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Sociologia da Educação AULA 1

Leandro José dos Santos


Josali Amaral

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA

O pensamento sociológico
e as formas de aprender-
ensinar-aprender

1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

„„ Conhecer a Sociologia da Educação;


„„ Problematizar o conceito de educação;
„„ Analisar a importância da Sociologia na compreensão dos processos
de socialização.
O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

2 COMEÇANDO A HISTÓRIA

Figura 1
Disponível em: http://gestaoeducativa.blogspot.com.br/

Caro aluno,

Você partilha as preocupações do nosso amigo Calvin, não é mesmo? Desde


pequenos somos estimulados a pensar sobre para que a escola nos prepara. Mas
pensemos na resposta da professora: o que levamos para a escola? Que relação
temos com ela? Se a escola deve nos preparar para nos inserir na sociedade, ela
é, em si mesma, um resultado do que fazemos em sociedade.

Já vimos, em outras disciplinas, que a educação não está restrita à escola. Ela é
um processo social, que nos modela de acordo com os valores cultivados pela
comunidade a que pertencemos.

Nesta aula, vamos refletir sobre educação e sociedade sob a ótica da Sociologia,
pensar sobre a complexidade das relações em que estamos envolvidos e como
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a educação perpassa as práticas cotidianas, bem como se apresenta sob a forma


elaborada que a escola nos fornece. Assim, quem sabe consigamos obter algumas
das respostas que nosso amiguinho Calvin persegue.

Ademais, nesta disciplina vamos realizar um conjunto de reflexões com o fito


de compreendermos como se realizam os processos de troca e transmissão
de conhecimentos nas sociedades contemporâneas em suas mais diversas
dimensões. Mais especificamente, estudaremos os mecanismos a partir dos
quais uma sociedade compartilha e transmite aos seus membros as formas de
ser, pensar, agir e fazer, mecanismos esses necessários à manutenção, reprodução
e transformação desses membros.

Apresentaremos também algumas definições de educação e discutiremos a função


da educação escolar. Abordaremos ainda o papel da educação na reprodução
das desigualdades sociais e como ela pode ser utilizada para identificar os
elementos que fazem parte do nosso cotidiano e de nossa cultura. Em nossa
jornada, também poderemos observar o contraste advindo da comparação das
nossas formas de vida com as práticas culturais realizadas por outras pessoas,
em outras sociedades. Assim, esperamos que, ao término do nosso percurso,
você, prezado estudante, possa descortinar os desafios que as gerações atuais
enfrentam diante das práticas educativas.

3 TECENDO CONHECIMENTO

Vamos começar definindo o objeto de nossas reflexões: a educação e a Sociologia


da Educação. Antes disso, porém, cabe aqui uma problematização preliminar.

Você já vem refletindo sobre a educação desde o primeiro período deste curso,
por meio das demais disciplinas que estudou no ciclo pedagógico. Você recebeu
informações históricas, filosóficas e didático-pedagógicas. Mas como a educação
é pensada pela Sociologia?

O primeiro problema do nosso objeto é que cada um de nós, a priori, já possui


algumas noções básicas sobre ele, o que nos faz crer tratar-se de algo já conhecido.
Mesmo antes de ler todo esse material do curso, já tínhamos um entendimento
do que é educação, seja aquela que recebemos dos pais ou da escola, seja o
conjunto de regras e valores que queremos transmitir aos nossos filhos etc.
À primeira vista, essas pré-noções podem sugerir obstáculos ao estudo da
educação, posto que são concepções aferradas ao universo das convicções do
senso comum. Portanto, muito distantes de um entendimento crítico. Todavia,

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O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

elas acarretam a vantagem de não iniciarmos a discussão do zero, já que não se


distanciam daquilo que pensa a Sociologia da Educação.

