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UENF – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE

DIOGO DE CARVALHO GAMA

A INFLUÊNCIA DA MORAL CRISTÃ NO CONCEITO DE MORALIDADE


KANTIANO

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ


JULHO 2019
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A influência da moral cristã no conceito de moralidade kantiano

Diogo de Carvalho Gama

RESUMO

Uma das maiores referências a desenvolver e fundamentar os temas: ética e moral,


Immanuel Kant, tem como pilar da sua construção filosófica os conceitos desenvolvidos sobre o
que vem a chamar de “boa vontade” e “sumo bem”. Segundo a tese kantiana a boa vontade é
boa em si mesma, incondicionalmente, sem estar ligada a nenhum tipo de fim. Sendo este
conceito apresentado em sua fundamentação da metafísica dos costumes, seria ele um
conceito desenvolvido a partir de quais princípios adquiridos empiricamente por Kant? Da
mesma forma, em sua obra Crítica da Razão Pura, é desenvolvido o conceito de “sumo bem” e
desenvolvido um padrão de moralidade perfeita, inatingível humanamente. Seriam estes
padrões novos, ou seriam remodelados? Este artigo pretende apresentar traços de semelhança
entre os conceitos de ética e moral, já bastante conhecidos, de Kant, e conceitos bíblicos
apresentados pelo cristianismo em sua descrição moral suprema chamada de santidade.

Palavras-chave: Kant, Cristianismo, Ética, Moral, Bíblia

Introdução

Ao traçar, algum tipo de similaridade entre a moral cristã e a moral


kantiana, é natural verificar, ou gerar, uma possível oposição ou um possível
confronto com dois grupos: os ortodoxos da religião cristã e os ortodoxos da
filosofia kantiana. A ortodoxia cristã obviamente vai enxergar com bastante
receio uma ética fundamentada na razão prática cuja lei regente se constrói em
si mesma, sem necessidade alguma de recorrer a ferramentas místicas e
externas. Além disso, a tensão aumenta sob o fato de que, além de não
depender da religião, a ética kantiana subordina a mesma ao colocar seus
princípios morais expostos à avaliação da razão. A ortodoxia kantiana levanta
suspeita justamente pelo motivo contrário, pois ao reconhecer elementos
bíblicos ou cristãos como supostos axiomas da razão prática, estaria
contaminando os elementos de avaliação e restringindo os princípios morais a
uma fonte proveniente de religião histórica humana e literaturas tendenciosas a
uma expressão de cultura extremamente particular. Assim sendo, o
pensamento se construiria sob aspectos que vão contra o princípio de
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universalidade e tornaria, portanto, o conceito inválido. Por este confronto claro


e evidente, este artigo trará apenas elementos básicos para contextualização
do cristianismo e da filosofia kantiana. O objetivo não é descrever
detalhadamente cada desenvolvimento filosófico, mas despertar e provocar o
interesse pela avaliação da similaridade da moral kantiana e a moral cristã.
Sendo assim, serão apresentados elementos pontuais da filosofia kantiana e
suas construções, sem intenção de aprofundamento nos conceitos, a fim de
destacar sinais de aparição dos evangelhos cristãos na moralidade de Kant.
Apesar das evidências e opiniões opostas sobre os dois aspectos aqui
apresentados, é possível encontrar na ética kantiana elementos, mesmo que
aparentemente estéticos e discretos, de fundamentos da ética cristã,
principalmente em textos do Novo Testamento, mas também das raízes
históricas que construíram sua chegada no Antigo Testamento. Qualquer tipo
de pensamento tendencioso, tanto para um lado como para o outro, pode
entender nessa tentativa de buscar semelhanças entre os dois conceitos,
possíveis distorções na interpretação. Por isso, para dar sustentação à
analogia, o trabalho será baseado em textos do próprio Kant, e a partir deles
serão feitas possíveis referências pertinentes.

