Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
subordinação
Na gramática tradicional
Tradicionalmente, as gramáticas descrevem dois tipos de conexão entre as orações:
coordenação e subordinação. As orações coordenadas são definidas por alguns auto-
res como orações independentes (CUNHA, 1970; KURY, 1985; BECHARA, 1988; RO-
CHA LIMA, 1999), ou seja, possuem sentido completo e não constituem um termo que
completa um outro termo da oração à qual se ligam.
As orações subordinadas, por sua vez, são definidas com base na dependência sin-
tática, visto que elas representam um termo que exerce função na oração principal,
e na dependência semântica, posto que essas orações ficam com sentido incompleto
sem a oração principal. Trata-se, portanto, de conceituação com base no critério sintá-
tico e/ou no critério semântico. Vejamos os comentários que cada um desses autores
mencionados faz desses dois processos.
Cunha (1970, p. 399) inicia o capítulo intitulado O período e sua construção com
um exemplo: As horas passam, os homens caem, a poesia fica. Em seguida, esclarece
que
Em seguida, apresenta um outro exemplo: “Eles mesmos não sabem que no ma-
deirame dos navios, nas velas rotas dos saveiros está a terra de Aiocá, onde Janaína é
princesa”. E acrescenta:
15
ARTICULAÇÃO DE Aqui, também, estamos diante de um período de três orações: 1.ª = Eles mes-
ORAÇÕES mos não sabem; 2.ª = que no madeirame dos navios, nas velas rotas dos sa-
veiros está a terra de Aiocá; 3.ª = onde Janaína é princesa. Mas a estrutura é
diferente da do anterior, pois: a) a primeira oração contém a declaração princi-
pal do período, rege-se por si, e não desempenha nenhuma função sintática em
outra oração do período; chama-se por isso, ORAÇÃO PRINCIPAL; b) a segunda
oração tem sua existência dependente da primeira, de cujo verbo é OBJETO
DIRETO; funciona, assim, como TERMO INTEGRANTE dela; c) a terceira oração
tem sua existência dependente da segunda, de cujo sujeito é ADJUNTO ADNO-
MINAL; funciona, por conseguinte, como TERMO ACESSÓRIO dela (CUNHA,
1970, p. 399).
Trata-se, pois, de uma definição com base nos critérios sintático e semântico, visto
que a expressão sentido próprio remete ao aspecto semântico, ao passo que a expres-
são funcionam remete ao aspecto sintático.
Kury (1985), por seu turno, emprega apenas o critério semântico ao explicar que,
Nota-se claramente que sua definição está pautada apenas no critério semântico,
visto que menciona somente a questão do sentido e da dependência de uma em rela-
ção à outra para a obtenção desse sentido completo.
Bechara (1988), assim como Cunha (1970), oscila entre os critérios semântico e
sintático para mencionar a questão da independência. Primeiramente ele define como
oração independente aquela que possui sentido completo; trata-se, portanto, de defi-
nição com base no critério semântico. Posteriormente, adota o critério sintático ao de-
finir como independente a oração que não exerce função sintática de outra a que se
liga (BECHARA, 1988, p. 104). Ou seja, a expressão função sintática remete ao crité-
rio sintático, ao passo que a expressão sentido completo remete ao critério semântico.
Rocha Lima (1999) adota apenas o critério sintático para definir a coordenação:
As definições desses autores nos permitem concluir que há uma oscilação quanto
aos critérios por eles adotados para a definição de coordenação e de subordinação:
16
Cunha e Bechara adotam os dois critérios, Kury adota apenas o critério semântico, ao Coordenação x
subordinação
passo que Rocha Lima adota apenas o critério sintático. Se consultarmos outros com-
pêndios gramaticais, chegaremos mais ou menos às mesmas considerações.
Essa oscilação evidencia uma lacuna para uma posição mais coerente por parte des-
ses autores normativos. Além disso, percebe-se que todos eles definem coordenação e
subordinação a partir da noção de (in)dependência. Desse modo, as coordenadas são
independentes quanto ao significado e à estruturação sintática e as subordinadas são
dependentes, porque necessitam da chamada principal para ter sentido completo e
desempenham nela uma função sintática.
