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Os anjos extrabíblicos:
As diversas religiões politeístas da antiguidade, na China, Corrêa, Índia, Pérsia, México,
Perú, Egito, Grécia, Roma, na Mesopotâmia acreditam na existência de seres
intermediários entre os deuses e os seres humanos. Nos povos primitivos se admite a
existência de seres supramundanos para explicar fenômenos naturais ordinários ou
extraordinários. As coisas vão tendo uma alma semelhante a humana que pode ser
benévola ou maléfica. As enfermidades, as loucuras são originarias desses seres.
No Egito suas divindades são rodeadas de seres inferiores que formam sua corte.
Alguns são os achu, seres de luz, bondosos. A maior parte tem a missão de causar
enfermidades aos seres humano e torturar os doentes. Resquícios dos antigos estão na
Bíblia com os querubins colocados na arca da aliança (Ex 37), de inspiração babilônica,
que servem para guardar os símbolos da divindade. Na Babilônia, é grande a quantidade
de demônios que causam mal ao ser humano. Os demônios não estão submetidos as
divindades superiores. Assim nos gregos, romanos, no Irã, difunde esses seres
intermediários.3
1
Uma obra muito importante na angeologia, é Sam Dinis, o aeropagita, que escreve sobre a hierarquia
dos anjos. O livro a hierarquia celeste.
2
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 143-145.
3
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 147-149.
Os anjos no judaísmo:
Os nomes: o termo hebraico malak e a tradução grega aggelos não indica a natureza da
pessoa, mas seu exercício. Santo Agostinho observa que o nome dos anjos é o nome do
oficio, não de sua natureza. A natureza dos anjos é espiritual. O anjo pode ser um
mensageiro, um profeta, um sacerdote, o precursor do senhor. Aqui a palavra anjo pode
ser considerado como pessoas enviadas por Deus para ajudar. Na vulgata, somente o
termo ângelus indica propriamente o sentido de anjo, criaturas espirituais.
Número dos anjos: Dn 7,10: Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de
milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-
se os livros.
A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama de
anjos é uma verdade de fé. O anjo é uma designação de um encargo a cumprir. São
servidores e mensageiros de Deus. Enquanto criaturas espirituais, são dotadas de
inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e imortais. Os anjos são mensageiros,
protetores e adoram a Deus todo instante.
A subordinação dos bons anjos é atestada pelo seu papel de executores da vontade
divina. No Gn, existe sentinelas a entrada do paraíso para Adão e Eva não voltarem ao
paraíso; intervém no sacrifício de Isaac, também fazem parte da corte de Deus e alguns
são chamados de serafins, ardentes, conforme Is 6,2: No ano em que morreu o rei Uzias, eu
vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o
templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus
rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros,
dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.
O testemunho bíblico ensina que os seres angélicos possuem distintos significados: são
mensageiros de Javé, transmitem para as pessoas notícias boas. Por meio dos anjos,
Deus intervém na história, salva nas dificuldades. Os anjos possuem nomes que revelam
sua função. Rafael significa Deus sarou; Miguel significa quem como Deus; Miguel é o
príncipe dos anjos (Dn 10,13 Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e
eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da
Pérsia.) que vence a luta contra o dragão, que se revela como satanás, sedutor do mundo
inteiro. Gabriel significa o poder de Deus.
No livro apócrifo de Enoc apresenta os arcanjos: Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel. Gabriel
é um anjo guerreiro, o chefe dos exércitos divinos que guerreia na defesa do povo de
Israel contra todos os que o ameaçam, sobretudo satanás. Miguel realiza a guerra
escatológica na qual ocorre a salvação dos eleitos e a derrota do inimigo. Miguel é o
libertador escatológico, o agente da intervenção divina. Miguel é o príncipe da luz em
oposição a lúcifer o portador da luz. No livro do apocalipse (Ap 12,7-9) aparece a luta
escatológica de Miguel contra satanás. E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos
batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Mas não prevaleceram,
nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente,
chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus
anjos foram lançados com ele.
