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Dissertação de mestrado
apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Direito – Mestrado
– da Universidade de Santa Cruz
do Sul, para sua defesa em
argüição pública, em abril de
2006.
Orientador: Prof. Dr. Rogério
Gesta Leal.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................7
1 INVESTIGANDO FUNDAMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA MATRIZ
PRAGMÁTICA DE CRÍTICA DAS DEMANDAS PÚBLICAS .................................12
1.1 Notícia sobre transições na teoria do conhecimento: do sagrado à
linguagem..........................................................................................................12
1.2 Fundamentos de uma racionalidade comunicativa .....................................17
1.3 A Ação Comunicativa e suas possibilidades metodológicas de
compreensão social ..........................................................................................26
1.4 Pressupostos constitutivos da comunicação e delimitação categorial do agir
comunicativo .....................................................................................................35
1.5 Linguagem como meio de integração social, socialização e reprodução
cultural ..............................................................................................................47
1.6 Conceitos aproximativos relativos ao sistema e ao mundo da vida ............56
2 ESTADO, SOCIEDADE E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO.............................................................................................71
2.1 Perspectivas societais habermasianas .......................................................71
2.2 Compreensões da Administração Pública pela Sociologia moderna ..........78
2.3 Modelos de Gestão Pública no Brasil .........................................................98
2.4 Visões dogmáticas da Administração Pública...........................................105
2.5 Crítica comunicativa ao modelo de Gestão Pública ..................................113
2.6 Interlúdio: formatando a crítica da Administração Pública ........................136
3 ELEMENTOS TEÓRICO-REFLEXIVOS DE UMA TEORIA DISCURSIVA DO
DIREITO E DA DEMOCRACIA NA PERSPECTIVA DE JÜRGEN HABERMAS.143
3.1 Noções fundacionais e preliminares da teoria da Democracia discursiva.143
3.2 Reconstruindo o sistema de direitos fundamentais a partir da interação
entre autonomia privada e pública ..................................................................148
3.3 Poder Comunicativo e suas interlocuções com a sociedade ....................155
3.4 A noção Patriotismo Constitucional como elemento possibilitador de uma
cultura plural e democrática ............................................................................166
3.5 Princípios do Estado de Direito a partir da teoria do discurso...................183
3.6 A Política deliberativa e suas imbricações com a esfera pública na Gestão
Pública Compartida.........................................................................................189
3.7 A lógica da argumentação e suas aplicações na teoria jurídica e na Gestão
Pública Compartida.........................................................................................195
4 A CONSTRUÇÃO DA IDÉIA DE GESTÃO PÚBLICA COMPARTIDA EM UMA
PERSPECTIVA HABERMASIANA......................................................................220
4.1 Gestão Pública Compartida: aproximações preliminares..........................220
4.2 Categorias fundamentais da Gestão Pública Compartida à luz da teoria da
ação comunicativa ..........................................................................................232
6
uma gestão e isto implica uma série de coisas. É preciso, por exemplo, trazer um
diagnóstico mínimo de como andam as idéias em termos de epistemologia,
descrever rapidamente a sociedade e seus problemas, trabalhar com as
concepções vigentes de gestão pública e de Administração Pública, achar um
conceito de Direito capaz de satisfazer as condições pós-convencionais (onde a
metafísica não é mais possível) e agregar tudo isto para resolver tanto os
problemas marginas da Gestão Pública Compartida, como os fenômenos
relacionados mais diretamente, tais como políticas públicas, Estado,
Organizações da Sociedade Civil e demandas sociais, para então se estabelecer
uma interlocução direta com o fenômeno em suas diversas manifestações.
Esta tarefa será facilitada por uma escolha que se revelou acertada, e que
se configura em uma das interrogações principais: a obra de Jürgen Habermas.
Habermas será, ao mesmo tempo, matriz epistemológica geral, matriz de
epistemologia do Direito, fonte de conceitos de pragmática, Moral, Democracia,
entre outros fenômenos sociais relevantes. Ao mesmo tempo, esta fonte é
também problema: em que medida é possível se utilizar os conceitos esparsos na
obra de Habermas na consolidação dos conceitos e regime jurídico da Gestão
Pública Compartida? A hipótese é que isto é possível em larga medida.
questionamento de outrem.
1
HABERMAS, Jürgen. Pensamento Pós-Metafísico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.
p.22: “O verdadeiro conhecimento tem a ver com aquilo que é pura e simplesmente geral, imutável
e necessário. Pouco importa que esse pensamento seja interpretado à luz do modelo da
matemática como contemplação e anammese ou segundo o modelo da lógica, como discurso e
reflexão – trata-se, em ambos os casos, de estruturas do próprio ente, que se configuram no
conhecimento”.
13
desta fase Platão (427-347 a.C.), Aristóteles – em parte, vez que este já adianta
conclusões da filosofia do sujeito (384-322 a.C.), Santo Agostinho (354-430) e
São Tomás de Aquino (1227-1274).
Todavia,
2
HABERMAS, Jürgen. Pensamento Pós-Metafísico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.
p.42.
14
3
HABERMAS, Jürgen. Pensamento Pós-Metafísico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.
p.15.
4
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Lingüístico-pragmática na Filosofia
Contemporânea. São Paulo: Loyola, 2001.p.135: “O fato de alguém, realmente, compreender o
que uma frase significa, compreender seu sentido, não depende absolutamente de que eu tenha
querido significar isso. A compreensão depende da situação histórica em que a frase é usada e
não do ato intencional de querer significar. O compreender, como veremos depois, é um elemento
de uma forma de vida, na qual se está inserido em virtude do contexto sócio-histórico. Por fim, não
posso arbitrariamente decidir significar com uma palavra algo, sem que jamais essa palavra tenha
sido utilizada para isso. O que decide realmente sobre o sentido de uma palavra é seu uso real.
Mesmo que as pessoas anotassem a palavra escolhida por mim para significar algo, isso não
bastaria se elas, de fato, não a usassem. Não há atos autônomos, isto é, totalmente desvinculados
dos contextos de sentido [grifos do autor]”.
5
HABERMAS, Jürgen. Pensamento Pós-Metafísico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.
p.112.
6
APEL, Karl-Otto. Transformação da Filosofia I: Filosofia analítica, semiótica, hermenêutica. São
Paulo: Loyola, 2000. p.143: “De outra parte, porém, o ser humano individual não dispõe, sob
qualquer hipótese, de seus conteúdos vivenciais como qualidades privadas isentas de qualquer
15
estrutura. É mera ficção a assunção do positivismo lógico de que todos os seres humanos
poderiam vivenciar conteúdos de mundo fundamentalmente distintos, mesmo que em meio a um
entendimento mútuo ideal. Todas as experiências hermenêuticas do ser humano depõem a favor
de que as substâncias vivenciais das pessoas tornam-se cada vez mais semelhantes, à medida
que se aprimora o acordo mútuo”.
7
APEL, Karl-Otto. Transformação da Filosofia I: Filosofia analítica, semiótica, hermenêutica. São
Paulo: Loyola, 2000. p.437-438: “[...] ninguém pode seguir uma regra por si mesmo, como se
estivesse orientado por parâmetros acessíveis de maneira introspectiva. Alguém que quisesse
adotar uma linguagem compreensível apenas para si mesmo, e voltada aos dados da experiência
acessíveis apenas para si (dores, por exemplo) – ou seja, uma linguagem que não estivesse
regularmente ligada à linguagem pública e que, portanto, não fosse traduzível – não poderia dispor
de quaisquer critérios para uma correta aplicação da linguagem. Essa pessoa não lograria
distinguir entre arbítrio e norma, já que toda norma efetiva e que confere critérios de diferenciação
também se constitui pelo fato de que outras pessoas possam controlar o cumprimento dessa
mesma norma”.
8
WITTGENSTEIN, Ludwig. O Livro Azul. Edições 70: Lisboa, 1992. p.82-83: “Resumindo: se
examinarmos minuciosamente os usos que fazemos de palavras como “pensamento”, “sentido”,
“desejo”, etc., libertar-nos-emos da tentação de procurar um acto peculiar de pensamento,
independente do acto de expressão dos nossos pensamentos, e arrumado no meio peculiar. As
formas de expressão estabelecidas já não nos impedem o reconhecimento de que a experiência
do pensamento pode ser apenas a experiência da fala, ou pode consistir nesta experiência em
conjunto com outras que a acompanham. (Será útil também examinar o seguinte caso: supõe que
uma multiplicação faz parte de uma frase; pergunta a ti próprio o que será dizer 7X5=35. E pensá-
lo, e, por outro lado, dizê-lo sem pensar.) O exame minucioso da gramática de uma palavra
enfraquece a posição de certos padrões fixos da nossa expressão que nos tinham impedido de ver
os factos sem quaisquer ideias pré-concebidas”.
9
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004.
p.241: “Assim como a querela dos universais no fim da Idade Média contribuiu para a depreciação
da razão objetiva, no fim do século XIX a crítica à introspecção e ao psicologismo contribuiu para
abalar a razão subjetiva. Quando a razão é situada não mais na consciência do sujeito
cognoscente, mas na linguagem como médium pelo qual os sujeitos se intercomunicam, a direção
de explicação se altera mais uma vez. A autoridade epistêmica passa do sujeito cognoscente, que
extrai de si os critérios para a objetividade da experiência, para a práxis de justificação de uma
comunidade lingüística. Até então, uma validade intersubjetiva de opiniões resultava de uma
convergência posterior entre pensamentos ou representações. E o acordo interpessoal se
explicava pela ancoragem ontológica dos juízos verdadeiros ou pelo equipamento psicológico ou
transcendental comum aos sujeitos cognoscentes. Mas, após a virada lingüística, todas as
explicações partem do primado de uma linguagem comum. Assim como a auto-representação de
vivências subjetivas a que o sujeito tem acesso privilegiado, a descrição de estados e eventos no
mundo objetivo também é dependente do uso interpretativo de uma linguagem comum. Por isso, a
expressão “intersubjetivo” não se refere mais ao resultado de uma convergência observada de
pensamentos ou representações de diferentes pessoas, mas à comunhão prévia – pressuposta da
perspectiva dos próprios participantes – de uma pré-compreensão lingüística ou de um horizonte
do mundo da vida no interior do qual os membros de uma comunidade lingüística se encontram
antes mesmo de se entender sobre algo no mundo. Desse primado que a intersubjetividade de
opiniões partilhadas tem sobre a confrontação com uma realidade (sempre já interpretada) resulta,
por fim, o questionamento contextualista, que não pode ser confundido com dúvida epistemológica
do ceticismo”.
16
10
APEL, Karl-Otto. Transformação da Filosofia II: o a priori da comunidade de comunicação.
São Paulo: Loyola, 2000. p.390-391.
11
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.34: “Em
los contextos de comunicación no solamente llamamos racional a quien hace una afirmación y es
capaz de defenderla frente a un crítico, aduciendo las evidencias pertinentes, sino que también
llamamos racional a aquel que sigue una norma vigente y es capaz de justificar su acción frente a
un crítico interpretando una situación dada a la luz de expectativas legítimas de comportamiento. E
incluso llamamos racional a aquel que expresa verazmente un deseo, un sentimiento, un estado
de ánimo, que revela un secreto, que confiesa un hecho., y que después convence a un crítico de
la autenticidad de la vivencia así develada sacando las consecuencias prácticas e comportándose
de forma consistente con lo dicho”.
12
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004.
p.173: “A comunicação não é um jogo auto-suficiente, por meio do qual os parceiros informam uns
aos outros sobre suas opiniões e intenções. Apenas o imperativo da integração social – a
necessidade da coordenação de planos de ação de participantes da interação que decidem de
modo independente – explica o que é primordial ao entendimento lingüístico mútuo”.
17
13
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.27.
14
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p. 18.
18
ordem que não os de descrição da sociedade. Nos termos deste trabalho, passa-
se por alto desta consideração de Habermas, concluindo que é possível extrair
conexões de várias matizes de sua obra, notadamente de cunho filosófico e
epistemológico.
15
FREITAG, Bárbara. A Teoria Crítica Ontem e Hoje. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 59-60.
"Habermas inclui em sua teoria da ação comunicativa a elaboração de um novo conceito de razão,
que nada tem em comum com a visão instrumental que a modernidade lhe conferiu, mas que
também transcende a visão kantiana assimilada por Horkheimer e Adorno, isto é, de uma razão
subjetiva, autônoma, capaz de conhecer o mundo e de dirigir o destino dos homens e da
humanidade. A concepção de uma razão comunicativa implica uma mudança radical de
paradigma, em que a razão passa a ser implementada socialmente no processo de interação
dialógica dos atores envolvidos em uma mesma situação. A razão comunicativa se constitui
socialmente nas intenções espontâneas, mas adquire maior rigor através do que Habermas
chama de discurso. Na ação comunicativa cada interlocutor suscita uma pretensão de validade
quando se refere a fatos, normas e vivências, e existe uma expectativa que seu interlocutor possa,
se assim o quiser, contestar essa pretensão de validade de uma maneira fundada (begründet), isto
é, com argumentos. É nisso que consiste a racionalidade para Habermas: não uma faculdade
abstrata, inerente ao indivíduo isolado, mas um procedimento argumentativo pelo qual dois ou
mais sujeitos se põem de acordo sobre questões relacionadas com a verdade, a justiça e a
autenticidade. Tanto no diálogo cotidiano como no discurso, todas as verdades anteriormente
consideradas válidas e inabaláveis podem ser questionadas; todas as normas e valores vigentes
têm de ser justificados; todas as relações sociais são consideradas resultado de uma negociação
na qual se busca o consenso e se respeita a reciprocidade, fundados no melhor argumento. A
razão comunicativa circunscreve um conceito para o qual o questionamento e a crítica são
elementos constitutivos, mas não sob a forma monológica, como ainda ocorria na Dialética do
Esclarecimento ou na Dialética Negativa, e sim de forma dialógica, em situações sociais em que a
verdade resulta de um diálogo entre pares, seguindo a lógica do melhor argumento”.
19
16
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.27: “Si
partirmos […] de la utilización comunicativa de saber proposicional en actos de habla, estamos
tomando una predecisión a favor de un concepto de racionalidad más amplio que enlaza con la
vieja idea de logos. Este concepto de racionalidad comunicativa posee connoctaciones que en
última instancia se remontan a la experiencia central de la capacidad de aunar sin coacciones y de
generar consenso que tiene un habla argumentativa en que diversos participantes superan la
subjetividad inicial de sus respectivos puntos de vista y merced a una comunidad de convicciones
racionalmente motivada se aseguran a la vez la unidad del mundo objetivo y de la intersubjetividad
del contexto en que desarrollan sus vidas [grifos do autor]”.
17
AVRITZER, Leonardo. A moralidade da Democracia. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 1996. p.63: "O impasse habermasiano foi provocado por uma dupla
constatação: por um lado, Habermas estava convencido desde Técnica e Ciência enquanto
Ideologia acerca da impossibilidade de uma racionalidade técnica alternativa, desistindo, desse
modo, de explorar a via aberta por Marcuse de procurar uma racionalidade técnica não-
instrumental (Marcuse, 1967); por outro lado, Habermas procurava escapar também do beco sem
saída no qual havia se isolado o último Adorno, ao considerar certas concepções de música
erudita como o único lugar no qual a racionalidade de valores persistiria (Adorno, 1975). A solução
habermasiana para esse duplo dilema foi propor a separação entre dois tipos de racionalidade,
uma primeira, comunicativa, e uma outra, instrumental, posteriormente denominada de sistêmica.
A racionalidade comunicativa seria caracterizada pela dialogicidade, isto é, pela possibilidade de
alcançar um telos nos mundos objetivo, social e subjetivo através da comunicação com pelo
menos mais um participante”.
18
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.29
19
BEST, Steven. The Politics of Historical Vision: Marx, Foucault, Habermas. New York,
London: Guilford, 1995. p.157: “Habermas’s theory of social evolution allows for contingency,
20
discontinuity, and regressive developments in history, but he insists one can still identify a
developmental process that leads in the direction of human emancipation [...] For Habermas,
“evolution” refers to “cumulative processes that exhibit a direction” [...] As with Marx, this direction
can be analyzed in terms of a growing differentiation and complexity of social systems and forms of
individuality, able to be periodized according to distintict stages of development that represent
advances in a developmental logic, and that culminate in conditions for humam freedom and
autonomy”.
20
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.32: “Este
concepto más amplio de racionalidad comunicativa desarrolado a partir del enfoque
fenomenológico puede articularse con el concepto de racionalidad cognitivo-instrumental
desarrollado a partir del enfoque realista. Existen, en efecto, relaciones internas entre la capacidad
de percepción decentrada (en el sentido de Piaget) y la capacidad de manipular cosas y sucesos,
por otro […]
21
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.33-34: “En
los contextos de comunicación no solamente llamamos racional a quien hace una afirmación y es
capaz de defenderla frente a un crítico, aduciendo las evidencias pertinentes, sino que también
llamamos racional a aquel que sigue una norma vigente y es capaz de justificar su acción frente a
un crítico interpretando una situación dada a la luz de expectativas legítimas de comportamiento. E
incluso llamamos racional a aquel que expresa verazmente un deseo, un sentimiento, un estado
de ánimo, que revela un secreto, que confiesa un hecho, etc., y que después convence a un crítico
de la autenticidad de la vivencia así develada sacando las consecuencias prácticas y
comportándose de forma consistente con lo dicho”.
21
22
PIZZI, Jovino. Ética do Discurso: a racionalidade ético-comunicativa. Porto Alegre: Edipucrs,
1994. p.34: “O acordo comunicativo não nega a racionalidade cientificista, porém a proposta
coloca como condição básica do saber uma fundamentação que transcende a projeção feita
unicamente com vistas à auto-realização do indivíduo em si. O consenso torna-se, portanto, a
base das proposições e normas que emergem dos acordos lingüísticos à medida que pressupõe
um modelo argumentativo que interliga a comunidade real com real com a comunidade ideal de
comunicação [...]”.
23
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.37.
24
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.37: “A la
susceptibilidad de fundamentación de las emisiones o manifestaciones racionales responde, por
parte de las personas que se comportan racionalmente, la disponibilidad a exponerse a la crítica y,
en caso necesario, a participar formalmente en argumentaciones”.
22
25
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.44.
26
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.49: "O agir comunicativo coloca em jogo um espectro mais claro dos
fundamentos - fundamentos epistêmicos para a verdade das asserções, pontos de vista éticos
para a autenticidade de uma escolha de vida, indicadores para a sinceridade das declarações,
experiências estéticas, explicações narrativas, padrões de valores culturais, exigências de direitos,
convenções, etc. A imputabilidade não se limita apenas aos critérios da moralidade e da
racionalidade objetiva (com respeito a fins). É muitas vezes somente objeto da razão prática,
porém consiste universalmente na capacidade de um ator de orientar seu agir por exigências de
validez".
27
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.37.
28
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.63.
23
- el mundo objetivo (como conjunto de todas las entidades sobre las que
32
son posibles enunciados verdaderos) ;
29
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.65-66.
30
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.67.
31
Esta diferenciação é fruto da modernização ocorrida nas sociedades ocidentais.
32
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.39-40: "A "objetividade" do mundo significa que este mundo é "dado"
para nós como um mundo "idêntico para todos". De mais a mais, é a prática lingüística - sobretudo
o uso dos termos singulares - que nos obriga à suposição pragmática de um mundo objetivo
comum. O sistema de referência construído sobre a linguagem natural assegura a qualquer falante
a antecipação formal de possíveis objetos de referência. Sobre essa suposição formal do mundo,
a comunicação sobre algo no mundo converge com a intervenção prática no mundo. Para falantes
e atores, é o mesmo mundo objetivo sobre o qual se entendem e no qual podem intervir. Para a
garantia performativa dos referentes semânticos é importante que os falantes possam se colocar
como agentes em contato com os objetos das relações práticas e possam retomar tais contatos".
33
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.144.
24
34
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.71-110.
35
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.78-79:
“[…] validez se confunde con eficacia empírica. Aparte de eso, aquí no podemos pensar todavía
en pretensiones de validez diferenciadas: en el pensamiento mítico las diversas pretensiones de
validez, que son la verdad proposicional, la rectitud normativa y la veracidad expresiva, todavía no
están diferenciadas en absoluto. Incluso el concepto difuso de validez en general aún no está
exento de adherencias empiricas; conceptos de validez tales como moralidad y verdad están
amalgados con conceptos relativos a nexos empíricos, como son los conceptos de causalidad y
salud. De ahí que la imagen del mundo constituida lingüísticamente pueda ser identificada hasta
tal punto con el orden mismo del mundo que no pueda ser reconocida como tal en su calidad de
interpretación del mundo, es decir, de una interpretación sujeta a errores y susceptible de crítica”.
36
BEST, Steven. The Politics of Historical Vision: Marx, Foucault, Habermas. New York,
London: Guilford, 1995. p.160: “in the historical process, societes evolve from na undifferentiated
organic unity organized around the family to a highly differentiated structure with compelx social
roles and forms of individual psychology and developed competencies in communication and Moral
reasoning. Historical developments results in a gradual expansion of secular reason over the
sphere of the sacred, a tendency toward increasing reflexivity and autonomy, and a movement
from tribal particularism to universalism”.
25
37
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.103.
38
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.55: "Na dimensão horizontal das relações que os sujeitos contraem
entre si, a suposição de racionalidade recíproca efetuada expressa o que eles, fundamentalmente,
esperam uns dos outros. Quando sobretudo o entendimento e a coordenação da ação devem ser
possíveis, os atores devem ser capazes de assumir uma posição fundamentada em relação a
exigências de validez criticáveis e de se orientarem por exigências de validez na ação própria".
39
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.103: “El
concepto de mundo subjetivo nos permite distinguir del mundo externo no solamente nuestro
propio mundo interno, sino también los mundos subjetivos de los otros. Ego puede considerar
cómo determinados echos (aquello que él juzga como estados de cosas existentes en el mundo
objetivo) o cómo determinadas expectativas normativas (aquello que él juzga como ingrediente
legítimo del mundo social compartido) se presentan desde la perspectiva de alter, esto es, como
ingredientes del mundo subjetivo de éste; puede además considerar que alter considera a su vez
cómo aquello que él (alter) juzga como estados de cosas existentes o como normas válidas se
presentan desde la perspectiva de ego, es decir, como ingrediente del mundo subjetivo de éste.
Los mundos subjetivos de los implicados podrían entonces hacer de espejos donde lo objetivo, lo
normativo, y lo subjetivo del otro, se reflejasen mutuamente cuantas veces quisiera. Pero los
conceptos formales de mundo tienen precisamente la función de impedir que el acervo de lo
común se evapore en este libre movimiento del recíproco reflejo de subjetividades; permiten
adoptar en común la perspectiva de un tercero o de un no implicado”.
26
40
Isto fundamenta, por exemplo, a diferença entre ação teleológica e ação estratégica, onde esta
última, apesar de fazer um uso não-cooperativo da linguagem, todavia utiliza-se de atos de fala.
ver HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.137.
41
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.143.
42
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.143.
43
DUTRA, Delamar José Volpato. Razão e Consenso em Habermas. Florianópolis: UFSC, 2005.
p.56.
28
mundos (objetivo, social e subjetivo)44. Desta forma, quem oferece um ato de fala
comunicativamente, ou seja, orientado à cooperação, necessariamente
fundamenta seu ato na pretensão de que é verdadeiro em relação ao mundo
objetivo, correto em relação ao mundo social e veraz com relação ao mundo
subjetivo. Como foi visto anteriormente, a capacidade de diferenciar estes
diferentes âmbitos de validade dos atos de fala denotam uma forma de vida
racional45. Estas pretensões pressupõem mais uma quarta pretensão de validez,
qual seja, o uso correto da linguagem46.
49
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.128.
50
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.133.
51
Isso não exclui, por óbvio, que alguém modifique o mundo subjetivo de outrem, v.g.,
convencendo-o de que tal paisagem x é mais bela que a y.
