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‘BirthStrike’: greve de nascimento e a luta contra o aquecimento global

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”
Machado de Assis (Memórias póstumas de Brás Cubas)

“Filhos? Melhor não tê-los!”. Assim começa o Poema Enjoadinho de Vinicius de Moraes. Mas
numa época em que a taxa de fecundidade era alta e existia uma ideologia pronatalista e
familista muito forte no Brasil, o poeta completou: “Mas se não os temos, Como sabê-los?”.

Agora no século XXI, diante de um mundo cada vez mais cheio – com cada vez mais gente e
menos árvores – tem crescido o número de mulheres que decidem não ter filhos (Childless ou
Childfree). Mas a grande novidade atual é o surgimento da Greve de Nascimentos. Um grupo
fundado na Inglaterra propõe de forma clara e contundente: “ninguém deveria mais procriar”.

O movimento BirthStrike (Greve de Nascimentos) foi fundado pela cantora britânica Blythe
Pepino, em 2019, visando problematizar as questões sobre nascimentos, população e crise
ecológica. O objetivo é debater a gravidade das mudanças climáticas, o efeito das atividades
antropogênicas sobre o meio-ambiente e o impacto que cada nova pessoa tem e sofre em
relação à crise ambiental.

Segundo o jornal The Guardian (12/03/2019): “Blythe Pepino decidiu anunciar publicamente
sua decisão – tornando, estrategicamente, o político pessoal – de criar o movimento BirthStrike,
uma organização voluntária para mulheres e homens que decidiram não ter filhos em resposta
ao ‘colapso climático e ao colapso da civilização’. Ao fazer isso, ela espera canalizar a dor que
sente por sua decisão ‘em algo mais ativo, regenerador e esperançoso’. Em apenas duas
semanas, 140 pessoas, a maioria mulheres no Reino Unido, declararam sua ‘decisão de não ter
filhos devido à gravidade da crise ecológica’, diz Pepino. ‘Mas também pedimos que as pessoas
entrem em contato para dizer: ‘Obrigado por falar sobre algo sobre o qual eu não sabia que
poderia falar com minha família’, acrescenta ela. Muitos desses BirthStrikers estão envolvidos
com a Extinction Rebellion, que no sábado jogou baldes de tinta vermelha do lado de fora de
Downing Street para simbolizar ‘a morte de nossos filhos’ em decorrência da mudança
climática”.

De fato, nos últimos 250 anos (entre 1769 e 2019) a população mundial cresceu 9,2 vezes, a
economia internacional cresceu 134 vezes e a renda per capita global cresceu 14,6 vezes. Houve
uma melhoria geral das condições de vida da população mundial. Mas todo o enriquecimento
humano ocorreu às custas do empobrecimento ecológico e o fim da natureza será o fim da
civilização humana.

O crescimento das atividades antrópicas fez com que a produção e o consumo da humanidade
ultrapassasse a capacidade de carga da Terra. O uso e a queima generalizada dos combustíveis
fósseis aumentou a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e acelerou o processo de
aquecimento global, que ameaça não só a vida humana, mas todas as formas de vida da Terra.

Cada nova criança nascida nos países ricos significa aumento da Pegada Ecológica, queda da
biocapacidade e elevação das emissões de GEE. Por isto, recentemente, a congressista
estadunidense Alexandria Ocasio-Cortez, do Partido Democrata, defensora do “Green New
Deal”, concordou com a ideia da Greve de Nascimentos diante do sombrio cenário catastrófico
que se anuncia para o planeta.

A decisão de não ter filhos tem dois tipos de impactos. O primeiro é que menos nascimentos
significam menos emissões de gases de efeito estufa, menos demanda por água, comida,
moradia, transporte, etc. Evidentemente, são as crianças dos países ricos que mais contribuem
para a crise climática, sendo muito menores, em termos per capita, as emissões provenientes
das crianças dos países pobres. Todavia, a contribuição do crescimento do volume de jovens nos
países pobres é grande para a perda de biodiversidade.

