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JOHN Piper €DITORA CULTURA CRISTA A Paixéo de Cristo, © 2006 Editora Cultura Crista. Tradurido de The passion of Jesus Christ, Copyright © 2004 by Desiring God Foundation, publicado por Crossway Books, uma divisio de Good News Publishers. Wheaton, Illinois 60187, USA. Ediigdo em portugués autorizada por Good News Publishers. “Todos os dircitos sao reservados. 1 edigao em portugués — 2006 3.000 exemplares Revisiio Madalena Torres Editorarae Lela Designers Capa Idéia Dois Design Publicacdo autorizada pelo Conselho Editorial: Claudio Marra (Presidente), Alex Barbosa Vieira, André Lufz Ramos, Francisco Baptista de Mello, Mauro Fernando Meister, Otdvio Henrique de Souza, Ricardo Agreste, Sebastiao Bueno Olinto, Valdeci da Silva Santos. Dados Internacionais de Catalogacao na Publicago (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Piper, John 1946 - P665p_A Paixio de Cristo / John Piper; [traducao Elizabeth Gomes! —— So Paulo: Cultura Crista, 2004. 144. 5 M4x2om. ‘Tradugao de The passion of Jesus Christ ISBN 85-7622-069-5 1 -Teologia Reformada — Expiacio, 2 Cristologia, [Piper J.11:Titulo. 2 232.96 €DITORA CULTURA CRISTA Rua Miguel Teles Jr, 394 - CEP 01540-040 - Sao Paulo - SP Caixa Postal 15.136 - CEP 01599-970 - Sao Paulo - SP Fone: (0°11) 3207-7099 - Fax: (0"*11) 3209-1255 Ligue gritis: 0800-0141963 - www.cop.org.br - cep@eep.org.br Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Claudio Antonio Batista Marra Para Jesus Cristo Era desprezado e 0 mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe 0 que é padecer, e, como um de quem os homens escondem 0 rosto, era desprezado, e dele nao fizemos caso. Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades eas nossas dores levou sobre si; ends o reputavamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressdes e moido pelas nossas iniqiiidades; 0 castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nds andavamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas 0 SENHOR fez cair sobre ele a iniqitidade de nds todos Ele foi oprimido e humilhado, mas nao abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele nao abriu a boca. .. foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressao do meu povo, foi ele ferido dolo algum se achou em sua boca. Todavia, ao SENHOR agradou moé-lo, fazendo-o enfermar.. Isaias 53,3-10 Sumario Introdugao Cristo, a Crucificagéo ¢ os Campos de Concentragao........... IL 1 Para absorver a ira de Deus.. 2k 2 Para agradar ao Pai Celestial. 3 Para aprender obediéncia e ser aperfeigoado. we 4 Para alcangar sua propria ressurreigado dos mortos........... 29 w Para demonstrar a riqueza do amor e da graca de Deus pelos pecadores.........0..ceceeee 6 Para demonstrar o seu proprio amor por nos 7 Para cancelar o escrito de divida contra nés da lei de Deus.... 8 Para se tornar resgate por muitos... 9 Para o perddo dos nossos pecados. _ 10 Para oferecer a base para nossa justificagao.....................41 11 Para completar a obediéncia que se torna nossa justiga. 12 Para remover nossa condenaga 13 Para abolir a circuncisao ¢ todos os rituais como base para a salva¢d0....... eee 14 Para nos trazer a fé ¢ nos manter ficis. 15 Para nos tornar santos, inculpaveis, perfeitos. 16 Para nos dar uma consciéncia limpa. 17 Para nos obter tudo que é bom para nos. 18 Para nos curar da doenga moral ¢ fisica....... ee DD 19 Para dar vida eterna a todos quantos nele créem.................61 20 Para nos livrar deste mundo perverso.......... 21 Para nos reconciliar com Deus............... 22 Para nos levar a Deus.. 23 Para que pudéssemos pertencer a ele. 24 Para nos dar confiante acesso ao Santo d dos ‘Santos. 25 Para se tornar o lugar onde nos encontramos COM Deus... eee cececcecseeecesietese cee ceettecee seen T3 26 Para dar fim ao sacerdécio do “Antigo Testamento e tornar-se eterno sumo sacerdote.. PTT dal tela dette 27 Para se tornar sacerdote que nos ajuda © se coupaders de nds........... eet 28 Para nos libertar¢ da a futilidade den nossos be dl ctl 29 Para nos libertar da escravidao do pecado.............. 30 Para que morramos para o pecado e vivamos para A JUSUIGA ee os eae Ba: 31 Para que morramos para a lei ¢ “e frutifiquemos p para Deus............ etal det date et at teetet dat dats abt eta te 32 Para nos capacitar a viver para Cristo e nado para NOS MESMOS...........0. 00. Sete : 89 33 Para fazer de sua cruz a base de toda nossa ‘lori, Sette a 34 Para nos capacitar a viver pela fé nele. peer Sette. 35 Para dar o mais profundo significado ao casamento............97 36 Para criar um povo zeloso de boas obras... eetaetacttdat dah 37 Para nos chamar a seguir seu exemplo de humildade e amor sacrificial von LOL 38 Para criar um grupo de seguidores crucificados................105 39 Para nos libertar do cativeiro do medo da morte...............107 40 Para que estejamos imediatamente com cle apos a morte. tata latte Ul 41 Para garantir nossa ressurrei¢ado ae morte........... 13 42 Para desarmar os principados e as potestades..................]17 43 Para liberar o poder de Deus no Evangelho............0...0.....119 44 Para destruir a inimizade entre as ragas........0.c eee IZ] 45 Para resgatar pessoas de todas as tribos, linguas, Ppovos ¢ ragas... tet setters 123 46 Para ajuntar suas s ovelhas do mundo 10dO.... ieee 125 47 Para nos livrar do juizo final. 127 48 Para obter a sua e a nossa alegria 7 129 49 Para que ele fosse coroado de gloria e and Ht 131 50 Para mostrar que mesmo o pior mal Deus revertera em bem.... .135 Uma oragao........... — 137 Livros recomendad0S.............ccccccete eect esses 39 Notas......... alle teeta tole fleet a tatetgh ttt et Introducao CRISTO, A CRUCIFICACAO E OS CAMPOS DE CONCENTRAGAO A mais importante pergunta do século 21 é: por que Jesus Cristo sofreu tanto? Porém, jamais veremos a importancia disso se nao formos além das causas humanas. A resposta final a per- gunta: “Quem crucificou a Jesus?” é: foi Deus. E um pensamento avassalador. Jesus era Filho de Deus. O sofrimento foi insupera- vel. Mas toda a mensagem da Biblia nos leva a essa conclusio. Deus designou isso para o bem O profeta hebreu Isaias disse: “... ao Senhor agradou moé- lo, fazendo-o enfermar” (Is 53.10). O Novo Testamento cristao declara: “[Deus] nao poupou o seu proprio Filho, antes, por todos nds 0 entregou” (Rm 8.32). “Deus propés [a Cristo], no seu san- gue, como propiciagdo, mediante a fé” (Rm 3.25). Mas como esse ato divino se relaciona com 0s atos terrivel- mente pecaminosos dos homens que mataram a Jesus? A respos- ta dada na Biblia se expressa numa das primeiras oragGes: “... ver- dadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra 0 teu santo Servo Jesus ... Herodes e Péncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mio € 0 teu proposito predetermi- naram” (At 4.27,28). A profundidade e o alcance dessa soberania divina so de tirar o félego. Mas é também a chave para nossa salvagao. Deus o planejou e, por meio de homens iniquos, veio ao 12 - A Paixiio de Cristo mundo grande bem. Parafraseando uma palavra da Tord judaica: “Eles, na verdade, intentaram o mal, porém Deus 0 tornou em bem” (Gn 50.20). Como Deus 0 tornou em bem, devemos ir além da questo da causa humana para a do proposito divino. A questo central na morte de Jesus no é sua causa, mas seu propésito — 0 significa- do. O homem pode ter tido suas raz6es para querer tirar Jesus do caminho. Mas sé Deus podia planejar isso para o bem do mundo. De fato, os propositos de Deus para o mundo na morte de Jesus sao insondaveis. Neste livro, estou apenas arranhando a superfi- cie ao apresentar-lhe cinqiienta razGes pelas quais Jesus morreu. Meualvo é deixar que a Biblia fale. E aqui que ouvimos a palavra de Deus. Espero que estes indicadores 0 coloquem numa procura sem fim de conhecer cada vez mais o grande plano de Deus na morte de seu Filho. O que significa a-palavra paixdo? Associamos pelo menos quatro coisas com a palavra pai- xGo: desejo sexual, zelo por uma tarefa, um oratério de J.S.Bach e os softimentos de Jesus Cristo, A palavra vem do latim e signi- fica sofrimento. E dessa forma que a emprego aqui — como os sofrimentos e a morte de Jesus Cristo. Mas também esta relacio- nada com todas as outras paixdes. Aprofunda o sexo, inspira a misica e leva adiante a maior causa que existe no mundo. De que modo a paixao de Jesus foi singular? Por que 0 sofrimento e a execugao de um homem julgado e condenado como pretendente ao trono romano desencadeou, nos trés séculos seguintes, poder para sofrer e amar de tal modo que transformou aquele império romano e até o dia de hoje esta for- mando o mundo? A resposta é que essa paixdo de Jesus foi abso- lutamente singular, unica, e sua ressurreig¢ao dos mortos trés dias depois foi um ato de Deus que vindicou aquilo que sua morte al- cangou. Introdugaio - 13 Sua paixao foi unica porque ele era mais que mero humano. Nao menos. Ele era, como diz 0 antigo Credo Niceno, “verdadei- to Deus do verdadeiro Deus”. Este é 0 testemunho daqueles que o conheceram e foram por ele inspirados a explicar quem ele é. 0 apostolo Joao referiu-se a Cristo como “o Verbo” e escreveu: “No principio era o Verbo, ¢ 0 Verbo estava com Deus, eo Verbo era Deus. Ele estava no principio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez .. Eo Verbo se fez carne e habitou entre nds, cheio de graca e de verdade, e vimos a sua gloria, gloria como do unigénito do Pai” (Jo 1.1-3,14) Acrescente a sua divindade o fato de que ele era totalmen- te inocente em seus sofrimentos. Nao somente inocente da acu- sacdo de blasfémia, mas inocente de todo pecado. Um de seus discipulos mais proximos disse: “... 0 qual nado cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca” (1Pe 2.22). Acrescente a essa singularidade que ele assumiu a morte com autoridade abso- luta. Uma das mais surpreendentes declaragdes de Jesus foi so- bre sua propria morte e ressurrei¢ao: “Eu dou a minha vida para a Teassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrario, eu espontanea- mente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para teavé-la. Recebi de meu Pai este mandado” (Jo 10.17,18). A con- trovérsia sobre quem matou Jesus é periférica. Ele escolheu morrer. Seu Pai o ordenou. Ele o abracou. Sua paixao foi vindicada por sua ressurreig4o Devido a essa paixao sem paralelos, Deus ressuscitou Je- sus dos mortos. Trés dias depois, aconteceu. De manha cedinho no domingo, ele ressurgiu dos mortos. Apareceu muitas vezes a seus discipulos durante quarenta dias antes de sua ascensdo aos céus (At 1.3). Os discipulos demoraram bastante para crer que realmente tivesse acontecido. Eles nao eram primitivos crédulos. Eram co- merciantes com pés no chao. Sabiam que as pessoas nao res- 14 - A Paixio de Cristo suscitam. Em uma ocasiao, Jesus insistiv em comer peixe junto deles para provar que nao era um fantasma (Lc 24.39-43). Essa ndo era a ressurreigao de um cadaver. Era a ressurreigao do Deus- homem para uma nova vida indestrutivel. A igreja primitiva o acla- mou Senhor dos céus e da terra: “... depois de ter feito a purifica- ¢40 dos pecados, [ele] assentou-se a direita da Majestade, nas altu- ras” (Hb 1.3). Jesus havia completado a obra que o Pai lhe dera para fazer e a ressurrei¢ao foi prova de que Deus estava satisfei- to. Este livro é sobre o que a paixao de Jesus realizou para.o mundo. A paixao de Cristo e a paixéo de Auschwitz E tragico que a historia da paixao de Cristo tenha produzido anti-semitismo contra os judeus e a violéncia de cruzadas contra muculmanos. Nos crist&os nos envergonhamos de muitos de nos- sos antepassados que nao agiram no espirito de Cristo. Sem ditvi- da, existem tragos dessa praga em nossa propria alma. Mas 0 verdadeiro Cristianismo — que é radicalmente diferente da cultura ocidental — renuncia o avango da religiao por meios violentos. Je- sus disse: “O meu reino nao é deste mundo. Se 0 meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim” (Jo 18.36). O caminho da cruz é 0 caminho do sofrimento. Os cris- tos sfo conclamados a morrer, nao matar, a fim de mostrar ao mundo como sao amados por Cristo. Hoje esse humilde e ousado amor recomenda a Cristo ~ nao obstante 0 custo — a todos os povos, como o unico caminho salvador até Deus: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senao por mim” (Jo 14.6). Mas coloquemos com clareza cristalina: no é cristéo humilhar ou desprezar ou debochar ou perseguir com comentarios mordazes e arrogantes, massacres, cruzadas ou campos de concentragao. Esses foram e sao, simples e terrivelmente, desobediéncia a Jesus Cristo. Dife- rente de muitos de seus seguidores, Jesus orou na cruz: “Pai, per- doa-thes, porque nao sabem o que fazem” (Le 23.34). A paixao de Jesus Cristo é 0 mais importante evento da His- toria, e a questo politica e pessoal mais explosiva do século 21 Introdugaio - 15 Negar que Cristo foi crucificado é como negar que tivesse acon- tecido o Holocausto. Para alguns, é horrivel demais para se afir- mar. Para outros, é uma conspiracao elaborada para coagir a uma empatia religiosa. Mas os negadores vivem em um mundo histo- ricamente de sonhos. Jesus Cristo sofreu horrores e morreu. Assim também sofreram os judeus N§o sou o primeiro a ligar o Calvario e os campos de concen- trac&o—o sofrimento de Jesus Cristo e 0 sofrimento do povo ju- deu. No seu livro que aperta o coracdo, despedagca a inocéncia e cala qualquer boca, Night, Elie Wiesel conta sua experiéncia como adolescente junto a seu pai nos campos de concentragaio de Auschwitz, Buna e Buchenwald. Havia sempre a ameaga da “se- lecdo” — o afastamento dos mais fracos para serem mortos e queimados nos fomos Em determinado ponto — e em um somente — Wiesel liga o Calvario eos campos. Ele conta de um velho rabino, Akiba Dumer. Akiba Dumer nos deixou, vitima da selegdo. Ultimamente, ele havia vagueado entre nds, olhos vidrados, contando a to- dos sobre sua fraqueza: “Nao posso continuar... tudo aca- bou...” Era impossivel levantar sua moral. Ele nao escutava o que nds [he diziamos. S6 sabia repetir que tudo acabara para ele, que cle nao podia mais continuar a luta, que nao tinha mais forgas, nem fé. De repente, seus olhos ficavam vazios, nada sendo duas feridas abertas, duas fossas de terror.’ A seguir, Wiesel faz este comentario provocador: “pobre Akiba Dumer, se apenas pudesse continuar acreditando em Deus, se pudesse ter visto a prova de Deus nesse Calvario, nfo teria sido levado pela selegao”.?_ Nao ouso colocar palavras na boca de Wiesel. Nao tenho certeza do que queria dizer com isso. Mas essa declaragao forga a pergunta: “Por que a ligacao de Calvario com o campo de concentra¢ao?”’. Quando fago essa pergunta, n&o estou pensando em causa ou culpa. Estou pensando em significado e esperanga. Existe al- 16 - A Paixiio de Cristo gum modo pelo qual o sofrimento judeu possa encontrar, nao sua causa, mas seu significado final no sofrimento de Jesus Cristo? E possivel pensar, nao na paixao de Cristo que leve a Auschwitz, mas em Auschwitz levar ao entendimento da paixio de Cristo? E aligagao entre o Calvario e os campos de exterminio uma ligacao de insondavel empatia? Talvez somente Jesus saiba afinal 0 que aconteceu numa “tnica longanoite”’ do sofrimento judeu. E, quem sabe, uma geragao de gente judia, cujos avés sofreram sua pré- pia crucificag4o nociva, seja capaz, como mais ninguém, de en- tender 0 que aconteceu com 0 Filho de Deus no Calvario. Deixo isso como uma pergunta. Eu nao sei. Mas isso eu sei: 0s supostos “cristaos” que construiram os campos jamais conheceram o amor que levou Jesus Cristo ao Cal- vario. Nunca conheceram o Cristo, que em vez de matar para sal- var uma cultura, morreu para salvar o mundo. Existem, porém, al- guns cristaos — verdadeiros cristaos — que viram o significado da paixdo de Jesus Cristo e foram quebrantados e humilhados por seu sofrimento. Sera que esses, talvez melhor que muitos, poderiam ver e pelo menos comegar a entender 0 sofrimento do povo judeu? Que ironia ter havido cristaos anti-semitas. Jesus e todos Os seus primeiros seguidores eram judeus. Pessoas de todos os grupos da Palestina estavam envolvidos na crucificag4o (nao sé judeus). O proprio Deus foi o principal agente na morte de seu Filho, e assim, a principal pergunta nao é: “quais seres hamanos causaram a morte de Jesus?”, mas, sim: “o que a morte de Jesus trouxe para todos os seres humanos — incluindo judeus e mugul- manos, budistas, hindus e secularistas sem religidio — e todos os povos em todo lugar?” Afinal, a pergunta crucial é: por qué? Por que Cristo sofreu emorreu? N&o por que no sentido de causa, mas, sim, no sentido de proposito. Para qué? O que Cristo alcancou por sua paixao? Por que teve de sofrer tanto? Que grande evento ocorria no Calvario para o mundo todo? E sobre isso 0 texto deste livro. Juntei cinqiienta razdes dadas no Novo Testamento pelas quais Cristo sofreu e morreu. Introdugio - 17 No cinqiienta causas de sua morte, mas cingiienta propdsitos. In- finitamente mais importante do que quem matou a Jesus é a per- gunta: O que Deus obtém para os pecadores como nos ao envi- ar seu Filho para morrer? Nos nos voltamos agora para isso. CINQUENTA RAZOES POR QUE JESUS SOFREU E MORREU Jesus sofreu e morreu... 1 Para absorver a ira de Deus Cristo nos resgatou da maldigao da lei, fazendo-se ele proprio maldigao em nosso lugar (porque estd escrito. Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro) Galatas 3.13 Deus propés [a Cristo], no seu sangue, como propiciagao, mediante a fé, para manifestar a sua justiga, por ter Deus, na sua tolerancia, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos. Romanos 3.25 Nisto consiste 0 amor: ndo em que nés tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciagdo pelos nossos pecados. 1 Jodo 4.10 Se Deus no fosse justo, nao haveria exigéncia para o so- frimento e a morte de seu Filho. E se Deus nao fosse amoroso, nao haveria disposi¢do do Filho de sofrer e morrer. Mas Deus é justo e amoroso. Assim, seu amor se dispde a cumprir as exigén- cias de sua justiga. A lei de Deus exige: “Amaras... 0 SENHoR, teu Deus, de todo o teu coragao, de toda a tua alma e de toda a tua forga” (Dt 6.5). Porém, todos temos amado mais a outras coisas. O peca- do é isso — desonrar a Deus pela preferéncia de outras coisas, e 22 - A Paixiio de Cristo agir com base nessas preferéncias. Assim, diz a Biblia que “todos pecaram e carecem da gloria de Deus” (Rm 3.23). Nos glorifica- mos aquilo em que mais temos prazer. E nao é Deus. Sendo assim, 0 pecado nao é algo pequeno, porque nao é uma falta contra um pequeno suserano. A seriedade do insulto au- menta coma dignidade daquele que é insultado. O Criador do uni- verso ¢ infinitamente digno de respeito, admiragao e lealdade. Sen- do assim, deixar de ama-lo nao é trivial — é uma traigao. Difamaa Deus e destréi a felicidade humana. Como Deus é justo, ele nao varre esses crimes para debai- xo do tapete do universo. Ele tem ira santa contra eles. Merecem a punigao e isso fica muito claro “porque o salario do pecado é a morte” (Rm 6.23). “A alma que pecar, essa morrera” (Ez 18.4) Existe uma santa maldigao pairando sobre todo o pecado Nao punir seria injustiga. Seria endossar 0 desmerecimento de Deus. Uma mentira estaria reinando sobre 0 ceme da realidade Assim, Deus disse: “Maldito todo aquele que nao permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para pratica-las” (Gl 3.10; Dt27.26). Mas 0 amor de Deus nao descansa com a maldi¢ao que paira sobre toda a humanidade pecaminosa. Ele nao se contenta em demonstrar a ira, por mais santa que seja. Assim, Deus envia seu proprio Filho para absorver a sua ira e carregar a maldigao no lugar de todos quantos nele confiam. “Cristo nos resgatou da maldi- co dalei, fazendo-se ele proprio maldigao em nosso lugar” (Gl 3.13). E esse o significado da palavra “propiciagao” no texto acima citado (Rm 3.25). Refere-se 4 remogao da ira de Deus por prover um substituto. O proprio Deus oferece o substituto. Jesus Cristo no apenas cancela a ira; ele absorve-a e desvia-a de nds para si mesmo. A ira de Deus é justa, e foi executada, nao retirada. Nao podemos brincar com Deus ou deixar por menos 0 seu amor. Jamais estaremos diante de Deus maravilhados por sermos por ele amados até que reconhegamos a seriedade de nosso peca- do e ajustiga de sua ira contra nds. Mas quando, pela gra¢a, acor- Para absorver a ira de Deus - 23 damos para nossa propria indignidade, podemos olhar o sofrimen- to e amorte de Cristo e dizer: “Nisto consiste o amor: nao em que nds tenhamos amado a Deus, mas em que elenos amou e enviou o seu Filho como propiciagao pelos nossos pecados” (1Jo 4.10). Jesus sofreu e morreu 2 Para agradar ao Pai Celestial ao Senior agradou moé-lo, fazendo-o enfermar. Isaias 53.10 Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nds, como oferta e sacrificio a Deus, em aroma suave. Efésios 5.2 Jesus nao lutou contra seu Pai zangado, jogando-o ao chao e tirando-lhe © chicote. Ele nao 0 forgou a ser misericordioso para com ahumanidade. Sua morte nao foi um consentimento malogra- do da parte de Deus de ser condescendente com os pecadores. No, o que Jesus fez ao sofrer e morrer foi idéia do Pai. Foi uma estratégia de tirar 0 folego, concebida antes mesmo da criacao, enquanto Deus viae planejava a historia do mundo. E por isso que a Biblia se refere a “sua propria determinago e graca que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos etemos” (2Tm 1.9). Jano Antigo Testamento o plano estavase desenrolando. O profeta Isaias predisse os sofrimentos do Messias, que tomaria 0 lugar dos pecadores. Ele disse que o Cristo seria “ferido por Deus” em nosso lugar. Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades ¢ as nossas dores levou sobre si; € nds o reputavamos por afli- to, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas 26 - A Paixfio de Cristo nossas transgressdes e moido pelas nossas iniqitidades... To- dos nés andavamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHoR fez cair sobre ele a iniqiiidade de nds todos (Is 53.4-6). O que mais surpreende nessa substituigdo dos pecadores por Cristo é que a idéia partiu de Deus. Cristo nao interferiu no plano de Deus de castigar os pecadores. Deus planejou que ele es- tivesse ali. Um profeta do Antigo Testamento disse: “Ao Senhor agradou moé-lo, fazendo-o enfermar” (Is 53.10). Isso explica o paradoxo do Novo Testamento, De um lado, © sofrimento de Cristo é o derramar da ira de Deus por causa do pecado. Mas de outro lado, 0 sofrimento de Cristo é um belissimo ato de submissao e obediéncia 4 vontade do Pai. Assim, Cristo exclamou da cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desampa- taste?” (Mt 27.46). Contudo, a Biblia diz que os sofrimentos de Cristo eram um perfume para Deus: “Cristo nos amou e se entre- gou a si mesmo por nds, como oferta e sacrificio a Deus, em aroma suave” (Ef 5.2) Ah! Se pudéssemos adorar a maravilha tremenda do amor de Deus! Nao é sentimentalista. Nao é simples. Por nossa causa, Deus fez o impossivel: derramou sua ira sobre seu proprio Filho — aquele cuja submissdo 0 fez infinitamente nao merecedor de re- ceber tal castigo. No entanto, a propria disposi¢ao do Filho de re- ceber essa ira foi preciosa aos olhos de Deus. Aquele que levou a ira foi amado infinitamente. Jesus sofreu e morreu.. 3 Para aprender obediéncia e ser aperfeicoado Sendo Filho, aprendew a obediéncia pelas coisas que sofreu. Hebreus 5.8 Convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos a gloria, aperfeigoasse, por meio de sofrimentos, 0 Autor da salvagao deles. Hebreus 2.10 O livro da Biblia que diz que Cristo “aprendeu a obedién- cia” por meio do sofrimento e “foi aperfeigoado” pelo sofrimento, diz também que ele era “sem pecado”, “Em tudo Cristo foi tenta- do como nds, mas sem pecar’ (Hb 4.15). Esse € 0 ensino consistente da Biblia. Cristo nao tinha pe- cado. Embora fosse divino Filho de Deus, ele era totalmente hu- mano, sujeito a todas as nossas tentagdes e fraquezas fisicas. Ele so-freu fome (Mt 21.18), irae tristeza (Mc 3.5) e dor (Mt 17.12). Mas seu corag4o amava perfeitamente a Deus Pai, e ele agia de modo coerente com esse amor: “[Ele] nao cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca” (1Pe 2.22). Sendo assim, quando a Biblia diz que Jesus “aprendeu a obe- diéncia pelo sofrimento”, nao quer dizer que ele aprendeu a parar 28 - A Paixao de Cristo de desobedecer. Significa que, com cada nova provagio, ele apren- deu na pratica — e pela dor — 0 que implica obedecer. Quando diz que ele “foi aperfeigoado pelo sofrimento” nao quer dizer que aos poucos estava se livrando dos defeitos. Quer dizer que aos pou- cos ele estava cumprindo a perfeita justiga que necessitava a fim de nos salvar. Foi que ele disse por ocasiao de seu batismo. Ele no era pe- cador para que precisasse ser batizado. Pelo contrario, ele explicou a Joao Batista que “nos convém cumprir toda a justi¢a” (Mt 3.15). E este o ponto: Se o Filho de Deus tivesse passado da encarnagdo para a cruz sem uma vida de tentagdo e dor que testasse sua justic¢a e seu amor, no seria um Salvador apropri- ado para homens caidos. Seu sofrimento nao apenas absorveu a ira de Deus, como também cumpriu a sua verdadeira humanidade e fez com que ele pudesse nos chamar de irmaos (Hb 2.17). Jesus sofreu e morreu. 4 Para alcangar sua propria ressurreicao dos mortos Ora, 0 Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, 0 grande Pastor das ovethas, pelo sangue da eterna alianca, vos aperfeicoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade Hebreus 13.2021 A morte de Cristo nao apenas antecedeu a sua ressurrei- ¢40 — foi o preco pago para obté-la. E por isso que Hebreus 13.20 diz que Deus 0 ressuscitou dos mortos “pelo sangue da eterna alianga’’. O “sangue da alianca” é 0 sangue de Jesus. Como disse ele: “Isto éo meu sangue, 0 sangue da nova alianga” (Mt 26.28). Quan- do a Biblia fala do sangue de Jesus, ela se refere asua morte. Ne- nhuma salvagao teria sido realizada se Jesus apenas sangrasse em vida. Seu sangramento até a morte é 0 que toma to essencial O seu sangue. Qual arelagao entre o derramamento do sangue de Jesus e a sua ressurrei¢ao? A Biblia diz que ele nao apenas foi ressuscita- do apés derramar seu sangue, mas por derramar seu sangue. Isso significa que o que a morte de Cristo realizou foi tao pleno e tao perfeito que a ressurrei¢Ao foi asua recompensa e vindicagao. A ira de Deus foi satisfeita com o sofrimento e a morte de Jesus. A maldigao santa contra o pecado foi plenamente absorvi- 30 - A Paixio de Cristo da. A obediéncia de Cristo foi completa em toda sua medida. O preco do perdao foi totalmente pago. A justiga de Deus foi com- pletamente vindicada. Tudo que restava ser feito era a declaracéo publica do endossamento de Deus. Isso ele fez ressuscitando a Jesus dos mortos. Quando a Biblia diz: “Se Cnsto nao ressuscitou, é va a vos- sa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1Co 15.17), nado esta destacando que a ressurreic¢Ao seja 0 prego pago por nossos pecados. Esta destacando que a ressurrei¢ao prova que a morte de Jesus é um prego totalmente suficiente. Se Jesus nao tivesse ressuscitado, sua morte teria sido um fracasso, Deus nao teria vindicado seu feito de carregar os pecados, e nds ainda estaria- mos em nosso pecado. Mas de fato “Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela gloria do Pai” (Rm 6.4). O sucesso de seu sofrimento e morte foi vindicado. Se colocarmos nossa confianga em Cristo, nao estamos ainda em nossos pecados. Pois, “pelo sangue da eterna alianca’”’, o Supremo Pastor ressuscitou e vive para sempre. Jesus sofreu e morreu. 5 Para demonstrar a riqueza do amor e da graca de Deus pelos pecadores Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderd ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu proprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nés, sendo nos ainda pecadores Romanos 5.7,8 Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que nele cré nao perega, mas tenha a vida eterna. Jo%o 3.16 Nele temos a redengdo, pelo seu sangue, a remissdo dos pecados, segundo a riqueza da sua graca Efésios 1.7 A medida do amor de Deus por nés se demonstra em duas coisas. Uma é 0 grau de seu sacrificio em nos salvar da penalida- de de nosso pecado. A outra é 0 quanto nao merecemos 0 que ele fez quando nos salvou. Ouvimos a medida do seu sacrificio nas palavras “deu o seu Filho unigénito” (Jo 3.16). Também a ouvimos na palavra Cristo. Este é um nome baseado no titulo “Messias”, em grego Christos, ou“Ungido”. E um termo de grande dignidade. O Messias seria Rei de Israel. Ele derrotaria os romanos e traria paz e seguranga 32 - A Paixdo de Cristo alsrael. Assim, a pessoa a quem Deus enviou para salvar os pe- cadores era seu proprio Filho divino, seu unico Filho, o Rei ungido de Israel — na verdade, o rei do mundo inteiro (Is 9.6,7). Se acrescentarmos a essas consideragGes a horrorosa morte pela crucificagao sofrida por Cristo, fica claro que o sacrificio fei- to pelo Pai e pelo Filho foi indescritivelmente grande — alias, infini- to, quando se considera a distancia entre o divino e o humano. Mas Deus escolheu fazer esse sacrificio a fim de nos salvar. A medida de seu amor por nés aumenta ainda mais quando consideramos 0 quanto nao somos merecedores dele. “Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poder ser que pelo bom alguém se anime a morrer, Mas Deus provao seu proprio amor para co- nosco pelo fato de ter Cristo morrido por nds, sendo nos ainda pe- cadores” (Rm S.7,8). Mereciamos 0 castigo divino, nao o sacrifi- cio divino. Jaouvi dizerem: “Deus nao morreu por sapos. Assim, ele Tespondia ao nosso valor como humanos”. Mas isso vira a graga de pernas para o ar. Somos piores que sapos. Eles nao pecam. Eles nao se rebelaram nem trataram Deus com 0 desprezo da inconse- quéncia em suas vidas. Deus nao precisaria morrer por sapos. Eles nao sao suficientemente maus. Nés o somos. Nossa divida é tao grande, sé pode ser paga pelo sacrificio divino. Existe apenas uma explicagao para o sacrificio que Deus fez por nds. Nés ndo somos a explicagao. E “a riqueza da sua graga” (Ef 1.7). E tudo de graga. Nao vem em resposta ao nosso valor. E o derramar de seu valor infinito. De fato, é isso que € 0 amor divi- no: uma paixao por enlevar pecadores que nada merecem, com grande prego, com aquilo que nos tornaré supremamente felizes para sempre, ou seja, a sua infinita beleza. Jesus sofreu e morreu 6 Para demonstrar o seu préprio amor por nés Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nés, como oferta e sacrificio a Deus, em aroma suave. Efésios 5,2 Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela. Efésios 5.25 [Cristo] me amou e a si mesmo se entregou por mim. Galatas 2.20 A morte de Cristo nao é apenas demonstra¢o do amor de Deus (Jo 3.16), é também asuprema expressao do amor do pré- prio Cristo por todos quantos o recebem como seu tesouro. As primeiras testemunhas, que mais sofreram por ser cristas, eram cativadas por este fato: Cristo “me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20). Eles tomavam o ato altruista do sacrificio de Cristo como algo muito pessoal: “Ele me amou. Ele se entregou por mim”. Certamente é assim que devemos entender 0 softimento e a morte de Cristo. Tem a ver comigo, com o amor pessoal de Cristo por mim. Foi o meu pecado que me separou de Deus, nao o pecado em geral. E minha dura cervize insensibilidade espiritual que desvalorizam o valor de Cristo. Sou perdido e estou perecen- do. No que concerne a salvago, nao tenho nenhum direito de justiga. So posso implorar misericérdia. 34 - A Paixio de Cristo Vejo entio o sofrimento ea morte de Cristo. Para quem? E dito: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela (Ef 5.25). “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a propria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.30). “O Filho do Homem... nao veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28). Pergunto eu: Estou entre os “muitos”? Posso ser um de seus “amigos”? Posso pertencer a “igreja”? Ouco a resposta: “Cré no Senhor Jesus e seras salvo, tu e tua casa” (At 16.31). “Todo aquele que invocar o nome do Senhor sera salvo” (Rm 10.13). “Todo aquele que nele cré recebe remissao de pecados” (At 10.43). “... a todos quantos 0 receberam, deu-lhes 0 poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que créem no seu nome” (Jo 1.12). “... todoo que nele cré nao perega, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Meu coragao se move, e eu abraco a beleza e abundancia de Cristo como meu tesouro. Flui em meu cora¢ao essa grande tealidade - 0 amor de Cristo por mim. Assim, digo com aquelas primeiras testemunhas, “Ele me amou e se entregou por mim”. O que quero dizer com isso? Ele pagou o mais alto prego possivel a fim de me dar 0 maior presente possivel. O que €? O pre- sente pelo qual ele orouno final de sua vida: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha gloria que me conferiste, porque me amaste antes da fundagao do mundo” (Jo 17.24). Em seu sofrimento e morte, “cheio de graga e de verdade, vimos a sua gloria, gloria como do unigénito do Pat” (Jo 1.14). Vimos o suficiente para nos cativar para sua causa, Mas o melhor ainda esta por vir. Ele morreu para assegurar-nos isto. E esse o amor de Cristo. Jesus sofreu e morreu... 7 Para cancelar o escrito de divida contra nés da lei de Deus @ vos outros, que estéveis mortos pelas vossas transgressées... vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de divida, que era contra nés e que constava de ordenangas, 0 qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz. Colossenses 2.13,14 Que loucura imaginar que nossas boas obras pudessem um dia pesar mais que nossos maus atos. E loucura por duas razdes Primeiro, nao é verdade. Mesmo nossas boas obras so de- feituosas porque nao honramos a Deus no modo como as faze- mos. Realizamos as boas obras numa feliz dependéncia de Deus com vistas a fazer conhecido o seu valor supremo? Cumprimos 0 mandamento que a tudo engloba de servir as pessoas “na forga que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo” (1Pe 4.11)? O que diremos, pois, em resposta a palavra de Deus: “tudo © que nao provém de fé é pecado” (Rm 14.23)? Creio que nao diremos nada, “Ora, sabemos que tudo o que alei diz... para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpavel perante Deus” (Rm 3.19). Nao diremos nada. E loucura pensar que nossas boas obras pesarao mais que nossas obras mas diante de Deus. Sem a fé que exalte a Cristo, nossas obras nada significam exceto rebeldia. 36 - A Paixiio de Cristo Asegunda razao pela qual é loucura colocar a esperanga nas boas obras é que ndo é assim que Deus nos salva. Se somos sal- vos das conseqliéncias de nossas mas obras, nao sera porque elas pesavam menos do que nossas boas obras. Sera porque 0 “escrito de nossa divida” no céu foi cravado na cruz de Cristo. Deus tem um. modo totalmente diferente de salvar os pecadores que nao consis- te em pesar as suas obras. N&o existe esperanca em nossas obras. So ha esperanga no sofrimento e morte de Cristo. Nao existe salvag&o em equilibrar os documentos. S6 ha sal- vagao no cancelamento desses documentos. O escrito de nossas obras mas (incluindo nossas boas obras defeituosas), juntamente com as justas penalidades que cada um merece, precisa ser can- celado — nao feito um balango. Foi para isso que Cristo sofreu e morreu. Esse cancelamento aconteceu quando 0 escrito de dividas foi “cravadona cruz” (C1 2.13). Como esse documento condenatorio foi pregado na cruz? Nao foi pregado um pergaminho — Cristo foi pregado. Cristo tornou-se o documento condenatorio de nossas o- bras mas (¢ boas). Ele suportou a minha condenagao. Ele colocou minha salvacao sobre uma base totalmente diferente. Ele é minha unica esperanga, E a fé nele é 0 unico caminho para Deus. Jesus sofreu e morreu... 8 Para se tornar resgate por muitos . 0 proprio Filho do Homem nao veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Marcos 10.45 Nao existe na Biblia aidéia de que Satanas deva ser pago a fim de permitir que os pecadores sejam salvos. O que aconteceu a Satanas quando Cristo morreu nao foi pagamento, foi derrota. O Filho de Deus tornou-se humano para que “por sua morte, destruis- se aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo” (Hb 2.14). N&o houve negociacao. Quando Jesus disse que veio “dar a sua vida em resgate”, o foco nao estava em quem recebe o pagamento. O foco é sua pré- pria vida em pagamento, e sua liberdade de servir em vez de ser servido, e dos “muitos” que se beneficiariam do pagamento feito por ele. Se perguntarmos quem recebeu 0 resgate, a resposta bibli- ca certamente sera Deus. A Biblia diz que Cristo “se entregou por nds... como oferta... para Deus” (Ef 5.2). Cristo “a si mesmo se ofereceu sem macula a Deus” (Hb 9.14). Toda a necessidade de um substituto que morresse em nosso lugar é porque nos peca- mos contra Deus e estamos destituidos da gloria de Deus (Rm 3.23). Devido ao nosso pecado, “todo o mundo é culpavel perante Deus” 38 - A Paixio de Cristo (Rm 3.19). Assim, quando Cristo se entrega como resgate por nos, a Biblia diz que somos libertos da condenagao de Deus. “Ago- Ta, pois, ja nenhuma condenagao ha para os que estao em Cristo Jesus” (Rm 8.1). O cativeiro maximo do qual precisamos liberta- ¢40 é 0 dojuizo final de Deus (Rm 2.2; Ap 14.7). O prego do resgate dessa libertagao da condenagao divina éa vida de Cristo. Nao apenas a vida que ele viveu, mas sua vida entregue na morte. Jesus disse repetidas vezes aos seus discipu- Jos: “O Filho do Homem sera entregue nas maos dos homens, e 0 matarao; mas, trés dias depois da sua morte, ressuscitara” (Mc 9.31). De fato, uma das razées pelas quais Jesus gostava de ser chamado de “Filho do Homem” (mais de sessenta e cinco vezes nos Evangelhos) foi que tinha um sonido de mortalidade nesse no- me. Os homens podem morrer. E por essa razo que ele tinha de ser homem. O resgate so poderia ser pago pelo Filho do Homem, porque o resgate era uma vida entregue na morte. O preco nao foi forgado dele. E dai que ele diz: ““O Filho do Homem nao veio para ser servido, mas para servir”. Ele nao preci- sava de nosso servi¢o. Ele erao doador, nao o receptor. “Ninguém a tira (minha vida) de mim; pelo contrario, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavé-la” (Jo 10.18). O preco foi pago livremente. Nao houve coa¢ao. O que nos levanovamente ao seu amor. Ele escolheu livremente salvar-nos ao prego de sua vida. A quantas pessoas Cristo efetivamente resgatou do pecado? Ele disse ter vindo dar sua vida em resgate por muitos. Contudo, nem todas as pessoas ser4o resgatadas da ira de Deus. Mas a 0- ferta é para todos. “Porquanto ha um sé Deus e um sé Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos” (1Tm 2.5,6). Ninguém é excluido dessa salvagao que abarca todos os tesouros do Cristo redentor. Jesus sofreu e morreu... 9 Para o perdao dos nossos pecados No qual temos a redengdo, pelo seu sangue, a remissdo dos pecados, segundo a riqueza da sua graca, Efésios 1.7 .. isto é 0 meu sangue, o sangue da nova alianga, derramado em favor de muitos, para remissao de pecados. Mateus 26.28 Quando perdoamos uma divida ou uma ofensa ou injuria, nao exigimos pagamento para resolugdo do problema. Isso seria 0 opos- to do perdao. Se o pagamento nos for feito daquilo que perdemos, nao ha necessidade de perdao. Ja recebemos 0 que nos é devido. O perdao pressupGe graca. Se eu for ferido por vocé, a gra- gaabre mao. Eu nao 0 processo. Eu o perdéo. A graca da algo que no é merecido. E por isso quea palavra perdao, no inglés, forgi- veness, tem a palavra dar, give. O perdao nao ¢ dar o troco. E entregar o direito de exigir 0 troco. E 0 que Deus faz por nés quando confiamos em Cristo. “Por meio de seunome, todo aquele que nele cré recebe remissao de pecados” (At 10.43). Se cremos em Cristo, Deus ja nao leva em conta contra nds os nossos pecados. E 0 testemunho do pré- prio Deus na Biblia: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressOes por amor de mim e dos teus pecados nao me lem- 40 - A Paixao de Cristo bro” (Is 43.25). “Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afas- ta de nos as nossas transgressdes” (S1 103.12) Mas isso levanta um problema, Todos nds sabemos que nao basta o perdao. Talvez 0 vejamos claramente somente quando é grande a injiria— como no caso do assassinato ou estupro. Nema sociedade nem o universo podem ficar de pé se os juizes (ou Deus) disserem simplesmente para todo assassino e estuprador: “Vocé se arrepende? Entao tudo bem. O Estado 0 perdoa. Agora pode ir’. Em casos como estes, vemos que, ainda que a vitima tenha um espirito perdoador, o Estado nao pode prescindir da justica. Assim também a justig¢a de Deus. Todo pecado é sério, por- que é contra Deus (ver capitulo 1). E ele cuja gloria foi ferida quando nds 0 ignoramos, desobedecemos ou blasfemamos. Sua justiga nao permite que ele simplesmente nos liberte, assim como um juiz humano nao pode simplesmente cancelar todas as dividas que os criminosos devem a sociedade. O mal feito a gloria de Deus tem de ser reparado para que na justia sua gloria brilhe mais. E se nds criminosos formos libertos e perdoados, tem de ha- ver uma forte demonstragao de que a honra de Deus é mantida ainda que os antigos blasfemadores estejam sendo libertos. Por essa razo Cristo sofreu e morreu. “No qual temos a re- dengao, pelo seu sangue, a remissao dos pecados, segundo a ri- queza da sua graca” (Ef 1.7). O perdao nao nos custanada. Toda nossa obediéncia de alto prego é fruto, néo raiz, do perdao, Por esta razdo é que o chamamos de graga. Mas custou a Jesus sua vida. E por esta razdio que o chamamos de justo. Quao preciosa é anoticia de que Deus nao nos acusa dos nossos pecados! E como Cristo é belo, aquele cujo sangue tornou direito Deus fazer isso por nds. Jesus sofreu e morreu... 10 Para oferecer a base para nossa justificagao .. muito mais agora, sendo justificados pelo sew sangue, seremos por ele salvos da ira Romanos 5.9 Sendo justificados gratuitamente, por sua graga, mediante a redengdo que ha em Cristo Jesus ... Romanos 3.24 Concluimos ... que 0 homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. Romanos 3.28 Nao é a mesma coisa o ser justificado por Deus e ser por Deus perdoado. Ser justificado em um tribunal nao é o mesmo que ser perdoado. Ser perdoado implica que sou culpado, mas o crime néo esta sendo levado em conta. Ser justificado implica que eu tenha sido julgado e fui achado inocente. Minha reivindicagao éjusta. Fui vindicado. O juiz declara: “Nao culpado”. A justificagao é um ato legal. Significa declarar que alguém seja justo. E um veredicto. O veredicto da justificacio nao torna justa a pessoa. Ele adeclara justa. E baseado no fato de alguém realmente ser justo. Vemos isso com clareza quando a Biblia nos diz que em resposta ao ensinamento de Jesus, 0 povo e até os pu- blicanos “reconheceram a justiga de Deus” (Lc 7.29). Nao signi- 42 - A Paixiio de Cristo fica que eles tivessem tornado Deus justo (porque ele sempre 0 foi), mas reconheceram e declararam que Deus é justo. A mudanga moral que softemos quando confiamos em Cris- tondo é ajustificacao. Em geral, a Biblia chamaisso de santificagao —o processo de nos tomar bons. A justificagfo nao é esse proces- so. E uma declarago que ocorre em um instante. Um veredicto: Justo! Reto! O método comum de ser justificado em um tribunal humano é0 guardar alei. Nesse caso, 0 juri e 0 juiz simplesmente decla- tam o que é verdade a seu respeito: vocé tem cumprido alei. Eles 0 justificam. Mas no tribunal de justiga de Deus, nés ndo cumpri- mos alei. Assim, ajustificagao em termos comuns é simplesmen- te impossivel. A Biblia diz até: “O que justifica o perverso eo que condena 0 justo abominaveis s4o para o Senhor, tanto um como o outro” (Pv 17.15). Contudo, surpreendentemente, por causa de Cristo, a Biblia diz também que “Deus justifica o impio” que confia em sua graca (Rm 4.5), Deus faz aquilo que parece abominavel Por que nao é abominavel? Ou, como diz a Biblia, como Deus pode ser “justo e 0 justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26)? Nao é uma abominagao Deus justificar aos impios que colo- cam nele sua confianga por duas razdes: uma, Cristo derramou seu sangue para cancelar a culpa de nosso crime. Diz assim: “... muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue” (Rm 5.9), Mas isso é apenas a remogao da culpa, e nao nos declarajustos. Cance- lar nossas falhas em guardar a lei nao é o mesmo que declarar-nos guardadores da lei. Quando um professor anula as provas em que um aluno tirou uma nota de reprovag4o, néo ¢ o mesmo que dar umanota maxima ao aluno. Se o banco me perdoasse as dividas de minha conta, isso nao seria o mesmo que declarar que sou rico. Assim também, o cancelamento de nossos pecados nao ¢ o mesmo que nos declarar justos. Esse cancelamento tem de acontecer. E essencial para a justificagao. Porém, existe mais. Ha mais uma razao pela qual nao é uma abominagao Deus justificar o impio pela fé. Paraisso, vamos ao proximo capitulo. Jesus sofreu e morreu.. 