30
52
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.145.
53
HABERMAS, Jürgen. Teoría de la Acción Comunicativa, I. Madrid: Taurus, 1999. p.146.
54
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.153.
55
HABERMAS, Jurgen. O Discurso Filosófico da Modernidade: doze lições. São Paulo: Martins
Fontes, 2000. p.436: “Carece de uma ampliação [...] o conceito fenomenológico, elaborado
particularmente por Heidegger, de contexto remissivo do mundo da vida, que constitui, às costas
dos participantes da interação, o contexto inquestionado do processo de compreensão. Os
participantes extraem desse mundo da vida não apenas padrões consentidos de interpretação (o
saber de fundo do qual se nutrem os conteúdos proposicionais), mas também padrões de relações
normativamente confiáveis (as solidariedades tacitamente pressupostas sobre as quais se apóiam
os atos ilocucionarios) e as competências adquiridas no processo de socialização (o pano de
fundo das intenções do falante)”.
56
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.154: “El âmbito objetual de las ciencias sociales
compreende todo lo que puede caer bajo la descripción “elemento de un mundo da la vida”. El
significado de esta expresión puede aclararse intuitivamente por referencia a aquellos objetos
simbólicos que generamos cuando hablamos y actuamos, desde las manifestaciones inmediatas
31
(como son los actos de habla, las actividades teleológicas, etc.) pasando por los sedimentos de
tales manifestaciones (como son los textos, las tradiciones, los documentos, las obras de arte, las
teorías, los objetos de la cultura material, los bienes, las técnicas, etc.) hasta los productos
generados indirectamente, susceptibles de organización y capaces de estabilizarse a sí mismos
(como son las instituciones, los sistemas sociales y las estructuras de la personalidad”.
57
MCCARTHY, Thomas. La Teoría Crítica de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1998. p.190:
“Los conceptos sociológicos son “constructos de segundo nivel” (Schutz); los “constructos de
primer nivel” son aquellos mediante los que los actores sociales han preestructurado ya la realidad
social con anterioridad a la investigación científica de ésta. Y como la acción social viene mediada
por los esquemas interpretativos de los actores y no puede ser captada con independencia de
ellos, los constructos de primer nivel son el punto de partida necesario para la formación de
constructos de segundo nivel. La adecuación de los procedimientos de medida depende, en cierto
modo, de la forma en que se salve la sima entre los dos niveles (una sima que se hace manifiesta
con demasiada frecuencia cuando comparamos los problemas precientíficamente articulados de la
vida social con sus “soluciones” cuantificadas). Las dificultades son particularmente acuciantes
cuando los rasgos relevantes de la vida diaria están construidos ellos mismos de forma ajena a
toda consideración de tipo cuantitativo, porque entonces la “exigencia abstracta de medir los
hechos sociales” no encuentra punto de contacto obvio en los constructos de primer nivel”.
58
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.158
59
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.162: “El sistema de acción en que el científico
social se mueve como actor se encuentra a otro nivel; se trata por lo general de un segmento del
sistema de la ciencia, y en todo caso no coincide con el sistema de acción observado. En este
32
último el científico social participa, por así decirlo, despojándose de sus atributos de actor y
concentrándose, como hablante y oyente, exclusivamente en el proceso de entendimiento [grifos
do autor]”.
60
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Lingüístico-pragmática na Filosofia
Contemporânea. São Paulo: Loyola, 2001 p.326.
61
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.163: “Sólo entendemos un acto de habla si
sabemos qué lo hace aceptable. Pero ¿de ónde podría sacer el intérprete este saber si no es el
del contexto de comunicación que está observando o de contextos comparables? Sólo puede
entender el significado de los actos comunicativos porque éstos están insertos en un contexto de
acción orientada al entendimiento – ésta es la idea central de Wittgenstein y el punto de partida de
su teoría del significado como uso -. El intérprete observa bajo qué condiciones son aceptadas
como válidas las manifestaciones simbólicas y cuándo son aceptadas o rechazadas las
pretensiones de validez que esas manifestaciones llevan anejas, viendo cuándo los planes de
acción quedan rotas por falta de consenso las conexiones entre las acciones de los diversos
actores”.
62
DUTRA, Delamar José Volpato. Razão e Consenso em Habermas. Florianópolis: UFSC, 2005.
p.89.
33
63
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.175-176.
64
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.184.
65
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.79: "Nesta posição é enfatizado que o princípio da indulgência (ou
melhor, da "magnanimidade"), introduzido metodologicamente, obriga um intérprete a imputar a
um falante estrangeiro, como disposição de comportamento, "racionalidade" a partir da
perspectiva observacional. Esta assunção, sem dúvida, não deve ser confundida com uma
suposição de racionalidade considerada performativamente pelos participantes. Em um caso, o
conceito de racionalidade foi utilizado descritivamente; no outro, normativamente".
66
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.185: “Con otras palabras: el intérpretre está
34
obligado a mantener la actitud realizativa que adopta como agente comunicativo, aun en el caso
em que se pregunta, y precisamente cuando se pregunta, por los presupuestos que subyacen a un
texto que a un texto que no entendemos”.
67
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.187.
68
Quais sejam: a de que só se conhece o significado de algo como participante virtual; que isto só
é possível a partir da existência de uma pré-compreensão em uma situação histórica; mas isto não
faz com que a interpretação seja relativizada; que faz parte de uma ação orientada ao
entendimento a pressuposição de racionalidade do falante; da necessidade de articulação entre os
diferentes mundos da vida que se põem à disposição crítica e; que o proferimento é passível de
crítica. HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.184.
69
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.191.
70
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.192.
35
71
THOMPSON, John B. Critical Hermeneutics: a study in the thought of Paul Ricoeur and Jürgen
Habermas. Cambridge University Press: New York, 1990. p.138: “There is a close connection
between the development of individual consciousness and the evolution of forms of collective
identity”.
72
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.194.
36
73
DUTRA, Delamar José Volpato. Razão e Consenso em Habermas. Florianópolis: UFSC, 2005.
p.48.
74
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.358.
75
No livro “O Pensamento Filosófico da Modernidade” Habermas faz esta reconstrução de buscar
em cada um dos autores modernos a latência de um pensamento comunicacional, os quais foram
esquecidos por diferentes razões.
37
76
MCCARTHY, Thomas. La Teoría Crítica de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1998. p.50:“La
acción racional con respecto a fines en sentido lato incluye la acción estratégica. Esta está ligada
a normas consensuales (las “reglas del juego”) y tiene lugar en el plano de la intersubjetividad (los
“jugadores” son sujetos capaces de seguir sus propias estrategias)” [...] En un sentido lato la
acción estratégica puede ser incluida como una forma restringida de interacción social”.
77
Tabela adaptada de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad
de la acción y racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.366.
78
PIZZI, Jovino. Ética do Discurso: a racionalidade ético-comunicativa. Porto Alegre: Edipucrs,
1994. p.19: “Horkheimer e Adorno não negam que a razão instrumental tem, em si mesma, certa
possibilidade de emancipação. Esta é, porém, uma tentativa eivada de uma fé ingênua nas
ciências empíricas que, ao término de tudo, quase sempre recai no mito, na barbárie e na
dominação. A razão instrumental determina um saber voltado para a técnica e a dominação da
natureza e dos homens, tolhendo qualquer tentativa de promover uma situação na qual os sujeitos
possam almejar a verdade. Somente com a transformação dos mecanismos da sociedade técnico-
científica é possível criar condições para que proponentes e oponentes possam discutir “com
razões” qual pretensão de verdade se impõe e faz valer. Com essa mudança, todos os membros
da comunidade comunicativa podem afirmar ou negar os proferimentos enunciados”.
79
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
38
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.367: “A una acción orientada al éxito la llamamos
instrumental cuando la consideramos bajo el aspecto de observancia de reglas de acción técnicas
y evaluamos el grado de eficacia de la intervención que esa acción representa en un contexto de
estados y sucesos; y a una acción orientada al éxito la llamamos estratégica cuando la
consideramos bajo el aspecto de observancia de reglas de la elección racional y evaluamos su
grado de influencia sobre las decisiones de un oponente racional. Las acciones estratégicas
pueden ir asociadas a interacciones sociales. Las acciones estratégicas representan, ellas
mismas, acciones sociales. Hablo, en cambio, de acciones comunicativas cuando los planos de
acción de los actores implicados no se coordinan a través de un cálculo egocéntrico de resultados,
sino mediante actos de entendimiento. En la acción comunicativa los participantes no se orientan
primariamente al propio éxito; antes persiguen sus fines individuales bajo la condición de que sus
respectivos planes de acción puedan armonizarse entre sí sobre la base de una definición
compartida de la situación. De ahí que la negociación de definiciones de la situación sea un
componente esencial de la tarea interpretativa que la acción comunicativa requiere [grifos do
autor]”.
80
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.72: "A expressão "agir comunicativo" indica aquelas interações sociais
para as quais o uso da linguagem orientado para o entendimento ultrapassa um papel
coordenador da ação. Os pressupostos idealizadores imigram, por cima da comunicação
lingüística, para dentro do agir orientado para o entendimento. Por isso, a teoria da linguagem, no
que concerne à semântica, que esclarece o sentido das expressões lingüísticas com base nas
condições do entendimento lingüístico, é o lugar no qual uma pragmática forma de herança
kantiana se poderia encontrar com pesquisas do lado analítico".
81
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.368.
39
[4] Espero que exista espaço para isto no orçamento deste ano.
85
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.379.
86
PIZZI, Jovino. Ética do Discurso: a racionalidade ético-comunicativa. Porto Alegre: Edipucrs,
1994. p. 59: “A teoria da comunicação exige “algo mais”, pois não basta apontar a identidade a
partir da reciprocidade das expectativas comuns entre os sujeitos da interação. A reciprocidade
pressupõe que o sujeito comunicativo tenha a consciência de que está diante de um outro que é
também sujeito comunicativo, capaz de linguagem e ação. Esses “eus”, através do
reconhecimento recíproco, formam um “nós”, que não está isolado, mas está diante de outros
sujeitos (“eles”), que são participantes potenciais no diálogo”.
41
universais, vistas mais acima, porque, antes de tudo, o ouvinte tem de entender o
conteúdo proposicional, tomar postura com um “sim” ou um “não” diante da oferta
de ato de fala e, em seguida, cumprir com as obrigações assumidas. Assim,
Assim, em [1], o ouvinte coordena sua ação porque entende o que se quer
87
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.380.
88
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.79: "[...] a suposição refutável de que no campo dos falantes
observáveis, em regra, estes se relacionam racionalmente. Isso significa que geralmente
acreditam no que dizem e nas conseqüências de suas asserções não serem refutadas. Sob estes
pressupostos, o intérprete pode partir do fato de que os falantes e observadores, na maioria das
situações, igualmente como ele próprio, observam e opinam, de tal forma que ambos os lados
concordam em um grande número de convicções".
42
89
DUTRA, Delamar José Volpato. Razão e Consenso em Habermas. Florianópolis: UFSC, 2005.
p.53.
90
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.391: “Para la acción comunicativa sólo pueden
considerarse, pues, determinantes aquellos actos de habla a los que el hablante vincula
pretensiones de validez susceptibles de crítica. En los demás casos, cuando un hablante persigue
con actos perlocucionarios fines no declarados frente a los que oyente no puede tomar postura, o
cuando persigue fines ilocucionarios frente a los que el oyente, como en el caso de los
imperativos, no puede tomar una postura basada en razones, permanece baldío el potencial que la
comunicación lingüística siempre tiene para crear un vínculo basado en la fuerza de convicción
que poseen las razones [grifos do autor]”.
43
O não aceitar um ato de fala implica justamente uma oposição a estas três
pretensões, isto é, objeta-se um ato de fala ou porque não é correto, ou veraz, ou
verdadeiro. Todavia, como identificar o tipo de um ato de fala?
91
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.393.
92
DUTRA, Delamar José Volpato. Razão e Consenso em Habermas. Florianópolis: UFSC, 2005.
p.51.
93
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.394: “Pero aunque los actos de habla orientados
hacia el entendimiento están insertos siempre, según lo dicho, en una red compleja de referencias
al mundo, de su papel ilocucionario (y, en condiciones estándar, del si, del significado de su
componente ilocucionario) se infiere bajo qué aspecto de validez quiere el hablante que se
entienda preferentemente su emisión. Cuando hace un enunciado, cuenta algo, expone algo,
predice algo, o discute algo, etc., busca un acuerdo con el oyente sobre la base del
reconocimiento de una pretensión de verdad. Cuando el hablante emite una oración de vivencia,
descubre, revela, confiesa, manifiesta, etc., algo subjetivo, el acuerdo sólo puede producirse sobre
la base del reconocimiento de una pretensión de veracidad. Cuando el hablante hace un mandato
o una promesa, nombra o exhorta a alguien, compra algo, se casa con alguien, etc., el acuerdo
depende de los participantes consideren normativamente correcta la acción [grifos do autor]”.
44
Relações com o Mundo objetivo Mundo objetivo Mundo social Mundo subjetivo
mundo
94
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.416.
95
Adaptada de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la
acción y racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.420.
45
Essas construções não têm relevância se não for possível transpor essas
descobertas da pragmática universal96 para uma empírica. No caso em questão,
trata-se de uma pragmática empírica relativa a demandas públicas. Habermas
explora uma série de procedimentos metodológicos a fim orientar tais demandas.
Neste trabalho, isto será feito, de forma superficial, mais adiante. Habermas fala
em um primeiro passo metodológico para uma pragmática empírica, o qual
consiste na observação de outras forças ilocucionárias, conexas com as
universais. Postula também que se deve examinar a forma de preenchimento
destes atos de fala, bem como as situações comunicativas, ambíguas. Por fim, a
análise da situação pragmática e do saber de fundo dos participantes.
Ação social
Esquema a partir dos atos de fala
(interação com outros seres a partir da comunicação em um mundo
96
PINTO, compartilhado)
F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.217: “Pode abordar-se a recepção Habermasiana da Filosofia da linguagem pelo
ângulo das funções pragmáticas universais da fala (descrição de estados de coisas,
estabelecimento de relações interpessoais e expressão das vivências do utilizador da língua) e
pela conexa tematização das respectivas exigências de validade (verdade proposicional, correção
normativa e veracidade ou autenticidade). Isto quer dizer que a Habermas interessa sobretudo a
Ação comunicativa
dimensão pragmática da(Ação que setendo
linguagem, utilizaeledaem vistaAção estratégica
a possibilidade de (Ação que se
“reconstruir, utilizadada
a partir
linguagem com o outro - categorias linguagem usando o outro)
base de validade do discurso, um conceito de razão não reduzido”. Este percurso acabará por
detalhadas
conduzi-lo à mais adiante)
proposta de uma pragmática universal (Universalpragmatik) como ciência
reconstrutiva das condições de possibilidade universais da intercompreensão ou – como ele mais
vezes repete – dos pressupostos universais e necessários sob os quais os sujeitos capazes de
falar e agir se entendem mutuamente sobre algo no mundo”.
Ação estratégica velada (Ação que se Ação abertamente estratégica (Ação que
utiliza da linguagem usando o outro, com a se utiliza da linguagem usando o outro,
aparência de se estar agindo sendo que é possível a este facilmente
comunicativamente) conhecer o caráter do ato de fala)
46
Figura 197
97
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p. 426.
98
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p. 427.
47
99
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Lingüístico-pragmática na Filosofia
Contemporânea. São Paulo: Loyola, 2001 p.347: “A especificidade da razão comunicativa, como
Habermas a entende, é que ela é, ao mesmo tempo, imanente, isto é, só encontrável em
contextos concretos dos jogos de linguagem e instituições da vida humana, mas, por outro lado,
transcendente, ou seja, é igualmente uma “idéia regulativa”, na qual nos orientamos, quando
criticamos nossa vida histórica”.
100
Adaptado de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la
acción y racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.428.
48
104
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.24.
105
HABERMAS, Jürgen. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. p.57:"Se o crescimento do conhecimento é uma função desses processos que
interagem entre si, é errôneo postular uma separação entre o momento "passivo" do "descobrir" e
os momentos ‘ativos' de construir, interpretar e justificar. Não há necessidade de "limpar" o
conhecimento humano dos elementos subjetivos e das mediações intersubjetivas, ou seja, dos
interesses práticos e das matizes da linguagem".
106
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.28: “La utilización del mismo símbolo con un significado constante no
basta con que sea algo dado en sí, son que también debe ser algo reconocible por los que utilizan
ese símbolo. Y tal identidad de significado sólo puede venir asegurada mediante la validez
intersubjetiva de una regla que fije de modo “convencional” el significado de un signo [grifos do
autor]”.
50
107
STIELTJES, Cláudio. Jürgen Habermas: A descontrução de uma teoria. Jabaquara: Germinal,
2001. p.139: “Habermas observa que a utilização de um símbolo sempre com o mesmo significado
não é algo dado por si; a utilização de um símbolo com significado constante só pode ser mantido
pelo reconhecimento do significado pelos participantes da interação que utilizam o símbolo.
Portanto, a identidade de significado só pode ser estabelecida e garantida mediante a validez
intersubjetiva de uma regra que fixe de modo convencional o significado de um signo”
108
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.85:"Assim não está claro como um pode saber do outro que este reage
aos mesmos objetos como ele próprio. Ambos devem, diante do outro, descobrir se têm em mente
os mesmos objetos. Devem se entender sobre isso. Então, no entanto, somente podem entrar em
uma comunicação correspondente com o outro, quanto utilizam o modelo de reação percebido
como semelhante (ou uma parte dele) igualmente como expressão simbólica, e quando se dirigem
ao outro como parceiro".
109
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.31: “Sin esta posibilidad de crítica recíproca y de mutua instrucción
conducente a un acuerdo, no quedaría asegurada la identidad de las reglas. Para que un sujeto
pueda seguir una regla, lo que quiere decir: para que un sujeto pueda seguir la misma regla, ésta
ha de regir intersubjetivamente a los menos para dos sujetos [grifos do autor]”.
51
Assim,
Esta secuencia puede repetirse cuantas veces se quiera hasta que uno
de los participantes cumpla la expectativa de reconocimiento del otro,
lleguen ambos a un consenso fundado a través de tomas de postura
críticas y estén seguros de que R rige intersubjetivamente, lo que quiere
111
decir: de que tiene un significado idéntico .
110
Adaptado de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.32.
111
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.33.
52
Por outro lado, à medida que a sociedade vai se tornando mais complexa,
vão surgindo estruturas baseadas na linguagem que vão mais além de sua função
de interação e reprodução do saber, torna-se ela meio pelo qual (mediante atos
de entendimento) se estabilizam padrões de identidade de si e de competências
de interação. Esses padrões estruturais permitirão, além de uma interação
simples, ações comunicativas normativas. Esse é um passo além, em termos
qualitativos e de complexidade, da formação de signos válidos para os falantes.
Isso por que interações normativas relacionam-se com complexos de interações,
dependentes de um saber cultural112.
112
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.42.
113
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.43.
114
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Lingüístico-pragmática na Filosofia
Contemporânea. São Paulo: Loyola, 2001 p.336.
53
analítico, são intercambiáveis. Por exemplo, toda ilocução pode ser descrita em
termos assertórico, i.e., propositivo passível de verdade. Isso significa que tal
elemento é passível de objetivação115, e pode, portanto, virar uma forma de saber
culturalmente transmitido. Assim, um ato de fala que nunca teria forma assertórica
na perspectiva do participante, como “prometo x”, é passível de objetivação como
“poder público prometeu X”, sendo esta proposição passível não de verificação da
veracidade, mas sim de verdade/inverdade. Isto é interessante partir de uma
perspectiva da Gestão Compartida, pois permite obervações racionais tanto das
perspectivas objetivantes quanto das performáticas dos proferimentos ali
levantados.
115
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.97: “E lenguaje proposicionalmente diferenciado está estructurado de
modo que todo lo que en general puede decirse, puede también decirse en forma asertórica”.
116
CITTADINO, Gisele. Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva: Elementos da Filosofia
constitucional Contemporânea. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2000. p.92-93: “Habermas parte do
pressuposto de que o traço fundamental da modernidade é a configuração do indivíduo como
sujeito capaz de auto-reflexão e crítica, o que lhe permite exigir igualdade de respeito e
disponibilidade para o diálogo. A hermenêutica, em Habermas, designa precisamente o espaço da
auto-reflexão e da crítica, enquanto que a pragmática inclui o território discursivo cujo núcleo
central é o entendimento. É através da conjunção da hermenêutica e da pragmática, isto é, do
processo de auto-reflexão que se processa no âmbito da interação comunicativa – de vez que está
esgotado o paradigma da Filosofia da consciência que pressupõe um sujeito racional isolado –
que se constitui a formação racional da vontade”.
54
117
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.117.
118
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.118: “A medida que el consenso religioso básico se disuelve y el poder
del Estado pierde su respaldo sacra, la unidad del colectivo sólo puede ya establecerse y
mantenerce como unidad de una comunidad de comunicación, es decir, mediante un consenso
alcanzado comunicativamente en el seno de la opinión pública política [grifos do autor]”.
55
119
BEILHARZ, Peter. Critical Theory – Jürgen Habermas. ROBERTS, David (org.)
Reconstructing Theory: Gadamer, Habermas, Luhmann. Melbourne: Melbourne University [s.d.].
p.45. “It also evokes Immanuel Kant´s answer to the question of what is enlightenment: namely the
capacity to be autonomous, which depends on the capacity to speak for oneself”.
120
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.147.
121
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.150.
122
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.150
56
123
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.166: “La diferenciación del sistema de economía de mercado, con la
complejidad que comporta, destituye las formas tradicionales de solidaridad sin generar al propio
tiempo orientaciones normativos que pudieran asegurar la forma orgánica de solidaridad. Las
formas democráticas de formación de la voluntad política y la Moral universalista son, según el
propio diagnóstico de Durkheim, demasiado débiles para poner coto a los efectos desintegradotes
de la división del trabajo. Durkheim observa cómo las sociedades capitalistas se ven arrastradas a
un estado de anomía. Y esta anomía se origina, según él, en esos mismos procesos de
diferenciación de los que debía surgir, con la necesidad de una “ley natural”, una nueva Moral.
Este dilema responde en cierto modo a la paradoja weberiana de la racionalización social”.
124
AVRITZER, Leonardo. A moralidade da Democracia. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 1996. p.122-123: “Para Habermas, a existência de dois tipos de racionalidade,
uma comunicativa e uma outra sistêmica, nos permitiria tratar adequadamente tanto o fenômeno
da burocratização quanto o fenômeno da pluralização. Os dois fenômenos teriam, na percepção
habermasiana, raízes distintas e se localizariam em esferas distintas da sociabilidade. A
burocratização estaria associada à racionalidade sistêmica e seria dominante na esfera
administrativa do Estado moderno, esfera essa estruturada em torno da lógica estratégico-
competitiva e de uma forma impessoal de coordenação da ação. A expansão da influência de tal
forma de ação certamente conduz a uma diminuição da autonomia dos indivíduos frente ao Estado
moderno. No entanto, diferentemente do suposto por Weber, esse não constitui o único fenômeno
com o qual a política moderna está associada. Habermas demonstra a existência de uma forma
distinta de racionalidade capaz de nutrir e fortalecer as formas interativas de comunicação com as
quais a Democracia foi identificada pelos teóricos da política moderna. A racionalidade
comunicativa não estruturaria a esfera do Estado e sim a esfera pública entendida enquanto uma
arena discursiva na qual os valores democráticos se formam e se reproduzem. Desse modo, o
diagnóstico habermasiano da Democracia consegue dar uma resposta para o problema da
burocratização".
57
125
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.170-171.
126
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.173.
127
STEIN, Ernildo. Crítica da Ideologia e Racionalidade. [s.l.]:Movimento, [s.d.]. p.45-46: “A
razão humana pode mais do que lhe atribui a hermenêutica . Ela não tem apenas a capacidade de
acolher e reconhecer o que lhe é estranho; ela pode também recusá-lo”.
