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Ciência, Tecnologia e Sociedade:

primeiras leituras
Por Carla Giovana Cabral,
(revisado em julho de 2017)

Um campo interdisciplinar, uma disciplina nova


Nós vamos iniciar nossos estudos conhecendo de onde vem a expressão
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). É o nosso primeiro passo para entender
o lugar dessa expressão no mundo em que vivemos, na sociedade, na cultura.
Não estamos fora desses espaços: fazemos parte de uma sociedade, de uma
cultura, e também estamos implicados nas relações produzidas pela ciência e
pela tecnologia. E, se somos especialistas em alguma área de conhecimento,
tornamo-nos produtores de conhecimento – cientistas, engenheiros/as – maior
será nossa responsabilidade com o que fazemos, as pessoas e o meio ambiente.
Neste texto, veremos que a expressão Ciência, Tecnologia e Sociedade
tem uma história e que essa história começa em meados da década de 1960 e
início dos anos 1970, quando diversos grupos passam a contestar com mais
veemência o uso da ciência e da tecnologia em guerras, seu impacto ambiental, o
controle da aplicação dos conhecimentos pelo Estado. De lá para cá, vários
países se apropriaram da expressão CTS. No Brasil, por exemplo, há diversos
grupos que realizam pesquisas com base no campo interdisciplinar CTS,
especialmente em universidades públicas. Há também uma discussão sobre a
relação ciência, tecnologia e sociedade, que não necessariamente se utiliza do
pensamento desse campo interdisciplinar. Por quê? Porque um campo de
conhecimento tem uma tradição teórica, ou seja, está baseado no pensamento
de certos autores.
Ciência, Tecnologia e Sociedade é uma discussão nova em nosso País e
que aos poucos integra currículos de graduação e pós-graduação. Essa discussão
se incorpora, inicialmente, a uma área de estudos denominada ensino de
ciências, e é por meio dela que vai se articulando a espaços como a educação
tecnológica e o ensino de engenharia.
A Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (ECT/UFRN) é um exemplo. Seguindo documentos oficiais,
tais como os Referenciais Orientadores para os Bacharelados Interdisciplinares
e as Diretrizes Curriculares para o Ensino de Engenharia, o Projeto Pedagógico
de Curso e o seu currículo necessitam incorporar uma formação ética e cidadã
para os estudantes. Essa formação está presente no Bacharelado em Ciências e
Tecnologia da ECT de forma ainda incipiente. Integrando conteúdos e práticas
humanísticas temos as componentes curriculares da Área Temática Ciência,
Tecnologia e Sociedade: como obrigatória, apenas uma, denominada Ciência,
Tecnologia e Sociedade; e as optativas “Relações de Gênero em Ciências e
Tecnologia”, “Comunicação Pública das Ciências e da Tecnologia”, “Ética em
Ciência e Tecnologia”, “Dimensões filosóficas da Tecnologia Moderna”, “Política
de Ciência e Tecnologia”.
Essas componentes oferecem a oportunidade de você conhecer diferentes
facetas da ciência e da tecnologia e, a partir desse ponto, construir a capacidade
de vê-las com mais amplitude, refletir sobre suas implicações sociais e
ambientais e a própria responsabilidade nas ações científicas e tecnológicas. Em
outras palavras, quer dizer que você terá a oportunidade de se qualificar
diferenciadamente em relação a outros estudantes, entender o importante lugar
que você ocupa como profissional e cidadão/cidadã. Lembre-se que ciência e
tecnologia são atividades humanas e construídas social e historicamente, e você
se relaciona com elas o tempo todo.
Para alcançar essa educação científica e tecnológica crítica, nosso
trabalho tem algumas finalidades no ensino de CTS. Algumas delas, segundo
Palacíos, Otero e García, seriam conhecer a origem do campo Ciência,
Tecnologia e Sociedade, relacionar a componente que está cursando com outras
áreas do conhecimento, estabelecer um vínculo com os contextos que nos
rodeiam (1996, p. 14).
Esses aspectos aliam-se a propósitos formativos, que passam pela
percepção e análise crítica das realidades do mundo contemporâneo e seus
antecedentes filosóficos, históricos, sociológicos, culturais, observando suas
articulações. Também a construção de uma postura ética responsável com as
pessoas e o meio ambiente.
Aspectos e objetivos assim já são trabalhados no Ensino Médio, em
componentes curriculares que recebem o nome de Ciência, Tecnologia e
Sociedade, em países como a Espanha. Lá, a trajetória de discussão crítica da
relação ciência, tecnologia e sociedade e também do campo interdisciplinar CTS
é um pouco mais longa que no Brasil. E tem influenciado fortemente o que tem
sido feito aqui e em outros países da América Latina. Mas Brasil e outros países
latino-americanos também tem sido influenciados por correntes do pensamento
CTS oriundas da Inglaterra e dos Estados Unidos da América do Norte.
Por meio do chamado “silogismo CTS” (Von Linsingen, 2004, p. 2),
grupos de pesquisadores buscam uma educação científica e tecnológica que leve
o sujeito a abandonar um lugar de partícipe tímido e contribuir na busca de
soluções para os problemas sociais (Bazzo, Pereira, Linsingen, 2008, p. 159).
Esses autores, que são professores de engenharia há muitos anos no Brasil,
entendem que

