazer as coisas bem.


(negativa) Seu eu não faço bem as coisas, então falhei.

Estratégia(s) Compensatória(s)
Desenvolver padrões altos/Procurar falhas e corrigi-las/Trabalhar muito
arduamente/Evitar pedir ajuda/Preparar-se bem.

Fonte: Beck (1997).

72
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

A partir dessa figura, para finalizar esse tópico, é relevante destacar que as estratégias
observadas, as quais têm capacidade de trabalhar as crenças disfuncionais mais
centrais da construção cognitiva do paciente devem ser escolhidas com prioridade, em
todo e qualquer caso de trabalho psicoterapêutico, tendo em vista que é a partir das
intervenções que possam provocar mudanças nas mesmas é que o ciclo disfuncional,
que elas ativam, podem ser potencialmente cortados (BECK, 1997).

73
CAPÍTULO 3
Princípios orientadores para a
conceitualização de casos

Diante da importância observada quanto ao processo da conceitualização cognitiva na


terapia cognitiva comportamental, a partir das reflexões anteriores, serão apresentados
alguns princípios orientadores desse estimado recurso, haja vista que para a sua
utilização correta deve-se apresentar o domínio da técnica, bem como o conhecimento
de seus pressupostos e teoria subjacente (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

São muitas as características consideradas como princípios definidores essenciais da


conceitualização. Contudo, os três principais constituem-se os níveis de conceitualização,
o empirismo colaborativo e a incorporação dos pontos fortes do cliente (NEUFELD;
CAVENAGE, 2010).

O primeiro princípio, níveis de conceitualização, refere-se à forma que o processo de


conceitualização tem início, que é pela descrição das limitações atuais do indivíduo,
em termos cognitivos e comportamentais. Durante o relato do paciente sobre o que o
trouxe à terapia, o terapeuta o auxilia descrevendo as dificuldades presentes em termos
de pensamentos, sentimentos e comportamentos e depois começam juntos a explicar
como esse processo se desencadeia e se mantém, utilizando a teoria referente à terapia
cognitiva comportamental (KUYKEN et al., 2010).

Posteriormente, desenvolve-se a explicação relacionada à origem das dificuldades em


questão, incluindo a descrição quanto aos fatores históricos predisponentes e os fatores
protetores em termos cognitivo comportamentais. Não são todos os casos que requerem
este terceiro nível (KUYKEN et al., 2010).

De forma resumida, esse primeiro princípio aborda os níveis do processo da


conceitualização, que começa na maioria das vezes sendo trabalhado em níveis mais
descritivos, com problemas de forma detalhada, depois em nível mais explanatório,
buscando entender o que mantém os sintomas e, por último, em nível histórico, se
for necessária a explicação de fatores predisponentes e protetores no surgimento das
dificuldades (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

O segundo princípio direciona-se ao empirismo colaborativo, o qual integra a


experiência do cliente, a pesquisa e a teoria da terapia cognitiva comportamental. O
processo de formulação de caso deve ser desenvolvido pelo cliente e pelo terapeuta
para ser eficaz, devendo o paciente estar integralmente, e de forma explícita, envolvido

74
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

nos estágios desse processo. Enquanto os clientes observam e dão feedback, mantendo
a conceitualização na direção esperada, o terapeuta usa teorias e pesquisas mais
relevantes para descrever e explicar os anseios dos pacientes (KUYKEN et al., 2010).

Figura 13.

Fonte: <https://marinavasconcellos.com.br/author/marinavasconcellos>. Acesso em: 27/1/2017.

O princípio citado é responsável por acionar o processo de conceitualização. No


desenvolvimento dessa compreensão compartilhada do funcionamento do paciente,
tanto as perspectivas do paciente quanto as perspectivas do terapeuta são assimiladas,
contribuindo na retenção de informações que favoreçam a resolução dos problemas
trazidos em questão (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Tal empirismo participa inteiramente do processo de conceitualização e funciona como


um controle metodológico, equilibrando as ideias possíveis e encorajando o uso das
melhores evidências. Além disso, essa forma colaborativa permite a reflexão crítica dos
clientes, permitindo-os apontar erros possíveis dentro desse processo e observar uma
razão convincente para a realização do tratamento (KUYKEN et al., 2010).

