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DO SÉCULO XIII
A multiplicidade de poderes e crenças no espaço europeu teve origem particularmente nas profundas
mutações políticas, sociais e económicas que deram origem a trás grandes conjuntos civilizacionais.
Depois da queda do império Romano do ocidente (476), a anterior unidade imperial mediterrânea foi sendo
substituída por uma multiplicidade de novos estados, sobretudo de origem germânica, muitos dos quais estão na
Da inserção desses povos no mundo romano nasceu uma sociedade original. Nos reinos que se firam formando
romanizadas, operando-se uma síntese entre elementos romanos e germânicos. Sob a acção evangelizadora de
bispos e monges, o Cristianismo e o legado da cultura greco-romana penetraram nos reinos bárbaros, emergindo
uma nova civilização europeia cristã. Esta foi sendo construída com uma identidade própria face a outros dois
No mediterrâneo oriental, herdeiro do Império Romano do Ocidente, o rico e próspero Império Bizantino
Quanto ao Islão, os Árabes, sob a direcção de Maomé, que pregara uma nova religião, o Islamismo.
Apesar do cristianismo ser a religião comum á Igreja ocidental e oriental, no século XI operou-se uma cisão
entre a Igreja ortodoxa (de tradição grega) e a Igreja católica (de tradição latina).
Esta divisão consagrou a separação entre uma Europa oriental de cultura grega e forte presença eslava e
uma Europa ocidental de cultura latina e forte presença germânica. A separação ficou ainda mais marcada depois
do século XIII, quando o Império Bizantino começou a sofrer a concorrência das cidades italianas.
Assim, os contributos greco-romano, germano e cristão, fundindo-se em graus diversos, constituíram o fundo
Impérios e reinos:
No início do século IX houve uma primeira tentativa de restauração do Império Romano do Ocidente. A
unificação territorial partiu de um dos mais fortes reinos da Europa Ocidental – o Império Carolíngio.
As disputas territoriais entre os herdeiros das zonas do antigo Império Carolíngio e novas investidas sobre
a Europa (Normandos, Árabes, Húngaros) tornaram evidentes as dificuldades do poder central, entrando-se num
período de instabilidade.
O enfraquecimento do poder central permitiu que os poderes públicos fossem transferidos para os grandes
como referência no imaginário medieval. Na Germânia, no século X, teve lugar uma nova tentativa d restaurar o
Em meados do século XIII, o prestígio do título imperial era grande, embora pouco eficaz.
A Europa cristã era constituída sobretudo por um conjunto de reinos autónomos, em que as relações de
poder entre os reis, os grandes senhores nobres e o clero variavam conforme as circunstâncias históricas de cada
região.
Senhorios
A monarquia ou o império eram os modos como o poder se exercia a nível dos estados. A nível local, o poder
sobre as populações era exercido por grandes senhores, nobres ou eclesiásticos, nos senhorios, em nome do poder
soberano.
Este modo de organizar o poder provinha das necessidades de uma sociedade que se construíra em tempo
de guerra e sem instituições que fizessem a ligação entre o poder soberano e as populações. Para obter exércitos
de cavaleiros bem equipados com armas e cavalos, vitais num tempo de guerra, os reis tinham cedido partes do
território – os senhorios – a grandes senhores nobres ou eclesiásticos, a fim de que estes os administrassem e
mantivessem exércitos prontos a combater. Esta pratica era igualmente utilizada pelos grandes senhores, que
usavam o mesmo sistema com outros membros da nobreza menos poderosos, que lhes ficavam sujeitos. Estas
concessões eram acompanhadas pela exigência de fidelidade e criavam laços de solidariedade entre a camada
dirigente.
Como o poder central estava distante e muitas vezes enfraquecido, os grandes senhores passaram a
exercer em nome próprio as prerrogativas da autoridade pública que anteriormente pertenciam ao rei.
Este poder de mando do senhor – o poder de ban – traduzia-se essencialmente no poder militar e no de
julgar e punir. Exercia-se não só sobre camponeses, mas também sobre pequenos nobres e era acompanhado pelo
Em troca das funções governativas e judiciais, o senhor recebia variadas taxas sobre a circulação de
Comunas:
Europa. Esse desenvolvimento foi acompanhado pelo crescimento das cidades, numa altura em que a autoridade
O poder pertencia aos grandes senhores que, muitas vezes, viviam nos seus castelos em zonas rurais, e era
daí que exerciam a sua administração e protecção sobre as populações. O centro do poder estava longe da cidade
e, além disso, os interesses dos mercadores e artesãos muitas vezes colidiam com os dos senhores. A sua
actividade exigia maior segurança e autonomia relativamente às obrigações que as produções camponesas tinham
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para com os grandes senhores. Os habitantes das cidades procuraram obter dos senhores ou dos reis mais
Verificou-se assim um movimento urbano através do qual os habitantes das cidades procuraram adquirir o
direito de se auto-governarem, o que deu origem a novas formas de exercício do poder, mais adequadas ás
populações urbanas. As condições de governação das cidades estavam expressas num documento – a carta de
comuna – onde estavam consignados os direitos e deveres dos habitantes das cidades.
No início, nas comunas prevalecia um ideal igualitário. Muitas vezes, este ideal foi quebrado por alguns
burgueses ricos que formaram uma oligarquia mercantil e financeira que se apoderou do poder da cidade, o que
No Ocidente medieval do século XII havia, assim, uma multiplicidade e diversidade de poderes que se
diversificada onde, de diferentes modos, se exerciam os poderes que organizavam a vida das populações.
No século XIII, em toda a Europa, desenvolvimento económico tornou possível o lançamento de impostos
que permitiram manter uma administração e um exército, garantes da segurança e viabilizadores da criação do
Estado. Esta acção foi sustentada pelo renascimento do direito romano, em que os reis se apoiaram na luta contra
os interesses senhoriais.
Afirmou-se uma nova noção de autoridade pública, independente do seu titular, inalienável e indivisível,
cujo limite é a utilidade geral (bem comum). Face á distinção entre o soberano e soberania, a realeza não era
passível de ser confundida com o poder pessoal do rei, constituindo-se, assim, a noção de Estado. Com novos meios,
dispondo de cortes ou parlamentos, os reis procuraram reforçar o poder real, consolidando o direito e a justiça e
fazendo dos seus reinos entidades independentes, lançando as bases dos estados modernos.
A Igreja desempenhara um papel extremamente importante junto das populações desde os primeiros
Estas populações foram convertidas pela acção de bispos e monges a um cristianismo comum, o que tornou
possível a fusão entre esses povos e os romanos: o Cristianismo iniciava um papel unificador da Europa Ocidental.
Roma, a cidade de onde irradiava o poder do imperador, passou a ser o lugar de onde irradiava a
missionação. Foi a partir dela que o bispo Roma levou a efeito uma politica de fortalecimento do seu poder,
No entanto, essa acção não foi pacificamente aceite nem pela Cristandade Romana oriental nem pelo
imperador do Sacro Império. Em 1054, UM CISMA DIVIDIU A CRISTANDADE, isto é, houve a separação entre
a Igreja Católica, sob o papa de Roma, e a igreja Ortodoxa Grega, sob o patriarca de Constantinopla.
O papado encontrou também dificuldades em impor-se na chefia da Cristandade ocidental, pois desde a
criação do Império Carolíngio, a salvação do povo cristão era atribuída quer ao Papa, na ordem espiritual, quer ao
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imperador, na ordem temporal. Mas havia divergências no modo de encarar as relações entre o poder espiritual
Por um lado, os imperadores germânicos tentaram controlar as eleições pontificais e o clero. O hábito de
Passou a haver uma imbricação das funções religiosas na hierarquia feudal, pois bispos e abades tornaram-
Por outro lado, os papas tentaram fortalecer o seu poder. O papa Gregório VII continuando uma politica
de reforma iniciada pelo seu antecessor, procurou redefinir as relações entre a dimensão espiritual e a temporal.
Na continuidade de medidas que estabeleciam que a eleição do Papa competia a um colégio de cardeais,
determinou que a designação de bispos, abades e clérigos pertence apenas a membros do clero. Afirmou também
que apenas o Papa, em nome de Cristo, tinha um poder absoluto e universal, estando acima dos príncipes, que podia
depor sempre que não respeitassem os direitos de Deus e da Igreja. O poder espiritual era assim superior ao
poder temporal.
A estes princípios opuseram-se muitos reis e príncipes e, sobretudo, os imperadores do Sacro Império
Romano – Germânico.
No século XIII, o papa Inocêncio III reafirmou a primazia romana, de origem divina. Como tal, todas as
igrejas nacionais estavam submetidas á Santa Sé. Iniciou a centralização romana com o desenvolvimento da
administração eclesiástica e da fiscalidade. Afirmava-se a teocracia, em que o papado seria o guia da sociedade
BIZÂNCIO E O ISLÃO
Juntamente com o crescimento da influência do papado, houve um conjunto de factores que originou a
afirmação da Cristandade ocidental, tanto perante o mundo bizantino como perante o mundo muçulmano.
o gosto e a necessidade da guerra dosa cavaleiros, criaram condições propicias para um movimento expansionista,
trocas comerciais.
A XIII
Depois de longos séculos de crise e instabilidade a Europa reencontro, de novo, a força e o seu espírito
empreendedor.
Entre o século XI e o século XIII, o Ocidente viveu um período de desenvolvimento económico e um contínuo
crescimento demográfico. Os factores que contribuíram para a prosperidade foram a expansão agrária e o
crescimento demográfico.
Houve um aumento de produtividade, resultante do progresso dos utensílios e das técnicas de exploração da
terra:
Substituição da madeira pelo ferro nas alfaias agrícolas (que deu maior rentabilidade ao trabalho)
Melhor aproveitamento da força animal (que facilitaram o trabalho nos campos e os transportes)
Rotação trienal de culturas (que deixava apenas um terço da terra em pousio contra a metade do
afolhamento bienal)
Fertilização dos campos (com marga, cinza e estrume animal, permitindo uma maior rentabilidade dos solos)
Estes progressos associados a uma melhoria do clima permitiram o aumento do rendimento das terras e uma
melhoria da alimentação. As épocas de crises agrícolas e de fome tornaram-se menos frequentes, favorecendo o
aumento da população. A população europeia praticamente duplicou. Por seu lado, o aumento demográfico permitiu
e exigiu a expansão agrária: era necessário alimentar a população que crescia, o que conseguiu com uma melhor e
de novas terras, pela acção conjunta de camponeses, monarcas, senhores nobres e ordens monásticas – a floresta,
que cobria grande parte do ocidente europeu, foi reduzida em favor dos campos arados.
Crescimento dos velhos centros burgos – a população das cidades herdadas da época romana aumentara de
tal forma que a área urbana deixara de a comportar, obrigando á formação, fora das muralhas, de novos bairros.
Estes novos bairros – “burgos de fora” – foram crescendo na zona do arrabalde (exterior das muralhas).
As cidades onde decorriam os mercados e as feiras, cativaram e provocaram a vinda de muitos camponeses,
que pretendiam a libertação das imposições senhoriais e novas vias de ascensão social.
O crescimento das cidades foi rápido e intenso. Porém, as cidades conservavam uma estreita relação
económica com o mundo rural. Especializadas na produção artesanal e na actividade comercial, as populações
A procura de produtos exercida pela cidade funcionou como um poderoso incentivo ao desenvolvimento da
economia rural. A comercialização dos excedentes agrícolas integrou o mundo rural nos circuitos comerciais.
O mundo rural permitiu a redução de parte das actividades artesanais que, geralmente, se destinavam ás
Embora minoritária no mundo medieval, a cidade foi núcleo dinamizador das mudanças sociais e do
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O maior rendimento agrícola permitiu a existência de excedentes que podiam ser vendidos, favorecendo
aumentar os seus rendimentos através das taxas cobradas pela circulação e venda de produtos. Eram periódicos
região. Eram frequentados por produtores e consumidores locais podendo ocasionalmente receber a visita de
Feiras – nos locais onde os negócios se mostraram mais propícios, alcançaram importantes volumes de
vendas e tenderam tornar-se periódicas (frequentemente anuais), associando-se muitas vezes a festividades
religiosas. Pela sua dimensão, realizavam-se muitas vezes fora das cidades, sob autorização das autoridades da
Os reis e senhores incentivaram a sua realização concedendo cartas de feira. Estas estipulavam os tributos
a pagar pelos feirantes, atribuíam privilégios e garantias especiais, que iam desde a concessão da guarda própria
Percorrer as feiras obrigou ao desenvolvimento dos circuitos de comunicação terrestre e dos meios de
-as cidades de génese romana, que podem ter sido abandonadas em determinada época e depois reocupadas ou
-as que têm na sua base um núcleo militar e que foram aceitando e implementando o comércio, chamadas
normalmente de burgos;
-e as denominadas cidades bastide, que surgiram no País de Gales, em Inglaterra e em França e se desenvolvem à
volta de um castelo.
Somente a partir do século X a Europa começou a atingir uma certa estabilidade económica, comercial e política
que permitiu o crescimento das cidades que tinham entrado em declínio após a queda do Império e o
desenvolvimento dos burgos, sendo que o século XIII é usualmente considerado como aquele que mais propiciou a
As tipologias variam de cidade para cidade, pois algumas, sobretudo as que datam do período romano,
correspondem a um planeamento urbano em forma de retícula, enquanto que outras, resultantes de adaptações e
evoluções, apresentam uma estrutura muito mais caótica, de crescimento orgânico e descontrolado. Existem,
contudo, estruturas coincidentes em quase todas elas, como, por exemplo, as muralhas, os edifícios e jardins, os
circuitos viários, o mercado e a igreja. As muralhas, para além de servirem de defesa, funcionavam também como
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portagem ao comércio, e, como eram barreiras físicas ao crescimento urbano, tinham de ser sucessivamente
criadas novas cinturas, como aconteceu, por exemplo, na cidade de Florença. As ruas, que começaram a ser
pavimentadas e por onde circulavam bestas de carga e pessoas, revestiam-se de importância especial por ligarem
todos os sítios onde se comerciava, que era praticamente em toda a cidade. Ao lado das ruas cresciam os edifícios,
sobretudo em altura e muito juntos, uma vez que o espaço confinante com a via era social e comercialmente
valorizado. A praça do mercado situava-se normalmente no centro da urbe ou junto à rua principal, e encontrava-
se rodeada de edifícios de cota mais ou menos igual, com galerias por baixo. Esta praça podia ter diversas formas,
desde a triangular à oval e à quadrada. Em frente à igreja situava-se igualmente uma praça (por vezes confinante
com a do mercado), que se revestia de importância particular por ser lá que se reuniam, em convívio, os fiéis antes
e depois da missa, e onde eram também deixados os cavalos dos não residentes.
As actividades comerciais foram tendo uma importância crescente na Europa Ocidental. Nos séculos XII e
XIII, o comércio externo desenvolveu-se com maior dinamismo em algumas regiões europeias:
Flandres – as cidades de Gand, Ypres, Bruges e Donai eram grandes centros manufactureiros
especializados na produção de lanifícios. Graças á sua posição geográfica estratégica bem como á força da sua
industria, a Flandres não só exportava os seus panos mas também atraía comerciantes oriundos das mais diversas
partes da Europa.
À flandres chegavam produtos do Báltico e da Rússia (cera e peles), produtos mediterrâneos e especiarias
orientais trazidas pelos italianos, produtos espanhóis (amêndoas, figos, uvas), portugueses (mel, couro, azeite,
Hansa – era a maior força económica e comercial do Báltico e as suas principais cidades eram Hamburgo,
Dantzig, Riga. Colónia e Lubeque. Os comerciantes comercializavam produtos agrícolas, madeiras, peles, etc.
seda, pedras preciosas, pérolas, alúmen, peles, madeira, peixe e arenque salgado.
Feiras da Champagne – realizadas nas cidades de Lagny, bas-sur-Aube, Provins e Troyes, foram as mais
importantes de todas as feiras medievais. A sua localização geográfica e as regalias que os reis e senhores
Aí se trocavam lanifícios, sedas, artigos de couro, peles, linhos, cereais, vinhos e corantes.
Esta era um sistema económico em que toda a produção excedentária se destinava ao mercado, tornando as trocas
essenciais e indispensáveis.
O intenso desenvolvimento comercial obrigava a uma maior utilização da moeda e a inovações nas técnicas
dos negócios.
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Cheques e letras de câmbio – funcionavam como um papel-moeda que evitava o uso do numerário. Assim,
permitiam substituir o transporte de dinheiro vivo, sempre mais arriscado e volumoso, fazendo operações de
pagamento em papel.
Sociedades comerciais – permitiam reunir capital a uma escala a que os particulares dificilmente poderiam
ter acesso e, da mesma forma, repartir os lucros do negócio proporcionalmente a esse investimento inicial.
Câmbios – eram uma necessidade constante numa economia de mercado que manuseava moedas tão díspares
Bolsas de mercadores – companhias de seguros que mediante o pagamento de certas quantias por frete
realizado para um fundo comum, cobriam os riscos das viagens, na proporção dos capitais investidos.
Ao período de enormes progressos da demografia e da economia demográficas europeias dos séculos XII
Um conjunto de circunstâncias adversas, por vezes actuando em simultâneo, provocou uma recessão
demográfica e económica, tendo a Europa passado por uma fase de instabilidade social e política.
Nos finais do século XIII, a população europeia atingira um nível difícil de manter com o desenvolvimento
técnico existente.
Os maus anos agrícolas pioraram a situação. Com efeito, devido a uma série de condicionalismos climáticos,
ocorreram maus anos agrícolas por toda a Europa, provocando quebras na produção. A carência de alimentos e a
carestia de vida por ela provocada trouxeram a fome a muitas regiões. Os organismos depauperados tornavam-se
mais susceptíveis a contrair doenças e menos resistentes a epidemias e a conjunção destes factores levava á
Depois de 1348, esta tendência para o recuo demográfico foi agravada pelos efeitos de uma terrível
Originária do Oriente, esta epidemia, muito contagiosa, espalhou-se por toda a Europa. Apesar de algumas
regiões europeias terem sido menos atingidas, em muitas regiões houve quebras entre 30 e 50% da população. Em
algumas zonas, as aldeias ficaram desertas devido á morte ou abandono dos seus habitantes.
Com a queda demográfica que provocou, a Peste Negra agravou a depressão económica que se vinha a
Esta situação foi agudizada pelos conflitos militares, pois o século XIX foi também um século de
conflitualidade.
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2.1 A fixação do território – do termo da Reconquista ao estabelecimento e fortalecimento das fronteiras
1-MAPAS DA RECONQUISTA
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Fronteiras de Portugal em 1185
DO ESPAÇO PORTUGUÊS
O condado foi concedido a D. Henrique a título de dote hereditário, pelo seu casamento com D. Teresa,
filha de D. Afonso VI, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o conceder ao conde D. Henrique
de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os Mouros. Pode-se mesmo afirmar que Portugal
é um produto da reconquista cristã. Quer a autonomização politica e o alargamento territorial do reino de Portugal,
Com efeito, foram as vitórias no campo de batalha contra o Islão, que deram a D. Afonso Henriques o
prestígio e a autoridade necessários para reivindicar, junto das autoridades castelhana e papal, o direito de usar
Foi ainda o sucesso militar que lhe permitiu obter um território suficientemente amplo para viabilizar a
existência de Portugal como reino independente. Alargando a sua fronteira para sul até à linha do Tejo -Sado,
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Afonso Henriques conquista a cidade de Santarém em 1147. A sua posse abriu-lhe caminho à tomada de Lisboa,
feito alcançado com a ajuda dos cruzados, em 14 de Outubro desse mesmo ano. Seguiram-se-lhes as conquistas
de Sintra, Almada e Palmela, fortalezas importantes para a defesa de Lisboa, e mais tarde de Alcácer do Sal
(1158-1160).
Ao mesmo tempo que se ia processando o alargamento territorial para Sul, D. Afonso Henriques e os seus
sucessores dividiam os seus esforços no povoamento e na organização administrativa, e económica e social das
áreas conquistadas, elementos fundamentais para a consolidação das fronteiras e para a própria sobrevivência do
Reino.
Para realizar estes objetivos, foram concedidos inúmeras cartas de Foral, criaram-se os primeiros órgãos da
administração central e fizeram-se importantes doações de terras e privilégios às ordens religiosas e às ordens
militares.
A conquista ou a tomada de posse por D. Afonso III, em 1249, das cidades e castelos do Algarve que ainda se
encontravam nas mãos dos mouros concretizaram o grande objectivo de estenderas fronteiras de Portugal até ao
A definição do território de Portugal e a sua existência como entidade politica independente no Oeste
peninsular, está intimamente ligada ao processo da Reconquista (Séculos VIII-XV). A Reconquista Cristã deu-se
com a formação do condado Portucalense em 1096, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o
conceder ao conde D. Henrique de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os mouros.
Portugal nasceu e consolidou-se como reino independente e definiu as suas fronteiras em estreita ligação
Na Reconquista já é feita uma distinção entre concelhos rurais e concelhos urbanos, sendo os primeiros
constituídos por pequenos grupos de povoadores, enquanto os segundos se dividiam em burgos, onde as pessoas
viviam dependentes do poder senhorial e onde uma carta de foral concedia aos seus moradores igualdade de
direitos.
Os concelhos criados ou legalizados pelos forais, dispunham de graus variáveis de autonomia. Esta
exprimia-se nomeadamente, através da existência de uma assembleia e de magistrados locais eleitos, na garantia
das liberdades individuais e na exclusão do exercício dos direitos senhoriais na área municipal e era simbolizada
A partir do século XIII, a reestruturação central e local e a abertura das Cortes à participação dos
representantes dos concelhos vieram dar mais força e autoridade à realeza para combater a expansão senhorial.
A definição do espaço territorial português ficou concluída em 1297 com a celebração do Tratado de
Alcanices entre D. Dinis, de Portugal e D. Francisco IV de Castela. Fixou-se assim de forma praticamente
definitiva, a fronteira Leste do País: O rei de Portugal assegurou a posse das praças tomadas na terra de Riba-
Côa, juntamente com Olivença, Campo Maior, Ouguela e São Feliz de Galegos, assim como Moura e Serpa, já
cedidas em 1295 mas não entregues em contrapartida, desistiu das suas pretensões relativamente a Aracena,
Portugal estabelecia assim, ainda no século XIII, as fronteiras do seu território, que com pequenas
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A origem e evolução da maioria das famílias nobres portuguesas na Idade Média, estão relacionadas com
a emigração de além-fronteiras (Leão, Castela, França, Norte da Europa) e a promoção social como recompensa
por serviços prestados nas lutas da Reconquista, ao longo dos séculos XI e XII.
português na região entre Douro e Minho, e no litoral até ao Mondego, onde um grande número de senhores
sujeitou pela posse das armas e pelo exercício de poderes públicos uma numerosa massa de camponeses. O regime
senhorial avançou depois para Sul do Tejo, através das concessões às ordens militares, encontrando os maiores
obstáculos na política de centralização régia e nas instituições concelhias, criadas ou preservadas pela concessão
de cartas de foral.
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Como nos demais reinos europeus, em Portugal a nobreza era uma categoria social privilegiada,
distinguindo-se pelo exercício de funções politicas e militares, que faziam dela um auxiliar imprescindível da
Realeza. Os reis governavam através dos nobres, que aparecem muitas vezes na documentação qualificados como
fideles, os fiéis, e faziam a guerra com o apoio das suas armas e dos seus homens. O uso das armas e do cavalo, a
posse de terras e a sua familiaridade com o poder davam-lhes uma enorme superioridade sobre o conjunto da
população.
A nobreza como as restantes ordens sociais, não constituía uma categoria social semelhante. Na realidade
integravam-na grupos ou classes com níveis de rendimento e até de estatuto muito diferenciados. Os ricos-homens,
magnates conhecidos como nobres de pendão e caldeira – tinham o poder e a autoridade para arregimentar sob o
seu estandarte cavaleiros e peões e os meios para os sustentar no decurso de uma campanha militar, aproveitaram
as acções militares da luta contra os mouros para conquistar os favores dos reis. A quem se encontravam ligados
pelo sistema de vassalidade, para obter imunidades, enriquecer e transformar-se no grupo mais importante de
entre os nobres. Abaixo destes homens-ricos situava-se um grupo muito mais numeroso de aristocratas
terratenentes que, na sua maioria, descendiam das antigas famílias de homens livres dos períodos romano, suevo
e visigodo, os infanções (nobres de nascimento) e ainda uma nobreza que vivia fundamentalmente do serviço militar
A nobreza senhorial vivia da terra e das rendas dominiais, conjunto de bens em espécie, dinheiro ou
serviço, que cobrava aos camponeses que cultivavam as suas propriedades (as honras) e sobre os quais exercia
uma jurisdição limitada. As honras beneficiavam de um conjunto de privilégios e imunidades muito favoráveis para
os seus titulares, como o direito de proibição de entrada a funcionários régios, a isenção do pagamento de impostos
e a autonomia judicial e administrativa. No entanto, a Realeza manteve sempre o controlo sobre o poder senhorial,
reservando para si determinados direitos, como a justiça maior (pena de morte ou corte de membros), ou mesmo
combatendo-o abertamente.