Uma ligação já encontrada anteriormente. Contextualização das críticas


de Hegel, Schopenhauer e Nietzsche.

Esse tipo de abordagem não é novidade uma vez que já existem outros artigos
apresentando comparativos entre a ética kantiana e a ética cristã, porém na
grande maioria as referências de ligação são feitas como críticas negativas. É
importante mencionar que importantes teóricos como Hegel e Schopenhauer
entenderam, por vias diferentes, uma possível origem do pensamento de Kant
na religião, e seu desenvolvimento posterior, como sendo a passagem de um
judaísmo interiorizado para uma consciência individual. Nietzsche, como crítico
conhecido da moralidade religiosa cristã, identifica também na moral kantiana
uma espécie de disfarce filosófico de um pensamento teológico. Vale reforçar
que o objetivo não é elaborar um esboço bastante rico em detalhes sobre a
identificação de semelhanças e as críticas ao pensamento kantiano dos três,
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mas apenas contextualizar e apresentar questões pontuais que cada um


verificou.
Em um de seus escritos de juventude, Hegel chega a caracterizar a ética de
Kant como sendo dominada por uma lógica presidida do judaísmo. Por volta do
ano de 1797, em Frankfurt, Hegel escreve textos como O espírito do
cristianismo e seu destino onde faz uma crítica da oposição entre razão e
natureza sensível, talvez ainda influenciado por Holderlin quanto à separação
do pensamento kantiano.

O resultado das investigações sobre o cristianismo levadas a cabo


em Berna foi o registro da estreita ligação entre a positividade da
religião cristã e a heteronomia da legislação, tanto moral como
jurídica. Na primeira fase de Frankfurt, Hegel procura mostrar que o
cristianismo constituiu originariamente uma tentativa de superar a
positividade religiosa e o legalismo moral e jurídico, atribuídos agora
ao espírito judaico. Neste contexto, o cristianismo primitivo já não é
visto como mensageiro de uma moral pura, como defendida por Kant
e Fichte, mas como a religião do amor, capaz de superar as
contraposições inerentes ao ponto de vista da moralidade
(BECKENKAMP, 2009, p. 134).

Seguindo no mesmo caminho de crítica ao pensamento kantiano, considerando


este contaminado por uma visão bíblica, Schopenhauer em sua obra Os
fundamentos da moral (1840) caracteriza como ilusória a idéia de autonomia
racional por compreender que seus fundamentos são baseados nos dez
mandamentos e na moralidade teológica, apensar da construção elaborada de
Kant. Para Schopenhauer todo o conceito de moral kantiana é, na verdade,
uma moral judaica com uma roupagem de razão humana. De fato, se for
avaliada a importância da lei, chamada de lei moral, na construção da filosofia
de Kant, faz sentido a compreensão de Schopenhauer.
Outro a estabelecer traços de semelhança, também como crítica negativa,
entre a moral kantiana e a moral cristã foi Nietzsche. Para ele o cristianismo
era completamente dominado por um instinto moral, encontra na filosofia de
Kant fundos teológicos e cristãos, e mais especificamente na ética kantiana
uma intensidade e prevalência do moralismo cristão. Para Nietzsche, este
instinto moral acabou se tornando um vício, como afirma em sua obra Além do
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bem e do mal: "O cristianismo perverteu a Eros; este não morreu, mas
degenerou-se, tornou-se vício." Como crítico do encharcamento moral do
cristianismo, e entendendo como a moral kantiana sendo apenas uma
roupagem diferente do mesmo, em sua obra O Anticristo ele diz:

A que se deve o júbilo que o aparecimento de Kant provocou no


mundo erudito alemão, três quartos do qual é composto de filhos de
pastores e professores – e a convicção alemã, que ainda hoje ecoa,
de que Kant deu início a uma virada para melhor? O instinto de
teólogo do erudito alemão adivinhou o que se tornara novamente
possível... Estava aberta uma trilha oculta para o velho ideal, o
conceito de ‘mundo verdadeiro’, o conceito da moral como essência
do mundo (- os dois erros mais malignos que existem!) eram
novamente, graças a um sagaz e manhoso ceticismo, se não
demonstráveis, não mais refutáveis pelo menos... (...) O sucesso de
Kant é apenas um sucesso de teólogo: ele foi, como Lutero, como
Leibniz, um freio a mais na retidão alemã, já não muito firme por si
(AC 10).