58
Mundo da vida
Cultura
linguagem
A1 A2
Mundo
interno 1 Mundo Mundo Mundo
subjetivo Comunicação subjetivo interno 2
(A1) (A2)
AC1 AC2
Mundo Mundo
objetivo social
(A1+A2)
Mundo Externo
Figura 2128
tematizar o que vem a ser “weberiana” e “pobre”, em um fluxo crítico que vai
derrubando o mundo da vida, mas ao mesmo tempo o levando mais longe, como
um flecha que nunca atinge o alvo porque este também se move. O mundo da
vida é tão forte porque está na raiz da socialização e da formação da identidade
dos indivíduos e grupos130.
130
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Lingüístico-pragmática na Filosofia
Contemporânea. São Paulo: Loyola, 2001 p.337.
131
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.188.
132
HABERMAS, Jürgen. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. p.61-62: "Em seu mundo vital, os agentes dependem das certezas e reagem às
surpresas e decepções. Têm de lidar com um mundo que presumem objetivo, e, em virtude desse
pressuposto, operam segundo uma distinção de senso comum entre o conhecimento e a opinião -
entre o que é verdade e o que só parece sê-lo. No decurso de nossa prática cotidiana, temos a
necessidade prática de confiar intuitivamente naquilo que consideramos incondicionalmente
verdadeiro. Para dirigir o carro ou atravessar uma ponte, não partimos de uma atitude hipotética,
refletindo a cada passo sobre a confiabilidade do know-how tecnológico ou estatístico dos
projetistas. Na mesma medida em que esses hábitos e certezas são postos em xeque e tornam-se
questionáveis, temos a opção de passar do envolvimento direto nas rotinas de fala e ação para o
nível reflexivo do raciocínio, onde buscamos saber se algo é verdadeiro ou não".
60
133
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.250-251: ”O processo de reprodução integra as situações novas nas formas
estabelecidas do mundo da vida, e isso tanto na dimensão semântica das significações ou
conteúdos (da tradição cultural) como nas dimensões espaço social (dos grupos socialmente
integrados) e do tempo histórico (da sucessão de gerações). A estas dimensões indissociáveis do
desenvolvimento colectivo – à reprodução cultural, à integração social e à socialização –
correspondem paralelamente os componentes estruturais do mundo da vida: a cultura (reserva de
saber da qual os participantes da comunicação, entendendo-se sobre algo no mundo, retiram as
suas interpretações susceptíveis de consenso); a sociedade (ordens legítimas através das quais
os participantes da comunicação regulam sua pertença a grupos sociais assegurando dessa forma
a sua recíproca solidariedade); e a personalidade (competências que tornam um sujeito capaz de
falar e agir e, daí, capaz de participar em processo de intercompreensão e afirmar a sua própria
identidade)”.
134
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.196.
135
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.180.
136
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.200.
61
acción y cuida de sintonizar las vidas individuales con as las formas de vida
colectivas [grifos do autor]”137, bem como a formação autônoma de identidades.
Note-se que os processos se intercambiam. Assim, é fundamental coordenação
na ação, a qual permite a construção de identidades138 e a manutenção/crítica da
tradição.
137
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.201.
138
STIELTJES, Cláudio. Jürgen Habermas: A descontrução de uma teoria. Jabaquara: Germinal,
2001. p.127: “Para Habermas, a evolução humana desenvolveu-se tanto com o processo de
individuação quanto de socialização do homem. A individuação e a socialização são processos
complementares de tal forma que a individuação se realiza durante a socialização”.
139
Adaptado de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.202.
62
140
Adaptado de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.203.
63
141
Adaptado de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.202.
142
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.214.
64
143
Adaptada de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.234.
65
144
Adaptada de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.235.
145
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.241.
146
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
66
vida se tecnifica, i.e., cada vez mais esferas perdem possibilidade de controle
prático-Moral. Ao passo que não é mais necessário justificar as ações, não “se
pueden atribuirse a la responsabilidad de nadie”152. Obviamente que, quando não
é mais necessário justificar-se a ação, implementa-se uma menoridade de espírito
nos sujeitos que atuam. Todavia, nestes subsistemas, dá-se por justificadas as
ações com base naqueles meios generalizados de comunicação, sem que se
examine as pretensões de validade. Daí a sociedade atual ser tão conformada, e
ser tão difícil a abertura de novas vias, vez que estas se convertem na linguagem
dos meios de comunicação:
Esse trabalho passa por alto de uma larga discussão que Habermas
propõe com Parsons para engatar diretamente este excurso com a teoria dos
meios de comunicação. Os meios generalizados de comunicação substituem a
ação voltada para o entendimento em contextos bem específicos, transformando-
se em meios de controle sistêmico. Evitam, neste sentido, os riscos do dissenso,
de modo a que não existam quebras nas cadeias de interação. Note-se que, em
Habermas, existe uma diferença entre meios generalizados de comunicação e
meios de controle sistêmico. Estes últimos são um passo além dos meios de
comunicação, tornando-se autonomizados em relação ao mundo da vida,
enquanto que as outras formas de comunicação generalizadas em Parsons, quais
sejam, a influência e o compromisso valorativo, estão vinculadas ao mundo da
vida, em Habermas.
152
Adaptado de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.261-261.
153
Adaptado de HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón
funcionalista. Madrid: Taurus, 1999. p.264.
69
Este tiene lugar a través de las instituciones de derecho privado que son
la propiedad y el contrato. Este punto es de gran importancia. De nuestra
lengua materna no podemos desconfiar (a no ser en casos límite como el
de la experiencia mística o el de la innovación creadora de lenguaje).
Pues a través del medio que es la formación lingüística del consenso
discurren, lo mismo la tradición cultural y la socialización que la
integración social y, por tanto, la acción comunicativa permanece
siempre inserta en los contextos del mundo de la vida. En cambio, el
medio dinero funciona de modo que la interacción queda desligada de
los contextos del mundo de la vida. Y esta desconexión es la que hace
precisa una reconexión formal del medio con el mundo de la vida. Esa
reconexión adopta la forma de una formación derecho privado de las
relaciones de intercambio, a través de la propiedad y del contrato [grifos
155
do autor] .
Por outro lado, o poder não é mensurável como o dinheiro (porque não
dispõe de um sistema de signos aceitos, como o dinheiro). Também o poder não
154
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.379.
155
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.381.
70
156
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.385.
2 ESTADO, SOCIEDADE E GESTÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
157
HABERMAS, Jürgen. A Crise de Legitimação no Capitalismo Tardio. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1999. p.32.
72
158
HABERMAS, Jürgen. A Crise de Legitimação no Capitalismo Tardio. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1999. p.32.
73
159
por valores a ações guiadas por interesse .
159
HABERMAS, Jürgen. A Crise de Legitimação no Capitalismo Tardio. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1999. p.35.
74
160
HABERMAS, Jürgen. A Crise de Legitimação no Capitalismo Tardio. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1999. p.42.
161
HABERMAS, Jürgen. A Crise de Legitimação no Capitalismo Tardio. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1999. p.66.
75
162
MCCARTHY, Thomas. La Teoría Crítica de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1998. p.294-
295.
163
HABERMAS, Jürgen. Diagnóstico do Tempo: seis ensaios. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro,
2005. p.17.
164
HABERMAS, Jürgen. Diagnóstico do Tempo: seis ensaios. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro,
2005. p.18.
76
165
HABERMAS, Jürgen. Diagnóstico do Tempo: seis ensaios. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro,
2005. p.20.
166
HABERMAS, Jürgen. Diagnóstico do Tempo: seis ensaios. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro,
2005. p.23: “E os países que ainda não atingiram o nível de desenvolvimento do Estado social,
especialmente eles, não têm nenhuma razão plausível para se desviar desse caminho”.
167
HABERMAS, Jürgen. Diagnóstico do Tempo: seis ensaios. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro,
2005. p.23.
77
168
HABERMAS, Jürgen. Diagnóstico do Tempo: seis ensaios. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro,
2005. p.25.
169
HABERMAS, Jürgen. Diagnóstico do Tempo: seis ensaios. Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro,
2005. p.30.
78
Karl Marx (1818-1884) sofre influência de, como se sabe, Hegel. Este
postula um acesso racional ao real através de uma dialética que reconhece o
conflito na realidade das coisas, e não uma ordem estática de verdades estáveis.
Marx estabelece, todavia, uma relação inversa, onde uma reflexão racional
interpretativa do mundo em termos de dialética é transmudada em uma crítica
emancipadora da sociedade170. Marx diferencia-se ainda de Hegel por partir não
de uma reflexão absoluta (espírito), mas sim de suas relações vitais. Essas
relações vitais são tomadas em termos (pelo menos o senso comum acerca de
170
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p.38-
40: “A Filosofia da história de Hegel é a última expressão conseqüente, levada à sua ‘mais pura
expressão’, de toda essa maneira que os alemães têm de escrever a história e na qual não se fala
de interesses reais, nem mesmo de interesses políticos, mas de idéias puras; [...] A verdadeira
solução prática dessa fraseologia, a eliminação dessas representações na consciência dos
homens, só será realizada, repitamos, por meio de uma transformação das circunstâncias
existentes, e não por deduções teóricas. Para a massa dos homens, isto é, para o proletariado,
tais representações teóricas não existem e portanto não precisam ser suprimidas, e, se essa
massa já teve algum dia representações teóricas como a religião, há muito tempo já foram
destruídas pelas circunstâncias”. A famosa XI tese contra Feuerbach encontra-se na página 103
da obra citada.
79
Marx assim interpreta suas obras) de reprodução material da vida, ou seja, como
os homens produzem sua sociedade e os bens com os quais interagem:
Desta idéia o Direito também não escapa, sendo fruto das interações
materiais172. Essas interações do homem com seu meio em forma de modificação
da natureza (produzidas, distribuídas e consumidas) moldam interações noéticas,
as quais estão historicamente fundadas, gerando novas necessidades e novas
criações, as quais criam novas necessidades e assim sucessivamente. Essas
interações acumulam-se em forma de cultura, sendo transmitida às outras
gerações. A principal dessas interações é o trabalho. As configurações de
interações vão gerando confluências que formam a sociedade. Esta sociedade,
por sua vez, é, em seu conjunto, perceptível como independente das pessoas que
a formam, à maneira de Durkheim. Todavia, a influenciação é uma via de mão
dupla: ao mesmo passo que as relações de produção engendram as relações
sociais, a atuação do homem como produtor de bens conflui para a formação da
consciência social173.
A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio
condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na
produção social da sua existência, os homens estabelecem relações
determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de
produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento
das forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção
constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a
qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de
produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social,
política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que
determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a
174
sua consciência .
174
MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
p.5.
81
175
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Cátedra, 1987. p.25.
176
POULANTZAS, Nicos. O Estado, o Poder e o Socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1980.
177
POULANTZAS, Nicos. O Estado, o Poder e o Socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1980. p.258:
“O que é notável hoje em dia é que paralelamente ao declínio do parlamento, os vínculos
representativos entre os deputados e a administração de Estado romperam-se. As redes de
acesso dos deputados e dos partidos políticos, enquanto legítimos representantes de um
‘interesse nacional’, à burocracia de Estado estão quase totalmente bloqueadas, uma vez que a
administração está estanquizada em vaso fechado. Isso se aplica principalmente à oposição mas
também aos deputados da maioria, ou antes à grande maioria deles. Os circuitos partidos-
deputados-administração transitam de hoje em diante quase exclusivamente através das cúpulas
do executivo, ministros e gabinetes ministeriais, do qual eles fazem seu domínio privado [grifos do
autor]”.
82
178
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p.1-
3: “Antes de procurar qual método convém ao estudo dos fatos sociais, importa saber quais fatos
chamamos assim [...] Eis portanto uma ordem de fatos que apresentam características muito
especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que
são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por
conseguinte, eles não poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em
representações e em ações; nem com os fenômenos psíquicos, os quais só têm existência na
consciência individual e através dela. Esses fatos constituem portanto uma espécie nova, e é a
eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais”.
179
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
p.15: “A primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos sociais como coisas [...][grifos
do autor]”.
180
DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 79:
“Há em nós duas consciências: uma contém apenas estados que são pessoais a cada um de nós
e nos caracterizam, ao passo que os estados que a outra compreende são comuns a toda a
sociedade. A primeira representa apenas nossa personalidade individual e a constitui; a segunda
representa o tipo coletivo e, por conseguinte, a sociedade sem a qual não existiria. Quando é um
dos elementos desta última que determina nossa conduta, não agimos tendo em vista o nosso
83
interesse pessoal, mas perseguimos finalidades coletivas. Ora, embora distintas, essas duas
consciências são ligadas uma à outra, pois, em suma, elas constituem uma só coisa, tendo para
as duas um só e mesmo substrato orgânico. Logo, elas são solidárias. Daí resulta uma
solidariedade sui generis que, nascida das semelhanças, vincula diretamente o indivíduo à
sociedade; [...] propomos chama-la mecânica”.
181
DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p.157.
182
DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo, Martins Fontes: 2004. p.174.
183
DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo, Martins Fontes: 2004. p.419.
84
184
DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p.114.
185
DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo, Martins Fontes: 2004. p.105
186
DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia. São Paulo, Martins Fontes: 2002. p.126.
85
é uma das pontes para as compreensões levadas a cabo pela dogmática jurídica
da Administração Pública. No mais das vezes, é vista como um sistema, órgão ou
conjunto de órgãos especializado em alguma coisa, quais sejam, a execução da
lei ou do interesse público. Difícil dizer se Durkheim pavimenta o caminho até
Weber no que toca à descrição da Administração Pública, vez que a observação
weberiana se dá muito mais em nível de descrição de estruturas do que de
funções. De todo modo, é possível notar um potencial ambivalente (como todos
os sociólogos aqui citados) em Durkheim: Durkheim preocupa-se com a
Democracia, sendo que esta é tanto mais necessária quanto mais diferenciada for
a sociedade. O veículo da Democracia será, claro, o Direito, tomado como um
órgão análogo ao sistema nervoso, isto é, que coordena as decisões tomadas em
nível da mente. Esse potencial democrático da teoria durkheiniana compensa o
potencial autoritário de uma descrição social que coloca a diferenciação em
termos de trabalho somente e como algo irredutível e irresistível. Assim, em
Durkheim, a Administração necessariamente se especializará em algum trabalho,
e nisto fechando-se. Mas, por outro lado, a comunicação será cada vez mais
possível e cada vez mais necessária, a medida que a sociedade evolui. Essa
leitura ambivalente hoje seria cada vez mais complicada, à medida que não é fácil
encontrar uma “função” específica para a Administração e de outra banda, na
linha weberiana também é cada vez mais difícil distinguir burocracia
governamental de empresarial, por exemplo, ou vincular necessariamente
serviços públicos com cadeias piramidais de decisões tomadas por funcionários
especializados.
187
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.5.
86
188
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.6.
189
ARGÜELLO, Katie Silene Cáceres. O Ícaro da Modernidade: Direito e Política em Max Weber.
São Paulo: Acadêmica, 1997. p.125: “A sociologia weberiana é, em síntese, uma ciência
compreensiva e causal, isto é, pode ser constatada a partir do sentido visado pelo indivíduo em
sua ação. Esse sentido é o motivo subjetivo-empírico que o sujeito possui para efetivar sua ação”.
190
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.7.
191
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.7.
192
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.10-
11.
193
Sendo as organizações coletivas complexos de ações individuais. WEBER, Max. Economía y
Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.9
87
Para os fins deste trabalho, importa dizer que, para Weber, as ações
sociais 1 e 2 podem aparecer ligadas, onde a seleção de distintos fins na ação
social finalística pode ser resultado de uma ação racional vinculada a valores196.
Todavia, desde a perspectiva da ação com relação a fins, a ação vinculada a
valores é irracional, ”acentuándose tal carácter a medida que el valor que la
mueve se eleve a la significación de absoluto, porque la reflexión sobre las
consecuencias de la acción es tanto menor cuanto mayor se la atención
concedida al valor propio del acto en su carácter absoluto [grifos do autor]”197.
Fazendo justiça a Max Weber, é bem claro na obra que nem a classificação é
194
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.17.
195
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.20.
196
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.21.
197
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.21.
88
exaustiva (ou seja, ele permite a existência de outras ações racionais, muito
embora estas sejam as predominantes) e, o que é mais importante, raramente
uma ou outra ação é encontrada exclusivamente em uma ou outra orientação (ou
seja, os tipos ideais raramente são encontrados no mundo real, de modo que os
fenômenos deste apresentam-se geralmente como uma mescla entre uma outra
orientação, mas com alguma predominância).
198
GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria social: encontros com o pensamento social
clássico e contemporâneo. São Paulo: Unesp, 1998. p.53
199
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.25.
200
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.27.
201
ARGÜELLO, Katie Silene Cáceres. O Ícaro da Modernidade: Direito e Política em Max Weber.
89
Essas ordens podem ser internalizadas, todavia, por meio: a) da tradição (o que
sempre existiu), crença afetiva (novo revelado ou exemplar), crença racional
orientada a valores (o que é valioso deve ser preservado) e Direito estatuído
positivamente ou por decisão, em cuja legalidade se crê202. A legalidade deste
último pode advir de um pacto entre os interessados ou em virtude de uma
outorga.
São Paulo: Acadêmica, 1997. p.126: O Direito é, segundo Weber, um ordenamento legítimo, cuja
“validez” está garantida externamente, mediante a possibilidade de coação (física ou psíquica)
exercida por um quadro de funcionários instituídos para a função de fazer cumprir tal ordem”.
202
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.29.
203
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.30.
204
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p. 39.
90
Para Weber, uma associação política como o Estado não pode ser definida
pelos seus fins, por que não há fim que não tenha sido ao menos tocado pelas
associações políticas. O Estado se desenvolve e gera unidade a partir de um
meio específico, qual seja, a coação física208. Importa salientar que “la coacción
no es en modo alguno el médio normal o único del Estado – nada de esto – pero
sí su medio específico”209.
205
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.43.
206
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.44.
207
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.44.
208
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.
1056.
209
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.
1056.
210
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2005. p.59: “Sem
dúvida, é próprio da nossa época o não reconhecer, com referência a qualquer outro grupo ou aos
indivíduos, o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado o tolere.
Nesse caso, o Estado se transforma na única fonte do “direito” à violência. Por conseguinte,
entenderemos por política o conjunto de esforços feitos visando a participar do poder ou a
influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado.
91
211
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.
1060: “Desde el punto de vista de nuestra consideración importa, pues, destacar lo puramente
conceptual en el sentido de que el Estado moderno es una asociación de dominio de tipo
institucional, que en el interior de un territorio ha tratado con éxito de monopolizar la coacción
física legítima como instrumento de domínio, y reúne a dicho objeto los medios materiales de
explotación en manos de sus directores, pero habiendo expropriado para ello a todos los
funcionarios de classe autónomos, que anteriormente disponían de aquéllos por derecho propio, y
colocándose a sí mismo, en lugar de ellos, en la cima suprema”.
212
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p. 60.
213
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.170.
214
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2005. p.61.
215
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.173.
92
216
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.173.
217
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.174.
218
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.177:
“El grado de calificación profesional está en constante crecimiento en la burocracia. Incluso el
funcionario sindical o de partido necesita también de un saber profesional (empíricamente
adquirido). El que los modernos ‘ministros’ y ‘presidentes’ sean los únicos ‘funcionarios’ que no
requieren la calificación profesional demuestra: que son funcionarios sólo en sentido formal pero
no en sentido material, de igual modo que el director general (gerente) de una gran compañía
anónima. La situación de empresario capitalista representa algo tan plenamente “apropiado” como
la de monarca. La dominación burocrática tiene, pues, en su cima inevitablemente un elemento,
por lo menos, que no es puramente burocrático. Representa tan sólo una categoría de la
dominación por medio de un cuadro administrativo especial [grifos do autor]”.
93
219
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.179.
220
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.218.
94
221
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.682:
“Todo ordenamiento jurídico (y no sólo el “estatal”) influye directamente, en virtud de su estructura,
sobre la distribución del poder dentro de la comunidad respectiva, y ello tanto si trata del poder
económico como de cualquier otro. Por “poder” entendemos aquí, de un modo general, la
probabilidad que tiene un hombre o una agrupación de hombres, de imponer su propia voluntad en
una acción comunitaria, inclusive contra la oposición de los demás miembros [grifos do autor]”.
222
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.701.
223
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.p.701.
224
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.
p.707.
95
225
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.
p.717.
226
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.
p.726.
227
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.
p.729.
96
228
con una burocratización rigurosa [grifos do autor] .
228
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.
p.731.
229
ARGÜELLO, Katie Silene Cáceres. O Ícaro da Modernidade: Direito e Política em Max Weber.
São Paulo: Acadêmica, 1997. p.129: “[...] o recurso a normas gerais e abstratas, no processo de
decisão, é característica de uma ordem jurídica racional, que permite um grau elevado de previsão
e cálculo”.
230
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.
p.1075.
231
WEBER, Max. Economía y Sociedad. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1999.
p.1103.
232
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2005. p.69
97
Isso vai levar a uma divisão entre duas espécies de políticos, com
responsabilidades diferentes: um tipo de político “criativo”, que recebe adesão das
massas, tornando-se líder e agindo de maneira mais ou menos inovadora; e o
político “profissional”, o qual, mesmo mantendo alto grau de responsabilidade e
poder de decisão (comparado com o funcionário de carreira), incorpora-se
burocraticamente ao sistema, sem possibilidade de inovar234. Este último
geralmente é pouco independente e vive da política.
233
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2005. p77
234
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2005. p.105.
235
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2005. p.108.
236
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.212: “É, pois, outra a Ética que preside à conduta do político profissional moderno.
Max Weber designa-a por “Ética da responsabilidade” (Verantowortungsethik) e vê nela a
exigência deste princípio: aquele que exerce a política como vocação deve assumir as
conseqüências das decisões que tomar nesse domínio“.
98
Uma Administração Pública vai surgir com contornos mais definidos e mais
vigor a partir da revolução de 1930, levada a cabo pelos tenentistas e novas
oligarquias. O senso comum da época demandava, a reboque das tendências
mundiais, uma atuação já técnico-burocrática cada vez mais ampla. Esta atuação
foi construída como uma “terceira via” entre os defeitos do capitalismo e do
socialismo. A atuação do Estado é direta e ampla sobre os diversos setores. Se
os fins são postos, por óbvio, politicamente, as justificações são colocadas
apolicaticamente, como as únicas alternativas sérias diante das ideológicas. A
neutralidade do Estado reflete-se na formação especializada de seus
237
funcionários, aos quais é proibida a sindicalização e a greve . Aliás, o manejo do
funcionalismo público caracterizou esta primeira fase de Administração Pública
moderna. O empirismo da resolução casual de problemas é substituído por uma
racionalidade meios-fins planejadora de longos prazos (que, como se sabe, nem
assim funcionou), sendo que a Administração e o estudo desta especializa-se,
voltando-se para as melhores técnicas de atingimento dos fins postos
politicamente. Estes, na década de 30 do século XX, concentram-se na união dos
brasileiros e no desenvolvimento de um aparato estatal, motivo pelo qual também
237
KEINERT, Tânia Margarete Mezzomo. Administração Pública no Brasil: crises e mudanças
de paradigmas. São Paulo: Annablume, Fapesp, 2000. p.116.
99
241
DIAS, Maria Tereza Fonseca. Direito Administrativo Pós-Moderno: novos paradigmas do
Direito Administrativo a partir do estudo da relação entre o Estado e a sociedade. Belo Horizonte:
Momentos, 2003. p.189.
242
BRASIL. Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967.
101
nacional243.