A inclusão de estudos no campo CTS toma importância ímpar em


países que começam a aprofundar suas análises na imbricada
relação entre desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento
humano. E parece consenso que, apesar da importância dos avanços
dos conhecimentos que permitem dominar mais e mais a natureza,
por mais paradoxal que possa parecer, a maior parte da civilização
experimenta ainda necessidades básicas ainda não atendidas que se
configuram como absurdas, dadas as muitas possibilidades técnicas
que dominamos para resolver os problemas que as geram. Também
é consenso que, para resolver tais problemas, bastaria, em princípio,
animar a vontade política de nossas sociedades e dos que elegemos
como representantes (2008, p. 160).

Vamos refletir sobre algumas questões?


1. Você percebe a relação entre os elementos tecnológicos do nosso entorno na constituição de
uma cultura tecnológica? O que seria essa cultura tecnológica?

2. Você sabe quem financia a ciência e a tecnologia em nosso País?

3. Os resultados/produtos da ciência e da tecnologia abrangem todas as pessoas?

4. Você acredita que o ser humano domina a tecnologia ou a tecnologia domina o ser humano?
A origem do campo interdisciplinar CTS
A expressão CTS representa, tanto um objeto de estudo quanto um
campo interdisciplinar. O que isso quer dizer? Vamos nos apropriar do texto de
um pensador espanhol do campo CTS, José A. López Cerezo (2003), para
explicar.
Quando nos referimos ao objeto de estudo, estamos levando em conta os
fatores sociais que influenciam a mudança científico-tecnológica e também as
consequências sociais e ambientais dessa mudança. Há muitos exemplos. Pense
sobre o impacto de uma guerra que se utiliza de armas biotecnológicas e
nucleares. Qual o objetivo das tecnologias produzidas pelos nazistas na Primeira
Guerra? E os resultados do Projeto Manhattan, você conhece? Também
encontramos muitos exemplos de sérios impactos ambientais relacionados à
ciência e tecnologia, desde derramamentos de petróleo, acidentes com usinas
nucleares, poluição industrial, intoxicação de fauna, flora e seres humanos por
pesticidas e outras substâncias tóxicas.
Veja esse quadro! Ele faz uma cronologia que nos interessa conhecer.
1957 A União Soviética lança o Sputnik, o primeiro satélite artificial ao redor da
terra. Causou uma espécie de convulsão social, política e educacional nos
Estados Unidos da América do Norte e outros países ocidentais.

O reator nuclear de Windscale, Inglaterra, sofre um grave acidente, criando


uma nuvem radioativa que se espalha pela Europa Ocidental.

Explode nos Urais o depósito nuclear Kyshtym, contaminando uma grande


extensão circundante à União Soviética.

