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RESUMO
1
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Grupo Temático 4:
Gerenciamento de Organizações Públicas CORDEIRO, W. M.
INTRODUÇÃO
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Neste mesmo diapasão, praticamente não se encontram trabalhos que
combatam a ideia de que, para um bom gerenciamento, a burocracia se apresenta
como uma contramão.
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avaliava que burocracia e inovação não se conjugam, dado que a rigidez das regras
e regulamentos inerentes à burocracia não dialogam com agendas progressistas e
inovadoras. Mannheim tinha a posição de que, como traço habitual da burocracia, a
mentalidade conservadora tende a limitar o horizonte de percepção do burocrata,
que, tenderia a generalizar inclusive a própria experiência individual.
Selznick assinala o que chama de “paradoxo da organização” o fenômeno
negativo que ocorre na burocracia quando há a modificação e o abandono dos
objetivos professados ou explícitos da organização, a saber, quando os funcionários
substituem tais objetivos por objetivos operacionais. Ou seja, quando há uma
secundarização dos fins professados.
Já na ótica de Crozier, a burocracia consiste num complexo de “círculos
viciosos”, no sentido de que ela não se corrige em função de seus próprios erros,
que proporcionam também uma luta pelo poder entre dirigentes e subordinados, isso
porque esses não são passivos, mas sim ativos no que se refere aos seus poderes
de barganha. 854
Por outro lado, na linha de frente de autores que positivam o conceito de
burocracia, temos em Weber (1946) o fanal e principal representante para
avançarmos no campo da ideologia no que tange ao fenômeno burocrático.
Destarte, é mister que entendamos as principais características da burocracia
preceituadas pelo próprio Weber. Conforme esse pensador, a burocracia é dotada
de feições legais fixas, regidas por leis ou normas administrativas; apresenta
hierarquia organizada monocraticamente; o quadro de funcionários se reveste de
ocupantes de cargos imbuídos de know-how para realização de tarefas pré-
determinadas e que atendam a procedimentos padrões; o treinamento especializado
é um pressuposto; a ocupação do cargo está vinculada à plena capacidade de
trabalho do funcionário; o desempenho no cargo obedece a regras gerais; a relação
entre as pessoas deve se dar entre cargos; a meritocracia deve ser respeitada; e os
atos devem ser passíveis de registros, prestigiando, dessa forma, o caráter formal
das comunicações.
Também Weber (1946) entende que precisão, velocidade, clareza,
conhecimento dos arquivos, discrição, entre outros, são exímios atributos da
burocracia. Sim, em linhas gerais, podemos dizer que são essas as características
da burocracia, emprazada pelo próprio autor de “Economia e Sociedade”.
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Na percepção de Guerreiro Ramos (1983), um autor que merece ser citado
pela defesa do conceito positivo de burocracia é o sociólogo israelense Shmuel
Noah Eisenstadt (1959). Este considera, conforme Ramos, que, para o
funcionamento pleno da burocracia, deve haver as condições necessárias. Entre
algumas dessas condições, a diferenciação de esferas institucionais; a
predominância de critérios universalísticos dos principais papéis e funções a
indivíduos ou grupos; a definição de comunidade total; o surgimento de objetivos
que não possam ter em vistas grupos particularistas; a crescente interdependência
entre grupos e incrementos de dificuldades. No entender de Eisenstadt (1959),
burocracia equivale a burocracia representativa. Para Dias (2008, p. 85), “a
organização do Estado é, devido a sua própria natureza, representativa”.
Observadas as características supracitadas, chega a ser quase lugar comum
confrontar as ideias de Weber sobre burocracia com as do sociólogo estadunidense
Robert King Merton (1970), que professa as “disfunções burocráticas” como
aspectos da burocracia que se sobrepõem à eficiência. Esse autor delineia alguns 855
aspectos os quais são considerados disfunções porque apresentam, segundo o
próprio Merton, internalização das regras e apego aos regulamentos; excesso de
formalismo e de papelório; resistência às mudanças; despersonalização do
relacionamento; categorização como base do processo decisório;
superconformidade às rotinas e aos procedimentos; exibição de sinais de
autoridade; e dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público.