Nietzsche vai mais longe nas comparações, sempre exalando sua crítica feroz
e severa à religião, quando compreende como evidente na moralidade kantiana
elementos da construção moral cristã como a consciência, a obrigação e a
culpa:
Nesta esfera, a das obrigações legais, está o foco de origem desse
mundo de conceitos morais: "culpa", "consciência", "dever",
"sacralidade do dever" - o seu início, como o início de tudo grande na
terra, foi largamente banhado de sangue. E não poderíamos
acrescentar que no fundo esse mundo jamais perdeu inteiramente
um certo odor de sangue e tortura? (Nem mesmo no velho Kant: o
imperativo categórico cheira a crueldade...).

É necessário reforçar, novamente, que não estão sendo apresentadas aqui


críticas e conclusões a respeito dos pensadores destacados acima. O objetivo
segue sendo apresentar traços, vestígios e semelhanças pertinentes sobre a
influência da moralidade cristã na construção filosófica kantiana, mais
prevalentemente identificada em sua moral, que já foram identificadas
anteriormente, porém sob caráter negativo.
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Um caminho de pretensão imparcial: análise dos textos kantianos

É bastante delicado fazer um comparativo de dois sistemas morais bastante


discutidos e repletos de divergências em inúmeros aspectos, assim como
parece também bastante complexo o fato de não haver um ponto de partida em
comum para tecer qualquer tipo de análise trilhando apenas uma linha de
pesquisa. Sendo assim, talvez seja mais apropriado a princípio construir uma
avaliação livre de interpretações e possíveis contaminações ideológicas.
Uma proposta de buscar este caminho é uma avaliação direta aos textos, pois
parece ser onde encontramos mais claramente evidências de aproximação
entre as construções filosóficas cristãs e kantianas. Nesta direção, no prefácio
de sua obra Crítica da Razão Pura, encontramos evidências de que o aparente
agnosticismo na filosofia e teologia de Kant não se apresenta como obstrução
para a moral e a religião, mas sim como uma forma de fornecer um espaço
neutro de discussão e reflexão, a fim de torná-los limpos e puros para serem
recolocados de forma genuína.

Precisamente essa discussão sobre a utilidade positiva dos


princípios críticos da razão pura pode ser patenteada nos conceitos
de Deus e da natureza simples de nossa alma, o que passo por alto
para ser breve. Não posso, portanto sequer admitir Deus, liberdade e
imortalidade com vistas ao uso prático necessário da minha razão
sem ao mesmo tempo tirar da razão especulativa sua pretensão a
visões exageradas, pois para chegar a estas ela precisa empregar
princípios que, estendendo-se de fato apenas a objetos da
experiência possível não obstante serem aplicados ao que não pode
ser objeto da experiência, na realidade sempre transformam o último
em fenômeno e assim declaram impossível toda a ampliação prática
da razão pura. Portanto, tive que elevar o saber para obter lugar para
a fé, e o dogmatismo da Metafísica, isto é, o preconceito de progredir
nela sem crítica da razão pura, é a verdadeira fonte de toda a
sempre muito dogmática incredulidade antagonizando a moralidade.