243
DIAS, Maria Tereza Fonseca. Direito Administrativo Pós-Moderno: novos paradigmas do
Direito Administrativo a partir do estudo da relação entre o Estado e a sociedade. Belo Horizonte:
Momentos, 2003. p.200.
244
PERALTA, Antonio Espantaleón. Neoliberalismo, Globalización y Estado de Bienestar. GóMEZ,
Manuel Herrera; REQUENA, Antonio Trinidad. Administración Pública y Estado de Bienestar.
Madrid: Civitas, 2004. p.130. Obviamente que incapacidade de o Estado lidar com demandas
públicas em grande parte é mito. O autor cita, por exemplo, a distribuição de subvenções estatais
pelo governo dos Estados a empresas de Nova York após o atentado de 11 de setembro.
245
DIAS, Maria Tereza Fonseca. Direito Administrativo Pós-Moderno: novos paradigmas do
Direito Administrativo a partir do estudo da relação entre o Estado e a sociedade. Belo Horizonte:
Momentos, 2003. p.200: “Bresser Pereira (1995) refere-se aos diversos mitos burocráticos
inseridos na Constituição de 1988, tais como, a estabilidade do servidor público, a rigidez da
norma de concurso público para qualquer situação, o sistema de carreira, entre outros”.
102
246
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. 2ª ed. São
Paulo: Renovar, 2001. p.17
247
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Crise Econômica e Reforma do Estado no Brasil: para uma
nova interpretação da América Latina. São Paulo: editora 34, 1996. p.50: “É essencial à
interpretação da crise do Estado a idéia de que a crise é uma conseqüência da existência de um
Estado muito fraco, e não de um Estado forte. A crise não é conseqüência de um Estado que
cresceu e se tornou demasiadamente forte e grande, mas de um Estado que cresceu e se tornou
grande mas fraco, e, portanto, incapaz de arcar com suas funções específicas de complementar e
corrigir as falhas do mercado. O Estado foi enfraquecido e imobilizado pela crise fiscal, que é
resultado do crescimento distorcido e desordenado do aparelho do Estado. O objetivo das
reformas estruturais não é atingir o “Estado mínimo”, mas reduzi-lo e definir uma nova estratégia
de desenvolvimento, consistente com as novas realidade econômicas internacionais –
particularmente a globalização e a redução da capacidade de intervenção do Estado”. Tais
observações talvez fossem diferentes diante dos sucessivos recordes de arrecadação do Estado
apenas com aumento da fiscalização (sem aumento de carga tributária) e de quitações de grandes
montantes da divida externa ocorridos na contemporaneidade.
103
248
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. 2ª ed. São
Paulo: Renovar, 2001. p.129.
249
Note-se que mesmo nesta postura o financiamento estatal parece longe de ser extinto, mesmo
na idealidade neoliberal. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; GRAU, Nuria Cunill. Entre o Estado e o
Mercado: o público não-estatal, in: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; GRAU, Nuria Cunill (orgs.) O
Público Não-Estatal na Reforma do Estado. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999. p.
34: “O reconhecimento da relevância do setor público não-estatal na produção de bens públicos
não pode, no entanto, conduzir à negação do aporte do Estado para seu sustento. A
transformação de serviços sociais estatais em públicos não-estatais não significa que o Estado
deixe de ser responsável por eles. Pelo contrário, todas as evidências apontam para a conclusão
de que o financiamento público estatal será cada vez mais necessário”.
250
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. In:
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter Kevin (orgs.). Reforma do Estado e Administração
Pública Gerencial. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999. p.243
251
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Sociedade Civil, sua democratização para a reforma do Estado.
in: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; WILHEIM, Jorge; SOLA, Lourdes (orgs.). Sociedade e Estado
em Transformação. São Paulo: Unesp, 1999. p.86: “É nesse quadro que, nos anos 90, as
sociedades civis democráticas se colocam como projeto a reforma ou a reconstrução do Estado.
Nestes termos, quando proponho o problema da crise e da reconstrução do Estado, não estou
mais me referindo a um problema de afirmação do Estado perante a sociedade, mas à
104
recuperação da governança do Estado que foi transitoriamente comprometida pela crise – estou
falando da reforma e do fortalecimento do Estado por iniciativa da sociedade civil, e não contra
ela”.
252
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. 2ª ed. São Paulo:
Renovar, 2001. p.128-129: “Afirmado que nem todo público é necessariamente estatal, cumpre,
também, estabelecer-se uma distinção pragmática entre as decisões políticas, quando
indispensáveis às definições do público estatal, e as decisões técnicas, que devem ser feitas na
satisfação do interesse público tout court, seja ou não estatal [...] Ao se distinguir a decisão
técnico-administrativa, exclusiva ou preponderantemente racional, da político-administrativa, que
tanto pela complexidade de interesses quanto pela complexidade de fatores, deva ser
preponderante ou, por vezes, exclusivamente razoável, reconhece-se facilmente a conveniência
de não politizar o debate e a escolha do que pode ser simples e expedidamente decidido com
base em elementos meramente técnicos [grifos do autor]”.
253
O Presidente da época anota, com coerência em relação aos referenciais que marcaram a
reforma administrativa, que os partícipes da mudança são os funcionários públicos. CARDOSO,
Fernando Henrique. Reforma do Estado. In: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter Kevin
(orgs.). Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. Rio de Janeiro: Editora FGV,
1999. p.19: “Temos, portanto, um desafio tipicamente iluminista, no sentido que o termo tem desde
o século XVIII: ou se introduzem graus de racionalidade no processo das reformas e esta
racionalidade passa a ser sentida pelos próprios destinatários, que são os funcionários; ou então a
reforma fracassa, porque ela vai ser obstaculizada por pessoas que pensam que o governo é
capaz de fazer milagres, sobretudo no que diz respeito à remuneração. Se o governo for sério,
não fará milagres, nem enganará ninguém”.
254
Em tom irônico, Maria Dias (DIAS, Maria Tereza Fonseca. Direito Administrativo Pós-
Moderno: novos paradigmas do Direito Administrativo a partir do estudo da relação entre o Estado
e a sociedade. Belo Horizonte: Momentos, 2003. p.220) enumera constantes universais e
temporais que qualquer chefe do executivo poderia elencar para se tornar um arauto das reformas
administrativos, como foram todos os anteriores: - montar uma equipe intersdisciplinar para criar o
projeto, - apresentar na mídia os problemas da administração, - escolher um aparato teórico e um
modelo estrangeiro, de preferência de um país que o senso comum admire, - demonstrar como a
reforma vai criar um novo estado de coisas para o desenvolvimento do país, divulgar a idéia em
termos vagos nos meios especializados ou não, - utilizar medidas de exceção, justificando-as no
sentido da urgência da reforma da administração, - atacar as reações ao projeto como
corporativismo ou como entrave ao desenvolvimento da nação, à justiça social, à liberdade e à
igualdade.
105
255
KELSEN, Hans. Esencia y Valor de La Democracia. México: Nacional, 1980. p.16: “Del
supuesto de nuestra igualdad – ideal – puede inferirse la tesis de que nadie debe dominar a nadie.
Pera la experiencia demuestra que para seguir siendo iguales necesitamos soportar un dominio
ajeno. Por esto la ideología política no renuncia jamás a hacer solidarias libertad e igualdad,
siendo precisamente característica para la Democracia la síntesis de ambos principios”.
256
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.273.
106
257
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.386.
258
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.394.
259
GORDILLO, Agustín. Tratado de Derecho Administrativo. Parte General. 5ª ed. Buenos
Aires: Fundación de Derecho Administrativo, 1998. T.I. p.V-3.
107
260
MARIENHOFF, Miguel S. Tratado de Derecho Administrativo. T.I. Buenos Aires: Abeledo-
Perrot, [s.d.]. p.49.
261
MARIENHOFF, Miguel S. Tratado de Derecho Administrativo. T.I. Buenos Aires: Abeledo-
Perrot, [s.d.]. p.66.
262
PASTOR, Juan Alfonso Santamaría. Principios de Derecho Administrativo. 3ª ed. Madrid:
Ramón Areces, 2000. p.84.
263
ENTERRÍA, Eduardo García de; FERNÁNDEZ ,Tomás-Ramón. Curso de Derecho
Administrativo, I. 10ª ed. Madrid: Civitas, 2000. p.30. Segundo sua opinião, “la personificáción de
la Administración no necesita de mística alguna. La Administración es una organización
instrumental, la cual actúa siempre ante el Derecho como un sujeto que emana actos,
declaraciones, que se vincula por contratos, que responde con su patrimonio ante de los daños
que causa, que es enteramente justiciable ante los Tribunales. Entre todos los poderes del Estado,
sólo ella actúa según esta técnica – con la reserva que inmediatamente haremos sobre los
aparatos de sostenimiento de ciertos órganos constitucionales -. ENTERRÍA, Eduardo García de;
FERNÁNDEZ ,Tomás-Ramón. Curso de Derecho Administrativo, I. 10ª ed. Madrid: Civitas,
2000. p.34. Na opinião dos mesmos autores o Direito Administrativo seria o Direito característico
desta pessoa jurídica, i.e., o critério de tipologia do Direito seria a destinação pessoal do Direito
(ENTERRÍA, Eduardo García de; FERNÁNDEZ ,Tomás-Ramón. Curso de Derecho
Administrativo, I. 10ª ed. Madrid: Civitas, 2000. p.41). A especificidade do Direito Administrativo
seria o equilíbrio entre privilégios para Administração executar suas normas e garantias do
administrado ante as potestades públicas.( ENTERRÍA, Eduardo García de; FERNÁNDEZ
,Tomás-Ramón. Curso de Derecho Administrativo, I. 10ª ed. Madrid: Civitas, 2000. p.49)
108
ser uma visão única e estritamente ligada a uma visão jurídica, não abandona os
critérios materiais (que servem ainda para identificar a atividade administrativa em
outros órgãos) e tampouco está em consonância com o Direito brasileiro, uma vez
que a Administração Pública está relacionada com uma pluralidade de órgãos e
competências, muitos deles nem sempre dispondo de personalidade jurídica.
264
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros,
2000. p.27.
265
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros,
2000. p.32.
266
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros,
2000. p.48-49. Tal idéia de “pureza” vai se conectar, como parece, aos conhecidos problemas de
depuração da teoria kelseniana.
109
267
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. São Paulo: Malheiros,
2002. p.64.
268
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. São Paulo: Malheiros,
2002. p.64: “Em última análise, os fins da Administração consubstanciam-se na defesa do
interesse público, assim entendidas aquelas aspirações ou vantagens licitamente almejadas por
toda a comunidade administrada, ou por uma parte expressiva de seus membros”.
269
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. São Paulo: Malheiros,
2002. p.86
270
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. São Paulo: Malheiros,
2002. p.100.
110
271
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000.
p.32.
272
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000.
p.33.
273
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000.
p.41-60.
274
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000. p.
62.
275
PESSOA, Robertônio. Curso de Direito Administrativo Moderno. Rio de Janeiro: Forense,
2003. p.30-31.
276
PESSOA, Robertônio. Curso de Direito Administrativo Moderno. Rio de Janeiro: Forense,
2003. p.31-32.
111
277
PESSOA, Robertônio. Curso de Direito Administrativo Moderno. Rio de Janeiro: Forense,
2003. p.40.
278
PESSOA, Robertônio. Curso de Direito Administrativo Moderno. Rio de Janeiro: Forense,
2003. p.45.
279
PESSOA, Robertônio. Curso de Direito Administrativo Moderno. Rio de Janeiro: Forense,
2003. p.90.
280
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2002. p.41: “Pelo critério
formal, também denominado orgânico ou subjetivo, a expressão sub examine indica um complexo
de órgãos responsáveis por funções administrativas. De acordo com o material, também chamado
de objetivo, é um complexo de atividades concretas e imediatas visando o atendimento das
necessidades coletivas”.
281
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro:
Forense, 2005. p.113.
282
PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2001. p.23-95.
112
283
PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2001. p.70.
284
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005. p.2
285
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005. p.11:”O
tema da legitimação se relaciona com o modo de comunicação entre governo e sociedade. Se o
direito não encontra seu fundamento de validade numa base religiosa ou puramente Moral, e
como não pode manter-se por via da força, então a única alternativa restante é o consenso dos
cidadãos [...] Mas esse consenso pressupõe, primeiramente, a possibilidade de cada indivíduo ser
tratado como igual, como titular de direitos insuprimíveis. Não há consenso entre indivíduos que se
qualificam como desiguais. Portanto, é indispensável o reconhecimento dos direitos fundamentais
para haver o consenso [grifos do autor]”.
286
Balizada por seu Direito, o Direito Administrativo.
113
287
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.199.
288
Mais as pós-modernas, que parecem ter desperdiçado a conclusão, tão generalizada na
Europa nos anos 70.
114
289
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.199.
290
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.202.
291
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.207.
115
Isto vai se conectar com uma ambivalente posição weberiana no que toca à
racionalidade material. Como se viu anteriormente, ação instrumental é uma ação
baseada na racionalidade para o atingimento dos fins. Todavia, a sua
racionalidade material é meramente um desapego à tradição que se impõe
irreflexivamente292. Ou seja, a pessoa será racional se tiver consciência de suas
preferências e conheça o ambiente onde suas ações irão gerar efeitos. Isto é:
Weber é cético com relação a um acordo racional sobre valores e ações293, e isto
vai significar para a contemporaneidade uma concepção irresistível de
racionalidade como instrumental.
292
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.231: “En cuanto el actor se ha emancipado de las
ataduras de la tradición o de la compulsión de las pasiones hasta el punto de ser capaz de cobrar
conciencia de sus preferencias (y máximas de decisión) clatas, una acción puede ser enjuicidad
bajo ambos aspectos: bajo el aspecto instrumental de la eficacia de los medios y bajo el aspecto
de la crrección de la deducción de los fines a partir de preferencias, medios y condiciones de
contorno dadas. Al aspecto de racionalidad instrumental y al aspecto de racionalidad electiva,
tomados conjuntamente, es a lo que Weber llama racionalidad formal, por contraposición al
enjuciamento material del sistema del sistema de valores que subyace a las preferencias [grifos do
autor]”.
293
AVRITZER, Leonardo. A moralidade da Democracia. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 1996. p.65-66: "O diagnóstico weberinao da modernidade supõe uma crescente
incompatibilidade entre Ética e racionalização na medida em que a modernidade se desenvolve.
Weber entende a modernidade enquanto um processo de incompatibilização entre as dimensões
cultural e societária da racionalidade. Se, por um lado, Weber deixa absolutamente clara a origem
cultural do processo de racionalização do ocidente, por outro, ele não tem quaisquer dúvidas de
que a societalização da racionalidade implica na impossibilidade de dar continuidade a tal
processo. Na medida em que as estruturas da Economia de mercado e do Estado moderno se
desenvolvem, a possibilidade de justificar eticamente a ação em relação a fins vai sendo
progressivamente inviabilizada por dois processos [...] pela secularização do mundo e pelo
aumento desmesurado da importância dos bens materiais".
294
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.244-248
116
295
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.253: “Weber habla de validez y legitimidad cuando
un orden es reconocido subjetivamente como vinculante u obligatorio. Este reconocimiento se
apoya directamente en ideas, que son las que llevan consigo un potencial de fundamentación y
justificación, y no en tramas de intereses […]”.
117
básicas/mundos
Objetivante Relação cognitiva- Relação cognitiva- Relação objetivista
instrumental estratégica consigo mesmo
Conformidade com Relação estético Relação de Relação de
as normas Moral com um obrigação censura consigo
ambiente não mesmo
Expressiva objetivado Auto-encenação Relação de
sensibilidade
espontânea
consigo mesmo
298
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.312.
299
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.313.
300
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.313.
119
Ocorre que, como Weber antes notara, as ordens devem ser legítimas, i.e.,
devem sofrer uma crítica sob o prisma prático-Moral. Entretanto, Weber (e, para
os fins deste trabalho, a maior parte dos juristas que superaram o jusnaturalismo)
nota que o Direito se moderniza como racionalização cognitivo-instrumental307.
305
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.326.
306
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.329.
307
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.85: “A dominação é forma fatal de um poder que actua segundo um conceito de
racionalidade reduzida ao controlo dos entes “coisificados”. Na sua expressão política, esse poder
tenderá a revelar-se contra as potencialidade de ser do mundo comunitário da vida mediante
programas técnicos de modelação social. O mundo idealizado da ciência, expulsando de si os
problemas decisivos da humanidade (justamente os da philosophia perennis), reduz a verdade ao
sucesso puramente técnico da sua relação ao mundo ambiente vital (Lebensumwelt) que
ontologicamente o promove; o objectivismo cientista afirma o seu dogmatismo contrariando os
valores mais amplos da subjectividade produtora do sentido de ser do mundo no qual também o
“facto cultural” da ciência se inclui“.
121
instrumental. Isto deve ajudar a explicar o dualismo pelo qual trafega o Direito
Administrativo: ou o bem público é tomado como apreensível monologicamente
(e, portanto, trata-se de uma proposição metafísica), ou é fruto de uma decisão
instrumental (decisionismo).
308
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.332.
309
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.335.
310
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.337.
122
Para Weber, muito embora a ordem jurídica tenha de ser legítima, esta se explica
em termos exclusivamente a partir da racionalidade orientada a fins. Assim,
Weber
311
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.340.
312
Interessante é que Habermas percebe nos contratualistas metafísicos as primeiras tentativas
de justificação de direitos procedimentalmente, ou seja, a partir de argumentos suscetíveis de
crítica: “Puede objetarse, en efecto, que el concepto de derechos naturales sigue teniendo todavía
en los siglos XVII y XVIII fuertes connotaciones metafísicas. Pero con su modelo de un contrato
mediante el que todos os sujetos jurídicos, como libres e iguales que son, regulan su vida en
común armonizando racionalmente sus intereses, los teóricos del derecho natural racional
moderno fueron los primeros a responder a la exigencia de una fundamentación procedimental del
derecho, es decir, de una fundamentación a partir de principios cuya validez puede, por su parte,
ser objeto de crítica”. HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de
la acción y racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.342..
313
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.343.
314
MCCARTHY, Thomas. La Teoría Crítica de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1998. p.269:
“Habermas niega que la fe en la legitimidad pueda reducirse a una fe en la legalidad“.
123
315
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.167: “O carácter cada vez mais técnico dos problemas a resolver tem feito evoluir a
ordem político-administrativa para a tecnocracia. Porém, na medida em que as decisões políticas
continuam a subentender um prévio acordo formalizado na lei, não se dirá que elas são
determinadas pela racionalidade tecnocrática“.
316
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.437.
317
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.436.
318
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.453: “Y como quiera que esa comprensión y
manera de ver las cosas, hemos de añadir por nuestra parte, es elemento constitutivo de nuestro
trato comunicativo, ese malentendido de carácter categorial afecta a la praxis, no sólo a la “forma
de pensar”, sino también a la “forma de existir” de los sujeitos. Es el mundo de la vida mismo el
124
que se “coisifica”.
319
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.201-202: “Habermas não nega a existência de motivos para o pessimismo cultural
(Kulturpessimismus) do pensamento neoconservador; afirma, pelo contrário, que tais motivos
existem e que não podem ser levianamente subestimados por uma avaliação optimista que se
faça do projecto da modernidade“[...] “Mas isso supõe que saibamos o que é que ameaça o
mundo da vida. Os neoconservadores confundem a causa e o efeito. Aos imperativos económicos
e administrativos – os chamados ‘constrangimentos objectivos’ – que não cessam de monetarizar
e burocratizar esferas da vida cada vez mais amplas, que mudam cada vez mais relações
humanas em mercadorias ou em objectos de administração, numa palavra, às verdadeiras fontes
da crise social, eles preferem em sua substituição acusar o espectro de uma cultura invadida pela
subversão”. Nessa falsa perspectiva, cresce irracionalmente o temor de uma desintegração social
e, com isso, a disposição conspirativa dos “guardiões da tradição” contra os inimigos do interior a
quem não custará identificar. O perigo que aí se vê é a apologia de um autoritarismo político a
fazer contravapor histórico[...]”.
320
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.456: “Las transacciones que discurren a través del
medio valor de cambio caen fuera de la intersubjetividad del entendimiento lingüístico, se
convierten en algo que tiene lugar en el mundo objetivo, en una pseudonaturaleza”.
321
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.247-248: “Por seu lado, Habermas sustenta que não é a racionalização, mas a
racionalização selectiva do desenvolvimento capitalista, o facto a que causalmente deverá
reportar-se a reificação. Não é, segundo ele, a diferenciação estrutural da sociedade que está na
origem das patologias do diagnóstico weberiano, mas, sim, a entrada forçada de formas de
racionalidade económica e administrativa nas esferas do mundo da vida que são especializadas
na reprodução cultural, na integração social e na socialização e que, enquanto tal, dependem da
acção orientada para o entendimento. Só colocando as coisas nesta perspectiva é que se poderá
compreender com significação evolucionária a “rebelião da natureza” que se exprime, de forma
neutra do ponto de vista da luta de classes, nos novos movimentos sociais de resistência e
protesto”.
125
322
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.478.
323
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. 122-124: “Mas uma teoria que, compreendendo o todo como falsidade ideológica, se
recusa a ser mais do que um processo infinito de negação crítica “é, de facto, uma teoria da
impossibilidade de toda a teoria”. Daí que nascesse a tentação de procurar em horizontes não
discursivos a via da reconciliação universal que a teoria se coibia de indicar à história. Horkheimer
acabou por se inclinar para a religião...“[...] Quanto a Adorno, ‘que era irremediavelmente ateu’, foi
antes na obra de arte que encontrou a última possibilidade não ideológica de ultrapassar a
modalidade negativa da utopia – porque a arte é ‘a única via que entretanto permite dizer o
indizível’“.
324
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.497.
325
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, I: racionalidad de la acción y
racionalización social. Madrid: Taurus, 1999. p.504: “De ahí que Luhmann puede proyectar sin
dificultad sobre el plano de la teoría de los sistemas la reflexivización de las dos relaciones que el
modelo sujeto-objeto permite.La teoría de sistemas sustituye “sujeto” por “sistema” y “objeto” por
“entorno” y reduce la capacidad del sujeto para conocer y manipular objetos a la idea de
operaciones sistémicas que consisten en hacerse cargo de la complejidad del entorno y hacerla
manejable. Y cuando se nos dice que, aparte de eso, los sistemas también aprenden a referirse de
manera reflexiva a la unidad del propio sistema, ello no significa sino un paso más en el aumento
de la propia complejidad interna con que el sistema puede hacer frente mejor a un entorno
supercomplejo; también esta “autoconciencia” permanece sometida al hechizo de la lógica del
aseguramiento del patrimonio y pervivencia de los sistemas”.
126
326
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p. 431-432.
327
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.435-436: “En cualquier caso, la tesis de la pérdida de libertad resulta más
plausible si se considera la burocratización como señal de un nuevo nivel de diferenciación
sistémica. Al diferenciarse los subsistemas Economía y Estado (a través de los medios dinero y
poder) de un sistema institucional inserto en el horizonte del mundo de la vida, surgen ámbitos de
acción formalmente organizados, cuya integración no discurre ya a través del mecanismo del
entendimiento, que se disocian del mundo de la vida y que se coagulan en una socializad vacía de
sustancia normativa [grifos do autor]”.
328
HABERMAS, Jürgen. Para a Reconstrução do Materialismo Histórico. São Paulo:
Brasiliense, 1983. p.154-155: “Finalmente, na transposição do modelo biológico para o
desenvolvimento social, surge uma outra dificuldade: a que resulta do fato de que do ponto de
vista do aumento da complexidade não basta para designar patamares ou níveis evolutivos de
desenvolvimento”.