Certamente, se fôssemos discutir questões relacionadas a temas com os quais


você tem menos familiaridade, você observaria com mais prudência os conceitos
aqui utilizados e estaria mais aberto ao diálogo e à reflexão crítica. O fato de
a educação ser um tema que nos é familiar transmite a falsa sensação de que
ela é um fenômeno conhecido. Em razão disso, acredita-se que as questões
relativas à educação já tenham sido amplamente debatidas, e isso pode despertar
desinteresse no aprofundamento de alguns pontos a ela atinentes. Mesmo
agora, que você já chegou até aqui e realizou tantas leituras, pode ser que
muito das opiniões que carrega consigo esteja consolidado pelo pensamento
familiar do senso comum. Também é possível pensar que as dificuldades que
você encontrou, ao longo do nosso curso, para conceber a educação resultem
dessas opiniões arraigadas. É muito difícil distanciar-se dos valores do mundo
social a que pertencemos.

Você deve estar se perguntando: o que pensa a Sociologia sobre a educação?


Ora, você já deve saber que uma resposta mais completa a essa pergunta só
poderá ser claramente delineada no final do nosso curso. Mas, até lá, podemos
associar educação ao conceito de socialização. De maneira bem simples, os
processos de socialização podem ser definidos como as maneiras pelas
quais determinados grupos apresentam suas regras, práticas e valores às
novas gerações. Como você pode ver, o termo faz referência ao conjunto de
práticas pelas quais novos indivíduos são transformados em membros efetivos
de uma sociedade. Desse modo, educação é o subconjunto de práticas cuja
pretensão é formar mentalidades (JOHADA, 1996).

Mas observe que o conhecimento que as pessoas têm sobre educação é muito
diferenciado e, frequentemente, limitado. É preciso que saibamos que aquilo
que conhecemos da vida social não é a sua totalidade. Conhecemos os aspectos
do mundo social de forma desigual, fragmentada e parcial.

Quando se fala em educação, ninguém se encontra totalmente alheio ao tema.


Contudo, por outro lado, queremos que você compreenda que uma abordagem
sociológica da educação precisa, necessariamente, incorporar todas essas reflexões
e delas capturar as suas respectivas recorrências e regularidades, o que requer,
sem sombra de dúvida, uma negociação permanente entre o que se diz à luz
das teorias científicas e o repertório social constituído sobre o assunto.

Ora, se saíssemos às ruas e perguntássemos aos transeuntes o que é educação,


verificaríamos que ali há certo consenso: ela pode ser sinônimo de polidez,
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AULA 1

cortesia e boas maneiras e, ao mesmo tempo, pode configurar um conjunto de


práticas e saberes adquiridos na escola.

As definições do senso comum parecem revelar uma diferença entre aquilo que
se aprende na escola e aquilo que se aprende em casa. Atribuir esses significados
ao conceito de educação jamais lhe traria problemas em sua vida cotidiana,
pois, mesmo sendo concepções demasiadamente restritivas, elas encontram o
aplauso do entendimento de qualquer um. Portanto, é muito tentador utilizá-
las, haja vista tratar-se de definições partilhadas pela maioria.

Essas significações não são necessariamente equivocadas, mas, por serem


extremamente restringentes, trazem consequências que vão além da simples
ignorância do termo. Quando nos convencemos de que educação é apenas
aquilo que se aprende na escola ou aquilo que se aprende em casa, podemos
ser levados a acreditar que discutir os processos socializadores e as estratégias
pedagógicas seja uma tarefa que cabe exclusivamente aos chefes de família e
aos professores.

Se alargarmos o objeto dessa definição, você se sentirá mais próximo dessa


discussão e perceberá que, quando falamos em educação, não há a possibilidade
de existir simples observadores de fatos sociais que lhe são externos e distantes.
A partir do alargamento do conceito de educação, vamos compreender que
todos nós somos protagonistas do aprender-ensinar-aprender-e-ensinar, afinal,
os processos socializadores estão em toda parte: em casa, na escola, na internet,
na igreja, nas associações de bairro, numa clínica médica, nas telas de TV, no
rádio ou na rua. Conforme nos ensina Brandão (2007, p. 7), “ninguém escapa
da educação. [...] Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias
misturamos a vida com a educação”.

3.1 Afinal, o que é educação?

Mais importante do que conhecer uma imperfeita e problemática definição


de Sociologia da Educação, é olharmos mais de perto para as questões ligadas
à educação. Conduzindo a discussão dessa maneira, podemos criar subsídios
para que você, ao término de nossas reflexões, consiga, por si só, problematizar
a existência de disciplinas específicas para estudar os processos educativos e,
certamente, ter uma visão mais apurada sobre a Educação, a Sociologia e as
Ciências Sociais.

