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Choque hipovolêmico por ruptura esplênica em um caso de Linfoma

intravascular canino

Fernanda Didomenico1
Conrado de Oliveira Gamba2
Eloísa Bach3
Helena Mondardo Cardoso Pissetti4
1 Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da UNOESC.
2 Doutor em Patologia pela UFMG, docente do curso de Medicina Veterinária UNOESC.
3 Medica Veterinária Autônoma e mestre em ciência animal pela UDESC
4 Mestre em Ciência Animal pela UDESC, docente do curso de Medicina Veterinária

UNOESC.
E-mail para fins de correspondência: fernandadidomenico1@gmail.com

RESUMO
O linfoma intravascular (LI) é um subtipo raro de linfoma, em que as células neoplásicas se
localizam no interior dos vasos sanguíneos, principalmente nos pequenos vasos, ou
capilares do sistema nervoso central. É uma doença que pode apresentar um curso rápido,
levando o animal a morte em poucas semanas. O objetivo deste trabalho é relatar um caso
de linfoma intravascular em um canino da raça Lhasa Apso, apresentando sinais
neurológicos e de apatia, que foi encaminhado a unidade de pronto atendimento veterinário
da Universidade do Oeste de Santa Catarina para realização de coleta e análise de liquido
cefalorraquidiano (LCR), mas acabou vindo a óbito por choque hipovolêmico decorrente de
ruptura esplênica, minutos antes do procedimento. A coleta foi então realizada no pós
mortem imediato, demonstrando um LCR com aparência hemorrágica e aspecto turvo, que
à análise demonstrou diversas alterações. O animal foi encaminhado ao setor de patologia
da universidade para realização da necropsia e confirmação da causa mortis.

Palavras-chave: oncologia; neoplasia rara; sistema nervoso central.

INTRODUÇÃO
O linfoma intravascular é uma condição rara definida pela proliferação de linfócitos
neoplásicos no lúmen ou parede dos vasos sanguíneos (1,2).
É uma doença que pode evoluir com sinais neurológicos, já que as células neoplásicas
eventualmente preenchem e dilatam as veias das meninges presentes no cérebro e medula
espinhal (2), desta forma, cães com LI podem apresentar sinais associados ao SNC (1).
A doença tende a levar a oclusão gradativa dos vasos sanguíneos o que acaba resultando
em infarto com sinais de hemorragia e trombose. O curso clínico da doença é rápido e fatal,
por morte espontânea ou eutanásia dentro de semanas (3). Na grande maioria dos casos,
a diversidade do quadro clínico e a falta de recursos para identificação da doença, acabam
fazendo com que o diagnóstico definitivo seja possível apenas no pós mortem, onde são
detectados linfócitos neoplásicos nos vasos de diversos órgãos (4).
Objetivo do trabalho é o relato de um caso de linfoma intravascular em um cão da raça
Lhasa-apso de 12 anos de idade com histórico de sinais neurológicos, que foi submetido a
coleta de LCR imediatamente após o óbito, e posteriormente à necropsia para confirmação
da causa da morte.

