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Anais do SIMCAM4 – IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais — maio 2008

Musicalidade, desenvolvimento e educação:


um olhar pela psicologia vigotskiana

Silvia Nassif
USP
rscnassif@terra.com.br

Resumo: Este trabalho analisa algumas questões referentes às relações entre desenvolvimento
cognitivo e aprendizagem musical e suas implicações para o ensino de música. Toma como
ponto de partida concepções de musicalidade e musicalização predominantes entre importantes
autores do cenário da educação musical no século XX, as quais revelam um conflito entre um
discurso marcado por uma visão inatista da musicalidade e propostas práticas de cunho
fortemente empirista. À luz da psicologia histórico-cultural vigotskiana, considerada mais
promissora no sentido de superar determinados dualismos (biológico/cultural, individual/social),
procura mostrar a inconsistência de algumas dessas concepções quando se observa o
desenvolvimento de um ponto de vista mais abrangente. Os objetivos dessa análise incluem não
apenas contribuir para o conhecimento sobre a aquisição e o desenvolvimento da musicalidade,
mas principalmente permitir que os educadores musicais se apropriem de propostas educativas
para musicalização de uma maneira mais consciente e crítica.

Palavras-chave: musicalidade; musicalização; desenvolvimento musical.

1. Introdução Levantando a hipótese de que o


problema talvez estivesse no modo
Como professora de iniciação ao como a musicalização era concebida e
piano por quase vinte anos, costumava conduzida pedagogicamente, resolvi
notar que as facilidades ou dificuldades então empreender uma pesquisa (que
musicais que os alunos apresentavam ao posteriormente se tornou meu doutorado
ingressar no curso de instrumento e obteve financiamento da FAPESP) no
aparentemente pouco tinham relação sentido de verificar quais os pressupostos teóricos
com o fato deles terem tido ou não aulas (concepções de música, desenvolvimento,
prévias de musicalização. Observava aprendizagem etc.) que fundamentavam as
também que, por outro lado, as principais propostas de musicalização. Tomando
experiências musicais não formais como fio condutor uma discussão sobre
anteriores desses alunos (na família, na a musicalidade, analisei métodos e
igreja, na rua, nas reuniões com amigos textos teóricos de alguns dos principais
etc.) não eram de modo algum ícones da educação musical do século
irrelevantes para o seu desempenho nas XX1 e cheguei a uma síntese desse
aulas de instrumento. Em resumo, pensamento que mostrava um conflito
minhas observações me indicavam que entre um discurso marcadamente
os fatores ambientais eram primordiais inatista e propostas práticas
no desenvolvimento de uma
musicalidade e, paradoxalmente, as 1
Entre os autores analisados, estão, por
aulas de musicalização pouco exemplo, Dalcroze (1965), Howard (1984),
contribuíam. Lavignac (1950), Schafer (1991), Orff
(Graetzer; Yepes, 1961), Willems (1962, 1969),
Gaínza (1964, 1977) e outros.

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influenciadas pelo empirismo geralmente é considerada perigosa,


