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Informações básicas
A empresa que queira patrocinar um projeto cultural fornece o recurso para a sua
realização. Esse recurso ou parte dele voltará para o patrocinador em forma de
abatimento de imposto na hora do pagamento do tributo: imposto de renda, ICMS ou
ISSQN, dependendo da (s) lei (s) utilizada (s). Em qualquer dos mecanismos
fiscais, o contribuinte incentivadore pode investir em quantos projetos culturais
quiser, desde que seja respeitado o limite determinado pela legislação específica.
Célia Cruz - Me formei em Economia pela USP e fui trabalhar na IBM, como
analista de sistema. O trabalho não me motivava muito e depois de algum tempo
percebi que meu interesse voltava-se à área de Políticas Públicas, como reserva
de mercado. Por isso, resolvi fazer mestrado em Economia na FGV/EAESP.
Como a maior parte das organizações que trabalham com arte e mídia no Canadá
são sem fins lucrativos e neste programa o aluno é obrigado a fazer trabalho
voluntário, comecei a trabalhar na Ópera de Toronto - Canadian Opera Company.
Eu deveria fazer pouquíssimas horas, mas fiz um milhão de horas. Depois, fui
contratada por uma companhia pequinininha de ópera contemporânea - Autumn
Leaf Performance. Quando voltei para o Brasil, o diretor da FGV/EAESP ficou
sabendo que eu havia trabalhado nessa área no Canadá e me contratou.
Revista IntegrAção - Você acha que faltam recursos para projetos sociais?
Célia Cruz - Por um lado, eu concordo que existem recursos, mas faltam bons
projetos. Mas mais do que bom projetos, falta eficiência e eficácia no uso do
dinheiro. Se tivermos mais dinheiro doado, com um olhar de eficiência e eficácia,
teremos mais benefício social. O dinheiro que temos, hoje, não irá resolver todos
os nossos problemas sociais.
Célia Cruz - O prof. Peter Spink3 fez uma análise do perfil do profissional que
trabalha no setor privado, no setor público e na sociedade civil. Ele diz que a
informação no setor privado é uma informação privada. Mas em uma organização
sem fins lucrativos, a informação é pública. Uma organização sem fins lucrativos,
de interesse público, tem que ter transparência nas informações, por exemplo,
informar de onde ela recebeu os recursos. Infelizmente as ONGs são
maravilhosas em compartilhar informações sobre tudo, mas sobre dinheiro, não
tem nem relatório.
Célia Cruz - Eu acho que está melhorando muito. Hoje, temos que cobrar uma co-
responsabilidade, os doadores também devem saber o que está sendo feito com o
seu dinheiro e devem participar disso. Muitas organizações hoje são muito mais
transparentes nesse sentido. Mas isso ainda é um processo que leva tempo, é um
processo do doador cobrar e da ONG ser mais transparente.
Célia Cruz - Tem diferença sim. O Dr. Marcos Kisil divide as organizações em
organizações de apoio, como o IDIS, o Instituto Fonte; organizações de
serviços, como uma creche, a APAE; e organizações de advocacy.
Se eu sou uma organização de apoio é muito comum que uma parcela alta dos
meus recursos venha de apoio técnico e cursos, mas dificilmente consigo captar
recursos com indivíduos. Já uma organização como a APAE, uma creche, tem
uma grande parcela de doações de indivíduos, uma boa parte do Governo, uma
parcela de empresas e em geral um pouquinho de eventos. É um outro tipo de
estrutura de captação. Numa organização de advocacy, provavelmente, a maior
parte dos recursos vai ser de agências internacionais. Então, cada organização vai
ter uma estratégia.
Célia Cruz - Uma das primeiras coisas é pensar que tipo de benefício você pode
oferecer em contrapartida. É um pouco a sua co-responsabilidade também. Vocês
me ajudam financeiramente e eu também dou algum tipo de retorno, mesmo que
seja apenas o impacto social que eu causo. O doador se sente feliz por doar não
porque ganha uma camiseta, mas porque possibilita o atendimento de 1000
crianças no hospital. O benefício não obrigatoriamente vai fazer a pessoa
continuar doando, mas ele tem o papel de fidelização. Porque você acaba
mantendo um contato mais constante com o seu doador. Ter uma prática de
retorno é importante, como enviar relatórios.
Revista IntegrAção - Convencer uma pessoa que tem uma ligação com a
causa é mais fácil, por exemplo, alguém que tenha um familiar com
problemas visuais, doar para uma entidade que trabalha com deficientes
visuais. No entanto, como convencer alguém que não tem qualquer ligação
emocional com a causa?