De acordo com Neufeld e Cavenage (2010), o terceiro e último princípio defende que
o terapeuta trabalhe e identifique os pontos fortes do cliente, nos estágios do processo
de formulação. Isso permite um maior engajamento com a terapia e ainda dispõe a
vantagem de aproveitar esse ponto forte no decurso de mudança, em direção a uma
recuperação duradoura.

No próximo quadro podemos analisar, de modo resumido, os três princípios os quais


foram aqui abordados.

Quadro 22.

A conceitualização se desenvolve a partir da descrição das dificuldades atuais de um cliente em


Níveis de conceitualização termos de TCC, de forma a prover estruturas explanatórias que vinculam os desencadeantes, ciclos de
manutenção e/ou fatores predisponentes e protetores.
Terapeuta e cliente trabalham juntos, integrando a experiência do cliente com teoria e pesquisa
Empirismo colaborativo
apropriadas em um processo esclarecedor de formulação e testagem de hipóteses.
A conceitualização identifica e incorpora ativamente os pontos fortes do cliente com o objetivo de aplicar
Foco nos pontos fortes os recursos existentes no cliente às suas dificuldades atuais e para fortalecer a sua consciência e utilizar
seus pontos fortes ao longo do tempo (ou seja, desenvolvendo a resiliência).
Fonte: adaptado de Kuyken e Dudley (2010).

75
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

Como já foi dito anteriormente, a conceitualização de caso é um processo dinâmico que


vai se desenvolvendo enquanto acontece o trabalho terapêutico, são diferentes tipos de
informações, muitas vezes complexas, que necessitam ser incorporados pelo terapeuta.
Sendo assim, a existência de alguns princípios a serem seguidos pode nortear ainda
mais a terapia, mantendo seu curso, ainda que diante de transformações e desafios
consideráveis (KUYKEN et al., 2010).

76
CAPÍTULO 4
Principais contribuições do processo de
conceitualização

No tópico em questão, serão apresentadas as principais contribuições e funções da


conceitualização, considerando os aspectos discutidos e levantados anteriormente,
desenvolvendo-se um desfecho, englobando e enfatizando os aspectos primordiais
estudados desse processo.

Percebemos que a conceitualização tem o poder de direcionar o terapeuta na escolha e


no planejamento de estratégia(s) mais adequadas(s), consequentemente, direcionando
a psicoterapia a um trabalho mais eficaz (CAMINHA; HABIGZANG, 2003).

A conceitualização orienta o foco, a escolha e a sequência das intervenções, sendo


possível afirmar que sua função mais importante, para a terapia, refere-se à informação
quanto a esses três fatores essenciais, pois o número de intervenções é bastante amplo
e a terapia cognitiva comportamental envolve inúmeros pontos de escolhas (BIELING;
KUYKEN, 2003).

Figura 14.

Fonte: <http://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/ideia-cabeca>. Acesso em: 1/2/2017.

Nesse sentido, as conceitualizações sustentam razões explícitas para que sejam


realizadas determinadas escolhas, seguidas de abordagens específicas. Então, o

77
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

processo de conceitualização é capaz de selecionar as intervenções mais indicadas em


cada caso, apesar de serem inúmeras e variadas, tendo o processo da terapia, bem como
as intervenções em questão, dois principais objetivos abrangentes: diminuir a angústia
dos clientes e desenvolver a resiliência (BIELING; KUYKEN, 2003; KUYKEN et al.,
2010). Por meio do processo da conceitualização, torna-se possível, para o terapeuta,
atingir esses dois objetivos fundamentais. Logo, conceitualizar possui características e
funções que, quando preenchidas, são essenciais à eficácia da terapia, possibilitando o
alcance dos objetivos primordiais que envolvem todo esse processo complexo (KUYKEN
et al., 2010).

Também se observou que a ferramenta de conceitualizar sintetiza a experiência do


paciente, a pesquisa e teoria pertencentes à terapia cognitiva comportamental. Os
conhecimentos teóricos são relacionados à pesquisa e aos aspectos cruciais da história
pessoal do cliente como, por exemplo, seu contexto de vida atual e suas crenças e
estratégias para lidar com as situações, criando-se, assim, uma conceitualização de caso
singular e exclusiva (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Outra função de extrema importância da conceitualização de caso refere-se à


transformação de inúmeros problemas complexos em problemas mais maleáveis, ou
seja, que apresentam mais flexibilidade e possibilidade de serem trabalhados pelo
terapeuta e pelo cliente. Os pacientes podem se sentir sobrecarregados diante de
dificuldades numerosas e duradouras, bem como os terapeutas. Nessa “confusão” de
informações, a conceitualização torna os aspectos mais trabalháveis e os fatores mais
adaptáveis, para serem trabalhados de forma coerente (KUYKEN et al., 2010).