Na perspectiva de afronta ao pensamento de Merton, Motta e Bresser-Pereira
(2004) atribuem ao comportamento humano nas organizações um fator
preponderante para a quebra da efetividade da real dimensão burocrática:
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caracterizam as organizações, eles atribuem que o referido excesso resulta na
concepção popular de burocracia como um sistema de eficiência duvidosa.
Deste modo, tendo perpassado pelas trincheiras das visões positiva e
negativa da burocracia, podemos inferir que elas por si não determinam os
resultantes das organizações, uma vez que o comportamento dos servidores é
sempre determinante para o êxito dos fins organizacionais. Para uma melhor
compreensão, é entendendo a relação entre as organizações e a burocracia que
podemos lançar mão de como elas se influenciam.
2 ORGANIZAÇÕES E BUROCRACIA
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Na apreciação de Matias-Pereira (2012, p. 59), “verifica-se que a cultura
organizacional burocrática estável e madura possui um tipo de cultura hierarquizada,
na qual existem referenciais nítidos de responsabilidade e autoridade, sendo que o
trabalho é organizado e sistemático”. Portanto, esse autor aponta que cada
organização tem uma cultura organizacional específica. No entanto, essa cultura é
apoiada, transmitida e transformada através do processo de interação social.
Por assim dizer, as organizações – sejam elas em qualquer esfera em que se
desenvolvam, através do rito de suas hierarquias – terão sempre como função
dominante a reprodução do conjunto de relações que são oriundas dos sistemas
político, econômico e social vigentes.
Também podemos conceber o Estado como uma forma organização. Para
Dias (2008), além de reivindicar para si a supremacia da aplicação da força bruta
aos problemas sociais, o Estado estabelece uma organização do poder da
sociedade.
Independente da concepção que se tenha ou que se queira agasalhar sobre 857
as organizações, podemos dizer que elas existem, são feitas por pessoas,
compessoas e para pessoas. Sem muito esforço, podemos chegar à conclusão de
que serviços como segurança pública, educação, energia, alimentação, água,
saúde, lazer, entre outros – seja na esfera pública ou privada – todos dependem das
organizações. E todas têm suas próprias formas de arranjos estruturais e funcionais.
Ou seja, todas possuem sua forma burocrática.
De acordo com Maximiniano (2007), as organizações podem fornecer todos
os tipos de serviços e produtos. Contudo, elas podem ser classificadas de muitas
maneiras. Vale dizer, por tamanho, por natureza jurídica, por área de atuação, entre
outros critérios. No que tange ao setor da economia em que operam, ainda conforme
o autor, as organizações podem essencialmente ser classificadas em três tipos:
empresas, governo e organizações do terceiro setor. Para fins do presente trabalho,
nossa concentração se volta ao governo, que compreende as organizações do
serviço público – por essência burocráticas – sendo estas as que prestam serviços
aos cidadãos e cidadãs que administram o Estado, através do funcionalismo público,
ou seja, da Administração Pública.
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3 BUROCRACIA COMO CONTÍNUA CONSTRUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
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Visto isso, temos que considerar que a Administração Pública, como quer
Matias-Pereira (2012), é um sistema complexo, constituído por instituições e órgãos
do Estado, normas, recursos humanos, infraestrutura, tecnologia, cultura, e outras,
que deve – visando o bem comum – exercer de forma justa a autoridade política e
as suas outras funções constitucionais.
De tão complexa que se tornou a Administração Pública, a adoção da
burocracia por ela “foi desenvolvida como forma de combater a corrupção e o
nepotismo patrimonialista, e buscou maximizar a priori os controles administrativos”
(MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 60). Também vamos perceber que há na
sistematização weberiana uma intenção de fechar o cerco sobre qualquer forma de
improbidade administrativa nas organizações burocráticas; por isso Weber (2000)
toma como base a racionalidade, a fim de adequar os meios aos objetivos (fins)
pretendidos, visando ainda garantir a máxima eficiência possível no alcance dos
objetivos.