Assim sendo, neste tópico, vamos delinear o nosso entendimento sobre a


educação para, então, mais adiante, apreciarmos alguns contornos da Sociologia
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O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

da Educação. A perspectiva aqui adotada é a defendida pelo professor Brandão,


num texto introdutório e sugestivamente intitulado O que é educação, cuja
primeira edição foi publicada pela editora Brasiliense em 1981.

Brandão responde à questão do título do livro contando-nos uma curiosidade


suscitada após o término de um conflito envolvendo os “desbravadores” dos
Estados Unidos e as tradicionais nações indígenas. Revela-nos o autor que, ao
fim do conflito, os representantes dos atuais Estados da Virgínia e Maryland
assinaram um acordo de paz com os índios de Seis Nações. Após a assinatura
do tratado, os novos governantes sugeriram aos índios que enviassem alguns
de seus jovens para estudarem nas escolas daqueles Estados. Passado algum
tempo, eis o que os chefes indígenas disseram sobre o sistema escolar norte-
americano, em carta enviada aos governadores brancos:
[...] Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores
desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração.
Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes
nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim,
os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia
de educação não é a mesma que a nossa. [...] Muitos dos
nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do
Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles
voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes
da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a
fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e
construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal.
Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como
guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos
extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não
possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos
aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos
seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e
faremos, deles, homens. (BRANDÃO, 2007, p. 8-9).

Considerando apenas esse trecho da carta, já é possível termos em mente que


não há uma única forma de educar e nem um único modelo de educação. Se
considerarmos ainda que a maioria das nações indígenas não possui instituições
escolares como as que nós conhecemos, compreenderemos que não é apenas na
escola ou em casa que a educação se realiza. Do mesmo jeito, percebemos que
não são apenas os professores, muito menos os detentores do poder familiar,
os únicos responsáveis pela transmissão dos saberes compartilhados pelos
membros de uma sociedade.

A carta dos índios nos mostra que a educação não é a mesma em todos os
lugares. Isso quer dizer que, para alguns grupos, aprender as leis da física, dominar
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AULA 1

fórmulas matemáticas complexas ou refletir sobre unidade ou diversidade da


psique humana não fazem parte dos seus respectivos processos socializadores.
Numa sociedade de caçadores, por exemplo, a educação de uma criança
certamente pode incluir elementos diferentes daquilo que aprendem as crianças
educadas nas grandes cidades. A socialização de um caçador pode contemplar
os componentes relacionados à escolha e preparação de sítios, construção e
instalação de armadilhas, estratégias de imobilização e transporte de presas,
etc. Noutras sociedades, a educação pode incluir elementos diferentes desses
encontrados nas sociedades de caçadores, que, por sua vez, podem ser diferentes
daquilo que se ensina em sociedades cujas fontes de prestígio e renda são as
atividades baseadas na indústria e no comércio.

Há que se observar, no entanto, que, no interior de cada uma dessas sociedades,


há uma infinidade de outras atividades, como aquelas relacionadas à religião, à
política, à organização das famílias, à fabricação e utilização tecnológica, etc., como
também existem diversas maneiras de enfrentar as questões mais corriqueiras
da vida cotidiana, tais como a escolha e preparo de alimentos, os cuidados com
o corpo, a fabricação de utensílios, atividades lúdicas, etc. O fundamental é que
se compreenda que, em algumas sociedades, esses conhecimentos não são
transmitidos em instituições específicas, como as escolas, igrejas ou partidos
políticos – conforme acontece nas sociedades ocidentais –, todos são responsáveis
pela educação das crianças, que aprendem observando, questionando e imitando
os adultos; não há separações tão rígidas entre o saber-pensar, o saber-fazer, o
saber-aprender e o saber-ensinar, tudo constitui uma totalidade.