A partir do instrumento da conceitualização, também se promove o engajamento do


cliente na terapia cognitiva comportamental, o qual constitui requisito crucial para a
mudança necessária. O processo característico da conceitualização de caso pode instigar
a curiosidade e o interesse do cliente, oferecendo sensação de controle das dificuldades
e sugerindo formas de alcançar os objetivos desejados, influenciando de modo positivo
seu comprometimento com o trabalho psicoterápico (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Ainda quanto ao engajamento do paciente à terapia, estudou-se que construir a


conceitualização de forma colaborativa, com a participação ativa do paciente e
do terapeuta, possibilita a diminuição de medos e anseios, ou seja, esse processo
realizado colaborativamente assume papel importante no comprometimento do
cliente à psicoterapia, aumentando a chance de eles aderir ao tratamento (CAMINHA;
HABIGZANG, 2003).

A conceitualização também envolve a identificação dos pontos fortes do cliente e a


sugestão de alternativas que o ajudem a desenvolver a resiliência. Essa função apresenta

78
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV

diversas vantagens, pois, dando ênfase aos pontos fortes, ampliam-se os resultados
potenciais da terapia, ocorrendo uma diminuição do sofrimento de forma conjunta
a uma recuperação do funcionamento normal do paciente, em direção à melhoria da
qualidade de vida. A conversa a respeito dos pontos fortes do paciente geralmente
fortalece a aliança terapêutica (KUYKEN et al., 2010).

Outra característica relevante referente ao ato de conceitualizar refere-se à possibilidade


de se quebrar estigmas sociais, pois ao descrever as limitações em uma linguagem
mais construtiva para o paciente, o terapeuta torna-se capaz de mostra-lo como os
problemas são mantidos. Dessa forma, o profissional pode normatizar a situação para
o cliente, podendo estimular o surgimento do sentimento de esperança, ao apresentar
a relevância pessoal do modelo cognitivo e sugerir oportunidades de transformações
para ele (KUYKEN et al., 2010).

Conceitualizar também torna possível a supervisão e as consultas de elevada qualidade,


considerando que os aspectos dessa técnica possuem características capazes de
estruturar o pensamento e a discussão tanto do supervisor quanto do supervisionado.
Os pontos cruciais que devem ser discutidos, nessas consultas, envolvem os planos de
tratamento, os resultados de certas intervenções, o progresso da terapia, os desafios
do trabalho terapêutico e as reações do terapeuta, podendo todos esses fatores serem
examinados pelas lentes da conceitualização, de modo que se compreende melhor
as situações que ocorreram e, a partir de então, se planeja formas de seguir adiante
(KUYKEN et al., 2010).

Logo, visualiza-se que o processo da conceitualização oferece uma compreensão dos


desafios e dificuldades terapêuticas e, consequentemente, maneiras de enfrentá-los.
Uma boa conceitualização pode apontar hipóteses quanto a problemas que tenham maior
probabilidade de ocorrerem na terapia. Nessa direção, o terapeuta poderá trabalhar
essas limitações diminuindo o impacto desses desafios no tratamento (KUYKEN et al.,
2010).

Outra considerável contribuição da conceitualização à terapia é o fato de ela sugerir,


na maioria dos casos, de intervenções que tenham maior custo-benefício, ao propiciar
aos terapeutas e clientes escolhas sobre a forma mais eficiente de alcançar os objetivos.
Dessa forma, o trabalho gera resultados efetivos de forma custo-efetivo, algo bastante
vantajoso (KUYKEN et al., 2010).

No caso de o paciente não responder à terapia, a conceitualização também se mostra


essencial nesse contexto, haja vista que ela pode sugerir meios alternativos para as
mudanças necessárias e tornar possível a investigação com relação aos variados fatores
os quais possam justificar esse impasse, como, por exemplo, a história de vida do

79
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL

paciente ou a habilidade do terapeuta em compreende-lo e/ou lhe propor diferentes


alternativas diante das situações apresentadas e analisadas. A conceitualização de caso
tem o poder de testar e avaliar todos esses pontos (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).

