SUZANO ANO 9 Nº 5 JUL.

2017 REVISTA INTERFACES

ISSN: 2176-5227
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TEORIA DA CARGA DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA NO PROCESSO DO TRABALHO.

Denis Leandro Sousa Nunes 1

Antero Arantes Martins 2

RESUMO

Em muitas oportunidades, a parte contrária da lide detém maior possibilidade de realizar

determinada prova junto aos autos, seja por questões técnicas, materiais, ou mesmo
decorrente de dever legal, cabendo ao juiz exigir que o faça ainda que tal ônus, em regra,
recaísse sobre a parte autora da alegação. Nos excepcionais casos em que tal situação se
dá, a moderna doutrina denomina tal instituto como Teoria da Carga Dinâmica do Ônus da
Prova, sendo o objetivo deste artigo analisá-lo sobre a égide do Processo do Trabalho e sua
aplicação prática perante os Tribunais desta Justiça Especializada.

Palavras-chave: Ônus da Prova. Inversão. Distribuição Dinâmica.

ABSTRACT

In many cases, the opposing party has a greater possibility of carrying out certain evidence
in the case, whether for technical, material, or even legal reasons, and it is up to the court to
require it to do so even if such a burden is, as a rule, On the author of the claim. In the
exceptional cases in which such a situation occurs, modern doctrine calls this institute the
Dynamic Load Theory of Burden of Proof, the purpose of this article being to analyze it on
the aegis of the Labor Process and its practical application before the Courts of this Court
Specialized.

Keywords: Burden of Proof. Inversion. Dynamic Distribution.

1. INTRODUÇÃO automaticamente, surge-nos outra: como

provar?
Recorrente questionamento na lide forense é
“quem deve provar algo em juízo”, e, uma Não raro são os momentos em que a prova
vez superada a indagação, (documental, testemunhal) encontram-se em
posse, ou, sob a tutela, da parte adversa,

1 NUNES, Denis Leandro Sousa, advogado e Pós-graduando em Direito do Trabalho e Processual do

Trabalho pela Faculdade Legale. E-mail: denis@dnsa.com.br
2 MARTINS, Antero Arantes, coordenador pedagógico e professor do curso de Pós-Graduação Lato Sensu

em Direito e Processo do Trabalho da Faculdade Legale, Graduação em Direito pela Universidade