1958 Criada a NASA, como uma das consequências do Sputnik.

1959 Conferência de C.P. Snow, em que se denuncia o abismo entre as culturas


humanística e científico-tecnológica.

Anos 60 Desenvolvimento do movimento de contracultura, em que a luta política contra


o sistema vincula o seu protesto em relação à tecnologia.

1961 A talidomida é proibida nos Estados Unidos, após causar mais de 2.500
defeitos de nascimento.

1962 Publicação de Silent Spring, de Rachel Carson. Essa autora denuncia, entre
outras coisas, o impacto ambiental de pesticidas sintéticos como o DDT. É o
que deflagra o movimento ecológico.

1963 Tratado de limitação de provas nucleares.

Afunda o submarino nuclear USS Thresher, seguido pelo USS Scorpion (1968).

1966 Um B 52 com quatro bombas de hidrogênio explode perto de Palomares,


Almeria, contaminando com radioatividade uma grande área.

Com base em motivos éticos e políticos, profissionais de informática constituem


um movimento de oposição à proposta de criar um banco de dados nacionais
nos EUA.

1967 O petroleiro Torry Canyon sofre um acidente e verte uma grande quantidade de
petróleo nas praias do sul da Inglaterra. A contaminação por petróleo começa a
ser algo comum em todo o mundo desde então.

1968 O papa Pablo VI torna público um rechaço à contracepção artificial.

Graves revoltas nos EUA contra a Guerra do Vietnã (a participação norte-


americana incluiu sofisticados métodos bélicos como o napalm).

Maio de 68 na Europa e EUA: protestos generalizados contra o sistema.


Fonte: BAZZO, PEREIRA E VON LINSIGEN (Eds) Introdução aos Estudos CTS. OEI: 2003.

Repare na cronologia e você verá que os eventos registrados em nosso


quadro se situam, principalmente, nas décadas de 1960 e 1970 do século 20. É
um período de intensa movimentação social, de reivindicações e contestações
contra regimes ditatoriais, preconceitos contra mulheres, negros, homossexuais
– um tempo que mudou a história.
Esse é o contexto em que se origina o campo interdisciplinar CTS. Ele
reuniu as reflexões das Ciências Humanas de forma interdisciplinar para pensar
esse momento de crise em relação à credibilidade da ciência e da tecnologia
modernas e seu apoio público; voltou seu olhar a um uso irracional dos recursos
naturais e à falsa crença da neutralidade científica e sua autonomia em relação à
sociedade. Cientistas, engenheiros também são pessoas, com valores, crenças,
interesses e tudo isso se enreda nas pesquisas em que eles investem. O problema
é que o entendimento ainda corrente do que é ciência “neutraliza” as relações
sociais que uma determinada pessoa tem e até mesmo sua história.
Isso continua sendo ensinado aos cientistas, aos engenheiros que, por sua
vez, continuam pensando que as suas pesquisas e projetos são neutros, ou seja,
não têm impacto social, ambiental, político. Que postura ética seria essa?
No contexto em que o campo CTS surgiu também circulava um certo
ceticismo em relação à ciência e à tecnologia, divinizadas após a Segunda
Guerra e desenvolvimentos, produtos baseados em ciência, artefatos e sistemas
tecnológicos. Uma conceito que se tornou muito conhecido foi o de Síndrome de
Frankestein.
Esse conceito se remete ao texto publicado em 1818 por Mary Shelley –
Frankenstein, ou o moderno prometeu. Remete-se à relação homem e natureza,
referencia um temor de que as mesmas forças que são utilizadas para controlar
a natureza podem se voltar contra nós, homens e mulheres, destruindo-nos. O
trecho do livro em que o “monstro” diz a Victor Frankenstein “tu és o meu
criador, mas eu sou o teu senhor” expressa essa possibilidade (Cerezo, 2003, p.
117). Frankenstein faz uma citação ao mito de Prometeu. Você conhece esse
mito?

O medo da tecnologia pode ser traduzido por TECNOFOBIA.

A aceitação passiva e sem crítica da tecnologia leva à TECNOFILIA.

