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Vida, o desenho inteligente

A tese criacionista afirma que a evolução da vida é lógica e perfeita demais para ter sido obra do acaso. Para
os defensores dessa teoria, que usam a biologia molecular para contestar Darwin, a ideia de que descendemos
de primatas é absurda.

Revista Superinteressante, 31 outubro de 2016.

Por Jomar Morais

Como começou o universo? “Com o Big Bang”, responderão nove entre dez especialistas. Big Bang, ou a grande
explosão, é o fenômeno que permitiu, há 15 bilhões de anos, que uma minúscula bola de fogo, de extrema
densidade e altíssima temperatura, se expandisse e esfriasse dando origem às galáxias e a tudo o que existe
no espaço. O Big Bang é apenas uma hipótese, claro. Mas pouca gente discorda dessa idéia, concebida pelos
físicos no início do século XX. Agora, pergunte como a vida começou na Terra e você terá uma boa chance de
iniciar um acalorado bate-boca. Seres vivos são as coisas mais complexas do universo. Ao contrário de rochas
e nuvens, eles exibem qualidades, habilidades e competências que despertam inúmeras perguntas.

A vida surgiu por acaso ou a partir de uma vontade superior? Os seres vivos sempre tiveram a aparência atual
ou sofreram transformações ao longo do tempo? Os animais de diferentes espécies apresentam algum grau
de parentesco? Temos todos um ancestral comum? Até hoje, a tentativa de responder a essas perguntas opõe
cientistas e, sobretudo, cientistas e religiosos, os herdeiros das primeiras tentativas de explicar a origem da
vida. O confronto entre ciência e céu começou no século XVIII, quando surgiram novas teorias que
contradiziam as antigas crenças numa vida planejada por um ser superior. O ponto alto da discórdia foi a
publicação, em 1859, do livro A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, do naturalista inglês Charles
Darwin. A vida, dizia Darwin, resultou de mutações aleatórias da matéria a partir de modelos extremamente
simples. E foi evoluindo por meio de uma seleção adaptativa dessas mutações, guiada pela necessidade de
sobrevivência.

Na época, o naturalista escandalizou a Igreja e todos os defensores da ideia de um desígnio superior na criação
– os chamados criacionistas. Mas, em pouco tempo, a teoria darwinista convenceu a maioria dos cientistas e
se espalhou pelo mundo. Seu conceito de evolução passou a permear da medicina à sociologia, da psicologia
à economia. Darwin, hoje em dia, é invocado para iluminar assuntos tão diversos quanto a competição entre
empresas e a culinária regional. Na maioria dos países, inclusive o Brasil, o darwinismo é a única teoria sobre
a origem da vida estudada nas escolas.

Todo esse sucesso da visão cientificista não chegou a sepultar as controvérsias do passado. A velha polêmica
está de volta, agora com nova roupagem e argumentos mais sofisticados. A recente ofensiva contra Darwin,
travada principalmente nos Estados Unidos, tem como desafiante um grupo de biólogos, matemáticos e
bioquímicos empenhado em provar a inconsistência do evolucionismo com base na biologia molecular. Para
eles, a complexidade da vida requer a existência de um “planejamento inteligente”.

“A teoria de Darwin pode explicar cascos de cavalos, mas não os alicerces da vida”, diz o bioquímico Michael
Behe, professor da Universidade Lehigh, na Pensilvânia, Estados Unidos, e autor do livro A Caixa Preta de
Darwin, uma das peças fortes na divulgação do planejamento inteligente. Do outro lado, a resposta vem
também em tom de briga. “A função de um bioquímico é ocupar-se com problemas que envolvem os
elementos”, diz o biólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, Inglaterra, autor de uma coletânea de
livros evolucionistas. “Não é vomitar ideias apressadas sobre um suposto projeto sobrenatural só porque ainda
não se sabe como algumas reações químicas evoluíram.”

Para entender o que está se passando, é melhor conhecer primeiro o que propõem as duas teorias em jogo
nesse confronto. De um lado, Darwin disse que a vida começou espontaneamente no momento em que uma
sopa primordial de elementos químicos, submetida às condições da Terra primitiva, produziu pela primeira –
e única vez – uma molécula replicante. Mudanças graduais ocorridas por acaso permitiram a formação, ao
longo de bilhões de anos, de seres cada vez mais complexos.