Presbiteriana Mackenzie em dezembro/1.988, Mestrado em Direito do Trabalho (Direito Social) pela Pontifícia
Universidade Católica, obtendo titulação em junho/2.002.
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fazendo com que o direito do autor pereça
por falta de condição técnica ou material de
produção de determinada prova.
Nestes momentos, cada vez mais se firma o
conceito da Distribuição Dinâmica do Ônus
da Prova, recentemente positivado através
do Código de Processo Civil de 2015.
O objetivo deste artigo é colocar luz acerca
do tema especificamente perante o Processo
do Trabalho, pois, por possuir sistemática
processual própria, pairam questionamentos
acerca de sua aplicação, ainda que de forma
subsidiária, às lides jus laborais.
Será omissa a Consolidação das Leis do
Trabalho sobre regras do ônus da prova? É
possível realizar a inversão
probatório? O atual Código de Processo Civil
fora albergado pela sistemática processual
trabalhista quando trata do ônus da prova? A
intenção deste pequeno estudo é responder
a cada um dos questionamentos supra,
através da citação de renomados mestres e
análise das súmulas e jurisprudência do
Tribunal Superior do Trabalho e Tribunais
Regionais.
3 MINHARRO, Eroltide Ribeiro Santos. CLT
interpetrada: artigo por artigo, parágrafo por
parágrafo. Coords.: Costa Machado e Domingos
Sávio Zainahi. São Paulo: Manole, 2007. p. 771.
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A palavra prova é originária do latim
probatio, que, por sua vez, emana do verbo
probare, com o significado de examinar,
persuadir, demonstrar 3 . No dizer de Luiz
Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart,
prova em direito processual:
“é todo meio retórico, regulado pela lei, e
dirigido, dentro dos parâmetros fixados pelo
direito e critérios racionais, a convencer o
Estado-juiz da validade das proposições,
objeto de impugnação, feitas no processo”4.
Portanto, podemos concluir que
provas são os meios idôneos admitidos em
Direito que visam demonstrar um fato ou
acontecimento, ou, excepcionalmente, o
direito que interesse a parte no processo,
destinados a formação da convicção do
julgador.
do ônus
A Consolidação das Leis do Trabalho
e nem mesmo o Código de Processo Civil
definem o conceito de prova – ressaltando
ser esta missão da doutrina através de
jurisconsultos, e não do texto legal –, todavia,
o conceito supra encontra respaldo no artigo
369, do CPC/2015, que diz:
“Art. 369. As partes têm o direito de empregar
todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, para provar a
verdade dos fatos em que se funda o pedido
4MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio
Cruz. Processo de Conhecimento. 7. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 258.
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ou a defesa e influir eficazmente na convicção
do juiz”.
O objeto da prova são os fatos, pois o
Direito, presumidamente, é conhecido pelo
julgador (jura novit curia) 5 , logo, sua
finalidade é formar a convicção do juiz sobre
os fatos controvertidos, relevantes
pertinentes da causa.
De outro ladro, nos termos do artigo
374, do Código de Processo Civil,
prescindem de provas os fatos: I - notórios; II
- afirmados por uma parte e confessados
pela parte contrária; III - admitidos no
processo como incontroversos; IV - em cujo
favor milita presunção legal de existência ou
de veracidade.
No dizer de Mauro Schiavi, “as máximas de
experiência são conhecimentos adquiridos pelo juiz,
pela sua cultura e pelo seu exercício funcional que o
fazem presumir a existência de determinadas
situações ou coisas”6.
Dada a importância do dispositivo na
seara do campo probatório, as máximas de
experiências foram disciplinadas no Código
de Processo Civil de 2015, nos seguintes
termos:
“Art. 375. O juiz aplicará as regras de
experiência comum subministradas pela
observação do que ordinariamente acontece
e, ainda, as regras de experiência técnica,
ressalvado, quanto a estas, o exame pericial”.
5LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito
processual do trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 717.
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Ademais, as máximas de experiências
já haviam sido positivadas do Direito
Processual do Trabalho através do artigo
852-D, da Norma Consolidada. Vejamos:
“Art. 852-D. O juiz dirigirá o processo com
liberdade para determinar as provas a serem
e produzidas, considerado o ônus probatório de
cada litigante, podendo limitar ou excluir as
que considerar excessivas, impertinentes ou
protelatórias, bem como para apreciá-las e
dar especial valor às regras de experiência
comum ou técnica”.
As máximas de experiência ganham
grandes proporções na esfera juslaboral,
posto que as matérias discutidas em juízo
são eminentemente fáticas, podendo o juiz
valer-se de sua experiência e conhecimento
no momento de valorar e interpretar provas
dos autos, principalmente se esta encontrar-
se dividida, se mostrar inverossímil ou fora
da razoabilidade.
Muitos são os princípios que norteiam
as regras probatórias no Direito Processual
do Trabalho, todavia, visando manter o
enfoque apenas quanto ao tema proposto,
curial ressaltarmos dois vetores basilares
para compreensão do estudo: o princípio da
busca da verdade real e princípio da aptidão
para a prova.
Durante muito tempo, a doutrina
defendeu o entendimento de que apenas o
6SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual
do trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 681.
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processo penal perseguia a busca da é uma só, a real, mas esta é praticamente
impossível de ser atingida. Não obstante,
verdade real (ou substancial), sob o todos que atuam no processo, principalmente
o julgador, devem envidar esforços para se
argumento de que os interesses ali chegar ao acertamento mais próximo da
realidade (verdade substancial).8
envolvidos eram indisponíveis. Já no
processo civil e do trabalho, onde, em regra, Assim, o princípio da verdade real é
se discute interesses disponíveis extraído dos artigos 765 e 852-D, ambos da
(patrimoniais), o juiz poderia decidir CLT, donde se conclui que o juiz tem ampla
friamente lastreado em regra de ônus da liberdade na condução do processo na busca
prova, presunções, considerando apenas a de elementos probatórios que formem seu
verdade extraída das provas colacionadas convencimento.
pelas partes no processo.
Determina o referido princípio que
Para Daniel Amorim Assunção Neves, “a quem deve produzir a prova não é
verdade é uma só, sempre inalcançável, tanto no
campo civil como no campo penal. É evidente que, obrigatoriamente a parte que detém o ônus
apesar da verdade ser algo inalcançável, não deve
processual, mas sim, o litigante que possuir
deixar de ser perseguida, sendo essa busca fator de
legitimação da própria decisão judicial”7 melhor condição material ou técnica para

