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uma famosa parábola do Novo Testamento que aparece unicamente em Lucas 10:25-37. O
ponto de vista majoritário indica que esta parábola foi contada por Jesus a fim de ilustrar que
a compaixão deveria ser aplicada a todas as pessoas, e que o cumprimento do espírito e
da Lei é tão importante quanto o cumprimento da letra da Lei. Jesus coloca a definição
de próximo num contexto mais amplo, além daquilo que as pessoas geralmente consideravam
como tal. Na Bíblia Hebraica, Jericó era a "cidade da maldição" (Josué 6:26). No entanto, era
uma bela localidade, graças à sua localização privilegiada e suas palmeiras, que lhe davam
um ar de oásis nos desertos levantinos. Mas essa cidade, que estivera debaixo da maldição
durante séculos, tornara-se,naquele tempo, um retiro sacerdotal, onde moravam sacerdotes
quando não estudavam em Jerusalém, distante aproximadamente 24 quilômetros. [1]
A estrada entre as duas cidades estava situada num vale rochoso e perigoso, que era
frequentado por criminosos; portanto, era um percurso temido por viajantes daquela época.
Sacerdotes e levitas, graças ao seu status religioso, nunca eram molestados pelos ladrões
que, tamanha era a violência com que assaltavam, fizeram com que aquele vale ganhasse a
alcunha infame de Adumim (Josué 15:7, Josué 18:7), que quer dizer Vale do
Sangue ou Passagem do Sangue.
Josefo nos conta que um pouco antes de Cristo haver narrado essa parábola, Herodes
demitira 40 mil trabalhadores do templo, e muitos deles se tornaram salteadores, assaltantes
e latrocidas, e o Vale do Sangue era particularmente querido por causa das curvas fechadas e
rochedos e grotas na beira da estrada, que facilitavam emboscadas. [1]
Foi por essa estrada infestada de criminosos que viajava "um certo homem", descendo de
Jerusalém para Jericó. Jesus não conta quem ele era. Provavelmente um mercador judeu. É
possivel que tenha acontecido uma tentativa de latrocídio como aquele recentemente, e
Jesus, ao tomar conhecimento do fato, aproveitou a história para aplicá-la num ensinamento.
É também provável que os latrocidas já estavam observando e seguindo o viajante há um
tempo e, por isso, sabiam quem ele era e o que fazia: e concluíram que era alguém que
andava com muito dinheiro. Então, armaram uma emboscada contra ele e o amarraram.
Roubaram-lhe tudo o que tinha e vestia, de forma cruel e completa, espancaram-no
violentamente e o deixaram exaurido e semiânime na beira da estrada, para que falecesse no
ermo daquele local inóspito. Após o saque, partiram acreditando que nenhum outro viajante
fosse passar exatamente naquele local da estrada, deserta e perigosa, a tempo de salvá-lo. [1]
Neste ponto, Jesus começa a dar seu toque crítico à parábola, questionando a moral do
sacerdócio hipócrita e dos legisladores corruptos daquela época, ao frisar que indivíduos
respeitados e importantes naquela sociedade (como os eruditos e os levitas) passaram
próximo ao homem, viram-no estirado e agonizado, mas fingiram não ver e seguiram reto,
sem prestar nenhum socorro.
O sacerdócio levita era uma casta de indivíduos com direitos e deveres especiais na
sociedade judaica, deveres que incluíam agir com compaixão até para com animais (Êxodo
23:4-5). É descrito como um homem de aparente soberba por ser consagrado a Deus que,
provavelmente após ter cumprido o seu turno no serviço do templo, estava voltando para casa
em Jericó, por ser um dos doze mil sacerdotes que moravam e estudavam lá. Assim como o
doutor da lei, que incluía um dos ouvintes para quem Jesus proferiu esta parábola, o
sacerdote preferiu não arriscar saber se era mesmo um cadáver, e também foi embora sem
prestar socorro.
É possível que a mênção do sacerdócio seja também uma crítica de Jesus ao mandamento
levítico que declarava impuro quem tocasse em qualquer coisa morta (algo muito comum
naqueles dias), e obrigava a pessoa a ficar vários dias de preceito sem poder apresentar nada
no templo (Números 19). Essa crítica mostra em parte o engessamento da lei dos profetas e
da religião, as quais Jesus estava reformando.
[1]
Chamado de Levi, era quase certamente uma referência aos descendentes de Levi, filho de
Jacó e, portanto, um membro da tribo levita, a tribo eleita para o trabalho ligado ao Templo.
O levita era da mesma tribo do sacerdote, mas de um dos ramos inferiores. Eram acólitos do
templo, que atuavam como ministros de culto e intérpretes da lei. Assim como seus colegas
anteriores, o levita avistou o homem, mas preferiu passar reto e deixando-o abandonado.
A decisão de Jesus em incluir mais um levita na crítica provavelmente foi para frisar sua crítica
às religiões organizadas cujos dogmas e tradições acabam mais por impedir do que permitir
virtudes básicas (como a misericórdia) de florescerem nos fiéis.[1], para então fechar seu
ensinamento no samaritano, que apesar de ser um pária não só para as elites como para o
povo hierosolimita, demonstrou ser o único com o verdadeiro espírito da religião que Jesus
idealizava.