Célia Cruz - Você tem que sensibilizar pelos resultados. O que motiva alguém a
doar é a missão: se eu gosto da missão, da causa. Depois, credibilidade na
instituição. Assim, primeiro eu olho para a missão, a causa, e em seguida eu vou
olhar quem tem essa causa, eu vou olhar para as instituições, se elas tem
credibilidade. Por último, vou olhar para o projeto.
Célia Cruz - Eu falo sempre que é assim: comissão versus missão. A lógica que
motiva o Terceiro Setor não é a lógica da comissão. Eu trabalho no Terceiro Setor
por uma missão que me motiva. Quando estou trabalhando por uma missão e vou
pedir recursos, não estou pedindo em meu benefício próprio, mas em nome da
missão de uma instituição, que tem sua credibilidade. Não é o uso da Célia, com a
sua credibilidade, para seu benefício próprio. Se estou pedindo por causa da
missão, quero que todo o dinheiro que estou pedindo seja utilizado nela. Eu não
concordo que parte desse recurso seja para meu benefício próprio porque
conheço você ou porque consegui essa captação.
Todos os profissionais do Terceiro Setor são pagos por salários e por essa
motivação de missão. Porque só o captador de recursos tem que ser mais
motivado por dinheiro? Discordo. Mas esta não é ainda a prática mais comum no
Brasil, em grande parte, porque a Lei Rouanet5 permite comissionamento.
Eventos Especiais:
uma das muitas estratégias para se captarem recursos.
Será que é só isso?
Usei esse exemplo para demonstrar que o Evento Especial, na realidade, é uma
das muitas estratégias que hoje existem para se captar recursos. Sua principal
qualidade não está na captação imediata de recursos financeiros. Essa estratégia
utilizada pelos captadores de recursos, diferentemente das demais, contém
inúmeras outras vantagens e oportunidades pouco aproveitadas (das quais falo
mais adiante). No momento, ressalto a atual e crescente necessidade do
desenvolvimento de técnicas de organização de eventos, fazendo com que esses
melhorem seus resultados financeiros e se tornem cada vez mais eficientes em
propostas de envolvimento e de participação social, assim como a preocupação
com seus riscos.
Inicialmente, nos anos 80, as ONGs apareceram com este perfil: um grupo de
cidadãos que se organizavam para desenvolver atividades de afirmação universal
dos direitos humanos, o que necessariamente passaria por uma relação com
políticas públicas.
Já nos anos 90, iniciou-se um novo movimento - o Terceiro Setor- que trouxe um
novo discurso sobre as relações de parcerias da sociedade civil com o Estado e
com as empresas. Só que, segundo Silvio Caccia Bava, um dos fundadores da
Abong (Associação Brasileira de Ongs), é importante ressaltar que, em alguns
casos, com um outro marco de referência: políticas compensatórias e
assistencialistas. Muitas vezes o movimento tem uma ação de complementaridade
aos serviços do Estado, no sentido de minorar as carências sociais dos mais
necessitados e não mais como nos antigos movimentos que visavam articulações
políticas para uma mudança no quadro social.
Aproveito mais uma vez a apresentação de Leilah Landin, quando afirma que,
hoje, o "..Terceiro Setor, é um termo que chega homogeneizando, onde vale tudo,
privilegia a colaboração e não o conflito; isso implica um risco de despolitização".
Esses são os riscos que havia comentado anteriormente. É importante estimular a
sociedade a essas reformas e impulsionar a idéia da solidariedade aos brasileiros,
não perdendo de vista o risco deste "assistencialismo" presente sobressair-se às
intervenções a favor das reformas "estruturais" e profundas.
Apesar das organizações sem fins lucrativos serem tão antigas quanto o
descobrimento do Brasil, podemos dizer que o atual papel dessas organizações e
o termo que passou então a defini-las foi Terceiro Setor, que surgiu nos anos 90.
Esse é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas de
forma voluntária pela sociedade civil, num âmbito não-governamental. Com isso,
veio à tona a discussão da urgente necessidade das organizações não-
governamentais se tornarem auto-sustentáveis, buscando recursos de
financiadores, empresas privadas, pessoas físicas, parceiros, projetos geradores
de renda, Eventos Especiais e outras estratégias.
Quando vamos fazer um Evento Especial, vamos nos expor. Seremos o centro
das atenções. Isso é bom por um lado, pois queremos que as pessoas nos
percebam, vejam nosso trabalho e nos apóiem. Por outro lado, expomos também
nossas fraquezas. Um cuidado que devemos ter quando vamos nos expor é
colocar nossa casa em ordem. Portanto, aqui aparece uma ótima oportunidade
para isso. Atualize sua missão, reveja seus projetos, se organize.