329
LEAL, Rogério Gesta. A Teoria do Conhecimento em Habermas: conceitos aproximativos. In:
Revista do Direito, Santa Cruz do Sul, n. 17, p.17-31, jan./jun.2002. p.25: “Todavia, o que ocorre
majoritariamente na formação do conhecimento ocidental a partir da Idade Moderna é o fato de
que a racionalidade instrumental/estratégica que anima a força de produtiva dos mercados e do
capital em expansão – maximizando o lucro e reduzindo as despesas e os riscos dos
empreendimentos – vai-se impondo em face da racionalidade comunicativa – preocupada que
está com a busca do entendimento sobre as condições ideais de vida e desenvolvimento da
127
Poder
Força de Trabalho
Dinheiro
Força de Trabalho
2) Consumidor
Dinheiro
Bens e serviços
Dinheiro
Demanda
espécie como um todo. Decorre daí a prevalência de uma forma de visualização e mesmo
compreensão do mundo, e das relações que nele se estabelecem, ancorada metodologicamente
por um conhecimento cindido em sujeito que conhece e objeto que é conhecido – o primado do
domínio econômico exploratório da natureza – formando-se o que Habermas passa a denominar
ideologia tecnocrática”.
330
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.442-443: “A mi juicio, la debiildad metodológica del funcionalismo
sistémico, cuando se presenta con pretensiones absolutistas, radica en que elige sus categorías
teóricas como si ese proceso cuyos inicios describió Weber, estuviera ya cerrado, como si una
burocratización total hubiera deshumanizado ya por completo la sociedad, la hubiera convertido en
un sistema desprovisto de todo anclaje en un mundo de la vida comunicativamente estructurado y
éste, a su vez, hubiera quedado degradado al status de un subsistema entre otros. Este “mundo
administrado” era para Adorno una visión de máximo espanto; para Luhmann se ha convertido en
un presupuesto trivial”.
128
Impostos
Poder
Políticas Públicas
2) Cidadão
Poder
Decisões políticas
Poder
Lealdade da população
331
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.454.
332
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.457.
129
336
PINTO, F. Cabral. Leituras de Habermas: modernidade e emancipação.. Coimbra: Fora do
Texto, 1992. p.179: “Uma vez que exista um opinião pública despolitizada, a separação hegeliano-
liberal entre sociedade civil e Estado pode ser de novo afirmada, agora no sentido positivo de uma
cooperação necessária entre as forças organizadas de uma sociedade e um poder estatal
exercido por especialistas sócio-politicamente neutros“.
337
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.495: “La implantación de los derechos políticos fundamentales en el
marco de la Democracia de masas significa, por un lado, la generalización del rol de ciudadano,
pero, por otro, significa también la segmentación de ese rol respecto a los procesos efectivos de
decisión, significa que la participación política queda vacía de contenidos participatorios.
Legitimidad y lealtad de la población se funden en una amalgama que los afectados ya no pueden
analizar, que no pueden descomponer en sus ingredientes críticos”.
338
BEST, Steven. The Politics of Historical Vision: Marx, Foucault, Habermas. New York,
London: Guilford, 1995. p.178: “Everyday life cannot be changed simply by transforming only one
sphere; political programs must address and balance all three spheres. In a nonreified lifeworld one
would find an autonomization and interaction of the three spheres of value and their appropriate
forms of argumentation and validity claims”.
339
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.502.
340
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.502.
131
341
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.506.
342
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.509: “Esta exigencia es satisfecha mediante un procedimiento que liga la
legislación a procesos de decisión parlamentaria y a la discusión pública. La juridificación del
proceso de legitimación se implanta en forma de derecho de voto, universal e igual, y del
reconocimiento de la libertad de organizar y pertenecer a asociaciones y partidos políticos [grifos
do autor]”.
343
MCCARTHY, Thomas. La Teoría Crítica de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1998. p.476:
“[...] la propia forma jurídico-burocrática de tratar administrativamente ciertos problemas lo que la
postre acaba estorbando su solución. Pues, en primer lugar, obliga a una redefinición de
situaciones existenciales en unos términos que resultan contraproducentes“.
344
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.513: “Las burocracias encargadas de hacer las prestaciones han de
132
proceder de forma fuertemente reductiva seleccioanndo sólo os casos de necesidad que puedan
tratarse con los procedimientos legales propios de la dominación burocrática, esto es,
asimilándolos a la ficción jurídica de perjuicios a indemnizar [grifos do autor]”.
345
HABERMAS, Jürgen. Teoria de la Acción Comunicativa, II: crítica de la razón funcionalista.
Madrid: Taurus, 1999. p.522: “La formalización de las relaciones dentro de la familia y de la
escuela significa para los afectados una objetivización (Versachlichung) y desmundanización de la
convivencia familiar y escolar, que ahora queda regulada formalmente. Como sujetos jurídicos que
adoptan los unos frente a los otros una actitud objetivante, orientada hacia el éxito [grifos do
autor]”.
346
HABERMAS, Jürgen. Conhecimento e Interesse. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. p.34:
“Enquanto o interesse técnico e o interesse prático do conhecimento estão fundamentados em
estruturas profundas de ação e experiência (invariâncias?), entrelaçadas que estão com os
elementos constituintes dos sistemas sociais, o interesse emancipatório do conhecimento possui
um status derivado. Ele garante o elo do saber teórico com a práxis da vida, isto é, como uma
“área-de-objeto”, a qual apenas surge sob as condições de uma comunicação sistematicamente
deformada e de uma repressão aparentemente legitimada. O tipo de experiência e ação, o qual
corresponde a este domínio do objeto, é assim igualmente derivado. A experiência com a
pseudonatureza é reflexiva de um modo sui generis e se encontra imbricada com a ação que
remove as compulsões pseudonaturais: eu faço a experiência da coerção, essa que procede de
objetivações inescrutáveis – ainda que engendradas – tão-somente no instante da interiorização
analítica e da dissolução de um pseudocaráter-de-objeto, enraizado em motivos inconscientes ou
interesses recalcados [grifos do autor]. Esta citação está no contexto da obra conhecimento e
interesse, na qual Habernas divide as ciências em técnicas, interativas e críticas, todas voltadas,
de alguma maneira, à emancipação do homem. Como Habermas reformula esta tese, esta
temática não será desenvolvida com maiores detalhes [grifos do autor]”.
133
347
HABERMAS, Jürgen. Teoria Y Praxis. Madrid: Tecnos, 1987. p.298.
134
348
HABERMAS, Jürgen. Técnica e Ciência como 'Ideologia'. Lisboa: Edições 70, [s.d.], p.64.
349
HABERMAS, Jürgen. Técnica e Ciência como 'Ideologia'. Lisboa: Edições 70, [s.d.] p.65-66:
"A partir de baixo, surge uma permanente pressão adaptativa logo que, com a institucionalização
de um intercâmbio territorial de bens e da força de trabalho, por um lado, e da empresa capitalista,
por outro, se impõe a nova forma de produção. No sistema do trabalho social, fica assegurado o
progresso cumulativo das forças produtivas e, assim, uma expansão horizontal dos subsistemas
de acção racional teleológica - sem dúvida, à custa de crimes econômicos. Por este meio, as
formas tradicionais sujeitam-se cada vez mais às condições da racionalidade instrumental ou
estratégica: a organização do trabalho e do tráfico econômico, a rede de transportes, de notícias e
da comunicação, as instituições do direito privado e, partindo da administração das finanças, a
burocracia estatal. Surge, deste modo, a infraestrutura de uma sociedade sob a coação à
modernização. Ela apodera-se, pouco a pouco, de todas as esferas vitais: da defesa, o sistema
escolar, da saúde e até da família, e impõe tanto na cidade como no campo como uma
urbanização da forma de vida, isto é, subculturas que ensinam o indivíduo a poder "deslocar-se"
em qualquer momento de um contexto de interacção para a acção racional teleológica [grifos do
autor]”.
135
350
HABERMAS, Jürgen. Técnica e Ciência como 'Ideologia'. Lisboa: Edições 70, [s.d.] p.70.
351
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia II: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.83. “O reducionismo cognitivista e empresarial dos discursos
neocorporativistas considera a sintonia entre sistemas apenas pelo ângulo dos problemas de
coordenação funcional. Ou seja, o saber relevante para a regulação, produzido por vários grupos
de especialistas, deve ser transformado em políticas e traduzido em programas jurídicos através
de juristas esclarecidos pela teoria do sistema. Essa concepção apóia-se na idéia não realista de
que o saber dos especialistas, mobilizado profissionalmente, pode prescindir de valores e pontos
de vista morais. No entanto, a partir do momento em que se apela para um saber especializado, a
fim de tratar de problemas relevantes para a regulação da política, percebe-se que ele possui um
teor normativo que desencadeia controvérsias polarizadoras entre os próprios especialistas.
Questões de coordenação funcional, elaboradas politicamente, estão entrelaçadas com a
dimensão Ética e Moral da integração social; isso decorre do fato de que, para percebermos as
conseqüências de uma integração insuficiente do sistema, temos que recorrer ao pano de fundo
do mundo da vida, ou seja, a interesses feridos ou identidades ameaçadas"
352
MCCARTHY, Thomas. La Teoría Crítica de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1998. p.28:
“En nuestro tiempo, el desarrollo de las ciencias sociales como ciencias aplicadas al servicio de la
administración se nutre de una tendencia afín a excluir de la reflexión racional los fines de la
práctica política y a abandonarlos al resultado de la pugna entre los grupos de presión existentes.
Pero los modelos decisionistas de la relación entre experiencia técnica y práctica política están
siendo crecientemente sustituidos por modelos tecnológicos, en los que la necesidad objetiva
revelada por los expertos parece predominar sobre las decisiones de los líderes”.
353
HABERMAS, Jürgen. Teoria Y Praxis. Madrid: Tecnos, 1987. p.299-300: “Un decisionismo
elevado a concepción del mundo no vacila ya en reducir las normas a decisiones. En la forma,
surgida del análisis del lenguaje, de una Ética no cognitiva, el complemento decisionista de una
ciencia restringida a la manera positivista viene él mismo concebido en forma positivista […]
Desde el momento en que determinados juicios de valor fundamentales se toman como axiomas,
es posible analizar concluyentemente un nexo deductivo de proposiciones correspondiente a
aquéllos; sin embargo, tales principios no son accesibles a una aprehensión racional: su
aceptación descansa exclusivamente en la decisión […] las decisiones relevantes para la práctica
vital, ya consistan en la aceptación de valores, en la elección de un proyecto de historia vital o en
la elección de un enemigo, no son accesibles a un debate racional ni susceptibles de un consenso
racionalmente motivado” [grifos do autor]”.
136
354
MCCARTHY, Thomas. La Teoría Crítica de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1998. p.30:
“Tanto los modelos decisionistas como los modelos tecnocráticos de la práctica política reflejan la
transformación de las cuestiones prácticas en cuestiones técnicas y su consiguiente exclusión de
la discusión pública. En los primeros, la única función de la ciudadanía es legitimar a los grupos
dirigentes mediante aclamación a través de plebiscitos periódicos. Las decisiones políticas mismas
caen fuera de la autoridad de la discusión racional en la esfera pública; el poder puede ser
racionalizado, pero una vez más sólo a expensas de la Democracia. La reducción del poder
político a administración racional – esto es, a una administración guiada por la visión teórica de lo
que es objetivamente necesario (para la estabilidad, la adaptabilidad, el crecimiento, etc.) – priva a
la esfera pública de toda función, salvo la de legitimar al personal administrativo y la de juzgar las
cualificaciones profesionales de los dirigentes”.
137
355
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.266.
356
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.267.
139
Tudo isto denota o verdadeiro perigo: já que não se faz nada a nível
dogmático, qualquer coisa vem a ser interesse público. Está-se, então, diante do
mais legítimo decisionismo, travestido de decisão técnica da Administração. A
descrição habermasiana, aqui, é perfeita. Óbvio que, neste contexto, está-se no
plano conceitual, vez que é possível, sem dúvida, identificar um núcleo mínimo
que seja de interesse público a partir das decisões já tomadas pela comunidade
em nível constitucional e infraconstitucional. Ninguém em sã consciência poderia
dizer que uma política estimuladora do desemprego (sem nenhuma
357
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros,
2000. p.49.
140
358
LEAL, Rogério Gesta. Estado, Administração Pública e Sociedade: novos paradigmas. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p.69: “Tal cenário, todavia, não nos leva à incredulidade em
face da principal promessa da modernidade: a razão emancipadora, eis que, até aqui, o que temos
visto imperar é, fundamentalmente, a utilização instrumental e estratégica da razão, voltada para
os fins que acabamos de delimitar. Por isto, estamos propondo um afastamento da cética
perspectiva da primeira geração da escola de Frankfurt e, com Habermas, acreditando que é
142
possível operarmos a razão a partir de outros lugares e fundamentos, resgatando sua dimensão
emancipadora, do entendimento à paz e à solidariedade, portanto, revelando sua função
procedimental valorativa, com as seguintes características: (a) observar os vetores axiológicos
universais não-metafísicos, como os direitos humanos e fundamentais; (b) partir e problematizar,
de forma permanentemente aberta e crítica, as proposições assertóricas de todos os atores
sociais que se encontram sob sua égide, numa perspectiva de entendimento e consenso,
consciente da natureza permanentemente tensional de tal tarefa; (c) explicitar os argumentos de
justificação e fundamentação que pretendem legitimar os modelos de organização social e
comunicação política que se encontram na base de sua constituição”.
3 ELEMENTOS TEÓRICO-REFLEXIVOS DE UMA TEORIA
DISCURSIVA DO DIREITO E DA DEMOCRACIA NA
PERSPECTIVA DE JÜRGEN HABERMAS
359
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p. 20.
360
PIZZI, Jovino. Ética do Discurso: a racionalidade ético-comunicativa. Porto Alegre: Edipucrs,
1994. p.58:“Habermas diz que só é possível uma ordem social que corresponda à da ação
144
comunicativa quando, pelo menos, dois participantes de uma interação podem coordenar seus
planos de ação de tal modo, que alter pode somar suas ações às ações de ego, sem ruptura da
interação entre ambos. Dessa forma, o sujeito se torna, ao mesmo tempo, o “iniciador”, que
domina as situações por meio de ações imputáveis, e “produto” das tradições nas quais se
encontra. A socialização preserva, pois, a identidade da personalidade individual num contexto
que permite ao sujeito relacionar-se consigo mesmo, com o outro e com as coisas, na perspectiva
de uma interação linguisticamente mediada”.
361
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p. 25.
362
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.37.
363
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.40.
145
364
STIELTJES, Cláudio. Jürgen Habermas: A descontrução de uma teoria. Jabaquara: Germinal,
2001: “As análises que fizemos das críticas habermaseanas ao reducionismo da concepção
culturalista do mundo da vida e da introdução na concepção de reprodução simbólica do mundo
da vida de uma Filosofia da linguagem, fundamentada na pragmática universal, nos permitem
compreender de que maneira a teoria da ação comunicativa pode abrigar simultaneamente a
concepção de um consenso fundamentado na não-problematicidade e pré-reflexividade do mundo
da vida com o desenvolvimento de um consenso que, por ser obtido de forma crítica, evolui de
modo reflexivo no sentido da racionalidade”. p.268.
365
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.43.
146
366
MOREIRA, Luiz. Fundamentação do Direito em Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos,
2002: “Em sociedades modernas, o Direito só pode se expressão da liberdade se cumprir as
exigências pós-metafísicas de legitimação, o que só é possível através da incorporação de um
caráter pós-tradicional de justificação, ou seja, somente quando sua legitimação estiver
desagregada tanto da religião quanto dos costumes. Como perdeu a vinculação com fontes
metafísicas e consuetudinárias, o ordenamento jurídico levante a pergunta pela validade de suas
pretensões, que só obtêm normatividade se forem legítimas”. p.31.
367
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.44.
368
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.46.
369
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.49.
147
caso, e objetivador (aquele que observa para planejar sua ação) no segundo370. A
validade está conectada com o primeiro enfoque, de modo que o ordenamento
jurídico tem de ser organizado de modo a que seja possível o simples respeito à
lei371. Essa organização está ligada com a idéia de autolegislação, ou seja, a
participação em processos de decisão onde os cidadãos possam “participar na
condição de sujeitos do direito que agem orientados não apenas pelo sucesso”372.
A legalidade é, então, fruto de processos que levam à normatização, e, neste
sentido, faticidade e validade estão indissoluvelmente ligados. Este assunto será
abordado mais adiante.
370
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.51.
371
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002: “Por faticidade, e
acompanhando Habermas, quero aqui me referir ao caráter histórico e contingente do Direito
moderno que o liga, indissoluvelmente, ao fato de ser um sistema de ação que recorre inclusive à
força para sua concretização e, assim, à política. Por validade quero aqui me referir à dimensão de
justificativa racional do Direito moderno, que o liga, indissoluvelmente, à exigência de sua
fundamentação, vale dizer, às questões acerca da sua legitimidade e justiça, e, assim, à Moral
moderna”. p.18-19.
372
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.53.
373
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.59.
374
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.62.
148
375
DUTRA, Delamar José Volpato. Razão e Consenso em Habermas: a teoria discursiva da
verdade, da Moral, do dirieto e da biotecnologia.Florianópolis: UFSC, 2005. p.198: “Temos, aqui,
uma dupla validade do direito, coerção e liberdade. Assim, sob um ponto de vista empírico, o
direito pode ser analisado somente a partir da perspectiva da coerção. Porém, sob o ponto de
vista da validade, encontramos um amálgama de conceitos complexos, ou seja, o sentido da
validade do direito só se explica pela referência simultânea à validade social ou fática [Geltung], à
legitimidade [Gültigkeit] e à coerção, já que o direito apóia-se sobre uma faticidade artificial,
149
tudo diante do caráter reflexivo do próprio Direito. Como direitos que são, só
fazem sentido em comunidade:
estabelecida a partir de sanções. No que concerne à legitimidade, ela faz referência ao próprio
caráter discursivo do resgate da validade de uma proposição. Já a validade social remete à
aceitação concreta por parte de uma sociedade”.
376
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.121.
377
HABERMAS, Jürgen. La necesidad de Revisión de la Izquierda. Madrid: Tecnos, 1996: “En
la medida en que la Revolución francesa vino inspirada por Rousseau, se distinguió de la
Revolución americana en que los derechos humanos no se hacían anteceder como un filtro a la
práctica autónoma que representa la actividade legislativa, sino que habían de deducirse de esa
misma práctica. En los Derechos del Hombre Rousseau no reconoce otra cosa que las estructuras
y presupuestos de los procesos de formación democrática de la voluntad coletiva. Cuando se los
entiende así, se evita la lectura selectiva que de ellos hace el liberalismo. Entonces no cabe
oponer unos derechos humanos entendidos en sentido individualista a las metas que representan
la emancipación social”. p.146.
378
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.138.
150
379
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.139.
380
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.142.
381
HABERMAS, Jürgen. La necesidad de Revisión de la Izquierda. Madrid: Tecnos, 1996. p.
170:“Que una norma sea justa o redunde en interés de todos no significa otra cosa sino que la
norma merece reconocimiento o es válida. La justicia no es nada material, no es un “valor’, sino
una dimensión de validez. Así como las oraciones descriptivas pueden ser verdaderas, es decir,
expresar lo que es el caso, así las oraciones normativas pueden ser correctas (richtig) y espresar
lo que se debe hacer. Pero a un nivel distinto están los distintos principios y normas, que tienen un
contenido específico, independientemente de que sean válidos o no”.
382
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.145.
383
MOREIRA, Luiz. Fundamentação do Direito em Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos,
2002. p.146: “Mesmo assumindo a perspectiva de que a autoria do ordenamento jurídico emana
da vontade democrática de pessoas livres e iguais, institucionalizada juridicamente, observando
151
A Moral é mais rigorosa, vez que observa toda ação à luz de um princípio
da universalização, visto mais adiante. Todavia, após o desencantamento, mesmo
assim permanece como poderosa motivação individual para ação, sem, todavia,
maiores conseqüências sociais do seu descumprimento385. É fruto de um
procedimento reflexivo na própria tradição, sem que existam ritos com hora
marcada como no Direito.
387
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.153.
388
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.154.
389
HABERMAS, Jürgen. Passado como Futuro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. p.98:“Eu
jamais tive a pretensão de meus famosos colegas americanos – Rawls e Nozick – de desenvolver
uma teoria política normativa. Eu não contexto a validade de tal projeto, porém eu não tento
construir na escrivaninha as normas fundamentais de uma “sociedade bem organizada”. O meu
interesse fundamental está voltado primordialmente para a reconstrução das condições realmente
existentes, na verdade sob a premissa de que os indivíduos socializados, quando no seu dia-a-dia
se comunicam entre si através da linguagem comum, não têm como evitar que se empregue esta
linguagem também no sentido voltado ao entendimento. E ao fazerem isso, eles precisam tomar
como ponto de partida determinadas pressuposições pragmáticas, nas quais se faz valer algo
parecido com uma razão comunicativa”.
153
Para Habermas, todavia, isto é uma perspectiva filosófica, vez que o que
importa para a legitimidade dos direitos fundamentais é uma perspectiva
performativa, e não uma perspectiva teórica como a do filósofo do Direito, de
modo que este é o momento para Habermas introduzir a interessante noção de
direitos fundamentais a partir de um procedimento democrático. Aliás esta
operação resolve as tensões entre um substancialismo metafísico e um
procedimentalismo vazio. A idéia é de que só é possível reconhecer direitos
fundamentais a partir do exercício da autonomia. Os direitos fundamentais têm de
ser criação de um corpo de cidadãos para eles mesmos, e não impostos
paternalisticamente de fora por uma entidade metafísica:
390
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.159.
391
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.160.
392
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.162.
154
Deste modo, não existe oposição alguma entre soberania popular e direitos
fundamentais, pelo contrário, eles se pressupõem, são co-originários394:
393
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.164.
394
MOREIRA, Luiz. Fundamentação do Direito em Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos,
2002. p.163-164: “Por conseguinte, a explicitação da estrutura intersubjetiva dos direitos, através
da institucionalização de procedimentos que acoplaram a dimensão discursiva da opinião e da
vontade, torna possível que a composição entre direitos humanos e soberania do povo seja
explicitada em termos jurídicos. Assim, o ordenamento jurídico pode ser entendido como fruto de
uma legislação que os sujeitos de direito se dão a si mesmos, sendo, por seu turno, os direitos
humanos o substrato que é inserido nas condições formais para a institucionalização jurídica
desse tipo de procedimento. A composição entre direitos humanos e soberania do povo somente
se mostra à medida que a estrutura intersubjetiva dos direitos é parte componente de um
procedimento que incorpora a dimensão discursiva da formação da opinião e da vontade como
algo que lhe é intrínseco. Sendo assim, os direitos humanos são, desde logo, incorporados às
condições formais de institucionalização jurídica e o princípio da soberania do povo compõe a
esfera de explicitação do procedimento legislativo”.
395
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.165.
155
396
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.141.
397
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.141.
156
Se, por um lado, descobre-se que existem normas morais e éticas, e que
essas normas morais e éticas podem ser fundamentadas, tanto a partir de
preferências pessoais como com base em um mundo intersubjetivamente
compartilhado, é necessária a existência de princípio que transcenda o contexto
pessoal e hermenêutico, senão a mera tradição e costume ficam tomados como o
Moral e ético. Para Habermas, o princípio que consegue tal proeza é o princípio
da Universalização, onde os indivíduos devem examinar:
398
Habermas distingue proposições valorativas e descritivas das vivenciais (as quais
demonstrariam estados interiores do sujeito). As éticas metafísicas, emotivistas ou decisionistas
confundem proposições vivenciais com valorativas, negando, por isso, caráter cognitivo da Moral.
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989. p.62
399
“É só assim que se explica o fenômeno do sentimento de culpa, que acompanha a autocensura
do autor da infração”. HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. p.68.
157
Tal imperativo categórico401 precisa, ainda, de mais dado, qual seja, uma
reformulação no sentido de que se inclua também o diálogo e conseqüente
consenso dos envolvidos. Ou seja, não basta pensar universalmente a máxima de
conduta, há de se colocar aos outros as máximas de conduta para que se
examine a possibilidade de universalização daquele ‘que fazer’, em um processo
onde o ator realiza um ‘ideal role taking’, ou seja, uma assunção ideal de
papéis402.