Igualmente, não podemos esquecer ainda que, no interior de cada sociedade,


existem diferentes categorias de pessoas, as quais são educadas de modo
diferente. Numa dada sociedade, aqueles que são preparados para a guerra
dificilmente receberão os mesmos ensinamentos daqueles que são destinados
a cuidar dos animais ou cultivar a terra. Do mesmo modo, os indivíduos do sexo
feminino poderão ter acesso a um tipo de educação diferente daquela dada aos
indivíduos do sexo masculino. O mesmo raciocínio pode ser estendido à análise
de diferentes tipos de sociedade, de acordo com a sua forma de organização
(proprietários e não proprietários; crianças e adultos; industriais e comerciantes;
produtores e consumidores, e assim por diante). Assim, quando uma sociedade
necessita de guerreiros ou de burocratas, a educação será um dos instrumentos
utilizados para serem criadas, precisamente, essas categorias de pessoas.
A educação é, como outras, uma fração do modo de vida
dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas
outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas
de educação que produzem e praticam, para que elas
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O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

reproduzam, entre todos os que ensinam-e-aprendem, o


saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais
de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da
religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo
precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de
cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a
natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do
mundo social onde a própria educação habita, e desde onde
ajuda a explicar — às vezes a ocultar, às vezes a inculcar —
de geração em geração, a necessidade da existência de sua
ordem. (BRANDÃO, 2007, p. 10-11).

Falar em educação consiste em refletir sobre a cultura humana: observar as


maneiras como cada sociedade se cria, se reproduz e se transforma. Por meio
da educação, são criadas diferentes categorias etárias, as distinções de status, e
cada um desses traços da cultura é transmitido de uns para os outros, de modo
que se possa construir e legitimar a ideia da sociedade em que se vive.

Até agora temos falado sobre processos socializadores e já sabemos que a


educação é um fato social presente em todas as instâncias de nossas vidas.
Sabemos também que ela delineia as crenças, os valores, as regras e as maneiras
de ser, de pensar e de agir de determinados grupos. Em razão disso, já podemos
compreender que o que rege a vida das pessoas nem sempre é aquilo que elas
aprendem em casa ou na escola, pois há uma infinidade de outros conhecimentos
que lhes são transmitidos por outras instâncias, tais como as redes sociais, a
TV, os jogos de videogame, os círculos de amigos, os clubes, as academias de
ginástica, as associações de bairro, os sindicatos, etc.

Como podemos avaliar o efeito dos processos socializadores sobre os


acontecimentos sociais? Para responder a essa questão, vamos ler a reportagem
a seguir. Trata-se de uma pequena matéria jornalística que noticia o ataque de
um homem armado a um cinema do estado de Louisiana, nos Estados Unidos.

Homem abre fogo contra plateia em cinema nos EUA, mata 2 e


se suicida

Um homem armado abriu fogo em uma sala de cinema na cidade de


Lafayettex, na Louisiana, Estados Unidos, na noite desta quinta-feira,
matando duas pessoas e ferindo outras sete, informou a polícia local.
Após o ataque, ele se matou, acrescentaram os policiais. Os disparos
aconteceram durante uma sessão do filme “Descompensada” no Grand
Theatre, por volta das 19 horas.

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O chefe de polícia de Lafayette, Jim Craft, confirmou a morte de duas


pessoas e também a do atirador, que teria 58 anos. A identidade do homem
e das vítimas ainda não foram reveladas.

Os tiros aconteceram em apenas uma sala do cinema, lotada com 100


pessoas. O prédio fica na Johnston Street.

O governador da Louisiana, Bobby Jindall, anunciou em seu perfil no


Twitter que está indo para Lafayette, uma cidade de cerca de 120.000
habitantes, situada a 90 km a sudoeste de Baton Rouge.

Katie Domingue, uma testemunha ouvida pelo site de notícias local “The
Advertiser”, disse que o atirador era um “homem branco mais velho”, que
começou a disparar cerca de 20 minutos após o início do filme. Ela afirmou
que o homem não teria dito nada antes de iniciar o ataque. “Ele não estava
dizendo nada. Eu não ouvi ninguém gritar também”, disse. Katie diz ter
ouvido ao menos seis tiros antes de conseguir fugir da sala.
Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/07/homem-atira-contra-plateia-em-cinema-
nos-eua-e-deixa-feridos.html.