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O país urbano e concelhio – multiplicação de vilas e cidades concelhias
O país rural e senhorial, nascido no Entre Douro e Minho, cedo se complementou com um país de cidades e vilas
concelhias. Trata-se do país urbano e a sua pujança e protagonismo verificam-se do século XII em diante. Mas em
que contexto as cidades e vilas irromperam e se desenvolveram em território português? Recuemos no tempo. Em
1064, Coimbra é definitivamente conquistada aos muçulmanos. Em 1075, a construção da catedral de Santiago de
Compostela, onde se abrigava o túmulo do apóstolo, faz deste local um dos centros de devoção mais concorridos
da Cristandade medieval. Tal significa que o espaço a norte do Mondego, que em breve fará parte do reino de
Portugal, se vê sulcado de peregrinos e caminhos que demandam a cidade do noroeste da Galiza. Com tal movimento,
é natural que os núcleos urbanos se revitalizem, readquirindo um dinamismo desconhecido há séculos, pelo estado
de guerra então vivido. O Porto e Guimarães, por exemplo, saem beneficiados. Entretanto, a Reconquista
prosseguia e, com ela, territórios de forte presença urbana, que o domínio muçulmano além de preservar soubera
estimular, acrescentavam-se ao Norte tradicionalmente rural e senhorial. Referimos já a conquista de Coimbra; à
cidade do Mondego juntavam-se, na segunda metade do século XII, Lisboa, Santarém e Évora como pólos
estruturadores da futura evolução económica e política do reino de Portugal. Doravante, o Entre Douro e Minho
ficará secundarizado face a um Centro e Sul que dele recebe excedentes demográficos, que herda os saberes
artesanais e os contactos comerciais do mundo muçulmano, que valoriza as transacções monetárias e onde
comunidades de homens livres, e não exclusivamente os senhores, tomam nas mãos o exercício do poder local. Eis
um dos motivos por que Afonso Henriques transfere a capital de Guimarães para Coimbra. Libertava-se das
exigências da fidalguia nortenha, que o pusera no trono e angariava apoios de estirpes menos nobres, é certo, mas,
nem por isso menos gratas e ousadas.
A presença da corte, então verdadeiramente itinerante, nas cidades do Centro (Coimbra, Leiria) e Sul (Santarém,
Lisboa, Évora) contribuiu, por seu turno, para a consolidação das estruturas urbanas do reino nos seus primeiros
séculos de existência. Com o seu séquito de funcionários e letrados, a proliferação de serviços burocráticos e de
forças militares, cada vez mais se distanciavam aqueles centros urbanos do país rural, face ao qual se sentiam
mais poderosos e esclarecidos. Se a presença régia prestigiava uma urbe, não menor engrandecimento derivava
das suas funções eclesiásticas. Referimo-nos, concretamente, às sedes de bispado, as únicas a merecerem a
designação de cidades. Remontavam aos primeiros tempos de organização do Cristianismo na Península e,
certamente, a sua reconquista e posterior restauro foram motivo de desmedido orgulho.
A urbanidade de uma povoação media-se, em grande parte, pelo seu grau de superintendência jurídica. A cidade e
a vila concelhia dispunham, na verdade, de uma capacidade auto-administrativa, maior ou menor, que os monarcas
e, às vezes, um senhor lhe concederam através de uma carta de foral. Num país que nasceu à sombra de castelos
e igrejas, compreende-se o privilégio que representava a vida num concelho, onde as amarras senhoriais eram mais
ténues ou praticamente inexistentes. Ele explica-se, especialmente, pela necessidade de atrair moradores a zonas
que urgia defender e povoar: a Beira interior, a Estremadura, o Alentejo. Nestas regiões se situaram,
predominantemente, os concelhos perfeitos ou urbanos, cuja organização analisaremos mais adiante.
O desenvolvimento urbano dependeu da proximidade dos eixos de comunicação, da facilidade dos transportes
terrestres, do estabelecimento e dinamismo de uma rede comercial. Para alimentar a sua população e, em
simultâneo, exportar as suas produções rurais e artesanais, a cidade deve inserir-se numa vasta rede de trocas.
Ao surto urbano português não é, por conseguinte, estranho o ressurgimento comercial que o Ocidente medieval
viveu a partir do século XII. Não é por acaso que as urbes de maior dimensão, como Guimarães, Porto, Coimbra,
Santarém, Lisboa e Évora, se localizavam num eixo norte-sul paralelo à costa atlântica, com a qual facilmente
comunicavam. Ao dinamismo dos seus mercadores se deve a concessão das respectivas cartas de foral.
* Concluindo:
Beneficiando das peregrinações a Santiago de Compostela, do avanço da Reconquista, da estância da corte régia,
do restauro das sés episcopais, da criação de concelhos e do dinamismo comercial, Portugal recuperou, desde o
século XII, uma fisionomia urbana.
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Embora os Romanos, com o seu espírito prático e organizador, nos tivessem legado cidades regulares construídas
segundo o sistema em quadrícula, a verdade é que as urbes medievais portuguesas já nada revelavam do urbanismo
latino. Sucessivas invasões e contributos civilizacionais de Godos e Muçulmanos, a construção desorganizada e os
acidentes de terreno somaram-se, durante séculos, para conferir um fácies à cidade portuguesa que não a afastava
muito das suas congéneres peninsulares. Assim, quer no nosso território quer na restante Ibéria, distinguia-se,
em princípio, um urbanismo cristão, a norte, de um urbanismo muçulmano, mais nítido à medida que caminhamos
para sul. Apesar de não faltarem no primeiro as ruas tortuosas e os becos sem saída, como em qualquer cidade
medieval que se prezava, o facto é que a urbe cristã sempre dispunha de uma ou mais praças (um luxo nas densas
e labirínticas cidades do sul!) e, de um modo geral, irradiava a partir de um centro, enquanto a cidade muçulmana
se distribuía pela alcáçova, reservada aos dirigentes, e pela almedina, a zona popular. De fundação cristã ou de
influência muçulmana, há, no entanto, traços comuns no urbanismo medieval, tanto mais quanto os contactos
económicos e culturais não escasseavam, mesmo quando os dois mundos ferozmente se digladiavam; e tanto mais
também quanto, à medida que a Reconquista progredia, a integração das diferenças se processava.
* O espaço amuralhado
Antes de mais, a cidade medieval portuguesa, como as suas irmãs peninsulares ou os burgos europeus, destacava-
se na paisagem por estar envolta numa cintura de muralhas. De maior ou menor perímetro, com as suas ameias e
os seus cubelos, a muralha delimitava o espaço urbano, dava-lhe segurança e proventos (pelas inúmeras taxas pagas
nas suas portas e postigos), além de embelezá-la! Com indisfarçável orgulho, os citadinos gravavam, nos seus selos
concelhios, as muralhas, qual símbolo do poder e autonomia.
Desde o século XIII, o crescimento demográfico do reino e as movimentações populacionais estiveram na origem
de reestruturações urbanísticas de vulto. As obras iniciaram-se ainda com D. Dinis, prosseguiram com D. Afonso
V e terminaram no reinado de D. Fernando, que passou à História como o monarca construtor de cercas por
excelência. Muitos dos antigos arrabaldes (bairros extra-muros) bem como zonas rurais ficaram, então, incluídos
nas novas cinturas de muralhas e não tardaram a encher-se de construções e habitantes.
Toda a cidade medieval comportava uma zona nobre, um centro, que se distinguia do restante espaço. E dizemos
nobre, não porque nele habitassem os aristocratas de sangue — que, aliás, sofriam de várias limitações para
construir casas na cidade —, mas porque nele se situavam os edifícios do poder e moravam as elites locais.
Referimo-nos ao castelo ou à torre de menagem do alcaide, à Sé ou igreja principal, ao paço episcopal, aos paços
do concelho, às moradias dos mercadores e mesteirais abastados. São edifícios altivos, de robusta pedra que
desafia os tempos. Não longe deles estava o mercado principal numa praça ou rossio, se bem que muitos outros
mercados proliferassem no interior da cidade medieval. Fora daquele centro, que hoje nos chocaria pelo amontoado
das construções e pela falta de espaço que, por certo, impediria uma boa panorâmica da catedral, a cidade
espraiava-se numa desordem total. Só no reinado de D. Dinis se abriram ruas para servirem de eixo ordenador do
espaço urbano. Mais largas que o habitual iam directamente de um ponto ao outro da cidade, ligando duas das suas
portas. Chamavam-se ruas direitas e, tal como as ruas novas surgidas desde o século XII, enchiam de satisfação
os citadinos, que aí abriam as suas melhores oficinas, lojas e estalagens. Tudo o mais eram ruas secundárias,
autênticas vielas para os nossos padrões, fétidas, escuras e poeirentas, raramente calcetadas, onde os despejos
se faziam a céu aberto, cães e porcos focinhavam e mil perigos espreitavam. Nelas se distribuíam as habitações
populares, as oficinas dos mesteirais, as tendas para a venda dos produtos e, até, albergarias e hospitais, que
acolhiam peregrinos, pobres e doentes. Uma curiosa compartimentação sócio-profissional levava a que os ofícios
se agrupassem em ruas específicas, que a toponímia viria a perpetuar. Donde os curiosos nomes das ruas dos
Sapateiros, Correeiros, Pelames, Caldeireiros, do Ouro, da Bainharia ou dos Mercadores. Facilitava-se, desse
modo, a aquisição da matérias-primas, a aprendizagem das técnicas, a comercialização de bens. Não faltavam, na
cidade medieval portuguesa, as minorias étnico-religiosas: os judeus e claro, por razões históricas, os mouros
submetidos. Muitos dos judeus eram mesteirais (ourives, alfaiates, sapateiros), mas houve-os também médicos,
astrónomos, cobradores de rendas. Mais letrados que o comum dos cristãos (as discussões teológicas, na sinagoga
que também era escola, a tal os predispunha), mais abastados, dados à usura e ao negócio, embora os humildes não
faltassem, os judeus viviam em bairros próprios, as judiarias, com os seus funcionários, juízes e hierarquia
religiosa. Durante séculos, e apesar do antagonismo religioso e de pontuais invejas motivadas pela sua
superioridade económica e intelectual, a sociedade portuguesa tolerou os judeus e as cidades, como vimos,
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albergaram-nos dentro de muros. Um grupo numeroso de judeus era, aliás, entendido como símbolo de dinamismo
económico do burgo.
Em finais do século XV, a convivência entre os dois credos romper-se-ia Referimo-nos ao momento em que um
edicto de D. Manuel obrigou os judeus à conversão, sob pena de expulsão. Quanto à comunidade mourisca, não foi
senhora de uma abastança comparável à dos judeus. A opinião pública fixou a máxima do «trabalhar que nem um
mouro» sinal da condição inferior dos islâmicos. Mas nem por isso os cristãos deixaram de os recear: relegaram-
nos, também, para bairros próprios — as mourarias—, que fizeram situar no arrabalde.
*O arrabalde
Localizado fora de muros, o arrabalde acabou por se transformar num prolongamento da cidade. Nele se
encontravam as hortas, tantas vezes designadas de almuinhas (palavra de origem árabe), que, juntamente com os
ofícios poluentes (pelames ou curtumes), estavam próximos de cursos de água. Os ferreiros eram outro grupo de
mesteirais que, frequentemente, se fixava nos arrabaldes. A fuligem e o barulho ensurdecedor que saía dos seus
martelos e bigornas tornava-os tão indesejáveis, no espaço intra-muros, quanto os surradores e os carniceiros.
Outros, como os carpinteiros e calafates navais do Porto, desceram as escarpas da sua acidentada cidade, vindo
fixar-se à beira-rio onde deram origem ao próspero arrabalde de Miragaia. Para muitos mesteirais e mercadores,
o arrabalde constituía um local privilegiado. Instalando as suas oficinas e lojas nas vias que conduziam às portas
da cidade, eram naturalmente os primeiros a abastecerem os que dela saíam e os que nela entravam. No arrabalde
semanalmente, tinha lugar um bem fornecido mercado, onde citadinos e aldeãos se cruzavam. Nem sequer animação
lá faltava: aos habituais malabaristas e saltimbancos vinham juntar-se, por vezes, as touradas. Contudo, um certo
ar de marginalidade rodeava o arrabalde. Não só as actividades menos limpas para ele eram remetidas. Os pedintes
e os leprosos, esses párias que a sociedade medieval hostilizava, confinavam-se ao seu espaço. Eis o motivo por
que as ordens mendicantes se instalaram nos arrabaldes desde o século XIII. Atraídos pelo mundo da pobreza e
da exclusão, Franciscanos e Dominicanos desempenharam com êxito a sua missão de assistência e protecção aos
humildes e desenraizados.
* O termo
Para além do arrabalde, espraiava-se o termo, espaço circundante de olivais, vinhas ou searas e aldeias várias
incluídas. Sem o termo a cidade medieval não poderia viver. Nele exercia a jurisdição e o domínio fiscal; nele
impunha obrigações militares. A tal dava direito a autonomia das cidades e vilas concelhias... Semanalmente, os
aldeões do termo acorriam ao mercado que se realizava junto às portas da cidade. Traziam os indispensáveis
produtos da terra; no fim das vendas, não partiriam, certamente, sem antes transporem a muralha e adquirirem
nas lojas uma peça de pano, calçado ou as alfaias agrícolas de que estavam necessitados. Tal era o prestígio e a
abastança oriundos da posse do termo que os monarcas o alargavam ou encurtavam se desejassem agraciar ou
castigar as cidades! Foi o que aconteceu na Revolução de 1383-85, em que vilas como Santarém, por seguirem o
partido de D. Beatriz, viram o seu termo reduzido. Já o Porto, que tudo dera à causa do Mestre de Avis, receberia
de presente Gaia, Vila Nova, Azurara e Mindelo.
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reforçar os pontos de pressão. No fundo, a arte gótica introduziu o pensamento filosófico da época, realçando o
equilíbrio matemático, a ordem racional do mundo criado por Deus, sendo por isso valioso por si e o ideal Realista e
Naturalista, proporcionado, individualizado e expressiva, reflectindo assim a cultura urbana.
Todos estes elementos conferiam à catedral gótica a sua imponência e grande identidade No caso português, este
estilo apareceu tardiamente em comparação com o resto da Europa, dado o tardio surto Urbano de Portugal.
Enquadrar a expansão do ensino nas transformações económicas e políticas dos últimos séculos da Idade
Média.
No séc. XI, organizaram-se as primeiras escolas urbanas, onde a multiplicidade destas deveram-se ás novas
necessidades da administração e da economia. As cidades precisavam de pessoas com estudos para os seus mais
altos cargos nos tribunais, nas repartições públicas, ou seja, de homens de letra que constituíssem o novo
funcionalismo público, necessários à centralização do poder pelos monarcas. Assim contribuíram para o
desenvolvimento económico do país e para preencher cargos na política.
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MÓDULO 5: O LIBERALISMO – IDEOLOGIA E REVOLUÇÃO, MODELOS E
PRÁTICAS NOS SÉCULOS XVIII E XIX
1- A REVOLUÇÃO AMERICANA, UMA REVOLUÇÃO FUNDADORA
1.1. NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO SOB A ÉGIDE DOS IDEAIS ILUMINISTAS
1-Reconhecer a diversidade e a unidade das colónias inglesas da América do Norte
No século XVIII, a Inglaterra possuía 13 colónias na costa oriental da América do Norte. Estas colónias
estavam unidas:
- por uma mesma língua – o inglês;
- pela religião – predominantemente protestante;
- pela luta contra os índios e Franceses;
- pela submissão à coroa britânica (rei Jorge III) e ao Parlamento inglês. Porém, também existiam factores
de diversidade:
- as colónias do Norte e do Centro tinham como base económica a agricultura complementada pela pesca,
criação de gado, comércio e indústria. Eram, também, constituídas por comunidades mais tolerantes;
- as colónias do Sul especializaram-se na plantação de tabaco e do algodão assente na exploração de mão-
de-obra escrava.
Se, por um lado, os factores de união podem ter favorecido a criação, em 1776, de um país novo e
independente (os Estados Unidos da América), por outro lado, os factores de diversidade podem ajudar-nos a
compreender as hesitações na escolha de um modelo político após a independência: dever-se-ia escolher um
governo central forte ou uma federação descentralizada? A formação, ainda que lenta, de uma consciência nacional
levaria os Americanos a optar pela existência de um governo geral.
2-Explicar o conflito económico surgido entre a Inglaterra e as suas colónias da América
após 1763
Os principais motivos de descontentamento dos colonos americanos prendiam-se com questões económicas:
1. A Guerra dos Sete Anos, que estendera ao território americano os conflitos entre Franceses e Ingleses,
terminou com a vitória inglesa (Tratado de Paris). No entanto, em troca da proteção concedida aos colonos, a
Inglaterra sobrecarregou-os com impostos, de maneira a recuperar do esforço de guerra. Entre 1764 e 1767, o
Parlamento britânico decretou taxas aduaneiras sobre a importação de certos produtos (papel, vidro, chumbo,
melaço, chá) e criou um imposto de selo.
2. A região que os colonos reivindicavam, a oeste, para se expandirem territorial e economicamente, foi
considerada propriedade dos índios pelo governo britânico.
3. Os colonos americanos tinham falta de liberdade comercial: só podiam exportar os seus produtos para
Inglaterra ou para outras colónias inglesas e só podiam importar mercadorias europeias por intermédio de Londres
(teoria do exclusivo comercial).
3-Mostrar como esse conflito adquiriu um carácter político
O conflito económico ganhou contornos políticos quando os colonos americanos tomaram consciência de
que, apesar de serem cidadãos britânicos, não estavam representados no Parlamento de Londres. Como tal, não
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consideravam legais os impostos votados. Os acontecimentos que se seguiram agravaram a controvérsia entre as
colónias e a metrópole. Eis as principais etapas do processo de independência americana:
- em 1765, realizou-se um congresso em Nova Iorque contra a imposição das leis;
- em 1770, face aos protestos, os impostos foram abolidos, à excepção daqueles que diziam respeito ao
chá, cujo monopólio de venda era entregue à Companhia das Índias;
- em 1773, em Boston, os colonos revoltaram-se contra o imposto sobre o chá, atirando ao mar os
carregamentos da Companhia das Índias (Boston Tea Party). O Rei Jorge III reagiu com medidas repressivas;
- em 1774, no primeiro congresso de Filadélfia, os colonos ainda tentaram uma solução negocial; porém, nas
ruas, organizava-se um movimento revolucionário armado;
- em 1775, em Lexington, defrontaram-se em combate as tropas inglesas e os milicianos americanos: este
encontro violento marcou o fim da possibilidade de negociação, o que levou Thomas Paine a escrever: “A palavra
está nas armas. […] O sangue dos nossos mortos e a própria natureza gritam-nos «abaixo a Inglaterra»;
- a 4 de Julho de 1776 (data oficial da independência dos EUA), os delegados de todas as colónias
aprovaram a Declaração de Independência no segundo Congresso de Filadélfia.
4-Justificar o apoio da França à causa da independência das colónias inglesas da América
do Norte
Apesar da aprovação da Declaração de Independência (redigida por Thomas Jefferson) pelas colónias, os
conflitos prosseguiram, sob o comando de George Washington (que viria a ser o primeiro presidente dos EUA). O
apoio francês (em armas, soldados, dinheiro e barcos) surgiu em 1778 e justifica-se pela vontade de desforra
deste país em relação à derrota na Guerra dos Sete Anos.
Foi graças ao apoio da França, da Espanha (aliada da França na Guerra dos Sete Anos) e à acção diplomática
na Europa (em especial, por Benjamin Franklin) que a vitória sobre os Ingleses se tornou possível.
Em 1783, colonos e ingleses assinaram o Tratado de Versalhes, no qual a Inglaterra reconhecia a
independência das 13 colónias. Nesse momento os Franceses puderam, também, sentir o sabor da vitória,
recuperando alguns dos territórios perdidos em 1763.
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2- A REVOLUÇÃO FRANCESA – PARADIGMA DAS REVOLUÇÕES LIBERAIS E
BURGUESAS
2.1.A FRANÇA NAS VÉSPERAS DA REVOLUÇÃO
1-Mostrar o anacronismo das estruturas sociais francesas nas vésperas da Revolução
Estamos perante um anacronismo quando, numa determinada época, existem características que deveriam
pertencer a outra: era o caso da sociedade francesa do século XVIII, ainda muito ligada às estruturas de Antigo
Regime. Persistiam, assim, as seguintes características sociais:
- a alta burguesia era superior às ordens tradicionalmente privilegiadas (clero e nobreza) em riqueza e
instrução, contudo, não tinha acesso aos altos cargos da administração pública, do exército e da hierarquia
religiosa, para os quais se exigia prova de nobreza;
- os camponeses, apesar de constituírem a maioria da população (cerca de 80%) continuavam na miséria,
pois não eram detentores das terras que trabalhavam e ainda tinham de pagar impostos;
- os trabalhadores das cidades recebiam baixos salários;
- a nobreza mantinha um estilo de vida ocioso e frívolo; porém, detinha a maior parte da propriedade
fundiária, os postos mais importantes e estava isenta do pagamento de impostos;
- o clero possuía terras, recebia rendas e a dízima (1/10 de toda a produção agrícola), no entanto, tal como
a nobreza, não pagava impostos.
Esta situação de profunda injustiça social foi, então, uma das causas das Revolução Francesa.
2-Analisar a crise económico-financeira
Nas vésperas da Revolução, a França era afectada por uma crise económica motivada pelos seguintes
factores:
- o aumento do preço do pão, em virtude de maus anos agrícolas;
- a quebra de produção têxtil, não só devido ao aumento do preço do pão (que limitava a capacidade de
aquisição de outros produtos pelas famílias), mas também por causa do Tratado de Eden, de 1786 (que previa a
livre-troca do vinho francês pelos têxteis ingleses);
- as despesas do Estado com o exército, as obras públicas, a dívida pública e o luxo da corte, que originavam
um défice constante, já que o clero e a nobreza não contribuíam para as receitas do Estado (pois não pagavam
impostos).
Podemos considerar a crise económico-financeira como o segundo factor que conduziu à Revolução.
3-Explicar o fracasso das tentativas políticas de reforma
Perante a crise económico-financeira, o poder político tinha de agir. O rei Luís XVI, monarca absoluto,
rodeou-se de ministros para o auxiliarem: Turgot, Necker, Calonne e Brienne propuseram, sucessivamente,
reformas no intuito de solucionar a crise. Porém, a conclusão a que chegavam era sempre a mesma: a única maneira
de obter mais receitas para o Estado passaria por fazer com que as ordens privilegiadas também pagassem
impostos. Ora, o clero e a nobreza, opuseram-se terminantemente às tentativas de redução dos seus privilégios.
A própria rainha Marie Antoinette, chamada pelo povo de “Madame Défice” devido às suas despesas com
a corte, contribuiu para que os ministros fossem despedidos.
Foi num clima de agitação popular e de oposição política das ordens privilegiadas que Luís XVI resolveu
convocar os Estados Gerais (reunião dos representantes das diversas ordens sociais), enquanto se elaboravam os
Cadernos de Queixas (registo dos anseios da sociedade francesa).
2.2. DA NAÇÃO SOBERANA AO TRIUNFO DA REVOLUÇÃO BURGUESA
4-Interpretar a transformação dos Estados Gerais em Assembleia Nacional Constituinte
A reunião dos Estados Gerais, em Maio de 1789, iniciou-se, desde logo, com uma questão controversa: a
votação das propostas deveria fazer-se por cabeça (cada deputado, um voto) ou por ordem (cada grupo social, um
voto)?
Se a votação por cabeça ganhasse, os deputados do Terceiro Estado, maioritários, fariam valer as suas
propostas; porém, se a votação se fizesse por ordem, as duas ordens privilegiadas (clero e nobreza) poderiam unir-
se, dado que tinham interesses convergentes, na defesa do seu estatuto.
Perante este impasse e a indecisão de Luís XVI, os deputados do Terceiro Estado (juntamente com alguns
deputados do clero e da nobreza que partilhavam as mesmas ideias) reuniram-se à parte, na sala do Jogo da Péla,
onde juraram, em Julho de 1789, não se separarem até que tivesse pronta uma Constituição. Devido a este acto
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revolucionário (conhecido por “Juramento da sala do Jogo da Péla”), os Estado Gerais transformaram-se em
Assembleia Nacional Constituinte (uma assembleia destinada a redigir uma Constituição): era o fim do absolutismo
e o início da Nação soberana.
5-Relacionar a abolição dos direitos feudais com a destruição da sociedade de Antigo
Regime
Entretanto, nas ruas, o povo realizava a sua revolução: a 14 de Julho de 1789, em Paris, a Bastilha (fortaleza
para presos políticos do absolutismo) foi destruída pelo povo e pela Guarda Nacional (milícia composta por
burgueses). A tomada da Bastilha, ficaria, para sempre, conhecida como símbolo máximo da Revolução Francesa,
acontecimento comemorado todos os anos, em França, no dia 14 de Julho.
Por toda a França, os camponeses revoltaram-se violentamente contra os senhores das terras e contra os
encargos feudais (movimento denominado por “Grande Medo”).
Face ao descontentamento popular, a Assembleia Nacional Constituinte produziu, em Agosto de 1789,
diplomas legais que aboliam os direitos feudais (como a dízima à Igreja e o trabalho gratuito – corveias – prestado
aos nobres) “aclamando o povo” para atingir a “tranquilidade pública”, como dizia, então, o presidente da
Assembleia. Ao instaurarem a igualdade de todos perante a lei, nomeadamente o livre acesso aos empregos
públicos, estes decretos destruíram a sociedade de ordens, assente nos privilégios da nobreza e do clero.
No ano seguinte (1790) a Assembleia aprovou um documento polémico – a Constituição Civil do Clero – que
transformava os membros do clero secular em funcionários do Estado, extinguia o clero regular e procurava salvar
a economia francesa com os bens confiscados à Igreja, que constituíam a garantia dos novos títulos de papel-
moeda (os assinados).
6-Sublinhar o significado da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
Ainda durante a etapa da Assembleia Constituinte (1789-1791), os deputados elaboraram a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, um documento de inspiração iluminista, fundamental, não só para a Revolução
Francesa mas também para todos os movimentos revolucionários que esta inspirou. Os aspectos mais importantes
da Declaração são:
- a proclamação do fim da sociedade de ordens (“Os homens nascem e são livre e iguais em direitos”);
- a salvaguarda dos direitos naturais do homem (“A liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência
à opressão”);
- a defesa da soberania popular contra o absolutismo (“O princípio de toda a soberania reside
essencialmente na Nação”);
- a protecção dos cidadãos pela lei (“Tudo aquilo que não é proibido pela lei não pode ser impedido […].
Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei”);
- a tolerância religiosa (“Ninguém pode ser inquietado pelas suas opiniões, incluindo opiniões religiosas”);
- a liberdade de expressão (“Todo o cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente”);
- a defesa da burguesia e do direito à propriedade privada (“A propriedade é um direito inviolável e
sagrado”).
Pela alteração profunda que este documento provocou nas estruturas sociais e políticas de Antigo Regime,
podemos relacioná-lo com o início de um novo período histórico: a Época Contemporânea.
7-Caracterizar a monarquia constitucional
Em Setembro de 1791 foi aprovada a Constituição. O rei tinha de obedecer a este documento fundamental,
pelo que designamos a nova etapa (1791-92) por monarquia constitucional. Esta caracterizou-se por:
- separação de poderes: o poder legislativo era entregue à Assembleia Nacional Legislativa (composta por
745 deputados), o poder executivo pertencia ao rei (que podia vetar as leis durante dois anos: veto suspensivo) e
o poder judicial cabia a juízes eleitos e a um Tribunal Superior;
- instituição da soberania nacional (é a Nação quem escolhe os governantes, através do voto – sistema
representativo);
- consagração dos Direitos do Homem e do Cidadão;
- manutenção da distinção pela riqueza (o processo de eleição de deputados da Assembleia Legislativa era
indirecto e realizado através do sufrágio censitário: apenas os homens mais ricos, que pagavam um imposto – ou
censo – igual ou superior a três dias de trabalho, podiam votar; eram estes cidadãos activos quem podia escolher
os verdadeiros eleitores, os quais, por sua vez, eram aqueles que tinham riqueza suficiente para pagar um imposto
igual ou superior a dez dias de trabalho).
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8-Descrever a passagem da monarquia à república
A República foi proclamada em Setembro de 1792. Dois factores, em especial, precipitaram o fim do
regime monárquico na França:
- a tentativa de fuga do rei, em 1791, com o objectivo de ser acolhido no estrangeiro por um país de regime
absoluto, e o seu regresso humilhante a Paris, apenas serviram para acelerar a instituição da República, forma de
governo que, até, então, não fora defendida;
- a guerra da França, em Abril de 1792, contra os estados absolutistas que queriam restituir o poder a
Luís XVI (Áustria, Prússia) agravou os problemas económicos e contribuiu para o radicalismo político: os federados
(milícias defensoras da Revolução) acorreram a Paris, assaltaram as Tulherias e o rei foi suspenso pela Assembleia
Legislativa em Agosto de 1792, terminando, assim, a monarquia constitucional.
O fim da monarquia viria a consumar-se em 1793 quando, após um julgamento de 26 horas, Luís XVI foi
condenado à morte na guilhotina (pena aplicada, também, à rainha Marie Antoinette, no mesmo ano).
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Para compensar a aniquilação do cristianismo, Robespierre criou um culto ao Ser Supremo, porém, um boa
parte da população francesa, fiel à religião católica, afastou-se da revolução. Os confrontos fizeram-se sentir,
em 1793, na região da Vendeia, onde monárquicos e católicos tentaram a contra-revolução (sem sucesso).
11-Justificar o fim da república jacobina
A república jacobina teve o seu fim em Julho de 1794 quando Robespierre, responsável por inúmeras
condenações à morte foi, ele mesmo, guilhotinado em resultado de uma conspiração da Convenção. O extremismo
desta etapa foi responsável pelo seu fracasso.
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Miguel foi exilado para o resto da sua vida. D. Maria II, rainha desde os sete anos de idade, só então, com quinze
anos, pôde sentar-se no trono português.
4.3. O NOVO ORDENAMENTO POLÍTICO E SOCIOECONÓMICO (1832/34 – 1851)
8-Analisar o papel da legislação de Mouzinho da Silveira e outros na liquidação do Antigo
Regime
José Xavier Mouzinho da Silveira, ministro da Fazenda (finanças) e da Justiça durante a regência de D.
Pedro (1832-1833), promulgou decretos fundamentais para a consolidação do Liberalismo, atacando as estruturas
de Antigo Regime:
- na agricultura, aboliu os dízimos, os morgadios e os forais, libertando os camponeses das dependências
tradicionais;
- no comércio, extinguiu as portagens internas e reduziu os impostos sobre a exportação, de maneira a
retirar os entraves à actividade comercial;
- na indústria, acabou com os monopólios, nomeadamente o da Companhia das Vinhas do Alto Douro;
- na administração, dividiu o país em províncias, comarcas e concelhos; também instituiu o Registo Civil
para todos os recém-nascidos, retirando a questão do nascimento da alçada da Igreja;
- na justiça, organizou o país segundo uma hierarquia de circunscrições (divisões territoriais), submetendo
todos os cidadãos à mesma lei;
- nas finanças, criou um sistema de tributação nacional, eliminando a tributação local que revertia, em
grande parte, a favor do clero e da nobreza; substituiu o Erário Régio (criado pelo Marquês de Pombal) pelo
Tribunal do Tesouro Público para controlar a arrecadação de impostos;
- na cultura, mandou abrir aulas e instituiu a Biblioteca Pública do Porto. Ferreira Borges desempenhou,
igualmente, um papel importante na liquidação do Antigo Regime em Portugal, ao elaborar o Código Comercial de
1833, onde se aplicava o princípio fundamental do liberalismo económico: o livre-câmbio, ou seja, a livre circulação
de produtos (por oposição ao proteccionismo), através da abolição de monopólios e de privilégios, bem como da
eliminação do pagamento de portagens e de sisas.
Joaquim António de Aguiar, ministro da Justiça, mereceu o epíteto de “mata-frades” pela sua intervenção
legislativa (1834-1835) contra os privilégios do clero, em particular do clero regular, identificado com o projecto
miguelista:
- aboliu o clero regular, através do Decreto de Extinção das Ordens Religiosas que acabava com “todos os
conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer casas de religiosos de todas as Ordens Regulares” masculinas;
as ordens religiosas femininas eram, indirectamente, aniquiladas por meio da extinção dos noviciados (preparação
para o ingresso numa ordem religiosa);
- os bens das ordens religiosas foram confiscados e nacionalizados;
- em 1834-1835, esses bens, juntamente com os bens da Coroa, das Rainhas e do Infantado, foram vendidos em
hasta pública – beneficiando a alta burguesia – e o produto da venda foi utilizado, pelo ministro da Fazenda (Silva
Carvalho), para pagar dívidas do Estado
9-Caracterizar o Setembrismo
O reinado de D. Maria II (1826-1853) correspondeu a um período conturbado da história política
portuguesa de Oitocentos. Começou a reinar, efectivamente, em 1834, sob a vigência da Carta Constitucional
redigida pelo seu pai, D. Pedro (1834-1836: etapa designada por Cartismo). Porém, em Setembro de 1836, uma
revolução de carácter civil obrigou a rainha a revogar a Carta e a jurar a Constituição de 1822.
O Setembrismo (1836-1842) foi um projecto político da pequena e média burguesias, com o apoio das
camadas populares (contra o predomínio da alta burguesia, que havia sido favorecida pela Cartismo). Os mentores
do Setembrismo, que integravam o novo governo, eram Sá da Bandeira e Passos Manuel.
A política setembrista, apoiada na nova Constituição de 1838 caracterizou-se, essencialmente, pelas
seguintes medidas:
- o rei (neste caso a rainha) perdeu o poder moderador (embora mantivesse o direito de veto definitivo
sobre as leis saídas das Cortes);
- a soberania da Nação foi reforçada;
- adoptou-se o proteccionismo económico, sobrecarregando com impostos as importações, de modo a tornar
mais competitivos os produtos industriais nacionais (sem grande sucesso);
- investiram-se capitais em África, como alternativa à perda do mercado brasileiro;
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- reformou-se o ensino primário, secundário e superior, com destaque para a criação dos liceus, por Passos
Manuel, onde os filhos da burguesia se preparavam para o ensino superior o que lhes permitiria exercer cargos de
relevo;
- as taxas fiscais aplicadas aos pequenos agricultores não foram abolidas, o que contribuiu para o fracasso
económico do Setembrismo.
10-Mostrar que o Cabralismo se identificava com o projecto cartista da alta burguesia
Entre 1842 e 1851, vigorou a ditadura de António Bernardo da Costa Cabral. O país enveredou, novamente,
pela via mais conservadora: enquanto o Setembrismo se inspirava na Constituição de 1822, o Cabralismo repôs em
vigor a Carta Constitucional de 1826, identificando-se, assim, com o período do Cartismo (1834-1836). Tal como
aconteceu com o Cartismo, as medidas tomadas durante o período do Cabralismo favoreceram, em primeiro lugar,
a alta burguesia. Destacam-se, nomeadamente:
- o fomento industrial (fundação da Companhia Nacional dos Tabacos, difusão da energia a vapor);
- o desenvolvimento de obras públicas (criação da Companhia das Obras Públicas de Portugal para a
construção e reparação das estradas; construção da ponte pênsil sobre o rio Douro);
- a reforma fiscal e administrativa (publicação do Código Administrativo de 1842, criação do Tribunal de
Contas para a fiscalização das receitas e despesas do Estado).
No entanto, as Leis da Saúde Pública, em especial a proibição do enterramento dentro das igrejas, a par
do descontentamento com o acréscimo de burocracia e com o autoritarismo de Costa Cabral, despoletaram duas
movimentações de cariz popular – a revolta da “Maria da Fonte” e a “Patuleia” – que se transformaram em guerra
civil (1846/47) e acabaram por conduzir a queda de Costa Cabral, em 1847. Este regressaria ao poder em 1849,
sendo afastado definitivamente em 1851, pelo golpe do marechal-duque de Saldanha.
Depois de uma primeira metade de século extremamente agitada, nos últimos 50 anos de Oitocentos,
Portugal iria gozar a paz e o progresso material do período da Regeneração.
5- O LEGADO DO LIBERALISMO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX
5.1. UMA IDEOLOGIA CENTRADA NA DEFESA DOS DIREITOS DO INDIVIDUO
1-Interpretar o conceito de Liberalismo
O Liberalismo é uma forma de organização social, política e económica que vigorou na Europa Ocidental nos
séculos XVIII e XIX.
A nível político, o Liberalismo defende a representatividade popular, contra o regime absolutista; a nível
económico, é a favor da liberdade de iniciativa privada, contra o intervencionismo do Estado; a nível social, coloca
a burguesia no topo da escala social, contra os privilégios da nobreza e do clero.
A implantação do Liberalismo correspondeu à queda do Antigo Regime e influenciou, de forma marcante,
grande parte dos regimes actuais.
2-Mostrar que o Liberalismo defende os direitos individuais
O Liberalismo defende os direitos individuais porque considera que esses direitos são naturais, isto é,
derivam da própria condição do ser humano e, como tal, nascem com o indivíduo.
São eles:
1. O direito à liberdade (que dá o nome ao Liberalismo): é o direito mais abrangente, pois engloba todos os
outros direitos – podemos referir, nomeadamente, a liberdade de seguir apenas a lei, rejeitando qualquer
autoridade arbitrária, a liberdade de expressão, a liberdade de exercer uma profissão, de possuir bens, de
reunião, a liberdade religiosa, a liberdade de participar na vida política.
2. O direito à igualdade: todos os cidadãos passavam a ser considerados iguais perante a lei; porém, nas
formas de liberalismo moderado eram aceites e, até fomentadas as distinções sociais, nomeadamente com base
na riqueza. A questão dos direitos à liberdade e à igualdade levantou, em vários países, a polémica sobre a
permanência da escravatura, considerada contraditória com os direitos naturais; nos EUA, nomeadamente, a
escravatura esteve na base da guerra civil entre o Norte liberal e o Sul esclavagista, entre 1861 e 1865.
3. O direito à segurança e à propriedade: a importância concedida à posse de bens explicase pela
preponderância da burguesia (grupo social que baseou a sua ascensão social nos lucros do comércio e na aquisição
de propriedades). Defendia-se, abertamente, que as assembleias representativas deveriam ser compostas por
proprietários, os únicos que seriam capazes de representar os interesses dos seus eleitores (também eles,
proprietários) e de manter a ordem e a segurança necessárias à preservação dos bens. A defesa do direito à
propriedade explica porque é que, na maioria dos países que adoptaram o Liberalismo, só podia escolher os seus
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representantes quem atingisse um determinado patamar de rendimentos – sufrágio censitário – apesar de este
tipo de sufrágio introduzir um factor evidente de desigualdade entre os cidadãos. Os mais ricos eram também, na
opinião dos liberais, os mais instruídos e, portanto, os mais capazes de votar.
4. O direito de intervir na governação: o súbdito do Antigo Regime é substituído pelo cidadão do
Liberalismo, indivíduo que é convidado a participar na vida politica de múltiplas maneiras – como eleitos e detentor
de cargos (se tivesse os meios económicos de se tornar cidadão activo), mas também participando nos diversos
clubes (por exemplo, no Clube dos Jacobinos, em França), assistindo às assembleias legislativas, onde intervinha
na discussão, escrevendo para jornais ou apresentando petições (reivindicações escritas). Basta lembrar a
importância dos sans-culottes na etapa da Convenção da Revolução Francesa para nos apercebermos de como os
cidadãos ditos “passivos” podiam influenciar de forma determinante o rumo da governação.
Pela sua importância, estes direitos apareceram consignados nos diplomas fundamentais do Liberalismo:
-a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) apresenta como justificação para
romper os laços políticos com a Inglaterra os “Direitos inalienáveis, entre os quais a Vida, a Liberdade e a procura
da Felicidade”;
- a Constituição dos Estados Unidos da América (1787) tem como objectivo assegurar “os benefícios da
liberdade”;
- a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789) refere, no seu artigo 1.º, que “Os
homens nascem e são livres e iguais em direitos” e, no artigo 2.º que os direitos naturais do homem “são a liberdade,
a propriedade, a segurança e a resistência à opressão”;
- a Carta Constitucional de 1814 esclarece, no Artigo 1.º, que “Os Franceses são iguais perante a lei [..]”,
embora apresente, seguidamente, todas as nuances a esse direito características de um liberalismo moderado
(bicameralismo, sufrágio censitário, autoridade real reforçada, liberdade de expressão e de religião
relativizadas);
- a primeira Constituição Portuguesa (1822) explicita, logo no seu artigo 1.º, que “tem por objectivo manter
a liberdade, a segurança e a propriedade de todos os Portugueses”;
- a Carta Constitucional portuguesa (1826), partidária de um liberalismo mais moderado, remete a
enunciação dos direitos para o fim do diploma constitucional, referindo, no artigo 45.º que “A inviolabilidade dos
direitos civis e políticos dos cidadãos portugueses, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a
propriedade, é garantida pela constituição do Reino”.
3-Sublinhar os fundamentos do liberalismo político, a saber: constitucionalismo; separação
de poderes; soberania da Nação, representada em assembleias
Em todos os países onde o Liberalismo se afirmou, foi necessário criar os mecanismos legais para impedir
o retorno ao Absolutismo. Deste modo, os princípios liberais eram salvaguardados pelas seguintes medidas:
- elaboração de um documento onde eram explicitados os direitos e os deveres dos cidadãos e o
funcionamento do Estado: esse documento podia ser chamado Constituição, quando era elaborado e votado pelos
representantes do povo (deputados) ou Carta Constitucional, quando era outorgado por um monarca, nos regimes
liberais mais conservadores;
- separação dos poderes legislativo, executivo e judicial, entregues a diferentes representantes de forma
a que um déspota não pudesse concentrar em si todos os poderes. Habitualmente, o poder executivo pertencia ao
rei (pois o Liberalismo não significou o fim das monarquias) e aos ministros do Governo, enquanto o poder legislativo
pertencia a assembleias eleitas pelos cidadãos e o poder judicial cabia a juízes eleitos;
- direito dos cidadãos da Nação a fazerem-se representar em assembleias (soberania nacional). As
assembleias, que elaboravam as leis, podiam assumir a forma de uma Câmara única que representava os cidadãos
(nos regimes liberais mais progressistas) ou de um sistema bicameral (no Liberalismo moderado ou conservador)
em que ainda se permitia que os representantes das ordens sociais superiores – clero, nobreza – se reunissem à
parte, depois de nomeados pelo rei.
A soberania nacional não deve de ser confundida com a soberania popular, característica dos regimes
democráticos pois, devido às restrições impostas ao direito de voto com base na fortuna (sufrágio censitário), a
população não era representada na sua globalidade.
4-Relacionar a secularização das instituições com a defesa, pelo Estado, dos direitos
individuais
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Um dos aspectos mais polémicos da implantação do Liberalismo foi a questão religiosa. A defesa dos
direitos individuais dos cidadãos previa o direito à liberdade religiosa; porém, na maior parte dos países que
adoptaram o Liberalismo, as estruturas da Igreja católica foram declaradamente atacadas por serem
consideradas coniventes com o regime absolutista deposto.
Em França, por exemplo, subordinou-se o clero ao Estado através da Constituição Civil do Clero, procedeu-
se a uma campanha de descristianização e à promulgação da Lei do Casamento e do Divórcio que substituía o
sacramento do matrimónio por um contrato civil, passível de dissolução. A laicização do Estado (emancipação do
Estado da influência religiosa) passou, também, pelas seguintes medidas:
- instituição do registo civil para os nascimentos, casamentos e óbitos, substituindo os registos paroquiais;
- criação de escolas e hospitais públicos;
- expropriação e nacionalização dos bens das ordens religiosas, muitas das vezes extintas.
Devido à secularização (sujeição às leis civis) das instituições, o clero viu perder, num curto espaço de
tempo, os privilégios de que havia beneficiado desde a Idade Média; o anticlericalismo chocou uma parte da
sociedade civil, a qual chegou mesmo, por vezes, a identificar-se, de novo, com o Absolutismo – foi o que aconteceu
em França, na revolta da Vendeia, ou em Portugal, na adesão popular a D. Miguel.
5-Caracterizar o liberalismo económico
Ao contrário daquilo que defendia o mercantilismo, o liberalismo económico opunha-se à intervenção do
Estado na economia. De acordo com o valor iluminista do individualismo, devia dar-se total liberdade à iniciativa
privada, pois a procura individual do lucro resultaria, naturalmente, na riqueza e progresso de toda a sociedade.
Destacaram-se vários pensadores na formulação dos princípios do liberalismo económico:
- Adam Smith defende a inteira liberdade de iniciativa dos indivíduos para produzir e comerciar; o Estado
não precisa de se imiscuir na economia pois esta rege-se por leis próprias, em particular a lei da oferta e da
procura e a livre concorrência;
- Quesnay advoga o fisiocratismo, doutrina económica segundo a qual a base da riqueza de cada país está
na agricultura, pelo que se deve incentivar todos os cidadãos a serem agricultores e a comercializarem, em regime
de livre concorrência, os seus produtos agrícolas; o fisiocratismo serviu de base ideológica à revolução agrícola
inglesa do século XVIII;
- Gournay exprimiu o ideal de livre concorrência na famosa expressão “laissez faire, laissez passer” (“deixai
produzir, deixai comercializar”).
A questão da escravatura foi uma das que mais problemas e confrontos provocou.
Na França a escravatura foi abolida no território francês em 1791 mas permaneceu nas colónias devido
aos interesses dos comerciantes e proprietários de plantações das Antilhas. A Convenção aboliu definitivamente
a escravatura em 1794. Restabelecida por Napoleão em 1802 foi definitivamente abolida em 1848.
Nos E.U.A., apesar da Constituição de 1787 que decretava o princípio da igualdade a escravatura continuou ao
longo do século XIX, altura em que o confronto entre adeptos da escravatura e os abolicionistas se tornou mais
duro. Os estados do sul não aceitavam a abolição decretada pelo congresso e o presidente Lincoln em 1860 e
declararam a secessão iniciando-se uma guerra civil entre os estados do norte abolicionistas e os do sul que
pretendiam continuar a utilizar mão-de-obra escrava. A guerra acabou em 1865 com a vitória dos estados do norte
e a abolição da escravatura com a 13ª emenda.
Em Portugal desde Pombal em 1761, que era proibido o transporte de escravos negros para Portugal e propôs a
libertação dos filhos de escravos aqui residentes. A escravidão continuou porém nas colónias a apoiar um intenso
tráfego principalmente com o Brasil. Em 1869 e sem o controlo do Brasil tornou-se possível a abolição do tráfego
a sul do Equador proibindo a sua movimentação para fora do continente africano apoiando pelo contrário o
desenvolvimento económico dos territórios coloniais africanos.
6-Identificar as características do Romantismo
No final do século XVIII e durante o século XIX, percorreu a Europa uma corrente estética com origem
na Alemanha: o Romantismo. As principais características deste movimento cultural devem ser enquadradas no seu
contexto histórico:
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- culto do eu: num tempo marcado por revoluções constantes, quer a nível político (revoluções liberais),
quer a nível económico (revolução industrial), torna-se compreensível que uma das características mais
importantes do Romantismo seja a recusa do racionalismo e da harmonia: o indivíduo centra-se nas suas sensações
subjectivas, deixa que os sentimentos o dominem e procura paisagens dramáticas em consonância com o seu estado
de espírito instável. O herói romântico experimenta, assim, uma insatisfação inexplicável – o “mal do século”;
- exaltação da liberdade – o Romantismo exprimiu, na arte, o desejo de liberdade social e política enquanto, na
prática, se envolvia nas lutas políticas e sociais da sua época. Várias figuras do Romantismo, nacionais e
estrangeiras, combateram, na arte e na vida, pela liberdade dos povos. O Romantismo tornou-se, assim,
sustentáculo do Liberalismo, o que levava Victor Hugo a afirmar: “O Romantismo […] é afinal de contas […] o
Liberalismo em literatura”.
7-Relacionar o nacionalismo romântico com o interesse pela Idade Média
A preocupação romântica em defender as minorias étnicas da sujeição aos estados autoritários (defesa
do princípio das nacionalidades) e o apoio dos românticos aos movimentos de unificação nacional (quer a Itália,
quer a Alemanha apenas se tornaram estados unificados no século XIX) alicerçaram-se no interesse pela Idade
Média: nesse período histórico os românticos encontraram a origem das nações da Europa Ocidental. O
Romantismo recuperou, da Idade Média, as tradições, a arte gótica, a literatura, em suma, tudo o que pudesse
legitimar o seu desejo de liberdade através da busca das “origens”.
Além do mais, os românticos identificavam a Idade Média com a sua própria sensibilidade, encarando-a
como um período apaixonante e de profundo dramatismo .
8-Distinguir os princípios estéticos do Romantismo nas artes plásticas, na literatura e na
música
Desde o final do século XVIII, a literatura registou uma assinalável democratização graças ao avanço da
técnica industrial, que tornou a impressão dos livros e jornais mais barata. As obras literárias românticas
difundiram-se, assim, a um corpo de leitores mais alargado, que acompanhava com entusiasmo o novo estilo, baseado
nos seguintes pressupostos:
- reacção ao classicismo;
- valorização do sujeito e das suas intuições;
- busca do pitoresco e do exótico; - produção de romances com base em factos históricos, sobretudo
medievais (por exemplo, os romances de Walter Scott e de Victor Hugo);
- poesia emotiva (por exemplo, com Goethe e o movimento Sturm und Drang – “Tempestade e Paixão”);
- culto das emoções externas; - culto das literaturas nacionais;
Nas artes plásticas, o Romantismo operou, também, uma revolução assinalável em relação aos paradigmas
do racionalismo neoclássico:
- captação de atmosferas através da cor e da luminosidade (por exemplo, na pintura de William Turner);
- valorização da expressividade e do movimento (por exemplo, nas telas de Delacroix);
- inspiração na Natureza;
- nostalgia de um mundo desaparecido (Oriente, Idade Média). Na música, o Romantismo é emoção pura,
caracterizando-se por:
- apuramento da melodia; - desenvolvimento da sinfonia (destacando-se as sinfonias de Beethoven);
- virtuosismo instrumental (como o demonstram as obras para violino de Paganini ou para piano, de Chopin);
- inspiração na poesia (por exemplo, em Schubert);
- revivalismo do folclore musical (nomeadamente, com Grieg e Sibelius);
- afirmação da ópera (graças aos exemplos incontornáveis de Puccini, Verdi e Wagner).
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3. Em 1878, o método de Thomas e Gilchrist permitia eliminar o fósforo, aproveitando
maiores quantidades de minério.
Na mesma época, a energia eléctrica foi aplicada a uma serie de progressos técnicos que
deslumbraram os seus contemporâneos:
1. A lâmpada eléctrica (grande invento de Edison) substituiu a iluminação a gás nas ruas
e casas, com franca vantagem: ao contrário do sistema anterior, a lâmpada não libertava calor,
não sofria explosões nem intermitências e o consumo era de fácil contagem;
2. A electricidade, aplicada aos mais diversos maquinismos, revolucionou a vida do cidadão
comum.
Surgiram, nomeadamente:
- o comboio eléctrico (criado por Siemens em 1879, embora continuassem
plenamente activos os comboios a vapor);
- o telefone (invenção de Bell, em 1876);
- o cinema (com origem no cinematógrafo de Lumière, em 1895);
- a radiofonia (fruto da aplicação da teoria das ondas hertzianas, em 1887);
- os metropolitanos e os carros eléctricos.
França – Apesar de ter sido o segundo país (após a Inglaterra) a industrializar-se, apenas
alcançou a etapa da maturidade (segundo a teoria do economista Rostow) na primeira década
do século XX, pois carecia de matéria-prima – carvão – e a sua economia dependia ainda,
largamente, de uma agricultura de subsistência.
A industrialização da França assentou, nomeadamente, na electricidade e na produção
automóvel.
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planeta era, ainda, um mundo “atrasado” (na expressão de Pierre Léon), onde o tempo parecia
“imóvel”.