A evolução consiste basicamente na repetição incessante da reprodução, por meio da qual a geração anterior
passa à seguinte os genes herdados de seus ancestrais, mas com pequenos erros – as mutações. Isso acontece
de forma aleatória, segundo Darwin, e é praticamente imperceptível. No decorrer das gerações, no entanto,
haveria uma espécie de seleção das mutações que seriam mais úteis à sobrevivência. É o que Darwin chamou
de seleção natural, uma espécie de filtro da natureza evidenciado pelo fato de que o número de indivíduos,
numa geração, que sobrevivem e conseguem deixar descendentes é sempre menor que o número dos que
nasceram. Os felizardos seriam aqueles selecionados pela natureza em razão de suas características de
adaptação ao ambiente. Com o tempo, as seleções acabam por estabelecer diferenças tão drásticas entre
descendentes de um mesmo ancestral que já não persistem os traços básicos da espécie original.

Dá-se, então, o surgimento de outro tipo de animal. (Esse seria um dos motivos pelos quais você não se
identificaria com um Australopithecus afarensis, nosso alegado ancestral de 3,5 milhões de anos, que hoje
passaria batido ao lado de alguns macacos no zoológico.)

Já para os chamados neocriacionistas – aqueles que, comparados aos criacionistas originais que leem a Bíblia
ao pé da letra, têm um discurso muito mais apurado – a vida não tem nada de aleatório e parece ter seguido
algum desenho inteligente. A prova seria a complexidade dos sistemas celular e molecular: verdadeiras
máquinas cujas partes independentes estão tão estreitamente interligadas que a ausência de um único
componente é o bastante para impedir que elas funcionem. É o que o bioquímico Michael Behe denomina
com o palavrão “complexidade irredutível”: um sistema que existe apenas se todos os seus mecanismos
estiverem ali para servir o todo. Órgãos como o olho humano e o sistema de coagulação do sangue seriam os
exemplos mais evidentes desse modelo. Eles só conseguem trabalhar quando todas as suas “peças” estão
encaixadas. Ou seja: essa engenharia cheia de detalhes e de encaixes únicos e precisos não poderia ser fruto
de mudanças aleatórias.

Outra confirmação disso seria o fato de que até hoje não foram encontrados registros de animais transicionais
(um fóssil de animal que fosse exatamente uma transição de uma espécie para outra).

Para os darwinistas, a ideia de que a vida seguiu um plano inteligente é apenas um jeito novo de dizer que
Deus criou do nada todos os seres. A velha ideia presente no Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, e no discurso
do fundamentalismo cristão americano – desde a década de 1920 empenhado numa cruzada anti-
evolucionista. Mas os teóricos do planejamento inteligente afirmam que eles nada têm a ver com o
criacionismo de raiz religiosa. “Essa teoria não especula sobre a existência de um Criador ou suas intenções”,
diz o matemático William Dembsky, professor da Baylor University, nos Estados Unidos, e um dos líderes da
nova escola. “Ela apenas constata que a complexidade dos seres vivos sugere um desenho inteligente.” As
duas premissas dos neocriacionistas, segundo Dembsky, não englobam nenhum dos seis pontos básicos do
criacionismo clássico (veja boxe na pág. 99), entre os quais estão a afirmação de que a Terra existe há apenas
10 000 anos e a de que humanos e macacos não têm ancestrais comuns.

Os partidários do planejamento inteligente até admitem parcialmente a evolução pregada por Darwin. Mas,
para eles, ela só seria válida para microorganismos, onde já se produziram provas experimentais. Em A Caixa
Preta de Darwin, Michael Behe considera a ideia de ascendência comum “muito convincente”, mas lança
dúvidas sobre o mecanismo da seleção natural como explicação para a origem da vida molecular. Quando
Darwin defendeu essa ideia, diz o bioquímico, não existia ainda o microscópio eletrônico e imaginava-se a
célula como uma estrutura simples e rudimentar, não como um organismo complexo, cujas partes também
abrigam sistemas sofisticados.

(...)

FONTE: https://super.abril.com.br/ciencia/vida-o-desenho-inteligente/. Acesso em 03 de março de 2019.

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