Garcia (1969), por seu turno, esclarece que,
À primeira vista, o autor parece concordar com a divisão canônica entre coorde-
nação ou independência e subordinação ou dependência apresentada pelos demais
autores. Entretanto, mais adiante, ele apresenta um item intitulado Falsa coordenação
– coordenação gramatical e subordinação psicológica, no qual expõe exemplos de
estruturas coordenadas que, sintaticamente são independentes, mas semanticamente
são dependentes:
1 A respeito dessa subordinação entre termos, remetemos o leitor ao nosso livro 3 desta coleção:
Introdução aos estudos de sintaxe de língua portuguesa: da frase ao texto.
2 A questão da valência verbal e da valência nominal foram abordadas no nosso livro 3 desta
coleção: Introdução aos estudos de sintaxe de língua portuguesa: da frase ao texto.
3 A autora tece mais comentários além dos aqui mencionados. Preferimos apresentar apenas
aqueles que se prestam ao que pretendemos neste capítulo: as diferentes opiniões acerca da defi-
nição e da distinção entre os processos de coordenação e de subordinação. Para ver na íntegra o
conteúdo, convidamos o leitor à consulta da obra completa da autora: Flávia de Barros Carone:
Subordinação e coordenação: confrontos e contrastes. São Paulo: Ática, 1988.
4 Trataremos da mobilidade das orações entre as coordenadas no capítulo 2.
18
Articulação de orações no funcionalismo Coordenação x
subordinação
Do ponto de vista sintático, Hopper e Traugott (1993, p. 169-170) definem a sen-
tença complexa como aquela que apresenta mais de uma cláusula. Essa sentença
pode apresentar um núcleo seguido de outros núcleos adicionais, ou de um núcleo e
outras cláusulas intituladas margens.
Em outras palavras, o período composto tem esse nome porque apresenta pelo
menos um núcleo e outros núcleos adicionais (todas são orações coordenadas) ou
apenas um núcleo e outras orações consideradas dependentes dessa oração núcleo;
essa dependência, entretanto, pode variar de oração para oração, ou seja, há graus dis-
tintos de dependência (oração principal ou matriz e uma ou mais orações, que podem
ser tanto substantivas, quanto adjetivas ou adverbiais).
Não se trata, portanto, de uma mera substituição de termos para definir as ora-
ções coordenadas e as orações subordinadas: as coordenadas são as orações núcleo
seguidas de uma ou mais orações núcleo (outras orações coordenadas), as denomina-
das orações subordinadas substantivas, adjetivas e adverbiais têm um tratamento dife-
rente, visto que, na tradição gramatical, são todas subordinadas a uma oração núcleo,
da qual dependem, ora introduzindo orações substantivas, ora adjetivas ou adverbiais.
Ou seja, na tradição gramatical, a dependência para os três tipos de oração é a mesma
e essas orações são todas intituladas subordinadas.
No funcionalismo, essas orações consideradas subordinadas nos compêndios gra-
maticais apresentam dependência relativa, ou seja, não são dependentes da oração
principal (matriz) da mesma forma e se dividem em complementos (quando funcio-
nam como sintagmas nominais), relativas (quando funcionam como modificadores de
nomes) e adverbiais (quando funcionam como modificadores de sintagmas verbais ou
de toda uma proposição).
O funcionalismo propõe, portanto, três tipos de articulação de cláusulas com base
nos parâmetros (in)dependência e encaixamento:
a) parataxe: as orações apresentam relativa independência; são as orações coor-
denadas ou orações paratáticas;
b) hipotaxe: as orações apresentam um grau de interdependência, ou seja, há
uma oração núcleo e uma ou mais orações margens, as quais são relativamente depen-
dentes e não se configuram como constituintes da cláusula núcleo (não se encaixam
na oração núcleo para completá-la);
c) subordinação ou encaixamento: as orações apresentam uma dependência
completa, isto é, a oração margem é um constituinte da oração núcleo, completando-a.