400
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989. p. 86.
401
HABERMAS, Jürgen. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. p.8-9: "Gostaria de esclarecer desde já que a interpretação intersubjetivista do
imperativo Categórico não tem a intenção de ser outra coisa senão uma explicação do seu
significado fundamental, e não uma interpretação que dá a esse significado uma nova direção. A
transição da reflexão monológica para o diálogo explica uma característica do procedimento de
universalização que permaneceu implícita até o surgimento de uma nova forma de consciência
ihstórica, na virada do século XVIII para o XIX. Quando tomamos consciência de que a história e a
cultura são as fontes de uma imensa variedade de formas simbólicas, bem como da especificidade
das identidades individuais e coletivas, percebemos também, pelo mesmo ato, o tamanho do
desafio representado pelo pluralismo epistêmico. Até certo ponto, o fato do pluralismo cultural
também significa que o mundo se revela e é interpretado de modo diferente segundo as
perspectivas dos diversos indivíduos e grupos - pelo menos em um primeiro momento. Uma
espécie de pluralismo interpretativo afeta a visão de mundo e a autocompreensão, bem como a
percepção dos valores e dos interesses das pessoas cuja história individual tem suas raízes em
determinadas tradições e formas de vida e é por elas moldada".
402
HABERMAS, Jürgen. La necesidad de Revisión de la Izquierda. Madrid: Tecnos, 1996.
p.207.“[…] considerar algo desde un punto de vista Moral significa que nos elevamos nuestra
propia comprensión del mundo y de nosotros mismos a criterio de universalización de una forma
de acción, sino que examinamos su universalizabilidad también desde la perspectiva de todos los
demás. Esta exigente operación cognitiva apenas sería posible sin esa simpatía generalizada,
capaz de sublimarse en capacidad de empatía y de apuntar más allá de nuestros vínculos
afectivos con las personas primarias de referencia, que nos abre los ojos para la “diferencia”, es
decir, para la peculiaridad y peso propio del otro que se atiene a su “otridad””.
158
403
APEL, Karl-Otto. Ética do Discurso como Ética da Responsabilidade. Cadernos de Tradução
nº 3. São Paulo: USP, 1998. p.13:“[...] pressuponho de antemão que a argumentação – assim
como o pensamento nela expresso com pretensão de validade – é iniludível na Filosofia. O
discurso argumentativo não pode ser recusado por um cético ou relativista no sentido em que se
poderia encontrar ali um contra-argumento à possibilidade de uma fundamentação filosófica
última. Não poderíamos saber nada de um cético que não argumenta. Eu também pressuponho
naturalmente que o iniludível discurso argumentativo da Filosofia tem seriedade e é tematicamente
ilimitado. Nesse sentido, é preciso ficar claro, a todo participante do discurso, que o discurso tema
função de conseguir soluções obrigatórias de todas as questões pensáveis eu possam ser
levantadas no mundo vivo. Ele não é, portanto, algo como um jogo auto-suficiente, mas a única
possibilidade existente para nós humanos de solucionar, por exemplo, conflitos sobre pretensões
de validade sem o uso da força. E materialmente também é pressuposto que todos os
participantes do discurso estejam em princípio interessados na solução de todas as questões de
validade pensáveis, e não estão interessados em instrumentalizar o discurso com os outros
somente para seus fins, assim como se pode explorar, em um discurso estrategicamente limitado,
o saber do especialistas”.
404
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.56: “[...] só podem
aspirar por validade as normas que puderem merecer a concordância de todos os envolvidos em
discursos práticos”.
405
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p.133: “Já se tentou
desacreditar a possibilidade do discurso (ou de sua racionalidade) dizendo-se que um
convencimento puramente racional é impossível. Mas não se pode fazer essa afirmação sem
cometer uma contradição performativa: não se pode afirmar que o discurso é impossível a não ser
no discurso”.
406
APEL, Karl-Otto. Ética do Discurso como Ética da Responsabilidade. Cadernos de Tradução
nº 3. São Paulo: USP, 1998: p.14:“A meu ver, nos já pressupomos, em toda questão séria no
plano do discurso filosófico, a co-responsabilidade – a própria e a de todos os participantes
potenciais do discurso: e isso significa também aqueles problemas que – pensados sem a forma
de reflexão do discurso – no mundo vivo só poderiam ser resolvidos através do combate ou da
negociação estratégica. A seguir, com todo argumento sério, que nolens volens antecipa relações
de comunicação, nós sempre reconhecemos já além da co-responsabilidade, também a igualdade
de princípios dos direitos de todos os participantes da comunicação. Pois nós sempre supomos
necessariamente a meta do discurso como sendo a consensualidade (universal) de todas as
159
proferir algo aqui e agora sem pressupor certas condições, quais sejam algumas:
a de que há racionalidade entre os intérpretes, de que há liberdade temática,
possibilidades de resgate discursivo do pano-de-fundo hermenêutico.
408
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989. p.130-131.
409
HABERMAS, Jürgen. HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002.
p.39: “Sob o ponto de vista ético nós esclarecemos, portanto, questões clínicas de uma vida que
está sendo bem-sucedida, ou melhor, que não está indo pelo caminho errado, as quais se
colocam no contexto de determinada forma de vida ou de uma história de vida individual. A
reflexão prática é executada na forma de um auto-entendimento hermenêutico. Ela articula
valorações fortes, pelas quais orienta-se minha autoconsciência. A crítica das auto-ilusões e dos
sintomas de uma forma de vida forçada ou alienada mede-se na idéia de uma vida consciente e
coerente. Aqui, a autenticidade de atos expressivos de linguagem, pode ser compreendida como
um pretensão de validade de grau mais elevado[...] do ponto de vista ético, a liberdade de vincular
meu arbítrio a máximas da prudência se transforma na liberdade de decidir-me por uma vida
autêntica”.
410
HABERMAS, Jürgen. Comentários à Ética do Discurso. Instituto Piaget: Lisboa, [s.d.]. p.112-
113: “Nos discursos ético-existenciais a razão e a vontade determinam-se reciprocamente, sendo
que a vontade permanece enraizada no contexto tematizado da história de vida. Nos processos de
autocompreensão, os intervenientes não se podem desligar da história ou da forma de vida que,
de facto, se encontram. Os discursos prático-morais exigem, em contrapartida, uma fractura com
todas as evidências dos costumes concretos e estabelecidos, assim como um distanciamento em
relação àqueles contextos práticos com os quais a identidade individual está entretecida de forma
inextricável. É unicamente a partir dos pressupostos comunicativos de um discurso de âmbito
universal, no qual todos os eventuais indivíduos envolvidos possam tomar parte e assumir uma
161
412
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.192.
413
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.194.
163
habermasiano, não ser desejável em certo ponto, porque o Direito vai regular uma
sociedade concreta que tem seus desejos e compromissos específicos. Deste
modo, impossível uma “simetria” entre justiça e ordenamento jurídico, muito
embora este seja altamente permeável àquela. E, neste mesmo sentido, incorreta
a avaliação acerca da justiça ou injustiça de uma norma como fundamento de sua
validade, uma vez que a observância de sua origem democrática que vai
possibilitar uma adesão racional. A Gestão Pública Compartida, importa adiantar,
serve tanto à Moral quanto à Ética específica da comunidade, pois é abertura à
processualização dos mais diversos argumentos em busca de uma decisão
racional.
Essa mesma razão prática que faz uso de um poder comunicativo assume
diferentes configurações conforme o tipo de argumentação que se coloca, e isto é
importante para um futuro aclaramento da Gestão Pública Compartida415.
414
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.199.
415
HABERMAS, Jürgen. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.p.14-15: "O que pesa sobre as decisões dos participantes de um discurso prático é a
força de obrigatoriedade daquela espécie de razões que, em tese, podem convencer a todos
igualmente - não só as razões que refletem as minhas preferências, ou as de qualquer outra
pessoa, mas as razões à luz das quais todos os participantes podem descobrir juntos, dado um
assuntos que precisa ser regulamentado, qual a prática que pode atender igualmente aos
interesses de todos'”.
416
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
164
Uma política ética, todavia, não pode deixar de ser permeada por uma idéia
de justiça, em um câmbio da pergunta “que devemos fazer” para “que” tomado
universalisticamente, ou seja, “uma norma só é justa, quanto todos podem querer
que ela seja seguida por qualquer pessoa em situações semelhantes”418.
Questões de justiça são, por isso, questões morais, onde
Discursos pragmáticos
Discursos morais
Discursos jurídicos
420
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.209.
166
Por óbvio, e Habermas ressalta isso de maneira bem forte, visível e clara,
que as normas geradas por esse fluxo comunicativo terão de passar por um teste
de coerência com o restante do ordenamento: “Isso implica, no final das contas,
um controle das normas, quando se examina a possibilidade de os novos
programas se encaixarem no sistema jurídico vigente”422. A estrutura da
argumentação Moral e do seu desenvolvimento são importantes, todavia, para
que se torne a visualização do entrelaçamento entre princípio discursivo e o meio
jurídico.
conectam em certa medida. Outro ponto a ser mensurado pela separação referida
diz respeito à relação dicotômica entre dois fenômenos sociais: Direito e
Economia. O paradigma que se estabelece entre ambos é que, enquanto através
do Direito se busca regular e disciplinar a Economia, esta, por outro lado, dirige-
se em forma de um sistema que dificilmente pode ser regulado pelo Direito.
425
HABERMAS, Jürgen. La necesidad de Revisión de la Izquierda. Madrid: Tecnos, 1996: “El
contenido normativo de la Ilustración se expreso en las ideas de autoconciencia,
autodeterminación y autorrealización. Pero la “frialdad” burguesa, de que habla Adorno, interpretó
ese “auto” en el sentido de subjetividad y autoafirmación, en el sentido de un individualismo
dispuesto a instrumentalizar todo y someter todo a su servicio. Y así, esas ideas acabaron
haciéndose dudosas. Tal duda se ha vuelto hoy omnipresente; pues se nutre de las experiencias
suministradas por una sociedad supercompleja, explotadora, caracterizada por .los riesgos que
dimanan de su propia opacidad e inabarcalidad. De los contextos sociales mismos y no ya
directamente de la naturaleza es de donde brotan hoy las contingencias que nos abruman o
avasallan. El marxismo funcionalista, el estructuralismo y esa teoría de sistemas que se ha hecho
cargo de l herencia de ambas reflejam en la propia construcción de la teoría esa experiencia de
impotencia. Luhmann lo dice: todo es posible y, sin embargo, cabe emprender muy poco”. p.29.
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.126.
169
427
E visões de mundo, aquilo que Rawls chama de “doutrinas abrangentes”, ou doutrinas que
preenchem, os significados e possibilidades do mundo da vida. Essas doutrinas podem ou não
serem razoáveis. As que não são razoáveis são dogmáticas. As razoáveis levam em conta o “fato
do pluralismo”. “Não se deve esquecer que as doutrinas abrangentes razoáveis são as que
reconhecem as ‘dificuldades da razão’ e que aceitam o fato do pluralismo como uma das
condições da existência humana em instituições democráticas e livres, que, portanto, aceitam a
liberdade de pensamento e a liberdade de consciência”. RAWLS, John. Justiça e Democracia.
São Paulo: Martins Fontes, 2000. p.357-358.
428
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.128.
170
deste vínculo de ligação entre as pessoas, onde todos assumiram uma parcela de
responsabilidade pelo grupo, por sentirem-se parte deste, que possibilitou a
formação de uma estrutura jurídica que viabilizava, além de ações privadas, a
defesa de direitos políticos e sociais.
A Nação tem duas faces. Ao passo que a nação dos cidadãos ligados ao
Estado, fruto da vontade, é fonte de legitimação democrática, a nação de
compatriotas, gerada de maneira espontânea, provê a integração social.
Os cidadãos, por força própria, constituem a associação política entre os
livres e iguais; os compatriotas encontram-se em uma comunidade
cunhada por uma língua e história em comum. Permitiu-se que a tensão
entre o universalismo de uma comunidade jurídica igualitária e o
particularismo de uma comunidade histórica que partilha um mesmo
429
destino ingressasse na conceitualidade do Estado nacional .
429
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.132.
430
HABERMAS, Jürgen. Diagnósticos do Tempo: seis ensaios. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2005. p.110: “O nacionalismo constitui, na forma que assumiu a Europa desde o final do século
CVIII, uma forma moderna de identidade coletiva. Após a queda do Ancien Regime e após a
dissolução das ordens tradicionais da sociedade burguesa inicial, os indivíduos se emanciparam,
apelando para liberdades cidadãs abstratas. Além disso, a massa dos indivíduos liberados torna-
se móvel – não somente no âmbito político como um conjunto de cidadãos, mas também na área
econômica, como força de trabalho; no campo militar, os cidadãos são obrigados ao serviço militar
e, na esfera da cultura, são obrigados à escolarização, aprendendo a ler e a escrever e sendo
absorvidos pela esteira da comunicação de massa e da cultura de massa. Nesta situação, o
nacionalismo satisfaz à necessidade de novas identificações. Ele se distingue, em vários
aspectos, de formações de identidade mais antigas. Em primeiro lugar, as idéias fundadoras da
identidade surgem de uma herança profana, independente da Igreja e da religião, preparada e
mediada através das ciências do espírito que se anunciavam na época. Elas abrangem, de modo
análogo, todas as camadas da população e se apóiam numa forma reflexiva, auto-ativa, de
apropriação da tradição. Em segundo lugar, o nacionalismo preserva a herança comum da
linguagem, da literatura e da histórica junto com a forma de organização do Estado. E o Estado
171
nacional democrático, oriundo da Revolução Francesa, continua sendo o modelo pelo qual todos
os movimentos nacionalistas se orientam”.
431
SCHMITT, Carl. O conceito do Político. Petrópolis: Vozes, 1992. p.56: “O antagonismo
político é a mais intensa e extrema contraposição e qualquer antagonismo concreto é tanto mais
político quanto mais se aproximar do ponto extremo, do agrupamento amigo-inimigo. No interior do
Estado, enquanto unidade política organizada que, como um todo, coincide com a distinção
amigo-inimigo, e, além disso, ao lado das decisões primariamente políticas e sob a proteção das
decisões tomadas, produzem-se numerosos conceitos secundários de "político"”
432
HABERMAS, Jürgen. Diagnósticos do Tempo: seis ensaios. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2005. p.111: “A forma da identidade nacional exige que cada nação se organize num Estado, a fim
de se tornar independente. Contudo, na realidade histórica, a idéia de um Estado abrangendo uma
população nacionalmente homogênea jamais passou de mera ficção. O próprio Estado nacional é
o princípio gerador dos movimentos autonomistas, nos quais as minorias nacionais oprimidas
lutam por seus direitos. E à medida que o Estado nacional submete às minorias à sua
administração central, ele se coloca em oposição às premissas da autodeterminação, às quais ele
mesmo apela. Uma contradição semelhante perpassa a consciência histórica em cujo meio se
forma a consciência de uma nação”.
172
valores a priori como se fosse possível captar a “vontade” da nação. Isso vai
demonstrar e valorizar a participação através do procedimento em instâncias mais
concretas que vão materializar as vagas palavras da Constituição.
433
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.231.
173
434
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.245.
174
435
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.249.
436
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.251: “O caminho do
Direito estatal nada pode senão possibilitar essa conquista hermenêutica da reprodução cultural
de universos vitais. Pois uma garantia da sobrevivência iria justamente privar os integrantes da
liberdade de dizer sim ou não, hoje tão necessária à apropriação e manutenção de uma herança
cultural. Sob as condições de uma cultura que se tornou reflexiva, só conseguem manter as
tradições e formas de vida que vinculem seus integrantes, e isso por mais que fiquem expostas à
provação crítica por parte deles, e por mais que dêem às novas gerações a opção de aprender
com as outras tradições, ou mesmo converter-se a elas e migrar, portanto, para outras paragens
[grifos do autor]”.
175
437
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.252.
438
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p.209: “Realizar projetos de
vida alternativos juntamente com aquele majoritário só é possível se concebermos as normas que
fundamentam essa tarefa do Direito como princípios. Temos de conceber a norma que prescreve
a igualdade como um princípio jurídico porque a maneira pela qual essa igualdade se realiza no
mundo pode gerar conflitos entre projetos alternativos, que precisam ser também realizados, se
não quisermos que se esvaziem e se extingam”.
439
Já em 1990, Habermas antecipava sua opinião posterior: “A existência de sociedades
multiculturais, tais como a Suíça e os Estados Unidos, revela que uma cultura política, construída
sobre princípios constitucionais, não depende necessariamente de uma origem étnica, lingüística e
cultural comum a todos os cidadãos. “Uma cultura política liberal forma apenas o denominador
comum de um patriotismo constitucional capaz de agudizar, não somente o sentido para a
variedade, como também a integridade das diferentes e coexistentes formas de vida de uma
sociedade multicultural. Numa futura República Federal dos Estados Europeus, os mesmos
princípios jurídicos terão que ser interpretados nas perspectivas de tradições e de histórias
nacionais diferentes. A própria tradição tem que ser assimilada numa visão relativizada pelas
perspectivas dos outros, para que possa ser introduzida num cultura constitucional transnacional
da Europa Ocidental. E uma ancoragem particularista deste tipo não diminuiria, num só ponto, o
sentido universalista dos direitos humanos e da soberania popular. Portanto, não há o que mudar:
não é necessário amarrar a cidadania democrática à identidade nacional de um povo; porém,
prescindindo da variedade de diferentes formas de vida culturais, ela exige a socialização de todos
os cidadãos numa cultura política comum [grifos do autor]”. HABERMAS, Jürgen. Direito e
Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p.289.
176
440
A referência aqui é a cultura americana que se formou com a revolução: “Primeiro as idéias de
liberdade religiosa e política formadas nos países germânico-protestantes mudaram-se para a
Europa, por sobre o Atlântico, para a América, para então, migrar novamente de volta para o leste
em 1789. As idéias de liberdade, no entanto, retornaram à Europa apenas depois de terem sido
filtradas através do meio multiconfessional e multicultural de imigrantes da sociedade americana e
purificadas das “impurezas” [Beimischungen] confessionais bem como nacionais”. HABERMAS,
Jürgen. A Constelação Pós-Nacional. São Paulo: Littera Mundi, 2001. p. 24
441
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.136.
442
HABERMAS, Jürgen. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. p.35: "A cidadania é uma posição definida pelos direitos civis. Mas temos de
considerar também que os cidadãos são pessoas que desenvolveram sua identidade pessoal no
contexto de certas tradições, em ambientes culturais específicos, e que precisam desses
contextos para conservar sua identidade. Em determinadas situações, devemos portanto ampliar o
âmbito dos direitos civis para que inclua também os direitos culturais. Esses são direitos que
garantem igualmente a todos e a cada um dos cidadãos o acesso a uma tradição e à participação
nas comunidades culturais de sua escolha, para que possam estabelecer sua identidade. Essa
ampliação diz respeito ao acesso em um ambiente cultural. Esse modelo, como é óbvio, leva em si
o perigo intrínseco da fragmentação".
177
443
HABERMAS, Jürgen. A Era das Transições. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p.158.
178
444
HABERMAS, Jürgen. A Era das Transições. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p. 165.
445
HABERMAS, Jürgen. A Constelação Pós-Nacional. São Paulo: Littera Mundi, 2001.p. 98: “Os
direitos fundamentais liberais e políticos fundamentam um status de cidadania que é auto-
referencial na medida em que autoriza os cidadãos, reunidos democraticamente, a aperfeiçoarem
o seu status pela via da legislação. A longo prazo, apenas um processo democrático que cuide de
um aparelho adequado de direitos divididos de modo justo pode valer como legítimo e instituir
solidariedade. Para permanecer uma fonte de solidariedade, o status de cidadão deve manter um
valor de uso e também se fazer pagar na moeda dos direitos sociais, ecológicos e culturais. Nesse
sentido, a política de bem-estar social assumiu uma função de legitimação não desprezível [grifos
do autor]”.
446
HABERMAS, Jürgen. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2004: "Uma comunidade não pode se fragmentar na multiplicidade de suas subculturas, e
penso que isso só pode ser permitido sob a condição de que todos os cidadãos possam se
reconhecer numa única cultura política que transcenda as fronteiras de suas diversas subculturas.
Para tanto, é preciso que a cultura política seja pelo menos um pouco separada das diversas
subculturas". p.36.
179
447
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.126.
448
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.127.
449
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.129: “Para a
mobilização política que ocorreu foi necessária uma idéia cuja força fosse capaz de integrar as
consciências morais, com um apelo ainda mais forte aos corações e ânimos do que aquele
exercido pela soberania popular e os direitos humanos. Essa lacuna é preenchida pela idéia de
nação. É ela que torna consciente aos habitantes de um mesmo território a nova forma de
pertença a um todo, política e juridicamente mediada. Apenas a consciência nacional que se
cristaliza em torno da percepção de uma ascendência, língua e história em comum, apenas a
consciência de se pertencer a “um mesmo” povo torna os súditos cidadãos de uma unidade
política partilhada – torna-os, portanto, membros que se podem sentir responsáveis uns pelos
180
ao redor da nação, criou-se, desde a paz westfaliana até hoje, uma solidariedade
entre estranhos.
outros”. A abordagem aqui tratada gira em torno da mitificação das identidades coletivas.
Habermas, contudo, não vê a questão fragmentariamente; pelo contrário, aceita o pluralismo das
visões de mundo. Parece, contudo, que considera uma visão mitificada ou patológica quando esta
se fecha para o Outro (ou não é razoável, numa linguagem rawlsiniana). CITTADINO, Gisele.
Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. p.177:
“Ressalte-se, por outro lado, que ao recusar uma concepção comunitária de Constituição
enquanto ordem concreta de valores, isto não significa que Habermas opte por uma proposta
liberal de Constituição como ordenamento-garantia assegurador de um âmbito de liberdades
negativas. Segundo ele, a Constituição, ao configurar um conjunto de Direitos Fundamentais,
contextualiza princípios universalistas e, assim, transforma-se na única base comum a todos os
cidadãos. Em outras palavras, em mundos pós-convencionais, onde indivíduos não integram
sólidas comunidades étnicas ou culturais, são as Constituições que, incorporando um sistema de
direitos, podem conformar uma “nação de cidadãos”. É a partir desta argumentação que
Habermas formula a concepção de patriotismo constitucional enquanto modalidade pós-
convencional de conformação de uma identidade coletiva”
450
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.132.
181
451
Habermas critica a idéia de Carl Schmitt acerca de nação: “É certo que a Democracia só pode
ser exercida como um práxis comunitária. Mas Schmitt não constrói essa comunidade como a
intersubjetividade de grau superior de um acordo mútuo entre cidadãos, que se reconhecem
reciprocamente como livres e iguais. Ele a coisifica enquanto homogeneidade dos membros de um
povo”. HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.154. Parece certo
que a exemplificação vem do caso extremo alemão. O sentimento cultural, em outros Estados,
contudo, não parece ser muito diferente.
452
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. São Paulo: Loyola, 2002. p.181.
182
453
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2004. p. 210: "No entanto, pode-se dizer que, dos direitos que compõem a
cidadania, no Brasil são ainda os civis que apresentam as maiores deficiências em termos de seu
conhecimento, extensão e garantias. A precariedade do conhecimento dos direitos civis, e também
dos políticos e sociais, é demonstrada por pesquisa feita na região metropolitana do Rio de
Janeiro em 1997. A pesquisa mostrou que 57% dos pesquisados não sabiam mencionar um só
direito e só 12% mencionaram algum direito civil. Quase a metade achava legal a prisão por
simples suspeita. A pesquisa mostrou que o fator mais importante no que se refere ao
conhecimento dos direitos é a educação. O desconhecimentos dos direitos caía de 64% entre os
entrevistados que tinham até a 4ª série para 30% entre os que tinham o terceiro grau, mesmo que
incompleto. Os dados revelam ainda que educação é o fator que mais bem explica o
comportamento das pessoas no que es refere ao exercício dos direitos civis e políticos".