Vamos pensar a respeito? Você tem ou já teve atitudes tecnofóbicas e


tecnofílicas? Compartilhe essas experiências com seus colegas.
Quadrinho “Os cientistas”, de João Garcia, disponível em <http://joaogarcia.bol.uol.com.br>.

Quadrinho “Os cientistas”, de João Garcia, disponível em <http://joaogarcia.bol.uol.com.br>.

Podemos viver sem redes sociais, celular e internet? Responda a essa


indagação.
Ser crítico em relação à ciência e à tecnologia é procurar enxergá-las sob
vários prismas e não permanecer passivo diante delas. Um comportamento
apassivado diante da tecnologia moderna e da cultura que constitui foi chamado
por Langdon Winner (1987) de “sonambulismo tecnológico”. Esse
sonambulismo se origina da ideia de que não podemos criticar, interferir ou
mesmo participar das decisões que dizem respeito aos desenvolvimentos
científicos e tecnológicos.
Você já pensou por quê? Por que os cidadãos não participam das decisões
políticas em ciência e tecnologia? Por que os especialistas, muitas vezes, não são
capazes de criticar ou mudar os rumos de certas decisões que afetarão a vida de
dezenas, centenas ou milhares de pessoas e o meio ambiente?
A resposta, ou melhor, as reflexões que essas questões nos colocam nos
requisitam conhecer de maneira contextualizada o que é a ciência e o que é a
tecnologia. Há uma história, relações sociais e culturais passíveis de serem
conhecidas e interpretadas. Não é possível formar uma postura crítica sobre as
relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade sem um conhecimento
humanístico sobre elas.

Retomando questões sobre ciência


Há uma concepção tradicional, que ainda impera no público em geral e
também entre estudantes e certas estirpes de pesquisadores de que ciência é um
empreendimento objetivo, neutro, baseado em um código de racionalidade não
influenciada por fatores externos e autônomo em relação à sociedade (Palácios
et al, 2001, p. 12). Esse é um dos entendimentos. Pode ser o mais corriqueiro,
tradicional, e ainda bastante ensinado nas aulas de ciências e nas escolas de
engenharia, mas não é o único e tão pouco o mais completo. Esse entendimento
vem sendo fraturado de uma maneira mais contundente desde a segunda
metade do século 20. Nós lemos sobre isso ao falar sobre a origem do campo
CTS. Você pode reler essa parte do texto para compreender melhor essa
questão.
Você vai encontrar essa ideia de ciência neutra em várias expressões:
ciência herdada, ciência moderna e concepção essencialista e triunfalista da
ciência são alguns exemplos. Essa ideia fundamenta um modelo clássico de
política científica baseado no que denominamos “modelo linear de inovação”,
ou seja:

Uma das questões que está na origem desse entendimento e das suas
repercussões na política de ciência e de tecnologia é a própria metodologia da
ciência. Em vários momentos da história da humanidade, defendeu-se a ideia de
que havia uma forma infalível de se obter a verdade e essa forma seria por meio
do método científico. Cerezo (2003, p. 119) descreve o método científico como
uma combinação de racionalidade lógica e observação cuidadosa. A avaliação
por pares, ainda segundo o mesmo autor, “se encarregará de velar sobre a
integridade intelectual e profissional da instituição” (idem, 2003, p. 119-120).
Em outras palavras, quer dizer que a correta aplicação do método é que vai
garantir o bom funcionamento desse código de conduta.

[...] nessa visão clássica, a ciência somente pode contribuir com um


maior bem-estar se esquece da sociedade para buscar
exclusivamente a verdade. Quer dizer, a ciência só pode avançar
perseguindo o fim que lhe é próprio, o descobrimento de verdades
sobre a natureza, se mantém livre da interferência dos valores
sociais por mais beneméritos que sejam. Analogamente, só é possível
que a tecnologia possa atuar como cadeia transmissora no
desenvolvimento social se se respeita sua autonomia, se esquece da
sociedade para atender unicamente a um único critério de eficácia
técnica (Idem, 2003, p. 120).