Como pensa Guerreiro Ramos (1983), e com fulcro na Administração Pública, 859
não temos o intento de sinalizar que a burocracia, em última análise, é um mal sem
remédio. Aliás, havemos de considerar que sequer ela é um mal. Ela existe, é
positiva, exerce uma função determinante para o controle da máquina administrativa
– ainda que possa apresentar limitações. Boa parte da crítica que ainda incide sobre
ela é pelo fato de a burocracia não garantir foco nos resultados. Contudo, a
burocracia não está ameaçada de dissolver-se frente à colaboração que sempre deu
na construção da Administração Pública.
Não obstante tenha sido sistematizada sob a égide da forma de poder e
dominação, a burocracia se mostra como um instrumento vigoroso capaz de garantir
alta eficiência administrativa e prestar contribuições às intermitentes formas de
gerenciamento. Como aponta Evans (2004, p. 71), “é a insuficiência da burocracia
que prejudica o desenvolvimento, e não sua prevalência”.
Assim, como parte da construção da Administração Pública do século
XXI, seria prudente, se puder endeusá-la, demonizar a burocracia seria um
equívoco. Isso porque é necessário que se vislumbre que a burocracia está a favor
do bom uso que se faça dela.
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4 A BUROCRACIA E SEUS ESTRATOS NO BRASIL
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subordinadas, formam esse escalão burocrático. São autoridades expostas à
influência e ao controle público. Portadores diretos do poder e que fazem da
administração instrumento de seus propósitos.
A burocracia diretorial e quase política não está sujeita à “derrubada” do
chefe do executivo. Fazem parte desse estrato os servidores públicos das diversas
categorias e profissões que, ou por força de competência específica, ou de alianças
informais, mantêm-se permanentemente no exercício de altos cargos e funções e
assim participam da liderança dos negócios da administração. Geralmente, esses
servidores estão encarregados de funções de chefias de seções, divisões ou
departamentos. Nenhuma alta autoridade os pode dispensar ou substituí-los como
conjunto, porque, sem eles, expõem-se a incorrer em erros ou a tomar decisões
desastradas.
A burocracia técnica e profissional é composta por ocupantes de cargos
em funções profissionais, tais como médicos, engenheiros, agrônomos, arquitetos,
contabilistas, técnicos de administração, educação, químicos, economistas, entre 861
outros. Do ponto de vista analítico, essa burocracia é um estrato operacionalmente
necessário. Entretanto, em face da modernização e mudança, talvez seja temerário
proceder a generalizações sobre o seu comportamento.
A burocracia auxiliar é formada pela maioria dos servidores públicos,
contínuos, protocolistas, serventes, oficiais administrativos, e carreiras análogas. É
um estrato que tem participação escassa na elaboração de decisões de grande
alcance inovador. Na Administração Pública esse estrato é a massa, e não
componente da elite.
A burocracia proletária é atrelada – nas esferas do serviço público federal,
estadual e municipal – a unidades incumbidas de limpeza, de cozinha, construção e
conservação de estradas, e atividades consideradas meio. Esse estrato é
considerado o mais passivo dos agentes dos programas de modernização e
desenvolvimento.
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5. A QUEM COMPETE A CONSTRUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO
SÉCULO XXI?
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Não deixando de considerar o cenário sócio-econômico que, como um todo,
apresenta seus reflexos na Administração Pública, na perspectiva conjuntural, é
lícito que tenhamos bem claro que o tamanho dos desafios que surgem no serviço
público no século XXI também passam pela simetria e esforço que devem estar
presentes desde as práticas administrativas do servidor mais simples até as práticas
administrativas dos servidores da alta burocracia.
Para Matias-Pereira (2012), ao mesmo tempo em que provocam incertezas,
as transformações em curso no mundo contemporâneo estão gerando novas
oportunidades e gerando avanços. E isso não só no setor privado, mas também no
público. Assinala o autor:
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Afora a questão dos estratos burocráticos, – que aqui já foram elencados como
construtos da hierarquia organizacional do serviço público brasileiro – acreditamos
ser pertinente reforçar a visão weberiana enquanto reflexão sobre o que ela (a
burocracia) pode, a seu modo, proporcionar para a consolidação de uma
Administração Pública que permaneça como uma atividade consistente em que o
Estado assume face da coletividade, para promoção do bem comum.