Seguindo neste caminho, vamos buscar naquilo que parece antagônico, sinais
de convergência, uma vez que parece haver traços de que a filosofia kantiana
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caminhou por espaços externos ao cristianismo, mas para, de maneira


genuína, justificá-lo e fundamentá-lo de forma racional. Aparentemente
opostos, a moral cristã, de princípios provenientes de interferência divina
externa ao qual o homem de submete, e a moral kantiana, que fornece total
autonomia da razão humana para legislar, teriam convergências? A conduta
cristã, baseada numa lei divina do amor, e a moral kantiana deitada
completamente sobre o imperativo categórico da razão prática, há
similaridades entre elas?
Um dos primeiros sinais é uma evidente freqüência no uso de linguagens ou
citações, diretas ou indiretas, bíblicas. Em sua obra Crítica do julgamento
(1790), Kant apresenta a fé como uma forma de pensar a moral, acessando um
conteúdo inacessível à construção teórica, mas como uma expressão de dever
ético:
É uma confiança na promessa da lei moral; mas não uma tal
promessa que nesta esteja contida, mas que eu coloco, até mesmo a
partir de um princípio suficiente do ponto de vista moral. Na verdade
um fim terminal não pode ser ordenado mediante qualquer lei da
razão, sem que esta ao mesmo tempo prometa, ainda que
inconscientemente, o caráter alcançável daquele e assim também
justifique a adesão às únicas condições, sob as quais a nossa razão
pode pensar aquele caráter. A palavra “fides” exprime já isto mesmo
e pode aparentemente parecer suspeito que esta expressão e esta
ideia particular entrem na filosofia moral, pois que antes ela foi
introduzida com o Cristianismo e a sua aceitação poderia parecer
talvez somente uma imitação lisonjeira da sua linguagem. Mas este
não é o único caso, já que esta religião maravilhosa, na suprema
simplicidade da sua exposição enriqueceu a filosofia com conceitos
da moral muito mais definidos e puros do que esta até então tinha
podido fornecer, os quais, contudo, uma vez existindo são livremente
aprovados e aceitáveis como tal e que ela própria bem podia e devia
ter descoberto e introduzido.

Durante este desenvolvimento, é interessante verificar como Kant conclui


afirmando que o conceito já fornecido pelo Cristianismo, mesmo que de forma
simples, deveria ser alcançado de forma autônoma pela filosofia. Ou seja,
ambos os caminhos levariam a um mesmo lugar. Este é mais um traço das
ligações feitas, mas também da compreensão de Kant de que é possível um
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caminho paralelo entre a religião e a filosofia, que apesar de não se cruzarem,


acabam chegando a um mesmo destino.
Agora vamos verificar como Kant coloca o Cristianismo sempre em supremacia
a outros sistemas de construção éticos. Embora aproveite traços deles, sempre
há uma vantagem na moral bíblico-cristã em relação a sistemas como o
estoicismo de Zenão e o epicurismo. Vejamos como, em sua obra Crítica da
Razão Prática (1788), Kant descreve a construção de método destas duas
escolas ao desenvolver o conceito de sumo bem:

Entre as antigas escolas gregas só duas houve que seguiram


propriamente um método idêntico na determinação do conceito do
sumo bem, pois não davam à virtude e à felicidade o valor de dois
elementos distintos do sumo bem, buscando, por conseguinte, a
unidade do princípio segundo a regra da identidade; mas, por outro
lado, essas escolas se separavam no concernente à escolha do
conceito fundamental. Diziam os epicureus: possuir a consciência da
máxima que conduz à felicidade, tal é a virtude; diziam os estóicos:
ter consciência da virtude é a felicidade. Para os primeiros, a
prudência equivalia à moralidade; para os segundos, que escolhiam
uma denominação mais elevada para a virtude, só a moralidade era
a sabedoria verdadeira. (a Crítica da razão prática, p. 223-224)