O outro impacto é inverso, ou seja, a crise climática e ambiental vai afetar todos os jovens e o
impacto negativo será maior nos países pobres, onde há muita carência de recursos para mitigar
e adaptar os efeitos da degradação ecológica. Colocar crianças no mundo para sofrer não é uma
decisão racional e nem emocional.

Portanto, reduzir o número de nascimentos tem dois impactos: 1) contribui para mitigar o
aquecimento global; 2) contribui para reduzir o número de pessoas que vão sofrer com a
catástrofe ambiental global que se anuncia no horizonte de médio e longo prazo.

Em debate recente (15/07/2019), o jornalista George Monbiot – que não concorda muito com
o primeiro impacto, defendeu as propostas do movimento ‘BirthStrike’ com base no
reconhecimento do segundo impacto. Ou seja, ele disse que as pessoas precisam pensar bem
antes de colocar novas crianças no mundo, pois o cenário ecológico que se avizinha é terrível.

Hoje em dia nascem cerca de 140 milhões de bebês no mundo todos os anos. Evidentemente,
reduzi o número de nascimento é uma condição necessária para enfrentar a crise climática e
ambiental, mas não é uma condição suficiente. Somente com a mudança no modelo de
produção e consumo e o decrescimento das atividades antrópicas (especialmente o
decrescimento do consumo dos ricos) o mundo terá alguma chance de evitar um apocalipse
ecológico.
Referências:
ALVES, JED. A dinâmica demográfica importa no crescimento econômico e na degradação
ambiental, Ecodebate, 03/05/2019
https://www.ecodebate.com.br/2019/05/03/a-dinamica-demografica-importa-no-
crescimento-economico-e-na-degradacao-ambiental-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O bom para o desenvolvimento humano é ruim para a natureza, Ecodebate,
27/05/2019 https://www.ecodebate.com.br/2019/05/27/o-bom-para-o-desenvolvimento-
humano-e-ruim-para-a-natureza-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Países ricos emitem mais CO2, mas as emissões crescem mais nos países
emergentes, Ecodebate, 26/09/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/09/26/paises-ricos-emitem-mais-co2-mas-as-emissoes-
crescem-mais-nos-paises-emergentes-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. PANK: Professional Aunt No Kids (Tia profissional sem filhos) , Ecodebate,
18/02/2015 http://www.ecodebate.com.br/2015/02/18/pank-professional-aunt-no-kids-tia-
profissional-sem-filhos-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. GINK: Pessoas com inclinação verde e sem filhos, Ecodebate, 13/02/2015
http://www.ecodebate.com.br/2015/02/13/gink-pessoas-com-inclinacao-verde-e-sem-filhos-
artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Elle Hunt. BirthStrikers: meet the women who refuse to have children until climate change ends,
The Guardian, 12/03/2019
https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2019/mar/12/birthstrikers-meet-the-women-
who-refuse-to-have-children-until-climate-change-ends
Dilvin Yasa, 'It’s given me freedom': Three women on being childless by choice, August 17, 2019
https://www.stuff.co.nz/life-style/life/115078695/its-given-me-freedom-three-women-on-
being-childless-by-choice
Libby Emmons. Why does our culture want us to stop having babies?, 23/08/2019
https://www.thepostmillennial.com/why-does-our-culture-want-us-to-stop-having-babies/
George Monbiot. Should I have Children? Extinction Rebellion, 15/07/2019
https://www.youtube.com/watch?v=-CkNsDqYLZs
Women Go On BirthStrike Because Of Climate Change
https://www.youtube.com/watch?v=Fq26LPzlVsM
BIRTH STRIKE BLOG https://birthstrike.home.blog/
Childfree Blogs and Websites https://www.childfreelove.com/childfree-blogs/

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

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