11 Para completar a obediéncia que se torna nossa justica 4 si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até & morte e morte de cruz. Filipenses 2.8 como, pela desobediéncia de um sé homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediéncia de um sd, muitos se tornarao justos. Romanos 5.19 Aquele que nao conheceu pecado, ele o fez pecado por nos; para que, nele, fossemos feitos justiga de Deus. 2 Corintios 5.21 ser achado nele, nao tendo justiga propria, que procede de lei, sendo a que é mediante a fé em Cristo, a justiga que procede de Deus, baseada na fé. Filipenses 3.9 A justificagZo nao é apenas o cancelamento de minha in- justiga. E também a imputagaio da justiga de Cristo sobre mim. Eu nao possuo uma justiga que me recomende a Deus. Diante de Deus eu sé posso dizer: “nao tenho justi¢a propria, que procede de lei, sendo a que é mediante a fé em Cristo, a justiga que procede de Deus, baseada na fé” (Fp 3.9). Essa é a justiga de Cristo. Ela me foi imputada. Quer dizer que Cristo cumpriu perfeitamente toda a justiga e ent&o essa jus- 44 - A Paixiio de Cristo tiga passou a ser reconhecidamente minha, quando eu confiei nele. Fui contado como justo. Deus olhou a perfeita justica de Cristo e me declarou justo, com a justiga de Cristo. Assim, existem duas raz6es pelas quais nao é uma abomi- na¢ao Deus justificar o impio (Rm 4.5). Primeiro, a morte de Cris- to pagou a divida de nossa injustiga (ver 0 capitulo anterior). Segundo, a obediéncia de Cristo ofereceu a justiga de que precisavamos a fim de sermos justificados no tribunal de Deus. A exigéncia de Deus para a entrada na vida eterna nao é apenas que nossa injusti¢a seja cancelada, mas que nossa perfeita justi¢a seja estabelecida. O sofrimento e morte de Cristo sao a base para ambos. Seu sofrimento é 0 sofrimento que nossa injusti¢a merecia. “Ele foi traspassado pelas nossas transgressdes e moido pelas nossas ini- qitidades” (Is 53.5). Mas seu sofrimento e sua morte foram tam- bém o climax e completar da obediéncia que se tomou base de nos- sa justificagao. Ele foi “obediente até 4 morte e morte de cruz” (Fp 2.8). Sua morte foi o Apice da sua obediéncia. E aisso que se refere a Biblia quando diz, “por meio da obediéncia de um sd, muitos se tornarao justos” (Rm 5.19) Assim sendo, a morte de Cristo tomou-se base de nosso perdao e nossa perfei¢ao. “Aquele que nao conheceu pecado, ele © fez pecado por nds; para que, nele, fossemos feitos justiga de Deus” (2Co 5.21). Que Cristo seja honrado por toda sua realizagao em seu so- frimento e em sua morte! A obra de perdoar o nosso pecado tanto quanto a obra de prover nossa justiga. Que o admiremos, o valori- zemos e confiemos nele por esse grande feito. Jesus sofreu e morreu. 12 Para remover nossa condenacgao Quem os condenard? E Cristo Jesus quem morreu ‘ou, antes, quem ressuscitou, o qual esta a direita de Deus e também intercede por nos. Romanos 8.34 A grande conclusao do sofrimento e morte de Cristo é que, “Nenhuma condenagao ha para os que estdo em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Estar “em Cristo” significa estar em relacionamento com ele pela fé. Fé em Cristo nos une aele de modo que sua mor- te se tora nossa morte e sua perfeigao se toma nossa perfei¢ao. Cristo se torna em nosso castigo (que nao precisamos mais carre- gar) enossa perfeigao (que nao conseguimos desempenhar). A fé nao é a base para a nossa aceitagao por parte de Deus. S6 Cristo 0 é. A fé nos une a Cristo de modo que a sua justiga é contada como sendo nossa, “... o homem no ¢ justifica- do por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que féssemos justificados pela fé em Cristo e nao por obras da lei, pois, por obras da lei ninguém sera justificado” (Gl 2.16). Ser “justificado pela fé” e ser “justifi- cado... em Cristo” (Gl 2.17) sao termos paralelos. Estamos em Cristo pela fé, e, portanto, justificados Quando se faz a pergunta: “Quem nos condenara?” presu- me-se a resposta: ninguém! Entao, se declara a base para isso: 46 - A Paixao de Cristo “Cristo Jesus é quem morreu!” A morte de Cristo assegura nossa liberdade da condenagao. E tio certo que nfo seremos condena- dos quanto é certo que Cristo tenha morrido. Nao existe no tribu- nal de Deus nenhum risco duplo. Nao seremos condenados duas vezes pela mesma ofensa. Cristo morreu uma vez por nossos pe- cados. Nao seremos condenados por eles. A condenagao se foi, nao porque ndo existe mais, mas porque ja aconteceu. Eacondenagao do mundo? Essa nao seria uma resposta a pergunta “Quem nos condenara”? Os cristéos nao sao condena- dos pelo mundo? Tem havido muitos martires. A resposta é que ninguém pode nos condenar com sucesso. Podem ser feitas acu- sagdes, mas no final nenhuma acusagao “cola”. “Quem intentara acusagao contra os eleitos de Deus? E Deus quem os justifica” (Rm 8.33). Eo mesmo quando a Biblia pergunta: “Quem nos sepa- rara do amor de Cristo? Sera tribulacao, ou angustia, ou persegui- 40, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?” (Rm 8.35). A res- posta nao é que essas coisas nado acontecem aos crentes. A res- posta é: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedo- Tes, por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37). O mundo fara sua condenagao. Podera até colocar a espa- da contrands. Mas sabemos que o mais alto tribunal ja julgou em nosso favor. “Se Deus é por nds, quem sera contra nds?” (Rm 8.31). Com sucesso, ninguém. Se eles nos rejeitarem, ele nos acei- ta. Se eles nos odiarem, ele nos ama. Se eles nos meterem na pri- sao, ele liberta nosso espirito. Se eles nos afligirem, ele nos refina pelo fogo. Senos matarem, ele faz disso um caminho ao paraiso. Eles nao conseguem nos vencer. Cristo morreu. Cristo ressusci- tou. Estamos vivos nele. E nele nao ha condenagao. Fomos per- doados e somos justificados. E “o justo é intrépido como 0 leao” (Pv 28.1). Jesus sofreu e morreu.. 13 Para abolir a circuncisao e todos os rituais como base para a salvacao Eu ... irmdos, se ainda prego a circuncisdo, por que continuo sendo perseguido? Logo, esta desfeito 0 escdndalo da cruz. Galatas 5.11 Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para nGo serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Gilatas 6.12 A questo da circuncisao foi de enorme controvérsia na igreja primitiva. Tinha um longo e respeitado lugar biblico desde que Deus a ordenara em Génesis 17.10. Cristo era judeu. Todos os seus apdstolos eram judeus. As Escrituras judaicas eram (e sao) parte da Biblia da igreja crista. Nao era de surpreender que 0s rituais judaicos passassem para a igreja crista. Vieram. E com esses ritos veio a controvérsia, A mensa- gem de Cristo estava se espalhando para cidades nao israelitas como Antioquia da Siria. Gentios creram em Cristo. A questao tornou-se urgente. Como a verdade central do evangelho se rela- cionava com rituais como a circuncisdo? Como os rituais estavam relacionados ao evangelho de Cristo — as boas novas que se cre- mos nele nossos pecados sao perdoados e somos justificados di- ante de Deus? Deus é por nds. Temos vida eterna. 48 - A Paixiio de Cristo Por todo o mundo gentio os apdstolos pregaram perdao e justificagao somente pela fé. Pedro pregou: “Dele todos os profe- tas d&o testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele cré recebe remissdo de pecados” (At 10.43). Paulo pre- gou: “Tomai, pois, irmaos, conhecimento de que se vos anuncia re- miss&o de pecados por intermédio deste; e, por meio dele, todo o que cré é justificado de todas as coisas das quais vos nao pudestes ser justificados pela lei de Moisés” (At 13.38,39). E quanto a circunciséo? Alguns em Jerusalém achavam que era essencial. Antioquia tomou-se 0 ponto de destaque da contro- versia. “Alguns individuos que desceram da Judéia ensinavam aos irmaos: Se nao vos circuncidardes segundo 0 costume de Moisés, nao podeis ser salvos” (At 15.1). Foi convocado um concilio ea questo foi debatida. Insurgiram-se ... dizendo: E necessario circuncida-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés... Pedro tomou a palavra ¢ lhes disse: Inmaos, vés sabeis que, desde ha mui- to, Deus me escolheu dentre vés para que, por meu intermé- dio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem... por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discipulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nds? Mas cremos que fomos salvos pela graga do Senhor Jesus, como também aqueles o foram. E toda a multidao silenciou (At 15.5-12). Ninguém viu mais claramente o ceme da quest&o que o apés- tolo Paulo. O proprio significado do sofrimento e da morte de Cristo estava em jogo. Sera que somente fé em Cristo bastaria para nos tomar justos diante de Deus? Ou era necessaria também a circunci- so? Era clara a resposta. Se Paulo pregasse a circuncisao, “esta desfeito o escandalo da cruz” (G15.11). A cruz significa liberdade da escravidao dos rituais. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e nao vos submetais, de novo, a jugo de escravidao” (Gl 5.1). Jesus sofreu e morreu... 14 Para nos trazer a fé e nos manter fiéis Isto é 0 meu sangue, o sangue da nava alianga, derramado em favor de muitos. Mareos 14.24 Farei com eles alianga eterna... € porei 0 meu temor no seu coracao, para que nunca se apartem de mim. Jeremias 32.40 A Biblia fala de uma “antiga alianga’” e de uma “nova alian- ga”. O termo “alianga” se refere a um contrato solene entre duas partes, que leva obrigagdes para ambos os lados e é reforgado por um juramento. Na Biblia, as aliangas que Deus faz com o homem sao iniciadas pelo proprio Deus. Ele é quem coloca os termos. Suas obrigagées so determinadas por seus proprios propésitos. A “antiga alianca” se refere ao contrato estabelecido com Israel na lei de Moisés. Sua fraqueza é que nao foi acompanhada de uma transformagao espiritual. Assim, nao foi obedecida e nao leva a vida. Foi escrita com letras sobre pedra, nao pelo Espirito sobre o coragao. Os profetas prometeram “uma nova alianga” que seria diferente: “nao da letra, mas do espirito; porque a letra mata, mas 0 espirito vivifica” (2Co 3.6). Anova alianga é radicalmente mais efetiva do que a antiga alianca. Foi fundamentada sobre o sofrimento e morte de Jesus. 50 - A Paixiio de Cristo “Ele 60 Mediador da nova alianga, a fim de que, intervindo a mor- te para remissdo das transgressdes que havia sob a primeira ali- anga, recebam a promessa da eterna heranga aqueles que tém sido chamados”(Hb 9.15). Jesus disse que seu sangue era “o san- gue da nova alianga, derramado em favor de muitos” (Mc 14.24). Isso significa que o sangue de Jesus comprou 0 poder e as pro- messas da nova alianga. E supremamente eficaz porque Cristo morreu para realizar isso. Quais sao, entao, os termos da alianca que ele assegurou in- falivelmente por seu sangue? O profeta Jeremias descreve alguns deles: “firmarei nova alianga... esta é a alianga que firmarei... lhes imprimirei as minhas leis, também no coragao lhas inscreverei.. perdoarei as suas iniqitidades e dos seus pecados jamais me lem- brarei’” (Jr 31.3 1-34). O sofrimento e morte de Cristo garantem a transformacao interior das pessoas (a lei escrita no corag4o) e 0 perdiio de seus pecados. Para garantir que essa alianga nao falhara, Cristo toma a iniciativa de criar a fé e assegurar a fidelidade de seu povo. Ele traz 4 existéncia um novo povo que guarda a alianca, porque a lei nao esta apenas escrita em pedra, mas no cora¢4o. Em contraste com a “letra” na pedra, diz ele, o “Espirito da vida” (2Co 3.6). “Es- tando nds mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graga sois salvos” (Ef 2.5). Essa é a vida espiritual que nos capacita a ver e crer na gloria de Cristo. Esse milagre cria um povo da nova alianga. E certo e verdadeiro, porque Cristo © comprou com seu proprio sangue. O milagre nao esta apenas na criagao de nossa fé, mas na seguranga de nossa fidelidade. “Farei com eles alianga eterna... porei o meu temor no seu cora¢do, para que nunca se apartem de mim” (Jr 32.40). Quando Cristo morreu, garantiu para seu povo nao apenas um novo coracao como também nova seguranga. Ele nao permitira que se desviem dele. Ele os guardara. Eles hao de perseverar. O sangue da alianga o garante. Jesus sofreu e morreu... 15 Para nos tornar santos, inculpaveis, perfeitos com uma tinica oferta, aperfeigoou para sempre quantos estao sendo santificados. Hebreus 10.14 [Cristo] vos reconciliow no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpdveis e irrepreensiveis. Colossenses 1.22 Langai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado 1 Corintios 5.7 Uma das coisas que mais entristecem na vida crista é nossa demora para mudar. Ouvimos 0 chamado de Deus para ama-lo de todo nosso cora¢ao, nossa mente e nossa forga (Mc 12.30). Mas sera que subimos até essa totalidade de afeto e dedicag4o? Cla- mamos sempre com 0 apostolo Paulo: “Desventurado homem que sou! Quem me livrara do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Geme- mos mesmo quando assumimos novas resolugGes: “Nao que eu 0 tenha ja recebido ou tenha ja obtido a perfeiga4o; mas prossigo para conquistar aquilo para.o que também fui conquistado por Cris- to Jesus” (Fp 3.12). Essa declaragao é a chave para a perseveranga e a alegria. “Fui conquistado por Cristo”. Todo meu tatear, meu almejar e lutar 52 - A Paixiio de Cristo por alcancar nao sao para pertencer a Cristo (pois isso ja aconteceu), mas para completar o que falta na minha semelhanca com ele. Uma fonte de grande alegria e perseveranga para 0 cristéo ésaber que na imperfeigao de nosso progresso nds ja fomos aper- feigoados — e isso devido ao sofrimento e morte de Cristo. “ com uma unica oferta, aperfeigoou para sempre quantos estao sendo santificados” (Hb 10.14). Isso é maravilhoso! Na mesma sentenca ele diz que “estamos sendo santificados” e ja somos “aperfeigoados””. Ser santificado significa que somos imperfeitos e estamos em um processo. Estamos nos tornando santos — mas ainda nao somos plenamente santos. E so exatamente esses — somente es- ses — que ja so aperfeicoados. O feliz encorajamento aqui é que a evidéncia de nossa perfeigao diante de Deus nao é a perfeigao que tenhamos experimentado, mas o progresso que estamos expe- timentando. As boas novas sao que estar a caminho é prova de que ja chegamos. A Biblia retrata isso na velha linguagem de massa e fermen- to. Na figura, o fermento é mau. Somos 0 pedago de massa. Diz: “Langai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1Co 5.7). Os cristaos so “sem fermento” Nao existe fermento— ou mal. Somos aperfeigoados. Por essa ra- 240 devemos “langar fora o velho fermento”. Em Cristo fomos fei- tos sem fermento. Agora ent&o, devemos nos tornar sem fer- mento na pratica. Noutras palavras, devemos nos tornar naquilo que somos. A base de tudo isso? “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imola- do.” O sofrimento de Cristo assegura tao firmemente a nossa perfei- ao que ela ja é uma realidade. Portanto, lutamos contra nosso pe- cado nao simplesmente para nos tornarmos perfeitos, mas porque nos somos perfeitos. A morte de Jesus é chave para lutar contra nossas imperfeigdes sobre o firme fundamento de nossa perfeigao. Jesus sofreu e morreu... 16 Para nos dar uma consciéncia limpa ... dons como sacrificios, embora estes, no tocante & consciéncia, sejam ineficazes para aperfeigoar aquele que presta culto, os quais ndo passam de ordenangas da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas ablugées, impostas até ao tempo oportuno de reforma” Hebreus 9.9,10 .. 0 sangue de Cristo, que, pelo Espirito eterno, asi mesmo se ofereceu sem mécula a Deus, purificard a nossa consciéncia de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! Hebreus 9.14 Algumas coisas jamais mudam. O problema de uma consci- éncia culpada é antigo como Adio e Eva. Logo que pecaram, sua consciéncia ficou maculada. Seu senso de culpa era forte. Estra- gou seu relacionamento com Deus — esconderam-se dele. Estra- gou Seu relacionamento mutuo — cada um culpavao outro. Estra- gou a paz que tinham consigo mesmos — pela primeira vez viram a si mesmos e se envergonharam. Em todo o Antigo Testamento, a consciéncia era uma ques- to importante. Mas 0 sacrificio de animais nao podia limpar a consci- éncia. “... dons como sacrificios, embora estes, no tocante a consci- éncia, sejam ineficazes para aperfeigoar aquele que presta culto, os 54 - A Paixiio de Cristo quais néo passam de ordenangas da came, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas ablugGes, impostas até ao tempo oportuno de reforma” (Hb 9.9, 10). Como antecipagao da vinda de Cristo, Deus contava o sangue dos animais como suficiente para purificar a care ~ a impureza cerimonial, mas nao a consciéncia. Nenhum sangue animal poderia purificar a consciéncia, eles bem sabiam (ver Isaias 53 e Salmos 51). Nos também o sabemos. Assim, veio um novo sumo sacerdote — Jesus, Filho de Deus— com melhor sacrificio: ele mesmo. “... 0 sangue de Cristo, que, pelo Es- pirito eterno, a si mesmo se ofereceu sem macula a Deus, purifi- cara anossa consciéncia de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9.14). O sacrificio de animais anteviao sacrificio final do Filho de Deus, e a morte do Filho se estende para tras, para co- brir todos os pecados do povo de Deus no velho periodo de tempo, e para frente, cobrindo todos os pecados do povo de Deus no novo periodo de tempo. Assim, estamos na era moderna — era de ciéncia, internet, transplante de orgaos, mensagens instantaneas, telefonia celular — eo problema é fundamentalmente o mesmo de sempre: nossa cons- ciéncia nos condena. Nao nos sentimos bons 0 bastante para nos aproximarmos de Deus. Nao importa 0 quanto nossa consciéncia esteja distorcida, permanece a verdade: nao somos suficientemente bons para nos aproximar de Deus. Podemos nos cortar, jogar os filhos no rio sagrado, ou doar um milhao de dolares para o Fome Zero, servir comida para gente de rua no dia de Natal, pagar cem peniténcias e auto-imolagdes, eo resultado serao mesmo: a mancha fica, e a morte aterroriza. Sabe- mos que nossa consciéncia esta suja — Néo com coisas extemas como tocar um defunto ou comer carne de porco. Jesus disse que &0 que sai da pessoa que contamina, nao o que entra (Mc 7.15-23). Somos contaminados pelo orgulho e autopiedade, amargura e luxt- ria, inveja e cilumes e avareza e apatia e medo — e os atos gerados por estes. Sao todas “obras mortas”. Nao possuem vida espiritual. Nao provém de vida nova; provém da morte e conduzem a morte. Para nos dar uma consciéneia limpa - 55 E por essa razao que nos fazem sentir-nos desesperados em nos- sa consciéncia. A unica resposta para esses tempos modemos, como em to- das as épocas, estano sangue de Cristo. Quando nossa conscién- cia surge e nos condena, para onde iremos? Para Cristo. Voltamo- nos ao sofrimento e morte de Cristo — osangue de Cristo. E 0 tnico agente purificador no universo que pode dar alivio a consciéncia na vida e paz na morte. Jesus sofreu e morreu... 17 Para nos obter tudo que é bom para nés Aquele que nao poupou o seu préprio Filho, antes, por todos nds o entregou, porventura, nao nos dard graciosamente com ele todas as coisas? Romanos 8.32 Amo alogica desse versiculo. Nao que eu ame alogica, mas porque amo ver supridas as minhas verdadeiras necessidades. As duas metades de Romanos 8.32 possuem uma conexao logica ma- ravilhosamente importante. Talvez nao a vejamos, pois a segunda metade é uma pergunta: “... porventura, nao nos dara graciosa- mente com ele todas as coisas?” Mas se mudarmos a pergunta para a declaragao que implica, vemos claramente. “Aquele que nao poupou seu proprio Filho, antes, por todos nés o entregou, juntamen- te com ele nos dara graciosamente todas as coisas.” Noutras palavras, a conexdo entre as duas metades tem in- tengo de tomar como absoluta certeza a segunda metade. Se Deus fez o que era mais dificil de tudo, ou seja, entregou seu proprio Fi- Tho a morte, entdo é certo que fara o que é comparativamente facil, ou seja, dar-nos com ele todas as coisas. O compromisso to- tal de Deus de nos dar todas as coisas é tao certo quanto o sacri- ficio de seu Filho. Ele entregou o Filho “por nds todos”. Feito isso, ele poderia parar de ser por nds? Seria impensavel 58 - A Paixiio de Cristo Mas 0 que significa “dar-nos todas as coisas”? Nao uma vi- da facil de conforto. Nem prote¢do contra nossos inimigos. Isso sabemos, por meio do que a Biblia diz quatro versiculos mais adian- te: “Como esta escrito: Por amor de ti, somos entregues a morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro” (Rm 8.36). Muitos cristdos, aténos dias de hoje, sofrem esse tipo de per- seguig&o. Quando a Biblia pergunta: “Quem nos separara do amor de Cristo? Sera tribulagao, ou angustia, ou perseguicao, ou fome, ounudez, ou perigo, ou espada?” (Rm 8.35), a resposta é — nao, nada. Nao que essas coisas nao acontegam com os crentes, mas porque “Em todas estas coisas ... somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37). O que quer dizer, ent&io, que devido a morte de Cristo por nds Deus certamente nos dara graciosamente “todas as coisas”? Sig- nifica que ele nos dara tudo que é bom para nés. Todas as coisas de que realmente precisamos, para sermos conformes a imagem de seu Filho (Rm 8.29). Todas as coisas de que precisamos para obter felicidade eterna. Eo mesmo quea outra promessa biblica: “.. o meu Deus, se- gundo asua riqueza em gloria, ha de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.19). Essa promessa é esclare- cida nas palavras que o precedem: “Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstancias, ja tenho experiéncia, tanto de fartura como de fome; assim de abun- dancia como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.12,13). Diz que podemos “todas as coisas” por meio de Cristo. Mas note que esse “tudo” inclui passar fome e escassez. Deus suprira toda necessidade verdadeira, incluindo a capacidade denos alegrar no sofrimento quando muitos pensam que as necessidades nao es- tGo mais sendo supridas. Deus suprira toda necessidade real, in- cluindo a graga para passar fome quando a necessidade sentida de alimento nao for satisfeita. O sofrimento e morte de Cristo ga- rantem que Deus nos dara todas as coisas necessarias para fa- zermos a sua vontade e dar-lhe gloria e alcangar alegria eterna. Jesus sofreu e morreu... 