Em contrapartida, faz-se necessário entender que princípios como divisão de
trabalho, regras e regulamentos, impessoalidade, competência técnica, respeito à
hierarquia, formalização das comunicações, procedimentos técnicos, entre outros
princípios burocráticos, não necessariamente desembocam em “disfunções”. Se
bem observamos, conquanto possa apresentar limitações, os acertos das práticas
burocráticas são bem mais visíveis e palpáveis do que as suas possíveis
“disfunções”. Considerando uma das demandas sociais mais urgentes no atual
cenário brasileiro – que é a horizontalização da ética em nosso tecido social –, a
burocracia se apresenta também como um instrumento, tanto quanto possa, para 864
blindar os bens públicos, varrer e fechar o cerco frente à corrupção, favoritismos,
personalismos e clientelismos, que ora se apresentam como um dos onerosos
entraves para a construção da agenda da Administração Pública, que a sociedade
almeja. Como depreende Evans (2004, p. 59), “a superioridade do Estado
burocrático moderno está em sua habilidade em superar a lógica individualista”.
Por fim, não é que a burocracia seja a mãe do “exagerado apego a
regulamentos” ou do “excesso de formalismo”. Sob a lente de um serviço público
decoroso, o que a burocracia tem é apego a um desenho organizacional que
racionalize seus objetivos e que não canse frente ao seu excesso, mas excesso de
busca da eficiência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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debate que viesse a lançar um olhar crítico sobre os contrapontos da burocracia.
Assim, pudemos inferir que, quando não deturpada, a burocracia – mesmo
possuindo contrapontos – oferece elementos que auxiliam no gerenciamento de
modo a poder racionalizar o serviço público sem que ele tenha, com isso, qualquer
disfunção.
Desse modo, entendemos que a burocracia não deve ser considerada um mal
da Administração Pública, tão pouco um empecilho nos ares deste século XXI. É
válido que se reforce que a burocracia está a favor do bom uso que se queira fazer
dela. Como em qualquer organização, de nada valerá existir um modelo tido como
impecável, gerencial ou não, se suas características não forem respeitadas no seio
organizacional.
Conclui-se também, e não há como tergiversar, que quando pensamos em
uma Administração Pública eficiente buscamos sempre ter em mente mecanismos
que contribuam para que ela seja, sobretudo, focada no interesse público.
Entendemos que, para tanto, enquanto organização, o Estado deve driblar meios 865
que afrouxem possibilidades de improbidades administrativas, personalismos e
brechas para clientelismos. Essa é uma das vias as quais a burocracia sempre
esteve de plantão.
De resto, a Administração Pública se apresenta em contínua construção, em
que a sociedade deve se sentir também parte desta construção. Contudo, e com
muita pertinência nesse processo, os estratos burocráticos devem definitivamente se
assumirem como atores da transformação do serviço público, sabendo abstrair o
que há de mais determinante na burocracia que – ainda que se queira fechar os
olhos para este fato – ainda apresenta elementos que, se bem adotados, serão
sempre canal para um bom gerenciamento.
REFERÊNCIAS
AZAMBUJA, Darcy. Introdução à ciência política. 2. ed. São Paulo: Globo, 2008.
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DIAMANT, Alfred. Bureaucracy in developmental movement regimes: a
bureaucratic model for developing societies. Comparative Administrative
Group, American Society for Public Administration, in care of International
Development Research Center, Indiana University, Bloomington, Indiana, 1964.
MICHELS, Robert. Political parties. Glencoe. Illinois, The Free Press, 1949.
VON MISES, Ludwig. Bureaucracy. New Haven, Conn, Yale University Press,
1944, p. 231.
WEBER, Max. Burocracia, in: Ensaios de Sociologia. 5. ed. Rio de janeiro: LTC,
1946.
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_______. Economia e Sociedade. Tradução: Regis Barbosa e Karen
ElsabeBarbosa. 4. ed. Brasília:Editora Universidade de Brasília, 2000. v. 2.
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