Figura 15.

Fonte: Próprio autor.

80
Para (não) Finalizar

Não existe dúvida quanto à abordagem cognitiva, desenvolvida por Aaron Beck.
Representar uma mudança teórica significativa no que diz respeito à compreensão e ao
tratamento dos transtornos psicológicos.

O modelo cognitivo comportamental consiste basicamente no objetivo primordial de


provocar mudanças nas formas distorcidas de se interpretar os aspectos relacionados
ao mundo, ao futuro e a si mesmo. Nesse sentido, essa abordagem pode apresentar
eficácia duradoura sobre os transtornos psicopatológicos, em geral, haja vista que
abrange técnicas que possibilitam mudanças em níveis de pensamentos e nos processos
de significados, bem como a modificação emocional e comportamental.

Sob o manto dos princípios da abordagem estimada em questão, técnicas foram


delineadas e apresentadas, sendo que cada uma apresenta sua utilidade, eficácia e
importância. Nesse sentido, se ocorrem indagações a respeito da existência a respeito
de uma melhor e/ou mais adequada técnica, nesse âmbito, a resposta apontaria para
aquela que mais atende aos objetivos e às metas terapêuticas, é bem aplicada e alcança
resultados capazes de minimizar o sofrimento do paciente, além de ampliar sua
qualidade de vida.

Assim, enfatiza-se a complexidade inerente ao ser humano, que torna a escolha e


utilização de técnicas, no trabalho terapêutico, um processo que deve ser criterioso,
detalhado e bem embasado.

Nesse sentido, destaca-se mais ainda a importância e os benefícios prestigiosos do


processo da conceitualização de caso. Podendo os mesmos de fato serem aproveitados
na terapia, na hipótese dessa ferramenta ser devidamente utilizada, ou seja, considerada
e manuseada a partir dos aspectos que asseguram sua plenitude.

Ao se deparar com a existência de uma ampla gama de técnicas, o profissional que


trabalha com a abordagem da terapia cognitiva comportamental, percebe que o processo
de conceitualizar torna-se fundamental para direcionar, esclarecer, orientar e apontar
o percurso mais eficaz e adequado, para a realização do tratamento de seu paciente.
Logo, a conceitualização constitui-se enquanto uma ferramenta imprescindível de
auxílio, sem a qual o profissional apresentará uma menor capacidade no que concerne
à elaboração de metas e intervenções mais apropriadas, diante de cada caso com o qual
trabalha em seus diversos contextos.

81
PARA (NÃO) FINALIZAR

Assim, ressalta-se mais uma vez que, para a aplicação correta desse pertinente recurso,
é necessário o domínio quanto às técnicas e conhecimento quanto aos pressupostos
e teoria subjacente. Destarte, estudos e pesquisas, relacionados a essa ferramenta
fundamental, devem continuar sendo produzidos e desenvolvidos, levando em conta as
grandes contribuições ao trabalho terapêutico, que seus conceitos e técnicas possibilitam
à terapia cognitivo-comportamental.

Pesquisas e estudos nessa direção podem diminuir os desafios e estressores presentes


na terapia, auxiliando de forma geral todo esse contexto, tendo em vista que uma
conceitualização adequada é a base para o sucesso terapêutico, possibilitando coerência
relacionada às decisões e escolhas de tratamento e possibilitando que transformações
de fato aconteçam.

Tendo em vista o importante papel que os profissionais dessa área assumem, ressalta-
se a importância dos conteúdos e temas levantados, por meio desse trabalho, serem
permanentemente reconsiderados e discutidos, contribuindo para a produção de novas
ideias, as quais aprimorem o papel do profissional e sua possibilidade de auxilio no que
diz respeito aos seres-humanos, responsabilidade e função de enorme nobreza.

Conforme o próprio Aaron Beck destacou, progressos contínuos, na pesquisa e prática,


evidenciados na história das terapias cognitiva-comportamentais podem ser observados
enquanto uma indicação de que o futuro desse campo certamente refletirá a presença
de avanços contínuos (KNAPP; BECK, 2008).

Figura 16.

Fonte: <http://www.zun.com.br/informacoes-sobre-meio-ambiente>. Acesso em: 27/1/2017.

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