No livro de Tobias aparece o nome do anjo Rafael: Tobias saiu em busca de alguém que
conhece o caminho e que fosse com ele a media. As sair, encontrou Rafael, o anjo, de
pé diante deles; mas não sabia que era um anjo de Deus.
No inicio do judaísmo os anjos de Deus realizam castigos em nome de Javé
Ex 12, 23: Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios, porém quando vir o
sangue na verga da porta, e em ambas as ombreiras, o Senhor passará aquela porta, e
não deixará o exterminador entrar em vossas casas, para vos ferir.
Sl 35,5: Sejam confundidos e envergonhados os que buscam a minha vida; voltem atrás
e envergonhem-se os que contra mim tentam mal. Sejam como a moinha perante o
vento; o anjo do Senhor os faça fugir. Seja o seu caminho tenebroso e escorregadio, e o
anjo do Senhor os persiga.
Após o exílio: a figura do anjo de javé aparece mais distinto do próprio Javé e se
multiplica o numero de anjos. No livro de Daniel (Dn 10,13) aparece o nome do anjo
Gabriel: E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos
filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação
4
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 154-156.
até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito
no livro.
Após o exílio ocorre uma mudança na angeologia: passou-se a acreditar num exercito
celeste que luta contra forças malignas e na batalha cósmica contra os inimigos de Deus.
Nessa guerra o inimigo também é um anjo, satã, o chefe do anjo hostil.
Novo testamento:
O novo testamento segue a linha do antigo testamento. Jesus na sua vida fala
constantemente da presença dos anjos. Estão presentes na anunciação/ encarnação, nas
tentações onde Jesus é servido por anjos, na paixão e no anuncio da ressurreição.
Na historia da teologia foi Dionísio que hierarquizou a existência dos anjos. São três
grupos de hierarquia:1) anjos, arcanjos e principados; 2)potencias, virtudes,
dominações, tronos, querubins e serafins. Sua função é garantir a salvação dos seus
fieis. Na arte da Renascença, foram representados os anjos em forma humana, mulheres
e crianças. Isso não tem nada a ver com a sexualidade, mas com o ideal de vida que
deveria ser a semelhança dos anjos. Os anjos não tem desejo sexual e isso atrapalha o
fiel de seguir o ideal cristão.
5
MARTINEZ, SIERRA, Alejandro. Antropologia, p. 149-151.
A malicidade do demônio: o anjo decaído
Antigo testamento:
6
MCKENZIE, John. Dicionário bíblico, verbete demônio, p. 225.
A figura de Satãn: é uma expressão própria do pós-exílio, que significa adversário,
inimigo. Na tradução dos LXX é traduzido por diábolos, que é caluniador, acusador,
sedutor. No antigo testamento aparece 26 vezes, se referindo a diversas personalidades:
Nm 22,23-23: E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no
caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos
com ele.
Após o exílio, o termo começa a ganhar mais uma característica negativa no confronto
com o ser humano. Temos três textos que mostram a evolução na oposição de satan com
o ser humano. O primeiro texto de Zc 3,1-5: E ele mostrou-me o sumo sacerdote Josué, o
qual estava diante do anjo do SENHOR, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor.
Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreenda, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu
Jerusalém, te repreenda; não é este um tição tirado do fogo?
Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo.
Aqui satanás é um anjo que cumpre a função de acusador publico do grande sacerdote.
Não se mostra malvado, mas como adversário de Deus no sentido de uma preferência
contraria a sua.
No segundo texto de Jó 1,6-12: E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se
perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde
vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. E disse o
Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a
ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.
Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde?
Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas
mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra.
Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua
face.E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra
ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor.
Aqui mais que um acusador, satanás é um tentador. É um anjo a serviço de Deus que
percorre a terra para observar o comportamento das pessoas em relação a Deus. É
alguém que testa a fidelidade da pessoa com Deus. Longe se ser um perverso que incuti
ódio contra Deus, é um bom servidor que prova os interesses do ser humano na relação
com Deus.
Na terceira etapa satanás ganha seu nome próprio como o anjo malvado que induz o rei
Davi ao pecado contra seu povo, 2 Cr 21,1: Então Satanás se levantou contra Israel, e
incitou Davi a numerar a Israel.