escolanovista e que, guardadas as visto que eles podem, de acordo com
muitas nuances entre os autores esse raciocínio, limitar ou até mesmo
analisados, poderia ser enunciada mais impedir o que seria o curso natural do
ou menos assim: desenvolvimento.
Esse tipo de abordagem confere
O desenvolvimento da ao desenvolvimento certo caráter
musicalidade, principal universal e invariável que se aproxima
objetivo da musicalização, é da perspectiva de Piaget, embora a
um processo universal e apropriação da teoria piagetiana nem
espontâneo, que acontece de
sempre seja feita de maneira
modo natural, principalmente
através do manuseio da
consistente, sobretudo nos autores mais
realidade físico-sonora. antigos. Contrapondo essas idéias
encontradas nas análises à perspectiva
A partir dessa forma de entender vigotskiana, emergem outras respostas
o processo de musicalização, várias para a questão da relação entre o
questões emergiram2. Nos limites deste desenvolvimento e a aprendizagem
texto, ater-me-ei a duas em particular: musicais. Vejamos.
1- as relações entre desenvolvimento e Segundo Vigotski (1998a), o
aprendizagem musical e 2- as relações cérebro humano é um sistema
entre percepção musical e manipulação extremamente plástico, sendo que as
sonora, mostrando também alguns de principais estruturas cerebrais (aquelas
seus desdobramentos educacionais. responsáveis pelas funções psicológicas
É importante assinalar que, superiores) vão ser formadas a partir da
desde o início, minhas indagações, imersão do indivíduo numa determinada
questionamentos e críticas em relação à cultura. Desse modo, dependendo do
musicalização estavam inseridas numa tipo de cultura no qual se desenvolve, o
perspectiva teórica histórico-cultural e indivíduo vai formar determinadas
foi essa mesma perspectiva, estruturas e não outras, ou seja, vai
notadamente pelo viés da psicologia desenvolver algumas capacidades
vigotskiana, que me forneceu as específicas. Assim sendo, não há como
ferramentas de análise do pensamento explicar as especificidades de cada tipo
dos educadores musicais. de comportamento (ou facilidades)
apenas a partir do tipo biológico. Infere-
2. Desenvolvimento e Educação se daí que não existe um
Musical desenvolvimento psicológico universal,
pois este está sempre condicionado ao
Pelas análises efetuadas, contexto social e cultural. Adotando-se
conforme já enunciado, o essa perspectiva, então, fica difícil
desenvolvimento da musicalidade é tido tentar estabelecer, por exemplo, etapas
como um processo mais ou menos fixas para o desenvolvimento musical,
espontâneo, que acontece praticamente visto que esse contexto é extremamente
sem a interferência de outras pessoas, variável – mesmo entre pessoas que
pelo simples manuseio da realidade vivem num mesmo tempo e lugar – e
físico-sonora. Nesse sentido, a presença pode dar origem a modos
de “modelos” a serem seguidos completamente diferentes de processar a
música (além, obviamente, de diversos
gêneros musicais)3.
2
Para um aprofundamento nos dados que
3
levaram a essas e outras questões cf. ..... (minha Pensemos, por exemplo, em dois músicos
tese de doutorado). profissionais, um que aprendeu música na

2
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Essa incorporação da cultura à vinculada ao desenvolvimento histórico


mente, que vai dar origem a diferentes do indivíduo, qualquer tipo de
estruturas mentais e diferentes modos capacidade musical depende
de ação no mundo, não se realiza, de integralmente de um processo de
acordo com Vigotski (1998a), aprendizagem. Sem ela, ou seja, sem a
diretamente, mas por mediações. Não interferência de outros indivíduos, não
incorporamos o mundo tal qual ele se há como ativar os mecanismos
apresenta para nós, mas as significações biológicos exigidos para o
de mundo que nos são dadas pelos desenvolvimento de capacidades
outros. Para isso precisamos de musicais, mesmo que o indivíduo
mediadores simbólicos – a linguagem, a possua todos os pré-requisitos
4
religião, a arte etc. Decorre daí a necessários a esse fim. É
importância dada à aprendizagem como importante frisar que essa aprendizagem
o principal modo de transmissão de não precisa ser necessariamente formal,
significados e, conseqüentemente, de pois, como já foi comentado, muitas
apropriação da cultura. Na verdade, crianças quando chegam a uma escola
para Vigotski (1998d), a aprendizagem para aprender um instrumento, já trazem
é considerada a grande ativadora do consigo um universo musical
desenvolvimento e, sem ela, ou sem a previamente internalizado, adquirido
interferência da cultura através da assistematicamente, e que fará muita
mediação de outros indivíduos, o diferença no processo educacional.
desenvolvimento ficaria restrito aos Estudando a criança, Vigotski
processos de maturação do organismo. (1998a) estabelece a diferença entre
Nesse sentido, ela não só antecipa, mas dois tipos de desenvolvimento (ou dois
é uma condição sine qua non para que estágios nos processos de
ocorra o desenvolvimento. desenvolvimento): o desenvolvimento
Considerando a música parte da real ou efetivo – definido pela
cultura e, portanto, uma atividade capacidade mental da criança medida
especificamente humana, não há como pelo que ela pode realizar sozinha – e o
condicionar o desenvolvimento da desenvolvimento potencial ou proximal
musicalidade exclusivamente a fatores
maturacionais. Estando totalmente 4
“Tal como um filho de surdos-mudos, que não
ouve falar à sua volta, continua mudo apesar de
escola e, portanto, lê partitura e, outro que toca todos os requisitos inatos necessários ao
“de ouvido”, desconhecendo o código escrito da desenvolvimento da linguagem e não desenvolve
música. Se conseguíssemos refazer os seus as funções mentais superiores ligadas à
processos de aprendizagem musical, linguagem, assim todo o processo de
dificilmente encontraríamos muitos pontos em aprendizagem é uma fonte de desenvolvimento
comum no desenvolvimento de ambos. Embora que ativa numerosos processos, que não
aparentemente esses dois músicos sejam poderiam desenvolver-se por si mesmos sem a
equivalentes em termos de domínio musical (ou aprendizagem.” (Vigotski, 1998d, p.115). Vale
habilidade de se expressar musicalmente), uma aqui também um comentário sobre casos de
análise mais profunda revelaria modos distintos lesão cerebral nos quais pessoas sem formação
de “pensar musicalmente”, ou seja, de trabalhar musical anterior aparentemente “acordam”
operacionalmente com a música. Enquanto o músicos após o acidente. Esses casos poderiam
primeiro terá sempre a partitura como ser contra-exemplos à teoria vigotskiana da
mediadora entre a idéia musical e sua realização relação entre desenvolvimento e aprendizagem.
sonora, para o segundo a relação com a música Entretanto, de acordo com Sacks (2007), os
é mais direta, a idéia já acontece em forma de “músicos pós lesão cerebral” também passam
som. Isso sem falar na diversidade de “línguas por um processo de aprendizagem, embora num
musicais” existentes que requerem habilidades ritmo aceleradíssimo. Sem um contato intenso
musicais tão distintas e que, provavelmente, com a música, nem mesmo eles, com toda a sua
exigem “etapas” de desenvolvimento estrutura cerebral favorável, seriam capazes de
específicas. realizações musicais significativas.