Alguns países tiveram o seu arranque industrial tardiamente: foi o caso do Império
Austro-Húngaro, do Império Russo, da Europa meridional (Portugal, Espanha, Itália, Grécia).
Outros não puderam desenvolver-se porque eram colónias, dependentes das estratégias de
mercado impostas pelas respectivas metrópoles: neste caso temos, por exemplo, os países da
América Latina e do continente Africano.
Por último, temos de salientar, no interior dos países desenvolvidos, os redutos de
tradicionalismo, onde uma agricultura de subsistência, avessa ao campo fechado, coexistia, no
mesmo país, com a agricultura mecanizada e o artesão trabalhava, em casa, perto de uma grande
fábrica.
Concluímos, assim, que a industrialização se processou a diferentes “ritmos”, como se o
tempo passasse mais depressa ou mais lentamente conforme as condicionantes ditadas por cada
região.
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1. Uma fase de crescimento económico, durante a qual a produção aumenta e as
actividades financeiras (banca, bolsa) se expandem, de modo a corresponder à procura dos
consumidores.
2. Uma etapa de crise, isto é, de rápida diminuição da produção e descida dos
preços, numa tentativa de escoar o excesso de produção acumulada (crise de superprodução).
A tendência de baixa da economia conduz rapidamente a falência de empresas e de
bancos e à quebra de investimento na bolsa (crash); a população desempregada não tem meios
para consumir em abundância, o que retira o estímulo à produção.
Em virtude do livrecambismo, a crise expande-se, a breve trecho, pelo mundo
industrializado e respectivas áreas coloniais, originando uma contracção do comércio
internacional.
3. Uma etapa de recuperação, em que a oferta e a procura se reajustam e as
actividades económicas são relançadas (até que uma nova crise venha abalar a economia).
Estas crises – que se distinguem das crises do Antigo Regime por serem crises de
superprodução industrial e não crises de escassez devido a maus anos agrícolas – eram
inerentes ao próprio sistema capitalista, em que o Estado não intervinha na economia; porém,
os elevados custos, não só económicos mas também (e sobretudo) sociais, levaram os governos
a admitir, no final do século XIX, medidas de retorno ao proteccionismo.
No século XX, devido à Grande Depressão dos anos 30, espoletada pela crise de 1929
nos EUA, tornou-se evidente que o liberalismo económico puro tinha de ser refreado pela
intervenção do Estado.
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No século XIX, verificou-se um crescimento muito rápido e acentuado da população
mundial e, em especial, da Europa industrializada, falando-se, por isso, de uma explosão
demográfica.
No entanto, o fenómeno de crescimento populacional não era novo: a ruptura com o
modelo demográfico antigo data de meados do século XVIII.
No século XIX impôs-se o modelo demográfico moderno, cujas características eram:
1. O recuo da mortalidade (geral e, em especial infantil);
2. O declínio da elevada natalidade (a partir de cerca de 1870);
3. A descida da idade do casamento (invertendo a tendência para o casamento tardio,
típica do modelo demográfico do Antigo Regime);
4. O aumento da esperança média de vida para ambos os sexos.
5. O aumento da densidade populacional.
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população urbana da Grã-Bretanha, da França e da Alemanha regista um crescimento
substancial, enquanto a população rural desses países estagna ou decresce);
- a emigração: a população europeia foi responsável por diversas vagas de partida
para as colónias dos continentes africano, americano e oceânico, destacando-se, em especial, o
crescimento urbano nos EUA (em consonância com a sua supremacia económica, Nova Iorque
tornou-se a segunda cidade mundial, em 1900);
- o crescimento dos sectores secundário e terciário: a indústria, o comércio, as
profissões liberais concentram-se nas cidades e requerem cada vez mais efectivos; é o caso,
por exemplo, da cidade de Essen, onde estava sediada a fábrica Krupp e que passou de 2000
habitantes, em 1800, para 443 mil habitantes em 1900.
2. No século XIX, vários urbanistas, preocupados com os problemas sociais que atribuíam
à deficiente habitação operária (alcoolismo, criminalidade, promiscuidade, epidemias,
prostituição, mendicidade), procuraram soluções ideais para integrar harmoniosamente o
operário no espaço industrial.
Ficaram conhecidos por urbanistas utópicos: Charles Fourier lançou a ideia de um
falanstério – edifício para a habitação e o trabalho dos operários – e Godin criou o familistério
ou palácio social, onde as famílias operárias dispunham de alojamento cómodo.
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Distinguir a origem e o destino das migrações internas
O fenómeno urbano esta intimamente ligado ao das correntes migratórias:
no século XIX, a principal origem das migrações internas (dentro do mesmo país) era o
campo - fosse porque uma agricultura mecanizada dispensava mão-de-obra para as fábricas,
fosse porque uma agricultura de subsistência fornecia insuficientes rendimentos – e o principal
destino era a cidade.
A partir de 1850, o êxodo rural foi responsável pelo acentuado crescimento da população
urbana da Europa (sobretudo da Grã-Bretanha e Alemanha).
Para as raparigas do campo, o destino profissional era, na maioria das vezes, o serviço
doméstico.
Porém, um outro tipo de migrações internas era frequente: as deslocações sazonais
(realizadas apenas em certas alturas do ano) para locais onde era necessário, pontualmente, um
acréscimo de mão-de-obra.
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embora iguais perante a lei, se distinguem pelo dinheiro e por todas as vantagens que este
permite conquistar (instrução, profissão prestigiada, lazer).
Deste modo, a unidade do corpo social, conferida pelo igual estatuto jurídico dos
cidadãos (fruto das conquistas do Liberalismo), é fragmentada em dois grandes grupos:
1. a burguesia: é o grupo dominante porque detém os meios de produção, muito embora
ela própria se divida numa hierarquia de diferentes estatutos.
2. O proletariado: é a classe mais baixa que fornece o trabalho à organização industrial.
2.Classes Médias
As classes médias constituem o grupo mais heterogéneo e socialmente flutuante da
sociedade industrial.
Englobam o conjunto das profissões que não dependem do trabalho físico, isto é, o
chamado sector dos serviços.
A sua composição integrava:
a)Pequenos empresários da indústria – embora vulneráveis às crises e aos
consequentes fenómenos de concentração empresarial, foram-se expandindo em número ao
longo do século XIX.
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b)Empregados comerciais – a expansão da revolução industrial criou novos
empregos para fazer chegar o produto ao consumidor do mercado interno (por exemplo, os
empregados de grandes armazéns ou os transportadores)
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- pobreza extrema e todos os valores a esta associados (desnutrição, doenças,
crimes, prostituição, consumo elevado de bebidas alcoólicas, mendicidade.).
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2.Marxismo (socialismo científico) – o filósofo alemão Karl Marx analisou
historicamente os modos de produção, tendo concluído que a luta de classes é um fio condutor
que atravessa todas as épocas.
Baseado neste pressuposto, expôs um plano de acção para atingir uma sociedade sem classes e
sem Estado – o comunismo.
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Evidenciar o aperfeiçoamento do sistema liberal no mundo ocidental, desde as últimas
décadas do século XIX
Desde o século XVIII, foi implantado um sistema liberal moderado em vários países da
Europa nomeadamente em Portugal, na Grã-Bretanha, na França e na Bélgica.
Tratava-se, nesses, países, da eliminação dos regimes absolutistas e da sua substituição
por monarquias constitucionais.
Instaurava-se a soberania nacional, pois os cidadãos activos eram apresentados em
assembleias legislativas.
A partir do terceiro quartel do século XIX, surgiu um novo entendimento do sistema
liberal que daria origem às democracias representativas (demoliberalismo):
1. Alguns países substituíram o sistema monárquico por um regime político
republicano, no qual o chefe de Estado e representante do poder executivo é eleito
periodicamente (por exemplo, Portugal em 1910).
2. O sufrágio censitário (voto reservado apenas aos detentores de um patamar
mínimo de rendimentos) foi substituído por sufrágio universal, que abarcava os cidadãos
maiores de idade. A soberania nacional dava lugar à soberania popular.
No entanto, o voto das mulheres, dos negros e dos alfabetos foi, em geral, uma conquista
difícil.
3. Para aperfeiçoar o sistema representativo, a idade de voto foi antecipada (para
os 21 anos, habitualmente), o voto passou a ser secreto e os cargos políticos passaram a ser
remunerados (abrindo caminho à entrada das classes médias e do operariado na vida política).
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O império Alemão dominava, por exemplo, os polacos; o império Russo, na sua enorme
extensão, abarcava, nomeadamente, os Finlandeses e os Ucranianos; o império Austro-húngaro
era composto por povos eslavos que não reconheciam a supremacia de Francisco José.
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A unificação de Itália e a da Alemanha exprime claramente o nacionalismo oitocentista,
pois cumpriu, simultaneamente, dois objectivos: ligar povos com uma tradição comum e
satisfazer interesses económicos.
A integração de territórios ricos em matéria-prima para a indústria (caso da Alsácia e
Lorena, anexadas pelo Império Alemão) e a conquista de colónias para escoar os produtos
industriais não foram alheios aos anseios nacionalistas do século XIX.
Contextualizar o imperialismo
A formação de impérios pelas potências europeias explica-se, em primeiro lugar, no
contexto da expansão industrial, que necessitava de matérias-primas para a produção
maquinofacturada e de mercados para escoar os excedentes.
Em segundo lugar, o continente europeu, em fase de explosão populacional, precisava de
colónias para aliviar a pressão demográfica.
Por último, os anseios nacionalistas que acompanharam a criação das democracias
europeias tinham uma vertente imperialista.
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O nacionalismo carregava a ideia de conquista: pangermanismos, pan-eslavismo eram
vocábulos correntes na época, utilizados para transmitir o desejo de expansão imperialista de
um povo traduzida no prefixo pan (vocábulo de origem grega que significa tudo ou todo).
2. Livre-Cambismo
– o fomento económico assentou na doutrina livre-cambista, expressa na pauta
alfandegária de 1852. Fontes Pereira de Melo (o qual, além de ministro das Obras Públicas, foi,
também, ministro da Fazenda) era um acérrimo defensor da redução das tarifas aduaneiras,
argumentado que:
- só a entrada de matérias-primas a baixo preço poderia favorecer a
produção portuguesa;
- a entrada de certos produtos industriais estrangeiros (que Portugal não
produzia) a preços mais baixos beneficiava o consumidor;
- a diminuição das tarifas contribuía para a redução do contrabando. 3.
Exploração da agricultura orientada para a exportação
– a aplicação do liberalismo económico favoreceu a especialização em certos
produtos agrícolas de boa aceitação no estrangeiro como, por exemplo, os vinhos e a cortiça.
A aplicação do capitalismo ao sector agrícola passou por uma série de inovações,
nomeadamente:
- o desbravamento de terras (arroteamentos);
- a redução do pousio;
- a abolição de pastos comuns;
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- a introdução de maquinaria nos trabalhos agrícolas (sobretudo no Centro e Sul
do país, pois no Norte a terra é mais fragmentada e irregular);
- o uso de adubos químicos (produzidos nacionalmente, devido ao desenvolvimento
da indústria química).
4. Arranques industriais
– apesar do atraso económico de Portugal em relação aos países desenvolvidos da
Europa, registaram-se alguns progressos a nível industrial:
- difusão da máquina a vapor;
- desenvolvimento de diversos sectores da indústria (nomeadamente
cortiças, conservas de peixe e tabacos);
- criação de unidades industriais e concentração empresarial em alguns
sectores (por exemplo, no têxtil);
- aumento da população operária, sobretudo no Norte do país (apesar de se
tratar maioritariamente de mão-de-obra não qualificada);
- criação de sociedades anónimas;
- aplicação da energia eléctrica à indústria (já no século XX). No entanto, a
economia portuguesa padecia de alguns problemas de base que impediram o crescimento
industrial:
- a falta de certas matérias-primas no território nacional (por
exemplo, o algodão);
- a carência de população activa no sector secundário (totalizava
apenas cerca de 20%, em 1890);
- a falta de formação do operariado e do patronato;
- a orientação dos investimentos particulares para as actividades
especulativas e para o sector imobiliário, em detrimento das actividades produtivas; - a
dependência do capital estrangeiro.
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O ramo dos tabacos, nomeadamente, registou um desenvolvimento assinalável, porém,
ficou na posse do capital estrangeiros a partir de 1891.
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seu expoente máximo, ao estabelecer que a Humanidade alcançará o estado positivo quando o
conhecimento se basear apenas em factos comprovados pela ciência;
- Émile Durkheim sistematizou as regras da nova disciplina das Ciências Sociais: a
sociologia; -Karl Marx analisou os modos de produção ao longo da História, transformando o
socialismo num sistema científico de análise da sociedade (o materialismo histórico ou
socialismo científico).
5-2-O INTERESSE PELA REALIDADE SOCIAL NA LITERATURA E NAS ARTES – AS NOVAS CORRENTES
ESTÉTICAS NA VIRAGEM DO SÉCULO
Evidenciar a modernidade das correntes estéticas do fim do século:
Realismo,Impressionismo, Simbolismo e Arte Nova
A segunda metade do século XIX foi extremamente rica em propostas artísticas;
importa contextualizá-las historicamente:
Realismo – esta corrente afirma uma reacção clara aos pressupostos românticos:
em vez do culto do eu, propõe a análise da sociedade; contrariando a nostalgia do passado,
analisa criticamente a contemporaneidade; por oposição às paisagens dramáticas, representa
cenas banais, e as suas personagens não são heróis, mas pessoas simples.
O desejo de objectividade na arte reflecte a aceitação da corrente filosófica
positivista. O gosto pelo concreto levou a que, na pintura, os artistas Courbet, Millet e Manet
representassem cenas do quotidiano; porém, a tentativa de representar exclusivamente o real
chocou a sociedade burguesa de então.
Impressionismo – foi da tela de Monet Impressão: Sol Nascente que nasceu o termo
impressionistas, utilizado por um crítico, desdenhosamente, para designar o grupo de pintores
(de que se salientam Monet, Renoir, Degas e Cézanne) que desafiaram as convenções artísticas
da época.
O Impressionismo procurava captar, em tela, a fugacidade do real. Aproximava-se da
pintura realista no tratamento de temas vulgares e urbanos, mas aceitava a subjectividade do
olhar, transmitida pelos efeitos de luz e pelas cores inesperadas. Graças à expansão das vias-
67
férreas e à novidade dos tubos de estanho com as cores já preparadas, os pintores
impressionistas puderam trocar os ateliers pelo ar livre.
Arte Nova – assumindo-se, sobretudo, como um estilo decorativo, a Arte Nova resulta
da vontade de imprimir colorido e graciosidade a uma Europa descaracterizada pela
industrialização.
Os artistas da Arte Nova elaboram jóias refinadas (Lalique), adornavam a entrada para
o metropolitano parisiense, ilustravam painéis publicitários com gravuras de mulheres
idealizadas entre flores e folhagens (Mucha).
O requinte e a elegância permitem identificar, rapidamente, todas as facetas da Arte
Nova. Enquanto corrente arquitectónica, a forma ondulada, a aplicação do ferro e a valorização
da estrutura como decoração marcaram as obras de Arte Nova, salientando-se as do arquitecto
Gaudí, em Barcelona.
69
1918 – Fim da 1ª Guerra Mundial
1919 – Conferência de Paz (Paris)
Presença das 3 potências vencedoras:
França (Clemenceau)
Grã-Bretanha (Lloyd George)
E.U.A (Wilson)
Apresenta “14 pontos” (base às negociações), que defendiam:
▬ Diplomacia transparente
▬ Liberdade de navegação e de trocas
Surgem os acordos de paz, concretizados ▬ Redução dos armamentos
em tratados (destaca-se o Tratado de ▬ Respeito para com as nacionalidades
Versalhes) , que implicaram uma nova ▬ Criação de uma liga de nações
politica e uma nova ordem internacional.
1.1.1 A geografia política após a Primeira Guerra Mundial. A sociedade das Nações
Povos que viviam oprimidos no território dos impérios alcançam a independência politica: Estados Nação
Com os impérios autocráticos abatidos e a emancipação de muitas nações por eles subjugadas, acreditou-se no
triunfo da justiça e da igualdade
Extensão dos regimes republicanos e das democracias parlamentares
Criação de um organismo para salvaguardar a paz e a segurança internacionais – a Sociedade das Nações
1.1.2 A difícil recuperação económica da Europa e a dependência em relação aos Estados Unidos
A primeira guerra mundial afectou de modo desigual as economias nacionais e as trocas internacionais:
Declínio da Europa
Ascensões dos países extra-europeus – destacam-se os E.U.A que se tornaram primeira
potência mundial
O declínio da Europa
70
Campos destruídos
Dificuldades de reconversão
Extremamente dependente
Desvalorização Monetária
dos E.U.A (principal (mais grave na Itália e na
fornecedor) Alemanha)
Acumulação de dívidas Inflação
A ascensão dos Estados Unidos e a recuperação europeia
Créditos Americanos
▬ Possuidores de metade do ouro mundial
▬ Prosperidade da sua balança de pagamentos
Empréstimos avultados à Europa
Europa em condições de reembolsar os E.U.A das
▬ Prodigiosa capacidade de produção
dívidas de guerra e dos empréstimos entretanto
▬ Métodos de racionalização do trabalho (Taylorismo)
efectuados
▬ Concentração capitalista de empresas
71
Revolução de Fevereiro
Reunidos numa assembleia popular denominada Soviete, os operários incitavam ao
derrube de czar. A adesão dos soldados ao Soviete resultou no assalto ao Palácio
de Inverno:
Fim do Czarismo – República (Governo Provisório)
Dualidade de Poderes
Revolução de Outubro
Bolcheviques (Guardas Vermelhos) assaltam o palácio de Inverno e derrubam o
Governo Provisório nele sediado.
Poder entregue ao Conselho dos Comissários do Povo (só bolcheviques).
Líderes: Lenine e Trotsky.
Brancos Vermelhos
Opositores ao Bolcheviquismo (apoio de Bolcheviques – dispuseram de um coeso e
Inglaterra, França E.U.A e Japão) desejosos de disciplinado exército vermelho organizado por
evitar a expansão do bolcheviquismo Trotsky
72
Guerra Civil
Vencedores: Vermelhos
Ditadura do proletariado:
Etapa transitória no processo de construção da sociedade socialista.
Detendo a “supremacia politica” o proletariado retiraria “todo o capital à burguesia”
e centralizaria todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, que enquanto
instrumento de domínio de uma classe sobre a outra deixaria de fazer sentido e se
extinguiria. Dando assim lugar ao Comunismo.
▬ Dada a situação da Rússia (Guerra Civil…) e longe de ceder, Lenine tomou medidas
energéticas que conferiram à ditadura do proletariado um carácter violento e
implacável:
Fim da democracia dos Partidos políticos proibidos
Sovietes (excepto o comunista) bem
Nacionalização Económica como os jornais “burgueses”
Trabalho obrigatório (dos 16 Terror – Policia Tcheca (policia
aos 50 anos) politica) – prendia, julgava e
Assembleia constituinte executava rapidamente
dissolvida
Comunismo de Guerra
O centralismo democrático
73
▬ Produção industrial diminuíra
Comunismo de Guerra cede lugar à Nova Política Económica (NEP), um recuo
estratégico que recorreu ao capitalismo. Medidas:
o Camponeses podem ficar com excedências a troco de impostos – podem
vendê-los nos mercados
o Desvalorizam-se as pequenas empresas – devolvem-se aos seus proprietários
o Aceitam ajuda estrangeira
o Eliminam trabalho obrigatório
Aumento dos níveis de produção
O século XX foi o século das grandes cidades. A população urbana superou a das
zonas rurais. Esta urbanização maciça, levou a transformações profundas na vida e
nos valores da civilização ocidental.
A nova sociabilidade
▬ Massificação
▬ Nos tempos livres: lugares públicos (cafés, esplanadas, cinemas…)
▬ Crescimento da classe média
▬ Melhoria do nível de vida Aceleração do ritmo de vida;
Ruptura da rígida moral oitocentista
▬ Nova cultura do ócio (cidade oferece inúmeras distracções)
▬ Prazer do consumo e ânsia de divertimento
▬ Prática desportiva
▬ Convivência entre sexos mais livre e ousada
▬ Surgimento do automóvel
74
A emancipação feminina
Direito das mulheres casadas à propriedade dos seus bens, à tutela dos seus
filhos, ao acesso à educação e a um trabalho socialmente valorizado
Direito de participação na vida política (direito de voto)
▬ Organizam-se associações sufragistas (querem assegurar igualdade politica)
Homens nas trincheiras – mulheres viram-se libertas das suas tradicionais
limitações como donas de casa – assumindo a autoridade do lar e o sustento da
família
Moda: não ao espartilho; saia acima do tornozelo; cabelo à garçonne
O relativismo
As concepções psicanalíticas
75
▬ A psicanálise permite trazer à lembrança os traumas
▬ Neuroses: doença mental que deriva da luta entre o consciente e o inconsciente
▬ A psicanálise estendeu-se também ao mundo da arte dando origem ao movimento
surrealista
O fauvismo
(Paris)
Características:
▬ Primado da cor sobre a forma (cor como forma de expressão)
▬ Cores primárias, muito intensas, brilhantes e agressivas
▬ Pinceladas soltas, violentas e grossos empastes
▬ O colorido autonomiza-se completamente do real
▬ Influência da arte primitiva (destituída de temas perturbadores ou deprimentes)
Pintores:
Henri Matisse
André Derain
O Expressionismo
(Alemanha – Berlim, Dresden, Munique)
Grito de revolta individual contra uma sociedade excessivamente moralista e
hierarquizada onde as inquietações da alma raramente se podiam expressar,
abafadas por normas e preconceitos
Características:
▬ Representação de emoções – temática pesada (angustia, desespero, morte, sexo,
miséria social…)
▬ Figuras humanas intencionalmente deformadas
▬ Ridicularização de grupos como a Burguesia e os Militares
▬ Formas primitivas, simples e distorcidas (que deformavam a realidade para
causar assombro, repulsa angustia)
▬ Grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas livremente
Pintores:
Edvard Munch
Ernst Kirchner
O cubismo
76
(Paris)
Utiliza como linguagem a geometria, decompondo o objecto. Assim a visão parcelar é
substituída por uma visão total dos objectos que passam a ser representados de
várias perspectivas. Revela também a influência da arte africana (máscaras rituais).
Cubismo Analítico Cubismo Sintético
Geometrizam e simplificam formas Elementos fundamentais
Destruição completa das leis da reagrupados de uma maneira mais
perspectiva coerente e lógica
Visão total dos objectos Juntam aos materiais da pintura
representados (estilhaçando a objectos comuns (papeis, cartão,
imagem em vários planos que se tecido, corda…)
sobrepõem Cor regressa
Cores restringem-se: azuis, cinzas,
castanhos
→ Destruiu as leis tradicionais da perspectiva e da representação
→ Abre caminho à arte abstracta
→ Alargou os horizontes plásticos introduzindo neles materiais comuns
Pintores:
Pablo Picasso
Georges Braque
O Abstraccionismo
(Paris)
Formas abstractas que despertam em cada pessoa reacções diferentes, rejeitando
uma realidade concreta.
Abstraccionismo Sensível ou Lírico:
▬ Cores fortes e vibrantes
▬ Abstracções de forma e de cor ▬ Supressão de toda a emotividade
pessoal
Abstraccionismo Geométrico ▬ Linhas rectas e figuras
▬ Expressa a verdade essencial e geométricas preenchidas por
inalterável das coisas manchas de cor
Pintores:
Vassily Kandinsky (Lírico)
Piet Mandrion (Geométrico)
O Futurismo
(Milão)
▬ Rejeição total da estética do ▬ Representação do mundo
passado e exaltação da sociedade industrial: a cidade, a máquina, a
industrial velocidade, o ruído
▬ Admiração pela tecnologia ▬ Ideia de ritmo
moderna e pela velocidade ▬ Movimento criado a partir da
▬ Exaltação da guerra repetição de formas e de cores
Pintores:
77
Umberto Boccioni
Luigi Russolo
O Dadaismo
(Zurich – Suiça)
▬ Desprezo pelo mundo violento, pela ▬ Anti-arte: troça, insulta, critica
sociedade e pelas suas regras ▬ Manifestação do enorme
▬ “Fome de absurdo” (destruir os movimento de revolta intelectual e
fundamentos da arte) artística
▬ Negar a arte e o seu valor
Pintores:
Marcel Duchamp
Francis Picabia
O surrealismo
(França)
▬ Influência de Freud e da Psicanálise
▬ Mundo de interioridade era procurado no inconsciente do artista
▬ Fundir a realidade e o sonho numa surrealidade
▬ Autonomia da imaginação e a capacidade do inconsciente de se exprimir sem
limitações
▬ Universos absurdos, cenas grotescas e estranhas, sonhos e alucinações, cor
usada arbitrariamente
Pintores:
Salvador Dali e René Magritte (surrealistas figurativos)
Joan Miró (surrealista abstracto)
Os caminhos da literatura
Tal como no campo das artes a literatura sofreu uma verdadeira revolução, que pôs
em causa os valores e as tradições literária. Destacam-se então algumas novas
características:
▬ Libertação da obra literária face à realidade concreta
▬ Obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens
▬ Novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica
78
1916 – Portugal entra na Guerra
Acentuo dos desequilíbrios económicos e do descontentamento social.