Assim sendo, se nos compêndios gramaticais temos apenas dois processos: coorde-
nação e subordinação, esta última dividida em substantivas, adjetivas e adverbiais,
19
ARTICULAÇÃO DE no funcionalismo elas se dividem em orações paratáticas, orações hipotáticas e ora-
ORAÇÕES
ções subordinadas. As primeiras correspondem às coordenadas; as hipotáticas corres-
pondem às adverbiais e às adjetivas explicativas; as subordinadas propriamente ditas
correspondem às subordinadas substantivas e às adjetivas restritivas.
Essa diferença, aparentemente terminológica, tem uma razão de ser. As construções
substantivas funcionam como argumentos, ou seja, a oração que se diz subordinada,
nesse caso, seria uma expansão de um dos termos constituintes (sujeito, objeto direto,
objeto indireto, complemento nominal, predicativo etc) e exerce uma função sintática
em relação a essa outra oração denominada aqui como matriz. Em compensação, as
construções adverbais funcionariam como satélites de uma oração nuclear, visto que
as relações são diferentes: as orações satélite contam com alto grau de independência
organizacional (THOMPSON, 1984). Devido à sua grande mobilidade (excetuam-se
aqui as denominadas orações subordinadas adverbiais correlativas, introduzidas pelas
conjunções correlativas tanto... que; tal...que; tão...que entre outras) podem preparar
efeitos particulares significativos para que se criem molduras (CHAFE, 1984) para o
conteúdo das predicações:
Aqui a oração quando você tiver a minha experiência de vida cria uma moldura
para salientar (HALLIDAY, 1985) o que um dos locutores espera do outro: uma mudan-
ça de comportamento. Nesse sentido, uma oração adverbial poderia servir como guia
ou pista (CHAFE, 1984), chamando atenção para o material seguinte, delimitando ou
ampliando a interpretação da porção subsequente:
Na medida em que o texto arqueológico não é composto de palavras, mas de ob-
jetos concretos, em geral utilizados e deslocados do lugar de utilização original, a
Arqueologia nada mais é do que uma leitura5.
A oração introduzida pela locução na medida em que (causal) objetiva criar um
efeito de sentido no leitor/ouvinte de tal forma que este amplie/delimite o seu enten-
dimento de leitura em Arqueologia.
As argumentais (substantivas) não apresentam tal funcionamento. Além disso, há
espécies de subordinação por meio de pronomes relativos, conjunções, advérbios e
pelo sentido.
6 O quadro de Hopper e Traugott (1993, p. 170) será retomado no capítulo 5 para tratar das
orações adverbiais.
7 O processo de correlação será visto no decorrer do quinto capítulo nas orações adverbiais.
21
ARTICULAÇÃO DE
ORAÇÕES
Proposta de Atividades
22
c) Sob o ponto de vista da organização, essas construções são correlativas ou justapostas? Coordenação x
subordinação
Justifique sua resposta.
d) Embora não apresente marcas, isto é, não seja introduzida por conjunção, é possível pre-
sumir uma relação semântica entre o nosso amor é tão bom; o horário nunca combina?
Que relação é essa? Introduza, nessa construção, uma conjunção que evidencie esse valor
entre as orações e reescreva esse período.
e) Retire do texto um trecho em que a relação de causa está subentendida, apesar da ausência
do conector.
f ) Sob o ponto de vista funcional, localize no texto um exemplo de oração encaixada.
g) A construção em negrito, quando eu não salário Ela, sim, propina, serve de guia ou pista
chamando atenção para o material seguinte, delimitando ou ampliando a interpretação da
porção subsequente – ela, sim, propina? Como isso ocorre? O que fica subentendido?
h) É possível inverter as orações do período da construção acima? Se isso ocorrer, quais as
implicações para o sentido?
i) Depois de ler todo o texto e a constituição dos períodos, qual a imagem que se tem desse
relacionamento? Qual a imagem que se tem da figura masculina? Qual a imagem que se
tem da figura feminina? Qual a imagem que se tem da relação amorosa?
Anotações
23
ARTICULAÇÃO DE
ORAÇÕES
Anotações
24