18 Papa nos curar da doenga moral e fisica .. ele foi traspassado pelas nossas transgressbes @ moido pelas nossas inigitidades; © castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaias 53.5 [Ele] curow todos os que estavan doentes, para que se cumprisse 0 que fora dito por intermédio do profeta Isaias: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doencas. Mateus 8.16.17 Cristo sofreu e morreu para que um diaa doenga seja total- mente destruida. A doenga e a morte nao faziam parte do plano original de Deus. Vieram com o pecado como parte do juizo de Deus sobre a criagao. Diz a Biblia: “... a criago esta sujeita 4 vai- dade, nao voluntariamente, mas por causa daquele que a sujei- tou” (Rm 8.20). Deus sujeitou o mundo a futilidade da dor fisica a fim de mostrar o horror da maldade moral. Essa futilidade inclui a morte. “‘... assim como por um sé ho- mem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos peca- ram” (Rm 5.12). Incluiu todos os gemidos da doenga. E os cris- taos nao sdo excluidos disso: “... também nds, que temos as 60 - A Paixiio de Cristo primicias do Espirito, igualmente gememos em nosso intimo, aguar- dando a adogao de filhos, a redengao do nosso corpo” (Rm 8.23). Mas todo o sofrimento da doenga é temporario. Aguarda- mos um tempo em que a dor no corpo nao mais existira. A sujei- ¢ao da criacao nao foi permanente. Desde 0 inicio de seujuizo, a Biblia diz que a meta de Deus era a esperanga. Seu propésito final era que “a propria criacao sera redimida do cativeiro da corrup¢ao, paraa liberdade da gloria dos filhos de Deus” (Rm 8.21). Quando Cristo veio ao mundo, ele estava em missao de reali- zar essa redengao global. Ele sinalizou seu propésito curando mui- tas pessoas durante a sua vida sobre a terra. Houve ocasiao em que as multid6es se juntaram e ele “curou todos os seus enfermos” (Mt 8.16; Lc 6.19). Isso foi um vislumbre do que vira no final da histo- tia do mundo quando ele “Ihes enxugara dos olhos toda lagrima, e a morte ja nao existira, ja nao havera luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4). Cristo venceu a morte e a doenga tomando-as sobre sie le- vando-as consigo ao tamulo. O juizo de Deus sobre aquele peca- do que trouxe a doenga foi sofrido por Jesus quando ele sofreu e morreu. O profeta Isaias explicou a morte de Cristo com as se- guintes palavras: “Ele foi traspassado pelas nossas transgressOes e moido pelas nossas iniqitidades; 0 castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). Os horrendos vergoes nas costas de Jesus trouxeram um mundo sem doenga. Um dia, toda doenga sera banida da criacao redimida de Deus. Havera nova terra. Teremos corpos novos. A morte sera tragada pela vida etema (1Co 15.54; 2Co 5.4). “O lobo €0 cordei- TO pastarao juntos, e o ledo comera palha como 0 boi” (Is 65.25). E todos quantos amam a Cristo cantarao canticos de gratidao ao Cordeiro que foi morto a fim de nos redimir do pecado e da morte e da doenga. Jesus sofreu e morreu. 19 Para dar vida eterna a todos quantos nele créem Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que nele cré ndo perega, mas tenha a vida eterna. Joao 3.16 Em nossos momentos mais felizes, nao desejamos morrer. O desejo de morte surge somente quando nosso sofrimento pare- ce insuportavel. O que realmente desejamos nessas horas nao é amorte, mas 0 alivio. Queriamos que voltassem os tempos bons. Desejamos que a dor desaparega. Desejamos a pessoa amada de volta do tumulo. Queremos vida e felicidade. Estamos brincando quando romanceamos a morte como 0 climax de uma vida bem vivida. Ela é inimiga. Ela nos corta de todos os maravilhosos prazeres deste mundo. Damos nomes do- ces 4 morte apenas como o menor dos males. O executor que da o golpe de graca sobre nosso sofrimento nio ¢ 0 realizador de nossos anseios, mas o fim da esperanga. O anseio do coragao humano é viver e ser feliz. Deus nos fez assim. Ele “... pés a eternidade no coragao do homem’” (Ec 3.11). Fomos criados 4 imagem de Deus e Deus ama a vida e vive eternamente. Fomos feitos para a vida eterna. E a viveremos. O oposto da vida eterna nao é o aniquilamento, mas o inferno. Jesus falou mais que todos sobre o inferno, e deixou 62 - A Paixao de Cristo claro que rejeitar a vida eterna oferecida por ele nao resultaria num apagamento, mas no sofrimento da ira de Deus: “Por isso, quem cré no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho nao vera a vida, mas sobre ele permanece aira de Deus” (Jo 3.36). E permanece para sempre. Jesus disse: “... irao estes para 0 castigo eterno, porém os justos, para a vida etema” (Mt 25.46). E uma realidade inefavel que mostra o mal infinito de tratar a Deus com indiferenga ou desprezo. Jesus adverte: “Se um dos teus olhos te faz tropecar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um sé dos teus olhos do que, tendo os dois seres lancados no inferno, onde nao lhes morre o verme, nem 0 fogo se apaga” (Mc 9.47,48). Assim, a vida eterna nao é apenas uma extensio desta vida com seu misto de dor e prazer. Assim como 0 inferno é 0 pior resultado desta vida, a “vida eterna” é seu melhor resultado. E felicidade suprema e sempre crescente em que todo pecado e tris- teza terdo desaparecido. Tudo que é mau e nocivo na criagao cai- da sera removido. Tudo que é bom — tudo que traga verdadeirae duradoura felicidade — sera preservado, purificado e intensificado. Seremos transformados para que sejamos capazes de di- mensoes de felicidade inconcebiveis a nds na presente vida. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em cora- ¢40 humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amany” (1Co 2.9). Isso é verdade a cada momento da vida, agora e para sempre: Para aqueles que confiam em Cristo o melhor esta por vir. Veremos a gloria de Deus que a todos satisfaz. “... a vida eter- na é esta: que te conhecam a ti, o unico Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Paraisto Cristo sofreue morreu. Por que nao o receber como nosso tesouro, e viver? Jesus sofreu e morreu.. 20 Para nos livrar deste mundo perverso [Ele] se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai. Galatas 1.4 Até que morramos ou Cristo venha estabelecer seu reino, vivemos atualmente em um “mundo perverso”. Quando a Biblia diz que Cristo se entregou “paranos desarraigar deste mundo per- verso”, nao quer dizer que seremos tirados do mundo, mas que ele nos livrara do poder do mal que estano mundo. Assim Jesus orou: “Nao peco que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo 17.15). Jesus orou para que nos livrasse “do mal” porque o mundo presente é a era em que Satanas recebeu liberdade para enganar e destruir. Diz a Biblia: “o mundo inteiro jaz no Maligno” (1Jo 5.19). O “maligno” é chamado também de “deus deste século” e seu alvo principal é cegar as pessoas em relacdo a verdade. “O deus deste século cegou 0 entendimento dos incrédulos, para que lhes nao resplandega a luz do evangelho da gloria de Cristo, o qual é aimagem de Deus” (2Co 4.4). Até que despertemos para entender nossa tenebrosa con- dicdo espiritual, vivemos sincronizados com “este mundo perver- 64 - A Paixiio de Cristo so” e seu regente. “Nos quais andastes outrora, segundo 0 curso deste mundo, segundo o principe da potestade do ar, do espirito que agora atua nos filhos da desobediéncia” (Ef 2.2). Sem saber, éramos lacaios do diabo. O que nos parecia liberdade era escravi- dao. A Biblia refere-se diretamente a modismos, diversées e vici- os do século 21 quando diz: “... prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos sao escravos da corrup¢ao, pois aquele que é venci- do fica escravo do vencedor” (2Pe 2.19). Ressoao grito de liberdade na Biblia: “... nao vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovagao da vossa mente” (Rm 12.2). Noutras palavras, seja livre! Nao seja engana- do pelos gurus da moda. Eles hoje est@o aqui, amanha desapare- cem., Um modismo que escraviza segue outro. Daqui a trinta anos, as tatuagens de hoje nao ser&o simbolos de liberdade, mas lem- bretes indeléveis do conformismo A sabedoria deste século é loucura tendo em vistaa eterni- dade. “Ninguém se enganea si mesmo: se alguém dentre vos se tem por sabio neste século, faga-se estulto para se tornar sabio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1Co 3.18,19). “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nos, que somos salvos, poder de Deus” (1Co 1,18). Qual é, ent&o, a sabedoria de Deus na presente era? Ea grande e libertadora morte de Jesus Cristo. Seus primeiros segui- dores disseram: “Nos pregamos a Cristo crucificado... poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1.23,24). Quando foi a cruz, Cristo libertou milhdes de cativos. Ele desmascarou a fraude do diabo e destruiu seu poder. B isso que ele dizia na noite anterior a crucificagao quando declarou: “Che- gou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu principe sera expulso” (Jo 12.31). Nao siga um inimigo derrotado. Sigaa Cristo. Custa muito. Vocé sera um exilado na presente era. Mas sera livre Jesus sofreu e morreu.. 21 Para nos reconciliar com Deus .. se nds, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do sen Filho, muito mais, estando 74 reconciliados, seremos salvos pela sua vida; Romanos 5.10 A reconciliagéo necessaria entre os homens pecadores e Deus é um caminho de duas vias. Nossa atitude para com Deus precisa ser mudada, de atitude desafiadora para uma atitude de fé A atitude de Deus para conosco tem de mudar da ira para a mise- ricérdia. Mas essas duas nao sao a mesma coisa. Eu preciso da ajuda de Deus para mudar; Deus nao precisa de minha ajuda. Mi- nha mudanga tem de vir de fora de mim; a de Deus se origina em sua propria natureza, Isso significa que, no todo, nao ha, de maneira alguma, mudanga em Deus, E a agao planejada pelo proprio Deus de parar de estar contra mim e passar a ser a meu favor. As palavras mais importantes sao “quando inimigos”. Foi ent&o que “fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho” (Rm 5.10). Quando éramos inimigos! Noutras pala- vras, a primeira “mudanga” foi de Deus, nao nossa. Ainda éra- mos inimigos. Nao que estivéssemos conscientes de estar em pé- de-guerra. A maioria das pessoas nao esta consciente de sua hos- tilidade contra Deus. A hostilidade se manifesta mais sutilmente, como insubordinagao quieta e indiferenga. A Biblia a descreve 66 - A Paixiio de Cristo assim: “o pendor da came é inimizade contra Deus, pois nao esta sujeito 4 lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rm 8.7) Quando ainda éramos assim, Deus enviou Cristo para car- Tegar os pecados que atigavam sua ira e tornar possivel ele nos tratar apenas com misericOrdia. O primeiro ato de Deus para nos reconciliar consigo mesmo foi remover o obstaculo que nos toma- va irreconciliaveis, ou seja, a culpa desprezivel do pecado. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo 0 mundo, nao imputando aos homens as suas transgressdes, e nos confiou a palavra da reconciliag&o” (2Co 5.19). Quando os embaixadores de Cristo levam essa mensagem ao mundo, dizem eles: “Em nome de Cristo ... rogamos que vos re- concilieis com Deus” (2Co 5.20). Eles querem dizer apenas mu- dem de atitude para com Deus? Nao. Querem também dizer: Recebam a obra anterior de Deus em Cristo para reconcilid-lo com voces. Considere esta analogia da reconciliagao entre os homens. Jesus disse: “Se ... ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembra- res de que teu irm&o tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmAo; e, entao, voltando, faze a tua oferta” (Mt 5.23,24). Ao dizer “vai reconciliar-te com teu irmao”, note que é o irmao que precisa remover o julgamento. O irmao é quem “‘tem algo contra vocé” assim como Deus tem algo contra nds. “Reconcilia-te com teu irmao” significa fazer 0 que for necessario para que o julgamento de seu irmao contra vocé seja removido. Mas quando ouvimos o evangelho de Cristo, descobrimos que Deus ja fez isso. Ele deu os passos que nao éramos capazes de dar para remover o seu julgamento contra nos. Enviou Cristo para sofrer em nosso lugar. A reconciliag4o decisiva aconteceu “quando éramos inimigos”. A reconciliagao, danossa parte, é sim- plesmente receber o que Deus ja fez, do modo como recebemos um presente de inestimavel valor. Jesus sofreu e morreu. 22 Para nos levar a Deus .. Cristo morreu, uma tunica vez, pelos pecados, 0 justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espirito, 1 Pedro 3.18 agora, em Cristo Jesus, vos, que antes estaveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Efésios 2.13 Afinal, Deus é 0 evangelho. Evangelho significa “boa nova”. O Cristianismo nao é primeiramente teologia, mas noticia. E como quando prisioneiros de guerra ouvem num radio escondido que os aliados ja venceram e o salvamento é apenas questao de tempo. Os guardas nao sabem por qué eles estiio tao felizes. Mas qual o bem final nas boas novas? Acaba tudo numa so coisa: o proprio Deus. Todas as palavras do evangelho levam a ele, oundo é evangelho. Por exemplo, a salvag4o nao é uma boa noticia se ela apenas salva do inferno e nao para Deus. O perdao nao é uma boa nova se apenas alivia o sentimento de culpa, mas nao abre o caminho para Deus. A justificago nao é boa noticia se apenas nos torna legalmente aceitaveis a Deus, mas nao traz co- munho com Deus. A redengao nao ¢ uma boa nova se apenas nos liberta da escravidao, mas nao nos leva a Deus. A adogao nao 68 - A Paixao de Cristo é uma boa nova se apenas nos coloca na familia de Deus, mas nao nos pde em seus bra¢os de amor. Isso é de importancia essencial. Parece que muitas pesso- as abracgam o evangelho sem abragar a Deus. Nao existe evidén- cia certa de que tenhamos um novo corag4o apenas porque que- remos fugir do inferno. Tal desejo é natural, nado sobrenatural. Nao é preciso um cora¢ao novo para desejar 0 alivio psicolgico do perdao, ou a remogao da ira de Deus, ou a heranga do mundo de Deus. Todas essas coisas sio compreensiveis sem uma transfor- magao espiritual. Vocé nao precisa ser nascido de novo para queré- las. Até os dem6nios as desejam. Nio é errado deseja-las. E até loucura ndo deseja-las. Mas a evidéncia de que fomos transformados é que desejamos essas coisas porque elas nos Jevam a ter prazer em Deus. E esse o maior bem pelo qual Cristo morreu por nos. “Cristo morreu, uma unica vez, pelos pecados, 0 justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1Pe3.18) Por que é essa a esséncia das boas novas? Porque fomos feitos para experimentar a plena e duradoura felicidade de ver e saborear a gloria de Deus. Se nossa maior alegria vem de menos que isso, somos iddlatras e desonramos a Deus. Ele nos criou de tal forma que sua gloria se manifesta em nossa alegria nela. O evan- gelho de Cristo so as boas novas que, ao preco da vida do seu Fi- tho, Deus fez tudo o necessario para nos enlevar com quem nos fara eterna e crescentemente felizes, ou seja, ele mesmo. Muito antes de Cristo vir ao mundo, Deus se revelou como fonte do pleno e duradouro prazer. “Tu me fards ver os caminhos da vida; na tua presenga ha plenitude de alegria, na tua destra, deli- cias perpetuamente” (SI 16.11). Entao, ele enviou Cristo para so- frer “para que nos leve a Deus”. Ou seja, enviou Cristo para nos levar a mais profunda, mais duradoura felicidade possivel ao ser humano. Ouga, entao, o convite: Desvie-se dos “prazeres transi- torios do pecado” (Hb 11.25) e venha as “delicias perpetuamen- te”, Venha a Cristo. Jesus sofreu e morreu... 23 Para que pudéssemos pertencer a ele meus irmaos, também vés morrestes relativamente a lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. Romanos 7.4 «no sabeis que 0 vosso corpo é santudrio do Espirito Santo, que esta em vos, o qual tendes da parte de Deus, e que ndo sois de vés mesmos? Porque fostes comprados por prego. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo. 1 Corintios 6.19,20 Atendei por vés e por todo o rebanho sobre o qual o Espirito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu préprio sangue Atos 20,28 A questo ultima nao é quem é vocé, mas de quem € vocé. Claro, muitas pessoas pensam que nao so escravas de ninguém, Sonham com uma total independéncia. Como uma agua-viva leva- da pelas marés acha que é livre porque nao esta presa ao casco de um navio. Mas Jesus tinha uma palavra para pessoas que pensa- vam assim: “... conhecereis a verdade, e a verdade vos libertara. Responderam-lhe: Jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.32-34), 70 - A Paixdo de Cristo A Biblia nao da crédito a seres humanos caidos que pensam ser regidos por si mesmos. Nao existe autonomia num mundo cai- do. “... desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do peca- do para a morte ou da obediéncia para a justiga?... quando éreis escravos do pecado, estaveis isentos em relagdo a justi¢a... Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus... (Rm 6.16,20,22) Na maioria das vezes, somos livres para fazer 0 que quere- mos. Mas nao somos livres para desejar 0 que devemos. Para isso carecemos de um novo poder baseado em uma compra divina. O poder é de Deus. E por essarazo que a Biblia diz: “gracas a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coragao” (Rm 6.17). Deus é quem “concede nao sé 0 arrepen- dimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno a sensatez, livrando-se eles dos lagos do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2Tm 2.25,26). A compra que libera esse poder é a morte de Cristo. “Nao sabeis que ndo sois de vés mesmos? ... fostes comprados por pre- go” (1Co 6.19,20). Qual o prego que Cristo pagou por aqueles que nele confiam? “... comprou com 0 seu proprio sangue” (At 20.28). Agora somos verdadeiramente livres. Nao para sermos au- t6nomos, mas para desejar o que é bom. Toda uma nova forma de vida se abre diante de nds quando a morte de Cristo se torna a morte de nossa velha natureza. Em lugar de regras, fica o relaci- onamento com o Cristo vivo. A liberdade de produzir frutos subs- titui a escravidao da lei. “Vos morrestes relativamente a lei, por meio do corpo de Cnsto, para pertencerdes a outro, a saber, aque- le que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus” (Rm 7.4). Cristo sofreu e morreu para que fossemos libertos da lei e do pecado e pertencéssemos a ele. E aqui que a obediéncia deixa de ser um fardo e se torna em liberdade para frutificar. Lembre- se: vocé nao pertence a si mesmo. De quem sera? Se for de Cristo, venha e pertenca! Jesus sofreu e morreu.. 24 Para nos dar confiante acesso ao Santo dos Santos Tendo ... irméos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus ... aproximemo-nos Hebreus 10.19.22 Um dos grandes mistérios do Antigo Testamento era o signi- ficado da tenda de adoragdo usada por Israel e chamada de “‘ta- bernaculo”. Eram dadas pistas do mistério, mas ele nao estava claro. Quando o povo de Israel saiu do Egito e chegou ao monte Sinai, Deus deua Moisés detalhadas instrugdes sobre como cons- truir essa tenda movel de culto com todas as suas partes e seu mobiliario. O que era misterioso em tudo isso era esta ordem: “Vé que tudo fagas segundo o modelo que te foi mostrado no mon- te” (Ex 25.40). Quando Cristo veio ao mundo, mil e quatrocentos anos mais tarde, foi revelado mais claramente que esse “modelo” do antigo tabernaculo era uma “copia” ou “sombra” das realidades no céu. O tabernaculo foi uma figura terrestre de uma realidade celeste. Assim, lemos no Novo Testamento: “[os sacerdotes] ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como foi Moisés divinamente instruido, quando estava para construir 0 tabernaculo; pois diz ele: Vé que fagas todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte” (Hb 8.5). 72 - A Paixao de Cristo Desse modo, a pratica do culto de Israel no Antigo Testa- mento aponta para alguma coisa mais real, Assim como havia sa- las santas no tabernaculo, onde os sacerdotes repetidas vezes le- vavam 0 sangue dos sacrificios de animais e se encontravam com Deus, assim também existe no céu um “santissimo lugar”, onde Cristo entrou com seu proprio sangue, no repetidas vezes, mas de uma vez para sempre. Quando... veio Cristo como sumo sacerdote... no maior ¢ mais perfeito tabernaculo, no feito por maos, quer dizer, nao desta criagao, nado por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu proprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redengdo (Hb 12.11,12). A implicagao disso para nds é que o caminho foi aberto para que entrassemos com Cristo no Santo dos Santos da presenga de Deus. Anteriormente, apenas os sacerdotes israelitas podiam en- trar na “maquete” e “sombra” deste lugar. Somente o sumo sacer- dote entrava uma vez por ano no lugar santissimo onde aparecera a. gloria de Deus (Hb 9.7). Havia uma cortina proibitiva que protegia © lugar da gloria. A Biblia conta que, quando Jesus deu seu Ultimo suspirona cruz “...o véu do santuario se rasgou em duas partes de alto a baixo, tremeu a terra, fenderam-se as rochas” (Mt 27.51). O que significou isso? A interpretago nos é dada com as seguintes palavras: “Tendo... irmaos, intrepidez para entrar no San- to dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua came” (Hb 10.19,20). Sem Cristo, asantidade de Deus tinha de ser protegida de nés. Ele teria sido desonrado, e nos teriamos sido consumidos devido anos- so pecado. Mas agora, por Cristo, podemos nos aproximar e ban- quetear nosso coracao na plenitude da beleza flamejante da santi- dade de Deus. Ele nao sera desonrado. Nos nao seremos consumi- dos. Por causa de Cristo que nos protege totalmente, Deus sera honrado e nds estaremos diante dele em enlevo etemo. Assim sen- do, nao tenha medo de vir. Mas venha por meio de Cristo. Jesus sofreu e morreu. 