Falta de bens de consumo
Racionamento e Especulação
Produção industrial em queda
Crescimento do défice da balança
comercial
Divida publica disparou
Diminuição das receitas orçamentais
Aumento das despesas
Multiplicação da massa monetária -
Desvalorização da Moeda – Inflação
Aumento do custo de vida
Poder de compra das classes médias
reduzido a metade
79
História- 10º ano
Objectivos
Agitação Social – Contornos violentos nas grandes cidades
Pintura
Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa… Artistas e escritores mais carismáticos do
modernismo Português. (Muitos deles tinham estudado em Paris)
Modernistas
Muitos revelam-se cosmopolitas Estes foram: cubistas, impressionistas,
Substituem a iconografia rústica pelo Mundanismofuturistas,
boémioabstraccionistas, expressionistas,
surrealistas…
Esquematizam em vez de pormenorizar (de tudo um pouco)
▬ Ao atacarem alicerces da sociedade burguesa (como os seus gostos e valores culturais) – Colheram a indignação e o
sarcasmo
▬ Afastados dos certames e publicações oficiais que os marginalizavam
▬ Veículos de afirmação: exposições independentes, publicações periódicas e espaços públicos que decoravam
81 ▬ Criticas indignadas do escritor Júlio Dantas – Manifesto Anti-Dantas pelos futuristas, associando-o a uma cultura
retrógrada que urgia abater.
▬ Amadeu de Souza-Cardoso (também influenciado pelo futurismo) realiza duas exposições individuais que o vão aproximar
ao grupo de Orpheu, resultando num terceiro numero do mesmo, que não chegou a publicar-se.
▬ Agitação futurista culminou no Ultimatum futurista às gerações portuguesas do séc. XX, por Almada Negreiros.
▬ Logo a seguir, numero único da revista Portugal Futurista considerada “peça fundamental do movimento futurista
português”, porem sendo apreendida pela policia no momento da saída da tipografia.
Uma nova
ordem Liberalismo Totalitarismo
• Democracia Parlamentar • Estado sobre o indivíduo
(população representada no governo) (acima do indivíduo esta o interesse da
• Divisão dos poderes colectividade, a grandeza da Nação e a
• Socialismo supremacia do estado)
(defende a propriedade publica e a çita de • Reforço do poder executivo
classes) • Corporativismo
(aceita a propriedade privada mas tendo
como necessária a intervenção do estado, e
cria coorporações que procuram solucionar
entre si os problemas laborais)
Itália:
Alemanha:
Anti-Semitismo
• Segunda Fase:
‐ Privados de nacionalidade bem como do casamento e relações
sexuais com arianos.
‐ Destruição dos locais de culto e de actividade económica.
Milícias Secções de
‐ Campos
Itália:
Alemanha:
Autarci
a
2.2.2 O Estalinismo
Planificação Económica:
A depressão dos anos 30 revelou as fragilidades do capitalismo liberal. Verificou-se então necessário o
87 intervencionismo do Estado. Este consistiu no papel activo desempenhado pelo Estado no conjunto das
actividades económicas a fim de corrigir os danos ou os inconvenientes sociais derivados da aplicação
rigorosa do liberalismo económico. Concretizou-se:
▬ No controlo dos preços
▬ Nas leis sobre os salários
▬ Na legislação do trabalho e social.
▬ Na origem da participação do estado como empresário e produtor de serviços públicos
O New Deal
Novo presidente dos EUA: Franklin Roosevelt - influenciado por Keynes Intervenção do Estado
federal
Metas: Relançamento da economia e luta contra o desemprego e a miséria – Superar os efeitos da Grande Depressão
A crise de 1929 teve vastas consequências em todo o mundo. O intervencionismo do Estado permitiu às
democracias liberais, como a americana, resistirem à crise económica e recuperarem a credibilidade
política. O mesmo não ocorreu em França, onde a conjuntura recessiva quase pôs em causa o regime
parlamentar. Esta parecia eternizar-se devido à insistência dos governos em políticas deflacionistas que
nada remediavam.
Os governos, desacreditados perante a opinião pública, encontravam-se no centro das críticas de
esquerda e da contestação da direita. Enquanto que os primeiros reivindicavam medidas inspiradas em
Keynes e no "New Deal", os partidos de direita, que formavam ligas nacionalistas de pendor fascista,
acusavam a ineficácia dos governos democráticos, reclamando uma solução autoritária.
Perante a força de extrema-direita, a esquerda formou uma associação que integrava comunistas,
socialistas, socialistas e radicais. Governos de Frente Popular
França - Liderado por Léon Blum, sem o Partido Comunista (1936-1938) - Movimento Grevista
Ficou então consagrado um sistema governativo conhecido por Estado Novo, no qual sobressai:
o forte autoritarismo
o condicionamento das liberdades individuais aos interesses da Nação
Salazar
Repudiou Proclamou (carácter)
Liberalismo Autoritário
Democracia Corporativo
Parlamentarismo Conservador
Nacionalista
O Estado Novo abraçou um projecto totalizante, que se socorreu de fórmulas e estruturas politico-
institucionais decalcadas dos modelos fascistas (particularmente do Italiano). Porém, Salazar condenou
o carácter violento e pagão dos totalitarismos.
Salazar foi uma personalidade extremamente conservadora que sempre repudiou os exageros
republicanos. Assim sendo, o Estado Novo distinguiu-se entre os demais fascismos pelo seu carácter
conservador e tradicionalista. Este:
→ Repousou em valores e conceitos morais que jamais alguém deveria questionar: Deus, a Pátria, a
Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia, a Moralidade, a Austeridade.
→ Respeitou as tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse genuinamente português
→ Enalteceu o mundo rural
→ Protegeu a religião católica
→ Reduziu a mulher ao papel passivo
→ Protegeu as manifestações culturais de influências estrangeiras
Nacionalismo
Por isso, a Constituição de 1933 reconheceu a autoridade do Presidente da Republica como o primeiro
poder dentro do Estado, completamente independente do Parlamente e atribuiu vastas competências ao
Presidente do Conselho (actualmente equivale ao primeiro-ministro), havendo uma partilha de poderes
entre as presidências da Republica e do Conselho.
A Assembleia Nacional limitava-se à discussão das propostas de lei que o Governo lhe enviava para
aprovação.
→ Inferiorizado o poder legislativo
→ Salazar – chefe providencial
→ Culto ao chefe – Salazar o “Salvador da Pátria”
Corporativismo
O enquadramento de Massas
A longevidade do Estado Novo pode explicar-se pelo conjunto de instituições e processos que
conseguiram enquadrar as massas e obter a sua adesão ao projecto do regime.
1933 – Secretariado da Propaganda Nacional (SPN): papel activo na divulgação do ideário do regime
e na padronização da cultura e das artes
1930 – União Nacional (chefiada por Salazar): não partidária, tinha o papel de congregar “todos os
Portugueses de boa vontade” e apoiar incondicionalmente as actividades politicas do Governo.
Porém, a unanimidade pretendida só foi possível com a extinção dos partidos políticos e a limitação
severa da liberdade de expressão.
→ União Nacional transformada em partido único
→ Recorreu-se a organizações milicianas
Ditadura intelectual – Censura prévia à imprensa, ao teatro, ao cinema, à rádio e, mais tarde à
televisão
“Lápis Azul” – proibição da difusão de palavras ou imagens “subversivas” para a ideologia do Estado
Novo
O autoritarismo do Estado Novo levou ao abandono das políticas económicas liberais e à adopção de um
modelo económico fortemente intervencionista e autárcico. Assim sendo, o fomento económico deveria
ser orientado e dinamizado pelo Estado, sujeitando-se todas as actividades aos interesses da Nação.
Dirigismo económico do Estado Novo
A estabilidade financeira
Defesa da Ruralidade
O Estado Novo privilegiava o mundo rural, porque nele se preservava tudo o que de melhor tinha o povo
português. Assim sendo, o Portugal dos anos 30 viveu um exacerbado ruralismo:
→ Destinaram-se verbas para a construção de numerosas barragens – resultou numa melhor irrigação
do solo
→ Junta de Colonização Interna (1936) – fixar a população em algumas áreas do interior
→ Politica de Arborização
→ Fomentou-se a politica da vinha – crescimento da produção vinícola
→ Alargaram-se a produção do arroz, batata, azeite, cortiça e frutas
→ Campanha do trigo (1929-37) – alargar a área de cultura deste cereal – crescimento significativo da
produção cerealífera – conseguiu a auto-suficiência do país
→ Estado concedeu grande protecção aos proprietários adquirindo-lhes produções e estabelecendo o
proteccionismo alfandegário
Obras públicas
O Estado Novo levou a cabo a politica de obras públicas, que recebeu um impulso notável com a Lei de
Reconstituição Económica (1930). Procurou-se combater o desemprego e dotar o país das infra-
estruturas necessárias ao desenvolvimento económico.
O condicionamento industrial
Num país de exacerbado ruralismo a industria não constituiu a prioridade do Estado. O débil
crescimento verificado deveu-se à política de condicionamento industrial concretizada pelo Estado
entre 1931 e 1937. Este modelo determinava que qualquer indústria necessitava da prévia autorização
do Estado para se instalar, reabrir, efectuar ampliações, mudar de local, ser vendida a estrangeiros ou
até para comprar máquinas.
Suspendeu-se ainda a autorização de grandes novas indústrias ou de novos processos produtivos.
Frisou-se que o condicionamento se orientava fundamentalmente para as indústrias que exigissem
grandes despesas e produção ou que produzissem bens de exportação.
O condicionamento industrial (que reflecte o dirigismo económico do Estado Novo) fez assim parte de
93 uma política conjuntural anti-crise, destinada a garantir o controlo da indústria por nacionais e a
regulação da actividade produtiva e da concorrência. Procurava evitar-se a sobre produção, a queda dos
preços, o desemprego e a agitação social. Contudo, o condicionamento industrial acabou por se converter
em definitivo, moldando a estrutura da indústria durante o Estado Novo, e passando assim a criar um
obstáculo à modernização.
A política colonial
O Acto Colonial de 1930 imprimiu um cunho permanente à política colonial do Estado Novo. Nele se
afirmava a missão histórica civilizadora dos Portugueses nos territórios ultramarinos.
Em consequência daquele pressuposto, reforçou-se a tutela metropolitana sobre as colónias e insistiu-
se na fiscalização da metrópole sobre os governadores coloniais e no estabelecimento de um regime
94
Quando o mundo emergiu da Segunda Guerra Mundial, era já clara a alteração de forças nas relações
internacionais. Antigas potências como a Alemanha e o Japão, que tinham sonhado com grandes domínios
territoriais, saíam da guerra vencidas e humilhadas. Outras, como o Reino Unido e a França, Contudo, viam-
se empobrecidos e dependentes da ajuda externa. No quadro da ruína e desolação do pós-guerra, só duas
potências se agitavam: a URSS e os E.U.A.
Adaptação, Isabel Valente
História- 10º ano
Objectivos
Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt, Estaline e Churchill reúnem-se nas termas de Ialta, com o
objetivo de estabelecer as regras que devem sustentar a nova ordem internacional do pós-guerra.
Estabeleceu-se um acordo quanto às zonas de influência dos regimes comunista e capitalista e, embora sem
qualquer documento formal, o certo é que esta hipotética partilha da Europa foi sempre respeitada.
Alguns meses mais tarde, em finais de julho, reuniu-se em Potsdam uma nova conferência com o fim de
consolidar os alicerces da paz.
95 A conferência de Potsdam decorreu num clima bem mais tenso do que a de Ialta. A conferência
encerrou sem alcançar uma solução definitiva para os países vencidos, limitando-se a ratificar e pormenorizar
os aspetos já concordados em Ialta:
Para além de consideráveis ganhos territoriais, a guerra dera à União Soviética um enorme
protagonismo internacional. Estaline participava agora, como parceiro de primeira grandeza, na definição
das novas coordenadas geopolíticas.
A URSS detinha, assim, vantagem estratégica no Leste Europeu. Embora os acordos de Ialta previssem
o respeito pela vontade dos povos, na prática tornava-se impossível contrariar a hegemonia soviética, que não
tardou a impor-se: Entre 1946 e 1948, todos os países libertados pelo exército vermelho resvalaram para o
socialismo. Em pouco tempo, a vida social, política e económica dos países de Leste foi reorganizada em
moldes semelhantes aos da União Soviética.
Em 1946, Churchill pronunciou um discurso onde utilizou a célebre expressão: "cortina de ferro" para
qualificar o isolamento a que estavam votados os países da Europa de Leste colocados "sob a esfera soviética"
e, por isso, fechados ao diálogo com as democracias ocidentais.
Declarou a sua intenção de auxiliar económica e financeiramente os países da Europa de maneira a conter a
expansão do comunismo [política de contenção]
O projecto ficou acordado na Conferência de Teerão e foi depois ratificado em Ialta, onde se decidiu
a convocação de uma conferência com o fim de redigir e aprovar a Carta fundadora das Nações
Unidas.
Iniciada no dia 25-Abril-1945, a Conferência contou com os delegados de 51 nações que afirmara, na
Carta das Nações Unidas, a sua vontade conjunta de promover a paz e a cooperação internacionais.
Segundo a Carta, a Organização foi criada com os propósitos fundamentais de:
Sob o impacto do holocausto e disposta a impedir as atrocidades cometidas durante a 2ª guerra mundial, a ONU
tomou uma função profundamente humanista que foi reforçada pela aprovação da Declaração Universal dos Direitos
do Homem.
Esta Declaração não se limita a definir os direitos e liberdades fundamentais (direito à vida, liberdade de reunião,
associação, expressão, etc.). Os seus redactores atribuíram um importante espaço às questões económico-sociais
(direito ao trabalho, ao descanso, ao ensino...), por as considerarem imprescindíveis a uma vida digna e
verdadeiramente livre.
Órgãos de Funcionamento
· Assembleia Geral: Reúne um representante de cada país do mundo. A Assembleia Geral debate, à
semelhança de um parlamento, os assuntos de interesse da organização.
· Secretariado Geral: O secretariado-geral das Nações Unidas exerce funções diplomáticas cruciais na
resolução dos conflitos do mundo. É eleito pela Assembleia Geral para um mandado de 5 anos.
Adaptação, Isabel Valente
História- 10º ano
Objectivos
· Conselho Económico e Social: destina-se a cumprir o objectivo da cooperação económica, social e
cultural previsto na Carta das Nações Unidas. Actua por meio de agências especializadas e outros órgãos
específicos que se encontram sobre a sua tutela.
· Tribunal Internacional de Justiça: destina-se a resolver, por via pacífica, as quezílias entre os povos,
fazendo com que estes respeitem as leis do direito internacional.
· Conselho de Tutela: este organismo administrava os territórios entregues à ONU, porém, desde 1994
reúne, apenas, ocasionalmente, pois já não tem territórios à sua guarda.
A ONU, que desde 1952 tem sede permanente em Nova Iorque, agrega hoje todos os povos do mundo (191
países). Embora tenha desenvolvido um importante papel no que toca à cooperação internacional, a sua
actuação ficou aquém das expectativas no que concerne à concertação da paz mundial.
O planeamento do pós-guerra não se processou apenas a nível político. Em julho de 1944, um grupo de
conceituados economistas de 44 países reuniu-se em Bretton Woods (EUA) com o fim de prever e estruturar
97 a situação monetária e financeira do período de paz.
Como estrutura de fundo, procedeu-se à criação de um novo sistema monetário internacional que
garantisse a estabilidade das moedas indispensável ao incremento das trocas. O sistema assentou no dólar
como moeda-chave.
o O Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual recorreriam os bancos centrais dos países com
dificuldades em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua balança de pagamentos;
o O Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como
Banco Mundial, destinado a financiar projetos de fomento económico a longo prazo.
As 2 décadas q se seguiram à 2ª Guerra Mundial viram desaparecer extensos impérios coloniais, com
séculos de existência.
A guerra exigiu dos territórios coloniais pesados sacrifícios, contribuindo para aumentar o
descontentamento contra o dominador estrangeiro.
Aos efeitos demolidores da guerra juntaram-se as pressões exercidas pelas duas superpotências, que
apoiam os esforços de libertação dos povos colonizados. Os Estados Unidos sempre se mostraram adversos
à manutenção do sistema colonial. A URSS atua em nome da ideologia marxista e não desperdiça a
possibilidade de entender, nos países recém-formados, o modelo soviético.
Também a ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos do mundo, se constituirá
como um baluarte internacional da descolonização.
Quando, em 1946, Churchill afirmou que uma “cortina de ferro” dividia a Europa, o processo de sovietização dos países
de Leste era já irreversível. Sob a tutela diplomática e militar da URSS, os partidos comunistas ganhavam forças e,
progressivamente, tomavam o poder. Para coordenar a sua atuação, tornando-a mais eficiente, criou-se, em 1947, o
kominform – organismo criado com o objetivo de coordenar a ação dos partidos comunistas europeus na luta contra
o “imperialismo capitalista”. O dinamismo da extensão soviética constituía uma ameaça ao modelo capitalista e liberal,
ameaça essa que era preciso conter.
Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os EUA assumem, frontalmente, a liderança da oposição aos avanços
do socialismo.
O presidente Truman expõe a sua visão de um mundo dividido em dois sistemas antagónicos: um, baseado na
liberdade; o outro, na opressão. Aos Americanos competiria, perante o enfraquecimento da Europa, liderar o mundo
livre e auxiliá-lo na contenção do comunismo – é a célebre doutrina Truman.
Para além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a doutrina Truman deixava também clara a
necessidade de ajudar a Europa a reerguer-se economicamente.
As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e as ajudas de emergência, prestadas pelos Estados
Unidos nos primeiros 2 anos do pós-guerra, só tinham acudido às necessidades mais prementes. O rigoroso inverno
de 1946-47 agravara ainda mais as situações de miséria do Velho Continente, criando um clima político instável, em
tudo propício à difusão das ideias de igualdade e justiça social do marxismo.
É neste contexto que George Marshall anuncia, em junho de 1947, um plano de ajuda económica à Europa.
Conhecido como Plano Marshall, este auxílio foi acolhido com entusiasmo pela generalidade dos países europeus que,
assim, viram reforçados os laços que os uniam aos Estados Unidos da América.
Adaptação, Isabel Valente
História- 10º ano
Objectivos
Pouco depois, um alto dirigente soviético, Andrei Jdanov, formaliza a rutura entre as duas potências: o mundo,
afirma Jdanov, divide-se em dois sistemas contrários: um imperialista e antidemocrático, é liderado pelos Estados
Unidos; o outro, em que reina a democracia e a fraternidade entre os povos, corresponde ao mundo socialista. Lidera-
o a União Soviética.
Em janeiro de 1949, Moscovo “responde” ao plano Marshall lançando o Plano Molotov, que estabelece as
estruturas de cooperação económica da Europa Oriental. Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON,
instituição destinada a promover o desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide da União Soviética.
Os países abrangidos pelo Plano Marshall (OECE) e os países do COMECON funcionaram como áreas
transnacionais, coesas e distintas uma da outra. Deste modo, a divisão do mundo em dois blocos antagónicos
consolidou-se, tal como se consolidou a liderança das duas superpotências.
Este clima de desentendimento e confrontação refletiu-se de imediato na gestão conjunta do território alemão
que, na sequência da Conferencia de Potsdam, se encontrava dividido e ocupado pelas quatro potências vencedoras.
A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que ingleses e americanos olhassem a Alemanha, não
já como inimigo vencido, mas como um aliado imprescindível à contenção do avanço soviético. O renascimento
alemão tornou-se uma prioridade para os americanos, que intensificaram os esforços para a criação de uma república
federal constituída pelos territórios sob ocupação das três potências ocidentais, a República Federal Alemã (RFA).
99 A União Soviética protestou contra aquilo que considerava uma violação dos acordos estabelecidos mas, perante
a marcha dos acontecimentos, acabou por desenvolver uma atuação semelhante na sua própria zona, que conduziu à
criação de um Estado paralelo, sob a alçada soviética, a República Democrática Alemã (RDA).
Este processo de divisão trouxe para o centro da discórdia a situação de Berlim já que na capital, situada no
coração da área soviéticas, continuavam estacionadas as forças militares das três potências ocidentais. Numa tentativa
de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia aos três aliados todos os acessos terrestres à cidade.
O Bloqueio de Berlim, que se prolongou de Junho de 1948 a maio de 1949, foi o primeiro medir de forças entre as
duas superpotências. Esta rivalidade punha em risco os esforços de paz. Nas décadas que se seguiram, as relações
internacionais refletiram esta instabilidade e impregnaram-se de um clima de forte tensão e desconfiança: foi o tempo
da Guerra Fria.
A Guerra Fria
O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos anos 80, altura em
que o bloco soviético mostrou os primeiros sinais de fraqueza. Durante este longo período, os EUA e a URSS
intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o Mundo num permanente
sobressalto. É este clima de tensão internacional que designamos por Guerra Fria.
A Guerra Fria foi uma autêntica “guerra dos nervos” em que cada bloco se procurou superiorizar ao outro, quer
em armamento, quer na ampliação das suas áreas de influência.
Eram duas conceções opostas de organização política, vida económica e estruturação social que se confrontavam:
de um lado, o liberalismo, assente sobre o princípio da liberdade individual; do outro, o marxismo, que subordina o
indivíduo ao interessa da coletividade.
Os Estados Unidos empenharam-se por todos os meios na contenção do comunismo. O Plano Marshall foi o
primeiro grande passo nesse sentido, uma vez que não só permitiu a reconstrução da economia europeia em moldes
capitalistas como estreitou os laços entre a Europa Ocidental e os seus “benfeitores” americanos.
Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou a oficializar-se. A tensão provocada pelo
Bloqueio de Berlim acelerou as negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do Atlântico Norte, firmado entre
os EUA, o Canadá e dez nações europeias. A operacionalização deste tratado deu origem à Organização do Tratado do
Atlântico Norte – OTAN (NATO), talvez a mais importante organização militar do pós-guerra, que se tornou um símbolo
do bloco ocidental.
A sensação de ameaça e o afã em consolidar a sua área de influência lançaram os EUA numa autêntica
“pactomania” que os levou a constituir um vasto leque de alianças, um pouco por todo o Mundo. Em 1959, três quartas
partes do Mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.
Embora de quadrantes muito diferentes, socialistas e democratas-cristãos saíram da guerra prestigiados. Ambos
tinham lutado contra os regimes autoritários vencidos e se apresentavam como uma alternativa credível aos velhos
partidos liberais.
Partidos de orientação idêntica viram elevar-se os seus resultados eleitorais, tendo, em alguns casos, tomado
também as rédeas do poder. Estes partidos conjugam a defesa do pluralismo democrático e dos princípios da livre-
concorrência económica como o intervencionismo do Estado, cujo objetivo é o de regular a economia e promover o
bem-estar dos cidadãos.
A democracia cristã tem a sua origem na doutrina social da Igreja, que condena os excessos do liberalismo
capitalista, atribuindo igualmente aos estados a missão de zelar pelo bem comum. Os princípios do cristianismo devem
enformar todas as ações dos cristãos, incluindo a sua vivência política. Propõem uma orientação profundamente
humanista, alicerçada na liberdade, na justiça e na solidariedade.
Um tal conjunto de medidas modificou, de forma profunda, a conceção liberal de Estado dando origem ao Estado-
Providência que, desde então até aos nossos dias, marcou fortemente a vida das democracias ocidentais.
Ainda durante a guerra, o empenhamento do Estado nas questões sociais foi ativamente defendido por lorde
Beveridge, cujo Relatório de 1942 influenciou decisivamente a política trabalhista. Beveridge confiava que um sistema
social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males sociais”: carência, doença, miséria, ignorância
e ociosidade.
Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo: por um lado, reduz a miséria e o mal-estar social contribuindo
para uma repartição mais equitativa da riqueza; por outro, assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita
descidas drásticas da procura como a que ocorreu durante a crise dos anos 30.
O Estado-Providência foi um fator da grande prosperidade económica que o Ocidente viveu nas três décadas que
se seguiram à Segunda Guerra Mundial.
A prosperidade Económica
101 O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas. Os governos não só assumiram
grandes responsabilidades económicas, como delinearam planos de desenvolvimento coerentes, que
permitiram estabelecer prioridades, rentabilizar a ajuda Marshall e definir diretrizes futuras. Externamente, os
acordos de Bretton Woods e a criação de espaços económicos alargados (como a CEE) tiveram um papel
semelhante, harmonizando e fomentando as relações económicas internacionais.
O capitalismo emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre 1945 e 1973, a produção
mundial mais do que triplicou. As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise. As taxas
de crescimento especialmente altas de certos países, como a RFA, a França, o Japão, surpreenderam os
analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre económico”. Estes cerca de 30 anos de uma
prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os “Trinta Gloriosos”.
A expansão económica dos 30 Gloriosos conjuga o desenvolvimento de processos já iniciados com aspetos
completamente novos. Podemos destacar:
A sociedade de consumo
Quando o 2º conflito mundial terminou a URSS foi responsável pela implantação de regimes comunistas,
inspirados no modelo soviético, por todo o mundo.
102 O expansionismo soviético:
A expansão do comunismo fez-se, em grande parte, sob a égide da URSS. O reforço da oposição militar
soviética e o desencadear do processo de descolonização criaram condições favoráveis quer à extensão do
comunismo, quer ao estreitamento de laços de amizade e cooperação entre Moscovo e os países recentemente
emancipados.
o EUROPA
A primeira vaga da extensão do comunismo atingiu a Europa Oriental e fez-se sob a pressão direta da
URSS. Entre julho de 1947 e julho de 1948, as coligações governamentais desfizeram-se: o partido comunista
tornou-se partido único.
Defendem que a gestão do Estado pertence, em exclusivo, às classes trabalhadoras. Estas, que
constituem a esmagadora maioria da população, “exercem o poder” do Partido Comunista.
Depois da implantação do comunismo, a URSS exerceu um apertado controlo sobre os seus novos
aliados.
Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçados com a constituição do Pacto de
Varsóvia, aliança militar que previa a resposta conjunta a qualquer eventual agressão. O Pacto Varsóvia
constituiu uma organização completamente oposta à OTAN. A união soviética impôs um modelo único, do
qual não admitiu desvios.