A partir do episódio mostrado no texto, que reflexões podemos fazer entre


violência urbana e educação? O que a violência urbana, nesse caso, representada
por um homem armado matando pessoas numa sala de cinema, tem a ver com
a socialização nas sociedades contemporâneas?

Se partíssemos apenas de nossas convicções e do repertório de conhecimento


arraigado no senso comum, seríamos tentados a responder que isso não tem
nada a ver com a educação ou, de maneira oposta, que a violência urbana é
consequência da falta de uma educação escolar adequada. Mas, a partir do que
discutimos na seção anterior, você já tem condições de alçar voos mais altos e
fazer reflexões mais apuradas sobre o objeto noticiado e processos socializadores
mais amplos.

Considere a história de ocupação do território dos Estados Unidos pelos ingleses.


Você pode analisar a cultura estadunidense por meio de seu posicionamento
perante as situações de conflito e guerra. Você pode, também, ponderar sobre
a cultura de submissão e a alienação em massa consolidadas por uma mídia
que propaga a violência por intermédio do cinema e dos “games”. Pode refletir
sobre o uso excessivo de armas de fogo e as suas possíveis consequências no
cotidiano dos norte-americanos. Todos esses traços culturais estão fundados
em valores que foram transmitidos de geração a geração e que se constituem
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O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

num tipo específico de educação que caracteriza o cidadão dos Estados Unidos.
Aquele indivíduo que cometeu o atentado pode ser compreendido como uma
expressão distorcida do que aquela sociedade defende e transmite a seus filhos.

Se você estiver interessado em compreender com mais profundidade o que


estamos dizendo, sugerimos que assista ao documentário intitulado Tiros
em Columbine, produzido pelo cineasta e documentarista Michael Moore. O
documentário aborda justamente essa cultura bélica praticada nos Estados
Unidos e nos ajuda a compreender a relação entre esse tipo específico de violência
urbana e os processos socializadores em suas várias dimensões.

Mas, se você faz parte do grupo de pessoas que não gosta de documentários,
temos outras sugestões: assista a filmes de ação que são reproduzidos na
TV ou observe uma criança brincando em jogos de videogame cujas tramas
envolvem eliminar equipes adversárias. Assista a qualquer um desses telejornais
ou programas policiais transmitidos nos canais de TV. Ou, para finalizar, você
pode assistir ao filme Dança com lobos, produzido por Kevin Costner, em 1990.
Nessa obra, é retratada a postura colonialista norte-americana sobre territórios
indígenas no contexto da Guerra de Secessão, evento referido no trecho da carta
enviada pelos chefes indígenas, reproduzido anteriormente nesta aula. Mas esse
exercício só é válido se você refletir sobre como a mídia enfatiza a violência e o
uso de armas de fogo.

Feito isso, acreditamos que agora você terá compreendido que atirar em pessoas
num cinema não é consequência da falta de educação escolar. Trata-se, pois, de
um fato social próprio de uma sociedade que atribui à arma de fogo o lugar de
objeto definidor de prestígio, masculinidade e poder. Podemos supor que esse
fato aparentemente isolado é um dos resultados possíveis da educação, entendida
num sentido mais amplo, como a transmissão de valores e comportamentos
sociais. Tentar combater a cultura bélica e esse tipo específico de violência
urbana sem problematizar o poder simbólico emanado da arma de fogo pode
redundar em terrível perda de tempo.

3.2 O lugar da Sociologia da Educação

Vamos agora definir o que é Sociologia da Educação?

Se, em algum momento de sua vida escolar, você cursou alguma disciplina de
Sociologia, você já deve ter notado que a maioria dos textos introdutórios de
Sociologia se esforça em querer definir a disciplina e contextualizar o momento do
seu surgimento. Nesses textos, você já deve ter aprendido que a Sociologia é uma
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AULA 1

disciplina nascida na Europa do século XIX, no bojo de grandes transformações


religiosas, econômicas, políticas e científicas, provocadas tanto pela Revolução
Industrial, quanto pela Revolução Francesa. Daí resulta que a Sociologia é uma
disciplina surgida do caos instaurado por todas essas transformações (SCAVONE,
2005). Se você nunca cursou Sociologia, consulte a nossa bibliografia básica ou
faça uma pesquisa rápida na internet para se situar.