25 Para se tornar o lugar onde nos encontramos com Deus Jesus thes respondeu: Destrui este santudrio, e em trés dias o reconstruirei. Replicaram os judeus. Em quarenta e seis anos foi edificado este santuario, e€ tu, em trés dias, o levantards? Ele, porém, se referia ao santuario do seu corpo. Joao 2.19,21 “Matem-me e eu me tomareio lugar de encontro global com Deus.” E assim que eu faria a parafrase de Jodo 2.19,21. Eles achavam que Jesus se referia ao templo de Jerusalém. “Destrui este santuario, e em trés dias o reconstruirei.” Mas ele falava de seu corpo. Por que Jesus fez a conexao entre o templo israelita e seu proprio corpo? Porque ele veio substituir o templo como lugar de encontro com Deus. Com a vinda em carne humana do Filho de Deus, ritual e 0 culto sofreriam profunda mudanga. O proprio Cristo seria o cordeiro pascal final, o sumo sacerdote final, o templo final. Todos aqueles passariam, e ele permaneceria. O que permanecia seria infinitamente melhor. Referindo-se asimesmo, Jesus disse: “... aqui esta quem é maior que 0 templo” (Mt 12.6). O templo tornou-se habitagao de Deus em raras vezes quando a gloria do Senhor encheu o lugar santo. Mas sobre Cristo diz a Biblia: “... nele habita, corporalmente, toda a plenitude da 74 - A Paixao de Cristo Divindade” (Cl 2.9). Em Jesus, a presenga de Deus nao vem e vai. Ele é Deus. Onde nos encontramos com ele, encontramo-nos com Deus. Deus encontrou 0 povo no templo por meio de muitos medi- adores humanos imperfeitos. Mas agora, diz-se de Cristo: “Ha um s6 Deus e um s6 Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Se quisermos um encontro com Deus em ado- ragao, so existe um lugar para ir — Jesus Cristo. O Cristianismo nao possui centro geografico como 0 Isla ou o Judaismo. Certa vez, quando Jesus confrontou uma mulher com seu adultério, ela mudou 0 assunto dizendo: “Nossos pais adoravam neste monte; vés, entretanto, dizeis que em Jerusalém é 0 lugar onde se deve adorar”. Jesus seguiu-a no seu atalho: “Mulher... a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis 0 Pai’. A questao nao é geografica. Qual é? Jesus continuou: “Vem ahora e jd chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarao 0 Pai em espirito e em verdade” (Jo 4.20-23). Jesus muda totalmente as categorias. Nao é neste monte ou naquela cidade, mas em espirito e em verdade. Ele veio a0 mundo explodir os limites geograficos. Agora nao havia mais um templo. Jerusalém nao é mais 0 centro. Cristo 0 é. Queremos ver Deus? Jesus disse: “Quem me vé a mim vé 0 Pai” (Jo 14.9). Que- remos receber a Deus? Ele diz: “Quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10.40). Desejamos a presenga de Deus no culto? A Biblia declara: ““Aquele que confessa o Filho tem igual- mente 0 Pai” (1Jo 2.23). Queremos honrar 0 Pai? Jesus diz: Quem no honra o Filho nao honra o Pai que 0 enviou” (Jo 5.23). Quando Cristo morreu e ressuscitou, o antigo templo foi subs- tituido pelo Cristo que é globalmente acessivel. Vocé pode se apro- ximar dele sem mover um misculo sequer. Ele esta tao proximo quanto o esta a fé. Jesus sofreu e morreu... 26 Para dar fim ao sacerdécio do Antigo Testamento e tornar-se eterno sumo sacerdote . aqueles sao feitos sacerdotes em maior mimero, porque sao impedidos pela morte de continuar; este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdécio imutavel. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpdvel, sem macula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, que ndo tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrificios, primeiro, por seus préprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu. Hebreus 7.23-27 Cristo entrou... no mesmo céu, para comparecer, agora, por nos, diante de Deus; [nfo] para se oferecer asi mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessdrio que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundacdo do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrificio de si mesmo, o pecado. Hebreus 9.24-26 ... todo sacerdote se apresenta, dia apos dia, a exercer 0 servigo sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrificios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um tmico sacrificio pelos pecados, assentou-se a destra de Deus, Hebreus 10.11,12 76 - A Paixio de Cristo Uma das grandes frases da verdade crista “de uma vez por todas”. Vem do grego (ephapax) e quer dizer “uma vez para todo © tempo”. Significa que algo decisivo aconteceu. Pelo tanto que realizou 0 ato nao precisa mais ser repetido. Qualquer esforgo por repeti-lo lancara descrédito sobre a realizagao que aconteceu “de uma vez por todas” Era uma realidade sombria anecessidade de os sacerdotes de Israel oferecerem sacrificio de animais por seus proprios pe- cados e pelos pecados do povo. Nao estou dizendo que nao havia perdao. Deus instituiu os sacrificios para alivio de seu povo. Eles pecaram e necessitavam de um substituto que levasse seu casti- go. Era a misericordia de Deus que aceitava 0 ministério de sa- cerdotes pecadores e animais em substituicao. Havia, porém, um lado negativo nisso. Tinha de ser repetido. A Biblia diz: “Nesses sacrificios faz-se recordacao de pecados todos os anos” (Hb 10.3). O povo sabia que, quando colocavam suas maos sobre a cabega de um touro para transferir seus peca- dos ao animal, isso teria de ser feito novamente. Nenhum animal bastava para sofrer pelo pecado humano. Sacerdotes pecadores tinham de fazer sacrificio por seus préprios pecados. Touros e bodes nao possuiam vida moral e nao podiam carregar aculpa do homem “.., porque é impossivel que o sangue de touros e de bodes remova pecados” (Hb 10.4). Havia também um revestimento de prata nessa nuvem da insuficiéncia do sacerdocio. Se Deus honrou essas coisas inade- quadas, certamente significa que um dia ele haveria de mandar um servo qualificado para completar aquilo que os sacerdotes nao conseguiam fazer — acabar de uma vez por todas com 0 pecado. Jesus Cristo é quem fez isso, Ele tornou-se sumo sacerdo- te final e sacrificio ultimo. Sem pecado, ele nao ofereceu sacrifi- cios por si mesmo. /mortal, jamais teve de ser substituido. Huma- no, ele pode carregar os pecados da humanidade. Sendo assim, ele nao ofereceu sacrificios por si, mas ofereceu asi mesmo em sacrificio final. Nunca mais havera necessidade de outro sacrifi- Para dar fim ao saverddcio do Antigo Testamento ¢ tornar-se eterno - 77 cio. Ha um s6 mediador entre nés e Deus. Um sacerdote. Nao precisamos de outro. Ah! Quao felizes so aqueles que se aproxi- mam de Deus mediante Cristo somente. Jesus sofreu e morreu.. 27 Para se tornar sacerdote que nos ajuda e se compadece de nés .. nGo temos sumo sacerdote que ndo possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, @ nossa semethanga, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graca, a fim de recebermos miseri- cérdia e acharmos graga para socorro em ocasido oportuna. Hebreus 4.15.16 Cristo tomou-se nosso sacerdote por meio do sacrificio de si mesmo sobre a cruz (Hb 9.26), Ele énosso intermediario com Deus. Sua obediéncia e sofrimento foram tao perfeitos que Deus nao o rejeitara. Assim, se nos aproximarmos de Deus mediante Jesus, Deus também nao nos rejeitara. Mas fica ainda melhor. A caminho da cruz, durante trinta anos, Jesus foi tentado como todo ser humano sofre a tentago. Verdade, ele nunca pecou. Mas pessoas sdbias destacam que isso significa que as tentagdes pelas quais ele passou eram mais fortes que as que nds softemos, nao mais fracas. Se uma pessoa cede a tentagao, ela nunca chega ao seu mais forte e pleno ataque. Nés capitulamos enquanto a pressio ainda esta crescendo. Mas Jesus jamais fez isso. Ele softeu a plena press&o até o fim e nunca cedeu. Ele sabe o que significa ser tentado com toda a forga. Uma vida inteira de tentago culminando com espetacular abuso e abandono deu a Jesus a capacidade, sem paralelos, de sim- 80 - A Paixao de Cristo patizar com pessoas tentadas e sofredoras. Ninguém jamais so- freu mais do que ele. Ninguém aturou maiores abusos. Ninguém me- recia menos tal sofrimento, ou tinha maior direito de revidar. Mas ce apostolo Pedro diz: “o qual nao cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, nao revidava com ultraje; quando maltratado, nao fazia ameagas, mas entrega- va-se Aquele que julga retamente” (1 Pe 2.22,23). Portanto, diz a Biblia que ele é capaz de“‘compadecer-se das nossas fraquezas” (Hb 4.15). Isso é surpreendente. O Filho de Deus ressurreto, sentado a destra de Deus e com toda a autorida- de sobre 0 universo todo, sente aquilo que sentimos quando nos aproximamos dele em tristeza ou dor ~— ou encurralados com as promessas de prazeres pecaminosos. Que diferenga isso faz? A Biblia responde fazendo uma liga- ¢4o entre o sentimento de Jesus e nossa confianga em oragao, Diz que, assim como ele é capaz de compadecer-se das nossas fra- quezas... [portanto nos devemos] nos aproximar “confiadamente, junto ao trono da graca, a fim de recebermos misericérdia e achar- mos gra¢a para socorro em ocasiao oportuna” (Hb 4.15, 16) Evidentemente é 0 seguinte pensamento: Temos a tendén- cia de sentir que nao seremos bem-vindos na presenga de Deus se nos aproximarmos com nossas lutas. Sentimos tanto a pureza e perfeigao de Deus que tudo a nosso redor parece inadequado em sua presenga. Mas lembramo-nos entao que Jesus “se compade- ce”. Ele sente conosco, nao contra nos. Essa consciéncia do com- padecimento de Cristo nos da ousadia de nos aproximarmos. Ele conhece nosso clamor. Ele experimentou nossa luta. Ele nos con- vida a vir confiantes quando sentimos nossa necessidade. Lem- bremos, portanto, o velho hino de John Newton Estas vindo a um Rei, Trazendo contigo grandes pleitos: Pois sua gracga e poder sao tais Que ninguém podera pedir demais.* Jesus sofreu e morreu.. 28 Para nos libertar da futilidade de nossos antepassados Nao foi mediante coisas corruptiveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fiitil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem macula, 0 sangue de Cristo. 1 Pedro 1.18,19 Pessoas do Ocidente secular e povos mais primitivos de tri- bos animistas tém algo em comum: créem no poder do cativeiro ancestral. Chamam-no por nomes diferentes. Os povos animistas talvez falem em termos de espiritos dos antepassados e a trans- missAo de maldigdes. As pessoas de visao secular talvez falem da influéncia genética ou de feridas deixadas por pais abusivos, co- dependentes e emocionalmente distantes. Em ambos os casos ha um senso de fatalismo, de que somos fadados a viver dentro da maldi¢ao ou as feridas de nossos antepassados. O futuro parece futil e vazio de felicidade. Quando a Biblia diz: “fostes resgatados do vosso fitil pro- cedimento que vossos pais vos legaram’”, refere-se aum modo de vida vazio, improdutivo, sem significado, que acaba em destrui- ¢4o. Diz que esse procedimento futil era ligado a nossos antepas- sados. Nao diz como. O essencial é notar como somos libertos da 82 - A Paixao de Cristo escravidao dessa futilidade. O poder do libertador define a exten- sao da libertacao. A libertagao da escravidao dos ancestrais nao acontece com “coisas pereciveis como prata ou ouro”. Prata e ouro representam as coisas mais valiosas que se podiam pagar por nosso resgate. Mas sabemos que so initeis. As pessoas mais ricas sao muitas vezes as mais escravizadas a essa futilidade. Um rico chefe tribal pode viver atormentado por uma maldigao ancestral sobre sua vida. Um bem-sucedido presidente de uma companhia pode ser impelido por forgas inconscientes provenientes de sua origem que acabam com seu casamento e seus filhos Prata e ouro nao tém poder de ajudar. O sofrimento e a mor- te de Jesus oferecem 0 que é necessario: nao ouro e prata, mas 0 precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro sem defeito e sem macula”. Quando Cristo morreu, Deus tinha em vista o relaci- onamento entre nds e nossos antepassados. Ele queria nos liber- tar da futilidade que herdamos deles. Essa é uma das grandes ra- z6es pelas quais Cristo morreu. Nenhuma maldi¢ao “pega” em vocé, se seus pecados sao todos perdoados e vocé foi revestido da justiga de Cristo, redimido eamado pelo Criador do universo. O sofrimento e morte de Jesus sao a razao final pela qual a Biblia diz do povo de Deus que “con- tra Jacd nao vale encantamento, nem adivinhagao contra Israel” (Nm 23.23). Quando Jesus morreu, todas as béngaos do céu foram compradas para aqueles que nele confiam. E quando Deus aben- goa, ninguém pode amaldigoar. Da mesma maneira, nenhuma ferida feita por um pai ou uma mae esta além do poder curador de Jesus, A redengao da cura é chamada de “sangue precioso de Cristo”. O adjetivo “precioso” carrega em si valor infinito, Nenhuma escravidao permanece di- ante dele. Portanto, vamos nos afastar da prata e do ouro e abra- gar o presente de Deus. Jesus sofreu e morreu.. 29 Para nos libertar da escravidao do pecado Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a gloria ¢ 0 dominio pelos séculos dos séculos. Amém! Apocalipse 1.5,6 Jesus, para santificar 0 povo, pelo seu proprio sangue, sofreu fora da porta. Hebreus 13.12 Nosso pecado nos estraga de duas formas. Ele nos torna culpados diante de Deus de forma que ficamos sob sua justa con- denagao; ele toma nosso comportamento feio, de modo a desfigu- rar aimagem de Deus que deveriamos refletir. Ele nos condena com a culpa e nos escraviza com falta de amor. O sangue de Jesus nos liberta de ambas as desgragas. Satis- faz ajustiga de Deus, fazendo com que nossos pecados sejam per- doados com justiga. Vence o poder do pecado de nos tomar es- cravos da falta de amor. Vimos como Cristo absorve a ira de Deus eretira nossa culpa. Mas agora, como 0 sangue de Cristo nos liber- ta da escravidao do pecado? A resposta nao é que ele seja poderoso exemplo que nos inspire a nos libertar do egoismo. Ah, sim, Jesus é um exemplo para nos. E muito poderoso. Ele deseja claramente que o imite- 84 - A Paixdo de Cristo mos: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim Como eu Vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34). Mas o chamado para imita-lo nao é 0 poder da liberta- ¢ao. Existe algo mais profundo. O pecado é uma influéncia téo poderosa em nossa vida que precisamos ser libertos pelo poder de Deus, nao por nossa forga le vontade. Como somos pecadores, temos de perguntar, “Sera que o poder de Deus é dirigido para a nossa libertagao ou para nossa condenagao?” E ai que entra sofrimento de Cristo. Quan- do Cristo morreu para remover nossa condenagao, ele como que abriu a valvula da misericordia poderosa do céu para que fluisse em prol da nossa libertagao do poder do pecado. Noutras palavras, a libertagdo da culpa do pecado e daira de Deus teve de anteceder a libertagao do poder do pecado pela misericérdia de Deus. As palavras biblicas cruciais para dizer isso sao: a justificacdo precede e garante a santificagdo. Sao diferen- tes. Uma é uma declaragao instanténea (nao culpado!), a outra é uma transformagao continua. Ora, para aqueles que confiam em Cristo, o poder de Deus nao esta a servico de sua ira condenatoria, mas de sua misericérdia libertadora. Deus nos da esse poder para a transformagao medi- ante a pessoa de seu Espirito Santo. E por essa razo que a beleza de“... amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fi- delidade, mansid&o, dominio proprio” so chamados de “fruto do Espirito” (Gl 5.22,23). E por esta razdo que a Biblia faz a surpre- endente promessa: “o pecado nao tera dominio sobre vos; pois nao estais debaixo da lei, e sim da graga” (Rm 6.14). Estar sob a graca assegura o poder onipotente de Deus de destruir nossa falta de amor (nao de repente, mas de manera progressiva). Nao so- mos passivos ao vencer nosso egoismo, mas também nao vem de nds o poder decisivo para tanto. E graga de Deus. Assim, o gran- de apdstolo Paulo podia dizer: “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, nao eu, mas a graca de Deus comigo” (1Co 15.10). Que o Deus de toda graga, pela fé em Cristo, nos liberte da culpa e da escravidao do pecado. Jesus sofreu e morreu 30 Para que morramos para o pecado e vivamos para a justica carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nés, mortos para os pecados, vivamos para a justiga 1 Pedro 2.24 Por mais estranho que parega, a morte de Cristo em nosso lugar e por nds, significa que nds morremos. Talvez alguém pense que, ter um substituto para morrer em seu lugar significa que ele escapa da morte. E claro que escapamos da morte— da morte eterna de miséria sem fim e separagao de Deus. Jesus disse: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerao, e ninguém as arrebatara da minha mao” (Jo 10.28). “Todo o que vive e cré em mim nao morrera, eter- namente” (Jo 11.26). A morte de Jesus realmente significa que todo o que nele cré nao perece, mas tem a vida eterna (Jo 3.16) Mas existe outro sentido em que morremos precisamente porque Cristo morreu em nosso lugar e por nossos pecados. “Carre- gando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos peca- dos, para que nds, mortos para os pecados...” (1 Pe 2.24). Ele mor- reu para que vivamos; e morreu também para que morréssemos. Quando Cristo morreu, eu, como crente em Cristo, morri com ele. A Biblia é clara: “fomos unidos com ele na semelhanga da sua morte” (Rm 6.5). “Um morreu por todos; logo, todos morreram” (205.14) Jesus sofreu e morreu... 31 Para que morramos para a Lei e frutifiquemos para Deus .. meus irmGos, também vés morrestes relativamente a lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. Romanos 7.4 Quando Cnsto morreu por nés, nds morremos com ele. Deus olhou para nds que cremos como quem esta unido a Cristo. Sua morte por nossos pecados foi nossa morte nele. Veja o capitulo anterior. Mas o pecado nao foi a tinica realidade que matou a Jesus e ands. A lei de Deus também o fez. Quando quebramos a lei pelo pecado, a lei nos sentencia 4 morte. Se nao houvesse lei, nao haveria castigo. “Onde nao ha lei, também nao ha transgres- sao” (Rm 4.15). Mas“... tudo o que alei diz, aos que vivem na lei diz para que se cale toda boca, e todo 0 mundo seja culpavel perante Deus” (Rm 3.19). Nao havia como escapar da maldi¢ao da lei. Ela era justa e nds éramos culpados. S6 havia um modo de nos libertar. Alguém tinha de pagar a pena. Foi para isso que veio Jesus. “Cristo nos resgatou da maldi¢&o da lei, fazendo-se ele proprio maldi¢ao em nosso lugar” (G1 3.13). Sendo assim, a lei de Deus nao pode nos condenar se esti- vermos em Cristo. Seu dominio sobre nds é duplamente quebra- 88 - A Paixiio de Cristo do. Por um lado, as exigéncias da lei foram cumpridas por Cristo em nosso favor. Ele guardou perfeitamente a lei e isso foi credita- do em nossa conta (ver 0 capitulo 11). Por outro lado, a penalida- de da lei foi paga pelo sangue de Cristo. E por isso que a Biblia ensina claramente que estar bem com Deus nao é questao de guardar a lei. “Ninguém sera justificado diante dele por obras da lei” (Rm 3.20). “O homem nao é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 2.16). Nao existe esperanca de estar em paz com Deus por guardar alei. A unica esperanga esta no sangue e na justiga de Cristo, que é nossa somente pela fé. “Concluimos, pois, que o homem ¢ justifica- do pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3.28). Como, entao, podemos agradar a Deus, se nos encontra- mos mortos para sua lei e elando mais nos domina? A lei nao éa expresso da boae santa vontade de Deus? (Rm 7.12) A resposta biblica é que, em vez de pertencermos a lei, que exige e condena, agora pertencemos a Cristo, que exige e concede. Anteriormente, ajustic¢a nos era exigida do lado de fora, em letras escritas na pedra. Mas agora ajustica surge de dentro de nos como um dese- jono nosso relacionamento com Cristo. Ele esta presente e é real. Pelo seu Espirito ele nos auxilia em nossa fraqueza. Uma pessoa viva substituiu uma lista letal. “A letra mata, mas 0 espirito vivifi- ca” (2Co 3.6). Vejao capitulo 14. Por esta razao a Biblia diz que o novo caminho da obedién- ciaé frutificador, e nao guardador da lei. ““... meus irmaos, também vos morrestes relativamente a lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus” (Rm 7.4). Mor- remos para a guarda da Jei para que vivamos em frutificacao. O fruto cresce naturalmente na arvore. Se a arvore for boa, o fruto sera bom. E a arvore, neste caso, é um relacionamento vivo no amor de Jesus Cristo. Para isto ele morreu. Agora ele nos convi- da avir: “Confie em mim”. Morra para a lei, para que vocé produ- za fruto do amor. Jesus sofreu e morreu.. 