Em 1961, a fim de evitar a passagem de cidadãos de Berlim Leste para Berlim Oeste, de onde fugiram
para a RFA e para outros países ocidentais, a RDA ordenou a construção do muro de Berlim.
o ÁSIA
Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime comunista se ficou a dever à intervenção
direta da URSS foi a Coreia. Entre 1950 e 1953 desenrolou-se, na Coreia, uma guerra civil entre o norte, a
República Popular da Coreia, comunista, apoiada pela URSS e o sul, a República Democrática da Coreia,
capitalista, sustentada pelos Estados Unidos. O final da guerra não unificou o país, tornando-se mais uma das
questões por resolver da Guerra Fria.
Nos restantes casos, o triunfo do partido comunista ficou a dever-se a movimentos revolucionários nacionais
que contaram, no entanto, com o incentivo ou o apoio declarado da URSS.
Tal é o caso da China, onde, em outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a instauração de uma
República Popular. Apesar de, posteriormente, se ter afastado da URSS, a China seguiu, nos primeiros anos
do regime comunista, o modelo político e económico do socialismo russo.
o América Latina
103 O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba, onde, um grupo de revolucionários,
sob o comando de Fidel Castro e do Che Guevara. A influência soviética em Cuba confirma-se quando, em
1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação, na ilha, de mísseis russos de médio alcance,
capazes de atingir o território americano.
A exigência firme de retirada dos mísseis, feita pelo presidente Kennedy, coloca o mundo perante a
eminência de uma guerra nuclear entre as duas superpotências. Fruto do seu alinhamento com o bloco
soviético, Cuba desempenhará também um papel ativo na proliferação do comunismo.
o África
Após a 2ª Guerra Mundial, a planificação da economia nos regimes socialistas propiciou uma recuperação
rápida dos prejuízos causados pelo esforço de guerra. Os planos quinquenais apostavam, sobretudo, na
indústria pesada (siderurgia) e nas infraestruturas. A URSS e os países de modelo soviético registaram um
crescimento industrial tão significativo que ascenderam à 2ª posição da indústria mundial.
No entanto, a par destas realizações, as economias da direção central (dirigidas pelo Estado o qual
abolia a iniciativa privada) evidenciavam fraquezas estruturais que comprometiam a longo prazo o seu
sucesso:
Nas cidades, que a industrialização fez crescer a um ritmo muito rápido, a população amontoa-se em
bairros periféricos. As longas filas de espera para adquirir os bens essenciais tornam-se uma rotina diária.
Os bloqueios Económicos
o A planificação excessiva entorpece as empresas, que não gozam de autonomia na seleção das
produções, do equipamento e dos trabalhadores, na fixação de salários e preços, ou na escolha de
fornecedores e clientes;
o Uma gestão burocrática limita-se a procurar cumprir as quantidades previstas no plano, sem atender à
qualidade dos produtos ou ao potencial de rentabilidade dos equipamentos e da numerosíssima mão-
de-obra;
o Nas unidades agrícolas, a falta de investimento, a má organização e o desalento dos camponeses
refletem-se de forma severa na produtividade.
Implementou-se, nos anos 60, um conjunto vasto de reformas em praticamente todos os países da Europa
104 Socialista. O exemplo é dado pela União Soviética.
A escala armamentista
Para além dos esforços postos na constituição de alianças internacionais, os 2 blocos procuravam preparar-
se para uma eventual guerra, investindo grandes somas na conceção e fabrico de armamento cada vez mais
sofisticado.
Nos primeiros anos do pós-guerra, os Estados Unidos tinham o segredo da bomba atómica, que
consideravam a sua melhor defesa. Quando, em Setembro de 1949, os Russos fizeram explodir a sua primeira
bomba atómica, a confiança dos Americanos desmoronou-se.
Em 1952 os americanos testavam, no Pacífico, a 1ª bomba de hidrogénio, com uma potência 1000 vezes
superior à bomba de Hiroxima.
A corrida ao armamento tinha começado. No ano seguinte, os Russos possuíam também a bomba de
hidrogénio e o ciclo reiniciou-se, levando as duas superpotências à produção maciça de armamento nuclear.
O mundo viu também multiplicarem-se as armas ditas convencionais. No fim de 1950, os americanos
consideravam obrigatório aumentar, tão depressa quanto possível, a força aérea, terrestre e naval em geral e a
dos aliados num ponto em que não estivessem tão fortemente dependentes de armas nucleares.
O investimento ocidental nas armas convencionais desencadeou, como era de esperar, uma igual
estratégia por parte da URSS.
Durante a 2ª Guerra Mundial a Alemanha tinha secretamente desenvolvido a tecnologia dos foguetes e
criados os primeiros mísseis. Em 1945, os cientistas envolvidos neste projeto emigraram para a URSS e para
os Estados Unidos, onde desempenharam um papel relevante nos respetivos programas espaciais.
A URSS colocou-se à cabeça da conquista do espaço. A desolação dos Americanos, que até aí tinham
considerado a URSS tecnologicamente inferior, foi grande. Na ânsia de igualarem a proeza russa, anteciparam
o lançamento do seu próprio satélite, mas o foguetão que o impulsionava explodiu e a experiencia foi um
fracasso.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho nacional das duas nações.
105 O “milagre japonês” beneficiou de uma conjuntura favorável. A ocupação americana modernizou as
estruturas políticas e sociais do país. Os Estados Unidos disponibilizaram importantes ajudas financeiras e
técnicas que permitiram uma rápida reconstrução económica (através do Plano Dodge); fizeram aprovar a
Constituição de 1945; incentivaram o controlo da natalidade e o acesso ao ensino. Após a vitória de Mao Tsé-
Tung na China, em 1949, o Japão passou a ser visto como um precioso aliado do bloco ocidental no Oriente.
A mentalidade japonesa foi também um importante fator de crescimento. Os lucros foram reinvestidos
continuamente e os trabalhadores chegavam a doar à empresa os seus pequenos aumentos de salário para
promover a renovação tecnológica.
Esta ligação afectiva entronca na tradição japonesa do trabalho vitalício que transforma o patrão no
protector dos seus funcionários, os quais, por sua vez, dedicam uma incondicional lealdade à empresa.
Os setores que, neste período, adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada e dos bens de
consumo duradouros. O comércio externo acompanha esta expansão: as exportações duplicam, assim como
as importações.
Depois de um período de estagnação, no início dos anos 60, a economia japonesa conheceu um 2º surto
de crescimento tão possante quanto o anterior.
diferenciado do marxismo-leninismo,
Ao contrário do marxismo tradicional, Mao enfatizava o papel dos camponeses, aos quais atribuía a
liderança revolucionária -> maoísmo.
106 O maoísmo assumiu como objetivo a revolução total protagonizada pelas massas e não pelas estruturas
de Poder, para isso, recorreu a grandes campanhas de natureza ideológica. Mao lança, em 1957, uma campanha
de “retificação” dos erros cometidos pelo Partido, cuja atuação parecia afastar-se das massas.
Esta política foi complementada, em 1958, com o “grande salto em frente”: que tinha por base o fomento
da agricultura e a integração dos camponeses em comunas populares lideradas pelo Partido Comunista Chinês.
A prioridade à indústria pesada foi então posta de lado e a ênfase passou para os campos, onde se deviam
desenvolver tanto as produções agrícolas como pequenas industrias locais. No entanto, esta reforma redundou
em fracasso (1960), pois os meios técnicos eram reduzidos e os métodos de trabalho utilizados nas oficinas
eram antiquados.
Em 1964 o culto a Mao e ao maoísmo foi estimulado através da chamada Revolução Cultural, movimento
que pretendia aniquilar todas as manifestações culturais que se afastassem do modelo socialista de Mao. A
propaganda ideológica tinha por base o “livro vermelho” que reunia citações de Mao e que era venerado como
detentor da verdade absoluta. A revolução cultural deu origem a excessos de agitação social que resultaram
na humilhação, perseguição e assassínio de muitos cidadãos considerados contrarrevolucionários. Os esforços
de Mao foram coroados de êxito quando, em 1971, o país entra para a ONU.
A Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir para reencontrar a
prosperidade económica e, se possível, a sua influência política.
O Primeiro passo consistente para a cooperação europeia resultou da Declaração Shumam, que pretendia
a cooperação entre a França e a Alemanha no domínio da produção do carvão e do aço. Desta iniciativa
resultou a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e
Luxemburgo). A CECA estabeleceria uma zona conjunta minero-siderurgica sob a orientação de uma Alta
Autoridade supranacional.
Em 1957, surge, finalmente, a Comunidade Económica Europeia – CEE, constituída pelos 6 países
referidos. A CEE, cujos fundamentos foram expressos no Tratado de Roma (1957) tinha objetivos
predominantemente económicos:
Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional e de fazerem reviver o orgulho perdido, os
líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura comum,
difundindo a ideia de que ela é tão válida como a civilização dos europeus civilizadores.
A luta pela independência assume, assim, a dupla vertente de uma luta política e de uma luta contra a
pobreza e o atraso económico
O processo independentista contou com o apoio da ONU, que, honrando os ideais de igualdade e
justiça, se colocou inequivocamente ao lado dos povos dominados. Em 1960, a Assembleia Geral aprovou a
Resolução de 1514 que consagra o direito à autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e
condena qualquer ação armada das metrópoles.
Um Terceiro Mundo
Nas 3 décadas que se seguiram ao conflito mundial constituíram-se cerca de 70 novos países na Ásia e na
África -> são estes que constituem o Terceiro Mundo.
Um “país de Terceiro Mundo” é aquele onde a população, muito numerosa, é maioritariamente pobre, a
tecnologia é atrasada, os cidadãos têm difícil acesso a bens essenciais, a TMI é elevada e a EMV é mais baixa
do que no mundo desenvolvido.
Adaptação, Isabel Valente
História- 10º ano
Objectivos
Nascido da descolonização, o Terceiro Mundo permaneceu sob a dependência económica dos países ricos.
Tal situação tem perpetuado o atraso destas regiões: por um lado, os lucros das companhias não são
reinvestidos no local; por outro, enquanto o preço dos produtos industriais têm vindo a subir, o valor das
matérias-primas, tem decaído
Considerado um verdadeiro neocolonialismo, tal situação foi, desde logo, denunciada pelas nações do
Terceiro Estado, que reivindicaram, sem sucesso, a criação de uma “nova ordem económica internacional”.
A política de não-alinhamento
Para além da sua ação económica, social, a expressão do Terceiro Mundo reveste também uma conotação
política: os novos países representam a possibilidade de uma terceira via, uma alternativa relativamente aos
blocos capitalista e comunista.
Os países saídos da descolonização cedo se esforçaram por estreitar os laços que os unem e por marcar
posição na política internacional. Em 1955 convoca-se uma conferência para definir as linhas gerais de atuação
dos países recém-formados. A conferência, em Bandung, na Indonésia, reuniu 29 delegações afro-asiáticas.
108 Foi possível adotar um conjunto de princípios que definem as posições políticas do Terceiro Mundo:
condenação do colonialismo, rejeição da política dos blocos, apelo à resolução pacífica dos diferendos
internacionais.
A mensagem da Bandung foi tomando corpo através de sucessivos encontros internacionais que
desembocaram no Movimento dos Não-Alinhados, criado oficialmente na conferência de Belgrado,
empenhando-se no estabelecimento de uma via política alternativa à bipolarização mundial.
A crise afetou essencialmente os setores siderúrgico, a construção naval e automóvel bem como o têxtil.
Muitas empresas fecharam, outras reconverteram a sua produção e o desemprego subiu em flecha.
Paralelamente a inflação tornou-se galopante. Este fenómeno inédito recebeu o nome de estagflação, termo
que aglutina as palavras estagnação e inflação.
Os fatores da crise
Em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP, decidiram subir o preço de venda do petróleo
para o quádruplo, numa tentativa de pressionar o Ocidente a desistir de auxiliar Israel na guerra israelo-
palestiniana.
Um outro fator determinante desta depressão económica foi a instabilidade monetária. A excessiva
quantidade de moeda posta em circulação pelos Estados Unidos levou o presidente Nixon a suspender a
convertibilidade do dólar em ouro, o que desregulou o sistema monetário internacional. Segundo alguns
analistas, foi esta instabilidade monetária, mais do que a crise energética, a responsável pelo enfraquecimento
económico dos anos 70.
A crise dos anos 70 introduziu um novo ciclo económico que intercala períodos de crescimento e estagnação.
Ainda que a um ritmo mais lento, o crescimento económico manteve-se, alguns setores industriais
reconverteram-se, enquanto outros, ligados às novas tecnologias conheceram um forte impulso.
Também no aspeto social esta crise não atingiu a dimensão estratégica da Grande Depressão. As
estruturas do Estado Providência, reforçadas após o 2º conflito mundial, cumpriram cabalmente o seu papel,
109 amparando o desemprego e evitando situações de miséria extrema e generalizada.
A posição de neutralidade que Portugal assumiu na 2ªGuerra Mundial permitiu a sobrevivência do regime
salazarista.
Desfasado politicamente em relação à Europa democrática, o nosso país não soube também acompanhar o
ritmo económico das nações mais desenvolvidas, o atraso português persistiu e, em certos sectores, como o
agrícola, agravou-se.
O país agrário continuava um mundo sobrepovoado e pobre, com índices de produtividade que, em geral, não
atingiam sequer a metade da média europeia.
Face a esta situação, a partir de 1953, foram elaborados Planos de Fomento para o desenvolvimento industrial.
O I Plano (1953-1958) e o II Plano (1959-1964) davam continuidade ao modelo de autarcia e à substituição
A década ficou marcada por um decréscimo brutal da taxa de crescimento do Produto Agrícola Nacional e por
um êxodo rural maciço.
A emigração
Nesta década, para além da atracção pelos altos salários do mundo industrializado, há que ter em conta os
efeitos da guerra colonial.
O Estado procurou salvaguardar os interesses dos nossos emigrantes, celebrando acordos com os principais
países de acolhimento. O País passou, por esta via, a receber um montante muito considerável de divisas: as
remessas dos emigrantes.
Tal facto, que muito contribuiu para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos e para o aumento do
consumo interno, induziu o Governo a despenalizar a emigração clandestina e a suprimir alguns entraves.
O surto industrial
A política de autarcia empreendida pelo Estado Novo não atingiu os seus objectivos. Quanto os países que
tradicionalmente nos forneciam se envolveram na guerra, os abastecimentos tornaram-se precários e espalhou-
se a penúria e a carência.
Assim, logo em 1945, a Lei do Fomento e Reorganização Industrial estabelece as linhas mestras da política
industrializadora dos anos seguintes, considerando que o seu objectivo final é a substituição das importações.
O nosso país assinou, em 1948, o pacto fundador da OECE e, embora tenhamos beneficiado em pouco, a
participação na OECE reforçou a necessidade de um planeamento económico, conduzindo à elaboração dos
Planos de Fomento que, a partir de 1953, caracterizam a política de desenvolvimento do Estado Novo.
No II Plano alarga-se o montante investido para 21 milhões de contos e elege-se a indústria transformadora
de base como sector a privilegiar.
A adesão a estas organizações marca a inversão na política da autarcia do Estado Novo. O Plano Intercalar de
Fomento enfatiza já as exigências da concorrência externa inerente aos acordos assinados, e a necessidade de
rever o condicionamento industrial. O grande ciclo salazarista aproximava-se do fim.
O plano de fomento II, conduziu à consolidação dos grandes grupos económico-financeiros e ao acelerar do
crescimento nacional, que atingiu, então, o seu pico. No entanto, o País continuou a sentir as exigências da
guerra colonial e o seu enorme atraso face à Europa desenvolvida.
A urbanização
Nos anos 50 e 60, Portugal conheceu uma urbanização intensa que absorveu, em parte, o êxodo rural.
111 Crescem, sobretudo, as cidades do litoral oeste, entre Braga e Setúbal, onde se concentram as indústrias e os
serviços. Em Lisboa e Porto, as maiores cidades portuguesas, propagam-se subúrbios, onde se fixam os que
não podem pagar o custo crescente das habitações do centro. Nestes arredores concentra-se a maior parte da
sua população activa.
Esta expansão urbana não foi acompanhada da construção das infra-estruturas necessárias ao acolhimento de
uma população de poucos recursos. Fruto destes desajustamentos, aumentam as construções clandestinas,
proliferam os bairros de lata, degradam-se as condições de vida . As longas esperas pelos meios de transporte
e a viagem em condições de sobrelotação tornam-se a rotina quotidiana de quem vive nos subúrbios.
No entanto, o crescimento urbano teve também efeitos positivos, contribuindo para a expansão do sector dos
serviços e para um maior acesso ao ensino e aos meios de comunicação.
Até aos anos 40, o Estado Novo desenvolvera um colonialismo típico. As décadas seguintes seriam marcadas
por um reforço da colonização branca, pela escalada dos investimentos públicos e privados e pela maior
abertura ao capital estrangeiro. Angola e Moçambique receberam uma atenção privilegiada.
Os investimentos do Estado nas colónias, a partir de 1953, foram incluídos nos Planos de Fomento. O Estado
procedeu, primeiro, à criação de infra-estruturas: caminhos-de-ferro, estradas, pontes, aeroportos, portos,
centrais hidroeléctricas. Ao mesmo tempo, desenvolveram-se os sectores agrícolas e extractivos, virados para
o mercado externo.
No que se refere ao sector industrial, as duas colónias conhecem um acentuado crescimento, propiciado pela
progressiva liberalização da iniciativa privada, pela extensão do mercado interno e pelo reforço dos
investimentos nacionais e estrangeiros.
A ideia da coesão entre a metrópole e as colónias viu-se reforçada (em 1961) com a criação do Espaço
Económico Português (EEP) que previa a constituição de uma área económica unificada, sem quaisquer
entraves alfandegários. No entanto, a subordinação das economias ultramarinas aos interesses de Portugal,
bem como os diferentes graus de desenvolvimento dos territórios coloniais, acabaram por inviabilizar a
efectivação deste “mercado único”.
O final da 2ª Guerra Mundial trouxe o desmantelamento das estruturas do fascismo na Europa. Porém, em
Portugal, permanecia vigente a ditadura salazarista, de tipo fascista. Salazar encenou, então, uma viragem
política, aparentando uma maior abertura, a fim de preservar o poder.
Neste contexto, o governo toma a iniciativa de antecipar a revisão constitucional, dissolver a Assembleia
Nacional e convocar eleições antecipadas, que Salazar anuncia “tão livres como na livre Inglaterra”.
Oposição Democrática:
112 Expressão que designa o conjunto de forças políticas heterodoxas (monárquicos, republica nos, socialistas e
comunistas) que, de forma legal ou semi - legal, se opunham ao Estado Novo, adquirindo visibilidade, face
aos constrangimentos impostos às liberdades pelo regime, em épocas eleitorais. Para garantir a legitimidade
no acto eleitoral, o MUD formula algumas exigências, que considera fundamentais:
As esperanças fracassaram. Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e este desistiu por
considerar que o acto eleitoral não passaria de uma farsa. A apreensão das listas pela PIDE permitiu perseguir
a oposição democrática.
Em 1949 o nosso país tornou-se membro fundador da NATO, o que equivalia a uma aceitação clara do regime
pelos parceiros desta organização. Também em 1949, assiste-se à candidatura de Norton de Matos às eleições
presidenciais. No entanto, face a uma severa repressão Norton de Matos apresentou também a sua desistência
pouco antes das eleições.
Nos anos que se seguiram, a oposição democrática dividiu-se e enfraqueceu. O Governo pensou ter controlado
a situação até que, em 1958, a candidatura de Humberto Delgado a novas eleições presidenciais desencadeou
um terramoto político.
O anúncio de Humberto delgado, com o seu propósito de não desistir das eleições e a forma destemida como
anunciou a sua intenção de demitir Salazar caso viesse a ser eleito, fizeram da sua campanha um acontecimento
único no que respeita à mobilização popular.
Soluções preconizadas
No campo jurídico, a partir de 1951, em vez de colónias, passava a falar-se de “Províncias Ultramarinas” e
em vez de Império Português falava-se em “Ultramar Português”.
A nível interno, a presença portuguesa em África não sofreu praticamente contestação até ao início da guerra
colonial. Excepção feita ao Partido Comunista Português que no seu congresso de 1957 (ilegal), reconheceu
o direito à independência dos povos colonizados.
A luta armada
113
A recusa do Governo português em encarar a possibilidade de autonomia das colónias africanas fez extremar
as posições dos movimentos de libertação que, nos anos 50 e 60, se foram formando na África portuguesa.
o Em Angola, em 1955, surge a UPA (União das Populações de Angola) que, 7 anos mais tarde, se
transforma na FNLA (Frente de Libertação de Angola); o MPLA (Movimento Popular de Libertação de
Angola) forma-se em 1956; e a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge em 1966.
o Em Moçambique, a luta é encabeçada pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) criada
em 1962.
o Na Guiné, distingue-se o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde) em 1956.
Os confrontos iniciaram-se no Norte de Angola, em Março de 1961, com ataques da UPA a várias fazendas e
postos administrativos portugueses.
Em 1963, o conflito alastrou à Guiné e, no ano seguinte, a Moçambique. Abriram-se assim 3 frentes de
combate, que exigiram dos Portugueses um sacrifício desproporcionado: o país mobilizou 7% da sua
população activa e despendeu, na Defesa, 40% do Orçamento Geral do Estado.
O isolamento internacional
No pós-guerra, Portugal e outras potências procuraram travar a marcha dos movimentos independentistas mas
pouco a pouco, todos reconheceram a inevitabilidade do processo descolonizador. Ao contrário, Portugal
pareceu irredutível nas posições inicialmente assumidas.
Seria esta a primeira de uma série de derrotas que, progressivamente, foram isolando os Portugueses e que se
intensificaram.
Em 1961 Portugal esteve particularmente em foco nas Nações Unidas, acabando esta organização por
condenar o nosso país devido ao persistente não cumprimento dos princípios da Carta e das resoluções
aprovadas. Estas disposições repetiram-se insistentemente, com apelos claros a Portugal para que
reconhecesse o direito à autodeterminação das colónias africanas.
Em Setembro de 1968, António de Oliveira Salazar é operado de urgência a um hematoma cerebral. Pouco
depois, dado o agravamento do seu estado de saúde, é substituído por Marcello Caetano. Este, apresentava-se
como um político mais liberal, capaz de alargar a base de apoio do regime.
Logo no discurso da tomada de posse, Marcello Caetano define as linhas orientadoras do seu governo:
114 continuar a obra de Salazar sem por isso prescindir da necessária renovação política. Pretendia-se “evoluir na
continuidade”, concedendo aos Portugueses a “liberdade possível”.
No entanto, o acto eleitoral saldou-se por uma série de atropelos aos princípios democráticos e o mesmo
resultado de sempre: 100% para a União Nacional; 0% para a oposição.
Frustradas as esperanças de uma real democratização do regime, Marcello Caetano viu-se sem o apoio dos
liberais e alvo da hostilidade dos núcleos mais conservadores.
Aquando da escolha de Marcello Caetano, as altas patentes das Forças Armadas puseram, como única
condição, que o novo chefe do executivo mantivesse a guerra em África.
Em tais circunstâncias, a luta armada foi endurecendo e, embora controlada em Angola e Moçambique, a
situação militar deteriorou-se na Guiné, onde o PAIGC adquiriu controlo sobre uma parte significativa do
território.
o Em 1970 o papa Paulo VI recebe os líderes dos movimentos do MPLA, FRELIMO e PAIGC;
o Na ONU, agrava-se a luta diplomática, sofrendo o país a maior de todas as humilhações quando,
em 1973, a Assembleia Geral reconhece a independência da Guiné-Bissau, à rebelia do Estado
português.
No início dos anos 70, o impasse em que se encontrava a guerra colonial começou também a pesar sobre o exército.
Foi este sentimento que induziu o general Spínola a publicar Portugal e o Futuro e foi igualmente este sentimento que
transformou um movimento de oficiais no movimento revolucionário que derrubou o Estado Novo.
115
O Movimento dos Capitães nasceu em Julho de 1973, como forma de protesto contra dois diplomas legais que
facilitavam o acesso dos oficiais milicianos ao quadro permanente do exército. Os oficiais de carreira, sobretudo
capitães, rapidamente viram satisfeitas as suas reivindicações mas, nem por isso, o Movimento esmoreceu.
O Movimento dos Capitães depositou a sua confiança nos generais Costa Gomes e Spínola.
Face a estas posições e ao impacto do livro de Spínola, Marcello Caetano faz ratificar a orientação da política colonial
e convoca os oficiais generais das Forças Armadas para uma sessão solene. Costa Gomes e Spínola não compareceram
à reunião sendo, no mesmo dia, dispensados dos seus cargos.
Estes acontecimentos deram força àqueles que, dentro do Movimento (agora designado MFA – Movimento das Forças
Armadas), acreditavam na urgência de um golpe militar que, restaurando as liberdades cívicas, permitisse a tão
desejada solução para o problema colonial.
Depois de uma tentativa precipitada, em Março, o MFA preparou minuciosamente a operação militar que, na
madrugada do dia 25 de Abril de 1974 pôs fim ao Estado Novo.
Operação “Fim-Regime”
A operação “Fim-Regime” do Movimento das Forças Armadas decorreu sob a coordenação do major Otelo Saraiva
de Carvalho, de acordo com o plano previamente definido: depois da transmissão, pela rádio, das canções-senha, as
unidades militares saem dos quartéis para cumprirem as missões que lhes estavam destinadas.
A única falha no plano previsto – a prévia neutralização dos comandos do Regimento de Cavalaria 7, que não aderira
ao golpe – originou a única situação verdadeiramente difícil com que o MFA se deparou.
No fim do dia, o “Movimento dos Capitães” sagrava-se já vitorioso. Apesar dos insistentes pedidos para que, por razões
de segurança, a população civil se recolhesse em casa, a multidão acorrera às ruas em apoio dos militares a quem
distribuía cravos vermelhos.
Em 1976 o País viveu um período de grande instabilidade e conheceu também grandes tensões sociais e fortes
afrontamentos políticos.