Assim nas três figuras de Satanás há uma evolução que vê passar de um acusador, a
tentador e ao anjo maligno que induz o ser humano ao pecado. No livro da sabedoria é
atribuído a satanás a entrada da morte no mundo, Sb 2,24: Deus criou o homem para a
incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria natureza; foi por inveja do diabo que
a morte entrou no mundo, experimentam-na quantos são de seu partido.
Lúcifer: a começar pelos santos padres para ilustrar a queda dos anjos serve o texto base
de Isaias 14, 12-15: como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por
terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das
estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do
norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
O mito que se refere à origem do demônio vale-se do modelo fenício e explica que
Lúcifer era um anjo da primeira grandeza, muito belo, que se perverteu, quis ocupar o
lugar de Deus e por isso foi derrotado junto com o seu séquito. Há, portanto, um acento
sobre a perversão da beleza para explicar a origem do mal no mundo. O anjo da luz se
perverte e torna-se o mensageiro das trevas. A questão que se impõe é sobre a existência
do mal personificado e sobre a sua potência em relação à obra criada e ao próprio
Criador. Neste caso conjetura-se sobre o sentido da permissão da existência do mal no
mundo se o Criador é essencialmente o Sumo Bem.7
7
Texto de teologia, a serpente intrusa.
Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no
meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste
criado, até que se achou iniquidade em ti.
Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te
lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras
afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria
por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.
Pela multidão das tuas iniquidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus
santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a
terra, aos olhos de todos os que te veem. Todos os que te conhecem entre os povos estão
espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.
Novo testamento:
São Pedro dedica uma linha ao assunto: “Deus lançou nos abismos do inferno os anjos
que haviam pecado” (2 Pd 2,4);
O diabo relatado no Antigo Testamento é o mesmo que se faz presente no Novo
Testamento. Os diferentes nomes usados são sempre para o mesmo ser. Por exemplo,
lemos no Livro do Apocalipse (12,9): “Foi então precipitado o grande Dragão, a
primitiva Serpente, chamada Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi
precipitado na terra, e com ele os seus anjos”.
Há pelo menos 300 referências ao demônio no Novo Testamento, com uma variedade
de nomes que denotam a sua natureza e a sua maldade. A razão para tantas referências é
o fato de que o Messias veio, e que significou a derrota de Satanás e a destruição de seu
reino. Numerosas passagens referem-se a isso, mas duas serão suficientes. A Primeira
Carta de João (3,8) declara: “Eis porque o Filho de Deus se manifestou: para destruir as
obras do demônio” Marcos registra em seu Evangelho que, enquanto Jesus estava
pregando na sinagoga, um homem possesso por um demônio gritou: “Que tens tu
conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!” (1,24).
Jesus nos pôs de guarda contra o diabo em seu Sermão da Montanha (Mt 5,37) e no Pai-
Nosso (Mt 6,13). Ele aponta o diabo como um obstáculo à sua pregação (Mt 13, 19; 39;
Lc 8,12); Ele menciona o diabo, quando confere a primazia a Pedro (Mt 16,19), na
Última Ceia (Jo 16,11) e no Jardim do Getsêmani (Lc 22,53). Mas exatamente quando
parecia Satanás vitorioso, o triunfo de Cristo estava para começar – o triunfo da cruz. A
luta na tentação de Cristo pelo diabo foi, o prólogo de sua missão messiânica. E a luta
continuou através da vida pública do Salvador.
A luta entre Jesus e Satanás e a antítese entre o reino da luz de Cristo e o reinado de
Satanás das trevas são salientadas, com frequência no Novo Testamento e especialmente
por São João e São Paulo. O que está em risco é a salvação da raça humana.