32 Para nos capacitar a viver para Cristo e nao para nos mesmos Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo Filipenses 3.7,8 Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha gloria Joo 17.24 Ele morreu por todos, para que os que vivem ndo vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 2 Corintios 5.15 Muitas pessoas se perturbam com a idéia de que Cristo morreu para exaltar a Cristo. Em sua esséncia, 2 Corintios 5.15 diz que Cristo morreu para que vivamos por ele. Noutras pala- vras, ele morreu por nds para que nos o valorizemos muito. Ou seja, Cristo morreu para Cristo. Ora, isso é verdade. Nao é um jogo de palavras. A esséncia do pecado é que no conseguimos glorificar a Deus — isso inclui nao glorificar ao Filho (Rm 3.23). Mas Cristo morreu para levar sobre si esse pecado e nos livrar do mesmo. Ele carregou a desonra que haviamos amontoado sobre ele com nosso pecado. Ele morreu pa- radar a virada nisso. Cristo morreu para a gloria de Cristo 90 - A Paixiio de Cristo A razao pela qual essa declaragao perturba as pessoas é que soa como vaidade. Nao parece algo proveniente do amor. Parece mudar o softimento de Cristo para exatamente 0 oposto do que a Biblia diz que foi, ou seja, o ato supremo de amor. Mas na verdade, seu sofrimento inclui as duas coisas. O fato de que Cristo morreu para sua propria gloria e morreu também para demonstrar amor nao é apenas verdade, como também sao a mesma coisa. Cristo é unico. Ninguém mais consegue agir dessa maneira echama-la de amor. Cristo é 0 tinico ser humano do universo que também é Deus, portanto, de valor infinito. Ele é de beleza infinita em toda a sua perfei¢o moral. E infinitamente sabio e justo e bom e forte. “Ele ... 6 0 resplendor da gloria e a expressdo exata do .. Ser [de Deus], sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). Vé-lo e conhecé-lo satisfaz mais do que possuir todos os bens da terra. Aqueles que o conheciam melhor disseram o seguinte: .. 0 que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refigo, para ganhar a Cristo (Fp 3.7,8). “Cristo morreu para que vivéssemos por ele” nao significa “para que o ajudassemos”. [Deus]” nao é servido por maos huma- nas, como se de alguma coisa precisasse” (At 17.25). Nem Cris- to. “... pois o proprio Filho do Homem nao veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Cristo morreu, nao para que pudéssemos ajuda-lo, mas para que o pudéssemos ver e prova-lo como de valor infinito. Morreu paranos desmamar dos prazeres venenosos e nos enlevar com os prazeres de sua beleza. Nisso somos amados e ele é honrado. Nao sao obje- tivos que competem entre si. Sao 0 mesmo. Para nos capacitar a viver para Cristo e nao para nés mesmos - 91 Jesus disse aos seus discipulos que tinha de ir para que pudesse enviar o Espirito Santo, o Ajudador (Jo 16.7). Passou entao a dizer-lhes o que o Consolador faria quando viesse: “Ele me glorificara” (Jo 16.14). Cristo morreu e ressurgiu para que 0 vissemos e 0 glorificassemos. E essa.a maior ajuda que existe no mundo. E amor. A orag%o mais repleta de amor feita por Jesus foi: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha gloria” (Jo 17.24). Foi para isto que Cristo morreu. Isto é amor — sofrer para nos conceder prazer eterno, ou seja, ele mesmo. Jesus sofreu e morreu. 33 Para fazer de sua cruz a base de toda nossa gl6éria ... longe esteja de mim gloriar-me, sendo na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual 0 mundo esta crucificado para mim, e eu, para o mundo, Galatas 6.14 Parece um absurdo: gloriar-se somente na cruz! Mesmo? Literalmente, somente na cruz? A Biblia fala a respeito de outras coisas das quais nos gloriamos. Gloriar-nos na gloria de Deus (Rm 5.2). Gloriar-nos em nossas tribulagdes (2Co 12.9). Gloriar-nos no povo de Cristo (1Ts 2.19,20). Por que 0 “sd” aqui? Significa que todas as demais jactancias ainda devem se glo- tiar na cruz. Senos gabamos da esperanga da gloria, isso deve ser gloria dacruz de Cristo. Senos orgulhamos do povo de Cristo, esse orgulho deve ser na cruz. Gloriar-se apenas na cruz significa que somente a cruz capacita para outros motivos legitimos de glona, e todo orgulho legitimo deve, portanto, honrar a cruz. Por qué? Porque toda boa dadiva-—na verdade, até mesmo as coisas ruins que Deus permite e transforma em bem — foi obti- da para nos pela cruz de Cristo. Sem fé em Cristo, os pecadores obtém somente julgamento. Sim, existem muitas coisas agrada- veis que acontecem com os descrentes. Mas a Biblia ensina que mesmo essas béngos naturais da vida apenas aumentarao a se- 94 - A Paixiio de Cristo veridade do julgamento de Deus no final, se ndo forem recebidas com gratidao na base do sofrimento de Cristo (Rm 2.4,5). Sendo assim, tudo em que temos prazer, como povo de Cristo, € devido a sua morte. Seu sofrimento absorveu todo 0 julgamento merecido por pecadores culpados e comprou todo o bem que des- frutam os pecadores perdoados. Assim, toda a gloria nessas coi- sas deve ser gloriar-se na cruz de Cristo. Nao somos to centrados em Cristo quanto deveriamos ser, nem amamos tanto a cruz quan- to deveriamos, porque nao ponderamos a verdade que todo bem, e tudo que é mau que Deus transforma em bem, foi comprado pelo sofrimento de Cristo. Como passar a focalizar de modo radical a cruz? Devemos despertar para a verdade de que, quando Cristo morreu sobre a cruz, nds morremos juntos (ver capitulo 31). Quando aconteceu isso ao apéstolo Paulo, ele disse: “... o mundo esté crucificado para mim, e eu, para o mundo” (G1 6.14). E esta a chave do gloriar-se na cruz de Cristo. Quando se confia em Cristo, as fortes atragdes do mundo se quebram. Vocé é, para o mundo, um cadaver, e o mundo, um mor- to para vocé. Em termos positivos, vocé é “nova criatura” (G1 6.15). A velha morreu. Um novo vocé esta vivo — 0 vocé da fé em Cris- to. O que marca essa fé é que ela considera Cristo como maior tesouro que qualquer outra coisa do mundo. Morreu o poder do mundo de seduzi-lo. Estar morto parao mundo quer dizer que todo prazer legitimo do mundo toma-se evidéncia, comprada por sangue, do amor de Cristo e razdo para gloriar-se na cruz. Quando nosso coragao traga. o caminho de volta do brilho da béngo até sua origem na cruz, 0 mundanismo daquela béngao morte e Cristo crucificado é tudo. Jesus sofreu e morreu... 34 Para nos capacitar a viver pela fé nele Ja nao sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim, Gilatas 2.20 Existe um paradoxo explicito neste versiculo, “Estou cruci- ficado”, mas “agora eu vivo”. Talvez vocé diga que isso nao é um paradoxo, é uma seqliéncia. Primeiro, morri com Cristo; em se- guida, fui ressuscitado com ele e agora estou vivo. Verdade. Mas o que dizer das palavras ainda mais paradoxais: “Nao sou mais eu quem vive’, contudo “agora eu vivo”? Estou vivo ou nao? Os paradoxos nao sao 0 mesmo que as contradi¢des. Ape- nas soam assim. Paulo esta dizendo que havia um “eu” que mor- Teu, e existe agora um “eu” que vive. E isso que significa tornar- se cristéo. Um velho eu morre. Um novo ser ¢ “criado” ou “res- suscitado”. “Se alguém esta em Cristo, é nova criatura” (2Co 5.17). “Estando nos mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo... e, juntamente com ele, nos ressuscitou” (Ef 2.5,6). Oalvo da morte de Cristo era levar nosso “velho homem” com ele ao tumulo e por fim nele. “Sabendo isto: que foi crucifica- do com ele o nosso velho homem, para que 0 corpo do pecado seja destruido” (Rm 6.6). Se confiarmos em Cristo, somos a ele 96 - A Paixao de Cristo unidos e Deus conta nosso velho homem como tendo morrido com Cristo. O propésito: ressuscitar um novo homem. Quem é esse “novo ser”? O que ha de diferente nesses dois seres? Ainda sou eu mesmo? O versiculo do inicio deste capitulo descreve esse novo ser de duas formas: uma quase inimaginavel, aoutra, muito clara. Primeiro, diz que o novo ser é Cristo vivendo em mim. “No sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” Este novo eu esta definido pela presenga e ajuda de Cristo em to- das as horas. Ele esta sempre me dando vida. Sempre ele me for- talece para aquilo que me chamou para fazer. Por esta razio, a Biblia diz: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). “Para isso é que eu também me afadigo, esforgando-me o mais possivel, segundo a sua eficacia que opera eficientemente em mim” (Cl 1.29). Assim, afinal, o novo ser diz: “Nao ousarei discorrer sobre coisa alguma, sendo sobre aquelas que Cristo fez por meu inter- médio” (Rm 15.18). Esse é 0 primeiro modo de Galatas 2.20 falar do novo ser: um eu habitado por Cristo, sustentado por Cristo, fortalecido por Cristo. Isso é 0 que é um cristao. O outro modo que descreve o novo ser é assim: vive confiando em Cristo a cada momento. “Esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e asi mesmo se entregou por mim”, Sem a segunda descrigao do novo ser, talvez nos pergun- tassemos qual seria a nossa parte na experiéncia da ajuda diaria de Cristo. Temos agora a resposta: fé. Do lado divino, Cristo vive em nds e nos capacita a viver do modo que ele nos ensina. E sua obra. Mas de nosso lado, experimentamos isso quando confiamos nele cada momento para estar conosco e nos ajudar. A prova de que ele estara conosco e nos ajudara é 0 fato de que ele sofreu e morreu para fazé-lo acontecer. Jesus sofreu ¢ morreu... 35 Para dar 0 mais profunfo significado ao casamento Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja € asi mesmo se entregou por ela. Efésios 5.25 Na Biblia, 0 plano de Deus para o casamento retrata o ma- tido amando a esposa como Cristo ama seu povo, e a esposa cor- respondendo ao marido como 0 povo de Cristo deve responder a ele. Este retrato estava na mente de Deus quando ele enviou Cristo ao mundo. Cristo veio por sua noiva e morreu por ela para de- monstrar o modo como deve ser 0 casamento. Nao, a analogia nao diz que os maridos devam sofrer nas mos de suas mulheres. Verdade, em certo sentido, foi isso que aconteceu com Jesus. Ele sofreu a fim de trazer um povo — sua noiva—4 existéncia, ¢ esse povo estava entre os que causaram seu sofrimento, Muito de seu sofrimento foi porque os discipulos 0 abandonaram (Mt 26.56). Mas 0 ponto central da analogia é que Jesus os amou até a morte e nao os langou fora. O plano de Deus para 0 casamento antecedeu a uniaio de Adio e Eva e a vinda de Cristo. Sabemos isso porque, quando o apéstolo de Cristo explicou 0 mistério do casamento, voltou para o inicio da Biblia e citou Génesis 2.24: “Por isso, deixa o homem pai e mAe € se une a sua mulher, tornando-se os dois uma s6 carne”. 98 - A Paixao de Cristo Na proxima sentenga, ele interpreta o que acaba de citar: ““Gran- de é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e a igreja” (Ef 5.3 1,32). Isso significa que, na mente de Deus, o casamento foi proje- tado desde o inicio para demonstrar 0 relacionamento de Cristo como seu povo. O casamento é chamado de “mistério” porque es- se alvo para 0 casamento ainda nao tinha sido revelado com clareza antes da vinda de Cristo. Agora vemos que 0 casamento tem 0 in- tuito de tomar mais visivel ao mundo o amor de Cristo por seu povo. Como isso estava no projeto de Deus desde o principio, também estava na mente de Cristo quando ele enfrentou a morte. Ele sabia que entre os muitos efeitos de seu sofrimento estava isto: deixar claro o mais profundo significado do casamento. Todo seu sofrimento deixou uma mensagem especial para todos os maridos: E assim que se deve amar a sua esposa. Embora Deus nao tenha planejado que os casamentos fos- sem infelizes, muitos 0 so. Eo que fazo pecado. O pecado nos faz tratar mal um ao outro. Cristo sofreu e morreu para mudar isso. As esposas possuem sua responsabilidade nessa mudan¢a. Mas Cristo dé uma responsabilidade especial aos maridos. Por esta razao a Biblia diz: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Os maridos nao sao Cristo. Mas sao chamados a ser como ele. Eo ponto especifico de semelhanga ¢ a disposig¢ao do marido de sofrer pelo bem de sua esposa sem ameagar ou abusa-la. Isso inclui sofrer para protegé-la de quaisquer forgas externas que possam feri-la, como também sofrer os desapontamentos ou até mesmo abuso da parte dela. Essa espécie de amor é possivel por- que Cristo morreu por ambos, marido e esposa. Seus pecados fo- ram perdoados. Nenhum precisa fazer com que 0 outro sofra pe- los pecados. Cristo carregou aquele sofrimento. Agora, como duas pessoas que sao pecadoras perdoadas, podemos retribuir o mal comobem. Jesus sofreu e morreu... 36 Para criar um povo zeloso de boas obras [Cristo] a si mesmo se deu por nés, a fim de remir-nos de toda inigitidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras. Tito 2.14 No cerne do Cristianismo esta a verdade de que somos per- doados e aceitos por Deus, nao por termos feito boas obras, mas afim de que possamos fazé-las. A Biblia diz: “[Deus] nos salvou enos chamou com santa voca¢ao; nao segundo as nossas obras” (2Tm 1.9). As boas obras nao so o fundamento de nossa aceita- ¢4o, mas fruto dela. Cristo sofreu e morreu nao porque nds apre- sentamos a ele boas obras, mas para “purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). E esse o significado de graca. Nao podemos obter boa po- sigao diante de Deus por causa de nossas obras. Isso tém de ser presente gratuito. S6 podemos recebé-la pela fé, como nosso maior tesouro. E por isso que a Biblia diz: “... pela graca sois salvos, mediante a fé; e isto nao vem de vés; é dom de Deus; nao de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). Cristo sofreue morreu para que as boas obras fossem 0 efeito, nao a causa, de nossa aceitagao. Nao é de surpreender que a proxima frase diga: “... somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras” (Ef 2.10). 100 - A Paixao de Cristo Ou seja, somos salvos para as boas obras, nao pelas boas obras. O alvo de Cristo nao é apenas que tenhamos capacidade de rea- liza-las, mas paixdo por fazé-las. Devido a isso a Biblia emprega apalavra ‘‘zeloso”. Cristo morreu para tomar-nos zelosos, apaixo- nados por boas obras. Cristo nao morreu apenas para tornar pos- siveis as boas obras ou produzir uma busca de animo inconstante. Morreu para produzir em nds uma paixdo pelas boas obras. A pureza crista nao é meramente evitar o mal, mas a busca do bem. Existem raz6es pelas quais Jesus pagou o prego infinito a fim de produzir nossa paixao pelas boas obras. Ele deu a principal razo nas seguintes palavras: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que esta nos céus” (Mt 5.16). Deus é glorificado pelas boas obras dos cristaos. Para essa gloria Cristo sofreu e morreu. Quando 0 perdao e a aceitagao de Deus nos libertam do temor, orgulho e avareza, somos repletos de zelo por amar o pro- ximo da forma como fomos amados. Arriscamos nossas posses e nossa vida, pois estamos seguros em Cristo. Quando amamos as- sim ao proximo, nosso comportamento é contrario a autovalorizagao e autopreservagao humanas. Dirigimos a ateng4o a nosso Tesou- ro e Seguran¢a que transformou nossa vida, ou seja, a Deus. Eo que sao essas “boas obras”? Sem limitar 0 seu escopo, a Biblia destaca principalmente a ajuda a pessoas com necessida- des urgentes, especialmente os que menos possuem e mais so- frem. Por exemplo, diz a Biblia: “Quanto aos nossos, que apren- dam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessita- dos” (Tt 3.14). Cristo morreu para nos tornar essa espécie de gente — apaixonada por ajudar aos pobres e aos que perecem. Ea melhor vida, n&o importa quanto nos custe neste mundo: Eles rece- bem ajuda, nds obtemos alegria, Deus recebe a gloria. Jesus sofreu e morreu... 37 Para nos chamar a seguir seu exemplo de humildade e amor sacrificial Isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciéncia para com Deus... Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos. 1 Pedro 2.19-21 Considerat ... atentamente, aquele que suportou tamanha oposigéo dos pecadores contra si mesmo, para que néo vos fatigueis, desmaiando em vossa alma. Ora, na vossa luta contra 0 pecado, ainda nao tendes resistido até ao sangue. Hebreus 12.3,4 Tende em vés 0 mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, nao julgou como usurpagdo o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhanca de homens; e, reconhe- cido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até 4 morte e morte de cruz. Filipenses 2.5-8 .. ser achado nele, nao tendo justiga prépria, que procede de lei, sendo a que é mediante a fé em Cristo, a justiga que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, ¢ 0 poder da sua ressurreigdo, e a comunhao dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte Filipenses 3.9,10 102 - A Paixao de Cristo A imitacZo nao é salvagao. Mas a salvag4o conduz a imita- go. Cristo nao nos é dado primeiramente como modelo, mas como Salvador. Na experiéncia do crente, primeiro vem 0 perdao de Cnis- to, depois o modelo de Cristo. Na propria experiéncia de Cristo, eles acontecem juntos. O mesmo sofrimento que perdoa nossos pecados providencia nosso modelo de amor. Na verdade, sé quando experimentamos 0 perdao de Cristo é que ele se tora um padrao para nos. Isso soa estranho porque seus sofrimentos foram singulares — nao podem ser imitados. Nin- guém, ando ser o Filho de Deus, pode sofrer “por nés” do modo como Cristo softeu. Ele carregou sobre si nosso pecado de forma impossivel de outro imitar. Ele foi sofredor substituto. Jamais o imitaremos nisso. O sofrimento vicario divino pelos pecadores é impossivel de ser imitado. Porém, o sofrimento especial, apds perdoar e justificar os pecadores, os transforma em povo que age como Jesus — como ele, nao no perdoar, mas como ele no amar. Como ele no softer para fazer o bem pelos outros. Como ele em ndo retribuir o mal com 0 mal. Como ele em mansidao e humildade. Como ele em paciente perseveranca. Como ele, um servo. Jesus sofreu de forma singular por nos, para que pudéssemos sofrer com ele pela causa do amor. O apéstolo de Cristo, Paulo, disse que sua ambigao era pri- meiramente compartilhar a justi¢a de Cristo pela fé, e em seguida compartilhar o ministério dos seus sofrimentos. “[Meu desejo é] ser achado nele, nao tendo justiga propria, que procede de lei, senao a que é mediante a fé em Cristo, a justia que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurrei- ¢4o, € a comunhio dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte” (Fp 3.9,10). A justificag4o precede e torna pos- sivel a imitagao. O sofrimento de Cristo para obter nossa justifica- ¢4o toma possivel nosso sofrimento como proclama¢4o. Nosso sofrimento pelos outros nao retira a ira de Deus. Nosso sofrimen- to demonstra o valor de ver a ira de Deus retirada pelo softimento de Cristo. Direciona as pessoas a ele. Para nos chamar a seguir seu exemplo de humildade ¢ amor - 103 Quando a Biblianos conclama a tudo suportar “... por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvagao que esta em Cristo Jesus, com etema gloria” (2Tm 2.10), significa que nossa imitagao de Cristo dirige as pessoas para ele, 0 Unico que pode salvar. Nosso sofrimento é essencial, mas sd 0 sofrimento de Cristo salva. Portanto, vamos imita-lo no seu amor, mas nao tomar o lugar que pertence so a ele. Jesus sofreu e morreu.. 38 Para criar um grupo de sequidores crucificados Se alguém quer vir apés mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Lucas 9.23 Quem ndo toma a sua cruz e vem apés mim nao é digno de mim Mateus 10.38 Cristo morreu para criar companheiros na estrada do Calvario. Calvario 6 0 nome do outeiro onde ele foi crucificado. Ele sabia que o caminho de sua vida acabaria levando-o até ali. Na verda- de, ele “manifestou, no semblante, a intrépida resolugao de ir para Jerusalém” (Le 9.51). Ninguém o impediria em sua missfo de morrer. Ele sabia onde e quando deveria acontecer. Quando al- guém 0 avisou, a caminho de Jerusalém, que havia perigo da parte do rei Herodes, ele desprezou a idéia de que Herodes pudesse im- pedir o plano de Deus. “Ide dizer a essa raposa que, hoje e ama- nha, expulso demGnios e curo enfermos e, no terceiro dia, termi- narei” (Lc 13.32). Tudo estava acontecendo conforme o plano. Quando veio afinal o fim e a multidao o prendeu na noite antes de sua morte, ele disse-lhes: “Tudo isto ... aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas” (Mt 26.56). Em certo sentido, a estrada do Calvario é onde todos se encontram com Jesus. E verdade que ele ja trilhou esse caminho: morreu, ressuscitou, € agora reinano céu até que volte. Mas quan- 106 - A Paixdo de Cristo do Cristo encontra hoje uma pessoa, é sempre na estrada do Calvario — a caminho da cruz. Toda vez que ele encontra alguém na estrada do Calvario ele diz: “Se alguém quer vir apds mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Quando Cristo foi 4 cruz, seu alvo era chamar um grande bando de crentes para segui-lo. A razao disso nao é que Jesus tenha de morrer de novo ho- je, mas que nds temos de morrer. Quando ele nos conclama a to- mar a nossa cruz, quer dizer, venha e morra. A cruz era uma exe- cugdo horrenda. Nos tempos de Jesus, teria sido impensavel usar uma cruz como pega de jdia. Seria como usar uma cadeira elétri- ca em miniatura ou uma corda de enforcamento. Suas palavras deviam ter um efeito aterrador: “... quem nao toma a sua cruz e vem aps mim nao é digno de mim” (Mt 10.38). Assim também hoje essas palavras sao muito sérias. Signifi- cam pelo menos que quando sigo a Jesus como meu Salvador e Senhor, o velho auto-determinado e egocéntrico eu deve ser cruci- ficado. Devo a cada dia considerar-me morto para o pecado e vivo para Deus. Este 6 0 caminho da vida: “... considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6.11) Porém, ser companheiro na estrada do Calvario significa muito mais. Significa que Jesus morreu para que estivéssemos dispostos a sofrer escarnio por ele. “Jesus... sofreu fora da porta. Saiamos, pois, aele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hb 13. 12,13). Nao é qualquer vitupério. Se necessario, até mesmo o martirio. A Biblia retrata alguns dos seguidores de Cristo da seguinte manei- ra: “... venceram [a Satanas] pelo sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, nao amaram a propria vida” (Ap 12.11). Assim, o Cordeiro de Deus derramou seu sangue para que pudéssemos vencer o diabo, confiando em seu sangue e derramando o nosso proprio sangue. Jesus nos conclama para a estrada do Calvario. E uma vida dura e boa. Venha. Jesus sofreu e morreu... 