No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação Nacional, que tomou de
imediato medidas:
o O presidente da República e o presidente do Conselho foram destituídos, bem como todos os governadores
116 civis e outros quadros administrativos;
o A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações da Juventude foram extintas, bem como a Censura (Exame
Prévio) e a Acção Nacional Popular;
o Os presos políticos foram perdoados e libertados e as personalidades no exílio puderam regressar a Portugal.
A Junta de Salvação Nacional anunciou a realização de eleições democráticas, no prazo de um ano, para a formação
de uma Assembleia Constituinte, com o objectivo de elaborar uma nova constituição, e decretou de imediato a
liberdade de expressão e de formação de partidos políticos.
Para assegurar o funcionamento das instituições governativas até à sua normalização democrática, a Junta de Salvação
Nacional nomeou presidente da República o general António de Spínola.
No dia 1º de Maio de 1974, gigantescas manifestações de rua celebraram, em unidade, o regresso da democracia. No
entanto, os anos 74 e 75 ficaram marcados por uma enorme agitação social, pela multiplicação dos centros de poder
e por violentos confrontos políticos.
O “período Spínola”
O caminho para a instalação e a consolidação da democracia não foi rápido e pacífico, mas caracterizado por profunda
conflitualidade política e social. Por um lado, o povo e o movimento operário aproveitaram o estabelecimento de
liberdade para exigir melhores condições de vida e aumentos salariais, estalando manifestações e greves pelo país.
Carente de autoridade e incapaz de assumir uma efectiva liderança do País. O I Governo provisório demitiu-se menos
de 2 meses após a tomada de posse, deixando o presidente Spínola isolado na quase impossível tarefa de conter as
forças revolucionárias.
O desfecho destas tensões culminou com a demissão do próprio general Spínola, após o falhanço da convocação de
uma manifestação nacional em seu apoio, e a nomeação de outro militar, o general Costa Gomes, como Presidente
da República.
A revolução tende a radicalizar-se. Para chefiar o II Governo Provisório foi nomeado um militar próximo do PCP, o
general Vasco Gonçalves, enquanto era criado o Comando Operacional do Continente (COPCON) para intervir
militarmente em defesa da revolução, tendo o seu comando sido confiado a Otelo Saraiva de Carvalho, cada vez mais
próximo das posições de extrema-esquerda. Reagindo a este processo, as forças conservadoras tentaram um
derradeiro golpe, em 11 de Março de 1975, que fracassou, obrigando o general Spínola e alguns oficiais a procurar
refúgio em Espanha.
117
As eleições de 1975 e a inversão do processo revolucionário
A inversão do processo deveu-se ao forte impulso dado pelo Partido Socialista à efectiva realização, no prazo marcado,
das eleições constituintes prometidas pelo programa do MFA.
Estas eleições, as primeiras em que funcionou o sufrágio verdadeiramente universal, realizaram-se no dia 25 de Abril
de 1975, marcando a vida cívica e política portuguesa. Tanto a campanha como o acto eleitoral decorreram dentro
das normas de respeito e de pluralidade democrática.
A vitória do Partido Socialista, seguido do Partido Popular Democrático, nas eleições para a Assembleia Constituinte,
veio criar condições para travar a direcção e o rumo que a revolução portuguesa tomara.
Neste Verão de 1975 (conhecido como “Verão Quente”), a oposição entre as forças políticas atinge o rubro,
expressando-se em gigantescas manifestações de rua, assaltos a sedes partidárias e pela multiplicação de organizações
armadas revolucionárias de direita e de esquerda.
É em pleno “Verão Quente” que um grupo de 9 oficiais do próprio Conselho da Revolução, encabeçados pelo major
Melo Antunes, crítica abertamente os sectores mais radicais do MFA: contestava o clima de anarquia instalado, a
desagregação económica e social e a decomposição das estruturas do Estado.
A onde de agitação social que se desencadeou após o 25 de Abril foi acompanhada de um conjunto de medidas que
alargou a intervenção do Estado na esfera económica e financeira. Estas medidas tiveram como objectivo a destruição
Nacionalização:
Apropriação pelo Estado de uma unidade de produção privada ou de um sector produtivo. Na sequência do 25 de
Abril, foram nacionalizadas, num curto espaço de tempo, as instituições financeiras, as empresas ligadas aos sectores
económicos mais importantes, bem como grandes extensões de terra agrícola.
Simultaneamente, foi publicada legislação que permitia ao Estado gerir e fiscalizar todas as instituições de crédito.
Em Novembro, o Estado apropria-se do direito de intervir nas empresas cujo funcionamento não contribuísse
“normalmente para o desenvolvimento económico do país”.
Logo no rescaldo do golpe, aprova-se a nacionalização de todas as instituições financeiras. No mês seguinte, um novo
decreto-lei determina a nacionalização das grandes empresas ligadas aos sectores económicos base.
Estas nacionalizações determinam o fim dos grupos económicos “monopolistas”, considerado o expoente do
capitalismo, e permitem ao Estado um maior controlo sobre a economia.
118 Entretanto, no Sul do País, o mundo rural vive uma situação explosiva.
Em Janeiro de 1975 registam-se as primeiras ocupações de terras pelos trabalhadores e rapidamente esse movimento
se estende a uma vasta zona do Sul.
O processo da reforma agrária recebeu cobertura legal. O governo avança com a expropriação das grandes herdades,
com vista á constituição de Unidades Colectivas de Produção (UCP).
Reforma agrária:
Processo de colectivização dos latifúndios do Sul do País (1975 - 1977). São traços característicos da reforma agrária a
ocupação de terras pelos trabalhadores, a sua expropriação e nacionalização pelo Estado e a constituição de Unidades
Colectivas de Produção (UCP)
Em complemento desta política socializante, foi aprovada legislação com vista à protecção dos trabalhadores e dos
grupos economicamente desfavorecidos:
Numa tentativa de controlar o surto inflacionista, foram tabelados artigos de primeira necessidade, o que, em
conjugação com uma forte subida dos salários permitiu elevar o nível de vida das classes trabalhadoras.
Depois de um ano de trabalho, a Assembleia Constituinte terminou a Constituição, aprovada em 25 de Abril de 1976.
A constituição consagrou um regime democrático e pluralista, garantindo as liberdades individuais e a participação
A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, exactamente dois anos após a “Revolta dos Cravos”.
A Constituição de 1976 foi, sem dúvida, o documento fundador da democracia portuguesa.
O processo descolonizador
A nível interno, a “independência pura e simples” das colónias colhia o apoio da maioria dos partidos que se
legalizaram depois do 25 de Abril e também nesse sentido se orientavam os apelos das manifestações que enchiam
as ruas do país.
Intensificam-se, então, as negociações com o PAIGC, a FRELIMO e o MPLA, a FNLA e a UNITA, únicos movimentos aos
quais Portugal reconhece legitimidade para representarem o povo dos respectivos territórios.
119 Com excepção da Guiné, cuja independência foi efectivada logo em 10 de Setembro de 1974, os acordos
institucionalizavam um período de transição, bastante curto, em que se efectuaria a transferência de poderes.
No entanto, Portugal encontrava-se num a posição muito frágil, quer para impor condições quer para fazer respeitar
os acordos. Desta forma, não foi possível assegurar, como previsto, os interesses dos Portugueses residentes no
Ultramar.
O caso mais grave foi o de Angola. Em Março de 1975, a guerra civil em Angola era já um facto. As forças portuguesas,
carentes de um comando decidido e de meios militares, limitavam-se a controlar os principais centros urbanos.
Em Setembro e Outubro, uma autêntica ponte aérea evacua de Angola os cidadãos portugueses que pretendem
regressar. Em 10 de Novembro o presidente da República decide transferir o poder para o povo angolano.
Fruto de uma descolonização tardia e apressada e vítimas dos interesses de potências estrangeiras, os territórios
africanos não tiveram um destino feliz.
Seis anos após a entrada em vigor, foi efectuada a primeira revisão constitucional. As principais alterações ocorreram
na organização do poder político, uma vez que se conservaram as disposições de carácter económico (nacionalizações,
intervencionismo do Estado, planificação, reforma agrária).
Foi abolido o Conselho da Revolução como órgão coadjuvante da Presidência da República. Na mesma linha, limitaram-
se os poderes do presidente e aumentaram-se os da instituição parlamentar.
O regime viu, assim, reforçado o seu cariz democrático-liberal, assente no sufrágio popular e no equilíbrio entre órgãos
de soberania:
Funções:
Assembleia da República – constituída por deputados eleitos por círculos eleitorais. Cada legislatura tem a duração
de 4 anos e os deputados organizam-se por grupos parlamentares.
Funções:
o Faz leis;
o Aprova alterações à constituição, os estatutos das regiões autónomas, a lei do plano e do orçamento
de Estado;
o Concede ao Governo autorizações legislativas.
120 O Governo – é o órgão executivo ao qual compete a condução da política geral do País. Manda a constituição que o
primeiro-ministro seja designado pelo presidente da República, de acordo com os resultados das eleições legislativas.
Funções:
Os Tribunais – cuja independência a Constituição de 1976 consagrou. A Constituição tornou o poder judicial
verdadeiramente autónomo, proporcionando as condições para a sua imparcialidade. A Revisão de 1982 criou, ainda,
o Tribunal Constitucional.
Funções:
o Verifica previamente a constitucionalidade das leis. Aos tribunais fica cometida a administração da
justiça em nome do povo.
A revolução de Abril contribuiu para quebrar o isolamento e a hostilidade de que Portugal tinha sido alvo, recuperando
o País a sua dignidade e a aceitação nas instâncias internacionais.
Para além deste reencontro de Portugal com o mundo, o fim do Governo marcelista teve uma influência apreciável na
evolução política espanhola. Em Espanha, a morte do General Franco, em 1975, criou condições para uma rápida
transição para a democracia.
No inicio dos anos 80, a URSS encontrava-se numa situação preocupante, o sistema vinha a degradar-se desde
os tempos de Brejnev. Enquanto o nível de vida da população baixava, o atraso económico e tecnológico,
relativamente aos EUA, crescia a olhos vistos, e só com muitas dificuldades o país conseguia suportar os
pesados encargos decorrentes da sua vasta influência no mundo
Em Março de 1985, Mikhail Gorbatchev é eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e
inicia uma política de diálogo e aproximação ao Ocidente, propondo aos Americanos o reinício das
conversações sobre o desarmamento para permitir à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação
interna. O líder soviético procura assim criar um clima internacional estável que refreie a corrida ao
armamento e permita à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação interna.
Neste contexto, Gorbatchev anunciou o seu programa de reformas designado Perestroika. Este programa
previa a alteração do modelo de planificação económica em vigor desde Estaline, [descentralizar a economia],
através da concessão de mais autonomia às empresas, criação de um sector privado com maior grau de
flexibilidade para responder às solicitações do mercado e uma abertura social e política (glasnost,
transparência), de modo a incentivar a participação dos cidadãos e na viabilização da realização de eleições
livres e pluripartidárias – abertura democrática.
Perestroika Glasnost
Conceito: Conceito:
- Reestruturação profunda do modelo - Vertente política da Perestroika que procurou
soviético empreendida por Gorbatchev a partir conciliar o socialismo e a democracia.
de 1958. Propostas: Adaptação, Isabel Valente
- Plano de renovação económica. - Apela à denúncia da corrupção.
Propostas: - Abolição da censura.
- Descentralização da economia (gestão - Abertura democrática – eleições pluralistas e livres.
História- 10º ano
Objectivos
As reformas liberais empreendidas por Gorbatchev tiveram grande impacto nos pais do Leste Europeu.
A inflexão da política soviética e as duras críticas tecidas aos tempos de Brejnev debilitaram a autoridade dos
líderes comunistas dos países do Leste. Ao contrário do que acontecera anteriormente, os partidos comunistas
de leste não contaram com a intervenção militar russa, para normalizar a situação. Confiante no clima de
concórdia que estabelecera com o Ocidente, Gorbatchev passou a olhar para as democracias populares como
uma obrigação pesada, da qual a URSS só ganhava em libertar-se.
A doutrina da soberania limitada foi, assim, posta de lado, e os países satélites da URSS puderam, escolher o
seu regime político. No ano de 1989, uma vaga democratizadora varre o Leste, assistindo se a uma subversão
completa do sistema comunista. Na Polónia, Checoslováquia, Bulgária, Roménia, etc., os partidos comunistas
perdem o seu lugar de “partido único” e realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra. Desta forma,
a cortina de ferro, de dividia a Europa, começa a dissipar-se, as fronteiras com o Ocidente são abertas e nesse
Neste processo, a “cortina de ferro” que separava a Europa levanta-se, as fronteiras com o Ocidente são abertas
e, em 9 de Novembro, cai o Muro de Berlim e depois das negociações entre os dois Estados alemães e os
quatro países que ainda detinham direitos de ocupação, a Alemanha reunifica-se (Tratado 2+4).
No mês seguinte é anunciado, sem surpresa, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a dissolução do
COMECON.
Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já incontrolável, conduzindo,
também, ao fim da própria URSS. O extenso território das Repúblicas Soviéticas desmembra-se, sacudido por
uma explosão de reivindicações nacionalistas e confrontos étnicos.
O processo começa nas Repúblicas Bálticas, anexadas por Estaline durante a 2ª Guerra Mundial.
Gorbatchev, que nunca tivera em mente a destruição da URSS ou do socialismo, tenta parar o processo pela
força, intervindo militarmente nos Estados Bálticos (1991). Esta situação faz com que o apoio da população
se concentre em Boris Ieltsin, que é eleito presidente da República da Rússia, em Junho de 1991.
O novo presidente toma a medida extrema de proibir as actividades do partido comunista.
A Perestroika tinha prometido aos soviéticos uma melhoria acentuada e rápida do nível de vida. Mas, ao
contrário do previsto, a reconversão económica foi um fracasso e a economia deteriorou-se rapidamente.
O fim da economia planificada significou o fim dos subsídios estatais às empresas. Assim, muitas unidades
desapareceram e outras extinguiram numerosos postos de trabalho, considerados excedentários.
Simultaneamente, o descontrolo económico e a liberalização dos preços desencadearam uma inflação
galopante que a subida de salários não acompanhou.
O desemprego, o atraso nos pagamentos das pensões e dos salários dos funcionários públicos, bem como a
rápida perda de valor da moeda significaram o fim das poupanças de muitas famílias, que rapidamente se
viram sem meios de subsistência.
Em contrapartida, a liberalização económica enriqueceu um pequeno grupo que, em pouco tempo, acumulou
fortunas fabulosas. De uma forma geral, a riqueza passou para as mãos de antigos altos funcionários que
aproveitaram as posições chave em que se encontravam. Em meados dos anos 90, 455 do rendimento nacional
encontrava-se nas mãos de menos de 5% da população.
Os países de Leste viveram, também, de forma dolorosa, a transição para a economia de mercado. Privados
dos subsídios que recebiam da União Soviética, a braços com uma redução das trocas na área do antigo
123 COMECON e com as produções nacionais alicerçadas em indústrias e equipamentos obsoletos os antigos
satélites da URSS sofreram uma brusca regressão económica. Tal como a Rússia, o caos económico instalou-
se, as desigualdades sociais agravaram-se, e a taxa de pobreza aumentou num ritmo elevado.
• Hegemonia dos Estados Unidos: supremacia militar, prosperidade económica, dinamismo científico e
tecnológico. Consolidação da comunidade europeia; integração das novas democracias da Europa do Sul; a
União Europeia e as dificuldades na constituição de uma Europa política.
Profundamente desigualitário, o mundo actual concentra a maior parte da sua riqueza e da sua capacidade
tecnológica em 3 pólos de intenso desenvolvimento: os Estados Unidos, a União Europeia e a zona da Ásia-
Pacífico. A este poder económico concentrado, põe-se a hegemonia político-militar de um único país: os
Estados_Unidos.
Os EUA são o quarto maior país do mundo e o terceiro mais populoso. Um PNB de mais de 10.2 biliões de
Os sectores de actividade
Marcadamente pós-industrial, a economia americana apresenta um claro predomínio do sector terciário. A
América é, hoje, o maior exportador de serviços do mundo, sobretudo, na área de seguros, transportes,
restauração, cinema e música. Altamente mecanizadas, as unidades agrícolas e pecuárias americanas têm uma
elevadíssima produtividade. Assim, e apesar de algumas dificuldades geradas pela concorrência, os EUA
mantêm-se como maior exportador de produtos agrícolas. Pelo seu dinamismo, a agricultura americana
alimenta ainda um conjunto de vastas indústrias. Este verdadeiro complexo agro-industrial envolve mais de
20 milhões de trabalhadores e representa cerca de 18% do PIB americano. Responsável por um quarto da
produção mundial, a indústria dos EUA sofreu, nos últimos 30 anos, uma reconversão profunda. Os sectores
tradicionais, entraram em declínio e, com eles, decaiu também a importância económica da zona nordeste.
O partido que os Estados Unidos retiram da sua implantação na América e na área do Pacífico reforçou-se
durante a presidência de Bill Clinton. Numa tentativa de contrariar o predomínio comercial da UE, Clinton
124 procurou estimular as relações económicas com a região do Sudeste Asiático, revitalizando a APEC. No
mesmo sentido, o presidente impulsionou a criação da NAFTA, que estipula a livre circulação de capitais e
mercadorias (não de pessoas) entre os EUA, Canadá e México.
Dinamismo científico-tecnológico.
Liderando a corrida tecnológica, os EUA asseguram na viragem para o séc. XXI, a sua supremacia económica
e militar. Os EUA são, hoje, a nação que mais gasta em investigação científica. Para além dos centros que
dele directamente dependem, o Estado Federal tem um papel decisivo no fomento da pesquisa privada. O
avanço americano fica, também, a dever-se à criação precoce de parques tecnológicos – os tecnopólos –, que
associam universidades prestigiadas, centros de pesquisa e empresas, que trabalham de forma articulada.
A hegemonia político-militar
A libertação do Kuwait (conhecida como Guerra do Golfo) iniciou-se em Janeiro de 1991 e exibiu, perante o
mundo que a seguiu “em directo” pela televisão, a superioridade militar dos Estados Unidos. O exército
iraquiano, o 4º maior do Mundo, com quase um milhão de homens, nada pôde fazer contra as sofisticadas
tecnologias de guerra americanas.
Este 1º conflito pós-Guerra Fria inaugurou oficialmente a época da hegemonia mundial americana.
Assim, o poder americano afirmou-se apoiado pelo gigantismo económico e pelo investimento maciço no
complexo industrial militar. Os E.U.A. têm sido considerados os “polícias do Mundo”, devido ao papel
preponderante e activo que têm desempenhado na geopolítica do Globo.
Multiplicaram a imposição de sanções económicas como recurso para punir os infractores.
Reforçaram o papel da OTAN – função de velar pela segurança da Europa, recorrendo, sempre que
necessário, à intervenção militar armada.
Assumiram um papel militar activo, encabeçando numerosas intervenções armadas pelos motivos
mais díspares.
Nos anos 90 a economia americana parecia imparável, apesar dos sinais de aviso - défice comercial e
enorme dívida externa.
A prosperidade americana, assente nos princípios do comércio livre, é fortemente abalada pelo 11 de Setembro
de 2001, e em especial pelas medidas de segurança tomadas após esse acontecimento (medidas de segurança
- maior controlo sobre os capitais e as pessoas que entram no país).
O sucesso da administração Clinton no controlo do défice orçamental, assim como as medidas sociais e
ambientais, são, em larga medida, apagadas pela administração Bush (filho), com uma política neoliberal
recusando aplicar medidas sociais e ambientais importantes, mas, no entanto, continuando a gastar enormes
somas na guerra contra o terror e na Guerra do Iraque.
O furacão Katrina, veio mostrar as fragilidades sociais dos EUA, levantando-se a questão entre os americanos,
sobre o que vale mostrar poderio militar se não se conseguem resolver os problemas internos? Cresce o
descontentamento com Bush, agravado pela crise que estala em meados de 2008, que leva à sua queda e dos
republicanos.
Barack Obama e os Democratas
Dá-se uma mudança de fundo na Casa Branca - entram os democratas com a vitória de Barack Obama que
coloca a tónica na resolução dos problemas sociais dos EUA, implicando uma maior intervenção do Estado.
Reconhece que o domínio americano sobre o mundo está em declínio e que as medidas adoptadas em questões
de segurança estavam a contribuir para o desprestígio do país.
A União Europeia
125 A construção europeia foi uma história de altos e baixos. Com períodos de grande entusiasmo e outros de
grande cepticismo, unir um velho continente, formado por tantas nações orgulhosas e independentes, parece
um projecto assaz ambicioso. Etapa a etapa, no entanto, o projecto tem progredido, orientando-se por 2
vectores principais: o aprofundamento das relações entre os Estados e o alargamento geográfico da União.
Embora o tratado de Roma abrisse perspectivas para uma completa integração económica e, até, de uma futura
união política, o 1.º grande objectivo da CEE foi a união aduaneira. Os estados membros acordaram o
estabelecimento de uma política agrícola comum, de acções concertadas de combate ao desemprego, de ajudas
às regiões menos favorecidas, de um sistema monetário europeu, entre outras medidas. Apesar destes avanços,
a comunidade enfrentava no início dos anos 80, um período de marasmo e descrença nas suas potencialidades
e no seu futuro. Os esforços do novo presidente conduziram, em 1986 à assinatura do Acto Único Europeu,
que previa, para 1993, o estabelecimento do mercado único onde, para além de mercadorias, circulassem,
livremente, pessoas, capitais e serviços. Em 1990, começam as negociações com vista ao aumento das
competências da comunidade.
Estas negociações desembocam no célebre tratado da união europeia, assinado na cidade holandesa de
Maastricht. O tratado, que entra em vigor em 1993, ao mesmo tempo que o mercado único, estabelece uma
união europeia fundada em três pilares: o comunitário, de cariz económico e de longe, o mais desenvolvido;
o da politica externa e da segurança comum; e o da cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos internos.
Maastricht representou um largo passo em frente no caminho da união, quer pelo reforço dos laços políticos,
quer, sobretudo, por ter definido o objectivo da adopção de uma moeda única, de acordo com um calendário
rigoroso e predeterminado. A 1 de Janeiro de 1999, 11 países, aos quais viera juntar-se a Grécia, inauguram
oficialmente o euro, que entra, então nos mercados de capitais. O euro completou a integração das economias
europeias. A CEE tornou-se a maior potência comercial do mundo, com um PIB conjunto semelhante ao dos
EUA; o seu mercado interno, com mais de 355 milhões de consumidores (Europa dos 15), apresenta um
Em 1981, a Grécia torna-se membro efectivo da comunidade; a adesão de Portugal e Espanha formaliza-se
em 1985, com efeitos a partir do ano seguinte. A entrada destes três novos membros colocou à CEE o seu
primeiro grande desafio, já que se trava de um grupo de países bastante atrasados relativamente aos restantes
membros.
Em 1992, o Conselho Europeu de Lisboa recebeu, com agrado, as candidaturas da Áustria, Finlândia, Suécia
e Noruega, países cuja solidez económica contribuiria para o reforço da comunidade. A Europa passa a
funcionar a 15.
Entretanto, os desejos de adesão dos países de Leste eram olhados com apreensão, limitando-se a comunidade,
no início, a implementar planos de ajuda às economias em transição.
Em 1 de Maio de 2004, a Europa enfrentou o desafio imenso, impensável, de unir o Leste e o Oeste, o Norte
126 e o Sul. Em 2007 entram a Roménia e Bulgária.
Nos últimos 50 anos, os europeus têm-se dividido no que toca ao futuro do seu continente. O eurocepticismo
e a resistência a todas as medidas que impliquem transferências de soberania são comuns a vários estados-
membros. O Tratado de Maastricht para além de ter introduzido o poderoso elemento de coesão que é a moeda
única, criou, também, a cidadania europeia e alargou a acção comunitária a questões como o direito de asilo,
a política de imigração e a cooperação de assuntos internos.
Cidadania europeia: Criada pelo tratado da União Europeia (Maastricht), a cidadania europeia coexiste com a
cidadania nacional tradicional, conferindo aos cidadãos da União, designadamente, o direito de circular e de
residir em qualquer território da União, ter protecção diplomática, apresentar petições ao Parlamento Europeu
e votar (e ser eleito) em eleições para o Parlamento Europeu e em eleições autárquicas na sua área de
residência.
Todos estes assuntos interferem com as políticas nacionais, logo, a polémica instalou-se. Alguns países (Reino
Unido, Dinamarca, Suécia) recusaram adoptar a moeda única (euro).
A forma relutante como muitos europeus vêem a união, resulta em parte, da fraca implantação popular do
sentimento europeísta.
A vontade de que os cidadãos dos estados-membros da União Europeia se identifiquem com o projecto
europeu nem sempre tem sido bem-sucedida. O resultado da união política europeia seria um Governo europeu
comum e um presidente europeu, porém, este projecto transnacional colide com a figura do Estado-Nação
que, embora esteja em crise, ainda é válido para os europeus contemporâneos.
Novas perspectivas.
O designado “milagre japonês” beneficiou de uma conjuntura favorável. As ajudas financeiras e técnicas, por
parte dos EUA, permitiram uma rápida reconstrução económica do Japão. Apesar disto, os japoneses também
criaram condições necessárias à sua prosperidade: um sistema político estável permitiu a actuação concertada
entre o Governo e os grandes grupos económicos. O Estado interveio activamente na regulação do
investimento, na concessão de créditos, na protecção das empresas e o mercado nacional. Também canalizou
a maior parte dos investimentos públicos para o sector produtivo e absteve-se em matéria de legislação social.
A mentalidade japonesa foi também um importante factor de crescimento. Dinâmicos e austeros,
completamente devotados à causa da reconstrução nacional e ao seu trabalho em particular, empresários e
trabalhadores cooperaram estreitamente na realização de objectivos comuns.
Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas altamente competitivo,
o Japão lançou-se à tarefa de transformar na primeira sociedade de consumo da Ásia.
O primeiro grande surto de crescimento ocorreu entre 1955 e 1961 quando a produção industrial praticamente
triplicou. Os sectores que adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada e dos bens de consumo
duradouros. O comércio externo acompanha também esta expansão.
O segundo surto foi entre 1961 e 1971, período durante o qual a produção industrial duplicou e criaram-se 2,3
127 milhões de postos de trabalho. Este crescimento também assenta em novos sectores, como a produção de
automóveis, e televisões.
Tudo isto fez do Japão a terceira maior potência do mundo.
Nos anos 90 tornou-se um pólo de desenvolvimento intenso, capaz de concorrer com os EUA e a UE. A
economia desta região desenvolveu-se em três fases consecutivas: em 1.º lugar emergiu o Japão; depois os
quatro dragões (ou tigres) asiáticos: Hong Kong, Coreia do sul, Singapura e Taiwan; os países do sudoeste,
Tailândia, Malásia e Indonésia, seguidos pela República Popular da China.
Os quatro dragões.
O sucesso do Japão serviu de incentivo e de modelo à 1.ª geração de países industriais do Leste asiático. Não
faltava vontade política, determinação e capacidade de trabalho. Tomando como objectivo o crescimento
económico, os governos procuraram atrair capitais estrangeiros. A industrialização asiática explorou mão-de-
obra abundante e disciplinada, capaz de trabalhar longas horas diárias por muito pouco dinheiro. Esta mão-
de-obra esforçada e barata permitiu produzir, a preços imbatíveis, têxteis e produtos de consumo corrente, que
inundaram os mercados ocidentais. Os “quatro dragões” constituíram um tremendo sucesso económico.
Da concorrência à cooperação.
Apesar do seu enorme êxito, os novos países industrializados (NPI) da Ásia confrontavam-se com dois
problemas graves: o 1.º era a excessiva dependência face às economias estrangeiras; o 2.º era a intensa
rivalidade que os separava. Quando a economia ocidental abrandou, nos anos 70, os países asiáticos foram
induzidos a procurar mercados e fornecedores mais próximos da sua área geográfica. Voltaram-se então, para
os membros da ASEAN, organização económica que aglutinava alguns países do Sudeste Asiático.
A questão de Timor
A ilha de Timor era desde o séc. XVI, um território administrado pelos portugueses. Em 1974 a “revolução
dos cravos” agitou também Timor-leste, que se preparou para encarar o futuro sem Portugal. Na ilha, nasceram
três partidos políticos: UDT, APODETI e FRETILIN.
O ano de 1975 foi marcado pelo confronto entre os três países, cuja violência Portugal não conseguiu conter.
128 O nosso país acabou por se retirar de Timor, sem reconhecer, a legitimidade de um novo governo. Em 7 de
Dezembro de 1975, reagindo contra a tomada de poder pela FRETILIN, o líder indonésio Suharto ordena, a
invasão do território. Assim, Portugal corta relações diplomáticas com Jacarta e apela às Nações Unidas, que
condenam a ocupação e continuam a considerar Timor um território não autónomo. Os factos, porém,
contrariavam estas decisões.
Os indonésios anexaram formalmente Timor, que, em 1976, se tornou a sua 27.ª província. Apesar de
consumada, a anexação de Timor permaneceu ilegítima. Refugiados nas montanhas, os guerrilheiros da
FRETILIN encabeçaram a resistência contra o invasor. Quis o acaso que uma das muitas acções de repressão
sobre os timorenses fosse filmada: as tropas ocupantes abrem fogo sobre uma multidão desarmada que
homenageava, no cemitério de santa cruz, um independentista assassinado. O massacre faz 271 mortos. As
imagens, correram o mundo e despertam-no para a questão timorense. Com a ajuda dos media, Timor mobiliza
a opinião pública mundial e, em 1996, a causa ganha ainda mais força com a atribuição do prémio Nobel da
Paz ao bispo de Díli.
No fim da década, a Indonésia aceita, que o povo timorense decida o seu destino através de um referendo.
Entretanto, dá o seu apoio à organização de milícias armadas que iniciam acções de violência e de intimidação
no território. O referendo deu uma inequívoca vitória à independência, mas desencadeou uma escalada de
terror por parte das milícias pró-indonésias.
Uma onda de indignação e de solidariedade percorreu então o mundo e conduziu ao envio de uma força de
paz multinacional, patrocinada pelas Nações Unidas. Sob a protecção dessa força, o território encaminhou-se,
para a independência.
A 20 de Maio de 2002 nasce oficialmente a República Democrática de Timor Leste.
A China
O arranque da China para o processo de modernização e abertura à economia de mercado teve inicio nos fins
da década de 70, altura em que Deng assumiu o poder. O líder chinês iniciou um processo de grandes reformas
económicas, lançando as bases do desenvolvimento agrícola, industrial e técnico da China.
A aproximação da China ao Ocidente facilitou, após lentas negociações, o acordo com a Grã-Bretanha no
sentido da transferência da soberania de Hong-Kong, a partir de 1997, enquanto, em relação a Macau, a data
acordada com Portugal foi o fim do ano de 1999. Os dois territórios foram integrados na China como regiões
administrativas especiais, com um grau de autonomia que lhes permite a manutenção dos seus sistemas
político e económico durante um período de 50 anos, segundo o princípio “um país, dois sistemas”.
Hong-Kong tem-se mantido como um importante centro comercial e financeiro, desempenhando um papel
activo na atracção de capitais, enquanto Macau continuou a destacar-se como um dinâmico centro de jogo, de
turismo e de produção industrial ligeira (têxteis e brinquedos).
“Continente de todos os males”, a África tem sido atormentada pela fome, pelas epidemias, por ódios étnicos,
por ditaduras ferozes.
Desde sempre muito débeis, as condições de existência dos Africanos degradaram-se pela combinação de um
complexo de factores:
O crescimento acelerado da população, que abafa as pequenas melhorias na escolaridade e nos cuidados de
saúde;
O sentimento nacional não teve, em muitos casos, outras raízes que não fosse a luta contra o domínio
estrangeiro. Era uma base muito frágil, que conduziu, desde logo, a tentativas de secessão e a terríveis guerras
civis.
O fim da Guerra Fria trouxe ao sub-continente alguma esperança de democratização, já que os soviéticos e
americanos deixaram de apoiar os regimes totalitários que consideravam seus aliados. Abandonados à sua
sorte, muitos não tardaram a cair.
Em muitas regiões, as grandes dificuldades económicas, as rivalidades étnicas e religiosas, bem como a ânsia
de apropriação de riquezas, fizeram aumentar a instabilidade.
A persistência de uma sociedade em que os laços tribais se mantêm vivos e fortes tem facilitado as explosões
130 de violência. Embora o tribalismo concorra para estas explosões de ódio, a verdade é que poucos são os casos
em que, por trás, não se escondem ambições políticas ou interesses económicos.
Descolagem contida e endividamento externo na América latina;
Os países latino-americanos procuraram libertar-se da sua extrema dependência face aos produtos
manufacturados estrangeiros. Encetaram, então, uma política industrial proteccionista com vista à substituição
das importações. Orientado pelo Estado este fomento económico realizou-se com recurso a avultados
empréstimos.
Nas décadas seguintes, estes empréstimos, mal geridos, tornaram-se um fardo difícil de suportar.
Esta situação fez-se sentir com mais força nas nações latino-americanas, as mais endividadas do Mundo.
A divida externa reflectiu-se no agudizar da situação económica das populações latino-americanas, pois foi
necessário tomar medidas de contenção económica como despedimentos e redução dos subsídios e dos
salários.
Face a tão maus resultados, a salvação económica procurou-se numa política neoliberal. Procederam à
privatização do sector estatal, sujeitando-o à lei da concorrência e procuraram integrar as suas economias nos
fluxos do comércio regional e mundial.
O comércio registou um crescimento notável e as economias revitalizaram-se. No entanto, em 2001, 214
milhões de latino-americanos viviam ainda mergulhados na pobreza
A região do Médio Oriente é uma zona instável que tem assumido um protagonismo crescente no panorama
mundial. A riqueza petrolífera dos países do Golfo Pérsico e o avanço da luta fundamentalista alteraram
profundamente as coordenadas políticas internacionais.
O fundamentalismo emergiu no mundo islâmico como uma afirmação da identidade cultural e de fervor
religioso. Revalorizando o ideal de “Guerra Santa”, os fundamentalistas procuram no Corão as regras da vida
política e social para além da religiosa. Assim, rejeitam a autoridade laica, transformando a sharia (lei
corânica) na base de todo o direito, e contestavam os valores ocidentais que consideram degenerados e
malignos.
A questão israelo-palestiniana
Apoiados pelos Estados Unidos e pelos judeus de todo o mundo mobilizados pelo sionismo internacional, os
131 israelitas têm demonstrado uma vontade inflexível em construir a pátria que sentem pertencer-lhes.
No campo oposto, os árabes defendem igualmente a terra que há séculos ocupam. A sua determinação em não
reconhecer o Estado de Israel desembocou em conflitos repetidos que deixaram patente a superioridade militar
judaica. Tal situação induziu os Israelitas a ocuparem os territórios reservados aos Palestinianos onde
instalaram numerosos colonatos.
Neste contexto, a revolta palestiniana cresceu e encontrou expressão política na OLP – Organização de
Libertação da Palestina.
Na sequência de uma violenta revolta juvenil nos territórios ocupados - a intifada -, os Estados Unidos
pressionaram Israel para abrir negociações com a OLP que, conduzidas secretamente desembocam no
primeiro acordo iraelo-palestiniano.
Assinado em 1993, em Washington, o acordo estabeleceu o reconhecimento mútuo das duas partes, a renúncia
da OLP à luta armada, a constituição de uma Autoridade Nacional Palestiniana e a passagem progressiva do
controlo dos territórios ocupados para a administração palestiniana.
Uma escalada de violência tem martirizado a região. Aos atentados suicidas, cada vez mais frequentes, sobre
alvos civis israelitas, o exército judaico responde com intervenções destruidoras, nos últimos redutos
palestinianos.
Criada após a 1ª Guerra Mundial, a Jugoslávia correspondeu ao sonho sérvio de unir os “Eslavos do Sul”, mas
foi sempre uma entidade artificial que aglutinava diferentes nacionalidades, línguas e religiões.
Em Junho de 1991, a Eslovénia e a Croácia declaram a independência. Recusando a fragmentação do país, o
presidente sérvio Slobodan Milosevic desencadeia a guerra que só cessa, no inicio do ano seguinte, após a
intervenção da ONU.
Pouco depois, a Bósnia-Herzegovina proclama, por sua vez, a independência e a guerra reacende-se.
No fim da década, o pesadelo regressa aos Balcãs, desta feita à região do Kosovo, à qual, em 1989, o Governo
sérvio tinha retirado autonomia. Face à revolta eminente, desenrola-se uma nova operação de “limpeza étnica”
que a pressão internacional não conseguiu travar. A OTAN decidiu, então, intervir de novo, mesmo sem
mandato da ONU.
No entanto, todos sabemos que, positiva ou negativamente, no centro da discussão está o fenómeno da
GLOBALIZAÇÃO, que acaba e acabará sempre por afectar os comportamentos humanos.
Com o desmembramento do mundo comunista, consagra-se a democracia e a economia de mercado. Esta joga-
132 se já não por decisão dos governantes dos diferentes países, cujo poder é cada vez menor, mas com base em
determinações de entidades supranacionais que parecem colocar em causa a existência do Estado-Nação.
O debate sobre a relação entre Globalização e desenvolvimento está na ordem do dia. Neste debate surge a
questão "A globalização diminui ou aprofunda as desigualdades?". Se hoje as pessoas têm facilidade no acesso
às novas tecnologias da informação e da comunicação, também constatamos que este mundo global radicaliza
os conflitos étnico-religiosos e cria novas exigências ao nível da segurança.
O debate do Estado-Nação;
As identidades agitam-se no mundo com uma intensidade acrescida desde as últimas décadas do séc. XX.
Quase sempre, as tensões étnicas e separatistas são despoletadas pela pobreza e pela marginalidade em que
vivem os seus protagonistas, contribuindo para múltiplos conflitos que, desde os anos 80, têm ensanguentado
a África, os Balcãs e o Médio Oriente, o Cáucaso, a Ásia Central e Oriental.
Ao contrário dos conflitos interestáticos do período da Guerra Fria, as novas guerras são maioritariamente
intra-estáticas.
Na região do Cáucaso, as tensões étnicas mostram-se particularmente violentas em território da ex-
União Soviética;
No Afeganistão, as últimas décadas têm assistido a um crescendo de violência e desentendimento;
No Indostão, a Índia vê-se a braços com a etnia sikh, que professa um sincretismo hindu e muçulmano
e que se disputa com a maioria hindu;
No Sri Lanka, a etnia tamil, de religião hindu, enfrenta os budistas cingaleses;
E no Sudeste Asiático, só bem recentemente (em 2002) Timor Leste conseguiu libertar-se da
Indonésia, depois de massacres cruéis da sua população.
133
Na verdade, o genocídio tem sido a marca mais terrível dos conflitos étnicos. Multidões de refugiados cruzam
fronteiras, chamando o direito à vida que as vicissitudes da História e os erros dos homens lhes parecem negar.
Os Estados mostram-se impotentes para controlar as redes mafiosas e terroristas que se refugiam nos seus
territórios e actuam impunemente.
Dificilmente vivemos imunes aos acontecimentos que nos chegam pelos media.
As questões transnacionais cruzam as fronteiras do Mundo, afectam sociedades distantes e lembram-nos que
a Terra e a humanidade, apesar das divisões e da diversidade, são unas. Resolvê-las, minorá-las, ultrapassa o
controlo de qualquer Estado-Nação, exigindo a colaboração da ONU, de organizações supranacionais,
regionais e não governamentais.
Migrações
Em 2000 existiam no Mundo cerca de 150 milhões de pessoas a viver num país que não aquele onde tinham
nascido. Tal como há 100 anos os motivos económicos continuam determinantes nas mais recentes nas
migrações.
Mas os motivos políticos também pesam, especialmente se nos lembrarmos dos múltiplos conflitos regionais
das últimas décadas.
A este estado de tensão e guerra se devem os cerca de 20 milhões de refugiados que o Mundo contabiliza no
início do séc. XXI. O Sul surge-nos como um local de vastos fluxos migratórios.
Os países com maior número de imigrantes encontram-se, no entanto, no Norte.
Sem que possamos falar num aumento de imigrantes relativamente à população total do Globo, registam-se,
no entanto, mudanças na sua composição. Há mais mulheres e mais pessoas com maior formação académica
e profissional que outrora.
Interculturalidade
Perspectiva que se caracteriza pela valorização do contacto entre culturas diferentes no sentido de promover
mecanismos de interpretação, de compreensão e de interacção entre elas. Distingue-se do etnocentrismo e do
multiculturalismo: o 1º obstaculiza o contacto entre culturas a partir do pressuposto de superioridade de uma
cultura dominante e da interpretação da outra à luz dos próprios valores; a 2ª limita-se a constatar a diversidade
de culturas, sem se preocupar em promover formas de diálogo entre elas.
Segurança
Ambiente
O ambientalismo constitui uma questão incontornável do nosso tempo e um desafio a ter em conta no futuro.
A degradação do planeta acelerou-se no último século, devido ao crescimento demográfico e das
transformações económicas experimentadas pela Humanidade. A população mundial, que cerca de 1950
atingia os 2,5 mil milhões de seres humanos, mais do que duplicou até ao fim do séc.XX. Ora, mais população
Os choques petrolíferos dos anos 70, a inflação, o abrandamento das actividades económicas e o desemprego,
testemunhavam uma poderosa crise.
Denominada de neoliberalismo, uma nova doutrina económica propõe-se reerguer o capitalismo tendo como
grandes laboratórios a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Atento ao equilíbrio orçamental e à redução da inflação, o neoliberalismo, que defende o respeito pelo livre
jogo da oferta e da procura, envereda por medidas de rigor. O Estado neoliberal diminui fortemente a sua
intervenção económica e social. Pelo contrário, valoriza a iniciativa privada, incentiva a livre concorrência e
a competitividade.
No mundo dos anos 80, caminhava-se a passos largos para a globalização da economia.
A globalização apresenta-se como um fenómeno incontornável. Apoiadas nas modernas tecnologias da
informação e da comunicação (TIC), a concepção, a produção e a comercialização de bens e serviços, bem
como os influxos dos imprescindíveis capitais, ultrapassam as fronteiras nacionais e organizam-se à escala
planetária
Os mecanismos da globalização
Possuindo uma tendência para a internacionalização, as grandes empresas sofrem mudanças estruturais e
adoptam estratégias planetárias.
Desde os anos 90, aumenta o número de empresas em que a concepção do produto ou do bem a oferecer, as
respectivas fases de fabrico e o sector da comercialização se encontram dispersos à escala mundial.
Eis-nos perante as firmas da era da globalização, as chamadas multinacionais ou transnacionais. É essa lógica
de rendibilidade das condições locais que conduz, em momentos de crise ou de diminuição de lucros, as
multinacionais a abandonarem certos países. Encerram aí as suas fábricas e/ou estabelecimentos comerciais,
para os reabrirem noutros locais. A este fenómeno chama-se deslocalização, sendo-lhe atribuída a principal
razão do desemprego crónico que grassa no Mundo.
O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em
finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista dos
anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e serviços.
Já os detractores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e
exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projecto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos entre
homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “ um outro mundo é
possível”.
O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita acesos debates em
finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima crise inflacionista dos
137 anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade acederam a uma profusão de bens e serviços.
Já os detractores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem casos gritantes de pobreza e
exclusão. E apontam o dedo ao desemprego, verdadeiramente incontrolável.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projecto de um desenvolvimento equilibrado, que elimine os fossos entre
homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o planeta. Porque “um outro mundo é
possível”.
A ciência e a inovação tecnológica continuam a ter uma predominância no sector do investimento público,
sobretudo naqueles países que não querem perder o “comboio” do progresso e desenvolvimento.
Globalização
Estimula investigação cientifica e inovação tecnológica pelos governos e empresas privadas para melhorar
desempenhos na:
Educação,
No exercício profissional e Produção de bens e serviços
Nas últimas décadas surgiram grandes inovações na área da electrónica da informática (suporte físico da
informática), nomeadamente:
Revolução da Informação
A evolução das diversas formas de transmitir informação, como a televisão, o rádio e o computador, fez com
que se despoletassem uma série de alterações sociais, económicas e políticas que alteraram profundamente a
face do mundo antes desta era, resultando como factor dominante a globalização ou a criação da chamada
"aldeia global".
O advento da Internet em 1969 marcou o contexto da globalização, tendo permitido que uma base de dados
gigantesca fosse partilhada em todo o mundo, com possibilidade de acesso por qualquer utilizador, tendo o
World Wide Web tornado possível a partilha de informação em multimédia e hipertexto. Os Estados Unidos
da América passaram a dominar quase tudo ao que à informação diz respeito, seja através de empresas como
a Apple, a Intel, a Microsoft ou a IBM, seja por possuir alguns dos bancos de dados de diversas áreas mais
completos a nível mundial, seja pela emissão e possessão dos meios de difusão informativa, como satélites
(sendo o primeiro satélite intercontinental americano o Telstar I, de 1962) e outros. A partir de 1980 e com o
aparecimento da CNN (Cable News Network) iniciou-se um novo período em que o espectador tem acesso à
informação em primeira mão, sem filtros de qualquer género e que cria uma situação de igualdade entre todos
os públicos, tornando muitas vezes urgentes as reacções políticas, sociais e económicas em determinadas
138 ocasiões e face a certos acontecimentos (conflitos, desastres, crimes…). Por outro lado, a informação
transmitida pode pecar pela imparcialidade e pelo sensacionalismo, uma vez que a manutenção das audiências
passa pela renovação de notícias estrondosas que o espectador busca incessante e sequencialmente. A difusão
da informação ganhou uma dimensão política, uma vez que, face ao impacto e monopólio que atingiram as
associações ocidentais de multimédia, interveio inclusivamente nas correntes de capitais e na orientação
muitas vezes decisiva da opinião pública. Tendo-se entretanto e progressivamente criado códigos éticos no
âmbito jornalístico, manifestaram-se contudo fortes oposições a esta manipulação, como o processo instaurado
por alguns países, através da UNESCO, contra os meios de comunicação de cariz imperialista (que provocou
a saída em 1985 da Inglaterra e dos EUA desta instituição), os ataques muçulmanos às antenas parabólicas e
a "Nova Ordem Mundial de Informação e Comunicação" praticada pelos Países Não Alinhados, que combateu
difusoras como a Reuters e a Associated Press. A era da informação eliminou muitos hábitos humanos, como
as brincadeiras de crianças ao ar livre (que preferem desenhos animados e jogos de vídeo e computador), as
visitas a museus, a frequência de bibliotecas e as idas ao teatro e ao cinema, uma vez que a tudo se pode aceder
por meios informáticos. Estimulou igualmente o sedentarismo e a sensação de inutilidade de cada ser para o
Mundo ao proporcionar a recepção de produtos em casa (alimentos, objectos), o trabalho a partir de casa, as
comunicações de qualquer género efectuadas sempre em e a partir de casa... Por outro lado, o mais comum
dos cidadãos pode tornar-se meio de informação, com filmagens caseiras de acontecimentos fortuitos, formato
adoptado por muitos jornalistas e que, ao denunciar muitas vezes incompetências de personagens e
instituições, tornou, por um lado, estas filmagens provas aceites pela lei, e por outro criou um tipo de
jornalismo pseudo-justiceiro. Todos estes factores induziram à difusão de um processamento de informação
imediato e simplista, em detrimento de análises mais profundas e contextualizadas, formatando muitas vezes
uma forma de pensar que não inclui a reflexão. Da mesma maneira, assistiu-se a uma instrumentalização dos
"media", por parte de determinados governos, para a solidificação da ideologia e do poder, perceptível ou
imperceptivelmente.
Revolução de telecomunicações
Vantagens da biotecnologia:
Produção de alimentos transgénicos (numa altura em que se morre de fome no mundo)
Clonagem de animais e plantas (proporciona o aumento da produção agro-pecuária)
Uso de células estaminais na investigação médica (para produção de tecidos e órgãos humanos para
transplante e na medicina regenerativa
Descodificação genética incluindo genoma humano.
Nos anos 80 surgem novas concepções intelectuais e artísticas a que se deu o nome de Pós-modernismo
Pintura:
Pintura mais autêntica e mais intensa liberta de convenções e de seguidismos vanguardistas
Propõe-se a revitalizar a arte incorporando diferentes contributos e estilos do passado (expressionismo,
abstraccionismo, futurismo, dadaísmo ou surrealismo) e a pop-art (1ª forma de arte pós-modernista)
Pintura Neo-expressionista
O expressionismo foi renascido na Alemanha caracterizando-se pela pintura figurativa com formas distorcidas
e com cores dissonantes
Pintura transvanguardista:
Surgiu na Itália com as preocupações pós-modernistas na pintura em que as figuras deformadas e grotescas se
revelam fortemente perturbadoras
Arte-vídeo:
Tecnologias de informação como objecto de expressão criativa
Utilização de tv e pc’s para manipulação de imagens e sons
Arte Graffiti:
Surge nos anos 80, em Nova York, nos corredores do metro e nos bairros degradados, sem intenção artística,
mas passando de poluição visual a embelezamento de cidades.
Desde as últimas décadas do séc. XX há uma revivescência do fervor religioso no ocidente e no mundo
Na Igreja católica com João Paulo II que galvanizou populações por onde passava
Nos EUA incentivou a consolidação do fundamentalismo cristão, multiplicação de seitas, sucesso dos videntes
e da astrologia (ascensão do sentimento religioso, busca do divino e da espiritualidade)
A integração europeia e as suas implicações. As relações com os países lusófonos e com a área ibero-
americana.
A opção atlântica
A opção atlântica, no entanto, não ficou esquecida como prova a fundação da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), que é uma organização assinada entre países lusófonos, que consolida a aliança e
a amizade entre os signatários. A sua sede fica em Lisboa.
141 A CPLP foi criada em 17 de Julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal e São Tomé e Príncipe. No ano de 2002, após conquistar a independência, Timor-Leste foi acolhido
como país integrante. Na actualidade, são oito os países membros da CPLP.
Apesar da iniciativa, a CPLP é uma organização jovem buscando pôr em prática os objectivos de integração
dos territórios Lusófonos. Em 2005, numa reunião em Luanda, Angola, a CPLP decidiu que no dia 5 de Maio
seria comemorado o Dia da Cultura Lusófona pelo mundo.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa abriga uma população superior a 230 milhões de habitantes,
e tem uma área total de 10.742.000 km² - maior que o Canadá, segundo maior país do mundo. O PIB de todos
os países, somados, supera US$ 1.700 trilião. A CPLP já foi decisiva para alguns de seus países (na Guiné-
Bissau, por exemplo, a CPLP ajudou a controlar golpes de estado).
Foi constituída em 1996 por Portugal, Brasil e PALOP e foi alargada em 2002 com a entrada de Timor
A comunidade traduz-se, pela concertação político-diplomática entre os seus membros em matéria de
relações internacionais como:
Brasil
O Brasil é um caso que merece destaque, devido à sua dimensão e à importância económica que tem
para Portugal, as relações económicas entre estes dois países intensificam-se nos anos 90. O nosso país
encontra no mercado brasileiro boas condições no investimento na metalomecânica, no têxtil, em
142 energias alternativas, no turismo e nas telecomunicações. A EDP, o grupo SONAE, a CIMPOR e a Portugal
Telecom são algumas das empresas portuguesas que têm beneficiado destes laços entre os países. Estes
laços também se intensificam no contexto dos fluxos migratórios.
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