MATERIAIS E MÉTODOS
Foi encaminhada a unidade de atendimento veterinário da Universidade do Oeste de Santa
Catarina, uma fêmea canina, da raça Lhasa Apso, de 12 anos, para realização do
procedimento de coleta e análise de liquido cefalorraquidiano. O animal apresentava
histórico com sinais de apatia, depressão do estado mental, e andar em círculos, sendo
que ao exame neurológico, não foram detectadas alterações em nervos cranianos.
O animal seria encaminhado à anestesia para realização de punção e análise do LCR,
porém veio a óbito pouco antes de ser realizado o procedimento. Diante deste fato e da
obscuridade da causa mortis, foi realizada coleta do LCR imediatamente após o óbito. Ao
termino da coleta o animal foi encaminhado para o setor de patologia da Universidade para
realização da necropsia, na qual foram coletadas amostras de diversos órgãos para
avaliação histopatológica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O animal atendido apresentava sinais de depressão do estado mental e andar em círculos,
sinais que alertam para possíveis lesões neurológicas. O nível de consciência diminuído,
como depressão ou estupor podem ocorrer em doenças que acometem o cérebro ou tronco
encefálico, já andar em círculos pode estar associado a lesões no sistema vestibular (5).
A literatura cita que linfomas intravasculares tem predileção pelo sistema nervoso central
sendo que os animais podem apresentar sinais como paresia, ataxia, hiperestesia,
convulsões, cegueira, letargia, anorexia, perda de peso, diarreia, poliúria, polidipsia e febre
intermitente (1).
Nos casos de LI, as células neoplásicas variam de poucas a numerosas, e podem acabar
preenchendo e dilatando as veias das meninges do cérebro e medula espinhal (2) levando
ao aparecimento de sinais neurológicos, o que neste caso foi confirmado no exame
histopatológico pela visualização de linfócitos neoplásicos em vasos do cérebro e cerebelo.
Diante da suspeita de envolvimento do SNC, optou-se pela coleta de LCR, que foi realizada
imediatamente após o óbito e demonstrou diversas alterações. Ao exame físico a amostra
apresentou-se com coloração avermelhada, aspecto turvo e densidade aumentada. Os
exames químico e bioquímico também revelaram alterações, apresentando um pH e glicose
com valores abaixo do esperado. Ao exame de sedimento e de citologia também foi
possível observar anormalidades e a contagem de leucócitos foi de 4250, como pode ser
observado na Tabela 1.
Tabela 1: Resultados da análise de liquido cefalorraquidiano (LCR)

Resultado Valor de referência


Exame físico Cor Avermelhado Transparente
Aspecto Turvo Límpida
Densidade 1036 1003-1012
Exame químico pH 7,0 7,35 – 7,45
Exame bioquímico Proteínas totais 4,0 0-30
Glicose 10 40-80
Contagem de leucócitos 4250
Exame de sedimento Presença de hemácias, neutrófilos e macrófagos
Exame de citologia Presença hemácias, neutrófilos íntegros, alguns
eosinófilos e linfócitos que revelaram anisocariose,
nucléolos múltiplos e proeminentes.

O aspecto hemorrágico do LCR e a observação de linfócitos atípicos no exame de citologia


com aparência semelhante aos encontrados no exame histopatológico do SNC, sugerem a
ocorrência do rompimento de vasos sanguíneos no SNC, decorrentes do acúmulo de
células neoplásicas no seu interior.
Além da suspeita clínica, a análise do LCR se mostra muito importante para auxiliar no
diagnóstico definitivo com maior rapidez em neoplasias do SNC. Os cães com linfoma
podem apresentar aumento da contagem de leucócitos e proteínas e também grande
quantidade de linfócitos atípicos (6).
Destaca-se que vasos de qualquer local podem ser afetados, e alguns são tão repletos de
células, que se distendem ou obstruem podendo levar a necrose de tecidos adjacentes (2).
Neste sentido, foi observado na histopatologia a presença de linfócitos neoplásicos no
interior de vasos sanguíneos do cérebro, cerebelo, fígado, baço, rins, com a presença de
necrose multifocal discreta neste último órgão.
Com a realização da necropsia, sugeriu-se como causa da morte a ruptura do parênquima
esplênico e consequente choque hipovolêmico, associado ao acúmulo de células
neoplásicas no interior dos vasos decorrentes do linfoma intravascular. Ao corte, o baço
apresentava coágulos e nódulos esbranquiçados multifocais e na microscopia foi possível
encontrar extensas áreas de hemorragia e necrose associadas a linfócitos neoplásicos.
A ruptura espontânea não é uma condição comum, mas pode estar associada a neoplasias
malignas hematológicas. A leucemia e o linfoma não-Hodgkin são as causas mais
frequentes de ruptura esplênica e neste caso a ultrassonografia é essencial para evitar
atrasos na intervenção, que podem ser fatais. (8)
Apesar da suspeita de acometimento do SNC, alterações macroscópicas não foram
observadas neste sistema, contudo, na microscopia foi confirmado a presença de células
neoplásicas no interior de vasos sanguíneos e cariólise de neurônios na substância
cinzenta. Em concordância com o que foi encontrado, outro estudo demonstrou que nem
sempre são observadas lesões macroscópicas no SNC, e na microscopia é possível
observar envolvimento de veias de médio e pequeno calibre, contendo células pleomórficas
com núcleos volumosos, cromatina aglomerada, anisocitose, anisocariose e figura mitóticas
atípicas (4).
Basicamente, o diagnóstico de LI em animais é feito pelo exame histopatológico, pela
visualização de linfócitos neoplásicos no interior dos vasos sanguíneos (2), que neste caso
se apresentaram como células redondas com citoplasma escasso e anisocariose
acentuada na maior parte dos órgãos (Figura 1A e 1B).