Todavia, o moderno direito processual produzi-la em juízo.

segue firme na busca da verdade real em
O princípio em tela fora
todos os litígios levados ao Estado-juiz, pois,
expressamente positivado no Código de
tanto no processo civil como trabalhista,
Processo Civil de 2015, no artigo 373, §§ 1º
discute-se direitos fundamentais sobre o
e 2º, e recepcionados pelo Tribunal Superior
patrimônio do cidadão, e, muitas vezes, o
do Trabalho, através do artigo 3º, VIII, da
direito tutelado é próprio de sua
Instrução Normativa n. 39, validando a
personalidade, justificando também a busca
distribuição dinâmica do ônus da prova junto
pela verdade real.
a sistemática processual trabalhista.

Nessa esteira, seguindo os profícuos

No dizer de Nelson Nery Junior, “a palavra do latim
ensinamentos de Mauro Schiavi, temos que: ‘onus’ significa carga, fardo, peso, gravame. Não
existe obrigação que corresponda ao
descumprimento do ônus. O não atendimento do ônus
“Desse modo, a moderna doutrina defende a
tese da superação da diferenciação entre
verdade real e formal, dizendo que a verdade

7 NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de 8SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual
direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: do trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 678.
Método, 2010. p. 380.
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de provar coloca a parte em desvantajosa posição
para obtenção do ganho da causa”9.
De forma sucinta, a CLT disciplina a
regra de distribuição do ônus da prova no
artigo 818, através da seguinte redação:
A prova das alegações incumbe à
parte que as fizer.
Devido sua simplória redação, ao
longo dos anos, muitas foram as celeumas
instauradas acerca do ônus da prova no
processo do trabalho, havendo minoritária
corrente a qual entendia não ser aplicável
subsidiariamente as normas do processo
comum acerca da matéria, vez que a CLT
não fora omissa quanto a distribuição do
ônus. Porém, “aos poucos, o entendimento
foi abandonado e em seu lugar surgiu
bipartição clássica do processo civil”10
Logo, por bipartição clássica temos a
aplicação do regramento contido no artigo
818, da CLT, conjugado com as regras
acerca do ônus da prova insculpidas
atualmente no artigo 373, do Código de
Processo Civil, nos seguintes termos:
Art. 373. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu
direito;
9NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil
comentado e legislação extravagante. 7. ed. São
Paulo: RT, 2003. p. 614.
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II - ao réu, quanto à existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor.
Assim, os artigos 818 da CLT e 373,
incisos I e II, do CPC, consagram o chamado
ônus estático, ou seja: o ônus tarifado da
prova, independentemente da natureza do
processo e dos fatos da causa.
Considerando a sistemática supra, no
Processo do Trabalho, o reclamante tem o
ônus de comprovar os fatos constitutivos de
seu direito, e o reclamado, os fatos
modificativos, extintivos e impeditivos do
direito do autor.
Como nosso ordenamento não
permite que o juiz se abstenha de julgar em
caso de ausência de prova, ou
impossibilidade de aferição da melhor prova
(non liquet), o ônus da prova se torna regra
de julgamento de elevada importância, pois,
quando não houver prova nos autos, ou,
quando a prova for dividida (empatada),
valer-se-á o magistrado da regra de ônus da
prova.
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mitigando a rigidez da divisão do ônus
da prova inseridos nos artigos 818 da CLT e
10SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de
direito do trabalho aplicado, vol. 9: processo do
trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 241.
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373 do CPC 11 , a jurisprudência trabalhista
passou a admitir, em casos excepcionais, a
inversão do ônus da prova. Ou seja: o juiz
transfere o encargo probatório que seria de
uma parte para a outra. Dessa forma, se ao
autor pertence o fato constitutivo de seu
direito, transferido o ônus, caberá ao réu
comprovar a inexistência do fato constitutivo
do direito do autor.
A inversão judicial do ônus da prova
está estabelecida no artigo 6º, inciso VIII, do
Código de Defesa do Consumidor, sendo
perfeitamente aplicável ao Processo do
Trabalho em razão da omissão da CLT
acerca do tema e da compatibilidade com os