39 Para nos libertar do cativeiro do medo da morte Esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificara também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espirito, que em vés habita Romanos 8.11 Visto ... que os filhos tém participagéo comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruisse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos a escraviddo por toda a vida. Hebreus 2.14.15 Jesus chamou Satanas de assassino. “Ele foi homicida desde 0 principio e jamais se firmou na verdade, porque nele nao ha verdade... é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Mas o maior interesse do diabo nao é matar. Ele quer condenar ao inferno. Na verdade, Satanas prefere que seus seguidores tenham aqui vida longa e feliz — para debochar dos santos que sofrem e esconder os horrores do inferno. Seu poder de condenar os seres humanos no esta nele mes- mo, mas nos pecados que ele inspira e nas mentiras que ele conta. A unica coisa que condena alguém ao inferno é 0 pecado nao per- doado. Maldicées, encantamentos, vudu, macumbas, sessdes es- piritas, magia negra, aparigdes, vozes — nada disso sozinho langaa 108 - A Paixdo de Cristo pessoa no inferno. Sao apenas os sinos e apitos do diabo. A unica arma letal que Satanas possui é 0 poder de nos enganar. Sua principal mentira é que a exaltagao de si mesmo seja mais deseja- vel do que a exaltagao de Cristo, e o pecado seja preferivel a santidade. Se essa arma pudesse ser retitada de sua mao, ele nao teria mais o poder da morte eterna. Cristo veio para isso —tirar a arma da mao de Satanas. Para tanto, Cristo tomou sobre si os nossos pecados e sofreu por eles. Quando isso aconteceu, eles nao podiam mais ser usados pelo diabo para nos destruir. Zombar de nds? Sim. Debochar de nos? Sim. Mas nos condenar ao inferno? Nao. Cristo veio e Ievou a maldigao em nosso lugar. Por mais que ele tente, Satands nao pode nos destruir. A ira de Deus foi removida. Sua misericérdiaé 0 nosso escudo, E Satanas nao obtera sucesso contra nds Para realizar essa libertagao, Cristo teve de tomar a natu- reza humana porque, sem ela, ele nao poderia experimentar a morte. $6 a morte do Filho de Deus podetia destruir aquele que tinha o poder da morte. Assim, a Biblia diz: “Visto ... que os filhos tém participago comum de came e sangue [tinham uma natureza humana] destes também ele, igualmente, participou {assumiu uma natureza humana] para que, por sua morte, destruisse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo” (Hb 2.14). Quando Cristo morreu pelos pecados, tomou da mao do diabo a unica arma que este tinha contra nds: 0 pecado nao perdoado. Ao fazer isso, era meta de Cristo livrar-nos do medo. Ao morrer ele libertou “... todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos a escravidao por toda a vida” (Hb 2.14). O medo damor- te escraviza. Ele nos faz timidos e apagados. Jesus morreu para livrar-nos. Quando esse medo da morte é destruido por um ato de amor e sacrificio proprio, é quebrada a escravidao chata e ego- céntrica da autopreservacao. Somos livres para amar como Cris- to, ainda que ao prego de nossa vida. O diabo pode até matar nosso corpo, mas nao pode mais matar a alma. Ela esta segura em Cristo. Mesmo 0 nosso corpo Para nos libertar do cativeiro do medo da morte - 109 mortal um dia ser ressuscitado. “Esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificara também 0 vosso corpo mortal, por meio do seu Espirito, que em vés habita” (Rm 8.11). Somos os mais livres dentre os povos. E a Biblia nao deixa divi- das quanto ao motivo dessa liberdade: “... vés, irmaos, fostes cha- mados a liberdade; porém nao useis da liberdade para dar ocasiaio acame; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (G1 5.13) Jesus sofreu e morreu... 40 Para que estejamos imediatamente com ele apés a morte [Cristo] morreu por nés para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em unido com ele. 1 Tessalonicenses 5.10 ... para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, 0 que é incomparavelmente melhor. Filipenses 1.21,23 estamos em plena confianca, preferindo deixar 0 corpo e habitar com o Senhor. 2 Corintios 5.8 A Biblia nao vé 0 corpo como sendo mau. O Cristianismo nao é como algumas antigas religides gregas que tratavam o cor- po como um fardo para ser descartado com alegria. Nao. A mor- te é inimiga. Quando 0 corpo morre, perdemos algo muito precio- so. Cristo nao é contra 0 corpo, mas a favor do corpo. A Biblia é clara a esse respeito: “O corpo nao é para a impureza, mas, para o Senhor, € o Senhor, para o corpo” (1Co 6.13). E uma declaragao maravilhosa. O Senhor é a favor do corpo! Mas nao devemos chegar a ponto de dizer que, sem o cor- po, nao temos vidae consciéncia. A Biblia nao ensina assim. Cris- to morreu nao apenas para redimir 0 corpo, como também para unir nossa alma de maneira tao intima consigo mesmo que, até 112 - A Paixao de Cristo sem o corpo, estamos nele. Este é um grande consolo na vida ena morte. Cristo morreu para que pudéssemos gozar esta esperanca. A Biblia fala, de um lado, sobre perder 0 corpo na morte como uma espécie de nudez da alma: “... os que estamos neste tabemaculo gememos angustiados, nao por querermos ser despi- dos, mas revestidos” (2Co 5.4). Noutras palavras, preferiamos ir direto daqui para o corpo de ressurrei¢do sem passar 0 tempo em que nossos corpos descem a sepultura. E 0 que experimentarao aqueles que estiverem vivos quando Cristo voltar dos céus. Mas de outro lado, a Biblia celebra o periodo intermediario, quando a alma estiver no céu e 0 corpo se encontra no timulo. Nao éa gloria final, mas é uma gloria. Lemos: “... para mim, 0 vi- ver é Cristo, eo morrer é lucro” (Fp 1.21). Lucro! Sim, a perda do corpo por um tempo. Em certo sentido, ““despido”. Mas acima de tudo, lucro! Por qué? Porque para o cristo, a morte significa vol- tar para o lar com Cristo. Como diziao apéstolo Paulo: “... tendo 0 desejo de partir e estar com Cristo, 0 que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23). Incomparavelmente melhor! Ainda nao o melhor de tudo. Isso acontecera quando o corpo for ressuscitado em satde e gl6- tia. Mas ainda, “incomparavelmente melhor”. Estaremos com Cristo de um modo mais intimo, mais “em casa”. Assim, os crentes primitivos diziam “preferimos deixar 0 corpo e habitar como Se- nhor” (2Co 5.8). Os de nds que cremos em Cristo, nao deixamos de existir quando morremos. Nao entramos numa espécie de “dorméncia da alma”. Vamos estar com Cristo. Estaremos “em casa”. E incomparavelmente melhor. E lucro. Esta é uma das razdes pelas quais Cristo sofreu. “[Ele] mor- Teu por nds para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em uniao com ele” (1Ts 5.10). Como quem dorme, 0 corpo jaz no tumulo. Mas nos vivemos com Cristo no céu. Esta nao é nossa esperanca final. Um dia, nosso corpo sera ressurrecto. Mas até ento, estar com Cristo é precioso além do que as palavras podem expressar. Jesus sofreu e morreu... 41 Para garantir nossa ressurreicao da morte _.. num momento, num abrir e fechar de othos, ao ressoar da ultima trombeta. A trombeta soara, os mortos ressuscitardo incorruptiveis, ¢ nds seremos transformados. Porque é necessdrio que este corpo corruptivel se revista da incorrup- tibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade... entdo, se cumprira a palavra que esta escrita: Tragada foi a morte pela vitoria 1 Cosintios 15.52.54 .. se fomos unidos com ele na semelhanga da sua morte, certamente, 0 seremos também na semelhanga da sua ressurreigdo, Romanos 6.5 Se habita em vos o Espirito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificara também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espirito, que em vos habita. Romanos 8.11 Se jd morremos com ele, também viveremos com ele; 2 Timéteo 2.11 As chaves da morte foram dependuradas do lado de dentro do tumulo de Cristo. Do lado de fora, Cristo podia fazer muitas obras maravilhosas, incluindo ressuscitar dos mortos uma menina de doze anos e dois homens — que morreram novamente depois 114 - A Paixdo de Cristo (Mc 4.41,42; Le 7.14,15; Jo 11.43,44). Se qualquer desses fosse ressuscitado para jamais morrer de novo, Cristo teria de morrer por eles, entrar no timulo, levar as chaves, e destravar a porta da morte do lado de dentro. A ressurreigao de Jesus é dom de Deus e prova de que sua morte obteve sucesso total em apagar os pecados de seu povo e retirar de sobre eles a ira de Deus. Podemos ver isso na palavra “portanto”. Cristo foi obediente até a morte, e morte de cruz. Por- tanto Deus 0 exaltou sobremaneira” (Fp 2.8,9). Da cruz, o Filho de Deus exclamou: “Esta consumado” (Jo 19.30). E por meio da ressurrei¢4o, Deus 0 Pai exclama: “Na verdade esta consumado!” A grande obra de pagar por nosso pecado, prover nossa justiga e satisfazer a justiga divina foi terminada na morte de Jesus. Entao, no tumulo, ele teve o direito e o poder de levar as chaves da morte e abrir a porta para todos quantos se achegam a ele em fé. Se o pecado foi pago, e a santidade foi oferecida, e a justiga satisfeita, nada segura Cristo ou seu povo na sepultura. E por esta raz4o que Jesus exclama: “Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.18). A Biblia ressoa com a verdade que pertencer a Jesus signi- fica que seremos ressuscitados dos mortos com ele. “... se fomos unidos com ele na semelhanga da sua morte, certamente, o sere- mos também na semelhanga da sua ressurreigao” (Rm 6.5). “Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, me- diante Jesus, trara, em sua companhia, os que dormem’” (1Ts 4.14). “Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitara a nds pelo seu poder” (1Co 6.14) Eis a conex4o entre a morte de Cristo e a nossa ressurrei- ¢ao: “O aguilhao da morte é 0 pecado, ea forga do pecado éa lei” (1Co 15.56). Isso quer dizer que todos nos pecamos e a lei sen- tencia os pecadores a morte eterna. Mas 0 texto continua: “Gra- gas a Deus, que nos da a vitoria por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (v.57). Noutras palavras, a exigéncia da lei foi cum- Para garantir a nossa ressurreig&io da morte - 115 prida pela vida e morte de Jesus. Assim, os pecados foram perdo- ados. Portanto, o aguilhao do pecado é removido. Assim, aqueles que créem em Cristo ndo serao sentenciados a morte eterna, mas sero arrebatados, “... num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da tlttma trombeta. A trombeta soara, os mortos res- suscitardo incorruptiveis, ends seremos transformados. Porque é necessario que este corpo corruptivel se revista da incorrup- tibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade.., entao, se cumprira a palavra que esta escrita: Tragada foi a morte pela vitoria’” (1Co 15.52,54). Surpreenda-se e venha a Cristo. Ele o convida: “Eu sou a ressurrei¢ao e a vida. Quem cré em mim, ainda que morra, vivera” (Jo 11.25). Jesus sofreu e morreu. 42 Para desarmar os principados e as potestades Tendo cancelado 0 escrito de divida, que era contra nos e que constava de ordenangas, 0 qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; €, despojando os principados e as potestades, publicamente os expds ao desprezo, triunfando deles na cruz. Colossenses 2.14.15 Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. 1 Joao 3.8 Na Biblia, os “principados e potestades” podem ser gover- nos humanos. Mas quando lemos que na cruz Cristo “despojou os principados e potestades”, os “expés ao desprezo” e “triunfou so- bre eles” devemos ter em mente os poderes demoniacos que afli- gem o mundo. Uma das mais claras declaragdes sobre esses pode- Tes se encontra em Efésios 6.12. Diz que a luta dos cristaos “nao é contra. o sangue e a care, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forgas espirituais do mal, nas regides celestes” Trés vezes Satanas é chamado de “principe deste mundo”. Assim que Jesus chegava a tltima hora de sua vida sobre a terra, disse: “Chegou 0 momento de ser julgado este mundo, e agorao seu principe sera expulso” (Jo 12.31). A morte de Jesus foi a der- 118 - A Paixiio de Cristo rota decisiva do “principe deste mundo” — 0 diabo. E quando cai Satanas, caem também todos os seus anjos. Todos receberam um golpe mortal de derrota quando Cristo morreu. Nao que com isso tenham deixado de existir, Ainda agora, nds lutamos contra eles. Mas eles sao um inimigo vencido. Saberos que a vitoria final é nossa. E como se uma vibora tivesse sido decapi- tada e salta e remexe até o fim. A batalha foi ganha. Mas ainda devemos tomar cuidado com os estragos que ela pode fazer. Com a morte de Jesus, Deus cancelou “o escrito da divida, que era contra nds e que constava de ordenangas, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-ona cruz” (C12.14; ver 0 capitulo 7). E assim que ele “desarmou os principados e potestades e os expds ao desprezo”. Noutras palavras, se a lei de Deus nao nos condena mais porque Cristo cancelou nossa divida, Satanas nao tem base para nos acusar. A acusagao do povo de Deus foi o grande trabalho do diabo antes de Cristo. A prdpria palavra Sarands significa “adversario” ou “acusador”. Mas ouga 0 que aconteceu quando Cristo morreu. Sao palavras do apéstolo Joao: “... ouvi grande voz do céu, procla- mando: Agora, veio a salvac4o, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nos- sos irmédos” (Ap 12.10). Ea derrota e o desarmamento das potes- tades e dos dominadores. Agora, em Cristo, nao ha acusa¢o contra o povo de Deus que resista. “Quem intentaré acusagao contra os eleitos de Deus? E Deus quem os justifica” (Rm 8.33). Nem o homem nem Satanas podem fazer uma acusacao valida. O processo legal ja foi encerra- do. Cristo é nossa justiga. Nosso acusador foi desarmado. Se ele tentar falar no tribunal do céu, a vergonha cobrira seu rosto. Ah! Co- mo deviamos ser ousados e livres neste mundo enquanto buscamos servir a Cristo e amar seu povo! Nao ha condenagao para aqueles que esto em Cristo. Desviemo-nos, portanto, das tentagdes do diabo. Suas promessas s&o mentira e seu poder foi destituido. Jesus sofreu e morreu... 43 Para liberar o poder de Deus no evangelho Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nés, que somos salvos, poder de Deus. 1 Corintios 1.18 ... nfo me envergonho do evangelho, porque é 0 poder de Deus para a salvagao de todo aquele que cré, primeiro do judeu e também do grego. Romanos 1.16 Evangelho significa boas novas. E noticia antes de ser teo- logia. Noticiaé a reportagem de que algo significativo aconteceu. Boas novas sao amincio de que algo que traz felicidade as pes- soas aconteceu. O evangelho é a melhor noticia, porque o que ele reporta pode fazer as pessoas felizes para sempre. O evangelho reporta a morte e ressurreig4o de Cristo. O apéstolo Paulo torna clara a qualidade de noticia do evangelho: Irmaos, venho lembrar-vos 0 evangelho ... que Cristo mor- reu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escritu- ras... foi visto por mais de quinhentos irmaos de uma sé vez, dos quais a maioria sobrevive até agora (1Co 15.1-7). Ocerne do evangelho é que “Cristo morreu pelos nossos pecados... foi sepultado... ressuscitou... apareceu a mais de qui- 120 - A Paixio de Cristo nhentos irmaos”’. O fato de ele declarar que a maioria das teste- munhas ainda estava viva atesta como 0 evangelho se baseia em fatos. Ele quis dizer que seus leitores poderiam encontrar teste- munhas e perguntar-lhes pessoalmente. O evangelho é noticia sobre fatos. Os fatos eram verificaveis. Havia testemunhas da morte, do sepultamento e de sua vida ressurgida. E tragico que para muitas pessoas essas boas novas pare- cem loucura. Paulo disse: A palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nds, que somos salvos, poder de Deus” (1Co 1.18). E esse o poder que Cristo desencadeou com sua morte. O “evangelho... é 0 poder de Deus para a salvagao de todo aquele que cré” (Rm 1.16) Por que todos nao enxergam a morte de Cristo como boas novas? Devemos ver o evangelho como verdadeiro e bom antes de crernele, Assim, a pergunta é: por que alguns véem o evange- lho como sendo bom e verdadeiro e outros nao? Uma resposta é dada em 2 Corintios 4.4: “O deus deste século cegou 0 entendi- mento dos incrédulos, para que lhes nao resplandega aluz do evan- gelho da gloria de Cristo”. Além disso, a propria natureza humana est morta para a realidade espiritual. “O homem natural nao aceita as coisas do Espirito de Deus, porque lhe sao loucura” (1 Co 2.14). Se uma pessoa vai enxergar o evangelho como bom e ver- dadeiro, tem de vencer a cegueira e morte natural satanica pelo po- der de Deus. Por essa taz4o a Biblia diz que mesmo que o evange- Tho seja loucura para muitos, contudo “... para os que foram chama- dos... pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.24). Este “chamado” é 0 ato misericordioso de Deus de remover a morte natural e a cegueira satanica, para que vejamos Cristo como verdade e bondade. Esse préprio ato misericordioso édom de Cristo, comprado com seu sangue. Olhe para Cristo; ore para que Deus 0 capacite a ver e abragar 0 evangelho de Cristo. Jesus sofreu e morreu.. 44 Para destruir a inimizade entre as racas Ele, tendo derribado a parede da separagdo que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenangas, para que dos dois criasse, em si mesmo,um novo homem, fazendo a paz, ¢ reconciliasse ambos em um 86 corpo com Deus, por intermédio da cruz,destruindo por ela a inimizade. Efésios 2.14-16 A suspeita, 0 preconceito e as atitudes degradantes entre judeus e gentios (ndo-judeus) no tempo do Novo Testamento eram to sérios quanto as hostilidades raciais, étnicas e nacionais de nos- sos dias. Um exemplo desse antagonismo foi o que aconteceu em Antioquia entre Cefas (também chamado de Pedro) e Paulo. Paulo conta a historia: “Quando ... Cefas veio a Antioquia, resisti-Ihe face a face, porque se tomara repreensivel. Com efeito, antes de chega- rem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, po- rém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisao” (GI 2.11,12). Pedro vivia na liberdade de Jesus Cristo. Apesar do fato de ser cristo judeu, ele comia com crentes que nao eram judeus. O muro de separagao havia sido derrubado. A inimizade fora vencida. Cristo morreu para conseguir isso, Mas entao, alguns judeus mui- to conservadores vieram a Antioquia. Cefas apavorou-se. Tinha 122 - A Paixio de Cristo medo de suas criticas. Retraiu-se, portanto, de ter comunh&o com Os gentios. O apostolo Paulo viu isso acontecer. O que fazer? Servir aos que queriam manter as aparéncias? Promover a paz entre os con- servadores visitantes e os judeus cristaos mais livres de Antioquia? Achave do comportamento de Paulo esta nas palavras: “... vi que nao procediam corretamente, segundo a verdade do evangelho” (G12.14). E uma declaracao importantissima. A segregacao raci- al e 6tnica é uma questao do evangelho! O medo de Cefas ea se- para¢éo da comunhio por linhas étnicas “nao estava de acordo coma verdade do evangelho”. Cristo morreu para derrubar esse muro. E Cefas 0 estava construindo novamente Portanto, Paulo nao serviu os que estavam no poder e nao manteve a paz de modo anegar 0 evangelho. Confrontou publica- mente a Cefas: “... se, sendo tu judeu, vives como gentio e nao co- mo judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gl 2.14). Noutras palavras, o afastamento de Cefas da comunhao com crentes nao-judeus comunicava uma mensagem mortifera: Vocés tém de tornar-se como os judeus para ser completamente aceitaveis. Era exatamente o que Cristo morreu para abolir. Jesus morreu para criar um novo caminho para a reconcilia- go entre as racas. O ritual ea raga nao sdo mais os meios de unido e felicidade. Todos os aspectos disso que separavam as pessoas terminaram nele — exceto um: o evangelho de Jesus Cristo Eim- possivel construir uma uniao duradoura entre as racas simplesmen- te dizendo que todas as religides podem se unir como sendo de igual valor. Jesus Cristo é 0 Filho de Deus. Deus 0 enviou ao mundo como o unico caminho para salvar os pecadores e reconciliar as ra- gas etermamente. Se negarmos isso, estamos desvalorizando o fun- damento da esperanga eterna e unidade perpétua entre os povos. Por sua morte na cruz, algo cOsmico — nao regional — se realizou. Deus e o homem foram reconciliados. Somente quando as ragas encontram e desfrutam isso elas se amarao e teréo prazer umas nas outras para sempre. Quando venceu nossa alienagao de Deus, Cristo venceu a inimizade entre as racas. Jesus sofreu e morreu... 45 Para resgatar pessoas de todas as tribos, linguas, povos e ragas Entoavam novo cGntico, dizendo: Digno és de tomar 0 livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto € com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, lingua, povo e nagao. Apocalipse 5.9 O cenario é 0 céu. O apostolo Joao recebeu um vislumbre do futuro na mao de Deus. “Vi, na mao direita daquele que estava sentado no trono, um livro... selado com sete selos (Ap 5.1). Abrir o rolo significa o desfraldar da historia do mundo no futuro. Joao chora porque parece nao haver quem possa abrir o rolo. Entio um dos seres celestes diz: “Nao chores; eis que 0 Leao da tribo de Juda, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro” (Ap 5.5). Euma referéncia a Jesus Cristo, o Messias. Ele venceu por sua morte ressurreigao. Em seguida Joao 0 vé: “Entao, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciaos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto” (5.6). Entao os seres celestes em volta do trono caem e adoram a Cristo, cantando novo cantico. Surpreendentemente o cAntico anun- cia que 6 a morte de Cristo que o toma digno de abrir o livro da Historia. Isso implica que a morte de Cristo foi necessdria para realizar 0 propésito global de Deus em sua Historia: “... e entoavam novo cantico, dizendo: Digno és de tomar 0 livro e de abrir-lhe os 124 - A Paixio de Cristo selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, lingua, povo e nagaio” (Ap 5.9). Cristo morreu para salvar grande diversidade de povos. O pecado nao respeita cultura. Todos os povos pecaram. Toda raca e toda cultura precisa reconciliar-se com Deus. Como a doenga do pecado é global, assim também é 0 remédio. Jesus sabia 0 que so- freria na agonia da cruz e falou de modo ousado sobre 0 alcance de seu proposito: “... eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12.32). Ao planejar sua morte, Jesus abracou o mundo todo. O Cristianismo comegou no Oriente. Como passar dos sé- culos, houve uma mudanca para o Ocidente. Mas cada vez mais, agora, o Cristianismo nao é uma religiao ocidental. Isso nao é sur- presa para Cristo. Ja 0 Antigo Testamento previa 0 impacto global: “Lembrar-se-ao do Senhor e a ele se converterao os confins da terra; perante ele se prostrarao todas as familias das nagdes” (SI 22.27). “Alegrem-se e exultem as gentes, pois julgas os povos com equidade e guias na terra as nagdes. Louvem-te os povos, 6 Deus; louvem-te os povos todos” (S| 67.4). Quando Jesus chegou ao fim de seu ministério sobre a terra, deixou clara sua missao: “... esta escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mor- tos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimen- to para remissao de pecados a todas as nagdes” (Le 27.46,47). Nao houve duvida em sua ordem aos discipulos: “... fazei discipu- los de todas as nagdes” (Mt 28.19). Jesus Cristo nao é uma divindade tribal. Ele nao pertence a uma cultura ou um grupo étnico. Ele é“o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo | .29). “Nao ha distingao entre judeu e grego [ou qualquer outro grupo étnico], uma vez que o mesmo éo0 Senhor de todos, rico para com todos os que 0 invocam.” Porque “\.. todo aquele que invocar 0 nome do Senhor sera salvo” (Rm 10.12,13). Invoque-o agora e participe do grande bando global dos redimidos. Jesus sofreu e morreu... 