Ainda na sequencia deste anunciado, Kant afirma que o cristianismo, mesmo


desconsiderado como doutrina religiosa, é o único que apresenta um conceito
de sumo bem satisfatório às maiores exigências da razão prática: o reino de
Deus. Para Kant, Epicuro restringe virtude à felicidade, e Zenão na tentativa de
unir os dois acabou por reduzir a felicidade à uma consciência de virtude, uma
dignidade. Numa apologética didática do conceito do sumo bem, Kant
entendeu que Epicuro acabou transformando a moralidade num caminho para
a felicidade, situando o sumo bem no prazer. Em contra partida, Kant apresenta
o cristianismo e sua idéia de santidade, como ideal da perfeição moral pura. O
ideal de santidade proposto pelo cristianismo é bastante semelhante ao que a
filosofia kantiana apresenta como lei moral, ou imperativo categórico. Uma lei
que seria benéfica a todos os seres humanos, mas que é inatingível para seres
humanos normais e possível apenas para seres superiores. Seguindo este
raciocínio, o princípio da autonomia se encontra naquilo que move e traz
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inspiração para se conseguir, não naquilo que se consegue. Está posto então,
pelo cristianismo, um ideal absoluto a ser seguido pelos seres humanos, de
tensão ilimitada na experiência moral do homem, que jamais havia sido
apresentado em nenhum sistema ético antigo. Este ideal é posto na bíblia no
livro de Romanos capítulo 3 verso 20: “Portanto, ninguém será declarado justo
diante dele baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos
tornamos plenamente conscientes do pecado.” Ao contrário do estoicismo, que
acreditava numa possível virtude autônoma do homem, agora é posta a
condição onde há uma lei moral perfeita à qual os seres humanos não são
capazes de alcançar, e que não mais propõe virtude, mas santidade. Trata-se
de um padrão absoluto e perfeito de um modelo único capaz de atender em
plenitude, e ser chamado de fato de santo: Cristo.
Num dos manuscritos das aulas de Kant, encontramos uma fala bastante
esclarecedora:

O ideal do cristão é o da santidade e o seu modelo é Cristo. Cristo é


um simples ideal, um arquétipo da perfeição moral que tira a sua
santidade do concurso divino… O ideal da santidade é, para a
filosofia, o mais perfeito que é possível, pois ele é o ideal da
perfeição moral maior e mais pura, dado que ele não pode ser
atingido pelo homem, e apoia-se na fé na assistência divina. Ora,
não somente a dignidade da felicidade adquire aqui a maior
perfeição moral, mas este ideal encerra ainda em si mesmo o móbil
mais poderoso, o da felicidade, ainda que não seja neste mundo. O
ideal do Evangelho é assim aquele que reúne a maior pureza dos
costumes e o móbil mais poderoso, isto é a felicidade, ou a bem-
aventurança. Os antigos não concebiam maior perfeição moral do
que aquela que decorria da natureza do homem, mas como esta é
muito deficiente, as suas morais eram forçosamente imperfeitas; por
conseguinte, o seu sistema ético não era puro, acomodava a virtude
às fraquezas do homem, e por isso era incompleto. Mas no ideal do
Evangelho tudo era completo, pois aí encontra-se a maior pureza e a
maior felicidade. Este ideal proclama os princípios da moralidade em
toda a sua santidade e ordena ao homem que seja santo; mas como
este é imperfeito, oferece-lhe um suporte, o da assistência divina.
(Moralphilosophie/Collins Band XXVII).
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Ainda com foco total em destacar as vantagens do cristianismo em relação às


construções morais antigas, na mesma obra citada, construída a partir da nota
dos alunos de Kant, Filosofia Moral Collins (1785), identificamos mais
argumentos sólidos que mostram a grande influência da moralidade cristã no
desenvolvimento do pensamento kantiano:

O Evangelho possui na sua lei moral uma pureza tal que não se
encontra semelhante em nenhum dos filósofos antigos, os quais,
mesmo na época do mestre evangélico, não passavam de brilhantes
fariseus, que se aferravam rigorosamente ao culto externo do qual o
Evangelho frequentemente diz que o culto não tem a ver com isso,
mas sim com a pureza moral. O Evangelho não consente a mínima
imperfeição, é absolutamente rigoroso e puro, e mantém-se sem
defeção na pureza da lei. Uma tal lei é algo sagrado, e é tão exigente
que não se contenta com a metade da sua observância.
(Moralphilosophie/Collins AA Band 27).