Mas, em razão das especificidades do que se convencionou chamar de Sociologia


da Educação ou Sociologia do conhecimento e das características do nosso
texto, não vamos lhe apresentar nenhuma história da gênese da Sociologia, nem
vamos apresentar uma defesa radical das chamadas “sociologias especiais”. O
que faremos neste momento é lhe apresentar um mapa de algumas reflexões
realizadas pela Sociologia da Educação no Brasil. Para tanto, vamos utilizar
o artigo “Uma perspectiva não escolar no estudo sociológico da escola”, da
professora Marilia Pontes Sposito, da Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo, datado de 2003.

Sposito informa que no Brasil foi a escola que, enquanto categoria analítica e
empírica, ocupou o principal lugar de objeto das reflexões sociológicas sobre
a educação. Em seguida, a autora realiza um balanço daquilo que produziu a
disciplina, tendo em vista, inclusive, os referenciais sociológicos mais amplos.
Trata-se de um texto importante, por isso recomendamos a sua leitura.

Retomando a produção acadêmica do professor Florestan Fernandes, Sposito


argumenta que, do ponto de vista da ciência, é um erro admitir a existência
de uma disciplina especial para tratar de um fenômeno social particular, como
acontece com a Sociologia da Educação.

Partindo dessa perspectiva, a existência de uma “Sociologia da Educação”,


apesar de facilitar a identificação do teor e do campo de atuação de determinada
subárea da ciência, seria inapropriada, tendo em vista que, “como acontece em
qualquer ciência, os métodos sociológicos podem ser aplicados à investigação e
à explicação de qualquer fenômeno social particular sem que, por isso, se deva
admitir uma disciplina especial, com objeto e problemas próprios” (FERNANDES,
1960, p. 30 apud SPOSITO, 2003, p. 211). Essa crítica advém do fato de que o
estudo dos fenômenos educativos, quando conduzidos sob o ponto de vista
sociológico, não deve analisar apenas unidades empíricas restritas ao espaço
escolar, mas também produzir e refletir sobre as contribuições que os sistemas
e práticas de ensino oferecem para a compreensão das estruturas das relações
de força e das relações simbólicas engendradas no interior das sociedades.

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O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

Apesar de a Sociologia da Educação, desde o seu nascimento, ter privilegiado


o exame das maneiras como se organiza, como se ensina e o que se ensina nas
escolas, o seu leque de atuação poderia recobrir um largo campo conceitual, já
que os mecanismos por meio dos quais a escola transmite o saber-crer, o saber-
fazer e o saber-ser, nas sociedades modernas, são inúmeros.

Sob esse ponto de vista, pode-se dizer que os saberes ensinados nas escolas
atuais podem ser diferentes daqueles ensinados nas escolas do passado. Do
mesmo modo, o que se aprende e as maneiras como se aprende podem não ser
as mesmas em escolas públicas e privadas, como também podem não se repetir
as mesmas práticas no interior de cada uma dessas instâncias. Mesmo que essa
afirmação pareça óbvia, é preciso refletir sobre o porquê e como isso acontece,
já que, a priori, o sistema de ensino e a cultura são os mesmos.

A inferência que se pode formar desse cenário é que, mesmo fazendo uma
sociologia da escola, a Sociologia da Educação jamais deixou de empreender
esforços para a compreensão dos fenômenos inerentes à reprodução social. Isso
significa que, a partir dos sistemas escolares – forma dominante de socialização
adotada no século XX –, a Sociologia amplia o entendimento sobre o universo
das relações sociais.

É preciso que você, caro estudante, saiba que, em Sociologia, a escola pode ser
estudada sob dois pontos de vista. A primeira perspectiva é o estudo da escola
enquanto unidade empírica de investigação, o que implica considerar a escola
como um lugar onde os fenômenos acontecem. Como unidade empírica, a
escola pode ser vista como um sistema, no qual alguns laços sociais são criados
e determinadas relações se desenvolvem. Outra maneira de estudar a escola,
porém, é como categoria analítica. Grosso modo, uma categoria analítica – ou, se
você preferir, um conceito sociológico – é uma unidade de análise que permite
ao cientista social estudar determinados conjuntos de fenômenos.