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– capacidade da criança de realizar 3. Percepção e Manipulação Sonora


determinadas ações somente com o
auxílio de outras pessoas mais O segundo ponto a ser discutido
experientes. A distância entre essas duas é derivado da idéia, também
etapas foi denominada zona de predominante entre os educadores, de
desenvolvimento proximal, definida, que o trabalho de manipulação livre
então, pelo local onde determinadas com o som, deva ser o ponto de partida
funções, embora ainda não tenham do processo de musicalização.
amadurecido, já se encontram em Poderíamos dizer que a concepção de
processo de maturação. Assim, por percepção subjacente a essa idéia é uma
exemplo, uma criança pode não ser concepção associacionista. De acordo
capaz de compor uma música sozinha, com esse modo de ver, segundo a
mas conseguir fazê-lo com a ajuda do análise que Vigotski (1998b) faz dele, a
professor. Isso significa que esse tipo de percepção se constituiria “da soma de
elaboração está na zona de sensações isoladas mediante a
desenvolvimento proximal dessa associação destas entre si” (p.4). Desse
criança e que, cedo ou tarde, ela será modo, ao nascer, a criança começaria a
capaz de realizar uma composição perceber sensações dispersas, depois
musical sem ajuda externa. passaria a perceber grupos de sensações
O estabelecimento desse relacionadas entre si e só mais tarde
conceito é de extrema importância na seria capaz de uma percepção global.
teoria vigotskiana, pois evidencia a Nessa linha de raciocínio, a percepção
relevância da mediação do outro no musical seria constituída pela soma de
desenvolvimento cognitivo. Nesse todas as percepções sonoras que entram
sentido, a imitação – ou a capacidade de em jogo na música. Como os principais
reproduzir ações alheias – é considerada traços distintivos musicais dizem
particularmente importante nesse respeito às durações, alturas,
processo, pois ações que podem ser intensidades e timbres, o manuseio e
imitadas pressupõe-se estarem dentro da experimentações com essas grandezas
zona de desenvolvimento proximal. A possibilitaria, devido a associações
imitação permite uma antecipação de entre os diversos tipos de percepção
etapas posteriores do desenvolvimento, sonora, desenvolver uma percepção
uma elaboração interpsíquica de ações musical propriamente dita. A essa
que mais tarde passarão para a esfera abordagem associacionista, Vigotski
intrapsíquica. Isso significa, no caso (1988b) contrapõe a psicologia
específico do ensino musical, que a estrutural, que preconiza exatamente o
presença de modelos (universos oposto, ou seja, que a percepção do
estéticos já constituídos), ou a fixação conjunto precede a de partes isoladas.
de um sistema, não somente é desejável, De acordo com essa abordagem, a
como, a meu ver, é o único modo de percepção é integral desde o início, não
musicalização possível. Não há como existem percepções parciais que
musicalizar “de maneira geral”, fora de somadas vão possibilitar uma apreensão
um universo musical definido e global. Adotando-se esse ponto de vista
principalmente sem contato com o estruturalista para a percepção musical,
mundo musical existente, conforme rapidamente percebemos que pouco
sonharam alguns educadores. sentido faz qualquer tipo de trabalho
educacional com sons isolados, pois ele
nunca levará, como se supõe, a uma
percepção global da música.