Kant usa, ao falar da moral cristã, termos como pureza, sacralidade, e outros,
que são os mesmos usados para descrever seu conceito de lei moral. Ele
oferece uma declaração surpreendente ao afirmar que o princípio cristão da
moral não é de ordem teológica, mas tem sua origem na autonomia da razão
pura prática por si própria. Seguindo o texto,

o princípio cristão da moral [...] não faz do conhecimento de Deus e


da sua vontade o fundamento das leis morais, mas apenas o
fundamento da consecução do sumo bem, com a condição que
obedeçamos àquelas, colocando assim o verdadeiro móbil da
obediência a estas leis, não nas consequencias que delas
desejamos, mas na representação apenas do dever, cuja fiel
observância é a única coisa que nos pode tornar dignos de merecer
aquelas consequencias. (a Crítica da razão prática, 1788)

Conclusão
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Conforme os fragmentos apresentados, é possível verificar que entre a moral


kantiana e a moral cristã, há traços evidentes de similaridade. Quanto à real
intenção de Kant, em traçar uma possível racionalização do cristianismo, numa
linha paralela que atende ao pensamento crítico, há indícios, mas não base
suficiente para comprovação. Apesar das críticas apresentadas por teóricos a
respeito das conexões das duas idéias de moral moral, é possível identificar
nos próprios fragmentos de textos kantianos que há uma aparente inclinação à
união dos conceitos e ao prestígio do cristianismo em detrimento da
apresentação de teorias de moralidade de outros filósofos da antiguidade.
Coloca-se como sugestão, a continuação deste artigo na pesquisa de novos
confrontos de teóricos sobre a idéia de ligação da moralidade cristã com a
kantiana, assim como na apresentação de novas evidências de semelhanças.

REFERÊNCIAS

BECKENKAMP, J. O jovem Hegel: formação de um sistema pós-kantiano. São


Paulo: Loyola, 2009.

______. Dois fragmentos de Hegel do período de Iena: “DIE IDEE DES


ABSOLUTEN WESENS” (1801) e “DAS WESEN DES GEISTES” (1803).
Revista Eletrônica Estudos Hegelianos. Ano 8, nº14, Junho - 2011: 67-72.
Disponível em: <http://www.hegelbrasil.org/reh_2011_1_art5.pdf>. Acesso em:
14 jul. 2019.

KANT, I.. Gesammelte Schriften (Akademie Ausgabe – AA). Berlin: Walter de


Gruyter, 1900ss. Bd.1-22; Preussische Akademie der Wissenschaften; Bd. 23

______. Crítica da Razão Prática. Trad. de Afonso Bertagnoli. São Paulo, 2009.

______. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. de Guido A.


Almeida. São Paulo: Barcarolla, 2009.

MELANCHTHON, Ph. Philosophiae moralis epitomes libri duo, Werke in


Auswahl. Band III. Gütersloh, 1969, Bd. III.

NIETZSCHE, F. Para a Genealogia da Moral. Trad. de J. M. Justo. Lisboa:


Círculo de Leitores, 1997
11

______. O Anti-Cristo. Trad. de P. O. de Castro. Lisboa: Círculo de Leitores,


1997

NOGUEIRA Jr., R. O fundamento da moral: Schopenhauer crítico de Kant.


Dissertação de Mestrado. Departamento de Filosofia. UFSCar, 2000.

SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre o fundamento da moral. Tradução de Maria


Lúcia Cacciola. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

______. On the Basis of Morality. Tradução de E. F. J. Payne. Indianápolis,


1995

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