princípios que regem o Processo
Trabalho, nos moldes do artigo 769 da CLT.
Considerando os termos do inciso
VIII, do artigo 6º, do CDC, denota-se serem
três os requisitos para que seja determinada
a inversão do ônus da prova:
a) faculdade do juiz, que poderá ser levada a efeito de
ofício;
b) hipossuficiência técnica ou material do reclamante
quanto a dificuldade excessiva de se fazer a prova;
c) verossimilhança da alegação, tendo o juiz motivos
para crer serem verdadeiras as alegações do autor,
11 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito
processual do trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 728.
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valendo-se de seu repertório técnico e máximas de
experiência.
Certamente que contra a parte a quem
o ônus da prova for fixado de forma diversa
da convencional, deverá ser assegurado a
ampla defesa e o contraditório a fim de
desincumbir-se do ônus que lhe fora
excepcionalmente atribuído, conforme
ditames do artigo 373, § 1º, do CPC/2015.
A teoria bipartida de distribuição do ônus da
prova (arts. 818, CLT, e 373, I e II, CPC), em
alguns casos, pode acarretar invencível
encargo a um dos litigantes, impedindo o
exercício regular de um direito mesmo que
tenha razão em seu pleito.
do
Segundo Schiavi:
“Diante da necessidade de se dar efetividade
ao acesso à ordem jurídica justa e não inviabilizar
a tutela do direito à parte que tem razão, mas não
apresenta condições favoráveis de produzir a
prova do fato constitutivo de seu direito, é
possível o juiz do trabalho atribuir o encargo
probatório à parte que detém melhor condição de
produzir a prova. É o que a doutrina tem
chamado de carga dinâmica na produção do
ônus da prova12”.
Nessa toada, conceitua Alexandre
Freitas Câmara:
“A moderna doutrina tem afirmado a
possibilidade de uma distribuição
12SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual
do trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 733.
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dinâmica do ônus da prova, por
decisão judicial, cabendo ao
magistrado atribuir ônus da prova a
parte que, no caso concreto, revele ter
melhores condições de a produzir.
Busca-se, com isso, permitir que o juiz
modifique a distribuição do ônus da
prova quando verifique que este
impõe a uma das partes o ônus de
prova ‘diabólica’ (isto é, prova de
impossível produção)13”.
O atual Código de Processo Civil
positiva a regra do ônus dinâmico nos
parágrafos 1º e 2º, do artigo 373, os quais
transcrevemos na íntegra:
“Art. 373. O ônus da prova incumbe:
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de
peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da
prova de modo diverso, desde que o faça por
decisão fundamentada, caso em que deverá
dar à parte a oportunidade de se desincumbir
do ônus que lhe foi atribuído.
§ 2o A decisão prevista no § 1o deste artigo
não pode gerar situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja
impossível ou excessivamente difícil”.
Ao contrário dos casos de inversão do
ônus da prova, onde se exige a fato impeditivo, modificativo ou extintivo da
verossimilhança da alegação do autor, para
13 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito
processual civil. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2014. v.1.
p. 439.
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aplicação da carga dinâmica basta apenas
que haja impossibilidade ou excessiva
dificuldade probatória da parte que detém o
ônus da prova, e maior facilidade de sua
produção pela parte que não detém o ônus,
assentando-se o instituto no princípio da
aptidão da prova.
O instituto em tela é plenamente
aplicável ao Processo do Trabalho, devendo,
por certo, o magistrado analisar com muita
cautela o caso sub judice a fim de não onerar
demasiadamente a parte a quem fora
atribuído o ônus de forma diversa, nos
termos o parágrafo 2º, do artigo 373, do
CPC.
Nos casos de inversão do ônus da prova, a
luz de tudo que analisamos até este
momento, citamos os verbetes sumulares
abaixo:
Súmula nº 6 do TST
EQUIPARAÇÃO SALARIAL. ART. 461 DA
CLT (redação do item VI alterada) – Res.
198/2015, republicada em razão de erro
material – DEJT divulgado em 12, 15 e
16.06.2015
VIII - É do empregador o ônus da prova do
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equiparação salarial. (ex-Súmula nº 68 - RA É do empregador o ônus de comprovar