46 Para ajuntar suas ovelhas do mundo todo Ora, ele (Caifas] nao disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nagdo ¢ néo somente pela nagdo, mas também para reunir em um s6 corpo os filhos de Deus, que andam dispersos. Joao 11.51.52 Ainda tenho outras ovelhas, nao deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirdo a minha voz; entéo, haverd um rebanho e um pastor. Joao 10.16 Sem saber, até um jumento pode falar por Deus (Nm 22.28). Assim também um pregador ou sacerdote. Aconteceu com Caifas, que era sumo sacerdote em Israel quando a vida de Jesus estava sendo julgada. Sem saber ele disse aos lideres de Israel: “... vos convém que morra um so homem pelo povo e que nao venha a perecer toda anagao” (Jo 11.50). Isso tinha um significado duplo. Caifas queria dizer: Melhor deixar Jesus morrer do que deixar que 0s romanos acusem nossa nagao de traigao e destruam nosso povo, Mas Deus tinha outro significado. Assim, diz a Biblia: “ele (Caifas] nao disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nagao e nao somente pela nagao, mas também para reunir em um so corpo os filhos de Deus, que andam dispersos” (Jo 11.51,52). 126 - A Paixao de Cristo O proprio Jesus disse isso com outra metafora. Em vez de “filhos ... espalhados”, Jesus falou de “ovelhas” fora do aprisco de Israel: “Ainda tenho outras ovelhas, nao deste aprisco; amim me convém conduzi-las; elas ouvirdo a minha voz; entao, havera um rebanho e um pastor” (Jo 10.16). Sao surpreendentes ambas as formas de dizer isso. Ensinam que em todo o mundo existem pessoas a quem Deus escolheu para serem alcangadas e salvas por Jesus Cristo. Sao os “filhos de Deus espalhados”. Sao “ovelhas nao deste aprisco (judeu)”. Signi- fica que Deus esta muito ativo em juntar um povo para seu Filho. Ele conclama o povo a fazer discipulos, mas também vai adiante deles. Tem um povo escolhido antes que seus mensageiros che- guem 1a Assim, Jesus falou de convertidos a quem Deus tornou em seus e trouxe até Cristo. “Todo aquele que o Pai me da, esse vird a mim; e 0 que vem a mim, de modo nenhum o langarei fora ... Eram teus, tu mos confiaste, e eles tm guardado a tua pala- vra” (Jo 6.37; 17.6). E algo maravilhoso que Deus veja e nomeie um rebanho para si mesmo dentre todos os povos do mundo, e depois envie missionarios em nome de Cristo, e em seguida conduza seus esco- Ihidos ao som do evangelho, e os salve. Nao poderiam ser salvos de outra maneira. Missdes sao essenciais. “Para este 0 porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas proprias ovelhas... e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz” (Jo 10.3,4) Jesus sofreu e morreu para que as ovelhas pudessem ouvir sua voz e viver. Foi o que Caifas disse sem saber. “Jesus morre- Tia... ndo apenas pela nac&o, mas também para juntar em um sO rebanho os filhos de Deus que estao espalhados por todo o mun- do.” Ele entregou sua vida para ajuntar as ovelhas. Por seu san- gue ele comprou misericordia que toma sua voz impossivel de nao ser reconhecida pelos seus. Ore para que Deus aplique essa mi- sericrdia a vocé, para que vocé ouga e viva. Jesus sofreu e morreu... 47 Para nos livrar do juizo final Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, apareceré segunda vez, sem pecado, aos que 0 aguardam para a salvagao. Hebreus 9.28 A idéia crista da salvacao tem relag&o com passado, presen- tee futuro. A Biblia diz: “... pela graga fostes salvos, mediante a fé” (Ef 2.8). Diz que o evangelho é 0 poder de Deus “... parands que estamos sendo salvos” (1Co 1.18). Também diz: “... a nossa sal- vacao esta, agora, mais perto do que quando no principio cremos” (Rm 13.11). Fomos salvos. Estamos sendo salvos. Seremos salvos. Em todo estagio somos salvos pela morte de Cristo. No passado, de uma vez para sempre, nossos pecados foram pagos pelo proprio Cristo. Fomos justificados somente pela fé. No pre- sente, a morte de Cristo assegura o poder do Espirito de Deus de nos salvar progressivamente do dominio e da contamina¢ao do pecado. E no futuro, sera o sangue de Cristo, derramado na cruz, que nos protege da ira de Deus e nos leva a perfeigao e alegria completas. Ha um verdadeiro julgamento por vir. A Biblia descreve “... certa expectacao horrivel de juizo e fogo vingador prestes a con- sumir os adversarios” (Hb 10.27). Conclama-nos a servir “... a 128 - A Paixdo de Cristo Deus de modo agradavel, com reveréncia e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12.28,29). Jesus advertiu as pessoas de seu tempo “... a fugir da ira vindoura” (Mt 3.7). O préprio Jesus “... se manifestara com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vinganca contra os que nao conhecem a Deus e contra os que nao obedecem ao evan- gelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerao a penalidade de eter- na destruigao, banidos da face do Senhor e da gloria do seu po- der” (2Ts 1.7-9). Alguns retratos dessa ira final de Deus sao terriveis demais para ponderar Ironicamente, é Joao, o“‘apdstolo do amor”, que nos daos vislumbres mais claros do inferno. Aquele que rejeita a Cristo ese aliaa outro“... bebera do vinho da célera de Deus, preparado, sem mistura, do calice da sua ira, e sera atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presenga do Cordeiro. A fumaga do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e nao tém descanso algum, nem de dia nem de noite” (Ap 14.10-11). Até que sintamos alguma medida de pavor diante a futura ira de Deus, é provavel que nao entendamos a dogura com a qual aigreja primitiva saboreou a obra salvadora de Cristo no futuro: “.., [Nés aguardamos] dos céus 0 seu Filho, a quem ele ressusci- tou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.10). Jesus Cristo, e somente ele, pode nos salvar da ira vindou- ra. Sem ele, seremos varridos para longe, para sempre. Mas quando nos salva no final, sera com base no seu san- gue. “... Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecera segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvacéo” (Hb 9.28). Ele resolveu 0 problema do pecado de uma vez por todas. Um novo sacrificio nao sera necessario, Nosso escudo contra a ira futura é tao confiavel quanto os sofrimentos de Cristo em nosso lugar. Por causa da cruz, entao, exulte na futura graca. Jesus sofreu e morreu... 48 Para obter a sua e a nossa alegria Em troca da alegria que lhe estava proposta, [Jesus] suportou a cruz, ndo fazendo caso da ignominia, e esta assentado a destra do trono de Deus. Hebreus 12.2 O caminho que conduz a alegria é arduo. E dificil para nds; foi dificil para Jesus. Custou-lhe sua vida. Pode custar-nos o mes- mo. “... em troca da alegria que lhe estava proposta, [Jesus] su- portou a cruz”. Primeiro a agonia da cruz, para depois experi- mentar o éxtase do céu. Nao havia outro jeito. A alegria que estava diante dele tinha diversos niveis. Eraa alegria de se reunir como Pai: “... na tua presenga ha plenitude de alegria, na tua destra, delicias perpetuamente” (S] 16.11). Eraa alegria de triunfar sobre o pecado: “... depois de ter feito a purifica- ¢o dos pecados, assentou-se a direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1.3). Eraa alegria da restauracao dos direitos divinos: “[Je- sus] ... esta assentado a destra do trono de Deus” (Hb 12.2). Era a alegria de ser cercado de louvores de todas as pessoas pelas quais ele morreu: “... havera maior jubilo no céu por um pecador que se arrepende” — 0 que dizer de milhdes? (Lc 15.7). E quanto ands? Ele entrou em alegria e nos deixou na mi- séria? Nao. Antes de morrer, Jesus fez a ligagao entre sua alegria e anossa. Disse: “Tenho-vos dito estas coisas para que 0 meu 130 - A Paixdo de Cristo gozo esteja em vos, e 0 vosso goz0 seja completo” (Jo 15.11). Ele sabia 0 que seria sua alegria, e disse ainda: “minha alegria estara em vocés”, Nos que confiamos em Cristo nos regozijaremos com tanta alegria de Jesus quanto criaturas finitas possam experimentar. Mas ocaminho sera dificil. Jesus avisou: “No mundo, passais por afligdes; mas tende bom animo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). “O discipulo nao esta acima do seu mestre... Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” (Mt 10.24,25). “__ sereis entregues... e matarao alguns dentre vés. De todos sereis odiados por causa do meu nome” (Lc 21.16,17). Foi esse o cami- nho que Jesus trilhou e é a estrada da alegria— sua alegria triunfal em nds, e nossa plena alegria. Da mesma forma como a esperanga da alegria proposta deu a Jesus forga para suportar a cruz, nossa esperanga de alegria nos capacita a sofrer com ele. Jesus nos preparou para isso quando disse: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuri- arem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vos. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardao nos céus” (Mt 5.11,12). Nossa recompensa serd nos deleitar em Deus com aalegria que o Filho de Deus tem em seu Pai. Se Jesus nao tivesse morrido voluntariamente, nem elenem nds poderiamos ser felizes para sempre. Ele teria sido desobedi- ente. Nos teriamos perecido em nossos pecados. Sua alegria e a nossa foram compradas na cruz. Agora nds 0 seguimos no caminho do amor. Consideramos “... que os sofrimentos do tempo presente nao podem ser comparados com a gloria a ser revelada em nds” (Rm 8.18). Agora sofremos com ele a injuria. Mas entao havera alegria sem limites, Qualquer risco requerido pelo amor nos su- portaremos. Nao coma forga de heroismo, mas na forga da espe- ranga, porque “.., ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manha” (SI 30.5). Jesus sofreu e morreu. 49 Para que ele fosse coroado de gloria e honra Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha gloria que me conferiste, porque me amaste antes da fundagao do mundo” Joao 17.24 Vemos... Jesus... coroado de gloria e de honra, para que, pela graga de Deus, provasse a morte por todo homem. Hebreus 2.9 A si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhanga de homens; e, reconhecido em figura humana, @ si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e the deu 0 nome que esté acima de todo nome. Filipenses 2.7-9 Digno & 0 Cordeiro que foi morto, de receber 0 poder, ¢ riqueza, e sabedoria, e forga, e honra, e gloria, ¢ louvor! Apocalipse 5.12 Na noite antes de sua morte, sabendo o que estava para acontecer, Jesus orou: “Glorifica-me, 6 Pai, contigo mesmo, com a gloria que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.5). E assim aconteceu. Ele foi“... coroado de gloria e de honra, para que, pela graca de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hb 2.9). Sua gloria foi a recompensa de seu sofrimento. Ele foi “... obediente até 4 morte e morte de cruz. Pelo que também 132 - A Paixaio de Cristo Deus 0 exaltou sobremaneira” (Fp 2.8,9). Justamente porque ele foi morto, o Cordeiro é “Digno... de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e forga, e honra, e gloria, e louvor” (Ap 5.12). A paixdo de Jesus Cristo nio meramente antecedeu a coroa; foi o prego, e acoroa o prémio. Ele morreu para obté-la. Muitas pessoas tropecam neste ponto. Dizem: “Como tsso pode ser amor? Como Jesus péde ser motivado a nos dar alegria se ele foi motivado a obter sua gloria? Desde quando a vaidade 6 virtude?” Boa pergunta. Ela tem uma excelente resposta biblica. A resposta esta em aprender o que o grande amor é na reali- dade. A maioria de nds cresceu pensando que ser amado quer dizer ser valorizado. Nosso mundo todo parece construido sobre essa suposi¢ao. Se eu amo vocé, eu o valorizo. Ajudo-o asentir-se bem aseu proprio respeito. E como se uma visio do eu fosse o segre- do da alegria. Sabemos, contudo, que nao é assim. Mesmo antes de nos aproximar da Biblia, sabemos que nao é assim. Nossos momen- tos mais felizes nao tém sido momentos saturados em nds mes- mos, mas momentos em que nos esquecemos de nds mesmos. Houve momentos, quando ficamos ao lado do Grand Canyon, ou ao pé do Monte Kilimanjaro, ou observamos um pér-do-sol sobre o Saara e por um momento passageiro sentimos a alegria da pura maravilha. Foi para isso que fomos criados. O Paraiso nao sera uma sala de espelhos. Sera uma exibigao da majestade. E essa ma- jestade nao é nossa. Se isso é verdade e se Cristo é a mais majestosa realidade do universo, ent&éo como deve ser seu amor por nds? Certamente nao é fazendo grande caso de nds. Isso nao satisfaria nossa alma. Fomos feitos para algo muito maior. Se vamos ser tao felizes quanto épossivel, devemos ver e saborear a pessoa mais gloriosa de todas, 0 proprio Jesus Cristo. Isso significa que, para nos amar, Jesus tem de buscar a plenitude de sua gloria e oferecé-la para nosso deleite. Por esta razao ele orou: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que ve- Para que ele fosse coroado de gloria e honra - 133 jam aminha gloria que me conferiste, porque me amaste antes da fundagao do mundo” (Jo 17.24). Lsso foi amor. “Eu lhes mostrarei minha gloria.” Quando Jesus morreu para recuperar a plenitude de sua glona, morreu para nossa alegria. O amor é 0 labor — qual- quer que seja o prego — de ajudar as pessoas ase deleitarem com aquilo que mais satisfaz a alma, ou seja, Jesus Cristo. E dessa ma- neira que Jesus ama. Jesus sofreu e morreu. 50 Para mostrar que mesmo o pior mal Deus revertera em bem Se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus... Herades e Péncia Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo 0 que a tua mao € 0 teu propdsito predeterminaram. Atos 4,27,28 A coisa mais profunda que podemos dizer sobre 0 sofri- mento e 0 mal é que, em Jesus Cristo, Deus penetrou o mal eo sofrimento e os transformou em bem. A origem do mal esta cober- ta de mistério. A Biblia nao nos leva tao longe quanto gostariamos deir. Diz, pelo contrario: “As coisas encobertas pertencem ao Se- nhor, nosso Deus” (Dt 29.29). O coragao da Biblia nao é uma explicagao sobre de onde veio o mal, mas uma demonstrag&o de como Deus entrano mal e © transforma no exato oposto — justiga e alegria eterna. Desde o come¢o, nas Escrituras havia setas apontando que seria assim pa- rao Messias. José, filho de Jacé, foi vendido como escravo no E- gito. Pareceu abandonado durante dezessete anos. Mas Deus es- tava ali e 0 tornou governador do Egito, para que em tempo de fome ele pudesse salvar aqueles que o haviam vendido. A historia se resume numa palavra de José a seus irmaos: “Vés, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus 0 tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” 136 - A Paixfo de Cristo (Gn 50.20). Sombra de Jesus Cristo, José foi rejeitado para que pudesse salvar. Consideremos os antepassados de Cristo. Antes, Deus era o unico rei em Israel. Mas 0 povo se rebelou e pediu um rei huma- no: disse: “Nao! Mas teremos um rei sobre nds” (1Sm 8.19). Mais tarde, eles confessaram: “... atodos os nossos pecados acrescenta- mos o mal de pedir para nés um rei’’(] Sm 12.19). Mas Deus esta- va ali. Da linhagem desses reis trouxe Cristo ao mundo. O Salva- dor sem pecado teve sua origem terrena no pecado, pois veio salvar os pecadores. A coisa mais surpreendente, porém, foi que o mal eo sofri- mento foram o caminho de Cristo para a vitoria sobre o mal e o sofrimento. Todo ato de traigao e brutalidade contra Jesus era pecado e muito mau. Mas Deus estava ali. A Biblia diz: “... sendo este [Jesus] entregue pelo determinado designio e presciéncia de Deus” (At 2.23). Os verg6es nas costas, os espinhos na cabega, cuspe e hematomas no rosto, pregos nas mos, langa no lado, escamio dos poderosos, a traig&o do amigo, o abandono dos disci- pulos — tudo isso foi resultado do pecado e tudo designado por Deus para destruir 0 poder do pecado. “Herodes e Péncio Pilatos, com gentios e gente de Israel... [fizeram] tudo o que a tua mao e 0 teu propésito predeterminaram” (At 4.27,28), No existe pecado maior que odiar e matar o Filho de Deus. Nao existiu maior sofrimento nem maior inocéncia que o sofri- mento inocente de Cristo. Contudo, Deus estava em tudo isso. ““To- davia, ao Senhor agradou moé-lo” (Is 53.10). Seu alvo, através do mal e do sofrimento, era destruir o mal e o sofrimento. “Pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). Nao teria, portanto, a paixao de Jesus o intento de Deus de demonstrar ao mundo que nao existe pecado ou mal grande demais que Deus nao possa, em Cris- to, transformar em justiga e alegria eternas? O préprio sofrimento que causamos tornou-se esperanga de nossa salvacao. “Pai, per- doa-lhes, porque nao sabem o que fazem” (Lc 23.34). Uma oracao Pai Celeste, em nome de Jesus Cristo, pego por todo leitor, que o Senhor confirme o que for verdadeiro neste livro e cancele © que possa ser falso. Pego que ninguém tropece sobre Cristo, ou se ofenda com sua divindade, ou seus sofrimentos sem paralelo, ou os propositos de sua paixao. Para muitos, essas coisas so novida- de. Que sejam pacientes em considera-las com cuidado. O Se- nhor lhes conceda entendimento e percep¢ao da verdade. Peco, Senhor, que a neblina da indiferenca para com as coisas eternas seja dissipada e a realidade do céu e do inferno se tornem claras. Oro para que a centralidade de Cristo na Historia se tome evidente, e que sua paixao seja vista como o mais impor- tante evento que aconteceu. Conceda-nos andar pelo monte da eternidade, onde os ventos sopram claros como o cristal com a verdade. Oro para que nossa aten¢ao nao se desvie da supremacia de teus propositos divinos na paixao de Cristo. Nao permita que sejamos consumidos pela questdo menor que pergunta qual povo matou teu Filho. Todos nés estavamos envolvidos, devido a nosso pecado. Mas essa nao é a questo principal. O teu designio e teu ato sao questées principais. Oh! Senhor, abra nossos olhos para que vejamos que o Senhor mesmo, e n&éo o homem, planejou a paixao de Jesus Cristo. Dessa posicao aterradora, que nds veja- 138 - A Paixao de Cristo mos 0 panorama infindo de teus propdsitos misericordiosos, chei- os de esperanca, na paixao de Cristo. Que verdade surpreendente o Senhor nos revelou: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores” (1Tm 1.15). Nao o fez principalmente com o seu ensino, mas por sua morte. “Cristo maorreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Co 15.3). Existe mensagem mais maravilhosa que essa para pessoas como nds, que sabemos nao alcangar as exigéncias de nossa propria consciéncia, quanto mais as exigéncias de tua santidade? Assim pe¢o, Pai de misericérdia, que conceda a todos quan- tos léem este livro, que vejam sua necessidade e a tua perfeita pro- visao em Cristo, e creiam. Peco isso baseado na promessa de teu Filho: “... Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que nele cré nao perega, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). No nome misericordioso de Jesus, oro. Amém., Livros sobre a confiabilidade histérica do relato biblico Se vocé quiser ler algumas das melhores obras sobre a vida, morte e ressurreigao de Jesus, recomendo os seguintes livros: Gloria de Cristo — RC Sproul A Morte de Jesus — John MacArthur A Obra Consumada de Cristo ~ Francis Schaeffer Cristo, o Senhor — Org. por Michael Horton Cristo na Terra — Jakob van Bruggen Justificagao pela Fé Somente - MacArthur, Sproul e outros Lei e Graga — Mauro Meister O Discipulado segundo Jesus — James Montgomery Boice O Evangelho da Graga — James Montgomery Boice O Mal que Habita em mim ~ Kris Lundgaard Salvos pela Graga — Anthony Hoekema Sola Gratia — RC Sproul Verdades Essenciais da Fé Crista - RC Sproul Notas Introdugao 1. Elie Wiesel, Night (Nova York: Bantam Books, 1982, orig. 1960), p.72. 2. Ibid. p.73 3. Ibid., p.32 Capitulo 27 1, John Newton, “Come, my Soul Thy Suit Prepare” em The Trinity Hymnal (Filadélfia: Great Commission Publications, 1962), p. 531. CINQUENTA RAZOES POR QUE JESUS MORREU As mais importantes perguntas que alguém pode fazer sio: COM Mantel teem nome SOK SUm eT ord que isso tem a ver comigo? F, finalmente, quem o enviou para a morte? A resposta & ultima pergunta é Deus. Jesus ¢ 0 Filho de Deus. O sofrimento foi incompardvel, mas 0 todo da Pare e Nmap ert ORC cee ee eee oem tae Mean Tec Cnt Sen CRS RCC CORT a iter eam stan tena Deus. Este livro trata exatamente dis . John Piper reuniu one eCacmcatie te COB Nara eT EC MSR Cote) Some eRe Cenc ict ceemen mor roca ery importante pergunta que cada um deve enfrentar: 0 que Deus em racet ore Re nC RO RTM TNR tc Mn rsd CONS erate ease icamcctcae tre ae Minneapolis, e autor de varios livros, incluindo Alegrem-se os Ne ee OE folie)

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