A expulsão de demônios é uma prova evidente de que o “Reino de Deus chegou até
vós” (Mt 12,28; Lc 11,20; e de que o poder de Satanás foi abalado (cf. Mc 3,27; Lc
10,18). Os demônios sabiam que Jesus é o Messias (cf. Mc 1,24; 34; Lc 4,24) e que o
tempo de sua derrota havia chegado (cf Mc 5,7; Lc 8,28). Além disso, Cristo deu aos
discípulos poder sobre os demônios (cf. Mc 10,1; Mc 6,7; Lc 9,1) e eles fizeram uso
desse poder (Mc 6,12-13; Lc 10,17;20). Mas sempre que ordenavam que um demônio
deixasse uma pessoa, eles o faziam em nome de Jesus (cf. Mc 7,22; 9,38-39).
Patrística
Nesse período a Igreja começou a afirmar que Deus criou os anjos bons. Alguns, usando
equivocadamente sua liberdade, e pelo pecado da soberba, rebelaram-se, sendo
expulsos do céu. Deus não criou os anjos bons e os demônios maus. Criou a todos anjos
e bons. Os demônios tornaram-se maus por decisão própria e pessoal.
Imediatamente após terem pecado, os anjos decaídos foram condenados ao “fogo
eterno preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25,41). E o fato de esta ser uma
punição eterna é afirmado várias vezes no Novo Testamento. Por exemplo, “castigo
eterno” (Mt 25,46); “fogo inextinguível” (Mc 9,43); “fogo que não se apaga” (Mc 9,48);
“a fumaça do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos” (Ap 14,11); “onde serão
atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos” (Ap 20,10).
A maioria dos teólogos tem sido fiel ao ensinamento tradicional, embora Didimus de
Alexandria e São Gregório de Nissa preferissem o termo técnico usado por Orígenes
apokatástasis, que significa renovação ou restauração. Mas esse ensinamento, entre
outros erros de Orígenes, foi condenado pelo Sínodo de Constantinopla (543 d.C.) e a
promulgação da condenação feita pelo Papa Virgílio.
Concílios da Igreja
“As três pessoas divinas são um princípio único de todas as coisas, criador de todos os
seres visíveis e invisíveis, espirituais e corporais. Por sua força todo-poderosa, desde o
início do tempo, criou simultaneamente, a partir do nada, uma e outra criatura, a
espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; depois criou a criatura
humana, que consta de espírito e corpo. O diabo e os outros demônios foram por Deus
criados naturalmente bons, mas por si mesmos se tornaram maus”. (IV Concílio
Lateranense – 1215).
Ensinamento da igreja
Embora a queda dos anjos seja certa, não está claro qual foi a causa. A Igreja
nunca fez qualquer pronunciamento oficial a respeito. Temos nada mais do que
hipóteses, das quais podemos enumerar três.
2- Segunda hipótese – o pecado dos anjos decaídos foi seu ciúme e inveja acerca do
gênero humano. Dentre os proponentes dessa doutrina estão São Justino,
Tertuliano, São Cipriano, São Ireneu e São Gregório de Nissa. De acordo com
essa teoria, os anjos que governam a esfera terrestre não podiam aceitar o fato de
que os seres humanos, criados após os anjos, seriam feitos à imagem de Deus e,
além disso, de que Deus colocaria todas as criaturas na Terra sob seu domínio.
8
cf. DS. 1347, 1349.
9
cf DS. 15,21, 1523 e 1668
foram ciúmes e inveja. Contudo, a razão precisa era o fato de que o Filho de
Deus assumiria a natureza humana; em outras palavras, sua inveja e ciúmes
foram resultados do mistério da Encarnação.
Orígenes nomeou o orgulho como o pecado dos anjos decaídos. Lúcifer desempenhou
um papel importante na queda dos anjos. As palavras do profeta Isaías (14,12) a
respeito do rei da Babilônia foram atribuídas a Lúcifer. “Então! Caíste dos céus, astro
brilhante, filho da aurora!”
Os teólogos estão geralmente de acordo, ao dizer que a queda dos anjos ocorreu logo
após sua criação, porque, como Tomás de Aquino ensina, para os anjos decaídos a
obtenção da perfeita felicidade no céu através de atos meritórios era incerta.