9/1977, DJ 11.02.1977) que o empregado não satisfaz os requisitos
indispensáveis para a concessão do vale-
Súmula nº 338 do TST transporte ou não pretenda fazer uso do
JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. benefício.
ÔNUS DA PROVA (incorporadas as Súmula nº 461 do TST
Orientações Jurisprudenciais nºs 234 e 306 FGTS. DIFERENÇAS. RECOLHIMENTO.
da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e ÔNUS DA PROVA - Res. 209/2016, DEJT
25.04.2005 divulgado em 01, 02 e 03.06.2016
I - É ônus do empregador que conta com É do empregador o ônus da prova em
mais de 10 (dez) empregados o registro da relação à regularidade dos depósitos do
jornada de trabalho na forma do art. 74, § FGTS, pois o pagamento é fato extintivo do
2º, da CLT. A não-apresentação direito do autor (art. 373, II, do CPC de
injustificada dos controles de freqüência 2015).
gera presunção relativa de veracidade da
Quanto a aplicação da carga dinâmica da
jornada de trabalho, a qual pode ser elidida
prova, transcrevemos a Súmula 443, do
por prova em contrário. (ex-Súmula nº 338
TST, bem como os arestos que seguem:
– alterada pela Res. 121/2003, DJ
21.11.2003)
Súmula nº 443 do TST
III - Os cartões de ponto que demonstram
DISPENSA DISCRIMINATÓRIA.
horários de entrada e saída uniformes são
PRESUNÇÃO. EMPREGADO
inválidos como meio de prova, invertendo-
PORTADOR DE DOENÇA GRAVE.
se o ônus da prova, relativo às horas extras,
ESTIGMA OU PRECONCEITO. DIREITO
que passa a ser do empregador,
À REINTEGRAÇÃO - Res. 185/2012, DEJT
prevalecendo a jornada da inicial se dele
divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
não se desincumbir. (ex-OJ nº 306 da SBDI-
Presume-se discriminatória a despedida de
1- DJ 11.08.2003)
empregado portador do vírus HIV ou de
outra doença grave que suscite estigma ou
Súmula nº 460 do TST
preconceito. Inválido o ato, o empregado
VALE-TRANSPORTE. ÔNUS DA
tem direito à reintegração no emprego.
PROVA - Res. 209/2016, DEJT divulgado
em 01, 02 e 03.06.2016
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TRABALHADOR PORTUÁRIO. ÔNUS DA 129 da Constituição do Estado de São