Dessa forma, ciência e tecnologia são apresentadas à sociedade como


formas que sobrevivem autonomamente em relação à cultura, como atividades
com valor neutro, uma espécie de “aliança heróica de conquista da natureza”.
No início do século 20, essa ideia foi bastante fortalecida por um
movimento que ficou conhecido como Empirismo Lógico, que surge nos anos
1920 e 1930, por meio de Rudolf Carnap, que acaba se aproximando da
sociologia da ciência desenvolvida por Merton nos anos 40 (Cerezo, 2003, p.
120; Palacios, 2001, p. 14). Esse tipo de pensamento foi contestado e uma de
suas críticas mais conhecidas é a que Tomas Kuhn escreveu, em 1962, no livro A
estrutura das revoluções científicas.
Kuhn buscou uma resposta para responder à clássica questão “o que é
ciência?” pesquisando episódios da história da ciência, como o desenvolvimento
da teoria dos corpos celestes da era moderna (heliocentrismo). Na teoria de
Kuhn, a ciência tem períodos estáveis, que ele denominou ciência normal. São
períodos sem alterações bruscas na dinâmica da ciência, sem alterações que
levem a uma mudança mais pronunciada. Para esse pensador, esse é um
período em que os cientistas se dedicam a resolver “quebra-cabeças” por meio
de um paradigma que é compartilhado em determinada comunidade científica.
A acumulação de problemas não resolvidos nesse período pode acarretar o
surgimento de anomalias, que podem fraturar o paradigma vigente. Isso pode
dar lugar a um outro período, extraordinário, que Kuhn denominou revolução
científica. Veja que, dessa forma, o critério para definir o que é ciência deixa de
ser empírico e passa a ser social.
Kuhn não foi o único a conferir um critério social para o desenvolvimento
das teorias científicas. Cerca de 30 anos antes dele, um pensador polonês
chamado a Ludwik Fleck já dizia que a ciência não era uma produção individual.

A ciência consiste em algo organizado por pessoas de modo


cooperativo; assim, deve ser consoderada, em primeiro lugar, a
estrutura sociológica e as convicções que unem os cientistas, para
além das convicções empíricas e especulalitavas dos indivíduos”
(SCHÄFER E SCHNELLE, 2010).

Retomando questões sobre tecnologia


E a tecnologia? Veja que a maneira como entendemos a ciência influencia
diretamente a forma como concebemos a tecnologia, ainda mais se a
considerarmos uma aplicação da ciência (conceito ainda mais corrente) tão
somente. Se a tratamos assim – uma aplicação da ciência – a vemos de forma
determinista, intelectualista e utilitarista. O que é isso? Respectivamente, é
pensar que a tecnologia determinará a mudança social; que ao conhecimento
tecnológico deriva tão somente do conhecimento científico; e que toda
tecnologia traz um bem-estar social.
Uma olhadela na história da ciência e da tecnologia vai nos mostrar que a
habilidade técnica diferenciou o homem de outros animais que habitam no
planeta Terra. As alavancas, polimento de pedras e o fogo são técnicas milenares
(Bazzo e Pereira, 2009, p. 66). O alfabeto e a escrita são sistemas de símbolos
organizados que o homem desenvolveu há pelo menos 2mil anos. Esses sistemas
são técnicas ou tecnologias?
Lembremos, por exemplo, que o fogo é um legado da pré-história e que
esse é um momento em que o homem ainda não tinha investido em um sistema
de conhecimento racional e que dará origem, na Grécia, especialmente, ao
pensamento ocidental de onde deriva o que entendemos por ciência.
É importante observar que a ciência atual, essa que é produzida nos
laboratórios, especialmente os das universidades e institutos de pesquisa, está
longe da forma como os gregos estudavam a natureza ou mesmo astrônomos
célebres como Copérnico, ou criadores fantásticos como Leonardo da Vinci,
realizavam seus trabalhos.
Se a ciência e a tecnologia têm uma história, esta não se deu
aleatoriamente. O ambiente social (cada época teve o seu) e a forma como as
pessoas (mulheres e homens, ricos e pobres, negros, brancos, indígenas etc) se
relacionavam são elementos a ser considerados.
Falar em prática tecnológica (Pacey, 1990), levando-se em conta que
sistemas e artefatos tecnológicos não são apenas produtos técnicos, mas estão
ligados a aspectos organizacionais e imersos numa cultura, portanto, é mais
adequado se queremos discutir valores e sua incorporação. Um entendimento
mais restrito de tecnologia reduzirá dimensões sociais e humanas e seus
problemas ao aspecto organizacional da tecnologia – é um dos terrenos do seu
significado mais geral. Esse entendimento solapa o conteúdo humano no fazer
tecnológico, ignora a existência de valores nessa atividade (Cabral, 2006, p. 46).
À discussão do conceito de tecnologia, especialmente a partir do século
20, também se agregam aspectos econômicos, como os advindos do sistema
capitalista. É quando se institucionaliza a inovação na maior parte dos países do
mundo.
De acordo com Miranda (2013), pensadores da corrente humanista da
filosofia da técnica, como Heidegger, além de materialistas históricos, como
Marx, e filósofos da teoria crítica, como Habermas, fizeram importante crítica à
tecnologia moderna. Sem adentrar as especifidades de cada pensamento
filosófico explicitado pela autora, eles chamaram a atenção, respectivamente,
para o caráter instrumental e essencializador da técnica moderna; da técnica
moderna como modo de produção, meio de produção e capital; da técnica como
uma forma de escravidão do homem moderno, de controle de sua vida por meio
da tecnocracia.
Vamos refletir?
1. Os cientistas, os engenheiros são alheios às aplicações sociais de suas pesquisas e invenções?

