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INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
A Sociologia dos
sistemas simbólicos
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
3 TECENDO CONHECIMENTO
Você vai perceber que muitas questões já debatidas pelos autores clássicos são
frequentemente retomadas e, consequentemente, ampliadas pelo pensamento
sociológico contemporâneo. Bourdieu é um bom exemplo disso. Por essa razão,
mostraremos como ele compreendeu a sociedade francesa do século XX tomando
como base os fundamentos da velha Sociologia. Em virtude dessa peculiaridade,
recomendamos que você leia o texto a seguir.
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AULA 4
Nas aulas anteriores, vimos que, para o fundador da Sociologia, Émile Durkheim,
a educação é sinônimo de socialização, o que significa transmitir e aprender
como ser membro de uma sociedade e nela agir conforme os papéis sociais que
ocupamos.
Como esse debate já foi realizado em aulas anteriores, você já sabe que cada
segmento social possui uma determinada visão de mundo. Entretanto, em razão
do conflito pelo protagonismo histórico-social, o segmento que possui os meios
sociais de produção impõe a sua visão de mundo sobre os demais, fazendo-os
crer que a maneira como a sociedade está organizada e a sua respectiva maneira
de ver o mundo são as únicas possíveis. Isso é o que Marx chama de ideologia.
Para ele, em todas as épocas, a ideologia dominante é a ideologia da classe
dominante (MARX; ENGELS, 2007).
Note ainda que a educação escolar não é o único objeto da Sociologia da Educação.
Sob a perspectiva marxiana, não é na escola da sociedade burguesa que os
despossuídos tomam consciência da sua exploração. Para Marx, a revolução
nasce dentro das fábricas e sindicatos e a sua manifestação ocorre na rua, em
praça pública. Na perspectiva por ele adotada, a escola, por ser uma instituição
a serviço da classe dominante, não passa de uma instância reprodutora de sua
ideologia. A educação não se restringe à escola, ao contrário, deve mesmo
combater aquilo que nela é ensinado. Decorre daí a condução ideológica dos
escritos de Marx, já que a transformação da sociedade acontece pela destruição
das bases do sistema econômico vigente e no estabelecimento de uma nova
ordem, calcada na autonomia e liberdade humana.
Seguidor das ideias weberianas, Bourdieu acreditava que, para atribuir sentido à
realidade, seria preciso levar em conta as representações elaboradas pelos agentes
sociais, individualmente. Por outro lado, seguindo, também, a ótica marxiana,
ele igualmente pensou a sociedade por meio do conceito de dominação, cuja
prática pode ser observada nas coisas mais simples do dia a dia, das mais banais,
como a escolha de uma peça de roupa, às relações mais complexas, como a
educação escolar, a política partidária, o matrimônio, as práticas religiosas etc.
Astutamente, você já deve ter percebido que essa reconstrução sugere uma série
de rupturas com as teorias do passado. A primeira ruptura está relacionada ao
peso que Marx atribui à substância (realidade concreta, matéria) em detrimento
das relações e dos sistemas simbólicos criados pelos sujeitos (realidade simbólica,
imaterialidade). Outra ruptura ocorre no campo social que, em Marx, está
estreitamente ligado às categorias inerentes aos fatores econômicos. Bourdieu
descarta esse determinismo econômico. Para ele, o espaço social é multidimensional
e multideterminado.
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A Sociologia dos sistemas simbólicos
Já sabemos que Durkheim ansiava descrever as leis que regem a vida social.
Mas, no afã de identificar os mecanismos de funcionamento e reprodução social,
esse pensador recorre ao método comparativo, fundado no princípio de que as
mesmas coisas sempre produzem os mesmos efeitos. Trata-se, aqui, da questão
da inexorabilidade da qual falamos anteriormente. Para deixar esse ponto mais
claro, temos que resgatar os princípios da Filosofia Positivista seguidos por
Durkheim. O princípio positivista condensa uma pesada carga de objetivismo
e empirismo, cuja orientação geral é procurar as leis objetivas que governam
a realidade.
– farinha, ovos, margarina, açúcar, fermento –, como também vale para a maneira
como os ingredientes são misturados, vale também para o tempo de permanência
e para a temperatura do forno ou tempo de descanso após o cozimento, etc.),
vai perceber que qualquer mudança nos ingredientes – ou nas condições ideais
– resultará na modificação do resultado final. Temos aí uma relação de causa e
efeito bastante rígida.