PROVA EFETIVA PRESTAÇÃO DE Paulo, de forma expressa, aos servidores
SERVIÇOS. TÍQUETE-REFEIÇÃO. A públicos estaduais o direito à percepção do
jurisprudência desta Corte superior, com adicional "quinquênio", resulta inafastável o
fundamento no princípio da proteção e reconhecimento de tal direito aos
amparada na teoria da carga dinâmica de servidores públicos celetistas. Agravo de
distribuição do ônus da prova, tem atribuído Instrumento a que se nega provimento.
ao Órgão Gestor de Mão de Obra - OGMO VALE-TRANSPORTE. ÔNUS DA PROVA.
e ao Operador Portuário o encargo de A partir do cancelamento da Orientação
comprovar que não se beneficiaram dos Jurisprudencial n.º 215 da SBDI-I do TST,
serviços prestados pelo trabalhador avulso esta Corte Superior, em observância à
constante da escala diária. Tal teoria da carga dinâmica, firmou a
entendimento lastreia-se na obrigação legal compreensão de que cabe ao empregador
imposta ao OGMO e ao Operador portuário o ônus de comprovar que o empregado não
de verificarem "a presença, no local de preenche os requisitos necessários à
trabalho, dos trabalhadores constantes da obtenção do vale-transporte. Agravo de
escala diária" (artigo 6º da Lei n.º 9.719/98). Instrumento a que se nega provimento.
Precedentes. Recurso de revista conhecido DESCONTOS FISCAIS. INOVAÇÃO
e não provido. (TST - RR: RECURSAL. Os argumentos propostos
485003120065020253, Data de apenas em sede de Agravo de Instrumento
Julgamento: 12/08/2015, Data de constitui inovação recursal, o que inviabiliza
Publicação: DEJT 18/08/2015) o seu exame. Agravo de Instrumento a que
se nega provimento. (TST - AIRR:
PARCELA DENOMINADA 2465007420075020080, Data de
"QUINQUÊNIO". ARTIGO 129 DA Julgamento: 14/10/2015, Data de
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO Publicação: DEJT 16/10/2015)
PAULO. EXTENSÃO AOS SERVIDORES
PÚBLICOS CELETISTAS. Considera-se Dispensa discriminatória. Trabalhador
"servidor público" gênero do qual é espécie portador de HIV ou doença grave. Teoria
o empregado contratado pela da carga dinâmica probatória. O julgador,
administração direta, autarquias e verificando que, em determinada situação
fundações públicas. Assegurando o artigo onde seja flagrante a possibilidade da
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verossimilhança da alegação de uma parte, prova (ônus dinâmico da prova), na medida

pode inverter o ônus probatório e impor ao em que manteve o contrato com a empresa
ex adverso a produção da prova de suas interposta e tem, ou deveria ter, toda a
alegações defensivas. Incumbia à documentação (como os recolhimentos de
reclamada demonstrar que a dispensa FGTS e INSS, v.g.) pertinente aos
imotivada do trabalhador portador do vírus trabalhadores que fizeram parte da obra.
HIV se prendeu exclusivamente a questões Não se pode admitir, diante desse quadro,
técnicas e operacionais, ônus do qual não que a mera negativa da prestação de
se desvencilhou suficientemente. serviços seja aceita como verdade
Inteligência e aplicação da Súmula n.º 443 irrefutável, cabendo a quem alega (no caso
do TST. Recurso operário provido. a tomadora) demonstrar que o trabalho do
Reintegração e indenização por dano moral reclamante não ocorreu em benefício dela
deferidas. (TRT-2 - RO: 11890520115020 (inteligência do art. 818 da CLT, à luz da
SP 00011890520115020080 A28, Relator: teoria dinâmica do ônus da prova, já
ROBERTO VIEIRA DE ALMEIDA mencionada). (TRT-2 - RO:
REZENDE, Data de Julgamento: 00021071320135020444, Relator: Paulo
21/05/2013, 13ª TURMA, Data de Sergio Jakutis, Data de Julgamento:
Publicação: 29/05/2013) 24/02/2015, 4ª TURMA, Data de
Publicação: 06/03/2015)
I - ÔNUS DA PROVA. TEORIA
DINÂMICA. TERCEIRIZAÇÃO. PROVA Atestado de afastamento e salários
DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À previsto em convenção coletiva. Ônus da
TOMADORA. ÔNUS DA EMPRESA, UMA prova quanto ao requerimento de sua
VEZ COMPROVADO A EXISTÊNCIA DO entrega. Princípio da aptidão da prova. O
CONTRATO DE TERCEIRIZAÇÃO. princípio da aptidão da prova, no contexto
Demonstrada a existência do contrato de da carga dinâmica do ônus da prova,
terceirização entre a tomadora e a empresa distribui o ônus probatório de acordo com
empregadora do reclamante, é da tomadora as possibilidades das partes quanto à sua
o ônus da prova em relação à prestação de produção. Assim, o ônus incumbe ao
serviços do obreiro em relação a ela. A litigante que reúne as melhores condições
tomadora, convém ter presente, é quem de produzir a prova. Não se insere no
tem as melhores condições de fazer tal contexto cotidiano das relações trabalhistas
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a prática de protocolo, pelo empregado, de O intuito fora demonstrar que a regra