454
SCHMIDT, João Pedro. Condicionantes Culturais das Políticas Públicas no Brasil. In: LEAL,
Rogério Gesta; et al (org.) Direitos Sociais e Políticas Públicas: desafios contemporâneos.
Santa Cruz: Edunisc, 2001. p.309.
455
SCHMIDT, João Pedro. Condicionantes Culturais das Políticas Públicas no Brasil. In: LEAL,
Rogério Gesta; et al (org.) Direitos Sociais e Políticas Públicas: desafios contemporâneos.
Santa Cruz: Edunisc, 2001. p.297-298: “Um conjunto de pesquisas e surveys recentes mostram
uma convergência em torno de um conjunto de traços fundamentais que configuram o que
denomino de cultura política híbrida:
(i) há um apoio difuso ao regime político democrático – os cidadãos tem demonstrado uma
preferência majoritária pela Democracia frente à ditadura ou outro regime político, bem como a
rejeição à hipótese do retorno dos militares ao poder;
(ii) o voto é valorizado como mecanismo de escolha dos dirigentes políticos;
(iii) a confiança nos agentes e nas instituições políticas existentes é muito pequena, bem menor do
183
ser domesticado pelo Direito e este tem não pode ser autoprogramável, tendo de
ser informado por considerações políticas457. Um ponto polêmico em Habermas,
pelo menos em Direito e Democracia, é que é ele seria um tanto quanto
estadocêntrico:
Isso demonstra que nem uma mera forma jurídica instaura o Direito, mas
tampouco ele pode ser metafisicamente deduzido como espelho de uma Moral
superior. Direito e poder pressupõem-se mutuamente, vez que o poder seria
disforme e ilegítimo sem o Direito, e, este, sem poder, seria nada mais que uma
linguagem vazia. Esta questão se comunica novamente com o problema de
coordenação da ação. Claro que, neste contexto, a argumentação aqui traçada já
pressupõe tanto poder quanto Direito diferenciados, ou seja, pressupõe a
modernidade459. Assim, de um lado, as trocas permitem o conhecimento de
demandas sociais, mas, por outro lado, os procedimentos de criação do Direito
possuem uma força motivadora, mesmo que pequena, nas palavras de
Habermas. O reconhecimento de uma pretensão de validade e a formação de um
vínculo ilocucionário “cria uma nova realidade social”460. Nesse sentido, a
descrição de Habermas é mais complexa do que a constatação de uma
confluência de expectativas, vez que permite observar a formação de vínculos
sociais políticos.
processos democráticos”.
457
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.169.
458
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.171.
459
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.182.
460
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.186.
185
Como poder e Direito estão em interligação, o poder político vai ter de estar
constituído juridicamente, assim como o Direito tem de ser legitimamente
estatuído por uma decisão democrática. O Direito não é apenas o código
institutivo para o poder, é também o meio que transforma o poder comunicativo
em administrativo.
461
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.212.
462
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.221.
186
463
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.235.
464
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.I. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.239.
187
465
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola,
2002. p.242
466
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola,
2002. p.286-287: “Dessa maneira cria-se uma relação conceitual entre o caráter coercivo e a
modificabilidade do direito positivo, por um lado, e um modo de estabelecimento do direito capaz
188
se exija comportamentos legais, o Direito precisa ser legítimo, pois tem de ser
constituído de modo a que seja possível a obediência por simples respeito. Isso
só é possível quando os destinatários se entendem como feitores da legislação467.
de gerar legitimidade, por outro. Por isso, de um ponto de vista normativo subsiste não apenas
uma relação historicamente casual entre a teoria do direito e a teoria da Democracia, mas sim
uma relação conceitual ou interna”.
467
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola,
2002. p.242-243: “É bem verdade que o direito positivo só exige comportamentos legais; no
entanto, ele precisa ser legítimo: embora dê margem aos motivos da obediência jurídica, deve ser
constituído de maneira que também possa ser cumprido a qualquer momento por seus
destinatários, pelo simples respeito à lei. Uma ordem jurídica é legítima quanto assegura por igual
a autonomia de todos os cidadãos. E os cidadãos só são autônomos quando os destinatários do
direito podem ao mesmo tempo entender-se a si mesmos como autores do direito. E tais autores
só são livres enquanto participantes de processos legislativos regrados de tal maneira e cumpridos
sob tais formas de comunicação que todos possam supor que regras firmadas desse modo
mereçam concordância geral e motivada pela razão”.
468
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola,
2002. p.243: “Do ponto de vista normativo, não há Estado de direito sem Democracia. Por outro
lado, como o próprio processo democrático precisa ser institucionalizado juridicamente, o princípio
da soberania dos povos exige, ao inverso, o respeito a direitos fundamentais sem os quais
simplesmente não pode haver um direito legítimo: em primeira linha o direito a liberdades de ação
subjetivas iguais, que por sua vez pressupõe uma defesa jurídica individual e abrangente”.
189
469
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.9.
470
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.19.
471
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.21.
472
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.22
473
LEAL, Rogério Gesta. Estado, Administração Pública e Sociedade: novos paradigmas. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p.28: “É Habermas que, novamente, vem desenhar os
quarantes desta realidade, ao dizer que desde o modelo mais liberal do Estado de Direito, nós
constatamos que a soberania popular não se encontra mais encarnada no conjunto de cidadão
reunidos em assembléias de forma autônoma e perfeitamente identificáveis, mas ela migra para
190
475
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.33.
476
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.92.
192
Por que é uma teia capaz de captar discursos que irão confluir na
transformação em Direito, a esfera pública não pode deixar de se formar a partir
dos contextos das pessoas virtualmente atingidas. Na medida em que os
atingidos confluem em opinião em interações cotidianas em uma esfera privada e
espontânea, determinadas opiniões emergem à esfera pública, tornando-se
disponíveis ao debate479.
477
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.92.
478
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.96.
479
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.97-98: “No início, tais experiências são elaboradas de modo “privado”,
isto é, interpretadas no horizonte de uma biografia particular, a qual se entrelaça com outras
biografias, em contextos de mundos da vida comuns. Os canais de comunicação da esfera pública
engatam-se nas esferas da vida privada – as densas redes de interação da família e do círculo de
amigos e os contatos mais superficiais com vizinhos, colegas de trabalho, conhecidos, etc. – de tal
modo que a orientação pelo entendimento, que prevalece na prática cotidiana, continua valendo
também para uma comunicação entre estranhos, que se desenvolve em esferas públicas
complexas e ramificadas, envolvendo amplas distâncias [grifos do autor]”.
193
480
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.99.
481
HABERMAS, Jürgen. La necesidad de Revisión de la Izquierda. Madrid: Tecnos, 1996. p.30:
“Incluso los movimientos sociales se convierten hoy en motor de la pluralización e
individualización. Pero la alabanza de la pluralidad, la apología de lo contingente y lo privado, el
elogia de la ruptura y la discontinuidad, de la diferencia y del instante, la rebelión de los márgenes
contra los centros, la apelación a lo extracotidiano frente a la trivialidad, nada de ello puede
convertirse en huida frente a problemas que, si tienen solución, sólo pueden tenerla a la luz del
día, cooperativamente, recurriendo a los últimos arrestos de una solidaridad casi exhausta. Pero
¿qué poden las nuevas mitologías en lugar de autodeterminación y la solidaridad?”
194
482
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.107.
483
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.114: “Em caso normal, os temas e sugestões seguem um caminho que
corresponde mais ao primeiro e ao segundo modelos, menos ao terceiro. Enquanto o sistema
político for dominado pelo fluxo informal do poder, a iniciativa e o poder de introduzir temas na
ordem do dia e de torná-los maduros para uma decisão, pertence mais ao governo e à
administração que ao complexo parlamentar; e enquanto os meios de comunicação de massa,
contrariando sua própria autocompreensão normativa, conseguirem seu material dos produtores
de informações – poderosos e bem organizados – e enquanto eles preferirem estratégias
publicitárias que diminuem o nível discursivo da circulação pública da comunicação, os temas em
geral serão dirigidos numa direção centrífuga, que vai do centro para fora, contrariando a direção
que se origina na periferia social”.
484
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1997. p.184.
485
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. v.II. Rio de Janeiro:
195
É nesse sentido que este trabalho vai confluir nas próximas temáticas
abordadas, ao explorar o arcabouço teórico escolhido para enfrentar o tema da
lógica da argumentação. Esta lógica da argumentação é de extrema importância
para a questão da Gestão Pública Compartida, não só por se referir às estruturas
utilizadas para os fins de convencimento em qualquer assunto (por exemplo,
Política ou Direito), mas também porque estará no âmago da argumentação que
se refere à oportunidade de Gestão Pública Compartida, como será visto no
último capítulo.
488
HABERMAS, Jürgen. Pensamento Pós-Metafísico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.
p.68.
489
A verdade para Habermas apresenta cunho processual-consensual: "Como alternativa à teoria
ontológica da verdade (teoria da correspondência), Habermas apresenta a "teoria consensual da
verdade". De acordo com ela, só posso atribuir um predicado a um objeto quando qualquer outro,
que pudesse dialogar, também o pudesse aplicar. Portanto, para distinguir sentenças verdadeiras
e falsas é necessária a referência ao "julgamento de outros", a saber, ao “julgamentos de todos os
outros com os quais eu poderia dialogar. A condição de verdade das sentenças é o acordo
potencial de todos os outros. Faticamente, contudo, só posso controlar minhas afirmações por
meio do acordo de muitas pessoas, que devem ser competentes para fazer o julgamento".
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994. p.310. O acordo só é possível em uma situação onde a fala é livre e os
participantes são informados. Tal situação, praticamente impossível na prática, é antecipada
contrafacticamente, para possibilitar o uso de proposições como se fossem verdade (uma vez que
sem o dado "verdade" grande parte das interações não seriam possíveis). A estrutura das
afirmações "objetivas" são muito parecidas, nessa visão, com as estruturas de enunciação de
proposições não-assertóricas, como a fundamentação e aplicação de normas (morais, éticas e
jurídicas), motivo pelo qual a pretensa vantagem de "objetividade" das ciências "duras" sobre as
"moles" se esvai. Enunciados expressivos, contudo, continuam no domínio da subjetividade (muito
197
embora também se alimentem de representações sociais). "A teoria, segundo Habermas, jamais
pode justificar diretamente a ação política. A preocupação principal é perseguir o "melhor
argumento", e, por essa razão, o problema central da Democracia não é a descoberta de alguma
solução favorável ou de um padrão para classificar valores incomensuráveis; é a formação de um
consenso "pós-convencional" [...] por meio do qual todos os atingidos por uma decisão devem ter
dela participado. Logo, as normas podem ser validadas apenas na medida em que todos os
participantes, em potencial, de um discurso prático concordem com elas". BRONNER, Stephen
Eric. Da Teoria Crítica e seus Teóricos. São Paulo: Papirus, 1997. p.357.
490
HABERMAS, Jürgen. Dialética e Hermenêutica. Porto Alegre: LPM, 1987. p.68-69: "Ora, nós
temos motivo para supor que o consenso de fundo das tradições enraizadas e dos jogos de
linguagem habituais pode ser uma consciência integrada por coação, um resultado de
pseudocomunicação, não só no caso particular dos sistemas familiares perturbados, mas também
em sistemas de sociedade global. A liberdade de movimento de uma compreensão hermenêutica
alargada para a crítica (zur Kritik erweiterten) não pode por isso ficar presa ao espaço de jogo
tradicional das convicções vigentes [...] O esclarecimento (Aufklärung), que produz uma
compreensão radical, é sempre político. Está claro que também a crítica permanece vinculada ao
198
reconheça a sinceridade do falante, e uma tal questão não seria uma questão de
verdade propriamente, mas sim uma questão de sinceridade. Mas um ato de fala
tal como “o ensino fundamental é um direito público-subjetivo” (ação regulativa)
ou “ainda existem crianças analfabetas” (ação constatativa) necessita de
validação intersubjetiva, isto é, a aceitação de uma comunidade crítica. Não existe
um acesso à verdade e nem um acesso à correção que não seja mediado
lingüisticamente.
493
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.46.
200
494
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994. p.124.
495
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004. p
.255: “Visto que todos os discursos reais, que se desenrolam no tempo, são provincianos em
relação ao futuro, não podemos saber se os enunciados que hoje, mesmo em condições
aproximativamente ideais, são racionalmente aceitáveis se afirmarão também no futuro contra
tentativas de refutação. Por outro lado, esse mesmo provincianismo condena nosso espírito finito
a se contentar com a aceitabilidade racional como uma prova suficiente da verdade [...]”.
496
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994. p.103: ”El asentimiento fáctico de unas cuantas personas a las que me es
posible acceder, podrá contar tanto más con el asentimiento de otros críticos cuanto menos sean
las razones que yo y otros tengamos para dudar de su competencia de juicio”.
497
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004.
p.49.
201
ser o mais hígido, mais racional498 e mais honesto possível a fim de que gere uma
certeza na criticidade dos falantes499.
498
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004.
p.104: “Isso não significa que opiniões ou convicções racionais sempre se constituem de juízos
verdadeiros. Quem compartilha concepções que se revelam falsas não é eo ipso irracional;
irracional é quem defende suas opiniões dogmaticamente, se prende a elas mesmo vendo que
não pode fundamentá-las”.
499
APEL, Karl-Otto. Transformação da Filosofia II: o a priori da comunidade de comunicação.
São Paulo: Loyola, 2000. p.480: “Quem argumenta reconhece implicitamente todas as
reivindicações possíveis de todos os membros da comunidade de comunicação que se podem
justificar por meio de argumentos racionais (pois do contrário o anseio da argumentação iria
restringir tematicamente a si mesmo), e ainda se compromete, ao mesmo tempo, a utilizar-se de
argumentos para justificar todos os próprios anseios que dirige aos outros. Além disso, ao meu
ver, os membros da comunidade comunicacional (e isso quer dizer implicitamente: todos os seres
pensantes) também estão obrigados a levar em consideração todas as virtuais reivindicações de
todos os virtuais membros da comunidade – ou seja: todas as “carências” humanas, desde que
seja possível para elas apresentar quaisquer reivindicações para os demais seres humanos”.
500
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994. p.153
501
HABERMAS, Jürgen. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. p.62-63.
202
502
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994.p.105.
503
THOMPSON, John B. Critical Hermeneutics: a study in the thought of Paul Ricoeur and
Jürgen Habermas. Cambridge University Press: New York, 1990. p.201: “Habermas maintains that
the ideal speech situation is a necessary presupposition of linguistic communication. The argument
in support of this thesis may be reconstructed in seven steps:
(1) The process of communication implies that it is possible for at least two subjects to come to
an agreement about a state of affairs.
(2) To come to an agreement implies that it is possible to distinguish between a genuine and a
deceptive agreement.
(3) A genuine agreement is an agreement induced by the force of argument alone.
(4) The force of better argument prevails if and only if communication is not hindered through
external and internal constraints.
(5) Communication is not hindered through internal constraints if and only if for all potential
participants there is a symmetrical distribution of chances to select and employ speech-acts.
(6) A situation in which there is a symmetrical distribution of chances to select and employ
communicative, constative, representative and regulative speech-acts is an ideal speech situation.
Therefore, the process of communication implies the possibility of an ideal speech situation”.
203
decisionista de racionalidade prática. Não é qualquer decisão que vale, mas sim
uma decisão racional, e a decisão racional implica várias coisas. Note-se que aqui
o círculo argumentativo que vem desde o primeiro capítulo vai se fechando, pois
agora já é possível dizer com certeza que um discurso prático é racional, como
analisá-lo, bem como quais são as condições institucionais mínimos para que os
procedimentos de tomada de decisões em sede de Gestão Pública Compartida
ocorra de maneira a gerar legitimidade. Já foram observados rapidamente quais
são as condições epistemológicas para que se gere uma decisão racional no que
toca a questões de verdade. Falta examinar a estrutura argumentativa e
epistemológica das questões de retidão, as quais serão imprescindíveis para a
fundamentação de um regime jurídico da Gestão Pública Compartida. Note-se, no
quadro abaixo, diferenças entre os dois tipos de discursos:
504
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994. p.152.
204
505
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics. Cambridge:
Mit press, 2001. p.39.
506
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004.
p.269
205
507
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p.121: “A correção normativa,
por sua vez, não pode ser verificada no mesmo sentido que a verdade. Não se trata, aqui, de
verificar as proposições normativas, comparando-as com a “realidade” ou de verificá-las por meio
de “experimentos”. O que podemos averiguar é apenas as razões que as sustentam, o que nunca
pode ser feito de forma definitiva e absoluta. Por isso, qualquer tentativa de identificar as duas
pretensões representa uma forma contemporânea de Positivismo, assim como representa uma
forma contemporânea de Positivismo utilizar elementos do mundo objetivo (e, portanto, de
proposições com pretensão de verdade) para decidir sobre questões normativa (que se referem ao
mundo intersubjetivo e, em outros termos, à Moral e ao Direito)”.
508
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004.
p.303.
206
509
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001. p.41.
510
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.61-62: "Em tais jogos de linguagem normativos, os atores se
relacionam, sobre o conteúdo afirmativo de suas asserções, também naturalmente com algo no
mundo objetivo, mas apenas de um modo acidental. Mencionam as circunstâncias e as condições
de sucesso das ações que exigem, solicitam, aconselham, censuram, desculpam, prometem, etc.
Mas se relacionam diretamente às ações e normas como "algo no mundo social". Entendem as
ações reguladas por normas, sem dúvidas, não como fatos sociais, que criam por assim dizer um
recorte no mundo objetivo. Da perspectiva objetiva de um observador sociológico, "há" também
certamente "no mundo", ao lado das coisas físicas e estados mentais, expectativas normativas,
práticas, costumes, instituições e regulamentos de todos os tipos. Mas os atores engajados
assumem in actu uma outra posição em relação à rede de suas interações reguladas
normativamente, a saber, a posição performativa de um destinatário que podem apenas "se
defrontar" com as normas, porque as reconhece como obrigatórias".
511
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001. p.41-42: “But the violation of legitimate expectations, to which these
feelings are reactions, already presupposes the validity of the underlying norms. Sanctions
(however much they internalizes) are not constitutive of normative validity; they are symptoms of
an already felt, and thus antecedent, violation of a normatively regulated context of life”.
512
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
207
Tempo Brasileiro, 2002. p.66: "Quando o processo de argumentação não deve perder o seu
sentido, a forma de comunicação dos discursos deve ser constituída de tal modo, que todos os
esclarecimentos e informações os mais relevantes possíveis sejam verbalizados e de tal forma
ponderados, que a tomada de posição do participante possa ser motivada intrinsecamente apenas
através da capacidade revisora dos fundamentos flutuando livremente".
513
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001.p.15-16: “Moral-practical discourse detaches itself from the orientation
to personal success and one’s life to which both pragmatic and ethical reflection remain tied. But
norm-testing reason still encounters the other as an opponent in an imaginay – because
counterfactually extended and virtually enacted – process of argumentation. Once the other
appears as a real individual with his own unsubstitutable will, new problems arise. This reality of
the alien will belongs to the primary conditions of collective will formation”.
514
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001.p.31: “Anyone who seriously engages in argumentation must
presuppose that the context of discussion guarantees in principle freedom of access, equal rights
to participate, truthfulness on the part of participants, absence of coercion in adopting positions,
and so on. If the participants genuinely want to convince one another, they must make the
pragmatic assumption that they allow their “yes” and “no” responses to be influenced solely by the
force of the better argument”.
515
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001. p.55-56: “We know at least intuitively that certain of these
presuppositions cannot be fulfilled under normal empirical restrictions, yet we must nevertheless
assume that these idealizing presuppositions are sufficiently fulfilled”.
208
516
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001.p.56.
517
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.67
518
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.68:"O processo de argumentação é um procedimento autocorretivo no
sentido de que, por exemplo, fundamentos para a liberalização "atrasada" do regulamento e da
condução da discussão, para a alternação de um círculo de participantes não suficientemente
representantivo, para uma ampliação da agenda ou um aperfeiçoamento da base da informação
resultam dele mesmo, do decorrer de uma discussão pouco satisfatória".
519
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.70: "A validade de tais normas "consiste" no reconhecimento universal
que as normas ganham. Porque as exigências de validez morais falham em relação às conotações
ontológicas que são características para as exigências de verdade, a orientação para o
alargamento do mundo social, portanto a inclusão sempre mais ampla de exigências e pessoas
209
estranhas, se coloca no lugar dos referentes do mundo objetivo. A validez de uma afirmação Moral
tem o sentido epistêmico de que seria aceita, sob condições ideais de justificação. Entretanto,
quando a "correção Moral" esgota seu sentido como aceitabilidade racional, diferentemente de
como "verdade", nossas convicções morais devem permitir finalmente, a partir do potencial crítico
do auto-ultrapassamento e da descentralização que é construído com a "perturbação", uma
antecipação idealizadora na prática da argumentação - e na autocompreensão de seus
participantes".
520
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p. 59.
210
No exemplo, uma das garantias possíveis seria “temos direito a isso pela
Constituição”. Um argumento seria razoável se D passasse por B e W. B tem de
ser um motivo para considerar plausível W524. Note-se que, em linguagem
521
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994. p.142.
522
TOULMIN, Stephen Edelston. Os Usos do Argumento. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
p.140.
523
TOULMIN, Stephen Edelston. Os Usos do Argumento. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
p.141-143.
524
HABERMAS, Jürgen. Teoría de La Acción Comunicativa: Complementos y Estudios Previos.
Madrid: Catedra, 1994. p.143: “Afirmación necesitada de explicación (C): el agua de este puchero
se dilata. Explicación (D): está recibiendo calor. Fundamentación mediante una hipótesis
211
legaliforme (W): (una serie de constataciones sobre la covarianza reiteradamente observada entre
magnitudes como el volumen, la temperatura y el peso de los cuerpos)!”.
525
TOULMIN, Stephen Edelston. Os Usos do Argumento. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
p.149.
526
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p.93.
527
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001.p 36: “Discourse ethics has learned from this and makes a careful
distinction between the validity – or justice – of norms and the correctness of singular judgments
212
that prescribe some particular action on the basis of a valid norm. Analytically, “the right thing to do
in the given circumstances” cannot be decide by a single act of justification – or within the
boundaries of a single kind of argumention – but calls for a two-stage process of argument
consisting of justification followed by application of norms”.
528
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001. p.13: “Valid norms owe their abstract universality to the fact they
withstand the universalization test only in a decontextualized form. But in this abstract formulation,
they can be applied without qualification only to standart situations whose salient fesatures have
been integrated from de outset into the conditional components of the rule as conditions of
application. Moreover, every justification of a norm is necessarily subject to the normal limitations
of a finite, historically situated outlook that is provincial in regard to the future. Hence a forteriori it
cannot already explicitly allow for all of the salient features that at the same time in the future will
characterize the constellations of unforeseen individual cases”.
529
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001. p.13-14: “For this reason, the application of norms calls for
argumentative clarification in its own right. In this case, the impartiality of judgment cannot again be
secured through a principle of universalization; rather, in addressing questions of context-sensitive
application, practical reason must be informed by a principle of appropriateness (Angemessenheit).
What must be determined here in which of the norms already accepted as valid is appropriate in a
given case in the light of all relevant features of the situation conceived as exhaustively as
possible”.
530
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001. p.37.
213
531
HABERMAS, Jürgen. Justification and Application: Remarks on Discourse Ethics.
Cambridge: Mit press, 2001. p.36.