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Essa questão do sentido na com esse raciocínio, assim como a


percepção, aliás, foi um dos pontos criança começa balbuciando,
desenvolvidos por Vigotski e que nos experimentando os mais variados sons,
interessa particularmente. Segundo depois passa a formar palavras e, por
experimentos, não há como separar a último, frases inteiras, também na
percepção de um objeto do sentido musicalização, ou seja, no processo
atribuído a ele. Mais do que isso, a educacional que visa a aquisição da
própria capacidade perceptiva está linguagem musical, deveríamos
condicionada à possibilidade de respeitar as mesmas etapas. Penso que
atribuição de sentido. Ainda segundo existem vários pontos a serem
Vigotski (1998b), essa característica de esclarecidos nessa idéia. Vamos abordar
significância da percepção é fruto do os que têm um interesse imediato na
desenvolvimento e, portanto, nossa discussão neste momento.
diferenciada na criança e no adulto. Em primeiro lugar, precisamos
Sendo inicialmente uma relação direta investigar qual a função do balbucio
entre o indivíduo e o meio, a percepção para a criança pequena. Segundo
vai se tornando cada vez mais uma Vigotski (1998c), ele tem a dupla
relação mediada pelas significações função de alívio emocional e de
culturais. estabelecimento de contato social. É a
Trazendo essas conclusões para chamada fase pré-intelectual do
a música, vemos o quanto é ilusória a desenvolvimento da linguagem.
possibilidade de resgatar uma audição Considerando-se que uma criança inicia
espontânea, pré-musical, no processo de seu processo formal de educação
musicalização (desejo esse muito musical geralmente por volta de quatro
presente no discurso de alguns ou cinco anos, quando já domina vários
educadores). Uma vez imersa num sistemas simbólicos – entre os quais a
ambiente onde a música existe, não só é própria linguagem verbal –, qual o
muito difícil para a criança uma sentido dessa experimentação pré-
percepção sonora totalmente musical para uma musicalização? Ou
desvinculada desse universo musical, ainda, será possível para a criança
quanto muitas percepções só serão abstrair todo o universo musical que a
possíveis quando associadas a ele. Faz circunda e mergulhar, numa espécie de
parte do senso comum a idéia de que o regressão, nesse mundo pré-musical?
interesse por sons é indício de uma Em segundo lugar, quando a
predisposição para a música. Penso que, criança começa a dizer palavras inteiras,
ao contrário, é o interesse musical que estas já estão carregadas de sentidos
leva a um apuro na percepção sonora. completos e não são apenas partes de
Fato interessante é que uma das algo maior que ela ainda não domina.
justificativas mais comuns para a Na educação musical, porém, o trabalho
necessidade de iniciar o processo de com elementos isolados (não apenas
musicalização manuseando livremente sons, mas também escalas, acordes,
os sons repousa numa analogia que células rítmicas etc.) comumente não
muitos fazem desse processo com a confere a esses elementos uma
aquisição da língua materna.5 De acordo completude significativa e, muitas
vezes, nem faz referência a qualquer
5
“As etapas que se sucedem no
desenvolvimento da linguagem musical na cantarola na caso da música – que
criança são equivalentes, do ponto de vista progressivamente vai se ajustando e afinando
evolutivo, às que se observam durante a até alcançar um nível médio de maturidade
aprendizagem do idioma. Ambas as linguagens, comum a todos os indivíduos normais” (Gaínza,
musical e falada, se iniciam com um balbucio – 1977, p.3).

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contexto maior com significação atualidade, em ensinar uma língua