requerimentos perante o empregador, bipartida descrita nos artigos 818, da CLT, e,
dentre eles o de entrega de atestado de 373, I e II, do CPC, continua vigente, porém,
afastamento e salários previsto em norma servindo como mera regra de julgamento
coletiva. O empregador reúne melhores cujo objetivo é o de auxiliar o magistrado no
condições de comprovar se o empregador momento de formar sua convicção em
solicitou o documento profissional processos com ausência de provas ou
estipulado normativamente ou o dispensou, mesmo em casos de provas divididas,
portanto sobre ele recai o ônus probatório. optando, certamente, por julgar
(TRT-2 - RO: 00029222220135020052, favoravelmente à parte que melhor se
Relator: Rafael E. Pugliesi Ribeiro, Data de desincumbiu do ônus probatório.
Julgamento: 31/05/2016, 6ª TURMA, Data
Portanto, deverá o juiz sopesar qual
de Publicação: 06/06/2016).
parte detém melhores condições técnicas e
Dessa forma, vê-se que muito antes materiais de produzir determinada prova,
da promulgação do atual Código de pois, é dever do julgador envidar todos os
Processo Civil, e, consequentemente, da esforços para obtenção da verdade real.
redação da Instrução Normativa n.º 39, o
Por fim, denota-se do teor dos
Tribunal Superior do Trabalho, bem como os
verbetes sumulares e jurisprudenciais
Tribunais Regionais, já aplicavam a inversão
exarados pelo Tribunal Superior do
e a distribuição dinâmica do ônus da prova
Trabalho, bem como dos Tribunais
assentados única e exclusivamente no
Regionais, que cada vez mais ganha força a
princípio processual da aptidão da prova.
busca da verdade real, em consonância com
O presente artigo apresentou de os ideários constitucionais de justiça, sendo
forma sucinta observações acerca do ônus esta uma das finalidades do próprio Direito:
da prova, sua inversão e distribuição dar a cada um o que é seu.
dinâmica, considerando a realização da
4. REFERÊNCIAS
prova por parte diversa daquela sobre qual
recairia o ônus estático quanto a sua CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de
produção. direito processual civil. 25. ed. São Paulo:
Atlas, 2014
SUZANO ANO 9 Nº 5 JUL. 2017 REVISTA INTERFACES

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processo civil comentado e legislação
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Sérgio Cruz. Processo de Conhecimento. 2010.
7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008.

Informações sobre os autores:

Denis Leandro Sousa NUNES, advogado e Pós-graduando em Direito do Trabalho e

Processual do Trabalho pela Faculdade Legale. E-mail: denis@dnsa.com.br

Antero Arantes MARTINS, coordenador pedagógico e professor do curso de Pós-

Graduação Lato Sensu em Direito e Processo do Trabalho da Faculdade Legale, Graduação
em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em dezembro/1.988, Mestrado em
Direito do Trabalho (Direito Social) pela Pontifícia Universidade Católica, obtendo titulação
em junho/2.002.