As unidades analíticas só ganham sentido no interior de uma teoria científica.


Porém, mesmo considerando a relevância analítica da instituição escolar, isso não
implica que o estudo da educação pressupõe, necessariamente, a análise dessa
unidade empírica. Com isso, queremos dizer que, apesar de reconhecermos a
importância da escola na formação moral, intelectual e política de uma sociedade,
o estudo dos processos socializadores que se praticam no interior dessa sociedade
não precisa ser obrigatoriamente feito dentro das escolas. Podemos fazer esse
estudo analisando reportagens de jornal, postagens de redes sociais, festas
infantis, cerimônias de casamento, etc.

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AULA 1

Por outro lado, mesmo considerando a escola como unidade empírica de


investigação, não se pode deixar de reconhecer que muitos elementos externos ao
universo escolar frequentemente ultrapassam os seus muros e interferem no seu
cotidiano e funcionamento, atribuindo-lhes determinados – outros – contornos.
O que se pretende aqui é que você entenda que a escola é uma instituição
importante e que dentro dela pode ser realizada uma infinidade de pesquisas
sobre educação, mas também queremos que você saiba que muitas coisas que
acontecem fora da escola podem afetar a finalidade e o funcionamento dela.

Para ilustrar o que estamos dizendo, poderíamos citar vários exemplos, mas
fiquemos com apenas três: 1) pode-se estudar a dinâmica e o funcionamento
de um ambiente escolar avizinhado de comunidades dominadas por facções
criminosas e as consequências das ações ali praticadas no desempenho dos
professores, no rendimento dos alunos e no cotidiano escolar; 2) pode-se
analisar como se define o funcionamento das escolas em regiões que vivem
constantemente ameaçadas por desastres naturais; e 3) pode-se estudar como
se exerce o magistério em escolas que recebem alunos considerados violentos.

Configurações como essas certamente obrigam o sociólogo a ponderar que todos


esses elementos também façam parte de suas investigações sobre a educação.
Para concluir essas reflexões iniciais, resta dizer que, se compete à Sociologia
estudar a escola, não devemos encarar esta como um sistema fechado em si
mesmo, mas analisá-la a partir das imbricações que estabelece com todas as
outras instâncias da sociedade.

Exercitando

Leia o texto a seguir:

Nova Lei Seca acaba com tolerância permitida de álcool

As regras da Lei Seca estão ainda mais rígidas. A partir desta terça-feira,
o condutor que ingerir qualquer quantidade de bebida alcoólica e for
submetido a fiscalização de trânsito estará automaticamente sujeito
a multa de R$ 1.915,40, suspensão do direito de dirigir e terá o veículo
retido. Agora, o agente de trânsito não precisará apenas do etilômetro
para confirmar a embriaguez. O condutor que se recusar a fazer o teste
poderá ser autuado se apresentar um conjunto de sinais que configurem
a ingestão de bebida alcoólica.

De acordo com a resolução publicada pelo Conselho Nacional de Trânsito


(Contran) no Diário Oficial da União desta terça-feira, esses indícios deverão
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O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

ser descritos na ocorrência e podem ser sonolência; vômito; odor de


álcool no hálito; agressividade; arrogância; exaltação; ironia; dificuldade
no equilíbrio; fala alterada; entre outros.

A Lei estabelece o parâmetro de 0,05 mg/L apenas porque é uma


recomendação do Inmetro como margem de segurança do etilômetro.
Na prática, o condutor não poderá ingerir nenhuma quantidade de álcool
que já será considerada a infração de trânsito. Se o indivíduo fizer o teste
e a concentração for maior do que 0,34 mg/L, também será considerado
crime de trânsito e o agente o encaminhará à autoridade policial.

No caso do crime, previsto no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, o


condutor é encaminhado à delegacia e a pena é detenção de seis meses
a três anos, além da multa, e suspensão do direito de dirigir. De acordo
com o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, o teste do bafômetro e o
exame de sangue passarão a ser agora aliados dos motoristas. “Os testes
servirão como prova de inocência daquele motorista que apresentar esse
conjunto de sinais, mas que sabe que não ingeriu bebida alcoólica”.