Um fator que alivia a tensão da correria de um evento é levar em conta que é uma
estratégia que tem dois momentos de captação: a captação a curto prazo, com a
venda dos convites, e a captação a longo prazo, quando após o evento consegue-
se incluir os participantes na mala direta da organização e depois voltar a captar
com eles.
Crie uma sinergia em seu evento. Essa é uma força muito poderosa dos eventos
e muito pouco aproveitada; fidelize seu evento, cadastre seus convidados.
Aproveite essa sinergia logo após seu evento enviando cartas agradecendo a
participação. Solicite opinião sobre a festa assim como participe os resultados
obtidos e faça convites para visita à instituição. Em seguida, tais pessoas passam
a fazer parte de sua mala direta, sempre sendo lembradas por sua presença no
evento e sendo envolvidas nas demais atividades da instituição.
Por todas essas razões, sugiro ter claro antes de dar início à programação de um
evento, um estudo bem detalhado de seus propósitos, seus objetivos e sua
situação diante de uma exposição maior.
Fontes de financiamento:
Embaixadas
Fundações e empresas
Organismos internacionais
Governo Federal - financiamento público para organizações do terceiro
setor
Cadastro de Fontes Nacionais e Internacionais de Cooperação para
Projetos Ambientais*
Noções gerais
Referências bibliográficas
Links
KÁTIA,
MNews — Vocês precisam estar sempre muito próximos dos clientes? É possível
fazer bons trabalhos em regime de jobs?
Sarkovas — A forma mais simples e direta de fazer com que a marca penetre em
um espaço editorial da mídia é integrar seu nome à ação. Essa estratégia, que já
vem sendo adotada há muitos anos no Brasil, ultimamente adquiriu um novo
campo de atuação, que é o da marca compor o nome do local onde os eventos
ocorrem. É o caso, por exemplo, do Credicard Hall. Esse tipo de ação exige verba
elevada, mas permite um mix maior de benefícios. Por outro lado, nem sempre
isso é o que a empresa espera. Há situações em que faz parte da estratégia ter
uma atuação muito mais low profile, reduzir sua presença a um caráter nobre,
institucional. Há, ainda, ocasiões em que as empresas investem pensando em
retorno institucional e no lucro que o evento pode proporcionar. Temos no
momento um grande case desses no Brasil, que é o da America Online, empresa
que se tornou sócia da produção do Rock In Rio. Nesse caso há um componente
de risco. O investimento pode ser elevado, mas se o evento faturar muito com a
venda de ingressos ou a comercialização de imagens para a televisão, a verba
pode ser bastante reduzida, eventualmente a zero. Em resumo, existem formas
distintas de uma empresa patrocinar eventos, com objetivos inteiramente
específicos como os ligados a aparições na mídia, ações de endomarketing,
publicidade, promoção ou relacionamento com públicos de interesse, entre outros.
MNews — O mais importante é que ele seja planejado dentro das necessidades
da empresa?
Sarkovas — Eu estaria sendo leviano se dissesse que existem fraudes, não tenho
envolvimento direto com essas operações. Acompanho essas insinuações pela
imprensa. De qualquer forma, como a Lei do Audiovisual- estabelece uma lógica
de remuneração a priori, criar orçamentos desconectados com a realidade é algo
bem possível. Mas ainda penso que contar com uma política pública tão mal
formulada como essa é muito mais grave do que eventualmente ver um filme mal
gerido. O malefício não se restringe à má utilização do dinheiro público. Não há
estímulo a uma cultura de patrocínio e/ou de investimento no cinema, porque
quando uma empresa não usa seu próprio dinheiro não aprende nada. Uma
empresa só desenvolve a capacidade de patrocinar quando parte de seu
orçamento de comunicação e marketing está sendo empregada com inteligência;
isso tem um poder pedagógico, educa o empresário.
Sarkovas — Na verdade, a cultura deve ser financiada por frentes diversas; uma
fonte de recursos não exclui a outra. O fato de empresas terem interesse hoje em
financiar atividade cultural por causa das suas estraté-gias de comunicação,
fazendo com que parte dos budgets, dos orçamentos de comunicação sejam
canalizados à cultura, não é pretexto para o Estado se eximir do seu papel de
financiador de atividades culturais.
MNews — De que forma o Estado poderia fazer isso sem ser por meio de leis de
incentivo?
MNews — Você acha justo que projetos que contam com benefícios fiscais do
governo cobrem ingressos a preços proibitivos para a maior parte da população?