2. Você conhece instrumentos que permitam ao cidadão intervir nos processos de controle da
pesquisa ou nas decisões que envolvem a ciência e a tecnologia e atingem suas vidas?

Este texto buscou apresentar elementos para uma aproximação ao campo


CTS e a discussão que ele enseja sobre as relações entre ciência, tecnologia e
sociedade. Há muito mais a ser debatido e você se dará conta disso no decorrer
do nosso curso, certamente. Aproprie-se deste texto como uma espécie de
primeira leitura.

Referências
BAZZO, Walter Antonio; PEREIRA, Luiz Teixeira do Vale. Introdução à
Engenharia. Florianópolis: EDUFSC, 2009.
BAZZO, Walter Antonio; PEREIRA, Luiz Teixeira do Vale; VON LINSINGEN,
Irlan. Educação Tecnológica: enfoques para o ensino de engenharia.
Florianópolis: EDUFSC, 2008.
CABRAL, Carla Giovana. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA.
Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica. O
conhecimento dialogicamente situado: histórias de vida, valores humanistas e
consciência crítica de professoras do Centro Tecnnológico da UFSC.
Florianópolis, 2006. 205 f. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Santa
Catarina. Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica.
CEREZO, José López “Ciencia, tecnologia y sociedad”. In IBARRA, Andoni.;
OLIVÉ, León. Cuestiones éticas em ciencia, tecnologia y sociedad em el siglo
XXI. Madrid: OEI, 2003.
FLECK, Ludwik. Gênese e Desenvolvimento de um Fato Científico. Belo
Horizonte: Fabrefactum, 2010.
VON LISINGEN, Irlan. O Enfoque CTS e a Educação Tecnológica: Origens,
Razões e Convergências Curriculares. Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Educação Tecnológica. Florianópolis, 2004. Disponível em:
<http://www.nepet.ufsc.br/Artigos/Texto/CTS%20e%20EducTec.pdf>. Acesso
em: julho/2017.
MIRANDA, Angela Luzia. “Da identidade da tecnologia moderna”. Escola de
Ciências e Tecnologia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2013.
(Texto didático).
PACEY. Arnold La cultura de la tecnología. México: Fondo de Cultura
Económica, 1990.
PALACIOS, Eduardo Marino García et al. Ciência, tecnologia y sociedad: uma
aproximación conceptual. Madrid: OEI, 2001.

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