Os motoristas ainda podem se recusar a realizar o teste do bafômetro e


os testes de sangue, mas caberá ao agente de trânsito decidir se ele está
ou não alcoolizado. “Sempre haverá a possibilidade de reparação judicial
para aqueles que se considerarem injustiçados. No entanto, acreditamos
no bom senso dos nossos agentes de trânsito, que foram capacitados
para cumprir a lei”.
Fonte: http://www.cnt.org.br/Paginas/Agencia_Noticia.aspx?n=8741

A partir da leitura do texto e dos conhecimentos que você adquiriu nesta aula,
analise a relação entre os acidentes de trânsito envolvendo motoristas alcoolizados
no Brasil e os processos socializadores que nos induzem ao consumo desses dois
artefatos simbólicos (o álcool e o carro).

Sugestão para o desenvolvimento da atividade: imagine que você esteja escrevendo


uma carta para um parente próximo e nela você disserta sobre a dificuldade de
a sociedade combater esse comportamento (dirigir alcoolizado) apenas sob a
lógica das sanções financeiras. Em sua argumentação, você deve considerar
tanto o papel exercido pelo Estado no combate a essas práticas (seja por meio da
escola ou outras instituições), quanto os mecanismos utilizados pelos meios de
comunicação para incentivar o consumo de cerveja e a aquisição de automóveis.

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AULA 1

4 APROFUNDANDO SEU CONHECIMENTO

Assista ao filme O enigma de Kaspar Hauser. A


narrativa nele contida traduz o entendimento
sociológico sobre a educação. O filme,
produzido por Werner Herzog em 1974, revela
a multiplicidade de socializações contida no
interior de uma sociedade, como também
aborda os seus respectivos papéis na formação
das personalidades e comportamentos
coletivos e individuais. Conta-se a história
de um jovem que, desde o seu nascimento,
vivera acorrentado em um porão. Liberado do
aprisionamento, o jovem é levado a uma cidade,
onde tem início o seu processo de socialização.
Com muita perspicácia, Herzog revela que
Figura 2
desde as coisas mais simples do nosso dia a
dia, tais como falar, andar, portar-se à mesa,
até as mais complexas, como ler, escrever,
tocar piano ou crer em Deus, não são possíveis
sem a mediação dos respectivos processos
educativos.

5 TROCANDO EM MIÚDOS

Nesta primeira aula, refletimos sobre a educação a partir da visão sociológica.


Vimos que a educação é um fenômeno social que não se restringe à escola,
pois pode ser entendida como uma série de processos socializadores, os quais
preparam os indivíduos para viver nas sociedades em que estão inseridos.
Aprendemos que há diversas formas de educar, cada uma ligada à maneira como
as sociedades estão organizadas. Também verificamos que o espaço social não é
homogêneo, está fragmentado em grupos, os quais têm características, funções
e valores diferentes. Cada grupo transmite os conhecimentos com o objetivo
de integrar e fazer os indivíduos interagirem nesses diversos grupos. Isso nos
autoriza a dizer que a educação estabelece diferenças entre os indivíduos, que
são socializados de acordo com os grupos sociais em que estão inseridos ou a que
se destinam. Como disciplina especial, a Sociologia da Educação foi consolidada
29
O pensamento sociológico e as formas de aprender-ensinar-aprender

no Brasil tomando a escola e os processos escolares como objeto principal. A


crítica a esse tipo de enfoque demonstra que ainda é preciso aperfeiçoar os
instrumentos metodológicos da Sociologia, para que ela possa alargar as análises
entre a escola e a sociedade.

6 AUTOAVALIANDO

A intenção desta aula foi apresentar um mapa das reflexões realizadas pela
Sociologia da Educação. Entretanto, o objetivo da aula só se realiza quando o
seu conteúdo é completamente apreendido pelo aluno. Pensando nisso, tente
responder às questões abaixo. Se as suas respostas forem positivas para todas
elas, você conseguiu atingir a finalidade desta primeira aula.

„„ Depois de fazer a leitura desta aula, posso dizer que entendi o que é Sociologia
da Educação?

„„ Sou capaz de problematizar o conceito de educação?

„„ Por fim, consigo observar a importância da Sociologia na ampliação da


minha compreensão sobre os processos de socialização?

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