musical. Isso faz muita diferença, pois estrangeira partindo do seu nível
desde o balbucio até as palavras e as fonológico, passando pelo sintático e, só
frases inteiras, todo esse processo não depois, chegando ao semântico. Penso
ocorre no vazio, mas tem como pano de que é mais ou menos isso que se tenta
fundo o tempo inteiro um contexto fazer em relação à música: parte-se do
significativo, dado pela mediação das som, passa-se pelos elementos musicais
outras pessoas que convivem com a e, por último, chega-se (às vezes) à
criança no período de aquisição da linguagem.
linguagem. De todas as
experimentações, a criança vai fixando 4. Considerações Finais
ou criando um repertório apenas
daquelas que tem uma resposta As relações entre música e
significativa do ambiente, sendo que desenvolvimento cognitivo já há algum
todos os sons ou complexos sonoros que tempo vêm sendo objeto de pesquisas
carecem dessa resposta tendem a no campo da educação musical. Penso,
desaparecer. As experimentações contudo, que muito há ainda a ser feito
musicais, contudo, muitas vezes são no sentido de trazer essas pesquisas para
feitas buscando-se uma isenção total em o campo da prática educacional,
relação a qualquer sistema já permitindo-se um olhar crítico e,
constituído. Contrariamente ao processo conseqüentemente, uma re-apropriação
de aquisição da língua materna, tenta-se mais consciente de propostas de
a todo custo, em muitos autores musicalização legitimadas pela história.
analisados, que a criança permaneça o Este trabalho tenta, em última análise,
mais distante possível dos referenciais dar um pequeno passo nesse sentido.
que ela possui, como se isso evitasse
que ela sofresse influências, 5. Referências bibliográficas
consideradas perniciosas à livre
expressão musical infantil. Resta saber, DALCROZE, Emile Jaques. La
porém, sendo a música uma linguagem, musique et l’enfant. In: DALCROZE,
de onde a criança vai tirar elementos Emile Jaques. Le rythme ,la musique
para chegar a fazer sintaxe? et l’education. Lausanne: Foetisch
Como conseqüência dos pontos Frère S.A. Éditeurs, 1965. p.46-56.
anteriores, temos, então, a GAÍNZA, Violeta Hemsy.
impossibilidade de se comparar o
Fundamentos, materiales y técnicas
processo escolar de musicalização com
a aquisição da língua materna. Na
verdade a analogia com a aquisição da
linguagem pode ser bastante situação contraditória: a música é, ao mesmo
enriquecedora, mas desde que tratemos tempo, uma presença familiar e estranha no
a música como uma língua estrangeira, universo infantil. Familiar porque sempre
presente, estranha porque não de modo tão
como algo que não está presente, salvo
intensivo e ativo que possibilite a sua apreensão
raríssimas exceções, de modo intensivo enquanto um sistema. Daí a comparação com a
no universo da criança desde o seu língua estrangeira: não é porque vamos
nascimento6. E ninguém pensaria, na freqüentemente ao cinema que aprenderemos a
falar inglês. De maneira similar, não é porque
ouvimos música tonal desde o nascimento que
6
Essa afirmação pode parecer contraditória em seremos capazes de nos apropriar
relação ao que foi dito anteriormente sobre a espontaneamente desse sistema. Para que isso
impossibilidade de se abstrair o universo ocorresse, seria necessária uma exposição muito
musical no qual a criança está imersa desde o mais intensa do que ocorre normalmente na
nascimento. Trata-se, com efeito, de uma maioria dos ambientes.

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de la educación musical. Buenos Buenos Aires: Editorial Universitaria de


Aires: Ricordi Americana, 1977. Buenos Aires, 1969.
GAÍNZA, Violeta Hemsy. La
iniciación musical del niño. Buenos
Aires: Ricordi Americana, 1964.
GRAETZER, Guillermo; YEPES,
Antonio. Introduccion a la practica
del Orff-Schulwerk. 4. ed. Buenos
Aires: Barry, 1961.
HOWARD, Walter. A música e a
criança. São Paulo: Summus, 1984.
LAVIGNAC, Albert. La educacion
musical. Buenos Aires: Ricordi
Americana, 1950.
SACKS, Oliver. Alucinações musicais:
relatos sobre a música e o cérebro. São
Paulo: Companhia das Letras, 2007.
SCHAFER, Murray. O ouvido
pensante. São Paulo: Editora Unesp,
1991.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A
formação social da mente. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998a.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. O
desenvolvimento psicológico na
infância. São Paulo: Martins Fontes,
1998b.
VIGOTSKI, Lev Semenovich.
Pensamento e linguagem. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998c.
VIGOTSKI, Lev Semenovich.
Aprendizagem e desenvolvimento
intelectual na idade escolar. In:
VIGOTSKI, L. S.; LURIA, A. R.;
LEONTIEV, A. N. Linguagem,
desenvolvimento e aprendizagem. São
Paulo: Editora Ícone/Edusp, 1998d,
p.103-117.
WILLEMS, Edgar. La preparación
musical de los más pequeños. Buenos
Aires: Editorial Universitaria de Buenos
Aires, 1962.
WILLEMS, Edgar. Las bases
psicológicas de la educación musical.

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