Antes que você pergunte, vamos considerar que o namorado dessa moça advogue
pelo prosseguimento da gravidez, mas que, considerando a oportunidade que
se avista e ponderando que a universidade não admite estudantes gestantes,
não vai contrariar a decisão da namorada.
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AULA 4
podemos interpretar essa maneira de ver o aborto como uma expressão ideológica
do mundo em que essa moça vive.
Seja como for, um conflito foi instaurado. Se a jovem agir conforme as regras jurídicas
e moralmente instituídas, terá que levar a gravidez adiante e, consequentemente,
desistir do curso. Por outro lado, se ela realizar o aborto, o crime poderá ser
descoberto e ela encarcerada, o que também será um impeditivo para a realização
do seu curso. Há ainda variantes emocionais que podem afetá-la quanto a
qualquer uma das decisões.
Ao pensar nas situações sociais a partir da ideia de campo, no qual as regras são
determinadas pelos indivíduos dominantes, podemos dizer que nossa estudante
se vê diante de um dilema conferido por um conjunto de valores que lhe são
impostos. Essas regras atuam como forças simbólicas, imateriais, que exercem
pressão sobre o indivíduo, forçando-o a tomar decisões e/ou praticar ações com
as quais não necessariamente concorde, ou que não estaria disposto a tomar/
fazer em situações comuns. No nosso exemplo, as oportunidades profissionais
estão interpeladas pelo acaso e por regras de conduta rígidas que limitam
as possibilidades de escolha. No contexto burguês atual, constituir família e
desenvolver habilidades profissionais parecem ser práticas antagônicas. Assim
posto, escolhas como essas se tornam cada vez mais conflituosas, em razão das
imposições que se abatem sobre os indivíduos.
Ao chegar neste ponto, você, que seguiu ao pé da letra a nossa sugestão de fazer
uma leitura cuidadosa deste texto, deve estar se perguntando: além da questão
da ideologia, qual o lugar da teoria de Marx nessa estória?
formação moral nem às suas convicções pessoais. Pense se você já não se viu
em situações semelhantes: a de tomar decisões com as quais não concorda em
função de uma crise episódica.
Mas agora você deve estar se perguntando: qual o papel da escola no pensamento
de Bourdieu? Isso será assunto para a próxima aula, na qual discutiremos os
mecanismos de produção social da desigualdade. Ao desenvolvermos esse tema,
a produção sociológica de Bourdieu será novamente resgatada para pensarmos
como ocorre a produção da desigualdade no sistema escolar. Então, se você ainda
tiver alguma dúvida sobre o conceito de violência simbólica, não há razão para
desespero, pois daremos continuidade a essa discussão na aula subsequente.
4 PRATICANDO
Agora que você já está familiarizado com diversos conceitos sociológicos, está
na hora de sair a campo e realizar uma atividade prática.
Para realizar essa atividade prática, você vai precisar falar com as pessoas que
fazem parte do campo. Tente entrevistar tanto os indivíduos que compõem a
base da hierarquia do campo, como aqueles que possuem maior poder e ocupam
posições hierarquicamente superiores. Conversando com essas pessoas, tente
identificar se todos conhecem e reconhecem como legítimas as regras, os tipos
de relações e os objetos disputados no campo.
Feito isso, construa um texto baseado nas suas observações e numa bibliografia
pertinente. Se você tiver dúvidas quanto à escolha do campo, sugerimos que
você opte por algo que lhe seja acessível. Assim, se você for adepto de alguma
religião, poderá observar a lógica de funcionamento da sua igreja e a relação que
os fiéis estabelecem com os objetos sagrados. Mas, se você for membro de algum
partido político ou praticante de alguma modalidade esportiva profissional, opte
por fazer o trabalho nesses lugares. Apenas tome o cuidado para não confundir
as suas convicções pessoais com a maneira como as pessoas agem e pensam no
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A Sociologia dos sistemas simbólicos
campo. Caso tenha alguma dúvida ou precise de ajuda para erigir um referencial
bibliográfico, peça ajuda ao seu tutor.
6 TROCANDO EM MIÚDOS
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7 AUTOAVALIANDO
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REFERÊNCIAS
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
WEBER, Max. Os três tipos puros de dominação legítima. In: COHN, Gabriel (Org.).
Max Weber: Sociologia. São Paulo: Ática, 2003.
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