532
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p. 70. E continua: “A decisão a respeito da validade de uma norma não
implica qualquer decisão a respeito de sua adequação em uma situação, e vice-versa. Contudo,
ambas representam respectivamente um determinado aspecto da idéia de imparcialidade: a
exigência das conseqüências e dos efeitos colaterais, previsivelmente resultantes da observância
geral de uma norma, para que os interesses de cada um individualmente possam ser aceitos por
todos em conjunto, operacionaliza o sentido universal-recíproco da imparcialidade, enquanto que,
complementarmente a isto, a necessidade de que, em cada uma das situações de aplicação,
considerarem-se todas as características, operacionaliza o sentido aplicativo. Ao combinar ambos
os aspectos entre si, aproximamo-nos do sentido completo de imparcialidade, como se fosse por
caminhos bifurcados”. GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral:
justificação e aplicação. São Paulo: Landy, 2004. p.71.
533
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p.23: “Ao deixarmos ao acaso o ato de escolha das características
relevantes em uma dada situação, tanto a ação como a reação correm o risco de serem avaliadas
inadequadamente. Nesse caso, sempre dependerá de disposições individuais fortuitas e de
circunstâncias especiais para avaliarmos corretamente uma situação”.
214
Mas que sinais característicos são relevantes para o caso? O que, afinal,
tem de ser examinado? A resposta é: todos os sinais característicos para a
situação536. A seleção dos fatos é que justamente servirá para a concretização da
norma, daí a importância deste momento que geralmente passa desapercebido
pelos juristas. Mas o que são sinais característicos para a aplicação? São todos
534
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p.79.
535
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p.73.
536
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p.114: “A relação de uma norma com todos os demais aspectos de uma
circunstância precisa ser definida, de novo, em cada situação de aplicação, porque não é possível
prever a alteração de constelações de sinais característicos. Evidentemente, a opção por uma
determinada norma sujeita à aplicação passa novamente a ser seletiva, e essa seletividade é
reforçada ainda mais pelo fato de que a norma, a ser aplicada, precisa ser não apenas adequada
à situação, mas, para ser fundamentada, requer também representar um interesse geral.
Entretanto, a seleção pode ser considerada adequada, se tiver sido precedida da consideração de
todos os sinais característicos da situação de aplicação [grifos do autor]”.
215
os fatos relevantes para o deslinde do caso. Esses sinais relevantes serão objeto
de fundamentação acerca do porquê de sua escolha como sinal relevante, bem
como serão objeto de relacionamentos entre si537 e, finalmente, de sua coerência
com a norma e da relação dos fatos com a norma a partir do resto do
ordenamento.
537
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p.344. “Justamente porque uma seleção desse sinal característico da
realidade factual, e não daquele outro sinal, sempre se vincula à determinação de um significado,
esta decisão selecionadora deverá ser justificada considerando-se todos os outros sinais
característicos situacionais”.
538
GÜNTHER, Klaus. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: justificação e aplicação.
São Paulo: Landy, 2004. p.346.
539
A coerência com o sistema jurídico seria atingida a partir de uma interpretação construtiva das
referências legais. O intérprete, ao mesmo passo que deve tentar seguir, ao máximo, o que o
Direito preceitua, por outro lado, tem um papel fundamental, “criativo”, na atualização do
ordenamento. Compara Dworkin a prática da interpretação com a redação de um livro coletivo:
várias são as pessoas que escrevem o livro coletivo. O autor do presente capítulo deve tentar
seguir coerentemente todo o resto do livro, atualizando-o de maneira criativa, em uma corrente do
Direito, ou chain of law: “Decidir casos controversos no Direito é mais ou menos como esse
estranho exercício literário. A similaridade é mais evidente quando os juízes examinam e decidem
casos do Common Law, isto é, quando nenhuma lei ocupa posição central da questão jurídica e o
argumento gira em torno de quais regras ou princípios de Direito “subjazem” a decisões de outros
juízes, no passado, sobre matéria semelhante. Cada juiz, então, é como um romancista na
corrente. Ele deve ler tudo o que outros juízes escreveram no passado, não apenas para descobrir
o que disseram, ou seu estado de espírito quando o disseram, mas para chegar a uma opinião
sobre o que esses juízes fizeram coletivamente, da maneira como cada um de nossos
romancistas formou uma opinião sobre o romance coletivo escrito até então. Qualquer juiz
obrigado a decidir uma demanda descobrirá, se olhar nos livros adequados, registros de muitos
casos plausivelmente similares, decididos há décadas ou mesmo séculos por muitos outros juízes,
216
princípios serem normas com elevado grau de abstração, eles não se formam por um processo de
generalização (ou de abstração) crescente. Por exemplo: o princípio federativo, adotado pela
Constituição Brasileira, seria uma generalização de quê? O princípio da legalidade generaliza
quais normas? De outro lado, existem regras excessivamente genéricas, se entendermos
generalidade como abstração, ou seja, como ”conduta tipo”, quer dizer, a qualidade de prescrever
uma conduta cujo conteúdo é genérico, como o tipo constante do art. 12 da Lei Antitóxicos (Lei
6.368/76), que não corresponde a uma situação concreta particularizada. Esse não pode ser,
portanto, o critério adotado. Não se nega com isso que, na maioria das vezes, os princípios
possuam maior grau de generalização. O que se quer dizer é que a generalidade não é uma
causa, mas, quando muito, uma conseqüência do conceito de princípio, e não diferencia
essencialmente, mas só geralmente as duas categorias”.
542
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p.172.
218
ceticismo com relação ao valor deontológico daquelas. Isso leva ao argumento b).
Ocorre que, pela visão de Alexy, a otimização e o sopesamento levam a um juízo
de preferência na adequação. Isto, já foi visto, é um erro categorial, pois confunde
justificação e aplicação. Mas, talvez pior, levam à axiologização das normas.
Veja-se bem: Habermas e Günther aceitam plenamente que o Direito seja
motivado por valores. Todavia, uma vez estatuído, ele não pode sofrer uma
equivalência aos valores, uma vez que estes expressam um bem que pode ser
preferido entre os demais543. É constitutivo para uma sociedade que busque, a
partir do princípio “D” supracitado, que estes discursos sejam efetivos
deontologicamente, ou seja, se aliem à tradição que acompanha a linguagem
jurídica, ou seja, uma linguagem deontológica, onde as normas valem prima facie
para a sociedade, e não são preferíveis umas às outras dependendo do juízo do
julgador. Normas, uma vez reconhecidas como tais, mesmo que advenham de
valores, adquirem, a partir de sua inserção na linguagem jurídica, uma coloração
de fundamentação definitiva até que outra a derrogue, daí porque não serem
valores a serem sopesados e mixados ao bel-prazer do intérprete. Como se não
bastasse isso, os princípios estão ligados aos pilares do ordenamento, consta na
tradição constitucional, reconhecida e aceita na Constituição de 1988, um valor de
justiça nos princípios, a qual, como visto, assume tons de rigorosa fundamentação
universal544.
543
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p.179: “Habermas entende
que a maneira pela qual Alexy concebe as leis de colisão e de ponderação implica uma concepção
axiologizante do Direito, pois a ponderação, nos moldes pensados pela teoria dos princípios
jurídicos como mandados de otimização, só é possível porque podemos preferir um princípio a
outro, o que só faz sentido se os concebemos como valores, pois é apenas porque são
concebidos como valores é que os seres podem ser objeto de mensuração pela preferibilidade,
constitutiva do próprio conceito de valor [...]”.
544
HABERMAS, Jürgen. Agir Comunicativo e Razão Destranscendentalizada. São Paulo:
Tempo Brasileiro, 2002. p.63: "Diferentemente da validez de verdade das afirmações descritivas, o
domínio de validez de uma exigência de correção varia com o pano de fundo legitimador, assim
como, em geral, com os limites de um mundo social. Unicamente mandamentos morais (e normas
do Direito que, como por exemplo, os direitos do homem, são por si só justificados moralmente)
exigem validez absoluta como asserções, isto é, reconhecimento universal".
219
545
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p.181-182.
546
GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e Diferença: Estado Democrático de Direito a partir
do Pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p.189. “Portanto, se tivermos
em mente a exigência de Integridade do direito (que se cumpre, antes de mais nada, de forma
interpretativa), os princípios devem ser concebidos como direitos decorrentes do pluralismo
constitutivo das sociedades contemporâneas, que não podem ser nem enumerados previamente a
uma situação especifica, nem hierarquizados em qualquer circunstância, e que podem
excepcionar a aplicação de outros direitos, vez que, não podendo permanecer em concorrência
uns com os outros no caso concreto, se desejamos respeitar a Integridade do Direito, às vezes
não podem ser contemporaneamente aplicados. Portanto, antes que uma questão de avaliação
(valores), a questão é hermenêutica, acerca do que é relevante para atingir uma decisão justa
(vale dizer, que respeite a Integridade) no caso concreto”.
220
são estas liberdades políticas, e esta é uma questão filosófica, bem como se
protejam estas liberdades, as quais assumem a faceta de direitos, o que é uma
questão jurídica. Todavia, repetindo, o aspecto propriamente político da
pragmática empírica da Gestão Pública Compartida é o exame das condições
em que se dão os engajamentos políticos na esfera pública, preservando o
acesso desta ao poder administrativo, e fundamentando a maneira pela qual
isto irá ocorrer.
princípio democrático.
547
Ver HABERMAS, Jürgen. Between Facts and Norms: contributions to a Discourse Theory
of Law and Democracy. Massachusetts: Mit press, 1998. p. 168-193.
548
HABERMAS, Jürgen. Between Facts and Norms: contributions to a Discourse Theory of
Law and Democracy. Massachusetts: Mit press, 1998. p.188: “The logic of separated powers
demands instead that the administration be empowered to carry out its tasks as professionally
as possible, yet only under normative premises not at its disposal: the executive branch is to be
limited to employing administrative power according to the law”.
237
549
Isto não elide a existência de anomalias não-constantes, como políticas públicas levadas a
cabo pelo Judiciário, vez que a construção destas políticas públicas dá-se a partir da aplicação
de normas legais, e não a partir dos melhores meios pragmáticos para o atingimento dos fins.
Isto corrobora a constante crítica de tais situações como anomalias e invasões entre os
poderes.
238
550
As medidas provisórias são um caso, dentre outros, de aplicação da doutrina dos checks
and balances. Não elide as conclusões aqui presentes.
240
oferece maiores dificuldades, até porque o peso da tradição não é tão forte.
551
LEAL, Rogério Gesta. Estado, Administração Pública e Sociedade: novos paradigmas.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p.52: “Tomar a sociedade como base epistemológica
aqui, significa um modo determinado de problematizar o tema proposto, a saber, a Gestão
Pública Compartida dos interesses públicos. Esta forma de gestão, a partir do referido, é
concebida de forma procedimental, i.é, como práticas, discursos e valores que afetam o modo
como desigualdades e diferenças, direitos e deveres, são tratados e administrados no cenário
público”.
243
552
LEAL, Rogério Gesta. Estado, Administração Pública e Sociedade: novos paradigmas.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 196: “Esta nova articulação consiste, exatamente,
na redefinição de espaço público e atores sociais deliberativos e executivos, fazendo ressurgir
e fortalecer, por exemplo, o âmbito local do poder político, agora visualizado como a integração
– tensa e conflitual – entre poderes instituídos tradicionais e novos movimentos sociais da
cidadania ativa organizada, única maneira de efetivação das promessas constitucionais e da
Sociedade Democrática de Direito”.
247
Uma outra pergunta que uma teoria da Gestão Pública Compartida tem
responder é a que envolve políticas públicas. Uma primeira hipótese é a de que
políticas públicas é todo e qualquer engajamento comunicativo que segue às
demandas sociais. Esta hipótese enfrenta o problema de ter que resolver
problemas de como uma mera modificação no Código Civil, por exemplo, ser
chamada de política pública. Isto vai contra a noção socialmente partilhada de
política pública. Deste modo, toda a política pública vai passar pelo Direito, mas
nem todo Direito é política pública. Para a perspectiva jurídica, portanto, política
pública é um conjunto de leis e atos administrativos. Não é por esta via que a
resposta será achada.
de discursos;
Ocorre que existem situações em que estes princípios não são aplicados
em sua plenitude. Por exemplo, no caso das concessionárias de serviços
públicos. Elas não estão obrigadas, por exemplo, a realizar licitações. Nos
termos deste trabalho – focado que está na Gestão Pública Compartida – a
preocupação procede, porque as Organizações da Sociedade Civil – entidades
de Direito privado – em princípio não estão sujeitas às regras de Direito
público. Seria necessário, então, com base na própria situação de uma Gestão
Pública Compartida, buscar fundamentos normativos para a formatação de um
regime jurídico mínimo para estas situações de Gestão Pública Compartida.
Este regime jurídico mínimo será, ao mesmo tempo, parâmetro de crítica do
instituído, mas também reconstrução de alguns institutos embrionários. Isto
será realizado algumas seções adiante.
553
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989. p.144: “[...] a consonância entre a teoria normativa e a teoria psicológica,
considerada na perspectiva da Ética, consiste no seguinte. Para se opor às éticas
universalistas, em geral se mobiliza o fato de que as outras culturas dispõem de outras
concepções morais. Contra essa espécie de dúvidas relativistas, a teoria do desenvolvimento
Moral de Kohlberg oferece a possibilidade de: a) reduzir a multiplicidade empírica das
concepções morais encontradas a uma variação de conteúdos em face das formas universais
do juízo Moral e b) explicar as diferenças estruturais que ainda subsistam como diferenças dos
estádios de desenvolvimento da capacidade do julgar Moral [grifos do autor]”.
554
BIAGGIO, Ângela Maria Brasil. Lawrence Kohlberg: Ética e educação Moral. São Paulo:
Moderna, 2002. p.23.
254
atitudes, ou seja, faz-se exatamente aquilo que o outro lhe fez, vantagens e
desvantagens são simétricas. Age-se desta maneira porque inicia o
reconhecimento de que as outras pessoas também existem e têm interesses
distintos555. Há, portanto, em relação à perspectiva social, um incremento de
reflexividade, onde o sujeito já percebe a diferença entre o interesse próprio e o
alheio.
555
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989. p.152.
556
HABERMAS, Jürgen. HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. p.153.
255
557
HABERMAS, Jürgen. La necesidad de Revisión de la Izquierda. Madrid: Tecnos, 1996:
“Pero ¿qué significa universalismo? Que se relativiza la propia forma de existencia atendiendo
a las pretensiones legítimas de las demás formas de vida, que se reconocen iguales derechos
a los otros, a los extraños con todas sus idiosincrasias y todo lo que en ellos nos resulta difícil
de entender, que uno no se empecina en la universalización de la propia identidad, que uno no
excluye ni condena todo cuanto se desvía de ella, que los ámbitos de tolerancia tienen que
hacerse infinitamente mayores que lo que son hoy; todo esto es lo que quiere decir
universalismo Moral”. p.218.
558
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989. p.154.
559
Habermas aponta, contudo, algumas recalcitrâncias, como casos de regressão. Esses,
contudo, são raros. HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. p.210.
560
HABERMAS, Jürgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1989. p.156.
256
/variável inante
Acerca de 1). O principal problema aqui é: por mais primitiva que seja a
civilização, ela não pode ser tutelada, a não ser que assim queira – e isto é
imperativo consagrado na legislação internacional. Não ser tutelada significa
também não ser paternalisticamente preservada. Uma cultura tem de
sobreviver por si só, de modo que “proteger” uma comunidade da crítica é o
equivalente a infantilizá-la e condená-la à imobilidade. A exposição à crítica
pode levar à maior descentralização, mas não a garante. Olhando-se a questão
262
sob outro viés, pode-se dizer que uma dada sociedade tem de ter o direito de
errar também, pois não é possível que suas decisões sejam imunes ao erro,
até por que aí deixariam de ser decisões. É o erro que, precisamente,
possibilitará o aprendizado. Todos estes argumentos aqui se aplicam também
às comunidades em geral, i.e., o Município não pode ser protegido, por
exemplo, pela União. Se efetivamente esses argumentos, que convencem,
levam à conclusão de que a Gestão Pública Compartida será a mesma em
todos os lugares, então não há porque medir de antemão a possibilidade de
sua implantação. A questão deve ser abordada de uma outra maneira.
Suponha-se que tenha alguma utilidade pesquisar de antemão de a Gestão
Pública Compartida alcançará sucesso. Se esta for a hipótese, tem-se de
responder a pergunta 2). Espera que, respondendo a questão 2), responda-se
a questão 1).
563
Reconhece-se que algumas tribos primitivas têm uma auto-organização comunitária muito
forte. Porém, isto não significa que sejam capazes de fazê-lo em termos modernos.
263
Por outro lado, existe uma série de serviços atualmente não compartidos
com a sociedade. Estes serviços terão de, algum momento, sofrer alguma
espécie de controle social.
adequado dizer que faz sentido avaliar as condições para a Gestão Pública
Compartida.
Isto tudo remete para uma última abordagem nesta seção. Trata-se das
funções sociais da Gestão Pública Compartida. Nas condições pós-tradicionais,
o Direito e a Administração assumem posições de destaque no que toca tanto
à auto-compreensão da população quanto às funções de seu entendimento.
Antigas aproximações baseadas na religião, na cultura ou na arte restam
desvalorizadas e, dependendo do modo como são vivenciadas, estas
diferentes espécies de solidariedade podem até mesmo obstruir a construção
de uma cultura democrática.
demandas públicas
tarifas, altos lucros e baixos salários. É possível, todavia, uma Gestão Pública
Compartida da normatização de serviços delegados.
Figura 4
Figura 5
Quanto ao momento de
realização Gestão Pública Compartida Intermitente
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10
Figura 11
Gestão Pública
Compartida:
numerário do Estado
Figura 12
Quanto à titularidade
dos bens afetados Gestão Pública Compartida a partir de bens
públicos compartidos
Figura 13
Figura 14
Gestão Pública
A próxima figura relembra estas possibilidades. Compartida de
Discursos
predominantemente
de Justificação
Gestão Pública
Compartida de
Discursos
Quanto ao nível predominantemente
argumentativo de Aplicação
normativo
Gestão Pública
Compartida de
Discursos Discursos
Quanto a predominantemente
predominância de Pragmáticos
argumentos
Gestão Pública
Compartida de
Discursos
predominantemente
Éticos
Gestão Pública
Compartida de
Discursos
predominantemente
Morais
Gestão Pública
Compartida de
Discursos
Quanto a predominantemente
predominância de Constatativos
tipos de atos de fala
Gestão Pública
Compartida de
Discursos
predominantemente
Normativos
Gestão Pública
Compartida de
Discursos
predominantemente
Expressivos
284
Figura 15
Por outro lado, os atos de fala presentes dos discursos podem ser
predominantemente constatativos, onde, por exemplo, são verificadas a
ocorrência de certos dados fáticos (como, por exemplo, no Conselho Nacional de
Educação com relação ao preenchimento dos pressupostos para constituição de
cursos universitários), bem como regulativos (a maior parte dos conselhos), bem
como, finalmente, expressivos, onde os discursos predominantemente seriam de
auto-apresentação. Não existem exemplos deste último caso. Por óbvio, a maior
parte destes espaços compreende um agregado dos vários tipos de discursos.
Racionalidade: Racionalidade:
predominantemente predominantemente
comunicativa instrumental
Figura 16
286
Existem também duas diferenças a partir das quais vale pena gastar mais
algumas palavras, e que não se explicam por si só. Uma delas é a questão
relacionada com o nível de evolução moral de uma dada sociedade. Ora, a
Gestão Pública Compartida, apesar de não ser incompatível com níveis morais
convencionais políticos, parece, contudo, dar-se melhor com solidariedades pós-
convencionais. O abandono da mitologia da decisão técnica implica em tomada
de consciência das responsabilidades que a sociedade e seus membros
assumem para si. A assunção destas responsabilidades estão conectadas com
um exercício de uma autônoma da vontade com os outros, a partir da formação
de normas e decisões intersubjetivas. Tudo isto conforme a tabela apresentada
anteriormente. Ora, solidariedades muito concretas podem impedir a
trafegabilidade entre um ou outro âmbito de gestão compartida. Por exemplo, ora
o cidadão de um município pode estar decidindo como será gasta a renda do
próprio município, mas pode, no dia seguinte, estar decidindo uma política pública
ambiental que se relacione com toda a bacia hidrográfica, e que poderá, por
exemplo, gerar custos para o município. Solidariedades muito concretas impedem
a transcendência do contexto para a percepção de que tais políticas podem ser
benéficas a todos. Neste sentido, uma solidariedade pós-convencional, estilo
patriotismo constitucional, como Habermas abordada, pode tornar estas decisões
mais rápidas e mais legítimas.
Um outro quadro que merece mais algumas palavras está relacionado com
as questões técnicas, ou pragmáticas. Note-se que, comumente, os problemas
287
Pré-
procedimento
Organizações
da Sociedade
Civil
Políticas Públicas
Figura 17
Pré-
Organizações procedimento
da Sociedade
Civil
Procedimento
Procedimento de seleção pelos órgãos
legislativo e judiciário
Pós-procedimento
Esfera Pública legislativo/Judiciário
– debates Poder Administrativo – pré-procedimento
informais Gestão Pública
Compartida
Gestão Pública
Organizações Compartida =
da Sociedade Procedimento
procedimento +
Civil > poder –Gestão P.
poder administrativo
comunicativo Compartida
Pós-
Poder Administrativo procedimento
>Políticas Públicas
289
Figura 18
Nos dois casos, os atos de fala que geram a ação estão conectados com
decisões anteriores, são, desde modo, também ilocuções destes. Quando a
ilocução do ato anterior exige um novo procedimento para sua completa
materialização (e não parcial, vez que é possível cumprir-se ela em outras
perspectivas, como visto), estar-se-á diante da necessidade de uma nova
situação de fala regida pelo princípio do discurso e, portanto, aí é necessária a
292
Discurso prático:
Secretário do Meio Ambiente - população e funcionários
públicos
(c) Conclusão Mandados/valorações: “Portaria x, art. 1º: Estão sujeitas a
licenciamento ambiental, perante a Secretaria do Meio
Ambiente [...] fábricas de calçados”
Pretensão de validez Retidão
O oponente exige Justificações
(D) Dados Razões: “Estou autorizado a emitir tal normativa, vez que
presento o órgão protetor do meio ambiente no Município,
bem como a secretaria é o órgão competente para tanto, e as
fábricas de sapato poluem”
(W – warrant) Garantias Normas ou princípios de ação, valoração:
“Lei Z, art. 1º: São instrumentos da política nacional para do
meio ambiente: [...] o licenciamento e a revisão de atividades
efetiva ou potencialmente poluidoras”.
(B - backing) Relação com o Necessidades interpretadas, conseqüências da ação, etc.: “A
mundo da vida esfera pública nacional e municipal demandaram maior
proteção ao meio ambiente”
294
como tarefas de médio porte, como a manutenção de uma estrada, até altamente
complexas, como uma universidade. Um exame mais detalhado desta questão
faz-se necessária em outro momento e implicará necessariamente um
desenvolvimento do princípio da subsidiariedade.
de fala, mas sim condições ótimas de fala, uma vez que se tratam de instâncias
deliberativas, e não científicas.
Note-se que este conceito tem a pretensão de dar conta tanto da Gestão
Pública Compartida Deliberativa quanto da Executiva (pois são necessárias novas
justificações e aplicações tanto para trespasse de serviços às Organizações da
Sociedade Civil quanto para a tomada de decisões internamente). Este conceito,
também, não faz diferença entre os referenciais, misturando-os e, tampouco,
parece estático –muito embora, por óbvio, seja provisório até posterior contraste
com a opinião alheia – pois a ênfase discursiva permite a dinamicidade de
conteúdos.
CONCLUSÃO
Papirus, 1997.
1988.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes,
2002.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2002.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; GRAU, Nuria Cunill. Entre o Estado e o Mercado:
o público não-estatal, in: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; GRAU, Nuria Cunill
(orgs.) O Público Não-Estatal na Reforma do Estado. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1999.
PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2001.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret,
2005.