São Tomás de Aquino afirma também que o pecado de um anjo em particular foi a
causa do pecado de todos os outros, não como uma causa determinante, mas como
motivadora10. Isto é verdade, muito embora todos tenham pecado no mesmo instante,
uma vez que, como seres exclusivamente espirituais, não estavam, portanto, sujeitos à
medida do tempo.
Finalmente podemos presumir que os anjos, que permaneceram fiéis, eram maiores em
número do que os que pecaram, porque, ao contrário de nós, o pecado é mais
improvável em seres puramente espirituais e, portanto, deve ser considerado como algo
excepcional .
O Catecismo
Conforme o Catecismo, antes da opção de pecados dos primeiros pais há uma voz
sedutora que se opõe a Deus. A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo
decaído chamado Satanás ou diabo. A Igreja ensina que era um anjo bom criado por
Deus, mas por opção revoltou-se contra o Criador. Por contemplarem a Deus no Céu, o
pecado dos anjos não pode ser perdoado. Não existe arrependimento depois da queda
dos anjos. A permissão divina para a atividade diabólica na criação é um mistério.
(Existem teorias teológicas que ainda ensinam que no fim dos tempos haverá a
conversão de todos, mesmo do anjo decaído, exemplo Origines). Cristo é o centro do
mundo angélico. São seus mensageiros do projeto de salvação. Na liturgia, a Igreja se
reúne com os santos para adorar o Deus três vezes santo e invocar sua assistência. Da
10
Cf. TOMÁS DE AQUINO. S.Theol. 1,63,9.
infância até a morte, a vida humana é protegida pelos anjos. O catecismo retoma São
Basílio: cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo á vida
(cat 329).
Magistério
Os demônios ainda têm uma natureza angélica, porque o pecado não muda a natureza
deles. Eles são seres puramente espirituais, mas o que é um ser dessa condição
ultrapassa nossa compreensão e imaginação .
11
PAULO VI. Osservatore Romano, 24.11.1972.
12
JOÃO PAULO II Osservatore Romano, 9 .4. 1985.
O Apocalipse fala que o número dos anjos é de “miríades de miríades e de milhares de
milhares” (5,11) e, um pouco mais adiante, lemos que o Dragão “varria com sua cauda
uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. “Há um consenso de que o
número dos demônios é muito grande de fato”.
São Tomás questiona se o número dos anjos decaídos era igual ao número dos que
permaneceram fiéis a Deus.13 Ele contesta que, enquanto os seres humanos são
influenciados, em suas escolhas, por sua dependência dos sentidos, isto não ocorre com
os anjos porque são seres meramente espirituais. Além disso, desde que o pecado é
“inatural”, no sentido de ser contrário à natureza, e o que é natural ocorre na minoria
dos casos, segue-se que a maioria dos anjos permaneceu fiel a Deus .
O Novo Testamento deixa margem para que se conclua haver hierarquia. “Em
Mateus lemos: “Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele
expulsa os demônios”. Em outra passagem, diz outra vez: “É por Belzebul, príncipe dos
demônios, que ele os expulsa”. Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos disse:
“Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida
contra si mesma não pode subsistir. Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si
mesmo. Como, pois, subsistirá o seu reino?” (Mc 12,24-26).
13
Cf. TOMÁS DE AQUINO. S.Theol. 1,63,9.
Cada ser meramente espiritual, seja um anjo decaído ou um anjo bom, é um ser
único e, por isso, possui características específicas que manifestam sua individualidade
e que o distinguem de todos os outros espíritos.
A respeito dos nomes específicos, não há razão para darmos nomes para os
demônios individualmente do mesmo modo que damos nomes a seres humanos para os
distinguirmos uns dos outros. Todos os anjos, bons e maus, estão num mundo espiritual
diferente do nosso.
Síntese
O diabo existe. Isto é afirmado frequentemente.
O diabo é um ser pessoal. Ele não é um conceito abstrato, mas um ser espiritual
real com personalidade própria (cf. Catecismo 2851).
O diabo (ou Satanás) não é simplesmente um outro nome para o pecado. São
João diz: “O diabo é pecador desde o princípio” (1Jo 3,8) Ele é, portanto, uma entidade
distinta do pecado, tendo sua própria existência e personalidade.