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RESUMO
Introdução
Esse tipo de abordagem não é novidade uma vez que já existem outros artigos
apresentando comparativos entre a ética kantiana e a ética cristã, porém na
grande maioria as referências de ligação são feitas como críticas negativas. É
importante mencionar que importantes teóricos como Hegel e Schopenhauer
entenderam, por vias diferentes, uma possível origem do pensamento de Kant
na religião, e seu desenvolvimento posterior, como sendo a passagem de um
judaísmo interiorizado para uma consciência individual. Nietzsche, como crítico
conhecido da moralidade religiosa cristã, identifica também na moral kantiana
uma espécie de disfarce filosófico de um pensamento teológico. Vale reforçar
que o objetivo não é elaborar um esboço bastante rico em detalhes sobre a
identificação de semelhanças e as críticas ao pensamento kantiano dos três,
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bem e do mal: "O cristianismo perverteu a Eros; este não morreu, mas
degenerou-se, tornou-se vício." Como crítico do encharcamento moral do
cristianismo, e entendendo como a moral kantiana sendo apenas uma
roupagem diferente do mesmo, em sua obra O Anticristo ele diz:
Nietzsche vai mais longe nas comparações, sempre exalando sua crítica feroz
e severa à religião, quando compreende como evidente na moralidade kantiana
elementos da construção moral cristã como a consciência, a obrigação e a
culpa:
Nesta esfera, a das obrigações legais, está o foco de origem desse
mundo de conceitos morais: "culpa", "consciência", "dever",
"sacralidade do dever" - o seu início, como o início de tudo grande na
terra, foi largamente banhado de sangue. E não poderíamos
acrescentar que no fundo esse mundo jamais perdeu inteiramente
um certo odor de sangue e tortura? (Nem mesmo no velho Kant: o
imperativo categórico cheira a crueldade...).
Seguindo neste caminho, vamos buscar naquilo que parece antagônico, sinais
de convergência, uma vez que parece haver traços de que a filosofia kantiana
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inspiração para se conseguir, não naquilo que se consegue. Está posto então,
pelo cristianismo, um ideal absoluto a ser seguido pelos seres humanos, de
tensão ilimitada na experiência moral do homem, que jamais havia sido
apresentado em nenhum sistema ético antigo. Este ideal é posto na bíblia no
livro de Romanos capítulo 3 verso 20: “Portanto, ninguém será declarado justo
diante dele baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos
tornamos plenamente conscientes do pecado.” Ao contrário do estoicismo, que
acreditava numa possível virtude autônoma do homem, agora é posta a
condição onde há uma lei moral perfeita à qual os seres humanos não são
capazes de alcançar, e que não mais propõe virtude, mas santidade. Trata-se
de um padrão absoluto e perfeito de um modelo único capaz de atender em
plenitude, e ser chamado de fato de santo: Cristo.
Num dos manuscritos das aulas de Kant, encontramos uma fala bastante
esclarecedora:
O Evangelho possui na sua lei moral uma pureza tal que não se
encontra semelhante em nenhum dos filósofos antigos, os quais,
mesmo na época do mestre evangélico, não passavam de brilhantes
fariseus, que se aferravam rigorosamente ao culto externo do qual o
Evangelho frequentemente diz que o culto não tem a ver com isso,
mas sim com a pureza moral. O Evangelho não consente a mínima
imperfeição, é absolutamente rigoroso e puro, e mantém-se sem
defeção na pureza da lei. Uma tal lei é algo sagrado, e é tão exigente
que não se contenta com a metade da sua observância.
(Moralphilosophie/Collins AA Band 27).
Kant usa, ao falar da moral cristã, termos como pureza, sacralidade, e outros,
que são os mesmos usados para descrever seu conceito de lei moral. Ele
oferece uma declaração surpreendente ao afirmar que o princípio cristão da
moral não é de ordem teológica, mas tem sua origem na autonomia da razão
pura prática por si própria. Seguindo o texto,
Conclusão
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REFERÊNCIAS
______. Crítica da Razão Prática. Trad. de Afonso Bertagnoli. São Paulo, 2009.