Figura 1: Linfoma intravascular em um cão. Figura 1A. Fígado. Presença de grande quantidade de células
redondas no interior de vaso sanguíneo (seta). Hematoxilina e eosina, aumento de 100X. 1B. Rim. Presença
de linfócitos neoplásicos com anisocariose e anisocitose (seta). Hematoxilina e eosina, aumento de 400X.

Assim como nos humanos, o diagnóstico ante mortem de linfoma intravascular canino é
dificil (4) e principalmente pela ausência de massas extravasculares com consequente
dificuldade no reconhecimento precoce, se torna improvável o tratamento direcionado no
início da enfermidade (3), porém a coleta de LCR pode ser um meio de direcionar para um
diagnóstico precoce (6). Neste caso, não foi iniciado o tratamento justamente pelo animal
ter vindo óbito antes do diagnóstico da doença.
Em cães e gatos, o tratamento para linfomas é geralmente realizado por terapia de indução
seguida de manutenção, que é realizado com ciclofosfamida, vincristina e prednisona, ou
ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona (5). Porém, sabe-se que em
humanos, tratamentos de LI usando protocolos quimioterápicos de linfoma produziram
pouco sucesso (3).

CONCLUSÃO
Com esse relato pode-se concluir que o linfoma intravascular é uma condição rara e de
difícil identificação, que pode levar o animal ao óbito, por acumulo de células neoplásicas
no interior dos vasos sanguíneos, com a possibilidade de ocorrer ruptura esplênica
associada a esta condição. É uma doença que deve ser considerada como diagnóstico
diferencial na apresentação de sinais neurológicos, e apesar da difícil identificação ante
mortem, destaca-se a importância da coleta do LCR, que pode direcionar para um melhor
e mais precoce diagnóstico a fim de proporcionar suporte e qualidade de vida ao paciente.

REFERÊNCIAS:
1. Vail DM, Young KM. Hematopoietic tumors. In: Withrow, Macewen’s. Small Animal
Clinical Oncology. 4 ed. Saint Louis: Saunders Elsevier; 2007. p.699-733.
2. Valli VE, Bienzele D, Meuten DJ. Tumors of the Hemolymphatic System. In: Meuten DJ.
Tumors in domestic animals. 5 ed. Iowa: John Wiley & Sons; 2017. p. 203-321.
3. Cullen CL, Caswell JL, Grahn BH. Intravascular lymphoma presenting as bilateral
panophthalmitis and retinal detachment in a dog. Journal of the American Animal Hospital
Association [internet]. 2000 [acesso em 12/03/2019]; 36(4): 337-342. Disponível em:
https://www.jaaha.org/doi/10.5326/15473317-36-4-337
4. Degl’Innocenti S, Camera ND, Falzone C, Cantile C. Canine Cerebral Intravascular
Lymphoma: Neuropathological and Immunohistochemical Findings. Veterinary Pathology
[internet] 2018 [acesso em 15/03/2019]; 56(2): 239-243. Disponível em:
https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/0300985818806059
5. Nelson RW, Couto CG. Medicina interna de pequenos animais. 4.ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2010.
6. Moraes LF, Romão FG, Borges AS, Takahira RK, Souza FB, Amorim RL et al. Linfoma
primário de células T no líquido cefalorraquidiano de cão: relato de caso. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. 2012; 64(6); 1497–1503.
7. Bush WW, Throop JL, McManus PM, Kapatkin AS, Vite CH, Van Winkle TJ.
Intravascular Lymphoma Involving the Central and Peripheral Nervous Systems in a Dog.
Journal of the American Animal Hospital Association [internet]. 2003 [acesso em
15/03/2019]; 39(1): 90–96. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12549621
8. Kaniappan K, Lim CTS, Chin PW. Non-traumatic splenic rupture - a rare first
presentation of diffuse large B-cell lymphoma and a review of the literature. BMC Cancer
[internet]. 2018 [acesso em 16/03/209]; 18(1). Acesso em:
https://bmccancer.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12885-018-4702-1

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